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Esses ataques ganharam força nos últimos anos, com o avanço de uma onda
conservadora em todo o país, e assim acabaram ecoando na legislação trabalhista e
também em inúmeras decisões do Supremo Tribunal Federal e Superior Tribunal de
Justiça. A Lei 13.467/17, por exemplo, proibiu (na prática) o Tribunal Superior do
Trabalho e os Tribunais Regionais do Trabalho de editarem súmulas de jurisprudência
dominante, dificultando uma atuação uniforme dos tribunais trabalhistas. Por outro lado,
inexiste situação similar aplicável a qualquer ramo do Poder Judiciário.
O Supremo Tribunal Federal e o Superior Tribunal de Justiça também vêm negando aos
trabalhadores em geral uma proteção especializada e uniforme aos seus direitos sociais,
já que nos últimos anos vêm contribuindo para uma leitura reducionista dos dispositivos
constitucionais que dispõem sobre a atuação da Justiça do Trabalho, excluindo inúmeras
formas de trabalho do sistema de proteção trabalhista assegurado constitucionalmente,
sob o argumento de que nem todo trabalho humano remunerado poderia ser considerado
"trabalho" em sentido estrito.
Nesse sentido, não obstante no ano de 2004 a Justiça do Trabalho tenha tido sua
competência sensivelmente majorada pela Emenda à Constituição nº 45, a cúpula do
Poder Judiciário vêm reduzindo as possibilidades de atuação deste ramo de Justiça ao
reinterpretar o significado do vocábulo "trabalho" contido no artigo 114, I, da
Constituição Federal, empregando-lhe um campo semântico gravemente reduzido a
excluir de seu sentido qualquer prestação de serviço fora da hipótese prevista no artigo 3º
da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).
Contudo, muito embora o artigo 114, I, da Constituição Federal garantisse uma proteção
especializada e uniforme a todos os trabalhadores no país, o Supremo Tribunal Federal
firmou entendimentos de que servidores públicos estatutários, servidores públicos
temporários e até mesmos os trabalhadores contratados pela Administração Pública de
forma irregular, não poderiam se socorrer na Justiça do Trabalho, dificultando, assim, a
adoção de soluções coesas, mesmo nos casos em que trabalhadores de vínculos distintos
mantenham-se em condições laborais análogas.
São inúmeros precedentes do Supremo Tribunal Federal que são contrários à atuação da
Justiça do Trabalho. A Suprema Corte afastou da competência da Justiça do Trabalho a
apreciação de litígios que envolvessem o trabalho de pessoas em cumprimento de penas
privativas de liberdade; a autorização de trabalho artístico infantojuvenil nos termos do
que dispõe a Lei 8069/1990; as cobranças de complementação de aposentadoria por parte
de trabalhadores às entidades de previdência privada; os litígios decorrentes de situações
pré-contratuais em concursos públicos para admissão de trabalhadores celetistas; além de
outros temas de igual relevância.
Além disso, o Supremo Tribunal Federal reafirmou a tese de que a Justiça do Trabalho
não teria competência penal genérica, nem mesmo para reprimir tipos penais típicos do
mundo do trabalho, condenando-lhe, assim, a ser o único ramo do Poder Judiciário
Nacional a não exercer competência em matéria penal, não obstante a Constituição tenha
vocacionado a justiça trabalhista à instituição protetora dos bens jurídicos próprios do
mundo laboral.
Cabe, pois, lembrar que o desenvolvimento econômico e social do Brasil não está
dissociado do sistema de proteção e valorização do trabalho humano, haja vista que dele
depende toda a sociedade brasileira, direta ou indiretamente, já que se trata de questão
fundamental à reafirmação da liberdade e dignidade do indivíduo. Afinal, sem uma
Justiça especializada em matéria laboral teríamos um número ainda maior de pessoas
trabalhando em condições de escravidão e em longas jornadas diárias, de crianças
trabalhando em condições degradantes, e ainda mais mortes e mutilações decorrentes de
acidentes no trabalho.