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Curso:

Introdução a Doutrina de Umbanda


Capítulo 4 – A origem da Umbanda

2019
Brancos, respeitem minhas origens.
...Cabelo veio da África
Junto com meus santos
Benguelas, zulus, gêges
Rebolos, bundos, bantos
Batuques, toques, mandingas
Danças, tranças, cantos...

(Respeitem meus cabelos, brancos – Chico César)

Assim como canta Chico Cézar em sua música, os credos de matriz


africana praticados até hoje nas Américas e no Caribe surgiram a partir do
comércio de negros, provenientes de territórios diferentes e de povos distintos e
que foram escravizados no novo mundo. Os negros arrancados da Mãe África
trouxeram no porão dos Navios Negreiros seus “Santos”, no caribe tivemos essa
influência em Cuba (a Santeria e, o Palo Monte), em Trinidad e Tobago (o
Obeah), na Martinica (o Quimbois), na Jamaica (a Kumina), no Suriname (o
Winti), e no Haiti se estendendo por New Orleans nos EUA (o Vodu). No Brasil
não foi diferente, as influências fizeram surgir na Bahia (os Candomblés Nagôs
e Bantos), no Maranhão e Pará (o Tambor de Mina), em Pernambuco e Alagoas
(o Xangô), no Rio Grande do Sul (o Batuque), no Amazonas (o Babaçuê), e no
Rio de Janeiro (a Umbanda). Entre tantas outras crenças menos conhecidas.

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Capítulo 4 – A origem da Umbanda

Entendendo a religiosidade dos povos no Mundo Novo

O primeiro século de sua fundação, foi normal acreditar que a Umbanda


era uma religião derivada dos cultos africanos de nação, simplificados e
sincretizados com o catolicismo, para adaptarem-se à realidade brasileira. Enfim,
o caráter folclórico ocupa o imaginário popular sobre sua criação. Porém o
surgimento da umbanda como religião vai muito além daquilo que ela teve como
influência em suas crenças e ritos. Traçar um histórico dessa religião é muito
difícil, mesmo porque existem poucos registros e documentos históricos sobre
ela. Os poucos que existiam foram perdidos na residência de alguns dirigentes,
que, após sua morte, a família não soube como preservar. Os documentos mais
frequentes são aqueles produzidos por instituições que combatiam a religião, e
apresentaram a Umbanda de forma preconceituosa e etnocêntrica. O que
veremos a seguir é um pouco sobre suas matrizes dentro de um contexto
histórico, que se confunde com a própria colonização portuguesa e a formação
do povo brasileiro. Como nos relata Ortiz – “Constataremos assim, que o
nascimento da religião umbandista, coincide justamente com a consolidação de
uma sociedade urbano-industrial e de classes. A um movimento de
transformação social corresponde um movimento de mudança cultural, isto é, as
crenças e práticas afro-brasileiras se modificam tomando um novo significado
dentro do conjunto da sociedade global brasileira. Nesta dialética entre social e
cultural, observaremos que o social desempenha um papel determinante”.

Como se sabe, a colonização do Brasil, como de outros países da América


Latina, deu-se pela invasão europeia. Os grupos sociais constituem um universo
de representações, uma espécie de realidade em um segundo nível que
interpreta a realidade material, a relação da pessoa humana com a natureza e
as relações sociais, dando-lhes um sentido. A religião permite a legitimação de
todas as propriedades características a um estilo de vida de um grupo ou de uma
classe, na medida em que ele ocupa uma posição determinada na estrutura
social. O campo religioso, numa sociedade de classes, pode exercer o papel de

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agilizador da luta da classe dominante para garantir sua hegemonia. No entanto,
pode também funcionar como um obstáculo à classe dominante, e ser meio para
auxiliar a autonomia das classes subalternas. Vejamos então como a religião
Católica, (Eurocêntrica e dominante), também influenciou em nossa cultura
religiosa: A religião como forma de garantir a hegemonia Europeia.
Segundo o sociólogo Reginaldo Prandi “O catolicismo tem sido
historicamente a religião majoritária do Brasil, cabendo a outras fés o lugar de
religiões minoritárias, mas nem por isso sem importância no quadro das religiões
e da cultura, sobretudo no século atual. Neste segundo grupo estão as
chamadas religiões afro-brasileiras, as quais até os anos 1930 poderiam ser
incluídas na categoria das religiões étnicas, religiões de preservação de
patrimônios culturais dos antigos escravos africanos e seus descendentes”.
Para falar da origem da Umbanda é preciso explicar o processo histórico
no qual ocorreu a inter-relação entre os três tipos de religiosidade que se
encontraram aqui com a chegada dos portugueses. As crenças dos grupos
Ameríndios, o catolicismo do colonizador e a religiosidade das diversas etnias
africanas.

A religiosidade Indígena

Não sabemos exatamente de onde vieram a primeira população


indígena; dizemos que são "originárias" ou "nativas" porque estavam por aqui
antes da ocupação europeia. Historiadores afirmam que antes da chegada dos
europeus a população indígena no século XVI era de cinco milhões de nativos,
pertencentes a mais de 1.000 povos diferentes. Estes índios brasileiros estavam
divididos em tribos, de acordo com o tronco linguístico ao qual pertenciam: tupi
(região do litoral), macrojê ou tapuia (região do Planalto Central), aruaque e
caraíba (região Amazônica).
Juntamente com a ideia de colonização, veio a ideia de salvação, ou
seja, os índios deveriam ser salvos do paganismo; deveriam esquecer suas
crenças e converterem-se ao cristianismo. O processo de aculturação foi muito
violento e estima-se o genocídio (etnocídio) de mais de 4 milhões índios nativos.
Os indígenas brasileiros do período colonial viviam duplamente acuados: os
jesuítas almejavam convertê-los ao Catolicismo e aos valores europeus, e os
brancos visavam utilizá-los como mão-de-obra escrava. Ao correr do tempo,
muitos foram aculturados, catequizados e convertidos ao catolicismo pelos
padres da Companhia de Jesus. E nesse processo de assimilação, muito dos
seus valores culturais foram preservados assim como as imagens dos mitos
anteriores que foram associados aos santos. Todavia, como costuma acontecer
com culturas diferentes que se encontram, os indígenas associaram seus
deuses ao santos católicos, porem os católicos associaram os espíritos
indígenas ao demônio. A Igreja Católica, representada pelos jesuítas, proibiu a
escravidão indígena, não sendo escravo, o índio tinha mais liberdade de culto,
contudo a pajelança não era bem vista pela Igreja.
Como base do entendimento sobre a cultura indígena é preciso saber que
não há uma cultura indígena unificada. Cada povo ao longo dos tempos
desenvolveu modos próprios de compreender e de se relacionar com o mundo,
que se expressam em tradições religiosas, e hábitos sociais peculiares, entre
outros aspectos. Hernani Donato em seu livro – Os povos indígenas no Brasil diz
que “Cada nação indígena possuía crenças e rituais religiosos diferenciados.

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Porém, todas as tribos acreditavam nas forças da natureza e nos espíritos dos
antepassados. Para estes deuses e espíritos, faziam rituais, cerimônias e festas.
O pajé era o responsável por transmitir estes conhecimentos aos habitantes da
tribo”. O ponto central era o culto a natureza, valendo-se também de
procedimentos magísticos para influir na vida das pessoas, e no mundo físico,
sobretudo através das almas de plantas e animais. O uso de instrumentos como
chocalhos e cocares de penas era indispensável para o cerimonial. A fumaça
derivada da queima do fumo também era de suma importância para os rituais.
Podemos destacar nessa cultura alguns pontos de sua crença e ritual que
influenciaram na formação de alguns cultos.

Culto aos espíritos dos ancestrais: Venerar os ancestrais mantém viva a


conexão entre as gerações, os vivos
reconhecendo e agradecendo
àqueles que trilharam antes os
caminhos, abrindo portas e deixando
o legado das suas experiências e
realizações.
Mundo espiritual: Morená Para alcançar a "Terra Sem-Males", é
preciso viver conforme o sistema
indígena: caçar, plantar e celebrar
como um Indígena. Para tal, é
imprescindível a terra (tekoha), pois,
sem ela não há cultura (teko).
Comunicação com os mortos: O pajé é extremamente importante na
estrutura social indígena. É ele quem,
por excelência, realiza a importante
mediação entre os homens e o mundo
sobrenatural.
Atribuição de forças anímicas à Tupã (Iamandu) é o Deus bom dos
natureza: indígenas. Ele é o senhor do raio, do
relâmpago e do trovão dentre outros de
uma cultura politeísta.

A Pajelança influenciou na liturgia dos Candomblés de Caboclo, do


Catimbó Jurema e do Terecô. Desde o século XVI ocorreram fusões entre rituais
e crenças indígenas e católicas. As famílias do sertão praticavam seus cultos
com a preparação de mesas com santos, crucifixos e velas, possivelmente em
baixo de arvores frondosas que pertenciam aos terrenos (terreiros) da caatinga,
assim como perante grandes rochas outrora consideradas sagradas.
A tradição ameríndia é evocada pelos umbandistas como um elo de
ligação direta com os povos nativos e sua espiritualidade, cujo a importância
pode ser percebida na religião pela presença dos Caboclos. Contudo o modelo
de caboclo idealizado pela Umbanda (bom e valente) esbarra em certa dose de
rejeição por parte das lideranças indígenas atuais, pois esse termo “caboclo” foi
utilizado para designar índios “mansos”, que se submeteram a dominação dos
portugueses e perderam sua própria identidade. Transformar um Indígena em
Caboclo seria, portanto, um processo que se iniciaria, muitas vezes, pela
conversão de sua alma “selvagem” a fé cristã.
O índio-caboclo cultuado na Umbanda é o índio semiaculturado pela
convivência com a civilização. Fala em português coloquial, fala com sotaque
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próprio e, mesclado com palavras emprestadas tanto do idioma nativo como do
africano. O Caboclo que vem de Aruanda, não do Morená, é o sobrevivente do
massacre promovido pela cultura do homem branco. O caboclo exerce um papel
fundamental no relacionamento da comunidade afro brasileira, pois fala o idioma
português, papel que os orixás só fazem no idioma africano, chamado Yorubá,
assim conquistando a popularidade dos crentes, que não entendem ou falam a
língua dos orixás. São encarregados de trazer mensagens dos seus ancestrais,
principalmente de entes queridos desencarnados há pouco tempo, aconselham
os desesperados, indicando sempre um novo caminho, indicam banhos de folha
sagrada e pequenas oferendas para resoluções dos seus problemas.
Para Norberto Peixoto em – Umbanda pé no chão – “A pajelança indígena
é um termo que designa as diversas manifestações mediúnicas dos índios
brasileiros. Geralmente é realizado um ritual em que o sacerdote (pajé) entra em
contato com espíritos de ancestrais e de animais, com a finalidade de cura e
resolução de problemas da tribo. Nessas sessões, podem ser tomadas infusões
de ervas ou fumadas determinadas folhas que facilitam o desdobramento astral,
fazendo com que o medianeiro ingresse no mundo dos espíritos de forma
induzida e não natural. Obviamente temos muito da herança silvícola na
umbanda, mas não utilizamos recursos alucinógenos para a manifestação dos
espíritos”.

Entendendo a religiosidade na Mama África

Por volta de 1533 teve início o tráfico de negros africanos para o Brasil.
Em quatros séculos de tráfico negreiro, cerca de 3,5 milhões de africanos
aportaram no Brasil na condição de escravizados. Eles eram de diversas etnias:
iorubás, fons, mahis, hauçás, éwés, ashantis, congos, quimbundos, umbundos,
macuas, lundas e diversos outros povos, cada qual com sua própria religião e
cosmogonia.
O negro que aqui chegava trazia consigo sua cultura e tradição religiosa,
incluindo a crença nos Orixás (Yoruba), Vodum (Fon), ou Nkisis (Banto). Na
África, cada divindade estava ligada originalmente a uma cidade ou a um país
inteiro. Tratava-se de uma série de cultos regionais ou nacionais não ligados a
uma religião propriamente dita, mas ao cotidiano. Por exemplo podemos citar
que em Oyó, se cultuava Xangô, enquanto Iemanja era cultuada na região de
Egbá e Iyewa. Como em solo africano o culto é individualizado, ou seja, se cultua
apenas uma divindade por região, todos os habitantes do lugar, são seguidores
daquela divindade. Ogum é um Orixá cultuado em diversas regiões africanas,
mas tem o seu templo principal em Ìré. Somente o orixá Exú, fiscalizador de tudo
e do comportamento humano, é a única divindade cultuada em todas as regiões.
Um dos seus templos principais fica em Ilé Ifẹ̀.
Apesar de acreditarem em Deuses diferentes, tinham algumas práticas
em comum. Como consultar oráculos, rituais com música de percussão e
sacrifícios de animais. Como cita Reginaldo Prandi em - Herdeiras do axé -
“Entretanto, podem ser estabelecidas duas linhas principais de religiões
africanas que tiveram maior influência no Brasil: As religiões dos negros bantos,
vindos do sul e leste da África (Angola, Congo, Moçambique) que originaram
diferentes cerimônias celebradas especialmente no Rio de Janeiro (como o
candomblé bantu, e a umbanda). As religiões dos negros iorubás (nagôs) e
daomeanos (gêges), originados do oeste africano (em especial a Nigéria), cuja

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influência é predominante no Nordeste brasileiro, com os candomblés bahianos
(como o candomblé kêto e o candomblé gêge). Bem como o islamismo dos
chamados malês (como os mahis e hauçás) Alufás (sacerdotes ifá) Mandingas”.

Culto aos espíritos dos ancestrais: Egum ou Egum-gum em Nagô, quer


dizer Osso. Mas o seu significado é
mais amplo, significando também
“alma de pessoa morta”. Os Eguns
são também os nossos antepassados,
que devemos sempre respeitar.

Mundo espiritual: Cultuavam a existência de plano


superior (Orum) Segundo diversos
mitos, em épocas remotas, o aiye e
o orum não estavam separados. A
existência não se desdobrava em dois
níveis, e os habitantes dos dois
mundos podiam passar livremente de
um espaço para outro.
Comunicação com os mortos: A comunicação era feita por transe
mediúnico em rituais com danças e
oferendas específicas para as
divindades.
Atribuição de forças anímicas à Tanto Orixás, Voduns ou Inkises são
natureza: associados a fenômenos da natureza.

Desde sua formação em solo brasileiro, as religiões de origem negra têm


sido tributárias do catolicismo. Embora o negro, escravizado ou liberto, tenha
sido capaz de manter no Brasil dos séculos XVIII e XIX, e até hoje, muito de suas
tradições religiosas, é fato que sua religião enfrentou-se desde logo com uma
séria contradição: na origem, as religiões dos bantos, iorubás e fons são religiões
de culto aos ancestrais, que se fundam nas famílias e suas linhagens, mas as
estruturas sociais e familiares às quais a religião dava sentido aqui nunca se
reproduziram. O tecido social do negro escravizado nada tinha a ver com família,
grupos e estratos sociais dos africanos nas suas origens. Assim, a religião negra
só parcialmente pôde se reproduzir no Novo Mundo. A parte ritual da religião
original mais importante para a vida cotidiana, constituída no culto aos
antepassados familiares e da aldeia, pouco se refez, pois, na escravidão, a
família se perdeu, a tribo se perdeu.
Na África, era o ancestral do povoado (egungum) que cuidava da ordem
do grupo, resolvendo os conflitos e punindo os transgressores que punham em
risco o equilíbrio coletivo. Quando as estruturas sociais foram dissolvidas pela
escravidão, os antepassados perderam seu lugar privilegiado no culto,
sobrevivendo marginalmente no novo contexto social e ritual.
Se a religião negra, ainda que em sua reconstrução fragmentada, era
capaz de dotar o negro de uma identidade negra, africana, de origem, que
recuperava ritualmente a família, a tribo e a cidade perdidas para sempre na
diáspora, era por meio do catolicismo, contudo, que ele podia se encontrar e se
mover no mundo real do dia-a-dia, na sociedade do branco dominador, que era

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o responsável pela garantia da existência do negro, ainda que em condições de
privação e sofrimento, e que controlava sua vida completamente. Qualquer
tentativa de superação da condição escrava, como realidade ou como herança
histórica, implicava primeiro a necessária inclusão no mundo branco. E logo
passava a significar o imperativo de ser, sentir-se e parecer brasileiro. Os negros
não podiam ser brasileiros sem ser ao mesmo tempo católicos. Foi o primeiro
embranquecimento da religiosidade negra.
As divindades mais diretamente ligadas às forças da natureza, os
“Orixás”, foram então sincretizados com os “Santos” católicos. Sincretismo quer
dizer "combinação de diversos princípios e sistemas", ecletismo, amálgama de
concepções heterogêneas. Palavra originária do grego e formada pelos radicais
“sim” (união, convergência) e “Creta” (ilha grega do Mar Egeu). Conta a História
que Creta era habitada por povos rivais, mas, quando foi invadida por um povo
estrangeiro, seus habitantes se uniram para defender a ilha do inimigo comum.
Daí vem o vocábulo “sincretismo”. Vale dizer, então, que o que houve no Brasil
não foi a união voluntária de crenças, mas o disfarce de uma crença em outra
para viabilizar sua existência, o que tem muito mais características de
“mimetismo” que de sincretismo.
É o somatório de diferentes filosofias e fundamentos magísticos que
tendem para uma igualdade, podendo ser diferentes na forma, mas semelhantes
na essência. Cada orixá corresponde a um santo católico, mas, de fato, não se
trata de um amálgama. As figuras não se confundem. Muitos dos santos
Católicos são cultuados também no candomblé e em outras religiões afro-latino-
americanas. Na época da escravidão, os negros escravizados criaram uma
maneira criativa e inteligente de enganar os seus senhores. Invocavam os seus
deuses africanos sob a forma dos santos católicos: Oxóssi na forma de São
Sebastião, Ogum como São Jorge, Oxalá como Jesus Cristo, Ibejis como Cosme
e Damião, Iansã como Santa Bárbara, os fios de contas como Nossa Senhora
do Rosário, entre outros.
Nessa época houve um sincretismo afro-católico denominado Cabula,
principalmente nas áreas rurais dos estados da Bahia e Rio de Janeiro, que,
segundo pesquisas históricas, são considerados os rituais negros mais antigos
de que se tem registro envolvendo imagens de santos católicos sincretizados
com orixás, herança da fase em que os cultos africanos eram reprimidos nas
senzalas, onde os antigos sacerdotes mesclavam suas crenças e culturas com
o catolicismo, a fim de conseguir praticar e perpetuar sua crença.
Acreditamos, respeitando as diferenças e a necessidade cármico-
evolutiva de cada terreiro, que as imagens africanas dos orixás são mais
originais e afins à umbanda do que qualquer outra. Basta olhar um Ogum
africano, simbolizando o orixá em seus atributos ancestrais que se perpetuam
no tempo, independentemente de uma individualidade. Porém, é impensável não
cultuar na umbanda o São Jorge dos católicos, em cima do cavalo, com lança
em punho subjugando o dragão, representando o orixá Ogum. Hoje, no entanto,
num ambiente de liberdade, devemos manter o sincretismo católico de acordo
com fé de cada grupo, porém conscientes das leis universais de reencarnação
que imputa aos espíritos santificados na Terra a abençoada reencarnação,
acima dos separatismos causados pelos dogmas religiosos.

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Entendendo a religiosidade eurocêntrica

Desde o início um ambiente católico marcou a história da colonização


brasileira, as marcas começam com a própria história da chegada de Cabral.
Basta ver o primeiro nome qual foi batizada essa “descoberta” lusitana de - Terra
de Santa Cruz – no ato de celebrar a primeira missa de ação de graças, e no
nome das primeiras vilas batizadas de São Vicente e Santos. Até mesmo na
forma de ocupação do espaço nas cidades brasileiras, que geralmente
cresceram tendo como centro a praça, onde se destaca uma igreja. No período
colonial a religião católica além de ser oficial, era obrigatória.
Usar imagens de santos cristãos, participar de irmandades católicas e
declarar fidelidade ao vaticano não ajudou muito, O código penal brasileiro
datado de 1830 proibia qualquer celebração que não seguisse a religião oficial
do Brasil – O catolicismo. A Proclamação da República foi determinante da
igualdade religiosa estabelecida pela primeira vez na Constituição da
República, em 1889, o Estado deixou de ter uma religião oficial, permitindo
assim que todos os credos, inclusive a nossa doutrina, se difundissem
livremente.
Desde o início as religiões afro-brasileiras se formaram em sincretismo
com o catolicismo, e em grau menor com religiões indígenas. O culto católico
aos santos, numa dimensão popular politeísta, ajustou-se como uma luva ao
culto dos panteões africanos. Por outro lado, no final do século passado, foram
introduzidas no País algumas denominações protestantes europeias e norte-
americanas. Essas religiões floresceram, assim como espiritismo kardecista
francês aqui chegado também no final do século XIX, por parte dos praticantes
da homeopatia, nomeadamente os médicos Benoît Jules Mure, natural de
França, e João Vicente Martins, de Portugal, que chegaram ao país em 1840 e
o aplicavam em seus clientes. Porém, foi o catolicismo que continuou sendo a
preferência de mais de 90% da população brasileira até os anos 1950. Também
foi na Bahia que se registou o início da reação da Igreja Católica, através da
pastoral "Contra os erros perniciosos do Espiritismo", em 1867.
Embora tenha repercutido em dezenas de países, a verdade é que o
espiritismo não achou muito espaço para prosperar. Porém a ideia de que é
possível falar com os mortos, no entanto, não era estranha em um país onde
crenças africanas e indígenas sempre figuraram em meio ao catolicismo oficial
e dominante. O caldeirão cultural brasileiro é só um dos fatores que explicam a
acolhida que o espiritismo teve no país, quando a doutrina de Kardec chegou da
França com explicações para casos extraordinários e assustadores que
agitavam o mundo. No Brasil, entretanto, o avanço do espiritismo foi notável
desde os primeiros anos, como o próprio Kardec festejou em uma edição de
1864 da Revista Espírita, quando afirma com satisfação “que a ideia espírita faz
progressos sensíveis no Rio de Janeiro, onde ela conta com numerosos
representantes, fervorosos e devotados”.
Norberto Peixoto em- Umbanda pé no chão – diz que “No tocante ao
espiritismo, a diferença básica, sem dúvida, é a ausência de ritual nos centros
espíritas, os quais estão presentes na umbanda em abundância, e até de
maneira anárquica e diversificada, ao contrário da rígida padronização existente
no movimento espírita ortodoxo. Entendemos que as semelhanças se dão
quanto ao apelo caritativo, à mediunidade, à aceitação da reencarnação e da
pluralidade dos mundos habitados, entre outras verdades universais. Entretanto,

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a maior semelhança entre ambas é a presença de Jesus, que na umbanda é
sincretizado com o orixá Oxalá. Por isso, ao anunciar a nova religião, o Caboclo
das Sete Encruzilhadas associou-a ao Evangelho de Nosso Senhor Jesus
Cristo”.
Podemos afirmar que a umbanda não é uma religião mediúnica
engessada, estratificada, como se fosse um exército que só pode trabalhar com
este ou aquele espírito. Quando analisamos esses fundamentos, verificamos
que exaltam-se a forma e minimizam-se a essência umbandista que o
caracteriza como um movimento caritativo mediúnico de inclusão espiritual, e
nunca de exclusão. A natureza cósmica não é rígida e imutável, e sim flexível e
em constante transformação.

Das macumbas à umbanda

Para compreender a religiosidade afro-brasileira há que se considerar a


escravidão de mais de 3 séculos, o trabalho artesanal dos libertos, quadros
sociais como estrutura familiar, organização política, corporativa, religiosa e os
aspectos geográficos, demográficos, políticos, econômicos e sociais em seus
diferentes níveis. Todas essas inter-relações revelam a complexidade dos temas
que envolvem origens religiosas, sobretudo, as matrizes africanas, neste país. A
organização das religiões negras no Brasil deu-se bastante recentemente. Uma
vez que as últimas levas de africanos trazidos para o Novo Mundo durante o
período final da escravidão (últimas décadas do século XIX) foram fixadas
sobretudo nas cidades e em ocupações urbanas, os africanos desse período
puderam viver no Brasil em maior contato uns com os outros, físico e
socialmente, com maior mobilidade e, de certo modo, liberdade de movimentos,
num processo de interação que não conheceram antes.
Roger Bastide no livro – As Religiões Africanas no Brasil diz que “Durante
o longo período de escravidão, mais de trezentos anos, ocorreram mudanças na
economia brasileira, estrutura social rural ou urbana, nos processos de
miscigenação. Com o advento da República, as religiões africanas sofrem o
impacto da modificação na estrutura demográfica, bem como novas
estratificações sociais […] uma vez que o negro seja camponês, artesão,
proletário, ou constitua uma espécie de sub-proletariado, sua religião se
apresentará diversamente ou exprimirá posições diversas, condições de vida e
quadros sociais não identificáveis”.
Do convívio entre índios e negros aconteceu uma natural integração
desses conhecimentos que acabou por produzir modificações tanto na religião
dos escravos, quanto na dos índios. Por fim, vale salientar que o próprio
catolicismo praticado naquela época pelo elemento branco era uma religião
marcada por superstições e por misticismo: crença no demônio, em práticas de
bruxaria, em acontecimentos miraculosos e sobrenaturais, enfim, em elementos
“mágicos”, decorrentes de práticas originadas principalmente na Idade Média, a
idade das trevas. Além disso, era extremamente comum, nos momentos de
dificuldades, como doenças em família, os senhores brancos procurarem em
segredo os curandeiros negros nas senzalas, para pedir ajuda aos Orixás.
Muitos foram os cultos que surgiram dessa mudança social dos negros e
indígenas que também, como forma de resistência à opressão portuguesa,
encontraram abrigo na religião.

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Troncos Religiosos
No fim do Séc. XIX e início do
Séc. XX

Espiritismo
Rituais Catolicismo
Cultos de nação Kardecista
Ameríndios (Oficial)
1840

Candomblé Nago Camdomblé Tambor de mina Camdomblé de


Culto da Jurema
Yorubá Angola Banto Fon Caboclo

Terecô Catimbo

Em 1888, a Lei Áurea extinguiu a escravidão no Brasil oficialmente e


libertou milhões de negros que, fora das fazendas, embora livres, não tinham de
onde tirar seu sustento. Os negros estavam fadados à miséria, aqueles que não
permaneceram nas fazendas, ocupavam áreas excluídas, e tornavam-se mão
de obra barata nas cidades desenvolvidas. Muitos desses ex-escravos, por força
de sua religião ancestral, estavam habituados ao intercâmbio com mundo
espiritual e dominavam alguns conhecimentos manipulatórios. Encontraram
nisso uma forma de sobrevivência, fazendo curas, benzimentos, e trabalhos
espirituais diversos em troca de dinheiro. Começaram a surgir locais destinados
à prática das chamadas “magias negras” em troca de dinheiro. Esses locais eram
muito frequentados, em razão de ser grande a quantidade de excluídos na nossa
sociedade do fim do Séc. XIX e início do Séc. XX. As falanges do mal
encontravam terreno fértil para se propagarem.
Sabemos que a evolução espiritual não acontece igualmente para todos
e, milhares de espíritos detentores de conhecimentos científicos mantiveram-se
afastados da Lei Divina, numa atitude de revolta e insubordinação, formando no
astral uma corrente de baixíssima vibração, dispostos sempre a usar seus
conhecimentos para praticar o mal, semeando dor e sofrimento na face do
planeta, sempre que encontrassem condições propícias para estabelecerem seu
império entre os encarnados, criando óbices para o desenvolvimento do planeta
como um todo. As práticas cultivadas e ensinadas por esses espíritos acabaram
ganhando a denominação genérica de “magia negra”, que nada mais é que a
aplicação de conhecimentos científicos com o objetivo de fazer o mal.
João do Rio, em um dos primeiros livros a tratar a religião no início do
século passado relata em – As religiões do Rio – que em 1904, “Vivemos na
dependência do feitiço, dessa caterva de negros e negras babalorixás e yauôs,
somos nós que lhes asseguramos a existência, com o carinho de um negociante
por uma amante atriz. O feitiço é o nosso vício, mas o nosso gozo, a
degeneração. Exige, damos-lhe; explora, deixamo-nos explorar e, seja ele
maitre-chanteur (chantagista), assassino, larápio, fica sempre impune e forte
pela vida que lhe empresta o nosso dinheiro”.

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Rapidamente os terreiros abertos com essa finalidade caíram na simpatia
da grande massa excluída da população e passaram a ser frequentados em
busca de todo tipo de ajuda, inclusive em busca de trabalhos dirigidos para as
vinganças pessoais, para as conquistas amorosas entre outras práticas
atentatórias ao exercício do livre arbítrio e consequentemente à Lei Divina.
Essas tendas, muito populares, principalmente no Rio de Janeiro, recebiam a
designação de “macumbas”.
A providência divina, sempre atenta às necessidades dos homens, não
tardaria a intervir para impedir um avanço desproporcional do mal. No ano de
1908 foi criado o movimento que se destinava a empreender veemente combate
às práticas espúrias de “magia”, bem como a levar o bálsamo divino a todos
aqueles que necessitassem de ajuda, principalmente os pobres e excluídos que
nada tinham. Como explica Ramatis em – Umbanda pé no chão – “Na verdade,
antes de ser anunciada para os habitantes da Terra pelo Caboclo das Sete
Encruzilhadas, a umbanda já existia no Espaço, congregando uma plêiade de
espíritos comprometidos com a universalidade do amor pregado por Jesus que,
nos seus primórdios, se apresentavam através da mediunidade basicamente
como caboclos e pretos velhos, por se ligarem às raças excluídas do mediunismo
pelo preconceito do movimento espírita da época. Essa situação demonstra um
atavismo milenar dos espíritas que nada tem a ver com o espiritismo, doutrina
libertadora por natureza”.
Infelizmente, ainda hoje, entidades que se apresentam como negras e
índias são proibidas de manifestarem suas culturas e suas peculiaridades em
muitos centros espíritas, como se os espíritos fossem exatamente iguais, como
robôs: todos de raça branca, médicos, advogados, filósofos judaico-cristãos e
ex-sacerdotes católicos, de fala padronizada (uma vez que decoram as obras
básicas), com jeito choroso de pregador evangélico e idêntica compreensão do
além túmulo. Seria um parâmetro artificial, porque logo constatamos, no decorrer
do exercício da mediunidade, que a maioria dos espíritos não são "espíritas",
pois apresentam enorme diversidade de entendimento espiritual, no qual
predomina diferentes filosofias e religiões que convergem em direção às
verdades universais consagradas no espiritismo, e existentes muito antes da
recente codificação kardequiana, que formaram suas consciências
desencarnadas ao longo da história planetária.

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No plano superior percebeu-se, então, a iminente necessidade de se fazer
alguma coisa para atender esses excluídos da sociedade, já que os centros
espíritas kardecistas eram muito elitizados. Enquanto esses fatos se sucediam,
milhões de espíritos ligados por fortes vínculos afetivos ao orbe terrestre e
profundos conhecedores da ciência cósmica, formavam, com a permissão e a
bênção de Jesus, uma fraternidade no Astral Superior. A chamada Corrente
Astral de Umbanda.

Como nasceu a caçula da família

Entre todos os cultos, com a influencias da religiosidade dos (negros,


indígenas e europeus) que surgiram no país, o mais novo é a Umbanda. Talvez
por isso a confusão histórica de relatar suas origens. Vamos achar na literatura
existente diversas narrativas que devem ser levadas em consideração. Há os
autores que acreditam estarem as origens da Umbanda ligadas aos primórdios
do planeta. Entende-se aqui ser essa última visão a mais acertada, em relação
a criação da Umbanda no Plano Espiritual, contudo é preciso ter cautela na
assunção desse entendimento, pois existe muita versão fantasiosa, falando de
práticas típicas de Umbanda cultivadas na Terra há centenas de milhares de
anos, por espíritos oriundos de outros orbes e de outras galáxias, encarnando e
criando civilizações extremamente evoluídas e travando confrontos na extinta
Atlântida entre magia positiva e magia negativa.
O marco de fundação das Umbanda já foi narrado ou mencionado
inúmeras vezes nos mais diversos contextos, como livros de umbandistas e
estudiosos da religião (duas categorias que obviamente podem se sobrepor),
revistas umbandistas, sites diversos e apostilas formuladas por terreiros e
federações. É difícil encontrar um texto, acadêmico ou não, sobre a umbanda (a
não ser quando trata de questões muito específicas) que não faça uma
referência direta ou indireta a ele, tratando-o como mito propriamente dito ou
como marco histórico de fundação.
Diversos pesquisadores da temática religiosa vêm se dedicando a estudar
o papel dos mitos na história da criação das religiões. Para Mircea Eliade “O mito
é uma realidade cultural extremamente complexa, que pode ser abordada e
interpretada em perspectivas múltiplas e complementares. O mito conta uma
história sagrada, relata um acontecimento que teve lugar no tempo primordial, o
tempo fabuloso dos começos. O mito conta graças aos feitos dos seres
sobrenaturais, uma realidade que passou a existir, é sempre portanto uma
narração de uma criação, descreve-se como uma coisa foi produzida, como
começou a existir”.
Retirado de textos produzidos por intelectuais umbandistas, o marco de
fundação, talvez seja um dos poucos pontos comuns entre essa intelectualidade.
Boa parte desse grupo reconhece na estória de Zélio Fernandino de Morais, a
história de fundação da Umbanda. Desde o Primeiro Congresso de Umbanda,
realizado em 1941, esse mito fundador vem ganhando notoriedade. E como
complementa Marilena Chauí – “Esse mito se torna fundador quando ele se
coloca como referente a um momento passado imaginário, tido como instante
originário que se mantém vivo e presente no curso do tempo...”

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A História de Zélio Fernandino de Moraes

O texto que se segue narra o mito de criação da Umbanda pelo


Caboclo das Sete Encruzilhadas, foi baseado em informações verídicas obtidas
diretamente de fitas gravadas pela senhora Lilian Ribeiro, presidente da Tenda
de Umbanda Luz, Esperança, Fraternidade (TULEF), que contêm os fatos
históricos narrados, possíveis de serem escutados na voz de Zélio de Moraes,
manifestado mediunicamente com o Caboclo das Sete Encruzilhadas. Esse texto
foi inicialmente publicado por Norberto Peixoto em – Umbanda Pé no Chão.

Zélio Fernandino de Moraes em reunião na Tenda Espírita Nossa Senhora da Piedade

Zélio Fernandino de Moraes nasceu no dia 10 de abril de 1891, no distrito de Neves,


município de São Gonçalo - Rio de Janeiro. Aos dezessete anos, quando estava se preparando
para servir as Forças Armadas através da Marinha, aconteceu um fato curioso: começou a falar
em tom manso e com um sotaque diferente da sua região, parecendo um senhor com bastante
idade. A princípio, a família achou que houvesse algum distúrbio mental e o encaminhou ao seu
tio, Dr. Epaminondas de Moraes, Diretor do Hospício de Vargem. Após alguns dias de
observação e não encontrando os seus sintomas em nenhuma literatura médica, sugeriu à
família que o encaminhassem a um padre para que fosse feito um ritual de exorcismo, pois
desconfiava que seu sobrinho estivesse possuído pelo demônio. Procuraram, então, também um
padre da família que após fazer ritual de exorcismo não conseguiu nenhum resultado.
Tempos depois Zélio foi acometido por uma estranha paralisia, para o qual os médicos
não conseguiram encontrar a cura. Passado algum tempo, num ato surpreendente Zélio ergueu-
se do seu leito e declarou: "Amanhã estarei curado". No dia seguinte começou a andar como se
nada tivesse acontecido. Nenhum médico soube explicar como se deu a sua recuperação. Sua
mãe, D. Leonor de Moraes, levou Zélio a uma curandeira chamada D. Cândida, figura conhecida
na região onde morava e que incorporava o espírito de um preto velho chamado Tio Antônio.
Tio Antônio recebeu o rapaz e fazendo as suas rezas lhe disse que possuía o fenômeno
da mediunidade e deveria trabalhar com a caridade. O Pai de Zélio de Moraes, Sr. Joaquim
Fernandino Costa, apesar de não frequentar nenhum centro espírita, já era um adepto do
espiritismo, praticante do hábito da leitura de literatura espírita. No dia 15 de novembro de 1908,
por sugestão de um amigo de seu pai, Zélio foi levado a Federação Espírita de Niterói. Chegando
na Federação e convidados por José de Souza, dirigente daquela Instituição, sentaram-se à
mesa. Logo em seguida, contrariando as normas do culto realizado, Zélio levantou-se e disse
que ali faltava uma flor. Foi até o jardim apanhou uma rosa branca e colocou-a no centro da
mesa onde realizava-se o trabalho.

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Tendo-se iniciado uma estranha confusão no local, ele incorporou um espírito e
simultaneamente diversos médiuns presentes apresentaram incorporações de caboclos e pretos
velhos. Advertidos pelo dirigente do trabalho, a entidade incorporada no rapaz perguntou:
"Por que repelem a presença dos citados espíritos, se nem sequer se dignaram a ouvir
suas mensagens? Seria por causa de suas origens sociais e da cor?"
Após um vidente ver a luz que o espírito irradiava perguntou:
"Por que o irmão fala nestes termos, pretendendo que a direção aceite a manifestação
de espíritos que, pelo grau de cultura que tiveram quando encarnados, são claramente
atrasados? Por que fala deste modo, se estou vendo que me dirijo neste momento a um jesuíta
e a sua veste branca reflete uma aura de luz? E qual o seu nome meu irmão?"
Ele responde:
“Se julgam atrasados os espíritos de pretos e índios, devo dizer que amanhã estarei na
casa deste aparelho, para dar início a um culto em que estes pretos e índios poderão dar sua
mensagem e, assim, cumprir a missão que o plano espiritual lhes confiou. Será uma religião que
falará aos humildes, simbolizando a igualdade que deve existir entre todos os irmãos,
encarnados e desencarnados. E se querem saber meu nome que seja este: Caboclo das Sete
Encruzilhadas, porque não haverá caminhos fechados para mim”.
O vidente ainda pergunta:
"Julga o irmão que alguém irá assistir a seu culto?"
Novamente ele responde;
“Colocarei uma condessa em cada colina que atuará como porta-voz, anunciando o culto
que amanhã iniciarei."
Depois de algum tempo todos ficaram sabendo que o jesuíta que o médium verificou
pelos resquícios de sua veste no espírito, em sua última encarnação foi o Padre Gabriel
Malagrida.
No dia 16 de novembro de 1908, na rua Floriano Peixoto, 30 • Neves • São Gonçalo •
RJ, aproximando-se das 20:00 horas, estavam presentes os membros da Federação Espírita,
parentes, amigos e vizinhos e do lado de fora uma multidão de desconhecidos. Pontualmente às
20:00 horas o Caboclo das Sete Encruzilhadas desceu e usando as seguintes palavras iniciou o
culto:
“Aqui inicia-se um novo culto em que os espíritos de pretos velhos africanos, que haviam
sido escravos e que desencarnaram não encontram campo de ação nos remanescentes das
seitas negras, já deturpadas e dirigidas quase que exclusivamente para os trabalhos de feitiçaria,
e os índios nativos da nossa terra, poderão trabalhar em benefícios dos seus irmãos encarnados,
qualquer que seja a cor, raça, credo ou posição social. A prática da caridade no sentido do amor
fraterno será a característica principal deste culto, que tem base no Evangelho de Jesus e como
mestre supremo Cristo".
Após estabelecer as normas que seriam utilizadas no culto e com sessões diárias das
20:00 às 22:00 horas, determinou que os participantes deveriam estar vestidos de branco e o
atendimento a todos seria gratuito. Disse também que estava nascendo uma nova religião e que
chamaria Umbanda. O grupo que acabara de ser fundado veio a receber mais tarde o nome de
Tenda Espírita Nossa Senhora da Piedade e o Caboclo das Sete Encruzilhadas disse as
seguintes palavras:
“Assim como Maria acolhe em seus braços o filho, a tenda acolherá aos que a ela
recorrerem as horas de aflição; todas as entidades serão ouvidas, e nós aprenderemos com
aqueles espíritos que souberem mais e ensinaremos aqueles que souberem menos e a nenhum
viraremos as costas e nem diremos não, pois esta é a vontade do Pai".
Ainda respondeu perguntas de sacerdotes que ali se encontravam em latim e alemão.
Caboclo foi atender um paralítico, fazendo este ficar curado. Passou a atender outras pessoas
que havia neste local, praticando suas curas. Nesse mesmo dia incorporou um preto velho
chamado Pai Antônio, aquele que, com fala mansa, foi confundido como loucura de seu aparelho
e com palavras de muita sabedoria e humildade e com timidez aparente, recusava-se a sentar-
se junto com os presentes à mesa dizendo as seguintes palavras:
"Nêgo num senta não meu sinhô, nêgo fica aqui mesmo. Isso é coisa de sinhô branco e
nêgo deve arrespeitá".
Após insistência dos presentes fala:
“Num carece preocupá não. Nêgo fica no toco que é lugá di nêgo".
Assim, continuou dizendo outras palavras representando a sua humildade. Uma pessoa
na reunião pergunta se ele sentia falta de alguma coisa que tinha deixado na terra e ele responde:
“Minha caximba, nêgo qué o pito que deixou no toco. Manda mureque buscá".

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Tal afirmativa deixou os presentes perplexos, os quais estavam presenciando a
solicitação do primeiro elemento de trabalho para esta religião. Foi Pai Antônio também a
primeira entidade a solicitar uma guia, até hoje usadas pelos membros da Tenda e
carinhosamente chamada de "Guia de Pai Antônio".
No outro dia formou-se verdadeira romaria em frente a casa da família Moraes. Cegos,
paralíticos e médiuns que eram dados como loucos foram curados. A partir destes fatos fundou-
se a Corrente Astral de Umbanda. Após algum tempo manifestou-se um espírito com o nome de
Orixá Malê, este responsável por desmanchar trabalhos de baixa magia, espírito que, quando
em demanda era agitado e sábio destruindo as energias maléficas dos que lhe procuravam.
Dez anos depois, em 1918, o Caboclo das Sete Encruzilhadas, recebendo ordens do
astral, fundou sete tendas para a propagação da Umbanda, sendo elas as seguintes:
Tenda Espírita Nossa Senhora da Guia
Tenda Espírita Nossa Senhora da Conceição
Tenda Espírita Santa Bárbara
Tenda Espírita São Pedro
Tenda Espírita Oxalá
Tenda Espírita São Jorge
Tenda Espírita São Jerônimo
As sete linhas que foram ditadas para a formação da Umbanda são: Oxalá, Iemanjá,
Ogum, Iansã, Xangô, Oxossi e Exu. Enquanto Zélio estava encarnado, foram fundadas mais de
10.000 tendas a partir das acima mencionadas. Zélio nunca usou como profissão a mediunidade,
sempre trabalhou para sustentar sua família e muitas vezes manter os templos que o Caboclo
fundou, além das pessoas que se hospedavam em sua casa para os tratamentos espirituais, que
segundo o que dizem parecia um albergue. Nunca aceitar a ajuda monetária de ninguém era
ordem do seu guia chefe, apesar de inúmeras vezes isto ser oferecido a ele. O ritual sempre foi
simples.
Nunca foi permitido sacrifícios de animais. Não utilizavam atabaques ou qualquer outros
objetos e adereços. Os atabaques começaram a ser usados com o passar do tempo por algumas
das Tendas fundadas pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas, mas a Tenda Nossa Senhora da
Piedade não utiliza em seu ritual até hoje. As guias usadas eram apenas as determinadas pelas
entidades que se manifestavam. A preparação dos médiuns era feita através de banhos de ervas
e do ritual do amaci, isto é, a lavagem de cabeça onde os filhos de Umbanda fazem a ligação
com a vibração dos seus guias.
Após 55 anos de atividade, entregou a direção dos trabalhos da Tenda Nossa Senhora
da Piedade a suas filhas Zélia e Zilméia, as quais até hoje os dirigem.

Mais tarde, junto com sua esposa Maria Isabel de Moraes, médium ativa da Tenda e
aparelho do Caboclo Roxo, fundaram a Cabana de Pai Antonio no distrito de Boca do Mato,
Cachoeira do Macacú•RJ. Eles dirigiram os trabalhos enquanto a saúde de Zélio permitiu.
Faleceu aos 84 anos, no dia 03 de outubro de 1975.
Relembrando fatos passados em mais de meio século de atividade espiritualista, Zélio
refere-se a centenas de tendas de Umbanda fundadas na Guanabara, em São Paulo, Estado do
Rio, Minas, Espírito Santo, Rio Grande do Sul. A Federação de Umbanda do Brasil, hoje União
Espiritista de Umbanda do Brasil, foi criada por determinação do Caboclo das Sete
Encruzilhadas, a 26 de agosto de 1939.
Da gravação feita durante a celebração festiva, reproduzimos para os leitores, o trecho
final da mensagem do Caboclo das Sete Encruzilhadas:
"A Umbanda tem progredido e vai progredir muito ainda. É preciso haver sinceridade,
amor de irmão para irmão, para que a vil moeda não venha a destruir o médium, que será mais
tarde expulso, como Jesus expulsou os vendilhões do templo. É preciso estar sempre de
prevenção contra os obsessores, que podem atingir o médium. É preciso ter cuidado e haver
moral, para que a Umbanda progrida e seja sempre uma Umbanda de humildade, amor e
caridade. Essa é a nossa bandeira. Meus irmãos: sêde humildes, trazei amor no coração para
que pela vossa mediunidade possa baixar um espírito superior; sempre afinados com a virtude
que Jesus pregou na Terra, para que venha buscar socorro em vossas casas de caridade, todo
o Brasil... “
“Tenho uma coisa a vos pedir: Se Jesus veio ao planeta Terra na humilde manjedoura,
não foi por acaso, não. Foi o Pai que assim o determinou. Que o nascimento de Jesus, o espírito
que viria traçar à humanidade o caminho de obter a paz, saúde e felicidade, a humildade em que
ele baixou neste planeta, a estrela que iluminou aquele estábulo, sirva para vós, iluminando

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vossos espíritos, retirando os escuros da maldade por pensamento, por ações; que Deus perdoe
tudo o que tiverdes feito ou as maldades que podeis haver pensado, para que a paz possa reinar
em vossos corações e nos vossos lares. Eu, meus irmãos, como o menor espírito que baixou à
Terra, mas amigo de todos, numa concentração perfeita dos espíritos que me rodeiam neste
momento, peço que eles sintam a necessidade de cada um de vós e que, ao sairdes deste templo
de caridade, encontreis os caminhos abertos, vossos enfermos curados e a saúde para sempre
em vossa matéria. Com o meu voto de paz, saúde e felicidade, com humildade, amor e caridade,
sou e serei sempre o humilde CABOCLO DAS SETE ENCRUZILHADAS."

Caboclo das Sete Encruzilhadas e o Padre Gabriel Malagrida

A Narração do episódio de criação pelo próprio Zélio pode ser vista no


Youtube no link: https://www.youtube.com/watch?v=Ulb47xZiF38

Etimologia da palavra Umbanda

O Desenvolvimento etimológico da palavra umbanda, dada a falha da


maioria dos nossos dicionários, gerou controvérsias, pretendendo cada um dar
sua explicação, sem haver base concreta real.
Como vimos anteriormente na narrativa do marco de fundação da
Umbanda pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas, foi o mesmo que definiu o termo
Umbanda como sendo uma variação do termo Alabanda, sendo Alá referente a
“Deus” e, Banda referente a “Todos”, ou seja, “Deus com todos” ou melhor
dizendo “Deus conosco”.
O que existe na verdade é muita confusão entre os termos Quimbanda e
Umbanda, inclusive nos significados e o que cada uma prega. Sobre a
Quimbanda teremos um capítulo específico para falar sobre o assunto, já o
vocábulo umbanda podemos descrever dois caminhos a conhecer, sendo que
um não anula o outro.
Armando Cavalcante, pesquisar de Umbanda descreve em 1970 essa
dualidade em seu livro – O que é Umbanda. “Como alguns pensam, o termo

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sempre existiu na língua Quimbundo, como em muitos dialetos bantos falados
em Angola, Congo, Guiné, entre outros. Basta consultar qualquer gramática ou
dicionário relativos a essa língua. Outros opinaram que a origem remota repouse
no orientalismo iniciático no qual o mantra AUM–BHANDA representa alto
significado em sentido divino”. O fato que Armando se refere ocorreu no 1º
Congresso Brasileiro de Espiritismo de Umbanda em 1941. Vejamos essas duas
correntes de pensamento não estão incorretas, e como hoje, podemos perceber,
elas não são tão contraditórias.

Etimologia africana da Palavra Umbanda

Uma de suas origens etimológicas é o Quimbundo, que é uma das línguas


com predominância em grande área da África. A língua geral dos Angolanos é
conhecida como Bundo, e muito parecida o Quicongo ao norte e Umbundo ao
sul. É nessa língua que vemos os primeiros registros da palavra Umbanda por
missionários, principalmente pastores anglicanos egressos de regiões da África
de colonização holandesa.
O vocábulo Quimbanda é imponente na língua Bundo, já Umbanda
aparece nos registros da língua congolesa. Para ilustrar vejam a frase – Ngejiami
umbanda” – que significa exatamente, “Conheci a arte de curar”.
O historiador Artur Ramos descreve que “Os negros bantos e mestiços
cariocas diziam “Linha de Umbanda”, no sentido de prática religiosa”. Já Edson
Carneiro em 1954, em seu livro - Religiões Negras – afirma que: “ouviu o
vocábulo QUIMBANDA na Bahia ao ouvir cantos em rituais religiosos Gegê”. Ou
seja a nação FON já usava esse termo em seus rituais.
Vejamos então como etimologicamente como essa palavra foi criada no
idioma Quimbundo:
O verbo KU MBANDA (CURAR) deriva pela substituição do prefixo KI do
substantivo KI MBANDA, o qual significa em angola: Curandeiro ou médico
ocultista. É preciso agora entender como era a sociedade africana e seus
costumes ancestrais, onde as curas eram realizadas em rituais “magisticos” por
curandeiros capazes de fazer essa comunicação entre os planos espirituais e
suas divindades. Cabe aqui grifar que não estamos falando de feitiçaria, e sim
de curas, pois o feiticeiro era conhecido como o MOLUJI, já o responsável nas
aldeias era conhecido como Ki-mbanda.
Por sua vez, sendo esse prefixo KU substituído pelo prefixo U forma um
nome abstrato a qual designa arte ou ofício. Nesse sentido o termo U-MBANDA,
significa “a arte de curar” ou mesmo “o ofício de médico ocultista”.

Etimologia Oriental da Palavra Umbanda

Bem ao leste no território Africano originaram-se as civilizações Egípcia e


a Etíope, e ainda a nordeste, no coração da Ásia, às margens do Ganges, na
Índia, originou-se a civilização ariana. Região essa onde os dialetos tem sua
origem no Sânscrito que é uma língua antiquíssima originada na Índia e que é,

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inclusive, considerada pelos linguistas como a língua mãe da maioria das que
são faladas no mundo ocidental.
A origem remota do vocábulo Umbanda defendida pela Fraternidade do
Grande Coração, no 1º Congresso de Espiritismo de Umbanda, que ocorreu no
ano de 1941, repousa no orientalismo iniciático dessas civilizações, no qual o
mantra AUM-BHANDA da língua Adâmica representa alto significado em sentido
divino.
Isso sob o pressuposto de que o legado dos arianos sobre a crença nos
Orixás foi levado adiante pela civilização etíope, que o disseminou entre os
povos da África subsaariana. Sabemos que pelo contato existente, através do
Egito, Etiópia e da Índia, não é inverossímil que tivesse penetrado nas terras
africanas onde hoje é Nígéria, Congo e Angola e, em aculturações posteriores
sofresse modificações, tanto no sentido inicial, como na prática, dando o
surgimento do radical banto MBANDA. Na medida, contudo, que o tempo ia
passando, muito do conhecimento original ia se perdendo. Os povos africanos
Ioruba e Banto, herdeiros desse conhecimento oriental, e muito primitivos,
preservaram a crença nos Orixás e Inquises, mas interpretaram esse
conhecimento a seu modo, personificando e divinizando os fenômenos da
natureza, transformando a religião original em uma crença politeísta.
Nesse sentido a etiologia do vocábulo Umbanda seria na verdade uma
corruptela da palavra originária do idioma sânscrito, “Aumpram”, que significa:
Conjunto das leis de Deus ou Princípio Divino.

Onde todos tem razão

Se a Umbanda é uma doutrina religiosa espiritualista, de caráter


universalista, fundada exclusivamente na prática do bem e do amor ao próximo,
repudiando qualquer atitude que vise a provocar malefícios ou a interferir no livre-
arbítrio de qualquer ser, ou na harmonia da natureza. Podemos dizer que
nenhuma das correntes, seja ela mais africanista ou mais orientalista está
errada, já que Umbanda na união das duas correntes de pensamento seria nada
mais que: “A arte de curar, sob o conjunto das leis de Deus. Ou seja,
Umbanda é a lei do servir incondicionalmente; ensinada por Nosso Senhor Jesus
Cristo em seu evangelho, cultivando sempre a cura dos encarnados e
desencarnados por meio da caridade, do amor e do perdão.
Neste capítulo, mostramos que nossa intenção não é recomendar uma
prática de umbanda purista, mas sim fortalecer sua identidade, suas raízes
ancestrais, inseridas num contexto social e psicológico atual, livre de
perseguições e preconceitos religiosos, num ambiente de saudável diversidade,
em que as diferenças devem unir e as semelhanças fortalecer. Em Umbanda
não cabe o julgamento de qual matriz teve maior ou menor importância na sua
criação, cabe apenas, o respeito à diversidade étnica e cultural que veio agregar
espíritos diversos em uma mesma orbe, todos em prol do bem maior.

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Glossário:
- Alabanda – Mármore negro, cujo nome, dado por Plínio, é o do lugar onde foi
encontrado na Turquia. Zélio de Moraes começa a trabalhar com a entidade
conhecida como Orixá Mallet , que era malaio e muçulmano (Alá é a forma como
os muçulmanos chamam Deus).e o nome Alabanda foi dado em homenagem a
esse orixá.
- Cabula - é o nome pelo qual foi chamada, na Bahia, uma seita afro-brasileira
criada pelos negros Bacongo e Angola, de caráter secreto, sincretizadora de
leque malê, banto e catolcismo. Nascida no quilombo Cabula.
- Candomblé de Caboclo - é todo candomblé que além do culto aos orixás,
voduns ou nkisis, cultua também espíritos ameríndios chamados de entidades,
catiços.
- Catimbó Jurema - O termo "Catimbó”, nas línguas Tupi e Guarani, significa
respectivamente "fumaça de mato" e "vapor de erva". - também chamado
"Jurema", "Jurema Sagrada" e "Culto aos Senhores Mestres".
- Cosmogonia – corpo de doutrinas, princípios (religiosos, míticos ou científicos)
que se ocupa em explicar a origem, o princípio do universo; cosmogênese.
- Jurema - (Mimosa hostilis), planta nativa do agreste e sertão nordestinos, é um
arbusto Fabáceo, do qual se fabrica uma série de banhos, defumadores e
bebidas que na tradição recebem o mesmo nome da planta. Essas bebidas,
geralmente comungadas nos rituais, também conhecidas como Vinho da
Jurema, são preparadas de maneira reservada pelos juremeiros que as
consideram sagradas. A ingestão da Jurema, em conjunto com os toques, as
cantigas rituais do catimbó, é capaz de provocar um estado de transe profundo,
interpretado pelos Catimbozeiros como a incorporação dos Mestres da Jurema.
- Morená – Universo mítico indígena no qual espíritos de humanos, plantas,
animais e divindades coexistem em harmonia dinâmica.
- Pajelança - diz respeito a um sistema médico-religioso praticado na região
amazônica, no qual se recebem entidades chamadas de encantados. O curador
ou pajé entra em transe, identificando o mal que acomete a pessoa que buscou
ajuda, e prepara medicamentos naturais para o tratamento das enfermidades.
- Sincretismo - deriva do termo grego, "reunião de vários Estados da ilha de
Creta contra o adversário comum". - Sincretismo é a absorção de um sistema
de crenças por outro.
- Terecô - é a denominação de uma das religiões afro-brasileiras da cidades de
Codó no Maranhão e Teresina no Piauí. Também é chamado de Encantaria de
Barba Soeira, Tambor da Mata ou simplesmente Mata. Os sacerdotes
desempenham funções de rezadores e curandeiros, tipificados de origem
indígena, cultuam cablocos, e integram elementos de tradição religiosas
africanas.

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