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Salvador
2013
I
UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA
FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA E URBANISMO
Salvador
2013
I
JULIANA CARDOSO NERY
Salvador
2013
II
Faculdade de Arquitetura da UFBA - Biblioteca
CDU: 72.036(81)
III
TERMO DE APROVAÇÃO
Tese aprovada como requisito parcial para obtenção do grau de Doutora em Arquitetura e Urbanismo,
Universidade Federal da Bahia, pela seguinte banca examinadora:
Artur e Rodrigo
V
AGRADECIMENTOS
orientações.
Agradeço a Carol pelas tantas contribuições a essa tese, demais trocas sobre o
a Rodrigo pelo apoio e grande ajuda com o acervo da revista “A CASA” no Rio;
à professora Odete pelas contribuições que mesmo anteriores a esse trabalho foram
aos meus pais Catarina e Jodauro pelo apoio incondicional em vários sentidos para
a Maria pelo seu tempo dedicado a Artur para que eu pudesse me dedicar à tese;
VI
Precisamos ser sensíveis aos fios de silêncio com que é tramado o tecido da fala.
Merleau-Ponty
Bertolt Brecht
VII
RESUMO
VIII
ABSTRACT
This thesis aimed to map the important contributions of two Brazilians’ magazines -
"A CASA" and "ARQUITETURA E URBANISMO” - between the years of 1923 and
1942 about the construction of the architecture of the modern movement in Brazil and
intends to reveal the most celebrated historiography on the subject, plot the
statements made in the speeches of Lúcio Costa, one of its most famous
participants, and their enduring echoes. The survey shows a much more extended
process and not always convergent about the meanings and shapes of modern
architecture. In this process, more far than an aesthetic issue, they were fighting for
assertion of architecture as a specific knowledge and their own professional class
and its various fronts. In this paper we argue the idea that, far away from a
miraculous and almost individual establisher instant of a Brazilian new architecture –
original and genius – the modern expressions are given in a range that approached
and interpreted differently repertoire and European avant-garde ideas. The thesis’
hypothesis, confirm by the researches, is a genesis of modern architecture in Brazil
been in a collective and multifaceted process of a relatively long duration from the
twenties. A production that matures gradually until it reaches the quality of the iconic
works of the thirties and onwards. As the great kaleidoscope of international
modernism, also in Brazil there were several movements that constituted the
modernism, not necessarily convergent and continuous, but all part of a thriving
cultural scene and heavily permeated by government force, seeking an expression
that was simultaneously current and located.
IX
LISTA DE FIGURAS
1. Páginas da Revista Para Todos com artigo “A Exposição da Casa Modernista” que 15
impressionou decisivamente Lúcio Costa. Fonte: site J. Carlos em revista, disponível em
http://www.jotacarlos.org/revista/index.html acessado em 17/07/2013 às 14:00hs.
2. Ilustração que acompanha o artigo STILE em agosto. Fonte: Revista Casabella, 1930, n. 25
32, s/p.
3. Seção “Orientazioni” de Casabella em dezembro de 31. Fonte: Revista Casabella, 1931, 28
n. 48, s/p.
4. Edifício de uso misto em Montparnasse, Paris. Fonte: Revista L’Architecture 29
d’Aujourd’hui, 1937.
5. Edifício Lutetia de 1939. Fonte: REVISTA SOCIAL TRABALHISTA. Belo Horizonte 29
Completou 50 Anos. Belo Horizonte, 1947.
6. Pilares em V da Escadaria Monumental do Parque Henri-Barbusse, Issy-les- Moulineaux. 30
Fonte: Revista L’architecture d’aujourd’hui, no 4 do ano 8, abril de 1937.
7. Pilares em V do edifício projetado por Oscar Niemeyer em Berlim para a Interbau 30
inaugurado em 1957. Fonte: http://revistamdc.files.wordpress.com
8. Café do Zoológico de Whipsnade (projeto 1934-35) inaugurado em 1937. Arquiteto 33
Berthold Lubetkin. Fonte: L’Architecture d’Aujourd’hui, Boulogne-sur-Seine, n. 12, p. XII-
70, dez. 1938.
9. Casa do Baile, Complexo da Pampulha, Belo Horizonte (1940-1943) - Arquiteto Oscar 33
Niemeyer. Fonte: http://www.skyscrapercity.com
10. Planta Café do Zoológico de Whipsnade. Fonte: L’architecture d’aujourd’hui, Boulogne- 34
sur-Seine, n. 12, p. XII-70, dez. 1938.
11. Planta Casa do Baile. Fonte: 34
http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/01.004/98.
12. Exterior do projeto para a Capela na Bretanha do arquiteto P. Abraham. Fonte: 36
L’architecture d’aujourd’hui, Boulogne-sur-Seine, n. 07, p. 22, jul. 1938.
13. Interior do projeto para a Capela na Bretanha do arquiteto P. Abraham. Fonte: 36
L’architecture d’aujourd’hui, Boulogne-sur-Seine, n. 07, p. 22, jul. 1938.
14. Exterior da Capela da L’École de Foucauld em Rabat, do arquiteto Laforgue. Fonte: 36
L’architecture d’aujourd’hui, Boulogne-sur-Seine, n. 07, p. 24, jul. 1938.
15. Interior da Capela da L’École de Foucauld em Rabat, do arquiteto Laforgue. Fonte: 36
L’architecture d’aujourd’hui, Boulogne-sur-Seine, n. 07, p. 24, jul. 1938.
16. Exterior da Igreja de São Francisco na Pampulha (1940-1943), do arquiteto Oscar 36
Niemeyer. Fonte: http://www.arcoweb.com.br, acesso: 24/11/2010 - 17:30hs
17. Interior da Igreja de São Francisco na Pampulha (1940-1943), do arquiteto Oscar 36
Niemeyer. Fonte: http://www.arcoweb.com.br, acesso: 24/11/2010 - 17:30hs
18. Página aberta da publicação “Arquitetura Brasileira”. Pórtico da Academia Imperial de 133
Belas Artes e piloti do Ministério da Educação. Fonte: COSTA, Lúcio: Arquitetura
Brasileira. Rio de Janeiro: Ministério da Educação e Saúde, 1952.
19. Primeira página do Caderno de Urbanismo e Construção do número especial do Correio 134
da Manhã de 15/06/1951. Destaque para a o título do artigo e a chamada destacada em
negrito. Fonte: http://hemerotecadigital.bn.br/correio-da-manh%C3%A3/089842 acesso:
06/10/2012 às 12:02.
20. Croquis ilustrativos de Lúcio Costa em Documentação Necessária. Disposição original do 142
texto publicado na Revista do Patrimônio. Fonte: COSTA, Lúcio. Documentação
necessária. Revista Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Rio de Janeiro,
n.1, 1937, p. 35.
21. Característica dos vãos nos séculos XVII e XVIII. Croquis ilustrativos de Lúcio Costa. 142
Fonte: COSTA, Lúcio. Documentação necessária. Revista Serviço do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional. Rio de Janeiro, 1937, p. 36.
22. Característica dos vãos nos séculos XIX e XX. Croquis ilustrativos de Lúcio Costa. Fonte: 142
COSTA, Lúcio. Documentação necessária. Revista Serviço do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional. Rio de Janeiro, 1937, p. 37.
23. Croquis de Lúcio Costa demonstrando a linha evolutiva na transformação das aberturas 143
do período colonial ao moderno na arquitetura no Brasil. Fonte: COSTA, Lúcio. Lúcio
Costa - registro de uma vivência. Empresa das artes. 1995, p. 461.
24. Croqui ilustrativo de Lúcio Costa. Fonte: COSTA, Lúcio. Documentação necessária. 143
Revista Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Rio de Janeiro, 1937, p. 38.
25. Hotel Park Hotel São Clemente em Nova Friburgo (1944-45) de Lúcio Costa. Fonte: 149
X
WISNIK, Guilherme. Lúcio Costa. São Paulo: Cosac & Naify, 2001.
26. Detalhe Hotel Park Hotel São Clemente. Fonte: WISNIK, Guilherme. Lúcio Costa. São 149
Paulo: Cosac & Naify, 2001.
27. Detalhe Hotel Tijuco em Diamantina (1951) de Oscar Niemeyer. Fonte: 149
http://www.hoteltijuco.com.br/2/index.asp?c=325, acesso 03/10/2012 às 15:30.
28. Hotel Tijuco em Diamantina (1951) de Oscar Niemeyer. Fonte: 149
http://www.google.com.br/imgres?q=hotel+tijuco+diamantina, acesso 03/10/2012 às
15:28.
29. Montagem com a primeira proposta de Oscar Niemeyer para o Grande Hotel de Ouro 150
Preto inserida no terreno que ocuparia no centro histórico da antiga Vila Rica. Fonte:
CAVALCANTI, Lauro. Moderno e brasileiro: a história de uma nova linguagem na
arquitetura, 1930-1960. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2006.
30. Montagem com o projeto modificado incorporando as sugestões de Lúcio Costa: uso da 150
telha de barro e das varandas. Fonte: CAVALCANTI, Lauro. Moderno e brasileiro: a
história de uma nova linguagem na arquitetura, 1930-1960. Rio de Janeiro: Jorge
Zahar, 2006.
31. O edifício construído, já com o teste da modificação proposta por Niemeyer, felizmente 151
não autorizada pelo IPHAN, de fechar as varandas originais. Fonte: Rodrigo Baeta, 2008.
32. Capa dura do catálogo da exposição Brazil Builds: architecture new and old do MoMA – 152
Nova York em 1943. Fonte: GOODWIN, Philip. Brazil Builds: architecture new and old
-1652-1942. Nova York: MoMA, 1943.
33. Mapa do Rio de Janeiro que abre a segunda parte do catálogo “Brazil Builds” referente às 163
obras modernas. Fonte: GOODWIN, Philip L. Brazil Builds: architecture new and old
1652 – 1942. Nova York: MOMA, 1943, pp. 82-83.
34. Página referente à personalidades. Fonte: GOODWIN, Philip. Brazil Builds: architecture 168
new and old 1642-1942. Nova York: MOMA, 1943, p.196.
35. Fazenda Vassouras no Rio de Janeiro, exemplo da arquitetura antiga mergulhada na 173
natureza e numa condição rural arcaica. Fonte: GOODWIN, Philip. Brazil Builds:
architecture new and old 1642-1942. Nova York: MOMA, 1943, p.37.
36. Página de rosto do catálogo da exposição “Brazil Builds”.Detalhe do Cassino da 173
Pampulha. Fonte: GOODWIN, Philip. Brazil Builds: architecture new and old 1642-1942.
Nova York: MOMA, 1943, p.3 e 4.
37. Páginas referentes à Escola Normal em Salvador – ICEA. Fonte: GOODWIN, Philip. 174
Brazil Builds: architecture new and old 1642-1942. Nova York: MOMA, 1943, p.144 e 145.
38. Capa do catálogo da exposição Brazil Builds: architecture new and old do MOMA – Nova 183
York em 1943. Fonte: www.google.com.br/imgres?q=brazil+builds, acesso 03/10/2012 às
18:39.
39. Páginas que apresentam a casa Domingos Dias do arquiteto Arnaldo Furquim no livro de 188
Mindlin. Fonte: MINDLIN, Henrique E. Arquitetura Moderna no Brasil. Rio de Janeiro:
Aeroplano, 1999, pp 74-75.
40. Páginas que apresentam o Cassino da Pampulha do arquiteto Oscar Niemeyer no livro 189
de Mindlin. Fonte: MINDLIN, Henrique E. Arquitetura Moderna no Brasil. Rio de
Janeiro: Aeroplano, 1999, pp.190-191.
41. Páginas que apresentam o Edifício Caramuru do arquiteto Paulo Antunes no livro de 189
Mindlin. Fonte: MINDLIN, Henrique E. Arquitetura Moderna no Brasil. Rio de Janeiro:
Aeroplano, 1999, pp 234-235.
42. Capa do livro Arquitetura Moderna no Brasil, vale observar que a capa da publicação de 194
1956 foi mantida na tradução brasileira de 1999. Fonte: MINDLIN, Henrique E.
Arquitetura Moderna no Brasil. Rio de Janeiro: Aeroplano, 1999.
43. Charge da Revista Ilustração Brasileira de setembro de 1929 dedicada a Arquitetura e a 197
Artes Afins, que ilustra o livro de Ferraz. Fonte: FERRAZ, G. Warchavchik e a
introdução da nova arquitetura no Brasil; 1925 a 1940. São Paulo. MASP. 1965, p. 34
44. Foto de Lúcio Costa, Frank Lloyd Wright e Gregori Warchavchik que abre o livro de 198
Ferraz. Fonte: FERRAZ, G. Warchavchik e a introdução da nova arquitetura no
Brasil; 1925 a 1940. São Paulo. MASP. 1965, s/p.
45. Páginas do livro de Ferraz que apresentam a casa Silva Prado Neto. Fonte: FERRAZ, G. 199
Warchavchik e a introdução da nova arquitetura no Brasil; 1925 a 1940. São Paulo.
MASP. 1965,pp.120 e 121.
46. Página do livro de Ferraz que apresenta a capa da revista francesa L’homme et 200
l’architecture com o edifício de Warchavchik. Fonte: FERRAZ, G. Warchavchik e a
introdução da nova arquitetura no Brasil; 1925 a 1940. São Paulo. MASP. 1965,p.237.
47. Recepção na Casa Modernista, reunindo Guilherme de Almeida, Di Cavalcanti, Raul 202
Bopp, Flávio de Carvalho, Anita Malfaltti entre outros. Fonte: FERRAZ, G. Warchavchik
e a introdução da nova arquitetura no Brasil; 1925 a 1940. São Paulo. MASP.
1965,p.57.
48. Página do livro de Santos em que aparece o Ministério da Educação e Saúde. Fonte: 206
SANTOS, Paulo, Quatro Séculos de Arquitetura. Rio de Janeiro: IAB, 1981, p 114.
XI
49. Capa do livro de Paulo Santos. Fonte: SANTOS, Paulo, Quatro Séculos de Arquitetura. 207
Rio de Janeiro: IAB, 1981, p 234-235.
50. Páginas do terceiro tomo da publicação da tese original em francês de Yves Bruand com 219
imagens do Ministério da Educação e Saúde. Cada imagem ocupa toda uma página de
acordo com a orientação da fotografia e não de uma diagramação mais elaborada da
composição do livro. Fonte: BRUAND, Yves. L’architecture contemporaine au Brésil.
Lille: Service de reproduction des theses Universite de Lille III, 1973 pp.47/48
51. Página do livro de Bruand da publicação em português com imagem do Ministério da 220
Educação e Saúde sem grande destaque no meio do texto. Fonte: BRUAND. Yves.
Arquitetura Contemporânea no Brasil. São Paulo: Perspectiva, 1981, p 88.
52. Capa e contracapa do livro “Arquitetura Brasileira” de Carlos Lemos. Fonte: LEMOS, 223
Carlos A. C. Arquitetura brasileira. São Paulo: Melhoramentos, 1979.
53. Cassino da Pampulha na imagem do livro de Lemos. Fonte: LEMOS, Carlos. Arquitetura 225
brasileira. São Paulo: Melhoramentos, 1979, p. 143.
54. Peças gráficas da casa do sítio Querubim, em São Roque/SP do século VXIII na 225
reprodução do livro de Lemos. Fonte: LEMOS Carlos. Arquitetura brasileira. São Paulo:
Melhoramentos, 1979, p. 71.
55. Página de ilustração que mostra o Ministério da Educação no texto de Lemos na 230
coletânea de Zanini. Fonte: ZANINI, Walter. História Geral das Artes no Brasil. São
Paulo: Instituto Moreira Salles, 1983, p. 842
56. Abertura do texto de Lemos na coletânea de Zanini com os desenhos do conjunto 231
projetado por Flávio de Carvalho na Alameda Lorena em São Paulo. Fonte: ZANINI,
Walter. História Geral das Artes no Brasil. São Paulo: Instituto Moreira Salles, 1983,
pp. 822/823.
57. Página inteira de ilustrações do item “A arquitetura moderna carioca” do texto de Lemos. 232
Fonte: ZANINI, Walter. História Geral das Artes no Brasil. São Paulo: Instituto Moreira
Salles, 1983, pp. 848/849
58. Página inteira de ilustrações do item “A arquitetura paulista” do texto de Lemos. Fonte: 232
ZANINI, Walter. História Geral das Artes no Brasil. São Paulo: Instituto Moreira Salles,
1983, pp. 858/859
59. Fotos de Victor Dubugras e Oscar Niemeyer colocadas lado a lado por Lemos no item 233
“As primeiras obras modernas”. Fonte: ZANINI, Walter. História Geral das Artes no
Brasil. São Paulo: Instituto Moreira Salles, 1983, p. 829.
60. Foto que reuni Lúcio Costa, Flávio de Carvalho e Gregori Warchavchik. Fonte: ZANINI, 233
Walter. História Geral das Artes no Brasil. São Paulo: Instituto Moreira Salles, 1983,
pp. 831.
61. Mina Klabin, esposa de Warchavchik. Fonte: ZANINI, Walter. História Geral das Artes 233
no Brasil. São Paulo: Instituto Moreira Salles, 1983, p. 833.
62. Monumento rodoviário de Guaranhuns/PE do arquiteto Armando de Holanda. Fonte: 236
FICHER, Sylvia & ACAYBA, Marlene Milan. Arquitetura moderna brasileira. São Paulo.
Projeto. 1982, p 101.
63. Capa do livro de Ficher e Acayaba. Fonte: FICHER, Sylvia & ACAYBA, Marlene Milan. 238
Arquitetura moderna brasileira. São Paulo. Projeto. 1982.
64. Páginas que apresentam as plantas do Ministério da Educação e Saúde. Fonte: FICHER, 239
Sylvia & ACAYBA, Marlene Milan. Arquitetura moderna brasileira. São Paulo. Projeto.
1982, pp 12 e 13.
65. Páginas que apresentam croquis de estudos preliminares para o Ministério da Educação 240
e Saúde. Fonte: FICHER, Sylvia & ACAYBA, Marlene Milan. Arquitetura moderna
brasileira. São Paulo. Projeto. 1982, pp 10.
66. Marquise da Casa do Baile na Pampulha. Foto de Dante Paglia. Fonte: FICHER, Sylvia & 241
ACAYBA, Marlene Milan. Arquitetura moderna brasileira. São Paulo. Projeto. 1982, p.
15.
67. Igreja de São Francisco na Pampulha. Foto de Hugo Segawa. Fonte: FICHER, Sylvia & 241
ACAYBA, Marlene Milan. Arquitetura moderna brasileira. São Paulo. Projeto. 1982, p.
25.
68. Conjunto de imagem que ilustra na trama de Jover as primeiras obras “propriamente” 245
modernas: duas casas de Warchavchik e o Ministério da Educação e Cultura Fonte:
JOVER, Ana Maria. A Arquitetura Moderna. In: CIVITA, Victor (org). Arte no Brasil. São
Paulo: Abril Cultural e Industrial, 1982, p. 257.
69. Página dupla que mostra a Igrejinha da Pampulha, a Catedral de Brasília e o Palácio da 246
Justiça na Capital Federal. Com se pode ver, os destaques na leitura de Jover revelados
pelas imagens do momento de formação estão na Pampulha em Brasília. Fonte: JOVER,
Ana Maria. A Arquitetura Moderna. In: CIVITA, Victor (org). Arte no Brasil. São Paulo:
Abril Cultural e Industrial, 1982, pp. 260/261.
70. Interior da Catedral de Brasília na abertura do capítulo intitulado “A Arquitetura Moderna” 246
na coleção “Arte no Brasil”. Fonte: JOVER, Ana Maria. A Arquitetura Moderna. In:
XII
CIVITA, Victor (org). Arte no Brasil. São Paulo: Abril Cultural e Industrial, 1982, pp.
254/255.
71. Ilustração do Ministério da Educação e Saúde no livro de Segawa. Fonte: SEGAWA, 250
Hugo. Arquiteturas no Brasil 1900-1990. São Paulo: EDUSP, 1997, p. 92.
72. Lúcio Costa à frente do Ministério da Educação e Saúde no livro de Segawa. Fonte: 251
SEGAWA, Hugo. Arquiteturas no Brasil 1900-1990. São Paulo: EDUSP, 1997, p. 93.
73. Álvaro Vital Brazil à frente do Edifício Esther no livro de Segawa. Fonte: SEGAWA, Hugo. 251
Arquiteturas no Brasil 1900-1990. São Paulo: EDUSP, 1997, p. 86.
74. Recorte publicitário de 1928 que ilustra o livro de Segawa. Fonte: SEGAWA, Hugo. 251
Arquiteturas no Brasil 1900-1990. São Paulo: EDUSP, 1997, p. 22.
75. Página com desenhos ilustrativos do livro de Segawa. Fonte: SEGAWA, Hugo. 252
Arquiteturas no Brasil 1900-1990. São Paulo: EDUSP, 1997, p. 99.
76. Estação Mairinque, um marco do pioneirismo da arquitetura em concreto armado no 257
Brasil construída entre 1905 -1908. Fonte: BICCA, Briane Elisabeth Panitz e BICCA,
Paulo Renato Silveira (orgs.). Arquitetura na formação do Brasil. Brasília: Unesco,
IPHAN/Programa Monumenta, 2007, p.317.
77. Foto de página inteira do Ministério da Educação e Saúde no Rio de Janeiro. Fonte: 258
BICCA, Briane Elisabeth Panitz e BICCA, Paulo Renato Silveira (orgs.). Arquitetura na
formação do Brasil. Brasília: Unesco, IPHAN/Programa Monumenta, 2007, p.328
78. Capa do livro “Arquitetura na formação do Brasil”. Montagem com fotos de Marcel 259
Gautherot. Fonte: BICCA, Briane Elisabeth Panitz e BICCA, Paulo Renato Silveira (orgs.).
Arquitetura na formação do Brasil. Brasília: Unesco, IPHAN/Programa Monumenta,
2007, capa
79. Páginas dedicadas a apresentar o Ministério da Educação e Saúde em tratamento 264
destacado na narrativa de Comas. Fonte: MONTEZUMA, Roberto (org.). Arquitetura
Brasil 500 anos. Recife: UFPE, 2002, pp. 190/191.
80. Imagens da ABI, em tratamento bem menos destacado que àquele dado ao Ministério da 265
Educação e Saúde. Fonte: MONTEZUMA, Roberto (org.). Arquitetura Brasil 500 anos.
Recife: UFPE, 2002, p. 193
81. Páginas dedicadas a apresentar o Cassino da Pampulha em tratamento destacado na 265
narrativa de Comas. Fonte: MONTEZUMA, Roberto (org.). Arquitetura Brasil 500 anos.
Recife: UFPE, 2002, pp. 204/205
82. Página dupla com a foto da Igreja de São Francisco na Pampulha. Destaque na narrativa 266
de Comas. Fonte: MONTEZUMA, Roberto (org.). Arquitetura Brasil 500 anos. Recife:
UFPE, 2002, pp. 210/211.
83. A foto do centro do Rio de Janeiro mostra a Biblioteca Nacional, a Sede da ABI e 267
soberano, como um navio navegando em direção certeira, o Ministério da Educação e
Saúde. Fonte: MONTEZUMA, Roberto (org.). Arquitetura Brasil 500 anos. Recife:
UFPE, 2002, pp. 194
84. Fotografia de abertura do texto de Carlos Martins mostra Lina Bo Bardi na escada de 273
acesso a sua casa de vidro em São Paulo. Fonte: SCHWARTZ, Jorge (org.). Da
Antropologia a Brasília: Brasil 1920-1950. São Paulo: Cosac & Naify, 2002, p. 371.
85. Primeira página da parte de ilustrações da narrativa de Carlos Martins apresentando a 275
obra de Warchavchik. Fonte: SCHWARTZ, Jorge (org.). Da Antropologia a Brasília:
Brasil 1920-1950. São Paulo: Cosac & Naify, 2002, pp. 384/385.
86. Página que apresenta o Ministério da Educação e Saúde. Edifício que nessa narrativa 276
teve o maior número de fotografias. Fonte: SCHWARTZ, Jorge (org.). Da Antropologia a
Brasília: Brasil 1920-1950. São Paulo: Cosac & Naify, 2002, pp. 402/403.
87. Página que apresenta Obras de Oscar Niemeyer. Arquiteto que nessa narrativa teve o 276
maior número de obras apresentadas. Fonte: SCHWARTZ, Jorge (org.). Da
Antropologia a Brasília: Brasil 1920-1950. São Paulo: Cosac & Naify, 2002, pp.
414/415.
88. Ilustração do livro de Cavalcanti que mostra um jovem numa passeata com bandeira com 281
a foto de Getúlio Vargas no Bolso Fonte: CAVALCANTI, Lauro. Moderno e brasileiro: a
história de uma nova linguagem na arquitetura, 1930-1960. Rio de Janeiro: Jorge
Zahar, 2006, p.22.
89. Capanema e Vargas na apresentação dos planos para a cidade universitária no livro de 282
Cavalcanti. Fonte: CAVALCANTI, Lauro. Moderno e brasileiro: a história de uma nova
linguagem na arquitetura, 1930-1960. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2006, p.11.
90. Cerimônia de lançamento da pedra fundamental do MÊS com Capanema cercado pelos 282
modernistas. Fonte: CAVALCANTI, Lauro. Moderno e brasileiro: a história de uma
nova linguagem na arquitetura, 1930-1960. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2006, p.54.
91. Página ilustrativa do livro de Cavalcanti que mostra os focos separados de seu interesse 283
sem intermediações. Fonte: CAVALCANTI, Lauro. Moderno e brasileiro: a história de
uma nova linguagem na arquitetura, 1930-1960. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2006,
p.59.
92. Imagem que abre o item sobre o Ministério da Educação no livro de Cavalcanti. Fonte: 284
XIII
CAVALCANTI, Lauro. Moderno e brasileiro: a história de uma nova linguagem na
arquitetura, 1930-1960. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2006, p.32.
93. Primeira imagem da introdução do livro de Cavalcanti, que mostra Agache apresentado 284
seu plano para o Rio. Fonte: CAVALCANTI, Lauro. Moderno e brasileiro: a história de
uma nova linguagem na arquitetura, 1930-1960. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2006,
p.8.
94. Capa da Revista A CASA em agosto de 1936, momento em que Le Corbusier estava 292
pela segunda vez no Brasil. Fonte: A CASA, n. 147 ago., capa, 1936.
95. Capa da Revista ARQUITETURA E URBANISMO em agosto de 1936, momento em que 292
Le Corbusier estava pela segunda vez no Brasil. Fonte: A CASA, n. 2, jul./ ago., capa,
1936.
96. Capa da primeira edição da Revista A CASA. Fonte: A CASA, setembro, n.1, 1923. 294
97. Projeto de residência apresentado no primeiro número da Revista A CASA. Fonte: A 295
CASA, setembro, n.1, s/p,1923.
98. Projeto de hall apresentado no primeiro número da Revista A CASA. Fonte: A CASA, 295
setembro, 1923, n.1, s/p.
99. Pergolado publicado no segundo número da revista A CASA. Fonte: A CASA, novembro, 297
1923, n.2, s/p.
100. Capa de maio de 1932 da Revista “A CASA”, com o Teatro Carlos Gomes no Rio de 301
Janeiro. Fonte: A CASA, n.96, capa, mai., 1932.
101. Capa de setembro de 1926 da Revista A CASA. Fonte: A CASA , n.29, capa, set., 1926. 302
102. Capa de outubro de 1928 da Revista A CASA. Fonte: A CASA, n.54, capa, out.,1928. 302
103. Capa de março de 1929 da Revista A CASA. Fonte: A CASA, n.59, capa, mar., 1929. 302
104. Capa de fevereiro de 1929 da Revista A CASA. Fonte: A CASA, n.58, capa, fev., 1929. 303
105. Primeiro projeto em “estylo moderno” publicada em A CASA de J. Cordeiro Azeredo. 304
Fonte: A CASA, n.19, p. 14, nov.,1925.
106. Capa de junho de 1932 da Revista A CASA. Fonte: A CASA, n.97, capa, jun.,1932. 306
107. Capa de janeiro de 1933 da Revista A CASA. Fonte: A CASA, n.104, capa, jan., 1933. 306
108. Capa de fevereiro de 1936 da Revista A CASA. Fonte: A CASA, 1936, n.141. 306
109. Capa de setembro de 1936 da Revista A CASA. Fonte: A CASA, n.148, capa, set., 1936. 307
110. Capa de março/ abril de 1939 da Revista A CASA. Fonte: A CASA, n.178/179, capa, 307
mar./abril, 1939.
111. Capa de junho de 1943 da Revista A CASA. Fonte: A CASA, n.229, capa, jun., 1939. 308
112. Capa de setembro/ outubro de 1945 da Revista A CASA. Fonte: A CASA, n.246-247, 309
capa set./out., 1939.
113. Capa de julho / agosto de 1939 da Revista ARQUITETURA E URBANISMO. Fonte: 316
ARQUITETURA E URBANISMO, n.4, capa, jun./ ago., 1939.
114. Capa de setembro / outubro de 1939 da Revista ARQUITETURA E URBANISMO. Fonte: 316
ARQUITETURA E URBANISMO, n.5, capa, set./out., 1939.
115. Capa do primeiro número da Revista ARQUITETURA E URBANISMO. Fonte: 320
ARQUITETURA E URBANISMO, n.1, maio/ junho, capa, 1936.
116. Capa do último número da Revista ARQUITETURA E URBANISMO. Fonte: 320
ARQUITETURA E URBANISMO, n.2, março/abril, capa, 1942.
117. Capa de maio/ junho de 1939 da Revista ARQUITETURA E URBANISMO. Fonte: 322
ARQUITETURA E URBANISMO, n.3, capa, mai./jun., 1939.
118. "Um Bungalow moderno”, J. Cordeiro de Azeredo. Fonte: Revista A Casa, n. 7, p. 12, 325
nov.,1924,
119. “Residência de um arquiteto”. Ruderico Pimentel e Cia. Fonte: Revista A CASA, n. 188, 325
p. 12 e 13, jan. 1940.
120. Concurso “A CASA IDEAL”, perspectiva 1º lugar. Fonte: Revista A CASA, n. 124, p. 14, 327
set.,1934.
121. Concurso “A CASA IDEAL”, projeto 1º lugar. Fonte: Revista A CASA, n. 124, p. 15, 327
set.,1934.
122. Imagem que evidencia a estrutura do concreto armado na construção de um edifício no 332
Japão no artigo “As vantagens do concreto armado”. Fonte: A CASA, n. 8, p. 06, dez,
1924.
123. Páginas de ilustração do artigo “Os grandes edifícios do Rio e de São Paulo” com o 335
Cinema Odeon e o Cinema Império. Fonte: A CASA, n. 37, pp. 10 -11, maio, 1927.
124. Páginas de ilustração do artigo “Os grandes edifícios do Rio e de São Paulo” com dois 335
ângulos do Edifício Brasil. Fonte: A CASA, n. 37, pp. 12 -13, maio,1927.
125. Pavilhões da Feira de Paris 1925 que ilustram o artigo “A Arte Moderna”. Fonte: Revista 337
A CASA, n. 39, p. 14-15, jul., 1927.
126. Perspectiva da casa apresentada como “modernista” no artigo “A Casa Moderna”. Fonte: 341
Revista A CASA n. 63, p. 14, jul., 1929.
127. Desenho do Elevador Lacerda que ilustra o artigo “O Elevador da Bahia”. Fonte: Revista 342
A CASA, n. 62, p. 19, jun., 1929.
128. Desenho ilustrativo de J. Cordeiro de Azeredo para o artigo “Arquitetura Moderna”. 346
XIV
Fonte: Revista A CASA, n. 82, p. 07, mar., 1931.
129. Desenho ilustrativo de J. Cordeiro de Azeredo para o artigo “Arquitetura Moderna”. 346
Fonte: Revista A CASA, n. 82, p. 08, mar., 1931.
130. Primeira página do artigo “A Arte Moderna” de Alexander Altberg. Fonte: Revista A 348
CASA, n. 39, p.27, fev., 1932.
131. Desenhos de Gerson Pinheiro ilustrando suas argumentações. Fonte: ARQUITETURA E 355
URBANISMO, n. 04, p. 175, jul./ago., 1937.
132. Desenhos de Gerson Pinheiro ilustrando suas argumentações. Fonte: ARQUITETURA E 356
URBANISMO, n. 04, p. 174, jul./ago., 1937.
133. Croquis de Gerson Pinheiro ilustrando suas argumentações. O edifício moderno a que se 361
refere é a Sede do Ministério da Educação e Saúde. Fonte: ARQUITETURA E
URBANISMO, n. 05, p. 635, set./out, 1939.
134. Capa da Revista “A CASA”, março e abril de 1933. Fonte: Revista “A CASA”, n. 106-107, 375
capa, mar,/abr., 1933.
135. Bangalô moderno. Projeto de J. Cordeiro de Azeredo. Fonte: Revista “A CASA”, n. 07, p. 380
15, nov., 1924.
136. Residência. Projeto de J. Cordeiro de Azeredo. Fonte: Revista “A CASA”, n. 90, p. 18, 381
nov., 1931.
137. Residência. Projeto de J. Cordeiro de Azeredo. Fonte: Revista “A CASA”, n. 106/107, p. 382
25, mar/abr, 1933.
138. Residência. Projeto de J. A. Fontes Ferreira. Fonte: Revista “A CASA”, n. 134, pp. 16-17, 383
jul., 1935.
139. Residência. Projeto sem identificação. Fonte: Revista “A CASA”, n. 134, p. 24, jul., 1935. 384
140. Residência. Projeto sem identificação. Fonte: Revista “A CASA”, n. 134, p. 25, jul., 1935. 384
141. Residência Assioly Neto. Projeto de Gerson Pinheiro e Affonso Reidy. Fonte: Revista 385
“ARQUITETURA E URBANISMO”, n.01, p. 25, jan./fev., 1937.
142. “Casas com terraço”. Artigo e projetos de J. Cordeiro de Azeredo. Fonte: Revista “A 388
CASA”, n. 25, p. 27, mai., 1926.
143. “Casas com terraço”. Artigo e projetos de J. Cordeiro de Azeredo. Fonte: Revista “A 388
CASA”, n. 25, p.28, mai., 1926.
144. Projeto residencial. Fonte: “A CASA”, n.21, p. 9, jan., 1926. 389
145. Projeto residencial de J. Cordeiro de Azeredo. Fonte: “A CASA”, n.35, p.28-29, mar, 389
1927.
146. Projeto de conjunto residencial de Moacyr Fraga. Fonte: “A CASA”, n.49, p. 34, mai., 390
1928.
147. Residência moderna. Ângelo Bruhns. Fonte: Revista “A CASA”, n.85, pp. 14-15, jun., 391
1931.
148. Residência moderna com telhado cerâmico. Ângelo Bruhns. Fonte: Revista “A CASA”, n. 392
86, p. 12-13, jul., 1931.
149. Casa de Campo. Arquiteto Paulo Antunes Ribeiro. Fonte: Revista “ARQUITETURA E 392
URBANISMO”, n. 05, p. 250, set/out, 1937.
150. Casa de Campo. Arquiteto Roberto Magno de Carvalho. Fonte: Revista “ARQUITETURA 393
E URBANISMO”, n. 04, p. 187, jul./ago., 1937.
151. Esboço de residência. Arquiteto Ângelo Murgel. Fonte: Revista “ARQUITETURA E 394
URBANISMO”, n. 06, pp. 316-317, nov./dez., 1938.
152. Residência. Arquiteto Gerson Pompeu Pinheiro. Fonte: Revista “ARQUITETURA E 394
URBANISMO”, n. 06, pp. 314-315, nov./dez., 1937.
153. Residência. Arquiteto Ângelo Bruhns. Fonte: Revista “A CASA”, n. 223, p. 10, dez, 1942. 395
154. Residência. Arquiteto Ângelo Bruhns. Fonte: Revista “A CASA”, n. 223, p.11, dez, 1942. 395
155. Residência. Arquiteto Ângelo Bruhns. Fonte: Revista “A CASA”, n. 223, p.12, dez, 1942. 395
156. Projeto Residencial denominado “Arte Nova”. Arquiteto J. Freitas Pereira. Fonte: Revista 396
“A CASA”, n. 38, p.12, jun., 1927.
157. Edifício moderno. Arquiteto Joaquim Gomes dos Santos. Fonte: Revista “A CASA”, n. 90, 397
capa, nov., 1931.
158. Fachada e plantas. Edifício moderno. Arquiteto Joaquim Gomes dos Santos. Fonte: 398
Revista “A CASA”, n. 90, p.19-21, nov., 1931.
159. Projeto de Anibal de Melo Pinto. Fonte: Revista “A CASA”, n. 88, set, 1931. 399
160. Projetos modernos. Fonte: Revista “A CASA”, n. 91, p. 10-11, dez, 1931. 400
161. Projeto de Dacy Roza. Fonte: Revista “A CASA”, n. 92, p. 10, jan., 1932. 400
162. Projeto de Dacy Roza. Fonte: Revista “A CASA”, n. 93, p.21, fev., 1932. 400
163. Projeto moderno. Fonte: Revista “A CASA”, n. 93, p. 16-17, fev., 1932. 401
164. Projeto moderno. Fonte: Revista “A CASA”, n. 97,p10-11, jun., 1932. 401
165. Projeto moderno “A máquina de morar”. Fonte: Revista “A CASA”, n. 32, p. 8-9, jun., 402
1932.
166. Detalhes da cobertura e da entrada da residência J. F. Penteado em Campinas. Fonte: 403
Revista “A ARQUITETURA E URBANISMO”, n. 02, p. 92, mar/abr., 1937.
167. Residência J. F. Penteado em Campinas. Fonte: Revista “A ARQUITETURA E 403
XV
URBANISMO”, n. 02, p. 90-91, mar/abr., 1937.
168. Interior de uma residência moderna. Fonte: Revista “A CASA”, n. 152, p. 15, jan., 1937. 404
169. Residência moderna. Fonte: Revista “A CASA”, n. 152, p. 12-13, jan., 1937. 404
170. Residência Dr. A. Neiva. Arquitetos Marcelo Roberto e Milton Roberto Fonte: Revista “A 405
ARQUITETURA E URBANISMO”, n. 01, p. 23, jan./fev., 1938.
171. Residência Dr. A. Neiva. Arquitetos Marcelo Roberto e Milton Roberto Fonte: Revista “A 406
ARQUITETURA E URBANISMO”, n. 01,p. 24-25, jan./fev., 1938.
172. Residência Dr. A. Neiva. Arquitetos Marcelo Roberto e Milton Roberto Fonte: Revista “A 406
ARQUITETURA E URBANISMO”, n. 01, p. 26-27, jan./fev., 1938.
173. Residência Oswald de Andrade. Arquiteto Oscar Niemeyer. Fonte: Arquitetura e 407
Urbanismo, n. 03, p. 503, mai./jun., 1939.
174. Residência Oswald de Andrade de Oscar Niemeyer. Fonte: Arquitetura e Urbanismo, n. 408
03, p.502, mai./jun., 1939.
175. Residência Moderna em meio de pagina como propaganda de construtora evidenciando 410
o sucesso dessa linguagem. Fonte: Revista “A CASA”, n. 219 – 220, p. 20-21, ago./set.,
1942.
176. Montagem da autora com capas da revista A CASA. 447
177. Montagem da autora com capas da revista ARQUITETURA E URBANISMO. Ao centro 448
obras de Lúcio Costa, a primeira é uma casa neocolonial que é publicada em 1938 e a
outra é o Ministério da Educação e Saúde publicado em 1939.
XVI
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO 01
XVII
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
1. INTRODUÇÃO
O Brasil é um país que vive para fora, e é precisamente no campo das
experimentações artísticas que isso se torna evidente. Já escrevi, várias
vezes, sobre esse tipo de delírio que faz com que toda pintura brasileira de
prestígio – a pintura moderna em suas várias manifestações – tenha por
objetivo ganhar prêmios no exterior e conseguir lá fora qualquer tipo de
distinção que a imponha a nós mesmos. No caso da pintura, esses ‘nós
mesmos’ são alguns poucos artistas, críticos, amadores, colecionadores e
donos de galerias. Não é muito diferente no campo da arquitetura.
inegável. Fato facilmente comprovado não só pelo significativo número, até então
que com propósitos e espaços bem diferenciados destinados a elas, em vários livros
realizações e matizes que configuram até hoje grande parte das cidades brasileiras.
1
A exemplo de GIEDION, Sigfried. Espacio, Tiempo y Arquitectura. Madrid: Dossat, 1980 (primeira edição em inglês – 1941,
o Brasil é incluído em citações rápidas na introdução acrescentada pelo autor na quarta edição na década de 60 , publicado em
português - 2004); ZEVI, Bruno. Storia dell’architettura moderna. Torino: Giulio Einaudi, 2004 (primeira edição em italiano -
1950, publicado em português - 1970); DORFLES, Gillo. L’architettura moderna. Milano: Aldo Garzanti, 1956 (primeira edição
em italiano - 1954, publicado em português - 1986); BENEVOLO, Leonardo. História da arquitetura moderna. São Paulo:
Perspectiva, 1989 (primeira edição em italiano - 1960, publicado em português - 1976). JOEDICKE, Jürgen. 1930-1960: trinta
anos de arquitetura. Belo Horizonte: EAUMG, 1962 (primeira publicação em alemão – 1961, publicado em português – 1962).
JENCKS, Charles. Movimentos Modernos em Arquitetura. Lisboa: Edições 70, 1987 (primeira edição em inglês - 1973, cita o
Brasil rapidamente no bojo das discussões do ultimo capítulo sobre a cena internacional, publicado em português - 1985);
FRAMPTON, Kenneth. História crítica da Arquitetura Moderna. São Paulo: Martins Fontes, 1997 (primeira edição em inglês
– 1980, publicado em português - 1997).
1
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
construiu uma massa gigantesca de obras sob sua tutela que nenhuma nação
1960) um “ciclo de ouro” de nossa arquitetura parece ter se dado com uma força
expressiva ímpar capaz de reposicionar o país no campo das belas artes, cujo
futebol.
2
O termo trama nessa tese é usado no sentido de construção narrativa, o tecido da história como define Paul Veyne, “uma
mistura muito humana e muito pouco ‘científica’ de causas materiais, de fins e de acasos; de um corte de vida que o historiad or
tomou, segundo sua conveniência, em que os fatos têm seus laços objetivos e sua importância relativa” (VEYNE, 1995, p.2 8)
2
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
Urbanismo: construir uma arquitetura, construir um país” (2002), bem como uma
série generosa de artigos reunidos nos anais dos seminários nacionais e regionais
do DOCOMOMO3 a partir de meados dos anos 90, a versão traçada por Lúcio Costa
tempo.
arquiteto ao afirmar que nem seu manifesto, nem suas obras foram capazes de
3
O primeiro seminário da organização não – governamental internacional para a Documentação e Conservação do Movimento
Moderno no Brasil – DOCOMOMO – foi realizado em 1995 na cidade de Salvador pela Pós-Graduação em Arquitetura e
Urbanismo da UFBA. A partir de então já foram realizados mais de vinte eventos ligados a essa instituição no país de
diferentes alcances que vão do internacional em Brasília em 2000 aos vários regionais, passando por nove versões nacionais
até a finalização dessa tese.
4
Título da carta de Lúcio Costa dirigida a Le Corbusier em 1946 que noticia a finalização do edifício do Ministério da Educação
e Saúde.
5
Lúcio Costa se refere aí especificamente ao arquiteto Oscar Niemeyer.
3
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
segundo ele, “não teria ultrapassado o padrão da estrangeira, nem despertado tão
unânime louvor” (COSTA, 1962, p.124). Já ficam desde então estabelecidos não só
moderna brasileira, que permanece ainda hoje como referência fundamental sobre o
assunto.
Essa tensão e concentração no eixo Rio / São Paulo focados nas figuras
supracitadas permanece até hoje como versão canônica e a nosso ver bastante
construtiva de feição moderna em quase todo o território nacional e que nos anos do
6
Título do terceiro capítulo do Livro de Yves Bruand que disserta sobre a nova arquitetura brasileira e tem seu início no
episódio do Ministério da Educação e Saúde.
4
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
arquitetura brasileira, não só, mas principalmente a moderna é essa baliza do corte
estrangeiro e na maioria dos casos de viés eurocêntrico que a crítica nacional não só
endossou como também perpetuou. Mesmo nos casos de conflito, como nas
ideário moderno, buscava-se sempre outro nome forasteiro que vislumbrasse aqui
qualidades louváveis dessas mesmas obras. Marcada pela lente estrangeira desde a
homônima “Brazil Builds: architecture new and old 1652 – 1942” (1943) de Philip L.
campo que permitiu essa ampla e memorável produção. Bem como pontuar seus
limites sob um foco nacional, que mesmo ciente da imbricada e inseparável conexão
5
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
contato direto; a tentativa de reformulação da Escola de Belas Artes por Lúcio Costa
sucesso abre o embate e desperta o interesse da geração que logo daria novas
Ministério da Educação e Saúde Pública de 1936 a 1947 que instaura num único
Segundo Costa:
7
O receituário corbusiano se refere ao particular modo de proposição da nova arquitetura defendido e propalado pelo arquiteto
franco-suíço Le Corbusier vinculado ao uso de formas puras, do concreto armado e da estrutura livre que em última instância
recai nos cinco pontos da arquitetura moderna segundo tal arquiteto, a saber: pilotis, planta livre, fachada livre, janela em fita e
teto jardim. No urbanismo a liberação do solo, setorização das funções e fluidez do espaço. Vide LE CORBUSIER. Por uma
arquitetura. São Paulo: Perspectiva, 1973 e LE CORBUSIER. Urbanismo. São Paulo: Martins Fontes, 2000.
6
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
ele está falando é dele, a “arquitetura brasileira” é a arquitetura dele, do que ele
fez, do que faz, porque é um fato, uma realidade, ele está dizendo a verdade de
uma forma como se fosse modesta: “nós, a arquitetura brasileira.” (1979, p.16).
francês Germain Bazin que ali identifica a presença de um “estilo brasileiro” calcado
desejo não arrefecidos “pelos hábitos do bom senso e da razão” (apud FABRIS,
2000, p.195) que remeteria ao “gênio barroco, que foi o gênio autóctone da arte
brasileira (...) [como uma] reviviscência magnífica” (BAZIN apud FABRIS, 2000,
p.195). A nosso ver o pensamento de Costa, sem desmerecer seu importante papel
8 o
Ver O Aleijadinho e a arquitetura tradicional trabalho publicado em 1929, n especial sobre Minas Gerais em “O Jornal”.
7
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
limites desse período. Em primeira instância buscar uma crítica que tanto se afaste
da lente modernista, cujo principal expoente foi sem dúvida Lúcio Costa, como
também das análises filtradas pelo olhar estrangeiro, que tanto marcou o
moldado pelo foco eurocêntrico9 talvez possa nos revelar singularidades em nossa
produção, como por outro lado apontar os limites dessas formas expressivas aqui
mas também para reconhecermos a nós mesmo, bem como para buscarmos
subsídios para intervir. Ao concordarmos com essa afirmação abrimos uma grande
moderna no Brasil e temos então muito ainda que revisitá-la, já que boa parte dos
entendimentos que temos sobre esse momento de nossa história se deu bem mais
pela leitura do outro sobre nós mesmos do que pelo nosso próprio reconhecimento.
9
Essa lente eurocêntrica (talvez lente seja o termo mais adequado para o que pontuo aqui) revela-se nessa insistente
caracterização da cultura brasileira, e em especial no caso em questão da arquitetura moderna, ser necessariamente uma
derivação deturpada, uma distorção, para o bem (vista como exótica) ou para o mal (vista como formalismo gratuito), dos
acontecimentos europeus.
8
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
saudosismo por um passado glorioso, parece turvar até hoje a ação crítica nacional
no campo de nossa arquitetura. Por outro lado ainda hoje podemos observar os
brasileiros. Esse tema ainda que pouco abordado nas discussões teóricas e
paulista Márcio Kogan, dentro tantos outros. O livro “Ainda Modernos? Arquitetura
Por volta dos anos 90 já podemos ver um esforço dos pesquisadores da área
Brasília. Nosso recorte temporal propõe um recuo temporal e uma reavaliação sobre
desse momento que ainda parece envolto numa espécie de bruma santa, numa
10
Podem-se citar os exemplos de MARTINS, Carlos Alberto Ferreira. Arquitetura e Estado no Brasil. Elementos para uma
análise da constituição do discurso moderno no Brasil. A obra de Lúcio Costa 1924-52. São Paulo: dissertação de
mestrado em História Social USP, 1988; e COMAS, Carlos Eduardo. Precisões brasileiras: arquitetura moderna 1936-45.
Paris: tese de doutorado em Projet Architectural et Urbain - Universite de Paris VIII, 2002.
9
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
entre acadêmicos e modernos pôde sugerir na luta pela hegemonia de uma vertente
Brasil na historiografia moderna” de 2001, cujo recorte temporal vai de 1936 a 1955
noticiado no exterior.
terras brasileiras como defendem Yves Bruand (1981) e seus seguidores, à escassa
forçava os críticos europeus a voltarem seus olhares para países periféricos como o
que vão de raríssimas referências na virada dos anos 40, com um número razoável
de citações na década de 50 que volta a decair nos anos 60. A leitura que cada
para país de origem, mas também das diferentes publicações de um mesmo país.
10
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
como uma extensão de suas criações, numa visão colonialista aponta e valora essas
especial das ideias de Le Corbusier no caso do Brasil, mas como uma extensão
parecem reconhecer aqui. Esse novo contorno que a nova arquitetura ganha em
terras brasileiras parece ao mesmo tempo fascinar e ser motivo de reserva quanto
aos desdobramentos desse movimento aqui. Essa produção então é entendida para
europeus e nunca como uma criação genuína capaz de uma expressão própria de
uma cultura que interage com a “vontade da arte” de seu tempo. Essa visão
eurocêntrica revela a base primeira das leituras italianas, nas quais, a meu ver, se
Não cabe aqui desenvolver uma possível explanação dos motivos para a
tempo mistura e mistério para o europeu. Ele não é absolutamente selvagem, nem
11
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
ou não, que a maioria dos estudos que tratam essa questão deixa transparecer,
talvez por não explicitarem o contexto geral: o Brasil foi apenas mais um dos tantos
países em que, para além dos limites geográficos da Europa Central, a arquitetura
nas revistas francesas, inglesas e italianas, assim como também números inteiros
compreender não como éramos vistos, pois já existem consistentes trabalhos com
esse enfoque supracitados, mas o que víamos sobre os estrangeiros e sobre nós
mesmos, o que e como as formas e ideários modernos eram bem mais que
que temos a nosso dispor neste início de século XXI, num cenário onde a troca e
Até bem pouco tempo acontecia um fato estranho entre nós: para conhecermos
mais detalhadamente nossa própria arquitetura contemporânea precisávamos
adquirir revistas estrangeiras. Não havia no Brasil uma publicação periódica que
revelasse o árduo e contínuo trabalho que vinham realizando os arquitetos
brasileiros.
(...)
ANTE-PROJETO vai vencendo. Cresceu e evoluiu. Hoje é um ponto de contato,
um traço de união de tôda uma geração de arquitetos brasileiros – justamente
essa geração que está criando nossa arquitetura contemporânea e possibilitando
ao Brasil apresentar-se ao mundo com algo mais valioso que “sacas de café” e a
“arte exótica” de dançarinas baianas ao sabor de Hollywood.
Para os estudantes essa revista tem sido o canal de uma arquitetura viva e
vibrante, tem trazido para as pranchetas de estudo aquilo que as escolas ainda
teimam repudiar. (GRAEF et al, 1947, s/p).
mesmo as portas dos anos 50, momento de exuberância para arquitetura modernista
11
Esse livro foi organizado por Edgar Graeff, Marcos Jaimovich, José Duval, Nestor Lindenberg e Slioma Selter, a época
editores da revista ANTE-PROJETO, periódico do diretório acadêmico da Faculdade Nacional de Arquitetura no Rio de Janeiro
cujo primeiro número foi publicado em 1945.
13
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
do próprio Lúcio Costa sobre seu despertar para a nova arquitetura em uma
título “A exposição da casa modernista”, cerca de cinco meses após a primeira visita
de Le Corbusier ao Brasil cujas palestras na ENBA parecem ter surtido bem menos
efeito que as palavras e imagens contidas na referida revista, para a tão propalada
Eu era totalmente alienado nesta época, mas fiz questão de ir até lá. Cheguei um
pouco atrasado e a sala estava toda tomada. As portas do salão da Escola
estavam cheias de gente e eu o vi falando. Fiquei um pouco depois desisti e fui
embora, inteiramente despreocupado, alheio à premente realidade (COSTA,
1995, p. 144).
Rua Itápolis é apresentada em dupla página com curto mas elogioso texto de Plínio
De Stijl no início dos anos 20. Provavelmente o paisagismo com o uso de plantas
14
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
tropicais bem como o trecho do texto que afirma que “O mobiliário de gosto e
sobriedade, tem peças originaes que realçam bem o talento do autor que soube tirar
Figura 1 - Páginas da Revista “PARA TODOS” com artigo “A Exposição da Casa Modernista” que impressionou decisivamente
Lúcio Costa. Fonte: site J. Carlos em revista, disponível em http://www.jotacarlos.org/revista/index.html acessado em
17/07/2013 às 14:00hs.
12
Ver discussão sobre subjetividade e processo criativo em GUATTARI, Félix & ROLNIK, Suely. Microplolítica: Cartografias
do Desejo. Petrópolis: Ed. Vozes, 1993 e OSTROWER, Fayga. Criatividade e Processo de Criação. Petrópolis: Editora
Vozes, 2004.
15
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
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se deve ao fato de ser esse meio bastante citado entre os profissionais da época
A casa da rua Itápolis (...) está em exposição para mostrar ao grande público,
que até agora só conheceu arquitetura e interiores modernos pelas fitas de
cinema e pelas revistas europeias, uma destas casas realizadas em São Paulo
(apud. LIRA, 2011, p.212/213).
das realizações modernas no Brasil, essa sua afirmação revela de um lado seu
esforço para engrossar o front das formas de disseminação e aceitação dessa nova
arquitetura no país, bem como o papel crucial dos periódicos nessa empreitada 13.
Embora ciente dos limites que a escolha de uma fonte impõe ao resultado de
arquitetos do período abordado das revistas como meio decisivo no fluxo de ideias e
13
Valem ressaltar que para um mapeamento ainda mais aproximado e abrangente do universo em questão são necessárias
outras fontes de pesquisa como anuários, almanaques, revistas de cultura, revistas de variedades, jornais, arquivos, catálogos
de exposições, entre outras que garantam resultados de maior relevância do que aqueles inscritos nessa tese, porém
ultrapassam os limites dessa pesquisa.
16
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arquitetura e áreas afins que circularam no Brasil na primeira metade do século XX;
nesse campo; dois títulos nacionais foram selecionados como objetos centrais de
17
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categoria profissional dos arquitetos, cujo primeiro número foi publicado em maio de
profissional arquiteto, direcionada para a classe com uma circulação mais restrita ao
meio, que apesar de, em certa medida, já ser conhecida pelos pesquisadores
que esse trabalho se propõe; de outro uma revista de linguagem popular e grande
14
Os periódicos nacionais de arquitetura lançados até 1936 foram: “Architectura no Brasil” de 1921 a 1926 com 29 números,
“A Construcção em São Paulo” de 1923 a 1926 com 20 números, “A Casa” de 1923 a 1949 com 304 números,
“Architectura e Construcções” de 1929 a 1932 com 30 números, “Revista de Arquitetura” de 1934 a 1944 com 64
números e “Arquitetura e Urbanismo” de 1936 a 1940 com 30 números segundo artigo intitulado “Revistas de Arquitetura no
Brasil” publicado no número 295/296 de junho de 1963 da Revista Acrópole, cuja primeira edição publicada foi em 1938.
15
Ressalta-se que apesar da informação contida no artigo da Revista Acrópole na nota anterior sobre a Revista “Arquitetura e
Urbanismo”, foram encontrados durante a pesquisa na biblioteca EA-UFMG mais dois anos de publicação deste periódico: a
edição única do ano de 1941 correspondente aos números 1 a 6 daquele ano e os números 1 e 2 de 1942. Considerou -se
então aí o final dessa publicação, informação também contida no Catálogo Coletivo Nacional de Publicações Seriadas – CCN,
coordenado pelo Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia – IBICT.
18
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Builds: architecture new and old 1652 – 1942”, primeiro texto monográfico sobre a
Escola Nacional de Belas Artes por Lúcio Costa em 1930, pela visita de Le Corbusier
16
A formação é entendida aqui em um sentido mais amplo, que extrapola a capacitação institucionalizada das profissões, e se
instaura no campo das buscas, interesses, referências e influências que se mesclam na constituição de subjetividades que
optam por determinada vertente expressiva e criam imbuídos dessa nova sensibilidade.
17
A visita de Le Corbusier em 1929 ao Brasil bem como a estadia de três semanas de Frank Lloyd Wright em 1931 no país,
quando mencionadas, não são relatadas como fatores importantes nos acontecimentos que contribuíram para a formação de
uma cultura moderna arquitetônica brasileira.
19
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
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em 1931 no país não é relatada como fator importante nos acontecimentos que
formação profissional dos arquitetos ainda pendia para uma orientação tradicional,
que aqui aconteceu nos anos 20 e 30 que possibilitou uma ordem de grandeza
Quais as dissonâncias entre o flagrado nas revistas e o registrado nos livros como
história oficial?
20
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
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sobre o que era apontado como moderno e como ele era apresentado nos textos de
Lúcio Costa e nas revistas selecionadas. Busca-se no dissecar dos próprios textos,
e o que no trânsito entre falas e ecos revelou-se como fundamental para o acontecer
das expressões dessa arquitetura no Brasil, para além da trama consolidada pelo
sujeito a outro. Nesse sentido, como bem nos coloca Merleau-Ponty: “o falar e o
p.42).
particulares, ao mesmo tempo em que faz ressonar naquele que compreende essas
“cumplicidade entre a fala e seu eco” (2002,p. 35). Esse artifício de significações tem
disponíveis” e a linguagem falante “aquela operação pela qual um certo arranjo dos
2002,p. 34/35).
21
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
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nas revistas especializadas e em seus ecos na “história oficial” sobre esse momento.
Quem fala? Como fala? O que fala? O que cala? E o que ressoa? Por quê? É tentar
compreender a maneira de construção dos textos que nos revela o sentido que está
As falas são entendidas como meio e modo de expressão dos sujeitos, aquilo
condição de comunicação dela e através dela. Assim a linguagem para nós não se
sujeito falante não se atém apenas às construções da palavra escrita ou dita, mas
(...) chamamos de fala o poder que temos de fazer que certas coisas
convenientemente organizadas (...) sirvam para pôr em relevo, para diferenciar,
para conquistar, para entesourar as significações que vagueiam no horizonte do
mundo sensível, ou ainda o poder de insuflar na opacidade do sensível aquele
vazio que o tornará transparente, mas vazio que, como o ar soprado na garrafa,
22
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
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falante18, aquela que é capaz de retomar a tradição, mas se lança para o futuro
numa forma nova, ao ser difundida e aplicada passa a ser linguagem falada, ou seja
mesmo tempo eco, no ressonar das obras, e fala na construção crítica sobre o que
abertura para linguagem falante. Isto porque através das revistas tanto se dissemina
falada por uma outra falante, na abertura das tantas possibilidades do devir artístico.
Não só na fala como texto escrito, mas também como forma e imagem da forma, os
arquitetura moderna.
se mesmo em sua inovação falante tenha algo do já falado. Assim o ato inovador da
18
Ver discussão em MERLEAU-PONTY, Maurice. A Prosa do Mundo. São Paulo: Cosac & Naify, 2002.
23
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
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ela, não só pela contraposição entre o novo e o antigo, mas na própria condição de
seja do mais desconhecido construtor aos mais celebrados arquitetos. A criação não
modelos como pode parecer em uma primeira impressão. Ela se dá a partir de novos
Tutto questo per chiarire ancora uma volta che uno stile non è soltanto la cosa,
come pretenderebbe un classico, ma è anche l’uomo come affermano i romantici:
il che vuol dire che bisogna essere attenti ad andare con i tempi, i quali
camminano per conto loro. Naturalmente, anche sotto la spinta di quel ragazzo
dell’ascensore Stigler. (Persico, In: Casabella, 1930, n. 32, s/p.).19
19
Tudo isso para deixar claro mais uma vez que um estilo não é somente uma coisa, como reivindica um clássico, mas é
também o homem, como alegam os românticos: o que significa que se deve estar atento e andar junto com os tempos e com
aqueles que caminham por conta própria. Naturalmente sobre o impulso desse menino do elevador Stigler. (Tradução livre da
autora).
24
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
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Figura 2 – Ilustração que acompanha o artigo STILE em agosto. Fonte: Revista CASABELLA, 1930, n. 32, s/p.
Esse papel fica bastante evidente numa outra série de artigos da seção
1931, pp. 43 e 44) esse autor constrói uma narrativa que vai do Renascimento a sua
e vida. A modernidade era colocada por ele como um fluido potentíssimo de energia
seu tempo e que com poder imaginativo de interpretar, deduzir, sintetizar segundo
Exatamente como Lúcio Costa, Mario Tinti colocava a criação artística como
condições que geram um movimento. O modernismo também era visto por ele como
uma farsa, uma falsa originalidade, falsa arte, uma afetação das características
Outro artigo dessa mesma seção e mesmo autor ratifica ainda mais o papel
“ORIENTAZIONI - Unità del Gusto Moderno” (CASABELLA, n.48, 1931, s./ p.) Mario
Tinti faz uma crítica favorável e elogiosa aos bailarinos Clotilde e Alexandre Sakaroff,
26
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
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20
conhecido como “Pantomínia Abstrata” . Para ele esses bailarinos criaram uma
forma própria de dança afinada com a arte decorativa da época, a literatura e todo
panorama do gosto e do estilo do seu tempo. Nessa nova forma de dança o instinto
Renascimento e do Barroco.
fruição de tal estética por ele entendida como própria de seu tempo, também aponta
empreitada:
20
Informação disponível em http://oasis.lib.harvard.edu/oasis/deliver/~hou01561, acessado em 16/03/08 as 12:30 h.
21
Para quem escreve nesta revista, que particularmente trata da exegese do gosto atual, as criações mimicoplasticas dos
Sakaroff são principalmente o testemunho da existência de uma sensibilidade e de uma concepção estética contemporâneas,
como é demonstrado pelo caráter unitário que deles irradiam de todos os seus componentes de arte pura e decoração, que
têm raízes profundas na psicologia do nosso século. (Tradução livre da autora)
27
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
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Figura 3 – Seção “Orientazioni” de CASABELLA em dezembro de 31. Fonte: Revista CASABELLA, 1931, n. 48, s/p.
28
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
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vocabulário formal, cujas interpretações variavam das repetições mais literais, com
referência é apenas impulso para uma obra que supera em muito sua obra
29
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Figura 6 - Pilares em V da Escadaria Monumental do Parque Figura 7 - Pilares em V do edifício projetado por
Henri-Barbusse, Issy-les-Moulineaux. Fonte: Revista Oscar Niemeyer em Berlim para a Interbau
L’ARCHITECTURE D’AUJOURD’HUI, no 4 do ano 8, abril inaugurado em 1957. Fonte:
de 1937. http://revistamdc.files.wordpress.com
22
A utilização de pilares em V de concreto armado é uma solução recorrente de Oscar Niemeyer, que mesmo com certa
variação, já havia sido proposta em 1951 para o Conjunto Califórnia em São Paulo e aplicada em muitas de suas obras nos
anos 50 como é o caso do edifício em Hansaviertel / Alemanha. Vale ressaltar que apoio em estrutura de metal formando V já
havia sido utilizado pelo autor no Cassino da Pampulha para suporte da marquise do acesso principal.
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
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barra retangular, que no caso citado possui oito pavimentos, como composição de
que em seu reverso no plano superior são o dobro daqueles que chegam ao chão.
Assim o piloti passa a ter uma espacialização nova, diversa da linearidade delgada
possa ter sido fonte inspiradora e referência da solução de Niemeyer, não se pode
reduzir uma a outra, nem desqualificar nenhum dos gestos criativos, na interação
31
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
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eu, o outro e o mundo, ela existe porque há o outro e ele não é objeto, é também
espontaneidade que não cabem instruções porque ela arrasta aquele que fala e
aquele que ouve para um universo comum que ultrapassa a significação primeira e
O que é insubstituível na obra de arte (...) é que ela contém, melhor do que
idéias, matrizes de idéias; ela nos fornece emblemas cujo sentido jamais
acabaremos de desenvolver, e, justamente porque se instala e nos instala num
mundo do qual não temos a chave, ela nos ensina a ver e nos faz pensar como
nenhuma obra analítica pode fazê-lo, porque nenhuma análise pode descobrir
num objeto outra coisa senão o que nele pusemos. (MERLEAU-PONTY,
2002:118)
uma linguagem falante, aquela que é capaz de retomar a tradição, mas se lança
32
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
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para o futuro numa forma nova, e ao difundir-se e aplicar-se passa a ser linguagem
linguagem falante que se funda em algum ponto entre o grito do inédito e o eco do já
dito.
33
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
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34
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
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falante intermediado pelos periódicos também se pode verificar que a ideia de que é
sacro pela primeira vez não é exatamente precisa. Mesmo que a combinação de
planta trapezoidal, com uma abóbada que gera tanto a forma externa quanto a
interna conjugada a outros volumes curvos e a uma torre trapezoidal de topo mais
largo que a base, sem dúvida produza uma solução singular de expressão artística
definem a solução espacial interna, como a ideia de um altar configurado por uma
pintura em uma parede plana ao fundo, mesmo que nessa obra a forma interna não
Laforgue coincide interior e exterior em uma única forma abobadada para o edifício
religioso. Publicado neste mesmo número da revista francesa, nessa solução a nave
loggia ao fundo. Essa obra também foi publicada com as mesmas imagens na
35
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
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Figuras 12 e 13 - Exterior e Interior do projeto para a Capela na Bretanha do arquiteto P. Abraham. Fonte:
L’architecture d’aujourd’hui, Boulogne-sur-Seine, n. 07, p. 22, jul. 1938.
Figuras 14 e 15 - Exterior e Interior da Capela da L’École de Foucauld em Rabat, do arquiteto Laforgue. Fonte:
L’architecture d’aujourd’hui, Boulogne-sur-Seine, n. 07, p. 24, jul. 1938.
Figuras 16 e 17 - Exterior e Interior da Igreja de São Francisco na Pampulha (1940-1943), do arquiteto Oscar
Niemeyer. Fonte: http://www.arcoweb.com.br, acesso: 24/11/2010 - 17:30hs
36
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
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condição que ela atingiu no país, é também compreender as falas a seu favor e as
formas dessas falas e como elas se revelaram tão essências para a sua
panorama mais alargado do que era ser moderno a época e como se deu a
como narração no sentido que aponta Antonio Pizza (2000), cuja preocupação não é
e sim interpretar a ação humana que vê o passado como “um efectivo texto, allí
23
“A linguagem exprime tanto pelo que está entre as palavras quanto pelas próprias palavras, tanto pelo que não diz quanto
pelo que diz, assim como o pintor pinta tanto pelo que traça quanto pelos espaços em branco que dispõe ou pelos traços de
pincel que não efetuou” (MERLEAU-PONTY, 2002, p. 67).
24
O termo historiografia nessa tese é utilizado para se referir ao estudo da forma da escrita da história no conjunto de textos
históricos sobre um determinado tema. Vide CARDOSO, Irene: Narrativa e história. In: Revista de Sociologia Tempo Social.
São Paulo: USP, v. 12 n. 2, nov., 2000, pp.3-13. Vale também ressaltar que no âmbito dessa tese considera-se que a escrita
da história é feita tanto pelo texto escrito como pelas imagens na construção da narrativa.
37
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
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brasileira e/ou a tangenciam como fala consagrada que delineia a trama de maior
1951, segue-se depois pela análise do “Brazil Builds: architecture new and old 1652
nova arquitetura no Brasil: 1925 a 1940” por Geraldo Ferraz de 1965, “Arquitetura
autor na coletânea “História Geral das Artes no Brasil” de 1983, “Quatro Séculos de
Yves Bruand de 1981, “Arquitetura Moderna Brasileira” por Sylvia Ficher e Marlene
Acayaba de 1982, “A Arquitetura Moderna” por Ana Maria Jover na coletânea “Arte
38
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
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uma arquitetura, construir um país” por Carlos Alberto Ferreira Martins na Coletânea
de cada um dos dois periódicos analisados, bem como compreender um pouco das
40
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
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mesmo que temporariamente, para alguns termos que muitas vezes são
pelas tangências e sombreamentos com outros afins. É com esse intuito que
modernidade no país.
41
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
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tranquila em direção ao alto, para de repente dar-se uma queda e uma aceleração
súbitas e terminar com um loop que parece dominar todos os sentidos humanos sem
euforia inicial da primeira fase, segundo esse autor é marcada pelo otimismo e
século XVI a meados do século XIX. A segunda então, que coincide com a chegada
ao ponto mais alto corresponde à segunda metade do século XIX e se estende até o
Grande Guerra descortinou um cenário que ninguém jamais previa” (2004:16). Por
Entretanto esse mesmo autor nos alerta que essa síndrome de efeito
desorientador só pode ser controlada pelo discernimento que apenas a crítica pode
impactos das inovações principalmente tecnológicas que nos solapa não só por um
“novidadeira” do capitalismo. Por essa lente se pode entender que esse autor não
entende o momento presente como uma ruptura, mas sim como uma continuidade
42
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
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nosso objeto de estudo. Inicia-se, portanto, por uma das mais complexas e talvez
segue nessa direção. Ao recolocar a razão, não mais como razão instrumental 26,
25
O conceito de razão será motivo de reflexão a seguir, mas para situar a discussão aqui pontuada esse termo refere-se nesse
caso ao entendimento idealista de razão, largamente utilizado pelo iluminismo e seus posteriores desdobramentos nos séculos
XIX e XX, foi delineado por Descartes, desenvolvido por Kant e consolidado por Hegel. Ver ABRÃO, Bernadette Siqueira,
História da Filosofia. São Paulo: Editora Nova Cultural Ltda, 1999.
26
A razão instrumental é a capacidade humana de chegar a conclusões através de premissas ou suposições de um sujeito
isolado que tem como único validador esse próprio sujeito. É aquela que “tornou-se algo inteiramente aproveitado no processo
43
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
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como local das mediações possíveis, o pensador alemão ao mesmo tempo em que
sistemáticas crises.
social. Seu valor operacional, seu papel de domínio dos homens e da natureza tornou-se o único critério para avaliá-la” (Max
Horkheimer, Eclipse da Razão, Ed. Centauro, p. 29).
27
A razão comunicativa, cunhada por Jürgen Habermas, é essa mesma capacidade do pensamento humano, porém cujo
validador é a interação dialógica argumentativa de atores envolvidos em situação determinada.
28
Por moderno, no senso comum, entende-se algo relativo à atualidade, aos tempos atuais, de caráter inovador. A palavra tem
suas origens no latim, na era de Constantino, no século V, quando o Imperador romano adota o cristianismo como religião
oficial do Estado e bane os demais cultos. Instaura-se aí uma ruptura temporal. “Modernus” significava, então, uma
diferenciação temporal entre a época vivida e a passada. A relação entre antigo e moderno entendida como oposição é algo
recente na história da humanidade. Até o século das “Luzes”, esses adjetivos indicavam uma periodização, o sentido destes
termos não indicavam valoração, e sim temporalização. É a partir do século XVI, com a retomada dos cânones clássicos, que o
homem do renascimento divide a história da humanidade em períodos determinados, classificando-os em antigo, medieval e
moderno. Nesse momento tais termos passam a não só indicar tempo, mas podem conter um sentido qualitativo. A primeira
oposição explícita entre antigo e moderno se dá no campo da música, no século XVI (LE GOFF, 1996). Mas é somente no
século XIX que o binômio antigo / moderno, se consolida como contrário, com o aparecimento do conceito de modernidade. O
moderno, então, “assinala a tomada de consciência de uma ruptura com o passado” (LE GOFF, 1996:172). Seu sentido de
inovação é insinuado pela primeira vez pelo teórico Marsílio de Pádua, no século XIV, tido como o precursor da moderna
economia política (LE GOFF,1996), porém somente cinco séculos depois, o termo teria efetivamente ess e significado. O
moderno é, para a atualidade, um adjetivo que designa não só um tempo, mas uma ruptura com algo preexistente através de
algo novo, ainda não existente; carrega em si o sentido de algo dialético, que só existe por ser contrário a outro. Ser moderno
significa ser oposto a algo antigo, não sendo possível a existência de um sem o seu contraponto, necessitando para tal
antagonismo alguma coisa que os diferencie, o que implica na ocorrência necessária de uma transformação, mudança de um
estado para outro diferente, sugerindo dinâmica e movimento. Vide discussão mais desenvolvida em NERY, Juliana Cardoso.
Configurações da Metrópole Moderna: Os Arranha-Céus de Belo Horizonte (1940/1960). Salvador: dissertação de
mestrado PPGAU/UFBA, 2001).
44
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
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para mesmo com acontecimentos diversos poder ser entendido como pares a ponto
paradigmas basilares que identificam uma era? E o que põe fim a ela? Será que o
modernidade para se julgar pertencente à outra era? Ou será talvez, que as rupturas
das correntes “pós-modernas” e suas sucessoras sejam apenas mais uma faceta da
29
Ver discussão em BERMAN, Marshall. Tudo que é sólido desmancha no ar: a aventura da modernidade. São Paulo:
Companhia das Letras, 1986.
45
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
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história da civilização ocidental na Europa nos quais, mesmo com suas nuances e
transformação e para o novo30, mesmo que estas condições tenham sido mantidas
30
A eterna busca de algo novo tornou-se um dos grandes guias dos tempos modernos. “‘Novo’ implica um nascimento, um
começo (...). Mais que uma ruptura com o passado, ‘novo’ significa um esquecimento, uma ausência de passado” (LE GOFF,
1996: 173). Assim esse adjetivo traz, em seu cerne, o germe de sua própria destruição. Não há nada que o legitime a
continuação – qualidade da tradição. Sua única importância, para a sociedade moderna, estaria em seu valor de novidade, um
valor efêmero. No dicionário novo quer dizer: “que tem pouco tempo de existência, recente; que é visto pela primeira vez; que
acaba de ser feito ou adquirido; estranho, desconhecido; origina”. Assim, ao se adjetivar qualquer coisa como nova, naquele
mesmo instante em que acaba de ser feito já se principia seu processo de deixar de sê-lo, dado que uma vez pensado,
fabricado, acabado e/ou visto não é mais inédito, passa a ser conhecido. Inicia-se, portanto seu processo de envelhecimento,
processo dialético sem o qual a noção de novo não existiria. Nada pode ser novo sem que para isso exista o antigo, é uma
adjetivação relacional e comparativa que implica não só numa questão de qualidade, mas indissociavelmente numa questão
temporal, ou melhor, de transcurso de tempo. Não um tempo como simples sucessão de momentos, mas como “um agente
absoluto de mudança” (GUMBRECHT, 1998). Essa função foi agregada ao conceito de tempo no início do século XIX, período
no qual a noção de progresso se torna mais evidente à coletividade, já que o tempo de mudança do mundo, evidenciado nas
transformações das cidades, passa a ser menor que o tempo relativo à vida do homem (BUARQUE, 1990:50). Assim, ao
atrelar a ideia de progresso ao período de sucessão dos momentos, o homem passa a ter uma percepção do tempo como
gerador de modificações. Essa noção do “tempo como um agente absoluto de mudanças dá à inovação o rigor de uma lei
compulsória” (GUMBRECHT, 1998:15). Cria-se uma espiral, cuja geratriz é a procura incessante do novo que logo se torna
obsoleto, e é superado por outro novo e assim sucessivamente. Esse movimento espiral conjugado à condição intrínseca de
destruição de sua própria condição torna o novo evidentemente fugaz. Vide discussão mais desenvolvida em NERY, Juliana
Cardoso. Configurações da Metrópole Moderna: Os Arranha-Céus de Belo Horizonte (1940/1960). Salvador: dissertação
de mestrado PPGAU/UFBA, 2001).
46
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
produção que novas formas de poder se impõem através de uma nova estrutura
obra assalariada; relações sociais basicamente estabelecidas entre uma classe que
social ditada menos pelo ser e mais pelo ter 32; uma condição de transmissão de
31
Ver a discussão em WOOD, Ellen Meiksins. A origem do capitalismo. Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 2001. Segunda a
autora:“(...) a prática capitalista consiste em: a maximização do valor de troca por meio da redução de custos e do aumento da
produtividade, através da especialização, da acumulação e da inovação” (WOOD, 2001:101).
32
O que se pretende pontuar aqui é a diferença na condição de mobilidade social entre uma sociedade cujo sujeito é
classificado por seu nascimento/ descendência e outra na qual essa classificação se dá pela posse dos meios de produção e
ou conhecimento técnico-científico.
33
O sentido de progresso para filósofos gregos, como Xenófanes e Protágoras, referia-se a “um sentimento de
aperfeiçoamento cultural do homem”. Já para os judeus, ele se referia à “ascensão espiritual do homem”. Durante séculos, a
definição se restringiu a estes conceitos, sendo utilizada apenas por grupo seleto de pensadores que buscavam compreender
o mundo e sua lógica (BUARQUE, 1990). Foi o século XIX que trouxe a afirmação e consolidação do progresso como a grande
força motriz do mundo moderno. Contribuem para tal afirmação o triunfo das Revoluções Francesa e Industrial, o aumento do
índice de alfabetização e instrução, o crescimento do liberalismo e da democracia e as melhor ias do conforto, da segurança e
do bem-estar, principalmente (ou quase que exclusivamente) para as elites ocidentais. A ideologia do progresso é consagrada
no pensamento positivista de Augusto Comte, que encontra neste viés filosófico, segundo Le Goff (199 6), sua “expressão mais
acabada”. O termo carrega então o sentido de transformação gradual para algo melhor, melhoramento gradual das condições
econômicas e cultural, mas segundo Cristóvão Buarque: “No sentido usual, o conceito de progresso é uma das mais recentes
idéias da imaginação coletiva dos homens. A idéia não poderia existir antes da revolução industrial e capitalista que ocorreu há
duzentos anos. (...) Entretanto, neste curto período ela se tornou uma idéia tão arraigada na consciência humana, que
dificilmente se consegue imaginar um tempo em que a história era vista de forma não tendencial em direção a um progresso
contínuo, onde o futuro é sinônimo de mais produção” (BUARQUE, 1990:45). Isto porque foi após a II Grande Guerra que mais
uma vez a linha motriz da ideologia do progresso foi redefinida e o fio condutor da medida desse fenômeno deixou de ser a
inovação técnico-científica e passou a ser o crescimento e o desenvolvimento econômico. Para Buarque, o que se entende
atualmente como progresso está estreitamente ligado à crescente produção e tudo passou a ser hierarquizado de acordo com
“o rumo definido pelo progresso”, até mesmo o conceito de cultura, visto que “as idéias do mundo, salvo a idéia de progresso,
passam a ser descartáveis, ou legitimadas em função de sua articulação com a idéia central, a realização do progresso”
(BUARQUE, 1990:50). Vide discussão mais desenvolvida em NERY, Juliana Cardoso. Configurações da Metrópole
Moderna: Os Arranha-Céus de Belo Horizonte (1940/1960). Salvador: dissertação de mestrado PPGAU/UFBA, 2001).
47
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
34
É só nos anos 20 do século XX que Heidegger em “Ser e Tempo” vai recolocar numa corrente de pensamento genuinamente
filosófica a questão da modernidade. É também a partir desse momento que a filosofia, através de uma crítica da ciência,
recupera a sua competência para fazer a diagnose de sua época. Ver discussão em HABERMAS, 1998.
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Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
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ou “tempos modernos” 35 foi o filósofo alemão Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770-
1831). Esse filósofo teria estabelecido os termos basilares da discussão sobre essa
tempo e racionalidade.
consciência de seu tempo, é essa própria consciência que funda tal racionalidade e
constantemente reconfiguradas) por ela. Essa relação então se torna o cerne desse
plasma e carrega o complexo e denso conceito do termo razão, que para Hegel era
realidade.
realidade que mesmo sendo uma totalidade, não é homogênea e tem como modo
primeiro de seus processos a contradição. Por outro lado, para Hegel a apreensão
Essa razão é uma razão progressista que compreende o real “como síntese de
37
Nessa razão reduzida a estabelecer limites para o conhecimento, seu mote deixa de ser a apreensão da essência do real
para se voltar para a “classificação do existente” (COUTINHO, 2010, p. 25) e passa a ser confundida com “regras formais que
manipulam “dados” arbitrariamente extraídos daquela totalidade objetiva.” (COUTINHO, 2010, p. 51). Na positividade
capitalista, o positivismo de Auguste Comte é central no abandono do “exame da gênese dos fenômenos em troca da
descrição de suas leis invariáveis de manifestação” (COUTINHO, 2010, p. 53). Assim foram banidas à irracionalidade toda a
riqueza do pensável e as contribuições da apreensão subjetiva. Em seu avesso as correntes filosóficas que tomaram essa di ta
irracionalidade como forma de apreensão do mundo, ou seja, as filosofias da subjetividade que negaram a potência mediadora
da razão terminaram por “cair no mais profundo pessimismo, numa conformista sensação de impotência” (COUTINHO, 2010,
p. 50) complementando os pensares positivistas na manutenção da soberania burguesa capitalista.
50
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modernos”.
(...) a modernidade não pode e não quer continuar a ir colher em outras épocas
os critérios para sua orientação, ela tem de criar em si própria as normas por que
se rege (HABERMAS, 1998, p 18).
si mesma. Esse novo momento se abre para o futuro e não se orienta mais pelo
passado. Porém essa nova condição não pode ser traduzida por um estrito e
simples abandono do passado pelo presente 38. Ela estabelece uma outra relação,
mais complexa e menos direta com as referências anteriores. Não é mais o passado
que define as normativas do presente, é o presente que orienta a maneira como nos
38
Presente que passa então a expressar o espírito da época (Zeitgeist) e compreende a si mesmo como “renovação contínua”
o que implica em um presente como “uma transição que se consome na consciência da aceleração e na expectativa do que há
de diferente no futuro” (HABERMAS,1998: 17).
51
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dependente dela para se estabelecer como diferente, para tornar possível a ruptura
com o que já foi. O passado é orientado para o futuro e o presente se torna o lugar
francês de uma beleza absoluta, propõe-se uma beleza relativa e condicionada pelo
da Natureza. Por manter até hoje esse sentido de auto compreensão das
escolhido. Não é a solução passada que determina a nova arquitetura, mas a inspira
indiretamente através da leitura que o sujeito autor da obra faz da obra antiga. E é
52
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tangência do uso racional dos elementos construtivos modernos que ela se faz
do presente com o passado que abre espaço para escolha deliberada de referendar
mesmo tempo em que luta pela preservação dessas referências. Mais que valorar o
na proposição do futuro. Por outro lado sua ação preservacionista que busca um
Artístico Nacional (SPHAN – atual IPHAN), o que se preservou derivou bem mais
39
Vide capítulo Arquitetura: 1. “A lição de Roma”. In: LE CORBUSIER, Por uma Arquitetura, São Paulo: Perspectiva, 2002.
40
Ver discussão mais aprofundada em WISNIK, Guilherme. Lúcio Costa. São Paulo: Cosac & Naify, 2001.
53
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dos interesses voltados para a construção de uma nova nação e de um novo homem
nesses termos significa uma estrutura de auto relação42 definida pela liberdade e
41
Ao levar a cabo a tarefa da filosofia de traduzir em pensamentos o seu próprio tempo, segundo Habermas “Hegel descobre o
princípio dos tempos modernos: a subjectividade” (HABERMAS, 1998:27).
42
A estrutura da auto relação refere-se ao sujeito que debruça sobre si mesmo como objeto; numa atitude especulativa.
43
Com exceção do último, no qual estaria locado o limite do projeto da modernidade na crítica desenvolvida por vários autores
de Nietzsche ao próprio Habermas, os demais matem sua capacidade de explicar e caracterizar o mundo atual. O que sustenta
a vigência da modernidade e a defesa do seu projeto inacabado por Habermas, questão já citada. Os acontecimentos que
possibilitaram esse mundo foram: a Reforma Protestante – “o protestantismo proclama a soberania do sujeito que faz valer o
seu próprio discernimento”, o Iluminismo e a Revolução Francesa, consagrados na declaração dos direitos do Homem e o
Código Napoleônico, que garantiram o livre arbítrio.
44
No pensamento hegeliano a alienação significa especificamente o processo que vai da consciência a autoconsciência, ou
seja, o colocar da consciência como objeto de reflexão dela própria.
54
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45
Apesar de essa definição ter sido desenvolvida para o Romantismo, ela cabe para explicar muitos dos vários “ismos”
entendidos como movimentos artísticos modernos, especialmente as vanguardas do final do século XIX e início do XX.
46
Ver discussão sobre o horizonte de expectativa da época moderna em J. Habermas “O discurso filosófico da modernidade”,
1998.
55
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sociedade. Ele se revelou, em certa medida, utópico, visto que a melhoria das
primeiro.
56
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mundo ocidental.
vise estabelecer novos padrões para algo dentro da estrutura da sociedade. Padrões
fatores econômicos.
desenvolvimento.
das inúmeras modificações impostas pelos novos tempos. Ela passa a ser um dos
produtivas e às transformações das relações sociais, mesmo que não tão igualitárias
47
O mercado aqui é entendido como o mecanismo ou mecanismos que regulamentam a lei de oferta e demanda ao
disponibilizar mercadorias e serviços à sociedade. Ver discussão em WOOD, Ellen Meiksins. A origem do capitalismo. Rio de
Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2001.
58
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servia apenas de cenário para uma modernidade truncada, “ocultando uma perigosa
portanto, uma diversidade nas formas com que as cidades responderam e ainda
intervenções urbanas da virada do século XIX para o XX, através dos planos de
centros urbanos do Brasil, ou pelo menos numa parte deles, uma imagem de
48
São paradigmáticos os vários Planos de Melhoramentos elaborados pelo engenheiro sanitarista Saturnino de Brito, com
destaque para os de Recife, Santos e Vitória, o Plano de Melhoramentos para o Rio de Janeiro de Pereira Passos idealizados
entre 1875 e 1876 somente levados a cabo entre 1902 e 1906 durante seu mandato como prefeito da capital e as propostas
para Salvador executadas por J.J. Seabra. Ver LEME, Maria Cristina da Silva. Urbanismo no Brasil 1895 –1965. São
Paulo:Studio Nobel; FAAUSP; FUPAM, 1999.
49
A construção de Belo Horizonte (1893-1897) foi naquele momento a intervenção mais importante dessa natureza realizada
no país. Ver discussão em LIMA, Fábio. Bello Horizonte: Um Passo de Modernidade. Salvador:
MAU/UFBA.1994.Dissertação de Mestrado em Arquitetura e Urbanismo.
59
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nas fachadas dos palacetes ecléticos, como numa vitrine mostrando o avanço dessa
sociedade dos trópicos rumo aos padrões europeus. A busca da construção de uma
uma imensa parcela excluída dos benefícios que a modernidade poderia oferecer.
Meio século depois, o país novamente se depara com uma paisagem quase
inteiramente remodelada de seus maiores centros, fruto mais uma vez do discurso
partir dos anos 30, os paradigmas que balizavam as transformações urbanas irão se
entreposto de distribuição para ser local de produção. O modelo ideal deixa de ser
a servir de guia para as intervenções urbanas. A cidade será vista numa escala mais
50
Ver discussão sobre o surgimento e disseminação da prática do zoneamento urbano em SOMEKH, Nádia. A cidade vertical
e o urbanismo modernizador: São Paulo 1920-1939. São Paulo: Tese de Doutorado em Arquitetura e Urbanismo/ USP,
1994.
60
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
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51
Apesar de historicamente o Brasil ser considerado efetivamente uma oligarquia apenas durante o período da Primeira
República (1898-1930), muito de suas práticas permaneceu enraizada nos procedimentos políticos do país, mesmo após a
Revolução de 1930. Como aponta Monique Cittadino para a Paraíba e estendível em maior ou menor grau para outros
estados: “Até 1946, a estrutura de dominação vigente durante toda a chamada República oligárquica permaneceu inalterada na
Paraíba, mas tendo a revolução de 30 sentido efeito na hegemonia exercida pelos grupos oligárquicos locais” (CITTADINO,
1998, p. 18). A perpetuação dos poderes oligárquicos, mesmo submetidos ao poder central é evidenciado na Constituição de
34 como coloca Francisco Iglesias: “Feita a constituição, Vargas até então governava com os tenentes, recompõe-se com as
oligarquias Paulistas e as demais, iniciando uma carreira notável de êxito político, marcado pela dissimulação e pela habilidade
compondo-se conforme seus interesses e impondo o jogo por fina estratégia nos compromissos que fazem dele talvez o mais
sagaz de todos os chefes de Estado que o Brasil já teve” (IGLESIAS, 1993, p. 235). Ver discussões em IGLESIAS, Francisco.
Trajetória política do Brasil: 1500 – 1964. São Paulo: Companhia de Letras, 1993; e CITTADINO, Monique. Populismo e
Golpe de Estado na Paraíba. João Pessoa: Universitária Idéia, 1998.
61
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abrigar nas primeiras décadas do século XX. Em certa medida, essa variedade é
62
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
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cada vez maior, assim como a proliferação dos autores que buscam compreendê-lo
a ponto de, em alguns momentos, parecer que cada um deles 52 possui uma
recorte feito por cada autor vinculado ao seu tipo de interesse dentro do largo
duração do modernismo que para alguns autores, como Peter Gay (1923), ela giraria
décadas como para Giulio Carlo Argan (1909-1992). Talvez a primeira dificuldade
2000) e James McFarlane (1920-1999), que nos parece bastante pertinente. Estes
moderno que graças a isso ganha, de certa forma, um sentido fixo no tempo cujo
52
Dentre esses autores podemos citar: Clement Gremmberg (1939, 1960 e 1979); Giulio Carlo Argan (1970); Malcolm
Brandbury e James McFarlane (1976); Charles Jencks (1977); Jean-François Lyotard (1979); Nikos Stangos (1988); Fredric
Jameson (1991); Briony Fer (1993); William Everdell (1997); Charles Harrison (1997); Peter Gay (2008).
63
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
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ruptura com algo precedente que ele carrega desde o século XVI exponenciada pela
pretensamente passado e se complica ainda mais quando seu sucessor parte dele
adicionar do sufixo “ismo” ao termo moderno não foi nem parcialmente suficiente
53
Ver discussão em LE GOFF, Jacques. História e Memória. São Paulo: Editora UNICAMP, 1996.
54
O termo também é usado por alguns autores para denominar também predecessores e sucessores do modernismo: proto-
modernismo, pré-modernismo, pós- modernismo, neo-modernismo.
64
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comum manter seu significado primeiro; bem como sua conotação de resistência à
tradição é abandonada e passa a ser ele mesmo a tradição vigente contra a qual
moderno tenha sido utilizado pela primeira vez 56 muito antes do lançamento de seu
57
livro “A linguagem da Arquitetura Pós-Moderna” em 1977 foi esse autor que
55
Mais uma vez os termos utilizados já se mostram inadequados por princípio já que nos é ainda impossível viver efetivamente
num tempo a frente do nosso. Isto porque se o significado de moderno remete a algo atual e necessariamente diferente do
passado, pós-moderno tem necessariamente que ser algo que vem depois do próprio tempo em que se vive e é justamente aí
que se instaura o ponto cego dos defensores da pós-moderno. Por mais que se flexionem as temporalidades ainda vivemos
necessariamente num tempo presente, com as mais diversas expressões que ele possa ter. Dos tantos “pós” na história da
arte e do pensamento ocidental perpassando pelo pós-impressionismo até o pós-estruturalismo o prefixo define um movimento
de ultrapassagem, mas é somente no pós-moderno que cria tal desconcerto. Se a questão da denominação do pós-moderno/
pós-modernismo vem na esteira do entendimento de uma economia pós-industrial como nos coloca Fredric Jameson (1934)
em seu livro “Pós-modernismo: a lógica cultural do capitalismo tardio” (2004), o problema se torna ainda mais complicado e
controverso. Isto porque nesse sentido o “pós” significa a superação do processo de industrialização do mundo ocidental e a
indicação de uma condição totalmente industrializada dos meios de produção, com um sentido não de ruptura e nem mesmo
de redirecionamento, mas sim de completude de uma condição, o que não nos parece ser o significado que o termo pós -
modernismo nos remete.
56
“(...) a idéia de um ‘pós-modernismo’ surgiu pela primeira vez no mundo hispânico, na década de 1930, uma geração antes
do seu aparecimento na Inglaterra e ou nos Estados Unidos. Foi um amigo de Unamuno e Ortega, Frederico de Onís, que
imprimiu o termo postmodernismo. Usou-a para descrever um refluxo conservador dentro do próprio modernismo: a busca de
refúgio contra o seu formidável desafio lírico num perfeccionismo do detalhe e do humor irônico, em surdina, cuja principal
característica foi a nova expressão autêntica que concedeu às mulheres. Onís contrastava esse modelo – de vida curta,
pensava – com sua seqüela, um ultramodernismo que levou os impulsos radicais do modernismo a uma nova intensidade
numa série de vanguardas que criavam então uma ‘poesia rigorosamente contemporânea’ de alcance universal.” ANDERSON
apud Ivo Dantas. Disponível em: http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=13310, acesso em 10/04/2010 às 16:20.
57
Duas entradas são cruciais para esse autor em sua estruturação teórica: a arquitetura como produto (fruto de um sistema
econômico) e a arquitetura como linguagem no sentido semiótico do termo. Assim a visão marxista que prioriza o entendimento
de qualquer realidade a partir das formas de produção, é o horizonte fundamental da crítica de Jencks e a partir do
entendimento de que há uma supraestrutura econômica que define todas as formas de produção, inclusive as culturais,
qualquer forma de expressão sob as égides do capital estaria a serviço de sua reprodução. É assim que esse autor norte-
americano explica a crise da arquitetura que deixa de ser uma produção de pequena escala em aporte de capitais e tamanho
de projetos para ser parte de um sistema terceirizado, impessoal e de grande escala. Nas entrelinhas, defende a submissão da
arte e em particular da arquitetura ao sistema econômico, não reconhecendo, portanto a autonomia de qualquer movimento
cultural. Contraditória a sua base marxista, suas colocações ao criticar a arquitetura moderna nos revelam que para ele o
modernismo foi um momento de resistência ainda possível, de autonomia da arte em relação ao sistema, devido à proximidade
entre autor/usuário/proprietário, não redutíveis unicamente às lógicas do c apital. A outra entrada de Jencks é via semiologia,
sua busca por uma linguagem “comunicante” da arquitetura. É nesse sentido que ele emprega o termo pós -moderno para
classificar aqueles arquitetos que “utilizam conscientemente a arquitetura como linguagem” (1980, p. 06) com a ressalva que a
maioria dos arquitetos estaria vinculada à tradição moderna. Para esse autor a linguagem na arte não significa expressão
65
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
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moderna bem como à extinção de todo o campo da produção cultural dita moderna;
de 1977 ele passa a usá-lo não mais como adjetivo e sim como substantivo, no
57
artística ou poética do artista e sim a relação entre significante/significado e a comunicação que daí se estabelece com o
público em geral. No entanto, sua construção não revela que essa possibilidade de comunicação na arquitetura como em
qualquer outra forma de linguagem é culturalmente construída e modificada no tempo. A inovação da expressão artís tica é
fundamental nesse movimento de ressignificação. Quando critica Mies van der Rohe como o exemplo de um racionalismo
excessivo e equivocado modernista que perverte a semântica tradicional da arquitetura ao dar à sala de caldeiras da MIT a
forma de uma basílica cuja natureza religiosa seria acentuada pelo intercolúnio dos pilares e pelos vidros na parte alta nos
parece equivocado. Em primeiro lugar, Mies muito mais que um racionalista era um esteta, suas preocupações formais
superavam em muito suas preocupações com a racionalização da arquitetura em qualquer entendimento que esse termo
possa ter, mesmo ciente de todo o domínio e apuro dos materiais construtivos que ele possuía. Segundo, a análise não recua
no tempo suficientemente para dizer que em seu surgimento a basílica como tipologia na Roma Antiga não tinha um caráter
religioso só adquirido no medievo quando a solução do templo clássico romano já não era compatível com as necessidades da
prática cristã. Se por um lado o caráter semântico de uma obra não pode ser definido apenas e exclusivamente por sua
tipologia espacial, isto porque ela é ainda uma abstração que se materializa nos materiais, nas cores, nos ornatos, na luz, n a
sombra, nas texturas, entre outros, não redutíveis a ela; por outro as tipologias mesmo que ligadas às necessidades de uso,
são usos variáveis conforme os valores e práticas socioculturais de uma determinada sociedade, assim ela não pode ser lida
como determinante de um significado absoluto e fixo. A transformação de uso profano para sagrado e novamente a
dessacralização da basílica adotada numa quantidade enorme de armazéns de incontáveis cidades portuárias bem anteriores
à sala de Caldeiras de Mies, para citar apenas um exemplo de seus usos, mostram a impertinência do entendim ento quase
atemporal e fixo das tipologias que o autor quer defender. Em outra perspectiva, ao tomar a basílica semanticamente, desde
sua primeira aplicação, como uma tipologia vinculada ao abrigo de algo importante em uma determina sociedade, Mies então é
absolutamente coerente com seu significado ao dar às máquinas tal destaque numa sociedade que se diferencia das demais,
dentre outras questões, exatamente pelo pleno uso delas como meio de produção. Como nos coloca Lucrécia Ferrara (1988) a
semiótica é um ponto de partida e não de chegada, assim compreender a arquitetura através da semiótica é estabelecer rede
de conexões entre signos e significados dentro de um determinado horizonte cultural bem menos rígido do que pode parecer
numa primeira aproximação, dada as constantes ressignificações dos signos no tempo e no espaço.
66
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
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favorecesse a boa convivência social59 seguiam os ditames dos CIAMs como o autor
afirma, com certeza não eram os de suas discussões mais atualizadas já que neste
mesmo ano de 1951, em sua oitava versão o evento foi intitulado “O coração da
rígidos.
artes, numa ruptura com as formas tradicionais de comunicação entre obra e público
que os tornam ininteligíveis ao fruidor comum. Essa então é sua crítica efetiva à
58
Tradução livre da autora.
59
Quando Jencks condiciona o fracasso do projeto à enorme violência que ali acontecia, além de inverter o problema, reduz as
complexas relações que determinam a apropriação de uma obra arquitetônica por seus usuários a uma condição de causa e
efeito estreita. Se o problema fosse apenas o rigor das linhas traçadas por alguém que imagina um ser tipo no qual o usuário
deveria se tornar, as favelas brasileiras construídas por seus próprios moradores com a espontaneidade da necessidade dos
recursos, das vontades, das referências locais seriam os lugares mais tranquilos e distantes da violência possível, o que em
absoluto não corresponde à realidade. Sua argumentação ultrapassa a arquitetura, é social e se alguns modernistas se
equivocaram em acreditar que da nova arquitetura poderia nascer um novo homem, essa utopia por se só não define o
modernismo e não pode ser aplicada a todos os artistas reconhecidamente modernistas.
67
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
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e econômico dominante.
lógicas diferentes daquelas emblemáticas obras do início do século XX, bem antes
que medida se pode ou não falar do fim desse movimento? Como as mudanças nos
modernismo, muitos foram aqueles que saíram em defesa não só das importantes
60
Um autor crucial na instauração desse embate e que merece a devida atenção, especialmente em evidenciar em que termos
coloca o problema e levanta a bandeira do pós-moderno é Jean-François Lyotard (1924-1998) ao escrever em 1979 o livro “A
Condição Pós-Moderna”. Como ele mesmo afirma no prefácio, o livro é um “escrito de circunstância”, fruto de um trabalho
desenvolvido pelo filósofo para o Conselho das Universidades junto ao governo de Quebec / Canadá, a pedido de seu presidente cuja
publicação foi possível após a anuência deste. Seu objetivo centra-se então em avaliar, “a posição do saber nas sociedades mais
desenvolvidas” (LYOTARD, 2002, p. XV). Ao apontar os conflitos entre a ciência moderna e sua principal forma de legitimação,
a saber, a filosofia, ele toma como moderno o arcabouço do saber institucionalizado no século XVIII proveniente do
pensamento iluminista e seus relatos heroicos, que já estariam em crise desde o final do século XIX. Nesse sentido,
ultrapassar a condição moderna é para ele transpor as lógicas estabelecidas pelos filósofos do século das Luzes que não
seriam mais capazes de responder à realidade do mundo industrializado e informatizado. O risco do relativismo da teoria dos
jogos que embasam as colocações de Lyotard é voltar por lógicas distintas a legitimar exatamente o que essa forma de pensar
criticou na unanimidade da razão – o extermínio de seres humanos por suas diferenças – já que os jogadores podem sempre
restabelecer as regras segundo seus interesses. Como muito bem nos coloca Habermas sobre essa forma de pensar: “(...)
aparece sempre uma simbiose de coisas incompatíveis, uma amálgama que, no fundo, s e opõe à análise científica
<<normal>>. Ora a dificuldade só é deslocada quando trocamos o sistema de referência e não abordamos mais os mesmos
discursos como ciência e filosofia, mas como um pedaço de literatura. O facto de a crítica auto-referencial à razão se
estabelecer ao mesmo tempo em discursos sem local definido, por assim dizer em todo o lado e em lado nenhum, quase os
torna imunes em relação às interpretações concorrentes. Tais discursos tornam inseguros os critérios institucionalizados de
falibilismo; permitem, quando a argumentação já está perdida, dizer sempre uma última palavra: que o oponente entendeu mal
o sentido do jogo de linguagem e que na sua maneira de responder cometeu um erro categorial”. (HABERMAS, 1998,
p.309/310). Se por um lado não há como discordar com a mudança de estatuto do saber nas “sociedades informatizadas”, não
se pode afirmar que essa condição é exclusividade das sociedades contemporâneas mais desenvolvidas como afirma Lyotard, pois
essa coincidência se um dia houve já não se verifica mais; por outro ela não é suficiente sozinha para determinar uma nova já que na
extensão global que o mundo informatizado alcançou não se pode falar de uma plena industrialização de todas as sociedades
pertencentes a este mundo e assim essa cultura vinculada a esta condição ainda estaria por vir. Mesmo que essa condição estivesse
consolidada, ainda assim não se poderia ser contundente ao afirmar a existência de uma era completamente nova já que os principais
elementos que definem a configuração e reconfiguração dos grandes tempos da humanidade, a saber, as formas de explicação do
mundo, as relações de trabalho e seu sistema econômico ainda persistem.
68
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
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próprio movimento; continuidades muito mais do que rupturas como nos colocam
Quando planejamos este livro, tínhamos em mente que essa literatura continua a
ser desconcertante, que nós atualmente ainda pertencemos a ela de diversas
formas importantes, e que as discussões críticas sobre ela ainda não saíram de
seu estágio de formação. (1999, p. 07).
mudanças de tal ordem que questionou toda uma civilização e sua cultura, demoliu
todas as crenças e postulados para uma reconstrução frenética destes, cujo alcance
ultrapassa uma expressão estilística, e se situa em uma ordem bem mais ampla
Podemos intuir, então, que um fenômeno de tal grandeza não seja tão
69
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
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homem com o mundo. Condição esta que não poderia ser entendida como moda
que caracterizaria uma década, nem ainda redutível a um estilo que identificaria um
século, mas algo responsável por uma era, caracterizada pela derrubada das
por um lado faz jus à escala de mudança das artes e da cultura que ele efetivamente
promoveu, por outro nos abre uma perspectiva pouco compatível com a dimensão
que ele efetivamente teve. Talvez ele possa ser bem melhor caracterizado como um
Porém seria dar um tamanho que ele não teve caracterizá-lo com tal ordem de
grandeza, talvez um equívoco motivado por não considerar os enlaces da arte com
outros campos, mesmo que defendamos a sua autonomia não podemos descolá-la
modernidade.
que refunda o estatuto da arte como campo efetivamente autônomo. E mesmo que
seus detratores tentem minimizar sua contribuição foi esse movimento que liberou
contribuições fundamentais para o campo das artes, como também pela referência
e após a euforia pós-moderna dos anos 80, que críticos como o inglês Charles
do que propriamente nas formas das obras produzidas sob sua égide. Essa forma
esse autor o modernismo seria uma espécie de valor mais que de uma forma,
inatingível “sem reflexão ou luta”. Uma forma de contraste com alguma cultura
permite a ele afirmar que “(...) o valor do modernismo se estabelece (...) como uma
modernismo então para esse autor é uma forma de valor alcançável através de
reflexão e combate sempre construído a partir de sua relação com outras formas de
comparação com o outro. Não é nem apenas uma arte reativa, nem pode ser
modernista ainda segundo esse autor se revela então na condição identificável pelo
estilo da primeira, enquanto a segunda vai mais além, é aquela que “registra o seu
pelo artista em relação tanto à cultura mais ampla do presente quanto à arte do
obras e não reconhecível através de suas formas expressivas. De outro abre de tal
tão genérico que qualquer variação nos procedimentos artísticos que se caracterize
aquelas figuras fundamentais para sua história – mas que sozinho se torna
72
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
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que finaliza seu livro com o seguinte questionamento endereçado a cultura “do
Que significado tem dizer que, sejam quais forem as suas virtudes e o modo de
representá-lo, o modernismo não é mais a nossa cultura? Será o caso de aquilo
que o termo “modernismo” designa ser apenas uma forma historicamente
específica de cultura – a qual já perdeu sua vitalidade crítica e, assim sendo,
encerrou sua carreira? Ou será o caso de o modernismo representar um tipo de
demanda a que continuamos sujeitos? Estamos tão decadentes a ponto de
sermos incapazes de corresponder àquele persistente padrão moral e intelectual
com o qual ele é associado nos escritos de Fried e de outros? (HARRISON,
2000, p. 75).
quando ele usa o exemplo das línguas: aquelas clássicas como grego arcaico e o
latim possuem formas imutáveis e são distinguíveis das modernas exatamente por
mais uma vez dá uma amplitude tamanha ao termo que se torna impossível limitá-lo,
próprio de seu tempo, o que volta a turvar o esforço de distinguir ambos os termos,
Para esse autor o modernismo foi uma explosão vigorosa de energia que tentou
inutilmente diminuir a distância entre arte e vida e cumprir uma promessa de felicidade
cit., p. 104). Assim, essa característica também explica a relação desse movimento com
voltada para fins” (opus cit., p. 121). Mesmo ciente do fracasso da revolta modernista,
Críticos como Otília Arantes (1940), cujo viés estruturalista-marxista não admite
deveria ser síntese de uma era da razão e que foi incapaz de acertar em suas
74
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
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Vale ressaltar que ao contrário do que pode parecer num primeiro momento,
anos 60, mas é ele que abre o horizonte para a valorização de questões importantes
“neoconservadores”:
poder de escolha, muito menos de criação; nem comunga das posturas que
arte que mesmo capaz de sintetizar seu tempo não pode ser identificado com ele como
pensar para a antiguidade clássica e a arte grega. Esses longos tempos são
para serem considerados como estilos diversos, mas próximos o suficiente para
estarem alinhavados por um mesmo horizonte contextual. É por isso que podemos falar
expressivas da modernidade.
modernidade. Em certo sentido pode ser considerado seu ápice, aquele ponto no qual
conexão com a era histórica tem seus limites restritos ao campo das artes. A distinção
ordem de equívocos gerados pela filiação de ambos do termo moderno que muitas
vezes é utilizado para denominar os dois fenômenos, como por exemplo, tempos
contornos mais confusos com o tom dos debates a partir dos anos 70, quando os
das demais formas de expressão modernistas, a arquitetura gerou uma reação mais
imediata em seu público visto que a fruição de suas obras não se dá através de
uma população.
sentido ainda permanecessem, o que se perdeu foi a tensão entre tradição x inovação
e a força propulsora de ruptura, tão características desse movimento. Num mundo onde
afrouxa e até mesmo perde o sentido: nem novidade é sinônimo de ruptura, nem
dificuldade de defini-lo, como afirma Peter Gay (2009), é bastante defensável que essa
personagens, como defende esse autor, mas também por características formais
a visão dos críticos modernistas e seus opositores nos anos 70 que ainda se
críticos a partir dos anos 90 que concentraram seus esforços em depositar tal definição
bem mais dada às guinadas nas pesquisas de certas subjetividades mais inquietas –
que buscou sua autonomia na libertação da ação criadora das ataduras do passado,
normativos preexistentes.
79
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
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Esse contexto foi essencial para o modernismo, que de maneira paradoxal, foi
consumidor de suas obras. Sem dúvida foi graças a dispersão de poderes do mundo
burguês que a heresia modernista pode acontecer (GAY, 2009), mas somente num
importadas) pode essa força de ruptura ter um efeito tão bombástico. A energia
universo da arte e transbordar para outros campos da ação humana suas lógicas da
descontinuidade subjetiva. Criar então passa a ser voltar-se para si mesmo, navegar
pelo não conhecido, não feito, não pensado, se abrir ao futuro. É esse movimento
para dentro que permite o impulso para o futuro em aberto, liberto do direcionamento
como aponta Harrison (2000), mas não qualquer diferença, uma diferença cortante
mais que uma rebeldia, uma busca consciente das possibilidades que a abertura das
mentalidades rascou sob o véu das convenções. Abertura possível com o ganho de
sensibilidades, enfim com a instituição do mundo burguês. Como afirma Peter Gay,
A despeito dos exageros, eles eram sérios.” (2009, p. 28). Ainda compartilhando das
clima gerado pelo modernismo reivindicam uma condição que não lhes é devida.
sujeitos que foram capazes de uma autocrítica cortante, potente o suficiente para ao
81
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
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europeias (como continuam a afirmar as visões eurocêntricas) cujo papel foi apenas
desse movimento.
socialmente, como por exemplo, o Arts and Crafts inglês dos idos de 1860 e a
Bauhaus fundada em 1919. Esses episódios, criados por indivíduos ou grupos com
62
Seja como realidade efetiva, como estado embrionário ou apenas como um desejo. Por outro lado, a realidade da
industrialização europeia criou impactos enormes também no mundo ainda não industrializado ou pré-industrializado.
83
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
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Em seu período mais frutífero nas primeiras décadas do século XX, alguns de
única expressão própria de seu tempo e, portanto o rumo a ser seguido. Nessa
63
Ver discussão em ARAÚJO, Anete. A Construção do Movimento Moderno: entre a arquitetura e a historiografia. In:
CARDOSO, Luiz Antônio Fernandes & OLIVEIRA, Olívia Fernandes (Orgs). (Re)Discutindo o Modernismo: universalidade e
diversidade do movimento moderno em arquitetura e urbanismo. Salvador: Mestrado em Arquitetura e Urbanismo da
UFBA, 1997.
84
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
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que em saltos descontínuos criou outro lugar para esses países no cenário
85
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
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que parecia insistir em perpetuar, mesmo após todo o movimento emancipatório das
Américas.
centros europeus e os Estados Unidos à época; o mesmo não era válido no campo
ativos nesse fenômeno, evidentes em obras com a pintura da mexicana Frida Kahlo
86
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
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seguinte que o fervilhar das ideias, das pesquisas, bem como das tensões e dos
87
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
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artística, porém foram os avanços em várias áreas distintas que, mesmo não tendo
imagens era a clareza da não ligação física contínua dessas células). Em 1899 o
vida consciente, bem como para todo o campo da psicanálise que se desenvolverá a
campo da pintura. Em comum a ideia de que a realidade não pode mais ser
conhecimento de até então. Dentre tantas, sem dúvida, vale citar a devastadora (nos
89
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
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que colocaram por terra, não só casas e cidades inteiras, mas também foram
conseguiu reter a barbárie que culminou com a eclosão de duas bombas atômicas
de avanços técnicos e novas criações são de ordem e rapidez inéditas até então, no
primeiros passos no final do século XIX, foi o alvorecer do século XX que deu
realizou o desejo demolidor dos futuristas italianos e abriu efetivo espaço para o
surgimento de uma nova sensibilidade, por outro, essa sensibilidade veio vincada
revela uma das mais cortantes faces da nova arte. O Dadaísmo é o grito
Se uma das faces da arte moderna anunciava sua própria morte pautada no
tecida pelas mãos daqueles que apostavam na construção positiva de uma nova
seus ideários que vinculavam arte e indústria na construção de uma nova sociedade.
65
Vale ressaltar que seu fundador foi um desertor de guerra alemão, o ator com formação em filosofia Hugo Ball. Ver
discussão em MAGNOLI, Demétrio & BARBOSA Elaine Senise. Liberdade versus igualdade: O mundo em desordem(1914-
1945). Rio de Janeiro: Record , 2011.
66
“Abolição da lógica, dança dos impotentes de criação: Dada; (...) a abolição da memória: Dada; a abolição do futuro: Dada; a
absoluta e inquestionável fé em cada deus que é produto da espontaneidade: Dada” (TZARA, In: MAGNOLI & BARBOSA,
2011, p. 31).
91
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
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arte e também perpassou por mudanças na moral e nos costumes sociais, cuja
década seguinte.
fixado nas ruas de Moscou em 1919; a revista holandesa De Stijl de Piet Mondrian,
Theo van Doesburg e Bart van der Leck publicada pela primeira vez em 1917; e o
anos de 1910 para uma generosa porção de arquitetos por todo o globo.
desse órgão no período seu pensamento sobre uma arquitetura modulada, simples e
habitação econômica e vida moderna nos conjuntos que construiu durante a década
de 20 nesta cidade.
Segundo Giulio Carlo Argan (1993) em torno dos anos de 1910, alguns
compatível com a era das máquinas era o mote central daqueles correntes
apontadas por Carlo Argan como positivas cujo bojo acolhe todos os ramos dos
maioria esmagadora das vanguardas – mesmo que com resultados formais próximos
ainda púbere indústria alemã e não só isso, mas também significava dar
67
Como no Brasil, o movimento russo artístico antecipa a efetiva industrialização do país, a Rússia inicia seu processo de
industrialização tardiamente em relação aos principais centros industrializados europeus e tem o grande impulso dado por
Stalin, que sobe ao poder em 1924.
94
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
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irracionalidade marcou a arte do século XX, ela ganhou uma alternativa de propósito
questão da expressão moderna no novo mundo locado abaixo do Río Bravo Del
68
Norte tinha duplo aspecto: ser próprio de seu tempo como também e
vínculo colonial é nesse momento tão ou mais central nessas paragens que a
A agitação impetuosa de tal década não foi privilégio do velho mundo, mas
acontecimentos.
1949) e Davi Alfaro Siqueiros (1896-1974) no México dos anos 1920, bem como a
segunda metade dessa década no Brasil são evidências tanto dessa terceira via de
68
Denominação mexicana para o Rio Grande que delimita a fronteira do México com os Estados Unidos.
95
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
europeus.
Nos anos 1920, a América Latina foi palco de conflitos sociais e políticos
relevantes, alguns de caráter mais geral e outros mais específicos, como a
Revolução Mexicana que teve grande impacto na América. Nesse período deu-
se, em vários países, a criação de partidos comunistas, ocorreram movimentos
operários e estudantis de grande porte, além de movimentos nacionalistas de
esquerda e de extrema direita. No plano intelectual, foram formuladas propostas
de unidade latino-americana e houve significativo debate em torno da questão
indigenista. Todos esses acontecimentos tiveram, cada um à sua maneira,
repercussão importante. Foi nesse contexto que ocorreram redefinições no
campo cultural com propostas de novos códigos artísticos para interpretar o
mundo em mudança.
É importante lembrar, também, que nas primeiras décadas do século XX, foram
organizadas comemorações relacionadas aos centenários de independência em
muitos países. Tais comemorações deram ensejo a reflexões em torno dos
problemas nacionais e busca de soluções para eles, o que explica, em parte, as
tentativas de revisão das identidades nacionais.
Essa terceira via das expressões modernistas só foi possível pela separação
modernidade. E talvez ela possa também contribuir para caracterizar a diferença das
69
Ver ROLIM, Maria Helena. Modernismo Latino-Americano e construção de identidades através da pintura. In: Revista de
História da USP – Dossiê História das Américas, n 153, dez, 2005. Disponível em:
Capelatohttp://www.revistasusp.sibi.usp.br/scielo.php?pid=S0034-83092005000200010&script=sci_arttext Acessado em
23/05/2012 às 14:30
96
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
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das formas de uma época que ganha singularidade local cujo fenômeno ocorre
diversos e singulares como acontece no Brasil da primeira metade do século XX. Se,
97
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
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esgotamento bem antes do colapso, isso porque a real causa estava “na
Nenhum fato ocorrido no século XX teve impacto tão direto na vida de seus
contemporâneos quanto a quebra da bolsa de Nova York no 24 de outubro de
1929. O dia do crash – a “Quinta-Feira Negra” – é ainda hoje o mais forte
símbolo da instabilidade econômica inerente ao sistema capitalista. A imagem de
investidores arruinados se suicidando nos Estados Unidos, ou das imensas filas
de desempregados esperando pela distribuição de comida, era o exato oposto
das cenas de euforia e hedonismo dos “loucos anos 20” que haviam
impressionado o mundo inteiro, especialmente quando comparadas ao
empobrecimento e desânimo que se abatera sobre as velhas potências da
Europa. (MAGNOLI & BARBOSA, 2011, p. 143).
98
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
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global70 de tal ordem que trouxe à tona toda a vulnerabilidade da condição europeia
e o risco de novo litígio pelos conflitos mal ou não resolvidos da guerra anterior. É
(...) o liberalismo fez uma retirada durante toda a Era da Catástrofe, movimento
que se acelerou acentuadamente depois que Adolf Hitler se tornou chanceler da
Alemanha em 1933. Tomando-se o mundo como um todo, havia talvez 35 ou mais
governos constitucionais e eleitos em 1920 (dependendo de onde situamos
algumas repúblicas latino-americanas). Até 1938, havia talvez dezessete desses
Estados, em 1944 talvez doze, de um total global de 65. A tendência mundial
parecia clara. (HOBSBAWN, 2008, p. 115)
no Novo Mundo, nem suas diferenças para com aqueles do Velho Continente. Os
70
A derrocada da economia americana teve impacto tão decisivo e desastroso na economia global porque era o maior país
exportador após a guerra e atrás da Grã-Bretanha o maior importador (HOBSBAWN, 2008), além de ser o credor das enormes
dívidas contraídas pelas nações europeias após a guerra, o que atrelava tais economias.
71
O Fascismo italiano (1922-1943/1945), o Nazismo alemão (1933-1945), o Salazarismo português (1933-1974), o Franquismo
espanhol (1939-1975), o Getulismo brasileiro (1930 -1954), o Peronismo argentino (1946-1955/1973-1974) entre outros.
99
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
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desses países, também o é que desde o final do século XIX e com especial
ascensão dos regimes autoritários (em suas diversas modelagens) foi mais uma vez
apelaram para a força e a coesão. O único lugar em que o capitalismo não pode
a opção pela estrema direita se revelou bem mais perniciosa do que a ameaça da
esquerda.
O medo da revolução social, e do papel dos comunistas nela, era bastante real,
como provou a segunda onda de revolução durante e após a Segunda Guerra
Mundial, mas nos vinte anos de enfraquecimento do liberalismo nem um único
regime que pudesse ser chamado de liberal-democrático foi derrubado pela
esquerda. O perigo vinha exclusivamente da direita. E essa direita representava
não apenas uma ameaça ao governo constitucional e representativo, mas uma
ameaça ideológica à civilização liberal como tal, e um movimento potencialmente
mundial, para o qual o rótulo “fascismo” é ao mesmo tempo insuficiente, mas não
inteiramente irrelevante.
100
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
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anterior reduzia-se a inocentes traques quase sem efeito explosivo. Uma parte
delas se encantou pelo mercado e adaptou-se a ele, mas o mais danoso foi o
esses países que foram inscritos na narrativa histórica da civilização ocidental como
101
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
europeu apoio decisivo do Estado. E bem mais que evento sazonal, essa adesão se
deu como aponta o arquiteto argentino Adrián Gorelik (2005) como “impulsionador
“moderno e nacional” foi tão profícua que possibilitou a criação de uma nova capital
para o país, inaugurada trinta anos após a adoção oficial do pensamento modernista
Negócios da Educação e Saúde Pública em 1930 e o convite para Lúcio Costa não
apenas dirigir, mas reformular o ensino da Escola Nacional de Belas Artes, dentre
102
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
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atividade humana, seja num corte mais restrito do termo vinculado à produção
literária e artística. Segundo Eduardo Bueno “o fato é que, após a Revolução de 30,
o Brasil passou a refletir sobre si próprio e seus destinos de uma forma inovadora e
Vargas veria florescer, ao longo de seu extenso domínio político, uma nova era
para a cultura brasileira (ainda que, muitas vezes, isso se desse não por causa,
mas apesar dele). (...)
Apesar da censura e das perseguições, Vargas, disposto a revelar sua face
conciliadora e paternalista, passou a desenvolver uma política sistemática de
“assimilação da inteligência nacional”, desenvolvida em especial pelo Ministério
da Educação – a princípio sob o comando do jurista Francisco Campos e,
depois, de Gustavo Capanema. (...) Com tais atitudes, Vargas lutava para obter,
no mundo das artes, a mesma aceitação – e o mesmo grau de cooptação – que
sua política trabalhista, baseada no paternalismo positivista, estava conseguindo
entre os trabalhadores. (BUENO, 2010, p.352)
incluindo toda a celeuma do concurso para seu projeto que foi descartado a favor de
103
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
mundial, mas também traçou as guias para seu futuro e redesenhou em certa
por ela ser signo e acontecimento como aponta Aldo Rossi (1995), como também
de campos de poder no sentido que lhe dá Pierre Bourdieu (2000). Como estrutura
72
A potência e centralidade do modernismo no Brasil se deram não só, mas também porque através de seu olhar o país
ganhou um passado digno de certo orgulho (mesmo que descontínuo e em certa medida malformado) e um presente
instaurador e formador de um novo rumo glorioso e nacional a caminho de um futuro brilhante para a nação, obviamente
apoiado e fomentado pelo poder público. Paulo Arantes e Otília Arantes (1997) apontam em “Sentido da Formação” uma
“aspiração coletiva de construção nacional”, que se transf orma em “verdadeira obsessão nacional” por parte dos intelectuais
brasileiros em construir um corpus que dotasse “o meio gelatinoso de uma ossatura moderna que lhe sustentasse a evolução”
(ARANTES e ARANTES, 1997, p.11/12), revelada na recorrência da questão da formação em um generoso número de ensaios
que pretenderam dar conta do “caso brasileiro” e cita entre outros a “Formação do Brasil contemporâneo” de Caio Prado Júnior
(1942); a “Formação econômica do Brasil” de Celso Furtado (1958); “Casa-grande e Senzala” de Gilberto Freyre (1933) e
“Raízes do Brasil” de Sérgio Buarque de Holanda (1936). Essa ensaística, não só confirma a ideia de malformação brasileira
compartilhada pelos intelectuais modernistas e sua luta em dar rumos melhores a essa condição, mas também a importância
dessa literatura em formatar através desse olhar o passado brasileiro. A formação da cultura desenvolvida nesses termos
confirma a centralidade modernista, que se coloca e legitima sua própria posição como única e “verdadeira” possibilidade de
redenção do país, ao retirá-lo da posição de atraso e reprodutor periférico. Ver discussão em ARANTES, Otília Beatriz Fiori e
ARANTES, Paulo Eduardo. Sentido da Formação. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1997.
73
Ver discussão em RAPOPORT, Amos. Vivienda y Cultura. Barcelona: Gustavo Gili, 1972, e em RAPOPORT, Amos.
Origens Culturais da Arquitetura. In: SNYDER, James e CATANESE Anthony. Introdução à Arquitetura. Rio de
Janeiro:Campus, 1984.
104
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
disputa pela hegemonia das formas expressivas de seu tempo 74 , a quase total
Esplanada dos Ministérios em Brasília na segunda metade dos anos 50 não deixa
não só na arte e na arquitetura, mas na cultura do país e seu vínculo crucial com o
poder público.
Essa centralidade começa a se delinear nos anos 20, quando segundo Eduardo
que um engajamento dos intelectuais na prática política “não há mais distinção entre
esta prática e o trabalho” destes (MORAES, 1978, p. 169). Tal autor se refere
74
Ver discussão em CAVALCANTI, Lauro. Moderno e Brasileiro: s história de uma nova linguagem na arquitetura (1930-
1960). Rio de Janerio: Jorge Zahar, 2006.
105
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
lançamento da Ação Integralista por Plínio Salgado em 1923. Para além desses e
Importante notar que tanto para o governo como para os intelectuais a questão
ideário da Escola Nova que desde os anos 20 inspirou reformas no ensino brasileiro
ganhou especial impulso nos anos 30 com a figura de Anísio Teixeira, Fernando de
106
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
75
Em Lúcio Costa: sobre arquitetura, organizado por Alberto Xavier e publicado em 1962 há duas propostas a título de
sugestões para os cursos de arquitetura da Universidade da Bahia em 1959 e Universidade do Paraná em 1961.
76
Ver discussão em BUENO, Eduardo. Brasil: uma história: cinco séculos de um país em construção. São Paulo: Leya,
2010.
107
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
condutas78.
Tzvetan Todorov (1999) o intelectual é aquele ser que se encontra equidistante entre
o sábio e o artista, se sente mais preocupado com o bem público, com os valores da
sociedade onde vive e participa dos debates que dizem respeito a estes valores. Se
77
Ver GRAMSCI, Antonio. Os Intelectuais e a Organização da Cultura. Editora Civilização Brasileira S.A. RJ. 1982.
78
Ver discussão mais aprofundada em MAAR, Wolfgang Leo. O que é política. São Paulo: Brasiliense, 2004.
108
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
maior condição para exercer sua função, por outro o coloca numa posição mais
sofrível já que seu ponto de vista não é o único e pode não ser devidamente
considerado e muito menos ser unanimidade. Já nos sistemas autoritários, uma vez
política, com poder direcional ainda mais alargado nos regimes autoritários. Assim
pretensa certeza dos intelectuais modernistas sobre o caminho correto a ser seguido
para a formação de uma nova nação dar-se-ia a aliança que unificou autoritarismo e
109
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
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independência do país79.
atualização geral da arte para ser um modo particular de atualização revestido “das
cores nacionalistas” com consciência que somente através desse modo o país
evidência crucial nos percursos da cultura do país. Se a busca pela “alma brasileira”
se principia ainda no final do século XIX com Machado de Assis na literatura e Jose
Ferraz de Almeida Junior na pintura, ela ganha contornos decisivos nos anos 20
79
Ver discussão em ODALIA, Nilo. As formas do mesmo: ensaios sobre o pensamento historiográfico de Varnhagen e
Oliveira Vianna. São Paulo: UNESP, 1997.
110
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
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folclore e da cultura tradicional e/ou popular como o fez Mario de Andrade e muitos
111
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
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economia81. Na arquitetura podemos destacar dois textos que cumprem esse papel,
e mesmo que não tenham se tornado compêndios mais alongados sobre a questão
por um enraizamento em solo nacional, para além das narrativas históricas usadas
desde o século XIX como aponta Salah Khaled (2010) como dispositivos
80
Segundo Paulo Arantes em “Sentido de Formação”, a sensação de malformação da cultura brasileira era senso comum entre
os intelectuais brasileiros mesmo antes de se estabelecer a querela local entre acadêmicos e modernos. Essa sensação
especialmente na literatura, mas que poderia ser estendida a todas as expressões artísticas, vinha de um lado da não
continuidade entre os autores que permitisse a constituição de uma escola ou tradição local (problema que não se
circunscrevia a uma questão mental era também um problema social) e por outro a constatação de sermos uma cultura de
terceira ou quarta ordem, visto que éramos, segundo Antonio Candido “galho secundário da portuguesa, por sua vez arbusto
de segunda ordem no jardim das Musas” (CANDIDO, apud, ARANTES e ARANTES, 1997, p.20).
81
Ver discussão em ARANTES, Otília Beatriz Fiori e ARANTES Paulo Eduardo. Sentido da Formação. São Paulo: Paz e
Terra, 1997).
112
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
identitários82 por parte dos dirigentes do país, todo um amplo leque de produção
cultural passou a partir dos anos 30 a exercer esse papel. É nessa perspectiva que
brasileira era apresentado e defendido por seus agentes como a única e verdadeira
modernidade.
uma como resistência e outra como fomento; no Brasil a via alternativa se deu no
82
“A elaboração de uma narrativa nacional se tornou condição sine qua non para legitimar a Monarquia e satisfazer as
pretensões de alcançar o Brasil à condição de país ordeiro, integrado e desenvolvido na segunda metade dos oitocentos”. Ver
KHALED Jr., Salah H. Horizontes identitários: a construção da narrativa nacional brasileira pela historiografia do século
XIX. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2010, p. 46.
83
Para esse autor as vanguardas do início do século XX se dividiam em positivas, caracterizadas pela ação propositiva de
buscar a nova expressão para o trabalho agora industrializado e o progresso (já citadas) e as negativas que pregavam a
incompatibilidade irreconciliável entre criação artística e produção cultural. Ver discussão em ARGAN, Giulio Carlo. Arte e
crítica da arte. Lisboa: Editorial Estampa, 1993.
113
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
material ainda não realizada dessa industrialização. Com isso descolou o sentido de
uma expressão artística que persegue uma condição produtiva já em vigência para
intelectuais modernistas, que foi cooptada pelo poder no que lhe era pertinente e da
maneira que melhor lhe serviu em prol de sua manutenção e constante legitimação.
formação cultural em que ela foi gerada, colocado num plano secundário em relação
114
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
aos usos tácitos dos saberes pelos poderes envolvidos e vice-versa. Isto porque a
seus ideários, que no caso da arquitetura e do urbanismo tal envolvimento era uma
Moderna (CIAMs) desde sua primeira edição em 1928 84 . Bem mais que uma
melhor ser caracterizada como uma simbiose de duradouro sucesso para seus
partícipes. Essa aliança tanto possibilitou avanços e ganhos enormes para uma
importante porção das manifestações que compõem a cultura brasileira como gerou
comum que nesse caso específico segundo Francisco Iglésias (2002) se colocava
84
Ver BENEVOLO, Leonardo. História da arquitetura moderna. São Paulo: Perspectiva, 1989.
115
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
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Não foi o modernismo que fez o Brasil, que ele vem sendo feito desde o século
XVI, notadamente a contar de 1822. Não foi também uma página em branco,
episódio sem significação, simples barulho de jovens irrequietos (...). Foi um
momento de construção do Brasil, crítico e criador. Contribuiu para revelar a
verdadeira fisionomia nacional (IGLÉSIAS, In: ÁVILA, 2002, p. 17).
Se a literatura foi protagonista na invenção e disseminação da “nova” e oficial
públicos, que culminou com a integral construção da nova capital do país sob seus
ditames. Lúcio Costa tem papel decisivo nesse percurso: de um lado seus textos e
tais edificações, de outro foi o responsável pelo projeto da maior realização dessa
responsável por urdir a trama oficial sobre a história da arquitetura brasileira no bojo
116
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
tenha alcançado uma força expressiva tamanha que, para além de seu campo
armado seja inegável, foi no campo das ideias e da retórica que uma específica
moderna teve como marco icônico a nova capital do país, teve em Lúcio Costa seu
maior configurador, que através de seus textos e ações, para muito além de suas
arquitetura brasileira”. Para o futuro, Costa tanto foi figura chave na criação e
117
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
como também foi exímio defensor e construtor de uma sensibilidade moderna que
novo Brasil que se pretendia construir. Para o passado foi um dos maiores
fundamentalmente pela exaltação das obras do período colonial (um passado que se
modernismo (novo caminho a ser seguido que segundo esse autor brotou no centro
entre 1936 e 1947). Esse caminho “moderno e nacional” teria como gênio mentor Le
e poderes no delinear do “Brasil Moderno” a trama tecida por Lúcio Costa em seus
para que ela se concretizasse e se disseminasse. Seu objetivo foi exaltar a vertente
espaços.
hoje passíveis de outras leituras que possam distender e tencionar essa trama. Por
tardiamente chegam ao país. Para uma aproximação diversa dessa versão é crucial
rever algumas falas e modos dessas falas para melhor retomarmos esse momento
em seus pontos de inflexão. Deixar nosso olhar desfrutar do “conflito, que produz a
ao desenho feito a partir de “um certo ponto de observação por um olho imóvel fixo
num certo ‘ponto de fuga’, de uma certa ‘linha de horizonte’ escolhida” (MERLEAU-
119
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
para a arquitetura brasileira como também para a cultura do país é em primeiro lugar
Hugo Segawa sobre Lúcio Costa num texto que alerta sobre a pouca atenção dada
aos projetos residenciais dentro da obra desse arquiteto explicita essa condição. O
brilho do jovem que com apenas 28 anos potencializou uma radical mudança nos
conferiu especial tribuna que certamente esse mestre soube aproveitar. Se dos
pouco foi investigado sobre seus impactos menos favoráveis como os silêncios e os
85
Menos redundante do que possa parecer em uma primeira leitura, a importância de Lúcio Costa não se deu apenas no
acontecer do modernismo no Brasil, mas sim num modo particular desse movimento no país que lhe conferiu um caráter
singular e nacional que permitiu distingui-lo de suas manifestações em outras partes do globo (ou pelo menos defender a ideia
de) a ponto de ser nominado “brasileiro”.
120
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
versão dada pela trama mais recorrente sobre a história da arquitetura moderna no
Brasil como já apontaram alguns pesquisadores como Carlos Martins (1994), Nelci
XVIII proveniente do iluminismo e seus meta relatos, entra em crise como nos
Nacional de Belas Artes, a mais antiga e tradicional instituição do país no campo das
artes, Lúcio Costa atendia plenamente a tais quesitos. Assim, mesmo antes de
ocupar cargos que lhe dariam ainda mais legitimidade, as falas desse arquiteto já
86
A premiação em segundo lugar em 1923 de Lúcio Costa no concurso para o Solar Brasileiro pode atestar tal constatação,
bem como apontar a aproximação de Costa com as representações nacionais.
87
O fato de em 1924 (ano de sua formatura) ter sido um dentre os três arquitetos comissionados para realizar a viagem de
estudo a Minas Gerais em busca de aprofundar os conhecimentos sobre a arquitetura colonial promovida por José Mariano
Filho, a época presidente da Sociedade Brasileira de Belas Artes, demonstram essa distinção.
88
Publicada no Jornal “A Noite” em 19/03/1924, intitulada “A alma de nossos lares”. In: COSTA, Lúcio (NOBRE, Ana Luiza
org.). Encontros. Rio de Janeiro: Beco do Azougue, 2010.
121
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
francês mais apurado89 – outros fatores também contribuíram para que o prestígio
das falas de Costa atingisse tamanha importância. O furor do nacional era evidente
na Primeira República, porém o Brasil ainda se mantinha como um país cuja elite
entre tradição do velho mundo e pulso nacional. Lúcio Costa era esse brasileiro:
(Suíça) entre 1910 e 1916, e graduou-se pela Escola Nacional de Belas Artes no Rio
Arquitetura, com passagem inicial pelo curso de pintura (WISNIK, 2001). Esse “parti
sua vida pessoal, deu ainda maior notoriedade às falas desse arquiteto. Segundo
Lúcio Costa foi diretor da Escola Nacional de Belas Artes, fato que
isoladamente já atribui grande potência de fala aquele que o exerce. Mesmo que
tenha sido por exíguo tempo, ter exercido tal cargo atrelado às circunstâncias
89
Apesar da mudança do nome da antiga Academia Imperial de Belas Artes para Escola Nacional de Belas Artes com a
proclamação da República, a estrutura da instituição não sofreu mudanças significativas em relação à proposta original
delineada por Joachim Lebreton baseada no sistema da consagrada Academia Francesa. O curso de arquitetura teve como
principal estruturador o arquiteto Auguste Henri Victor Grandjean de Montigny, formado pela École d’Architetucture de Paris e
vencedor do prêmio Grand Prix de Rome em 1799.
122
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
políticas daquele momento potencializou a fala desse arquiteto, bem como o colocou
mencionados nove meses, parecem dar tom ainda mais apoteótico à epopeia do
ENBA, não foi tão surpreendente quanto sua autobiografia tenta evidenciar, já que
lado, para além de ter sido pupilo destacado de José Mariano Filho, uma das mais
influentes figuras no meio artístico e cultural das primeiras décadas do século XX,
o colocava dentro do quadro técnico do governo e por mais contraditório que possa
nacional, que representava o novo referenciado pela tradição, com apreço pelas
90
Ver trajetória profissional de Lúcio Costa em WISNIK, Guilherme. Lúcio Costa. São Paulo: Cosac & Naify, 2001.
123
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
ainda a uma trajetória profissional que passou por lugares centrais no delineamento
(...) Lúcio, se fosse divindade, seria o Janus bifronte, o deus dos inícios, das
portas, portões e umbrais, das mudanças e transições. A coisificação da
transformação não parece ser menos instigante entre a multiplicidade de
leituras que sua obra admite. (COMAS, In: NOBRE [et al.], 2004, p.30).
grupo de intelectuais, que sem dúvida lutou com todas as suas armas nas batalhas
indutora e restritiva sobre essa mesma cultura, ou pelo menos em sua parcela
oficial.
população apartada de sua própria cultura forjou uma unidade e uma identidade
124
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
1951. A condição destacada desse texto fica evidenciada por ele ter sido
de artigo de jornal para livro com título tão incisivo essa fala ganhou status de
Esse artigo foi escrito para o número especial comemorativo dos 50 anos do
por traçar um panorama sobre o Brasil nesse período. O texto de Lúcio Costa é
do caderno de construção e urbanismo. Seu autor foi apresentado pelo jornal num
Não há, individualmente, ninguém que tenha contribuído mais do que Lúcio
Costa para tornar uma realidade no Brasil a arquitetura contemporânea. Autor da
reforma do ensino artístico no Brasil, primeiro arquiteto das Américas a ter
assento, ao lado de Gropius, no Symposium de Arquitetura de Londres e atual
diretor de Estudos e Tombamento do Patrimônio Histórico, o arquiteto do bloco
residencial do Parque Guinle tem dedicado à arte, na teoria e na prática, sua
vida inteira. (CORREIO DA MANHÃ, 1951,seção de construção e urbanismo,
p.1).
125
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
Sem o Oscar não teria havido esta arquitetura que surpreendeu os países
europeus, a América do Norte, Japão, depois de um período de matança, de
guerra, de destruição sistemática, bombardeios, bomba atômica. Enquanto isso
construiu-se aqui o Ministério da Educação, e o Oscar, convidado pelo Juscelino,
fez a Pampulha. Ele surgiu como arquiteto durante a construção do Ministério,
onde sua contribuição foi fundamental, e na oportunidade oferecida em Minas,
de fazer a Pampulha, ele se revelou uma personalidade fora de série. O
movimento da arquitetura dita brasileira contemporânea, no fundo, é Oscar
Niemeyer. O resto era arquitetos que acompanhavam mais ou menos o que ele
fazia: o Reidy, esse, aquele outro, todos mais ou menos dentro do esquema,
naquela tendência de querer renovar um pouco a arquitetura mais racionalista
que havia anteriormente com esse novo elemento que dava uma certa graça,
como nenhum dos grandes arquitetos anteriores havia contribuído, com
elegância, um certo charme. (...) Por isso quando o Oscar escreve, fala “nós
isso, nós aquilo”, ele está falando é dele, a “arquitetura brasileira” é a arquitetura
dele, do que ele fez, do que faz, porque é um fato, uma realidade, ele está
dizendo a verdade de uma forma como se fosse modesta: “nós, a arquitetura
brasileira” (COSTA, In: NOBRE 2010, p. 68 / 69).
No entanto, como nos aponta o próprio Lúcio Costa “(...) há certos exageros
na expressão, é preciso dar esses descontos porque, quando a pessoa está na linha
de frente, é questão de vida ou morte, não é quando o sujeito está afastado, depois
126
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
Com esse exíguo e sucinto parágrafo Lúcio Costa define os fatos, os agentes,
Inusitada, para não dizer irônica, foi a situação que desencadeou a construção
pelos estudantes Edgar Graeff, Marcos Jaimovich, José Duval, Nestor Lindenberg e
91
Segundo Hugo Segawa (1998, p. 90) Le Corbusier passa 34 dias semanas no Brasil em sua estadia em 1936 e não 3
meses, porém optou-se por transcrever conforme o texto consultado em “Carta-depoimento”In: COSTA, Lúcio (XAVIER,
Alberto org.). Lúcio Costa: Sobre Arquitetura. Porto Alegre: Centro dos Estudantes Universitários de Arquitetura, 1962. Não
foi possível precisar se o equívoco foi do autor, o arquiteto Lúcio Costa ou problemas de transcrição/edição/impressão.
127
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
afirmar:
“participação indireta” (COSTA, In: XAVIER, 1962, p. 126) ele afirma seu pioneirismo
encontro entre Le Corbusier e Oscar Niemeyer. Nessa trama não houve precedentes
mesmo esteve envolvido, como os citados acima e o seu pequeno, mas fervoroso
128
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
do qual a citação supra foi retirada, Lúcio Costa é ainda mais enfático na afirmação
pelo título dado a essa fala. Numa versão reducionista e direcionada da história da
arquitetura brasileira, contradizendo sua própria posição no final dos anos 30 que
92
Arquiteto francês que vem na Missão Francesa em 1816 para o Brasil, além de ser o responsável pelo Curso de Arquitetura
da Academia Imperial de Belas Artes, projetou o edifício que abrigou tal instituição.
93
Apesar da chegada da Missão Francesa datar de 1816 é somente dez anos depois que se dá a fundação da Academia
Imperial de Belas Artes. Assim entre 1826 e 1936, ano da visita de Le Corbusier ao Brasil na qual se dá o encontro entre o
mestre e o grupo carioca liderado por Lúcio Costa, passam-se 110 anos.
129
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
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potentes na fala de Lúcio Costa que a chamada do artigo no jornal, bem abaixo do
Mais uma vez, mesmo sem se autocitar, o texto de 1951 traz a presença
Educação. Inclui-se nessa fala toda a saga dessa obra: da fundamental contribuição
faz a defesa dos controversos enfrentamentos para que ela tomasse a feição que
130
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
não só os pontos considerados mais importantes por Lúcio Costa, como também a
caderno do jornal.
foto enquadra de frente todo o pórtico ladeado por palmeiras imperiais e evidencia a
94
Francês, esse fotógrafo fez importante carreira no Brasil especializado em registrar a cultura, arte e arquit etura com olhar
apurado e enquadramentos artísticos modernos. Querido por arquitetos modernistas como Niemeyer, Gatherot trabalhou para
muitas revistas e para o SPHAN.
131
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
seu todo, desvinculado de seu sentido de existência – entrada para lugar nenhum.
No final da página, colocadas lado a lado, formando uma barra numa espécie
modernista95. Duas delas com destaque para esculturas que compõem o conjunto
Reclinada” (uma alusão à fertilidade) de Antônio Celso – cada uma a seu modo
uma visada do piloti monumental do novo prédio: um espaço amplo, livre e fluido
direção à luz da cidade moderna que ali também tem instaurada sua nova forma.
95
Vide COSTA, Eduardo Augusto. ‘Brazil Builds’ e a construção de um moderno, na arquitetura brasileira. Campinas:
dissertação de mestrado da Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, 2009.
132
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
Celso e mantém as outras presentes no jornal. Ressalta-se que a foto que sucede
caminho da luz. Colocadas lado a lado, elas reforçam ainda mais a afirmação da
Figura 18 – Página aberta da publicação “Arquitetura Brasileira”. Na legenda do Pórtico da Academia faz-se referência à
remoção dele pelo DPHAN, mas não cita que é esse mesmo órgão que permite a demolição do edifício, parecer do próprio
Lúcio Costa. E apesar de a legenda destacar os painéis de Portinari no Ministério, a imagem destaca o espaço e o movimento
dos transeuntes. Fonte: COSTA, Lúcio: Arquitetura Brasileira. Rio de Janeiro: Ministério da Educação e Saúde, 1952.
133
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
Figura 19 - Primeira página do Caderno de Urbanismo e Construção do número especial do Correio da Manhã de
15/06/1951. Destaque para a o título do artigo e a chamada destacada em negrito. Fonte:
http://hemerotecadigital.bn.br/correio-da-manh%C3%A3/089842 acesso: 06/10/2012 às 12:02.
134
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
obra mereceu ter ilustração tanto no artigo como no livro, numa clara afirmação do
evidencia que o triunfo da arquitetura moderna brasileira foi uma luta contra tudo e
contra todos de algumas iluminadas figuras que, na contra mão do óbvio e do legal,
demais arquitetos que atuaram no Brasil naquele período é dado a Niemeyer por
A fala incisiva de Lúcio Costa sela uma trama na qual, além de repentina, a
135
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
no Brasil, uma “obra esplêndida e numerosa” agora sim “devida a tantos arquitetos
profissionais que o seguiram, aqueles que mereciam ser lembrados: “(...) desde o
São Paulo” (COSTA, 1951, p. 15), e como não poderia deixar de ser, o
para a constituição deste campo, no qual a luta pela afirmação do próprio arquiteto
136
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
artística e da técnica construtiva – foi possível apenas para aqueles que como ele
1951, p. 15).
Por outro lado esse arquiteto aponta um problema que continua a reverberar
revelia do ensino oficial” (COSTA, 1951, p. 15). E mesmo que ele tenha advertido
suas falas acabaram por estimular esse entendimento. A ideia de que um arquiteto
nasce pronto e basta apenas passar por um rito de iluminação e sua genialidade
será revelada, para além dos ecos nas narrativas históricas, continuam a guiar boa
parte dos arquitetos, dos professores nas inúmeras escolas de arquitetura em todo
país e a acalentar os sonhos dos estudantes de arquitetura que passam toda a sua
137
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
Dois pontos extremos parecem fundamentais nas falas de Lúcio Costa sobre
arquitetura tradicionalmente ser parte do universo das artes. Porém não foi
exatamente nesse sentido que esse intelectual construiu sua ideia de tradição nas
do mobiliário luso-brasileiro”.
moderna se encontrava no fato do país ter colocado “na ordem do dia, com a devida
138
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
internacionalmente entre os anos 40 e 60, mesmo que alguns até utilizassem esse
discurso para legitimar suas obras, não está locada na feliz relação entre
mesmo afirmava, apesar de não desmentir seus defensores, estão bem mais “no
corpo da mulher preferida” (NIEMEYER, 2000, p. 17), que nas montanhas cariocas
na literatura, aquele que procura o moderno num profundo mergulho analítico nas
“brasilidade” que geraria a nova expressão nacional; Oscar Niemeyer via instinto e
intuição como Oswald de Andrade “apreende a brasilidade sob uma forma sintética”
(MORAES, 1987, p. 141). Niemeyer consegue em suas obras “retomar esse Brasil
primeira hora, ou pela peculiar personalidade de Lúcio Costa – se deu uma inusitada
mistura onde a plasticidade instintiva foi legitimada pelo discurso erudito do vinculo
139
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
“(...) é fora de dúvida que não fora aquela conjugação oportuna de circunstâncias e a
espetacular e comovente arrancada do Oscar, a Arquitetura Brasileira contemporânea,
sem embargo de sua feição diferenciada, não teria ultrapassado o padrão da
estrangeira, nem despertado tão unanime louvor (...). No mais, foi o nosso próprio
gênio nacional que se expressou através da personalidade eleita desse artista, da
mesma forma como já se expressara no século XVIII, em circunstâncias, aliás, muito
semelhantes, através da personalidade de Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho”
(COSTA, In: XAVIER, 1962, p. 125)
genialidade de Aleijadinho; em 1929 era ferrenho crítico desse artista por essas
brotava do chão, o mestre carioca acusava o artista mineiro de ser nota dissonante
na arquitetura brasileira.
Czajkowki, Ronaldo Brito e Carlos Zilio, questionado sobre essa radical mudança de
interpretação Costa, assim como faz com sua fase neocolonial, afirma ter sido um
Antes, naquele artigo de 1929, eu tinha falado de uma forma leviana, coisa de rapaz.
Por isso acho um perigo certas coisas de gente moça que não tem conhecimento e fala
com aquela suficiência, como se entendesse de tudo (COSTA, In: NOBRE, 2010, p.
104).
140
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
do “Brazil Builds” em 1943), bem como nas falas do final dos anos 70 em diante ele
1938, em Lúcio Costa: sobre arquitetura de 1962 e reeditado por seu próprio autor
141
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
Diz-se, por exemplo, que os beirais das nossas velhas casas tinham por função
proteger do sol, quando a verdade é no entanto bem outra. Um simples corte
(fig.3), faz compreender como, na maioria dos casos, teria sido ineficiente tal
proteção; e os bons mestres jamais pensaram nisto, mas na chuva, isto é,
afastar das paredes a cortina de água derramada do telhado.
Depois, com o aparecimento das calhas (fig.4), surgiram aos poucos,
logicamente, as platibandas, continuando as cornijas – já sem função – presas
ainda à parede pela força do hábito e meio sem jeito (fig.5), até que, agora, com
as coberturas em terraço-jardim, a transformação se completou (fig. 6). (COSTA,
1937, pp. 35/36).
Figura 20 – Croquis ilustrativos de Lúcio Costa em seu texto Documentação Necessária. Disposição original
do texto publicado na Revista do Patrimônio. Fonte: COSTA, Lúcio. Documentação necessária. Revista
Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Rio de Janeiro, n.1, 1937, p. 35.
aberturas.
Outro ponto digno de atenção é o que se refere à relação dos vãos com a
parede. (...) O que se observa, portanto, é a tendência para abrir sempre e cada
vez mais. (COSTA, 1937, p. 36/37).
142
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
Figura 23 - Croquis
de Lúcio Costa
demonstrando a linha
evolutiva na
transformação das
aberturas do período
colonial ao moderno
na arquitetura no
Brasil. Fonte:
COSTA, Lúcio. Lúcio
Costa - registro de
uma vivência.
Empresa das artes.
1995, p. 461.
Figura 24 - Croqui ilustrativo de Lúcio Costa. Fonte: COSTA, Lúcio.
Documentação necessária. Revista Serviço do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional. Rio de Janeiro, 1937, p. 38.
A legenda do croqui acima que ilustra essa passagem é ainda mais incisiva:
143
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
batalha ganha” (COSTA, In: NOBRE 2010, p. 162) na entrevista à Álvaro Hardy,
Éolo Maia, José Eduardo Ferolla, Maurício Andrés e Paulo Laender, publicada no
menos na plasticidade (para não dizer bastante longe dela) e mais na tradição e no
apuro da repetição das soluções que Lúcio Costa locou os fundamentos basilares da
Niemeyer, mas no desenvolver de sua fala deixa claro a defesa de que apenas pela
Assim como a morte do Corbusier foi um alívio para todo mundo, o fato de Brasília ter
sido construída foi um alívio para todos os arquitetos que finalmente se livraram
daquele pesadelo, daquela arquitetura moderna que vinha desde 1936 até Brasília.
Agora é preciso esclarecer: esta arquitetura que ocorreu desde a época do Ministério
se deveu fundamentalmente a Oscar Niemeyer. (COSTA, In: NOBRE 2010, p. 68)
144
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
de Oscar Niemeyer?
para além dos atributos e méritos da obra de Oscar Niemeyer, pela tangência dada à
primazia da arte como natureza primeira da arquitetura nas falas de Lúcio Costa, de
realizações brasileiras tiveram tal alcance e evidência que sem dúvida foram
que o nexo particular da arquitetura nacional era seu vínculo com o passado.
145
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
tradição ou com o “espírito nacional”, nos revela a importância dos discursos e suas
do urbanismo e se insere num projeto mais amplo no que Moraes aponta como
difuso com uma faculdade autônoma e superior que parece dirigir os caminhos
pag. 75) que se insere a trama costiana sobre a própria instauração da “arquitetura
Lúcio Costa. Por outro, essa mesma brasilidade e o projeto de construção de uma
cultura nacional no qual a arquitetura moderna da dita “escola carioca” fazia parte
tomava forma de axioma e é assim que em certa medida podemos entender que
propositadamente ou não, as falas de Costa terminaram por não abrir espaço algum
para outras falas sonantes ou dissonantes que pudessem questionar se não o rumo,
96
Ver discussão em BUENO, Eduardo. BRASIL: UMA HISTÓRIA: cinco séculos de um país em construção. São Paulo:
Leya, 2010.
146
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
A fala de Lúcio Costa foi tão singular e de tal força, nas suas diversas frentes
plástica e a inovação.
É bem verdade que a fala costiana teve tal penetração no imaginário dos
arquitetos brasileiros que o próprio Niemeyer afirma, a sua maneira, o vínculo criado
97
Ver discussão no texto A batalha da Pampulha em FABRIS, Annateresa. Fragmentos Urbanos: representações culturais.
São Paulo: Studio Nobel, 2000.
147
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
estilo brasileiro, propalado por Costa desde 1948 como a expressão do gênio
“(...) me inclinava para uma arquitetura mais livre, mais leve, tão desenvolta que
se aproximasse melhor das nossas velhas igrejas coloniais, fugindo das
estruturas mais robustas” (NIEMEYER, 2000, p.15).
meia encosta, o Hotel Park São Clemente em Nova Friburgo de Lúcio Costa (1944-
um edifício inovador cuja ruptura com o contexto se torna ainda mais cortante dado
ao contraste agudo entre o conjunto antigo e o novo edifício; Costa, em uma área
opta por um delicado equilíbrio entre soluções modernas e tradicionais, bem como o
uso de materiais locais. Obviamente que as nuances e variações nas obras desses
dois grandes arquitetos são muitas, mas não se afastam tanto no que tange o ponto
cada um deles.
148
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
Figura 25 - Hotel Park Hotel São Clemente em Nova Friburgo (1944-45) de Lúcio Costa.
Fonte: WISNIK, Guilherme. Lúcio Costa. São Paulo: Cosac & Naify, 2001.
149
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
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Outro exemplo que nos mostra essa divergência, bem como a tentativa de
com os ajustes propostos por Lúcio Costa em busca de uma relação que
150
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
Figura 31 – O edifício
construído, já com o teste da
modificação proposta por
Niemeyer, felizmente não
autorizada pelo IPHAN, de
fechar as varandas originais.
Fonte: Rodrigo Baeta, 2008.
foi bem mais complexo, portador de contribuições múltiplas e bem anteriores do que
a trama costiana aponta; foi fruto de uma gama muito mais ampla de outros
arquitetos e outros agentes, que o ecoar das falas de Lúcio Costa não possibilitou
reconhecer.
151
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
Figura 32 - Capa dura do catálogo da exposição Brazil Builds: architecture new and old do MoMA – Nova York em 1943.
Fonte: GOODWIN, Philip. Brazil Builds: architecture new and old -1652-1942. Nova York: MoMA, 1943.
152
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
New and Old 1652-1942” de 1943, ambos realizados pelo Museu de Arte Moderna
de Nova York (MoMA), foi a primeira obra dessa natureza publicada sobre o assunto
entendimento recorrente não era fazer uma exposição e sim um livro cuja mostra
seria um meio magnífico de divulgá-lo. Isso como já aponta esse autor modifica
catálogo para ser o elemento central das preocupações do MoMA e das outras
instituições brasileiras que deram forma a ele. Tal fato evidência ainda mais a
importância desse material nas construções das falas modernas sobre as obras
espaço e afirmação dentre as várias correntes modernas no Brasil dos anos 20 e 30.
explora brilhantemente para legitimar tanto a arquitetura como outros tantos artistas
98
Ver discussão em COSTA, Eduardo Augusto. ‘Brazil Builds’ e a construção de um moderno, na arquitetura brasileira.
Campinas: dissertação de mestrado da Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, 2009.
153
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
às demais nações nas formas expressivas de seu tempo, tacitamente significava que
construção.
somente na arquitetura brasileira e nem foi ela sua precursora, mas teve nela
154
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
ultrapassou em muito seu propósito originário de ser uma das tantas pontes que
através da cultura estreitariam relações entre países das Américas possíveis aliados
dos EUA na 2ª Grande Guerra e depois dela. Esse interesse político para
que visavam mais que conhecer uma nação amiga, mostrar a ela o interesse
americano pelo país. Por outro lado, interessava ao Brasil uma fala estrangeira que
que simbolizaria o “Brasil Moderno” diante dos olhos do mundo e do próprio país.
Ao se pontuar quem fala nesse caso abre-se uma rede complexa de agentes,
pois esse livro não da voz apenas a pessoas, mas a instituições e mais ainda a
interesses tangentes, mas não unitário dos governos dos Estados Unidos e do Brasil
instituição em 193299. Essa ponte não foi privilégio nem pioneirismo brasileiro, já que
tanto a ideia quanto o nome da exposição sobre a arquitetura antiga e nova no Brasil
foi aproveitado da exposição desse mesmo museu sobre a arquitetura sueca 100 em
1941. Por outro lado ao Museu também interessava mapear potenciais aquisições
Lúcio Costa que para além de suas preocupações ligadas ao passado tinha papel
99
A exposição organizada por Barr Jr., Hitchock, Johson e Mumford, intitulada “Modern Architects”, para além do catálogo que
guarda o mesmo nome vincula-se a publicação de Hitchock & Johson, denominada “The International Style: Architecture
since 1922”, também de 1932 reeditada em 1966, pela qual ficou mundialmente conhecida.
100
Ver discussão detalhada em DECKKER, Zilah Quezado. Brazil Built: the architecture of the modern movement in Brazil.
Londres e Nova York: Spon Press – Taylor & Francis Group, 2001 e COSTA, Eduardo Augusto. ‘Brazil Builds’ e a construção
de um moderno, na arquitetura brasileira. Campinas: dissertação de mestrado da Universidade Estadual de Campinas,
Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, 2009.
156
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
governante101.
cruciais na narrativa e na trama que ela estabelece. Philip Lippincott Goodwin (1885-
1958), responsável pelos textos foi arquiteto e à época, além de responsável pela
contratado pelo MoMA como colecionador de obras de arte por questões ligadas à
economia de gastos do museu devido à 2ª Guerra. Outro fato que merece destaque
de paz em Budapeste. Seu vinculo com o museu americano era de tal ordem que foi
ele quem projetou a sede do MoMA em 1939, em parceria com o arquiteto Edward
explica para além do interesse geral político de seu olhar sobre o Brasil e sua
sua acuidade nas descrições dos elementos para controle de calor e luz utilizados
George Everard Kidder Smith (1913-1997) foi o autor da maioria esmagadora das
101
Sobre o papel central do DIP na conformação do culto à personalidade de Getúlio Vargas ver BUENO, Eduardo. Brasil:
uma história: cinco séculos de um país em construção. São Paulo: Leya, 2010.
102
Habilidade necessária a alguém que deveria conciliar e sintetizar múltiplas forças governamentais e profissionais de duas
nacionalidades distintas.
157
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
mas arquiteto e mestre em Artes, esse jovem que vem ao Brasil aos 29 anos estava
deu efetivo formato a fala do “Brazil Builds” numa refinada fusão entre textos e
imagens.
comandados por Lúcio Costa, tem absoluta hegemonia. Tal formato acabou por criar
a ilusão que apenas esse tipo de linguagem aconteceu ou teve valor expressivo
naquele momento no país. Por outro lado traçou para arquitetura antiga uma
pequena história também vinculada àquilo que a colocava como base e ponte para o
ao novo, a exposição é nomeada: “Brazil Builds - architecture new and old”, no lugar
de “old and new”. Nesse sentido, também é digno de nota a importância do presente
158
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
orquestração do trabalho. E é deste modo que mais uma vez a figura de Lúcio Costa
vínculo com o passado – mais que no encontro, num pacífico entrelaçamento entre
do povo brasileiro. Essa fórmula que vincula passado e presente dos modernistas
não é particularidade nem da arquitetura nem dos brasileiros. Mas nas terras de
influenciadas, não por modelos estrangeiros imediatos, mas por exemplos nacionais
anteriores” (CANDIDO, apud ARANTES & ARANTES, 1997, p.30). Em cada área
esses exemplos foram pinçados de maneira diferente, e se na pintura foi no tipo rural
e geralmente sofrido dos interiores do Brasil que o modernismo encontrou seu mote
propriamente vinculadas a uma tradição construtiva que se tornou tão forte que foi
se dava, não só, mas também pela consciência de fragilidade e descontinuidade das
tradições nacionais. Assim o vínculo que Lúcio Costa estabelece entre modernidade
que propriamente nas obras arquitetônicas em geral. No entanto sua fala é tão
por 39 edifícios.
quase sempre político. Portanto se 1930 para uma é a data da reforma da ENBA,
nacional, e para a outra o símbolo político de um país que na sua opção estética
Builds”, Lúcio Costa tenha influenciado a trama americana tanto quanto esta o
influenciou. Isto porque tal publicação (1943) está virtualmente no ponto de inflexão
continuidade evolutiva, ainda presente na fala de 39 foi deslocada para uma tradição
no texto de 45.
clima, este não chega a ser o fio condutor que justifica a escolha da maioria das
161
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
obras antigas nem das modernas pertencentes à publicação. O texto discorre pouco
Ouro Preto, Salvador e Recife, mas tece criticas à Belo Horizonte e à Goiânia,
para Salvador.
através de sua linha estruturadora que parece ecoar no conjunto de textos históricos
menosprezadas103.
103
Mesmo nos autores mais recentes como Hugo Segawa esse traço da materialidade física da história da arquitetura
brasileira, ou quem sabe não seria mais adequado chamar de história das obras arquitetônicas no Brasil, permanece. Em um
trecho sobre os manifestos de Levi e Warchavchik de 1925, Segawa afirma: “A publicação desses manifestos em nada alterou
a rotina da arquitetura corrente no Brasil. Foram textos pioneiros resgatados muito tempo depois pela historiografia do
modernismo, mas que prenunciaram a atividade futura desses dois arquitetos, que efetivamente mais tarde materializaram
suas ideias em obras construídas” (SEGAWA, 1997, p. 44).
162
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
novas por uso – essa obra mostra a vastidão territorial brasileira que permanece no
internacional. Essa leitura pode ser revelada quando damos atenção ao mapa do
Rio de Janeiro, primeira ilustração da segunda parte no texto que introduz as obras
novas. No mapa da capital federal à época 18 obras mencionadas são ali situadas,
cerca de 10% desse universo; e as outras duas restantes são o Itamaraty e o Largo
104
Interessante ressaltar que ficam de fora acervos importantes do Brasil Colonial como, por exemplo, as obras de São Luiz do
Maranhão. Outros estados não citados além do Maranhão são: Piauí, Rio Grande do Norte, Sergipe, Alagoas, Paraná e Santa
Catarina. Esses estados não são nomeados no mapa e assim parecem deixar de existir no Brasil visto pelos norte-americanos.
163
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
XIX e início do século XX, presenças cujas melhores explicações recaem sobre
questões políticas no primeiro caso e pela relação de Lúcio Costa com este recanto
Figura 33 – Mapa do Rio de Janeiro que abre a segunda parte do catálogo “Brazil Builds” referente às obras modernas.
Fonte: GOODWIN, Philip L. Brazil Builds: architecture new and old 1652 – 1942. Nova York: MOMA, 1943, pp. 82-83.
Fortaleza no Ceará, local que nem aparece na primeira parte do livro apesar de
importante da arquitetura no Brasil, não aparecem na ala das obras antigas: São
164
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
capital, sem nenhuma citação ao importante ciclo do ouro que também lá produziu
(todas de Niemeyer), 2 na Bahia e 1 no Ceará que aparece pelo duplo mérito de ser
105
propriedade de um grande empresário americano e ser projeto de Oscar
expressão.
105
Também dono de uma casa feita por Frank Lloyd Wright
165
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
na ENBA a seu convite, foi por ele desqualificado. Na variante de Goodwin, fruto de
number of the architects were foreign born and trained, and came to Brazil already
equipped with the new aesthetic” (1943, p. 81)106. Mesmo que isso tenha se dado de
O arquiteto austríaco tem, além de sua foto, duas residências publicadas, que
também é fruto das indicações políticas nacionais e deveria estar afinada com a
106
Optou-se pela citação em inglês porque na versão em português o sentido é levemente alterado, nela lê-se: “Certo número
de arquitetos são mesmo de origem estrangeira, tendo vindo para o Brasil já formados, prontos a aplicar ideias e princípios de
traziam” (GOODWIN, 1943, p. 81).
166
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
encontrar-se radicado nos EUA (COSTA, 2009, p. 132). Provavelmente foi ele o
esse processo passou tanto por ressaltar os arquitetos brasileiros como por
urdida por Lúcio Costa a publicação não evidenciar tal arquiteto a ponto de nem
colocá-lo no elenco de fotos no final do livro – nos parece similar à posição desse
arquiteto no artigo para o Correio da Manhã em 1951, no qual ele não se autocita
mesmo pontuando todos os eventos centrais nessa trama cuja sua participação foi
decisiva. Segundo Costa ele teria recebido Philip Goodwin apenas uma vez e não dá
órgão público atrelado a um ministério dos quais era devido destacar seus chefes
167
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
Figura 34 – Página que finaliza o livro-catálogo o “Brazil Builds” com as fotos das figuras de destaque, seguida pela lista dos
arquitetos e suas obras contidas na publicação. Fonte: GOODWIN, Philip L. Brazil Builds: architecture new and old 1652 –
1942. Nova York: MOMA, 1943, p. 196.
168
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
um pouco abaixo Oscar Niemeyer, arquiteto que assina o maior número disparado
também mereceram destaque: Atílio Correa e Lima, os irmãos Roberto e Álvaro Vital
Brazil.
enquanto arquiteto por seu parceiro 109 . Assim como a foto de Rudofsky liga o
107
Ver discussão em CAVALCANTI, Lauro. Moderno e brasileiro: a história de uma nova linguagem na arquitetura, 1930-
1960. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2006.
108
São apresentadas dez obras de Oscar Niemeyer, que incluem sua participação na equipe da sede do MEC e as obras da
Pampulha, mas curiosamente não mostram a Igreja de São Francisco. De Atílio Correa e Lima foram publicadas duas obras,
dos irmãos Roberto quatro e de Álvaro Vital Brazil três.
109
Mesmo tendo registrado nessa publicação em sua conta a autoria de dois dos mais importantes edifícios da arquitetura
moderna brasileira, eles foram desenvolvidos em parceria e já representados por Niemeyer, autor de mais outras tantas obras
individualmente.
169
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
obras modernas que apresenta, acaba por dar evidência e legitimidade a uma dentre
corbusiana por essa publicação, corou-se o caminho já escolhido por Lúcio Costa
naquele momento tinham tanto ou maior espaço nas realizações feitas no país. É
essa publicação que aponta como fala falante essa porção da produção brasileira,
Por mais paradoxal que possa parecer era fundamental à expressão que se
poucas obras construídas no velho continente nos anos 20 e 30, mas também e em
110
Fato que justifica o relativo comprometimento com a fidelidade das informações.
170
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
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declínio na Europa.
construção por um presente que fundia tradição e modernidade, nas asas líricas da
do período colonial e a força do país católico que ainda eram as bases da tradição e
social não só atrelado, mas sistematicamente fomentado pelo poder público. Numa
nacional.
171
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
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novo deveria ser este. Nas fotografias das construções antigas, representantes do
Smith não deixa dúvidas sobre isso – no exemplo abaixo o edifício se sobrepõe a
fundo.
111
Algo também sintomático, já que apenas o que era considerado produto efetivamente nacional de valor singular e nacional
na visão do SPHAN tinha fotografia diferenciada e similar aos modernos.
172
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
Figura 35 – Fazenda Vassouras no Rio de Janeiro, exemplo da arquitetura antiga mergulhada na natureza e numa
condição rural arcaica. Fonte: GOODWIN, Philip. Brazil Builds: architecture new and old 1642-1942. Nova York: MOMA,
1943, p.37.
Figura 36 – Página de rosto do catálogo da exposição “Brazil Builds”.Detalhe do Cassino da Pampulha. Fonte: GOODWIN,
Philip. Brazil Builds: architecture new and old 1642-1942. Nova York: MOMA, 1943, p.3 e 4.
173
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
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fotografias das obras – fachadas e espaços atravessados pelo sol, pelo vento, pelo
Figura 37 – Páginas referentes à Escola Normal em Salvador – ICEA. Fonte: GOODWIN, Philip. Brazil Builds: architecture
new and old 1642-1942. Nova York: MOMA, 1943, p.144 e 145.
Essa cultura visual que marca o “Brazil Builds” é recorrente nas publicações
estética – nas possibilidades estruturais, nas formas das aberturas, nos jogos
volumétricos, nos encaixes, nas espessuras, nas proporções, nos efeitos, enfim na
112
Nas fotos raramente aparem pessoas e quando aparecem são sempre jovens ou crianças reforçando a ideia de algo novo
que irá se desenvolver.
174
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
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composições secas.
relações com o Brasil, um país que ia ser nosso futuro aliado” (GOODWIN, 1943, p.
de Arquitetos, das quais ele era o representante – a presença do Governo dos EUA,
contribuições do IAB.
obra, numa longa lista, estão obviamente presentes os nomes dos dirigentes das
113
Ver referência em CAVALCANTI, 2006, p. 150.
175
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
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P.C. Almeida, Álvaro Vital Brazil, Roberto Burle-Marx, Flávio de Carvalho, Lúcio
Costa, Carlos Frederico Ferreira, Rino Levi, Atílio Corrêa Lima, Henrique E.
Mindlin, Jorge Moreira, Oscar Niemeyer, Carlos Porto, Afonso Reidy, Marcelo e
Milton Roberto, Paulo Rossi, Aldary Toledo e Gregori Warchavchik (GOODWIN,
1943, p. 8).
período colonial até o alvorecer do século XX, cujas principais referências foram os
textos de Roy Nash e Robert C. Smith. Nessa narrativa sobre o Brasil ficam
caracterizar o clima do país e suas variações bem como os recursos para enfrentá-
lo, perceptíveis pelo generoso espaço dado no texto às questões mesológicas e aos
no Brasil como nos EUA. Constata, apesar da pouca influência teórica, o muito que
176
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
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Império sob o comando de D. Pedro I, filho desse rei de Portugal. Quanto à vida e às
católica, ao ouro das Minas Gerais e ao escravo africano. Não reconhece nenhuma
(GOODWIN, 1943, p.20) – deixa claro que se trata de repetições simplificadas das
ênfase inusitada à arquitetura dos armazéns para exportação e das fazendas, o que
114
Sem maiores explicações ou referência que justifique essa data, talvez Goodwin se refira a década de 1520 quando devido
às investidas dos franceses na costa brasileira, Portugal se viu obrigado a mudar a relação apenas extrativista com a nova
colônia para não perder o vasto território conquistado.
177
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
estrategicamente no ponto de corte que marca a passagem entre o que esse órgão
primeiro lugar obviamente está vinculada à questão política: a cidade ainda era a
opção se revela evidente. Porém nada parece explicar o que se segue – nem quanto
talvez por uma mistura entre interesses pessoais, político, histórico e artístico, não
café paulistas e das charqueadas do sul põe por terra tal possibilidade de
encadeamento por não se refletir nos exemplares escolhidos nas demais regiões.
178
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
SPHAN quanto pela ponte com a arquitetura moderna. A obra deste museu é a
única construção nova locada na parte das construções antigas. O vínculo entre
de 1586. Ao dar ênfase à data incerta do final das obras do Mosteiro de São Bento
em território brasileiro, e sem esclarecer suas razões115, o autor acaba por dar um
115
Provavelmente a escolha dessa data está vinculada as expressões barrocas no Brasil, porém em 1652, ano estimado para o
final das construções de São Bento não inclui o trabalho em talha bem posterior – tratamento que torna o interior da igreja
desse convento efetivamente barroco.
179
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
tipo de análise efetiva dos objetos expostos. Na segunda parte, apesar de mais
bem mais generosa que a primeira de apenas nove, fica ainda mais claro de um lado
gritante das realizações cariocas é justificável por ser o Rio de Janeiro a capital do
país e todas as óbvias questões políticas que isso implica somado ainda ao
um trabalho de dimensões hercúleas feito em tempo tão exíguo, cuja maioria das
além de ser tutorado e monitorado por um órgão de coerção poderoso como o DIP.
Pampulha foram expostos em seis páginas cada; a ABI, o Grande Hotel de Ouro
Preto e o Iate Clube da Pampulha em quatro; e mesmo que com apenas duas
Havia na feira de Nova York excelentes edifícios modernos, mas nenhum de tão
elegante leveza como o Pavilhão Brasileiro. Distinguia-se pela maneira feliz com
que foi o espaço aproveitado e pelos seus pormenores vivos e frescos.
(GOODWIN, 1943, p. 194).
180
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
apesar de não ser tão miraculosa, corrobora como a trama costiana no seu
corbusiano:
dado a Le Corbusier.
Recife é mais um reforço para a similaridade das tramas, não só na súbita, mas
arquitetura carioca.
Museu das Missões de Lúcio Costa e a obra prima da arquitetura brasileira seria o
na fala costiana a obra prima seria a Igreja de São Francisco na Pampulha, nela o
americana.
182
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
Figura 38 - Capa do catálogo da exposição Brazil Builds: architecture new and old do MOMA – Nova York em 1943. Fonte:
http://www.google.com.br/imgres?q=brazil+builds, acesso 03/10/2012 às 18:39.
183
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
recentes. Mesmo que as abordagens sejam sempre distintas, o ecoar das falas de
Geraldo Ferraz (1965), Hugo Segawa (1997) e Carlos Alberto Martins (2002).
pouco alcance. Por outro lado, mesmo que essas pesquisas se esforcem em ampliar
comprometidas com sua própria afirmação. Permanece a ecoar, como base sagrada
desse momento, podem-se perceber os ecos duradouros das falas de Lúcio Costa e
tornaram uma única trama. Essencialmente traçada por Costa, essa construção foi
Assim como uma pedra jogada na água torna-se centro e causa de muitos
círculos, e o som se difunde no ar em círculos crescentes, assim também
qualquer objeto que for colocado na atmosfera luminosa propaga-se em círculos
e preenche os espaços em sua volta com infinitas imagens de si, reaparecendo
em todas e em cada uma de suas múltiplas partes (DA VINCI, apud FAYGA,
1998, p. XV).
seguinte, segundo seu autor, teria sido concebida “inicialmente como um suplemento
No entanto, como Brazil Builds está esgotado há vários anos, decidiu-se mais
tarde incluir aqui alguns dos exemplos mais importantes ali mostrados
anteriormente. Assim, será possível dar uma imagem mais completa do
desenvolvimento da arquitetura moderna no Brasil, dos seus primórdios no final
dos anos 20 até os dias de hoje. Mas este livro não substitui o belo trabalho de
Goodwin, nem isso jamais esteve nas minhas intenções.
O objetivo deste livro é antes apresentar, da forma mais condensada e ordenada
possível, por meio de um certo número de exemplos selecionados, a imagem
daquilo que o Brasil alcançou no campo da arquitetura moderna, de modo a
permitir um julgamento fundamentado, tanto por parte dos próprios arquitetos
quanto dos críticos daqui e do exterior (MINDLIN, 1999, p.21).
185
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
promoção dessa nova arquitetura no país, cuja sistematização mais ordenada daria
final dos anos 20, podem revelar a perpetuação da ideia de uma linha evolutiva que
culminaria com a gloriosa obra dos modernistas nos anos 50, momento dessa
narrativa. Se esse propósito for somado ao fato de ser tal autor também um
Odessa (cidade natal de Warchavchik), Henrique Ephim Mindlin, cujo pai era
se para o Rio de Janeiro no ano seguinte, quando foi nomeado para cargo público
no Governo Vargas, após vencer concurso para o projeto não executado da nova
Moderna do Rio de Janeiro. Esses dois últimos fatos são fortes indicativos das
Com uma visão mais sistematizada e muito pautada por questões projetuais,
Sua parte mais significativa é constituída por 224 páginas com 114 obras
quanto os textos. Cada uma delas, que em sua grande maioria é apresentada em
duas páginas, é identificada em primeiro lugar por seu autor (o que indica a
sempre absoluta primazia na apresentação das obras. Muitas vezes as fotos são de
Figura 39 – Páginas que apresentam a casa Domingos Dias do arquiteto Arnaldo Furquim no livro de Mindlin. Fonte:
MINDLIN, Henrique E. Arquitetura Moderna no Brasil. Rio de Janeiro: Aeroplano, 1999, pp. 74-75.
188
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
Figura 40 – Páginas que apresentam o Cassino da Pampulha do arquiteto Oscar Niemeyer no livro de Mindlin. Fonte:
MINDLIN, Henrique E. Arquitetura Moderna no Brasil. Rio de Janeiro: Aeroplano, 1999, pp. 190-191.
Figura 41– Páginas que apresentam o Edifício Caramuru do arquiteto Paulo Antunes no livro de Mindlin. Fonte: 189
MINDLIN, Henrique E. Arquitetura Moderna no Brasil. Rio de Janeiro: Aeroplano, 1999, pp 234-235.
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
O livro possui uma apresentação feita por Sigfried Giedion, que apesar de
brasileira floresce como uma planta tropical” (GIEDION, In: MINDLIN, 1999, p. 17) –
colonial à época republicana em três das suas treze páginas. As outras dez páginas
117
Que segundo Mindlin deveriam ser sanados para manter a alta qualidade que a produção arquitetônica tinha atingido até ali
(problemas que parecem continuar a nos assombrar).
190
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
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croquis e 33 fotos. Do universo das fotografias nove são obras do período colonial,
cinco do século XIX e dezenove do século XX, reforçando a supremacia tanto dos
autor julgou relevante incluir por se tratar de “projetos de interesse histórico ou obras
construídas.
nos anos 30, “a fase heróica” (MINDLIN, 1999, p. 27), com os mesmo episódios
outros desqualificados por Costa. Talvez por sua origem paulista, os acontecimentos
em São Paulo tenham lhe parecido mais relevantes, em especial no que ele chamou
1929.
predestinado ou um pequeno grupo, mas toda uma geração de estudantes que iria
que essa greve dava à implantação da nova arquitetura no país na versão de Mindlin
de um vínculo crucial entre a arte moderna e “os mais altos valores da vida
192
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
brasileira, com as fontes do passado, com a terra e com o povo” (MINDLIN, 1999, p.
espaço para dúvidas, e acaba por induzir sua exclusividade através das escolhas
1936 e sua estreita colaboração com a equipe responsável pelo novo projeto para o
193
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
Figura 42 – Capa do livro Arquitetura Moderna no Brasil, vale observar que a capa da publicação de 1956 foi mantida na
tradução brasileira de 1999. Fonte: MINDLIN, Henrique E. Arquitetura Moderna no Brasil. Rio de Janeiro: Aeroplano, 1999.
194
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
Nova Arquitetura no Brasil: 1925 a 1940” de 1965 é sem dúvida a mais dissonante
indignação desse autor com o alcance da trama que tinha se tornado oficial, na qual
ficou órfão aos 10 anos118. Autodidata teve sua carreira sempre vinculada ao meio
meados do século XX119. Em 1928 foi convidado por Oswald de Andrade para os
paulista, bem como frequentador de uma alta elite paulistana. Casou-se com a
jornalista e escritora Patrícia Galvão, a Pagu, em 1940 e nos anos 60 após ficar
viúvo juntou-se a pintora Wega Nery, com quem compartilhava a “Ilha Verde”, uma
Milliet, Mário de Andrade, Mário Pedrosa, Raul Bopp, Plínio Salgado e Di Cavalcanti,
dentre muitas outras figuras importantes no campo da cultura no Brasil. Foi membro
Na revista “Habitat”, fundada por Lina Bo Bardi e Pietro Maria Bardi, Ferraz
118
Quando perdeu a mãe que faleceu pouco depois da morte do pai e chegou a morar num cortiço com a avó.
119
Vide NEVES, Juliana. Geraldo Ferraz e Patrícia Galvão: a experiência do Suplemento Literário do Diário de S. Paulo
nos anos 40. São Paulo: Annablume, 2005.
195
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
traça um roteiro quase cronológico” (2011, p. 5). Nesse sentido a própria ordem de
1948 sobre os pioneiros da “nova” arquitetura no Brasil travado entre Ferraz e Costa,
1940” também pode ser considerado descendente. Essa publicação, por outro lado,
casa do arquiteto na Rua Santa Cruz, uma caricatura da 38ª Exposição Geral da
ENBA em 1931 e uma charge de 1929 que havia saído no número especial
Figura 43 – Charge da Revista Ilustração Brasileira de setembro de 1929 dedicada a Arquitetura e a Artes Afins,
que ilustra o livro de Ferraz. Fonte: FERRAZ, G. Warchavchik e a introdução da nova arquitetura no Brasil;
1925 a 1940. São Paulo. MASP. 1965, p. 34.
197
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
Em sua narrativa, Ferraz constrói uma trama de horizonte mais alargado para
Warchavchik e seus esforços para introduzir uma nova arquitetura no país, como
enfatiza as formas puras, mas raríssimas são as vezes que aparecem pessoas,
apenas retratadas quando interessa mostrar determinado grupo como a célebre foto
de Frank Lloyd Wright, Lúcio Costa e Gregori Warchavchik que abre o livro ou o
Figura 45 – Páginas do livro de Ferraz que apresentam a casa Silva Prado Neto. Fonte: FERRAZ, G. Warchavchik e a
introdução da nova arquitetura no Brasil; 1925 a 1940. São Paulo. MASP. 1965,pp.120 e 121.
trechos de textos de Lúcio Costa, que da maneira que são recortados e colocados
120
Como Mario de Andrade, Oswald de Andrade, Flávio de Carvalho, Cristiano das Neves, Richard Neutra, Le Corbusier,
Alberto Sartoris e Menotti Del Picchia, dentro vários outros.
199
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
textos originários. Também estão postos nessa parte textos do arquiteto como parte
Paulo do arquiteto.
A fala do jornalista teve pouco alcance e nenhum tipo de resposta que desse
Pouco interessante para a verve nacionalista que a Era Vargas havia legado à
história do Estado Novo e seus heróis, tão pertinente a outro governo militar que
acabava de tomar novamente o poder 121. Por outro lado, a trama desse jornalista
Mais um fator que corrobora com a exclusão dessa publicação do elenco das
narrativas capitais sobre o assunto é sua restrição aos primeiros anos da atuação do
121
O livro de Geraldo Ferraz é publicado no ano seguinte ao Golpe de 1964 e à instauraç ão da Ditadura Militar, período pouco
propício a qualquer tipo de dissonância. Num momento de tensão e conflito, logo seguido pelo mergulho em silêncio forçado
imposto ao cenário cultural brasileiro, a publicação de Geraldo Ferraz parece ter sido propositalmente esquecida e
intencionalmente apagada da historiografia nos anos 60.
201
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
Warchavchik e sua atuação como professor na ENBA sob a direção de seu sócio,
após os anos 40, quando ela ganha maior vulto. E assim, sistematicamente presente
com a trama costiana a afirmação que a introdução da nova arquitetura no país foi
que o herói seja outro. Mantém-se a ideia de uma instauração e não de um processo
primeiro de uma coleção do Instituto que visava cumprir uma política de afirmação
de atuação” (SANTOS, 1981, p. 03), foi originalmente uma palestra ministrada pelo
ano seguinte 122 . Essa narrativa ímpar na historiografia brasileira tem como autor
Belas Artes, onde foi colega de turma de Paulo Antunes, Paulo Camargo e Paulo
Pires com quem montou escritório em 1927 e o manteve até o fim de seus dias.
Como muitos colegas de seu tempo teve múltiplas frentes de atuação e além do
ainda nos anos 30, quando ministrou várias disciplinas vinculadas ao campo da
122
Esse texto parece ter sido importante nas pesquisas de Yves Bruand para sua tese de doutorado que deu origem ao livro
“Arquitetura Contemporânea no Brasil”. Na bibliografia junto à referência dessa coletânea encontra-se a seguinte observação:
“Estudo muito importante de Paulo F. SANTOS, “Quatro Séculos de Arquitetura”, p. 43 a 202, sendo 70 p. sobre o século XX”
(BRUAND, 1981, p. 387).
203
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
entraria logo em vigor e permaneceria até 1945, quando foi fundada a Faculdade
interino e depois efetivado por concurso público em 1951, Paulo Santos foi o
professor dessa disciplina, cargo que ocupou até sua aposentadoria em 1969 como
contexto social, político e econômico com os episódios no campo das artes e com
da cidade123. Sua narrativa tem como centro a cidade do Rio de Janeiro, mas faz
inclusive às obras do ecletismo, Santos não se eximi de expor sua avaliação crítica
das expressões de cada momento. Como modernista é mais ácido com as demais
123
Interessante perceber que ao longo da narrativa de Paulo Santos os episódios da história da arquitetura e do urbanismo vão
sempre sendo conjuntamente pontuados. Formato que possibilita uma melhor condição de compreensão da interação em
compasso ou descompasso entre eles em cada momento histórico.
204
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
porque se deu primeiro como palestra, provavelmente repleta de slides como ele
induz em sua afirmação na nota introdutória do livro: “os slides, constituíam, como
Em pé de página coloca que a seleção das fotografias foi feita por ele naquela
importância que ele dava a essa questão e por outro uma prática que passou a ser
comum nas narrativas dai por diante – a predominância da escrita e o uso das
grande maioria fotos, com alguns poucos desenhos antigos ou plantas, de resolução
205
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
Figura 48 – Página do livro de Paulo Santos em que aparece o Ministério da Educação e Saúde. Fonte: SANTOS,
Paulo, Quatro Séculos de Arquitetura. Rio de Janeiro: IAB, 1981, p 114.
206
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
O destaque fica para a capa com uma foto de Marcel Gautherot do centro do
Educação e a Igreja de Santa Luzia, originária do século XVI, que após intervenções
pequena ponta da Sede do Ministério do Trabalho. Esta mesma foto já havia sido
Figura 49 – Capa do livro de Paulo Santos. Fonte: SANTOS, Paulo, Quatro Séculos de Arquitetura. Rio de
Janeiro: IAB, 1981, p 234-235.
207
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
explicitamente revelada nas várias vezes e modos que ele é citado no texto de
central da trama costiana. Mesmo que na sutileza de sua construção não fique
evidente para um leitor menos atento a questão, para Santos esse momento
renovador não foi nem milagroso nem tão repentino, mesmo que na sua leitura
tenha sido uma explosão. No espaço dado aos acontecimentos das três primeiras
central como formador das condições de possibilidade que permitiram o que ele
mais luzes sobre a remodelação do Rio de Janeiro por Pereira Passos e seus
Corbusier.
124
Estes são subtítulos que nomeiam: o primeiro o item “Da Proclamação da República à Revolução de Trinta” e o segundo o
item “Da Revolução de Trinta à Eclosão do Movimento Moderno”, ambos da terceira parte “Período Republicano”.
208
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
Esse autor dá uma versão sobre essa “eclosão” sutilmente distinta da trama
costiana. Ela teria início na Revolução de Trinta – a responsável por colocar “os
Lúcio Costa para a direção da ENBA por indicação de Manuel Bandeira a Rodrigo
sobre os alunos de arquitetura, bem como os demais professores das outras áreas
como Leo Putz e Celso Antônio; a vinda de Frank Lloyd Wright e o importante
Affonso Eduardo Reidy e Gerson Pompeu Pinheiro, bem como as de Wladimir Alves
e sua equiparação ao engenheiro. Nos episódio em que Lúcio Costa participa, sua
figura é sempre exaltada, mas Santos também narra outros eventos que não eram
como de outros tantos arquitetos não só ampliam a trama histórica como também
209
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
Obra do Berço e chama a atenção para outras tantas realizações para além do
do movimento moderno no país. Como Mindlin já havia acenado reforça em sua fala
a condição mais coletiva e não tão restrita a um único e ínfimo grupo ligado a Lúcio
Costa nesse processo de renovação. Condição que pode ser lida, por exemplo, no
210
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
obra de Corbusier “não como um exemplo entre tantos outros, mas como o Livro
Sagrado da Arquitetura” (SANTOS, 1981, pp. 100-101).
(...)
Junho de 1936. Chega Le Corbusier. Momento culminante para a história da
nossa arquitetura. Impacto vigoroso sobre os moços, frente a um dos mais
proeminentes apóstolos de um mundo novo. (...)
A atuação de Le Corbusier foi absolutamente fundamental (SANTOS, 1981, p.
109).
Mesmo que tenha ampliado o grupo, assim como Lúcio Costa, Santos é
inflexão os mesmos fatos eleitos por Lúcio Costa em suas falas, somados a muitos
costiana mantem certos ecos ainda muito fortes na versão de Paulo Santos. Como
nas construções costiana, com uma franqueza ainda mais cortante, Santos situa a
211
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
plástica:
Infelizmente esse livro de Paulo Santos, que tão bem aponta certas
mesmo ano125.
traduzida para o português quase dez anos depois em 1981 é ainda hoje, como
afirma Nelci Tinem “o livro que apresenta o percurso mais exaustivo e sistemático da
história da arte. Vai para a École Française de Rome membro das 78ª e 79ª turmas
125
A disparidade da repercussão entre os dois livros pode ser em parte medida pela enorme quantidade de exemplares do livro
de Yves Bruand disponível nas bibliotecas dos cursos de Arquitetura e Urbanismo em todo o país e a ínfima quando existente
do exemplar do livro de Paulo Santos. Numa rápida pesquisa só nos cursos situados em Salvador, por exemplo, na biblioteca
da UFBA são 21 exemplares de Yves Bruand (mais um exemplar de dois dos três tomos do original em francês) e nenhum de
Paulo Santos (nem mesmo para consulta no local); na biblioteca da UNIFACS são 11 exemplares doe Bruand e nenhum de
Santos. Ao verificar em outro estado o mesmo acontece, na biblioteca da UFMG são 12 exemplares do Bruand e 2 de Santos.
126
A tese de Yves Bruaand “L’architecture contemporaine au Brésil” foi publicada pelo Service de Reproduction des theses /
Universite de Lille III, em três tomos, sendo os dois primeiros de texto escrito e o terceiro exclusivamente de ilustrações.
212
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
da 45ª turma (1954-1955). Fruto de sua investigação nesse período publica “La
produzidas no país se daria bem antes do início de suas pesquisas específicas para
sua tese sobre a nova arquitetura em terras brasileira. No início da década de 60, ele
sobre história da arte – segundo Walter Zanini teria sido este o primeiro momento de
Minas Gerais”, mas foi “L’architecture contemporaine au Brésil” que inscreveu com
arquitetura moderna no país. Bruand foi o primeiro a construir uma ampla narrativa
fala cujo narrador não era mais partícipe de nenhum dos episódios narrados, sem
pelo termo contemporânea para nomear a arquitetura que investigava e não nova ou
127
Yves Bruand é mais um professor francês que dá continuidade à prática da FFCL-USP de trazer professores europeus para
estruturar certos campos disciplinares. Prática que tem início na fundação da FFCL-USP nos anos 30 quando uma missão de
professores europeus, especialmente franceses vem para a capital paulista ajudar a organizar sua estruturação. Dentre eles se
encontravam o antropólogo Claude Lévi-Strauss, o historiador da Escola dos Annales Fernand Braudel, o sociólogo Roger
Bastide, o sociólogo Paul Arbousse Bastide, o filósofo Jean Maugüe, entre outros.
128
Vide ZANINI, Walter. Arte e História da Arte. In: Estudos Avançados. São Paulo: USP, vol. 8, n. 22, set./dez. 1994.
Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103-40141994000300070&script=sci_arttext. Acesso: 27 de agosto de
2013 às 16:08.
129
Ressalta-se que a Revista A CASA, uma das fontes principais desse trabalho não foi alvo das investigações de Bruand e
permaneceu fora do interesse dos pesquisadores sobre o tema até bem recentemente.
213
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
referencial sobre o tema, alguns limites dessa narrativa devem ser pontuados como
elogiosa quantidade de citações à Lúcio Costa e suas obras – entre textos, projetos
e realizações. A tangência dos interesses desses dois autores pode ser em parte
da trama costiana em Bruand não deve ser lida como uma repetição pueril da trama
de Lúcio Costa. O autor francês traça uma narrativa que como historiador de arte
tem seu interesse privilegiado nas formas expressivas da arquitetura como formas
plástica no campo das artes. Sua investigação que também é respaldada pelos
214
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
soluções que para ele haviam atingido grande excepcionalidade no que se refere à
atenção coincidiam, quase inteiramente, com aqueles narrados por Costa ou ligados
perpetuação de certa trama. Mais que isso a fala do paleógrafo acaba por consolidar
“milagrosa” formação da nova arquitetura no Brasil, que passa a partir daí a consistir
Costa em 1951 e só não tem exatamente o mesmo recorte temporal porque ambos
doutorado são diversos dos de um artigo de jornal, mas a maioria dos elos e dos
nexos é similar.
segundo Costa (1951) desse mesmo período. No capítulo referente a esse momento
direção da ENBA por Costa e finaliza com a atuação de Luís Nunes no Recife com
inédito destaque130.
130
O nome de Luís Nunes aparece nas falas tratadas anteriormente. Costa, Goodwin, Mindlin, e posteriormente Lemos citam
com pouca ênfase o trabalho desse arquiteto. Paulo Santos dá evidência maior ao papel de Luís Nunes no Rio e em Recife,
mas não com tal atenção e papel diferenciado como o faz Yves Bruand.
216
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
do início dos anos 30, Luís Nunes, a irradiação dessa arquitetura carioca para o
resto do Brasil e sua passagem de uma linguagem local para expressão nacional.
milagroso para Lúcio Costa e mágico para Yves Bruand – o advento instaurador da
instante mítico que funde num só momento de gênese o semeador genial, a terra
131
Com essa afirmação mesmo que equivocada, Bruand dá uma versão afirmativa para a relação entre a primeira visita de Le
Corbusier ao Brasil em 1929 e a mudança de direcionamento de Lúcio Costa, episódio que aparece dúbio tanto na versão de
Mindlin quanto na de Paulo Santos. Essa relação não é reconhecida pelo próprio arquiteto que dá outra versão para seu
redirecionamento tanto em sua autobiografia com em outras falas quando entrevistado. Vide COSTA, Lúcio. Lúcio Costa -
registros de uma vivência. Rio de Janeiro: Empresa das artes. 1995; e NOBRE, Ana Luiza (org.). Lucio Costa: Encontros.
Rio de Janeiro: Beco do Azougue, 2010.
217
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
Pampulha ainda dentro do instante instaurador visto que tem suas obras acabadas
talento desse pequeno grupo, cujo dom também é revelado nesse instante
Com efeito, bastou uma pequena equipe de jovens arquitetos trabalhar diariamente
com Le Corbusier, durante três semanas, em julho de 1936, para que seus membros
surgissem transformados como que por um passe de mágica, lançando-se em busca
de novos caminhos, e sendo logo seguidos pela maioria de seus colegas. (BRUAND,
1981, p. 81).
formação dessa nova arquitetura brasileira é dada como indiscutível nas falas
seguintes. O ecoar da fala costiana continua sendo tão duradouro que os textos de
maior alcance a partir dos anos 80, quando muito citam alguns acontecimentos
arquitetura no Brasil.
não mais à afirmação de uma linguagem expressiva, uma cultura visual moderna
conhecido, depois a obra e por último o tipo (se planta, corte, exterior, interior,
no texto escrito do número das figuras, que reforça o entendimento da imagem como
Figura 50 – Páginas do terceiro tomo da publicação da tese original em francês de Yves Bruand com imagens do
Ministério da Educação e Saúde. Cada imagem ocupa toda uma página de acordo com a orientação da fotografia e não de
uma diagramação mais elaborada da composição do livro. Fonte: BRUAND, Yves. L’architecture contemporaine au
Brésil. Lille: Service de reproduction des theses Universite de Lille III, 1973 pp.47/48.
219
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
distribuídas ao longo do texto. Colocadas o mais próximo possível da parte que faz
referência a cada uma das imagens, nessa versão elas têm tamanhos bastante
variados e não fica claro o critério adotado para essas diferenciações. Como a
programação visual do livro em português coube a terceiros e não foi definida nem
pelo autor do texto nem por seus tradutores, provavelmente as razões que levaram
que o autor intencionou dar maior visibilidade, porém definitivamente elas haviam
deixado o papel de
maior relevância
anteriores na afirmação
outra série agora intitulada “Arte e Cultura”, que deveria ter distribuição gratuita,
uma família de classe média132 Lemos nasceu em São Paulo onde voltou a morar
aos treze anos, após passar a infância no interior paulista. Era assíduo frequentador
Corona para ser seu assistente, começa em 1954 a dar aulas na FAU-USP. Em
Corona e Lemos teriam começado um trabalho que duraria cinco anos em busca de
132
A mãe era mineira e o pai um médico paulista.
221
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
da preservação cultural. Essa publicação, escrita quando seu autor ocupava o cargo
222
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
histórica sobre a arquitetura no Brasil, não se pode deixar de notar certo bairrismo
Figura 52 – Capa e contracapa do livro “Arquitetura Brasileira” de Carlos Lemos. Fonte: LEMOS, Carlos A. C. Arquitetura
brasileira. São Paulo: Melhoramentos, 1979.
223
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
moderna de Artigas para a Rodoviária de Jaú e na contra capa, como uma alusão à
Casa do Sítio Padre Inácio. Ambas sobre um fundo amarelo que traz em marca
d’água uma parte do desenho da Igreja de São João Batista em Cananéia no interior
fala distanciada já que o autor paulista, assim como o francês e diverso do carioca,
não foi contemporâneo ao processo de renovação, volta a ser uma fala de dentro do
fotos coloridas. Apesar da novidade da cor nas imagens, elas parecem não ter
preocupação cuidadosa com uma cultural visual moderna e nem mesmo com a
qualidade das fotos (algumas são muito ruins). De vários autores, muitas delas
224
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
Figura 53 – Cassino da Pampulha na imagem do livro de Lemos. Fonte: LEMOS, Carlos A. C. Arquitetura brasileira. São
Paulo: Melhoramentos, 1979, p. 143.
apresentadas cada qual em uma prancha com plantas e cortes (de leitura quase
nula). Somam-se a esses uma planta da Igreja do Pilar em Ouro Preto e outra do
acontecimentos narrados.
Figura 54 – Peças gráficas da casa do sítio Querubim, em São Roque/SP do século
VXIII na reprodução do livro de Lemos. Fonte: LEMOS Carlos. Arquitetura brasileira.
São Paulo: Melhoramentos, 1979, p. 71.
225
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
Assim como Mindlin em 1956, Carlos Lemos em 1979, mais de vinte anos
depois, nomeia o texto de Lúcio Costa de 1951 como principal referência do que ele
(...) pronuncia série de palestras que calaram fundo, fazendo com que naquele
momento ficasse caracterizado o surgimento de uma corrente arquitetônica
carioca sob égide das suas teorias funcionalistas (LEMOS, 1979, p. 141).
citar a Semana de Arte Moderna de 1922 evidencia sua “pouca influência” (LEMOS,
Lemos:
226
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
Essa conexão, como já pontuada nessa tese, não é reconhecida nem mesmo
pelo próprio Lúcio Costa que em sua autobiografia dos anos 90, relata a sua
Eu era totalmente alienado nesta época, mas fiz questão de ir até lá. Cheguei um
pouco atrasado e a sala estava toda tomada. As portas do salão da Escola estavam
cheias de gente e eu o vi falando. Fiquei um pouco depois desisti e fui embora,
inteiramente despreocupado, alheio à premente realidade (COSTA, 1995, p. 144).
instaurador da nova arquitetura foi o apontamento de uma expressão que até então
não havia sido contemplada como manifestação específica – o “art déco”, apesar de
alguns acenos do texto de Paulo Santos. Lemos aponta que nos anos 30 essa
ala das obras modernas. Na fala de Lúcio Costa de 1951, referência maior para
Lemos, o edifício A Noite foi descrito como uma “fase experimental” rumo ao
registro fotográfico de nenhum edifício que pudesse ser caracterizado com “art
então, é a primeira vez que essa forma expressiva é efetivamente diferenciada tanto
autor de modernismo.
Com essa nova distinção entre as obras modernas, mesmo que pontuando a
Paulo.
que segundo seu organizador tinha o propósito de cobrir a lacuna sobre a história
228
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
produção moderna que ocupa mais que a metade do espaço total da obra, depois a
pontuada como a mais expressiva e representativa das artes de tais momentos e por
fim o eco também nas artes da desqualificação das expressões ecléticas, postura
que nesse texto o recorte temporal tenha sido diferente, muitos pontos são
arquitetura brasileira que para ele teria definido um caminho que continuava sendo
percorrido pelos arquitetos até o momento de sua fala, Lemos pode aprofundar
propósito do livro de 1979, não o permitiram fazer. Dividida em: “Introdução”; “As
229
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
episódios dos anos 20, em especial a atuação de Warchavchik. A novidade fica para
“pioneiro da arquitetura moderna brasileira” (LEMOS. In: ZANINI, 1983, p. 827). Pela
1979, parece ter sido uma descoberta entre uma narrativa e outra. Flávio de
posterior ganha evidência nos “antecedentes” dos “tempos modernos”, onde também
230
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
Pública, Lemos o coloca lado a lado com a sede da ABI, mesmo que acompanhada
narrativo (apenas legenda) e a ter boa qualidade e maior expressão. Elas voltam a
fazer parte não apenas da visualização de algo narrado, mas para, além disso, dão
diferença das soluções do que o autor chamou de arquitetura carioca e paulista, com
Figura 56 – Abertura do texto de Lemos na coletânea de Zanini com os desenhos do conjunto projetado por 231
Flávio de Carvalho na Alameda Lorena em São Paulo. Fonte: ZANINI, Walter. História Geral das Artes no
Brasil. São Paulo: Instituto Moreira Salles, 1983, pp. 822/823.
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
Figura 57 – Página inteira de ilustrações do item “A arquitetura moderna carioca” do texto de Lemos. Fonte: ZANINI,
Walter. História Geral das Artes no Brasil. São Paulo: Instituto Moreira Salles, 1983, pp. 848/849.
Figura 58 – Página inteira de ilustrações do item “A arquitetura paulista” do texto de Lemos. Fonte: ZANINI, Walter.
História Geral das Artes no Brasil. São Paulo: Instituto Moreira Salles, 1983, pp. 858/859.
232
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
a Lúcio Costa e Frank Lloyd Wright, mas agora os retratos são em maior número e
Lemos como Victor Dubugras, Mina Klabin, e Flávio de Carvalho. Esse tipo de
representatividade.
Figura 59 – Fotos de Victor Dubugras e Oscar Niemeyer colocadas lado a lado por Lemos no item “As
primeiras obras modernas”. Fonte: ZANINI, Walter. História Geral das Artes no Brasil. São Paulo: Instituto
Moreira Salles, 1983, p. 829.
Figura 60 – Foto que reuni Lúcio Costa, Flávio de Figura 61 – Mina Klabin, esposa de
Carvalho e Gregori Warchavchik. Fonte: ZANINI, Walter. Warchavchik. Fonte: ZANINI,
História Geral das Artes no Brasil. São Paulo: Instituto Walter. História Geral das Artes
Moreira Salles, 1983, pp. 831. no Brasil. São Paulo: Instituto 233
Moreira Salles, 1983, p. 833.
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
deu origem a essa publicação foi escrita em inglês para fazer parte da coletânea
professora associada da Universidade de Brasília, tem uma trajetória que passa por
Marlene Milan Acayaba (1949) também arquiteta formada em 1973 pela USP, fez
toda a sua Pós-Graduação na USP cujo doutorado defendeu em 1991, e foi também
diretora do Museu da Casa Brasileira, dividi até hoje escritório de arquitetura com
seu sócio e marido Marcos Acayaba. No momento da produção desse texto Sylvia
Paulo entre os anos de 1950 e 1970. Para ambas as autoras essa publicação se deu
133
Segundo depoimento de Sylvia Ficher. Vide FICHER, Sylvia. A quatro mãos: Arquitetura Moderna Brasileira, 1978 -82. In:
mdc. Revista de arquitetura e urbanismo. Disponível em: http://mdc.arq.br/2011/03/29/a-quatro-maos-arquitetura-moderna-
brasileira-1978-82/. Acesso em: 04/09/2013 às 16:10.
134
Vide trecho “Do que a Marlene se lembra”. In: FICHER, Sylvia. A quatro mãos: Arquitetura Moderna Brasileira, 1978-82. In:
mdc. Revista de arquitetura e urbanismo. Disponível em: http://mdc.arq.br/2011/03/29/a-quatro-maos-arquitetura-moderna-
brasileira-1978-82/. Acesso em: 04/09/2013 às 16:10.
234
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
(...) em São Paulo, recebo outra carta – datada de 5 de julho de 1978, o que
estabelece cientificamente o início da novela – de um tal professor Warren
Sanderson, explicando que está organizando um livro e que a Dra. Joyce Bailey
– deve ser a tal pesquisadora, mas juro que o nome não me traz nada à memória
– havia me indicado como alguém que poderia, por sua vez, indicar
pesquisadores daqui para preparar um capítulo sobre arquitetura brasileira.
Evidentemente, pensei logo em me oferecer para escrever o capítulo. Contudo, a
tarefa estava muito além da minha competência, precisava achar alguém para
trabalhar comigo. Tudo clicou naquela conversa com a Marlene no apartamento
da Marta Dora. Da conversa com a Marlene me lembro como se fosse hoje,
nossos interesses e dúvidas eram parecidos. Tinha encontrado a parceira ideal!
(...)
Eis a gênese do Arquitetura Moderna Brasileira, o capítulo sobre o Brasil, ou
melhor, “Brazil”, do Handbook. Tudo muito canhestro e mal articulado, coisa de
principiante, porém fruto de uma excepcional amizade, escrito com a
despreocupação da mocidade.
é também fruto da sociedade em que vive e da própria história, vista como “o modo
cultural” (CHAUÍ, apud FICHER & ACAYABA, 1982, p.04). Nesse sentido, portanto
135
Vide trecho “Do que a Sylvia se lembra”. In: FICHER, Sylvia. A quatro mãos: Arquitetura Moderna Brasileira, 1978-82. In:
mdc. Revista de arquitetura e urbanismo. Disponível em: http://mdc.arq.br/2011/03/29/a-quatro-maos-arquitetura-moderna-
brasileira-1978-82/. Acesso em: 04/09/2013 às 16:10.
235
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
Figura 62 – Monumento rodoviário de Guaranhuns/PE do arquiteto Armando de Holanda. Fonte: FICHER, Sylvia & ACAYBA,
Marlene Milan. Arquitetura moderna brasileira. São Paulo. Projeto. 1982, p 101.
geniais sobre o vácuo da não arquitetura? Obviamente que tentar mapear uma
236
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
início dos anos 50, com absoluto destaque para as obras de Oscar Niemeyer,
237
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
concreto.
Figura 63 – Capa do livro de Ficher e Acayaba. Fonte:
FICHER, Sylvia & ACAYBA, Marlene Milan. Arquitetura
moderna brasileira. São Paulo. Projeto. 1982.
para dúvidas ou questionamentos sobre esse momento inicial, ele é posto e tomado
teria dado a linha de união a essa arquitetura. Nessa parte final ficam ainda mais
Porém, mesmo diante de opções tão amplas, não nos pode passar
desapercebida a influência marcante e unificadora exercida pelos três arquitetos
contemporâneos mais significativos: Lucio Costa, pioneiro do ensaio da
arquitetura e do urbanismo modernos; Oscar Niemeyer, cuja obra definiu o
caminho plástico dominante da arquitetura brasileira e Vilanova Artigas que criou
no currículum da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São
Paulo o modelo de ensino da arquitetura agora difundido no país (FICHER &
ACAYABA,1982, p. 112).
das fotos não sejam excepcionais e isto se deve mais a qualidade do material e
238
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
destaque que ocupam. São todas em preto e branco e muitas delas ocupam página
inteira. Com exceção do prefácio e da conclusão, relativamente curtos, que não tem
páginas das 103 que compõem o desenvolvimento da narrativa não tem nenhum
plantas, perspectivas e muitos cortes que compõe o conjunto das imagens. As peças
gráficas não chegam a ter o rigor e regularidade que Mindlin imprimiu em seu livro,
da Educação e Saúde, por exemplo, foi descrito em dois parágrafos e três páginas
de ilustração, uma com a foto de corpo inteiro que ocupa toda uma página e outras
239
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
Figura 65 – Páginas que apresentam croquis de estudos preliminares para o Ministério da Educação e Saúde. Fonte:
FICHER, Sylvia & ACAYBA, Marlene Milan. Arquitetura moderna brasileira. São Paulo. Projeto. 1982, pp 10.
Como na maioria das imagens das obras nas demais publicações, as pessoas
para o olhar e passam a ser também (e bem mais) lugares vividos, apropriados.
240
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
também interessante notar a diferença entre elas – enquanto a foto de Paglia parece
241
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
É também no início dos anos 80 que a Abril Cultural e Industrial lança uma
textos são de Carlos Lemos, José Roberto Teixeira Leite e Ana Maria Jover. Esta
dessa fala 136 . Mesmo sem uma expressiva produção intelectual na área, as
A narrativa após uma brevíssima introdução é dividida em: “Os anos 20”; “O
apogeu do ‘Art Déco’”; “O grande marco da arquitetura moderna”; “Em busca de uma
136
Pela proximidade da narrativa dessa autora às narrativas do professor Carlos Lemos em outras publicações sobre o tema,
acredito que possivelmente tenha havido algum vínculo significativo entre esses dois pesquisadores. A suspeita que a autora
fosse orientanda de mestrado ou doutorado de Lemos não se confirmou em pesquisa no banco de teses e dissertações da
USP, nem no Currículo Lattes do Professor Carlos Lemos. É bem possível que ela tenha sido aluna de Lemos em alguma
disciplina voltada para a história da arquitetura brasileira. Outra possibilidade é essa autora ter trabalhado junto com ele em
pesquisa sobre o tema.
242
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
Discorre rapidamente sobre o apogeu do “art déco” nos anos trinta e aponta o
Pública como “o grande marco da arquitetura moderna” (JOVER, In: CIVITA, 1982,
Interessante nessa versão é que a autora abre uma seção destacada para os
como o texto centra-se muito na arquitetura paulista, com exceção dos episódios da
ao resto do país, mais uma vez a “história” da arquitetura brasileira é contata como a
Artigas e seus ecos no resto do país. Mesmo que dada a notícia de outras
Em 1964, Artigas foi preso e Niemeyer foi obrigado a deixar o país por razões
políticas. Embora os seus seguidores tenham levado adiante, com vigor e
brilhantismo, as propostas fundamentais dos dois grandes mestres, não se
formaram nas universidades brasileiras novas idéias das quais emergissem
correntes alternativas.
De qualquer forma, a atividade arquitetônica nos anos subsequentes foi das mais
intensas. Na década de 70, como, reflexo imediato do “milagre econômico”,
assistiu-se a uma verdadeira febre de construções públicas e privadas, em todo
o país, exibindo uma total variedade de estilos.
(...) Construíram-se prédios de apartamento aos milhares, em estilos duvidosos
(...) geralmente indistintos compondo uma estranha colagem arquitetônica. Essa
“recaída” eclética também se verificou nas mansões construídas nos novos
bairros elegantes, onde se pode encontrar concreto aparente e amplas paredes
de vidro fumê em projetos antiquados, inadequados a esses materiais (JOVER,
In: CIVITA, 1982, pp. 273 / 274).
forte eco das falas de Lúcio Costa. Assim mais uma vez o processo de formação da
Vilanova Artigas. E ainda pior, a constatação no mínimo infeliz de que na falta deles
244
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
inteiro das obras e são poucas as tomadas interna e menos ainda detalhes
“brutalismo” que são absoluta maioria nas imagens. Sobre o processo de renovação
245
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
Figura 70 – Interior da Catedral de Brasília na abertura do capítulo intitulado “A Arquitetura Moderna” na coleção “Arte no
Brasil”. Fonte: JOVER, Ana Maria. A Arquitetura Moderna. In: CIVITA, Victor (org). Arte no Brasil. São Paulo: Abril
Cultural e Industrial, 1982, pp. 254/255.
246
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
1900-1990”, pela primeira vez nas narrativas nacionais de grande visibilidade outras
modernas, mesmo que ainda não equivalentes à canônica vertente modernista que
formado pela USP em 1979, defendeu sua dissertação de mestrado em 1988 e sua
Autor de vários livros, capítulos de livro e artigos, entre os anos de 2002 e 2007 foi
como por quase uma década da retomada do debate reflexivo após a reabertura
política do país.
247
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
Mesmo com todos esses extratos e uma ampliação generosa e rica dos
consagrada.
O eco mesmo que enfraquecido das falas de Lúcio Costa ainda reverbera.
um marco divisor, um ‘rumo diferente’ que assegurou uma ‘nova era’”. (SEGAWA,
1997, p. 100).
Apesar de alguns poucos ecos Hugo Segawa com certeza foge ao que ele
249
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
Praticamente dão forma e/ou destaque a algo já descrito. Todas em preto e branco,
elas são relativamente pequenas e poucas vezes ganham dimensão um pouco mais
intervenções urbanas, mas não há nenhuma planta baixa de edifício, o que reforça o
fotos são em sua grande maioria ângulos distantes dos edifícios e conjuntos
construtivo.
arquitetura brasileira.
250
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
Figura 72 – Lúcio Costa à frente do Ministério da Figura 73 – Álvaro Vital Brazil à frente do Edifício
Educação e Saúde no livro de Segawa. Fonte: Esther no livro de Segawa. Fonte: SEGAWA, Hugo.
SEGAWA, Hugo. Arquiteturas no Brasil 1900- Arquiteturas no Brasil 1900-1990. São Paulo:
1990. São Paulo: EDUSP, 1997, p. 93. EDUSP, 1997, p. 86.
Vale ressaltar que são muitos os croquis e peças gráficas, aparecem inclusive
251
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
Figura 75 – Página com desenhos ilustrativos do livro de Segawa. Fonte: SEGAWA, Hugo.
Arquiteturas no Brasil 1900-1990. São Paulo: EDUSP, 1997, p. 99.
252
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
Caixa Econômica Federal, organizada por Briane Elisabeth Panitz Bicca e Paulo
Renato Silveira Bicca, faz parte tanto do projeto da UNESCO chamado “História do
Paulo Carneiro que visa desde então num esforço coletivo produzir estudos e
à diversidade” (In: BICCA e BICCA, 2007, p.6); como das iniciativas da Caixa
povo brasileiro” (In: BICCA e BICCA, 2007, p.4). É assim que a história da
arquitetura é contada então, não pelo mais corrente viés da história da arte ou da
cultura, mas sim pelos enlaces da produção arquitetônica com os ciclos econômicos
253
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
Hugo Segawa acabam por tecer efetivamente outra trama sobre a formação da
uma era”, “Pelo menor preço, a melhor casa”, “Sanear e educar: deveres da
alguns bem distantes dos maiores centros produtivos brasileiros que ultrapassaram
alguns casos, em rincões nos quais se via pela primeira vez um projeto arquitetônico
ministeriais e das demais obras levadas a cabo por essas instituições ressalta os
“desencontros” (SEGAWA, In: BICCA e BICCA, 2007, p. 328) dos episódios e usa o
255
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
torna bem mais alargado, coletivo e controverso. Mesmo que destacada, a Sede do
Ministério da Educação tem seu papel redimensionado e perde por completo a áurea
(...) Mas é certo que, no pós-Segunda Guerra Mundial, a linha que vai ganhar
força na arquitetura oficial derivou da modernidade à Le Corbusier, expressa na
sede do Ministério da Educação e Saúde. Arquitetos de carreira no serviço
público, como Jorge Machado Moreira (1904-1992), que desenvolveu inúmeros
projetos de sanatórios para tuberculosos, clínicas fisiológicas e hospitais, além
de comandar o Escritório Técnico da Universidade do Brasil; Carlos Frederico
Ferreira (1906-1996), chefe do setor de arquitetura e desenho da Divisão de
Engenharia do IAPI; ou Affonso Eduardo Reidy (1909-1964), à frente do
Departamento de Habitação Popular do Distrito Federal, propiciaram a afirmação
de uma linha de arquitetura moderna, cujo corolário, sem dúvida, é Brasília.
(SEGAWA, In: BICCA e BICCA, 2007, pp. 330/331).
mapeado por Segawa que coloca a transformação de ação pontual para uma prática
partir dos anos 30 até culminar com a criação da nova capital nacional. Na exaltação
arquitetura brasileira. Sem lhes retirar a importância singular esse autor os retira dos
256
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
construção narrativa. Essa importância pode ser em grande parte explicada pela
BICCA, 2007, p. 15). Numa seleção e qualidade de impressão primorosas, bem com
singularidade. Isto porque as únicas obras que mereceram fotos que ocupam toda
257
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
Figura 77 – Foto de página inteira do Ministério da Educação e Saúde no Rio de Janeiro. Fonte: BICCA, Briane
Elisabeth Panitz e BICCA, Paulo Renato Silveira (orgs.). Arquitetura na formação do Brasil. Brasília: Unesco,
IPHAN/Programa Monumenta, 2007, p.328 .
258
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
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Figura 78 – Capa do livro “Arquitetura na formação do Brasil”. Montagem com fotos de Marcel Gautherot. Fonte: BICCA,
Briane Elisabeth Panitz e BICCA, Paulo Renato Silveira (orgs.). Arquitetura na formação do Brasil. Brasília: Unesco,
IPHAN/Programa Monumenta, 2007, capa .
259
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
arquiteto gaúcho Carlos Eduardo Dias Comas (1943) o responsável por falar sobre a
defendido em 1977 e em 2002 se torna Doutor pela Universidade de Paris VIII. Com
a coletânea “Arquitetura Brasil 500 anos”, este autor cursava o doutorado em “Le
ao grupo vinculado à Costa. Bem aos moldes panfletários dos cinco pontos da
Num discurso que se abre para outras formas narrativas para contar “a
mesma história”, Comas constrói uma fala que cria uma tensão na linearidade mais
grupo liderado por Costa e a sede da Associação Brasileira de Imprensa dos irmãos
ministerial é reforçada ainda pelo maior espaço e destaque dado às suas ilustrações.
subdivisão do período já citados talvez seja o maior indicativo desse eco. A trama de
ele o importante trabalho dos irmãos Roberto não deixa, nas entrelinhas do texto e
corbusiana e não reconhece nenhuma das outras expressões que tiveram lugar no
país. Mesmo que bem concatenada, com análises inéditas sobre a espacialidade
das obras paradigmáticas eleitas, a trama dessa fala é enfática em manter a versão
dos arquitetos geniais. Para uma coletânea de tal alcance que pretende mapear 500
uma fala que reitera a trama auto legitimadora de Lúcio Costa, mesmo
batalha ganha” (COSTA, 2010, p. 162) nos parece bastante reducionista para dar
nacional.
261
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
Assim, mesmo que por outros argumentos discursivos, essa fala se dá num
antecedentes importantes do início dos anos 30 são todos de uma forma ou de outra
Oscar Niemeyer.
arquitetura como prioritariamente obra de arte que compartilha com Lúcio Costa,
as soluções da ABI, assinala como primeira questão que justifica sua afirmação a
(COMAS, In: MONTEZUMA, 2002, p. 193). Nesse horizonte não há espaço, por
exemplo, para a importante contribuição das obras voltadas para habitação sociais e
262
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
pequeno grupo: “Em meio ano, a contribuição brasileira à arquitetura moderna se faz
Mesmo que o Cassino feche, o Hotel da Pampulha se detenha e a Capela seja objeto
de uma polêmica viciosa a seguir, mais duma dúzia de projetos, atendendo a uma
gama diversificada de programas, exemplificam já uma arquitetura moderna à brasileira
de base carioca, preocupada com a caracterização apropriada de programa e situação,
na escala de terreno, entorno, região, país e época. Nesse sentido, arquitetura
moderna e tradição acadêmica se postulam tacitamente como aliadas. Como o via
Lúcio, a arquitetura moderna implica o debate e a conciliação entre uma concepção
estática, plástico-ideal e mediterrânea da forma, perseguindo a beleza dum cristal; e
uma concepção dinâmica, romântica, nórdico-oriental, orgânico-funcional, em que a
beleza desabrocha como flor; entre a constante clássica e a constante barroca
examinada por Eugenio d’Ors.
Nessa década que se convencionou chamar heroica, o sistema compositivo de raiz
corbusiana se enriqueceu com o debate entre o impulso barroco e o substrato clássico,
aquele exemplificado pelo movimento ordenado e pelo culto da ambiguidade espacial e
figural, este pela elevação tripartida, reiteração do esquema do vazio entre dois sólidos
e simetria conceitual. (...) A materialidade é sensual (...). A seleção de material e
componente dentro do repertório é função de sua adequação pragmática e simbólica,
ressalvada a preferência pela extroversão e pela exuberância. (COMAS, In:
MONTEZUMA, 2002, p. 224 e 226).
pomposas da fala de Comas que no tecer da escrita são menos incisivas que a força
conjunto que mistura mapas, peças gráficas, perspectivas, fotos antigas e novas, a
desenho tanto como criação quanto como representação – ao lado de uma foto de
Figura 79 – Páginas dedicadas a apresentar o Ministério da Educação e Saúde em tratamento destacado na narrativa de
Comas. Fonte: MONTEZUMA, Roberto (org.). Arquitetura Brasil 500 anos. Recife: UFPE, 2002, pp. 190/191.
137
Arquiteto e fotógrafo nascido em 1944 no interior paulista é mestre e doutor pela USP. Sua dissertação “O Uso da Fotografia
na Interpretação do Espaço Urbano”, foi defendida em 1986 e sua tese “A Fotografia e a Arquitetura” em1994. E é um dos mais
importantes fotógrafos de arquitetura paulistana que há mais de duas décadas documenta sistematicamente a capital paulista,
com trabalhos em outras regiões. Em 1994 fez uma exposição intitulada “Brasil: Arquitetura Recente” no Deutsches
Architektur Museum em Frankfurt.
264
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
Figura 80 – Imagens da ABI, em tratamento bem menos destacado que àquele dado ao Ministério da Educação e
Saúde. Fonte: MONTEZUMA, Roberto (org.). Arquitetura Brasil 500 anos. Recife: UFPE, 2002, p. 193.
Figura 81 – Páginas dedicadas a apresentar o Cassino da Pampulha em tratamento destacado na narrativa de Comas.
Fonte: MONTEZUMA, Roberto (org.). Arquitetura Brasil 500 anos. Recife: UFPE, 2002, pp. 204/205.
265
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
inteiras, em destaque absoluto, e ainda por sua planta e perspectiva hibrida entre
como projeto, mas como pensamento exemplar do mestre “Janus bifronte, o deus
dos inícios” (COMAS, In: NOBRE [et al.], 2004, p.30). Dessa obra também estão
Figura 82 – Página dupla com a foto da Igreja de São Francisco na Pampulha. Des taque na narrativa de Comas. Fonte:
MONTEZUMA, Roberto (org.). Arquitetura Brasil 500 anos. Recife: UFPE, 2002, pp. 210/211.
Outras belas imagens também habitam essa fala, mas não igualam a
peças gráficas e fotos, porém bem distante da similaridade das expressões que a
espaço e tipos de imagens dado a cada obra, na fala de Comas o espaço dado a
266
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
ínfimo número de obras que merecem ser ilustradas. Vale ressaltar que é ainda
Educação. Se no texto escrito é no último momento que essas duas obras colocadas
par e passo são diferentemente valoradas, essa diferença é gritante na leitura das
irmãos Roberto. Como uma espécie de medalha de prata dada aos segundos
colocados, essa obra mereceu uma foto panorâmica colorida de página inteira, uma
belíssima foto em preto e branco de Marcel Gautherot de quase meia página e uma
página completa para suas peças gráficas desenhadas em preto num fundo
267
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
Arte Moderna – IVAM, sob a curadoria de Jorge Schwartz, a iniciativa tinha como
de Brasília. Assim mais uma vez como no “Brazil Builds” uma publicação vinculada a
muitas delas modelares, de alguns dos estrangeiros que visitaram o Brasil no século
USP em 1974, Mestre em História Social por essa mesma instituição em 1988 esse
138
Todos os títulos que nomeiam os capítulos do livro são escritos em caixa alta e neste é o único propositalmente o nome do
Brasil vem iniciado por letra minúscula.
268
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
Urbanismo da USP- São Carlos (cargo que ocupa até hoje, atualmente como
território”.
– o que deveria implicar em uma mínima, para não dizer íntima, relação entre a
costiana estão em pontos chaves de sua leitura sobre a nova arquitetura e seu
139
A exceção da narrativa de Hugo Segawa que enlaça o campo da arquitetura e urbanismo ao processo econômico de
industrialização do país é de 2007 e portanto posterior à essa fala de Carlos Martins.
269
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
ganhou maior espaço no final desse período, permeadas pela questão da identidade
Mesmo que essa advertência seja voltada para reconhecer que esse é um
momento preparatório e que a efetiva renovação se daria a partir dos anos 30 com
epicentro na capital do Brasil, ela também serve para uma reflexão mais distendida e
nova arquitetura, cuja natureza se deu mais na ordem de uma paulatina construção
impacto foi de “uma espécie de bomba de efeito retardado”, nas artes plásticas foi
imediato com o Salão de 31, no qual pela primeira vez numa mostra oficial a
270
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
alguns arquitetos já conhecidos e outros nem tanto para mostrar a diversidade das
matrizes das primeiras tentativas, com especial destaque para a obra de Luís Nunes
momento instaurador:
tradição como definiu Lúcio Costa e reforçaram seus vários ecos. Esse
num processo mais coletivo, não tão repentino, imerso num favorável contexto
271
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
campo das artes, mote geral da exposição e da publicação, que poderia levar a um
arquitetura que uma iniciativa dessa natureza poderia facilmente levar, não é esse o
Paul Veyne que entende a história como trama narrativa verídica e dos enlaces entre
Costa para a arquitetura moderna brasileira, com destacado trabalho sobre o tema
que não chegue a identifica-las. Essa mesma estratégia é usada quando esse autor
tais acontecimentos. Nessa parte são colocadas apenas cinco ilustrações pequenas:
Corbusier para as distintas propostas que ele faz para o Ministério da Educação e
Saúde, uma foto aérea do Conjunto Nacional de David Libeskind e o projeto de Burle
Figura 84 – Fotografia de abertura do texto de Carlos Martins mostra Lina Bo Bardi na escada de acesso a sua
casa de vidro em São Paulo. Fonte: SCHWARTZ, Jorge (org.). Da Antropologia a Brasília: Brasil 1920-1950.
São Paulo: Cosac & Naify, 2002, p. 371.
273
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
moderna no Brasil, mesmo que ainda fique praticamente restrita ao eixo Rio-São
Paulo. Vale pontuar que embora a visada dessa fotografia compartilhe com a cultura
sombra, assim com a sua obra, contra a luz que revela o horizonte iluminado de
colinas cobertas por uma vegetação quase intocada alterada apenas por caminhos
140
Francisco Afonso de Albuquerque (1917-2000) foi fotógrafo profissional. Nascido em Fortaleza desenvolve sua carreira em
São Paulo. Foi o responsável por fotografar os bastidores do filme inacabado de Orson Welles It’s All True, parte da política da
boa vizinhança que deu origem ao “Brazil Builds”.
274
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
no texto, visto que esses arquitetos já haviam sido incorporados por vários outros
autores nas tangências das tramas historiográficas mais recorrentes. Desse modo,
chega às outras partes do país através da ação direta dos profissionais formados
nesses dois grandes centros, representados pela obra de Luís Nunes no Recife.
Figura 85 – Primeira página da parte de ilustrações da narrativa de Carlos Martins apresentando a obra de Warchavchik. Fonte:
SCHWARTZ, Jorge (org.). Da Antropologia a Brasília: Brasil 1920-1950. São Paulo: Cosac & Naify, 2002, pp. 384/385.
275
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
Figura 86 – Página que apresenta o Ministério da Educação e Saúde. Edifício que nessa narrativa teve o maior número
de fotografias. Fonte: SCHWARTZ, Jorge (org.). Da Antropologia a Brasília: Brasil 1920-1950. São Paulo: Cosac &
Naify, 2002, pp. 402/403.
Figura 87 – Página que apresenta Obras de Oscar Niemeyer. Arquiteto que nessa narrativa teve o maior número de
obras apresentadas. Fonte: SCHWARTZ, Jorge (org.). Da Antropologia a Brasília: Brasil 1920-1950. São Paulo:
Cosac & Naify, 2002, pp. 414/415.
276
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
um movimento mais coletivo no texto escrito que aparece muito pouco nas imagens
e menos ainda nas maquetes escolhidas para representar com maior ênfase a
Oscar Niemeyer. Estes últimos são usados para exemplificar o que Martins chamou
de “Arquitetura para a metrópole”, como mais uma das suas distâncias da trama
Há, portanto, certo descompasso entre as mensagens contidas nas duas partes da
narrativa, talvez explicável por ser uma exposição no campo geral da expressão
mesmo que o autor do texto específico deixasse registrado seu olhar um tanto
diverso da “história”.
277
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
A arquitetura moderna brasileira do final dos anos 30 e início dos anos 40 é, sem
dúvida, um dos pontos altos de nossa arte no século passado. Moderno e
brasileiro, cujo embrião inicial constituiu minha tese de doutorado em
antropologia social, delineia o retrato desse fascinante momento em que se
produziu a revolução estética na construção em nosso país. (...) Esse processo
de transformação que provocará uma revolução estética começa com a
consultoria de Le Corbusier no prédio do Ministério da Educação e Saúde
(1936), é difundida através de ações da Política da Boa Vizinhança (1940-45),
chega à maioridade por ocasião do projeto da Pampulha (1942-43) e atinge seu
ápice na construção de Brasília (1956-60), fechando o ciclo que se convencionou
chamar de Alto Modernismo na arquitetura brasileira. (CAVALCANTI, 2006, p. 9).
doutorado. Nessa fala ele afirma a instauração de uma nova linguagem vinculada à
278
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
Esse autor tece uma trama no enlace entre poder público, elite dominante e
país. Posto num campo de batalha a fala discorre sobre a vitória, os vitoriosos e
seus percursos para atingir e manter um poder. Nesse sentido a habitação popular
monumentos do futuro. Segundo esse autor Lúcio Costa e equipe seriam o polo
linguagem.
Com tal forma de olhar e tal recorte, não é muito difícil compreender o porquê
141
Mais que interação, pode-se aferir contenção e controle das classes populares no sentido que o texto coloca. Vale também
aqui pontuar que a leitura do enfrentamento dos arquitetos modernos, com destaque para Lúcio Costa, Affonso Reidy e Ernani
Vascocellos como os “responsáveis pelos principais projetos e textos acerca da moradia popular no Brasil” (CAVALCANTI,
2006, p. 12) é extremamente discutível.
279
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
arquitetônica no país. Isto porque esse autor continua a reiterar a repetida e restrita
2006, p. 10). Os nomes que aparecem invariavelmente nas três frentes são os de
entre Brasil e Estados Unidos nas décadas de 1930 e 1940”; por último “Pampulha e
280
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
reduzido aos acontecimentos da própria trama costiana. Não são reconhecidas nem
A trama nessa narrativa pode ser entendida em seu duplo sentido, vale tanto
para designar o enredo que enlaça os fatos históricos como para os artifícios e
destaque para esse último significado. Interessante notar que as imagens assumem
dos entendimentos da história dos objetos para o das pessoas e seus domínios de
arquitetura, fazem aparecer bem mais as fotos dos sujeitos e dos encontros desses
sujeitos. Encontros diretos como na foto que reuni Gustavo Capanema, Carlos
exposição.
281
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
Figura 89 – Capanema e Vargas na apresentação dos planos Figura 90 – Cerimônia de lançamento da pedra
para a cidade universitária no livro de Cavalcanti. Fonte: fundamental do MÊS com Capanema cercado
CAVALCANTI, Lauro. Moderno e brasileiro: a história de uma pelos modernistas. Fonte: CAVALCANTI,
nova linguagem na arquitetura, 1930-1960. Rio de Janeiro: Lauro. Moderno e brasileiro: a história de
Jorge Zahar, 2006, p.11. uma nova linguagem na arquitetura, 1930-
1960. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2006, p.54.
única planta baixa – o térreo do Pavilhão Brasileiro para Feira de Nova York em
que merece atenção nas fotos é a pouca relação entre as obras arquitetônicas e as
282
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
cavaletes.
Figura 91 – Página ilustrativa do livro de Cavalcanti que mostra os focos separados de seu
interesse sem intermediações (ou centra-se no edifício ou nas pessoas). Fonte: CAVALCANTI,
Lauro. Moderno e brasileiro: a história de uma nova linguagem na arquitetura, 1930-1960.
Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2006, p.59.
283
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
Figura 92 – Imagem que abre o item sobre o Figura 93 – Primeira imagem da introdução do livro de
Ministério da Educação no livro de Cavalcanti. Cavalcanti, que mostra Agache apresentado seu plano
Fonte: CAVALCANTI, Lauro. Moderno e brasileiro: para o Rio. Fonte: CAVALCANTI, Lauro. Moderno e
a história de uma nova linguagem na arquitetura, brasileiro: a história de uma nova linguagem na
1930-1960. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2006, p.32. arquitetura, 1930-1960. Rio de Janeiro: Jorge Zahar,
2006, p.8.
segue o caminho sinalizado por Carlos Martins e busca mapear outras tantas falas
284
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
contato direto; a tentativa de reformulação da Escola de Belas Artes por Lúcio Costa
entre 1930/1931 que tentaria institucionalizar uma formação moderna e mesmo sem
sucesso abriria o embate e desperta o interesse da geração que logo daria novas
moderno no Brasil a partir dos anos 40, ainda paira uma espécie de bruma sobre o
285
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
arquitetura.
formação profissional dos arquitetos ainda pendia para uma orientação tradicional, e
internacional, outras falas, outras modos de fala e outros ecos foram necessários
havia observado Sigfried Giedion em 1956, não se ateve ás soluções dos maiores
“história oficial” não registrou e o tempo apagou, em todos os cantos do país. Para
época.
286
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
periódicos de cultura eram mais meteóricos que os periódicos técnicos, isso se dava
pela vantagem em relação a esses últimos de uma quantidade bem mais generosa
revistas técnicas eram em número bem mais reduzido que as de interesse mais
urbanismo no Brasil.
142
Ver Linha do tempo em WERNECK, Humberto (editor). A Revista no Brasil. São Paulo: Abril, 2000.
143
Ver artigo “Revistas de arquitetura no Brasil”. Acrópole, edição comemorativa dos 25 anos da revista,1963, n.295/296, pp.
201a 203.
287
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
ordem disponíveis neste início de século XXI, num cenário onde a troca e circulação
288
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
em cores e matizes mais variados que aqueles utilizados pela crítica e pela narrativa
exposições, catálogos e debates nos artigos de jornal, foi abrir uma fenda na rígida
formação acadêmica por onde a brisa fresca de uma renovação multifacetada pode
passar. Essa fenda foi sendo paulatinamente alargada até se tornar um abismo e a
divergências sobre as formas e sentidos de ser moderno. Esse processo foi bem
Portanto foram raros e fracos os ecos das múltiplas falas das revistas nas
maneira, ainda mais duradoura na prática projetual brasileira na qual uma linguagem
formação de grande parte dos arquitetos brasileiros que vinham de instituições nas
conteúdos disciplinares eram eminentemente voltados para o campo das artes e não
da construção – a exceção de São Paulo cujo curso era ligado à escola Politécnica.
290
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
no período. Publicação mensal, esse periódico somou um total de 304 edições até
seu encerramento em 1949 – o que indica sua larga penetração entre o público
1971 – o que a tornou uma das mais importantes revistas brasileiras de arquitetura
do século XX. Porém esse último periódico teve início em maio de 1938, momento
permitiu sua adoção pelo poder público. Como indubitável exemplo dessa condição
pode-se apontar, para além de uma série de edifícios públicos, todas as sedes
Instituto dos Arquitetos do Brasil se deve ao fato de ter sido ela a revista do IAB,
144
O total desse aumento significa cerca de 20% das edições da “A CASA”.
145
Mesmo que o Ministério da Educação e Saúde tenha sido a vedete, não passou despercebido aos americanos do “Brazil
Builds” a modernidade, mesmo que multifacetada, das representações construtivas governamentais brasileiras, ressaltadas
ainda mais quando comparadas aos edifícios públicos americanos neoclássicos construídos para o “Federal Triangle” entre
1931-1936.
291
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
que esse consenso da categoria fosse mais uma pretensão que uma realidade.
Essa revista representava a fala da classe dos arquitetos na sua, em certa medida,
Lúcio Costa, como se pode aferir pelas capas dessas revistas nesse momento.
arquiteto Ricardo Wriedt. Esse alemão vem para o Brasil e aqui desenvolve
Afim de supprir um necessidade, que desde muito tempo vem fazendo-se sentir,
entregamos hoje ao publico uma nova revista >> A CASA <<, a qual, pelo seu
programma deverá encontrar inúmeros amigos entre profissionais de
Architectura e Construcção, assim como interessará aos, que pretendem
futuramente construir ou mandar construir o seu lar.
Tendo o Brasil um estylo architectonico (...) adaptado ás necessidades do clima
e da vida, faltava-lhe ainda uma obra ou revista que servisse de guia ou
instructor, quando trata-se da escolha de uma planta ou exterior como do interior
para uma moradia ou edifício, pois todos os trabalhos, que podem ser
consultados neste sentido, procedem do estrangeiro.
Como acima já citamos, nos resolvemos suprir esta falta (...) que cada um
encontre nella o, que desde muito tempo vem procurando: um guia exacto do
estylo decorativo externa e interna de sua casa.
Interessamos-nos especialmente pelo typo de construcção pequena, afim de
facilitar aos menos abastados a escolha e organisação do seu futuro lar.
Os modelos que publicamos em nossa revista, deverão servir do mesmo modo
aos profissionais, como aos leigos n’esta seductora arte, que é a Architectura. (A
CASA, n.1, s/p, out., 1923.).
movidas por problemas próprios do país e não apenas vindos do exterior. Com uma
293
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
assimétrica no térreo a partir de uma sala central que se abre para outras salas
sobre parede de um andar para o outro. Outra solução ainda mais surpreendente é a
Mackintosh para o concurso realizado pelo editor alemão A. Koch da casa para um
Figura 97 – Projeto de residência apresentado no primeiro Figura 98 - Projeto de hall apresentado no primeiro número da
número da Revista A CASA. Fonte: A CASA, n.1, s/p, set., Revista A CASA. Fonte: A CASA, n.1, s/p, set., 1923.
1923.
295
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
suas plantas. Não há artigos, apenas imagens e o único texto de meia página
assinado por uma loja de departamento a Mappin Stores que alertava seus clientes
aconselhar seus clientes para evitar em relação à mobília que “seu estylo estivesse
Alvaro Sodré, que chama atenção para a importância do conforto da casa e critica o
bizarro de nossa architectura urbana” (A CASA, n.2, s/p, nov., 1923); “O problema de
296
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
para pagar uma firma qualificada; “A beleza das pérgolas”, sem autoria atribuída,
fala sobre jardins; e por fim e mais interessante o texto de Ricardo Wriedt intitulado
“Alguma cousa sobre o custo das construções”, onde se pode flagrar o começo de
Todos nós queremos reunir em nossa casa o bello e o agradável. Mas o que
significa a beleza de uma construção? Nada mais do que uma concepção
artística de uma expressão rhytimica extremamente adaptada ao útil, cuja
utilidade é visível sob todos os pontos de vista: na planta, na organisação dos
compartimentos, na construcção, no material, e até na occasião ou melhor
ainda na estação escolhida para construção.
Não esqueçamos que todo o enfeite superfluo, sendo uma questão de moda
agradará apenas enquanto esta dura. Depois torna-se ridícula e tras-nos
disgostos. (...) Devemos, pois, reunir a arte ao util (WRIEDT, A CASA, n.2,
s./p., nov.,1923.)
do artigo supracitado “A
do arquiteto.
Figura 99 – Pergolado
publicado no segundo número
da revista A CASA. Fonte: A
CASA, n.2, s/p, nov., 1923.
297
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
Wriedt não fica muito tempo à frente da revista. Após um ano e seis números
Azeredo, que passa a ser o redator. Nesse momento a revista também passa a ser
secretariada e redigida pelo engenheiro civil Braz Jordão. Alberto Vianna foi
participação parece não estar vinculada às questões editoriais, pois seu nome não
responsáveis pelas discussões e obras apresentadas. Sobre esses dois quase nada
em janeiro de 1931 quando Braz Jordão se torna o novo proprietário. Essa parceria
dura até agosto de 1937, quando o novo parceiro de J. Cordeiro de Azeredo passa a
298
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
paulatina introdução das formas modernas nas obras apresentadas nesse periódico,
bem como nos debates dos seus artigos. No número 96 em maio de 1932 os seis
prova disso é que o número 166 em março de 1938 das 11 obras publicadas apenas
maior defensor do concreto armado nos artigos desse periódico e das novas
possibilidades que ele trazia para a arquitetura. São dele vários artigos que versam
sobre esse tema. Seus artigos mostravam-se sempre atentos aos acontecimentos e
segue:
arquitetônica como sua feição nacional, porém já não mais vinculada ao passado.
299
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
modernismo e esse novo material. Assim, é clara a advertência que essa fala faz à
modernista como no curto texto que fala do projeto especificamente. Posição ainda
medida afinado com a busca pela “brasilidade” dos modernistas na literatura e nas
artes da segunda metade dos anos 20, que se torna ainda mais acirrada na virada
O início dos anos 30 marca o momento em que começa a sair nas capas da
moderno” ou “arte nova” – nome dado aos primeiros projetos nessa expressão
desde 1925. A primeira casa sai na capa de novembro de 1931 e a partir daí outros
tipos de edifícios de maior evidência irão segui-la, como o Teatro Carlos Gomes.
300
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
Figura 100 - Capa de maio de 1932 da Revista “A CASA”, com o Teatro Carlos Gomes no Rio de
Janeiro. Fonte: A CASA, n.96, capa, mai., 1932.
301
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
Essa revista teve seu foco inicial voltado para as questões da construção
durante seus 26 anos de publicação que modificam por completo o propósito inicial
Figura 101 - Capa de setembro Figura 102 - Capa de outubro de 1928 Figura 103 - Capa de março de 1929
de 1926 da Revista A CASA. da Revista A CASA. Fonte: A CASA, da Revista A CASA. Fonte: A CASA,
Fonte: A CASA, n. 29, capa, n.54, capa, out.,1928. n.59, capa, mar., 1929.
1926.
(...) esta revista, que é bem o orgam representativo dos construtores e um repositório
de modernos modelos de construção, de ensinamentos para a installação de uma
habitação, desde o levantamento do prédio até às suas decorações e disposição do
mobiliário (A CASA, n. 57, p.18, jan., 1929).
302
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
estylo architectonico” do engenheiro Braz Jordão. Nessa fala, o concreto armado era
apontado como, mais que uma técnica construtiva, um estilo – o estilo moderno.
um cunho mais comercial147 e meio populista do que o teor mais engajado com a
147
Característica que nunca deixou de existir na revista, mas não parecia prioritário frente às questões técnicas dos números
anteriores.
304
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
Portanto, embora não tenha abandonado o flanco em defesa das soluções mais
E porque estamos convencidos de que as nações mais estáveis são exactamente as que
são constituídas por um povo que, em sua maioria, possúe sua própria casa, temos
consagrado as páginas desta revista às suggestões sobre prédios econômicos,
materiaes, detalhes, mobiliários e todos os demais assumptos a elles referentes. Temos
sido o que se póde chamar um magazine de propaganda, atravez do qual, sempre se
percebeu o nosso ardente desejo de proporcionar ao maior numero de pessoas, typos
variados de casas attrahentes, afim de afastal-as da triste vida de nômades. (...)
Em números anteriores temos publicado successivamente “bungalows” habilmente
desenhados, prédios em estylo colonial, missões, arte moderna, etc.
Temos mostrado, tambem, a maneira de combinar os vários materiaes de construcção;
explicado os termos de architectura; cogitado de ferragens, escadas e de muitos outros
assumptos de não menos importância para a construcção. Temos publicado bastantes
elementos sobre jardins.
Pagina por pagina, este numero prossegue na propaganda. E o numero de convertidos
pode ser julgado pelo crescimento da nossa circulação. (JORDÃO, Braz. Sete annos de
progresso. A CASA, n. 69, p. 5, jan.,1930).
programa da revista muda seu perfil de uma publicação mais técnica voltada
exclusivamente para a construção, para um perfil mais geral do lar visando atingir as
humor, porém não chega a perder por completo seu foco na arquitetura e na
engenharia.
305
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
Figura 106 - Capa de junho de 1932 Figura 107 - Capa de janeiro de 1933 Figura 108 - Capa de fevereiro de 1936
da Revista A CASA. Fonte: A CASA, da Revista A CASA. Fonte: A CASA, da Revista A CASA. Fonte: A CASA,
n.97, capa, jun., 1932. n.104, capa, jan., 1933. n.141, capa, fev., 1936.
D’Ave e Miguel Manzolillo. Em formato mais moderno e muito próximo ao que seria a
interpretação dos pendores architectonicos das soberanas dos lares, refletctidos nas
minúcias dos arranjos interiores de suas vivendas” (A CASA, n. 140, p. 10, jan.,
1936).
306
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
ilustrações, cores e tipografia, até o modelo que divide a capa em duas partes, uma
com uma cor opaca vibrante que recebe o texto e a outra com uma foto de obra em
Figura 109 - Capa de setembro de 1936 da Revista A Figura 110 - Capa de março/ abril de 1939 da Revista A
CASA. Fonte: A CASA, n.148, capa, set., 1936. CASA. Fonte: A CASA, n.178/179, capa mar./abril, 1939.
307
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
com alterações insignificantes até junho de 1943. Desde outubro de 1937 são vários
especialmente difícil para a revista, que consegue publicar apenas três edições: o
aos meses de maio a dezembro. A revista então foi incorporada pela Editora “O
Leve, sugestiva e original, a nossa capa revelando a nova orientação adotada pela “A
CASA”, representa uma varanda improvisada (...) não foi a técnica propriamente dita da
realização da varanda, mas o desejo puro e simples de indicar qualquer coisa de subtil
que escapa aos que se dedicam exclusivamente ao trabalho profissional. A mão
feminina, com arte que lhe é peculiar sobrepuja essas dificuldades e cria arranjos
encantadores que se casam magnificamente com o conjunto. (A CASA, n. 256-257, p.
11, set./out.,1945).
dificuldade de acesso a seus números ajude a explicar a pouca atenção dada a este
tempo.
arquiteto Cipriano Lemos, ela resiste algum tempo após a morte de seu principal
fundador no início de 1939, mas não sobrevive aos tempos difíceis da 2ª Guerra
Mundial.
aponta com clareza sua linha de pensamento e postura ativa diante das dificuldades
prematura em 16 de maio de 1939. Sua estadia de cinco anos em Paris teve forte
310
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
148
As várias citações em francês e algumas em espanhol sem a preocupação de traduzi-las indicam o direcionamento da
revista para um público erudito que teria fluência em várias línguas.
149
Tradução livre: o avanço real da arte exige tanto compressão de insuficiências como o incentivo às superioridades. ( apud
Auguste Comte).
311
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
desde que feitas por arquitetos reconhecidos oficialmente. A revista não buscou
Deveríamos ter dito no artigo INAUGURAL, com que apresentamos ao público esta
revista, que a nossa bandeira é o ecletismo.
Muitas são as escolas em voga. E todas elas ficam situadas a distancias desiguais
entre as velhas formulas e as novíssimas.
Nem poderia deixar de assim acontecer.
Si as artes espelham fielmente o estado social, por força que hão de oscilar atualmente
entre a retrogradação e a anarquia. Este conceito se nos afigura um axioma filosófico.
É verdade que a situação da arquitetura é menos precária do que a da poesia, da
pintura, da escultura e da música. É que éla é essencialmente uma indústria, razão
pela qual no ponto de vista científico e técnico o momento arquitetônico oferece o
aspécto de um verdadeiro renascimento.
Quando as aperturas econômicas do mundo diminuírem; quando cessarem a corrida
armamentista e a exacerbação nacionalista, então, o arquiteto voltará a ser o grande
artista da sociedade, como sempre foi em saudosas épocas. Mas, até lá tudo é incerto
e quiçá transitório.
(...)
Algumas revistas como L’ARQUITECTURE D’AUJOURD’HUI se consagram a
estampar a arquitetura do dia. Entretanto muitas outras publicam de tudo.
Nós adotámos este critério, não somente pelo espírito de relatividade acima apontado,
como tambem porque o nosso meio, ainda insuficiente, não permite que um periodico
deste gênero se dê ao luxo de exclusivismos doutrinários.
O que procuramos fazer é selecionar a matéria. Si conseguirmos publicar bons
trabalhos, tão somente, teremos feito o bastante. (LEMOS, n. 2, jul./ago., p. 8–9, 1936).
revista e seu secretário a partir do terceiro número de 1939 até dezembro de 1940 –
moderna e grande preparo técnico, esse arquiteto abre seu escritório próprio em
Arquitetura e com a criação do Curso de Urbanismo por essa instituição, sendo ele
junto com o engenheiro José de Oliveira Reis o livro “Urbanismo no Rio de Janeiro”
ajude a explicar em parte o esquecimento de seu nome em grande parte das falas
Apesar de não alterado substancialmente seu foco central, a revista passa por
o urbanismo.
levou em 1924 aos 14 anos para a Escola Nacional de Belas Artes no Rio de
mãe que julgava a carreira de arquiteto mais sólida e rentável que a de pintor,
defender o que ele chamava de arquitetura racional, como apontam suas palestras
Um ano após sua formatura abre escritório com seu colega de turma Eduardo
Affonso Reidy com quem projeta e vence o concurso para o Albergue da Boa
último concurso (e pelo que parece devido a eles) Pinheiro parece ter tomado outro
direcionamento diante dos caminhos que defendia para a arquitetura moderna e que
bem mais pelo próprio rumo de sua vida e seus interesses que acabam de certa
acadêmica, sendo diretor da ENBA por três vezes (eleito em 1958, 1964 e 1968).
150
Vide SIOLARI, Maristela. Gerson Pompeu Pinheiro e a recepção dos ideias modernos na década de 1930. In: Anais do
8º Seminário Docomomo Brasil. Rio de Janeiro: Docomomo-Rio, 2009.
314
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
saída de Gerson Pinheiro, o periódico irá publicar ainda mais obras modernistas
Paulo, moderno, mas não modernista. Em 1940 das cinco capas, três são obras
151
Levantamento das expressões das obras colocadas nas capas da Revista ARQUITETURA E URBANISMO: ano 1936 – 3
modernas e 1 modernista; ano 1937 – 2 modernas; 2 modernistas e 2 ecléticas; ano 1938 – 2 modernas, 2 modernistas e 2
neocoloniais; ano 1939 – 2 modernas, 2 modernistas e 2 ecléticas; ano 1940 – 1 moderna, 3 modernistas, 1 folheto do
Congresso Pan-americano de arquitetos; ano 1941 – 1 moderna; ano 1942 – 2 modernas.
315
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
meses de setembro a dezembro saem numa edição dupla e no ano de 1941 apenas
dos artigos assinados, como também na Tribuna Livre, onde Cipriano mesmo se
no terceiro número de 1937. Nesse mesmo número uma alfinetada nos ecléticos
em Paris:
152
Júlio Dantas (1876-1962) foi um escritor e diplomata português, que chegou a ser Ministro da Instrução Pública e Ministro
dos Negócios Estrangeiros em Portugal. Em 1938-1940 presidiu à Comissão Executiva dos Centenários, dirigindo a Exposição
do Mundo Português que teve lugar em Lisboa. Em 1941 foi um dos Embaixadores Especiais enviados ao Brasil e em 1949 foi
nomeado embaixador de Portugal no Rio de Janeiro. No jornalismo e na crítica literária, foi colaborador dos jornais mais
importantes de Portugal, como o Diário Ilustrado, Novidades, Correio da Manhã e Renascença. Escreveu no La Nación, de
Buenos Aires e no Correio da Manhã, do Rio de Janeiro, onde tinha uma coluna aos domingos onde além de outros artigos
publicou “Poema Modernista” e “A Nova Arquitetura”, ambos duramente contra as expressões modernistas.
317
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
brasileiros que não poderiam ser simples cópia das soluções estrangeiras:
bem está condição. Essa temperança algumas vezes ganhava um pouco mais de
composição é feita com a colocação sobre um fundo em uma cor sólida da imagem
de uma obra no centro da página com uma fina moldura branca e identificada logo
lugar da foto. Geralmente as fotos mostram uma visada externa de corpo inteiro da
edição em destaque seguido em tipos menores pelos referidos meses e ano ou pelo
número 2 de 1938 e depois em branco do número seguinte em diante. Uma fina tarja
preta dividida assimetricamente por uma linha branca no pé da página traz uma
319
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
optou não pela diversidade, mas pelos expoentes, que se ainda não eram
“Arquitetura e Urbanismo” por seu nível cultural e projeção reconhecida é, e deverá ser
o órgão representativo dos arquitetos brasileiros. É necessário pois, que todos os
esforços se congreguem para que o nosso paiz possa apresentar ao público e aos
arquitetos de todo mundo, a capacidade do seus colegas brasileiros.
Para isso devemos reunir em nossas paginas, os expoentes máximos da arquitetura
nacional, divulgando os seus projetos e realizações. (ANTUNES, ARQUITETURA E
URBANISMO, n. 3, p. 469, mai./jun., 1939).
Não foi exatamente esse “o espírito que presidiu a fundação desta revista”
maquete do Pavilhão de Lúcio Costa e Oscar Niemeyer para a Feira de Nova York
de 1939, opção que não parece deixar dúvidas sobre a nova orientação do periódico
321
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
Figura 117 - Capa de maio/junho de 1939 da Revista ARQUITETURA E URBANISMO. Fonte: ARQUITETURA E
URBANISMO, n.3, capa, mai./jun., 1939.
322
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
A memória fabricada tem sentido e significado, sobretudo por aquilo que deixa na sombra.
sedes ministeriais dos anos trinta e que fosse então possível a criação de um marco
não de uma ação milagrosa e isolada, mas sim de um longo processo de maturação
arquitetura. Mesmo que esse processo não tenha sido linear, muitas vezes
323
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
técnico-artístico.
gostos através do conteúdo e formato dos artigos, bem como pela diagramação dos
São os arquitetos talentosos que hão de dar vida e alma às páginas desta
revista. E tal vibração não será alcançada mediante artigos literários, mas,
sobretudo, com a apresentação de belos conjuntos e por menores arquitetônicos
(LEMOS, ARQUITETURA E URBANISMO, n. 1, p. 4, mai./jun., 1936).
Interessante notar como o tipo e formato dos desenhos se altera junto com a
324
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
Figura 119 – “Residência de um arquiteto”. Ruderico Pimentel e Cia. Fonte: Revista A CASA, n. 188, p. 12 -
13, jan., 1940. 325
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
país que possibilitou tão vasta produção em todo território nacional. O primeiro
deles, que pela complexidade das discussões que implica fogem ao âmbito dessa
habitação. São inúmeros artigos voltados para a questão da casa popular, da casa
econômica, promovidos pela supracitada revista desde 1925, que dado a seu
Cooperação e Credito S.A. o primeiro lugar foi dado a uma solução francamente
disseminação dessa arquitetura pelos arquitetos, pelos jurados e por certo público
326
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
Figura 121 – Concurso “A CASA IDEAL”, projeto 1º lugar. Fonte: Revista A CASA, n. 124, p. 15, set.,1934. 327
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
cuja maior preocupação explicita não era exatamente de ordem estética e sim
técnico-funcional.
motivos e as formas de ser moderno no Brasil, mapeáveis através dos textos sobre a
Roberto, Braz Jordão, Cordeiro de Azeredo, Ângelo Murgel153 dentre outros. Neles
pode-se perceber uma gama mais alargada e menos coesa de entendimentos sobre
que revelam uma paulatina setorização dos espaços a partir das funções. Funde-se
artísticos dava a essa categoria não só lugar, mas destaque na estrutura social.
154
Augusto de Vasconcellos foi arquiteto e presidente do IAB entre 1935-1936.
155
Ângelo Bruhns de Carvalho (1896-1975) foi arquiteto de atuação destacada no Rio de Janeiro entre as décadas de 20 a 40.
329
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
Devem ter notado os nossos leitores que os últimos números desta revista tem vindo
repletos de projectos em estylo moderno, como, alias, acontece com o deste mez.
É que essa nova feição da architectura está sendo recebida com sympathia pelo povo
que já se inclina em aceitar os conselhos dos architectos. (...)
A casa era escolhida como os vestidos femininos, segundo o ultimo figurino parisiense.
Via-se o typo que estava mais em moda e era o quanto bastava. De todos porem o
peior era o producto hybrido, formado pelo cruzamento de todos os elementos
heterogêneos, colhidos aqui e ali nos malsinados catálogos.
E quando se pensa no mal que occasionam esses catálogos, sente-se o desejo de,
com elles, formar uma fogueira, como outr’ora procedeu o barbeiro de D. Quixote, ao
deitar ao fogo todos aquelles livros cheios de sonhos vãos da cavalaria.
Braz Jordão e J. Cordeiro de Azeredo
Revista “A CASA”, n. 97, p. 3, jun.,1932.
dos anos 30. Para que em 1932 os diretores da revista “A CASA” pudessem afirmar
nomeado referia-se a uma arquitetura ainda incipiente que viria do uso concreto
armado. Uma arquitetura que tomava forma a partir de um novo material construtivo
está tomando entre nós este gênero de construcção” (JORDÃO, A CASA, n.8, p.5,
dez., 1924). Interessante notar que ao levantar seis vantagens no uso do concreto
armado e não fazer nenhuma objeção a ele, obviamente seu autor era incentivador
Importante pontuar que esse texto é anterior aos manifestos de Warchavchik e Levi
de 1925 que geralmente marcam o início dos debates sobre a nova arquitetura no
Brasil.
As ilustrações do artigo são quatro croquis que mostram detalhes do mau uso
aço por com uma camada de concreto apenas para proteger o aço dos perigos do
fogo, mas não levariam em conta a resistência do concreto nos cálculos estruturais.
E duas fotos que mostram edifícios em concreto sendo construídos no Japão e que
não teriam sido abalados pelo terremoto ocorrido durante a construção, o que
331
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
como estylo architectonico”. Esse artigo começa citando Guadet no vínculo que esse
Segundo Jordão havia duas linhas na arquitetura brasileira naquele momento: uma
material, mas não lhe dava forma própria imitando as forma do passado.
Para esse autor a defesa do concreto e seu estilo próprio eram necessários
332
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
(...) o conceito de que o concreto armado se presta a todas as fórmas, deve ser
acceito com algumas restrições, porque, se é exato que podemos fazer com elle
uma viga, um arco, uma thesoura ou uma columna – o que não acontece com os
demais materiais, - isto não significa que as suas fórmas são as mais variadas
possíveis ou arbitrarias. Estas decorrem de uma theoria baseada nas directrizes
estabelecidas pela sciencia construtiva do concreto, e das quaes ninguém póde
afastar-se. Portanto, sendo fórmas racionaes, e que exprimem uma idea exacta
daquillo que representam, conclue-se logicamente que ellas são architectonicas.
(JORDÃO, A CASA, n.21, p.7, jan., 1926).
estabilidade das construções antigas e seria tão absurdo quanto negar a arte gótica
seu lugar dentre os estilos arquitetônicos, negá-lo ao concreto armado, pois “este
adoptadas pelos architectos do passado” (JORDÃO, A CASA, n.21, p.7, jan., 1926).
traz nenhuma ilustração. Talvez essa ausência possa sugerir o não reconhecimento
revelando que esse estilo era algo latente, mas ainda por acontecer.
Em abril daquele mesmo ano Jordão segue sua batalha pelo uso do concreto
armado”, insere o material em uma dimensão histórica que começa com o uso do
333
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
“Os grandes edifícios do Rio e São Paulo”. Apesar de ser favorável à substituição
das antigas edificações por edifícios novos e altos Jordão ainda lamenta que os
que o concreto armado apresentava para a então chamada pelo autor de arquitetura
moderna:
A continua evolução que se vem operando no Rio e em São Paulo havia de determinar
nos centros urbanos o encarecimento das áreas disponíveis e, consequentemente, o
levantamento de prédios de muitos andares, construídos segundo as exigências da
technica moderna”. (...)
O concreto armado, pelas propriedades que apresenta, differentes das dos outros
materiais anteriores em uso, irá imprimir por certo uma nova orientação na architectura
moderna. Entretanto, nas actuaes construções desse gênero existentes na Capital não
se observa a tendência para as novas formas, apezar dos bons resultados verificados
em ensaios praticados no estrangeiro. Nestes, nota-se que os architectos têm seguido
servilmente as tradições das construções em alvenaria, dando aos edifícios uma
apparencia pesada, o que está em contradicção com os caracteres essenciaes do
concreto armado”. (JORDÃO, A CASA, n. 37, p. 9, abr., 1927).
334
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
possuía exemplos dignos de serem mostrados e assim o artigo traz quatro imagens
com destacado espaço, pois cada uma ocupa uma página, de edifícios altos sendo
Figura 123 – Páginas de ilustração do artigo “Os grandes edifícios do Rio e de São Paulo” com o Cinema
Odeon e o Cinema Império. Fonte: A CASA, n. 37, pp. 10 -11, maio, 1927.
Figura 124 – Páginas de ilustração do artigo “Os grandes edifícios do Rio e de São Paulo” com dois ângulos
do Edifício Brasil. Fonte: A CASA, n. 37, pp. 12 -13, maio,1927.
335
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
publicado em julho de 1927. Intitulado “A Arte Moderna”, segundo seu autor, foi
n. 39, p. 13, jul., 1927), cuja novidade poderia suscitar estranhamento nos leitores
indústria do período. O surgimento desse novo estilo não era gratuito e sim
Ora, a humanidade evolue e cada vez mais váe se cercando do conforto que a
sciencia e a industria lhe trazem. Assim sendo, o architecto não póde
permanecer indifferente a todas essas conquistas diárias, mas adaptar-se ao
meio em que vive afim de poder proporcionar aos seus clientes habitações de
acordo com a época. (JORDÃO, A CASA, n. 39, p. 13 – 14, jul., 1927).
Figura 125 – Pavilhões da Feira de Paris 1925 que ilustram o artigo “A Arte Moderna”. Fonte: Revista A CASA n. 39, p.
14-15, jul., 1927.
no Brasil que pouco ou quase nada aparece nas falas de grande parte das
narrativas históricas sobre a arquitetura moderna no país, mas que tanto reverberou
povoar os maiores centros do país. As ilustrações são todos desenhos dos pavilhões
dessa exposição parisiense, o que indica que aquelas eram as formas modernas do
momento e que deveriam servir de exemplo para as novas obras brasileiras. Apesar
de noticiar a novidade das formas e mostrar um projeto nas novas linhas, o “estilo
337
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
cujas respostas ainda eram incertas e que os arquitetos ainda estavam à procura.
De facto, parece muito mais difficil a nós outros crear o organismo estylistico
para as novas estructuras estáticas do que para os antigos. (JORDÃO, A CASA,
n. 57, p. 20, jan.,1929).
E finaliza:
(...) Eis ahi por que é difficil a tarefa artística dos architectos modernos, pois o
novo systema constructivo presta-se menos do que o antigo a manifestar-se sob
formas architectonicas expressivas. (JORDÃO, A CASA, n. 57, p. 21, jan.1929).
momento para esse autor estava no não reconhecimento por parte dos leigos em
jan., 1929).
338
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
industriais” coloca:
momento evidencia que há uma busca por algo que ainda vai acontecer, ou seja, o
campo, essa nova sensibilidade. Fica claro nesses artigos pela evidente
colonial”. Por outro lado essas falas sinalizavam que as soluções das vanguardas do
velho mundo também não satisfaziam essa busca, defendiam que o melhor caminho
afirmar esse vínculo da arquitetura moderna com a economia e aponta esse rumo do
meio. Interessante notar também que nessa fala fica evidente a tentativa de
linguagem derivada do concreto armado estava surgindo. Para ele a arquitetura teria
340
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
projeto para uma casa na Urca desse arquiteto que é categórico em pontuar a feição
341
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
modernas nas páginas de “A CASA”, porém ela não noticia as casas construídas por
342
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
impresso nas páginas da Revista “A CASA” desde 1924 revelam uma construção
1929 causou mais impacto que a “história” registrou num campo já bastante
Por outro lado, bem diferente da postura reverente de Lúcio Costa e seu
Os profissionais que aqui trabalhavam tinham uma consciência bastante clara sobre
direcionamento que apontava bem mais para a busca de soluções próprias do que
CASA” em um ponto bem específico. Braz Jordão que até então apontava essa
343
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
Essa nova linguagem era da criação e não da aplicação, sua composição era
difícil dada a suas formas simples, mas abria ao Brasil todas as possibilidades de
buscar soluções próprias por causa do clima. Mesmo sem citar Le Corbusier em seu
344
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
penetração no Brasil serão combustíveis para uma série de artigos nos anos de
Não se trata de uma arte estrambolica como muita gente pensa; ao contrario, a
arte moderna, reponta o que há de mais sábio e lógico.
quase sem ornamentos ainda utiliza telhados inclinados e soluções tipo bangalô.
familiaridade do público com essa que seria a verdade da arquitetura de seu tempo
345
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
A batalha a favor da
aceitação e disseminação da
paisagem externa.
Figura 129 – Desenho ilustrativo de J. Cordeiro de Azeredo para o
artigo “Arquitetura Moderna”. Fonte: Revista A CASA, n. 82, p. 08,
mar., 1931.
346
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
arquitetura moderna, não tanto como seria de esperar, está ganhando terreno no
nosso meio.” (JORDÃO & AZEREDO, A CASA, n. 91, p. 7, dez., 1931). Nesse artigo
como moderno por não apresentar ornamentos, porém ainda com uso de telhado
como Ângelo Bruhns que escreve “A escola moderna” (BRUHNS, A CASA, n. 85,
jun., 1931) e “Architectura Moderna” (A CASA, n. 86, jul., 1931). Nesse último artigo
arquiteto alemão Alexander Altberg, um judeu que estudou na Bauhaus e veio para
347
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
Figura 130 – Primeira página do artigo “A Arte Moderna” de Alexander Altberg. Fonte: Revista A CASA, n. 39, p.27, fev., 1932.
348
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
textos e no final dos anos 30 e início dos 40 o embate sobre ser ou não moderno
arquitetura era uma realidade e discutia-se então qual seria a vertente moderna
hegemônica.
formais da arquitetura da época, foram eles: Georges Gromont, Roux Spitz, Augusto
científicos do período. No final de 1942 e início de 1943, a revista publica uma série
ganhou as primeiras páginas dessa revista, talvez por ter surgido num momento
posterior em que não estava mais em questão ser ou não ser moderno ou quiçá pela
orientação “eclética” de seu diretor Cipriano Lemos ou ainda pelo contexto político
locados num primeiro momento na Tribuna Livre, seção cujo conteúdo a revista se
texto em certos artigos, mas não chega a ser o tema central. Só no segundo ano de
Na posição desse arquiteto, que parece prevalecer nos demais autores presentes na
revista, a arquitetura deveria ser sem dúvida moderna, mas não deveria seguir o
350
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
Uma série de artigos que chama a atenção por colocar essa tensão entre
sucedem a ele outros dois, nos números três e quatro respectivamente desse
mesmo ano. Nessa sequencia o autor tece uma espécie de história da nova
Essa arquitetura modesta, mas sincera, é hoje a que predomina sobretudo nos
novos “Siedlungen”. A arquitetura dos modernistas da vanguarda, é muito
combatida, sendo o lema da “Neue Sachlichkeit” muito ridicularizado. É difícil de
traduzir esta expressão, aliás criada não há muitos anos para uma certa escola
de pintura e que passou para a arquitetura.
O ninho modernista que era a escola chamada BAUHAUS, que tinha sido
fundada em Weimar e depois teve de passar para Dessau, foi fechada a três
anos. O seu fundador Walter Gropius que aliás já tinha deixado a sua direção
desde 1928, vive agora na Inglaterra.
Outros arquitetos modernistas de origem israelita tiveram de deixar a Alemanha,
como por exemplo Erich MENDELSOHN, que trabalha presentemente com
grande sucesso na Inglaterra.
A arquitetura modernista tem um carater internacional que não podia agradar ao
nacionalismo forte dos que hoje dominam a Alemanha. A Italia adotou uma
arquitetura moderno-romana. Na Russia, o futurismo teve de ceder à exigencia
dos ditadores de lá, os quais querem colunas, mais ou menos como na Italia.
A não ser os formidáveis quarteis, sobretudo para a aviação, hoje as autoridades
alemãs, em vez das grandes casas coletivas, estão auxiliando a construção do
verdadeiro “Siedlung” nos arrabaldes mais afastados em torno das grandes
cidades, com casinhas modestas, isoladas, geminadas ou em pequenos grupos
e com lotes de bom tamanho para jardim e horta. Assim despertam mais o amor
do lar, da família e da pátria. (CARVALHO, ARQUITETURA E URBANISMO, n.
2, p. 40, jul./ago., 1936).
351
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
páginas desse periódico não a luta pela aceitação da renovação arquitetônica, mas
mestre franco-suíço foram motivo de reflexão crítica e não de aceitação tácita sobre
a adequação de suas ideias para a realidade do país. Esse embate parece ter sido
cuja postura não era de adoração fanática, mas de reflexão atenta às devidas
urbanismo e adverte que a solução de cidades novas era mais fácil do que os
problemas das cidades já existentes. Para ele não era possível desapropriar todo o
centro do Rio, mas era preciso sim pensar em uma solução, já que a legislação em
352
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
vertente, como é o caso do arquiteto Gerson Pompeu Pinheiro. Com o mesmo ardor
corbusiana. Para ele as resposta à nova arquitetura estavam longe das pesquisas
e seus seguidores.
‘estrutura livre’. Seu emprego, pelas profundas alterações que póde produzir no
353
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
O arquiteto começa sua fala por explicar que essa solução era uma estrutura
avaliando o uso de tal estrutura segundo cada ponto das vantagens propagadas por
uso.
meio dos compartimentos era bem mais caro que as peças retangulares junto das
dos espaços internos por uma arrumação de biombos segundo caprichos eventuais
todos os pontos usados para a defesa da estrutura livre para atacá-la. Para ele a
das coisas, haja vista o corpo humano cujos elementos do esqueleto jamais
Figura 131 - Desenhos de Gerson Pinheiro ilustrando suas argumentações. Fonte: ARQUITETURA E
URBANISMO, n. 04, p. 175, jul./ago., 1937.
355
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
Figura 132 - Desenhos de Gerson Pinheiro ilustrando suas argumentações. Fonte: ARQUITETURA E
URBANISMO, n. 04, p. 174, jul./ago., 1937.
356
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
bastante ponderada Gerson Pinheiro ainda pontua e mais uma vez ressalta a
A meu ver, o que merece maiores reparos, não é tanto o sistema, como a fórma
porque dele se têm feito uso.
A estrutura livre constitui um sistema; precário ou não, é um recurso a mais na
técnica da construção. Ela foi lembrada como solução para certas dificuldades
estruturais realmente existentes nos arcabouços incorporados.
Empregal-a, entretanto, incondicionalmente da residência de um só andar aos
edifícios de grande porte é expediente demasiado simplista para ser aceita sem
maior exame. (PINHEIRO, ARQUITETURA E URBANISMO n. 04, p. 175,
jul./ago., 1937).
número subsequente.
por um outro modo se ser moderno. Seu discurso era extremamente crítico em
Em nosso país tem havido certa confusão quanto á escolha de rumos para os
múltiplos problemas da nacionalidade. Com relação à arquitetura verifica-se o
mesmo. Temos variado, oscilando entre dois extremos perigosos, a ignorância
rasa, e a cultura profunda, mas, de janelas fechadas para a vida.
Tenho afirmado e insisto, não se pode em referência aos edifícios existentes no
Brasil, dizer: arquitetura brasileira. Semelhante fórmula é comum dentre os
poucos informados sobre o assunto, ou nas expansões de sabor litero-patriótico.
358
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
Não será fazendo o elogio da ingenuidade dos índios e dos pretos, nossos
primitivos operários, e do mestre de obras, (este, a meu vêr, fenômeno histórico
inevitável, mas nem por isso louvável), que se chegará a um resultado positivo.
Numa atitude extranhamente paradoxal, faz-se referências a um passado
paupérrimo de qualidades arquitetônicas, e elege-se Le Corbusier para modelo
invariável. (PINHEIRO, ARQUITETURA E URBANISMO n. 03, p. 115, mai./jun.,
1938).
E completa:
palavras de seu mestre no livro “Retórica dos Pintores” (1933) defende sua posição
Nós não temos tradições, o nosso passado é muito curto, as lendas ainda não
estão fixadas.
A arte colonial não vem a ser mais do que uma arte arqueológica
A arquitetura, para ser grande, deverá expressar as nossas necessidades, os
nossos gostos e a nossa civilização. Adaptar o emprego racional dos materiais
modernos: o ferro, o cimento armado, o tijolo de vidro, o tijolo esmaltado,
realizando a união harmônica destes materiais novos com os materiais
tradicionais: o granito, o mármore, o tijolo e a madeira. E será voltando a ser
construtor que o arquiteto procederá como verdadeiro artista.
A arte não é produto de uma geração, nem de duas, nem de três; a arte própria
ou nacional é o resultado de esforços acumulados por muitas gerações que
trabalham, seguindo as pegadas de um precursor. (BROCOS, apud PINHEIRO,
ARQUITETURA E URBANISMO n. 01, p. 349, jan./fev., 1939).
inadequação do uso corrente dos termos clássico e moderno, que vinham sendo
359
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
expressão plástica do período e de academicizar um estilo que para ele ainda nem
campos das artes plásticas. Para ele o fato de “os arquitetos se inspiram nos
05, p. 634, set./out, 1939) era indicativo de limitação e não de vitalidade da nova
Figura 133 – Croquis de Gerson Pinheiro ilustrando suas argumentações. O edifício moderno a que se refere é a Sede
do Ministério da Educação e Saúde. Fonte: ARQUITETURA E URBANISMO, n. 05, p. 635, set./out, 1939.
brasileiro, como nos revela os artigos dos arquitetos Marcelo Roberto (1937) e
imbricada e tradicional relação entre técnica construtiva disponível (no caso as mais
projetos da sede da ABI e para a estação central do aeroporto Santos Dumont via
Os nomes, os fatos, os elos da corrente que nos trás aos tempos novos,
ressurgem, nesse momento de emoção, nítidos, com toda a grandiosidade que
merecem.
A “epopéa do ferro”, a arrancada de Labrouste, as culminâncias de Eiffel e
Durtet. A lógica de Viollet-Le-Duc. O Modern Style. O concreto armado, o invento
simples do horticultor Monier. O empreiteiro Hennebique. A página virada pelos
irmãos Perret. Tony Garnier, as profecias do “Cidade Industrial”. O
funcionalismo, Loos, Wagner. As aspirações de após-guerra, o desenvolvimento
e divulgação dos problemas sociais. O Cubismo. O retorno às formas primitivas,
a arte negra, a arte polinésica. O desenvolvimento da máquina. As teorias
científicas acessíveis, humanas. As maravilhas da aviação. A fotografia prática, a
“vizão nova” (“Moholy-Nagy”). A redescoberta do Mar Latino, as casas claras das
Baleares. As construções do gênio Civil. Freyssinet, os hangares d’Orly. A
aplicação das grandes descobertas. O fim do empirismo. Carrier. Lyon. A
standardisação. As preocupações de urbanismo, a compreensão da doença de
362
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
disseminação da arquitetura moderna era uma missão sagrada, mas não a via como
obra de raros gênios iluminados. Dois pontos bastante interessantes de sua fala se
363
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
alternativa das pesquisas brasileiras por sua expressão moderna que foi
nova arquitetura através da sempre singular fusão entre meio geográfico e técnica
moderna, bem mais atada ao lugar que as pesquisas de reconciliação costiana entre
pela nova forma em uma crítica implícita ao “Art Nouveau” e aponta o acerto em
buscar a unidade entre arte e técnica daquele momento. Ele vincula as grandes
364
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
uma terceira via do moderno, no qual as soluções não são uma inflexão local do
solução é por princípio singular pela indissociável relação da arquitetura com o lugar.
Para esse arquiteto, a arquitetura clássica é criada em cada vez que em algum lugar
se atinge a excelência construtiva do momento que se torna então modelo para sua
época e o problema era assim sua cópia servil. Por conseguinte, no entendimento
de Murgel o clássico deveria sim ser elemento de estudo, mas jamais modelo:
(...) infelizmente, cada vez que a arquitetura chega a uma solução verdadeira
para determinada região, com os esforços conjugados, à vezes, de séculos,
constatamos, a seguir, o abandono do estudo dos problemas, prevalecendo
então o critério da cópia servil, fixando-se os arquitetos àquelas fórmas que
corresponderam sómente às determinantes de uma dada época. Torna-se
clássica. E si essa manifestação se verifica na Europa, centro da cultura
ocidental, ela se impõe a todos os países que vivem sob sua égide intelectual e
cultural, transplantada, como flor exótica, para as regiões mais diversas, sem
que nem ao menos um critério de adaptação venha salvar as aparências dessa
imigração feita atravez dos profissionais estrangeiros, ou muito mais vulgar hoje
em dia, atravez das revistas de arquitetura, fonte de muita inspiração. (...).
É inegável a necessidade da creação de um novo tipo de arquitetura, consoante
com a nossa vida, com nossa geração, donde resultará uma beleza, que será
própria à nossa era, e que a exprimirá. A arquitetura clássica, por sua maneira
de constituição, nas diversas épocas, servirá, sem dúvida, de exemplo para o
modo por que temos de agir para chegarmos a esse ideal moderno, conduzindo
as tendências artísticas para a solução sensata e lógica, que fará do nosso
trabalho obra segura e definitiva. Dentro dessas normas, obedecendo ás
365
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
imposições do meio geográfico, lançando mão dos recursos múltiplos que nos
oferece hoje a técnica, sem perder de vista as grandes leis universais da
estética, com o intuito de fazer obra bela, é que poderemos chegar á verdadeira
expressão arquitetônica do nosso século e, particularmente, de cada região.
(MURGEL, ARQUITETURA E URBANISMO n. 01, p. 374-375, jan./fev., 1939).
Borissavilievitch 156 e Frank Lloyd Wright em sua passagem pelo Brasil. Murgel
produções malignas, que são o reflexo fiel da nossa sociedade e do nosso estado
distintas dos artigos ali contidos, eles parecem em certa medida pender nos
156
Segundo o próprio Ângelo Murgel, Miloutine Borissavilievitch foi um grande tratadista da arquitetura.
366
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
Eugenia Celso, uma solidaria a José Mariano Filho. Em seu artigo, sem ilustrações,
Devo preliminarmente declarar que não tenho nenhuma antipatia pessoal contra
os arranha-céus.
Construído no centro da “city”, não obstruindo com a imensa mole dos seus
cubos de cimento o pedaço de horizonte em que porventura se venha desenhar
o baluarte acidentado da serra, têm na verdade uma certa grandeza de arrojo e
de modernismo que chega, por vezes, quasi a lhes disfarçar a monótona
feialdade.
(...) sempre fiz parte desse reduzido grupo de artistas e de sonhadores que na
esteira de José Mariano Filho, sempre ergueram a voz e enristaram a pena, no
mais inútil dos protestos contra a remoção do chafariz do largo da Carioca (...) e
(os modernos que tapem os ouvidos!...) contra os arranha-céus de Copacabana.
(CELSO, ARQUITETURA E URBANISMO n. 02, p. 61, jul./ago., 1936).
E finaliza:
edição seguinte da revista traz um texto assinado por Tarsila do Amaral intitulado
(...) uma nova tendência surgiu e se impoz com as teorias de Le Corbusier que
desde 1920 é considerado chefe de escola. (...) Le Corbusier compreende as
cidades como consequência de fatores moveis no tempo e no espaço e não
possue a rigidez de um tipo padrão universal. Clima, tradição e muitas outras
causas modificam e adaptam as linhas ideais de seus planos às necessidades
locais (...) No Museu Moderno de Artes Ocidentais de Moscou, vi diversas
“maquettes” de Le Corbusier, conservadas como obras primas de concepção
artística, aliadas ao espírito de utilitarismo que hoje impera como fator
preponderante na organização da vida social” (AMARAL, ARQUITETURA E
URBANISMO n. 03, p. 186, set/out, 1936).
morta. Defende que a ciência criava uma língua viva com materiais e sistemas
passageiras definidas pelo homem cuja melhor solução se dava quando “melhor se
nov./dez., 1936).
produzir uma obra que pareça haver existido sempre, poderá dar-se por satisfeito”
“Razões da Nova Arquitetura” de Lúcio Costa publicado pela primeira vez no número
01 da Revista P.D.F. de 1936. Mas o texto não parece uma resposta direta a essa
fala costiana, primeiro porque seu combate voltava-se mais para a arquitetura de
vertente alemã (da chamada nova objetividade) e depois porque não era a primeira
369
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
vez que o escritor atacava o modernismo. Esse autor escreveu uma série de artigos
um estilo próprio e sincero correspondente ao seu tempo, porém advertia que o novo
estilo do século XX ainda não teria sido encontrado e que a nova objetividade que se
370
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
pejorativamente, forma recorrente nesse periódico, no qual esses termos são quase
moderna na grande parte dos artigos do periódico, que tende a tê-la como referencia
das obras.
maioria das vezes parece haver uma tensão intencionalmente criada pela própria
revista, pois não parece ser o autor do artigo que procura a revista para publicá-lo e
sim alguém da revista que os escolhem. No caso dos textos do português Júlio
Dantas isso parece ainda mais evidente, pois esse autor só chega ao Brasil em
1941.
Outro texto desse autor português foi publicado na Tribuna Livre do número
371
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
157
Nathaniel Cortlandt Curtiss (1881-1953) foi arquiteto atuante e professor da Escola de Arquitetura da Universidade Tulane
em New Orleans. Escreveu dentre seus livros “Architectural Composition”.
372
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
373
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
debate acenava para uma busca latente de uma linguagem própria para o concreto
armado e sua devida aceitação. Ainda muito incipiente os embates se davam entre
voltava-se para qual seria o melhor caminho para as formas modernas. Aparecem
alternativas mais rígidas inspiradas no rigor das soluções alemãs, muitas obras
cada região. Assim nesse segundo momento a questão se abria para a discussão
374
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
O estylo moderno váe ganhando terreno em nosso meio. Raras são as ruas que
não possuem uma casa nesse gênero, destacando-se das outras de uma
maneira notável. As suas linhas, largas e sóbrias, dão muito mais idéa de
conforto e de hygiene do que as das residências communs.
Figura 134 – Capa da Revista “A CASA” de março / abril em 1933. Fonte: Revista “A CASA”, n.
106-107, capa, mar./abr., 1933.
375
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
verdadeiro que muitas foram as formas que desde a Renascença se sucederam sob
o mesmo adjetivo de modernas. Porém o que parece mais rico entre os anos 20 e
às obras arquitetônicas para se referir a toda (ao quase toda) arquitetura produzida
as obras que recebiam tal denominação eram apenas uma das expressões dentre
outros estilos; quando passa a ser denomina de “arquitetura moderna”, essas formas
passam a ser, mesmo que sem uma expressão estilística unitária, a “legítima”
376
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
arquitetônica no Brasil posteriormente fazia então parte dessa variada gama das
vertentes modernas e do campo que começa a se estabelecer ainda nos anos 20.
soluções. Essa primazia pode ser constatada em primeiro lugar pela presença
arquitetônica por parte dos profissionais. A planta é apresentada como ato fundante
aparece nas falas dos arquitetos nos anos 20 e permanece nos anos 30 em diante.
377
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
Nunca se comece por pensar no aspecto exterior de uma casa antes de ser bem
estudada a sua planta. O caracter essencial das fachadas de uma casa reside
nas suas proporções geraes, e estas só podem ser determinadas depois de
haver uma planta definitiva. (...). Alem dos gostos especiaes e do modo de viver
do proprietário, há a questão muito importante da orientação que é preciso
considerar desde o princípio. (...) nunca se deve esquecer a questão
propriamente technica, procurando-se sempre a maneira pratica e econômica de
dispor as differentes partes da construção de modo que a área seja bem
aproveitada, sem complicações desnecessárias. (LINO, A CASA, n.07, p. 11,
nov., 1924).
Paris, intitulada “A Planta Baixa”. O fato de ser a planta baixa o tema de uma
conferência num evento internacional desse porte mostra a sua centralidade para os
Seria inútil dizer-vos, meus caros colegas, que a planta é a célula inicial do
trabalho do arquiteto.
O assunto está, aliás, esgotado. Mas acredito que é bom, de vez em quando,
passar a vista pelo horizonte; o que obriga a subir pelos caminhos já batidos.
(CASSON, ARQUITETURA E URBANISMO, n.01, p.6, jan./fev., 1938).
1937, mais uma vez defende a prioridade da planta no ato projetual. Ele é categórico
em afirmar:
158
Urbain Cassan (1890-1979) foi um arquiteto francês formado em 1911 pela Ecole Polytechnique. Trabalho para a
Companhia Ferroviária do Norte e foi presidente da Ordem dos Arquitetos na França.
159
Felippe dos Santos Reis (1895-1979) foi engenheiro carioca formado pela Escola Politécnica em 1913. Foi professor
catedrático da disciplina resistência dos materiais na ENBA e atuou como engenheiro profissional.
378
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
A meu ver, a planta é quase tudo. É, aí, que o projeto personifica o autor. Os
córtes, os detalhes, a parte construtiva acusam a cultura do profissional, porém,
não o distingue de modo claro, numa coletividade profissional. (...)
Na planta fica o homem, fica a lei, fica o teorema que se adaptou ao programa
no sistema escolhido, isto é, através da organização mental de quem projetou.
(REIS, ARQUITETURA E URBANISMO, n.05, p. 230, set./out., 1937).
início dos anos 20 as plantas das casas são mais compactas e retalhadas, os
integração vertical nem horizontal dos espaços. Paulatinamente, num ritmo bastante
setorizados, os quartos vão sendo colocados todos num ou no máximo dois sentidos
integração vertical.
pode ser constatada nas expressões compositivas e plásticas, mas também nas
concepções espaciais que revelam que esse processo de transformação não foi
379
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
transformação.
Figura 135 – Bangalô moderno. Projeto de J. Cordeiro de Azeredo. Fonte: Revista “A CASA”, n. 07, p. 15, nov.,
1924.
380
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
Figura 136 – Residência. Projeto de J. Cordeiro de Azeredo. Fonte: Revista “A CASA”, n. 90, p. 18, nov., 1931.
.
381
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
Figura 137 – Residência. Projeto de J. Cordeiro de Azeredo. Fonte: Revista “A CASA”, n. 106/107, p. 25, mar/abr., 1933.
.
382
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
1935 comprovam.
Figura 138 – Planta e perspectiva de residência. Projeto de J. A. Fontes Ferreira. Fonte: Revista “A CASA”, n. 134, p. 16-17,
jul., 1935.
.
383
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
Figura 139 – Planta de residência. Projeto sem identificação. Fonte: Revista “A CASA”, n.
134, p. 24, jul., 1935.
Figura 140 – Perspectiva de residência. Projeto sem identificação. Fonte: Revista “A CASA”,
n. 134, p. 25, jul., 1935.
384
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
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vertical nas casas unifamiliares, como é o caso da residência abaixo. Esta obra de
Gerson Pompeu Pinheiro e Affonso Eduardo Reidy foi publicada no primeiro número
Figura 141 – Residência Assioly Neto. Projeto de Gerson Pinheiro e Affonso Reidy.
Fonte: Revista “ARQUITETURA E URBANISMO”, n. 01, p. 25, jan./fev., 1937.
385
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
período, dentre as quais eram identificadas pelas revistas como modernas (no
moderno. Interessante notar que com o avanço das discussões sobre a arquitetura
aparecer, fruto da simplificação das soluções tradicionais. Essa vertente não foi
nomeada especificamente como um novo estilo e foi locada pelas revistas, sem
386
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
O que diferenciava o “estylo moderno” dos anos 20 e começo dos 30 não era
propriamente o uso do concreto, visto que esse material era utilizado ou não
eram locadas no centro do lote, algumas vezes sem afastamento nas laterais e
frente ou no fundo foi uma variação mais determinada pela legislação que
propriamente pelo estilo. Assim o que caracterizava o dito “estylo moderno”, não era
propriamente uma específica vertente estética, mas sim todas as soluções plásticas
arquitetura, a solução plástica era vista como consequência das demais resoluções
projetuais e não tinham espaço central nos debates dos anos 20 e 30 nos
funcionais, sendo que nas discussões sobre a expressão do concreto armado elas
armado J. Cordeiro de Azeredo escreve e ilustra em 1926 160 o artigo “Casas com
terraço”, no qual comenta sobre a possibilidade até então pouco explorada da casa
160
Três anos antes da primeira visita de Le Corbusier ao Brasil.
387
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
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concreto armado e a
impermeabilização asfáltica se
388
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
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Figura 145 – Projeto residencial de J. Cordeiro de Azeredo. Fonte: “A CASA”, n.35, p. 28-29, mar, 1927.
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Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
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Figura 146 – Projeto de conjunto residencial de Moacyr Fraga. Fonte: “A CASA”, n.49, p. 34, mai., 1928.
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Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
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permanece como se vê nas duas casas desse arquiteto publicadas em junho e julho
Figura 14 7 – Residência moderna com cobertura plana. Ângelo Bruhns. Fonte: Revista “A CASA”, n. 85, p. 14-15, jun.,
1931.
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Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
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Figura 148 – Residência moderna com cobertura em telhado cerâmico. Ângelo Bruhns. Fonte: Revista “A CASA”,
n. 86, p. 12-13, jul., 1931.
A pesquisa da simplificação
permanencia do telhado se
exemplos a seguir.
392
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
Figura 150 – Casa de Campo. Arquiteto Roberto Magno de Carvalho. Fonte: Revista “ARQUITETURA E
URBANISMO”, n. 04, p. 187, jul./ago., 1937.
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Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
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Figura 151 – Esboço de residência. Arquiteto Ângelo Murgel. Fonte: Revista “ARQUITETURA E URBANISMO”, n. 06,
p. 316-317, nov./dez., 1938.
Figura 152 – Residência. Arquiteto Gerson Pompeu Pinheiro. Fonte: Revista “ARQUITETURA E URBANISMO”, n. 06,
pp. 314-315, nov./dez., 1937.
394
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
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395
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
seus primeiros esboços ainda no final do ano de 1925. No fervor das novidades
Azeredo publica alguns projetos nessa linha na edição de novembro daquele ano já
seguinte dessa revista o artigo “A Arte Moderna” de Braz Jordão (já mencionado)
Figura 156 – Projeto Residencial denominado “Arte Nova”. Arquiteto J. Freitas Pereira.
Fonte: Revista “A CASA”, n. 38, p.12, jun., 1927.
396
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
Foram nos anos 30 que essa vertente ganhou fôlego. A primeira obra
projeto do arquiteto Joaquim Gomes dos Santos para um pequeno prédio residencial
Figura 157 – Edifício moderno. Arquiteto Joaquim Gomes dos Santos. Fonte: Revista “A
CASA”, n. 90, capa, nov., 1931.
397
Figura 158 – Fachada e plantas. Edifício moderno. Arquiteto Joaquim Gomes dos Santos. Fonte: Revista “A CASA”, n.90, p.19-21, nov., 1931.
398
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
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Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
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Também em 1931 são publicados vários estudos buscando soluções ainda mais
vanguardas europeias dos anos 20. Nesse ano, refletindo a mudança de orientação
Figura 159 – Projeto de Anibal de Melo Pinto. Fonte: Revista “A CASA”, n. 88, set, 1931.
399
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
Figura 160 – Projetos modernos. Fonte: Revista “A CASA”, n. 91, p. 10-11, dez, 1931.
Figura 161 – Projeto de Dacy Roza. Fonte: Revista Figura 162 – Projeto de Dacy Roza. Fonte:
“A CASA”, n. 92, p. 10, jan., 1932. Revista “A CASA”, n. 93, p. 21, fev., 1932.
400
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
Figura 163 – Projeto moderno. Fonte: Revista “A CASA”, n. 93, p. 16-17, fev., 1932.
Figura 164 – Projeto moderno. Fonte: Revista “A CASA”, n. 32,p. 10-11, jun., 1932.
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Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
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para melhorar o gosto artístico do Rio de Janeiro, numa evidente afirmação da nova
estética e busca de criação de uma nova sensibilidade que desse maior espaço para
suas realizações. Essa obra, projeto e construção de Penna e Franca também foi a
Figura 165 – Projeto moderno, “A máquina de morar”. Fonte: Revista “A CASA”, n. 97,p. 8-9, jun., 1932.
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Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
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Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
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Figura 169 – Residência Moderna. Fonte: Revista “A CASA”, n. 152, p. 12-13, jan., 1937.
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Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
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Figura 170 – Residência Dr. A. Neiva. Arquitetos Marcelo Roberto e Milton Roberto Fonte: Revista “A ARQUITETURA E
URBANISMO”, n. 01, p. 23, jan./fev., 1938.
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Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
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Figura 171 – Residência Dr. A. Neiva. Arquitetos Marcelo Roberto e Milton Roberto Fonte: Revista “A ARQUITETURA E
URBANISMO”, n. 01,p. 24-25, jan./fev., 1938.
Figura 172 – Residência Dr. A. Neiva. Arquitetos Marcelo Roberto e Milton Roberto Fonte: Revista “A ARQUITETURA E
URBANISMO”, n. 01,p. 26-27, jan./fev., 1938.
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Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
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Figuras 174 – Residência Oswald de Andrade de Oscar Niemeyer. Fonte: Arquitetura e Urbanismo, n. 03, p. 502,
mai./jun., 1939.
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Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
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O “estylo moderno” que foi cunhado nas revistas brasileiras teve seu marco
costiana e seus ecos tão duradores foi perpetuada uma ideia equivocada sobre sua
409
Figura 175 – Residência Moderna em meio de pagina como propaganda de construtora evidenciando o sucesso dessa linguagem.
Fonte: Revista “A CASA”, n. 219 – 220, p. 20-21, ago/set, 1942.
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Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
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Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
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No seio de uma classe que se une num movimento instintivo de defesa coletiva,
como é o caso da hora presente, o espírito de concorrência não se pode exercer
na plenitude dos interesses individuais. (...) Assim, a nossa primeira necessidade
ante as ameaças de uma defecção, é a de permanecermos unidos, formando no
meio das outras classes, um grupo homogêneo, posto ou pelo menos
predisposto à luta. (...) Todas as nossas atividades sociais devem ser
encaminhadas em tal direção. Em conferências nas associações de classe ou
pelo radio, em artigos pelos jornais, assim como nos estudos da
“standardização” conveniente, da produção sob o estreito regime da economia
que nos é imposta pelas circunstancias gerais, esse espírito de unidade deve ser
mantido e demonstrado, porque, de outro modo, não nos poderemos manter no
nível do respeito que devemos e que precisamos de imprimir ao nosso meio
ambiente. (...) A nossa classe tem raízes profundas na história da evolução do
espírito humano. Uma grande parcela da civilização é o produto direto do nosso
esforço, isto é, do esforço, do estudo e da dedicação dos nossos antepassados,
do pensamento cultural e artístico que deu ao mundo o Parthenon, o Taj-Marhal
e monumentos como as catedrais góticas, esses marcos da Idade Media.
movimento moderno, por um lado dava o devido peso técnico às discussões sobre a
específica na área 161 , no Brasil foram justamente aqueles que a tinham que se
Por outro lado, isto se deve também a não regulamentação da profissão até
dos mestres de obra e demais leigos que ocupavam a área, essa renovação e o teor
estilo mais apropriado para o seu tempo e/ou sua identidade nacional, a questão
para boa parte dos arquitetos não era prioritariamente de ordem estética, mas sim
mutuamente. Talvez por isso a arquitetura moderna nas suas tantas feições tenha
161
Como já citado anteriormente o professor norte-americano Nathaniel Curtiss já advertia sobre essa peculiaridade da nova
arquitetura se referindo as figuras de Le Corbusier, Walter Gropius, Frank Lloyd Wright e outros: “É bastante significativo n otar
que os leaderes da Arquitetura moderna não receberam educação acadêmica de espécie alguma.” (ARQUITETURA E
URBANISMO n. 01, jan/fev, 1939, p. 396).
162
A lei da regulamentação federal da profissão do Engenheiro e do arquiteto foi somente instituída em 11 de dezem bro de
1936 pelo Decreto Federal n. 23.569.
412
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
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favoráveis.
Rio de Janeiro. Ele primeiro ressalta as soluções funcionais, depois fala da estrutura
Segundo ele:
413
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
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De nada vale copiarem os projectos insertos nas paginas das revistas; sempre é
necessária a collaboração do profissional, porque a menor alteração, seja devido
à natureza do terreno, seja devido à modificação de qualquer elemento, basta
para desvirtuar o conjunto de uma concepção architectonica. (AZEREDO, A
CASA, n. 102, p.7, nov., 1932).
É que essa nova feição da architectura está sendo recebida com sympathia pelo
povo, que já se inclina em aceitar os conselhos dos architectos. Dessa harmonia
de vistas entre o proprietário e o profissional há de resultar fatalmente apreciável
benefício para a esthetica urbana.
Até bem pouco tempo a architectura da nossa cidade vinha sendo formada por
modelos tirados quase sempre de catálogos estrangeiros, sem nenhuma
aclimatação ao nosso meio. (JORDÃO & AZEREDO, A CASA, n. 97, p. 3, jun.,
1932).
De tal sorte o estylo moderno calou no espirito do povo que raras são hoje as
casas construídas sem as linhas sóbrias que lhe são caracteríticas. Mas a
simplicidade não quer dizer que todas as casas modernas sejam acabadas da
mesma fórma. Pelo contrário, a falta de decoração exige melhor acabamento.
Por ahi os proprietários deverão observar que não basta o projecto bem feito. A
actuação do architecto se faz necessária não só para a elaboração do projecto
como para a sua fiscalisação. Sem esta, mesmo que o construtor seja honesto, á
casa fica faltando qualquer coisa a que se chama paladar do artista. (JORDÃO,
Braz & AZEREDO, A CASA, n. 137, p. 34, out, 1935).
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Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
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nessa luta obviamente por ser órgão oficial do IAB – se não a principal, uma das
mais decisivas instituições promotoras das ações em defesa da classe, mesmo que
a união dos profissionais a partir dessa instituição fosse mais uma pretensão que
uma realidade163. Esse periódico apresentava o Boletim do IAB, uma seção ordinária
relatar seus feitos mais significativos desde sua fundação expunha seus feitos mais
163
Situação que parece persistir até os dias atuais.
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Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
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lei formulado pelo deputado Daniel de Carvalho e aprovado em 1935. A Lei 125,
Uma grande vitória do IAB que logo surtiu efeito. Para Vasconcellos “o
alguns com histórias mais felizes outros nem tanto. O IAB sempre atento, quando
feito pelo instituto para tais fins e sempre oferecia seus préstimos.
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Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
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falibilidade dessa prática insiste em defender sua existência como a melhor prova da
Dois concursos são bastante reveladores sobre essa fusão entre afirmação
Santos Dumont e o concurso para o Pavilhão do Brasil para a Feira de Nova York de
1939.
do Aeroporto Santos Dumont, não teve vencedores imediatos e trazia em seu edital
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Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
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primeira etapa o júri considerava que esse projeto deveria ser exemplar devido às
e foram levadas em conta tanto questões técnicas quanto estéticas na avaliação dos
Resolveu o júri escolher os trabalhos sob números um (1), dois (2), sete (7),
nove (9) e trêse (13) para que seus autores concorram a uma segunda prova
final (ARQUITETURA E URBANISMO, n.04, p. 211, jul./ago., 1937).
avaliados e a maioria de seus avaliadores, pois caso contrário não seria possível o
moderno por parte do poder público foi via Ministério da Educação e Saúde Pública,
central nesse movimento. Apesar de sempre citado como importante obra moderna
no Brasil esse edifício não é considerado nesse aspecto, bem como seus
idealizadores também não tiveram o devido lugar de bem maior destaque que o
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Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
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O parecer do júri na etapa final também mostra além dessa ressonância e dos
linha norte sul, porém não teve essa unanimidade quanto à opção estética. O Prof.
voto:
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York em 1939 são ainda mais reveladoras sobre as múltiplas forças que se
moderna.
Esperamos que V.E. receba esta nossa solicitação como uma sincera
demonstração de colaborar em uma obra que demonstrará aos povos
extrangeiros o nosso cabedal técnico e artístico na grande arte de arquitetura
(FIGUEIREDO, ARQUITETURA E URBANISMO, n.01, p. 50, jan./fev., 1938).
uma vez o Instituto se dirige ao ministro solicitando a retificação dos termos do edital
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“Com relação ao estilo a ser adotado no projeto do pavilhão, ficou assentado que
jan./fev., 1938). Por outro lado, a atuação do Instituto buscou assegurar o que
chamou de “idoneidade” dos membros do júri, ao acordarem que seriam parte deste
jan./fev., 1938).
O júri do concurso então ficou assim composto: Dr. João Carlos Vital (como
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Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
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centrais para a solução final dada ao pavilhão. O projeto final foi desenvolvido pelos
dois primeiros colocados no concurso a partir de uma terceira proposta que não
situação talvez seja reflexo do julgamento que deu a vitória a Lúcio Costa não por
seu caráter foi considerado demasiadamente internacional para carga simbólica que
Este projeto é, dos três, o que possue maior espírito de brasilidade. O seu
conjunto tem uma bela harmonia dentro do espirito moderno que o afasta da
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Pública. A revista oficial do IAB que sempre foi bastante contundente na defesa da
Ministério foi publicado nas páginas dessa revista, porém o texto que acompanha as
imagens reproduz somente a fala de seu principal mentor – o arquiteto Lúcio Costa.
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Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
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6. CONCLUSÃO
O Brasil Moderno foi erguido em concreto armado, nele o vento passava por
verdadeiro, mesmo que seja apenas parte da realidade. Esse entendimento corrente
sua singularidade e importância, mas também pontuando seus limites é uma tarefa
difícil e desafiadora.
e inclusive no Brasil desde o século XIX, logo descobriram que seguir os caminhos
europeus não tiraria o país de seu lugar de “atraso” no cenário internacional. Isto
situação. A brasilidade modernista – atual e nacional – foi então esse presente, que
entre estudo erudito e mergulho instintivo nas entranhas da nação, pinçou pedaços
criação futura de certa identidade. Identidade, que como já apontou Carlos Martins
sobre a obra teórica de Lúcio Costa, “não se busca no passado, mas se inventa, se
arquitetura brasileira. Tal vertente teve então, para além de seus grandes e próprios
grande alcance para essa matriz, especialmente através da edição de uma história
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Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
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do Brasil dos heróis da modernização getulista que exaltou certas falas e silenciou
muitas outras.
instituiu.
Essa versão foi interessante para a glorificação da Era Vargas, como também
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brasileira. Bem distante de um momento instaurador, esse edifício foi fruto de uma
racionalidade veio dar o respaldo técnico para a sua afirmação enquanto profissional
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metodologia de projeto onde a planta gera a forma. A solução formal é uma questão
menos debatida explicitamente, mas muito mostrada. Não há, no entanto uma única
alternativa para as formas modernas e sim uma gama variada que reflete os
vinculadas não só, mas principalmente, ao uso franco do concreto armado. Por outro
qual a arquitetura sai do universo das belas artes e passa para um campo próprio
profissional do arquiteto foi central tanto para a consolidação do campo como para a
estabelecer no Brasil a partir dos anos 40 e se consolidou nos anos 50, para muito
além dos eleitos por Lúcio Costa teve contribuições fundamentais de muitos outros
presentes nos periódicos são os dos irmãos Roberto. Marcelo e Milton Roberto
dos ecos duradouros da trama costiana o próprio Niemeyer dá outra versão sobre a
dos pilotis, da estrutura independente, do painel de vidro, e isso foi muito importante
para a nossa arquitetura.
A primeira obra moderna e de vulto elaborada por arquiteto brasileiro, ao que eu me
lembro, foi a sede da ABI, projetada pelos irmãos Roberto. Marcelo Roberto era, no Rio
um arquiteto de excepcional talento, e seu escritório, sem dúvida, o que, em
determinada época, maior número de obras modernas realizou nessa cidade.
(NIEMEYER, 2000, p. 15).
Oscar Niemeyer não tem destaque nenhum nesse período, apesar de ter se tornado
tinha sido aberto e consolidado anteriormente para propiciar sua expressão com tais
Brasil e a luta para desvencilhar-se da simples repetição do que vinha de fora, numa
grande qualidade de reflexão e crítica foi feito por precursores como J. Cordeiro de
Azeredo, Braz Jordão, Ângelo Bruhns, Gerson Pompeu Pinheiro, Adalbert Szilard,
Nestor de Figueiredo entre outros e não só pelo pequeno círculo vinculado a Lúcio
arada e irrigada por muitos outros arquitetos. O clima era adequado, o adubo de
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Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
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qualidade e o ambiente bastante favorável. A flor carioca não brotou em solo seco e
adverso.
primeiras questões não havia maiores divergências, nas questões formais eram
simplificação da arquitetura. Também era colocada sem muita ênfase no hall das
ter cada vez menos exemplares publicados nos periódicos, mas não chegam a
desaparecer.
Corbusier e Mies van der Rohe, e eventualmente a Jacobus Johannes Pieter Oud e
Frank Lloyd Wright, bem mais utilizados por seus detratores como algo pejorativo
que por seus defensores. Para muitos partidários da nova arquitetura, modernismo
arquitetura que deveria ser banida. Porém esse entendimento não é unanimidade e
esses termos aparecem, mesmo que não muitas vezes, também como designação
regiões do país, em especial aos panos de vidro pelo excessivo calor e à cobertura
analisar e exaltar as obras que confirmassem esses valores, no Brasil isso não foi
distintas das formas de ser moderno, em uma gama mais plural da arquitetura
tese através das contribuições de uma pequena parte desse rico universo das
mais longa, mais coletiva e bem menos unitária do que a trama costiana ecoada
longamente levou a acreditar. Uma crença motivada talvez pelo extraordinário mérito
artístico de certa parcela das obras modernistas, ou ainda pela potencia das falas e
possantes na cultura nacional; ou quem sabe pelo silêncio forçado da crítica mais
Vale particularmente refletir sobre esse duradouro eco das falas costianas
das chaves da história das belas artes, se não completamente pelo menos
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Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
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urbanismo.
que nada tem de vínculo com a tradição construtiva do país revela esse seu
quando coloca na defesa da nova técnica que uma de suas grandes vantagens era
Posição que fica ainda mais clara quando ele defende em “Considerações
concepção arquitetônica:
localizadas não só no campo da arquitetura, mas também no hall das obras de arte
defendida.
primeiro momento eram vinculados de uma maneira ou de outra ao campo das artes
e viam como Lúcio Costa a história da arquitetura como história da arte. Philip
Goodwin produz seu trabalho para o MoMA, um museu de arte; Geraldo Ferraz era
jornalista, mas também crítico de arte, Paulo Santos foi membro fundador do Comitê
Brasileiro de História da Arte, Yves Bruand era paleontólogo, mas sua pós-
graduação era em história da arte, Carlos Lemos além de arquiteto era pintor e um
de seus textos sobre a arquitetura moderna foi produzido para uma coletânea sobre
arte no Brasil. O único que de certa maneira se distancia dessa postura é Henrique
Mindlin e seu livro com um leque bem maior de obras e arquitetos revela isso. Porém
artístico, o que o levou a diretor do Museu de Arte Moderna no Rio de Janeiro, ainda
movimento moderno, como ecoar alguns pontos centrais das falas de Lúcio Costa
no texto introdutório de seu livro. Nos autores mais recentes há uma maior variação
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Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
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história da arte, especialmente Carlos Martins e Hugo Segawa. Com outras chaves
Sobre a historiografia há ainda outro ponto que vale apena pontuar e que nos
parece também contribuir para os ecos tão fortes da trama costiana por tão longo
O início dos anos 80 foi o momento mais farto de publicações sobre a história
da arquitetura moderna brasileira, mesmo que nem todos os textos tenham sido
escritos nesse momento como, por exemplo, o texto de Paulo Santos escrito em
arquitetura, mas em várias áreas da produção cultural brasileira, pode ser explicado
desencadeado pela chamada “Lei da Anistia” em 1979, que abre espaço novamente
20 e bruscamente interrompido pela ditadura em meados dos anos 60. Muitas foram
completamente ao objeto desse tese compreender essa questão. Porém nos parece
interessante pontuar que esse lapso criou por um lado uma visão idealizada dos
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trabalho então, essa perda de continuidade teria provocado uma relação uma tanto
idílica e pouco crítica da historiografia com essa produção dos anos 40 e 50 que
as visões que o próprio momento produziu dele mesmo, na fala daqueles que
que só começa a ser reavaliada a partir da segunda metade dos anos 90.
fios de silêncio ecoados por tanto tempo. Essa trama criou uma visão mitológica
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Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
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importantes para tal deslocamento como aqueles que o foram, pois foi também no
campo aberto pela batalha daqueles que foram apartados da história que essa
profissional que vinha sendo construída desde os anos 20. Os mitos são
Oscar Niemeyer e do proprio Lúcio Costa foram tão idolatrados que ao inves de
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Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
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intensificação do brilho desse tão pequeno grupo carioca, acabou por empobrecer e
lógica costiana do gênio iluminado. A arquitetura é nesses termos fruto apenas das
quantidade enorme de estudos que o aluno não sabe exatamente a que serve, mas
sabe que devem constar, esse partido não é uma síntese complexa e difícil entre
revistas com o claro intiuto de formação técnica dos arquitetos e que tais saberes
eram absolutamente excenciais ao ato projetual revelavam esse outro caminho que
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Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
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“período heroico”.
de uma certa vertente da arquitetura brasileira tomou dimensões que ele certamente
interessante notar que uma enorme parte das cidades brasileiras foi construída
sobre os ecos eruditos e populares de uma pluralidade moderna que o conjunto das
2,10m como a altura de uma porta comum residencial, nem de longe desconfia que
mínimos. A menos de 2,20 não deve-se ir, pois recahiriamos no caso inverso, ficando a
porta acachapada, e de um aspecto pobre.
Temos empregado, em construcções de diversos typos, a altura de 2,20, e nenhuma
objecção se nos tem apresentado. Cremos poder aconselhar a generalisação dessa
altura.
Em commodos secundários, taes como dependências, privadas, etc., a porta de 2,00
metros de altura vae bem com a largura de 0,70 e 0,65mts.
A largura de uma porta depende do destino da peça para que essa porta se abre. Os
moveis usuaes, de dormitórios, mesmo os de maiores proporções, como guarda-
roupas, não têm maior dimensão, na profundidade, que 0,70. (...).
Concluimos que a orientação aconselhavel para uma fabricação em serie de portas
internas é ter em estock os typos de 2,20 x 0,90, 2,20 x 0,80, 2,20 x 0,70. (A CASA, n.
7, p. 27, nov., 1924).
Da média entre 2,20 e 2,00 dos anos 20 e do desuso dos chapeus temos os
arquitetos da atualidade.
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Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
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ensino superior de modo geral não tenham lugar importante. Porém será mesmo
que não houve contribuições importantes por parte das instituições na renovação da
arquitetura brasileira para além dos episódios vinculados à direção da ENBA por
Lúcio Costa em 1930 e cerca de trinta anos depois aqueles em torno de João Batista
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Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
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modernização não são totalmente lineares como também não são absolutamente
menos ou mais geniais, porém num esforço coletivo, em busca de melhores e mais
urbanismo como um campo profissional que se funda entre técnica e arte, com
intervenções ordinárias.
Por fim, lembrar que talvez bem mais importante que voltar a acariciar a
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Figura 177 – Montagem da autora com capas da revista ARQUITETURA E URBANISMO. Ao centro obras de Lúcio Costa, a
primeira é uma casa neocolonial que é publicada em 1938 e a outra é o Ministério da Educação e Saúde publicado em 1939.
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Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
461
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
PERIÓDICOS
462
Falas e ecos na formação da Arquitetura Moderna no Brasil
Juliana Cardoso Nery
ANEXO
REVISTA A CASA
LOCALIZAÇÃO DAS EDIÇÕES NOS ACERVOS PESQUISADOS
Ano/Mês Jan. Fev. Mar. Abr. Mai. Jun. Jul. Ago. Set. Out. Nov. Dez.
1923 01 02
1924 03 04 05 06 07 08
1925 09 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20
1926 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32
1927 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42 43 44
1928 45 46 47 48 49 50 51 52 53 54 55 56
1929 57 58 59 60 61 62 63 64 65 66 67 68
1930 69 70 71 72 73 74 75 76 77 78 79
1931 80 81 82 83 84 85 86 87 88 89 90 91
1932 92 93 94 95 96 97 98 99 100 e 101 102 103
1933 104 105 106 107 108 109 110 111 112 113 114 115
1934 116 117 118 119 120 121 122 123 124 125 126 127
1935 128 129 130 131 132 133 134 135 136 137 138 e 139
1936 140 141 142 143 144 145 e 146 147 148 149 150 151
1937 152 153 e 154 155 156 157 158 e 159 160 161 162 e 163
1938 164 165 166 167 168 e 169 170 171 e 172 173 174 e 175
1939 176 177 178 e 179 180 181 182 183 184 e 185 186 e 187
1940 188 189 e 190 191 192 e 193 194 195 e 196 197, 198 e 199
1941 200 201, 202 e 203 204, 205, 206, 207, 208, 209, 210 e 211
1942 212 213 214 215 216 217 e 218 219 e 220 221 e 222 223
1943 224 225 226 227 228 229 230 231 232 233 234 235
1944 236 237 238 239 240 241 242 243 244 245 246 247
1945 248 249 250 251 252 253 254 e 255 256 e 257
LEGENDA
Biblioteca da Escola de Arquitetura da UFMG (Belo Horizonte/MG)
Biblioteca Paulo Santos – IPHAN (Rio de Janeiro/RJ)
Biblioteca Pública Central dos Barris – Estado da Bahia (Salvador /BA)
Edições não encontradas
Meses sem edições
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