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A ourivesaria nacional atingiu um

desenvolvimento notável durante o período gótico.


Durante esta época as peças não se destinavam
somente ao uso litúrgico, nas cerimónias de culto,
mas serviam sobretudo para exaltar o poder dos
encomendadores, ocupando um lugar de destaque
nos seus testamentos.
A cor e o brilho dos materiais preciosos
tinham para o homem medieval um importante

A
leviandade com que sempre se valor simbólico. O ouro, a prata e as gemas eram
deixou sair além-fronteiras considerados materiais incorruptíveis, as únicas
tesouros encontrados em passíveis de utilização no fabrico de peças
Portugal, e a destruição de certos espólios, quer destinadas a conter as relíquias sagradas.
através da mutilação ou da sua fundição, tem Os materiais importados tiveram grande
privado o enriquecimento das coleções destaque na feitura dos objetos de ourivesaria
portuguesas, principalmente quando se fala de nacional. Destacam-se os esmaltes de Limoges, o
exemplares de ourivesaria. cristal de rocha e as gemas lapidadas de Veneza e
Desejosos de presentear as instituições os marfins italianos e francesas, que exerceram
religiosas de dádivas que traduzissem a gratidão uma grande influência sobre os ourives, chegando
pelo auxílio do Senhor, os cavaleiros, sacerdotes e a Portugal através dos circuitos comerciais
sobretudo, os grandes da nobreza, encontravam internacionais.
nos artífices uma harmonia de crenças e
aspirações que, ao serviço da sua arte, deram
origem a obras de grande mérito, em absoluta
concordância com o fim a que se destinavam, de
formas vigoras e com grande qualidade de
fabricação.
A Cruz, do símbolo à narrativa: a que não mais parará de crescer enquanto símbolo

complexificação iconográfica nas primordial do Cristianismo.


cruzes processionais Para esta mudança de atitude contribuíram
três fatores:
Cruz, qual o sentido total desta palavra?
O Édito de Milão que permitia a liberdade de
Cruz é o símbolo de Cristo e da Cristandade,
culto e que desta forma facilitou a transmissão da
sendo igualmente a reunião e condensação dos
mensagem religiosa e das suas potencialidades
mistérios fundamentais do Cristianismo.
artísticas;
Já cruz processional é a cruz que abre um
A carga negativa da crucificação tendeu a
cortejo processional ou fúnebre. Apresenta,
desaparecer, assim como a ideia de morte
geralmente, a figura de Cristo, no anverso, e a da
humilhante que a acompanhava;
Virgem ou outro Santo, no reverso.
A Viagem de Santa Helena à Terra Santa e a
Eventualmente, apresenta as imagens da Virgem e
invenção da Vera Cruz que, com as suas
de S. João Evangelista sobre um suporte próprio
capacidades milagrosas, possibilitou a ligação do
adjacente, um nó junto à base tintinábulos. Pode
culto imperial ao culto da cruz; Esta ligação da
ser montada sobre uma haste e apresentar um
cruz ao culto imperial faz com que apareçam
prolongamento sobre o braço inferior (cruz
moedas onde este símbolo surge em conjunto com
portátil). Pode ser colocada no altar sobre a base
as efígies dos imperadores.
da cruz de altar.
Em conjunto com esta difusão, a Igreja
A cruz transportou consigo desde a época
assume a cruz como emblema da Cristandade. Isto
medieval todo um simbolismo do qual jamais se
é já visível em Santo Agostinho que afirma que na
conseguirá despojar. Além da sua fácil execução e
Cruz se reúnem os mistérios fundamentais da
imediata receção, é representativa de uma noção
Igreja. Mas foi sem dúvida a invenção da relíquia
de equilíbrio e transmite uma mensagem muito
do Santo Lenho que permitiu uma tal difusão do
concreta ligada ao mistério maior do Cristianismo,
símbolo e do próprio culto. O Santo Lenho era
a Paixão de Cristo, seu martírio e a salvação
proprietário de propriedades miraculosas,
remissora da humanidade.
taumaturgas e de ressurreição, o que contribuiu
Apesar de todas estas potencialidades
para um tal prestígio das santas relíquias.
enquanto símbolo universal, a figura da cruz foi
A cruz conseguiu ainda durante o século
muito pouco utilizada nos primeiros séculos do
IV separar-se das disputas que se geraram em
Cristianismo. Há uma ausência quase completa
torno das imagens, e as suas representações
deste elemento que só aprece mais tardiamente e,
começaram a ser entendidas como elementos
mesmo assim, de uma forma criptografada através
simbolizadores de um mistério, passíveis de um
da âncora ou mastro de um navio. Esta carência da
culto e de uma veneração que se negava a ícones e
cruz pode ter como justificação a ligação à
outras representações sagradas.
crucificação e à carga negativa de que dela
advinha. Só a partir do século IV é que se assiste a
uma divulgação desta forma, e desde desta época
Evolução tipológica das cruzes
medievais Nas cruzes do século XIII a influência
bizantina é substituída pela de Limoges, não só
As cruzes do final do século XI e século nos exemplares portugueses, mas também nos
XII apresentam características formais comuns a modelos de toda a Europa Ocidental. Neste
peças semelhantes de toda a Europa. Apresentam período as cruzes sofrem algumas alterações,
sobretudo influências bizantinas, pois seguem estreitam-se, alteiam-se e as suas extremidades
estes modelos, e além disso expõem diversas floreiam-se, começando a esboçar uma flor-de-lis,
desproporções. antecedida de quadrifólio do qual despontam
No maior número de exemplares a haste superior cabochões de vidros ou gemas coloridos.
destaca-se e prolonga-se, existindo contudo Devido à nova influência, a inscrição, que
algumas exceções, em que a haste e os braços da anteriormente era composta por várias palavras,
cruz apresentam dimensões semelhantes. reduz-se a IHS, ou menos vezes, a INRI,
Nas peças deste período a estipe, ou haste, introduzidas numa tabela diagonal. O corpo de
e o patíbulo, ou mais comummente os braços da Cristo, antes hirto, começa a arquear-se, fletindo
cruz, surgem amplos e planos, e ainda rematados os braços e com a cabeça cada vez mais descaída
com pequenas esferas. Nas cruzes que apresentam para o lado direito. Estas alterações provocam o
figuração, Cristo apresenta-se como uma figura delinear de um ‘S’ transmitindo um maior
rígida e hierática, tal como os modelos bizantinos. naturalismo à figura de Cristo, tal como provam
Exibe cabeça ligeiramente fletida, pés afastados e os pormenores anatómicos, ainda ligados à
braços horizontais. Nestes exemplos a figura de tradição bizantina.
Cristo é encimada por uma inscrição onde se lê A coroa, por influência limosina, era
IHS : NAZARENUS : REX : IUDEORUM, palavas rematada por flores-de-lis e continuou a marcar a
retiradas do Evangelho de S. João. iconografia de Cristo. Ao contrário dos exemplos
dos séculos anteriores, os pés tendem a unir-se
pelos calcanhares e a ser pregados por um único
cravo. No que se refere à indumentária, o
perizónio desce até aos joelhos e oculta-os. As
minas da Península Ibérica, como é o caso da de
Rio Tinto, eram para os produtores de alfaias

Desenho e Exemplo de uma Cruz Processional dos


litúrgicas de Limoges, umas das principais fontes
Séculos XI-XII. de abastecimento de matérias-primas na Europa da
Idade Média. Isto terá, juntamente com o
movimento de pessoas, ideias e matérias, ligadas à
peregrinação a Compostela, provocado a
introdução e a cópia de modelos além Pirenéus.
No século XIV, os modelos de cruzes, que a segunda metade do século XIII, como é exemplo
se produziram na Península Ibérica, foram tão a Cruz de Poiares, da Régua.
profícuas que se prolongaram até ao século A partir desta fase a Cruz, e sobretudo o
seguinte. Tal como as do século XIII mantêm o seu sentido simbólico, enriqueceu-se de elementos
alteamento, mas, nestes exemplares do século narrativos, o que a tornará numa estrutura
XIV, o preenchimento ornamental é tão profuso progressivamente complexa. À cruz serão assim
que acaba por fazer com que as alfaias pareçam associados os diferentes Passos da Paixão e todo o
desproporcionais. Continuam a ser rematadas por Hagiológio. Com estas características existe um
flores-de-lis, com proporções desmedidas, elevado número de cruzes, o que faz acreditar que
provocando o seu destaque, e com as existiria a presença de uma verdadeira oficina. Por
extremidades das suas pétalas encurvadas para o toda a Galiza e ainda em Burgos e Tolouse
exterior. A interseção da estipe com o patíbulo conhece-se exemplares idênticos. Como maior
adquire uma forma quadrangular. Nas cruzes desta veículo de difusão destes modelos são apontados
cronologia a iconografia apresentada é mais os Caminhos de Santiago e os seus peregrinos.
variada e são comuns os temas ligados aos Ciclos Simultaneamente a este modelo existe um
da Paixão e Ressurreição, onde se destacam, além outro que se crê ter sofrido evolução dentro do
de Cristo, a Virgem e S. João e, em outros casos, território nacional. É composto por um limitado
existem analogias ao episódio da Redenção do número de exemplares que se encontram
Pecado Original. A representação de Cristo sobretudo no Museu Nacional de Arte Antiga.
humaniza-se e adquire volume, vendo-se uma Estas cruzes apresentam centro quadrangular com
anatomia que adquire uma tripla curvatura – braços e hastes recortadas, ao longo da bordadura,
flexão da cabeça, do torso e dos joelhos. uma flor-de-lis, e apresentado ainda motivos de
Os braços dobram-se pelo cotovelo e alcachofras nas extremidades. Exemplo desta
sobem acima da linha definida pelos ombros. tipologia é a Cruz da Casa Museu Guerra
Ostenta a Coroa de Espinhos e o cabelo pende em Junqueiro que apresenta caraterísticas do gótico
madeixas volumosas. O abdómen, devido à final, como a profusão decorativa e a leveza.
descida do perizónio, com tecido que se quebra
em pregas volumosas, fica a descoberto. A partir
deste período os pés sobrepõem-se totalmente, um
deles cobrindo integralmente o outro.
Os reversos das cruzes são profusamente
ornamentados, com motivos vegetalistas, que se
conjugam com a representação do Tetramorfo, nos Desenho e Exemplo de uma Cruz Processional dos
Séculos XII-XIV.
extremos, mais Cristo que se encontra ao centro
entronizado. Esta iconografia não é novidade em
Portugal, há cruzes que seguem este modelo desde
longitudinalmente, funcionando como base plana
da alfaia litúrgica.

Desenho e Exemplo de uma Cruz Processional dos


Séculos XIV-XV.

Desenho e Exemplo de uma Cruz Processional dos


Séculos XV-XVI.
Nos séculos XV e XVI, as cruzes
processionais adquirem um grande efeito de
contraste entre luz e sombra. A luz é coada pelos
recortes em flor-de-lis, que, juntamente com a
policromia, emprestava a estas cruzes um sentido
quase místico. Exemplares também apresentam
uma forma que resulta do enlaçamento de várias
fitas finas, o que faz com que a luz trespasse pelos
recortes interiores assim formados. Quer num
exemplo, quer noutro, existiam ainda as
tradicionais figuras de aplicação de metal fundido
que, através de exemplares pertencentes ao
MNAA, se concluiu trazerem Cristo no anverso e
uma pietá no reverso, o que também permite
Desenho e Exemplo de uma Cruz Processional do Século
estabelecer uma relação com os cruzeiros
XVI.
manuelinos. A sustentação destas cruzes
processionais é feita através da tradicional cunha
dos modelos medievais, e esta, por sua vez,
encontra-se encaixada numa base com forma de
calote esférica, estriada e achatada. Depois desta
Portugal: A ourivesaria medieval
base existe ainda, na parte inferior, um tubo que
nacional e a produção de cruzes
processionais
serve de suporte ao bastão que alçava a cruz
durante as procissões. Como estas procissões eram
A Ourivesaria
acontecimentos esporádicos, levava a uma
A ourivesaria é conhecida desde a época
utilização restrita destas alfaias e, como tal,
castreja e é o trabalho de metais preciosos com
acontecia que tinham de se adaptar com
uma longa tradição na parte ocidental da
versatilidade a outras funções. É por isto que a
Península Ibérica. Desta prática surgiam peças de
calote de sustentação podia dividir-se
uso pessoal e símbolos de poder onde havia uma
profusão de pedras preciosas engastadas no tempos de crise e guerra, levaram à perda quase na
trabalho do metal, que poderia ser martelado, totalidade de todos os exemplares.
cloisonné ou em filigrana. Além disso, as peças O ouro era percecionado como a
possuíam colorido, o que as aproximava da materialização da luz, como uma ténue reflexo de
tradição bizantina. Deus, assim como o brilho das pedras preciosas
A partir do século IX, com a joalharia era tido como um dos melhores signos das
asturiana, assiste-se ao evoluir das peças, deixam virtualidades do sagrado e algo de fundamental
de ter o cargo de símbolos do poder do chefe, e nas hierofanias.
passam a ser associadas à liturgia, para exemplo Esta arte não era apenas solicitada para um
neste caso, através de cruzes devocionais. A figura vasto número de objetos litúrgicos, como as
de Deus, dos Santos e do Homem começou a cruzes aqui tratadas, era também requerida para
generalizar-se com a arte carolíngia. E mais uma objetos que simbolizavam o poder e diversos
vez as cruzes assumem um papel fundamental estatutos sociais. A maioria destas manifestações
para a atenção dos crentes. acabou por se perder mas existe um número
considerável de comprovativos documentais e as
peças que chegaram até aos dias de hoje atestam
Ourivesaria da Época da Reconquista
O período da Reconquista foi, entre os um assinalável interesse artístico.
cristãos, um tempo de reação anti-islâmica e, por “As cruzes tornaram-se muito vulgares no decurso do
período românico. Aparecem sobre os altares,
essa mesma razão, deu-se à Cruz um desmesurado presidem às procissões e às cerimónias religiosas,
valor apotropaico, como nos testemunham entram na posse particular de pessoas devotas e, como
se revela na coeva descrição dos últimos momentos do
algumas inscrições asturianas. A ourivesaria, tal arcebispo de Braga. S. Geraldo, tornam-se peças
essenciais para o acto de «bem morrer».1
com o resto da arte da Reconquista, tem distantes
e acentuadas caraterísticas, com um peculiar valor
É desta altura que data a preferência pela
de testemunho, difícil de descodificar,
representação humana de Cristo, crucificado, em
consequência do pouco que sabemos deste
detrimento das anteriores formas anti-icónicas ou
período.
daquelas que preferiam uma representação mais
simbólica, como a do Cordeiro de Deus,
Ourivesaria do Românico normalmente ladeado pelo Tetramorfo, modelo
Nesta época, a arte da ourivesaria, tal
que irá permanecer até ao século XIII.
como a dos restantes metais e marfim, está
As cruzes do período românico são, com
relacionada com a glorificação religiosa, tesouros
menor ou maior evidência, «gloriosas», isto
das igrejas e também à ostentação de poder que
porque mostram um Cristo sereno, com um cravo
levaram à mudança de gosto e a uma evolução da
em cada pé, com os olhos geralmente abertos e
modalidade de mecenato-dádiva. Apesar de todas
coroado. Além disso, é assistido pela mão de Deus
estas condições favoráveis à produção de objetos,
e, diversas vezes, incensado por anjos.
o valor dos materiais em que eram realizados, e os
1
ALMEIDA, Carlos Alberto Ferreira de – O Românico.
Lisboa: Editorial Presença, 2001, p. 178.
O tipo de cruz mais frequente é a que tem Ourivesaria do Gótico
Durante o período gótico houve um
a forma pateada apresentando remates boleados
aumento do número de testemunhos de
nas pontas salientes e alargadas. Modelo este
ourivesaria, em relação a épocas anteriores, não só
herdado da época pré-românica, de velha tradição
no que respeita ao número de peças que chegaram
bizantina. As cruzes com hastes rematadas com
até ao presente, mas também no que se refere aos
flor-de-lis, tal como a Cruz de D. Sancho I, devem
artistas e às medidas legislativas que dizem
ser já consideradas góticas.
respeito a esta arte. Mais uma vez se sublinha que,
Distribuídas por diversos museus e
em relação à românica, a ourivesaria gótica possui
coleções particulares existe uma série, muito
um maior número de exemplares, peças essas que
homogénea, de pequenas cruzes românicas, na
permitem perceber o alto gabarito dos ourives
maioria dos casos realizadas em cobre dourado,
nacionais.
podendo haver outro tipo de materiais e estas
Como já foi referido, no período românico,
serem esmaltadas ou não. Desta coleção fazem
havia uma trilogia de cidades onde se
parte uma cruz que se encontra no Museu D.
concentravam os ourives, Braga, Coimbra e
Diogo de Sousa, que provém de Celorico de
Lisboa, que, com uma importância económica
Basto, outra do Museu Alberto Sampaio, outra do
cada vez maior levou a que a presença dos ourives
Museu de Lamego, e ainda, além das presentes
se alastrasse para outras cidades do território
nas coleções particulares, três exemplares
nacional. Em Portugal cedo se começou a dar
pertencentes ao Museu Nacional de Arte Antiga.
importância à atividade de ourives. Com D.
Estes exemplos formam um conjunto bastante
Afonso II, em 1211, surgiu a primeira lei referente
regular a nível formal, técnico e iconográfico. Por
aos ourives, onde o monarca determinava que
presidirem às cerimónias religiosas apresentam
qualquer destes artífices que falsificasse prata ou
figuração de ambos os lados, dominando os
ouro seria severamente punido. Esta lei tornaria a
exemplares com Cristo crucificado num dos lados
ser renovada em meados do século XIII, no
e o Agnus Dei com o Tetramorfo do outro. A nível
reinado de D. Afonso III. Nesta lei constava que
técnico destaca-se o gravado, a nível temático o
um ourives falsificador, de ouro ou prata, perderia
entrelaçado e iconograficamente são cruzes ainda
as mãos, os pés e todo o seu património, tal como
gloriosas, ligadas à Maiestas Domini, onde a
um moedeiro que fizesse moedas falsas.
representação do símbolo se prefere à figuração
Apesar de ser uma atividade emergente, a
do simbolizado.
ourivesaria sempre se deparou com uma grande
O homem românico regalava-se com a cor
adversidade, a rarefação dos materiais preciosos,
e senti-a nas suas variadas funções. Mais do que
caraterística que se prolongo por toda a Baixa
em qualquer outro período, no românico a cor era,
Idade Média. Desde D. Sancho I que, em Portugal,
nas palavras de Pastoreau, “ao mesmo tempo,
se extrai ouro das areias da Adiça, com uma ou
superfície, luz, brilho, ritmo, construção, sintaxe,
outra exceção, como Valongo. Quanto à prata, a
marca, emblema, símbolo, ideia, modo, atmosfera,
sua exploração era mais abundante e era extraída
estilo, arte, técnica, preço e beleza”.
na zona de Trás-os-Montes e, muito Os Ourives
provavelmente, em Aljustrel. Além disso, existem
A arte da ourivesaria foi o melhor meio de
várias concessões régias para a exploração de
afirmação da riqueza de um determinado templo,
minas em todo o território nacional, é o caso do
ao mesmo tempo que enobrecia o culto e se
Bispado da Guarda.
tornava um importante meio de entesouramento
De um modo sucinto e, tal como disse
para as épocas mais difíceis.
Carlos Alberto Ferreira,
Os primeiros ourives do reino foram
“O panorama metalífero do Portugal medieval era
pobre, dominado por produções modestas, numa mouros e judeus. Os últimos acabam por se tornar
escassez que se refletiu em duas vertentes: na
os grandes mestres do período, servindo todos os
constante refundição de peças de ourivesaria, para dar
origem a novos objectos, e na promulgação de medidas membros da Casa Real até à sua expulsão em
legislativas visando impedir a saída de ouro e prata do
reino, renovadas com regularidade.” 2 1497. São conhecidos vários nomes de ourives
judeus, é o caso de Jacob do Minho, ourives de D.
A rarefação destes metais levou, em 1253, João I, Isaac que trabalhou para D. Duarte, e ainda
ainda no reinado de D. Afonso III, a que o Moisés de Leão no reinado de D. Afonso V. Nos
monarca proibisse a saída de prata do reino, fosse finais do século XV é ainda conhecido Jacob
qual fosse a sua forma – em obras, em barra ou em Sampaio, trabalhando para D. Manuel, e que
moeda, lei que, em 1327, seria novamente vários documentos atestam ser um dos ourives
renovada por D. Afonso IV. mais importantes em Portugal naquela época.
A questão das falsificações era uma É com a afirmação da Casa de Avis que a
constante que levaria D. Afonso V a promulgar cidade de Lisboa, mais que Portugal, se torna num
uma lei, em 1460, onde se ordenava a marcação centro importante de produção de peças em prata e
das peças com punção. Esta medida estendeu-se ouro.
primeiro às peças em prata, mas acabaria por Os ourives sempre foram profissionais de
afetar as realizadas em ouro. Estas últimas alta qualidade ao longo de todos os tempos. Duas
deveriam ter um toque de dezoito quilates, razões levam a esta afirmação, a primeira é que a
verificado por vedores, e só após esta confirmação clientela destes artífices era exigente no que
poderiam receber a marca. É desta forma que tocava às suas encomendas, além do facto dos
surgem os primeiros punções na ourivesaria seus executores serem educados nos mais estritos
portuguesa, destacando-se o de Lisboa, utilizando princípios de seriedade profissional, o que leva a
uma barca com dois corvos, e o do Porto, um P que os produtos saídos das oficinas sejam de
enquadrado em escudo. excecional qualidade.
As corporações dos ourives surgem com
um caráter vincadamente religioso, acabando por
estruturar-se em preceitos de interesse
profissional. Com o passar dos tempos tornam-se
2
ALMEIDA, Carlos Alberto Ferreira de; BARROCA, também entidades económicas, unificadoras dos
Mário Jorge – O Gótico. Lisboa: Editorial Presença, 2002, p.
248. mesteres, formando instituições orgânicas regidas
por leis específicas, os regimentos, que são europeia. É uma cruz processional realizada em
aplicadas pelos vedores, autoridades próprias, que ouro maciço e resultou de uma disposição
simultaneamente observam a regulamentação testamentária de D. Sancho I, no seu segundo
municipal. testamento, datado de 1210, onde ordena que seja
enterrado em Santa Cruz de Coimbra e que da sua
copa de ouro se fizessem um cálice e uma cruz.
As Cruzes Litúrgicas Quando faleceu, em Março de 1211, os ourives de
A cruz era já na época românica um elemento Coimbra executaram a cruz em ouro, entre 1211 e
fundamental da liturgia. Esta pela era por 1214, e que se tornaria o protótipo de um rol de
excelência o símbolo da fé cristã e, para além cruzes que se lhe seguiram.
disso, sagra e sacraliza, marca o espaço de Deus e Após a sua conclusão foi entregue ao
apresenta o martírio de Seu filho, o que a torna no Mosteiro crúzio, tal como garante a inscrição que
símbolo de ligação entre os homens e Deus, se encontra no reverso da haste, na cartela do anjo,
traduzindo-se na esperança da salvação e no «D(om)N(u)S SANCIU(s) REX IUSSIT FIERI
alcance da vida eterna. Além do seu papel durante HA(n)C [crucem] AN(n)O I(n)CARNATI(o)IS
a liturgia, a cruz assume outras funções, é M. CC. XIIII». Este exemplar crucífero apresenta
essencial nas procissões onde vários rituais são impressionantes valores metrológicos, 59,8cm de
encenados. altura, 34cm de
largura, 1873,5gr de
 Cruz de D. Sancho I peso, 13 granadas, 28
safiras, 82 pérolas, de
Portugal tantas outras que se
1214 perderam, e 48 pedras
Altura: 59,8cm ou pérolas
Largura: 34cm desaparecidas.
Peso: 1873,5gr Segundo Nogueira
Ouro Gonçalves, muitas
Predas preciosas destas pedram
MNAA apresentam legendas
em caracteres árabes,
o que demonstra o
reaproveitamento de
outras peças.

Desenho da inscrição
É o exemplo mais notável em toda a existente no reverso da
ourivesaria medieval nacional, conseguindo Cruz de D. Sancho I.

também um lugar de exceção a nível de arte


Os braços da cruz são planos, rematados A Cruz de D. Sancho I pode ser
em flor-de-lis, apresentando no seu cruzamento considerada uma peça de charneira entre duas
um campo quadrangular. O seu contorno é épocas, a Românica e Gótica. Do período
realçado por orla saliente, com perolado de ouro românico adotou a gramática decorativa, muito
no anverso e motivo de fitas dobradas no reverso. ligada à forma como os escultores de Coimbra
No anverso, além da decoração de pedras e interpretaram os motivos vegetalistas e as
pérolas, existe uma faixa central cinzelada, com palmetas na sua arte. Simultaneamente elege um
motivos vegetalistas, que recorda a flora do perfil que se revela particularmente gótico e
românico coimbrão, mantendo um diálogo com as muitas peças irão seguir esta mesma solução.
superfícies lisas e brilhantes do ouro. Já no Além de tudo isto, a Cruz de D. Sancho I é
reverso, finamente aberto a buril, existe uma faixa um exemplar de uma tamanha excelência que
burilada, também ela com motivos vegetalistas, e inaugura todo um rol de modelos de cruzes
que apresenta nas extremidades o Tetramorfo, em rematadas em flor-de-lis. Para lá da sua
cima a Águia, à esquerda o Leão, à direita o Touro importância histórica, esta cruz destaca-se pela
e em baixo, o Anjo. Centralmente, inserido numa sua ornamentação e emprego de gemas, que
rosácea lobulada, situa-se o Agnus Dei, que segue ultrapassa em muito as fronteiras nacionais. Isto é
a tradição românica ao preferir esta figuração evidente no reaproveitamento de algumas gemas
cristológica em detrimento do crucificado. Aqui o gravadas, de origem clássica e provavelmente
Agnus Dei, símbolo do sacrifício e morte, é o da romanas, sendo provável que algumas delas
ressuscitação pois encontra-se de pé. tenham sido legadas pelo próprio monarca
No centro possuía uma relíquia do Santo aquando da sua encomenda, processo que não era
Lenho da qual só se podem observar as marcas de desconhecido na joalharia europeia medieval,
fixação, apresentando um contorno cruciforme. consequência da escassez de materiais e também à
Esta relíquia terá sido roubada no século XV simbólica “conversão” do paganismo ao
quando a peça foi penhorada e abandonou por um Cristianismo. Além de tudo isto, esta cruz é ainda
curto período o mosteiro. A relíquia do Santo um dos primeiros exemplares que apresenta gemas
Lenho havia pertencido ao Conde D. Henrique. lapidadas com facetas conhecidas também a nível
Foi D. Afonso Henriques quem fundou europeu. Algumas destas gemas apresentam
Santa Cruz de Coimbra, na época a mais gravadas as figuras de uma garça e de um lobo,
importante instituição religiosa, dedicando o culto bem como símbolos que ainda não foram
dos Cónegos Regrantes à invocação da Cruz de identificados. Os cabochões de safiras e de
Cristo, deixando por isso mesmo uma relíquia do granadas encontram-se encastoados em medalhões
Santo Lenho ao Mosteiro. A base com nó em filigrana de ouro, encontrando-se
subesférico só foi acrescentada mais tardiamente. simetricamente circundados por pequenos
Apresenta uma ornamentação filigranada e ainda aljôfares, utilizados assim para colorir e
uma haste oca, elementos em prata dourada que enriquecer a peça.
apontam para saídas regulares em procissões.
Durante o século XVII, consequência da Os braços da cruz são decorados com
fragilidade do ouro e do uso da alfaia em motivos vegetalistas relevados e florões nos
procissão, foi necessário acrescentar um reforço extremos. Além disso, surgem quatro medalhões
em prata dourada, considerado um pouco tosco e quadrilobados, no do topo é representado S. João,
do ponto de vista estilístico distante da restante e no da base Nossa Senhor, quanto aos outros
peça. A cruz permaneceu em Coimbra até ao dois, apresentam o brasão de armas de D. João das
século XIX, sendo transladada para o Museu Regras. Ainda no reverso deste braço, surgem
Nacional de Arte Antiga onde se mantém até aos novamente as armas do doador, na mesma posição
dias de hoje. que os anteriores, e ainda o Pelicano, na haste
superior, e na base, a Ressurreição. Para lá desta
 Cruz de D. João das Regras decoração, a figura de Cristo crucificado, em vulto
pleno e de pequenas dimensões, centra a cruz. As
Portugal placas referidas, e que lhe estão adossadas, eram
Século XIV todas esmaltadas com finas camadas de vidro
Altura: 87cm fundido, mas cuja fragilidade não aguentou o
Largura: 44,5cm passar dos séculos.
Peso. 5733gr Contudo, a distribuição iconográfica que
Prata dourada hoje se observa não é a original, visto que, tanto
MAS Nossa Senhora como S. João deviam ladear
Cristo, em vez dos brasões do doador. Esta troca
resulta dos diversos restauros que a alfaia sofreu,
sendo um deles datado do tempo do Prior D.
Diogo Lobo da Silveira, e executado pelo ourives
Pedro Vieira, em 1664. Um outro restauro, datado
Esta cruz processional pertenceu em de 1881-82, foi realizado pelo ourives José de
tempos ao tesouro da Colegiada de Guimarães da Sousa Dias. Desta intervenção constava a limpeza
qual D. João das Regras foi prior. Figura maior da e douradura da cruz, trabalho inábil devido à
Revolução de 1383-85, D. João Afonso das infeliz substituição da pregagem de prata.
Regras foi chanceler do rei D. João I, e a ele se É uma importante obra da afirmação do
devem outros tantos objetos artísticos, como a gótico internacional e estritamente ligada à
imagem de Nossa Senhora da Oliveira. afirmação da dinastia de Avis. É um objeto
Esta alfaia apresenta a forma de uma cruz encomendado pelo prior D. João das Regras e foi
latina, destacando-se no seu cruzeiro do anverso realizado em prata dourada. Apresenta um modelo
ostenta uma placa quadrangular com decoração compositivo que será divulgado em Portugal e que
gravada e onde figura a Prisão de Cristo no acompanha a produção dos restantes reinos da
Horto. No verso, numa placa de idêntica forma, Península Ibérica até meados do século XVI.
está gravada a figura de Cristo em Majestade.
Apresenta os extremos dos braços em flor-  Cruz do Mosteiro de Alcobaça
de-lis e enquadra-se numa vasta tipologia de
cruzes processionais de nó arquitetónico, sendo Portugal
um dos primeiros exemplares bem documentados Século XV
a nível nacional. Além dos braços flordelisados, Altura: 122cm
apresenta alma de madeira recoberta a prata e nó Largura: 58,5cm
arquitetónico de dois níveis. O primeiro registo é Prata dourada
composto por seis janelões vazados de alfiz MNAA
triangular e separados por robustos botaréus que
terminam em pináculos. Por detrás destes janelões
eleva-se um muro decorado com cinzelados, que
imita pedras retangulares, terminando num friso
de trifólios e flores. No segundo nível existe
igualmente seis janelas, aqui retangulares e de
decoração vazada destacada sobre uma chapa de Cruz realizada no início do século XV e
prata branca. O nó termina com um friso com grande destaque dentro da ourivesaria
vegetalista com idêntica aparência ao do registo nacional, mas também nitidamente alterada em
inferior. Os braços são decorados com motivos relação ao seu aspeto original. Segue o modelo
vegetalistas relevados e florões nos extremos, das cruzes flordelisadas mas com dimensões sem
apresentando também o brasão de armas do paralelo em Portugal. Toda a superfície da peça é
doador. decorada em prata vazada, recordando o trabalho
Vários restauros alteraram a correta das rosáceas e janelões com vitrais da arquitetura
distribuição das placas em prata, originalmente da mesma época, apresentando um cuidado nó de
esmaltadas, nomeadamente nas que estavam feição arquitetónica onde se encontram
representados Nossa Senhora e São João, que expressivas gárgulas em forma de criaturas
deviam ladear o crucificado e não as armas do fantásticas.
doador, tal como se encontram atualmente Deve prestar-se especial atenção para o
situadas na cruz. cano de secção sextavada que sugere uma torre
com os muros rompidos por janelas e que na
arquitetura portuguesa não possui modelo
conhecido. Este exemplar continha ainda,
ladeando a base, duas figuras em vulto pleno –
Nossa Senhora e São João que estão
desaparecidas. Esta caraterística é igualmente
visível em algumas cruzes espanholas do mesmo
Pormenores decorativos da Cruz de D. João das Regras
(Cristo em Majestade e Pelicano). período, principalmente as provenientes da região
de Burgos.
Esta alfaia é testemunho da arte dos Mosteiro de Alcobaça pouco clara. Para tal
ourives portugueses dos inícios de Quatrocentos, aponta-se as sucessivas alterações que esta sofreu,
sendo uma das obras mais majestosas deste século principalmente em 1536, altura em que as figuras
e desta arte e, a nível nacional, a cruz processional das Virgem e São João foram retiradas que,
mais grandiosa e espetacular. É uma cruz latina, segundo descrições, ladeavam a alfaia, tal como
com os seus extremos em flor-de-lis e nó comprovam ainda os elementos de fixação ao
acastelado, sendo totalmente decorada com sobre o maciço nó. A nível nacional não são
motivos arquitetónicos que reproduzem conhecidas outras cruzes que apresentem
estruturalmente os janelões com vitrais na Calvários, mais comuns no Norte da Europa.
totalidade da superfície das faces. Com este aspeto Pelas suas dimensões e pelo seu caráter
o ourives pretendia tornar o objeto mais luminoso, austero, todos os seus elementos são de grande
para isso utilizando folha lisa de prata branca, em solidez, e torna-se assim num testemunho das
contraste com a prata dourada que cobre cerimónias litúrgicas que decorriam no Mosteiro
praticamente a totalidade da cruz. de Alcobaça.
Dos inventários desta casa cisterciense que
chegaram até hoje não há referência específica a Nisa Félix
esta obra, o que torna a sua proveniência do
Glossário
Aljôfar – Do árabe al-djauhar, significando século XVI provinha de Ceilão. Em Portugal
pérola. Vocábulo, atualmente caído em desuso na também houve explorações de granadas numa
terminologia gemológica, empregue como pequena e abandonada mina na região de Belas,
sinónimo de pérola natural. É em geral aplicado às Lisboa, trabalhos que se iniciaram no reinado de
pérolas de tamanho reduzido e forma irregular. D. Dinis.
Cabochão – Do latim caput, cabeça, que derivou Ouro – Do latim aurum, do qual derivou o seu
do francês cabochon. Polimento de uma superfície símbolo químico Au. O ouro é, atualmente, o
convexa numa gema, geralmente com um metal nobre da joalharia. Conhecida há milénios, é
contorno redondo ou oval. O cabochão é desde há muito séculos lado como meio de
especialmente utilizado para pedras coloridas permuta comercial e como entidade monetária.
normalmente pouco transparentes e para as pedras Este mineral surge na natureza em diversos
com efeitos óticos particulares, como o olho-de- ambientes geológicos, dos quais o aluvionar, de
gato. onde são recolhidas as pepitas, é o mais
Cristal de Rocha – Do grego krystallos, que conhecido. Devido à sua baixa dureza, o ouro para
deriva de krysos, frio. Este nome foi dado à joalharia é associado a outros metais,
variedade incolor (hialina) de quartzo dos Alpes nomeadamente a prata e o cobre, formando ligas.
por se pensar que se tratava de gelo num estado de A partir da segunda metade do século XV a
congelação profunda. Ocorre em quase todo o exploração das costas de África resultou no
mundo, com destaque para o Brasil, Alemanha, estabelecimento de feitorias, das quais provinha
Suiça e Rússia. uma grande quantidade de ouro, o que teve
Filigrana – Do latim filum e granum. Técnica de repercussões marcantes na ourivesaria portuguesa.
ourivesaria que consiste na utilização de Pérola – Do latim pirla, diminutivo de pira, em
finíssimos fios de ouro ou prata retorcidos em alusão à forma lacrimal de alguns exemplares.
delicadas composições de desenhos variados. Outras designações para a pérola incluem
Técnica muito antiga e divulgada ma joalharia marguerita (palavra latina para pérola) e aljôfar.
popular em Portugal como acessório do traje A pérola natural, ou fina, é uma gema de origem
tradicional. orgânica, resultante da atividade de moluscos
Granada – Do latim granatum, romã. Esta grande bivalves, vulgarmente denominados ostras. A sua
e quimicamente vasta família de silicatos inclui génese resulta de uma reação de defesa face a uma
variedades de gemas de cor e caraterísticas irritação, em que o animal envolve o corpo
diversas. As mais conhecidas são as vermelhas, estranho com sucessivas camadas de nácar.
almandina e piropo, por vezes denominados Prata – Do latim platus, derivando no termo
carbúnculos e provinham da Índia, Ceilão, popular plata, significando lâmina de metal. A
Boémia e Rússia. A grossulária, na sua variedade prata, tal como o ouro, é um mineral
alaranjada, já foi conhecida como jacinto e no monometálico de baixa dureza constituído por
átomos do elemento químico prata. Surge na são denominadas safira, seguidas da respetiva cor.
natureza geralmente associada a jazigos de outros Até ao século XIX esta gema provinha
metais, como os de cobre e chumbo, ocorrendo essencialmente de dois sítios, Ceilão e do então
também em pepitas e ligado ao ouro. Pegú, sendo estas últimas as melhores e mais
Safira – Do grego sappheiros, derivado do hebreu apreciadas. Curiosamente, a safira não era muito
sappir. Até ao século XIII este nome abrangia o apreciada em relação a outras gemas nobres como
lápis-lazúli. O nome safira sem qualquer outra o rubi ou a esmeralda, valendo no século XVI
qualificação é geralmente indicativo da cor azul. menos de metade que uma esmeralda e quatro
As outras variedades de corindo, exceto o rubi, vezes menos que um rubi com o mesmo peso.

Para aprofundar…
AA.VV. – Inventário do Museu Nacional de Arte Antiga: Coleção de Metais, Cruzes Processionais, Séculos
XII-XVI. Lisboa: IPM, 2003.

AA.VV. – Thesaurus: Vocabulário de Objectos do Culto Católico. Vila Viçosa: Fundação da Casa de
Bragança, 2004.

ALMEIDA, Carlos Alberto Ferreira de – Arte da Alta Idade Média. Lisboa: Alfa, 1993.
ALMEIDA, Carlos Alberto Ferreira de – O Românico. Lisboa: Editorial Presença, 2001.

ALMEIDA, Carlos Alberto Ferreira de; BARROCA, Mário Jorge – O Gótico. Lisboa: Editorial Presença,
2002.

COUTO, João; GONÇALVES, António M. – A Ourivesaria em Portugal. [s.l.]: Livros Horizonte, 1960.

D’OREY, LEONOR [coord.] – Cinco Séculos de Joalharia. Lisboa. Museu Nacional de Arte Antiga, 1995.

GOMES, Diogo José – A Legislação Régia no Início do Século XIII: Afonso II de Portugal (1211) e João de
Inglaterra (1215). Lisboa: Universidade Nova de Lisboa, [s.d.].

GOULÃO, Maria José – Arte Portuguesa da Pré-História ao Século XX: Expressões Artísticas do Universo
Medieval. [s/l]: Fabu Editores, 2009.

MUSEU DE ALBERTO SAMPAIO – A colecção de ourivesaria do Museu de Alberto Sampaio. Lisboa:


Instituto Português de Museus, 1998.

MUSEU NACIONAL DE ARTE ANTIGA – Guia do Museu Nacional de Arte Antiga. Lisboa:
IMC/MNAA, 2009.

PEREIRA, Paulo [Dir.] – História da Arte Portuguesa. [s.l.]: Temas e Debates, 1995. Vol. 1.

PIMENTEL, António Filipe [Coord.] – Museus de Portugal: Museu Nacional de Arte Antiga. Vila do
Conde: QuidNovi, 2011.

SILVA, Nuno Vassallo e – Obras-Primas da Arte Portuguesa: Ourivesaria. Lisboa: Athena, 2011.

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