Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Resumo
Desenvolve-se, neste texto, a discussão contemporânea dos pilares para o currículo escolar, da
Educação Básica nacional, alicerçada nos pressupostos pedagógicos, filosóficos e
metodológicos do multiculturalismo crítico liberal de esquerda como uma proposta curricular
adequada para o contexto multicultural e multiétnico da sociedade brasileira (MACLAREN,
2000). A escolha pelo tema se justifica por constatar que mesmo diante dos avanços da
educação nacional, em sua trajetória histórica, a escola - organização social com a missão de
1
Mestranda em Ciência da Educação pela Unigrendal. Graduada em Licenciatura Pleno em Pedagogia
pela Universidade Federal do Espírito Santo-UFES-(ES).Especialista em Gestão Escolar- Administração,
Supervisão, Orientação e Inspeção. Professora do Ensino Regular na Escola Municipal deEnsino Fundamental
Dora Arnizaut Silvares. Professora do Ensino Regular na Escola Municipal de Ensino Fundamental Ayrton
Senna em São Mateus- ES. E-mail: benedita_ls@hotmail.com
2
Licenciado em Pedagogia, Educação Física e Ciências Biológicas. Mestre em Ensino de Ciências e
Matemática pela PUC-MG, Doutor em Ensino de Ciências e Matemática pela Universidade Cruzeiro do Sul- SP,
professor da Faculdade Vale do Cricaré-ES e professor permanente do Mestrado em Educação da
Unigrendal.
3
Mestranda em Ciência da Educação pela Unigrendal.Graduada em Pedagogia pela Faculdade UNIVC-
Vale do Cricaré - São Mateus(ES). Especialista em Educação Especial e Inclusão pela Faculdade Capixaba de
Nova Venécia-(ES). Coordenadora na Escola Municipal de Ensino Fundamental Maria da Cunha Fundão- São
Mateus-(ES).E-mail: alcira_gaby@hotmail.com.
4
Mestranda em Ciência da Educação pela Unigrendal. Graduada em Pedagogia pela Faculdade UNIVC-
Vale do Cricaré- São Mateus(ES). Graduada em Filosofia pela Faculdade FANAN- Nanuque (MG). Especialista
em Educação Especial e Inclusão pela Faculdade FABRA; Especialista em Gestão Educacional pela Faculdade
UNIVC -Vale do Cricaré (ES). Professora Comunitária na Escola Municipal de Ensino Fundamental Valério
Coser em São Mateus-ES. E-mail: juliete2930@gmail.com
5
Mestranda em Ciência da Educação pela Unigrendal.Graduada em Normal Superior com habilitação
para Educação Infantil, pela Faculdade Sagrado Coração - Unilinhares no ano de 2007. Complementação
Pedagógica em Pedagogia pela instituição Faceli em 2008. Professora alfabetizadora efetiva pela Prefeitura
Municipal de são Mateus – ES.
ISSN 2176-1396
31689
Introdução
O argumento central que norteou este trabalho foi a discussão sobre uma nova
proposta da política curricular brasileira para todos os níveis e modalidades de educação para
a construção de uma nova matriz para currículo escolar porque o currículo enquanto artefato
social e cultural que representa a seleção cultural da cultura e está como espaço onde
representações, conflitos, tensões, disputas de poder e produções de identidades sociais são
construídas e outras silenciadas e veladas.
Para os curriculistas contemporâneos como Sacristan (2000, p.22)" o currículo escolar
tem sentidos diversos e exige dos atores educacionais a sua contextualização nos aspectos
cultural, social, pessoal, histórico, político, econômico, administrativo, ideológico e ainda
envolve os contextos da sala de aula"
Trazemos, inicialmente, algumas questões norteadoras sobre diversidade e currículo
para indagação aos atores educacionais e ao órgão que estabelece as Diretrizes Curriculares
Nacionais para educação nacional, como: quem são os professores, pedagogos e gestores que
têm demonstrado, na sua ação pedagógica, preocupação com a diversidade e a formação
humana dos alunos? Qual lugar a diversidade e a formação humana têm ocupado no currículo
legal e real? Somos todos iguais? Tem ocorrido discriminação étnico-racial no espaço
escolar? E, como isso tem sido efetivado na práxis pedagógica? O que o discurso
discriminativo e segregatório dos docentes nos revelam? Sinaliza a violência simbólica
31690
presente no discurso dos educadores sobre a representação dos alunos negros, refletindo como
é a ação pedagógica destes professores frente à diversidade presente nas salas de aulas de todo
o Brasil?
Entendemos que o debate assentado neste manuscrito reflete o currículo a partir da
década de 90, quando manifestações sociais de organizações não governamentais
denunciaram inúmeros casos de violência simbólica ou física contra determinados grupos
sociais. Essa violência e preconceito se fazem presentes no espaço escolar conforme é
apontado por Mazzon (2009).
Para Bourdieu (1979) a escola é um dos fortes e eficientes aparelhos ideológicos do
Estado, que desde a reforma pombalina tem reproduzido no currículo escolar a ideologia da
classe dominante que atende a uma minoria de alunos e silencia a cultura dos alunos oriundos
do segmento social desfavorecido culturalmente, socialmente e economicamente. Diante desta
realidade, percebemos a necessidade de a escola brasileira repensar e reorganizar o currículo
escolar tendo como eixo central as temáticas da identidade social, da diversidade, do respeito
à diferença, da formação humana e da cultura da paz. Estes pilares da educação para este
século são orientações de Luna (2005) para a agenda curricular, porém as escolas têm
mostrado importante dificuldade no trato pedagógico em trabalhar com a diversidade.
A atual organização curricular da Educação Básica nacional tem sido,
predominantemente, baseada na tendência pedagógica tradicional e tecnicista. As discussões
apresentadas anteriormente têm sido realizadas pela escola na parte diversificada do currículo,
de forma pontual e em modelo de projetos. Nossa indagação é: por qual razão essas
discussões não estão incluídas no eixo central do currículo escolar numa sociedade
multicultural e pluriétnica como a brasileira?
O problema guisa esta pesquisa foi devido o país, segundo dados do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística - Brasil (apud BARDIN, 2011), possuir uma importante
diversidade étnica representada por 53,5% de negros, 0,47% índios e 46,03% de brancos, e a
escola brasileira, mediante seu currículo, tem silenciado historicamente a cultura e os saberes
tradicionais e não validado os conhecimentos científicos trazidos por estas matrizes étnicas e,
ainda disseminado no currículo a ideologia, cultura e o conhecimento etnocêntrico. Por qual
razão o currículo legal da escola brasileira, historicamente, e nos dias atuais não valoriza os
conhecimentos dos não-brancos? Por que temas contemporâneos mundiais que afetam a todos
os cidadãos têm sido discutidos de forma fragmentada, descontextualizada, preconceituosa e
pontual pelo currículo escolar?
31691
A justificativa do tema é que mesmo diante dos avanços da educação nacional, em sua
trajetória histórica, a escola - organização social com a missão de mediação do conhecimento
- tem negado a cultura africana, negra, afrodescendente e indígena e valorizado e transmitido
a cultura hegemônica e eurocêntrica. Porém, no atual cenário mundial de globalização cultural
e do número importante de sociedades multiculturais como a brasileira, é emergente que a
instituição escolar pense um currículo que dialogue com a nova sociedade mundial onde as
discussões acerca de gênero, homofobia, preconceitos, religião e etnia estão presentes em
todos os espaços sociais inclusive em seu contexto, porém se tem discutido essa temática
aquém do esperado devido à visão social desfavorecido culturalmente, socialmente e
economicamente.
O principal objetivo deste trabalho é apresentar subsídios teóricos dos pilares
contemporâneos para uma política curricular brasileira inserida na educação intercultural, da
diversidade,dos direitos humanos e da formação humana, neste trabalho utilizamos os
pressupostos teóricos na qual acreditamos que alinha com o pensamento da professora da
PUC-RJ, Candau (2012), uma das referências nacionais sobre esta temática e dos aportes
teóricos dos principais curriculistas da atualidade tais como: Silva, Sacritan, MacLaren,
Moreira e Ferraço na qual partilhamos o mesmo pensamento, que visa à construção de uma
sociedade brasileira igualitária e democrática que combata qualquer tipo de discriminação e
defenda os direitos humanos de todos os cidadãos brasileiros e, nesse contexto, a escola como
instituição social tem um papel fundamental no cumprimento deste pilares contemporâneos
através da educação.
sendo o desafio da escola atual a luta e enfrentamento dessa estrutura na busca da efetivação
do currículo legal e real e da descolonização cultural para atender a todos.
perante os preceitos legais. Mas será que somos realmente todos iguais? Ou somos tratados de
forma diferente perante o modelo social na qual estamos inseridos? Essas perguntas nos
convidam a reflexões que não discutiremos aqui nesse manuscrito. Ainda ressaltamos que a
escola tem tentado homogeneizar os alunos negando as diferenças visíveis em sala de aula
entre estes.
Diante desta realidade McKernan (2009) apropria do discurso na qual concordamos
que ainda há um descompasso entre o currículo prescrito para o currículo praticado no chão
da sala de aula e ampliando essa ideia Grande(1998) esclarece que o currículo escolar é tudo
aquilo que os professores ensinam na sua ação pedagógica constituindo as experiências
formais vivenciadas pelos educandos na educação básica.
Para Silva (2004) o papel social da escola e do docente é a desconstrução da
padronização, a valorização da riqueza, da diversidade e a luta constante contra todas as
formas de desigualdades presentes na sociedade porque o processo de formação do aluno é o
resultado das experiências curriculares ofertadas pela escola e a atuação deste cidadão, na
sociedade, em muito depende do currículo escolar recebido.
acerca do que a escola tem assegurado na sala de aula, ou mesmo pensar que os professores
centram a sua prática nestes pilares contemporâneos.
Pontuamos que tem ocorrido um importante distanciamento entre o currículo legal e o
praticado, porque temos que indagar quem são os atores educacionais que realmente têm
preocupação no trato pedagógico de incluir na sua construção do processo curricular, em sala
de aula, estes novos pilares da educação mundial. Percebemos que a formação inicial, dentro
do paradigma monocultural e eurocêntrico dos professores, tem guiado a práxis pedagógica, o
que evidencia que a formação inicial tem importante papel na prática do professor, o que fica
implícito que os pilares contemporâneos do currículo, inicialmente, deveriam ser incluídos na
organização curricular dos cursos de formação de professores, para que estes tivessem
domínio teórico e prático para dialogar de forma contextualizada a temática do artigo em sala.
Diante da argumentação exposta, é consenso que uma das críticas contundentes em
relação à formação de professores é a inclusão da formação deste ator educacional como um
ator político, conforme Freire (1995) para efetivação da educação libertadora que partilha dos
pilares da educação dentro do paradigma do currículo multicultural que propicia a
desconstrução dos estereótipos e preconceitos e auxilia o aluno na tomada de decisão da sua
vida de forma crítica e reflexiva.
Sobre a questão da formação inicial, um dos precursores do currículo multicultural,
MacLaren (2000), aponta que um dos problemas contemporâneos é a falta de enfoque na
organização curricular proposta para essa formação, que impede o professor da compreensão
acerca dos pressupostos filosóficos, pedagógicos, políticos e metodológicos da ideologia do
poder, do significado do ato de ensinar e mesmo da clareza da concepção de educação que
norteia a sua práxis, trazendo como consequência a postura de reprodução e aceitação das
desigualdades sociais.
Metodologia
Resultados e Discussões
entrevistados individualmente que “aqui todos são iguais”, “tratamos todos do mesmo jeito”.
Sobre esse resultado obtido, comparados aos preceitos legais da Constituição Federal de
1988, - que afirma que todos são iguais -, e a escola seguindo o amparo legal desconsidera
as diferenças socioculturais dos alunos e tende a padronizá-los e homogeneizá-los. Para
acrescentar a este resultado, Ferreiro (2001) aponta a importante dificuldade da escola latino-
americana em lidar no trato pedagógico com as diferenças.
Examinou-se a organização curricular da instituição e a formação inicial de origem
destes docentes. Constatou-se que o lugar onde o tema diversidade ocupa no PPP e na
organização curricular da formação inicial dos docentes é secundário e ausente no eixo central
do currículo, que tem ainda como foco principal a mera transmissão dos conteúdos científicos
escolares previstos pelo MEC: que os professores devem cumpri-los durante o ano letivo.
Verificou-se que a formação inicial dos professores tem sido dentro do paradigma
curricular monocultural, tecnicista, tradicional e eurocêntrica. Notou-se que a proposta do
currículo multicultural ainda não se faz presente no currículo real das escolas analisadas até
porque os professores não tiveram na formação inicial embasamento teórico acerca desta
proposta curricular.
Conforme aponta Menezes (2005), em sua pesquisa, encontramos resultado similar,
porque, segundo ela, as escolas públicas brasileiras têm discutido a temática da diversidade de
forma pontual, estando presente na parte diversificada do currículo. Arroyo (2006) acrescenta,
sobre essa realidade, que essa discussão não é importante como sobre os conteúdos das
disciplinas de núcleo nacional comum, porque, se fosse, integraria a parte do currículo de
referência nacional comum.
Para MacLaren (2000), a proposta de diversidade presente no cenário social está de
acordo com as ideias do currículo multicultural conservador, fortemente disseminado no
segmento educacional, que prioriza, valoriza e reproduz a ideologia do segmento social
dominante da minoria dos alunos e desconsidera a bagagem sociocultural da maioria dos
alunos brasileiros, oriundos da camada popular. Essa proposta de diversidade e currículo
multicultural foi verificada no Projeto Político Pedagógico (PPP) das 10 escolas pesquisadas,
analisando-se o distanciamento entre o currículo legal do praticado. Nota-se que a proposta
deste artigo estava assegurada no PPP, porém ao examinar os diários dos professores, não foi
observado o cumprimento da proposta dos pilares contemporâneos do currículo.
Verificou-se, na organização curricular dos cursos de formação inicial de professores,
que a temática debatida aqui está presente em aproximadamente 4% da carga horária total do
31701
curso, o que aponta uma formação insuficiente do docente para debater este tema em sala de
aula .
Constatou-se, ao mapear a origem da formação inicial dos professores destas escolas
analisadas, que 70% deles tiveram formação em instituições privadas e 30% em instituições
públicas de ensino. Percebeu-se que não havia diferença na ação pedagógica destes
professores, devido o modelo da política curricular de formação de professores, proposto
pelas Diretrizes Curriculares Nacionais do MEC, ser padronizado e priorizar uma formação
técnica para o mercado de trabalho, e que a formação política deste sujeito professor não
tenha sido prioridade nesse modelo atual de formação profissional docente (LUNA, 2005).
Ao analisar a categoria e o discurso dos professores sobre: diversidade, educação
intercultural, multiculturalismo e formação humana, constatou-se o insuficiente domínio
teórico do professor acerca destes temas, o que sinaliza o modelo de aluno que o currículo
escolar está formando como cidadão para atuar numa sociedade multicultural e pluriétnica.
Percebeu-se ainda no discurso do professor “eu tenho de ensinar a minha matéria” que o
modelo de escola conteudista se faz presente na Educação Básica brasileira, o que para
Gomes (2008) chama a atenção sobre qual a concepção de educação orienta a práxis
pedagógica do professor. Complementando, Tardif (2012) aponta que o professor é ator
educacional mediador entre a cultura dos alunos, trazida da sua bagagem sociocultural, com
os conhecimentos científicos escolares. Dessa maneira, é emergente o professor, na formação
inicial, adquirir domínio teórico dos temas educacionais da atual pós-modernidade, já que seu
foco é o aluno, e este se mostra inserido neste contexto.
Conclusão
Destacamos que a grande contribuição deste trabalho seja sua inserção nas escolas, no
sentido de promover discussões e auxiliá-las no sentido de ter coragem de enfrentamento, de
dialogar com os alunos e toda a comunidade escolar em referência aos temas aqui
apresentados, que têm afetado de forma direta ou indireta todos os cidadãos brasileiros
multicultural, já que esta é e sempre foi nossa realidade.
Sublinhamos que os resultados obtidos na pesquisa venham a ocorrer em outros
contextos escolares devido a organização curricular das Diretrizes Curriculares Nacionais
estabelecidas dos cursos de formação de professores ser padronizada, sugerindo que a práxis
dos professores, sobre as temáticas discutidas, seja uniforme.
Para finalizar, acreditamos que, no atual contexto da sociedade multicultural e
multiétnica brasileira, a proposta do currículo multicultural crítico tem melhor aproximação
com essa realidade e sugerimos que os órgãos competentes, na qual os docentes são efetivos,
ofereçam formação continuada e capacitações acerca da educação multicultural para
promoção do aluno, para que, em sociedade, consiga praticar os quatro pilares da UNESCO
propostos para educação mundial.
REFERÊNCIAS
ALTHUSSER, Louis. Aparelhos Ideológicos de Estado. 7ª ed. Rio de Janeiro: Graal, 1998.
BOURDIEU, Pierre. A representação: elementos para uma teoria do sistema de ensino. Rio
de Janeiro: Francisco Alves, 1979.
CANDAU, Vera Maria. Somos todos iguais? Escola, discriminação e educação em direitos
humanos. 2.ed. Rio de Janeiro: Lamparina,2012.
31703
HALL, Stuart. Identidades e mediações culturais. Belo Horizonte. 2ª ed. Minas Gerais:
UFMG, 2013.
LUNA, Milton. O papel dos docentes na mudança social. Revista PRELAC, Chile, n.1, p.
171-179, jun., 2005.