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NOTÍCIAS

14 novembro 2021 / Número 1538


Esta revista faz parte integrante
do Jornal de Notícias n.º 166/134 e do
Diário de Notícias n.º 55725 e não pode
ser vendida separadamente

A nova vida
da princesa africana
Um ano depois da morte do marido,
Isabel dos Santos contra-ataca.
Nos tribunais e nas redes sociais

magazine
ALGAS
UM MAR DE
VIRTUDES
alma-
ESPELHO
MEU Sara Dias Oliveira
POR
naque

DIANA QUINTELA/GLOBAL IMAGENS

CATARINA VEJO BEM... ❶ Sou muito espontânea e, com o tem-


po, aprendi que menos é mais. ❷ Sou muito social,
música, ir a concertos. A vida faz mais sentido com
música. ❿ Gosto muito do que faço. Poder fazer o que
MIRANDA gosto muito de comunicar. ❸ Falo bastante (é um de-
feito de profissão). Sou tagarela, adoro estar com pes-
mais gosto é uma bênção. Sou uma privilegiada.
VEJO MAL... ❶ Não consigo saborear os momentos,
Radialista, criadora de conteúdo digital soas. ❹ Sou extremamente perfeccionista e muito relaxar e aproveitar, porque estou sempre a pensar que
42 anos exigente. Gosto de ser eu a fazer tudo, de ter esse con- poderia ter feito melhor. Na minha cabeça, tenho
trolo e autonomia. ❺ Com a idade e o tempo, aprendi sempre de superar o que acabei de alcançar. ❷ Demo-
a ser – e sou – mais direta. ❻ Gosto muito de começar ro muito tempo a ultrapassar momentos difíceis ou
o dia de manhã. Madrugar não me tira o sono. ❼ Sou situações em que o trabalho não correu muito bem.
Faz companhia aos portugueses todas as muito pontual, costumo chegar dez minutos antes a E fico chateada e revoltada. ❸ Sou muito teimosa. De-
manhãs na Antena 1. Autora do podcast qualquer reunião, a qualquer encontro. Cinco minu- moro muito a tomar uma decisão (não sei se é uma
“Só Mais 5 Minutos”, em que conversa e tos antes e sinto que já estou um bocadinho atrasada. virtude, se é um defeito). Preciso de sentir as coisas.
entrevista figuras conhecidas, foi fotografa- ❽ Sou muito ligada à minha família, que é o mais im- Se não sinto, não avanço. Fazer por fazer não faz sen-
da em Lisboa, onde mora. portante. Se todos estão bem, eu estou bem. ❾ Adoro tido. ❹ Sou péssima na cozinha.

Notícias Magazine 14.11.2021 3


sumário#1538
HISTÓRIA DO MAR
DA SEMANA PARA
AS NOSSAS
Uma VIDAS
princesa à Entraram na alimen-
tação humana e
reconquista animal, na cosmética,
em fertilizantes, na
do reino saúde. A jornalista
Sara Dias Oliveira
ouviu três empresá-
Isabel dos Santos mudou de rios, dois biólogos,
visual e de atitude. Um ano após um investigador e um
a morte do marido e quase dois chef. E desvenda-nos
depois do Luanda Leaks, a o admirável mundo
empresária contra-ataca o das algas. P. 20
governo angolano nos tribunais
e tenta reconquistar os compa-
triotas através das redes sociais. ISOLADOS, COMPORTAMENTO BEM-ESTAR
A jornalista Catarina Silva CONFINADOS
seguiu-lhe os passos, colecionou A IMPORTÂNCIA DAS QUANDO AS
testemunhos e revela a nova E EXTREMOS CONVERSAS DA TRETA DEFESAS ATACAM
vida daquela que já foi a mulher
mais rica de África. P. 14 Tudo o que sabemos sobre Vulgares, corriqueiras, há até quem Quando o sistema imunitário,
a forma como as pessoas se lhes chame conversas de chacha. Mas que devia proteger, ataca o
comportam em condições serão essas interações triviais do nosso organismo, estamos perante
normais desaparece em quotidiano relevantes para a saúde uma doença autoimune. A
ambientes radicais. João mental? A jornalista Ana Tulha foi à lúpus é crónica, incurável, de
Lousada, engenheiro espacial
procura de respostas e explica a impor- causa desconhecida e afeta
e astronauta análogo, e José
tância dos diálogos banais. P. 34 cerca de dez mil portugueses,
Xavier, biólogo marinho com
a maioria mulheres. Lesões
mais de uma dezena de expe-
cutâneas, aftas, dores articula-
dições à Antártida, contaram
res e cansaço são algumas das
na primeira pessoa essa reali-
dade à jornalista Sofia manifestações, mas há outras
Teixeira. Pedro Marques- mais graves. A jornalista Ana
-Quinteiro, professor de Tulha falou com uma doente,
Psicologia Social, estuda a que aprendeu a viver com os
adaptação e a performance sintomas que a debilitam, e dois
humana em ambientes isola- reumatologistas, que esclare-
dos e ajudou a perceber como cem o que pode desencadear
somos no limite. P. 26 esta patologia. P. 38

magazine
NOTÍCIAS
Faria Editora Helena Norte Tel.: 222096172 / Fernanda Ally Santos. Impressão Lisgráfica, SA Conselho de Administração Detentores de 5% ou mais
Redação Ana Tulha e Catarina (diretora de conta), Sofia Silva – Est. Consiglieri Pedroso, CasalMarco Galinha (Presidente), Do- do capital da empresa:
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Carvalho e Rafael Barbosa Vitor Cunha e assinaturas Nuno Ramos Propriedade: Global Notícias – 222006330
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Diretor-adjunto de Arte Publicidade (Norte) Edifício Jor- e José Gonçalves Tiragem deste número 57 813 ex. na Conservatória do Registo Co- Torre E, 3.º piso, 1600-209
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Editor-executivo Jorge Pedroso Cristóvão, 195, 4049-011 Porto, Data Protection Officer António 126807 502535369. Fax: 213187501

4 14.11.2021 Notícias Magazine


alma-
naque
RAIO-X
X OBJETOS
POR Ana Tulha
a POR Ana Tulha

E DA CONCHA
Diamantes DE UM MOLUSCO
de gangue SE FEZ O PENTE
É a mais recente polémica Já foram feitos de espinhos
a pairar sobre as Forças Armadas de plantas, de ossos, de espinhas
(FA). Militares portugueses de peixe. Ou até de chumbo,
serviram-se das missões de paz para acudir aos ruivos.
da ONU na República Centro-Africana
(RCA) para montar um esquema
internacional de tráfico de diamantes, 2
ouro e droga que rendeu cerca
de 1,5 milhões de euros.

O ESQUEMA
1
Aviões das FA traziam, da RCA para Portugal,
a mercadoria ilícita. Os diamantes eram
colocados em tubos de acondicionamento Primeiro, a etimologia. Pente vem do latim
de charutos, que seguiam nas malas “pecten”, nada menos do que o exuberante
onde os militares guardavam as roupas molusco marinho que pode ver na imagem.
e os objetos pessoais. Por surreal que pareça, foi com a concha que o
envolve (possui mais de 100 espinhos num
2 alinhamento quase perfeito) que o ser humano
A mercadoria ia depois para Antuérpia começou por se pentear. O primeiro “upgrade”
(Bélgica), centro nevrálgico da indústria do surgiu na Babilónia, quando começaram a ser
diamante europeu, em carros particulares. 1 usados espinhos de plantas. Depois, foram os
ossos e os fragmentos de madeira. Mas só a civi-
3 lização egípcia deu a este objeto uma relevân-
Dinheiro dos diamantes de sangue (pedras cia inaudita. Para os egípcios, os pentes eram
preciosas extraídas em zonas de guerra) artigos de luxo, incrustados com pedras precio-

11
era branqueado através de contas portuguesas sas e ouro. Corre mesmo uma versão que
que serviam para comprar moeda digital. garante que Cleópatra não dispensava um
pente feito de espinhas de peixe.
“NÃO TIVE CONHECIMENTO” Mas também os romanos tiveram um papel
Depois das polémicas com o processo de fundamental nesta história. Foram eles os
Tancos e a suposta substituição do chefe do O número de detidos, responsáveis por conceber um modelo seme-
Estado-Maior da Armada, a Defesa volta a estar todos comandos ou lhante ao que hoje usamos, fabricando um
envolta numa controvérsia institucional. Marcelo ex-comandos, na sequência pente pequeno e portátil que, pasme-se,
Rebelo de Sousa afirmou publicamente que o da Operação Miríade, costumava ser usado nos intervalos das fero-
Governo não o informou sobre o caso, com conduzida pela Polícia zes lutas travadas no Coliseu de Roma. Entre-
António Costa a responder que ele próprio Judiciária. Dois deles ficaram tanto veio a Idade Média e com ela pentes de
também não tinha sido informado pelo ministro em prisão preventiva. chumbo, que tinham o duplo propósito de
da Defesa. escurecer e disfarçar a cor dos cabelos ruivos –
porque nessa altura as pessoas com essa colora-
“Embora não possamos ção capilar eram desprezadas (e até persegui-
das) pela sociedade.
garantir a plena integridade Mais tarde, Luís XIV, o Rei Sol, conhecido
ética de cada membro das pela farta cabeleira, haveria de fazer deles
Forças Armadas, podemos símbolo de luxúria, mandando fabricar pentes
em ouro e prata maciços, cravejados de pedras
garantir a integridade ética preciosas. O cariz luxuoso perder-se-ia com o
das Forças Armadas” tempo, mas o pente – versão mundana, pois –
não mais nos largou o quotidiano. A bem da
JOÃO GOMES CRAVINHO Ministro da Defesa nossa compostura capilar. ● m

6 14.11.2021 Notícias Magazine


PERFIL
POR Alexandra Tavares-Teles

Margarida
Matos Rosa
Proativa e
poderosa
Gosta do que faz tanto quanto aprecia
empenho nos colaboradores. Saboreia o tempo
de preparar o jantar para a família. Frequenta
o ginásio, faz menos caminhadas do que devia.
“Para a frente é o caminho”, frase roubada ao
avô materno, é lema de vida.

A um ano de terminar o mandato, a presidente da Autoridade


da Concorrência (AdC), recordista na aplicação, em Portugal,
das maiores multas de sempre, continua a pensar “no muito
que ainda quer fazer”. Defensora acérrima da autonomia do or-
ganismo que lidera, não desarma: “Há muitas situações com as
quais queremos ainda lidar”.
ILUSTRAÇÃO: MAFALDA NEVES

Basta uma notícia de jornal para que a proativa Margarida Ma-


tos Rosa, 48 anos, mande avançar. Que o diga a diretora do de-
partamento responsável pela investigação. “Sempre que dete-
ta a possibilidade de uma infração à lei da concorrência, reage.
E pressiona para que o façamos também”, diz Ana Amante. Exi-
ge “rigor e posição robusta”, acusações que colham em caso de
querela judicial.
Trata-se de uma equipa pequena – 85 elementos no total –, in-
centivada pelo lema da líder: “Podemos sempre fazer mais e me-
lhor”. Recentemente, foi de 9,2 milhões de euros a multa apli-
cada a quatro das principais cadeias de supermercado e a um for-
necedor de produtos alimentares (Super Bock, Continente, Au-
chan, Pingo Doce e ITMP), acusados de alinharem preços du-
rante mais de uma década, em prejuízo do consumidor.
Proativa e poderosa. “Se alguma coisa a deixa muito irritada,
são os casos de violação da lei”, salienta Ana Amante. Descreve
alguém capaz de reagir com ponderação “à adversidade, mais
focada na solução do que no problema, colocando como objeti-
vo a melhoria continua”.
Para boas condições do trabalho grandes responsabilidades.
Margarida confessa-se “exigente com a qualidade das investiga-
ções”, que devem ser “objetivas e isentas, de forma a avançar-
mos com toda a segurança”, frisa. Os colaboradores consideram- Interessa-a a História e a Geopolítica. “Se há algo que me carac- MARGARIDA
-na talhada para o cargo. “Pela independência e pelo foco perma- teriza é ser europeísta convicta, intrinsecamente defensora da MATOS ROSA
nente nos resultados”, defende Ana Amante. Na AdC desde 2004, construção europeia, essencial para a Europa do pós-guerra.”
a diretora recorda a primeira reunião com a líder. “Pareceu-me Nasceu em Lisboa – cresceu em Benfica – e mudou-se para Bru- Cargo
muito acessível, tranquila, com um discurso muito claro.” xelas aos 14 anos. Estudou na Escola Europeia, depois na Uni- Presidente
Ana Sofia Rodrigues, economista-chefe da AdC, na casa des- versidade de Louvain, onde se formou em Ciências Económi- da Autoridade da
de 2006, estava presente. “Pareceu-me muito afável, muito ob- cas. Estagiou na Comissão Europeia e defendeu tese de mestra- Concorrência
jetiva, muito interessada.” Com o dom de “saber ouvir e capa- do na prestigiada Princeton (MPA).
cidade de decisão”. Estava-se em 2016. Depois de uma passa- “A concorrência sem regras”, sublinha, “prejudicaria a inova- Nascimento
gem pela J.P. Morgan, BNP Paribas, UBS Bank e Santander In- ção, o emprego, o mérito, os consumidores”. Gosta do que faz 03/01/1973
vestment – os bancos declinaram um comentário uma vez que tanto quanto aprecia empenho nos colaboradores. Pontual e (48 aos)
correm recursos contra a AdC –, Margarida Matos Rosa vinha viciada em chá, saboreia o tempo de preparar o jantar para a fa-
do departamento de supervisão da gestão coletiva de investi- mília. Frequenta o ginásio, faz menos caminhadas do que de- Nacionalidade
mentos da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários, onde via. “Para a frente é o caminho”, frase roubada ao avô materno, Portuguesa
mostrara, diz quem se lembra, “boa preparação”. Era então “uma é outro dos lemas de vida. O profissional ficou traçado no 9. ano, (Lisboa)
jovem fechada e determinada”, com grande gosto pelos assun- nos primeiros contactos com os temas da economia. Mas, tal
tos europeus. como o avô, “também podia ser professora”. ● m

Notícias Magazine 14.11.2021 7


alma- AS HISTÓRIAS A CULTURA

naque

WIKIMEDIA/MAR DEL SUR


DOS DIAS Jorge Manuel Lopes
POR
POR Catarina Silva
Música

Comprou cão que OS DIAS AZUIS


afinal era uma raposa DE JONI MITCHELL
Um cão de estimação de uma família, que matava espessa, focinho pontiagudo e orelhas proeminen- O outono tem trazido esplêndidas notícias de
patos e galinhas dos vizinhos, acabou por se reve- tes. O Run Run fugiu de casa há uns dias e a Polícia uma criadora para todas as estações. Depois da
lar uma raposa. A história insólita aconteceu no e o Serviço Nacional de Florestas e Vida Selvagem inauguração em outubro de 2020, acaba de
Peru. Maribel Soleto comprou um cão bebé numa estão à sua procura para o levarem para um zoo. chegar o segundo volume das caixas que reve-
pequena loja de animais no centro de Lima há “Quando o comprámos, pensámos que era um lam os fios com que se tece a incandescente
cerca de meio ano, por 12 euros. O animal, que a filhote de uma ninhada”, explicou Maribel, que carreira de Joni Mitchell. “Archives – Volume 2:
família batizou de Run Run, inicialmente brin- nos últimos tempos teve de pagar aos vizinhos The Reprise years (1968-1971)” encontra a
cava com outros cães da vizinhança, mas à medida pelos animais mortos. Walter Silva, veterinário e cantora e compositora e pintora canadiana no
que foi crescendo começou a perseguir e a matar especialista em vida selvagem, disse à Reuters que ponto em que a carreira começa a levantar voo.
patos, galinhas e porquinhos-da-índia, numa série muitos animais selvagens são levados por trafican- Nos anos abrangidos por este lançamento,
de ataques que alarmaram a comunidade local. tes de áreas florestais para serem comercializados Mitchell assinou contrato com a editora Reprise
Percebeu-se que era, afinal, uma raposa-andina, ilegalmente em Lima. Só neste ano foram captura- e lançou os primeiros álbuns, num crescendo de
espécie sul-americana que tem pernas finas, cauda dos 128 na capital peruana. inspiração: “Song to a seagull” (1968), “Clouds”
(69), “Ladies of the Canyon” (70) e o clássico
“Blue” (71).
Tal como em “Archives – Volume 1: The early

JOVENS IRMÃS years (1963–1967)”, o tomo mais recente é uma


arca de material pouco ou nada conhecido, num

DE HONG KONG objeto de design limpo que inclui um livro onde


prossegue a conversa entre Mitchell e o cineasta

JUNTAM e escritor Cameron Crowe. São cinco CD com


maquetas caseiras, sobras de sessões de estúdio,

MAIS
atuações radiofónicas e televisivas e registos de
concertos. Há canções familiares cujo corpo vai

DE 3300
sendo esculpido em privado, alguns inéditos e
declinações em palco do seu repertório. Uma

BATONS
das pérolas reside no disco 2, uma atuação de
Joni Mitchell em Le Hibou Coffee House,

E BATEM
Otava, Canadá, a 19 de março de 1968. A grava-
ção foi efetuada por Jimi Hendrix e dada como

O RECORDE
desaparecida pouco tempo depois, reemer-
gindo há pouco numa coleção privada entregue
à Library and Archives Canada, que a reencami-

DO GUINNESS nhou para a autora. Outro ponto alto reside na


estreia de Mitchell no Carnegie Hall, em Nova
Iorque, a 1 de fevereiro de 69, concerto gravado
Duas jovens irmãs de Hong Kong, “Tudo começou com os lábios secos pela editora para um lançamento futuro. Um
China, bateram o recorde mundial quando eu era pequena. Os meus pais futuro que esperou 52 anos.
do Guinness com uma coleção de e a minha avó costumavam dar-me A prestação de 29 de outubro de 1970 para o
3388 bálsamos labiais, todos diferen- bálsamos labiais”, conta Scarlett. “In concert” da BBC fecha “Archives – Volume
tes. Scarlett Ashley Cheng, de seis À medida que foi crescendo, colecio- 2”, num alinhamento parcialmente partilhado
anos, e a irmã, Kaylyn, de oito, come- ná-los tornou-se um hobby e hoje as com James Taylor e que desagua num dos futu-
çaram a colecionar batons quando a irmãs têm uma coleção com batons ros standards de Joni Mitchell: “Big yellow
mais nova ainda mal caminhava. de todo o Mundo. taxi”. ●m

8 14.11.2021 Notícias Magazine


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naque Partida, Largada, Fugida

2 3

E temos uma data no hori- Costa deu uma entrevista


ntrevista à O ainda prime
primeiro-minis-
zonte: 30 de janeiro sse que,
RTP na qual disse tro também disse que, se
vamos a eleições. Marcelo perante uma porta,ta, era el
perder as eleições, deixa a
fez questão de safar o mais um tipo de maça- liderança
lideranç do PS. Isto pode
Natal e o réveillon para echa-
netas do que de fecha- ser a oportunidade
op de
não termos de levar com duras. Mas depoiss deu Pedro N Nuno Santos, de Ana
campanha. Era a grande tanto na cabeçaa dos Catarina Mendes , mas
prioridade do presidente, outros partidos que também p pode ser do Nuno
não misturar azevias mais pareceu um tipo Melo. Se cacalhar mais
com aziados. de cadeados, arame
rame depressa o d deixam candida-
farpado e um fossoso de tar à lideranç
liderança socialista do
dilos.
crocodilos. que no partido dele.

5 4

P
Voluaneta
Já está a uso o AUTO- O grande sucesso da Netflix “Squid
voucher, sistema no Game”, uma série marcada pela
che qual os portugueses violência e a carnificina competiti-
r podem recuperar parte
do dinheiro que gastam
vas, vai ter segunda temporada. Sei
de fonte segura que vai ser gravada na
em combustível. Com sede do CDS.
tantas cimeiras do clima a
acontecer, também era de pensar num
PlanetaVoucher, para recuperarmos
parte da Terra depois de a escangalhar-
mos toda por causa do petróleo.

Portugal vai ter mil câmaras na rua para vigiar o cri- O Partido Republicano
me. Não sei se vamos ficar com menos delinquentes, 7 dos EUA tem um novo
mas provavelmente vamos ficar com mais influen- inimigo: o Poupas da
cers. “Mano, faz aí duckface enquanto roubas esta Rua Sésamo. Tudo
loja de conveniência. As calças são da Zara e a naifa porque o Twitter da
da Polux, façam swipe up.” personagem publi-
cou um post a dizer
Entretanto, Bolsonaro
Bolson condecorou-se a si que se tinha vaci-
mesmo com uma medalha de mérito cientí- nado, o que foi enca-
fico. E eu condeco
condecorei-me a mim mesma com o rado como propa-
Nobel da Literatur
Literatura por esta crónica. Espero ganda da esquerdalha.
que estejam cient
cientes do vosso privilégio Faz sentido: pessoas
por terem lido isto. que acham que a covid é
imaginária também se
dão ao trabalho de discutir
8 com pássaros imaginários.

10 14.11.2021 Notícias Magazine


Cidadania Impura
Valter Hugo Mãe
Por

Quem sou eu, tão pequeno e imprestável, comparado com o tamanho


de alguém a criar o sorriso de uma criança na doença e até junto da morte?

Convidaram-me para uma roda de conversa via zoom de alguém a criar o sorriso de uma criança na doença e
com um colectivo de gente ligada à Operação Nariz até junto da morte?
Vermelho e aos Doutores Palhaços. Em muitas situa- Julgo que foi dos nervos que me pus a falar sem parar
ções da minha vida sinto que sou convidado a desem- quando começámos. Quando fico com medo e não sei
penhar um papel que não mereço e me vejo como um o que fazer, sigo palavras e espero que elas sejam ilu-
embuste. Falar para pessoas cuja bravura consiste em minação, a boca é meu candeeiro, no seu céu vai um
fazer sorrir até crianças hospitalizadas, tantas em es- sol, eu não consigo mais usar os olhos, o caminho é a
tado terminal, é como entreter os deuses com graci- imaginação. Digo que só sei pensar aquilo que sinto.
nhas. Que raio haveria eu de saber que aproveite a al- Comecei a falar sobre isso. Só sei pensar aquilo que
guém que leva a cabo algo assim? Quem sou eu, tão sinto. Talvez conte coisas mais íntimas, mais estra-
pequeno e imprestável, comparado com o tamanho nhas e inesperadas.
Conheço o Luís Almeida do café onde vou há muitos

PALHAÇOS
anos. Conheço-o com seu sorriso fácil, um jeito quase
menino de quem está sempre pronto para brincar, a
bem, a gostar de estar ali, gostar de estar com os outros.
Ser-se palhaço é inusitado mas há um colectivo em
Vila do Conde e habituamo-nos a saber das suas artes
muito fora do circo, muito junto da vasta comédia e do
mais vasto teatro. Eu sabia que o Luís era um actor que
se especializara enquanto artista palhaço, o que eu não
sabia era que virara “Doutor” e enfrentava as crianças
cujos espíritos só se atendem por uma capacidade de
criar alegria mesmo que em cima da pior tragédia. Su-
bitamente, já não sei dizer nada ao Luís. A sua expe-
riência com a vida é muito mais por dentro do absurdo,
do profundo mistério, do que a minha. Os deuses têm
de ser mais parecidos com ele do que comigo. Não so-
mos todos à mesma semelhança do Criador. Alguns de
nós existimos como um esboço ligeiro e talvez procu-
remos definir a forma, conquistar a cor, aprender um
gesto que coincida com o rigor que se esperaria do es-
plendor da essência humana.
O acolhimento que Iêda Oliveira fez da minha pessoa
deixa-me grato e comovido. E saber que os meus livros
aproveitam a quem busca razões para lidar com a tris-
teza a partir de uma necessária opção pela alegria faz-
-me sentir um orgulho infinito. Mas sou o guerreiro
frágil. Aquele que guerreia longe e solitário, sem en-
contrar quem quer salvar, sem me deparar com o ver-
dadeiro inimigo. Sempre absorvo demasiado o sofri-
mento dos outros. Querendo ajudar, também preciso
de fugir. Sou imaturo. A minha gratidão a quem cuida
de alguém é absoluta. Vocês são a lição em que mais
acredito. Aquela que mais quero aprender. ● m

O AUTOR ESCREVE DE ACORDO COM A ANTERIOR ORTOGRAFIA.

Notícias Magazine 14.11.2021 11


alma-
naque
A SEMANA
QUE VEM


POR Catarina Silva

OS ROSTOS SEGUNDA-FEIRA
Ricar
Ricardinho
Jogador de futsal
Jogad
Autenticar documentos
Anunciou o adeus à
seleção nacional de
por videoconferência


futsal, aos 36 anos.
Sai com 187 jogos e os A partir deste dia, os documentos particulares e o
dois principais títulos: reconhecimento de assinaturas passam a poder ser
o Europeu 2018 e o autenticados por videoconferência. Atos como assi-
Mundial 2021. A Fede- nar um contrato de compra e venda de uma casa ou TERÇA-FEIRA
ração ofereceu-lhe o um divórcio por mútuo consentimento vão poder
papel de embaixador ser validados à distância. Na mesma data, a nova Caso Selminho:
vitalício da seleção. Ordem dos Fisioterapeutas vai eleger o primeiro
bastonário. E termina o prazo para as associações
Rui Moreira começa
zoófilas se candidatarem a ser julgado
Luísa Salgueiro aos concursos lançados Os dois concursos lan-
çados pelo Governo
Presi
Presidente da Câmara pelo Governo para compar- preveem apoios diretos A primeira sessão do As celebrações do centená-
de Matosinhos
M ticipar sobretudo despesas julgamento do caso rio do nascimento do Nobel
no valor de 700 mil eu-
da Literatura começam com
A autarca será a nova com produtos e serviços ros e incluem também Selminho, em que o
a leitura em simultâneo em
líder da Associação médico-veterinários. a esterilização presidente da Câmara 100 escolas portuguesas
Nacional de Municí- do Porto, o indepen- de obras do escritor
pios e a primeira dente Rui Moreira, é
mulher no cargo. Foi a acusado de favorecer a imobiliária da família, da
escolha socialista para qual era sócio, está agendada para este dia . O autarca
suceder a Manuel pode perder o mandato na sequência do processo.
Machado. Na mesma data, termina a consulta pública do Esta-
tuto do SNS, que prevê mais autonomia para a
contratação ou para a criação de um regime de
L
Leonardo DiCaprio exclusividade, que impede que médicos que adiram
Ator
A ao regime de dedicação plena ao SNS exerçam
A estrela de Hollywood cargos de chefia e direção no privado. E é também
produziu um documen- neste dia que começam as comemorações do cente-
tário sobre as altera- nário do nascimento de José Saramago (2022).
ções climáticas com
base nos incêndios de
Pedrógão Grande, de
LEITURA DO ACÓRDÃO QUARTA-FEIRA
DO CASO DOS COMANDOS
2017. O filme “From
Devil’s breath” foi
PSD LANÇA LIVRO COM
IDEIAS DE REFORMA FISCAL
exibido durante a
COP26, a cimeira do A leitura do acórdão do boa. O Ministério Públi-
clima, em Glasgow. julgamento do processo co pediu a condenação de
dos Comandos, relativo à cinco dos 19 arguidos a
morte de dois recrutas penas de prisão entre
em 2016, avança neste dois e dez anos. Mais de 30 especialistas
dia, depois de ter sido
adiada em setembro de- Dylan da Silva e Hugo
em fiscalidade aceitaram
vido a problemas técni-
Abreu, à data com 20
anos, morreram durante
o desafio do PSD e avan-
cos de gravação no Tribu-
nal de Monsanto, em Lis-
a “prova zero” que de-
correu em Alcochete
çaram com propostas
para uma reforma fiscal.
“NENHUM DADO INDICA QUE As ideias estão num livro
digital, lançado neste dia,
VENHAMOS A TER UMA CATÁSTROFE que conta com a partici-


COMO NO INVERNO PASSADO” pação de ex-secretários
Henrique Oliveira
Matemático e professor no Instituto Superior
de Estado do PS.
Técnico, que faz a modelação do avanço
da covid a longo prazo

12 14.11.2021 Notícias Magazine


5ª QUINTA-FEIRA
S
Termina período
de “Casa Aberta”
SÁBADO


nas Lojas do Cidadão
Chega ao fim o período “Casa Aberta”
SEXTA-FEIRA em nove Lojas do Cidadão, que estiveram
abertas com um horário alargado até às 22
horas durante oito sábados, para entrega
e renovação do cartão de cidadão e passa-
GREVE GERAL NOS CTT, ECLIPSE DA porte. No mesmo dia, Bonga celebra 50

LUA E HERMAN JOSÉ EM LISBOA


anos de carreira no Porto, num concerto
na Super Bock Arena - Pavilhão Rosa
Mota, depois de na sexta-feira passar pela
A Federação dos Sindi- Em dezembro, o espetá- Altice Arena, em Lisboa. Além das
catos dos Transportes e culo “Noites de Comédia” canções mais conhecidas , como Mariqui-
também sobe ao palco do
Comunicações anun- nha, Olhos Molhados ou Homem do
Ativistas bloqueiam
Super Bock Arena – Pavi-
ciou uma greve geral lhão Rosa Mota, no Porto Saco, fazem parte do alinhamento destes
nos CTT e nas restan- concertos de celebração alguns temas de
refinaria da Galp tes empresas do grupo
para este dia, “contra a
2021, o único parcial
deste ano. Este é o Dia
Kintal, o novo disco de inéditos do cantor.
Ainda nesta data, chega ao fim a 10.ª
destruição dos CTT Internacional do Ho- edição do Festival
Os grupos ativistas Climáximo e Greve Climática que está a ser levada a mem, apoiado pela Verão Azul, evento O Festival Verão
Azul vai da música
Estudantil planeiam bloquear, através de uma cabo por esta adminis- ONU, que quer sensibi- de artes contempo-
ao cinema, pas-
manifestação pacífica, a refinaria da Galp em Sines, tração” e a “deteriora- lizar para melhorar a râneas que decorre sando por fotogra-
infraestrutura mais emissora do país. Exigem um ção do serviço postal”. saúde masculina e para em Lagos, Loulé e fia, performance
encerramento planeado e “uma transição justa que A paralisação quer ain- a promoção da igualda- Faro desde o dia 4. e teatro
garanta soluções para todos os trabalhadores”. No da apelar ao aumento de de género. Ainda
mesmo dia, e depois do adiamento em outubro, será dos postos de trabalho hoje, mas à noite (21
lido o acórdão do caso “El Pibe”, no Tribunal de e a salários dignos. E horas), estreia o espe- DOMINGO
Aveiro. Lá fora, é noite vai acontecer a par de táculo “Noites de Co-
de Grammys Latinos.
Há três portugueses
O “El Pibe” está relaciona-
do com a rede de explora-
uma manifestação na-
cional, a realizar em
média”, de Herman Jo-
sé, com Ana Garcia
MEIA-MARATONA DE LISBOA
Salvador Sobral e Caro-
ção sexual de mulheres
nomeados: Sara Correia, romenas, que se prosti-
tuíam na berma das estra-
Lisboa. Ainda nesta
data, vai ocorrer o últi-
Martins e Beatriz Gos-
ta, no Campo Pequeno,
COMEMORA 30 ANOS
lina Deslandes. das de Aveiro e Albergaria mo eclipse lunar de em Lisboa. A Meia-Maratona de Lisboa está de
regresso neste dia, para atravessar a Ponte
25 de Abril, e com um motivo adicional
FESTIVAL para comemorar: 30 anos de corridas. A
prova contará com a presença do campeão
SUPER BOCK do Mundo, o ugandês Jacob Kiplimo.

EM STOCK ESTÁ
Começa às 10.20 horas. Já em Viseu, a
partir deste dia e até 20 de dezembro, no

DE VOLTA Seminário das Missões, vai


estar patente ao público
uma exposição de
O rapper e cantor britâ- presépios vindos
nico Jelani Blackman e “de muitos lados e
os portugueses Bateu em vários esti-
Matou, a dupla Mundo los”. Este é o Dia
Segundo & Sam The Mundial da
Kid ou Cláudia Pascoal Televisão.
estão entre os nomes
que pintam o cartaz do
Super Bock em Stock,
de regresso a Lisboa,
para dois dias de con-
certos em espaços da
Avenida da Liberdade.

Notícias Magazine 14.11.2021 13


ISABEL
DOS AS SETE VIDA
Um ano depois da morte do marido e quase dois
anos após o escândalo Luanda Leaks, Isabel
dos Santos está cheia de ritmo e mostra-o a todo
o mundo no Instagram. Madrugadora, mais
magra, amante de desporto, sempre a viajar –

SANTOS
no metro, em voos low cost, em iates de luxo.
A empresária angolana mudou de visual
e de atitude. Reergueu-se. E parece pronta
para a luta contra o Governo do país
que se viu forçada a abandonar.
TEXTO Catarina Silva

14 14.11.2021 Notícias Magazine


AS DA PRINCESA AFRICANA
IMAGENS: DIREITOS RESERVADOS

M Meses após a morte do marido,


o congolês Sindika Dokolo, vítima
de um acidente de mergulho no Dubai,
a angolana reapareceu nas redes
sociais, com novo visual e nova atitude.
E a sua página de Instagram enche-se
de fotografias do homem com quem
esteve casada cerca de 18 anos

Notícias Magazine 14.11.2021 15


ISABEL DOS SANTOS

A
bril de 2021, a celebração dos 48 a Numa publicação
anos como mote – volvidos seis me- de junho deste ano, Isabel
ses desde a morte trágica do mari- dos Santos reconheceu
do, o congolês Sindika Dokolo, ví- estar a “encontrar a estrada
tima de um acidente de mergulho para um novo rumo”,
no Dubai, e mais de um ano depois depois de ultrapassar os
do escândalo Luanda Leaks –, Isa- “obstáculos”. Recuperada
bel dos Santos reaparece. Os cabe- do turbilhão dos últimos
los longos, lisos e escuros desapare- dois anos, a angolana está
ceram, estão encaracolados, curtos agora a contra-atacar nos
e de pontas loiras agora. A mudan- tribunais o Governo que
ça da filha do antigo presidente de acusa de “perseguição
Angola, José Eduardo dos Santos, política”
não se findava no visual, era sinal
de um novo capítulo, de uma nova atitude. A prince-
sa angolana, que já foi considerada a mulher mais rica
de África, com uma fortuna avaliada em 1,8 mil mi-
lhões de euros em 2020 (chegou a ser de 2,9 mil mi-
lhões), parecia, nesse mesmo ano, condenada a viver
longe das luzes da ribalta, abatida e sem glamour, com
o império a desmoronar-se. Mas, depois do luto, vol-
tou a entrar em cena, e em força, em partilhas cons-
tantes nas redes sociais.
Em julho, em férias na Rússia, a terra natal da mãe,
Tatiana Kukanova, as imagens da Praça Vermelha,
em Moscovo, a servir de cenário aos Insta stories da
angolana. Em agosto, a bordo de um iate de luxo na
companhia dos filhos. Depois, a passear-se por Vene-
za ou pelo Vaticano, em Itália. Nas publicações, tam- 6 Aos 48 anos, a imagem
bém surgem vídeos a viajar de metro ou em voos low da princesa africana
cost lotados. A imagem mudou. E parece empenha- mudou. Trocou os cabelos
da em viver a vida... e em mostrar como a vive. longos e escuros por
A residir no Dubai, onde se autoexilou depois de caracóis definidos e de
todo o alarido, começou a fazer exercício, descobriu pontas loiras. A reboque
a paixão pelo desporto. E emagreceu. Acorda todos da mudança, diz estar
os dias às seis e meia da manhã e às 7 horas já está a fa- agora mais focada na
zer kickboxing, jogging ou pilates. Também faz me- família e nos filhos, numa
ditação. As muitas imagens ousadas em biquíni que fase “mais espiritual”
publica são o carimbo da confiança que decidiu ves- e com “energia positiva”
tir nos últimos meses. "O caminho é difícil, é um dia
de cada vez, não há milagres. Mas a estrada faz-se ca-
minhando e aprendi que todos os dias tenho de agra-
decer o facto de acordar, de estar com a minha famí-
lia. Tem sido um processo.” As palavras são da pró-
pria, declarações a um podcast angolano este ano, em
que surgiu de cabelo entrançado. Foi aí que assumiu
ter agora uma “vida diferente”, estar num “estado
mais espiritual” e com “energia positiva”.

FAMÍLIA É A PRIORIDADE
Os quatro filhos, três rapazes e uma rapariga, entram
no quadro. A família é a grande prioridade. “O meu
filho mais novo ainda é muito pequenino [três anos]
e precisa muito de mim. Hoje, o que eu quero é ser
mãe dos meus filhos.” E levanta cada vez mais o véu
à vida privada, como quando mostrou a homenagem
ao marido, na data em que se assinalou um ano da sua no fundo, um branqueamento de imagem.” Manuel Sempre foi bastante fugidia a empresária, discreta na
morte, há menos de um mês. Ou como quando par- Dias dos Santos, sociólogo e historiador, da Platafor- exposição pública. Nada como agora, em que dá ares
tilha imagens antigas do homem com quem esteve ma de Reflexão Angola, conhece bem a família. E tem de abertura.
casada cerca de 18 anos. poucas dúvidas. “Estas partilhas visam fundamen- Afastou-se de Angola, “é óbvio que ela não se sente
“Na prática, o que Isabel dos Santos procura com talmente os angolanos, passar a ideia de humildade, segura lá”. E tanto está no Dubai, como em trânsito.
esta aparente exposição pública é conquistar a sim- simplicidade, proximidade. Todos sabemos que Isa- “Tem uma vantagem, é titular de mais do que uma
patia e uma certa redenção em relação a todo o envol- bel dos Santos, nos seus tempos áureos, não tinha nacionalidade, o que lhe permite circular em vários
vimento que tem no estado a que Angola chegou. É, essa relação de proximidade nem de visibilidade.” Estados de forma corrente.” Isabel dos Santos tem ci-

16 14.11.2021 Notícias Magazine


a A angolana descobriu a a As imagens de biquíni,
paixão pela atividade física com uma figura mais
e acorda todos os dias magra, multiplicam-se no
às 6.30 horas para praticar Instagram de Isabel dos
desporto. Nesta imagem, Santos. Em agosto, a
em julho, estava a terminar princesa africana fez
um treino de kickboxing. férias acompanhada
Também faz jogging ou pelos filhos a bordo de
pilates. E virou adepta da um iate de luxo. E foi
meditação. Desde o início dando um cheirinho da
do ano, não só perdeu viagem nas redes sociais
peso, como passou
a assumir uma imagem
mais sensual e jovem

a Apesar de ter saído do


ranking da “Forbes” das
pessoas mais ricas de
África, devido aos ativos
congelados, a revista
americana diz que a
empresária terá um iate
dadania russa e também se acredita que tenha nacio- no valor de 29 milhões de
nalidade inglesa. “Não nos esqueçamos que a mãe de euros, além de uma casa
Isabel é russa e também é cidadã inglesa, é casada com numa ilha privada no
um inglês. A própria Isabel estudou e viveu em Ingla- Dubai e de uma
terra, fez o Secundário e o Ensino Superior lá, quan- residência em Londres
do a mãe foi para a Sonangol em Londres. Ela circula
com imensa facilidade aí e não há nenhum impedi-
mento legal em relação a isso. O Estado angolano não
conseguiu de forma alguma impedir que ela pudes-
se circular.”
Na educação dos filhos, na retaguarda, estão as avós,
que não largaram nunca a família. “Tanto a mãe do
Sindika como a mãe de Isabel são avós extremosas,
que adoram os netos e os acompanham. Além da irmã
e do irmão do Sindika, que têm estado muito presen-
tes.” Afinal, como diz Manuel, as pessoas não são uma
unidade monolítica. “Não podemos cometer gene-
ralizações e estereotipar as pessoas como monstros
humanos. Isabel é boa mãe, dedicada aos filhos, foi
uma boa mulher do seu marido, uma boa filha, uma
boa estudante. Agora, há responsabilidades por cau-
sa do seu lugar de influência que não podem ser ig- A MULHER MAIS RICA DE ÁFRICA EM DECLÍNIO cos, supermercados, à gestão da petrolífera estatal
noradas.” Se recuarmos a 2013, quando a revista “Forbes” de- Sonangol, a Portugal, ao Mundo. Uma teia que che-
Curiosamente, o pai, José Eduardo dos Santos, vol- clarava Isabel dos Santos como a mulher mais rica de gou a mais de 400 empresas, de 41 países. Sempre ne-
tou há poucas semanas para Angola, para Luanda, África, a mulher que casou com o colecionador de arte gando a influência do pai na ascensão empresarial.
depois de ter vivido em Barcelona desde que largou Sindika Dokolo numa festa milionária entre 800 con- Metade da fortuna, como já dizia a “Forbes” à época,
o poder em 2017 e de ter estado no Dubai a apoiar a vidados, a empresária de sucesso, o Mundo estava estava em empresas portuguesas, da Galp à Efacec,
filha após a morte do marido. O homem que liderou longe de antecipar a queda da primeira filha de José da NOS ao Eurobic.
Angola durante quase quatro décadas está a cami- Eduardo dos Santos. A miúda que aos seis anos ven- O falecido marido, então um dos homens mais ri-
nho dos 80 anos, vive sozinho, separado da ex-pri- dia ovos para comprar algodão-doce – contou ela ao cos do Congo, chegou a elencar, à televisão angola-
meira-dama. “Chegou visivelmente fragilizado. Du- “Financial Times” –, que ia a pé para a escola e que na, as virtudes da mulher, que sempre pareceu ter
rante a presidência, apresentava uma forma física sempre quis estudar Engenharia, cresceu. Fala fluen- olho para o negócio: “É muito tranquila e muito es-
bastante poderosa e agora nota-se uma fragilidade, temente russo, português, inglês, francês, espanhol tável, gosta de ter uma perspetiva a longo prazo. Tem
não só física. É como se quisesse estar em Angola para e italiano. E de um bar ao negócio dos diamantes, o três qualidades que a transformam na grande força
viver os últimos tempos da sua vida”, comenta o his- polvo empresarial da princesa africana estendeu-se de Angola: autoconfiança, estabilidade e ambição”.
toriador. a cimenteiras, operadoras de telecomunicações, ban- Por cá, fonte que contactou profissionalmente com

Notícias Magazine 14.11.2021 17


ISABEL DOS SANTOS

Isabel dos Santos, através dos negócios que a empre- a No final de agosto,
sária mantinha em Portugal, diz que a imagem era a Isabel dos Santos
de “uma mulher lutadora e reservada, no sentido em passeou-se por Itália.
que gostava de manter o recato mediático, não era Em Veneza, a angolana
muito espalhafatosa”. E mais: “Era uma pessoa com foi partilhando alguns
ideias claras relativamente aos negócios, ao que que- momentos da viagem
ria fazer, o caminho a seguir, bastante esclarecida. E com os seguidores
determinada. Com força para agarrar um projeto e le-
vá-lo por diante”. Aliás, o discurso de Isabel dos San-
tos batia com a imagem que faziam dela: chegou onde
chegou, num país de tanta miséria, graças à sua visão i A empresária
empresarial. aproveitou a estadia
Mas basta voltar a janeiro de 2020 para ver a bomba no verão em Itália, que
explodir. O Consórcio Internacional de Jornalismo se estendeu por largas
de Investigação revelou mais de 715 mil ficheiros, os semanas, para visitar o
famosos Luanda Leaks, que detalham alegados es- Vaticano, em setembro,
quemas financeiros de Isabel dos Santos e do mari- e recordar o falecido
do, que entretanto morreu, que lhes terão permiti- marido, pai dos seus
do retirar dinheiro do erário público angolano atra- quatro filhos, Sindika
vés de paraísos fiscais. Destaque para um esquema Dokolo. Na publicação,
de desvio de 115 milhões de dólares da Sonangol, da assumiu a sua dor
qual a angolana foi presidente, para uma conta no Du- pela perda e escreveu
bai. Ou o esvaziamento de todo o saldo da companhia que “não existem
petrolífera numa conta do Eurobic Lisboa um dia de- despedidas fáceis”
pois de ter sido demitida da Sonangol pelo novo pre-
sidente angolano.

PORTUGAL NO OLHO DO FURACÃO


Portugal ficou no olho do furacão e as autoridades an- vida. Prova disso é que consegue sustentar uma vida
golanas pediram que a justiça portuguesa arrestasse no Dubai. Esta cleptocracia angolana espalhou o di-
as participações da empresária no Eurobic, Efacec e nheiro pelo Mundo todo, é muito difícil garantir que
na NOS como garantia patrimonial de mais de mil vão chegar a todo o lado.”
milhões de euros, valor do prejuízo causado pelos ale- Ainda assim, o ativista, que foi preso político do re-
gados crimes da princesa africana. A reboque, chegou gime angolano, reconhece que Isabel tem motivos
a nacionalização da parte que Isabel dos Santos deti- para se sentir ameaçada e lesada pela perseguição de
nha na Efacec pelo Governo português. Ou um Eu- um presidente que fez da luta contra a corrupção
robic com prejuízos ainda à espera de um investidor uma bandeira e da angolana o rosto da sua luta. “João
que compre a posição da angolana. Lourenço tratou de colocar a Isabel dos Santos no
Com bens arrestados, empresas bloqueadas, con- topo da lista das pessoas a perseguir, e foi o que fez.
tas bancárias congeladas, perda das participações em- Gastou imensas energias contra ela. Só que, parale-
presariais, Isabel dos Santos perdeu gente da sua con- lamente, está a fazer tudo ao contrário em Angola,
fiança pelo caminho, como o advogado português ao ponto de as pessoas terem saudades de Isabel dos
Jorge Brito Pereira, que a representou durante mais Santos. É quase um sentimento masoquista.” Por
de dez anos, ou Mário Leite da Silva, braço-direito nos Angola, correm caricaturas, humor, escrita sarcásti-
negócios que trabalhava a partir de Lisboa. Mas não ca a demonstrar isso mesmo. E a destruição das em-
mudou nunca a narrativa: é uma perseguição do novo presas do grupo da empresária, desde os supermer-
presidente angolano, João Lourenço, que sucedeu ao cados Candando a uma fábrica de cerveja ou à maior
seu pai, movido por motivos políticos. E do discurso presária alega serem provas de que o regime angola- produtora de cimento do país, com milhares de tra-
passou à ação. no orquestrou uma “campanha política” para a des- balhadores sem salários e a caírem no desemprego,
truir e difamar. ajudou. “É paradoxal, porque são empresas construí-
IMPÉRIO A RUIR E A NOVA ATITUDE Sedrick de Carvalho, angolano, jornalista e ativis- das em cima de dinheiro roubado. Mas há este sen-
O império de negócios ruiu e Isabel dos Santos pare- ta pelos direitos humanos, não consegue bem des- timento misto de saudades.”
cia caída na desgraça da opinião pública. Mas a mu- cortinar esta nova Isabel dos Santos, feita de maior A princesa africana não ignora o ambiente que se
dança de atitude que fez ver nas redes sociais, com o exposição. “Não sei se será uma estratégia de comu- vive em Luanda e está a aproveitar o lanço. Aliás, Se-
novo visual, com mais confiança e mais próxima das nicação, porque ela até aqui era muito fechada, ha- drick, também diretor da editora Elivulu, já chama
gentes, veio a par de vários processos em tribunal via poucos registos públicos. Ou se está mesmo deci- de circo ao processo mediático que levou Isabel dos
para enfrentar um Governo angolano que acusa de dida a ter uma vida pública mais descontraída. A ver- Santos a afastar-se do país e do qual se conhecem pou-
“perseguição” e de estar motivado por uma “vingan- dade é que o império de negócios está despedaçado e cos desenvolvimentos. “Foi mais fogo de vista do que
ça pessoal”. Dos tribunais de Paris a Londres, a ango- talvez por aí queira dar uma ideia de que está tudo outra coisa. Houve alguns condenados, mas até esses
lana passou ao ataque. Contratou uma empresa de bem com ela.” E, diz ele, está efetivamente. “Em ter- circulam livremente pelo país.” E entende os argu-
investigação israelita, a Black Cube, de antigos agen- mos financeiros, está tudo bem mesmo. Apesar dos mentos da angolana. “Ela está, de facto, a ser vítima
tes da Mossad, Polícia secreta de Israel, que conse- processos judiciais, Isabel foi a que mais beneficiou de uma perseguição, de um sistema judicial usado
guiu gravações áudio e vídeo secretas de membros do saque de dinheiros públicos em Angola. Todos es- como arremesso político. Só não tem muito moral
da elite política e empresarial de Angola e que a em- tes arrestos ainda não beliscam muito o seu estilo de para o dizer. Está a ser vítima dos mesmos métodos

18 14.11.2021 Notícias Magazine


6 A angolana tem quatro angolanos. Queimaram-se muitos recursos do Esta-
filhos, três rapazes e uma do para criar ações legais contra Isabel dos Santos, de-
rapariga, e tem-lhes vido às lutas de uma elite. Um processo que está a ser
dedicado o seu tempo profundamente desgastante para todos. E, mesmo
que se consigam anular os decretos anteriores, ela
não pode pura e simplesmente repor os valores ori-
ginais. É preciso indemnizar o país de todos os bene-
fícios que obteve.” Algo que Manuel Dias dos Santos
acredita ser improvável.
Isabel dos Santos saiu em janeiro do ranking da “For-
bes” dos mais ricos de África (era a mulher mais rica
do continente africano há oito anos consecutivos),
devido aos ativos congelados. Pese embora a revista
americana apontar que a empresária terá uma casa
numa ilha privada no Dubai, onde mora, outra resi-
dência em Londres, onde vai frequentemente, e um
iate no valor de 29 milhões de euros. “Provavelmen-
te tem contas bancárias que a “Forbes” e as autorida-
des têm ainda de detetar”, escreveu a publicação.
Certo é que, depois do turbilhão, a angolana, que en-
tretanto ainda perdeu o marido, se reergueu para dar
luta. Para mostrar ao Mundo o lado privado no Insta-
gram e para limpar o nome nos tribunais. E pode até
voltar a recuperar parte do seu império empresarial.
Mas a imagem de quem lesou Angola, de acordo com
o sociólogo Manuel Dias dos Santos, “é uma respon-
sabilidade de que as pessoas não a ilibarão nunca”. ● m

a Em outubro deste ano,


Isabel dos Santos
e a família celebraram
a missa de um ano do
falecimento do marido
e a empresária fez o
anúncio da cerimónia na
sua página de Instagram

de perseguição que o pai dela e ela própria usaram.” empresa nacional de energia angolana e foram trans- M Foi em abril de 2021
A verdade é que, segundo Manuel Dias dos Santos, feridas para o nome de Isabel dos Santos. É inevitá- que a empresária
“o grande drama em relação a esta investigação é que vel: a empresária não pode ser vista à distância da go- reapareceu com o novo
muita da transferência de capital público para as mãos vernação de José Eduardo dos Santos. “Angola atri- visual e uma imagem de
de Isabel dos Santos foi feita por decreto presiden- bui tanto poder ao poder executivo que lhe permite força, preparada para dar
cial, pelo seu pai, o que do ponto de vista legal são governar assim, por decretos presidenciais.” E talvez luta, nas redes sociais
transferências legítimas”. O caso da Efacec é o espe- por isso o caso seja uma pescadinha de rabo na boca. e nos tribunais
lho disso: originalmente as ações eram detidas pela “Quem mais saiu a perder com tudo isto foram os

Notícias Magazine 14.11.2021 19


ALGAS.
NO MAR, NA TERRA,
NA PELE, NO PRATO

20 14.11.2021 Notícias Magazine


As virtudes estão estudadas, as aplicações expandem-se,
há evidências de propriedades anticancerígenas. Entraram
na alimentação humana e animal, na cosmética, em fertilizantes,
na saúde. São antioxidantes, ricas em ferro e iodo, libertam
oxigénio e retêm dióxido de carbono (uma bênção para o
ambiente). O negócio em Portugal ainda é tímido. Contudo,
a mais antiga indústria de microalgas da Europa está no Algarve,
a maior a utilizar a luz do Sol em Leiria e a pioneira no cultivo
de macroalgas do Atlântico em Ílhavo. Nada disto será por acaso.
TEXTO Sara Dias Oliveira

MARIA JOÃO GALA/GLOBAL IMAGENS

Notícias Magazine 14.11.2021 21


ALGAS

A
maternidade de algas é um pequeno compartimento cheio A, D, E, são uma alternativa às proteínas animais, as mais consu-
de frascos a borbulhar e dentro deles espécies que nascem midas são a Clorela e a Espirulina. “As algas aparecem em primei-
em diferentes tamanhos, feitios e cores. Exemplares pre- ro lugar nos novos produtos sustentáveis”, realça a bióloga. E têm
ciosos supervisionados com cuidado. Cá fora, três dos 14 conquistado terreno na alimentação humana, nas rações para ani-
hectares de umas antigas marinhas de sal são os lugares mais, nos fertilizantes, na cosmética, na remoção de poluentes da
onde a empresa Algaplus produz macroalgas em Ílhavo, água, na produção de combustível de baixo impacto ambiental, em
com a ria aos pés e o mar por perto. Há algas lá dentro, há algas cá testes para novas terapêuticas na saúde.
fora. Todo o ano. Helena Abreu não esconde a ambição da Algaplus. “Democrati-
A Algaplus surgiu em 2012 e desbravou caminho, quando ainda zar o consumo de algas.” Parece simples, mas, por cá, é complica-
não havia legislação, licenças, nem sequer um modelo de negócio do. Em todo o Mundo produzem-se 30 milhões de toneladas por
no país. Na Europa, é pioneira no cultivo controlado e sustentável ano, sobretudo na Ásia, a empresa de Ílhavo anda pelas 30 tonela-
de macroalgas do Atlântico em aquacultura. É cultivo que não pre- das, espera crescer e chegar às 160 em 2022. Há certezas que entu-
cisa de terra arável, água potável ou fertilizantes. Helena Abreu é siasmam e dão ânimo: tem matéria-prima de qualidade o ano in-
bióloga marinha, uma das fundadoras da Algaplus, estuda macroal- teiro e sabe o que mercado precisa porque nunca deixou de olhar
gas desde 1998, conhece-lhe as propriedades e qualidades, bem para a forma como o setor se move e trabalha além-fronteiras. “Nun-
como o tremendo esforço que tem sido feito para colocar o setor no ca tivemos dificuldade em escoar produto”, garante.
mapa. “Derrubámos muitas barreiras para a obtenção de licença e Mais a sul, no Parque Natural da Ria Formosa, em Olhão, a Nec-
certificação biológica”, recorda. ton – Companhia Portuguesa de Culturas Marinhas SA dedica-se
As algas são antioxidantes, ricas em iodo, ferro, cálcio, magné- à produção de microalgas e de sal marinho tradicional. É a mais an-
sio, potássio, baixo teor de gordura e de açúcar, alto teor de fibra nos tiga da Europa a produzir microalgas, desde 1993, e a primeira a
produtos dietéticos e suplementos alimentares. Proteína vegetal vender produtos de microalgas no continente europeu, em 1999.
que dá textura na cozinha, que aguenta bastante tempo na prate- “Nascemos muito cedo, criámos os mercados, produzimos a tec-
leira com propriedades anti-inflamatórias e antibacterianas. Con- nologia, fomos ver onde podíamos vender o nosso produto”, lem-
têm aminoácidos essenciais, ácidos gordos essenciais, vitaminas bra João Navalho, biólogo marinho, um dos fundadores da Nec-

22 14.11.2021 Notícias Magazine


MARIA JOÃO GALA/GLOBAL IMAGENS

MARIA JOÃO GALA/GLOBAL IMAGENS


a A Algaplus é uma
empresa pioneira na
produção de algas. Surgiu
em 2012 e desbravou
caminho. Nas instalações,
em Ílhavo, a maternidade
de algas é um pequeno
compartimento cheio
de frascos a borbulhar,
e dentro deles nascem
espécies em diferentes
tamanhos, feitios e cores

6 Na Algaplus, três dos


14 hectares de umas
antigas marinhas de sal
são onde a empresa
produz macroalgas,
com a ria aos pés
e o mar por perto ton. Nunca cruzou os braços e a curiosidade nunca esmoreceu. agrícolas como fertilizantes. É uma das maiores produtoras de mi-
As microalgas estão na água e não se veem, são microscópicas e croalgas da Europa, depois de vários testes e a construção de uma
apenas a cor da água revela a sua presença, têm segmentos dife- unidade, o batismo empresarial surgiu em novembro de 2015 com
rentes, necessidades diferentes, aplicações diferentes. A Necton um grande investimento em tecnologia e construção de uma área
tem quatro mercados distintos. O da aquacultura, comida para ani- de fermentação e expansão do negócio para outros produtos. As
mais que depois alimentam as larvas de peixes, maternidades de certificações europeias têm chegado e permitido a produção orgâ-
peixes, para Grécia, Turquia, Itália e Espanha. O da cosmética, em nica em grande escala. É a maior da Europa a usar a luz do Sol no pro-
que as microalgas são matéria-prima para três empresas da área, cesso de fermentação das algas em água doce. São 80 toneladas por
duas francesas e uma espanhola – se encontram um princípio ati- ano, mais de cem apontam as previsões feitas para o final do próxi-
vo em determinada alga, contactam a Necton. Há ainda o merca- mo ano. Mais de 90% da produção é escoada para a Europa.
do do peixe-zebra que está a ser usado em testes animais, por te- A empresa desenvolve produtos alimentares à base de pó para
rem linhas celulares muito semelhantes às das cobaias. E o mer- aperitivos, snacks, pão, bolachas, barritas de cereais, suplemen-
q João Navalho, cado dos aquários, do Oceanário de Lisboa e de outros espaços na tos alimentares, bem como biofertilizantes naturais, rações ani-
biólogo marinho, Europa e no Mundo. mais para cães e gatos, suínos, aviário e pássaros de caça. Otimizar
um dos fundadores É uma empresa com 63 funcionários, 15 nas algas, os restantes o consumo de nutrientes por parte das algas é uma parte impor-
da Necton, a empresa focados no sal marinho. “As algas são muito interessantes, mas não tante do trabalho, é necessário controlar a temperatura, a luz, o
mais antiga da Europa há milagres.” João Navalho sabe do que fala. “A indústria no nosso PH, e o investimento em investigação, inovação ou equipamen-
a produzir microalgas, país é imberbe, há mercado, há entusiasmo que passa e entusias- tos é constante. A empresa tem megarreatores e quilómetros e
desde 1993, e a primeira mo que fica, há muito terreno para explorar.” quilómetros de tubos.
a vender produtos de Mais a norte, em Pataias, Leiria, a Allmicroalgae apresenta-se Júlio Abelho, engenheiro mecânico, diretor da Allmicroalgae,
microalgas no continente como uma empresa de biotecnologia, produz microalgas para ali- acredita no potencial do setor, diz que a indústria alimentar já não
europeu, em 1999 mentação, suplementos dietéticos, rações de animais, soluções passa ao lado desta proteína vegetal e que a ciência médica vai olhar
para este recurso com mais atenção. “A produção tem corrido bem”,
assegura. O problema é o desconhecimento que persiste, uma área
CARLOS VIDIGAL JR/GLOBAL IMAGENS

relativamente recente no país que precisa ser comunicada, divul-


gada. “Há um desconhecimento gigante, é preciso um esforço gi-
gante, às vezes, é um pouco ingrato”, comenta. A questão da sus-
tentabilidade ajuda, os novos hábitos alimentares também, tal
como o mercado vegetariano e vegan.

ALFACE-DO-MAR, CABELO-DE-VELHA, ERVA-PATINHA


É um recurso que não é muito explorado em Portugal, mas a histó-
ria mostra as algas na alimentação das famílias pobres no século
XIX. Algas nas praias, com sabor a mar, que se comiam cruas, e os
batismos de então perduram até hoje: cabelo-de-velha, chorão-do-
-mar, fava-do-mar, erva-patinha, alface-do-mar, botelho-compri-
do, esparguete-do-mar. Não havia nomes técnicos, havia nomes
adaptados à fisionomia, ao aspeto do que os olhos viam. Helena
Abreu destaca esse património natural. “Estamos a recuperar uma
tradição há muito tempo esquecida.” Há esse passado, há presen-
te, e há futuro. “Há tradição, há muita investigação feita em Por-
tugal, há muito conhecimento, mas a componente de investimen-
to é reduzida, falta vontade política para que Portugal seja o epi-
centro da produção de algas.” País à beira-mar plantado, o litoral é
extenso, 943 quilómetros de costa no continente, 667 nos Açores,
250 na Madeira. As espécies andam agora pelas 300.
A Universidade do Algarve lançou uma plataforma digital, aber-
ta a todos, para recolher dados e informações sobre algas que se en-

Notícias Magazine 14.11.2021 23


ALGAS

contram nas praias portuguesas. Pedem-se fotografias e elementos


através de um inquérito online. “Verificámos uma acumulação de
algas que, muitas vezes, não é natural, não faz parte da dinâmica do
sistema. Acumulam-se em muitas praias, começam a degradar-se e
a cheirar mal, e pode ser um problema para os banhistas, para o tu-
rismo”, refere o investigador Rui Santos, do Centro de Ciências do
Mar da Universidade do Algarve. “Estamos a tentar perceber o que
se está a passar, monitorizar estes acontecimentos e, por isso, pedi-
mos às pessoas que peguem nas algas e tirem fotografias.”
O objetivo é identificar as espécies invasoras, e já são 25, ir crian-
do uma base de dados, perceber melhor essa biomassa ao pé do mar,
analisar compósitos que possam ser interessantes. O projeto ar-
rancou no verão passado, a participação tem superado as expecta-
tivas, e irá continuar na tentativa de abranger toda a costa e tam-
bém as ilhas. “Faz sentido ter uma série temporal longa e criar cru-
zamentos com as condições ambientais para perceber o que de-
sencadeia estes acontecimentos, perceber esta biomassa.” As fo-
tografias e os dados são enviados de forma anónima, é a ciência ci-
dadã a funcionar, todos os pormenores são importantes, todas as
informações são úteis.
Do mar para o laboratório, para a investigação científica, há boas
notícias e perspetivas, potenciais soluções terapêuticas. O MARE
– Centro de Ciências do Mar e do Ambiente do Politécnico de Lei-
ria estuda as potencialidades dos recursos marinhos e analisa po-
tenciais aplicações em diversas áreas: saúde, alimentar, farmacêu-
tica, cosmética. As investigações estão a dar frutos. Em 27 espécies
de macroalgas identificadas na costa de Peniche foram detetadas
duas moléculas numa alga vermelha que demonstram ter proprie-
dades contra o cancro. Mas não é tudo. Há outros compostos nou-
tras algas, uma verde e outra castanha, que evidenciam capacida-
des de reverter a doença de Parkinson.
Os estudos prosseguem perante as portas que se abrem na saúde

NUNO BRITES/GLOBAL IMAGENS


depois de se avaliar o potencial citológico das algas. Há um mundo M A Allmicroalgae,
de aplicações mais específicas por desbravar. Celso Alves é biólogo em Pataias, Leiria, é uma
marinho e investigador do MARE e integra a equipa responsável das maiores produtoras
por essas pesquisas. De sete compostos isolados na macroalga ver- de microalgas da Europa
melha, dois foram identificados pela primeira vez e destacaram-
-se. “Dois deles afetam com mais intensidade a viabilidade das cé-
lulas tumorais”, revela. Ou seja, em modelos celulares de cancro,
esses dois compostos inibem a proliferação de esferas tumorais,
demonstram uma ação antitumoral. Há, porém, caminho pela fren-
te para estudar mais a fundo e testar em modelos mais complexos.
Há outros dados interessantes, outros compostos de algas que po- a Produzidos pela
dem significar boas novas para os doentes de Parkinson. Celso Al- Allmicroalgae, alguns
ves especifica os avanços. “O trabalho desenvolvido, até ao mo- exemplos de microalgas,
mento, permitiu identificar duas moléculas a partir de uma alga já processadas, para
castanha e de uma alga verde com atividade neuroprotetora num venda ao público
modelo celular que mimetiza a condição da doença de Parkinson
em laboratório, revertendo a morte celular dos neurónios dopami-
nérgicos que são responsáveis pela produção de dopamina.” Se es- “Têm imensas e ótimas propriedades para o nosso organismo, é um
tes neurónios morrem, e os níveis desse neurotransmissor dimi- alimento que tem tudo para ser bom”, constata.
nuem, surgem os tremores, a dificuldade de locomoção, entre ou- Este ano, num projeto que estava a marinar há alguns anos, lan-
tros sintomas, da doença de Parkinson. Os investigadores conti- çou o livro “algo com Algas”, cem páginas, 40 receitas, Brás de al-
nuam os trabalhos para avançar para ensaios in vivo para, segundo gas, omelete de algas, esparregado de algas, risoto de algas. Demo-
Celso Alves, “compreender e validar o potencial de aplicação far- cratizar a utilização de algas na cozinha portuguesa é um propósi-
macológica destas moléculas.” to que assume na plenitude. Por várias razões. Pela riqueza de mi-
nerais, pela textura, pelo sabor. “Pelo sabor e pela história que pode
DIFICULDADES, FOTOGRAFIAS, E HISTÓRIAS POR CONTAR ser contada a partir daí. É um produto que temos em tanta abun-
Do mar para o prato. Ainda antes de colocar a bolota sob os holofo- dância, que está tão à mão, que não está tão democratizado quan-
tes da gastronomia nacional, já o chef Pedro Mendes andava à vol- to isso, mas que pode vir a ocupar um lugar na mesa. As algas po-
ta das algas nessa sua procura irrequieta, como bichinho-carpin- dem e devem ser uma moda”, defende o chef.
teiro que não gosta de estar parado, por ingredientes pouco usados A Algaplus produz seis espécies de algas, 90% para alimenta-
na cozinha. Há cerca de dez anos, percebeu que havia uma empre- ção humana, a empresa tem a marca Tok de Mar com produtos
sa no Algarve que comercializava algas para a indústria alimentar, frescos e desidratados e outros incorporados como sal e flor de sal
nas pesquisas que fez percebeu que nenhuma das cerca de 500 es- com algas, 8% para a cosmética, o restante para institutos de in-
pécies existentes na costa portuguesa eram tóxicas para o organis- vestigação científica, empresas que necessitam de algas – e 75%
mo, fez-se luz, nunca mais as largou, nunca mais deixou de as usar. para exportação, maioritariamente para a Europa. Conserva de

24 14.11.2021 Notícias Magazine


NUNO BRITES/GLOBAL IMAGENS
q Tapioca com algas. sardinha com algas em azeite, alface-do-mar fresca, kit de talas-
Uma entrada preparada soterapia com algas, espirulina em pó, entre outros produtos. A
por Pedro Mendes. Neste aposta na comunicação é evidente, a Algaplus tem receitas com
ano, num projeto que algas num blogue com sugestões de nutricionistas e de chefs, com
estava a marinar há algum descrições sobre os benefícios do consumo de algas. O mercado
tempo, o chef lançou o tem já uma maionese do mar que leva algas e Helena Abreu está
livro “algo com Algas” satisfeita com mais este passo, um produto que, assinala, “reduz
o sal em 50%”.
A empresa de Ílhavo imita o funcionamento dos ecossistemas
marinhos costeiros na produção das suas algas, um modo contro-
lado, a água do mar entra nos viveiros de peixes, robalo e dourada
em modo de produção biológica, é bombeada para os tanques de
cultivo das macroalgas através de um sistema de filtragem. Os nu-
trientes desse ambiente de mar são aproveitados para a produção
das macroalgas, tal como acontece no seu habitat natural. Esta bioe-
conomia azul circular, com aquacultura, é inovadora na Europa. A

REINALDO RODRIGUES/GLOBAL IMAGENS


Natureza não se contraria. “Apostamos em mercados que, no fun-
do, dão o devido valor à capacidade de produção sustentável. Não
podemos intensificar a produção, nem utilizar químicos”, vinca
Helena Abreu, que é também presidente da Proalga – Associação
Portuguesa dos Produtores de Algas, estrutura que nasceu em 2019,
com quatro produtores, neste momento.
Há negócios maiores, projetos mais pequenos, um ramo de ati-
vidade que tem empresas que se destacam na Europa. Em 2018, a
Allmicroalgae conseguiu certificação orgânica da União Europeia
para a produção de Clorela, tornando-se a única empresa na Euro-
pa com produção orgânica em grande escala.
Joana Silva, bióloga, responsável pelo departamento de Investi-
gação e Desenvolvimento da Allmicroalgae, lembra que não é fácil
entrar no mercado alimentar. Muito trabalho, muito esforço, au-
mentando o número de certificações. Apesar dos passos dados, em
2020, a empresa uniu forças com um grupo francês em biotecnolo-
REINALDO RODRIGUES/GLOBAL IMAGENS

a Democratizar gia especializado em biologia de algas, microrganismos, alimentos


a utilização de algas e rações à base de microbiota, de forma a impulsionar o mercado.
na cozinha portuguesa Mas há ainda muito por fazer. “Falta abertura, falta vontade, falta
é um propósito que esclarecimento, falta toda a cadeia de valor ajudar”, sublinha. Falta
o chef Pedro Mendes uma visão nacional. O que destacar? “Claramente a sustentabilida-
assume na plenitude de, a sustentabilidade é o futuro”, responde Joana Silva.
Para João Navalho, que já foi presidente da Proalga, a união faz a
força e faz todo o sentido falar de algas, colocá-las no circuito, na
narrativa. “Faz todo o sentido no terceiro milénio por todas as ra-
zões e mais algumas. E estamos melhor todos juntos.” Quem está
no setor sabe como é trabalhar com a Natureza, os detalhes que têm
o que se lhe digam, também as dificuldades que existem no cami-
nho. “Depende muito da forma como as autoridades vão encarar o
assunto, a regulamentação é complexa, é cada vez mais complexa.
São produtos novos e a coisa ainda mais complexa fica.”
João Navalho defende maior investimento tecnológico, regula-
mentação mais simples, outro tipo de incentivos. “Não basta ha-
ver vontade dos empresários, dos produtores, é preciso principal-
mente vontade política”, sustenta.
Celso Alves não tem dúvidas de que as algas são organismos in-
teressantes e resistentes. “Há espécies de macroalgas expostas a
condições agressivas, que não se conseguem mover nas praias, e
que desenvolvem mecanismos para se desenvolverem como res-
postas à sua sobrevivência.” E há matéria para espremer com os
olhos postos no potencial farmacológico e biotecnológico. “O co-
nhecimento de agora pode não ter aplicabilidade no momento, mas
pode ser usado no futuro, no desenvolvimento de novas terapêu-
ticas”, enfatiza. As algas são um admirável mundo para explorar a
vários níveis.
A partir do Algarve, Rui Santos conta que há vontade de criar uma
mostra fotográfica com as imagens das algas que estão na platafor-
ma digital da universidade. Uma exposição que poderá ser itine-
rante. “Uma maneira de retribuir, uma forma de agradecimento.”
A todos os que se interessam e não passam ao lado desses seres que
saem do mar e dão à costa. ● m

Notícias Magazine 14.11.2021 25


NÓS, NO LIMITE
Quando o ambiente muda, o nosso comportamento muda
com ele. E trabalhar em cenários que estão para lá das fronteiras
da normalidade — como a Antártida ou o espaço — causa enormes
pressões adicionais. O estudo de equipas em ambientes Isolados,
Confinados e Extremos (ICE) ajuda a perceber como escolher
e preparar pessoas à altura desses desafios.

TEXTO Sofia Teixeira


OEWF/FLORIAN VOGGENEDER

26 14.11.2021 Notícias Magazine


JOSÉ XAVIER

Notícias Magazine 14.11.2021 27


NÓS, NO LIMITE

A
cratera Ramon, no deserto de Ne- isso geralmente é possível, mas a bordo de um sub- flito por resolver num espaço confinado, durante
guev, em Israel, é uma mistura de marino não há essa possibilidade e no espaço ela só meses ou anos, com um ambiente extremo lá fora é
superfícies rochosas e de areia mui- existe quando se fazem atividades extraveiculares. um problema sério.
to semelhante aos desfiladeiros de Todos esses aspetos têm impacto a nível fisiológi-
Valles Marineris, no planeta Mar- co e psicológico. “A ausência de ritmos naturais de 520 DIAS EM MARTE
te. Foi lá que, entre 4 e 31 de outu- luz solar – por exemplo, ser sempre dia ou sempre Em novembro de 2011, emergiram de uma estrutu-
bro, aconteceu a missão AMADEE- noite – desregula o sono e os níveis de cortisol. Em ra de algumas centenas de metros cúbicos, situada
-20, uma simulação muito próxi- consequência disso, aumenta a irritabilidade e o em Moscovo, seis homens que não viam a luz do Sol
ma do real de uma missão humana stress”, destaca o investigador. havia 520 dias. A experiência, levada a cabo pela Agên- ➊
a Marte, organizada pelo Fórum Es- Quanto mais tempo decorre, maiores os riscos. “Em cia Espacial Europeia, em colaboração com o Institu-
pacial Austríaco (OewF). A equipa missões de apenas algumas semanas o número de to de Problemas Biomédicos, tinha como principal

de seis astronautas análogos – os conflitos habitualmente é baixo ou focado maiori- objetivo avaliar problemas associados a um confina-
que simulam na Terra as missões tariamente no trabalho em si.” Mas, passados três a mento prolongado. Esses seis “astronautas” ficaram
espaciais – teve aos comandos o seis meses, aumenta bastante. “Escala tanto em fre- em confinamento contemplando 250 dias de viagem
português João Lousada. O engenheiro aeroespacial quência como em gravidade, sendo focados maiori- de ida para Marte, 30 de permanência no planeta e
de 32 anos é diretor de voo do módulo Columbus, da tariamente nas relações entre os membros das equi- 240 para a viagem de regresso à Terra, na primeira si-
Estação Espacial Internacional, e, além disso, é as- pas”, salienta Pedro Marques-Quinteiro. E um con- mulação deste género alguma vez feita. O sono-vi-
tronauta análogo em missões como esta, que pre-
tendem ser ferramentas de aprendizagem e teste

OEWF/PAUL SANTE
para futuras missões ao planeta vermelho. ➌
“O ambiente espacial não perdoa: qualquer falha,
quer nos sistemas, quer na tripulação, pode ter con-
sequências fatais. O objetivo destas missões é dete-
tar problemas, não só nos processos e equipamen-
tos, mas também nas pessoas e equipas, com o con-
tributo da psicologia”, resume o João Lousada. “Isso
é essencial para planear métodos para manter a mo-
tivação do grupo durante a missão e para saber que
tipo de pessoas escolher para ir a Marte. Se os fato-
res psicológicos não são pensados, isso pode ter con-
sequências críticas.” Essa seleção, de resto, aplica-
-se também a estas missões em terra. Para conquis-
tar a posição de astronauta análogo, João Lousada
teve de realizar centenas de testes individuais rela-
cionados com a preparação física, conhecimentos
técnicos e científicos e perfil psicológico.
Ao longo das quatro semanas de missão, a AMA-
DEE-20 fez dezenas de experiências nas áreas da en-
genharia, medicina, astrobiologia e robótica. Mas
não deixaram de lado os fatores humanos e a psico-
logia: foram recolhidos dados para posterior análise
sobre questões como a densidade social ideal dentro
do habitat em Marte, a utilização da Terapia de Acei-
tação e Compromisso para melhorar a flexibilidade
OEWF/FLORIAN VOGGENEDER

psicológica da tripulação, a avaliação da performan- ➍ ➎


ce humana sob ambientes stressantes e os proces-
sos de trabalho da equipa sob pressão.
Pedro Marques-Quinteiro, professor auxiliar no de-
partamento de Psicologia Social e das Organizações
do ISPA - Instituto Universitário e investigador no
William James Center for Research, também do IS-
PA, estuda precisamente a adaptação e performance
humana em ambientes isolados, confinados e extre-
mos (ICE) – sejam eles uma campanha no inverno
antártico, uma missão a bordo da estação espacial in-
ternacional ou dentro de um submarino militar. E
explica que os desafios dos ambientes ICE dependem
de três fatores essenciais: “A existência de gravida-
de, os ciclos de luz solar e quão confinado se está”, ou
seja, se é possível sair de um espaço físico muito limi-
tado. Em relação a este último aspeto, lembra que na
Antártida, dependendo das condições atmosféricas,

28 14.11.2021 Notícias Magazine


JOSÉ SECO
➊ e ➋ José Xavier, biólogo
marinho, numa das expedições
científicas à Antártida
➌, ➍ e ➎ O astronauta análogo
João Lousada nas missões
de simulação de uma viagem
humana a Marte

gília dos participantes foi monitorizado e, uma vez dentes. Em 2009, um dos seus colegas precisou de ir
por semana, faziam vários testes e questionários para ao dentista, mas isso é tudo menos fácil em pleno in-
avaliar o estado psicológico. verno antártico. “Ele teve sorte: estava um navio de
Tendo por base os dados recolhidos com essa expe- patrulha nas proximidades que o pôde ir buscar uma
riência de 17 meses, foi publicado na revista científica semana depois e foi levado até às Ilhas Falkland, a cin-
“Plos One”, em 2014, um artigo chamado “Mudanças co dias de distância.” Fez a consulta e esperou por um
psicológicas e comportamentais durante o confina- novo navio de patrulha para regressar. “Resumindo:
mento de 520 dias numa simulação de missão inter- uma situação que em Portugal se poderia tratar num
planetária a Marte”. Vale a pena destacar alguns dos dia, demorou três ou quatro semanas a resolver.”
achados: um dos participantes reportou sintomas de O cientista polar entende que para lidar com o iso-
depressão em 93% das semanas de missão; os dois tri- lamento é preciso altruísmo. “Existem pequenas ca-
EWAN EDWARDS

pulantes que tiveram valores mais elevados de stress racterísticas que podem ajudar, como ter boa dispo-
foram responsáveis por 85% dos conflitos, sendo que sição e bom senso, ser organizado, dedicado, positi-
um deles desenvolveu uma insónia persistente, com vo e motivado. Mas o altruísmo é essencial, porque
cansaço diurno e défices no estado de alerta. Dois mem- todos precisamos uns dos outros. O meio que nos ro-
bros da tripulação, por outro lado, não mostraram qual- deia é extremo e a segurança de cada um depende dos
quer distúrbio comportamental ou sofrimento psico- outros colegas.”
lógico. Os resultados são autoexplicativos: é muito im- Essa união parece ser mais fácil de manter entre a
portante identificar marcadores psicológicos, com- equipa no terreno. No estudo Marte 500, por exem-
portamentais e biológicos que permitam selecionar plo, o conflito com o controlo de missão foi cinco ve-
uma tripulação de uma missão espacial prolongada zes mais frequente do que o dos tripulantes entre si.
que possa sentir-se bem e manter-se eficaz. “À medida que o tempo passa, aumenta a descone-
Ainda há muito por saber, mas a investigação mos- xão entre quem está em campo e no centro de con-
tra que existem características-chave nesta seleção. trolo e as equipas no terreno querem mais autono-
A estabilidade emocional é uma delas. “As pessoas mia”, realça Pedro Marques-Quinteiro, que já este-
com pouca expressão emocional ou muita variabi- ve ele próprio na Antártida por duas vezes. “Isto está
lidade emocional tendem a ter respostas desajusta- relacionado com pensamentos que surgem na equi-
das na gestão dos conflitos”, observa Pedro Marques- pa de campo, como: ‘Nós, que estamos aqui, é que sa-
-Quinteiro. Outro atributo essencial, segundo o in- bemos. Eles, que estão lá, não sabem nada’.”
vestigador, “é a capacidade cognitiva geral – uma Esse é um tema muito familiar a João Lousada, que
medida de inteligência geral – que é o melhor predi- no dia a dia está no centro de controlo, como diretor
tor da capacidade de adaptação a imprevistos, estan- de voo do módulo Colombus, da Estação Espacial In-
do associada à criatividade, pensamento abstrato e ternacional, em contacto com os astronautas, fazen-
capacidade de implementação de soluções”. Por fim, do o planeamento e definindo procedimentos e, nas
algo talvez mais inesperado: o sentido de humor. “É missões análogas, está do outro lado, com as mãos na
uma estratégia de coping [ou estratégia de enfren- massa. E numa missão a Marte a questão da autono-
tamento] muito eficaz. Ter na equipa alguém que mia da tripulação vai ser absolutamente central.
sabe fazer os outros rir contribui muito para o moral “Não é possível resolver problemas de forma inter-
e para a motivação.” ativa: uma mensagem da Terra a Marte demora entre
Estes três são os fatores base, absolutamente de- 8 e 20 minutos, para cada lado. Isso significa esperar
terminantes – apesar de pouco treináveis. “Além dis- até 40 minutos por uma resposta”, lembra o astronau-
so são importantes as chamadas soft skills [compe- ta análogo. Em Israel, foi precisamente um dos aspe-
tências interpessoais], como a capacidade de traba- tos que testaram. Durante a fase de simulação, além
lhar em equipa, a gestão de conflitos e a aprendiza- de só poderem sair do habitat com o fato Aouda vesti-
OEWF/FLORIAN VOGGENEDER

gem de estratégias de coping ajustadas, essas sim, al- do – um simulador de fato espacial que pesa cerca de
tamente treináveis com a ajuda de psicólogos.” 50 quilos e demora três horas a colocar –, tiveram sem-
pre um atraso de dez minutos nas comunicações (em
ISOLADOS E CONFINADOS, MAS AUTÓNOMOS ambos os sentidos) com o centro de controlo da mis-
O biólogo marinho José Xavier, professor e investi- são, em Innsbruck, na Áustria. “Com este atraso, te-
gador do Centro de Ciências do Mar e Ambiente, da mos de ter muito mais autonomia, para resolver os
Universidade de Coimbra, já fez mais de dez expedi- nossos próprios problemas, para planear o dia de acor-
ções à Antártida. Ao todo, já passou três anos no con- do com o que vai surgindo, tendo iniciativa e capaci-
tinente mais frio, mais seco e ventoso do Planeta, por dade de decisão – e isso é muito diferente do que tem
vezes, durante nove meses seguidos, em pleno in- acontecido nas outras missões espaciais.”
verno antártico. Apesar do conforto dentro da base, A maneira de comunicar de uma futura missão a Mar-
isso significa “temperaturas exteriores que podem te está também a ser testada nestas simulações. Não
chegar aos 30 graus centígrados negativos e quatro só do ponto de vista operacional, como também das
horas de luz por dia”, sublinha. comunicações dos tripulantes com a família, especi-
O biólogo, que escreveu o livro “Experiência An- fica João Lousada. “Porque é certo que uma missão a
tárctica – Relatos de um cientista polar português”, Marte terá de selecionar pessoas que estejam aptas
considera que o maior desafio destas expedições é o para lidar com o isolamento, mas também tem de lhes
isolamento. Cita um exemplo: uma simples dor de dar oportunidades de não se sentirem tão isoladas.” ● m

Notícias Magazine 14.11.2021 29


TRADUÇÃO: 15 DE NOVEMBRO É O DIA NACIONAL DA LÍNGUA GESTUAL PORTUGUESA
30 14.11.2021 Notícias Magazine
Falar com as mãos,
com a cara, com o corpo.
O imenso poder dos gestos
Não é uma linguagem e é preciso um vocabulário especial e uma
meter isso na cabeça de uma vez gramática própria. É a forma de
por todas. É uma língua por direi- comunicar das pessoas surdas e
to próprio, reconhecida pela dos que falam com elas. Para que
Constituição da República a 15 de mais de 70 milhões de surdos es-
novembro de 1997. Esse dia é o palhados pelo Mundo – em Por-
seu dia. O Dia Nacional da Língua tugal, estima-se que serão cerca
Gestual Portuguesa. Há 24 anos. de 20 mil e à volta de 120 mil pes-
Uma língua silenciosa construída soas com algum grau de perda au-
a partir dos movimentos das ditiva – participem em pleno em
mãos, das expressões do rosto, todas as dimensões da vida e da
dos movimentos do corpo. Tem sociedade.

avenida
POR Sara Dias Oliveira

Notícias Magazine 14.11.2021 31


PERGUNTA TU

sempre com muitas experiências,

ADELINO MEIRELES/GLOBAL IMAGENS


com copos e a fazer muitos “plofes”,
ma agora que cheguei ao 5.º ano não
é o que parece...
A ciência é muito vasta. É uma área que
abrange muitas áreas. Ou seja, a ciên-
cia pode ser essa que estás a dizer, de la-
boratório, onde se juntam compostos
e que quando se juntam podem dar
uma explosão e temos de ter cuidado.
Depois, há outras áreas, por exemplo a
ecologia, os mamíferos, a biologia, o
campo, o mar, as plantas. Há quem es-
tude essas áreas também.

Benjamim, 7 anos
O que querias ser quando eras
criança?
Queria descobrir a cura para as doen-
ças, fosse cientista, fosse médica. Mas
também gostava de ser uma coisa, mui-
to, muito diferente, que era ser canto-
ra. Queria fazer as duas coisas ao mes-
mo tempo.

Mas cantora não tem nada a ver com


a ciência?
(Risos) Pois não, não! Essa é a parte en-
graçada da nossa vida, porque pode-
mos ser muitas coisas ao mesmo tem-
po. Eu também canto, mas não faço
disso a minha profissão. Faço ciência

A cientista que
em pequena estive muitas vezes no e estou associada a um projeto muito
médico, sempre com algum problema giro que se chama “Cientista Regres-
de saúde. Então, pensei que quando sa à Escola”. A ideia desse projeto é a es-

também canta
crescesse queria muito saber como é cola básica receber alguém que tenha
que as doenças eram e como é que eu sido aluno dessa escola, se tenha tor-
podia curar essas doenças. Por isso, por nado cientista e agora regressa à sala
volta dos sete, oito anos, no Natal, ofe- de aula para fazer experiências com os
receram-me um microscópio de brin- meninos.
A Mariana e o Benjamim entrevistaram car e eu lembro-me que disse: “Uau,
Teresa Serafim, que integra o projeto gosto mesmo disto!”. Isso ficou na mi-
nha memória. Tive outros gostos pelo
Quais eram as tuas disciplinas favo-
ritas?
“Cientista Regressa à Escola”. caminho, mas o gosto pela ciência co- Gostava muito de Ciências Naturais e
meçou aí. de Matemática.

Mariana, 10 anos las são blocos de lego que nos consti-


tuem. São as pecinhas todas que nos
Dás aulas. Gostas do ensino?
Atualmente não dou aulas, mas, sim,
Qual é o teu cientista preferido?
Tenho muita dificuldade em respon-
Trabalhas sozinha ou tens uma constituem. Eu estudo como esses blo- já dei aulas. Dei aulas teóricas, ou seja, der a essa pergunta. Gosto de cientis-
equipa? quinhos funcionam por dentro. E só mais focadas nos livros, aulas sobre as tas que tiveram uma importância tão
Eu trabalho com uma equipa quando consigo ver isso no microscópio. palavras, daquelas mais complicadas. grande, como o Newton, que sabem
estou no laboratório, mas, paralela- E depois tinha as aulas práticas, onde certamente quem é, ou a Marie Curie.
mente ao trabalho em laboratório, tra- Quantos anos tinhas quando quises- fazia as experiências com poções e fa- Mas, a nível nacional, posso destacar a
balho na investigação na área do can- te ser cientista e te apaixonaste por zia assim “plof” (risos). Não, não é ver- professora Sanches Santos e o profes-
cro. O cancro é uma doença e tento des- essa profissão? dade, estou a brincar, isto às vezes faz sor António Moreno, que tiveram gran-
cobrir uma cura para essa doença. Uso Eu sempre gostei muito de me sentir parte da imaginação. de influência no meu percurso. Foram
uma parte das células cancerígenas bem e que todas as pessoas à minha meus professores na Universidade de
para fazer essa investigação. As célu- volta estivessem bem. Porquê? Porque Eu imaginava as aulas de ciências Coimbra. ● m

32 14.11.2021 Notícias Magazine


ANOTA AÍ À V O LTA D O M U N D O VÊ MAIS EM

O DIA DE FESTEJAR A

SIMONE GIOVANARDI
TAG.JN.PT
FILOSOFIA ESTÁ A CHEGAR
O Dia Mundial da Filosofia celebra-se na Estas atividades requerem inscrição e
próxima quinta-feira, dia 18, e há formas de decorrem de forma digital, e o objetivo é
o aproveitar, dentro e fora de portas, para praticar o pensar, falar e escutar. Um espaço
todas as idades – porque a Filosofia também para jovens e adultos, “que convida ao ENCONTRADO
é para crianças e jovens. diálogo, ao pensamento e à troca de ideias”. FÓSSIL DE CRISE
“Temos a ideia que o filósofo é um homem Mas os festejos do Dia Mundial da Filoso- PINGUIM GIGANTE POLÍTICA: O
antigo que só lê livros que cheiram mal”, fia também podem ser aproveitados com as QUE ESTÁ EM
resume Joana Rita Sousa. Mitos da filosofia atividades regulares da Filocriatividade. Um grupo de crianças CAUSA?
que a responsável pela Filocriatividade, O Clube de Leitura em Voz Alta, também encontrou na Ilha Sul
projeto dedicado a oficinas e atividades filo- com o apoio do Plano Nacional de Leitura, da Nova Zelândia, no A maioria da Assem-
sóficas para crianças, quer derrubar. está incluído na programação regular do verão de 2006, um bleia da República
A primeira recomendação de Joana Rita projeto e a próxima sessão acontece no fóssil de um pinguim. votou contra o Orça-
Sousa para comemorar o mês da disciplina próximo domingo (21). Três dias depois, em Confirma-se agora, mento do Estado
recai na quarta edição do Festival de Filoso- parceria com a Academia Gerador, Joana pela publicação numa 2022. O presidente
fia de Abrantes, que se realiza de quinta (dia Rita Sousa apresenta o workshop “Treinar o revista científica, que da República avisou
17) a sábado (20). O mote do festival é, pensamento crítico”, que está aberto a se trata de uma espécie que se isso aconte-
também, mostrar que há espaço para todas todas as idades. “Já tivemos participantes gigante, com cerca de cesse dissolvia o
as idades, num movimento que pretende dos 11 aos 60 anos.” Durante todo o ano há 1,38 metros e que viveu Parlamento. Ou
tornar a filosofia mais popular. ainda o “Clube de Perguntas”, mediante há entre 27,3 e 34,6 seja, vamos ter de
Ainda a propósito da comemoração da inscrição, que treina a arte de perguntar e milhões de anos. voltar às urnas antes
data, a Filocriatividade preparou atividades pode ser realizado em família. do tempo. Uma
exclusivas. No dia 23, ocorrerá o direto O objetivo da Filocriatividade é “levar a crise política que
“Livros Perguntadores” no Instagram, em Filosofia às pessoas” que não têm o hábito põe as medidas e os
pareceria com o Plano Nacional de Leitura. de conviver com ela. Joana Rita Sousa investimentos que
“Uma conversa sobre livros para pessoas lembra que são os adultos que “ainda têm estavam previstos
que querem treinar a curiosidade.” medo daqueles textos que os traumatiza- em standby. Lê tudo
Há ainda a oportunidade de assistir ao ram no Secundário”, mas diz que os mais no site do TAG.
“Café Filosófico”. A próxima sessão, pequenos entendem o lado útil da Filosofia,
amanhã (dia 15), tem como tema “Filosofia que consiste, na prática, em “investigar o
para mortais”. Para 29, uma segunda-feira, a que nos deixa curiosos”. ● m
conversa será sobre “Perguntas por fazer”. SARA SOFIA GONÇALVES
FREEPIK.COM

JOVEM SALVA
POR GESTO VIRAL
DO TIKTOK
Uma jovem de 16 anos EU RECICLO,
foi salva na Carolina do TU RECICLAS…
Norte, EUA, depois de NÓS
dois dias sequestrada, RECICLAMOS!
devido a um gesto que
aprendeu na rede social “Reciclar é na boa!
TikTok. “Signal for help” Eu até reciclo! Mas…
serve para pedir ajuda Ainda posso fazer
de forma discreta e foi mais? Claro que sim!”
criado por uma asso- É esta a mensagem
ciação de apoio às da Academia Ponto
mulheres. Uma mulher, Verde, dirigida às
que circulava na escolas, comunida-
mesma autoestrada em des e a todos os
que seguia o carro com jovens. São desafios
a jovem, reconheceu o engraçados que
gesto e alertou as auto- podes experimentar.
ridades. O sequestra- Sabe mais em
dor foi detido. tag.jn.pt.

Notícias Magazine 14.11.2021 33


esti-
los COMPORTAMENTO
POR Ana Tulha

Conversas de chacha
que são bem mais
do que isso
Porque é que os diálogos triviais do nosso
dia a dia são tão importantes para mantermos
a nossa sanidade mental? A questão que
os confinamentos vieram exponenciar.

34 14.11.2021 Notícias Magazine


RAWPIXEL.COM/ADOBE STOCK
H
á quem fale sobre o tempo, sobre os preços da gasoli- que não são assim tão de chacha.” A observação é de Alexandra
na, sobre o Governo que acabou de cair, sobre a covid Lopes, especialista em Sociologia da Saúde, e vem a propósito de
e as máscaras, sobre o carro que teve de ir para a ofici- uma reflexão sobre o porquê de as conversas triviais serem im-
na e vai custar uma fortuna, sobre o cachopo que vai portantes para a nossa saúde mental. E dos confinamentos que
de gripe em gripe ou até sobre a companheira que in- nos privaram desse ritual aparentemente menor. Só aparente-
siste em deixar a casa virada do avesso. Os temas são mente.
variados, o conceito pouco mutável. São as conversas Porque, realça a socióloga, há nele uma profundidade bem maior.
de circunstância. Que temos com o funcionário do “Estas conversas poderão ser encaradas como menores porque
café onde vamos ou com aquela colega que também normalmente os conteúdos que abordamos nelas são mais tri-
está a fumar um cigarro no terraço da empresa. São as conversas viais, mais mundanos, não são conversas em que estejamos a dis-
triviais, comuns, vulgares, corriqueiras até. Há quem lhes chame cutir sobre os grandes problemas do Mundo, mas cumprem uma
conversas de chacha, termo coloquial que o dicionário traduz por função muito importante naquilo que é a nossa existência en-
“conversa banal”, “conversa de ocasião”. Ainda que neste caso se quanto comunidade, uma função de ligação. São mecanismos
acrescente um sentido pejorativo que não deve ser negligencia- muito relevantes de função social, de interação, de construção
do. “Esta expressão da conversa de chacha implica uma desvalo- de um sentimento de pertença a um coletivo.” O que, por sua vez,
rização. O que estamos a dizer é que são conversas sem grande in- tem impacto direto no nosso bem-estar. “Se quisermos colocar
teresse. E é interessante porque parece que só recentemente lhes isto numa perspetiva de saúde mental, estas conversas são fun-
demos importância. De repente, desapareceram e percebemos damentais para evitar sentimentos exacerbados de desligamen-

Notícias Magazine 14.11.2021 35


esti-
los COMPORTAMENTO

to. Além de que muitas vezes são uma boa forma de darmos umas tar as pernas logo quando estavam a começar o processo de sociali-
gargalhadas, porque é habitual abordar-se nestas conversas te- zação.” Mas com algumas diferenças consideráveis em relação aos
mas ligeiros, episódios corriqueiros, com algum sentido de hu- adultos. Por um lado, o facto de, para os jovens, a componente on-
mor, num tom jocoso.” line ter servido “um bocadinho de substituição”. Por outro, uma
Já há cerca de um século o polaco Bronislaw Malinowski, consi- menor capacidade de refletir sobre o assunto.
derado o pai da Antropologia Social, defendia que as “small talks”, Ana Pato destaca ainda uma outra questão, com implicações po-
o termo britânico para estas conversas de circunstância, não eram tencialmente mais gravosas. “Notei que estas conversas que não
de domínio exclusivo das sociedades ocidentais. E que o objetivo existiram condicionaram muito a confiança de alguns destes jo-
não passava por comunicar ideias, mas sim por cumprir uma fun- vens. Porque, sobretudo nestas idades, estes diálogos aparente-
ção social: a de estabelecer vínculos pessoais. mente irrelevantes ajudam a dar segurança para interagirmos mais
Ana Pato, psicóloga clínica, alinha pelo mesmo discurso. Susten- e melhor. Depois do confinamento, ficaram mais inseguros. Mui-
ta até que as supostas conversas de chacha dão resposta a uma “ne- tos diziam que parecia que já nem sabiam o que dizer, era como se
cessidade inata”, na medida em que somos um ser eminentemen- estivessem a falar com o outro pela primeira vez.”
te social. E que acabam por preencher outros parâmetros que, em
maior ou menor escala, todos procuramos. A aprovação, a consta- O fascínio da imprevisibilidade
tação do interesse do outro em ouvir o que temos para dizer, uma Mas há outros atributos que justificam a atratividade destas “small
certa forma de validação. A especialista concretiza. “Às vezes, é o talks” com estranhos – ou pessoas com quem mantemos apenas
apoio do outro, o facto de nos queixarmos do marido, o sentirmos relações superficiais. Um deles prende-se com a imprevisibilida-
que somos ouvidos por pessoas que não têm a ‘obrigação’ de nos de. Se nos diálogos de âmbito familiar à partida já sabemos com o
ouvir, um colega de trabalho que acha interessante o que estou a que podemos contar, que mais não seja por conhecermos previa-
dizer, alguém que quer ouvir a minha opinião sobre um dado as- mente a postura e as opiniões das pessoas que nos rodeiam, com es-
sunto. Mais do que uma necessidade de socialização, há também tranhos tudo será uma incógnita. “Introduz-se aqui um elemento
uma necessidade de aprovação externa.” desafiante, porque a verdade é que essas conversas também podem
acabar por ser desconcertantes. E o risco cria aqui uma sensação de
Um aviso chamado pandemia desafio”, aponta Alexandra Lopes.
E, se para uma boa parte de nós esta necessidade andava ali camu- A socióloga enfatiza ainda outros dois pontos, que podem ajudar
flada, a fazer-se despercebida, tudo mudou com a chegada da pan- a perceber a queda para estas conversas. “Por um lado, às vezes é
demia e os consequentes confinamentos que nos boicotaram até mais fácil contarmos um dado problema a um estranho, por causa
as conversas de circunstância. Ana Pato, que na clínica privada da questão da previsibilidade. Não no sentido de anteciparmos o
onde trabalha atende crianças, jovens e adultos, garante que, ao que o outro vai dizer, mas porque o facto de se tratar de um estra-
longo dos últimos meses, se deparou com inúmeras queixas nes- nho de alguma forma nos dá a sensação de que não haverá conse-
se sentido. “Os adultos, sobretudo os que têm filhos, diziam que quências. Porque a relação começa e acaba ali. Um estranho é mui-
precisavam muito de contacto com outros adultos, mesmo que tas vezes um ouvinte conveniente.” Além de que estes diálogos
fosse só aquela pausa de cinco minutos no trabalho, para manter também nos podem ajudar a pôs os problemas em perspetiva. “Há
a sanidade mental. Algo que lhes permitisse sair de um mundo que questões que num círculo mais fechado podem ganhar uma im-
ficou cingido às crianças e às tarefas domésticas. Mesmo que se- portância muito grande e, quando falamos delas e começamos a
jam aquelas coisas mais pequenas, as próprias cusquices, são coi- aperceber-nos que são questões que outros também têm, acaba-
sas que nos ajudam a completar a nossa rotina e dar-nos a energia mos por relativizar.”
de que precisamos.” E aqueles casos, que em maior ou menor quantidade todos co-
A psicóloga diz mesmo que sentiu muita gente a sufocar dentro nheceremos, de pessoas que tentam a todo o custo evitar conver-
da rotina, gente que procurava esses contactos sociais fugidios – às sas triviais, porque simplesmente não as suportam? Dada a fun-
vezes até uma “ida ao lixo” – como um “vir à tona para respirar fun- ção social das mesmas, será essa aversão um sinal de alerta? Nem
do”. Interações que, afinal, “fazem muita diferença e cuja neces- tanto. Ana Pato ajuda a definir a linha entre o que pode ser um mero
sidade se acentuou durante a pandemia”. “Mostrou-nos algo que traço de personalidade ou um eventual sinal de alerta. “Se essas
sempre lá esteve.” conversas forem típicas da personalidade da pessoa e de repente
E nem os mais novos escaparam. “Mesmo para eles fazia muito esta se tornar muito fechada, isso deve preocupar. Porque esse si-
sentido ter estas pequenas conversas, totalmente irrelevantes. Co- lêncio pode ser uma capa para esconder alguma coisa. Mas depois
meçaram a acusar muito, mesmo a nível comportamental. Mui- também há pessoas com personalidades mais fechadas que sim-
tos ficaram mais agitados, mais agressivos, com uma necessidade plesmente não sentem tanto essa necessidade.” Vai uma conver-
de autorregulação muito superior. Sentiam que lhes estavam a cor- sa de chacha? ● m

36 14.11.2021 Notícias Magazine


A vida como ela é
Margarida Rebelo Pinto
Por

Espelho meu,
espelho meu
O problema é que o mundo Ao ver os quatro míticos suecos em estúdio,
não foi fácil reconhecê-los, embora não este-
atual não permite que jam assim tão diferentes. Claro que não estão,
ninguém envelheça. Talvez são as mesmas pessoas. O que lhes aconteceu
os Abba tenham encontrado é a vida: chama-se envelhecimento.
O problema é que o mundo atual não per-
na digressão virtual a solução mite que ninguém envelheça. Talvez os Abba
ideal para não se cansarem. tenham encontrado na digressão virtual a so-
lução ideal para não se cansarem, e para que a
sua imagem se eternize naquela que o mundo
Não teve uma infância feliz quem não foi à conhece. E agora uma pergunta de um milhão
Feira Popular, não andou na Roda Gigante, de euros: não será essa a imagem que o mun-
não se lambuzou com algodão-doce, não se do quer?
aventurou no Comboio Fantasma e não en- Podemos, através de hábitos saudáveis de
trou na Casa dos Espelhos. vida como dormir bem, comer melhor, prati-
Talvez esta última atração, singela e algo car exercício físico e treinar a felicidade, atra-
torpe, fosse a que me causava mais espanto. sar o envelhecimento e melhorar os dias. E
De espelho em espelho, a minha imagem podemos usar todos os filtros do Instagram
monstrizava-se: ora tinha as pernas como es- para enganar o tempo e a realidade. Existem
tacas, ora o tronco se assemelhava a um co- aplicações para apagar rugas, estreitar a cintu-
queiro, ora a cara parecia uma caraça deforma- ra, alongar as pernas, alterar a forma do nariz,
da que lembrava quadros que já vira e não acrescentar pestanas, cabelo e peito. Tudo
conseguia entender: “As meninas” de Picasso, isto é muito bonito, mas faz-me lembrar a
inspiradas nas de Velázquez, ou “O grito” de Casa dos Espelhos, porque a imagem criada é
Munch.
M uma projeção idealizada, distorcida da reali-
Lembro-me de a abandonar sempre com dade, que torna reféns as cabeças mais fracas.
u
uma vaga sensação de enjoo. A disformidade E parece-me bastante inútil, porque quem
aassustava-me e o ruído confuso e agressivo da nos ama, vê-nos para lá de todos os sentidos.
ffeira não me dava descanso. Em breve, um Quando alguém viveu na nossa cabeça e no
ccondomínio de luxo irá erguer-se naquele ter- nosso coração durante muitos anos e passá-
rreiro que foi palco de memórias da infância de mos algum tempo sem o ver, o primeiro im-
ttantas gerações. Quando levava o meu filho pacto traz-nos a imagem atual, mas rapida-
eem criança, nenhum de nós imaginava que a mente o nosso cérebro regressa ao passado.
Feira Popular ia desaparecer. A geração South
F Instantes depois, aquela pessoa volta a pare-
P
Park tem outra relação com o absurdo, está cer igual à que amámos há 10 ou há 20 anos.
p
preparada para muito mais coisas do que nós. “Estás cheio de brancas, mas o sorriso é o
As suas gargalhadas delirantes ecoam ainda
A mesmo, vejo-te igual”, dizemos com um sor-
n
na minha memória de mãe, perante as suas riso tímido, desejando que o outro também
p
pernas de gigante, os braços de alienígena e as nos veja com o coração.
ccaretas horrendas. O espelho não sabe nada. O amor é que
Quarenta anos depois do seu último grande sabe, incluindo o amor-próprio. ● m
ssucesso – e não foram todos? –, a maravilhosa
banda pop que pôs a Suécia no mapa voltou a
b
ggravar um álbum. O que os fez criar um show
v
virtual para fazer uma digressão mundial dei-
xou-me intrigada. O projeto é baseado na mo-
x
d
derna técnica do “deep fake”: a partir de uma
aagregação de dados visuais e sonoros, é fabri-
ccada uma imagem tão realista que nos faz
aacreditar que Agnetha, Anni-Frid, Bjorn e
B
Benny estão lá.

Notícias Magazine 14.11.2021 37


esti-
los BEM-ESTAR
POR Ana Tulha

LÚPUS:
O CORPO NUMA
LUTA PERMANENTE
Lesões cutâneas, aftas, dores articulares e cansaço
extremo são as manifestações mais frequentes
de uma doença autoimune que afeta
mais de dez mil portugueses.

38 14.11.2021 Notícias Magazine


Foi há mais ou menos cinco anos e meio tida a duas cirurgias oculares. “Porque

PAULO JORGE MAGALHÃES/GLOBAL IMAGENS


que a bracarense Marisa Rodrigues, “Às vezes, tenho a doença destruiu-me a parte muscu-
hoje com 42, se deu conta de que algo de me enfiar na lar, daí a minha dupla visão.” E de seis
não batia certo. “Não estava bem, an-
dava sempre muito desorientada, fi-
banheira, com em seis meses tem consultas, em vá-
rias especialidades. Neurologia, Oftal-
quei com dupla visão, não me lembra- água fria, em mologia, Medicina Interna. Além da hi-
va das coisas, sentia-me sempre muito plena madru- droxicloroquina, que já sabe que vai ter
cansada. Acordava e parecia que já me
tinha passado um camião por cima.” A
gada, porque a de tomar para o resto da vida. “Essa
obrigação até foi o que mais me trans-
angústia levou-a primeiro ao médico sensação que tornou.” Hoje, já se habituou. Ao “can-
de família, depois às urgências do Hos- tenho é que me saço extremo” é que não. Nem às do-
pital de Braga, onde foi vista por um
neurologista. Fez análises, uma resso-
estão a arrancar res, que quando são muito fortes a ar-
rancam da cama a meio da noite. “Às
nância, um leque de exames sem-fim. os músculos” vezes, tenho de me ir enfiar na banhei-
Saiu com diagnóstico de miastenia Marisa Rodrigues ra, com água fria, em plena madruga-
(doença autoimune em que a comuni- Cabeleireira, 42 anos da, porque a sensação que tenho é que
cação entre os nervos e os músculos é me estão a arrancar os músculos.”
afetada). “Comecei a fazer medicação A vida segue, ainda assim. No outro
e melhorei um pouco em relação à de- dia, lá está, de pedra e cal, no salão de
sorientação. Mas algo continuava a não cabeleireiro, “com algum sofrimento
bater certo.” Foi então reencaminha- à mistura”. E mesmo que reconheça
da para Medicina Interna. E, desta vez, menos frequentes, quase sempre mais que nunca mais foi a mesma pessoa
acertaram na muche. Marisa não tinha preocupantes. “A lesão renal, o derra- (“sempre gostei muito de me divertir,
miastenia, mas sim lúpus. Em rigor, lú- me pericárdico (à volta do coração), a de dançar com as miúdas, e agora te-
pus eritematoso sistémico, doença que, epilepsia”, enumera Helena Canhão, nho mais dificuldade”), não se resigna.
de acordo com o EpiReumaPt, um es- também coordenadora da Reumatolo- “Sei que neste momento está contro-
tudo epidemiológico que visou as gia no Hospital CUF Tejo, em Lisboa. Ou lado, mas que a qualquer momento me
doenças reumáticas, afeta 0,1% da po- a pneumonia. Ou mesmo outras mani- pode dar uma crise. Procuro viver um
pulação portuguesa. Cerca de dez mil festações neuropsiquiátricas. dia de cada vez.”
pessoas cujo corpo vive numa perma- Quanto ao tratamento, dependerá E afinal, não se conhecendo uma cau-
nente luta interior. sempre da forma da doença. “É um tra- sa cabal para a doença, quais são os fa-
Helena Canhão, presidente da Socie- tamento muito individualizado, até tores que desencadeiam o surgimento
dade Portuguesa de Reumatologia, ex- porque varia em função do grau de atin- dos sintomas? Desde logo, a questão
plica o problema assim: “É uma doen- gimento do órgão”, salienta Miguel hormonal. “Sabemos que esta doença
ça autoimune, o que significa que a pes- Bernardes. A famosa hidroxicloroqui- é mais prevalente na mulher em idade
soa produz anticorpos contra si própria na (que, de forma enganosa, chegou a fértil, porque o excesso de estrogénio
e contra alguns órgãos. O sistema imu- ser anunciada como forma de comba- agrava a doença. Daí que o aparecimen-
nitário é reativo em demasia e enten- ter a covid-19), os corticoides em baixa to da mesma seja comum durante ou
de como estranhas partes do organis- dose e os imunossupressores estão en- após uma gravidez, por exemplo.” Mas
mo que não o são”. Miguel Bernardes, tre as armas terapêuticas mais comuns. há outros fatores. “Uma exposição so-
reumatologista do Hospital de São João, E o prognóstico é, regra geral, positi- lar não protegida”, por exemplo, avisa
no Porto, detalha. “Resulta fundamen- vo. “Os doentes já conseguem hoje ter Miguel Bernardes. A privação do sol e
talmente de uma incapacidade de o or- uma esperança média de vida muito a proteção solar são, por isso, trunfos
ganismo remover os detritos da morte próxima do que seria expectável [se não fundamentais. Já agora, os alimentos
celular. Estes resíduos acabam por se tivessem a doença], desde que tenham ricos em vitamina D, como os peixes
depositar em vários tecidos – a pele, os um seguimento e um tratamento ade- gordos, também.
rins, os pulmões, eventualmente o cé- quado pela especialidade.” O que é bem Helena Canhão, professora na Nova
rebro – , gerando uma hiperestimula- distinto de viverem como se nada fos- Medical School, da Universidade Nova
ção do sistema imunitário contra as se. “É uma doença que impacta muito de Lisboa, acrescenta uma outra nuan-
moléculas do próprio corpo.” na qualidade de vida, porque o cansaço ce. “O surgimento do lúpus também
Estamos, portanto, perante uma pa- é frequente e as terapêuticas muitas ve- está relacionado com o stress e os even-
tologia “multissistémica, muito hete- zes não resolvem. Em certos casos, as tos de vida. É comum manifestar-se
rogénea”, que se pode traduzir numa pessoas aguentam muito mal a jornada após a morte de alguém próximo, por
variedade de sintomas. Os mais comuns contínua de trabalho, porque têm alte- exemplo, quando há uma certa descar-
são as lesões cutâneas (ora pequenas rações neurocognitivas que afetam a ga emocional.” E predisposição gené-
manchas vermelhas, ora uma erupção atenção, a capacidade de concentração tica? “O que sabemos é que há famílias
no rosto que dá a sensação de existir e a memória”, relata o clínico. que têm tendência para ter doenças au-
uma máscara debaixo dos olhos e que toimunes. Em alguns casos, vai mani-
dá pelo nome de “rash malar”), as aftas, Uma questão de hormonas festar-se sob a forma de artrite reuma-
as dores articulares, o cansaço, a sensa- Marisa percebe-o bem. Desde que lhe toide, noutros sob a forma de tiroidite,
ção febril. Mas há outras possibilidades, foi diagnosticado lúpus, já foi subme- noutros sob a forma de lúpus.” ● m

Notícias Magazine 14.11.2021 39


esti-
los

HRASKA - STOCK.ADOBE.COM
RECEITAS 2 EM 1
POR Ana Bravo
Nutricionista, autora e blogger (Nutrição com Coração)

TODOS OS MESES,
AS MINHAS RECEITAS TÊM
UM ALIMENTO EM DESTAQUE.
EM NOVEMBRO É O KIWI

Nativos do sul da
China, os kiwis
apresentam uma casca
fibrosa, acastanhada,
coberta de pelos, com
polpa suculenta (verde
ou amarela) e com
sabor agridoce.
Trata-se de uma planta
de clima temperado,
sendo produzida
em várias regiões
do Planeta, incluindo
no nosso país.
Há algumas variedades,
PUDIM INGREDIENTES Preparação ❶ Misturei as se-
por exemplo a
mentes de chia com a bebida ve-
designada de baby kiwi,
DE CHIA 200 ml bebida de amêndoa
2 colheres de sopa (rasas)
getal e deixei repousar durante
a noite (ou pelo menos três ho- que é mais pequena
COM KIWI de sementes de chia
1 kiwi
ras, mexendo de vez em quan-
do durante a primeira hora).
e cuja casca não
1 colher de café de mel (opcional) ❷ Descasquei o kiwi e cortei apresenta pelos. É mais
Compõe um lanche 2 colheres de sopa de aveia puff metade em rodelas e metade em doce (menos ácido do
ou um pequeno-almoço (para servir) cubos. ❸ Servi o pudim com o que os seus parentes de
kiwi, a aveia puff e mel.
e marca a diferença maior tamanho, com
em textura, sabor e composição nutricional
composição nutricional. semelhante).
Pode dar-lhe um toque
especial, aromatizando-o Uma pessoa
com raspas de citrinos 3 horas
ou especiarias. Fácil

40 14.11.2021 Notícias Magazine


NAS BANCAS

CORRIDA
LEVAR AS SAPATILHAS
NA MALA E DESCOBRIR Polónia
O MUNDO perseguir a história,
com José Luís Peixoto

Nantes
viagem ao centro da
terra de Júlio Verne

Natureza
a vida selvagem em
fotos incríveis

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Ambiente
os indígenas que salvam
o Planeta
OU WWW.VOLTAAOMUNDO.PT
esti-
los IDEIAS
POR Sara Dias Oliveira

SÃO JOIAS,
SENHORES,
SÃO JOIAS
Anéis, pulseiras e colares de prata, simples
e minimalistas, em duas coleções exclusivas.
O designer Filipe Fonseca criou a I Cognito
para homens com atitude, personalidade
vincada, que gostam de arriscar.

A meio da primeira quarentena, com partida para


mais disponibilidade para assentar linhas mini-
ideias e tempo para traçar outros pla- mais, mas ro-
nos, Filipe Fonseca, designer de joalha- bustas, aca-
ria, começou a magicar uma nova mar- bamentos com
ca de joias. O desejo de ter um projeto personalidade;
diferenciador e as cogitações em torno e a “6”, número
de um Mundo em suspenso, devido a que simboliza a
uma pandemia, misturaram-se nos dias estabilidade, a
e meses e a I Cognito acabaria por sur- segurança e
gir. Uma marca de joalharia masculina co n f i a n ç a ,
que se materializou em peças lançadas numa simbio-
em junho deste ano. À venda online e se entre o céu e
ao vivo no espaço Filipe Fonseca a Terra. Coleção foca-
Jewellery, no WOW (The World of Wi- da no equilíbrio com
ne), em Vila Nova de Gaia. peças de seis faces, hexá-
O conceito tinha alicerces estrutura- gonos irregulares. Ainda
dos, Filipe Fonseca sabia o caminho que neste ano, Filipe Fonseca
queria pisar, o batismo seria a preceito. espera lançar mais duas co-
“I Cognito significa saber, conhecer, leções, uma delas no final
ter perfeita noção de tudo. Eu sei quem deste mês, com frases de auto-
sou, quem quero ser, como quero estar. res portugueses, Fernando Pes-
É um grito de certeza para quem usa as soa, José Saramago, Sophia de
peças”, conta. É uma questão de con- Mello Breyner, gravadas em joias
fiança, de autoestima, de bem-estar. “É de maior dimensão.
uma marca que apela à autenticidade, Individualidade, bom gosto,
à personalidade vincada e ao arriscar”, autenticidade, ousadia, atitude,
sublinha. são palavras que se misturam nas
São anéis, colares, pulseiras em pra- joias masculinas que Filipe dese-
ta, desenhos e protótipos feitos pelo nha a pensar em quem aprecia
designer, produção em Gondomar, aca- uma linguagem sóbria, mas forte,
bamentos que revelam o caráter de sem grandes artifícios, e se sente
quem usa as joias nos dedos, no pulso bem na própria pele. É este o ADN da
ou ao pescoço. “Um acabamento poli- marca.
do acaba por ter mais destaque e dar Conforto e afirmação com anéis mais
mais brilho, um acabamento mate é finos ou mais grossos, com um ou mais
mais discreto”, refere o designer, que fios ao pescoço, com os pulsos vestidos.
estudou a arte na Escola Artística Soa- “Basta a simplicidade para marcar, mar- M Filipe Fonseca conta
LEONEL DE CASTRO/GLOBAL IMAGENS

res dos Reis, no Porto, e voltou à área car pela diferença, marcar a nossa iden- lançar mais duas
há cinco anos. “Tudo muito discreto e tidade e a nossa imagem.” As peças an- coleções ainda neste ano,
muito minimalista”, acrescenta. dam entre os 45 e os 280 euros. São uma delas com frases
Neste momento, a I Cognito tem duas joias, senhores, são joias para quem, re- de autores portugueses,
coleções exclusivas.A “I”, centrada no eu, força o designer, “se sente à vontade, como Pessoa, Saramago
na consciência de quem se é, na autocons- tem vontade de arriscar e marcar pela e Sophia, gravadas em
ciência masculina que serve de ponto de diferença”. ● m joias de maior dimensão

42 14.11.2021 Notícias Magazine


PASSATEMPO
POR Marisa Silva

MUITOS PRÉMIOS

MARIÁN ŠICKO/PEXELS
PARA OS SEUS
PATUDOS
Há momentos únicos,
entre donos e animais,
que merecem ser
eternizados. Para dar a
conhecer algumas dessas
aventuras, o “Jornal de
Notícias” e a “Notícias
Magazine” uniram-se
ao all4pets na promoção
do passatempo “Amigos
Felizes”, em que as estrelas
são os patudos. O desafio
é simples: as famílias têm
de gravar, num pequeno
vídeo, um momento original
e divertido protagonizado
pelo cão ou gato de
estimação, e partilhá-lo
no TikTok. A submissão
e votação dos vídeos
arrancou a 31 de outubro
e decorre até 30 deste
mês. Para tentar a sua
sorte, basta partilhar
os vídeos no TikTok,
identificando-os com
@AMIGOSFELIZESALL4PET
S e com a hashtag

NOVO LAR COM VELHAS #amigosfelizesall4pets.


Depois, é aguardar pelo
encerramento da votação

ROTINAS AJUDA ANIMAIS online, também no próximo


dia 30. Os premiados –
conhecidos a 5 de
dezembro nos sites do JN
Mudar de casa nem sempre é um processo fácil, e quem tem cães e da NM – serão os três
ou gatos deve ter cuidados especiais. Manter os hábitos dos patudos vídeos concorrentes com
mais “gostos”,
é fundamental, mas há mais alguns detalhes a ter em atenção. que receberão inúmeros
prémios: uma garrafa
Mudar de casa pode ser um processo de- ções de comportamento nos animais. dual. “Devemos escolher um espaço na com 900 ml de dois
safiador. A par das arrumações e da bu- Embora não haja fórmulas mágicas, nova casa com sol, luz e alguma visibi- compartimentos (para
rocracia inerente à alteração de mora- até porque cada caso é um caso, há tru- lidade para o exterior. Depois, aos pou- alimentos e bebidas) e
da, o período de adaptação à vizinhan- ques que podem ajudar a facilitar a cos e poucos, aumentamos o espaço”, um fecho de segurança,
ça e ao novo lar nem sempre é fácil. E até adaptação de cães e gatos ao novo lar. aconselha Ilda Gomes Rosa, alertando uma tigela dobrável com
os animais de estimação podem sofrer Manter as velhas rotinas é essencial. que, antes da mudança, também há mosquetão de fixação em
com as alterações, principalmente os “Podemos colocar na nova casa um di- procedimentos a cumprir: “Devemos metal, uma bola, um lenço
felinos. Se para os cães, por norma, o fusor de feromonas para cães e gatos 48 começar a confinar o gato durante al- coleira, um dispensador
mais importante é ter o dono por per- horas antes da mudança para lhes dar gum tempo num espaço para se desa- de sacos para animais de
to, o caso muda de figura nos gatos. uma sensação de maior segurança. No bituar ao grande território que teve”. estimação, uma medalha
“O gato vê o seu território como uma caso do cão, podemos levá-lo para o O transporte para a nova casa é outro para coleira e uma bolsa
condição extremamente importante novo espaço enquanto fazemos mu- detalhe a ter em atenção. As especialis- mochila. Ao cabaz do
para se sentir bem”, explica Ilda Go- danças para ele se ir habituando”, su- tas sublinham que cães e gatos devem vencedor acresce ainda
mes Rosa, docente de comportamen- gere Mónica Roriz, médica-veteriná- viajar dentro de uma transportadora banho e tosquia. Aos três
to e bem-estar animal da Faculdade de ria no Grande Porto e especialista em adequada. “A transportadora não deve premiados, o all4pets
Medicina Veterinária da Universida- comportamento animal. estar escondida, deve fazer parte do oferece também um
de de Lisboa, relatando que as mudan- No caso específico dos gatos, a explo- meio ambiente do animal”, frisa Mó- desconto num
ças podem provocar ansiedade e altera- ração das novas divisões deve ser gra- nica Roriz. ●
m seguro animal.

Notícias Magazine 14.11.2021 43


esti- ESCALA

los
Carolina

DE SCOVILLE
Reaper
1 569 300
a 2 200 000
A Escala de Scoville,
SABORES que se mede
POR Sara Dias Oliveira em unidades
de calor Scoville

MALAGUETA
(Scoville Heat
Units ou SHU),
é usada para avaliar
Chocolate
o grau de ardência
Habanero

O VERSÁTIL das malaguetas 300 000


a 577 000

PICANTE
De várias cores, travos ligeiramente diferentes, ASSUSTADOR
ora mais intensos ora mais discretos, em pratos Mais de 1 500 000
salgados e doces. Um condimento que acentua
sabores, abre o palato, e que pode chegar
ao nariz. Para usar q.b., portanto.

É um fruto pequeno e esguio, ver- muito mais arriscado.”


melho, verde, amarelo, com outros Lídia Brás, do Stramuntana, restau-
dégradés, que carrega dentro de si rante em Vila Nova de Gaia, não es-
ARDENTE
sementes que são uma explosão de quece as suas origens transmonta- 500 000-1 500 000
sabor. Picante, claro. Em pratos sal- nas. Picante que é picante é a mala-
gados, carnes e peixes, diretamen- gueta que se usa em Trás-os-Montes
te no tacho, em guisados, assados, na adoba de vários enchidos, na mis-
grelhados, em molhos de acompa- tura que entra na tripa, no borrego
nhamento. Em doces, chocolates e guisado no pote e que ajuda a ama- Habanero
bombons, bolos e tartes, trufas e ciar o sabor intenso da gordura da car- Orange
brownies, gelados e panacotas, com- ne, no molho que acompanha as bo- 150 000
a 350 000
potas e geleias. Em cocktails e no gin gas fritas nas aldeias na foz do rio Sa-
tónico também. Malagueta em qua- bor. “A malagueta ajuda a intensifi-
MUITO QUENTE
se tudo o que se quiser. Há quem a car o sabor”, afirma. Sejaa nos salga-
100 000-500 000
coloque no pão de milho. É um piri- dos, comum por cá, seja nos doces, Fatalii
píri multifacetado que quer sol para emesas por-
menos habitual nas sobremesas 125 000
crescer e sabedoria no trato. Atri- tuguesas. a 325 000
buem-lhe poderes afrodisíacos e be- “Uma compota de malaguetagueta é uma
nefícios na saúde por acelerar o me- coisa fantástica, tanto podede acompa-
tabolismo. O travo, esse, é intenso, nhar um prato de carnee grelhada,
robusto, quente. doce, como
dando aquele travo agridoce,
A chef Marlene Vieira, do Zunzum um queijo duro de ovelhaa de Trás-os-
Gastrobar, em Lisboa, e do Food Cor- -Montes.” Numa feijoada, a, e na dose
ner no Time Out Market, também gualmente
certa, a malagueta é igualmente QUENTE
50 000-100 000
na capital, conhece as capacidades bem-vinda. “Não abafa o resto dos in-
do condimento que usa com parci- os”, garante
gredientes, intensifica-os”,
mónia na sua cozinha. “A malague- Lídia Brás. “E cada garfadaa é diferen-
ta é um tempero que ajuda a equili- te, consoante se apanha malagueta
brar e a criar harmonia num prato”, zinheira usa
ou não”, acrescenta. A cozinheira
define. No nosso país, a sua versati- sobretudo a vermelha, mais carnu-
lidade é conhecida essencialmente da, cortada, com uma certa rta quanti-
nos salgados, manuseada de diver- dade de sementes consoante nteoprato
o prato.
sas maneiras conforme o gosto de “Não existe uma fórmula, temos de
cada um. “Abre mais os sabores, in- ver o tamanho da malagueta que va- APIMENTADO
tensifica-os, acentua-os. O picante mos utilizar.” As verdes corta-as às 2000-50 000
ajuda a que os outros sabores ga- rodelas, tira-lhes as sementes, usa-as
nhem mais relevância, mais inten- para decorar um prato de carne gre-
sidade.” Ativa o retrogosto, atrás da lhada, por exemplo.
língua, aquela sensação de gosto e de Malagueta a gosto, sim, mas com
cheiro e, por isso, pode chegar ao na- moderação. A chef Marlene Silva avi-
riz. Nos doces, por cá, o uso é bastan- sa que a malagueta não substitui o sal,
IMAGENS: ADOBE STOCK

te regrado com o gengibre a tomar- são coisas diferentes, e aconselha


Scotch
-lhe a dianteira. “Na pastelaria, ain- ponderação. “O picante pode tornar- Bonnet
da não está muito presente, ainda -se um vício, como o açúcar. Quanto FRIO 100 000
não é muito consumida, o seu uso é mais se consome, mais se gosta.” ● m 0 a 325 000

44 14.11.2021 Notícias Magazine


DECORAÇÃO

FOTO: FREEPIK.COM
POR Sara Sofia Gonçalves

HARMONIA
COMO
TENDÊNCIA GATO PRETO
As cores intemporais nunca saem de moda, Luz néon
34,95 euros
mas há novas apostas. O importante é garantir
a coerência do espaço, sem decoração excessiva.

O Natal está à porta e as decorações já bém uma preferência, principalmen-


começam a invadir as casas. Os intem- te entre os mais novos, por árvores ori-
porais vermelho, verde e dourado são ginais ou mais estilizadas. Podem
sempre tendência, mas todas as cores usar-se diversos materiais para impro-
podem ser usadas, desde que em har- visar o formato de pinheiro, como bo-
monia com o design e ambiente do es- las suspensas do teto ou pedaços de MAISONS DU MONDE
Vela perfumada
paço. Este ano, o protagonismo vai para madeira, dispostos em forma de triân-
12,99 euros
o azul, o branco e o rosa velho, de acor- gulo numa parede, exemplifica Cláu-
do com Cláudia Esperanço. dia Esperanço.
A decoradora responsável pela Domum Nos acessórios, a tendência é espalhar HOMCOM
Árvore
Interiores fala de uma “crescente pro- por vários espaços os tradicionais aros
102,99 euros
cura por uma decoração natalícia que ou coroas de Natal, que deixam de enfei-
combine com os tons da sala”. O obje- tar apenas a porta exterior e passam a
tivo é manter o conforto e a harmonia. brilhar noutros locais da casa, “como
“Dentro de portas deve haver muita centros de mesa ou a parede da sala”. In-
luz, sem excesso de decoração, propor- temporais e indispensáveis são sem-
cionando um ambiente agradável”, pre as luzes, as velas e o presépio, “mes-
aconselha a profissional. mo que não seja o tradicional”.
Apesar de haver novos formatos de No exterior, “predominam as cores
árvore de Natal, “o modelo clássico tradicionais e as luzes são o elemento-
HÔMA LA REDOUTE
ainda é o que predomina”, observa a -chave”, realça a consultora na área da Bolas decorativas (conjunto) Luzes led
decoradora. No entanto, nota-se tam- decoração. ●m 3,99 euros 19,99 euros

Notícias Magazine 14.11.2021 45


esti-
los LUXO
POR Sara Oliveira
TOM FORD 420 euros

DIOR 470 euros


YVES SAINT LAURENT 375 euros

BURBERRY 390 euros


VERSACE 290 euros

GUCCI 330 euros

À MÃO E BEM
ARRUMADOS
O dinheiro de plástico domina o quo- racolo ou ao pescoço, com
tidiano e até os principais documentos alças amovíveis para que
de identificação se resumem a retân- caibam numa bolsa maior,
gulos do mesmo tamanho que, em car- sem nunca ocupar muito
teiras grandes, se perdem entre talões espaço ou pesar.
e outros papéis. O ideal é arrumá-los à De tecido ou de couro,
medida e com classe. não falta por onde escolher, de
O porta-cartões começou por ser mais propostas mais sóbrias a outras
usado pelo público masculino – nos bol- com pormenores mais arrojados,
sos dos casacos, das camisas ou das cal- sempre sem descurar, claro, a pra-
ças –, mas as tendências lançaram as ticidade.
mini-bags ou as microcarteiras entre Os porta-cartões em pele são os
as preferências das mulheres que tam- mais procurados. Com acabamen-
bém o adotaram, aliando o estilo ao lado tos de luxo, tornam-se símbolo de
mais funcional. algum estatuto, apetecendo trazê-
Há modelos que se usam mesmo a ti- -los à mão e à vista. ●
m

46 14.11.2021 Notícias Magazine


MOTORES
POR Reis Pinto
HONDA CIVIC TYPE R:
EM PISTA TODOS OS DIAS

Herdeira de uma longa A atual geração do Type R já leva cinco anos no


linhagem de desportivos, mercado (o novo modelo deverá surgir no final do
próximo ano), mas continua a ser apaixonante de
a quinta geração do Honda conduzir. De estética discutível e com fraca
Civic Type R continua a presença sonora, começa por impressionar nos
proporcionar emoções números : motor 2.0 turbocomprimido; 320 cava-
(bem) fortes. los e 400 Nm de binário. Ao volante mostra como
deve ser um desportivo (quase) sem concessões.
Direção comunicativa, chassis e suspensões afina-
dos para eficácia máxima e uma caixa de velocida-
des de tato único, com um curso bastante curto e
uma precisão notável, contribuem para fazer do ❶ Consumos são adaptativa, Rev
Type R um “brinquedo” altamente recomendável. Sem ser um carro eco- Match, entre outros
Arrancando sempre em modo Sport (existem nómico, os 8,8 l/100 km itens.
ainda o Comfort, ideal para o dia a dia e o R+, que de média com que con-
desliga as ajudas eletrónicas e só deve ser usado em cluímos o ensaio não ❸ Garantia
pista), o Type R é uma máquina de devorar curvas, são escandalosos. O Civic Type R oferece
que gosta de ser castigado sem nunca se queixar. uma garantia de sete
Difícil perceber onde estão os limites deste carro, ❷ Equipamento anos, sem limite de qui-
que os nossos chegam bem depressa... Curiosa- De série traz jantes de lómetros, que inclui
mente, o Type R também tem o seu lado familiar, 20 polegadas, faróis assistência em viagem.
com um interior espaçoso e uma grande bagageira. LED, volante em alcân-
Preço a partir de 53 960 euros. ●m tara, baquets, suspen-

Notícias Magazine 14.11.2021 47


esti-
los
A REGIONALIZAÇÃO DE
“O MELHOR CROISSANT
A SAIR DA MINHA RUA”
Depois de 14 espaços na
Grande Lisboa, “O Melhor
Croissant da Minha Rua”
rumou ao norte e abriu
portas no Porto e em
Guimarães. Para além do
simples, os clientes podem
contar com 14 recheios
diferentes – sete doces,
seis salgados e uma edição
limitada que muda todos
os meses. Segue-se Braga.

UM JARDIM RECHEADO MINUCIOSO E


DE FLORES ESPECIAIS EQUILIBRADO
A Bambino Mio acaba de lançar Produzido a partir de
a coleção Pequenos Jardineiros, uvas colhidas à mão
disponível em toda a gama de na vinha mais velha
fraldas reutilizáveis, sacos da Quinta Dona Matilde,
impermeáveis, tapetes muda- com mais de 90 anos e
-fraldas e muito mais. A marca, cerca de 30 castas tradi-
que em 2022 comemora 25 cionais do Douro, acaba
anos, continua a ter como de ser lançado o Dona
cartão de visita produtos Matilde Vinha do Pinto
de qualidade desde o nasci- 2019. Um tinto de aroma
mento ao desfralde. intenso, equilibrado e
elegante, com fermen-
tação e envelhecimento
(18 meses) em cuba
de inox.

ARTESANAL
E INTEMPORAL
Linhas depuradas e intemporais
marcam a nova coleção de mobi-
liário de Luísa Peixoto Design. BANG & OLUFSEN COM NOVO
Peças feitas à medida, símbolo ESPAÇO NA CIDADE INVICTA
de uma marca com mais de duas
décadas de vida e que continua A Bang & Olufsen by GMS mudou de
a homenagear a essência das casa no Porto. A nova loja, na Avenida
matérias-primas, a exclusivi- da Boavista, possui características
dade, a qualidade e os detalhes. técnicas que possibilitam ao cliente
Com showroom na Rua do experienciar os produtos daquela que
Campo Alegre, no Porto, garante é uma marca emblemática na associa-
que cada elemento produzido é ção do design à qualidade do som
uma experiência para os sentidos. e da imagem.

48 14.11.2021 Notícias Magazine


HORÓSCOPO
POR Isabel Guimarães
Astróloga — ISAR/CAP

ANIVERSÁRIO
15 a 21 de novembro

Carneiro Touro Gémeos Caranguejo


21.03 a 20.04 21.04 a 21.05 22.05 a 20.06 21.06 a 22.07

Aproveite para expres- A sua vida afetiva pode- As conversas podem As obrigações podem es-
sar o que sente de forma rá passar por desafios provocar dor e até algu- tar a exigir muito do seu
cautelosa e séria, prote- que precisa de enfren- ma manipulação in- tempo. Tenha cuidado,
gendo-se de eventuais tar, mostrando o que consciente. Por isso, pois não deve descuidar
mágoas nos relaciona- sente sem receio de per- procure esclarecer o os momentos passados
mentos. O passado da ou rejeição. Poderá que tem provocado so- com o parceiro. Semana
e o presente podem cru- ter de lidar com algo que frimento. Arrisque um intensa no que se refere
zar-se e provocar dor. estava escondido no seu novo começo se souber a memórias do passado.
Não disfarce, nem fuja. inconsciente. Encare libertar-se do passado Procure entender e con-
Reencontrar alguém novos objetivos de for- e mudar o padrão emo- trolar o impulso antes
pode servir de cura. ma mais confiante. cional. de decidir.

Jonny Lee Miller


Ator, 48 anos

Jonathan Lee Miller é um ator


nascido a 15 de novembro de 1972
Leão Virgem Balança Escorpião no Reino Unido. De signo solar
23.07 a 23.08 24.08 a 22.09 23.09 a 23.10 24.10 a 22.11 Escorpião, o regente no signo
Balança confere-lhe uma personali-
Precisa de se focar na Tenha em atenção as Poderá sentir maior difi- Aproveite para colocar dade que gosta de expressar as
mudança, que poderá mudanças inesperadas. culdade em obter os re- em prática a criativida- opiniões e crenças com honesti-
trazer melhores resulta- Saiba lidar com as situa- sultados a que se propôs de. Altura de planear dade e clareza e, da mesma forma,
dos do que esperava. Ar- ções, de forma a não e precisar de ajustar com maior antecedên- recebe as opiniões dos outros com
risque. Até porque a for- perder oportunidades, contratos e promover cia a habitual exigência entusiasmo. Essa capacidade de
ça pode ser bem direcio- mas também sem agir reuniões. A família que tem em matéria de comunicar leva-o a partir em busca
nada, embora com al- por impulso. Promova e a vida afetiva exigem finanças. Será necessá- de novos horizontes, com conheci-
guns períodos de ten- diálogos, escutando mais atenção. Numa se- rio assumir o domínio mentos que expandam a natural
são. Não julgue o que os os outros e expressando mana de desafios, adap- da situação. Há que fe- curiosidade.
outros dizem. Evite que a sua opinião. Esqueça te hábitos e aposte char processos para,
estraguem o seu humor. as más memórias. Rela- numa maior disciplina. com serenidade, abrir
Divirta-se. xe e aproveite. Cuide da saúde. um novo ciclo. PLANETAS
Semana influenciada pelo Eclipse Lunar
de Touro com a presença de Úrano
em oposição a Marte, e ainda Mercúrio
nesta fase lunar. Período para haver
uma certa tendência de perdemos equi-
dade e tolerância. Muita tensão provo-
Sagitário Capricórnio Aquário Peixes cada por pressões externas que nos
23.11 a 21.12 22.12 a 20.01 21.01 a 18.02 19.02 a 20.03 surpreendem, levando a mudanças
inesperadas. Instituições, empresas
Ajuste a estratégia, de Semana de profunda re- Altura de valorizar os Há que sentir maior se- e até mesmo quem governa podem
forma a alcançar os ob- flexão no trabalho, mas relacionamentos que gurança nos seus recur- deparar-se com um abalo nos seus
jetivos. Há memórias também precisa de se permitam maior segu- sos, nos seus valores e recursos e sentirem-se de alguma
do passado que preci- focar na vida afetiva. rança. Estruture as suas na capacidade de aceitar forma pressionados pelo povo, que
sam de ser resolvidas. Os assuntos de família escolhas e entre numa as diferenças sem julgar. reclama os seus direitos. Uma fase em
Não fuja ao que sente, podem trazer recursos fase da vida afetiva, Sentirá maior pressão que a própria Terra continuará a mani-
mas mantenha um ca- inesperados – há que es- acreditando que poderá externa e terá dificulda- festar-se. Flexibilidade e reflexão serão
nal de comunicação tar recetivo. Confie na ultrapassar algumas res- de em focar-se nos obje- muito necessárias.
aberto para todos aque- sensibilidade e não se trições e resgatar a liber- tivos. Prepare-se para
les que de alguma forma deixe abalar por tensões dade perdida. Está com encontrar novos conhe-
o desiludiram. externas. necessidade de viver. cimentos.

Notícias Magazine 14.11.2021 49


cró-
nica LEVANTE-SE
O RÉU
POR Rui Cardoso Martins

ILUSTRAÇÃO: JOÃO VASCO CORREIA

O ESTRANHO CASO
— Vou ser muito sincero. Houve coisas aí que disse, e há outras coisas
que é mentira. Alguma resposta aí é porque eu chegava a casa e ela dizia
que eu cheirava mal, que só ‘tava bem era a fazer vida com as putas da rua.

DOS TRIGÉMEOS
— Chamou-lhe puta ou não?
— Não, não, eu disse que “putas devem ser é as tuas amigas”.
— “Não vales nada.”
— Isso disse. Porque ela me dizia sempre que eu não valia nada, que
era um nojento, que era um porco.
Um mal nunca vem só, e nem esse segundo mal é suficiente – não há duas — E “tu queres é mamar na picha”?, continuava a procuradora.
sem três. Mas estou a fazer futurismo com a sina, o destino, de uma fa- — Isso é mentira.
mília só porque eles são trigémeos e lá têm o seu feitio. Um tripé de be- A sala escurecia de palavras sujas.
bés em carreirinha na mesma maca, num desauspicioso dia de 1983, na — “Vais ficar sem casa e sem o nosso filho”, disse ou não?
maternal, mas corriqueira, freguesia de São Sebastião da Pedreira. — Ela nunca podia ficar sem casa, porque a casa era dos dois.
— Tem filhos?, perguntou a juíza. — “Metes-me nojo e desaparece.”
— Tenho um, graças a Deus. Vai fazer cinco anos em Dezembro. Ape- — Isso disse.
sar do que aí vem escrito, o meu filho sempre viveu comigo. Alberto contou que vivera em Angola com a mulher, emigrados. A pro-
O que vem ali escrito foi dito por ele e não é bonito. O homem entrou curadora levantou as sobrancelhas, a juíza fez o mesmo.
na sala de máscara azul pandémica, mas numa camisa cor de laranja tão — Peço desculpa... este senhor não é aquele que esteve cá há muito
faiscante que parecia a metade de um macacão de assassino algemado pouco tempo e que esteve casado com uma rapariga também de Angola
em filme americano. Deve vestir macacão azul no trabalho, é mecânico com quem...?
de automóveis. O homem disse logo, por entre a máscara e sob a espes- — Não, não, interrompeu o homem, é meu irmão.
sa testa e o cabelo escuro: — É irmão!, gritou o advogado de defesa.
— Eu posso falar! — Seu irmão?
Acusado de violência doméstica, queria esclarecer que disse umas coi- — É irmão gémeo, somos trigémeos! Três gémeos... vitelinos.
sas e outas não, eram invenção da ex-mulher, mãe do filho. — E também foi para Angola..., suspirou a juíza.
— Agressões físicas não cometi. Eu só lhe respondia. — Não, não esse foi para Moçambique.
Começou então a peneirar o que lhe dizia respeito. Mesmo não tendo O segundo gémeo emigrou para o mesmo continente e fazia o mesmo
batido na ex-mulher, não foi bonito. Preparai-vos, leitores que tendes à mulher (de Angola à contracosta...) Iguais, de corpos morenos e com-
ouvidos e cérebro e, por assim dizer, moral. pactos, fruto do mesmo zigoto. Já o terceiro, nascendo ao mesmo tem-
— O meu filho era o primeiro a entrar na creche e o último a sair, às seis. po, era alto, ruivo e magro. No fim, a ex-mulher não quis falar porque já
Eu chegava a casa do trabalho às oito e ele sempre a chorar atrás da por- se divorciou e fala com ele “cordatamente”. Decidiu não complicar a vida
ta, sem banho e sem jantar. e crescimento do filho, e a procuradora, sem provas, pediu a absolvição
Então, a procuradora começou a enunciar as conversas em casa: de Alberto.
— Disse ou não disse à sua mulher: “Tu queres é mamar na picha, és Ao saírem, disse “ai são tão iguais” e a juíza desafiou o advogado:
uma maluca, uma descompensada, vais ficar sem o nosso filho, vais fi- — Quando vier cá com o terceiro, já sabe o que dizer...
car sem casa, vais ficar sem nada, metes-me nojo e desaparece”? Ou en- — Sotora, eu, se tiver de vir com o outro trigémeo, há-de ser por outro
tão: “Já tenho outra pessoa para me mamar na picha e é mais nova do que assunto. E bem mais grave!
tu”. E ainda: “És uma puta, pior do que as putas da rua, as mulheres com Ó vidas triplas.
quem te traí eram melhores, metes-me nojo, tenho desgosto que sejas
mãe do meu filho, dou-te um borracho”. Isto foi resposta a quê, senhor
Alberto? O AUTOR ESCREVE DE ACORDO COM A ANTERIOR ORTOGRAFIA.

50 14.11.2021 Notícias Magazine


AMIGOS
FELIZES
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para o seu amigo de 4 patas.
CIPE
PARTI
JÁ! e
e e vot
Partilh dia
até ao mbro
ove
30 de n

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@AMIGOSFELIZESALL4PETS #amigosfelizesall4pets
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Divulgação dos premiados a 5 de dezembro em jn.pt e em noticiasmagazine.pt

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