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Ciência Política

Prof. Anna Esser


Grupos de Interesse, Grupos de Pressão e Lobby
Muitos autores ligam a palavra lobby, grupo de pressão ou mesmo grupo de
interesses como uma só situação, mas há diferenças entre os conceitos, e que há
aspectos positivos e negativos nesses grupos muitas vezes formados de forma
eventual.

Outro assunto iremos discutir será a ligação com o cidadão e o Estado que o grupo de
pressão e partidos políticos possuem e como os lobistas trabalham nesse setor
informal no Brasil, mas que alguns países são uma profissão legalizada.
Grupos de pressão
Darcy Azambuja (2003, p. 315) define grupos de pressão como qualquer grupo
social, permanente ou transitório, que, para satisfazer seus interesses próprios,
procure obter determinadas medidas dos poderes do Estado e influenciar a opinião
pública. Qualquer grupo social pode ser um grupo de pressão, quando procuram
influenciar o poder público decisões de seus interesses.

Já Celso Castro (2004, p. 122) confirma que grupo de pressão são grupos sociais que
visam a manutenção ou a transformação de conduta social, no interesse dos líderes.
Define também como forma de influenciar o poder político para obtenção de certa
medida governamental que possa favorecer seus interesses, algumas vezes esses
grupos se encontram de forma organizada e propositada, ele ainda conclui que às
vezes se emprega lobby como grupo de pressão.
Grupos de pressão
Celso Bastos (2004, p. 259) e Paulo Bonavides (2000, p. 562) confirmam que grupos
de pressão e partidos políticos constituírem categorias interpostas entre o cidadão e
o Estado, não é somente pressão sobre o governo as atuações destes grupos
havendo também outra vertente da sua atividade que é muito importante, com
intermédio de meios de comunicação visando formar a opinião publica.

Grupos se esforçam para passar suas ideias para o próprio povo para que estes, ao
exercer o seu direito de voto possam torná-los seus representantes tendo um papel
importante para demonstrar valores muitas vezes moral, étnicos ou religiosos, nesta
particular atividade de lobbies tem semelhança com os partidos políticos, que
também são grupos intermediários entre o governo e o indivíduo.
Só que partidos são aptos a se tornarem programas e ideologias do próprio Estado e
os lobbies pelo contrário, limita-se a interesses específicos.
Grupos de pressão
Para Celso Bastos (2004, p. 262) a maior diferença entre essa ação reside no fato de
que os partidos visam assumir o governo para que nele possam ser implantados os
programas políticos já os lobistas, pelo contrario, não visam assumir o poder, mas sim
pressioná-lo num determinado sentido, podendo depois de adquiridos seus
interesses se desfazerem.

Na realidade, os grupos de pressão devem ser analisados como estruturas que


integram o sistema político. Não são institucionais - como as que compõem o
Executivo, o Legislativo e o Judiciário - e sim informais constituídas por setores
organizados da sociedade. Contrariamente aos partidos políticos, os grupos de
pressão não se propõem a conquistar o poder formal. Seu objetivo é influir nas
decisões, seja para promover seus interesses, seja para evitar que decisões que os
contrariem sejam aprovadas.
Grupos de pressão

Grupos de pressão situam-se no espaço localizado entre os indivíduos


isoladamente considerados de um determinado segmento social e os
órgãos de governo. Trata-se de uma estrutura de articulação de
interesses, em contraste com os partidos políticos, que são estruturas de
agregação de interesse. Grupos de pressão, portanto, são porções sociais
organizadas, reunindo indivíduos que compartilham interesses e
desenvolvem ações com a intenção de inspirar decisões de governo.
Grupos de interesse

Para Celso Castro (2004, p. 122), o conceito de grupo de interesses são


as forças sociais que emergem num grupo total, organizam-se e atuam
objetivando vantagens e benefícios de acordo com a natureza do grupo.
Os grupos de interesse podem ser profissionais, econômicos, religiosos,
ou ligados a qualquer outra função social. Não raro, eles podem
converte-se em grupo de pressão.
Grupos de interesse
Grupos de interesses podem ser formalmente organizados e ter
representação igualmente formal. Mas podem ser informais, ou
permanecer em estado oculto, se e enquanto útil necessário ou
conveniente.

A partir do momento em que decide dar passos concretos, no sentido de


promover o interesse que representa, o grupo muda de feição, deixa de
ser simples grupo de interesses e passa a ser grupo de pressão. Assim a
existência do interesse comum é o elemento incorporado do grupo; a
pressão, seu objeto; o lobby, um dos principais instrumentos utilizados
para alcançar o objetivo.
Lobby

A palavra lobby vem do inglês e significa vestíbulo, entrada. Historicamente a origem


da palavra - em seu sentido de postulação de interesses - é algo diferente na
Inglaterra e nos Estados Unidos. Na primeira, indicava o vestíbulo por onde passavam
os membros da Câmara dos Comuns, a caminho das sessões, onde e quando eram
abordados pelos representantes dos grupos de interesses, para reivindicar por suas
postulações.
Nos Estados Unidos, o uso dessa palavra tem a ver com o vestíbulo de um hotel, no
qual se hospedavam, antes da posse, os presidentes daquele país. Ali mesmo, os
lobistas exerciam suas pressões, quer junto ao presidente e/ou aos futuros membros
do Executivo, quer junto aos membros da Câmara dos Representantes (deputados) e
aos senadores que vinham visitar o presidente eleito, e/ou com ele discutir as
questões legislativas do dia.
Lobby
Nos EUA, os lobbies instalam em escritórios dotados dos mais sofisticados recursos
tecnológicos, contando com equipes técnicas de pesquisadores e especialistas em
propaganda e marketing.

Fazer lobby é uma atividade antiga, legal e legítima nos Estados Unidos. Ela é protegida pela
Primeira Emenda da Constituição, que proíbe o Congresso de aprovar leis que restrinjam a
liberdade de expressão ou os direitos das pessoas de se reunir pacificamente e apresentar
petições ao governo para remediar suas queixas.

No Brasil o seu desenvolvimento ocorreu quando o país ainda estava sob o regime militar.
Apesar de não haver muito espaço para que os grupos de pressão participassem, já que o
Congresso foi extremamente enfraquecido e o atendimento de demandas, assim como a
formulação de políticas públicas, havia se tornado atribuição do poder Executivo, a mídia
passou a chamar de lobbying qualquer atitude que tivesse alguma relação com influência e
convencimento, sem se importar com o caráter da representação de interesses.
Lobby
Celso Castro (2004, p. 122) define lobby como grupo de pessoas ou organização que tem
como atividade profissional buscar e influenciar, aberta ou veladamente, decisões do poder
publico, especialmente no legislativo, em favor de determinados interesses privados.

Para João Lodi (1986) lobby é a ação de influenciar sobre o tomador de decisão na
esfera do poder público. A atuação persuasora sobre o poder público. Por extensão,
pode-se chamar de lobby também o grupo de pessoas que exerce essa influência, ou
o mecanismo de pressão ou representação junto ao poder público. A esse último, os
franceses chamam de “groupes de pression” e os norte-americanos de “interest
groups”.
Lobby
Para Jair Borin (1988) o lobista se dirige aos centros de decisão, não sendo, portanto,
nenhuma ação de marketing. Ele não procura vender um produto ou serviço, mas
sim, influenciar autoridades e/ou políticos para a tomada de decisões que beneficiem
um grupo social ou empresarial, um programa econômico ou uma linha de atuação
de determinado segmento socioeconômico, mediante uma legislação específica ou
por meio de medidas especiais.

Ressalte-se, ainda, que o lobby pode agir apenas pelo convencimento pessoal com
base em informações confiáveis, mas também por meio da pressão, como por
exemplo, as greves e manifestações (FARHAT, 2007).
Lobby
Contudo, tal atitude é legítima, pois como nos aponta Amaral (1997), o lobby é uma
forma de participação da sociedade nas tomadas de decisões: Na sociedade
democrática, é essencial a participação da sociedade junto aos órgãos
governamentais. Os interesses muitas vezes divergentes dos vários grupos sociais,
quando legitimamente defendidos junto ao Poder Público, é que forçam a
transparência e o controle do processo decisório.

Nesse mesmo sentido são as palavras de Lodi (1986), ao afirmar que o “[...] lobby é o
exercício de um legítimo direito de fazer chegar um pleito até um governante e obter
uma resposta favorável. O lobby é o exercício natural de um cidadão ou um grupo de
cidadãos em defesa de seus interesses”
• Grupos de interesse e grupos de pressão:
https://www.youtube.com/watch?v=MVfsykp_Dfg
Lobby
Os lobistas agem em escritórios, executam tarefas, entre as quais, monitoramento
legislativo e político, elaboração de estudos técnicos e pareceres que subsidiem a
informação que fornecem aos tomadores de decisão, além do corpo-a-corpo, que
consiste em argumentar para convencer.

Lobby também não é uma atividade regulamentada no Brasil.

Pode-se apontar uma ambiguidade existe no lobby quanto a sua legitimidade, quando
praticado por grupos sociais, como os sindicatos ou grupos sociais; ou quando os grupos
são de ramos ligados ao setor privado, há percepção de menor automática identificação
do lobby com corrupção.
Lobby
Desse modo, os grupos de pressão utilizam o lobbying para esclarecer o legislador ou
a autoridade pública sobre as decisões ou propostas que possam vir a ser
encaminhadas como um mecanismo operacional de persuasão. O lobbying deve ser
visto como informação objetiva disponível para, em tempo hábil, instrumentar a
melhor decisão. Para Lemos (1988, p. 49), “o lobby precisa ser visto como a
organização e a operação de ‘um eficiente canal de informações de mão dupla’, entre
a entidade que o apropria e o setor do poder que focaliza”.

A atividade inclui a coleta de informações, propostas políticas, estratégias apropriadas


para dar suporte a tais demandas, confecção de pesquisas e a procura por aliados. O
lobbying proporciona a troca de informações e de ideias entre governo e partes
privadas, capazes de infundir nas políticas públicas conhecimento de causa e realismo
consciente. Seu último estágio é a pressão, momento em que o lobista deve-se valer
de seu poder de comunicação e persuasão. (GRAZIANO, 1994, 1996).
Lobby – Críticas
Bem documentado pela imprensa, o termo lobbying, não raro, é utilizado com
imprecisão. Algumas vezes é usado como sinônimo de pressão simples, tráfico de
influência ou corrupção. Outras vezes, é tomado como prática exclusiva de grandes
corporações que utilizam seu poder econômico para alcançar seus objetivos.

O estigma que o lobbying carrega está relacionado ao fato de a atividade aparecer


associada a escândalos, a licitações direcionadas, propinas e obras superfaturadas. E
os protagonistas dessas histórias, no Brasil e no exterior, têm sido na maioria das
vezes empresas e autoridades públicas.

Esses fatos reforçam a imagem do lobby como ilegítimo e ilegal. Hoje, a palavra
lobbying carrega um significado tão negativo que os próprios profissionais da área
preferem utilizar outros termos para descrever sua atividade.
Lobby – Críticas
Bezerra (1999) mostrou a atuação dos escritórios de lobby e consultoria na liberação de verbas
dos Ministérios para prefeituras municipais e governos estaduais utilizando-se da intermediação
de parlamentares.

O que se vê são redes de relações pessoais atuando sobre o trâmite dos pleitos, que envolvem
Ministros, deputados, senadores, assessores parlamentares, funcionários federais, técnicos,
prefeitos e governadores. Mostra também como as grandes empreiteiras montam esquemas de
influência para a liberação de verbas, utilizando-se ou não dos serviços dos escritórios de lobby e
consultoria.

Mas as atividades dos escritórios de lobby não dizem respeito apenas ao “acompanhamento” dos
processos. Muitas vezes esses escritórios são responsáveis pela elaboração do projeto e pelo
encaminhamento das providências burocráticas necessárias para o encaminhamento de processos
ao Ministério. Ao receber informações privilegiadas dos funcionários federais, informam aos
prefeitos e governadores quais verbas serão liberadas e como devem proceder para ter acesso a
essas verbas.
Lobby – Críticas
Apesar de o lobby público no Brasil não ser forte, como Aragão (1992) afirma,
idealmente, qualquer grupo de interesse ou pressão pode-se associar a outros de
mesmo tipo e que apresentem os mesmos ideais e montar uma estratégia de lobbying
no Congresso Nacional.

Desse ponto de vista, há condições iguais para todos, o que reforçaria o interesse
público. Porém, nem todos têm condições financeiras e estrutura para realizar a
atividade de lobbying. O fato de que apenas alguns segmentos da sociedade são aptos
a implementar uma ação de lobbying leva a um desequilíbrio na esfera da
representação de interesses. O ideal seria que todos os segmentos da sociedade –
sejam eles de trabalhadores ou de empresários, grupos ambientalistas ou feministas –
tivessem as mesmas condições de implementar uma ação de lobbying. No entanto,
não é o que a realidade nos mostra.
Lobby – Críticas
Outra questão que deve ser levantada está relacionada à prática dos lobistas. Ao defender
interesses específicos e muitas vezes particularistas, o modo lobista de influenciar decisões incide
negativamente sobre as possibilidades de alargamento da proteção social promovida pelo Estado,
uma vez que coíbe coalizões amplas e duradouras.
Todos esses fatos conjugados reforçam ainda mais um grande preconceito que existe com relação
à atividade. Dependendo do segmento social que implementa a prática, esse preconceito aumenta
ou diminui.

Se o lobbying é realizado por um grupo de pressão do setor financeiro, é um lobby do mal e,


portanto, ilegítimo. Porém, se o lobbying é realizado por um grupo de pressão que congrega os
interesses de trabalhadores ou de uma ONG ambientalista, então o lobbying realizado é
considerado do bem e, portanto, louvável.
Com relação ao lobbying privado, o preconceito é ainda maior, pois ele é rapidamente relacionado
ao abuso de poder econômico e à defesa de interesses egoísticos ou particularistas. No entanto,
como é visto o lobby público? O lobbying de alguns setores governamentais é particularista,
porém, não é visto como tal.
Lobby – Atualmente
Hoje, existem centenas de profissionais trabalhando na esfera de representação de
interesses no Brasil e esse número tem crescido consideravelmente.
Aragão (1992, p. 86) afirma que “a profissionalização dos esforços de defesa de
interesses no Congresso Nacional é fenômeno recente, ocorrido com maior vigor após
a derrubada do regime militar em 1985”.

Com a consolidação da democracia no Brasil e uma maior transparência das


informações, sobretudo por parte do Poder Legislativo, a sociedade civil tem
percebido as vantagens de apresentar propostas e oferecer sua opinião aos
tomadores de decisão com o intuito de contribuir com o processo de elaboração de
políticas públicas no país. Esse fato tem criado um nicho de mercado em expansão e,
em consequência disso, o número de escritórios de consultoria e lobbying tem
crescido, seu número de funcionários também, assim como sua estrutura física
Lobby – Atualmente
Além dos pontos levantados, não podemos deixar de ressaltar a constatação do elevado nível
de qualificação da mão-de-obra dos escritórios de consultoria e lobbying, que, em geral, é
composta por recém-formados em Ciência Política, Sociologia, Jornalismo, Relações Públicas,
Economia, Administração de Empresas e Relações Internacionais.

Não raro, esses recém-formados, antes de comporem os quadros funcionais dos escritórios de
lobbying e consultoria, foram estagiários em algum órgão público federal, como a Câmara dos
Deputados, o Senado Federal e até a Presidência da República. Esses jovens lobistas, que
aliam formação acadêmica e conhecimento prático da profissão, são um novo dado que não
pode ser desprezado.

Porém, sem a regulamentação da atividade, que criaria limites éticos e contribuiria com a
transparência necessária para arrefecer o estigma de marginalidade do lobbying, sua
profissionalização estará sempre comprometida.
Para ir além:
Para acrescentarmos o debate, proponho esse texto:
https://www12.senado.leg.br/ril/edicoes/42/168/ril_v42_n168_p29.pdf

Lobby – Proposta teórica


https://www.youtube.com/watch?v=yxgMwGddGbw

Para saber mais:


https://www.youtube.com/watch?v=iq1Esi_mXoQ
Referências Bibliográficas:
• AZAMBUJA, Darcy. Introdução a Ciência Política: 15ª Edição. São Paulo: Globo, 2003.
• AMARAL, Antonio Carlos Rodrigues do. Ética Social e Governamental: Advocacy e Lobby – uma proposta para o
exercício da cidadania na democracia contemporânea. São Paulo: HotTopos, 1997.
• ARAGÃO, Murillo. Os grupos de pressão no Congresso Nacional: abordagem ao papel dos grupos no Legislativo, seus
procedimentos e legislação pertinente. Brasília, 1992. Dissertação (Mestrado em Ciência Política) –Faculdade de
Estudos Sociais Aplicados, Departamento de Ciência Política e Relações Internacionais, Universidade de Brasília,
Brasília, 1992.
• BASTOS, Celso Ribeiro. Curso de Teoria do Estado e Ciência Política: 6ª Edição. São Paulo: Celso Bastos Editora, 2004.
• BONAVIDES, Paulo. Ciência Política: 10ª Edição, 9ª Tiragem. São Paulo: Malheiros Editores, 2000.
• BORIN, Jair. O Lobby na Imprensa: tipificação e formas de atuação. Cadernos de Jornalismo e Editoração. São Paulo,
n. 22, 1988, p. 61-70.
• CASTRO, Celso Antonio Pinheiro de; FALCÃO, Leonor Peçanha. Ciência Política: Uma Introdução. São Paulo: Atlas,
2004.
• GRAZIANO, Luigi. Lobbying and the public interest. In: ANNUAL CONFERENCE OF ANPOCS, 20., 1996, Caxambu,
Brasil, oct. 22-26. Outline of a talk to be given at the 20th Annual Conference of Anpocs. Caxambu: [S. n.], 1996.
• OLIVEIRA, Andréa Cristina. Breve histórico sobre o desenvolvimento do lobbying no Brasil. Brasília a. 42 n. 168
out./dez. 2005.

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