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FÍSICA
Da filosofia ao en igm a
da m atéria n egra
A HISTÓRIA DA
FÍSICA
Anne Rooney
^ Í B ooks
M.Books do Brasil Editora Ltda.
ISBN: 978-85-7680-217-4
2013
M.Books do Brasil Editora Ltda.
Proibida a reprodução total ou parcial.
Os infratores serão punidos na forma da lei.
Direitos exclusivos cedidos à
M.Books do Brasil Editora Ltda.
Para o meu pai, Ron Rooney, que me in troduziu às m aravilhas
da ciência. Feliz aniversário de 80 anos - e obrigada.
A g ra d e c im e n to s
A g ra d e c im e n to s ..7
INTRODUÇÃO
O livro d o u n iv e rso ............................... 16
O nascimento da Física............................... 16
Do empirismo ao experimento................... 18
A revolução científica.................................. 20
Sociedades científicas.................................. 21
A melhor ferramenta científica - o cérebro 23
CAPÍTULO 1
A m ente se so b re p õ e à m a t é r ia ............ 25
O primeiro físico?......................................... 26
As sementes da matéria....................... .26
A mente animando a matéria............. .26
Tudo se transforma.............................. .28
Partes indivisíveis................................. .28
Coisas e não coisas.............................. .29
Matéria atômica e elementar.......... 30
Quatro - ou cinco - elementos .30
SUMÁRIO
■ M-M-Mudanças........................................................................... 31
Atomismo indiano........................................................................ 32
Atomismo islâmico........................................................................33
Dos átomos aos corpúsculos........................................................ 34
Dos cospúsculos de volta para os átomos...................................35
A idade da Razão.......................................................................... 35
O nascimento da física do estado sólido............................................ 36
Átomos e elementos............................................................................. 39
Tudo em proporção......................................................................40
Átomos - verdadeiro ou falso?.....................................................42
Os átomos são divisíveis?............................................................. 43
CAPÍTULO 2
Fazendo a luz tra b a lh a r - Ó p t ic a .........................................45
10
SUMÁRIO
CAPITULO 3
M a s s a em m o v im e n to - M ecânica. .73
Mecânica em ação............................ . 74
A mecânica dos gregos antigos .75
O problema da dinâm ica................. . 77
O experimento do túnel........... .79
O verdadeiro nascimento da mecânica clássica................................ 80
O experimento da bola de Galileu...........L...................................81
Parar e começar........................................ 84
O mestre fala............................................. 85
Movimento e gravidade............................ 85
O universo como campo de testes............................................... 85
Ar e água............................................................ 86
Da água para o mercúrio.......................... 88
Dinâmica dos fluidos................................. 88
Juntando fluidos e massa........................... 89
Colocando a mecânica parafuncionar.......... ..................................... 89
Colocando a mecânica newtoniana em uma nova posição........90
Inércia e gravidade vêm juntas............... ..................................... 91
Grande e pequeno .91
11
CAPÍTULO 4
E n e rgia c a m p o s e f o r ç a s ......................................................93
A conservação de energia......................................................................94
Inventando a "energia"................................................................. 94
Lutando com o fogo...................................................................... 95
Termodinâmica.......................................................................................98
As leis da termodinâmica............................................................. 100
Zero absoluto............................................................................... 103
Calor e luz............................................................................................. 103
Radiação do corpo negro e quanta de energia...........................104
Outras formas de energia............................................................105
Descobrindo a eletricidade..................................................................106
Pipas e trovões............................................................................. 107
Eletricidade na moda................................................................... 108
Pondo a eletricidade para funcionar...........................................109
Esperando nos bastidores: magnetismo..................................... 110
Eletromagnetismo - o casamento da eletricidade com o
magnetismo.......................................................................................... 111
Alvorada de uma nova era magnética.........................................112
Mais ondas............................................................................................ 114
Radiação.......................................................................................116
Procuram-se - átomos................................................................. 119
CAPÍTULO 5
D e n tro d o á t o m o ...... 121
Dissecando o átomo 12 2
Pudins de passas e sistemas solares .122
12
O modelo saturnino................................J................................... 124
Quantum solace............................................... f...................................126
Luz inteligente.........................................i................................... 127
Outro momento newtoniano.................1................................... 129
Onda ou partícula?.................................. j...................................1 30
Podemos estar certos?.............................1................................... 1 33
A interpretação de Copenhagen.............j...................................1 34
Um gato em uma caixa...........................;...................................1 34
Muitos universos..................................... l ...................................1 35
Embaralhamento quântico: o paradoxo Einstein-Podolsky-Rosen ..
135
A busca por mais partículas atômicas...... ..................................1 37
Juntando tudo........................................... ..................................1 38
As coisas desmoronam.......................................................................1 39
Aproveitando a reação em cadeia.................. j...................................141
O fim do átomo clássico.................................. J.................................. 142
Matéria e antimatéria................................ 144
Partículas fantasmas................................ J ...................................145
A última partícula perdida....................... 147
Partículas das estrelas............................... 149
CAPÍTULO 6
T e n tan d o a lcan ça r as e stre la s............................................ 151
Estrelas e pedras..................................................................................152
Primeiros observadores das estrelas............................................152
Da observação ao pensamento.......................................................... 154
Hiparco - o maior astrônomo da antiguidade?.........................155
13
SUMÁRIO
CAPÍTULO 7
E sp aço -te m p o c o n t in u a n d o ............................................... 193
14
SUMÁRIO
CAPÍTULO 8
Física para o f u t u r o ........................................................... 207
ín d ic e ................................................................................ 214
15
INTRODUÇÃO
O LIVRO
DO UNIVERSO
“O livro do Universo não pode ser apenas 4% do universo, os outros 96% são
entendido sem primeiro se aprender a um mistério a ser revelado.
compreender o alfabeto que o compõe.
Ele é escrito em linguagem matemática, O n ascim e n to d a Física
e seus caracteres são triângulos, círculos Antes do desenvolvimento do método ex
e outras figuras geométricas, sem perimental, os primeiros cientistas - ou os
as quais é humanamente impossível “filósofos naturais”, como eram chamados
entender uma única palavra dela; sem
eles, fica-se vagando em um labirinto
escuro.”
Os padrões, formas e
números que estruturam o
mundo natural são assunto
da física.
- aplicaram a razão ao
que viam em volta de
les e chegaram a teorias
para explicar suas obser
vações. Como os corpos
celestes parecem se mo
ver pelo céu, por exem
plo, muitos de nossos
antecessores concluíram
que a Terra está no cen
tro do universo e tudo
gira em torno dela.
Os poucos que pen
savam diferente tinham
de chegar a bons argu
mentos para refutar a
solução de senso comum,
e durante 2000 anos eram a minoria, sendo causas dos fenômenos observados. Os gre
muitas vezes ridicularizados ou mesmo per gos antigos são as primeiras pessoas que
seguidos. conhecemos que tentaram substituir as
Muitas superstições e crenças religiosas explicações místicas e supersticiosas por
têm raízes na explicação do mundo obser outras, baseadas na observação e na razão.
vado. O Sol nasce porque atravessa o céu A primeira pessoa a tentar explicar o mun
por um condutor sobrenatural, por exem do natural sem recorrer à crença religiosa
plo. A ciência, por outro lado, esforça-se pode ter sido Tales, mas o primeiro cientis
para encontrar a verdadeira natureza e as ta verdadeiro talvez tenha sido o pensador
£aleõ conclusão.
Os gregos foram os primeiros a dividir a
ciência em disciplinas diferentes. A grande
biblioteca na Alexandria produziu o primei
ro catálogo de biblioteca, que foi essencial
para o tipo de crítica literária que Aris
tóteles propôs como parte de qualquer
investigação.
D o e m p irism o ao
ex p e rim e n to
Com o fim do período helénico (o
auge da civilização grega clássica), o
uso do método científico para enten
der o mundo natural declinou até o
surgimento da ciência árabe no século
7 d.C. O brilhante Ibn al-EIassan Ibn
al-Haytham (965-1039) desenvolveu
18
INTRODUÇÃO
20
INTRODUÇÃO
demonstração pública, dizendo que ele iria O Lincei foi uma aventura muito pes
defender os resultados do experimento; o soal, e quando Cesi morreu em 1630, ele
professor não apareceu. logo se dividiu. Foi sucedido pela Academia
de Experimento em Florença, fundada em
Sociedades científicas 1657 por dois ex-alunos de Galileu, Evan
O interesse crescente pela ciência deu ori gelista Torricelli (1608-1647) e Vincenzo
gem a sociedades científicas espalhadas Viviani (1622-1703). Esta também durou
pela Europa a partir do século 17. Estas pouco, fechando após dez anos em 1667; na
deram encaminhamento a conversas, ex época o centro de desenvolvimento cien-
perimentações e o desenvolvimento cien
tífico. A primeira delas foi a Accademia
dei Lincei, formada por Federico Cesi, um
rico florentino com grande interesse pela
ciência. Embora tivesse apenas 18 anos,
Cesi acreditava que os cientistas deveriam
estudar a natureza diretamente, em vez de
se guiarem pela filosofia aristotélica. Os
primeiros membros da academia viviam
comunitariamente em uma casa de Cesi,
onde ele lhes fornecia livros e um labora
tório totalmente equipado. Os integrantes
incluíam o físico holandês Johannes Eck
(1579-1630), o acadêmico italiano Giam
battista della Porta (c. 1535-1615) e - o
mais famoso - Galileu Galilei. No apo
geu, a academia tinha 32 membros
espalhados pela Europa. A aca
demia estabeleceu como seus
objetivos em 1605 “adquirir
conhecimento de coisas e
sabedoria... e apresentá-
-los pacificamente aos ho
mens, sem qualquer prejuí
zo”. Apesar disso, o grupo foi
acusado de magia negra, de se
opor à doutrina da Igreja e de
viver escandalosamente.
21
INTRODUÇÃO
'
MICROGRAPHIA:
O it SOME
Theological Vefcriptím
Micrografia, de
Robert Hooke,
revelou detalhes
mínimos sobre a
vida pela primeira
vez.
22
INTRODUÇÃO
A m e lh o r fe rram e n ta
científica - o cérebro
Sem recursos para equipamen
tos e sem realizar experimentos, Aristóteles O pêndulo de Foucault no Panteão, Paris, for
chegou a modelos para a natureza da maté neceu uma demonstração contundente de que a
ria e o comportamento de corpos em dife Terra gira em torno de seu eixo.
rentes condições que funcionavam de acor
do com o que já se conhecia. No início do cálculos que levariam vidas inteiras em um
século XX, o físico Albert Einstein (1879- passado não tão distante.
1955) revolucionou a Física e a visão cientí Mas por trás de todos os avanços na
fica do universo usando apenas caneta e pa ciência, são a inventividade e a curiosidade
pel. Assim como Aristóteles, ele trabalhou dos seres humanos que impulsionam o pro
a partir de observações do universo para gresso, tanto nas universidades e laborató
desenvolver teorias, lidando com fenôme rios de pesquisa de hoje quanto nas acade
nos que não podiam na época ser realmente mias ao ar livre da Grécia Antiga.
investigados por experimentação ou mesmo
por medição.
Ao contrário de Aristóteles, no entanto,
e seguindo uma prática iniciada por New-
ton em 1687, Einstein fez uso rigoroso da
matemática para apoiar seus argumentos e
mostrar que seu sistema funcionava com o
que já era conhecido. Ele fez previsões que
desde então foram corroboradas por obser
vação e experimentação. Cálculos matemá
ticos consideráveis geralmente são aplicá
veis para testar um novo modelo em física
nos dias atuais, e nesse sentido os físicos
modernos têm vantagem sobre as gerações
anteriores. Agora eles possuem computado
res que lhes permitem executar rapidamente Microscópio de Robert Hooke.
CAPÍTULO 1
A mente se
sobrepõe
À MATÉRIA
26
O PRIMEIRO FÍSICO?
No esquema de Anaxágoras, um objeto natural como um texugo mistura sementes que incluem pele,
sangue e osso com nous ou "inteligência". Um objeto inanimado compartilha as mesmas sementes
em diferentes proporções, mas não possui "mente".
27
A MENTE SE SOBREPÕE À MATÉRIA
P artes indivisíveis
A palavra “átomo” vem do termo do grego
clássico “átomos”, que significa inseparável
ou indivisível. A sugestão de que tudo é fei
to de partículas minúsculas indivisíveis tem
suas origens no século 5 a.C. com o trabalho
de Leucipo, e depois com seu aluno Demó-
crito. Sabe-se muito mais sobre Demócrito
(c. 460-C.370 a.C.) do que sobre Leucipo, a
Quando uma árvore queima, seus constituintes ponto de o filósofo grego Epicuro (341-270
se reorganizam radicalmente. a.C.) duvidar da existência de Leucipo. E
28
O PRIMEIRO FÍSICO?
impossível dizer que parte do modelo atô problemas insuperáveis para os pensadores
mico veio de Leucipo. O atomismo sustenta gregos que viveram posteriormente e levou
que o universo abrange matéria formada de o modelo atômico ao marasmo do qual ele
partículas minúsculas, indivisíveis, existen não saiu durante 2.000 anos.
tes num vazio. Os átomos de qualquer subs
tância são do mesmo tamanho e formato, e C oisas e não coisas
feitos do mesmo material. Até aqui o atomismo soa muito parecido ao
Se os átomos são partículas homogêneas modelo de Anaxágoras; no entanto, para ele,
{homeomerias) minúsculas, existe uma questão toda matéria flutuava no ar ou aether (veja
óbvia: por que eles não podem ser ainda mais a página 32), que é uma substância física,
divididos? Se Demócrito tinha uma resposta, enquanto para os atomistas a matéria existia
esta não sobreviveu. Pode ser que os átomos, em um vácuo. Demócrito (ou Leucipo) foi
sendo homogêneos, não tenham vazio interno o primeiro a postular o vácuo, embora a ne
(enquanto pedaços maiores de matéria têm es cessidade de um vácuo fosse evidente para a
paço entre os átomos), e isso, em si, significa matéria se mover: em um universo cheio de
que eles não podem ser divididos. matéria, cada parte de espaço já estaria ocu
Existe um paradoxo inato, também, em pada de modo que não pudesse ser ocupada
um modelo de matéria composto de partí por algo mais que se movesse dentro dele.
culas infinitesimais. O que Anaxágoras quis Quando algo se move, não só muda para
dizer com infinitesimal era que as partículas um espaço vazio, mas também deixa espaço
eram menores do que qualquer medida ar vazio para trás. Enquanto os primeiros pen
bitrariamente pequena, mas maiores do que sadores negavam a existência de um vácuo
zero. Mesmo assim, ele acreditava que todo (“o que não é”), Demócrito contou com a
objeto guardasse um número infinito de evidência de nossos sentidos - sabemos que
partículas, pois por menor que fosse a por as coisas se movem - para estabelecer o vá
ção que ele tomasse, sempre haveria um cuo como um conceito válido. Além disso,
pouco de cada tipo de matéria. Se os átomos podemos ver que o universo é composto de
ou sementes não têm extensão no espaço muitas coisas (ele tem pluralidade), enquan
(tamanho zero), então mesmo um número to se não houvesse espaço vazio, toda maté
infinito deles não poderia compor matéria ria seria contínua. A pluralidade e a mudan
de tamanho finito. Esse dilema apresentou ça exigem um vácuo.
HOMEOMERIAS
Anaxágoras, e mais tarde os pensadores gregos, distinguiam substâncias que eram homeô-
meras (homogêneas) e aquelas que não eram. Uma substância homeômera é aquela em
que todas as partes são como um todo. Logo, uma pepita de ouro é homeomeria porque
não importa o quanto seja pequena, ela ainda tem as propriedades de uma grande pepita
de ouro. Uma árvore ou um navio não são homeômeros, pois podem ser divididos em par
tes que possuem características diferentes. Para o olhar moderno, as homeomerias são os
elementos e os compostos químicos puros.
29
A MENTE SE SOBREPÕE À MATÉRIA
M a té ria a tô m ic a e ele m e n tar terra, água, fogo e ar. Esse modelo foi retra-
Para a mentalidade moderna, os átomos e ele balhado e defendido por Aristóteles, talvez
mentos são parte do mesmo modelo do uni o maior e mais influente pensador da histó
verso. Os elementos são substâncias químicas ria do ocidente.
puras, cada uma composta de átomos idênti Platão renomeou os quatro “elementos
cos; logo, todo o ouro são átomos de ouro, e principais” e Aristóteles usou esse termo.
todo o hidrogênio são átomos de hidrogênio. Cada elemento é caracterizado por duas pro
Os compostos, no entanto, contêm átomos priedades dos contrários naturais - quente-
de dois ou mais elementos; logo o dióxido de -frio e úmido-seco. Logo, a terra é fria e seca,
carbono abrange átomos de carbono e oxi a água é fria e úmida, o ar é quente e úmido,
gênio, por exemplo. Nas teorias antigas da e o fogo é quente e seco. Essas propriedades
matéria, contudo, os átomos e os elementos também formaram a base do modelo de saú
pertencem a modelos diferentes. de e doença conl base nos quatro humores
propostos por Hipócrates (c. 460-C.377 a.C.)
Q uatro - ou cinco - elementos ou sua escola, que perdurou até o século XIX.
Empédocles (c. 490-C.430 a.C.) ensinava De acordo com a teoria elementar, toda
que tudo é formado por quatro “princípios”: matéria ocupa naturalmente um campo que
30
NjSE
N .
M -M -M udanças
Enquanto Parmênides não conseguiu expli
car as mudanças e os atomistas afirmavam
que o vazio permitia que a matéria mudasse,
Aristóteles afirmou que todas as mudanças
ocorrem como transformação entre os esta
dos. Isso envolvia ’’transformar-se e voltar
ao estado natural” - novamente uma ver
são da conservação de massa. Logo, para se
Desenho alegórico dos quatro elementos em um
manuscrito do século XII.
31
MENTE SE SOBREPÕE À MATÉRIA
32
MATÉRIA ATÔMICA E ELEMENTAR
A teoria do atomismo de Jain data do sé te que lhes permite se ligarem. Os átomos
culo I a.C. ou antes. Ela vê o mundo todo, podiam se combinar para produzir qualquer
com exceção das almas, como composto de um de seis “agregados”: terra, água, som
átomos, cada qual tendo um tipo de gosto ou bra, objetos dos sentidos, matéria kármica e
cheiro, uma cor e dois tipos de característi matéria imprópria. Havia teorias complexas
ca ao toque. Os átomos de Jain ficavam em sobre como os átomos se comportavam, rea
movimento constante, geralmente em linhas giam e se combinavam.
retas, embora pudessem seguir uma trajetó
ria curva se atraídos a outros átomos. Havia A tomismo islâmico
ainda um conceito de carga polar, com partí Se as teorias indiana e grega foram as pri
culas tendo uma característica suave ou for meiras, ambas foram trazidas pelos primei
ros estudiosos islâmicos. Os ensinamentos
dos gregos antigos sobreviveram no Império
Romano Oriental (Bizantino) e foram reto
mados pelos primeiros estudiosos árabes que
os traduziram e comentaram. Havia duas
formas principais de atomismo islâmico, uma
mais próxima do pensamento indiano e a ou
tra, do aristotélico. A que teve mais sucesso
foi o trabalho Asharite de al-Ghazali (1058-
1111). Para al-Ghazali, os átomos são as úni
cas coisas materiais eternas; tudo o mais dura
apenas um instante e é considerado “aciden
tal”. As coisas acidentais não podem ser a
causa de qualquer coisa, exceto a percepção.
33
A MENTE SE SOBREPÕE À MATERIA
Alguns anos mais tarde, o filósofo islâ um alquimista islâmico do século VIII, em
mico de origem espanhola Averroes (Ibn bora os textos não fossem realmente tradu
Rushd, 1126-1198) rejeitou o modelo de ções dos trabalhos de Geber.) Pseudo-Geber
al-Ghazali e comentou longamente sobre propôs que todos os materiais físicos têm
Aristóteles. Averroes foi muito influente no uma camada interna e outra externa de cor
pensamento medieval posterior e foi fun púsculos. Ele acreditava que todos os metais
damental para que a academia cristã e judia fossem feitos de corpúsculos de mercúrio e
absorvesse o pensamento aristotélico. enxofre em proporções diferentes. Ele apoia
Muito do trabalho árabe foi traduzido va essa crença na alquimia (veja o box, página
para o latim no início da Idade Média, in 36), pois esta significava que todos os metais
troduzindo o pensamento clássico grego tinham os ingredientes necessários para se
na Europa. Os ensinamentos de Aristóteles tornar ouro - eles só precisavam se refinar
eram adotados pela Igreja Católica sempre adequadamente ou serem reorganizados.
que não contradissessem diretamente a Bí- Algo parecido à visão de Pseudo-Geber
bilia ou os pensadores cristãos influentes. era descrito por Nicholas de Autrecourt (c.
Por essa via, eles formaram os fundamentos 1298-C.1369). Autrecourt fez o debate fer
dos modelos científicos e filosóficos acei ver em Paris, na época o centro intelectual
tos que foram correntes no Ocidente até a da Europa, acerca de divisibilidade ou indi
Renascença, quando pensadores europeus visibilidade de um continuum. Essa questão
finalmente começaram a questionar e a che surgiu da declaração de Aristóteles de que
car os ensinamentos dos antigos. um continuum não pode ser formado de par
tículas indivisíveis. Ele acreditava que toda
D O S ÁTOM OS AO S CORPÚ SCULOS matéria, espaço e tempo fossem compostos
No século XIII, um alquimista anônimo de átomos, pontos e instantes, e que toda
chamado Pseudo-Geber deu início a uma mudança é o resultado da reorganização de
teoria da matéria baseada em partículas átomos. Várias visões de Autrecourt eram
minúsculas, às quais
chamou de “corpúscu-
los”. (O nome estranho
“Pseudo-Geber” vem
por ele assinar seus tra
balhos como Geber, que
era a forma latinizada do
nome Jabir ibn Hayyun,
34
MATERIA ATÔMICA E ELEMENTAR
35
A MENTE SE SOBREPÕE À MATÉRIA
ALQUIMIA
Os objetivos mais conhecidos do esfor
ço filosófico e científico da alquimia são
transformar os metais de base em ouro,
por meio da transmutação, e produzir um
elixir da vida. A famosa pedra filosofal era
considerada com frequência um compo
nente essencial do elixir da vida, do pro
cesso de transmutação, ou ambos. A al
quimia foi praticada em várias formas no
Egito Antigo, Mesopotâmia, Grécia Antiga,
China e no Oriente Médio islâmico, bem Um alquimista trabalhando na destilação
como na Europa durante a Idade Média e em um laboratório.
a Renascença. A alquimia é a base da mo
derna química e farmacologia, e na alqui com chumbo, mas outros metais de base
mia chinesa a produção de remédios foi podiam ser usados. É desnecessário dizer
uma atividade importante. Tentativas de que nenhum dos métodos dos alquimistas
transmutação com frequência começaram funcionou.
36
O NASCIMENTO DA FÍSICA DO ESTADO SÓLIDO
O PODER DO NADA
O cientista alemão Otto Von Guericke
(1602-1686) inventou - ou descobriu - o
nada. Literalmente. Ele provou que um vá
cuo podia existir, o que os cientistas an
teriores tinham negado. Depois de fazer
experiências com foles e desenvolver uma
bomba de ar, ele fez uma demonstração
espetacular na frente do imperador Ferdi-
nando III, em 1654. Ele construiu esferas
de metal a partir de dois hemisférios e
bombeou ar. Então ele mostrou o poder
do vácuo - ou o poder da pressão atmos
férica - demonstrando que nem mesmo
dois cavalos conseguiriam separar os he
misférios. Robert Boyle em 1689, dois anos antes de sua
morte, quando já estava com a saúde debilitada.
ragem, como as mudanças físicas (fusão, do grãos, e que a coesão dentro dos grãos era
congelamento, sublimação) se relacionam maior do que a coesão entre os grãos. Ele
ao modelo das partículas? Físicos do sécu não notou, contudo, que os “grãos” em fer
lo XVII deduziram modelos da estrutura da ro forjado formam uma estrutura cristalina.
matéria a partir da observação das proprie Embora na teoria os microscópios pudessem
dades e do comportamento de substâncias revelar tais estruturas, eles só passaram a ser
- o que às vezes os levaram a deduções bas usados comumente na segunda metade do
tante bizarras. século XVII; mesmo assim, eram mais usa
Depois de observar a produção de ferro dos em estudos biológicos. Evidentemente,
forjado, Descartes concluiu que as partículas não existe microscópio que mostre a forma
de ferro de algum modo se juntavam forman dos átomos ou moléculas.
"[Robert Boyle] é muito alto (cerca de l,80m) e sério, muito comedido, virtuoso e frugal: um sol
teiro; mantém uma carruagem; reside temporariamente com a irmã, Lady Ranelagh. Seu maior
prazer é a química. Ele tem na casa de sua irmã um laboratório nobre e vários serviçais (apren
dizes) para cuidar do laboratório. Ele é caridoso com homens inventivos que estão necessitados
e os químicos estrangeiros têm tido uma prova de sua generosidade, pois ele não poupa custos
para guardar qualquer segredo raro. Ele arcou com os custos de tradução e impressão do Novo
Testamento em árabe, para enviá-lo aos países maometanos. Teve um renome respeitado na
Inglaterra e também no exterior; e quando os estrangeiros vêm aqui, uma das curiosidades deles
é lhe fazer uma visita."
John Aubrey, Brief Lives
37
A MENTE SE SOBREPÕE À MATÉRIA
"Existem, portanto, Agentes na Natureza capazes de fazer as Partículas dos Corpos se unirem
por Atrações muito fortes. E é Tarefa da Filosofia experimental descobri-los. Agora as menores
Partículas de Matéria podem aderir com Atrações mais fortes, e compor Partículas maiores de
Virtude mais fraca, e muitas delas podem aderir e compor Partículas maiores cuja Virtude ainda é
mais fraca, e assim por diante para diversas Sucessões, até a Progressão final nas maiores Partí
culas em que as Operações de que a Química e as Cores de Corpos naturais dependem, as quais
aderem a Corpos compostos de uma Magnitude sensível. Se o Corpo é compacto, e se dobra ou
cede para dentro à Pressão sem qualquer deslize de suas Partes, é difícil e elástico, voltando para
sua Figura com Força surgindo da Atração mútua de suas Partes. Se as Partes deslizam umas
sobre as outras, o Corpo é maleável ou macio. Se elas deslizam facilmente, são de um Tamanho
adequado para serem agitadas por Calor, e o Calor for grande o suficiente para mantê-las Agita
das, o Corpo é fluido..."
Isaac Newton, notas à segunda edição de Opticks, Londres 1718.
A microestrutura do aço:
cientistas do século XVII
não olharam o metal com
microscópios.
38
ÁTOMOS E ELEMENTOS
Á to m o s e ele m en tos
Robert Boyle estava certo em en
corajar os químicos a procurar
mais elementos do que terra, água,
ar e fogo, mas isso foi tempos an
tes de se formular uma tabela de
elementos químicos. Antoine La
voisier produziu o primeiro tra
balho moderno sobre química em
1789, e incluiu nele uma lista de
33 elementos — substâncias que
não podiam ser divididas. Infeliz-
mente, a lista de Lavoisier incluía
luz e “calórico”, que ele pensava
ser um fluido que produzia perda
ou ganho de calor por meio de
movimento (veja a página 99). La
voisier não considerou a sua lista
de elementos exaustiva, deixando
porta aberta para mais investiga
ção e descobertas posteriores, nem
organizou sua lista de elementos
na tabela periódica - esse trabalho
foi deixado para o químico russo
Dmitri Mendeleev (1834-1907),
que o completaria em 1869. A ta ção dos elementos de acordo com
bela periódica é relevante para a suas propriedades revelou o sig
história da física, pois a organiza- nificado do número atômico e sua
relação com a valência - a manei
"Alma do Mundo! Inspiradas por ti, ra como os elementos se ligam.
As dissonantes Sementes da Matéria concordaram, Como cientista empírico, La
Tu fizeste a ligação dos Átomos dispersos, voisier afirmava que em seu tra
Que, pelas tuas Leis da verdadeira proporção uniram-se,
balho ele “tentou... chegar à ver
Compuseram de várias Partes uma perfeita Harmonia."
Nicholas Brady, "Ode para Santa Cecilia, c. 1691.
dade, ligando os fatos; suprimir
o máximo possível o uso do ra-
39
■
40
ÁTOMOS E ELEMENTOS
41
"jjj
42
ÁTOMOS E ELEMENTOS
43
CAPÍTULO 2
Fazendo a luz
trabalhar
- ÓPTICA
\^1
U m a o lh a d a n a luz
Ideias sobre a natureza da luz foram regis
tradas pela primeira vez na índia, nos sécu
los V e VI. A escola de Samkhya considerou
a luz como um dos cinco elementos “sutis”
fundamentais dos quais os elementos “bru
tos” são formados. A escola de Vaisheshika,
que adotou uma visão atomista do mundo,
sustentava que a luz era formada por um fei
xe de átomos de fogo em movimento - um
conceito não muito diferente do atual con
ceito de fóton. No primeiro texto indiano
do século I a.C., Vishnn Purana referia-se à
luz do sol como os “sete raios do sol”.
Os antigos não conseguiam separar a
luz da visão. No século VI a.C., o filósofo
grego Pitágoras sugeriu que os feixes viaja
vam a partir do olho como sensores, e que
vemos um objeto quando os feixes o tocam,
um modelo chamado teoria da emissão (ou
extramissão). Platão também acreditava que
os raios emitidos pelos olhos tornassem a
Página de título de De rerum natura (Sobre a
visão possível, e Empédocles, escrevendo
natureza das coisas) de Lucrécio.
no século V a.C., falava de um fogo que bri
lhava fora do olho. Essa visão do olho como
um tipo de tocha não conseguia explicar
por que não enxergamos tão bem no escu tico, Euclides começou o estudo de óptica
ro quanto à luz do dia; por isso Empédocles geométrica escrevendo sobre cálculos ma
sugeriu que esses feixes do olho deveriam temáticos da perspectiva. Ele relacionava o
interagir com uma luz de outra fonte, como tamanho de um objeto à distância do olho,
o Sol ou uma lâmpada. e enunciou a lei da reflexão: que o ângulo
O primeiro trabalho preservado sobre de incidência é igual ao ângulo de reflexão de
óptica é do pensador grego Euclides (330- tal modo que a imagem refletida parece es
270 a.C.), que também aceitava o modelo tar atrás do espelho quando o objeto está na
da emissão. Mais conhecido como matemá- frente dele.
Cerca de 300 anos mais tarde,
outro matemático grego inova
"A luz e o calor do sol; estes são compostos de peque
dor, Heron de Alexandria (c. 10-70
nos átomos os quais, ao serem empurrados, não per
d.C.), mostrou que a luz sempre
dem tempo para disparar direto pelo interespaço de ar
na direção imprimida pelo empurrão."
segue a trajetória mais curta pos
sível contanto que esteja viajando
Lucrécio, Sobre a natureza do Universo, AD 55.
pelo mesmo meio. Se a luz é tan-
46
UMA OLHADA NA LUZ
47
FAZENDO A LUZ TRABALHAR - ÓPTICA
Nascido em Basra, então parte do Império de dez anos em que esteve preso no Cairo,
Persa, al-Haytham (ou Alhazen) estudou sendo rotulado como louco. Aparentemen
teologia e tentou resolver diferenças entre te ele fingiu insanidade depois de ter ale
as seitas Sunnah e shi'ah do Islã. Ao fracassar gado ser capaz de impedir a inundação do
em seu intento, ele se dedicou à matemática Nilo, um projeto de engenharia ambicioso
e à óptica. A maior par demais que lhe trouxe problemas. A fim de
te de seu trabalho testar sua hipótese de que a luz não muda
sobre óptica foi de direção no ar, al-Haytham fez a primeira
realizada no câmera escura conhecida - uma caixa com
período um orifício em uma extremidade deixava a
luz entrar e formava uma imagem na super
fície oposta, podendo ser traçada no
papel. Ele acreditava firmemente
na realização de experimentos
para testar suas teorias. Por ser
um físico experimental rigoroso, às
vezes é creditada a ele a invenção do mé
todo científico.
49
FAZENDO A LUZ TRABALHAR - ÓPTICA
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cou que não podiam ser ensinados. Mas por volta »•*« ***»,»» fX. •
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de 1230 todos os trabalhos de Aristóteles estavam
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50
SAINDO DO ESCURO
S a in d o d o escuro
Nenhum trabalho original de importância
sobre óptica e luz apareceu na Europa até a
Renascença. Nos séculos XVI e XVII, cien
tistas destacados como Nicolau Copérnico
(1473-1543), Galileu Galilei (1564-1642),
Johannes Kepler (1571-1630) e Isaac New
ton (1642-1727) finalmente desmantela
ram o modelo aristotélico do universo que Galileu apresenta seu telescópio para
dominou o pensamento científico durante Leonardo Donato, doge de Veneza em
quase 2.000 anos e estabeleceu as leis da 1609.
mecânica e da óptica que permaneceriam
Galileu tinha uma lente côncava e uma
inalteradas por mais quatro ou cinco sécu convexa, e produzia uma imagem vira
los. Destes, Kepler e Newton foram os mais da para cima. O senado foi convencido
importantes para a Óptica. a deferir a decisão sobre a compra do
Kepler, um matemático e astrônomo telescópio holandês. Galileu então pro
alemão, acreditava que Deus construiu o duziu um ainda melhor que apresentou
ao doge de Veneza, assegurando a vitó
ria e a gestão em seu posto como do
cente na Universidade de Pádua.
51
FAZENDO A LUZ TRABALHAR - ÓPTICA
universo de acordo com um plano inteligí na refratando raios de luz que entram pela
vel e que seus trabalhos podiam, portanto, pupila e os focaliza na retina. Ele explicou
ser descobertos por meio da aplicação da como as lentes dos óculos funcionam - elas
observação e do raciocínio científicos. Em já eram usadas há cerca de 300 anos, mas
bora mais famoso por seu extenso trabalho ninguém entendia realmente os princípios
em astronomia, Kepler introduziu a técnica de seu funcionamento -, e quando os teles
de traçar raios de luz ponto a ponto a fim cópios começaram a ser mais usados, por
de determinar e explicar sua trajetória. Dis volta de 1608, ele também explicou como
so, ele deduziu que o olho humano funcio funcionavam. Kepler publicou seu trabalho
sobre óptica em 1603, quase 40 anos antes para ampliar textos desde o século XI. Len
de Isaac Newton nascer. Embora o primei tes de vidro polido eram usadas em óculos
ro telescópio astronômico fosse feito por desde 1280, embora no início ninguém
Leonard Digges na Inglaterra no início dos soubesse como ou por que funcionavam. O
anos 1550 (veja a página 169), eles são mais desenvolvimento do microscópio e do teles
associados ao trabalho de outro homem, o cópio durante os séculos XVI e XVII gerou
astrônomo Galileu Galilei (veja o box da pá a necessidade de lentes com maior precisão.
gina 83). A medida que as técnicas de polimento fo
ram aperfeiçoadas ao longo dos séculos, e
P or meio de um vidro translúcido lentes melhores levaram a mais descobertas
As lentes mudam a trajetória da luz; elas que então provocaram a demanda por lentes
são as ferramentas ópticas básicas. Foram ainda melhores. Alguns dos maiores cientis
desenvolvidas muito antes de qualquer um tas do Renascimento e do Iluminismo, entre
ser capaz de explicá-las. O exemplo mais an eles Galileu, o pioneiro belga do microscó
tigo que foi preservado é o das lentes Nu- pio Antonie van Leeuwenhoek (1632-1723),
mrad, feitas na Assíria Antiga há 3.000 anos e o físico e astrônomo holandês Christiaan
usando-se cristal de rocha. Lentes parecidas Huygens (1629-1695) fizeram suas próprias
foram usadas na Babilônia, no Egito Anti lentes.
go e na Grécia Antiga, talvez para aumentar
objetos ou como lentes para fazer fogo, fo P ressão no éter
cando raios da luz do sol. Embora os gregos O trabalho de René Descartes sobre óp
e romanos enchessem vasos de vidro esféri tica descrevia o funcionamento do olho e
cos de água para fazer lentes, lentes de vidro sugeria aprimoramentos ao telescópio. Ele
feitas com formato exigido só passaram a usou analogias mecânicas para derivar mui
ser feitas na Idade Média. tas propriedades da luz matematicamente,
O primeiro uso de uma lente para cor inclusive as leis da reflexão e refração. No
rigir a visão pode ter sido registrado pelo entanto, ele foi bastante criticado por sua
autor romano Plínio, o Velho (23-27d.C.), recusa em aceitar a existência de um vácuo.
que relatou que Nero via os jogos de gladia Para teóricos como Gassendi, que vislum
dores no Coliseu por meio de uma esmeral brou um vácuo com átomos em movimento,
da. Pedras para ler - pedaços convexos de a luz podia ser explicada como um feixe de
vidro ou de cristal de rocha - eram usadas partículas em rápido movimento que se cho
cavam no espaço. Sem o vácuo, Descartes
precisava de um mecanismo diferente. Ele
acreditava que algum tipo de “fluido inters
ticial” fino - outra versão do éter - preen
chesse todos os espaços, e que era a pressão
exercida por esse fluido que produzia a vi
são. Logo, se a luz do sol penetrava no fluxo
As lentes Nimrud, intersticial, essa pressão seria transmitida
descobertas no
Curdistão (norte instantaneamente para o olho, podendo este
do Iraque. perceber essa luz. Elavia pouco fundamento
53
FAZENDO A LUZ TRABALHAR - ÓPTICA
durante mais de
"[Descartes] era um homem sábio demais para se incomodar com uma
400 anos. Seu tra
esposa; mas como era homem, tinha os desejos e apetites de um ho
balho sobre forças
mem; portanto, ele mantinha uma boa e bela mulher, obediente, de
e gravidade (veja a
quem gostava, e com a qual teve alguns filhos (acho que dois ou três).
página 84) talvez
É pena, mas vindos do cérebro de um pai como ele, eles deveriam ser
bem estimulados. Ele era tão culto que todos os homens cultos o
seja mais famoso do
visitavam, e muitos deles desejavam que ele lhes mostrasse sua loja de que o trabalho so
instrumentos (naquela época o aprendizado da matemática dependia bre óptica, mas não
do conhecimento de instrumentos, e como Sir Henry Savile disse, de se mais importante.
fazer truques). Ele puxava uma pequena gaveta sob a mesa e mostra Newton dividiu
va-lhes compassos com uma das pernas quebradas, e então uma folha com sucesso a luz
de papel dobrado duas vezes, que ele usava como régua." branca em seu es
John Aubrey, Vidas Breves pectro constituinte
e então recombinou
para essa teoria, uma vez que consideramos os raios coloridos na
que o Sol é separado da Terra por 150 mi luz branca, demonstrando conclusivamente
que a luz branca é um misto de cores. Essa
lhões de quilômetros, mas isso estabeleceu
possibilidade foi notada muito antes. Aristó
a base para um trabalho muito mais impor
tante de Christiaan Huygens (veja a pági teles afirmava que um arco-íris é causado por
nuvens que agem como uma lente sobre a luz
na 58), filho de um grande amigo de René
Descartes, e isso levou Newton a perseguir do Sol, uma explicação que também era acei
ta por al-Haytham. O filósofo romano Lu
suas próprias ideias sobre o assunto, mas em
cius Annaeus Seneca (c. 55 a.C. - c. 40 d.C.)
uma direção diferente.
seguiu Naturales quaestiones como referência
para produzir uma série de cores parecidas
O SENHOR DA L U Z I IS A A C N EW TO N
àquelas de um arco-íris, passando a luz do Sol
Newton possivelmente foi o maior cientista
por prismas de vidro. No tempo de Newton,
de todos os tempos; ele se tornaria o gigan
no entanto, a maioria das pessoas acreditava
te em cujos ombros os outros se apoiaram
54
SAINDO DO ESCURO
55
FAZENDO A LUZ TRABALHAR - ÓPTICA
"Peguei uma agulha-passadora e coloquei-a entre meu olho e [o] osso o mais perto [do fundo]
do olho que pude: e pressionando meu olho [com a] ponta (de modo a fazer a curvatura abcdef
em meu olho) apareceram vários círculos escuros e coloridos r, s, t, e c. Os círculos ficavam mais
achatados quando eu continuava a esfregar com a agulha pontiaguda, mas se eu mantinha meu
olho parado com a agulha, embora continuasse a pressionar meu olho [com] ela, no entanto [os]
círculos apagavam e muitas vezes desapareciam até que eu [os] removesse movendo o olho ou
[a] agulha.
Se [o] experimento fosse feito em um quarto iluminado para [que] meus olhos fechassem, uma
luz entrava pelas pálpebras. Aparecia um grande círculo escuro azulado maior (como ts), e [dentro]
daquele outro ponto de luz srs, cuja cor era muito parecida [àquela] no resto do olho como em k.
Dentro do ponto aparecia ainda outro ponto azul r especialmente se eu pressionasse meu olho for
temente e [com] uma pequena agulha pontuda e no extremo em VT aparecia à margem da luz."
Caderno de Newton, CUL MS Add. 3995.
56
SAINDO DO ESCURO
57
r 1 FAZENDO A LUZ TRABALHAR - ÓPTICA
Frentes de o n d a e q u a n ta
Na Europa, Christian Huygens desenvol
Representação de uma pulga ampliada da
Micrographia de Hooke.
veu a teoria da frente de onda. Sua teoria
da luz foi completada em 1678, mas ele não
a publicou até 1690 e se baseou em suas
"[Hooke] é de estatura média, um pouco próprias descobertas experimentais. Como
curvado, face pálida, e seu rosto um pou Descartes, que visitava regularmente a casa
co voltado para baixo, mas a cabeça é gran de Huygens quando menino, ele conside
de; olhos grandes e vivos, e não são rápidos; rava a luz como uma onda propagada pelo
olhos cinza. Ele tem cabelos castanhos finos, éter. Ele previu que a luz atravessava um
lindamente encaracolados. £ e sempre foi
meio denso mais lentamente que um meio
muito comedido, moderado na dieta etc.
menos denso. Isso foi significativo, pois - ao
Por ser uma cabeça prodigiosa, inventi
contrário de Descartes - ele estava dizendo
va, é uma pessoa de grande virtude e bonda
que a velocidade da luz é finita.
de. Agora quando eu disse que sua facul
A teoria das frentes de onda de Huy
dade inventiva é tão grande, você não pode
gens explica como as ondas evoluem e se
imaginar que sua memória seja excelente,
pois são como dois baldes, quando um sobe,
comportam quando encontram obstáculos
o outro desce. Ele certamente é o maior es - sendo refletida, refratada ou difratada. Ele
pecialista em mecânica do mundo nos dias sugeriu que cada posição em uma onda se
de hoje. Sua cabeça pende muito mais para torna o centro de uma ondícula viajando em
a geometria que para a aritmética. Ele é sol todas as direções. No caso da luz, que é con
teiro e, acredito, nunca se casará. Seu irmão siderada um fenômeno pulse, ondas repeti
mais velho deixou uma filha legítima, que é das eram emitidas e seguiam para fora, com
sua herdeira. In fine (o que coroa tudo), ele a velocidade da luz. A onda de luz é propa
é uma pessoa de grande suavidade e bon gada pelo espaço tridimensional na forma
dade. de uma onda esférica.
Foi o Sr. Robert Hooke que inventou os Na borda de uma região atingida pelos
relógios de pêndulo, muito mais úteis do que raios de luz, as ondículas interferem umas
os outros relógios. nas outras e podem se cancelar mutuamen
Ele inventou um mecanismo para o tra te. Se colidem em um objeto opaco, partes
balho veloz da divisão etc., ou a descoberta da ondícula são cortadas e algumas persis
acelerada e imediata do divisor." tem, produzindo a complexa estrutura fina
John Aubrey, Vidas Breves. de linhas nas bordas das sombras e imagens
que formam padrões de difração. A opinião
58
FRENTES DE ONDA E QUANTA
59
FAZENDO A LUZ TRABALHAR - ÓPTICA
60
UMA NOVA AURORA - A RADIAÇÃO ELETROMAGNÉTICA
61
M
1 FAZENDO A LUZ TRABALHAR - ÓPTICA
O f im d e u m é t e r : o
EXPERIM ENTO DE M lC H E LS O N -
M o r ley
Nosso entendimento normal
de uma onda é que ela precisa
atravessar um meio, como ar ou
água. Da mesma forma, supôs-
-se que as ondas de luz devem
atravessar o éter luminoso de
modo similar.
62
UMA NOVA AURORA - A RADIAÇÃO ELETROMAGNÉTICA
O EFEITO FOTOELÉTRICO
O fim do éter acabou vindo como re O equipamento de Michelson-Morleu para medir
sultado de um experimento realizado em a velocidade da luz foi projetado com a intenção
de provar a existência do éter.
1887 por dois físicos americanos, Albert
Michelson (1852-1931) e Edward Morley
(1838-1923). Se o éter existia, os cientistas
supunham, ele deveria preencher o espaço ao
transportar a luz do Sol e das estrelas para a tectar o movimento da Terra relativo ao éter
Terra. Em 1845, o físico inglês George Ga examinando-se a velocidade da luz em dife
briel Stokes (1819-1903) sugeriu que, como a rentes momentos e direções.
Terra está se movendo com grande velocida Michelson e Morley construíram um
de no espaço, deve haver um efeito devido ao equipamento para medir a velocidade da luz
arrastar de nosso planeta à medida que passa com tanta precisão que seria capaz de de
pelo éter. Em qualquer ponto da superfície tectar o efeito do éter, se presente. O apa
da Terra, a velocidade e a direção do “vento” rato deles dividia um feixe de luz em dois
do éter deveria variar dependendo da hora do feixes que se moviam em ângulos retos, um
dia ou ano; portanto, deveria ser possível de- em direção ao outro, voltados para dois es
pelhos. Os feixes eram refletidos
para trás e para a frente a uma
"[O éter] é a única substância de cuja dinâmica temos distância de 11 m (36 pés), antes
certeza. De uma coisa estamos certos, e é sobre a reali de serem recombinados no olho
dade e substancialidade do éter luminoso. " humano. Se a Terra estivesse se
William Thomson, Lord Kelvin, 1884. deslocando pelo éter, um feixe
64
UMA NOVA AURORA - A RADIAÇÃO ELETROMAGNÉTICA
65
FAZENDO A LUZ TRABALHAR - ÓPTICA
66
COM A VELOCIDADE DA LUZ
c
A velocidade da luz é represen
tada pela letra "c" (como em
E=mc2), que significa o termo
celeritas em latim, ou seja, rapi
dez ou velocidade.
67
FAZENDO A LUZ TRABALHAR - ÓPTICA
por segundo. Usando-se o dado atual para a Em 1678, Huygens usou o método de
órbita da Terra na fórmula de Romer, tem- Romer para mostrar que a luz leva segun
-se 298.000 km por segundo, que é notavel dos para viajar da Lua até a Terra. Newton
mente próximo do valor obtido na atualida afirmou em Principia que a luz leva sete ou
de, de 299.792.458 km por segundo. (Esta oito minutos para chegar à Terra partindo
velocidade não será mudada por trabalhos do Sol, o que é bem próximo do dado real de
futuros, pois o comprimento de um metro 8 minutos e 20 segundos, em média.
é determinado como a distância viajada pela Newton e outros supuseram que a velo
luz em 1/299.792.458 de um segundo.) cidade da luz variasse dependendo do meio
68
COM A VELOCIDADE DA LUZ
69
FAZENDO A LUZ TRABALHAR - ÓPTICA
O bjetivo e verdadeiro
Anaxágoras já estava certo,
no século V a.C., de que a
luz viaja apenas em linhas
retas, e essa crença se man -J & tljC s ík M ) £ ls & -r
teve até o século XX, quan
do Einstein disse que a luz
podia ser inclinada em uma
trajetória curva pela gravi
dade. Contudo, estava claro para os antigos blicou. Descartes publicou uma prova da lei
que a luz pode mudar de direção - quando em 1637. A Lei de Snell funciona porque,
ela é refletida, por exemplo, ou quando é re- como o matemático francês Pi erre de Fermat
fratada, à medida que se move de um meio (1601-65) mostrou, a luz toma a trajetória
para outro. Ptolomeu fez um relato aproxi mais rápida por meio de qualquer substância.
mado da refração, e esta foi descrita em 984 Pela primeira vez no início do século XX
pelo físico persa Ibn Sahl (c.940-1000). confirmou-se que a luz segue uma trajetó
Entretanto, a lei matemática que expli ria curva; essa confirmação fez parte de uma
ca e prediz o ângulo de refração é conhe demonstração da teoria da relatividade de
cida como Lei de Snell, em homenagem ao Einstein.
astrônomo holandês Willebrord Snellius O astrônomo Arthur Eddington con
(1580-1626). Embora Snellius redesco- duziu uma expedição inglesa para a Ilha de
brisse essa relação em 1621, ele não a pu Príncipe, na costa africana, para aproveitar
COM A VELOCIDADE DA LUZ
71
CAPÍTULO 3
Massa em
movimento
- MECÂNICA
74
MECÂNICA EM AÇÃO
75
^ 1
I 1. MASSA EM MOVIMENTO - MECÂNICA
D.li.ti.,*.#».-/<«■*«d-f&mjÈto,ftfmHtUr..»«-
76
O PROBLEMA DA DINÂMICA
77
MASSA EM MOVIMENTO - MECÂNICA
MECÂNICA ESTÁTICA
Enquanto os gregos antigos se preocupavam fazer um edifício ou uma ponte cair. Uma
com a dinâmica (a mecânica do movimento), ponte em arco, por exemplo, é sustentada
os romanos dominavam a mecânica estática. simplesmente porque a pressão exercida
A mecânica estática explica como as forças pelas pedras que compõem o arco está em
em equilíbrio mantêm uma massa em repou perfeito equilíbrio. Os desafios da arquite
so. Este é um princípio fundamental na arqui tura medieval e renascentista para cons
tetura, onde forças em desequilíbrio podem truir grandes tetos, arcos e domo abobada
do, foram problemas na mecânica
estática que chegaram a soluções
refinadas.
O filósofo hispano-árabe Averroes ponsável por uma das duas inovações fun
(1126-1198 d.C.) foi a primeira pessoa a damentais no desenvolvimento da dinâmica
definir força como “a proporção em que o newtoniana a partir da dinâmica aristotélica.
trabalho é feito para mudar a condição ciné O filósofo francês do século XIV Jean
tica de um corpo material”, e afirmar “que Buridan (c. 1300-1358) relatou o ímpeto
o efeito e a medida da força são a mudança dado pelo impulsor na velocidade do corpo
na condição cinética de uma massa resisten em movimento. Ele pensava que o ímpeto
te materialmente”. Ele introduziu a ideia de pudesse ser em linha reta ou em círculo,
que corpos não moventes têm resistência este último explicando os movimentos dos
para começar a se mover - conhecida hoje planetas. Seu relato é parecido ao moderno
como inércia mas aplicou-a apenas aos conceito de momentum.
corpos celestes. Foi Tomás Aquino que es Discípulo de Buridan, Albert da Saxô-
tendeu o conceito a corpos terrestres. Ke nia (c. 1316-1390), ampliou a teoria divi
pler seguiu o modelo de Averroes-Aquino - dindo a trajetória de um projétil em três
foi ele que introduziu o termo “inércia” - que etapas. Na primeira (A-B), a gravidade
se tornou o conceito central da dinâmica de não tem efeito e o corpo se move na di
Newton. Isso significa que Averroes é res reção do ímpeto dado pelo impulsor. Na
78
O PROBLEMA DA DINÂMICA
"Quando um impulsor põe um corpo em movimento, ele imprime neste certo ímpeto, ou seja,
certa força que permite que o corpo se mova na direção determinada pelo impulsor, seja para
cima, para baixo, para os lados ou em círculo. O ímpeto implantado aumenta na mesma razão
que a velocidade. É por causa desse ímpeto que uma pedra se move após o sujeito que a atirou
parar de movê-la. Mas por causa da resistência do ar (e também à gravidade da pedra) que
luta para movê-la na direção oposta ao movimento causado pelo ímpeto, este último se enfra
quecerá o tempo todo. Portanto, o movimento da pedra será gradualmente mais lento, e final
mente o ímpeto estará tão diminuído ou destruído que a gravidade da pedra prevalece e move a
pedra para seu lugar natural."
Jean Buridan, Questions on Aristotle's Physics
(Questões sobre a Física de Aristóteles).
79
MASSA EM MOVIMENTO - MECÂNICA
80
O VERDADEIRO NASCIMENTO DA MECÂNICA CLÁSSICA ' S jl’
81
MASSA EM MOVIMENTO - MECÂNICA
82
O VERDADEIRO NASCIMENTO DA MECÂNICA CLÁSSICA
83
^ MASSA EM MOVIMENTO - MECÂNICA
P H I L O S O P H IfE
inata ao repouso, inclinatio aã quietem. Uma
NATUR. ALI S tendência ao repouso é uma boa definição
de inércia, que primeiro foi descrita por
P R I N C I P I A Averroes, mas não é a razão pela qual um
corpo para de se mover.
MATHEMATICA O experimento definitivo que pôs a inér
cia em descrédito como uma força que desa
A u to re J S. N E fV T O N , Trirt. Coll. Cantab. Soc. M a th e f e o s celera o movimento foi realizado em 1640
LHcafiano, & S o c ie ta tis R e g a li s S o d a li.
P r o fe ffo re
por Pierre Gassendi, a bordo de uma galera
que ele emprestara da marinha francesa. Re
IMPRIMATUR- maram a galera à velocidade máxima pelo
S. P E P Y S, Reg. Soc. P R O S E S ,
84
O VERDADEIRO NASCIMENTO DA MECÂNICA CLÁSSICA
continuava juntamente com seu movimento entre eles. A lei da gravidade, publicada em
para baixo. Gassendi foi imensamente in 1687, foi a primeira força a ser descrita ma
fluenciado por Galileu e pelo método expe tematicamente. Ao formular a lei, Newton
rimental defendido por ele. demonstrou pela primeira vez que todo o
universo é governado pelas mesmas leis, e
O M ESTRE FALA estas são leis que podem ser modeladas.
A forma da mecânica clássica que dominou As leis de movimento e gravitação de
a física durante mais de 200 anos às vezes é Newton se aplicam igualmente a todos os
chamada de mecânica newtoniana, em ho objetos na Terra e aos corpos celestes. Elas
menagem às três leis de movimento formu explicam a maior parte dos movimentos dis-
ladas por Isaac Newton nos anos 1660. Estas cerníveis no mundo que nos rodeia, falhan
foram a lei da inércia, a lei da aceleração e a do apenas quando objetos estão se movendo
lei de ação e reação. Ele tratou a segunda e a próximo da velocidade da luz ou são extre
terceira leis em Philosopieas Naturalis Principia mamente pequenos; nenhuma dessas pos
M athematica (Princípios Matemáticos de Filo sibilidades importava a Newton. As leis de
sofia Natural), publicado em 1687, em geral Newton explicaram os achados de Galileu,
chamado apenas de Principia (Princípios). O inclusive seu exercício hipotético com balas
grande avanço de Newton foi em fornecer de canhão de pesos diferentes, e também o
um relato detalhado da mecânica usando o relato feito por Kepler dos planetas seguin
sistema matemático agora chamado de cálcu do órbitas elípticas. No universo de New
lo diferencial, que ele havia desenvolvido. ton, o movimento de todos os corpos era
previsível, dadas informações sobre a massa
M o v im e n t o e g r a v id a d e do corpo e as forças que agem sobre ele.
Newton estabeleceu os princípios de con
servação de momentum e momentum. angular, O UNIVERSO COM O CAM PO DE TESTES
além da formulação da gravidade em sua lei Newton verificou suas novas leis mostrando
de gravitação universal. Esta estabelece que como elas explicaram o movimento dos pla
toda partícula no universo que tem massa netas no sistema solar. Ele mostrou como a
atrai toda outra partícula que tem massa. curvatura da órbita da Terra é o resultado da
Essa atração é a gravidade. Quando uma aceleração na direção do Sol, e a gravidade
maçã cai de uma árvore, do Sol determina as ór
ela é atraída para baixo bitas dos planetas. Suas
em direção à Terra pela explicações dão susten
gravidade, mas ao mes tação aos relatos feitos
mo tempo a maçã exer anteriormente por Ke
ce sua própria atração pler (veja a página 168).
gravitacional, muito pe
quena, sobre a Terra. A Diagrama Feito por
força gravitacional entre Newton em Um Tratado
do Sistema do Mundo,
dois corpos é inversa sobre como enviar uma
mente proporcional ao bala de canhão para a
quadrado da distância órbita.
85
, ; MASSA EM MOVIMENTO - MECÂNICA
86
AR E ACUA
íl
T
87
MASSA EM MOVIMENTO - MECÂNICA
•1
88
COLOCANDO A MECÂNICA PARA FUNCIONAR
em 1738 seu Hidrodinâmica, um livro fun são arterial que envolvia inserir um tubo capilar
damental. Ele descobriu que a água que flui em um vaso sanguíneo e medir a altura à qual
rápido exerce menos pressão que aquela que o sangue subiu no tubo. Esse método invasivo
flui lentamente, e que esse princípio pode ser e desconfortável de medir a pressão sanguínea
estendido a qualquer fluido, seja líquido ou foi usado por mais de 150 anos, até 1896.
gás. Se Bernoulli inserisse um tubo vertical
estreito pela parede de um tubo horizontal J u n t a n d o f l u id o s e m a s s a
mais largo com água fluindo, esta subiria Até ser aceito que a matéria é composta de
pelo tubo estreito. Quanto maior a pressão átomos, era impossível igualar o comporta
da água no tubo mais largo, mais alto ela su mento de corpos sólidos ao comportamento
biria pelo tubo estreito. Se o tubo for mais de fluidos de maneira significativa. Mas as
estreito, a pressão do líquido que flui aumen sim que ficou evidente que líquidos e gases
ta. Se o tubo for reduzido à metade de sua são compostos de moléculas, foi possível en
largura anterior, a pressão quadriplica, pois a tender que a pressão da água e a pressão do
lei dos quadrados se aplica a ela. ar são produzidas por partículas em movi
Bernoulli enunciou suas conclusões no mento que exercem força em outros corpos
que agora é conhecido como teorema de com os quais entram em contato. De fato,
Bernoulli: a qualquer ponto em um duto ver isso acontecer no movimento brownia-
pelo qual o líquido esteja fluindo a soma da no eventualmente provou a existência dos
energia cinética, energia potencial e energia átomos (veja a página 42). O modelo atômi
da pressão de uma dada massa do fluido é co da matéria finalmente ganhou aceitação
constante. Esta é equivalente à lei da con universal nos primeiros anos do século XX.
servação de energia. Os fenômenos por trás Ao mesmo tempo, começaram a aparecer
do teorema de Bernoulli mantêm uma aero falhas na mecânica newtoniana.
nave voando, permitem-nos prever o clima
e ajudam-nos a de C o lo c a n d o a m ecânica p ara
terminar a circulação fu n c io n a r
de gases nas estrelas e Durante a Revolução Industrial nos séculos
galáxias. XVIII e XIX, a mecanização na indústria,
Bernoulli estudou agricultura e transporte transformou total
medicina por insistên mente a vida na Europa e na América do
cia de seu pai, e tinha Norte. As populações se moveram em massa
interesse pelo flu do campo para a cidade, máquinas possibi
xo sanguíneo no litaram a manufatura de bens em massa, as
corpo humano. sumiram tarefas agrícolas que antes deman
Ele concebeu davam um grande número de trabalhadores
um método para rurais, e passaram a transportar bens, ali
medir a prés mentos e pessoas de um modo mais eficien
te. A necessidade de aperfeiçoar o maqui-
timo maneira m ecânica de nário ajudou a levar o progresso à ciência.
medir a pressão sanguínea O tear mecânico, construído em 1764 por
usada até o final do século XX. James Hargreaves, usava maquinário sim-
89
MASSA EM MOVIMENTO - MECÂNICA
pies para acionar oito fusos girando-se uma tica), que ele iniciou aos 19 anos e concluiu
única roda. A estrutura de água, desenvol aos 52, Lagrange apresentou uma síntese
vida por Thomas Arkwright na Inglaterra de tudo o que se passou nesse período com
em 1771, e usada para fiar era acionada por base em seu próprio sistema matemático,
meio de água corrente. Os primeiros apa que descrevia os limites de um sistema me
relhos movidos a vapor eram bombas, mas cânico em termos de todas as variações que
com o motor a vapor bastante aprimorado podiam acontecer no curso de sua história
de James Watt, a potência do vapor pode expressa usando cálculo. As equações de La
ser usada para fazer muitos tipos diferentes grange relacionam a energia cinética de um
de trabalho. Essas invenções não foram fei sistema às suas coordenadas generalizadas,
tas por físicos, mas por pessoas que precisa forças generalizadas e tempo. Seu livro não
vam realizar uma tarefa prática e procuravam contém diagramas - uma realização notável
uma solução. Essas soluções foram fruto de para um livro sobre mecânica - , seus mé
observação e inspiração, e não de teorização. todos usam cálculo e excluem a geometria.
A ciência logo entrou em cena para ajudar a Seu trabalho simplificou muitos cálculos
explicar e aprimorar o maquinário da Revo em dinâmica, ao lidar com funções escala
lução Industrial, e tem feito isso desde então. res de cinética e energia potencial em vez de
um acúmulo de forças, acelerações e outras
C o l o c a n d o a m e c â n ic a n e w t o n ia n a em quantidades vetoriais.
UMA NOVA PO SIÇÃO Tanto Euler quanto Lagrange também
As leis de Newton estabeleceram as bases abordaram a mecânica dos fluidos, mas se
para a mecânica clássica, mas foram esten guiram abordagens diferentes. Euler des
didas e desenvolvidas ao longo dos séculos creveu o movimento de pontos particulares
subsequentes. O matemático e cientista em um fluido, enquanto Lagrange dividiu o
suíço Leonard Euler (1707-1783) expandiu fluido em regiões e analisou suas trajetórias.
o escopo das leis de Newton de partículas Outro matemático que deu contribuições
para corpos rígidos (corpos sólidos ideali significativas para a moderna mecânica prá
zados de tamanho finito), e formulou duas tica foi o nobre irlandês Sir W illiam Rowan
outras leis para explicar que as forças inter Elamilton (1805-65). Em seu tratado On a
nas dentro de um corpo não precisam ser G eneral M ethod in Dynamics (1835), ele ex
distribuídas igualmente. O princípio da ação pressou a energia de um sistema em termos
mínima de Euler (que a natureza é pregui de m om entum e posição, reduzindo a dinâ
çosa) tem muitas apficações na Física - no mica a um problema no cálculo de varia
tavelmente que a luz segue a trajetória mais ções. A reformulação feita por ele da mecâ
curta. O brilhante matemático ítalo-francês nica clássica nas equações hamiltonianas às
Joseph-Louis Lagrange (1736-1813) su vezes é chamada de mecânica hamiltoniana.
cedeu Euler como diretor da Academia de No processo, ele descobriu que existe uma
Ciências de Berlim. Ele ajudou a reunir to íntima relação entre a mecânica de New
dos os desenvolvimentos na mecânica new ton e a ótica geométrica. O significado de
toniana no século após a morte de Newton seu trabalho não foi evidenciado até o sur
e os reformulou na mecânica lagrangiana. gimento da mecânica quântica quase 100
Em M échanique Analytique (Mecânica Analí anos depois.
90
COLOCANDO A MECÂNICA PARA FUNCIONAR
I n é r c ia e g r a v id a d e v ê m ju n t a s
Entre o enunciado feito por Newton das leis
de inércia e gravidade e as teorias da rela SIR WILLIAM ROWAN HAMILTON
tividade de Einstein veio o físico austríaco (1805-1865)
Ernst Mach (1838-1916). Newton acredi Brilhante desde a infância, Hamilton
tava que o espaço fosse um pano de fundo aprendeu a ler aos três anos. Ele podia
absoluto contra o qual o movimento podia traduzir latim, grego e hebraico aos cin
ser plotado. Mach discordava, dizendo que o co, compilou uma gramática da língua
movimento pode ser sempre relativo a outro síria aos 11 e aos 14 compôs uma can
objeto ou ponto. Como Einstein, ele acredi ção de boas-vindas em persa ao embai
tava que somente o movimento relativo faz xador persa que estava visitando Dublin.
sentido. Em consequência, a inércia só pode O dom de Hamilton para matemática e
ser entendida se houver outros objetos para astronomia era tamanho que ele foi elei
compararmos o movimento ou a imobilidade to professor de astronomia e Astrônomo
de um corpo. Se não existissem estrelas ou Real na Irlanda antes de se formar. Ele era
muito dependente de álcool como fonte
plantas, por exemplo, não seríamos capazes
de alimento e, embora ele fizesse a maior
de dizer que a Terra gira. O princípio de
parte de seu trabalho na sala de jantar
Mach —que ele não apresentou como princí
de sua casa, comia pouco além de cos
pio, foi Einstein quem cunhou o termo - foi
teletas de carneiro.
enunciado em termos bem gerais como “a
Dúzias de pratos
massa lá influencia a inércia aqui”. Sem mas
com ossos de
sa “lá” não pode haver inércia “aqui”. carneiro no
local foram
G r a n d e e peq u en o encontrados
Embora a mecânica newtoniana parecesse entre muitos
funcionar bem para objetos maiores no uni de seus pa
verso, ela começou a falhar quando aplicada péis após sua
aos objetos minúsculos. Quando os físicos morte. Suas reali
tomaram ciência de partículas atômicas e zações abrangeram os campos
subatômicas, eles descobriram que as leis da da matemática, astronomia, humanida
física, que eles consideravam ser fixas e imu des, dinâmica, ótica e mecânica.
táveis para todas as coisas, não pareciam se
aplicar mais. As menores partículas podiam
fazer coisas estranhas. A confiança conquis
tada com dificuldade nas leis da física estava dentes. A mecânica clássica atinge seus li
naufragando, e no século XX essas leis pas mites na escala atômica, em velocidades
sariam por um exame rigoroso. próximas à velocidade da luz, e em campos
Em vez de trabalhar com o átomo de gravitacionais intensos. Antes de examinar
monstrando que as ideias de Newton real o átomo e como ele parece desafiar as leis
mente explicavam todo o universo, ele da natureza, precisamos voltar um pouco
mostrou que com escalas muito pequenas e examinar a energia - a outra metade da
a matéria se comporta de formas surpreen- equação massa-em-movimento.
CAPÍTULO 4
ENERGIA
campos e forças
O ra io e o v e n to r e p re s e n ta m m a c iç a s e x p lo s õ e s d e e n e r g ia n a
n a t u r e z a , t e m id o s p o r s e u p o d e r d e stru tiv o .
ENERGIA CAMPOS E FORÇAS
A co n se rvação de e n e rgia
Assim como a matéria é conservada, não
sendo criada nem destruída, a energia tam
bém é conservada. Ela pode ser convertida
de uma forma para outra - e é assim que
aproveitamos energia para realizar um tra
balho útil - , mas essa energia nunca é real
mente gasta. Galileu notou que um pêndulo
converte energia potencial gravitacional em
energia cinética, ou energia do movimento.
Quando o pêndulo atinge seu ponto mais
alto da oscilação ele está momentaneamen
te parado e tem energia potencial máxima.
Esta é convertida em energia cinética quan
do o pêndulo se move, e este recobra ener
gia potencial quando sobe no outro lado de
sua oscilação.
I n v e n t a n d o a " e n e r g ia "
Não ficou imediatamente óbvio que tipos
diferentes de energia são equivalentes. Ain Relógios com pêndulo foram desenvolvidos pela
primeira vez em 1656 por Christiaan Huygens:
da hoje não há um entendimento básico o pêndulo sempre leva o mesmo tempo para
do que seja exatamente energia e como ela oscilar.
94
A CONSERVAÇÃO DE ENERGIA
Ek = V2 mv2
L u ta n d o co m o fo g o
As primeiras teorias sobre como e por que
as coisas queimam se centravam em um Os humanos usaram o fogo durante milhares de
componente que se supunha ser matéria in anos sem entender como ele funcionava.
flamável, chamada flogisto. Quando o mate
rial era queimado, liberava o flogisto. Esta
não era realmente uma teoria sobre a ener mentos - terra, ar, água e fogo - datando da
gia, mas sobre mudanças físicas e químicas época de Empédocles (veja a página 30) e
provocadas pelo fogo. A teoria originou-se substituiu-o por três tipos de terra: terra la-
em 1667 com o trabalho do químico Johann pidea, terra fluida e terra pinguis. Em 1703,
Becher (1635-1682). Ele revisou o modelo George Ernst Stahl (1660-1734), profes
antigo de matéria que abrangia quatro ele- sor de medicina e química na universidade
95
ENERGIA CAMPOS E FORÇAS
Laboratório de Lavoisier em
Paris.
de Halle na Alemanha,
mudou ligeiramente o
modelo e o renomeou de
“flogisto” terra pinguis.
O flogisto era consi
derado uma substância
inodora, sem cor nem
sabor, liberada por com
bustão de uma matéria.
Depois da liberação do
flogisto, em geral a na
tureza da matéria quei
mada é diferente, como quando a madeira algo foi queimado, nem o ferro se enferru
se transforma em cinza. No entanto, se a jará nele.
matéria for queimada em espaço fechado, A teoria não se tornou favorável a uma
a queima pode não ir até o final, pois o ar explanação química até que Antoine-Lau-
se torna saturado de flogisto. Havia dificul rent Lavoisier (veja a página 40) demonstrou
dades para explicar como às vezes os metais que, quando o material queima ou oxida, ele
ganham massa quando queimados ou aque combina com o oxigênio. A percepção de
cidos (agora se sabe que eles formam óxi que isso tinha ligação com processos vivos
dos), mas os teóricos do flogisto davam uma - que a respiração também exige oxigênio -
solução ardilosa para isso. Eles alegavam foi a primeira pista de que os processos quí
que às vezes o flogisto micos são essência da vida.
não tem peso, às vezes Enquanto o flogisto e
ele tem peso positivo e depois o oxigênio explica
às vezes seu peso é ne ram o processo químico de
gativo; logo, a perda de combustão, o próprio calor
flogisto pode aumen permaneceu um mistério até
tar a massa da matéria 1737, quando Du Châtelet
queimada. O flogisto propôs o que mais tarde foi
também tem implica reconhecido como radiação
ções para a ferrugem e infravermelha.
os sistemas vivos - uma
criatura não consegue
viver no ar “impreg
nado de flogisto” onde G e o r g E rn s t S ta h l.
96
A CONSERVAÇÃO DE ENERGIA
97
T e rm o d in â m ica Um dos experimentos de Rumford com barris de
O desenvolvimento do motor a vapor e de canhão. Ele propôs que o calor move partículas,
e pode ser causado por fricção.
muitas outras máquinas com motor durante
a Revolução Industrial significou que havia
uma necessidade cada vez mais urgente de
O modelo calórico sugeria que o calor
entender a termodinâmica - como o calor
é uma forma de matéria, um tipo de gás
é produzido, transferido e como pode ser
com partículas indestrutíveis. Os átomos de
empregado para realizar trabalho físico.
calor - ou calóricos - podiam se combinar
Duas teorias sobre a natureza do calor, não
com átomos de outras substâncias ou usar
mutuamente exclusivas, mas incompatíveis,
espaços livres e esgueirar-se entre os áto
eram correntes no século XVIII: o modelo
mos em outra matéria. Lavoisier propôs a
calórico e o modelo mecânico de calor.
existência de calóricos enquanto detectava
O modelo mecânico se baseia no mo
o flogisto. Ele acreditava que os átomos ca
vimento de partículas mínimas. A teoria
lóricos fossem um constituinte do oxigênio
cinética de gases tem suas origens no livro
e sua liberação produzisse o calor da com-
H idrodinâmica, de Daniel Bernoulli, pu
blicado em 1738. Ele sugeriu que os gases
são formados por moléculas em movimen
to. Quando elas bombardeiam a superfície, "Agora estou tão convencido da não existên
o efeito é de pressão; sua energia cinética cia de calor quanto estou da existência da
luz."
é sentida como calor. Este modelo ainda é
Humphry Davy, 1799.
aceito atualmente.
98
TERMODINÂMICA
99
ENERGIA CAMPOS E FORÇAS
100
TERMODINÂMICA
101
ENERGIA CAMPOS E FORÇAS
em nanoescala em
universo por calor, foi proposta pela pri
uma máquina. Ela
,
m meira vez por Clausius.
separa partículas
%/•** A terceira lei da termodinâmica
que se movem rá
7 seguiu bem mais tarde, em 1912. De
pida e lentamen v i *• —v
senvolvida pelo físico e químico alemão
te, mas precisa de
** ! * Walther Nernst (1864-1941), enuncia
uma reserva pró L
pria de energia.
V-7
1 que nenhum sistema pode atingir o
zero absoluto, cuja temperatura o mo
vimento atômico quase cessa e a entro
pia tende a um mínimo ou zero.
102
CALOR E LUZ
103
ENERGIA CAMPOS E FORÇAS
O QUANTO É FRIO?
O zero absoluto não existe nem no espaço
externo. A temperatura ambiente no espa
ço externo é de 2,7 Kelvin, uma vez que a
radiação básica da micro-onda cósmica - o
calor resultante do Big Bang - está presen
te em todo o espaço. A área mais fria é en
contrada na Nebulosa de Bumerangue, uma
nuvem escura de gás com apenas 1 Kelvin.
A temperatura mais baixa já atingida artifi
cialmente é 0,5 bilionésimo de um Kelvin,
atingida brevemente em um laboratório do
Massachusetts Institute of Technology (MIT)
em 2003.
ter notado essa ligação foi um acadêmico Émile Du Châtelet estabeleceu uma li
italiano Giambattista delia Porta (c.1535- gação entre calor e luz quando notou que o
1615) que, em 1606, notou o efeito do poder de aquecimento da luz variava com
aquecimento da luz. Erudito, delia Porta sua cor. Embora isso viesse a se assemelhar
foi dramaturgo e cientista, tendo publicado ao espectro eletromagnético e à descober
sobre agricultura, química, física e mate ta da radiação de raios infravermelhos, não
mática. Seu M agiae naturalis (1558) inspi foi desenvolvido na época. Em 1901, Max
rou a fundação da academia científica ita Planck (veja o painel a seguir) fez uma des
liana, a Accademia dei Lincei, em 1603. (A coberta importante ligando a luz e o calor
página de título do livro foi ilustrada com o enquanto pesquisava a radiação do corpo
desenho de um lince, e o prólogo continha negro, mas esse foi um avanço casual, um
uma descrição do cientista como aquele resultado acidental. Esta descoberta, no
que, “com olhos de lince, examina aquelas entanto, viria a formar a base da mecânica
coisas que se manifestam, de modo que ao quântica.
observá-las possa usá-las com cautela.”)
R a d ia ç ã o d o c o r p o n e g r o e q u a n t a d e
ENERGIA
Muitos tipos de material brilham ao serem
"[A solução quântica ao problema do corpo aquecidos, emitindo luz que vai do vermelho
negro] foi um ato de desespero porque era passando do amarelo para o branco. O com
preciso encontrar uma interpretação teórica primento das ondas da luz emitidas a tempe
a qualquer preço, não importando o quanto raturas mais altas é cada vez mais curto en
esse preço fosse alto". quanto estas se movem para a extremidade
Max Planck
azul do espectro. À medida que este é acres-
104
CALOR E LUZ
O u t r a s f o r m a s d e e n e r g ia
Enquanto a luz e o calor eram examinados,
centado à luz amarela e vermelha, o brilho do algumas formas novas de energia também
corpo quente se torna mais branco e, depois, estavam chamando a atenção da comuni
mais azul. O gráfico que mostra essa distribui dade científica. Tipos de energia que foram
ção de calor e cor é chamado de curva do cor explorados durante anos só foram nomeados
po negro. O “corpo negro” é algo que absorve no século XIX. O cientista francês De Corio-
toda a radiação que incide sobre ele. Uma cai lis (1792-1843) descreveu a energia cinética
xa feita de grafite com um orifício minúsculo em 1829, e o termo “energia potencial” foi
é uma boa aproximação de um corpo negro cunhado pelo físico escocês Wilfiam Rankine
perfeito (o orifício funciona como corpo ne
gro). Quando o corpo negro é aquecido, ele
brilha, radiando luz a comprimentos de onda
diferentes para diferentes temperaturas. A cor
da luz radiada depende totalmente da tempe
ratura, e não do material do corpo.
Planck tentou calcular a quantidade exa
ta de luz emitida a comprimentos de onda
diferentes por um corpo negro que consis
tisse de uma caixa preta com um orifício mi
núsculo nela.
105
ENERGIA CAMPOS E FORÇAS
106
DESCOBRINDO A ELETRICIDADE
107
ENERGIA CAMPOS E FORÇAS
vara de metal a uma pipa e amarrando uma pulares como entretenimentos científicos,
chave na outra ponta do fio. Ele empinou às vezes envolvendo voluntários infelizes e
uma pipa durante uma tempestade, com provavelmente participantes involuntários.
uma chave pendurada perto de uma garrafa A primeira pessoa a executar experiências
de Leyden. Mesmo sem raios, havia car sistemáticas sobre eletricidade foi o fingi
ga elétrica suficiente nas nuvens para que dor inglês e cientista amador Stephen Gray
o fio úmido conduzisse eletricidade para a (1666-1736). Seu “bom menino” era um po
chave e fizesse fagulhas alcançar a garrafa bre garoto de rua suspenso por uma corda
de Leyden. Franklin sugeriu isolante enquanto segurava
que a eletricidade pode ter uma haste de vidro com
carga negativa ou positiva. carga elétrica, fagulhas vi
Ele inventou o para-raios, nham de seu nariz quando
que leva a carga elétrica de ele atraía partículas minús
um raio até a terra com segu culas de folha de metal.
rança através de um conduíte Além de ser divertidas (pelo
de metal, e também inven menos para o público), as
tou o alarme de relâmpagos experiências de Gray, em
(veja o painel seguinte). 1729, demonstraram a co n -
dutividade - que a eletrici
E l e t r ic id a d e n a m o d a dade podia ser transmitida
Experimentos com eletri de um material para outro,
cidade tornaram-se po- inclusive pela água. Em
uma experiência parecida,
Benjamin Franklin realizou uma carga elétrica era pas
experiências com raios para sada ao longo de uma fila
investigar a eletricidade.
108
DESCOBRINDO A ELETRICIDADE
P o n d o a e l e t r ic id a d e p a r a f u n c io n a r
"Em setembro de 1752, ergui uma barra de
Antes de a eletricidade ser empregada, era
ferro para dirigir o relâmpago para dentro
preciso descobrir uma maneira de liberar ou
de minha casa, a fim de fazer experiências
gerá-la quando esta era necessária. A primei
com ele usando dois sinos que avisavam
quando a barra estivesse eletrificada. Um re
ra célula elétrica, precursora da bateria, foi
curso óbvio para qualquer eletricista. desenvolvida pelo físico italiano Alessandro
Descobri que os sinos tocavam às vezes, Volta (1745-1827), que deu seu nome ao
quando não havia relâmpago ou trovão, volt, a unidade de medida para a potência
mas apenas quando uma nuvem escu elétrica. Sua “pilha” elétrica, feita em 1800,
ra passava acima da barra; que às vezes consistia de uma pilha de discos de zinco,
depois de um raio de luz eles paravam de cobre e papel imersos em solução salina. Ele
repente; e outras vezes, quando eles não não sabia por que isso produzia uma corrente
tocavam antes, de repente, depois de um elétrica, mas não importava como isso fun
clarão, eles começavam a tocar; que a ele cionava. A operação de íons para transportar
tricidade às vezes era muito fraca, de modo uma carga elétrica acabou sendo descrita em
que quando uma faísca pequena apare 1884 pelo cientista sueco Svante August Ar-
cesse, outra não apareceria no momento rhenius (1859-1927). O físico alemão Georg
subsequente; outras vezes as faíscas se se Ohm (1789-1854) usou uma versão da célula
guiriam com rapidez extrema. E uma vez o de Volta para suas próprias investigações de
sino tocou continuamente, balançando de eletricidade que levou à sua formulação da lei
um lado para outro numa distância equiva que leva seu nome, publicada em 1827. A lei
lente à pena de um corvo. Mesmo durante de Ohm enuncia que quando a eletricidade é
a mesma rajada, as variações entre as ba transportada por um condutor:
daladas eram consideráveis."
Benjamin Franklin, 1753. I = V/R
109
£
ENERGIA CAMPOS E FORÇAS
E s p e r a n d o n o s b a s t id o r e s :
M AGNETISM O
Uma magnetita
é naturalmente
magnética e atrairá
Não podemos ir muito adiante com metais magnéticos
a eletricidade sem falar dos mag- como o ferro e o aço.
netos. A força que alguns materiais
têm de atrair ferro, ou de alinhar
norte-sul, foi notada pelos antigos,
mas era inexplicável e deve ter pa tinha 24 divisões bá
recido algo mágico. sicas, os tipos euro
De acordo com Aristóteles, peus sempre tiveram
Thales (c.625-545 a.C.) deu uma 16. Além disso, a
descrição de magnetismo no século bússola só apareceu
VI a.C. Por volta de 800 a.C., o cirurgião e no Oriente Médio depois que seu uso regis
escritor hindu Sushruta descreveu o uso de trado pela primeira vez na Europa, sugerin
magnetos para remover farpas de metal do do que não passou pelo Oriente Médio da
corpo. Outra referência antiga ao magnetis China para a Europa. Finalmente, embora
mo é encontrada em um trabalho chinês es as bússolas chinesas fossem feitas para indi
crito no século IV a.C. chamado Book o f the car o Sul, as europeias sempre indicaram o
D evil Valley M aster, que diz: “magnetita faz Norte.
o ferro se aproximar ou ela o atrai”. Uma As primeiras investigações científicas do
magnetita é um pedaço de pedra magnetiza magnetismo foram realizadas pelo inglês
do naturalmente. Rochas de magnetita com William Gilbert (1544-1603), um cientis
a estrutura cristalina certa podem ser mag ta da corte de Elizabeth I. Gilbert cunhou
netizadas por raios. Os adivinhos chineses a palavra latina electricus, significando “de
começaram a usar magnetitas em mesas de âmbar”. Ele publicou seu livro De m agnete
adivinhação durante o século I a.C. As mag em 1600 descrevendo muitas experiências
netitas podem ter sido usadas em bússolas que fizera para tentar descobrir a natureza
desde 270, mas o primeiro uso confir do magnetismo e da eletricidade. Ele dava
mado de uma bússola para a primeira explanação sobre a capacidade
navegação apareceu misteriosa de a agulha da bússola apontar
em no livro de Zhu Yu para o norte-sul, revelando a verdade sur
Pingzhou, Table Talks, preendente de que a Terra em si é magné
em 1117, que diz: “O na tica. Gilbert conseguiu refutar a crença
vegador sabe a geografia, popular entre os marinheiros de
ele olha as estrelas à noi que o alho impedia a bússola
te, observa o Sol durante o
dia; quando o dia é escuro e
nublado, ele olha a bússola”.
A bússola de navegação pro
vavelmente foi desenvolvida Uma bússola usa o campo
magnético da Terra para
de forma independente na Eu auxiliar a navegação.
ropa. Enquanto a bússola chinesa
110
ELETROMAGNETISMO - O CASAMENTO DA ELETRICIDADE COM O MAGNETISMO
Um ferreiro fazendo um
magneto, retratado em
De Magnete, de William
Gilbert.
111
ENERGIA CAMPOS E FORÇAS
112
ELETROMAGNETISMO - O CASAMENTO DA ELETRICIDADE COM O MAGNETISMO
"Esta foi a primeira descoberta do ato de que uma corrente galvânica poderia ser transmitida a
uma grande distância com uma força tão diminuta a ponto de produzir efeitos mecânicos, e dos
meios pelos quais a transmissão poderia ser efetuada. Vi que o telégrafo elétrico agora era pra
ticável... Eu não tinha em mente qualquer forma específica de telégrafo, mas referia apenas ao
fato geral que agora estava demonstrado que uma corrente galvânica poderia ser transmitida a
grandes distâncias, com potência suficiente para produzir efeitos mecânicos adequados ao objeto
desejado."
Joseph Henry
113
ENERGIA CAMPOS E FORÇAS
114
MAIS ONDAS
duzir os famosos raios X da mão de sua es to de bário e um tubo de crookes envolto
posa e explicar esse fenômeno. As anotações com papel preto. Ele identificou um brilho
de laboratório de Röntgen foram queimadas verde fraco da tela e percebeu que algum
após sua morte; por isso é impossível saber tipo de raio estava passando pelo cartão do
exatamente o que aconteceu, mas parece tubo e fazendo a tela brilhar. Ele investigou
que ele estava investigando raios catódicos os raios e publicou seus achados dois meses
usando uma tela pintada com platinociane- depois.
115
ENERGIA CAMPOS E FORÇAS
EQUAÇÕES DE MAXWELL
A primeira equação de Maxwell é a lei de A terceira equação descreve como a mu
Gauss, que descreve a forma e a força de um dança de correntes elétricas cria campos
campo elétrico, mostrando que ela reduz magnéticos.
com a distância seguindo a mesma lei do
quadrado inverso que a gravidade.
dt
$Ed A =(I^ vxe =-^5-
Eo ôt
V •E = p/E0
A quarta equação descreve como a mu
A segunda equação descreve a forma e dança de campos magnéticos cria correntes
a força de um campo magnético: as linhas elétricas, e também é conhecida como lei da
de força sempre vão em loops do polo norte indução de Faraday.
para o polo sul de um magneto (e um mag-
neto sempre deve ter dois polos). | B -rfs = « 0 e0 ^ E + o c 0 ienc
116
MAIS ONDAS
HAJA LUZ
O primeiro serviço público de eletricida
de foi em Godalming, Surrey, Inglaterra,
onde iluminação elétrica de rua foi insta
lada em 1881. Um moinho d'água no rio
Wey dirigia um alternador Siemens que
Raios X que Röntgen fez da mão de sua mulher, acendia lâmpadas na cidade, fornecendo
a primeira imagem de raios X produzida; sua eletricidade para várias lojas e outras ins
aliança é claramente visível. talações.
partículas carregadas. Ele não realizou mais quando descobriu que o minério do qual
trabalhos sobre o assunto, contudo, deixou o o urânio derivava, a pechblenda, é mais
campo aberto para a física experimental M a radioativo que o próprio elemento. Isso
rie Curie, nascida na Polônia. sugeria que havia outros elementos mais
M arie Curie (1867-1934) estava traba radioativos no minério. Com seu marido
lhando em seu PhD com “raios de urânio” Pierre, ela extraiu dois desses elementos -
F R E Q U Ê N C IA A U M E N T A N D O ( v ) <•—
1 0 24 1 0 22 1 0 20 1 0 18 1 0 16 1 0 14 1 0 12 I O 10 10 8 10 6 104 10 2 10° v (H z)
1 1 1 1 1 1 1 1 I I I I I
II
í!
1 1 1 I I I I
0 -1 6 10-I4 1 0 -1 2 1 0 -1 ° 1 0 -8 I O '4 ’ 10 ^ 1 0 2 10° 102 104 106 108 X(m )
C O M P R IM E N T O DE O N D A (X) —>
E S P E C T R O V IS ÍV E L
O espectro eletromagnético,
de raios gama a longas
ondas de rádio.
4 0 0 500 60 0 70 0
C O M P R IM E N T O DE O N D A A U M E N T A N D O (X) e m NM -*
117
ENERGIA CAMPOS E FORÇAS
Ernest Rutherford
118
MAIS ONDAS
P rocuram- se átomos
O trabalho em termo
dinâmica no final do MARIE CURIE (MANYA SKLODOWSKA, 1867-1934)
século XIX anulou o Nascida em Varsóvia quando a Polônia foi ocupada pela
modelo calórico e le Rússia, Manya Sklodowska não teve chance de frequentar
vou físicos como o aus uma universidade em sua terra natal, por isso foi estudar
tríaco Ludwig Eduard em Sorbonne, Paris. Lá ela conheceu e casou-se com Pier-
Boltzmann e James Clerk re Curie, que já estava trabalhando em materiais magné
Maxwell a acreditar que ticos. A gravidez atrasou seu PhD, que era sobre o tópico
o calor é uma medida da de "raios de urânio". Ela tinha de trabalhar em um galpão
velocidade em que as par seco, uma vez que os acadêmicos temiam que a presen
tículas estão se movendo, ça de uma mulher no laboratório provocasse uma tensão
embora não estivessem sexual tamanha que pelo menos os homens acabariam
certos da natureza das não realizando trabalho nenhum. Em 1898, ela começou
partículas envolvidas. A a trabalhar isolando
transferência de calor e os elementos radioa
a condutividade da ele tivos desconhecidos
tricidade poderiam ser da pechblenda (mi
entendidas plenamente nério de urânio). Seu
í
se ficasse claro que elas marido Pierre aban
donou sua própria
dependiam de um mode
pesquisa para ajudá-la.
lo atômico da matéria.
Eles descobriram dois
Para a eletricidade pas
elementos radioativos,
sar por um condutor, os
o polônio (cujo nome
elétrons devem passar
foi dado em homena
entre os átomos; para o
gem à Polônia) e o rá
calor se mover de um dio. Em 1903, Marie e
lugar para outro por Pierre Curie ganharam
condução ou convecção, o Prêmio Nobel em Física, que compartilharam com Henri
as partículas devem se Becquerel. Apenas três anos mais tarde, Pierre morreu de
mover. A aceitação do pois de escorregar em uma rua de Paris e ter o crânio es
modelo atômico da ma magado pela roda de uma carruagem puxada por cavalos
téria na virada do século que passava por lá. Ele podia estar sofrendo de ataques de
XX abriu as portas para tontura, um sintoma da doença provocada pela radiação.
se explorar o interior do Marie morreu de leucemia em 1934, também vítima da ex
átomo, e isso, por sua posição à radiação. Seus cadernos de anotação permane
vez, levou a um enten cem tão radioativos que ainda hoje devem ser guardados
dimento maior de como em um cofre selado com chumbo. Ela é a única mulher que
a energia se comporta e recebeu dois Prêmios Nobel (o segundo foi de química, em
é transmitida. 1911, também por seu trabalho sobre radioatividade).
119
CAPÍTULO 5
Dentro do ✓
ATOMO
122
DISSECANDO O ÁTOMO
tidas, mas a deflexão destas foi de ângulos em descrédito. O que ele produziu foi um
bem maiores que 90 graus. Rutherford es modelo com um núcleo minúsculo, denso,
perava que o experimento endossasse o mo cercado de muito espaço vazio e pontuado
delo de pudim de passas e estava totalmente por elétrons em órbita. Ele não sabia ao
despreparado para esse resultado. A única certo se o núcleo tinha carga positiva ou
conclusão que ele pôde tirar foi que a car negativa, mas calculou seu tamanho como
ga positiva no átomo estava concentrada em menor que 3,4 x 10-14 metros de extensão
um centro minúsculo, e não distribuída por (agora se sabe que tem cerca de 1/5 disso).
todo o átomo. Sabia-se que um átomo de ouro tinha cerca
Coube a Rutherford a tarefa de chegar de 1,5 x 10'10 metros de raio, tornando o
a um novo modelo para a estrutura do áto núcleo menos que 1/4000 do diâmetro do
mo que substituísse o “pudim de passas”, átomo.
J. J. THOMSON (1856-1940)
Joseph John (J.J.) Thomson era filho de um encadernador. Ele era pobre demais para ser
aprendiz de engenheiro, então foi para a Faculdade de Trinity, em Cambridge, estudar ma
temática com uma bolsa de estudos. Ele acabou se tornando mestre naquela faculdade,
estabeleceu o Cavendish Laboratory como o melhor laboratório de física no mundo e rece
beu o Prêmio Nobel de Física por seu trabalho sobre o elétron. Por suas experiências com
raios catódicos, Thomson foi capaz de identificar o elétron como uma partícula em 1897, e
mediu sua massa e carga em 1899. Em 1912, ele mos
trou como usar os raios positivos que podiam
ser produzidos usando um ânodo perfurado
em um tubo de descarga para separar átomos
de elementos diferentes. Essa técnica forma
a base da espectrometria de massa, usada
atualmente para analisar a composição de
um gás ou outra substância. Thomson era
notoriamente desastrado. Além de confiar a
seus assistentes de pesquisa a condução de
experimentos delicados, eles tentavam deixá-
-lo fora do laboratório para não danificar os
equipamentos. Mas ele era querido e um exem
plo para todos: sete de seus assistentes de pes
quisa e seu próprio filho receberam o Prêmio
Nobel. Thomson recebeu honrarias como ca
valeiro em 1908.
123
É
DENTRO DO ÁTOMO
O M ODELO SATURNINO
O físico japonês Hantaro Nagaoka propôs
em 1904 um modelo do átomo baseado em
Saturno e seus anéis. Este atribuiu ao áto
mo um núcleo maciço e os elétrons em ór
bita eram mantidos no lugar por um campo
eletromagnético. Ele chegou a essa ideia
depois de ouvir Ludwig Boltzmann con
versando sobre a teoria cinética de gases e
o trabalho de James Clerk Maxwell sobre a
estabilidade dos anéis de Saturno enquanto
fazia uma excursão pela Alemanha e Áustria
em 1892-1896. Nagaoka abandonou a teo
ria em 1908.
Rutherford não tinha acabado de es
tudar o átomo. Ele propôs uma estrutura em
que o núcleo do átomo continha partícu
las carregadas positivamente - prótons, por
ele descobertos em 1918 - e alguns elétrons.
O resto dos elétrons orbitava pelo núcleo,
pensava ele.
O físico dinamarquês Niels Bohr (1885-
1962) aperfeiçoou o modelo de Rutherford
em 1913 de tal forma
que os elétrons con
"Foi o acontecimento mais incrível de minha vida. Era quase tão ina
seguiam permanecer
creditável quanto se você disparasse um projétil de 15 polegadas con
em órbita. Ele suge
tra um pedaço de papel e o projétil ricocheteasse e o atingisse. Refle
riu que em vez de va tindo, percebi que essa dissipação deve ser resultado de uma única
gar pelo espaço fora colisão, e ao fazer os cálculos vi que era impossível obter alguma coisa
do núcleo seguindo daquela ordem de magnitude, a não ser que se pegasse um sistema
qualquer trajetória, em que a maior parte da massa do átomo estivesse concentrada em
os elétrons são res um núcleo diminuto. Foi então que eu tive a ideia de um átomo
tritos a determinadas com um centro maciço minúsculo que carregava uma carga."
órbitas e são fisica- Ernest Rutherford
124
DISSECANDO O ÁTOMO
125
â
DENTRO DO ÁTOMO
Quantum solace
Quando Max Planck falou de quanta, paco
Transições da concha de elétrons do hidrogênio,
tes com quantidades fixas de energia, como com suas energias associadas.
uma forma de mover pequenas quantidades
de energia, ele não quis sugerir que levassem
o quântico a sério; esta era uma solução teó
rica que ele supunha que pudesse ser substi acontecia realmente. Mas ele chegara a algo
tuída em breve, assim que alguém resolvesse que parecia ser verdadeiro, apesar de impro
os cálculos matemáticos para explicar o que vável. E não só era verdadeiro, mas a base
de todo um novo tipo de física que opera no
mundo bizarro das partículas subatômicas.
A mecânica quântica - que responde pelo
comportamento de partículas em uma esca
la ínfima da mesma forma que a mecânica
newtoniana explica o comportamento de
sistemas maiores - foi iniciada com as so
luções rápidas de quanta dadas por Planck.
Estas estão no âmbito de impossibilidades
aparentes e sugestões incompreensíveis.
Einstein levou os quanta a sério. Seu
trabalho sobre o efeito fotoelétrico (veja a
página 63) se baseou no uso dos quanta de
Planck, mas aplicado à luz. Einstein sugeriu
que um fóton podia ter energia suficien
te para arrancar um elétron de um átomo;
um fluxo de elétrons expulsos produzia uma
No modelo de átomo de Bohr, os elétrons em
corrente de elétrons. Sua ideia foi impopu
geral ficam firmes, alocados em suas conchas, e lar no início, por ir contra as equações de
orbitam pelo núcleo. Maxwell e a sabedoria aceita de que a luz era
126
QUANTUM SOLACE
»
Painéis solares usam o efeito foioelétrico para
gerar eletricidade de fótons que acionam um
semicondutor
L U Z INTELIGENTE
Ainda mais intrigante foi a descoberta que
a luz parece “saber” se comportar para
agradar aos pesquisadores experimentais.
Quando uma experiência é feita para testar
o comportamento da luz como uma onda,
esta age como uma onda. Quando uma ex
periência testa o comportamento da luz
127
DENTRO DO ATOMO
128
QUANTUM SOLACE
ONDAS E PARTÍCULAS
A d u alid ad e da o n d a -p a rtíc u la é e sp e lh ad a p e rfe i
tam en te na h istó ria dos P rê m io s N obel de F ísica.
U m d o s h o m e n s q u e c o m p a r tilh a r a m o P rê m io N o
bel co m D e B ro g lie (fo to à d ir e ita ) p o r d e m o n s t r a r
as p ro p rie d a d e s de onda dos e l é t r o n s fo i G eo rge
T h o m s o n . E le e r a f i l h o d e j . J. T h o m s o n q ue recebeu
o P rê m io N o b e l e m 1 9 0 6 p o r d e m o n s t r a r q u e os e lé
tro n s e r a m p a rtíc u la s . N e n h u m d o s d o is é c o n s id e r a
d o erra d o ; a m b a s as e x p la n a ç õ e s a in d a são aceitas.
(O s la u r e a d o s c o m N o b e l n ã o p o d e m e s ta r e r r a d o s .)
129
DENTRO DO ÁTOMO
130
QUANTUM SOLACE
O modelo de Schrõdinger retrata o elé- você faz uma medição, pode ter um resul-
tron situado em algum lugar em uma nuvem tado diferente. Mas se você fizer medições
de probabilidades representando todos os suficientes, algumas - as mais prováveis -
lugares onde ele poderia estar. A nuvem é aparecem com mais frequência que outras,
mais densa onde o elétron tem mais pro- Esses resultados mais prováveis se associam
babilidade de estar e menos densa onde é a níveis de energia sugeridos por Bohr. O
menos provável de ele estar. Toda vez que resultado é que o modelo de Schrõdinger
dá resultados precisos sem as limitações G ra n d e s físicos re u n id o s e m C h ic a g o , 1 9 2 9 : (d a
inerentes ao modelo de Bohr. No entanto, e s q u e rd a ) A rt h u r C o m p to n , W e rn e r H e ise n b e rg ,
G e o rg e M o n k , P a u l D ira c, H o s t E cka rd t, H e n ry
substituir a certeza pela probabilidade signi
G ale, R o b e rt M ulliken , Fried rich H u n d e F ra n k H o yt.
ficava tumultuar a física quântica.
Ao mesmo tempo em que Schrödinger
perseguia o modelo elétron-como-onda, o 1976) estava formulando seu próprio mode
físico alemão Werner Heisenberg (1901- lo matemático de elétrons, mas favorecendo
suas propriedades semelhantes
^ à partícula, pois ele dava sal
tos quânticos entre os orbitais.
Ele, como Schròd in ger, publi
cou em 1926. O físico inglês
W e rn e r H e is e n b e rg , à e s q u e rd a ,
n a d a n d o c o m a m ig o s . A té o s
físico s n u c le a re s re la x a m d e v e z
em q u a n d o .
132
QUANTUM SOLACE
134
QUANTUM SOLACE
E m b a r a l h a m e n t o q u â n t ic o : o
PARAD O XO E IN S T E IN -P O D O L S K Y -R O S E N
Albert Einstein foi um que não aceitou a
Interpretação de Copenhagen. Em 1935,
Einstein e os físicos americanos Boris Po-
dolsky (1896-1996) e Nathan Rosen (1909-
1995) prepararam o chamado paradoxo
de de um átomo decair ou não é igual, e o EPR. Este suponha que uma partícula es
gato não pode interferir no equipamento. O tacionária decaía, produzindo duas outras
gato é deixado na caixa por uma hora. No partículas. Elas devem ter m om entum angu
final da hora as chances são 50:50 de ele es lar igual e oposto de modo que se cancelem
tar vivo (ou morto). Seguindo o argumento mutuamente (conservação do momentum
de Bohr e a Interpretação de Copenhagen,
o estado - morto ou vivo - do gato não é
determinado até olharmos dentro da caixa.
Isto, dizia ele, era ridículo.
M u it o s u n iv e r s o s
Outra resposta à ideia repugnante de que
tudo existe em uma nuvem de probabilida
de até que seja observado foi o modelo de
“muitos mundos” proposto em 1957 pelo
físico americano Hugh Everest III (1930-
1982). Este sugere a existência de um nú
mero infinito de universos paralelos que
explicam todos os resultados possíveis para
todas as questões possíveis. Em momentos
de tomada de decisão (ou observação), um
novo universo se divide. Se nadá mais acon-
É
DENTRO DO ÁTOMO
1
Padrão de difração do elétron do berílio.
136
QUANTUM SOLACE
137
DENTRO DO ÁTOMO
eram pesadas demais para serem um único ser mantidos espremidos juntos no núcleo de
próton e um único elétron ligados. Ele con um átomo? A explicação é a chamada força
cluiu que devia haver outro tipo de partícu nuclear extrema, sugerida pela primeira vez
la subatômica - que não tinha carga, à qual em 1934 pelo físico japonês Elideki Yuka-
chamou de nêutron. Isso significava que as wa (1907-1981). Ele sugeriu que a força era
variantes de elementos químicos com dife carregada por partículas chamadas mésons
rentes pesos atômicos, chamadas isótopos, que são trocadas entre prótons e nêutrons.
podiam ser explicadas com simplicidade. Os mésons são partículas com vida curta que
Todos os isótopos de um determinado ele sobrevivem apenas por algumas centenas de
mento devem conter o mesmo número de milionésimos de segundo.
prótons e elétrons, mas números diferentes Ao contrário da gravidade, das forças
de nêutrons. elétricas e magnéticas, a força forte não
O nêutron é uma espécie de superastro observa a lei do quadrado inverso. Ela é
atômico. Ele torna possíveis as reações em muito forte - cem vezes mais forte que a
cadeia ocorridas nas usinas nucleares e nas força elétrica - por uma distância muito
bombas atômicas, e também pode ser usado curta de até 13 cm, mas depois desapare
para examinar a estrutura de outros átomos, ce, não tendo força para distâncias maio
uma vez que os nêutrons não são defletidos res. No raio de um núcleo ela é forte o
por cargas positivas ou negativas. suficiente para superar a repulsão eletros
tática entre prótons. Mesmo assim, a for
Ju n tan d o tu d o te força não as pressiona tanto a ponto de
Os prótons e os nêutrons são misturados no eles se esmagarem - ela conserva uma dis
núcleo, que ocupa apenas uma porção minús tância minúscula entre eles. A faixa de for
cula do átomo - em torno de cem milionési ça limita o tamanho dos núcleos atômicos.
mos dele. Se o átomo tivesse o diâmetro de O méson pi, ou píon, o verdadeiro media
um estádio de futebol, o núcleo seria do ta dor da força nuclear, foi descoberto em
manho de um grão de areia. Se o átomo fosse 1947 por três físicos, um inglês, um brasi
grande como a Terra, o núcleo teria 10 quilô leiro e um italiano, respectivamente Cecil
metros de diâmetro. No entanto, os prótons Powell (1903-1969), César Lattes (1924-
devem repelir uns aos outros por causa de 2005) e Giuseppe Occhialini (1907-1993),
suas cargas iguais. Então como eles podem enquanto investigavam produtos de raio
138
AS COISAS DESMORONAM
A s coisas d e sm o ro n a m
Enquanto muitos físicos estavam examinan
do como os átomos são mantidos unidos,
outros estavam explorando como os átomos
podem se desmanchar. Depois que Henri
Becquerel descobriu a radioatividade, mais
pesquisas seguiram em várias direções. Ru
therford e o radioquímico inglês Frederic
Soddy (1877-1956), trabalhando juntos,
139
DENTRO DO ÁTOMO
"Poderíamos, nesses processos, obter muito mais energia do que o próton fornecia, mas em mé
dia não podíamos esperar obter energia dessa forma. Era uma forma muito pobre e ineficiente de
produzir energia, e quem procurasse uma fonte de energia na transformação dos átomos estaria
sonhando. Mas o assunto era interessante cientificamente porque dava uma ideia esclarecedora
sobre os átomos."
The Times, 12 de setembro de 1933, em uma fala de Ernest Rutherford sobre energia atômica.
140
AS COISAS DESMORONAM í
& Í23SU J
''fK
fato a técnica de Fermi tinha dividido o nú
cleo de urânio em duas partes aproximada
mente iguais. Esse processo é a fissão nuclear.
K? * 0 . ^
O físico húngaro Leó Szilárd (1898-
1964) percebeu que os nêutrons liberados
o
-o
o
141
â DENTRO DO ÁTOMO
142
de suas órbitas, mas capazes de saltar de Detonação de bombas atômicas sobre Hiroshima
(esquerda) e Nagasaki (direita) em agosto de
uma para outra nas circunstâncias certas. O
1945.
que os antigos, com seu conceito de átomo
indivisível, achariam difícil de entender foi
não apenas que o átomo continha elétrons, Prótons e nêutrons são exemplos de há-
prótons e nêutrons, mas que os prótons e drons, os quais todos são compostos por três
nêutrons podem ser ainda mais divididos. A quarks (bárions) ou um quark e um antiquark
segunda metade do século XX viu a desco (mésons). Experimentos no Stanford Linear
berta dos quarks, unidos por uma força me Accelerator Center em 1968 revelaram que
diada por giúons. E intrigante que esta seja o próton não é indivisível, mas abrange ob
a força forte - a mesma responsável por li jetos menores, semelhantes a um ponto, que
gar prótons e nêutrons. De fato, a ligação de Richard Feynman chamou de “pártons”. O
prótons e nêutrons é algo de efeito residual. modelo quark foi proposto em 1964, mas
A forte força que age sobre os quarks é bem os pártons não foram identificados imedia
mais interessante. Em vez de diminuir a dis tamente com os quarks. Os quarks vêm em
tância, a força se torna mais forte até que seis sabores: “up”, “down”, “top”, “bottom”,
atinja um máximo que ela exerce sobre to “strange” e “charm” (“top” e “bottom” às
das as distâncias substancialmente maiores vezes são chamados “verdade” e “beleza”).
que o tamanho de um próton ou nêutron. Os quarks antimatéria - antiquarks têm
Os giúons foram detectados pela primeira antissabores, que originam conceitos estra
vez em 1979 usando o colisor elétron-posi- nhos como o quark “antiestranho” e o quark
tron PETRA, na Alemanha. “anti-up”. Na vida normal, estes poderiam
143
ÉI
“ DENTRO DO ÁTOMO
O QUARK DE UM PATO
O nome "quark" foi escolhido por uma
das duas pessoas que propuseram sua
existência independentemente em 1964,
Murray Gell-Mann. Ele escolheu esse
nome lembrando o som feito pelos patos,
querendo que fosse pronunciado "quork",
mas não conseguiu se decidir quanto à es
crita. Ele optou por "quark" depois de en
contrar a palavra em Finnegans Wake, de
James Joyce:
144
O FIM DO ÁTOMO CLÁSSICO
145
DENTRO DO ÁTOMO
O detector
MINOS (Mains
Injector Neutrino
Oscillation Search)
no Soudan
Underground Mine
State Park, usado
para investigar
neutrinos.
146
O FIM DO ÁTOMO CLÁSSICO
147
É
DENTRO DO ÁTOMO
148
Túnel do LHC em CERN.
bóson de Higgs existe, ele é parte integral bóson de Higgs esmagando prótons juntos a
da matéria e está presente em toda parte. A altas velocidades.
primeira descrição completa da partícula foi
dada por Peter Higgs em 1966. P a r t íc u l a s d a s e s t r e l a s
A busca pelo bóson de Higgs exige o Grandes colisores de hádrons tentam imi
uso de colisores em grande escala, como o tar as condições que existiram no início do
Grande Colisor de Hádrons (LHC - Large próprio universo, com as partículas força
Hadron Collider) no Cern, Suíça, e o Teva- das a se juntar sob imensa pressão. O fato
tron no Fermilab, EUA. Existem várias ma de termos ideia do que pode ter acontecido
neiras de o colisor de hádrons produzir um próximo ao início do universo é o resultado
de milhares de anos de observação
RENOMEANDO O NÃO EXISTENTE e da formulação de teorias sobre
Muitos cientistas fazem objeção ao termo popular as estrelas e o espaço, uma ativida
"partícula de Deus" para designar o bóson de Higgs. de que sem dúvida começou antes
A sugestão mais popular em um concurso para dar dos registros históricos de nossos
novo nome a ele em 2009 foi o "bóson garrafa de primeiros ancestrais que olhavam
champanhe", mas outros nomes concorrentes foram maravilhados para o céu e inven
"mastodon", "misteron" e "não existon". tavam estórias para explicar o que
viam.
149
CAPÍTULO 6
Tentando
alcançar as
ESTRELAS
Stonehenge, em
Salisbury, Inglaterra,
pode ter tido usos
astronômicos em tempos
pré-históricos.
152
ESTRELAS E PEDRAS
As Grandes Pirâmides
em Giza, Egito,
parecem estar
alinhadas com as
estrelas e com
os pontos de
orientação da bússola.
primeiros astrônomos que deixaram regis cativos na Terra. Do século XVI a.C. até o
tros datam aproximadamente do mesmo pe final do século XIX d.C., quase todas as di
ríodo. Os astrônomos chineses começaram nastias designavam autoridades para obser
a observar o céu usando observatórios es var e registrar acontecimentos e alterações
pecialmente construídos por volta de 2300 astronômicos deixando um registro inesti
a.C. O primeiro relato de um cometa foi mável para os historiadores de astronomia
registrado em 2296 a.C., de uma chuva de da atualidade.
meteoros em 2133 a.C. e de um eclipse solar Os babilônios ocuparam a área em 1600
em 2136 a.C. A astronomia chinesa serviu à a.C., aproximadamente. Seus astrônomos ti
astrologia, e os admiradores do céu precisa nham apoio estatal para atividades como
vam prever eclipses e outros fenômenos ce elaborar calendários e fazer previsões astro
lestes a fim de escolher momentos propícios lógicas. Eles compilaram catálogos de estre
para realizar eventos reais e batalhas, além las e começaram a manter registros, a longo
de prever o faturo sucesso e a saúde do im prazo, de movimentos planetares e de eclip
perador. O fracasso poderia ser fatal - sabe-se ses solares e lunares que os ajudavam a fazer
de pelo menos dois astrônomos decapitados previsões aproximadas de eclipses. Eles pa
em 2300 a.C. por fazerem previsões inexa recem ter descoberto o ciclo de 223 meses
tas de um eclipse solar. Uma tumba em um dos eclipses lunares. Por volta de 800 a.C.,
Xishuipo, na província de Henan, datando eles fixaram a localização de Vénus, Júpiter
de cerca de 6000 atrás, continha conchas e e Marte em relação às estrelas e registraram
ossos formando as imagens de três conste o movimento retrógrado (para trás) dos pla
lações da astronomia chinesa, o Dragão de netas.
Azure, o Tigre Branco e o Dipper do Nor Os babilônios desenvolveram um ca
te. Ossos do oráculo de 3.200 anos com os lendário de 12 meses com o bônus ímpar, o
nomes de estrelas relacionadas às 28 casas décimo terceiro mês adicionado ocasional
lunares foram preservados. Os chineses mente para manter a regularidade dos anos.
acreditavam que os alinhamentos no céu in Em algumas partes da Babilônia, também
dicavam ou previam acontecimentos signifi havia uma semana de sete dias. Os babilô-
153
TENTANDO ALCANÇAR AS ESTRELAS
D a o bse rvação ao
p e n sam e n to
nios também dividiram o círculo em 360 Enquanto os astrônomos chineses, sumérios
graus, e a partir deste eles derivaram uma e babilônios eram rigorosos no registro das
divisão do dia em 12 “kaspu”, durante o estrelas e acontecimentos, os gregos anti
qual o Sol variava 30 graus do céu. Eles usa gos adotaram uma abordagem mais teórica
vam o arco de um grau como unidade para e científica, tentando explicar e modelar o
medir o espaço angular. comportamento dos corpos celestes.
Por volta de 500 a.C.,
£) Pitágoras sugeriu que o
% mundo é um globo, em vez
X de ser achatado, e no século
& V a.C., Anaxágoras propôs
$ que o Sol é uma rocha mui
r ;. to quente, e que a Lua é um
O c\ > X pedaço da Terra. Em 270
-rt a.C., Aristarco disse que a
a e o T ,V *
*
rv* íc Terra gira em torno do Sol.
9*4 9 ■- l í ? . ; . Anteriormente, as pessoas
acreditavam que a Terra
* V A r/yi. fosse o centro em torno do
qual a Lua, o Sol, os pla
v ; ; a p» netas e estrelas giravam.
1
A, '** áâ % ^£ Aristarco fez o primeiro
't f
>#n
z.
:èi~~ O mapa estelar chinês
Dunbuang, criado em
a* 700 a.C.
154
DA OBSERVAÇÃO AO PENSAMENTO
"Então, se parecesse mais provável que o equador do globo este o caso, esse raciocínio
terrestre, em um único segundo (ou seja, no tempo em que faria sentido. Mas tais dis
alguém andando rapidamente é capaz de dar um único pas tâncias eram inconcebíveis
so) pode perfazer um quarto de milha inglesa (sendo 60 mi naquela época e o modelo de
lhas equivalentes a um grau de um grande círculo na Terra), Aristarco foi rejeitado. Le
ou que o equador do primum mobile naquele mesmo tempo varia 1800 anos até que este
deveria atravessar 5.000 milhas com celeridade inefável... fosse aceito.
mais rápido que as asas de raios, eles mantêm a verdade que
assombra especialmente o movimento da Terra." H iparco - o maior
Edward Wright, na introdução ao De magnete de William ASTRÔNOM O DA
Gilbert (1600), explicando por que é mais provável que a A N TIG U ID A D E?
Terra gire em torno de seu próprio eixo que o Sol gire em O astrônomo grego H i
volta da Terra a cada 24 horas. parco nasceu em Nicea por
volta de 190 a.C., mas passou
a maior parte de sua vida em
cálculo do tamanho do Sol e da Lua e de sua Rliodes. Foi chamado o maior astrônomo
distância da Terra, e concluiu que uma vez da Antiguidade, embora muito pouco de seu
que o Sol é muito maior que a Terra, é rela trabalho tenha sido preservado. Ele é muito
tivamente improvável que o Sol girasse em conhecido por nós por meio de Almagest, de
volta da Terra, tendo sua órbita subordinada
a ela.
Trabalhando a partir do tempo que leva
va para um eclipse lunar acontecer, Aristar
co calculou a distância da Terra até a Lua
em cerca de 60 vezes o raio da Terra, o que
está de acordo com os dados modernos. Ele
decidiu que o Sol está 19 vezes mais longe
da Terra que a Lua, e tem cerca de 10 ve
zes o diâmetro da Terra, embora esses da
dos não fossem tão exatos. Infelizmente, as
conclusões de Aristarco não foram aceitas
por seus contemporâneos. Um argumento
era que se a Terra se move em torno do Sol,
às vezes ele estaria muito além das estrelas e
seu tamanho parecia variar. De fato, eviden
temente, a Terra está tão longe das estrelas
que a distância que a Terra viaja é minúscula
em comparação e não faz diferença ao tama
nho aparente das estrelas, mas se não fosse
155
TENTANDO ALCANÇAR AS ESTRELAS
156
DA OBSERVAÇÃO AO PENSAMENTO
A S ESFERAS DE PTO LO M EU
Deve ter sido o modelo he
UM MODELO MENOS PLAUSÍVEL
liocêntrico de Aristarco que
chegou do mundo antigo Na mitologia hindu, diz-se que o mundo é sustentado
no espaço por quatro elefantes, que, por sua vez, estão
para nós, mas seu lugar foi
de pé sobre o casco de uma tartaruga. Não há obser
tomado por outro descrito
vação astronômica conhecida que apoie esse modelo.
por Ptolomeu por volta de
Terry Pratchett tomou emprestado a lenda hindu em
140 d.C. Este não se ori
seu romance Discworld. A resposta à pergunta óbvia do
ginou com Ptolomeu - ele
que representa a tartaruga tem sido dada com frequên
estava apresentando o con
cia como "a tartaruga é o retorno ao infinito", uma res
senso da opinião contempo posta que tem sido atribuída a muitas fontes.
rânea em seu M athem atical
Compilation (agora conhe
cido como Almagest, após
uma corruptela de seu título
em árabe). De acordo com
Ptolomeu, a Terra situa-se
no centro de um grupo de
esferas concêntricas. Nessas
esferas, a Lua, o Sol, os pla
netas e as estrelas fixas giram
em volta da Terra. Os gregos
acreditavam que o círculo
fosse uma forma perfeita, e
assim como o céu era o âmbito da perfeição, Esse padrão de órbitas circulares deslocadas
as órbitas devem ser circulares. Contudo, explicava, de modo aproximado, a trajetória
isso não explicava o movimento observado ligeiramente errante dos planetas, que às ve
dos planetas. zes parecia voltar para trás (seguir uma tra
Para fazer o modelo funcionar, as órbitas jetória retrógada). As estrelas fixas podiam
circulares dos planetas tinham de se distan ser explicadas mais facilmente - elas se es
ciar da Terra. Estava claro de Vénus e M er palhavam por uma esfera distante que girava
cúrio estavam em órbita em volta do Sol, em volta da Terra, fornecendo um pano de
logo, no modelo de Ptolomeu, eles seguiam fundo para todo o resto.
uma trajetória circular em volta do Sol, que Com observações cada vez mais exatas
fazia uma trajetória circular em torno da do movimento dos planetas, ficou claro
Terra. Marte, Júpiter e Saturno - os outros que o modelo de Ptolomeu não explicava
planetas visíveis a olho nu - também gira plenamente suas trajetórias. Um núme
vam em torno de algo, mas que não era o ro cada vez maior de pequenos acertos foi
Sol. Ptolomeu identificou pontos vazios que feito para ajustar o modelo e mantê-lo de
formavam o foco das órbitas desses plane acordo com as observações, mas eventual
tas, e esses pontos vazios giravam em volta mente, após mais de 1.000 anos ele teve de
da Terra seguindo uma trajetória circular. ser abandonado.
157
TENTANDO ALCANÇAR AS ESTRELAS
P a r a d e n t r o e p a r a f o r a d a e s c u r id ã o
BRAHMAGUPTA (598-668 d.C.) Com o declínio do mundo helénico, a as
O matemático hindu Brahmagupta nas tronomia entrou em seu próprio período
ceu na cidade de Bhinmal em Rajasthan, de eclipse. Não há grandes astrônomos ro
Noroeste da índia. Foi chefe do observa manos, e pouco progresso foi feito antes do
tório astronômico em Ujjaun, e escreveu aparecimento da ciência árabe e a fundação
quatro textos sobre matemática e astro da escola de astronomia de Baghdad em 813
nomia, um dos quais contém o primei d.C. por al-Ma’mun.
ro relato do número zero. Brahmagupta Enquanto nada estava acontecendo na
propôs que a Terra gira em torno de seu Europa e Norte da África, os astrônomos
eixo; demonstrou que a Lua não está hindus estavam fazendo e gravando ob
mais longe da Terra que o Sol; e afirmou servações que mais tarde alimentariam a
que a Terra é redonda, e não achatada. astronomia árabe. O primeiro texto hindu
Para combater as críticas de que se a Terra sobre as estrelas, o Vedanga Jyotisa, data
fosse um globo, tudo cairia, ele descre em torno de 1200 a.C., mas é um trabalho
veu algo próximo da gravidade (veja a ci astrológico, não astronômico, e seus usos
tação abaixo). Deu métodos para calcu eram principalmente religiosos. O Arya-
lar a posição de corpos celestes e prever bhatiya, de 476-550 d.C., foi o primeiro
eclipses. Foi nos trabalhos de Brahma texto verdadeiramente astronômico a cir
gupta que os astrônomos árabes toma cular na índia. Teve uma influência nos es
ram conhecimento da astronomia hin critores árabes posteriores e é o primeiro
du. Kankah, que veio de Ujjain em 770 a estabelecer o início do dia à meia-noite.
d.C. a convite do califa al-Mansur, usou o Afirma que o mundo gira sobre seu eixo, e
Brahmasphutasiddhanta de Brahmagupta é por isso que as estrelas parecem se mover
para explicar a astronomia. pelo céu e que a Lua é ilummada ao ser re
fletida pela luz do Sol.
"Todas as coisas pesadas são atraídas
para o centro da Terra... A Terra é a mes A s t r o n o m ia á r a b e
ma em todos os lados; todas as pessoas Os astrônomos árabes foram os primeiros
na Terra ficam de pé e todas as coisas a aplicar a matemática consistentemente
pesadas caem na Terra pela lei da natu ao movimento das estrelas e planetas. Os
reza, pois é da natureza da Terra atrair e astrônomos islâmicos foram impelidos pela
manter as coisas, como é da natureza da necessidade de ter um calendário confiável,
água fluir, do fogo queimar, e do vento
pois precisavam identificar com exatidão
colocar em movimento... A Terra é a úni
os horários para orações ao amanhecer, ao
ca coisa que fica abaixo, e as sementes
meio-dia, à tarde, ao pôr do sol e à noite,
sempre caem nela, seja qual for a direção
e serem capazes de determinar a direção de
de onde você atirá-las, e elas nunca so
sua cidade sagrada Meca de qualquer lugar.
bem, da terra para cima."
Brahmagupta, Brahmasphutassiddhan-
Eles olhavam para o céu para ajudar nessas
ta, 628 d.C.
tarefas, seguindo as recomendações do Co
rão para usarem as estrelas para navegação:
“Foi Ele quem organizou as estrelas para
158
DA OBSERVAÇÃO AO PENSAMENTO
A nebulosa do Caranguejo
foi criada por um evento da
supernova testemunhada
pelos astrônomos em
1054.
160
DA OBSERVAÇÃO AO PENSAMENTO
Antigas ferramentas
astronômicas (no sentido
horário, de cima):
astrolábio, esfera armilar,
quadrante.
161
TENTANDO ALCANÇAR AS ESTRELAS
162
A TERRA SE MOVE - NOVAMENTE
163
TENTANDO ALCANÇAR AS ESTRELAS
das Esferas Celestes), em 1543. O impressor, Embora melhor que as esferas de Pto-
Rheticus, estava preparando o livro de Co- lomeu, o modelo de Copérnico ainda apre
pérnico quando teve de sair de Nuremberg. sentava alguns problemas. Considerava que
O trabalho foi passado para um luterano, as estrelas fixas estavam em uma esfera in
Andreas Osiander, que acrescentou um pre visível além do planeta mais distante. Para
fácio afirmando que Copérnico não queria que as estrelas parecessem imóveis, precisa
dizer que o Sol era literahnente o centro do vam estar muito distantes. Hoje, este con
universo, ele estava apresentando apenas ceito não nos incomoda, mas no século XVI
um modelo matemático que ajudava a expli ele questionou imediatamente por que Deus
car observações. O prefácio pretendia evitar desperdiçaria tanto espaço vazio entre o pla
críticas à Igreja, mas de fato a Igreja Cató neta mais distante e as estrelas fixas. Outro
lica prestou pouca atenção ao livro e só os problema era que se a Terra se movia, por
luteranos fizeram objeção a ele. Copérnico que os oceanos não inundavam os continen
morreu no ano em que o livro foi publica tes e as construções não tremiam, desmoro
do e pôde ver nenhum exemplar. Seu livro nando? No entanto, ao contrário do modelo
foi amplamente ignorado, e a impressão de de Ptolomeu, o modelo de Copérnico expli
400 cópias nem mesmo foi vendida, apesar cava os movimentos observados dos plane
de ter sido considerado, desde então, o texto tas sem recorrer a artifícios complexos.
que iniciou a astronomia moderna e ajudou A explicação de Copérnico colocou os
a desencadear a revolução científica. planos em dois grupos, com Mercúrio e Vê-
O modelo
do sistema
solar de
Copérnico, com
os planetas
girando na
órbita do Sol.
164
A TERRA SE MOVE - NOVAMENTE
nus mais perto do Sol que da Terra, e Mar duelo e usava uma prótese de ouro e prata.
te, Júpiter e Saturno mais longe. (Os outros Desde cedo ficou obcecado pelas estrelas,
planetas eram desconhecidos na época.) e percebeu que observações consistentes,
Copérnico também calculou quanto tempo exatas, devem formar a base de qualquer
cada planeta levava para completar a órbita conjunto de previsões. Em 1569, ele fez um
em volta do Sol, e as distâncias relativas dos quadrante gigantesco, com um raio aproxi
planetas até o Sol. Esses cálculos correspon mado de 6 m. O aro era calibrado em minu
diam a seu agrupamento relativo à órbita da tos e permitia medições bem exatas. Ele o
Terra, fornecendo evidências fortes em fa usou até que foi destruído em uma tempes
vor de seu modelo. tade em 1574.
Em 1572, Tycho observou o que pare
T udo m uda cia ser uma nova estrela muito brilhante na
Tycho Brahe foi uma figura brilhante, um constelação de Cassiopeia. Como se supunha
aristocrata sequestrado quando bebê que que o céu fosse fixo para toda a eternidade,
mais tarde perdeu parte do nariz em um esta era uma causa de certa consternação,
165
TENTANDO ALCANÇAR AS ESTRELAS
em De Nova Stella,
cunhou um novo
termo apara a astro
nomia - nova. Tycho estudou seus dados Anos mais tarde, em 1577, Tycho fez ou
para evidência da paralaxe que seria espera tra observação que mudaria a Terra, dessa
da se a Terra se movesse em volta do Sol. vez de um cometa. Suas observações reve
Paralaxe é a mudança evidente da posição laram que o cometa não poderia ser um fe
de uma estrela próxima contra o fundo de nômeno local, viajando muito perto da Ter
estrelas mais distantes, quando vista de dois ra e provavelmente mais perto da Lua. Em
pontos diferentes. Como não encontrou vez disso, ele devia viajar entre os planetas.
nada, Tycho interpretou suas observações Isso significava que a ideia de Ptolomeu de
como uma negação do modelo heliocêntri esferas de cristal abrigando os planetas e es
co de Copérnico. trelas fixas precisava ser abandonada, pois o
Por mais que sua abordagem fosse cien cometa colidiria com elas. Era quase tão re
tífica, Tycho ainda achava que os eventos no volucionária quanto o conceito de uma nova
céu pressagiavam mudanças maiores na Terra estrela.
e pensava que os fenômenos celestes fossem Tycho publicou seu livro em 1587-1588,
responsáveis pelas guerras religiosas que es estabelecendo seu próprio modelo do uni
tavam ocorrendo na época. Ele também não verso. Ele era um tanto híbrido, manten
aceitava que a Terra se movia. Se a Terra es do a Terra ptolomaica estática no centro do
tava se movendo pelo espaço, ele afirmava, universo, mas tendo os outros planetas gi
uma pedra derrubada de uma torre cairia rando na órbita do Sol, que girava em volta
a uma distância do pé da torre, porque a Ter da Terra.
ra teria se movido, deixando a pedra para Isso descartou a necessidade de “defe
trás. Evidentemente, isso foi refutado por rentes” e “epiciclos”, necessários para fazer
Gassendi em 1640 (veja a página 84). o modelo de Ptolomeu funcionar. O mais
166
A TERRA SE MOVE - NOVAMENTE
importante, no entanto, era que ele rejeita do em 1597, que combinava algo de Co
va a ideia de esferas de cristal e, pela primei pérnico com ideias de alguns físicos gregos
ra vez, os planetas estavam soltos no espaço, arcanos, em uma fusão bizarra. Kepler suge
sem apoio. riu que os seis planetas (incluindo a Terra)
ocupavam órbitas que eram definidas por
1571-1630)
J o h a n n es K ep ler ( um conjunto de esferas aninhadas dentro e
Um pouco mais jovem que Tycho, Johannes entre os cinco sólidos geométricos definidos
Kepler foi outro astrônomo prodígio, em pela geometria euclidiana. Embora isso em
bora tenha sido forçado a tomar uma abor si não fosse particularmente significante, ele
dagem diferente. O entusiasmo de Kepler deu uma sugestão mais importante: que os
pela astronomia foi estimulado desde crian planetas eram dirigidos por um “vigor” que
ça, quando sua mãe o levou a um lugar alto emanava do Sol, mas com impacto reduzido
para ver o Grande Cometa de 1577 (o mes à medida que a distância do Sol aumentava.
mo que levou Tycho a realizar seu trabalho Esta foi a primeira vez que a força física foi
sobre cometas). Kepler, no entanto, não citada como fonte do movimento dos pla
conseguiu fazer observações astronômicas netas, se não incluirmos a ideia de que eles
por ter a vista fraca, uma vez que foi afeta eram empurrados por anjos.
da quando ele teve catapora. Em vez disso,
ele aplicou cálculos matemáticos ao estudo Dois p o r u m : o s a s t r ô n o m o s e m P r a g a
das estrelas. Kepler foi seminarista, mas Em 1597, Tycho mudou-se para Praga para
seu curso em Tubingen, Alemanha, incluiu se tornar o Astrônomo Imperial oficial do
as disciplinas de matemática e astronomia, Rei da Boêmia e do Santo Imperador Ro
nas quais ele se destacou. Seu tutor, Michael mano Rudolph (Rodolfo) II. Foi lá, em
Maestlin, ensinava oficialmente o modelo 1600, que Kepler conheceu Tycho. Embora
Ptolomaico, mas introduziu aos seus alunos Tycho tivesse acumulado uma quantidade
prediletos a astronomia de Copérnico. prodigiosa de dados, ele não tinha habilida
Kepler não tinha uma renda que lhe de em matemática para usá-los. Kepler ti
desse independência, e uma das maneiras nha a capacidade matemática, mas não tinha
de ganhar dinheiro extra era fazen dados para trabalhar. Esta parecia
do horóscopos. Diferentemente de uma associação perfeita, mas o
Tycho, que levava a sério a liga relacionamento deles não era
ção entre acontecimentos ter fácil. Tendo visitado Tycho,
restres e celestes, Kepler con Kepler voltou para a casa
siderava os horóscopos como de sua família em Graz,
um lixo e referia-se a seus Áustria, enquanto Tycho
clientes como “cabeçudos”. deveria arranjar, com o
Apesar disso, os horóscopos Imperador Rodolfo, re
lhe forneceram uma renda cursos para o trabalho de
útil e o mantiveram em boa
situação financeira.
Kepler desenvolveu seu pró
prio modelo do universo, publica Tycho Brahe
167
TENTANDO ALCANÇAR AS ESTRELAS
168
O INVISÍVEL TORNA-SE VISÍVEL
169
TENTANDO ALCANÇAR AS ESTRELAS
Inglaterra no início dos anos 1550, mas atenção da Igreja, mas a crença popular de
este não chamou a atenção do público até que ele teria sido queimado por defender
que seu filho Thomas (1546-1595) publicou o modelo de Copérnico não tem funda
seu trabalho sobre o telescópio em 1571, 12 mento. Ele foi condenado realmente por
anos depois da morte de Leonard. Thomas acreditar que Cristo foi criado por Deus,
tinha apenas 13 anos quando seu pai faleceu não sendo ele próprio Deus (Arianismo), e
e foi criado por John Dee (1527-1609), o pela prática da magia. Entretanto, o apoio
matemático, filósofo, alquimista e astrólo do modelo heliocêntrico por Bruno au
go da corte da Rainha Elizabeth I. Isso deu mentou a hostilidade da Igreja com ele, e
a Thomas acesso à magnífica Biblioteca de por extensão com a teoria do universo in
Dee, onde ele leu o livro de Copérnico. Em finito de Digges. Apesar de suas ideias re
1576, Thomas publicou seu próprio traba ligiosas malucas, Bruno teve insights bem à
lho mais importante, uma edição revisada frente de seu tempo como astrônomo. Ele
de Prognostication E verlasting, de seu pai. Ele sugeriu que as estrelas distantes podiam
acrescentou não só um relato do modelo de ser como o nosso Sol, poderiam ter mun
Copérnico de um universo centrado no Sol, dos próprios e que estes podiam até ser o
mas sua própria teoria de que o universo é lar de seres tão gloriosos quanto a espécie
infinito. Rejeitando a ideia de estrelas fixas humana.
em uma esfera distante, Thomas Digges
propôs um espaço infinito em que as estre
las continuavam para sempre. Ele não citou
evidências dessa teoria, mas parece provável GALILEU NO ESPAÇO
que seu uso do telescópio e a percepção de que A NASA lançou uma nave espacial cha
a Via Láctea é um grupo de estrelas o leva mada Galileo em homenagem a ele em
ram a essa conclusão. Uma vez que Digger 1989, a qual entrou em órbita em volta
publicou em inglês, e não em latim, suas de Júpiter em 1995. Em rota, a nave Gali
ideias foram acessíveis a muito mais pessoas, leo passou pelo cinto de asteroides onde
e a popularidade do modelo de Copérnico descobriu uma Lua em miniatura chamada
se espalhou. Dactyl, em órbita em volta do asteroide
Quase no mesmo período, no entanto, Ida. Em 1994, Galileo fotografou frag
a Igreja Católica começou a atentar para a mentos do cometa Shoemaker-Levy ao
ideia potencialmente herege de um miiverso se chocar com Júpiter. Uma sonda solta
centrado no Sol. A fonte de sua animosida na atmosfera de Júpiter registrou ven
de parece ter sido que o modelo era defen tos em torno de 720 km/h antes de ser
dido por Giordano Bruno, queimado por destruída pela atmosfera Joviana. Galileo
fez 11 órbitas, registrando dados sobre o
heresia em 1600. Bruno foi seguidor de
planeta e suas luas em sua missão básica.
um movimento religioso chamado Elerme-
A missão da nave foi estendida e ela es
tismo, baseado em crenças egípcias antigas
tudou ló, a lua vulcânica de Júpiter, e sua
de que o Sol é um deus e deveria ser ado
lua gelada Ganymede. Galileo foi des
rado. Sua atração por um modelo helio
truída deliberadamente em 2003, sendo
cêntrico do universo foi natural. A defesa
queimada na atmosfera de Júpiter
do modelo de Copérnico por ele atraiu a
170
GALILEU, MESTRE DO UNIVERSO
Galileu, m estre
d o universo
O primeiro grande
usuário do telescópio
foi, sem dúvida, Gali
leu. Ele se dedicou à
astronomia em 1604,
estudando a supernova
que Kepler tinha ob
servado. Ele estabele Jovianas, embora agora existam 63 conhe
ceu que ela não se movia e, por isso, devia cidas com a órbita relativamente estável em
estar tão distante quanto as outras estrelas. volta do planeta, e mais luas pequenas po
Galileu fez seus próprios telescópios, que dem ser encontradas.
eram muito potentes para a época (veja a Também em 1610, Galileu observou as
página 51). Em 1610, ele tinha um instru fases de Vénus (parecidas às fases da lua).
mento com capacidade de aumento de 30 Isso provou conclusivamente que o planeta
vezes, com o qual observou as quatro luas deve girar em volta da órbita do Sol e que as
mais brilhantes de Júpiter (agora chama fases se devem à maneira como várias partes
das de “luas de Galileu”). A maior das luas são iluminadas pelo Sol durante as fases de
de Júpiter, agora chamada Ganymede, foi sua órbita. Como resultado, a maioria dos
aparentemente localizada pelo astrônomo astrônomos trocou sua aliança do modelo
chinês Gan De em 364 a.C. (a olho nu). ptolomaico para o heliocêntrico durante o
Primeiro Galileu pensava que elas fossem início do século XVII.
“estrelas fixas” próximas a Júpiter, mas fez Todavia, isso não foi tudo. Galileu tam
nova observação e esta mostrou que elas se bém observou os anéis de Saturno, embora
moviam. Quando uma desapareceu, ele per não fosse capaz de identificar o que eram.
cebeu que ela tinha ido para trás de Júpiter, Ele percebeu que a Via Láctea, na verdade,
e logo devia girar na órbita do planeta. Es é um conjunto incontável e maciço de estre
tes foram os primeiros corpos identificados las, viu que a Lua tem crateras e montanhas,
como girando em volta da órbita de outra observou manchas solares e distinguiu entre
coisa que não o Sol ou a Terra, e o impacto planetas e estrelas. Ele afirmou que as estre
na cosmologia contemporânea foi imenso. las são sóis distantes e fez estimativas de sua
Até 1892, não foram encontradas mais luas distância da Terra com base em seu brilho
171
TENTANDO ALCANÇAR AS ESTRELAS
C r u z a n d o e s p a d a s c o m D eu s
As observações de Galileu forneceram am
plas evidências em favor do modelo de Co-
pérnico de um sistema solar heliocêntrico
172
GALILEU, MESTRE DO UNIVERSO
Ptolomeu na forma de um
BESTSELLERDE 1610
diálogo imaginário entre
Galileu enviou uma cópia de The Starry Messenger (O Mensa defensores de cada sistema.
geiro Estrelado) para a corte em Florença em 13 de março de Ele publicou com a permis
1610. Em 19 de março, a impressão de 550 cópias se esgo são da igreja, sob a condi
tou. O livro foi traduzido para muitas outras línguas imedia ção de que não defenderia
tamente, e em cinco anos estava disponível até em chinês!
as ideias de Copérnico. A
censura papal insistiu em
um prefácio e uma decla
tusiasmada com as descobertas de Galileu. ração final dizendo que a
Ele visitou o Papa Paulo V em 1611, e uma visão de Copérnico foi dada como hipótese e
subcomitiva de padres jesuítas endossou suas avisou que Galileu podia mudar a formulação
descobertas de que a Via Láctea é uma vasta da frase contanto que seu significado perma
coleção de estrelas, Saturno tem uma forma necesse o mesmo. As mudanças que Galileu
oval estranha com protuberâncias laterais fez ao prefácio, e o fato de o personagem do
(elas não foram identificadas como anéis), a livro chamado Simplício apoiar o modelo de
Lua tem uma superfície irregular, Júpiter tem Ptolomeu e ser claramente um simplório, le
quatro luas e Vénus tem fases. O comitê não varam o Papa Urbano VIII a acreditar que
comentou sobre as implicações das desco Galileu estava se divertindo à custa dele e
bertas. Enquanto estava em Roma visitando promovendo o Copernianismo.
o papa, Galileu tornou-se membro de uma
das primeiras sociedades científicas do mun
do, a Academia Lyncean, e em um banquete POR TRÁS DOS TEMPOS
em sua homenagem, o nome “telescópio” foi O Diálogo e De Revolutionibus de Copér
sugerido pela primeira vez para o novo ins nico permaneceram no índice de livros
trumento astronômico. proibidos da Igreja Católica mesmo depois
No entanto, o bom relacionamento de da proibição geral de livros que ensinam o
Galileu com a Igreja não duraria. Ele pro heliocentrismo ter sido suspensa em 1 758.
duziu um panfleto sobre manchas solares Em 1820, a censura da Igreja recusou uma
em que fez sua única declaração publicada licença para um livro que tratava o helio
a favor do modelo de Copérnico. Ela atraiu centrismo como um fato estabelecido. Um
a atenção da Igreja e, quando visitou Roma apelo contra a decisão conseguiu a sua re
em 1615, o papado montou uma inquisição vogação, e tanto o livro de Galileu quanto
sobre crenças copérnicas e concluiu que elas de Copérnico foram removidos do índice
eram “tolas e absurdas... e formalmente here na publicação seguinte, em 1835. A Igreja
ges”. Logo depois, Galileu foi informado que Católica acabou se desculpando por seu
não devia ter, defender e nem ensinar crenças tratamento a Galileu - mas somente de
copérnicas, e que ele enfrentaria a Inquisição pois do ano 2000. O papa João Paulo II
se desobedecesse. Ele acatou a advertência, citou o julgamento de Galileu entre outros
no início. Em 1629, Galileu escreveu seu erros cometidos nos 2000 anos anteriores
Dialogue o f the Tivo C hief World Systems que e reconhecidos pela Igreja, embora com
apresentava os modelos de Copérnico e de atraso considerável.
173
TENTANDO ALCANÇAR AS ESTRELAS
C a ta lo g a n d o os céus
O desenvolvimento do telescópio permi
tiu que os astrônomos fizessem mapas mais
precisos das estrelas. Estimulada pela rivali
dade com os franceses, que tinham montado
um observatório nacional sob o controle da
Academia francesa, a Royal Society ofL ondon
pressionou para a fundação de um obser
vatório na Inglaterra. O Observatório Real
foi estabelecido em Greenwich em 1675,
com John Flamsteed (1646-1719) como o
primeiro Astrônomo Real (embora o títu
lo na época fosse “Observador Astronômi
co”). Flamsteed logo se correspondeu com
o jovem Edmund Eíalley (1656-1742), então
um estudante em Oxford e já um astrôno-
174
CATALOGANDO OS CÉUS
mo brilhante - ele levou um telescópio de revelar mais dos mistérios que assombravam
mais de sete metros de comprimento com os primeiros cientistas. Galileu descobrira
ele para a Universidade de Oxford. Halley as “orelhas” de Saturno, que então desapa
primeiro escreveu para Flamsteed com as receram estranhamente alguns anos mais
correções sugeridas ao catálogo de estrelas tarde. Em 1655, Huygens começou a tra
então em uso, e logo se tornou protegi balhar com seu irmão Constantijn em um
do de Flamsteed, que estava engajado em telescópio aperfeiçoado que impedia aber
fazer um novo catálogo de estrelas do he ração cromática - orlas coloridas em torno
misfério norte. H alley propôs um estudo das imagens. Então ele virou para Saturno
paralelo no hemisfério sul e logo assegu seu telescópio com capacidade de aumentar
rou a aprovação real. O pai de H alley o 50 vezes. Em 1652, ele descobriu a maior
financiou, dando a seu filho uma mesada lua de Saturno, Titã, e quatro anos depois
que era três vezes mais que o salário real viu que as “orelhas” que Galileu tinha vis
de Flamsteed. to em Saturno eram, na realidade, um anel:
“...o planeta é cercado por um anel fino e
V endo cada vez mais achatado, que não toca em nenhum lugar,
A medida que o poder do telescópio con e inclinado para o eclíptico”. Não estava
tinuava a melhorar, os astrônomos podiam claro do que o anel era feito. Primeiro, os
RETORNO LENTO
O cometa de Newton, o Grande Cometa de 1680, foi o primeiro a ser observado com um
telescópio. Ele é programado para voltar aproximadamente em 11.037. Newton usou suas
medidas da trajetória do cometa para testar as leis de Kepler.
175
TENTANDO ALCANÇAR AS ESTRELAS
O alinhamento
do Sol, da Terra e
de Marte deu aos
astrônomos do
século XVII uma
oportunidade para
calcular o tamanho
do Sol e sua
distância da Terra.
astrônomos supuseram que ele fosse sólido distância entre a Terra e Marte era mínima.
ou líquido, mas em 1675 Giovanni Cassini Como diretor do Observatório de Paris,
descobriu uma falha no sistema de anéis. que fora inaugurado naquele ano, Cassini
Determinar a natureza do anel foi o tema foi capaz de enviar um colega, Jean Richer,
escolhido pelo Adam’s Prize Essay na Uni para Cayenne, na América do Sul, para fa
versidade de Cambridge em 1855. Este foi zer observações enquanto ele fazia suas pró
ganho por James Clerk Maxwell, que de prias observações em Paris. Como na época
monstrou que uma coleção de minúsculas quem reinava na França era Luís XIV - o
partículas sólidas em órbita é a única possi Rei Sol - , o projeto obteve aprovação real.
bilidade para algo que seria instável; apenas Sabendo que 10.000 km separavam Paris
a distância da Terra a Saturno fazia o siste de Cayenne, Cassini usou a trigonometria
ma parecer uma massa contínua. Maxwell para calcular a distância entre Marte e a
provou estar correto em 1895, usando téc Terra, e depois aplicou as leis do movimen
nicas espectroscópicas. to planetário de Kepler para deduzir que o
Sol estava a 138 milhões de quilômetros da
Longe, m u ito lo n g e Terra. Isso representa apenas 9% a menos
Cassini é mais famoso por seu trabalho so que o dado aceito atualmente de quase 150
bre a distância entre planetas e o tamanho milhões de quilômetros. Mais cálculos re
do Sol. Antes disso, as únicas estimativas da velaram que o Sol é 110 vezes o tamanho
distância do Sol até a Terra eram aquelas da Terra. Depois da publicação de Principia
fornecidas por Aristarco em 280 a.C. O tra de Newton e de sua descrição da gravidade,
balho de Copérnico tornou possível julgar ficou claro que o Sol tem cerca de 330.000
os índices de distâncias de cada planeta até vezes a massa da Terra.
o Sol, mas não havia dados para calcular
as distâncias absolutas. Uma oportunidade C olocando cometas em seu lugar
perfeita apresentou-se em 1671, quando o A amizade entre Halley e Newton deu fru
Sol, a Terra e Marte estavam alinhados e a tos na forma de uma explicação do movi-
176
LONGE, MUITO LONGE
TRÂNSITO DE VÉNUS
Antes de Cassini, o astrônomo inglês Jere- o tamanho do sistema solar como então era
miah Horrocks (1618-1641) sugeriu que, ao conhecido. A triangulação é uma maneira de
determinar com precisão o timing do trânsi calcular a posição de algo medindo o ângulo
to de Vénus - a passagem do planeta pela até ele a partir de dois pontos fixos, sendo a
face do Sol - a partir de diferentes locais da distância entre eles conhecida. O método era
Terra, seria possível calcular a distância en usado tradicionalmente para medir a altura
tre a Terra e o Sol. O próprio Horrocks ob de edifícios e até mesmo de montanhas.
servou um trânsito de Vénus em 1639, dois Halley morreu 19 anos antes de a próxima
anos antes de sua morte. O seguinte ocorre passagem ocorrer, e por isso coube a outros
ria em 1761, e novamente em 1769. Halley pôr essa ideia em prática. Quando a data se
tornou popular a ideia de usar a triangulação aproximou, os astrônomos iniciaram expedi
para calcular a distância entre o Sol e a Terra, ções em volta do mundo para registrar os ti-
conhecida como uma unidade astronômica mings. O trânsito provou ser muito difícil de
(UA), a qual poderia ser usada para calcular medir com exatidão e confiabilidade, mas
ao colocar juntas várias medições distintas
feitas em diferentes partes do globo, eles
chegaram a um dado de cerca de 153 mi
lhões de quilômetros, não muito distante do
dado aceito atualmente de 150 milhões de
quilômetros. No final do século XVIII, então,
os astrônomos tinham uma ideia realista do
tamanho do sistema solar. Foram estabeleci
das as bases da moderna era da astronomia,
uma era em que a maioria dos corpos celes
tes distantes estaria em foco.
mento dos cometas. Newton mostrou em dirigindo para o espaço externo novamen
Principia como a trajetória de um cometa te - o que atualmente seria considerado um
podia ser calculada a partir de três posições cometa não periódico. Sem desejar fazer os
observadas num período de dois meses, e cálculos de seu cometa, Newton entregou
ele compilou dados sobre 23 cometas. Ele os dados a Halley. Ele também supôs que
supôs, no entanto, que os cometas seguiam a trajetória fosse parabólica, até notar que a
uma trajetória parabólica, vindo para fora trajetória do cometa em 1607 (observada
do sistema solar, girando em tomo do Sol e se por Kepler) era muito parecida àquela do
177
TENTANDO ALCANÇAR AS ESTRELAS
cometa de 1680, que ele próprio vira. Mais na. Um meteoro do tamanho de um “vagão
tarde ele descobriu que ela também corres de carga” que caiu enquanto o cometa esta
pondia à trajetória de um cometa visto em va no céu foi algo curioso e uma atração na
1531 e concluiu que todos os três eram o Grécia durante 500 anos. O primeiro regis
mesmo objeto, não seguindo uma trajetória tro certo do cometa Halley é chinês, sobre
parabólica, mas uma órbita elíptica mui sua aparição em 240 a.C. A vez seguinte em
to ampla em torno do Sol. Halley previu o que foi visto, em 164 a.C., é registrada
reaparecimento do mesmo cometa em 1758, em uma tábua de argila na Babilônia. Moe
tendo calculado um período de retorno de das retratando o rei armênio Tigranes, o
76 anos. O cometa - agora conhecido como Grande, parecem mostrar o cometa Halley
cometa H alley - reapareceu no dia de Natal em sua coroa, registrando seu aparecimen
de 1758, 16 anos depois da morte de Halley. to em 87 d.C.
Ele fez sua maior aproximação em 837
O cometa H alley na H istória d.C., a uma distância de apenas 0,03 UA,
O cometa de Halley pode ter sido registrado quando sua cauda pode ter se estendido até
em 467-466 a.C. na Grécia Antiga e na Chi 60 graus pelo céu. O cometa Halley é retra
tado na tapeçaria Bayeux, e possivelmente
178
LONGE, MUITO LONGE
Espectro variável de
estrela para a constelação
Corona borealis (coroa do
norte), 1877.
179
TENTANDO ALCANÇAR AS ESTRELAS
180
LONGE, MUITO LONGE
181
TENTANDO ALCANÇAR AS ESTRELAS
TELESCÓPIOS NO ESPAÇO
O Telescópio Espacial Hubble, lançado usan- da luz de fundo ou distorção da atmosfera da
do-se o ônibus espacial em 1990 e tendo re- Terra. Os telescópios espaciais foram propos-
cebido o nome em homenagem ao astrôno- tos pela primeira vez em 1923, muito antes
mo famoso, é um telescópio ótico em órbita de se tornar possível construir um.
em volta da Terra.
Por estar no espaço, produz imagens de Imagem do Hubble de duas galáxias que
extrema claridade, quase sem interferência estão se unindo por sua atração gravitacional
mútua.
Entre 1989 e 1993, o satélite Hiparco da tância até uma Cefeida, a equação de Lea-
European Space Agency mediu as paralaxes vitt, que relaciona período-luminosidade à
de 118.000 estrelas, e o catálogo Tycho-2 da distância, permitiu que a distância de outras
mesma missão fornece dados para mais de cefeidas fosse determinada. De repente, as
dois milhões e meio de estrelas da Via Lác distâncias através da Via Láctea e até mes
tea. mo a fora dela tornaram-se evidentes, e des
Para estrelas muito distantes, a paralaxe cobriu-se que o universo era bem maior do
é de pouca serventia. Outro método, usan que se imaginava.
do-se dados de estrelas chamadas Cefeidas, Em 1918, o astrônomo americano Har-
foi desenvolvido por Henrietta Swan Lea- low Shapley (1885-1972) usou o método
vitt, da equipe de mulheres “calculadoras” Cefeida para estudar aglomerados globula
de Henry Peckering. As Cefeidas variam em res que ele pensou existirem dentro da Via
intensidade, pulsando em intervalos que vão Láctea. Ele percebeu que a V a Láctea era
de um dia a meses. Uma vez calculada a dis muito maior do que se pensava anterior-
183
TENTANDO ALCANÇAR AS ESTRELAS
184
A VIDA SECRETA DAS ESTRELAS
Espectômetro de
massa usado para
medir carbono estável
e isótopos de oxigênio.
185
TENTANDO ALCANÇAR AS ESTRELAS
/
V
G < > Ponte de
Wilsing e o equipamento Wheatstone
de Scheiner para tentar
' Metal
detectar ondas de rádio
do Sol. Papel
186
A VIDA SECRETA DAS ESTRELAS
NIKOLA TESLA (1856-1943) para pior. Ele ficou cada vez mais obsessivo
Nikola Tesla nasceu no Império Austro-Hún- pelo número três e por pombos.
garo, em uma área que atualmente faz parte O último fato a manchar sua reputação
da Croácia. Ele abandonou a universidade foi sua promoção do chamado "raio da mor
duas vezes e cortou ligações com a família te", que, conforme ele alegava, "enviava
e amigos (seus amigos acreditavam que ele feixes concentrados de partículas pelo ar,
tivesse se afogado no rio Mura). Em 1884, de uma energia tão imensa que derruba
mudou-se para os EUA. riam uma frota de 10.000 aviões inimigos a
Tesla trabalhou com comunicação wire- uma distância de 200 milhas... e causariam a
less, raios X, eletricidade e energia. Quando morte de exércitos em seu raio de alcance".
chegou aos EUA começou a trabalhar para Tesla viveu os últimos 10 anos de sua vida
Thomas Edison, mas se demitiu em razão no Hotel New Yorker, e quando faleceu duas
de uma discussão sobre o pagamento. Mais cargas de caminhão cheias de trabalhos fo
tarde montou seu próprio laboratório. Ele ram apreendidos pelo governo dos Estados
era um inventor prolífico, mas algumas de Unidos por serem consideradas um risco à
suas invenções, seu caráter e suas atitudes segurança.
eram excêntricas, e ele sempre foi conside
rado um dissidente. Suas afirmações de que
ele teria detectado transmissões de rádio de
alienígenas de Marte ou Vénus não ajuda
ram. Em 1904, o Escritório de Patentes dos
Estados Unidos retirou a patente de Tesla
pelo rádio e deu-a a Marconi; Marconi foi
laureado com o Prêmio Nobel pela invenção
do rádio em 1909. Depois de brigas com
Marconi e Eddington, e a demolição de sua
estação Telefunken sem fio em Long Island
pela Marinha, temendo que ela fosse usada
para espionagem durante a Primeira Guer
ra Mundial, a sorte de Tesla deu uma virada
coisa que não vemos com telescópios ópti em uma carta escrita em 1890 que ele e um
cos, mesmo aqueles ancorados no espaço. colega poderiam construir um receptor para
Mas quando as partes não visíveis do espec captar ondas de rádio a partir do Sol. Se ele
tro eletromagnético, como ondas de rádio, tivesse construído um aparelho desses, infe
foram usadas, foi possível explorar ainda lizmente não teria detectado ondas de rádio
mais profundamente o cosmos. do espaço. O físico inglês Sir Oliver Lodge
Talvez as origens da astronomia do rádio (1851-1940) construiu realmente um detec
estejam ligadas ao inventor e empreendedor tor, mas não encontrou evidências de on
Thomas Edison (1847-1931), que sugeriu das de rádio vindas do Sol em 1897-1900.
187
Foto da constelação de Sagitário tirada
pelo telescópio Hubble, fonte do sinal de
rádio detectado por Jansky.
188
A VIDA SECRETA DAS ESTRELAS
189
TENTANDO ALCANÇAR AS ESTRELAS
191
CAPÍTULO 7
ESPAÇO-TEMPO
continuado
ii . *
Éfc'’MC3tf
U m a breve h istó ria d o te m p o
Embora seja fácil ver a passagem dos dias, o
padrão de um ano inteiro se torna evidente
somente com o registro e a contagem. A pri
meira evidência de pessoas registrando o tem
po data de 20.000 anos atrás. A matemática e
os primeiros conhecimentos de astronomia
provavelmente tenham surgido juntos quando
as pessoas aprenderam a acompanhar e a pre
ver os movimentos dos corpos celestes.
O curso de um dia era medido usando-
-se um gnom on, um ponteiro de um relógio
solar que projeta uma sombra para acompa
nhar o progresso do Sol pelo céu. Durante Uma clepsidra, usada para medir o tempo na
milênios este foi o melhor guia para a passa Grécia Antiga. Os relógios d'água têm sido
gem do tempo. Então, no século XVII, Ga- usados há milhares de anos.
lileu comparou um lustre balançando com
seu próprio pulso e descobriu o movimen A m anhã e am anhã e am anhã
to regular de um pêndulo. O pêndulo leva Os relógios medem o tempo linear, que é
sempre o mesmo tempo para oscilar: quan bastante conveniente para vidas humanas,
do o arco diminui, o movimento do pêndulo mas pode não representar toda a história.
desacelera para manter o intervalo regular. A ideia de que o tempo pode não ser li
Galileu projetou um relógio de pêndulo, near foi sugerida tanto por Buda quanto
mas nunca o construiu. Foi Christiaan Huy- por Pitágoras por volta de 500 a.C. Eles
gens que construiu o primeiro relógio de acreditavam que o tempo pudesse ser cí
pêndulo em 1656. Mais tarde, Robert Hooke clico e que um ser humano, depois de
usou a oscilação natural de uma mola para morrer, podia renascer. Platão pensava
controlar o mecanismo de um relógio. A que o tempo havia sido criado no início
medida do tempo por meios mecânicos de todas as coisas. Mas, para Aristóteles,
foi a norma até 1927, quando o engenhei o tempo só existia onde havia movimento.
ro canadense de telecomunicações Warren Um paradoxo aparente, proposto pelo fi
Marrison, que trabalhava na Bell Telepho- lósofo Zeno (c.490-430 a.C.), parece mos
ne Laboratories, New Jersey, descobriu que trar que nem o tempo nem o movimento
poderia medir o tempo com exatidão usan podem existir. Se dividimos o tempo em
do as vibrações de um cristal de quartzo em partes cada vez menores, a distância atra
um circuito elétrico. vessada por uma flecha em movimento
torna-se cada vez mais curta até que, no
instante “agora”, a flecha não se move.
"Minha alma anseia em saber este enigma
Mas, nesse caso, ela não pode existir ou se
tão intrincado. Confesso a Vós, Senhor, que
mover, pois o tempo é formado de um nú
sou ignorante do que seja o tempo."
mero infinito de “agoras” em que nenhum
Santo Agostinho
movimento está ocorrendo.
194
O mecanismo de funcionamento do relógio
forneceu a primeira maneira de determinar o "...tempo absoluto, verdadeiro, matemáti-
tempo com exatidão. co... de sua própria natureza, flui igualmen
te sem relação com nada externo."
Isaac Newton
195
ESPAÇO-TEMPO CONTINUADO
U n in d o e s p a ç o e t e m p o
Nossa experiência pessoal do tempo é sim
ples. O tempo se move do passado para o
presente e para o futuro sem chance de vol
tar, saltar para frente ou congelar. Ele se
move a uma taxa continuamente em uma
direção. Não é surpreendente que durante
milênios supusemos que esta fosse a nature
za do tempo. Mas talvez não seja.
T udo é relativo
Todo movimento é relativo à posição ou
movimento do observador. Logo, você
pode atravessar a sala e alguém de pé e pa
rado na sala julgará sua velocidade como
sendo cerca de 5 km por hora; Tanto você
quanto o observador estão em um globo
que gira no espaço a quase 30 km por se
gundo, mas apenas seu movimento pela
sala é notado. Um observador em um pla
neta distante (com um bom telescópio), no
Santo Agostinho
entanto, veria o globo girando e rodopian
do. (Galileu percebeu isso, embora falasse
de uma pessoa em um navio vista por um
O filósofo cristão Santo Agostinho espectador na praia, e não de um alieníge
(354-430 d.C.) chegou à conclusão de que na com um telescópio.) Logo, a velocida
de em que um objeto se move depende do
o tempo não existiria se não houvesse uma
referencial; o movimento só pode ser me
inteligência observadora, pois era apenas a
dido em relação aos outros objetos ou ob
lembrança de coisas passadas e a expectati servadores. O referencial pode ser a mesma
va de eventos futuros que davam ao tempo sala, o mesmo navio, o mesmo planeta ou a
qualquer existência fora do presente. mesma galáxia.
O matemático francês Ni cole Oresme Einstein descobriu uma exceção a essa
(1323-1382) indagava se o tempo celestial regra básica: a luz, disse ele, sempre viaja
- tempo medido pelo movimento de corpos à mesma velocidade - independentemente
celestes - era mensurável: ou seja, se havia da velocidade em que o observador está se
uma unidade que pudesse medir seus movi movendo. Ele explicou que não importa o
mentos com números inteiros. Ele sugeriu quanto você esteja se deslocando, um feixe
que um criador inteligente certamente os de luz passaria por você a 299.792.458 me
teria feito assim, mas por pouco não per tros por segundo.
196
TUDO E RELATIVO
k.
LEVANDO A GRAVIDADE A EXTREMOS: BURACOS NEGROS
Os buracos negros são "singularidades no O conceito de buraco negro (embora
espaço-tempo". Existem áreas onde a gra não o nome) foi sugerido pela primeira vez
vidade é tão forte que nem mesmo a luz por duas pessoas independentemente -
escapa, e qualquer coisa que passe perto Pierre-Simon Laplace em 1795 e, antes dele,
demais é sugada. Os buracos negros podem o filósofo inglês John Michell (1 724-1 793)
se formar quando as estrelas entram em co em 1 784.
lapso, tornando-se minúsculas, em alguns Michell chamou de "estrela escura" o
casos não maiores do que o núcleo de um fenômeno de uma estrela tão densa e com
átomo, e extremamente densas. A veloci uma atração gravitacional tão forte que a
dade de escape exigida para se sair de um luz não podia escapar. A ideia foi retomada
buraco negro é maior que a velocidade da pelo físico alemão Karl Schwarzschild (1873-
luz. O tamanho de um buraco negro é me 1916) logo antes de sua morte em 1916,
dido por seu horizonte de eventos - o limite quando ele calculou os campos gravitacio-
sobre o qual nada pode escapar. Embora um nais de estrelas e de estrelas em colapso. O
astronauta que caia em um buraco negro termo "buraco negro" foi cunhado pelo físi
possa não notar nada incomum ao atraves co teórico americano John Archibald Whee-
sar o horizonte de eventos, um observador ler (1911 -2008) em 1967, quando cosmolo-
de fora verá o tempo para aquela pessoa de gistas encontraram a primeira evidência de
sacelerar. No limite do horizonte de eventos, sua existência.
eles parecem congelar no tempo.
197
n& ;
ESPAÇO-TEMPO CONTINUADO
198
DE VOLTA AO INÍCIO \
199
ESPAÇO-TEMPO CONTINUADO
.1 :=
O UNIVERSO M ODERNO
Um aspecto das equações gerais da relativi co russo Alexander Friedmann (1888-1926).
dade de Einstein é que elas não funcionam Usando as equações da relatividade de Eins
em um universo estático sem “falsificação”. tein, Friedmann apresentou um modelo
Como Einstein acreditava firmemente que matemático de um universo em expansão
o universo era estático, ele acrescentou uma em um trabalho publicado em 1922. Ele
“constante cosmológica” a suas equações morreu de febre tifoide no ano seguinte
para fazê-las funcionar. Mas os outros inter com apenas 37 anos, uma doença contraí
pretaram suas equações de forma diferente. da enquanto ele estava de férias na Cri-
Um universo em expansão foi proposto pela meia, e seu trabalho foi desprezado. Eins
primeira vez pelo cosmologista e matemáti tein foi um dos poucos a ler o trabalho de
Friedmann, mas
Os filósofos gregos estoicos no século III a.C. acreditavam que o uni rejeitou-o defini
verso fosse como uma ilha cercada por um vazio infinito e estava em tivamente. Entre
estado de fluxo constante. O universo estoico pulsa, mudando de ta tanto, Einstein foi
manho, e sofrendo grandes modificações e conflagrações periódicas. forçado a rejeitar
Todas as partes são interconectadas de modo que o que acontece em seu próprio mo
algum lugar afeta o que acontece em toda parte, uma ideia espelhada delo anterior e
curiosamente no embaralhamento quântico (veja a página 1 35). abandonar a cons-
200
DE VOLTA AO INÍCIO
201
ESPAÇO-TEMPO CONTINUADO
Big Bang, e a contração, quando a gravidade fim (ou têm inícios e fins infinitos, depen
puxa toda a matéria para dentro novamente, dendo de como você deseja olhar para isso).
resultando em um Big Crunch e uma singu
laridade, que explodirá em outro Big Bang. D o ovo cósm ico ao B ig B a n g
O ciclo continua para sempre, mas como A moderna visão do universo passou a existir
o tempo é único no espaço, tanto o tempo com as teorias do padre e físico belga Geor-
quanto o espaço não têm nem começo nem ges Lemaitre (1894-1966), que expressou a
202
DO OVO CÓSMICO AO BIG BANG
203
ESPAÇO-TEMPO CONTINUADO
I %
O UNIVERSO OBSERVÁVEL
A explosão de uma supernova mostrada em
Agora temos várias formas de estimar a comprimentos de onda ótica (esquerda),
idade do universo: medindo a abundância ultravioleta (centro) e raio X (centro).
204
r
DO OVO CÓSMICO AO BIG BANG
205
CAPÍTULO 8
FÍSICA
para o futuro
M |
Um anel de matéria
escura formado pela
colisão de duas galáxias,
fotografado pelo
telescópio Hubble em
2004.
208
DESCARTANDO TUDO E COMEÇANDO DE NOVO
209
FÍSICA PARA O FUTURO
210
Simulação da criação e decaimento de um
bóson de Higgs; ele produz dois jatos de
hádrons e dois elétrons.
211
Stephen Hawking em gravidade zero a bordo de
um Boeing 727 modificado. reunindo a gravidade e a mecânica quântica
em um conjunto abrangente de equações.
LHC dispara feixes de prótons 11 meses do Anaxágoras poderia ter dito o mesmo. Ele
ano, e íons de chumbo um mês por ano. queria encontrar uma única explicação para o
Os feixes de prótons são acelerados a 3 m/s movimento e a mudança de estado que ocorre
da velocidade da luz e disparados em raja no mundo físico. Ele insistiu que essa expfíca
das de modo que as colisões não aconteçam ção não deveria ter qualquer componente su
continuamente, mas sempre em intervalos persticioso ou divino e deveria ser totalmen
de pelo menos 25 nanossegundos. te lógica. A mente cósmica, no modelo dele,
Um próton acelerado leva apenas 90 pesquisada constantemente, regulava e con
microssegundos para completar um circui trolava as mudanças infinitas que ocorriam
to do túnel colisor - o equivalente a 11.000 para certificar-se de que elas estavam todas
circuitos por segundo. O programa de pes sob controle. O que ele queria dizer era que
quisa no LHC começou em 2010. havia uma lei, que ele não tinha descoberto
Os físicos esperam que, se o modelo pa nem explicado, que controlava o fluxo de toda
drão estiver correto, um bóson de Higgs matéria. Esta era uma expfícação insatisfató
será produzido a cada poucas horas; será ria, como observaram seus sucessores, mas
necessário obter dados de dois ou três anos não muito diferente das crenças de Einstein e
para confirmar que isso aconteceu. Hawking de que deve haver uma teoria única
e que podemos descobri-la. No final de sua
S e p a r a n d o o jo io d o t r i g o ? vida, Einstein reconheceu que ele não con
Einstein lutou - e fracassou - para encontrar seguiria fazer isso, e que deveria deixar esse
uma teoria unificadora que explicasse tudo, trabalho para outros cientistas. Isso ainda não
212
ONDE MAIS PROCURAR PELA MATÉRIA?
21 3
1
■ INDICE
Índice
Abhaya, Rei, 74 Aston, Francis 186
Academia de Experimento 21 astrolábio 161
Académie des Sciences 22 astronomia veja também continuum espaço-
Alberto da Saxônia 78-79 -tempo
al-Biruni, Abu Rayhan 19, 160, 162 e brilho das estrelas 184-185
al-Farisi, Kamal al-Din 48 e cometas 176-179
al-Ghazali 33 e energia nas estrelas 185-186
al-Haytham, Ibn al-Hassan Ibn 18-19, 27- e espectroscopia 180-182
28, 49, 67, 160 e Galileu 171-174, 175-176
Alhazen 18-19, 47-48, 49 e modelo copernicano 165-164, 170
al-Khwarizimi, Muhammed ibn Musa 159- e modelo ptolomaico 157, 163, 164, 166
160 e na índia 157, 158
al-Marwazi, Habash al-Hasib 160 e pulsares 190, 191
alquimia 35, 36 e quasares 190
Al-Rahwi 19 e radioastronomia 186-190
al-Shirazi, Quth al-Din 48 e Tycho Brhae 165-166, 167
al-Suíi, Abd al-Rahman 160 e uso do telescópio 169-170, 171-172,
Amontons, Guillaume 103 175-176, 183
Ampère, André-Marie 101, 111 e Via Láctea 184
Analytical Mechanics (Lagrange) 90 instrumentos na 176-177, 182-184
Anaxágoras 26-28, 29, 70, 87, 199 na China 153
Anaximander 17 na Grécia Antiga 154-157
Anderson, Carl 145 na Mesopotâmia 153-154, 161
antimatéria 144-145 no mundo árabe 158-160, 162
Aquino, Tomás 78 no período pré-histórico 152
Aristarco 154-155 visão da supernova 162-163
Aristóteles 18, 199 átomos
e ideias da matéria 30, 31-32 decaimento 138, 139-140
e ideias de mecânica 75-76, 77 descrição de 29
e ideias de tempo 194 discussão sobre a existência de 35
e método científico 2 3 e antimatéria 144-145
e velocidade da luz 67 e compostos 41-42
influência na Europa medieval 20, 30, 50 e corpuscularianismo 35
Arkwright, Thomas 90 e elementos 39-42
Arquimedes 76 e elétrons 122, 124-126, 128, 129, 130-
Arrhenius, Svante August 109, 112 133
Aryabhatiya 158 e fissão nuclear 141-142
INDICE
â
e buracos negros 197 Discursos e Demonstrações M atemáticas a Res
e desvio para o vermelho 201 peito de Duas Novas Ciências (Galileu) 174
e energia escura 208-209 Dokkum, Pieter van 204
e multiversos 205 Draper Catalogue of Stellar Spectra 180,
e número de estrelas 203-205 181-182
e origens do universo 199-200 Draper Henry 180
e teoria da relatividade 196, 198 Dresden Codex 162
e teoria do Big Bang 202-203, 205 Du Shi 75
e universo em expansão 200-202 dualidade da onda-partícula 127-137
e velocidade da luz 198-199
Copérnico, Nicolau 163-164 Eck, Johannes 21
Coriolis, Gustave-Gaspard de 105-106 Eddington, Arthur 70-71, 185, 186
corpuscularianismo 35, 57-58 Edison, Thomas 186
Cowan, Clyde 145-146 efeito fotoelétrico 62, 63
Curie, Marie 117-118, 119 Einstein, Albert 131
Curie, Pierre 118, 119 e a direção da luz 70
e a dualidade da onda-partícula 129-130
Dalton, John 41-42, 103, 122 e a expansão do universo 200-201
Davy, Humphry 98, 99, 106 e a Interpretação de Copenhagen 135-
De aspectibus (Sobre a perspectiva) (al- 137
-Haytham) 47 e a teoria da relatividade 196-198
De magnete (Gilbert) 110, 155 e a teoria do Big Bang 202
De Nova Stella (Brahe) 166 e a teoria unificada 212
Dee, John 170 e a velocidade da luz 70
Demócrito 19, 28, 29, 31, 199 e eletromagnetismo 203
Desaulx, J. 42 e o efeito fotoelétrico 62, 63
Descartes, René e o éter 32
descreve o universo 200 e o método científico 23
e geometria cartesiana 55 e o movimento das moléculas 42-43
e ideias de matéria 32, 35, 37-38 e o paradoxo EPR 135-137
e ideias de mecânica 81, 82 e o Projeto Manhattan 142
e ideias de ótica 52, 53-54 elementos 39-42
e velocidade da luz 67, 70 eletricidade 106-111
desvio para o vermelho 201 eletromagnetismo 61-62, 111-114
DeWitt, Bryce 205 elétrons 122, 124-126, 128, 129, 130-133
Dialogue of the Two Chief World Systems Empédocles 30, 31, 46, 57, 67, 95
(Galileu) 173-174 empirismo 36
Dicke, Robert 203 energia cinética 106
Digges, Leonard 53, 169-170 energia escura 209-210
Digges, Thomas 169-170 energia potencial 106
dinâmica 77-82, 84 energia
Dirac, Paul 132-133, 144-145 conservação da 94
ÍNDICE
( in fe r io r ) , 1 2 7 ( s u p e r io r ) , 1 4 4 , 1 5 2 ( s u p e r io r ) , 1 5 9 ( in fe r io r ) , 1 6 1 (to d a s ), 1 6 5 , 1 8 1
P h o to s .c o m : 2 1 , 2 7 (s u p e rio r), 3 0 , 3 6
S c ie n c e P h o to L ib ra ry : 3 9 , 4 1 , 4 7 (s u p e rio r), 6 3 (s u p e rio r), 6 4 , 8 6 (s u p e rio r), 9 8 , 102, 106 (in fe rio r), 1 1 1 , 132
( in fe rio r), 1 3 5 (s u p e rio r), 1 3 6 (s u p e rio r), 1 3 6 (in fe rio r), 1 5 5 , 1 7 2 (m e io ), 1 8 3 ( in fe rio r), 1 8 4 (s u p e rio r), 184
M a ry E van s: 15 7
T o p fo to : 7 6 ( 1 ) 8 9 , 9 1 , 1 5 9 (s u p e rio r), 1 7 1
G e tty : 82
C lip a rt: 7 7 , 1 0 0
(19 9 6 ): 23 ( in fe rio r); R e b e c c a G lo v e r : 33, 57, 180 (s u p e rio r); M o n fr e d o de M o n te I m p e ria li, 1 4 th C : 34;
C h r is t ia a n H u y g e n s : 6 0 ( s u p e r io r ) ; C a s p a r N e t s c h e r : 6 0 ( in fe r io r ) ; J a m e s C le r k M a x w e ll: 6 2 ( in fe r io r ) ; A la in
L e R ille : 6 5 ( i n fe r io r ) ; F a lc o r i a n : 6 6 ( s u p e r io r ) ; G i u l i o P a r ig i: 6 8 ; m a n u s c r it o d e I h n S a h l: 7 0 ; A n t o i n e - Y v e s -
B ria n J . F o rd , Im a ges o f S cien ce (199 3): 1 5 4 (in fe rio r); J . v a n L o o n ( c .1 6 1 1 - 1 6 8 6 ) : 1 5 6 (s u p e rio r); N A S : 160,
r io r ) ; N a p o le o n S a r o n y : 1 8 7 ; Y e b e s : 1 8 8 ( in fe r io r ) ; A s tr o n o m ic a l I n s titu te , A c a d e m y o f S c ie n c e s o f th e C z e c h
v e r s ity ) : 2 0 8 ; L u c a s T a y lo r : 2 1 1 ; E S A / H u b b le e N a s a : 2 1 3
W ik o u s e r : D id i e r B 8 1 ; T a m o r la n 8 7 ( in fe r io r ) ; r a m a 9 6 ( s u p e r io r ) ; F a s tifis s io n : 1 2 4 ; o r a n g e d o r : 1 2 6 ( s u p e r io r ) ;
S h a k a ta G a N a i: 1 4 6
A u t o r d e s c o n h e c id o : 3 5 , 5 1 , 5 2 ( 1 ), 6 2 ( s u p e r io r ) , 1 0 9 , 1 2 5 , 1 6 3 , 1 6 6 ( d ire ita )
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