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Título original: Como não entrar na vida de um CEO.

Copyright © 2021 por Bianca Pohndorf.

Edição: Mari Vieira


Preparação de texto: Mari Vieira
Revisão: Mari Vieira
Capa: Elaine Cardoso
Diagramação: Grazi Fontes

Está é uma obra de ficção.


Nomes, personagens, lugares e acontecimentos descritos são produtos
da imaginação da autora. Qualquer semelhança com nomes, datas e
acontecimentos reais é mera coincidência.
Todos os direitos reservados.
Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida por qualquer forma
e/ou quaisquer meios existentes sem prévia autorização por escrito da
autora.
Os direitos morais foram assegurados.
A violação dos direitos autorais é crime estabelecido pela lei nº.
9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal.
Versão Digital — 2021.
Ouça a playlist de “Como não entrar na vida de um CEO” enquanto
aprecia a leitura, basta abrir o leitor de QR Code do seu celular e
apontar câmera para o código abaixo:
Sinopse

Você já se perguntou de onde as escritoras tiram os nomes dos


personagens? E se por uma coincidência o nome escolhido fosse o
mesmo de uma pessoa real? Quais consequências essa eventualidade
traria?

Agnes Bellini estava desempregada e desanimada, até que em


uma noite, com uma garrafa de tequila ao lado, começou a transformar
um dos seus sonhos em uma história. Sem muitas expectativas, lançou
em uma plataforma digital, usando o codinome Abelli. Ela só não
poderia imaginar que em poucas horas a sua história de romance se
tornaria um best-seller obtendo milhares de leituras.

Vito Costello, CEO da Costello Imobiliária viu a sua vida virar


de cabeça para baixo ao ver seu nome estampado em um romance
erótico. O CEO sempre sério e respeitado, virou motivo de chacota
dentro da própria empresa.

Decidido a resolver o problema, ele vai atrás da garota tão


obcecada por ele ao ponto de escrever um livro. Ele só não esperava
encontrar uma mulher extremamente atraente e que nunca havia visto
na vida.

Uma coincidência do destino, um CEO arrogante, uma mulher


impetuosa e seu melhor amigo espirituoso te levarão a momentos
cômicos nesta comédia romântica com uma pitada de erotismo.

Se você gosta de uma comédia romântica estilo os filmes


americanos, então esse é o livro certo para você.
SUMÁRIO

Sinopse
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40
Capítulo 41
Capítulo 42
Capítulo 43
Capítulo 44
Epílogo
Nota da autora
Agradecimentos
Olho pela décima vez para o meu aparelho celular, desde que
meu nome verdadeiro veio à tona, as editoras de todos os cantos mais
remotos do País começaram a encher minha caixa postal com ofertas
de publicação.

Há alguns dias, publiquei de forma independente por uma


plataforma digital, o livro Eu Sou Sua, um romance clichê entre um
CEO e uma corretora de imóveis, por se tratar de um erótico, usei o
codinome “Abelli”, uma abreviação do meu nome verdadeiro, Agnes
Bellini. No entanto, eu não imaginava que, em poucos dias, o livro
viria a se tornar um best-seller da plataforma. E, desde então, a minha
vida virou uma completa loucura.

Solto um suspiro pesado e olho para Zeus, meu gato


rechonchudo, peludo e completamente preguiçoso, porém, dentre meus
três filhos felinos, Zeus é o mais carinhoso. Ele possui uma longa
pelagem branca e lindos olhos verdes. Atena, a rainha da casa, tem a
pelagem cinza, suas patas, barriga e nariz são brancos, e seus olhos
castanho-amarelados. Ela é arisca e viciada em sachê. Já Netuno, tem
a pelagem alaranjada. O gato é frenético, sua principal habilidade é
destruir toda a minha casa.

— Eu sei, também estou cansada e irritada com esse toque


insistente — falo para Zeus.

Meu gato solta um miado e corre para fora do quarto. Nem eles
aguentam mais toda a agitação que a nossa vida se tornou.

Fui criada pelos meus avós paternos, vivi a maior parte da minha
vida em Weymouth, uma cidade costeira, no interior do Reino Unido.
Há alguns meses eu me mudei para Londres, a fim de conseguir mais
oportunidade de trabalho. Exerci algumas profissões nesse meio
tempo, até que descobri a escrita, em um dia, frustrada pela falta de
dinheiro e oportunidades, comecei a escrever com uma garrafa de
tequila ao lado, e publiquei, sem expectativas, o meu romance erótico.
No outro dia, cem mil leituras em poucas horas.

Foi um surto, literalmente.

Venho me mantendo, atualmente, somente com o dinheiro que


ganho dos Royalties do e-book.
Estava tudo indo perfeitamente bem, até meu nome verdadeiro
ser revelado.

Meus avós são católicos praticantes, eles me criaram sendo uma


boa cristã, sendo assim, hoje, aos vinte e cinco anos, ainda sou virgem,
contudo, mantenho minha castidade pelo simples fato de que, até
agora, não encontrei o cara certo para me entregar.

Esconder a minha verdadeira identidade foi o meio que eu


encontrei de conseguir colocar em histórias fictícias, todos os desejos
que possuo recolhidos. Se meus avós souberem do livro e como
descrevi as cenas de sexo de forma tão explícita, eles vão ter um
infarto e eu me sentirei culpada pelo resto da minha vida.

De alguma forma, um IG [1] literário conseguiu descobrir a minha


verdadeira identidade, o que era para ser uma postagem comum,
fazendo resenha e elogiando o livro, se tornou o caos da minha vida.
Minha caixa de mensagens do Instagram começou a lotar, desde fãs,
até editoras. Não contentes com tantas mensagens, eles passaram para
ligações, meu celular começou a tocar dia e noite. Inicialmente, eu
atendia pensando se tratar de alguma resposta de emprego dos
milhares de currículos que larguei, mas sempre eram ofertas de
publicação.

Parece besteira, mas eu tenho zero interesse em publicar o livro


de forma física. Primeiro pelo fato do respeito que nutro pelos meus
avós. A minha identidade já foi revelada, mesmo que eu utilize o meu
pseudônimo, ainda saberiam quem sou eu. Segundo, hoje em dia,
livros digitais rendem muito mais que os físicos.
Estou tão estressada com toda essa situação que não consigo nem
expressar através de palavras a frustração que estou sentindo.

Me olho no espelho de canto e vejo as sombras escuras marcadas


debaixo dos meus olhos castanhos pelas noites mal dormidas. Meus
cabelos loiros estão presos em um coque. Não tenho paciência, muito
menos força de vontade de penteá-los. Ainda estou de pijama, apesar
de já ser 11h da manhã. Não tenho amigos e nem conhecidos em
Londres para receber visitas, portanto, posso ficar com a minha roupa
de dormir sem medo de ser pega desprevenida.

Um miado estridente chama a minha atenção, olho para a porta


do meu quarto e vejo Atena fazendo um pequeno fiasco.

— Já sei, está na hora do sachê. — Solto um suspiro audível.

Sem força de vontade, me levanto e vou até a cozinha. Se eu não


alimentar essa gata, só Deus sabe o que ela fará quando eu estiver
dormindo.

Recolho o sachê do armário e sirvo os três potes.

Zeus e Netuno não são tão adeptos ao petisco, eles sempre


deixam um resto no prato, mas não dura mais que alguns segundos,
pois logo Atena trata de ir em cada um exterminar de vez com o
conteúdo.

Ouço meu celular tocando mais uma vez, estou prestes a guardar
os meus bons modos na gaveta e mandar para a puta que pariu o editor
insistente, quando vejo o número na tela.
Atendo em um piscar de olhos.

— Olá, vovó.— digo animadamente.

Ela me liga todos os dias, nesse mesmo horário, através do


WhatsApp. Como sempre, sua câmera está apontada para os seus pés e
eu não consigo ver o seu rosto.

— Vovó, troque para a câmera frontal — peço.

— Essa porcaria de celular, nunca faz o que a gente instrui — fala


indignada.

Ela coloca a mão na frente da câmera, não consigo ver mais nada.
Ouço alguns ruídos e, finalmente, consigo ver o seu rosto.

Vovó está com os cabelos brancos presos em um coque, seus


olhos castanhos como os meus, me inspecionam minuciosamente.

— Agnes Bellini, você ainda está de pijama? — brada.

Levanto o celular, focando-o somente em meu rosto.

— Não — minto. Espero não ir para o inferno por isso. — Estou


usando uma blusa casual.

Olho para a minha própria roupa e tenho vontade de me


autoagredir, de tantas desculpas, eu fui dar logo essa? Meu pijama de
gatinhos se parece nitidamente com uma roupa de dormir.

Vovó semicerra os olhos.


Engulo em seco.

— Olhe como os seus bisnetos estão! — Viro rapidamente a


câmera e foco nos três gatos comendo.

Sou uma péssima neta, eu sei. Mentir é pecado, ainda mais para
os próprios avós.

Vovó não é muita adepta a felinos, no entanto, a triste história de


vida dos meus gatos conseguiu amolecer até mesmo o seu coração.
Atena eu encontrei abandonada em uma rodovia movimentada. Ela
estava assustada e faminta, prestes a ser atropelada. Não pensei duas
vezes, peguei a delicada bolinha de pelos e trouxe para casa.
Posteriormente, encontrei Zeus, meu gato carinhoso estava miando
copiosamente na calçada, pedindo comida e atenção, trouxe-o
imediatamente. E, por fim, Netuno, o meu felino inquieto estava todo
machucado quando o encontrei, ele havia sido atacado por um
cachorro, Netuno, como um guerreiro, lutou pela sua vida, e em troca
disso, conseguiu um lar com muito amor.

— Você está dando comida demais para esses gatos, estão cada
vez mais gordos — reclama.

Solto uma risadinha.

Por mais que ela tente parecer indiferente com os peludos, no


fundo, eu sei que ela nutre um sentimento por eles.

Viro a câmera novamente para mim, dessa vez, cuidando para


esconder o pijama.
— Eles estão saudáveis assim, vovó.

— Tudo bem, chega de falar de gatos. Quero saber como andam


as coisas, já conseguiu um emprego? — Sua voz soa preocupada.

Meus avós não são ricos, vivem da aposentadoria. Por mais que
eles insistam em me mandar dinheiro, eu sou enfática em negar a sua
ajuda. Eles já fizeram muito por mim, agora merecem descansar e
aproveitar a vida.

— Quase. — minto novamente.

Não estou tão preocupada, por ora, com isso. Com os Royalties
que tenho ganhado, consigo me manter incrivelmente bem. Além do
mais, não sou uma consumista, sempre fui muito econômica. Gosto de
comprar roupas e me vestir bem, mas isso não significa que eu saia
por aí me endividando em lojas.

Vovó solta um suspiro exasperado.

— Podemos lhe mandar dinheiro, Agnes, você não precisa fazer


tudo sozinha — murmura.

Abro um sorriso tímido.

— Eu sei, vovó, acredite, está tudo sob controle.

Gostaria de estar por perto para poder abraçá-la.

Quando eu tinha quatro anos de idade, meus pais saíram para um


vale night, eles me deixaram em casa com meus avós, prometeram
retornar com um irmão, no entanto, eles nunca mais voltaram para
casa. Meus pais sofreram um terrível acidente de carro, papai morreu
na hora, e mamãe o seguiu horas depois. Eu era muito jovem, lembro
de pouquíssimas coisas, sendo uma delas, de que era um dia chuvoso e
terrivelmente gélido.

— Onde vovô está? — mudo de assunto.

Ela bufa, parece irritada com alguma coisa.

Um dia, quero ter o mesmo relacionamento que eles possuem. Os


dois se amam de tantas formas possíveis que, nem em mil livros, eu
conseguiria descrever esse sentimento. Juntos, conseguiram superar a
morte do único filho.

— Seu avô é um velho teimoso, está arrumando aquela velharia


que ele chama de carro há horas — fala irritada.

Vovô possui na garagem um Alfa Romeo Spider ano 1974, na cor


vermelha. Ele é louco pelo carro e, por mais que o veículo já esteja em
perfeitas condições, vovô vive arranjando desculpas para alterar peças
e modificar mais alguma coisa. Vovó odeia o veículo, ela o denomina
carinhosamente como “lata-velha”, e não entende a fissuração do
marido pelo carro, ainda mais que, ele não o tira de dentro da garagem
sob hipótese alguma.

Abro um sorriso com a sua irritação.

Quase cinquenta anos de casamento e os dois continuam


discutindo pelas mesmas coisas triviais.

—Tudo bem, querida, vou deixá-la com os seus afazeres. Mais


tarde nos falamos. Eu te amo!

—Também te amo, vovó, até mais.

Desligo o telefone e solto um suspiro cansado.

Um dia eu gostaria de ter um amor como o dos meus avós, ou


como o de Vito e Serena, os personagens do meu livro

Sinto alguém acariciando a minha panturrilha. Olho para baixo e


vejo Zeus. Abro um sorriso, me agacho e acaricio a cabeça do meu
felino.

— Eu sei, eu sei, vocês são os amores da minha vida.

Ele mia, como se estivesse concordando com a minha afirmação.


Batuco os dedos da mão direita na mesa, enquanto com a
esquerda eu apoio o meu queixo. Entediado, seria um eufemismo para
descrever como eu realmente me sinto.

Eu detesto essas reuniões intermináveis de negócios.

A minha empresa, Costello Imobiliária é uma das maiores do


ramo do Reino Unido, fizemos nome e alavancamos nosso ranking há
alguns anos, após a compra do Edifício Gherkin. Foram os quase 3
bilhões mais bem gastos da minha vida.
Observo pela centésima vez o meu relógio de pulso. Tenho um
encontro com Teresa esta noite e estou completamente agradecido por
isso, após um dia exaustivo, nada melhor do que sexo sem
compromisso.

— Senhor Costello, a reunião acabou. — Ouço a minha secretária


falar.

Olho para os lados e vejo que toda a atenção está sobre mim.
Fiquei tão perdido em pensamentos, entoando mentalmente súplicas
para o término da reunião, que nem percebi quando aconteceu.

Liz, minha secretária, é uma mulher jovem e bonita. Eu não


costumo ter funcionárias tão novas, muito menos atraentes, pois a
relação de trabalho acaba se misturando com a pessoal. Contudo, Liz é
diferente, ela possui um noivo há anos e, além de amá-lo
consideravelmente, a mulher é completamente fiel a ele. Sendo assim,
é fácil ter uma mulher bonita, jovem e competente trabalhando ao meu
lado.

Não que eu seja um homem descontrolado, longe disso, trabalho


é trabalho, sexo é sexo.

A última vez que eu andei com uma das minhas empregadas, ela
fez um pequeno escândalo na recepção, exigindo mais atenção de
mim. Foi demitida e bloqueada da minha vida na mesma hora. Desde
então, procuro mulheres que estejam o mais longe possível do meu
ambiente profissional.

Errar uma vez é humano, insistir no erro é burrice.


— Obrigado pelo seu tempo, Mathias — agradeço ao corretor de
imóveis.

Me levanto subitamente da cadeira e fecho o meu paletó. Passo


as mãos pelos cabelos desgrenhados depois do longo dia exaustivo.

Sem me despedir de ninguém, saio da sala.

No elevador, alguns funcionários aguardam junto comigo em


direção à garagem do majestoso prédio, sede da Costello Imobiliária.

Puxo o meu celular do bolso e digito uma mensagem para Teresa.


Odeio atrasos, sempre faço questão de reafirmar o horário e local com
os meus compromissos.

Risadinhas chamam à minha atenção, olho para os lados e vejo


algumas funcionárias cochichando e olhando em minha direção. Fico
rígido automaticamente, disfarçadamente, me olho no espelho
conferindo o meu visual. Não há nada errado. Devo estar imaginando
coisas, posso culpar o cansaço por isso.

O elevador para em outro andar, duas mulheres estão prestes a


entrar, mas quando seus olhos pousam em mim, elas começam a
gargalhar.

Mas que droga está acontecendo aqui?

Olho mais uma vez para o espelho e não reparo em nada fora do
normal. Sinto a minha testa franzir em desentendimento.

Ignorando os olhares de deboche, aguardo, em silêncio, ao meu


destino.

Saio da caixa metálica e meu carro já está me esperando. Não


espero Anderson sair para abrir a porta para mim, eu mesmo faço isso.

— Para onde, senhor? — pergunta o motorista.

— Para casa.

— Gostaria de escutar alguma música, senhor?

— Lacrimosa.

O espaço traseiro da AUD preta é tomado pela melodia dramática


de Mozart. Eu sou completamente apaixonado por música clássica.

Não vejo o restante do percurso, fico completamente perdido nas


notas dos acordes de Lacrimosa. Quando o carro estaciona em frente à
minha residência, em Notting Hill, desço aflito, louco por um banho e
ansioso pelas próximas horas de lazer.

Estranho o silêncio do ambiente ao entrar.

Meu irmão está sempre com o som ligado, ou a televisão, ou


conversando animadamente com os amigos. É impossível não detectar
a sua presença nos lugares. Posso denominar Enrico como um garoto
caloroso.

— Enrico? — grito.

Nada.
Entro em alguns cômodos a sua procura. Enrico sempre avisa
quando vai sair ou deixa algum bilhete. Desde que nossos pais
morreram, eu temo pela sua segurança, apesar dele já ser um homem
formado com vinte e três anos.

— Pensei que demoraria mais. — Ele aparece, saindo da cozinha.

Dou um pulo e espalmo as mãos no coração.

O garoto, pois para mim ele sempre será um, está com o seu
leitor de livro, mais conhecido como Kindle. Enrico não é adepto ao
trabalho, gasta a nossa herança com roupas e livros.

— Você me assustou — brado.

Ele revira os olhos e dá uma mordida em seu sanduíche de pão


integral.

—Vou sair essa noite, não tenho hora para retornar — aviso.

Apesar de sermos adultos, formados e independentes. Enrico e eu


dividimos uma relação de cumplicidade, optamos por sempre avisar
sobre as nossas saídas, preocupamo-nos um com o outro. Depois da
morte abrupta, até hoje mal resolvida, dos nossos progenitores,
passamos a nos tratar assim. Eu iria até o inferno para defendê-lo e sei
que ele faria a mesma coisa por mim.

Começo a subir as escadas indo, finalmente, em direção ao meu


quarto. Banho! Banho! Banho! Meu cérebro comemora.

Enrico não responde, ao invés disso, ele começa a gargalhar.


Paro os meus passos e me viro para ele. O garoto está vermelho
de tanto rir.

— Algum problema? — começo a ficar irritado com a sua


oscilação de humor.

Enrico não consegue responder, pois o acesso de risos não passa.

—Tudo bem. — Volto a subir as escadas.

— Espere, Vito. — Enrico faz uma pausa, tentando se acalmar.


— Você já leu Eu Sou Sua?

— O quê? — Minhas sobrancelhas escuras franzem.

Enrico volta a gargalhar.

—Você precisar ler esse livro.

Bufo completamente impaciente com o meu irmão.

— Eu tenho muito mais o que fazer do que ficar lendo esses seus
romances tolos.

Já que Enrico não possui interesse algum em assumir o cargo de


CEO da empresa que nossos pais deixaram como herança, eu preciso
fazê-lo. Portanto, enquanto meu irmãozinho passa os dias lendo
romances bobos e sonhando com um relacionamento que não existe
além das páginas dos livros, alguém, no caso eu, cuida para que o
nosso patrimônio continue crescente consecutivamente.

— Não! Você não está entendendo, Vito, o romance é sobre você.


— O QUÊ?

Espero alguns segundos, olhando fixamente para o meu irmão,


tentando detectar qualquer traço de mentira em sua voz, ou algum
deboche em seu semblante, mas não há nada.

Para o meu horror, Enrico parece falar a verdade.

Sinto que vou ter uma síncope.

Começo a repassar mentalmente todos os meus contatos dos


últimos anos, mas nenhuma mulher falou algo sobre ser escritora, se
bem que eu nunca dei muita atenção para seus assuntos triviais, estava
mais interessado no sexo.

— É sobre um CEO chamado Vito Costello, ele se apaixona


perdidamente pela aeromoça Serena — explica Enrico.

Meu coração começa a bater tão descompassado que temo ter um


ataque cardíaco.

— Quem...? — deixo as palavras no ar.

— Abelli, mas descobriram a sua identidade recentemente, eu


acho.

Abelli, repasso novamente todos os meus contatos mentalmente.

Droga! Preciso começar a anotar o nome das mulheres em uma


agenda.

Passo as mãos nos cabelos, repuxando o couro cabeludo, em uma


tentativa frustrada de tirar alguma informação valiosa do cérebro.

Já sei, um advogado, eu preciso de um advogado!

— Vito, você está bem? — Enrico pergunta preocupado.

Olho para o meu irmão e balanço a cabeça em sinal positivo, pois


ainda não consigo assimilar as palavras.

— Enfim, o CEO se entrega para a aeromoça, ele vira, como a


escritora fala: o cachorrinho dela e eles vivem felizes para sempre.

Cachorrinho dela? Cachorrinho dela?

Céus!

— C-como você descobriu esse livro? — gaguejo.

Enrico solta um assobio.

— Está brincando? Ele é top de vendas na Amazon.

Eu vou matar Enrico se ele não me der respostas mais coerentes.

— O que isso significa? — Tento manter a voz calma.

Ele solta uma risada debochada.

— Significa, meu irmão, que o livro possui milhões de páginas


lidas.

Meu corpo grita por alguma coisa, mas estou tão perdido em
desespero e horror que não consigo identificar o que é exatamente.
Percebo, quase tarde demais, que eu preciso de ar.

Santo Deus! O que eu fiz para merecer isso?

— Advogado, preciso de um advogado — murmuro. Minha voz


sai em um sussurro e eu me sinto orgulhoso por conseguir proferir
alguma coisa.

— Ei, calma irmão, o livro é realmente um fenômeno, não vejo


motivos para procurar um advogado.

Olho para Enrico como se ele tivesse duas cabeças no lugar de


uma.

— Garoto, é a minha reputação! — vocifero.

Enrico revira os olhos novamente.

— Você fala como se fosse muito mais velho. Olhe só para você,
Vito, tem apenas trinta e dois anos e já age como um homem de
cinquenta — zomba. — Se não levar a vida mais levemente, logo,
logo, suas rugas vão piorar.

Fico boquiaberto.

Enrico é inconsequente, só não sabia que era tanto. Ele não


entende a gravidade da situação? Sou um dos CEO’s mais importantes
do Reino Unido, como posso deixar um livro idiota a meu respeito
circular dessa forma pelo País?

Imagens tomam conta da minha mente.


Não, não, não. Isso não pode ser o que eu estou pensando!

— Enrico, o que exatamente tem nesse livro? — questiono.

Meu irmão olha para os lados como se estivesse repensando em


todas as linhas que passou as últimas horas devorando. O sorriso
demoníaco que ele abre me faz suar frio. Nada bom!

— Sexo, sexo, sexo. A autora é tão maravilhosa que consegue


descrever de forma explícita essas cenas, aliás — seu sorriso se
amplia, ele pega seu leitor de livros e começa a citar: — “seu pênis é
aveludado como um pêssego maduro, e na boca, o gosto de leite
condensado com limão siciliano é indecifrável”.

Enrico cai na gargalhada novamente.

Não consigo me mexer, acho que acabei de ter um derrame.

— E tem mais, “agarro seus cabelos castanho-claros, os fios


sedosos deslizam pelos meus dedos como seda. Seus olhos, verdes
como as folhas na primavera me observam cheios de lascívia.” —
Enrico volta a sua atenção para mim. — Parece com você.

Me sento na escada com as pernas bambas.

Quem é que descreve um pênis como um pêssego? E,


principalmente, quem fala que esperma tem gosto de leite condensado
com limão siciliano?

Oh, Céus! Isso deve ser praga de alguma mulher que não liguei
no dia seguinte.
Eu estou acabado. A garota simplesmente comparou o meu pênis
com a droga de um pêssego?! E eu nem gosto de pêssego!

— Qual é o nome verdadeiro da escritora? — pergunto.

Enrico retira o celular do bolso e digita alguma coisa antes de


responder:

— Agnes Bellini.

Droga! Não lembro de nenhuma Agnes Bellini na lista mental dos


meus contatos.

Inspiro e expiro profundamente, tentando acalentar as batidas


descompensadas do meu coração. Lembro das risadas das funcionárias
da minha empresa e o meu choque se transforma em raiva.

— Eu vou processar essa desgraçada — esbravejo.

Enrico engole em seco e arregala os olhos.

— Não acho que seria uma boa ideia, Vito, ela deve ser
apaixonada por você... vai partir o coração da coitada.

Destino toda a minha raiva para o meu irmão sonhador. Enrico dá


alguns passos para trás, aumentando o espaço entre nós.

Pouco me importa os sentimentos da garota. Farei com que ela


repense seus sentimentos sobre mim. Eu não tolero ser feito de idiota,
ainda mais para milhões de pessoas.

— Isso não vai ficar assim — penso alto.


Estou tomado por ódio latente. As risadinhas não saem da minha
cabeça, ecoando em meus ouvidos como um mantra para a minha
vingança.

Agnes Bellini, não esquecerei o seu nome tão cedo, contudo, a


farei nunca mais esquecer o meu.

Forço meu corpo a levantar das escadas e saio caminhando a


passos duros, indo para o meu quarto, finalmente.

—Vito, por favor! — implora Enrico.

Ignoro o meu irmão. Ele e nem ninguém me impedirá de buscar a


vingança almejada.

Se Enrico continuar com suas atitudes inconsequentes, terei que


obrigá-lo a exercer algum cargo na empresa, sua fase juvenil já
passou, está na hora de assumir responsabilidades e aprender como um
CEO deve agir.

No mundo dos negócios, você é a presa ou o predador. Ele


precisa aprender, muito em breve, que para ser um CEO deve se
transformar no predador mais astucioso de todos.

Portanto, para o meu deleite, eu vou arrancar até a alma dessa


escritora medíocre. Pensará duas vezes antes de descrever meu pênis
como uma fruta. Ou melhor, antes de escrever quaisquer coisas que
tenha o meu nome no meio.
Observo minhas duas opções de almoço em dúvida: macarrão
instantâneo ou lasanha congelada?

Miau!

Olho para o chão e vejo Zeus se roçando em minhas pernas. O


gato parece se comunicar comigo, me ajudando a escolher a opção
mais fácil para o almoço.

— Você tem razão, querido — falo com o animal peludo.

Indiferente à minha escolha, coloco a lasanha congelada no


micro-ondas, considerando que com o macarrão eu teria que esquentar
a água e ainda cozinhar, a lasanha dará menos trabalho e eu posso
comer diretamente do pote, sem sujar louça.

Seleciono o temporizador, enquanto meu estômago ronca,


protestando de fome.

Nem lembro quando foi a última vez que eu fiz uma refeição.
Quando estou com a cabeça atolada, comida é o meu último recurso.
Forço a me alimentar somente para não desmaiar de fraqueza.

— Prontinho, Zeus, agora é só esperar. — Sorrio para o gato.

Me agacho e acaricio a sua cabeça. Seus pelos macios fazem


cócegas nas pontas dos meus dedos.

Não consigo compreender as pessoas que não gostam de gatos,


eles são animais extremamente inteligentes, altamente independentes e
um poço de amor interminável.

Hoje me dei a decência de colocar uma roupa simples, calça de


moletom e regata sem sutiã. Uma roupa confortável e um look caseiro
formidável.

Olho para os meus outros gatos, Atena dorme no parapeito da


janela e Netuno está em algum lugar, muito provavelmente
desmontando toda a casa.

Observo meu relógio de pulso e constato ser quase três horas da


tarde, ainda é muito cedo para tomar uma taça de vinho? Considerando
que sou uma autônoma, no momento, nunca é cedo para vinho.
Paro minhas caricias na cabeça de Zeus, e vou me servir de uma
taça de vinho tinto seco, me direciono para a mesa da sala, onde meu
notebook me aguarda.

Estou fazendo um Spin-off do livro, ainda preciso de dinheiro,


considerando o meu status: disponível para o mercado de trabalho,
portanto, quanto mais livros eu tiver, mais dinheiro eu ganharei.

Conecto a Alexa no Spotify e seleciono a música Lacrimosa de


Mozart. Sou movida a músicas clássicas, além de serem a minha
inspiração para a escrita. Tenho os meus compositores favoritos:
Beethoven, Mozart, Chopin e Johann Pachelbel. As melodias variam
de acordo com as páginas escritas. Melancólicas, para momentos de
tristeza; Agudas, para momentos sensuais; e, agitadas, para momentos
de felicidade.

— Muito bem, vamos dar vida novamente a Serena e Vito. —


murmuro.

Começo a digitar furiosamente, perdendo a linha do tempo. A


história absorve toda a minha atenção. Me entrego de corpo e alma
para o livro. Quando escrevo, sinto como se estivesse flutuando,
visitando os mundos dos quais eu criei mentalmente.

A música penetra em meus ouvidos, me levando além. Sinto


como se eu fosse a própria Serena, vivendo a sua história de amor que
conquistou inúmeros corações.

Dou um pulo da cadeira com o coração palpitando, quando


Netuno salta em meu notebook, tirando-me a concentração. Coloco as
mãos na boca, tentando aplacar os meus batimentos acelerados.

— Netuno! Eu não acredito! — esbravejo.

Por sorte, o gato elétrico não derrubou minha taça de vinho, caso
contrário, o estrago em meu notebook estaria feito.

Descarado do jeito que é, Netuno mia e pula para o chão. Sinto


vontade de esganar esse felino, mas o barulho insistente do micro-
ondas juntamente com o da campainha, me atrapalham.

Droga! Esqueci a lasanha.

Corro até o micro-ondas e desligo o aparelho. Abro a porta e


sinto o cheiro delicioso no ar, meu estômago protesta novamente, mas
a campainha continua, como se alguém estivesse desesperadamente à
minha procura.

Estaco no lugar.

Não seria possível alguma das editoras conseguirem o meu


endereço, seria?

Deus amado!

Eles conseguiram descobrir a minha identidade, bem como, o


meu número de celular, o endereço não seria menos relevante que isso.

Engulo em seco.

Caminho em passos lentos, rezando para que, seja lá quem for


que esteja na minha porta, desapareça como fumaça.
A campainha continua. Parece travada, ou a pessoa está
segurando-a obstinadamente.

Paro em frente a porta e solto um suspiro pesado. Fecho os olhos


e começo a rezar, pedindo perdão pelos meus pecados.

Eu jamais deveria ter escrito um romance erótico, minha vida


estaria tão mais fácil se fosse um livro juvenil. Ainda por cima, seria
motivo de orgulho para os meus avós.

Tudo bem! Chega de lamentações, Agnes. Agora, abra a droga da


porta e enfrente o editor insistente.

Hesito por mais alguns segundos, mas acabo cedendo. Destranco


a fechadura e escancaro a porta.

Eu esperava por qualquer coisa, menos pelo Deus Grego com


olhos furiosos que está parado à minha frente.

O homem é muito mais alto que eu, seus olhos verdes, banhados
em ódio, me fulminam. Seus cabelos castanho-claros estão escovados
delicadamente para trás. Ele usa um terno azul-marinho sob medida.
Ele é simplesmente a criatura mais divina da qual os meus olhos já
visualizaram.

Atrás dele, vejo um jovem muito parecido, eu diria que pudessem


ser gêmeos, mas eles parecem possuir uma diferença mínima de idade.
O rapaz usa roupas casuais e, diferente do homem, sorri animado para
mim.

— O-oi. — gaguejo.
— Você é Agnes Bellini? — pergunta o homem. Sua voz é
máscula e autoritária, ele parece ser o tipo de pessoa acostumada a dar
ordens e nunca a obedecê-las.

Olho para ele com os olhos esbugalhados.

O homem dos olhos claros e terno azul à minha frente, parece ser
o próprio pecado encarnado. Como diria a minha avó: “a luxúria vem
na forma do próprio satanás”.
— Por favor, Vito! — choraminga Enrico pela centésima vez. —
Podemos voltar para casa e esquecer essa história.

Bufo irritado. Estou prestes a parar o carro e deixar o meu irmão


na rua.

Contratei há poucos dias um investigador particular, não


demorou muito para que o homem me entregasse uma pasta com a
ficha completa da tal escritora, e isso incluía o seu endereço. Agora,
estou indo até o seu apartamento tirar satisfação. Com as suas
informações, descobri que Agnes não possui dinheiro, portanto, ainda
estou decidindo o que fazer com relação a isso, considerando que a
minha ideia inicial era um processo por danos morais.

Enrico, ao descobrir o meu destino, insistiu freneticamente para


me acompanhar, eu permiti, e agora estou arrependido.

— Se veio para contestar minhas atitudes, pode pegar um táxi de


volta para casa. — rebato irritado.

O bairro Finsbury Park, onde Agnes reside, é simples, mas é um


bom lugar, apesar de ser distante, pois está custando meia hora do meu
precioso tempo para chegar até o local.

Estaciono o carro em frente a um prédio modesto e decaído.

— Chegamos — falo.

Enrico me olha mais uma vez com súplica nos olhos. Ainda não
compreendo por qual motivo meu irmão se importa tanto com a
escritora, ele nem a conhece.

Fecho a porta do carro com força e retiro meus óculos escuros.

Solto um suspiro exasperado.

Chegou a hora de relembrar da garota que ficou tão fissurada por


mim, a ponto escrever um livro a meu respeito.

Subo o pequeno lance de escadas e encontro com facilidade o seu


apartamento. O ambiente, com as paredes descascadas e design
simples, precisa urgentemente de uma reforma, pois o prédio parece
prestes a desmoronar a qualquer momento. O cheiro de umidade,
juntamente com bolor, impregna em minhas narinas.

Além do mais, o prédio possui pouca segurança, constato.

Como alguém consegue viver em um lugar assim, em condições


quase precárias?

A melodia Lacrimosa reverbera pelo lugar, o som chega até nós,


do outro lado da porta.

Céus! A garota é muito pior do que eu imaginava, ela é uma


stalker.

Enrico me olha de esguelha e engole seco. Provavelmente deve


estar pensando o mesmo que eu , afinal, não é mistério para ninguém
do meu círculo íntimo, a minha paixão pelas clássicas, principalmente,
por Mozart.

Isso só potencializa ainda mais a minha raiva.

Bato na porta com força, a batida sai mais parecida com um


esmurro.

— Hã... Vito, tem campainha! — Enrico aponta para um pequeno


botão ao lado.

Afundo o dedo na campainha.

Nada.

— Ela está nos evitando! — exclamo para o meu irmão.


Aperto novamente o botão, dessa vez, deixando o dedo
pressionando por alguns segundos.

Droga, garota!

Estou prestes a derrubar a porcaria da porta quando está se abre.


Eu não estava preparado para a visão que se sucede.

Uma garota loira e jovem nos observa com cautela. Suas vestes,
calça de moletom, pés descalços e camiseta regata sem sutiã, a deixam
com um ar ainda mais jovial e natural.

Ela é linda! Completamente diferente das mulheres com quem eu


costumo sair.

— O-oi. — Parece encontrar a voz em algum lugar, após longos


segundos nos encarando em silêncio.

A menina olha de mim para Enrico, e vice-versa. Seus olhos


castanhos, doces e delicados, parecem assustados.

— Você é Agnes Bellini? — pergunto friamente.

Eu tenho certeza de uma única coisa, eu nunca a vi


anteriormente. Portanto, não é um dos meus casinhos do passado,
como eu pensava.

Agnes Bellini possui uma beleza diferente, não se parece o tipo


de rosto que eu esqueceria tão fácil.

— Sim. — Sua voz sai em um sussurro.


Observo todo o corpo de Agnes. Ela é magra, mas não deixa de
ser curvilínea. Seus seios marcados pelo tecido fino da camiseta, são
empinados e arredondados.

Droga, Vito! Recrimino-me mentalmente.

Eu vim até a sua residência por um único propósito, preciso me


concentrar nele: Acabar com Agnes Bellini. Contudo, eu sou homem, e
um homem carente de sexo. Desde que descobri sobre o livro, não tive
mais tempo para o lazer, fiquei fissurado com a garota, concentrado
demais na minha ira.

— Eu já falei, não quero publicar o livro fisicamente, se


continuarem me perturbando, eu vou chamar a polícia! — esbraveja.

Agnes tenta fechar a porta, mas eu a impeço, colocando o pé.

— Não somos de editoras. — falo.

A garota semicerra os olhos, tentando detectar alguma mentira


em minhas palavras.

—Então quem são vocês?

Ela só pode estar brincando comigo!

— Vito Costello.

Vejo o exato momento em que ela esbugalha os olhos e suas


pupilas se dilatam. Agnes abre e fecha a boca consecutivamente.

— O quê? — Parece atormentada e confusa.


Abro meu sorriso predador, o sorriso que entrego aos meus
inimigos.

— Senhorita Bellini, eu é que pergunto: o quê? — zombo.

— Eu... eu não entendo. — Ela pisca sucessivamente.

Suas bochechas ficam coradas, se eu fosse mais sútil, ousaria


dizer que Agnes Bellini está envergonhada.

— Podemos entrar? — Enrico se manifesta pela primeira vez.

Agnes olha para o meu irmão, como se tivesse esquecido da sua


presença. Ela engole a saliva em seco, se afasta da porta e abre
passagem para nós.

Entro no pequeno apartamento, seguido por Enrico.

A música fica ainda mais alta, me deixando um tanto atordoado,


pois estou irritado.

— A propósito, sou Enrico Costello, e amei seu livro.

Agnes abre um sorriso amarelo para o cara de pau do meu irmão.


Lanço a ele um olhar raivoso. Já conversamos sobre isso, não quero
nunca mais ouvir falar sobre este maldito livro.

Desde que fiquei sabendo sobre Eu Sou Sua, minha vida se


tornou um inferno. Os risinhos nos corredores começaram a fazer mais
sentido, me deixando ainda mais irado por conta do deboche. Tentei, a
todo custo, ignorar o maldito E-book, mas quanto mais eu fazia isso,
mais ele ficava em minha cabeça. Em uma noite, sem conseguir pegar
no sono, entrei na plataforma Amazon e li alguns, dos mais de mil
comentários, e me arrependi instantaneamente, pois, pela primeira vez
em anos, fiquei envergonhado.

Observo o apartamento. O lugar é minúsculo. Entramos


diretamente em uma pequena cozinha. Sigo Agnes até uma sala anexa,
onde, uma pequena mesa redonda está com o seu notebook disposto.
Há, ao canto, um pequeno sofá de dois lugares.

—Com licença. — Agnes grita por cima da música. Ela corre até
a pequena caixa, Alexa, e desliga o som.

Ela fica corada. Não deixo de perceber que, Agnes Bellini fica
extremamente sexy com as bochechas rosadas.

—Sentem-se, por favor, aceitam alguma coisa? — pergunta.

—Estou bem, obrigado. — Enrico é educado com a garota.

Não me dou ao trabalho de responder, simplesmente me sento no


sofá, abrindo o paletó, e aguardando plausíveis explicações. Meu
irmão ocupa o lugar ao meu lado.

As janelas teladas captam a minha atenção momentaneamente.

— Aguardo explicações. — falo, voltando minha atenção para


ela.

Agnes solta um suspiro exasperado. Ela puxa uma das três


cadeiras da mesa e se senta de frente para nós.

— Eu sinto muito, senhor Costello, pensei que o nome fosse


fictício.

Solto uma risada de escárnio. Ela não acha que eu, um CEO,
cheguei ao meu cargo acreditando em coincidências, não é mesmo?

— Senhorita, Bellini, precisarei de desculpas mais articuladas do


que isso.

— Por favor, senhor Costello, não seja astucioso.

Enrico solta uma risadinha. Lanço um olhar mortal a ele, o garoto


imediatamente começa a tossir, fingindo um pequeno mal-estar.

— Está tudo bem, senhor Costello? — Agnes pergunta,


parecendo realmente preocupada.

Quase reviro os olhos.

— Por favor, me chame de Enrico. Tudo ótimo, só... hã... uma


coceirinha na garganta. — Sorri amarelo.

Eu sabia que trazer Enrico seria uma péssima ideia e agora estou
pagando pelos meus erros.

Olho para o meu relógio de pulso. Estou perdendo um dia


importante na empresa, e tudo por culpa de Agnes Bellini.

Desde que essa garota surgiu como fumaça em minha vida,


causando transtornos nos meus dias, eu venho sendo mais relapso no
trabalho.

—Senhorita, Bellini, eu não tenho o dia inteiro. Meu tempo é


valioso e muito caro. — Olho para o seu apartamento, antes de
continuar, para dar ainda mais ênfase em minhas palavras seguintes.
— Dinheiro do qual a senhorita, pelo visto, não dispõe. Agora, antes
que eu chame meu advogado e peça para que tome os devidos
provimentos legais, exijo que comece a se explicar.

Agnes começa a ficar vermelha, só não sei se é de raiva ou


nervosismo. A garota leva as mãos até os longos cabelos loiros e faz
um coque. Ela está trêmula.

Droga! Ela fica ainda mais linda com os cabelos presos de forma
bagunçada.

— Eu sinto muito. — choraminga. — Eu não sabia que esse


nome realmente existia, por favor...

Eu até poderia me comover com o seu sofrimento, contudo,


depois dos dias conturbados dos quais passei por causa do maldito
livro, me sinto aliviado ao fazê-la sofrer.

— Está me dizendo que a senhorita fez um livro de CEO e não


sabia que o nome existia? — Solto uma gargalhada zombeteira. —
Senhorita, Bellini, por favor! Sou um dos maiores CEO’s do Reino
Unido. Um cargo importante e que requer muita perspicácia. Não tente
me fazer de tolo.

Agnes leva o polegar a boca e começa a roer a ponta da unha. Ela


está claramente nervosa.

— Sim, estou dizendo exatamente isso. — confirma, enquanto


balança a cabeça para cima e para baixo consecutivamente. —Quando
criei o nome dos personagens, pesquisei pelos sobrenomes mais
antigos, daí veio o Costello, posteriormente, escolhi o nome por ser
italiano e significar: vida, queria fazer algo diferente. — Dá de
ombros.

Aperto a têmporas com força, tentando aplacar a dor de cabeça


que me domina. Estou ficando ainda mais irritado com essa
dissimulada.

—Tudo bem, a senhorita não precisa mais se dar ao trabalho de


mentir...

—Não estou mentindo! — interrompe.

Odeio ser interrompido. Engulo a raiva e tento continuar minha


explicação:

— Ou a senhorita tira essa droga de livro de venda, ou nós


teremos que lidar com os trâmites legais.

Agnes fica com os olhos marejados.

—E-eu mudo o nome. — Sua voz sai embargada.

— Não há mais tempo para isso, senhorita Bellini, a desgraça já


foi feita. Só quero que esse livro caia no esquecimento.

— Por favor, senhor Costello, não posso retirar o livro de venda,


ele é a única fonte de renda que eu tenho.

— Não me interessa, senhorita Bellini! No entanto, eu lhe dei


duas opções, é isso, ou iremos a justiça.
— Não! Eu retiro o livro. — Ela baixa a cabeça, focando sua
atenção em seu próprio colo. Agnes parece fazer um esforço gritante
para não chorar.

Enrico solta um suspiro e eu foco minha atenção em meu irmão,


contudo, não parece ser somente Agnes que está prestes a chorar.

Afrouxo um pouco o nó da minha gravata. Com os dois sofrendo


como se alguém tivesse morrido, começo a me sentir sufocado, pois o
causador da desgraça sou eu.

— Espera! — grita Enrico. — Não adianta retirar o livro, quem


comprou não vai perder mais.

Oh, céus!

Pensei que a resolução para os meus problemas fosse bem mais


simples, mas pelo visto eu estava profundamente enganado.

— Senhorita Bellini, precisará tomar alguma providência! —


exaspero.

Eu vou ter uma síncope com apenas trinta e dois anos de idade, e
tudo isso por culpa da garota que está na minha frente.

Estou prestes a gritar e esbravejar para que ela resolva logo essa
merda na qual me envolveu, quando, inesperadamente, um animal
gordo e peludo pula em meu colo.

Solto um grito e me levanto imediatamente.

— Zeus! Não! — Agnes se levanta e corre em direção ao animal.


— O que diabos está acontecendo aqui? — esbravejo.

Como se tivessem sido convocados, mais três demoniozinhos


peludos surgem na sala. Eles me encaram sem pudor.

— Oh! Eu sinto muito, Zeus é muito carinhoso, ele só queria um


pouco de colo. — desculpa-se a dona do apartamento.

— Meu Deus! Que gatinho mais lindo! — Enrico acaricia o


pescoço do bichano que começa a ronronar.

Olho para o meu terno e minha raiva toma um patamar


exagerado. Estou coberto de pelos! Como vou ir para o meu escritório
dessa forma?

Eu vou matar Agnes Bellini com as minhas próprias mãos se


continuar mais um minuto no mesmo ambiente que ela.

— Me desculpe, senhor Costello. — Ela corre em direção a


cozinha e retorna com um rolo em mãos. — Isso aqui vai ajudar a
retirar os pelos em excesso, só um minuto.

Agnes começa a passar o rolo na minha barriga e vai descendo


até as minhas pernas, ela passa o objeto por cima das minhas partes
íntimas.

— Só mais um pouquinho. — murmura e começa a fazer o


mesmo procedimento na outra perna.

A droga do rolo tocando no meu pau, juntamente com o decote


dos seus seios deliciosamente arredondados, começa a me deixar
excitado.

Agnes Bellini é uma mulher ingênua, parece não perceber as


coisas que causa em homens.

Seguro a mão da garota, sua pele quente entra em contato com a


minha, enviando ondas de arrepios para o meu corpo.

— Não precisa. — Consigo pronunciar com a voz rouca.

Agnes me observa profundamente com os seus lindos olhos


castanhos, seus lábios ficam entreabertos. Completamente sexy.

Se fosse qualquer outra mulher, eu diria que o rolo foi proposital,


somente para ter a oportunidade de tocar em mim, contudo, Agnes não
parece ser esse tipo de pessoa.

— Me desculpe. — repete com a voz sensual.

Ela sente a tensão sexual entre nós dois. Preciso me manter o


mais longe possível dessa garota, ela é problema na certa.

Agnes se afasta, retornando para a pequena cozinha. Vejo uma


taça de vinho ao lado do seu notebook, fico tentado a ir olhar o que ela
estava fazendo antes de chegarmos até aqui, mas me controlo.

— Precisamos de um gato! — Enrico quebra o silêncio.

Me viro para olhar meu irmão, o garoto ainda está com a bola de
pelos em seu colo. Os outros animais se esconderam novamente.

Quem é que cria três gatos em um apartamento tão pequeno como


esse? Agnes Bellini é uma mulher com gostos peculiares.

A escritora retorna da cozinha, suas bochechas estão levemente


coradas.

— Por favor, senhor Costello, sente-se em uma dessas cadeiras.


Aqui não há pelos. — Ela aponta para a cadeira na qual estava sentada
anteriormente.

Olho para o sofá, onde Enrico ainda acaricia o gato


descontrolado. Eu gosto de animais, mas longe de mim.

É, acho melhor eu me sentar em uma das cadeiras.

Eu levo tanto jeito com animais, como levo com crianças. Acho
bonitinhos e fofinhos, nos colos dos seus respectivos donos e pais.
Traduzindo: sou um ótimo desastre com eles, e o gato de Agnes Bellini
ter escolhido justamente o meu colo para pular, quando tinha três
opções, revela isso.

Me direciono até o local, enquanto falo para Agnes Bellini:

— Agora, senhorita Bellini, espero que tenha uma brilhante ideia


para apaziguar essa situação.

Agnes solta um longo e pesado suspiro. Ela caminha até Enrico e


se senta ao seu lado, no lugar onde eu estava antes de ser atacado pela
fera.

Em silêncio, aguardo mais explicações da escritora.


Deus amado! No que eu fui me meter?

Droga! Droga! Droga! Esse livro me trouxe mais transtornos do


que eu poderia imaginar.

Quando abri a porta, preparada para correr a vassouradas o editor


inconveniente, não imagina dar de cara com um CEO com o mesmo
nome do meu personagem e características parecidas.

Deus! Isso só pode ser um sonho, na verdade, um pesadelo.

Vito Costello é lindo, contudo, eu não deveria me sentir tão


atraída por ele, o homem claramente me detesta.

Sou o caos na vida dele, ou melhor, o meu livro é.

Seu irmão, Enrico, parece mais amigável e hospitaleiro.


Instantaneamente senti uma conexão com o garoto. Se fosse em
condições menos desastrosas, diria que poderíamos nos tornar ótimos
amigos.

— Estou aguardando, senhorita Bellini! — Vito me tira dos


devaneios.

O homem não me dá um segundo de paz. Ele não percebe que


estou hipertensa e prestes a ter um surto psicótico?

— Eu... hã... — Minha voz some. Ainda estou perplexa com a


porcaria de toda essa coincidência. — O livro não é sobre você, senhor
Costello.

Vito abre um sorriso zombeteiro. Ele me olha da cabeça aos pés e


revira os olhos. Egocêntrico!

—Tudo bem, senhorita Bellini, agora me diga por qual motivo o


personagem, além de dividir o meu nome, possui as mesmas
características que eu?

Fico rígida.

Preciso me lembrar de dar mais sachê a Zeus por ter assustado


esse cretino. Meu precioso felino é muito esperto e inteligente, pulou
justamente no colo de quem mais merecia.
— Senhor Costello, quase todos os personagens de livros
possuem olhos azuis ou verdes, cabelos castanhos ou pretos. Lamento
que esteja nesse padrão. — falo entredentes.

Enrico começa a balançar a cabeça em sinal positivo,


concordando com a minha afirmação.

—Ela tem razão, Vito.

Vito bufa raivoso. Ele parece prestes a perder o controle.


Acredito que o CEO esteja com vontade de me esganar.

Ele não pode me culpar por ter nascido com a beleza padrão dos
personagens de livros.

Tento me lembrar por qual motivo eu escolhi esse nome. Não


menti quando disse que entrei em um site a procura do sobrenome,
bem como que queria um nome diferente e italiano, para dar um
charme. No entanto, considerando eu o meu cérebro estava dopado de
tequila na hora, temo que eu tenha encontrado Vito Costello em
alguma página do Google. Meu pai amado!

— E a música? — questiona.

Sinto as minhas sobrancelhas claras franzirem em


desentendimento.

Do que esse homem está falando agora? Só falta querer me


culpar pelo tempo também.

— Que música?
Vito aperta suas mãos em punhos. Engulo em seco.

— Estava escutando Lacrimosa quando chegamos, senhorita


Bellini! — ruge.

— Hã... eu escuto música clássica o dia inteiro, senhor Costello,


há algum problema com isso? — indago confusa.

—Vito... — Enrico parece perceber algo acontecendo, ou melhor,


o furacão CEO se formando.

— JÁ CHEGA! Acho bom a senhorita arrumar um ótimo


advogado, pois vai perder até esses seus gatos! — grita.

Vito se levanta com força, completamente irritado com alguma


coisa. Olho para ele boquiaberta, sem compreender, de fato, o que está
havendo.

—Tudo bem! Faça o que quiser, senhor Costello. — digo


calmamente.

Vito me olha com ódio. Ele mexe em seus cabelos


constantemente, deixando-os desgrenhados e com um ar ainda mais
sexy.

— A senhorita está zombando de mim? — pergunta. Sua voz sai


em um sussurro.

Olho no fundo dos seus profundos olhos esverdeados.

— Não há nada que eu diga que vai fazer o senhor acreditar em


mim, portanto, faça o que bem entender. Não perderei meu precioso
tempo com quem não acredita em uma palavra sequer do que eu digo.

Vito fica me encarando por alguns segundos. Sustento o seu


olhar. Por dentro, estou uma pilha de nervos, mas por fora me
mantenho firme.

Vito é um predador, e predadores gostam de presas fáceis, pois


elas são mais acessíveis de se esmagar. E eu não serei uma dessas.

Posso ser uma garota muitas vezes ingênua, conheço pouca coisa
da vida, mas jamais, em hipótese alguma, me deixarei ser humilhada
por ser quem eu sou.

Vito percebe que não vou desistir da nossa batalha de olhares tão
rapidamente. O CEO pega o celular do seu bolso e começa a procurara
alguma coisa no aparelho. Percebo que, assim como eu, Enrico fica
completamente confuso.

—Tudo bem, senhorita Bellini. — Vito começa a falar ainda com


a atenção voltada para o celular. — Mas agora, quero que me diga
como fará para mudar a confusão que transformou a minha vida, bem
como, acabar com os murmúrios e deboches nos corredores da minha
empresa.

— O quê?

Vito abre um sorriso maligno.

— Quero saber como vai fazer para me tornar algo melhor do


que: “o cachorrinho dela” e fazer jus ao meu órgão sexual, e isso não
inclui as comparações ridículas dele com um pêssego.
Virgem Maria!

Minhas bochechas estão pegando fogo. Agradeço aos céus por


estar sentada, caso contrário, cairia durinha no chão.

A vergonha é tanta, que eu sinto vontade de sumir e me enterrar


em um buraco profundo, saindo somente no arrebatamento.

— Está sem palavras, senhorita Bellini? Pensou que eu não leria


as tolices que narrou sobre o meu pênis? — brada.

Eu vou morrer! Eu quero morrer!

Um desmaio agora não cairia mal, Deus! Por favor!

Se alguma vez na vida eu passei uma vergonha tão grande quanto


essa, eu não me lembro mais.

Na hora, parecia romântico narrar um órgão genital masculino,


comparando-o com pêssegos, afinal, todos gostam da fruta, ela é doce,
tem uma coloração bonita e é aveludada.

— Não era sobre o seu... hã... era do personagem. — Tento me


defender, mas acabo me constrangendo ainda mais. — E todo mundo
gosta de pêssego. — acrescento frustrada.

Vito abre um sorriso descrente, claramente debochando de mim.

— Ora, ora! Vergonha em tocar no assunto, mas pudor algum em


escrever. — zomba.

Eu vou matá-lo!
Eu só quero que esse homem narcisista e egocêntrico saia da
minha casa para que eu possa me enfiar debaixo das cobertas e nunca
mais sair.

— Não era sobre o senhor, por favor, me deixe em paz. — peço.

Se ele quiser continuar me ameaçando, que o faça. Só não me


deixe mais constrangida.

Droga!

Vito é um predador, e eu acabei de entregar a ele o meu ponto


fraco.

Vito fecha os olhos e aperta-os com força.

—Tudo bem, senhorita Bellini, eu tenho uma ideia.

—Tem? — Enrico e eu perguntamos ao mesmo tempo.

Prevejo o fim da minha breve carreira como escritora. Vito não


quer me processar, ou porque sabe que eu não possuo condição alguma
de pagar a generosa indenização que ele vai pleitear perante a justiça,
ou porque teve um pouco de piedade no seu coração frio e calculista.
Independentemente, farei qualquer coisa se isso significar ficar longe
de mais escândalos.

— A senhorita fará um segundo livro!

— O QUÊ? — Enrico e eu falamos exasperados.

Zeus se assusta com a nossa atitude e foge rapidamente do colo


de Enrico. Não olho para ver aonde o meu gato se enfiou, pois estou
embasbacada demais para isso.

Como assim Vito Costello quer que eu faça um novo livro? O


homem é bipolar!

Ele chegou na minha casa com o próprio satanás no corpo, me


ameaçando por conta da história e agora quer que eu dê uma
continuidade a ela?

Sua oscilação de humor me assusta.

— Sim, quero que faça um segundo volume. Contudo, quero me


mude a história, faça o CEO dela um homem independente, forte e...
charmoso.

Nem um único ruído sai da minha boca. Eu não consigo


compreender o que ele está me pedindo.

— Não entendo... — murmuro.

— Ora, senhorita Bellini, faça um segundo volume, mude o


personagem principal e não faça as comparações...

—Tudo bem, tudo bem! — interrompo-o. Se eu ouvir ele


narrando mais uma vez a minha história nas partes eróticas, terei um
colapso. — Senhor Costello, eu não posso fazer o que está me
pedindo.

Mudar a história significa entrar para a listado ódio dos fãs do


meu livro. Eu fiz um final feliz e todos amam histórias com finais
felizes. Vito simplesmente quer que eu modifique tudo isso, faça um
personagem completamente diferente da proposta inicial.

Eu prefiro o processo!

— Sim! A senhorita pode e fará. Quero que as pessoas odeiem o


personagem do livro e esqueçam dele tão rapidamente quanto
aprenderam a amar.

Eu certamente vou me debulhar em lágrimas em alguns instantes.

Nunca pensei em ser escritora, sempre amei livros, porém, nada


além disso. Escrevi Eu Sou Sua depois de um surto, eu estava triste e
desolada, queria me perder em uma história feliz. E deu certo. A
felicidade de Vito e Serena foi tão contagiando que, em poucos
minutos de escrita eu viajei pelas páginas do Word, vivenciando uma
vida perfeita e um romance de cinema.

Contudo, isso não significa que eu não me veja como escritora


agora, Serena e Vito modificaram o modo como eu vejo o mundo. Eu
descobri na escrita uma paixão, uma sensação de êxtase que só os
livros podem me trazer.

Modificar meu personagem principal significa o fim para isso,


minhas leitoras nunca me perdoarão. Futuramente, posso publicar
qualquer livro e ele não será um novo sucesso, pois me transformarei
em “escritora cancelada”.

Ainda assim, ser cancelada e nunca mais conseguir fazer algo que
eu adoro, é melhor do que ser processada e o assunto chegar até os
meus avós.
Por eles, eu posso renunciar à minha carreira, por eles, eu abro
mão de absolutamente tudo.

Pelos meus avós.

—Tudo bem. — murmuro. Minha voz sai em um sussurro.

Preciso controlar as palavras, estou segurando o choro a tanto


tempo que, caso eu fale demais, as lágrimas podem começar a sair.

— Vito, você não pode fazer isso! — choraminga Enrico.

Fico comovida com o garoto que defende a mim e a minha


história com unhas e dentes. Não posso esquecer de agradecê-lo.
Diferente do irmão, Enrico possui um bom coração.

—Sim, eu posso e eu farei. — Vito parece resoluto com a sua


decisão.

Solto um suspiro exasperado.

É isso, hora de voltar a procurar emprego. Meus dias de glória


acabaram.

—E se ela mudar o nome? — Enrico fica automaticamente


animado com a sua ideia.

Olho para ele com as sobrancelhas franzidas, sem compreender


exatamente o que ele está falando.

— No livro dois, todos descobrem que Vito estava mentindo, e


que, na verdade, o nome real dele é Enrico. — O garoto abre um
sorriso iluminado.

Enrico fala como se tivesse acabado de nos dar uma nova visão
de ótica para a solução dos nossos problemas.

— Não, não e não! — Vito parece repudiar a ideia do irmão.

— Sim, Vito! Pense bem, a atenção vai voltar para mim. Seus
funcionários não irão mais debochar de você.

Coloco as duas mãos na boca completamente espantada. Oh


Céus! Vito se tornou motivo de deboche por causa do meu livro?

O CEO encara o irmão com raiva, como se ele tivesse acabado


de delatar um profundo segredo.

— Não! Eu quero o livro modificado da forma como eu relatei.

Olho para Vito que me encara, percebo que, o livro não é


realmente o problema. O homem quer vingança por ter virado motivo
de chacota dentro da própria empresa, e não interessa o que eu ou
Enrico propusermos. Vito Costello quer acabar comigo, eu só espero
que nesse procedimento, ele, ao menos, mantenha a minha alma
intacta.

—Tudo bem. — concordo. Não há o que fazer.

— Quando tempo a senhorita leva para escrever um livro?

Ele não precisa saber que consegui terminar o livro de Serena e


Vito em menos de um mês.
Sinto vontade de sorrir, mas me contenho em comemorar
internamente. Vito Costello quer acabar com a minha vida, mas nada
impede que eu faça os resultados serem extremamente demorados.

— De quatro a seis meses. — minto.

Quanto mais tempo levar, mais dinheiro eu continuarei ganhando.


Posso fazer uma poupança, juntar economias para me manter bem
pelos próximos meses, antes de procurar um novo emprego.

Vito fica pensativo por alguns instantes.

—Tudo bem, você vai trabalhar comigo a partir de amanhã.

—Como? — Acho que eu não entendi direito.

— Preciso ler a história, além do mais, não confio em você.

Eu vou explodir de raiva a qualquer momento. Vou mandar esse


CEO para um lugar pouco cortês.

—Eu não vou para a sua empresa.

—Sim, você vai. Pedirei para a minha secretária lhe passar os


horários.

—Eu estou procurando um emprego. Se eu for selecionada para


alguma vaga...

—Isso não é um problema. Primeiro, uma ligação e você nunca


mais vai conseguir um emprego dentro do Reino Unido. Segundo, eu
lhe pagarei um salário de assistente, ao menos pelo tempo que levar
para escrever o livro comigo.

Dai-me forças, Deus!

Não posso negar que a proposta dele é gradativa. Ser paga para
escrever. Bom, minha carreira está com os dias contados, eu ia juntar
somente o dinheiro pago pela Amazon, porém, com os dois salários, eu
terei ainda mais tempo para pensar no meu futuro.

Quem sabe, eu não faça uma faculdade e entre em alguma


carreira. Querendo ou não, é uma oportunidade.

Além do mais, Vito Costello me deve isso. Ele vai acabar com a
única fonte de renda que eu tenho.

—Tudo bem. — concordo.

Enrico está estranhamente silencioso. Ele olha de mim para o


irmão e vice-versa, como se estivesse planejando algo. Quando
percebe a minha atenção voltada para si, ele abre um sorriso fingido.

Esses irmãos Costello vão me enlouquecer.

— Que bom que finalmente chegamos a um acordo, senhorita


Bellini. Não temos mais assuntos a tratar, portanto, preciso voltar ao
trabalho.

Me levanto do sofá juntamente com Enrico e lhes acompanho até


a porta de saída.

Lembro de uma superstição que a minha avó vivia falando, que é:


“deixar a vassoura atrás da porta evita visitas indesejadas”. Agora
que passarei os próximos meses na companhia de Vito Costello,
começarei a aderir a este mito.

—Te vejo amanhã, senhorita Bellini. — Vito vira-se de costas e


começa a descer as escadas.

Babaca!

— Adorei te conhecer, Agnes. Pode ter certeza, nos veremos mais


vezes. — Enrico abre um sorriso.

Bom, desse irmão eu gosto.

— Digo o mesmo, Enrico.

Enrico me puxa para um abraço e eu fico aturdida. Não esperava


por isso. Retribuo o gesto.

— Até mais!

Vejo-o sumir escadas abaixo e finalmente fecho a porta do meu


apartamento. Me escoro na madeira e me sento no chão.

Não percebo o exato momento em que as lágrimas aparecem, só


sinto o líquido quente escorrendo pelas minhas bochechas e molhando
o meu pescoço.

Deus! O que foi que eu fiz da minha vida?

Vim para Londres em busca de melhores oportunidades. Meus


avós ficaram meses juntando dinheiro para me ajudar com a mudança,
posteriormente, me sustentaram nos primeiros dias, até eu conseguir
arranjar um emprego. Contudo, eu nunca pensei que vir para Londres
complicaria tanto a minha vida. As oportunidades não apareceram, as
portas foram se fechando e tudo foi ficando tão diferente do que eu
havia imaginado, até agora.

O sucesso de Eu Sou Sua me assustou com a mesma magnitude


com a qual me deixou imensamente feliz.

Todavia, o livro me fez entrar na vida de um CEO arrogante,


prepotente e egocêntrico, levando ao fim da minha escrita.

Sinto algo quente em minhas pernas, abro os olhos marejados


pelas lágrimas e vejo os meus três gatos se esfregando em mim, até
mesmo a arisca da Atena. Eles devem ter sentido como estou
deprimida.

Abraçada em meus felinos, tento esquecer o desastre que está a


minha vida.
Entro no suntuoso edifício Gherkin tentando fingir indiferença.
Deixo minhas mãos coladas ao corpo para disfarçar a tremedeira.

Ontem, após eu chorar copiosamente até meu cérebro doer, fui


para a cama e me mantive por lá, até receber o e-mail da secretária do
CEO babaca com os meus horários. Ela foi enfática em falar para que
eu não me atrasasse, informando que o chefe egocêntrico odeia
atrasos. Contudo, eu moro em Finsbury Park, o qual fica trinta
minutos da 30 St Mary Axe, portanto, estou cinco minutos atrasada.

Ah, que se dane também!


Passei horas desarrumando todo o meu guarda-roupas, tentando
encontrar uma vestimenta decente para esse tipo de trabalho. Jamais
imaginei exercer um cargo em um prédio executivo tão importante e,
mesmo que seja algo temporário, gostaria de me vestir o mais
agradavelmente possível. Assim sendo, optei por uma saia-lápis preta,
uma camisa branca e saltos altos.

Vovó tinha razão quando me levou para comprar algumas roupas


antes da minha mudança, essa foi uma das escolhas dela. Na época,
vovó mandou eu deixar minha mente aberta, quando contestei o look,
ela disse que nunca sabemos como será o dia de amanhã, e talvez, essa
roupa pudesse ser essencial para alguma ocasião. Vovó não poderia
estar mais certa, se não fosse por ela, meu tempo de atraso seria ainda
maior.

— Olá. — Me aproximo do extenso balcão espelhado e


cumprimento uma jovem de cabelos escuros.

A garota abre um sorriso agradável assim que detecta a minha


presença.

— Olá, você ser ver a senhorita Bellini, prazer em conhecê-la. —


Ela pega um crachá de dentro de uma gaveta e me entrega. — Esse é o
seu passe-livre a partir de hoje. O elevador fica à direita, último andar.

— Obrigada!

— Ao seu dispor.

Entro na caixa metálica entoando mentalmente uma melodia de


Beethoven, tentando, dessa forma, acalmar os batimentos acelerados
do meu coração. Nem sei por qual motivo eu estou nervosa, não é
como se fosse um trabalho de verdade.

Passei a noite inteira praticamente acordada, me perguntando se


seria melhor acabar com a droga do livro de uma vez e me ver livre de
Vito Costello, ou continuar com o plano inicial. Não cheguei a
nenhuma conclusão ainda.

Saio do elevador no andar indicado pela recepcionista e encontro


uma sala clara e arejada.

Uma moça jovem de longos cabelos castanhos e sorriso carinhoso


olha na minha direção.

—Oh! Você deve ser Agnes Bellini, prazer em conhecê-la! — Ela


se levanta da sua cadeira e vem até mim com a mão estendida.

—O prazer é todo meu...? — Procuro por algum crachá em sua


roupa, identificando-a, mas não encontro nada.

—Liz Evans, mas pode me chamar só de Liz. — Ela amplia ainda


mais o seu caloroso sorriso.

Gosto de Liz, ela é gentil e agradável. Fico contente por saber


que terei uma boa companhia nas horas vagas.

—Venha, vou lhe levar até o chefe. — Liz puxa a minha mão. —
Ele deve estar um pouco irritado pelo seu atraso. — murmura.

Reviro os olhos instintivamente.

Liz bate em uma porta dupla de madeira, ela não entra. Fica
parada comigo esperando o aval do CEO.

—Sim, senhorita Evans? — Ouço sua voz.

—A senhorita Bellini chegou.

Silêncio mortal por alguns segundos. Ouço passos e a porta é


abruptamente aberta. Vito me encara com raiva.

O homem é, certamente, o pecado na terra. Não sei como é


possível ele ficar a cada dia mais lindo. Vito usa um terno azul
marinho, com caimento perfeito, provavelmente feito sob medida.
Seus cabelos estão caprichosamente penteados para trás. E, diferente
de ontem, hoje ele usa um óculos de grau quadrado, na cor preta, o
qual realça ainda mais seus olhos esverdeados.

—Está atrasada! — Esbraveja.

Mas é só ele abrir a boca, que enaltece ao meu cérebro o quão


imperfeito ele é. Possuo um enorme vocabulário com inúmeros
adjetivos para descrever o que acho dele, tais como: cretino,
egocêntrico, narcisista, soberbo, arrogante... enfim, a lista é
realmente extensa.

Liz se encolhe com a sua atitude.

Céus! Não é possível que todos tenham medo de Vito Costello.


Isso me deixa ainda mais irritada. Esse homem deve ter um galho
enfiado no ânus para ser tão insuportável.

—Estou dispensada? — zombo.


Lampejos de raiva passam pelos olhos verdes do CEO.

—Entre agora!

Aperto a mão de Liz, em um silencioso agradecimento por ter me


mostrado o caminho. Passo por Vito, entrando em sua sala. Ele bate à
porta com uma força exagerada.

Pobre Liz, ela deve precisar muito desse emprego para aguentar
esse homem durante cinco longos dias da semana.

—Por um acaso a senhorita Evans não deixou claro nas


instruções de que eu não tolero atrasos, senhorita Bellini? — Vito faz
o retorno na mesa e se senta em seu lugar de CEO.

—Tive um imprevisto. — murmuro.

Não direi nada além disso. Vito Costello não precisa saber que eu
perdi tanto tempo tentando achar uma roupa adequada. E agora, por
causas desse infeliz, precisarei gastar um pouco das minhas
economias, comprando mais roupas desse estilo.

—Não me importo com os seus imprevistos, deve se comportar


como todos os outros funcionários, e isso quer dizer, se adequando ao
horário. — Brada.

Solto um suspiro exasperado.

Precisarei rezar dobrado antes de dormir para aguentar esse


cretino, pedirei para vovó fazê-lo também, pois só Deus pode me
ajudar com essa questão.
—Então? — indago, ignorando completamente o seu surto de
autocontrole.

Vito Costello me encara perplexo, como se eu fosse uma criatura


de outro universo.

—Então, senhorita Bellini? — zomba. — Comece agora a


trabalhar nessa droga de livro. Aliás, quanto mais rápida conseguir ser,
mais avidamente ficaremos longe um do outro.

—Entendido, senhor. — Retruco.

Me sento da cadeira de frente para ele, tiro meu notebook da


bolsa e me preparo para passar o restante da manhã escrevendo,
acabando completamente com a vida perfeita que eu criei para os meus
personagens.

Ignorando completamente a presença de Vito Costello da vida


real, me apego ao Vito que criei, e passo as horas seguintes escrevendo
sem parar.

— Então, o que você fazia antes de conseguir o emprego? —


indaga Liz, enquanto mastiga um pedaço do seu sanduíche de
manteiga de amendoim. — Sabe, fiquei surpresa quando o CEO
chegou ontem relatando que havia contratado uma assistente, ele
sempre me encarrega dessas coisas, além do mais, ele nunca pediu
uma antes... então, acho que espantada seria a palavra certa para
descrever.
Estamos em nosso horário de almoço. Eu não quis ir para a
cantina, pretendo evitar olhares curiosos e manter a atenção o mais
longe possível de mim. Liz me convidou para almoçar com ela, com a
minha negação em ir para o andar dos funcionários, estamos em sua
mesa de escritório. Enquanto eu como um macarrão instantâneo de
pote, ela mastiga o sanduíche. Fiquei feliz por encontrar uma pessoa
tão “saudável” quanto eu.

Para o nosso deleite, Vito Costello foi almoçar com alguns


acionistas.

Liz é uma garota simpática e muito falante. Ela é noiva de Mark,


seu namorado do colegial, e está radiante com o casamento que
ocorrerá em poucos meses. Além de ser uma romântica incorrigível, é
ágil e possui um lugar pronto no céu, pois ela lida com o CEO há
alguns anos e não se incomoda com o seu humor infernal.

Penso em sua pergunta. Não posso simplesmente falar que eu era


escritora, com certeza o CEO não quer que os seus funcionários
saibam que Abelli está trabalhando aqui, eles desconfiariam de alguma
coisa. Além do mais, eu devo acabar com meu livro, sem que o nome
do verdadeiro Vito Costello faça parte disso.

— Eu... hã... eu era secretária. — minto.

Eu contei mais mentiras nesse último mês, do que na minha vida


inteira. A próxima vez que eu for visitar os meus avós, precisarei me
confessar ao padre, pois sou uma verdadeira pecadora.

— Que legal! De qual empresa?


Céus! Liz é um pouco invasiva, mas não é uma pessoa ruim. Ela
é até ingênua, para falar a verdade. Não faz perguntas para me
comprometer, ela só simplesmente quer me conhecer melhor e está
curiosa com a minha súbita admissão na empresa.

—Faz quanto tempo mesmo que você trabalha aqui? — Tento


desviar o assunto.

—Três anos.

—O CEO é sempre tão... hospitaleiro?

Liz solta uma risada e quase se engasga com a sua comida. Dou
leves batidinhas em suas costas.

—Ele é uma boa pessoa, Agnes, com o tempo você vai perceber
isso.

Agora quem solta uma risadinha de escárnio sou eu.

—Talvez eu leve a vida inteira para isso. — Debocho.

Liz abre um singelo sorriso.

—O senhor Costello usa uma casca para disfarçar os seus


sinceros sentimentos.

—Pensei que o homem nem sabia o que era sentimentos.

Começamos a gargalhar juntas.

Não tento nem disfarçar o meu desafeto pelo chefe. Ele é o


destruidor dos meus sonhos, e eu a causadora dos seus problemas,
nossos sentimentos um pelo outro é mútuo.

—Que bom perceber que está se adaptando bem a empresa,


senhorita Bellini. — Ouço a voz e dou um pulo da cadeira.

Droga! Era para o senhor cretino retornar muito mais tarde.

—Eu...hã.. — Gaguejo.

—Estamos em horário de almoço, senhor Costello. — Fala Liz


calmamente.

Vito olha para o relógio de pulso de forma dramática e franze as


sobrancelhas escuras.

—Por mais cinco minutos. — Dito isso, ele sai a passos duros
para o seu escritório.

Espero o CEO bater à porta com força, me viro para Liz e faço a
pergunta que atormenta a minha mente:

—Acha que ele ouviu alguma coisa?

Liz dá e ombros.

—Se ouviu, acredite, não somos as únicas que passam o horário


de almoço inteirinho disseminando comentários maldosos contra o
chefe.

Solto uma risadinha e tapo a boca, tentando conter a gargalhada.


Ao menos, não sou a única com opinião negativa formada em relação a
Vito Costello.

Junto meu pote com o restante de massa. Bebo longos goles da


minha garrafa de água e me despeço de Liz.

Hora de encarar a fera por mais algumas horas novamente.

Que Deus tenha piedade de mim!


Olho para o relógio do notebook e fico imensuravelmente feliz
por constatar que a semana está quase acabando. Em algumas horas,
passarei os próximos dois dias longe de Vito Costello e tudo o que
remete a ele.

Faz duas semanas que estou trabalhando para o CEO egocêntrico,


e até agora, eu consegui escrever um único capítulo do livro. Uma
vergonha. Contudo, eu estou travada, não consigo escrever mais que
isso. É como se o meu cérebro estivesse em negação, renegando a
minha frustrada tentativa de acabar com o meu final feliz.
Vito está desconfiado, ainda não entreguei nada para que ele leia
e aprove.

—Então, senhorita Bellini, vai me entregar o capítulo pronto para


que eu possa ler no fim de semana?

Como se lesse meus pensamentos, o CEO se manifesta. Levanto


os olhos do notebook e pouso-os nele. Lindo como sempre, Vito
Costello me encara de volta.

— Não terminei ainda. — murmuro.

Me sinto envergonhada pela demora. Ouso falar que estou


sofrendo com um bloqueio literário.

— Está me enrolando, senhorita Bellini? — Ele semicerra os


olhos.

Sinto vontade de chorar. Estou frustrada com tudo. Com a vida.


Com o livro. Com a droga do Vito Costello.

Abro e fecho a boca consecutivamente, pensando em alguma


coisa para falar, mas não encontro as palavras certas.

—Eu vou terminar. — falo, por fim.

Vito não responde nada, ele volta a sua atenção para o seu
próprio computador.

Preciso espairecer, e ir visitar os meus avós vai me ajudar com


isso, é sempre bom retornar para casa. Lar é onde o nosso coração
está, e o meu, sempre estará com a minha família, e com os meus
gatos, é claro.

Um burburinho de vozes chama a minha atenção no corredor. A


porta é aberta abruptamente.

—Olá, trabalhadores! — Enrico entra animado.

Vito franze a testa para o irmão. Meu pai amado! Como esse
homem fica sexy até mesmo de óculos?

—Enrico, o que faz aqui? — Vito parece irritado com a


interrupção do irmão em seu trabalho.

Enrico abre um sorriso zombeteiro e revira os olhos.

—Vito, é quase quatro horas da tarde de uma sexta-feira,


portanto, hora de começar a comemorar o fim de semana.

O CEO bufa.

—Saia daqui e nos deixe trabalhar.

Enrico olha para mim, posteriormente, para Vito e amplia ainda


mais o seu sorriso.

—Pobre, Agnes, ela parece mortalmente entediada e estacada no


lugar, me libere a sua escritora particular que eu lhe deixo em paz.

—Aqui está a água que pediu, senhor Costello. — Liz escolhe


justamente esse momento para entrar na sala. Ela estaca no lugar e
esbugalha os olhos. — Escritora? — Pergunta, completamente perdida.
Deus!

Pego a minha garrafa de água e começo a enfiar o líquido


garganta a dentro, em uma tentativa de permanecer calada.

—Oh meu Deus! — Exclama Liz. — Você é Abelli, a escritora.

Não me controlo, começo a me engasgar com a água que eu


estava bebendo, para não morrer asfixiada, cuspo o líquido, expelindo-
o para fora da minha garganta. Passo as mãos nos lábios encharcados,
tentando tornar o momento menos vergonhoso, porém, quando observo
o local atingido pela minha cuspida, quase entro em colapso. A droga
da água voou diretamente em Vito.

Nossa senhora! Ótima ideia, Agnes Bellini, beber água em um


momento revelador como esse, é claro que daria problema. Parabéns!

Fico boquiaberta observando o CEO com a camisa encharcada e


os óculos sujos de respingos de água. A ira que vejo nos seus olhos me
deixa ainda mais assustada do que já estou.

Coloco as mãos na boca completamente apavorada.

Estou morta! Vito Costello me esmagará como uma barata!

A respiração de Vito fica pesada, revelando o seu estado de


irritação. Liz parece ter evaporado, pois está incrivelmente silente, já
Enrico, começa a gargalhar até lágrimas saírem dos seus olhos.

—Me desculpe, me desculpe! — Começo a repetir


consecutivamente, tentando amainar a situação constrangedora.
Vito não fala nada, ele parece furioso demais para fazer isso.

Deus amado, o que foi que eu fiz?

Olho para a camisa encharcada de Vito, que cola ao seu corpo,


relevando seu peitoral torneado e definido

Droga! Percebo que tenho tesão pelo homem

—Bom... agora que você precisará trocar de roupa, Vito, pode


liberar Agnes para que possamos sair e aproveitar o fim de semana.

—Some da minha frente. — Vito fala entredentes olhando


diretamente para mim.

Lampejos de raiva passam pelos seus olhos, seu rosto parece frio
e desprovido de emoções.

Engulo em seco.

Estou acabada!

Tendo amor a minha vida. Junto as minhas coisas


apressadamente, em completo silêncio, e corro para fora da sala com
Enrico e Liz ao meu encalce.

Liz fecha a porta do CEO com delicadeza, ela se vira para mim e
começa a gargalhar até a sua barriga doer e lágrimas saírem dos seus
olhos.

—Agnes, você realmente é uma pessoa insana. — Enrico aperta


meu ombro ainda gargalhando.
Eles estão realmente achando graça da minha desgraça? Vito
Costello vai querer comer o meu fígado temperado no jantar!

Eu sou um caos pisando na terra, sou tão atrapalhada que não me


admira eu destruir tudo por onde passo.

Se Vito Costello, o CEO da Costello Imobiliária, já me odiava


antes, bom, agora ele tem asco de mim.

Meus olhos ficam marejados, minha visão começa a ficar


embaçada por conta das lágrimas acumuladas. Estou esgotada
emocionalmente. Nunca precisei passar por tanta pressão como venho
passando nas últimas duas semanas.

Enrico percebe o meu estado emocional enfraquecido e me


abraça.

—Ei, não precisa ficar assim, foi um acidente. — Me consola.

Abraço-o de volta. É bom ter um ombro amigo quando me sinto


tão sozinha e para baixo.

—Agora, querida, vamos para a minha casa, prepararmo-nos para


o fim de semana.

Sinto minha testa franzir. Enrico é maluco. Eu só quero os meus


gatos e a minha cama, mais nada. O meu fim de semana será debaixo
das minhas cobertas, tentando fingir que a minha vida continua a
mesma de semanas atrás. Antes das editoras, antes de Vito, antes de
tudo isso que me causa tormenta a cada dia.
—Prefiro ir para casa. — cicio.

Estou triste demais para pensar em fazer qualquer outra coisa.


Além do mais, por ora, quero somente a companhia dos meus felinos,
somente eles possuem o poder de elevar o meu humor.

Enrico revira os olhos. Ele me gira em trezentos e sessenta, me


deixando de frente para as janelas. Tenho um vislumbre do lindo dia
ensolarado que está lá fora.

—Não! Nós vamos ir tomar banho de piscina e beber muitos


coquetéis. — protesta.

Solto um suspiro exasperado, delatando a minha derrota.

Assim como o CEO, Enrico parece ser incrivelmente teimoso,


portanto, não tenho muita escolha. Além do mais, apesar de ser
consideravelmente tentador a solidão do meu lar, pela primeira vez na
vida, gostaria de ter um vislumbre do que é se ter um ombro amigo
para desabafar. Hora de mudar os hábitos.

—Tudo bem. — Desisto.

Enrico bate palmas animado.

—Até mais, Liz! — Ele se despede da secretária que tenta limpar


o rímel borrado depois da sua crise de risos.

—Agnes, segunda teremos uma longa conversa no almoço.

—Sim, teremos. — Não há mais motivos para mentir, ela já sabe


a verdade.
Ainda abraçada em Enrico, saio do prédio, mantendo a maior
distância possível de Vito Costello.

—Eu não acredito que você realmente fez isso, Enrico. — Fico
embasbacada com os biquínis em mãos.

Enrico simplesmente passou em uma marca de luxo antes de ir


até a empresa e comprou vários biquínis para mim. Como não sabia o
meu número exato, ele pegou uma peça de cada.

Me pergunto, como ele sabia que eu acabaria aceitando vir até a


sua casa. Enrico é uma caixinha de surpresas.

A casa do CEO fica em Notting Hill, um dos bairros mais nobres


de Londres. Casa é um eufemismo para descrever a mansão em que
eles moram. Seis quartos, dez banheiros, uma enorme sala de jantar,
uma sala de cinema, uma cozinha monstruosa e um pátio colossal com:
churrasqueira, piscina, banheira de hidromassagem e academia nos
fundos, são alguns dos cômodos dos quais eu tive o prazer de
conhecer, até então. Tudo é limpo, claro e arejado. É simplesmente
magnifico.

Agora eu entendo a fissuração de Enrico por passar o dia inteiro


em casa, se eu tivesse uma residência dessas, faria o mesmo. Não
julgo.

—Não sabia o seu tamanho — dá de ombros — agora


experimente logo. Vou pedir para a senhora Cooper preparar os nossos
drinks. — Enrico me deixa boquiaberta no quarto de hóspedes e
começa a descer as escadas.

Experimento alguns biquínis. Um deles, da cor rosa, é o que


serve melhor, e ainda realça a curva dos meus seios. Essas peças de
roupas caras parecem fazer milagre no corpo de nós jovens, meras
mortais.

Desço as escadas a procura de Enrico. Encontro-o com duas taças


de bebida em mãos, me esperando no corredor.

—Tome. — Ele me entrega uma das bebidas.

Sorvo um pequeno gole e o líquido adocicado e gelado. O drink


desce bem nesse dia de calor.

—Hum... que delícia. — murmuro.

—A senhora Cooper faz um drink como ninguém.

Sigo Enrico para os fundos da residência, em direção a piscina.


Me sento em uma espreguiçadeira de frente para o sol. Preciso
urgentemente de uma vitamina D, minha pele está pálida por ficar
tanto tempo enfurnada dentro de casa.

Eu gosto de praia. Em Weymouth eu ia quase sempre em meu


tempo livro. O barulho das ondas me acalma.
—E seus gatos, como estão?

Disperso os pensamentos sobre a minha infância e abro um


sorriso ao lembrar dos bichanos. Todas as vezes que eu chego em casa
eles fazem uma festa. Até mesmo Atena fica contente com a minha
presença. Fiquei tanto tempo desempregada e fazendo companhia para
eles durante vinte e quatro horas por dia, que agora, ao me ter longe na
maior parte do tempo, causa um sentimento colérico neles e em mim.

—Cada dia mais lindos, gordos e arteiros. — Tomo outro gole do


coquetel.

—Eu gostaria de ter um gato, mas Vito não é muito adepto a


animais.

—Mas a casa não é sua também?

Enrico fica um pouco sem jeito.

—Em tese sim, mas Vito faz todo o trabalho duro. Eu deveria
assumir um cargo na empresa da família e me encarregar de 50% do
serviço, mas você sabe, os romances são tão mais interessantes. Sendo
assim, o mínimo que eu possa fazer é respeitar as decisões do meu
irmão, já que ele não se importa com a vida boa que eu levo.

Solto uma risadinha.

Enrico é uma figura. Ele é uma pessoa transparente e confiável.


Não tem medo de falar o que pensa ou sente.

—Como você consegue ser assim? — pergunto.


—Assim como? — Vejo sua testa franzir em desentendimento.

—Você não teme retaliações, fala o que pensa.

Enrico solta um longo suspiro. Seu semblante fica triste, o brilho


que normalmente vejo em seus olhos desaparece.

Meu coração acelera. Temo ter dito alguma coisa inadequada.

—Eu aprendi com a dor. — Confessa. — Eu sou homossexual,


Agnes.

Minhas mãos ficam trêmulas, inúmeros pensamentos hórridos


passam pela minha cabeça, mas um deles é o que mais se repete em
minha mente.

Vito, não faria, não com Enrico, por favor.

—Vito... — Não consigo terminar a frase.

Céus! Enrico é uma pessoa machucada! Os sorrisos e o humor


brincalhão são somente um escudo protetor para o que realmente está
sentindo. Por fora, um homem decidido, por dentro, um garoto acuado
e temeroso.

Eu vejo muitos defeitos em Vito, mas, homofobia está além de


um defeito, é um ato abominável e deplorável.

Enrico fica em silêncio por alguns segundos, então compreende a


minha linha de raciocínio. Ele solta uma risada sem humor.

—Vito? Não, com certeza não! Meu irmão é o meu defensor, é


graças a ele que eu não sofro preconceito, Agnes. — Solto a respiração
que eu nem havia percebido que estava presa. — Você tem uma
péssima visão do meu irmão, e acredite, eu lhe entendo
completamente. Vito parece outro homem quando está perto de você,
ele fica irritadiço e exaltado.

Minhas bochechas ficam coradas. Eu sei que sou uma causadora


de problemas, no entanto, Enrico não precisa ficar falando isso de
forma explícita.

—Eu sinto muito. — murmuro cabisbaixa.

—A culpa não é sua. Gostaria de entender o porquê Vito age de


tal forma quando está na sua presença. Mas enfim, todos do nosso
meio sabem sobre a minha orientação sexual, contudo, o meu dinheiro
e status social não foram suficientes para me livrar do preconceito.
Vito foi. Se não fosse pelo meu irmão, minha vida seria complicada.
Os empresários mais antigos tendem a ser homofóbicos.

— Você já sofreu preconceito? — pergunto com a voz


embargada.

Os olhos de Enrico ficam marejados. Ele se perde em lembranças


dolorosas. Meu amigo se escora em sua espreguiçadeira e solta um
suspiro cansado.

— Preconceito velado sim, mas nunca escancarado. — Enrico


trinta o maxilar. — Em uma das festas de fim de ano da empresa, um
banqueiro começou a soltar piadinhas vexatórias sobre o meu jeito.
Todos riram, até mesmo os amigos de papai. Depois disso, eles
pediram desculpas e falaram que era brincadeira. Só que há coisas que
não podemos brincar, não quando pode machucar os sentimentos das
pessoas. Eu voltei para casa chorando, me sentindo um monstro,
sentindo que eu nasci com problemas, que ser homem e gostar de
homem é errado. Vito ficou sabendo disso, no outro dia o banco
fechou, os outros se sentiram ameaçados e hoje me tratam bem. No
entanto, eu sei que eles me tratam assim por medo de Vito e não por
respeito. Acredite, Agnes, ter uma orientação sexual diferente da que a
sociedade impõe é um fardo pesado para segurar.

Sinto uma lágrima involuntária escorrendo. Enrico não deveria


passar por isso, nem ele, e nem ninguém. O amor deve ser livre.

Deus! O que foi que a sociedade fez com esse garoto?

Eu acredito no amor, acredito que todas as formas de amar devem


ser aceitas e acolhidas. Se Enrico se interessa por homens, não cabe a
mim e nem a ninguém o julgar, afinal, o amor não está em pauta para
julgamentos.

Largo meu copo na mesinha de canto e seguro as mãos de Enrico,


tentando lhe passar algum conforto.

—Eu sinto muito que tenha tido que passar por isso, Enrico. Fico
feliz que você tenha Vito para ajudá-lo. Saiba que tem a mim também,
por favor, fale comigo quando precisar, conte comigo para o que
quiser. Estou aqui, Enrico, como amiga.

— Obrigado, Agnes. — Ele abre um sorriso que não chega aos


olhos.
— Enrico, não fique se julgando por ser assim. O amor é um
sentimento bom e puro, as pessoas que tornam ele um fardo. Não fique
se culpando por conta de comentários retrógrados. Seja livre e feliz.

Enrico me abraça apertado, completamente emocionado.

Meu coração sangra por ver esse menino tão cheio de luz,
bondade e felicidade, sendo oprimido pela sociedade. Falando da sua
orientação sexual e dos seus sentimentos, temeroso. Como se qualquer
um fosse lhe julgar.

Fico feliz que Vito tenha amparado Enrico, sendo seu apoio,
contudo, penso nos que não possuem ninguém, daqueles que não
encontram uma mão amiga, um abraço, alguém para dizer: “não tem
nada de errado contigo”. Isso é triste e repulsivo. Se houvesse mais
empatia tudo seria diferente, se cuidassem da própria vida também,
isso já resolveria muitos problemas e o mundo seria um lugar bem
melhor.

—Tudo bem — Afasto-me de Enrico — agora me diga, conheceu


algum garoto bacana? —Tento mudar de assunto.

Enrico merece a felicidade e nada menos que isso. Se eu, de


alguma forma conseguir consolá-lo, então eu farei.

Ele abre um sorriso malicioso e saca o celular. Mexe no aparelho


e então vira-o para mim. A foto de um garoto preenche a tela.

— Esse é Isaac. Estamos nos conhecendo.

Observo melhor a imagem. Isaac é muito atraente. Seus cabelos


são curtos, os olhos castanhos são grandes e bonitos, a boca carnuda é
bem delineada. Seu sorriso contrasta com à sua pele negra, deixando-o
iluminado. O porte atlético também não deixa a desejar, ele parece
passar horas na academia trabalhando nos músculos.

— Uau! — digo embasbacada.

— Lindo, né? — Enrico solta um longo suspiro.

Acho que tem alguém apaixonado aqui.

— Ele não tem um irmão? — indago.

Enrico solta uma gargalhada e deixa o celular cair em seu colo.

— Não, mas eu posso arranjar alguns amigos dele, se você


desejar. Assim podemos fazer um encontro de casais, o que acha? —
pergunta animado.

— Eu acho ótimo.

Não estou interessada em relacionamento amoroso no momento,


mas isso não significa que eu não esteja aberta a novas oportunidades.

— Onde vocês de conheceram?

— Ele é filho de um dos empresários que era amigo do meu pai.


Nós já nos conhecemos há anos, mas nunca trocamos uma palavra, até
que nos encontramos em uma boate g a y no mês passado. Fiquei
surpreso, não pensei que ele fosse, sabe. Começamos a conversar, nos
beijamos, eu fui para casa dele... e desde então, estamos mantendo
contato.
— Frequentemente?

— Sim.

— Vocês estão basicamente namorando.

Enrico solta outro suspiro.

— Não é tão simples assim, o pai de Isaac não é tão modernizado


quanto Vito. Ainda nos mantemos em sigilo e não podemos nos ver
com muita frequência, para que o pai dele não desconfie.

Droga de pai otário!

Enrico parece gostar de verdade de Isaac, espero que o garoto


retribua o sentimento.

— Eu poderia conhecê-lo?

Enrico abre um sorriso iluminado, como se tivesse amado a ideia.

— É claro que sim, podemos marcar um jantar aqui em casa


amanhã, o que acha?

Lembro que essa ainda é a casa de Vito Costello, vulgo, meu


chefe cretino. E eu estava ansiosa pelo fim de semana, somente para
passar dois longos dias o mais longe possível dele. Não acho que é
uma boa ideia eu vir jantar aqui.

— Eu não sei...

— Está decidido, Agnes, por favor, preciso de uma opinião


diferente. Quero que você veja bem Isaac e com o seu olhar clínico de
escritora, me diga depois se acha que sou correspondido. — Ele me
olha com os olhos pidões.

Eu tinha tantos planos para esse fim de semana: acariciar meus


gatos, assistir . Comer muita besteira, dormir até tarde e passar o dia
de pijama. Mas, como posso deixar Enrico na mão? Ele parece ter
medo de confiar nas pessoas, e devo me sentir honrada por ter
depositado certa confiança em mim.

—Tudo bem.

Enrico bate palminhas animado. Ele mexe em seu celular,


possivelmente enviando uma mensagem a alguém.

— Então, quando soube que era gay? Seus pais aceitaram? E


Vito? — mudo mais uma vez de assunto.

Quero conhecê-lo melhor, entender como o seu temperamento


funciona. Para saber como eu posso ajudá-lo, caso for necessário em
algum momento.

— Vamos por partes. Primeiro, eu soube que era gay quando


arrumei uma namorada. Jessica, ela era a minha colega de escola. Eu
já me sentia diferente, eu sempre senti atração por homens. Então
namorei a Jéssica em uma tentativa frustrada de tentar mudar as
coisas, porém, eu não sentia atração, não sentia tesão, não sentia nada,
era avesso até o beijo. Depois disso, terminei o namoro e resolvi me
aceitar do jeito que sou. Segundo, meus pais nunca souberam... bom...
talvez minha mãe, dizem que mãe sempre sabe. Mas papai, ele era um
pouco parecido com os amigos, não sei se aceitaria bem a situação,
mas prefiro pensar que ele me amaria do mesmo jeito. Quando eles
morreram, eu já sabia de minha homoafetividade, mas mantinha em
segredo, me revelei anos depois. E, por último, eu fiquei muito
nervoso para contar ao Vito. Mas, diferente de qualquer coisa que eu
esperava, ele foi compreensivo, me abraçou e disse que nunca mais eu
deveria por ser quem eu realmente sou. Disse que tem orgulho de mim,
orgulho da minha coragem.

— Oh, Enrico! Sinto muito pelos seus pais! — choramingo.

Essa conversa está me deixando emocionada, ainda mais com o


meu humor atual por causa dos recentes acontecimentos.

— Obrigado, Agnes. Mesmo que papai não esteja mais aqui, eu


sei que, uma hora ou outra ele iria me aceitar. Éramos muito ligados
um ao outro. Por eu ser o filho mais novo, passava mais tempo com
eles. Sofri muito com quando os perdi.

— Agora, eles são as estrelas mais brilhantes do seu céu.

— São sim! — Ele abre um sorriso emocionado.

Fico comovida com tudo aquilo, sinto dó de Enrico e Vito pela


perda dos pais. Quando os meus morreram, eu era muito jovem, sofri
com a separação, mas com o tempo acabei me acostumando a ela pelas
poucas lembranças que eu tinha e que foram sumindo. No entanto,
acredito que perder os pais na puberdade, como aconteceu com Enrico,
deve ser bem mais doloroso, ainda mais para um adolescente,
momento da vida que tudo é mais intenso.
— Eu agradeço o seu apoio, Agnes. Mas saiba que, eu nunca
deixei me rotularem como Enrico: o gay. Não aceito rótulos pela
minha sexualidade.

— Somos feitos da mesma matéria, Enrico. Jamais deve se


submeter a humilhações por ser quem é — falo convicta.

As pessoas tendem a menosprezar as outras pela orientação


sexual, tom da pele, regionalidade ou grau de instrução, mas esquecem
que somos iguais perante o criador, ou até mesmo perante a ciência,
afinal, somos todos feitos de carne e ossos.

Enrico tem uma história de superação, mesmo ainda sendo tão


jovem. Hoje em dia, revelar os verdadeiros sentimentos é sinônimo de
coragem. Ele é motivo de orgulho.

— Eu sei, por isso tento me abster dos comentários maldosos que


escuto nas ruas... — Ele olha para o meu copo vazio, depois para o
meu rosto — Mais bebida?

— Por favor! — Entrego-lhe o copo vazio.

Talvez o doce da bebida nos ajude a esquecer as feridas do


passado, pelos menos por enquanto.
Chego em casa exausto da longa semana de trabalho. Passar
tantas horas na companhia de Agnes Bellini vem sendo uma verdadeira
provação. A garota tem algo em si que me deixa cheio de tesão. Para
completar, a desgraçada vai para o escritório com saia Midi, definindo
a sua deliciosa bunda arredondada e torneando as suas coxas.

Agnes Bellini é uma verdadeira anomalia da natureza, a garota é


tão atrapalhada, que não sei como ainda está viva ou com todos os
órgãos intactos. Preciso estar sempre atento quando estou perto dela,
hoje mesmo, levei uma bela cuspida de água no rosto.
Largo a minha pasta executiva no sofá e me direciono para a
cozinha. Preciso beber alguma coisa antes de ir tomar um banho e sair
para encontrar Teresa.

Entro no cômodo e pego uma garrafa de água gelada, esvazio a


garrafa em poucos goles, minha garganta estava seca. Estou prestes a
sair quando esbarro em alguém. Agarro os braços finos e delicados
para não deixá-la se estatelar no chão.

Ela. O tormento dos meus dias. O martírio dos meus


pensamentos. A inquietação do meu corpo. Agnes Bellini.

Jesus Cristo! É possível um homem ter um segundo de paz?

—Me desculpe. — Se afasta.

Agnes Bellini está vestindo nada além do um pequeno biquíni


rosa, que acentua as curvas do seu corpo. Engulo em seco. Ela é mais
gostosa do que eu imaginava, a escritora parece uma boneca. Delicada
e atraente.

Isso só pode ser um castigo divino. Não sou crente, mas também
não sou ateu. A religião só simplesmente não faz falta para mim.

Desvio os meus olhos do corpo de Agnes Bellini, o qual eu estava


encarando descaradamente.

Preciso aprender a me controlar. Perto dela, ajo como um garoto


na puberdade. Agnes Bellini é uma feiticeira, que atiça cada célula do
meu ser.
—Eu... eu vou voltar para o Enrico. — murmura constrangida.

Droga! Ela deve ter percebido o meu olhar de lascívia. Agora,


além de me achar um cretino, Agnes provavelmente me considera um
tarado descarado.

Eu sou o chefe dela, porra! Brigo com o meu cérebro traidor.

Praticamente corro para o meu quarto. Preciso de um banho


extremamente gelado antes de encontrar Teresa, ou entrarei em
combustão.

—Nossa, você está tenso hoje. — fala Thomas.

Estou sentado em um bar, bebendo algumas doses de uísque com


meu amigo de infância.

Conheci Thomas ainda no colegial, ele conseguiu uma bolsa e


entrou por mérito próprio na escola particular. Desde então, estamos
sempre juntos. Thomas trabalha como advogado em alguma empresa
famosa do ramo jurídico. Ele é um homem esforçado, conquistou tudo
o que tem sozinho, sem a ajuda de ninguém, e adora exaltar isso.

— Problemas na empresa. — murmuro.

Meu problema tem um pouco mais de um metro e meio, cabelos


loiros, um corpo esculpido pelos deuses, uma boca afiada, dedos ágeis,
três gatos, nome e sobrenome: Agnes Bellini.
Para melhorar a minha vida, Enrico parece gostar da garota, e
considerando a sua lista inexistente de amigos, não posso separá-la
dele, não a única amiga que arranjou de verdade nos últimos anos.

Céus! Até quando conseguirei sobreviver a esse tormento?

—Relaxa, cara! Semana que vem será mais fácil.

Sorrio sem mostrar os dentes.

Na verdade, nem semana que vem, muito menos nas próximas


será mais fácil. A cada dia que passo com Agnes Bellini dentro da
minha sala, me sinto mais atraído pela escritora. Seu jeito meigo, suas
feições delicadas quando está digitando, até mesmo, seu semblante de
quando está cansada e completamente sem ideias. Agnes ainda não
percebeu, mas, nessas poucas semanas de convívio, eu já consigo lê-la
como um livro aberto.

Todos os dias eu torço para que ela apareça no escritório com o


livro pronto, e, ao mesmo tempo, meu lado masoquista torce para que
a história demore longos e longos meses para ser finalizada.

—Olá rapazes. — Teresa aparece, tirando-me dos devaneios com


uma certa escritora. Ela larga a bolsa em cima da mesa, e, de forma
elegante, senta-se ao meu lado.

Minha amante é linda. Uma mulher muito atraente e repleta de


atributos. Teresa é morena, alta e magra. Ela é modelo fotográfica.
Nos conhecemos em uma boate, e desde então, viemos tendo uma
amizade com benefícios. Eu gosto de ganhar prazer, sem rótulos, sem
cobranças. Ela adora dar prazer. Eu peço, ela retribui. Nossa relação
não poderia ser melhor. Eu saio com outras mulheres quando encontro
tempo, ela também é livre para fazer o que quiser.

—Aonde vamos hoje, querido? — Teresa coloca a mão na minha


perna, acariciando a pele quente por cima da calça de terno.

—Mesmo lugar de sempre. — falo e tomo mais um gole de


whisky.

Nunca levei Teresa para a minha casa, nem ela ou qualquer outra
mulher. Moro com Enrico, portanto, a casa é tão minha quanto dele.
Não me sinto confortável em fazer orgia no lugar em que o meu irmão
mais novo está, mesmo ele já sendo um homem formado. Sempre terei
a visão dele como o bebê que eu ajudei a ensinar a caminhar.

—Como andam as coisas, Teresa? — Pergunta Thomas.

—O mesmo de sempre, alguns trabalhos fixos, outros novos e


mais outros cancelados. — Explica.

Teresa faz fotos para algumas empresas há anos. Eles adoram tê-
la como modelo. Ela ganha bem com o seu trabalho, no entanto,
precisa cuidar muito do corpo, não pode engordar, não pode fazer o
que quiser com o cabelo. Vive uma vida imposta de limites pelo
empregador. Seu corpo não lhe pertence.

—Devo pedir algo para beber, ou nós já vamos, querido? — Ela


arranha a minha virilha.

Meu pau acorda para a vida instantaneamente. Convivendo com


Agnes Bellini, eu passo a maior parte do tempo com os hormônios
aflorados.

—Vamos sair agora. — Esvazio o copo de whisky — Até mais,


Thomas. — Me despeço do meu amigo.

Thomas abre um sorriso malicioso, sabendo exatamente o que eu


e Teresa iremos fazer. Ele se despede da garota, e nós saímos um ao
lado do outro pelas portas da frente do bar.

Nunca andamos de mãos dadas, não quero aumentar rumores


sobre um possível romance, não quando não temos nada, e eu nem
pretendo ter.

Mal entramos no quarto do hotel e eu ataco a boca de Teresa,


como um animal raivoso. Estou faminto, preciso me aliviar e tirar
Agnes Bellini da minha cabeça.

Teresa começa a puxar o vestido e, em poucos movimentos, ela


fica completamente nua. Meus olhos focam em seus seios grandes e
firmes. Desço a visão pela sua barriga lisa e vejo sua boceta depilada.
Teresa começa a esfregar os deliciosos seios em meu peito. Ela
percorre a boca pelo meu pescoço, enviando arrepios para o lugar
certo. Me afasto e começo a retirar a minha roupa, com a ajuda de
Teresa, em instantes fico completamente nu. Passo a mão pela sua
vagina e percebo que ela já está melada, pronta para me receber.
Empurro Teresa até a cama e deixo-a com a bunda empinada para
mim. Coloco um preservativo e pincelo o meu membro pela sua
entrada, deslizo-o para dentro do seu canal vaginal com facilidade.
Estoco com força até o fundo, minhas bolas batem em sua bunda
redonda. Penetro sua boceta sem piedade, seu corpo chacoalha com a
intensidade das investidas. Teresa se desmancha em um orgasmo.
Repito os movimentos acelerados por mais alguns segundos, e então
me alívio, rugindo alto e jogando jatos potentes de prazer para fora do
meu corpo.

Menos tenso, espero que esse sexo seja o suficiente para me


deixar calmo pelo resto da semana. E isso inclui, pensamentos
pecaminosos com uma tal escritora.

Ouço a campainha tocar. Enrico e Isaac estão preparando uma


sobremesa, na verdade, apanhando para ela. Portanto, serei o
encarregado de abrir a porta.

Meu irmão me comunicou hoje de manhã do tal jantar que faria.


Enrico foi enfático ao falar que eu deveria tratar Agnes Bellini muito
bem. Disse que gosta muito dela, e adoraria ver essa amizade aflorada.
Não fiquei com muita escolha, se não, aceitar o fato de que, de agora
em diante, passarei a ver a escritora com mais frequência.

Encontro Agnes Bellini no rol de entrada. A garota segura um


vinho, enquanto digita furiosamente algo em seu aparelho celular. Ela
está usa um shorts jeans estilo godê, um body preto de mangas
bufantes e tênis branco com salto. Seus longos cabelos loiros estão
soltos e um tanto bagunçados. Linda!
—Olá! — Cumprimento, chamando a sua atenção.

Agnes finalmente percebe que a porta foi aberta e abre um


sorriso amarelo.

—Olá, senhor Costello.

Saio da porta dando-lhe passagem para dentro da casa. Não quero


ficar perto dela mais do que o necessário. A garota costuma
importunar minha mente com a sua presença.

—Enrico e Isaac estão na cozinha.

Agnes some em poucos passos, parece querer manter distância de


mim. E eu só consigo analisar suas pernas torneadas, imaginando-as
enroscadas em minha cintura.

Estou perdido!

Pensei que a seção de sexo com Teresa ontem fosse o suficiente


para aplacar o meu tesão pela garota, ledo engano.

Irritado, volto a me sentar no sofá da sala de estar, tentando


ignorar a presença que tormenta os meus pensamentos. Contudo, isso
se torna um fardo pesado quando eu ainda sinto o rastro de perfume
adocicado que a garota deixou para trás.

Inferno! Preciso focar em coisas triviais, e parar de ser um


maldito tarado sem controle que só pensa em Agnes Bellini e na sua
boca diabolicamente atraente.

Ouço a risada do meu irmão na cozinha que me tira dos


devaneios profanos. Pela glória de Deus!

Estou feliz por Enrico. Isaac é um bom garoto e o sentimento


parece ser recíproco. Só espero não me incomodar com o senhor
Jones, pai de Isaac, e CEO da Jones Finanças & Seguros. O homem
era muito amigo do meu pai, e foi um dos envolvidos no dia em que
Enrico foi alvo de piadas. Só não desmontei o negócio de todos os
outros, para deixar a sombra do medo sobre suas cabeças.

—Isso está um desastre, Enrico. — Ouço a voz de Agnes.

—Eu segui todos os passos que a senhora Cooper passou, ela


deve ter esquecido algo. — rebate o meu irmão.

—Ela ou você? — zomba Isaac.

—Bom, acho melhor pedirmos uma torta da padaria aqui perto.


— Enrico passa correndo por mim e pega o celular.

Agnes e Isaac aparecem logo atrás, rindo e conversando. A


escritora está com uma taça de vinho em mãos. Ela parece apreciar a
bebida.

—Então, Agnes, é verdade que vocês se conheceram por causa de


um livro? — Isaac parece curioso.

Não o culpo. Quem não ficaria? Isso até parece história de


novela. Agnes jurou veemente que não foi proposital o nome escolhido
para o personagem principal, e, estranhamente, eu acredito nela. Agnes
possui uma singular mania de deixar seus sentimentos escancarados,
conhecendo-a melhor, sei quando fala a verdade.
Um rubor aparece nas faces de Agnes Bellini.

—Eu... — ela me olha de soslaio — sim, eu escrevi um livro de


CEO e, por coincidência, puxei na internet o mesmo nome do senhor
Costello.

Isaac solta um assobio alto e bate palmas.

—Uau! Isso é o máximo, quando tivermos tempo, quero todos os


detalhes na minha mesa. — Brinca.

—Você precisa ler o livro. É simplesmente perfeito, Agnes


consegue descrever tudo tão detalhadamente... — Enrico aparece.

—O livro é um romance? — Indaga Isaac.

Antes que Agnes Bellini possa responder, meu irmão se manifesta


novamente:

—É um romance erótico. Eu fiquei com tesão durante o livro


todo.

Agnes começa a ficar vermelha. Vejo que suas mãos estão


suadas, delatando seu nervosismo. Estranho a atitude da escritora, ela
escreve muito bem sobre sexo, mas quando o assunto é retratado de
forma presencial, ela fica sem jeito e envergonhada.

—Eu preciso ler esse livro, quero detalhes! — Isaac parece muito
interessado na pornográfica escrita.

—Você precisa ler a cena do boquete... é simplesmente... uau! —


fala Enrico.
Agnes está ficando roxa agora. Ela olha para mim, e eu não
desvio o olhar. Ela mordisca o lábio inferior e muda o foco da sua
atenção para os seus próprios pés.

Deus! Meu pau começa a latejar com o seu jeito sexy.

Agnes coça a garganta, parecendo retornar para o presente,


abrindo um sorriso envergonhado logo em seguida.

—Vamos jantar? — pergunta.

Agnes não parece estar faminta, mas sim, querendo mudar o foco
sobre o seu livro. Percebo que, Agnes não gosta de chamar a atenção,
por isso lançou o e-book com um codinome. Contudo, a situação saiu
do seu controle, e hoje, sua verdadeira identidade é reconhecida em
vários lugares.

Enrico coloca os pratos na mesa e o cheiro de comida impregna o


ar. Meu estômago ronca. Eu estava com fome e nem havia percebido.
Sento na ponta da mesa, Enrico à minha direita, Isaac ao seu lado e
Agnes à minha esquerda. Fazemos o desjejum em silêncio.

—E o Ethan? — pergunta Enrico em dado momento.

Estamos sentados, bebendo na sala de jantar. Depois do desjejum,


a torta que Enrico havia encomendado foi entregue. O doce estava
divino, muito melhor do que qualquer outra coisa que ele tentasse
preparar. Se tem algo que o meu irmão não sabe fazer, esse algo é
cozinhar.

—Está bem, suponho. — Agnes dá de ombros.


Fico instantaneamente ligado no assunto. Ethan? Agnes Bellini
possui um namorado? Começo a bater a perna no chão, me sinto
ansioso e curioso. Entoo mentalmente para que alguém faça mais
perguntas sobre esse homem. Não posso indagar nada, pareceria
suspeito, além do mais, não é segredo para ninguém que eu e Agnes
somente nos suportamos.

—Quem é Ethan? — Quase agradeço Isaac pela pergunta.

Agnes cora. Enrico abre um sorriso malicioso antes de dedurar a


amiga para todos nós.

—Ethan é um funcionário da empresa. Eles se conheceram no


horário de almoço, desde então, o cara está completamente interessado
na Agnes.

Trinco o maxilar com força. Não acredito que Agnes Bellini está
namorando em horário de trabalho. Aperto os punhos com raiva.

Essa garota não consegue levar o profissionalismo a sério?


Primeiro ela chega atrasada e agora fica paquerando dentro da minha
empresa?!

—Não é bem assim... — A escritora está constrangida.

Enrico revira os olhos e bufa.

—Agnes, por favor, o cara vive te chamando para sair, leva


comida ou doces para você. — Enrico olha para mim e Isaac. — Esses
dias ele levou uma caixa de ração úmida para os gatos dela. Se isso
não é interesse amoroso, então eu não sei o que é.
Droga! O homem é bom. Quando uma mulher é muito fechada,
como Agnes Bellini é, o melhor método de chegar ao seu coração e,
posteriormente, nas suas saias, é atingindo o seu ponto fraco. E os
gatos de Agnes são esse ponto.

—Com certeza ele está afim de você! Por que nunca saiu com
ele? Ele é feio?

Antes que Agnes possa responder a pergunta de Isaac, Enrico


intervém novamente.

—Ele é um gato! Ruivo, olhos castanhos. Eu pegaria na certa!

Enrico, o santo casamenteiro!

Isaac abre um sorriso zombeteiro para o meu irmão.

—É uma pena que esteja comprometido, Enrico. Deixe o Ethan


para Agnes. — Os dois ficam se encarando com lascívia no olhar por
alguns segundos.

Enrico abre um sorriso malicioso antes de desviar sua atenção


para a sua amiga novamente.

—Vamos, Agnes! Dê uma chance ao rapaz. Podemos sair em


casal, se for se sentir mais confortável assim. — Tenta convencê-la.

Não sei por qual motivo exatamente eu estou tão irritado. Quero
arrancar a cabeça desse tal Ethan. Ou de Enrico.

Me mantenho em silêncio absoluto, sei que se eu falar qualquer


coisa, a irritação em minha voz ficará evidente. Não quero levantar
suspeitas absurdas sobre um suposto ciúmes meu com a escritora.

Agnes solta um suspiro exasperado.

—Tudo bem! Vamos marcar alguma coisa qualquer dia desses.

Enrico bate palminhas animado, o que faz com que Isaac solte
uma gargalhada estrondosa da sua exagerada demonstração de
empolgação. Agnes abre um sorriso que não chega aos olhos. E eu
cerro meu maxilar, tentando manter a língua dentro da boca para não
falar nada.

O restante da conversa transcorre normalmente. Nada relacionado


aos interesses amorosos de Agnes Bellini. Fiquei tentado a fazer
algumas perguntas sobre esse tal de Ethan, mas não as fiz, guardei
todas para mim. Todavia, isso não significa que eu esquecerei essa
história.

No final da noite, me ofereço para levá-la para casa, Agnes ficou


receosa com o convite, mas, após muita insistência de Isaac e Enrico,
acabou cedendo.

Dirijo em silêncio até o seu apartamento. No som, uma música


clássica entoa, acalmando os ânimos. Agnes olha pela janela,
completamente absorta em pensamentos.

—Fico feliz que Enrico tenha você. — Cesso o silêncio.

Agnes finalmente vira-se para mim, desviando sua atenção da


janela que veio até agora observando com um interesse fingido. Ela
abre um singelo sorriso.
—Eu gosto muito de Enrico, ele é um ser cheio de luz e amor.

Maneio a cabeça em confirmação. Sua indagação sobre o meu


irmão não poderia estar mais certa. Enquanto Enrico era julgado pelos
amigos de nossos pais, que tentavam menosprezá-lo pela orientação
sexual, meu irmão só tentava compreendê-los. Enrico até mesmo
tentou me impedir de acabar com o desgraçado que fez a piadinha.
Disse que o homem deveria ainda estar triste pela morte dos amigos, e
seu comportamento deplorável poderia ser perdoado. Essa desculpa
não foi o suficiente para me impedir de buscar por vingança.

—Enrico não é muito aberto, Agnes, ele não tem amigos. Por
fora, parece feliz e realizado. Por dentro, se atormenta a cada instante.
Ele pode não demonstrar, mas é frágil como porcelana.

Agnes solta um suspiro audível. Ela remexe as mãos em seu colo,


parecendo incomodada com alguma coisa.

—Eu sei. Fiquei orgulhosa de você quando Enrico me contou o


que fez para os homens que falaram certas absurdidades sobre ele.
Obrigada, Vito, o mundo precisa de mais seres como você.

Sorrio sem mostrar os dentes, com a minha atenção ainda voltada


para a estrada.

É a primeira vez que eu e Agnes tratamo-nos pelo primeiro nome.


Uma estranha sensação aquece o meu coração, ainda não sei descrever
o que é.

Eu não defendi o meu irmão para me tornar um herói. Eu queria


protegê-lo, defendê-lo da podridão da humanidade. Foi difícil me
controlar quando vi seu rosto banhado em lágrimas e sua alma tão
machucada. Ele era só um garoto.

—Obrigado. — Minha voz sai levemente embargada.

Nunca entrei nesse assunto com ninguém, nem mesmo com


Enrico, mas agora, ouvir da boca de outra pessoa que a minha atitude
foi honrada, mesmo que eu tenha dizimado uma grande empresa, me
deixa feliz.

—E você, senhorita Bellini, tem alguém por quem brigar e


defender? — Eu sei tudo sobre ela, mas quero ouvir da sua boca o
relato pessoal sobre a sua vida particular.

Agnes solta outro suspiro profundo. Ela me olha com muita


intensidade e abre um sorriso de canto, antes de começar a falar.

—Eu tenho os meus avós. Eu daria a minha vida pela deles.

—E seus pais?

Rajadas de tristeza passam pelos seus olhos, mas logo ela muda
suas feições, como se o assunto a seguir não importasse tanto.

—Meus pais faleceram quando eu era muito jovem. Tenho poucas


lembranças de como eles eram. Fui criada pelos meus avós, eles são a
minha única família.

—Eu sinto muito, Agnes. Eu sei como é perder os pais.

Não há um único dia que eu não sinta saudades do abraço


carinhoso da minha mãe ou das instruções inteligentes do meu pai.
—Obrigada, Vito. Mas, não que eu esteja diminuindo a minha
dor, longe disso, senti muito a falta na infância de ter o meu pai ou
mãe para entregar os trabalhos da escola. Só que, eu tive os meus avôs
para segurar a minha mão, assim como eles tiveram a mim. E eu perdi
os meus pais sendo ainda muito jovem, meu cérebro memorou
lembranças vagas... já você e Enrico tiveram os pais por muito tempo,
parece mais difícil perdê-los depois de passar metade da vida na sua
companhia.

—Acredite, Agnes. É igualmente doloroso perder os pais. Sendo


tão jovem ou não. Os pais são figuras essenciais na vida dos filhos,
gradativamente importantes.

—Eu sei. — Ela volta a sua atenção para a janela.

Eu compreendi a linha de raciocínio de Agnes para o luto.


Contudo, eu discordo completamente. A escritora, mesmo não
revelando, é uma pessoa machucada pela morte precoce dos seus
progenitores.

Estaciono o carro em frente ao prédio de Agnes. Ela retira o


cinto, abre a porta e desce. Antes de subir as escadas, ela se vira para
mim e abre um sorriso.

—Obrigada pela conversa, Vito. E pela carona. Nos vemos na


segunda-feira.

—Até mais, Agnes Bellini.

Espero ela subir os degraus e aguardo mais um instante até ela


entrar e chavear a porta. Está tarde da noite e poucas pessoas
caminham pelas ruas. Preciso saber que lhe deixei em segurança para
partir para casa e deitar a cabeça no travesseiro em paz.

Acelero o carro. O ritmo do velocímetro acompanha o do meu


coração. Sinto uma estranha sensação de que, Agnes Bellini entrou em
nossas vidas para mudar o nosso destino. Para melhor.

E, pela primeira vez em anos, eu nunca estive tão ansioso para


uma segunda-feira.
Me sento ao lado de Liz e me preparo para contar tudo o que
aconteceu comigo no último mês. Vai ser bom falar a verdade, tirar o
peso dessa mentira das minhas costas.

Depois que Vito me largou em casa no sábado, a minha


respiração estava acelerada, eu me sentia eufórica, meu coração batia
descompassado, e meu estômago estava repleto de borboletas
coloridas. Nunca senti nada parecido antes. Não sou idiota, eu sei o
que significa, mas prefiro ignorar o fato. Quanto mais eu pensar nisso,
mais apegada eu ficarei e pior será.
Sou uma tola!

Precisou de uma única conversa adequada para que eu me


apaixonasse pelo homem mais cretino de toda Londres. Isso é culpa
dos livros. Ler muitos romances deixa as pessoas assim, imaginando
que vão encontrar a cada esquina, a alma gêmea.

—Então, ainda estou esperando. — murmura Liz.

Estamos sentadas na cantina. O burburinho de pessoas almoçando


entoa por todo o local. Depois da primeira semana almoçando
trancafiada no escritório, me deixei ser convencida por Liz e aceitei
vir fazer o desjejum na cantina. Conheci algumas pessoas bem legais,
dentre elas, Ethan, um dos engenheiros da Costello Imobiliária. Ele é
um cara divertido, é jovem, bonito, solteiro e educado. Ethan vive me
paparicando, já comprou até mesmo presente para os gatos. Liz fala
que ele está caidinho por mim.

Solto um suspiro exasperado e disperso meus pensamentos. Está


na hora e começar as explicações. Me aproximo de Liz e começo a
sussurrar toda a história envolvendo o Vito fictício e o Vito da vida
real.

Depois de um tempo, Liz se engasga com a comida ao tentar


soltar uma gargalhada.

—Você está me dizendo que não sabia sobre Vito Costello, ser
Vito Costello? — indaga cética.

Reviro os olhos.
Não é como se Vito fosse um membro da família real. Eu não
ficava na internet pesquisando sobre as empresas e seus CEO’s, aposto
que a maioria das pessoas também desconhece isso. Tirando o Steve
Jobs, que é mundialmente conhecido.

—Sim, estou dizendo exatamente isso. Nunca me interessei por


essa área, muito menos pelo mercado imobiliário. Eu nem se quer
tenho dinheiro para comprar uma casa, muito menos para pagar por
qualquer imóvel pertencente a Costello Imobiliária.

A Costello Imobiliária é a maior empresa desse ramo do Reino


Unido. Seus imóveis custam mais do que todos os meus órgãos
vendidos juntos no mercado ilegal. Os imóveis são de alto padrão.

Liz solta outra gargalhada, o que acaba chamando a atenção de


algumas pessoas ao nosso redor. Fico envergonhada automaticamente.
Odeio ser o centro das atenções.

—Agnes, você é realmente hilária! Garota, nunca pensei que


ouviria na vida uma história assim. Mas, enfim, Vito é um homem
complicado, às vezes. Com o tempo, você passará a entendê-lo, e
talvez, até a perdoá-lo por estragar o seu livro. Ele é um CEO, um dos
mais importantes do País. Ponha-se no lugar dele, como se sentiria se
fizessem um livro se sexo sobre você? — Ela fala a última parte
sussurrando.

Deus amado!

Sinto as minhas bochechas quentes. Liz tem razão, Vito é um


homem conhecido e renomado. O livro pode ser um enorme fardo para
segurar. Prometo a mim mesma que, se eu ainda tiver uma carreira
depois desse segundo volume, vou passar a pesquisar o nome dos
personagens com mais afinco.

—Se eu soubesse que ele existia... — Murmuro.

Nem em mil anos eu imaginaria que tudo isso iria acontecer.

—Passado é passado. Agora, que livro maravilhoso! Pobre do


Mark, precisou aplacar todo o meu tesão durante o tempo de leitura.

Oh céus!

Bebo a água gelada da minha garrafa com a garganta seca. Eu


devo estar roxa de vergonha. Já não bastava Enrico comentando sobre
o livro, agora Liz também. Não há mais nada que me deixe tão
encabulada do que alguém comentando sobre a leitura do meu livro.

—Agnes, você está bem? — Liz parece preocupada.

Coço a garganta e abro um sorriso amarelo.

—Sim. — Minto. Não é uma mentira totalmente, estou bem, mas


estou completamente inibida.

Eu escrevi no livro coisas que eu nem sei como faz. Precisei


assistir alguns filmes pornôs, ler alguns contos eróticos, e estudar um
pouco de anatomia para conseguir expressar em detalhes como corpo
masculino e feminino funcionam juntos.

Nunca pensei como as pessoas me veriam ao ler o livro. Talvez


como uma mulher extremamente experiente no assunto. Isso não
poderia ser nada além de mentira. Sou virgem. Completamente virgem.

—Tudo bem, qual é o problema?

Por que eu me sinto tão receosa em relatar meu verdadeiro status


moral? Não é como se eu fosse ser condenada à forca por isso.

—Eu sou virgem. — sussurro.

Liz esbugalha os olhos e fica parada por alguns segundos sem


movimentar um único músculo.

—Você é virgem?! — Praticamente grita.

Jesus amado! É agora que eu morro de vergonha.

—Fale baixo, Liz, pelo amor de Deus! — Choramingo.

Liz maneia a cabeça em confirmação. Ela parece embasbacada


com a situação. Como se isso fosse um absurdo.

—Como... como você escreveu o livro então?

Dou de ombros. Meu rosto está corado. Falar sobre sexo me


deixa embaraçada.

—Eu assisti a alguns filmes e li algumas coisas sobre. — falo


sem entrar em detalhes.

Liz começa a rir. Lágrimas brotam nos cantos dos seus olhos. Até
seu tom de pele muda com as gargalhadas escandalosas que solta.

—Você escreveu um livro erótico assistindo pornô? — Consegue


falar entre uma risada e outra.

O que eu fiz para merecer tanta vergonha, Deus?

Sinto que vou ter um colapso a qualquer momento. Agradeço


pelas pessoas estarem absortas em suas próprias conversas e refeições,
para não prestarem atenção nas obscenidades que estamos falando em
público.

—Sim. — Minha voz sai em um sussurro.

—Uau! Preciso assistir mais pornô, porque, amiga, o livro é um


arraso. — Ela finalmente para de rir.

—Tudo bem, só podemos esquecer isso, por favor?

—Agnes, você precisa aprender algumas coisinhas. Não pode ser


virgem pelo resto da vida.

—E porque não?

—Bom, porque é um desperdício. Sexo é bom.

Liz não precisa saber que não sou tão inocente assim. Eu já me
masturbei, já tive orgasmos.

—Por qual motivo você nunca transou? — Liz coloca uma colher
cheia de comida na boca.

Hoje, diferente dos demais dias, ela trouxe uma marmita com
comida caseira, tanto para mim quanto para ela. Presente do Mark, seu
noivo.
—Meus avós são católicos praticantes, eu fui criada dentro da
igreja e ensinada de que sexo só no casamento. Contudo, nunca fiz
nada disso porque não encontrei o homem certo. O homem que me
fizesse suspirar e ter vontade de me entregar. Gostaria de casar
virgem, sim! Mas se eu encontrasse a pessoa certa, não esperaria.

Liz revira os olhos e engole a comida que estava mastigando


antes de falar.

—Você é muito romântica.

—Concordo.

Rimos juntas da minha forma de ver o mundo e o amor.

Eu acredito em almas. Creio que, as pessoas trocam energias, por


isso espero a pessoa certa para me entregar. Quero que nossas energias
se conectem. Que o momento seja único e especial.

—Olá, meninas! — Ethan aparece e se senta na cadeira de frente


para nós.

Ethan usa uma camisa azul para fora das calças jeans, e sapatos
pretos. Seus cabelos ruivos estão alinhados em um penteado perfeito.
Sua pele clara evidencia pequenas sardas na volta do nariz. Ele é um
homem bonito.

—Olá, Ethan! — Liz cumprimenta-o animadamente.

— Vocês têm planos para o fim de semana? — pergunta


descontraidamente.
Quando ele fala vocês, ele quer dizer, na verdade, a mim. Ethan
está há dias tentando encontrar uma oportunidade de sair comigo.
Droga! Não sei qual mentira inventar. Semana passada, Atena estava
se sentindo mal. Na anterior, eu iria visitar a casa dos meus avós. Eu
tenho mais dois gatos, poderia falar algo a respeito deles, mas
pareceria suspeito.

—Vou ir visitar a mãe do Mark. — Liz revira os olhos. Minha


amiga tem certa aversão à sua sogra.

Ethan ignora o compromisso de Liz, ele não estava interessado


no que ela faria. Seus olhos focam em mim, esperançosos. Engulo em
seco.

—Vou ir a uma boate com Enrico. — falo a primeira coisa que


me vem na cabeça.

Enrico comentou esses dias que deveríamos sair. Não


combinamos nada certo ainda, muito menos o lugar. Mas essa desculpa
parece mais verídica do que outro gato doente.

—Que legal! Qual boate? Eu poderia dar uma passada por lá. —
fala tentando fingir indiferença.

Céus!

Boates são públicas! Perfeito, Agnes! Não poderia inventar um


filme em casa, ou um jantar particular.

Liz solta uma risada, mas começa a tossir, fingindo uma crise. É
claro que ela percebeu que eu estava tentando fazer, assim como
percebeu que deu completamente errado.

—É... hã... eu ainda não sei o nome. Mas eu vou perguntar para
ele e te falo. — Sorrio amarelo.

—Obrigada, Agnes. Vai ser legal! — Ele olha a hora em seu


relógio de pulso. — Preciso ir trabalhar. Bom resto de almoço para
vocês.

Murmuramos em uníssono agradecimentos e despedidas.

Liz espera Ethan se afastar o suficiente para não ouvir a nossa


conversa e solta um assobio.

— É, minha amiga, você não vai escapar dessas.

— Droga! Pensei que a boate seria uma boa ideia.

Liz dá uma risada debochada. Um sorriso zombeteiro delineia os


seus lábios.

—Aproveita, Agnes, Ethan é um bom homem. Qual é o problema


de sair com ele?

Eu não sei a resposta. Na verdade, nem sei por qual motivo eu


tento afastar o homem a todo custo. Sou uma idiota, essa é a verdade.
Fico aqui parada, esperando o príncipe encantado aparecer no cavalo
branco e arrebatar o meu coração, enquanto na realidade, eu deixo
homens bons como o Ethan passarem despercebidos e continuo
sozinha. Preciso aprender a separar a realidade da ficção. Não estou
dentro de um livro, e nem viverei o romance de um.
—Você tem razão! Vou chamar Enrico para sair e avisar a Ethan.

Liz bate palminhas animadamente.

—Segunda que vem, teremos mais fofocas. Espero que a semana


passe voando.

Liz é uma fofoqueira de plantão. Ela adora as novidades da vida


alheia. Mas não é uma pessoa má, as fofocas são distribuídas somente
para mim, a única amiga que ela tem na empresa. Assim como eu, Liz
não é muito sociável com as outras pessoas. Ela me contou que,
quando entrou para o cargo, todas as mulheres ficavam olhando torto
para ela. Os burburinhos nos corredores era de que ela era amante de
Vito, pois foi a secretária mais jovem que o CEO já contratou. Liz
precisou de todo o apoio de Mark para não largar o emprego. Desde
então, nunca se interessou em fazer amizade com ninguém do corpo
corporativo da Costello Imobiliária, até eu chegar.

Envio uma mensagem pelo WhatsApp do notebook para Enrico.


Preciso urgentemente da sua ajuda. Desde que inventei sobre a boate,
não consigo pensar em outra coisa, se não, arrumar a droga de um
lugar para ir no sábado.

Não uso o celular na presença de Vito. Estamos nos tratando


melhor depois da conversa de sábado, mas isso não quer dizer que
sejamos amigos ou algo do tipo.

Olho para o CEO sentado à minha frente. Vito parece muito


concentrado analisando uma planilha em seu computador. Ele parece
alheio a minha presença. Às vezes, ele começa a murmurar, pensando
alto, nos cálculos que está fazendo.

A aba do WhatsApp no notebook começa a piscar.

Enrico Costello: Qual é o problema?

Agnes Bellini: Preciso da sua ajuda!

Enrico Costello: Diga, Agnes.

Agnes Bellini: Eu fui dar um fora em Ethan e menti que iria em uma
boate contigo, agora ele quer sair conosco. Por favor, Enrico.
Encontre algum lugar.

Enrico Costello: Hahahaha. Não se preocupe, você está falando com


a pessoa certa. Até quinta-feira, eu encontro nosso antro da perdição.

Enrico Costello: P.S. Finalmente resolveu dar uma chance para o


ruivo gostosão. Aleluia! Isso merece aplausos.

Agnes Bellini: Obrigada, Enrico! E não foi eu que resolvi dar uma
chance, ele basicamente se jogou nos meus planos.

Enrico Costello: Gostei dele, pelo menos tem atitude.

Agnes Bellini: Preciso voltar ao trabalho, ou seu irmão vai perceber.


Beijo.

Enrico Costello: Vito é um pé no saco quando quer. Beijo, e boa sorte


para aturar o meu irmão durante o restante da semana.

— Encontrou inspiração? — A voz me tira dos devaneios.


Dou um pulo da cadeira e arrumo os meus óculos no rosto.
Estava tão absorta nas minhas súplicas para Enrico, que esqueci
completamente da presença de Vito.

Começo a desfazer o sorriso que delineia os meus lábios com


calma. Eu nem havia percebido que estava sorrindo. Mas não posso me
culpar, Enrico causa isso nas pessoas com as suas pérolas.

— Eu... é... sim! — minto.

Vito semicerra os olhos como se não acreditasse nem por um


momento em mim.

—Ótimo! — Ele volta a sua atenção para o seu próprio trabalho.

Solto um suspiro cansado e abro a aba do livro. Ainda estou presa


na porcaria do primeiro capítulo. Tentando encontrar criatividade,
começo a digitar.
Enrico mexe quase que desesperado em seu celular, vez ou outra,
ele liga para pessoas aleatórias, procurando alguma boate para ir.
Estranho o seu comportamento. Normalmente Enrico vai em duas
boates gays, ele até já tem entrada exclusiva nos locais.

Volto minha atenção para o seriado que estamos tentando assistir


n a Netflix, é noite de terça-feira. Nosso dia exclusivo de termos um
momento de irmãos. Contudo, o meu não está colaborando. Enrico está
tão inquieto que tira a minha concentração da televisão. Começo a me
sentir irritado com a sua desatenção.
— Qual é o problema? Não está gostando da série? — resolvo
perguntar.

Enrico é sempre o mais focado na nossa “noite dos irmãos”.


Passamos a maior parte do tempo separados, não conseguimos fazer
quase nenhuma refeição juntos. Almoço na empresa ou em
restaurantes próximos, enquanto Enrico fica em casa. No jantar, eu
sempre chego atrasado, ou tarde demais para fazer o meu irmão me
esperar. Portanto, resolvemos estipular um dia da semana para se
concentrar em nossa relação, colocarmos a conversa em dia e,
consecutivamente, aumentar nosso contato.

— Preciso encontrar uma boate. — murmura enquanto mexe com


os dedos ágeis no celular. — Droga! Agnes vai me matar se eu não
encontrar nada.

Agnes? Instantaneamente um sinal de alerta começa a soar na


minha cabeça.

A garota me atormenta durante todos os dias da semana, oito


horas por dia, sem contar às vezes que a encontro aqui, pois, desde
que ela e Enrico desenvolveram a amizade, os dois vivem grudados.
Meu irmão até tem ido na empresa com mais frequência.

Não posso mais mentir para mim que não lhe acho atraente.
Agnes é diferente de todas as mulheres com as quais eu já andei. Ela é
natural, sua beleza lhe confere um ar de jovialidade e doçura. Além de
ser ingênua e atrevida com a mesma intensidade, o que me tira do
sério. E eu acho extremamente sexy.
—Agnes?— Tento manter indiferença na voz.

Enrico finalmente se dá ao trabalho de olhar para mim. Ele bufa


irritado.

— Ela vai sair com Ethan esse fim de semana, e eu fiquei de


encontrar uma boate para irmos juntos.

Não sei por qual motivo exatamente o meu coração começou a


socar minha caixa torácica com mais força. Minhas mãos ficam
trêmulas e eu trinco o maxilar com força, tentando conter uma raiva
disforme que me domina.

Céus! Eu devo estar desenvolvendo algum problema no meu


sistema nervoso. Desde que Agnes entrou na minha vida com aquele
maldito livro, venho sentindo coisas que nunca havia sentido.

— Ethan?— Engulo em seco.

—Um dos engenheiros da empresa. — Enrico volta sua atenção


para o aparelho.

Lembro-me da conversa que Enrico, Isaac e Agnes tiveram no


último sábado. Meu irmão já estava comentando sobre esse cara.
Fiquei de pesquisar o seu nome no cadastro de funcionários, mas
estive tão ocupado que esqueci completamente da minha sigilosa
investigação.

— Ei! Você não consegue entrada para nós no Maddox Club? —


Enrico me olhar com os olhos suplicantes.
Penso por um momento na sua proposta. É claro que eu consigo
as entradas, com algumas ligações ou mensagens, eu lhes concedo
passagem livre para dentro de uma das boates mais badaladas de
Londres. Contudo, uma parte minha quer fazer isso pelo meu irmão,
ajudá-lo a ajudar os seus amigos, mas a outra quer tentar de qualquer
forma impedir esse encontro de Agnes com o tal Ethan. Por qual
motivo? Bem, isso eu ainda não descobri.

— Por favor, Vito! — implora.

Estou agindo como se o meu irmão estivesse me pedindo algo de


suma importância, quando não passa de um pedido irrelevante.

Droga! Eu não tenho nada a ver com quem Agnes Bellini sai ou
deixar de sair. Não sei o porquê isso está me incomodando tanto. Ela é
livre para fazer o que bem entender, além do mais, Agnes parece ter
aversão de mim.

Solto um suspiro exasperado.

Minha sanidade duela arduamente com a minha vontade. Não


consigo entrar em um consenso, portanto, encontro uma única solução
para acalentar os meus nervos e fazer a vontade do meu irmão.

—Tudo bem! Eu consigo os ingressos. Eu estava querendo sair há


algum tempo...

Enrico se engasga com a própria saliva e arregala os olhos.

—Você vai ir conosco?


—Qual seria o problema?

Não sou tão velho. Ainda tenho idade para ir em festas noturnas
com o meu irmão mais novo. Além do mais, não estou indo para
policiar Enrico — muito menos Agnes Bellini —, eu só quero me
divertir e vai ser bom ter companhia para isso. Também posso
convidar Thomas.

— Problema algum, é que você é um pouco introspectivo.

Olho para Enrico de cara fechada. Não sou antissocial, se é isso


que o meu irmão está querendo falar. Também não posso me
considerar o senhor simpatia, mas posso me considerar uma pessoa...
amigável.

— Essa é a condição para o passe-livre para uma ótima noite no


Maddox Club. — Dou de ombros.

Enrico revira os olhos.

— Não me importo que você vá junto, Vito, só estranhei a


atitude. Você nunca foi em lugar algum comigo.

— Enrico, você só ia em boates gays. Um homem solteiro sai


para caçar e eu não encontraria nada frequentando as mesmas casas
noturnas que você.

Não estou mentindo. Enrico já me convidou várias vezes para


sair com ele, contudo, eu estava atrás de companhia feminina, coisa
que eu não encontraria frequentando os mesmos lugares que ele. Mas
com o Maddox Club é diferente.
—Bom... fico feliz que vá nos acompanhar. — Enrico abre um
sorriso malicioso. — Prevejo uma longa noite, Vito.

Sinto minha testa franzir com a incógnita da ambiguidade das


palavras proferidas pelo meu irmão, mas se tem uma coisa nessa vida
que eu não compreendo, é a mente de Enrico.

Ignorando minha confusão mental, volto minha atenção para o


seriado na televisão.

Observo o cadastro de Ethan Brown no sistema da empresa.


Agnes Bellini está sentada à minha frente, digitando impetuosamente
em seu notebook, completamente alheia ao que estou fazendo.

Ethan é um homem diferente. Seus cabelos avermelhados e olhos


castanhos lhe dão um ar exótico. O homem tem vinte e oito anos. Se
formou com honras em Cambridge. Começou na empresa como um
mero estagiário e recebeu a promoção após a formatura. Ele mora
sozinho, tirando a companhia do seu Buldogue. Divide

atenção dos pais com uma irmã mais velha. Não têm antecedentes
criminais. É um legítimo inglês.

Olho mais uma vez para a garota que atormenta a minha mente.
Agnes mordisca a ponta do dedo indicador. Ela está concentrada em
alguma coisa, perdida em pensamentos. A cada dia que passa, a
escritora parece ficar ainda mais bonita e atraente. Às vezes ela vem
trabalhar com os lábios tingidos de vermelho, preciso de todo o meu
autocontrole para não lamber cada canto da sua preciosa boca...
disperso esses pensamentos.

Envio uma mensagem para Liz, solicitando que ela chame Ethan.
Sou bom com leitura corporal, quero vê-lo no mesmo cômodo da
escritora, ver como o homem agirá, mas, principalmente, tentar
descobrir o que Agnes sente por ele.

Já tentei achar uma conclusão para as minhas recentes ações, mas


nunca encontro uma resposta plausível. Posso nomear isso como
preocupação com o meu irmão. Pela lógica, Agnes anda com Enrico e
se ela começar a namorar, o homem também fará parte da vida do meu
irmão.

Batidas na porta me tiram dos devaneios.

—Entre! — Agnes dá um solavanco na cadeira, se assustando


com o meu tom de voz alto.

Quando está concentrada, a escritora parece se perder em sua


própria mente, se espantando todas as vezes que eu chamo a sua
atenção.

Ethan entra na sala. O homem parece assustado. Não o julgo, se a


minha presença fosse solicitada na sala do CEO pela primeira vez na
vida, eu também estaria temeroso. Mas, para a minha sorte, eu sou o
CEO. Penso sarcasticamente

— Pois não, senhor. — Sua voz sai trêmula e contida.

Agnes percebe a quem pertence e vira-se imediatamente para o


ruivo. Trinco o maxilar com raiva.

— Ethan! — cumprimenta-o de forma educada.

O desgraçado abre um sorriso caloroso para a escritora. Ethan


está claramente apaixonado por Agnes Bellini.

—Agnes. — Maneia a cabeça.

Eu poderia demiti-lo, eles possivelmente perderiam o contato


assim. Entretanto, eu ainda sou humano, e, apesar de Agnes não
acreditar, eu tenho sentimentos. Ethan chegou ao seu cargo por mérito
próprio, não posso tirar isso dele simplesmente por causa de um ciúme
doentio e sem sentido.

— Fiquei sabendo que está trabalhando no novo projeto da


Costello Imobiliária.

— Sim, senhor. — Ethan maneia a cabeça consecutivamente em


sinal positivo.

Falar que ele está nervoso seria um eufemismo. O homem está


prestes a desmaiar. Sua pele parece mais pálida do que a da foto que
eu estava observando há poucos instantes.

— Quero ver o projeto pessoalmente quando estiver pronto.

Os projetos sempre passam pela minha mesa para aprovação, mas


eu nunca chamei um arquiteto pessoalmente antes. Eu precisava ver
Ethan, analisar a minha concorrência, verificar o grau de facilidade de
combatê-la, e para isso, carecia de uma desculpa. O novo projeto de
prédio comercial da Costello Imobiliária parecia ser a justificativa
perfeita.

— Sim, senhor.

Me sinto um pouco frustrado. Pensei que Ethan fosse um homem


mais másculo, mas observando-o assim, ele não passa de um garoto
acuado na presença do chefe. Ele é jovem como Agnes, mas, diferente
da escritora, Ethan é acovardado.

— Está dispensado! — Faço um sinal com as mãos para que ele


se retire.

— Obrigado, senhor. — Ethan olha para Agnes e abre outro


sorriso, do qual ela corresponde. Cerro meus punhos. — Até mais,
Agnes.

Agnes pisca sucessivamente, suas bochechas ficam coradas. Ela


olha para o engenheiro e dá um sorriso tímido.

Antes que ela possa responder qualquer coisa, não controlo a


raiva que queima feito brasa nas minhas veias e soco a mesa com
força. O barulho reverbera por todo o cômodo. Agnes pula da cadeira e
coloca as mãos na boca, tentando controlar o susto. Ethan engole em
seco, ele fica branco feito um papel, parecendo uma estátua no meio
da sala.

— Saia logo daqui, eu preciso trabalhar. — falo entredentes.

Ethan some em um piscar de olhos, o homem se movimenta tão


rapidamente que parece inumado. Agnes continua parado, me
encarando.

—Vá fazer o seu trabalho.

Agnes maneia a cabeça de forma positiva e volta a sua atenção


para o computador, e assim, ela passa o restante da manhã, calculando
até mesmo os seus movimentos, tentando não chamar a atenção para si
mesma novamente.

Tomo um longo gole da minha cerveja. Estou sentado na sala


esperando Enrico descer para que possamos ir para o Maddox Club.

Desde a malfadada manhã de quarta-feira, quando eu tive a


brilhante ideia de chamar Ethan na minha sala e reagi feito um animal,
não mantive mais conversas com Agnes Bellini. É como se as paredes
que nos separam tivessem sido reerguidas novamente. Agnes estava
mais extrovertida na minha presença, desde que tivemos a conversa
sobre Enrico no carro na noite de sábado. Isso durou longos três dias.

A escritora não falou absolutamente nada sobre a minha aversão


incontida da sua paquera com o engenheiro. Enrico também não
comentou nada. Talvez não tenha transparecido ciúmes, mas sim
respeito pelo ambiente de trabalho. Ou ao menos é isso que eu espero.

Enrico surge na sala me tirando dos devaneios com duas camisas


em mãos.

— Qual delas?
Olho de uma camisa para outra. Meu irmão usa uma calça preta
slim e sapatos marrons refinados. Seus cabelos estão penteados para o
lado, dando-lhe um ar mais despojado. As camisas que está em dúvida
combinam, ambas, com a roupa. Uma é vermelha e a outra azul.

— A vermelha.

Enrico analisa no espelho da sala as duas mais uma vez, ele


coloca as camisas em frente ao corpo, tentando decidir se a minha
escolha é realmente a melhor. Dando-se por satisfeito, Enrico atira a
camisa azul em cima do sofá e começa a vestir a escolhida.

Meu irmão faz um caos na casa. Suas roupas só não vivem


espalhadas por todos os cômodos, graças a santa senhora Cooper, que
lida bem com o garoto.

— Agnes já deve estar chegando. — murmura enquanto abotoa a


camisa.

Quase cuspo a cerveja que estava tomando.

— Agnes está vindo para cá?

Enrico me olha com a testa franzida.

— Sim, Vito, ela não queria ir sozinha para a boate, então está
vindo nos encontrar aqui. Qual é o problema?

Céus! Eu estava me preparando para ver a escritora na boate, não


antes disso. Agora precisarei reformular toda a minha trajetória da
noite para não perder o controle novamente.
— Problema algum. — minto.

Como se tivesse sido convocada, a campainha toca. Enrico bate


palminhas e dá pulinhos animado. Ele corre como uma criança até a
porta de frente e escancara-a, dando passagem para a sua amiga.

— Meu Deus, Agnes, se eu fosse hétero eu te pegava.

Ouço uma risada.

— Não seja bobo, Enrico.

— Você está simplesmente magnifica, querida. Seu visual merece


aplausos, e aplausos de pé ainda, para fazer jus a esta bela visão.

Mais risadas. A escritora parece envergonhada, já percebi que


Agnes possui uma certa aversão a elogios, diferente de outras pessoas,
ela se sente incomodada em ser o centro das atenções.

Agnes entra no meu campo de visão e eu agradeço aos céus por


ainda estar sentado, caso contrário, teria estatelado no chão.

A escritora usa um vestido preto colado ao copo, como uma


segunda pele. O modelo mangas caídas, é brilhoso e chamativo. Seu
comprimento termina um palmo abaixo da bunda. Seus cabelos estão
soltos e ondulados. Agnes está sem o habitual óculos de grau. Um
delineado preto bem marcado deixa seus olhos castanhos maiores,
contrastando com os longos cílios. Na boca, o maldito batom que me
atormenta.

Ela está magnifica. Um anjo. Agnes parece um anjo, e eu sou o


pecador, cobiçando-a.

Como se lesse meus pensamentos, ela crava seus lindos olhos


castanhos em mim. Suas bochechas coram. Não consigo desviar a
atenção, não consigo falar, não consigo me mexer, não consigo fazer
absolutamente nada. Estou perdido, enredado na teia do seu feitiço de
sedução.

— Olá, senhor Costello.

Não tenho forças para responder, meu nome sai de forma sexy da
sua boca. Sussurrado tão sensualmente que causa arrepios em minha
pele.

Percebo tarde demais que, eu quero a sua boca murmurando o


meu nome desta forma enquanto eu lhe penetro em todas as posições
conhecidas pelo corpo humano.

Eu desejo.

Eu quero.

E eu terei, Agnes Bellini.

A escritora ainda não sabe, mas, quando um CEO quer uma coisa,
ele a tem, mesmo que isso custe a sua alma. Ou a de ambos.

Agnes Bellini será minha, de corpo, mente e alma.


Meu coração dispara, socando minha caixa torácica com força.
Minhas mãos começam a suar. Meu corpo começa a transpirar,
delatando nervosismo.

O olhar de Vito me deixa extasiada. Ele me olha com tanta


intensidade que as minhas pernas ficam bambas com a profundidade
do que palavras não conseguem expressar.

Ele me deseja.

Mais do que isso, ele me observa de forma tão profunda, como se


pudesse ler a minha alma.

Lembro do pensamento que tive na primeira vez que lhe vi: “o


próprio pecado encarnado”, Vito veio para tomar tudo de mim. O
homem entrou na minha vida para me fazer pecar contra a castidade.

Vito não responde ao meu cumprimento, ele parece tão absorto


quanto eu. Até piscar se torna uma tarefa árdua com tanta tensão
sexual.

— Nossa... Ethan vai ter um colapso quando te vir. — Consigo


me libertar do olhar de Vito e abro um sorriso para o meu amigo.

—Tenho certeza que terá outras tantas mulheres esplendidas na


festa, Enrico.

— Certamente, mas nenhuma que tenha chamado, até então, a


atenção do engenheiro gostosão.

Reviro os olhos. Não adianta debater com Enrico, quando ele


cisma com alguma coisa, ninguém consegue tirar da sua cabeça.

—Vamos! Não quero chegar atrasado. — Enrico começa a me


puxar pelo braço.

— Meu carro ou seu? — Vito se levanta.

Meus pelos se arrepiam. Meu corpo entra em sinal de alerta


instantaneamente. Vito vai ir conosco? Oh, céus!

Nada, nada bom!


— Você bebeu, Vito, não acha melhor pedir para Anderson nos
levar e nos buscar?

Deus amado, sim, ele vai ir!

Me mantenho parada feito uma estátua, tentando ocultar minhas


tormentas quanto a sua presença. Sei que meu corpo está rígido, mas
tento fingir a maior naturalidade do mundo. Não quero que Vito saiba
os calafrios me causa somente por estar perto o suficiente de mim.

O CEO puxa o celular do bolso e faz a ligação para o motorista.

—Tudo pronto. — Vito se direciona para a porta da frente.

Enrico me puxa pela mão e eu sigo os irmãos Costello para a


longa noite festiva que teremos.

Espero que vovó esteja rezando muito por mim, pois só Deus
pode me ajudar em uma hora dessas. Minha castidade nunca esteve tão
perto de ser ferida.

O Maddox Club é um lugar refinado e modernizado. Na


companhia de Vito passamos direto para um camarote com vista
privilegiada para a pista de dança. O segurança não precisou olhar
duas vezes para confirmar a presença do importante CEO da Costello
Imobiliária. A música alta me deixa um pouco animada. Não sou muito
adepta a ir nesses lugares, contudo, a amizade de Enrico veio para
trazer alegria à minha vida, e isso inclui mudar alguns hábitos.
— O que você vai querer beber? — Enrico grita por cima do som
alto.

— Pode ser vinho.

Ele maneia a cabeça em confirmação e desce as escadas. Percebo


tarde demais que Vito e eu ficamos sozinhos no lugar.

Aí meu Deus! O que foi que eu fiz?

Olho para Vito. Ele está concentrado analisando o público.


Escorado no parapeito do camarote, seus braços musculosos ficam
ainda mais evidentes. O CEO usa uma camisa preta, calças da mesma
cor e sapato. Sem o terno, ele parece mais jovem. Deveria ser proibido
um homem tão atraente como este pisar na terra. Mas, como dizem,
ninguém é perfeito, e o que Vito tem de bonito, tem de hipócrita.

Até hoje tento entender a moral do comportamento do CEO na


quarta-feira, o homem simplesmente chamou Ethan no seu escritório e
depois basicamente o expulsou. Além do mais, ele ficou furioso
comigo por algum motivo desconhecido.

O CEO se aproxima de mim. Fico rígida instantaneamente. Penso


em remexer o corpo, fingindo estar muito concentrada na música, mas
eu nem sei dançar normalmente, quem dirá tão tensa do jeito que
estou. Eu provavelmente passaria vergonha, se o fizesse.

— Seus gatos não se sentem sozinhos quando você sai? — fala


por cima da música.

Olho boquiaberta para Vito, eu estava esperando que ele falasse


qualquer coisa, menos sobre os meus felinos. Pensei que ele nem
gostasse dos gatos.

Um sorriso involuntário brota em meus lábios ao lembrar das


bolas de pelo que me trazem tanto amor e alegria.

— Você lembra dos gatos. — Faço uma constatação.

— Claro. Atena, Zeus e Netuno, não? — Meu coração falha uma


batida ao perceber que Vito se importa mais do que deixa transparecer,
ele até mesmo decorou o nome dos felinos.

— Sim. Atena, Zeus e Netuno sentem a minha falta. — Sei que


estou sorrindo como uma boba.

Vito Costello é uma caixinha de surpresas, o homem sabe ser


encantador quando quer.

— Acho que não sentir falta da sua presença é algo impossível.

Foco minha atenção nele, sinto a tensão sexual aumentar


gradativamente.

Ele está querendo me falar alguma coisa?

Desvio meus olhos, não quero que ele me veja lhe encarando, ou
que perceba as dúvidas que passam pelo minha cabeça.

Como a covarde que sou, não encontro coragem o suficiente para


perguntar o que a sua afirmação significa.

Observo a multidão dançando animadamente conforme a batida


da música eletrônica. Vito não fala mais nada, ele percebe que eu me
fechei em copas.

Enrico retorna segurando um baldinho de cerveja, enquanto Isaac


vem junto carregando vinho e taças.

— Meu deus, Agnes, você está um arraso! — Isaac me


cumprimenta.

Olho para o meu novo amigo da cabeça aos pés e faço uma cara
de espanto.

—Arraso está você! — Não minto, Isaac está realmente lindo.

Enrico serve uma das taças e me entrega. O vinho tinto seco


desce pela minha garganta prazerosamente. Nem me darei ao trabalho
de ler no rótulo de que safra é essa, pois eu sei que jamais poderia
comprar.

—Vamos dançar! — Enrico me puxa pela mão em direção a pista


de dança.

Tento protestar, mas ele não dá bola. Desço com ele e Isaac. A
multidão de pessoas me abraça, desajeitadamente tento seguir o
mesmo ritmo das pessoas. Tento me conectar com a música, assim
como me conecto com os livros. Em poucos segundos, danço entre
Enrico e Isaac aos risos, me entregando completamente ao momento.

Os minutos parecem se transformar em horas quando começo a


sentir o meu corpo pesado e cansado de tanto dançar.
—Eu preciso beber alguma coisa. — Grito para Enrico.

Minha garganta está seca e eu estou ofegante de tanto me mexer.


Sou uma pessoa sedentária, dançar por tanto tempo deixou o meu
corpo exausto.

—Vamos voltar para o camarote.

Enrico fala alguma coisa no ouvido de Isaac e nós três


retornamos para o camarote. Vito ainda está nele, no entanto, ele não
está mais sozinho, mas na companhia de um homem e uma mulher.
Uma linda mulher.

—Eu odeio esses amigos de Vito. — sussurra Enrico.

—Quem são eles? — Tento parecer desinteressada.

—Um amigo de infância e sua foda diária.

Me engasgo com o vinho que estava tomando. Enrico não tem


filtro na língua.

Olho de soslaio para eles, a mulher é admiravelmente atraente,


como uma modelo de tão linda. Instintivamente, não gosto dela. Já o
homem é alto e moreno, ele é bonito, mas não posso deixar de
perceber que possui um sorriso falso e seus olhos parecem observar
tudo ao redor, com interesse palpável.

—Então, o que está achando? — Isaac me acompanha no vinho.

Eu contei para ele que não sou muito adepta a festas noturnas,
prefiro mil vezes ficar em casa acordada a noite inteira maratonando
alguma série do que ficar em uma festa.

—É legal...

Isaac solta uma gargalhada estrondosa, a qual ecoa por cima da


música.

—Deixe-me adivinhar, é legal, mas você não vai repetir a dose.

Não preciso falar nada, minha expressão me denuncia. Não é que


eu não vá sair nunca mais na vida novamente, não esse ano, pelo
menos.

—Não vai nos apresentar as crianças, Vito? — Ouço a mulher


falar.

Crianças? Ela não parece muito mais velha que nós! Ridícula,
querendo nos rebaixar de alguma maneira.

A modelo acaricia as costas de Vito. Pensamentos psicóticos


passam pela minha cabeça, ao ver sua mão territorialista no CEO.

Enrico, Isaac e eu nos entreolhamos com evidente desdém no


olhar.

—Teresa, esses são Agnes e Isaac, amigos de Enrico. —


Diferente dela, Vito não parece muito contente com a sua companhia.

Teresa abre um sorriso falso para nós, mas não fala nada. Seu
objetivo é chamar a atenção do CEO, somos só os inconvenientes com
o qual ela precisa dividir o camarote.
— Insuportável. — Enrico não se dá ao trabalho de falar baixo.

A risadinha de escárnio que Teresa solta, evidencia que ouviu as


palavras do irmão do CEO. Mas Enrico não parece se importar, ele não
gosta da acompanhante do irmão, e deixa isso claro, tanto para ela,
quanto para qualquer outro.

Me irrita a forma como ela toca em Vito, parecendo querer


dominá-lo. Tento não olhar, não quero parecer intrometida, ou pior
ainda, que eles pensem que eu estou com ciúmes. Foco minha atenção
na taça de vinho, giro o copo brincando com o líquido.

—Olá! — Ethan nos cumprimenta, parecendo envergonhado e


deslocado.

O engenheiro olha para o CEO e para o restante do camarote,


como se estivesse incomodado com a presença do chefe.

—Oi. — Abro um sorriso educado.

Enrico começa a cutucar Isaac descaradamente. Piso no pé do


meu amigo e continuo sorrindo para Ethan.

—Aí... isso doeu. — sussurra.

—Vai doer ainda mais se continuar sendo descarado. — Murmuro


ainda sorrindo.

Ethan se aproxima, ele planta um beijo da minha face e se afasta


somente o suficiente para cumprimentar Enrico e Isaac.

Olho para Vito e vejo-o encarando o meu convidado


mortalmente. Sua atenção está totalmente voltada para nós, enquanto
Teresa fala incansavelmente alguma coisa, mas Vito aparenta estar
alheio a ela e aos seus assuntos triviais.

Nossos olhares se encontram. O CEO parece enxergar a


profundidade da minha alma.

Como dois ímãs que se conectam, nossos corpos são assim.

—Você quer beber alguma coisa? — Ethan quebra a conexão.

Dou um solavanco e solto um profundo suspiro, sentindo a


gravidade dos nossos olhares se esvair. Um choque de realidade bate
com força total na minha consciência.

O que eu estou fazendo? Vito Costello é o babaca que eu tenho


como chefe atualmente. O homem que me trata mal todas as vezes que
tem uma oportunidade. O idiota que não aceitou a proposta do irmão
para me ajudar a salvar o livro. E, não é porque Vito é um bom irmão,
que será uma boa pessoa em todos os aspectos da vida. Ele é bonito,
incrivelmente bonito, mas isso não diminui suas atitudes deploráveis.

Viro para Ethan e abro um sorriso. Preciso encontrar um bom


homem, digno da minha atenção, e Ethan parece se enquadrar
perfeitamente nisso.

—Claro! — Ethan sorri de volta para mim.

Não há conexão, meu corpo não fica arrepiado, minhas mãos não
ficam trêmulas e meu coração não bate descompassadamente. Mas ele
é bom, gentil, querido, e, por ora, isso já serve para mim.
Vito Costello

Agnes engatou uma conversa animada com o desgraçado do


Ethan. Teresa murmura várias indecências no meu ouvido, mas eu não
estou prestando atenção. Se fosse em outros tempos, ou qualquer outro
dia, eu estaria de pau duro e arrastaria a modelo para algum hotel
cinco estrelas, aonde passaríamos a noite nos deleitando em prazer.
Contudo, a escritora dominou minha mente desde o momento em que
chegou na minha casa vestida para matar.

Enrico conversa com Isaac em um canto mais afastado, meu


irmão parece querer dar um pouco de privacidade para Agnes e Ethan.
O que me deixa ainda mais irritado, afinal, como Enrico pode
simplesmente jogar a amiga nos braços de qualquer um? Ele ao menos
se deu ao trabalho de investigar a vida completa do engenheiro como
eu fiz?

—Vito, você está prestando atenção? — Teresa esfrega as unhas


no meu braço.

Sua presença está me irritando. Eu não convidei Teresa, nem a


queria aqui. Vim para encontrar uma mulher diferente, e isso não
inclui meu casinho fixo semanal de sexo sem compromisso.

Quando propus a Thomas uma noite de diversão, não imaginava


que ele estenderia o convite para a minha amante. Eu nem sabia que
eles eram amigos, para começo de história.

—O que você falou? — Continuo olhando fixamente para Agnes


e o ruivo desgraçado.

—Vamos sair? Podemos nos divertir muito mais em um lugar


mais privado. — Ela beija o meu pescoço.

Bufo. Me afasto um pouco de Teresa, mantendo uma distância


considerável entre os nossos corpos. Ela me olha com a testa franzida,
sem entender o meu comportamento estranho.

—Eu quero companhia diferente para passar a noite. — Sou


sincero.

Ter outros amantes nunca foi um problema para nós. Aliás,


Teresa só se tornou uma foda fixa pelo fato de não se importar com
isso. Ela nunca foi uma mulher de ficar no meu pé.

—Oh! Tudo bem. — Dá de ombros.

Teresa olha para Thomas e abre um sorriso malicioso.

—E você, está procurando uma companhia para hoje?

Thomas me olha como se estivesse solicitando a minha


aprovação para foder com a minha amante. Com o meu dar de ombros,
ele responde ao sorriso da mulher.

Eu não sinto ciúmes de Teresa, meu carinho por ela não passa de
uma leve amizade.
Os dois engatam uma conversa regada a carícias. Reparo que,
estou basicamente segurando vela dentro do camarote. Meu cérebro
me instrui a ir para a pista de dança, “caçar” companhia, mas meu
coração ordena que eu fique aqui e cuide a escritora.

Droga! O que está acontecendo comigo?

Ethan começa a arrastar uma mão boba pelas costas de Agnes,


acariciando a pele. Fico imediatamente irritado. A escritora parece não
se importar com as caricias do engenheiro.

Mas eu me importo.

Recolho uma taça de cima do mezanino e encho-a de vinho.


Caminho lentamente até a saída do camarote, porém, sem querer, meu
pé prende em uma das cadeiras dispostas e eu viro todo o líquido nas
costas de Ethan.

—Que merda! — esbraveja.

O ruivo se vira, prestes a gritar e praguejar para o desastrado que


manchou toda a sua camisa quando me vê. Seu semblante muda
automaticamente. Abro um sorriso falso.

—Me desculpa, cara. Tropecei na cadeira.

Ethan olha para o lado, procurando o objeto culpado pelo meu


desastroso acidente e abre um sorriso amarelo.

—Sem problemas, essas coisas acontecem. — Ele se vira


novamente para Agnes. — Eu já volto, vou ao banheiro tentar diminuir
o estrago.

Agnes abre um sorriso contido para ele e concorda. Sem proferir


uma única palavra, Ethan passa por mim e desce as escadas, saindo do
camarote.

—Eu... é... — Agnes tenta encontrar uma desculpa para se afastar


de mim. Percebo que ela fica nervosa quando está sozinha comigo.

—Não se preocupe, eu já estava de saída. — Sigo pela mesma


direção de Ethan.

Não julgo a escritora por não gostar muito de mim, eu não fui a
melhor pessoa com ela desde que nos conhecemos. Entrei na sua vida
com o propósito de me vingar, acabar com a garota de vinte e cinco
anos que manchou a minha reputação na empresa. Eu só não esperava
me sentir tão encantado por ela.

Agnes Bellini me atrai de todas as formas. Me senti atraído


quando lhe vi com uma roupa de ficar em casa, cabelos emaranhados e
rosto amassado. Me sinto atraído todos os dias em que a vejo
trabalhar, sem maquiagem, com o semblante cansado. E, me sinto
atraído agora, quando ela está completamente arrumada, sendo a
mulher mais bonita de toda a boate.

Me aproximo do balcão e peço um copo de whisky para o


barmen, se eu tiver que passar o resto da noite aturando Agnes e Ethan
se paquerando, precisarei de algo mais forte do que cerveja.

—Olá! — Uma mulher loira e muito bonita se aproxima de mim.


Ela usa um vestido vermelho decotado, deixando evidente as
deliciosas curvas do seu corpo.

A companhia que eu estava esperando.

Abro meu sorriso “molha calcinha” e me preparo para paquerar a


garota, até conseguir entrar em suas saias.

Agnes Bellini

Ethan é um cara legal. Ele tem um bom papo e parece ser um


homem apegado à família. Meus avós gostariam dele. No entanto, a
romântica idiota que habita em mim ainda não aceita que ele seja o
homem certo. Afinal, ele não fez meu coração acelerar, e eu não senti
as malditas borboletas no estômago.

Fecho os olhos e me concentro. Repasso mentalmente o cheiro


do perfume amadeirado de Ethan, seu olhar doce e amigável, sua boca
bem desenhada, seu toque quente em minha pele...

—O que você está fazendo?

Dou um pulo com o coração acelerado pelo susto, e me seguro


na parede para não cair de bunda no chão.

Malditas borboletas traidoras!

Olho para Enrico com raiva.

—Nada.
Não vou falar para o meu amigo que estou que nem uma idiota
tentando sentir com Ethan as mesmas sensações que Vito me causa.

—Parecia estar... viajando. — Enrico franze a testa.

Ótimo! Agora eu devo estar parecendo uma louca. Isso é culpa


dos livros. A partir de agora, começarei a ler terror, nada mais de
romances.

—Eu estava... arejando a mente.

Enrico dá de ombros.

—Parece legal.

Vito entra no camarote acompanhado de uma loira estonteante.


Olho para Teresa imediatamente, mas ela parece pouco se importar
com a companhia do CEO. Na verdade, a mulher está mais preocupada
em paquerar o melhor amigo de Vito, do que qualquer outra coisa.

—Outra companhia... — Enrico revira os olhos. — Meu irmão


não leva jeito mesmo.

Vito murmura alguma coisa no ouvido da mulher, ela abre um


sorriso e esfrega as mãos em seu peitoral, se insinuando para ele. O
CEO se afasta dela e caminha na minha direção e de Enrico. Olho para
os lados, fingindo não ter reparado nada.

— Enrico!

O som de sua voz me causa arrepios. Borboletas tomam conta


do meu estômago.
— Ah não! — penso alto.

Pego a taça de vinho da mão de Enrico e engulo todo o líquido


de uma vez só. Eu vou matar essas malditas com álcool.

Olho para cima e vejo os irmãos Costello me analisando com a


testa franzida. Parecem gêmeos de tão parecidos.

Ótimo! A atenção que eu não queria.

— Eu... hã... eu estava com sede.

Vito e Enrico se entreolham, mas decidem ignorar meu


comportamento insólito.

—Eu vou sair. Já solicitei Anderson. Quando forem embora,


peça para que ele venha buscar vocês.

—Tudo bem, Vito! Já sou adulto. Não se preocupe comigo.

Vito abre um sorrio para o irmão e aperta o seu ombro com uma
de suas mãos.

—Eu sei, mas para mim, sempre será o meu garoto.

Enrico revira os olhos, mas eu sei que ele gosta dessa


superproteção do irmão. Meu amigo é um legítimo canceriano,
extremamente carente. Adora atenção.

Vito se vira para mim.

—Até mais, Agnes.


Não respondo. Minha garganta está fechada. Meu peito está tão
dolorido que é como se um peso tivesse sido colocado sobre ele. Não
sei bem o que isso significa, mas sei que tem relação com a saída de
Vito acompanhado da mulher loira maravilhosa.

Vito puxa a loira pela cintura e desaparece.

Tento controlar minha mente homicida, mas é inevitável não


imaginar essa mulher maravilhosa rolando escada abaixo.

—Vamos dar outra volta? — Pergunta Isaac.

Sinto vontade de ir embora, só quero a minha cama e os meus


gatos, mas não posso fazer isso. Não sem ficar evidente o quanto Vito
na companhia de outras mulheres me incomoda. Ethan ainda não
retornou do banheiro, nem sei se ainda está aqui. Vito encharcou a sua
camisa, deixando toda a região das costas manchada de vinho tinto.

Que derrota de noite! Ao menos, as borboletas sumiram.

Como a minha primeira opção não está em pauta, precisarei


partir para o plano B, que é encher a cara. Quero beber até esquecer
que Vito Costello existe na vida real. Que o personagem que eu criei
para ser perfeito e maravilhoso, não é nada além de um cafajeste.
Beber até esquecer que estou vivendo a história do meu próprio livro.

—Vamos!

Sigo Isaac e Enrico para a pista de dança com um único


propósito em mente: beber, beber e beber.
Eu odeio você, Vito Costello!
Um barulho insistente irrita os meus tímpanos. Tento abrir os
olhos, mas a luz do dia que entra pela janela do meu quarto, deixa-os
irritados.

Céus!

Coloco a mão na cabeça tentando aplacar a dor da enxaqueca.


Devagar, tento levantar da cama, mas uma ânsia de vômito domina o
meu corpo e eu jogo a cabeça no travesseiro de volta.

Eu nunca mais vou beber!


Tinha esquecido que ressaca reproduz uma das piores sensações
da vida. Fazia tanto tempo que eu não saia de casa, que havia
esquecido das consequências que uma noite de bebedeira traz.

Tento lembrar das coisas que aconteceram ontem. Contudo, após


o quinto shot de tequila, eu não lembro de mais nada. Somente alguns
flashes de visão. Sei que eu dancei até o chão com Isaac e Enrico e
que...

Ai meu Deus! Ave Maria!

Eu beijei Ethan!

Deus amado!

Levanto de supetão, ignorando a cabeça latejando e a ânsia de


vomito. Procuro o meu celular, o causador do barulho irritante e
insistente. Encontro-o jogado na poltrona, enroscado com as roupas de
ontem, arrancadas do meu corpo de qualquer jeito.

No registro de chamadas, algumas ligações perdidas de vovó e


mais algumas de Enrico. Resolvo ir por partes. Envio uma mensagem
para vovó, ela precisa saber que está tudo bem comigo, caso contrário,
viria até aqui para confirmar com os próprios olhos. Posteriormente,
ligo para Enrico.

—Alô.

—Você estava me ligando, aconteceu algo? — Aperto minhas


têmporas.
—É claro que aconteceu, você está atrasada!

—Atrasada? — Vasculho em minha mente os compromissos que


tenho para hoje, mas não encontro nada.

—É sério, Agnes? Você é daquelas bêbadas que esquece tudo?

—Bom...

—Tá, tanto faz! Você ficou de vir almoçar comigo. Agora tira
essa bunda bêbada de cima da cama e vem logo.

—Enrico, acho que eu prefiro ficar dormindo. Não serei uma boa
companhia hoje.

—Estou esperando, Agnes... ou quer que eu fale tudo o que fez


ontem pelo telefone?

Um sinal de alerta soa no meu cérebro.

Não! Não! Não! Não!

Por favor, Deus! Que eu não tenha passado vergonha.

—Não está lembrando? Devo começar quando você disse que


acha o meu irmão extremamente gostoso e lambível? Ou a parte que
revelou para o clube inteiro que ainda é virgem? Ou melhor, quando
disse para Ethan que vocês só transariam depois do casamento?

Não consigo me mexer. Oh, Deus! Acho que estou tendo um


derrame. Sinto o meu olho direito fazendo um movimento
descoordenado.
— Agnes, você ainda está aí?

Mexer a boca parece uma tarefa muito difícil. Se não é um


derrame, é um ataque cardíaco. Estou morrendo. Morrendo de
vergonha.

—Estou esperando. Tchauzinho!

Consigo largar o celular no chão após alguns segundos. Tapo o


rosto com as mãos, tentando aplacar a vergonha que sinto.

Deus amado! Nunca mais encontrarei a minha dignidade depois


de ontem à noite.

Um barulho de objeto quebrando na sala me tira do limbo de


vergonha e humilhação no qual eu me enfiei. Levanto lentamente do
chão e vou até o local. Atena está colocando os objetos da estante da
sala para o chão. Olho a hora no relógio de parede e percebo que passa
da hora do sachê. Minha gata está se vingando da minha negligência
como tutora.

—Eu sei, sou uma péssima mãe.

Recolho o sachê do armário e sirvo o pote dos três gatos.

Me dirijo para o banheiro. Preciso de um banho antes de ir


descobrir se sobrou alguma coisa do meu decoro para ser salvo.

—Você realmente não lembra de nada?


Não sei como Enrico ainda consegue beber depois de ontem. O
garoto tem um fígado de ferro. Ele tomou tantos shots de tequila
quanto eu, e agora, está sentado na beira-da-piscina bebericando um
dos coquetéis da senhora Cooper.

—Não, por favor, deixe de fora os detalhes mais sórdidos. Já


estou suficientemente envergonhada para o resto da vida.

Enrico começa a gargalhar, lembrando das coisas cabulosas que o


meu cérebro fez questão de esquecer.

—Tudo bem, depois que você bebeu, literalmente se tornou outra


pessoa. Ficou mais leve, menos contida, sabe? Ethan apareceu depois
de um tempo, ele foi em casa trocar a camisa e retornou. Nós
começamos a dançar todos juntos. Em dado momento, sussurrou no
meu ouvido que achava Vito “lambível”. Depois disse que ainda é
virgem. E, por fim, falou para Ethan que iriam transar só após o
casamento, como manda a bíblia.

Olho para a piscina, calculando a profundidade da água. Penso


em me jogar e tentar me afogar. Nunca mais vou conseguir olhar para
a cara do Ethan depois disso.

Agradeço a Deus pela mulher loira estonteante que tirou Vito da


boate com antecedência, ou as coisas teriam sido bem piores.

—Sou digna de pena.

Enrico revira os olhos e volta a gargalhar.

—Todo mundo passa por isso pelo menos uma vez na vida,
Agnes. Em alguns dias, você nem se lembrará mais.

—Fale por você, Enrico. Passarei o restante da minha vida


fugindo do Ethan. — Coloco as mãos no rosto. — Céus! Eu falei em
sexo com um homem que eu mal conheço.

—Não! Você planejou o casamento com um homem que mal


conhece.

—Argh!

Me jogo na espreguiçadeira e fecho os olhos. Meu rosto está


quente, possivelmente corado pela vergonha que estou sentindo. Ao
menos, eu posso retornar para Weymouth e fingir demência.

—Como Isaac está? — Lembro de perguntar.

Enrico solta um suspiro audível. Entro em sinal de alerta. Abro


os olhos e me sento novamente na espreguiçadeira.

—Qual é o problema, Enrico? — Meus sentimentos mudam de


vergonha e humilhação para nervosismo, automaticamente.

—Ele está bem, não se preocupe. Só não poderemos nos ver


mais, pelo menos por enquanto.

Sinto a minha testa franzir.

—Como assim não podem se ver mais?

Enrico coloca o copo com o coquetel na mesa ao lado, ele cruza


as pernas e fica de frente para mim.
—Algumas pessoas conhecidas do senhor Jones estavam
presentes na boate, eles nos viram juntos e hoje de manhã o
burburinho sobre a sexualidade de Isaac estava sendo colocado em
pauta. Então ele achou melhor manter distância por um tempo.

Enrico fica triste ao tocar no assunto. Ele está realmente


gostando de Isaac, e pelo que eu vi, o sentimento é recíproco. Acho
um absurdo os dois precisarem ficar separados por causa de um
homem ignorante.

—Ei! Tudo vai ficar bem. — Pego suas mãos e acaricio o seu
dorso.

Minha vergonha pode esperar. Os sentimentos de Enrico são mais


importantes do que isso. Ele estava tão feliz nos últimos dias.

—Ele não pode vir aqui? — Isaac e Enrico não podem ser visto
em público, mas a case deles é particular.

—Quem dera fosse tão fácil. Alguns dos nossos vizinhos são
velhos intrometidos. Faz tempo que eles veem Isaac aqui, chegaram
até falar para o senhor Jones. Isaac conseguiu contornar a situação,
disse que é muito amigo de Vito. Mas depois de ontem, vai ser difícil
manter essa desculpa.

—Nós vamos tentar encontrar uma situação, Enrico. Vamos


pensar em alguma coisa.

Isaac não quer revelar ao pai que é gay, ele tem medo do homem.
Devemos respeitar a sua decisão, mesmo que eu seja contra ela. Na
noite em que eu lhe conheci, Isaac me contou que levou muito tempo
para aceitar sua verdadeira orientação sexual. Disse que já andou com
muitas mulheres e tentava a todo custo encontrar algum prazer nas
relações que mantinham. Até hoje a sua fama de cafajeste lhe precede,
por isso o pai não desconfia de nada. Me confidenciou ainda que,
sempre soube de Enrico, e ouviu muitas vezes o pai debochar do
garoto.

—A solução é, ou Isaac sai logo da porcaria do armário, ou nós


matamos o pai dele.

Fico boquiaberta com as opções de Enrico. Ele está revoltado


com o namorado e sua família. Tudo bem, não posso culpá-lo, mas
cada um tem o seu tempo. Enrico se sentiu confortável em revelar a
homossexualidade após a morte dos pais, mas para Isaac é diferente,
com os pais ainda vivos, a carga emocional desse passo deve ser ainda
maior.

—Tenho certeza de que vamos encontrar outra opção ainda.

Enrico revira os olhos. Meu amigo tenta disfarçar o desgosto,


mas não é muito bom nisso.

—Tudo bem. Vamos falar sobre você achar o meu irmão


incrivelmente delicioso?

Olho para a piscina novamente, reanalisando me jogar nela.


Enrico vai passar o resto da minha vida me atazanando por causa
disso.

—Prefiro esquecer esse assunto.


Enrico semicerra os olhos. Ele abre um sorriso debochado prestes
a falar alguma coisa, mas desiste.

—Serei clemente.

—Obrigada!

Minha maior preocupação no momento é com o dia de amanhã.


Deus amado! Como eu vou conversar com Ethan após tê-lo beijado
completamente bêbada em uma boate e ter planejado nosso casamento
e lua-de-mel? Possivelmente, depois disso ele nem se aproxime mais
de mim, deve achar que sou desvairada, e, após o fiasco, vai se manter
longe, muito longe. Deus queira que sim.

—Vou ir ao banheiro.

Preciso urgentemente urinar. Tenho que expelir todo o liquido


alcoólico que bebi nas últimas horas.

A imensidão da casa me deixa perdida. Eu já vim aqui algumas


vezes e nunca presto atenção aonde exatamente o banheiro fica. Minha
mente vive distraída, nunca decoro lugares, pessoas ou nomes.

Depois de uma eternidade eu finalmente encontro o banheiro.


Após as necessidades volto para a piscina, mas esbarro em alguém no
caminho.

—Bom dia, Agnes.

Vito não veste nada além de uma toalha enrolada na cintura.


Simplesmente gostoso pra caramba. Ele me observa com um sorriso
zombeteiro no rosto.

Não! Enrico não faria isso!

Meu pai amado!

— Bom dia.

Me afasto, tentando manter o coração dentro do corpo. Caminho


para longe desse CEO safado, mas Vito me impede, agarrando o meu
braço.

— Lambível, não? — Ele olha para o seu próprio peito nu.

Gotículas da água descem pelo seu tanquinho sarado. Desvio o


olhar para os meus próprios pés ao perceber que eu estava encarando o
local errado. Minhas bochechas esquentam.

— Não sei do que está falando. — Me faço de desentendida.

Negarei até a morte que falei uma coisa dessas, principalmente


para Vito, o homem mais narcisista que eu já conheci.

O CEO solta uma gargalhada estrondosa. Sua mão segurando o


meu braço é firme, mas delicada.

— Confesso que já recebi inúmeros elogios, mas lambível, bem...


isso é realmente criativo.

Eu nem sinto mais vergonha, esse sentimento já se tornou


familiar para mim nos últimos dias. Na verdade, eu só sinto vontade
de me esconder em algum canto remoto e não sair tão cedo. Mas antes,
eu vou matar Enrico.

Vito me puxa com força, subitamente meu corpo cola ao seu. Ele
aproxima o rosto do meu pescoço, seu hálito quente me arrepia.

—Fala a verdade, Agnes, você está louquinha para ficar comigo.


— sussurra em meu ouvido.

Minha respiração fica pesada. Meu coração fica acelerado. Sei


que as palmas das minhas mãos estão suadas. Fecho os olhos e
entreabro os lábios sentindo as emoções que o momento me
proporciona.

Céus!

Vito tem razão, eu estou caidinha por ele. Mas, a pergunta que
não quer calar, quem não estaria?

Acorda, Agnes! Ele não é o seu personagem fictício perfeito e


romântico. Vito é real, e um cafajeste. Só ontem eu já o vi com dois
dos seus casinhos. Não quero e não posso ser mais um. Não fazemos
parte do mesmo mundo. Eu quero casar, amar e ser amada, ter filhos.
Enquanto Vito quer orgias de uma noite só. Com esse pensamento em
mente, consigo abrir os olhos e me afastar do CEO.

—Passar bem, senhor Costello.

Não olho para Vito ao acelerar os meus passos, tentando manter a


maior distância possível entre nós dois.

Agora, estou prestes a cometer um dos maiores pecados narrados


pela bíblia: “Não matarás”, pois é exatamente o contrário do que farei
com o fofoqueiro do Enrico.

—Eu não acredito! — Esbravejo.

Enrico me olha com as sobrancelhas franzidas, mas logo parece


entender o motivo da minha raiva.

—Ah, Vito. — Revira os olhos. — Antes que você diga qualquer


coisa, foi totalmente involuntário. Eu estava contando para ele sobre a
noite de ontem e acabei chegando nessa parte. Juro. Não foi
proposital.

—Você só pode estar de brincadeira, Enrico! Involuntário?


Justamente para Vito, a pessoa mais pretenciosa que eu conheço!

—Ok! Ok! Eu entendo completamente o motivo da sua raiva, mas


logo Vito vai esquecer disso. Não é como se você fosse a única mulher
a elogiá-lo.

—Você não entende, Enrico! Vito me odeia. Ele vai passar o


resto da vida zombando de mim.

—Agnes, Vito não odeia você. Ele tem uma pequena implicância
decorrente de um motivo ainda desconhecido por mim, mas ódio? Não,
com certeza não.

Me jogo na espreguiçadeira desajeitadamente. Estou cansada de


tudo isso. A vida só vem me dando rasteira ultimamente. E eu ando
colaborando, falando e fazendo besteira.
—Ótimo! — Debocho.

Preciso reestabelecer minha saúde emocional, e para isso, tenho


que ir visitar os meus avós. Nada melhor do que estar em casa para
repor as energias.

—Agnes, agora que está um pouco mais calma. Eu sei como você
pode me ajudar no caso Isaac. Tive uma ideia maravilhosa.

Olho para Enrico desconfiada. Suas ideias não são as mais


inteligentes da face da terra, e, por algum motivo, eu sinto que vou me
meter em encrenca.

—Você vai ser a namorada falsa dele! — Enrico abre um largo


sorriso.

Eu sabia que viria bomba assim que as palavras: Enrico, ideia e


maravilhosa foram proferidas na mesma frase.

— O quê? — Consigo encontrar a minha voz.

— Você e Isaac fingem um namoro. O pai dele não vai


desconfiar, as pessoas vão parar de falar e nós poderemos nos ver
seguidamente. Afinal, nós estamos sempre juntos.

Abro e fecho a boca consecutivamente sem saber o que falar. Eu


quero ajudar Enrico e Isaac, muito, mas por algum motivo
desconhecido, eu sinto que isso não vai dar boa coisa. Pode ser o meu
sexto sentido me alertando.

—Por favor, Agnes!


Enrico suplicando me quebra o coração. Ele e Isaac se gostam
tanto. É triste que tenham que fingir o que não são, tudo por culpa da
ignorância dos outros.

Nosso círculo íntimo sabe da sexualidade de Enrico, eu não


precisaria mentir para as pessoas próximas. Para os demais, pouco me
importa o que pensam.

É, eu posso fazer isso.

—Tudo bem.

—Sério?

—Sim.

Enrico salta da espreguiçadeira e me abraça apertado. Ele começa


a pular e dar gritinhos de alegria. Sua felicidade me contagia.

—Vou enviar agora uma mensagem para Isaac contando a


novidade.

Solto um suspiro audível. Ao menos eu conseguirei trazer um


pouco de felicidade para a vida dos amigos que eu tanto gosto, pois a
minha está uma bagunça e nada do que eu faça no momento pode
alterar isso.

Percebo que a minha vida daria um bom livro. Talvez um dia eu


escreva algo sobre uma escritora que pegou um nome qualquer da
internet para montar o seu personagem, e ele acabou entrando na sua
vida de forma arrebatadora, desordenando tudo.
—Eu realmente não consigo entender essa sua aflição por
almoçar escondida na sala de reuniões. — Protesta Liz, espetando um
pedaço de carne com o garfo.

Por motivos óbvios e plausíveis eu não quis ir almoçar na cantina


da empresa hoje. Estou a todo custo tentando evitar Ethan, pelo menos
por enquanto. A sombra da vergonha do que fiz e falei ainda me
persegue.

—Então se prepare, pois a história é longa.


Tenho certeza que depois que eu revelar minhas atitudes insanas
de sábado, Liz vai me apoiar e me fazer companhia pelo resto dos
meus dias na empresa no almoço na sala de reuniões. Resolvi arrastá-
la para cá, pois, se almoçássemos na sua mesa, Ethan poderia chegar a
qualquer momento e nos ver. No refeitório? Sob hipótese alguma! Vai
ser o primeiro lugar que ele irá nos procurar. Já a sala de reuniões fica
no mesmo andar em que trabalhamos, ou seja, o último. Mas é mais
reclusa, e ninguém desconfiaria que estamos aqui. É um pouco
proibido usá-la para o desjejum.

—Pode começar, querida! — Debocha.

Ok! Hora de reviver toda a humilhação de sábado. Começo


contando sobre a noite. Não deixo nenhum detalhe de fora, nem
mesmo a presença de Vito. Sou um livro aberto. Talvez a sua pena faça
com que eu me sinta melhor.

Me sinto mais leve, após passar longos dez minutos narrando


tudo detalhadamente. Diferente do que eu esperava, Liz não sente
pena, ela simplesmente começa a gargalhar incansavelmente, até
lágrimas saírem pelos seus olhos e o ar faltar nos pulmões.

—Agnes, você realmente não existe. — Fala entre uma lufada de


ar e uma gargalhada.

Fico parada olhando para ela sem saber qual reação exatamente
eu devo esboçar. Não é engraçado a desgraça alheia, Liz deveria se
envergonhar de rir de mim dessa forma.

—Liz, isso não é engraçado.


—Ah, me desculpe, Agnes, mas é muito engraçado.

Ela continua gargalhando por mais alguns segundos, enquanto eu


espero pacientemente que ela me dê algum conselho valho para seguir
a vida.

—Eu não acredito que você saiu sábado e fez tudo isso.

—Pois acredite. É a mais pura verdade.

—Tudo bem, vamos por partes. Como foi o beijo de Ethan?

Volto minha mente para a noite de sábado. Eu consegui lembrar


do momento, mas não detalhadamente. Infelizmente, o beijo não
causou o reboliço que eu esperava. É como se meu corpo estivesse
anestesiado, ainda esperando o momento certo.

Um dos motivos para eu ainda ser virgem é isso. De todos os


homens que eu já beijei, os quais foram poucos, nenhum nunca me
causou a sensação de querer ir além. De fazer mais. E com Ethan não
foi diferente disso. Quero tentar mais uma vez com ele, mas,
infelizmente, ele ainda não é o homem que vai fazer eu planar.

—Foi... bom.

Liz me olha com cautela. Ela larga os talheres na mesa.

—Ah não. Ainda não foi ele?

Maneio a cabeça em negativa. Fico triste por Ethan não ter


conseguido acelerar o meu coração. A romântica incorrigível que
habita o meu corpo é rigorosa, pelo visto.
—Sinto muito, Agnes. Mas eu sei que você ainda vai encontrar o
seu ele.

Abro um sorriso que não chega aos olhos para ela. Desconfio que
eu já o tenha encontrado.

Acredito que na vida nós temos, no mínimo, dois amores


significativos. Portanto, ainda tenho esperanças de encontrar o
segundo. Isso se o primeiro que eu estou desconfiada se confirmar de
fato.

—E agora, o que você pretende fazer?

—Passar o resto dos meus dias na empresa me escondendo de


Ethan, ao menos até ter coragem de falar com ele novamente.

Liz aperta os lábios, tentando disfarçar um sorriso. Se nem


mesmo ela consegue conter a graça que achou de sábado, imagina
Ethan, um do envolvidos, não sei se um dia eu conseguirei olhar para
ele novamente.

—Olha, não foi tão terrível. Poderia ter sido pior. — Tenta
melhorar a situação.

—Pior quanto? Eu ter ido parar na cama do chefe?

É claro que eu contei sobre o ocorrido com Vito. Preciso de um


conselho que não venha de Enrico, o qual não é imparcial nessa
história, pois o assunto é sobre o seu irmão.

—Bem, isso não seria tão terrível, considerando que Vito não é
de se jogar fora. — Dá de ombros.

—Liz! Por favor! Não existe ninguém mais na terra tão... — Não
encontro a palavra adequada para descrevê-lo.

—Gostoso?

Olho para ela com raiva. Pensei que ela teria mais utilidade.

—Argh!

—Tudo bem, tudo bem! Olha, não foi tão terrível assim porque
você se mantém virgem. Imagina se tivesse ido parar na cama de
qualquer um, isso sim seria irreparável. Agora, falar bem do CEO,
coisa que toda a mulher que não seja cega consegue reparar. E beijar
Ethan, e falar sobre casamento, bom... isso não é o fim do mundo.

Pensando por essa perspectiva, Liz tem razão. Em alguns meses,


com sorte, nem eu me lembrarei mais dessa vergonha.

—Agora é seguir em frente. — Murmuro.

Ela sorri e aperta a minha mão por cima da mesa.

—Sim! Agnes, você é jovem. Aproveita a vida e para de ficar se


julgando por cada atitude.

Sou muito autocrítica. Não suporto errar, e suporto menos ainda


ser o centro das atenções. Por isso a noite de sábado não tem saído da
minha cabeça. Sou contida justamente para passar despercebida pelos
outros, condição essa, que as doses de tequila me tiraram.
Batidas na porta me tiram dos devaneios. Olho para Liz com os
olhos esbugalhados, completamente apavorada com a hipótese de ter
sido descoberta. Não ouso respirar, muito menos me mexer, temo fazer
algum barulho se movimentar o corpo.

—Liz. Agnes. Estão aí? — Ouço a voz de Ethan atrás da madeira.

—Aí meu Deus! — consigo sussurrar. — Você chaveou a porta?

Meus olhos começar a arder por não piscar. Encaro a porta


constantemente.

—Não.

Meu coração acelera e, diferente do que eu havia imaginado, não


é de animação por ver Ethan, é de desespero mesmo.

Uma ideia maluca passa pela minha cabeça, mas não encontro
outra solução. Empurro a cadeira com calma, somente o suficiente
para que eu consiga entrar debaixo da mesa.

—O que você está fazendo? — A voz de Liz sai tão baixa que eu
preciso me concentrar para entender o significado das palavras
proferidas.

—Diga que eu fui almoçar com Enrico.

—Ficou maluca?

—Fala logo, Liz. Não quero que ele me veja.

Liz bufa. Ela recolhe rapidamente os vestígios que eu abandonei.


Escondendo o resto do meu almoço e guardando os talhes.

—Sim? — grita. Sua voz sai relutante.

—Ah... oi, Liz! A Agnes está aí?

Antes que nós possamos fazer qualquer coisa. Ethan abre a porta
e coloca a cabeça para dentro da sala. Encolho ainda mais o corpo
embaixo da mesa.

—Desculpe incomodá-la, estou procurando Agnes.

Liz ajeita a coluna e abre um sorriso contido.

—Ela saiu para almoçar com Enrico.

Ethan fica em silêncio por alguns segundos. Ele abre totalmente a


porta e se aproxima ainda mais. A porcaria do centro da mesa é de
vidro, se ele der mais alguns passos vai ver o meu reflexo.

— Tem certeza? Eu não a vi saindo.

Liz franze a testa.

—Você está perseguindo Agnes?

— O quê? Não! Eu... só queria saber se ela iria sair com alguém
após o almoço.

Liz faz um barulho estranho com a garganta. Ela semicerra os


olhos, completamente desconfiada da atitude duvidosa do engenheiro.

— Bom... isso soa completamente estranho e psicótico, mas ok.


Enfim, como eu disse, Agnes saiu para almoçar com Enrico.

Ethan dá mais um passo. Meu desespero aumenta. Começo a


cutucar a panturrilha nua de Liz, tentando chamar a sua atenção. Ela
precisa se livrar dele agora, ou meu disfarce vai ir por água abaixo e
eu poderei acrescentar mais isso para a minha lista de humilhações.

— Não me leve a mal, é só que... o senhor Costello parece


interessado nela.

Liz começa a gargalhar. Ela ri tão alto que a sua risada reverbera
por toda a sala.

— O senhor Costello? — Ela pousa uma mão na barriga,


tentando se acalmar. — Você sabe que ele é gay, não sabe Ethan?

— O quê? Não esse senhor Costello, o CEO!

Deus amado! O que foi que Ethan bebeu no almoço? Ele usa
drogas? O homem está tendo alucinações.

— Me perdoe, Ethan, mas não sei nada sobre isso. Só sei o que te
falei.

Ethan dá mais um passo, mas antes que ele possa fazer qualquer
outra coisa. Liz se levanta em um supetão e pisa na minha mão. Seu
salto fino afunda a minha pele. Solto um gemido audível.

— O que foi isso?

— O quê? Ah, não é nada não. O meu salto está um pouco...


solto. Isso, ele está solto.
Não consigo ver o rosto de Ethan, mas conhecendo-o bem, ele
não está acreditando nessa história mal contada da secretária.

Liz junta todas as coisas do almoço, colocando tudo dentro de


uma sacola. Ela empurra a cadeira, colocando-a de volta no lugar e se
afasta.

—Vamos sair daqui, eu não deveria ter vindo almoçar aqui, mas
eu e Mark tivemos uma pequena discussão hoje mais cedo, e eu quis
ficar sozinha. — Mente incrivelmente bem.

—Oh, sinto muito! Espero que esteja tudo bem.

—Acredite, Ethan, Mark me deve muitas coisas depois de hoje.


— Sinto a indireta.

A porta se fecha e eu solto um suspiro exasperado. Foi por


pouco. Estou prestes a levantar e sair debaixo da mesa, quando ouço o
barulho da porta se abrindo novamente.

Deus! Não! Por favor!

Fico calada. Rezando para que não seja Ethan. Liz se saiu tão
bem em sua mentira, não tem como o engenheiro ter captado nada.

—O que você está fazendo aqui? — A voz soa bem atrás de mim.

Levo um susto tão grande, que meu corpo pula, e eu bato a


cabeça na madeira dura da mesa.

—Aí! — Esfrego a mão no local, tentando aplacar a dor da


batida.
—Agnes, você está bem? — Vito se aproxima ainda mais de mim
e inspeciona a minha cabeça. — Isso vai inchar.

—O que você está fazendo aqui? — pergunto ainda sentindo os


efeitos da contusão na cabeça.

Céus! O CEO da Costello Imobiliária está simplesmente


agachado no chão, debaixo da mesa, atrás de mim. A cena é inédita.

—Eu perguntei primeiro. — Seus olhos verdes me analisam


profundamente.

Reviro o meu cérebro atrás de uma boa desculpa, mas temo que a
batida tenha causado danos colaterais, pois eu não consigo pensar em
nada plausível, não quando Vito está tão próximo a mim, e com a mão
quente ainda acariciando os meus cabelos, e o seu perfume
impregnando meu olfato.

—Eu... é...

Vito arqueia a sobrancelha direita. Ele está achando graça da


minha situação vexatória. Droga! Esse homem consegue me tirar do
sério.

—Minha presença te deixa sem fala? — Sua voz sai sedutora.

Que homenzinho egocêntrico! Argh!

Hoje todos os homens do planeta me causam irritação. Primeiro


Ethan, é muito difícil para um ser masculino ver que uma mulher não
está disponível no momento? Segundo, vem Vito, tentando me seduzir
desde que descobriu que eu sinto uma leve atração por ele.

É segunda-feira, estou de TPM, machucada, humilhada e irritada.


Só quero ficar em paz.

Me afasto de Vito imediatamente e, juntando o resquício de


dignidade que me sobrou, me levanto do chão toda sem jeito.

—Sua presença é irritante. — Respondo por fim.

Vito solta uma risada. Ele se levanta também e tenta


desamarrotar o terno.

—Não é o que parece.

—O senhor tem um péssimo olhar clínico, então!

—Sabe o que parece, Agnes? — Não respondo. Então ele


continua. — Que você está louquinha para experimentar o CEO
irritante aqui.

Ah, esse ser humano... cretino!

—Só nos seus sonhos, senhor Costello!

Meus punhos estão cerrados. Minha pele está vermelha de


irritação. Vito Costello tem o dom de me tirar do sério.

Vito abre um sorriso de canto. Sexy como o diabo! Ele me olha


da cabeça aos pés, e só então eu reparo que a minha saia está acima do
joelho, ainda amarrotada. Arrumo-a imediatamente, o que o faz alargar
ainda mais o sorriso. Ele se aproxima de mim como um predador. Seus
passos decididos, seus movimentos calculados e rítmicos me deixam
acuada. Ele sabe o que causa em mim. Ele sabe como me deixar
nervosa. Isso é um jogo para ele. Vito é um homem experiente, ele
gosta de brincar com as mulheres, enredando-as na teia de sedução que
produz. E eu, como uma idiota, estou caindo nela.

Dou passos para trás, até as minhas costas encostarem na parede.


O CEO se aproxima ainda mais de mim. Um palmo mais alto que eu,
ele se abaixa, só o suficiente para manter o seu rosto na altura do meu.
Sinto seu hálito quente, misturado com o cheiro almiscarado do seu
perfume. Ele arruma alguns fios de cabelo, prendendo-os atrás da
minha orelha. E então sussurra no meu ouvido:

—Vamos ver, Agnes Bellini, até quando serão somente sonhos.


— Sua risada na minha nuca me causa arrepios.

Como o desgraçado que é. Vito se afasta e sai da sala batendo a


porta com força.

Com as penas bambas e as malditas borboletas voando em meu


estômago, me mantenho na parede por mais alguns segundos, tentando
associar o que aconteceu aqui nos últimos minutos.

Estou perdida!
Eu gosto do jeito como deixo a escritora. Ela está extremamente
atraída por mim, mas insiste em negar, mesmo estando evidente.

Depois que sai com a loira do Maddox Club, levei-a para o


mesmo local que vou com Teresa. Passamos a noite juntos, nos
divertindo. Contudo, dessa vez foi diferente, minha imaginação ficava
vagando para uma garota de vinte e cinco anos que estava em uma
boate acompanhada do meu irmão. Eu vi Ethan indo embora, acho que
foi isso que me induziu a sair, ele não seria mais um problema. Não
foi difícil perguntar desinteressado para Enrico sobre a noite deles, o
garoto começou a narrar tudo tão animadamente, que mal percebeu
quando começou a delatar as pérolas da sua amiga. Foi como um
gatilho. Eu já vi em seus olhos o desejo por mim, mas ouvir isso da
boca de outra pessoa, foi diferente. Algo acordou, e agora, eu quero e
terei Agnes Bellini de qualquer forma.

Batidas na porta me tiram dos devaneios.

—Eu já estou indo, senhor Costello, tenha uma boa noite.

—Obrigada, senhorita Evans. Boa noite.

Liz sempre vem se despedir. Todas as vezes que eu fico até mais
tarde no escritório, a boa secretária me acompanha, pelo máximo de
tempo possível. Ela é uma pessoa confiável, sabe do segredo que eu e
Agnes Bellini escondemos da empresa inteira, e nunca falou nada para
ninguém.

Meu celular vibra no meu bolso. Pego o aparelho e olho o


número para verificar quem é a essa hora. Sinto o meu semblante
franzir ao identificar a quem pertence a ligação.

—Vito Costello. — Atendo com a voz firme.

Prevejo problemas. Não gostaria de me incomodar com um


empresário tão importante, no entanto, não terei outra escolha.

—Vito, como vai rapaz? — Sua voz está mais amigável do que eu
esperava.

—George Jones, a que devo a honra?

Batuco os dedos da mão direita na mesa continuamente. Não sei


por qual motivo exatamente, mas eu sinto que Enrico aprontou alguma
coisa. Se bem conheço o meu irmão.

Ouço sua risada do outro lado da linha.

—Sempre tão sério. Se não mudar o jeito, envelhecerá mais


rápido do que imagina.

—Todos vão envelhecer um dia. — Faço um gesto de ombros,


como se fosse possível o CEO da Jones Finanças & Seguros observar.

Mais risadas.

—Você tem razão.

Aperto minhas têmporas com força. Estou um pouco irritado.


Essa semana, no sábado, inauguraremos um novo prédio de
apartamentos. Meus dias estão corridos, e passarei, muito
provavelmente, o restante da semana até mais tarde no escritório, para
agilizar as coisas.

Agnes ainda não sabe, mas precisarei dela comigo na


inauguração. Como minha assistente, sua presença é imprescindível,
ou os burburinhos começarão a se espalhar.

—Vá logo ao ponto, George.

—Igualzinho ao seu pai... sempre simpático.

Reviro os olhos.

—Chamam isso de genética, cromossomos Y e X.


George Jones solta uma gargalhada espalhafatosa. Afasto o
celular do ouvido para não explodir o meu tímpano.

—Tudo bem. Você tem razão, há um motivo para eu ter ligado.


Quero informações sobre a sua assistente pessoal.

Eu estava esperando qualquer coisa, menos isso. Meu coração dá


uma leve acelerada. Repenso mentalmente todos os motivos do porquê
um homem tão importante quanto George gostaria de informações
sobre Agnes. Não encontro nada.

—Por que exatamente eu te daria esses dados?

—Oh não! Não me diga que está comendo a assistente.

Aperto o celular com força. George é um velho antiquado. Prega


moral para todos, mas não as segue. Acha um absurdo uma mulher se
casar não sendo mais virgem, contudo, possui uma amante em cada
esquina. Homossexualidade para ele é inaceitável, ele nunca entendeu
porque eu deixo Enrico ser como é. Legítimo conservador, sem de
fato, seguir o conservadorismo.

—Se eu estivesse, não seria da sua conta.

Uma risada mais séria. Ele não gosta da minha arrogância. Me


acha jovem e insolente demais.

—Acho que seria, considerando que a vadia está namorando o


meu filho.

Levanto da cadeira de supetão. Não sei o que me deixa mais


irritado. George denominando Agnes como vadia, ou ele falar que ela
está namorando Isaac. O homem enlouqueceu?

—O quê? — consigo perguntar.

Céus! O que diabos está acontecendo?!

—Meu filho chegou em casa falando que está completamente


apaixonado por Agnes Bellini, sua assistente pessoal, e amiga intima
do seu irmão. Disse que eles estão namorando, e que logo me
apresentará a garota. Eu, como um bom pai, entrei em contato com
você diretamente para saber como ela é realmente. Não quero
interesseiras perto da minha prole.

Um ótimo pai! Penso sarcasticamente.

George é um hipócrita. Ele não sabe que o filho é gay, e jamais


aceitaria isso. Essa história de Isaac estar namorando Agnes, me cheira
aos planos mirabolantes de Enrico.

—Primeiramente, Agnes Bellini está muito longe de ser uma


vadia, portanto, a próxima vez que se retratar desta forma com a
minha assistente pessoal, tomarei providências. — ameaço. — Por
fim, ela é uma boa pessoa, não é interesseira. Seu filho está em boas
mãos, deveria agradecer por ele ter encontrado uma mulher
maravilhosa como Agnes Bellini.

George solta um suspiro.

—Me desculpe, Vito. Sabe que o dinheiro atrai todos os tipos de


pessoas. Isaac é jovem ainda, e muito imaturo. Só estou fazendo o meu
papel de pai, protegendo o coração do meu filho, e claro, a nossa
fortuna.

Me pergunto como o meu pai poderia gostar tanto desse homem.


George é a escória da sociedade. Tenho pena de Isaac e da senhora
Jones que precisam aguentá-lo todos os dias.

Já ouvi uns boatos de que ele é agressivo com a esposa, o que


não me deixa surpreso. George Jones é um homem poderoso, acabaria
com a vida da esposa se o delatasse, e pouparia menos ainda o filho se
colocasse o nome da família na lama.

—Não há com o que se preocupar.

—Obrigado, rapaz. Até mais.

Desligo o telefone sem me despedir. Preciso ter uma conversinha


com Enrico.

Verifico a hora no meu relógio de pulso. Mesmo que eu queira


continuar trabalhando, essa conversa esquisita com George Jones
deixou os meus pensamentos atormentados em turbilhões. Opto por ir
embora, desligo tudo e deixo o escritório, em busca do meu irmão.

—Que história é essa de que Isaac e Agnes estão namorando?

Enrico está atirado no sofá. A tevelisão está ligada, passandoa


algum canal aletório, que ele não faz a menor ideia. Meu irmão está
com a sua atenção fixada em seu leitor de livros digitais. Enrico joga
uma bala de goma na boca e me olhar, antes de falar.

—Foi a forma que eu encontrei de Isaac poder continuar


frequentando a nossa casa. — Dá de ombros.

—Do que você está falando, Enrico?

Enrico coloca seu Kindle ao seu lado no sofá.

—Parece que a nossa vida é extremamente interessante, pois os


vizinhos gostam de assistir de camarote e sair por aí fofocando.
Alguns boatos de que Isaac estava frequentando a nossa casa mais do
que deveria, chegou aos ouvidos do senhor Jones. Para que eu e Isaac
pudessemos continuar nos vendo, Agnes aceitou ser a sua namorada
falsa.

Me jogo no sofá ao seu lado. Pego o pacote de bala de goma e


atiro três para dentro da boca. Eu odeio esse preconceito todo. Odeio
essa ignorância. Só Deus sabe o que eu já fiz para proteger o meu
irmão disso tudo. No entanto, volta e meia aparece alguém querendo
ofedên-lo. Me pergunto, quando ele será livre. Quando Enrico não
precisará mais de mim. Quando ele poderá amar e ser amado sem
medo de julgamentos.

Solto um suspiro audível.

—Você sabe que George Jones nunca vai aceitar isso, não é
mesmo?

Enrico fecha os olhos e suspira.


—Eu sei.

—E mesmo assim quer continuar com o relacionamento?

Meu irmão abre um sorriso que não chega aos olhos.

—Isaac merece ser livre, Vito, assim como eu sou. De que


adianta viver, se for para passar o restante da vida em negação?

—Eu sei, mas é que... você pode se machucar.

—Obrigado por me proteger, Vito. O seu apoio é fundamental.


Sou grato por ter você em minha vida. E essa é a questão, eu tenho
você, mas Isaac não tem ninguém. E eu quero ser para ele o que você
foi para mim.

Aperto o ombro do meu irmão. Eu compreendo o seu ponto de


vista. Isaac é, acima de tudo, seu amigo. Enrico quer ser o pilar de
alguém, assim como eu sou o seu. Se essa é a decisão do meu irmão,
só cabe a mim aceitar. Afinal, eu estarei aqui se ele precisar, e quando
precisar.

—Você está me dizendo que eu serei, basicamente, obrigada a


comparecer nesse evento? — Ingada Agnes céticamente.

A desgraçada veio novamente trabalhar com o maldito batom


vermelho. Seus lábios bem delineados e carnudos dão asas a minha
imaginação depravada. Nunca consigo me concentrar quando ela vem
com a boca pigmentada.

Por algum motivo estranho, eu adoro bocas. A primeira coisa que


me atrai em uma mulher são os seu lábios. E saber que Agnes possui
uma boca esculpida pelos deuses e totalmente natural, mexe com o
meu piscológico de uma forma assustadora. Esses dias eu bati punheta
no banheiro imaginando seus deliciosos lábios envoltos do meu pau.
Sou um maldito pervertido!

Droga! Se continuar imaginando essas coisas libidinosas com a


escritora, ficarei de pau duro. Coço a garganta e disperso os
pensamentos sexuais.

—Sim.

Ela não está animada ao saber que precisará passar a tarde de


sábado comigo. Na verdade, ela está possessa de raiva por conta disso,
mas tenta disfarçar perfeitamente bem. Não sei quais eram os seus
planos, só sei que eu os estraguei.

—Por quê?

—Você é minha assistente pessoal, e é papel da assistente


acompanhar o chefe em eventos importantes. Se você não for, as
pessoas podem comentar a respeito da nossa relação.

Agnes esbugalha os olhos. Suas bochechas coram, e ela desvia o


olhar para as suas unhas pintadas de rosa.

—Que relação?
Abro um sorriso debochado. Ás vezes, penso que Agnes ainda é
virgem, pois ela é muito ingênua.

—É esse o ponto que quero chegar. Não possuimos relação


alguma. No entanto, se você não for comigo, começarão a falar que é
minha amante e possui regalias.

Ela fica boquiaberta. Seu espanto me faz ter vontade de rir.


Agnes Bellini é um pessoa incomum. A garota é envergonhada e
audaciosa ao mesmo tempo.

—Tudo bem. Eu vou ir nesse evento, então.

—Possivelmente seu namorado vai ir.

Agnes dá um pulo da cadeira. Estranho a sua reação. Pensei que


ela levaria o comentário na esportiva. Porém, ela fica em alerta
imediatamente.

—Que... que namorado?

Sinto a minha testa franzir. Estranho. Tem algo errado.

—Isaac.

Agnes solta um suspiro aliviada. Semicerro os olhos em sua


direção.

—O que está acontecendo?

Ela solta uma risadinha nervosa e começa a mexer nas pontas dos
seus cabelos com as unhas, em uma falha tentativa de parecer alheia
ao que eu estou falando.

—Nada. Eu só havia esquecido que agora sou “namorada” de


Isaac.

Não acredito nela nem por um segundo, mas não a pressionarei


mais. Agnes não é uma pessoa que saiba viver sob pressão. A garota
tende a se afastar, se isso ocorrer. Para que eu consiga chegar à mente
de Agnes, preciso ir com calma, se eu for direto ao foco. Ela vai se
fechar como um casúlo, em seu próprio mundinho.

—Tudo bem. — Finjo desinteresse.

Eu tenho outros métodos de descobrir o que está acontecendo, e


esse “método” tem nome e sobrenome: Enrico Costello.

Penso em Ethan, mas, desde que ele foi embora da boate mais
cedo, eu não os vi mais juntos, não na empresa pelo menos.
Psicoticamente, eu venho observando a escritora, tentando descobrir
se existe alguma relação entre os dois. Mas ela parece não nutrir muito
interesse pelo engenheiro, para a minha felicidade.
—Você não pode ficar evitando Ethan pelo resto da vida. —
murmura Liz.

Estou escorada em sua mesa, aproveitando a ausência do CEO


para uma reunião de negócios. O comportamento do engenheiro vem
gerando um certo temor em mim. Ethan não está aceitando muito bem
o meu afastamento desde que nos beijamos na boate. Hoje é sexta-
feira, e eu consegui evitá-lo com muito custo, durante a semana
inteira.

—Ele está estranho.


Ethan me manda inúmeras mensagens ao longo do dia, sem
contar nas ligações efetuadas. Ele até mesmo bateu na porta do meu
prédio há dois dias. Só Deus sabe como ele conseguiu meu endereço.
Em tese, esse tipo de informação fica restrita no RH da empresa. Além
do mais, ele me envia mimos, tanto para mim, quanto para os meus
gatos. Me sinto mal em aceitar os presentes, eu não quero nada com
ele, não é justo fazê-lo gastar dinheiro comigo.

—Você precisa falar com ele. Dizer que não tem interesse, sabe,
talvez isso ajude a esclarecer e melhorar as coisas.

Liz tem razão. Não posso passar o resto da vida evitando-o.


Preciso tomar uma atitude. Eu estava decidida a sair com ele para um
café no sábado, até Vito me informar do tal evento de inauguração do
prédio.

—Eu vou fazer isso.

—Preparada para o seu primeiro evento como assistente?

Solto um suspiro exasperado e me viro de frente para Liz.

—Você sabe que esse é só um cargo fictício, não?

Ela revira os olhos e abre um sorriso zombeteiro.

—Sei... mesmo assim, o evento é real, e você deverá comparecer


a ele. Sendo o cargo fictício ou não.

Um sinal de alerta pisca no meu cérebro. Ah, não!

—Céus, Liz! Eu não tenho o que vestir. — Coloco as mãos na


boca lembrando desse fato importantíssimo.

O evento será amanhã à tarde. Precisarei sair de casa muito cedo,


procurar alguma coisa, retornar e me arrumar. A correria do dia vai me
deixar exausta. Droga!

—Eu pensei que você já tivesse providenciado isso, Agnes. —


Liz me julga com os olhos. — Tudo bem, vou te dar o contato e
endereço de algumas lojas que eu já fui encomendar roupas para esse
tipo de evento. Espero que encontre algo em tão pouco tempo.

—Obrigada!

Vou arrastar Enrico comigo para fazer isso. Meu amigo me deve
uma vida inteira de favores após me fazer ser a namorada fictícia de
Isaac. Além do mais, segundo o meu “namorado”, precisarei conhecer
o seu maravilhoso pai em algum momento, ou o homem começará a
fazer da nossa vida conjugal um inferno.

Estou prestes a retornar para a sala do CEO antes que ele saia da
reunião e me veja matando tempo no trabalho, quando Liz me chama
novamente.

—E gata, capricha no look, o seu sogro estará presente.

Reviro os olhos, o que a faz cair na gargalhada.

É óbvio que eu contei para Liz do meu “relacionamento” com


Isaac. Ela disse que eu devo estar atenta com o senhor Jones, pois ele
é um homem sagaz, e qualquer falha minha, perceberia a encenação.
Disse também que ele não é uma pessoa indulgente, além de ser um
homem poderoso. Em suma, me alertou para ter cuidado com ele.
Fiquei extremamente nervosa com isso, mas não desistirei do plano de
Enrico. Se for pela felicidade dele e do Isaac, dane-se esse senhor
Jones.

Sento no meu lugar de costume e olho para o meu computador. Já


escrevi cinco capítulos do livro que destruirá a minha carreira. O livro
me causa um bloqueio literário. Sou contra exatamente tudo que estou
escrevendo. Gosto de narrar em minhas histórias coisas difíceis de se
encontrar na realidade, como: o amor verdadeiro. Esse segundo
volume de Eu Sou Sua, narra o contrário disso.

Que Deus tenha piedade de mim, pois minhas leitoras não terão.

—Esse com certeza não! — Enrico atira o vestido preto para


longe.

Estamos dentro do provador feminino escolhendo algumas das


milhares de roupas que pegamos para eu experimentar. Em poucas
horas, precisarei estar com o cabelo feito, maquiada e arrumada,
esperando o carro de Vito Costello me buscar no meu apartamento.

Arrastei Enrico para a empreitada da escolha do look comigo,


como um bom amigo, ele nem protestou. Enrico adora roupas e ama
estar na moda. Além de ler, sua atividade favorita é comprar, portanto,
não precisei pedir duas vezes.

—Aí meu Deus! Olha esse que lindo! Experimenta. — Enrico me


entrega um macacão preto.

—Tá bom.

Estou cansada de experimentar roupas. Eu gosto de comprar, mas


acho tão trabalhoso escolher. Pego o produto e caminho me arrastado
para dentro do provador.

Como eu imaginava, estou exausta. Acordei muito cedo para


arrumar a casa, dar atenção aos meus gatos e vir ao shopping escolher
a roupa perfeita.

Saio do provador de cara feia. Enrico me olha boquiaberto. Ele se


abana com a mãe, como se estivesse sem ar. Dramático!

—Uau! Agnes, é esse!

O macacão é preto, com a calça pantalona. Um cinto dourado,


mangas princesas e decote em V complementam o look.

—Eu achei um pouco decotado.

—Querida, está perfeito. Muitas mulheres gostariam de ter esses


belíssimos seios naturais.

Reviro os olhos.

O macacão realmente realça os meus seios e afina a minha


cintura. Me deixa com um corpo bonito, e esse é o problema. Gostaria
de passar despercebida.

—Não tenho certeza... — Murmuro.


Eu amei a roupa. Mas a droga da minha falta de confiança não
está colaborando.

—Sim, Agnes. Separa que nós vamos levar. Você vai ir com esse.
Está decidido. — Enrico me olha pelo reflexo do espelho e nota o que
me incomoda. — Agnes, eu estarei todo o tempo ao seu lado.

Maneio a cabeça em sinal positivo, concordando com a roupa e


agradecendo o seu apoio.

—Você quer levar mais alguma coisa? — Enrico mexe na


montanha de roupas, tentando encontrar algum outro look.

—Não! Já comprei algumas coisas mês passado. Assim está


ótimo.

—Tudo bem.

Saímos da loja e entramos em algumas outras. Enrico olha


absolutamente tudo. Ele já tem roupas o suficiente para vestir um
exército inteiro, mas sempre acha que falta alguma coisa.

Almoçamos em um restaurante de massas, enquanto conversamos


sobre como eu devo me comportar ao lado de Isaac para que o senhor
Jones não desconfie de nada.

—Agora, vamos ao salão de beleza.

Engulo uma colherada de sorvete, e olho de soslaio para Enrico.

—Não temos tempo.


Olho a hora no meu celular. Eu já estou uma meia hora atrasada,
e por conta disso, precisarei me arrumar com mais rapidez do que
planejava.

—Agnes, nós sairemos prontos do salão.

Às vezes Enrico parece esquecer que eu não sou uma herdeira


milionária. Não posso gastar minhas economias com coisas
desnecessárias. Agora que o auge do lançamento do livro passou, os
meus royalties veem diminuindo cada vez mais. E o salário que estou
recebendo da Costello Imobiliária vai acabar assim que eu sair da
empresa. Eu disse para Vito que terminaria o livro em quatro meses, e
já passou um.

—Eu não posso investir nisso.

Enrico joga o copo do seu sorvete em uma lata de lixo. Limpa as


mãos molhadas do suor do copo nas calças e abre um sorriso
debochado para mim.

—Você não vai investir absolutamente nada.

Sinto a minha testa franzir sem compreender o que ele está


falando, até a minha ficha cair.

—Você não vai... não posso aceitar.

—Não estou pedindo a sua aprovação. Está marcado desde o


início da semana, agora vamos nos arrumar.

—Enrico... não.
—Agnes, por favor, é o mínimo que posso fazer por toda a ajuda
que vem oferecendo. Além do mais, quero o senhor Jones
extremamente impressionado para que eu possa continuar encontrando
Isaac.

Bufo. Enrico não espera a minha resposta, ele me arrasta pela


mão pelo shopping, nos direcionando para um salão que, somente o
corte de cabelo, deve custar o meu salário inteiro do mês.

—Agora, aproveita e relaxa.

Termino de encher o pote dos gatos de ração molhada, tentando


não estragar absolutamente nada do que foi feito comigo nas últimas
horas.

Enquanto Enrico hidratava e cortava os cabelos. Eu fui submetida


a fazer as unhas, cortar as pontas dos cabelos, fazer maquiagem e, por
fim, um penteado. Como resultado eu me senti extremamente linda e
atraente.

—Vito chegou! — Enrico aparece.

Ele resolveu vir para a minha casa após a nossa seção no salão.
Enrico estava com as suas roupas guardadas no carro do seu motorista.

Me sinto nervosa indo nesse evento. Nunca me imaginei indo em


algo assim. Nem mesmo já tive vontade. Antes de trabalhar na
Costello Imobiliária, pensava que trabalhar em escritórios fechados
fosse insuportavelmente entediante. Sempre foi o tipo de trabalho que
tentei evitar a todo custo, e consegui, até Vito Costello entrar na minha
vida, como personagem e como pessoa real.

—Vamos. — Passo as mãos suadas no meu macacão.

Corro até o quarto e olho o meu reflexo no espelho. Meus


cabelões estão ondulados e volumosos, deixando de lado o liso
habitual. Minha maquiagem é leve, contudo, o batom vermelho que eu
adoro está presente.

—Você está linda, Agnes. — Enrico me espia do batente da porta.

—Obrigada! — Olho para ele da cabeça aos pés. — Você também


não está nada mal.

Enrico abre um sorriso e me puxa pela mão. Me despeço dos


gatos e corro com ele para o carro de Vito.

—Uau! — Exclamo.

O carro não é nada mais, nada menos, do que uma limusine. Se


Vito Costello quer chamar a atenção para a sua chegada no evento,
com esse suntuoso veículo ele vai conseguir.

—Coisa de CEO. — Ele revira os olhos.

Um motorista abre a porta para mim. Agradeço educadamente.


Quando entro no carro e me acomodo em um dos bancos, olho para
Vito. Ele me observa boquiaberto.

O CEO da Costello Imobiliária está lindo. Vito usa um terno


preto com caimento perfeito. A gravata borboleta vermelha combina
com a cor do meu batom.

—Oi. — Murmuro.

Vito nem mesmo pisca olhando para mim. Ele está encantado.
Deixando todos os seus sentimentos transparecer.

Enrico faz um sinal para a roupa, chamando a nossa atenção. Ele


olha para o irmão a abre um sorriso malicioso.

—Tem uma babinha aqui.

Vito encara o irmão com raiva, mas em seguida, pousa seus olhos
novamente em mim.

—Oi. — fala por fim.

Sorrio sem mostrar os dentes. Com o meu gesto inocente, Vito


me olha com lascívia. Entreabro os lábios, e engulo em seco. Como se
um ímã estivesse nos conduzindo um ao outro. Vito quebra o olhar,
desviando a sua atenção para a janela.

Uma energia pesada emana pelo carro. Algo no meu centro


queima, enviando sensações estranhas para as minhas partes íntimas.
Ouso falar que isso se chama desejo.

Deus amado!

Eu desejo Vito Costello. Eu desejo o homem que entrou na minha


vida como um tornado, mudando tudo, me arrastando com ele.
Olho para o meu colo. Foco nas minhas unhas pintadas de
vermelho. Não posso e nem quero olhar para Vito novamente. Não sei
se manteria o controle das minhas próximas atitudes se o fizesse.

Estou perdida, completamente e irrevogavelmente perdida.

Além das malditas borboletas no estômago, agora sinto a minha


calcinha molhada por esse homem. Isso é errado. É surreal.

Só pode ser um castigo divino. Prometi a vovó que encontraria


uma igreja para frequentar aqui quando me mudasse, e até agora, eu
não o fiz. Estou a meses sem ir em missa, ou me confessar ao padre.

Céus!

Passei os últimos anos da minha vida desejando sentir isso por


alguém. Desejando sentir a vontade de finalmente me entregar. E eu
tenho que sentir isso justamente pelo o homem que eu detesto? Bem,
eu detesto Vito Costello, não?!
Eu já vi inúmeras mulheres bonitas na vida, mais do que sou
capaz de contar, mas nenhuma delas conseguiu me deixar sem palavras
como Agnes Bellini fez hoje comigo.

Estonteante, é somente um dos adjetivos que sou capaz de


numerar para descrevê-la.

Nem mesmo o comentário debochado de Enrico foi capaz de me


fazer parar de admirá-la. Linda!

Sou um homem experiente, poucas coisas conseguem me fazer


perder o controle sob as minhas ações, e Agnes Bellini é uma delas.
Consigo manter uma máscara de imparcialidade em episódios danosos
na empresa, sempre sendo o CEO inatingível, mas hoje Agnes me
enfeitiçou de uma forma tão intensa que, pela primeira vez na vida,
deixei demonstrar o que eu estava sentindo. Desejo. Puro e ardente.

Passo o restante do caminho vendo o borrão da estrada através do


vidro fumê da limusine. Não ouso olhar para ela novamente, só de
sentir o cheiro adocicado do seu perfume, me dá vontade de saboreá-la
inteira.

Agnes Bellini, a causadora dos meus tormentos, o motivo da


minha tentação e a razão da minha luxúria.

O carro estaciona em frente ao novo prédio. Fico grato pela


viagem parcialmente rápida, pois se Enrico não estivesse conosco, eu
já teria agarrado Agnes Bellini sem pudor.

Por ser um local residencial, as festividades ocorrerão no rol de


entrada. Quase todos os apartamentos já foram vendidos na planta. Os
compradores também estarão presentes, além de alguns acionistas e
CEO’s parceiros da Costello Imobiliária.

Comecei investir na construção de prédios há alguns anos.


Contratei uma equipe para cuidar dessa parte. O investimento é
lucrativo. Conseguimos, muitas vezes, imóveis em leilão por um valor
irrisório. Destruímos o que há no terreno e construímos em cima o que
o bairro pede, se for próximo ao centro, um prédio comercial, se for
longe, um prédio residencial. E assim, a Costello Imobiliária vem se
tornando a maior empresa do ramo do Reino Unido.
—Vamos!

Saio do veículo e estendo a mão para ajudar Agnes. Ela fica


parada por alguns segundos encarando a mão entendida, mas cede. O
contato da sua pele com a minha, envia calafrios para todo o meu
corpo.

Agnes está linda, o macacão que escolheu para usar acentua todas
as curvas do seu corpo, sem contar na maquiagem que realça os seus
olhos e a boca... ah a sua boca deliciosamente comestível.

Foco, Vito! O evento é importante e você não quer ficar com uma
ejaculação na frente de todos. A parte sensata do meu cérebro me
recrimina.

Enrico entrelaça o seu braço no de Agnes e juntos entramos no


novo prédio da Costello Imobiliária. Algumas pessoas veem me
cumprimentar. Meu irmão sussurra algumas coisas no ouvido da
escritora, volta e meia, provavelmente fazendo fofoca ou comentários
maldosos das pessoas por qual não possui afeição.

Isaac se aproxima. Ele planta um beijo carinhoso na testa de


Agnes e assume o lugar ao seu lado. Enrico sorri para ele, um sorriso
de cumplicidade. Fico feliz que o meu irmão tenha encontrado alguém
de quem realmente goste, e admiro a escritora por ajudá-lo, mesmo
eles se conhecendo a tão pouco tempo. Agnes e Enrico criaram um
vínculo inquebrável no momento em que se encontraram pela primeira
vez.

—Vito Costello. A cada dia que passa, você me surpreende mais.


— George Jones aperta a minha mão.

Sorrio sem mostrar os dentes. Não estou com vontade de ser


simpático com o homem que, no momento, é o empecilho para a
felicidade do meu irmão, a pessoa mais importante da minha vida.

George se vira para observar os meus acompanhantes. Quando


seus olhos pousam em Agnes, vejo malicia neles. Instintivamente me
aproximo dela.

—Você deve ser Agnes Bellini. — Ele segura a mão da escritora


e planta um beijo em seu dorso.

O desgraçado está encantado com Agnes, e nem tenta disfarçar


isso, mesmo ela sendo supostamente a namorada do seu filho. Sinto o
corpo dela rígido. Ela não gosta do homem, e está deixando isso
evidente.

—Prazer em conhecê-lo, senhor Jones. — Sua voz sai quase em


um sussurro.

—Ora, pode me chamar de George, somos da mesma família


agora. E, o prazer é todo meu. — Pisca para a garota, deixando-a ainda
mais desconfortável.

George olha para Enrico e o seu sorriso se desfaz. Seu desprezo


pelo meu irmão me deixa irritado.

—Olá, garoto.

Enrico olha para o homem da cabeça aos pés, faz um biquinho de


nojo e vira o rosto. Sinto vontade de aplaudir a sua atitude audaciosa e
corajosa, mas me contenho.

Como CEO da Costello Imobiliária, preciso me manter silente em


algumas situações e essa é uma delas

— Sempre educado... — murmura George.— Bom, vamos tratar


de negócios, Vito?

Que Deus me ajude a aguentar esse homem, mas eu realmente


preciso conversar com ele. A empresa de George está passando por um
momento delicado. O CEO da Jones está tentando fechar um acordo
lucrativo para ambas as empresas. Apesar de não confiar no homem,
sua ideia é realmente boa e estou apto a ouvi-la e decidir se estarei de
acordo ou não.

—Por favor. — Conduzo-o para longe do meu grupo. Para longe


de Agnes Bellini para ser mais exato.

Agnes Bellini

Pretendo nunca mais chegar perto de George Jones, o homem me


causa arrepios, e não arrepios bons. Ele não me passou uma boa
impressão, e sua energia me parece um tanto negativa.

—Você foi ótima, Agnes! Acho que meu pai adorou você! —
Isaac abre um largo sorriso.
Fico com pena dele. Todos nutrem o sentimento de ter o pai como
herói, e com Isaac não parece ser diferente. Ele realmente não
percebeu que o seu pai flertou comigo, a sua namorada?

Céus! Quem é que dá em cima da namorada do filho? George


Jones é um animal!

—Seu pai é sempre tão... simpático. — Debocha Enrico.

Eu adorei a atitude do meu amigo de desprezar o CEO. Senti uma


vontade absurda de sorrir, mas consegui me conter. Enrico foi perfeito.
Ele simplesmente fez o que todos tivemos vontade desde o momento
em que o CEO se aproximou. Vito não fez nada por educação, e eu por
medo.

—Se ele não odiava você antes, agora pode ter certeza que sim.

—Oh! Não conseguirei nem dormir essa noite, estou tão


atormentando pelo desprezo de George Jones.

Coloco uma mão na frente da boca, tentando disfarçar o meu


sorriso. O comportamento indolente de Enrico faz com que eu tenha
ainda mais orgulho de quem ele é.

—Você é terrível, Enrico! — Isaac, ao invés de ficar bravo com o


namorado, parece concordar comigo.

No fundo, o filho de George Jones também admira Enrico. Ele


gostaria de ter a coragem que o Costello teve para se assumir. No
entanto, na prática é diferente, e Isaac ainda não se sente pronto para
isso. E agora eu lhe entendo mais do que nunca, com um pai daqueles
que coloca medo só com um olhar, eu também teria dificuldades.

—Vamos beber alguma coisa? — Enrico inspeciona toda a sala


com os olhos em busca de algum garçom. — Ah, não... hã, Agnes.

Sua atitude suspeita chama a minha atenção. Olho para a mesma


direção que ele observa e fico branca feito papel.

AÍ MEU DEUS!

Ethan me viu e está vindo na minha direção. Isso é um grande,


um enorme problema. Uma verdadeira tragédia. Se ele conseguir
chegar perto de mim, só Deus sabe o que fará. Contudo, eu estou com
o meu namorado Isaac Jones, e Ethan está prestes a estragar nosso
disfarce.

—Agnes, faça alguma coisa! — Enrico começa a ficar nervoso.

Não consigo me mexer. Estou parada feito uma estátua por conta
do nervosismo. É como se meu corpo não estivesse respondendo aos
comandos do meu cérebro. É sempre assim todas as vezes que eu entro
em pânico, ao invés de agir, fico paralisada.

—Agnes... — Enrico começa a ficar desesperado.

—Estou em estado de choque. — Consigo falar.

Enrico sai de seu estupor e olha para Isaac aflito. Estamos sem
saber como proceder. Ethan se aproxima cada vez mais. E,
considerando o seu comportamento essa semana na empresa, acredito
que Ethan tenha levado a sério o assunto sobre o casamento. Ele acha
que estamos namorando, pelo menos foi isso que deixou transparecer
para Liz.

Eu posso ficar parada e esperar Ethan se aproximar e me


cumprimentar como ele acha que deve. Posteriormente, Isaac terá que
fingir ser o namorado enciumado e socar o engenheiro. Desta forma,
começaremos uma briga no meio de um salão de eventos com pessoas
importantes da alta sociedade. Santa Maria! Eu preciso me mexer.

Sem esperar, Isaac me puxa pela mão. Minhas pernas são


forçadas e idealizar o movimento da caminhada, pois ainda estou em
choque. Passamos praticamente correndo por um tanto de pessoas que
eu não faço a menor ideia de quem são, mas parecem importantes.

—Continuem, estamos sendo seguidos. — Enrico fala logo atrás


de mim.

Olhares curiosos e desprezíveis são jogados em nossa direção.


Estamos fazendo o que eu mais temia: chamando a atenção de todos.

Deus amado!

Um caos, é isso o que está acontecendo.

Vito Costello

O que diabos está ocorrendo? Olho para o outro lado do salão e


vejo Isaac puxando Agnes a passos acelerados, atrás deles, Enrico, e
seguindo-os Ethan Brown. A cena cômica chama a atenção de todos.

Eu vou matar os três se causarem algum transtorno no evento


em que a equipe da empresa passou os últimos dias organizando para
que tudo saísse perfeito.

—Mas o que Isaac e a namorada estão fazendo? — George


Jones parece tão aturdido quanto eu.

Os três somem atrás do palco do salão, do qual eu discursarei


em alguns minutos.

Passo as mãos nos cabelos, desgrenhando-os, em uma atitude


nervosa.

Eu só precisava que Enrico e Agnes se mantivessem longe de


problemas e aproveitassem a festa como pessoas civilizadas. Era pedir
muito?

—Com licença. — Dou um tapa leve do ombro de George e me


afasto.

Sigo para a mesma direção que eles foram.

Agnes Bellini é tão desastrada que eu temo que coloque o meu


prédio abaixo.

Empurro algumas pessoas para que saiam do meu caminho, pois


todos estão olhando de forma curiosa para onde os três sumiram.
Murmúrios reverberam por todo o salão. Fofocas e palpites do que
pode estar acontecendo sendo colocadas em pauta. Finalmente consigo
chegar ao palco, estou prestes a entrar para cobrar explicações quando
ouço a voz de Enrico:

—Ela foi no banheiro.

—No banheiro atrás do palco? — Ethan Brown não parece


muito convencido.

Pelo que eu entendi, eles estavam tentando despistar Ethan?!


Pensei que Agnes gostasse da companhia do engenheiro, não estou
entendendo porque ela estava fugindo dele. Se bem que, devo parar de
tentar entender a mente de Agnes Bellini, ela é atípica.

—Sim.

—Eu só quero falar com ela, Enrico, qual é o problema disso?

Silêncio por alguns segundos. Meu irmão está pensando em qual


resposta dará ao homem insistente.

—Então, Ethan, vocês se beijaram e tudo mais...

Não ouço o resto. Um aperto alucinante no meu coração me


causa tremores. Agnes beijou Ethan?

Deus! Acho que estou tendo um infarto. Nunca senti tal coisa
anteriormente. Minha respiração fica pesada. Cerro os punhos com
raiva. Penso em Ethan beijando os lábios delineados de Agnes, os
lábios que eu desejo. Minha visão parece embaçar. É como se um peso
tivesse sido colocado sobre o meu peito, fazendo com que até respirar
seja difícil.
Agnes e Ethan? Não! Não!

Estou morrendo. É a única explicação que encontro para o que


estou sentindo.

—Oh! Boa tarde, senhor Costello!

Olho em direção a voz que me cumprimenta e vejo o homem


que tenho vontade de matar. Ethan Brown está parado na minha frente.
Ele parece triste e cabisbaixo.

Não consigo responder ao seu cumprimento, ainda sinto a


estranha sensação que domina todo o meu corpo.

—O senhor está bem?

Me escoro no batente da porta e maneio a cabeça positivamente.


Se Ethan soubesse das atrocidades que estou imaginando, não ficaria
perto de mim por nem mais um segundo.

—Tudo bem... hã... com licença. — Ethan finalmente se afasta.

O que está acontecendo comigo? Quero gritar, socar alguma


coisa. Colocar para fora a raiva contida.

—Vito, está tudo bem? — Enrico corre na minha direção e


coloca a mão na minha testa medindo a temperatura.

Não falo nada. Afasto a mão do meu irmão com brusquidão e


entro a passos pesados na sala atrás do palco. Isaac está parado perto
da porta do banheiro feminino dos funcionários. Ele mexe no seu
aparelho celular, digitando alguma coisa.
—Vito, o que está acontecendo? — pergunta curioso.

Ignoro ele também. Só há uma pessoa com a qual eu quero falar.

Abro a porta do banheiro com força. Agnes está parada olhando


o seu reflexo através do espelho. Ela se vira para mim espantada, mas
fica aliviada imediatamente ao perceber que sou eu.

—Vito. — Sua voz sai em um sussurro.

Fecho a porta do banheiro e viro a chave. Não estou


respondendo mais por mim. Agnes conseguiu me fazer perder o
controle mais uma vez.

—Vito, o que você está fazendo? — Ela começa a se afastar, até


as suas costas colarem na parede.

Olho para os seus lábios tingidos de vermelho vivido. Os lábios


com os quais eu venho sonhado nos últimos dias.

Agnes é minha!

Me aproximo dela com passos decididos de um predador. Agnes


é a minha presa. Ela está assustada, mas desejosa. Consigo ver em
seus olhos o quanto me quer, assim como eu a quero.

— Vito. — sussurra.

Seu perfume impregna as minhas narinas. Colo o meu corpo ao


seu. Passo os dedos contornando os lábios carnudos, alvo dos meus
pensamentos mais pecaminosos. Agnes entreabre a boca. Ela está
excitada. Não me aguento mais, colo nossas bocas em um beijo
ardente. Aperto-a com força contra a parede, como se pudesse nos
fundir juntos. Não há tempo para fôlego. Respirar é uma opção quando
eu finalmente consigo o que venho querendo por tanto tempo.

Um calor absurdo incendeia todo o meu corpo. Passo as minhas


mãos pelas suas costas, cintura e bunda. Delineando as curvas do seu
corpo com o meu toque. Agarro seus cabelos com força, e exponho o
seu pescoço. Passos meus lábios quentes para a pele macia, dando-lhe
tempo de recuperara o fôlego.

Eu quero tudo de Agnes Bellini, quero o seu corpo, o seu


coração e a sua alma.

Planto beijos no busto de Agnes. Com os movimentos da minha


boca, o tecido começa a expor seus seios fartos. Visualizo um bico
rosado. Chupo-o com delicadeza.

Ela é o paraíso. Uma amostra grátis de como o céu deve ser.

Seus gemidos fracos me levam para um mundo de luxúria e


devassidão. Agarro a bunda de Agnes com força, apertando a pele dura
e macia ao mesmo tempo.

—Vito... — A voz de Agnes sai contida.

Volto para mim. O que eu estou fazendo? Não posso possuí-la


pela primeira vez na vida na parede de um banheiro. Agnes merece ser
reverenciada como uma deusa. Nunca, jamais deve aceitar menos que
isso.

Me afasto dela, somente o suficiente para poder olhar no fundo


dos seus olhos. Seus lábios borrados e inchados me deixam extasiado.
Passo o dedo novamente por cima deles, delineando-os, admirando-os
maravilhado.

—Me desculpe. — Sussurro.

Planto um beijo em sua testa e outro em sua têmpora, com


carinho. Me movo para longe dela. A ereção marcada em meu terno
chama a atenção dos seus olhos atentos. Agnes cora. Estranho a sua
atitude.

Uma coisa absurda passa pela minha cabeça. Agnes ainda é


virgem? Se fosse, ela teria me impedido de chupar os seus seios, não?

Agnes percebe a sua nudez e se arruma rapidamente, cobrindo-


se. Suas bochechas estão rosadas. Ela parece desnorteada.

—Me desculpe. — Agi como um animal com ela. Se fosse uma


mulher mais sensata, teria se espantado com a minha atitude pouco
cortês.

—O... o que aconteceu aqui? — Gagueja.

Agnes se mantém pressionada na parede, como se estivesse se


escorando para não desmoronar no chão.

Não sei o que responder. Sou um homem atentado por gatilhos.


Quando Enrico me relatou os comentários de Agnes na boate, acionou
um gatilho em mim, comecei a flertar com ela. Contudo, ao escutar
que ela beijou Ethan Brown, é como se uma parte profunda e obscura
minha tivesse vindo à tona. Eu só queria chegar até Agnes e marcá-la
como minha.

—Nós continuaremos essa conversa em breve, Agnes Bellini.


Você é minha. — Me aproximo dela novamente e planto com
delicadeza um beijo em sua boca.

—S-sua?

Abro um sorriso malicioso.

Minha.

Existe algo sobre Agnes, que eu não consigo compreender


completamente. Não ainda.

—Até mais tarde, Agnes Bellini.

Saio do banheiro com um sorriso bobo no rosto. Isaac e Enrico


ainda estão aguardando no corredor. Quando meu irmão pousa os seus
olhos em mim, ele percebe que algo aconteceu. Que alguma coisa
mudou. E Enrico simplesmente sorri, como se estivesse dando apoio
para que o ainda está por vir. Pois, se Agnes acha que me contentarei
com um único beijo, ela está completamente equivocada. Eu a quero
por inteiro.

—A Costello Imobiliária! — Thomaz levanta o copo de Whisky


brindando comigo a mais essa conquista da empresa.

Os copos tilintam em uma batida animada.


O evento foi um grande sucesso, quase todos os apartamentos
foram vendidos e por preços excepcionais.

Thomaz me enviou uma mensagem para que viéssemos


comemorar. E cá estamos nós, bebendo ao grande sucesso da minha
empresa, que cresce a cada dia mais.

Tomo um gole da minha bebida, o liquido âmbar desce


queimando pela minha garganta, deixando-me automaticamente mais
relaxado. Eu estava realmente precisando disso, a semana foi
trabalhosa e cansativa.

—Seu pai ficaria feliz! — Thomaz abre um enorme sorriso.

Como meu amigo de infância, ele conheceu os meus pais e


conviveu com eles um bom tempo até o dia do fatídico acidente.

Quando os policiais apareceram em minha casa naquela noite


mórbida, Thomaz estava presente, estávamos bebendo e jogando
cartas, como costumávamos fazer todas as quintas-feiras. Foi um dia
terrível, o pior da minha vida.

—Sim, ficaria! — Disperso os pensamentos das mortes.

Relembrar àquela noite significa voltar no tempo e sentir


novamente todo o desespero e tristeza. Portanto, tento ficar o mais
longe possível dessas lembranças.

—Olá, rapazes!

Fecho os olhos e solto um suspiro profundo, irritado. Teresa vem


sendo invasiva ultimamente. Depois daquele dia na boate, não nos
falamos mais. E para ser bem sincero, sua companhia já não me causa
mais tanta satisfação. É como se algo entre nós dois tivesse se
quebrado.

—Olá, Teresa! Que prazer vê-la aqui. — Thomaz é cortês com a


modelo.

Não perguntei o que ocorreu entre os dois, mas sei que muito
provavelmente eles transaram. Como eu imaginava, isso não significa
nada para mim, pois não nutro sentimento algum pela mulher.

Adoraria que ela e Thomaz engatassem algum tipo de


relacionamento, creio que assim ela pararia de me perseguir por todos
os lugares insistentemente.

—Parece que você é o único que pensa dessa forma. — Não


preciso observá-la para saber que ela lança um olhar em minha
direção.

Thomaz solta uma risada de escárnio.

—Eu preciso ir descansar. — Pego o meu paletó do encosto da


cadeira e começo o movimento para me levantar.

—Espera, Vito! Só mais uma dose. — Thomaz segura o meu


braço.

Lanço um olhar de insatisfação para o meu amigo de infância.


Ele me conhece bem o suficiente para saber que não estou confortável
na presença da minha ex-amante. Posso denominá-la assim, pois não
andamos tendo mais nada. E agora que Agnes Bellini entrou em minha
vida, acredito que não teremos nunca mais.

—Por favor, cara! A saideira. — Súplica.

Solto um suspiro derrotado. Ele veio aqui somente para


comemorar o sucesso da minha empresa, eu devo a ele essa saideira,
afinal, dez minutos a mais não farão diferença alguma.

Sento-me novamente na cadeira. Teresa ocupa a do lado, ela


aproveita a proximidade do garçom para pedir a sua própria bebida.

Uma pergunta pisca em minha mente em luzes vermelhas e


chamativas, ela está me seguindo? Como Teresa poderia saber que eu
viria justamente aqui e nesse horário? Esse costumava ser o nosso
ponto de encontro, e eu não vinha mais do que o necessário.

Enquanto o garçom prepara nossas ultimas doses, aproveito para


ir ao banheiro urinar. Olho a hora no meu celular e constato que ainda
é cedo. Eu poderia ligar para Agnes e perguntar o que ela está fazendo,
mas tenho medo de ser desagradável aos seus olhos.

Retorno do banheiro e vejo Thomaz e Teresa em uma conversa


animada, nossos whiskys já foram servidos. Sento-me novamente e
continuo ignorando a presença da modelo.

Beberico alguns goles, tentando relaxar ainda mais, pois assim


posso chegar em casa e cair diretamente na minha cama em um sono
profundo.

Horas de sono é algo que veem me faltando ultimamente


—Então, Vito, quando sairemos novamente para aproveitar a
noite? — Thomaz está com um sorriso sacana nos lábios.

Estou prestes a responder quando uma leve tontura me assola.


Não comi nada o dia inteiro e agora estou aqui bebendo como um
louco, meu corpo está reagindo ao meu relapso comportamento.

—Está tudo bem, Vito? — Thomaz coloca a mão em meu ombro.

Chacoalho a cabeça tentando recuperar a visão. Minha sanidade


manda eu parar de beber, mas não a ouço. Viro todo o líquido âmbar
do copo em poucos goles.

—Sim. — Murmuro.

Está na hora de ir embora, contudo, eu pareço mais embriagado


do que pensei que estivesse.
Passo os dedos sentindo a pele macia dos meus lábios pela
milésima vez. E, todas as vezes, lembrando do beijo mais avassalador
e devastador que eu já tive em toda a minha vida.

Ontem, após Vito entrar no banheiro transtornado e tomar tudo de


mim com um único beijo, ele retornou para o evento e cumpriu o seu
papel de anfitrião. O homem conseguiu discursar incrivelmente bem,
conversar com as pessoas e ainda auxiliar na venda de mais
apartamentos. Enquanto eu, bom, eu só soube existir e mais nada.
Fiquei aérea, completamente fora de órbita. Não precisei falar nada
para Enrico e Isaac, é como se eles já soubessem e estivessem me
dando um tempo para raciocinar.

Não sei que horas são, eu mal conseguir pregar o olho essa noite.
Algo como tesão acumulado me fez ter uma péssima noite de sono.
Além, é claro, de repassar mentalmente cada detalhe do beijo obsceno
milhares de vezes, e por muitas e muitas horas.

Às vezes acho que tudo não passou de um sonho, um delicioso


sonho. É estranho, eu fiquei a vida inteira esperando que alguém fosse
capaz de conseguir me fazer suspirar apaixonada, de encher o meu
estômago de borboletas e anuviar a minha mente. E, justamente o
homem que eu mais odiei assim que conheci, conseguiu fazer tudo isso
com um único toque.

É ele. Meu cérebro gritava por cima da música que eu entoava


mentalmente, completamente emocionada com o momento. A letra de
You And Me do Lifehouse, ficou tocando na minha cabeça, conforme a
língua de Vito tomava todo o meu fôlego.

Minha barriga ronca, acordando para a vida a Agnes apaixonada


e sonhadora. Droga! Eu preciso comer alguma coisa e alimentar os
meus gatos. Não posso passar o resto da vida sonhando acordada.

Levanto da cama com um sorriso bobo no rosto. Faço a minha


higiene matinal, dou carinho e atenção para os meus felinos, limpo as
caixas de areia, troco a ração e a água, e faço uma lasanha congelada
para o almoço, sempre mantendo o sorriso.

Coloco uma música alta para tocar, uma clássica. O dia parece
tão alegre hoje, talvez eu possa dar uma volta no parque, ou ir tomar
um sorvete na sorveteria da esquina. Por qual motivo as cores parecem
tão vividas? Todas as pessoas se sentem assim quando estão
apaixonadas? E por que meu peito parece pesado? É mais fácil
escrever sobre o amor do que sentir.

Meu celular toca. Vou ver quem é com uma animação incontida.
O nome de Enrico aparece na tela. Fecho os olhos e tento acalentar o
meu coração animado. Preciso fingir indiferença, ao menos é isso que
os livros nos ensinam a fazer: “sempre fingir desinteresse”. Hora de
colocar em prática.

—Alô.

—Finalmente bela-adormecida.

—Nem é tão tarde assim, além do mais, é domingo.

—Um lindo, quente e iluminado domingo.

—O que você quer? — Sempre que Enrico vem com esse papo de
lindo dia é porque ele tem alguma coisa em mente.

—Venha para cá. Isaac também vem. E eu quero te mostrar uma


coisa. — Estranho a malicia na voz de Enrico.

Penso em Vito e no beijo. Eu deveria me sentir envergonhada, e


querer ficar longe dele. Mas eu não sinto isso, eu só quero vê-lo
novamente. Ver como agirá comigo. Diferente de como foi com Ethan,
eu quero me aproximar de Vito. Eu quero mais.

—Tudo bem. — Estava esperando ansiosamente por esse convite


e nem sabia.

—Drinks? — Enrico tem um fraco pelas bebidas da senhora


Cooper.

—Drinks! — O dia está tão lindo hoje, apto para boas bebidas na
beira da piscina. Afinal, por que não?

Desligo o telefone e começo a me arrumar com rapidez e


animação.

—Venha logo, antes que eles saiam. — Enrico basicamente me


arrasta para o segundo andar da sua casa.

Quando eu cheguei na frente da casa dos irmãos Costello, não


precisei bater na porta ou tocar a campainha. Enrico já estava me
esperando com certa aflição. Ele não me disse por qual motivo
exatamente.

—O que está acontecendo? — pergunto curiosa.

—Apenas saboreie-se com o momento.

Enrico me coloca de frente para a janela.

Uau! Nossa! A visão é realmente tentadora.

—Quem são eles?


—Os agentes de limpeza da piscina. Uma delícia, não?

Observo os cinco homens musculosos entrando e saindo da


piscina. Eles estão sem camisa, pois estão molhados. Os músculos
ficam mais visíveis conforme os movimentos que fazem. A visão é dos
deuses.

—Eu preciso de uma piscina. — penso alto.

—Às vezes eu sujo a piscina só para ter algum motivo para


solicitar o serviço deles. — murmura Enrico tão encantado quanto eu.

Olho para o meu amigo e abro um sorriso malicioso. Enrico não


presta!

—Talvez eu comece a derrubar algumas coisas também. —


brinco.

A pele bronzeada dos homens brilha sob a luz do sol, enquanto


eles trabalham incansavelmente, tentando deixar o ambiente apto para
Enrico.

— O que vocês estão fazendo? — A voz que me causa arrepios


soa logo atrás de nós. Dou um pulo e me viro imediatamente.

— Vito! — Enrico coloca as mãos no peito, tentando acalmar o


coração que bate aceleradamente.

Olho para o CEO. Vito semicerra os olhos em nossa direção. Ele


coloca as mãos na cintura, esperando uma explicação lógica do motivo
para Enrico e eu estarmos babando na janela.
— A janela estava suja. — minto.

A desculpa mais ridícula que eu já falei na vida, parece ainda


pior ao escutá-la em voz alta. Enrico se vira para mim imediatamente e
franze a testa, tentando entender a minha reação idiota.

—Hã... estávamos pegando um ar. — Dá de ombros,


complementando a minha mentira.

—Um ar com a janela fechada?

Não consigo raciocinar. Não com Vito vestindo nada além de


uma bermuda curta. Os gominhos do seu peitoral musculoso balançam
conforme o ritmo da sua respiração.

Engulo em seco.

—É... — Enrico não sabe mais o que falar.

Céus! Pensa, Agnes!

Vito se aproxima, tentando espiar pela janela o que estava


prendendo a nossa concentração. Arregalo os olhos, espantada com a
possibilidade de ele descobrir a minha depravação.

—Aí! — Me jogo no chão.

—Está tudo bem? — Vito se ajoelha ao meu lado e tenta


encontrar o motivo da minha dor.

Enrico me olha boquiaberto. Ele percebe o meu teatro e tenta


esconder um sorriso que insiste em aparecer.
—Ah, já está tudo bem! Foi... hã... só uma cãibra.

Vito não parece acreditar muito em mim, mas não fala nada. Ele
maneia a cabeça positivamente e se afasta, me ajudando a levantar.
Sua mão quente tocando na minha me dá uma sensação leve de
conforto.

Enrico me puxa com força.

—Vamos para a piscina, Agnes?

Olho para Vito. Ele disse que ainda conversaríamos sobre ontem.
Estranhamente, o CEO desvia o olhar do meu, e se afasta. Meu
coração falha uma batida com a sua atitude. Não sei o que eu esperava
exatamente quando o encontrasse. Talvez flores e uma declaração de
amor eterno? Minha essência de escritora romântica não esperaria
nada menos que isso. Contudo, eu gostaria de algo, menos a frieza e
distância que ele acabou de impor.

Cabisbaixa sigo Enrico para o primeiro andar. Deixando Vito


para trás.

Não consigo aproveitar a tarde. Enrico fala consecutivamente,


enquanto eu só quero voltar para casa e me jogar na cama. Isaac
chegou há algumas horas para nos fazer companhia. Observo os dois
brincando e se beijando romanticamente dentro da piscina. Não sinto
inveja, estou feliz por eles. Mas pensava que eu estaria assim hoje, e
não segurando vela para os meus amigos, enquanto o homem, objeto
do meu desejo, está em algum lugar dessa enorme casa me evitando.

Enrico parece perceber a minha desanimação.


—Agnes, vamos ir pegar alguns doces.

Sigo Enrico para dentro de casa, quando a campainha toca.

—Que estranho... eu não convidei mais ninguém. — Enrico muda


a direção, caminhando até a porta da frente. — Se for o senhor Jones,
ao menos você está aqui.

Ele abre a porta, escancarando-a, revelando o convidado


indesejado. Eu esperava ver qualquer pessoa, menos Teresa no rol de
entrada da residência Costello.

—Ah, olá, Enrico. — Ela cumprimenta o irmão do CEO com


educação. Posteriormente, me olha da cabeça aos pés e me ignora.

Sinto uma vontade gritante de esconder o meu corpo. Estou


somente de biquíni e ver o desprezo no olhar dessa mulher que eu
acho incrivelmente bonita mexe com a minha falta de confiança.

—O que você quer? — Enrico nem se dá ao trabalho de tentar ser


gentil com a mulher. Ele gosta dela tanto quanto eu.

Teresa abre um sorriso malicioso. Vendo que Enrico não irá


convidá-la para entrar, a mulher coloca a mão dentro da bolsa e retira
uma carteira de couro marrom.

—Entrega para Vito, ele esqueceu comigo ontem à noite.

Sinto falta de ar. Meu peito dói como o inferno. É como se ele
tivesse sido aberto e meu coração arrancado do lugar. Não consigo
esboçar nada, mas a visão turva denuncia que estou com lágrimas nos
olhos.

—Teresa? — Ouço a voz de Vito atrás de mim. O CEO passa


como um jato por nós e vai até a porta. — O que faz aqui?

Teresa amplia ainda mais o seu sorriso. Ela está gostando do que
está causando aqui.

—Você esqueceu a carteira comigo, querido. Só vim devolver. —


Vito arranca a carteira da sua mão com brusquidão.

—Obrigado. Pode ir embora. — Não sei o que me causa mais


dor, ele não ter negado que passou a noite com ela ou a minha
estupidez.

Enrico olha para os dois com nojo. Vito se mantem cabisbaixo,


incapaz de encarar o olhar do irmão. Meu amigo vem até mim.

—Vamos pegar os doces. — Enrico tenta me puxar, mas meu


corpo permanece imóvel.

Vito fecha a porta na cara da amante e se vira lentamente para


mim. Ele me olha com tristeza. Como um cão arrependido, pego no
pulo.

—Agnes...

Balanço a cabeça negativamente. Não quero ouvir nada. Não


quero mais ficar nessa casa, corro para o jardim. Isaac ainda está na
piscina, nadando tranquilamente.

—Agnes, o que aconteceu? — Isaac fica preocupado.


Não respondo. Se eu falar qualquer coisa vou começar a chorar
na frente de todos. E isso é o eu menos quero. Vito já arrancou o meu
coração do peito, ele não fará o mesmo com a minha dignidade.

Recolho as minhas coisas e visto rapidamente o shorts e a blusa


com os quais eu vim por cima do biquíni.

—Agnes, eu sinto muito. — Enrico aparece.

—Depois a gente se fala. — Respondo passando por ele como um


raio.

Enrico não me impede, nem Isaac. Como sempre, meus amigos


estão dando o tempo que eu preciso. Eles entendem o que eu estou
sentindo. Entendem que eu só quero ficar sozinha.

Passo pela sala de entrada correndo. Vito me olha transtornado,


ele caminha de um lado para o outro com as mãos na cabeça. O CEO
parece tão abatido quanto eu.

—Agnes, por favor. — Tenta se aproximar de mim.

—Não! — Abro a porta da frente, e com muita força, fecho-a. O


estrondo alto chama a atenção de algumas pessoas que estão passando
pela rua.

Caminho sem rumo, segurando a minha bolsa com força. Deixo


as lágrimas quentes descerem, banhando o meu rosto. Algumas
pessoas passam por mim, mas eu as ignoro. Devo estar mesmo
parecendo uma louca.
Me condeno a cada passo que dou. Sou uma idiota. Uma estúpida
idiota. Se eu não fosse como uma criança esperando o príncipe
encantado, meu coração ainda estaria intacto. Vito nem mesmo me
prometeu nada, porque eu estou me sentindo tão traída? Porque meu
coração parece despedaçado?

Suponha que eu nunca tivesse visto Vito Costello pessoalmente,


que eu nunca tivesse lhe conhecido, que eu nunca tivesse deixado que
ele me beijasse de um jeito tão doce e tão avassalador. Eu teria evitado
a minha própria queda? Possivelmente!

Eu nunca amei ninguém completamente, sempre fui com um pé


no chão todas as vezes que conhecia alguém novo, e por proteger de
verdade o meu coração, eu me perdi no som da voz de Vito Costello.
Na sensação das suas mãos no meu corpo. No cheiro do seu perfume.

Idiota! Idiota! Idiota!

Quem Vito Costello pensa que é, afinal? Andando por aí


coletando corações e deixando cicatrizes. Cretino! Desgraçado!

Queria que eu tivesse perdido o nosso primeiro beijo, mas eu não


posso voltar no tempo. A única coisa que sou capaz de fazer nesse
momento é descobrir como pôr de volta o brilho em meus olhos. O
brilho que ele conseguiu apagar.
Agnes não veio trabalhar na segunda, nem na terça, e nem no
restante da semana. Liz possivelmente sabe o que aconteceu, pois mal
consegue olhar na minha cara. Assim como o meu irmão tem feito.

Sou um maldito!

Eu deveria ter negado a saideira de Thomaz, mas pensei que uma


dose a mais de whisky não faria diferença, porém, de alguma forma no
outro dia eu acordei na cama do quarto de hotel ao lado da minha ex-
amante fixa.
Não lembro de ter ido para o hotel, nem mesmo lembro como foi
o sexo com ela. Estava muito bêbado para isso. Quando acordei, tentei
me convencer de que não era uma traição, eu não tinha nada com
Agnes, só trocamos um beijo. No entanto, meu coração não aceitou
isso. Fui para casa devastado, esquecendo até mesmo a carteira, coisa
que nunca tinha acontecido antes. Mas o pior de tudo isso, foi ver o
rosto de Agnes. A dor em seus olhos. O desprezo em seus gestos. Ela
me odeia, e não há nada que eu possa fazer quanto a isso.

Observo a cadeira à minha frente vazia. O escritório parece frio e


escuro sem Agnes por perto. É como se a presença da escritora
preenchesse o ambiente com luz e calor.

Apesar de me sentir um lixo, não há mais nada que eu possa fazer


para mudar isso. Tenho que aceitar o fato e seguir em frente. Espero
que com o tempo, Enrico possa me perdoar. Mas, acima de tudo, que
eu mesmo consiga fazê-lo.

Agnes Bellini

Entro no escritório decidida. Passei a semana passada inteira


absorta no maldito livro que me trouxe até Vito Costello. Não
consegui terminar, é claro. Mas fui capaz de dar uma boa adianta
agora que tenho um modelo real de cretino para me inspirar.

Não chorei, não depois de domingo. Decidi que Vito, nem


qualquer outro homem, mereceriam as minhas lágrimas.
Enrico foi me visitar algumas vezes com Isaac. Eles compreender
perfeitamente o meu comportamento e me apoiam. É óbvio que eu
contei para eles tudo o que aconteceu no banheiro. Somos um trio.
Não há segredos entre nós, e por mais que eles achem um absurdo eu
ser virgem aos vinte e cinco anos, me apoiam com qualquer atitude
que eu queira tomar. Ao menos a entrada de Vito Costello trouxe algo
de bom para a minha vida. Amigos verdadeiros.

—Oh! Agnes. — Liz corre em minha direção e me dá um abraço


apertado assim que me vê. — Você está linda!

—Obrigada, senti saudades! — Abraço-a de volta.

Mantive contato com Liz todos esses dias. Ela é outra que sabe
de tudo, também não há segredos entre nós.

Para ocupar a minha mente, em um dia em que eu não estava


produtiva. Fui até um salão perto da minha casa e solicitei uma
mudança de visual. Meus cabelos já loiros, ficaram ainda mais claros
com as luzes. A química realçou o meu rosto, me deixando realmente
mais bonita.

Me afasto de Liz e respiro profundamente. Hora de reencontrar


Vito Costello. Me direciono para a sua sala ainda com os mesmos
passos decididos. Abro a porta sem bater. Vito está cabisbaixo, lendo
alguma coisa em seu computador. Ele usa os óculos de grau que lhe
dão um ar mais sério e, consecutivamente, mais sexy. Quando sua
atenção foca em mim, ele engole em seco, e fica sem reação.

Me preparei a semana inteira para isso, idealizando mentalmente


a reação que eu deveria ter, como eu deveria agir. Contudo, ao vivo e a
cores é diferente. Não sinto a segurança que eu presumia, nem mesmo
a corarem que eu julgava.

Vito Costello

Ver Agnes não estava nos meus planos para encarar uma manhã
de segunda-feira. Muito menos quando ela entrou na minha sala tão
decidida de si, com os cabelos iluminados, os lábios e os olhos
pintados. Acredito que o meu cérebro tenha apagado um pouco a sua
beleza para acalentar o meu coração abatido.

— Oi. — falo.

Agnes não responde. Ela caminha até a sua cadeira e senta em


seu lugar, mas antes, atira uma pilha enorme de papéis na minha
frente. Minhas sobrancelhas franzem, sem entender o que significa.

— Aí está metade do livro. Pode ler e apontar as coisas que


quiser que eu mude. — Seus olhos são frios e distantes. — Espero que
aprecie a leitura. — Ela abre um sorriso debochado.

Eu sei o que isso significa. Agnes me rotulou como o desgraçado


da história que eu queria. Todavia, algo mudou nos últimos dias e eu já
nem sei mais se ainda quero isso. O livro não parece ser mais tão
importante assim.

Sem falar nada, recolho a pilha de papéis e guardo-a na primeira


gaveta da minha mesa.

Meu coração sangra ao saber que em uma semana ela conseguiu


construir metade do livro, pois isso significa que ela está mais
próxima do que nunca de se ver livre de mim para sempre. Eu deveria
adorar isso, deveria desejar isso. Eu não gostava de Agnes, ou tentava
não gostar. Mas, em algum momento, a escritora atrapalhada e tímida
conseguiu penetrar as barreiras do meu coração. E hoje, ela é tão
importante para Enrico quanto é para mim.

Passo o restante da manhã em completo silêncio, tentando me


concentrar no meu trabalho, o que é impossível, considerando que a
garota sentada à minha frente suga a minha atenção a cada instante.

Cansado desse clima tenso. Jogo a caneta que estava em minha


mão com força na mesa. Agnes me olha com a testa franzida.

— Olha, me desculpe...

— Eu não quero saber. —interrompe.

— Eu não sei o que aconteceu, Agnes. Eu fui completamente


sincero com você naquele banheiro.

— Coletor de corações... — murmura.

Ignoro o seu sarcasmo.

— Eu saí para beber com um amigo após o sucesso do evento. Eu


queria comemorar e relaxar. Passei a semana inteira trabalhando para
que tudo ocorresse bem. Teresa chegou ao local, eu não a chamei, nem
queria a sua presença. Eu continuei bebendo, e no fim, não lembro de
mais nada, só de acordar no outro dia de manhã seminu em um quarto
de hotel. — Agnes não esboça uma única reação. Ela está tentando
fingir sentir indiferença pelo ocorrido.

—Não importa mais... — sussurra por fim.

Fecho os olhos com força. Estou cansado disso tudo. Fisicamente


e mentalmente exausto. Agnes e eu não tínhamos nada, trocamos um
beijo e algumas promessa, nada além disso. Mas foi tão importante
para ela quanto foi para mim. Se eu pudesse voltar no tempo e jamais
ter ido naquele maldito bar, ou ter bebido menos, eu voltaria e mudaria
o passado.

—Eu sinto muito. Gostaria que as coisas tivessem sido


diferentes. — Sou sincero.

Os olhos de Agnes começam a lacrimejar. A visão é demais para


mim. Não posso vê-la chorando, não quando eu sou o motivo das suas
lágrimas. Junto as minhas coisas e me levanto subitamente da cadeira.
Ela se assusta com a mudança brusca do meu comportamento.

—Eu... eu vou ir almoçar. — falo e saio da sala sem olhar para


trás.

Eu não esperava ouvir um pedido de desculpas de Vito, isso


mexeu muito comigo. Ele é um homem bonito e importante, não
precisava se dar ao trabalho de tentar se redimir comigo, alguém
irrelevante em sua vida. E para piorar, eu senti que o CEO foi sincero.
O que me resta agora é tentar esquecer que tivemos essa conversa e
seguir em frente.

Espero que algum dia eu encontre alguém que faça eu me sentir


quente como Vito faz. Alguém que me incendeia com poucos toques.
Alguém que me faça planar.

—Agnes. — Saio dos devaneios ao ver Liz me esperando com a


porta do escritório do CEO entreaberta.

—Vamos ir almoçar?

—Vamos.

—Eu vou arrumar as coisas na sala de reuniões.

—Não.

Liz me olha de forma curiosa. Seguir em frente significa colocar


um ponto final em todos os assuntos pendentes. Eu ainda tenho um
que venho ignorando nas últimas semanas. Está na hora de ser madura
e encarar o problema.

—Vamos para a cantina.

—Você tem certeza? — Liz provavelmente está achando que eu


enlouqueci de vez. Passei os últimos dias atormentando-a e me
escondendo em todos os cantos, e agora, eu simplesmente quero
aparecer no lugar mais movimentando e com maior concentração
pessoas da empresa.
—Sim. Vamos. — Me levanto e sigo com ela até o andar
indicado.

Não estou em êxtase por fazer isso, para falar a verdade, me sinto
um pouco nervosa. Depois do vexame que Enrico, Isaac e eu passamos
no evento, as pessoas começaram a comentar. Se antes eu era uma
desconhecida, agora quase todos sabem da minha existência.

A cantina está lotada como sempre. O cheiro de comida impregna


todo o ambiente. Alguns olhares curiosos e sussurros são direcionados
a mim. Tento manter uma máscara impassível de indiferença.

—Sabe, eu te achei mais magra. — Comenta Liz enquanto nos


sentamos em nosso lugar de costume.

—Ah, eu tenho gastrite nervosa. Com tudo isso que vem


acontecendo, eu vomitei algumas vezes durante a manhã.

Liz me olha boquiaberta.

Um problema decorrente após a morte dos meus pais. Além de ter


falta de confiança, tenho a gastrite. Todas as vezes em que começo a
enfrentar problemas complicados, ou ficar muito nervosa, acordo
durante a manhã enjoada. Tomo o café e coloco tudo para fora poucas
horas depois, isso quando eu não sinto dor. A última vez que eu tive
uma crise dessas, foi quando o meu nome foi revelado como a autora
de Eu Sou Sua, passei semanas tenebrosas.

—Eu sinto muito. — Liz não sabe bem o que falar.

Abro um sorriso que não chega aos olhos. Só quero confortá-la.


—Não se preocupe, Liz. É só uma forma do meu corpo me alertar
de que estou sobrecarregada. — Não é mentira. Já estou acostumada
com essas crises. Quando as coisas voltam ao normal, eu nem lembro
mais que tenho gastrite.

—Ei, Agnes. — Alguém me chama.

Solto um longo suspiro. Eu sabia que isso iria acontecer. Estou


preparada, ou não, para enfrentar mais esse problema.

Olho para Ethan e abro um sorriso simpático. Ele é um cara


bacana, merece alguém tão legal quanto, para se apaixonar e criar uma
família. Eu não sou essa pessoa, sou problemática demais e
excessivamente romântica. Ethan não me trouxe as borboletas, eu não
seria feliz com ele. Passaria a vida toda me condenando por ter casado
com alguém que não é o meu alguém.

—Olá, Ethan!

—Eu tentei falar com você nas últimas semanas.

—Eu estive doente. — Não é bem uma mentira. Passar a semana


em casa depressiva, vomitando até as tripas e tentando ver as cores
vividas novamente pode ser considero uma espécie de doença.

—Você está melhor agora? — Ethan parece realmente


preocupado.

—Sim. Agradeço a preocupação.

—Eu gostaria de falar com você.


—Podemos marcar alguma coisa? Um jantar ou café? Eu não
gostaria de ter essa conversa na empresa. — Olho para os lados e vejo
que estamos sendo observados. Ethan faz o mesmo e parece concordar
comigo.

—Sim. Eu envio uma mensagem com a hora e local. Tudo bem,


para você?

—Sim, Ethan. E, obrigada!

Ele só balança a cabeça positivamente e se afasta novamente.

—Finalmente, pobre Ethan, ele estava merecendo uma


explicação. — Liz abre sua embalagem de pote de plástico que faz um
barulho irritante.

—Eu sei, sou uma péssima pessoa.

—Claro que não, Agnes. Você estava confusa, eu entendo, mas


agora está na hora de libertar Ethan, não acha? — Liz para o que
estava fazendo e me observa.

—Sim. Está na hora de todos nos libertarmos.

Tive uma conversa esclarecedora com Enrico e Isaac ontem à


noite. Eles me induziram e conversar logo com o engenheiro.
Perguntaram se eu tinha ainda algum interesse nele, se não fosse ao
caso, deveria deixar isso claro e parar de fazer o rapaz de idiota. Fui
uma cretina, fiz com Ethan a mesma coisa que Vito fez comigo, talvez
nós dois não sejamos tão diferentes, afinal.
Visitarei os meus avós no Summer Bank Holiday. Viajarei para
Weymouth e passarei o fim de semana na companhia das duas pessoas
que eu mais amo no mundo todo. No momento, eu preciso deles para
seguir em frente, para estimular a minha melhora psicológica. Vovó
me conhece bem, ela perceberá que há algo estranho comigo, mas sabe
me dar espaço, se eu optar por não revelar o verdadeiro motivo do meu
tormento, ela vai entender e respeitar.

Os dias estão passando tão rapidamente. Em breve, o Summer


Bank Holiday marcará o fim do verão. E eu só terei pouco mais de um
mês antes do prazo que dei a Vito Costello para terminar o livro
chegar ao fim. Por enquanto, esse não é o problema. Eu poderia
terminar o livro essa semana com a minha mente fértil atualmente.
Consegui remeter para o personagem o ódio que sinto do Vito real.
Contudo, eu estou gostando de trabalhar na empresa. Gosto de Liz,
gosto até mesmo de ter um horário para cumprir. Sentirei falta de tudo
isso e, infelizmente, de Vito Costello também.
Não sei qual semana foi pior. A que Agnes não compareceu ou
essa última, a que ela esteve presente todos os dias e me ignorou com
veemência.

Enrico retornou a conversar comigo, mas um pouco contido. Eu


contei para ele o que aconteceu, que não me lembro de nada, e que me
sinto completamente culpado. Meu irmão foi enfático ao falar:
“cafajeste merece sofrer mesmo”. Não obtive clemência nem da minha
própria família.

Entro no restaurante lotado que combinei com Thomas. Faz uma


semana desde que eu falei para Agnes que sentia muito. Hoje, após os
sete longos dias e nada ter mudado, marquei com meu amigo um
almoço para espairecer e aguentar mais uma semana na sua
companhia.

Thomas já estava me aguardando na mesa quando eu cheguei. Ele


me cumprimentou um pouco cabisbaixo. Seu desanimo me deixou em
alerta.

—Qual é o problema, Thomas? — Pensei que o depressivo seria


eu. Meu amigo de infância sempre foi um homem animado, poucas
coisas lhe deixaram triste de fato.

Thomas solta um suspiro e bebe alguns goles da sua água com


limão e gelo. Ele olha para os lados e passa as mãos nos cabelos.

—Eu fui demitido. — Dá de ombros. Ele tenta fingir que isso não
está lhe incomodando, quando na verdade, é o contrário. Ele gostava
do emprego.

—Eu sinto muito. — Enquanto eu sofro por uma mulher que


nunca nem se quer foi minha, Thomas sofre por coisas mais reais,
como o seu meio de sustento.

Sou muito egoísta. Estou aqui reclamando da vida por causa de


uma paixão. Enquanto há pessoas no mundo com problemas reais.
Devo usar o caso de Thomas como exemplo para colocar meu ânimo
em dia.

—Você vai encontrar um novo emprego.


—Não sei. O mercado de trabalho está concorrido no meu ramo.

—Não seja bobo. Você estudou em renomadas escolas e trabalhou


em uma empresa conhecida. É claro que tem uma ótima pontuação.

Thomas abre um sorriso falso. Ele não quer que eu me preocupe


com a sua situação, por isso está tentando mudar o foco do assunto.

—E qual é o seu problema? — indaga curioso.

—Como é?

—Eu conheço você perfeitamente bem, Vito, sei que há algo


tirando os seu sossego.

Droga! É a minha vez de soltar um suspiro e desviar os olhos. Eu


gosto de Thomas, e confio nele, afinal, ele é um grande amigo meu.
Não posso conversar sobre Agnes com Enrico, ele não é imparcial,
meu irmão ficou dias sem falar comigo por causa da garota. Ele se
importa muito com ela para entender os meus motivos, ou me
entender.

—Eu não deveria ter dormido com Teresa sábado retrasado. —


Confesso o motivo de todos os meus problemas.

Thomas solta uma risada de escárnio.

—Por quê?

Não vou falar de Agnes, não agora que não temos nada e nem
teremos. Deixarei a escritora no anonimato, para que possa viver em
paz e seguir a vida como se nunca tivesse me conhecido.
—Eu não deveria. — Sou enfático.

Thomas abre um sorriso malicioso, e semicerra os olhos.

—Bom... mas você não dormiu.

Meu coração acelera. Olho subitamente para ele. Respirar se


torna uma tarefa difícil. Fico em silêncio por alguns segundos
tentando compreender se ele realmente falou o que eu ouvi, ou foi
simplesmente a minha imaginação me pregando uma peça. Estou tão
desesperado nessas últimas semanas, me afundando em uma onda de
culpa, que temo se tratar de um sonho.

— O quê? — Encontro minha voz em algum lugar escondida no


fundo da minha alma.

Eu poderia ter tentado reconquistar Agnes e parar de me culpar,


mas a escritora é irreversível em suas escolhas. Agnes é uma mulher
que passa confiança com a mesma intensidade que recolhe. Com ela,
não há meias escolhas. Portanto, mesmo que eu me pintasse de ouro e
aparecesse na porta de sua casa, ela não me aceitaria de volta.

A risada zombeteira de Thomas me tira dos devaneios. Meu


amigo está me irritando atualmente. Eu não gosto de meias palavras ou
enigmas, não tenho paciência para isso.

— Eu dormi com Teresa, Vito. — Sinto um baque em meu peito.


Uma sensação de alívio que me deixa em êxtase. — Espero que não
fique chateado, mas você deu carta branca, estão estamos curtindo
algumas vezes. — desculpa-se.
Chateado? Eu quero pular de alegria.

—Como eu acordei seminu no quarto de hotel ao seu lado, então?


— Alguma coisa nessa história não fecha.

Thomas revira os olhos e bebe mais alguns goles da sua água,


antes de complementar a resposta anterior.

—Você bebeu e morreu, cara. Eu precisei te levar para o hotel,


Teresa tirou sua roupa para que dormisse confortavelmente. Você ficou
desmaiado, enquanto ela foi para o quarto ao lado, o meu. Ela passou a
noite comigo. Não sei por qual motivo voltou para o seu lado depois.
Eu só sei que, no estado em que você estava, não conseguia nem abrir
os olhos, quem dirá levantar outra coisa. — Ele lança um olhar para o
meu colo, dando ênfase em sua resposta.

Minha risada seguinte sai um tanto estrambelhada. Nunca pensei


que não transar com uma mulher seria motivo de alegria para mim.

—Obrigado, Thomas. — Ele me olha ainda sem compreender


nada. E dá de ombros. — Aliás, se não encontrar nada, passe no RH da
empresa, certamente terá uma vaga para você.

—Aonde você vai? — Pergunta assim que me levanto


subitamente.

—Preciso resolver algo muito importante. — Respondo já saindo


correndo do restaurante, seguindo o caminho de volta para a Costello
Imobiliária.
Agnes Bellini

Entro no elevador privativo do CEO com uma pilha de papéis em


mãos. Resolvi ajudar Liz em algumas atividades quando estou sem
ideias para a história do livro. É muito entediante passar um dia inteiro
esperando a hora do expediente acabar quando minha criatividade não
acorda comigo na manhã. Sou uma escritora e não uma máquina, há
dias produtivos, consigo escrever muito em poucas horas, mas também
há os momentos em que nada rende, não sai uma única linha. E é
nesses dias que passarei a ajudar Liz, como uma forma de ocupar a
minha mente, ou enlouquecerei, e para o meu desgosto, hoje é um
deles. Uma segunda-feira da qual eu acordei irritada, cansada e com
baixa produtividade.

Minha amiga me explicou que só a equipe privativa do CEO pode


usar o elevador, como assistente pessoal, estou entre as pessoas da
lista. Fiquei imensuravelmente feliz com a notícia. Não é que eu não
goste de pessoas, só prefiro evitá-las, ficar quieta no meu próprio
mundo. O elevador comum está sempre abarrotado, parando em todos
os lugares, nada privado.

Cantarolo uma música clássica enquanto observo os números


fazendo um movimento decrescente. Espera, o quê?

— Mas que droga! — Aperto o botão da cobertura com força.

Essa porcaria era para estar subindo e não descendo. Será que
trancou? Aí meu Deus! Eu não trouxe nem mesmo o meu celular.
Céus!

— Isso não pode estar acontecendo. — murmuro.

O elevador finalmente para e eu quase me ajoelho no chão para


agradecer a Deus, quando as portas se abrem e vejo Vito parado. O
CEO percebe a minha presença e abre um enorme sorriso. Estranho o
seu comportamento.

Meu corpo sente uma mudança na energia do ar. Colo minhas


costas na parede traseira e engulo em seco.

— Voltou cedo. — comento, tentando dissipar o nervosismo da


minha voz.

Vito entra no elevador, aperta um botão e as portas se fecham.


Contudo, ele não aciona o botão que vai para a cobertura. O elevador
para, como se tivesse travado. Espalmo as mãos na parede ao lado,
tentando me manter em pé.

— O que está acontecendo? — pergunto preocupada. Certamente


morrer em um elevador não está nos meus planos de morte romântica.

Sem esperar, Vito joga os papeis que estão em minhas mãos com
força no chão. Ele choca o seu corpo ao meu e beija a minha boca de
forma possessiva. Meu cérebro entra em pane por alguns segundos.
Tento afastá-lo, ele me machucou uma vez, pode fazer novamente.
Mas seu hálito de menta me deixa inebriada, juntamente com a
sensação da sua língua macia acariciando a minha.
Ah, dane-se!

Agarro os cabelos sedosos de Vito, sentindo a maciez nos meus


dedos. Vito aperta a minha cintura com força, como se fundir os
nossos corpos pudesse nos manter juntos para sempre. Ele larga a
minha boca, me dando um tempo para respirar. Seus lábios quentes
fazem um rastro pelo meu pescoço e busto exposto. Uma das mãos de
Vito agarra a minha nuca, me deixando em uma posição firme para
explorar a pele macia. Sua boca chega a curva dos meus seios, ocultos
pela camisa branca. Sem perceber, Vito abre a minha camisa e abaixa
as alças do sutiã. Ele se farta com meus seios inchados de tanto tesão.

—Céus! Você é tão perfeita. — sussurra. Sua voz envia arrepios


para todo o meu corpo.

Estou perdida em uma névoa de tesão e luxúria, cedendo ao


pecado. Fervendo em chamas.

Vito lambe o bico dos meus seios rosados e um gemido


involuntário sai dos meus lábios. Deus! Entrarei em combustão.

Agnes, não pense em Deus em um momento desses. Já estou


pecando o suficiente para que o padre me faça rezar oitocentos pai-
nosso.

O CEO puxa a minha saia, acumulando-a em minha cintura. Ele


passa os dedos pelo tecido fino da minha calcinha rendada.

Uma voz mecânica soa no elevador, me trazendo de volta para a


realidade:
— Senhor Costello, está tudo bem aí?

Ouço o ranger de dentes de Vito. Ele afasta a boca dos meus


seios desnudos somente o suficiente para poder responder ao homem.
Com uma mãe, ele aperta um botão e fala:

— Sim. Pode voltar ao trabalho.

— Oh! — O funcionário parece ficar envergonhado. — Sinto


muito atrapalhá-lo, senhor. O elevador estava parado há tanto tempo...
é... desculpe.

Vito solta o botão e se vira para mim. Seus lábios estão inchados
e seu nariz vermelho por conta da sacanagem que estamos fazendo.

Espera!

Eu sou virgem!

Meu pai amado!

Eu não posso simplesmente perder a minha virgindade no


elevador, e ainda mais, com Vito Costello. Esse homem deve ser
esculpido pelo próprio diabo para conseguir me seduzir de uma forma
tão devassa.

Envergonhada, empurro as mãos dele para longe. Sem olhar em


seus olhos, arrumo minhas roupas, tentando manter o resto de
dignidade que ainda me sobrou desses últimos meses.

— É... não podemos.


Como se o próprio capeta sussurrasse em meu ouvido para agir.
Lanço um olhar curioso para a calça de Vito e vejo a sua
masculinidade palpável.

Santa Maria! Sou uma pervertida.

— Agnes. — Vito coloca uma mão em meu queixo e me força a


olhá-lo. — Eu não transei com Teresa.

Ok! Eu esperava ouvir qualquer coisa, menos isso.

— O quê?

— Thomas dormiu com Teresa. Eu desmaiei depois de beber


muito e eles não conseguiram me levar para casa. — Ele sorri, como
se essa fosse a solução para todos os nossos problemas. — Eu só não
entendo o motivo dela não ter revelado isso antes. — acrescenta
pensativo.

Meu coração já acelerado, bate descompassado. Não quero criar


expectativas, elas doem. Por mais que Vito e eu não tenhamos nada,
não consegui suprimir o sentimento de traição quando a mulher
chegou à sua casa carregando a sua carteira. Eu tentei ser madura.
Falei inúmeras vezes de que não importava, mas a verdade é que
importava antes e importa agora. Ouvir da sua boca que foi tão
enganado quanto eu, me traz uma sensação de alívio.

—Isso é bom. — murmuro.

Minha cabeça está rodando, não sei o que pensar direito.


Vito cola novamente a sua boca na minha. Uma mão atrevida faz
todo o caminho da minha coluna, chegando à minha bunda. Ele
começa a levantar a saia novamente.

Deus!

Eu sei o que ele quer e, sinceramente, eu também quero isso, e


muito! Mas devo me apegar aos fatos. Número um: SOU VIRGEM;
Número dois: ESTAMOS FALANDO DE VITO COSTELLO; Número
três: ESTAMOS EM UM ELEVADOR. E, por último, mas não menos
importante, eu ainda não confio cegamente no CEO.

Afasto Vito novamente. Estou prestes a revelar uma bomba, isso


porque alguns homens fogem de virgens assim como o diabo foge da
cruz. O que, claro, para mim não importa. Afinal, se o homem foge,
significa que só queria sexo.

Vito me olha com a testa franzida. Solto um longo suspiro antes


de falar.

—Eu sou virgem.

Silêncio mortal. Vito arregala os olhos e fica sem piscar por


alguns segundos. Consigo ouvir somente o barulho das nossas
respirações elevadas.

—Virgem? — Vito encontra a voz em algum lugar.

—Sim. — Dou de ombros.

—Isso é... diferente.


Vito Costello está acostumado a ter todas as mulheres que quer.
Virgindade para ele parece uma novidade, não sei se alguma vez na
vida ele andou com uma virgem.

Algumas mulheres não se importam com essa condição, mas eu


sempre achei minha virgindade algo para ser cuidado e guardado.
Acredito que seja um momento importante na vida de uma mulher,
uma etapa marcante, o fim de um longo ciclo.

—Então é isso... — Não sei como quebrar o silêncio. Já estou


ficando ansiosa aguardando que Vito tenha alguma reação.

Ele abre um sorriso malicioso. Um brilho de satisfação masculina


atravessa o seu olhar. Ele parece orgulhoso ao constatar que poderá ser
o meu primeiro homem.

—Você tem algum pré-requisito para o fim dessa... condição?

Eu poderia falar que não, só o tempo. Afinal, eu estava esperando


alguém que me fizesse planar, e Vito faz isso. Porém, quero testar o
interesse do CEO por mim.

—Casamento.

Não é uma completa mentira. Eu adoraria casar virgem, o padre


da igreja dos meus avós ficaria orgulhoso, e meus avós honrados por
terem educado a neta religiosamente bem. Mas eu não acredito nem
por um único momento que irei para o inferno por perder a virgindade
antes de casar. Eu adoro ser católica, respeito muito a religião, e amo
Deus acima de tudo.
Vito balança a cabeça consecutivamente de forma positiva, como
se ainda estivesse assimilando a minha resposta. Sinto vontade de rir,
mas consigo manter uma máscara impassível.

—Bem... isso é intenso. — Céus! Eu vou começar a gargalhar.

—Meus avós são católicos praticantes... — Acrescento.

—E você é contra qualquer coisa que a igreja considere pecado


contra a castidade? — Pergunta com uma curiosidade palpável.

Eu sei o que Vito está tentando descobrir. Bom, eu sou virgem e


continuarei sendo até me sentir pronta, mas isso não significa que eu
não tenha curiosidade em experimentar outras coisas. Quero me perder
novamente no mundo da luxúria.

—Não, só quero deixar o hímen intacto. — Quase acrescentei um


“por enquanto”, mas quero levar isso adiante. Testar os limites do
CEO, ver até onde ele vai.

Vito acaricia a minha bochecha com o polegar. Ele segura o meu


rosto com as mãos como se estivesse garantindo que sou real.

—Eu quero você Agnes, independentemente de qualquer coisa.

Suas palavras atingem um lugar profundo na minha alma. As


malditas borboletas voltam a voar, só que dessa vez com mais
intensidade. Desde o primeiro momento, recebi vários alertas
corporais de que Vito Costello era o homem pelo qual eu vim
esperando. Contudo, eu ainda não sei se ele veio para dar cor ao meu
mundo, me fazer flutuar e me mostrar o que é felicidade plena, ou
arrancar de vez o coração que eu ainda tenho. E isso, só o tempo
poderá revelar. Por enquanto, me perderei nos braços do CEO.

—Então bem-vindo a aventura que é a minha vida, Vito, porque


eu também quero você. — digo com sinceridade.

Um sorriso diabólico delineia os lábios do homem que é o pecado


encarnado. Vito Costello, mesmo em silêncio, me promete inúmeras
coisas libidinosas somente com o olhar.
—Você já marcou o jantar com o Ethan? — Pergunta Liz.

Vito saiu para uma reunião de negócios. Em breve, a Costello


imobiliária inaugurará outro prédio, tendo como engenheiro principal
Ethan. A inauguração ocorrerá em menos de um mês, o que acaba
ocupando os dias do CEO.

Estou escorada na mesa de Liz, aproveitando os momentos de paz


sem Vito, ou popularmente falando: “matando trabalho”, se bem que,
desde ontem, após nossos momentos decisivos no elevador, o CEO
vem me tratando incrivelmente bem, não só a mim, como a todos da
empresa. Seu bom-humor já é objeto de fofocas pelos corredores.

—Sexta-feira. — Dou de ombros.

Consegui postergar o meu encontro com Ethan por mais uma


semana. Contudo, agora que Vito e eu estamos tendo algo ainda
inominado, não posso mais fazer isso com Ethan, seria desleal da
minha parte. O engenheiro está trabalhando arduamente para
conquistar o meu coração. Vivo recebendo mimos seus que vão desde
buquês de flores caros, até comida para os gatos.

—Finalmente, eu já estava ficando nervosa com toda essa


enrolação.

Solto um suspiro exasperado. Ethan é um homem insistente.


Pensei que após não ter retornado as suas ligações ou ter lhe ignorado
na empresa, o engenheiro me deixaria em paz, ledo engano.

—Eu pensei que ele não seria tão insistente.

Liz solta uma risada debochada, involuntariamente, ela leva um


lápis a boca.

—Ethan está apaixonado por você, e enquanto outro homem não


aparece para disputar o território, ele continuará trabalhando nisso.

Às vezes eu cogito que a insistência de Ethan aumentou em


níveis drásticos após ele descobrir que ainda sou virgem. Mas tento
não pensar muito nisso, pois parece estranho. No entanto, não posso
ignorar o fato de que o engenheiro parece ter passado a ter como meta
de vida a retirada da minha virgindade. Estremeço somente com a
ideia.

—Bom... tem Vito, mas eu não quero que ninguém saiba de nada.
Nem eu mesma sei o que temos.

Um sorriso sacana delineia os lábios da secretária.

—Vocês estão se conhecendo, e, muito em breve, Vito passará a


conhecer cada centímetro do seu corpo. — Seus olhos vagueiam-me de
cima a baixo, dando ênfase em suas palavras.

Reviro os olhos. Liz acha que eu preciso perder a virgindade de


uma vez. Ela acredita que estou perdendo um tempo precioso da minha
vida ao não saber como é o sexo. É claro que eu tenho curiosidade,
mas ainda não me sinto preparada para me entregar dessa forma a
Vito.

—Sabe, eu já ouvi boatos sobre Vito. — Ele mexe nas pontas dos
cabelos, tentando fingir inocência. Com o meu silêncio, Liz continua
suas divagações. — Ouvi falar que o CEO é incrível entre quatro
paredes.

Inevitavelmente, minhas bochechas pegam fogo. Céus! Eu sinto


um pouco de vergonha de falar tão abertamente no assunto.

—Então ele já teve muitas companheiras. — Constato.

Eu sei que Vito não é um santo. Mas saber que o CEO passou por
tantas camas antes de me conhecer, faz com que um sentimento de
ciúme sem sentido brote em meu peito.
—Teve, e te garanto que todas saíram satisfeitas.

—Que bom para elas.

Liz revira os olhos e bufa.

—Aproveite a vida, Agnes, ela é passageira.

Parece que não é só Ethan que tem como meta de vida me fazer
perder a virgindade, Liz está no mesmo time. Enrico e Isaac não ficam
muito para trás também.

Dependendo das atitudes de Vito Costello, minha virgindade está


mais perto de acabar do que todos imaginam.

Vito Costello

Virgem! Isso é novidade para mim. Nunca na vida eu andei com


uma mulher que não fosse experiente. Portanto, pela primeira vez em
todos os meus anos de experiência com mulheres, eu não sei muito
bem como agir com Agnes. Não quero que ela me ache um pervertido,
tenho medo de passar do controle e magoá-la de alguma forma.

Passei o dia em reunião com o grupo de construção do novo


prédio da Costello. Em poucas semanas irei pessoalmente na obra ver
como andam as coisas. Dessa vez, o engenheiro principal é Ethan
Brown, e mesmo que eu tente, não consigo deixar de implicar com o
desgraçado desde que soube que ele beijou os lábios de Agnes.
Toco a campainha da porta e aguardo. Não consegui me despedir
da escritora, muito menos vê-la durante a tarde, desta forma, resolvi
passar no seu apartamento antes de ir para a minha própria casa.

Ouço um murmurinho dentro do local. Agnes está conversando


com alguém, mais alguns barulhos de passos e a porta é aberta. A
escritora não usa nada além de um short de linho e uma regata sem
sutiã. Simplesmente magnifica.

—Ah, oi. — Ela parece envergonhada.

—Oi. — Abro um sorriso de canto.

Agnes é encantadora. Seu jeito meigo e inocente me enreda cada


vez mais em uma teia de sentimentos ainda inominados.

—Entre. — Ela abre ainda mais a porta, dando espaço para mim.

Passo por ela sem pestanejar. De cara, já vejo dois dos três gatos.
Os bichanos me assustam um pouco. Eles me encaram como se
estivessem esperando algo.

—Ah. Está na hora do sachê. — Agnes abre um armário e retira


uma lata de dentro dele. Ela serve os três potes. Um deles com uma
quantidade generosa. — Eles amam isso, mas Atena é a mais viciada.
— Explica.

Entro na sala e vejo uma enorme caixa em cima do seu sofá.


Curioso, vou espiar o que tem dentro e me espanto ao notar várias
latas do petisco para os gatos.
—Eles parecem realmente gostar disso. — Murmuro
sarcasticamente.

—Isso foi presente. — Agnes responde atrás de mim.

Imediatamente me viro para ela. Presente? Quem daria ração para


os gatos? Seus avós? Espero que sim!

—De quem? — Tento manter uma indiferença na voz, quando na


verdade meu coração está acelerado de ciúmes.

Agnes cora. Ela desvia o olhar do meu e abre um sorriso tímido.

—Ethan gosta muito de gatos. — Capto a mentira em sua voz.

Pensei que o assunto entre os dois estivesse resolvido, mas estava


enganado, pelo visto. Ethan está claramente apaixonado pela escritora,
investindo todas as cartas na busca implacável pelo seu coração. O que
ele não sabe é que, ser esmagado por um CEO pode ser devastador.

Em poucos passos, colo o meu corpo ao da escritora. Uma mãe


enrosca em seus cabelos, enquanto a outra aperta a sua cintura.
Pressiono meus lábios nos seus de forma carinhosa, não quero assustá-
la. Agnes rapidamente entreabre a boca, dando passagem para a minha
língua. Seu gosto doce, fundido com o seu cheiro cítrico impregna os
meus sentidos, me deixando embebedado em luxúria. Solto sua boca e
planto um beijo em sua testa.

—Agora sim, oi. — Murmuro.

Minha vontade é de arrastá-la até o quarto e passar o resto da


noite me deliciando no seu corpo. Mas preciso ter calma, sei que terei
muito tempo ainda para fazer isso.

Agnes se afasta um pouco e acaricia a minha face.

—Você quer jantar? — Ela morde o lábio inferior.

—Sim.

—Vou pedir alguma coisa.

Ela se afasta a procura do seu telefone, deixando o cheiro do seu


perfume para trás. Retiro a caixa de cima do sofá com vontade de tacar
fogo, e me sento.

—Eu pedi massa, espero que não se importe. — Reaparece na


pequena sala.

—Eu adoro massa.

Agnes vem e se senta ao meu lado. O calor da sua pele me deixa


inebriado. Eu quero tudo dela. Lentamente, coloco a palma da minha
mão em sua perna desnuda. Ela coça a garganta.

—Como foi o seu dia? — Pergunta tentando quebrar o silêncio.

—Cansativo, e o seu?

Ela abre um sorriso debochado.

—Estou sem criatividade ultimamente, sabe... — Agnes tem sido


de grande ajuda para Liz.
Todas as vezes que a Costello Imobiliária está prestes a fechar
algum negócio, minha secretária fica sobrecarregada de serviço,
ficando até mais tarde muitas vezes da semana para dar conta de tudo.
Contudo, desde que Agnes entrou na empresa, nos dias que não
consegue escrever, tem ajudado no serviço. Nunca pensei que eu, de
fato, precisava de uma assistente pessoal, até ter uma. Quando Agnes
resolver sair da empresa, precisarei me encarregar de substituir seu
cargo.

—Liz agradece a sua falta de criatividade.

Agnes acaricia a minha perna sem perceber os movimentos


involuntários da mão.

—Eu gosto de me sentir útil. — Dá de ombros.

Fecho os olhos tentando me controlar. Os movimentos leves dos


dedos macios de Agnes tão perto da minha virilha, me causam
arrepios. Sei que tenho uma ereção aparecendo na calça, mas minha
companheira é tão inocente que não percebe o que está me causando.

—Vito, está tudo bem? — Pergunta e pausa a caricia.

Dane-se o meu autocontrole!

Agarro Agnes, e, com poucos movimentos, coloco-a sentada em


meu colo. Ela se assusta por um momento, e suas bochechas ficam
lindamente avermelhadas ao sentir o meu pau duro pressionando sua
intimidade. O tecido do terno fino, com o do seu short expandem ainda
mais as sensações. Grudo minha boca na sua, dessa vez, com
ferocidade. Agnes solta um gemido involuntário. Agarro sua cintura e
começo a movimentá-la em cima do meu membro, enviando sensações
de prazer para ambos. Quero fazê-la gozar.

—Vito... — sussurra.

Desço uma mão atrevida pelo seu pescoço e aperto seus


deliciosos seios por cima da blusa, a falta do sutiã ajuda para que o
estímulo seja ainda mais forte.

—Céus! — Agnes joga a cabeça para o alto e fecha os olhos.

Acelero os movimentos. Roupa contra roupa raspando em nossas


partes intimas. Meu pau endurece ainda mais. Nunca pensei que
gozaria nas calças algum dia na vida, mas é exatamente isso que está
prestes a acontecer.

Quero levar meu dedo ao seu clitóris, deixá-la nas nuvens, mas
não sei se ela se sente pronta para isso. Temo assustá-la. Com o
polegar, faço círculos nos bicos dos seus seios, os quais estão duros e
pesados. Agnes está gostando tanto disso quanto eu. Dou beijos
molhados em seu pescoço, mordiscando a pele sensível.

—Deus! Vito, eu... eu...

Estou prestes a falar para que ela goze para mim quando um
enorme gato cinza pula em nosso colo. Solto um grito ridículo quando
sinto o peso do bichano em meu pau. Agnes cai do sofá de costas no
chão. O felino foge imediatamente, sumindo para dentro de outro
cômodo que eu acredito ser o quarto.

O que era entes uma cena de sacanagem, tornou-se algo cômico.


Agnes ainda está deitada de costas no chão, tentando
compreender o que aconteceu. Enquanto eu agarro o meu pau
descaradamente tentando apaziguar a dor do golpe.

—Oh meu Deus! — Agnes se levanta imediatamente, ficando de


joelhos. Ela me olha espantada e coloca a mão por cima da minha.

A garota é tão inocente que mal percebeu que está tocando no


meu membro.

—Você está bem? Eu sinto muito! Atena nunca tinha feito isso
antes.

Deus amado! Eu já vi muitas pessoas empata-foda, mas agora


gato, essa é a primeira vez na vida.

Da próxima vez que eu tentar fazer algo com Agnes, me manterei


o mais distante dos seus gatos. Se é que meu membro vai querer voltar
a funcionar algum dia depois de ser atingido tão fortemente.

Agnes parece perceber aonde suas mãos estão e as puxa


imediatamente, colocando-as rente ao corpo.

—Eu sinto muito.

—Está tudo bem. — Minha voz sai esganiçada.

Senti minha alma saindo do corpo quando o gato me atingiu.

Um barulho estridente me assusta. Instintivamente, cubro meu


pênis ainda mais com as mãos, esperando outro ataque de animal.
Agnes percebe o medo escancarado em minhas reações e tenta
esconder um sorriso involuntário que brota em seus lábios.

—É a campainha. Nosso jantar chegou. — Avisa. Ela se levanta e


me olha mais uma vez. — Você vai ficar bem?

Olho para os lados procurando os outros gatos. Nunca fui de


temer os animais, mas a partir de agora, eu morro de medo de gatos.

—Sim. — Agnes me olha mais uma vez e some em direção a


cozinha, ainda com o sorriso zombeteiro nos lábios.

Eu estava prestes a fazer Agnes gozar pela primeira vez. Isso só


pode ser um castigo divino enviando os gatos para impedir o trabalho.
Agnes é uma mulher religiosa, portanto, isso parece Deus tentando
manter sua castidade intacta.

Seria triste, se não fosse cômico.

Um gato empata-foda.

Agnes Bellini

Não sei por qual motivo exatamente eu me sinto nervosa ao


entrar no restaurante combinado com Ethan.

Depois do acidente com Atena no meu apartamento, Vito passou


a se comportar. Ele foi todos os dias após o expediente na minha casa
jantar comigo, sempre se mantendo o mais distantemente possível do
sofá ou dos felinos.
Eu estranhei a atitude da gata, normalmente ela é arisca, não
gosta muito de pessoas, muito menos de chegar perto delas. Mesmo
assim, isso não foi impedimento para que se jogasse no colo do CEO
empunhando todo o seu peso. Fiquei com dó de Vito, o golpe deve ter
doído muito. Ele passou o restante da noite sentando-se com evidente
desconforto.

Enrico foi jantar conosco ontem, meu amigo está radiante que eu
e o CEO finalmente estamos nos acertando. Enrico apoia o
relacionamento, se é que eu posso chamar o que estamos tendo disso.
Meu amigo até mesmo fez planos sobre uma casa que eles possuem na
Escócia, disse que está vendo o melhor fim de semana para irmos para
lá. Algo assim.

Um fim de semana para os casais.

Vito não ficou muito contente com o presente de Ethan para os


gatos. Depois de ver a caixa com os petiscos a minha sala, ele enviou,
no outro dia, uma loja inteira para os animais, desde: camas, comidas,
coleiras, brinquedos e arranhadores. Eu agradeci aos presentes, mas
achei um exagero. E é claro, muito inteligente. Afinal, a melhor forma
de se chegar ao coração de uma mulher, é paparicando os seus filhos.

Vejo Ethan sentado na mesa que combinamos. Mesmo de longe, o


engenheiro parece nervoso. Gostaria de manter a sua amizade, ele
parece ser um bom homem. Mas sempre funciona, as pessoas tendem a
gostar de quem não presta. Não que eu ache que Vito não preste, longe
disso, é só que, em uma escala para estraçalhar o meu coração, Vito
possui mais pontuação do que Ethan.
—Olá. — Ocupo o lugar a sua frente.

Ethan está bem-vestido. Ele usa uma camisa branca com calça de
terno preta. Seus cabelos estão bem escovados, e eu consigo sentir o
cheiro do seu perfume amadeirado do meu lugar.

—Oi. — Ele abre um sorriso contido. — Gostaria de pedir


alguma coisa para beber?

Considerando que eu vou terminar algo que nem começou, com


alguém que parece bem interessado em mim, precisarei de álcool.

—Vinho, por favor.

Ethan maneia a cabeça positivamente e chama o garçom. O


homem anota os pedidos e se afasta.

—Podemos conversa agora, Agnes? — O sorriso no rosto de


Ethan some, deixando-o com o semblante sério.

Engulo em seco e me preparo para ter uma das conversas mais


constrangedoras que já tive na vida. Mas isso é bom para que eu
aprenda a nunca mais tomar tequila desvairadamente.

É a segunda vez que a bebida me coloca em enrascadas. A


primeira foi quando eu escolhi o nome do personagem principal do
livro. No dia, tive a brilhante ideia de fazê-lo com os sentidos
inebriados pelo álcool. Semanas depois, o verdadeiro Vito Costello
estava batendo à minha porta. A segunda vez foi na boate, no dia em
que eu resolvi encher a cara e contar para Enrico que achava o irmão
d e l e lambível, e achei melhor ainda, revelar para Ethan a minha
virgindade, além de marcar o nosso casamento. Muito inteligente da
minha parte ambas as situações.

—Acho que chegou a hora. — Abro um sorriso nervoso.

Não estou nervosa por medo de me arrepender futuramente, estou


pelo fato de que detesto magoar as pessoas, principalmente as quais eu
nutro algum sentimento.

Me sinto culpada por ter aceitado os presentes que Ethan me


enviou nos últimos dias. É como se eu fosse uma interesseira. Mas eu
não pedi nada, eu chegava em casa e sempre tinha alguma coisa me
esperando. Pensei que seria grosseiro da minha parte devolver as
coisas, então eu sempre enviava uma mensagem agradecendo. E, às
vezes, até mesmo mandava fotos dos gatos usufruindo da boa comida.

Agora, cá estou eu, pensando como começar uma conversa sem


machucar ninguém.

Que Deus me ajude.


Desbloqueio o meu celular em busca de alguma notificação a
cada dois segundos. Estou na sala com Enrico, assistindo alguma coisa
na televisão, da qual não presto atenção.

Não fui à casa de Agnes hoje, muito menos marquei alguma


coisa. Não quero que ela se sinta sufocada. Esperei que a escritora
combinasse algo, contudo, para a minha decepção, ela se manteve
inerte.

Olho para o meu irmão que digita avidamente em seu próprio


celular com um sorriso bobo no rosto. Será que ele está falando com
ela? Não quero perguntar, mas minha ansiedade vai me matar se eu
não fizer nada a respeito. Afinal, o que Agnes Bellini estaria fazendo
na véspera de fim de semana se não com o melhor amigo ou
companheiro amoroso?

Passei a semana inteira encontrando desculpas para visitá-la,


mesmo ela tendo gatos assassinos de pênis. Fiquei traumatizado
depois do ocorrido, confesso.

Coço a garganta, chamando a atenção de Enrico.

—Não quis sair hoje? — falo com fingida indiferença.

Meu irmão solta um suspiro e larga o celular no sofá.

—Isaac está enfrentando um jantar em família. — Revira os


olhos.

Não sei por qual motivo exatamente uma onda de alívio toma
conta de todo o meu ser. Agnes, como a namorada fictícia de Isaac,
precisa ir em algumas confraternizações para manter a mentira do
namoro intacta. Portanto, ela possivelmente está nesse jantar com ele.

Agnes e eu ainda estamos nos conhecendo, mas não ter algo


maduro com ela me deixa desesperado. Com o tempo, estabeleceremos
nossa relação, e eu não precisarei mais ter ciúmes. Contudo, enquanto
um certo engenheiro continuar tentando mijar no meu território,
preciso manter meu local demarcado.

—O lado negativo de ter unido Agnes e Isaac: eles ficam


indisponíveis juntos. — zombo.
—Mas eles não estão juntos.

Automaticamente viro a cabeça para Enrico. Meus movimentos


foram tão calculados, que eu pareci quase inumano exercendo-os.

Como assim Agnes não está com Isaac? Céus! Essa mulher vai
me matar antes dos quarenta anos.

—E por qual motivo você não marcou nada com Agnes?

Enrico abre um sorriso malicioso.

—Eu sei o que está tentando fazer, Vito. Você não sabe onde
Agnes está e quer que eu a delete.

Penso em negar, mas dane-se. Essa é a mais pura verdade. Eu só


queria passar o restante da noite beijando os deliciosos lábios de
Agnes Bellini.

—Fala logo, Enrico.

Meu irmão coloca um dedo no queixo e olha para cima. Enrico


cria uma cena dramática indigna de Óscar.

—Não sei se devo. Sabe... é difícil ficar no meio dos dois. De um


lado, meu irmão querido. Do outro, minha única melhor amiga.
Complicado...

Deus! Eu vou matá-lo. Ou melhor, irei pessoalmente no


apartamento de Agnes. Enquanto ela não me correr da sua residência,
presume-se que sou bem-vindo, mesmo frequentando quase todos os
dias como um obsessor.
Me levanto do sofá, jogando o controle da televisão longe.

—Aonde você vai?

Olho para as minhas vestimentas. Calça de moletom, blusa de


manga curta e pés descalços. Totalmente diferente de como eu
costumo me vestir durante a semana. Não irei trocar de roupa, só me
atrasaria ainda mais.

—No apartamento de Agnes. — respondo enquanto envio uma


mensagem para o motorista.

—Agnes não está em casa.

Aperto os punhos com força. Estou me irritando com esse


joguinho idiota do meu irmão. Se Agnes não está com ele, nem Isaac e
muito menos em casa, só pode estar com Liz. Pois estes são os seus
únicos amigos em Londres.

—Onde ela está, Enrico? — Minha voz sai mais fria do que eu
esperava.

Se ele simplesmente me respondesse, sem delongas, eu não


estaria tão irritado. Eu só quero saber aonde a minha... companheira
amorosa está. É pedir muito?

—Olha, Vito, se eu contar...

—Você vai contar!

—Tudo bem. Se eu contar, você me promete que a Agnes nunca,


jamais descobrirá que foi através de mim?
Meu coração acelera. Por que diabos me parece que Agnes está
fazendo alguma coisa que eu não vou gostar? Pelo mistério todo de
Enrico, e a forma como ele me parece nervoso, quer dizer uma única
coisa: más notícias.

Fico em silêncio aguardando a resposta do meu irmão.

—Antes de tudo, precisamos marcar um jantar com o tio Robson.


Ele está ansioso para isso e vem me mandando mensagens quase que
diariamente. Além do mais, eu gostaria que Agnes conhecesse a única
pessoa próxima da nossa família. — Enrico tenta mudar o foco do
assunto sem pudor.

Robson é irmão do meu pai. O único parente com o qual ainda


mantemos contato. Ele e papai eram próximos, Robson vivia em nossa
casa e participava das festividades, ao menos até a morte precoce do
irmão. Depois disso, o contato diminuiu gradativamente.

Tio Robson é um lobo na pele de cordeiro, algo no meu tio nunca


me encantou. Apresentar Agnes para ele não me parece uma ideia
atraente. Mas, se eu realmente quero um futuro com a escritora, privá-
la do meu único parente iria parecer o contrário disso.

—Fala logo, Enrico! — Bato o pé no chão consecutivamente,


estou impaciente e nervoso.

Enrico solta um suspiro exasperado e bate as mãos ao seu lado no


sofá, desistindo de tentar mudar de assunto.

—Agnes está jantando com Ethan! — grita quase tropeçando uma


palavra na outra.
Trinco o maxilar com força. Aperto os punhos com mais raiva
ainda, deixando os vincos das mãos esbranquiçados. Agnes, o quê?
Como ela pode? Agnes me fez viver um inferno ao descobrir sobre
Teresa, sendo que eu nem tinha feito nada. E agora, ela sai para jantar
com o desgraçado que quer fodê-la?

A mesma sensação que tive no dia do evento, ao descobrir o


beijo, retorna. Hoje sei que não é infarto, mas sim ciúmes. Eu odeio
isso, detesto me sentir tão imponente desta forma.

Para a minha sorte, ou azar de Ethan e Agnes. Eu ainda sou a


porra do CEO da Costello Imobiliária, também conhecido como o
chefão.

—O que você está fazendo? — indaga Enrico, ao perceber que


estou prestes a fazer uma ligação.

—Exercendo meu poder de chefe a meu favor. — respondo,


colocando o telefone no ouvido.

—Deus! Vito, você é totalmente maluco!

Enrico ainda não me viu descontrolado. Na verdade, eu nem sei o


que estou fazendo. Agnes Bellini tem esse poder de me tirar do sério
desde a primeira vez que eu a vi. Teresa, que é minha amante há tanto
tempo, já ficou com muitos homens na minha frente, e eu pouco me
importei. Mas agora, a escritora, com ela é diferente, só de saber que
ela está em algum restaurante qualquer, conversando com o
desgraçado do Ethan, falando sobre sabe-se lá o que, e fazendo planos.
Bom... isso me deixa ébrio de ódio.
—Alô. — A cretina atende com a voz mais melosa possível.

—Agnes Bellini, venha para a minha casa agora! — Tento


disfarçar a raiva com uma voz calma.

Silêncio perfaz no outro lado da linha. Agnes possivelmente está


tentando deduzir o que está acontecendo. Eu nunca lhe liguei tarde da
noite, muito menos para dar alguma ordem. No entanto, o que Agnes
Bellini precisa saber é que, agora, ela pertence a mim.

Ethan está sendo tão carinhoso que eu sinto pena de machucar o


seu coração. Mas eu preciso lembrar a mim mesma que não falar nada
é mais egoísta do que dar um basta nisso.

O engenheiro pediu aperitivos para o nosso desjejum, e


dividimos uma garrafa de vinho. Aproveitei o jantar para usufruir da
sua companhia e tentar criar um vínculo com ele. Por mais que eu não
tenha interesse romântico em Ethan, isso não significa que eu não
queira ser sua amiga.

A hora de falar sobre a amizade é agora. Já jantamos e o vinho


está quase acabando. Inspiro o ar com força, criando coragem.

Eu deveria ter bebido muito mais, quando estou inebriada, é


como se o meu filtro entre o cérebro e a boca fosse retirado.

—Ethan, eu... — Meu celular começa a vibrar. O aparelho é tão


forte que as taças em cima da mesa começam a tilintar.
Droga! Passei a noite toda postergando o momento, assim que
crio coragem uma intervenção divina acontece. Pego o aparelho
abruptamente, um pouco irritada pela interrupção. Estranho ao notar
na tela e reconhecer o autor da chamada. Ethan me olha curioso.

—Alô! — Atendo mantendo uma voz calma.

Preciso disfarçar o máximo possível. O que Ethan pensaria se


soubesse que o nosso chefe está me ligando a essa hora da noite? Pode
ser por trabalho, é claro, mas não quero dar asas para a imaginação do
engenheiro.

—Agnes Bellini, venha para a minha casa agora! — Vito parece


irritado.

—Hum... estou ocupada. — Ethan continua me encarando.

Deus amado! Estou ficando nervosa. Pego a taça de cima da mesa


e tomo um longo gole.

—Não perguntei se está ocupada. Quero que você esteja aqui em


quinze minutos.

—Está tudo bem? — sussurra Ethan.

Abro um sorriso amarelo e maneio a cabeça positivamente. Tapo


o autofalante do som para respondê-lo.

—Sim, vovó está caducando. — minto.

Destapo o autofalante para responder ao CEO, mas sou


interrompida.
—Vovó? Você só pode estar brincando, Agnes Bellini. — Vito
parece muito, muito irritado agora.

—Como você? — Céus! Pensei que ele não ouviria a minha


desculpa ridícula para a ligação incomum. — Como eu disse, estou
ocupada. Passar bem. — Desligo o telefone imediatamente.

Como Vito sabia do jantar? Só há duas explicações: ou ele está


me seguindo ou Enrico deu com a língua nos dentes. Se esse for o
caso, o CEO perderá o irmão. Eu pedi para que ele não falasse nada,
eu vi como Vito fica incomodado todas as vezes que o nome de Ethan
é mencionado. Ouso falar que ele sente ciúmes do engenheiro.

—Sua avó está bem? — Solto uma risadinha de escárnio e Ethan


franze a testa com a minha reação.

Continuo rindo feito uma louca. Estou ficando descontrolada.


Pego novamente a taça e viro todo o líquido que tem dentro dela. Sou
uma péssima mentirosa, pior ainda quando fico nervosa.

—Sim. Está tudo incrivelmente bem. — falo entre uma risada e


outra.

Ethan olha para o meu vinho, se perguntando se eu estou


embriagada pela minha atitude suspeita. Estou prestes a focar no
assunto principal da noite quando o seu celular começa a tocar.
Descontroladamente, dou um soco na mesa. O barulho alto da louça
tilintando faz com que Ethan dê um pulo da sua cadeira.

—Agnes, está realmente tudo bem? — pergunta antes de atender


o telefone.
—Sim. — falo entredentes.

—Ethan Brown. — Ele coloca o celular no ouvido. — Agora,


senhor?

Por algum motivo eu sinto no fundo do meu ser que Ethan está
conversando com Vito. Eu não posso acreditar que ele está fazendo
isso.

—Não, senhor. — Segundos de silêncio. — É claro que o


trabalho é mais importante. — Ethan parece ficar apavorado. — Sim,
senhor, eu prezo muito pelo meu trabalho.

Irritada, envio uma mensagem desaforada para Enrico:

“Eu não acredito que você falou para Vito onde eu estava.”

Em segundos, sua resposta aparece na minha tela:

“Ele me obrigou, basicamente.”

Estou prestes a mandar Enrico para um lugar pouco educado


quando mais uma mensagem entra:

“Venha logo, Agnes. Vito está um pouco descontrolado ao saber que


você está com Ethan.”

Urro de raiva. Meus dedos ágeis digitam com força por conta do
ódio contido:

“Eu não estou com Ethan. Marquei essa droga de jantar para falar
que só quero amizade, e você sabe muito bem disso. Agora trate de
controlar o louco do seu irmão.”

Enrico me responde rapidamente:

“Se você não vier, ele vai ir atrás de você.”

O quê? Vito não ousaria. Pensando bem, ele faria isso e ainda
pior. Meu pai amado, alguém precisa controlar esse CEO.

Olho para Ethan que ainda está em chamada. O engenheiro


parece alguns tons mais branco que o normal.

—Estou indo imediatamente, senhor. — Ethan retira o celular


do ouvido e me olha. — Eu tenho que ir, Agnes. Me desculpe.

Engulo em seco.

Estou com pena de Ethan e morrendo de raiva dos irmãos


Costello. Pobre Ethan! Mal sabe que se envolveu nessa situação toda
por minha causa. Sou a causadora dos seus problemas, e passaria o
resto da vida me culpando se ele fosse demitido. Está na hora de dar
um basta nisso.

—Ethan, você aceita ser somente o meu amigo? — falo por fim.

Ele me olha surpreso. Eu fiquei postergando a situação,


tentando encontrar uma boa hora para falar isso, e, no fim, não poderia
ter escolhido momento pior. Ethan está apavorado com a possibilidade
de ser demitido, pois só Deus sabe o que Vito tem em mente. E ainda
por cima, acabou de levar um fora.

—Bom... se é isso o que você quer. — Ethan deixa transparecer


a decepção que está sentindo.

Fico triste por fazê-lo sofrer, mas não posso mentir para ele, ou
para mim mesma. Eu gosto de Vito, me senti atraída pelo CEO desde a
primeira vez que o vi, e por mais que suas atitudes obsessivas me
irritem, eu ainda quero tentar algo com ele, mesmo que isso me leve
diretamente para o inferno.

—Eu sinto muito, Ethan. Eu deveria ter falado antes. Eu poderia


falar agora o famoso clichê: o problema não é você, sou eu. Pois essa é
a mais pura verdade.

—Por quê, Agnes?

Solto um suspiro exasperado. Minhas mãos estão trêmulas e


meus olhos marejados. Eu gosto de fazer as pessoas felizes, por isso
escrevo romances, misturando erotismo com comédia. Me sinto
abalada todas as vezes que magoo alguém, mesmo que seja
desproposital.

—Eu sou uma pessoa complicada, Ethan. Espero por alguém


que me faça sentir borboletas no estômago e que me tire de órbita. Eu
sei, parece idiota, mas... eu sou assim, uma romântica incurável. —
Gostaria de falar toda a verdade. Da minha profissão, de como entrei
em suas vidas, tanto na de Vito, quanto na sua. Mas não posso. Ainda
estou atrelada ao CEO por um contrato verbal de que terminarei o
livro prometido. E isso inclui, sigilo total.

Ethan olha para o lado, como se não tivesse forças para me


encarar. Ele batuca os dedos da mão esquerda na mesa
consecutivamente. Ele parece tão desconfortável com essa conversa,
quanto eu.

—Você já encontrou?

—Encontrei o quê?

Ele finalmente me olha. Encara o fundo dos meus olhos, como


se pudesse, dessa forma, ver até a minha alma.

—O cara das borboletas.

Abro e fecho a boca pensando no que responder. Não quero


mentir para ele, mas também não posso falar a verdade. Pelo menos,
não por enquanto.

—Talvez. — Uma meia resposta é melhor que nada.

Ethan pressiona os lábios. Ele faz um barulho com a garganta.

—Tudo bem, então. Boa sorte, Agnes. — Ele recolhe a carteira e


o celular de cima da mesa. Ethan simplesmente se vira e sai andando,
me deixando sozinha para trás.

Ok! Não esperava ser parabenizada pelo meu sonho infantil de


encontrar o amor verdadeiro, mas também não esperava uma atitude
tão descortês. Ele nem se quer se despediu de mim.

—Senhorita. — Um garçom se aproxima. — Gostaria de pedir a


conta?

—Sim, por favor. — Abro um sorriso educada, apartando as


lágrimas.

O garçom me olha com pena antes de se afastar para buscar a


conta. Nem pensei no que isso deve parecer para terceiros.
Provavelmente de que eu levei um pontapé do namorado e agora estou
aqui chorando e pensando em como seguirei a minha vida sem o
homem dos meus sonhos.

Solto uma risada sem humor.

Encaro por alguns instantes a cadeira vazia. Droga! Eu fiz


absolutamente tudo errado. Contudo, agora eu tenho um acerto de
contas para cobrar. Preciso decidir quem eu matarei primeiro: Enrico
ou Vito.

Pago a conta do restaurante e saio do local a passos duros, indo


de encontro para o homem que me torna uma montanha-russa de
sentimentos.
Caminho de um lado para o outro nervoso, olhando o relógio a
cada dois minutos. Enrico faz a mesma coisa que eu, só que, ao invés
de olhar a hora, ele rói a ponta do dedo.

Agnes teve a ousadia de desligar o telefone, interrompendo a


minha fala. Não tive escolha, se não ligar para Ethan e ameaçar toda a
sua carreira de engenheiro, caso não fosse imediatamente para casa
resolver um gráfico que eu supostamente não gostei. Cheguei a sentir
pena do desgraçado, mas logo lembrei que ele estava na companhia da
minha garota e a piedade passou.
—Agnes vai me matar... — Enrico pensa alto.

A escritora se comunicou com ele enquanto eu falava com o


engenheiro. Enrico ficou claramente nervoso depois disso. Ele teme
perder a única amiga que tem. É claro que Agnes irá perdoá-lo pelo
deslize de contar algo sigiloso, ela é boa demais para guardar rancor
de uma coisa tão banal.

—Não. Ela gosta de você, em breve, será perdoado.

—Agnes é um pouco cabeça dura, Vito, não sei se ela vai


esquecer disso tão cedo.

—Acredite em mim, Enrico. Eu fui quem acabou com o seu


jantar, sua raiva deve estar direcionada a mim.

Enrico para de caminhar por um instante e me olha. Um enorme


sorriso ilumina o seu rosto.

—Você tem razão. Que alívio! Agora, estou indo dormir. Boa
sorte.

Eu sei o que ele está fazendo. Enrico está fugindo do furacão que
chegará a qualquer momento. Ele sabe que amanhã a garota estará
mais calma. Em poucos passos, meu irmão some no corredor, me
deixando sozinho na sala.

Não demora muito mais que cinco minutos para a campainha


estridente tocar. Agnes afunda o dedo no botão. Abro a porta com
força.
Ela está linda! Fico irritado imediatamente, lembrando-me do
motivo para ter se arrumado tanto. Agnes usa um vestido verde solto,
nos pés uma rasteirinha dourada. Seus olhos estão fixos nos meus. Ela
parece ter chorado, mas isso ainda não diminuiu sua raiva evidente.

Eu vou matar Ethan se ele a machucou de alguma forma.

—Oi. — murmuro.

Me afasto da porta, deixando-a entrar. Ela perscruta tudo com os


olhos, em busca de Enrico. Ao não encontrá-lo, Agnes vira-se
novamente para mim, lampejos de raiva passam pelos seus olhos.

—Como ousa? — fala entredentes.

Fecho a porta com um sorriso debochado no rosto, o que deixa


Agnes ainda mais irritada.

—É bom também vê-la, Agnes Bellini. — zombo.

Em poucos passos, Agnes cola o seu peito ao meu, tentando me


ameaçar. Contudo, a única coisa que consegue fazer com essa atitude é
inebriar os meus sentidos com o seu perfume, me fazendo ficar
excitado.

—Você é minha, Agnes Bellini, minha! — falo entredentes.

—Isso não te dá ao direito de atrapalhar o meu jantar, Vito


Costello.

Abro um sorriso de escárnio. Eu posso fazer coisas muito piores


do que atrapalhar uma droga de jantar somente para comprovar os
fatos.

—Você me fez ir ao inferno por conta de Teresa, para que duas


semanas depois saísse para jantar com o desgraçado do Ethan? —
Urro.

Agnes franze a testa e fica boquiaberta. Ela não compreende a


minha atitude territorialista. Nem eu entendo, para falar a verdade.

—O quê? Vito, você é louco? Eu não estava paquerando com


Ethan, eu fui ao jantar justamente para terminar tudo. Ethan deixou
seu interesse claro desde que nos conhecemos. Eu gosto dele como
amigo e deixei esse ponto esclarecido.

Um sorriso involuntário brota em meus lábios. Agnes está


ajeitando a sua vida para dar espaço para nós, para o que estamos
construindo.

Agarro a sua nuca com força e colo os nossos lábios. Preciso


saboreá-la com urgência. Ela tenta protestar, mas logo cede,
entregando-se aos meus braços. Apalpo sua bunda, levantando-a do
chão. Como uma boa garota, ela enrosca as pernas na minha cintura.
Meu pau acorda para a vida com tanta proximidade. O vestido de
Agnes concentra-se em sua cintura. Largo sua boca para saborear o
seu pescoço, o álcool do seu perfume pinica a minha língua.

Ela é perfeita. Estou viciado em Agnes Bellini, ela é tudo o que


eu preciso.

Arrasto a escritora até o sofá, sento-me deixando-a em meu colo,


ainda com as pernas enroscadas a mim. Desço a alça do seu vestido.
Quase tenho um colapso ao constatar que ela não usa sutiã. O seio
cheio e firme aparece, o bico rosado revela o quanto Agnes está
excitada. Caio de boca em seu mamilo. Chupo, lambo e mordisco.
Agnes é maravilhosa. Tudo nela é perfeito.

—Oh céus! — Geme.

Largo o seio para olhá-la. Preciso da sua aprovação para


continuar.

—Eu posso tocar em você?

Agnes me olha com a testa franzida, como se eu estivesse


perguntando o óbvio, afinal, estou colado a ela.

—Tocar em você de forma intima, querida. Quero sentir sua pele


macia e quente. Quero que goze nas minhas mãos.

Agnes muda de cor. Suas bochechas vermelhas revelam o quanto


a conversa parece ser constrangedora para ela.

Ela desvia os olhos dos meus, antes de responder.

—Sim. — Sua voz sai em um sussurro.

Abro um sorrio satisfeito. Se Agnes renegasse o meu toque, só


Deus sabe o que eu faria para apagar as chamas que queimam o meu
corpo.

Desço a alça do outro lado. Deus! Agnes é simplesmente


magnifica, ela foi feita na medida certa. Perfeita para mim! Seus
mamilos cabem precisamente em minhas mãos, massageio-os com
prazer. Agnes mordisca o lábio inferior e fecha os olhos, apreciando a
massagem mamária.

Deito Agnes no sofá e cubro-a com o meu corpo. Minha mão


percorre toda a sua perna, chegando próxima à sua virilha. Sinto que
ela fica rígida assim que me aproximo. Agarro as alças da sua calcinha
e desço a renda vermelha, desnudando-a.

—A próxima vez, você terá a minha boca entre as suas pernas. —


digo enquanto encaro sua vagina lisa.

Agnes tenta fechar as pernas, envergonhada por tanta exposição.


Mantenho-a no lugar.

—Não sinta vergonha, você é simplesmente magnifica. — Olho


no fundo dos seus olhos.

Aguardo o seu aval, não quero passar dos limites. E se ela pedir
que eu pare, assim eu farei, mesmo que eu fique com as bolas doendo
pelo resto da semana. Agnes faz um balançar positivo de cabeça, quase
imperceptível.

—Não se assuste. Vou me masturbar enquanto masturbo você.

Fico de joelhos no sofá e abaixo a minha calça. Meu pau salta


para fora. Estou tão duro quanto pedra. Meu desejo pela mulher à
minha frente é palpável.

Já transei com inúmeras mulheres, mas nenhuma me fez ficar tão


ébrio de volúpia. Estou tão ansiado para possuí-la, que chego a entrar
em frenesi. Contudo, Agnes ainda é inocente, preciso ir com calma,
respeitando os seus limites. E, quer saber, se preciso for, entregarei
meu sobrenome, minha alma e meu coração para essa garota, pois ela
já me tem em suas mãos.

Agnes arregala os olhos ao ver o meu pau. O primeiro pênis que


vê na vida ao vivo e em cores, e, mesmo que eu não queira, me sinto
orgulhoso por isso. Seus olhos mudam de assustados, para banhados
em lascívia, o que me deixa ainda mais alucinado de tesão.

Agnes Bellini

Olho para a intimidade de Vito sem pudor. Deus amado! Como


isso pode entrar nas mulheres? Seu pênis duro, demarca as veias
saltadas. Na ponta vejo uma gota saindo da sua própria lubrificação.
Vito passa a mão na gotícula e espalha-a pela mão. O CEO comporta o
seu corpo em cima do meu e toca na minha intimidade. Seu toque me
causa arrepios e cosquinhas de início, mas logo ele trabalha os dedos
entre os meus lábios vaginais, procurando o meu clitóris. Sinto o exato
momento em que ele encontra o nervo prazeroso. Vito passa a
lubrificação em cima do local e começa a massageá-lo.

—Tão linda. — murmura.

Ele faz movimentos circulares no meu clitóris, aumentando ainda


mais o meu tesão, enquanto se masturba, fazendo movimentos
acelerados de vai-e-vem em seu membro duro. Fecho os olhos e me
concentro no momento. Solto um gemido involuntário. A sensação
prazerosa aumenta, sei que gozarei a qualquer momento.

Eu já gozei algumas vezes sozinha, mas nada se compara a isso.


Nada se compara a Vito Costello e sua mão habilidosa.

Os movimentos mudam, de vai-e-vem para circulares, e assim


suscetivelmente. Meu clitóris começa a inchar, meus gemidos
aumentam. Sinto que meu corpo começa a tremer.

—Isso, querida, goze para mim. — Ouço a voz de Vito.

Os pelos da minha pele se arrepiam. A onda de prazer me abraça


com calor e magnificência. A sensação me arrebata, me faz flutuar.

Depois do que pareceu ser horas, abro os olhos e encaro Vito, ele
continua me olhando profundamente. Nossos olhares fixos um ao
outro, ele ainda mexe a sua mão consecutivamente, tentando chegar ao
ápice assim como eu. Vito retira a mão que estava no meio das minhas
pernas e leva até a boca, experimentando o meu gosto. Não consigo,
em nenhum momento, nem se quer piscar. É como se eu estivesse
enfeitiçada, completamente absorta pela situação. Suas pupilas
dilatam, sua respiração acelera e fica pesada. Um gemido gutural sai
de dentro da sua garganta e passa pelos seus lábios entreabertos. Sinto
um jato quente de esperma na minha perna.

Minha atenção totalmente voltada para o momento.

Tão íntimo.

Tão carnal.
Tão profundo.

Vito Costello me deixou marcada e, a partir desse momento, eu


não pertenço mais a mim mesma.

Eu sinto toda a nossa química em minhas veias. Vito me deixou


intoxicada e eu não sei se terei mais volta, não depois de hoje.

Como uma tola apaixonada me reviro na cama lembrando de


ontem à noite, enquanto estive perdida nos braços do CEO. Nem que
eu escrevesse mil livros conseguiria descrever o que senti exatamente,
foi como se a minha alma tivesse sido convocada de encontro a sua.
Meus olhos castanhos refletindo o verde límpidos dos seus. Vito me
deixou a dez pés do chão. Senti como se precisasse dele, assim como
um coração precisa bater.

Um sorriso involuntário delineia os meus lábios. Céus! Estou


perdida. É tanta química, tanto fogo, temo que, por ser tão intenso,
acabe queimando rápido demais. Contudo, já é muito tarde para que eu
desista dele, desista de nós.

Sinto como se agora eu pudesse fazer qualquer coisa. É assim


que as coisas funcionam? O amor é estranho, parece tão intenso e
assustador ao mesmo tempo.

Me pergunto se todas as mulheres ficam tão bobas quando estão


apaixonadas...
É tarde de sábado, e eu estou deitada na minha cama, enroscada
com os meus três gatos, repetindo mentalmente meus momentos ontem
com Vito.

Não pensei em Ethan, não lembrei do que o CEO fez para me


arrastar aos seus braços, nem mesmo na traição de Enrico em relatar a
verdade do que eu estava fazendo.

Depois que gozamos juntos, Vito me conduziu ao banheiro e me


ajudou. Retornamos para a sala limpos e ficamos por lá até altas horas
da noite, abraçados, nos beijando e conversando sobre coisas banais.
Ele insistiu para que eu dormisse em sua casa, mas eu não quis. Quero
dar um passo de cada vez. Com o tempo, serei completamente sua. Já
sou de alma e serei de corpo também.

Meu telefone toca tirando-me do mundo colorido que eu criei na


minha cabeça, tendo como protagonistas Vito e eu.

—Olá, vovó. — Atendo com um sorriso bobo que não consigo


conter.

Vovó semicerra os olhos, suas sobrancelhas brancas franzem.

—Está deitada ainda, Agnes? E que sorriso é esse? — indaga


curiosa.

Solto um suspiro apaixonado.

Vovó sabe que eu estou trabalhando na Costello Imobiliária, bem


como sabe o nome do meu chefe, e que agora tenho um melhor amigo
chamado Enrico. Ela sabe de tudo, menos do livro e do meu
relacionamento com o CEO. Eu adoraria contar a verdade para ela,
mas tenho medo do que ela vá pensar.

—Estou deitada porque é sábado e não trabalho. Estou


descansando. — falo a verdade.

Dormi poucas horas essa noite, estava ocupada demais


imaginando o meu casamento com Vito, nossos filhos, netos e como
será a nossa morte em um futuro distante. Juntos.

—E o sorriso? Está apaixonada? Pois é o que parece.

Minha avó é muito perspicaz. Eu até posso esconder Vito por


enquanto, mas não por tempo o suficiente. Portanto, resolvo falar
parcialmente a verdade.

—Eu conheci alguém.

—Enrico? — pergunta curiosa.

Não consigo conter uma onda iminente de gargalhadas. É claro


que eu precisarei contar isso a Enrico. Céus! Pobre, vovó. Mal sabe
ela que Enrico e eu “namoramos” o mesmo homem.

—Agnes, não estou encontrando a graça. Qual é o problema?

Puxo algumas lufadas de ar, tentando me acalmar. Vovó não está


entendendo a minha crise de risos, não a culpo, ela não conhece
Enrico, não tem como entender o motivo de tantas gargalhadas.

—Vovó, Enrico é gay!


— Oh! Eu não sabia! — Suas bochechas coram. Meus avós são
pessoas modernas. E, assim como eu, acreditam que o amor é livre. —
Mas agora, quem é o rapaz, Agnes Bellini?

Como a senhora inteligente que é, vovó percebe minha intenção


de mudar o assunto. Um dia eu contarei a ela todas as coisas que Vito
faz com que eu sinta, mas esse ainda não é o momento. Sei que terei a
aprovação deles, se eu estiver feliz, eles também estarão. E, apesar
deles serem extremamente católicos, não me cobram virgindade após o
casamento. Eles respeitam as minhas decisões e os meus limites.

—Eu não posso falar agora, não por enquanto. Mas eu prometo
que em breve lhe contarei até o mais sórdido dos meus segredos. —
Abro um sorriso cúmplice.

É claro que eu não narrarei a ela os detalhes minuciosos, há


coisas que devem ficar somente entre o casal, apesar de Enrico
discordar disso veemente. Meu amigo quer saber como o irmão é
sexualmente. É bem estranho e constrangedor, mas Enrico sabe ser
insistente.

Vovó fica em silêncio por alguns segundos. Ela solta um suspiro


exasperado, antes de me dar o mais fiel dos conselhos:

—Cuide o seu coração, Agnes. Você é uma boa menina, entregue-


o para alguém que esteja à altura do que você merece. Nunca menos
que isso.

Sinto vontade de abraçá-la, sentir o seu cheiro de canela, e


adormecer em seus braços, enquanto ela massageia os meus cabelos.
Meu coração aperta com todas essas lembranças. É difícil viver longe
deles, foi mais difícil ainda tomar a decisão de vir para cá. Meus avós
estão envelhecendo, gostaria de passar cada segundo das vinte e quatro
horas do dia ao seu lado. Aproveitando todos os momentos. No
entanto, eu precisava construir algo sólido para mim, e agora, aqui
estou eu, entregando o meu coração para o homem que faz as
borboletas flutuarem pelo meu estômago e meu coração retumbar com
tanta intensidade, que nem sou capaz de descrever.

—Eu te amo, vovó! — Minha visão fica embaçada pelas


lágrimas.

—Ah, minha menina! Eu também te amo. — Vovó está tão


chorosa quanto eu.

Ela fala que somos parecidas, duas manteigas derretidas. Não


conseguimos esconder nossos sentimentos, eles ficam escancarados
em nossos olhos.

Me despeço de vovó e volto a sonhar com Vito.

Céus! Algo deve ter dado errado em meu cérebro, eu pareço uma
idiota apaixonada. Uma única dose do CEO e eu sei que nunca mais
serei a mesma.
—Então, senhor Costello, estará disponível? — Pergunta a loira.

Estou na sala de Vito, fingindo estar concentrada demais em meu


livro, quando na verdade, presto atenção na reunião dele com a
mulher. Ela é representante da London School of Economics and
Political Science, e veio convidar Vito para participar da semana
acadêmica, narrando aos estudantes interessados como funciona,
atualmente, o mercado de trabalho. Vito, como um dos maiores CEO’s
do Reino Unido é uma figura fundamental para o desenvolvimento da
economia do País. Porém, evidentemente a loira não está somente
interessada em convidar Vito para a palestra, ela parece muito
estimulada a terminar o dia na cama do CEO, o que me causa certa
irritação, pela sua falta de profissionalismo, é claro.

Vito olha o seu relógio, como se estivesse incomodado com a


perda de tempo. Ele batuca os dedos na mesa e olha para ela pensando
na ideia.

—Estarei disponível, senhorita Davies.

A mulher abre um sorriso sedutor, o seu decote chamativo na


camisa branca deixa os seios à mostra a cada mexer de ombros, coisa
que ela faz consecutivamente. Vito não parece corresponder ao
interesse da senhorita Davies.

Acho interessante ele ir palestrar na Universidade, ouvir as


palavras de um CEO que chegou tão longe, mesmo ainda sendo tão
jovem, pode ser fundamental para determinar a carreira de muitos
estudantes.

—A Universidade disponibilizará uma sala exclusiva para o


senhor antes da palestra, gostaria de saber quantas pessoas da sua
esquipe lhe acompanharão. — A mulher começa a esfregar as unhas
distraidamente em seu colo. O movimento chama atenção para a sua
saia curta com as pernas desnudas.

Preciso de todo o meu autocontrole para não levantar da cadeira e


jogar o notebook nela. Deus! Agnes, você não é um animal! Controle-
se! Meu cérebro me recrimina.

—Estarei acompanhado da minha assistente e secretária. — As


palavras de Vito me fazem olhar para ele imediatamente.
Eu e Liz iremos junto? Um lado meu fica aliviado, eu nem
conseguiria me concentrar ao saber que Vito estaria no mesmo lugar
que essa mulher.

—Muito bem, senhor Costello. — A senhorita Davies parece


levemente decepcionada com a resposta do CEO. — Após a palestra, a
Universidade cederá um jantar, teria interesse em comparecer?

Bufo, o que acaba chamando a atenção dos dois. Essa mulher é


oferecida demais para o seu tamanho.

—Estarei ocupado, senhorita Davies. — Ouço um sarcasmo na


voz de Vito, mas não olho para ele para confirmar o sorriso sacana que
delineia os seus lábios. Possivelmente, o CEO percebeu a minha
histeria.

—Oh, muito bem. A Universidade agradece a sua


disponibilidade. — A mulher se levanta e estende a mão para apertar a
de Vito, em um cumprimento.

—O prazer foi meu. — Vito aperta o botão da secretária


eletrônica e solicita a presença de Liz, para que ela acompanhe a
senhorita Davies até o elevador.

Antes de ir embora, ela ainda tem a ousadia de passar as unhas


no braço do CEO disfarçadamente. A mulher não se dá ao trabalho de
olhar na minha direção, ela me ignora, como se eu fosse irrelevante.

Vadia! Se vovó pudesse ouvir os meus pensamentos, passaria


sabão na minha boca, para lavar a língua suja.
Assim que a porta bate, demarcando a saída da loira oferecida,
Vito vira-se para mim, ainda com o sorriso zombeteiro nos lábios.

—Está com ciúmes, senhorita Bellini? — O sarcasmo em sua voz


me deixa ainda mais irritada.

—Vai sonhando. — Murmuro.

Digito palavras aleatórias no notebook, como se eu estivesse


muito concentrada no meu livro. Confessar a Vito o ciúme idiota,
significa aumentar o seu ego que já é enorme.

—Agnes, querida, você é um livro aberto. Consigo farejar os seus


sentimentos de longe.

Engulo em seco. Não ouso olhar para Vito, sei que a sua atenção
está totalmente voltada para mim.

Preciso aprender a me acostumar que, Vito Costello é um homem


atraente, e, além disso, é um CEO que marca presença por onde passa.
É claro que muitas mulheres se interessariam por ele, assim como eu
mesma me interessei na primeira vez em que nos vimos.

O barulho da sua cadeira me tira dos devaneios, olho para o lado


a tempo de ver Vito caminhado em minha direção. Ele me puxa da
cadeira com tanta intensidade que precisei colar em seu corpo para que
eu não resvalasse em direção ao chão.

Sua boca toca a minha com ferocidade.


Vito Costello

Beijo Agnes faminto, a necessidade e o tesão se fundindo. Nossos


lábios e línguas virando um só. Essa premência que somente Agnes
consegue retrair do fundo do meu ser. Arrasto-a para a mesa,
deixando-a sentada no móvel.

—Eu preciso experimentar você. — Urro através dos seus lábios.

Agnes me observa com os olhos incendiados de luxúria, as faces


rubras.

Me ajoelho ao chão, deixando meu rosto ao nível da sua


intimidade. Seguro sua saia e subo, concentrando-a na cintura, desta
forma, revelando a calcinha de renda branca. Pego o tecido e desço até
as suas coxas. Sua bocetinha exposta, sem pelos, a pele lisinha e
quente. Com urgência, dou uma lambida por toda a sua extensão. Seu
gosto cítrico de excitação pinica a minha língua, deixando-me ainda
mais ébrio de tesão. Agnes abre-se mais, deixando de lado qualquer
vergonha que ainda pudesse existir.

Eu quero tudo da garota, quero experimentar cada canto do seu


delicioso corpo. Chupo seu clitóris, lambo toda a extensão da carne
macia e repito os movimentos. Agnes começa a gemer alto, empinando
cada vez mais sua boceta em direção a minha boca. Sua lubrificação
começa a aumentar, me fazendo chupá-la cada vez mais. Ela está se
deliciando, enquanto eu faço o banquete.
—Oh Deus!

Agnes começa a estremecer contra a minha boca, seu corpo vibra.


Sua boceta ficando mais melada, seu clitóris inchando cada vez mais.
Com um grito rouco saindo dos seus lábios, Agnes goza dentro da
minha boca, deixando-me chupar cada gota da sua essência.

—Céus! — sussurra ainda com os olhos fechados.

Suas pernas ficam bambas, seguro-a contra a mesa para que não
desfalecesse no piso. Agnes abre os olhos, temulentos de lascívia.

—Eu... eu quero tentar uma coisa. — Mordisca o lábio inferior,


me deixando ainda mais alucinado.

Meu pau doí tanto que me faz trincar os dentes. Minhas roupas
estando como barreiras me fazem desejar mais do que nunca estar nu.

—Sou todo seu, querida.

Agnes, ainda com a vagina exposta, se aproxima de mim e,


delicadamente, abre o zíper da minha calça, colocando o meu membro
para fora, completamente inchado e esticado. Ela fica observando por
alguns segundos, até que seus dedos delicados e frios o tocam. Um
gemido rouco sai do fundo da minha garganta. Agnes segura o meu
pau, passando o polegar na cabeça toda melada, espalhando a
lubrificação por toda a extensão. Começa os movimentos de subir e
descer, me masturbando com maestria.

—Isso...
Jogo a cabeça para cima de olhos fechados, apreciando a carícia.

Agnes pega minhas bolas passando as unhas em uma caricia


delicada, alisa a extensão do membro, aperta a cabeça, e continua
batendo punheta, acelerando e diminuindo o ritmo constantemente, e
vice-versa. Em pouco tempo, sinto o orgasmo chegando, percorrendo
todo o meu pau, as bolas começam a doer.

—Eu vou gozar. — Minha voz sai em um gemido.

Em outros momentos, consigo durar muito mais. Entretanto, com


Agnes me massageando tão suavemente, e ao mesmo tempo, tão
impecavelmente, me levando a loucura. É inevitável durar mais que
alguns poucos minutos.

Como uma devassa, Agnes coloca mais pressão. O toque macio


dos seus dedos finos me faz explodir. Ejaculo com força, sujando tudo
à minha volta.

—Isso foi bom. — murmuro ainda relaxado pelo recente


orgasmo.

—Sim, isso foi bom. — Agnes repete as minhas palavras com um


sorriso bobo no rosto.

Percebo que foi a primeira vez que alguém lambeu sua deliciosa
buceta e, mais uma vez, o sortudo por fazer isso foi eu. Agnes está,
aos poucos, entregando-se a mim. Declarando-se minha, e eu não
poderia estar mais feliz e orgulhoso por isso.

Sinto que, quando estou acompanhado de Agnes, o tempo passa


mais rápido. O relógio nunca pareceu tão vivo.

Deus! O que foi que Vito e eu fizemos em sua sala? Se eu


pensava que o CEO já tinha conseguido tudo de mim, estava
profundamente enganada. Nunca me senti tão viva. Foi tão natural
deixá-lo me lamber, sentindo o meu gosto e se deliciando com ele. Foi
mais natural ainda ceder a vontade insana de tocar o seu pênis. Desde
o momento que vi o vi pela primeira vez no fim de semana, a pele
parecendo aveludada, as veias saltadas para fora, a forma como os
meus olhos concentraram-se nele, enquanto Vito se masturbava. Eu
queria senti-lo contra os meus dedos, confirmar o toque macio da pele,
sentir a cabeça rígida. E hoje, eu finalmente tive coragem para fazer
isso. E, que Deus me perdoe, mas eu adorei. Eu amei a sensação de
deixar Vito em deleite. De ter o controle da situação, manipulando-a
como eu bem entendesse. No entanto, minha curiosidade ainda está
atiçadíssima. Eu sei como é tocá-lo, agora quero saber como é senti-lo
em meus lábios, saber como é o seu gosto.

—Olá, meninas. — A voz que me tira do sério tanto quanto me


faz rir, me tira dos devaneios pecaminosos sobre a manhã mais cedo.

Olho para Enrico e estranho a sua visita na empresa. Enrico foge


mais da empresa do que o diabo foge da cruz. Ele não quer trabalhar
de forma alguma e para que ninguém lhe pressione a isso, ele mal
comparece ao local.

—Olá! — Liz cumprimenta-o animadamente.


—Isso é uma novidade. — falo sarcasticamente.

Enrico revira os olhos e se senta na cadeira disposta à minha


frente.

—Eu vim falar com você.

—Boa sorte, Agnes parece um pouco distraída essa tarde. —


zomba Liz.

Minhas bochechas esquentam. Liz percebeu minha diferença de


humor após ficar trancada na sala do CEO durante toda a manhã.
Tentei questionar disfarçadamente se ela ouviu algo suspeito.
Contudo, foi impossível conter as suas perguntas. Precisei enfatizar
que sou virgem, mas que Vito e eu já experimentamos algumas coisas.

—Agnes, sua safadinha! Não acredito que Vito e você não


respeitam nem mesmo o local de trabalho! — Exaspera Enrico.

Céus! Vou ter um colapso nervoso a qualquer momento. Isso não


poderia estar pior. Eu tenho muita vergonha de falar sobre sexo, ainda
mais quando é sobre a minha relação. E para deixar a situação ainda
mais vexatória, estamos na cantina da empresa, com mais da metade
dos funcionários presentes.

—Enrico, por Deus! Fale baixo! Quer me matar de vergonha? —


Olho para os lados rezando para que ninguém esteja prestando atenção
em nossa inconveniente conversa.

—Agnes, você ainda não é tão interessante assim para que


alguém cuide da sua vida. — Ah, eu adoro o humor ácido de Enrico.
—Obrigada. — Respondo secamente.

—Estou brincando, meu bem. Em breve, as pessoas vão descobrir


o seu casinho com o poderoso chefão e seu nome não saíra da boca do
povo. — Dá de ombros.

Tudo o que eu ingeri durante o almoço ameaça retornar. Meu pai


amado! Eu não tinha pensado nisso ainda. Ficar com Vito é a mesma
coisa que colocar um canhão de luz em mim. Tenho certeza que a cor
da minha face mudou drasticamente, pois Enrico arregala os olhos e
tenta emendar o assunto.

—Não que isso seja relevante também, Vito já andou com tantas
mulheres que ninguém mais presta atenção em seus cônjuges
amorosos.

Não tenho nem tempo de sentir ciúmes do passado movimentado


de Vito, pois ainda estou preocupada com o meu futuro.

—Eu nunca ouvi nada, as pessoas temem fofocar sobre a vida do


CEO e serem pegas. — Acrescenta Liz.

Eu sei o que eles estão tentando fazer: deixar as coisas melhores.


Por ora, me concentrarei nisso, e não pensarei, de forma alguma, sobre
o burburinho que esse relacionamento trará.

—Continuando, vamos para a Escócia nesse fim de semana. —


Enrico de forma brilhante, consegue mudar de assunto.

—O quê?
—Eu disse que queria ir visitar a nossa casa, nem lembro mais a
última vez que fomos lá.

—Enrico, eu não posso simplesmente ir passar o fim de semana


inteiro na Escócia. Eu tenho gatos e, diferente dos cães, eles não são
adeptos a viagem ou mudanças de ambiente.

—Não se preocupe, a senhora Cooper será uma excelente babá.


Inclusive, ao sair daqui, passarei em um Pet Shop e comprarei
absolutamente tudo para que se sintam à vontade.

—Eles não precisam de nada, Enrico, seu irmão fez questão de


comprar um Pet Shop inteiro para eles há algumas semanas.

—Independentemente, eu faço questão. Eles precisarão se sentir


confortáveis em nossa casa.

Deus amado! Enrico é mais teimoso que uma porta.

—Enrico, gatos estranham mudanças. Eles não vão ficar felizes


na sua casa, mesmo ela tendo mais espaço e com um Pet Shop inteiro
para eles.

—Você é insistentemente insuportável, só para esclarecer. Mas


ainda assim vai ir de qualquer forma para a Escócia conosco. Vou
pedir para que a senhora Cooper fique em sua casa, se assim a faz se
sentir melhor.

Espalmo a mão na testa. Não terei escolha, se não ceder as


vontades de Enrico. Ele está decidido quanto a Escócia.
—Agnes, não seja boba. Eu posso cuidar os seus gatos, se
precisar. Aproveite a oportunidade. — Liz abre um sorriso malicioso.
— Aproveita o fim de semana para perder a virgindade. — Dá uma
piscadinha.

Estranhamente, a meta de vida dos meus amigos é me fazer


perder a virgindade. De ambos, ainda.

—Vocês são terríveis! — Jogo um pedaço de carne na boca,


mastigando-a sem fome.

Como se não bastasse o noivo de Liz preocupado com a nossa


alimentação, agora Vito manda entregar comida quase todos os dias
para nós duas, às vezes, para os três, quando ele consegue almoçar no
escritório. Ao menos, eu consegui ganhar uma gramas a mais, mesmo
eu ainda vomitando quase todos os dias de manhã por conta da minha
gastrite nervosa.

Minha crise está durando mais que o comum, mas eu acredito que
seja por conta de toda essa situação com Vito. Querendo ou não, meu
coração já está em suas mãos e eu temo por ele, dessa forma, ficando
nervosa quando lembro disso.

—Eu passo aqui na quinta após o seu expediente, quero ir para a


sua casa. Vamos escolher os seus looks juntos.

Solto um suspiro. Desisto de tentar convencer Enrico ao


contrário. E eu precisarei ir para que Isaac possa nos acompanhar.

—Tudo bem.
Liz bate palminhas animadamente, a sua atitude chama a atenção
de algumas pessoas a nossa volta. Escondo o rosto entre as mãos.

—Liz entende das coisas. — Enrico abre um sorriso cúmplice


para a secretária.

Estou perdida. Já não basta o pecado encarnado chamado Vito


Costello, ainda tenho pequenos pecadores sussurrando em meu ouvido
para sucumbir. Certamente precisarei me confessar com o padre
quando for visitar vovó e vovô no final de agosto.
Observo encantada enquanto Vito responde às perguntas de
alguns estudantes. O CEO lida bem com pessoas, além de estar
incrivelmente lindo e charmoso em seu terno azul marinho com
caimento perfeito.

Vito é um colírio para os olhos.

—Você está quase babando. — murmura Liz.

—O quê?

Ela revira os olhos e faz um leve maneio de cabeça em direção ao


chefe.

—Está tão encantada com o homem, que fica evidente para


qualquer um. Você está apaixonada, Agnes Bellini. — Ela abre um
sorriso cúmplice

Não vou negar os fatos, realmente gosto de Vito, tanto ao ponto


de querer logo me entregar a ele.

Depois da nossa sacanagem na sua sala na segunda-feira, Vito


esteve muito ocupado, tentando encontrar um horário na sua agenda
cheia para essa palestra. Com a proximidade da inauguração do prédio
da Costello Imobiliária, os dias têm ficado tensos para o CEO. Além
do mais, Enrico inventou o fim de semana na Escócia, o que deixará
Vito longe do trabalho por dois longos dias.

Enrico me falou um pouco mais da viagem. Descobri que a


família Costello possui uma casa de campo em Edimburgo, um castelo,
para ser mais exata. O imóvel pertence à família há muitas gerações, e
eles não visitam o local desde a morte dos seus pais. Vamos sair no
sábado pela manhã, iremos no jatinho particular da Costello
Imobiliária. Será um fim de semana luxuoso e, segundo Enrico, com
muito sexo. É claro que meu amigo pervertido estava falando sobre ele
e Isaac.

—Pode-se dizer que sim. — Confirmo.

—Mas pelo visto não é a única. — Liz aponta para aonde Vito
está.

Ao seu lado, a senhorita Davies oferece gentilmente água ao


CEO. Insistentemente, mas acidentalmente, é claro, suas unhas roçam
no braço de Vito. Trinco o maxilar com raiva. Ela não parece
preocupada com o que os alunos pensarão das suas atitudes invasivas.
Ela quer o CEO e parece decidida a fazê-lo ceder.

—Descarada é pouco. — penso alto.

Liz solta uma gargalhada espalhafatosa, fazendo com que eu pare


de fulminar a loira.

—Você está morrendo de ciúmes.

Faço um movimento de dar de ombros. Sim, eu estou


ensandecida de ciúmes. Agora consigo entender a atitude de Vito ao
descobrir sobre o meu jantar com Ethan.

—Acalme-se, Agnes, homens poderosos e bonitos vem com uma


carga enorme. Se você começar a enlouquecer por todas as mulheres
que se jogam aos pés de Vito, no final, não será forte o suficiente para
aguentar o fardo.

—Que fardo?

—O fardo de ser a esposa de um CEO jovem e multimilionário.

Deus! Estou tentando ao máximo controlar os meus pensamentos


iludidos de escritora romântica. Contudo, isso será um desastre se Liz
não parar de ajudar com a ilusão. Parece idiota, Vito e eu nos
conhecemos a pouco tempo e estamos juntos a menos tempo ainda.
Porém, uma taurina apaixonada já planeja o casamento e os filhos
desde o primeiro encontro.
Olho para Vito novamente, ele sorri para um dos estudantes. Um
jovem rapaz que parece realmente interessado no assunto. Pego Vito
me procurando com o olhar a cada instante. Nossa conexão requer
atenção total em tempo integral. É como se sentíssemos uma urgência
de conferir se estamos realmente bem.

—Você conseguiu chegar a um consenso com a sogra? — Desvio


o foco para Liz.

Ela bufa e rabisca sua caderneta com mais força do que o


necessário.

—Não! Ela está inflexível com a sua decisão. Sabe, era para ser
um presente. No entanto, isso se tornou um pesadelo.

Liz e o noivo resolveram comprar um apartamento, sua sogra


resolveu presenteá-los com metade do valor do imóvel. Contudo, a
mulher está irredutível quanto a localização. Enquanto eles querem em
um bairro, a sogra quer o mais próximo da casa dela. Por
consequência, começou a guerra entre as mulheres da vida de Mark.

—Mark não consegue fazê-la mudar de ideia?

Liz solta uma risada de escárnio.

—Ele não quer magoá-la. Eu até entendo Mark, sabe? Mas a


compra do primeiro imóvel de um casal é para ser um momento único,
mágico. Mas a minha sogra está tornando isso um verdadeiro pesadelo.
Não sei o que eu faço.

Gostaria de poder ajudá-la, mas não sei o que falar. Eu entendo o


lado de Mark, ele está em uma disputa entre a futura esposa e a mãe,
não pode tomar um lado sem magoar a outra. Nessa guerra, uma das
duas sairá com o coração machucado. Ou até mesmo ele.

—O dinheiro dela é realmente necessário?

—Nós iriamos comprar de qualquer forma, mas é claro que


ajudaria, e muito. Nos aliviaria em anos e mais anos de financiamento.
— Ela solta a caneta com raiva.

—Eu não sei o que lhe falar, mas, se for tão bom assim. Ceder, às
vezes, é a melhor forma de chegar a uma conclusão. Eu sei que você
não desejava isso, mas também não significa que precisará morar para
sempre perto da sogra. Um dia vocês podem se mudar.

—Eu sei, vou pensar nisso. — Dá o assunto por encerrado. — E


quanto ao livro, como andam as coisas?

Solto um longo suspiro.

—Péssimo! Estou sem ideias. Depois que construí metade do


arquivo em uma semana, não saiu mais uma única palavra.

—E você sabe qual é o motivo do bloqueio?

—É claro que sim.

—E por que não resolve isso?

—Porque é impossível. Vito queria que eu tornasse o personagem


no segundo livro um cafajeste de carteirinha. Porém, agora que sei que
existe um Vito Costello de verdade, meu cérebro acaba comparando os
dois. Quando Vito foi um cretino, eu escrevi metade do livro pensando
nele, concentrando toda a minha raiva no personagem. Mas agora que
estamos nos encaminhando, eu não consigo escrever coisas ruins sobre
o homem que só vem me fazendo bem.

—Ele sabe que você não está conseguindo escrever o livro?

—Ele não pergunta pelo livro. É como se não importasse, não


mais.

Liz abre um sorriso. Ela batuca a caneta no queixo, pensativa.

—É claro que não importa mais, ele conseguiu o seu coração, e


você conseguiu o dele. Destruir a sua história significaria destruir uma
parte sua e, atualmente, Vito lhe daria o mundo, bem ao contrário de
magoá-la.

Eu já tive a mesma linha de raciocínio de Liz. Mas o livro foi um


acordo, e eu não gosto de quebrar promessas. Preciso de alguma forma
criar a porcaria da história, depois que eu terminar, Vito pode fazer o
que quiser com ela. Ficará a seu critério. Eu sei que Liz tem razão,
atualmente ele não faz mais diferença para o CEO, mesmo assim, ela
ainda faz diferença para mim.

Olho novamente para Vito, a tempo de ver a senhorita Davies


segurando o seu braço e gargalhando de alguma coisa que ele falou.
Que a Virgem Maria me dê serenidade e equilíbrio emocional. Passarei
a pedir paciência nas minhas rezas noturnas, pois é disso que eu
precisarei.
Vito Costello

Pego olhares de Agnes a cada instante na minha direção. Ela não


parece muito contente com as atitudes nada discretas da senhorita
Davies. A mulher está interessa em mim e deixou isso claro desde o
primeiro momento em que pôs os pés no meu escritório.

Agnes fica incrivelmente linda enciumada. Suas bochechas


assumem um tom avermelhado, ela pisca os olhos consecutivamente e
franze a testa a cada instante, possivelmente fazendo comentários
mentais zombeteiros sobre a situação.

Responder aos universitários me deixa entusiasmado. Eu sei


como eles estão se sentindo, um dia eu fui um deles.

O tempo passou tão rapidamente que eu mal vi a noite chegar.

—Senhor Costello, eu poderia lhe agradecer de alguma forma? —


A senhorita Davies esfrega as unhas em movimentos circulares nos
músculos do meu braço. Ela aproxima a boca no meu ouvido, para
sussurrar a última parte da sua indecente proposta. — Uma forma sem
roupas, de preferência.

Deus amado! Isso é o próprio capeta testando a minha sanidade.


Se fosse em outros tempos, eu já teria transado com a mulher há muito
tempo, na primeira oportunidade. Mas agora, com Agnes Bellini, as
coisas são diferentes. Eu mudei.
Olho para o local aonde o motivo dos meus pensamentos está.
Agnes desvia os olhos de mim para a mulher e vice-versa. Seu
semblante alterna entre espanto e raiva. Ela comunica alguma coisa
para Liz, levanta-se subitamente e some corredor adentro.

Merda!

Olho para o lado e percebo que a senhorita Davies está agarrada


em mim. Pudor não existe no seu vocabulário. Educadamente, eu me
afasto. Abro um sorriso contido para ela e coloco as mãos nos bolsos
da calça.

—Não estou disponível. — Desço do palco a passos rápidos.

Procuro Agnes por todos os cantos, não a encontro em lugar


nenhum. Não é possível que tenha ido embora. Ela está furiosa e eu
nem tenho culpa dessa vez.

Paro em frente a porta do banheiro feminino, é o único lugar


onde Agnes possa estar. Entre causar um surto coletivo ou surtar, eu
opto pela primeira opção.

Lentamente, abro a porta e entro, espiando de canto de olho para


dentro disfarçadamente, pois não quero parecer um pervertido. Agnes
está parada, com as mãos espalmadas na pia, observando o seu reflexo
através do espelho. Ela não percebe a minha presença.

—Agnes. — Chamo a sua atenção.

Ela se vira imediatamente para mim. Ao constatar que não há


mais ninguém, chaveio a porta, nos mantendo sigilosamente no
banheiro feminino.

—O que você está fazendo? — Seus olhos ficam esbugalhados de


pânico, com medo de ser pega fazendo algo errado.

—Está tudo bem? — Me aproximo lentamente.

Agnes solta um suspiro. Em poucos passos estou tão próximo


dela que seu perfume adocicado impregna as minhas narinas.

Vagarosamente, Agnes coloca seus delicados dedos em meu


queixo e vira o meu pescoço em direção ao espelho. No reflexo,
consigo enxergar uma mancha vermelha de batom próximo a minha
orelha. Vadia!

Esfrego a mão no local com raiva, tentando remover a marca.

—Você não pode me culpar por isso. — falo.

Agnes exaspera e se afasta um pouco.

—Eu sei que não, mas não consigo viver bem vendo outra mulher
demonstrando tanto interesse por você.

—Por ora, não poderemos fazer nada, Agnes. Você tem um


compromisso com Isaac e Enrico.

Não quero assumir nada com ela por enquanto, assim como tenho
certeza que ela também quer manter sigilo. Além do mais, se Agnes
assumir algo comigo, o disfarce de Enrico e Isaac irá por água abaixo,
e eu não quero ser o motivo do sofrimento do meu irmão. Outrossim,
tudo o que começa intensamente, queima mais rápido ainda. Calma é a
melhor opção para nós. Prometemos fidelidade e, no momento, isso é
o que importa.

—Eu sei, seu sei... — Concorda.

Agnes possui um grande problema com falta de confiança. Ela


precisa entender e aprender o quanto é linda. Todos os dias eu tenho
que reafirmar o meu interesse para que ela não duvide dos meus
sentimentos.

Agarro sua cintura e puxo o seu corpo de encontro ao meu.


Afasto uma mexa de cabelo, colocando-a atrás da orelha. Me aproximo
do seu ouvido para sussurrar:

—Eu quero você, Agnes Bellini.

Os pelos da sua nuca ficam arrepiados. Agnes solta um pequeno


gemido. Eu adoro a forma como o seu corpo responde ao meu tão
rapidamente e abertamente.

Encontrei em Agnes algo que nunca tive com nenhuma outra


mulher: química.

Pressiono nossos lábios de forma delicada. Sua boca abre


passagem para a minha língua. Seu gosto de chiclete de morango se
espalha em minha boca. Deliciosa. Mordisco seu lábio inferior.

Nossos toques se limitam a mãos e bocas, mas isso já é o


suficiente para que o meu corpo queime em brasas flamejantes.
Arrasto-a até a parede.
—Nosso primeiro beijo foi em um banheiro feminino. Acho que
sou um verdadeiro pervertido. E a culpa é toda sua, Agnes Bellini. —
Sussurro em seus lábios.

Agnes solta uma risadinha nervosa. Suas mãos vagueiam pelos


meus cabelos, massageando o couro cabeludo.

—Devo abrir uma reclamação junto a universidade? — debocha.

Espalho beijos pelo seu pescoço. Eu adoro sentir o cheiro do seu


perfume, o álcool pinicando a minha língua.

—Acho que posso conseguir remição sem que isso precise ser
feito. — Meu hálito quente contra a sua pele, deixa-a ainda mais
arrepiada.

—Estou curiosa quanto a isso, senhor Costello. — Suas palavras


me atiçam.

Desço minha mão pela extensão no seu braço, passando pela


cintura e chegando ao seu centro. Sinto o corpo de Agnes ficar rígido
ao perceber a minha intenção.

—O que você está fazendo?

—Você precisa relaxar, querida. Parece muito estressada.

Abro o botão da sua calça e enfio minha mão para dentro do


tecido. Apesar de ter os movimentos limitados, eu ainda conseguirei
praticar uma boa masturbação no seu clitóris desejoso. Com
facilidade, passo um dedo pelos lábios vaginais e constato que ela já
está melada. Espalho sua lubrificação por toda a sua extensão, até
chegar ao ponto almejado. Passo um dedo pelo local.

—Vito! Oh céus!

Lentamente faço movimentos circulares, enquanto volto a beijar


sua boca. Acelerando e desacelerando. Seu nervo começa a inchar.
Agnes solta gemidos através do beijo. Dou leve batidinhas, enviando
choques de prazer para o seu corpo.

—Não vejo a hora de colocar minha boca novamente nessa


perfeição. — Sussurro em seu ouvido.

Trinco o maxilar com força sentindo o meu pau empurrar o tecido


da calça em busca de libertação. No entanto, esse momento não é para
mim, mas sim para ela.

Continuo os movimentos.

—Me fale, querida, qual você gosta mais?

Sinto a sua lubrificação aumentar. Agnes ergue o corpo em


direção a minha mão. Ela está quase chegando ao ápice. Círculo o
nervo colocando mais pressão.

—Assim... sim, assim... — murmura entre gemidos.

Aumento o ritmo. Sinto o exato momento em que o seu corpo


começa a sacolejar. Agnes agarra o meu braço com força e finca as
unhas na minha pele. Em poucos segundos, minha mão fica
completamente molhada do seu orgasmo. Seu corpo relaxa e ela se
agarra a mim para permanecer em pé.

—Deus amado! Vito você é louco. — Fala após sua consciência


retornar.

Abro um sorriso malicioso. Se ela soubesse todos os desejos


pecaminoso que possuo com o seu corpo em mente. Ou de todas as
coisas que tenho vontade de fazer com ela. Não ficaria perto de mim
por nem mais um segundo.

—Louco de desejo por você. — Beijo a sua testa.

Ajudo Agnes a se lavar. Ela abre a porta do banheiro e espia,


antes de me dar passagem para fora do cômodo feminino.

—Eu tenho muitos planos para nós dois, Agnes Bellini. —


Murmuro enquanto retornamos juntos, mas comportadamente, para o
local das palestras.

—Não sei se me sinto curiosa ou temerosa. — Retruca.

—Se eu fosse você, sentiria um pouco dos dois. Pois, depois que
eu começar, nem mesmo a sua inocência restará.

Ela cora e desvia o olhar. Agnes não fica envergonhada com as


minhas promessas libidinosas, pelo contrário, ela parece interessada e
ansiada.

Entramos na sala em silêncio. Vejo de longe a senhorita Davies


acenando para mim. No entanto, a única coisa que está em minha
mente é a ânsia no olhar da escritora.
—Eu prefiro esperar Anderson. — reclama Enrico.

Meu amigo disse que iria me ajudar a arrumar as malas e eu


concordei. Contudo, quero fazer algo antes e preciso da sua
companhia.

—Vamos logo, Enrico. Eu vou para o trabalho de metrô todos os


santos dias. — Exaspero.

Enrico não está contente com o nosso meio de locomoção. Não


o culpo, ele nunca andou em nada na vida que não fossem automóveis
que valem milhões. Porém, se há algo bom em Londres, esse algo é o
seu metrô.

—Eu não acredito que você, Agnes Bellini está indo em um Sex
Shop. — zomba.

Estou começando a repensar na ideia de ter convidado Enrico.

Olho para os lados atormentada com a hipótese de que alguém


possa ter escutado a conversa reveladora.

—É algo natural.

Enrico me olha de esguelha e abre um sorriso malicioso.

—Eu não disse que era antinatural, só pensei que a sua religião
não permitisse esse tipo de coisa.

Reviro os olhos.

—Eu ainda sou virgem por escolha própria, Enrico, e não pela
religião. Apesar de ser pecado, ninguém me apedrejará por isso.

—Eu só acho estranho você e Vito ficarem por aí se chupando e


se masturbando com normalidade, mas a virgindade precisa ficar
intacta.

Virgem Maria Santíssima! Eu vou ter um colapso nervoso. Até


sinto a minha gastrite mandando lembranças. Foi uma péssima ideia
contar a Enrico os acontecimentos, narrando até os mais sórdidos
deles. No entanto, se eu não o fizesse, passaria o resto da vida sendo
perturbada pelo Costello mais jovem.
Inspiro e expiro o ar com força, tentando acalmar a onda de
vergonha que me assolou, antes de começar a explicar os fatos.

—Eu sou virgem porque assim que meu hímen se romper, não
haverá mais volta. — Abaixo o tom da voz para a resposta seguinte
sair em um sussurro. — E eu não chupei Vito.

Enrico solta uma risada de escárnio.

—Ainda né, meu bem. Vocês estão se masturbando em


banheiros públicos, falta bem pouco para cair de boca no pau do meu
irmão.

Fico estupefata. Como Enrico pode falar dessas coisas em uma


rua movimentada com tanta naturalidade?

—Enrico, pelo amor de Deus! — Ralho.

Ele solta uma gargalhada espalhafatosa.

—Agnes você fica um amorzinho quando está envergonhada.

Preciso mudar de assunto urgentemente. Enrico não entende o


meu conceito de sexo. Para ele é algo carnal, já para mim, é algo
espiritual. Eu sei que Vito é o certo, só não encontrei o momento
adequado ainda. Quero me entregar de corpo e alma no momento que
eu decidi que estou pronta. Antigamente as pessoas tinham a
virgindade como honra, hoje em dia usam como um trunfo. Virgindade
nada mais é do que uma condição feminina, condição que somente a
mulher pode decidir quando cedê-la.
—Então... você pode surpreender Isaac aparecendo com alguns
produtinhos hot. — Dou uma cotovelada em Enrico.

Espero que ele não perceba a minha clara tentativa de mudar o


assunto.

—E você acha que eu já não pensei nisso? Até pesquisei os mais


interessantes na internet. Mas agora me fale você, o que uma virgem
compra em um Sex Shop, além de um vibrador?

Como eu adoro as respostas certeiras de Enrico. Para ele soa tão


natural que não percebe o humor ácido que possui.

Não respondo. Eu tenho algumas ideias do que comprar. Não


posso falar com certeza que perderei a virgindade nessa viagem, mas
também não permanecerei trancada em um quarto sozinha longe dos
dedos ou boca de Vito. Na Escócia, quero criar a coragem que me falta
e me deliciar no membro que eu sinto tanta curiosidade.

Entramos na loja que eu costumo vir quando estou sozinha.


Sempre fico envergonhada quando venho aqui, mas logo passa ao me
perder lendo os rótulos e especificações de cada produto.

Enrico pega uma cesta e escolhe tanta coisa que parece que ele
fará uma orgia para conseguir testar tudo. Pego um gel que esquenta e
esfria para o sexo oral e umas bolinhas lubrificantes. Talvez eu precise
disso um dia.

Saímos da loja e eu escondo as sacolas na bolsa, diferente de


Enrico que queria sair por aí mostrando para todos que foi a um Sex
Shop.
—Tem certeza que isso é seguro? — Pergunta Enrico teimando
em não entrar no metrô.

Deus, dai-me paciência. A estação está lotada, pessoas


caminham apressadamente de um lado para o outro. E Enrico está
fazendo birra no meio do local. Daqui a pouco seremos arrastados com
a multidão e perderemos um ao outro de vista. E aí teremos um
enorme problema, pois Enrico perdido na estação de metrô de Londres
seria algo icônico.

—Venha logo, Enrico!

Eu falei para ele não deixar objetos de valor estimado à vista.


Os batedores de carteiras estão por toda a parte. É claro que isso
ajudou a piorar drasticamente o pânico de Enrico do local.

—Se eu morrer, eu volto do inferno somente para matar você.


— Sua afirmação não teve coerência nenhuma, mas tudo bem.

Meu celular começa a tocar no meu bolso. Retiro o aparelho e


constato que vovó está me ligando, estranho a hora.

—Eu preciso atender, você sabe onde eu moro. Selecione a


estação.

Atendo o celular com o coração na mão.

—Que Deus nos ajude. — Ouço Enrico murmurar antes de me


concentrar na ligação.
Vovó me ligou para falar que vovô saiu com o carro pela primeira
vez na vida. Ele deu a volta na quadra, o que causou uma grande
emoção. E o momento histórico precisava ser compartilhado comigo.

Estranho a viagem estar demorando tanto, estava tão contente


com vovô e vovó que não parei para confirmar se Enrico acertou a
rota.

—Você tem certeza que escolheu a rota certa? — pergunto


ficando preocupada.

Estamos sentados mais ao fundo. Por conta do horário de pico, os


bancos estão lotados.

—Por quê?

—Está demorando mais que o normal. Vamos descer na próxima


parada.

Ultimamente eu ando tendo somente ideias brilhantes. Céus! O


que passou pela minha cabeça deixar Enrico nos conduzir? Foi a
primeira vez dele no metrô, é claro que estamos perdidos.

Puxo Enrico pela mão para fora do metrô, e descubro o que já


estava escancarado. Sim, estamos no lugar errado.

—E agora? — Enrico pergunta temeroso.

Eu também não estou mais tão animada assim. Já é noite e alguns


bairros podem ser bem perigosos a essa hora. Olho para todos os lados
em busca de alguma solução.

—Vamos pegar outro metrô, o certo dessa vez.

Enrico dá uma risada debochada e me olha da cabeça aos pés de


forma sugestiva.

—Você acha mesmo que eu vou voltar para dentro daquela


bugiganga novamente? Eu vou ligar agora para Vito. Se você não fosse
tão teimosa, nós já estaríamos em casa.

Cerro os dentes. Eu pego essa porcaria todos os dias e nunca me


perdi, porém, Enrico tem razão, eu que o induzi a fazer a viagem, se
não fosse pela minha insistência, não estaríamos aqui. Além do mais, é
claro que ele não gostou do transporte público, afinal, é totalmente
diferente do banco de couro, com ar-condicionado e motorista
particular que ele está acostumado.

—Vamos sair daqui. — fala já com o celular no ouvido.

Paramos em via pública, enquanto ele manda a localização para


Vito. As ruas ainda estão um pouco movimentadas para a nossa sorte.
Eu nem sei em qual bairro estamos, conheço poucas coisas de
Londres, não faz tanto tempo assim que me mudei.

—Vito está vindo nos buscar. Para a nossa sorte, ele estava indo
para a casa.

—Tá bom. — murmuro.


—Você está chateada, Agnes? — indaga Enrico.

—Não é isso, eu só queria te levar para fazer uma coisa diferente,


e deu tudo errado. — Dou de ombros.

Enrico solta um suspiro exasperado.

—Olha, você me levou ao Sex Shop, é diferente e eu adorei. No


entanto, nunca mais me convide para andar de metrô. — Abre um
sorriso debochado.

Respondo ao seu sorriso e empurro levemente o seu ombro.

—Você tem razão, isso não é tão divertido. — Esfrego os braços


tentando afastar o vento noturno gélido.

—Agnes, aprenda uma coisa, eu sempre tenho razão. — Reviro


os olhos. A senhora Costello caprichou na dose de amor próprio dos
filhos.

Um carro estranho para na nossa frente, o condutor do veículo


abaixa os vidros, revelando três homens dentro dele.

— Oi, delícia. Quanto está o programa? — O motorista abre um


sorriso malicioso. Ele parece ter cerca de quarenta anos, possui os
cabelos pretos e olhos escuros.

O QUê?! Olho para Enrico boquiaberta, completamente


apavorada com a situação. Fico sem reação, não sei como proceder.

— É muda, querida? Mas sabe trabalhar com a boca? — O que


está sentado no banco de trás, loiro e todo tatuado, faz a pergunta.
Eles começam a rir, achando a maior graça do mundo falarem
coisas absurdas para uma mulher. Minhas bochechas ficam vermelhas,
simultaneamente de raiva e vergonha.

— Caiam fora! — brada Enrico.

Os homens se olham e começam a gargalhar ainda mais alto.

— Não estamos falando com você, viadinho!

Enrico engole em seco e fica em silêncio, ele não retruca a


ofensa. Raiva queima em minhas veias. Começo a enxergar vermelho,
pois fico possuída.

—Vão para o inferno, seus desgraçados! — Grito.

Enrico vira-se para mim tão rapidamente que o movimento


parece inumano. Seus olhos esbugalhados, testa franzida e boca aberta
revelam que ele não esperava a minha súbita mudança de humor.

Eu odeio preconceito, e isso é tudo o que esses desgraçados


remetem.

—Esquentadinha, será que é assim lá embaixo também? — O


loiro olha para o meio das minhas pernas.

Minhas mãos começam a tremer. Estou nervosa. Esse tipo de


gente não costuma ser gentil. Enrico e eu estamos correndo um grande
risco.

—Eu já falei para vocês irem embora! Vocês não sabem com
quem estão falando. — Esbraveja Enrico entredentes.
O motorista solta uma risada zombeteira, ele coloca um braço
preguiçoso escorado na janela e olha para Enrico com desdém.

—Cala a boca, gayzinho. — O condutor cospe as palavras com


desdém.

Isso é o suficiente para me fazer explodir. Seguro a minha bolsa


pela alça e bato no rosto do homem que dirige o veículo com toda a
força que possuo.

—Cadela desgraçada! — O homem do banco de trás grita.

O motorista tapa os olhos. Vejo sangue escorrendo da sua


bochecha. Não sinto pena, no meu interior, eu estou rindo e
comemorando que consegui fazê-lo sentir dor, assim como fez com
Enrico ao proferir palavras preconceituosas.

O loiro tatuado começa a abrir a porta, sem esperar, chuto a porta


com brusquidão, ela se fecha novamente e o vidro explode em sua
cabeça, causando um verdadeiro estrondo.

Vito Costello

Começo a repassar mentalmente os motivos para não matar


Enrico e Agnes. Eu quase tive um infarto quando o meu irmão me
ligou e relatou que eles estavam perdidos em um bairro perigoso, e,
para piorar, durante a noite. Anderson correu como um louco pelas
ruas de Londres para chegar ao local o mais rapidamente possível.
Quando avistamos os dois, Agnes parecendo incomodada e Enrico
cabisbaixo, com um carro estranho estacionado frente a eles, eu soube
que eles estavam em apuros. Desci tão rápido do meu veículo que
quase caí estatelado no chão quando meu pé pisou em falso. No
entanto, nada havia me preparado para ver Agnes Bellini explodindo a
porta na cabeça de um homem.

A escritora nervosa e envergonhada é somente uma casca para


esconder a mulher brava e destemida.

Deus! Acho que estou apaixonado por Agnes Bellini.

Me aproximo correndo deles. Olho para o carro e vejo o


motorista com o rosto ensanguentado, enquanto o do banco traseiro
aperta a testa com força.

—O que diabos está acontecendo aqui? — brado.

Enrico está imóvel, como se estivesse em choque com a situação


e Agnes parece apavorada.

Meu irmão parece retornar para o mundo real, ele começa a


gargalhar tão alto, que lágrimas saem dos seus olhos. Agnes coloca as
mãos na boca e encara o amigo sem compreender nada.

—Esses babacas foram machistas e homofóbicos. — Fala Enrico


entre uma risada e outra. — Depois disso, Agnes bateu neles como um
lutador de UFC.

Eu já disse que Agnes Bellini tem o costume de me deixar sem


palavras e reações? Bom, tirando a raiva e a vontade de matar os
desgraçados à minha frente que domina todo o meu coração. Estou
imensamente orgulhoso da mulher que está ao meu lado.

Viro para Anderson e faço um sinal positivo de cabeça. Ele


entende. Quero que ligue imediatamente para a polícia. As atitudes
desprezíveis desses desgraçados não poderão ficar em vão. Hoje foi
com Agnes e Enrico, amanhã pode ser com outro alguém.

Olho para Agnes, ela ainda parece estar em choque. Seu rosto
está mais branco do que o normal e seus lábios tremem levemente.
Abraço-a e beijo sua cabeça, o cheiro adocicado do seu shampoo
impregna as minhas narinas.

—Você está bem? — Sussurro próximo ao seu ouvido.

Ela maneia a cabeça em sinal positivo, não parece preparada para


proferir absolutamente nada.

—E você? — pergunto para Enrico.

Ele ainda gargalha. Enrico está claramente nervoso. Rir é uma


das formas que encontra para fugir da realidade e esconder os
sentimentos.

—Estou ótimo. Agnes você é o máximo! — Comemora a


agressão da amiga aos babacas.

—Deus! O que foi que eu fiz? — murmura.

Um dos homens, um loiro tatuado com o rosto ensanguentado que


está sentado no banco traseiro, olha para Agnes e arregala os olhos.
—Você é louca! Fique longe de mim!

Trinco o maxilar com força, apertando os dentes com muita


intensidade.

—Cala a sua boca! — esbravejo. — Se continuar agredindo-a


verbalmente, tratarei de fazer com que passe o restante dos seus
malditos dias dentro da cadeia.

Ele engole em seco e abaixa a cabeça, escondendo o rosto entre


as mãos.

Mantenho Agnes em meus braços, tentando acalmá-la.


Normalmente, ela é tranquila e serena. Agnes é uma pessoa de paz. Me
pergunto, o que foi que eles falaram para fazê-la perder o controle.
Espero que ela não fique se culpando por isso.

A polícia chegou ao local em poucos minutos e ouviu o relato dos


dois, depois disso, conduziu os meliantes para a delegacia. Eu liguei
para Thomaz e pedi para que ele acompanhasse o processo de perto,
pois jamais deixarei que meu irmão sofra preconceito e o responsável
não responda por isso.

Conduzi Agnes até a sua casa. Enrico e eu fomos embora depois


de garantir que ela ficaria bem, que estava calma e apta para ficar
sozinha. Os gatos ficaram o tempo todo na volta da dona, como se
pressentissem que ela estava precisando de companhia. Esperei seu
convite para passar a noite. Contudo, nosso relacionamento ainda não
chegou a este ponto, por enquanto.
Solto um longo suspiro. Estou exausto, a inauguração do novo
prédio da Costello Imobiliária tem ocupado, além dos meus dias, a
minha mente. Amanhã cedo viajaremos para a Escócia, invenção do
Enrico, apesar de eu estar ansioso para isso, por conta da presença de
Agnes, não posso negar de que a data não poderia ocorrer em
momento pior.

Batidas na porta interrompem as minhas divagações.

—Entre. — Jogo meu corpo para trás na cadeira e aguardo.


Thomaz entra com um sorriso no rosto.

—Vito Costello, ou devo chamá-lo de chefe agora?

Levanto-me da cadeira, fazendo-a oscilar. Havia esquecido


completamente do convite feito a Thomaz para incorporar o time da
Costello Imobiliária. Todavia, não poderia escolher ninguém melhor
para isso. Confio veemente em Thomaz, e tê-lo no meu time é uma
honra. Aperto a sua mão com força.

— Bem-vindo ao time, Thomaz!

— Eu é que agradeço a oportunidade, Vito.

— Já está bem instalado? O que está achando da equipe?

— Bem instalado, está brincando? A estruturação do prédio é


perfeita, minha sala é digna de realeza, mesmo eu não sendo o chefe
do setor... — Seu sorriso não chega aos olhos com a última afirmação.
— O senhor Wilson é bem... cordial.

Wilson é o chefe do setor jurídico. Ele é um homem velho e


confiável. Era o braço direito do meu pai, antes da sua morte. Apesar
de estar em idade de se aposentar, ama o seu trabalho e fala que só
sairá da empresa demitido ou morto.

—Fico feliz que esteja gostando, Thomaz. É bom ter alguém de


confiança no time da empresa.

Thomaz faz uma reverência debochada.

—Vai me explicar em que merda se envolveu ontem?


—É uma longa história, espero que esteja analisando o processo,
pois eu quero justiça pelo meu irmão.

—Relaxa, cara, está tudo sob controle. Farei tudo o que estiver
ao meu alcance para cumprir conforme o seu desejo.

Faço um sinal positivo com a cabeça. Eu sei que ele vai cumprir
com a promessa. Se preciso for, continuarei processando todas as
pessoas que forem preconceituosas com o meu irmão, até o dia em que
ele possa sair livre na rua, sem essa nuvem negra atormentando-o
diariamente.

—Então, onde está a sua assistente pessoal gostosa?

Meu sorriso se desfaz imediatamente. Eu não contei a Thomaz a


minha relação com Agnes. Ele não faria tais comentários se soubesse,
tenho certeza disso. Contudo, não posso deixar de sentir raiva.

—Não é da sua conta. — Retruco secamente. Thomaz parece não


gostar da minha resposta ácida, pois seu semblante denota raiva. —
Agora, se me der licença, preciso retornar ao trabalho.

—É claro, chefe. — Consigo sentir o sarcasmo em sua voz.

Ele sai da minha sala tão rapidamente quanto entrou. Me jogo na


cadeira e aperto as minhas têmporas, uma dor de cabeça chegando.
Droga! Eu odeio ser estúpido com as pessoas que gosto, porém,
quando o assunto é Agnes Bellini, eu não consigo controlar as minhas
emoções.

Meu telefone toca e eu dou um pulo, assustando-me com o


barulho estridente.

—Sim.

—Senhor Costello, o detetive Green está aqui.

—Quem diabos é detetive Green?

—Ele disse que o assunto é sigiloso.

—Mande-o entrar.

Possivelmente deve ser algo relacionado com o ocorrido de


ontem com Agnes e Enrico. A escritora não manifestou vontade de
processar os homens, mas meu irmão sim. Agnes servirá como
testemunha, e, enquanto eles não pagarem pelas ofensas proferidas, eu
não sossegarei.

O detetive Green é um homem mais jovem do que eu imaginava,


o rapaz provavelmente se juntou a polícia inglesa a pouco tempo.

—Boa tarde, senhor Costello. — Ele caminha até a minha mesa e


aperta a minha mão em cumprimento.

—Detetive Green, em que posso ajudá-lo? — Faço sinal para que


ele se sente à minha frente.

Após se acomodar, o detetive retira de dentro de sua pasta um


papel contendo algumas informações.

—Antes de começar, gostaria de pedir que esse assunto seja


sigiloso, pois o senhor ou o seu irmão podem correr risco de vida se
for parar em mãos inapropriadas.

Sinto o meu coração acelerar. Minhas mãos ficam levemente


trêmulas, pouso-as em minha mesa para disfarçar o meu nervosismo.
Poucas coisas no mundo me deixam assim. Desde o falecimento
atípico dos meus pais, todas as vezes que o assunto risco de vida é
colocado em pauta, eu fico desconcertado. Faço sinal para que ele
continue.

—Eu sou jovem na polícia, fui promovido a detetive a pouco


tempo. Fui incumbido, inicialmente, para arquivar casos não
solucionados, com isso, o acidente dos seus pais acabou parando em
minhas mãos. — Pego uma garrafa de água e começo a molhar a
minha garganta com o líquido, tentando não ter um colapso nervoso.
— Eu estava fazendo os procedimentos de praxe para o arquivamento,
quando reparei nisso aqui. — Ele me entrega o papel.

Leio os dados, mas não consigo compreender nada de errado.


Narra somente as condições do carro que meus pais estavam usando no
fatídico dia.

—Não entendo... — Murmuro. Sou bom em muitos assuntos, mas


carro não é um deles.

—Olhe para esses números. — Ele aponta para uma linha em


específico. — O freio do carro não estava funcionando.

Sinto vontade de vomitar. Tudo o que digeri durante o almoço


com Agnes, está prestes a voltar. Dou graças a Deus por ter dado folga
para a escritora, depois de ontem, Agnes não conseguiu se organizar
para a viagem, portanto, resolvi dar uma tarde livre para que ela e
Enrico pudessem arrumar tudo.

—O que está acontecendo? Os detetives da época falaram que foi


a neblina que causou o acidente.

—Possivelmente seja uma das ocorrências, senhor Costello. No


entanto, está descrito aqui que o freio do carro dos seus pais estava
inapto.

—Você está me dizendo que meus pais foram assassinados? —


As palavras ardem em minha garganta.

O detetive me olha com piedade.

—Sim.

Me levanto abruptamente da cadeira, fazendo-a cair para trás,


causando um estouro que ressoa por toda a sala. Começo a andar de
um lado para o outro, em uma atitude nervosa.

—Então por que eu estou sabendo disso somente agora?

—Este é o ponto em que eu quero chegar. Para que isso não


tivesse vindo à tona anteriormente, muito dinheiro deve ter sido
colocado em pauta.

—O quê? — grito.

—Corrupção, senhor Costello. Alguém comprou o silêncio dos


policiais. Por isso peço sigilo, para que isso tenha ocorrido, o causador
da morte dos seus pais é uma pessoa com dinheiro e poder.
Agarro meus cabeços com força e puxo as madeixas. A dor de
cabeça que antes era somente um resquício, agora é algo real e
incomodativo.

—O senhor teria alguma ideia de quem gostaria de ver os seus


pais mortos?

Essa pergunta é ridícula. Meu pai era um CEO, um homem


poderoso. Temos muitos concorrentes, mais do que eu posso me
lembrar.

—Posso passar alguns nomes, mas não tenho ideia de quem possa
ser.

—Isso já é um início.

Algo não bate nessa história, já faz anos desde o acidente que
matou os meus pais. Por qual motivo não vieram atrás de mim e
Enrico?

—Como eu disse, peço sigilo, senhor Costello. Assim que eu


obtiver novas informações, venho comunicá-lo.

—Não quero que o meu irmão saiba disso, ele sofreu demais com
a morte precoce dos nossos pais. Por mais que essa prova seja
contundente em um possível assassinato, já passou muito tempo, sei
que será difícil encontrar um culpado. Não quero reabrir a ferida.

—Eu entendo, senhor Costello. Quero que saiba que farei tudo o
que estiver ao meu alcance para trazer justiça a sua família. Sinto
muito pela sua perda.
Passo a lista com os nomes para o detetive e agradeço a sua
iniciativa em tentar resolver um caso que há muito tempo foi
arquivado.

Me sinto culpado por não ter investigado isso mais a fundo na


época. Porém, eu estava tão ocupado tentando consolar Enrico e ao
mesmo tempo ser um CEO tão importante quanto papai, que deixei de
lado qualquer suspeita de assassinato.

Minha mente não foca em mais nada, não consigo tirar da cabeça
a conversa que eu tive com o detetive. É como se um gatilho há muito
esquecido tivesse sido acionado.

Dando o expediente por encerrado, saio da minha sala com a


cabeça atormentada. Preciso de um tempo para colocar os meus
pensamentos em ordem.

Agnes Bellini

Em quarenta minutos, chegamos à Escócia. O jatinho particular


dos irmãos Costello é, com certeza, o ambiente mais refinado que eu
já pisei. Além de ter sido a viagem mais tranquila e mais luxuosa que
eu já fiz na vida.

Vito está estranho e calado desde ontem. Enrico e eu já tentamos


descobrir o que é, mas ele mantém sigilo do que vem lhe
incomodando. Cheguei até mesmo perguntar à Liz se algo aconteceu
na empresa, mas ela negou. Cogitei também ter sido do ocorrido de
quinta-feira, mas ele parecia normal, somente com raiva dos
delinquentes na sexta de manhã. E seu comportamento se alterou
apenas na parte da tarde, então descartei mais essa possibilidade.
Dessa forma, resolvi lhe dar espaço, ele parece precisar e querer isso.

Enrico não estava brincando quando disse que sua casa na


Escócia nada mais era do que um castelo, uma singela herança de
família. O lugar é divino, simples assim. Isaac e Enrico vão dividir um
dos quinze quartos disponíveis na mansão. Arriscadamente, o meu é ao
lado do de Vito. Segundo Enrico, para que eu não me perdesse com
tantos corredores.

Tento manter minha mente distante da noite de quinta-feira. Eu


ataquei dois homens sem pensar duas vezes. Céus! Eu os fiz sangrar.
Rezei muito pedindo perdão a Deus naquela noite, me senti culpada
por tê-los machucado. No entanto, eles ofenderam Enrico, ferindo os
seus sentimentos. Eu não pensei, somente agi. Fiquei em choque por
longas horas, atordoada com a pessoa na qual me transformei. Passei a
noite acordada na companhia dos meus fiéis peludos. No outro dia, me
levanto melhor, querendo seguir em frente. Não quis registrar
ocorrência da minha parte, mas jamais me negaria em testemunhar a
favor de Enrico. Ele merece justiça.

—Agnes, acorda para a vida, querida! — Enrico joga uma


azeitona em mim.

Estou me sentindo como uma verdadeira princesa, deitada em


uma espreguiçadeira que vale mais do que todos os móveis do meu
apartamento, bebendo uma taça de vinho branco, e desfrutando de uma
deliciosa tábua de frios, tudo isso na beira da suntuosa piscina
olímpica da mansão.

Jogo a azeitona em Enrico de volta.

—Estou aproveitando o momento.

—Então aproveita voltando para a vida. Estamos discutindo o


que faremos hoje à noite.

—Como assim? — indago confusa.

O plano era de que ficaríamos trancados desfrutando dessa


mansão por dois dias seguidos. A viagem é para descanso e lazer, ao
menos foi isso que ele falou para conseguir convencer Vito a vir em
um fim de semana tão próximo de um evento da Costello Imobiliária.

—Percebi ao chegar aqui que estava com saudades da Escócia.


Estou pensando em jantar fora. — Dá de ombros.

Observo Vito através das janelas, ele está dentro de casa,


mexendo em seu notebook, trabalhando sem parar. É claro que ele não
aceitará sair conosco. Algo incomoda o CEO, ele não aparenta estar no
clima para sair. Apesar do semblante que denota preocupação, ele
parece incrivelmente jovial com a roupa despojada. Vito é uma afronta
à sociedade, sua beleza deveria ser estudada.

—Estou muito casada, prefiro ficar em casa. — Solto um bocejo


forçado para dar ênfase na minha mentira.

Enrico bufa. Ele olha para Isaac com olhos pidões. Seu
namorado, entendo as súplicas do Costello mais jovem, cai na
gargalhada.

—Vamos nós dois. Um jantar romântico, o que acha? — Isaac


pisca para ele. Em seus olhos, promessas libidinosas de uma noite
quente.

Enrico, pela primeira vez na vida, cora. Ele abre um sorriso


malicioso e morde o lábio inferior, desejoso pela noite quente que
terão pela frente.

—Vocês estão impossíveis! — Jogo uma das minhas almofadas


neles.

Os dois caem na gargalhada, reparando que estão me deixando


desconfortáveis com essa tensão sexual no ar. Deus! Por mais que eu
esteja me atualizando em assuntos sexuais, e esteja prestes a perder a
minha virgindade oral, eu ainda me sinto envergonhada em falar
publicamente sobre esses assuntos.

—Vocês já descobriram o que está acontecendo com Vito? —


Pergunta Isaac em dado momento.

Como um ímã, meus olhos voltam novamente para o CEO.


Gostaria de poder ler mentes, para descobrir o que tanto lhe atormenta.

—Não. Ele não fala absolutamente nada. — responde Enrico.

—Não deve ser nada grave. Provavelmente algo com a empresa,


e ele não deve estar falando para não os deixar preocupados.

—É, deve ser isso mesmo. — pontua Enrico.


Me mantenho silente. Algo me diz que isso é mais do que um
simples problema com a empresa. Vito é um CEO focado no trabalho,
mas também sabe diferenciar as coisas. Ele é desde o homem que
mantém um dia da semana de folga, faça chuva ou sol, somente para
passar mais tempo com o irmão, ao homem que administra um império
bilionário com punhos de ferro. Ele não passaria a viagem toda
enfurnado dentro de casa, com os olhos vidrados no computador por
algo trivial.

Aproveitarei que ficaremos somente Vito e eu em casa para tentar


arrancar alguma informação. Todas as vezes que eu tenho precisado,
tenho ao CEO para contar com ajuda. Quero estender minha mão a ele
de alguma forma, assim como ele tem feito a mim. Além do mais,
tenho alguns planos libidinosos com Vito Costello em mente, e nada
melhor do que uma casa vazia para colocar em prática todos os desejos
que mantenho em pensamentos. Se eu não posso fazer Vito falar, ao
menos, conseguirei fazê-lo relaxar.
Enrico e Isaac saíram já faz algumas horas. Estou andando de um
lado para o outro em meu quarto, ainda sem coragem para descer e
encontrar Vito.

Deus! Estou uma pilha de nervos.

Pensar em fazer algo é muito mais fácil do que de fato colocar


em prática. Minhas mãos estão suadas e meu corpo começa a
transpirar por conta de tanto nervosismo.

Isso soa tão patético, Vito nem sabe o que eu desejo realizar hoje,
eu posso muito bem jantar e retornar para o quarto, simples assim.
Droga! Eu estou tentando mentir para quem, afinal? Eu quero isso, eu
desejo isso, eu sonho com isso. Estou nervosa pelo simples fato de que
hoje eu testarei o desconhecido, eu ultrapassarei um limite sem volta,
mas isso não me assusta, muito pelo contrário. O que realmente vem
me amedrontando é o medo de não ser o suficiente, de não saber como
agir.

Ok, Agnes Bellini, não seja infantil, Vito sabe da sua inocência
com relação a esses assuntos e, se eu não for o suficiente para ele,
talvez um dia eu seja para outro alguém, por mais que esse
pensamento faça o meu coração doer.

Pego a sacola do Sex Shop de cima da cama. E olho o meu


reflexo no espelho uma última vez, solto um longo e pesado suspiro,
antes de sair do meu aposento.

Desço as escadas em passos lentos, calculando todos os meus


movimentos. Uma música clássica toca lentamente na sala de jantar.
Vito está sentado, com um copo de whisky em mãos, perdido em
pensamentos. Ele detecta a minha presença, quando nossos olhares se
encontram, seu sorriso é resplandecente. Nesse momento, é como se os
meus temores, dúvidas e medos se esvaíssem, só há nós dois e mais
nada no mundo.

—Oi. — murmuro.

O sorriso de canto de Vito me deixa sem chão. Eu amo a forma


como ele mexe a boca, deixando suas feições sexys e sarcásticas ao
mesmo tempo. Lindo como um Deus, pecaminoso como o diabo.
—Olá, Agnes Bellini. Parece nervosa. — Ele levanta a
sobrancelha esquerda.

Dou de ombros e me sento ao seu lado, tentando fingir


indiferença. Coloco a sacola disfarçadamente ao meu lado e pouso as
mãos no colo, pois tenho certeza de que elas estão trêmulas. Vito
consegue detectar todos os meus sentimentos, ele já disse diversas
vezes que sou um livro aberto, e hoje não poderia ser diferente, ele
percebeu a minha aflição, só ainda não sabe o motivo.

O CEO coloca o copo na mesa de centro e vira o corpo para mim.

—Qual é o problema, Agnes? — Vito pousa o braço


preguiçosamente no encosto do sofá. Os músculos marcam a camisa
com o movimento.

Minha nossa! Estou prestes a entrar em combustão.

—Eu poderia fazer a mesma pergunta. — Abro um sorriso


sugestivo.

Vito me encara profundamente com os seus lindos olhos verdes.


Meu coração dispara. Mordo o lábio inferior e sinto o meu centro se
contrair em tesão acumulado.

Dane-se!

Jogo o meu corpo em sua direção e colo nossas bocas com força.
Sua distância durante o dia todo quase acabou com o meu psicológico.
Preciso senti-lo, saboreá-lo, reafirmar ao meu cérebro de que ele é
real.
O CEO, com uma das mãos, agarra a minha cintura com força,
enquanto a outra vai aos meus cabelos, puxando-os com delicadeza e
precisão. Eu esfrego as minhas mãos em sua pele quente, sentindo os
gominhos do seu peitoral musculoso. Com um movimento, pulo para o
seu colo, sentando sobre a sua masculinidade. O gosto da bebida
alcoólica que ele estava saboreando, impregna a minha língua.

Mandando a minha timidez para um lugar muito, muito distante,


planto beijos molhados em seu pescoço, mordiscando a pele sensível,
assim como ele já fez comigo diversas vezes.

—Deus! Agnes, estou tentando manter todo o meu controle perto


de você, mas se continuar assim, querida, não serei forte o suficiente
para aguentar. — Vito está com os olhos fechados. Suas mãos agarram
a minha cintura, tentando me fazer parar os movimentos do quadril,
que estão lhe instigando.

Um sorriso de predador se abre em meus lábios, Vito parece


surpreso. Devo estar possuída, pois, sem pudor, levo minhas mãos ao
fecho de sua calça e começo a abri-la. Vito fica imóvel, totalmente
sem reação.

Saio de seu colo e me ajoelho aos seus pés, sinto a respiração de


Vito acelerar. Seu pênis salta para fora da calça, assim que a puxo das
suas pernas. O membro está totalmente esticado e molhado de desejo
por mim. Lentamente, aproximo o meu rosto e chupo a cabeça,
finalmente podendo sentir o gosto que não sai dos meus sonhos mais
sórdidos. A pele é tão macia quanto eu imaginava. Vito geme e joga a
cabeça para trás, assim que meus lábios se fecham sobre o seu pau.
Vito Costello

Puta merda! Minha mente fica imersa nos mais pecaminosos dos
pensamentos. Passei meses querendo a deliciosa boca de Agnes em
mim, não posso acreditar que isso está realmente acontecendo.

Meu corpo pega fogo. Agnes engole todo o meu cacete, até a
cabeça roçar em sua garganta. Ela faz um boquete profissional. O
calor da sua boca preenchendo o meu membro, juntamente com o
barulho da sucção me leva à loucura.

Sem controle, agarro os seus cabelos, incentivando o vaivém. A


visão que eu tanto sonhei acontecendo: meu pau entrando e saindo dos
lábios carnudos da escritora.

Agnes agarras as minhas bolas, esfregando as unhas, enviando


arrepios que chegam até a minha alma. Um gemido gutural sai da
minha boca. Fico completamente perdido no prazer que Agnes está me
proporcionando.

Ela chupa a minha glande com força, dando tudo de si, mamando
com vontade.

—Céus! — Minha voz soa em gemidos. — Agnes, eu vou gozar.


— Aviso. Ela precisa parar caso sinta-se desconfortável em me ver
ejacular em sua boca.

Agnes, com devoção, me chupa com mais intensidade, revelando


a sua intenção em me fazer gozar. Trinco o maxilar com força, estoco
a sua boca com rapidez. Agnes aperta ainda mais os lábios. A sensação
das bolas doloridas e a queimação em meu ventre começam a
aumentar.

Sinto o líquido pré-ejaculatório escorrer, Agnes bebe tudo, com


sede, com vontade.

—Ohhhh!

É demais para mim. Agarro os seus cabelos com força e gozo


dentro da sua boca, enviando meu esperma para dentro da sua
garganta. Agnes não para, engole tudo e passa a língua por toda a
extensão, deixando o meu cacete limpo.

Retiro a mão que agarra os seus cabelos e fecho os olhos,


completamente satisfeito. Isso só pode ter sido um sonho, um delicioso
sonho.

Agnes passa a mão nos lábios inchados e avermelhados,


limpando a saliva da volta da boca. Então, ela abre um sorriso
traiçoeiro, delatando estar tão satisfeita quanto eu. Seus cabelos
bagunçados e seu rosto corado, me lembram a cada instante que isso é
real.

—Você gostou? Eu fui bem? — pergunta duvidosa.

Abro um sorriso sarcástico. Ela acabou de conseguir me fazer


gozar em poucos minutos e está duvidando da sua capacidade? Deus!
Foi a melhor mamada que eu já levei na vida, e isso que já estive com
mulheres extremamente experientes. No entanto, Agnes Bellini tem o
domínio de me seduzir, de embaçar a minha mente, me deixando aos
seus pés, como um servo louvando a sua rainha.

—Lamento informar que fiquei viciado.

O sorriso de orgulho e satisfação que delineia seus lábios, me


deixa ainda mais radiante. Agarro braço de Agnes e puxo-a de volta
para o meu colo. Eu ainda não terminei com a escritora, a noite está
somente começando, e eu tenho muitos planos para nós dois.

—Ainda bem que eu trouxe isso então. — Ela recolhe uma sacola
escondida pelas almofadas mais ao canto.

Delicadamente pego o objeto de sua mão e espio o conteúdo para


ver o que há dentro. Ao constatar o que se trata, lanço um olhar cheio
de volúpia destinado a escritora.

Minha linda garota perversa.

Agnes Bellini

Eu não transei com Vito, mas isso não foi impedimento para que
eu não gozasse, muito pelo contrário, o CEO foi extremamente
habilidoso com os dedos e língua durante todo o fim de semana.

Depois que eu lhe entreguei os objetos sexuais que eu comprei,


Vito demonstrou ser um homem ainda mais devasso e fogoso. É como
se algo tivesse sido acionado em seu interior.
Dei graças a Deus de Enrico e Isaac terem decidido passar a noite
fora. Vito e eu passamos horas nos deleitando, trocando carícias em
todas as partes da casa, testando os produtos e nossos limites. No
final, eu dormi em seus braços, incrivelmente satisfeita.

Apesar de ter sentido vontade de perder logo a virgindade, faltou


a coragem. Vito não falou absolutamente nada, ele parecia realmente
contente e satisfeito somente com o sexo oral e masturbação. Mas eu
tenho comigo que, agora que já experimentei todas as experiências
pré-penetração, estou ainda mais preparada para dar esse outro passo
na minha vida.

No domingo fiquei na cama até mais tarde ao lado do CEO,


almoçamos fora, conhecemos alguns pontos turísticos e retornamos
para Londres. Apesar de eu ter ficado pouco mais de vinte e quatro
horas longe de casa, meus gatos já estavam saudosos quando eu
retornei.

Olho para Vito que está concentrado fazendo o seu trabalho. Essa
semana o CEO irá visitar o prédio que está com a reforma
praticamente finalizada da Costello Imobiliária, assim como ele disse
a Ethan, que é o engenheiro encarregado desse projeto. Antes de tudo,
ele quer ver o local com os próprios olhos e dar o seu aval, sendo este
positivo ou negativo. Caso seja aprovado, na outra semana haverá a
inauguração. E no próximo fim de semana eu irei visitar os meus avós,
eu nem comuniquei ainda a minha viagem a Vito, ele está tão ocupado
e atarefado, mas o farei em breve.

O meu livro está tão estagnado, que eu temo ter perdido o dom da
escrita. Ao menos Vito não perguntou mais sobre o andamento da obra.
Na verdade, parece pouco importar para ele. Vito até mesmo vem me
dado tarefas distintas, me passando coisas da Costello Imobiliária.
Atualmente, eu sou mais assessora pessoal do que escritora, e isso é
bom.

A porta é abruptamente aberta atrás de mim. Estranho, pois


sempre batem antes de entrar na sala da presidência, tirando Enrico, é
claro, o Costello mais jovem não se importa muito com bons
costumes.

—Olá. — Uma voz doce e sedutora chama a minha atenção.

Vito olha de cara fechada para a dona da voz. Lentamente, viro-


me da cadeira para constatar que Teresa, a ex-amante de Vito, está
conosco.

A mulher não economizou na maquiagem, perfume e roupa. O


vestido colado e decotado, realça a tonalidade dos seus olhos. Os
cabelos lindos e brilhosos se moldam perfeitamente em seu rosto de
modelo. Trinco os dentes com raiva. O mundo é injusto às vezes, essa
mulher poderia ter algum defeito, qualquer um.

—O que você está fazendo aqui? — Vito pousa os cotovelos na


mesa. Seu olhar sério e semblante fechado.

A risada rouca a mulher reverbera por todo o local. Ela caminha,


batendo os saltos do chão com a plenitude de uma rainha. Teresa para
ao meu lado, de frente para o CEO, curvando o corpo até pousar as
mãos na mesa. O movimenta deixa seus seios descobertos.

—Que forma graciosa de recepção de uma... velha amiga. — Seu


sorriso malicioso se amplia.

Tento ignorar a ponta de ódio que queima em meu peito. Estou


possessa de ciúmes. Meu estômago fica embrulhado. Eu odeio essa
maldita falta de confiança que eu sinto.

—Como você entrou aqui? Onde está a minha secretária? — A


raiva na voz de Vito está quase incontida.

—Estava vazio quando entrei. — Dá de ombros. — Precisa


aprender a escolher melhor os seus funcionários. — Ela me olha da
cabeça aos pés com desdém.

Aperto meus punhos com força, mas opto por ignorar o veneno
destilado a mim. Antes de passar por Liz, ela deveria ter passado pela
recepção no primeiro andar, eles sempre ligam para comunicar a Liz a
identificação da pessoa que está prestes a subir ao andar da
presidência. Se Liz não atender ao chamado, eles pedem para que a
pessoa aguarde, até conseguir manter contato com ela. Há algo muito
errado nessa história relatada por Teresa.

—Eu vou chamar a segurança. — Vito retira o telefone do gancho


para cumprir a ameaça proferida.

—Nossa, que desprezo por quem esquentou a sua cama por tanto
tempo. — A mulher faz a volta na mesa e para ao lado do CEO. —
Estou com saudades, meu bem, faz tanto tempo que eu não sinto o seu
gosto. — Ela agarra a gravata de Vito e fixa seus olhos no meio de
suas pernas, dando ênfase em suas palavras.

Meu estômago embrulha ainda mais. Inferno de gastrite nervosa.


Tenho certeza de que vomitarei. Meu corpo está dando os sinais de que
isso acontecerá em breve.

Não suporto essa cena, não tenho condições psicológicas de


assistir a isso sem reação.

Vito empurra a mulher abruptamente. Ela se assusta com a


atitude colérica do CEO.

—Nossa, Vito, que humor terrível. Isso é falta de sexo. — Teresa


escova as mechas dos cabelos com os dedos. — Sabe que eu posso
resolver isso com maestria, não?

O CEO a fulmina. Já o vi furioso muitas vezes, mas hoje parece


tomar um patamar ainda maior. Com força, ele aperta o botão do
telefone.

—Sim, senhor Costello. — Ouço a voz de Liz.

—Chame a segurança! E você, na minha sala AGORA! — Vito


está furioso.

Dou um pulo e arregalo os olhos com a sua aversão a presença da


ex-amante, isso o deixou possesso de raiva.

Liz entra na sala correndo e engole em seco ao ver Teresa parada


ao lado do CEO. A mulher é totalmente insana, ela literalmente está
ignorando o ataque raivoso de Vito.

—Sim? — Liz tenta manter o tom de voz neutro, mas suas


feições deixam escancarado o quanto está assustada.
—Você quer ser demitida, senhorita Evans?

—Não, senhor.

—Então por qual motivo — Vito olha para Teresa com desprezo
— ela conseguiu entrar aqui sem passar pela minha aprovação?

—Me perdoe, senhor. Eu estava ajudando o senhor Thomaz com


um problema na máquina de café, então precisei me ausentar por...

—O setor jurídico não possui funcionários o suficiente para


ajudar Thomaz com a porra da máquina? — Vito interrompe a
secretária.

—Ele veio pedir ajuda a mim, senhor Costello. Não pensei que
isso fosse causar tantos problemas. Me desculpe.

Sinto pena de Liz, e ainda mais raiva de Teresa. Essa desgraçada


veio somente para causar transtornos. Estou trabalhando aqui há três
meses e nunca vi Vito ser grosseiro com Liz.

Dois seguranças entram correndo na sala. Eles se aproximam de


Teresa, que os fulmina com o olhar.

—Não ousem tocar em mim. — Ela encara Vito a amplia ainda


mais o seu sorriso. — Você vai voltar, sempre volta. Quer queira ou
não, Vito Costello.

Com avidez, Teresa sai batendo os saltos, deixando o caos que


instaurou para trás. Os seguranças a seguem para garantir de que ela
realmente se ausentará do prédio.
Meu estômago começa a gritar, as minhas mãos e lábios
começam a formigar. Sei o que isso significa, meu corpo está me
comunicando que colocará para fora todo o café ingerido na manhã.

—Com licença. — Saio correndo em direção ao banheiro.

Maldita gastrite!
Entro no prédio quase finalizado, e, devo admitir, Ethan Brown é
um ótimo engenheiro. O lugar está impecável, tão maravilhoso quanto
eu imaginei.

—O que achou, senhor? — Pergunta o meu antigo rival.

Caminho pelo lugar analisando tudo. Desde o porcelanato do


chão, ao mármore das paredes. É inacreditável o que a equipe da
Costello Imobiliária consegue fazer.

Comprar prédios ou terrenos adquiridos de leilões por um preço


bem abaixo de mercado foi ideia do meu amigo Noah Chevalier, CEO
do Banco Chevalier. Noah é tão jovem quanto eu, ele também herdou
cedo os negócios da família. O Banco Chevalier é responsável pela
folha de pagamento dos funcionários da Costello Imobiliária, bem
como de todas as finanças da empresa.

Também é responsável pela quase falência do senhor Jones. O


problema de George Jones é as dívidas milionárias que adquiriu com o
Banco de Noah. O CEO da Jones Finanças & Seguros, usufruiu da
amizade com Chevalier para retirar, por inúmeras vezes,
financiamentos exorbitantes, a fim de tapar buracos em sua empresa.
Contudo, isso foi virando uma bola de neve e as dívidas aumentando.
Hoje, George Jones está a um passo de decretar falência. Acredito que
Isaac ainda não saiba disso, pois nunca comentou nada, nem comigo,
Agnes ou Enrico.

—Onde estão as plantas? — pergunto.

Ethan recolhe os papéis de cima de uma mesa improvisada e


entrega-os para mim. Se o meu aval for positivo, Ethan enviará
mensagem para o restante da equipe, e eles terão pouco mais de uma
semana para deixar o local apto para a inauguração.

Perscruto cada detalhe minuciosamente, com total atenção. Eu sei


que está tudo certo, mas uma parte minha ainda gosta de deixar Ethan
nervoso.

—Sim. Pode comunicar a equipe. — falo por fim.

Dou mais uma volta pelo local. Umas das arquitetas passa por
mim e, inevitavelmente, eu lembro da intromissão de Teresa essa
semana. Fiquei com tanta raiva, tão descontrolado. Eu vi como Agnes
ficou chateada e depois ela ter ido vomitar por ter se atacado dos
nervos só aumentou ainda mais o ódio pela modelo que corroía em
minhas veias. Teresa não tinha o direito de me perturbar, nunca
tivemos nada além de sexo casual, e agora, eu não quero vê-la nunca
mais. Além de tudo, depois que ela omitiu que não dormimos juntos na
última vez, me fazendo pensar o contrário, o pouco de confiança que
eu tinha nela se esgotou de vez.

Não posso negar também que eu não tenha ficado desconfiado de


Thomaz. Afinal, os dois se conhecem e justo no dia e hora em que a
mulher resolveu fazer uma visita de surpresa, meu amigo de infância
foi ocupar a minha secretária, deixando o caminho livre. É muita
coincidência... não quero contratar um detetive particular, isso seria
quebrar totalmente a confiança que temos um no outro. Contudo, após
a visita do detetive Green, eu tenho suspeitado até da minha própria
sombra.

Não contei nada a Enrico da morte dos nossos pais, e nem o farei.
Na época do ocorrido, meu irmão ficou devastado e eu não quero
reabrir a ferida, com tanto custo cicatrizada. Também não contei a
Agnes, não sei em qual patamar as investigações estão, e, como o
detetive disse, isso tem mão de gente poderosa. Agnes descobrir a
verdade só colocaria a sua vida em risco.

Eu guardei o segredo para mim. Quase sucumbi, afogando-me em


mágoa. Se a na época eu fosse o homem que me tornei hoje, o caso já
teria sido solucionado. Não posso deixar de me culpar por isso. Se não
fosse pelo detetive, a morte dos meus pais seria para sempre em vão.

Sinto o meu telefone vibrar em meu bolso, atendo a chamada sem


identificar. Um péssimo hábito que tenho.

—Costello. — Coloco o aparelho no ouvido.

—Quanto tempo, meu querido sobrinho. — A voz grave e ríspida


soa do outro lado da linha.

—Tio Robson, a que devo a honra?

—Já que meus únicos sobrinhos não me procuram, o papel de


fazê-lo fica declarado a mim. — zomba.

Enrico já tinha comentado que Robson gostaria de marcar um


jantar, no entanto, com tudo o que vem acontecendo eu esqueci
completamente. Além do mais, apresentar Agnes a ele está na última
colocação da minha lista de desejos.

—Tenho andado ocupado.

Sua risada reverbera, fazendo cosquinhas em meu ouvido através


do autofalante do celular.

—Eu sei que sim, garoto. Ser CEO não é para qualquer um, mas
isso não significa que deve deserdar os parentes.

—O senhor tem razão.

Tio Robson não tem cotas na empresa porque vendeu a sua parte
para papai quando ainda eram jovens. Meu tio nunca quis trabalhar —
Enrico tem a quem puxar — Com o dinheiro da herança dos seus pais,
mais o da venda da Costello Imobiliária. Hoje ele é um velho
milionário que curte a vida sem pensar no amanhã. Contudo, Robson é
um dos investidores da Costello, ele sempre compra uma sala
comercial, ou até mesmo um apartamento, a fim de tirar uma renda
extra. Tio Robson nunca casou ou teve filhos. É um homem sem
raízes. Não poderia ser mais diferente do irmão, meu pai sempre quis
uma família, e sempre desejou o cargo de CEO, ele batalhou muito por
isso. Meus avós eram de família rica, mas foi papai quem aumentou a
empresa, e eu continuei o seu legado, com a compra do Edifício
Gherkin, a Costello Imobiliária multiplicou o seu patrimônio,
tornando-se o que é atualmente.

—Sabe, estou aguardando o jantar que Enrico me prometeu...

Pressiono a ponta do nariz com força. Dou graças a Deus que a


semana está prestes a acabar. E agora que o aval para a inauguração
foi dado, terei menos trabalho e poderei descansar mais.

—Podemos marcar para esse sábado? — Marcar essa droga de


jantar de uma vez é a melhor opção para me ver livre disso.

Tio Robson mora na Escócia, ele nem sonha que estivemos lá no


último fim de semana. Eu deixei claro para Enrico que não gostaria de
encontrá-lo. Apesar de ser meu tio, algo nele não me desce.

—Deixe-me ver em minha agenda.

Reviro os olhos e agradeço por ele não poder ver a minha atitude
desrespeitosa. Ele é um homem descompromissado, possivelmente me
fará aguardar alguns instantes como se realmente estivesse conferindo
sua disponibilidade, para no final confirmar o jantar. Ele sempre faz
isso. Já é uma atitude corriqueira.

—Oh, sim! Estarei disponível.

—Ótimo, até mais. — Agradeço mentalmente por dar a ligação


como encerrada.

—Até mais, rapaz.

Desligo o telefone e começo a digitar uma mensagem para


Enrico, espero que ele resolva tudo para o jantar.

Estou distraído, com a atenção voltada para a tela quando piso


em alguma coisa e, automaticamente, uma dor alucinante abrange todo
o meu pé. Estaco no lugar. Lentamente, olho para baixo e contato que
eu pisei em uma madeira. Contudo, há algo errado, pois, meu sapato
está preso a ela. Trinco o maxilar com força, tentando afastar a dor.

—Senhor Costello. — Algum funcionário corre em minha


direção. — Está tudo bem? O senhor parece pálido.

Não respondo ao homem, ele, assim como o restante da equipe


percebe que alguma merda aconteceu.

Agnes Bellini

Vito saiu há algumas horas para conferir pessoalmente o prédio.


Sei que o aval para a inauguração foi positivo, pois Liz começou a
correr de um lado para o outro, tentando contatar todas as equipes
responsáveis para o evento. Fiquei com o seu trabalho anterior, o
preenchimento de algumas planilhas no Excel. Não sei como Liz
aguenta fazer isso todo santo dia, é entediante. Socar a cabeça na
parede parece mais tentador do que ficar preenchendo isso.

A sala de Vito fica tão vazia sem a sua presença. O CEO deixa o
lugar mais quente, acolhedor e iluminado, quando ele não está furioso,
é claro. Segunda, após a saída de Teresa, Liz levou um belo sermão do
chefe, sobrou até mesmo para Thomaz. Ao menos ela não foi demitida
pelo seu erro. Mas Vito disse enfaticamente que toleraria somente
dessa vez.

Liz entra correndo na sala, tirando-me das divagações e me


fazendo pular da cadeira de susto. Ela está pálida, os olhos
amedrontados. Minha garganta automaticamente fica seca. Isso
significa um péssimo sinal.

—Agnes. — murmura receosa.

Levanto demoradamente. Espalmo uma das mãos no peito. Sinto


que vou ter uma síncope a qualquer momento.

—O que foi? — Minha voz sai embargada.

Liz engole em seco e me olha com pesar. Automaticamente, meus


olhos começam a lacrimejar embaçando a minha visão. É uma péssima
notícia, eu sei que é.

—Liz, por favor. — imploro para que ela me diga logo o que está
havendo, mas ao mesmo tempo eu não quero descobrir. A verdade é
que eu estou morrendo de medo do que está por vir.

—Por favor, mantenha a calma, Agnes. — Começo a mexer a


cabeça positivamente sem parar. Estou entrando em surto. Liz aguarda
alguns instantes antes de continuar. — Não sei a real extensão da
situação, mas acredito que tudo esteja bem.

—Liz... — Sussurro.

Penso em todas as pessoas que eu amo. Meus avós, meus gatos,


Vito, Enrico, Isaac... Deus! O que foi que aconteceu? Estou prestes a
entrar em choque. Desde a morte dos meus pais, eu adquiri pouca
tolerância para aguentar notícias desastrosas.

Começo a transpirar, minha respiração fica mais pesada, acho


que terei uma crise de pânico.

—Vito sofreu um acidente.

Um zumbido em meu ouvido me impede de ouvir o resto. O


mesmo limbo de dor e sofrimento que me abraçou naquele fatídico dia
chuvoso, retorna com força total.

Por quê? Pergunto mentalmente para Deus. Não consigo


compreender, quando era nada além de uma garota sonhando com
fadas e príncipes encantados, a morte foi colocada em meu colo,
devastando o meu psicológico para sempre. E agora, quando pela
primeira vez desde então, eu estava finalmente sentindo o que é
felicidade novamente, isso acontece. Por quê?
— Agnes! — Liz chacoalha os meus braços, me tirando dos
pensamentos dolorosos e devastadores. — Agnes, Vito não morreu. Ele
está em casa.

Sentir alívio depois de tanta tormenta é uma das melhores


sensações do mundo. Meu peito que antes estava esmagado, sufocado
de tanto sofrimento, finalmente volta a respirar para a vida.

—O quê? — Minha voz sai rouca e contida.

—Eu não sei a gravidade do acidente, Agnes. Mas foi na obra,


alguma coisa aconteceu. O CEO foi encaminhado para o hospital e,
posteriormente, para casa.

Vito está em casa? Isso é incrível! Significa que, seja lá qual for
o acidente, ele não corre risco de vida. Sem esperar nem mais um
segundo, recolho a minha bolsa com rapidez e agilidade e corro para
fora da Costello Imobiliária.

Chego à casa de Vito e toco a campainha impacientemente. A


senhora Cooper abre a porta, mas eu não paro para cumprimentar a
mulher. Ainda anestesiada pelo susto, corro em direção ao quarto do
CEO.

Empurro delicadamente a porta do quarto, verificando a


fisionomia do CEO, investigando minuciosamente se está tudo intacto
com ele. Vito mexe em seu notebook, um dos pés está enfaixado e
descansando sobre um travesseiro.
—Vito. — Lágrimas molham minhas bochechas e pescoço.

Ele me olha espantado com a minha reação. Vito não parece


entender o meu surto.

—Agnes, está tudo bem?

Fecho a porta com delicadeza e me aproximo da cama.

—Eu é quem deveria fazer essa pergunta.

—Bom, você está pálida e abatida. Não devo me preocupar?

—Estou assim por conta de você, Vito. Pensei em coisas... coisas


horríveis. — Minha voz falha.

—Venha aqui. — Vito dá leve batidinhas ao seu lado na cama,


para que eu me sente.

Como uma boa menina, obedeço ao seu comando com prazer.


Quero sentir o seu cheiro, o calor da sua pele. Sento ao seu lado e toco
em seus cabelos macios e sedosos.

Vito é real, ele está aqui.

—Está tudo bem, querida. — Vito se afasta um pouco mais e


deita meu corpo ao seu lado, aninhando-me a ele.

—Eu fiquei com tanto medo... — Murmuro inspirando o cheiro


cítrico do seu perfume caro.

—Está tudo bem. Não foi nada grave. Eu só pisei em um prego.


Levanto a cabeça e lhe encaro. O quê? Eu quase tive um infarto
por causa da droga de um prego? Vito parece perceber o rumo dos
meus pensamentos.

—Mas poderia ter sido mais grave, eu tive que tomar a vacina
contra o tétano, sabe...

Fico boquiaberta. Eu não posso esquecer de matar Liz. A culpa de


tudo isso é exclusivamente dela. Eu vim de Uber, gastei metade do
meu salário, quase tive uma crise de pânico e ainda fiz o motorista
parar para que eu pudesse vomitar, causando o maior vexame. Tudo
isso por causa de um prego? Um prego! No entanto, isso ao menos me
fez enxergar uma coisa. Eu não quero esperar mais. Depois de hoje,
percebi que estou irrevogavelmente apaixonada por Vito.

—Você precisa ficar com o pé imóvel? — Olho para o membro


enfaixado.

—Só preciso deixá-lo para cima. Por quê?

—Me faça sua, Vito Costello!

Vito fica em silêncio por alguns segundos. Quase posso ouvir as


engrenagens funcionando em seu cérebro. O tempo para enquanto eu
aguardo a sua resposta. Mordo meu lábio inferior com força, tentando
engolir as palavras de volta.

—Você tem certeza disso, Agnes? Não terá mais volta.

Me perco no verde dos seus olhos. Eu soube desde o momento


que os vi pela primeira vez que Vito Costello seria a minha perdição.
—Eu quero ser sua, Vito. É você quem eu desejo.

—E quanto ao casamento? — Dói saber que ele nem se quer


pensa nesse assunto. Eu sei que ainda é muito cedo, mas as vezes esse
é o nosso tempo.

—Não importa mais. — falo a mais pura verdade.

Ele me analisa por alguns segundos, tentando encontrar alguma


hesitação, ao não constatar nada além de certeza, Vito coloca o
notebook no chão. E me beija delicadamente, deliciando-se em meu
rosto, lábios e pescoço. Diferente dos últimos dias, hoje eu me sinto
tensa e nervosa. Portanto, deixo que ele comande os movimentos.

Lentamente, Vito começa a abrir os botões da minha blusa,


revelando o meu sutiã de renda vermelha. Meu coração bate
aceleradamente, antecipando as sensações que sentirei em breve.

—Você pode me ajudar? — Ele abre as calças e pede ajuda para


retirá-las. E assim eu faço. Passo o tecido pelo pé machucando,
tentando ao máximo evitar o local. — Aqui. — Ele retira a cueca
também. Ficando totalmente nu da cintura para baixo.

Me sento ao seu lado novamente e me mantenho imóvel, sem


saber o que fazer. Vito retira a sua própria camisa.

—Retire suas roupas, Agnes. Quero vê-la sem barreiras.

Com as mãos trêmulas, faço conforme o instruído. Por último,


retiro o sutiã e a calcinha. Me sinto exposta demais, o que aumenta o
meu nervosismo.
—Deite-se aqui, querida.

Deito ao lado de Vito. Ignorando o pé, o CEO cobre o meu corpo


com o seu. Ele volta a plantar beijos em meu pescoço, então passa
para os seios desnudos. Sua língua provoca o bico do seio desejoso.
Vito desce uma das mãos e começa a massagear a minha intimidade. O
nervosismo se esvai, dando lugar a prazer. Solto um pequeno gemido,
queimando em puro desejo.

Vito retira a mão do meio das minhas pernas e se encaixa entre


elas. Sinto a cabeça do seu pau na minha entrada. A tensão volta com
tudo.

—Você precisa relaxar, Agnes. — Ele beija a minha testa com


ternura. — Obrigado por confiar em mim, querida. — Ele começa a
descer os seus beijos pelo meu rosto e pescoço.

Lentamente, Vito começa a me penetrar. Trinco o maxilar com


força sentindo dor.

Minha nossa, pensei que a penetração fosse ao menos um pouco


parecida com as carícias que trocamos anteriormente.

—Tudo bem? — Vito me encara profundamente. Suor escorre de


sua testa. Ele parece fazer um verdadeiro esforço para ser o mais
cortês possível.

—Sim. — Sussurro.

Minha cabeça está emaranhada em pensamentos de todos os


tipos. Afinal, eu estou passando pela transição, uma parte importante
minha está ficando para traz, deixando de ser uma menina para me
tornar uma mulher. Eu sempre imaginei como seria esse momento,
sempre tive receio e curiosidade, e agora ele está finalmente
ocorrendo.

—Eu vou começar a me mexer, Agnes. Seu hímen foi rompido, o


pior passou. Agora tudo ficará melhor.

Balanço a cabeça positivamente. Vito sai e entra em mim, em


movimentos controlados. A sensação de desconforto no meu ventre
ponderou, mesmo sendo menos intensa dessa vez.

Vito repete o movimento.

—Querida, você precisa relaxar.

Você já teve hímen para saber? Penso sarcasticamente. Como


exatamente Vito quer que eu relaxe sendo que eu acabei de PERDER A
VIRGINDADE. Minha cabeça está um turbilhão.

—Tudo bem. — Vito suspira.

Sua mão vai para o meio das minhas pernas e ele começa a
brincar com o meu clitóris. A sensação boa começa a abranger a
situação, começo finalmente a me conectar ao momento, deixando de
lado os pensamentos desnecessários. Vito me penetra novamente, só
que dessa vez o movimento, juntamente com sua mão, me deixa em
labaredas flamejantes. Ele beija o meu pescoço e crava os dentes no
lóbulo da minha orelha.

—Oh céus! — Solto um gemido incontrolado.


Isso é bom, muito bom!

Minhas unhas afundam em suas costas, deixando marcas. Não


percebi o momento em que Vito parou de brincar com o meu nervo
sensível, pois as estocadas passam a ser suficientes para me dar prazer.
A dor e o desconforto foram esquecidos, sendo preenchidos por essa
nova sensação.

Oh. Meu. Deus. Eu perdi a virgindade!

Vito sai de cima de mim, deitando-se ao meu lado. No começo,


eu só queria que acabasse o mais rapidamente possível, mas agora, eu
gostaria de passar o resto da noite fazendo isso. Será que Vito gozou e
eu nem percebi?

—Senta, Agnes. — Olho para o pau de Vito, ainda totalmente


ereto.

Espera! Ele quer que eu controle os movimentos? A vacina


deixou Vito insano? Ele percebe a minha hesitação.

—Meu pé estava começando a doer, querida, mas eu posso


continuar, se você quiser. Não há erro. Só sente em meu pau e
cavalgue como bem entender. Eu sou todo seu.

Bom... ter esse homem aos meus pés, deixando-me controlar o


seu corpo não me parece tão insano assim. Com um sorriso malicioso
nos lábios, sento em seu pênis, descendo por toda a sua extensão. A
posição diferente, muda as sensações. De alguma forma, é mais
prazerosa assim. Pressiono os joelhos na cama, estimulando o seu
membro. Espalmo as mãos em seu peito musculoso e jogo a cabeça
para trás de olhos fechados. Acelero o movimento vaivém.

Meu pai amado! Como eu fiquei tanto tempo sem isso?

—Ohhhh! — gemidos saem dos meus lábios sem controle.


Encontro um ponto dentro do meu canal vaginal que aumenta a minha
libido.

—Agnes, você está me enlouquecendo. Não aguentarei muito


mais tempo, querida. — A voz de Vito sai entre uma lufada de ar e
outra.

O CEO está realmente se controlando, tentando me fazer


acompanhá-lo no orgasmo. Seus dedos tocam novamente o meu
clitóris, em movimentos circulatórios, me estimulando. Isso,
juntamente com as estocados que eu controlo, me levam ao ápice.
Explodo em um orgasmo nunca sentido anteriormente. Vito me
acompanhando, esparramando a sua semente em meu ventre.

Exausta, me deito em seu peito. Ele afasta os cabelos grudados


do meu rosto molhado e beija a minha têmpora.

—Você é tão perfeita, eu nunca me cansarei disso.

Eu só queria poder dizer a ele que estou ainda mais perdidamente


apaixonada, mas esse não é o momento. Sinto uma vontade insana de
me declarar, mas acredito que deva se dar por conta da emoção pelo
que acabamos de fazer.

—Droga! — Vito exaspera e eu me assusto. — A camisinha,


Agnes.
—Eu tomo pílula, Vito. Está tudo bem.

Ele beija os meus cabelos, sinto o seu coração disparado após


constatar o nosso equívoco.

—Não se preocupe, você é a primeira mulher com quem eu


transo sem camisinha. — Sua revelação me deixa chocada. Ele
percebe, então tende a se explicar. — Jamais me arriscaria.

Minha respiração começa a ficar lenta, minhas pálpebras


começam a ficar pesadas. Lentamente, pego no sono deitada no peito
do CEO da Costello Imobiliária.
Acordo sentindo o familiar perfume adocicado e um corpo quente
ao meu lado. Agnes dorme tranquilamente. Ela está nua, mas o lençol
esconde sua verdadeira situação. Afasto os cabelos para ver melhor o
seu rosto sereno.

Agnes veio para quebrar alguns paradigmas. Por muito tempo era
somente eu e Enrico, e, por uma coincidência do destino, um livro que
às vezes eu nem lembro mais, Agnes entrou em minha vida, virando
tudo do avesso. Ela não sabe, mas, além de nunca ter transado com
uma mulher sem camisinha, eu também nunca trouxe alguém para a
minha cama. Eu tirei a sua virgindade carnal, enquanto ela tirou a
minha em forma material.

Feixes de luz entram pela minha janela, a luz da manhã bate


diretamente na minha cama. Não sei como uma mulher se sente após
passar por um momento tão particular quanto esse, só sei que quero
fazer com que Agnes sinta-se o melhor possível.

Hoje teremos o jantar com o meu tio, precisarei avisá-la, mas


antes, quero me deleitar novamente em seu corpo. A sensação de
familiaridade quando estou dentro dela é única.

Um pergunta, teimosamente, entoa em minha cabeça a todo


instante: “eu estou verdadeiramente apaixonado por Agnes Bellini?”
Nunca fui um homem com aversão ao casamento ou filhos, mas não
pensava nisso antes. Sempre tive em mim que, no momento certo eu
encontraria alguém para realizar os desejos da grande maioria das
pessoas. Sempre me achei jovem ainda para me prender em um
relacionamento. Porém, com Agnes é diferente, eu me pego pensando
nisso as vezes. A intensidade dos nossos sentimentos me assusta.

Também não posso deixar de notar algumas coisas que possuímos


em comum. Agnes perdeu os pais ainda muito jovem, e apesar de
insistir que isso não a machuca mais, eu sei que ela sente falta. Eu
reconheço a dor em seus olhos quando fala dos seus progenitores, pois
é a mesma que reflete nos meus. Eu tive Enrico para me apoiar como
objetivo de seguir em frente, ele precisava de mim. Como irmão mais
velho, assumi responsabilidades inimagináveis na época. Já Agnes
precisava ancorar os avós, eles perderam um filho no acidente.

Duas vidas, um passado parecido.


A porta do meu quarto é aberta lentamente, Enrico coloca a
cabeça para espiar, quando seus olhos focam na mulher que me faz
companhia, um sorriso malicioso delineia os seus lábios.

—Não diga nada.

—Longe de mim. — sussurra. — Vim ver se você estava


precisando de alguma coisa e lembrá-lo do remédio da manhã... acho
que não serei útil.

Reviro os olhos.

Agnes se remexe, com as conversas, a escritora poderá acordar a


qualquer momento.

Deve ser uma surpresa para o meu irmão ver uma mulher na
cama comigo. Por ora, agradeço ao lençol para cobrir a nossa nudez.

—Quero que peça para a senhora Cooper preparar um café e me


trazer na cama. Café para dois.

Enrico faz um sinal de compreensão. Ele está prestes a sair, mas


hesita, o garoto vira-se novamente para mim e zomba, jogando o seu
humor ácido logo de manhã.

—Se soubesse disso, teria furado o pé anteriormente, não é


mesmo?

Jogo o travesseiro nele, que se afasta a tempo. O objeto bate na


porta e cai no chão. Um sorriso involuntário brota em meus lábios.
Enrico é uma figura.
Por muitos anos pensei que essa seria a sua forma de esconder os
verdadeiros sentimentos, só eu sei o que passamos quando os nossos
pais morreram, Enrico ficou desolado, uma parte sua morreu junto
com os nossos progenitores, mas hoje ele está melhor. Enrico soube
compreender e aceitar a morte. Sou grato por tê-lo como irmão.

Solto um suspiro pesado e passo as mãos nos cabelos


emaranhados, preciso parar de me lembrar disso. Contudo, vem sendo
inevitável desde a conversa que tive com o detetive Green. Tenho
medo de como o meu irmão reagirá com a notícia. Espero do fundo do
meu coração que o detetive esteja equivocado, pois eu não sei nem
como eu próprio reagirei com isso. Por ora, a culpa vem me correndo
por nunca ter investigado ou desconfiado de nada.

Olho novamente para Agnes e fico surpreso ao constatar que ela


está acordada, a escritora me encara com seus lindos e doces olhos
castanhos. A profundidade do que eu sinto por ela me abraça, trazendo
conforto e acalentando o meu coração perturbado.

Agnes Bellini

Acordo sentindo que essa é a melhor manhã que eu já tive na


vida. Meu corpo dolorido grita a todo o instante de que as últimas
horas foram reais.

Vito é um homem faminto, transamos a noite inteira,


experimentando várias posições e decorando cada centímetro um do
corpo do outro. Esquecemos até mesmo de jantar, e agora, meu
estômago protesta indignado.

Me mantenho em silêncio observando, admirando Vito. Ele


parece perdido em pensamentos, afundado em algum lugar de sua
mente com coisas que parecem lhe incomodar. Quando me olha, Vito
fica surpreso ao me ver acordada, mantemos nossos olhares fixos um
no outro por alguns segundos, perdidos nas cores castanho e verde,
cada um com uma profundidade única.

—Bom dia! — Sua voz sai rouca.

—Bom dia!

—Dormiu bem?

—Não dormi exatamente, mas tive a melhor noite da minha vida.


— Brinco.

Um sorriso iluminado se abre em seus lábios. Como esse homem


consegue ser lindo até mesmo após acordar? Deus! Isso é injusto.

—Eu solicitei o café da manhã. — Ao ouvir café, meu estômago


ronca alto. Minhas bochechas coram e Vito solta uma gargalhada. —
Pelo visto eu fiz bem. Sabe, também sou conhecido como: sugador de
energias.

Reviro os olhos e dou um tapa em seu braço. Vito e seu amor-


próprio, algo a ser estudado.

—Tenho mais uma coisa para lhe falar. — Vito solta um suspiro
pesado.

—Céus! — Penso alto.

Meu coração bate aceleradamente, socando a minha caixa


torácica com força. Essa não é a melhor maneira de acordar uma
mulher após uma noite de sexo épica. Vou ter uma síncope.

O sorriso que se abre nos lábios de Vito me deixa um pouco mais


calma.

—Não é nada preocupante, você é muito estressada, Agnes. —


Ele ri. Sua mão acaricia o meu braço nu em movimentos vaivém que
fazem cosquinha. — Eu tenho um tio por parte de pai, Robson. Hoje
ele virá jantar aqui e eu gostaria que estivesse presente.

O quê?! Vito quer me apresentar para a sua família? Isso só pode


ser uma alucinação, não é possível. E, por qual motivo ele parece
receoso em me perguntar isso, ele acha mesmo que eu negaria algo tão
importante? Nossa senhora, preciso ser sincera comigo. Se antes eu já
estava apaixonada por Vito, depois de ontem, foi só ladeira abaixo,
pois agora eu estou caidinha por ele, vulgo, imaginando nosso
casamento, filhos e netos, ainda mais com a mente fértil que eu
possuo.

—Tudo bem. O que devo vestir? — pergunto com o rosto


impassível, enquanto por dentro, minha mente comemora soltando
bombas imaginárias e visualizando arco-íris.

— O que você quiser, Agnes. É só um jantar informal. — Dá de


ombros.
—Eu também tenho uma coisa para contar. — Vito fixa toda a
sua atenção em mim. — Eu irei visitar os meus avós no feriado de
Summer Bank Holiday.

O CEO permanece em silêncio por alguns segundos. Fico ansiosa


aguardando a sua resposta. Eu não o convidarei para ir junto, meus
avós são pessoas idosas e católicas, levar Vito à minha casa é quase a
mesma coisa que dizer que iremos nos casar.

—Tudo bem, eu vou ir junto.

Ok! Eu não esperava exatamente isso.

Abro e fecho a boca consecutivamente, tentando organizar o


turbilhão de emoções que tomou a minha mente, tais como: “puta
merda, ele quer conhecer a minha família”, ao mesmo tempo que
“céus! Como vou explicar aos meus avós que não iremos nos casar?”,
somando com “isso parece estar ficando sério”.

—Vito... meus avós são antiquados, não sei se eles entenderiam


isso o que estamos tendo.

—E como você denomina isso? — Ele mexe a mão apontando em


nossas direções.

Você é quem precisa me responder! Eu já até tenho o nome dos


filhos anotados. Sorrio tentando disfarçar os meus pensamentos
vexatórios. Estou ficando louca, completamente, insanamente louca.

—É... hã...
—Agnes — Vito segura as minhas mãos, forçando-me a olhar
para ele. — Nós estamos basicamente namorando. Eu só tenho
relações com você e você comigo. Somos privativos um do outro.
Portanto, podemos falar aos seus avós que eu sou o seu namorado.

Ave Maria! Vito não está dizendo o que eu acho que acabei de
ouvir, está? Nós estamos namorando?! Acho que estou nas nuvens.
Mas antes de surtar, preciso decidir o que fazer com CEO e meus avós
na mesma frase.

Inspiro o ar com força, me preparando para falar a ele todos os


pontos do porquê, nesse momento, é uma péssima ideia ele ir conhecer
a minha família, mesmo que eu anseie tanto por isso.

—Tudo bem. Vamos lá, meus avós são... jovens mentalmente.


Eles não são preconceituosos e nem nada relacionado. Porém, são
extremamente religiosos, tão religiosos ao ponto de não perder uma
única missa. — Vito fica em completo silêncio, ouvindo
detalhadamente tudo o que eu falo. — Eles nunca me cobraram para
permanecer virgem até o casamento, apesar de que eu acho que eles
esperavam isso de mim. A questão é que, se você for comigo, eles não
irão lhe ver como um simples namorado, mas como meu futuro
marido, e, céus! Vovó é capaz de qualquer coisa para lhe induzir a
subir no altar.

Essa não era bem a conversa que eu gostaria de estar tendo com
Vito logo após a nossa primeira relação sexual. Homens tendem a
fugir de casamento com a mesma intensidade com a qual o diabo foge
da cruz.
Vito fica em silêncio por alguns minutos, sinto o tempo parar
enquanto aguardo a sua resposta. Ele afunda os dedos em minha
cabeça, deslizando pelos meus cabelos em uma massagem relaxante.

—Querida, eu quero conhecer a sua família, mas se você não


estiver confortável com isso, eu entenderei perfeitamente.

—Desconfortável? Vito, eu quero muito isso... só tenho medo que


você se assuste, meus avós farão com que prometa muitas coisas a
mim.

Ele abre seu delicioso sorriso de canto e levanta a sobrancelha


esquerda.

—Bom, então avise aos seus avós que levará companhia.

O homem está focado. Meu coração retumba rapidamente.


Preciso pensar em uma boa explicação para dar a eles. Mas antes
tenho outras coisas com as quais me preocupar.

—Hã... você tem algum carro popular? — Eu não quero chegar


no bairro que eu vivia em um carro que custa mais que a casa em que
eu morava. Viraria motivo de fofoca entre os vizinhos pelo resto da
vida.

Vito franze as sobrancelhas com a minha pergunta totalmente


incomum.

—Não, por quê?

—Eu gostaria de evitar fofoca entre os vizinhos, e chegar em um


carro chamativo seria totalmente o contrário disso. — Dou de ombros.

—Eu posso resolver isso, se esse for o seu desejo.

—Obrigada! Vou falar para vovó.

Vito segura a minha mão e planta um beijo em seu dorso. Seus


olhos verdes cravados em mim.

—Estou ansioso para conhecer a sua família, Agnes.

É cada tombo que esse homem me faz sentir. Estou me afundando


cada vez mais em sentimentos arriscados por ele. Vito não disse
diretamente que teremos um futuro, ele nunca prometeu nada.
Contudo, ele parece sentir a mesma coisa que eu, ou parte dela pelo
menos.

Batidas na porta soam chamado a nossa atenção.

—Espero que vocês estejam vestidos e não fazendo nada


impróprio, pelo amor de Deus, não quero ficar traumatizado. — Enrico
entra tentando conter um sorriso debochado.

—Nem pense. — Me adianto.

Ele larga uma bandeja com frutas, pães, frios, sucos e café, aos
pés da cama. Enrico me encara, e então cai na gargalhada. Sinto o meu
corpo inteiro esquentar de vergonha. E pelo aumento da tonalidade da
risada de Enrico, devo estar mais vermelha que um pimentão.

—Enrico, por favor! — brada Vito.


—Me desculpem... é que este é um momento épico.

Meu pai amado! Enrico quer me matar de vergonha?

Ainda aos risos da minha atual situação, ele corre para fora do
quarto, parecendo sentir urgência em nos deixar sozinhos novamente

—Enrico sendo Enrico. — Vito revira os olhos e aproxima a


bandeja de nós.

Sentir o cheiro do café fresco e da comida quentinha, atiça o meu


estômago.

—Vito, como está o seu pé? — Lembro de perguntar.

Ontem nós nos movimentos muito, totalmente ao contrário do


que foi receitado pelo médico. Temo ter piorado a situação do CEO
por conta disso.

—Estou bem.

Sou uma péssima enfermeira, ao invés de cuidar de Vito, fiquei


me agarrando com ele, me satisfazendo por horas, esquecendo
totalmente que ele está machucado.

—Oh céus! — falo ao olhar para o lençol. — Me desculpe.

A mancha de sangue é notável, não sei como não havia visto


anteriormente. Sinto minhas bochechas coradas ao perceber que Vito
também encara o local.

—Não sinta vergonha. É normal. — Vito acaricia o meu braço nu


tentando diminuir a tensão.

Maneio a cabeça em sinal positivo e tapo novamente a mancha.

Tento manter longe dos meus pensamentos o fato de que a


senhora Cooper lavará essas roupas de cama e saberá imediatamente o
que acabamos de fazer.

Vito serve café para nós. Fazemos o desjejum conversando sobre


coisas triviais. Ele me contou como aconteceu o acidente envolvendo
o prego e o seu pé. Falou que apesar de ter ficado furioso pela
irresponsabilidade do funcionário que deixou uma tábua com o prego
para cima, também não pode deixar de elogiar a equipe responsável
pela construção do prédio, pois é um dos mais bonitos que a Costello
Imobiliária já construiu. Falou um pouco sobre o tio, para que no
jantar eu me sinta mais confortável. E, por último, narrou como
imagina o evento da empresa de inauguração da nova aquisição da
Costello.

Após o desjejum, tomamos banho juntos e Vito me levou em casa


para trocar de roupa e passar um tempo com os gatos que já estavam
ansiosos por ficarem tanto tempo sozinhos e saudosos da dona
desnaturada.
Tento acalmar a minha respiração enquanto bebo um gole do meu
vinho. Minhas mãos estão suadas, eu posso sentir. Conhecer o tio de
Vito é um passo importante, além do mais, gostaria de obter a
aprovação do homem. Por mais que Vito não tenha muita estima pelo
tio, tenho comigo que, a aprovação da família é inevitavelmente
importante, por isso optei por vestir uma roupa simples, mas delicada:
um vestido rodado clarinho.

—Como você está se sentindo? — Enrico se aproxima de mim e


se escora no braço do sofá, próximo de onde estou sentada encarando
a porta fixamente, esperando o homem passar por ela a qualquer
momento.

—Como assim?

Vito está na cozinha encerrando uma ligação importante de


trabalho, algo relacionado com a equipe encarregada da inauguração
do novo prédio. O CEO precisa estar sempre disponível, em qualquer
dia ou horário quando um evento se aproxima, pois, o seu aval é
fundamental. Caso ele não atenda o celular ou se ausente, o
responsável pela equipe precisará aguardar até conseguir o seu
contato, e isso atrasaria tudo, tornando o evento um caos.

—Não seja condescendente. Você entendeu o que eu quis falar.

Solto um suspiro pesado. É claro que eu entendi, só estou


tentando evitar perguntas embaraçosas demais. Mas Enrico não
desistirá e continuará insistindo até eu abrir a boca, portanto, melhor
falar agora e acabar de vez com o assunto.

—Estranhamente me sinto igual. Pensei que seria algo tão


esplêndido que algo no meu interior mudaria...

Enrico solta uma gargalhada zombeteira.

—Agnes você só rompeu a droga de um hímen, esperava o quê?

—Eu não sei bem o que eu esperava... eu só pensei que talvez


algo fosse mudar.

Falo a verdade. Acho que esse é o pensamento de todas as


mulheres. Somos criadas para pensar que a perda da virgindade é um
evento fundamental para moldar quem somos. Hoje eu sei que tudo
não passa de mera baboseira.

—Fisicamente ou mentalmente?

Não falarei a Enrico que mentalmente tudo mudou. Não contarei


que me apaixonei ainda mais pelo seu irmão após a noite de ontem.
Uma parte minha sente uma pequena mudança. Me sinto mais madura,
ou só seja coisa da minha cabeça. Sei lá.

—Os dois.

—Bom, vou falar das minhas próprias experiências. Fisicamente


talvez mude alguma coisa, ou pelo menos é o que dizem que acontece
com o corpo de uma mulher quando ela começa a ter relações sexuais.
Agora mentalmente, você deve estar caidinha pelo meu irmão. Isso
sempre acontece, nosso primeiro é único, marcante.

Viro-me tão rapidamente para Enrico que quase deixo a bebida


cair no sofá. Agradeço a Deus que isso não tenha acontecido, pois o
estrago seria devastador, ainda mais considerando que o sofá parece
custar o meu salário de um ano inteiro.

Enrico abre um sorriso malicioso e semicerra os olhos. Engulo


em seco. Sinto que eu acabei de reprovar em algum teste.

—Eu sabia! Você está completamente apaixonada por Vito, você


não me engana.

Com a mão livre, tento tampar a boca de Enrico. Deus amado!


Ele é a pessoa mais fofoqueira que eu já conheci na vida. Estou
perdida. Em breve, não só Isaac e Vito irão descobrir, como a metade
de Londres.

—Enrico, por favor, pelo amor de Deus. Não fale nada.

—Assim você até me ofende. — Espalma a mão no coração.

—É mesmo? Devo começar a contar nos dedos todas as vezes


que eu pedi sigilo e você deu com a língua nos dentes?

Ele abre a boca indignado comigo. Para dar mais ênfase no seu
desgosto, Enrico finge estar magoado com as minhas acusações.

—Sua ingrata!

—Você só pode estar brincando.

—Ok! Ok! Eu até posso ter fofocado alguma vezes... — encaro-o


perplexa. — Tá bom! Muitas vezes — desiste de encontrar uma
desculpa plausível — eu sinto muito, não falarei nada a Vito.

—O que você não quer me contar? — Dou um pulo do sofá ao


ouvir a voz do CEO atrás de mim.

Enrico e eu nos entreolhamos tentando encontrar uma desculpa o


mais rápido possível, mas minha cabeça parece ter entrado em choque.

—Que o vinho está péssimo. — Mente Enrico.

Nossa, ótima desculpa! Se eu tivesse dito a Vito que crio uma


cobra no apartamento seria mais convincente que isso.
—Você está mentindo... — murmura Vito.

Silêncio. Ninguém fala absolutamente nada. Começo a batucar o


pé no chão, em um ato nervoso. Mas Deus, como se ouvisse as minhas
preces, no instante em que Vito estava prestes a falar algo, a
campainha toca, fazendo o barulho irritantemente estridente soar por
toda a casa. Quase suspiro aliviada. Fomos salvos pelo tio Robson.

Vito nos encara por mais alguns segundos, mas se afasta para
recepcionar o tio, dando, pela graça de nosso senhor, o assunto por
encerrado.

Robson é um homem charmoso. Seus cabelos grisalhos, corpo


atlético e sorriso luminoso deve encantar muitas mulheres. Como Vito
havia comentado, o senhor Costello possui olhos verdes iguais aos do
CEO e do irmão, porém os dele são atentos como os de uma raposa.

—Quem é a linda moça? — Ele beija o dorso da minha mão


esbanjando charme.

Vito se aproxima e para ao meu lado, ele coloca o braço na minha


cintura em um abraço apaixonado, porém possessivo.

O CEO manca um pouco, ele colocou uma bota como suporte,


mas ainda assim deve fazer o menor número de movimentos possível.

—Minha namorada. — Ouvi-lo me apresentar como sua


namorada fez coisas estranhas com o meu coração.

—Oh! — Robson parece surpreso com o atual status do sobrinho.


—Prazer em conhecê-lo, senhor Costello.

—Por favor, querida, agora somos da mesma família. Me chame


de tio Robson.

Abro um sorriso simpático, mas não respondo nada. Não consigo


raciocinar direito quando Vito está tão colado a mim, marcando
território, assumindo um compromisso.

Sentamo-nos na sala para beber e conversar um pouco. Vito não


saiu do meu lado por um segundo se quer. Seu perfume cítrico me
fazendo companhia, o calor do seu corpo abraçando a minha pele.

—E você Enrico, o que anda fazendo da vida?

—A mesma coisa que o tio, existindo...

Minha nossa senhora! Me engasgo com a bebida. Vito dá


batidinhas em minhas costas, me ajudando a expelir o líquido que
entrou no lugar errado. Enrico não perdoa nem mesmo o tio.

—Desculpe. — Murmuro.

Robson sorri para mim, como se estivesse me desculpando pela


minha falta de educação de rir de uma resposta ácida ao ponto de me
engasgar com a bebida. Eu quero matar Enrico.

—E a empresa, Vito, como andam as coisas?

Vito toma um gole do seu vinho. Seu braço descansa


distraidamente às minhas costas. Ele parece à vontade, mesmo que o
tio não seja sua pessoa favorita no mundo.
—Cada vez melhores.

Robson abre um sorriso que não chega aos olhos para o sobrinho.

—Seu pai sentiria orgulho de você.

Vejo Enrico ficar rígido. Falar para somente um dos filhos que o
pai estaria orgulhoso é egoísmo. Os pais de Vito e Enrico possuem
tantos motivos para ficar orgulhoso do CEO, quanto do irmão mais
jovem.

—Tenho certeza que sim, e de Enrico também, é claro. Ninguém


na família nasceu com o seu altruísmo. — Vito defende o irmão.

—Claro que sim. — Robson fica sem jeito. — Enricou puxou à


mãe. — complementa.

Essa é a primeira vez que eu participo de uma reunião de família,


e eu estou achando tudo completamente insano. O clima está tão tenso
que os pelos dos meus braços estão arrepiados.

—Está com frio? — indaga Vito em dado momento. Ele esfrega


as mãos em meus braços desnudos.

—Estou bem. — Abro um sorriso singelo.

—O que aconteceu com o seu pé? — Robson parece perceber a


lesão do CEO.

—Nada preocupante, somente um acidente de trabalho. — Dá de


ombros.
Enrico solta uma risada zombeteira. Fecho os olhos esperando a
bomba que ele soltará.

—Bem que ele gostaria de ter machucado algum outro membro


antes. — Cicia pensativo.

Deus! Não, isso não! Ai meu Deus! Meus pensamentos ficam


embaralhados.

—Não sei se compreendi. — Robson franze a testa.

Vito coça a garganta e abre um sorriso que diz: “eu vou matar o
meu irmão”.

—Hora do jantar! — Vito levanta-se subitamente do meu lado,


dando a conversa por encerrada. Pela graça de nosso senhor.

O jantar transcorre tranquilamente. Robson não fez mais


comentários desnecessários. Vito e ele ficaram por horas conversando
sobre a Costello Imobiliária, enquanto Enrico e eu ficamos fofocando
sobre algumas coisas, afinal, ninguém está mais por dentro das fofocas
do que Enrico.

—Isaac não vem? — Sussurro para que somente Enrico possa


ouvir.

—Não. Tio Robson conhece o senhor Jones, seria arriscado ele


vir. Isaac morre de medo de fofocas a nosso respeito.

Enrico tenta fingir indiferença, mas a verdade é que ele fica


extremamente magoado com Isaac.
—Então Vito vai ir conhecer os seus avós? — Muda de assunto.

—Sim.

—E por qual motivo exatamente você não está radiante com isso?

—Tenho medo do que eles possam pensar. O sonho dos meus


avós é me ver casando, vestida de branca, entrando na igreja... essas
coisas, e Vito e eu não chegamos nesse momento ainda. Eu sei, é
loucura, nos conhecemos a pouco mais de três meses e eu já estou
falando nisso.

—Agnes, você é muito cismada, credo! Agora entendo por qual


motivo você e Vito se interessaram um pelo outro. Vocês levam a vida
criteriosamente correta. Não se arriscam e se importam muito com o
que os outros vão pensar. Meu bem, você nunca ouviu a frase “as
vezes não é o tempo, mas sim a pessoa”?

—Sim, eu já ouvi.

—Então, você pode ficar namorando uma pessoa por dois anos e,
em algum momento, o relacionamento acabar, assim como pode
encontrar alguém, se apaixonar perdidamente e casar em bem menos
do que a metade desse tempo. No amor, tempo não existe, portanto,
pare de se preocupar com isso.

—Eu sei, mas precisa inserir isso na minha mente incrivelmente


criativa e romântica.

—Sabe o que eu acho?


—Diga.

—Que você está tão apaixonada por Vito que teme um


rompimento, então já fica encontrando motivos para não se iludir com
um futuro.

Um tapa doeria menos.

Constatar a verdade é angustiante. Eu não havia percebido que


esse tempo todo eu só fui pensando em desculpas para que, no futuro,
caso algo saia diferente do esperado, eu tenha motivos para me apegar
e conseguir catar os pedaços do meu coração. Afinal, qual o melhor
jeito de fazer isso se não dando ênfase nos defeitos da outra pessoa?

—Viu, eu sempre tenho razão. Aproveite o momento, pare de


pensar no futuro, é o agora que você tem. E se você quiser a minha
opinião, Vito gosta tanto de você quanto você gosta dele.

Lágrimas embaçam a minha visão. Aperto as mãos de Enrico em


agradecimento. Ele foi uma das melhores coisas que aconteceu na
minha vida esse ano. Ele e o irmão, claro. Mas Enrico é o amigo que
eu sempre procurei e nunca tive.

—Obrigada.

Enrico me abraça, seus olhos também estão lacrimejados. Fico


surpresa, pois nunca o vi chorar anteriormente.

—Eu é que agradeço, Agnes. Você é a minha melhor amiga e eu


agradeço todos os dias por você ter escolhido o nome de Vito para
colocar em seu personagem.
Solto uma gargalhada. Enrico é uma piada.

—Hoje eu também agradeço por isso.

—Nunca lhe agradeci pelo que está fazendo por mim e Isaac.
Saiba que é muito importante, Agnes. Se não fosse por você, eu não
poderia viver ou sentir esse momento.

—Oh, Enrico! — Um soluço sai da minha garganta. — Eu só


desejo a sua felicidade.

O abraço fica ainda mais aperto. Há somente gratidão nele, e


claro, felicidade plena.

—Tá bom, chega! Não quero manchar a minha base. — Ele passa
os dedos nos olhos, limpando as lágrimas ainda não caídas. — Vamos
continuar bebendo, afinal, é sábado, um jantar em família inquietante,
e eu ainda preciso ficar segurando vela. Só álcool na causa. — Ele se
levanta e vai encher a sua taça.

Sinto a minha bexiga explodindo, preciso urinar urgentemente.


Eu tenho um péssimo costume de postergar a ida ao banheiro até o
último instante. Deixo a taça ao lado e vou em busca do toalete.

Encontro Robson parado no corredor, com um porta-retratos em


mãos, observando uma foto com os olhos perdidos no passado.
Caminho na ponta dos pés, tentando manter a minha presença
imperceptível, mas é claro que não dá certo.

—Oi. — falo sem jeito quando ele percebe que está sendo
observado. — É... hã... eu precisava ir ao banheiro. — Tento sair de
fininho.

—Oh, não se preocupe, eu só estava matando a saudade.

Droga! O homem parece carregar tristeza na voz. Preciso fazer


jus a toda a educação que meus avós me deram. Viro para ele e abro
um sorriso contido.

—Eu sinto muito pela sua perda.

—Todos nós perdemos naquela noite. — Fico em silêncio, então


ele continua. — Eva não deveria estar no carro. Richard disse que iria
sozinho. Oh, Deus! Eu sinto tanto. Ela era uma mulher tão linda,
sorridente, iluminada...

Olho para os lados, não sei se estou entendendo bem o que o


homem está falando, portanto, balanço a cabeça positivamente como
se estivesse compreendendo sua linha de raciocínio.

—Meus pêsames.

Robson sai dos devaneios, seus olhos antes embaçados, agora


retornam ao normal. Ele coça a garganta e coloca a porta-retratos no
lugar.

—Desculpe monopolizá-la.

—Ah, não se preocupe, eu sei como é perder alguém. Meus pais


morreram em um trágico acidente de carro quando eu tinha somente
quatro anos. — Dou de ombros como se não importasse mais.

—Eu sinto muito. — Silêncio constrangedor. — Acho melhor eu


retornar para a sala, com licença.

Robson sai andando em passos rápidos, me deixando atordoada


no corredor. O que acabou de acontecer aqui? Vou até a mesa das
fotos e observo o porta-retratos que ele estava segurando. Para a
minha surpresa, há somente uma mulher de meia idade, pele clara,
olhos azuis, sorriso iluminado e cabelos castanhos. Eva, mais
conhecida como senhora Costello. Mas por qual motivo Robson
observava uma foto solo de Eva? Pensei que ele estaria olhando algo
relativo ao seu irmão, afinal de contas, naquela noite ele perdeu os
dois.

Meu pai amado! Essa história está ficando cada vez mais
esquisita.

Largo o porta-retratos com rapidez e corro para me trancar no


banheiro. Meus pelos se arrepiam. Chego à conclusão que eu quero
ficar o mais longe possível de Robson, por mais que ele seja tio do
meu “namorado”.
—Eu odeio quando alguma coisa sai dos conformes nas vésperas
desses eventos. — Liz caminha de um lado para o outro com o
telefone em mãos.

Em três dias ocorrerá a inauguração do prédio e deu algum


problema com o buffet, agora ela está desesperada tentando resolver.
Enquanto eu me perco em pensamentos pecaminosos com Vito
Costello.

Essa semana nós dormimos juntos praticamente todos os dias. O


CEO até mesmo passou a noite no meu apartamento na segunda-feira,
rodeado por gatos em uma cama pequena. Fiquei surpresa.

O senhor Robson Costello voltou para a Escócia, mas eu não


esqueci a conversa estranha que tivemos no corredor. Não comentei
nada com Vito, ele já não gosta muito do tio, se souber que ele sente
mais falta da cunhada do que do irmão, sua afeição pelo homem
diminuirá ainda mais e eu não quero ser a responsável por isso.

Mordo outro pedaço da minha barrinha de chocolate, enquanto


espero Liz largar o telefone e parar de surtar. Estava com uma vontade
tão absurda pelo doce que precisei sair para comprar. Quando estou de
TPM preciso tanto de chocolate quanto preciso de ar para respirar.

Vito está na sala de reuniões com alguns compradores. O prédio


comercial possui várias salas disponíveis para venda. Quando alguém
quer comprar o prédio inteiro ou boa parte dele, o próprio Vito se
disponibiliza em tratar a negociação. Segundo o CEO, as pessoas se
sentem mais confortáveis ao tratar diretamente com o chefe e acabam
comprando imóveis mais vezes, posteriormente.

—Eu já disse que esse emprego ainda vai me deixar de cabelos


brancos? — Liz arranca o chocolate da minha mão e dá uma mordida.

—Ei! — Fico indignada. Ela é corajosa, tirando o meu doce em


plena TPM.

—Acho que eu deveria ganhar um aumento. — murmura


pensativa com a boca cheia de chocolate.

—Em breve isso vai acabar. — Pego outro doce da sacola.


—Por ora, depois vai ter outro prédio e outro. Sempre será essa
correria.

Eu sei que não é bem isso que está lhe estressando, mas sim o
problema com a sogra e a compra do apartamento. Nenhuma das duas
deu o braço a torcer ainda.

—Estou disponível para ajudá-la com o que precisar, Liz.

—Eu sei, e obrigada. — Ela beija a minha bochecha e volta a


discar mais números no celular.

Volto para a sala de Vito, não quero atrapalhá-la ainda mais.


Quando Liz está inquieta o melhor a se fazer é deixá-la sozinha
resolvendo as suas próprias coisas.

Abro meu notebook e olho para o livro. Preciso terminar de


escrevê-lo. Mas é tão difícil escrever sobre infelicidade quando eu só
me sinto feliz.

Eu amo esse livro, apesar de tudo. Se não fosse por ele, eu jamais
teria conhecido Vito ou Enrico.

É hora de dar a minha devida dedicação e colocar em palavras o


que eu senti essa semana. Vito quer um CEO cafajeste e sem
escrúpulos, eu lhe darei isso, mas também lhe darei redenção. De
qualquer forma, precisará da sua aprovação. Caso ele desaprove, eu
reescrevo o final. Mas por ora, o Vito Costello da ficção terá o seu
final feliz.
Vito Costello

A reunião com o comprador foi um sucesso, mas muito


entediante e demorada. Passei a tarde inteira convencendo o homem
que as salas dispostas na parte sul do prédio seriam uma melhor
escolha para o tipo de negócio que ele está interessado em colocar.

Saio da sala de reuniões exausto, esse tipo de compromisso tende


a desgastar as minhas energias. Encontro Agnes sentada, digitando
furiosamente em seu notebook. A droga do livro que eu nem lembrava
mais.

Os cochichos diminuíram nos corredores, o sucesso do livro


ficou no passado agora que faz meses desde o seu lançamento. É hora
de seguir em frente.

—Oi. — Me aproximo e planto um beijo no topo da sua cabeça, o


cheiro do seu xampu me recebe de bom grado.

—Ah, oi... me perdi no tempo. — Ela olha a hora em seu relógio


de pulso. — Droga! Pegarei o metrô à noite.

—Eu vou levar você para casa, mas antes vamos jantar em algum
lugar. — Faço a volta na minha mesa e guardo a pasta com as
negociações na primeira gaveta.

Agnes não sabe ainda quais são os meus planos. Ela pediu que eu
agilizasse um carro popular para ir conhecer os seus avós, pois bem, o
carro será um presente para ela. Já conversei com Enrico sobre isso,
ele me ajudará a convencê-la a aceitar o mimo. No entanto, ainda
tenho planos mais ambiciosos para o futuro da escritora. Não consigo
dormir bem a noite sabendo que ela está dormindo em um lugar
fúnebre, cheirando a mofo e velho. Sinto pena até dos seus gatos
sendo obrigados a passar o dia inteiro presos dentro daquele
minúsculo apartamento. Eu sei que levá-la para a minha casa será um
enorme passo em nosso relacionamento, ainda mais em tão pouco
tempo. Porém, as coisas tendem a ser ardentes entre nós.

—Tudo bem.

—Ou você prefere dormir na minha casa? — Eu já sei a resposta,


mas não custa nada tentar.

—Eu não posso, Vito. Meus gatos se sentem sozinhos, preciso


fazer companhia a eles.

—Ok. Vou pedir para Anderson nos deixar em seu apartamento


após o jantar e no outro dia ir mais cedo para nos buscar e me levar
roupas limpas.

—Você vai dormir novamente em minha casa? — Parece


surpresa.

—Se você não quiser...

—Não! É claro que eu quero, só pensei que não achasse a minha


cama confortável o suficiente.

Deus! Até hoje sinto dor nas costas. A cama da Agnes é um


atentado à sua saúde. Possui tantos calombos que eu perdi as contas
depois do décimo. É claro que eu não preguei o olho à noite toda.
Acordei com as costas doendo, o braço formigando e uma dor de
cabeça infernal, mas se isso for preciso para que eu passe o resto da
noite na companhia da escritora, então que assim seja. Nada que um
analgésico não resolva.

—Vou ficar com você. — pontuo.

—Ok. — Ela abre um sorriso aprovando a minha resposta.

Afrouxo o nó da minha gravata e retiro-a, enquanto espero Agnes


desligar o seu computador e organizar as suas coisas para que
possamos sair juntos do prédio da Costello Imobiliária.

Não sei se me sinto feliz pela proximidade do fim de semana ou


exasperado. Diferente do anterior, esse, por conta da inauguração, será
uma correria dia e noite. E no próximo, farei a viagem para conhecer a
família de Agnes. Ridiculamente, me sinto nervoso com isso. Posso
enfrentar homens poderosos sem mudar o tom de voz ou desviar o
olhar, mas sinto tensão para ir conhecer um casal de idosos. Céus!
Agnes mexe com o meu psicológico de forma intensa.

Pouso minha mão em suas costas, conduzindo-a até o carro que


nos aguarda com Anderson.

Constato que, eu poderia fazer isso todos os dias e ficaria feliz, ir


para casa acompanhado de alguém que eu goste, ter a certeza de que
passarei o restante da noite no calor de seus braços.

Estou entrando em um caminho sem volta e não me importo nem


um pouco com isso.

—O que você vai pedir? — pergunto para Agnes.

—Carni, Pollo & Pesci.

Peço o mesmo para mim, enquanto o garçom leva os nossos


pedidos, uma garrafa de vinho chega para fazermos a degustação.

—Qual é a sua cor favorita? — Agnes abre um sorriso com a


minha indagação incomum.

—Por que a pergunta? — Franze o cenho.

Para escolher a cor do seu carro.

—Não posso saber coisas básicas sobre você?

—Vermelho. — Considerando que ela usa batom em todas as


tonalidades de vermelho existentes, isso deveria ser mais óbvio para
mim. — E a sua?

—Azul. — Agnes dá uma risadinha. — O que foi?

—Nada, é que você realmente usa muitos ternos dessa cor.

E ela tem razão. Eu adoro a forma como o azul contrasta com os


meus olhos verdes, herança do meu pai.

—O que eu deveria saber sobre os seus avós?


Ela pensa por alguns segundos antes de responder.

—Meu avô ama carros, ele possui um Alfa Romeo Spider ano
1974 na garagem há mais tempo do que eu possa imaginar. Ele saiu
com o carro pela primeira vez há alguns dias. Foi um feito histórico,
vovó até mesmo me ligou para contar. Ele também gosta de armas,
possui uma espingarda. Vovó adora a culinária alemã, por algum
motivo desconhecido, ela sempre inventa receitas da internet. Eles são
extremamente religiosos, como eu já havia dito anteriormente,
portanto, se nunca foi à missa antes, pode se preparar.

Eu nunca nem entrei na igreja anteriormente, somente quando fui


batizado quando ainda era um bebê. Isso vai ser uma novidade.

—Tá bom. — falo com um sorriso nos lábios, imaginando com


antecedência a cena.

—Não se preocupe, Vito. Meus avós vão adorar você.

Pela primeira vez na vida eu espero a aprovação de alguém que


não seja o meu pai. Agnes é uma pessoa muito ligada a família, tenho
certeza que o aval dos seus avós será essencial para nosso futuro.

Nossos pratos chegam. Filé mignon empanado, gratinado no


mozzarella de búfala, molho pomodoro e spaghetti ao alho e óleo.
Fazemos o desjejum em silêncio.

Após o jantar, eu solicito a conta ao garçom e conduzo Agnes


para a saída, mas somos impedidos antes disso.

—Costello. — Alguém me grita.


Agnes fica tensa ao meu lado instantaneamente.

—Jones, como vai? — Aperto a mão do CEO com desgosto.

—Estou ótimo — ele olha para a minha companhia antes de


continuar — e, pelo visto, você melhor ainda, considerando que está
jantando com a namorada do meu filho.

Agnes arfa, seus olhos ficam esbugalhados e ela parece prestes a


ter uma síncope. Isso é péssimo, Jones é uma raposa velha e
inteligente, entenderá o sinal corporal de Agnes como culpa.

Eu esqueci completamente da farsa dela, Enrico e Isaac. Agora,


graças a nossa irresponsabilidade, estamos prestes a colocar a
veracidade do namoro em pauta e, consequentemente, fazendo Enrico
sofrer. Trinco o meu maxilar com força, apertando os dentes um contra
o outro, tentando conter a minha raiva.

Abro um sorriso predatório para George Jones. É hora de colocar


o modo CEO inabalável em ação.

—Era o mínimo que eu poderia fazer pelos serviços prestados da


senhorita Bellini, ela tem trabalhado até mais tarde todos os dias, a
fim de fazer com que a inauguração do novo prédio da Costello
Imobiliária seja um sucesso.

George olha pra Agnes que está mais branca que papel, ele
analisa nossos corpos, nossa proximidade minuciosamente e
descaradamente. Me mantenho frio como um iceberg.

—Vocês parecem íntimos...


—Não tão íntimos quanto ela e seu filho, isso posso garantir.

George fixa seus olhos negros em mim, mantenho o seu olhar. O


CEO da Jones Finanças & Seguros é o primeiro a desviar a atenção.

—Prazer em revela, minha nora.

Agnes parece retornar do seu estupor.

—O prazer é todo meu, senhor Jones, como vai?

—Ótimo. Só não estou entendendo uma coisa, Isaac saiu de casa


há horas — ele me olha — com destino à sua residência para encontrar
a namorada.

Agnes engole em seco. Ela parece prestes a chorar.

—Eu estava justamente levando a senhorita Bellini para a minha


residência. Foi o próprio Isaac que pediu que eu a trouxesse para se
alimentar.

George fica em silêncio por mais alguns segundos.

—Isaac vai dormir na sua casa, senhorita Bellini?

Agnes pensa antes de responder.

—Sim, pode ficar tranquilo. Ele estará em boas mãos. — Não


posso deixar de notar o sarcasmo no tom de voz da escritora.

E, pelo visto, George Jones também não.

Uma mulher jovem e bonita se aproxima de George. Ela pousa


uma mão no ombro do homem de forma delicada, mas reveladora. Ele
fica tenso e abre um sorriso sem graça. Maldito desgraçado!

—Bom, não irei atrapalhá-los. Mande lembranças ao meu filho.


— Direciona seu olhar exclusivamente a Agnes em uma ameaça
velada.

Minha raiva toma proporções devastadoras. Como ele ousa?

—Mande lembranças à sua esposa, George. — Olho para a sua


acompanhante da cabeça aos pés.

O CEO fica vermelho, só não sei se é de raiva ou vergonha, mas


não fala nada.

George Jones só é homem suficiente para ameaçar mulheres. Ele


jamais retrucaria um CEO mais poderoso que ele. Um hipócrita. Se
não fosse pela estima que tenho por Isaac, já teria o tirado do meu
caminho há muito tempo.

—Vamos para casa. — Arrasto Agnes que ainda está perplexa.

—Pobre senhora Jones, pobre Isaac. — murmura pensativa.

—Nós podemos trocar o seu travesseiro. — Agnes me alcança


outro travesseiro.

—Estou bem. — minto.


A escritora está tentando me fazer ficar mais confortável em sua
minúscula e torta cama. Não sei como ela consegue dormir bem nesse
espaço, sem contar o cheiro de bolor que ataca a minha rinite todas as
vezes que venho para cá.

Procuro os gatos, tenho medo do que eles possam fazer quando


estou dormindo, desde que Atena atacou o meu pau, não durmo direito
estando na presença da gata bandida.

—Tem certeza? — Agnes parece sem jeito.

Puxo-a pelo braço, fazendo o seu corpo cair sobre o meu.

—Só há uma coisa que eu quero nesse momento, querida, e com


certeza não é uma droga de travesseiro. — Desço a alça da sua regata
de dormir pelo braço.

—Então tenha o que quiser, Vito Costello.

Desnudo os seios que eu tanto admiro. Planto beijos até chegar


ao bico rosado. Mordisco o local delicadamente, chupo e dou
lambidas. Eu amo o gosto que a sua pele tem.

—Por favor, Vito... — Geme.

Deito-a na cama. E retiro sua camiseta, suas calças levam o


mesmo rumo. Eu ansiei por isso durante o dia inteiro, só pensava no
momento do dia que finalmente eu poderia possui-la. Beijo seus lábios
com sagacidade.

Suas mãos exploram cada parte do meu corpo, enquanto os seus


olhos encontram os meus. Guio o meu pau até os seus lábios vaginais,
abrindo-os, sentindo a textura suave. Masturbo o seu clitóris com o
meu membro para aumentar os seus fluidos corporais, deixando-a
pronta para mim.

—Ohhhh! — Agnes arqueja.

Sinto a sua entrada apertada e pronta. Penetro-a com força,


sentindo o meu cacete ser engolido por sua boceta deliciosa,
reivindicando um espaço em seu interior. Solto um elevado gemido,
expondo o quanto eu sinto prazer com o seu corpo.

Agnes crava as unhas em meu braço, suas pernas envolvem o


meu quadril, implorando por estocadas mais fundas e fortes. Sinto a
sua vagina me apertar, seus seios balançando, batendo contra o meu
peito. Nossos gemidos unindo-se, reverberando por todo o quarto.

Estoco com força, fundo, apaixonado.

Beijo Agnes engolindo os seus gemidos. Sua vagina me aperta.


Gozo devagar, o orgasmo me nocauteando. Meus espasmos se
misturam com os de Agnes. Sinto a adrenalina saindo do meu sangue,
me deixando fraco. Caio ao seu lado na cama.

Olho para os lençóis e vejo a mancha molhada que deixamos, a


prova do que acabamos de fazer.

Agnes se aconchega em meu peito. Seus cabelos colados no rosto


suado. Ela está tão exausta quanto eu.

Extasiante, é assim que me sinto.


Sinto a respiração de Agnes entrar em um ritmo constante, seu
sono é profundo e relaxante. Estou quase seguindo pelo mesmo
caminho quando a cama afunda, e os três gatos deitam-se à nossa
volta. Seus pelos macios tocam em minhas pernas nuas, uma sensação
de carinho e familiaridade me toma. E eu durmo tão bem quanto um
bebê, abraçado em Agnes e rodeado de pelos.
Faço movimentos circulares consecutivamente em meu
apartamento. Meu telefone em mãos ainda bloqueado. Eu preciso ligar
para a minha avó e falar que não irei visitá-los sozinha, mas com o
meu namorado. Céus! Isso é mais difícil do que eu pensava.

Hoje à tarde acontecerá a inauguração do novo prédio da Costello


Imobiliária, Vito me largou em casa para que eu pudesse me arrumar e
saiu para fazer algumas coisas. Agora, cá estou eu, nervosa e pensando
em inúmeras desculpas para dar.

—Vamos, Agnes, não é nada demais... — murmuro pensativa.


Eu posso falar: “Olá, vovó, lembra do homem que eu falei?
Então, ele vai ir conhecer vocês no sábado” ou “Oi”. Estou namorando
o meu chefe e ele vai ir comigo no sábado”. Deus! Isso vai ser um
desastre, só não tão desastroso quanto o meu encontro com o senhor
Jones há dois dias no restaurante. O homem me causa arrepios.

Isaac, Enrico e eu quase fomos descobertos. George Jones não


engoliu a história de que Vito tinha me levado para jantar apenas para
ser um bom chefe. Ele ligou para Isaac e o garoto disse que eu estava
com ele. George na mesma hora captou a mentira e o colocou contra a
parede. Isaac foi obrigado a inventar outra desculpa para o pai,
falando que estava com outra mulher, mas que eu jamais poderia
descobrir. É claro que o CEO machista e homofóbico ficou orgulhoso
do filho. Afinal, ele mesmo trai a esposa toda hora. Depois disso,
criamos um grupo no WhatsApp e estamos sempre mantendo contato
através dele. Dessa vez, George acreditou, mas não sabemos se na
próxima teremos a mesma sorte. Portanto, melhor não arriscar.

No fundo eu sinto que Enrico e Isaac sabem que a mentira está


prestes a acabar, Vito e eu estamos a cada dia mais grudados e quase
assumidos, só não o fizemos ainda por causa dos garotos. Não
colocarei pressão neles, assim como sei que Vito também não o fará.
Por ora, vamos ir levando essa história e ver até onde vai dar.

Meu telefone começa a tocar e eu dou um pulo, assustando-me. O


nome de vovó aparece na tela. Isso só pode ser um sinal divino de que
está na hora de contar a verdade.

—Olá, vovó. — Abro um sorriso nervoso ao ver sua face na


câmera.
—O que aconteceu? — Ela semicerra os olhos.

Engulo em seco. Como eu amaria nascer com um pouco da sua


perspicácia. Ela consegue ler os meus sentimentos somente pela
câmera do celular. Às vezes acredito que ela leia mentes.

Solto um suspiro profundo. Minhas mãos estão suando frio.

—Lembra do homem que eu lhe falei?

—Agnes Bellini, não diga algo que eu não vá gostar!

Meu pai amado! Eu morro, mas não conto que perdi a virgindade
antes do casamento.

—Não, vovó, claro que não! — Sorrio amarelo.

—Então qual é o problema?

—Eu vou levar ele no sábado. — A frase é proferida tão


rapidamente que eu misturo as palavras.

—Oh! — Vovó estranhamente fica radiante. — Isso é perfeito!


Finalmente vamos conhecer o homem que está arrebatando o seu
coração. Ainda bem que você me avisou com antecedência, até vou
pesquisar nesse aparelho umas receitinhas. — Pobre Vito, mal sabe o
que lhe aguarda.

—A senhora não está receosa? — indago com a testa franzida.

Eu quase tive um infarto para isso?


—E por qual motivo eu deveria estar? Seu avô vai ficar com um
pouco de ciúmes sabe, mas eu consigo domar a fera.

—Obrigada, vovó! — Fico emocionada.

—Não seja boba, menina. Se você está feliz, então nós também
estamos. Agora vai relevar a identidade do homem?

Ok! Isso vai ser complicado. Não sei bem o que vovó achará de
eu estar namorando o meu chefe.

—Vito Costello. — Minha voz sai em um sussurro.

—Eu não compreendi querida, acho que o autofalante dessa


porcaria está com problemas. Você precisará ver isso quando chegar.

Sim, é com certeza o autofalante. Tudo bem! Eu vou levar Vito


na casa deles, não posso inventar uma identidade falsa para o CEO.
Agnes, deixa de ser covarde! Meu cérebro ralha.

—Vito Costello! — Grito.

—Meu senhor! — Vovó esbugalha os olhos. Consigo ouvir as


engrenagens funcionando em sua cabeça. Os segundos parecem parar.
— Você está namorando o seu chefe?

—Sim. — Dou de ombros.

Os olhos de vovó ficam ainda mais iluminados. Ela abre um


sorriso radiante.

—Estou ansiosa para conhecê-lo.


—Ele também está ansioso para conhecer vocês.

—Vou comunicar o seu avô, preparar o quarto de hóspedes e


pesquisar receitas. Espero que a semana passe voando. Estou
morrendo de saudades, querida.

—Ah, vovó... — nem vejo as lágrimas descendo, só sinto o meu


pescoço molhado — eu amo tanto vocês! Também estou com saudades.
Obrigada por tudo!

—Eu também amo você, meu amor.

Desligo o celular, me sento no sofá e começo a chorar. Só Deus


sabe por qual motivo eu estou chorando, mas me sinto tão emotiva.
Minha menstruação está atrasada, o que é normal. Isso sempre
acontece quando eu me emociono demais. E ultimamente é só o que
tem acontecido. Eu perdi a virgindade, comecei a namorar, vou matar
a saudade dos meus avós. Meus sentimentos estão conflitantes.

Miau!

Olho para o dono do miado. Atena está sentada à minha frente.


Provavelmente chegou a hora do sachê. Minha gata esfrega seu corpo
quente e peludo em minha perna.

É incrível, apesar de estar aqui interessa no sachê, todos eles


sentem quando estou triste, e ficam na minha volta me consolando.

—Eu amo você. — Acaricio o seu pescoço branco. — Vamos lá


alimentá-los.
Vou para cozinha e sou seguida por ela. Logo, Zeus e Netuno
aparecem de onde quer que estivessem enfiados. Distribuo o petisco,
me sento no piso da cozinho e fico lhes fazendo companhia enquanto
se empanturram com a ração molhada. Ultimamente eu ando sendo
uma mãe desnaturada, mesmo assim eles não deixam de me amar nem
por um segundo.

—Eu amo esses eventos! — Enrico puxa outro copo de


espumante da bandeja do garçom que estava passando. Ele parece
decidido a se embebedar hoje.

—Nem dá para perceber... — Murmuro sarcástica.

—Ethan não para de olhar para você.

Olho disfarçadamente na direção do engenheiro. Enrico tem


razão, a cada segundo, ele foca a sua atenção em mim. Depois do
restaurante, Ethan nunca mais se quer me cumprimentou na empresa.
Ele ficou verdadeiramente magoado que os sentimentos não eram
recíprocos. Fiquei chateada por isso, eu adoraria ter a sua amizade.

—Ele nunca mais falou comigo.

—O homem estava apaixonado por você. Não é tão simples ter o


coração partido e seguir por aí como se tudo fosse normal. Dê a ele um
desconto.

—Eu sei.
Liz de aproxima de nós. Seu rosto está corado e ela parece
esbaforida. Provavelmente correndo de um lado para o outro tentando
resolver cada problema que aparece. Ela pega a taça da mão de Enrico
e vira todo o líquido de uma só vez.

—Isso foi... deselegante. — Retruca Enrico.

Coloco a mão na frente da boca, tentando esconder o sorriso que


insiste repuxar os meus lábios.

—Estou tentando manter o meu emprego, mas a equipe insiste em


tentar me fazer ser demitida. — Dá de ombros. — Toda hora um
problema diferente surge. Estou exausta.

—Relaxa, Liz. Está tudo perfeito. — Tento consolá-la.

Liz fixa seus olhos em mim e um sorriso se abre em seus lábios.

—Sabe, você está mais... iluminada. Acho que transar está


fazendo bem para você.

—Concordo plenamente. Vito parece dar conta direitinho do


recado. — Complemente Enrico.

Um rubor impregna o meu rosto. Apesar de não ser mais virgem,


ainda sinto vergonha em colocar em pauta certos assuntos.

—Obrigada. — Não sei bem o que falar.

—Então, Liz, resolveu a situação com a sua sogra? — Enrico está


curioso com o assunto.
Podemos falar que somos um trio agora. Liz e Enrico ficaram
amicíssimos depois que eu entrei em suas vidas. Isaac se junta a nós
quando consegue, mas isso é raro de acontecer. Enrico, por um
milagre, vai almoçar conosco na empresa umas duas vezes na semana,
para que possamos colocar a fofoca em dia.

—Vamos ficar com o apartamento que ela escolheu. Porém, ela


custeará oitenta por cento do valor.

—Uau! Isso é ótimo, Liz. Vocês basicamente ganharão um


apartamento. — Fico feliz por ela.

Liz revira os olhos e bufa.

—Sim. Em alguns anos a gente se muda mesmo...

—Ou você vai gostar tanto do lugar que nem pensará mais nisso.
— Pontua Enrico.

—É, pode ser.

Liz e a sogra não se dão muito bem, mas se aturam pelo bem de
Mark. Ao menos ela está conseguindo construir a sua vida ao lado do
noivo que tanto ama.

O prédio planejado por Ethan ficou perfeito. Muitas salas


comerciais já foram vendidas. E, apesar de todos os imóveis da
Costello Imobiliária serem reconhecidos e refinados, esse em
específico é um verdadeiro sucesso.

Vito se aproxima do nosso grupo com um homem, um lindo e


atraente homem. Ele possui olhos castanhos, cabelos escuros, lisos e
penteados para trás. Veste um terno preto com caimento perfeito. E
pela musculatura, deve passar boas horas em academias.

—Noah! — Enrico o cumprimenta com um abraço.

—Enrico, quanto tempo! Você parece ótimo. — Sua voz é rouca e


máscula.

Vito me observa. Preciso limpar a baba que começou a escorrer


no canto da minha boca. Até mesmo Liz está em silêncio.

—Agnes, esse é Noah Chevalier, CEO do Banco Chevalier. —


Vito nos apresenta.

Noah se aproxima de mim. Ele planta um beijo no dorso da


minha mão. Sinto vontade de suspirar, mas me controlo. Ainda mais
com Vito observando cada respiração minha.

—Prazer em finalmente conhecê-la, Agnes. Já ouvi falar muito de


você.

Lanço um olhar de esguelha para Vito. Como assim ele já ouviu


muito falar de mim? O CEO tem comentado sobre o nosso
relacionamento? Não era um segredo?

—O prazer é meu. — Abro um sorriso cortês.

—Noah é um amigo próximo, Agnes. Ele sabe sobre tudo. —


Vito explica ao perceber a confusão em minha mente.

—Oh! — Exclamo.
Vito nunca falou de Noah, mas ele também nunca falou de
nenhum amigo, então não é novidade que eu não soubesse quem Noah
era, até então.

—E essa é a minha fiel secretária, senhorita Evans. — Vito


apresenta Liz ao banqueiro.

Minha amiga cora. Uau! Só um homem desses para fazer Liz


ficar envergonhada.

—Prazer em conhecê-la, senhorita Evans. — O homem é um


gentleman.

—O prazer é meu, senhor Chevalier. — A voz de Liz sai rouca.

Noah abre um sorriso sedutor, mas logo se afasta, olhando tudo


ao redor.

—Vito, preciso falar, esse prédio está impecável. Ainda há salas


disponíveis? Pois quero investir em algumas.

—Para um velho amigo sempre há, Noah Chevalier.

Vito e Noah se afastam novamente, perdidos em uma conversa


entediante de negócios.

—Desse eu gosto. — murmura Enrico.

—Como assim? — indago curiosa.

Enrico dá de ombros. Ele olha para os lados vendo se alguém está


prestando atenção em nossa conversa. Então ele se aproxima mais de
mim, e Liz faz o mesmo. Os fofoqueiros de plantão exercendo seus
trabalhos.

—Eu não gosto muito de Thomaz. — sussurra. — Apesar de Vito


adorar o homem, não o acho muito confiável.

—Então somos dois. Desde o dia em que aquela vadia apareceu


na empresa e eu quase fui demitida, não suporto mais olhar para a cara
desse homem. — Fala Liz com desprezo.

—Eu abriria o olho com ele se eu fosse vocês. — Enrico me olha.


— Principalmente você. Sinto que Thomaz sente um pouco de inveja
de Vito, e ultimamente, você tem sido o motivo da felicidade do meu
irmão, portanto, fique ligada.

—Ficarei, obrigada.

Mais uma coisa para acrescentar na minha lista de preocupações.


Já não basta a lista quase interminável de mulheres que Vito já andou
para eu sentir ciúmes, agora preciso me cuidar com as suas amizades
também. Pelo menos, o CEO vale a pena. Por ele, eu posso ocupar a
minha mente com essas perturbações.

—Olhem, Vito vai começar o discurso.

Largamos o copo em uma mesinha e nos aproximamos do palco.


Durante o curto percurso, percebo vários olhares em minha direção.
De um lado, o senhor Jones que está me cuidando a cada segundo,
desconfiado do meu verdadeiro caráter. Do outro, Ethan, que parece
ainda não aceitar o fim de algo que nem havia começado. E, por
último, e o mais atormentador, Thomaz. Me sinto como uma presa
enjaulada, mas sei que esse é o custo a se pagar para que eu possa
ficar com Vito Costello.
—O que nós estamos fazendo aqui? — pergunto ao olhar para a
fachada da loja de carros que possui o símbolo da MINI Cooper.

—Você disse que eu deveria encontrar um carro popular para ir


visitar os seus avós.

Olho incrédula para Vito. O CEO parece desconhecer o


verdadeiro significado da palavra popular. Ele realmente acha que
comprar um carro desse patamar vai parecer mais simples?

—Tudo bem. — Desisto.


Entramos na loja e somos bem recepcionados por um vendedor.
Os carros são lindos, os designs modernos e refinados são
surpreendentes. Me apaixono perdidamente por todos. Depois de
horas, Vito finalmente entra em um consenso com o vendedor.

—O que achou desse? — Pergunta Vito realmente interessado na


minha aprovação.

Ele para ao lado de um MINI John Cooper Works Countryman


ALL4. O carro é branco, com o teto vermelho e listras no capô e
portas da mesma cor. No seu interior, bancos de couro marrom, design
esportivo e moderno. Simplesmente magnifico.

—É lindo. — Meus olhos brilham. Estou totalmente apaixonada


pelo carro.

—Eu vou levar. — Vito fala para o vendedor.

—Perfeito, senhor. Vamos agilizar as coisas.

Eles se afastam. Vejo Vito sacar o cartão da sua carteira e


murmurar algo para que somente o vendedor possa escutar. O homem
abre um sorriso cumplice.

Tenho a sensação de que Vito está aprontando alguma coisa.

—O carro está suficientemente bom para irmos conhecer os seus


avós? — Ele me abraça pelas costas.

Essas demonstrações de afeto em público me deixam nervosa.


Depois que encontramos George Jones em um dia improvável em um
restaurante, temo que o homem possa estar em qualquer lugar agora.

—Está ótimo, obrigada por se importar, Vito. — Acaricio sua


mão que descansa na minha barriga, enquanto aguardamos o retorno
do vendedor. — Eles vão amar você.

Vito planta um beijo no topo da minha cabeça, posteriormente,


em meu pescoço. Fico arrepiada com o gesto.

—Espero que sim. — Parece que a aprovação dos meus avós


realmente importa para ele. — Agora eu tenho outra surpresa antes de
irmos.

Sinto minha testa franzir. Desfaço o seu abraço para poder me


virar e olhar em seus olhos. Meu coração começa a bater
descompensadamente, isso me cheira a problemas, tenho quase
certeza.

—E qual seria? — indago temerosa.

Vito olha para o lado e eu sigo a direção do seu olhar. O Carro


que ele acabou de adquirir, está agora com um top vermelho enorme
em cima.

—Surpresa! — sussurra o CEO.

Meu. Deus. Do. Céu.

Vito é totalmente insano. Isso só pode ser brincadeira.

—O quê? — Ainda acho que ele está mentindo.


—Eu não quero mais que você pegue metrô todos os dias, Agnes.
Você agora é a minha namorada, eu posso lhe dar presentes.

Abro a boca sem saber o que falar.

Namorados trocam presentes com os cônjuges, presentes simples


e triviais. E isso não inclui um carro que vale mais dinheiro do que
todos os meus bens juntos. É um absurdo.

—Eu não posso aceitar...

—Você não tem mais escolha, querida, eu já paguei o carro.

—Vito, você é louco?

—Sou louco por você, bebê. Agora aceite o presente, por favor.

Estou suando frio. Meu coração bate descompensadamente.


Minha mente está anuviada. Tenho quase certeza de que estou
começando a surtar.

Deus! Eu ganhei um carro?! E não qualquer carro, um MINI


Cooper.

—Vito, isso é demais...

—Agnes, olhe para mim. — Ele segura o meu queixo. — Eu


posso lhe dar isso, querida, não ficarei menos rico por causa de um
carro, então, por favor, somente aceite o presente. Me faria
imensamente feliz.

Solto um suspiro exasperado.


Eu desisto de tentar entender a cabeça desse CEO ou de discutir
com ele. Vito é um homem teimoso, quando coloca algo na cabeça,
nem mesmo Deus é capaz de tirar.

Terei em mente que o carro é um “empréstimo”, se nosso


relacionamento chegar ao fim — Deus queira que não – eu devolverei
esse presente.

—Tudo bem. Obrigada.

Ele beija os meus lábios com delicadeza. Retribuo o gesto de


carinho. Estou feliz, apesar de ainda estar em choque. É estranho, o
CEO consegue fazer eu sentir um misto de emoções ao mesmo tempo,
quase que diariamente, é um dom.

—Agora vamos, teremos longas horas de estrada pela frente. —


Ele se afasta, mas lembra de algo. — Hã, você quer ir dirigindo?

Ele bateu a cabeça hoje de manhã?

Lanço um olhar sarcástico em sua direção. Como se dissesse,


através das expressões, de que a minha resposta é óbvia.

—Prefiro que você dirija.

—Tudo bem.

Eu tenho carteira de motorista desde os dezesseis anos. Dirigia


quando morava em Weymouth, mas desde que cheguei a Londres,
nunca mais toquei em uma direção. É óbvio que eu não sairei com um
carro desse nível, recém comprado, para pegar estrada. Prefiro ir aos
poucos, ainda não possuo confiança o suficiente para isso. Me sinto
enferrujada.

Tremo de animação ao lembrar que encontrarei os meus avós em


poucas horas. A saudade é tanta que eu mal consigo controlar. Meu
peito chega a doer. Além do mais, quero muito saber o que eles irão
achar de Vito, tenho quase certeza que que amarão o CEO, é
impossível não amar.

E, muito em breve, estaremos prestes a dar mais um passo em


nossa relação.

Uma música clássica toca baixinho no som do carro. Vito está


concentrado na estrada, enquanto batuca os dedos na direção conforme
o som da melodia.

—Você disse que não acreditava em mim quando me viu ouvindo


Lacrimosa, por quê? — Lembro de perguntar.

Na época, eu nem dei bola para isso. Pensei que o CEO estivesse
implicando comigo. Vito parecia me odiar. E odiava, de fato.

Vito solta uma risadinha. Ele desvia sua atenção da estrada por
alguns segundos para olhar para mim.

—Eu amo Lacrimosa, amo música clássica. Já ouvi inúmeras


vezes de amigos que sou uma pessoa antiquada pelo meu gosto
musical.
—Por isso não acreditou em mim? Pensou que nenhum outro
jovem pudesse dividir o mesmo gosto distinto?

Vito dá de ombros.

—Na verdade, sim. Bem... todos possuem algum motivo para


gostar desse tipo de música.

—E qual é o seu motivo então, Vito Costello?

Vito mantém a atenção na estrada. Suas feições ficam sérias.

—Eu não sei bem. Meu pai ouvia muito, era o seu gênero
favorito. Quando ele morreu, eu passei a ouvir como uma forma de me
sentir mais próximo a ele.

Solto um suspiro triste.

—Eu sinto muito.

O clima no carro fica nostálgico. Até mesmo o vento gelado do


ar-condicionado parece ficar pesado.

—E você, por que gosta do gênero? — Vito muda de assunto,


tentando quebrar o clima ruim que se instalou.

—Não sei, é como se eu conseguisse me conectar com esse tipo


de música. As palavras fluem mais rapidamente quando estou
escrevendo... eu consigo sentir as sensações que o compositor quis
passar através da melodia. — Dou de ombros e abro um sorriso
zombeteiro. — Mas sabe, eu não saio por aí julgando os outros pelo
gosto musical. Por mais que seja um gênero incomum, muita gente
escuta.

Vito solta uma gargalhada captando a indireta.

—Eu estava desconfiado de você, pensei que fosse alguma


mulher obcecada por mim.

—E implicava com tudo que eu fazia ou gostava. — Reviro os


olhos.

—Na verdade, eu implicava porque queria encontrar uma


desculpa para odiar você. Quando fui até a sua casa, pensei que fosse
algum dos meus casinhos do passado. Mas quando eu vi você... nossa,
meu corpo fez coisas absurdas.

Um sorriso involuntário brota em meus lábios.

—Deve ter sido bem difícil descobrir que eu, na verdade, não
caía aos seus pés, e muito menos estava obcecada.

Ele solta uma gargalhada que reverbera por todo o veículo.

—Eu fiquei com tanta raiva. Fiquei com ainda mais raiva de mim
por te desejar. Mas você também não estava colaborando com aquela
regata fina mostrando os bicos dos deliciosos seios...

Sinto meu rosto corar. Fiquei tão nervosa no dia que conheci
Enrico e Vito, pensando que a minha vida acabaria ali, que nem
percebi a roupa que eu estava vestindo.

—Então você me desejava?


Vito me olha e abre o seu sorriso sarcástico.

—Com todas as minhas forças, e odiava você por isso. Antes de


te conhecer, você era somente a garota que eu queria acabar. A garota
que me fez virar motivo de chacota na empresa que eu trabalhei por
tanto tempo para conquistar nome e respeito, mas então eu te vi, toda
atrapalhada, toda nervosa... toda sexy.

Mordo o lábio inferior lembrando daquele dia. Eu desejei tanto


Vito quanto ele me desejou.

—Não faça isso novamente, ou eu irei parar essa droga de carro


aqui e agora e vou te chupar até os vidros estremecerem.

Meu interior se encolhe com as suas palavras duras. Minha


respiração fica mais pesada, sei que a minha vagina começou a pingar.

—Merda! — Vito soca o volante do carro com força.

Abruptamente, o CEO põe o carro para o acostamento e para


perto de uns arbustos.

—O que você pensa que está fazendo?

—Vira essa bunda para mim! — Ele retira o seu cinto de


segurança e se joga em minha direção como um animal faminto.

Vito Costello
Agnes ficou excitada com a nossa conversa, e eu, como um bom
namorado, não posso deixar a minha garota desejosa.

Soltei o cinto de segurança como um louco tarado. Livro Agnes


das amarras e colo nossas bocas. Minha mão desce, procurando o que
mais deseja. Coloco a calcinha da escritora para o lado e sinto sua
umidade quente e latejante.

—Vira essa bunda para mim, Agnes, eu quero te chupar!

Agnes se ajoelha no banco, tentando encontrar uma posição


adequada no espaço apertado. Levanto as suas saias e desço sua
calcinha. A visão da sua bunda empinada me leva ao delírio.

Céus! Tão, tão gostosa...

Enfio minha cabeça no meio das suas pernas e passo a língua por
toda a sua extensão.

—Oh, meu Deus! Vito...

Mordisco a pele carnuda dos lábios vaginais. Agnes geme alto.


Sua vagina fica molhada, bebo cada gota que seu corpo expeli.
Deliciosa, maravilhosa! Fico trôpego, ébrio de luxúria.

—Ohhhh!

Chupo o seu clitóris com força, com sede. Passo a língua pelo
nervo sensível, massageando, induzindo-o a lhe dar ainda mais prazer.
Tiro meu rosto do meio das suas penas, Agnes murmura algo
ininteligível, protestando a ausência do meu toque.
Abro as minhas calças e meu cacete salta para fora, esticado,
molhado, pronto para recebê-la.

—Sente-se, querida.

Agnes obedece. Ela se ajeita no banco e desce pelo meu pau, os


músculos da sua entrada me abraçando com precisão. Solto um gemido
exasperado. Eu nunca me cansarei de possui-la, nunca cansarei da sua
vagina. Meu corpo anseia pelo seu a cada instante do dia.

Estoco sua vagina bruto, forte, fundo. Agnes senta em meu cacete
como uma rainha senta em seu trono. Ela sobe e desce, arquejando a
cada penetrada. Sua cabeça, volta e meia, bate no teto do veículo, mas
ela não parece se importar, está dominada demais de deleite para isso.

—Eu vou gozar. — avisa.

Agarro seus mamilos que balançam a cada movimento dos nossos


corpos. Massageio o bico duro de desejo. Sinto suas entranhas
apertarem o meu pau. Sei que também estou perto. A sensação
conhecida de queimação no meu ventre me abraça, minhas bolas doem
e, sem esperar, gozo forte, jorrando fundo em seu ventre. Nossos
corpos unidos em espasmos, suor e paixão.

Agnes Bellini

Vito estaciona o carro em frente à casa dos meus avós. Minhas


bochechas ainda estão coradas ao lembrar do que acabamos de fazer.
Meus cabelos estão bagunçados, pois a escova ficou dentro da mala.

Solto um suspiro me preparando para encontrar os meus avós


com a cara mais inocente que eu tenho, como se eu não tivesse
acabado de transar na beira-da-estrada, estreando o carro que eu
ganhei.

—Vamos? — Sorrio para Vito.

—Vamos! — responde com convicção do que está fazendo.

Solto o cinto e saio do veículo. A porta da frente é aberta, vovó


aparece, seguida por vovô. Quando os vejo, é como um baque. Toda a
saudade que eu senti nos últimos meses me abraça como uma onda
devastadora de dor e solidão.

Corro em suas direções e me jogo em seus braços, o cheiro de


canela e naftalina impregna as minhas narinas, e, mesmo sendo a pior
combinação do mundo, eu amo.

—Querida, estamos aqui. — Vovó acaricia os meus cabelos,


enquanto eu choro copiosamente, colocando para fora do corpo, todo o
líquido que eu tomei nas últimas horas.

Eu ando tão sentimental. Meus hormônios ficam oscilando a cada


instante. Não vejo a hora da minha menstruação descer e isso
finalmente acabar. Meus peitos estão doloridos e pesados. E esses
dias, sangue marrom desceu por três dias seguidos. Parecia um
corrimento, mas era a bendita. Se ela não regular, precisarei marcar
um médico. Só não estou entrando em pânico pelo fato de que, eu
tomo o remédio cuidadosamente em dia e no mesmo horário. E, eu
sempre fui desregulada.

—Eu estava com tanta saudade. — falo por entre soluços.

—Nós também estávamos.

Me afasto de vovó e me jogo nos braços de vovô.

—Eu quero andar no seu carro. — Murmuro em seu peito.

—Ele não está funcionando. — Mente.

Olho para ele de esguelha.

—Vovô! — Ralho.

—Tudo bem, tudo bem! — Levanta as mãos para cima. — Mas só


uma volta na quadra.

Reviro os olhos e abro um sorriso. Seco as lágrimas e lembro que


eu ainda não apresentei Vito a eles. O CEO está escorado no carro nos
observando.

—Vito. Esses sãos os meus avós, John e Ruth.

Vito se aproxima. Vejo que vovô se coloca em uma posição


defensiva. Ele sempre teve ciúmes de mim, não seria diferente agora.
Eu era a sua garotinha, e acredito que eu continue sendo pelo resto da
vida.

O CEO estende a mão para cumprimentar vovó, mas ela o


surpreende, dando-lhe um apertado e carinhoso abraço.
—Sem cumprimentos formais, rapaz, agora você é da família.

—Obrigado. — Vito parece emocionado.

Ele se afasta de vovó, para ir cumprimentar meu avô.

—Esse é o seu noivo? — Vovô fala em alto e bom tom antes de


estender a mão a Vito.

Deus amado! Eu sei exatamente o que o velho está fazendo.


Indiretamente, pressionando Vito. Sinto vontade de rir, mas contenho a
gargalhada.

—Prazer em conhecê-lo. — Vovô aperta a mão de Vito com mais


força que o necessário.

—Você gosta de armas, rapaz? — Pergunta com indiferença na


voz.

—Eu... hã... adoro! — Vito mente na cara dura. Provavelmente, o


CEO nunca tocou em uma arma na vida.

—Oh, isso é ótimo! Eu tenho algumas espingardas... relíquia de


família para mostrar a você. — Lá vem vovô com suas ameaças
veladas novamente.

—Mas antes, nós vamos almoçar, John. Nada de monopolizar as


crianças.

—Ora, querida. Só quero conhecer mais o meu neto.

Vovó revira os olhos para o marido.


—Teremos um fim de semana cheio. Amanhã iremos a missa pela
manhã, e durante a tarde, na festa da igreja.

Já estou imaginando Vito nesses eventos. Isso vai ser hilário!

—A igreja fará festa para que? — pergunto enquanto entramos


em casa.

—Arrecadação de verbas para o orfanato local. — Vovó


responde.

Como era de se esperar, eles colocaram Vito e eu em quartos


separados. Eu fiquei no meu antigo cômodo, enquanto o CEO ficou no
de hóspedes.

—Você sabe quem está grávida, Agnes? — Vovó pergunta em


dado momento.

Estamos comendo alguma coisa esquisita com peixe, mas


saborosa, que ela inventou. Receita da internet.

—Quem?

—Andreia, já está com sete meses, será um menino.

—Hum... — murmuro com a boca cheia de comida.

Andreia é uma amiga de infância. Mais falsa que uma cobra


peçonhenta. Vovó nunca entendeu o motivo do meu desgosto pela
moça, pois ela adora a criatura invejosa. Andreia é a legitima pessoa
que precisa sempre estar melhor que qualquer outro. Já tentei perdoá-
la inúmeras vezes, mas não consigo engolir o que ela me fez passar no
colegial. Zombando e fingindo lamentar a morte dos meus pais. Espero
que agora, casada e com filho ela se torne uma pessoa melhor.

—Ela vai estar na festa da igreja. Ela ajuda bastante a


comunidade, sabe.

Abro um sorriso que não chega aos olhos e pela tossida para
abafar a risada que Vito dá, meu sorriso deve ter ficado mais parecido
com uma cara de nojo do que com um sorriso de fato.

—E você, rapaz, como anda a sua empresa? — Vovô faz questão


de chamar Vito assim para amedrontá-lo de alguma forma.

—As coisas estão indo perfeitamente bem. Obrigado por


perguntar. — Vito espeta com o garfo um pedaço do peixe.

—Você é batizado, Vito? — Vovó perscruta o CEO com os olhos


em busca da verdade.

Engulo em seco. Espero realmente que ele não minta. Caso o


faça, ela perceberá.

—Sim, sou católico por batismo.

—Mas não prática?

—Não, nunca fui em uma missa, além a do meu batizado.

Vovó fica horrorizada com a afirmação e vovô fica em silêncio


por tanto tempo que eu começo a me preocupar.

—Bom, nunca é tarde para mudar os péssimos costumes. — Vovó


arqueia uma sobrancelha, como quem diz: “você não tem escolha se
realmente quer ficar com a minha neta”.

Se ela soubesse que, desde que me mudei, nunca mais coloquei


os pés em uma igreja, serei deserdada. Pior ainda, se ela soubesse que
eu cedi ao pecado da castidade, e que sou uma pecadora agora.

—Com certeza. — Vito entende o recado.

Após o almoço nada constrangedor que tivemos, Vito foi para a


garagem olhar o carro de vovô e conhecer as espingardas da família,
enquanto eu ajudei vovó com a louça.

Sento com ela na varanda, enquanto ela borda uma almofada, eu


observo o movimento da rua familiar. Estava com saudades até dos
vizinhos. É bom estar em casa.

—Esse home é louco por você. — murmura.

—O quê?

—Eu conheço o amor quando o vejo, Agnes. Seu avô e eu


estamos juntos a quase uma vida inteira e eu ainda sinto a mesma
coisa que senti ao vê-lo pela primeira vez.

—A senhora acha que Vito e eu nos amamos verdadeiramente? —


Minha voz embarga.

—Tenho quase certeza. — Vovó abre um sorriso cumplice para


mim, antes de mudar drasticamente de assunto. — Agora, quero saber
como anda a sua saúde. Está mais magra desde a última vez que te vi.
Tem se alimentado direito? E a gastrite?

Eu estava preparada para o enxame de perguntas. Nada mais


acolhedor do que preocupação de vó.

—Eu estou bem. Vito encomenda comida todos os dias para mim
desde que soube que eu almoçava industrializados. — Vovó me lança
um olhar reprovador. Coloco as mãos para cima instantaneamente. —
Eu estou me alimentando bem, vovó. Acredite, Vito cuida disso. Até
parece que vocês se comunicam. — Solto uma risadinha nervosa. — E
quanto a gastrite, tive umas crises, mas já estou melhor.

—Mesmo assim, quero que faça um exame de sangue. Vamos ver


se está com anemia novamente.

Quando eu era criança, anemia e eu andávamos de mãos dadas


em uma via dupla. Desde então, vovó me faz fazer exames
trimestralmente para controlar isso.

—Tudo bem. Se for fazê-la se sentir melhor, assim que eu voltar


para Londres, eu marco o exame.

—Sim, querida, fará com que eu me sinta melhor.

—Então considere feito. — Acaricio o seu braço.

O calor do sol do início da tarde esquenta a minha pele, enviando


uma sensação confortável de aconchego.

Parece um sonho o que estou vivendo. Na casa dos meus avós,


apresentando Vito como o meu namorado...
Minha vida está perfeita, não tenho nada para reclamar, só espero
que ela continue assim por um tempo inestimável. Estou mais feliz do
que nunca estive anteriormente. Me sinto completa agora.

Hoje, quando cheguei na casa dos meus avós, não pensei nos
meus pais imediatamente. Não lembrei do passado doloroso, da
infância conturbada pela saudade. Eu pensei no agora.

Tudo o que eu consegui sentir foi esse momento.


Os avós de Agnes são pessoas sensacionais. A senhora de cabelos
brancos e roupas florais é gentil e hospitaleira. Já o senhor John é um
homem de coração grande e protetor. Eles amam a neta
incondicionalmente e deixam isso evidente para todos que quiserem
ver.

—Esse aqui é meu xodó. — Fala e dá um tapa no capô do carro


vermelho.

O veículo parece impecável. Agnes disse que o avô é apaixonado


pelo carro, não o retira da garagem por medo de danos colaterais, caso
o faça.

—É um ótimo carro! — responde admirado.

O senhor abre um sorriso que lembra o da escritora e começa a


falar sem parar sobre a história do seu automóvel. Minutos se passam
e John continua a conversa interminável sobre cada peça que
constituiu para o veículo ao longo dos anos.

Depois de narrar toda a história do carro, vamos até as suas


armas. Ele me mostra uma por uma, contando a história de família e
sua herança.

John é quase um historiador, ele gosta de dividir suas lembranças


de vida com os mais jovens.

—Um dia essas armas irão para o filho de Agnes... — fala em


dado momento.

Filhos. Nunca pensei muito nisso. É claro que eu quero ter, a


maioria das pessoas querem. Contudo, nunca coloquei o assunto em
pauta, muito menos tive alguma companheira que fosse importante o
suficiente para me fazer cogitar tais coisas, pelo menos não até Agnes
chegar.

—Você pretende ter filhos, rapaz? — indaga curioso.

O senhor de cabelos brancos semicerra os olhos, as rugas da face


ficam ainda mais marcadas com a expressão.

—Talvez um dia. — falo a verdade.


—Isso é bom... sabe, Agnes pode parecer não se importar com
essas coisas, mas a menina sempre foi romântica, desde quando era
somente uma garotinha e ficava assistindo consecutivamente aqueles
filmes da Disney... — tento imaginar Agnes criança sonhando com o
príncipe encantado da Cinderela. Um sorriso involuntário brota em
meus lábios — Agnes é uma boa menina, sempre foi uma neta
excelente. Sempre pensa primeiro nos outros.

—Ela é ótima! — Pontuo apaixonado.

—Nós tivemos que expulsá-la para Londres, ela não queria ir,
tinha medo de nos deixar sozinhos, mas em cidade grande as
oportunidades veem com mais frequência, então Ruth conseguiu
convencê-la depois de algum tempo.

Preciso lembrar de agradecer a senhora por isso, se ela não


tivesse forçado Agnes a ir embora, talvez nossos caminhos não
tivessem cruzado.

—Ela é muito apegada a vocês. Sente falta diariamente.

—Ah, nós também sentimos saudades dela. Agnes tenta ser forte
para amparar a todos. Quando o meu filho se foi com a minha nora,
Agnes viveu anos calada, ela não tocava no assunto. Como era
pequena, pensamos que havia esquecido, mas era só uma máscara, uma
que ela usa até hoje. Agnes sente falta dos pais e nunca superou a
morte deles, mesmo que diga o contrário.

John fala o que eu já desconfiava e imaginava. Eu reconheço a


dor nos olhos da escritora, sei quando ela está mentindo. Fico em
silêncio, aguardando o senhor continuar seu relato.

—Portanto, rapaz, se você machucar a minha neta, não me


sobrará escolhas que não seja testar uma das minhas armas em você.
— Ele me lança um olhar ameaçador.

—Não se preocupe, senhor Bellini. Eu sou apaixonado pela sua


neta e não lhe daria menos que o mundo se esse fosse o seu desejo.

John permanece em silêncio por alguns segundos, olhando no


fundo dos meus olhos, em busca de mentiras ou hesitações. Ele não
encontra nada, então coloca a espingarda de volta na mesa e me dá um
abraço acolhedor, um que significa boas-vindas à família Bellini.

—Me chame de John ou vovô. Ou que preferir, por favor.

—Obrigado.

E a aprovação que eu tanto ansiei acabou de chegar. Agora não há


mais nada que esteja no meu caminho e da escritora.

—Ótimo, agora vamos falar do casamento. — John se afasta. Sua


expressão fica séria novamente.

Agnes disse que eu passaria por essa conversa. Bem que ela
tentou impedir o diálogo, mas não pode e não consegue controlar tudo.
No entanto, eu estava ansioso por isso também e nem sabia.

—Religioso ou civil primeiro?

O avô de Agnes abre um sorriso de aprovação.


—Você parece inquieto. — sussurra Agnes em meu ouvido.

Estamos dentro da igreja aguardando a missa começar. Se Enrico


pudesse ver essa cena, começaria a rir e não pararia mais. Estou me
sentindo estranho e deslocado, eu nem se quer sei rezar. Agnes me
disse que eu não precisava me preocupar com isso, pois eu devo seguir
exatamente o que o papel que está em minhas mãos fala.

—Você não? — Devolvo sua pergunta com outra.

Ela solta uma risadinha, baixa o suficiente para que ninguém nos
lance olhares de reprovação.

—Relaxa, Vito. É só uma missa.

Fácil para ela falar, passou a vida inteira frequentando a igreja,


sabe como tudo funciona.

O local está lotado. Há muitas crianças acompanhadas dos pais.


Os avós de Agnes estão mais à frente, pois eles ajudam em algumas
coisas durante a missa. Algumas pessoas me olham de forma curiosa.
Segundo a escritora, o burburinho de que sou seu namorado já se
espalhou pela comunidade cristã, e todos estão loucos atrás de uma
fofoca para poder comentar. Portanto, eu serei o centro das atenções
esse fim de semana. Não me incomodo com isso, já estou acostumado.
Contudo, Agnes parece apavorada com o fato. Ela prefere passar
despercebida. Mas em breve, ela aprenderá que nunca mais ficara
oculta, não após as notícias do nosso noivado se espalharem.
Depois da minha longa conversa com John Bellini, ele
secretamente me entregou o anel que era da mãe de Agnes, o mesmo
que o pai dela lhe deu quando pediu sua mão em casamento. Na época
do óbito, optaram por enterrá-la sem, para que um dia Agnes pudesse
usar, e assim sucessivamente com os seus herdeiros. O senhor Bellini
me disse para aguardar o tempo que eu quisesse, ao menos até me
sentir pronto para o pedido, é claro que ele falou isso segurando a
arma, mas sem ameaças, pelo menos não diretamente.

Minha vida está tomando proporções assustadoras. Em poucos


meses eu nem pensava em casamento, e agora, aqui estou eu, com um
anel no bolso e o pedido em mente. O destino é surpreendente.

Olho para o lado a tempo de ver Agnes encarando a imagem de


Cristo no fundo do altar. Ela pensa em algo, ou reza, ou ambos. Agnes
parece concentrada, não sei se está agradecendo ou fazendo um
pedido. Percebo que, o seu avô tem razão, Agnes sonha com o
casamento, sonha com os filhos. Sonha com o príncipe encantado. E se
eu quiser ser o protagonista da sua história de romance, preciso
começar a agir.

Uma música começa a soar, as pessoas escolhem os seus lugares,


organizando-se nas filas. O padre começa a falar, silêncio prevalece.
Saio dos meus devaneios sobre o futuro e foco no agora.

Agnes Bellini
Nossa senhora, preciso me concentrar na missa que está quase
acabando e não soltar uma gargalhada estrondosa, o que é quase
impossível, considerando que Vito está ao meu lado basicamente
dormindo em pé. O CEO na missa é icônico, gostaria de poder enviar
uma foto para Enrico, mas seria desrespeitoso. E, no momento,
considerando que sou uma pecadora, não posso acrescentar mais
coisas a essa lista. No entanto, ainda daria uma parte da minha alma
para descobrir o que vovô e Vito conversaram na garagem. Eles
passaram a tarde toda no local, depois disso, Vito saiu estranho,
pensativo, até mesmo distante.

A missa termina e eu preciso cutucar Vito para que acorde para a


vida. Ele fica um pouco sem jeito. Sou agradecida por ele ter vindo,
ter feito isso para agradar os meus avós.

Religião é algo profundo e pessoal, não pode ser imposta, deve


ser aceita. Eu gosto de ser católica, fui criada no meio, e nunca me
senti obrigada por causa disso. Agora se Vito não gostar, só me resta
respeitá-lo, opiniões foram feitas para serem ouvidas, mas nunca
desrespeitadas.

—Eu vou ir conversar com o padre. — Aviso Vito.

As pessoas estão saindo para irem embora, durante a tarde


teremos o evento da igreja. Ainda precisamos almoçar e ir para o
orfanato local.

—Você tem certeza disso? — Ele segura o meu braço e pergunta


preocupado.
—Tenho. Fique aqui, meus avós virão até você.

Vito planta um beijo rápido em meus lábios, o que me deixa


corada. Estamos dentro de uma igreja, por Deus!

Me afasto do CEO, e com muito custo, consigo chegar ao meu


ponto de desejo. A missa da manhã é sempre mais lotada que a da
noite.

—Vamos? — O padre me conduz ao confessionário.

Eu liguei mais cedo e marquei esse horário para fazer a


confissão. Na verdade, vovó o fez. Ela sabe que faz meses que não
frequento uma igreja ou me confesso. Acha que estou me distanciando
de Deus.

Entro no confessionário a aguardo a aprovação do padre para


começar a minha confissão. Céus! Estou uma pilha de nervos. Eu
nunca vim comunicar um pecado, não um desses pelo menos. Sempre
foi algo ligado a gula ou ira.

Meu estômago começa a ficar embrulhado.

O padre dá o aval para que eu comece a falar, mas parece que a


minha voz resolveu sumir. Ele aguarda pacientemente, já deve estar
imaginando que a situação não está das melhores para o meu lado.

Coço a garganta, inspiro e expiro profundamente e me preparo.

—Perdoe-me, padre, pois eu pequei. Faz meses desde a minha


última confissão. — Minha voz sai mecânica.
—Quais pecados você gostaria de confessar para Deus?

Nenhum? Meu pai amado! Eu vou ter uma crise nervosa em


breve.

—Eu... hã... eu pequei contra a castidade.

O padre fica em silêncio por alguns segundos. Ouço a minha


respiração acelerada e o meu coração retumbando rapidamente.

—Você se arrepende?

Não tinha uma pergunta mais fácil, não? Penso em todos os


momentos que eu tive com Vito, todas as sensações que ele me
presenteou. Cada minuto, cada detalhe, cada sentimento. Eu sei a
resposta, ela é mais clara que água.

—Não. — Eu deveria sentir vergonha, deveria me arrepender


disso, mas não posso. Seria hipócrita da minha parte falar o contrário.

—Como você se sente com isso? — O bom de se confessar é que


eu não posso ver o olhar de reprovação do padre.

Outra pergunta complexa. Eu já pensei inúmeras vezes sobre


isso. Já analisei os fatos por mais tempo do que sou capaz de calcular.
Como eu me sinto? Eu me sinto incrível, me sinto completa, me sinto
plena.

—Eu me sinto confortável, eu não me arrependo e não me julgo


por isso. — falo a verdade.

—É puro?
Quase me engasgo com a saliva. Puro significa não usar a pessoa
como um objeto de prazer sexual. Estou cada vez mais enrascada nessa
conversa.

Lembro da boca, dos dedos e do pênis de Vito... Desculpa, Deus!


Foi mais forte que eu.

O padra continua em silêncio. Eu preciso responder essa pergunta


de uma vez. É claro que Vito não é um objeto sexual — mas ele serve
como um — minha mente depravada me autossabotando dentro da
igreja.

—Não exatamente... — Eu nem sei mais o significado da palavra


vergonha.

—Explique-se, criança.

Engulo em seco. Será que o padre não tem outra pessoa para
atender? Já está tarde, não?

—Eu não acho que Vito seja um objeto sexual, mas ele serviria
muito bem para isso.

—Meu Deus do céu. — O padre murmura.

—Não! Eu gosto dele, por isso eu pequei. Eu queria esperar


alguém que me trouxesse felicidade, que fizesse com que eu sentisse a
mesma sensação que as personagens narram nas páginas dos livros de
romance... e ele é essa pessoa, ele faz isso desde a primeira vez que eu
o vi, mesmo ele tendo sido um babaca egocêntrico. — Ops! — Oh,
céus! Desculpe, desculpe, desculpe...
Ótimo, Agnes. Continue cavando ainda mais o seu lugar no
inferno.

—Eu compreendi, criança. Continue, por favor. — O padre


parece impaciente.

—Enfim, ele é essa pessoa. Portanto, eu não me arrependo por


pecar, mesmo quando eu deveria sentir vergonha por falar isso.

Ouço o padre suspirar.

Começo a roer a ponta da unha do dedão, estou impaciente e


nervosa. Essa conversa toda está me deixando constrangida, ainda
mais pelos meus pensamentos e falas devassas dentro da casa sagrada.

—Você está apaixonada, minha filha. Mas você ainda é uma


pecadora. Espero que não faça mais... — Rio sem querer. Tapo a boca
imediatamente.

—Desculpe. — Peço pela milésima vez.

O padre bufa. Ele está ficando agitado com a minha falta de


controle desrespeitosa.

—Reze o ato da contrição.

Faço conforme ele manda. As palavras saem da minha boca com


naturalidade. Quando eu morava aqui, fazia isso mensalmente, ou
quando achava necessário.

Ao terminar a minha reza, espero-o continuar o seu sermão.


Eu sei, assim como o padre sabe que, em breve, eu pecarei
novamente.

—Usa-se ao homem que está apaixonada no ato do matrimônio,


minha filha. — Fala antes de me dispensar. - Vá em paz e que o senhor
lhe acompanhe. — Acrescenta, dando a confissão por encerrada.

Saio me sentindo mais leve, como se um peso tivesse sido


retirado das minhas costas, ou da minha consciência.

A igreja fica próxima à casa dos meus avós, desta forma, optamos
por vi a pé até o local. Sei que eles já foram para casa, vovó precisava
ir adiantar o almoço para o compromisso da tarde.

Estou caminhando lentamente com um sorriso bobo no rosto


quando o vejo escorado em uma árvore. Vito veste roupas simples,
diferente dos ternos que costuma usar. Seus óculos escuros e cabelos
desgrenhados pelo vento lhe dão um ar mais jovial. Lindo!

Meu príncipe encantado.

Meu sorriso se amplia. Caminho em sua direção com as palavras


do padre na cabeça “usa-se ao homem que está apaixonada no ato do
matrimônio” Deus! A quem eu quero mentir? Eu amo esse homem, eu
o quero para o resto da minha vida. Agora basta saber se ele também
compartilha o mesmo pensamento que eu.

“Não é o tempo, mas a pessoa” Enrico disse certa vez, e ele não
poderia estar mais certo.
—Vovó, o que é isso? — pergunto ao olhar para a mesa.

Ela fez um prato com carnes e ovos banhados em um molho


pastoso verde. Olho para Vito apavorada. Todas as vezes em que
saímos para comer, o CEO sempre retira a salsa da comida. Ele
simplesmente odeia salsa.

— Grüne Sosse, é um molho verde muito popular na Alemanha,


mas principalmente na região de Frankfurt. — responde animada.

Vito deve estar querendo encontrar uma desculpa para não comer
o prato. E, pela cara de pânico do CEO, tenho certeza de que ele está
enjoado só de sentir o cheiro.

Sentamo-nos à mesa e vovó serve a todos nós, um costume da


família. Em todos os pratos ele coloca muito do molho, pois ele é sua
estrela de ouro nesse almoço.

Vito observa em silêncio o prato disposta à sua frente. Penso em


falar para vovó que ele detesta o tempero, mas, se ele não o fez ainda,
não cabe a mim delatá-lo.

Mastigo a comida e acho divinamente deliciosa. Vovô faz o


mesmo.

—Então, o que estão achando? — Dona Ruth adora elogios


culinários. A melhor forma de chegar ao seu coração é elogiando a sua
comida.

—Perfeito! Eu simplesmente amei. — falo a verdade.

—Parabéns, querida. Entrou no ranking do meu top 10.

Meus avós fazem ranking das comidas mais saborosas que já


experimentaram na vida. Eles não possuem uma preferida, pois cada
dia mudam de opinião. Eles amam comer, e amam mais ainda saborear
culinárias distintas.

—E você, Vito, o que está achando? — Vovó pergunta com


animação na voz.

Olho para o CEO e coloco a mão na boca, tentando disfarçar um


sorriso que insiste em vir. Vito mudou de cor, seu rosto está vermelho,
seus olhos lacrimejando e ele parece prestes a vomitar a qualquer
instante.

—Está...perfeito! — Sua voz sai rouca.

—Oh, que maravilha! Eu sabia que vocês iriam gostar.

—Uhum... — murmura o CEO.

Ele limpa uma lágrima no canto dos olhos, possivelmente pelo


esforço que está fazendo em não respirar enquanto engole a pasta
verde. Uma risada teimosa sai por entre os meus lábios ao analisar a
cena, dou tossidas tentando disfarçar. Vovó dá tapas em minhas costas,
pensando que estou engasgada com a comida.

—Oh! — Ela exaspera olhando para o CEO, posteriormente


encarando o marido com cara de poucos amigos. — Você nunca
chorou com a minha comida, John! Olhe Vito, ele está até emocionado
de tanto que gostou.

Eu vou morrer! Começo a rir como uma louca, vejo o silêncio da


mesa, todos me observam, tentando entender a minha reação esquisita.

—Agnes, o que está acontecendo? — Vovó franze a testa.

—Oh, eu... eu... lembrei de um capítulo engraçado de um livro


que eu li há algum tempo.

Vovó semicerra os olhos em minha direção. Ela vai farejar a


mentira. Olho para baixo, ficando minha atenção no prato.
—Comporte-se, assim Vito pensará que não lhe demos educação.
— Ralha.

Eu não tenho coragem de olhar para o CEO, caso o faça, terei


outro ataque de riso.

O restante do almoço transcorre tranquilamente, pelo menos da


minha parte. Já que Vito com muito custo terminou o prato, e ainda
disse que se sentia satisfeito. Posteriormente, quase correu da mesa
quando vovó queria servir uma segunda dose. Desde então, o CEO está
trancado no banheiro. Acredito que esteja colocando até as tripas para
fora.

—Será que Vito está bem? — Vovó sussurra preocupada em meu


ouvido.

—Sim, acho que ele precisava fazer uma ligação. — minto.

Ela maneia a cabeça em sinal afirmativo e continua lavando a


louça.

Eu adorei esse almoço em família, poderíamos fazer mais vezes.


Gargalhei até a barriga doer, como a muito tempo não fazia.

Os gritos das crianças me deixam atordoada. Elas correm de um


lado para o outro como se a pilha que abastece os corpos pequenos e
frágeis nunca fosse acabar.

—Me lembre de não ir em mais locais onde tenha mais que dez
crianças. — Vito serve os copos de plástico com refrigerantes.

—Também precisarei lembrar disso.

Corto pedaços de bolo de chocolate. Fomos incumbidos a isso, de


montar os kits de venda de doces, o qual constitui uma fatia do bolo e
um copo de refrigerante. Vovó e vovô estão em algum lugar
organizando os colaboradores da festa. Nossa meta é arrecadar o maior
número possível de fundos para o orfanato.

Uma criança passa ao meu lado gritando, tomo um susto com o


timbre de voz alto e quase deixo um pedaço de bolo cair no chão.

Céus! Se meus pecados não forem absolvidos depois de hoje, não


sei se algum dia serão.

—Não teremos mais que dois filhos. — murmura Vito pensativo.

Meu coração acelera, preciso parar de cortar, pois as minhas


mãos ficam trêmulas.

—O quê? — Encontro a minha voz em algum lugar.

—Olhe só para todas essas crianças, não teremos paciência para


cuidar de muitos filhos. — pontua.

Engulo em seco. Vito nunca nem se quer falou em casamento, e


agora já fala em filhos? Isso é novidade, uma fenomenal novidade.

—Não mais que dois. — Concordo com um sorriso bobo no


rosto.
—Oi, tio. — Uma criança de cabelos loiros encaracolados, olhos
verdes, e que não aparentando possuir mais que oito anos, se aproxima
de Vito, ela cutuca a sua perna querendo atenção.

—Olá. — Vito se agacha para ficar na mesma altura da menina.

—Eu poderia tomar um pouco de refrigerante? Estou com sede.


— choraminga.

Os kits que estamos montando é para vender, não para consumo


próprio. Meu coração fica apertado. Vito permanece em silêncio por
alguns segundos encarando a criança.

—Qual é o seu nome? — Ele faz carinho nos cabelos loiros.

Meu coração fica cheio de alegria, amor e gratidão. Vito não


percebe, mas ele leva jeito com criança. Eu sempre fui atrapalhada
com elas, portanto, sei quando uma pessoa consegue entendê-las
perfeitamente.

—Emily.

—Emily, chame os seus amigos para tomar refrigerante e comer


bolo.

A garotinha dá gritinhos de felicidade e sai correndo. Vito se


levanta, para ao meu lado e puxa a carteira do bolso. Ele tira várias
notas de dinheiro e joga-as em cima da mesa.

—Eu quero comprar tudo. O troco é cortesia.

Fico estupefata com a sua atitude solícita. Meus olhos marejados


embaçam a minha visão. Vito percebe o misto de emoções que me
causou, ele se aproxima de mim e acaricia a minha cabeça.

—Não chore, querida. — Beija a minha bochecha, secando com


os lábios as lagrimas que teimam em descer. — Você anda tão
emocionada ultimamente.

Solto uma risada sem humor. Seco os olhos com as pontas dos
dedos e planto um beijo vasto nos lábios do CEO, dono do meu
coração.

—Minha menstruação descerá a qualquer momento. Meus


hormônicos estão indo a loucura por conta disso.

Vito abre um sorriso sacana, ele se aproxima de mim para


sussurrar algo em meu ouvido que somente eu posso escutar.

—Por isso tenho a sensação de que seus peitos estão maiores?

—Vito! — brado.

Estou vermelha como um pimentão maduro. Estamos em um


orfanato, rodeados por crianças inocentes e crentes observadores. Ele
não pode ficar falando esse tipo de coisa.

Sua risada rouca arrepia todo o meu corpo.

Muitas crianças, mais do que eu posso contar se aproximam junto


com a garotinha. Servimos bolo e refrigerante para todas. Algumas até
mesmo repetiram a dose. De barriga cheia, elas voltam a correr e
brincar pelo pátio.
Fecho a caixa com o dinheiro da venda para entregar a vovó.
Nossa função era passar o dia inteiro tentando encontrar compradores,
mas Vito tornou as coisas bem mais fáceis.

—O que vamos fazer agora? — Vito me abraça.

O calor do seu corpo, juntamente com o seu perfume cítrico e o


acolhimento dos seus braços, me deixam mais relaxada. Eu amo estar
com ele.

—Não sei, eu não tinha planejado nada.

—Quer ligar para Enrico? — Sua voz arrepia a minha nuca.

Enrico está cuidando, juntamente com a senhora Cooper e Isaac,


dos meus gatos. Essa foi a melhor desculpa que eles acharam para
poder passar o fim de semana juntos sem o senhor Jones desconfiar.
Afinal, Isaac é meu “namorado”, e como um bom cônjuge, precisa
cuidar dos meus bichanos enquanto eu estiver visitando a família.

—Eu falei com ele mais cedo. — Eu ligo umas quatro vezes ao
dia para Enrico, a fim de saber como ele está levando as coisas e como
os meus felinos estão.

—Agnes Bellini. — Alguém me chama.

Viro a tempo de ver quem é. Andreia. Ela me observa com um


sorriso cínico nos lábios. Seu ventre quase explodindo chama toda a
atenção dos meus olhos para ele. Lembro de vovó falar que ela estava
grávida.
—Olá. — falo mais seca do que esperava.

Andreia solta uma risadinha.

— É bom vê-la, Agnes. — Ela massageia o ventre protuberante.

— Digo o mesmo, Andreia — Meu foco volta para a sua


barriga — parabéns pela gestação.

—Oh! Obrigada, meu marido e eu estamos realizados. — ela olha


para Vito com certo interesse, e nota o nosso abraço apaixonado — e
quanto a você? O que anda fazendo da vida?

Vito acaricia minha cintura, notando a minha tensão. Relaxo um


pouco com o seu toque.

— Estou morando em Londres, mas isso você já deve saber —Ela


faz sinal afirmativo com a cabeça — e trabalho em uma empresa...

— Qual empresa? — interrompe.

— Costello Imobiliária. — Dou de ombros.

Sei que Vito presta atenção em tudo o que estamos falando. Eu


não deveria jogar com as pessoas, mas é mais forte que eu.

—Você não deve conhecer... — acrescento.

A mulher bufa.

—Quem no Reino Unido não conhece essa empresa? — Revira os


olhos.
—Você tem razão. — Abro um sorriso malicioso.

—Você faz o que nessa empresa? — Sempre enxerida.

—Sou assistente pessoal do CEO.

—Oh! Deve odiar o trabalho! Normalmente esses chefes


importantes são intragáveis.

Coloco a mão na boca para abafar minha risada. Vito permanece


em silêncio, mas sei que está achando graça da situação.

—Na verdade, eu adoro. Mas você tem razão, o CEO é...


exigente.

—Coitada de você, Agnes. Precisou ir embora para ser humilhada


pelo chefe... — Aí está a Andreia que eu conheço.

—É bem difícil mesmo, sou tão humilhada... — choramingo.

—Se você fosse mais esperta, talvez pudesse voltar e conseguir


algum emprego aqui. Sabe, para andar com esses peixes-grandes,
precisa ter um QI elevado, e nem todos nós nascemos com um.

Meu sorriso zombeteiro se amplia.

Andreia sempre adorou humilhar todo mundo, até mesmo as suas


amigas. Ela se sente superior a todos, e precisa ressaltar para si mesma
que a sua vida está melhor que a de qualquer outro. O nome disso é
inveja, e eu só consigo sentir pena de uma pessoa assim.

—Até estava esquecendo de apresentar, esse é Vito.


Ele se afasta um pouco e Andreia tem uma visão melhor do CEO.
Vito é um homem de presença, não há quem não se sinta hipnotizado
por ele. Sua masculinidade e autoconfiança é marcante.

—E quem seria você? — Indiretamente ela quer saber com essa


pergunta se Vito é meu namorado, noivo ou marido.

Vito abre o seu sorriso de predador, o que faz com que os


inimigos fujam para o mais longe possível. Ele estende a mão para
Andreia, em cumprimento. Quando suas mãos se enroscam, ele
responde.

—Prazer em conhecê-la, Andreia. Sou o CEO intragável e


exigente. Mas pode me chamar de namorado da Agnes. — Ele dá uma
piscadela.

Andreia muda o tom da pele, ela fica pálida e corada ao mesmo


tempo. Me sinto vingada por todas as ofensas sofridas na infância.

—Oh! Eu... eu não queria. — balbucia as palavras de forma


desconexa.

Vito se afasta, aproximando-se novamente de mim. Ele me abraça


e planta um beijo carinho em minha cabeça. Nossas demonstrações de
afeto em público têm sido mais frequentes ultimamente.

—Não se preocupe — Vito eleva uma das mãos, calando-a — eu


realmente era intragável, ao menos antes de conhecer Agnes Bellini.
— Ele me encara, e pela primeira vez, eu vejo amor em seus olhos.

Meu coração dispara, um misto de emoções me abraça. Vito está


apaixonado por mim também?

Andreia coça a garganta, mas eu a ignoro, assim como o CEO.


Estamos perdidos na profundidade dos nossos olhares, no âmago dos
nossos sentimentos.

—Eu vou encontrar meu marido. — Andreia se afasta


constrangida.

Vito beija a minha testa com delicadeza e carinho, quebrando o


nosso contato visual.

O que está acontecendo? Me pergunto. É como se alguma coisa,


de certa forma, tivesse mudado nesse fim de semana.

—Façam uma boa viagem — vovó aperta as minhas mãos — e


não esqueça do exame de sangue, marcarei consulta com a doutora.

Ela sabe o número da médica que me atende em Londres,


portanto, ela não vai sossegar enquanto eu não fizer os exames de
checagem.

Estamos em frente à sua casa, Vito e vovô conversam sobre


alguma coisa animadamente. Nossas malas já estão no carro e chegou
a hora mais temida do feriado: a despedida.

—Eu farei tudo certinho. — Beijo sua bochecha.

Tento segurar as lágrimas, mas elas estão incontroláveis


ultimamente. Vovó me observa e solta um suspiro profundo.

—Ele é um bom rapaz, Agnes, e gosta de você. — fala sem mais


nem menos.

—Eu sei.

—Não se preocupe tanto, querida. Tenho certeza que antes do


que você imagina, Vito pedirá a sua mão em casamento.

Abro um sorriso bobo, de uma verdadeira romântica apaixonada.

—Não tenho certeza, estamos nos conhecendo ainda... —


Murmuro.

—Ora, querida. Você e Vito andam na mesma frequência. Quando


duas pessoas se gostam, se elas estão em frequências distintas, o
relacionamento pode demorar mais para vingar. Porém, não é isso que
vejo em vocês. Vocês possuem uma conexão. Não precisão de tempo
para ver o óbvio, pois caminham lado a lado.

As palavras sábias de vovó me abraçam com conforto. Era isso


que eu precisava ouvir. Vito e eu somos tão intensos que eu temo que
essa chama queime rápido demais. Mas ouvir da mulher que eu tenho
como exemplo de vida, e que possui um casamento duradouro e feliz,
me deixa mais confiante.

—Obrigada. Eu amo você. — Me jogo em seus braços.

Ela acaricia os meus cabelos e beija a minha testa.

—Eu também amo você. — Vovó se afasta abruptamente, como


se tivesse lembrado de algo. — Quase havia esquecido. — Ela pega
uma sacola disposta na cadeira ao lado e me entrega. — Fiz uns
bolinhos para Enrico.

—Eu tenho certeza que ele vai amar.

Enrico não só amará, como também ficará emocionado. Vovó é


um anjo, ela pensa em tudo e em todos.

—Aqui. — Ela me alcança outra sacola. — Esse é para a viagem


de vocês.

—Obrigada, vovó.

Me despeço de vovô chorando copiosamente. Porém, agora que


eu tenho um carro e emprego fixo, quatro horas e meia de viagem não
parece mais tão inalcançável.

Vito prometeu me trazer mais vezes, e já está marcando com eles


um fim de semana para irem a Londres nos visitar. Disse que
disponibilizará o motorista para vir buscá-los.

Observo através da janela a minha casa de infância, com os meus


avós na frente se distanciando. Foi bom matar a saudade. Mas agora é
hora de voltar para a vida real.

—Feliz? — Vito escora a mão na minha perna, enquanto a outra


segura a direção.

—Sim. Obrigada por esse fim de semana. Você foi perfeito.

—Eu é que agradeço, Agnes. — Ele tira os olhos da estrada por


alguns segundos, focando a atenção em mim. — Fazia tempo que eu
não lembrava do significado família, você mudou isso. Obrigado por
abrir as portas da sua casa para mim. — Ele aperta a minha perna.

Sinto vontade de falar as três palavrinhas mágicas, mas me


contenho. Abro um sorriso. Vito volta a sua atenção para a estrada.

Em algum momento eu revelarei os meus sentimentos, algum dia,


a nuvem negra do medo que está sobre a minha cabeça me impedindo
de me declarar, desaparecerá.

Vito Costello

Agnes está em silêncio ao meu lado no carro. Ela parece


pensativa, há algo deixando os seus pensamentos inquietantes. Minha
mão descansa em sua perna quente, enquanto os meus olhos estão
atentos na estrada à frente. No meu bolso esquerdo, se encontra o anel
que pertencia a sua mãe e que ela não faz ideia de que está comigo
agora.

Lembro de cada momento desse delicioso fim de semana. Eu


gostei de absolutamente tudo, até das missas inacabáveis. Fui muito
bem recebido pela comunidade cristã, bem como pelos vizinhos da sua
família. Todos foram educados e solícitos. Tirando Andreia, a garota
que parecia implicar e criticar em palavras veladas a minha
companheira.
Quando eu falei a Agnes que eu lembrei com ela o significado da
palavra família, eu não estava mentindo. Agora eu posso ver como a
minha vida e de Enrico é solitária. Não há vizinhos educados, ou avós
preocupados, nem crianças para alegrar o dia. Só há nós dois e os
problemas da empresa.

Eu até mesmo fui obrigado a comer salsa! Um sorriso delineia os


meus lábios com esse pensamento. Estou rindo agora, pois na hora eu
só queria desmaiar para ter um motivo para parar de sentir o gosto
enjoativo do tempero.

Agnes é luz na minha vida e na do meu irmão. Nossos destinos se


cruzaram por algum motivo, antes eu não sabia qual era, mas agora eu
sei: trazer felicidade.
—Eu adoraria ver a cara do Vito comendo salsa. — Enrico se
engasga com a própria comida de tanto que ri. — Ele sempre odiou,
desde que eu me lembre. Era proibido em casa, pois ele enjoava até
mesmo com o cheiro.

Estamos eu, ele e Liz no refeitório da Costello, desfrutando do


nosso horário de almoço. Fazemos o desjejum enquanto eu conto todos
os detalhes do maravilhoso fim de semana que tivemos. Vito precisou
ir almoçar com Noah, o banqueiro, para ver novos imóveis em leilão.

Não consegui falar muito com eles durante a semana inteira, foi
uma correria danada por causa das vendas das salas do prédio
inaugurado há algumas semanas, sem contar na busca da empresa por
imóveis que estejam indo a leilão. Vito colocou até Enrico no trabalho
dessa vez, e é claro que o Costello mais jovem não gostou nadinha.
Liz disse que isso é por conta da proximidade do final do ano, em
pouco mais de três meses o ano termina, e é sempre assim ne empresa
quando chega essa época.

Meu prazo para entregar o livro está expirando, para a minha


sorte, ele está quase pronto. Não ficará como Vito queria, mas será um
bom livro, posso garantir. Digamos que eu tenha mudado quase tudo.
O primeiro livro ficou no passado, Vito não está mais com Serena, eles
seguiram caminhos diferentes. Mas eu deixei claro aos fãs do romance
que alguns relacionamentos, apesar de passageiros, são marcantes,
assim como fora o amor deles. E agora chegou a hora dos personagens
seguirem em frente.

—Sério, foi o auge. — Rio ao lembrar da cena icônica e sair dos


meus devaneios.

Nunca mais esquecerei de vovó pensando que Vito estava


chorando por conta do sabor maravilhoso da comida, quando na
verdade, ele estava somente segurando a ânsia de vômito.

—Agora começa toda a função para preparar a festa de final de


ano da empresa. — Liz revira os olhos e solta um suspiro exasperado,
mudando totalmente o foco do assunto.

—Outra festa? — pergunto surpresa.


—Sim, mas essa é A festa. Nessa, todos os funcionários
participam, é mais em agradecimento ao ano de trabalho e essas
coisas. — Dá de ombros.

Nossa senhora. Essa empresa faz tantas festas ao longo do ano


que eu preciso ter um cartão de crédito sem limites para conseguir
acompanhar tudo isso. É festa de inauguração, festa de final de ano...

—Isaac... — Enrico começa a contar algo sobre o seu fim de


semana com o filho de George Jones, mas eu não ouço o restante da
frase. Um enjoo estranho e desconfortável me toma, juntamente com
uma tontura.

Agarro a mesa tentando manter o meu corpo no lugar, mas me


sinto fraca, minhas mãos estão trêmulas e sem força alguma, enquanto
a minha boca começa a formigar.

—Agnes... Agnes... — Alguém me chama. Eu reconheço a voz,


mas no estado em que me encontro, não consigo decifrá-la.

Com muito custo, consigo afastar o zumbido em meus ouvidos e


focar a minha visão em um ponto específico, voltando, aos poucos, a
tomar o controle do meu próprio corpo.

—Sim. — Minha voz sai em um sussurro, pois minha garganta


está seca.

—Você está bem? — Liz me segura de um lado e Enrico do


outro.

Eu nem se quer os vi saindo de seus lugares e aproximando-se de


mim.

—Sim, eu me senti mal, não foi nada demais. — Inspiro uma


lufada de ar antes de continuar. — Eu tenho problema com anemia
desde jovem. Acho que devo estar anêmica novamente. Vovó pediu
para eu marcar médico, mas eu acabei esquecendo.

—Isso não é problema algum. — Enrico saca o celular do bolso e


começa a fazer uma ligação.

—Enrico, o quê?

—Vamos marcar um médico agora. Sério, Agnes. Você ficou


branca e esquisita. Quase nos matou do coração.

—Tudo bem.

A sensação foi estranha mesmo, não vou contestar um médico


quando até eu me assustei com isso.

—Não falem para Vito, por favor. — imploro.

Do jeito que o CEO é, será capaz de marcar o melhor médico do


País. Não quero deixar as pessoas alarmadas, muito menos os meus
avós, eles não possuem mais idade para esse tipo de preocupação.

—Tudo bem, mas eu vou ir ao médico com você. — avisa Enrico.

—E eu também. — Liz se manifesta.

—Tá bom. — Fico um pouco emocionada com a preocupação dos


meus amigos, a demonstração de carinho deles significa muito para
mim.

Guardamos as nossas coisas e vamos para a sala de Vito, lá a


ligação ao médico será mais privativa do que no refeitório na frente de
todos da empresa.

—Você não está grávida, está? — Liz pergunta desconfiada,


enquanto aguardamos o elevador chegar no andar certo.

Solto uma risada debochada, mas tomada de preocupação. Ah,


não! Ela não vai colocar mais essa preocupação em minha cabeça.

—Eu tomo o remédio rigorosamente em dia. Gravidez está fora


de cogitação, e, além do mais, minha menstruação desceu há poucas
semanas. — Estranha, mas desceu. Acrescento mentalmente.

—Se você diz... — Liz não parece muito confiante com as


milhões de razões que eu tenho para não estar grávida.

—Liz, por favor, não coloque isso na minha cabeça. —


Choramingo.

Sou atacada dos nervos, ela não pode simplesmente ficar falando
em gravidez. Eu vou ter uma síncope.

Chegamos na cobertura do Edifício Gherkin, o silêncio do


cômodo, diferente da cantina, me ajuda a colocar os pensamentos em
ordem. Começo a caminhar de um lado para o outro. Estranho, em
dado momento, a mudez dos meus amigos.

Liz e Enrico me encaram e eu os encaro de volta. Ficamos assim


por alguns segundos. Sinto vontade de vomitar, porque sei que todos
nós estamos indo pela mesma linha de raciocínio.

Ai. Meu. Deus!

—Farmácia? — indaga Enrico.

—Farmácia. — confirma Liz.

Eles juntam as coisas e chamam o elevador de volta. Eu estou


parada no mesmo lugar com lágrimas nos olhos e o corpo formigando
em nervosismo e medo.

Não! Isso é a minha anemia. Anemia que deixa os peitos


doloridos e a menstruação atrasada? Minha mente desgraçada zomba
de mim.

—Vem, Agnes! — Liz me chama, enquanto segura a porta do


elevador.

—Eu... eu não consigo. Céus! Estou tendo um ataque de pânico e,


muito em breve, vou começar a vomitar sem parar.

Liz revira os olhos e Enrico bufa. Abruptamente, ele puxa o meu


braço, tirando-me a força do local e obrigamos minhas pernas a se
movimentarem.

Eles me arrastam para fora do prédio. A visão da rua ensolarada e


movimentada nesse horário de pico, passa como um borrão através dos
meus olhos. Não vejo nada, estou perdida em um limbo de autocritica
e pavor.
Deus! Por favor! Como é que eu vou dizer aos meus avós que eu
estou grávida? Não! Isso não pode estar acontecendo, tenho certeza de
que o teste dará negativo. ELE PRECISA DAR NEGATIVO.

Há uma farmácia próxima da empresa, entramos nela com pavor


escancarado em nossas feições, assustando até mesmo o balconista.

Enrico fica comigo, ele mexe em seu celular tentando marcar


uma consulta com o maldito médico. Liz some pelos corredores
catando todos os testes de gravidez disponíveis nas prateleiras.

—Enrico, me dê o seu cartão. — Ela estende a mão para ele.

—Por quê? — Enrico hesita.

Liz bufa impaciente.

—Umas libras a menos, gastas em testes não farão diferença em


sua conta milionária, e, além do mais, a criança é da sua família. Cabe
a você pagar os testes.

Eu fico em silêncio, ainda não consigo me mexer. Nem lembrei


de pegar a minha bolsa ou carteira. Na verdade, nem sei como
chegamos aqui.

Enrico retira o cartão da carteira e estende a Liz. Ela volta quase


que correndo para o caixa do local.

—Vito vai chegar e não vai ver ninguém, ele ficará desconfiado.
Inventa uma desculpa... só não fala a verdade — Consigo pronunciar.

Enrico me olha com dó e confirma com um sinal positivo de


cabeça. Liz retorna com uma sacola enorme.

—Vamos encontrar um banheiro.

Uma dor lancinante em meu peito me afoga em sentimentos


conflitantes. Eu ainda não consigo acreditar que isso realmente está
acontecendo.

Retornamos para a Costello Imobiliária correndo. Recebemos no


caminho olhares de reprovação das pessoas que esbarramos nas ruas,
enquanto elas foram verbalmente ofendidas por um Enrico tenso.
Enquanto caminhamos, o mundo parece passar em câmera lenta diante
dos meus olhos. Parece que eu estou fora do meu corpo, observando
todo o caos que a minha vida se tornou há poucos minutos.

Liz nos conduz até o banheiro dos seguranças particulares de


Vito. Segundo ela, eles mal veem aqui. A secretária retira um teste da
caixinha e me entrega, ela me dá instruções expressas do que fazer. Eu
só preciso urinar e morrer enquanto aguardo.

—Como você entende tanto desses testes? — Ouço Enrico do


outro lado da porta.

Uma risada debochada.

—Eu já fiz mais testes do que posso me lembrar. Cada mês é um


surto diferente. — responde Liz.

Fico animada imediatamente. Se ela já fez tantos testes e nunca


teve bebês, significa que nem todas as mulheres fazem para ter certeza
da gravidez, elas fazem para confirmar que não estão.
Abro a porta e aguardo, os dois testes estão dentro do pote com
urina. Um deles marca dois riscos e o outro um mais e um três. Não
sei o que significa, mas pelo silêncio de Liz e Enrico, é uma péssima
notícia.

—Agnes... — Pela primeira vez na vida, vejo Liz sem saber o


que falar.

—Não! — Começo a balançar a cabeça negativamente e a chorar.

Ai meu Deus! O que é que eu vou fazer?

Enrico me abraça, enquanto Liz permanece em choque.

Eu quero filhos, mas em um futuro distante, não agora. Céus! Eu


nem sou casada. Meus avós acham que eu ainda sou virgem, e Vito...
Vito... Deus!

Gravidez é uma incógnita. Muitas mulheres anseiam por isso,


mas ainda choram quando veem o resultado negativo. Contudo,
também há uma grande parcela delas que sentem aflição ao se dar
conta da realidade.

Um bebê.

Uma vida.

Não é fácil descobrir isso, ainda mais quando se é uma coisa tão
inesperada. E ainda por cima, quando o remédio está rigorosamente
em dia, em uma falha tentativa de evitar isso.

—Vamos ao médico? — Enrico pergunta. Sua voz soa distante,


mas sei que ele está bem ao meu lado.

Olho novamente para o teste. Mãe. Essa palavra me acompanhará


pelo resto da minha vida agora. E eu nem sei o que isso significa,
minha mãe morreu cedo demais, não teve tempo para repassar seus
ensinamentos a mim.

—Vamos. — Minha voz sai embargada.

Durante o percurso várias palavras ecoam em minha cabeça,


como um aviso para o que está por vir. Não choro mais, eu não tenho
mais lágrimas. Me sinto anestesiada.

O consultório é claro, refinado e possui um cheiro de álcool


enjoativo. Liz anda de um lado para o outro na sala de espera,
enquanto Enrico inventa algo para Vito que faça sentido e que deixe o
CEO longe, pelo menos por um tempo. Não tenho coragem de olhar
para ele nesse instante.

Me pergunto se os meus avós ficarão decepcionados comigo, eles


fizeram tanto por mim. Espero que ao menos aceitem o bebê, porque,
apesar de inesperado, ele é meu. Meu e de Vito.

Uma médica de meia idade, saltos altos, cabelos castanho e


feições bonitas chama o meu nome. É claro que os meus amigos
entraram no consultório comigo.

—Então, qual é o problema? — ela pergunta achando graça da


situação. Provavelmente nossas caras de pânico revelam que nós nem
sabemos o que estamos fazendo aqui.
Liz entrega os testes para a médica e ela analisa os resultados. A
mulher tenta conter um sorriso, mas não consegue.

—Tudo bem. A quem pertence?

Levanto a mão ainda anestesiada. Nem uma única palavra sai da


minha boca.

—Vou fazer algumas perguntas, tudo bem?

Confirmo com um sinal de cabeça.

—Você toma pílula?

—Sim.

—Rigorosamente em dia?

—Sim.

—Hum... — ela anota alguma coisa em seu bloco — você usa


outra proteção além da pílula?

—Não.

—Com que frequência mantém relações sexuais?

Virgem Maria! Meu corpo vai entrar em combustão por tanta


vergonha. Olho para Liz e Enrico que me analisam com sorrisos
maliciosos, o que me deixa ainda mais corada.

—Diariamente... — Minha voz sai em um sussurro.


—Vito é fogoso, hein. — debocha Enrico.

Liz solta uma gargalhada estrondosa. Aperto minhas têmporas


sentindo uma forte dor de cabeça. Já não basta o susto de saber que
serei mãe, ainda tenho que aguentar as piadas de Enrico. Que Deus me
ajude!

—Você tomou algum remédio que pudesse cortar o efeito do


anticoncepcional nesse meio tempo? — A médica Ignora os meus
amigos descarados.

— Não.

—Você teve vômito ou diarreia?

Um alerta vermelho, brilhoso e enorme pisca em minha cabeça. A


médica parece perceber que algo está errado, pois permanece em
silêncio aguardando eu colocar os pensamentos em ordem.

—Eu tenho um caso sério de gastrite nervosa, todas as vezes que


algo acontece e eu me ataco, acabo vomitando quase que diariamente.

A mulher abre um sorriso que me deixa com raiva. Ela não


percebe que eu estou surtando?

—Vômito e diarreia podem cortar o efeito da pílula


anticoncepcional, se ocorrerem em até 4 horas após ter tomado o
medicamento ou caso esses sintomas persistam por mais de 24 horas.
— Explica.

Fico parada olhando para ela sem piscar. COMO QUE ISSO NÃO
ESTÁ ESTAMPADO NA CARTELA OU EM QUALQUER OUTRO
LUGAR VISÍVEL? Por fora, uma pessoa calma, tentando digerir o que
eu acabei de ouvir. Por dentro, alguém surtando e pensando em
quantas mulheres fizeram a mesma coisa sem saber.

— O quê? — Abro um sorriso cínico.

—Você estava sem o efeito esse tempo todo, querida, por isso
engravidou. — responde o óbvio. — Você sente algum sintoma
diferente?

Percebo agora o quão inocente eu fui confiando em um único


método contraceptivo.

— Sim. — Liz e Enrico viram-se para mim automaticamente.

— Quais?

— Meus seios estão inchados e doloridos, meus hormônios


estão... intensos. — Liz faz um barulho estranho com a garganta. Eles
me julgam com os olhos. — Mas, eu não tinha como saber, minha
menstruação desceu, pouca, mas desceu... — acrescento tentando
explicar a minha inculpabilidade.

A médica anota mais algumas coisas em seu bloco, antes de


prosseguir com as perguntas.

—Como era a menstruação?

—Marrom. Parecia uma borra de café, desceu por três dias.

A mulher abre um sorriso simpático. Ela solta um suspiro e joga


a caneta na mesa. Pelo visto, não há mais nada para anotar.

—Não era menstruação. Isso se chama nidação.

—O quê? — Virgem Maria, o que essa mulher está falando?

— É o nome do processo de fixação do óvulo, que foi fecundado


na Trompa de Falópio e migrou para o útero, na mucosa do
endométrio, que é a parede que reveste a parte interna do útero.

—Eu não estou entendendo. — falo impaciente. Deus! Falópio,


mas o quê?!

Ao invés de ficar brava com a minha falta de educação, a médica


abre um sorriso acolhedor, como se estivesse entendendo o que eu
estou passando.

—Em outras palavras, entende-se por nidação o processo de


implantação do embrião, resultando em gravidez. — Termina a
explicação. — Agora, vamos fazer um exame para ter certeza e abster
de qualquer dúvida, posteriormente, começaremos o seu pré-natal.
Tudo bem?

Estou suando frio, meus pelos corporais estão arrepiados e sei


que os meus olhos estão com lágrimas por conta da visão embaçada.

—Sim. — Minha voz sai em um sussurro.

—Oh, querida, vai dar tudo certo. Não fique preocupada, isso não
é o fim do mundo, é o começo de uma nova vida com muito amor e
companheirismo. — Me consola.
Fico sentada em completo silêncio.

A médica levanta-se e eu continuo imóvel, absorta em


sentimentos conflituosos. Céus! Como será que Vito vai agir? Eu não
fiz a criança sozinha, ele tem tanta culpa quanto eu. Na verdade, nós
dois fomos enganados pela droga do remédio.

—Ainda bem que eu não vomito e nem tenho diarreia. — Liz faz
o sinal da cruz e olha para o teto. — E a partir de agora, todas as vezes
que a minha menstruação descer pouco, será um surto diferente.

—Ainda bem que eu não preciso me preocupar com isso. —


Enrico dá de ombros.

Começo a rir, é inevitável. Enrico sempre tem umas pérolas que


são capazes de tirar qualquer um da tensão em que se encontra.

—E agora, o que você vai fazer? — Liz me olha preocupada.

—Eu não sei... — Minha voz ainda está embargada.

Eu nunca nem pensei nisso. Nossa, eu nem sei como cuidar de


uma criança! Eles choram... e precisam ser alimentados, banhados.
Deus! Eu nem sei se fralda tem um lado certo.

—Como... como você acha que Vito ficará com a notícia? —


pergunto para Enrico.

É muito cedo para eu pensar se fraldas possuem frente-e-verso.


Por hora, devo me preocupar com coisas mais relevantes, “como
contarei aos meus avós que eu comi a cereja antes do bolo?”, até
mesmo “como contarei ao pai da criança que eu disse que tomava o
remédio, quando na verdade, eu não estava tomando?” e, por fim,
“como essa criança vai sair?”

Ele solta um suspiro exasperado e desvia os olhos, pensativo.


Começo a ficar ainda mais trêmula com a sua reação.

—Sinceramente, eu não sei, mas... — Enrico abre um sorriso


solícito — eu já estou imensuravelmente feliz. Sempre quis ter
sobrinhos.

—Obrigada! — Dou-lhe um abraço apertado.

É bom ter o apoio de alguém nesse momento. Apesar de estar


acompanhada a cada instante, eu ainda me sinto só para enfrentar tudo
isso.

A médica retorna. Eu troco de roupa e me deito em uma maca


aguardando o exame. Ela mostra na tela um ponto minúsculo e fala
que aquilo é o bebê. E para a minha felicidade, eu possivelmente
engravidei quando perdi a virgindade. Ela me passou uma lista extensa
de vitaminas, da qual Enrico tomou conta e comprou todos.

Enquanto eu fui para casa descansar e colocar minha cabeça em


ordem, meus amigos foram no mercado fazer compras. Posteriormente,
Liz fez um lanche para todos nós. Quando eles foram embora,
deixando-me sozinha. Fiquei encolhida na cama, com os meus gatos
ao redor, ignorando as ligações de Vito, perdida em meu própria
mundo, com uma pergunta reverberando a cada instante em minha
mente: “e agora? ”.
Por que Agnes não atende a porcaria do celular? Liguei para ela o
dia inteiro e nada. Enrico me falou que eles foram para um SPA, e que
ele dispensou a minha secretária para que ela pudesse acompanhá-los,
ou seja, meu irmão se envolve nos assuntos da empresa somente para
bagunçar o meu dia.

Estou muito irritado. Minha namorada sumiu, meu irmão


desapareceu e a minha secretária me deixou na mão. Uma ótima sexta-
feira para quem está sozinho e atolado de trabalho.

Com a proximidade do final do ano, precisamos montar um


cronograma para o ano que começará. Além da correria das
intermináveis reuniões com várias equipes, e dos almoços e jantas com
Noah, a fim de descobrir os novos leilões que vão abrir, eu preciso
ainda dar conta das vendas dos imóveis. É claro que isso não é
responsabilidade minha, mas muitos compradores exigem uma reunião
direta com o CEO antes de fechar o contrato.

Espalho papeis com contratos e orçamentos em cima da minha


mesa, em busca de um em específico, quando ouço alguém bater à
minha porta.

— Entre! — grito.

Thomaz surge com o seu sorriso malicioso de sempre estampado


em seus lábios. Eu não o vi mais desde o dia em que nos
desentendemos por causa de Agnes. Eu também nunca mais fui ao
clube para encontrar Teresa, portanto, nós dois acabamos perdendo um
pouco o contato e nos distanciando. Além do mais, meu amigo de
infância parece estranho ultimamente, ele vem tento umas atitudes
duvidosas.

—Trago notícias, chefe. — Fico em silêncio esperando a


complementação da sua frase. — Hã... é... consegui uma audiência
para o caso de homofobia de Enrico.

—Ótimo. Me mantenha informado. — Faço um sinal com as


mãos para que ele se afaste.

—Tudo bem... até mais.

Volto minha atenção para os papeis. Estou irritado e


sobrecarregado. Thomaz me fez perder cinco minutos preciosos do dia
somente para falar o óbvio. Se Liz estivesse fazendo o seu trabalho
como é paga para fazer, ao invés de estar por aí furando um dia de
expediente para ficar no SPA, ele não teria entrado na minha sala e
não teria me atrapalhado, pois, assim que a secretária me ligasse para
comunicar a sua presença, eu já o teria dispensado.

Ouço a porta bater. Finalmente fico sozinho novamente em minha


sala. Agora é focar no dia exaustivo que terei e não imaginar mil e
uma formas de matar Enrico, Agnes e Liz.

Meu dia foi mais que exaustivo. Pela primeira vez em meses, ao
menos desde que comecei a me relacionar com Agnes, eu não quero
sexo, quero somente um banho e cama.

Além do mais, eu recebi uma ligação do detetive Green que me


deixou intrigado. A lista de supostos suspeitos que eu lhe passei, não o
levou a lugar algum. Voltamos à estaca zero nas investigações.

A casa está estranhamente emudecida. Quando chego, Enrico


normalmente está assistindo televisão no último volume, ou ouvindo
música alto o suficiente para fazer as janelas tremerem, ou discutindo
com os personagens dos livros que ele lê. Portanto, esse silêncio só
pode ser visto como algo assustador.

Coloco a minha pasta na mesa do rol de entrada e,


silenciosamente, entro na sala. Enrico parece concentrado em alguma
coisa no seu notebook, alheio a minha presença. A televisão está
ligada, mas ele não presta atenção nela. Com a minha curiosidade
atiçada, analiso o que tanto lhe prende a atenção e, para a minha
surpresa, meu irmão olha enxovais de bebê.

O quê?

—Enrico, o que diabos você está fazendo?

Ela salta, deixando o notebook cair no chão. Enrico me observa


com os olhos esbugalhados e uma mão estalada no peito. Sua
respiração parece acelerada. Pelo visto, ele não esperava me ver tão
cedo em casa. No entanto, meu irmão está agindo como se estivesse
fazendo uma coisa inapropriada.

—Céus! Vito, assim você vai me matar do coração!

Sua reação exagerada me deixa desconfiado.

—Por que você estava olhando enxoval de criança?

Enrico fica branco feito um papel. Semicerro os meus olhos, o


que o faz engolir em seco. Com certeza ele está prestes a aprontar
alguma coisa.

—Eu... hã... — gagueja — eu vou adotar uma criança!

— O QUÊ? — Quem espalma as mãos no peito sou eu agora.

Meu irmão ficou louco? Ele perdeu totalmente o juízo? Passo as


mãos nos cabelos desgrenhados em uma atitude que conota
nervosismo.
—É isso mesmo, eu quero adotar uma criança!

Jesus amado! O que está acontecendo com todo mundo hoje?


Pensei que se trataria de mais uma sexta-feira normal e exaustiva, mas
pelo visto eu estava enganado.

O que tinha nessa droga de SPA?

—Você ficou louco? Enrico, que maturidade você tem para cuidar
de uma criança?

Meu irmão parece ficar ofendido. Ele junta o notebook do chão


com raiva contida e me lança um olhar desapontado.

—Enrico, eu não queria... — Tento justificar minha ofensa.

Ele começa a sair da sala me ignorando completamente. Ah,


dane-se! Se ele acha que eu concordarei com isso, está completamente
enganado. Enrico é uma pessoa descompromissada, por isso foge tanto
do trabalho. Ele não gosta de rotinas, e uma criança é tudo isso, só que
em dobro. Levarei isso como um surto momentâneo. Contudo, caso
não passe, terei que tomar atitudes mais drásticas, como levar Enrico
em uma creche abarrotada de crianças para ele ver com os próprios
olhos como elas podem ser... incontidas.

—E Agnes? — Minha pergunta o faz parar no meio do caminho,


seu corpo fica rígido.

—Ela está dormindo, amanhã teremos o segundo dia no SPA,


portanto, deixe-a em paz.
—É proibido celular no SPA?

—O quê? — Enrico parece confuso.

—Agnes não atende as minhas ligações e nem responde as


minhas mensagens. Por que tenho a sensação de que estou sendo
ignorado?

Enrico se vira, ficando de frente para mim novamente. Ao menos


ele terá a decência de me responder corretamente dessa vez.

—Vito, você é grudento demais, deixe a garota aproveitar o


descanso. Eu hein...

Enrico vai embora e, dessa vez, eu não o impeço. Me jogo no


sofá com o corpo e mente exaustos.

Minha mente está atormentada, por mais que Enrico tenha


garantido que Agnes está descansando, eu sinto como se algo estivesse
errado. Meu coração está angustiado. Não colocarei isso na minha
cabeça, Enrico não mentiria para mim se alguma coisa acontecesse
com Agnes. Ele ama tanto a escritora quanto eu. Como meu irmão
disse, estou grudento, viciado na garota. Passo algumas horas longe de
sua companhia e já fico angustiado, com medo de perdê-la.

Me levanto e me direciono para o meu quarto. Preciso descansar,


só espero conseguir fazer isso sem ter o corpo quente tão familiar e
acolhedor ao meu lado.
Agnes Bellini

Bebo pequenos goles do meu café e tento comer um pouco do


sanduíche que Liz preparou, apesar de não estar com fome. Eu não
jantei ontem, e agora, não é eu, mas sim nós. Preciso comer, mesmo
que seja somente para alimentar o bebê.

Minhas olheiras marcadas demonstram que, apesar de ter tentado,


eu não consegui pregar o olho essa noite. Logo cedo, cedo até demais
para um sábado, convoquei Enrico e Liz para a minha casa.

—Você está falando o quê? — Enrico parece não gostar da minha


ideia.

Em algum momento a barriga começará a crescer. Inicialmente,


foi o maior susto que eu tomei na vida, mas agora, após uma longa
noite de pensamentos, sei que preciso começar a contar para as
pessoas minha atual condição, e devo começar pelos meus avós. Eu
poderia levar Vito e falar para ambos ao mesmo tempo? Poderia! Mas,
na minha mente mirabolante, parece ser mais fácil contar para eles
separadamente. Portanto, quero que Liz e Enrico me façam companhia
pelas próximas quatro horas e meia de viagem até Weymouth.

—Por favor, eu não consegui dormir essa noite e...

—Percebe-se. — zomba Enrico, interrompendo a minha fala.

—E eu não sei se tenho condições de viajar quatro horas e meia


sozinha. — Concluo.

—Agnes, você não prefere esperar ou falar com Vito primeiro?


— indaga Liz com a voz contida.

Olho para o lado, perdida em pensamentos. Estou acabada, nem


sei qual critério usei para escolher a minha roupa. Meus olhos estão
chorosos, meus cabelos bagunçados, e no meu rosto, a expressão de
tristeza reina.

Não estou assim pelo bebê, não no sentido literal pelo menos,
tive muitas horas para pensar nisso. Estou assim pela preocupação de
como as pessoas à minha volta reagirão. Poxa, vida! Eu engravidei de
um homem na nossa primeira relação sexual, do qual eu conheço
pouco mais de quatro meses e que estamos juntos a pouco mais de
dois.

Não deixei a minha carreira na escrita alavancar com medo de


decepcionar os meus avós, e agora isso aconteceu. Espero do fundo do
coração que eles continuem mantendo contado comigo, que continuem
me amando e, principalmente, que aceitem o meu filho. Eu não queria
o bebê, mas agora que ele existe, começo a me acostumar e a me sentir
bem com isso.

—Vocês não entendem, em oito meses o bebê vai nascer. E...


meus avós são tudo o que eu tenho. Preciso, necessito contar a eles, e
descobrir as suas reações, mesmo que elas não sejam agradáveis.

Liz e Enrico suspiram juntos.

—Você tem certeza disso? — Vejo pena nos olhos de Liz.

—Sim. — Minha voz sai firme, sem hesitações.


—Pode contar conosco para o que precisar.

Enrico e Liz me abraçam apertado. E eu sei que, por mais


complicada que as coisas possam se tornar, a partir de hoje, eu os terei
para contar.

Espero que Vito não quebre o meu coração, mas se ele o fizer, eu
cuidarei da criança sozinha, assim como muitas mães solteiras e
guerreiras fazem. O bebê faz parte da minha vida agora, independente
das opiniões alheias. E, parece estranho, mas eu já o amo com todas as
minhas forças, o amei desde o momento em que o teste marcou dois
tracinhos, mesmo que na hora eu não soubesse bem o que estava
acontecendo. Esse deve ser o chamado “amor de mãe”, muitas pessoas
falam dele, dizem que é incondicional. Espero que amor de pai seja
tão forte quanto. Mas não quero pensar nisso agora. Por ora, um passo
de cada vez.

Pego o meu celular de cima da mesa, onde consta inúmeras


ligações do CEO e milhares de mensagens. Tomando coragem, digito
uma para ele sem muitas explicações, mais tarde quando eu retornar de
Weymouth chegará a sua vez de encarar a verdade.

Junto o meu casaco da cadeira, minha bolsa e as chaves do carro


que eu ganhei há uma semana. Com os meus amigos ao meu lado, vou
enfrentar a situação mais difícil da minha vida até agora, qual seja:
contar aos meus avós que não sou a neta perfeita, que eu cometi erros,
mas que peço perdão.

Resiliência é a palavra certa para definir meu destino no


momento.
Vito Costello

Nem sei quanto tempo faz que já estou parado na frente do


notebook sem conseguir fazer absolutamente nada por falta de
concentração. Toda hora eu penso na escritora. Ela está me ignorando
eu sei que sim. Só não sei o motivo, já repassei o dia de ontem
inúmeras vezes na minha cabeça tentando encontrar algo que eu
pudesse ter feito de errado, mas a resposta é sempre a mesma: nada.

Quando eu saí para o almoço com Noah, ela ajeitou a minha


gravata, sorriu para mim e me deu um vasto beijo nos lábios. Estava
tudo perfeito. Porém, quando eu retornei, Agnes já não estava mais lá,
e eu fiquei sem respostas do motivo do seu comportamento distante.

Meu celular apita, me tirando dos devaneios. Pego o aparelho


rapidamente de cima da mesa, estou desesperado por algum sinal de
Agnes.

Agnes Bellini: Oi, estou indo visitar os meus avós.


Voltarei hoje mesmo. Precisamos conversar. Até
mais tarde, beijos.

Mas que porra de mensagem foi essa?

Ela simplesmente some durante quase vinte e quatro horas, me


ignorando completamente e agora me fala que vai ir visitar os seus
avós.
Levanto da cadeira abruptamente, fazendo-a oscilar e quase cair.
Olho a piscina a através da janela do escritório, com as mãos no bolso.

Agnes vai me deixar? Essa pergunta não para de ecoar na minha


mente. Mas eu não fiz nada para que ela decidisse isso. Eu venho
sendo um bom namorado, não?

Uma dor alucinante esmaga o meu peito ao imaginar a minha


vida sem a escritora ao meu lado. Caminho de volta a mesa e abro a
primeira gaveta, revelando a caixinha com a aliança que pertencia a
sua mãe.

Como eu fui um cretino, idiota, covarde! O que eu esperava?


Agnes sempre foi clara ao falar dos seus planos em casar. Ela até
mesmo disse que gostaria de perder a virgindade após o matrimônio.
Fiquei com medo de encarar esse compromisso tão cedo, e agora,
estou prestes a perdê-la.

Não! Isso não pode e não vai acontecer!

Eu amo Agnes Bellini, tenho certeza disso. Se o seu desejo for


casar, então assim eu farei. Não me importo com o casamento,
somente quero a sua presença ao meu lado.

Pego a aliança da gaveta e coloco-a no bolso. Desço as escadas


correndo. Não esperarei até a noite para termos essa conversa, eu irei
atrás dela e pedirei a sua mão. Se mesmo depois disso ela não me
quiser, terei que entender e mesmo com o coração partido em milhares
de pedaços, precisarei seguir em frente. Mas por enquanto, lutarei para
ter o meu futuro ao seu lado.
Ligo o meu Audi R8, coloco uma música clássica e me preparo
para as próximas horas de viagem.
—Acho que eu vou vomitar! Essa foi uma péssima ideia. —
Seguro o volante com força.

Estacionamos em frente à casa dos meus avós há poucos minutos,


e eu comecei a surtar. Eu estava calma, dirigi até aqui tranquilamente,
tendo conversas banais e escutando músicas insuportáveis que Enrico
gosta. Porém, agora a realidade bateu com força e a coragem de antes
se esvaiu como fumaça ao vento.

—Ah não vai mesmo! Eu estou com a bunda dura depois de todas
essas horas de viagem. Você vai entrar nessa casa e fazer o que tinha
vontade quando levantou de manhã. — Brada Enrico do banco do
passageiro.

—Vamos, Agnes. Você mesma disse que em algum momento


precisaria encarar a verdade. Essa hora chegou. — Induz Liz.

—Tá. Ok! — Inspiro e expiro o ar profundamente.

Olho para a casa que eu cresci, tentando imaginar o que os meus


avós estão fazendo, e tentando lembrar se eles possuem algum
problema de coração já detectável.

Meu Deus! Eu deveria tê-los feito ir ao médico antes e não vir de


surpresa contar a grande novidade do ano. E se eles infartarem?

—Acho melhor marcar um cardiologista para eles antes. — falo.

Enrico bufa. Ele se aproxima de mim e afunda a mão na buzina


do carro. O som chama a atenção de todos na volta, até mesmo de
vizinhos curiosos. Afasto abruptamente suas mãos do volante.

—O que você pensa que está fazendo? — indago atordoada.

Antes que ele me responda, a porta da frente da casa dos meus


avós é aberta e vovó aparece. Seu sorriso se ilumina ao me ver.

Que Deus me ajude!

— Eu vou matar você! — falo entredentes para Enrico antes de


descer do veículo e abrir um sorriso de falsa felicidade para
cumprimentar minha avó.
— Agnes, querida, você não disse que estava vindo. — Ela me
abraça. Vovó olha para trás de mim e vê Enrico e Liz. — Ainda mais
com companhia. Eu não preparei nada para o almoço e lanche.

Afundo o meu rosto no seu peito, sentindo o seu cheiro familiar,


só assim para acalmar os meus nervos.

—Resolvemos vir de última hora. — Desculpo-me. — Vovó,


esses são Liz e Enrico. — Apresento-lhes.

Vovó reconhece os dois, eu falei muito deles na visita de semana


passada. Eles se cumprimentam e ela nos convida para entrar. Enrico
me empurra, pois, minhas pernas teimam em permanecer paradas.

—Aonde está vovô?

Dona Ruth revira os olhos e bufa.

—Na garagem, como sempre.

Ela vai chamá-lo, enquanto eu, Enrico e Liz nos acomodamos no


sofá da sala. Quando vovô chega, ele fica tão surpreso quanto vovó ao
me ver. Ele se senta em sua confortável poltrona com a espingarda ao
lado.

—Então, querida, o que a trouxe aqui? Parece preocupada e


angustiada. — Vovó me inspeciona com os olhos. Ela se acomoda na
guarda da poltrona de vovô.

Engulo a saliva calmamente e mantenho a minha respiração


controlada. Minhas mãos estão suando frio, além de estarem trêmulas.
Deixo-as rente ao corpo para que esse sinal não fique tão aparente.

É agora! Chegou a hora da verdade.

Ai. Meu. Deus!

Enrico empurra o meu ombro com o seu, me instigando a falar.


Vejo vovó segurar a mão de vovô, pelo seu semblante, ela começa a
ficar preocupada.

—Eu... é... hã... — Minha voz não sai.

Enrico está ficando impaciente comigo, ele revira os olhos e joga


os braços para cima, totalmente indignado com o meu medo
descabido.

—Fala logo, Agnes! — Exaspera irritado.

Vovó coloca uma mão no coração, enquanto vovô fica branco


feito papel. Eles nem se quer piscam. Se Enrico não parar, vai matar
os meus avós do coração.

Diferente do garoto, Liz pousa a sua mão sobre a minha, tentando


me passar algum conforto. Seu toque quente torna-se acolhedor na
minha pele fria.

—Deus! Eu não sei como falar isso. — As lágrimas começam a


descer, imitando uma cachoeira.

—Agnes, querida, você está doente? — Vovó pergunta temerosa.

Faço um sinal negativo com a cabeça.


—Então qual é o problema, meu amor?

Olho para as mãos de vovô, ele aperta os braços da poltrona até


os vincos ficarem brancos. Eles estão preocupados, muito
preocupados.

—Me desculpem... eu nunca quis magoar vocês — um soluço sai


da minha garganta — vocês foram ótimos. Fizeram muito por mim
desde a morte de papai e mamãe...

—Agnes. — Vovó começa a chorar.

—Mas a vida é uma surpresa. Só quero que saibam que eu


valorizo demais os ensinamentos que me deram, e não queria que as
coisas fossem assim. Mas, acredito que Deus tem planos para todos
nós e esse é o que ele tinha para mim.

—Fala logo, Agnes, você vai matar os dois do coração! — grita


Enrico.

Inspiro profundamente e fecho os olhos.

—Eu estou grávida!

Silêncio. Não ouço nem as respirações da sala.

Abro os olhos e vejo os meus avós me encarando. Vovô está


perplexo, enquanto vovó parece tentar controlar um misto de emoções
e sentimentos que assolam o seu corpo.

Espero eles me expulsarem de sua casa, falar que eu coloquei o


nome na família no lixo, ou que nem mais as confissões ao padre me
salvarão do inferno. Aguardo a humilhação e a vexação, mas não
recebo isso. Eles não falam nada.

Enrico e Liz se entreolham, tentando entender o que está


acontecendo aqui, ou até mesmo se perguntando se eu matei os meus
avós do coração, pois ambos estão imóveis e pálidos.

Sem esperar, vovô saca a espingarda do lado do sofá com força.

—Onde está aquele desgraçado? — Ele está furioso de uma


forma que eu nunca tinha visto antes. — Você! Ele é seu irmão! —
Aponta um dedo acusatório para Enrico.

Enrico fica pálido instantaneamente e esbugalha os olhos.

—Não? — Sua voz sai algumas tonalidades mais baixas que o


normal

—Não minta para mim, rapaz. Eu vejo as semelhanças. Onde ele


está? — Vovô mexe na arma, o que deixa Enrico ainda mais
apavorado.

—Eu... eu não tenho nada a ver com isso. — Enrico tenta se


explicar.

—Você enganou minha neta junto com ele?

—O quê? Eu nem gosto de mulher para começo de conversa. —


Enrico se levanta do sofá e começa a dar passos para trás, tentando
fugir de fininho. — Eu disse para Agnes não transar, bem que eu
avisei para ele seguir a bíblia.
Olho para Enrico boquiaberta com o seu descaramento para
mentir. Ele e Liz basicamente me induziram a perder a virgindade
logo!

—Enrico, deixa de ser mentiroso! — Esbravejo.

—Ah não, Agnes. Quantas vezes eu disse para você seguir os


mandamentos de Deus. — Ele dá mais alguns passos para trás.

Liz começa a gargalhar tão alto que chama a atenção de todos. Só


há duas explicações para a sua atitude anormal em um momento como
esse: ou ela enlouqueceu ou está nervosa.

—Chega! — Vovó sai de seu estupor. — Enrico, pode voltar.


Ninguém vai atirar em você. — Ela puxa a arma das mãos de vovô
com força e deixa ao seu lado. Então olha para mim. — Você está bem,
querida?

O carinho em sua voz, mesmo depois de tudo o que eu fiz, me faz


chorar emocionada. Não esperava essa compreensão e proteção deles.

Enrico retorna, e com movimentos calculados, senta-se


novamente ao meu lado, sempre encarando a arma, preparado para
correr a qualquer momento, caso seja necessário.

—Sim. — Respondo vovó silabicamente.

—Me conte o que aconteceu.

Ela não quer saber como eu fiz o bebê, não é mesmo? Ela sabe
muito bem como eles são feitos, ela já teve um filho. Sinto minhas
bochechas esquentarem.

—Bem... hã... aconteceu. Antes que vocês pensem algo errado de


Vito, eu quis, ele não me forçou a nada. — Olho diretamente para
vovô ao falar isso.

—Tudo bem, meu bem. Não vamos julgar você, querida. Por mais
que tivéssemos desejado um futuro diferente, como você disse, esses
são os planos de Deus, nós já amamos demais nosso bisnetinho. —
Vovó chora ao falar da criança que nem nasceu ainda.

—Você ficou louca, Ruth? Eu vou obrigar aquele desgraçado a


casar! — Vovô levanta as mãos protestando. Enrico fica alarmado,
prestes a correr novamente.

Vovó solta um suspiro e se vira para o marido, somente com o


olhar da mulher, ele começa a acalmar o seu temperamento.

—Agnes está grávida, isso é um fato, com ou sem casamento.


Teremos um bisneto, portanto, John, acalme o seu coração e seja um
bom avô para a sua neta.

Ele se vira para mim e, pela primeira vez desde que papai e
mamãe morreram, vovô chora. Meu coração fica despedaçado ao
pensar que a decepção é tanta ao ponto de fazê-lo chorar de tristeza.

—Faço das palavras da sua avó as minhas, querida. Cuidaremos


desse bebê, assim como cuidamos de você.

Um soluço alto sai do fundo da minha garganta. Saio do sofá e


me ajoelho em frente a eles. Eu vim até aqui esperando obter
julgamentos e não compreensão. Eles me abraçam e afagam os meus
cabelos, enquanto eu deixo as lágrimas saírem livremente.

—Eu amo vocês! — Consigo proferir.

—E nós amamos você, querida. Mas devo confessar, estou


magoada com você — limpo minhas lágrimas e olho para vovó com a
testa franzida — o que nós fizemos para que pensasse que lhe
daríamos as costas por causa disso?

Abro e fecho a boca sem caber o que responder. Com o meu


silêncio, ela continua.

—Nós somos religiosos, Agnes. Lhe passamos os ensinamentos


de Deus, e gostaríamos que os tivesse seguido, mas que o fizesse por
livre escolha, não por obrigação. — vovó acaricia a minha bochecha
— jamais a obrigaríamos a fazer algo que não quisesse. Não se sinta
culpada por isso. Religião é uma escolha, não um fardo.

—Obrigada! — Não sinto nada além de gratidão a Deus pela


família que ele me deu.

—Eu é que agradeço por ter uma neta tão incrível. — Pontua
vovô.

Uma fungada chama a nossa atenção, olho para o lado a tempo de


ver Enrico secando uma lágrima.

—Agora que tudo deu certo, a senhora bem que poderia fazer
aqueles bolinhos novamente. — Fala na maior cara dura.
Vovó começa a rir, enquanto Liz cutuca Enrico.

—Bom, eu terei mais três ajudantes, acho que consigo preparar a


tempo do café da tarde — ela se levanta, convocando-nos até a
cozinha — enquanto preparamos a massa, quero que Agnes me conte
como isso aconteceu sendo que ela toma pílula desde garota.

—Longa história. — Suspira Liz.

—Ainda bem que teremos tempo. — Retruca vovó.

Sinto meu coração mais leve após a conversa com eles. É como
se agora as coisas começassem a se encaixar e fazer sentido. Mas,
mesmo estando imensuravelmente feliz com a reação da minha
família, eu não paro de pensar nele. Minha mão involuntariamente
pousa sobre o ventre ainda liso.

Como se tivesse sido convocado. Ouço o alarme do carro de Vito


apitar na frente de casa. Imediatamente me viro para Enrico, nossos
olhares se encontram e nós dois sabemos que isso não é uma
alucinação. O toque da campainha exalta exatamente isso.

Alheio ao meu ataque de nervos, vovô abre a porta. O CEO está


parado no batente dela, seus cabelos desgrenhados e a roupa de ficar
em casa revelam que ele saiu às pressas. Nossos olhares se conectam,
então ele o desce, a tempo o suficiente de ver a minha mão na barriga.
Retiro-a imediatamente.

—Ah, aí está você, rapaz. — Acho que Vito precisará batalhar


muito para ter a afeição do meu avô novamente.
—Vamos deixá-los conversar. — Vovó começa a arrastar todo
mundo para fora.

Vito se aproxima de mim em passos temerosos. Ele parece sem


saber como agir ao meu lado. Não o culpo, eu venho lhe evitando
desde ontem.

—Oi. — Ele abre um sorriso que não chega aos olhos.

—Oi. — Deus amado! Lá vem eu chorando novamente. — Você


conhece a praia de Weymouth? — Ele faz um sinal negativo de cabeça.
— Então vamos dar uma volta.

A praia fica há algumas quadras da casa dos meus avós. O clima


gélido da proximidade do outono afasta as pessoas nessa época do ano.
Vito e eu caminhamos lado a lado, mas em silêncio e longe o
suficiente um do outro para que nossos corpos não se toquem.

—Você vai me falar o que está acontecendo ou eu terei que


adivinhar?

Me sento em um monte de areia e abraço as minhas pernas. Meus


cabelos ao vento, fazem cosquinhas em meu pescoço. Vito ocupa um
lugar ao meu lado.

Estranhamente, observar o mar me acalma. Quando eu era


criança, vinha até a praia só para fazer isso. A paisagem que mistura
água e céu me dava a sensação de que eu estava mais próxima dos
meus pais. Quando a saudade batia tão forte ao ponto de transbordar
pelos olhos, eu me sentava aqui e falava sozinha, como se estivesse
me comunicando com eles. Tenho poucas lembranças da minha
infância, mas as que eu possuo, são todas felizes e saudosas. Eles
foram ótimos, mesmo que tenham ficado tão pouco tempo na terra.
Espero um dia ser uma mãe tão boa quanto as duas que eu tive.

—A vida é surpreendente. — Solto um longo suspiro. — Eu


fiquei esses anos todos me guardando para alguém que fizesse o meu
coração bater mais rápido, que me fizesse sentir as famosas borboletas
no estômago, tão narradas nas páginas de livros... e então você chegou
e fez exatamente tudo isso comigo e muito mais. Nunca vou me
esquecer do primeiro pensamento que eu tive ao ver você parado na
minha porta com um olhar raivoso direcionado a mim “o verdadeiro
pecado encarnado” — viro-me para olhar Vito, ele escuta atentamente
todas as minhas palavras com um sorriso maroto no rosto,
relembrando todos os nossos momentos. Parece que passamos uma
vida inteira juntos e não só quatro meses. — E eu estava certa, afinal,
eu pequei, mas não me arrependo disso e nem de nada que eu tenha
feito até aqui. Eu fiz o que senti vontade de fazer.

—Eu não estou compreendendo, Agnes. — Ele se manifesta.

Engulo os temores que me dominam e me afundo no verde dos


seus olhos.

—Eu estou grávida, Vito Costello.


Eu não vi os quilômetros passarem pelos meus olhos através das
janelas do carro. Eu só pensava nela, em encontrá-la. A aliança em
meu bolso queimava a cada momento, lembrando-me que eu deveria
ter feito isso ao longo da semana, mas fui covarde demais.

É estranho, Agnes e eu nos conhecemos a tão pouco tempo, mas a


sensação que eu tenho é a de que nos conhecemos há uma vida inteira.
É como se nossas almas tivesses se reconectado com o nosso encontro
inesperado.

Agora, aqui estou eu, sentado ao seu lado na areia gelada, com o
vento batendo em meus cabelos e a brisa do mar beijando a minha
pele, enquanto escuto os seus relatos que, no momento, não fazem
sentido algum para mim.

Eu quero falar tantas coisas a ela, mas eu acabo tropeçando nas


palavras todas as vezes que eu tento. Agnes possui o dom de deixar a
minha mente girando.

—Eu estou grávida, Vito Costello.

Fico parado no lugar por tempo o suficiente para ela achar que eu
tive uma síncope. Não sei se eu ouvi direito. Será que eu estou tendo
uma alucinação? Ou vendo uma miragem?

—O quê? — Minha voz sai de algum canto profundo e remoto da


minha alma.

Uma lágrima solitária desce no olho esquerda de Agnes. Ela


parece magoada e prestes a desabar, mas tenta se manter forte.

—Os vômitos incessantes por causa da gastrite nervosa cortaram


o efeito do anticoncepcional. — explica.

Deus! Eu não ouvi errado, Agnes está grávida.

Eu vou ser pai? Céus!

Um misto de emoções se mistura no meu ser, deixando-me


desnorteado. Não sei se estou apavorado. Ou feliz. Ou preocupado. Ou
nas nuvens. Mas algo apita, trancando todas as sensações
momentaneamente.
—Agnes, por que eu sinto que você não queria me falar isso?

Ela me ignorou por um dia inteiro, começo a pensar que nunca


houve SPA algum. Além do mais, Enrico já estava olhando enxoval
ontem, portanto, adotar uma criança foi somente uma desculpa para
esconder a verdade e manter o segredo da amiga oculto.

—Eu pensei que.... pensei que você não aceitaria bem a notícia,
achei que surtaria e me culparia porque eu disse que tomava a pílula...
você confiou em mim.

—Ei, ei querida. — Seguro os seus braços, mantendo-a no lugar.


— Eu não vou culpar você, eu jamais faria isso, e saber que você tem
essa visão de mim, me deixa magoado.

—Me desculpe. — murmura cabisbaixa.

—Agnes, eu nunca planejei ter filhos, assim como não planejei


casar, mas desde que você entrou em minha vida, meus planos
mudaram drasticamente. Eu estou completamente apaixonado por
você. — Acaricio o dorso da sua mão com o meu polegar. — Eu amo
você, Agnes Bellini.

—Oh, Vito! — Ela soluça e se joga em meus braços, quebrando a


barreira que tinha imposto entre nós. — Eu também amo você!

Me afasto dela, somente o suficiente para tirar a aliança do meu


bolso. Quando os olhos de Agnes reconhecem o objeto, ela fica sem
reação, sem palavras.

—Seu avô me conferiu isso na semana passada. Eu prometi a ele


que me casaria com você e faria tudo o que quisesse. Confessei que
estou aos seus pés, como um servo apaixonado. — Agnes leva as mãos
trêmulas a boca. — Eu não sei bem quando eu faria isso, mas eu já
tinha vontade. Para falar a verdade, eu estava com medo que você não
aceitasse pelo pouco tempo que estamos juntos. Mas agora... — pouso
minha mão em seu ventre ainda liso — seremos nós três, e por mais
que as coisas não estejam saindo exatamente na ordem que você
planejou, eu gostaria de ao menos realizar os seus desejos, apesar de
não ter sido romântico como eu penso que você tenha imaginado —
coloco meu corpo sobre o joelho, abro a caixa em sua direção e olho
no fundo dos seus olhos castanhos — Agnes Bellini, você aceita casar
comigo?

Ela não leva mais quem alguns milésimos para responder:

—SIM! — Agnes chora e eu me junto a ela.

Pareço um idiota, ajoelhado, com roupas de ficar em casa,


cabelos bagunçados e rosto choroso, pedindo a mulher da minha vida
em casamento. Deslizo a aliança pelo seu dedo anelar, Agnes olha para
o objeto, admirando a pedra solitária de topázio azul, ela se vira para o
mar e abre um sorriso carregado de saudade.

—Você estava errado... — estou prestes a perguntar em qual


sentido, quando ele termina a afirmação — é muito melhor do que
esteve em meus planos, e mais romântico do que a minha imaginação
poderia fantasiar.

Eu não compreendo bem o que isso significa ou por qual motivo


o pedido na praia foi tão importante para ela, só sei que parece algo
profundo, deixando-lhe extasiada.

—Eu fiquei com tanto medo de perder você. — Confesso.

—Por quê?

—Você se distanciou, começou a ignorar minhas ligações, não


respondeu as minha mensagens. Tentei imaginar a minha vida sem
você, mas foi impossível.

—Oh, Vito! Me desculpe, eu não queria ter lhe passado essa


sensação, eu só precisava tirar um tempo para colocar os pensamentos
em ordem.

—Tudo bem. — Agnes deita as costas no meu peito. — E agora,


o que vamos fazer?

—Em qual sentido você pergunta?

—Meus gatos, nossas vidas, Isaac e Enrico.

Solto um suspiro. Teremos um longo trabalho pela frente. Pelo


menos agora eu tenho um bom motivo para tirá-la daquele lugar
fúnebre que ela chama de casa. E para tê-la em minha cama todas as
noites. Ela e os felinos, é claro.

—Vocês vão se mudar para a minha casa, não há o que protestar.


Precisamos ver o casamento o quanto antes, acho que você vai querer
a cerimônia antes nascimento do bebê, não?

—Bem... eu não tinha pensado nisso ainda.


—Podemos fazer algo mais reservado aos amigos, se for da sua
preferência. — Eu sei como ela é contido com relação a ser o centro
das atenções.

—Eu acharia perfeito. Mas, quanto a Enrico e Isaac.

Esse, por ora, é o maior dos nossos problemas. Eu não gostaria


de magoar meu irmão, mas não teremos escolha. Em breve a barriga
começará a aparecer e, além do mais, eu quero me casar logo com ela.
Sinto uma necessidade gritante de fazer isso. Portanto, não há outra
opção, se não Isaac revelar a sua verdadeira orientação sexual ou
terminar o romance de vez com Enrico, por mais que isso vá deixar
meu irmão machucado e com o coração estraçalhado em mil pedaços.

—Isaac precisará tomar uma atitude.

—Não é tão fácil assim, não com o pai dele sendo como é.

—Eu sei, meu amor. — Beijo o topo da sua cabeça. — Mas não
há escolha, nós vamos nos casar e ter um bebê. Se você e Isaac não
pararem agora com essa mentira, as pessoas começarão a duvidar da
paternidade e lhe dar apelidos poucos corteses, o que fará com que eu
tenha um árduo trabalho para acabar com cada um deles.

Agnes solta um suspiro cansado. Ela sabe que eu estou certo, por
mais que queiramos ajudar os dois a continuarem juntos, nós fizemos a
nossa parte por todos esses meses, mantendo o nosso relacionamento
escondido. Agora chegou a vez deles de encontrarem uma solução.

Ainda não consigo acreditar que eu serei pai. Uma criança


correndo em nossa casa, trazendo alegria e cor para um lugar há tanto
tempo solitário. Agora que eu consigo controlar as minhas emoções,
sei descrever exatamente o que eu estou sentindo: felicidade plena.

Agnes Bellini

—O que é isso? — pergunto para Liz.

A secretária colocou um copo enorme em minha frente. Estou na


sala de Vito alterando algumas coisas do meu livro. O CEO saiu para
se encontrar novamente com Noah para debater algum assunto urgente.

Ao retornarmos para a casa dos meus avós no sábado, eles


ficaram radiantes ao saberem do casamento. Almoçamos com eles e
viemos à tardinha. Entreguei meu carro para Enrico e voltei com Vito.
Desde então, o CEO se mostrou possessivo em seus cuidados comigo,
ele me trata como se eu pudesse quebrar a qualquer momento como
uma boneca de porcelana. Ao mesmo tempo em que acho isso
romântico e carinhoso, também acho irritante.

A pior parte foi falar para Enrico do rompimento da promessa


que eu havia feita a ele e Isaac. Mas, para o meu deleite, o Costello
mais jovem não ficou magoado, muito pelo contrário, ele entendeu
completamente e ainda disse que já não aguentava mais toda essa
situação. Falou que é assumido e com orgulho, porém, se Isaac não
fizesse o mesmo, eles não poderiam manter a relação. Até agora o
filho de George Jones se manteve silente quanto a isso.

—Vito mandou entregar para você — ela olha a hora em seu


relógio de pulso — chegará algo comestível a cada três horas.

Céus! Vito se transformou em outra pessoa desde que soube da


gravidez. Meus medos quanto a sua reação foram desnecessários, pois
ele tem se mostrado um ótimo pai.

Abro a tampa do copo de plástico para analisar o conteúdo. Um


cheiro de banana impregna todo o ar.

Liz revira os olhos, ela abre uma pasta em sua agenda eletrônica,
antes de explicar.

—Com a vitamina de banana é possível ter toda a quantidade de


magnésio necessária para um dia durante a gravidez, evitando assim o
aparecimento de cãibras. A próxima será a de morango que é rica em
vitamina C, para melhorar a circulação sanguínea. E, por último,
Vitamina de acerola para combater a anemia. — Ela fecha a pasta em
seu tablet e me olha com um sorriso debochado nos lábios.

—Eu sei, Vito está pirando com essa gravidez!

Liz escora o corpo na mesa e dá de ombros.

—Não reclame, Agnes, muitas mulheres gostariam de ter, ao


menos, um terço da atenção que o CEO tem dado a você. Para falar a
verdade, o senhor Costello vem me surpreendendo. Ele será um ótimo
pai.

—Eu sei. — Liz tem razão em tudo o que disse.

—Agora, tome logo isso daí que daqui — ela olha novamente
para o relógio de pulso — duas horas e cinquenta minutos, outro copo
estará a sua disposição.

—Compreendido.

Liz sai da sala, me deixando com um livro em aberto, o coração


transbordando gratidão e um enorme copo de batida para beber em
menos de duas horas.

Vito Costello

O e-mail que recebi de Noah me deixou em alerta total. O CEO


sempre me liga ou envia mensagens quando precisa falar comigo. Às
vezes é um assunto urgente referente a imóveis de boa qualidade que
estão indo a leilão e possui muitos interessados. Contudo, hoje a
mensagem foi diferente, deixando-me preocupado.

Entro no restaurante no exato horário marcado, vejo Noah


sentado em um canto mais recluso mexendo em seu aparelho celular.
Sento-me na cadeira disposta à sua frente, tentando deixar a minha
tensão não transparecer.

Agora que eu sei que serei pai, não posso deixar de me preocupar
com as palavras do detetive Green, pois, não é somente com a vida
Enrico que eu precisarei me preocupar de agora em diante, mas a de
Agnes e do nosso bebê também.

Enquanto estou ausente, faço de tudo para mantê-la protegida e


bem cuidada. Liz possui ordens expressas de enviar, a cada três horas,
um alimento para ela e o bebê. E é claro que todos eles passam por
uma avalição de um dos meus seguranças, para o caso da bebida ou
comida estar envenenada. Só assim me sinto mais tranquilo.

—Olá. — Cumprimento o bancário.

Noah fixa sua atenção em mim, apesar do sorriso despojado que


delineia os seus lábios, vejo tensão em seus olhos. Constato que a
reunião não será agradável. Minha fome se esvai automaticamente.

—Vito Costello, que bom que pode me encontrar. — Ele estende


a mão para um cumprimento. — E como anda a sua garota?

Noah ainda não sabe que serei pai, ninguém sabe. Por causa do
recente rompimento da relação falsa entre Isaac e Agnes, preferimos
manter tudo em sigilo para evitar falatório, ao menos é isso que eu
falei para a escritora. A verdade é que, desta forma, protegerei do
assassino de meus pais. O detetive ainda não descobriu o que motivou
o homicídio, mas se for dinheiro, um herdeiro seria um grande
problema para os envolvidos.

—Muito bem, obrigado por perguntar. — Desfaço nosso enlace


de mãos.

O garçom se aproxima e recolhe os nossos pedidos. Observo que


Noah olha atentamente para todo o local, como se estivesse
procurando algum ouvinte da nossa conversa.

—Qual é o problema? — vou direto ao ponto — eu lhe conheço


bem o suficiente para saber que algo está muito errado.
Minha tensão aumenta em níveis desproporcionais. Noah sabe
todas as finanças da minha empresa, seu banco é responsável por tudo.
Contudo, eu sei que a minha empresa não está no sinal vermelho,
muito pelo contrário, nos últimos anos, a Costello Imobiliária veio
prosperando em níveis nunca vistos anteriormente.

Noah solta um suspiro exasperado, ele se aproxima ainda mais de


mim para sussurrar as palavras.

—Cara... não tenho uma forma melhor para te falar isso... eu já


pensei várias vezes no assunto ou como eu abordaria, mas a verdade é
que, não há uma abordagem sucinta.

—Fala logo! — Deixo a minha tensão transparecer agora.

—Estão desviando dinheiro da empresa. — cospe as palavras que


estavam presas na garganta.

Me jogo para trás, escorando as minhas costas na cadeira. Eu


esperava muitas coisas, menos a história de um funcionário desleal.
Em todos os meus anos como CEO, isso nunca havia acontecido
anteriormente.

— O quê?

Noah coloca uma pasta em papel pardo na minha frente. Um


pouco resignado, abro-a e começo a folhar o conteúdo. Como o
banqueiro havia dito, alguns valores vêm sendo desviados nas últimas
semanas. O desgraçado começou sucinto, desfalcando a conta da
empresa com valores irrisórios, despercebidos aos olhos do banco.
Contudo, nos últimos dias os desvios foram aumentando e, na última
vez, ele foi mais audacioso, enviando quase um milhão de libras para
uma conta fora do País.

—Quem? — pergunto com o maxilar trincado. Forçar os dentes


um contra o outro ajuda a emanar a raiva que sinto para o local.

Noah me analisa com cautela, ele sabe a resposta. Seu banco é


bom no que faz. Não é à toa que confio todo o meu patrimônio em
suas mãos.

—Acho que você preferirá comer alguma coisa primeiramente.

—Quem? — insisto.

Antes de delatar o culpado, Noah começa a falar e a explicar


como eles chegaram ao indivíduo. Narrou toda a investigação que o
banco fez, bem como, todo o trabalho para entrar em contato com o
banco do exterior e conseguir o valor desviado de volta, sem passar
por toda a burocracia da justiça. Ao final da conversa, eu não poderia
estar mais decepcionado.

A reunião se estendeu, ocupando boa parte da nossa tarde.

Em breve, o banco fará um evento de comemoração aos


cinquenta anos de mercado. E é nessa festa que colocaremos o nosso
plano em prática para desmascarar os culpados.

Ao sair do restaurante, saco o meu celular do bolso e faço uma


ligação importante para que tudo dê certo no dia do plano.

—Detetive Green. — Ele atende no segundo toque.


—Boa tarde, detetive. Aqui é Vito Costello. — Me pronuncio.

—Ah, boa tarde, senhor Costello. Que bom que tenha entrado em
contato, espero que tenha novidades ou, infelizmente, a investigação
terá que ser arquivada, pois não há provas contundentes para continuar
com ela.

Aperto minhas têmporas com força. Fisgadas de dor me avisam


de que estou prestes a ter uma enxaqueca tenebrosa.

Caminho pelas ruas movimentadas de Londres em direção à


minha empresa. Está quase na hora do final do expediente, estou
retornando somente para buscar Agnes, caso contrário, iria direto para
casa me afundar em uma garrafa da bebida mais cara e mais forte que
eu tenho.

—Eu tenho novidades.

—Isso é ótimo, senhor Costello.

—E um trabalho. — Acrescento.

O detetive fica em silêncio por alguns segundos, com o seu


silêncio, observo ao redor para ver se não estou sendo seguido e
começo a falar o meu plano e as recentes descobertas. Ao finalizar a
ligação, aperto o celular com força, tentando extravasar o sentimento
de traição que atormenta o meu coração.

Entro no prédio da Costello com o semblante calmo, e um sorriso


falso no rosto. Agnes está grávida, não quero deixá-la preocupada e,
muito menos, nervosa.
Ao chegar em minha sala, observo-a de costas. Em minha mesa,
dois copos enormes de bebida. Ela segura outro, virando o conteúdo
com vontade, enquanto sua atenção está focada em seu notebook. Não
consigo expressar a alegria de vê-la me aguardando. Ela é a minha
calmaria em um dia conturbado.

Posso dizer que sou um homem completamente apaixonado pela


minha mulher e possessivo também, mas acredito isso se dê ao fato de
somente eu tê-la tocado, de ter sido o seu único homem. E agora, pai
do seu filho e futuro marido.
—Você está me deixando nervosa! — Paro de folhear a revista
para prestar atenção em Vito.

Estamos na médica que cuidará o meu pré-natal, e é claro que


dessa vez Vito quis vir junto para acompanhar tudo de perto. No
entanto, o CEO não para de andar de um lado para o outro na sala da
recepcionista, por algum motivo desconhecido Vito está apreensivo
com essa consulta.

— Quanto tempo vai demorar para chegar a nossa vez? — Ele


senta-se na cadeira o meu lado, finalmente se aquietando.
—Eu não sei. Mas, é só uma consulta Vito, a primeira de muitas
que virão pelos próximos meses.

—As próximas serão mais tranquilas.

Solto uma risada debochada e lanço um olhar de quem diz: “tem


certeza disso?”.

—Imagina quando chegar o parto. — Volto a folhear a revista.

—Prefiro nem pensar nisso ainda. — Fala a verdade.

É engraçado ver Vito tão nervoso por uma simples consulta. O


CEO enfrenta problemas muito maiores diariamente. Ele encara
homens poderosos com uma serenidade invejável. Contudo, uma
simples consulta é capaz de lhe fazer perder toda a calmaria.

Não posso deixar de notar, entretanto, que Vito está estranho nos
últimos dias, todas as vezes que eu questiono o motivo, ele logo trata
de dispersar do assunto. Mas eu sei que há algo errado, espero que no
momento certo ele revele o que tanto lhe atormenta.

—Senhorita Bellini, pode passar. — A secretária avisa que


chegou a nossa vez.

Largo a revista no canto e me levanto para seguir em direção à


sala da doutora Wood. Vito vem ao meu encalce.

Essas últimas semanas foram tumultuadas. Precisei entrar em


contato com o locador do meu apartamento, a fim de devolver o
imóvel e, pela quebra do contrato de locação, ele cobrou uma multa
exorbitante, que Vito fez questão de pagar para que eu pudesse me
mudar de uma vez. Portanto, depois de amanhã começa toda a função.

Antes de enviar os meus gatos para a residência Costello, minha


condição era que todas as aberturas fossem teladas, e Vito o fez. Além
do mais, ele modificou o seu quarto e aumentou o closet para as
minhas roupas e já contratou uma arquiteta para decorar o quarto do
bebê.

Vovó ficou encarregada de reservar a igreja para a nossa


cerimônia de casamento que ocorrerá em poucos meses. Conforme
combinamos, nosso dia tão esperado contará somente com a família e
amigos mais íntimos.

Em breve também acontecerá a festa do Banco Chevalier, e


Enrico tem me ajudado a encontrar um vestido adequado para o
evento.

Falando em meu amigo, ele e Isaac não se falam há dias, parece


que o filho de George Jones não teve coragem para assumir a sua
sexualidade, o que deixou Enrico furioso e magoado, sendo assim, eles
romperam o relacionamento. Fiquei muito triste com isso, ainda mais
por ver Enrico um pouco choroso.

—Boa tarde, senhorita Bellini. Senhor Costello. — A doutora


Wood nos cumprimenta. — Preparados para ouvir o coração do bebê?

A ansiedade de Vito passa para mim. O coração só pode ser


ouvido na sexta semana de gestação, e eu acabei de completá-la, hoje
será a primeira vez que de fato teremos uma prova que um serzinho
cresce em meu ventre.

—Sim! — Não consigo controlar a ansiedade em minha voz.

Vito não fala nada, mas o sorriso estampado em seu rosto fala por
si só o quanto está animado, ansioso e nervoso para esse momento.

A médica passa algumas vitaminas novas, faz algumas perguntas


e repassa algumas recomendações antes de me instruir a ir para uma
sala anexa trocar as roupas. Eu fico um pouco receosa com esse
ultrassom transvaginal.

Quando retorno, ela e Vito conversam seriamente sobre a minha


alimentação. Me deito na maca e espero o exame, tentando não
demonstrar o meu desconforto ao fazê-lo. Ela nos mostra o pontinho
preto na tela. Nosso bebê ainda não passa de uma semente.

A doutora Wood liga um aparelho e um barulho estranho como


asas de pássaro começa a soar. O coração do bebê é acelerado e, ao
ouvi-lo, o meu começa a bater descompassadamente como se estivesse
tentando seguir o mesmo ritmo da semente que eu já amo muito.

Olho para Vito, sei que estou chorando pela visão embaçada. O
CEO está tão emocionado quanto eu, se não mais. O momento é
mágico, único.

Ficamos mais alguns segundos desfrutando desse instante, nos


conectando com o nosso filho. Sentindo uma amostra do amor que
ainda está por vir.

Ao terminar, nos despedimos da médica com os olhos vermelhos


e inchados de tanto chorar. E ela, como a boa profissional que é,
entende completamente a nossa emoção.

A nossa semente ainda não sabe, mas nós já a amamos


incondicionalmente. Mesmo que não tenha sido planejado, e mesmo
que tenha quase me matado do coração com o susto de descobrir a sua
existência.

Observo Liz, Vito, Enrico e até mesmo Mark carregarem caixas e


mais caixas para fora do meu apartamento. O CEO não me deixou
mover um único dedo durante a mudança, Vito está tão obcecado com
essa gestação que tem medo até dos meus espirros. Segundo a médica,
isso é normal em pais de primeira viagem.

Já que a residência Costello é mobiliada e com móveis muito


melhores que os meus, eu decidi doar boa parte do que pertence a
mim, algumas coisas mais pesadas deixei para que o locador resolva o
que vai querer fazer. O apartamento já era mobiliado quando eu
aluguei, portanto, possuo pouquíssimas coisas.

Meu celular toca, vejo o número de vovó na tela.

—Oi, vovó.

—Oi, querida, estou atrapalhando?

Olho para os meus amigos e meu noivo fazendo todo o trabalho


pesado. Babo um pouco nos braços musculosos de Vito que estão
desnudos.

—Não, pelo contrário, eu estava entediada. Vito não me deixou


mover um único musculo nessa mudança. — Reviro os olhos como se
fosse possível ela ver.

—E ele está certo, precisa cuidar do bebê. Mas enfim, liguei para
perguntar se você possui preferência das flores na igreja.

Vovó está organizando tudo minuciosamente bem. Por causa da


minha família, vamos nos casar em Weymouth. O padre está animado
com a festa, ainda mais depois da minha confissão, mal ele sabe que
eu estou grávida. Até o evento ocorrer, minha barriga já estará visível,
mas eu não me importo com isso. Só quero selar perante Deus o amor
que Vito e eu sentimos um pelo outro.

—Eu quero rosas vermelhas.

Sempre sonhei com esse evento, tenho tudo planejado em minha


cabeça e sei exatamente o que quero para cada momento da ocasião.
Enquanto minhas colegas do colegial planejavam aniversários e festas
de formatura, a romântica incurável aqui só pensava no dia em que
encontraria o seu príncipe encantado e selaria a união para sempre.

—Tudo bem. Ainda precisamos falar sobre o bolo, o buffet e cor


das toalhas de mesa.

Um sorriso involuntário se abre em meus lábios, às vezes nem


parece que isso realmente está prestes a acontecer, sonhei tanto com
esse momento que chego a ficar extasiada só de pensar nisso.
—Estarei disponível a qualquer hora, vovó.

—Tudo bem, querida. Boa mudança. Eu amo você!

—Eu também amo vocês!

Desligo o celular e solto um longo suspiro. O meu conto de fadas


se tornando realidade.

—Sonhando acordada? — A voz que arrepia até a minha alma soa


logo atrás de mim.

Vito me abraça e pousa seu queixo em meu ombro, seu corpo


quente, juntamente com o seu cheiro másculo me deixa tomada por
tesão.

—Onde os outros estão? — Ainda estou de costas, mas posso


ouvir silêncio.

—Eles já foram, eu vim chamá-la, mas percebi que estava


ocupada e resolvi esperar.

—Que tal nos despedirmos da casa? — Sugiro com malícia na


voz.

Vito encosta o seu corpo ainda mais no meu e eu sinto sua


masculinidade dura bater em minha bunda. Ele está sempre preparado
para mim. Desde que fiquei grávida, meus hormônios sexuais andam
mais ativos do que nunca, o CEO está fazendo um esforço danado para
me manter sempre satisfeita.

—Estou de acordo.
Vito me vira de frente para ele com tanta rapidez que eu fico
levemente tonta. Mas não tenho tempo para pensar nisso, ele cola sua
boca a minha com força, paixão e intensidade. Suas mãos varrem o
meu corpo apertando nos lugares certos, enviando arrepios de prazer
para todo o meu ser.

—Vamos para o quarto.

Vito me arrasta para o cômodo sem deixar a minha boca por


nenhum momento. Nossas roupas ficam espalhadas pela casa durante o
percurso.

—Por favor, não se demore. — Choramingo.

Ele me deita de bruços na cama e empina o meu quadril. Sinto


seu membro pincelar a minha entrada. Estou tão pronta para ele,
completamente molhada com a ideia do que estamos prestes a fazer.

—Tão deliciosa! Molhadinha e prontinha para mim.

Vito estoca com força, entrando fundo e bruto. Gemidos saem


pelos meus lábios quase em gritos. Ele mete com agilidade e precisão,
meus músculos internos o recebem, abrindo-se e lhe dando passagem
para o meu interior.

—Céus! Você é perfeita!

Vito continua estocando, ele acerta um ponto específico que, em


poucos minutos, eu me desmancho no primeiro orgasmo. Mas ele não
para o CEO faminto come a minha vagina com vontade, degustando-se
com o seu apetite insaciável.
Meus músculos apertam o seu pênis, preparando o meu corpo
para outro orgasmo. A sensação boa me acolhe, me abraçando com
vontade, levando-me a um mundo de prazer. Dessa vez o CEO me
acompanha, enviando jatos de espermas, a comprovação do seu
deleite.

Exaustos e suados, deitamo-nos na cama tentando recuperar o


fôlego.

Eu nunca vou me cansar disso, eu nunca cansarei de Vito


Costello.

Vestimo-nos novamente. Observo ao redor enquanto Vito entrega


as chaves para o locador. Me despeço silenciosamente do apartamento
que me acolheu nos meus primeiros meses em Londres.

Agora uma nova vida começa, a vida de esposa e mãe.

—Um brinda a nova vida de vocês! — Liz levanta as taças para


brindar.

Chegamos à casa de Vito atrasados, mas para a sorte da minha


dignidade, ninguém perguntou o motivo da nossa demora.

Como excelentes amigos, eles desencaixotaram todas as coisas e


colocaram nos seus devidos lugares. Agora estamos na sala,
desfrutando de um pequeno banquete preparado pela senhora Cooper
em comemoração à nova residente desta casa.
—Um brinde ao amor! — Enrico comemora.

É claro que a minha taça está com suco, eu adoraria beber um


pouco, mas Vito seria capaz de ter uma síncope se visse isso.

Nossas taças tilintam finalizando o nosso brinde.

Sinto falta de Isaac conosco, gostaria que as coisas pudessem ser


diferentes com o garoto. Passamos meses convivendo semanalmente,
eu me acostumei com a sua presença, e, além do mais, eu gosto
bastante dele. Espero que um dia Isaac e Enrico possam se acertar
novamente.

Mark e Vito entram em uma conversa animada sobre alguma


coisa aleatória que eu não faço a mínima ideia, aproveito para me
aproximar de Liz a fazer a pergunta que vem me atormentando há dias.
Minha amiga e o seu noivo passaram a semana inteira separados, eles
tiveram uma briga feia em decorrência da mãe de Mark ser invasiva
em suas vidas conjugais. Liz cedeu quanto a localidade do
apartamento, contudo, isso não parecia ser o suficiente para a sogra, já
que ela resolveu querer escolher a mobília também.

—Como andam as coisas? — Disfarçadamente aponto com a


cabeça para o seu noivo.

Eles voltaram a se falar essa semana, após Mark vir correndo


atrás dela como um cachorrinho com o rabo entre as pernas.

Liz vira todo o líquido do seu copo antes de me responder.

—Estamos bem, ele finalmente colocou uma trava em sua mãe e


suas ideias absurdas. — Ela solta um suspiro cansado de todo esse
assunto. — Eu juro que estava disposta a romper o nosso noivado,
mesmo que o ame loucamente. Estava esgotada com tudo isso.

Acaricio o braço de Liz tentando lhe passar conforto. Eu vi como


ela ficou desmotivada nesses últimos dias.

—Mas que bom que agora deu tudo certo.

—Sim, vamos ver até quando.

—Mark ficou assustado com a sua recusa em vê-lo, tenho certeza


que ele não deixará a mãe se envolver na vida de vocês tão cedo.

—Espero que tenha razão.

A conversa é interrompida pela proximidade dos nossos


companheiros.

Após a comemoração, Liz e o noivo despedem-se e vão para as


suas próprias casas. Enrico também saiu, ele foi encontrar alguns
amigos para festejar, segundo ele, manter a cabeça longe de ex-
namorados.

Vito e eu nos deitamos na sala para assistir a um filme e


permanecemos assim por algumas horas, rodeados por três bolas de
pelos que, só o que veem fazendo é estragar toda a casa dos irmãos
Costello e fazer a senhora Cooper correr atrás deles, a fim de diminuir
o estrago que estão causando nos lugares.

Nossa família está completa.


—Você está linda, Agnes, deixe de besteira. — Fala Enrico pela
décima vez.

Estamos dentro da limusine em direção ao tão aguardado evento


de cinquenta anos do Banco Chevalier.

Minha tormenta é em relação a minha roupa e ao meu corpo.


Ainda não tenho barriga, mas a gestação vem alterando as minhas
curvas de forma drásticas. Meus sutiãs não servem mais e meu quadril
está ficando cada vez mais largo, em decorrência disso, não me sinto
bem em nada que eu visto. E hoje não é diferente.
Meu vestido é um longo vermelho de um ombro só, o tecido
brilhoso dá mais vivacidade a cor. Nos pés um salto nude que combina
com uma bolsa de mão. E quanto a maquiagem, leve e sutil.

Vito acaricia o dorso da minha mão com o polegar. O CEO me


elogia quase que diariamente, tentando aplacar a falta de confiança
que eu deposito em mim mesma. Estou tentando mudar isso e espero
que com o tempo eu consiga.

O veículo estaciona em frente a um prédio robusto e decorado. Se


eu pensava que Vito não economizada nos eventos da empresa, era
porque eu nunca havia vindo em um do Banco Chevalier.

Os olhos voltam-se para nós ao pisarmos no rol de entrada.


Muitas pessoas eu reconheço das inaugurações dos prédios da
Costello, outras eu nunca vi na vida. O salão está abarrotado, as vestes
finas e as joias caras deixam à vista para qualquer um a quantidade de
dígitos que essas pessoas têm e suas contas bancárias.

Enrico já havia comentado que, diferente dos eventos da Costello


que tem por finalidade conseguir compradores, a festa do Banco
Chevalier é outro patamar, já que o objetivo é fazer ainda mais
clientes, dessa forma, esbanjando luxo para conseguir a captação.

Vito, como CEO, é paparicado por todos. As pessoas me


cumprimentam por educação, pois ainda nãos sabem quem eu sou.
Apesar de eu usar a aliança de noivado, Vito e eu não espalhamos a
notícia, muito menos a da gestação. Estamos mantendo segredo por
causa de Isaac.
—Vito Costello! — Noah se aproxima e abraça Vito.

O banqueiro está muito bem-vestido com o seu terno todo preto e


cabelos tão escuros quanto a roupa, penteados para trás. Noah é um
homem muito atraente e que deve possuir a atenção de muitas
mulheres.

—Nada exagerado o seu evento, Noah, parabéns! — zomba o


CEO da Costello Imobiliária.

Noah leva o comentário de Vito na esportiva. Percebo que Enrico


está estranhamente quieto, encarando um lugar fixo. Sigo a direção do
seu olhar e vejo não o que, mas quem ele está encarando. Isaac está o
lado do pai e da mãe, o garoto que parecia sempre sorridente e
animado, agora não passa de um homem abatido. Parece que não é
somente Enrico que vem sofrendo pelo fim do relacionamento.

Toco no braço de Enrico.

—Você está bem?

—Não faz mais diferença. — Enrico dá de ombros como se


realmente não importasse.

—Tudo pronto para o grande show da noite? — Ouço a voz de


Vito.

Viro-me a tempo de ver um sorriso diabólico surgir nos lábios e


Noah Chevalier.

—Tudo pronto. — Confirma.


Sinto a minha testa franzir instantaneamente. Sei que eles estão
falando de algo que ambos planejaram, só não entendo por qual
motivo eu não gosto nada disso.

Vito Costello

Fico com os olhos atentos observando ao redor, já enxerguei o


detetive Green disfarçado por entre as pessoas. Na hora certa, eu e
Noah começaremos a agir.

Minha mão descansa distraidamente nas costas de Agnes, eu


precisava ir conversar com alguns possíveis futuros compradores, no
entanto, meu instinto de proteção fala mais alto e, em enquanto essa
situação não for resolvida, não sairei do seu lado.

Pego alguns olhares de George Jones em nossa direção, ele deve


estar se perguntando se Agnes e eu estamos juntos, afinal, ela e Isaac
romperam há poucas semanas.

—O que está acontecendo? — Agnes sussurra em meu ouvido.

Havia esquecido que Agnes é neta de Ruth e possui uma


porcentagem da astúcia de sua avó.

—Nada, querida, não se preocupe. — Olho carinhosamente para


a sua barriga ainda lisa. — Cuidado com o bebê.

Agnes bufa e revira os olhos.


Minha noiva ainda não percebeu, mas ela está cada dia mais
linda. A gravidez trouxe um brilho diferente. Ela também está mais
fogosa que o inferno e anda sempre irritada. Contudo, eu adoro apagar
o seu fogo, e observar os bicos que faz com a boca quando perde a
paciência. Me apaixonado a cada segundo mais.

—Você tem certeza? — Agnes semicerra os olhos.

Não tenho tempo de responder, o sutil aceno de cabeça que Noah


faz, demonstra estar na hora de entrarmos em ação.

Solto um suspiro exasperando, preparando-me para um dos piores


confrontos que eu já tive na vida.

Olho para Agnes e planto um beijo carinhoso em sua testa,


somente o seu toque é capaz de acalmar os meus tormentos. Em seus
olhos vejo súplica, pois ela sabe que há algo errado que eu não quero
falar. No entanto, não terei tempo para isso agora, as explicações irão
vir posteriormente.

—Eu já volto. — Acrescento mais um beijo em sua têmpora e


sigo o CEO do Banco Chevalier.

Me afasto rápido o suficiente para me esquivar das indagações da


escritora. Consigo chegar ao meu destino de desejo sem maiores
interferências. Toco na maçaneta e ela parece queimar na palma da
minha mão, ou só seja a raiva acumulada que eu sinto no fundo do
meu ser.

Entro na sala escura sem pestanejar, está na hora da verdade.


Agnes Bellini

Vito basicamente corre para longe de mim, ele entra em uma


porta no fundo do local, seguindo ninguém menos que Noah Chevalier.

Mas que droga que esse homem está escondendo de mim?

Agarro Enrico pelo colarinho da camisa e forço-o a parar de


encarar Isaac e prestar atenção no que está acontecendo.

—Aí, sua louca! Qual comida você quer? — Ignoro seu deboche.

Ultimamente eu tenho comido bastante e Enrico é o encarregado


de conseguir tudo o que eu tenho desejo de comer. Ele já não aguenta
mais, disse que se ficar até o final da gestação na minha companhia irá
enlouquecer, já o vi procurando alguns apartamentos, mas eu sei que é
tudo drama e que no final ele não vai ir embora.

—Enrico, há algo acontecendo.

Ele fica branco feito um papel, seus olhos ficam esbugalhados e


ele abre e fecha a boca consecutivamente como se estivesse tentando
formular alguma frase, mas as palavras teimam em não sair da sua
boca. Lentamente, Enrico abaixa os olhos focando toda a tua atenção
em minha barriga.

—Não é nada com o bebê. — Me antecipo antes que ele tenha um


infarto.
Ele solta um longo suspiro em alívio, até mesmo a cor volta para
a sua face.

—Então qual é o problema? — Parece irritado pelo susto.

—Vito está estranho, tem alguma coisa acontecendo, precisamos


ir atrás dele. — Começo a caminhar, mas Enrico me puxa de volta para
o lugar.

—Como você sabe? — indaga desconfiado

Começo a ficar nervosa com a nossa demora, só Deus sabe o que


está acontecendo atrás daquela porta.

—Eu simplesmente sei.

Enrico solta um suspiro exasperado.

—Tudo bem, mas antecipo que só estou fazendo isso porque não
quero pegar tersol.

Enrico é muito supersticioso, desde que descobriu a gravidez, ele


não nega nada que eu peço com medo do tal tersol. É claro que isso é
só mais uma baboseira, mas ele é enfático ao falar que não se
arriscará.

Arrasto o Costello pelo salão. Em breve, Vito e eu nos


casaremos, ele não tem mais esse direito de me esconder nada. Além
do mais, eu vi a sua aflição nos últimos dias, tenho certeza que há algo
errado, e está na hora de descobrir o que é.

Estamos quase chegando ao local quando vejo Thomaz e Teresa


entrando pela mesma porta que Vito passou há alguns minutos. Um
único pensamento soa em minha mente: eu vou matar, Vito Costello!

Vito Costello

A sala está silenciosa, Noah aguarda mais ao fundo com as mãos


nos bolsos. Eu mantenho uma máscara de calma que não faz parte do
meu ser, pois estou possesso de raiva.

Thomaz entra com o sorriso de sempre, seguido por ninguém


menos que Teresa. Ao perceber que nem eu, muito menos Noah
correspondemos ao sorriso, ele fica instantaneamente sério e engole
em seco, nervoso.

Não foi difícil para o banqueiro descobrir uma conta no exterior


em nome da minha ex-amante, muito menos chegar a quem fazia os
depósitos. Thomaz desde que entrou na Costello Imobiliária vem
fazendo o trabalho de agente duplo com a modelo.

No dia que Teresa invadiu a minha sala, eu desconfiei, ali


começou a sua queda. Ele era o único que a conhecia, além do mais,
foi justamente ele que solicitou a ajuda de Liz. Portanto, quando Noah
me chamou e deu os nomes, eu já esperava pela traição, mesmo ela
ainda sendo um baque.

Depois disso planejamos uma forma de chamar os dois sem


levantar suspeitas. Mandei uma mensagem hoje cedo para o meu
amigo traíra falando que estava com saudade de sexo de verdade,
perguntando se ele ainda mantinha o contato de Teresa para que
chamasse ela até essa festa. E cá estamos nós agora.

—O que está acontecendo? — indaga na maior cara de pau.

Não consigo falar nada, muito menos expressar alguma reação.


Temo que, se eu o fizer, vou esmurrar Thomaz até extravasar toda a
raiva.

—Nós é que perguntamos. — responde Noah.

Ele retira o mesmo envelope que me entregou alguns dias atrás e


joga na mesa disposta à nossa frente. Thomaz caminha lentamente até
o local e abre a pasta. Nos seus olhos consigo ver o medo. Ele sabe ou
sente que foi descoberto.

—Eu pensei que brincaríamos. — Teresa enrola uma mexa de


cabelo com o dedo.

Não posso nem ouvir a sua voz, maldito dia em que nossos
caminhos cruzaram e eu me envolvi com uma mulher dessa alcunha.

—O que é isso? — Thomaz está suando, consigo ver as gotículas


em sua testa. Além do mais, sua camisa está marcada nas axilas.
Transpiração é um dor maiores sinais de nervosismo. — Isso é
mentira...

Noah levanta as mãos, fazendo-o parar de despejar baboseiras em


nossos ouvidos.

—Não precisa falar nada. Antes de tudo, o dinheiro não está mais
na conta em nome de Teresa. — A desgraçada tem a destreza de fazer
uma cara de assustada, como se não estivesse entendendo nada. — Só
o chamamos aqui para que explicasse o que lhe levou a fazer isso.

Thomaz fica em silêncio por alguns segundos, seus olhos estão


vidrados de medo e apreensão. Sem esperar, ele joga a pasta na mulher
e começa a esbravejar.

—Eu fui seduzido por essa desgraçado, eu juro, não sou o


culpado. — Nunca pensei que o homem com o qual eu me criei seria
tão covarde ao ponto de colocar a culpa em uma mulher.

— O quê? Seu mentiroso, miserável! Você disse que estava


conseguindo o dinheiro para a nossa vida de luxo!

Thomaz mexe nos cabelos desgrenhados e começa a andar de um


lado para o outro. A cena icônica causa um rebuliço em meu estômago,
estou enjoado por um dia ter andado com esses dois.

—Deixa de ser uma cretina mentirosa! Você me forçou a isso —


ele olha para mim em súplica — acredita em mim, Vito, você sabe
como Teresa tende a ser convincente quando quer algo...

—CALA A BOCA! — Perco a paciência. — Assuma as suas


responsabilidades, seu desgraçado! Não há mais o que mentir, nós
temos provas o suficiente para colocá-lo atrás das grades.

A postura de Thomaz muda totalmente com as minhas palavras,


vejo o exato momento em que suas feições se alteram, tornando-se
gélidas. Ele se transforma em uma pessoa que eu nunca havia visto
antes. Lentamente, ele puxa a cadeira ao canto e senta-se a ela com
plenitude.

—Você sempre teve tudo, é fácil para você julgar os outros.

—Sempre tive tudo e nunca precisei alterar o meu caráter para


isso. — Retruco.

Ele abre um sorriso diabólico, digo até mesmo psicótico.

—Ora, Vito! Eu conheço você a tantos anos... não tente fingir


quem não é na minha frente. Sei até a forma como transa com as
mulheres.

Um soluço ao fundo da sala chama a atenção de todos, Agnes e


Enrico estão escondidos mais ao canto. Fecho os olhos e inspiro o ar
com força. Mandar esses dois ficar longe e falar com a porta tem o
mesmo efeito.

—Eu até ajudei você a reconquistar essa vadiazinha aí —


Thomaz aponta com a cabeça para Agnes.

Cerro os meus punhos com força, até os vincos ficarem brancos.


Preciso de todo o meu autocontrole para não voar em seu pescoço e
fazer justiça com as próprias mãos.

—Se falar novamente dela assim... — falo entredentes.

—Você vai fazer o quê? Eu já estou fodido mesmo... sei como


funcionam as leis do nosso País. — Fico em silêncio, assim como o
restante das pessoas presentes, ouvindo atentamente suas palavras
repulsivas. — Vito Costello, o homem que tem tudo. Você por um
acaso sabe o quão duro é ser o único bolsista de uma turma cheio de
riquinhos metidos a playboys? — Nunca vi Thomaz expressar tanto
rancor em uma só frase.

—Eu, sinceramente, sentiria orgulho. Todos entraram na escola


através de dinheiro, mas você foi o único que entrou por mérito.
Portanto, supõe-se que seja o mais inteligente que todo mundo. —
Rebato.

Thomaz revira os olhos e bufa. Ele está totalmente diferente do


homem que um dia eu chamei de amigo, levei para dentro da minha
casa, e contratei para trabalhar na minha empresa, depositando
confiança.

—Você não sabe do que está falando, Vito Costello — Ele cospe o
meu nome com nojo. — Mas devo admitir que você foi o único idiota
que se tornou o meu amigo, e com isso, encontrei a oportunidade de
ficar rico de uma vez por todas.

—Me roubando? — Minha voz sai mais áspera do que eu


esperava.

Thomaz solta uma risada maligna que faz com que Agnes e
Enrico se encolham. Espero do fundo do meu coração que isso não
seja ruim para o bebê, pois, caso positivo, eu mesmo matarei Thomaz
e, posteriormente, Agnes por não ter me dado ouvidos.

—Você é tão ingênuo. Bom... agora que as cartas estão sendo


postas na mesa, vamos por partes... começou com o desgraçado do seu
tio que não me pagou, depois...
Meu coração soca a minha caixa torácica com força total. Sei que
estou transpirando, pois, minhas mãos estão trêmulas e eu sinto frio e
calor ao mesmo tempo, como se estivesse completamente doente.

—Meu tio? — Minha voz sai em um sussurro, mas alta o


suficiente para que Thomaz possa escutar.

—Sim, seu tio, aquele vigarista. De alguma forma, ele viu em


mim uma oportunidade de alçar o seu objetivo, e eu vi nele uma forma
de conseguir dinheiro fácil. Porém, não imaginava que aquele patife
seria tão traiçoeiro.... mas eu fui idiota também, o homem que manda
matar o próprio irmão...

—O QUÊ? DO QUE VOCÊ ESTÁ FALANDO SEU COVARDE?


- Enrico grita, saindo de se estupor. Agnes tenta segurá-lo, mas ele
parece fora de si.

—Ah, tinha esquecido que o Costello mais idiota também está


presente... enfim, seu tiozinho tão querido era apaixonado pela mãe de
vocês, devo dizer obcecado. Em um belo dia, ele me chamou e
perguntou quanto eu queria para sabotar o carro dos seus pais. Eu dei
o meu preço, jogando muito alto. Como ele estava desesperado,
acabou aceitando o valor. Metade antes do serviço, metade após. No
entanto, era para somente o senhor Costello morrer. Robson convocou
o irmão para o jantar, sem estender o convite à esposa. Mas ela foi
com o marido, acabou morrendo no acidente também e fim. Robson
não pagou a metade do valor pelo serviço malfeito — Ele revira os
olhos em desdém.

Meus olhos ficam vermelhos de raiva, me jogo para frente, vou


acabar com a raça de Thomaz. Porém, Noah me segura, me impedindo
de fazer alguma besteira.

—Ei, ei, ei — ele coloca as mãos para cima em rendição, mas ri


debochadamente da situação — eu não terminei ainda, será que posso
continuar a história?

Ficamos todos em silêncio, nem mesmo Enrico é capaz de


proferir uma única palavra. Meu irmão parece estar em estado de
choque.

—Continuando... como eu havia dito, Robson não pagou a


metade do acordo e ainda me ameaçou, tive que me virar por esses
anos todos com o dinheiro sujo — seus olhos fixam em mim — e você
como um idiota achando que eu estava trabalhando — ele solta uma
gargalhada espalhafatosa — mas então, eu conheci a vadia da Tereza
— ele lança um olhar de repulsa para a modelo — ela conseguiu sugar
cada centavo meu. Fiquei sem dinheiro e desempregado. Precisava dar
um jeito de conseguir grana fácil novamente. Teresa e eu combinamos
de que um filho e uma pensão seriam úteis. Você foi até o bar, Teresa
colocou drogas na sua bebida, depois disso, você apagou. A vadia não
soube dosar direito, colocou drogas demais, você mal conseguia abrir
os olhos, quem dirá levantar o pau.

—Como você pode ser tão baixo? — Enrico está possesso de


raiva.

—Depois eu falo com você, queridinho. — Thomaz volta a olhar


para mim. — Por fim, marquei o almoço, falei da minha situação, e
você, como um ótimo amigo, ficou o tempo inteiro se lamentando e
chorando por ter transado com Teresa. Precisava dar um jeito de
manipular a situação a meu favor... contei a verdade, e não demorou
mais que isso para que ficasse tão feliz ao ponto de me oferecer o
emprego.

Meu estômago está embrulhado, estou prestes a vomitar com tudo


o que ouvi nos últimos minutos.

Nunca confiei em tio Robson, mas jamais imaginei que ele


chegaria ao ponto de matar o próprio irmão. Eu nem, se quer, sabia
que ele e mamãe possuíam alguma intimidade. Mas essas perguntas
serão respondidas, quero olhar no fundo dos seus olhos ao ouvir a
verdade.

—Seu desgraçado mentiroso! Você me disse que o dinheiro que


possuía foi uma herança de família. — Esbraveja Teresa.

—Eu poderia falar qualquer coisa. Uma mulher desesperada por


uma conta bancária cheia como você, acreditaria em qualquer palavra
desde que eu depositasse algumas libras em suas mãos. — Dá de
ombros.

Teresa avança no homem, ela se bota nele de tapas e socos.


Enrico, que está mais próximo do casal, segura-a pelos braços,
apartando a briga.

—Mentiroso! Pensei que me ajudaria a dar o golpe em Vito


porque sabia que eu estava apaixonada por ele, e não por interesse na
pensão.

Thomaz afasta uma poeira invisível do ombro do seu paletó. Ele


finge estar entediado com todo esse drama da sua companheira
golpista.

—Ah, querida, nos poupe. Você também estava interessada na


pensão que essa criança traria.

Teresa vira-se para mim com os olhos chorosos. Só de olhar para


a mulher que esquentou a minha cama por tanto tempo eu sinto ânsia
de vômito. Eu nunca amei Teresa, e nem senti nada parecido com isso,
mas eu a respeitava.

—Vito, querido, por favor... não credite nele... eu não sabia dos
seus pais.... eu amo você!

—Basta! — Levanto as mãos fazendo-a parar de falar. Olho para


Agnes que está mais branca que papel. — Levem-nos daqui! — Dito
isso, o detetive Green entra na sala com mais quatro policiais.

Thomaz fica chocado e Teresa começa a espernear, entrando em


desespero com a possibilidade de ser presa. Ela precisará comprovar
em processo que nunca soube dos crimes de Thomaz, caso contrário,
responderá juntamente com ele.

—Eu já enviei viaturas para a residência de Robson Costello. —


Avisa o detetive.

Maneio a cabeça em sinal positivo, não estou certo de que


conseguiria falar alguma coisa, mesmo se quisesse.

Me aproximo de Agnes e dou-lhe um abraço. Sua pele fria me


assusta, Agnes não parece bem. Além do mais, Enrico está jogado no
chão, com o olhar perdido e o rosto banhado em lágrimas.

Lanço um olhar a Noah que parece abismado com toda essa


situação. Montamos o circo para pegar Thomaz pelos desvios, e
saímos dele descobrindo coisas mais obscuras e sujas.

—Vou providenciar. — murmura Noah.

Ele entende a minha aflição. Quero um médico para atender


Agnes e Enrico.

Não me permito pensar muito no que eu ouvi nos últimos


minutos. Por ora, minha mulher e meu irmão precisão de mim.
Entro no presídio com o corpo tenso. Posterguei esse encontro
por uma semana, mas chegou a hora de enfrentar isso e tentar entender
a mente demoníaca do meu tio.

Enrico voltou para a terapia, e começou a tomar remédios


controlados. O que eu temia aconteceu, ele ficou muito abalado com
toda essa situação. Mas ter Agnes por perto vem lhe ajudando a
melhorar a cada dia. Além do mais, segundo o médico, quando o bebê
nascer renovará as energias de todos.

Agnes passou mal, ficou em repouso por essa semana, mas após
alguns exames, foi constatado que está tudo bem com os dois.

Eu me afastei de tudo por dois dias, precisava colocar os


pensamentos em ordem e alinhar tudo na minha vida. Já refiz inúmeras
vezes a mesma pergunta mentalmente “por quê?”, mas nunca obtive
resposta, pelo menos até agora.

—Ele já está na sala, senhor. — Avisa o agente penitenciário.

Fico estagnado ao ver o estado em que Robson Costello se


encontra. O homem que sempre foi forte, viril e charmoso, se tornou
nada menos que uma pessoa abatida e triste.

—Oi, sobrinho. — Sua voz sai rouca.

Minha garganta parece fechar ao ficar no mesmo ambiente que


ele. Toda a coragem que eu pensei que tinha se esvaiu em um piscar de
olhos.

Puxo a cadeira da sua frente e me sento mais distante possível do


monstro que eu chamei de tio por tanto tempo.

—Por quê? — Minha voz sai levemente embargada.

Robson solta um suspiro exasperado. Lentamente, ele pousa as


mãos algemadas em cima da mesa que nos separa.

—Eu amava a sua mãe... sempre amei, na verdade. Seu pai nunca
deve ter dito, mas eu a conheci primeiro. Éramos amigos, eu nutria um
forte sentimento por ela... então ela conheceu Richard, e não levou
mais do que alguns meses para ele tomá-la de mim.
Dou um soco na mesa descontrolado.

—Tomá-la de você? Algum dia vocês tiveram alguma coisa, seu


doente de merda?

—Acalme-se, rapaz, você querendo ou não, eu ainda sou o seu


tio. — Sua plenitude ao narrar a história me deixa raivoso. — E para a
sua resposta, não, nunca tivemos nada. E nem teria tempo, Richard
logo tratou de tomá-la para si.

—E você esperou quase trinta anos de casamento para matar o


irmão? — Sinto vontade de vomitar.

—Minha intenção não era matar a sua mãe. Acredite, não há um


único dia na vida que eu não me julgue por ter feito isso. — Levanto-
me abruptamente, começo a caminhar de um lado para o outro
passando as mãos nos cabelos desgrenhados. Isso é demais para eu
ouvir. — Já o seu pai... — continua Robson — ele sempre teve tudo, a
empresa, a vontade de trabalhar, a atenção dos nossos pais.... ele não
precisava da mulher. Quando eu fui passar o último natal com vocês,
eu os vi brigando pela primeira vez em anos. Ali, todas as minhas
esperanças retornaram com carga total. Eu precisava tirá-lo do
caminho, ou a perderia novamente... — ele faz silêncio por alguns
segundos, e uma lágrima solitária desce por seu olho direito — ela não
deveria ter ido, não era para ser assim. Ela era o grande amor da minha
vida. Nunca consegui encontrar outra, nunca consegui ter filhos ou
construir uma família. Sempre foi ela, e sempre será.

Tapo a boca abismado. Olho-o agora e vejo o quão doente ele é.


Me culpo por nunca ter notado nada diferente, por nunca ter
questionado a morte estranha dos meus pais. Mas, acidentes
acontecem toda hora, a probabilidade de uma morte proposital era tão
baixa...

Como meu pai nunca percebeu a obsessão do irmão pela sua


esposa? Robson é o verdadeiro significado de psicopatia.

Pouso as duas mãos na mesa lentamente, e olho no fundo dos


seus olhos, iguais aos meus, de Enrico e do irmão que ele matou a
sangue frio. Não deixarei o bolo em minha garganta me impedir de
falar as últimas coisas para o homem que destruiu a nossa vida sem
pestanejar. Apesar de sentir dor, culpa, mágoa, em breve eu serei pai, e
preciso seguir em frente pelo bem da família que estou construindo.
Sentimentos como esses costumam ser corrosivos, o melhor é me
livrar deles o quanto antes.

—Eu tenho nojo de você — falo entredentes — nunca imaginei


que fosse um ser humano tão vazio e medíocre. — Robson está prestes
a falar algo, mas eu levanto as mãos, impedindo-o. — Espero que
goste da estádia que terá aqui dentro pelo resto da sua vida. — Faço
uma pausa antes de continuar. — Sabe, eu tenho aprendido um pouco
mais sobre religião desde que comecei a namorar Agnes... eu não sinto
raiva de você, eu sinto é pena. Porque agora que eu sei o lugar que lhe
aguarda após a morte, eu posso garantir que ele não é nada agradável,
e é lá que você começará a repensar em todas as atitudes podres que
teve em terra. Ouso falar que sentirá até mesmo falta da prisão.

—Me desculpe, Vito... — Parece ficar desesperado.

—Não, não se desculpe a mim. Peça desculpas ao irmão pelo


qual você teve ciúme e inveja a vida toda. Peça desculpas ao homem
que era sangue do seu sangue e que você matou sem pensar duas
vezes. Peça desculpas a mulher que você diz que tanto amava, mas não
pensou em sua felicidade ao planejar a morte do marido. E, por último,
peça desculpas a você mesmo por sem quem é. — Me afasto da mesa,
aproximando-me da porta. — Adeus, Robson Costello.

—Espere! Vito...

Não ouço o resto, saio da sala como um furacão, tentando manter


o máximo de distância entre nós dois.

Eu não menti quando disse que o inferno o aguardava, pois


acredito que esse seja o destino de pessoas deploráveis como Robson e
Thomaz. Visitei o homem que chamei de tio por tantos anos, somente
para desvendar a verdade. Já Thomaz eu pretendo nunca mais ver ou
ouvir falar.

Mas antes de colocar um ponto final nisso e seguir em frente, eu


ainda preciso fazer uma última coisa.

Agnes Bellini

Meu rosto, de Vito, Enrico, Robson e Thomaz estão estampados


em todos os noticiários da localidade. Eu apareço como a noiva do
CEO Vito Costello. Além dessa cobertura, eles falam diariamente
sobre a morte trágica de Richard e Eva Costello.
Não podemos mais sair, além de casa e empresa. Os jornalistas
insistem em conseguir uma entrevista, então fazem acampamento na
porta da empresa e na porta da nossa casa.

Meus avós estão preocupados com toda essa repercussão, eu


tenho mantido contado diariamente, a fim de acalmá-los. Em breve
tudo isso passará.

—Vito me deu ordens expressas para que você comesse tudo. —


Fala Liz.

Estamos no refeitório em nosso horário de almoço. Enrico está


conosco, desde que soube da relação do tio com a morte dos pais, ele
não tem estado bem, e como não estamos podendo sair de casa. Eu
arrasto Enrico para a empresa comigo todos os dias.

As pessoas me lançam olhares curiosos, preciso ficar cabisbaixa,


tentando enganar o meu cérebro de que eu não sou o centro das
atenções.

—Eu estou comendo. — Reviro os olhos.

Desde que tudo isso aconteceu, Vito tem conseguido ser ainda
mais superprotetor.

Estamos evitando olhar os noticiários ou as redes sociais. Sei que


Teresa foi presa, mas sua estádia não se estenderá por muito mais
tempo, visto que foi comprovado que ela não sabia dos planos de
Thomaz e Robson. Já os dois foram condenados à prisão perpétua.
Todos os bens de Robson foram destinados aos seus únicos herdeiros,
Vito e Enrico. Mas eles não aceitaram o dinheiro sujo do tio, doaram
absolutamente tudo, dividindo entre várias entidades de caridade.

—É... oi — Duas jovens se aproximam.

—Oi. — Respondo educadamente.

Elas lançam olhares uma para a outra. Vejo a mais baixinha


cutucar as costelas da mais alta, instigando-a a falar alguma coisa.

—Você é Agnes Bellini? — Como se elas não soubessem a


resposta.

—Sim.

—A mesma que escreveu Eu Sou Sua?

Solto um suspiro exasperado. É claro que a imprensa descobriu


tudo isso e colocou nas notícias a sorte da: “Jovem obcecada por Vito
Costello, que escreveu um romance erótico ao seu respeito, finalmente
consegue fisgar o coração do CEO”.

—Sim. — Confirmo novamente.

O que eu tanto temia acabou acontecendo. Vovó e vovô


descobriram o meu romance pornográfico e com toda a repercussão, o
livro voltou para o top 100 da Amazon. E com isso, as editoras
retornaram a insistir na publicação dele em físico. Mas, para o meu
deleite, vovô e vovó não me julgaram, pelo contrário, ficaram
orgulhosos de ter uma neta escritora best-seller.

—Uau! Isso é o máximo, é verdade que a história é sobre senhor


Costello?
Eu venho recebendo tanto essa pergunta, as pessoas até foram
investigar o meu passado, achando que Serena e eu éramos a mesma
pessoa. Eu vim trabalhando nessa resposta, em forma de trabalho, nos
últimos dias.

—Não, mas vocês só irão descobrir toda a verdade com o meu


próximo lançamento.

Elas se entreolham e começam a bater palminhas animadas. É


sempre essa mesma reação que eu recebo ao falar sobre o segundo
livro.

—Aí meu Deus! Espero que não demore a sair. — Fala a mais
baixa.

—Espero que você continue escrevendo, eu amo a forma como


consegue transmitir através de palavras o que os personagens estão
sentindo. — Acrescenta a outra.

Eu fiquei muitos meses negando a minha verdadeira profissão.


Eu escrevo romances eróticos, eu gosto de fazer isso. Adoro levar
mulheres para as viagens que eu crio em minha mente. Fazendo-as
viver através da leitura, amores improváveis e irreais.

Neguei esse meu lado por muito tempo, por vergonha e medo de
retaliações, mas hoje eu sei quem eu sou e o que eu amo fazer.

—Não se preocupem, vocês terão muitos romances eróticos meus


ainda para ler. — Sorrio com a minha afirmação.

—Estamos mais do que ansiosas. — Elas saem falando uma com


a outra em uma animação palpável.

—Uau! — Exclama Liz. — Então agora nós podemos lhe


nominar: escritora?

Olho para os meus amigos e sinto as minhas bochechas corar, um


velho hábito que não muda.

—Sim!

—Eu tenho uma amiga que escreve pornográfica, e muito bem


por sinal. Vou tirar algumas dicas dos livros — Ela pisca para mim.

—E eu quero romances gays, obrigado, de nada! — retruca


Enrico.

Eu entreguei o livro do acordo para Vito e, para a minha


surpresa, o CEO leu todinho o arquivo em poucas horas. Ele ficou
viciado na história, além de amar e aprovar. Depois disso, ele entrou
em contato com uma equipe editorial, que cuidou do mínimos
detalhes: revisão, diagramação e capa. Portanto, mais cedo do que as
pessoas imaginam, o meu novo livro estará disponível. E eu não
poderia estar mais feliz, satisfeita e realizada.

Nossas vidas estão, atualmente, tumultuosas, mas eu sei que o


tempo conseguirá resolver tudo isso. Por enquanto, nos resta esperar e
seguir adiante firmes e fortes.
— Eu não tenho certeza... — Enrico parece temeroso.

— Sim, você tem. Vamos! — insiste Agnes.

Estamos no cemitério, depois de muita insistência, Agnes


conseguiu nos convencer a vir visitar o túmulo dos nossos pais. Desde
que eles morreram nós ficamos postergando esse encontro. Eu pago
alguns empregados para virem aqui limpar e trocar as flores, mas
nunca o fiz pessoalmente.

Vir ao cemitério significa encarar de verdade a morte, e eu não


me sentia preparado para esse momento, assim como o meu irmão.

Solto um longo suspiro. Agnes tem razão, está na hora de


enfrentar isso.

Caminhamos de braços dados pela grama verde. Vejo a pedra


com os seus nomes escritos. Uma sensação diferente me toma,
reconheço-a como saudade. Desde que eles se foram, eu não me
permiti pensar muito no que isso significava. Me dediquei
exclusivamente a Enrico e a empresa, tentando fazer com que não
sobrasse tempo o suficiente para pensar neles.

Agnes se agacha e retira umas folhas que cobrem seus nomes


esculpidos na pedra. Ela coloca o buquê de rosas amarelas, que eram
as favoritas de mamãe, no lugar, dando vida e cor à lápide.

—Olá, senhor e senhora Costello. Sou Agnes, noiva de Vito e


mãe do neto de vocês. — Ela beija os dedos e, posteriormente, toca à
lápide.

Vê-la fazer isso significa muito para mim, mesmo ela não tendo
conhecido os meus pais, Agnes se importa com eles. É isso que me faz
amá-la a cada dia mais.

Uma fungada chama a minha atenção, olho para o lado e vejo


Enrico desmanchando-se em lágrimas. Aperto o ombro do meu irmão,
tentando lhe passar algum conforto.

Agnes puxa a sua mão para o chão, ele se agacha e limpa os


olhos antes de colocar seu buquê ao lado do da escritora.
Preciso virar o rosto para não chorar, pois toda a dor da morte
deles volta com carga total. É estranho, eu pensei que já tivesse
superado essa perda, mas eu percebo agora que talvez eu nunca
consiga.

—Obrigado por terem sido pais exemplares. — Enrico suga uma


lufada de ar antes de continuar. — Obrigado por terem me dado Vito
como irmão. Quero que saibam que, apesar de tudo, somos felizes. E
que eu sou gay, e sou feliz assim.

—Eles estão muito orgulhosos de você, Enrico. — Agnes escora


a cabeça no ombro do amigo.

Eles ficam em silêncio por alguns segundos.

Me aproximo deles e coloco o último buquê de flor no chão.


Passo o dedo pelos nomes lapidados, sentindo a textura da pedra.

—Eu sinto falta de vocês. — Falar isso em tom de voz alto


parece ter tirado um peso enorme dos meus ombros. — A empresa está
em ascensão, eu estou noivo e serei pai em alguns meses. Além do
mais, sou o irmão mais orgulhoso do mundo. Gostaria que estivessem
aqui para que pudessem assistir a tudo isso, mas sei que, de onde quer
que estejam, estão orgulhosos dos filhos que nos tornamos. Eu amo
vocês eternamente.

Limpo algumas lágrimas que insistem em cair dos meus olhos.

Um vento estranho e gelado bagunça os nossos cabelos e faz


nossas peles nuas se arrepiarem. Levanto a cabeça e vejo algumas
borboletas azuis voando em nossa volta.
Agnes começa a rir e a chorar ao mesmo tempo, ela estende o
indicador e uma borboleta pousa em seu dedo.

—Azul significa momentos de paz e harmonia. — Ela me olha


com os olhos marejados. — Eles estão bem! — Acrescenta com
convicção.

Acaricio os cabelos da minha noiva e estendo ainda mais o braço


para abraçar Enrico. Eu não havia percebido até esse momento, mas
precisava desse sinal para, enfim, seguir em frente em paz.

Enrico parece ficar mais aliviado também, seu semblante, que


esteve nos últimos dias triste e cansado, se transforma em sereno.

—Vamos embora? — indago.

—Espera! — Agnes se levanta e retira um envelope da bolsa. Ela


olha para Enrico. — Eu sei que você tinha planejado algo grandioso,
mas eu acredito que este seja o melhor momento para isso.

—Agnes, o quê? — Levanto abruptamente. Sinto meu coração


palpitar rapidamente.

Ela estende o envelope a mim.

—Aqui está o resultado que revela o sexo do bebê.

Pontos pretos embaçam a minha visão. É muitas emoções para


um único dia, acho que terei uma síncope.

—Eu não acredito! Eu fiquei as últimas semanas vendo a droga


da decoração toda do chá revelação! — Enrico fica furioso.
—Ei, calma! Ainda poderemos fazer o chá, é só fingir que não
sabemos de nada. — Ela revira os olhos.

—E qual a graça disso? Você é uma estraga prazeres, Agnes


Bellini. Mas agora, abra logo esse envelope! — Enrico não consegue
controlar a sua ansiedade.

Minhas mãos estão trêmulas e frias. Começo a rasgar o papel


pardo tentando conter a tremedeira, mas é quase impossível.

Prendo a respiração por alguns segundos, e, criando coragem,


olho para o papel, mas ele se encontra vazio, viro a folha e encontro
um nome escrito com caneta preta:

Richard Dominic Costello.

—O que é isso? — Engulo em seco.

—Aí. Meu. Deus! É um menino! Um menino! — Enrico começa


a gritar e a pular de felicidade no meio do cemitério.

—Pelo amor de Deus, Enrico. Respeite os mortos! — Ralha


Agnes aos risos. Ela foca sua atenção em mim e se aproxima
lentamente. — Você gostou? — Parece receosa em perguntar isso.

Sei que estou chorando por causa do meu pescoço molhado.


Continuo na mesma posição, com o papel em mãos, perplexo demais
para esboçar qualquer reação.

Um menino.

Richard Dominic Costello.


Uma homenagem aos nossos pais.

Ela ainda pergunta se eu gostei? Eu amei!

Abraço Agnes com força e giro o seu corpo no ar, absorto em


pura felicidade. Beijo seu pescoço, braços e desço até a sua barriga
ainda lisa.

Meu garoto.

—Eu não poderia estar mais feliz, senhorita Bellini. — Planto


mais beijos em seu ventre.

Ficamos abraçados com Enrico ainda pulando de alegria por mais


alguns segundos.

Ainda não consigo conter toda a minha felicidade, mas preciso


me acostumar a ela, pois ela me acompanhará, a partir de agora, para o
resto da minha vida.

Agnes Bellini

Estamos no shopping olhando algumas roupinhas de bebê. Fiquei


com desejo de comer um sorvete do McDonald's, com isso, unimos o
útil ao agradável.

—Espero que o próximo bebê seja uma menina. — Fala Enrico


segurando um vestido floral. — Olha essas roupas, são tão lindinhas.
—Deus me ajude. Esse nem nasceu ainda e você já está pensando
no segundo.

—Vamos ter muito mais que apenas dois filhos, querida! —


Pontua Vito e planta um beijo em minha boca.

Céus!

As coisas mudam mesmo. Antes de nos conhecermos, Vito não


pensava em filhos, posteriormente, pensou em ter somente dois, e
agora, ele já quer um número ainda maior. Como entender esse CEO?

—Lindos! — Ouço palmas atrás de mim.

Enrico fica tenso, viro-me lentamente a tempo de ver George


Jones nos encarar com nojo estampado nos olhos, logo atrás um Isaac
cabisbaixo e a senhora Jones demonstrando desaprovação.

—Nossa... que desprazer. — murmura Enrico.

George ignora o Costello mais jovem. Ele olha para a mão de


Vito à minha cintura e para as roupas que estamos olhando.

—Devo me preocupar e pedir um DNA ou você tem certeza que


deu o golpe no mais rico? — cospe as palavras.

Sinto uma tontura. Gostaria de poder retrucar, mas não me


encontro em condições para isso.

—Se falar assim de Agnes novamente, George, serei obrigado a


tomar medidas cabíveis. — ameaça Vito.
—Deixa de ser mal-agradecido, estou tentando livrá-lo dessa
sanguessuga, coisa que não consegui fazer a tempo com o meu filho,
não antes dela quebrar o seu coração!

—Basta! — brada Enrico.

Fico boquiaberta e assustada com o seu tom de voz. Nunca o vi


perder o controle de tal forma. A única vez foi por um motivo
totalmente plausível, quando ele descobriu que o tio fora o
responsável pela morte dos pais.

—Quem você pensa que é para falar assim comigo? — George


Jones perde a compostura.

—Pai, por favor, vamos embora! — Isaac tenta puxar o homem


sem sucesso.

Enrico encara Isaac, um misto de sentimentos passa pelos seus


olhos, principalmente mágoa.

—Agnes fez isso por nós... não deixarei que ela seja tratada de
tal forma pelo simples fato de ter sido uma boa amiga e tentado me
ajudar. — Enrico fala isso olhando diretamente para Isaac.

—Por favor... — A voz do filho do senhor Jones sai em um


sussurro.

—Mas o que você está falando? — George fica claramente


confuso.

A mãe de Isaac esbugalha os olhos e espalma uma mão no


coração, ela parece perceber a realidade da situação. Uma das
conversas que eu tive com Enrico há meses retorna para a minha
m e n t e : “dizem que mãe sempre sabe”. Lentamente, a mulher se
aproxima do marido e pousa uma mão em seu ombro.

—Querido, vamos embora.

—Não se meta nisso! — vocifera o CEO. — E você, Vito


Costello, eu esperava mais! Envolver-se com uma ninfeta dessas...

Vito avança no homem, mas Isaac interrompe a tempo de desviar


o soco que ele desferiu com o intuito de acertar o rosto de George
Jones.

Coloco as mãos na boca completamente assustada com o


comportamento incontido do meu noivo. Uma onda de náuseas me
toma e, sem esperar, coloco para fora do estômago, bem aos pés de
George Jones, os últimos três potes de sorvete que tomei do
McDonald's.

—Sua... — O homem começa a gritar, mas é interrompido por


Vito.

—Não me faça perder o controle novamente!

Olho para os sapatos caríssimos, agora manchados do conteúdo


que eu tinha no estômago minutos antes e fico corada. É vergonhoso
vomitar no meio do shopping e em um homem relativamente
importante.

—Você está bem? — Vito se aproxima de mim e tira algumas


mexas que estão coladas em meu rosto suado.

Maneio a cabeça em sinal positivo, não me sinto forte o


suficiente para conseguir proferir qualquer frase coerente. Preciso me
desculpar, mas não encontro forças nem mesmo para isso.

—Que nojo! — George aponta um dedo para o meu rosto e de


Vito. — Vocês dois se merecem e, mesmo rezando para que essa
criança seja sua, eu quero o teste de paternidade.

Céus! Vito vai matar esse homem se ele continuar destilando


palavras tão desprezíveis ao nosso respeito. Além do mais, eu não vou
submeter o meu bebê a um teste de DNA, não sem precisão.

—Não será preciso... — Manifesta-se Enrico.

—Sem meias palavras, garoto!

—Por favor... — Isaac está quase chorando.

A senhora Jones abraça o filho e fecha os olhos, preparando-se


para o que está por vir.

—Porque o seu filho nunca esteve com Agnes, esse tempo todo
ele esteve comigo.

George muda de cor. Ele pisca os olhos consecutivamente como


se estivesse absorvendo o que acabou de ser revelado.

—Seu mentiroso! — Sai de seu estupor.

Enrico fecha os olhos e respira fundo.


—Não estou mentindo. — Ele olha para Isaac. — Como eu
gostaria que isso fosse diferente, que você fosse mais corajoso ou me
amasse mais, amasse ao ponto de enfrentar o seu pai... — Sua atenção
volta para o CEO que está incrivelmente calado. — Eu pedi para
Agnes fingir o namoro com Isaac, ele estava sempre na minha casa e
para que você não desconfiasse... foi a única saída.

George se vira para o filho, ele parece vermelho de raiva.

—Isso é verdade?

Isaac fica silente, ele começa a chorar e a menear a cabeça


negativamente insistentemente.

—Eu tenho provas. — Enrico retira o aparelho celular do bolso e


mostra uma foto dos dois juntos aos beijos para o CEO.

George Jones perde totalmente o controle, ele levanta a mão para


desferir um tapa no filho, que se encolhe com o gesto, mas a esposa
coloca-se na frente ele a acerta com força.

Um burburinho se espalha pelo shopping, as pessoas ficam


revoltadas com a atitude covarde do homem. Ele parece perceber que a
atenção está sobre nós, e que, além se estarmos sendo observados,
estamos sendo filmados por alguns telespectadores.

—Eu... — Ele fica nervoso com o impacto que isso dará em sua
carreira.

Corro para perto da mulher e toco em seu rosto vermelho. Ela


parece furiosa e chateada ao mesmo tempo.
—Você está bem? — Ela não me responde. Encara o marido com
ódio, assim como eu faço. — Seu machista, desgraçado! — grito
descontrolada.

A mulher aponta um dedo trêmulo para o marido. Apesar das


lágrimas que descem pelos seus olhos, o seu olhar não vacila por
nenhum momento.

— Você nunca mais tocará em mim ou no meu filho!

— Esse viadinho não é mais nada para mim.

Sinto que vomitarei novamente, mas Vito me puxa e me acolhe


em seus braços, me dando conforto.

—Escuta aqui, seu escroto! — Enrico se posiciona com a avidez


de um rei na frente do CEO. Ele não parece mais um garoto, mas um
homem formado e forte, defendendo suas causas. — Você acha que
nós pedimos para nascer assim? Principalmente em um mundo tão
doente de preconceito e desafeto. E é por pessoas como você que, nós
homossexuais somos mortos e agredidos diariamente, simplesmente
pelo fato de sermos quem somos. — Ele lança um olhar de reprovação
a Isaac. — Você tinha razão, não podemos ficar juntos. Eu não posso
me relacionar com alguém que não se aceita e que não defende a
mesma causa social que eu. No fundo, você é parecido com o pai.

—Você não sabe o que está falando! — retruca Isaac.

Enrico solta uma risada sem humor.

—Não sei? Esse homem sem escrúpulos acabou de agredir a sua


mãe. Quantas vezes você presenciou isso? Se abster de denunciar um
caso de violência contra a mulher é se equiparar ao agressor. Alguma
vez você tentou convencer a sua mãe a sair desse casamento abusivo?
Ou tentou defendê-la? — Ele levanta as mãos. — Não precisa
responder, eu sei a resposta. — Enrico suga uma grande lufada de ar.
— A você, senhora Jones, saia desse casamento que só vem lhe
matando aos poucos. A vida é curta para passar ela na submissão. E
quanto a você, Isaac Jones, o dia em que precisar de um ombro amigo,
ou uma mão acolhedora para entender como a causa LGBTQIA+ é
importante, saiba que eu estarei presente para orientá-lo no que for
preciso. E, por fim, George Jones, espero que apodreça na prisão.

Palmas ressoam por todo o estabelecimento. Muitas mulheres


estão unidas observando e lançando olhares ao CEO da Jones Finanças
& Seguros, que deixaria qualquer um envergonhado.

—Machista! Homofóbico! — As vozes ecoam por todos os lados,


misturando-se umas com as outras.

George começa a girar em trezentos e sessenta, ficando


apavorado com a repercussão da discussão. Inesperadamente, ele
começa a correr, afastando algumas pessoas que estão no seu caminho
abruptamente, mas não consegue chegar à porta, pois é impedido pelos
seguranças do shopping.

—Com licença, eu irei até a delegacia assinar a minha libertação


e a do meu filho. — fala a senhora Jones se afastando.

As mulheres começam a aplaudir a sua atitude corajosa. Eu


começo a chorar como um bebê, emocionada por finalmente ver uma
mulher forte, seguindo a sua liberdade.

Grávidas e hormônios são uma combinação explosiva.

—Desculpa. — Isaac cicia para Enrico antes de seguir a mãe.

Vito coloca uma mão no ombro do irmão e abre um sorriso


iluminado.

—Estou muito orgulhoso de você.

—Nós estamos! — acrescento.

Dou um abraço apertado em Enrico, tentando transmitir o quanto


me sinto orgulhosa pela sua coragem. Se não fosse por ele, talvez
Isaac e a senhora Jones fossem obrigados a se submeter a isso pelo
resto de suas vidas, sempre achando que um dia George mudaria,
quando na verdade, ele jamais o fará.

Algumas pessoas se aproximam para falar com o irmão Costello,


mas não presto atenção nas conversas.

Me pergunto o que George Jones não fez entre quatro paredes


para que Isaac tivesse tanto medo do pai. Fico feliz que eles
finalmente irão se libertar dessa prisão que eles denominavam como
família.

Algumas semanas depois


Acaricio o meu ventre levemente protuberante, enquanto observo
a montagem dos móveis do quartinho do bebê. Vito precisou ir
resolver algumas coisas na empresa, enquanto eu resolvi ficar e
analisar de perto cada mínimo detalhe. Passei as últimas semanas
tomada em ansiedade para esse momento, ainda mais quando percebo
que o nosso encontro está cada vez mais próximo.

Enrico está na casa de alguns amigos, combinando uma viagem


que eles pretendem fazer para a virada do ano, com Brasil como
destino.

Depois do escândalo no shopping, os vídeos foram parar em


várias redes sociais, não demorou muito para viralizar pelo mundo
inteiro. Enricou foi chamado para ir em programas famosos, deu
entrevistas para revistas e ganhou milhões de seguidores no Instagram
e no Twitter, ele até mesmo criou um canal no YouTube. Pessoas de
todas as partes do mundo que sofrem algum tipo de preconceito em
casa, ou que possuem medo de assumir a sexualidade entram em
contato com ele, pedindo conselhos. Desta forma, Enrico se tornou
uma figura importante e encontrou nisso o que realmente ama fazer.
Seu próximo passo será abrir uma instituição que acolhe pessoas que
sofrem preconceito da família e são expulsas de casa.

Desbloqueio o meu celular e analiso a minha galeria de fotos.


Ultimamente eu amo fazer isso, somente para verificar o quanto tudo
está dando certo. Ver os sorrisos em cada fotografia.

Observo as fotos do casamento de Liz e do agora marido que


ocorreu há alguns dias. Sua sogra ainda incomoda, mas, por ora, é
solicitando um neto, coisa que Liz não está nem um pouco tentada a
ceder, pelo menos não por enquanto.

Um delicioso cheiro familiar impregna minhas narinas. Braços


fortes me abraçam por trás. Vito descansa a cabeça na curva do meu
pescoço.

—Analisando essas fotos novamente? — Consigo sentir o seu


sorriso bobo e seu revirar de olhos.

—É inevitável. — Dou de ombros.

Fotos que vovó me envia diariamente começam a aparecer. Vovó


e vovô estão ocupadíssimos organizando as coisas para o meu
casamento e de Vito, que ocorrerá em algumas semanas. Ouso falar
que dona Ruth até mesmo descobriu um hobby para isso. E eu aqui,
ainda sem acreditar que o meu momento de princesa está prestes a
chegar, que eu realizarei esse sonho de infância.

A risada rouca de Vito próxima ao meu pescoço, faz cosquinha na


minha pele sensível.

—Você voltou cedo. — Bloqueio o celular e o coloco de volta no


bolso.

Vito solta um suspiro cansado.

—O problema foi resolvido.

O problema que ele fala significa Ethan ter sido desligado da


empresa. Após o meu romance com o CEO vir a público, ele não
poupou elogios a meu respeito. Os mais singelos foram “vagabunda”,
“interesseira”, “forçada” e “sem graça”. Após isso, Liz descobriu que
Ethan é um homem obcecado. Suas ex-namoradas o temem até hoje.
Descobrir sobre a minha virgindade na época só corroborou para que
ele se interessasse ainda mais por mim.

—E deixe-me adivinhar, você contribuiu para que ele nunca mais


consiga um emprego no Reino Unido?

Sinto o corpo de Vito ficar rígido. O CEO achava o engenheiro


muito promissor e talentoso. Infelizmente, Ethan pagará pelo seu
caráter duvidoso. E ainda precisará ser grato a mim, por ter impedido
que Vito lhe esmagasse com as próprias mãos. Apesar dos comentários
terem me machucado, acredito que todos merecem uma segunda
chance, espero que Ethan dê valor a sua e mude o seu jeito retrógrado
de pensar.

—Não perto o suficiente de você. — murmura.

—É melhor assim. — concordo.

Chega de gente louca na nossa volta. Em breve nosso bebê


nascerá e eu quero me sentir segura o suficiente com ele para nunca
temer nem a nossa própria sombra e, para o meu alívio, Thomaz e
Robson estão mofando na prisão, e ficarão assim pelo resto de suas
vidas.

Já Teresa saiu da cadeia, não havia provas o suficiente de sua


participação no crime. Pouco tempo depois se apaixonou por um
fotógrafo e se casou com o homem. A última notícia que tivemos da
modelo foi a de que ela foi embora com ele e ninguém mais sabe o seu
paradeiro desde então.

—Não há mais nada que você precisa se preocupar agora. — Vito


beija o meu pescoço.

—Eu sei, eu sei! — Acaricio os seus cabelos sedosos.

Os gatos correm pelos nossos pés, procurando a origem do


barulho. Curiosos natos, os felinos ficam um pouco assustados com
toda essa confusão. Me afasto de Vito, somente o suficiente para me
agachar e acariciar seus pelos macios, tentando acalmá-los de alguma
maneira.

—Eles não parecem contentes com essa confusão. — Vito passa a


mão na cabeça de Atena.

A gata que sempre fora arisca com todos, parece ter caído no
charme de Vito assim como eu.

—Estou ansiosa para vê-los com o bebê.

Os gatos sempre foram os meus companheiros, mas depois que eu


descobri a gravidez, comecei a ser ainda mais perseguida. Digamos
que eu tenha telespectadores até para tomar banho. Quando estou
deitada, eles se aproximam da minha barriga, como se estivesse
tentando protegê-la de alguma forma. Creio que eles e o bebê serão
bons amigos.

—Devo confessar que compartilho da mesma ansiedade que


você. — Vito abre um sorriso maravilhoso que me faz suspirar.
—Eu amo você! — Reitero o meu amor diariamente.

—Eu amo você! — Ele puxa a minha mão e beija o dorso dela.

Olho para o anel que pertencia a mamãe e que cabe perfeitamente


em meu dedo. Puxo a mão de volta e planto um beijo na pedra
reluzente. Eu sei que, seja onde ela estiver, está sempre olhando por
mim e mais feliz do que nunca pelo título de ser avó.

—Agora falta pouco, futura senhora Costello. — Profere Vito ao


ver a minha emoção em analisar o anel de noivado.

Em pensar que tudo começou por causa de um livro...

Encontrei na escrita a forma de transformar os meus sonhos em


histórias. E agora eu viverei a minha própria através delas.
Alguns meses depois...

—Você está linda, querida! — Vovô planta um beijo em minha


testa.

Olho para a igreja repleta por rosas vermelhas, assim como eu


imaginei a vida inteira. Meu vestido branco com bordados, ombro-a-
ombro, rente ao corpo demarca a minha barriga de cinco meses de
gestação.

O número de pessoas é um pouco maior do que eu imaginava.


Vovó não aguentou de felicidade e quis convidar a vizinhança inteira
para comemorar o grande dia da neta.

Meu nervosismo é palpável. As palmas das minhas mãos estão


úmidas pelo suor. Eu sonhei tanto com esse dia, mas nunca pensei em
quanta atenção seria voltada para mim.

—Vamos? — Minha voz sai trêmula, revelando a minha aflição.

—Vamos. — Vovô me encara e vejo um vinco aparecer em sua


testa. — Está tudo bem? Está duvidosa...

—O quê? Não! — interrompo sua linha de pensamento. — Eu


só... é a atenção. — revelo.

Vovô relaxa, ele abre um sorriso acolhedor para mim e beija a


minha mão.

—Algumas pessoas nascem para brilhar, meu amor. E você é uma


delas. Portanto, Agnes Bellini, pare de se preocupar tanto com o que
os outros irão pensar. Esse é o seu momento, viva ele, guardando em
memória, para que possa sempre recordar, cada detalhe, cada
sensação.

—Obrigada! Eu amo vocês! — Passo os dedos levemente pelos


cílios molhados, tentando impedir as lágrimas.

—Nós também amamos você, mas agora chegou a hora de lhe


entregar para a sua família. Para o lar que você e Vito estão
construindo. — Ele lança um olhar para o meu ventre e solta um
suspiro saudoso.
Ele e vovó não falaram nada, mas sei que uma parte da emoção é
pela ausência do filho. Agora que sou mãe, consigo entender suas
dores e saudades mais do que nunca.

Disperso esses pensamentos. John Bellini tem razão, hoje é meu


grande dia.

Vovô entrelaça o seu braço ao meu. A música começa a entoar e


as portas são abertas revelando o extenso tapete vermelho que teremos
que percorrer.

Olho para todas as pessoas que possuem suas atenções fixas em


mim com sorrisos nos rostos, meu estômago embrulha e minha
garganta parece fechar. Mas assim que meus olhos se fixam em Vito,
em como ele está lindo de terno preto e gravata vermelha na mesma
tonalidade das flores, choroso e com um sorriso radiante, toda a
aflição passa e parece que existe somente nós dois no mundo.

O aroma de rosas impermeia o ambiente. Vovó não economizou


nas flores, pois ela sabe o quanto elas me agradam.

Vejo alguns rostos conhecidos, pessoas que fizeram parte da


minha infância ou foram essenciais em algum momento da minha vida.

Dando um passo de cada vez, eu me aproximo mais do homem da


minha vida e do meu final feliz. O bebê se remexe na barriga, como se
também quisesse participar desse momento, deixando-o ainda mais
marcante e inesquecível.

Vovó chora copiosamente ao lado de Vito, juntamente com Liz e


Enrico. Eles parecem ainda mais emocionados que eu. Não posso
deixar de sorrir para as pessoas que eu tenho tanta estima e que não
posso me imaginar sem.

Meus olhos se perdem novamente nos verdes límpidos dos de


Vito e eu lembro, nesses poucos segundos até o altar, de toda a nossa
trajetória para chegar até aqui.

Quando vovô descansa a minha mão sobre o braço do meu futuro


marido, todo o meu nervosismo passa, como fumaça ao vento, eu sinto
calmaria, gratidão e amor.

—Cuide bem dela. — Vovô lhe lança um olhar quase ameaçador.

—Com a minha vida! — A voz de Vito soa embargada.

Vovô aprova a sua resposta, afastando-se e dando passagem para


a cerimônia acontecer.

Ajoelhamo-nos em frente ao padre. Ele começa a proferir as


palavras de praxe dos casamentos, mas eu não escuto nada, ainda
estou nadando em sentimentos bons transmitidos pelo meu noivo.
Sinto no fundo do meu ímpeto o quanto amo esse homem, e sei o
quanto seremos felizes.

Quando o padre faz a pergunta que todos sonham em um dia


responder. Vito fala com convicção.

—Sim!

Chega a minha vez, sinto as lágrimas molhando as minhas


bochechas. Eu sonhei tanto, tanto com isso. Não preciso de mais do
que alguns milésimos para proferir a minha resposta também.

—Sim!

Deslizamos as alianças pelos nossos dedos, selando, desta forma,


nosso matrimônio e deixando evidente através do círculo de ouro a
prova do nosso amor.

—Eu vôs declaro, marido e mulher. — fala o padre, alto o


suficiente para que a sua voz reverbere por toda a casa sagrada.

Vito beija os meus lábios com amor e devoção. Nossas línguas


entrelaçadas em uma sintonia única, como se estivessem
comunicando-se entre elas. Quando nos afastamos, percebo que
borboletas sobrevoam nossas cabeças, como se estivessem
comemorando o nosso casamento. Elas pousam nas flores, parecendo
festejar conosco, enquanto os convidados batem palmas
animadamente.

O cheiro das flores foi convidativo o suficiente para que


pudéssemos ter suas presenças em nosso grande dia. Não poderia
imaginar nada mais perfeito que isso.

Vito segura a minha mão, caminhamos com elas entrelaçadas


pelo tapete vermelho em direção à rua.

—Vamos para casa, senhora Costello. — dito isso, meu marido


planta um beijo no dorso da minha mão.

— Para casa!
Não preciso transparecer em palavras todas as emoções que eu
estou sentindo, o sorriso estampado em meu rosto faz isso por si só.
Um ano depois...

Termino de autografar mais um dos tantos livros que ainda tenho


pela frente. Ao lançar Como Entrar Na Vida de Um CEO, narrando a
minha história e de Vito, eu consegui o feito de entrar para o new York
times com o meu livro best-seller.

Mulheres do mundo todo encontraram no meu clichê da vida real,


uma esperança de encontrar o amor verdadeiro.

—Obrigada, eu amei o seu livro! — A leitora agradece e sai da


filha com o exemplar autografado em mãos.

Enrico se aproxima com Richard, o bebê de cabelos loiros e


olhos verdes, de pouco mais de um ano de idade, tem o apoio do tio
babão para absolutamente tudo o que quiser fazer.

Quando Richard me vê, ele se joga em meus braços. É inevitável


não reparar em sua boca lambuzada de bala. Automaticamente lanço
um olhar de acusação para Enrico. Ele levanta as mãos para cima em
sinal de rendição.

—Você sabe como ele consegue ser insistente quando quer


alguma coisa. — fala em sua defesa.

Mas a verdade é que, Richard consegue tudo o que quiser tanto


de Enrico, Vito, Liz e meus avós. O bebê sabe como convencer as
pessoas certas a cederem as suas manhas.

Planto um beijo em sua cabeça, sentido seus cabelos macios com


cheiro de xampu de camomila e entrego-o de volta para o tio.

—Limpe a boca dele para esconder o crime, pelo menos.

Enrico se afasta com uma expressão de desculpas no rosto, mas


assim que se vira, saí prometendo mais balas ao menino que nos
trouxe tanta alegria.

Autografo mais uns livros e tiro algumas fotos com leitoras que
fazem questão. Ainda não me acostumei com essa atenção toda, mas
aos poucos, vou me sentindo mais confortável.
Sei que meu marido se aproxima pelo cheiro familiar do seu
perfume. Ele pousa uma mão em meu ombro e abre o sorriso que eu
sou completamente apaixonada e que deixa a minha calcinha
encharcada.

—Venha se alimentar! Você está aí há horas. — Cicia.

Eu amo o cuidado que ele tem comigo, a preocupação em me ver


sempre bem. Meu marido é um homem exemplar.

—Estou indo, querido. — Coloco a minha mão sobre a sua e


acaricio a sua palma quente. — Você viu nosso filho? Não podemos
tirar o olho de Enrico, ele está dando muitos doces para ele.

O peito de Vito se movimenta, revelando que ele está dando uma


risada silenciosa. Muito provavelmente o CEO sabe o que os garotos
estão fazendo e não os deletará.

—Vito... — Lanço um olhar ameaçador em sua direção.

—Não se preocupe, está tudo sob controle.

A última vez que ele falou isso, Enrico e Richard quase


colocaram a nossa casa abaixo.

Desde que Richard nasceu, os irmãos Costello mudaram


drasticamente. Vito é um marido perfeito, e um pai melhor ainda. Já
Enrico, ele ficou um tempo depressivo pela descoberta do tio
psicopata e pelo seu término com Isaac. Porém, desde o nascimento do
sobrinho, ele se transformou em uma pessoa animada e realizada.
George Jones foi preso no dia do escândalo do shopping. Noah
Chevalier, a pedido de Vito, cobrou as dívidas do homem, ele não teve
como pagar e sua empresa fechou por falência. Isaac e a senhora Jones
vivem bem com o patrimônio que sobrou do casal.

Já vi Isaac e Enrico conversando algumas vezes, mas eles nunca


mais se relacionaram depois de tudo o que aconteceu. Diz Enrico que
agora eles são apenas amigos.

—Aí está você! — Vovó e vovô caminham em minha direção com


alegria.

Duas vezes por mês nós vamos visitá-los, para que eles possam
acompanhar o crescimento do bisneto. Contudo, quando estão com
muita saudade, pedem para que um motorista vá buscá-los.

Levanto-me para cumprimentá-los em um abraço caloroso.

—Estamos tão orgulhosos de você! — Vovó beija a minha face


com carinho.

Fiquei tanto tempo temerosa do que eles achariam da neta estar


escrevendo livros eróticos, que não imaginava o quanto sentiriam
orgulho de mim, pelo meu talento como escritora. Isso só me fez amá-
los ainda mais.

—Obrigada vovó! — Devolvo o carinho.

—Onde está Richard? — Vovô parece ansioso para ver o bisneto.

—Em algum lugar com Enrico. — responde Vito.


—Irei procurá-los.

Eles se afastam, perscrutando todo o local em busca do bisneto


tão amado. Quando descobriram o sexo e o nome que o bebê
carregaria, eles choraram copiosamente, emocionados por ter outra
parte do filho tão amado, há muito tempo perdido.

Vito me abraça, olhando orgulhoso para todos os livros dispostos


na mesa de autógrafo. Meu marido é meu fã número um, além de ser o
patrocinador e meu empresário.

Ele me confessou há alguns meses que, quando Enrico contou


para ele sobre o livro que fez com que nos conhecêssemos, ele, apesar
de sentir raiva, começou a ler o e-book, a fim de esclarecer os motivos
por tanto sucesso. E, apesar de me odiar, ele não conseguiu largar o
livro enquanto não o terminou, e isso o fez ficar ainda mais com raiva.

—Onde está Liz? — Disperso os pensamentos.

Minha amiga me disse que chegaria aqui cedo para me


acompanhar por toda a seção de autógrafos, contudo, até agora não
apareceu.

—Ela precisou passar na empresa para resolver algumas coisas.

Fico com a consciência pesada. Eu não trabalho mais na empresa


em tempo integral, pelo menos não desde o nascimento de Richard.
Vou algumas vezes na semana para ajudar a secretária quando algum
evento se aproxima. Porém, por conta do meu lançamento, não pude
comparecer essa semana, deixando Liz sobrecarregada de serviço.
—Você precisa contratar outra assistente.

Vito solta um suspiro exasperado e aperta a minha cintura com


delicadeza.

—Não quero ninguém substituindo o seu lugar.

O CEO está um tanto resistente quanto a essa nova contratação.


Apesar da escrita ocupar boa parte dos meus dias, eu adoro ir para a
Costello Imobiliária. Em breve colocaremos Richard na escola para
melhorar o seu desenvolvimento e eu pretendo retornar ao trabalho.

—Tudo bem. — Planto um beijo em sua face.

Vovô e vovó aparecem com Enrico e Richard, o garotinho loiro ri


de alguma bobice que o bisavô fala. Quando o bebê percebe a presença
dos pais, se joga no colo de Vito e lhe dá um abraço saudoso. Richard
é uma criança extremamente carinhosa.

Vito se derrete ainda mais pelo filho todas as vezes em que ele
faz isso. Observo os dois homens mais importantes da minha vida com
o coração repleto de gratidão por tudo o que conquistei até agora.

—Com licença que a assistente pessoal da escritora famosa


chegou! — Liz afasta algumas pessoas e grita aos quatro ventos.

Ela não tem jeito! Adora se aparecer por ser minha amiga, exalta
isso em nossas fotos nas suas redes sociais e fica toda boba todas às
vezes que alguma leitora minha começa a lhe seguir no Instagram.

Liz se detém nos cumprimentos, pois assim que Richard escuta a


sua voz, levanta os bracinhos desesperados querendo se jogar em seu
colo.

—O bebezinho da dinda está se divertindo? — Liz beija a face


rosada da criança consecutivamente.

Ele e Mark são padrinho de batismo de Richard, assim como


Enrico. Eles até mesmo entraram em guerra dentro da igreja sobre
quem seguraria a criança durante o ato.

—Você demorou. — falo

Ela revira os olhos e planta mais beijos no bebê.

— Precisava fazer algumas coisas antes de vir, mas agora ficarei


até o final.

Após o evento de lançamento, daremos um jantar em nossa casa


em comemoração ao sucesso do livro. Ainda falta um convidado para a
nossa lista fechar, Noah Chevalier.

O CEO do Banco Chevalier já era um grande amigo de Vito,


mas após todos os escândalos envolvendo pessoas próximas a nós,
Noah foi uma figura fundamental, além de ter sido um ótimo ombro
amigo, desde então, ele faz parte do nosso círculo íntimo de amizades.

O restante da tarde de autógrafos e fotos transcorre


tranquilamente. Richard tendo tantas babás disponíveis me deixou
mais tranquila e mais focada em dar atenção às minhas leitoras. No
final do evento fomos todos para a nossa residência.
A senhora Cooper preparou o jantar detalhadamente. A mesa
decorada com livros e frases, repleta de comidas e bebidas variadas
me surpreendeu.

Noah se juntou a nós algum tempo depois, o CEO pediu


desculpas pelo atraso e disse que precisava resolver um assunto
pessoal, apesar de não ter dito sobre o que se tratava, ele parecia
claramente nervoso.

—Como você se sente? — Liz se aproxima de mim.

Olho para o meu filho que brinca no chão, para os meus avós que
sorriem de tudo o que a criança faz, para Enrico que baba observando
a cena e para o meu marido que parece ter uma conversa profunda com
o amigo banqueiro.

—Eu não poderia estar mais realizada! — falo a verdade.

Agora, rodeada por amigos verdadeiros e pela família que eu


tanto amo, este momento é definido pelo mais puro amor.

Em pensar que se não fosse por causa de um livro, eu jamais


descobriria o que é a felicidade plena, eu jamais saberia o que é ter a
própria família, o que é ser esposa e mãe.

Eu só sinto gratidão por tudo o que construí.

Vito Costello
Noah está claramente preocupado com alguma coisa. O CEO do
Banco Chevalier não fica assim por qualquer motivo, portanto, seja lá
o que estiver atormentando os seus pensamentos, é um assunto sério.

—Qual é o problema? — Resolvo perguntar, ele está me


deixando nervoso com todo esse mistério.

É inevitável não temer pela vida da minha família, meus olhos


procuram a minha esposa e o meu filho, a fim de assegurar ao meu
interior de que eles estão bem. Por mais que eu tente não deixar o
passado me atormentar, saber que meu tio teve coragem de matar o
próprio irmão, deixará essa sombra para sempre em mim.

Richard brinca acompanhado de Ruth, John e Enrico. O bebê


consegue captar a atenção de todos. Agnes conversa com Liz, ela está
com um sorriso bobo no rosto. Parece emocionada com a cena do
filho.

Eu amo tanto a minha família a ponto de não conseguir expressar


em palavras os meus sentimentos. Amei ainda mais a experiência de
me tornar pai. Se Agnes permitir, gostaria de ter mais cinco filhos com
ela, ou quantos forem necessários para deixar a nossa casa cada dia
mais repleta de cores e felicidade.

O suspiro exasperado de Noah chama a minha atenção para ele. O


CEO passa as mãos pelos cabelos desgrenhados, as evidentes olheiras
marcadas demonstram o quanto não anda dormindo.

—Eu estou apavorado... — Noah parece perdido.

Coloco minha mão em seu ombro e dou um leve aperto, tentando


lhe passar algum conforto com o gesto.

Estou prestes a tentar falar alguma coisa que acalente o seu


coração, quando ele exprime o que vem lhe atormentando.

—Eu vou ser pai!

Fico em silêncio mortal, completamente sem fala.

Noah nunca se relacionou seriamente com mulheres, não mais do


que uma noite de sexo. Ele é um pouco mais velho que eu, e adora a
vida noturna que leva. Vive para o prazer e diversão. Sua afirmação
me deixou totalmente sem palavras, afinal, de todas as pessoas do
mundo, ele seria a última que eu esperava ouvir isso.

Noah Chevalier será pai e eu não perco por esperar para


acompanhar o restante dessa história.
Nota da autora

Espero que tenham gostado de minha história, Agnes e Vitor são


personagens maravilhosos, mas eu não poderia esquecer de Enrico,
para mim foi um desafio narrar algo que foge do meu lugar de fala,
contudo, vi a necessidade de ressaltar quão corrosivo pode ser o
preconceito na vida de alguém.

Aprendi que a literatura é transgressora, ela tem como principal


função desenvolver o pensamento crítico do indivíduo, e eu, como
Escritora não poderia deixar de levantar essa bandeira.

A narrativa não é de Enrico, mas ele é um personagem genuíno, e eu


não poderia deixar de dar voz aos seus sentimentos. Tive uma grande
ajuda para tal feito.

Nunca deixe que o preconceito roube sua felicidade, seja você, liberte-
se.

Obrigada por me ler, e até à próxima aventura.

Bianca Pohndorf
Agradecimentos

Cada livro é uma nova conquista. Muitas pessoas me


acompanham nessa trajetória de tornar a escrita a minha profissão,
desta forma, tenho mais pessoas a agradecer do que poderia colocar
nestas poucas páginas. Minha eterna gratidão à:

Mari Vieira, assessora editorial excelente. Mari, como posso


começar a lhe agradecer? Você é brilhante! Me sinto honrada em ser
sua assessorada.

Eu não poderia escrever os livros sem meus amigos e minha


família.

Wendell, serei eternamente grata a você por aceitar dividir a sua


história comigo e ser uma inspiração para que eu pudesse dar vida ao
Enrico.

Jade e Andressa, obrigada por serem minhas leitoras vorazes.

A minha mãe, ao meu pai e as minhas irmãs, obrigada por me


apoiarem e por acreditarem em mim.

As minhas tias, tanto maternas quanto paternas, vocês são


extraordinárias.

Kevinn, obrigada por me amparar e por passar horas e mais horas


ouvindo as minhas histórias repetidamente e mesmo assim ficando ao
meu lado.

Henry, obrigada por me fazer enxergar o mundo com outros


olhos. Você é a luz que ilumina os meus dias.

Gratidão infinita a minha família (de nascimento e casamento).

Aos meus maravilhosos leitores, sempre me sentirei grata por


todos e cada um de vocês.

Gratidão!

[1]
Gíria literária para nomear Instagram.

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