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Arquitetura brutalista se popularizou

no Brasil na década de 1960


GABRIEL KOGAN
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

08/09/2013 02h30
Disponível em https://www1.folha.uol.com.br/saopaulo/2013/09/1337952-estilo-
arquitetonico-brutalista-se-popularizou-no-brasil-na-decada-de-1960.shtml

O brutalismo não nasceu no Brasil e não é só por aqui que esses


prédios enfrentam problemas de conservação.

Em abril, o edifício Robin Hood Gardens, um maciço de concreto


com 213 apartamentos, começou a ser riscado do mapa de Londres
para dar lugar a um empreendimento de R$ 1,8 bilhão.

Arquitetos ingleses protestaram a favor da construção projetada


em 1968, mas não teve jeito. Situações similares aconteceram em
outros países da Europa e nos Estados Unidos.

Usando materiais crus como concreto aparente, a escola


arquitetônica surgiu nos anos 1950, com obras como a Unidade de
Habitação de Le Corbusier, mestre suíço da arquitetura moderna.

A ideia era levantar prédios ao mesmo tempo monumentais e


austeros, sem elementos decorativos (mesmo a argamassa de
acabamento, para deixar as paredes lisas, era considerada um
excesso). Econômicos, contribuíam para a reconstrução das cidades
do velho continente no pós-Segunda Guerra. O produto final era
quase um raio-x da obra, com pilares e vigas escancarados.

Além disso, a arquitetura era funcional: o projeto privilegiava a


praticidade. As cozinhas, por exemplo, deveriam ter uma
organização perfeita --até a disposição de panelas e
eletrodomésticos era milimetricamente planejada, para estarem
mais à mão. Com isso se erguiam áreas mais compactas, economizando
metros quadrados (e tempo de locomoção entre um cômodo e outro).
Por aqui, os "brutos" estrearam no Rio, como no Museu de Arte
Moderna --que causou inveja até em Le Corbusier ("quis fazer esta
coluna, mas não tinha armação desse tipo", disse em 1962).

Se a corrente europeia não dava bola para a beleza, nossos projetos


buscavam elegâncias nas formas, atentos às proporções e aos
desenhos.

Não se tratava de um mero conceito estético. O brutalismo se


firmou também como uma militância política.

Com o avanço da ditadura, muitos dos arquitetos se aproximaram do


Partido Comunista. Com o AI-5, em 1968, tanto Artigas quanto Paulo
Mendes foram afastados do cargo de professor na USP. Seus
edifícios refletiam a ideologia da esquerda em espaços abertos,
propícios a grandes manifestações.

Em 1969, Artigas, mesmo malvisto pelo regime, concluiu a Faculdade


de Arquitetura na Cidade Universitária, que se tornaria o maior
referencial do movimento em São Paulo.

A escola espalhou suas obras pelos quatro cantos da cidade. A


ítalo-brasileira Lina Bo Bardi tropicalizou-a em projetos como o
MASP e o Sesc Pompeia. Já Paulo Mendes da Rocha, com menos de
quatro anos de formado, venceu o concurso para projetar o Ginásio
do Clube Paulistano, em 1958 --26 anos depois, construiu o MuBE.

A nova geração paulistana, como Angelo Bucci e Milton Braga, revê


ideias modernistas. A Praça das Artes, projetada pela Brasil
Arquitetura e inaugurada em maio no centro de São Paulo, é um
exemplo de edifício que revisita o brutalismo que endurece, sem
perder a ternura, da Escola Paulista.

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