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Sinopse
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40
Capítulo 41
Capítulo 42
Capítulo 43
Capítulo 44
Epílogo
Nota da autora
Agradecimentos
Olho pela décima vez para o meu aparelho celular, desde que
meu nome verdadeiro veio à tona, as editoras de todos os cantos mais
remotos do País começaram a encher minha caixa postal com ofertas
de publicação.
Meu gato solta um miado e corre para fora do quarto. Nem eles
aguentam mais toda a agitação que a nossa vida se tornou.
Fui criada pelos meus avós paternos, vivi a maior parte da minha
vida em Weymouth, uma cidade costeira, no interior do Reino Unido.
Há alguns meses eu me mudei para Londres, a fim de conseguir mais
oportunidade de trabalho. Exerci algumas profissões nesse meio
tempo, até que descobri a escrita, em um dia, frustrada pela falta de
dinheiro e oportunidades, comecei a escrever com uma garrafa de
tequila ao lado, e publiquei, sem expectativas, o meu romance erótico.
No outro dia, cem mil leituras em poucas horas.
Ouço meu celular tocando mais uma vez, estou prestes a guardar
os meus bons modos na gaveta e mandar para a puta que pariu o editor
insistente, quando vejo o número na tela.
Atendo em um piscar de olhos.
Ela coloca a mão na frente da câmera, não consigo ver mais nada.
Ouço alguns ruídos e, finalmente, consigo ver o seu rosto.
Sou uma péssima neta, eu sei. Mentir é pecado, ainda mais para
os próprios avós.
— Você está dando comida demais para esses gatos, estão cada
vez mais gordos — reclama.
Meus avós não são ricos, vivem da aposentadoria. Por mais que
eles insistam em me mandar dinheiro, eu sou enfática em negar a sua
ajuda. Eles já fizeram muito por mim, agora merecem descansar e
aproveitar a vida.
Não estou tão preocupada, por ora, com isso. Com os Royalties
que tenho ganhado, consigo me manter incrivelmente bem. Além do
mais, não sou uma consumista, sempre fui muito econômica. Gosto de
comprar roupas e me vestir bem, mas isso não significa que eu saia
por aí me endividando em lojas.
Olho para os lados e vejo que toda a atenção está sobre mim.
Fiquei tão perdido em pensamentos, entoando mentalmente súplicas
para o término da reunião, que nem percebi quando aconteceu.
A última vez que eu andei com uma das minhas empregadas, ela
fez um pequeno escândalo na recepção, exigindo mais atenção de
mim. Foi demitida e bloqueada da minha vida na mesma hora. Desde
então, procuro mulheres que estejam o mais longe possível do meu
ambiente profissional.
Olho mais uma vez para o espelho e não reparo em nada fora do
normal. Sinto a minha testa franzir em desentendimento.
— Para casa.
— Lacrimosa.
— Enrico? — grito.
Nada.
Entro em alguns cômodos a sua procura. Enrico sempre avisa
quando vai sair ou deixa algum bilhete. Desde que nossos pais
morreram, eu temo pela sua segurança, apesar dele já ser um homem
formado com vinte e três anos.
O garoto, pois para mim ele sempre será um, está com o seu
leitor de livro, mais conhecido como Kindle. Enrico não é adepto ao
trabalho, gasta a nossa herança com roupas e livros.
—Vou sair essa noite, não tenho hora para retornar — aviso.
— Eu tenho muito mais o que fazer do que ficar lendo esses seus
romances tolos.
Céus!
Meu corpo grita por alguma coisa, mas estou tão perdido em
desespero e horror que não consigo identificar o que é exatamente.
Percebo, quase tarde demais, que eu preciso de ar.
— Você fala como se fosse muito mais velho. Olhe só para você,
Vito, tem apenas trinta e dois anos e já age como um homem de
cinquenta — zomba. — Se não levar a vida mais levemente, logo,
logo, suas rugas vão piorar.
Fico boquiaberto.
Oh, Céus! Isso deve ser praga de alguma mulher que não liguei
no dia seguinte.
Eu estou acabado. A garota simplesmente comparou o meu pênis
com a droga de um pêssego?! E eu nem gosto de pêssego!
— Agnes Bellini.
— Não acho que seria uma boa ideia, Vito, ela deve ser
apaixonada por você... vai partir o coração da coitada.
Miau!
Nem lembro quando foi a última vez que eu fiz uma refeição.
Quando estou com a cabeça atolada, comida é o meu último recurso.
Forço a me alimentar somente para não desmaiar de fraqueza.
Por sorte, o gato elétrico não derrubou minha taça de vinho, caso
contrário, o estrago em meu notebook estaria feito.
Estaco no lugar.
Deus amado!
Engulo em seco.
O homem é muito mais alto que eu, seus olhos verdes, banhados
em ódio, me fulminam. Seus cabelos castanho-claros estão escovados
delicadamente para trás. Ele usa um terno azul-marinho sob medida.
Ele é simplesmente a criatura mais divina da qual os meus olhos já
visualizaram.
— O-oi. — gaguejo.
— Você é Agnes Bellini? — pergunta o homem. Sua voz é
máscula e autoritária, ele parece ser o tipo de pessoa acostumada a dar
ordens e nunca a obedecê-las.
O homem dos olhos claros e terno azul à minha frente, parece ser
o próprio pecado encarnado. Como diria a minha avó: “a luxúria vem
na forma do próprio satanás”.
— Por favor, Vito! — choraminga Enrico pela centésima vez. —
Podemos voltar para casa e esquecer essa história.
— Chegamos — falo.
Enrico me olha mais uma vez com súplica nos olhos. Ainda não
compreendo por qual motivo meu irmão se importa tanto com a
escritora, ele nem a conhece.
Nada.
Droga, garota!
Uma garota loira e jovem nos observa com cautela. Suas vestes,
calça de moletom, pés descalços e camiseta regata sem sutiã, a deixam
com um ar ainda mais jovial e natural.
— Vito Costello.
—Com licença. — Agnes grita por cima da música. Ela corre até
a pequena caixa, Alexa, e desliga o som.
Ela fica corada. Não deixo de perceber que, Agnes Bellini fica
extremamente sexy com as bochechas rosadas.
Solto uma risada de escárnio. Ela não acha que eu, um CEO,
cheguei ao meu cargo acreditando em coincidências, não é mesmo?
Eu sabia que trazer Enrico seria uma péssima ideia e agora estou
pagando pelos meus erros.
Droga! Ela fica ainda mais linda com os cabelos presos de forma
bagunçada.
Oh, céus!
Eu vou ter uma síncope com apenas trinta e dois anos de idade, e
tudo isso por culpa da garota que está na minha frente.
Estou prestes a gritar e esbravejar para que ela resolva logo essa
merda na qual me envolveu, quando, inesperadamente, um animal
gordo e peludo pula em meu colo.
Me viro para olhar meu irmão, o garoto ainda está com a bola de
pelos em seu colo. Os outros animais se esconderam novamente.
Eu levo tanto jeito com animais, como levo com crianças. Acho
bonitinhos e fofinhos, nos colos dos seus respectivos donos e pais.
Traduzindo: sou um ótimo desastre com eles, e o gato de Agnes Bellini
ter escolhido justamente o meu colo para pular, quando tinha três
opções, revela isso.
Fico rígida.
Ele não pode me culpar por ter nascido com a beleza padrão dos
personagens de livros.
— E a música? — questiona.
— Que música?
Vito aperta suas mãos em punhos. Engulo em seco.
Posso ser uma garota muitas vezes ingênua, conheço pouca coisa
da vida, mas jamais, em hipótese alguma, me deixarei ser humilhada
por ser quem eu sou.
Vito percebe que não vou desistir da nossa batalha de olhares tão
rapidamente. O CEO pega o celular do seu bolso e começa a procurara
alguma coisa no aparelho. Percebo que, assim como eu, Enrico fica
completamente confuso.
— O quê?
Eu vou matá-lo!
Eu só quero que esse homem narcisista e egocêntrico saia da
minha casa para que eu possa me enfiar debaixo das cobertas e nunca
mais sair.
Droga!
Eu prefiro o processo!
Ainda assim, ser cancelada e nunca mais conseguir fazer algo que
eu adoro, é melhor do que ser processada e o assunto chegar até os
meus avós.
Por eles, eu posso renunciar à minha carreira, por eles, eu abro
mão de absolutamente tudo.
Enrico fala como se tivesse acabado de nos dar uma nova visão
de ótica para a solução dos nossos problemas.
— Sim, Vito! Pense bem, a atenção vai voltar para mim. Seus
funcionários não irão mais debochar de você.
Não posso negar que a proposta dele é gradativa. Ser paga para
escrever. Bom, minha carreira está com os dias contados, eu ia juntar
somente o dinheiro pago pela Amazon, porém, com os dois salários, eu
terei ainda mais tempo para pensar no meu futuro.
Além do mais, Vito Costello me deve isso. Ele vai acabar com a
única fonte de renda que eu tenho.
Babaca!
— Até mais!
— Obrigada!
— Ao seu dispor.
—Venha, vou lhe levar até o chefe. — Liz puxa a minha mão. —
Ele deve estar um pouco irritado pelo seu atraso. — murmura.
Liz bate em uma porta dupla de madeira, ela não entra. Fica
parada comigo esperando o aval do CEO.
—Entre agora!
Pobre Liz, ela deve precisar muito desse emprego para aguentar
esse homem durante cinco longos dias da semana.
Não direi nada além disso. Vito Costello não precisa saber que eu
perdi tanto tempo tentando achar uma roupa adequada. E agora, por
causas desse infeliz, precisarei gastar um pouco das minhas
economias, comprando mais roupas desse estilo.
—Três anos.
Liz solta uma risada e quase se engasga com a sua comida. Dou
leves batidinhas em suas costas.
—Ele é uma boa pessoa, Agnes, com o tempo você vai perceber
isso.
—Eu...hã.. — Gaguejo.
—Por mais cinco minutos. — Dito isso, ele sai a passos duros
para o seu escritório.
Espero o CEO bater à porta com força, me viro para Liz e faço a
pergunta que atormenta a minha mente:
Liz dá e ombros.
Vito não responde nada, ele volta a sua atenção para o seu
próprio computador.
Vito franze a testa para o irmão. Meu pai amado! Como esse
homem fica sexy até mesmo de óculos?
O CEO bufa.
Lampejos de raiva passam pelos seus olhos, seu rosto parece frio
e desprovido de emoções.
Engulo em seco.
Estou acabada!
Liz fecha a porta do CEO com delicadeza, ela se vira para mim e
começa a gargalhar até a sua barriga doer e lágrimas saírem dos seus
olhos.
—Eu não acredito que você realmente fez isso, Enrico. — Fico
embasbacada com os biquínis em mãos.
—Em tese sim, mas Vito faz todo o trabalho duro. Eu deveria
assumir um cargo na empresa da família e me encarregar de 50% do
serviço, mas você sabe, os romances são tão mais interessantes. Sendo
assim, o mínimo que eu possa fazer é respeitar as decisões do meu
irmão, já que ele não se importa com a vida boa que eu levo.
—Eu sinto muito que tenha tido que passar por isso, Enrico. Fico
feliz que você tenha Vito para ajudá-lo. Saiba que tem a mim também,
por favor, fale comigo quando precisar, conte comigo para o que
quiser. Estou aqui, Enrico, como amiga.
Meu coração sangra por ver esse menino tão cheio de luz,
bondade e felicidade, sendo oprimido pela sociedade. Falando da sua
orientação sexual e dos seus sentimentos, temeroso. Como se qualquer
um fosse lhe julgar.
Fico feliz que Vito tenha amparado Enrico, sendo seu apoio,
contudo, penso nos que não possuem ninguém, daqueles que não
encontram uma mão amiga, um abraço, alguém para dizer: “não tem
nada de errado contigo”. Isso é triste e repulsivo. Se houvesse mais
empatia tudo seria diferente, se cuidassem da própria vida também,
isso já resolveria muitos problemas e o mundo seria um lugar bem
melhor.
— Eu acho ótimo.
— Sim.
— Eu poderia conhecê-lo?
— Eu não sei...
—Tudo bem.
Isso só pode ser um castigo divino. Não sou crente, mas também
não sou ateu. A religião só simplesmente não faz falta para mim.
Nunca levei Teresa para a minha casa, nem ela ou qualquer outra
mulher. Moro com Enrico, portanto, a casa é tão minha quanto dele.
Não me sinto confortável em fazer orgia no lugar em que o meu irmão
mais novo está, mesmo ele já sendo um homem formado. Sempre terei
a visão dele como o bebê que eu ajudei a ensinar a caminhar.
Teresa faz fotos para algumas empresas há anos. Eles adoram tê-
la como modelo. Ela ganha bem com o seu trabalho, no entanto,
precisa cuidar muito do corpo, não pode engordar, não pode fazer o
que quiser com o cabelo. Vive uma vida imposta de limites pelo
empregador. Seu corpo não lhe pertence.
Estou perdido!
—Eu preciso ler esse livro, quero detalhes! — Isaac parece muito
interessado na pornográfica escrita.
Agnes não parece estar faminta, mas sim, querendo mudar o foco
sobre o seu livro. Percebo que, Agnes não gosta de chamar a atenção,
por isso lançou o e-book com um codinome. Contudo, a situação saiu
do seu controle, e hoje, sua verdadeira identidade é reconhecida em
vários lugares.
Trinco o maxilar com força. Não acredito que Agnes Bellini está
namorando em horário de trabalho. Aperto os punhos com raiva.
—Com certeza ele está afim de você! Por que nunca saiu com
ele? Ele é feio?
Não sei por qual motivo exatamente eu estou tão irritado. Quero
arrancar a cabeça desse tal Ethan. Ou de Enrico.
Enrico bate palminhas animado, o que faz com que Isaac solte
uma gargalhada estrondosa da sua exagerada demonstração de
empolgação. Agnes abre um sorriso que não chega aos olhos. E eu
cerro meu maxilar, tentando manter a língua dentro da boca para não
falar nada.
—Enrico não é muito aberto, Agnes, ele não tem amigos. Por
fora, parece feliz e realizado. Por dentro, se atormenta a cada instante.
Ele pode não demonstrar, mas é frágil como porcelana.
—E seus pais?
Rajadas de tristeza passam pelos seus olhos, mas logo ela muda
suas feições, como se o assunto a seguir não importasse tanto.
—Você está me dizendo que não sabia sobre Vito Costello, ser
Vito Costello? — indaga cética.
Reviro os olhos.
Não é como se Vito fosse um membro da família real. Eu não
ficava na internet pesquisando sobre as empresas e seus CEO’s, aposto
que a maioria das pessoas também desconhece isso. Tirando o Steve
Jobs, que é mundialmente conhecido.
Deus amado!
Oh céus!
Liz começa a rir. Lágrimas brotam nos cantos dos seus olhos. Até
seu tom de pele muda com as gargalhadas escandalosas que solta.
—E porque não?
Liz não precisa saber que não sou tão inocente assim. Eu já me
masturbei, já tive orgasmos.
—Por qual motivo você nunca transou? — Liz coloca uma colher
cheia de comida na boca.
Hoje, diferente dos demais dias, ela trouxe uma marmita com
comida caseira, tanto para mim quanto para ela. Presente do Mark, seu
noivo.
—Meus avós são católicos praticantes, eu fui criada dentro da
igreja e ensinada de que sexo só no casamento. Contudo, nunca fiz
nada disso porque não encontrei o homem certo. O homem que me
fizesse suspirar e ter vontade de me entregar. Gostaria de casar
virgem, sim! Mas se eu encontrasse a pessoa certa, não esperaria.
—Concordo.
Ethan usa uma camisa azul para fora das calças jeans, e sapatos
pretos. Seus cabelos ruivos estão alinhados em um penteado perfeito.
Sua pele clara evidencia pequenas sardas na volta do nariz. Ele é um
homem bonito.
—Que legal! Qual boate? Eu poderia dar uma passada por lá. —
fala tentando fingir indiferença.
Céus!
Liz solta uma risada, mas começa a tossir, fingindo uma crise. É
claro que ela percebeu que eu estava tentando fazer, assim como
percebeu que deu completamente errado.
—É... hã... eu ainda não sei o nome. Mas eu vou perguntar para
ele e te falo. — Sorrio amarelo.
Agnes Bellini: Eu fui dar um fora em Ethan e menti que iria em uma
boate contigo, agora ele quer sair conosco. Por favor, Enrico.
Encontre algum lugar.
Agnes Bellini: Obrigada, Enrico! E não foi eu que resolvi dar uma
chance, ele basicamente se jogou nos meus planos.
Não posso mais mentir para mim que não lhe acho atraente.
Agnes é diferente de todas as mulheres com as quais eu já andei. Ela é
natural, sua beleza lhe confere um ar de jovialidade e doçura. Além de
ser ingênua e atrevida com a mesma intensidade, o que me tira do
sério. E eu acho extremamente sexy.
—Agnes?— Tento manter indiferença na voz.
Droga! Eu não tenho nada a ver com quem Agnes Bellini sai ou
deixar de sair. Não sei o porquê isso está me incomodando tanto. Ela é
livre para fazer o que bem entender, além do mais, Agnes parece ter
aversão de mim.
Não sou tão velho. Ainda tenho idade para ir em festas noturnas
com o meu irmão mais novo. Além do mais, não estou indo para
policiar Enrico — muito menos Agnes Bellini —, eu só quero me
divertir e vai ser bom ter companhia para isso. Também posso
convidar Thomas.
atenção dos pais com uma irmã mais velha. Não têm antecedentes
criminais. É um legítimo inglês.
Olho mais uma vez para a garota que atormenta a minha mente.
Agnes mordisca a ponta do dedo indicador. Ela está concentrada em
alguma coisa, perdida em pensamentos. A cada dia que passa, a
escritora parece ficar ainda mais bonita e atraente. Às vezes ela vem
trabalhar com os lábios tingidos de vermelho, preciso de todo o meu
autocontrole para não lamber cada canto da sua preciosa boca...
disperso esses pensamentos.
Envio uma mensagem para Liz, solicitando que ela chame Ethan.
Sou bom com leitura corporal, quero vê-lo no mesmo cômodo da
escritora, ver como o homem agirá, mas, principalmente, tentar
descobrir o que Agnes sente por ele.
— Sim, senhor.
— Qual delas?
Olho de uma camisa para outra. Meu irmão usa uma calça preta
slim e sapatos marrons refinados. Seus cabelos estão penteados para o
lado, dando-lhe um ar mais despojado. As camisas que está em dúvida
combinam, ambas, com a roupa. Uma é vermelha e a outra azul.
— A vermelha.
— Sim, Vito, ela não queria ir sozinha para a boate, então está
vindo nos encontrar aqui. Qual é o problema?
Não tenho forças para responder, meu nome sai de forma sexy da
sua boca. Sussurrado tão sensualmente que causa arrepios em minha
pele.
Eu desejo.
Eu quero.
A escritora ainda não sabe, mas, quando um CEO quer uma coisa,
ele a tem, mesmo que isso custe a sua alma. Ou a de ambos.
Ele me deseja.
Espero que vovó esteja rezando muito por mim, pois só Deus
pode me ajudar em uma hora dessas. Minha castidade nunca esteve tão
perto de ser ferida.
Desvio meus olhos, não quero que ele me veja lhe encarando, ou
que perceba as dúvidas que passam pelo minha cabeça.
Olho para o meu novo amigo da cabeça aos pés e faço uma cara
de espanto.
Tento protestar, mas ele não dá bola. Desço com ele e Isaac. A
multidão de pessoas me abraça, desajeitadamente tento seguir o
mesmo ritmo das pessoas. Tento me conectar com a música, assim
como me conecto com os livros. Em poucos segundos, danço entre
Enrico e Isaac aos risos, me entregando completamente ao momento.
Eu contei para ele que não sou muito adepta a festas noturnas,
prefiro mil vezes ficar em casa acordada a noite inteira maratonando
alguma série do que ficar em uma festa.
—É legal...
Crianças? Ela não parece muito mais velha que nós! Ridícula,
querendo nos rebaixar de alguma maneira.
Teresa abre um sorriso falso para nós, mas não fala nada. Seu
objetivo é chamar a atenção do CEO, somos só os inconvenientes com
o qual ela precisa dividir o camarote.
— Insuportável. — Enrico não se dá ao trabalho de falar baixo.
Não há conexão, meu corpo não fica arrepiado, minhas mãos não
ficam trêmulas e meu coração não bate descompassadamente. Mas ele
é bom, gentil, querido, e, por ora, isso já serve para mim.
Vito Costello
Eu não sinto ciúmes de Teresa, meu carinho por ela não passa de
uma leve amizade.
Os dois engatam uma conversa regada a carícias. Reparo que,
estou basicamente segurando vela dentro do camarote. Meu cérebro
me instrui a ir para a pista de dança, “caçar” companhia, mas meu
coração ordena que eu fique aqui e cuide a escritora.
Mas eu me importo.
Não julgo a escritora por não gostar muito de mim, eu não fui a
melhor pessoa com ela desde que nos conhecemos. Entrei na sua vida
com o propósito de me vingar, acabar com a garota de vinte e cinco
anos que manchou a minha reputação na empresa. Eu só não esperava
me sentir tão encantado por ela.
Agnes Bellini
—Nada.
Não vou falar para o meu amigo que estou que nem uma idiota
tentando sentir com Ethan as mesmas sensações que Vito me causa.
Enrico dá de ombros.
—Parece legal.
— Enrico!
Vito abre um sorrio para o irmão e aperta o seu ombro com uma
de suas mãos.
—Vamos!
Céus!
Eu beijei Ethan!
Deus amado!
—Alô.
—Bom...
—Tá, tanto faz! Você ficou de vir almoçar comigo. Agora tira
essa bunda bêbada de cima da cama e vem logo.
—Enrico, acho que eu prefiro ficar dormindo. Não serei uma boa
companhia hoje.
—Todo mundo passa por isso pelo menos uma vez na vida,
Agnes. Em alguns dias, você nem se lembrará mais.
—Argh!
—Ei! Tudo vai ficar bem. — Pego suas mãos e acaricio o seu
dorso.
—Ele não pode vir aqui? — Isaac e Enrico não podem ser visto
em público, mas a case deles é particular.
—Quem dera fosse tão fácil. Alguns dos nossos vizinhos são
velhos intrometidos. Faz tempo que eles veem Isaac aqui, chegaram
até falar para o senhor Jones. Isaac conseguiu contornar a situação,
disse que é muito amigo de Vito. Mas depois de ontem, vai ser difícil
manter essa desculpa.
Isaac não quer revelar ao pai que é gay, ele tem medo do homem.
Devemos respeitar a sua decisão, mesmo que eu seja contra ela. Na
noite em que eu lhe conheci, Isaac me contou que levou muito tempo
para aceitar sua verdadeira orientação sexual. Disse que já andou com
muitas mulheres e tentava a todo custo encontrar algum prazer nas
relações que mantinham. Até hoje a sua fama de cafajeste lhe precede,
por isso o pai não desconfia de nada. Me confidenciou ainda que,
sempre soube de Enrico, e ouviu muitas vezes o pai debochar do
garoto.
—Serei clemente.
—Obrigada!
—Vou ir ao banheiro.
— Bom dia.
Vito me puxa com força, subitamente meu corpo cola ao seu. Ele
aproxima o rosto do meu pescoço, seu hálito quente me arrepia.
Céus!
Vito tem razão, eu estou caidinha por ele. Mas, a pergunta que
não quer calar, quem não estaria?
—Agnes, Vito não odeia você. Ele tem uma pequena implicância
decorrente de um motivo ainda desconhecido por mim, mas ódio? Não,
com certeza não.
—Agnes, agora que está um pouco mais calma. Eu sei como você
pode me ajudar no caso Isaac. Tive uma ideia maravilhosa.
—Tudo bem.
—Sério?
—Sim.
Fico parada olhando para ela sem saber qual reação exatamente
eu devo esboçar. Não é engraçado a desgraça alheia, Liz deveria se
envergonhar de rir de mim dessa forma.
—Eu não acredito que você saiu sábado e fez tudo isso.
—Foi... bom.
Abro um sorriso que não chega aos olhos para ela. Desconfio que
eu já o tenha encontrado.
—Olha, não foi tão terrível. Poderia ter sido pior. — Tenta
melhorar a situação.
—Bem, isso não seria tão terrível, considerando que Vito não é
de se jogar fora. — Dá de ombros.
—Liz! Por favor! Não existe ninguém mais na terra tão... — Não
encontro a palavra adequada para descrevê-lo.
—Gostoso?
Olho para ela com raiva. Pensei que ela teria mais utilidade.
—Argh!
—Tudo bem, tudo bem! Olha, não foi tão terrível assim porque
você se mantém virgem. Imagina se tivesse ido parar na cama de
qualquer um, isso sim seria irreparável. Agora, falar bem do CEO,
coisa que toda a mulher que não seja cega consegue reparar. E beijar
Ethan, e falar sobre casamento, bom... isso não é o fim do mundo.
—Não.
Uma ideia maluca passa pela minha cabeça, mas não encontro
outra solução. Empurro a cadeira com calma, somente o suficiente
para que eu consiga entrar debaixo da mesa.
—O que você está fazendo? — A voz de Liz sai tão baixa que eu
preciso me concentrar para entender o significado das palavras
proferidas.
—Ficou maluca?
Antes que nós possamos fazer qualquer coisa. Ethan abre a porta
e coloca a cabeça para dentro da sala. Encolho ainda mais o corpo
embaixo da mesa.
— O quê? Não! Eu... só queria saber se ela iria sair com alguém
após o almoço.
Liz começa a gargalhar. Ela ri tão alto que a sua risada reverbera
por toda a sala.
Deus amado! O que foi que Ethan bebeu no almoço? Ele usa
drogas? O homem está tendo alucinações.
— Me perdoe, Ethan, mas não sei nada sobre isso. Só sei o que te
falei.
Ethan dá mais um passo, mas antes que ele possa fazer qualquer
outra coisa. Liz se levanta em um supetão e pisa na minha mão. Seu
salto fino afunda a minha pele. Solto um gemido audível.
—Vamos sair daqui, eu não deveria ter vindo almoçar aqui, mas
eu e Mark tivemos uma pequena discussão hoje mais cedo, e eu quis
ficar sozinha. — Mente incrivelmente bem.
Fico calada. Rezando para que não seja Ethan. Liz se saiu tão
bem em sua mentira, não tem como o engenheiro ter captado nada.
—O que você está fazendo aqui? — A voz soa bem atrás de mim.
Reviro o meu cérebro atrás de uma boa desculpa, mas temo que a
batida tenha causado danos colaterais, pois eu não consigo pensar em
nada plausível, não quando Vito está tão próximo a mim, e com a mão
quente ainda acariciando os meus cabelos, e o seu perfume
impregnando meu olfato.
—Eu... é...
Estou perdida!
Eu gosto do jeito como deixo a escritora. Ela está extremamente
atraída por mim, mas insiste em negar, mesmo estando evidente.
Liz sempre vem se despedir. Todas as vezes que eu fico até mais
tarde no escritório, a boa secretária me acompanha, pelo máximo de
tempo possível. Ela é uma pessoa confiável, sabe do segredo que eu e
Agnes Bellini escondemos da empresa inteira, e nunca falou nada para
ninguém.
—Vito, como vai rapaz? — Sua voz está mais amigável do que eu
esperava.
Mais risadas.
Reviro os olhos.
—Você sabe que George Jones nunca vai aceitar isso, não é
mesmo?
—Sim.
—Por quê?
—Que relação?
Abro um sorriso debochado. Ás vezes, penso que Agnes ainda é
virgem, pois ela é muito ingênua.
—Isaac.
Ela solta uma risadinha nervosa e começa a mexer nas pontas dos
seus cabelos com as unhas, em uma falha tentativa de parecer alheia
ao que eu estou falando.
Penso em Ethan, mas, desde que ele foi embora da boate mais
cedo, eu não os vi mais juntos, não na empresa pelo menos.
Psicoticamente, eu venho observando a escritora, tentando descobrir
se existe alguma relação entre os dois. Mas ela parece não nutrir muito
interesse pelo engenheiro, para a minha felicidade.
—Você não pode ficar evitando Ethan pelo resto da vida. —
murmura Liz.
—Você precisa falar com ele. Dizer que não tem interesse, sabe,
talvez isso ajude a esclarecer e melhorar as coisas.
—Obrigada!
Vou arrastar Enrico comigo para fazer isso. Meu amigo me deve
uma vida inteira de favores após me fazer ser a namorada fictícia de
Isaac. Além do mais, segundo o meu “namorado”, precisarei conhecer
o seu maravilhoso pai em algum momento, ou o homem começará a
fazer da nossa vida conjugal um inferno.
Estou prestes a retornar para a sala do CEO antes que ele saia da
reunião e me veja matando tempo no trabalho, quando Liz me chama
novamente.
Que Deus tenha piedade de mim, pois minhas leitoras não terão.
—Tá bom.
Reviro os olhos.
—Sim, Agnes. Separa que nós vamos levar. Você vai ir com esse.
Está decidido. — Enrico me olha pelo reflexo do espelho e nota o que
me incomoda. — Agnes, eu estarei todo o tempo ao seu lado.
—Tudo bem.
—Enrico... não.
—Agnes, por favor, é o mínimo que posso fazer por toda a ajuda
que vem oferecendo. Além do mais, quero o senhor Jones
extremamente impressionado para que eu possa continuar encontrando
Isaac.
Ele resolveu vir para a minha casa após a nossa seção no salão.
Enrico estava com as suas roupas guardadas no carro do seu motorista.
—Uau! — Exclamo.
—Oi. — Murmuro.
Vito nem mesmo pisca olhando para mim. Ele está encantado.
Deixando todos os seus sentimentos transparecer.
Vito encara o irmão com raiva, mas em seguida, pousa seus olhos
novamente em mim.
Deus amado!
Céus!
Agnes está linda, o macacão que escolheu para usar acentua todas
as curvas do seu corpo, sem contar na maquiagem que realça os seus
olhos e a boca... ah a sua boca deliciosamente comestível.
Foco, Vito! O evento é importante e você não quer ficar com uma
ejaculação na frente de todos. A parte sensata do meu cérebro me
recrimina.
—Olá, garoto.
Agnes Bellini
—Você foi ótima, Agnes! Acho que meu pai adorou você! —
Isaac abre um largo sorriso.
Fico com pena dele. Todos nutrem o sentimento de ter o pai como
herói, e com Isaac não parece ser diferente. Ele realmente não
percebeu que o seu pai flertou comigo, a sua namorada?
—Se ele não odiava você antes, agora pode ter certeza que sim.
AÍ MEU DEUS!
Não consigo me mexer. Estou parada feito uma estátua por conta
do nervosismo. É como se meu corpo não estivesse respondendo aos
comandos do meu cérebro. É sempre assim todas as vezes que eu entro
em pânico, ao invés de agir, fico paralisada.
Enrico sai de seu estupor e olha para Isaac aflito. Estamos sem
saber como proceder. Ethan se aproxima cada vez mais. E,
considerando o seu comportamento essa semana na empresa, acredito
que Ethan tenha levado a sério o assunto sobre o casamento. Ele acha
que estamos namorando, pelo menos foi isso que deixou transparecer
para Liz.
Deus amado!
Vito Costello
—Sim.
Deus! Acho que estou tendo um infarto. Nunca senti tal coisa
anteriormente. Minha respiração fica pesada. Cerro os punhos com
raiva. Penso em Ethan beijando os lábios delineados de Agnes, os
lábios que eu desejo. Minha visão parece embaçar. É como se um peso
tivesse sido colocado sobre o meu peito, fazendo com que até respirar
seja difícil.
Agnes e Ethan? Não! Não!
Agnes é minha!
— Vito. — sussurra.
—S-sua?
Minha.
—Olá, rapazes!
Não perguntei o que ocorreu entre os dois, mas sei que muito
provavelmente eles transaram. Como eu imaginava, isso não significa
nada para mim, pois não nutro sentimento algum pela mulher.
—Sim. — Murmuro.
Não sei que horas são, eu mal conseguir pregar o olho essa noite.
Algo como tesão acumulado me fez ter uma péssima noite de sono.
Além, é claro, de repassar mentalmente cada detalhe do beijo obsceno
milhares de vezes, e por muitas e muitas horas.
Coloco uma música alta para tocar, uma clássica. O dia parece
tão alegre hoje, talvez eu possa dar uma volta no parque, ou ir tomar
um sorvete na sorveteria da esquina. Por qual motivo as cores parecem
tão vividas? Todas as pessoas se sentem assim quando estão
apaixonadas? E por que meu peito parece pesado? É mais fácil
escrever sobre o amor do que sentir.
Meu celular toca. Vou ver quem é com uma animação incontida.
O nome de Enrico aparece na tela. Fecho os olhos e tento acalentar o
meu coração animado. Preciso fingir indiferença, ao menos é isso que
os livros nos ensinam a fazer: “sempre fingir desinteresse”. Hora de
colocar em prática.
—Alô.
—Finalmente bela-adormecida.
—O que você quer? — Sempre que Enrico vem com esse papo de
lindo dia é porque ele tem alguma coisa em mente.
—Drinks! — O dia está tão lindo hoje, apto para boas bebidas na
beira da piscina. Afinal, por que não?
Engulo em seco.
Vito não parece acreditar muito em mim, mas não fala nada. Ele
maneia a cabeça positivamente e se afasta, me ajudando a levantar.
Sua mão quente tocando na minha me dá uma sensação leve de
conforto.
Olho para Vito. Ele disse que ainda conversaríamos sobre ontem.
Estranhamente, o CEO desvia o olhar do meu, e se afasta. Meu
coração falha uma batida com a sua atitude. Não sei o que eu esperava
exatamente quando o encontrasse. Talvez flores e uma declaração de
amor eterno? Minha essência de escritora romântica não esperaria
nada menos que isso. Contudo, eu gostaria de algo, menos a frieza e
distância que ele acabou de impor.
Sinto falta de ar. Meu peito dói como o inferno. É como se ele
tivesse sido aberto e meu coração arrancado do lugar. Não consigo
esboçar nada, mas a visão turva denuncia que estou com lágrimas nos
olhos.
Teresa amplia ainda mais o seu sorriso. Ela está gostando do que
está causando aqui.
—Agnes...
Sou um maldito!
Agnes Bellini
Mantive contato com Liz todos esses dias. Ela é outra que sabe
de tudo, também não há segredos entre nós.
Vito Costello
Ver Agnes não estava nos meus planos para encarar uma manhã
de segunda-feira. Muito menos quando ela entrou na minha sala tão
decidida de si, com os cabelos iluminados, os lábios e os olhos
pintados. Acredito que o meu cérebro tenha apagado um pouco a sua
beleza para acalentar o meu coração abatido.
— Oi. — falo.
— Olha, me desculpe...
—Vamos ir almoçar?
—Vamos.
—Não.
Não estou em êxtase por fazer isso, para falar a verdade, me sinto
um pouco nervosa. Depois do vexame que Enrico, Isaac e eu passamos
no evento, as pessoas começaram a comentar. Se antes eu era uma
desconhecida, agora quase todos sabem da minha existência.
—Olá, Ethan!
—Eu fui demitido. — Dá de ombros. Ele tenta fingir que isso não
está lhe incomodando, quando na verdade, é o contrário. Ele gostava
do emprego.
—Como é?
—Por quê?
Não vou falar de Agnes, não agora que não temos nada e nem
teremos. Deixarei a escritora no anonimato, para que possa viver em
paz e seguir a vida como se nunca tivesse me conhecido.
—Eu não deveria. — Sou enfático.
Essa porcaria era para estar subindo e não descendo. Será que
trancou? Aí meu Deus! Eu não trouxe nem mesmo o meu celular.
Céus!
Sem esperar, Vito joga os papeis que estão em minhas mãos com
força no chão. Ele choca o seu corpo ao meu e beija a minha boca de
forma possessiva. Meu cérebro entra em pane por alguns segundos.
Tento afastá-lo, ele me machucou uma vez, pode fazer novamente.
Mas seu hálito de menta me deixa inebriada, juntamente com a
sensação da sua língua macia acariciando a minha.
Ah, dane-se!
Vito solta o botão e se vira para mim. Seus lábios estão inchados
e seu nariz vermelho por conta da sacanagem que estamos fazendo.
Espera!
Eu sou virgem!
— O quê?
Deus!
—Casamento.
—Bom... tem Vito, mas eu não quero que ninguém saiba de nada.
Nem eu mesma sei o que temos.
—Sabe, eu já ouvi boatos sobre Vito. — Ele mexe nas pontas dos
cabelos, tentando fingir inocência. Com o meu silêncio, Liz continua
suas divagações. — Ouvi falar que o CEO é incrível entre quatro
paredes.
Eu sei que Vito não é um santo. Mas saber que o CEO passou por
tantas camas antes de me conhecer, faz com que um sentimento de
ciúme sem sentido brote em meu peito.
—Teve, e te garanto que todas saíram satisfeitas.
Parece que não é só Ethan que tem como meta de vida me fazer
perder a virgindade, Liz está no mesmo time. Enrico e Isaac não ficam
muito para trás também.
Vito Costello
—Entre. — Ela abre ainda mais a porta, dando espaço para mim.
Passo por ela sem pestanejar. De cara, já vejo dois dos três gatos.
Os bichanos me assustam um pouco. Eles me encaram como se
estivessem esperando algo.
—Sim.
—Cansativo, e o seu?
—Vito... — sussurra.
Quero levar meu dedo ao seu clitóris, deixá-la nas nuvens, mas
não sei se ela se sente pronta para isso. Temo assustá-la. Com o
polegar, faço círculos nos bicos dos seus seios, os quais estão duros e
pesados. Agnes está gostando tanto disso quanto eu. Dou beijos
molhados em seu pescoço, mordiscando a pele sensível.
Estou prestes a falar para que ela goze para mim quando um
enorme gato cinza pula em nosso colo. Solto um grito ridículo quando
sinto o peso do bichano em meu pau. Agnes cai do sofá de costas no
chão. O felino foge imediatamente, sumindo para dentro de outro
cômodo que eu acredito ser o quarto.
—Você está bem? Eu sinto muito! Atena nunca tinha feito isso
antes.
Um gato empata-foda.
Agnes Bellini
Enrico foi jantar conosco ontem, meu amigo está radiante que eu
e o CEO finalmente estamos nos acertando. Enrico apoia o
relacionamento, se é que eu posso chamar o que estamos tendo disso.
Meu amigo até mesmo fez planos sobre uma casa que eles possuem na
Escócia, disse que está vendo o melhor fim de semana para irmos para
lá. Algo assim.
Ethan está bem-vestido. Ele usa uma camisa branca com calça de
terno preta. Seus cabelos estão bem escovados, e eu consigo sentir o
cheiro do seu perfume amadeirado do meu lugar.
Não sei por qual motivo exatamente uma onda de alívio toma
conta de todo o meu ser. Agnes, como a namorada fictícia de Isaac,
precisa ir em algumas confraternizações para manter a mentira do
namoro intacta. Portanto, ela possivelmente está nesse jantar com ele.
Como assim Agnes não está com Isaac? Céus! Essa mulher vai
me matar antes dos quarenta anos.
—Eu sei o que está tentando fazer, Vito. Você não sabe onde
Agnes está e quer que eu a delete.
—Onde ela está, Enrico? — Minha voz sai mais fria do que eu
esperava.
Por algum motivo eu sinto no fundo do meu ser que Ethan está
conversando com Vito. Eu não posso acreditar que ele está fazendo
isso.
“Eu não acredito que você falou para Vito onde eu estava.”
Urro de raiva. Meus dedos ágeis digitam com força por conta do
ódio contido:
“Eu não estou com Ethan. Marquei essa droga de jantar para falar
que só quero amizade, e você sabe muito bem disso. Agora trate de
controlar o louco do seu irmão.”
O quê? Vito não ousaria. Pensando bem, ele faria isso e ainda
pior. Meu pai amado, alguém precisa controlar esse CEO.
Engulo em seco.
—Ethan, você aceita ser somente o meu amigo? — falo por fim.
Fico triste por fazê-lo sofrer, mas não posso mentir para ele, ou
para mim mesma. Eu gosto de Vito, me senti atraída pelo CEO desde a
primeira vez que o vi, e por mais que suas atitudes obsessivas me
irritem, eu ainda quero tentar algo com ele, mesmo que isso me leve
diretamente para o inferno.
—Você já encontrou?
—Encontrei o quê?
—Você tem razão. Que alívio! Agora, estou indo dormir. Boa
sorte.
Eu sei o que ele está fazendo. Enrico está fugindo do furacão que
chegará a qualquer momento. Ele sabe que amanhã a garota estará
mais calma. Em poucos passos, meu irmão some no corredor, me
deixando sozinho na sala.
—Oi. — murmuro.
Aguardo o seu aval, não quero passar dos limites. E se ela pedir
que eu pare, assim eu farei, mesmo que eu fique com as bolas doendo
pelo resto da semana. Agnes faz um balançar positivo de cabeça, quase
imperceptível.
Agnes Bellini
Depois do que pareceu ser horas, abro os olhos e encaro Vito, ele
continua me olhando profundamente. Nossos olhares fixos um ao
outro, ele ainda mexe a sua mão consecutivamente, tentando chegar ao
ápice assim como eu. Vito retira a mão que estava no meio das minhas
pernas e leva até a boca, experimentando o meu gosto. Não consigo,
em nenhum momento, nem se quer piscar. É como se eu estivesse
enfeitiçada, completamente absorta pela situação. Suas pupilas
dilatam, sua respiração acelera e fica pesada. Um gemido gutural sai
de dentro da sua garganta e passa pelos seus lábios entreabertos. Sinto
um jato quente de esperma na minha perna.
Tão íntimo.
Tão carnal.
Tão profundo.
—Eu não posso falar agora, não por enquanto. Mas eu prometo
que em breve lhe contarei até o mais sórdido dos meus segredos. —
Abro um sorriso cúmplice.
Céus! Algo deve ter dado errado em meu cérebro, eu pareço uma
idiota apaixonada. Uma única dose do CEO e eu sei que nunca mais
serei a mesma.
—Então, senhor Costello, estará disponível? — Pergunta a loira.
Engulo em seco. Não ouso olhar para Vito, sei que a sua atenção
está totalmente voltada para mim.
Suas pernas ficam bambas, seguro-a contra a mesa para que não
desfalecesse no piso. Agnes abre os olhos, temulentos de lascívia.
Meu pau doí tanto que me faz trincar os dentes. Minhas roupas
estando como barreiras me fazem desejar mais do que nunca estar nu.
—Isso...
Jogo a cabeça para cima de olhos fechados, apreciando a carícia.
Percebo que foi a primeira vez que alguém lambeu sua deliciosa
buceta e, mais uma vez, o sortudo por fazer isso foi eu. Agnes está,
aos poucos, entregando-se a mim. Declarando-se minha, e eu não
poderia estar mais feliz e orgulhoso por isso.
—Não que isso seja relevante também, Vito já andou com tantas
mulheres que ninguém mais presta atenção em seus cônjuges
amorosos.
—O quê?
—Eu disse que queria ir visitar a nossa casa, nem lembro mais a
última vez que fomos lá.
Minha crise está durando mais que o comum, mas eu acredito que
seja por conta de toda essa situação com Vito. Querendo ou não, meu
coração já está em suas mãos e eu temo por ele, dessa forma, ficando
nervosa quando lembro disso.
—Tudo bem.
Liz bate palminhas animadamente, a sua atitude chama a atenção
de algumas pessoas a nossa volta. Escondo o rosto entre as mãos.
—O quê?
—Mas pelo visto não é a única. — Liz aponta para aonde Vito
está.
—Que fardo?
—Não! Ela está inflexível com a sua decisão. Sabe, era para ser
um presente. No entanto, isso se tornou um pesadelo.
—Eu não sei o que lhe falar, mas, se for tão bom assim. Ceder, às
vezes, é a melhor forma de chegar a uma conclusão. Eu sei que você
não desejava isso, mas também não significa que precisará morar para
sempre perto da sogra. Um dia vocês podem se mudar.
Merda!
—Eu sei que não, mas não consigo viver bem vendo outra mulher
demonstrando tanto interesse por você.
Não quero assumir nada com ela por enquanto, assim como tenho
certeza que ela também quer manter sigilo. Além do mais, se Agnes
assumir algo comigo, o disfarce de Enrico e Isaac irá por água abaixo,
e eu não quero ser o motivo do sofrimento do meu irmão. Outrossim,
tudo o que começa intensamente, queima mais rápido ainda. Calma é a
melhor opção para nós. Prometemos fidelidade e, no momento, isso é
o que importa.
—Acho que posso conseguir remição sem que isso precise ser
feito. — Meu hálito quente contra a sua pele, deixa-a ainda mais
arrepiada.
—Vito! Oh céus!
Continuo os movimentos.
—Se eu fosse você, sentiria um pouco dos dois. Pois, depois que
eu começar, nem mesmo a sua inocência restará.
—Eu não acredito que você, Agnes Bellini está indo em um Sex
Shop. — zomba.
—É algo natural.
—Eu não disse que era antinatural, só pensei que a sua religião
não permitisse esse tipo de coisa.
Reviro os olhos.
—Eu ainda sou virgem por escolha própria, Enrico, e não pela
religião. Apesar de ser pecado, ninguém me apedrejará por isso.
—Eu sou virgem porque assim que meu hímen se romper, não
haverá mais volta. — Abaixo o tom da voz para a resposta seguinte
sair em um sussurro. — E eu não chupei Vito.
Enrico pega uma cesta e escolhe tanta coisa que parece que ele
fará uma orgia para conseguir testar tudo. Pego um gel que esquenta e
esfria para o sexo oral e umas bolinhas lubrificantes. Talvez eu precise
disso um dia.
—Por quê?
—Vito está vindo nos buscar. Para a nossa sorte, ele estava indo
para a casa.
—Eu já falei para vocês irem embora! Vocês não sabem com
quem estão falando. — Esbraveja Enrico entredentes.
O motorista solta uma risada zombeteira, ele coloca um braço
preguiçoso escorado na janela e olha para Enrico com desdém.
Vito Costello
Olho para Agnes, ela ainda parece estar em choque. Seu rosto
está mais branco do que o normal e seus lábios tremem levemente.
Abraço-a e beijo sua cabeça, o cheiro adocicado do seu shampoo
impregna as minhas narinas.
—Relaxa, cara, está tudo sob controle. Farei tudo o que estiver
ao meu alcance para cumprir conforme o seu desejo.
Faço um sinal positivo com a cabeça. Eu sei que ele vai cumprir
com a promessa. Se preciso for, continuarei processando todas as
pessoas que forem preconceituosas com o meu irmão, até o dia em que
ele possa sair livre na rua, sem essa nuvem negra atormentando-o
diariamente.
—Sim.
—Mande-o entrar.
—Sim.
—O quê? — grito.
—Posso passar alguns nomes, mas não tenho ideia de quem possa
ser.
—Isso já é um início.
Algo não bate nessa história, já faz anos desde o acidente que
matou os meus pais. Por qual motivo não vieram atrás de mim e
Enrico?
—Não quero que o meu irmão saiba disso, ele sofreu demais com
a morte precoce dos nossos pais. Por mais que essa prova seja
contundente em um possível assassinato, já passou muito tempo, sei
que será difícil encontrar um culpado. Não quero reabrir a ferida.
—Eu entendo, senhor Costello. Quero que saiba que farei tudo o
que estiver ao meu alcance para trazer justiça a sua família. Sinto
muito pela sua perda.
Passo a lista com os nomes para o detetive e agradeço a sua
iniciativa em tentar resolver um caso que há muito tempo foi
arquivado.
Minha mente não foca em mais nada, não consigo tirar da cabeça
a conversa que eu tive com o detetive. É como se um gatilho há muito
esquecido tivesse sido acionado.
Agnes Bellini
Enrico bufa. Ele olha para Isaac com olhos pidões. Seu
namorado, entendo as súplicas do Costello mais jovem, cai na
gargalhada.
Isso soa tão patético, Vito nem sabe o que eu desejo realizar hoje,
eu posso muito bem jantar e retornar para o quarto, simples assim.
Droga! Eu estou tentando mentir para quem, afinal? Eu quero isso, eu
desejo isso, eu sonho com isso. Estou nervosa pelo simples fato de que
hoje eu testarei o desconhecido, eu ultrapassarei um limite sem volta,
mas isso não me assusta, muito pelo contrário. O que realmente vem
me amedrontando é o medo de não ser o suficiente, de não saber como
agir.
Ok, Agnes Bellini, não seja infantil, Vito sabe da sua inocência
com relação a esses assuntos e, se eu não for o suficiente para ele,
talvez um dia eu seja para outro alguém, por mais que esse
pensamento faça o meu coração doer.
—Oi. — murmuro.
Dane-se!
Jogo o meu corpo em sua direção e colo nossas bocas com força.
Sua distância durante o dia todo quase acabou com o meu psicológico.
Preciso senti-lo, saboreá-lo, reafirmar ao meu cérebro de que ele é
real.
O CEO, com uma das mãos, agarra a minha cintura com força,
enquanto a outra vai aos meus cabelos, puxando-os com delicadeza e
precisão. Eu esfrego as minhas mãos em sua pele quente, sentindo os
gominhos do seu peitoral musculoso. Com um movimento, pulo para o
seu colo, sentando sobre a sua masculinidade. O gosto da bebida
alcoólica que ele estava saboreando, impregna a minha língua.
Puta merda! Minha mente fica imersa nos mais pecaminosos dos
pensamentos. Passei meses querendo a deliciosa boca de Agnes em
mim, não posso acreditar que isso está realmente acontecendo.
Meu corpo pega fogo. Agnes engole todo o meu cacete, até a
cabeça roçar em sua garganta. Ela faz um boquete profissional. O
calor da sua boca preenchendo o meu membro, juntamente com o
barulho da sucção me leva à loucura.
Ela chupa a minha glande com força, dando tudo de si, mamando
com vontade.
—Ohhhh!
—Ainda bem que eu trouxe isso então. — Ela recolhe uma sacola
escondida pelas almofadas mais ao canto.
Agnes Bellini
Eu não transei com Vito, mas isso não foi impedimento para que
eu não gozasse, muito pelo contrário, o CEO foi extremamente
habilidoso com os dedos e língua durante todo o fim de semana.
Olho para Vito que está concentrado fazendo o seu trabalho. Essa
semana o CEO irá visitar o prédio que está com a reforma
praticamente finalizada da Costello Imobiliária, assim como ele disse
a Ethan, que é o engenheiro encarregado desse projeto. Antes de tudo,
ele quer ver o local com os próprios olhos e dar o seu aval, sendo este
positivo ou negativo. Caso seja aprovado, na outra semana haverá a
inauguração. E no próximo fim de semana eu irei visitar os meus avós,
eu nem comuniquei ainda a minha viagem a Vito, ele está tão ocupado
e atarefado, mas o farei em breve.
O meu livro está tão estagnado, que eu temo ter perdido o dom da
escrita. Ao menos Vito não perguntou mais sobre o andamento da obra.
Na verdade, parece pouco importar para ele. Vito até mesmo vem me
dado tarefas distintas, me passando coisas da Costello Imobiliária.
Atualmente, eu sou mais assessora pessoal do que escritora, e isso é
bom.
Aperto meus punhos com força, mas opto por ignorar o veneno
destilado a mim. Antes de passar por Liz, ela deveria ter passado pela
recepção no primeiro andar, eles sempre ligam para comunicar a Liz a
identificação da pessoa que está prestes a subir ao andar da
presidência. Se Liz não atender ao chamado, eles pedem para que a
pessoa aguarde, até conseguir manter contato com ela. Há algo muito
errado nessa história relatada por Teresa.
—Nossa, que desprezo por quem esquentou a sua cama por tanto
tempo. — A mulher faz a volta na mesa e para ao lado do CEO. —
Estou com saudades, meu bem, faz tanto tempo que eu não sinto o seu
gosto. — Ela agarra a gravata de Vito e fixa seus olhos no meio de
suas pernas, dando ênfase em suas palavras.
—Não, senhor.
—Então por qual motivo — Vito olha para Teresa com desprezo
— ela conseguiu entrar aqui sem passar pela minha aprovação?
—Ele veio pedir ajuda a mim, senhor Costello. Não pensei que
isso fosse causar tantos problemas. Me desculpe.
Maldita gastrite!
Entro no prédio quase finalizado, e, devo admitir, Ethan Brown é
um ótimo engenheiro. O lugar está impecável, tão maravilhoso quanto
eu imaginei.
Dou mais uma volta pelo local. Umas das arquitetas passa por
mim e, inevitavelmente, eu lembro da intromissão de Teresa essa
semana. Fiquei com tanta raiva, tão descontrolado. Eu vi como Agnes
ficou chateada e depois ela ter ido vomitar por ter se atacado dos
nervos só aumentou ainda mais o ódio pela modelo que corroía em
minhas veias. Teresa não tinha o direito de me perturbar, nunca
tivemos nada além de sexo casual, e agora, eu não quero vê-la nunca
mais. Além de tudo, depois que ela omitiu que não dormimos juntos na
última vez, me fazendo pensar o contrário, o pouco de confiança que
eu tinha nela se esgotou de vez.
Não contei nada a Enrico da morte dos nossos pais, e nem o farei.
Na época do ocorrido, meu irmão ficou devastado e eu não quero
reabrir a ferida, com tanto custo cicatrizada. Também não contei a
Agnes, não sei em qual patamar as investigações estão, e, como o
detetive disse, isso tem mão de gente poderosa. Agnes descobrir a
verdade só colocaria a sua vida em risco.
—Eu sei que sim, garoto. Ser CEO não é para qualquer um, mas
isso não significa que deve deserdar os parentes.
Tio Robson não tem cotas na empresa porque vendeu a sua parte
para papai quando ainda eram jovens. Meu tio nunca quis trabalhar —
Enrico tem a quem puxar — Com o dinheiro da herança dos seus pais,
mais o da venda da Costello Imobiliária. Hoje ele é um velho
milionário que curte a vida sem pensar no amanhã. Contudo, Robson é
um dos investidores da Costello, ele sempre compra uma sala
comercial, ou até mesmo um apartamento, a fim de tirar uma renda
extra. Tio Robson nunca casou ou teve filhos. É um homem sem
raízes. Não poderia ser mais diferente do irmão, meu pai sempre quis
uma família, e sempre desejou o cargo de CEO, ele batalhou muito por
isso. Meus avós eram de família rica, mas foi papai quem aumentou a
empresa, e eu continuei o seu legado, com a compra do Edifício
Gherkin, a Costello Imobiliária multiplicou o seu patrimônio,
tornando-se o que é atualmente.
Reviro os olhos e agradeço por ele não poder ver a minha atitude
desrespeitosa. Ele é um homem descompromissado, possivelmente me
fará aguardar alguns instantes como se realmente estivesse conferindo
sua disponibilidade, para no final confirmar o jantar. Ele sempre faz
isso. Já é uma atitude corriqueira.
Agnes Bellini
A sala de Vito fica tão vazia sem a sua presença. O CEO deixa o
lugar mais quente, acolhedor e iluminado, quando ele não está furioso,
é claro. Segunda, após a saída de Teresa, Liz levou um belo sermão do
chefe, sobrou até mesmo para Thomaz. Ao menos ela não foi demitida
pelo seu erro. Mas Vito disse enfaticamente que toleraria somente
dessa vez.
—Liz, por favor. — imploro para que ela me diga logo o que está
havendo, mas ao mesmo tempo eu não quero descobrir. A verdade é
que eu estou morrendo de medo do que está por vir.
—Liz... — Sussurro.
Vito está em casa? Isso é incrível! Significa que, seja lá qual for
o acidente, ele não corre risco de vida. Sem esperar nem mais um
segundo, recolho a minha bolsa com rapidez e agilidade e corro para
fora da Costello Imobiliária.
—Mas poderia ter sido mais grave, eu tive que tomar a vacina
contra o tétano, sabe...
—Sim. — Sussurro.
Sua mão vai para o meio das minhas pernas e ele começa a
brincar com o meu clitóris. A sensação boa começa a abranger a
situação, começo finalmente a me conectar ao momento, deixando de
lado os pensamentos desnecessários. Vito me penetra novamente, só
que dessa vez o movimento, juntamente com sua mão, me deixa em
labaredas flamejantes. Ele beija o meu pescoço e crava os dentes no
lóbulo da minha orelha.
Agnes veio para quebrar alguns paradigmas. Por muito tempo era
somente eu e Enrico, e, por uma coincidência do destino, um livro que
às vezes eu nem lembro mais, Agnes entrou em minha vida, virando
tudo do avesso. Ela não sabe, mas, além de nunca ter transado com
uma mulher sem camisinha, eu também nunca trouxe alguém para a
minha cama. Eu tirei a sua virgindade carnal, enquanto ela tirou a
minha em forma material.
Reviro os olhos.
Deve ser uma surpresa para o meu irmão ver uma mulher na
cama comigo. Por ora, agradeço ao lençol para cobrir a nossa nudez.
Agnes Bellini
—Bom dia!
—Dormiu bem?
—Tenho mais uma coisa para lhe falar. — Vito solta um suspiro
pesado.
—É... hã...
—Agnes — Vito segura as minhas mãos, forçando-me a olhar
para ele. — Nós estamos basicamente namorando. Eu só tenho
relações com você e você comigo. Somos privativos um do outro.
Portanto, podemos falar aos seus avós que eu sou o seu namorado.
Ave Maria! Vito não está dizendo o que eu acho que acabei de
ouvir, está? Nós estamos namorando?! Acho que estou nas nuvens.
Mas antes de surtar, preciso decidir o que fazer com CEO e meus avós
na mesma frase.
Essa não era bem a conversa que eu gostaria de estar tendo com
Vito logo após a nossa primeira relação sexual. Homens tendem a
fugir de casamento com a mesma intensidade com a qual o diabo foge
da cruz.
Vito fica em silêncio por alguns minutos, sinto o tempo parar
enquanto aguardo a sua resposta. Ele afunda os dedos em minha
cabeça, deslizando pelos meus cabelos em uma massagem relaxante.
Ele larga uma bandeja com frutas, pães, frios, sucos e café, aos
pés da cama. Enrico me encara, e então cai na gargalhada. Sinto o meu
corpo inteiro esquentar de vergonha. E pelo aumento da tonalidade da
risada de Enrico, devo estar mais vermelha que um pimentão.
Ainda aos risos da minha atual situação, ele corre para fora do
quarto, parecendo sentir urgência em nos deixar sozinhos novamente
—Estou bem.
—Como assim?
—Fisicamente ou mentalmente?
—Os dois.
Ele abre a boca indignado comigo. Para dar mais ênfase no seu
desgosto, Enrico finge estar magoado com as minhas acusações.
—Sua ingrata!
Vito nos encara por mais alguns segundos, mas se afasta para
recepcionar o tio, dando, pela graça de nosso senhor, o assunto por
encerrado.
—Desculpe. — Murmuro.
Robson abre um sorriso que não chega aos olhos para o sobrinho.
Vejo Enrico ficar rígido. Falar para somente um dos filhos que o
pai estaria orgulhoso é egoísmo. Os pais de Vito e Enrico possuem
tantos motivos para ficar orgulhoso do CEO, quanto do irmão mais
jovem.
Vito coça a garganta e abre um sorriso que diz: “eu vou matar o
meu irmão”.
—Sim.
—E por qual motivo exatamente você não está radiante com isso?
—Sim, eu já ouvi.
—Então, você pode ficar namorando uma pessoa por dois anos e,
em algum momento, o relacionamento acabar, assim como pode
encontrar alguém, se apaixonar perdidamente e casar em bem menos
do que a metade desse tempo. No amor, tempo não existe, portanto,
pare de se preocupar com isso.
—Obrigada.
—Nunca lhe agradeci pelo que está fazendo por mim e Isaac.
Saiba que é muito importante, Agnes. Se não fosse por você, eu não
poderia viver ou sentir esse momento.
—Tá bom, chega! Não quero manchar a minha base. — Ele passa
os dedos nos olhos, limpando as lágrimas ainda não caídas. — Vamos
continuar bebendo, afinal, é sábado, um jantar em família inquietante,
e eu ainda preciso ficar segurando vela. Só álcool na causa. — Ele se
levanta e vai encher a sua taça.
—Oi. — falo sem jeito quando ele percebe que está sendo
observado. — É... hã... eu precisava ir ao banheiro. — Tento sair de
fininho.
—Meus pêsames.
—Desculpe monopolizá-la.
Meu pai amado! Essa história está ficando cada vez mais
esquisita.
Eu sei que não é bem isso que está lhe estressando, mas sim o
problema com a sogra e a compra do apartamento. Nenhuma das duas
deu o braço a torcer ainda.
Eu amo esse livro, apesar de tudo. Se não fosse por ele, eu jamais
teria conhecido Vito ou Enrico.
—Eu vou levar você para casa, mas antes vamos jantar em algum
lugar. — Faço a volta na minha mesa e guardo a pasta com as
negociações na primeira gaveta.
Agnes não sabe ainda quais são os meus planos. Ela pediu que eu
agilizasse um carro popular para ir conhecer os seus avós, pois bem, o
carro será um presente para ela. Já conversei com Enrico sobre isso,
ele me ajudará a convencê-la a aceitar o mimo. No entanto, ainda
tenho planos mais ambiciosos para o futuro da escritora. Não consigo
dormir bem a noite sabendo que ela está dormindo em um lugar
fúnebre, cheirando a mofo e velho. Sinto pena até dos seus gatos
sendo obrigados a passar o dia inteiro presos dentro daquele
minúsculo apartamento. Eu sei que levá-la para a minha casa será um
enorme passo em nosso relacionamento, ainda mais em tão pouco
tempo. Porém, as coisas tendem a ser ardentes entre nós.
—Tudo bem.
—Meu avô ama carros, ele possui um Alfa Romeo Spider ano
1974 na garagem há mais tempo do que eu possa imaginar. Ele saiu
com o carro pela primeira vez há alguns dias. Foi um feito histórico,
vovó até mesmo me ligou para contar. Ele também gosta de armas,
possui uma espingarda. Vovó adora a culinária alemã, por algum
motivo desconhecido, ela sempre inventa receitas da internet. Eles são
extremamente religiosos, como eu já havia dito anteriormente,
portanto, se nunca foi à missa antes, pode se preparar.
George olha pra Agnes que está mais branca que papel, ele
analisa nossos corpos, nossa proximidade minuciosamente e
descaradamente. Me mantenho frio como um iceberg.
Meu pai amado! Eu morro, mas não conto que perdi a virgindade
antes do casamento.
—Não seja boba, menina. Se você está feliz, então nós também
estamos. Agora vai relevar a identidade do homem?
Ok! Isso vai ser complicado. Não sei bem o que vovó achará de
eu estar namorando o meu chefe.
Miau!
—Eu sei.
Liz de aproxima de nós. Seu rosto está corado e ela parece
esbaforida. Provavelmente correndo de um lado para o outro tentando
resolver cada problema que aparece. Ela pega a taça da mão de Enrico
e vira todo o líquido de uma só vez.
—Ou você vai gostar tanto do lugar que nem pensará mais nisso.
— Pontua Enrico.
Liz e a sogra não se dão muito bem, mas se aturam pelo bem de
Mark. Ao menos ela está conseguindo construir a sua vida ao lado do
noivo que tanto ama.
—Oh! — Exclamo.
Vito nunca falou de Noah, mas ele também nunca falou de
nenhum amigo, então não é novidade que eu não soubesse quem Noah
era, até então.
—Ficarei, obrigada.
—Sou louco por você, bebê. Agora aceite o presente, por favor.
—Tudo bem.
Na época, eu nem dei bola para isso. Pensei que o CEO estivesse
implicando comigo. Vito parecia me odiar. E odiava, de fato.
Vito solta uma risadinha. Ele desvia sua atenção da estrada por
alguns segundos para olhar para mim.
Vito dá de ombros.
—Eu não sei bem. Meu pai ouvia muito, era o seu gênero
favorito. Quando ele morreu, eu passei a ouvir como uma forma de me
sentir mais próximo a ele.
—Deve ter sido bem difícil descobrir que eu, na verdade, não
caía aos seus pés, e muito menos estava obcecada.
—Eu fiquei com tanta raiva. Fiquei com ainda mais raiva de mim
por te desejar. Mas você também não estava colaborando com aquela
regata fina mostrando os bicos dos deliciosos seios...
Sinto meu rosto corar. Fiquei tão nervosa no dia que conheci
Enrico e Vito, pensando que a minha vida acabaria ali, que nem
percebi a roupa que eu estava vestindo.
Vito Costello
Agnes ficou excitada com a nossa conversa, e eu, como um bom
namorado, não posso deixar a minha garota desejosa.
Enfio minha cabeça no meio das suas pernas e passo a língua por
toda a sua extensão.
—Ohhhh!
Chupo o seu clitóris com força, com sede. Passo a língua pelo
nervo sensível, massageando, induzindo-o a lhe dar ainda mais prazer.
Tiro meu rosto do meio das suas penas, Agnes murmura algo
ininteligível, protestando a ausência do meu toque.
Abro as minhas calças e meu cacete salta para fora, esticado,
molhado, pronto para recebê-la.
—Sente-se, querida.
Estoco sua vagina bruto, forte, fundo. Agnes senta em meu cacete
como uma rainha senta em seu trono. Ela sobe e desce, arquejando a
cada penetrada. Sua cabeça, volta e meia, bate no teto do veículo, mas
ela não parece se importar, está dominada demais de deleite para isso.
Agnes Bellini
—Vovô! — Ralho.
—Quem?
Abro um sorriso que não chega aos olhos e pela tossida para
abafar a risada que Vito dá, meu sorriso deve ter ficado mais parecido
com uma cara de nojo do que com um sorriso de fato.
—O quê?
—Eu estou bem. Vito encomenda comida todos os dias para mim
desde que soube que eu almoçava industrializados. — Vovó me lança
um olhar reprovador. Coloco as mãos para cima instantaneamente. —
Eu estou me alimentando bem, vovó. Acredite, Vito cuida disso. Até
parece que vocês se comunicam. — Solto uma risadinha nervosa. — E
quanto a gastrite, tive umas crises, mas já estou melhor.
Hoje, quando cheguei na casa dos meus avós, não pensei nos
meus pais imediatamente. Não lembrei do passado doloroso, da
infância conturbada pela saudade. Eu pensei no agora.
—Nós tivemos que expulsá-la para Londres, ela não queria ir,
tinha medo de nos deixar sozinhos, mas em cidade grande as
oportunidades veem com mais frequência, então Ruth conseguiu
convencê-la depois de algum tempo.
—Ah, nós também sentimos saudades dela. Agnes tenta ser forte
para amparar a todos. Quando o meu filho se foi com a minha nora,
Agnes viveu anos calada, ela não tocava no assunto. Como era
pequena, pensamos que havia esquecido, mas era só uma máscara, uma
que ela usa até hoje. Agnes sente falta dos pais e nunca superou a
morte deles, mesmo que diga o contrário.
—Obrigado.
Agnes disse que eu passaria por essa conversa. Bem que ela
tentou impedir o diálogo, mas não pode e não consegue controlar tudo.
No entanto, eu estava ansioso por isso também e nem sabia.
Ela solta uma risadinha, baixa o suficiente para que ninguém nos
lance olhares de reprovação.
Agnes Bellini
Nossa senhora, preciso me concentrar na missa que está quase
acabando e não soltar uma gargalhada estrondosa, o que é quase
impossível, considerando que Vito está ao meu lado basicamente
dormindo em pé. O CEO na missa é icônico, gostaria de poder enviar
uma foto para Enrico, mas seria desrespeitoso. E, no momento,
considerando que sou uma pecadora, não posso acrescentar mais
coisas a essa lista. No entanto, ainda daria uma parte da minha alma
para descobrir o que vovô e Vito conversaram na garagem. Eles
passaram a tarde toda no local, depois disso, Vito saiu estranho,
pensativo, até mesmo distante.
—Você se arrepende?
—É puro?
Quase me engasgo com a saliva. Puro significa não usar a pessoa
como um objeto de prazer sexual. Estou cada vez mais enrascada nessa
conversa.
—Explique-se, criança.
Engulo em seco. Será que o padre não tem outra pessoa para
atender? Já está tarde, não?
—Eu não acho que Vito seja um objeto sexual, mas ele serviria
muito bem para isso.
A igreja fica próxima à casa dos meus avós, desta forma, optamos
por vi a pé até o local. Sei que eles já foram para casa, vovó precisava
ir adiantar o almoço para o compromisso da tarde.
“Não é o tempo, mas a pessoa” Enrico disse certa vez, e ele não
poderia estar mais certo.
—Vovó, o que é isso? — pergunto ao olhar para a mesa.
Vito deve estar querendo encontrar uma desculpa para não comer
o prato. E, pela cara de pânico do CEO, tenho certeza de que ele está
enjoado só de sentir o cheiro.
—Me lembre de não ir em mais locais onde tenha mais que dez
crianças. — Vito serve os copos de plástico com refrigerantes.
—Emily.
Solto uma risada sem humor. Seco os olhos com as pontas dos
dedos e planto um beijo vasto nos lábios do CEO, dono do meu
coração.
—Vito! — brado.
—Eu falei com ele mais cedo. — Eu ligo umas quatro vezes ao
dia para Enrico, a fim de saber como ele está levando as coisas e como
os meus felinos estão.
A mulher bufa.
—Eu sei.
—Obrigada, vovó.
Vito Costello
Não consegui falar muito com eles durante a semana inteira, foi
uma correria danada por causa das vendas das salas do prédio
inaugurado há algumas semanas, sem contar na busca da empresa por
imóveis que estejam indo a leilão. Vito colocou até Enrico no trabalho
dessa vez, e é claro que o Costello mais jovem não gostou nadinha.
Liz disse que isso é por conta da proximidade do final do ano, em
pouco mais de três meses o ano termina, e é sempre assim ne empresa
quando chega essa época.
—Enrico, o quê?
—Tudo bem.
Sou atacada dos nervos, ela não pode simplesmente ficar falando
em gravidez. Eu vou ter uma síncope.
—Vito vai chegar e não vai ver ninguém, ele ficará desconfiado.
Inventa uma desculpa... só não fala a verdade — Consigo pronunciar.
Um bebê.
Uma vida.
Não é fácil descobrir isso, ainda mais quando se é uma coisa tão
inesperada. E ainda por cima, quando o remédio está rigorosamente
em dia, em uma falha tentativa de evitar isso.
—Sim.
—Rigorosamente em dia?
—Sim.
—Não.
— Não.
Fico parada olhando para ela sem piscar. COMO QUE ISSO NÃO
ESTÁ ESTAMPADO NA CARTELA OU EM QUALQUER OUTRO
LUGAR VISÍVEL? Por fora, uma pessoa calma, tentando digerir o que
eu acabei de ouvir. Por dentro, alguém surtando e pensando em
quantas mulheres fizeram a mesma coisa sem saber.
—Você estava sem o efeito esse tempo todo, querida, por isso
engravidou. — responde o óbvio. — Você sente algum sintoma
diferente?
— Quais?
—Oh, querida, vai dar tudo certo. Não fique preocupada, isso não
é o fim do mundo, é o começo de uma nova vida com muito amor e
companheirismo. — Me consola.
Fico sentada em completo silêncio.
—Ainda bem que eu não vomito e nem tenho diarreia. — Liz faz
o sinal da cruz e olha para o teto. — E a partir de agora, todas as vezes
que a minha menstruação descer pouco, será um surto diferente.
— Entre! — grito.
Meu dia foi mais que exaustivo. Pela primeira vez em meses, ao
menos desde que comecei a me relacionar com Agnes, eu não quero
sexo, quero somente um banho e cama.
O quê?
—Você ficou louco? Enrico, que maturidade você tem para cuidar
de uma criança?
Não estou assim pelo bebê, não no sentido literal pelo menos,
tive muitas horas para pensar nisso. Estou assim pela preocupação de
como as pessoas à minha volta reagirão. Poxa, vida! Eu engravidei de
um homem na nossa primeira relação sexual, do qual eu conheço
pouco mais de quatro meses e que estamos juntos a pouco mais de
dois.
Espero que Vito não quebre o meu coração, mas se ele o fizer, eu
cuidarei da criança sozinha, assim como muitas mães solteiras e
guerreiras fazem. O bebê faz parte da minha vida agora, independente
das opiniões alheias. E, parece estranho, mas eu já o amo com todas as
minhas forças, o amei desde o momento em que o teste marcou dois
tracinhos, mesmo que na hora eu não soubesse bem o que estava
acontecendo. Esse deve ser o chamado “amor de mãe”, muitas pessoas
falam dele, dizem que é incondicional. Espero que amor de pai seja
tão forte quanto. Mas não quero pensar nisso agora. Por ora, um passo
de cada vez.
—Ah não vai mesmo! Eu estou com a bunda dura depois de todas
essas horas de viagem. Você vai entrar nessa casa e fazer o que tinha
vontade quando levantou de manhã. — Brada Enrico do banco do
passageiro.
Ela não quer saber como eu fiz o bebê, não é mesmo? Ela sabe
muito bem como eles são feitos, ela já teve um filho. Sinto minhas
bochechas esquentarem.
—Tudo bem, meu bem. Não vamos julgar você, querida. Por mais
que tivéssemos desejado um futuro diferente, como você disse, esses
são os planos de Deus, nós já amamos demais nosso bisnetinho. —
Vovó chora ao falar da criança que nem nasceu ainda.
Ele se vira para mim e, pela primeira vez desde que papai e
mamãe morreram, vovô chora. Meu coração fica despedaçado ao
pensar que a decepção é tanta ao ponto de fazê-lo chorar de tristeza.
—Eu é que agradeço por ter uma neta tão incrível. — Pontua
vovô.
—Agora que tudo deu certo, a senhora bem que poderia fazer
aqueles bolinhos novamente. — Fala na maior cara dura.
Vovó começa a rir, enquanto Liz cutuca Enrico.
Sinto meu coração mais leve após a conversa com eles. É como
se agora as coisas começassem a se encaixar e fazer sentido. Mas,
mesmo estando imensuravelmente feliz com a reação da minha
família, eu não paro de pensar nele. Minha mão involuntariamente
pousa sobre o ventre ainda liso.
Agora, aqui estou eu, sentado ao seu lado na areia gelada, com o
vento batendo em meus cabelos e a brisa do mar beijando a minha
pele, enquanto escuto os seus relatos que, no momento, não fazem
sentido algum para mim.
Fico parado no lugar por tempo o suficiente para ela achar que eu
tive uma síncope. Não sei se eu ouvi direito. Será que eu estou tendo
uma alucinação? Ou vendo uma miragem?
—Eu pensei que.... pensei que você não aceitaria bem a notícia,
achei que surtaria e me culparia porque eu disse que tomava a pílula...
você confiou em mim.
—Por quê?
—Não é tão fácil assim, não com o pai dele sendo como é.
—Eu sei, meu amor. — Beijo o topo da sua cabeça. — Mas não
há escolha, nós vamos nos casar e ter um bebê. Se você e Isaac não
pararem agora com essa mentira, as pessoas começarão a duvidar da
paternidade e lhe dar apelidos poucos corteses, o que fará com que eu
tenha um árduo trabalho para acabar com cada um deles.
Agnes solta um suspiro cansado. Ela sabe que eu estou certo, por
mais que queiramos ajudar os dois a continuarem juntos, nós fizemos a
nossa parte por todos esses meses, mantendo o nosso relacionamento
escondido. Agora chegou a vez deles de encontrarem uma solução.
Agnes Bellini
Liz revira os olhos, ela abre uma pasta em sua agenda eletrônica,
antes de explicar.
—Agora, tome logo isso daí que daqui — ela olha novamente
para o relógio de pulso — duas horas e cinquenta minutos, outro copo
estará a sua disposição.
—Compreendido.
Vito Costello
Agora que eu sei que serei pai, não posso deixar de me preocupar
com as palavras do detetive Green, pois, não é somente com a vida
Enrico que eu precisarei me preocupar de agora em diante, mas a de
Agnes e do nosso bebê também.
Noah ainda não sabe que serei pai, ninguém sabe. Por causa do
recente rompimento da relação falsa entre Isaac e Agnes, preferimos
manter tudo em sigilo para evitar falatório, ao menos é isso que eu
falei para a escritora. A verdade é que, desta forma, protegerei do
assassino de meus pais. O detetive ainda não descobriu o que motivou
o homicídio, mas se for dinheiro, um herdeiro seria um grande
problema para os envolvidos.
— O quê?
—Quem? — insisto.
—Ah, boa tarde, senhor Costello. Que bom que tenha entrado em
contato, espero que tenha novidades ou, infelizmente, a investigação
terá que ser arquivada, pois não há provas contundentes para continuar
com ela.
—E um trabalho. — Acrescento.
Não posso deixar de notar, entretanto, que Vito está estranho nos
últimos dias, todas as vezes que eu questiono o motivo, ele logo trata
de dispersar do assunto. Mas eu sei que há algo errado, espero que no
momento certo ele revele o que tanto lhe atormenta.
Vito não fala nada, mas o sorriso estampado em seu rosto fala por
si só o quanto está animado, ansioso e nervoso para esse momento.
Olho para Vito, sei que estou chorando pela visão embaçada. O
CEO está tão emocionado quanto eu, se não mais. O momento é
mágico, único.
—Oi, vovó.
—E ele está certo, precisa cuidar do bebê. Mas enfim, liguei para
perguntar se você possui preferência das flores na igreja.
—Estou de acordo.
Vito me vira de frente para ele com tanta rapidez que eu fico
levemente tonta. Mas não tenho tempo para pensar nisso, ele cola sua
boca a minha com força, paixão e intensidade. Suas mãos varrem o
meu corpo apertando nos lugares certos, enviando arrepios de prazer
para todo o meu ser.
Vito Costello
—Aí, sua louca! Qual comida você quer? — Ignoro seu deboche.
—Tudo bem, mas antecipo que só estou fazendo isso porque não
quero pegar tersol.
Vito Costello
Não posso nem ouvir a sua voz, maldito dia em que nossos
caminhos cruzaram e eu me envolvi com uma mulher dessa alcunha.
—Não precisa falar nada. Antes de tudo, o dinheiro não está mais
na conta em nome de Teresa. — A desgraçada tem a destreza de fazer
uma cara de assustada, como se não estivesse entendendo nada. — Só
o chamamos aqui para que explicasse o que lhe levou a fazer isso.
—Você não sabe do que está falando, Vito Costello — Ele cospe o
meu nome com nojo. — Mas devo admitir que você foi o único idiota
que se tornou o meu amigo, e com isso, encontrei a oportunidade de
ficar rico de uma vez por todas.
Thomaz solta uma risada maligna que faz com que Agnes e
Enrico se encolham. Espero do fundo do meu coração que isso não
seja ruim para o bebê, pois, caso positivo, eu mesmo matarei Thomaz
e, posteriormente, Agnes por não ter me dado ouvidos.
—Vito, querido, por favor... não credite nele... eu não sabia dos
seus pais.... eu amo você!
Agnes passou mal, ficou em repouso por essa semana, mas após
alguns exames, foi constatado que está tudo bem com os dois.
—Eu amava a sua mãe... sempre amei, na verdade. Seu pai nunca
deve ter dito, mas eu a conheci primeiro. Éramos amigos, eu nutria um
forte sentimento por ela... então ela conheceu Richard, e não levou
mais do que alguns meses para ele tomá-la de mim.
Dou um soco na mesa descontrolado.
—Espere! Vito...
Agnes Bellini
Desde que tudo isso aconteceu, Vito tem conseguido ser ainda
mais superprotetor.
—Sim.
—Aí meu Deus! Espero que não demore a sair. — Fala a mais
baixa.
Neguei esse meu lado por muito tempo, por vergonha e medo de
retaliações, mas hoje eu sei quem eu sou e o que eu amo fazer.
—Sim!
Vê-la fazer isso significa muito para mim, mesmo ela não tendo
conhecido os meus pais, Agnes se importa com eles. É isso que me faz
amá-la a cada dia mais.
Um menino.
Meu garoto.
Agnes Bellini
Céus!
—Agnes fez isso por nós... não deixarei que ela seja tratada de
tal forma pelo simples fato de ter sido uma boa amiga e tentado me
ajudar. — Enrico fala isso olhando diretamente para Isaac.
—Porque o seu filho nunca esteve com Agnes, esse tempo todo
ele esteve comigo.
—Isso é verdade?
—Eu... — Ele fica nervoso com o impacto que isso dará em sua
carreira.
A gata que sempre fora arisca com todos, parece ter caído no
charme de Vito assim como eu.
—Eu amo você! — Ele puxa a minha mão e beija o dorso dela.
—Sim!
—Sim!
— Para casa!
Não preciso transparecer em palavras todas as emoções que eu
estou sentindo, o sorriso estampado em meu rosto faz isso por si só.
Um ano depois...
Autografo mais uns livros e tiro algumas fotos com leitoras que
fazem questão. Ainda não me acostumei com essa atenção toda, mas
aos poucos, vou me sentindo mais confortável.
Sei que meu marido se aproxima pelo cheiro familiar do seu
perfume. Ele pousa uma mão em meu ombro e abre o sorriso que eu
sou completamente apaixonada e que deixa a minha calcinha
encharcada.
Duas vezes por mês nós vamos visitá-los, para que eles possam
acompanhar o crescimento do bisneto. Contudo, quando estão com
muita saudade, pedem para que um motorista vá buscá-los.
Vito se derrete ainda mais pelo filho todas as vezes em que ele
faz isso. Observo os dois homens mais importantes da minha vida com
o coração repleto de gratidão por tudo o que conquistei até agora.
Ela não tem jeito! Adora se aparecer por ser minha amiga, exalta
isso em nossas fotos nas suas redes sociais e fica toda boba todas às
vezes que alguma leitora minha começa a lhe seguir no Instagram.
Olho para o meu filho que brinca no chão, para os meus avós que
sorriem de tudo o que a criança faz, para Enrico que baba observando
a cena e para o meu marido que parece ter uma conversa profunda com
o amigo banqueiro.
Vito Costello
Noah está claramente preocupado com alguma coisa. O CEO do
Banco Chevalier não fica assim por qualquer motivo, portanto, seja lá
o que estiver atormentando os seus pensamentos, é um assunto sério.
Nunca deixe que o preconceito roube sua felicidade, seja você, liberte-
se.
Bianca Pohndorf
Agradecimentos
Gratidão!
[1]
Gíria literária para nomear Instagram.