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Resumo
1. Solow, Growth Theory – an exposition: fatos estilizados, definição de steady
state (estado estacionário; equilíbrio dinâmico);
2. A contribuição de Domar: o duplo caráter do investimento e a condição de
equilíbrio dinâmico capacidade produtiva e demanda crescendo à mesma
taxa;
3. Resultado g s é, num certo sentido, trivial (não apresenta hipóteses sobre o
comportamento dos agentes econômicos), e decorre da especificidade da função
de produção com coeficientes fixos: mais que uma condição de equilíbrio, é uma
condição de consistência dinâmica; derivação algébrica;
4. o modelo HD pode assumir uma dimensão mais interessante se for associado a
hipóteses comportamentais: por exemplo, hipóteses sobre como os empresários
formam expectativas e tomam decisões sobre investimentos (modelo do
multiplicador-acelerador) contribuição de Harrod (taxa garantida de
crescimento);
5. por fim, é preciso levar em consideração que a taxa de crescimento da força de
trabalho é exogenamente determinada: taxa natural de crescimento => condição
de consistência de HD e o problema do “fio da navalha”;
6. HD à la Sala-i-Martin
7. HD à la Solow: possíveis mecanismos de ajuste: poupança (Kaldor, relação
entre poupança e distribuição de renda); crescimento populacional (Malthus,
transição demográfica); ajuste na relação capital-produto.
1. Fatos Estilizados - aquilo que o modelo tem que ser capaz de reproduzir:
A combinação de (b) e (c) implica que a taxa de investimento líquido (do investimento
bruto também) em relação ao produto é constante. Por definição, o investimento líquido
é a variação do estoque de capital: I dK K . Se K e K são constantes, então
dt K Y
K I também será constante.
Y Y
Domar explorou o caráter duplo do investimento, que faz com que ele seja ao
mesmo tempo parcela importante da demanda agregada e fator de expansão da
capacidade produtiva e do produto de pleno emprego. No estado estacionário, a
demanda tem que crescer ao mesmo ritmo da capacidade produtiva para evitar que a
ociosidade dos fatores de produção (desemprego da força de trabalho e ociosidade do
estoque de capital) aumente continuamente.
Hipóteses do modelo:
1
R. Solow, “Growth Theory – an exposition”, Oxford University Press, 1970.
(a) função de produção com coeficientes fixos, isto é, em que não existe substituição
entre fatores de produção. Dados os requerimentos mínimos de capital e trabalho por
unidade de produto, a quantidade de produto só pode aumentar caso haja aumento
proporcional em ambos os fatores de produção. Essa hipótese significa que:
Assumindo que a economia parte de uma posição de pleno emprego, tal que Y0 Y0* ,
dY * dY
isso implica . A relação capital-produto, K , nos diz quantas unidades
dt dt Y
de capital são necessárias para obter uma unidade de produto; seu inverso, 1 , nos diz
quantas unidades de produto podem ser obtidas com uma unidade de capital (ou seja, é
a produtividade do capital). Se o estoque de capital aumenta em I unidades (lembre que
I K ), então o produto potencial da economia, ignorando por enquanto a restrição
* 1
imposta pela força de trabalho, aumentará dY I . Por outro lado, Y I , de onde
dt s
dY 1 dI . Então:
dt s dt
I 1 dI dI s
. Rearranjando os termos: dt . Integrando dos dois lados:
s dt I
1 s s
dI dt . A primeira integral corresponde a lnI+c1; a segunda a t c2 , onde c1 e
I
s
c2 são constantes de integração. Igualando: ln I t c , onde c = c2 – c1.
Em palavras: para que demanda e produto de pleno emprego cresçam à mesma taxa, o
investimento (e o produto, o consumo e o estoque de capital) devem crescer à taxa s .
3. Essa condição de equilíbrio dinâmico é, como adiantado, num certo sentido trivial.
Ainda ignorando a restrição imposta pelo fato de a força de trabalho crescer a uma taxa
n exogenamente determinada, ou, o que dá no mesmo, que o fator trabalho não é uma
restrição, o que a condição de equilíbrio dinâmico nos diz é que o produto e o estoque
de capital têm que crescer à mesma taxa:
dY dK dY
dt dt , mas dK I sY e K .Y g dt = s .
Y
Y K dt Y Y
(3.1) Yt = Ct + St
(3.2) Yt = Ct + It
(3.3) St = It condição de equilíbrio
(3.4) Kt 1 (1 ) Kt It : o estoque de capital em (t+1) é igual ao estoque de capital em
t, menos a depreciação δ mais o investimento bruto, It.
It
Além disso, assume-se que a taxa de poupança, s e a relação capital-produto,
Yt
K t Y são constantes.
t
2
Ray, Debraj; Development Economics, Princeton University Press, 1998
Yt 1 Yt s
g
, o mesmo resultado encontrado antes, apenas com a diferença de
Yt
que o modelo considera a depreciação do estoque de capital. Como antes, como a
relação capital-produto é constante, o produto tem que crescer à mesma taxa que o
estoque de capital. O termo s nos dá a taxa bruta de crescimento do capital, como
mostrado acima. Ao deduzir a depreciação, , obtém-se a taxa líquida de crescimento
do capital.
.Yt 1 (1 ). .Yt sYt , divida por Nt dos dois lados e multiplique e divida ao mesmo
tempo por Nt+1 do lado esquerdo:
Yt 1 Nt 1 Yt Y Y N Y Y
(1 ) s t t 1 t 1 (1 ) t s t
Nt Nt 1 Nt Nt Nt 1 Nt Nt Nt
yt 1
yt 1 (1 n) (1 )yt syt (1 n) (1 ) s , onde usou-se o fato de que
yt
Nt 1
1 n é a taxa de crescimento da população. Então:
Nt
y
(1 g )(1 n) (1 ) s , onde agora g t 1 1 é a taxa de crescimento do produto
yt
per capita. Fazendo o produto lado esquerdo: (1 g )(1 n) 1 g n ng , pode-se
considerar que para valores pequenos de n e g, o produto ng será bem pequeno, podendo
ser desprezado, de modo que:
g s (n ) .
Ou seja, o produto per capita cresce à mesma taxa que o estoque de capital bruto,
menos a taxa de depreciação e a taxa de crescimento populacional. O termo (n ) pode
ser considerado a taxa efetiva de depreciação do estoque de capital por trabalhador.
Mesmo sendo trivial, este resultado apresenta uma utilidade prática: a partir dessa
condição de equilíbrio dinâmico é possível determinar qual a taxa de investimento
necessária para se atingir uma meta de crescimento do produto per capita, dada a
relação capital-produto: s necessario ( g meta n ) . Se = 3, n = 0,02, δ = 3,3% ao
ano (implica supor que a vida útil média do estoque de capital é de 30 anos) e gmeta =
3% ao ano, então a taxa de investimento terá que ser de aproximadamente 25% do PIB.
(a) Como observado antes, o modelo acima tem alcance limitado, já que os resultados
decorrem quase algebricamente das hipóteses. Harrod deu-lhe uma dimensão mais
interessante ao associá-lo a um mecanismo de formação de expectativas e sua influência
na determinação do investimento.3 Esse modelo é conhecido como modelo
“multiplicador-acelerador” do investimento, em que este depende das expectativas
quanto à demanda no futuro. Se o comportamento corrente da demanda é importante
para a formação das expectativas, o modelo passa a exibir forte instabilidade.
Yt X t Yt 1
( )
Xt s Xt
A expressão entre parêntesis pode ser interpretada com sendo a taxa esperada de
crescimento, como proporção de Xt (essa forma de apresentar a taxa de crescimento é
uma particularidade da formulação de Harrod que não altera o resultado), e pode ser
representada por ĝ t , de modo que
Yt
gˆ t . É claro que as expectativas irão se realizar – isto é, Xt será igual a Yt
Xt s
– se e somente se ĝ for igual a s (se Yt = Xt, o lado esquerdo da equação será igual a
t
1). A essa taxa, ĝ t , Harrod deu o nome de taxa garantida de crescimento, no sentido de
que apenas ela garante um crescimento equilibrado.
3
Baseado em A. Sen (ed), Growth Economics – Selected Readings, Penguin Books, 1970, Introduction.
levaria a um produto de 110 unidades. Ao se depararem com um nível de demanda
maior que o esperado, pelo mecanismo de ajuste de expectativas, provavelmente
aumentariam ainda mais a demanda futura esperada, e com isso o produto entraria numa
trajetória explosiva de crescimento. O inverso ocorreria caso o aumento esperado da
demanda fosse inferior a 10 unidades – por exemplo, 9 unidades (uma taxa de 9,1%), o
que levaria a um investimento de 18 unidades e demanda total de 90 unidades. Nesse
caso, a frustração das expectativas levaria os empresários a reverem para baixo as
expectativas de crescimento no futuro, o que levaria a níveis de investimento e demanda
cada vez mais baixos.
(b) uma elemento adicional que até agora foi ignorado é o fato de que para Harrod e
Domar a função de produção com coeficientes fixos impõe um limite natural à
expansão do produto, dado pela taxa de crescimento da força de trabalho. Neste caso,
para que se tenha equilíbrio no longo prazo mantendo a taxa de desemprego constante é
preciso que o produto cresça à mesma taxa que a população. Daí deriva a condição de
consistência de Harrod-Domar, ou condição de stady state:
s n
Lembrando que s
corresponde à taxa de crescimento do estoque de capital, o que essa
condição traduz, em última análise, é a necessidade de capital e trabalho crescerem à
mesma taxa, já que são combinados em proporção fixa para produzir uma unidade de
produto. Caso isso não aconteça, algum desses fatores de produção ficará ocioso ao
longo do tempo. Antes de explorar um pouco mais as implicações dessa condição,
vamos recorrer à apresentação gráfica para o modelo HD proposta por Sala-i-Martin.4
4
Lecture Notes on Economic Growth (I), NBER Working Paper nº 3563, Dezembro de 1990.
E
1 f(k)
b
k
b
Note que para valores de k< , existe trabalho em abundância e o fator restritivo é o
b
capital, de modo que quando ele cresce (em termos per capita), a produção também
cresce num montante igual a 1 . A partir do valor , o trabalho é o fator restritivo, e
b
a produção per capita ficará constante, mesmo que k aumente. Para pontos à esquerda
de E há desemprego da força de trabalho, para pontos à direita, parte do estoque de
capital estará ociosa.
(n ), se k , ou (n ), se k .
k s k s
k b k bk b
(n+δ)
s
sf (k )
k
b
(b) s (n )
E
s
(n+δ)
sf (k )
k
k 0 k * ( k * )
b k0
Essa é a condição de consistência de Harrod-Domar (com depreciação). Nessa situação,
a taxa bruta de crescimento do estoque de capital, s , é exatamente igual à taxa de
depreciação efetiva, e o estoque de capital per capita será constante no EE. Se o estoque
de capita inicial, k0, for menor que o valor crítico,
b , permanecerá nesse valor no EE
Se k0 for maior que sf (k ) < (n+δ), e o estoque de capital vai se reduzir até
b , então k
alcançar o valor
b , que corresponde ao ponto E. Note que esse ponto é a única
situação onde todos os fatores de produção estão plenamente empregados. Pontos à
esquerda são situações em que parte da força de trabalho está desempregada; pontos à
direita, onde parte do estoque de capital está ocioso. No equilíbrio k0 = k*, a taxa de
desemprego da força de trabalho é constante.
(c) s (n )
s
(n+δ)
E
sf (k )
k
k0
k*
b
Até o ponto E, sf (k ) > (n+δ), e o estoque de capital per capita está se expandindo. No
k
ponto E, a economia alcança o equilíbrio, e a partir daí o estoque de capital por
trabalhador se estabiliza. Para pontos em que k0 está à direita de k*, acontece o inverso:
o estoque de capital se reduzirá até alcançar o valor k*, permanecendo constante a partir
daí. Embora o equilíbrio E faça sentido do ponto de vista matemático, não parece fazer
muito sentido do ponto de vista econômico: nessa situação, parte do estoque de capital
está ociosa, e embora o capital per capita esteja constante, em valor absoluto ele está
crescendo. Quem investiria sabendo que esse capital permanecerá ocioso?
Como o mundo não parece exibir um comportamento desse tipo, alguma coisa nessa
relação deve ajustar. Esse foi o insight de Solow no Cap 1 do livro “Growth Theory –
an exposition” para fazer a transição para o modelo neo-clássico. Ele vai associar cada
um dos parâmetros da condição de consistência ( s (n ) ) a um possível
mecanismo de ajuste (ignorando a taxa de depreciação). As histórias a seguir não devem
ser tomadas literalmente – são como parábolas para ilustrar uma idéia.
Sem aprofundar muito as razões, que no primeiro caso são óbvias no que se refere a
uma economia industrializada, Solow descarta esses mecanismos e aponta para a
relação capital-produto, , como o mecanismo de ajuste. No modelo neo-clássico,
então, a relação capital-produto irá variar até atingir um valor de equilíbrio, a partir do
qual ele permanece constante.