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Entre olhares dissidentes e

abordagens interdisciplinares
Métodos e abordagens na pesquisa em arte
3ª parte
Prof. José Raimundo Jr.
O Método Formalista
“Entre os diversos autores normalmente ligados ao
formalismo, Bazin (1989, p. 180) distingue dois
sistemas dominantes: o de Wolfflin e o de Riegl. O
primeiro adota um formalismo rigoroso, alheio aos
vínculos sócio-históricos da arte, concentrando-se
na história interna da arte ocidental. O segundo
deduz da análise formal princípios que permitem a
interpretação de diferentes tradições culturais,
criando um tipo de contextualização que,
posteriormente, influenciou o desenvolvimento da
iconologia” (LOSADA, 2011, p. 149)
• Em seu livro Conceitos Fundamentais da História
da Arte, Wolfflin compara obras do Renascimento
e do Barroco, analisando “como em cada quadro
os elementos são distribuídos no espaço, as
relações entre a forma e o fundo, a aplicação da
cor, os efeitos de volume e luminosidade”.
Defendendo uma análise estritamente formal, o
estudioso aponta para como são distintas “as
impressões, os sentimentos e sentidos” que duas
obras podem gerar, mesmo quando tratam do
mesmo tema. (LOSADA, 2011, p. 149)
• Concordando com Wolfflin no sentido de
restringir sua análise à objetividade formal das
obras, Riegl, que dedicou-se ao estudo da arte
romana, não descarta, entretanto, a análise
do significado das imagens. Assim, o assunto
ou tema da obra também constitui uma
questão de suma relevância.
• Partindo dessas contribuições, como podemos
lançar mão da perspectiva formalista em
nossas leituras, sem reduzir nossas
enunciações a enfoques limitados aos
elementos básicos da linguagem visual, como
vem sendo largamente praticado o formalismo
em sala de aula pelos arte-educadores?
Estudo de Caso
Um olhar a partir das séries “Tapumes e
Transarquitônica”, de Henrique Oliveira
• Embora muitos artistas ainda sigam fiéis às
delimitações entre as modalidades, gêneros ou
linguagens artísticas, outros tem buscado uma
relação de comunicação ou simbiose entre elas
• Nesse nicho, o artista visual brasileiro Henrique
Oliveira iniciou sua produção com a pintura e, a
partir de um crescente investimento na realidade
concreta das matérias-primas, adicionou
elementos que, sem retira-lo exatamente do
domínio da pintura, conectou sua produção com
elementos vindos da escultura e da arquitetura.
Aprecie as imagens
• Na produção do artista é difícil discernir onde
termina o “universo escultórico” e começa o
“arquitetônico”
• Pensando nas leituras formalistas, como
podemos indagar sobre os limites, camadas e
sobreposições de seu trabalho?
• Observe a relação de escala e as formas
tumultuosas que parecem engolir, fissurar ou
dissolver a concretude do espaço expositivo
tradicional (o cubo branco da galeria)
• Qual a natureza dessas imagens? Com que se
assemelham? Qual o tipo de acabamento
dado ao trabalho? Parecem construir
movimentos, apesar de serem estáticos?
• Buscando um significado para essas imagens,
podemos deduzir que o artista propõe uma
discussão sensível sobre arquitetura,
contrapondo o racionalismo da arquitetura
moderna com fragmentos ou imagens de
outras formas de construções (a periferia, as
palafitas, a mata, os abrigos de moradores de
rua...).
• O trabalho parece romper com inúmeros limites,
tais como as barreiras dos gêneros artísticos, as
divisórias de espaços, o dentro e o fora, o belo e
o grotesco, o orgânico e o inorgânico. De certo
modo, não só o formalismo, mas diversas outras
ponderações levantadas anteriormente podem
elucidar aspectos significativos deste trabalho.
Ainda que “abstrato”, o trabalho enseja um olhar
sobre relações humanas e processos construtivos
inerentes à cidade e ao meio.
• Que outras referências poderiam ser
exploradas para uma apreciação contextual do
trabalho? Que campos interdisciplinares
podem contribuir para uma percepção mais
densa sobre Tapumes e Transarquitônica?
Considerações Finais
• São inúmeras as possibilidades de adentrar no terreno das
imagens. Mais do que conteúdos programáticos, a
definição dos métodos e abordagens aponta para questões
centrais sobre a percepção da arte e a bagagem ideológica
desta categoria, haja vista que a História da Arte ainda
carrega uma forte visão tradicional e colonial acerca da
cultura. Atualizar nossas práticas e confrontar diferentes
correntes teórico-metodológicas, cada uma historicamente
situada no tempo (ainda que possa ser constantemente
atualizada e revisada) com a produção contemporânea,
garante ao arte-educador os riscos e a potência de rever
conceitos e reelaborar o olhar para as manifestações
estéticas e para o mundo. Esta é, por fim, uma das grandes
contribuições do estudo da arte no âmbito da formação
escolar: contribuir para uma leitura crítica da realidade.
Avaliação
• Para darmos continuidade ao nosso programa de estudo, a
turma será dividida em 7 grupos, para abordagem de
outros campos teóricos para uma visão mais ampla e
complexa da Nova História da Arte:
• Equipe 01 – Método sociológico, iconológico, estruturalista
e pós-estruturalista
• Equipe 2 - A Escola Sociológica Francesa, Gregory Bateson e
os primeiros estudos em Antropologia Visual
• Equipe 3 - O método sociológico marxista de Arnold Hauser
• Equipe 4 - Etnografia, literatura e os estudos pós-coloniais
• Equipe 5 - James Clifford: crítica à autoria e autoridade
etnográfica (Relações entre Antropologia e Literatura).
• Equipe 6 - A fotografia como método de pesquisa em Arte
Cada equipe deverá escolher dois representantes
para exposição dos resultados das pesquisas, com
limite de apresentação de 10 a 15 minutos.
A apresentação deverá ser gravada por meio de
câmera digital ou smarthphone e enviada para o e-
mail: raimundo-jr@hotmail.com visando a
construção de uma vídeo-aula, através da
compilação de todas as apresentações.
Esta compilação será feita pelo professor para
posterior compartilhamento com a turma.
Cada equipe deverá elaborar um breve resumo, de
até 500 palavras, acerca do tema do seu seminário
para compartilhamento no AVA.
REFERÊNCIAS
• BRITTES, B. e TESSLER, E. O meio como Ponto Zero –
metodologia da pesquisa em artes plásticas. Porto
Alegre,: Ed. Universidade UFRGS, 2002.
• CHANDA, Jacqueline. Teoria Crítica em História da
Arte: novas opções para a prática da Arte/Educação.
In: BARBOSA, Ana Mae. Arte/Educação
contemporânea: consonâncias internacionais. São
Paulo: Cortez, 2006. OSINSKI, Dulce. Arte, historia e
ensino: uma trajetória. São Paulo: Cortez, 2001.
• MOREIRA, Terezinha M. Losada. A história da
História da Arte. In: A interpretação da imagem:
subsídios para o ensino da arte. Rio de Janeiro:
Mauad X: FAPERJ, 2011.

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