EDITORA UNISINOS
2013
APRESENTAÇÃO
Uma definição para Finanças pode ser dada como a arte e a ciência da gestão do
dinheiro, como diria Lawrence J. Gitman em seu livro Princípios de Administração
Financeira (2004). Finanças é uma área que abrange tanto a vida das pessoas como das
organizações, e por isso é muito ampla e dinâmica. Mas mesmo que você não planeje se
especializar em finanças, será que o assunto ainda é importante para você?
Vamos ver por que deve ser importante. A todo o momento tomamos decisões na vida,
e por isso certamente conhecer finanças será importante para qualquer pessoa. Primeiro,
porque todas as pessoas precisam tomar decisões pessoais sobre os investimentos, seja para
aquisição de um imóvel, de um veículo, seja o investimento para planejar a aposentadoria. E
todas as decisões que envolvem dinheiro envolvem também os conhecimentos em finanças.
Segundo, porque todas as decisões de negócios no mercado envolvem conhecimento em
finanças. Em geral, são tomadas as decisões por departamentos especializados, por pessoas
com muito conhecimento e competência para que as organizações tenham sucesso nas
decisões dos negócios. Por isso, independentemente da sua área de atuação, conhecer
finanças é essencial para ser uma pessoa bem-sucedida nos negócios.
Quando as pessoas pensam em finanças geralmente pensam no sistema bancário. Mas
finanças oferecem boas oportunidades em pelo menos três grandes áreas no mercado: (i) no
mercado financeiro e de capitais, operando com títulos no mercado e instituições financeiras,
operando com serviços financeiros que podem ser serviços bancários, serviços de
planejamento financeiro pessoal, investimentos, seguros e imóveis; (ii) investimentos,
atuando como consultor e analista no mercado, em corretoras, firmas de assessoria financeira,
planejamento de investimentos pessoais; e (iii) na administração financeira de empresas,
como administrador financeiro da organização, na qual pode operar com planejamento
financeiro, concessão de crédito, avaliação de projetos, captação de recursos para financiar a
empresa, entre outros.
Além das oportunidades na carreira, conhecer finanças é extremamente importante para
quem trabalha nessa área nas organizações. A administração financeira de uma empresa
reflete o seu sucesso ou o seu fracasso no mercado. Você já deve ter ouvido falar em
empresas de sucesso, tais como General Eletric, Microsoft, Dell Computer, Wal-Mart, Intel.
E o que será que elas têm em comum e que faz a diferença? A resposta é: a geração de valor
para seus investidores. Uma empresa que gera valor para quem investe nela é sinônimo de
sucesso no mercado, pois consegue tomar as melhores decisões de investimentos e
financiamentos de forma a crescer no mercado e ao mesmo tempo gerar valor para os
investidores.
E algumas palavras são chave para o sucesso de uma empresa: geração de fluxo de
caixa. Se uma empresa não tem capacidade de gerar fluxo de caixa, não gera valor para os
investidores, nem para os seus empregados, clientes e fornecedores. Todos os que estão de
alguma forma ligados à empresa precisam que a mesma seja bem-sucedida para que todos
sejam beneficiados.
A administração financeira envolve desde a definição do capital a ser investido em uma
operação, a estrutura de capital da empresa, a gestão de risco dos negócios, a análise de
viabilidade de projetos, avaliação de crédito, financiamento, a emissão de títulos de dívida, a
gestão dos fluxos de caixa da empresa, até a geração de valor no mercado. E todos os setores
de uma empresa estão ligados ao setor financeiro, assim como o setor financeiro da empresa
precisa se comunicar com todas as áreas da organização para tomar as decisões mais
adequadas.
Ao longo deste livro, você aprenderá sobre o mercado financeiro, seus processos,
instituições, técnicas e instrumentos que estão relacionados à gestão do dinheiro. Para pessoas
que não operam diretamente no mercado financeiro ou no setor financeiro de uma empresa,
os conhecimentos adquiridos com este livro ajudarão a se beneficiarem e compreenderem
melhor como tomar as decisões de investimento pessoais mais adequados e rentáveis. E para
pessoas que trabalham na área de finanças, é muito importante que conheçam bem todos os
conhecimentos dessa área, pois assim poderão interagir com o mercado com mais
competência.
LISTA DE FIGURAS
SOBRE OS AUTORES
CAPÍTULO 1
Neste capítulo você aprenderá a importância da intermediação financeira, como está organizado o
mercado financeiro e o mercado de capitais no Brasil, suas funções, principais órgãos que o
compõe, quem são os principais agentes do mercado e como funcionam as principais operações
financeiras.
Os órgãos normativos do sistema financeiro são responsáveis por ditar as normas que os
demais órgãos deverão seguir. Eles exercem um papel muito importante no sistema financeiro
nacional, pois devem promover o desenvolvimento da economia, servindo aos interesses
comuns da população. Os órgãos normativos são: o Conselho Monetário Nacional (CMN), o
Conselho Nacional de Seguros Privados (CNSP) e o Conselho Nacional de Previdência
Complementar (CNPC).
1.2.1.1 Conselho Monetário Nacional (CMN)
Este órgão é responsável por ditar as regras e normas da política de seguros privados. É
composto pelo Ministro da Fazenda e por representantes do Ministério da Justiça, Ministério
da Previdência, Superintendência de Seguros Privados, Banco Central do Brasil e Comissão
de Valores Mobiliários.
Entre suas funções, estão:
estabelecer as diretrizes e normas da política de seguros privados;
fixar as características gerais dos contratos de seguro, previdência privada aberta,
capitalização e resseguro;
regular a constituição, organização, funcionamento e fiscalização dos que exercem
atividades subordinadas ao Sistema Nacional de Seguros Privados, bem como a
aplicação das penalidades previstas;
estabelecer as diretrizes gerais das operações de resseguro;
determinar os critérios de constituição das sociedades seguradoras, de capitalização,
entidades de previdência privada aberta e resseguradores, com a determinação dos
limites legais e técnicos das respectivas operações e disciplinar a corretagem de
seguros e a profissão de corretor de seguros.
Este é o órgão que regula, fiscaliza e controla o mercado de capitais no Brasil. Ela foi
criada pela Lei nº. 6.385, de 7 de dezembro de 1976, e tem como responsabilidade fiscalizar,
regular, disciplinar o mercado de capitais do país, promovendo a sua expansão e o seu
desenvolvimento. Lembrando que sempre segue as diretrizes do Conselho Monetário
Nacional.
A CVM promove ambiente regulado no mercado de valores mobiliários no país (ações,
debêntures, notas promissórias, etc.), incentivando a capitalização das empresas e a proteção
dos investidores. Com as alterações na legislação dos últimos anos, a CVM ganhou poderes de
disciplinar e fiscalizar, além das bolsas de valores, também as bolsas de mercadorias e
futuros, as entidades do mercado de balcão organizado e as instituições de compensação e
liquidação de operações com valores mobiliários (FORTUNA, 2008).
Entre as suas atribuições, estão:
promover medidas incentivadoras da canalização de poupança para o mercado de
capitais;
estimular o funcionamento das bolsas de valores e das instituições operadoras do
mercado de capitais;
proteger os investidores em suas operações no mercado de capitais.
Além dessas atribuições, a CVM:
assegurar o acesso do público a informações sobre valores mobiliários negociados e
sobre as companhias que os tenham emitido;
assegurar o funcionamento eficiente e regular dos mercados de bolsa e de balcão;
assegurar a observância de práticas comerciais equitativas no mercado de valores
mobiliários;
evitar ou coibir modalidades de fraude ou manipulação no mercado;
fiscalizar toda e qualquer emissão de valores mobiliários e todos os fundos de
investimento.
A CVM é, portanto, a entidade que regula e fiscaliza todo o mercado de capitais no
Brasil, bem como emite as normas para empresas que lançam títulos no mercado ou que já
possuem valores mobiliários negociados no mercado. Ela garante que haja equilíbrio e
segurança no mercado de capitais, incentivando a governança corporativa e promovendo a
formação de poupança e o investimento no mercado de capitais.
Valores mobiliários: são ativos negociados no mercado de capitais, que podem ser:
ações;
debêntures;
bônus de subscrição;
cotas de fundos de investimento em valores mobiliários ou de clubes de investimento
em quaisquer ativos;
notas comerciais;
contratos futuros, de opções e outros derivativos, cujos ativos subjacentes sejam
valores mobiliários;
cupons, direitos, recibos de subscrição e certificados de desdobramento relativos a
valores mobiliários;
contratos de derivativos; entre outros.
As instituições bancárias (ou monetárias) são aquelas que recebem depósitos à vista e
que com isso podem criar moeda escritural por meio do multiplicador monetário (MM). O
multiplicador monetário é baseado no percentual de depósito compulsório a que está sujeito o
depósito à vista. Segue a fórmula:
MM = 1/C
onde C é o percentual de depósito compulsório.
Entre as instituições bancárias, estão: os bancos múltiplos, bancos comerciais, a Caixa
Econômica Federal, os bancos de câmbio, os bancos de desenvolvimento, os bancos de
investimento e as cooperativas de crédito.
Bancos múltiplos: são instituições financeiras constituídas sob a forma de sociedade
anônima e que podem operar com várias carteiras em seu portfólio. Com a autorização do
Banco Central, os bancos múltiplos públicos operam até seis carteiras, e bancos múltiplos
privados operam até cinco carteiras, visto que a carteira de desenvolvimento é exclusiva para
bancos múltiplos públicos. Os bancos múltiplos devem operar no mínimo duas carteiras em
seu portfólio, sendo obrigatoriamente uma carteira comercial ou de investimentos.
Os bancos múltiplos podem oferecer vários serviços aos clientes, tais como: carteira
comercial, de operações de câmbio, de investimento, de financiamento ao consumidor,
gerenciamento de fundos e crédito imobiliário, arrendamento mercantil e de crédito. Essas
instituições operam com apenas um Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ), o que
facilita as suas operações com a centralização em um único caixa e torna a instituição menos
burocrática e com custos menores de operação.
Bancos comerciais: são instituições financeiras constituídas sob a forma de sociedade
anônima e que podem operar com a carteira comercial em seu portfólio. Seu objetivo é
financiar atividades comerciais, industriais e de prestação de serviços, e de pessoas físicas em
geral. Os bancos comerciais não podem operar outras carteiras no mesmo CNPJ, por isso
quando está operando uma carteira de crédito imobiliário, por exemplo, está fazendo por
meio de um conglomerado financeiro.
Os bancos comerciais podem captar depósitos à vista e a prazo, operam com captação
de recursos via Certificados de Depósito Bancário (CDB), cobranças de títulos e arrecadação
de tributos e tarifas públicas. Essas operações permitem que esses bancos façam a
intermediação dos recursos para atividades empresariais por meio de empréstimos, girando a
atividade produtiva na economia.
Caixa Econômica Federal: é uma das instituições mais antigas e tradicionais do sistema
financeiro nacional. Foi criada em 12 de janeiro de 1861 por um decreto de Dom Pedro II,
com o objetivo de incentivar a formação de poupança e conceder empréstimos sob penhor,
com a garantia do governo imperial da época. Com o Decreto-Lei nº 759, de 12 de agosto de
1969, a Caixa Econômica Federal foi constituída como instituição financeira pública do
governo federal, com o objetivo de operar as políticas públicas do governo para habitação e
saneamento básico, centralização do recolhimento e posterior aplicação dos recursos oriundos
do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS).
A Caixa Econômica Federal tem ainda competência para venda de bilhetes de loterias
que se constitui como mais uma fonte de recursos para a instituição.
Bancos de câmbio: regulados pela Resolução CMN 3.426, de 2006, os bancos de
câmbio são as instituições financeiras que podem realizar operações de câmbio, sem
restrições, tais como compra e venda de moeda estrangeira, transferências de recursos do
exterior e para o exterior e, ainda, operações de crédito vinculadas às de câmbio, tais como
financiamentos à exportação e importação e adiantamentos sobre contratos de câmbio (ACE).
Eles podem operar no ambiente de bolsa de mercadorias e futuros, assim como em mercado
de balcão para realização de operações por conta própria, referenciadas em moeda estrangeira
ou vinculadas a operações de câmbio. Essas instituições podem receber, ainda, depósitos em
contas sem remuneração, não movimentáveis por cheque ou por meio eletrônico pelo titular,
cujos recursos sejam destinados à realização das operações de câmbio da instituição.
Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES): é uma autarquia
federal criada em 1952 como órgão vinculado ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e
Comércio Exterior. Seu objetivo é dar apoio aos empreendimentos que contribuam para o
desenvolvimento do país, com financiamento de longo prazo (e baixo custo) para
desenvolvimento de projetos de investimento e para comercialização de equipamentos novos
e fabricados no país. A parceria com instituições financeiras, com agências estabelecidas em
todo o país, permite a disseminação do crédito, possibilitando um maior acesso aos recursos
do BNDES. O BNDES atua por meio de seus agentes financeiros, pagando uma comissão
chamada del credere.
Bancos de desenvolvimento: são instituições financeiras que possuem como principal
finalidade o fomento das atividades produtivas para o crescimento e desenvolvimento
econômico e social. São bancos controlados pelo governo (estadual ou federal), devem ser
constituídos sob a forma de sociedade anônima e ter sede na capital do estado que detiver o
controle acionário, e, na sua denominação, deverão adotar a expressão “Banco de
Desenvolvimento”, seguida pelo nome do estado em que tenha sede. O BNDES é o maior
banco de desenvolvimento em nível nacional. Entre suas operações ativas estão os
empréstimos e financiamentos dirigidos especialmente ao setor privado. Em relação às suas
operações passivas, estão os depósitos a prazo, empréstimos externos, emissão ou endosso de
cédulas hipotecárias, emissão de títulos de desenvolvimento econômico e de cédulas
pignoratícias de debêntures.
Bancos de investimento: regulados pela Resolução CMN 2.624, de 1999, são
instituições financeiras privadas especializadas em operações de participação societária de
caráter temporário, de financiamento da atividade produtiva para suprimento de capital fixo e
de giro e de administração de recursos de terceiros. Na sua denominação deve constar a
expressão “Banco de Investimento”, e devem ser constituídos sob a forma de sociedade
anônima. Não possuem contas-correntes e captam recursos via depósitos a prazo, repasses de
recursos externos, internos e venda de cotas de fundos de investimento por eles
administrados. As principais operações ativas são financiamento de capital de giro e capital
fixo, subscrição ou aquisição de títulos e valores mobiliários, depósitos interfinanceiros e
repasses de empréstimos externos.
Cooperativas de crédito: a Lei nº 5.764, de 16 de dezembro de1971, definiu que a
cooperativa de crédito deve ser firmada por pessoas que se obriguem, reciprocamente, a
contribuir com bens e serviços para o exercício de uma atividade econômica, de proveito
comum e sem objetivo de lucro. Essa lei definiu a Política Nacional de Cooperativismo como
uma atividade decorrente de iniciativas relacionadas ao sistema cooperativo, tanto do setor
público como privado.
As cooperativas de crédito podem captar depósitos à vista, obter empréstimos ou
repasses de instituições financeiras, receber recursos de fundos oficiais, conceder créditos e
prestar garantias, aplicar recursos no mercado financeiro, prestar serviços de cobrança e
custódia, distribuir cotas de fundos de investimento, entre outros.
Agências de fomento: são instituições que têm como objetivo financiar capital de giro e
capital fixo para projetos de infraestrutura, profissionais liberais e micro e pequenas
empresas, com a ideia de fomentar os segmentos da indústria, do comércio, do agronegócio,
turismo e tecnologia da informação. Cada estado da federação tem seus programas de
desenvolvimento, e as agências de fomento auxiliam com linhas crédito voltadas para atender
à necessidade de desenvolvimento da região. Devem ser constituídas sob a forma de
sociedade anônima de capital fechado. Cada estado e o Distrito Federal podem constituir uma
única agência, que ficará sob o controle do ente federativo onde tenha sede. Essas instituições
não podem captar recursos junto ao público, nem recorrer às operações de redesconto junto
ao Bacen ou ter conta de reserva no Bacen.
Associações de poupança e empréstimo (APE): essas associações perderam espaço com
o passar dos anos no sistema financeiro, sendo que atualmente a Poupex é a única associação
de poupança e empréstimo que está ativa, regulada pela Lei 6.855/1980. Foram criadas com a
finalidade de facilitar a aquisição de casa própria aos associados, e captar, incentivar e
disseminar a formação de poupança. Para participar, os associados podem fazê-lo de duas
formas: adquirindo um financiamento imobiliário ou depositando o dinheiro para formar
poupança. As operações ativas das APEs são voltadas ao mercado imobiliário, e as operações
passivas envolvem os depósitos em poupança, letras hipotecárias, repasses e
refinanciamentos contraídos no País, empréstimos e financiamentos contraídos no exterior,
letras de crédito imobiliário, letra financeira e depósitos interfinanceiros.
Companhias hipotecárias (CH): são instituições financeiras criadas pela Resolução
2.122/1994 para fomentar o financiamento imobiliário além dos limites do Sistema
Financeiro de Habitação (SFH). Com a publicação da Lei 11.977/2009, que instituiu o
“Programa Minha Casa, Minha Vida”, a Companhia Hipotecária passou a fazer parte do SFH.
A CH não recebe depósitos de poupança. Seus recursos provêm, entre outros, de letras
hipotecárias, debêntures, empréstimos, financiamentos no País e no exterior e letras de
crédito imobiliário (LCI). As companhias hipotecárias têm por objetivo a concessão de
financiamentos imobiliários residenciais ou comerciais, empréstimos garantidos por hipotecas
ou alienação fiduciária de imóveis e repasses de recursos relacionados a programas
imobiliários, além da administração de fundos de investimento imobiliário.
Sociedade de crédito, financiamento e investimento: são as instituições privadas
conhecidas como “financeiras”, que fornecem empréstimo e financiamento para aquisição de
bens, serviços e capital de giro para as empresas. Elas não precisam estar ligadas
obrigatoriamente a bancos, pois podem fazer parte de conglomerados econômicos e operar
como um “braço” financeiro de grupos comerciais e industriais (como é o caso de lojas de
departamentos e montadoras de veículos que possuem as próprias financeiras). Elas também
podem operar em segmentos que não são atendidos pelos conglomerados bancários,
principalmente nos empréstimos e financiamentos com características específicas, tais como
risco mais elevado, financiamento de veículos usados, convênios com estabelecimentos
comerciais, entre outros.
Sociedade de crédito imobiliário: são instituições financeiras que atuam somente na
condição de repassadoras de recursos para financiamento habitacional, e faz parte do Sistema
Financeiro da Habitação. Atuam no financiamento para construção de habitações, abertura de
crédito para compra ou construção de casa própria, e financiamento de capital de giro para
empresas incorporadoras, produtoras e distribuidoras de materiais de construção.
Sociedade de arrendamento mercantil: são instituições não financeiras (mas
equiparadas a instituições financeiras) que atuam no arrendamento de bens móveis e imóveis
adquiridos por ela, segundo as especificações da arrendatária (cliente), para fins de uso
próprio desta. Os agentes que contratam o serviço de arrendamento podem usufruir dos bens
arrendados sem serem proprietários dos mesmos. Existem duas modalidades de operações de
arrendamento: leasing financeiro e leasing operacional. No leasing financeiro, o prazo
geralmente é maior e o arrendatário pode adquirir o bem por um valor predefinido no contrato
ao final do prazo da operação, ou devolvê-lo ao arrendador. Já o leasing operacional se
caracteriza como um aluguel pelo uso do bem, sendo que o valor pago via contrato (valor
total das mensalidades somadas) não pode ultrapassar 90% do valor do bem.
Sociedade de crédito ao microempreendedor: são instituições que possuem um
tratamento diferenciado e mais simplificado para incentivar o crédito a segmentos voltados
para microempreendedores e empresas de pequeno porte. Devem ser constituídas sob a forma
de companhia fechada ou de sociedade limitada, e são impedidas de captar, sob qualquer
forma, recursos do público, bem como emitir títulos e valores mobiliários destinados à
colocação e oferta públicas. Por outro lado, podem atuar como correspondentes no sistema
financeiro.
Somente podem ser negociados títulos na bolsa de valores que tenham sido autorizados
previamente, sendo que as transações são asseguradas jurídica e economicamente. Empresas
que desejam negociar títulos na bolsa de valores precisam primeiramente passar pela
avaliação da CVM, que é a instituição reguladora e fiscalizadora do mercado de capitais.
Sociedades Corretoras de Títulos e Valores Mobiliários (CTVM): são instituições que
fazem a intermediação entre os investidores e as empresas emissoras de títulos. Elas operam a
compra, a venda e a distribuição de títulos e valores mobiliários, conforme as ordens dos
investidores.
São reguladas e fiscalizadas pela CVM, e sua constituição depende de autorização ainda
do Banco Central do Brasil (Bacen), que também as supervisiona. As corretoras operam mais
diretamente no varejo, executando as seguintes funções:
operam no ambiente de bolsa de valores e mercadorias, negociando os títulos
conforme as ordens dos investidores;
efetuam lançamentos públicos de ações de empresas listadas na bolsa de valores (e
daquelas que estão fazendo o primeiro lançamento);
podem administrar carteiras de investimentos e custodiam valores mobiliários;
operam na compra e venda de metais preciosos, no mercado físico, por conta própria e
de terceiros;
intermediam operações de câmbio;
podem instituir, organizar e administrar fundos de investimento;
praticam operações no mercado de câmbio de taxas flutuantes; entre outros.
As corretoras são instituições tradicionais do mercado de capitais. Quando o investidor
quer negociar títulos no mercado, comprar ou vender ações, procura uma corretora que fará
essa intermediação.
Sociedades Distribuidoras de Títulos e Valores Mobiliários (DTVM): as distribuidoras
executam funções muito semelhantes às corretoras, mas elas operam mais diretamente junto
aos grandes grupos de investidores e nos lançamentos de ações no mercado. Com a Decisão
Conjunta Bacen-CVM nº. 17, de 02 de março de 2009, as distribuidoras ganharam a
autorização para negociar em ambiente de bolsa de valores, acesso antes restrito às corretoras.
Suas funções são as seguintes:
intermediar a oferta pública de títulos e valores mobiliários no mercado;
intermediar a colocação de emissões de capital no mercado;
operar em ambiente de bolsas de valores;
administrar e custodiar carteira de investimentos;
instituir, organizar e administrar fundos de investimento;
fazer a intermediação com as bolsas de valores e de mercadorias;
efetuar lançamentos públicos de ações, assim como os bancos de investimentos;
operar no mercado de ações, comprando, vendendo e distribuindo títulos e valores
mobiliários por conta de terceiros;
atuar no mercado aberto e intermediar operações de câmbio.
O Banco Central do Brasil (Bacen) supervisiona as distribuidoras, que estão sujeitas
ainda às regulamentações da CVM.
Sistemas e câmaras de liquidação e custódia (clearing): para que haja segurança na
liquidação das operações do mercado de capitais, existem os sistemas e câmaras de
liquidação e custódia, que garantem a liquidação financeira de diferentes tipos de contratos
do mercado, e a custódia e registro dos títulos.
Com a atuação dessas instituições, os riscos para os investidores caem, visto que a
titularidade dos ativos somente é alterada quando as operações forem efetivamente
liquidadas. Isso reduz o risco de crédito e o risco de liquidez nas operações, e essas
instituições ainda garantem a custódia dos títulos e o recebimento de eventuais direitos que o
investidor tenha (dividendos, juros sobre capital próprio, cupons de juros etc.).
Sistema Especial de Liquidação e Custódia (SELIC): esse sistema cuida da liquidação e
custódia dos títulos públicos. O sistema está integrado com Sistema de Transferência de
Reservas (STR), o que garante que as operações sejam liquidadas em tempo real, bem como a
liquidação financeira ocorre imediatamente com a entrega do título.
Câmara de Custódia e Liquidação (CETIP): esse é um sistema de custódia, liquidação e
transação de títulos de renda fixa públicos e privados (estaduais e municipais que ficaram
fora das regras de rolagem), que faz o registro, a custódia e a devida liquidação dos títulos.
As operações são creditadas ou debitadas automaticamente com a conta “reservas” dos
bancos no Bacen, e a liquidação financeira se dá em D + 1, ou seja, em um dia. Para que uma
operação seja concluída, o sistema CETIP realiza uma série de conferências por questões de
segurança (código de acesso, senha, validade de datas etc.), e se alguma informação não
fechar a operação não se realiza.
Companhia Brasileira de Liquidação e Custódia (CBLC): a CBLC é uma instituição
vinculada e controlada pela BM&FBovespa, que cuida da custódia e liquidação de títulos e
valores mobiliários, em especial ações. É autorizada ainda a custodiar títulos públicos
negociados no sistema Tesouro Direto. Além de agente de custódia, a CBLC atua também
como câmara de compensação, atuando como contraparte garantidora das operações que
manda realizar no Sistema de Transferência de Reservas (STR), a partir da solicitação dos
agentes de compensação.
Outras funções da CBLC: serviço de aluguel de títulos e valores mobiliários, recebe e
administra garantias, presta serviço de custódia para qualquer tipo de título e valor mobiliário,
exerce a função de agente fiduciário e de emissão de certificados.
Artigo 109:
I Instituições financeiras;
II Companhias seguradoras e sociedades de capitalização;
III Entidades abertas e fechadas de previdência complementar;
IV Pessoas físicas ou jurídicas que possuam investimentos financeiros em
valor superior a R$ 300.000,00 (trezentos mil reais) e que atestem por
escrito sua condição de investidor qualificado;
V Fundos de investimento destinados exclusivamente a investidores
qualificados; e
VI Administradores de carteira e consultores de valores mobiliários
autorizados pela CVM.
A Instrução nº 450/2007 classificou como investidores qualificados também os regimes
próprios de previdência social instituídos pela União, pelos Estados, pelo Distrito Federal ou
por Municípios.
Ainda existe uma segmentação entre investidores institucionais e investidores
particulares ou individuais. A diferença entre esses investidores é que os particulares ou
individuais respondem pelo risco dos seus investimentos individualmente, enquanto os
investidores institucionais movimentam grandes volumes financeiros e são considerados
muito importantes no mercado de capitais. Os investidores institucionais podem ser
sociedades seguradoras, clubes de investimentos em ações, sociedades de capitalização,
fundos mútuos de investimento, fundos externos de investimento, entidades de previdência
privada.
Para memorizar
Intermediação financeira: é o processo pelo qual os recursos de agentes poupadores
(superavitários) são canalizados para quem precisa deles, os agentes deficitários.
Conselho Monetário Nacional: principal órgão normativo e regulador do Sistema
Financeiro Nacional, responsável por determinar as diretrizes da política econômica,
monetária e cambial do país.
Comissão de Valores Mobiliários: órgão regulador e fiscalizador do Sistema Financeiro
Nacional, responsável pelo mercado de capitais no Brasil.
Banco Central do Brasil: órgão regulador e fiscalizador do Sistema Financeiro Nacional,
principal executor das diretrizes do Conselho Monetário Nacional. O Bacen é responsável
por supervisionar e autorizar todas as instituições financeiras do país.
Instituições bancárias: instituições financeiras que recebem depósitos à vista e, por isso,
criam moeda escritural.
Instituições não bancárias: instituições financeiras que operam com depósitos a prazo e,
por isso, não criam moeda escritural.
Bancos de investimento: instituições financeiras especializadas no mercado de capitais e de
crédito, e recebem depósitos a prazo.
Mercado primário: é o mercado em que as empresas que emitem ações lançam os valores
mobiliários para negociação, caracterizando como o momento de capitalização da empresa.
Nesse mercado, os recursos obtidos com a venda das ações entram no caixa da empresa.
Mercado secundário: neste mercado, ocorrem as negociações de ações entre investidores, e
os recursos não entram mais para o caixa da empresa, e sim são transferidos entre os
agentes que negociam seus valores mobiliários. Quanto mais desenvolvido esse mercado,
melhor para o mercado primário.
Valores mobiliários: podem ser ações, debêntures, bônus de subscrição, cupons de juros,
debêntures, cotas de fundos de investimento em valores mobiliários, contratos derivativos,
notas comerciais, certificados de depósito de valores mobiliários, direitos de subscrição e
certificados de desdobramento relativos aos valores mobiliários.
REFERÊNCIAS
Neste capítulo, você aprenderá sobre taxas de juros e o valor do dinheiro no tempo. No sistema
financeiro, o valor do dinheiro muda em função do tempo, e por isso saber as taxas de juros é
extremamente importante porque se trata da remuneração do dinheiro, ou seja, o valor de hoje
não será o mesmo de amanhã. Os conceitos de valor presente e valor futuro serão discutidos neste
capítulo, bem como sua influência nos fluxos de caixa da empresa.
Juros são valores que representam a remuneração do capital, ou como alguns autores
denominam, os juros são o aluguel pelo uso do dinheiro, o preço pago por se tomar dinheiro
emprestado. Se uma empresa ou uma pessoa física solicita um empréstimo em uma
instituição financeira, deverá pagar um valor maior pelo empréstimo do que o valor
inicialmente captado, visto que a instituição financeira cobrará juros pelo tempo em que o
dinheiro ficou disponível para quem o solicitou.
O mesmo pode ser dito quando um investidor aplica seus recursos na compra de títulos
de renda fixa ou variável. Para que seu capital seja disponibilizado para outros agentes
deficitários, o investidor exige determinado retorno, ou seja, exige juros para que os outros
utilizem o capital. Ao final de um determinado período, o investidor terá um montante que
será composto pelo capital inicialmente aplicado mais a remuneração obtida durante o
período de aplicação.
Nesse regime de capitalização, os juros sempre são calculados sobre o valor do capital
inicial. Ou seja, os juros calculados a cada período não são incorporados na base de cálculo
do período seguinte. Para tanto, a forma de calcular é a seguinte:
Juros = Valor do capital inicial → taxa de juros → tempo de aplicação
ou
J=P→i→n
em que:
P = capital inicial
i = taxa de juros
n = tempo
Por exemplo, se o valor inicialmente aplicado é de R$ 100,00, a uma taxa de juros
simples de 5% ao mês, durante quatro meses, o valor do montante final será:
S = P → (1 + i)n
em que:
S = montante final com os juros
P = valor inicialmente aplicado
i = taxa de juros
n = tempo de aplicação
Calculando conforme a fórmula:
S = 100,00 → (1 + 0,05)4
S = 100,00 → (1,05)4
S = 100,00 → 1,2155
S = 121,55
O valor final é maior no regime de capitalização de juros compostos porque os juros de
um mês são somados no valor do capital para se calcular o valor dos juros no mês seguinte.
Segue a Tabela 1 demonstrando esse movimento:
Rendimento Montante
Mês 1: 100,00 + 5,00 = 105,00
100,00 → 0,05 = 5,00
Mês 2: 105,00 + 5,25 = 110,25
105,00 → 0,05 = 5,25
Mês 3: 110,25 + 5,51 = 115,76
110,25 → 0,05 = 5,51
Mês 4: 115,77 + 5,79 = 121,55
115,76 → 0,05 = 5,79
Fonte: elaborada pela autora.
A cada mês, os juros são somados ao montante para que os juros do próximo mês sejam
calculados, por isso são juros compostos.
A taxa de juros nominal é a taxa formada pela taxa de juros real mais a inflação do
período. É a taxa calculada com base no valor nominal da aplicação ou do empréstimo.
A taxa de juros nominal é composta de duas partes: uma parte é a taxa de juros real e a
outra parte é a taxa de inflação do período. Por exemplo, se uma pessoa pega empréstimo a
uma taxa de juros nominal de 10% a.m., no cálculo da taxa real de juros deverá ser retirada a
inflação.
Fórmula da taxa de juros nominal:
A taxa de juros real é aquela obtida após descontar a inflação do período. Observe que a
taxa de juros real pode ser calculada com a mesma fórmula da taxa de juros nominal:
Essa taxa de juros é aplicada para os juros compostos. Duas taxas são consideradas
equivalentes quando, incidindo sobre o mesmo capital por determinado prazo, resultam em
montantes iguais pelo regime de juros compostos.
A fórmula geral (ou genérica) para descobrir a taxa de juros equivalente é a seguinte:
em que:
id é a taxa de juros equivalente que se procura (é a taxa que se desconhece);
ic é a taxa de juros para o período conhecido;
pd é o período de tempo da taxa desconhecida;
pc é o período de tempo da taxa conhecida.
Se, por exemplo, for dada uma taxa de juros anual de 24% a.a., e se quiser saber a taxa
de juros equivalente mensal, basta aplicar a fórmula:
Ou seja, a taxa de juros equivalente mensal para a taxa de 24% a.a. é de 1,80875% a.m.
Se o valor de R$ 100,00 for aplicado utilizando essas taxas, após o período de um ano deverá
ser igual para as taxas equivalentes:
1,80875% a.m.
S = P → (1 + i)n
S = 100,00 → (1 + 0,0180875)12
S = 100,00 → 1,23999879…
S = 124,00
24% a.a.
S = 100,00 → (1 + 0,24)1
S = 100,00 → 1,24
S = 124,00
Observa-se que os valores finais são iguais utilizando as taxas equivalentes. Algumas
convenções são importantes para ajudar a lembrar das equivalências:
Taxa anual equivalente à taxa semestral → (1 + ia) = (1 + is)2
Taxa semestral equivalente à taxa trimestral → (1 + is)2 = (1 + it)4
Taxa de juros trimestral equivalente à taxa mensal → (1 + it)4 = (1 + im)12
Taxa de juros mensal equivalente à taxa diária → (1 + im)12 = (1 + id)360
A empresa precisa fazer uma saída de caixa de R$ 18.000,00, mas vai obter em troca
entradas de caixa de R$ 5.000,00 por ano pelos próximos sete anos. Se o custo do dinheiro
para a empresa (custo de capital) for de 10% a.a., para saber se os fluxos de caixa serão
positivos a empresa precisa trazer esses valores mensais a valor presente, conforme a taxa de
desconto do custo de capital:
Se a empresa quiser calcular seu valor futuro, o fluxo de caixa seria da seguinte forma,
considerando a taxa do custo de capital da empresa:
Figura 8 – Fluxos de caixa de um projeto.
Fonte: elaborada pela autora,
Para memorizar
REFERÊNCIAS
BRIGHAM, Eugene F; EHRHARDT, Michael C. Administração Financeira: teoria e prática. 10. ed. São
Paulo: Cengage Learning, 2008.
GITMAN, Lawrence Jeffrey. Princípios de Administração Financeira. 10. ed. São Paulo: Pearson Addison
Wesley, 2004.
ROSS, Stephen; WESTERFIELD, Randolph W; JAFFE, Jeffrey F. Administração Financeira. 2. ed. São
Paulo: Atlas, 2002.
SAMANEZ, Carlos Patrício. Matemática financeira: aplicações à análise de investimentos. 3. ed. São
Paulo: Pearson Prentice Hall, 2002.
RISCO E RETORNO
Neste capítulo, você aprenderá o tripé da administração financeira: risco, retorno e liquidez.
Serão estudados os fundamentos de risco e retorno, os tipos de riscos, como se pode medir risco e
retorno, além das características de risco e retorno de uma carteira de investimentos. Será
estudado ainda o modelo de precificação de ativos Capital Asset Pricing Model (CAPM), que
mensura o preço de um ativo em função do retorno exigido para se aplicar nele.
Ao se analisar um investimento, é preciso observar esses três fatores, pois cada tipo de
aplicação apresenta risco, retorno e liquidez diferentes. O investimento que seria mais
interessante ao investidor seria aquele com maior retorno e maior liquidez, e menor risco.
Nem sempre é possível encontrar essa combinação, mas ela seria a ideal para qualquer
investimento.
3.1.1 Risco
O sinônimo de risco pode ser perigo, exposição à perda ou dano, chance de algum
evento desfavorável acontecer. Em finanças, o risco sempre está relacionado à possibilidade
de perda financeira. Considera-se mais arriscado aquele investimento que apresenta maior
probabilidade de perda financeira.
Investimentos que apresentam grande variabilidade nos retornos são mais arriscados do
que aqueles que apresentam menor variabilidade. Aplicações de longo prazo também são
mais arriscadas do que aplicações de curto prazo. Ativos que não são de fácil negociação no
mercado são mais arriscados do que aqueles que se consegue facilmente transformar em
dinheiro. Observa-se então que o risco está relacionado a algumas variáveis, tais como o
prazo do investimento, as variações dos retornos, a volatilidade do ativo em que se pretende
investir e, ainda, com a liquidez do ativo.
Nos mercados financeiros e de capitais, as aplicações em renda fixa apresentam risco
bem menor do que as aplicações em ações. Isso porque a renda fixa garante ao investidor que
ele receberá determinado retorno após o período previsto de aplicação, enquanto a renda
variável não apresenta essa garantia. No mercado de ações, os valores podem variar conforme
as mudanças do mercado, o que transfere um risco bem maior para esses investimentos.
Consequentemente, o retorno exigido para se aplicar em ações será maior do que para o
mercado de renda fixa.
Mas o risco que afeta os investimentos pode ser de vários tipos, pois existem riscos
inerentes à empresa, riscos dos acionistas, e riscos para ambos.
Riscos específicos da empresa: são riscos que afetam a empresa diretamente, como o
risco operacional e o risco financeiro. O risco operacional se refere à possibilidade de a
empresa não conseguir cobrir os custos e despesas com as receitas geradas, o que ocasiona
problemas no seu resultado operacional. E o risco financeiro está relacionado ao problema de
fluxo de caixa da empresa, ou seja, risco de a empresa não conseguir cumprir com suas
obrigações financeiras por problemas na gestão do fluxo de caixa.
Riscos específicos dos acionistas: são riscos que afetam mais especificamente o
acionista que está planejando seus investimentos. Pode ser risco com taxa de juros, risco de
liquidez e risco de mercado. O risco com taxa de juros se refere às possíveis variações
negativas nas taxas que afetam o investimento. O risco de liquidez se refere à dificuldade de
se transformar o investimento em dinheiro quando se deseja, ou à dificuldade de negociação
do ativo no mercado. O risco de mercado está relacionado às condições gerais do mercado e
como o investimento se comporta diante dele, tais como variações na taxa de juros, inflação,
mudanças políticas, econômicas e sociais.
Riscos para empresas e acionistas: existem riscos que podem afetar tanto as empresas
como os acionistas. Podem ser o risco de eventos inesperados, risco de câmbio, risco de
poder aquisitivo, risco de crédito e os riscos de mercado. Eventos que acontecem
inesperadamente e que podem afetar a empresa acabam atingindo negativamente também os
seus investidores, como, por exemplo, alguma decisão governamental. O risco de câmbio está
relacionado ao risco de variações do valor da moeda nacional em relação a moedas
estrangeiras, que pode afetar os fluxos de caixa esperados e futuros da empresa e dos
acionistas. O aumento da inflação ou a deflação podem afetar diretamente os fluxos de caixa
de uma empresa e o valor dos ativos. O risco de crédito está ligado ao risco de inadimplência,
ou seja, quando a empresa não consegue cumprir com seus compromissos, e isso afeta seu
valor de mercado. E os demais riscos de mercado, que podem ser de ordem política,
monetária, tributária, mercado externo, entre outros.
3.1.2 Retorno
em que:
Kt = taxa de retorno no período analisado
Ct = fluxo de caixa obtido durante o período
Pt = valor do investimento no tempo t (atual)
Pt-1 = valor do investimento no tempo t – 1 (na data do investimento inicial)
Suponha que um investidor decida adquirir um título de dívida de uma empresa por R$
1.000,00 no ano X1, e durante o período aplicado ele tenha recebido juros de R$ 300,00. O
valor do título em X2 é de R$ 1.250,00. Para saber qual a taxa de retorno que o investidor
obteve de X1 a X2, basta aplicar a fórmula:
3.1.3 Liquidez
A pessoa que é avessa ao risco é aquela com perfil considerado normal, pois quanto
mais aumentar o risco do investimento, maior será o retorno exigido. Esse investidor tem
medo de risco, e por isso exige retorno mais elevado para aplicar no ativo. É o
comportamento normal de administradores de empresas e de investidores do mercado, que
podem ser mais conservadores, moderados ou mais agressivos.
O investidor indiferente ao risco não exige maior retorno em função do aumento do
risco. Esse perfil é muito raro, pois não é comum no mercado financeiro. Significa que ele
prefere manter o mesmo retorno na medida em que o risco aumenta, o que não tem lógica.
E o perfil que seria propenso ao risco é aquele que abre mão de algum retorno para
assumir risco maior, mas esse comportamento não é benéfico para os investimentos. Na
medida em que o risco aumenta, ele aceitaria retornos menores.
O investidor, tanto o acionista como o administrador, deve fazer o trade-off entre o risco
e o retorno dos investimentos. Isso significa compensar o maior risco com retorno maior, ou o
risco menor com menores retornos. Quanto maior o horizonte de investimento, maior o risco
que se pode correr e maiores tendem a ser os retornos. Os investimentos precisam levar em
consideração o perfil do investidor com o horizonte de investimento, combinando o quanto de
risco se pode correr e qual o retorno exigido em contrapartida.
Observa-se que, no cenário otimista, o projeto Alfa oferece retorno de 20%, enquanto o
projeto Beta oferece retorno de 18%. Mas no cenário pessimista o projeto Alfa oferece 10%,
e o Beta 12%. A diferença entre o cenário otimista e pessimista de Alfa é de 10%, enquanto
no projeto Beta a diferença entre o cenário otimista e o cenário pessimista é de 6%. A
amplitude de Beta é menor que a amplitude de Alfa, o que torna o projeto Beta menos
arriscado que o projeto Alfa.
Essa diferença de risco de um projeto para outro poderia ser ainda analisada com base
na distribuição de probabilidades. Probabilidade de um evento ocorrer significa o quanto ele
tem chance de ocorrer, qual o percentual de chance de ocorrer em um total de 100% de
chance de ocorrer. Se o projeto Alfa e o projeto B fossem colocados em um gráfico de
probabilidades, mostrariam a distribuição das probabilidades de cada retorno ocorrer
conforme os cenários possíveis (otimista, provável e pessimista).
Observa-se que o projeto Beta apresenta uma curva mais estreita, apresentando risco
menor que o projeto Alfa, que possui uma curva mais aberta. Nesse tipo de análise, quanto
maior for o risco maior será a abertura da curva de distribuição de frequências, ou seja, as
duas “perninhas” da curva ficarão mais próximas das extremidades do gráfico. E quanto
menor a distância entre as duas “perninhas” da curva, menor o risco, pois menor foi a
variação da distribuição das frequências.
3.4.1 Desvio-padrão
O desvio-padrão (σ) mede as variações dos retornos em relação à média dos retornos,
ou seja, o quanto os retornos se afastam da média. Por isso se diz que o desvio-padrão mede a
dispersão dos retornos em torno do valor esperado. A curva normal de distribuição de
probabilidades de valores é a seguinte:
Essa curva em forma de sino é uma curva simétrica e mostra como os dados de uma
amostra se distribuem normalmente. Entre um desvio-padrão antes da média e um desvio-
padrão depois da média, está concentrada grande parte dos dados, 68%. Ao passar +/– dois
desvios-padrão da média, tem-se 95% dos dados. E a +/– três desvios-padrão da média, tem-
se 99% dos dados. Quanto mais os dados se distanciam da média, maior o desvio-padrão, e
mais dispersos são os dados.
Por isso o desvio-padrão é uma medida de dispersão estatística que ajuda a mensurar
quantitativamente o risco de um ativo, pois quando os retornos de um ativo são colocados na
curva normal para analisar como estão distribuídos em torno da média, aquele ativo que
apresentar mais retornos fora da zona da média (entre um e três desvios-padrão da média)
será mais arriscado do que outro que apresente os retornos mais próximos da média. A média
representa o retorno esperado, ou seja, quanto mais distantes do valor esperado, mais
dispersos os valores são, mais inconstantes eles são, e por isso, o ativo apresenta maior risco.
Para calcular o desvio-padrão, pode ser usada a seguinte fórmula:
em que:
Ki = retorno do ativo
K = retorno esperado do ativo
Pri = probabilidade de ocorrer o retorno do ativo
n = número de observações
Para saber o retorno esperado (K) de um ativo, basta somar os retornos prováveis de
ocorrer, conforme a probabilidade de cada um. É o valor ponderado do retorno, conforme sua
probabilidade de ocorrer.
Suponha que os dois projetos Alfa e Beta estão sendo analisados para saber qual deles
apresenta risco maior. Os dados de retornos, probabilidades e retornos esperados estão
descritos a seguir:
Com os retornos esperados é possível calcular o desvio-padrão dos projetos Alfa e Beta:
Conforme pode ser observado, o projeto Beta apresenta risco menor do que o Alfa, pois
o desvio-padrão de Beta é menor que o desvio-padrão de Alfa.
O coeficiente de variação (CV) é mais uma medida estatística de dispersão que ajuda a
mensurar o risco dos ativos que possuem retornos esperados diferentes. Pode ser calculado
por meio da seguinte fórmula:
em que:
= retorno esperado
σk = desvio-padrão dos retornos
Beta:
CV = 2,12/15 = 0,14
O menor coeficiente de variação é de Beta, ou seja, apresenta menor risco do que o
ativo Alfa. Mas essa informação já era sabida porque o desvio-padrão já havia sido calculado.
Agora suponha que os retornos esperados de Alfa e Beta fossem diferentes: 20% e 12%,
respectivamente. Considerando desvio-padrão de 10% para Alfa e 9% para Beta, os
coeficientes de variação seriam os seguintes:
Alfa:
CV = 20/10 = 0,5
Beta:
CV = 12/9 = 0,75
Até agora foi visto o risco de um ativo sob o ponto de vista individual. Mas, em geral,
os ativos se apresentam em um conjunto de aplicações, conhecido como carteira de
investimentos. Uma carteira de investimentos é um conjunto de vários ativos, e o risco de
uma carteira de investimentos não é igual ao risco de um ativo individual.
Isso se deve àquele velho ditado da vovó: nunca coloque todos os ovos na mesma cesta!
Quando o investidor quer reduzir o risco das aplicações, deve fazer a diversificação
desses investimentos por meio de uma carteira, na qual ele vai selecionar ativos de renda fixa
e renda variável, de empresas diferentes, setores diferentes, enfim, que não apresentem
correlação entre os retornos. Ativos correlacionados são aqueles que apresentam retornos que
variam no mesmo sentido, tanto positiva como negativamente.
A correlação é um número que varia de –1 a 1, sendo que –1 é uma correlação perfeita
negativa, e 1 é uma correlação perfeita positiva. Para ilustrar melhor como se comportam os
ativos conforme a correlação que apresentam, seguem os comportamentos dos retornos dos
ativos de uma carteira que possui alta correlação, e de outra que não tem correlação:
Figura 13 – Correlação entre o ativo A e o ativo B.
Fonte: elaborada pela autora.
em que:
Wi = proporção do valor total da carteira aplicada no ativo i
Ki = retorno do ativo i
Suponha que uma carteira de investimentos seja composta por dois ativos, X e Y, com
retorno de X = 10% e retorno de Y = 12%. Considerando que a carteira é composta por 40%
do ativo X e 60% do ativo Y, o retorno da carteira pode ser calculado da seguinte forma:
Observa-se que a média ponderada dos retornos da carteira foi puxada para cima,
porque o ativo que possui maior participação na carteira tem 12% de retorno. Logo, como o
retorno da carteira é uma média ponderada, 40% dos retornos de X e 60% dos retornos de Y
compuseram o retorno da carteira de investimentos.
Se os retornos forem para vários períodos, basta fazer a média dos retornos ponderados,
conforme a quantidade de períodos.
em que:
Ki = retorno do ativo
K = retorno esperado
n = número de ativos da carteira
Suponha que uma carteira de investimentos seja composta da seguinte forma:
Retorno esperado
Ano Ativo X – 50% Ativo Y – 50%
2010 10% 20%
2011 14% 17%
2012 18% 13%
Observa-se que o risco da carteira composta por X + Y foi de 0,29, enquanto o risco dos
ativos individuais X e Y foi de 4 e 3,51, respectivamente. Com a composição da carteira o
risco baixou significativamente, e isso motivado ainda pela correlação negativa entre o ativo
X e o ativo Y. Enquanto o ativo X está com os retornos em alta, os retornos de Y estão em
queda. Esse é o benefício da diversificação da carteira, pois se o investidor optasse por aplicar
individualmente nos ativos, incorreria em risco maior.
Existe ainda mais uma forma de comparar os retornos e o risco dos ativos e da carteira
de investimentos: a relação risco/retorno. Comparando as duas situações:
Ativo X:
risco/retorno = 4 / 14 → 0,28
Ativo Y:
risco/retorno = 3,51 / 16,67 → 0,21
Carteira X + Y:
risco/retorno = 0,29 / 15,33 → 0,02
A relação risco/retorno representa o quanto de risco existe para cada unidade de retorno.
No caso do ativo X, para cada unidade de retorno existe 0,28 de risco. Para o ativo Y, para
cada unidade de retorno existe 0,21 de risco. Agora com a diversificação, essa relação
melhorou bastante: para cada unidade de retorno, existe 0,02 de risco. Quanto menor for o
risco para cada unidade de retorno, melhor a relação risco/retorno.
A diversificação dos investimentos reduz o risco dos investimentos, desde que a carteira
seja composta por ativos que não sejam correlacionados positivamente. Sendo assim, será que
uma carteira formada por 100% dos ativos do mercado possui risco zero?
A resposta é: não! Mesmo que um investidor consiga formar uma carteira com todos os
ativos do mercado, ele nunca conseguirá chegar ao risco zero, pois existem dois tipos de
riscos que compõem uma carteira de investimentos: risco diversificável (não sistemático) e
risco não diversificável (sistemático).
O risco total de uma carteira de investimentos é formado por um tipo de risco que pode
ser diversificado, e outro tipo que não pode ser diversificado em função do aumento de ativos
na carteira. Ou seja, existe um tipo de risco que, mesmo que o investidor tente reduzir com a
diversificação total da carteira, ele não consegue, pois esse risco está relacionado a fatores do
mercado que ele não tem influência. Esse é o conhecido risco não diversificável ou
sistemático, que afeta todas as empresas do mercado. Por exemplo, mudanças na política
monetária, inflação, crises internacionais, recessão, entre outros.
3.7 Risco e retorno: modelo de formação de preços de ativos (Capital Asset Pricing
Model – CAPM)
Ki = Rf + β (Km – Rf)
em que:
Ki = retorno exigido pelo ativo i
Rf = retorno do ativo livre de risco, como os títulos públicos, por exemplo.
β = coeficiente beta, que indica o risco não diversificável do ativo i
Km = taxa de retorno do mercado
Observa-se que o retorno exigido para se aplicar no ativo é igual ao retorno do ativo
livre de risco do mercado, somado a um prêmio de mercado relacionado com o risco não
diversificável que é medido pelo coeficiente beta:
A diferença entre o retorno oferecido pelo mercado e retorno dos ativos livres de risco
se chama prêmio de mercado, pois é um diferencial ganho por se arriscar mais ao aplicar no
ativo enquanto poderia apenas investir no ativo livre de risco e não correr nenhum risco (ou
risco quase zero). No Brasil, pode-se dizer que os títulos públicos são considerados com risco
baixíssimo, praticamente zero, pois, em tese, o governo não quebra.
E o retorno de mercado seria o retorno da carteira formada por todos os ativos do
mercado, que pode ser representado pelo retorno do Ibovespa (Índice da Bolsa de Valores de
São Paulo), que é composto por uma carteira que representa em torno de 80% de todos os
ativos mais negociados no mercado, sendo assim uma medida relevante de retorno de
mercado. Mas existem outros índices que medem os retornos de acordo com suas
metodologias, dependendo de cada análise que está sendo feita.
O prêmio pelo risco em investir no ativo representa o quanto o investidor deseja ganhar
para aplicar seus recursos no ativo. Ali está a medida do beta, que multiplicado pelo prêmio
de mercado dará o quanto a mais se exige receber além do retorno do ativo livre de risco.
Quanto maior o risco, maior será o beta e, consequentemente, maior será esse prêmio pelo
risco.
O coeficiente beta (β) é uma medida do risco não diversificável do mercado, pois ele
mede quão sensível é o ativo em relação às variações do mercado. Ou seja, como os retornos
do ativo reagem quando há uma alteração nas condições do mercado. Quanto maior o beta,
mais arriscado é o ativo, pois significa que ele é mais sensível às mudanças no mercado.
E quanto menor o coeficiente beta, menor o risco do ativo. O coeficiente beta para o
retorno de mercado é considerado como um, sendo que betas acima de um são considerados
mais arriscados, e betas abaixo de um como menos arriscados.
Para saber o coeficiente beta de um ativo, deve ser utilizada a série de retornos
históricos do ativo e do mercado para o período em análise. Ao se colocar os retornos do
ativo e os retornos do mercado no sistema estatístico para análise, os dados serão organizados
de modo que formarão pares (um ponto é o retorno do ativo, e outro o retorno do mercado), e
assim o sistema busca uma forma de relacionar os movimentos do retorno do ativo em função
dos movimentos dos retornos do mercado.
A técnica estatística que fornece o coeficiente beta é a análise de regressão por mínimos
quadrados, que mede o quanto o retorno do ativo varia a cada unidade de variação do retorno
do mercado, quantitativamente.
A fórmula do coeficiente beta é a seguinte:
na qual:
Ki = retorno do ativo i
Km = retorno do mercado
σ2m = variância do retorno de mercado (desvio-padrão ao quadrado)
Com essas informações, o investidor vai calcular o preço da ação baseado no modelo
CAPM:
Ki = Rf + β (Km – Rf)
Ki = 8,5 + 1,2 (10 – 8,5)
Ki = 10,3
Isso significa que se exige 10,3% de retorno para se investir nessa ação. Se o beta da
empresa passasse para 0,8, observe como ficaria o retorno exigido:
Ki = Rf + β (Km – Rf)
Ki = 8,5 + 0,8 (10 – 8,5)
Ki = 9,7
O retorno exigido baixou para 9,7% quando o beta baixou, visto que o risco da ação
reduziu.
O modelo CAPM se baseia em dados históricos para precificar os ativos. Mas sempre é
bom lembrar que, como os dados históricos não necessariamente refletem comportamentos
futuros, é preciso fazer análise mais cuidadosa e usar o modelo como base para valores
aproximados, e fazer os ajustes necessários com base nas expectativas futuras.
Outro aspecto importante de se ressaltar é que o modelo CAPM é baseado na hipótese de
um mercado eficiente, no qual não existe assimetria de informações, um mercado com muitos
investidores pequenos, com expectativas semelhantes sobre os ativos, sem restrição de
investimentos, sem custos ou impostos nas transações, e com perfil de investidores com
aversão ao risco. A teoria do mercado eficiente é um paradigma, mas é o que até agora
melhor explica o comportamento do mercado. Por isso o modelo CAPM é bastante utilizado
nas decisões de investimento, pois mesmo que se baseie em uma situação hipotética, seus
fundamentos explicam o comportamento dos ativos no mercado.
Para memorizar
REFERÊNCIAS
BREALEY, Richard A.; MYERS, Stewart C. Finanças Corporativas: financiamento e gestão de risco.
Porto Alegre: Bookman, 2005.
BRIGHAM, Eugene F; EHRHARDT, Michael C. Administração Financeira: teoria e prática. 10. ed. São
Paulo: Cengage Learning, 2008.
DAMODARAN, Aswath. Finanças corporativas aplicadas. Porto Alegre: Bookman, 2002.
GITMAN, Lawrence Jeffrey. Princípios de Administração Financeira. 10. ed. São Paulo: Pearson Addison
Wesley, 2004.
ROSS, Stephen; WESTERFIELD, Randolph W; JAFFE, Jeffrey F. Administração Financeira. 2. ed. São
Paulo: Atlas, 2002.
SAMANEZ, Carlos Patrício. Matemática financeira: aplicações à análise de investimentos. 3. ed. São
Paulo: Pearson Prentice Hall, 2002.
SMAILES, Joanne; McGRANE, Angela. Estatística aplicada à administração com Excel. São Paulo:
Atlas, 2007.
ZANINI; F. A. M.; ZANI, João. Curso Básico de Finanças: Preparatório para a Certificação CPA-10
ANBID. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009.
A curva das taxas de juros mostra como eles se comportam ao longo do tempo em
função das variáveis envolvidas. No caso da teoria das expectativas, se existe tendência a um
aumento das taxas inflacionárias para período futuro, as taxas tenderão a seguir uma curva
ascendente. Caso ocorra expectativa contrária, a curva tenderá a ser descendente. E se a
expectativa é de estabilidade, as taxas de juros manterão um movimento estável, com a curva
na horizontal.
A segunda teoria que explica a curva das taxas de juros é a teoria da preferência por
liquidez. O conceito de liquidez é a rápida ou fácil transformação de um investimento em
dinheiro, o que em geral ocorre em aplicações de curto prazo. Investimentos de curto prazo
oferecem taxas menores de retorno porque oferecem risco menor, visto que o tempo de
aplicação é menor e por isso ocorrem menos variações no mercado que poderiam afetar esse
investimento. Já no caso de investimentos de longo prazo, as taxas tendem a ser maiores
porque o risco envolvido é maior também, visto que o prazo maior pode levar a mais
variações no mercado que impactam nos retornos do investimento. Logo, os tomadores de
recursos estariam também mais dispostos a pagar taxas maiores para recursos de longo prazo
do que de curto prazo. A curva das taxas de juros para títulos de longo prazo apresentará
tendência a ser ascendente, visto que as taxas aumentam ao longo do tempo.
E a terceira teoria que explica a variação da curva das taxas de juros é a teoria da
segmentação de mercado. De acordo com essa teoria, o mercado financeiro oferece recursos
de forma segmentada entre curto e longo prazo, e, para tanto, as taxas de juros serão
diferentes conforme a segmentação do mercado. A demanda por recursos de curto prazo vai
ser determinada por certa taxa de juros condizente com o prazo da aplicação, o mesmo
ocorrendo para uma demanda de recursos de longo prazo. Em geral, recursos de curto prazo
possuem taxas menores, e recursos de longo prazo apresentam taxas maiores, o que resulta
em uma curva de juros ascendente. Isso varia em função do equilíbrio entre a oferta dos
recursos de curto e longo prazo com a demanda de curto e longo prazo. Caso os juros de curto
prazo sejam maiores que os de longo prazo, a curva será descendente.
Para saber o valor atual de um título de dívida, deve ser calculado o valor presente de
todos os seus fluxos de caixa esperados, ou seja, devem ser trazidos a valor presente todos os
fluxos de caixa que se espera obter com o título, descontados a uma taxa de retorno exigida
para aplicar no título.
Pode ser expresso da seguinte forma:
em que:
PV = valor presente do título
FC = fluxo de caixa esperado
k = taxa de retorno requerida
n = período
Os fluxos de caixa são resultados que se espera receber com a aplicação. Ou seja, são
valores gerados pelo emissor durante o período do investimento. Os fluxos de caixa podem
ser gerados periodicamente, ou somente no final do período de aplicação.
O conceito de valor presente, que foi estudado no Capítulo 2, Taxas de Juros e o Valor
do Dinheiro no Tempo, volta agora para ser usado na avaliação dos títulos. O valor presente
pode ser influenciado diretamente pela expectativa que se tem sobre o título, sobre os fluxos
de caixa que ele pode gerar no futuro. A taxa de desconto para aplicar na fórmula é
relacionada com o risco do ativo que é percebido no mercado e com a expectativa de inflação.
Quando o título paga cupons de juros periodicamente, a avaliação do valor presente do
título pode ser feita da seguinte forma:
Observa-se que o valor nominal, ou valor de face do título, deve ser trazido a valor
presente também para somar aos fluxos de caixa de cupons de juros pagos. Assim chega-se
ao valor presente do título.
Por exemplo, suponha que um investidor adquira um título de dívida por R$ 1.000,00,
por prazo de cinco anos. Suponha ainda que esse título pague cupons de juros de 10% ao ano,
pagos anualmente. Considerando que o investidor exija retorno de 15% a.a., para saber por
quanto o título pode ser negociado hoje deve ser aplicada a fórmula:
Caso o investidor exigisse uma taxa de retorno de 10%, o valor do título passaria a ser
de R$ 1.000,00. Observa-se que o valor presente do título varia em função da taxa de retorno
exigida pelo investimento, que pode ser influenciada por uma alteração no risco do emissor
e/ou por variações no custo do dinheiro na economia.
Lembrando que quanto maior o prazo, maiores podem ser as variações das taxas de
juros no mercado, e por isso o risco é maior. Com risco maior, o retorno exigido será maior
por causa das variações que podem ocorrer. Como já comentado nessa seção, a expectativa
em relação aos fluxos de caixa que podem ser gerados com o título é que vai determinar a
taxa pela qual os fluxos de caixa serão descontados para se descobrir o valor presente do
título. E o valor presente é o valor pelo qual o título seria negociado em um momento atual.
O retorno esperado até o vencimento é a taxa de retorno que se espera obter com o
investimento, ou seja, é o retorno esperado até a data de vencimento do título. Em outras
palavras, será o retorno obtido se o investidor que comprou o título mantiver o investimento
até o vencimento.
O retorno esperado até o vencimento (YTM) pode ser encontrado por aproximação pela
seguinte fórmula:
na qual:
PV = valor presente do título
J = valor dos juros
M = valor nominal do título
n = período até o vencimento do título
Ou ainda pode ser encontrado pela mesma fórmula do valor presente do título, desde
que as informações sobre o período, os fluxos de caixa, o valor presente e o valor nominal
sejam informados.
Muitos fundamentos que vimos sobre avaliação de títulos podem ser aplicados na
avaliação de ações, só que agora serão discutidos os conceitos e ferramentas de análise de
ações para os investidores. Para entender melhor o que será discutido a seguir, primeiro é
preciso entender o que são as ações de uma empresa.
O capital que uma empresa possui é formado uma parte por capital próprio e outra parte
por capital de terceiros:
Observa-se que os recursos que dão origem aos ativos da empresa são oriundos do
passivo, que, por sua vez, se divide em passivo circulante e passivo não circulante e
patrimônio líquido. No passivo, estão as obrigações da empresa perante os terceiros que lhe
fornecem recursos, e no patrimônio líquido estão os recursos próprios da empresa.
Ou seja, existe uma parte que representa capital de terceiros, e outra parte é de capital
próprio da empresa. A parte de capital de terceiros pode ser tanto de curto prazo (passivo
circulante) como de longo prazo (passivo não circulante), e representa a parcela de recursos
que a empresa obtém de terceiros para financiar seu ativo. Já o capital próprio é a parte que
representa o capital da empresa, formado por recursos de acionistas, de lucros retidos,
reservas, entre outros. A essa combinação de capital de terceiros e capital próprio se dá o
nome de estrutura de capital, que será vista no Capítulo 7.
As ações estão no patrimônio líquido, pois são parte do capital próprio da empresa. As
ações representam a parte mínima do capital social da empresa que é uma sociedade anônima.
Quando a empresa negocia ações no mercado, significa que oferece parte de seu capital social
para acionistas que queiram investir na empresa, sendo que aqueles que adquirem ações se
tornam sócios da empresa. No caso das ações, quem compra as ações vira sócio da empresa
com o percentual proporcional ao volume de ações que possuir, diferentemente do caso de
compra de títulos de dívida, na qual quem adquire os títulos se torna um credor da empresa.
Isso tudo é importante para que se entenda os fundamentos de avaliação de ações, pois neste
caso se está falando de avaliação de títulos de propriedade que representam o capital próprio
da empresa, e por isso tem natureza diferente dos títulos de dívida.
As ações podem ser ordinárias ou preferenciais. As ações ordinárias são aquelas que dão
direito a voto, e as ações preferenciais não dão direito a voto, mas garantem alguns benefícios
no recebimento dos dividendos (preferência e valores maiores que no caso das ações
ordinárias). Para entender melhor o risco que envolve o investimento em ações, vale lembrar
que os acionistas são os últimos na lista de preferência por receber ativos no caso de uma
quebra da empresa: primeiramente são priorizados os funcionários e clientes, depois vem o
governo e os credores e, por fim, aparecem os acionistas na lista de prioridades.
Esse é um aspecto que faz com que o retorno exigido seja maior, visto que são os
últimos a receber distribuições de ativos. Os acionistas possuem risco maior do que os
credores e, por esta razão, o custo de capital próprio é maior que o custo com capital de
terceiros. Lembrando que outros riscos ainda afetam as decisões de investimentos em ações:
risco de crédito, risco de mercado, risco de liquidez, risco de inflação, risco operacional, risco
financeiro, enfim, tudo o que pode influenciar no valor das ações no mercado é um risco para
o acionista.
Observa-se que o retorno exigido é menor que o retorno esperado da ação, o que mostra
que a ação pode estar subavaliada no mercado. Sendo assim, quem comprar essas ações
poderá ganhar no momento em que o valor delas subir no mercado. Agora suponha que por
algum motivo o beta da empresa se alterou para 1,5. O retorno exigido passa então a ser:
Ki = Rf + β × (Km – Rf)
Ki = 8 + 1,5 × (11 – 8)
Ki = 12,5%
Agora o retorno exigido passou a ser igual ao retorno esperado, o que reflete um preço
justo no mercado. Ou seja, a ação está em equilíbrio no mercado, nem subavaliada nem
superavaliada.
Mas para mostrar outra alteração nessa expectativa, suponha que o beta da empresa
passasse a ser ainda maior: 1,8. Agora o retorno exigido para investir na ação será o seguinte:
Ki = Rf + β × (Km – Rf)
Ki = 8 + 1,8 × (11 – 8)
Ki = 13,4%
Com essa alteração, o retorno exigido passou a ser maior que o retorno esperado da
ação. Isso pode significar que a ação está superavaliada no mercado, e que seu valor pode cair
a qualquer momento quando for percebido que os retornos esperados são menores do que o
retorno exigido pelo risco do ativo.
O beta está relacionado ao risco não diversificável, ou sistemático. Por isso, qualquer
alteração no risco de uma ação pode mudar consideravelmente seu retorno exigido. Pode-se
dizer ainda que, conforme o risco aumenta, o valor da ação tende a diminuir no mercado, bem
como se o risco cair o valor da ação tende a aumentar.
Essa avaliação de ações pressupõe que o mercado não é eficiente. A teoria de mercado
eficiente traz a ideia de um mercado bastante diversificado e com muitos investidores, que
são racionais e que rapidamente reagem às mudanças de mercado, no qual os preços das
ações já refletem todas as informações sobre as empresas, não existe assimetria de
informações, o mercado é muito competitivo e transparente, com custos de transações muito
baixos e alta liquidez no mercado secundário, enfim, uma realidade que dispensa a avaliação
do preço das ações, já que não há ações superavaliadas ou subavaliadas.
Apesar de essa teoria ser um paradigma, alguns preferem não acreditar e procurar no
mercado por ações que estão baratas e com expectativas de retornos esperados maiores. Mas
ainda é a teoria que melhor explica os movimentos do mercado, por isso muitos autores a
defendem. A teoria de mercado eficiente é a teoria de um mercado perfeito, com um cenário
mais difícil de encontrar na realidade, e por isso, gera discussão entre os pesquisadores.
O conceito de valor presente de títulos volta a ser utilizado para se descobrir o valor de
uma ação no mercado. Se existem fluxos de caixa esperados (dividendos), basta trazer esses
valores ao valor presente para saber o preço de uma ação:
em que:
PV = valor da ação
D = dividendo esperado ao final de cada período
K = taxa de retorno exigida (modelo CAPM)
Importante lembrar que o preço da ação não é o sinônimo de valor da ação. O preço é o
valor pelo qual a ação é negociada no mercado, enquanto o valor da ação é o valor que ela
realmente vale, ou seja, é o valor que reflete os benefícios futuros que se espera obter com o
investimento.
na qual:
PV = valor presente da ação
D1 = dividendos esperados constantes
Ki = taxa de retorno exigida
Por exemplo, suponha que uma ação pague dividendos constantes de R$ 10,00 ao ano e
que o retorno exigido para se investir nela seja de 15%, o valor da ação ficaria assim:
PV = D1/Ki
PV = 10,00/0,15
PV = 66,67
Poderia ser ainda igualado ao valor presente de uma perpetuidade de dividendos, que
seria descontada a uma taxa de retorno exigida Ki:
Para uma ação preferencial, por exemplo, esse modelo poderia ser usado também,
apenas seria preciso substituir os dividendos previstos no lugar de D1 e a taxa de retorno
exigida no lugar de Ki.
em que:
D = dividendos esperados
Ki = retorno exigido
g = taxa de crescimento constante da empresa
A forma de calcular é a mesma de uma perpetuidade crescente. Suponha que uma
empresa estime uma taxa de crescimento anual de 5% e que pague dividendos por ação de R$
5,00. Considerando que o retorno exigido para investir na ação é de 10%, o valor da ação
seria de:
PV = D1/Ki – g
PV = 5,00/0,10 – 0,05
PV = 100,00
O valor da ação seria, neste exemplo, de R$ 100,00.
em que:
D0 = dividendos no período de crescimento inicial
Dn = dividendos no final período de crescimento inicial
g1 = taxa de crescimento da empresa no início
g2 = taxa de crescimento da empresa no final do período inicial
Ki = retorno exigido
n = tempo
Para que esses modelos de avaliação sejam mais próximos possíveis dos valores reais
das ações, as taxas de crescimento precisam ser estimadas de forma consistente, bem como as
taxas de retornos exigidos. Se essas estimativas estiverem imprecisas, podem ocorrer
variações de valor da ação que implicariam diferentes tomadas de decisões sobre os
investimentos: expectativas de retornos maiores que o retorno exigido, tendência a comprar
as ações; expectativas de retornos menores que o retorno exigido, tendência de venda de
ações. Por isso, esses modelos funcionam melhor quanto mais próximas da realidade
estiverem essas taxas de crescimento e de retorno exigido.
em que:
Vo = valor da empresa
FCL = fluxos de caixa livres esperados ao final de cada período
Ka = custo médio ponderado de capital da empresa
Todos os fluxos de caixa livres são trazidos a valor presente, descontados pela taxa de
custo médio ponderado de capital da empresa, que é o custo ponderado de capital de terceiros
e de capital próprio. Mas como esse modelo fornece o valor geral da empresa, para saber o
valor das ações da empresa é necessário que se façam alguns ajustes, deduzindo do valor
encontrado de Vo o valor das dívidas da empresa e das ações preferenciais (se a empresa tiver
esse tipo de ação):
Vf = Vo – Vd – Vp
em que:
Vf = valor final das ações
Vo = valor da empresa encontrado por meio do modelo
Vd = valor das dívidas
Vp = valor de mercado das ações preferenciais
Essa é mais uma forma de avaliação de ações utilizando o valor patrimonial das ações
como referência. O modelo considera que, se todos os ativos da empresa fossem vendidos
pelo seu valor contábil e do valor da venda fossem deduzidas as obrigações, o que sobrasse
seria dividido entre os acionistas e representaria o valor das ações.
Esse modelo é mais simples e apresenta algumas limitações, pois se baseia em dados
históricos contábeis que podem ter defasagem em relação aos valores presentes. Não são
consideradas as expectativas de fluxos de caixa futuros nesse modelo.
A relação preço/lucro representa o quanto o investidor está disposto a pagar por cada
unidade monetária de lucro da empresa. Pode ser usado o preço/lucro médio do setor como
uma referência, calculando o valor de uma ação da seguinte forma:
Caso a ação esteja subavaliada, o seu preço de mercado está menor do que realmente
vale, pois existem expectativas de fluxos de caixa maiores que o retorno exigido para se
aplicar na ação. Logo, a orientação por meio da análise fundamentalista seria de comprar
essas ações que estão com preço menor que seu valor intrínseco. Caso a situação seja oposta,
uma ação que esteja com preço de mercado maior que seu valor intrínseco, então ela deve ser
vendida, porque em um momento breve o mercado vai perceber isso e o preço dela tenderia a
cair.
A análise fundamentalista se baseia nos seguintes fatores para determinar o valor de
uma ação: (i) demonstrações econômico-financeiras da empresa e de todas as possíveis
informações relevantes que possam ajudar a estimar as expectativas futuras da empresa; (ii) a
situação atual da economia e as estimativas futuras que possam influenciar no valor das
ações; (iii) nível de confiança do investidor em relação à intervenções do governo na
economia; (iv) lucro esperado no futuro; (v) futuros investimentos e projetos da empresa; (vi)
fontes de financiamento da empresa.
Entre as variáveis macroeconômicas que são analisadas, estão:
taxas de inflação;
nível de renda e do produto nacional;
importações e exportações do país;
nível de consumo;
taxas de juros;
nível de emprego;
taxas de câmbio;
crescimento real do PIB;
risco-país; entre outras.
Para a análise setorial, essa técnica considera os seguintes aspectos:
ciclo de vida do setor em que a empresa atua;
regulamentação do setor e aspectos legais;
grau de sensibilidade às variações do mercado;
exposição a oscilações de preço;
tendências de curto e médio prazos;
potencial de crescimento do setor;
riscos do setor; entre outros.
Para análise dos fundamentos da empresa, essa técnica avalia:
a situação financeira da empresa, analisando os seus índices de liquidez, capital
circulante líquido, estrutura patrimonial e os níveis de imobilizações, capital de
terceiros e análise da dependência dos investimentos, ciclo operacional de compras e
vendas, clico financeiro de pagamentos e recebimentos;
a situação econômica da empresa, analisando o comprometimento do lucro da
empresa (cobertura) entre os credores, governo e acionistas, o retorno gerado pela
empresa e sua capacidade de gerar resultados, o desempenho sobre os investimentos,
as margens de lucro, giro do ativo, retorno sobre o patrimônio líquido, retorno sobre o
ativo, desempenho no mercado.
Após essa análise detalhada, o analista define então o modelo que usará para chegar ao
valor das ações: modelo baseado no valor patrimonial, modelo baseado no desconto de fluxos
de caixa, modelo baseado nos fluxos de caixa livres e modelo de desconto de dividendos
(taxa constante, crescente ou variável).
E, por fim, a escolha da taxa de desconto por meio do modelo CAPM para determinar o
retorno exigido para as ações e assim trazer os fluxos de caixa dos modelos de precificação
ao valor presente.
Essa teoria é considerada a mais antiga das explicações teóricas sobre as tendências de
comportamento de preços no mercado de capitais. Surgiu por volta de 1700, com os preços
dos contratos futuros de arroz de famílias japonesas. De acordo com essa teoria, os preços das
ações já descontam todas as informações sobre as empresas. O índice Dow Jones, usado até
hoje nos Estados Unidos, baseia-se na ideia de que os preços apresentam tendência de alta ou
baixa a qualquer momento, e que é preciso se chegar a uma média da evolução dos preços de
um grupo representativo de ativos para se identificar as tendências de preços.
Os dois pressupostos da teoria de Charles Dow são: (i) os preços descontam tudo, ou
seja, já estão com todos os julgamentos dos investidores do mercado; (ii) os movimentos de
preços no mercado se comportam em três movimentos oscilatórios com diferentes
amplitudes, sendo um de longo prazo, outro de médio prazo e outro de curto prazo. Esses
movimentos oscilatórios indicam a velocidade com que as informações são difundidas no
mercado e como os preços incorporam essas informações e se ajustam, é a reação do mercado
diante das novidades sobre as ações.
Figura 17 – Tendências de Dow.
Fonte: Pinheiro (2012, p. 500-503).
Com seus estudos, Elliot chegou à conclusão de que uma tendência de alta ou de baixa é
formada por cinco ondas, sendo que as três primeiras possuem tendência predominante e as
outras duas correspondem a uma correção ou ajuste da tendência, em movimento contrário às
três primeiras ondas. Ou seja, uma tendência de queda de preços seria seguida de três ondas
de baixa, e depois duas de ajuste que voltariam a estabilizar os preços. O mesmo para uma
tendência de alta de preços, na qual ocorreriam três ondas de alta e duas na sequência de
baixa para estabilização dos preços.
Essa análise é uma das mais importantes na análise técnica. Os analistas conhecidos
como grafistas são aqueles que utilizam muito a análise gráfica para fazer suas indicações de
investimentos.
Os grafistas se baseiam em movimentos de preços das ações que os gráficos apresentam
para buscar comportamentos padronizados e indicar tendências de variações de preços de
ações. A ideia é de que comportamentos nos gráficos passados indicam comportamentos
futuros nos preços das ações.
Os gráficos mais usados para essa análise são: gráfico de barras, gráfico de linhas,
gráfico de volume, gráfico ponta figura e gráfico candlesticks. Esses gráficos apresentam as
cotações das ações ao longo do tempo, volumes negociados, cotações mínimas e máximas,
valor de abertura e valor de fechamento das ações. Conforme o tipo de gráfico, os analistas
terão em mãos diferentes formas de análise para tentar identificar os comportamentos
padronizados dos preços das ações.
As indicações de compras e vendas de ações com a análise técnica feita pelos analistas
se baseiam nessas informações e nas tendências de alta e baixa dos preços. Na medida em que
são identificados padrões de comportamentos, eles fazem suas indicações de investimentos.
Para memorizar
Título de dívida: representa uma obrigação de uma empresa perante um investidor. Quem
compra um título de dívida se torna um credor do emissor do título, com direitos a receber
seu valor de volta com os juros, conforme acordado.
Cupons de juros: são pagamentos de juros no decorrer no tempo de aplicação, ou seja, o
emissor paga periodicamente juros sobre o valor captado e, na data de vencimento,
devolverá o valor do principal.
Data de vencimento de um título: é a data em que o título será liquidado, ou seja, é quando
deverá ser devolvido o valor nominal mais os juros, conforme o caso.
Fluxos de caixa: são resultados que se espera receber com a aplicação. Ou seja, são valores
gerados pelo emissor durante o período do investimento.
Análise fundamentalista de ações: neste tipo de análise, todas as informações disponíveis
sobre a empresa são analisadas, objetivando assim chegar ao valor intrínseco de uma ação.
Baseia-se na análise dos fundamentos econômico-financeiros da empresa: análise
macroeconômica e setorial em que a empresa está inserida, análise dos fundamentos da
empresa e valorização das ações da empresa.
Análise técnica de ações: nesta análise, observa-se o movimento do mercado com base em
uma representação gráfica e com padrões de comportamento para prever movimentos
futuros. Ou seja, comportamentos passados podem refletir comportamentos futuros.
REFERÊNCIAS
BREALEY, Richard A.; MYERS, Stewart C. Finanças Corporativas: financiamento e gestão de risco.
Porto Alegre: Bookman, 2005.
BRIGHAM, Eugene F; EHRHARDT, Michael C. Administração Financeira: teoria e prática. 10. ed. São
Paulo: Cengage Learning, 2008.
DAMODARAN, Aswath. Finanças corporativas aplicadas. Porto Alegre: Bookman, 2002.
DAMODARAN, Aswath. Finanças corporativas: teoria e prática. 2. ed. Porto Alegre: Bookman, 2004.
GITMAN, Lawrence Jeffrey. Princípios de Administração Financeira. 10. ed. São Paulo: Pearson Addison
Wesley, 2004.
IUDÍCIBUS, Sérgio de.; MARTINS, Eliseu; GELBCKE, Ernesto Rubens; SANTOS, Ariovaldo dos.
Manual de Contabilidade Societária. São Paulo: Atlas, 2010.
PINHEIRO, Juliano Lima. Mercado de Capitais: fundamentos e técnicas. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2012.
ROSS, Stephen; WESTERFIELD, Randolph W; JAFFE, Jeffrey F. Administração Financeira. 2. ed. São
Paulo: Atlas, 2002.
SAMANEZ, Carlos Patrício. Matemática financeira: aplicações à análise de investimentos. 3. ed. São
Paulo: Pearson Prentice Hall, 2002.
SMAILES, Joanne; McGRANE, Angela. Estatística aplicada à administração com Excel. São Paulo:
Atlas, 2007.
5.1 Introdução
Um investimento pode ser realizado por diversas razões, dentre elas: substituição de
ativos usados ou obsoletos; expansão das atividades de uma empresa; automatização ou
modernização de um setor produtivo, entre outras.
O processo de orçamento de capital ocorre em cinco etapas, conforme Carmona (2009):
geração de proposta (1); discussão e análise (2); tomada de decisão (3); implementação (4) e
acompanhamento e controle (5).
Dado o racionamento de capital, bem como a existência de projetos com a mesma
finalidade, poderão existir projetos que competem entre si para sua realização, projetos estes
classificados como projetos mutuamente excludentes, ou seja, a realização de um deles
implica a não realização do outro. Os projetos não concorrentes e possíveis de realização
simultânea, por sua vez, são classificados como projetos independentes.
Se existem dois projetos mutuamente excludentes e que apresentam o mesmo risco,
deve-se escolher aquele que apresenta um maior retorno, ou seja, aquele que criará mais
riqueza para a organização.
Na realização desse processo de seleção de investimentos, principalmente nas etapas de
discussão, análise e tomada de decisão, alguns componentes são essenciais, tais como: os
fluxos de caixa e as técnicas de análise de orçamento de capital.
5.2 Fluxo de caixa
Exemplo
O gestor da empresa Expansão S.A. está avaliando a compra de uma máquina no valor de
R$ 100.000,00 para aumento da capacidade produtiva da empresa. A máquina utilizada
atualmente seria substituída por uma máquina nova. Seguem algumas informações sobre o
projeto de investimento:
preço de compra da máquina nova: R$ 100.000,00;
custos de instalação do equipamento novo: R$ 20.000.00;
aumento no ativo circulante: R$ 25.000,00;
aumento no passivo circulante: R$ 20.000,00;
vida útil do equipamento atual: cinco anos;
o equipamento atual foi comprado há três anos por R$ 45.000,00;
o valor de venda do equipamento atual é de R$ 30.000,00;
o percentual de depreciação é de 20% ao ano;
a alíquota do imposto de renda sobre o ganho de capital é de 15%.
Dadas às informações descritas, qual seria o valor do investimento inicial (II)?
Demonstra-se a seguir o cálculo do investimento inicial (II) para a compra desta nova
máquina.
Itens Valores
Valor de compra da máquina nova R$ 100.000,00
Custos de instalação R$ 20.000,00
Valor de compra + Custos de Instalação R$ 120.000,00
Uma questão que geralmente acarreta dúvidas é: por que a variação no capital
circulante líquido é considerada no cálculo do investimento inicial?
Vamos relembrar a composição de um balanço patrimonial:
(B) Entradas de Caixa Operacionais (ECO): são entradas de caixa, após a dedução do
imposto de renda, resultantes da implementação do projeto ao longo de sua vida útil.
Exemplo
Os gestores da empresa Expansão S.A. decidiram adquirir uma máquina nova para
aumento da produtividade. Estimam que o projeto gere entradas de caixas anuais e
sequenciais nos seguintes valores: R$ 10.000,00; R$ 25.000,00; R$ 38.000,00 e R$
32.000,00. A alíquota de imposto de renda da empresa é de 15%. Dadas às informações
descritas, quais seriam as entradas de caixa operacionais (ECO)? Demonstra-se a seguir o
cálculo das entradas de caixa operacionais (ECO).
(C) Fluxo de Caixa Residual (FCR): é o fluxo de caixa não operacional, após o imposto
de renda, que ocorre no término do projeto. Geralmente ocorre na venda do ativo objeto do
projeto.
Exemplo
Os gestores da empresa Ômega S.A. desejam vender uma máquina adquirida há três anos.
Sabe-se que a mesma será depreciada em cinco anos (depreciação de 20% a.a.). O valor
original da compra foi de R$ 120.000,00 e a máquina será vendida por R$ 70.000,00.
Sabendo-se que a alíquota do imposto de renda é de 15%, qual seria o valor do fluxo de
caixa residual (FCR)? Demonstra-se a seguir o cálculo do fluxo de caixa residual (FCR).
Sabendo-se que o valor contábil do ativo é de R$ 48.000,00 (após três anos da data da
compra) e que o ativo será vendido por R$ 70.000,00, temos um ganho de capital de R$
22.000,00 (70.000,00 2 48.000,00) e esse ganho de capital deve ser tributado pelo imposto
de renda à alíquota de 15%, conforme informado no enunciado deste exemplo:
Para memorizar
Fluxo de caixa convencional: são aqueles que possuem uma saída de caixa, seguida de
algumas entradas de caixa.
Fluxo de caixa não convencional: é composto por um investimento inicial seguido por uma
série de entradas e saídas de caixa. Tem um padrão diferente do fluxo de caixa
convencional.
Investimento inicial – II: é composto pelos seguintes elementos: (1) valor do bem
adquirido, (2) custos de instalação do mesmo, (3) valor da venda do ativo antigo após o
imposto de renda e (4) variação no capital circulante líquido, se houver.
Entradas de caixa operacionais – ECO: são as entradas de caixa, após a dedução do imposto
de renda, resultantes da implementação do projeto.
Fluxo de caixa residual – FCR: é o fluxo de caixa não operacional, após o imposto de renda,
que ocorre no término do projeto.
Após a obtenção das informações relativas aos fluxos de caixa, chega o momento de
avaliar as informações econômico-financeiras à disposição.
Neste momento, devem-se aplicar as técnicas de análise de orçamento de capital
existentes. Neste livro, abordamos as técnicas mais utilizadas, são elas: o Valor Presente
Líquido – VPL (A), a Taxa Interna de Retorno – TIR (B) e o Período de Payback (C).
(A) VPL: o valor presente líquido é o valor presente dos fluxos de caixa
estimados/produzidos por um projeto, menos o valor presente do custo do investimento (ROSS
et al., 2008).
Nesta técnica, os fluxos de caixa são trazidos a valor presente por meio de uma taxa de
desconto, denominada custo de capital ou taxa mínima de atratividade – TMA. O critério de
decisão é simples, se o valor presente dos fluxos de caixa for superior ao valor do
investimento inicial, o projeto deve ser aceito, do contrário, deve ser rejeitado, isto é, o VPL >
0 é condição para a aceitação de um projeto de investimento.
(B) TIR: é a taxa interna de retorno de um projeto de investimento. Segundo Carmona
(2009, p. 61), “a TIR é uma taxa de desconto que iguala o valor presente dos fluxos de caixa
futuros ao investimento inicial.”
Nesta técnica, o critério de decisão é: se a TIR for superior à TMA ou Custo de Capital, o
projeto deve ser aceito. Se ocorrer o contrário, o projeto deve ser rejeitado. Se a TIR for igual
à TMA/custo de capital é indiferente a realização do projeto, pois o mesmo não onerará a
organização, bem como não agregará valor, isto é, a TIR > TMA/custo de capital é condição
para a aceitação de um projeto de investimento.
(C) Período de payback: é o tempo que leva para recuperar o capital investido em um
projeto. Considerando que tempo é risco em finanças, quanto menor o prazo de retorno de um
investimento, melhor.
Esta técnica tem duas aplicações, uma delas desconsidera o valor do dinheiro no tempo
e denomina-se payback simples, outra considera essa variável e é chamada de payback
descontado.
Apresenta-se a seguir um exemplo de aplicação e análise das referidas técnicas.
Exemplo: os acionistas da empresa Andrômeda S.A. desejam avaliar a realização de um
investimento no Projeto F, que tem por objetivo automatizar o setor produtivo da empresa. A
realização do projeto gerará o fluxo de caixa descrito a seguir, que considera entradas de
caixa após o imposto de renda. Os acionistas da empresa aceitam um payback simples de, no
máximo, quatro anos e um payback descontado de, no máximo, cinco anos. Sabendo que a
organização tem um custo de capital de 12% e, portanto, uma taxa mínima de atratividade
(TMA) de 12% para a realização de investimentos, conclua, por meio das técnicas de VPL, TIR e
payback, se o Projeto F deve ser realizado.
(A) VPL: o cálculo do VPL é o somatório dos fluxos de caixa de um projeto, descontados
ao custo de capital ou taxa mínima de atratividade – TMA, menos o valor do investimento
inicial. Descrevem-se a seguir a fórmula utilizada, os cálculos de cada fluxo de caixa a valor
presente e o cálculo do VPL.
Fórmula:
na qual:
VPL = valor presente líquido
FCd = fluxos de caixa no tempo 1, 2, 3…
k = custo de capital ou taxa mínima de atratividade
II = investimento inicial
1Cash Flow (se este se repetir apenas uma vez, não é necessário lançar + g Nj)
2Quantos momentos o último Cash Flow se repetirá (2 momentos)
3Internal rate of return ou taxa interna de retorno.
Conclusão: através da análise da TIR, deve-se aceitar o Projeto F, visto que o mesmo
apresenta uma taxa de retorno superior (16,64%) ao custo de capital/TMA (12%), ou seja, TIR
> 12%.
(C) Período de payback: agora vamos identificar em quanto tempo ocorre o retorno do
investimento realizado no Projeto F. Primeiramente, desconsiderando o valor do dinheiro no
tempo (payback simples) e na sequência, considerando essa variável (payback descontado).
Payback simples: ao analisar o fluxo de caixa do Projeto F, identificamos que até o 3º
ano há um retorno de R$ 80.000,00 (R$ 30.000,00 + R$ 25.000,00 + R$ 25.000,00) e,
considerando até o 4º ano, há um retorno de R$ 120.000,00 (R$ 80.000,00 + R$ 40.000,00),
valor este que ultrapassa o valor do investimento inicial (R$ 100.000,00). Nesta análise,
identifica-se que o retorno do investimento se dá em algum momento entre o 3º e 4º ano. Mas
qual seria esse instante?
Observe que no 3º ano faltam apenas R$ 20.000,00 para atingir o investimento inicial
realizado (R$ 100.000,00 – R$ 80.000,00). Para descobrir em que momento entre o 3º e 4º ano
se dá o retorno total do investimento, basta dividir a diferença entre o investimento inicial e o
retorno obtido, até o 3º ano, pelo fluxo de caixa do 4º ano:
Sabemos que a soma dos fluxos de caixa do Projeto F, a valor presente, é superior ao
investimento inicial, dada à análise do VPL (R$ 12.627,56), realizada anteriormente.
Nesse sentido, se deduzirmos o valor presente do fluxo de caixa do 5º ano (R$
22.697,07) do valor total (R$ 112,627,56 2 R$ 22,697,07 = R$ 89.930,49), veremos que o
payback descontado não ocorre no 4º ano, e sim em algum momento entre o 4º e o 5º ano,
pois R$ 89.930,49 é inferior a R$ 100.000,00 (investimento inicial). Mas qual seria esse
momento?
Faremos a mesma análise realizada no cálculo do payback simples: até o 4º ano, o
retorno obtido é de R$ 89.930,49, logo resta R$ 10.069,51 para atingir o valor do investimento
inicial. O valor de R$ 10.069,51 representa quanto do fluxo de caixa do 5º ano?
Logo, o payback descontado do Projeto F é de 4,44 anos.
Conclusão: através da análise do payback descontado, deve-se aceitar o Projeto F, visto
que o mesmo apresenta um período de retorno, considerando o valor do dinheiro no tempo,
inferior (4,44 anos) ao aceitável pelos acionistas da empresa (cinco anos).
Observação: quando se tem uma anuidade (entradas de caixa operacionais iguais), o
cálculo do payback simples é intuitivo, pois basta dividir o valor do investimento inicial (II)
pelo valor da anuidade (A). Por exemplo: considerando um investimento inicial de R$
1.000.000,00 na compra de uma máquina, que gerará entradas de caixa operacionais anuais
de R$ 100.000,00 durante 20 anos, qual seria o payback simples?
Para memorizar
VPL: é o valor presente líquido dos fluxos de caixa operacionais, menos o valor do
investimento inicial.
TIR: é a taxa interna de retorno de um projeto de investimento. É a taxa de desconto que
iguala o valor presente dos fluxos de caixa ao valor do investimento inicial.
Payback simples: é o tempo que leva para recuperar o capital investido em um projeto, sem
considerar o valor do dinheiro no tempo.
Payback descontado: é o tempo que leva para recuperar o capital investido em um projeto,
considerando o valor do dinheiro no tempo.
REFERÊNCIAS
CARMONA, Charles Ulises De Montreuil (Org.). Finanças Corporativas e Mercados. São Paulo: Atlas,
2009.
GITMAN, Lawrence Jeffrey. Princípios de Administração Financeira. 12. ed. São Paulo: Pearson, 2010.
ROSS, Stephen A.; WESTERFIELD, Randolph W.; JAFFE, Jeffrey F. Administração Financeira:
Corporate Finance. São Paulo: Atlas. 2008.
CUSTO DE CAPITAL
Neste capítulo, estudaremos o custo de capital sob o enfoque do capital de terceiros e do capital
próprio. Será apresentada a participação de ambos os capitais na estrutura de capital de uma
empresa, cuja participação ideal é obtida quando o custo do capital, como um todo, é minimizado
o máximo possível, visando maximizar a riqueza dos acionistas, que é, por sua vez, o objetivo da
administração financeira. Este capítulo engloba os seguintes temas: custo do capital de terceiros;
custo da dívida de longo prazo; custo da ação ordinária e preferencial; custo dos lucros retidos;
custo médio e ponderado de capital e custo marginal, com a finalidade de avaliar investimentos
para tomada de decisão.
6.1 Introdução
De forma geral, uma empresa pode escolher entre muitas alternativas de estruturas de
capital. Pode usar grande soma de capital de terceiros ou concentrar o uso de capital próprio,
em suas operações e investimentos. Pode emitir ações preferenciais com taxa de dividendo
flutuante, debêntures, obrigações conversíveis, notas promissórias, entre outros (ROSS et al.,
2008).
As opções para obtenção de capital são inúmeras, basta lembrar-se da diversidade de
ativos financeiros existentes nos mercados financeiros ao redor do mundo. Considerando as
fontes de recursos existentes, pode-se descrever que os capitais utilizados pelas organizações
são classificados, conforme a forma de obtenção, em capital próprio ou capital de terceiros.
A definição da estrutura de capital ideal, do uso dos tipos de capitais existentes, bem
como da forma de obtenção, deve ter como base a análise do custo de capital, pois objetiva-se
utilizar capitais que ofereçam o menor custo possível, a fim de maximizar o resultado
econômico-financeiro das organizações.
O custo de capital pode ser definido como a taxa de retorno que a empresa precisa obter
em projetos de investimento, a fim de manter o valor de mercado da organização (GITMAN,
2010).
Logo, se um projeto de investimento apresentar uma taxa de retorno superior ao custo
de capital, ele estará agregando valor à organização, e se apresentar uma taxa de retorno
inferior, estará gerando prejuízo.
A seguir apresentam-se os seguintes custos de capitais: custo do capital de terceiros,
custo da dívida de longo prazo, custo da ação ordinária, Capital Asset Pricing Model (CAPM),
custo da nova ação ordinária, custo dos lucros retidos, custo da ação preferencial, custo médio
e ponderado de capital (CMePC) e custo marginal.
ki = Kd · (1 – T)
em que:
ki = custo do capital de terceiros
kd = custo da dívida antes do Imposto de Renda Pessoa Jurídica (IRPJ)
T = alíquota do IRPJ
Exemplo
Uma empresa comercial contratou um financiamento de R$ 100.000,00 em uma instituição
financeira a uma taxa de juros de 12% ao ano. Sabendo-se que a alíquota do Imposto de
Renda Pessoa Jurídica (IRPJ) incidente é de 15%, calcula-se a seguir o custo do capital de
terceiros intrínseco nessa operação.
ki = Kd · (1 – T)
ki = 12 · (1 – 0,15)
ki = 12 · (0,85)
ki = 10,20%
O custo da dívida de longo prazo está associado à necessidade das empresas em captar
recursos de terceiros, de longo prazo, através de emissão de títulos, debêntures e/ou captação
de financiamentos e empréstimos bancários (CARMONA, 2009).
Considerando a obtenção de capital via emissão de debêntures, sabe-se que o emissor
deve pagar juros periodicamente, além de devolver ao credor o principal no vencimento. A
seguir apresenta-se uma figura, exemplificando o fluxo de caixa ao emitir uma debênture, sob
o ponto de vista do investidor. A variável “n” representa a data de vencimento do título.
Figura 23 – Fluxo de caixa de uma debênture.
Fonte: adaptada pelos autores, com base em Carmona, (2009).
na qual:
Kd = custo da dívida de longo prazo
Nd = valor líquido recebido pelo título (considerando as taxas de lançamento e pagamento
de comissão aos agentes envolvidos no processo de captação)
Vface = valor reembolsado ao investidor no vencimento
J = juros
n = prazo de vencimento
Exemplo
A Empresa Vega S.A. emitiu uma debênture com valor nominal de R$ 1.500,00, que paga
juros nominais de 12% ao ano. A debênture será reembolsada no 10° ano e os seus custos
de emissão totalizam R$ 100,00. Considerando estas informações, calcula-se a seguir o
custo de emissão desta debênture.
O custo do capital próprio deve ser estimado, com o objetivo de refletir a expectativa de
retorno dos acionistas sobre o patrimônio líquido da empresa, geralmente no horizonte de
tempo de um ano, considerando as taxas de retorno praticadas pelo mercado para os demais
investimentos.
Como o uso do capital próprio pode se dar de diferentes formas, apresenta-se a seguir o
custo do uso deste capital por meio de diferentes equações: custo de emissão da ação
ordinária, Capital Asset Pricing Model (CAPM), custo dos lucros retidos e custo da ação
preferencial.
na qual:
ks = custo da ação ordinária
D1 = próximo dividendo
P0 = preço corrente da ação ordinária
g = taxa de crescimento dos dividendos
Exemplo: os acionistas da empresa Toy & Play avaliam que as ações ordinárias a serem
emitidas serão comercializadas a R$ 24,50 cada. Considerando que o próximo dividendo a ser
distribuído terá o valor unitário de R$ 4,50 e que a taxa de crescimento dos mesmos é de 3%,
qual seria o custo da ação ordinária? Apresenta-se a seguir o cálculo deste custo.
O Capital Asset Pricing Model (CAPM) descreve a relação entre o retorno requerido
pelos investidores e o beta (βj), que é o risco não diversificável da empresa, conforme
descrito a seguir.
ks = Rf + bj(km – Rf)
em que:
ks = retorno requerido pelos investidores (custo do capital próprio; custo da ação
ordinária)
Rf = retorno livre de risco
βj (Beta) = coeficiente de correlação do retorno do ativo com o retorno da carteira de
mercado, medida do risco sistemático
km = retorno da carteira de mercado
Segundo Gitman (2010), o uso do CAPM indica que o custo do capital próprio é o retorno
almejado pelos investidores/acionistas, como recompensa pelo risco que não pode ser
diversificado por meio da composição de uma carteira com diferentes ativos.
O coeficiente beta, presente no CAPM, é o parâmetro angular na reta de regressão linear
(reta característica), indicando o risco de um ativo em relação ao risco do mercado.
Considera-se que a carteira do mercado, por conter apenas o risco sistemático, já que o risco
não sistemático foi eliminado pelo efeito da diversificação, tem um beta igual a um (ASSAF
NETO, 2010).
Nesse sentido, se um ativo apresentar um beta igual a um pode-se dizer que este se
movimenta da mesma forma que o mercado. Se o beta do ativo for maior que um, o mesmo
representa um risco sistemático mais alto que o do mercado e se o beta for inferior a um, o
risco sistemático do ativo é inferior ao risco do mercado.
Apresenta-se a seguir um exemplo da aplicação do CAPM.
Exemplo
Considerando o CAPM, demonstra-se a seguir a taxa de retorno exigida de cada um dos
ativos abaixo descritos. Sabe-se que a taxa de retorno do ativo livre de risco é de 5% e a do
mercado, de 10%.
O custo de emissão de uma nova ação ordinária é determinado pelo custo de emissão
das ações ordinárias, deduzidos os custos de lançamento previstos.
Geralmente, as empresas fazem uma nova emissão considerando um preço inferior ao
praticado no mercado, a fim de que o ativo-objeto da emissão seja aceito pelo mercado, ou
seja, gere demanda.
A emissão do ativo-objeto por um preço inferior ao praticado no mercado, denominada
underpricing, ocorre por algumas razões, tais como:
quando o mercado está em equilíbrio (demanda = oferta), pois, neste caso, somente
um preço inferior ao praticado gerará demanda;
pelo fato de a emissão de novas ações reduzir o percentual do patrimônio líquido por
ação, justificando, portanto, o menor preço;
pelo fato de muitos investidores analisarem a emissão adicional de ações como um
sinal de que as ações estão superavaliadas, já que a administração optou pelo uso de
capital próprio, não de terceiros (GITMAN, 2010).
Apresenta-se a seguir a equação para cálculo do custo da nova ação ordinária.
na qual:
kn = custo da nova ação ordinária
D1 = próximo dividendo
Nn = valor líquido com a venda da ação
g = taxa de crescimento dos dividendos
Exemplo
A empresa JP Hipermercados S. A. está com sua ação ordinária cotada a R$ 25,00 e
apresenta dividendos esperados de R$ 2,30 por ação. Estima-se que os dividendos cresçam
a uma taxa de 6%. Os acionistas da empresa pretendem comercializar a ação a R$ 22,50,
realizando um underpricing de R$ 2,50. O custo da emissão será de R$ 1,30 por ação,
considerando a emissão e comercialização das ações. A seguir demonstra-se o custo de
emissão de novas ações ordinárias para a empresa JP Hipermercados S. A.
Sabe-se que os dividendos são distribuídos a partir do lucro líquido da empresa, após a
dedução dos impostos. Logo, o pagamento de dividendos reduz o valor dos lucros retidos.
As organizações que contam com lucros retidos têm duas opções de obter capital
próprio através dos mesmos. Uma delas é reter os lucros, deixando de pagar de dividendos. A
outra opção é emitir ações ordinárias adicionais e pagar dividendos, considerando o valor dos
lucros retidos. Pode-se dizer, portanto, que a retenção de lucros aumenta o capital próprio da
mesma forma que a subscrição de ações ordinárias. Dessa forma, o custo dos lucros retidos é
o mesmo que o custo de emissão de ações ordinárias (GITMAN, 2010).
kr = ks
em que:
kr = custo dos lucros retidos
ks = custo da ação ordinária
Na seção 6.3.1, Custo da Ação Ordinária, consta o exemplo descrito a seguir.
Exemplo
Os acionistas da empresa Toy & Play avaliam que as ações ordinárias a serem emitidas
serão comercializadas a R$ 24,50 cada. Considerando que o próximo dividendo a ser
distribuído terá o valor unitário de R$ 4,50 e que a taxa de crescimento dos mesmos é de
3%, qual seria o custo da ação ordinária? Apresenta-se a seguir o cálculo deste custo.
O custo de emissão da ação ordinária (ks) para a empresa Toy & Play é de 21,37%.
O percentual de 21,37% também é o custo dos lucros retidos (kr) para a empresa Toy &
Play, pois, conforme o exposto, o custo de emissão da ação ordinária é o mesmo que o
custo dos lucros retidos: ks = kr.
em que:
kp = custo da ação preferencial
Dp = dividendo a ser pago
Np = valor líquido recebido com a venda da ação
Exemplo
Os acionistas da empresa Romani Company estão avaliando a viabilidade em emitir ações
preferenciais, as quais esperam negociar por R$ 34,00 cada. Sabe-se que os custos de
emissão totalizarão R$ 5,80 por ação e que os acionistas pretendem distribuir dividendos
que representem 8% sobre o valor de cada ação. Qual seria o custo de emissão da ação
preferencial para a empresa Romani Company? Apresenta-se a seguir o cálculo deste custo.
6.4 Custo médio e ponderado de capital (CMePC)
O custo médio e ponderado de capital (CMePC) é ideal para ser utilizado quando se
trabalha com diversas fontes de recursos, ponderando a participação de cada um dos capitais
na estrutura de capital das empresas.
Em síntese, o CMePC busca refletir o custo médio futuro de todas as fontes de capital de
longo prazo (CARMONA, 2009).
Apresenta-se a seguir a expressão que permite o cálculo do CMePC.
CMePC = (Prt1 dos Capitais Próprios × Custo) + (Prt1 dos Capitais Terceiros + Custo)
Exemplo
Suponha que a empresa ABC possua a seguinte estrutura de capital e os respectivos
custos:
Tabela 12 – Exemplo para cálculo do CMePC
Dado o resultado obtido, pode se inferir que a empresa ABC deve realizar projetos de
investimento que gerem um retorno igual ou superior a 18,10% (CMePC), pois se os
investimentos realizados apresentarem um retorno inferior a 18,10% irão gerar prejuízo à
empresa, visto que o custo de captação dos recursos será superior à taxa de retorno dos
investimentos.
É possível calcular o volume máximo de recursos que a empresa XYZ pode captar,
considerando cada uma das fontes, através do cálculo do ponto de ruptura (PR). Descreve-
se a seguir a fórmula e o cálculo do ponto de ruptura da fonte de recursos: ações
preferenciais.
em que:
PRj = ponto de ruptura do fundo j
TFj = total de fundos para a fonte j
Wj = peso do fundo j no total da estrutura de capital
Para memorizar
REFERÊNCIAS
ASSAF NETO, Alexandre. Mercado Financeiro. 9. ed. São Paulo: Atlas, 2010.
CARMONA, Charles Ulises De Montreuil (Org.). Finanças Corporativas e Mercados. São Paulo: Atlas,
2009.
GITMAN, Lawrence Jeffrey. Princípios de Administração Financeira. 12. ed. São Paulo: Pearson, 2010.
ROSS, Stephen A.; WESTERFIELD, Randolph W.; JAFFE, Jeffrey F. Administração Financeira:
Corporate Finance. São Paulo: Atlas. 2008.
7.1 Introdução
Exemplo
O gestor da Indústria Metalúrgica Aço Mais deseja avaliar o grau de alavancagem
operacional (GAO) da empresa, considerando a Situação + como a atual (venda de 300
unidades) e a Situação 2 (venda de 500 unidades) como a prevista para o próximo mês.
Dadas as informações apresentadas na tabela a seguir, demonstra-se o cálculo do GAO.
Exemplo
Após obter o GAO, o gestor da Indústria Metalúrgica Aço Mais deseja calcular o grau de
alavancagem financeira (GAF) da empresa, considerando a Situação + (venda de 300
unidades) como a atual e a Situação n2 (venda de 500 unidades) como a prevista para o
próximo mês. Dadas as informações apresentadas na tabela a seguir, demonstra-se o
cálculo do GAF.
ou
Exemplo
Após obter o GAO e o GAF, o gestor da Indústria Metalúrgica Aço Mais deseja calcular o
impacto total dos custos fixos operacionais e financeiros da empresa, considerando a
Situação + (venda de 300 unidades) como a atual e a Situação 2 (venda de 500 unidades)
como a prevista para o próximo mês. Dadas as informações a seguir, demonstra-se o
cálculo do GAT.
ou
7.5 Relação entre lucro antes de juros e impostos (LAJIR) e o lucro por ação (LPA)
Uma questão que se deve ter sempre em mente aos estudar temas relacionados à área
das finanças corporativas é o objetivo do administrador financeiro: maximizar a riqueza dos
acionistas. Considerando essa premissa, pode-se avaliar quais informações são mais
relevantes na análise dos acionistas/proprietários de uma organização, uma delas, sem dúvida,
é o lucro.
Após apurar o lucro, em um dado período, obtém-se uma informação, extraída do
mesmo, que tem grande representatividade para todos os shareholders1 de uma organização,
o lucro por ação (LPA).
A análise da estrutura de capital, considerando a relação entre o lucro antes de juros e
impostos (LAJIR) e o lucro por ação (LPA) “envolve selecionar a estrutura de capital que
maximiza o LPA na faixa esperada de LAJIR”, segundo Gitman (2010, p. 493).
Apresenta-se a seguir um exemplo da aplicação da relação entre LAJIR e LPA.
Exemplo
O gestor da empresa Ômega Indústria e Serviços S.A. necessita de R$ 100.000,00 para
realizar um projeto de investimento. Antes de realizar a captação do recurso financeiro
necessário, o gestor deseja comparar as duas formas de obtenção disponíveis, analisando a
relação entre o LAJIR e o LPA. A primeira opção para obtenção do recurso é via emissão de
duzentas ações ordinárias, recebendo R$ 100,00 líquidos, por ação, já descontados os
custos de emissão e distribuição. A segunda opção é através de financiamento bancário, a
uma taxa de juros de 8%. Apresenta-se a seguir a análise da relação LAJIR e LPA,
considerando um LAJIR base de R$ 400.000,00, para ambas as opções.
Tabela 16 – Análise da relação entre LAJIR e LPA
Por meio dos cálculos realizados na tabela anterior, percebe-se que se o gestor da
empresa Ômega Indústria e Serviços S.A. optar pelo financiamento com capital próprio,
via emissão de ações ordinárias, obterá um lucro líquido maior (R$ 340.000,00), contudo o
LPA será inferior (R$ 200,00) ao obtido via capital de terceiros, pois a primeira opção
aumenta em 200 o número de ações em circulação, diluindo o lucro líquido obtido.
Se optar pelo uso de financiamento com capital de terceiros, arcará com juros que
totalizam R$ 8.000,00 e obterá um lucro líquido inferior (R$ 333.200,00), se comparado ao
lucro líquido obtido com o uso de capital próprio, contudo o LPA será maior (R$ 222,13),
dado o menor número de ações em circulação (apenas 1500 ações).
Para memorizar
REFERÊNCIAS
CARMONA, Charles Ulises De Montreuil (Org.). Finanças Corporativas e Mercados. São Paulo: Atlas,
2009.
GITMAN, Lawrence Jeffrey. Princípios de Administração Financeira. 12. ed. São Paulo: Pearson, 2010.
MYERS, Stewart C. The Capital Structure Puzzle. Journal of Finance, 39, jul. 1984.
MYERS, Stewart C.; MAJLUF, Nicholas S. Corporate Financing and Investment Decisions When Firms
Have Information Investors Do Not Have. Journal of Financial Economics, 13, jun.1984.
MODIGLIANI, Franco; MILLER, Merton H. The Cost of Capital, Corporation Finance and the Theory of
Investment. American Economic Review, 48, jun. 1958.
MODIGLIANI, F.; MILLER, M. Corporate income taxes and the cost of capital: A correction. American
Economic Review, 53, p. 433–443, 1963.
ROSS, Stephen A.; WESTERFIELD, Randolph W.; JAFFE, Jeffrey F. Administração Financeira:
Corporate Finance. São Paulo: Atlas. 2008.
Reitor
Pe. Marcelo Fernandes de Aquino, SJ
Vice-reitor
Pe. José Ivo Follmann, SJ
EDITORA UNISINOS
Diretor
Pe. Pedro Gilberto Gomes, SJ
ISBN 978-85-7431-544-7
CDD 658.15
CDU 658.15
Esta obra segue as normas do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa vigente desde 2009.
Editor
Carlos Alberto Gianotti
Acompanhamento editorial
Mateus Colombo Mendes
A reprodução, ainda que parcial, por qualquer meio, das páginas que compõem este livro, para uso não
individual, mesmo para fins didáticos, sem autorização escrita do editor, é ilícita e constitui uma
contrafação danosa à cultura.
Foi feito o depósito legal.