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UNIVERSIDADE DE BELAS

FACULDADE DE CIÊNCIAS SOCIAIS E ECONÓMICAS


CURSO DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS

O IMPACTO DA GLOBALIZAÇÃO NO GRUPO ÉTNICO


KHOISAN NO CUANDO CUBANGO COM O ALCANCE DA
PAZ

TRABALHO DE FIM DE CURSO

JOSEFINA NALUPALE CORDEIRO KANJULUCA

LUANDA, 2020
UNIVERSIDADE DE BELAS
FACULDADE DE CIÊNCIAS SOCIAIS E ECONÓMICAS
CURSO DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS

FOLHA DE ROSTO

O IMPACTO DA GLOBALIZAÇÃO NO GRUPO ÉTNICO


KHOISAN NO CUANDO CUBANGO COM O ALCANCE DA
PAZ

TRABALHO DE FIM DE CURSO

Elaborado por: Josefina Nalupale Cordeiro Kanjuluca


Orientado por: Msc. Délcio Pedro Rodrigues

Trabalho de Fim de Curso apresentado à


Faculdade de Ciências Sociais e Económicas da
Universidade de Belas como requisito para a
obtenção do Grau de Licenciada em Relações
Internacionais

LUANDA, 2020 i
FICHA CATALOGRÁFICA

Autorizo a reprodução e divulgação total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio
convencional ou electrónico para fins de estudo e pesquisa desde que citada a fonte.

Josefina Nalupale Cordeiro Kanjuluca

DATA_________/_________/___________

KANJULUCA, Josefina Nalupale Cordeiro

O IMPACTO DA GLOBALIZAÇÃO NO GRUPO ÉTNICO KHOISAN NO


CUANDO CUBANGO COM O ALCANCE DA PAZ

Trabalho de Fim de Curso apresentado à Faculdade de Ciências Sociais e Económicas da


Universidade de Belas como requisito para a obtenção do Grau de Licenciada em Relações
Internacionais.

Orientador: Msc. Délcio Pedro Rodrigues

Nº de páginas: 52

Tipo de letra: Times New Roman

Palavras-chave: Khoisans. Cuando Cubango. Globalização. Paz. Etnia.

ii
JOSEFINA NALUPALE CORDEIRO KANJULUCA

FOLHA DE APROVAÇÃO
O IMPACTO DA GLOBALIZAÇÃO NO GRUPO ÉTNICO KHOISAN
NO CUANDO CUBANGO COM O ALCANCE DA PAZ

Trabalho de Fim de Curso apresentado à Faculdade de Ciências Sociais e Económicas da


Universidade de Belas como requisito para a obtenção do Grau de Licenciada em Relações
Internacionais.

Aprovado,_____/_____/_____

BANCA EXAMINADORA

Presidente do Júri

____________________________

1º Vogal

_____________________________________

2º Vogal

_____________________________________

Secretário

___________________________

iii
DEDICATÓRIA

“Dedico esta monografia a todos os meus


próximos, em especial aos meus pais Sebastião
Kanjuluca e Juliana Kanjuluca, por me terem
gerado a vida, mostrado à luz do Mundo e me
orientado nos passos da sabedoria.”

iv
AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus todo-poderoso por este favor imerecido, e pelo dom de
discernimento em todos extractos vitais. De igual modo, agradeço a minha família pela forma
inesgotável a que me impulsionou até chegar aqui; aos meus colegas, Drs Emídio César
Mariano, Maurício Sequesseque, Albano Tito Meneses, Ilithc, Madalena Quintas, jõao
Lunga, que na diversidade prevaleceu a união e coragem para que este trabalho fosse até ao
final, porque não referenciar aqueles que de forma pouco concreta emprestaram seu calor para
que esta faina do fim do curso se tornasse numa realidade, porque sabemos nós, que nesta
vida nada somos sozinho.
Ao SME/CC, palavras me fogem pela tamanha gratidão na forma em que fui compreendida
quando fosse sair de Menongue para Luanda (na universidade) a fim de tomar as aulas;
encorajaram-me a não ficar pelo caminho, uma vez que o país precisa da força da juventude e
com maior destaque a formada como é o meu caso. Ainda assim, conheci a nuvem da
desgraça logo no final dos 4 anos desta minha formação e só DEUS para me suster, como por
ele vi pessoas a oferecerem seu ombro amigo, o meu muito obrigado!
Caros presentes, nesta sala hoje e como ela se coloriu com vossa presença, meu interior
explodem por um vazio que se faz pela ausência de meu legítimo esposo que já não está entre
nós. Seria com ele a dividir este momento, por isso, atribuo-lhe este ganho em gesto de
homenageá-lo.
Por isso, este momento permite-me destinar uma atenção especial e gratidão sincera aos meus
próximos, ou seja, aqueles que, com o seu conselho, com a sua atenção e dedicação, com o
seu encorajamento e muitas vezes com o seu apoio financeiro, fizeram com que este momento
fosse tornado possível.
Ao meu amado pai Sebastião Canjuluca e a minha mãe Juliana Lopes Cordeiro Canjuluca, por
me terem gerado e tornado muna grande mulher. E as minhas duas filhas queridas por me
entender em todas as circunstâncias da vida.
De igual modo destino-me ao meu tutor, que soube instruir-me no caminho da ciência e que
com a sua humildade, paciência e sapiência, mostrou-me as portas de entrada e passos a
seguir rumo ao mundo científico. Dr. Délcio Pedro Rodrigues o meu humilde Muito
obrigado…

v
RESUMO

A emergência do fenómeno da Globalização, cujo seus primórdios remontam do fim da


clivagem entre os dois blocos antogonicos, que opunham por um lado, a URSS e os EUA,
bem como a queda do Murro de Berlim, arrastou consigo uma maneira diferente de pensar o
mundo e fazer as coisas. Tal facto, foi extensivo não só para grandes comunidades já existente
desde então, mas também para as comunidades “menos expressivos” em termos numéricos,
como é o caso da comunidade Khoisan, desta forma o nosso objectivo geral tenta
compreender o impacto da globalização nas culturas dos povos, mormente dentro do grupo
étnico khoisan do Cuando Cubango. A realização do nosso estudo recorremos a pesquisa
qualitativa, complementada com uma pesquisa bibliográfica. Dentre os principais resultados
verificamos que a globalização teve um impacto positivo neste grupo alvo uma vez que
permitiu a inserção de alguns membros no sistema normal de ensino, facto que tem
contribuído para a sua maior civilização e enquadramento social, o que se atesta pelo facto de
comunicarem em outras línguas, com realce para a Lingua Portuguesa e participam no
processo de Alfabetização nas suas comunidades. As conclusões realçam que a Paz, é um
mecanismo que permite granjear uma maior atenção e meios na aplicação de medidas e
politicas de socialização para os mais variados grupos etnolinguístico existente na região.
Dentre as principais recomendações, encontramos que o Estado angolano deverá estudar
formas de reassentar a comunidade nas zonas longiquas para mais próximas dos centros
urbanos.

Palavras-chave: Khoisans. Cuando Cubango. Globalização. Paz. Etnia.

vi
ABSTRACT

The emergence of the phenomenon of globalization, whose beginnings date back to the end of
the cleavage between the two opposing blocs, which opposed the USSR and the US as well as
the fall of the Berlin Punch, dragged with it a different way of thinking. world and get things
done. This has been extended not only to large communities since then, but also to
numerically “less expressive” communities such as the Khoisan community, so our overall
goal is to understand the impact of globalization on cultures. of people, mainly within the
Cuando Cubango khoisan ethnic group. The accomplishment of our study we resorted to the
qualitative research, complemented with a bibliographical research. Among the main results
we found that globalization had a positive impact on this target group as it allowed the
inclusion of some members in the normal education system, a fact that has contributed to their
greater civilization and social framework, which is attested by the fact that communicate in
other languages, with emphasis on Portuguese Language and participate in the Literacy
process in their communities. The conclusions emphasize that Peace is a mechanism that
allows to gain greater attention and means in the application of socialization measures and
policies to the various ethnolinguistic groups in the region. Among the main
recommendations, we find that the Angolan State should study ways of resettling the
community in the remote areas closer to urban centers.

Keywords: Khoisans. Cuando Cubango.Globalization. Peace. Ethnicity.

vii
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ATFC-KAZA – Area transfronteiriça De Conservaçao Do Kavango Zambeze

EUA – Estados Unidos Da America;

OECP – Organizaçao Economica para a cooperaçao e desenvolvimento;

ONG MBAKITA – Organizaçao Nao Governamental Missao de beneficiencia Agropecuaria


do Kubango Tecnologia e Ambiente;

UNESCO – Organizaçao Das Nacçoes Unidas Para a Educaçao Ciencia e Cultura;

URSS – União Da Republica Suvietica Socialisata;

viii
ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO ................................................................................................................. i

FICHA CATALOGRÁFICA................................................................................................... ii

FOLHA DE APROVAÇÃO ...................................................................................................iii

DEDICATÓRIA ...................................................................................................................... iv

AGRADECIMENTOS ............................................................................................................. v

RESUMO.................................................................................................................................. vi

ABSTRACT ............................................................................................................................ vii

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ..........................................................................viii

I. INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 1

1.1. Introduzir o tema .......................................................................................................... 1

1.1.1. Delimitação do tema ............................................................................................. 1

1.1.2. Justificação do tema.............................................................................................. 2

1.2. Formulação do problema ............................................................................................. 3

1.3. Formulação de hipóteses .............................................................................................. 3

1.4. Objectivos .................................................................................................................... 4

1.4.1. Objectivo geral ..................................................................................................... 4

1.4.2. Objectivos específicos .......................................................................................... 4

II. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ................................................................................ 5

2.1. Conceitos de Comunidade ............................................................................................... 5

2.2. Conceitos de Globalização ............................................................................................... 6

2.3. Conceitos de Etnicidade................................................................................................. 10

2.4. Conceitos de Raça .......................................................................................................... 13

2.5. Conceitualização de Cultura .......................................................................................... 13

2.5.1. Natureza e cultura.................................................................................................... 17

2.5.2. A Natureza, fundamento da cultura......................................................................... 17

2.5.3. O Significado antropológico de cultura .................................................................. 18


ix
2.5.4. Sentido etimologico da cultura ................................................................................ 19

2.5.5. Como se processa a relação Homem/Sociedade? ................................................... 21

2.5.6. A Questão da identidade. ........................................................................................ 21

2.5.7. O Que é a cultura san?............................................................................................. 22

2.6. Contextos da Paz ............................................................................................................ 22

2.7. Comentarios sobre a fundamentação teórica ................................................................. 25

III. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO .......................................................... 26

3.1. Breve resenha histórica sobre os khoisans ..................................................................... 26

3.2. Caracterização do grupo étnico khoisan no Cuando Cubango ...................................... 27

3.3. O poder, o igualitarismo e o patrimonio nas comunidades khoisan .............................. 29

3.4. Mitos e curiosidades sobre os khoisans ......................................................................... 32

IV. METODOLOGIA ............................................................................................................ 35

4.1. Tipo de estudo ................................................................................................................ 35

4.2. População e amostra ...................................................................................................... 35

4.2.1. Critérios de inclusão ................................................................................................ 36

4.2.2. Critérios de exclusão ............................................................................................... 36

4.3. Métodos a utilizar .......................................................................................................... 36

4.4. Procedimentos e instrumentos ou técnicas para a colecta de dados .............................. 36

4.5. Processamento de dados ................................................................................................ 36

V. RESULTADOS E DISCUSSÃO....................................................................................... 37

VI. CONCLUSÕES ................................................................................................................ 48

VII. RECOMENDAÇÕES..................................................................................................... 49

VIII. BIBLIOGRAFIA ........................................................................................................... 50

APÊNDICES ..............................................................................................................................I

Apêndice A: Guião da Entrevista .......................................................................................... II

Apêndice B: Imagens da Pesquisa de Campo ....................................................................... III

1. Familia de Khoisans e alguns visitantes ........................................................................ III


x
2. Pequenos Khoisans ........................................................................................................ III

3. Jovens Khoisans ............................................................................................................ III

4. Autora e dois jovens khoisans ....................................................................................... IV

5. Comunidade Khoisan e alguns visitantes ...................................................................... IV

6. Duas Crianças Khoisans ................................................................................................ IV

7. Autora e alguns habitantes da comunidade Khoisan ...................................................... V

8. Habitantes da Comunidade Khoisan .............................................................................. V

9. Habitantes da Comunidade Khoisan 2 ........................................................................... V

xi
I. INTRODUÇÃO

1.1. Introduzir o tema

A monografia a que nos propusemos apresentar, enquadra-se no âmbito de um conjunto de


exigências da Faculdade de Ciências Sociais e Económicas da Universidade de Belas, como
requisito imprescindível para aquisição do grau de licenciatura em Relações Internacionais.

1.1.1. Delimitação do tema

Este trabalho do fim do curso como exigência para obtenção do grau académico de
licenciatura em Relações Internacionais, tem como tema O Impacto da Globalização no
Grupo Étnico Khoisan no Cuando Cuando com o alcance da Paz, delimitado no objecto de
estudo como As consequências da Globalização para o grupo étnico Khoisan no Cuando
Cubango.

No essencial, vamos abordar nesta monografia, “O impacto da globalização para o grupo


étnico Khoisan residente no Cuando Cubango, fazendo uma co-relação com o surgimento da
paz, mormente a influência desta na reinserção social da comunidade em referência.

É importante realçar que a paz, é um mecanismo que permite granjear ao governo maior
atenção e meios na aplicação de medidas e políticas de socialização para os mais variados
grupos etnolinguísticos existentes na região, dada a possibilidade de ir nas localidades mais
longínquas onde podem ser encontrados.

Nesta senda, o enquadramento da presente monografia, permite, igualmente, fazer alusão aos
efeitos da globalização no grupo em estudo, visando trazer a maior compreensão do impacto
deste, na transfiguração de alguns hábitos e costumes próprios da região e da comunidade.

A emergência do fenómeno da globalização, cujos seus primórdios remontam do fim da


clivagem entre os dois principais blocos antagónicos, que opunham por um lado, a URSS e os
EUA, bem como a queda do muro de Berlim, arrastou consigo, uma maneira diferente de
pensar o Mundo e fazer as coisas.

Tal facto, foi extensivo, não só para as grandes comunidades já existentes desde então, mas
também, para as comunidades “menos expressivas” em termos numéricos, como é o caso da
comunidade em estudo.

1
Por isso, uma série de questões, poderão responder efectivamente nos capítulos a seguir, a
verdadeira influência da globalização no grupo étnico kohisan, sedeado na província do
Cuando Cubango, região sudeste da República de Angola.

As peculiaridades características do grupo em epígrafe, mormente, casamento, cultura,


tradição, alimentação, saúde, entre outros, serão alguns itens a ser desenvolvidos no decorrer
da presente monografia, que poderá igualmente apresentar argumentos sobre a alteração dos
aludidos itens, em função da expansão da globalização e do alcance da paz.

A globalização é um fenómeno que nas três últimas décadas tem estado a mudar
significativamente o estado de vida de muitos povos. Para tal, a nível do mundo, verifica-se
uma constante preocupação de como lidar-se com este fenómeno. Isto ocorre tendo em conta
o seu impacto que tem se incidido directamente nas questões culturais de muitos povos.

1.1.2. Justificação do tema

Nos últimos tempos, observa-se algum abandono pelo respeito ao “modus vivendus” das
pessoas em toda parte do mundo, deixando para trás a sua forma de convivência natural. A
respeito disso, um extracto retirado pelo Dr. Alberto Sawambo, citando Thomás Hobbes,
afirmara que quando o homem aparece num novo meio, é obrigado a ceder parte do seu
costume e receber também parte do dos outros, o que ele chama de adaptação social e
cedência dos seus direitos para receber os da sociedade.

A razão da escolha desta temática, cinge-se na necessidade de apresentar argumentos


científicos que atestam a relação entre o estilo de vida característico da comunidade Khoisan e
a influencia da globalização neste grupo social.

No entanto, uma vez que esta troca pode ser positiva ou negativa e sabendo que o nosso foco
de estudo gira em torno de uma comunidade com características peculiares, dada a sua
história e convivência social, ganhamos o interesse de investigar este tema, para identificar até
que ponto o grupo étnico Khoisan no Cuando Cubango sofreu ou não da influência da
globalização.

Por outro lado e como é sobejamente sabido, forçosamente as pessoas sentem-se obrigadas a
seguir tal “Nova Ordem Mundial” (Globalização), que muitas vezes tem estado a facilitar o
abandono dos aspectos culturais já referenciados. Tendo em conta o contraste que surge sobre
esta situação, motivou-nos a fazer uma abordagem profunda em volta desta situação pois,
2
nenhum povo é insuficientemente fraco a não ter nada para dar à outro povo e, também
nenhum povo é superior em relação ao outro no ponto de vista cultural.

Aliás e do ponto de vista sociológico, nenhuma cultura é superior ou inferior a outra, o que
existem, são na verdade, culturas diferentes.

Do ponto de vista social, este tema tem incidência em todos sentidos da vida, uma vez que o
fenómeno em causa encontra-se na técnica, na arte, na cultural, na ciência e dizer mesmo que
é global.

Outra razão para a realização deste estudo, prende-se com a necessidade de se explorar os
mecanismos e estratégias para se precaver do conflito entre a conservação da cultura e
adaptar-se aos modelos de convivência que a globalização trás, uma vez que desde o
momento que o Estado angolano alcançou a paz em 2002, observa-se uma grande avalanche
de estrangeiros no nosso país, trazendo consigo diferentes culturas.

1.2. Formulação do problema

A partir de 1992 com a implementação da Democracia multipartidária em Angola, que


permitiu a realização das primeiras eleições legislativas na história do Estado Angolano e
sobretudo com o alcance da paz em Abril de 2002, os sinais e ao mesmo tempo os efeitos da
globalização, começaram a se evidenciar.

Como em Angola, verifica-se a diversidade étnica e cultural e que a sua manutenção com o
advento da globalização passou a surgir conflitos de adaptação a este fenómeno por parte do
grupo étnico Khoisan no Cuando Cubango. Assim sendo, surge a seguinte questão:

 Que Impacto trás a Globalização para o Grupo Étnico Khoisan no Cuando Cubango
com o alcance da Paz?

1.3. Formulação de hipóteses

Como resultados da pesquisa desenvolvida ao longo do trabalho de investigação científica, o


tema em estudo, ganhou as seguintes hipóteses:

 A juventude do grupo étnico Khoisan no Cuando Cubango tem desvalorizado o


costume, a tradição e os ensinamentos dos seus ancestrais, em função dos efeitos da
globalização;

3
 A globalização teve um impacto positivo neste grupo-alvo, uma vez que permitiu a
inserção de alguns membros da referida comunidade no sistema normal de ensino,
facto que tem contribuído para a sua melhor civilização e enquadramento social, o que
se atesta pelo facto de muitos destes já terem aprendido a se comunicar em outras
línguas, com destaque para a Língua Portuguesa e participam no processo de
alfabetização nas suas comunidades;
 Fruto da paz e das políticas do Estado angolano voltadas para o reassentamento das
populações, a comunidade em referência, tem sido transferida das zonas longínquas
para mais próximo dos centros urbanos, o que tem facilitado a assistência social a
todos os níveis, através das políticas do Governo angolano;
 No caso dos membros da comunidade Khoisan radicada na localidade do Mbundo,
aonde realizamos parte da nossa investigação científica, podemos constatar, que
contrariamente aos anos anteriores ao alcance da paz, actualmente já existem
residências construídas de blocos de barro e cobertas de chapas de zinco, cujas
imagens estão apresentadas em anexo neste trabalho.

Esta realidade era inimaginável antes do alcance da paz, já que naquela altura e motivados
pelo estilo de vida arcaico herdado dos seus ancestrais, os khoisans, viviam exclusimante em
casas de pau- a-pique, cobertas de capim.

1.4. Objectivos

1.4.1. Objectivo geral

 Compreender o impacto da globalização nas culturas dos povos, mormente dentro do


grupo étnico khoisan do Cuando Cubango.

1.4.2. Objectivos específicos

 Identificar os conceitos da globalização e da etnicidade e fazer a sua co-relação com


os conflitos existentes entre eles na sua aplicação prática;
 Contextualizar o estilo de vida dos membros da comunidade Khoisan no período antes
da globalização e o modo de vida actual;
 Explorar até que ponto a globalização é benéfica ou maléfica para o grupo étnico do
Cuando Cubango.

4
II. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
A teorização é a apresentação dos aspectos chaves, no entendimento dos quais se prende a
compreensão do tema. Desta feita, a fundamentação teórica está presente e sempre como o
capítulo que subsegue o da introdução, pois, apresenta aspectos que norteiam o debate dos
assuntos discutidos no terceiro capítulo; trata-se da teoria que se impõe para o entendimento
prático.

Trazemos ao debate sete itens, nomeadamente as definições de globalização, uma vez que no
tema apresentamos o Impacto da Globalização no Grupo Étnico em referência, conceitos de
cultura, etnicidade, paz, raça, comunidade, património cultural e finalmente uma breve
conclusão fará o fecho do capítulo.

Depois desta resumida apresentação do capítulo, segue-se o item que retrata os conceitos de
Comunidade, uma vez que o grupo étnico Khoisan pode tecnicamente ser resumido em
Comunidade Khoisan.

Uma vez que estamos a trazer uma abordagem profunda em torno do Impacto da
Globalização no grupo ético Kohisan, partiremos do principio segundo o qual, um grupo
social, pressupõe a existência efectiva de uma comunidade, o que permite-nos, fazer antes de
qualquer outra abordagem, uma breve alusão ao conceito de Comunidade, para seguir adiante
com as demais definições que essencialmente vão nortear as principais palavras-chave do
tema em causa.

2.1. Conceitos de Comunidade

O dicionário de Língua Portuguesa, define comunidade como pessoas que vivem agrupadas,
especialmente quando sujeitas a uma regra religiosa, participação em comum, qualidade do
que e comum.

Outra definição, encontrada no Dicionário Integral de Língua Portuguesa, na sua terceira


edição de 2012, conceptualiza Comunidade como qualidade do que e comum, comunhão,
congregação, mosteiro, convento, sociedade, totalidade dos cidadãos de uma região, bem
como grupos de organismos interdependentes que partilham o mesmo meio ambiente e
interactuam em diferentes áreas da vida social.

5
O vocábulo é um substantivo feminino usado em sentidos diversos. É um grupo local, de
tamanha variável, integrado por pessoas que ocupam um território geograficamente definidos
e estão irmanados por uma mesma herança cultural e histórica. Geralmente, a comunidade é
definida como uma unidade constitutiva de uma sociedade mais ampla, mas as sociedades
tribais, que podem ser consideradas protótipos de comunidades, representam muitas vezes
unidades auto-suficientes e serenas.

As comunidades variam quanto ao tamanho e a organização, compreendendo tipos bem


diferentes, podendo ser uma aldeia ou uma grande sociedade. Entre estes dois extremos,
observasse grande número de comunidade intermediárias, onde todas elas apresentam
qualidades comuns com um habitat definido e instituições sociais suficientemente
desenvolvidas para satisfazer as necessidades da população.

O termo comunidade ainda é usado para denominar uma forma de associação muito intima,
um grupo altamente integrado em que os membros encontram-se ligados uns aos outros por
laços de simpatia.

A comunidade é ainda geralmente considerada uma unidade social que partilham algo em
comum, como normas, valores, identidade e lugar em que estão situadas em uma determinada
área geográfica ou não, podendo estar localizadas em aldeias, bairro, cidade, ou espalhadas
pelo Globo.1

Importa realçar, em função do nosso principal objecto de estudo, que o Khoisan é


essencialmente gregário e comunitário. A comunidade, de acordo com Ferdinandi Tonie, no
seu livro intitulado Comunidade e Sociedade, publicado em 1887, “ é o agrupamento de
pessoas unidas em tornos de laços de solidariedade, espontaneidade, irmanados na história e
herança cultural, comungam nas mesmas virtudes e prosseguem um bem comum e gravitam
em torno do consenso moral.” Este espírito comunitário engendra a igualdade a nível das
comunidades Khoisan.

2.2. Conceitos de Globalização

Ostensivamente, baseando-se na pesquisa feita e na imensidão dos conteúdos relacionados a


problemática da pesquisa em abordagem, entendemos não ser tarefa fácil apresentar uma
definição de globalização. Entretanto, é possível explicá-la por meio da observação e

1
https www.significados.com.br comunidade
6
interpretação de vários acontecimentos que vêm ocorrendo no mundo e dos seus impactos da
sociedade humana.

Antes de iniciarmos a discussão dos conceitos de globalização, convém por motivos óbvios,
fazer uma pequena excursão à semântica do termo global para assim traçar o ponto de partida
da análise.

Em consonância com Dicionário Prático Ilustrado Lello de Janeiro de 1997, a palavra Global,
deve ser entendida como referente a algo total, no sentido de conjunto. O que leva a sugerir
que no contexto em que é aplicada, o objecto ou o sujeito a que é associado encontra-se
integrado sem apresentar roptura, divisões ou marginalizações.

De acordo com Sousa (2008), este conceito tem origem anglosaxonica, forjado nas escolas de
gestão americanas, e sinónimo em frança, e mundialização, traduz o extraordinário
desenvolvimento das relações económicas, sociais, culturais e politicas a nível mundial, a
partir dos anos de 1980.

Para este autor, a Globalização, serve para designar um movimento complexo, de abertura de
fronteiras económicas e desregulamentação, que permitiu as actividades económicas
capitalistas, estender o seu campo de acção ao conjunto do planeta. O desmoronamento do
bloco soviético e o aparente triunfo planetário do modelo liberal, no início dos anos de 1990,
acompanhados do desenvolvimento das telecomunicações, Deram a esta noção uma validade
histórica.

A globalização, constitui, assim, uma nova etapa na evolução do capitalismo industrial,


sucedendo a internacionalização das firmas e capitais.

Do ponto de vista económico, a noção de Globalização, integra três fenómenos diferentes: o


primeiro fenómeno é o do desenvolvimento rápido dos mercados financeiros mundiais nos
finais dos anos de 1970, estimulados pela desregulamentação dos mercados financeiros e pelo
aparecimento de novas tecnologias de informação; o segundo fenómeno, é o da mundialização
das actividades das empresas tanto do sector manufactureiro como dos serviços; e o terceiro
fenómeno que é de natureza ecológica, traduzindo uma inquietude geral que se desenvolveu a
partir do final dos anos 1980 (Comercio Internacional).

7
Estes três fenómenos, estão na origem do sentimento de que os poderes públicos não podem
controlar o funcionamento dos mercados, num mundo onde reina a incerteza, a instabilidade
real ou latente.

Segundo a Organização Económica Para a Cooperação e Desenvolvimento (OECP), citada


pelo autor, a mundialização desenvolveu-se em várias fases, a última das quais, a da
Globalização (anos 1980), corresponde a instalação de verdadeiras redes planetárias, graças
ao progresso da tecnologia e dos serviços. Os Estado tornaram-se cada vez mais
interdependentes e prisioneiros do ˵Sistema Mundo˶. Para si, falar da Globalização é invocar a
dominação do sistema capitalista sobre o espaço mundial. Este fenómeno, inscreve-se numa
tendência de submissão progressiva e de todos os espaços a lei do capital, a lei da acumulação
contínua que é a finalidade suprema do sistema capitalista.

Hoje em dia, muitos aspectos da vida das pessoas são influenciados por organizações e redes
sociais, localizadas a muitas distâncias da sociedade onde vivem.

Neto (2011), docente da cadeira de Integração Regional na Universidade de Belas, defende


que a globalização é um processo crescente de abertura das economias nacionais aos fluxos de
mercadorias e capitais estrangeiros, seja pela permissividade das políticas adoptadas pelos
Estados, ou pela uniformidade de tratamento entre o capital nacional e o capital estrangeiro,
com vista a formalização de um mercado global unificado, resultando daí o seu carácter
prevalentemente económico.

Para Robertson (1992), Globalização consiste na compreensão e na intensificação da


consciência do mundo como um todo.

Por seu turno, Giddens (2001), um dos teóricos da globalização que muito tem abordado
sobre este fenómeno e mais tem influenciado o meio académico e científico, define a
globalização reportando-se a:

Efectiva transformação do espaço e do tempo, a chamada acção a distância, cuja a expansão e


intensificação recente se devem ao desenvolvimento dos meios de comunicação global
instantâneos e aos transportes de massas.

Na era moderna, o nível de distanciamento tempo-espaço é menor em comparação com


qualquer período precedente.

8
De acordo com Fredman (1996), a Globalização é o sistema internacional que informa as
políticas domésticas e as relações de praticamente todos os países. O sistema que o autor
defende, sugere-nos então como um processo dinâmico que envolve a inexorável integração
dos mercados, Nações-Estados e tecnologias num grau nunca antes visto - de um modo que
permite aos indivíduos, empresas e às Nações - Estados chegarem em todo mundo mais longe,
mais depressa, com menos custo e mais profundamente que em qualquer outra época e de um
modo que está igualmente a provocar uma poderosa reacção da parte dos que são brutalizados
ou deixados para trás por este sistema.

Lourenço Neto (2011), destaca ainda que com o expansionismo europeu, ocorreu o processo
de Europeização do Mundo. Deu-se assim, a imposição e adopção, em especial da cultura
europeia (hábitos, costumes, ideias e instituições) e do modo de organizar ou estruturar a
economia e o modo de produção.

A globalização refere-se a todos os processos que, nas práticas e nas normas, não são
obstaculizados nem impedidos pelas fronteiras territoriais e jurisdicionais dos Estados
soberanos. Trata-se de um conjunto de acções políticas, económicas e culturais que
objectivam a integração do mundo e do pensamento em um só mercado.

Neste item, depois de ter apreciado as várias definições apresentadas pelos diversos autores
pesquisados, entendemos que qualquer que seja o âmbito no qual se defina globalização,
existem aspectos comuns, entre os quais a unidade - o mundo como parte de um todo: a fusão
de culturas, a proliferação de tecnologias, meios de comunicação e informação que influência
no modo de organização da vida socioeconómica ou seja do capitalismo – também chamada
por mundialização do capitalismo.

Apegando-se aos aspectos supra mencionados, se pode definir globalização como um


conjunto de transformações na ordem política e económica ao nível mundial que vêm
acontecendo em grandes escalas nos últimos anos. O foco da mudança é a integração dos
mercados, com os Estados a abandonarem de forma gradual as barreiras comerciais.

Na vertente financeira, a Globalização, refere-se à possibilidade da circulação do capital pelo


planeta em segundos e suas proporcionas consequências sobre a economia dos países. Embora
muitos analistas e também pessoas comuns apenas encontram vantagens na globalização,
podemos observar também prejuízos, principalmente para os países pobres, que não detêm

9
tecnologias mais avançadas, tornando-se cada vez mais dependentes, dos países ricos
detentores das mais altas tecnologias.

Também é um dos processos de aprofundamento da integração económica, social, cultural,


política, com a redução de custos dos meios de transporte e comunicação no final do século
XX e início do século XXI, permite maiores ganhos para os mercados internos já saturados.

Acredita-se que a expansão do capitalismo, no início do século XIX, pode ser representada
como o marco histórico do início do processo de internacionalização. Processo este que
conduz à crescente integração das economias e das sociedades dos vários países,
especialmente no que tange à produção de mercadorias e serviços, aos mercados financeiros, e
à difusão de informações.

Por outro lado, designa o fenómeno de abertura das economias e das fronteiras, resultante do
crescimento das trocas comerciais e dos movimentos de capitais, da circulação dos homens e
das ideias, da divulgação da informação, dos conhecimentos e das tecnologias,
simultaneamente geográfico e sectorial. Este processo não é recente, mas tem vindo a
intensificar-se nos últimos anos.

Terminada a questão relacionada com os conceitos de Globalização, o item posterior fará


abordagem dos aspectos conceituais da etnicidade.

2.3. Conceitos de Etnicidade

Antes de conceitualizar etnicidade, importa entender o termo etnia para maior compreensão
da temática.

Etimologicamente, a palavra Etnia deriva do grego, que significa povo ou nação e refere-se a
um grupo com grau de coerência e solidariedade, composto por indivíduos com uma
consciência, pelo menos latente, de terem uma origem e interesses comuns, (Dicionário
Universal da Porto Editora, 2012).

No entanto, para Keef (1991), Etnia é um grupo étnico, não é um mero agregado de pessoas
ou um sector de uma população, mas, um conjunto de indivíduos com autoconsciência de si
próprios e unidos ou intimamente relacionados por experiências comuns.

Ainda, para a autora citada, a identidade étnica é muitas vezes confundida com a noção de
etnicidade e diz respeito a uma categoria genética que envolve fronteiras, traços,
10
comunidades, culturas, conflitos, aculturação ou qualquer outro processo de mudança
sociocultural entre os grupos étnicos.

No entendimento de Guest (2004), os grupos étnicos são um fenómeno cultural, embora


possam estar baseados em experiências ou percepções comuns de circunstâncias materiais.
Advoga ainda que segundo a história, os grupos reuniam-se na vontade de gerar estabilidade,
conforto e apoio mútuo, mas infelizmente o presente foi mudando este paradigma.

Um Conceito mais detalhista nos vem de Pignatelli (2010), ao identificar o grupo étnico,
como sendo um conjunto de pessoas que partilham uma identidade colectiva duradoura e
distinta, baseada em traços culturais comuns, tais como etnicidade, linguagem, religião ou
raça e a sua percepção de uma herança comum, experiências partilhadas, ligação a um
território comum e muitas vezes a um destino comum mítico ou não, (Pignatelli, 2010).

Ainda na senda da problemática da identidade étnica, Eric. J. Hobsbawm (1963), destaca a


ligação a um território comum que serve de base para a percepção de uma comunidade
histórica do grupo étnico, bem como serve de referência para o enraizamento das suas
memórias colectivas, heranças e tradições.

Por isso, são muito usadas as histórias míticas que mesmo fora do território são transmitidas
sob forma de uma história nacionalista, lendas e culturas, muitas vezes com tradições
inventadas que servem de elo simbólico, (Hobsbawm,1963).

Este conceito de etnicidade, ficou popularizado na década de 70 quando Glazer e Moynihan


(1975), publicaram a sua obra Etnicidade: Teoria e Experiencia, que segundo Keef (1992), ela
resulta da conjugação de três dimensões:

1ª. Cultural - que envolve traços ou padrões distintivos que são partilhados pelos
membros de um grupo;
2ª. Estrutural - que estabelece as fronteiras ou a oposição dos grupos sociais dentro de
uma sociedade mais ampla;
3ª. Simbólica- que reporta para a identidade étnica e para as diferenças culturais
percepcionadas pelos indivíduos (Keef, 1992).

Relativamente aos conceitos de etnicidade, identidade étnica e grupos étnicos, concorda-se


com os autores em referência ao convergirem nos aspectos como: cultura, hábitos e
consciência comuns, contrariamente àqueles que se enraízam apenas nos aspectos territoriais.
11
Para a ONG MBAKITA, no seu relatório de estudos sobre a comunidade Khoisan, aponta que
etnicidade é um conceito de significado puramente social, consubstanciado nas práticas
culturais e nos modos de entender as diferenças de uma comunidade com outra: os membros
de uma etnia vêem-se a si próprios como culturalmente diferentes dos outros. Por exemplo
por mais que forcemos, os Nganguelas do Cuando-Cubango em Angola sentem-se,
culturalmente diferentes dos Imbindas do Enclave de Cabinda (Angola); estes são totalmente
diferentes dos Shona que por sua vez são diferentes dos Mbalanta, estes obviamente são
diferentes dos Ovimbundu.

Por vezes, mesmo falando a mesma língua, existem traços culturais específicos, por exemplo
entre os falantes do Português de Moçambique, de Angola, do Brasil e de Portugal preservam
traços culturais diferenciadores entre eles.

A etnicidade é a essência do grupo em termos de especificidade, identidade e subcultura da


cultura social global; as características que distingue uma etnia da outra são várias, mas
destaca-se, a história, a ancestralidade (real ou imaginária) a religião, os modos de vestir,
incluindo os adornos, os alimentos exóticos, as tarefas para homens, mulheres e crianças de
forma diferenciada, as autoridades, poder e hierarquia, bem como a organização comunitária e
a família. O transportador principal desses usos e costumes e saberes, é obviamente a Língua
ou as Línguas. Tudo isto define então as tais diferenças étnicas, cuja alma animadora é a tal
cultura, que passaremos a abordar a seguir.

O conceito de Etnicidade tem ligação directa com a existência de grupos minoritários. Nesta
perspectiva, Sousa (2008), define-os como grupo de pessoas de determinada sociedade que
partilha um conjunto de interesses e crenças comuns num leque variado de assuntos, levando
a que necessitem ou desejem um tratamento especial face a maioria. Geralmente, no grupo
minoritário, é possível identificar uma identidade comum, não existindo apenas em oposição a
maioria.

Os grupos minoritários mais importantes em termos políticos, são as minorias raciais,


religiosas e étnicas, que enfrentam um conjunto alargado de desvantagens, dificuldades na
sociedade aonde estiverem inseridos. Muitas vezes estes grupos são afastados ou
subordinados aos interesses dominantes, face as quais necessitam de protecção. Ao falar da
etnicidade, urge a necessidade de fazer abordagem à raça.

12
2.4. Conceitos de Raça

Para Marina Pignatelli (2010), podem ser considerados quatro sentidos de raça,
nomeadamente:

 O primeiro, refere-se à perspectiva biológica, que é uma subespécie2, ou seja uma


variedade de uma espécie, que desenvolveu características distintas pelo seu
isolamento;
 O segundo, diz que outra utilização do termo traduz-se no sinónimo de espécie -raça
humana.
 No terceiro, destaca que a raça pode significar um grupo de indivíduos que são
socialmente definidos em toda sociedade como pertencendo a um conjunto devido a
marcas físicas tais como a pigmentação da pele, textura do cabelo, traços faciais,
estrutura física, entre outros.
 No quarto, faz menção a indivíduos com os mesmos traços culturais. (Pignatelli, 2010).

2.5. Conceitualização de Cultura

Depois de termos aflorado a temática da etnicidade, a seguir impõe-se a discussão dos


conceitos relacionados com cultura, pois, no tema geral constitui um aspecto essencial,
porquanto ao complementar os condimentos conceituais de um grupo étnico, a cultura está
sempre presente.

É assim que de acordo com o Dicionário Universal da Porto Editora (2012), cultura, do Latim
colere, significa cultivar. Genericamente se pode definir cultura como todo complexo que
inclui o conhecimento, a arte, as crenças, a lei, a moral, os costumes e todos os hábitos e
aptidões adquiridos pelo homem não somente em família, mas também na sociedade.

Cada povo tem sua própria cultura, que é influenciada por vários fatores. A cultura se
manifesta na forma de ser e agir no quotidiano. Cultura na língua latina, entre os romanos
tinha o sentido de agricultura, que se referia ao cultivo da terra para a produção, e ainda hoje é
conservado desta forma quando é referida por exemplo à cultura da soja, do arroz, entre
outros.

2
Por causa das confusões e conotações, os biólogos usam o termo subespécie, em invés de raça .
13
O historiador holandês Johan Huizinga (1872-1943), advoga que Cultura também é definida
em ciências sociais como um conjunto de idéias, comportamentos, símbolos e práticas sociais,
apreendidas de geração em geração através da vida em sociedade.

O mesmo autor refere que a principal característica da cultura é o mecanismo adaptativo que é
a capacidade que os indivíduos têm de responder ao meio de acordo com mudança de hábitos.
A cultura é também um mecanismo cumulativo porque as modificações trazidas por uma
geração passam à geração seguinte, onde vai se transformando perdendo e incorporando
outros aspetos, procurando assim melhorar a vivência das novas gerações (idem).

Dessa feita, o conceito de cultura remete para o conjunto de normas, padrões e condições que
definem a forma de actuação e convivência de uma organização ou sociedade (Huizinga,
1872-1943).

Deste ponto de vista, estamos de acordo. O conceito de cultura está sempre em


desenvolvimento e, com o passar do tempo ela é influenciada por novas maneiras de pensar
fruto do desenvolvimento do ser humano.

Filosoficamente falando, a cultura é o conjunto de manifestações humanas que contrastam


com a natureza ou o comportamento natural. É uma atitude de interpretação pessoal e
coerente da realidade, destinada às posições suscetíveis de valor íntimo, argumentação e
aperfeiçoamento. Além dessa condição pessoal, cultura envolve sempre uma exigência global
e uma justificação satisfatória, sobretudo para o próprio povo.

Já do ponto de vista antropológico, a cultura é compreendida como a totalidade dos padrões


apreendidos e desenvolvidos pelo ser humano. A cultura como antropologia tem como
objetivo representar o saber experiente de uma comunidade, saber obtido graças à sua
organização espacial, na ocupação do seu tempo, na manutenção e defesa das suas formas de
relação humana. Estas manifestações constituem aquilo que é denominado como a sua alma
cultural, os ideais estéticos e diferentes formas de apresentação.

Nas matérias de cultura, envolve de certa forma questões referentes à civilização, definida
segundo Johan Huizinga (1872-1943), como o conjunto de caracteres próprios da vida social,
política, económica e cultural de um país ou região. É o acto ou efeito de civilizar-se, ou seja,
de tornar-se civil, cortês e civilizado.

14
Ainda para o autor em referência, a civilização é o estado de cultura social, caracterizado por
um relativo progresso no domínio das ciências, da religião, da política, das artes, dos meios de
expressão, das técnicas econômicas e científicas, e de um grau de refinamento dos costumes.

Daí, pode se tirar o entendimento que as civilizações foram se formando ao longo de


diferentes épocas e são estudadas através da análise e interpretações dos historiadores que
utilizam os vestígios deixados pelo homem, entre eles, restos arqueológicos, monumentos,
tradições e documentos escritos que são fundamentais para o conhecimento da história de uma
civilização.

Segundo o historiador holandês supra referenciado, só é possível se vislumbrar a existência de


uma civilização quando são preenchidos três requisitos primordiais:

1. Certo grau de domínio da natureza física através de boas técnicas científicas e


industriais;
2. Um indispensável equilíbrio entre esse progresso técnico e esse domínio do homem
sobre a natureza física, um correspondente progresso moral e o domínio do homem
sobre a sua própria natureza espiritual.
3. A existência de um ideal comum, como característica da feição espiritual de uma
época ou de um povo (Huizinga, 1872-1945).

A tradição, para muitas religiões é o fundamento conservado de forma oral ou escrita, dos
seus conhecimentos acerca de Deus e do Mundo, dos seus preceitos culturais ou éticos.

No caso do catolicismo, por exemplo, existe a diferenciação entre a tradição oral e a escrita,
sendo que as duas são consideradas fontes comuns da revelação divina. Essa doutrina foi
definida como dogma da fé nos Concílios de Trento em 1546, do Vaticano I em 1870 e do
Vaticano II em 1965.

Portanto, uma tradição pode ser interpretada de várias formas e ainda nos dias de hoje há
contradições entre teólogos protestantes, católicos e ateus.

De acordo com o tratado da Area Transfronteiriça de Conservaçao do Kavango Zambeze


(ATFC-KAZA), aprovado em Luanda, capital da Republica de Angola a 18 de Agosto de
2011, pelos presidentes dos paises signatarios, nomeadamente Angola, Botsuana, Namibia
Zambia e Zimbabwe, O Património Cultural, é qualquer propriedade física e espiritual
associada com o uso humano passado ou presente, actividades culturais e históricas, bem
15
como a cultura intangível tal como folclore e artes interpretativas, nomeadamente a narração
de histórias e drama.

Todo o processo de mutação e fluidez da modernidade fez com que o conceito de identidade
cada vez mais extrapolasse o campo da lógica e da metafísica1 para se fazer mais existencial,
psicológico, sociológico e, sobretudo, antropológico.

O facto é que no campo da análise em que cultura é entendida como coisa dinâmica, não
estática e sempre mutável, o conceito de identidade como característica do que permanece tal
como é (embora possa ser percebido como múltiplo) não daria conta de explicar fenômenos
que se constroem no mundo sociocultural marcado pelo dinamismo das construções fluidas,
que como tais são perenes de lutas de representações (CHARTIER, 1990) que marcam
simbolicamente a identidade e delimitam poder de inclusão ou exclusão. Assim na
compreensão dos objetos da cultura o conceito de identidade não vem assumindo o sentido de
idêntico, igual e permanente, mas sim do que é contraditório múltiplo e mutável.

Teorias de identidade se fundam na cultura e considera-se que cultura é apreendida, dinâmica


e compartilhada; ambas estão ligadas e ganham sentido no universo das relações sociais.
Cultura e identidade são pertinentes, pois cultura não só é um produto, da vivência dos
homens, é também um processo dessa produção. E Identidade é constituída sempre em uma
certa relação com o onde o homem está situado; nessa relação o homem se define. As
condições de existência do homem são aquilo através do qual ele se constitui. Então, o
homem se dá sempre por perspectivas e ou delimitações.

Observa-se que os conceitos de cultura são variados e divergentes em relação ao primado do


mundo natural (habitat) ou social, material ou simbólico na formulação das ideias sobre as
culturas humanas.

Deve-se observar as concepções ideológicas de cultura, comportamento o cultural e natureza,


enquanto construções da civilização ocidental, pois entende-se que esses variados conceitos
foram constituídos historicamente pelas diversas sociedades, podendo servir-lhes como
linguagens de poder/legitimação.

Considerando a complexidade de uma conceituação de cultura, pode-se apenas levantar


aspectos importantes na construção desse conceito em relação ao referencial de identidade.

Sendo assim, no conceito de cultura deve ser considerado que:


16
 Na distinção entre os mundos - da natureza, homem e sociedade, tratamos da cultura
como conceito que implica uma relação dialética entre esses mundos;

 Que o homem é um ser de transformação e não em adaptação;

 Tratamos dos fatores culturais, reportados aos valores e comportamentos sociais,


enquanto produtos de contextos sociais e históricos;

 Ser (a cultura) processo de produção do homem e sistema conceitual - aquele que


permite aos homens a compreensão da realidade social.

2.5.1. Natureza e cultura

O objecto específico da pesquisa antropológica é o homem. A antropologia física estuda as


formas e as estruturas do corpo humano. A identidade cultural indaga o significado e as
estruturas da vida do homem como expressão da sua actividade mental. É este segundo tipo
de pesquisa que nos interessa: actua numa multiplicidade de ramos que formam as
especializações da antropologia cultural.

As manifestações da actividade mental do homem são expressões de escolhas determinadas


que o homem faz para organizar a própria vida. São elas que constituem a cultura. Nas suas
escolhas, o homem é condicionado pela sua constituição de indivíduo, pelas relações que o
ligam a outros indivíduos com os quais comparticipa a sua vida e a natureza mais vasta que o
circunda e dentro da qual está incluído.

2.5.2. A Natureza, fundamento da cultura

As Acepções antropológicas do termo e do conceito de natureza têm um valor aproximativo


de referência e são múltiplas.

Natureza é, antes de mais, o universo como totalidade cósmica, visível e invisível, dentro do
qual o homem está imerso. É necessário acentuar a totalidade do cosmos; inclui as coisas, os
seres, os animais, os homens e as forças – conhecidas e desconhecidas- que os regem.

A constituição natural do homem apresenta-se sob uma forma dupla devido à diferenciação
dos sexos. A distinção entre o homem e a mulher é um factor natural; não um produto de livre
escolha do homem. Este vê-se, assim, perante uma distinção que não se pode deixar de aceitar
e que deve, também, respeitar.

17
Não é fácil traçar a linha limite entre natureza e cultura. Em geral, sublinha-se que a natureza
é regida por leis universais fixas; é universal, constante, não dá saltos, evolui gradualmente. A
actividade cultural do homem procede por forças e vias mais complexas, por altos e baixos,
quase por sístole e diástole, segundo a escolha livre do próprio homem.

A cultura assenta necessariamente sobre a natureza. Se, portanto, se quer compreender a


fundo o complexo fenómeno da cultura, convém não descurar o fundamento natural que
permite ao homem desenvolver a actividade mental e criar a cultura. Por essa mesma razão,
Malinowski e outros antropólogos como ele viram que era necessário seguir o caminho das
“necessidades naturais” do homem para analisar as interpretações teóricas e as instituições
correspondentes que concorrem para formar a cultura (Malinowski, 1944). A actividade
cultural é considerada uma prerrogativa do homem, até em confronto com os animais
chamados sociais e sobretudo com os primatas, embora aos últimos se reconheça uma
actividade pré-cultural para alguns fenómenos de imaginação na busca de comida. Pode,
portanto, afirmar-se, com uma ulterior acepção do termo, que a natureza do homem é a
cultura, ou seja, que o homem, pela sua própria natureza, produz a cultura.

2.5.3. O Significado antropológico de cultura

Correntemente, utilizam-se dois significados para o termo cultura: um, humanístico; outro,
antropológico. O significado humanístico, de âmbito limitado e restritivo, é tradicional e
comummente usado. O significado antropológico nasceu com o aparecimento da antropologia
científica e só lentamente se vai introduzindo no uso comum.

O sentido humanístico de cultura refere-se ao processo de conhecimento mais ou menos


especializados, adquiridos mediante o estudo. É sinónimo de conhecimento e doutrina. Neste
sentido, o homem culto é aquele que completou estudos superiores, que leu muito e que
possui conhecimentos sistemáticos; a um homem que leu devidamente chamam os ingleses a
well read man. No significado humanístico permanece implícito um sentido de distinção, de
superioridade, em contraste com os homens comuns. A condição de homem culto é uma
condição de privilégio, ou mesmo de singularidade; o homem da rua não é um homem culto.

A antropologia começa por estudar os costumes e as tradições dos povos, exactamente


porque, “sem cultura”, se concluiu logo de início traduzir inexactidão e insuficiência do
conceito humanístico. Perante o valor e a originalidade dos conhecimentos e das instituições
18
destes povos, embora bastante diversos, nasceu a necessidade de um conceito diferente de
cultura de modo a não excluir quaisquer povos e indivíduos que, pelo menos, são tão ricos de
pensamento e dignidade social, segundo a elevada opinião dum grande etnólogo que foi
Marcel Griaule (1963), como os antigos pré – socráticos.

A primeira formulação do conceito antropológico de cultura pertence a Edward B. Tylor,


segundo o qual a cultura é o complexo unitário que inclui o conhecimento, a crença, a arte, a
moral, as leis e todas as outras capacidades e hábitos adquiridos pelo homem como membro
da sociedade (Tylor, 1871). Esta definição ficou clássica na antropologia e continua ainda a
ser tomada como base de discussão. A perspectiva de Tylor era evolucionista; considerava, de
facto, os primitivos aos níveis mais baixos da cultura. Mas, com a sua definição, pôs as
premissas teóricas para superar o preconceito sobre a existência de povos sem cultura,
inferiores e rudes, parados nos primeiros degraus da evolução cultural, e para reconhecer em
todos os homens uma problemática idêntica, mas com interpretações originais e
características próprias de toda a tradição cultural e social.

2.5.4. Sentido etimologico da cultura

Etimologia:

Do latim Colere (colo –is –ere –colui –coltum) que significa cultivar e cuidar. Expressa a
relação activa e estável a um lugar:

Agrícola = cultivador da terra,

Incola = morador,

Colonus = quem cultiva,

Colónia = o local cultivado

 Colere terram, é o primeiro sentido de cultura: Agricultura = cuidar a terra.


 Colere deos loci: cultus deorum = cuidar os deuses da terra.

História:

Na idade média: estes dois significados encontram-se no ideal do centro de cultura, isto é, nos
mosteiros: ora et labora.

19
No renascimento: com a noção de humanistas se desenvolve um terceiro significado: cultivar
o espírito. Pelo que temos:

Cultura: a) cultivar a terra

b) cultivar o espírito

Na França, uso da palavra civilisation, no contexto do Iluminismo.

Na Alemanha, o termo é: kultur: função regulativa, conteúdo ideológico.

Desde a segunda metade do século passado: desenvolver das ciências positivas

A definição mais plausível que vamos ter em conta nesta disciplina será a de Edward TYLOR
(o pai da antropologia moderna) já vista anteriormente.

Também podemos assinalar outras definições como a de George Di NAPOLI (antropólogo


americano, professor na U. Gregoriana de Roma): “conjunto de significados e valores
partilhados e aceites por uma comunidade”.

Temos uma outra definição que seria: “a maneira de viver de um grupo humano, valores e
comportamentos”.

Explicação:

É a cultura que distingue o homem dos outros animais: por mais perfeito que os animais
façam o ninho… A diferença está na consciência que está presente no acto humano.

A cultura, é uma tarefa social e não um assunto individual. É um conjunto de experiências


vividas pelo homem através da história.

Ela, é adquirida pelo homem através de um processo de aprendizagem = socialização /


enculturação (distinguir de outras noções tais como inculturação, aculturação, transculturação,
adaptação…).

A cultura, pertence à comunidade, ao grupo social de que o indivíduo é membro, pelo que ela
não depende do indivíduo mas sim da colectividade.

Ela, é um modo de pensar e de agir, um modo de o indivíduo, os indivíduos se manifestarem.


Também depende do ambiente, do local geográfico e até do clima.

20
Ela condiciona em grande parte o sentimento, o comportamento e a forma de ver do homem à medida
que se adapta ao seu mundo.

2.5.5. Como se processa a relação Homem/Sociedade?

Segundo Berger e Luckmann (1973), o homem é tanto um ser da natureza como da sociedade.
Coexistem permanentemente animalidade e socialidade, numa relação dialéctica. Essa
condição humana se manifesta em cada indivíduo.

A dialética apresenta-se entre o ser individual e o mundo sócio e historicamente estruturado,


assim como entre o ser biológico e sua identidade socialmente produzido. A dialética
manifesta-se, também, no funcionamento e na limitação mútua do organismo e da sociedade"

Sendo a relação natureza/mundo uma relação dialéctica, o homem produz a realidade,


construindo e habitando um mundo com outros homens, tornando este mundo sua realidade
definitiva e dominante, ao mesmo tempo em que o mundo atua sobre a natureza,
transformando o homem, determinando a atividade humana, a consciência do sere, até
mesmo, o funcionamento do organismo biológico humano. Sendo assim, o processo de
humanização do homem é variável em sentido sociocultural, ou seja, "a forma específica em
que esta humanização se molda é determinada por essas formações socioculturais, sendo
relativas às suas numerosas variações. Ou ainda, "o homem produz a realidade e com isso
produz a si mesmo". Produto dessa dialética, a formação do homem deve ser "compreendida
em relação com o contínuo desenvolvimento orgânico e com o processo social" no contexto
particular em que ocorre.

2.5.6. A Questão da identidade.

No processo de interação homem/mundo interessa-nos a dialética que produz identidade.


Segundo Bergere Luckmenn (1973), identidade é:

 Um fenómeno que se cristaliza/cristalizável, importante da realidade subjetiva; e está


em relação dialética com a sociedade;

 Uma relação Dialéctica por ser formada por processos sociais determinados pela
estrutura social e que, ao cristalizar-se, é mantida ou modelada pelas relações sociais;
sendo que, tais identidades reagem sobre a estrutura social podendo modelá-la.

21
Retomando as ideias inicialmente apresentadas, as identidades se produzem pelas interacções
do organismo, da consciência individual e da estrutura social, das quais emergem as
identidades individuais e os tipos de identidade ou identidades tipificadas.

Assim como identidades particulares emergem no curso da história das sociedades, os tipos de
identidades são engendrados por estruturas sociais históricas particulares. Podem ser
observados na vida cotidiana, reconhecíveis em casos individuais, verificáveis como tal
(tipifica) ou refutados no nível pré-teórico pelos homens comuns.

2.5.7. O Que é a cultura san?

A cultura é o bilhete de identidade de um povo, também entendida como o seu “ethos”, ou


seja, o conjunto de características que o diferenciam de qualquer outro. Hoje, no mundo
globalmente multicultural, a tendência de glotofagia das ‘maiores’ culturas às ‘menores’ é
iminente.

Em Angola, apesar de não existirem dados oficiais actualizados sobre o úmero exacto de
Khoisan, sabe-se que das 18 províncias, apenas três os albergam: Huíla, Kunene e Kuando
Kubango. Deste facto, presume-se que a sua cultura tenha sofrido alterações e/ou influências:
primeiro, pelo facto de o seu território ter sido invadido; por ter migrado para locais mais
seguros durante a guerra civil e, por fim, porque o seu modus vivendi nómada foi fortemente
influenciado pelas mutações políticas do período conflituoso e, muito provavelmente, pelas
mutações da natureza: seca, desertificação, extinção de espécies animais e outros factores
exógenos.

Estas afirmações, ainda que hipotéticas por carecerem de mais investigação, podem ser
legítimas, na medida em que até agora há poucas investigações para o apuramento das
alegações feitas supra.

Apresentados os conceitos de cultura, passamos a dissertar aspectos que se relacionam com o


tema sobre a paz, já que com o alcance desta e os seus benefícios, a cultura em estudo sofreu
grandes influencias.

2.6. Contextos da Paz

O item sobre paz que introduzimos neste trabalho, não vem exactamente porque queremos
chamar atenção ao antónimo: guerra, apesar de que de certo modo, ao falar de um, implicaria

22
necessariamente evocar outro. Como já referenciado no desfecho do tema acima debatido,
pensou-se em falar de paz no trabalho, visto que o isolamento do grupo étnico em estudo, está
intrinsecamente ligado à ausência dela (a paz).

O conceito de paz, tem evoluído na história recente da humanidade. Por exemplo a paz não é
mais a simples ausência da guerra ou a condição resultante do equilíbrio do poder entre as
superpotências bélicas. Um novo conceito para paz está na cooperação entre os povos,
objectivando o fim da violência estrutural e da predisposição para a guerra.

O autor Ainda faz menção que a palavra paz, usualmente, significa a ausência da guerra. Os
termos guerra e paz seriam, nesse caso, opostos ou antónimos. São, portanto, situações
extremas. E estão, de fato, situadas em polos opostos. Mas entre uma e outra existem
situações e estágios intermediários.

Um conceito abrangente nos vem de Galtung (1995), o autor aponta os conceitos de paz
negativa e positiva, sendo a paz negativa a mera ausência da guerra, o que não elimina a
predisposição para ela ou a violência estrutural da sociedade. Relacciona a paz positiva à
ajuda mútua, educação e interdependência dos povos. A paz positiva vem a ser não somente
uma forma de prevenção contra a guerra, mas a construção de uma sociedade melhor, na qual
mais pessoas comungam do mesmo espaço social.

Concordando com Galtung, evolui-se da polarização guerra e paz para, no mínimo, três
estágios distintos: a guerra, a paz negativa e a paz positiva. Uma maior reflexão ainda se faz
necessária sobre as situações que envolvem guerra e paz.

De igual modo, Galtung (1995), o estudo da paz é, notoriamente, multidisciplinar e complexo.


A coexistência de tendências díspares do pensamento nas Ciências Políticas dificulta ainda
mais a compreensão e o trabalho de análise sobre o significado real de paz. Desse modo, a
ideia principal é tentar listar alguns conceitos relevantes nas Ciências Políticas, oferecendo
uma base teórica para quem se predispor a estudar o tema sobre a paz.

O autor alude que a paz negativa, simplesmente, implica a inexistência da guerra e da


violência, o que, necessariamente, não se traduz em cooperação entre povos e nações. Ao
contrário, a eventual predisposição para a guerra e a rivalidade entre as nações e a falta de
cooperação podem continuar a vigorar na paz negativa. A paz negativa é, portanto, omissa em

23
relação aos problemas mundiais, pois visa, quase exclusivamente, à solução dos problemas
locais, ou seja, do Estado singular (Galtung, 1995).

O célebre autor, avança que paz positiva, por outro lado, implica, além do abandono
definitivo da ideia de guerras e de rivalidade, a ideia de cooperação entre povos e nações com
vistas à interacção da sociedade humana. Essa verdadeira paz é consequência de acções contra
a violência e a guerra, através da protecção dos direitos humanos, do combate às injustiças
socioeconómicas, do desarmamento e da desmilitarização.

No caminho da verdadeira paz, Galtung propõe a necessidade de uma educação para a paz.
Para ele, a violência é estrutural e deriva dos conflitos resultantes das disparidades e tensões
socioeconómicas. A violência não é inerente ao ser humano, mas produto de sua cultura,
criando a necessidade da formulação e do aprendizado da convivência pacífica, por meio de
uma educação para a paz.

Galtung (1996), afirma: ˝Nós temos uma tendência para garantir que os pais tenham o direito
de educar suas crianças em sua própria cultura nacional, incluindo sua própria língua e
religião e nos mitos de sua própria nação, tanto em glórias quanto em traumas˝.

Ninguém irá negar-lhes o direito de agir dessa forma. Mas os pais, no futuro, não terão o
direito de fazer somente isso, pois educar suas crianças somente dentro dos princípios de sua
própria nação é algo totalitário e, até, constitui uma forma maior de lavagem cerebral. ˝Dos
pais de amanhã, nós esperamos não somente a tarefa de propagar sua própria cultura e língua,
mas também que abram as janelas e as portas para outras culturas e línguas. Desconhecer
outras culturas, segundo o professor Galtung, será, em breve, como desrespeitar a cultura
alheia, será algo comparável a ter maus modos.

Kofi Annan, na sua mensagem por ocasião do lançamento do Ano Internacional da Cultura da
Paz, em 2000, afirmou que o principal mandato das Nações Unidas versado em preservar as
gerações futuras do flagelo da guerra – mantém tanta validade hoje quanto no tempo em que
essas palavras foram escritas.

Mas, Kofi Annan, antigo Secretário-Geral das Nações Unidas (1997-2007), concorda que a
verdadeira paz é muito mais do que a ausência de guerra. É um fenómeno que envolve
desenvolvimento económico e justiça social. Supõe a salvaguarda do ambiente global e o

24
decréscimo da corrida aos armamentos. Significa democracia, diversidade e dignidade;
respeito pelos direitos humanos e pelo Estado de Direito e Democrático e muito mais”.

O Órgão das Nações Unidas Para Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) também herdou
este entendimento da paz como processo social e pessoal, ao estabelecer na sua carta
constitutiva que dado que a guerra começa na mente dos homens, é na mente dos homens que
se devem construir as defesas da paz.

2.7. Comentarios sobre a fundamentação teórica

Para dar por concluir este capítulo, sendo tão importante em qualquer obra científica no
sentido que chega a ser o elemento norteador e orientador para o capítulo da prática, temos a
aferir que os conceitos apresentados na visão dos autores pesquisados, poderão sim nos
conduzir a compreensão de uma forma geral o tema sugerido.

É importante dizer que as palavras-chaves para este trabalho foram bem decifradas e definidas
e que estamos certos de que levar-nos-ão a compreensão aceitável em relação ao tema
discutido. Conceituou-se a globalização, uma vez que vai se questionar o seu impacto no
grupo étnico em estudo, da etnicidade por ser a questão fulcral do tema, a cultura como uma
das características dos grupos étnicos e da paz porque é o elemento de sossego em todos
agrupamentos sociais.

Terminada a abordagem sobre a fundamentação teórica, o capítulo subsequente vai referir-se


ao impacto que a globalização causou ou causa ao grupo étnico Khoisan no Cuando Cubango.

25
III. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO

Nesta temática, apresentarmos assuntos atinentes a discussão do presente capítulo, por meio
de uma caracterização pormenorizada do grupo étnico Khoisan no Cuando Cubango,
começando por uma resenha histórica, para um melhor enquadramento no presente.

Antes de passarmos em detalhes das questões que vão nortear este capítulo, pensamos em
começar com uma pequena introdução, por formas a abrir o entendimento do leitor sobre a
nossa pesquisa.

Assim, neste capítulo poderemos analisar pormenorizadamente matérias de ordem prática,


relativamente as que constituem o âmbito da nossa investigação.

Tal como observamos na parte introdutória, neste capítulo discutiremos quatro itens,
alinhados em subtemas nomeadamente a caracterização do grupo étnico Khoisan no Cuando
Cubango, o imapacto da globalização no grupo em destaque, a reacção dos jovens aos efeitos
da globalização e a influência da paz na expansão deste fenómeno no Cuando Cubango.

3.1. Breve resenha histórica sobre os khoisans

De acordo com o escritor José Jaime (2014), os Khoisans são descendentes dos primeiros
habitantes de África, tendo acrescentado que os arqueólogos acreditam que a origem destes
povos data dos primeiros “Homo Sapiens” que ocuparam a África Austral durante pelo menos
150.000 anos a.C. nessa época, todos humanos eram recolectores e caçadores.

Ainda o mesmo autor, diz que o tecido humano e sociocultural desta região africana, onde se
insere Angola é bastante complexo e diversificado, desde o eixo sociocultural Bantu, e os seus
grupos etnolinguísticos e povos, ao eixo sociocultural não Bantu constituído por diferentes
povos, Vatua, Khoisan que, segundo a história são os habitantes mais antigos do actual
território angolano.

Este autor continua afirmando que, os povos Khoisan fazem partes dos agrupamentos
humanos minoritários, as chamadas minorias étnicas. Estes vivem, particularmente, numa
situação de desvantagem histórica, social, económica, demográfica e cultural, ou seja
enfrentam ainda as consequências da invasão, dominação e ocupação do seu espaço pelos
Bantu, desde a era pré-colonial à colonial, da descriminação e da exclusão social a que foram
sujeitos durante a colonização portuguesa e, finalmente, no período pós-independência, além

26
das marcas deixadas pela guerra fratricida, não foram concedidas e implementadas políticas
públicas e legislação que tivessem em conta as suas especificidades, as suas particularidades e
a igualdade de direitos que deveriam ter (Jaime, 2014).

Para José Redinha citado por Jaime (2014), refere que os Khoisans constituem um grupo
étnico minoritário em Angola. Minoritário porque tem menos população em relação ao povo
Bantu. Representa menos de 10% da população de todo país.

Dados apontam que os Khoisan vivem na África Austral há mais de 100.000 anos a.C.
segundo a história, os Khoisan representam uma tribo que desde os primeiros anos, habitou
Angola, em especial a província do Cuando Cubango. As investigações não confirmaram até a
data, de onde e quando vieram. Sabe-se, apenas, que durante o processo migratório das
comunidades, a tribo Bantu quando veio ao centro de África já encontrou os Khoisans a
viverem no Cuando Cubango.

3.2. Caracterização do grupo étnico khoisan no Cuando Cubango

Dentre outras comunidades que habitam a província do Cuando Cubango, os Khoisans


representam um pequeno grupo de cerca de 7.895 pessoas, que vivem em 22 comunidades,
concretamente, nos municípios de Menongue, Cuito Cuanavale, Nancova, Rivungo, Dirico
Calai, Cuangari e Mavinga.

 Em Menongue os Khoisan estão nas sedes comunais do Missombo, Caiundo e Jamba


Cueio;
 No Cuito Cuanavale, localizam-se na sede, baixo longa, Longa e Lupiri;
 Em Mavinga podem encontrar-se na sede municipal e nas comunas do Cutuilo e
Luengue;
 No município do Calai situam-se na sede de Mavengue e Mawé;
 No Nancova encontram-se na sede e na Comuna do Rito;
 No Cuangar estão na sede municipal, Savati e no Catuitui-Bondo;
 No Rivungo pedemos encontrar os Khoisan na sede, Luiana/Jamba e
Neriquinha/Chipundo;
 No dirico os Khoisan estão na sede, Chamavera e no Mucusso.

Os seus membros genuínos têm características diferentes do povo Bantu, eles apresentam uma
estrutura pequena (raquítica) com uma coloração semelhante a do óleo de palma, cabelo
27
encarolado e rijo. Tiveram, desde sempre um modo de vida nómada devido aos seguintes
factores:

1. Guerra e combates;
2. Morte de alguns dos seus membros;
3. Escassez de alimentos;
4. Conflitos raciais ou com outras comunidades da tribo Bantu.

A sua vida afectiva era muito acautelada, factor que preservava a sua integridade cultural,
evitando a exclusão social e temendo a sua extensão nesta região. O seu comportamento
assentava, basicamente na relação humana.

Esta tribo encontra na conservação da sua etnia, a melhor forma de honrar a sua cultura e para
a consolidar, eles procuram casar entre si. Um processo que continua nas comunidades menos
desenvolvidas, onde o mito de que um membro desta tribo não pode casar com outro da tribo
Bantu está enraizado.

Por exemplo, nas comunidades referidas no parágrafo anterior, as meninas são “ocupadas”
pelos companheiros a partir da tenra idade, não importando a diferença de idade entre eles. A
medida que ela vai crescendo vai sendo acompanhada pelo futuro marido que,
antecipadamente se apresenta aos seus pais.

Para formalizar a relação amorosa com os futuros sogros, o jovem convida os seus familiares
e faz-se acompanhar com o produto do campo como mel, carne de caça, milho e outros
produtos que eventualmente aparecerem, para a cerimónia de alembamento. A partir daquele
momento, a menina jura fidelidade e passa a ser controlada pelos seus familiares até atingir o
seu primeiro ciclo menstrual.

Depois de cumprir os rituais da tribo, a jovem deixa de viver com os seus pais para se
transferir para casa do esposo e começar com normalidade uma nova vida conjugal. A partir
dos 12/13, a menina camussequele começa a vida de mãe.

Além das características mencionadas acima, realçam-se também as de carácter cultural tais
como, eles (Khoisan) são facilmente identificados, não apenas pelas suas características
físicas (tez da pele com tonalidade amarelada, estrutura baixa, cabelos encaracolados, olhos
com pálpebras que cobrem o ângulo interno) mas, sobretudo pela sua forma de falar, pelos
estalidos da língua que produzem na zona dental, labial e palantal. São os famosos cliques.
28
O relatório produzido pela Organização Não Governamental, denominada Missão de
Beneficencia Agropecuária do Kubango, Inclusão, Tecnologia e Ambiente (MBAKITA),
sobre o Estudo do Património Histórico da Etnia Minoritária Khoisan em Angola, afirma que
do ponto de vista linguístico, as suas falas pertencentes às famílias linguísticas KHOISAN se
destacam as línguas Nama, Kwadi, Kung-ekoka e Sandawe.

As línguas KHOISAN caracterizam-se pelo uso de consoantes cliques como fonemas - a


língua Kung-ekoka possui mais de 50 consoantes cliques em mais de 140 fonemas separados.
Derivando de sua fala, em cliques, os Holandeses colonialistas que exploraram o Sudoeste
Africano até o Cabo, os designaram por de Hotentotes (significando em língua holandesa
(neerlandês), pejorativamente de gagos); e os SAN por viverem ligados às florestas caçando e
colhendo frutos alimentícios, foram igualmente alcunhados (pejorativamente) pelos ingleses
de homens da selva ou homens das florestas (bushmen) cujo aportuguesamento enraizou-se
nos termos bosquímanos ou boximanes.

3.3. O poder, o igualitarismo e o patrimonio nas comunidades khoisan

Ao nível das comunidades KHOISAN, a igualdade é concebida como sinónimo de justiça,


paridade, uniformidade, solidariedade, amor à paz e a irmandade. Promover igualdade a nível
da comunidade, é combater o diferente, portanto, o inimigo de todos. Essa igualdade deve
existir sob várias categorias e que podemos identificar como ponto prévio:

a) A igualdade formal: na relação entre os indivíduos KHOISAN firma-se uma relação


de igualdade entre indivíduos ou grupos sociais, que se estabelece por meio de
categorias abstractas (humanidade, dignidade, partilha, respeito, solidariedade e
irmandade) o KHOISAN não se rege por alguma lei escrita, mas sim normas de
conduta inscritas no código de convivência que prescrevem direitos e deveres
formais e informais;
b) Igualdade material: na relação entre os indivíduos KHOISAN estabelecem-se um
volume equitativo dos bens materiais, isto é, relação de igualdade entre indivíduos e
grupos sociais, e que se estabelece pela mediação de condições concretas, assim
como as que asseguram a cada indivíduo a plena satisfação das suas necessidades;
c) Igualdade moral: as comunidades KHOISAN sobrevivem e perduram no tempo e no
espaço comungando nos mesmos princípios fundamentais personalistas. São todos
portadores dos mesmos direitos e mesmos deveres para com os indivíduos e a

29
comunidade. Este consenso moral produz uma perfeita organização comunitária sem
anomia, sem comportamento desviante e sem desorganização social. “A igualdade
fará desaparecer a preguiça, a brutalidade, a ignorância e a dureza da vida bem
como a inveja. Trará progresso na comunidade e perfeição nos métodos de
sobrevivência”.

Na base dessas três tipologias de igualdade, teremos sobeja razão ao tirar ilação de que o
KHOISAN é o protótipo do comunismo igualitário e o senso gregário mais perfeito. Essa,
igualdade enforma a irmandade, o amor, a solidariedade: a IGUALDADE é considerada como
o Património Cultural Supremo do KHOISAN, em relação outros patrimónios considerados
supérfluos como a economia, o entretenimento e o ritual.

Assim, o primeiro ponto crucial da análise da vida comunitária KHOISAN é o património


cultural. O KHOISAN não é proprietário de activos financeiros, não possui grandes terras a
ele tituladas, não possui carros, nem aviões, nem navios, nem empresas que gera liquidez.
Não possui fábricas e acúmulos de bens em jóias e pedras preciosas. O KHOISAN não
explora recursos minerais para acumular capital contável. O Caçador KHOISAN caça para o
consumo imediato, não comercializa produtos da sua caça.

O KHOISAN não escreve poesias, nem romances, não possui um cancioneiro, nem
instrumentos musicais nem escolas de orquestras. Só por aqui seria desprezível qualquer
reflexão sobre património cultural aplicado ao KHOISAN. A pergunta seria: é património
cultural de quê? Tudo isto mencionado aqui, é um tipo de património aplicado no conceito
ocidental e na civilização Bantu consagrada nos códigos e leis de que Angola se rege.

Quando olhado de fora, percebemos logo que o KHOISAN por não possuir estes bens
materiais e imateriais não possui o património cultural ou património económico. É de facto
um erro crasso! É um equívoco culpável. O KHOISAN é detentor de património a todos os
títulos: património cultural, património económico, património simbólico, património
histórico, património genético, património cognitivo, etc. por isso sobrevive de geração em
geração, transmitindo heranças culturais, patrimoniais e valores, graças aos quais o uno da sua
simplicidade e a essência de si mesmo perdura há milhões e milhões de anos. Sem a cultura o
KHOISAN deixaria de existir. O KHOISAN não iria resistir, o KHOISAN não sobreviveria à
falta de cultura e esta cultura que o vivifica.

30
O território do KHOISAN estudado no Cuando-Cubango, pelo menos, é cerca de 150.000
quilómetros quadrado correspondente às florestas que albergam 8 dos 9 municípios do
Cuando-Cubango, perímetros em que o KHOISAN reivindica sua territorialidade onde busca
suas realizações ancestrais. Este território não o fora outorgado por nenhum Estado
conhecido, não solicitou algum título de propriedade e reivindica esse território como legado
da natureza e talvez de um ente superior ao Estado.

Nesse património territorial realiza caça de antílopes (zebras, javalis, búfalos, elefantes,
jibóias, leões, hienas, mabecos, porco-espinho, impalas, lebres, veados, pássaros, girafa, papa-
formigas, pacaça, nguelengues, palanca-castanha, entre outros). Neste património territorial
efectua a recolecção de frutos silvestres (mangongo, meto, makolos, etc) estes alimentos, para
os KHOISAN do Cuando-Cubango constituem 85% das suas dietas alimentares ao passo que
outros 15% são obtidos do mel silvestre que colhem no seu património territorial.

Os três bens alimentares: carne de caça, frutos silvestres e mel silvestre fazem o seu
Património Economico, dispensando terminantemente o petróleo e o diamante, de que seu
território também indicia presença.

Do mesmo território extrai raízes para a cura de doenças perigosas como lepra, epilepsias,
infertilidades e impotências sexuais, oxiúros, feridas crónicas, tuberculosos, disenterias,
sífilis, blenorragias, reumatismos, elefantíases, etc) dessas raízes se destaca o “kantendwa”
“utata” “mundzimbamdzimba”, “mussivi”, “mutonte”, “muha”, “mutete” etc. este
conhecimento medicinal evidencia os rudimentos de cientificidade do KHOISAN com
validade interna e externa.

Com essas poderosas raízes, folhagens e pós, anula quase para zero a mortalidade materno-
infantil frequente nas comunidades ditas evoluídas, civilizadas e ocidentalizadas. O tempo que
levou a inventariar este material de origem animal e vegetal para curar suas doenças,
acumulou a experiência e conhecimento que eleva o seu Património Cognitivo.

O KHOISAN com seus meios rudimentares, detentor de técnicas e estrutura social


rudimentar, lida com a natureza para definir o seu ser, o seu ter e o seu devir.

Assim, o seu património cultural e económico é diametralmente oposto ao conceito de


património visto pelo Bantu e aos restantes grupos humanos modernos: não possui habitação
arquitetónica fixa, não possui armazém e aprovisionamento de grandes estoques, não dispõe

31
de implementos sofisticados de caça e que dê vários destinos ao seu ciclo produtivo (por
exemplo, o KHOISAN não fabrica cabedal com a pele de animais caçados, nem fabrica
adornos usando marfim de elefante ou de rinoceronte), não possui estrutura político-jurídica
hierarquizada e complexa; parece necessitar pouco a função da liderança ou da estratificação,
aniquilando assim quaisquer diferenças potenciais de riqueza, poder e estatuto; não investem,
não competem entre si (por exemplo o caçador mais habilidoso, ou o sortudo detective do mel
silvestre não comercializa seus troféus nem se sobrepõe aos outros devido a sua valentia; não
se autopromove devido a sua distinção, nem vende em marketing as suas habilidades acima da
média, mas sim coloca tudo ao serviço da comunidade). O “VAZIO” ou ausência de
estruturas definem anacronicamente o seu “CHEIO”. Está aí o seu Património Cultural.

3.4. Mitos e curiosidades sobre os khoisans

Ao longo dos nossos trabalhos investigativos, e sobretudo depois do período de estudo e


entrevistas realizadas na localidade do Ndumbo, onde residem alguns membros desta
comunidade já reintegrada na sociedade, uma vez que para além de estarem próximo da sede
capital da província do Cuando Cubango, Menongue, ou seja, há cerca de 45 quilometros,
vivem igualmente com povos de outras etnias, moneadamente os Ovimbundos e os
Ovanganguelas, denotamos algumas curiosidades no terreno e outras relatadas na primeira
pessoa, tanto pela anciã da comunidade, como pelo único professor local, que passaremos a
descrever neste capítulo.

Num olhar atento, foi possível notar um sistema de educação peculiar, na medida em que
durante a nossa conversa, independentemente da vontade dos demais membros em prestar
depoimentos, apenas a anciã e o professor tinham a autorização de responder ao nosso
questionário, apesar de termos estado reunido com todos os membros.

Outra curiosidade digna de nota, foi o facto de a comunidade ter organizado rapidamente
depois de nos oferecer os assentos, um circulo, aonde todos os membros desde os mais velhos
e os mais novos pudessem sentar em posição frontal os demais.

Nos dizeres da mais velha da comunidade, apercebamos que no passado os membros não
podiam ter contacto com cidadãos de outras tribos, porque sabiam a partir dos ensinamentos
dos seus ancestrais, que quem cruzasse o seu olhar com uma pessoa que não fossa
comunidade Khoisan, ficaria imediatamente sem cabelo.

32
Nestes termos, era expressamente proibido, um membro daquela comunidade manter
relacionamento conjugal com alguém proveniente de uma outra etnia, sob pena de os bebés
nascerem igualmente sem cabelo, de acordo com os contos e mitos dos seus antepassados.

Uma outra razão que esteve na base do excessivo atraso no processo de socialização desta
comunidade, foi o facto de terem acreditado em função dos contos tradicionais que ouviam
repetidas vezes de que se cruzassem o seu olhar com uma pessoa de outra tribo ficariam sem o
cabelo. Este facto, fez com que durante muito tempo os koisans ou camussekele como são
vulgarmente chamados vivessem fugindo das demais comunidades.

O tratamento que era feito aos defuntos era bastante curioso e totalmente diferente do que é
feito actualmente. Naquelas comunidades não se procedia ao enterro dos finados, sempre que
se confirmava a morte de um membro, o seu corpo era imediatamente colocado dentro da sua
casa, por ser o local onde passava maior parte do seu tempo enquanto vivia.

De acordo com as suas tradições, as únicas pessoas que poderiam ter contacto directo com o
cadáver são os parentes mais próximos, nomeadamente pai, mãe, filho, filha, esposo, esposa.
Uma vez que foi cumprido este procedimento toda a comunidade transfere-se imediatamente
para uma outra região, alegado que se permanecesse na região anterior o fantasma ou a
doença que tirou a vida daquele membro poderia estender-se aos demais, por isso, este
nomadismo ou mudança de região era também entendido como uma suposta fuga ao fantasma
da morte.

Os Khoisans não reintegrados socialmente na sociedade não acreditam na existência de Deus.


Nunca ouviram falar da bíblia e não professam nenhuma crença religiosa. Porém, eles apenas
acreditavam nos sonhos. Quando um membro da comunidade sonhar com um familiar já
falecido e no dia seguinte for à caça e conseguir matar um animal, então o objecto usado para
o matar fica pintado de sangue, é justamente naquele instrumento em que passa a prestar
culto, por acreditar ser ele a sua fonte de sorte.

Actualmente, fruto do poder inevitável da globalização e da paz, grande parte dos membros
da comunidade khoisan, sobretudo as que encontram-se já socialmente reintegradas, já tem
estado a ouvir sobre a existência de Deus através dos outros povos que aconselham a não
roubar, não matar, entre outras proibições contidas na bíblia que é o livro sagrado para os
cristãos.

33
Nos dias que correm, ainda existem algumas pessoas da etnia khoisan que não estão
reintegradas, ou seja, não estão inseridas na sociedade, por isso, ainda vivem obedecendo os
mitos, lendas e contos tradicionais que descrevemos anteriormente.

34
IV. METODOLOGIA

Este ponto apresenta de forma detalhada, o trajecto seguido na preparação do processo de


investigação. Naturalmente, este percurso foi desenhado de acordo com o tema e os objectivos
formulados, usando os procedimentos técnicos de recolha e tratamento dos dados
considerados ajustados. Inicia-se com o método de pesquisa e o desenho metodológico da
investigação a que se seguem os instrumentos e métodos usados para a recolha e análise dos
dados.

4.1. Tipo de estudo

Para a realização do nosso trabalho recorremos a pesquisa qualitativa, completada com uma
pesquisa bibliográfica.

Pesquisa Qualitativa é definida como um tipo de investigação voltada para os aspecto


qualitativos de uma determinada questão. Considera a parte subjetiva do problema. Isto
significa que ela é capaz de identificar e analisar dados que não podem ser mensurados
numericamente. Podemos citar como exemplo a observação e análise de sentimentos,
percepções, intenções e comportamentos. Os resultados deste tipo de pesquisa não são
apresentados através de recursos estatísticos. Nesta pesquisa, os dados obtidos não são,
portanto, tabulados para obtenção de resultado. São apresentados através de relatórios que
enfocam os pontos de vista dos entrevistados.

Por outro lado, Júnior (2009) considera a pesquisa bibliográfica como sendo parte de um todo
que compõe outro tipo de pesquisa, como a experimentação.

4.2. População e amostra

Perante esta abrangência a amostra do presente estudo foi elaborada com recurso ao método
de amostragem por conveniência, ou seja, foram seleccionados os elementos que se
considerariam um melhor contributo “em função da disponibilidade e acessibilidade dos
elementos que constituem a população-alvo” (Reis, 1997).

Para a nossa pesquisa foram recolhidos dados a uma população constituída por seis Pessoas e
contamos com uma amostra valida de duas pessoas.

35
4.2.1. Critérios de inclusão

 As implicações da globalização para a Comunidade Khoisan.

4.2.2. Critérios de exclusão

 As Debilidades socio-politicas da provincia do Cuando Cubango.

4.3. Métodos a utilizar

A técnica utilizada nesta pesquisa foi a elaboração de um questionário e a aplicação do


mesmo através de uma entrevista oral.

A entrevista é um método de coleta de dados que permite ao pesquisador um relacionamento


direto com o grupo estudado. Ela, como qualquer base de dados, se torna mais eficiente
quando o universo de respostas obtidas se torna maior. Sendo estruturadas, aquelas em que o
autor da monografia mantém fixas as perguntas, ou semiestruturadas, o que permite ao
pesquisador uma maior liberdade de variar os questionamentos dependendo dos rumos que as
respostas tomarem. As entrevistas estruturadas são básicas e podem até mesmo dispensar que
seja o autor do trabalho quem esteja realizando os questionamentos, já que existe um roteiro
fixo.

4.4. Procedimentos e instrumentos ou técnicas para a colecta de dados

As normas utlizadas permitiram a elaboração de resumos de forma a utilização do máximo de


informação resumida, elaborando um questionário e depois aplicado através de uma
entrevista, e conduziu a concepção de fichas de conteúdo e de autores, bem como analise
cuidada das informações dos questionários.

4.5. Processamento de dados

O Processamento de dados da nossa Monografia foi efectuado por meio da operação com
computadores, pois permitiu guardar os dados de maneira acessível, organizando e analisando
tanto descritiva quanto inferencialmente, facilitando o uso de técnicas de análise variadas.

36
V. RESULTADOS E DISCUSSÃO

 O Impacto da globalização no grupo étnicos em estudo

Depois de termos feito referência sobre aspectos relacionados a caracterização dos Khoisan, a
seguir, veremos o impacto da globalização no grupo em destaque. A globalização é, conforme
vimos no capítulo da fundamentação teórica, um processo e ao mesmo tempo fenómeno que
trás mudanças na vida das pessoas sejam elas de que tribo, classe social ou mesmo cor da
pele.

Estas mudanças podem ser positivas e negativas, a depender de como a população afectada
por ela pode reagir. No entanto, para José Jaime (2014), fazendo jus as declarações da
entrevista do Senhor Afonso Rafael Ndala, então Chefe do Departamento da Direcção
Provincial da Cultura, ressalta que desde os tempos remotos, os Khoisan não conheceram
momentos marcantes no seu desenvolvimento, pois o seu único interesse baseou-se sempre na
prospecção das actividades predominantes, nomeadamente na caça, na recolecção de frutos
silvestres e na harmonia entre as pequenas comunidades dos San espalhadas na região.

Com o surgimento do conflito armado que assolou o país e a província do Cuando Cubango
em particular, os Khoisan viram-se obrigados a abandonar o seu habitat (ao longo dos rios)
para se aproximarem dos povos Bantu em busca de alimentos, segurança e tranquilidade. Foi
então que começaram a se adoptar alguns dos hábitos dos Bantu como, o desenvolvimento de
agricultura de subsistências, a construção de abrigos para se protegerem da chuva e dos
animais ferozes e a implementação do comércio rural com os Bantu, onde a troca de serviços
por bens, essencialmente, alimentares e vestuário (porque até ai não usavam roupas,
protegiam as partes íntimas com pele de animais e folhas de árvores) era a principal
actividade.

O autor acrescenta que apesar de ser a época mais difícil da sua vida, esta contribuiu
positivamente para aprendizagem de outras línguas nacionais e, em alguns casos da Língua
Portuguesa, Nganguela , Umbundo, entre outras.

Realça-se que o relatório da MBAKITA, dá conta que a história não regista qualquer
extermínio perpetrado pelos Bantu contra os KHOISAN. Não se conhece qualquer guerra
expressa, ou perseguição manifesta com consequências registadas. Porem, acrescenta que a
necessidade de preservar as suas culturas, o desinteresse em misturas, bem como as diferenças

37
nas práticas económicas, sociais e organização comunitária fizeram e fazem com que o
KHOISAN tenha uma clara preferência em se distanciar do Bantu. Por iniciativa própria o
KHOISAN sempre se instala a uma distância relativamente grande em relação aos
aldeamentos dos Bantu.

Actualmente, fruto da globalização e da paz, embora a diferença em quase todos os domínios


entre os Koisan e a comunidade Bantu seja abismal, aqueles já mostraram sinal positivo de
desenvolvimento pessoal e de alguma integração social. Já vivem em comunidades com mais
de 10 famílias, comem alimentos cozidos, vestem-se e constroem cubatas com mais
dignidade.

Em Angola, de acordo com o relatório da MBAKITA os Koisans, encontram-se


maioritariamente nas florestas das províncias do Cuando-Cubango, do Cunene e da Huíla em
número aproximado de 100.000 pessoas distribuídas em pequenas comunidades que se
instalam em forma de acampamentos em função da procura de recursos económicos de
sobrevivência e resistência a revés da sorte.

O mesmo relatório dá conta que o Cuando-Cubango possui Pelo menos aproximadamente 50


comunidades KHOISAN constituídas entre 100 à 300 membros. Acrescenta que os vários
projectos que o Executivo e as ONG estão a implementar nas localidades onde vivem os
Khoisan, tem contribuído para algumas mudanças nunca antes vistas, concretamente, na
agricultura, na educação, na saúde, na área cultural, no saneamento básico e noutros serviços
essenciais para a vida humana.

O relatório realça que a intensão, quer do executivo, quer dos seus parceiros sociais é terminar
com êxito o processo de inserção desta tribo na sociedade, dando oportunidades aos seus
membros de participar na vida activa da província e evitando assim a sua extinção.

 Reacção dos jovens e adultos aos efeitos da globalização no Cuando Cubango

Por se tratar de um tema claramente prático, foi necessário recorrer a recolha de dados no
campo. Estamos, no entanto, a falar do recurso a bibliografia secundária que se consubstancia
na entrevista, baseada em algumas perguntas da nossa autoria, descritas logo abaixo:

38
1. O que acha da globalização?

Em resposta, o regedor Feliciano Cambinda, começou por apresentar uma breve comparação
do padrão alimentício que é seguido actualmente em tempo de globalização, em relação aos
tempos antes da abrangência da globalização, tendo afirmado, que antigamente alimentavam-
se de frutos silvestres, numa altura em que o Javali e outros animais foram as presas principais
de caça. O Mangongo, o Meto, o Makolo, eram frutas mais consumidas. O mel fazia parte das
glicoses quer para consumo imediato quer para fabricação de hidromel (cerveja caseira).

Por imperativos económicos e culturais, eram nómadas pastores e caçadores colectores


falando línguas KHOISAN caracterizada por cliques, essencialmente diferentes do Bantu e
com mais proximidade à Asia Oriental, mas hoje, fruto do avanço da tecnologia e da sua
abrangência a nível da comunidade Khoisan, os seus membros já usufruem de alimentos
cozidos, o que tem sido benéfico para a sua saúde.

Sobre este assunto, a anciã, Julia Ngueve, de 85 anos de idade, acrescentou em termos
introdutórios que comparativamente no passado, actualmente existe uma estrada de ligação
nacional, bem próximo da sua localidade, o que tem permitido a fluência e passagem de
pessoas e bens que transportam os sinais de desenvolvimento. Fez saber, que já viu
computadores, televisores e outros meios que atestam o impacto da globalização na sua
comunidade, tendo ressaltado que as tecnologias de que são servidos os hospitais e centros
médicos actualmente, reforçam a sua convicção em relação ao positivo impacto da
globalização no seu grupo étnico.

Fez saber que anteriormente a sua comunidade vivenciou o sabor amargo do sofrimento,
vivendo de um lado para o outro a procura de frutos silvestres para a alimentação, sem pensar
na possibilidade de assistência médica e medicamentosa, educação formal e tão pouco na
construção de residências dignas de um ser humano.

Reconheceu que neste momento em que a sua comunidade foi reassentada pelo Governo
numa área fixa, onde realizam também as suas actividades agrícolas para o auto-sustento, com
acesso imediato aos serviços de saúde e educação, uma vez que possuem nos arredores da
aldeia em causa (Nbunbo) um posto médico e uma escola do primeiro ciclo (Como atestam as
imagens), registam-se melhorias significativas nas suas condições de vida.

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A propósito das questões alimentícias, Mezomo (2002) define hábitos alimentares como os
actos concebidos pelos indivíduos em que há selecção, utilização e consumo de alimentos
disponíveis. Nas últimas décadas, foi possível observar mudanças nos hábitos alimentares em
diversos países, o que reflecte a complexidade dos modelos de consumo e dos factores que os
determinam (Pinheiro, 2001). Tais mudanças afectam a qualidade dos alimentos produzidos e
industrializados. Na tentativa de adequar a alimentação ao ritmo acelerado do dia-a-dia, as
escolhas e os hábitos de consumo passaram a apontar para alimentos mais condizentes com o
novo estilo de vida, fazendo com que fossem incorporados hábitos rápidos e práticos.

Estes muitas vezes são menos satisfatórios ao paladar e possuem aporte nutritivo menor do
que no padrão anterior, no qual se prezava por hábitos naturais e mais saudáveis de
alimentação (Abreu et al., 2001; Flandrin & Montanari, 1996; Souza & Hardt, 2002; Oliveira,
1997).

O binómio urbanização/industrialização actua como factor determinante na modificação dos


hábitos alimentares, gerando transformações no estilo de vida de praticamente toda a
população mundial (Garcia, 2003). Segundo Mezomo (2002), a alimentação de hoje é
profundamente diferente dos nossos antepassados, que viviam em contacto com a natureza,
alimentando-se de tudo que ela lhes oferecia: animais abatidos (carne), frutas, gramíneas,
folhas, raízes etc. Actualmente, diante da variedade de facilidades que a indústria alimentícia
provê, associada à falta de tempo e a praticidade que é fornecida, é possível delinear e
caracterizar os novos hábitos alimentares da população brasileira.

A alimentação é uma necessidade fisiológica básica, um direito humano e um acto sujeito a


tabus culturais, crenças e diferenças no âmbito social, étnico, filosófico, religioso e regional.
O acto de alimentar-se incorpora tanto a satisfação das necessidades do organismo quanto se
configura como uma forma de agregar pessoas e unir costumes, representado assim um
óptimo método de socialização.

2. Têm televisores?

Ao reagir a esta questão, o professor desta comunidade António Luciano Cassanga, limitou-se
em dizer que a minoria que já se encontra reintegrada nas comunidades mais civilizadas, ou
seja próximas ou na periferia das zonas urbanas, estão a ser cada vez mais influenciados e
forçados pelos ventos da globalização. Desta forma, esses possuem televisores. No entanto, a

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maioria como ainda se encontra a habitar nas áreas de origem e distantes dos grandes centros
urbanos, continuam a não conhecer, nem possuir televisores por serem nómadas.

3. Conhecem computadores, Usam?

O mesmo professor, nessa questão repetiu as palavras da questão anterior e respondeu que um
número ínfimo localizado nas zonas periféricas das cidades, conhecem computadores, embora
não serem usuários dos mesmos. Mas a maioria não conhece e por conseguinte não usa.

4. Costumam usar os meios de transportes tais como motorizadas, carros e aviões?

O professor António Luciano Cassanga, afirmou que muitas vezes os membros da sua
comunidade têm andado de avião carro e motorizada, ao passo que relactivamente aos barcos,
apenas tem visto, quando por motivos excepcionais, deslocam-se à Luanda, devido alguns
programas do governo e de associações filantrópicas que por vezes lhes levam nas províncias
como Luanda e outras do litoral, embora em um número reduzido, pois que muitos estão nas
comunidades distanciadas e de difícil acesso.

Acrescentou que os únicos meios que conseguem conduzir são a motorizada e bicicleta, ao
passo que os demais meios não conseguem manusear. Disse que anteriormente não tinham a
possibilidade de conduzir uma motorizada ou bicicleta, devido as distâncias e o isolamento
que viviam em relação os demais grupos étnicos. Porem, actualmente, em benefício da
globalização e dada a sua proximidade com as outras etnias mais civilizadas, foi possível
dentre outros ensinamentos, aprender a conduzir com normalidade, bicicletas e motorizadas,
apesar de não as possuir.

5. Qual é o tipo de roupa que usavam antes da Globalização?

Quanto a esta questão, a anciã Júlia Ngueve, disse que antigamente secavam a pele de animal
morto, nomeadamente cabra do mato e elefante raspavam-na cuidadosamente com um
machado para afinar a pele, reduzindo assim a expressura que ostentava e punham a secar.
Depois de seca, adicionavam um óleo retirado da folha de reíssimo para amolecer e reduzir a
expressura e o peso da pele, permitindo deste jeito e confecção do vestuário apropriado. Este
vestuário servia apenas para cobrir a parte íntima, sendo que o peito e outros órgãos do corpo
eram deixados descobertos.

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Esta realidade é totalmente contrária a actual, na medida em que fruto da globalização e da
paz, os membros desta comunidade já usam roupas normais que cobrem todo o corpo, o que
se traduz em mais uma vantagem e impacto directo no seio da comunidade.

Quanto a roupa de cama, afirmou que para minimizar o frio que se verificava a noite,
juntavam varias peles e coziam manualmente, para dar o formato de um lençol ou cobertor.

6. Como é que acham a actual roupa que usam em relação a pele de animais que
usavam noutrora?

O professor em referência considera, que actualmente, fruto das vantagens da globalização, a


roupa usada, geralmente de tecido de algodão, permitiu maior conforto e cobertura do corpo,
o que expressa uma enorme diferença, sendo que nos tempos anteriores ao fenómeno, usavam
peles de animais e não conseguiam manter a cobertura plena do corpo.

7. Como é que acham viver em edifícios modernos?

O ancião Manuel Tchihinga, diz que acham confortáveis as casas modernas em comparação
com as do passado porque consubstanciavam-se em cubatas feitas de pau-a-pique e cobertas
de capim, o que afigurava-se como um verdadeiro perigo, uma vez que estavam expostos aos
animais predadores e a efeitos da natureza como o caso de densidades pluviométricas.

Naquela altura de acordo com a mais velha Júlia Ngueve, quando chovia tinha de retirar a
roupa das partes íntimas do seu corpo e colocava nos membros superiores, ao mesmo tempo
que se abrigava debaixo de uma árvore.

8. Como acham a actual forma de vestir?

Em resposta, Antonio Cassanga, disse que no passado não conheciam nenhum tipo de
vestuário, mas actualmente já usam roupa capaz de cobrir todo o corpo e garantir maior
segurança para a saúde. Afirmou que hoje já usam cobertores, para além de outras espécies de
roupa, enaltecendo nesta vertente os efeitos positivos da globalização no seio da comunidade
Khoisan.

9. Como é que acham as línguas de outras tribos?

Respondendo a esta pergunta, disse que a aprendizagem das mais variadas línguas,
nomeadamente a portuguesa, umbundo, nganguela, kokwe, entre outras, tem sido facilitada

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nos últimos tempos, ou seja, no período da ascensão da globalização e de forma mais
generalizada com o alcance da paz definitiva, devido a coabitação regular com membros das
referidas tribos. Acrescentou que em momento de convívio, as outras tribos normalmente
tendem a utilizar os seus respectivos idiomas, tendo em conta a dificuldade que encontram em
expressar a língua utilizada pela comunidade Khoisan, o que obriga aos khoisans a
aprenderem a comunicar-se noutras línguas.

10. Como e que realizam os casamentos?

Disse que para o alembamento, o interessado tem de caçar um animal, buscar o mel para fazer
a bebiba espiritual local, denominada por hidromel, que é entregue em duas partes e só depois
lhe é cedida a mulher, simbolizando o casamento. Depois do sucedido, o jovem rapaz na
condição de genro, deve ter o costume de ajudar o sogro com alguns bens alimentares,
sobretudo a carne de caça, como forma de demonstrar respeito e solidariedade ao sogro que
apresenta-se já uma idade idosa.

Considerou ser normal no seio da comunidade o estabelecimento de casamentos entre


familiares próximos. Só não é permitido o casamento entre pai e filha e vice-versa e entre
irmãos do mesmo ventre.

11. Existe casamento entre membros da mesma família?

Como e que se processa a iniciação feminina ou masculina? Qual é o procedimento quando


aparece o primeiro ciclo menstrual? Ao responder, a anciã, Júlia Ngeve, disse que quando
aparece o primeiro ciclo menstrual, a menina já não pode estar no convívio com os demais
membros da comunidade, deve obrigatoriamente ser isolada numa área distante e só volta ao
convívio normal com outras pessoas depois de terminar o período, concedendo-lhe
imediatamente um marido.

Fez saber que depois da fuga da menina, as mais velhas da comunidade entendem que trata-se
do primeiro período menstrual. Nesta ocasião, elas vão ao encontro dela e manifestam
cânticos de alegria e enaltecimento ao processo de reprodução feminina. Com esta euforia é
levada de volta à comunidade, pela mãe, por uma tia ou pela avo de forma clandestina para
não poder ser vista por mais ninguém, até escondê-la numa casa dentro da comunidade, aonde
começa o processo de educação para a vida adulta, mormente o tratamento e o cuidado com o

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marido, os familiares, os filhos, entre outros. Durante este período de educação, a menina não
deve tomar banho, cozinhar entre outras actividades.

Passado este tempo, as mais velhas da comunidade, levam cada uma, um determinado farnel
em casa aonde estiver internada a menina, quer seja o mel, cogumelos, frutos silvestres entre
outro bens alimentares, aos quais, a menina não pode provar, apesar da sua necessidade
alimentar por encontrar-se numa fase de jejum obrigatório.

Passadas 24 horas, as mais velhas regressam ao local para atestar a fidelidade da menina ante
a proibição. Se tudo estiver intacto, então a menina é aprovada para a vida adulta e as anciãs
tem a total confiança de que a menina será uma adulta responsável, com princípios morais e
que saberá cuidar do lar e da sua família. Ao contrario, ou seja, se a menina tocar num dos
alimentos, é batida e severamente castigada pelos membros da comunidade, por entenderem
que a mesma não granjeou maturidade suficiente para iniciar uma vida adulta.

Quanto a primeira gravidez, informou que no momento em que a mulher se da conta de que
esta prestes a dar a luz, foge da comunidade e vai a um lugar distante e isolado, acompanhada
de meios como faca para cortar o cordão umbilical, roupa (pele de animal) água e outros
meios para a ajudar no parto. Consumado o parto com sucesso, a mãe banha o seu bebe e
regressa a comunidade.

Nos dias de hoje, quando a futura mãe sente a dor de parto informa a comunidade e dali é
indicada uma adulta experiente para a acompanhar a realizar o parto fora da comunidade.

A anciã reportou-nos que teve na condição acima aludida um total de cinco partos.

Antigamente não sabiam controlar a idade real das adolescentes. No entanto, o principal
indicativo quanto a idade reprodutiva feminina era baseado no primeiro ciclo menstrual por
isso, tão logo a menina tivesse o primeiro corrimento menstrual, teria imediatamente uma
razão justificativa para que lhe fosse cedida o marido.

Depois de se juntar ao marido, volvido um ano sem engravidar, já constitui motivo de


preocupação para a família, o que leva a mãe a passar uma corda suja que usa na sua cintura e
oferece a filha e tira igualmente sujidade do seu corpo e esfrega no corpo da filha. A anciã,
afirmou que depois deste ritual a menina consegue conceber.

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Lamentou que actualmente já não se segue este ritual. Os medicamentos a base de ervas
utilizados por via oral e através de cristel e outros métodos da medicina convencional,
substituíram todos os métodos antigos.

12. Qual era o procedimento perante uma situação de infidelidade?

Nestas situações, independentemente de como ocorreu a traição, a principal maneira de


resolver o caso era matar o amante a paulada e sem direito a nenhuma defesa por parte dos
seus familiares mais próximos. Naquela altura, ressalta a anciã, não se admitia nenhuma
forma de traição conjugal na sua comunidade.

Afirmou, que actualmente, o método de resolução de um caso de traição, já não é


necessariamente resolvido com a morte do rapaz ou senhor envolvido no caso, porém,
chamam-se as partes envolvidas, nomeadamente, a esposa, o esposo e o amante e depois de
ouvidos pelos mais velhos que ditam a sentença, são aconselhados a não partir para a
violência física ou verbal, mas o infractor deverá oferecer alguns produtos alimentares ao
lesado como forma de pedido de perdão e realizar as pazes entre os dois contendores.

Explicou que não há uma taxa exacta previamente estabelecida para o pagamento do infractor
ao lesado, mas, o pagamento deve ser de acordo com o critério do ex-amante, que pode variar
desde produtos alimentares diversos até a um simples instrumento de trabalho como faca,
machado rudimentar ou outros instrumentos.

Disse que na antiguidade, a sua comunidade foi sempre regida por uma entidade superior que
tinha a responsabilidade de a apaziguar, ditar determinadas sentenças e manter o controle da
comunidade. Esta entidade é geralmente o mais velho ou a mais velha da comunidade, sendo
que os seus coadjutores tinham de ser obrigatoriamente aqueles de idade imediata as suas.

13. Existem funcionários públicos dentro desta comunidade?

Em resposta, António Casanga, disse haver alguns membros da comunidade inseridos na


função pública, tendo apontando-se como exemplo, uma vez que na comunidade do Ndumbo,
alvo da nossa investigação, é o único professor que ministra aulas numa escola primária
construída pelo Estado na sua comunidade.

A propósito, realçou que o seu filho está a frequentar a 9ª classe numa escola localizada no
centro da cidade de Menongue.

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Sobre a alimentação, disse que não havia um horário próprio definido para a alimentação.
Qualquer hora desde que encontrassem alguma coisa para comer, não havia restrições. Por
exemplo, durante a sua caminhada, se encontrassem uma árvore de maboque com os frutos
maduros, os membros da comunidade reuniam-se ali e exploravam-na até terminar toda fruta.
O mesmo acontecia quando deparavam-se com cogumelos. Só depois de explorar e acabar
tudo, é que seguiam viagem para outras paragens em busca de alimentação.

O conceito de um alimentação regrada com pequeno almoço, almoço e jantar é também fruto
da globalização e da paz, uma vez que a comunidade deixou o nomadismo e já reside numa
única circunscrição aonde realiza igualmente a actividade agrícola.

Questionado sobre a realizam a circuncisão, disse que quanto a esta questão, a tradição da sua
comunidade é totalmente diferente, acrescentando que algumas tribos como ovanganguela
procedem a realização regular de circuncisão para os meninos ou adolescentes do sexo
masculino. Informou que esta prática no seio da comunidade não existe, não há realização de
nenhum ritual que aponta para a iniciação masculina e nem se procede a circuncisão.

O ancião mencionou o seguinte: ˶achamos as línguas de outras tribos como um meio também
de nos comunicar uns aos outros. No entanto, temos feito tudo para aprendermos e ensinar aos
nossos filhos˶.

Em relação a língua portuguesa, de acordo com o professor António Luciano Cassanga,


informou que sendo uma língua falada em toda Angola, tem feito esforço de aprender para
que quando se deslocarem da sua comunidade para as cidades, consigam estabelecer
comunicação fluida com as pessoas que lá vivem.

14. Tem telefones, conhece, Usam?

Sobre esta questão, a anciã Júlia Ngueve, disse que nunca usou telefone e nenhum membro da
sua comunidade usa. No entanto, afirmou que conhece tal meio electrónico, na medida em
que tem observado quando se deslocam em residência de alguns parentes ou quando é
convidada a prestar depoimentos na rádio ou numa cadeia de televisão.

Ao interagir connosco em torno da mesma questão, o professor Antonio Cassanga, referiu que
o uso do telefone não existe no seio deles porque onde vivem não há cobertura de rede e que
também é uma situação distante da realidade da comunidade por falta não só de condições
para a aquisição de telefones, mas também por falta de energia eléctrica.
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15. Como faziam os funerais?

Fez saber, que uma vez consumado o infausto acontecimento, o cadáver era colocado num
local em que frequentava enquanto vivia, normalmente na sua cabana, onde o abandonam,
enquanto todos os demais membros da tribo emigravam para um outro local. Por isso, não
procediam ao enterro dos cadáveres, como actualmente.

Informou que nos dias que correm, fruto da globalização e da paz que permiti a comunidade
comungar as mesmas regiões e costumes que as demais tribos, já se realizam funerais normais
com a participação de todos os membros da comunidade e já não abandonam a região aonde
aconteceu o óbito como faziam anteriormente.

Na antiguidade, havia proibição de se realizar funerais precedidos de demonstração da dor


através de gritos de angustia (choros), porque segundo os mitos, quem chorasse seria
igualmente morto pelo mesmo fantasma que causou a morte anterior, por outro lado,
acreditavam que o choro podia ser o transmissor da doença a uma outra pessoa, justificando
assim, a razão para não chorar perante uma situação de óbito nos tempos anteriores.

Nestas ocasiões, ninguém podia tocar o corpo cadavérico, salvo um parente de primeiro grau
quer seja filho, pai, mãe e noutros casos o corpo pode de igual modo ser tocado pela esposa
ou esposo.

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VI. CONCLUSÕES

Os estudos em torno das características sociais, culturais e económicas das mais variadas
tribos e etnias existentes ao redor do mundo são quase sempre inacabados dada a sua
complexidade e heterogeneidade, por isso existe uma possibilidade de continuação das
investigações nesta esfera por parte dos académicos em diferentes etapas e em diferentes
lugares.

Esta reflexão, aplica-se para o grupo étnico que foi objecto da nossa investigação, os
Kohisans, porque apesar da sua natureza e dos resultados alcançados, podemos afirmar, que
em função das mudanças constantes dos novos paradigmas sociais e económicos, mercê do
crescente impacto da globalização, as mudanças actuais verificadas no estilo de vida desta
comunidade, sobretudo aquela que já está reintegrada, pode merecer uma nova apreciação que
será de igual modo cientificamente aceitável nos próximos tempos.

No caso concreto do Impacto da Globalização no Grupo Étnico Khoisan no Cuando Cubango


com o Alcance da Paz que constitui o tema central da nossa investigação, podemos, em
função da análise e discussão dos conteúdos encontrados, chegar as seguintes conclusões:

 A globalização teve um impacto positivo neste grupo-alvo, uma vez que permitiu a
inserção de alguns membros da referida comunidade no sistema normal de ensino,
facto que tem contribuído para a sua melhor civilização e enquadramento social, o que
se atesta pelo facto de muitos destes já terem aprendido a se comunicar em outras
línguas, com destaque para a Língua Portuguesa e participam no processo de
alfabetização nas suas comunidades;
 Fruto da paz e das políticas do Estado angolano voltadas para o reassentamento das
populações, a comunidade em referência, tem sido transferida das zonas longínquas
para mais próximo dos centros urbanos, o que tem facilitado a assistência social a
todos os níveis, atestando assim o Impacto da Globalização neste grupo;
 No caso dos membros da comunidade Khoisan radicada na localidade do Mbundo,
aonde realizamos parte da nossa investigação científica, podemos constatar, que
contrariamente aos anos anteriores ao alcance da paz, actualmente já existem
residências construídas de blocos de barro e cobertas de chapas de zinco, cujas
imagens estão apresentadas em anexo neste trabalho.

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VII. RECOMENDAÇÕES

Descorrida toda abordagem sobre o tema e depois das conclusões sobre o Impacto da
Globalização no Grupo Étnico Khoisan, podemos sugerir, a título de contribuição para os
principais actores sociais, principalmente o Governo da República de Angola, as seguintes
recomendações:

 Que haja maior vontade política do Governo para a inserção e reinserção social
efectiva dos Khoisans, sobretudo na efectivação e cumprimento dos projectos
estruturantes gizados para o desenvolvimento socioeconómicos detes povos;
 Que sejam criadas medidas concretas para a esfera formativa, visando o
aprimoramento da Língua Portuguesa, como principal instrumento de comunicação e
por meio desta, encontrar outras valências para o seu enquadramento noutras áreas do
saber, por formas a contribuírem no desenvolvimento do país e da comunidade em
particular;
 Que sejam estudados exemplos concretos de países que possuem igualmente
elementos de grupos étnicos Khoisans e que já possuem um nível de sociabilidade
extremamente desenvolvido para que sejam igualmente implementados na realidade
angolana;
 Municiar urgentemente os membros da comunidade em estudo com imputes agrícola e
formação técnica nesta vertente, para que saibam desenvolver as técnicas de cultivo,
conforme as diferentes etapas do ano, como medida prioritária para evitar a fome e a
necessidade de nomadismo;
 Estudar um mecanismo formas de reassentar a comunidade nas zonas longiquas para
mais próximas dos centros urbanos.

49
VIII. BIBLIOGRAFIA

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52
APÊNDICES

I
Apêndice A: Guião da Entrevista

1. O que acha da globalização?


2. Têm televisores?
3. Conhecem computadores? Usam?
4. Costumam usar os meios de transportes tais como motorizadas, carros e aviões?
5. Qual é o tipo de roupa que usavam antes da Globalização?
6. Como é que acham a actual roupa que usam em relação a pele de animais que usavam
noutrora?
7. Como é que acham viver em edifícios modernos?
8. Como acham a actual forma de vestir?
9. Como é que acham as línguas de outras tribos?
10. Como e que realizam os casamentos?
11. Existe casamento entre membros da mesma família?
12. Qual era o procedimento perante uma situação de infidelidade?
13. Existem funcionários públicos dentro desta comunidade?
14. Tem telefones, conhece, Usam?
15. Como faziam os funerais?

II
Apêndice B: Imagens da Pesquisa de Campo

1. Familia de Khoisans e alguns visitantes

Fonte: Fotografia efectuada pela autora.

2. Pequenos Khoisans

Fonte: Fotografia efectuada pela autora.

3. Jovens Khoisans

Fonte: Fotografia efectuada pela autora.

III
4. Autora e dois jovens khoisans

Fonte: Fotografia efectuada pela autora.

5. Comunidade Khoisan e alguns visitantes

Fonte: Fotografia efectuada pela autora.

6. Duas Crianças Khoisans

Fonte: Fotografia efectuada pela autora.

IV
7. Autora e alguns habitantes da comunidade Khoisan

Fonte: Fotografia efectuada pela autora.

8. Habitantes da Comunidade Khoisan

Fonte: Fotografia efectuada pela autora.

9. Habitantes da Comunidade Khoisan 2

Fonte: Fotografia efectuada pela autora.

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