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Lei 12008/2009.

Prioridade na Tramitação de Processos


“Judiciais” e Procedimentos Administrativos. Idosos e
Portadores de Doenças Graves. Alteração no CPC (Arts.
1211-A a 1211-C), na Lei 9784/1999 (Art. 69-A) e no Estatuto
do Idoso (Art 71,§2º).
Temas: Processo Civil, Reformas do CPC | | Autor: Amílcar
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Foi publicada hoje, 30 de julho, a lei 12008/2009, que altera:

o código de processo civil (arts. 1211-A a 1211-C);


reduzindo para 60 anos a idade mínima para a concessão da prioridade, a fim de
adequar o art. 1211-A do CPC ao estatuto do idoso (art. 71);
estendendo o benefício aos portadores de doenças graves;
determinando a identificação dos autos que tramitem sob prioridade, de modo a
evidenciar a existência do regime (art. 1211-B,§1º).
dispondo que, concedido o benefício, na hipótese de falecimento do titular, ele
não cessará independentemente da idade do cônjuge ou companheira supérstite
(art. 1211-C);

a lei 9784/1999 (Art. 69-A);


estendendo a prioridade na tramitação aos procedimentos administrativos no
âmbito federal;

e, tacitamente, o estatuto do idoso (Art. 71,§2º);


revogando §2º do art 71, que estabelecia a cessação do benefício, na hipótese de
falecimento do titular, se a idade do cônjuge ou companheiro sobrevivente fosse
inferior a 60 anos.

LEI Nº 12.008, DE 29 DE JULHO DE 2009.

Altera os arts. 1.211-A, 1.211-B e 1.211-C da Lei nº 5.869, de 11 de janeiro de 1973 - Código
de Processo Civil, e acrescenta o art. 69-A à Lei nº 9.784, de 29 de janeiro de 1999, que
regula oprocesso administrativo no âmbito da administração públicafederal, a fim de
estender a prioridade na tramitação deprocedimentos judiciais e administrativos às
pessoas que especifica.
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço
saber que o Congresso Nacional
decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

Eis o que, no pouco tempo


transcorrido desde a sua edição, se
pôde apurar:

Art. 1211-A do CPC. Redução da Idade Mínima


Para 60 (Sessenta) Anos. Adequação Ao
Estatuto do Idoso. Extensão do Benefício
aos Portadores de Doenças Graves.
Art. 1º O art. 1.211-A da Lei nº 5.869, de 11 de janeiro de 1973 - Código de Processo Civil,
passa a vigorar com a seguinte redação:

“Art. 1.211-A. Os procedimentos judiciais em que figure como parte ou interessado pessoa
com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos, ou portadora de doença grave, terão
prioridade de tramitação em todas as instâncias.

Parágrafo único. (VETADO)” (NR)

O artigo 71 do estatuto do idoso prevê, também, a possibilidade de deferimento


da “prioridade processual” a partir dos 60 anos. (No STF, a matéria é
regulamentada pela resolução nº 277/2003 e, no STJ, pela de nº 11/2003).

Mens Legislatoris
Além de estender o benefício aos portadores doenças graves, a alteração, segundo
o parecer nº 358/2008 da Comissão e Constituição de Justiça do Senado
objetivou…

(…) adequar, em termos, o art. 1211-A do Código de Processo Civil – CPC com o art. 71 da
Lei nº. 10.741/2003 – Estatuto do Idoso, para que melhor seja aplicada a Justiça Social.

O relator do substitutivo da Câmara, Deputado Geraldo Pudim ratificou a


finalidade meramente expletiva da modificação em relação aos idosos:
(…) é cabível e necessária a redução
da idade prevista no art. 1.211-A do
CPC para 60 (sessenta) anos de idade,
porque afina a redação desse
dispositivo ao art. 71 da Lei n.° 10.741,
de 1.° de outubro de 2003 – Estatuto
do Idoso.

A substituição do vocábulo interveniente por interessado deve-se a emenda


apresentada pelo Senador José Jorge, assim justificada:

(…) a palavra interveniência não deve ser utilizada no dispositivo a ser alterado, pois nem
sempre a intervenção traduz interesse na antecipação do resultado processual. A nosso ver,
é preferível que o dispositivo limite sua abrangência a pessoa idosa ou portadora de
enfermidade que figure como parte ou tenha interesse processual.

Dispositivo Vetado (Parágrafo Único do Art. 1211-A) e


Razão do Veto. Inadmissibilidade de “Listas” de
Doenças Graves Elaboradas pelos Ministério da
Saúde e do Trabalho. Controle dos Requisitos
Pelo Juiz

• Razão do Veto
“A classificação de qualquer enfermidade como grave depende da análise das condições
físicas e do estado de saúde do seu portador e não da doença em si. A maior parte delas
apresenta estágios e graus de incapacidade variados, não sendo possível classificá-las
objetivamente a partir de um critério de gravidade. Diante disso, a gravidade da
enfermidade deve ser aferida pela autoridade judiciária em cada caso concreto, com base
nas provas que acompanharão o requerimento de prioridade apresentado.”

Mens Legislatoris do Dispositivo Vetado. Aplicação da Enumeração


Taxativa das Doenças Graves Constante do Substitutivo da
Câmara aos “Processos” Administrativos.

O substitutivo apresentado pela Câmara dos Deputadosdiscriminava as


enfermidades autorizadoras da concessão do benefício da prioridade na tramitação,
e adotava a cláusula geral “ou outra doença grave”, segundo a medicina
especializada, para contemplar as hipóteses não previstas no dispositivo.
Assim explicou a necessidade do rol minudente o relator do substitutivo:

(…) entendemos que as doenças graves devem ser expressamente enumeradas no


dispositivo que se pretende acrescentar, a exemplo do art. 6.°, XIV, da Lei 7.713, de 22
de dezembro de 1988, sob pena de se inviabilizar o exercício do direito na hipótese de
eventual lacuna normativa.

Também acreditamos que o regime diferenciado de tramitação deva ser estendido às


pessoas portadoras de deficiência, física ou mental (PLs 5.380, 5.627 e 5.856, de 2001;
5.182 e 5.599, de 2005), bem como àquelas vítimas de acidente de trabalho ou portadoras
de doença profissional
(PLs 5.000, de 2001; 5.182 e 6.748, de 2005).

O Senado, todavia, manteve a solução apenas para os procedimentos


administrativos regidos pela lei 9784/99 (vide, infra, o art. 69-A) e optou, em se
tratando de “processo judicial”, por cometer aos Ministérios da Saúde e do
Trabalho a tarefa de enumeração das doenças graves. Alegou, para isso, o Senador
Eduardo Suplicy, que:

(…) a concessão da prioridade deve se limitar aos idosos e aos portadores de doença
grave, de modo que se suprima a indicação expressa de todas
as doenças consideradasgraves, por se tratar de matéria estranha ao CPC.

Tendo sido o mecanismo engendrado pelo Parlamento vetado pela Presidência,


tem-se, esquematicamente, a seguinte evolução:

Art. 1211-B,§1º do CPC. Identificação dos


Autos de Processos em Trâmite Sob o
Regime de Prioridade.
Art. 2º O art. 1.211-B da Lei nº 5.869,
de 1973 - Código de Processo Civil,
passa a vigorar com a seguinte redação:

“Art. 1.211-B. A pessoa interessada na


obtenção do benefício, juntando prova de sua condição, deverá requerê-lo à autoridade
judiciária competente para decidir o feito, que determinará ao cartório do juízo as
providências a serem cumpridas.
§ 1º Deferida a prioridade, os autos receberão identificação própria que evidencie o regime
de tramitação prioritária.

§ 2o (VETADO)

§ 3o (VETADO)” (NR)

O estatuto do idoso, em seu art. 71,§1º, determina a anotação da existência


daprioridade da tramitação em local visível do processo.

Mens Legislatoris
Ante a similitude das redações, coloca-se a questão de saber se também a presente
alteração é meramente expletiva do que dispõe o estatuto do idoso (a exemplo da
modificação do art. 1211 a em relação à idade), ou se pretendeu o legislador inovar
ao editá-la.

Dos anais do Parlamento colhe-se ter havido resistência ao texto sancionado.


Sustentou o Senador Eduardo Suplicy que:

“(…)não nos parece adequada a definição do procedimento para a identificação dos autos
dos processos que tramitam com prioridade, por se tratar de matéria de competência
interna dos Tribunais.”

O relator do substitutivo da Câmara assim aludiu à alteração:

(…), apresento redação a determinar que, se deferida a prioridade, os autos sejam


devidamente identificados (….)

Parece, portanto, que desejou o Congresso alterar o quadro normativo anterior,


impondo ao Judiciário a obrigação de evidenciar o regime de tramitação prioritária
(v.g, mediante “capas” distintas), sendo insuficiente a simples anotação de sua
existência em “local visível” do
processo. Se disso resultará maior
celeridade processual, é problema
que não calha agora abordar.

Dispositivos Vetados
(§§2º e 3º do art.
1211-B) e Razões dos Vetos. Ineficiência da
Fixação de Prazo Para o Julgamento de
Recursos. Responsabilidade da Pessoa Jurídica
de Direito Público Pelos Danos Causados Por
Seus Agentes.

• Razões dos Vetos

A fixação de prazo para o julgamento dos recursos que tramitam em regime de prioridade é
ineficiente para assegurar a celeridade almejada, haja vista que inúmeros fatores, muitas
vezes de ordem material e operacional, são causas da morosidade da tramitação processual
e não podem ser superadas pelo simples estabelecimento de prazo máximo para
julgamento.

De acordo com o texto constitucional, a pessoa jurídica de direito público responde


diretamente pelos danos causados a terceiros por seus agentes, mandamento que não foi
observado pelos dispositivos em questão, os quais responsabilizam diretamente o agente
público pelo dano causado em razão do descumprimento do regime de tramitação
prioritária.

O relator do parecer da Comissão e Constituição e Justiça do Senado desaprovara,


igualmente, o texto vetado, e não se encontra nos anais da Casa razão para que haja
sido mantido.

Nota sobre a Dispensa da Inclusão de Recursos em Pauta de


Julgamento

Uma observação crítica há de ser feita. Observe o leitor que, dentre as razões do
veto, não constou a da dispensa da inclusão em pauta do recurso ( art. 1211-B, §2º),
exemplo perfeito do corriqueiro hábito de sacrificar-se garantias constitucionais
pétreas no altar dos ilusórios benefícios hipotéticos. Já se demonstrou, em outra
ocasião, a importância do comparecimento do advogado à sessão de julgamento, e é
a inclusão do feito em pauta o meio
de possibilitá-la. Não é esta a sede
para, de novo, examinar a matéria,
mas nunca será demais averbar que
a promessa de quiméricas
melhorias tem sido o mecanismo
predileto de supressão de direitos
fundamentais. Felizmente, quis a
sorte dos enfermos e idosos que, mirando no que viu, acertasse a Presidência
também no que não enxergou, evitando terríveis prejuízos ao jurisdicionado ao
vetar o infeliz preceito.

Art. 1211-C do CPC. Irrelevância da Idade do


Cônjuge ou Companheiro Sobrevivente
para a Tramitação Prioritária na Hipótese
de Falecimento do Beneficiado. Revogação
Tácita do §2º do Art. 71 do Estatuto do
Idoso.
Art. 3o O art. 1.211-C da Lei no 5.869, de 1973 - Código de Processo Civil, passa a vigorar
com a seguinte redação:

Art. 1.211-C. Concedida a prioridade, essa não cessará com a morte do beneficiado,
estendendo-se em favor do cônjuge supérstite, companheiro ou companheira, em união
estável. (NR)

Na redação anterior, falecendo o beneficiado pela prioridade, ela não cessaria


apenas se a idade do cônjuge ou companheiro supérstite também ultrapassasse os
65 anos. Tal exigência foi suprimida pela lei 12.008.

Uma vez que o estatuto do idoso, em seu art. 71, §2º, condiciona, na hipótese de
falecimento do beneficiado, a continuidade do regime de tramitação prioritária à
idade do cônjuge ou companheiro sobrevivente, nada se pode opor à constatação de
sua revogação pelo art. 1211-C do CPC com a redação dada pela lei 12008/09.
Doravante, qualquer que seja a sua idade, subsistirá a prioridade.

(Atualização de 03/08/09). A assessoria de imprensa do STJ adotou interpretação


que confirma a revogação (sem haver notado, porém, que ela atingiu também o
estatuto do idoso):

“Benefício ao cônjuge
Em caso de falecimento do idoso parte ou interessado no processo, a nova lei traz novas
garantias. A partir de agora, independentemente da idade, o cônjuge sobrevivente,
companheiro ou companheira, em união estável, também terá a prioridade na tramitação
daquele processo em que o idoso falecido tinha o benefício. Anteriormente, o CPC garantia
a manutenção da preferência apenas quando o cônjuge tinha mais de 65 anos.”

Lei 9784/1999. “Processo” Administrativo no


Âmbito da Administração Pública Federal.
Alterações introduzidas pela Lei 12008/09
O art. 69-A, introduzido pela lei 12008/2009, não possui correspondente na
redação primitiva do diploma regulamentador do procedimento administrativo na
esfera federal. Ei-lo:

Art. 4º A Lei nº 9.784, de 29 de janeiro de 1999, passa a vigorar acrescida do seguinte art.
69-A:

“Art. 69-A. Terão prioridade na tramitação, em qualquer órgão ou instância, os


procedimentos administrativos em que figure como parte ou interessado:

I - pessoa com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos;

II - pessoa portadora de deficiência, física ou mental;

III – (VETADO)

IV - pessoa portadora de tuberculose ativa, esclerose múltipla, neoplasia maligna,


hanseníase, paralisia irreversível e incapacitante, cardiopatia grave, doença de Parkinson,
espondiloartrose anquilosante, nefropatia grave, hepatopatia grave, estados avançados da
doença de Paget (osteíte deformante), contaminação por radiação, síndrome de
imunodeficiência adquirida, ou outra doença grave, com base em conclusão da medicina
especializada, mesmo que a doença tenha sido contraída após o início do processo.

§ 1o A pessoa interessada na obtenção do benefício, juntando prova de sua condição,


deverá requerê-lo à autoridade administrativa competente, que determinará as
providências a serem cumpridas.

§ 2o Deferida a prioridade, os autos receberão identificação própria que evidencie o regime


de tramitação prioritária.
§ 3o (VETADO)

§ 4o (VETADO)

Enumeração Taxativa
das “Doenças
Graves”. Controle
Pelo Poder Judiciário.
A enumeração taxativa das enfermidades graves, solução que se demonstrou haver
sido deliberadamente repelida em se tratando de “processos judiciais”, foi mantida
nos procedimentos administrativos federais. Ante a dicção do Art. 5º,XXXV da CF,
as portas do Judiciário estarão abertas aos portadores de outras doenças graves a
que a prioridade na tramitação não for concedida.

Partiu, observe-se, da Câmara a iniciativa de estender o regime aos “processos”


administrativos. Na CCJ do Senado, foi ela censurada pelo Relator, Sen. Eduardo
Suplicy:

“(…) a extensão do regime de prioridade aos processos administrativos não nos


parece adequada. O propósito inicial do projeto é trazer celeridade aos processos
judiciais, cuja tramitação é inaceitavelmente morosa. Os processos administrativos,
em grande parte, têm tramitação mais célere que não justifica a quebra da ordem
cronológica de tramitação.”

Dispositivos Vetados e Razões dos Vetos.

O veto do §4º funda-se nas mesmas razões que acarretaram o do §3º do art. 1211-B
do CPC. O §3º padece dos vícios invocados para a não chancela do §2º do Código e,
além disso, segundo a mensagem presidencial, a lei 9748/1999…

(…) já regulamenta a matéria de forma mais adequada, uma vez que, além de fixar o prazo
máximo de trinta dias para o julgamento de recurso, prevê a possibilidade de sua
prorrogação pelo mesmo período, ante justificativa explícita da administração, o que
resguarda não apenas a celeridade, mas também o interesse do próprio beneficiário, em
caso de necessidade de prazo maior para a conclusão da instrução e julgamento do recurso.
O não ingresso do inciso III no mundo normativo deve-se a que, de acordo com os
Ministérios da Justiça, da Fazenda e da Previdência Social:

A atribuição do direito de prioridade na tramitação aos portadores de moléstia profissional


ou vítima de acidente de trabalho abrangerá um universo de beneficiários excessivamente
amplo e de difícil definição, o que coloca em risco os objetivos almejados pela própria
proposta, uma vez que a extensão do benefício com tal amplitude inviabilizaria sua
implementação.

O art. 5º, por fim, estabelece que:

Art. 5º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

Brasília, 29 de julho de 2009; 188o da Independência e 121o da República.

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