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Patologia e Parasitologia

Aula 6: Protozoários flagelados e ciliados de importância


médica

Apresentação
Estudaremos os aspectos relacionados à biologia (morfologia, ciclo biológico), ao diagnóstico, ao tratamento e às
medidas de controle, visando à proteção contra a infecção de protozoários parasitas de importância médica, focando os
protozoários relacionados a doenças do trato gastrointestinal e geniturinário.

Entamoeba, Giardia, Trichomonas, Balantidium serão os gêneros estudados.

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Objetivos
Reconhecer aspectos biológicos, de diagnóstico e tratamento de protozoários parasitas humanos, flagelados e
ciliados, presentes no trato digestivo e geniturinário;

Descrever os mecanismos de infecção e de multiplicação desses parasitas a partir do conhecimento da morfologia;

Analisar aspectos relacionados às medidas de tratamento e de prevenção da infecção desses parasitas.

Protozoários

 (Protozoário - Fonte:
Shutterstock).
Os protozoários pertencem ao Reino Protista, sendo reconhecidas mais de 60 mil espécies entre os de vida livre e os que são
considerados parasitas de humanos, animais e plantas.

 
Uma característica que os protozoários podem apresentar é a presença de estruturas relacionadas à locomoção e à
apreensão de alimentos: Cílios e flagelos. Entretanto, a locomoção pode ser realizada por pseudópodes.

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Gênero Entamoeba
O gênero Entamoeba é composto pelos protozoários conhecidos como amebas, os quais fazem parte do supergrupo
Amebozoa. Têm como característica a presença de pseudópodes grossos e arredondados na extremidade, pertencendo à
divisão Entamoebida. Entre os representantes, temos as espécies: Entamoeba histolytica, E. dispar, E. gengivalis e E. coli.

 
As amebas parasitam o aparelho digestivo de vertebrados, apresentam núcleos esféricos com cariossomo – cromatina
disposta de forma central – e grânulos de cromatina periférica. Veja a figura a seguir.

O gênero Entamoeba apresenta as formas evolutivas de


trofozoítos e cistos. Os trofozoítos são formas ativas que
se alimentam e se reproduzem; os cistos são as formas de
resistência no meio ambiente, são inativos.


Representação esquemática de núcleos no gênero Entamoeba indicando o
cariossomo. Em A: E. histolytica; em B: E. hartmanni; e em C: E. coli | (Fonte:
Complemento multimídia de Parasitologia, 4. ed., aula 5.)

As diversas espécies de Entamoeba parasitas de humanos e animais são classificadas em grupos de acordo com o número
de núcleos presentes na forma cística:
1 2

Grupo I – cistos com até oito núcleos Grupo II – cistos com até quatro núcleos
Entamoeba coli (humano); E. muris (roedores); E. cobayae E. histolytica, E. hartimani, E. dispar (de humanos); E. ranarum
(cobaia); E. gallinarum (galinhas) (anfíbios)

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Grupo III – cistos de um núcleo Grupo IV – sem cistos


E. polecki (porco e humanos); E. suis (suínos) E. gengivalis (humanos).


Entamoeba histolytica


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Entamoeba histolytica

É a espécie parasita de maior importância médica. Não


apresenta mitocôndrias, aparelho de Golgi ou
microtúbulos; o metabolismo pode ser do tipo
microaerófilo, sendo um organismo aeróbico facultativo, e
a principal fonte de energia é a glicose.

É um parasita monoxênico, ou seja, desenvolve o ciclo


biológico em um único hospedeiro. Trata-se de um ciclo
simples, que se inicia pela ingestão de cistos presentes na
água e nos alimentos contaminados por fezes de
indivíduos portadores do protozoário (infecção oral-fecal).
Veja a figura ao lado.

Os cistos são resistentes ao pH ácido e às enzimas do


estômago, passando de modo íntegro pelo órgão. O
desencistamento ocorre no intestino delgado, que se
apresenta como um ambiente adequado (com
temperatura de 37 oC e ambiente de anaerobios.

Um cisto de E. histolytica possui quatro núcleos. No


processo de desencistamento, ocorre a divisão dos
núcleos e do citoplasma originando oito trofozoítos que se
alimentam e crescem.


Figura 2 – De A a D: Formas císticas. O núcleo se divide duas vezes (C, D) e se torna  
tetranucleado. É ingerido e se divide produzindo oito amébulas (F). No intestino grosso,
cresce e se multiplica, completando o ciclo não patogênico (G, H, I) | (Fonte:
Complemento multimídia de Parasitologia, 4. ed., aula 5.).
Os trofozoítos vivem na luz do intestino delgado como comensais se reproduzindo por divisão binária. Mecanismos
relacionados à diminuição da imunidade, à alteração da flora intestinal e à lesão de mucosa intestinal tornam alguns desses
trofozoítos patogênicos, que penetram na parede intestinal.

No intestino, passam a se alimentar de células da mucosa intestinal e de hemácias e, em casos crônicos, podem alcançar a
circulação sanguínea atingindo outros órgãos como o fígado.

O metabolismo dos trofozoítos que permaneceram na luz do intestino delgado é reduzido. Eles armazenam energia e
secretam uma parede cística ao seu redor, formando os cistos que são eliminados nas fezes. No cisto, ocorrem divisões
binárias com formação de quatro organismos. Os cistos permanecem viáveis no ambiente em torno de vinte dias (ROCHA,
2013; REY, 2008).

O diagnóstico da presença de E. histolytica em indivíduos com suspeita desta infecção é realizado pela visualização de
trofozoítos ou cistos nas fezes. Trofozoítos são encontrados principalmente em fezes diarreicas, sendo possível verificar
hemácias fagocitadas no interior deles (BRENER, 2015; ROCHA, 2013; REY, 2008).

Os cistos de E. histolytica são semelhantes aos de espécies não patogênicas, sendo eliminados em fezes formadas. As
técnicas de concentração de cistos (centrifugação e soluções saturadas de açúcar, por exemplo) são utilizadas para a
visualização, tendo como base a identificação do número de núcleos (CDC, 2017; ROCHA, 2013; REY, 2008).

Dentre as técnicas imunológicas para o diagnóstico de E. histolyca, destacamos a ELISA, com detecção de anticorpos
específicos ou de antígenos, bastante utilizada (REY, 2008).

Medidas de controle estão relacionadas a higiene pessoal e alimentar, com o consumo e utilização de água fervida ou
filtrada e clorada (o cloro inativa os cistos); com a melhoria das condições de saneamento básico (destino adequado de
fezes); com o tratamento dos indivíduos doentes. Os compostos utilizados para o tratamento são as dicloracetamidas, os
nitromidazóis, a deidroemetina e a emetina (REY, 2008).

O gênero Giardia
Os membros desse gênero pertencem à divisão Diplomonadida e as espécies que deste gênero são Giardia duodenalis, com
diversas sinonímias (G. intestinalis, G. lambia e Lamblia intestinalis), que parasita humanos e diversos animais domésticos e
silvestres; G. muris, que parasita roedores; G. psittaci e G. ardeae, encontrados em aves; e G. agilis, parasitas de anfíbios. É um
protozoário flagelado e pequeno que possui duas formas evolutivas: Trofozoíto e cisto.
O trofozoíto apresenta simetria bilateral e formato
piriforme. Apresenta também uma estrutura característica
na superfície ventral: O disco suctorial.

No citoplasma são encontrados os axóstilos, estruturas


duplas e simétricas compostas por um par de núcleos com
cariossoma central e dois feixes de fibras longitudinais.


Figura 3 – Formas evolutivas de Giardia. Em A: Forma trofozoíta e seus flagelos. Em B:
O cisto | (Fonte: REY, 2008, 412.)

Os flagelos permitem movimentos rápidos e deslocamento


irregular (sacudidas); o disco suctorial tem a função de
fixar o parasita à mucosa intestinal, o que impede a
absorção de gorduras e vitaminas lipossolúveis pelo
hospedeiro. Pinocitose é o mecanismo pelo qual a Giardia
se nutre.

A infecção é oral-fecal por ingestão de cistos presentes em


alimentos e na água contaminada. Esses cistos são as
formas de resistência que permitem ao protozoário
sobreviver por vários meses no ambiente, em água fria. O
desencistamento ocorre no intestino delgado com
liberação dos trofozoítos e cada cisto produz dois
trofozoítos.

Os trofozoítos se multiplicam por divisão binária e


permanecem na luz intestinal livres ou fixados à mucosa
pelo disco suctorial. O processo de encistação (formação
de cistos) ocorre a partir da migração dos trofozoítos em 
Figura 4 – Ciclo biológico e formas evolutivas de Giardia | (Fonte: Adaptado de CDC,
2017.)
direção ao cólon.

O diagnóstico está relacionado à visualização de formas evolutivas de Giardia em fezes formadas (busca de cistos) ou
diarreicas (busca de cistos e trofozoítos). Técnicas de concentração por centrífugo-flutuação com solução saturada de
sulfato de zinco são bastante adequadas para visualização de cistos; os trofozoítos podem ser caracterizados a fresco,
diluindo o material fecal em solução fisiológica e observando em microscopia óptica (entre lâmina e lamínula).

Trata-se de um parasita com distribuição cosmopolita (no mundo inteiro). Da mesma forma que ocorre na prevenção da
transmissão das espécies do gênero Entamoeba, as medidas de controle estão relacionadas à higiene pessoal, ao consumo
de água fervida ou filtrada e clorada (o cloro inativa os cistos), à melhoria das condições de saneamento básico (destino
adequado de fezes) e ao tratamento de indivíduos doentes.

Atenção
Além dessas medidas, existe uma vacina veterinária que apresenta ação favorável contra Giardia (reduz a carga parasitária em
infecções de gatos e cães). A profilaxia com a vacinação em animais diminui a contaminação ambiental com cistos do
parasita. O tratamento de indivíduos infectados ocorre por utilização de derivados nitroimidazólicos – metronidazol.

O gênero Gênero Trichomonas


Dentre diversas espécies parasitas de vertebrados, três já foram descritas em humanos: Pentatrichomonas hominis (tubo
digestivo), T. tenax (cavidade oral) e T. vaginalis (trato geniturinário), sendo que as duas primeiras espécies não são
patogênicas para humanos.

Uma característica observada nesse gênero é a presença de três flagelos livres. Trichomomas vaginalis apresenta forma
variável (alongada, ovoide ou piriforme) e quatro flagelos livres que surgem de uma depressão do polo anterior, o canal
periflagelar. Além dos quatro flagelos livres, observamos uma membrana ondulante (estrutura fixa ao corpo por uma prega.

Esse protozoário não possui estruturas de sustentação na membrana e, por esse motivo, a forma dele se modifica
facilmente.

O habitat do T. vaginalis são a vagina e a uretra, nas


mulheres, e a uretra e a próstata, em homens.
Diferentemente do que observamos nos gêneros
Entamoeba e Giardia, o Trichomonas não apresenta a
forma de cisto e a transmissão ocorre pela contaminação
por trofozoítos no ato sexual ou por fômites. Os trofozoítos
vivem em ambiente de anaerobiose e se multiplicam por
divisão binária, produzindo alguns ácidos que irritam a
mucosa.


Figura 5 – Representação esquemática de T. vaginalis, evidenciando o formato
piriforme, o canal periflagelar (de onde emergem os flagelos) e a membrana ondulante |
(Fonte: Adaptado de REY, 2008, p. 412.)
O diagnóstico da infecção por T. vaginalis se dá pela
visualização das formas trofozoítas na secreção vaginal,
tanto por exame direto, citologia corada ou cultura de
secreção, como por técnicas imunológicas, como a
imunofluorescência indireta (pesquisa de anticorpos). No
exame direto é possível visualizar o protozoário em
movimento.

O tratamento tem como base a utilização de compostos


nitroimidazólicos (metronidazol), o qual, para ser efetivo,
deve ser administrado ao indivíduo parasitado e aos
parceiros sexuais deste.

Trichomonas vaginalis causa a tricomoníase, uma doença


de caráter cosmopolita, com incidência maior em
mulheres.

Apesar de não possuir a forma evolutiva de resistência (os


cistos), o T. vaginalis resiste por bastante tempo na água
corrente; por até duas horas em temperaturas entre 40 °C e
46 °C; e nas gotículas de secreção vaginal pode
permanecer viável por algumas horas.

Figura 6 – Demonstração esquemática do ciclo evolutivo de T. vaginalis | (Fonte:
Adaptado de CDC, 2017.)
As medidas preventivas estão relacionadas a medidas
utilizadas para a prevenção de doenças sexualmente
transmissíveis como o uso de preservativos em relações
sexuais.

Gênero Balantidium
O gênero Balantidium pertence ao grupo Ciliophora,
subdivisão Trichostomatia. Como representante tem a
espécie que causa infecção em humanos, o Balantidium
coli. O Balantiduim coli é um parasita que está
frequentemente associado aos suínos, sendo estes
considerados como um reservatório do parasita.

Consideramos como reservatório um indivíduo ou grupo de


indivíduos que o parasita é capaz de infectar, no qual
permanece viável sem causar doença e ser transmitido
para outros hospedeiros. B. coli é um protozoário ciliado, de
forma ovoide, que tem como habitat o intestino grosso. Ele
se alimenta de bactérias, fungos, grãos de amido,

Figura 7 – Representação esquemática das formas evolutivas de B. coli. Em A: hemácias, outras células e detritos orgânicos. Pode medir
Trofozoíta; e, em B: Cisto. Estruturas: a – citóstoma; b – macronúcleo; c – micronúcleo; d –
citopígio; e – vacúolos citoplasmáticos; f – vacúolos pulsáteis; g – citofaringe | (Fonte:
entre 60 µm e 90 µm de comprimento, sendo considerado o
SMYTH, 1965) maior protozoário parasita do homem.
A superfície do parasita é revestida de cílios, permitindo uma rápida movimentação. Além disso, o citóstoma, localizado em
uma depressão na extremidade anterior, permite a ingestão dos nutrientes e os vacúolos citoplasmáticos digerem as
bactérias e outras substâncias ingeridas. As substâncias não utilizadas como nutrientes são eliminadas para o meio externo
pelo citopígio, um poro localizado na extremidade posterior. Veja a figura 7, acima.

É possível observar no citoplasma, nas extremidades anterior e posterior, vacúolos pulsáteis; um macronúcleo ou núcleo
vegetativo, grande e de formato riniforme, e um micronúcleo situado numa depressão no macronúcleo. O micronúcleo é
menor e compacto, cuja função está relacionada à reprodução do parasita. A multiplicação ocorre por divisão binária. Em
meio de cultura foi observada a reprodução sexuada por conjugação na qual ocorre a participação apenas do micronúcleo.

B. coli apresenta as formas evolutivas de trofozoíta


(multiplicação) e de cisto (resistência) (veja a figura a 7). O
cisto é a forma infectante de B. coli. A infecção ocorre por
ingestão de cistos presentes em alimentos ou água
contaminados. Após a ingestão, o desencistamento ocorre
no intestino delgado e os trofozoítos colonizam a mucosa
do intestino grosso.

Os trofozoítos permanecem na luz do intestino grosso e no


apêndice de humanos e animais. Eles se replicam por
divisão binária (pode haver também a reprodução sexuada
por conjugação). Além de se multiplicar, os trofozoítos
entram no processo de encistamento com produção dos
cistos infectantes. Alguns trofozoítos invadem a parede do
cólon e se multiplicam resultando numa enterite ulcerativa.
Os cistos infectantes são eliminados pelas fezes.

Figura 8 – Demonstração esquemática do ciclo evolutivo de B. coli | (Fonte: Adaptado
de CDC, 2017.)

O diagnóstico é realizado por meio do exame das fezes, buscando estruturas similares a formas císticas ou trofozoítas de B.
coli. Como observado em outros protozoários estudados, o cisto é encontrado em fezes formadas em que o auxílio de
técnicas de concentração é de fundamental importância para a detecção. Nas fezes diarreicas, encontramos tanto cistos
quanto formas trofozoítas, e estas podem ser identificadas no exame a fresco. É preciso dar atenção à contaminação
ambiental por ciliados de vida livre.

O tratamento é realizado com o uso de antibióticos (tetraciclinas), além de nimorazol e metronidazol.

Saiba mais

Entre as medidas preventivas estão as condições corretas de saneamento básico, o consumo de água e os alimentos livres de
contaminantes, ou seja, devidamente higienizados. Com relação ao reservatório, o suíno: São necessárias boas condições de
higiene em criações de suínos e orientação adequada aos trabalhadores que lidam diretamente com esses animais.

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Atividades
1. Caracterize as formas evolutivas TROFOZOÍTO e CISTO. Qual a importância de cada uma delas para o parasita?

2. Indique uma diferença no ciclo evolutivo de Trichomonas vaginalis:

3. Em parasitologia, o que significa o termo RESERVATÓRIO?

4. O que é disco suctorial e qual a função?

Ensinavam 1

“Aprendia-se fazendo, o que tornava inseparáveis o saber, a vida e o trabalho” (COIMBRA, 1989, p. 15)

Referências

BRENER, B. (org.). Parasitologia. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2015.

CDC. Centers for Disease Control and Prevention. 2019. Disponível em: https://www.cdc.gov/ Acesso em: 31 out. 2019.

REY, L. Parasitologia. 4. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2008.

ROCHA, A. (org.). Parasitologia. São Paulo: Rideel, 2013.

Próxima aula

Protozoários intracelulares e hemoflagelados;

Aspectos morfológicos, biológicos, diagnóstico e tratamento.

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Técnica de Willis;
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