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Comunicação para

o Planejamento
Profissional
Organizado por Universidade Luterana do Brasil

Comunicação para
o Planejamento
Profissional

Almir Mentz
Cléa Silvia Biasi Krás
Débora Teresinha Mutter da Silva Mota
Edgar Roberto Kirchof
Ítalo Nunes Ogliari
Jane Sirlei Kuck Konrad
Lisane Félix Veloso

Universidade Luterana do Brasil – ULBRA


Canoas, RS
2018
Conselho Editorial EAD
Ana Patricia Barbosa
Andréa de Azevedo Eick
Astomiro Romais
Claudiane Furtado
Italo Ogliari
Juliane Maria Puhl Gomes
Lourdes da Silva Gil
Luiz Carlos Specht Filho
Maria Cleidia Klein Oliveira
Rafael da Silva Valada

Obra organizada pela Universidade Luterana do Brasil.


Informamos que é de inteira responsabilidade dos autores
a emissão de conceitos.
Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida
por qualquer meio ou forma sem prévia autorização da
ULBRA.
A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na Lei
nº 9.610/98 e punido pelo Artigo 184 do Código Penal.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

C728 Comunicação para o Planejamento Profissional [online] / Almir


Mentz [et al.]; organizado por] Universidade Luterana do Brasil (ULBRA). –
Canoas: Ed. ULBRA, 2018.
255 p. : il.

Versão online disponibilizada em 2018.

1. Linguística. I. Universidade Luterana do Brasil. II.


Título.

CDU 81’4

Setor Biblioteca EAD ULBRA Canoas

ISBN: 978-85-5639-275-6
Dados técnicos do livro
Diagramação: Marcelo Ferreira
Revisão: Igor Campos Dutra
Apresentação

O dinamismo de nosso tempo exige, com vistas às nossas aspirações e


metas, não apenas que nos aprimoremos constantemente, mas que,
cada vez mais, saibamos nos adaptar. Em uma sociedade liquefeita, que
desconstrói e reconstrói suas verdades, seus valores e suas estruturas de
modo cada vez mais rápido, destaca-se aquele que, com maleabilidade,
sabe se ajustar, enquadrar-se às inúmeras situações que o mercado de-
manda e, na adversidade, criar. Dentro desse rol de competências, em uma
era de informação veloz e extremamente multimidiática, está a capacidade
comunicativa de um indivíduo.

Pensar as inúmeras questões que envolvem o universo da comunicação


e todo o jogo que o atual contexto sociocomunicacional nos coloca é in-
dispensável para seu planejamento profissional. Justamente por isso, apre-
sentamos, como parte integrante do grupo de disciplinas que compõem o
Eixo de Projeto de Vida/Formação, esta unidade de ensino. Iniciaremos,
nos Capítulos 1 e 2, com algumas questões debatidas, hoje, pela socio-
linguística, que nos fazem pensar, ou repensar, determinados fenômenos
da linguagem e que nos possibilitam ressignificar, assim, alguns conceitos
importantes para a compreensão da diversidade em que estamos inseridos.

No terceiro capítulo, entraremos, mais propriamente, na essência desta


nossa disciplina: as relações entre a comunicação e a carreira profissio-
nal, abordando tópicos que serão, posteriormente, desenvolvidos de forma
mais precisa nos capítulos seguintes, como os novos espaços e os novos
desafios da comunicação por meio das mídias contemporâneas e do uni-
verso das redes sociais, a leitura e interpretação de textos verbais e não
verbais, a argumentação e a produção escrita, a oralidade e tudo aquilo
que a envolve, a capacidade de se relacionar por meio do diálogo, a cons-
Apresentação  v

trução da narrativa pessoal para a composição do currículo e, por fim, o


discurso acadêmico em suas mais variadas modalidades.

Desejamos a todos uma ótima trajetória e que este material possa co-
laborar para que os objetivos de cada um que por ele passe, a partir de
um conhecimento construído pela verdadeira relação entre teoria e prática,
sejam atingidos.

Prof. Dr. Ítalo Ogliari

Coordenador do Curso de Letras


Sumário

1 Língua, linguagem e as Diferentes Situações


Sociocomunicativas................................................................1
2 Diferenças culturais, questões étnico-raciais e variações
linguísticas..........................................................................25
3 Comunicação e carreira profissional: perspectivas para um
novo contexto......................................................................47
4 Comunicação e mídias contemporâneas: novos espaços;
novos desafios.....................................................................66
5 Leitura, compreensão e interpretação: aprimorando a
capacidade receptiva...........................................................96
6 Texto verbal e não verbal: ampliando a ideia e a
capacidade de leitura........................................................118
7 Argumentação e produção escrita......................................146
8 O poder da fala: oralidade, protagonismo e relações
interpessoais.....................................................................175
9 Narrativa pessoal e construção do currículo.......................194
10 Discurso e Redação Acadêmica..........................................216
Jane Sirlei Kuck Konrad1

Capítulo 1

Língua, Linguagem e
as Diferentes Situações
Sociocomunicativas 1

“A primeira necessidade? Comunicar-se”

(Madre Teresa)

1  Especialista em Docência Universitária. Professora na Universidade Luterana do


Brasil.
2    Comunicação para o Planejamento Profissional

Introdução

Não há interação humana, não há trabalho e ou mesmo vida


em sociedade sem que haja comunicação. E não há comuni-
cação sem que haja linguagem. É por meio dessa articulação
que nos relacionamos não apenas com as pessoas, mas com o
mundo, e a ele nos integramos. Utilizamo-nos da linguagem,
em suas mais diversas formas e nos mais diferentes contextos
e situações, o tempo todo. Por isso, antes de qualquer debate
que venha permear a ideia central desta disciplina, precisamos
explorar dois importantes conceitos: o de língua e o de lingua-
gem, objetivo deste nosso primeiro capítulo. Veremos que a
linguagem é um fenômeno social, desenvolvida pela neces-
sidade humana de conviver em grupos, assim como aborda-
remos seu dinamismo, percebendo como ela se modifica e se
adapta às necessidades do próprio homem. E discutiremos,
por fim, o conceito de língua, juntamente ao de fala, explo-
rando seu caráter social e coletivo e compreendendo a língua
como uma das formas de linguagem. Vamos começar?

1 Linguagem

O ser humano é um ser social e político por natureza. Certa-


mente, você já ouviu essa afirmação. Quem a defendeu foi o
filósofo grego Aristóteles, que viveu entre os anos 384 a.C. a
322 a.C. Em sua famosa obra A Política, ele mostrou que o
homem vive em grupo não por desejar, mas por necessidade.
Para Aristóteles, nenhum homem pode bastar-se a si mesmo.
Capítulo 1    Língua, linguagem e as Diferentes Situações...    3

“Aquele que não precisa dos outros homens, ou não consegue


conviver com eles, ou é um deus, ou uma besta” (2002, p. 38).

Como podemos notar, essa necessidade é tão antiga quan-


to o próprio ser humano. Desde os primórdios, a humanidade
se organizou socialmente, e uma das necessidades primordiais
da vida em sociedade é a comunicação. O homem desenvol-
veu a linguagem porque precisava se comunicar, e assim ele
faz até hoje, e a cada dia de forma mais complexa e com no-
vas ferramentas.

Claro, como bem sabemos, nos


primórdios da humanidade, ele
não usava uma linguagem aprimo-
rada, como temos hoje, mas algo
extremamente rudimentar, a exem-
plo das pinturas rupestres.

Por mais rudimentar que fosse


essa comunicação, ela servia para as necessidades básicas:
estabelecer um elo entre eles e o mundo a seu redor. Inú-
meras descobertas de pinturas primitivas, em cavernas, como
mencionamos anteriormente, mostram cenas comuns do dia
a dia da vida naquele tempo e desse modo de comunicação
humana.

Ao longo desse desenvolvimento, o ser humano foi criando


diversos recursos e alternativas que o auxiliassem nesse pro-
cesso. Certamente, logo aprendeu, também, que poderia usar
gestos e produzir, a partir da articulação do aparelho fonador,
sons diversos e de diferentes intensidades; assim, desenvolveu
a fala e, mais tarde, a escrita. Passou a usar todos esses ins-
4    Comunicação para o Planejamento Profissional

trumentos para definir coisas, para dar significados e ser com-


preendido pelos seus semelhantes. Somos, todos nós, seres
da linguagem. Organizamos nosso mundo e nos organizamos
nele por meio dela. Nossos conceitos, nossa ciência, nossa
história e nossas verdades nada mais são do que elaboração
discursiva, narrativas, como bem nos ensinou Michel Foucault.

Somos seres narrativos. É a partir da linguagem que pro-


duzimos e transmitimos nosso conhecimento, seja por meio do
texto falado ou escrito, ou mesmo por mapas, dos números ou
das mais variadas formas de gráficos, fórmulas e diagramas
(que discutiremos nos capítulos que seguem). Tudo é lingua-
gem, e linguagem é interação. Sem a linguagem, essa intera-
ção, que está no fundamento da vida em sociedade, seja no
espaço privado da família ou no espaço público do trabalho,
não aconteceria.

Desde que um homem foi reconhecido por outro como


um ser sensível, pensante e semelhante a si próprio, o
desejo e a necessidade de comunicar-lhe seus sentimen-
tos e pensamentos fizeram-nos buscar meios para isso.
(ROUSSEAU, 2003 p. 52)

Isso tudo não significa que os outros seres não possuam


linguagem. Os animais também possuem sua linguagem. Mas
a linguagem humana se difere da linguagem dos animais.
Os animais agem de forma muito mais instintiva do que nós,
que agimos muito mais pela influência de uma determinada
cultura. O homem, diferente dos outros seres, é um animal
cultural. A linguagem dos animais é herdada geneticamente.
É limitada.
Capítulo 1    Língua, linguagem e as Diferentes Situações...    5

Animais falantes só existem na ficção. Até mesmo a de-


nominada “linguagem das abelhas” não deve ser enten-
dida propriamente como linguagem, já que é restrita a
apenas dois aspectos: abrigo e comida. Ao contrário da
linguagem humana, “a linguagem das abelhas” não é
um produto cultural, não é aprendida, e sim transmitida
hereditariamente, fazendo parte de sua natureza biológi-
ca. Não se descobriu nada até hoje que comprove que
as abelhas possam expandir o conjunto de sinais utili-
zados em sua “linguagem”, ao contrário do que pode
ocorrer na linguagem humana. (TERRA, 2008, p. 12)

Se observarmos um cachorro, por exemplo, ele repetirá a


mesma linguagem em qualquer lugar e contexto. Por outro
lado, se a linguagem animal é limitada, a linguagem humana,
por sua vez, é elaborada e complexa. Em outras palavras, o
ser humano tem a capacidade de expressar ideias, pensamen-
tos e sentimentos.

A bem ver, o homo sapiens não surgiu, no mais remoto


tempo, por ter assumido uma posição ereta, combinan-
do o poder criador da mente com a liberdade de servir-se
dos braços e da mão, mas também por ter-se tornado se-
nhor da arte de comunicar-se com os demais indivíduos,
substituindo o grito animalesco pela palavra aliciadora.
(REALE, 2002, p. 1)

Os meios usados para expressar a linguagem humana, as-


sim, são diversificados, mudando de contexto para contexto e
se transformando constantemente, o que ocorre por meio de
sinais, símbolos, sons, gestos, regras convencionais, escrita,
6    Comunicação para o Planejamento Profissional

mímica, arte etc. Nos exemplos a seguir, você identificará al-


guns modos de linguagem que fazem parte do nosso cotidiano.

Resumindo, a linguagem, assim, nasce a partir de uma ne-


cessidade primordial do homem: a de viver em sociedade e
de interagir não apenas com o próprio homem, mas com o
mundo que o cerca. É, como disseram Heidegger e Gada-
mer, o solo de uma cultura, aquilo que possibilita o homem
a participar e a estar integrado, antropologicamente, a esse
“acervo de tudo aquilo que a espécie humana veio acumu-
lando ao longo de sua experiência histórica” (REALE, 2002,
p. 1). A sociabilidade e o saber humano estão, na linguagem,
fundamentados.
Capítulo 1    Língua, linguagem e as Diferentes Situações...    7

1.2 Tipos de linguagem


Quando debatemos sobre linguagem, não podemos nos es-
quecer de que ela existe e se manifesta de diferentes maneiras,
dependendo dos sinais que utiliza e do modo ou contexto.
Assim, podemos dividir a linguagem da seguinte forma:

1.2.1 Linguagem verbal


A linguagem verbal é aquela que usa a palavra, escrita ou
falada, para comunicação. É amplamente utilizada em dife-
rentes situações: jornais, revistas, diálogos, sites, filmes, repor-
tagens, livros, cartas etc. Observe os exemplos a seguir: todos
eles são exemplos de linguagem verbal.

Congresso Internacional do Medo


Provisoriamente
não cantaremos o
amor, que se refu-
giou mais abaixo
dos subterrâneos.
Cantaremos o
medo, que este-
riliza os abraços,
não cantaremos o
ódio, porque este
não existe, existe
apenas o medo,
nosso pai e nosso companheiro, o medo grande dos sertões,
dos mares, dos desertos, o medo dos soldados, o medo das
8    Comunicação para o Planejamento Profissional

mães, o medo das igrejas, cantaremos o medo dos ditadores,


o medo dos democratas, cantaremos o medo da morte e o
medo de depois da morte. Depois morreremos de medo e
sobre nossos túmulos nascerão flores amarelas e medrosas.

Carlos Drumond de Andrade

Esses são alguns exemplos do uso de linguagem verbal,


nos quais podemos identificar níveis diferentes de complexi-
dade. Elaborar um poema ou um texto de jornal exige uma
articulação e compreensão diferentes do que simplesmente
escrever palavras em uma placa.

1.2.2 Linguagem não verbal


A linguagem não verbal, que você estudará de modo mais
preciso no Capítulo 6, utiliza outros métodos de comunicação.
Podem ser imagens, gestos, sons, símbolos, expressão facial,
mímica, sinais de trânsito, linguagem corporal, gestos etc. Re-
pare nos exemplos a seguir; todos transitem uma mensagem
usando linguagem não verbal:
Capítulo 1    Língua, linguagem e as Diferentes Situações...    9

A linguagem não verbal é bastante comum em nossos dias.


É a comunicação além das palavras. Nos exemplos anteriores,
facilmente identificamos a mensagem que cada sinal, imagem,
gesto ou símbolo transmite. Alguns sinais são convenções cria-
das para facilitar o entendimento, como é o caso da placa do
cigarro e da placa com seta virando à direita em um círculo
vermelho com uma linha atravessada, indicando o sinal de
proibido. Entendemos facilmente que é proibido fumar ou que
é proibido virar à direita. Tal como entendemos que o dedo
polegar levantado é sinal de positivo, que está tudo bem etc.
Assim como o emoji, figura criada recentemente para mensa-
gens eletrônicas, indica tristeza.

1.2.3 Linguagem mista


Na linguagem mista, usa-se simultaneamente a linguagem
verbal e a linguagem não verbal. É o uso de palavras escritas e
figuras simultaneamente. A linguagem mista também é bastan-
te comum em nossos dias; pode aparecer em placas, histórias
em quadrinhos, charges, outdoors, charges, filmes, peças de
publicidade etc. A seguir, temos a linguagem mista em cada
um dos exemplos:
10    Comunicação para o Planejamento Profissional

A linguagem mista, em alguns casos, reforça o que a lin-


guagem não verbal já apresenta por si só, que é o caso da
placa: proibido fumar, cão bravo e risco de morte. Vai depen-
der do objetivo e do público que essa mensagem quer atingir.

2 Língua

Agora que você já compreendeu, por meio de um aparato


teórico sólido, o que significa linguagem, trataremos do con-
ceito de língua, que nada mais é do que uma das formas de
manifestação da linguagem e um dos meios que o ser humano
possivelmente mais utiliza para se comunicar.

Tal como a linguagem, a língua também é um fenômeno


social e se desenvolve, sempre, a partir de um determinado
grupo e de um determinado contexto. Jamais nasce no âm-
bito individual. Ela pode, por exemplo, ser falada por peque-
nos grupos, como tribos indígenas, ou por um ou mais paí-
ses, como é o caso da Língua Portuguesa. De qualquer forma,
sempre pertencerá a um determinado povo e a uma determi-
nada cultura. Como afirmou Rousseau, “não se sabe de onde
é um homem antes que ele tenha falado” (2003, p. 52). Isso
tudo faz ser possível afirmar que as línguas não existem além
Capítulo 1    Língua, linguagem e as Diferentes Situações...    11

dos indivíduos. Quando você nasceu, por exemplo, sua língua


já existia. Quando você morrer, provavelmente, ela continuará
existindo. Por estar viva e por pertencer a um grupo, seguirá,
da mesma forma, se modificando e se renovando.

Quando discutimos a transformação de uma língua, é im-


portante lembrar que nenhum falante pode ou consegue mo-
dificá-la conforme achar melhor, a partir de uma percepção
ou verdade unicamente sua. Assim como uma cultura, que
possui sua dinâmica na coletividade, a língua depende de to-
dos, pois ela é um fato cultural como qualquer outro. Se uma
pessoa que fala a Língua Portuguesa no Brasil resolvesse usar
um nome diferente para os meses do ano, por exemplo, não
teríamos uma transformação, mas um fato que acarretaria em
uma grande dificuldade para a comunicação dela com os de-
mais falantes. Por surgir de um grupo e pertencer a esse grupo,
ela adota um regramento, uma convenção. Só assim é possí-
vel que todos se entendam, ou seja: ao mesmo tempo em que
se trata de um aparato cultural, “trata-se de um sistema de na-
tureza gramatical, pertencente a um grupo de indivíduos, for-
mado por um conjunto de sinais (palavras) e por um conjunto
de regras para combinação destes” (TERRA, 2008, p. 13).

O linguista Saussure, de base estruturalista, assim como


muitos pensadores de sua época, define esse fenômeno como
uma espécie de contrato social, como um acordo subentendi-
do, implícito entre os muitos indivíduos de um contexto no qual
se fala a mesma língua que é passível de fixação e sistematiza-
ção em dicionários e gramáticas. Para ele, ela é a norma para
todas as demais manifestações da linguagem.
12    Comunicação para o Planejamento Profissional

Como a língua é um instrumento vivo e em constante de-


senvolvimento, ela absorve as transformações que acontecem
nos contextos culturais e, então, só assim se modifica. A Lín-
gua portuguesa, por exemplo, trata-se de uma construção que
levou algum tempo até se chegar ao que temos hoje: surge
do Latim Vulgar, levada pelos soldados romanos, passa por
transformações, adaptações durante séculos, até se consolidar
naquilo que conhecemos hoje como o Português Moderno.
Na formação do Português Brasileiro, percebe-se claramen-
te a influência das diferentes culturas, que também trouxeram
palavras que foram incorporadas, como: cafundó – lugar lon-
gínquo – (africana), Gambá – guambá (indígena).

Na atualidade, em função da globalização, da expansão


da tecnologia, dentre outras questões, somos influenciados
culturalmente por inúmeros países, o que também se percebe
pela entrada de palavras novas em nossa língua, algumas até
aportuguesadas, como deletar (delete), escanear (scanner) e
filmar (film).

Por outro lado, a língua também é entendida como um


elemento de reconhecimento e de identidade cultural. Segun-
do Ilari (2013), quando alguém nela se insere, acontece uma
identificação muito eficaz, pois as pessoas se identificam com
ela ou com os falantes dela. Cada língua carrega consigo as
singularidades e a identidade de um povo. Por isso, ao nos
inserirmos na nossa própria língua, participamos da manuten-
ção e valorização da nossa identidade como brasileiros, por
exemplo. Saber compreender e respeitar as mais diversas ma-
nifestações linguísticas é um exercício fundamental em nosso
tempo.
Capítulo 1    Língua, linguagem e as Diferentes Situações...    13

3 Fala

Se a língua emana do coletivo, o mesmo não se pode dizer


da fala. Ela é entendida como um ato individual, pois cada
indivíduo pode optar em usar variedades da língua quando
fizer uso da fala.

A fala é sempre individual e seu uso depende da vonta-


de do falante. Nem a língua, nem a fala são imutáveis.
A língua evolui, transformando-se historicamente. Por
exemplo, algumas palavras perdem ou ganham sílabas;
outras deixam de ser utilizadas; novas palavras surgem
de acordo com as necessidades, sem contar com os em-
préstimos de outras línguas com as quais a comunidade
mantém contato. A fala também se modifica, de acor-
do com a história pessoal de cada indivíduo, com suas
intenções, com sua formação escolar, com sua cultura,
com as influências que ele recebe do grupo social a que
pertence. (CEREJA, 2013, p. 8)

Língua e fala estão interligadas. Uma não sobrevive sem


a outra. Para compreendermos a fala, é necessário a língua,
mas também há a necessidade da fala para que uma língua se
estabeleça. É a fala que faz a língua evoluir, pois é por meio
dela que as mudanças se estabelecem, onde se promove a
atualização do sistema linguístico. É considerada um ato in-
dividual porque a pessoa que a utiliza a usa conforme suas
necessidades, de acordo com cada situação, ambiente e con-
texto. Isso faz com que possa haver uma grande diversificação
no ato de se falar.
14    Comunicação para o Planejamento Profissional

A fala é um ato individual: cada falante tem o domínio


da língua que fala e, em decorrência disso, pode usá-la
como bem lhe aprouver dentro das regras preestabeleci-
das pelo contrato coletivo ajustado com os demais falan-
tes. (TERRA, 1997, p. 17)

Muitos aspectos, inclusive, devem ser considerados ao pen-


sarmos sobre a maneira como as pessoas falam, o que en-
volve idade, sexo, grau de escolaridade, trabalho, questões
geográficas, profissão etc. É só a partir do estudo da fala que
podemos entender as variações da língua em diferentes con-
textos, sejam históricos, regionais ou sociais. Esse assunto, no
entanto, será aprofundado no próximo capítulo deste livro.

3.1 Fala e escrita


Outra questão importante a ser observada é que há diferenças
entre a língua falada e a língua escrita. A escrita é sempre o
estágio posterior de uma língua – que sempre surge de forma
oral para depois ser codificada, sistematizada e organizada.
Com esse surgimento, foi possível representar graficamente e
de modo mais duradouro, apesar de imperfeito, a língua fa-
lada. A seguir, e para melhor entendimento, traremos alguns
aspectos que diferenciam, de forma prática, a língua escrita da
língua falada:

ÂÂA língua falada é natural ao ser humano – adquirida


junto com outros falantes em um contexto social. A es-
crita é uma manifestação formal do letramento, ou seja,
adquire-se na escola.
Capítulo 1    Língua, linguagem e as Diferentes Situações...    15

ÂÂA fala é interacional, vai acontecendo. A escrita é mais


elaborada, exige um maior tempo de planejamento.

ÂÂEnquanto falar é um processo dinâmico, escrever é es-


tático.

ÂÂA fala possui um fluxo discursivo descontínuo, e a escrita


um fluxo discursivo fixo.

ÂÂFalar não exige um planejamento tão rigoroso. Escrever,


sim, exige uma precisão maior, uma melhor organiza-
ção.

4 Situações sociocomunicativas

Estamos envolvidos, continuamente, em situações comunicati-


vas, escritas ou orais, seja no âmbito familiar, profissional ou
acadêmico. Esses relacionamentos refletem, de algum modo,
nosso papel social, pois, como seres sociais, podemos desem-
penhar diferentes papéis. O processo comunicativo, nessa di-
versidade contextual, leva a diferentes situações sociocomuni-
cativas.

Flowler e Krees, sobre as diferentes situações comunicati-


vas, afirmam que “É certo que esta competência de comuni-
cação enriquecida variará segundo os indivíduos, ao invés de
ser a mesma para toda a população linguística” (2010, p. 13).
Em outras palavras, existem diferentes intenções e finalidades
que são usadas para se comunicar, que vai depender de quem
escreve ou fala e também do papel social que essa pessoa
16    Comunicação para o Planejamento Profissional

ocupa. Essas diferentes intenções, para os teóricos, são defini-


das como gêneros.

O gênero é um constituinte específico e importante da es-


trutura comunicativa da sociedade, de modo a constituir
relações de poder bastante marcadas em especial dentro
das instituições. O gênero reflete estruturas de autorida-
de e relações de poder por muito claras. Obrserve-se o
caso da vida acadêmica e veja-se quem pode emitir um
parecer, dar aula, confeccionar uma prova, defender tese
de doutorado, e assim por diante. Os gêneros são as
formas de organização social e expressões típicas da vida
cultural. (MARCHUSI apud MILLER, 2004, p. 12)

Ainda para Marcuschi (2004), os gêneros caracterizam-se


muito mais por suas funções comunicativas, cognitivas e insti-
tucionais, por isso estão vinculados à vida cultural e social. São
os textos que encontramos em nossa vida diária e que apresen-
tam padrões sociocomunicativos. São formas textuais escritas
ou orais bastante estáveis, histórica e socialmente situadas.

Como há diferentes situações sociocomunicativas, have-


rá, também, diversas formas de comunicação. Isso acontece
porque tanto aquele que transmite uma mensagem, quanto
aquele que a recebe tem capacidade de definir o que é ade-
quado para cada momento. Por exemplo, não seria apropria-
do elaborar uma ata em uma conversa entre um pai e um filho
sobre os valores de uma mesada. Isso não cabe nesse contexto
comunicativo, mas caberá em uma assembleia ou em uma re-
união de negócios, em que é fundamental que alguns registros
sejam formalizados.
Capítulo 1    Língua, linguagem e as Diferentes Situações...    17

Alguns desses gêneros são bastante convencionais quanto


a sua estrutura e forma, como, por exemplo, atas, requerimen-
tos, que não podem ser feitos de outra forma, enquanto outros
são flexíveis, como chat, por exemplo. Como dito anteriormen-
te, o contexto da situação sociocomunicativa é que vai definir
o modelo a ser usado.

Recapitulando

Neste capítulo, fundamental para o que ainda trabalharemos


nesta disciplina, abordamos os conceitos de linguagem e de
língua. Vimos que a linguagem é tão antiga quanto a exis-
tência do ser humano e de sua vida em sociedade. Surgiu
de forma rudimentar e foi se aprimorando e adaptando pela
necessidade de comunicação: um sistema convencionado que
permite ao ser humano se comunicar com os outros, e que se
subdivide, conforme estudamos, em verbal, não verbal e mista.

Na segunda parte, abordamos o conceito de língua e de


fala. Vimos que a língua é considerada apenas uma forma de
linguagem e que pode ser definida como um sistema organi-
zado, formado por um conjunto de sinais, que possui regras e
que pertence a um grupo de pessoas, assumindo, assim, um
caráter sempre coletivo, diferente da fala. A fala, por sua vez,
como debatemos, tem caráter individual. Ao falar a mesma
língua, cada pessoa o faz individualmente, usando seu próprio
jeito de fazê-lo e adaptando-a conforme o contexto e necessi-
dades. É pela fala que temos as principais formas de variação
de uma determinada língua.
18    Comunicação para o Planejamento Profissional

Por fim, falamos sobre diferentes situações sociocomuni-


cativas que nada mais são do que a capacidade que cada
comunicador precisa ter para identificar o que é apropriado
ou não para cada situação sociocomunicativa.

Referências

ARISTÓTELES. A Política. In: Coleção Livros que Mudaram o


Mundo. São Paulo: Folha de São Paulo, 2010.

CEREJA, William Roberto; MAGALHÃES, Thereza A. C. Gra-


mática Reflexiva: texto, semântica e interação. São Paulo:
Atual, 2013.

ILARI, Rodolfo. Reflexões sobre língua e identidade. In: Diá-


logos entre língua, cultura e sociedade. Org. Lilian do
Rocio Borba e Cândida Mara Brito Leite. Campinas: Mer-
cado de Letras, 2013.

LUFT, Celso Pedro. Língua e liberdade. 4. ed. São Paulo:


Ática, 2005.

MARCUSCHI, L. A. Gêneros textuais emergentes no contexto


da tecnologia digital. In: MARCUSCHI, L. A. & XAVIER, A.
C. (Orgs.). Hipertexto e gêneros digitais. Rio de Janeiro:
Editora Lucerna, 2004.

ORLANDI, Eni Pulcinelli. O que é linguística. São Paulo: Bra-


siliense, 2006.

REALE, Miguel. Cultura e Linguagem. Disponível em:


<http://www.miguelreale.com.br/artigos/cultling.htm>.
Acesso em: 12 set. 2017.
Capítulo 1    Língua, linguagem e as Diferentes Situações...    19

ROUSSEAU, Jean-Jacques. Ensaio sobre a origem das lín-


guas. São Paulo: Escala, 2003.

SALDANHA, Luís Cláudio Dallier. Fala, Oralidade e Práticas


Sociais. Curitiba: Intersaberes, 2016.

SAUSSURE, Ferdinand de. Curso de Linguística Geral. 4. ed.


São Paulo: Cultrix,1972.

TERRA, Ernani. Linguagem, língua e fala. São Paulo: Scipio-


ne, 1997.

Atividades

O tirinha a seguir servirá de base para as Questões 1 e 2.

1) O autor usou, nas situações acima, as linguagens verbal


e não verbal. Observe e identifique o efeito humorístico
produzido pela associação entre os desenhos e as falas
20    Comunicação para o Planejamento Profissional

das personagens e redija um texto dissertativo, com média


de 15 linhas, acerca dessa articulação entre os dois tipos
de linguagem.

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2) Ainda sobre a história em quadrinhos, assinale a proposi-


ção correta.

I. A linguagem verbal é desnecessária para o entendimen-


to do texto.
Capítulo 1    Língua, linguagem e as Diferentes Situações...    21

II. Linguagem verbal e não verbal são necessárias para a


construção dos sentidos pretendidos pelo autor.

III. Sem a imagem mostrada no último quadrinho, o humor


ficaria comprometido.

Apenas a I está correta.

Apenas a II está correta.

Apenas a III está correta.

I e II estão corretas.

II e III estão corretas.

3) Leia o fragmento a seguir.

“Aplicada ao mundo animal, a noção de linguagem só


tem crédito por um abuso de termos. Sabemos que foi
impossível até aqui estabelecer que os animais dispo-
nham, mesmo sob uma forma rudimentar, de um modo
de expressão que tenha os caracteres e as funções da
linguagem humana.”

Émile Benveniste. In: Problemas de Linguística Geral

Considerando o fragmento de texto apresentado, ob-


serve o seguinte enunciado.

A “linguagem animal” não se compara com a linguagem


humana

porque
22    Comunicação para o Planejamento Profissional

“a linguagem animal” é instintiva, e não um produto cultu-


ral; não evolui, não se transforma e é marcada pela inva-
riabilidade.

Agora, analisando a relação proposta entre as duas asser-


ções acima, assinale a opção correta.

a) A primeira asserção é uma proposição falsa, e a se-


gunda é uma proposição verdadeira.

b) As duas asserções são proposições verdadeiras, e a


segunda é uma justificativa correta da primeira.

c) As duas asserções são proposições verdadeiras, mas a


segunda não é uma justificativa correta da primeira.

d) A primeira asserção é uma proposição verdadeira, e a


segunda é uma proposição falsa.

e) As duas asserções são proposições falsas.

4) O fragmento a seguir servirá de base para responder à


questão.


A língua é um conjunto de sons ou ruídos, combinados,
com os quais um ser humano, o falante, transmite a outro
ou outros seres humanos, o ouvinte ou ouvintes, o que está
em sua mente: emoções, sentimentos, vontades, ordens,
apelos, ideias, raciocínios, argumentos e combinações de
tudo isso.”(Antônio Houaiss).

I – Uma língua viva pressupõe uma sociedade que a utilize.

II – A língua não é imutável.


Capítulo 1    Língua, linguagem e as Diferentes Situações...    23

III – Língua é a linguagem verbal utilizada por um grupo de


indivíduos que constituem uma comunidade.

a) Apenas a assertiva I é verdadeira.

b) Apena a assertiva II é verdadeira.

c) Apenas a assertiva III é verdadeira.

d) Apenas as assertivas I e III são verdadeiras.

e) Todas as assertivas são verdadeiras.

5) Leia o e-mail a seguir.

Olá, Joana, tudo bem?


Se você quer, cara amiga de longa data, vou até tua casa
para conversarmos sobre teu novo projeto para o ano de
2018. Sua amiga também estará?

Abraços,

Paula

Uma das características da língua falada coloquial que


deve ser evitada na língua escrita é a mistura do tu/você.
Aponte passagens do e-mail em que isso ocorre e propo-
nha formas apropriadas à língua escrita culta.

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24    Comunicação para o Planejamento Profissional

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Jane Sirlei Kuck Konrad1

Capítulo 2

Diferenças culturais,
questões étnico-raciais e
variações linguísticas

1  Especialista em Docência Universitária. Professora na Universidade Luterana do


Brasil.
26    Comunicação para o Planejamento Profissional

Língua

Esta língua é como um elástico que espicharam pelo mun-


do.

No início era tensa, de tão clássica.

Com o tempo, se foi amaciando, foi-se tornando românti-


ca, incorporando os termos nativos e amolecendo nas folhas
de bananeira as expressões mais sisudas.

Um elástico que já não se pode mais trocar, de tão gasto;


nem se arrebenta mais, de tão forte.

Um elástico assim como é a vida que nunca volta ao pon-


to de partida. 

Gilberto Mendonça Teles.

Introdução

Como vimos no capítulo anterior, o ser humano, como um ser


social, desenvolveu a linguagem pela necessidade de se co-
municar, sendo a língua um de seus meios mais utilizados. Do
mesmo modo, percebemos que a língua possui uma importan-
te função dentro de um povo e de uma cultura, pois, além da
comunicação, além de um fenômeno vivo, é, também, uma
forma de identificação de seus membros.

Todas as línguas vivas mudam com o tempo. É um pro-


cesso dinâmico, contínuo e gradativo. Toda a língua possui
variação, o que discutiremos neste nosso segundo capítulo.
Capítulo 2    Diferenças culturais, questões étnico-raciais ...    27

Percebemos não só que existem variações no modo de se falar


a língua portuguesa em termos regionais, a partir de diferentes
sotaques, amplamente explorados nas novelas, filmes e tam-
bém em quadros humorísticos, assim como perceberemos as
diferenças na forma de usar a língua olhando as questões so-
ciais. Pessoas que têm maior grau de formação, por exemplo,
usam a língua de forma diferente do que aquelas que têm
pouca instrução ou mesmo analfabetas. Basicamente, são três
os fatores que impulsionam as variações linguísticas: fator his-
tórico, geográfico e sociocultural. Vamos a eles.

1 Variação histórica

Como já vimos, a língua sofre transformações ao longo do


tempo. Palavras e expressões desaparecem, outras mudam seu
significado e outras nascem. Isso acontece porque ela perten-
ce à sociedade, que, por sua vez, está, do mesmo modo, em
constante transformação. Ela se adapta e se modifica confor-
me a sociedade se transforma. Ela é um órgão vivo. Dentre os
tipos de transformação está a histórica.

A variação histórica, como o nome já indica, acontece


dentro de um determinado período de tempo. Só pode ser
identificada quando comparamos a língua em dois momentos
diferentes, como nos explica Marcos Bagno:

[b]asta a gente comparar um texto escrito em Português,


na Idade Média, ou em 1600 ou mesmo há cem anos
com qualquer coisa publicada nos dias de hoje. As dife-
28    Comunicação para o Planejamento Profissional

renças saltam aos olhos, e as dificuldades de compreen-


são vão crescendo quanto mais a gente recua no tempo.
(2010, p. 164)

Para termos uma ideia clara, vejamos, por exemplo, o tex-


to a seguir, no qual a princesa Isabel, em 1888, assina a Lei
Áurea:

De lá para cá, algumas palavras sofreram modificação na


grafia, como Brazil (Brasil), extincção (extinção), súbditos (sú-
ditos), d’esta (desta), princeza (princesa), n’ella (nela), dentre
outras que facilmente podem ser identificadas, o que prova
justamente o caráter dinâmico.

Outro exemplo é o Novo Acordo Ortográfico da Língua


Portuguesa que entrou em vigor no Brasil, oficialmente, em
2016. Trata-se de um acordo entre os países de Língua Por-
tuguesa (dentre eles Brasil, Portugal, Angola, Cabo Verde,
Guiné-Bissau, Moçambique, São Tomé e Príncipe e Timor Les-
te) que tem por objetivo unificar ao máximo a grafia de nossa
Capítulo 2    Diferenças culturais, questões étnico-raciais ...    29

língua em todos esses países. Trouxe algumas alterações


quanto à acentuação, extinção total do trema e acrésci-
mo de algumas letras que vieram compor o nosso alfabe-
to, que antes era composto por 23 letras e agora possui 26.
As letras K, W e Y passaram a incorporá-lo.

A mudança da língua é um fenômeno natural e cultural.


Mudar faz parte da natureza humana, e, quando se muda, se
muda em função de um movimento que ocorre dentro de uma
determinada cultura, um movimento complexo e, na maioria
das vezes, lento.

Assim como a grafia das palavras muda, também há pa-


lavras, como mencionamos, que vão caindo em desuso com
o tempo, enquanto novas palavras surgem. Vejamos alguns
exemplos a seguir.

Vosmecê Senhor/Senhora
Ataúde Caixão
Osmar Calcular
Assunar Jantar
Aposentos Quartos

Esses são alguns exemplos de palavras que já não se usam


ou são usadas muito pouco. Esse fenômeno, segundo Faraco,
acontece porque:

[q]ualquer parte da língua pode mudar, desde aspectos


de pronúncia até aspectos de sua organização de se-
mântica e pragmática. A classificação geral das mudan-
ças é feita utilizando-se os diferentes níveis comuns no
30    Comunicação para o Planejamento Profissional

trabalho de análise linguística. Assim, na história de uma


língua, pode haver mudanças fonético-fonológicas, mor-
fológicas, sintáticas, semânticas, lexicais, pragmáticas.
(2005, p. 34)

Da mesma forma que palavras desaparecem, novas sur-


gem e, assim, são acrescentadas à nossa língua. Esse fenôme-
no pode ocorrer por inúmeros fatores, como pela assimilação
de palavras estrangeiras, inovações científicas, novas concep-
ções e novos modos de se perceber o mundo. O texto abaixo,
do escritor Luís Fernando Veríssimo, traduz muito bem as varia-
ções a que a língua está sujeita.

E tudo mu- Que virou lib  Que glitter  A brilhantina


dou… virou silicone  virou mousse 

O rouge virou A peruca virou Os halteres vi-


blush  O pó-de-ar- aplique, interlace, raram bomba  A
roz virou pó-com- megahair, alonga- ergométrica virou
pacto  O brilho vi- mento  A escova vi- spinning  A tanga
rou gloss  rou chapinha  “Pro- virou fio dental  E o
blemas de moça” fio dental virou an-
O rímel virou
viraram TPM  Con- tisséptico bucal 
máscara incolor  A
fete virou M&M’s 
Lycra virou stretch  Ninguém mais
Anabela virou pla- A crise de ner- vê… 
taforma  O corpe- vos virou estresse  A
Ping-Pong virou
te virou porta-seios  chita virou viscose. 
Babaloo  O a-la-
Que virou sutiã A purpurina virou
Capítulo 2    Diferenças culturais, questões étnico-raciais ...    31

-carte virou self- tem medo  O breakressuscitou em Ma-


-service  virou street  ria Rita?  Gal virou
fênix  Raul e Rena-
A tristeza, de- O samba, pa-
to,  Cássia e Cazu-
pressão  O espa- gode  O carnaval
za,  Lennon e Elvis, 
guete virou Miojo de rua virou Sapu-
Todos anjos  Agora
pronto  A paquera caí  O folclore bra-
só tocam lira… 
virou pegação  A sileiro, halloween 
gafieira virou dança O piano agora é A AIDS virou
de salão  teclado, também  gripe  A bala antes
encontrada agora é
O que era pra- O forró de san-
perdida  A violência
ça virou shopping  fona ficou eletrôni-
está coisa maldita! 
A areia virou ringue  co  Fortificante não
A caneta virou te- é mais Biotônico  A maconha é
clado  O long play Bicicleta virou Bis  calmante  O profes-
virou CD  Polícia e ladrão vi- sor é agora o faci-
rou counter strike  litador  As lições já
A fita de vídeo
não importam mais 
é DVD  O CD já Folhetins são
A guerra superou a
é MP3  É um filho novelas de TV  Fau-
paz 
onde éramos seis  na e flora a desa-
O álbum de fotos parecer  Lobato E a sociedade
agora é mostrado virou Paulo Coelho  ficou incapaz… 
por e-mail  Caetano virou um
… De tudo. 
chato 
O namoro ago-
Inclusive de no-
ra é virtual  A can- Chico sumiu
tar essas diferenças
tada virou torpedo  da FM e TV  Baby
E do “não” não se se converteu  RPM Luís Fernando
desapareceu  Elis Veríssimo
32    Comunicação para o Planejamento Profissional

2 Variação geográfica

A variação geográfica, como também sua denominação já


indica, diz respeito às diferentes formas de pronúncia, à dife-
rença de vocabulário e também à estrutura sintática das fra-
ses dos falantes de uma mesma língua, ou seja, diz respeito,
de acordo com Ilari e Basso “às diferenças que uma mesma
língua apresenta na dimensão do espaço, quando falada em
diferentes regiões de um mesmo país ou em países diferentes”
(2006, p. 157).

O Português falado em Portugal apresenta algumas dife-


renças do Português falado no Brasil. Vejamos a seguir alguns
exemplos.

Portugal Brasil
Telemóvel Celular
Paragem Ponto de ônibus
Fato Terno
Talho Açougue
Pequeno almoço Café da manhã
Fiambre Presunto
Frigorífico Geladeira
Chávena Xícara
Lixívia Água sanitária
Capítulo 2    Diferenças culturais, questões étnico-raciais ...    33

São, portanto, as diferentes formas de falar a mesma lín-


gua em dois países diferentes. Além das palavras diversas para
designar a mesma coisa, há também a questão da pronúncia
da Língua, que é perceptível ao ouvirmos um nativo de Portu-
gal falar o Português de Portugal.

No entanto, esse fenômeno não ocorre apenas em relação


entre um país e outro. O mesmo acontece dentro de nosso
Brasil. Em regiões diferentes, palavras ou termos diferentes são
utilizados para expressar a mesma coisa. É o que se denomina
de dialetos.

Dentre as variedades existentes na língua, uma delas é


chamada de dialeto, que consiste em uma maneira de
falar própria de determinado grupo de falantes da lín-
gua. Essa forma pode ser identificada por peculiaridades
de pronúncia, de vocabulário e de gramática. (SÁ, 2007,
p. 23)

No Brasil, temos uma grande riqueza de dialetos regio-


nais. Somos um país de uma grande diversidade cultural e
compreender essa pluralidade é, hoje, em um universo global
e amplo de relações, fundamental para todo o indivíduo que
deseja relacionar-se bem com as mais diversas pessoas e cul-
turas, aprendendo que, em questões como essas, o certo e o
errado são termos extremamente equivocados. Não há certo
ou errado quando há dialeto, mas apenas diferença.

Nos últimos tempos, têm surgido, inclusive, dicionários que


compilam e traduzem esses termos, tornando-os, assim, aces-
síveis a todos. Os textos a seguir, de regiões diferentes, mos-
34    Comunicação para o Planejamento Profissional

tram a riqueza e a dimensão que há no Brasil em termos da


variações linguísticas:

Texto 1: O Analista de Bagé2

Contam que outra vez um casal pediu para consultar,


juntos, o analista de Bagé. Ele, a princípio, não achou mui-
to ortodoxo. — Quem gosta de aglomeramento é mosca em
bicheira... Mas acabou concordando. — Se abanquem, se
abanquem no más. Mas que parelha buenacha, tchê! Qual
é o causo? — Bem – disse o homem – é que nós tivemos um
desentendimento... — Mas tu também é um bagual. Tu não
sabe que em mulher e cavalo novo não se mete a espora? —
Eu não meti a espora. Não é, meu bem?  — Não fala comigo!
— Mas essa aí tá mais nervosa que gato em dia de faxina.  —
Ela tem um problema de carência afetiva... — Eu não sou de
muita frescura. Lá de onde eu venho, carência afetiva é falta
de homem. — Nós estamos justamente atravessando uma cri-
se de relacionamento porque ela tem procurado experiências
extraconjugais e... — Epa. Opa. Quer dizer que a negra ve-
lha é que nem luva de maquinista? Tão folgada que qualquer
um bota a mão?  — Nós somos pessoas modernas. Ela está
tentando encontrar o verdadeiro eu, entende? — Ela tá procu-
rando o verdadeiro tu nos outros? — O verdadeiro eu, não.
O verdadeiro eu dela. — Mas isto tá ficando mais enrolado
que linguiça de venda. Te deita no pelego. — Eu? — Ela. Tu
espera na salinha.

2  O Analista de Bagé é um personagem criado pelo escritor Luís Fernando Verís-


simo. É um analista, gaúcho caricato, que usa palavras marcadamente regionais,
explorando, assim, parte da linguagem popular gaúcha.
Capítulo 2    Diferenças culturais, questões étnico-raciais ...    35

Texto extraído do livro “O gigolô das palavras”, L&PM Edi-


tores – Porto Alegre, 1982, pág. 78.

Textos 2 e 3: Causos mineiros

Diproma

O velho fazendeiro do interior de


Minas Gerais está em sua sala, pro-
seando com um amigo, quando um
menino passa correndo por ali.

Ele chama: — Diproma, vai falar


para sua avó trazer um cafezinho aqui
pra visita!

E o amigo estranha: — Mas que


nome engraçado tem esse menino! É
seu parente?

— É meu neto! Eu chamo ele assim


porque mandei minha filha estudar em
Belzone e ela voltou com ele!

Indo para pescaria

Os dois mineiros se encontram no


ponto de ônibus em Cocalinho para
uma pescaria.

— Então cumpade, tá animado?


Pergunta o primeiro.

— Eu to, home!
36    Comunicação para o Planejamento Profissional

— Ô cumpade, pro mode quê tá le-


vano esses dois embornal?

— É que to levano uma pingazinha,


cumpadre.

— Pinga, cumpade? Nóis não tinha


acertado que num ia bebê mais?

— Cumpadre, é que pode apare-


cê uma cobra e picá a gente. Aí nóis
desinfeta com a pinga e toma uns gole
que prá mode num sinti a dô.

— É... e na outra sacola, o que tá


levano?

— É a cobra, cumpade. Pode num


tê lá...

Disponível em: http://momentoska-


tia.blogs.sapo.pt/61386.html

Como podemos ver, em todos esses exemplos, destacam-


se os linguajares regionais. Em outras regiões, também temos
alguns falares bem característicos, como é o caso do norte,
interior de São Paulo, Goiás, Cuiabá etc. A literatura, os meios
de comunicação e as redes sociais têm contribuído para que
tenhamos mais acesso e, assim, conheçamos melhor todas es-
sas variações, que são aspectos muito ricos de nossa cultura.
Capítulo 2    Diferenças culturais, questões étnico-raciais ...    37

3 Variação social

Como outra forma de variação linguística, temos aquela que


se manifesta por elementos ligados à condição social de um
indivíduo. Você certamente já se deu conta de que a forma
como pessoas de idade usam a linguagem difere da forma
como pessoas jovens o fazem. Também se percebe isso em
diferentes profissões, usando jargões ou termos técnicos, ou
mesmo fazendo uso de uma linguagem mais formal.

Da mesma forma, pessoas que pertencem a determinados


grupos sociais, como tribos urbanas, ou mesmo a determina-
dos grupos étnicos (que nada mais são do que pessoas que
se identificam ou são identificadas com base em semelhan-
ças culturais e/ou biológicas) que também se comunicam com
uma linguagem própria daquele grupo. Portanto, essa varia-
ção, também conhecida como variação diastrática, se refere à
organização socioeconômica e cultural de uma comunidade,
e se relaciona ainda à idade, como já mencionamos, ao mer-
cado de trabalho, à classe social e ao grau de escolaridade.

Idade – A idade é um fator que interfere na forma de como


as pessoas usam a linguagem. Muitas das palavras que os
jovens usam, talvez, causem estranheza aos seus avós e aos
seus pais. O contrário também é verdadeiro. Algumas pala-
vras soam estranhas aos jovens de hoje. Veja os exemplos:

Ele é um pão Ele é lindo


Vou paquerar na praça Tentar conquistar alguém
38    Comunicação para o Planejamento Profissional

Ela está na beca Ela está elegante


É isso aí, bicho É isso aí, amigo
Deu o maior bode Deu a maior confusão

Por outro lado, as palavras utilizadas pelos jovens hoje são


estranhas para pessoas mais velhas.

Tá ligado Tá entendendo
Viajou Marcou bobeira
Mina Mulher
Deu ruim Não saiu como planejado
Lacrei Fiz bem feito

Gênero – Homens e mulheres falam de forma distinta. Isso


está relacionado ao condicionamento cultural dos papéis so-
ciais definidos tanto para os homens quanto para as mulheres.
Essa diferença, portanto, não se deve a fatores biológicos, mas
aos diferentes papéis sociais desempenhados ou atribuídos,
culturalmente, por algum período de tempo a eles. Para Paiva:

[a]s diferenças mais evidentes entre a fala de homens e


mulheres se situam no plano lexical. Parece natural que
determinadas palavras se situam melhor na boca de um
homem do que na boca de uma mulher. Nas sociedades
ocidentais, a existência de um vocabulário masculino e
de um vocabulário feminino parece menos acentuada e
tende, progressivamente, ao desaparecimento. (2010, p.
33)
Capítulo 2    Diferenças culturais, questões étnico-raciais ...    39

Mulheres costumam usar mais o diminutivo e as partículas


“né?”, “Tá?”, “Tá bom?”, chamados de marcadores conversa-
cionais. Estes têm a função de obter a concordância de quem
os ouve. Já a linguagem dos homens costuma ser mais mar-
cada por palavrões, gírias e linguagem chula. Como essas va-
riações são condicionadas pelos papéis sociais, elas podem,
perfeitamente, ser diferentes de um contexto para o outro ou
de uma geração para outra.

Gíria – As gírias pertencem ao vocabulário específico de


certos grupos sociais, muito utilizadas pelas denominadas tri-
bos urbanas, mas, assim como os jargões e termos técnicos,
podem existir em qualquer ambiente ou profissão.

Etnoleto – É uma variedade de uma língua falada por uma


etnia ou subgrupo social, servindo como marca diferenciado-
ra de identidade social. Geralmente, também coincide com
o conceito de dialeto, pois acontece em área geográfica de-
terminada. Equivocadamente, na cultura popular, ela é tida
como uma sublíngua; no entanto, para a linguística, ela é ape-
nas uma variação.

No Brasil, há diversos dialetos indígenas, de comunidades


afro-brasileiras e línguas crioulas. Há, ainda, o exemplo do
dialeto pomerano, falado por imigrantes alemães que vieram
da região da pomerânia, hoje, Polônia. Há, também, exem-
plos do Talian, que se originou, aqui no Brasil, do encontro
de dialetos falados na região do Vêneto na Itália, entre tantos
outros: todos com o mesmo valor social e linguístico.

Classe social e escolaridade – Também se identificam


variações linguísticas em diferentes classes sociais. Em geral,
40    Comunicação para o Planejamento Profissional

pessoas de classes sociais mais elevadas têm mais acesso à


educação. É nas escolas que se aprende a língua padrão ou
norma culta. Isso faz com que usem variações linguísticas di-
versas daqueles que têm menos acesso à educação, pois po-
dem ter um melhor domínio da língua culta. Isso não significa,
porém, que pessoas com menos instrução não se comuniquem
ou não possuam conhecimento. É comum ouvirmos de pes-
soas de baixa escolaridade, palavras como “brusa”, “adevo-
gado”, entre outras.

Mercado de trabalho – Diferentes grupos profissionais


também utilizam, da mesma forma, linguagem própria em seu
meio de trabalho. Um advogado usa uma linguagem diferente
de um pintor. Um médico, por sua vez, difere em sua lingua-
gem de um advogado. Um professor também pode ter seu
modo de se comunicar. Alguns profissionais usam uma lingua-
gem extremamente técnica, muitas vezes entendida somente
por quem é da área. A essa linguagem dá-se o nome de jar-
gão. Veja os exemplos a seguir:

Área Jargão Explicação


Jurídico Ação constitutiva  Tem por finalidade criar, modi-
ficar ou extinguir um estado ou
relação jurídica.
Informática Upload É a transferência de um arquivo
de seu computador para algum
lugar remoto.
Economia Bens de Capital Bens que servem para a produ-
ção de outros bens.
Jornalismo Furo É a informação publicada em
um veículo antes dos demais.
Capítulo 2    Diferenças culturais, questões étnico-raciais ...    41

4 Variação situacional

Outro tipo de variação é a chamada de situacional, que en-


volve diretamente os diferentes espaços e situações comunica-
cionais. Em diferentes contextos, usa-se diferentes formas de
linguagem. A mesma pessoa pode, por exemplo, no seu tra-
balho, usar linguagem formal e, entre amigos ou família, usar
linguagem informal.

A linguagem formal, como o próprio nome sugere, é a lin-


guagem usada para atender os padrões da norma culta ou
norma padrão. Pauta-se pelo uso correto das normas gramati-
cais e boa pronúncia das palavras. É usada em ambientes em
que não há muita familiaridade entre os interlocutores, como
reuniões, entrevistas de empregos, discursos oficiais, enfim, em
ambientes e momentos que requerem formalidade e seriedade.

A linguagem informal, por sua vez, é a linguagem que


usamos no cotidiano. É uma linguagem despreocupada em
relação à norma padrão. É usada com os amigos, família,
com pessoas com as quais temos grande familiaridade e em
ambientes despreocupados, em que não se exige formalidade.
Saber jogar com todas as formas de linguagem e perceber
sua influência nas relações sociais, dentre elas as que ocorrem
dentro do universo do trabalho, é o que começaremos a de-
bater daqui para frente.
42    Comunicação para o Planejamento Profissional

Recapitulando

Neste capítulo, vimos as variações a que uma língua está su-


jeita e percebemos que elas acontecem porque a língua sofre
um processo dinâmico de adaptação ao tempo e ao meio em
que está inserida, sendo assim determinadas por questões his-
tóricas, geográficas e sociais.

A variação histórica acontece dentro de um determinado


período de tempo. Só pode ser identificada quando compara-
mos a língua em momentos diferentes. A Língua Portuguesa fa-
lada no tempo do descobrimento ou mesmo em períodos pos-
teriores difere, por exemplo, da que está em uso atualmente.

A variação geográfica, que também abordamos, diz res-


peito às diferentes formas de pronúncia, à diferença de voca-
bulário e também à estrutura sintática de uma língua quando
falada em diferentes regiões de um mesmo país ou em países
diferentes. No Brasil, temos uma grande riqueza de dialetos
regionais. Somos um país de uma grande diversidade cultural.

Estudamos também sobre a variação social ou diastrática,


que nos mostrou como a organização socioeconômica e cul-
tural de uma comunidade interfere na língua, e que pode estar
relacionada ao grau de escolaridade de um indivíduo ou a um
determinado grupo que pertença.

Por fim, tratamos da variação situacional, que diz respeito


ao modo como a língua é usada frente ao contexto em que se
está inserido. Diferentes situações comunicativas nos pedem
diferentes roupagens, tudo o que debateremos de modo mais
detalhado nos capítulos que seguem.
Capítulo 2    Diferenças culturais, questões étnico-raciais ...    43

Referências

ARISTÓTELES. A política. São Paulo: Martins Fontes, 2002.

BAGNO, Marcos. Nada na língua é por acaso: por uma


pedagogia da variação linguística. São Paulo: Parábola
Editorial, 2007.

LUFT, Celso Pedro. Língua e liberdade. 4. ed. São Paulo:


Ática, 2005.

MOLLICA, Maria Cecília; BRAGA, Maria Luiza (Orgs.). Intro-


dução à sociolinguística: o tratamento da variação. São
Paulo: Contexto, 2010.

PAIVA, Maria da Conceição. A variável gênero/sexo. In: MOL-


LICA, Maria Cecília; BRAGA, Maria Luiza (Orgs.). Intro-
dução à sociolinguística: o tratamento da variação. São
Paulo: Contexto, 2010.

SÁ, Edmilson José de. Estudos de Variação Linguística: o


que é preciso saber e por onde começar. São Paulo: Texto-
novo, 2007.

SAUSSURE, Ferdinand de. Curso de Linguística Geral. 4. ed.


São Paulo: Cultrix, 1972.

Atividades

1) Escreva, de forma clara, coesa e coerente sobre o tipo


de efeito que a bagagem escolar exerceu e exerce no seu
44    Comunicação para o Planejamento Profissional

modo de falar e de escrever e sobre o seu estágio atual de


seu domínio da norma escrita culta.

(Questão adaptada de VOTRE, Sebastião José – In: MOL-


LICA, Maria Cecília; BRAGA, Maria Luiza (Orgs.). Intro-
dução à sociolinguística: o tratamento da variação. São
Paulo: Contexto, 2010.)

2) Explique, tendo como base a teoria estudada neste capítu-


lo, a seguinte afirmativa extraída do livro “Nada na língua
é por acaso: por uma pedagogia da variação linguística”
– de Marcos Bagno.

Não é a língua que muda com o tempo: são os falan-


tes que, em sociedade, mudam a língua.

3) Leia este trecho extraído do Jornal Correio do Povo.

“Meus camaradinhas:

Não entendi bulufas dessa jogada de fazerem o papai aqui


apresentar o seu Antenor Nascentes, um cara tão crânio,
cheio de mumunhas, que é manjado até na Europa. Estou
meio cabrero até achando que foi crocodilagem do dire-
tor do curso, o professor Odorico Mendes, para eu entrar
pelo cano. O seu Antenor Nascentes é um chapa legal, é
bárbaro e, em Filologia, bota banca. Escreveu um dicioná-
rio etimológico que é uma lenha. Dois volumes que vou te
contar. Um deles é desta idade... mais grosso que trocador
de ônibus. O homem é o Pelé da Gramática, está mais
por dentro que bicho de goiaba. Manda brasa, professor
Nascentes!” (Correio do Povo, 20/04/1966)
Capítulo 2    Diferenças culturais, questões étnico-raciais ...    45

a) Pela forma como o texto foi escrito, qual é a provável


idade de quem está falando? Por quê?

b) O texto apresenta um tipo de variedade linguística.


Qual é o modo dessa variedade: oral ou escrito? Jus-
tifique sua resposta com elementos extraídos do texto.

4) Leia, com bastante atenção, as seguintes assertivas.

I – As variações sociais se relacionam à idade, merca-


do de trabalho, classe social e grau de escolaridade.

II – A língua é dinâmica e passa por alterações e mu-


danças.

III – A língua muda de forma natural.

Agora, assinale a alternativa correta.

a) Apenas a assertiva I está correta.

b) Apenas a assertiva II está correta.

c) Apenas a assertiva III está correta.

d) Apenas as assertivas I e II estão corretas.

e) Todas assertivas estão corretas.

5) Diga se as seguintes assertivas são verdadeiras ou falsas.

I – É possível, em um mesmo dia, a mesma pessoa usar


uma linguagem mais formal com seu líder no seu am-
biente de trabalho e, menos formal, com esse mesmo
líder, depois do expediente, em um happy hour.
46    Comunicação para o Planejamento Profissional

II – A linguagem informal é utilizada no dia a dia – com


amigos, irmãos, colegas mais íntimos etc.

III – Variação diastrática se refere à organização socioeco-


nômica e cultural de uma comunidade.

a) Apenas a assertiva I é verdadeira.

b) Apenas a assertiva II é verdadeira.

c) Apenas a assertiva III é verdadeira.

d) Apenas as assertivas I e II são verdadeiras.

e) Todas assertivas são verdadeiras.


Ítalo Nunes Ogliari1

Capítulo 3

Comunicação e carreira
profissional: perspectivas
para um novo contexto

1 Ítalo Ogliari é Doutor em Letras, escritor e atual coordenador e professor do


curso de Letras da ULBRA.
48    Comunicação para o Planejamento Profissional

Introdução

Agora que você compreende de modo mais sólido o conceito


de língua e de linguagem, bem como sua articulação fren-
te às diferentes situações sociocomunicativas e algumas das
principais questões ligadas àquilo que denominamos como
variações linguísticas, é o momento de adentrarmos em um
dos debates centrais desta disciplina: a relação entre a co-
municação e o êxito profissional. Discutiremos, neste capítu-
lo, as principais ideias acerca desse tema e algumas teorias
que o fundamentam, para, assim, possibilitar a você, futuro
profissional, um olhar cada vez mais atento a determinadas
competências e habilidades exigidas pelo atual mercado de
trabalho, independentemente de sua área de atuação, e que
serão ainda discutidas ao longo desta disciplina.

1O
 atual mercado de trabalho e suas
exigências comunicacionais

“Quem não se comunica, se trum-


bica!”

Lembram-se dessas palavras?

Repetida semanalmente na TV, quase


como um mantra, a frase acima foi eter-
nizada pela voz estridente e inconfundível
de Abelardo Barbosa, mais conhecido
como Chacrinha, ícone da comunicação
Capítulo 3    Comunicação e carreira profissional: perspectivas ...    49

brasileira nos anos 70 e 80 do século passado. Pois bem, se


em sua época essa era uma dica interessante, em nossos dias
ela possui outro status: o de fundamental. Comunicar-se bem,
hoje, não é apenas mais uma habilidade capaz de colocar
o sujeito em destaque dos demais em um ambiente de tra-
balho, mas essencial para que ele simplesmente o acesse. É
exatamente o que nos mostra Rosa e Landim, no artigo intitu-
lado Comunicação: a ferramenta profissional, afirmando que
“o papel da comunicação começa bem antes de sua atuação
em uma determinada função, começa na hora de conseguir
um emprego ou um contrato para prestar um serviço [...]. Sem
essa habilidade ele [o sujeito] já sai em desvantagem em rela-
ção aos seus concorrentes” (2009, p. 142).

Decorrente dos acontecimentos sociais e econômicos mais


recentes, o contexto atual nos mostra que estamos vivendo di-
versas mudanças em torno das concepções de carreira profis-
sional e de marcado de trabalho, oriundas não só do avanço
da tecnologia, mas da multiplicidade de funções, da maior
expectativa de vida, do alto nível de desemprego, entre ou-
tros fenômenos. Nesse cenário, em que a carreira é cada vez
menos linear ou pensada dentro de uma ideia segura de pro-
gressão, a arte da boa comunicação é, sem dúvida, um dos
instrumentos vitais para o desenvolvimento de um indivíduo
dentro de uma organização ou de forma autônoma, impres-
cindível àqueles que buscam um nível de profissionalismo à
altura de seus planos.

Se você observar com atenção, vai notar que todo o profis-


sional de sucesso possui uma característica em comum: a de
comunicar-se bem, seja ele um gestor de empresa, que vende
50    Comunicação para o Planejamento Profissional

de forma única suas ideias; ou um professor, que cativa seus


alunos e os encanta; ou mesmo alguém da área de saúde
ou tantas outras que, por meio da palavra, escrita ou falada,
se aproxima daqueles a quem se dirige e os conforta, passa
segurança, confiança ou mesmo os acolhe. Do contrário, sem
uma comunicação eficiente, as portas se fecham, mesmo que
o conhecimento específico do indivíduo seja de excelência. De
acordo com Cunha:

[n]ão adianta ser uma pessoa formada em determina-


da área, ter uma pós-graduação, mas ter dificuldade em
comunicação. É preciso saber como proceder em uma
reunião, falar com os clientes, com os superiores, saber
redigir documentos, e-mails etc. Resumindo, tudo o que
fará em sua vida profissional terá a comunicação como
prioridade [...]. (2009, p. 9-10)

Entretanto, antes de seguirmos nosso debate, precisamos


aprimorar a ideia que temos de boa comunicação ou compe-
tência comunicacional, ponto central desta nossa discussão.
Para isso, leremos a conhecidíssima crônica de Luís Fernando
Veríssimo, intitulada O gigolô das palavras, que mostra de for-
ma muito bem trabalhada e exemplificada, para nós, por meio
de uma divertida narrativa, esse conceito:
Capítulo 3    Comunicação e carreira profissional: perspectivas ...    51
52    Comunicação para o Planejamento Profissional

O que Veríssimo nos mostra, com belíssimo grau de comi-


cidade e com muita sabedoria, é que a capacidade comunica-
tiva, ou melhor, o grau de competência comunicacional de um
indivíduo não está ligado perfeitamente ou necessariamente
ao nível de conhecimento gramatical, como se bastasse ser um
gramático para saber se comunicar bem, mas no modo que se
usa a linguagem. Existem excelentes comunicadores semianal-
fabetos, assim como eruditos extremamente incapazes de se
comunicarem por escrito ou oralmente com todas as pessoas
a que desejam atingir pela simples dificuldade de adequar sua
linguagem à determinada situação sociocomunicativa. Não
conseguem proporcionar uma simetria discursiva e uma apro-
ximação linguística com seus ouvintes ou grupo de leitores. É
como se uma criança perguntasse ao doutor em química por
que o sabão limpa com facilidade a gordura e ele lhe desse
uma explicação extremamente científica a partir de uma exem-
Capítulo 3    Comunicação e carreira profissional: perspectivas ...    53

plificação relacionada à quebra de determinadas moléculas


causadas pelo contato de uma substância com outra. Por isso,
como nos mostra David Lima Jr.:

não basta ser um “um gênio” em sua área de atuação se


ninguém entende o que você fala. Suas ideias brilhantes
pouco lhe valerão alguma coisa se, na hora de apresen-
tá-las ao público, não souber ordená-las de forma con-
vincente, e argumentar de maneira clara e objetiva. Seu
sucesso é do tamanho de suas habilidades de comunica-
ção. Se você não ocupa o lugar que acredita merecer, é
porque ainda não aprendeu a comunicar ao mundo suas
habilidades. (LIMA, 2015, p. 1)

Isso tudo não significa, de forma alguma, que o conheci-


mento gramatical seja dispensável ou visto como algo menos
importante. Não mesmo. Significa, isso sim, que o grau de
competência comunicacional de um indivíduo vai além desse
importante conhecimento. O conhecimento gramatical apenas
está ligado a um rol muito maior de destrezas no que se refere
à boa capacidade comunicacional, que podem ser desenvol-
vidas a partir da prática da leitura, de exercícios de prática de
escrita, do exercício de leitura em voz alta, de exercícios de co-
municação oral, que veremos mais para frente, quando tratar-
mos mais especificamente dessa questão, entre outros, assim
como uma visão atual e voltada para as inúmeras demandas
sociais da linguagem, como as estudadas nos dois capítulos
anteriores e que devem ser levadas sempre em conta.Lembre-
se, a linguagem é uma roupa que se veste.
54    Comunicação para o Planejamento Profissional

Cada lugar exige a sua!

O filólogo e gramático
Evanildo Bechara resume bem
toda essa questão, ao dizer
que “Precisamos ser poliglotas
em nossa própria língua”, ade-
quando nosso nível de lingua-
gem de acordo com nosso in-
terlocutor, o que só poderá ser
feito por quem conhece todos
os níveis. Transitar do nível co-
loquial ao nível culto só é pos-
sível a quem domina todos.

2C
 omunicação e pluralismo na sociedade
contemporânea

Se elencarmos algumas das principais características que o


mercado busca encontrar no profissional contemporâneo
(como a sempre tão almejada proatividade, a facilidade para
os bons relacionamentos e a criatividade na resolução de
problemas de modo dinâmico e eficaz), temos nitidamente a
questão da comunicação como seu pilar mestre: a essência
de tudo. E é nesse pilar que está a relação com a metáfora
da “roupa que se veste” que demos acima. Estamos vivendo
em uma sociedade plural, tanto em aspectos culturais, étni-
cos, de gênero quanto midiática, e saber jogar, respeitar e
compreender essa pluralidade é essencial. Mais do que nunca,
Capítulo 3    Comunicação e carreira profissional: perspectivas ...    55

aprendeu-se que a boa relação interpessoal, a aptidão para


lidar com a diferença, a facilidade de trabalhar em grupo e de
liderar, a empatia e a capacidade de promover não apenas
algo ou uma determinada empresa, mas também a si mesmo
são alguns dos grandes segredos de nosso tempo.

Vivemos o tempo da comunicação e da informação por


excelência, e saber se comunicar com todos, percebendo esse
contexto de diversidade e pelas mais distintas ferramentas é o
caminho para o êxito. Podemos pensar essa questão, inclusive,
no que se refere ao estudo de línguas estrangeiras ou mesmo
por um viés de caráter inclusivo. Por que não colocar LIBRAS
em seu currículo, não é mesmo? Dominar a Língua Brasileira
de Sinais, hoje, pode lhe abrir muitas portas. Isso porque tudo
o que nos cerca (e nisso a vida organizacional e a carreira)
não caminha sem sua relação com os fenômenos não apenas
econômicos, mas igualmente políticos, ecológicos, tecnológi-
cos e culturais do momento histórico em que vivemos. E sem
esquecer a importante atenção que temos de dar à velocidade
desse nosso período, pois uma das fortes marcas culturais do
século XXI é a alta tecnológica de comunicação e sua veloz
funcionalidade.

Isso ocorre porque,


no final do século XX, as-
sistiu-se, nas sociedades
avançadas e também
nas emergentes, a um
processo desenfreado no
avanço das tecnologias
de comunicação e de
56    Comunicação para o Planejamento Profissional

transporte, acelerando o tempo e comprimindo o espaço, o


que ocasionou a globalização econômica e determinou mu-
danças decisivas no modo de se pensar a sociedade e suas
instituições. Hoje, tudo é propaganda, marketing e, principal-
mente, automarketing, autopromoção, afinal, estamos na
época de redes sociais e dos youtubers, em que as pessoa em
destaque são aquelas, segundo Nelsio Abreu e Renata Baldan-
za, com a aptidão de gerenciar com êxito sua imagem “por
meio de atitudes relevadas do dia a dia, ampliando a capaci-
dade de atuação pessoal e profissional, garantindo uma ima-
gem saudável e condizente com as expectativas do mercado e
da sociedade” (ABREU; BALDANZA, 2003, p. 103).

Em uma realidade com


essas características e tão
competitiva e líquida como
a nossa, em que tudo
é temporário e mutável
(como nos ensinou o soció-
logo Zygmunt Bauman, fa-
zendo com que a novidade
de hoje seja o obsoleto de
amanhã) conquistar, inovar
e fidelizar são os principais
desafios que buscam as mais variadas estratégias empreen-
dedoras, e nenhuma existe sem o poder da comunicação e
sem utilizá-la da melhor forma possível nesse contexto plural
e instantâneo de nossa denominada pós-modernidade, cons-
truindo, dentro desses inúmeros espaços comunicacionais,
que também exigem suas vestimentas próprias, sua própria
narrativa, seu protagonismo.
Capítulo 3    Comunicação e carreira profissional: perspectivas ...    57

A brusca evolução das Tecnologias de Informação e Co-


municação, as conhecidas TICs, afetou, nos últimos anos,
não apenas os costumes e modos de lazer e de consumo dos
indivíduos, mas foi responsável, a partir de novos hábitos e
novos mecanismos de formas de interação, por mudanças sig-
nificativas no relacionamento humano e na maneira como se
comunicam. E engana-se aquele que acredita que toda essa
pluralidade de espaços de comunicação torna tudo mais fácil.
Essa facilidade é relativa se pensarmos que cada um deles per-
mite e ao mesmo tempo limita tipos e modalidades diferentes
de uso da linguagem. A forma como escrevo em um lugar nem
sempre é a mesma que posso escrever em outro. O jeito que
falo ou como mantenho minha postura, inclusive corporal, em
uma determinada situação, nem sempre é a mesma permitida
em outra. E quanto mais espaços assim eu tenho, mas com-
plexidade vai haver em relação ao uso da linguagem e suas
mais variadas possibilidades de manifestação. É preciso que
sejamos muito atentos a isso.

3 O que mais não podemos esquecer?

Para finalizarmos este nosso debate, não podemos nos esque-


cer, então, de que a comunicação é essencial para o cres-
cimento pessoal e profissional de qualquer indivíduo, assim
como uma importante alavanca para qualquer carreira. A for-
ma como nos comunicamos é responsável pela primeira im-
pressão causada sobre nós em qualquer espaço, seja ele um
ambiente de lazer ou organizacional.
58    Comunicação para o Planejamento Profissional

Independentemente de suas habilidades, a primeira a ser


testada é sua capacidade de comunicação, pois dificilmen-
te, em um processo seletivo, por exemplo, que exija uma ex-
posição escrita ou verbal, você será capaz, pelo curto tempo
ou demais limitações, de mostrar todo seu potencial técnico e
todo seu conhecimento, que só serão revelados no decorrer
de suas práticas e de sua caminhada a partir de seu trabalho.
Nesse primeiro momento, a grande responsabilidade está na
sua aptidão comunicativa e comportamental.

A história da humanidade nos mostra que o ser humano se


relaciona com o mundo e organiza o mundo, para si, por meio
da linguagem, e que, dentre as várias formas de linguagem,
a palavra, verbalizada ou escrita, é a matéria prima da for-
mação de nosso saber cultural, político, científico, filosófico,
religioso e tecnológico. Ter a ciência de que a natureza comu-
nicacional do ser humano é uma complexa rede de relações e
de variáveis, e que ela sempre foi decisiva no desenvolvimento
dos indivíduos e em sua posição social é um dado indispensá-
vel para quem pretende traçar um caminho sólido (pessoais e
profissionais) em uma sociedade como a nossa.

Recapitulando

Neste capítulo, que se propôs a apresentar aquilo que pode ser


pensado como basilar desta disciplina, discutimos a relação
cada vez mais evidente e indissociável entre a boa capacidade
comunicativa e o êxito pessoal e profissional, e afirmamos que
o sucesso de um indivíduo, em uma sociedade de informação
Capítulo 3    Comunicação e carreira profissional: perspectivas ...    59

como a nossa, passa, sem dúvida alguma, pelo tamanho de


suas habilidades de comunicação. A essa capacidade demos
o nome de competência comunicacional e compreendemos
que ela não passa, única e essencialmente pelo conhecimento
gramatical, mas pela aptidão em lidar com as diferentes situa-
ções sociocomunicativas e os mais diversos espaços e meios
de comunicação. A linguagem é uma roupa que se veste, lem-
bra?

Referências

ABREU, Nelsio Rodrigues de; BALDANZA, Renata Francisco.


Marketing Pessoal: ser e querer, percepção e visibilidade.
In: Revista Científica Symposium, Minas Gerais, v. 1, n.
2, p. 102-106, Jul. / Dez. 2003.

BECHARA, Evanildo. Disponível em: <https://kdfrases.com/


autor/evanildo-bechara>. Acesso em: 12 set. 2017.

CUNHA, Karina Miranda Machado Borges. A comunicação


no meio profissional. In: Gestão & Tecnologia. Edição I –
setembro/outubro 2009. pp. 8-10.

LIMA JR., David P. Habilidades Fundamentais na Comu-


nicação Profissional. Disponível em: <https://carreiras.
empregos.com.br/mercado/habilidades-fundamentais-na-
comunicacao-profissional/>. Acesso em: 12 set. 2017.
60    Comunicação para o Planejamento Profissional

ROSA, Aparecida Silvério; LANDIM, Daniela de Castro B. Co-


municação: a ferramenta do profissional. In: Perquirere:
Patos de Minas: UNIPAM, (6): 141-155, n. 6, out. 2009.

Atividades

1) Para responder a esta questão, leia atentamente o trecho


da matéria publicada no portal Crreira & sucesso, dis-
ponível em: https://www.catho.com.br/carreira-sucesso/
dicas-emprego/habilidade-de-comunicacao-desenvolvi-
mento-profissional.

A comunicação é uma das principais competências neces-


sárias a todo ser humano, principalmente no mundo em que
vivemos, em uma época de constantes mudanças em que as
empresas estão dando cada vez mais valor a isso. “É uma
competência fundamental para o profissional moderno que
quer se dar bem no mercado de trabalho”, afirma Reinaldo.

Cada vez mais, as pessoas estão tomando consciência dis-


so e buscando aperfeiçoar suas habilidades de comunicação.
Os objetivos podem ser vários: obter uma interlocução mais
positiva, melhorar as relações interpessoais, melhorar o pro-
cesso de liderança ou aprimorar o contato com o público. E
não é só privilégio dos tímidos, não. É crescente o número de
executivos que buscam cursos e programas de comunicação
com o intuito de melhorar a comunicação no dia a dia, pro-
curando aprimorar as interações com os diversos públicos e
Capítulo 3    Comunicação e carreira profissional: perspectivas ...    61

em diferentes situações. Isso sem contar aqueles que buscam


perder o medo de falar em público.

“Muita gente já se deu conta de que a habilidade de comu-


nicação funciona como uma alavanca para a carreira e vem se
firmando como uma competência muito valorizada pelas orga-
nizações”, afirma Letterino Santoro, especialista em Expressão
Verbal e Escrita. “Mas apesar disso, muita gente ainda se fixa
na fluência em outras línguas e negligenciam o domínio do
português. Vale lembrar que erros cometidos em e-mails, entre-
vistas de emprego e outros contatos podem ferir a imagem e a
credibilidade da pessoa, prejudicando a conquista do respeito
por parte do ouvinte”, conclui Marisa De Mitri, consultora es-
pecializada em Língua Portuguesa.

Agora, com base no que você estudou neste capítulo, mar-


que a alternativa que melhor interpreta o fragmento acima.

a) O texto tem como tema central a importância dos cur-


sos e programas de aprimoramento comunicacional,
fundamentais na formação do profissional contempo-
râneo.

b) O texto tem como tema central a ideia de que relação


entre a boa comunicação e a conquista profissional se
articula de forma inversamente proporcional e que a
segunda não depende da primeira.

c) O texto tem como tema central o cuidado que devemos


ter em relação aos cursos e programas de aprimora-
mento comunicacional, pois muitos não possibilitam a
62    Comunicação para o Planejamento Profissional

formação necessária para o profissional contemporâ-


neo.

d) O texto tem como tema central a ideia de que a re-


lação entre a boa comunicação e a conquista profis-
sional se articula de forma diretamente proporcional e
que a segunda depende da primeira.

e) O texto tem como tema central a ideia de que relação


entre a boa comunicação e a conquista profissional
se articula de forma diretamente proporcional e que a
primeira depende da segunda.

2) Como vimos em nosso capítulo, a competência comuni-


cacional de um indivíduo não está necessariamente ligada
ao nível de conhecimento gramatical desse sujeito, como
se bastasse a pessoa ser uma estudiosa da gramática para
saber se comunicar bem. A boa capacidade comunicativa
está, na verdade, no modo que se usa a linguagem. Como
apontamos, existem ótimos comunicadores semianalfabe-
tos, assim como eruditos extremamente incapazes de se
comunicarem com pessoas menos escolarizadas, não se
fazendo compreender.

Em relação a essa questão, leia as afirmativas a seguir.

I – Quando falamos em competência comunicacional, es-


tamos abordando diretamente a capacidade de comu-
nicação e de expressão oral do sujeito.

II – O parágrafo anterior defende a tese de que o conhe-


cimento da norma culta da língua portuguesa não é
importante dentro do universo comunicacional.
Capítulo 3    Comunicação e carreira profissional: perspectivas ...    63

III – Uma das maiores habilidades de um bom comunica-


dor é saber adaptar sua linguagem, seja ela oral ou
escrita, às mais diversas situações comunicativas.

Agora, podemos indicar o que é correto.

a) Apenas na I.

b) Apenas na II.

c) Apenas na III.

d) Apenas na I e na II.

e) Apenas na I e na III.

3) Fundamentado no que você estudou neste nosso terceiro


capítulo, redija um breve texto, com média de 15 linhas,
acerca do tema abordado na charge a seguir.

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64    Comunicação para o Planejamento Profissional

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4) Leia atentamente o parágrafo a seguir e escolha a alterna-


tiva que o completa corretamente.

Nos últimos anos, o avanço das Tecnologias de Informa-


ção e Comunicação transformou nossa vida de forma sig-
nificativa. Estamos, hoje, em todos os lugares ao mesmo
tempo e somos multifuncionais. Aparentemente, tudo está
mais fácil, mas engana-se aquele que julga que toda essa
multiplicidade de espaços de comunicação torna tudo
mais simples. Essa facilidade, como dissemos em nosso
capítulo, pode ser muito relativa. Para isso, basta pen-
sarmos que cada um desses espaços permite e ao mes-
mo tempo limita ___________________ do uso de nosso
________________. A forma como escrevo em um lugar
nem sempre é a mesma que posso escrever em outro.
Capítulo 3    Comunicação e carreira profissional: perspectivas ...    65

a) diferentes formas/aparato comunicacional.

b) as palavras/vocabulário.

c) o tempo/aparato tecnológico.

d) as palavras/aparato cognitivo.

e) diferentes formas/aparato cognitivo.

5) Marque V ou F nas afirmações a seguir e depois escolha a


alternativa correta.

(  ) Quando falamos de comunicação em nossa disciplina


até aqui, tratamos de comunicação de modo integral.
Isso envolve a fala, a escrita, a postura corporal, as
atitudes e até mesmo nossas verdades e valores.

(  ) O sucesso da comunicação é obtido pelo uso de vo-


cábulos complexos e bem elaborados, evitando o uso
de palavras cotidianas.

(  ) Comunicar-se bem, seja por meio da linguagem oral


ou escrita, é saber adequar o discurso à situação em
que se está inserido.

a) V, V, V.

b) F, F, F.

c) F, V, V.

d) V, F, V.

e) F, F, V.
Edgar Roberto Kirchof1

Capítulo 4

Comunicação e mídias
contemporâneas: novos
espaços; novos desafios

1  Mestre em Comunicação, Doutor em Linguística e Letras, atualmente professor


no curso de Letras e no Programa de Pós-Graduação em Educação da ULBRA.
Capítulo 4   Comunicação e mídias contemporâneas:...   67

Introdução

Neste capítulo, você está convidado a refletir sobre o modo


como as mídias digitais vêm transformando o contexto da co-
municação e da linguagem nos dias atuais. Inicialmente, são
apresentadas algumas informações básicas sobre o conceito
de “mídia”, com ênfase na distinção entre as assim chama-
das mídias analógicas e as mídias digitais. Uma vez com-
preendida essa diferença, a proposta é que você reflita sobre
a fluidez dos conteúdos digitais, os quais circulam por meio
de múltiplas plataformas porque estão organizados na forma
de bits (bytes).

Na sequência, há uma discussão sobre os novos usos da


linguagem no espaço digital. Inicialmente, aborda-se a ten-
dência a modificar a linguagem verbal, com ênfase no inter-
netês, mas também o uso frequente de ícones visuais, como
os assim chamados emoticons. Outros temas abordados ainda
nesse contexto de novas linguagens são a prática da remixa-
gem e o fenômeno dos memes. O capítulo finaliza tratando
do surgimento de uma série de novas ferramentas e espaços
de comunicação devido ao desenvolvimento das tecnologias
digitais, com ênfase nas redes sociais da Internet.

1 O que são mídias?

Etimologicamente, mídia é uma adaptação do termo latino


media, que é o plural de medium (singular), significando meio.
Na língua portuguesa, nós utilizamos tanto o termo meios de
68    Comunicação para o Planejamento Profissional

comunicação como mídias para designar “suportes materiais,


canais físicos, nos quais as linguagens se corporificam e atra-
vés dos quais transitam”. (SANTAELLA, 2003, p. 25). Ao longo
da história da humanidade, o ser humano produziu inúmeras
mídias para armazenar e distribuir informações e, dessa forma,
ampliar a sua capacidade de comunicação, pois a nossa voz,
por mais eficiente que possa ser em situações de fala, tem uma
duração efêmera. Na Pré-história e na Antiguidade, alguns dos
meios de comunicação mais comuns eram a pintura rupestre
em cavernas, as tabuletas feitas de argila, os rolos de papiro
e pergaminho, que foram sendo substituídos pelos livros de
papel, e hoje, em parte, pelos aparelhos de computação.

Atualmente, no campo de estudos das mídias, os pesqui-


sadores costumam caracterizar as mídias mais antigas como
“mídias analógicas”. Já as “mídias digitais”, também chama-
das de novas mídias, estão relacionadas com o desenvolvi-
mento do computador e das ciências da computação, que ti-
veram seu início nas décadas de 1950 e 1960. Basicamente,
de acordo com Lister et al. (2009, p. 16), o que diferencia
uma mídia analógica de uma mídia digital é que, nas mídias
analógicas, as propriedades físicas dos dados de entrada (as
informações capturadas) são convertidas em um outro objeto,
o qual possui uma forma física parecida (análoga) com os
próprios dados de entrada.

Para exemplificar, podemos pensar no funcionamento de


uma câmera fotográfica analógica, que está equipada com
um filme revestido com produtos químicos sensíveis à luz. As-
sim sendo, em termos simplificados, a informação que entra
na câmera analógica (a flor, na imagem abaixo) é a própria
Capítulo 4   Comunicação e mídias contemporâneas:...   69

luz que emana do objeto que está sendo fotografado, ficando


marcada sobre o filme, como um rastro semelhante ao objeto
fotografado. Posteriormente, o filme será revelado, e esse “ras-
tro” deixado pela luz será transposto para o papel da foto. Em
última análise, a forma física da fotografia que veremos, no
final do processo, é semelhante (por isso, analógica) ao rastro
deixado pela luz sobre o filme.

Já nas mídias digitais, a informação é organizada eletroni-


camente em sequências de bits (bytes), ou feixes discretos de
informação. Isso permite um número maior de informação a
ser armazenado e processado em uma velocidade maior do
que qualquer outro meio na história humana. A informação
pode ser comprimida durante a transmissão e descomprimida
na chegada, permitindo que dados viajem em uma velocidade
maior, em distâncias maiores. No caso das imagens, esses bits
são chamados de pixels. Embora a câmera fotográfica digital,
assim como a analógica, também utilize uma superfície fotos-
70    Comunicação para o Planejamento Profissional

sensível (sensível à luz) para captar a luz dos objetos fotogra-


fados, ela transforma esse rastro deixado pela luz em bits ou
pixels, os quais podem ser gravados como arquivos digitais
no próprio aparelho e, posteriormente, podem ser colocados
para circular na rede mundial de computadores. Nesse caso,
a forma da fotografia que veremos, no final do processo – na
tela de algum aparelho ou impressa em papel –, é diferente
(e não análoga) aos pixels que compõem a imagem e, por
isso, esse tipo de mídia não é chamado de analógico, mas de
digital.

2 Recepção e fluidez informacional

Agora que você compreendeu o que são as mídias digitais, é


importante refletir sobre as mudanças que elas desencadea-
ram em nossas formas de comunicação. Nesse sentido, uma
diferença muito importante está relacionada com as formas de
produção, transmissão e recepção dos conteúdos. Ao passo
que, nas mídias analógicas, geralmente o conteúdo é trans-
mitido de forma linear e centralizada para públicos massivos,
nas mídias digitais, a produção e a recepção não possuem
um centro unificado, pois muitas pessoas transmitem conteú-
dos para muitas outras. Em poucos termos, antes de convergir
com as mídias digitais, as mídias analógicas não permitiam
que produzíssemos nossos próprios conteúdos a partir da in-
teração com aquilo que recebíamos; já as mídias digitais vêm
nos transformando em uma espécie de produtor-consumidor,
o que levou o pesquisador Axel Bruns a sugerir o conceito
Capítulo 4   Comunicação e mídias contemporâneas:...   71

“produser” (em português, produsuário) para caracterizar esse


produtor-usuário híbrido. (Barker, 2011).

Para compreender esse fenômeno, podemos comparar o


funcionamento da televisão (uma mídia originalmente analó-
gica) com o funcionamento de sites de rede social como o
Facebook ou o YouTube. Na televisão, um mesmo conteúdo –
uma telenovela, um documentário, um telejornal, por exemplo
– é transmitido, ao mesmo tempo, por uma emissora, para um
número muito grande de pessoas, o que a caracteriza como
uma mídia endereçada a grandes massas. Já em sites como
o Facebook, há uma série de pessoas intercalando os papéis
de produtores e receptores de conteúdos variados ao mesmo
tempo. Assim, quando lemos o que é postado (o que nos torna
receptores), também somos capazes de fazer nossas próprias
postagens (o que nos torna produtores), e os conteúdos que
circulam não são os mesmos a atingir as mesmas pessoas,
como ocorria com as mídias analógicas.

O pesquisador Jorge Yudice (p. 91) chamou atenção para


o modo como empresas de mídia estão usando essa estratégia
para atingir os consumidores de mídia de forma personalizada,
a partir de fenômenos como o streaming, que permite disponi-
bilizar conteúdo on-line, o qual é acessado pelo usuário quan-
do e como este decidir, desde que pague uma taxa mensal ou
anual. Plataformas de filmes e séries como Netflix, de música
como Deezer e mesmo de livros como Amazon ou Scribd são
exemplos do uso desse recurso. Nas palavras de Yudice,

[e]nquanto as redes de televisão oferecem programas que


nem todo espectador quer ver e precisam desenvolver es-
72    Comunicação para o Planejamento Profissional

tratégias para manter a atenção desses espectadores ao


longo de uma noite, para assim alcançar bons ratings e,
portanto, anunciantes, os novos serviços de streaming e
OTT (over-the-top content ou conteúdo transmitido sem a
intervenção de um operador) oferecem o que e quando
os espectadores querem ver, sem se preocuparem com a
publicidade.

Essa dispersão na produção e na recepção, típica das mí-


dias digitais, ocorre porque a digitalização permite que um
mesmo conteúdo migre entre muitas plataformas, tornando
flexíveis as condições de tempo e espaço para os processos
comunicativos. Lister et al. (2009, p. 19) sintetizam essa carac-
terística afirmando o seguinte:

[a]s mídias analógicas tendem a ser fixas, ao passo que


as mídias digitais tendem a um estado permanente de
fluxo. [...] As mídias digitais também existem como uma
cópia física analógica, mas quando o conteúdo de uma
imagem ou texto está digitalizado, fica disponível como
uma sequência de números binários armazenados na
memória de um computador.

Por exemplo, se eu leio uma notícia interessante em algum


jornal on-line, posso transmiti-la, a qualquer momento, por
meio de sites de redes sociais, mas também posso enviá-la
diretamente para apenas alguns de meus contatos, por e-mail
ou por outros canais. Além disso, também é possível enviar li-
vros inteiros, filmes, músicas – desde que estejam digitalizados
–, por e-mail, por meio de sites das redes sociais ou de outras
plataformas compatíveis. Em poucos termos, a notícia flui por
Capítulo 4   Comunicação e mídias contemporâneas:...   73

muitas plataformas porque consiste de conteúdo digitalizado


(bits, pixels). Portanto, pode-se dizer que, de certo modo, o
conteúdo digital é volátil, no sentido de que não está preso
ou fixo a um único suporte ou plataforma, o que não signi-
fica que seja instável, pois sempre que for acessado, estará
disponível de modo idêntico, independentemente do suporte
utilizado para o acesso (por exemplo, um celular, um tablet,
um desktop).

3D
 esvios linguísticos e mídias
contemporâneas

É importante ressaltar que cada nova mídia introduz também


novas possibilidades de utilizar a linguagem. No contexto das
mídias digitais, existe uma tendência, por parte dos usuários,
a modificar a linguagem verbal em relação ao código da nor-
ma culta, criando adaptações ou “desvios linguísticos”. Essa
tendência é tão forte que levou alguns linguistas a afirmarem
que a Internet gerou uma nova linguagem, o internetês. Em um
estudo sobre a escrita em webblogs, por exemplo, a pesquisa-
dora Roberta Varginha Ramos Caiado (2007, p. 41) constatou
uma série de adaptações linguísticas motivadas pelo espaço
comunicacional dos blogs. Na Internet, em vez de escreve-
rem as palavras com todas as letras, é muito comum que as
pessoas utilizem abreviações, de modo a facilitar e acelerar o
ritmo da comunicação. Alguns exemplos são os seguintes:
74    Comunicação para o Planejamento Profissional

Ortografia da gramáti- Adaptações/abreviações


ca normativa comuns na Internet
Lá lah
Casa ksa
Beijo bj
Horas hrs
Você vc

Outra característica forte da linguagem no espaço das mí-


dias digitais é o uso de signos visuais mesclados à linguagem
verbal, principalmente os assim chamados emoticons. Ao invés
de escrevermos um enunciado afirmando que concordamos
com ou que gostamos de algo, colocamos imagens de cora-
ções ou carinhas sorridentes nas mensagens.
De fato, é possível expressar muitos sentimentos e estados de
espírito por meio dessas imagens, desde tristeza até
a raiva e grande contentamento , entre muitas
outras possibilidades. Dessa forma, ocorre um hibridismo entre
a linguagem verbal e a linguagem visual quando nos comuni-
camos pelas plataformas digitais.

Conforme esclarece Anderson Cristiano da Silva, (p. 98),


para alguns professores, o internetês compromete o aprendi-
zado da língua portuguesa padrão, mas outros acreditam que
“toda forma de comunicação é válida, com a ressalva de que
é preciso que os alunos estejam atentos para que a linguagem
virtual não extrapole situações que exigem o uso do português
padrão culto.” Em poucos termos, embora algumas pessoas
considerem esse tipo de linguagem como “errada”, em nossa
Capítulo 4   Comunicação e mídias contemporâneas:...   75

perspectiva, trata-se de uma “variação linguística” válida em


contextos comunicativos informais do ambiente digital, como
os chats, os e-mails, as mensagens rápidas em redes sociais e
outros canais.

Entretanto, é muito importante que você saiba que essa


linguagem não é adequada em contextos formais de comu-
nicação, como, por exemplo, em uma redação acadêmica,
em um documento oficial vinculado ao ambiente de trabalho,
entre outros tantos espaços que exigem o domínio da norma
padrão da língua escrita. A pesquisadora Ana Elisa Ribeiro
sintetiza essa discussão, afirmando que o problema não é uti-
lizar linguagem de Internet para se comunicar, e sim, dominar
apenas um modo de operar com textos:

[u]m jovem que frequenta salas de bate-papo provavel-


mente domina a escrita peculiar a esse ambiente. Se ele
percebe o momento de alterar o modo de escrita quando
se transfere para outro ambiente, ainda está tudo bem.
O que parece indesejável é que ele empregue um único
modo para todos os ambientes, como se não fosse capaz
de reinventar sua maneira de interagir de acordo com
indicadores do novo ambiente. (RIBEIRO, 2007, p. 238)

E você, prezado aluno, é capaz de alterar sua escrita de


acordo com diferentes ambientes, sabendo o momento correto
para utilizar registros informais e formais da linguagem?
76    Comunicação para o Planejamento Profissional

4 Novas mídias, novas linguagens

Quando surgiram as primeiras mídias digitais, como os bloIgs,


os sites e as plataformas para envio e troca de e-mails (SMS,
ICQ), ainda na década de 1980, as mídias digitais pareciam
destinadas a substituir todas as mídias analógicas. No entan-
to, com o tempo, o que ocorreu de fato foi uma convergência
entre elas. Se pensarmos na televisão, por exemplo, depois
que um programa é exibido em canais de rede aberta, poderá
ser disponibilizado também nas plataformas da Internet, pois
já está digitalizado. Como exemplo, podemos citar o vídeo da
escocesa Susan Boyle, que foi exibido em 2009 no programa
britânico Britain’s got talent. Estima-se que, na rede televisiva,
o programa foi visto por 32 milhões de espectadores nos EUA,
ao passo que, no YouTube, foi visualizado mais de 77 milhões
de vezes (Jenkins, 2014, p. 33). Como se percebe, nesse caso,
TV e YouTube não são concorrentes, mas convergem para po-
tencializar a capacidade de propagação dos mesmos conteú-
dos.

Como esclarece o pesquisador Henry Jenkins (2014), cada


vez mais, a tecnologia digital tem sido desenvolvida de modo
a facilitar a convergência das mídias e o compartilhamento
dos conteúdos. Segundo Jenkins, essa lógica tem estimulado
um modelo mais participativo de cultura, que vê o público não
simplesmente como consumidores de mensagens pré-construí-
das, mas como pessoas que estão formando, compartilhando,
reconfigurando e remixando os conteúdos de mídia de modos
que anteriormente não poderiam ser imaginados. E as pessoas
não estão fazendo isso como indivíduos isolados, mas dentro
Capítulo 4   Comunicação e mídias contemporâneas:...   77

de comunidades maiores e de redes, o que lhes permite es-


palhar conteúdos muito além de sua proximidade geográfica
imediata.

O remix (ou remixagem, em português) é uma dessas práti-


cas às quais se refere Jenkins, tendo se tornado tão popular no
ambiente digital que a revista Wired (julho de 2005) chegou
a afirmar que estamos vivendo “na era do remix”. O pesqui-
sador Chris Barker (2011) esclarece que, em geral, o remix
envolve as funções de “cortar e colar”, mas também processos
mais complexos para desconstruir e reconstruir conteúdos dos
mais diversos campos da cultura, desde obras de arte, literatu-
ra, filmes, animação e música. A intenção do remix é sempre
produzir algo novo e distinto a partir das formas pré-existentes,
sejam elas animações, filmes, charges, fotos ou canções. Nas
palavras de Dudeney, Hockly e Pegrum (2016, p. 54),

o remix pode implicar mudar o slogan de um anúncio


para subverter a mensagem original. Pode envolver o uso
de Photoshop em determinada imagem de uma figura
política em uma foto anterior para lançar nova luz sobre
a política que ela pratica. Pode acarretar mashing up, isto
é, combinar duas canções preexistentes para criar um
diálogo inesperado entre duas letras. Pode incluir dublar
ou legendar criativamente um filme para surpreender os
espectadores. O remix é um jogo de saber no qual as rei-
vindicações de verdade frequentemente não têm lugar. E,
como em todos os outros jogos, tem a ver com diversão
ao longo do trajeto.
78    Comunicação para o Planejamento Profissional

Um exemplo recente muito popular de canção que foi sub-


metida a inúmeros processos de remixagem é “Despacito”,
composta originalmente pelo cantor porto-riquenho Luis Fonsi
e o rapper Daddy Yankee. Recentemente, circularam inúme-
ras versões remixadas da letra e da coreografia dessa canção,
por meio das redes sociais, geralmente remetendo a vídeos no
YouTube. Algumas remixagens que ficaram muito populares
incluem versões com os personagens da animação Minions
(https://www.youtube.com/watch?v=k_4ag6z5G8o), versões
em japonês, alemão e inclusive adaptações com a música na-
tivista gaúcha.

Outro fenômeno típico do ambiente virtual são os assim


chamados memes, conteúdos capazes de despertar o interesse
de um número gigantesco de pessoas conectadas à rede –
principalmente nas redes sociais – e que, por isso, são com-
partilhados e difundidos de forma vertiginosa. O vídeo da es-
cocesa Susan Boyle, já citado anteriormente, é um exemplo
de meme, mas também algumas remixagens de “Despacito”.
Alguns memes são construídos com técnicas de remixagem,
embora outros sejam gravações de situações do cotidiano ou
fragmentos de canções ou programas televisivos. Alguns me-
mes são tão interessantes que foi criado um Museu virtual do
meme, pela Universidade Federal Fluminense (http://www.mu-
seudememes.com.br), no qual é possível acessar alguns dos
mais populares memes brasileiros.

Popularmente, afirma-se que um conteúdo se transformou


em meme quando foi viralizado, o que remete a uma metáfora
do campo da biologia. A própria palavra meme foi inventa-
Capítulo 4   Comunicação e mídias contemporâneas:...   79

da pelo biólogo Richard Dawkins como um fenômeno cultural


análogo ao fenômeno biológico do gene.

5E
 spaços e ferramentas comunicacionais
na contemporaneidade

A partir dos exemplos citados nas seções anteriores, você já


deve ter percebido que, com a tecnologia digital, qualquer
conteúdo pode ser armazenado e processado em uma ve-
locidade jamais antes imaginada, com recursos igualmente
surpreendentes de manipulação, e consumido quase instan-
taneamente em qualquer parte do mundo em que haja algum
aparelho de computação conectado à rede mundial de com-
putadores (Internet). Em termos muito simplificados, a Internet
pode ser compreendida como uma rede de abrangência mun-
dial, a qual permite que qualquer computador, de qualquer lu-
gar do mundo, uma vez conectado, envie e receba conteúdos
com base nos protocolos comuns a essa rede.

O ambiente de convergência das mídias, no qual o compar-


tilhamento dos conteúdos é cada vez mais facilitado, propiciou
o surgimento de uma série de novas ferramentas e espaços
de comunicação, muitos deles caracterizados como projetos
colaborativos, os quais não seriam possíveis sem a mediação
da Internet. Um dos exemplos mais conhecidos e bem-suce-
didos é a Wikipedia, uma enciclopédia virtual produzida por
voluntários ao redor do mundo, em vários idiomas, que forne-
ce conteúdo gratuito a qualquer usuário. Nessa mesma linha,
o projeto internacional REA (Recursos Educacionais Abertos)
80    Comunicação para o Planejamento Profissional

(http://www.rea.net.br/site/) disponibiliza, gratuitamente, ma-


terial educacional com licença aberta, o que permite que qual-
quer usuário possa não apenas acessar e utilizar uma grande
quantidade de material, mas também modificá-lo sem infringir
leis de direitos autorais.

Uma das primeiras reações do mercado editorial ao cená-


rio das tecnologias digitais foi oferecer versões digitalizadas
dos livros impressos para compra e venda, os assim chamados
e-books, que podem ser lidos em um desktop, em um celular,
em um tablet, mas também nos e-readers (livros eletrônicos)
produzidos por empresas como a Kindle, entre outros. Com
a possibilidade de digitalização dos livros impressos, surgiram
também muitos projetos de bibliotecas virtuais gratuitas ao re-
dor do mundo, permitindo que qualquer pessoa conectada à
rede escolha e acesse livros gratuitamente. Alguns exemplos
são a iniciativa internacional Projeto Gutenberg (http://www.
gutenberg.org/) e projetos brasileiros, como o Domínio Pú-
blico (http://www.dominiopublico.gov.br) e a Biblioteca Virtual
da UFSC (http://www.literaturabrasileira.ufsc.br/). A grande
vantagem dos e-books, comparados com os livros impressos,
é a facilidade de acesso e disponibilização dos livros.

Versões mais recentes de livros digitais incluem também os


assim chamados book apps (também chamados de livros-apli-
cativos ou livros interativos). Ao passo que o e-book é um ar-
quivo que pode ser replicado e enviado por e-mail e por redes
sociais, o livro interativo é um tipo de software de aplicação
que precisa ser baixado de lojas como iTunes, Google Play
ou do site de alguma editora independente. Juntamente com
os traços tradicionais dos e-books, tais como texto e imagens
Capítulo 4 Comunicação e mídias contemporâneas:... 81

mostrados de forma digital, ícones de navegação e telas ini-


ciais, por exemplo, os livros interativos também permitem mo-
ver imagens e letras com o toque dos dedos, iniciar pequenas
animações, ouvir músicas e efeitos sonoros que acompanham
as narrativas. Eles também permitem ouvir a história ao invés
de lê-la, pois estão equipados com dispositivos de leitura auto-
mática. Em poucos termos, os livros interativos estão dotados
de recursos de hipermídia, multimídia e interatividade. Alguns
exemplos que podemos citar aqui são os livros interativos O
rei do rio de ouro, uma adaptação realizada do conto de John
Ruskin pela Story Max, Flicts, uma adaptação realizada da
obra do cartunista brasileiro Ziraldo, entre muitos outros.

No que diz respeito ao letramento digital, o grande desafio


que essas novas formas do livro nos impõem é a necessida-
de de ler textos multimodais, os quais apresentam as informa-
ções usando não apenas a linguagem verbal, composta por
palavras, frases, mas também a imagem estática, animações,
vídeos, canções, efeitos sonoros, cores, interatividade. Como
alerta Ana Elisa Ribeiro (2014, p. 182), “saber ler e produzir
textos explorando essas linguagens faz parte das competências
82    Comunicação para o Planejamento Profissional

dos digitalmente letrados, com exigências sociais e motivações


pessoais cada vez mais precoces.”

6R
 edes sociais, exposição e carreira
profissional

Algumas das mídias digitais mais populares atualmente são


os sites de redes sociais, como o Facebook, o Instagram, o
Twitter, entre outros. É importante ter claro, de início, que as
redes sociais sempre existiram, mesmo antes do surgimento
das tecnologias digitais, sendo que, antes, as pessoas se inse-
riam nessas redes a partir de espaços como clubes, igrejas, co-
munidades de trabalho, criando laços por meio de conversas,
cartas, encontros, entre outras tantas possibilidades. Na era
das tecnologias digitais, contudo, ficou muito mais fácil criar e
participar de redes sociais, pois, como esclarece a pesquisa-
dora Raquel Recuero,

enquanto no mundo off-line manter uma conexão social


seja forte ou fraca, necessita investimento de atenção,
sentimento etc. tanto para a sua criação quanto para a
sua manutenção; nos sites de rede social, as conexões
são inicialmente mantidas pela própria ferramenta [...].
Mesmo que nenhuma interação ocorra, a menos que um
dos atores delete a conexão, esta, uma vez estabelecida,
permanece.

Os sites de rede social, portanto, influenciam as nossas


redes sociais na medida em que possuem modos particulares
Capítulo 4   Comunicação e mídias contemporâneas:...   83

de funcionamento. Devido ao fato de agregarem uma quanti-


dade imensa de pessoas conectadas em redes e por contarem
com tecnologia digital, esses sites proporcionam uma facili-
dade antes impensada de compartilhamento de informações,
transformando-se, dessa forma, em um dos espaços mais im-
portantes da atualidade para a difusão de todos os tipos de
conteúdo, desde notícias muito relevantes até informações de-
liberadamente falsas e discursos violentos.

Alguns pesquisadores, como Paula Sibilia (2016), demons-


traram que as redes sociais da Internet incentivam o narci-
sismo e o culto ao eu, valores que têm se tornado cada vez
mais fortes na atual sociedade em que vivemos, voltada para
o consumo. Nesse sentido, as pessoas parecem cada vez mais
interessadas em exibir suas próprias vidas na rede, geralmen-
te transmitindo a ideia de um protagonismo antes destinado
apenas aos famosos e exibindo uma felicidade construída e
frequentemente artificial. Algumas das práticas mais comuns,
nesse sentido, são a exposição espetacularizada de tudo o que
se faz durante a maior parte do dia, fotos em situações sempre
muito felizes – como viagens, festas, encontros etc. –, além dos
famosos selfies. Nas palavras de Sibilia (2016, p. 42),

afinal, o que se busca ao se exibir nas redes? Seduzir,


agradar, provocar, ostentar, demonstrar aos outros – ou a
alguém em particular – o quanto se é belo e feliz, mesmo
que todos estejam a par de uma obviedade: o que se
mostra nessas vitrines costuma ser uma versão “otimiza-
da” das próprias vidas. Nessa performance de si, cada
usuário faz uma cuidadosa curadoria do próprio perfil
84    Comunicação para o Planejamento Profissional

visando a obter os melhores efeitos na maior audiência


possível.

Independentemente das razões que nos levam a participar


das redes sociais da Internet, é muito importante levarmos em
conta que, pelo simples fato de estarmos conectados a elas,
produzimos uma identidade on-line naquele espaço, que al-
guns pesquisadores denominam de identidades digitais. Estas
são formadas pelas informações que disponibilizamos nos
perfis das plataformas das redes sociais, sites e blogs, mas
também pelo tipo de conteúdo que produzimos, postamos e
compartilhamos nesses espaços. É cada vez mais comum, no
mundo em que vivemos, que empregadores utilizem essas in-
formações, juntamente com outros critérios, para selecionar
candidatos a vagas de trabalho. Por essa e outras razões, an-
tes de compartilhar conteúdo, você deve refletir sobre como
quer ser conhecido e reconhecido on-line.

Alguns pesquisadores (RECUERO, 2012) têm demonstrado


que as redes sociais da Internet também são um espaço em
que se produz e se adquire capital social, um tipo de valor
ou benefício obtido a partir do pertencimento a um ou vários
grupos sociais. Esse aspecto aponta para o imenso potencial
dos sites de redes sociais como espaço para a educação, para
o crescimento pessoal e para o desenvolvimento da carreira
profissional.

Recuero esclarece que o capital social tem um duplo as-


pecto, pois, de um lado, é preciso investimento nas relações
sociais para, apenas em um segundo momento, obter os be-
nefícios advindos dessas relações. Em outros termos, o capital
social está relacionado com o investimento que cada pessoa
Capítulo 4   Comunicação e mídias contemporâneas:...   85

está disposta a realizar nas redes, o qual, por sua vez, está
relacionado com as expectativas de retorno. Nesse sentido, a
maior parte das pessoas conectada nas redes parece estar in-
teressada em obter recursos como reputação, visibilidade, po-
pularidade, conhecimento, suporte social e laços sociais. Os
principais investimentos para atingir esse capital, por sua vez,
geralmente demandam a criação e a manutenção das cone-
xões (que pode acontecer por conversações ou outras ativida-
des de interação com os contatos), a construção de um perfil e
o compartilhamento constante de recursos na rede (conteúdos
e informações).

Quando compartilhamos conteúdos nas mídias sociais, é


comum termos a sensação de estarmos sozinhos, pois não es-
tamos vendo as inúmeras pessoas que fazem parte da nossa
rede. Nesse sentido, Recuero (2015) nos lembra de que, na
comunicação presencial, face a face, nós emitimos vários si-
nais de feedback que informam as pessoas quando elas estão
entrando em uma zona “perigosa” ou “tensa” durante a fala,
permitindo que mudem de assunto ou que simplesmente repa-
rem o que foi dito. Esse contexto da comunicação presencial
não existe on-line, pois os usuários têm a sensação de estarem
“falando” para uma tela, não para uma pessoa e, muito me-
nos, para um grupo imenso de pessoas. Alguns pesquisado-
res denomimam esse fenômeno de “colapso do contexto” ou,
então, de “audiências invisíveis” na rede (RECUERO, 2015).
Por essa razão, é muito mais fácil disseminar discursos de vio-
lência, conteúdos agressivos e, em alguns casos, informações
equivocadas ou deliberadamente adulteradas por meio dos
sites de redes sociais do que presencialmente. Os prejuízos
causados com esse tipo de prática são imensos e incluem o
86    Comunicação para o Planejamento Profissional

ciberbullyng, a difamação, a agressão verbal, a violência sim-


bólica contra minorias, além da propagação de ignorância,
obscurantismo e ódio.

Isso nos leva a concluir que, acima de tudo, é necessário


aprender a se relacionar nas redes mediadas pela Internet,
investindo em práticas que nos tragam benefícios como infor-
mação atualizada e de qualidade, fortalecimento de nossas
relações sociais, entretenimento. Como produtores e replica-
dores de conteúdos, temos a obrigação de barrar informações
falsas, notícias duvidosas, além de evitar sempre linguagem
agressiva e discursos que façam apologia ao ódio, pois tais
práticas se caracterizam como um péssimo investimento para
quem está interessado em obter capital social de qualidade
nas redes. Antes de compartilhar algo, portanto, é preciso pes-
quisar sempre a fonte, garantir a veracidade e a legitimidade
do que está sendo compartilhado: uma vez que algo entra na
rede, sua capacidade de impacto sobre as pessoas será sem-
pre maior do que se imagina.

Recapitulando

Neste capítulo, você foi instigado a refletir sobre o modo como


as mídias digitais vêm transformando o contexto da comunica-
ção e da linguagem nos dias atuais. Os principais temas abor-
dados foram o conceito de mídia, com ênfase na distinção
entre as mídias analógicas e as mídias digitais; a fluidez dos
conteúdos digitais, que são capazes de circular por múltiplas
plataformas de mídia porque são compostos por bits (bytes),
Capítulo 4   Comunicação e mídias contemporâneas:...   87

feixes discretos de informação; as transformações que ocor-


rem com o uso da linguagem nos espaços digitais, prin-
cipalmente o surgimento do internetês e o uso frequente de
emoticons; a remixagem e os memes; o surgimento de no-
vas ferramentas e espaços de comunicação, tais como os
livros digitalizados e digitais, as bibliotecas virtuais e as redes
sociais da Internet.

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Atividades

1) Leia com atenção a charge a seguir e, em seguida, assina-


le a única alternativa que contém uma afirmação correta
sobre as mídias digitais.

a) A charge permite concluir que as mídias digitais con-


vertem as propriedades físicas dos dados de entrada
(as informações capturadas) em outro objeto, o qual
90    Comunicação para o Planejamento Profissional

possui uma forma física parecida (análoga) com os


próprios dados de entrada.

b) A charge faz uma crítica irônica à existência, na socie-


dade contemporânea, da pobreza lado a lado com o
acesso facilitado às novas tecnologias.

c) A charge sugere que as mídias digitais serão capazes


de erradicar a fome e a pobreza no mundo, o que
depende unicamente do investimento dos governos em
mais tecnologia.

d) A charge faz uma apologia à inclusão digital, denun-


ciando que há ainda muitas pessoas do planeta alija-
das das novas tecnologias.

e) A charge faz uma severa crítica ao narcisismo produzi-


do pelo uso das redes sociais da Internet.

2) Após analisar a imagem abaixo, assinale a alternativa que


contém apenas informações verdadeiras sobre o processo
de recepção das mídias digitais.

Fonte: https://pollyanaferrari.wordpress.com/
Capítulo 4   Comunicação e mídias contemporâneas:...   91

I – Como sugere a imagem anterior, nas mídias analó-


gicas, a produção e a recepção não possuem um centro
unificado, ao passo que, nas mídias digitais, geralmente o
conteúdo é transmitido de forma linear e centralizada para
públicos massivos.

II – Como sugere a imagem anterior, os conteúdos infor-


macionais hoje transitam entre as mídias digitais e as mí-
dias analógicas, as quais estão em convergência.

III – Como sugere a imagem anterior, as mídias digitais


permitem que os conteúdos fluam por múltiplas platafor-
mas.

a) Apenas I e II estão corretas.

b) Apenas I e III estão corretas.

c) Apenas II e III estão corretas.

d) Apenas II está correta.

e) Apenas III está correta.

3) Após ler o texto a seguir, de Ana Elisa Ribeiro sobre o inter-


netês, assinale as afirmações corretas.

O “internetês” talvez tenha sido o “detonador” da discus-


são sobre a antiescrita. Esse tipo de linguagem parece ter
causado reações nervosas naqueles que acreditaram que
redigir abreviadamente (ao ponto de virar “jargão”), sem
acentos e sem pontuação, deixando as pausas a cargo das
quebras de linha e a acentuação por conta de algumas
letras do alfabeto, seria uma espécie de correnteza que
92    Comunicação para o Planejamento Profissional

levaria a língua escrita para um buraco negro. (RIBEIRO,


2009, p. 590)

I – O internetês é uma modificação da linguagem verbal


em relação ao código da norma culta, motivada pelo uso
das novas mídias digitais, tendo sido condenado por al-
guns pesquisadores.

II – O internetês se caracteriza como um uso inadequado


da linguagem verbal, motivado pelo uso das novas mídias
digitais, e deve sempre ser evitado.

III – O internetês é um novo idioma, criado intencional-


mente para o uso da linguagem no ambiente das novas
mídias digitais, caracterizado por abreviações linguísticas
e hibridações com signos visuais.

a) Apenas I e II estão corretas.

b) Apenas I e III estão corretas.

c) Apenas II e III estão corretas.

d) Apenas I está correta.

e) Apenas III está correta.

4) Leia o seguinte texto sobre os memes, do teórico das mí-


dias Henry Jenkins, e assinale a alternativa correta.

A metáfora viral não descreve bem aquelas situações em


que a pessoa avalia ativamente um texto na mídia, deci-
dindo com quem irá compartilhá-lo e como irá difundi-
-lo. As pessoas tomam decisões ativas quando propagam
mídia, quer simplesmente passando um conteúdo adiante
Capítulo 4   Comunicação e mídias contemporâneas:...   93

para suas redes sociais, com recomendações no boca a


boca, quer postando um vídeo digital no YouTube.

[...]

Nosso uso de mídia propagável evita as metáforas da in-


fecção e da contaminação que exageram em sua estima-
tiva o poder das empresas de mídia e minimizam o poder
de ação do público. (JENKINS, 2014, p. 45-46)

a) Jenkins sugere substituir o termo meme por “mídia


propagável”, de modo que a ênfase recaia sobre a
capacidade de ação dos usuários que decidem com-
partilhar e consumir conteúdos particulares e não em
sua passividade.

b) Jenkins acredita que um meme se caracteriza como


qualquer texto construído a partir de material preexis-
tente na Internet.

c) Jenkins explica que o meme envolve as funções de


“cortar e colar”, mas também processos mais com-
plexos para desconstruir e reconstruir conteúdos dos
mais diversos campos da cultura, desde obras de arte,
literatura, filmes, animação e música.

d) Henry Jenkins inventou a palavra meme e sugeriu a


utilização do verbo viralizar para caracterizar a circu-
lação dos conteúdos que se difundem na rede.

e) Para Jenkins, os memes existem apenas devido ao sur-


gimento das mídias analógicas, como o Facebook,
por exemplo.
94    Comunicação para o Planejamento Profissional

5) Sobre as redes sociais da Internet, leia o texto a seguir,


retirado da GaúchaZH de 27/08/2014, e responda.

A 18ª edição brasileira da pesquisa Melhores Empresas


para Trabalhar acaba de descobrir que 83% dos empre-
gadores mais bacanas (segundo a pesquisa, claro) usam
as redes sociais para contratar funcionários. Sabe aquele
vídeo em que você, apertando a pança pelada, usa o um-
bigo para falar com a câmera? Então: rendeu fama de
engraçadão no Facebook, mas só tem 17% de chances de
passar despercebido pela empresa de família para quem
você mandou um CV.


Disponível em: <https://gauchazh.clicrbs.com.br/edu-
cacao-e-emprego/noticia/2014/08/Empresas-ficam-de-
-olho-nas-redes-sociais-na-hora-de-recrutar-candida-
tos-4584752.html>.

I – Nas redes sociais, produzimos uma identidade on-line,


a qual não corresponde necessariamente à nossa identida-
de off-line.

II – As redes sociais da Internet não podem ser utilizadas


como espaço para a educação, para o crescimento pes-
soal e para o desenvolvimento da carreira profissional,
pois incentivam a espetacularização do eu.

III – Segundo pesquisadores como Paula Sibilia, as redes


sociais da Internet incentivam o narcisismo e o culto ao eu,
o que leva os empregadores da atualidade a não contra-
tarem pessoas com perfis no Facebook.

a) Apenas I e II estão corretas.


Capítulo 4   Comunicação e mídias contemporâneas:...   95

b) Apenas I e III estão corretas.

c) Apenas I está correta.

d) Apenas II está correta.

e) Apenas III está correta.


Lisane Félix Veloso1

Capítulo 5

Leitura, compreensão
e interpretação:
aprimorando a
capacidade receptiva

1  Professora da Universidade Luterana do Brasil – ULBRA, campus Cachoeira do


Sul. Mestre em Linguística pela PUCRS.
Capítulo 5    Leitura, compreensão e interpretação: aprimorando...    97

Introdução

Este capítulo dedica-se ao aprimoramento da capacidade lei-


tora, aqui entendida como atividade interativa altamente com-
plexa de produção de sentidos. Atividade esta que se realiza
com base nos elementos linguísticos presentes na superfície
textual e na sua forma de organização, mas também requer
a mobilização de um vasto conjunto de saberes no interior do
evento comunicativo (KOCH E ELIAS, 2010).

Primeiramente, são apresentados os conceitos necessários


ao entendimento da leitura como tarefa de produção de senti-
do, o que envolve as habilidades de compreender e interpretar.
Após, aborda-se o processamento textual em relação aos sis-
temas de conhecimento necessários ao entendimento do que
se lê, apresentando exemplos no intuito de auxiliá-lo nas prá-
ticas de compreensão leitora.

Os estudos deste capítulo encerram com reflexões acerca


da compreensão como processo, enfatizando a atividade in-
ferencial. Tais propósitos exigem a apresentação de exemplo
para análise e, posteriormente, de atividades, no intuito de que
você possa aplicar os conhecimentos adquiridos.

1 Leitura: compreensão e interpretação

A leitura é prática necessária à vida e tarefa da universidade


como espaço privilegiado para desenvolver habilidades inte-
lectuais do pensamento. O pensar decorre da existência de um
98    Comunicação para o Planejamento Profissional

problema ou situação que exige uma solução. A solução pro-


vém de uma atividade sistemática na qual levantamos hipó-
teses, analisamos dados, sintetizamos informações, emitimos
julgamentos e chegamos a conclusões e soluções.

Ler e compreender um texto envolve apreensão dos sig-


nificados nele contidos e capacidade de relacionar o lido às
experiências/conhecimentos pré-existentes no “mundo” já co-
nhecido. Freire (1988) explica essa habilidade intrínseca ao
ato de ler quando afirma que “a leitura do mundo precede a
leitura da palavra” e, assim, “linguagem e realidade se pren-
dem dinamicamente”.

Sem dúvida, o leitor, ao construir o sentido do texto, ba-


seia-se em seus valores sociais, seus conhecimentos prévios e
suas experiências de vida. Tal tarefa exige muitas habilidades
ligadas aos processos mentais que viabilizam a compreensão.

Para entender um pouco melhor esses processos, você ini-


ciará seus estudos com a leitura do seguinte texto:
Capítulo 5    Leitura, compreensão e interpretação: aprimorando...    99

Qual a origem daqueles três macacos que um não


vê, o outro não escuta e o terceiro não fala?

Rafael Garcia e Marília Juste

Guilherme Ferreira, São Paulo, SP 

Primatas sábios 

Os macaquinhos, conhecidos como “Três Macacos Sá-


bios”, ilustram a porta do Estábulo Sagrado, um templo do
século 17 localizado na cidade de Nikko, no Japão. Sua
origem é baseada em um trocadilho japonês. Seus nomes
são “mizaru” (o que cobre os olhos), “kikazaru” (o que tapa
os ouvidos) e “iwazaru” (o que tampa a boca), que na lín-
gua é traduzido como “não ouça o mal”, “não fale o mal”
e “não veja o mal”. A palavra “saru”, em japonês, significa
“macaco” e tem o mesmo som da terminação verbal “zaru”.
O folclore japonês diz que a imagem dos macacos foi trazi-
da por um monge budista chinês, no século 8. Apesar disso,
não há comprovação dessa suposição.

Fonte: Ricardo Mário Gonçalves, professor de História


Oriental da USP

Texto disponível em: <http://revistagalileu.globo.com/


Galileu/0,6993,ECT688136-1716-6,00.html>.

A leitura requer o reconhecimento do vocabulário e a per-


cepção da lógica frasal para que se possa, assim, encontrar
resposta à pergunta feita no título. Esses são os elementos lin-
guísticos da superfície textual e permitem, por exemplo, enten-
deremos que as expressões “três macacos”, “primatas sábios”,
100    Comunicação para o Planejamento Profissional

“os macaquinhos” e “seus nomes” referem-se à mesma ideia


nesse texto.

A referência aos macacos, identificando-os como “um não


vê, o outro não escuta e o terceiro não fala”, exige do leitor um
conhecimento extratextual, pois induz à busca de uma imagem
que não está no texto. A explicação feita só tem sentido para
o leitor se ele percebe como relevante a resposta dada acerca
da origem dos macacos cuja imagem foi resgatada pela me-
mória.

A compreensão do texto é um processo cognitivo no qual


nossas faculdades mentais são postas em ação. Compreender
é “partir dos conhecimentos (informações) trazidos pelo texto e
dos conhecimentos pessoais (chamados de conhecimentos en-
ciclopédicos) para produzir (inferir) um sentido como produto
de nossa leitura” (MARCUSCHI, 2008, p. 239).

No intuito de explorar os conceitos de compreensão e de


interpretação, responda às questões a seguir sobre o texto pro-
posto.
Capítulo 5    Leitura, compreensão e interpretação: aprimorando...    101

1) Esse texto não verbal tem relação com os “três maca-


cos sábios”? Por quê?

2) Que elemento, nesta leitura, se revela como novo?

3) Como se pode relacionar as informações do primeiro


texto à crítica sugerida nesse segundo texto?

Não é tarefa fácil diferenciar as atividades de compreensão


e interpretação. Alguns teóricos percebem-nas como equiva-
lentes. Outros sugerem que compreender é muito mais com-
plexo que interpretar. Para tornar esses conceitos um pouco
mais claros, pense que, ao responder às questões anteriores,
você leu ambos os textos e foi desafiado a estabelecer a rela-
ção existente entre eles.

Esse trabalho consciente na busca das conexões textuais,


que é a atividade de interpretação. Por meio dela, você foi
conduzido a comparar os dois textos por meio das três ques-
tões que orientaram o seu raciocínio de forma intertextual. Já
a compreensão, como destaca Leffa (2012, p. 267), “é vista
102    Comunicação para o Planejamento Profissional

como uma camada subterrânea, invisível e impregnada de co-


nexões possíveis”, ou seja, compreender abre um leque de ou-
tras percepções e entendimentos que as questões dadas não
alcançam.

Compreender é uma prática social que envolve a participa-


ção do leitor ou ouvinte na construção dos sentidos necessá-
rios à interação. Sendo assim, a compreensão está envolvida
em todas as situações nas quais buscamos entender o mundo
e participar dele; é condição para conviver, partilhando conhe-
cimentos.

A interpretação, por sua vez, é parte disso, porém envolve


ações mais específicas a fim de alcançar determinado objeti-
vo. Para exemplificar tais questões, leia o próximo texto:

Disponível em: <http://www.brasil.gov.br/cidadania-e-justica/2013/02/protecao-


-aos-direitos-da-crianca-e-do-adolescente>.

Compreender o texto requer a utilização de competências


essenciais que são parcialmente exercitadas nas práticas de
interpretar. Nesse novo texto, é possível perceber que se trata
Capítulo 5    Leitura, compreensão e interpretação: aprimorando...    103

de uma campanha – “Fique atento, denuncie, proteja” – des-


tinada à proteção de crianças e adolescentes, ligada ao Con-
selho Tutelar, ao Ministério Público e à Secretaria de Direitos
Humanos, isto é, trata-se de uma campanha institucional e
pública. Tais considerações provêm do entendimento daquilo
que o texto explicitamente revela. Mas e as informações que
estão implícitas?

Conforme as informações do primeiro texto, os macaqui-


nhos sábios conduzem ao entendimento de “não ouça o mal”,
“não fale o mal” e “não veja o mal”. Entretanto, no texto da
campanha, isso não se confirma. Por quê? É preciso construir
o raciocínio de que, em relação à violência contra crianças e
adolescentes, faz-se necessário ouvir, falar e ver para evitar o
sofrimento deles, o que só se efetivará com denúncia e justiça
social. Perceba que, chegar a essa conclusão, requer exercício
de interpretação que, consequentemente, conduzirá à com-
preensão do texto.

Em síntese, a interpretação é construída por meio de dife-


rentes estratégias e sistemas de conhecimento. Sobre esses as-
pectos, trata a próxima seção. Agora, sem os macacos sábios.

2 L er e compreender como processo


mental

A leitura é aqui entendida como prática social e, do ponto de


vista da interação, dá-se no encontro entre autor e leitor por
meio do texto. Nesse sentido, Hartmann e Santarosa (2012, p.
104    Comunicação para o Planejamento Profissional

60) entendem que a leitura “se configura em uma prática que


conduz à autonomia do pensamento, porque não é apenas
recepção, é diálogo, é construção de sentidos [...]”, ou seja, o
leitor processa a compreensão, por meio de fatores envolvidos
nesse trabalho.

Nessa perspectiva, texto é lugar de interação, são os enun-


ciados concretos que se realizam nas práticas sociais vivencia-
das diariamente. É no contato com o texto que construímos o
processo pessoal da leitura, por meio de fatores especialmente
ligados às habilidades de ler e interpretar.

Koch e Elias (2010) destacam os seguintes fatores como es-


senciais ao processamento textual: o conhecimento linguístico,
o conhecimento enciclopédico e o conhecimento interacional.

2.1 Conhecimento linguístico


O conhecimento linguístico refere-se ao conhecimento grama-
tical e lexical necessários para a compreensão dos recursos
utilizados na organização do que se lê. Abrange o conheci-
mento do vocabulário, das regras da língua e dos seus usos.
Ou, como destaca Leffa (2012), é a tradução do código; o que
significa afirmar que o leitor aplica seus conhecimentos, acerca
do código linguístico, na tarefa de decifrar o texto a ser lido.

Tome, por exemplo, a tirinha a seguir:


Capítulo 5    Leitura, compreensão e interpretação: aprimorando...    105

Nessa tirinha, o contraste entre os adjetivos “inteiro”, que


se refere ao dia, e “rápido”, para o trabalho de pesquisa só
ganha sentido no último quadrinho, no qual Armandinho res-
ponde ao pai que já “vai começar”, ou seja, a ação remete
para o futuro. O personagem acha que se distraiu “um pou-
quinho”, mas na verdade a distração foi de um dia inteiro, e
a pesquisa ainda não aconteceu, porque a Internet distrai, e
muito. Assim, fica evidente que o entendimento do vocabulário
e das expressões que compõem as frases é fundamental ao
processo de leitura.

2.2 Conhecimento enciclopédico


O conhecimento enciclopédico ou conhecimento de mundo,
por sua vez, está ligado aos conhecimentos gerais sobre o
mundo, relativos a vivências pessoais e eventos já arquivados
na memória que são evocados na tarefa de produzir sentidos.
106    Comunicação para o Planejamento Profissional

Para exemplificar, leia o excerto a seguir retirado do texto “Para


que servem as ficções?”, de Contardo Calligaris:

Cresci em uma família em que ler romances e assistir a


filmes, ou seja, mergulhar em ficções, não era considerado
uma perda de tempo. Podia atrasar os deveres ou sacrifi-
car o sono para acabar um capítulo, e não era preciso me
trancar no banheiro nem ler à luz de uma lanterna. Meus
pais, eventualmente, pediam que organizasse melhor meu
horário, mas deixavam claro que meu interesse pelas ficções
era uma parte crucial (e aprovada) de minha “formação”.
Eles sequer exigiam que as ditas ficções fossem edificantes
ou tivessem um valor cultural estabelecido. Um policial e um
Dostoievski eram tratados com a mesma deferência. Quan-
do foi minha vez de ser pai, agi da mesma forma. Por quê?
(Contardo Calligaris, Folha de São Paulo, 18/01/2007)

Perceba que, neste trecho, Calligaris faz referência a Dos-


toievski, autor russo do clássico “Crime e Castigo”. E não o faz
por acaso. No texto, elabora uma comparação entre qualquer
romance do gênero policial (sem citar obra ou autor) e um
Dostoievski, no intuito de frisar que as leituras eram tratadas
com a mesma importância pelos pais, independentemente do
seu valor cultural ou possíveis ensinamentos. Nesse sentido,
se o leitor tem essas informações na sua memória, consegue
processar melhor as intenções do texto, bem como a argumen-
tação construída pelo autor. Além disso, fica mais fácil chegar
ao significado de “deferência”, caso o leitor desconheça o ter-
mo.
Capítulo 5    Leitura, compreensão e interpretação: aprimorando...    107

2.3 Conhecimento interacional


Por último, o interacional é o conhecimento das formas de
interação por meio da linguagem. Esse tipo de conhecimento
refere-se à capacidade de compreender os objetivos do autor,
a situação comunicativa em que o texto se insere e a variante
linguística empregada; o que também inclui a percepção do
gênero textual quanto, por exemplo, aos seus aspectos estrutu-
rais e à sua função social.

O reconhecimento das condições interacionais do texto au-


xilia na leitura a seguir:

É a sua vez de se dedicar um pouquinho mais ao ser


amado, dando uma pausa no labor. Até porque é desses
momentos de prazer que provém a sua força, não é? Anote
as inspirações.

Disponível em: <http://f5.folha.uol.com.br/horoscopo/>.


Acesso em: 23/09/2017.

Trata-se evidentemente de horóscopo. Mas o que per-


mite ter certeza disso? A forma de estruturação do texto, o
diálogo com o leitor no intuito de orientá-lo em suas ações
ou ainda a estruturação curta, pois equivale aos conselhos
para o dia. Essas marcas são as interacionais, mas só se
tornam eficientes se o leitor souber a que signo se refere
(Touro) e o período de nascimento que o identifica (21 de
abril a 20 de maio).
108    Comunicação para o Planejamento Profissional

3 A compreensão e a atividade inferencial

Na leitura, estão envolvidos elementos linguísticos, como le-


tras, sílabas, palavras, estruturas e proposições, bem como as
expectativas do leitor, sua interpretação e compreensão. Para
a construção de significados, também colaboram elementos
que constituem o conhecimento de mundo do leitor, os quais
são armazenados na sua memória sob a forma de modelos
cognitivos que permitem formular inferências.

Compreender um texto, portanto, exige, como vêm reve-


lando os estudos deste capítulo, que o leitor aplique vários
tipos de conhecimento necessários à leitura. Nessa tarefa
de produção de sentidos, o conhecimento prévio é essen-
cial, posto que “no processo de compreensão, desenvolve-
mos atividades inferenciais” (MARCUSCHI, 2008, p. 239).
Mas o que são as atividades inferenciais?

Inferência consiste no resultado de um processo cognitivo


por meio do qual uma informação nova é gerada com base
em uma informação velha, ou seja, chega-se à conclusão de
algo a partir de um dado conhecimento. São, pois, conexões
que as pessoas fazem na tarefa de interpretar o que leem.

No processamento das informações do texto e com base


no contexto que envolve a situação comunicativa, o leitor ati-
vo estabelece relações entre os conhecimentos anteriormen-
te constituídos e as informações novas contidas no texto. Ou
seja, a inferência não está no texto, mas na leitura, e vai sendo
construída conforme os leitores vão interagindo com a escrita.
Capítulo 5    Leitura, compreensão e interpretação: aprimorando...    109

O reconhecimento dos fatores envolvidos no processamen-


to da leitura e, consequentemente, da prática inferencial pode
ser facilmente percebido na leitura da crônica a seguir, de Luís
Fernando Veríssimo:

Pai não entende nada

— Um biquíni novo?

— É, pai.

— Você comprou um no ano passado!

— Não serve mais, pai. Eu cresci.

— Como não serve? No ano passado você tinha 14


anos, este ano tem 15. Não cresceu tanto assim.

— Não serve, pai.

— Está bem, está bem. Toma o dinheiro. Compra um


biquíni maior.

— Maior não, pai. Menor.

Aquele pai, também, não entendia nada.

(Luís Fernando Veríssimo)

Ao entrar no texto, o leitor percebe que o vocabulário uti-


lizado é bastante simples e que está fortemente marcado pela
sinalização de discurso direto. Além disso, há expressões que
são responsáveis pelo humor do texto, pois “não serve mais”
pode significar não está mais na moda (para a filha) e não
cabe no corpo (para o pai). Esses diferentes entendimentos
110    Comunicação para o Planejamento Profissional

conduzem ao jogo semântico biquíni maior/biquíni menor,


pois, para o pai, não servir requer a compra de um maior,
o que poderá evitar gastos no próximo ano. Já para a filha
adolescente, existe a necessidade de um biquíni novo e menor.
Concluindo: pai não entende nada de biquíni, nem da lingua-
gem da filha.

A esses fatores linguísticos são relacionados os conheci-


mentos de mundo do leitor, afinal a crônica trata de um diá-
logo entre pai e filha, o que justifica os travessões e a variante
coloquial da língua. Afinal, uma linguagem formal não com-
binaria com esse tipo de situação comunicativa. Também é
bastante acessível ao leitor a situação familiar em que estão in-
seridos os personagens, o que facilita a construção do sentido.

Cabe também ressaltar a percepção de elementos ade-


quados ao gênero textual crônica como, por exemplo, uso de
estrutura narrativa, linguagem simples e tema do cotidiano.
Também ficam perceptíveis, quanto aos fatores interacionais,
os objetivos de Veríssimo que se vale de um bate-papo comum
para, de forma irônica e divertida, destacar por que “pai não
entende nada”.

Recapitulando

O aprimoramento das capacidades de leitura exige exercício,


mas também o (re)conhecimento de aspectos importantes en-
volvidos nessa tarefa. Quando você se dedica a ela, o seu
conhecimento prévio auxilia nessa tarefa cognitiva e os fatores
Capítulo 5    Leitura, compreensão e interpretação: aprimorando...    111

linguísticos, enciclopédicos e interacionais são acionados para


que a interpretação aconteça.

A compreensão está ligada à colheita de informações que


se faz no texto, mas também aos conhecimentos que o leitor
já tem armazenados na sua memória. Essa é uma atividade
“cooperativa e inferencial” na busca do sentido que “não
está nem no texto nem no leitor nem no autor, e sim em
uma complexa relação interativa entre os três e surge como
efeito de uma negociação” (MARCUSCHI, 2008, p. 248).
Sendo assim, boas “negociações” para você.

Referências

FREIRE, P. A importância do ato de ler: em três artigos que


se completam. São Paulo: Córtex, 1988.

HARTMANN e SANTAROSA. Práticas de leitura para o le-


tramento no Ensino Superior. [livro eletrônico] Curitiba:
InterSaberes, 2012 (Série Língua Portuguesa em Foco).

KOCH, I. As tramas do texto. Rio de Janeiro: Nova Fronteira,


2008.

KOCH e ELIAS. Ler e compreender: os sentidos do texto. 3.


ed., 3ª reimpressão. São Paulo: Contexto, 2010.

KOCH e TRAVAGLIA. Texto e Coerência. 8. ed. São Paulo:


Cortez, 2002.
112    Comunicação para o Planejamento Profissional

LEFFA, V. Interpretar não é compreender: um estudo prelimi-


nar sobre a interpretação de texto. In: Vilson J. Leffa; Aracy
Ernst. (Org.). Linguagens: metodologia de ensino e pes-
quisa. Pelotas: Educat, 2012, p. 253-269. Disponível em:

<http://www.leffa.pro.br/textos/trabalhos/interpretar_com-
preender.pdf>.

MARCUSCHI, L. Produção textual, análise de gêneros e


compreensão. São Paulo: Parábola Editorial, 2008.

STERNBERG, R. Capacidades intelectuais humanas. Porto


Alegre: Artes Médicas, 1992.

Atividades

A linguagem corporal foi uma das primeiras formas de co-


municação humana e continua sendo uma das mais fortes
e expressivas. Além da comunicação, por meio de gestos,
você pode fazer alguém entender o que você quer. Mas,
muitas vezes, o corpo mostra sinais que indicam o que você
está pensando ou sentindo sem que você perceba. É que o
sistema límbico, responsável pelos sentimentos, envia impul-
sos elétricos ao corpo, gerando expressões e movimentos
sem nos darmos conta.

Disponível em: <http://revistavivasaude.uol.com.br/


saude-nutricao/113/artigo265382-1.asp>.

1) Leia as seguintes afirmações sobre o emprego de recursos


linguísticos no texto.
Capítulo 5    Leitura, compreensão e interpretação: aprimorando...    113

I – O período “por meio de gestos, você pode fazer alguém


entender o que você quer” poderia ser assim reescrito, sem
prejuízo ao texto: por meio de gestos, você pode fazer com
que entendam os seus desejos.

II – A expressão “mas” (linha 04) contrapõe os gestos in-


tencionais que o corpo comunica aos sinais impulsivos,
provocados pelo sistema límbico.

III – No trecho “Mas, muitas vezes, o corpo mostra sinais


que indicam o que você está pensando ou sentindo sem
que você perceba”, a palavra “que” foi aplicada três vezes.
Uma forma de reduzir o emprego desse conector seria:
Mas, muitas vezes, o corpo mostra sinais indicativos do
que você está pensando ou sentindo sem você perceber.

Sobre as proposições acima, escolha a alternativa correta.

a) Apenas I está correta.

b) Apenas II está correta.

c) Apenas III está correta.

d) Apenas I e III estão corretas.

e) I, II e III estão corretas.

2) Relacione a tirinha a seguir à necessidade de aplicar vários


tipos de conhecimento para a compreensão de um texto.
Para isso, construa um comentário no qual você explique
como são aplicados, para a leitura da tirinha, os conheci-
mentos linguísticos, enciclopédicos e interacionais.
114    Comunicação para o Planejamento Profissional

Qual é o papel do artista para mudar o estado


das coisas?
O que sempre tiveram. O teatro é o lugar de discussão
do homem, tanto que é uma das coisas que mais incomo-
dam quem quer manipular as massas. No momento em que
você atua sobre a inteligência e a sensibilidade de um povo,
que é o que o artista faz, você está indo além dos panfletos.

(Fábio Prikladnicki. Entrevista com a atriz Nathalia Tim-


berg. Zero Hora, 15 set. 2017)

3) Sobre esse trecho da entrevista com a atriz Nathalia Tin-


berg, pode-se inferir o que segue.

I – O papel do artista se alterou nas últimas décadas, pos-


to que passou a provocar discussão.
Capítulo 5    Leitura, compreensão e interpretação: aprimorando...    115

II – Para mudar o estado das coisas, o artista atua na inte-


ligência e na sensibilidade das pessoas.

III – O papel do artista é panfletário, pois ele provoca dis-


cussão sem mudar o estado das coisas.

Sobre as proposições dadas, escolha a alternativa correta.

a) Apenas I está correta.

b) Apenas II está correta.

c) Apenas III está correta.

d) Apenas I e II estão corretas.

e) Apenas II e III estão corretas.

Leia o texto a seguir do poeta gaúcho Mario Quintana. As


questões 4 e 5 referem-se a ele.

Os Poemas
Os poemas são pássaros que chegam não se sabe de onde
e pousam no livro que lês.

Quando fechas o livro, eles alçam voo


como de um alçapão.
Eles não têm pouso
nem porto alimentam-se um instante em cada par de mãos
e partem. E olhas, então, essas tuas mãos vazias,
no maravilhado espanto de saberes
que o alimento deles já estava em ti…
116    Comunicação para o Planejamento Profissional

4) No poema de Mario Quintana, evidencia-se a ideia de


que a compreensão leitora... Escolha a alternativa que
completa este trecho.

a) ... depende apenas do entendimento das palavras e


expressões aplicadas no texto, ou seja, equivale à tra-
dução do código.

b) ... requer elaboração de inferências que se limitam


ao conhecimento interacional sobre o gênero textual
“poema”.

c) ... envolve um conjunto de saberes, incluindo o co-


nhecimento prévio do leitor, pois “O alimento deles já
estava em ti...”

d) ... requer conhecimento interacional, porque é neces-


sário relacionar o texto aos conhecimentos já existen-
tes na memória sobre a vida dos pássaros.

e) ... exige, além do reconhecimento do gênero textual,


habilidade com a linguagem figurada, como ilustram
os versos “Os poemas são pássaros que chegam / não
se sabe de onde e pousam / no livro que lês”. Ou seja,
é imprescindível apenas o conhecimento enciclopédi-
co.

5) Assinale V para as assertivas verdadeiras e F para as fal-


sas.

(  ) Nesse texto, “pássaros” está aplicado com sentido co-


notativo.
Capítulo 5    Leitura, compreensão e interpretação: aprimorando...    117

(  ) Em “eles alçam voo/ como de um alçapão”, há refe-


rência aos poemas que se libertam da armadilha de
ficarem presos no livro.

( ) Se o verso fosse escrito assim “O pássaro não têm


pouso”, não haveria nenhuma inadequação à variante
culta da língua.

( ) O alimento do pássaro/poema são os sentimentos


despertados no leitor, o que só se compreende me-
diante atividade inferencial.

Escolha a sequência correta.

a) V – V – F – V.

b) F – V – F – F.

c) V – V – F – F.

d) F – F – V – V.

e) V – V – V – V.
Edgar Roberto Kirchof1

Capítulo 6

Texto verbal e não


verbal: ampliando a
ideia e a capacidade de
leitura

1  Mestre em Comunicação, Doutor em Linguística e Letras, atualmente professor


no curso de Letras e no Programa de Pós-Graduação em Educação da ULBRA.
Capítulo 6    Texto verbal e não verbal: ampliando a ideia...    119

Introdução

Neste capítulo, você está convidado a refletir sobre o papel


da imagem em nossos processos comunicativos. Inicial-
mente, o capítulo traz uma seção sobre a relação entre a
linguagem verbal e a linguagem visual, chamando aten-
ção para o fato de que a própria escrita também possui uma
dimensão visual, a qual é frequentemente utilizada para fins
emotivos e estéticos. Na sequência, o capítulo apresenta uma
discussão sobre o processo de significação das imagens e,
nesse contexto, você aprenderá que, além dos sentidos mais
óbvios e literais, as imagens também produzem sentidos cultu-
rais e conotativos.

Por fim, o capítulo traz algumas seções mais voltadas para


a compreensão dos contextos de uso das imagens em nos-
sa sociedade contemporânea. Inicialmente, você aprenderá
como interpretar diagramas ou gráficos. Em seguida, você
será desafiado a pensar sobre a relação entre imagem e pu-
blicidade e, por fim, sobre o uso das imagens nos espa-
ços digitais, principalmente nas redes sociais da Internet. No
primeiro caso, será ressaltada a maneira como imagens são
utilizadas para vender produtos associados a valores e estilos
de vida. No segundo caso, serão discutidos os fenômenos do
remix e dos memes.
120    Comunicação para o Planejamento Profissional

1 Do verbal ao visual

A linguagem verbal – falada e escrita – é o mais complexo


sistema de que dispõe o ser humano para se comunicar. No
entanto, não devemos subestimar a capacidade dos demais
sistemas comunicativos, principalmente as imagens. Na comu-
nicação oral, é muito comum utilizarmos a linguagem verbal
juntamente com outros sistemas de signos. Por exemplo, quan-
do falamos, não emitimos apenas palavras. Também comuni-
camos pelas nossas expressões faciais, dos gestos de nossas
mãos e, mesmo, por certas posturas corporais. Muitas vezes,
só é possível identificar se o que está sendo dito é sério ou
não por meio dos gestos, da entonação da voz e da expressão
facial que acompanha as palavras enunciadas. Outras vezes,
nós sequer utilizamos palavras para a comunicação, quan-
do, por exemplo, fazemos um sinal afirmativo com a mão ou
quando balançamos a cabeça para sinalizar uma resposta ne-
gativa. Em todos esses casos, estamos utilizando a visualidade
produzida pelo nosso corpo como forma de expressão para
nos comunicarmos, juntamente com a linguagem oral.

Por outro lado, é importante saber que a linguagem escrita


também possui uma dimensão visual, a qual se manifesta, por
exemplo, quando dizemos que a letra de uma pessoa é boni-
ta, feia, legível, ilegível. Além disso, com recursos de compu-
tação, podemos mudar e manipular facilmente as fontes das
letras que usamos para digitar um texto, às vezes, apenas por
questões estéticas, mas, outras vezes, também para expressar
algum significado adicional. Na comunicação mais informal
que predomina em redes sociais da Internet ou em aplicativos
Capítulo 6    Texto verbal e não verbal: ampliando a ideia...    121

como o MSN e o Whatsapp, as pessoas costumam utilizar a


visualidade das letras para expressar emoções ou para criar
efeitos estéticos nas mensagens. Por exemplo, se alguém faz
um convite para ir a um restaurante ou a uma festa, é pos-
sível reagir de várias maneiras, algumas muito empolgadas
e outras, muito negativas: repetindo a mesma letra, usando
maiúsculas ou minúsculas, acrescentando sinais de pontua-
ção, mudando o tipo de fonte, mudando a cor das fontes.

SIM! NÃO.
Siiiiiiim!!!! Nãããããão!!!!
Sim! Não!
Sim. Não.
Sim Não

Como você percebeu a partir desses exemplos, a visuali-


dade da linguagem escrita pode agregar sentidos emotivos e
estéticos às mensagens. Embora na linguagem formal isso seja
pouco adequado, o uso da visualidade das letras é utilizado
intencionalmente como forma de expressão em alguns tipos de
discurso, não apenas na linguagem informal das redes sociais,
mas também na publicidade e na literatura, especialmente na
poesia.

Para vender uma versão do refrigerante Coca-Cola que vi-


nha em uma garrafa de gelo (e não de vidro), os publicitários
que criaram a peça a seguir fizeram uso da estética visual das
letras que compõem o enunciado em espanhol Fría hasta la
última gota (Fria até a última gota). Nesse caso, chama aten-
ção principalmente o contraste entre o uso da cor branca para
as palavras “fria, até, gota”, e o uso do preto para “a última”.
122    Comunicação para o Planejamento Profissional

O objetivo, provavelmente, é ressaltar a ideia de frescor dessa


embalagem com o uso do branco associado ao frio, de um
lado, e, de outro, associar a palavra “última” ao próprio líqui-
do, que é preto.

Fonte: <http://www.expertosenmarca.com/la-experiencia-maxima-de-marketing/>.

Outro espaço no qual a visualidade das letras é explora-


da é a poesia, principalmente a poesia visual. Nesse sentido,
é possível modificar as formas, cores, tamanhos, disposições
das letras no espaço da página, entre outras possibilidades, de
modo a criar efeitos estéticos e sentidos literários surpreenden-
tes. Trata-se de uma maneira criativa e prazerosa de exercer
a criatividade artística e literária. Observe como o poeta por-
tuguês E. M. Melo e Castro conferiu dinamismo e iconicidade
à palavra “pêndulo” unicamente pela disposição das letras,
criando um belo e sugestivo poema visual.
Capítulo 6    Texto verbal e não verbal: ampliando a ideia...    123

Fonte: <http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_visual/e_m_de_melo_castro.html>.

E você, prezado aluno, já pensou em exercer sua criativida-


de produzindo seus próprios poemas visuais?

2C
 omo compreendemos os significados
das imagens?

Para compreender o processo de significação de uma imagem,


é importante pensar, primeiro, sobre como nós compreende-
mos as palavras. A compreensão do significado de uma pa-
lavra depende do domínio de um código ou convenção. Por
exemplo, para entender o que é uma casa em países em que
não se fala português, é preciso aprender o código linguístico
(o idioma) que cada uma dessas sociedades utiliza para ex-
pressar o significado daquilo que denominamos “casa”, pois
não há nenhuma semelhança entre as palavras casa, Haus
(Alemão), house (Inglês), Maison (Francês), indlu (Zulu) e o ob-
jeto que reconhecemos como uma casa. As palavras, portan-
124    Comunicação para o Planejamento Profissional

to, só fazem sentido para as pessoas que dominam os códigos,


convenções ou acordos de cada comunidade linguística, o
que faz as palavras serem consideradas “signos convencionais
ou arbitrários”.

Já as imagens não dependem necessariamente do domínio


de um código para fazerem sentido. Retomando o exemplo an-
terior, poderíamos simplesmente desenhar, pintar ou fotografar
uma casa e mostrar essa imagem para o receptor que não fala
português, o qual provavelmente entenderia imediatamente o
que queremos expressar. Em poucos termos, enquanto pala-
vras não fazem sentido se não dominarmos o código linguís-
tico em que elas se inserem, para compreender o significado
de uma imagem, basta conhecer previamente o seu objeto
de referência, pois existe uma semelhança entre ambos. Por
essa razão, as imagens são consideradas “signos icônicos”. A
seguir, você poderá ver algumas imagens de diferentes tipos
de casas e, provavelmente, não terá problema algum para
reconhecê-las como casas.

Fonte: <https://diariodesescolar.wordpress.com/tag/geografia/>.

Devido à semelhança que mantêm com os objetos que re-


presentam, a compreensão das imagens seria, aparentemente,
Capítulo 6    Texto verbal e não verbal: ampliando a ideia...    125

mais fácil do que a compreensão das palavras faladas ou es-


critas. No entanto, isso é verdadeiro apenas em parte, pois o
que compreendemos, de imediato, em uma imagem, é apenas
o seu significado mais óbvio, que pode ser chamado de signi-
ficado literal ou denotativo, mas não os seus significados co-
notativos, simbólicos, culturais e ideológicos. Por exemplo, as
casas das imagens anteriores são diferentes umas das outras,
apontando para diferentes culturas, sociedades, tecnologias
de construção, classes sociais etc. Para compreender esses
significados mais amplos, você também precisaria aprender
sobre as culturas e as sociedades nas quais cada uma dessas
casas foi construída.

Nas imagens a seguir, embora seja possível reconhecer


imediatamente o significado denotativo de “casa”, para com-
preender os seus significados conotativos, você precisaria pes-
quisar e aprender um pouco sobre os códigos estéticos e artísti-
cos de cada pintor que as produziu. No primeiro caso, trata-se
da casa em que habitaram, em 1888, os pintores van Gogh e
Gauguin, sendo que a pintura aqui reproduzida é do próprio
van Gogh. Utilizando um estilo artístico próprio – marcado,
entre outros, pelo uso de cores fortes e vibrantes – van Gogh
imprimiu certo tom de tristeza e abandono à pintura, principal-
mente pelo uso da cor amarela em contraste com o azul. Já
a segunda imagem é Casa em jardim, do pintor cubista Pablo
Picasso e, portanto, a compreensão de seu significado artístico
depende de um conhecimento mínimo do estilo cubista.
126    Comunicação para o Planejamento Profissional

Casa amarela em Arles, pintura de Van Gogh.


Fonte: <https://mysendoff.com/2011/08/the-smoking-guns-of-van-gogh/>.

Casa em jardim, pintura de Pablo Picasso 1908.

A partir desses exemplos, é possível concluir que a com-


preensão do sentido denotativo de uma imagem depende
do conhecimento prévio de seu objeto de referência, pois há
uma semelhança entre a própria imagem e esse objeto. Já a
compreensão dos sentidos conotativos, simbólicos, culturais e
ideológicos veiculados pelas imagens demanda o domínio de
códigos culturais de interpretação.

3 Lendo Diagramas/Gráficos

Na maior parte dos casos, a semelhança entre uma imagem e


seu objeto de referência é bastante evidente, como nos exem-
plos das casas que você viu na seção anterior. Entretanto, al-
Capítulo 6    Texto verbal e não verbal: ampliando a ideia...    127

gumas imagens não pretendem representar objetos diretamen-


te reconhecíveis no mundo físico, e sim informações abstratas,
cálculos, progressões, raciocínios lógicos. Esse tipo específico
de imagem pode ser chamado de diagrama ou gráfico, e,
nesse caso, a semelhança não está entre a própria imagem
e seu objeto, mas, sim, entre a estrutura da imagem e a
estrutura do objeto de referência. Em termos mais simples,
podemos afirmar que o diagrama é uma imagem criada como
a representação gráfica de alguma informação que se quer
veicular, e não de um objeto físico. A compreensão desse tipo
de signo demanda, portanto, que você faça um exercício para
entender a relação entre a forma visual da imagem e a infor-
mação que essa forma visual representa.

Um exemplo bastante simples de diagrama são os ma-


pas, que, em última análise, não passam de representações
visuais de determinados espaços geograficamente definidos.
Ao pensar no território brasileiro, por exemplo, provavelmente
a primeira imagem que vem à sua mente é o mapa do Brasil.
Mas existem muitos outros tipos de diagramas, alguns muito
simples e outros mais complexos. Representações diagramá-
ticas muito simples são, por exemplo, flechas alinhadas uma
do lado da outra para representar a ideia de sequência, pro-
gressão ou evolução, círculos fatiados para indicar a ideia
de comparação ou proporção entre partes, colunas para criar
grupos, classificar ou hierarquizar informações, entre tantas
outras possibilidades.
128    Comunicação para o Planejamento Profissional

Por outro lado, utilizando diferentes imagens articuladas


entre si em um mesmo diagrama, é possível não apenas repre-
sentar visualmente ideias mais complexas e sofisticadas, mas
também tornar a sua compreensão mais simples e mais rápi-
da. No gráfico a seguir, por exemplo, existe uma articulação
entre linhas ascendentes e descendentes, com diferentes cores,
as quais estão dispostas sobre linhas estáticas numeradas, sen-
do que cada linha representa uma categoria. A ideia que esse
gráfico representa é uma comparação evolutiva entre diferen-
tes categorias. Como exemplos de possibilidades para essas
categorias, poderíamos pensar na margem de lucro de dife-
rentes empresas, na evolução das notas de alunos durante um
semestre ou ano, no desempenho econômico de alguns países
ao longo de um período, entre outras tantas possiblidades.
Capítulo 6 Texto verbal e não verbal: ampliando a ideia... 129

Devido à sua incrível capacidade de sistematizar e esque-


matizar um grande volume de informação de forma rápida e
simples, os gráficos estão presentes em muitas dimensões de
nossa vida letrada, sendo também muito utilizados em provas
e testes. Por isso, é muito importante que você aprenda a inter-
pretá-los corretamente.

Na prova do ENADE de 2014, por exemplo, uma das


questões gerais colocadas para os estudantes perguntava so-
bre a relação entre a pegada ecológica e a biocapacidade
do planeta: se for maior que 1, a exigência humana sobre
os recursos disponíveis em nosso planeta é mais alta do que
a capacidade que o planeta possui para se recuperar. Como
você pode observar no gráfico a seguir, antes de 1975, as
colunas estão na cor verde e abaixo da linha divisória que
marca o número 1. Depois de 1975, por sua vez, as colunas
se invertem e passam a ser representadas em vermelho. O que
isso significa? De forma muito simplificada, esse gráfico revela
130    Comunicação para o Planejamento Profissional

que, desde 1975, estamos usando gradativamente mais recur-


sos naturais do que nosso planeta consegue prover!

Fonte: Prova ENADE Letras 2014

4 Imagem e publicidade

Agora que você aprendeu como funciona o processo de sig-


nificação das imagens, você está pronto para refletir sobre as
imagens publicitárias, as quais são muito presentes em nossas
vidas, uma vez que vivemos em uma sociedade capitalista,
cuja economia está fundamentada na produção e no consu-
mo de produtos (mercadorias e serviços). O sociólogo polonês
Zygmunt Bauman (2008, p. 18) resume em três regras a lógica
dos mercados contemporâneos:

[p]rimeira, o destino final de toda mercadoria colocada


à venda é ser consumida por compradores. Segunda: os
Capítulo 6    Texto verbal e não verbal: ampliando a ideia...    131

compradores desejarão obter mercadorias para consu-


mo se, e apenas se, consumi-las for algo que prometa
satisfazer seus desejos. Terceira: o preço que o potencial
consumidor em busca de satisfação está preparado para
pagar pelas mercadorias em oferta dependerá da credi-
bilidade dessa promessa e da intensidade desses desejos.

A função da publicidade, nesse processo, é fundamental,


pois ela se destina a convencer o maior número possível de
pessoas a comprar e consumir, o que só ocorrerá se for capaz
de criar, mobilizar e intensificar os seus desejos. Para tanto,
uma das principais estratégias da publicidade é a construção
de imagens que levem as pessoas a realizarem “uma associa-
ção entre os produtos oferecidos e certas características social-
mente desejáveis e significativas, a fim de produzir a impressão
de que é possível vir a ser certo tipo de pessoa [...] comprando
aquele produto [...]” (KELLNER, 2001, p. 318). Por essa ra-
zão, geralmente, as peças publicitárias contêm imagens que
associam os produtos anunciados a ideias de riqueza, alegria,
felicidade, juventude, beleza, entre outros, pois são de valores
muito desejados na sociedade em que vivemos.

O pesquisador Douglas Kellner exemplifica esse processo


por meio de algumas imagens utilizadas em peças publicitá-
rias antigas para vender cigarros. Nesse sentido, a marca Mar-
lboro, na década de 1950, criou uma campanha publicitária
para associar seu produto à ideia de masculinidade, pois, an-
tes disso, essa marca era consumida predominantemente por
mulheres. Nas palavras de Kellner, o cigarro dessa marca “era
visto como um cigarro fraco para mulheres, e a campanha do
“Homem Marlboro” foi uma tentativa de conquistar o mercado
132    Comunicação para o Planejamento Profissional

masculino com imagens e personagens masculinas arquetípi-


cas” (ibidem). Para tanto, a campanha associou o cigarro às
imagens do caubói, de cavalos e da natureza, na esperança
de que os homens que fossem interpelados por essa campa-
nha internalizassem a ideia de que, fumando Marlboro, seriam
mais másculos, intrépidos, destemidos, independentes.

Fonte: <https://muzeez.com.br/galerias/as-embalagens-e-propagandas-do-cigar-
ro-marlboro/t8yjRHTaeEovB365y>.

Já a marca Virginia Slims, naquela mesma época, procura-


va convencer as mulheres de que é charmoso fumar, e de que
o produto anunciado é perfeito para a mulher “moderna” (ibi-
dem). Além disso, as imagens produzidas para as campanhas
publicitárias também sugeriam que fumar ajudaria a emagre-
cer. A seguir, por exemplo, uma mulher esbelta e bem vestida
aparece fumando na parte inferior da imagem, em oposição
Capítulo 6    Texto verbal e não verbal: ampliando a ideia...    133

à imagem de uma família patriarcal, vestindo roupas antigas,


na parte superior. Como você já deve ter percebido, essa ima-
gem procura levar as mulheres a acreditarem que, fumando
cigarros da marca Virginia Slims, tornam-se belas, esbeltas,
modernas e independentes, uma vez que a mulher do passado
– representada na parte superior da imagem – está associa-
da à família patriarcal, na qual a mulher está completamente
atrelada ao lar e aos afazeres domésticos.

Fonte: <http://flavorwire.com/183675/adman-vs-the-beatles-who-drove-60s-cul-
ture/6>.

Um dos motivos por que é tão importante estudar as estra-


tégias de representação das imagens publicitárias é justamente
porque “a propaganda ‘interpela’ os indivíduos e convida-os a
identificar-se com produtos, imagens e comportamentos” (KEL-
LNER, 2001, p. 322). Em outras palavras, as imagens construí-
das nesses anúncios estão carregadas de valores culturais e,
por isso mesmo, vendem não apenas os produtos que anun-
134    Comunicação para o Planejamento Profissional

ciam, mas também identidades e estilos de vida. É por isso que


algumas pessoas se sentem empoderadas quando conseguem
comprar produtos de certas marcas. Para citar alguns exemplos
mais atuais, podemos dizer que algumas marcas de tênis es-
tão associadas com classe social elevada, sucesso, juventude,
saúde, aventura, liberdade; algumas marcas de cerveja estão
associadas com a masculinidade; alguns acessórios femininos,
como bolsas e joias, estão associados às ideias de elegância,
distinção, sucesso e classe social elevada, entre tantos outros
exemplos possíveis.

E você, prezado aluno, já parou para pensar sobre como


as imagens da publicidade influenciam suas próprias decisões
de compra e seu estilo de vida?

5 As imagens na era da Internet

Com o surgimento das tecnologias digitais, ficou mais fácil


produzir e fazer circular imagens. Hoje, praticamente qualquer
aparelho celular, além de estar equipado com uma câmera
fotográfica, também disponibiliza acesso à Internet, o que faz
com que, diariamente, seja produzido e compartilhado, nas
redes sociais, um número imenso de imagens. Além disso,
existem muitos softwares que permitem não apenas armazenar,
senão também editar as imagens digitalizadas, o que possi-
bilita acrescentar textos escritos às imagens, corrigir possíveis
imperfeições, alterar os padrões visuais originais, mudar cores,
acrescentar frames, mesclar imagens, entre inúmeros outros
recursos existentes.
Capítulo 6    Texto verbal e não verbal: ampliando a ideia...    135

Essa facilidade para produzir imagens (e outros tipos de


texto) a partir de conteúdos já disponíveis nos espaços digitais
levou alguns teóricos a afirmar que estamos vivendo na cultu-
ra da remixagem, pois, conforme afirma o teórico das mídias
Henry Jenkins, basta um conteúdo digital ser propagado para
que seja refeito.

Quando o material é propagado, ele é refeito: seja li-


teralmente, ao ser submetido aos vários procedimentos
de remixagem e sampleamento, seja figurativamente,
por meio de sua inserção em conversas em andamento e
através de diversas plataformas. (JENKINS, 2014, p. 54)

Os processos de remixagem e sampleamento a que se refe-


re Jenkins significam que as pessoas utilizam amostras, partes
ou fragmentos (samples, em inglês) de imagens retiradas da
Internet para construir seus próprios textos visuais, mas tam-
bém sonoros ou multimídia. Quando uma remixagem se torna
tão popular que é replicada de forma vertiginosa, passa a ser
chamada de meme. Um exemplo de remixagem com imagem
são os vários memes produzidos por internautas do mundo in-
teiro depois que a senhora espanhola Cecilia Giménez, viúva
de 83 anos e pintora amadora, tentou restaurar uma imagem
de Cristo na igreja de sua cidade, obtendo um resultado ca-
tastrófico.
136    Comunicação para o Planejamento Profissional

Fonte: <http://ultimosegundo.ig.com.br/cultura/2012-08-31/restauradora-de-
-borja-quero-terminar-o-meu-trabalho.html>.

Na primeira imagem a seguir, o autor utilizou dois samples


(partes) para construir sua própria remixagem: uma famosa
pintura da Capela Sistina, no Vaticano, pintada por Michelan-
gelo, e a pintura de Cecilia Giménez. Já a segunda remixagem
foi feita a partir do quadro do norueguês Eduard Munch, O
grito, e a pintura de Giménez.

Fontes: <http://veja.abril.com.br/entretenimento/obra-de-velhinha-de-borja-ja-ar-
recadou-50-000-euros/>.
Capítulo 6    Texto verbal e não verbal: ampliando a ideia...    137

<http://knowyourmeme.com/photos/383429-potato-jesus>.

Ainda segundo Jenkins, mesmo quando não são submeti-


das a processos de remixagem, as imagens adquirem signifi-
cados diferentes ao serem propagadas nas redes sociais, pois,
quando muda o contexto da comunicação, muda também o
significado daquilo que está sendo comunicado. Um exemplo
muito comum é a prática, por parte de alguns internautas,
de retirar fotos de políticos ou de pessoas famosas que foram
publicadas em jornais ou revistas on-line e reposicioná-las em
uma discussão na qual esse político ou pessoa famosa está
sendo criticado ou criticada. Nesse caso, o significado da ima-
gem muda imediatamente devido ao novo contexto em que foi
posicionada.

Para finalizar essa seção, é importante afirmar que gran-


de parte das produções remixadas e dos memes que circu-
lam na Internet se destinam ao entretenimento. No entanto, a
facilidade para remixar e propagar imagens no ciberespaço
também tem levado à proliferação de imagens manipuladas
com o objetivo de difamar e estigmatizar certas pessoas e gru-
pos sociais, frequentemente estimulando a cultura do ódio e
do preconceito. Por isso, antes de replicar qualquer conteúdo
imagético, lembre-se sempre de que é muito fácil manipular
imagens no mundo digital e que, talvez, aquilo que você está
vendo na imagem que lhe foi passada seja algum tipo de edi-
ção e pode estar servindo a algum propósito pouco ético. Em
síntese, antes de compartilhar, verifique sempre a origem e a
legitimidade do que está sendo propagado.
138    Comunicação para o Planejamento Profissional

Recapitulando

Neste capítulo, você foi desafiado a refletir sobre o modo como


as imagens se inserem em nossos processos comunicativos. A
primeira questão apresentada foi a relação existente entre a
linguagem verbal e a linguagem visual. Assim, você aprendeu
que é possível explorar a visualidade da própria escrita como
uma forma de expressão emotiva ou estética, o que ocorre
com frequência na linguagem da Internet, mas também da
publicidade e da poesia.

Em seguida, foi proposta uma discussão sobre o modo


como são produzidos os significados das imagens. Naquela
seção, você aprendeu que as imagens produzem dois princi-
pais tipos de significados: denotativos (ou literais) e conotati-
vos (ou culturais). Já o significado da linguagem verbal é de-
terminado pelo domínio de códigos (convenções ou acordos)
linguísticos por parte dos sujeitos.

Depois dessa questão mais teórica, o capítulo propôs uma


discussão sobre o uso das imagens, primeiro, pela leitura de
diagramas/gráficos. Dessa forma, você aprendeu que um
diagrama é uma representação visual de uma ideia ou infor-
mação e não necessariamente de um objeto reconhecível no
mundo físico. Em seguida, você foi convidado a refletir so-
bre o uso das imagens pela publicidade. Naquele contexto,
você aprendeu que a publicidade usa as imagens para levar
as pessoas a associarem os produtos anunciados com certas
características e valores culturais desejáveis, instigando-as a
acreditarem que é possível se tornar aquele tipo de pessoa
Capítulo 6    Texto verbal e não verbal: ampliando a ideia...    139

representada nas peças publicitárias, desde que se compre o


produto anunciado.

Na última seção do capítulo, por fim, houve uma breve dis-


cussão sobre o modo como as imagens são utilizadas no con-
texto digital. Nesse sentido, você foi convidado a compreender
melhor como funcionam as remixagens e os memes.

Referências

BAUMAN, Zygmunt. Vida para o consumo: a transformação


das pessoas em mercadoria. Rio de Janeiro: Zahar, 2008.

JENKINS, Henry; GREEN, Joshua; FORD, Sam. Cultura da


conexão: criando valor e significado por meio da mídia
propagável. São Paulo: Aleph, 2014.

KELLNER, Douglas. Cultura da mídia. Bauru: EDUSC, 2001.

Atividades

1) Observe com atenção o poema visual de Augusto de Cam-


pos “Luxo/Lixo” (1965), reproduzido a seguir, e assinale a al-
ternativa que contém informações corretas sobre a dimensão
visual da escrita.
140    Comunicação para o Planejamento Profissional

I – Muitas pessoas utilizam a visualidade da escrita para


expressar emoções nas redes sociais da Internet, o que
é inadequado, pois essa prática é adequada apenas no
caso da poesia.

II – Assim como ocorre com a poesia, também na lingua-


gem da publicidade, a dimensão visual da escrita é fre-
quentemente explorada para produzir efeitos estéticos.

III – Na linguagem literária, a visualidade pode ser explo-


rada como uma forma de exercer a escrita criativa.

a) Apenas I e II estão corretas.

b) Apenas II e III estão corretas.

c) Apenas I e III estão corretas.

d) Apenas I está correta.

e) Apenas III está correta.

2) O gráfico a seguir, que se encontra em um relatório do


Imazon, traz informações sobre o desmatamento da Ama-
zônia nos períodos de agosto de 2014 a junho de 2016.
Assinale a alternativa que contém apenas informações cor-
retas a partir da leitura do gráfico.
Capítulo 6    Texto verbal e não verbal: ampliando a ideia...    141

I – Utilizando uma diferenciação entre cores, o gráfico es-


tabelece uma comparação quanto ao desmatamento da
Amazônia entre dois períodos: agosto de 2014 a junho de
2015; agosto de 2015 a junho de 2016.

II – O gráfico permite perceber que há um equilíbrio quan-


to ao uso dos recursos naturais da Amazônia nos últimos
anos, uma vez que as taxas de desmatamento permane-
cem estáveis.

III – O gráfico permite perceber que, em junho de 2016, o


desmatamento da Amazônia foi o mais alto em relação a
todo o período analisado.

a) Apenas I e II estão corretas.

b) Apenas II e III estão corretas.

c) Apenas I e III estão corretas.

d) Apenas I está correta.

e) Apenas III está correta.


142    Comunicação para o Planejamento Profissional

3) Observe a imagem publicitária a seguir e assinale a


resposta correta.

Fonte: <https://br.pinterest.com/pin/230176230930923805/?lp=true>.

I – A peça publicitária utiliza imagens de pessoas bem-


sucedidas economicamente como parte de uma estratégia
para criar desejos nos públicos interpelados.

II – A imagem publicitária associa o produto que pretende


vender a valores culturais considerados positivos e desejá-
veis, como a felicidade estampada no sorriso das persona-
gens.
Capítulo 6    Texto verbal e não verbal: ampliando a ideia...    143

III – As pessoas interpeladas por campanhas publicitárias


acabam incorporando todos os valores associados às ima-
gens utilizadas em seus anúncios.

a) Apenas I e II estão corretas.

b) Apenas I e III estão corretas.

c) Apenas II e III estão corretas.

d) Todas estão corretas.

e) Apenas III está correta.

4) Leia com atenção a afirmação de Dudeney, Hockley


e Pegrum e assinale a alternativa que contém afirma-
ções corretas sobre o remix.

O remix é um jogo de saber no qual as reivindicações


de verdade frequentemente não têm lugar. E, como
em todos os outros jogos, tem a ver com diversão ao
longo do trajeto. (DUDENEY, HOCKLEY e PEGRUM,
2016, p. 55)

I – O remix é um processo de subversão das imagens por


meio de softwares livres e sempre contém conteúdo de fun-
do político.

II – Um conteúdo poderá ser caracterizado como remix


apenas caso chegue a se transformar em um meme, vira-
lizando pelas redes sociais da Internet.

III – Estamos vivendo na cultura da remixagem porque as


tecnologias digitais popularizaram o acesso a softwares
144    Comunicação para o Planejamento Profissional

que permitem produzir conteúdos a partir da manipulação


de conteúdos preexistentes no ciberespaço.

a) Apenas I e III estão corretas.

b) Apenas II e III estão corretas

c) Apenas I está correta.

d) Apenas II está correta.

e) Apenas III está correta.

5) Observe a imagem a seguir e assinale a alternativa que


contém afirmações corretas sobre o fenômeno dos memes.

Fonte: <https://www.facebook.com/pg/nazareaorientadora/photos/>.

I – Os memes se caracterizam como conteúdos que se


tornam extremamente populares e, por isso, passam a cir-
cular por meio de um grande número de redes sociais da
Internet.
Capítulo 6    Texto verbal e não verbal: ampliando a ideia...    145

II – Assim como ocorre na imagem acima, todos os memes


são irônicos e produzidos unicamente pelo processo da
remixagem.

III – A imagem anterior é um bom exemplo de meme, pois


os melhores memes sempre fazem referência a algum pro-
grama televisivo, o que leva um grande número de pes-
soas a replicá-los.

a) Apenas I e II estão corretas.

b) Apenas I e III estão corretas.

c) Apenas II e III estão corretas.

d) Apenas I está correta.

e) Apenas III está correta.


Cléa Silvia Biasi Krás1

Capítulo 7

Argumentação e
produção escrita

1  Doutora em Letras. Mestre em Linguística e Letras. Especialista em Lin-


guística Aplicada ao Ensino do Português. Graduada em Licenciatura Plena
em Letras e em Tradutor e Intérprete. Todos os títulos obtidos pela Pontifícia
Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Docente na Univer-
sidade Luterana do Brasil (ULBRA Torres/RS), instituição em que ingressou
em 1992. E-mail: cleasilvia@cpovo.net.
Capítulo 7   Argumentação e produção escrita   147

Introdução

No capítulo anterior, você entrou em contato com diferentes


formas de comunicação. Quando utilizamos a linguagem oral
ou escrita, dizemos que estamos fazendo uso da linguagem
verbal, porque o código usado é a palavra. Quando não
utilizamos a palavra, ao contrário da linguagem verbal, em-
pregamos linguagem visual, como em placas, figuras, gestos,
objetos, cores, ou seja, signos visuais; estamos usando a lin-
guagem não verbal. Por outro lado, podemos mesclar pala-
vras e imagens nos textos, tornando-os híbridos. Podemos en-
contrá-los, por exemplo, em revistas em quadrinhos, charges
e tiras cômicas.

Neste capítulo, você irá estudar não só a conceituação e


a estrutura de um tipo específico de texto, a saber, o texto ar-
gumentativo, mas também a relevância da produção escrita
textual com proficiência. É de extrema importância para todo
profissional ter uma boa comunicação, um juízo crítico e uma
escrita escorreita e assertiva, que certamente pode ampliar
suas oportunidades no mercado de trabalho.

1A
 proficiência na expressão escrita e o
êxito acadêmico e profissional

Muitos acreditam que quem escreve bem são somente algu-


mas raras pessoas ou escritores, isto é, aqueles que escrevem
livros. Mas isso não é verdade. Todos nós podemos escrever
bem, com criatividade e domínio dos aspectos da língua culta.
148    Comunicação para o Planejamento Profissional

E, para isso, devemos praticar a escrita, uma vez que só apren-


demos a escrever bem, escrevendo. A prática frequente é in-
dispensável, pois é por meio dela que adquirimos os automa-
tismos que nos levam a escrever natural e espontaneamente.

Além disso, não podemos escrever, muito menos argumen-


tar, sobre algo que não conhecemos. Para adquirirmos e am-
pliarmos nosso conhecimento, devemos ler jornais, revistas,
livros e sites, além de participarmos de cursos, palestras e fó-
runs que nos deem informações. Também esses instrumentos
nos ajudam na aquisição de um conjunto de vocábulos indis-
pensáveis para quem pretende escrever.

Escrever bem, em todas as circunstâncias, portanto, deveria


ser considerado um hábito. Isso não está somente no fato de
que você irá ser um profissional (professor, advogado, dentis-
ta, arquiteto, administrador, enfermeiro, ou outro entre tantas
profissões), mas também pela obrigatoriedade cotidiana que
você tem em escrever bilhetes, e-mails, mensagens, relatórios,
documentos oficiais, artigos científicos, trabalhos acadêmicos,
documentos jurídicos etc.

Você deve ter ciência, também, de que dominar a norma


culta da Língua Portuguesa está se tornando cada vez mais
importante para o êxito no mercado de trabalho em todas as
áreas profissionais. A falta do domínio do idioma pode com-
prometer profundamente a imagem do profissional, colocando
em dúvida o seu conhecimento técnico e a qualidade de seu
trabalho. A imagem negativa projetada pela má comunicação
oral ou escrita não é bem recebida pelos clientes e empresas.
Em razão disso, os empregadores valorizam cada vez mais os
Capítulo 7   Argumentação e produção escrita   149

funcionários que sabem se expressar com fluência e correta-


mente. Em suma: podemos afirmar que falar e escrever com
linguagem sem incorreções é fundamental para qualquer pro-
fissional e para o sucesso de uma empresa.

A propósito, o avanço da comunicação eletrônica tem au-


mentado a necessidade de o profissional escrever. Hoje, as
empresas comunicam mensagens que circulam dentro da em-
presa ou fora dela, exigindo dos profissionais a habilidade da
expressão escrita. Desse modo, você deve saber que a com-
petência profissional depende tanto de saber escrever corre-
tamente o português quanto dos conhecimentos técnicos da
área de sua atuação.

Por fim, a boa escrita é, ainda, uma excelente maneira de


organizar ideias e articular argumentos. Assim, no próximo tó-
pico, examinaremos aspectos relacionados à argumentação.

2 O que é argumentação?

A argumentação é uma tipologia discursiva que é marcada


pela intenção do argumentador2 de fazer o interlocutor3 admi-
tir seu ponto de vista ou simplesmente fazer o argumentador
defender a pertinência de seu próprio ponto de vista. Com
isso, o ato de argumentar é visto como o ato de persuadir ou

2  “Argumentador” é aquele que argumenta, produz a mensagem; emissor; produ-


tor; redator.
3 “Interlocutor” é aquele a quem se dirige a mensagem; destinatário; ouvinte;
leitor.
150    Comunicação para o Planejamento Profissional

convencer alguém. Sempre que argumentamos, temos o intui-


to de convencer alguém a pensar como nós.

Nessa perspectiva, Koch (2011, p. 17) propõe que a in-


teração social por intermédio da língua caracteriza-se, fun-
damentalmente, pela argumentatividade. Segundo a autora,
constantemente o homem avalia, julga, critica, ou seja, forma
juízos de valor, como ser dotado de razão e vontade. Por outro
lado, por meio do discurso – ação verbal dotada de intencio-
nalidade – tenta influir sobre o comportamento do outro ou
fazer com que compartilhe determinadas opiniões. É por essa
razão que a autora afirma que “o ato de argumentar, isto é,
de orientar o discurso no sentido de determinadas conclusões,
constitui o ato linguístico fundamental, pois a todo e qualquer
discurso subjaz uma ideologia, na acepção mais ampla do
termo”.

Como você deve já ter notado, há autores que diferenciam


a “dissertação” da “argumentação”; outros não costumam
distinguir a “dissertação” da “argumentação”, considerando
esta requisito daquela; e, ainda, há os que tratam as duas
terminologias como uma única: “dissertação-argumentativa”.

Ainda a título de nomenclatura, muitas provas de vestibula-


res e concursos utilizam o nome “texto dissertativo”, ou “texto
argumentativo”, ou, ainda, “texto dissertativo-argumentativo”,
mas todos se referem a esse mesmo padrão de texto que aqui
estamos estudando.

Podemos citar Garcia (1996, p. 370) que distingue a


“dissertação” da “argumentação”. Para o autor, enquanto a
dissertação tem como propósito principal expor ou explanar,
Capítulo 7   Argumentação e produção escrita   151

explicar ou interpretar ideias; a argumentação visa, sobretu-


do, a convencer, persuadir ou influenciar o leitor ou ouvin-
te. Acrescenta, também, que na dissertação é dito o que se
sabe ou acredita-se saber a respeito de determinado assunto;
externa-se uma opinião sobre o que é ou parece ser. Na ar-
gumentação, além disso, procura-se principalmente formar a
opinião do leitor ou ouvinte, tentando convencê-lo de que a
razão está com o emissor, de que ele é quem está de posse da
verdade. Argumentar é, desse modo, para o autor, convencer
ou tentar convencer mediante a apresentação de razões, em
face da evidência das provas e à luz de um raciocínio coerente
e consistente.

Como você deve ter percebido, o fenômeno da argumen-


tação é um mecanismo claramente discursivo, destinado a
persuadir ou convencer o interlocutor, ou seja, trata-se de um
mecanismo ativado com o propósito de provocar a adesão do
leitor para a posição do produtor do texto. Nesse sentido, a
língua não é apenas um instrumento de comunicação; ela é,
também, um instrumento de ação sobre o outro, isto é, uma
estratégia que visa a persuadir, a convencer, a aceitar, a fazer
crer, a mudar de opinião e a levar a uma determinada ação.

3 Estrutura do texto argumentativo

A partir das definições anteriores, destacamos, agora, um as-


pecto que diz respeito à estruturação da argumentação, con-
siderando-se que todo texto escrito deve ter início, meio e fim
e é dirigido a alguém. A estrutura básica, canônica, do texto
152    Comunicação para o Planejamento Profissional

dissertativo ou argumentativo apresenta as partes que veremos


a seguir.

Introdução: apresentação da tese

É onde o produtor apresenta a ideia-base, objeto das con-


siderações do argumentador para situar o leitor dentro do as-
sunto a ser desenvolvido; é a posição que o argumentador
defende. Ou seja: o texto deve deixar claro a que veio logo
de início.

Há várias maneiras de apresentarmos uma tese; a seguir,


algumas delas com exemplos.

a. Declaração afirmativa (ou negativa): serve para fazer


uma declaração forte, capaz de surpreender o leitor; é a forma
mais comum em um texto argumentativo.

“É um grave erro a liberação da maconha.”

“O aborto não deve ser legalizado.”

b. Interrogação: serve para despertar a atenção do leitor


para o tema e será respondida ao longo da argumentação.

“Será que é com novos impostos que a saúde melhorará


no Brasil?”

c. Definição: é uma forma didática, simples e muito usa-


da, porque esclarece o significado para o leitor do conceito
introduzido pelo argumentador.

“Justiça é a particularidade do que é justo e correto, como


o respeito à igualdade de todos os cidadãos”.
Capítulo 7   Argumentação e produção escrita   153

d. Alusão histórica: o conhecimento dos principais fatos


históricos sinaliza que o argumentador tem conhecimento so-
bre o assunto, além de o leitor ser situado no tempo e ter uma
melhor dimensão do problema.

“Após a queda do Muro de Berlim, acabaram-se os anta-


gonismos Leste-Oeste, e o mundo parece ter aberto as portas
para a globalização.”

e. Citação: é usar as palavras de outra pessoa, sua função


é apoiar, sustentar as ideias do argumentador. Existem dois
tipos de citações que você pode fazer: a direta e a indireta. A
citação direta aparece exatamente como foi dita, por isso deve
ter aspas e indicar seu autor. Enquanto, na indireta, usamos
nossas palavras para explicar o que foi dito, ou seja, uma es-
pécie de paráfrase. Quando usarmos a citação indireta, não
é necessário o uso de aspas, mas é preciso indicar o nome do
autor.

“Para Marx, a religião é o ópio do povo.”

f. Comparação: serve para comparar lugares, objetos, se-


res, mostrando semelhanças e/ou diferenças.

“Enquanto países, como a Inglaterra e Canadá, têm leis


que protegem as crianças da exposição ao sexo e à violência
na televisão, no Brasil não há nenhum controle efetivo sobre a
programação na televisão.”

Esses exemplos podem ajudar os estudantes a começar um


texto argumentativo. É importante ressaltar, no entanto, que a
escolha do tipo de tese dependerá da temática abordada.
154    Comunicação para o Planejamento Profissional

Desenvolvimento: defesa da tese

Consiste na apresentação dos argumentos que fundamen-


tam a tese apresentada na introdução, por meio de razões
ou provas, que podem ser por: fatos, exemplos, ilustrações,
dados estatísticos, testemunhos, comparações, alusões histó-
ricas, entre outros. Os argumentos de um texto são facilmente
localizados: identificada a tese, faz-se a pergunta por quê?
(Ex.: A autora é contra as cotas de ingresso nas universidades
(tese). Porque.... (Aí vem os argumentos). Vejamos os argu-
mentos dessa tese, no texto “Cotas: o justo e o injusto”, de Lya
Luft (In: Ponto de Vista, Veja, 06 de fevereiro de 2008, p. 16).
Você deve acessar esse texto, lê-lo e verificar:

TESE: A autora é contra as cotas de ingresso nas universidades.


ARGUMENTOS QUE SUSTENTAM A TESE:
1. Porque instiga o preconceito racial e social.

2. Porque alunos que se saíram bem no vestibular são rejeitados em


troca de quem se saiu menos bem, mas é de origem africana ou vem
de escola pública.

3. Porque reforça dois conceitos nefastos: o de que negros são menos


capazes, e, por isso, precisam de um empurrão, e o de que a escola
pública é péssima e não tem salvação.

4. Porque a “lei do boi” já não deu certo.

5. Porque os alunos beneficiados não entram na universidade por


mérito pessoal e pelo apoio da família, mas pelo que o governo,
melancolicamente, considera deficiência: a raça ou a escola da qual
vieram.

Figura 1  Exemplo de tese e argumentos.


Capítulo 7   Argumentação e produção escrita   155

Como podemos notar, nesse texto, Lya Luft estabelece a re-


lação entre a tese e os argumentos oferecidos para sustentá-la.
No entanto, você pode ser contra a ideia da autora, uma vez
que o tema das Cotas é polêmico e possui argumentos que a
contradizem.

Para elaborarmos um desenvolvimento com qualidade, po-


demos escolher entre os tipos de ordenação, os quais variam
conforme o objetivo do argumentador. Assim, você vai conhe-
cer os cinco principais tipos de argumentos de que pode-
mos lançar mão, conforme Guimarães (2012, p. 204-207),
não apenas nos gêneros acadêmicos, como em qualquer texto
argumentativo para defesa e sustentação do ponto de vista,
seguidos de exemplos, quais sejam:

a. Argumento pragmático ou evidência: é quando o


argumentador inclui dados (como fatos, números, estatísticas)
coletados pelo próprio redator ou por uma fonte respeitável.
Esse recurso é explorado quando o objetivo é contestar um
ponto de vista equivocado.

“A proibição do aborto coloca a vida da mulher em risco:


todo ano, 250 mil brasileiras são internadas por complicações
de aborto ilegal.”

b. Argumento de consenso: fundamenta-se em verda-


des supostamente universais, indiscutíveis. Embora esse tipo
de argumento possa ter um forte efeito persuasivo, é preciso
cuidado, pois o consenso nem sempre é tão unânime.

“Os investimentos em pesquisa são indispensáveis, para


que um país supere sua condição de dependência.”
156    Comunicação para o Planejamento Profissional

c. Argumento por comparação (analogia): é quando o


argumentador compara a questão que está sendo discutida
com outra similar. Isto é, quando comparamos dois ou mais
objetos, buscamos aproximá-los e postulamos que existe entre
eles semelhança ou contraste.

“Nova York, Tóquio e São Paulo, grandes centros urbanos,


têm aumentado a sua densidade demográfica, apresentando
pontos positivos e negativos aos seus habitantes.”

d. Argumento por exemplificação: consiste em informa-


ções dadas a partir de exemplos, que podem se originar de ci-
tações de autoridades ou de dados concretos, isto é, quando o
argumentador cita exemplo(s) do que ele afirma. É importante
ressaltar que os exemplos não podem ser inventados.

“Os jogadores brasileiros de futebol, assim que começam


a se destacar aqui no nosso país, logo são vendidos para times
internacionais. É o que aconteceu com Ronaldo Fenômeno,
que passou a maior parte de sua carreira no exterior.”

e. Argumento de autoridade citada: é a marca regis-


trada do discurso acadêmico. Seu objetivo é legitimar uma
tese com base na citação de argumentos proferidos por pes-
soas consideradas autoridades no assunto em questão. Dito
de outra forma, é a citação do ponto de vista de um autor
reconhecido (pode ser também uma revista, um jornal etc.) em
determinado campo da experiência como meio de prova em
favor de uma tese.

“O tratamento da Aids, no Brasil, é referência para todos os


outros países, conforme afirmou o Dr. Drauzio Varella.”
Capítulo 7   Argumentação e produção escrita   157

No momento da construção textual, os argumentos são es-


senciais. Eles são as provas que apresentamos ao nosso inter-
locutor, e a escolha certa do argumento consolida o texto.

Vale ressaltar que a clareza do ponto de vista e da expo-


sição dos argumentos é um ponto importante, uma vez que é
um facilitador para a compreensão da tese e dos argumentos
demonstrados; se a tese e os argumentos não forem claros e
não tiverem uma forma de fácil interpretação, trarão dificulda-
de quanto ao poder de convencimento do argumentador.

Conclusão: fecho do texto

É a parte final da argumentação que procede naturalmente


das provas arroladas, dos argumentos apresentados; consiste
em pôr em termos insofismáveis a essência da proposição. Na
formulação da conclusão, podemos: a) reafirmar o assunto;
b) fazer referência ao título; c) retomar a introdução em ou-
tras palavras; d) sintetizar os argumentos; e) confirmar a tese
com uma paráfrase; f) fazer uma advertência; g) fazer uma
sugestão; ou h) fazer uma possível proposta de solução para
o problema apresentado na introdução e discutido no desen-
volvimento.

A transição entre o desenvolvimento e a conclusão é feita,


geralmente, por meio de conectores conclusivos que indicam
a relação que desejamos estabelecer, tais como: Portanto,...;
Dessa forma,...; Isso posto,...; Em face do exposto,...; Por
conseguinte,...; Em vista disso,...; Por tais razões,...; Por tudo
isso,...
158    Comunicação para o Planejamento Profissional

Você não deve esquecer que todo texto argumentativo deve


girar em torno da posição manifestada, sem contradições, cor-
roborando para a afirmação da tese. O desdobramento do
texto, até a conclusão, deve atender ao que foi anunciado na
apresentação da tese inicial.

Como vimos, o texto argumentativo consiste em uma ti-


pologia a qual devemos expor informações, fatos sobre um
determinado tema, e, especialmente, posicionarmo-nos em
relação a ele. Em razão disso, nesse tipo de texto, defendemos
uma ideia, opinião, uma tese, procurando convencer o ouvin-
te ou leitor a concordar com o ponto de vista que está sendo
exposto. Trata-se, pois, de uma exposição acompanhada de
argumentos, provas e técnicas de convencimento.

4A
 spectos básicos da argumentação e
produção escrita

4.1 E
 mprego dos mecanismos de coerência e
coesão
É bom que você tenha conhecimento de que o texto argu-
mentativo envolve tanto a constituição articulada de sentidos
como a realização eficiente dos objetivos de convencimento,
conforme preconiza Citelli (1994). Tal processo ocorre porque
é sustentado pelos mecanismos da coerência e da coesão.4

4 A coerência e a coesão são critérios de textualidade estudados na Linguística


Textual, esta também chamada de Teoria do Texto, que é um ramo da Linguística.
Capítulo 7   Argumentação e produção escrita   159

A produção da coerência é o acerto das partes com rela-


ção ao todo textual; do ajuste sequencial das ideias; da pro-
gressão dos argumentos; das afirmativas que são explicadas;
das justificativas a teses; das transformações acompanhadas
de provas; das proposições que se concluem; da adequação
desse (e outros) processo ao leitor. Assim, a coerência é a ade-
quação dos elementos textuais em busca de uma unidade, em
que as ideias se compatibilizam.

A coesão trata de um conjunto de elementos responsáveis


pela passagem de uma ou outra unidade de sentido. Chama-
se coesão ao conjunto dos recursos linguísticos responsáveis
pelas ligações que se estabelecem entre as partes de uma fra-
se, entre as orações de um período ou entre os parágrafos de
um texto. O uso dos conectores: mas, embora, já que, pois,
porque, quando, de acordo com, a fim de, por outro lado
etc.; dos denotadores de inclusão: até, mesmo, também, ain-
da, inclusive etc.; dos denotadores de exclusão: só, somente,
apenas, senão, exceto etc.; das retificações ou esclarecimen-
tos: aliás, ou melhor, isto é, ou seja, a saber etc.; dos índices
situacionais: afinal, então, aqui etc. está fortemente implicado
com a construção dos esquemas argumentativos.

Você deve ter percebido que os textos resultam de uma


organização de elementos intratextuais e extratextuais, e estes
dão sentido e consistência àqueles, em especial nos textos ar-
gumentativos. Dito de outra forma, o texto argumentativo faz
uso, em grande quantidade, dos mecanismos argumentativos,
para indicar a orientação discursiva em direção à determinada
conclusão almejada pelo produtor do texto.
160    Comunicação para o Planejamento Profissional

4.2 Domínio da língua culta


A língua culta obedece à gramática padronizada da língua
padrão. E o texto argumentativo exige o domínio dos aspectos
gramaticais da escrita, que tem normas próprias, tais como:
regras de ortografia, de pontuação, de concordância, de uso
de tempos verbais, de regência, de colocação pronominal. As-
sim, o emprego de elementos da norma culta, ligados à moda-
lidade oral ou escrita pelas circunstâncias de produção, passa
a ter funcionalidade para a clareza do discurso.

Como você sabe, a língua culta deve ser a variedade ensi-


nada pela escola, pois está contida na maior parte dos livros,
das revistas e dos textos científicos e didáticos. Além disso, é
ela que promove a integração dos brasileiros de norte a sul,
de leste a oeste.

O padrão culto do idioma, além de ser uma espécie de


marca de identidade, constitui também um recurso imprescin-
dível para uma boa argumentação. Dito de outra forma: em
situações em que a norma culta se impõe, eventuais transgres-
sões podem desautorizar a fidedignidade de quem redige e
desqualifica o próprio conteúdo exposto.

Você já deve saber que, além do respeito às regras gra-


maticais, uma das características do texto argumentativo é a
impessoalidade da linguagem. Texto impessoal significa que
deve ser evitado o discurso na primeira pessoa do singular
(eu) e adotar o uso da primeira pessoa do plural ou da tercei-
ra pessoa do singular ou do plural. Expressões como: nossas
conclusões, procuramos demonstrar, o governo não entregou,
Capítulo 7   Argumentação e produção escrita   161

aprende-se na escola, cientistas reconhecem, os parlamentares


votaram.

Em razão do que vimos, ressaltamos que os fundamentos


da escrita são: coerência, coesão e clareza, e a linguagem a
ser utilizada em trabalhos acadêmicos e científicos deve res-
tringir-se à norma culta da Língua Portuguesa. Além disso, sa-
ber falar e escrever de acordo com a forma padrão de uma
língua é uma competência bastante valorizada no mercado de
trabalho, uma vez que o domínio da língua culta possibilita ao
indivíduo comunicar com precisão, eficiência e desenvoltura.

5A
 nálise de um texto escrito
argumentativo

Vejamos, agora, um texto argumentativo e comentários sobre


ele, para que possamos exemplificar melhor os aspectos es-
tudados e necessários à elaboração de um bom texto escrito.

TEMA: A persistência da violência contra a mulher.

Texto de JULIA CURI AUGUSTO PEREIRA (MS) – ENEM


2015

Permeada pela desigualdade de gênero, a história brasileira


deixa clara a posição inferior imposta a todas as mulheres. Es-
sas, mesmo após a conquista do acesso ao voto, ensino e tra-
balho – negado por séculos – permanecem vítimas da violência,
uma realidade que ceifa vidas e as priva do direito a terem sua
integridade física e moral protegida.
162    Comunicação para o Planejamento Profissional

O machismo e a misoginia são promovidos pela própria socie-


dade. Meninas são ensinadas a aceitar a submissão ao posicio-
namento masculino, ainda que estejam inclusas agressões e vio-
lência, do abuso psicológico ao sexual. Os meninos, por sua vez,
têm seu caráter construído conforme absorvem valores patriarcais
e abusivos, os quais serão refletidos em suas condutas ulteriores.

Um dos conceitos filosóficos de Francis Bacon, que declara o


comportamento humano como contagioso, se aplica perfeita-
mente à situação. A violência de gênero, conforme continua a
ser reproduzida, torna-se enraizada e frequente. Concomitante-
mente, a voz das mulheres é silenciada e suas manifestações são
reprimidas, o que favorece o mantimento das atitudes misóginas.

O ensino veta todo e qualquer tipo de instrução a respeito do


feminismo e da igualdade de gênero e contribui com a perpetua-
ção da ignorância e do consequente preconceito. Ademais, os
veículos de comunicação pouco abordam a temática, enquanto
o Estado colabora com a Lei Maria da Penha, nem sempre eficaz,
e com unidades da Delegacia da Mulher, em número insuficiente.

Entende-se, diante do exposto, a real necessidade de ações


governamentais que garantam que a lei puna todos os tipos
de violência, além da instalação de delegacias específicas em
áreas necessitadas. Cabe à sociedade, em parceria com a mí-
dia e com as escolas, instruções sobre igualdade de gênero e
campanhas de oposição à violência contra as mulheres. Essas,
por fim, devem permanecer unidas, pelo feminismo, em busca
da garantia de seus direitos básicos e seu bem-estar social.

Disponível em: <http://portal.inep.gov.br/artigo/-/asset_pu-


blisher/B4AQV9zFY7Bv/content/cartilha-do-participante-na-
-redacao-do-enem-2016-ja-esta-disponivel-para-conferen-
cia/21206>. Acesso em: 17 set. 2017.
Capítulo 7   Argumentação e produção escrita   163

Comentários
O texto está estruturado em cinco parágrafos, organizados em
blocos temáticos independentes, mas bem articulados entre si.
Apresenta as três estruturas básicas: introdução, desenvolvi-
mento e conclusão.

O primeiro parágrafo constitui a introdução do texto. Nes-


sa parte, o assunto se desenvolve em torno da ideia-núcleo,
expressa pelo primeiro período, que é a tese – do tipo alusão
histórica: “Permeada pela desigualdade de gênero, a história
brasileira deixa clara a posição inferior imposta a todas as mu-
lheres.”, que apresenta a posição da autora do texto em torno
da problemática do tema. Ainda nesse parágrafo, há reforço
da tese no segundo período.

Nos segundo, terceiro e quarto parágrafos, que fazem par-


te do desenvolvimento, a autora confirma e justifica sua tese
por meio de argumentos. No segundo parágrafo, por meio
de exemplificação, analisa e critica o ensinamento das meni-
nas e meninos. No terceiro parágrafo, por meio de argumen-
to de autoridade, legitima a sua tese citando Francis Bacon,
demonstrando conhecimento sociocultural. No quarto pará-
grafo, a autora reforça o seu ponto de vista, apresentando ter
informações relacionadas ao papel da educação, dos veículos
de comunicação e de instituições que reforçam a desigualda-
de entre os gêneros e o preconceito contra a mulher.

Para a conclusão, no último parágrafo, a autora aponta


uma perspectiva de solução para a situação-problema, esta
apresentada na tese e defendida nos argumentos do desenvol-
164    Comunicação para o Planejamento Profissional

vimento. A transição entre o desenvolvimento e a conclusão é


feita pelo recurso coesivo “diante do exposto”.

No texto, há encadeamento entre as ideias, e o tema é de-


senvolvido com coerência. Além de assegurar a continuidade
e a progressividade temáticas, a autora articula o texto com
elementos de coesão, como: “Essas” (1º parágrafo); “ainda
que”, “por sua vez”, “os quais” (2º parágrafo); “se aplica per-
feitamente à situação”, “o que” (3º parágrafo); “Ademais” (4º
parágrafo); “diante do exposto”, “além”, “Essas” (5º parágra-
fo).

Você deve ter observado que a autora demonstra domínio


da modalidade escrita formal da Língua Portuguesa, tanto pe-
las estruturas linguísticas construídas como pela seleção lexi-
cal. Além disso, o texto é objetivo, claro e impessoal, omitindo
marcas de subjetividade no discurso.

Posto isso, o texto apresentado é argumentativo, pois se or-


ganiza na defesa de um ponto de vista, para formar a opinião
do leitor, tentando convencê-lo à aceitação e persuasão da
ideia defendida. Seu objetivo é, em última análise, o conven-
cimento do interlocutor mediante a apresentação da tese, dos
argumentos consistentes e da conclusão que sugere soluções.

6 Assertividade na escrita

Para finalizarmos o que dissemos até aqui, para o acadêmico


atual, é importante argumentar bem e escrever corretamente?
Capítulo 7   Argumentação e produção escrita   165

É claro que sim. Então, vamos estudar sobre o que é ser asser-
tivo na expressão escrita.

Segundo doutrinas corporativas, a palavra assertividade


deriva de “asserto” que significa “proposição afirmativa”, ou
seja, “ter certeza e firmeza no que está falando”. Uma pessoa
que demonstra ter assertividade é autoconfiante, manifesta se-
gurança, sabe o que quer, é proativo e tem habilidade social
de se expor de forma firme, educada e respeitosa, defendendo
seus direitos sem desrespeitar os direitos dos outros.

No universo do trabalho, a postura assertiva é considerada


uma qualidade, uma vez que o profissional com essa habilida-
de é seguro e confiante no agir, isso podendo ser decisivo em
muitos negócios e relacionamentos.

A comunicação assertiva expressa as opiniões e informa-


ções com firmeza, segurança e respeito. É uma habilidade
valorizada no meio profissional, sendo, muitas vezes, testada
em processos de seleção e treinamento. Algumas empresas
cobram dos candidatos redações, com o objetivo de avaliar o
domínio de algum tema específico e da comunicação escrita,
além de clareza de raciocínio e objetividade.

Então, como você pode ser assertivo na comunicação es-


crita? Você pode ser assertivo na escrita seguindo algumas
sugestões que poderão ajudá-lo:

ÂÂtenha conhecimento sobre a informação que irá passar;

ÂÂutilize linguagem objetiva, precisa, direta, clara, elegan-


te e transparente;
166    Comunicação para o Planejamento Profissional

ÂÂempregue os mecanismos de coerência e coesão;

ÂÂaprimore seu vocabulário;

ÂÂnão use abreviaturas e gírias;

ÂÂempregue linguagem culta-padrão;

ÂÂnão use excessivos argumentos;

ÂÂutilize linguagem respeitosa, evitando expressões agres-


sivas, mas mantendo firme a sua posição.

ÂÂtenha em mente a figura do seu interlocutor;

ÂÂpratique a escrita, já que se aprende a escrever escre-


vendo.

Não se esqueça de que bons profissionais são bons comu-


nicadores. Essa é uma característica para o êxito no mercado
de trabalho, pois empregadores consideram competência em
comunicação quesito fundamental para a contratação e per-
manência de um profissional na empresa.

Recapitulando

Este capítulo foi dedicado ao estudo do texto argumentativo


e da produção escrita. Destacamos que produzir um texto de
caráter argumentativo é, pois, desenvolver um tema sob as
perspectivas que sejam do conhecimento e do interesse da-
quele que escreve, mas que obedece a um processo hierarqui-
camente sistematizado com vistas a assegurar coerência e coe-
Capítulo 7   Argumentação e produção escrita   167

são entre as partes que integram o texto. Na argumentação,


as ideias são expressas, ampliadas e sustentadas com base em
dados extraídos do contexto de referência e do conjunto de
experiência que o produtor acumulou ao longo de sua vida.
Na produção escrita, enfatizamos a importância do domínio e
da assertividade na escrita e sua relação com o êxito pessoal
e profissional do acadêmico e do graduado em qualquer área
de atuação.

Referências

CITELLI, Adilson. O texto argumentativo. São Paulo: Scipio-


ne, 1994.

GARCIA, Othon M. Comunicação em prosa moderna. 17.


ed. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1996.

GUIMARÃES, Thelma de Carvalho. Comunicação e lingua-


gem. São Paulo: Pearson, 2012.

KOCH, Ingedore G. Villaça. Argumentação e linguagem.


13. ed. São Paulo: Cortez, 2011.

TRUBILHANO, Fabio; HENRIQUES, Antonio. Linguagem jurí-


dica e argumentação: teoria e prática. 5. ed. São Paulo:
Atlas, 2017.
168    Comunicação para o Planejamento Profissional

Atividades

1) O texto argumentativo implica: defesa de uma tese, que é


a posição do argumentador; evidências presentes nos argu-
mentos e provas, os quais fundamentam a tese; e conclusão, a
qual encerra a produção textual. Sobre o texto argumentativo,
assinale uma alternativa como verdadeira.

a) Trata-se de uma produção escrita discursiva em tor-


no de um ponto de vista definido sobre determinado
tema, marcada por linguagem clara, objetiva e culta
que tenta persuadir ou convencer o emissor.

b) Apresenta uma tese e os argumentos desenvolvidos na


defesa da tese, tendo como elementos fundamentais o
emprego da coesão, coerência, clareza e língua culta-
-padrão.

c) Aponta, logo na introdução, a organização de dados,


fatos, ideias, exemplos, testemunhos, comparações
em torno de um ponto de vista.

d) Trata-se de um tipo de texto que tem como finalida-


de persuadir ou convencer o interlocutor mediante a
apresentação de razões e provas externadas na con-
clusão.

e) Tem como principal objetivo expor informações ou ex-


planar fatos, emitindo a posição do argumentador.

2) Leia o texto abaixo.


Capítulo 7   Argumentação e produção escrita   169

Os policiais exercem um papel de extrema importância para o


país. Afinal, eles representam a instituição que promove, efetiva-
mente, o cumprimento da lei, o que torna possível a segurança
pública e a estabilidade de uma nação em seus múltiplos aspec-
tos. A Síria, por exemplo, ainda não conseguiu reverter a guerra
civil gerada pelos grupos rebeldes que a tem desestabilizado a
ponto de criar tensões no cenário geopolítico. Portanto, as na-
ções precisam investir em suas forças policiais e também valori-
zá-las, pois elas são ferramentas essenciais para a manutenção
da ordem pública e da segurança da população que deposita
nessa instituição a sua confiança e as suas expectativas.

Disponível em: <https://blogdaprofsagave.blogspot.com.


br/2014/06/redacao.html>. Acesso em: 18 set. 2017 (frag-
mento adaptado).

Considerando o texto apresentado, avalie as afirmações a


seguir, tendo em vista os estudos do Capítulo 7.

I. A tese apresentada pelo argumentador é: “Os poli-


ciais exercem um papel de extrema importância para o
país”. Esse tópico frasal do parágrafo traz o ponto de
vista do autor sobre o tema segurança pública.

II. As estratégias argumentativas utilizadas para sustentar


esse ponto de vista são: definição (“eles representam a
instituição que promove, efetivamente, o cumprimento
da lei”), consequência (“o que torna possível a segu-
170    Comunicação para o Planejamento Profissional

rança pública e a estabilidade de uma nação em seus


múltiplos aspectos”) e exemplificação (dando o exem-
plo da Síria).

III. A conclusão no parágrafo, introduzida pelo conector


conclusivo “Portanto”, dá a ideia de que para manter
uma força policial bem equipada e bem preparada é
necessário que se invista e que se valorize a atividade
dos trabalhadores do cumprimento da lei.

IV. São elementos de coesão presentes no texto e impres-


cindíveis no argumentativo: “Afinal”, “o que”, “por
exemplo”, “que a”, “Portanto”, “pois”.

É correto apenas o que se afirma em:

a) I e IV.

b) II e III.

c) III e IV.

d) I, III e IV.

e) I, II, III e IV.

3) Leia o texto a seguir. Depois, assinale uma alternativa


como verdadeira.
Capítulo 7   Argumentação e produção escrita   171

Reflexões sobre o consumismo

Nesta época do ano, em que comprar compulsivamente é a


principal preocupação de boa parte da população, é imprescin-
dível refletirmos sobre a importância da mídia na propagação
de determinados comportamentos que induzem ao consumismo
exacerbado.

No clássico livro O Capital, Karl Marx apontava que no ca-


pitalismo os bens materiais, ao serem fetichizados, passam a
assumir qualidades que vão além da mera materialidade. As
coisas são personificadas, e as pessoas são coisificadas. Em ou-
tros termos, um automóvel de luxo, uma mansão em um bairro
nobre ou ostentar objetos de determinadas marcas famosas são
alguns dos fatores que conferem maior valorização e visibilida-
de social a um indivíduo.

LADEIRA, F. F. Reflexões sobre o consumismo. Disponível em:


<http://observatoriodaimprensa.com.br>. Acesso em: 10 set.
2017 (fragmento adaptado).

O título do texto e a tese defendida no primeiro parágrafo


trazem o ponto de vista do autor: o consumismo exacerbado e
a necessidade de reflexão sobre a mídia que induz a comprar
compulsivamente. Escolha as estratégias argumentativas utili-
zadas para sustentar esse ponto de vista.

a) Definição e consenso.

b) Exemplificação e comparação.

c) Causa e consequência.

d) Autoridade e exemplificação.
172    Comunicação para o Planejamento Profissional

e) Finalidade e meios.

4) A resistência que um aluno universitário tem quanto a as-


pectos normativos, e que o leva a observação do tipo:
“Não sei Português”, “Português é a língua mais difícil que
existe”, “Eu nunca vou aprender a escrever bem em língua
portuguesa”, sinaliza que ele tem insegurança e dúvidas
com relação ao seu conhecimento sobre a língua pátria.
Com base nesse caso apresentado e nos estudos do Capí-
tulo 7, avalie as afirmativas seguintes.

I. O aluno mencionado não tem assertividade, particu-


larmente na expressão escrita, uma vez que é negativo
e não está apto a mudar e buscar soluções ao seu
problema.

II. A forma do comportamento do aluno é não assertiva,


haja vista não pensar em mudança dentro das possibi-
lidades de sua vida.

III. A atitude do aluno deve-se, possivelmente, à falta de


perspectiva e ao desconhecimento das vantagens de
dominar-se um código específico para situações for-
mais, especialmente na escrita.

É correto o que se afirma em:

a) II, apenas.

b) III, apenas.

c) I e II, apenas.

d) I e III apenas.
Capítulo 7   Argumentação e produção escrita   173

e) I, II e III.

5) Observe a charge a seguir, depois responda à questão


proposta.

Considerando as ideias sugeridas pela charge e os estudos


do Capítulo 7, avalie as asserções a seguir e a relação pro-
posta entre elas.

I. Quando um candidato a um emprego não domina a


língua portuguesa, pode até perder a vaga.

Porque

II. Erros de português podem comprometer a imagem


profissional e as pretensões de qualquer um.

A respeito das asserções, assinale a opção correta.

a) As asserções I e II são proposições verdadeiras, e a II é


uma justificativa correta da I.
174    Comunicação para o Planejamento Profissional

b) As asserções I e II são proposições verdadeiras, mas a


II não é uma justificativa correta da I.

c) A asserção I é uma proposição verdadeira, e a II é


uma proposição falsa.

d) A asserção I é uma proposição falsa, e a II é uma pro-


posição verdadeira.

e) As asserções I e II são proposições falsas.


Ítalo Nunes Ogliari1

Capítulo 8

O poder da fala:
oralidade, protagonismo
e relações interpessoais

1 Ítalo Ogliari é Doutor em Letras, escritor e atual coordenador e professor do


curso de Letras da ULBRA.
176    Comunicação para o Planejamento Profissional

Introdução

Neste oitavo capítulo, como viemos fazendo nos quatro an-


teriores, aprofundando-nos, um a um, diretamente nos prin-
cipais aspectos ligados à prática comunicativa, fundamental
para o desenvolvimento pessoal e profissional de todo o indi-
víduo, debateremos acerca das questões da oralidade. Trata-
remos, agora de modo mais detalhado, sobre sua essenciali-
dade nas relações interpessoais e sobre os elementos verbais
e não verbais que envolvem o processo de comunicação oral.
Trataremos, ainda, das capacidades de ouvir e de dialogar,
muitas vezes esquecidas quando o assunto é comunicação, e
tópicos como o autoconhecimento, a tomada de decisões e o
posicionamento crítico a partir do uso da voz também farão
parte deste momento.

1O
 ralidade, trabalho e relações
interpessoais

O trabalho tem a possibilidade de fazer do homem um


elemento capaz de transformar sentimentos em realidade
e reunir, à sua volta, pessoas com um mesmo objetivo e
com visões concretas de que é possível fazer do trabalho
um meio não somente de vida, mas também um fator
existencial. (ROMÃO, 2004, p. 3)

A qualidade das relações humanas liga-se diretamente à


capacidade comunicativa dos indivíduos. A comunicação oral,
inerente ao ser humano e discutida desde os gregos, principal-
Capítulo 8    O poder da fala: oralidade, protagonismo ...    177

mente por Aristóteles, que dedicou uma de suas obras à retó-


rica, é responsável imediata, como debatemos brevemente em
nosso terceiro capítulo, pela imagem de um sujeito dentro dos
mais diversos grupos e espaços em que transita. Dentre esses
espaços, está o do trabalho.

Os relacionamentos interpessoais, essenciais e muito exi-


gidos no espaço do trabalho, constituem-se a partir de um
emaranhado complexo, que envolve questões de alteridade,
de personalidade, de ética, de autoestima, de empatia e, fun-
damentalmente, de comunicação, responsável, esta última,
pela mediação dos elementos anteriores. Cada ser humano é
único e constituído por um conjunto de características que tor-
na um indivíduo. Ser um indivíduo é possuir algo apenas seu,
de modo singular, individual, distinto dos demais. “A vida no
trabalho é composta de um cenário no qual atitudes, emoções
e sentimentos de enorme diversidade são manifestados, repro-
duzindo a forma particular de cada indivíduo de lidar com a
realidade” (CARVALHO, 2009, p. 75).

Saber se relacionar é justamente perceber que todo ser


humano possui uma personalidade própria e, mais do que
isso, saber respeitar essa singularidade, fazendo com que
uma das formas mais simples de compreendermos o que se
denomina de relação interpessoal não seja nada além do
que uma disposição para a aceitação e compreensão do ou-
tro, visível na maneira de olhar, de falar e de agir. Conforme
Ghelman et. al.:

[d]iferenças individuais são as várias formas em que os


indivíduos se distinguem uns dos outros, sejam nos as-
178    Comunicação para o Planejamento Profissional

pectos físicos, psíquicos, intelectuais, emocionais ou so-


ciais. O conceito de relacionamento pessoal se estende
por uma variedade de comportamentos e atitudes que
determinam o seu grau de convívio em sociedade. Quan-
to maior a sua capacidade de expor e respeitar as opi-
niões de terceiros maior serão as suas habilidades de
relacionamento interpessoal, isso é muito importante na
sociedade atual tanto na esfera profissional como na
pessoal. Muitas pessoas assumem determinadas posturas
nos relacionamentos em geral como instrumento de po-
sicionamento, ou seja, a pessoa pode assumir posturas
comportamentais passivas ou agressivas, tudo isso rela-
cionado ao seu suposto papel naquele contexto social.
Os principais conceitos de relacionamento pessoal são:
relacionamento interpessoal profissional, pessoal, e mais
recentemente o virtual, que consiste no comportamento
que o indivíduo assume no mundo virtual. (2016, p. 05)

E por falar em olhar, falar e agir,


não podemos nos esquecer de que
a comunicação oral compreende
todas essas questões, importantes
não só para as boas relações, mas
para a exposição de suas ideias,
posicionamento dentro de um de-
bate, tomada de decisões, bem
como a capacidade de trabalhar
em grupo e, inclusive, liderar.
Capítulo 8    O poder da fala: oralidade, protagonismo ...    179

2 Fala e corpo

Saber se comunicar verbalmente, assim como na linguagem


escrita, cada uma em suas particularidades, é saber, em pri-
meiro lugar, adaptar-se: apenas conhecendo o outro existe a
probabilidade de uma aproximação coerente. Cada situação
exige uma estratégia própria. Conforme Magda Soares (1999),
é preciso adaptar o conteúdo da mensagem ao interesse do
ouvinte, e, junto a isso, ter a criatividade para motivar. O en-
tusiasmo, de acordo com a autora, é uma espécie de combus-
tível da expressão verbal, nunca esquecendo a observação, a
teatralização, a síntese, o ritmo, a voz, a respiração, a dicção,
o vocabulário e a expressão corporal. Cada espaço e grupo
de pessoas exige uma determinada postura, uma determinada
cadência, um determinado nível técnico etc. Para isso, no en-
tanto, a necessidade de autoconhecimento torna-se, da mes-
ma forma, uma importante ferramenta. Conhecendo bem o
outro e conhecendo bem a si mesmo você terá a possibilidade
de se ajustar perfeitamente às mais diversas necessidades.

Conhecer não só suas potencialidades, mas também suas


fragilidades, permite, a você, uma possibilidade maior de or-
180    Comunicação para o Planejamento Profissional

ganização na hora de comunicar. Faz com que você possa


jogar melhor com essas questões, destacando aquilo que lhe
traz benefícios no momento da fala e minimizando aquilo que
você considera como ponto fraco seu, proporcionando-lhe
mais confiança. Estar confiante faz com que sua mensagem
saia de forma mais precisa e assertiva.2 Se você costuma tre-
mer as mãos, por exemplo, evite segurar qualquer objeto en-
quanto está falando. Fazendo isso, você saberá que as pessoas
não irão perceber e, assim, ficará mais tranquilo. Apenas você
sabe o que é melhor para sua comunicação, como, em outro
exemplo, se é melhor para você (havendo ambas as possibili-
dades) estar em pé ou sentando, dentre outros tantos detalhes.

Todos nós sabemos que nossos movimentos e expressões


revelam àqueles que estão nos ouvindo toda nossa ansiedade
e insegurança, e trabalhar sobre isso é necessário. A confian-
ça, ou melhor, a autoconfiança, essencial à comunicação oral,
nada mais é do que o resultado de um autoconhecimento e
uma reflexão sobre si. Somente assim, conhecendo melhor a
si próprio, você poderá criar mecanismos e estratégias que
inibam aqueles detalhes que você considera problemáticos em
sua forma de se comunicar oralmente.

Existem pessoas, por exemplo, que pecam pelo excesso de


informalidade ou de formalidade, e precisam, a partir dessa
constatação, ajustar o discurso, a postura e tudo o que se liga
diretamente a questões de adaptação, conforme já menciona-
mos e discutimos mais de uma vez, e de empatia, que nada

2  Conceito já abordado no capítulo sobre argumentação e produção escrita, que


consiste na capacidade de um posicionamento firme e sustentado por ideias obje-
tivas e convincentes.
Capítulo 8    O poder da fala: oralidade, protagonismo ...    181

mais é do que a sensibilidade de se colocar no lugar do outro.


Fazer essa leitura de forma coerente é essencial. Há inúmeras
técnicas para o desenvolvimento da oralidade, mas também
existe a necessidade de uma forte sensibilidade em relação a
esse processo, para que, a partir dessa percepção, os ajustes
sejam feitos e o canal de comunicação seja devidamente es-
tabelecido.

3 Sobre o que se fala

Um detalhe de extrema relevância, quando tratamos de comu-


nicação oral e que parece óbvio, mas nem sempre é coeren-
temente respeitado, diz respeito ao conhecimento sobre aquilo
que se está falando. Quando se domina verdadeira e profun-
damente o tema a ser exposto, seja uma aula a ser dada, uma
palestra a ser proferida, uma proposta ou mesmo um trabalho
acadêmico a ser apresentado, a sensação de conforto e de
relaxamento, no ato da comunicação, é muito maior, e trans-
parece em todos os aspectos, que vão desde o volume da voz,
que sai clara e direta, ao baixo nível de transpiração e cacoe-
tes de fala, como os conhecidos “né” e “ãh...”.

Por outro lado, se o domínio do tema é deficitário, as frases


tendem a ser menos assertivas e eficazes, geralmente permea-
das por uma prolixidade desnecessária e evidente, próprio dos
discursos que possuem mais tempo a ser preenchido do que
assunto a ser tratado, e o olhar do comunicador parece nunca
fixar-se em dada, mantendo-se em fuga e geralmente para
baixo. Isso coloca você em uma posição de fragilidade, des-
182    Comunicação para o Planejamento Profissional

protegido em relação ao outro e suscetível ao ataque de argu-


mentos contrários.

Se você não está seguro sobre aquilo


que vai falar, é melhor pensar duas vezes
antes de seguir em frente, pois o interlo-
cutor percebe facilmente e difere aquele
que tem domínio sobre o que fala daque-
le que não possui uma real autoridade
sobre o que diz. Preparar-se bem é, sem
dúvida alguma, a principal garantia de
sucesso e de tranquilidade.

Você precisa saber sobre o que está falando. Nin-


guém explica com propriedade algo que não domi-
na. Ninguém apresenta bem uma ideia se ela não
estiver clara na cabeça de quem a está expondo.

Isso tudo não significa que não existam momentos em que


um sujeito, mesmo com plena propriedade sobre o que vai
falar, possa se sentir apreensivo e tenha, por outros infindáveis
fatores, sua comunicação prejudicada. Nesse caso, destaca-
mos novamente a questão da necessidade de uma busca por
estratégias que objetivam minimizar essa angústia. Aconselha-
se, sempre, para segurança em relação ao tema, que o sujeito
leve consigo (em cartões pequenos, que possa segurar, ou em
uma simples folha de papel ou até mesmo em um dispositivo
móvel, como um tablet) um roteiro de sua fala, que pode ser
em forma de tópicos ou resumo. Muitas vezes, esse material
nem chega a ser utilizado, mas funciona como uma bengala a
dar apoio ao comunicador, deixando-o mais confiante.
Capítulo 8    O poder da fala: oralidade, protagonismo ...    183

4 Mais algumas dicas

É comum, quando estamos nos preparando para algum tipo


de fala ou apresentação, treinarmos previamente não apenas
nosso texto, mas também nossos trejeitos: como nos posicio-
naremos, que tipo de material de apoio fará parte de nossa
explanação etc. Porém, por mais que exercitemos nossa apre-
sentação, nada simula verdadeiramente o local (o espaço) e
o momento de contato direto com o público ou com a pessoa
com quem vamos falar.

Por isso, e principalmente se não for um espaço comum a


você, é fundamental chegar antes, para que haja uma familia-
rização com o ambiente. Observe-o, caminhe um pouco, faça
uma espécie de reconhecimento do território em que atuará. E
mesmo se o lugar for de seu convívio, como em seu ambien-
te de trabalho ou em uma sala de aula de sua universidade,
na qual irá apresentar um trabalho aos colegas e professores,
chegue mais cedo, teste seu material, seus recursos tecnológi-
cos etc. Chegar muito próximo do início ou atrasado para um
compromisso desse tipo, seja uma reunião, uma seleção de
emprego ou mesmo a exposição de um trabalho acadêmico,
faz com que seu nível de estresse se eleve muito, e dificilmen-
te você conseguirá se recompor, pois não terá tempo para
se acalmar. Chegar antes possibilita a você, também, conver-
sar de modo mais informal com a pessoa ou as pessoas para
quem irá falar, fazendo, assim, com que seu primeiro contato
não seja o exato momento de sua comunicação. Isso abre o
canal, possibilita testá-lo, observar o humor das pessoas, entre
outros detalhes.
184    Comunicação para o Planejamento Profissional

5S
 aber falar, mas também saber ouvir:
o diálogo como base da boa relação
pessoal e profissional

Por fim, vela lembrar que a comunicação não é uma via de


mão única. No entanto, muitas vezes, quando tratamos não só
de comunicação oral, de oratória, mas também da importân-
cia dessa comunicação para as relações interpessoais, nós nos
esquecemos de que não só precisamos aprender a falar, a nos
comunicarmos bem, como a ouvir. E saber ouvir, obviamente,
não é apenas uma ação de escutar, mas buscar compreen-
der o que está sendo dito, respeitar, bem como observar os
mesmos sinais da linguagem não verbal utilizados por você
quando está falando. Como já dissemos aqui, uma boa comu-
nicação depende de uma boa sensibilidade. Ser sensível é ter
a habilidade de ler o contexto, de saber a hora certa das coi-
sas, como quando falar e quando, inclusive, ficar em silêncio.

O silêncio faz parte da competência comunicacional de


um indivíduo, e ele deve, da mesma forma, ser exercitado.
Nunca interrompa, por exemplo, o pensamento daquele que
está falando. Dê a ele o tempo necessário para que conclua
seu raciocínio e para que discorra, também, sobre suas ideias.
É comum encontrarmos pessoas, tanto em momentos formais
como em simples bate-papos, que não permitem que seus in-
terlocutores concluam seus pensamentos, intervindo sempre
em momentos inoportunos (ora discordando ora até mesmo
concordando com aquele que discursa, na tentativa, equivo-
cada, de colaborar) e interrompendo a fala dos outros cons-
Capítulo 8    O poder da fala: oralidade, protagonismo ...    185

tantemente. Tudo isso é responsável por algo primordial das


relações sociais: o diálogo.

De acordo com David Bohm, o diálogo é um modo de


comunicação em conjunto, em grupo, em que as pessoas ela-
boram e compartilham um curso de significado, que possibi-
lita a elas se entenderem dentro de uma visão do mundo. No
diálogo, as pessoas, muitas vezes, iniciam em polos opostos,
mas, ao conversarem abertamente, descobrem terrenos e me-
tas comuns. Isso é saber dialogar. É buscar pontos de encon-
tro, conexões. O diálogo, conforme Bohm, se difere de uma
simples discussão, que geralmente tenta transmitir um ponto
de vista e persuadir os outros a adotá-lo como verdade, ha-
vendo sempre um único ganhador.

Em um diálogo, no entanto, ninguém está tentando ga-


nhar. Todo mundo ganha se alguém ganhar. Há uma es-
pécie de jogo diferente quando se dialoga. Trata-se de
um jogo onde não há tentativas de ganhar pontos ou
de fazer prevalecer um lado. Ao invés disso, sempre que
um erro é descoberto por parte de alguém, todo mundo
sente ter ganho. É um jogo chamado ganha-ganha, en-
quanto que o outro jogo é chamado ganha–perde. No
diálogo não estamos jogando uns contra os outros, mas
todos com todos. (BOHM, 2017, p. 09)

Enquanto em uma discussão ou em um debate o oponente


é derrotado, no diálogo, os participantes deixam um pouco
de lado suas convicções e mostram um nível mais elevado
de escuta e de compreensão. Um bom relacionamento em
grupo depende exatamente disso, de saber dialogar, adotar
186    Comunicação para o Planejamento Profissional

um modo de pensamento participativo, não competitivo. É co-


mum encontrarmos pessoas que não concordam com nossas
ideias, e somente o diálogo será capaz de fazer com que haja
compreensão de ambas as partes e, inclusive, aprendizagem.
De acordo com Gustavo Matos (2006, p. 12), “a cultura do
diálogo é construída pela disposição de abertura, ao mesmo
tempo íntima e coletiva, para a comunicação”, o que gera
produtividade.

Dialogar requer justamente o exercício de alteridade, de


personalidade, de ética, de autoestima e principalmente de
empatia, conforme destacamos no início deste capítulo quan-
do falamos na importância das relações interpessoais. Não é
uma tarefa fácil. É dar liberdade ao outro, aceitar diferentes
perspectivas, possibilitar a você mesmo a revisão de suas con-
vicções e, mais ainda, buscar e oferecer, mesmo no pensa-
mento diverso, conexão com o seu, o que possibilita o cresci-
mento mútuo. Dialogue. Dialogue sempre. Fale, mas também
ouça. Não exija apenas que te ouçam. Ceda, também, espaço
para a voz alheia.

Recapitulando

Neste nosso capítulo, então, debatemos acerca da comuni-


cação oral. Vimos que o cuidado com essa modalidade de
comunicação também é primordial para o êxito pessoal e
para sua carreira. Observamos alguns aspectos importantes
que devemos nos lembrar no momento de nos comunicarmos
oralmente e refletimos sobre a capacidade não apenas de fa-
Capítulo 8    O poder da fala: oralidade, protagonismo ...    187

lar, mas de escutar: uma competência que deve ser observada


continuamente, visando sempre manter saudável a capacida-
de de dialogar e de fortalecer suas relações interpessoais, fun-
damentais para seu sucesso.

Referências

BATISTA, Marineide da Silva; Ghelman, Ana Maria; MELO, Ma-


ria Alexandra Machado Wanderley. Relações interpessoais
no trabalho. Disponível em: <http://www.cefospe.pe.gov.
br/c/document_library/get_file?p_l_id=30580954&folde-
rId=33769599&name=DLFE-169051.pdf>. Acesso em:
8 set. 2017.

BOHM, David. O diálogo. Disponível em: <https://ediscipli-


nas.usp.br/ pluginfile.php/2888231/mod_resource/con-
tent/1/Dialogo_Bohm.pdf>. Acesso em: 13 set. 2017.

CARVALHO, Maria do Carmo Nacif de. Relacionamento In-


terpessoal: como preservar o sujeito coletivo. Rio de Ja-
neiro: LTC, 2009.

MATOS, Gustavo Gomes de. A Cultura do Diálogo: uma


estratégia de comunicação nas empresas. Rio de Janeiro:
Elsevier, 2006.

REBOUL, O. Introdução à retórica. São Paulo: Martins Fon-


tes, 2004.
188    Comunicação para o Planejamento Profissional

ROMÃO, Cesar. A relação homem-trabalho. Disponível


em: <http://www.cesarromao.com.br/redator/item24141.
html>. Acesso: 8 set. 2017.

Atividades

1) Para esta questão, leia, primeiramente, o fragmento do


artigo intitulado Comunicação: a ferramenta do pro-
fissional, de Aparecida Silvério Rosa e Daniela de Castro
Brito Landim:

Autores de diversas áreas do conhecimento defendem que


a humanidade deve conscientizar-se de que cada indivíduo
é responsável pelo seu próprio desenvolvimento e que, para
isso, cada cidadão necessita planejar e cuidar do seu destino,
contribuindo, de forma responsável, para o progresso da co-
munidade em que vive. O novo século exige a harmonia e a
solidariedade como valores permanentes, em resposta aos de-
safios impostos pela velocidade das transformações da atua-
lidade.

Não é à toa que as organizações estão exigindo habili-


dades intelectuais e comportamentais dos seus profissionais,
além de apurada determinação estratégica. Entre outros re-
quisitos, essas habilidades incluem: atualização constante; so-
luções inovadoras em resposta à velocidade das mudanças;
decisões criativas, diferenciadas e rápidas; flexibilidade para
mudar hábitos de trabalho; liderança e aptidão para manter
Capítulo 8    O poder da fala: oralidade, protagonismo ...    189

relações pessoais e profissionais; habilidade para lidar com os


usuários internos e externos.

Agora, marque V ou F nas afirmações a seguir, de acordo


com a interpretação que cada uma faz do texto lido; depois,
escolha a alternativa correta.

( ) O fragmento anterior mostra que o profissional de-


sejado pelo mercado, hoje, pode ser resumidamente
definido como um sujeito proativo e como alguém que
possui grande sensibilidade para as relações interpes-
soais.

(  ) O texto nos mostra que o profissional contemporâneo,


quando seguro de seu conhecimento, resiste às mu-
danças sem a necessidade de adaptar-se.

(  ) A capacidade de dialogar e de conviver com a diferen-


ça traduz, como competência, o que está exposto no
primeiro parágrafo do texto.

a) V, V, V.

b) F, F, F.

c) V, F, V.

d) V, F, F.

e) F, V, V.

2) Vamos fazer um exercício de autoconhecimento? Elenque,


nas linhas a seguir, 5 fragilidades suas e 5 potencialida-
des em relação à sua comunicação oral. Depois, explique
190    Comunicação para o Planejamento Profissional

como você poderia, estrategicamente, minimizar essas fra-


gilidades.

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3) No texto a seguir, existe uma palavra (um conceito) faltan-


do, que deve aparecer duas vezes. Leia-o atentamente e
marque a alternativa que indica corretamente, de acordo
com seus estudos, que palavra é essa.

“_____________ qualifica a capacidade humana de se di-


rigir ao outro, nas diferenças e nos parâmetros racionais
das oposições. Permite também estabelecer uma relação
Capítulo 8    O poder da fala: oralidade, protagonismo ...    191

com a lucidez de discernimentos e escolhas. Trata-se de


prática que não oferece espaço para o ódio, vinganças
e o aproveitamento espúrio de oportunidades para obter
ganhos na contramão do bem comum. A ausência do(a)
_____________ permanente, em todas as esferas das re-
lações humanas, explica o nascimento de descompassos,
as mazelas de escolhas, os absurdos dos procedimentos
que comprometem legalidades e produzem os leitos da
corrupção”.

a) Liderar/liderança.

b) Conduzir/condução.

c) Administrar/administração.

d) Empreender/empreendedorismo.

e) Dialogar/diálogo.

4) Com base no que você leu neste nosso oitavo capítulo,


redija um breve texto, com média de 15 linhas, acerca do
tema abordado na charge a seguir, relacionando seu con-
teúdo ao que você leu:
192    Comunicação para o Planejamento Profissional

Fonte: <http://www.tribunaribeirao.com.br/site/wp-content/uploads/2017/09/
A2-Opiniao-8.jpg>.

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Capítulo 8    O poder da fala: oralidade, protagonismo ...    193

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5) Assinale V ou F nas afirmações a seguir e depois marque a


alternativa correta.

(  ) Um diálogo é sempre uma articulação, um jogo dis-


cursivo complexo. Aquele que possui melhores argu-
mentos geralmente vence.

(  ) A comunicação é uma via de mão única, nunca pode-


mos nos esquecer desse detalhe.

(  ) Ninguém explica com propriedade algo que não do-


mina.

a) F, F, F.

b) V, V, V.

c) F, V, V.

d) V, F, V.

e) F, F, V.
Débora T. Mutter da S. Mota1

Capítulo 9

Narrativa pessoal e
construção do currículo

1  Doutora em Letras na área de Literatura Brasileira e Sul-africana e Mestre em


Literatura Comparada. Trabalha no Curso de Letras EAD da Ulbra e na Secretaria
da Cultura, Turismo, Esporte e Lazer do RS, atuando como orientadora de projetos
culturais. Tem pesquisa e participa de Grupos de Pesquisa na ULBRA.
Capítulo 9    Narrativa pessoal e construção do currículo    195

Introdução

A comunicação é fundamental em todos os aspectos da vida


em sociedade. É ela que assegura inclusive a nossa sobrevi-
vência em situações-limite. É por meio de diversas linguagens,
que podem ser verbais e não verbais, que nos comunicamos e
expressamos nossos pensamentos e desejos. É com palavras,
atos e imagens que nos damos a conhecer ao mundo.

Desse modo, em uma linha de tempo, traçamos um cami-


nho, construindo, mais que a nossa identidade, a nossa histó-
ria. Em um sentido amplo, a vida de cada ser humano corres-
ponde à sua história, que será a sua narrativa pessoal, aquela
que vai erguer a sua imagem, aquela que ele mesmo poderá
contar ou que os outros poderão contar sobre ele.

Porém, na era da tecnologia e da imagem, ao ajustarmos


tudo isso sob a perspectiva da profissão, somos obrigados a
redimensionar a importância dos modos de comunicar essa
narrativa para a carreira. Como vimos no capítulo sobre co-
municação e mídias contemporâneas, a era digital criou novos
espaços e desafios a todos nós, mas, em especial, ao profis-
sional que busca se estabelecer no mercado de trabalho. Isso
porque, no plano profissional, a comunicação e a narrativa
pessoal voltada à profissão deve coincidir com a identidade
digital2 que construímos até mesmo sem perceber, pois essa
relação pode alavancar ou destruir uma carreira.

2  Conforme visto no Capítulo Comunicação e mídias contemporâneas: novos es-


paços; novos desafios.
196    Comunicação para o Planejamento Profissional

A garantia do êxito só acontecerá a partir da evolução de


um projeto, com um planejamento que vai estruturar o con-
junto de ações – cursos, capacitações, participação em pa-
lestras, oficinas. É nesse sentido, com consciência sobre as
potencialidades da narrativa pessoal voltada à profissão que
poderemos transformá-la em uma eficaz ferramenta, que dará
base ao currículo, assegurando nossa sobrevivência profis-
sional. Refletir sobre essas questões é o que faremos neste ca-
pítulo.

1Q
 ual a importância da comunicação
para a narrativa pessoal e o currículo?

Parece desnecessário perguntar o que é comunicação, pois


todo mundo tem uma ideia ou um conceito sempre a mão
para defini-la. Tente apresentar em poucas palavras um con-
ceito de comunicação que dê conta dessa palavra sem deixar
de fora algum aspecto relevante. Com certeza, você perceberá
que, apesar de parecer tão óbvio, acaba se tornando difícil
defini-la em um conceito abrangente.

Por que isso acontece? Bordenave (1982) diz que é opor-


tuno esse questionamento, porque a complexidade da questão
se deve, em parte, ao enorme desenvolvimento dos meios tec-
nológicos de comunicação ocorrido no século XX. O advento
da Internet desequilibrou algumas práticas comunicacionais
como sabemos.
Capítulo 9    Narrativa pessoal e construção do currículo    197

Porém, a razão é muito mais profunda, pois se vincula tam-


bém à descoberta do “homem social” na década de 70. De
acordo com o comunicólogo o e intelectual paraguaio Juan
Díaz Bordenave, o homem é, ao mesmo tempo, o produto e o
criador de sua sociedade e de sua cultura.

A partir disso, devemos fazer algumas interrogações.

ÂÂOs meios de comunicação ajudam na tomada de deci-


sões importantes?

ÂÂOferecem oportunidade de expressão a todos?

ÂÂFavorecem o diálogo?

ÂÂEstimulam o crescimento da consciência crítica?

Essas perguntas aí estão apenas para provocar reflexão,


para nos deslocar de nossa zona de conforto. No melhor dos
casos, elas devem nos mostrar que um melhor conhecimento
da comunicação e de suas funções pode contribuir para a
adoção de uma postura mais crítica e exigente em nossas re-
lações interpessoais no trabalho, mas também nos despertar
para a importância de sermos protagonistas, administrando
nossos processos comunicacionais.

Caberia perguntar não o que é a comunicação, mas para


que ela serve?

A comunicação serve para as pessoas se relacionarem


entre si, transformando-se mutuamente e a realidade que
as rodeia. Sem a comunicação, cada pessoa seria um
mundo fechado em si mesmo. [...] Ao se relacionarem
como seres interdependentes, influenciam-se mutuamen-
198    Comunicação para o Planejamento Profissional

te e, juntas, modificam a realidade onde estão inseridas.


(BORDENAVE, 1985, p. 36)

De acordo com o pensamento educocomunicativo de Bor-


denave, vivemos rodeados pelo meio ambiente físico e pelo
meio social, sendo que este se compõe de outras pessoas com
as quais estabelecemos relações de interdependência. A cons-
ciência sobre o “homem social” nos levou à aplicação de mo-
delos mecanicistas e pragmáticos. Apesar da boa vontade, tais
modelos nos levaram a fórmulas manipulatórias e desumanas.

Por outro lado, o avanço tecnológico ainda não nos per-


mitiu dimensionar o quanto a expressividade, favorecida pela
tecnologia, pode nos levar a colocar nossa imagem em situa-
ção de vulnerabilidade por meio da exposição não consciente
de nossa identidade digital.

2A
 imagem e a autoimagem na era
tecnológica

Temos uma imagem física com a qual nos preocupamos ao


fazer uma foto. No entanto, mesmo sem perceber, construímos
e revelamos para o mundo também uma imagem psíquica que
resulta da soma da imagem física mais informações e atitu-
des que nos representam nas relações de alteridade, ou seja,
na interação entre o nosso “eu” interior e o “outro”, além de
nós. Isso porque todo ser social é interdependente dos demais
sujeitos de seu contexto social. Entra em causa aqui também
o que denominamos identidade on-line produzida pelo con-
Capítulo 9    Narrativa pessoal e construção do currículo    199

teúdo que produzimos, postamos e compartilhamos em meios


digitais – perfis, blogs e sites.

Veja bem, se o nosso mundo individual só existe em con-


traste com o mundo do Outro, no âmbito das relações de
trabalho precisamos regular essa sintonia, a fim de construir
uma imagem profissional.

Nesse sentido, os meios ou as mídias, entram em causa,


pois, em menos de um século, saímos do jornal impresso e do
rádio, para a televisão e para o computador com o advento
da Internet. Atualmente, os smartphones permitem o acesso a
informações inacessíveis a qualquer um há pouco mais de um
quarto de século.

Em nossos dias, é fácil e rápido descobrir, por exemplo,


o CPF, o endereço, o estado civil, os hábitos sociais e até os
comportamentos mais íntimos das pessoas. Informações como
hábitos de beber, vida sexual, opiniões sobre temas polêmicos
são transmitidas sem qualquer filtro pelos usuários das redes
sociais. Nelas, estão contidas informações que jamais o can-
didato a uma vaga de trabalho colocaria em seu próprio cur-
rículo.

Como sabemos, uma narrativa se dá pelo encadeamento


de acontecimentos e ações postos em uma sequência tempo-
ral, no universo constituído por um personagem imaginário ou
real. Nesse sentido, o perfil de uma pessoa em uma rede so-
cial, por exemplo, é uma forma de narrativa. Ao tomarmos co-
nhecimento de uma narrativa (notícia de jornal, filme, teleno-
vela, conto, romance etc.) costumamos sair com uma imagem
das personagens. Essa imagem pode ser de dupla natureza,
200    Comunicação para o Planejamento Profissional

ou seja, física e psíquica, que remete ao seu carácter. A partir


das informações repassadas pela narrativa, podemos descre-
ver o perfil da personagem. De sua imagem física, podemos
dizer se ela é alta ou baixa, se tem olhos azuis ou castanhos
etc. De sua imagem psíquica ou emocional, podemos dizer se
é inteligente ou pouco favorecida pelo intelecto, se é afoita ou
serena, se é má ou generosa, se é confiável ou perigosa.

Há narrativas em tudo, desde a notícia sobre um terremoto


no México, passando por uma notícia policial, por um conto,
um romance, um filme baseado em uma obra literária até um
currículo profissional. Com base nas linhas gerais da narrati-
va, podemos dizer que ela fornece muitas informações sobre
a personagem central. Algumas informações são omitidas por
aquele que narra, porque não interessam para a finalidade da
narrativa ou porque não favorecem a imagem que o narrador
quer que o leitor tenha da personagem.

Trazendo o tema para a área de nosso interesse neste ca-


pítulo, esse paralelo entre o mundo ficcional e o mundo real
serve apenas para alertar que o protagonista aqui é você, que
a narrativa é constituída pelos fatos, ações e episódios que
irão compor a sua narrativa pessoal com vistas ao currículo
profissional.

Neste caso, não existe o mundo ficcional, mas, sim, o mun-


do real versus o mundo virtual ou digital. O grande risco é que
nem sempre essa imagem que desejamos para nosso currículo
coincide com a imagem que revelamos no mundo virtual da
Internet. Esse é o ponto fundamental para reflexão de qualquer
profissional.
Capítulo 9    Narrativa pessoal e construção do currículo    201

Como evitar contradições entre a imagem ideal e a imagem


virtual ou identidade digital?

A imagem que seria ideal para compor nosso currícu-


lo pode ser sombreada pela imagem que deixamos entrever
pelas redes sociais. Na pior das hipóteses, se invertermos os
papéis, tal imagem não é sequer a de alguém que contrata-
ríamos para trabalhar para nós. Tudo isso remete a algo que,
em outros tempos, não fazia parte das preocupações de um
candidato a emprego ou de um empregador.

3M
 as, afinal, de que narrativa estamos
falando?

A estrutura de um currículo, que reúne episódios ou ações


apresentados cronologicamente, a fim de compor uma se-
quência inteligível, não é muito diferente de uma narrativa
convencional. No caso, porém, a intenção será sempre com-
por uma imagem favorável e, sobretudo, interessante e confiá-
vel do candidato no mercado de trabalho.

Já sabemos que, assim como as personagens da literatura,


as pessoas reais cabem em narrativas. Uma pessoa, alguns
episódios em sequência enquadrados dentro de um espaço e
de um tempo são os elementos básicos de qualquer narrativa.
A organização de tais elementos constitui o que se denomina
fábula ou estória. O fabulador é, portanto, aquele que organi-
za os elementos para transformá-los em uma narrativa. Nesse
sentido, fica evidente que toda narrativa pode ser controlada
202    Comunicação para o Planejamento Profissional

por quem a organiza, isto é, por quem seleciona e organiza os


fatos e ações que devem ser incluídos na história.

Em todas as histórias, há episódios que podem ser dispen-


sados. Outros podem ser apresentados na ordem diferente da-
quela em que aconteceram de fato. A seleção e a organização
dos episódios, bem como a sua sequência de apresentação
são definidas pelo fabulador. Se você mesmo vai contar a sua
história profissional, você, por certo, como fabulador de si
mesmo, vai optar pela seleção dos melhores fatos, desprezan-
do aqueles menos glamorosos.

Com base nessas ideias, você já deve ter entendido que


não pode deixar as informações dos episódios de sua vida ao
acaso, pois qualquer um pode tomar para si a tarefa de cons-
truir a narrativa de sua vida. Se você descuida desse controle,
ao enviar seu currículo físico para uma empresa, pode ter sur-
presas desagradáveis. Por isso é tão importante a consciência
de ter sob controle os itens que irão compor a sua narrativa
pessoal e profissional, base de seu currículo.

4 O Planejamento

Planejamento pressupõe controle, organização e método.


Qualquer carreira necessita de um planejamento, que deve ser
traçado muito antes e que vai muito além do simples desejo
de vencer no ramo de atuação. Independentemente da área
ou da organização em que queremos uma vaga, prosperar na
profissão exige um plano orientado. É ele que vai mapear as
Capítulo 9    Narrativa pessoal e construção do currículo    203

trilhas que percorreremos em nossa trajetória. É esse conjunto


de ações que vai definir cada passo da nossa vida profissional
e que subsidiará elementos para nossa narrativa pessoal, par-
ticular e profissional que culmina no currículo.

A escolha de uma profissão não é algo resolvido em nós


desde sempre. É aos poucos, a partir do contato com pessoas
que atuam em diferentes atividades profissionais, que vamos
vislumbrando um futuro e uma possibilidade.

Entretanto, na primeira inclinação que tenhamos em dire-


ção a uma área de atuação profissional – educação, adminis-
tração, jurídica, saúde etc. – já devemos esboçar um plane-
jamento mínimo. Na verdade, isso ocorre naturalmente, pois,
em algum momento da infância ou da juventude, sonhamos
em ser, por exemplo, bombeiro(a), enfermeiro(a), professor(a),
pastor, médico etc.

Em uma segunda etapa, o próprio sistema nos auxilia nes-


sa orientação com cursos vocacionais realizados nas escolas,
com informações sobre as alternativas de trabalho com vistas
a um curso superior ou por estímulo de notícias sobre os atra-
tivos de certas profissões.

A partir daí, já devemos adotar uma postura alerta no


sentido de canalizar as energias e reunir conhecimentos mais
específicos e afins àquela área desejada. Cursos, palestras,
oficinas, capacitações são aportes fundamentais para qualifi-
car um candidato e legitimar um currículo digno de atenção,
seja na área específica ou na área de aperfeiçoamento da
linguagem (verbal ou corporal – capacidade argumentativa,
postura para expor os próprios conhecimento e ideias). Essas
204    Comunicação para o Planejamento Profissional

oportunidades, porém, não surgem todas em um dia. É, por-


tanto, ao longo de uma linha de tempo que iremos conquistar
essa bagagem.

5O
 domínio da linguagem verbal como
ferramenta indispensável

No início do Século XX, o filósofo austríaco Ludwig Wittgens-


tein, em um tratado sobre a linguagem verbal, afirmou: “Os
limites da minha linguagem são os limites do meu mundo.”
A frase remete a um ponto crucial do que estamos encami-
nhando aqui. A máxima, que se vincula a reflexões da filosofia
sobre a linguagem verbal, dá a medida exata do que podemos
conquistar se tivermos aliados competência e desempenho lin-
guísticos adequados ao tamanho de nosso sonho na vida pro-
fissional.

Diferentemente da linguagem do poder, o poder da lin-


guagem é muito maior do que costumamos perceber. Nas re-
lações em sociedade, é por meio da nossa fala ou da nossa
escrita que transmitimos a nossa imagem. A todo o momento,
com ou sem preconceito linguístico, nossa língua nos apresen-
ta e nos representa, mesmo quando não temos consciência
disso. Por meio dela, indicamos nosso nível social, nossa ori-
gem geográfica, nosso nível intelectual e nossa ideologia, mas
também conseguimos argumentar e persuadir. De acordo com
Antônio Suarez de Abreu,
Capítulo 9    Narrativa pessoal e construção do currículo    205

[a]rgumentar é a arte de convencer e persuadir. Con-


vencer é saber gerenciar informações, é falar à razão
do outro, demonstrando, provando. Etimologicamente,
significa vencer com o outro (com + vencer) e não contra
o outro. Persuadir é saber gerenciar a relação, é falar à
emoção do outro. A origem dessa palavra está ligada a
preposição per, “por meio de” e a Suade, deusa romana
da persuasão. Significava “fazer algo por meio de auxílio
divino”. (ABREU, 1999, p. 25)

Sendo assim, o pleno domínio dessa importantíssima fer-


ramenta social, o pleno domínio da linguagem não pode ser
minimizado por ruídos na comunicação. Sabemos que a fle-
xibilização da norma padrão da linguagem é uma realidade,
em especial, com o internetês.3 Achamos, inclusive, que usar a
norma padrão é desimportante. Acredite, na seara da carreira
profissional, nunca é irrelevante mostrar domínio e conheci-
mento.

O filólogo e gramático Evanildo Bechara costuma dizer


que “Precisamos ser poliglotas em nossa própria língua.” Po-
demos comprovar essa afirmação na medida em que pensa-
mos na adequação de níveis de linguagem, dependendo do
nosso interlocutor. A adequação, porém, só poderá ser feita
por quem conhece todos os níveis. Transitar do nível coloquial
ou vulgar ao nível culto só é possível a quem domina todos.
Conhecer nosso interlocutor, no caso um possível empregador,
assim como organizar e expor verbalmente, de forma lógica

3  Tema e conceito já abordados no Capítulo Comunicação e mídias contemporâ-


neas: novos espaços; novos desafios.
206    Comunicação para o Planejamento Profissional

e clara nossas intenções e saberes, faz parte desse domínio


técnico da nossa narrativa pessoal que diz respeito também à
argumentação e à persuasão.

Não adianta ter um conhecimento de excelência em uma


área específica se não formos capazes de apresentar verbal-
mente nossas qualidades. Portanto, para a elaboração de um
bom currículo, é indispensável o domínio da capacidade ex-
pressiva da linguagem e normas da língua.

6A
 elaboração do currículo como
consequência da narrativa pessoal

A etapa conclusiva ou mais concreta de toda uma estratégia e


construção do perfil adequado à determinada carreira profis-
sional é ponto de partida para a elaboração do currículo ideal.
Curriculum vitae é o conjunto de dados biográficos, de forma-
ção profissional e de atividades anteriormente desenvolvidas.
De acordo com Lucas Nogueira,

[a] primeira função de um currículo é instigar o recruta-


dor a chamá-lo para uma entrevista de emprego. A se-
gunda função é servir como roteiro da conversa na etapa
presencial do processo seletivo. Em qualquer um desses
dois momentos, o currículo pode abrir ou fechar as por-
tas de uma oportunidade de trabalho, segundo Lucas
Capítulo 9    Narrativa pessoal e construção do currículo    207

Nogueira, gerente sênior da Robert Half. (Revista Exame,


Setembro, 2017)4

Do ponto de vista formal e burocrático, não existe uma úni-


ca fórmula ou modelo de currículo para todas as áreas e perfis
profissionais. Isso porque, como instrumento de comunicação,
um currículo depende de adequação ao nosso interlocutor. O
currículo é um gênero textual que depende de fatores como
a seleção dos dados que interessem à vaga específica que
estamos pleiteando. Portanto, incluir todos os cursos, oficinas,
palestras e capacitações que fizemos ao longo dos anos, nem
sempre é uma boa opção, pois perdemos a objetividade que
a ocasião exige.

Quem procura um profissional quer ver imediatamente ali-


nhadas as habilidades do candidato ao exercício da função. O
preenchimento de um currículo deve seguir a máxima da nar-
rativa ideal, ou seja, a seleção dos fatos mais relevantes deve
ser cuidadosamente organizada em um memorial, atendo-se
ao interesse do empregador na área de atuação pleiteada.

Um currículo, além da qualificação civil – endereço resi-


dencial, identidade, CPF, telefone, endereço de e-mail – deve
conter a qualificação profissional ou técnica, que informa as
ações voltadas à carreira. Em algum momento, o currículo
deve apresentar um relatório circunstanciado, que apresentará
a descrição das atividades profissionais já realizadas e, em
particular, daquelas que possam contribuir para o julgamento

4  Leia a matéria na integra em <https://exame.abril.com.br/carreira/12-


-modelos-de-curriculo-para-baixar-e-preencher/>.
208    Comunicação para o Planejamento Profissional

global do candidato. Trata-se do memorial do candidato. Esse


relato é uma forma de narrativa.

Mas em que se diferenciam o memorial e curriculum vitae?


Além das qualificações civil e profissional, o memorial pode
apresentar alguma apreciação das atividades do candidato,
abrindo, nessa narrativa, espaço para inferência sobre sua
atuação. O memorial é a forma mais específica para progres-
são na carreira acadêmica.

Na referida matéria da Revista Exame, são oferecidos 12


modelos de currículos para baixar no seu computador. O es-
pecialista em Recursos Humanos e Marketing Pessoal, Lucas
Nogueira, ainda alerta sobre a importância de o candidato
ficar atento para “não cometer erros gramaticais, de digita-
ção ou de informação, que podem causar má impressão. Não
minta, pois, se o recrutador descobrir, provavelmente, ficará
em dúvida sobre a veracidade dos demais dados no currícu-
lo”. De toda forma, algo que deve orientar sempre a redação
de um currículo é a clareza, a finidade entre a vaga pleitea-
da e os elementos afins em sua formação apresentado com
objetividade, clareza e verdade dentro dos diversos modelos
circulantes.

Recapitulando

Neste capítulo, abordamos a importância do planejamento


como estrutura e consciência voltada à profissão. Evidencia-
mos que a sobrevivência profissional depende de fatores como
Capítulo 9    Narrativa pessoal e construção do currículo    209

a comunicação no meio social e que é tento em vista essa


questão que construímos a narrativa pessoal para o currículo.
Mostramos que, nas situações mais previsíveis, mas também
nas mais inesperadas da vida social, estamos fornecendo da-
dos para circulação de nossa imagem pessoal e também pro-
fissional. O que não podemos perder de vista é que elas são
indissociáveis, uma reflete e age sobre a outra.

Tentamos mostrar, a partir de um paralelo entre narrativa


ficcional e narrativa pessoal, a importância de que você seja
fabulador de sua história a partir de um planejamento estra-
tégico. Para tanto, é preciso estabelecer algumas estratégias e
dominar as adequadas técnicas para alcançar o objetivo de ter
o controle sobre a construção consciente do próprio currículo.

Na sequência, tratamos da importância de ter domínio da


linguagem verbal e do quanto a linguagem não verbal – nossa
imagem nas redes sociais, o que fazemos e dizemos e até o
modo como nos vestimos – pode dar subsídios para a narrati-
vo que outros podem fazer a nosso respeito.

Finalmente, tratamos da elaboração do currículo físico e


memorial, ou seja, aquele documento que irá sintetizar e orga-
nizar da melhor maneira o que realmente temos de potencial
para uma função ou cargo na carreira que escolhemos. Indi-
camos, também, uma página em que o candidato tem a sua
disposição 12 modelos de currículos.
210    Comunicação para o Planejamento Profissional

Referências

ABREU, Antônio Suárez. A Arte de Argumentar – Gerencian-


do Razão e Emoção. Carapicuíba: Editora Ateliê Editorial,
1999.

BECHARA, Evanildo. Disponível em: <https://kdfrases.com/


autor/evanildo-bechara>.

BLIKSTEIN, Izidoro. Técnicas de Comunicação Escrita.

CARVALHEIRO, J. R. O memorial nos concursos universitá-


rios. Ciência e Cultura, v. 35, n. 11, p. 1618-1621, nov.
1983.

CITELLI, Adilson. Linguagem e persuasão. São Paulo: Edito-


ra Ática, 1995.

Atividades

Modelo ENADE, que visa a aplicação de conhecimento, a ca-


pacidade de relação e interpretação.

1) Considere todos os elementos verbais e visuais da tira


a seguir, bem como as abordagens do capítulo, e assinale a
única alternativa correta quanto à interpretação.
Capítulo 9    Narrativa pessoal e construção do currículo    211

a) A comunicação entre o candidato e o entrevistador flui


com descontração e bom humor porque existe sintonia
entre as intenções de ambos.

b) A intenção do candidato é tomar o cargo do entrevistador,


por isso surge um ruído na comunicação entre ambos.

c) Naturalmente, a apresentação física do candidato é


adequada ao seu objetivo de ser gerente.

d) O diálogo está truncado porque corresponde a um


conflito no plano das adequações entre o objetivo do
candidato e os recursos para obtê-lo.
212    Comunicação para o Planejamento Profissional

e) O ruído de comunicação da linguagem não corres-


ponde a nenhuma inadequação contextual entre a in-
tenção e os meios para alcançá-la.

2) Leia o anúncio de emprego e as proposições a seguir e


assinale a única reposta correta.

I – O anúncio mobiliza primeiramente o interesse do can-


didato para o valor do salário, induzindo ao descuido
quanto às suas reais aptidões para o cargo.

II – Não é plausível a dispensa de experiência em vendas,


pois é importante ter alguma formação e aptidão para ser
um bom vendedor.

III – Para a conquista da vaga, é fundamental que o candi-


dato tenha algum curso de formação ou experiência no
ramo comercial.
Fonte: <https://www.sine.com.br/vagas-
-empregos-em-canoas-rs/corretor-de-imo-
veis/3067331>.

a) Apenas I está correta.

b) Apenas I e II estão corre-


tas.

c) I, II e III estão corretas.

d) Apenas II está correta.

e) Apenas II e III estão corre-


tas.
Capítulo 9    Narrativa pessoal e construção do currículo    213

3) Com base nos conteúdos estudados, leia as proposições a


seguir e assinale a alternativa correta.

I – Existe um modelo ideal de currículo que atende a todas


as demandas e auxilia o candidato a conquistar uma vaga.

II – Como instrumento de comunicação, o currículo deve


ter em conta o seu interlocutor, ou seja, o empregador e
seus interesses.

III – O currículo não exige criteriosa seleção de dados a


cada vaga específica, pois o que conta é a formação total
do candidato.

IV – Nem sempre é uma boa opção incluir todos os cursos,


palestras, capacitações e experiências no currículo.

a) Apenas II e IV estão corretas.

b) I, II, III e IV estão corretas.

c) Apenas I e II estão corretas.

d) Apenas II e III estão corretas.

e) Apenas IV está correta.

4) Em nosso cotidiano, fazemos uso de linguagem verbal e


de linguagem não verbal para construirmos nossa narrati-
va pessoal. Com base nisso, leia as alternativas a seguir e
assinale a única INCORRETA.

a) Com base na ideia de narrativa ficcional e de fabula-


ção, devemos fazer de tudo para sermos o melhor fabula-
dor de nossa própria narrativa pessoal.
214    Comunicação para o Planejamento Profissional

b) Se tivermos um projeto bem elaborado para construir


nossa narrativa pessoal, não precisamos nos preocupar com
nossas ações no cotidiano dos meios digitais.

c) A elaboração de um memorial é sempre a melhor op-


ção para concorrer a uma vaga docente em nível superior.

d) O internetês é uma variação da linguagem que deve


ser evitada na elaboração do currículo.

e) A construção da identidade digital envolve a habilidade


linguística, além da imagem e do comportamento.

5) Com base na charge anterior, leia as proposições e assina-


le a reposta correta.

I – Certamente, a candidata está pleiteando uma vaga


para tradutora.
Capítulo 9    Narrativa pessoal e construção do currículo    215

II – Ao falar, a candidata passa informações subliminares


sobre sua informação que alertam o entrevistador sobre
sua real qualificação.

III – A candidata não tem consciência sobre o quanto infor-


ma de si mesma pela linguagem.

a) I, II e III estão corretas.

b) Apenas III está correta.

c) Apenas II e III estão corretas.

d) Apenas I e II estão corretas.

e) Apenas I e III estão corretas.


Almir Mentz1

Capítulo 10

Discurso e Redação
Acadêmica

1  Mestre em Letras pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) e
Professor da Universidade Luterana do Brasil – ULBRA – Canoas/RS.
Capítulo 10   Discurso e Redação Acadêmica   217

Introdução

Caro aluno, você sabe que pesquisar, atualmente, é uma ação


inerente às atividades de quem se dedica a estudar quaisquer
assuntos sobre os quais tem interesse em conhecer com maior
profundidade? Pois é isso mesmo. Essa é uma realidade da
qual ninguém pode fugir.

Hoje, não basta simplesmente assistir às aulas em cujas


ocasiões o professor lhes transmite conhecimentos já cons-
truídos por outros estudiosos. É muito importante que todas
as pessoas, sobretudo vocês, alunos de cursos que formam
especialistas em áreas específicas ou não, busquem mais in-
formações sobre algum tema que lhes desperte curiosidade.
Assim, é preciso que sejam abertos e receptivos a novos co-
nhecimentos.

Como podem, então, chegar a esse patamar ideal para o


seu crescimento pessoal e profissional? Por meio de consultas
e de leituras de outros textos, especialmente de cunho científi-
co, cujo autor trate desses assuntos. Portanto, vocês devem ter
a clareza sobre alguns pontos que serão desenvolvidos nesse
capítulo.

Como em tudo na vida, temos de saber o que se pretende


com as ações que praticamos. Não importa se a pesquisa seja
acadêmica ou não. Durante a realização de uma pesquisa
não é diferente. Por isso, os objetivos devem ser bem delinea-
dos, traçados, para que o pesquisador saiba, claramente, o
que pretende ao final da pesquisa.
218    Comunicação para o Planejamento Profissional

1A
 spectos e fundamentos da escrita
científica

Pesquisar é muito valioso. No entanto, tão importante quan-


to a pesquisa é a linguagem nela empregada. A escrita é o
aspecto principal do trabalho de pesquisa, já que é por meio
dela que os passos serão registrados, desde o planejamento
até a redação final, percorridos durante esse trabalho. Essa
escrita não é resultado de cópia e de colagem. Elas possibili-
tam erros na interpretação da mensagem. As ideias expressas
pelo discurso devem ser bem encadeadas, isto é, deve haver
entrelaçamento lógico entre elas.

Então, caro leitor, fica uma questão a respeito da redação


de um texto cujo âmago é o conhecimento científico, ou seja,
norteado pela ciência. Embora a linguagem tenha caracterís-
ticas próprias do redator, é imprescindível que tais marcas não
fiquem tão evidentes em textos científicos. A escrita científica
tem características muito específicas: impessoalidade, clareza,
precisão, concisão, coerência, coesão, simplicidade, vocabu-
lário adequado ao assunto pesquisado, correção gramatical.

Após todas as considerações a respeito do discurso acadê-


mico e científico, você, agora, passará a estudar alguns textos
que todo pesquisador e acadêmico precisa saber redigir e co-
nhecer os aspectos que norteiam tais textos. Sobre a lingua-
gem científica genérica, você já obteve algumas e importan-
tes informações. Entretanto, somente elas não são suficientes,
pois, quando no exato momento que você precisa registrar
tais informações, muitas dúvidas ainda surgem. Por isso, em
seguida, serão detalhados características linguísticas e estrutu-
Capítulo 10   Discurso e Redação Acadêmica   219

rais específicas de cada tipologia textual, essenciais para um


acadêmico, independentemente do curso: projetos, artigos,
monografias, resumos, resenhas, entrevistas e banners.

1.1 Elaboração de Projetos


Como o próprio nome diz, projeto é o planejamento que ser-
virá de roteiro a ser seguido por quem executará a pesquisa.
Por meio dele, o pesquisador terá clara e ordenadamente os
passos que serão detalhados e analisados durante a pesquisa.
Aqui, será desenvolvida a estrutura do projeto de pesquisa:
título, introdução, revisão bibliográfica, procedimentos meto-
dológicos, bibliografia...

Título
O título do Projeto não deve ser extenso, tampouco de sentido
amplo. É preciso que ele apresente conceitos ou expressões
com objetividade e com clareza. O título ideal é conciso, sem
que detalhe nada do conteúdo da pesquisa. As ideias nele
contidas têm de ser sintetizadas, mas, ao mesmo tempo, de-
vem ser tão atrativas a ponto de provocar o interesse do futuro
leitor.

Introdução
A introdução é uma seção que apresenta, sinteticamente, o
tema, a justificativa, as hipóteses (delimitação do problema
específico para o qual o pesquisador buscará respostas duran-
te a pesquisa). A justificativa e os objetivos também podem
220    Comunicação para o Planejamento Profissional

fazer parte da introdução; porém, a redação deles deverá ser


breve.

Revisão Bibliográfica
Nenhuma pesquisa inicia do zero. A pesquisa parte de um
estudo que já foi feito por alguém e em outro momento ou é
um estudo complementar. Nesse momento, cabe a você ler
algumas obras sobre o assunto a ser investigado para, pos-
teriormente, resumi-las cujo objetivo é o de comprovar que já
existem estudos.

Procedimento metodológico
Nessa etapa, cabe ao estudioso determinar o passo a pas-
so da pesquisa que será realizada. O pesquisador indica os
procedimentos e as técnicas que serão empregadas durante a
coleta de dados para a futura pesquisa, como: escolher o tipo
de pesquisa (experimental, levantamento de dados, estudo de
caso, pesquisa bibliográfica), estabelecer população e amos-
tra (o universo de estudo e a forma como será selecionada
a amostra) e determinar as técnicas de coletas de dados (a
busca de informações para a hipótese levantada). Enfim, as
técnicas elaboradas pelo pesquisador deverão preencher os
seguintes requisitos: validez, confiabilidade e precisão.

Bibliografia
A bibliografia é o lugar no qual constarão todas as obras
pesquisadas durante a organização do Projeto e, mais tarde,
Capítulo 10   Discurso e Redação Acadêmica   221

da elaboração e da escrita final dos resultados obtidos pelo


pesquisador. A bibliografia deverá ser registrada no final do
Projeto ou de quaisquer outros textos acadêmicos, com obe-
diência às Normas Oficiais.

Enfim, a responsabilidade pela redação de um Projeto está


nas mãos de quem o colocará em prática.

1.2 Artigo Científico


O Artigo Científico é um texto de curta extensão. Isso se refere
ao fato de que ele não constitui um capítulo de um livro pelo
tamanho reduzido. Ele deve demonstrar benevolência com o
leitor. Nele são registrados somente os resultados encontrados
durante a Pesquisa.

Estrutura do Artigo Científico


O Artigo Científico é um tipo de texto que apresenta a seguinte
estrutura: elementos pré-textuais, elementos textuais e elemen-
tos pós-textuais.

Elementos Pré-textuais
Título e subtítulo;

Autor;

Resumo na língua do texto;

Palavras-chave na língua do texto.


222    Comunicação para o Planejamento Profissional

Resumo em língua estrangeira;

Palavras-chave em língua estrangeira.

Elementos Textuais2
Introdução: apresentação do assunto, objetivo, metodologia,
limitações e proposição.

Desenvolvimento: exposição, explicação e demonstra-


ção do material; avaliação dos resultados e comparação com
obras anteriores.

Conclusão: dedução lógica, baseada e fundamentada no


texto, de forma resumida.

Elementos Pós-textuais

Notas explicativas (quando necessário);

Referências;

Glossário (quando necessário);

Apêndice (quando necessário);

Anexo (quando necessário).

2  MARCONI e LAKATOS, 2003.


Capítulo 10   Discurso e Redação Acadêmica   223

1.3 Monografia (TCC3)


Monografia é uma espécie de texto científico que disserta
sobre um assunto apenas, de forma sistemática e completa.
Nela, desenvolve-se apenas um tema específico com mais
profundidade do que se faz no Artigo Científico. Essa é, enfim,
a característica fundamental de uma Monografia.

VOCÊ SABIA QUE...4

1 Devem-se evitar períodos muito longos?

2 Deve-se eliminar o uso excessivo de pronomes e de ora-


ções subordinadas?

3 A linguagem utilizada nesse gênero textual deve ser a de


metalinguagem?

4 Frequentemente, deve-se iniciar novo parágrafo, a fim de


suavizar a leitura e de facilitar o entendimento do texto?

5 A finalidade do autor de uma monografia não é a de


demonstrar que sabe tudo sobre o tema, porém é a de de-
monstrar sobre uma hipótese inicial?

6 Não se deve usar pontos de exclamação, nem reticên-


cias, nem ironias?

7 Tem de empregar uma linguagem referencial?

3  Trabalho de Conclusão de Curso.


4  MENTZ, Almir.
224    Comunicação para o Planejamento Profissional

8 Sempre que utilizar um termo novo ou desconhecido pela


primeira vez, deve-se defini-lo?

9 Escrever é um ato social e, por essa razão, deve-se em-


pregar a primeira do plural, nós?

10 Não se emprega artigo antes de nomes próprios, pois


seu emprego soa um pouco antiquado e demonstra familiari-
dade?

11 Não se devem aportuguesar os nomes próprios estran-


geiros, somente em caso de sobrenomes tradicionalmente
consagrados, como Lutero?

Escrever bem e corretamente é essencial. Todavia, é preciso


mais que isso. Portanto, agora que você domina alguns pontos
sobre Monografia, é hora de conhecer como ela se estrutura.

Estrutura da Monografia (TCC)


Assim como o Artigo Científico tem estrutura própria e é cons-
tituído de elementos para cada estrutura, outros tipos de textos
acadêmicos também o têm. Dissertação, tese e monografia se
estruturam com elementos pré-textuais, textuais e pós-textuais,
como já foi referido durante o estudo do Artigo. A seguir, você
tem, sinteticamente, um quadro com a estrutura e os elemen-
tos da Monografia.5

5  ABNT NBR 14724.


Capítulo 10   Discurso e Redação Acadêmica   225

Estrutura Elementos
Capa (obrigatório)
Pré-textuais Lombada (opcional)
Folha de rosto (obrigatório)
Errata (opcional)
Folha de aprovação (obrigatório)
Dedicatória(s) (opcional)
Agradecimento(s) (opcional)
Epígrafe (opcional)
Resumo na língua vernácula (obrigatório)
Resumo em língua estrangeira (obrigatório)
Lista de ilustrações (opcional)
Lista de tabelas (opcional)
Lista de abreviaturas e siglas (opcional)
Lista de símbolos (opcional)
Sumário (obrigatório)
Introdução
Textuais Desenvolvimento
Conclusão
Referências (obrigatório)
Pós-textuais Glossário (opcional)
Apêndice(s) (opcional)
Anexo(s) (opcional)
Índice(s) (opcional)

1.4 Resumo
O resumo é uma forma de expressar, sinteticamente, as ideias
essenciais contidas no texto de origem. O resumo, como qual-
quer outra tipologia textual, é constituído de dois níveis. O pri-
226    Comunicação para o Planejamento Profissional

meiro diz respeito à elaboração objetiva do resumo, pois o seu


autor demonstrará a capacidade de interpretação em relação
ao texto original. O segundo trata da estrutura do resumo. No
lugar do título, você informará todos os elementos bibliográfi-
cos da obra: nome do autor, título da obra, nome da editora,
lugar e data da publicação, número de volumes e páginas.
Ele também contém a estrutura textual tradicional: introdu-
ção, desenvolvimento e conclusão. No final do resumo, tem
de constar, pelo menos, três palavras-chave representantes do
conteúdo do texto, separadas uma das outras pelo ponto-final.

Embora o resumo seja um texto de linguagem enxuta e


objetiva, o seu autor tem de ter cuidado ao elaborá-lo. Copiar
trechos do texto original não implica resumi-lo. O exemplo a
seguir demonstra o que você estudou sobre resumo.6

Referência LAKATOS, Eva Maria. O trabalho temporário: nova forma de


bibliográfica relações sociais no trabalho. São Paulo: Escola de Sociologia
e Política de São Paulo. 1979. 2. v. (Tese de Livre-Docência).

6  MARCONI e LAKATOS, 2003.


Capítulo 10   Discurso e Redação Acadêmica   227

Etapas do desenvolvimento econômico que caracterizam a


Resumo transição do feudalismo para o capitalismo. Distinção entre
as relações sociais formais de produção e as relações sociais
no trabalho, segundo as sucessivas fases de organização in-
dustrial: sistema familiar, de corporações, doméstico e fabril;
também de acordo com a natureza das elites que introduzem
ou determinam o processo de industrialização nas diferentes
sociedades: elite dinástica, classe média, intelectuais revolu-
cionários, administrador colonial, líder nacionalista. As elites
influem ainda no processo de recrutamento da mão de obra,
na integração do trabalhador na empresa, na autoridade que
elabora as normas referentes à relação entre o trabalhador e
a direção da empresa e no caráter da atividade da gerência
sobre os trabalhadores. Conceito de trabalhador temporário.
Etapas de desenvolvimento econômico das sociedades que
influem no processo de trabalho. Organização do trabalho
e suas alterações, causa e consequência das transformações
da sociedade. Surgimento e desenvolvimento do trabalho
temporário segundo as etapas de desenvolvimento econômi-
co e da organização do trabalho. Metodologia da pesquisa,
seleção da amostra, técnicas de coleta de dados, enunciado
das hipóteses e variáveis. Análise e interpretação dos dados,
comprovação ou refutação das hipóteses, perfil do trabalha-
dor temporário.

1.5 Resenha
Resenha é uma espécie de resumo. Todavia, há traços que os
diferem. Mesmo que a resenha se divida em descritiva ou crí-
tica, nesse estudo serão desenvolvidos os aspectos pertinentes
à segunda divisão. Entretanto, acrescenta-se aos elementos
do resumo a visão crítica do autor, julgamentos, opiniões
pessoais. Nela, ao contrário do resumo, a presença de deta-
228    Comunicação para o Planejamento Profissional

lhes se tornam, muitas vezes, essenciais para a sua construção.


Em razão disso, pode-se dizer que essa tipologia textual tem
em sua constituição a descrição, a narração e a dissertação.
Além da linguagem específica, essa modalidade textual obe-
dece à estrutura própria.

Estrutura da Resenha7
Referência Bibliográfica Autor, título e subtítulo, edição, editora,
localidade e ano da publicação, volume
e número de páginas.
Credenciais sobre o Autor Informações gerais sobre o Autor (forma-
ção universitária, experiências na área,
título, cargos exercidos...).
Conhecimento Ideias prin-
cipais resumidas com detalhes importan-
tes.
Conclusões do Autor Há ou não conclusões? Se houver, citá-
-las brevemente.
Quadro de referências do Que teoria serviu como base para o
Autor estudo? Que método foi utilizado na
pesquisa?
Apreciação Julgamento da obra; mérito da obra;
estilo; forma (lógica, originalidade e
equilíbrio entre as partes); indicação da
obra.

7  MARCONI e LAKATOS, 2003, adaptado pelo Autor.


Capítulo 10   Discurso e Redação Acadêmica   229

A seguir, um exemplo de organização estrutural para se


escrever uma resenha:

Referências MENTZ, Almir. Redação Acadêmica. In:


bibliográficas ILHESCA, Daniela Duarte [et al.]. Comunica-
ção e Expressão. Canoas: ULBRA 2013. p.
107-125.
Professor com formação na área de Letras e
Credenciais sobre com experiência na Educação de Ensino Fun-
o Autor damental, Médio e Superior e com publica-
ções referentes à contribuição linguística para
turmas da Educação de Jovens e Adultos (EJA)
assim como estudos relativos à produção
textual criativa e científica.
Conhecimento Você encontra informações relevantes sobre
(resumo e referên- a redação acadêmica que caracterizam a
cias do Autor) linguagem científica. Além disso, apresenta
o estudo específico de textos utilizados no
cotidiano de alunos e de professores. Ele tem
dicas de elaboração e com exemplos de cada
tipologia textual: resumo, resenha, artigo cien-
tífico, ensaio, relatório e monografia (TCC).
Texto breve, técnico e, ao mesmo tempo,
Apreciação com uma linguagem leve, acessível a todos,
resultado de uma pesquisa bibliográfica.
Entretanto, ele contém informações valiosas
para todos que necessitam redigir um texto
científico ou simplesmente têm interesse por
essa temática. Portanto, sua leitura aprimorará
os conhecimentos sobre redação acadêmica.
230    Comunicação para o Planejamento Profissional

A partir desse momento, estudar-se-ão duas maneiras de


transmitir informações fundamentais concernentes ao conteú-
do da pesquisa que utilizam ou não a linguagem escrita ou
oral, escrita ou imagística: entrevista e banners.

1.6 Entrevista
O momento de coleta de dados para uma pesquisa bem-su-
cedida é, sem dúvida alguma, o que diz respeito à entrevista.
Para isso, é fundamental que o pesquisador saiba como pro-
ceder para a realização desse instrumento. A definição tem de
ser adequada à pesquisa que se pretende realizar na busca
de respostas para as questões levantadas durante o Projeto
de Pesquisa. Assim, a entrevista serve como coleta de dados,
pode auxiliar no diagnóstico ou no tratamento do problema a
ser solucionado pela pesquisa.

Como instrumento de coleta de dados tem-se três tipos


(MARCONI e LAKATOS, 2003):

a) Padronizada ou estruturada;

b) Despadronizada ou não estruturada;

c) Painel.

Observe, caro aluno, os passos para os quais você deverá


ter atenção8 quando da organização da entrevista.

8  MARCONI e LAKATOS, 2003.


Capítulo 10   Discurso e Redação Acadêmica   231

a) Planejamento da entrevista: deve ter em vista o objetivo


a ser alcançado.
b) Conhecimento prévio do entrevistado: objetiva conhecer
o grau de familiaridade dele com o assunto.
c) Oportunidade da entrevista: marcar com antecedência a
hora e o local, para assegurar-se de que será recebido.
d) Condições favoráveis: garantir ao entrevistado o segre-
do de suas confidências e de sua identidade.
e) Contato com líderes: espera-se obter maior entrosamen-
to com o entrevistado e maior variabilidade de informa-
ções.
f) Conhecimento prévio do campo: evita desencontros e
perda de tempo.
g) Preparação específica: organizar roteiro ou formulário
com as questões importantes.

Como você já viu anteriormente, caro acadêmico, a entre-


vista visa a obtenção de informações essenciais para a reali-
zação de uma determinada pesquisa. É essencialmente valioso
que a elaboração da entrevista siga algumas normas, segundo
MARCONI e LAKATOS, 2003.

Contato A conversa deve ser mantida em um clima cordial e


inicial amistoso.
Formu- As perguntas obedecem a um roteiro (entrevista padro-
lação de nizada) ou o entrevistado tem liberdade para responder
perguntas (entrevista não estruturada).
232    Comunicação para o Planejamento Profissional

Registro Registro simultâneo das respostas, a fim de lhes garantir


de respos- fidelidade e veracidade das informações. Caso o en-
tas trevistado autorize, o ideal é que suas respostas sejam
gravadas.
Término A entrevista deve terminar cordialmente, para que, se
da entre- necessário, o entrevistador tenha liberdade de retornar.
vista
Requisitos A entrevista deve ser confiável, clara e com aprofunda-
importan- mento de informações.
tes

Na sequência, você receberá informações sobre a organi-


zação de banners. Esse tipo de texto tem características muito
peculiares, haja vista que sua elaboração consiste em uma
linguagem sintética, escrita ou imagística; ou ainda faz uso de
uma linguagem mista.

1.7 Elaboração de banners


A NBR 154379 normatiza como deve ser organizado pôster
(banners). Segundo ela, banners é uma forma científica de co-
municação. Sucintamente, a referida norma apresenta desde o
tamanho do papel com que o pôster tem de ser elaborado até
as referências bibliográficas. A seguir, os aspectos apresenta-
dos pela NBR 15437 serão reproduzidos fidedignamente.

9  Norma Brasileira 15437.


Capítulo 10   Discurso e Redação Acadêmica   233

Formatação (NBR 15437)


Tamanho do pôster (banners): máximo: 120 cm altura X 90 cm
largura; mínimo: 100 cm X 80 cm.
Título do trabalho: centralizado, caixa alta, fonte 50 ou 60.
Autores e Orientador: fonte 30, ordem alfabética + Professor Orien-
tador, Instituição.
INTRODUÇÃO: título 50, corpo de texto fonte 40 (Contexto, objeti-
vos, justificativa...).
METODOLOGIA
RESULTADOS E DISCUSSÃO: título e subtítulos fonte 50, corpo de
texto 40.
CONCLUSÃO: título e subtítulos fonte 50, corpo de texto fonte 40.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS (conforme NBR 6023): título fonte
50, corpo de texto fonte 30, numerado, ordem de aparecimento no
pôster.

Painel ou banners é uma breve explanação sobre o resul-


tado da pesquisa. O banner deve ser autoexplicativo, isto é,
as informações nele contidas devem ser suficientes, para que
o seu leitor entenda o conteúdo. Aconselha-se o uso de pouco
texto e, preferencialmente, as informações devem ser dispostas
em forma de tópicos. Além disso, sugere-se que o banner seja
elaborado mais com imagens do que palavras. Tais ilustrações
têm de ser atrativas e têm de despertar o interesse de quem o
ler.

A partir desse momento, estudar-se-ão aspectos para a


apresentação oral e arguição dos resultados obtidos duran-
te o trabalho de pesquisa.
234    Comunicação para o Planejamento Profissional

2 Apresentação oral e arguição

Caro aluno, antes da preparação da apresentação oral e ar-


guição do trabalho acadêmico propriamente dito, você tran-
sitará por etapas importantes que estão relacionadas à elabo-
ração do Projeto de Pesquisa e do Trabalho de Conclusão de
Curso, tanto de graduação quanto de pós-graduação (licen-
ciatura, bacharelado, tecnólogo, especialização, mestrado e
doutorado). Tais etapas vão desde a escolha do tema até a
apresentação propriamente dita do trabalho que você reali-
zou. Além disso, passa pela escolha de orientador temático,
conforme o assunto que você pesquisará.

Etapas da Apresentação e da Arguição10

Preparação Técnica Antes da arguição, releia o texto e assinale o


que você considera interessante. Caso encontre
algum erro, elabore uma ERRATA e distribua aos
membros da banca.

Preparação Psicológica Você deve estar preparado psicologicamente. Du-


rante a apresentação, demonstre autoconfiança.
Fale com entusiasmo, determinação e convicção
diante da banca. Use uma linguagem clara e
objetiva com a banca.

Vestimenta O momento da defesa e da arguição tem cunho


solene e formal. Vista-se e comporte-se adequa-
damente. Tenha discrição, portanto.

10  CHEMIN, Beatris Francisca, 2015. Adaptado pelo Autor.


Capítulo 10   Discurso e Redação Acadêmica   235

Recursos audiovisuais Chegue com antecedência ao local. Procure fami-


liarizar-se com o recurso escolhido. Tenha cópia
de seu material escrito em mais de um formato de
mídia audiovisual.

Caso você convide algum parente e/ou amigo


Presença de parentes e para assistir a sua defesa, oriente-os da postura
amigos adequada: total silêncio, permanência em sala,
sem uso de aparelhos sonoros. Eles poderão ouvir
críticas duras e rígidas ao seu trabalho, porém
elas fazem parte do ritual de defesa. A presença
deles deve lhe servir como apoio.

Tenha em mãos uma cópia do trabalho com todas


Material para a defesa as anotações feitas durante a leitura. Ter um re-
sumo em forma de tópicos em mãos é importante
nesse momento, pois poderá servir como roteiro
para a apresentação. Se for possível, você poderá
apresentá-lo previamente ao seu professor-
-orientador. Você deverá anotar todas as conside-
rações dos membros da banca, principalmente as
perguntas. Recursos midiáticos, banners... podem
auxiliá-lo durante a apresentação. Não perca a
noção de tempo estipulado. Tenha um relógio em
mãos. Desligue o celular.

Distribuição do tempo Cuide para elaborar o material conforme o tempo


para a apresentação oral que lhe for delimitado. Obedeça ao tempo. Caso
você ultrapasse ou termine muito antes, pode
parecer aos elementos da banca incapacidade
de síntese, que é fundamental a quem tem curso
superior.
236    Comunicação para o Planejamento Profissional

Durante a apresentação oral, gesticule natural-


Postura corporal mente. Não esqueça! Seu corpo “fala”, “grita”.
Portanto, evite: mexer constantemente nos cabe-
los, colocar as mãos nos bolsos, cruzar os braços,
mexer em objetos a sua volta (caneta, papel,
óculos...), falar para a plateia...

Cumprimente BREVEMENTE os membros da ban-


Saudação à banca ca e faça uma deferência especial ao orientador.
Diga a eles a satisfação com a presença deles.
Dirija-se a eles com tratamento respeitoso (Senhor,
Senhora, Professor, Doutor...). Conheça previa-
mente os membros que formarão a banca que o
arguirão sobre seu trabalho.

Articule bem palavras e freses. Faça pausa e


Dicção e timbre da voz entonação conforme você deseja enfatizar algu-
ma informação. Siga os tópicos preparados no
resumo, a fim de lhe garantir precisão, clareza e
segurança. Caso haja termos com dificuldade de
pronúncia, treine-os muito. Evite vícios de lingua-
gem e repetições excessivas de palavras (“né”,
“então”...).

Momento crucial. Não enrole, pois você está


Respostas à arguição da tratando com especialistas na temática. Seja claro
banca e direto quando responder ao questionamento
da banca. Caso você não saiba responder, seja
sincero. Se a pergunta exigir respostas que não
fazem parte da sua pesquisa, que não seja o seu
objetivo durante a investigação, informe à banca.
Se você souber a resposta, expresse-a. Não entre
em confronto com a banca. Apresente seus argu-
mentos equilibradamente.
Capítulo 10   Discurso e Redação Acadêmica   237

Enfim, você sempre tem de lembrar-se de que o sucesso da


apresentação do trabalho depende, sobretudo, da preparação
desse momento final.

Recapitulando

Este capítulo tem como objetivo orientar alunos e demais inte-


ressados acerca dos conceitos fundamentais sobre pesquisa e
discurso científico.

A primeira parte aborda os aspectos e fundamentos da es-


crita científica. Aponta curiosidade, disciplina, perseverança e
paciência como características do pesquisador. Clareza, pre-
cisão, concisão, coerência, coesão, adequação vocabular e
correção gramatical dizem respeito à linguagem científica que
todo o acadêmico deve obedecer durante uma pesquisa.

Na sequência, o capítulo informa sobre a elaboração de


textos cuja linguagem se destaca por ser científica. Aqui, você
encontra orientações sobre a elaboração dos seguintes textos:
projetos, artigos, monografias, resumos, resenhas, entrevistas
e banners. Nesse capítulo, você encontra também dicas
para a preparação da apresentação de Monografia (TCC) e
da arguição da banca. Trata também da relação entre o pro-
fessor-orientador e o orientando, fator essencial para o suces-
so da elaboração de seu trabalho. Ainda lhe são mostradas
as etapas para que você prepare bem o material que será
utilizado durante a apresentação oral de seu trabalho.
238    Comunicação para o Planejamento Profissional

Enfim, esse texto também exemplifica alguns tipos de tex-


tos. Resumo e resenha são demonstrados na prática, o que
lhe facilita a distinção entre eles. Por fim, é um texto que trata
de um assunto complexo, mas com simplicidade linguística. A
ênfase desse texto é a linguagem científica, fato que diferencia
essa modalidade de texto dos textos criativos, por exemplo.

Referências

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14724: Normas de elaboração de TCC’s, Monografia. Rio
de Janeiro, ago. 2017.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR


6023: Informação e documentação – Referências – Elabo-
ração. Rio de Janeiro, ago. 2002.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS E TÉCNICAS


(ABNT). NBR 15437: informação e documentação: pôs-
teres técnicos e científicos: apresentação. Rio de Janeiro,
2006.

CASTILHO, Auriluce Pereira; BORGES, Nara Rúbia Martins;


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CHEMIN, Beatris Francisca. Manual da UNIVATES para tra-


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COSTA VAL, Maria da Graça. Redação e textualidade. São


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FREITAS, Ernani Cesar de; PRODANOV, Cleber Cristiano. Me-


todologia do trabalho científico [recurso eletrônico]: mé-
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GIL, Antônio Carlos. Como elaborar Projetos de Pesquisa.


4. ed. São Paulo: Atlas, 2002.

__________. Métodos e técnicas de pesquisa social. 6. ed.


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ILHESCA, Daniela Duarte e SILVA, Mozara Rosseto da. Coe-


são. In: ILHESCA, Daniela Duarte [et al.]. Comunicação e
Expressão. Canoas: ULBRA 2013. p. 79-88.

KASRARY, Adalberto José. Redação Oficial: normas e mode-


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LODI, João Bosco. A entrevista: teoria e prática. 2. ed. São


Paulo: Pioneira, 1974.
240    Comunicação para o Planejamento Profissional

MARCONI, Marina de Andrade, LAKATOS, Eva Maria. Fun-


damentos de metodologia científica. 5. ed. São Paulo:
Atlas, 2003.

MARTINS, Dileta Silveira; ZILBERKNOP, Lúbia Scliar. Portu-


guês Instrumental: de acordo com as atuais normas da
ABNT. 29. ed. Porto Alegre: Atlas, 2010.

MEDEIROS, João Bosco. Redação Científica: a prática de


fichamentos, resumos, resenhas. 3. ed. São Paulo: Atlas,
1997.

MENTZ, Almir. Redação Acadêmica. In: ILHESCA, Daniela


Duarte [et al.]. Comunicação e Expressão. Canoas: UL-
BRA 2013. p. 107-125.

ZANOTTO, Normélio. Correspondência e redação técnica.


Caxias do Sul: EDUCS, 2002.
Capítulo 10   Discurso e Redação Acadêmica   241

Atividades

Questão 1
MARTINS, Dileta Silveira; ZILBERKNOP, Lúbia Scliar. Português Ins-
trumental: de acordo com as atuais normas da ABNT. 29. ed. Porto
Alegre: Atlas, 2010.
Este é um completo e atualizado manual prático de língua portugue-
sa, que ajuda você a compreender e a dominar o idioma, colocando
ordem nas relações entre quem fala e quem ouve, entre quem escreve
e quem lê, facilitando a compreensão e aumentando a efetividade na
comunicação. A Parte I abrange aspectos referentes à Comunicação,
ao Estilo, à Frase, ao Parágrafo e ao Discurso, fornecendo ao estu-
dante um completo embasamento teórico-prático para a comunicação
oral e escrita. Destaque-se nesta parte o capítulo sobre a Redação,
vista aqui sob seus diversos ângulos: descrição, narração e disserta-
ção. A Parte II compreende o Português Técnico e Profissionalizante:
abaixo assinado, ata, atestado, atos administrativos, carta comercial
e oficial, circular, contrato, currículo vitae, declaração, memorando,
monografia, ofício, procuração, relatório e requerimento são alguns
dos modelos apresentados e conceituados no livro. Capítulos especiais
tratam da normalização bibliográfica e datilográfica. A Parte III aborda
tópicos gramaticais que esclarecem dúvidas mais comuns da língua
portuguesa. São expostos estudos sobre fonologia, acentuação, crase,
ortografia, pontuação, hífen, concordância, regência, verbos, uso dos
“porquês”, estrangeirismos, abreviações, entre outros. Destaca-se, nes-
ta parte sobre Gramática, um capítulo que discorre sobre as dificulda-
des mais frequentes da nossa língua. (GEN – Grupo Editorial Nacional)
PALAVRAS-CHAVE: Comunicação. Redação. Português Técnico e Pro-
fissionalizante. Gramática.
242    Comunicação para o Planejamento Profissional

O texto anterior diz respeito à obra de MARTINS e ZILBER-


KNOP. Por meio dele, o pretenso interessado pela obra toma
conhecimento de seu conteúdo. Esse texto tem características
próprias e tem objetivo específico. Sobre o texto, avalie as afir-
mações a seguir.

I – É uma paráfrase da obra, pois faz uma análise do as-


sunto desenvolvido no livro referido com o emprego de
adjetivos que o qualificam.

II – Trata-se de um resumo, bem elaborado linguisticamen-


te, com fidelidade ao texto de origem.

III – Inicia com a qualificação da obra e está organizado


em apenas um parágrafo, além de a linguagem nele em-
pregada ser clara, objetiva e direta, o que aponta a capa-
cidade de síntese do autor.

Marque a afirma correta.

a) I e II

b) I e III

c) I, II e III

d) II e III

e) apenas a I
Capítulo 10   Discurso e Redação Acadêmica   243

QUESTÃO 2
MARTINS, Dileta Silveira; ZILBERKNOP, Lúbia Scliar. Português Ins-
trumental: de acordo com as atuais normas da ABNT. 29. ed. Porto
Alegre: Atlas, 2010.
Este é um completo e atualizado manual prático de língua portugue-
sa, que ajuda você a compreender e a dominar o idioma, colocando
ordem nas relações entre quem fala e quem ouve, entre quem escreve
e quem lê, facilitando a compreensão e aumentando a efetividade na
comunicação. A Parte I abrange aspectos referentes à Comunicação,
ao Estilo, à Frase, ao Parágrafo e ao Discurso, fornecendo ao estu-
dante um completo embasamento teórico-prático para a comunicação
oral e escrita. Destaque-se nesta parte o capítulo sobre a Redação,
vista aqui sob seus diversos ângulos: descrição, narração e disserta-
ção. A Parte II compreende o Português Técnico e Profissionalizante:
abaixo assinado, ata, atestado, atos administrativos, carta comercial
e oficial, circular, contrato, currículo vitae, declaração, memorando,
monografia, ofício, procuração, relatório e requerimento são alguns
dos modelos apresentados e conceituados no livro. Capítulos especiais
tratam da normalização bibliográfica e datilográfica. A Parte III aborda
tópicos gramaticais que esclarecem dúvidas mais comuns da língua
portuguesa. São expostos estudos sobre fonologia, acentuação, crase,
ortografia, pontuação, hífen, concordância, regência, verbos, uso dos
“porquês”, estrangeirismos, abreviações, entre outros. Destaca-se, nes-
ta parte sobre Gramática, um capítulo que discorre sobre as dificulda-
des mais frequentes da nossa língua. (GEN – Grupo Editorial Nacional)
PALAVRAS-CHAVE: Comunicação. Redação. Português Técnico e
Profissionalizante. Gramática.

O texto anterior representa uma síntese da obra de MAR-


TINS e ZILBERKNOP. As características dele são as mesmas
de um resumo. Entretanto, acerca disso, é possível analisá-lo
conforme alguns aspectos. Analise, pois, as afirmações a se-
244    Comunicação para o Planejamento Profissional

guir, para, em seguida, assinalar corretamente a alternativa


adequada.

I – Embora o referido texto tenha problemas linguísticos,


como o uso de expressões como “nesta parte”, pode-
se dizer que ele é um resumo que possibilita transfor-
má-lo em resenha.

II – Essa síntese é uma paráfrase e, por conseguinte, é de-


nominada resenha.

III – Esse texto é um resumo; entretanto, tem possibilidade


de ser transformado em resenha. Para isso, acrescente-
se a ele alguns aspectos fundamentais: a qualificação
do autor da obra, a visão crítica de quem a elabora, e
a apreciação. Também, na resenha, não há indicação
de palavras-chave.

IV – Resumo não é crítico e, por isso, possibilita comentá-


rios e opiniões e juízo de valor.

V – Resumo é um texto que faz parte da composição re-


senha.

Todas as afirmações estão corretas, EXCETO em:

a) II

b) I

c) III

d) V

e) IV
Capítulo 10   Discurso e Redação Acadêmica   245

QUESTÃO 3
MARTINS, Dileta Silveira; ZILBERKNOP, Lúbia Scliar. Português Ins-
trumental: de acordo com as atuais normas da ABNT. 29. ed. Porto
Alegre: Atlas, 2010.
Este é um completo e atualizado manual prático de língua portugue-
sa, que ajuda você a compreender e a dominar o idioma, colocando
ordem nas relações entre quem fala e quem ouve, entre quem escreve
e quem lê, facilitando a compreensão e aumentando a efetividade na
comunicação. A Parte I abrange aspectos referentes à Comunicação,
ao Estilo, à Frase, ao Parágrafo e ao Discurso, fornecendo ao estu-
dante um completo embasamento teórico-prático para a comunicação
oral e escrita. Destaque-se nesta parte o capítulo sobre a Redação,
vista aqui sob seus diversos ângulos: descrição, narração e disserta-
ção. A Parte II compreende o Português Técnico e Profissionalizante:
abaixo assinado, ata, atestado, atos administrativos, carta comercial
e oficial, circular, contrato, currículo vitae, declaração, memorando,
monografia, ofício, procuração, relatório e requerimento são alguns
dos modelos apresentados e conceituados no livro. Capítulos especiais
tratam da normalização bibliográfica e datilográfica. A Parte III aborda
tópicos gramaticais que esclarecem dúvidas mais comuns da língua
portuguesa. São expostos estudos sobre fonologia, acentuação, crase,
ortografia, pontuação, hífen, concordância, regência, verbos, uso dos
“porquês”, estrangeirismos, abreviações, entre outros. Destaca-se, nes-
ta parte sobre Gramática, um capítulo que discorre sobre as dificulda-
des mais frequentes da nossa língua. (GEN – Grupo Editorial Nacional)
PALAVRAS-CHAVE: Comunicação. Redação. Português Técnico e
Profissionalizante. Gramática.

O texto supracitado é um resumo. No entanto, pode ser


transformado em resenha. A seguir, você tem trechos que po-
dem fazer parte da resenha, resultado da transformação de
resumo em resenha. Leia com atenção as alternativas.
246    Comunicação para o Planejamento Profissional

A) MARTINS e ZILBERKNOP são doutoras em Letras e


atuaram como professoras na PUCRS durante vários
anos. Esses fatores associados lhes deram experiência
para a elaboração e publicação do livro supracitado.

B) “Português Instrumental: de acordo com as atuais


normas da ABNT” é escrito em uma linguagem acessí-
vel e aborda curiosidades e informações sobre os as-
pectos da língua portuguesa, a fim de esclarecer as
dúvidas de quem precisa redigir diariamente e corrigir
os pontos relativos da linguagem escrita.

C) Essa publicação da Editora Atlas é útil a todos os usuá-


rios da língua portuguesa: estudantes e curiosos dos
aspectos da linguagem.

D) As palavras-chave têm de ser excluídas do texto.

E) A Referência bibliográfica inicial também não faz parte


da resenha. Por essa razão, ela também tem de ser
excluída.

No que diz respeito à resenha, escolha o que é correto


afirmar.

a) Apenas A está correta.

b) Apenas B e C estão corretas.

c) Apenas E está incorreta.

d) Todas estão corretas.

e) Todas estão incorretas.


Capítulo 10   Discurso e Redação Acadêmica   247

QUESTÃO 4
Um aluno realiza, durante o último semestre do curso, a Monografia, que é
exigida para a obtenção do Diploma. Inicialmente, o acadêmico escolheu
o professor que o orientaria no período de desenvolvimento desse Traba-
lho de Conclusão de Curso. A escolha levou em consideração a área de
pesquisa a que seu professor está engajado. Não foi uma escolha aleatória.
Na sequência, o aluno deu início à pesquisa propriamente dita, conforme
o seu Projeto de Pesquisa e as orientações do professor. Ele, o acadêmico,
compareceu aos encontros com o professor, momento reservado para as
análises e discussões do andamento do trabalho. Durante a redação da
Monografia, deixou-se levar pelas emoções e utilizou uma linguagem cria-
tiva, com termos e expressões figurativas, conotativas e com uso exagerado
de exclamações. Mesmo que o professor-orientador tenha chamado sua
atenção para esse aspecto, o orientado preferiu manter a linguagem. Em
relação ao tema desenvolvido, nada foi contestado pelo orientador. O alu-
no parte, então, para a preparação da apresentação propriamente dita. Um
pouco sem tempo, simplesmente o aluno releu o trabalho, mas não prepa-
rou nenhum recurso multimídia, tampouco um resumo que pudesse servir
como roteiro, como apoio. É chegado o dia, então. O acadêmico iniciou
sua apresentação tranquilamente, cumprimentou os membros da banca,
com destaque ao orientador. Sem material de apoio, o nervosismo tomou
conta dele. Com isso, ele ultrapassou o tempo estipulado, gaguejou, e o
texto oral não ficou desconexo, isto é, não havia relação semântica entre as
ideias. O professor orientador, no uso de sua competência, passa a palavra
aos professores convidados. Primeiramente, o professor de outra instituição
analisa seu trabalho e destaca o aspecto da linguagem escrita, haja vista
não ter características científicas. O segundo analista, professor da própria
Universidade, chama a atenção para esse fato, mas também aborda o fato
da inexistência de material de apoio e a consequente ilogicidade oral da
apresentação. O acadêmico, então, obteve prejuízo na avaliação.
248    Comunicação para o Planejamento Profissional

Com análise à situação apresentada, assinale V ou F, con-


forme sejam verdadeiras ou falsas as afirmativas a seguir.

(  ) O aluno teve problemas de ordem psicológica, porque


não se preparou para a apresentação, o que acarre-
tou em problemas emocionais e físicos. Assim, o aluno
universitário apresentou desordenadamente as ideias
desenvolvidas em seu trabalho.

(  ) O fato de o acadêmico não estar bem preparado fez


com que os membros da banca o prejudicassem na
avaliação, já que não demonstrou domínio de con-
teúdo, apontando que seu texto pode ter sido redigido
sem conexão entre as ideias apresentadas no trabalho.

(  ) Durante a elaboração do trabalho, do aluno-orientan-


do são exigidos disciplina, compromisso e responsabi-
lidade. Por isso, dentre tantas obrigações que pesam
sobre o educando, deixar de redigir o texto cientifica-
mente foi o que o favoreceu no momento da avalia-
ção.

(  ) Os em membros da banca observaram que a redação


da Monografia não levava em consideração as carac-
terísticas da linguagem científica, já que o mesmo é o
registro das respostas obtidas durante a pesquisa. Essa
linguagem apresentava tópicos da linguagem científi-
ca, ora havia marcas da linguagem criativa.

(  ) Nada o impedia de apresentar o Trabalho de Conclu-


são de Curso sem um resumo como apoio psicológico
e de conhecimento do assunto. Entretanto, sem os tó-
Capítulo 10   Discurso e Redação Acadêmica   249

picos preparados no resumo, que deveria lhe garantir


precisão, clareza e segurança, o aluno foi prejudicado
em sua avaliação.

Marque a sequência obtida.

a) F, V, V, V e V.

b) V, V, V, V e V.

c) V, V, F, V e V.

d) F, F, V, F e F.

e) V, F, V, F e V.
250    Comunicação para o Planejamento Profissional

QUESTÃO 5
Um aluno realiza, durante o último semestre do curso, a Monografia, que
é exigida para a obtenção do Diploma. Inicialmente, o acadêmico esco-
lheu o professor que o orientaria no período de desenvolvimento desse
Trabalho de Conclusão de Curso. A escolha levou em consideração a
área de pesquisa a que seu professor está engajado. Não foi uma escolha
aleatória. Na sequência, o aluno deu início à pesquisa propriamente dita,
conforme o seu Projeto de Pesquisa e as orientações do professor. Ele, o
acadêmico, compareceu aos encontros com o professor, momento reser-
vado para as análises e discussões do andamento do trabalho. Durante
a redação da Monografia, deixou-se levar pelas emoções e utilizou uma
linguagem criativa, com termos e expressões figurativas, conotativas e com
uso exagerado de exclamações. Mesmo que o professor-orientador tenha
chamado sua atenção para esse aspecto, o orientado preferiu manter a
linguagem. Em relação ao tema desenvolvido, nada foi contestado pelo
orientador. O aluno parte, então, para a preparação da apresentação
propriamente dita. Um pouco sem tempo, simplesmente o aluno releu o
trabalho, mas não preparou nenhum recurso multimídia, tampouco um
resumo que pudesse servir como roteiro, como apoio. É chegado o dia,
então. O acadêmico iniciou sua apresentação tranquilamente, cumprimen-
tou os membros da banca, com destaque ao orientador. Sem material de
apoio, o nervosismo tomou conta dele. Com isso, ele ultrapassou o tempo
estipulado, gaguejou, e o texto oral não ficou desconexo, isto é, não havia
relação semântica entre as ideias. O professor orientador, no uso de sua
competência, passa a palavra aos professores convidados. Primeiramente,
o professor de outra instituição analisa seu trabalho e destaca o aspecto
da linguagem escrita, haja vista não ter características científicas. O se-
gundo analista, professor da própria Universidade, chama a atenção para
esse fato, mas também aborda o fato da inexistência de material de apoio
e a consequente ilogicidade oral da apresentação. O acadêmico, então,
obteve prejuízo na avaliação.
Capítulo 10   Discurso e Redação Acadêmica   251

Considerando esse contexto, avalie as seguintes asserções


e a relação proposta entre elas.

I – Além da pesquisa e da redação dos resultados obtidos,


um momento importante e definitivo para o acadêmico é o da
apresentação oral com arguição de uma banca,

PORQUE

II – o aluno-orientado demonstra total domínio do tema


pesquisado e tem condições de aprendizagem e de corrigir
as falhas detectadas pela banca durante a preparação da
arguição, como as que ocorreram com o aluno do texto
acima.

A respeito dessas asserções e razões, assinale a opção cor-


reta.

a) A asserção é verdadeira e a razão é falsa.

b) A asserção e razão são verdadeiras.

c) A asserção é falsa e a razão é verdadeira.

d) Asserção e razão são falsas.

e) A asserção é falsa apenas porque a razão é.


252  Sumário

Gabarito

Capítulo 1
1) Pretende-se, aqui, mostrar que, associadas imagens e palavras, o
desenho pode, por exemplo, ser independente, ou seja, o texto não
acrescenta nada de novo. Ou o desenho pode não ser relevante,
como no quadrinho 2. Ou, ainda, texto e desenho sendo igualmente
relevantes para a interpretação da mensagem, como no quadrinho 4.
Suas questões discursivas devem sempre primar pela qualidade textual
e seguir o modelo ENADE, ou seja, deve ter em torno de 15 linhas e
serem autônomas, fazendo com que o leitor possa compreendê-las
sem a necessidade de ler a pergunta. E deve ter, como todo o bom
texto, uma introdução, um desenvolvimento e uma conclusão.

2) e  3) b  4) e

5) Olá, Joana, tudo bem?

Se você quer, cara amiga de longa data, vou a sua casa para con-
versarmos sobre seu novo projeto para o ano de 2018. Sua amiga
também estará?

Abraços,

Paula

Capítulo 2
1) Resposta pessoal. Espera-se que aqui o acadêmico consiga dizer se a
bagagem recebida pela escola foi suficiente (ou não) para o domínio
da norma escrita culta. Se isso foi adquirido por um professor específi-
co (de que forma) ou se outros fatores/pessoas também contribuíram.

2) Aqui, é importante o acadêmico escrever, dentre outras coisas, que


quem impulsiona as mudanças na língua é o povo – de acordo com
sua necessidade, interesses, contextos etc.
Sumário  253

3)

a) Alguém jovem. Pelo contexto, um universitário. Pelas gírias utilizadas


(que não são tão comuns em pessoas mais velhas, por exemplo).

b) Apresenta uma variedade oral. Linguajar típico da fala. Os trechos


seriam: “O papai aqui”; “Estou meio cabrero”; “Manda brasa, pro-
fessor”...

4) e  5) e

Capítulo 3
1) d  2) c

3) Para esta atividade, esperamos que você, ao relacionar o que estudou


com a charge em questão, trate da relação de nosso atual mundo
tecnológico com a necessidade que hoje temos, cada vez mais, de nos
promovermos, fazendo dessa prática uma das principais estratégias
empreendedoras de nossa contemporaneidade. Suas questões discur-
sivas devem sempre primar pela qualidade textual e seguir o modelo
ENADE, ou seja, deve ter em torno de 15 linhas e serem autônomas,
fazendo com que o leitor possa compreendê-las sem a necessidade de
ler a pergunta. E deve ter, como todo o bom texto, uma introdução,
um desenvolvimento e uma conclusão.

4) a  5) e

Capítulo 4
1) b  2) c  3) d  4) a  5) c

Capítulo 5
Questões objetivas: 1) e   3) b   4) c   5) a

Questão discursiva: 2) Para a compreensão da tirinha, são necessárias


informações advindas do conhecimento prévio do leitor, o que conduz
254  Sumário

à atividade inferencial. O conhecimento linguístico permite que en-


tendamos o vocabulário utilizado bem como a possibilidade de duplo
entendimento da expressão “meu estômago está doendo”. O conhe-
cimento enciclopédico, por sua vez, auxilia no entendimento da situa-
ção social vivenciada (e enriquecida pela linguagem não verbal), bem
como na ideia de usar Sonrisal para aplacar a dor do personagem.
Por fim, o conhecimento interacional auxilia na interpretação do hu-
mor e da ironia tão comuns nesse tipo de gênero textual. Sendo assim,
só pela soma desses fatores o processo de compreensão se efetiva.

Capítulo 6
1) b  2) c  3) a  4) e  5) d

Capítulo 7
1) b  2) e  3) d  4) e  5) a

Capítulo 8
1) c

2) Resposta pessoal.

3) A charge, que apresenta um homem de terno e gravata enrolando-se


em sua própria língua, possibilita, a você, tratar de questões sobre os
cuidados com o uso da linguagem oral dentro do espaço de trabalho
e suas estratégias, bem como pontos que envolvem a necessidade de
adaptação dessa linguagem, seja em termos técnicos, formais e in-
formais. Também é possível discutir, em seu texto, como seu modo de
falar (de se comunicar) pode lhe passar uma “rasteira”, o que se rela-
ciona diretamente aos tópicos anteriores. O que é comunicar-se bem?
Suas questões discursivas devem sempre primar pela qualidade textual
e seguir o modelo ENADE, ou seja, deve ter em torno de 15 linhas e
serem autônomas, fazendo com que o leitor possa compreendê-las
Sumário  255

sem a necessidade de ler a pergunta. Deve ter, também, como todo o


bom texto, uma introdução, um desenvolvimento e uma conclusão.

4) e  5) e

Capítulo 9
1) d  2) e  3) a  4) b  5) c

Capítulo 10
1) d  2) a  3) c  4) c  5) b

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