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1. MATRIZES DE CONTEÚDOS
1. MATRIZES DE CONTEÚDOS
1. MATRIZES DE CONTEÚDOS
1. MATRIZES DE CONTEÚDOS
II
Escolha múltipla 1. a 7. 35
(7 itens x 5 pontos)
II
Resposta curta 8., 9. e 10. 15
(15 pontos)
I–A
60
1. a 3.
(3 itens x 20 pontos)
Resposta restrita
I–B
4. e 5.
40
(2 itens x 20 pontos)
Resposta
(30 + 20) 50
extensa
1. MATRIZES DE CONTEÚDOS
TESTES DE AVALIAÇÃO N.OS 3 e 4 (pp. 20 e 24), Fernando Pessoa, heterónimos e Bernardo Soares
Domínios e GRUPOS
Conteúdos
I II III
EDUCAÇÃO LEITURA ESCRITA
LITERÁRIA E GRAMÁTICA
Tipologia
de itens
II
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II
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II
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II
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1. MATRIZES DE CONTEÚDOS
II
Escolha múltipla 1. a 7. 35
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II
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1. MATRIZES DE CONTEÚDOS
os
TESTE DE AVALIAÇÃO N. 9 e 10 (p. 45 e 49), Poetas contemporâneos
Domínios e GRUPOS
Conteúdos
I II III
EDUCAÇÃO LEITURA ESCRITA
LITERÁRIA E GRAMÁTICA
Tipologia
de itens
II
Escolha múltipla 1. a 7. 35
(7 itens x 5 pontos)
II
Resposta curta 8., 9. e 10. 15
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1. MATRIZES DE CONTEÚDOS
TESTE DE AVALIAÇÃO N.OS 11 e 12 (pp. 53 e 58), Saramago, O ano da morte de Ricardo Reis
Domínios e GRUPOS
Conteúdos
I II III
EDUCAÇÃO LEITURA ESCRITA
LITERÁRIA E GRAMÁTICA
II
Escolha múltipla 1. a 7. 35
(7 itens x 5 pontos)
II
Resposta curta 8., 9. e 10. 15
(15 pontos)
I–A
60
1. a 3.
(3 itens x 20 pontos)
Resposta restrita
I–B
4. e 5.
40
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extensa
1. MATRIZES DE CONTEÚDOS
Tipologia
de itens
II
Escolha múltipla 1. a 7. 35
(7 itens x 5 pontos)
II
Resposta curta 8., 9. e 10. 15
(15 pontos)
I–A
60
1. a 3.
(3 itens x 20 pontos)
Resposta restrita
I–B
4. e 5.
40
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2. TESTES DE AVALIAÇÃO
2. TESTES DE AVALIAÇÃO
GRUPO I
Leia o texto.
1. Indique o local, o tempo e a situação registados pelo sujeito poético na primeira estrofe.
2. TESTES DE AVALIAÇÃO
Leia o soneto.
Luís de Camões, Rimas (texto estabelecido e prefaciado por Álvaro J. da Costa Pimpão),
Coimbra, Almedina, 2005, p. 138.
GRUPO II
Responda às questões. Na resposta aos itens de escolha múltipla, selecione a opção correta.
Leia o texto.
A quarta revolução
A quarta revolução industrial está aqui, mesmo quando não percebida porque encoberta no
velho lodo de um Mundo desigual, onde a pobreza extrema se agrava e as alterações climatéricas
bradam a desordem de um modelo de desenvolvimento insustentável, do qual as migrações
massivas e desesperadas são um sinal, entre outros. Mas a “revolução” está aqui e agora, na sua
5 mutabilidade permanente, na vertiginosa capacidade de adaptação e integração, unindo polos
longínquos do Planeta, comunicando na mesma língua, à velocidade da Internet, uma fabriqueta do
Burundi com um escritório de Manhattan.
Na base da quarta revolução industrial está a transação acelerada e cada vez mais direta do
conhecimento e da inovação tecnológica para a economia, serviços, administração e governo das
10 sociedades (países, instituições, aldeias,..) inserindo alterações radicais no modo de organização dos
mercados e do trabalho, a uma escala mundial, sistémica e total.
O Fórum Económico Mundial, reunido este ano em Davos, prevê que sejam extintos cinco
milhões de postos de trabalho nos próximos anos. Há funções e trabalhos que rapidamente se
tornarão irrelevantes e obsoletos face a novos processos mais avançados de produção, novas
15 necessidades e estilos de vida. Mas, de igual modo, há novas profissões a nascer de forma
surpreendentemente rápida.
Como nos situamos neste processo? De que modo podem um país, uma instituição, uma pessoa,
serem nele atores reivindicando para si o estatuto de sujeito − que interfere na decisão, no seu
2. TESTES DE AVALIAÇÃO
sentido e rumo − e não mero elo anónimo da cadeia produtiva? Ou seja, que tipo de revolução
20 desejamos, nos seus fins e meios?
O conhecimento e a inovação, em si, não conhecem cores políticas ou preconceitos ideológicos.
Pelo contrário: são filhos do pensamento criativo, da liberdade. Mas o mesmo poderemos dizer da
sua aplicação? Da forma fluída e irresponsável como fluem, transformados em mercadorias sem
barreiras éticas ou compromissos contratualizados?
25 A verdade é que precisamos de pensar no futuro que queremos, para fazermos no presente as
ações que o constroem.
Uma das ideias utópicas mais recorrentes na filosofia política ou na literatura é o sonho de um
futuro, onde liberto pelo saber das tarefas mais duras, o homem poderia gozar o lazer, usufruindo
num Éden feliz uma relação de paz com a Natureza.
30 Não há Éden no Mundo dos homens. Temos de nos governar e a crítica é a arma indispensável de
toda a construção.
Rosário Gambôa, in JN, edição online de 07 de outubro de 2016 (consultado em novembro de 2016).
3. A simbiose homem-natureza é
(A) uma ideia concretizável no futuro.
(B) possível no jardim do Éden.
(C) uma utopia veiculada pela literatura e pela filosofia.
(D) uma tarefa dura, mas concretizável pelo saber.
4. A forma verbal presente em “onde a pobreza extrema se agrava” (l. 2) tem um valor aspetual
(A) perfeito.
(B) iterativo.
(C) habitual.
(D) genérico.
5. O segmento “Na base da quarta revolução industrial” (l. 8) desempenha a função sintática de
(A) sujeito.
(B) predicativo do sujeito.
(C) modificador do grupo verbal.
(D) modificador apositivo do nome.
6. A forma verbal “se tornarão” (ll. 13-14) pertence à subclasse dos verbos
(A) copulativos.
(B) transitivos predicativos.
(C) transitivos indiretos.
(D) intransitivos.
2. TESTES DE AVALIAÇÃO
8. Classifique a oração “que sejam extintos cinco milhões de postos de trabalho nos próximo anos”
(ll. 12-13).
GRUPO III
O desenvolvimento do conhecimento e das tecnologias, responsável por aquilo que se designa por
“quarta revolução industrial”, parece não estar a ser canalizado para o bem da Humanidade.
Escreva um texto de opinião, de 170 a 200 palavras, no qual defenda um ponto de vista sobre o modo
como o ser humano usa os conhecimentos e os avanços tecnológicos na sociedade.
Fundamente o seu ponto de vista recorrendo, no mínimo, a dois argumentos e ilustre cada um deles
com, pelo menos, um exemplo significativo.
2. TESTES DE AVALIAÇÃO
GRUPO I
Leia o texto.
1. Comprove que o “lago” é o ponto de partida para uma análise introspetiva, levada a cabo pelo
sujeito poético.
2. Explicite de que modo se podem articular as temáticas “sonho e realidade” e “a dor de pensar”.
2. TESTES DE AVALIAÇÃO
Leia o excerto.
Carlos pensara em arranjar um vasto laboratório ali perto no bairro, com fornos para trabalhos
químicos, uma sala disposta para estudos anatómicos e fisiológicos, a sua biblioteca, os seus
aparelhos, uma concentração metódica de todos os instrumentos de estudo...
Os olhos do avô iluminavam-se ouvindo este plano grandioso.
5 – E que não te prendam questões de dinheiro, Carlos! Nós fizemos nestes últimos anos de Santa
Olávia algumas economias...
– Boas e grandes palavras, avô! Repita-as ao Vilaça.
As semanas foram passando nestes planos de instalação. Carlos trazia realmente resoluções
sinceras de trabalho: a ciência como mera ornamentação interior do espírito, mais inútil para os
10 outros que as próprias tapeçarias do seu quarto, parecia-lhe apenas um luxo de solitário: desejava
ser útil. Mas as suas ambições flutuavam, intensas e vagas; ora pensava numa larga clínica; ora na
composição maciça de um livro iniciador; algumas vezes em experiências fisiológicas, pacientes e
reveladoras... Sentia em si, ou supunha sentir, o tumulto de uma força, sem lhe discernir a linha de
aplicação. “Alguma coisa de brilhante”, como ele dizia: e isto para ele, homem de luxo e homem de
15 estudo, significava um conjunto de representação social e de atividade científica; o remexer
profundo de ideias entre as influências delicadas da riqueza; os elevados vagares da filosofia
entremeados com requintes de sport e de gosto; um Claude Bernard que fosse também um Morny...
No fundo era um diletante.
Eça de Queirós, Os Maias: episódios da vida romântica (fixação de texto Helena Cidade Moura) Lisboa,
Livros do Brasil, 28.a ed., capítulo IV.
4. Mostre que, tal como Fernando Pessoa, Carlos também sonhou e os seus sonhos não se concreti-
zaram.
5. Justifique a afirmação “Os olhos do avô iluminavam-se ouvindo este plano grandioso.” (l. 4).
GRUPO II
Leia o texto.
Ainda o apanhamos!
2. TESTES DE AVALIAÇÃO
Sem estar inteiramente de acordo com Carlos Reis, acho que a ideia de propor a continuação da
15 obra de Eça constitui um desafio interessantíssimo quer para os autores quer para os leitores. Não
estou inteiramente de acordo com o professor de Coimbra porque, na última página do romance, a
célebre exclamação de Carlos da Maia e de João da Ega, “– Ainda o apanhamos!”, enquanto se
esfalfam a correr para o americano, de modo a não faltarem ao jantar combinado no Bragança, não
envolve apenas o desmentido da conversa que eles acabam de ter sobre a falta de sentido de
20 qualquer esforço: reduz também a tragédia amorosa e familiar por que Carlos passou a uma mera
trivialidade e está nisso uma poderosa manifestação, tanto da ironia de Eça, como do cinismo
comportamental que ele confere a essas duas personagens.
Ora, partindo desta leitura, parece-me que seria difícil conceber uma continuação, não obstante
a obra parecer suficientemente “aberta”... Todavia, nada há que a impeça: a ideia em si é aliciante e
25 há precedentes ficcionais com Os Maias e outras obras de Eça, sem falar em adaptações ao teatro e
ao cinema: por exemplo, em Madame, Maria Velho da Costa põe em cena Maria Eduarda,
personagem de Eça, e Capitu, personagem de Machado de Assis, ocorrendo-me também, embora
neste caso sem relação direta com Os Maias, o romance Nação Crioula, de José Eduardo Agualusa,
que em 1997 “prolonga” a correspondência de Fradique Mendes, fazendo-o reviver e escrever em
30 exóticas paragens.
Vasco Graça Moura, in DN, edição online de 31 de julho de 2013
(consultado em janeiro de 2017, com supressões).
4. Os processos fonológicos que se verificam na evolução de opera para “obra” (l. 3) são
(A) prótese e epêntese.
(B) síncope e sonorização.
(C) crase e apócope.
(D) dissimilação e sinérese.
2. TESTES DE AVALIAÇÃO
6. Ao utilizar o nome “Carlos Reis” (l. 14) e “o professor de Coimbra” (l. 16), o autor assegura a coesão
(A) interfrásica.
(B) temporal.
(C) lexical.
(D) frásica.
7. A utilização das aspas em “Ainda o apanhamos” (l. 17), justifica-se por se tratar de uma
(A) citação.
(B) opinião de uma autor do texto.
(C) frase em discurso indireto livre.
(D) frase em discurso direto.
9. Indique o referente do pronome pessoal presente em “Todavia, nada há que a impeça” (l. 24).
10. Identifique a função sintática do constituinte sublinhado em “põe em cena Maria Eduarda” (l. 26).
GRUPO III
Tal como Vasco Graça Moura reconhece, são muitas as adaptações cinematográficas ou teatrais de
obras literárias.
Num texto de opinião, de 170 a 250 palavras, refira-se à importância ou à transgressão decorrentes
dessas adaptações, utilizando, no mínimo, dois argumentos e, pelo menos, um exemplo significativo,
para cada um deles, de modo a defender convenientemente o seu ponto de vista.
2. TESTES DE AVALIAÇÃO
GRUPO I
Leia o texto.
Pensar em nada
É ter a alma própria e inteira.
Pensar em nada
É viver intimamente
10 O fluxo e o refluxo da vida...
2. TESTES DE AVALIAÇÃO
Ah Peixes, quantas invejas vos tenho a essa natural irregularidade! Quanto melhor me fora não
tomar a Deus nas mãos, que tomá-Lo tão indignamente! Em tudo o que vos excedo, peixes, vos
reconheço muitas vantagens. A vossa bruteza é melhor que a minha razão, e o vosso instinto melhor
que o meu alvedrio. Eu falo, mas vós não ofendeis a Deus com as palavras; eu lembro-me, mas vós
5 não ofendeis a Deus com a memória; eu discorro, mas vós não ofendeis a Deus com o entendimento;
eu quero, mas vós não ofendeis a Deus com a vontade. Vós fostes criados por Deus, para servir ao
homem, e conseguis o fim para que fostes criados: a mim criou-me para O servir a Ele, e eu não
consigo o fim para que me criou. Vós não haveis de ver a Deus, e podereis aparecer diante Dele
muito confiadamente, porque O não ofendestes; eu espero que O hei de ver; mas com que rosto hei
10 de aparecer diante do Seu divino acatamento, se não cesso de O ofender? Ah quase que estou por
dizer que me fora melhor ser como vós, pois de um homem que tinha as mesmas obrigações, disse a
Suma Verdade1 que melhor lhe fora não nascer homem: Si natus non fuisset homo ille. E pois os que
nascemos homens, respondemos tão mal às obrigações de nosso nascimento, contentai-vos, Peixes,
e dai muitas graças a Deus pelo vosso.
Padre António Vieira, Obra completa (dir. José Eduardo Franco e Pedro Calafate),
tomo II, vol. X, Lisboa, Círculo de Leitores, 2014, pp. 164-165.
_____________
1 Deus.
4. Indique duas razões justificativas da inveja que o orador diz ter dos peixes.
GRUPO II
Responda às questões. Nas respostas aos itens de escolha múltipla, selecione a opção correta.
Leia o texto.
Se aquilo que possui traz danos à sua vida, a solução é simplificar e adotar princípios
minimalistas.
Por trás de cada grande decisão há sempre uma história. Imagine alguém que, aos 28 anos,
atinge o topo do sucesso no mundo empresarial e, nessa mesma altura, fica sem o casamento e
5 perde a mãe, questionando-se então acerca do que realmente conta na sua vida. Ou coloque-se na
pele de um jovem executivo exemplar, confrontado com o seu despedimento.
Dois cenários que podiam fazer parte da sinopse de um filme. Mas não são. Aconteceram mesmo
a dois amigos de infância. Joshua Fields Millburn e Ryan Nicodemus tinham a mesma idade quando
passaram pelo avesso do sonho americano. Foi então que decidiram simplificar: reduziram ao
10 mínimo os hábitos de consumo, venderam ou doaram tudo o que não acrescentasse valor ao seu
quotidiano e as vidas deles mudaram. Tornaram-se mais ricas. O lema de Os Minimalistas, que
vivem em Missoula, no Estado de Montana, pode resumir-se a três ideias-chave:
− “Viver com menos é mais”
− “Desapegue-se e siga em frente”
15 − “Ame as pessoas e use as coisas porque o contrário não funciona”.
2. TESTES DE AVALIAÇÃO
Parece fácil mas não é. Eles explicam tudo numa conferência TED e no documentário lançado
este ano e intitulado Minimalism: A Documentary About the Important Things. Porque é que não é
fácil? Por ser preciso passar à prática e confiar que vai valer a pena. Por ser preciso reprogramar a
ideia que se tem de abundância.
15 O emprego milionário, a casa à altura com carro a condizer e outros sinais exteriores de riqueza
podem parecer uma meta cativante que todos querem alcançar (e que eles alcançaram). Só que,
pouco tempo antes de a vida ter surpreendido Joshua e Ryan, já eles tinham percebido que manter
esse estilo de vida não lhes dava a satisfação sonhada. E, para infelicidade de ambos, o consumo
compulsivo só ampliava a sensação de vazio e os níveis de stresse, medo, desgaste e depressão. Em
20 síntese, não era Vida. Não os tornava mais livres nem lhes fazia sentido. Seis anos passados, a dupla
tem um site, um blog, um podcast, alguns livros e mais de quatro milhões de seguidores.
Clara Soares, in Visão, edição online de 23 de novembro de 2016 (consultado em dezembro de 2016).
5. A oração subordinada presente na frase “Imagine alguém que, aos 28 anos, atinge o topo do
sucesso no mundo empresarial” (ll. 3-4) é
(A) adverbial consecutiva.
(B) adjetiva relativa restritiva.
(C) adjetiva relativa explicativa.
(D) substantiva completiva.
2. TESTES DE AVALIAÇÃO
7. A afirmação “Dois cenários que podiam fazer parte da sinopse de um filme” (l. 7) exemplifica a
modalidade
(A) epistémica com valor de certeza.
(B) epistémica com valor de probabilidade.
(C) deôntica com valor de obrigação.
(D) deôntica com valor de permissão.
8. Indique o valor lógico do articulador que introduz o último período do primeiro parágrafo.
GRUPO III
Viver a vida de forma minimalista foi a opção dos dois jovens cuja desgraça os fez apreciar a vida de
forma diferente.
Num texto de 170 a 200 palavras, produza um texto expositivo sobre o modo como podemos ou
devemos viver, considerando as consequências decorrentes da nossa opção de vida.
2. TESTES DE AVALIAÇÃO
GRUPO I
Paira-me à superfície do cansaço qualquer coisa de áureo que há sobre as águas quando o sol
findo as abandona. Vejo-me como ao lago que imaginei, e o que vejo nesse lago sou eu. Não sei como
explique esta imagem, ou este símbolo, ou este eu em que me figuro. Mas o que tenho por certo é
que vejo, como se de facto visse, um sol por trás de montes, dando raios perdidos sobre o lago que
5 os recebe a ouro escuro.
Um dos malefícios de pensar é ver quando se está pensando. Os que pensam com o raciocínio
estão distraídos. Os que pensam com a emoção estão dormindo. Os que pensam com a vontade
estão mortos. Eu, porém, penso com imaginação, e tudo quanto deveria ser em mim ou razão, ou
mágoa, ou impulso, se me reduz a qualquer coisa indiferente e distante, como este lago morto entre
10 rochedos onde o último do sol paira desalongadamente.
Porque parei, estremecem as águas. Porque refleti, o sol recolheu-se. Cerro os olhos lentos e
cheios de sono, e não há dentro de mim senão uma região lacustre1 onde a noite começa a deixar de
ser dia num reflexo castanho escuro de águas de onde as algas surgem.
Porque escrevi, nada disse. Minha impressão é que o que existe é sempre em outra região, além
15 de montes, e que há grandes viagens por fazer se tivermos alma com que ter passos.
Cessei, como o sol na minha paisagem. Não fica, do que foi dito ou visto, senão uma noite já
fechada, cheia de brilho morto de lagos, numa planície sem patos bravos, morta, fluida, húmida e
sinistra.
Bernardo Soares, Livro do desassossego, Edição de Jerónimo Pizarro, Lisboa, Tinta da China, 2014, pp. 461-462.
_______________
1relativo a “lago”.
1. Comprove a presença de um registo descritivo e reflexivo como uma das marcas deste texto.
3. Identifique um recurso expressivo presente no segmento “Os que pensam com o raciocínio estão
distraídos. Os que pensam com a emoção estão dormindo. Os que pensam com a vontade estão
mortos.” (ll. 6-8), explicitando o seu valor.
2. TESTES DE AVALIAÇÃO
Leia o poema.
II
4. Explicite a importância do olhar, relacionando-o com o modo como Caeiro encara a Natureza.
2. TESTES DE AVALIAÇÃO
GRUPO II
Responda às questões. Nas respostas aos itens de escolha múltipla, selecione a opção correta.
Leia o texto.
A ligação entre cinema e literatura é bem antiga, e nem sempre corre bem. Na próxima
semana, estreia em Portugal o filme Uma história americana, de Ewan McGregor, realizado a
partir do romance Pastoral americana, de Philip Roth. O que se perde pelo caminho?
5 No prefácio do seu romance O negro do narciso, publicado em 1897, Joseph Conrad escrevia algo
como isto: “o objetivo que eu tento atingir é, pelo poder da palavra escrita, fazer o leitor ouvir,
sentir e, acima de tudo, ver”. É uma frase que não só sublinha o poder da literatura como tem
inspirado um batalhão de realizadores, ao longo da história do cinema, a transformar grandes
romances em filmes. Fazendo, literalmente, ver e ouvir o que outros, antes deles, escreveram. É,
10 muitas vezes, um trabalho armadilhado… E ao longo do tempo foi nascendo a convicção de que a
grande literatura resulta, demasiadas vezes, em filmes falhados. A frase “Ah, mas o livro é muito
melhor…” tornou-se um lugar-comum.
A discussão, muito prática e académica, é velha, e não faltam exemplos para sustentar diversas
teorias. O tema vem agora a propósito da adaptação para cinema de um dos mais celebrados
15 romances do escritor norte-americano Philip Roth, Pastoral americana.
McGregor guiou-se por várias regras clássicas, by the book, da adaptação de um romance ao
cinema. No seu site, o guionista português João Nunes explicita algumas, a partir da sua experiência
pessoal, começando por uma constatação mais ou menos óbvia: “é preciso cortar, eliminar muita
coisa, porque afinal a literatura é uma forma muito mais ‘livre’ do que o cinema”. McGregor passou
20 no teste da “dissecação e simplificação”, mas falhou ao manter o espírito das páginas assinadas por
Philip Roth.
Muitos dos mais celebrados filmes de Alfred Hitchcock baseiam-se em romances, quase sempre
livros menos conhecidos e celebrados do que os filmes a que deram origem. Na longa entrevista
que o cineasta britânico deu ao realizador francês François Truffaut, aproveitou para explicar um
25 pouco do seu método: “O que eu faço é ler a história só uma vez e se gostar da ideia básica esqueço
tudo sobre o livro e começo a criar cinema. Hoje, seria incapaz de contar a história que Daphne du
Maurier escreveu no seu conto Os pássaros. Só o li uma vez, e muito rapidamente.”
Talvez esta fleuma britânica, de mestre, seja o segredo certo para manter o “espírito” das obras,
fazendo cinema sem tentar filmar literatura.
1. Com a afirmação “É, muitas vezes, um trabalho armadilhado…” (ll. 9-10), o autor deixa claro que
fazer a adaptação de obras literárias ao cinema é
2. A afirmação “a literatura é uma forma muito mais ‘livre’ do que o cinema” (l. 19) demonstra que a
literatura
(A) confere ao leitor uma maior liberdade na medida em que a leitura não implica o confinamento a
um determinado lugar.
(B) é uma forma de expressão mais acessível do que o cinema.
(C) permite ao leitor maior criatividade, tendo por base a leitura que realiza.
(D) possibilita o tratamento de temas mais variados do que o cinema.
2. TESTES DE AVALIAÇÃO
3. A frase “McGregor passou no teste da ‘dissecação e simplificação’, mas falhou ao manter o espírito
das páginas assinadas por Philip Roth.” (ll. 19-21)
(A) significa que McGregor sintetizou o conteúdo da obra de Philip Roth, mas realizou um bom filme.
(B) destaca a qualidade cinematográfica e literária de ambas as obras.
(C) comprova a importância da ligação da literatura e do cinema.
(D) produz um juízo de valor negativo relativamente à obra cinematográfica em causa.
4. O método usado por Alfred Hitchcock, que garantiu o êxito de tantos dos seus filmes
(A) consistia em adaptar fielmente a obra literária que lhe servia de base.
(B) constava da leitura rápida da obra literária, que esquecia logo, assim que concebia o filme.
(C) baseava-se na filmagem de cenas que retirava de obras literárias.
(D) era partilhado pelo realizador francês François Truffaut.
7. O termo sublinhado em “para explicar um pouco o seu método” (ll. 24-25) classifica-se como
(A) conjunção subordinativa completiva. (C) conjunção subordinativa final.
(B) preposição. (D) locução prepositiva.
8. Classifique a oração “que o cineasta britânico deu ao realizador francês François Truffaut”. (l. 24)
9. Identifique a função sintática desempenhada pelo constituinte sublinhado em “O que eu faço é ler a
história só uma vez”. (l. 25)
10. Indique o antecedente do pronome pessoal presente em “Só o li uma vez”. (l. 27)
GRUPO III
Redija uma apreciação crítica de uma obra literária que tenha lido e da sua adaptação para o cinema.
Como sugestão, poderá apresentar o seu ponto de vista relativamente ao excerto do Filme do
desassossego proposto na página 103 do manual, adaptação da obra de Bernardo Soares, cujos
fragmentos conhece.
O seu texto deverá conter entre 130 a 170 palavras.
2. TESTES DE AVALIAÇÃO
GRUPO I
Leia o texto.
Ocidente
2. TESTES DE AVALIAÇÃO
_____________
1 À família de Vasco da Gama ou aos portugueses, consoante as interpretações.
2 Tágides.
3 De irmão (as Tágides são aqui consideradas irmãs dos Portugueses).
4 Devido.
5 Vontade.
5. Explicite o apelo expresso pelo poeta nos últimos quatro versos da estância 100.
GRUPO II
Responda às questões. Nas respostas aos itens de escolha múltipla, selecione a opção correta.
Leia o texto.
“O que em mim sente está pensando” é uma afirmação de Fernando Pessoa que implica uma
complementaridade ou acordo entre o pensamento e a emoção. Ela exprime, dentro do contexto do
nosso Modernismo, uma reação ao subjetivismo não raro levado ao extremo quando, nas primeiras
décadas do século passado, muitos poetas não se furtavam a um derramamento emocional que se
5 diria vindo do Ultrarromantismo. Sem dúvida que, conforme nos aproximamos dos nossos dias, a
situação vai-se tornando diferente. Mas a “intelectualização das emoções” e a “emocionalização das
ideias”, a que Pessoa também se referia, não deixa de estar presente quando é sobre a poesia que se
reflete.
Jorge de Sena esteve sempre atento a esta questão. Ele pertence a uma geração, geração essa
10 onde sobressaem Ruy Cinatti, Sophia de Mello Breyner Andresen, Eugénio de Andrade ou Carlos de
Oliveira, cuja obra começa a ser publicada nos anos 40, mas que ganha toda a sua força nas décadas
seguintes. Depois de Poesia 1, que inclui todos livros de Sena publicados em vida do autor, sai agora
Poesia 2 que colige a sua obra poética póstuma. Ficam, assim, recolhidos finalmente todos os
poemas de Jorge de Sena, numa edição preparada por Jorge Fazenda Lourenço.
2. TESTES DE AVALIAÇÃO
15
Considerada na sua totalidade, a poesia de Sena manifesta uma força expressiva que vai ao
encontro de um lirismo especulativo onde logo vêm à superfície tensões dramáticas muito
marcadas, como ele disse, por “um comprometimento humano da poesia pura”. Há na sua escrita
um sentido extremamente lúcido – porque a poesia de Sena é também pensada – que se torna
vigilante, muitas vezes voltada para uma realidade angustiante e adversa.
20 Talvez seja a partir deste tónus que se terá desenvolvido uma certa direção que ganha corpo
neste segundo volume agora publicado. Poesia 2 estende-se por 900 páginas e obedece a uma
ordenação cronológica que principia numa juvenília, seguida de um alargado conjunto de outros
poemas cuja escrita corresponde ao tempo de publicação dos seus livros, desde Peregrinação até
Exorcismos e Conheço o Sal, mas que não foram incluídos neles. Há ainda outros conjuntos de
25 poesias, nomeadamente as que correspondem ao livro póstumo Dedicácias e vários novos inéditos.
Diga-se desde já que esta Poesia 2 assume um caráter que se diria mais documental, por vezes
quase memorialístico, na medida em que muitos dos poemas são uma direta ou espontânea reação a
momentos de natureza circunstancial ou uma transposição desabusadamente temperamental que
se tornam extremamente cortantes, cruzando-se com um confessionalismo por vezes amargo e
30 desencantado.
3. De acordo com o que se afirma nas linhas 15 a 17, a poesia de Jorge de Sena mantém
(A) alguma proximidade com a de Fernando Pessoa.
(B) um caráter totalmente inovador em relação à da sua geração.
(C) uma grande proximidade com a lírica romântica, de caráter subjetivo.
(D) muitos pontos de contacto com a produção lírica dos românticos.
5. O constituinte “tensões dramáticas muito marcadas” (ll. 16-17) desempenha a função sintática de
(A) complemento direto.
(B) sujeito.
(C) predicativo do sujeito.
(D) complemento oblíquo.
6. A oração “que ganha corpo neste segundo volume agora publicado” (ll. 20-21) é subordinada
(A) substantiva relativa.
(B) adverbial consecutiva.
(C) adjetiva relativa restritiva.
(D) substantiva completiva.
2. TESTES DE AVALIAÇÃO
7. O nome “livros” (l. 23), relativamente aos títulos enumerados, é um elemento que garante a coesão
(A) lexical.
(B) interfrásica.
(C) referencial.
(D) temporal.
8. Indique o valor aspetual configurado no segmento “Ficam, assim, recolhidos […] Jorge Fazenda
Lourenço” (ll. 13-14).
9. Identifique a modalidade expressa na afirmação “Talvez seja a partir deste tónus que se terá
desenvolvido uma certa direção” (l. 20).
GRUPO III
O uso do pensamento ou da razão é uma faculdade inerente ao ser humano que o pode impedir de viver
a vida ou, pelo menos, de não saber passar por ela sem pensar. Essa atitude pode trazer-lhe benefícios
mas também prejuízos.
Escreva um texto de opinião, de 200 a 300 palavras, no qual apresente o seu ponto de vista sobre os
comportamentos humanos resultantes do uso excessivo da razão ou da emoção, referindo os aspetos
positivos e/ou negativos daí decorrentes.
Fundamente a sua opinião recorrendo, no mínimo, a dois argumentos e ilustre cada um deles com, pelo
menos, um exemplo significativo.
2. TESTES DE AVALIAÇÃO
GRUPO I
Leia o texto.
Nevoeiro
É a Hora!
Valete, Fratres.
1. Caracterize Portugal de acordo com o conteúdo do poema, fundamentando com citações textuais
pertinentes.
2. TESTES DE AVALIAÇÃO
4. Identifique, justificadamente, um eixo temático comum aos dois textos (grupo I A e B).
GRUPO I
Responda às questões. Nas respostas aos itens de escolha múltipla, selecione a opção correta.
Leia o texto.
2. TESTES DE AVALIAÇÃO
Tiago de Pitta e Cunha, A importância estratégica do mar para Portugal, in Nação e Devesa – Portugal e o Mar,
revista do Instituto Nacional de Defesa, nº 108, verão de 2004, p. 43 (com supressões).
2. TESTES DE AVALIAÇÃO
7. O segmento “que nos rodeia” (l. 17) integra uma oração subordinada
(A) adverbial concessiva.
(B) adjetiva relativa restritiva.
(C) adjetiva relativa explicativa.
(D) adverbial consecutiva.
9. Indique o valor modal expresso na frase “o presente acentuar do ‘síndroma’ deveria despertar-nos
e levar-nos a repensar o posicionamento de Portugal” (ll. 13-14).
GRUPO III
Escreva um texto expositivo, entre 170 e 200 palavras, no qual apresente as características geográficas,
culturais e turísticas da nação portuguesa.
2. TESTES DE AVALIAÇÃO
GRUPO I
Leia o texto.
Depois, o sol desanda para trás da casa. Começa a acercar-se a tardinha. Batola, que acaba de
dormir a sesta, já pode vir sentar-se, cá fora, no banco que corre ao longo da parede. A seus pés,
passa o velho caminho que vem de Ourique e continua para o sul. Por cima, cruzam os fios da
eletricidade que vão para Valmurado, uma tomada de corrente cai dos fios e entra, junto das telhas,
5 para dentro da venda.
E o Batola por mais que não queira, tem de olhar todos os dias o mesmo: aí umas quinze
casinhas desgarradas e nuas; algumas só mostram o telhado escuro, de sumidas que estão no fundo
dos córregos. Depois disso, para qualquer parte que volte os olhos, estende-se a solidão dos campos.
E o silêncio. Um silêncio que caiu, estiraçado por vales e cabeços, e que dorme profundamente. Oh,
10 que despropósito de plainos sem fim, todos de roda da aldeia, e desertos!
Carregado de tristeza, o entardecer demora anos. A noite vem de longe, cansada, tomba tão
vagarosamente que o mundo parece que vai ficar para sempre naquela magoada penumbra. Lá vêm
figurinhas dobradas pelos atalhos, direito às casas tresmalhadas da aldeia. Nenhuma virá até à
venda falar um bocado, desviar a atenção daquele poente dolorido. São ceifeiros, exaustos da faina,
15 que recolhem. Breve, a aldeia ficará adormecida, afundada nas trevas. E António Barrasquinho, o
Batola, não tem ninguém para conversar, não tem nada que fazer. Está preso e apagado no silêncio
que o cerca.
Ergue-se pesadamente do banco. Olha uma última vez para a noite derramada. Leva as mãos à
cara, esfrega-a, amachucando o nariz, os olhos. Fecha os punhos, começa a esticar os braços. E abre
20 a boca num bocejo tão fundo, o corpo torcido numa tal ansiedade, que parece que todo ele se vai
despegar aos bocados. Um suspiro estrangulado sai-lhe das entranhas e engrossa até se alongar,
como um uivo de animal solitário.
Quando consegue dominar-se, entra na venda, arrastando os pés. E, sem pressentir que aquela
noite é a véspera de um extraordinário acontecimento, lá se vai deitar o Batola, derrotado por mais
25 um dia.
“Sempre é uma companhia”, in Manuel da Fonseca, O fogo e as cinzas, Lisboa, Editorial Caminho, 2011, pp. 150-151.
1. Descreva o espaço físico e social em que se desenrola a ação, tal como é perspetivado por Batola.
2. Enuncie três traços caracterizadores dos habitantes de Alcaria, fundamentando a resposta com
citações textuais pertinentes.
2. TESTES DE AVALIAÇÃO
5. Explicite os sentimentos do sujeito poético expressos nas frases exclamativas dos versos 1 e 2.
GRUPO II
Responda às questões. Nas respostas aos itens de escolha múltipla, selecione a opção correta.
Leia o texto.
2. TESTES DE AVALIAÇÃO
O lápis, o velho companheiro de vida de tantas pessoas, é o lado antigo e oposto da face
10 superlativamente nova de vidas subordinadas à miríade de instrumentos tecnológicos. Não se trata aqui
de uma visão reacionária ou conservadora face ao progresso material e comunicacional. Haverá, por certo,
alguma nostalgia no detalhe do lápis. Mas o que representa, essencialmente, é um dualismo funcional e
geracional que pode conduzir a uma insuportável exclusão de uns e a uma pretensa superioridade de
outros, que, não raro, não sabem o que é um lápis ou essa “união de facto” do lápis encimado por uma
15 borracha, nunca escreveram com uma caneta de tinta permanente, ignoram o que seja um compasso e
quase erradicaram a prática (física e intelectual) de manuscrever.
Evidentemente que o progresso técnico é uma importante condição necessária para o
desenvolvimento, mas nunca será, só por si, uma condição suficiente se às tecnologias não estiverem
associados o bem comum, a justiça social e geracional, o respeito pelo outro.
20 Na era da “cidadania eletrónica”, os “netizens” são, hoje, uma expressão eloquente do saber mais
democratizado (embora, neste contexto, sempre me lembre do que escreveu Jean Guitton: “se o livro
tivesse sido inventado depois do computador teria sido uma grande invenção”). Mas quantas vezes,
ao lado desse progresso, vamos deparando com uma acrescida aridez relacional, em alguns casos
mesmo com uma diferente expressão da solidão, senão mesmo de isolamento e abandono. Nas
25 situações mais extremadas, de um lado um novo cárcere, do outro uma velha exclusão.
4. No contexto em que surge, o termo “miríade” (l. 10) pode ser substituído por
(A) idealização.
(B) virtualidade.
(C) imensidade.
(D) centena.
5. A oração subordinada presente no segmento “que representavam a nova geração com novos
sonhos e novos pesadelos” (ll. 2-3) designa-se subordinada
(A) adjetiva relativa restritiva.
(B) adjetiva relativa explicativa.
(C) substantiva relativa.
(D) adverbial consecutiva.
2. TESTES DE AVALIAÇÃO
8. Refira o valor aspetual configurado no complexo verbal do segmento “ao lado desse progresso,
vamos deparando com uma acrescida aridez relacional” (l. 23).
GRUPO III
Ao contrário do que seria de supor, por se tratar de redes sociais, a utilização deste meio de
comunicação e interação tem vindo a acentuar a timidez, o isolamento e a solidão entre as pessoas,
sobretudo as mais jovens.
Num texto de opinião, bem estruturado, com um mínimo de 200 e um máximo de 300 palavras,
apresente o seu ponto de vista sobre o tema atrás enunciado.
Fundamente a sua opinião recorrendo, no mínimo, a dois argumentos e ilustre cada um deles com, pelo
menos, um exemplo significativo.
2. TESTES DE AVALIAÇÃO
GRUPO I
Leia o texto.
Queria estar sempre pronta para partir sem que os objetos a envolvessem, a segurassem, a
obrigassem a demorar-se mais um dia que fosse. Disponível, pensava. Senhora de si. Para partir,
para chegar. Mesmo para estar onde estava.
Os pais não sabiam compreender esse desejo de liberdade, por isso se foi um dia com uma velha
5 mala de cabedal riscado, não havia outra lá em casa. Mas prefere não pensar nos primeiros tempos.
E as suas malas agora são caras, leves, malas de voar, e com rodinhas.
A outra está perto. Se houve um momento de nitidez no seu rosto, ele já passou, George não deu
por isso. Está novamente esfumado. A proximidade destrói ultimamente as imagens de George, por
isso a vai vendo pior à medida que ela se aproxima. É certo que podia pôr os óculos, mas sabe que
10 não vale a pena tal trabalho. Param ao mesmo tempo, espantam-se em uníssono, embora o espanto
seja relativo, um pequeno espanto inverdadeiro, preparado com tempo.
− Tu?
− Tu, Gi?
Tão jovem, Gi. A rapariguinha frágil, um vime, que ela tem levado a vida inteira a pintar, primeiro
15 à maneira de Modigliani, depois à sua própria maneira, à de George, pintora já com nome nos
marchands das grandes cidades da Europa. Gi com um pregador de oiro que um dia ficou, por tuta e
meia, num penhorista qualquer de Lisboa. Em tempos tão difíceis.
− Vim vender a casa.
− Ah, a casa.
20 É esquisito não lhe causar estranheza que Gi continue tão jovem que podia ser sua filha. Quieta,
de olhar esquecido, vazio, e que não se espante com a venda assim anunciada, tão subitamente, sem
preparação, da casa onde talvez ainda more.
− Que pensas fazer, Gi?
− Partir, não é? Em que se pode pensar aqui, neste cu de Judas, senão em partir? Ainda não me fui em-
25 bora por causa do Carlos, mas... O Carlos pertence a isto, nunca se irá embora. Só a ideia o apavora, não é?
− Sim. Só a ideia.
− Ri-se de partir, como nós nos rimos de uma coisa impossível, de uma ideia louca. Quer comprar
uma terra, construir uma casa a seu modo. Recebeu uma herança e só sonha com isso. Creio que é a
altura de eu...
30 − Creio que sim.
− Pois não é verdade?
− Ainda desenhas?
− Se não desenhasse dava em maluca. E eles acham que eu tenho muito jeitinho, que hei de um dia
ser uma boa senhora da vila, uma esposa exemplar, uma mãe perfeita, tudo isso com muito jeito para o
35 desenho. Até posso fazer retratos das crianças quando tiver tempo, não é verdade?
− É o que eles acham, não é?
− A mãe está a acabar o meu enxoval.
− Eu sei.
Maria Judite de Carvalho, “George” in Conto português. Séculos XIX-XXI – Antologia crítica, vol. 3
(coord. Maria Isabel Rocheta, Serafina Martins), Porto, Edições Caixotim, 2011, pp. 115-120.
2. TESTES DE AVALIAÇÃO
2. Demonstre que Gi é uma recordação de George e não uma figura fisicamente real.
O palácio da ventura
Sonho que sou um cavaleiro andante.
Por desertos, por sóis, por noite escura,
Paladino do amor, busco anelante
O palácio encantado da Ventura!
5. Identifique o recurso expressivo do verso 2 da primeira estrofe, explicitando o seu valor simbólico.
2. TESTES DE AVALIAÇÃO
GRUPO II
Responda às questões. Nas respostas aos itens de escolha múltipla, selecione a opção correta.
Leia o texto.
O islandês Jón Kalman Stefánsson (n. 1963) escreveu uma trilogia – Paraíso e Inferno (2013),
A Tristeza dos Anjos (2014), e agora O Coração do Homem, todos publicados pela Cavalo de Ferro – e
cuja ação decorre em vários lugares da costa islandesa, em finais do século XIX, em pequenas
comunidades piscatórias na orla de uma baía que, dizem, é “tão larga que a vida não a consegue
5 atravessar”. O frio, o gelo, a escuridão, as tempestades sombrias, o vento e o mar ártico, parecem
acompanhar todos os pensamentos das personagens. Como se ao lado dos peixes e dos
companheiros afogados que lhes habitam os sonhos, e lhes acenam na madrugada com barbatanas
em vez de mãos, houvesse sempre lugar para um contrapeso que os prendesse à cruel realidade.
Vivem em aldeias submersas na miséria, na fome, nas doenças, nas duríssimas condições
10 climáticas – lugares onde tudo parece ter sido negado aos habitantes, menos o amargo sofrimento.
Como se Stefánsson quisesse aventurar-se em descobrir quanto sofrimento é que afinal o coração
humano consegue suportar, e fá-lo amparado pelas vozes fantasmagóricas dos mortos. Escrever
sobre quão difícil é estar vivo.
Mais do que histórias em que os gritos dos mortos se misturam com os dos vivos, compondo um
15 coro trágico que não cessa de evocar a inevitável desolação da existência, a irremediável solidão dos
homens, esta trilogia é sobretudo um hino ao poder redentor das palavras e também da amizade.
Toda a trilogia parece querer sublinhar esse poder salvífico da palavra.
Os romances da trilogia ambientam-se naquela singular atmosfera de elementos naturais
ferozes e opressivos, de uma Natureza não subjugada pelo Homem (de fogo e de vento, de gelo e de
20 rios indomáveis), tão característica da Islândia, e que ao mesmo tempo nos remete sempre para a
memória lírica do mito, para um tempo dominado por uma sombria e avassaladora solidão onde
ecoam as sagas e os seus heróis trágicos. Essa solidão é um elemento essencial em O Coração do
Homem (bem como nos outros dois volumes da trilogia).
O volume agora publicado, O Coração do Homem, poderia ser lido como uma espécie de
25 manifesto (em forma de romance) sobre a fragilidade da vida, e também sobre como por vezes
permitimos que a vida estagne, que se torne mais difícil.
O leitor segue a tristeza e privação, a vida e a morte, acompanhando as descobertas do rapaz, e
os três livros podem ser entendidos como uma espécie de trilogia de “romances de formação”, mas
que ao mesmo tempo se misturam com “livros de viagem” através de uma natureza hostil, de
30 enormes paisagens desoladas, austeras e terrivelmente frias, que os homens enfrentam rudemente
de maneira quase obstinada até à exaustão.
Com o autor islandês atravessamos o desespero silencioso da condição humana, numa despu-
dorada cartografia afetiva das nossas angústias. E também de muitos dos nossos demónios.
2. TESTES DE AVALIAÇÃO
2. A obra em apreço
(A) versa diversos temas dos aldeãos islandeses do século XIX.
(B) tem como cenário as costas islandesas e as suas inóspitas características geográficas.
(C) elogia os homens atormentados por seres ferozes e opressivos.
(D) conta uma história de pescadores islandeses atormentados por fantasmas de mortos.
4. O segmento sublinhado em “tão larga que a vida não a consegue atravessar (ll. 4-5) integra uma
oração subordinada
(A) substantiva relativa.
(B) adverbial concessiva.
(C) adjetiva relativa restritiva.
(D) adverbial consecutiva.
6. A frase “Toda a trilogia parece querer sublinhar esse poder salvífico da palavra.” (l. 17) configura a
modalidade
(A) epistémica com valor de probabilidade.
(B) deôntica com valor de obrigação.
(C) apreciativa.
(D) deôntica com valor de permissão.
8. Transcreva o referente do pronome presente no segmento “que a vida não a consegue atravessar”
(ll. 4-5).
10. Refira a classe de palavras a que pertence o termo “que” (l. 30).
2. TESTES DE AVALIAÇÃO
GRUPO III
A busca da felicidade e a necessidade de realização pessoal têm sido, desde sempre, dois dos projetos
nos quais o ser humano coloca mais premência.
Num texto de opinião, bem estruturado, com um mínimo de 200 e um máximo de 300 palavras,
apresente o seu ponto de vista sobre esta temática.
Fundamente a sua opinião recorrendo, no mínimo, a dois argumentos e ilustre cada um deles com, pelo
menos, um exemplo significativo.
2. TESTES DE AVALIAÇÃO
GRUPO I
Leia o poema.
Apenas um corpo
2. Explique o valor simbólico dos termos “rio” e “sol”, relacionando-o com o conteúdo da estrofe.
2. TESTES DE AVALIAÇÃO
Poema VII
_____________
1 Enormes; desmedidos.
4. Esclareça o sentido da forma deítica “Lá” (v. 9), em paralelismo anafórico nos tercetos, caracteri-
zando o espaço que poderá retratar.
5. Identifique o recurso expressivo que inicia e finaliza o soneto, explicitando o seu valor semântico.
GRUPO II
Responda às questões. Nas respostas aos itens de escolha múltipla, selecione a opção correta.
Este livro, reunindo o carteio de Jorge de Sena e Eugénio de Andrade, publicado embora pela
Guerra e Paz Editores, não é da Guerra e Paz por ser inteiramente de um grande editor, José da Cruz
Santos, figura maior do meio editorial português há mais de meio século. Foi ele quem dinamizou a
organização deste livro, trabalhando sucessivamente com Jorge Fazenda Lourenço, que anotou
5 todas as cartas, e com Isabel de Sena, que agora passou a ser responsável pela conservação,
divulgação e publicação de Jorge de Sena.
Mas José da Cruz Santos não é apenas um editor externo desta obra. Nas cartas de Eugénio e de
Sena multiplicam-se as referências – tão elogiosas – à sua ação de editor e à sua sensibilidade
poética. Dele diz Sena, numa carta a Eugénio, enviando-lhe um volume de traduções: “Passá-lo-ás
10 depois ao Cruz Santos, a quem Deus e Mercúrio deem vida, saúde e dinheiro.”
2. TESTES DE AVALIAÇÃO
Foi Cruz Santos, num gesto de confiança que muito me toca, que decidiu entregar-me, e à Guerra
e Paz, a missão desta publicação, que agora chega às livrarias. Reúne uma correspondência de cerca
de trinta anos, de 1949 a 1978. Por estas cartas e postais passa Portugal. As grandes batalhas
literárias, os conflitos estéticos, o rumor pesado da Academia contra o qual Eugénio e Sena se
15 batem, mas também a vida política, a falta de liberdade, a explosão dela no 25 de abril, as esperanças
e as frustrações que se lhe seguiram, que Eugénio, primeiro denuncia: “… a esquerda revolucionária já
está a ser aproximada pelos bem pensantes do país, incluindo os comunistas, da mais sinistra reação” e a
que logo Sena responde “… revolução, que cada vez me parece mais um conluio de continuistas e de
arranjistas, com alguns revolucionários parvos pelo meio, e muitos demagogos a agarrar os tachos com
20 muita pressa…” de tudo isto há testemunho, vibrante, nestas cartas.
Esta é também, e sobretudo, a Correspondência de uma profunda e íntima amizade. São cartas
de amor pelo tão emocionado amor que Sena e Eugénio têm pela literatura, pelo labor poético, pela
forma como cantam e procuram a luz que cega da Beleza que pode haver num verso.
Manuel S. Santos, Jornal de letras, artes e ideias, Ano XXXVI, nº 1203, de 9 a 22 de novembro de 2016.
1. A frase “Mas José da Cruz Santos não é apenas um editor externo desta obra.” (l. 7) significa que
(A) Cruz Santos ajudou a Guerra e Paz na presente publicação.
(B) foi ele o impulsionador desta publicação, organizando-a.
(C) Cruz Santos foi incumbido de o fazer por Jorge de Sena.
(D) parte da correspondência lhe é dirigida.
2. Com a expressão “Por estas cartas e postais passa Portugal”(l. 13), o autor pretende destacar
(A) a importância da obra como documento literário e sociopolítico da época.
(B) a relevância desta obra para a compreensão dos movimentos estéticos portugueses.
(C) os géneros textuais que a obra abarca.
(D) a importância de que, na época, se revestia a correspondência escrita.
2. TESTES DE AVALIAÇÃO
8. Indique a modalidade expressa na afirmação “Foi Cruz Santos, num gesto de confiança, que muito
me toca […] que agora chega às livrarias.” (ll. 11-12)
9. Refira o processo de coesão assegurado pelo pronome pessoal “lhe”, em “enviando-lhe” (l. 9).
10. Identifique a relação temporal que se estabelece entre as ações referidas no segmento frásico pre-
sente na questão anterior.
GRUPO III
Redija um texto de opinião, de 200 a 300 palavras, sobre a importância da amizade e do amor enquanto
sentimentos estruturantes da felicidade individual.
Fundamente o seu ponto de vista recorrendo, no mínimo, a dois argumentos e ilustre cada um deles
com, pelo menos, um exemplo significativo.
2. TESTES DE AVALIAÇÃO
GRUPO I
Leia o poema.
S. Leonardo da Galafura
2. TESTES DE AVALIAÇÃO
1. Explique o sentido dos três últimos versos da primeira estrofe, relacionando-o com o verso 8.
2. Identifique o recurso expressivo presente no verso 14, explicitando o seu valor semântico.
3. Comprove que o apego à terra é uma ideia que percorre todo o poema.
_____________
1 Estava eu.
2 Esperando.
3 Diante.
4 Tenho.
5 Alto.
2. TESTES DE AVALIAÇÃO
GRUPO II
Responda às questões. Nas respostas aos itens de escolha múltipla, selecione a opção correta.
Leia o texto.
Pensar o ambiente
Viriato Soromenho Marques, in Jornal de Letras, Artes e ideias, ano XXXVI, nº 1203, de 9 a 22 de novembro de 2016
(com supressões).
3. A referência a “Sofia Guedes Vaz” (l. 3), “Sofia Guedes” (l. 5) e “A autora” (l. 7) configura a coesão
(A) lexical. (C) interfrásica.
(B) referencial. (D) frásica.
4. O constituinte sublinhado no segmento frásico “Sofia Guedes não trai a expectativa dos leitores…”
(l. 5) desempenha a função sintática de
(A) complemento direto. (C) sujeito.
(B) complemento do nome. (D) modificador.
2. TESTES DE AVALIAÇÃO
7. O conector usado em “Mas não sabemos mais nada.” (ll. 20-21) tem um valor de
(A) consequência. (C) conclusão.
(B) adição. (D) oposição.
8. Indique o valor modal expresso na frase “Ambiente é uma área ao mesmo tempo fascinante e
deprimente.” (l. 1).
10. Classifique a oração subordinada na frase: “Sabemos o que devemos fazer.” (l. 20)
GRUPO III
2. TESTES DE AVALIAÇÃO
GRUPO I
Leia com atenção o excerto de O ano da morte de Ricardo Reis. Se necessário, consulte as notas.
Ricardo Reis aconchega a gabardina ao corpo, friorento, atravessa de cá para lá, por outras
alamedas regressa, agora vai descer a Rua do Século, nem sabe o que o terá decidido, sendo tão
ermo e melancólico o lugar, alguns antigos palácios, casas baixinhas, estreitas, de gente popular, ao
menos o pessoal nobre de outros tempos não era de melindres, aceitava viver paredes meias com o
5 vulgo, ai de nós, pelo caminho que as coisas levam, ainda veremos bairros exclusivos, só residências,
para a burguesia de finança e fábrica, que então terá engolido da aristocracia o que resta, com
garagem própria, jardim à proporção, cães que ladrem violentamente ao viajante, até nos cães se há
de notar a diferença, em eras distantes tanto mordiam a uns como a outros.
Vai Ricardo Reis descendo a rua, sem nenhuma pressa […], e agora nesta rua, apesar de tão
10 sossegada, sem comércio, com raras oficinas, há grupos que passam, todos que descendo vão, gente
pobre, alguns mais parecem pedintes, famílias inteiras, com os velhos atrás, a arrastar a perna, o
coração a rasto, as crianças puxadas aos repelões pelas mães, que são as que gritam, Mais depressa,
senão acaba-se. O que se acabou foi o sossego, a rua já não é a mesma, os homens, esses, disfarçam,
simulam a gravidade que a todo o chefe de família convém, vão no seu passo como quem traz outro
15 fito ou não quer reconhecer este, e juntamente desaparecem, uns após outros, no próximo cotovelo
da rua, […]. Diante de Ricardo Reis aparece uma multidão negra que enche a rua em toda a largura
[…]. Ricardo Reis aproxima-se, pede licença para passar, […] alcançou o meio da rua, está defronte
da entrada do grande prédio do jornal O Século, o de maior expansão e circulação, a multidão
alarga-se, mais folgada, pela meia-laranja que com ele entesta, respira-se melhor, só agora Ricardo
20 Reis deu por que vinha a reter a respiração para não sentir o mau cheiro, ainda há quem diga que os
pretos fedem, o cheiro do preto é um cheiro de animal selvagem, não este odor de cebola, alho e
suor recozido, de roupas raro mudadas, de corpos sem banho ou só no dia de ir ao médico, qualquer
pituitária1 medianamente delicada se teria ofendido na provação deste trânsito. À entrada estão
dois polícias, aqui perto outros dois que disciplinam o acesso, a um deles vai Ricardo Reis
25 perguntar, Que ajuntamento é este, senhor guarda, e o agente de autoridade responde com
deferência, vê-se logo que o perguntador está aqui por um acaso, É o bodo2 do Século, Mas é uma
multidão, Saiba vossa senhoria que se calculam em mais de mil os contemplados, Tudo gente pobre,
Sim senhor, tudo gente pobre, dos pátios e barracas, Tantos, E não estão aqui todos, Claro, mas
assim todos juntos, ao bodo, faz impressão, A mim não, já estou habituado, E o que é que recebem, A
30 cada pobre calha dez escudos, Dez escudos, É verdade, dez escudos, e os garotos levam agasalhos, e
brinquedos, e livros de leitura, Por causa da instrução, Sim senhor, por causa da instrução, Dez
escudos não dá para muito, Sempre é melhor que nada, Lá isso é verdade, Há quem esteja o ano
inteiro à espera do bodo, deste e dos outros, olhe que não falta quem passe o tempo a correr de
bodo para bodo, à colheita, o pior é quando aparecem em sítios onde não são conhecidos, outros
35 bairros, outras paróquias, outras beneficências, os pobres de lá nem os deixam chegar-se, cada
pobre é fiscal doutro pobre, Caso triste, Triste será, mas é bem feito, para aprenderem a não ser
aproveitadores, Muito obrigado pelas suas informações, senhor guarda, Às ordens de vossa senhoria,
passe vossa senhoria por aqui, e, tendo dito, o polícia avançou três passos, de braços abertos, como
quem enxota galinhas para a capoeira, Vamos lá, quietos, não queiram que trabalhe o sabre.
José Saramago, O ano da morte de Ricardo Reis, 21ª ed., Lisboa, Editorial Caminho, 2013, pp. 87-88, 90-91.
_____________
1 Membrana mucosa que reveste as cavidades nasais. 2 Distribuição solene de alimentos, e, por extensão, de dinheiro e roupas, a
necessitados.
2. TESTES DE AVALIAÇÃO
2. Explicite de que forma o bodo do Século a que Reis assiste espelha o Portugal de 1936.
2. TESTES DE AVALIAÇÃO
4. Identifique, comentando o seu valor semântico, o recurso expressivo presente em “E fere a vista,
com brancuras quentes, / A larga rua macadamizada” (vv. 4-5).
5. Explique, justificando com elementos textuais, por que razão se pode afirmar que neste poema se
assiste à transfiguração poética do real.
GRUPO II
Responda às questões. Nas respostas aos itens de escolha múltipla, selecione a opção correta.
Campo ou cidade?
O mito da natureza
Até que ponto será o mundo rural sinónimo de bem-estar e a grande urbe uma fábrica de stress
e de solidão? A ecopsicologia está a mudar as noções preconcebidas sobre estas duas opções de
vida.
Em novembro [de 2010], morria João Manuel Serra, mais conhecido como “o senhor do adeus”,
5 o homem que acenava a toda a gente que passava de noite pela praça do Saldanha, em Lisboa. Foi
depois da morte da mãe que esta figura popular da capital teve consciência da solidão urbana, o que
o levou a “dar as boas-noites” às pessoas e a acenar aos condutores, todas as noites, até às três da
manhã. O fenómeno da solidão urbana – assim como o número de pessoas que morrem sozinhas
nas cidades – sempre foi um motivo de interesse para os psicólogos. Bibb Latané e John Darley, da
10 Universidade do Estado do Ohio, estudaram, há décadas, aquilo que designaram por “efeito de
espetador”: quanto mais pessoas observam um incidente, maior a probabilidade de nenhuma
intervir. A responsabilidade dilui-se na multidão, e nenhuma testemunha de uma tragédia se sente
obrigada a dar uma mão. Todas esperam que as restantes o façam.
Segundo estes especialistas, recorremos a três estratégias mentais para não metermos prego
15 nem estopa: assumimos que a vítima é responsável pelo que está a acontecer, desconfiamos, no caso
de nos abordar, das suas intenções, e sobrestimamos a probabilidade de ter alguma relação com o
atacante, quando se trata de uma agressão. Torna-se mais fácil enganarmo-nos a nós próprios com
estes argumentos se vivermos em centros muito populosos, pois não conhecemos, geralmente, a
pessoa afetada nem as suas circunstâncias. Podemos ser egoístas sem nos sentirmos culpados. Daí a
20 imagem de ausência de solidariedade gravada no imaginário coletivo.
Nos últimos anos, porém, a noção de metrópole como local inóspito está a ser reavaliada. Muitos
especialistas defendem que os anteriores estudos focavam sobretudo aspetos circunstanciais, sem
dados reais que confirmassem essa visão dantesca. Atualmente, trabalha-se com dados mais globais.
Segundo a ecopsicologia, os meios rurais e urbanos são, simplesmente, habitats distintos que
25 potenciam diferentes capacidades. Em princípio, nenhum dos dois é melhor do que o outro.
Stanley Milgram, psicólogo teórico da Universidade de Yale, falecido em 1984, foi um dos
primeiros a adotar esta perspetiva. A tese que defendia propunha que a maior diferença entre os
dois âmbitos é o nível de estimulação. Assim, segundo Milgram, a cidade bombardeia-nos com uma
torrente de mensagens sensitivas que ultrapassa a capacidade humana de processar informação.
30 Isto é: há demasiadas coisas e não podemos dar atenção a tudo. Por isso, colocamos em
funcionamento um mecanismo de adaptação: ignorar tudo o que não seja relevante.
2. TESTES DE AVALIAÇÃO
2. O “efeito de espetador”, mais visível (ll. 10-11), nos meios urbanos do que nos rurais, resulta do
facto de as pessoas
(A) que assistem a um incidente se sentirem coagidas a intervir.
(B) não intervirem em incidentes por estarem sempre à espera que outros o façam.
(C) sentirem mais solidariedade pelo próximo nesse ambiente.
(D) se deixarem mais facilmente enganar pelas vítimas de um incidente.
4. O valor aspetual da forma verbal presente em “o homem que acenava a toda a gente” (l. 5) é
(A) perfetivo.
(B) imperfetivo.
(C) genérico.
(D) habitual.
5. No contexto em que surge, a palavra “esta”, em “esta figura” (l. 6), funciona como
(A) deítico.
(B) mecanismo de coesão referencial.
(C) mecanismo de coesão temporal.
(D) mecanismo de coesão interfrásico.
2. TESTES DE AVALIAÇÃO
8. Sabendo que rural provém do étimo latino RURE- que significa “campo”, explique o significado literal
do adjetivo português.
9. Escreva duas frases que evidenciem o campo semântico da palavra “capital” (l. 6).
10. Identifique o referente retomado pelo pronome pessoal sublinhado em “o façam” (l. 13).
GRUPO III
Escreva um texto de opinião, entre 170 e 200 palavras, sobre as vantagens/desvantagens da vida rural e
urbana, tomando partido por uma dessas opções.
Planifique previamente o seu texto, considerando as seguintes orientações:
– estrutura tripartida (introdução, desenvolvimento e conclusão);
– explicitação de um ponto de vista (discurso valorativo);
– inclusão de argumentos e respetivos exemplos;
– seleção vocabular criteriosa, articulação coerente, correção linguística, sintática e ortográfica.
2. TESTES DE AVALIAÇÃO
GRUPO I
Leia com atenção o excerto de O ano da morte de Ricardo Reis. Se necessário, consulte a nota.
Ricardo Reis não saiu para jantar […]. Já passava das onze horas, desceu ao jardim para olhar os
barcos uma vez mais, deles viu apenas as luzes de posição, agora nem sequer sabia distinguir entre
avisos1 e contratorpedeiros. Era o único ser vivo no Alto de Santa Catarina, com o Adamastor já não
se podia contar, estava concluída a sua petrificação, a garganta que ia gritar não gritará, a cara mete
5 horror olhá-la. Voltou Ricardo Reis para casa, certamente não vão sair de noite, à ventura, com risco
de encalhe. Deitou-se, meio despido, adormeceu tarde, acordou, tornou a adormecer, tranquilizado
pelo grande silêncio que havia na casa, a primeira luz da manhã entrava pelas frinchas da janela
quando despertou, nada acontecera durante a noite, agora que outro dia começara parecia
impossível que alguma coisa pudesse acontecer. Recriminou-se pelo despropósito de dormir
10 vestido, só descalçara os sapatos e tirara o casaco e a gravata, Vou tomar um banho, disse, baixara-
se para procurar os chinelos debaixo da cama, então ouviu o primeiro tiro de peça. Quis acreditar
que se enganara, talvez tivesse caído qualquer objeto muito pesado no andar de baixo, um móvel, a
dona da casa com um desmaio, mas outro tiro soou, as vidraças estremeceram, são os barcos que
estão a bombardear a cidade. Abriu a janela, na rua havia pessoas assustadas, uma mulher gritou, Ai
15 que é uma revolução, e largou a correr, calçada acima, na direção do jardim. Ricardo Reis calçou-se
rapidamente, enfiou o casaco, ainda bem que não se despira, parecia que adivinhava […]. Quando
Ricardo Reis chegou ao jardim havia já muitas pessoas, morar aqui perto era um privilégio, não há
melhor sítio em Lisboa para ver entrar e sair os barcos. Não eram os navios de guerra que estavam
a bombardear a cidade, era o forte de Almada que disparava contra eles. Contra um deles. Ricardo
20 Reis perguntou, Que barco é aquele, teve sorte, calhou dar com um entendido, É o Afonso de
Albuquerque. […]
Durante toda a tarde, Lídia não apareceu. Na hora da distribuição dos vespertinos Ricardo Reis
saiu para comprar o jornal. Percorreu rapidamente os títulos da primeira página, procurou a
continuação da notícia na página central dupla, outros títulos, ao fundo, em normando, Morreram
25 doze marinheiros, e vinham os nomes, as idades, Daniel Martins de vinte e três anos, Ricardo Reis
ficou parado no meio da rua, com o jornal aberto […]. É quase noite. Diz o jornal que os presos
foram levados primeiro para o Governo Civil, depois para a Mitra, que os mortos, alguns por
identificar, se encontram no necrotério. Lídia andará à procura do irmão, ou está em casa da mãe,
chorando ambas o grande e irreparável desgosto.
30 Então bateram à porta. Ricardo Reis correu, foi abrir já prontos os braços para recolher a
lacrimosa mulher afinal era Fernando Pessoa, Ah, é você, Esperava outra pessoa, Se sabe o que
aconteceu, deve calcular que sim, creio ter-lhe dito um dia que a Lídia tinha um irmão na Marinha,
Morreu, Morreu. Estavam no quarto, Fernando Pessoa sentado aos pés da cama, Ricardo Reis numa
cadeira. Anoitecera por completo. […]. Fernando Pessoa tinha as mãos sobre o joelho, os dedos
35 entrelaçados, estava de cabeça baixa. Sem se mexer, disse, Vim cá para lhe dizer que não
tornaremos a ver-nos, Porquê, O meu tempo chegou ao fim, lembra-se de eu lhe ter dito que só tinha
para uns meses, Lembro-me. Pois é isso, acabaram-se. Ricardo Reis subiu o nó da gravata, levantou-
-se, vestiu o casaco. Foi à mesa-de-cabeceira buscar The god of the labyrinth, meteu-o debaixo do
braço, Então vamos, disse, Para onde é que você vai, Vou consigo, Devia ficar aqui, à espera da Lídia, Eu
2. TESTES DE AVALIAÇÃO
40 sei que devia, Para a consolar do desgosto de ter ficado sem o irmão, Não lhe posso valer, E esse
livro, para que é, Apesar do tempo que tive, não cheguei a acabar de lê-lo, Não irá ter tempo, Terei o
tempo todo, Engana-se, a leitura é a primeira virtude que se perde, lembra-se. Ricardo Reis abriu o
livro, viu uns sinais incompreensíveis, uns riscos pretos, uma página suja, Já me custa ler, disse, mas
mesmo assim vou levá-lo, Para quê, Deixo o mundo aliviado de um enigma. Saíram de casa,
45 Fernando Pessoa ainda observou, Você não trouxe chapéu, Melhor do que eu sabe que não se usa lá.
Estavam no passeio do jardim, olhavam as luzes pálidas do rio, a sombra ameaçadora dos montes.
Então vamos, disse Fernando Pessoa, Vamos, disse Ricardo Reis. O Adamastor não se voltou para
ver, parecia-lhe que desta vez ia ser capaz de dar o grande grito. Aqui, onde o mar se acabou e a
terra espera.
José Saramago, O ano da morte de Ricardo Reis, 21ª ed., Lisboa, Editorial Caminho, 2013, pp. 573-575, pp. 580-582.
_____________
1 Navios de guerra, pequenos e velozes.
3. Explique a metáfora subjacente ao título do livro que Ricardo Reis faz questão de levar consigo.
Leia o poema.
2. TESTES DE AVALIAÇÃO
4. Apresente a situação denunciada pelo sujeito lírico neste poema, tendo em conta o contexto
histórico da sua escrita. Justifique a sua resposta com elementos textuais.
GRUPO II
Responda às questões. Nas respostas aos itens de escolha múltipla, selecione a opção correta.
“Meus senhores, como todos sabem, há diversas modalidades de Estado. Os estados socialistas,
os estados capitalistas e o estado a que chegámos. Ora, nesta noite solene, vamos acabar com o
estado a que chegámos” foram as últimas palavras de Salgueiro Maia às suas tropas antes da partida
rumo a Lisboa na madrugada de 25 de abril de 74.
5 Ontem comemorámos mais um aniversário da Revolução dos cravos, celebrámos o 42º ano que
vivemos em liberdade, recordámos um dos momentos de maior coragem e ação cidadã que a nossa
pátria já conheceu.
Na “casa da democracia” ouvimos o Presidente da República apelar ao diálogo, à procura de
maior consenso político entre os partidos, apelou a menos campanha eleitoral e a mais realismo na
10 ação. Curiosamente, ou não, um discurso oportuno, proferido por um Presidente que é cada vez
mais o Presidente de todos os portugueses, mas que acaba por repetir os apelos presidenciais já
feitos no passado, mas agora com outro tipo de “aceitação”.
O discurso presidencial provocou diferentes sensações aos vários grupos parlamentares, de
apoio ou repúdio, conforme cada parágrafo. No fundo, foi um discurso sem preferências partidárias,
15 mas sobretudo com vários recados ao governo mas também à oposição, que cada um tentou
interpretar à sua maneira. Os recados foram dados, o caminho definido, a democracia continua viva.
2. TESTES DE AVALIAÇÃO
Um fator que teima em marcar esta, como anteriores cerimónias, pelo seu protesto ou apoio,
tem sido a participação ou não dos “capitães de Abril” nas cerimónias oficiais na Assembleia da
República. Na verdade, alguns capitães, mas em particular o presidente da Associação 25 de Abril,
20 teimam em confundir o seu preconceito ideológico com a própria democracia, violando
constantemente aquilo porque lutou Salgueiro Maia, o grande capitão de Abril, eleições livres e
funcionamento pleno do sistema democrático.
A humildade de Salgueiro Maia, o seu caráter e o seu espírito de missão em função do interesse
nacional, mas jamais em função da sua crença ideológica, fazem dele o verdadeiro herói símbolo da
25 nossa democracia e da nossa liberdade. É por respeitar as instituições democráticas e os resultados
da democracia, que Salgueiro Maia, mas jamais Vasco Gonçalves ou Otelo, tem o significado que tem
para a nossa história.
A terminar, não podia deixar de relatar aqui a oportunidade que me foi dada de participar na
mais emocionante cerimónia que testemunhei nestas comemorações anuais, a homenagem que o
30 Presidente da República, a autarquia e a cidade de Santarém prestaram a Salgueiro Maia na terra
que o adotou como o seu mais ilustre habitante. Marcelo fez questão de estar presente para de
forma simples, bonita e muito honesta, no meio do povo, junto à viúva de Salgueiro Maia, a
Professora Natércia Maia, homenagear o nosso herói. Jamais esquecerei o momento, simples, mas
cheio de significado, em que a sua neta Daniela leu um poema que terminou dando a mão ao seu avô
35 personificado na estátua que tornou eterna a sua presença física, porque da memória jamais se
sumirá, na capital da liberdade.
5. A oração presente em “que a nossa pátria já conheceu” (ll. 6-7) classifica-se como subordinada
(A) adverbial comparativa.
(B) adverbial consecutiva.
(C) substantiva completiva.
(D) adjetiva relativa restritiva.
2. TESTES DE AVALIAÇÃO
6. Em “No fundo, foi um discurso sem preferências partidárias, mas sobretudo com vários recados ao
governo” (ll. 14-15), o vocábulo sublinhado contribui para a coesão gramatical
(A) temporal.
(B) referencial.
(C) frásica.
(D) interfrásica
8. Identifique a modalidade presente em “Ora, nesta noite solene, vamos acabar com o estado a que
chegámos” (ll. 2-3).
10. Refira a relação temporal que se estabelece entre o segmento seguinte e o momento de
enunciação “Jamais esquecerei o momento” (l. 33).
GRUPO III
Elabore uma apreciação crítica da imagem apresentada, entre 150 a 200 palavras, atendendo aos
seguintes aspetos, entre outros, que deve previamente planificar:
− descrição sucinta da imagem;
− intencionalidade;
− relação da imagem com O ano da morte
de Ricardo Reis;
− comentário valorativo.
Censura, wordpress.com
2. TESTES DEde
2. Testes AVALIAÇÃO
Avaliação
GRUPO I
Uma vez por outra, Blimunda levanta-se mais cedo, antes de comer o pão de todas as manhãs, e,
deslizando ao longo da parede para evitar pôr os olhos em Baltasar, afasta o pano e vai inspeccionar
a obra feita, descobrir a fraqueza escondida do entrançado, a bolha de ar no interior do ferro, e,
acabada a vistoria, fica enfim a mastigar o alimento, pouco a pouco se tornando tão cega como a
5 outra gente que só pode ver o que à vista está. Quando isto fez pela primeira vez e Baltasar depois
disse ao padre Bartolomeu Lourenço, Este ferro não serve, tem uma racha por dentro, Como é que
sabes, Foi Blimunda que viu, o padre virou-se para ela, sorriu, olhou um e olhou outro, e declarou,
Tu és Sete-Sóis porque vês às claras, tu serás Sete-Luas porque vês às escuras, e, assim, Blimunda,
que até aí só se chamava, como sua mãe, de Jesus, ficou sendo Sete-Luas, e bem batizada estava, que
10 o batismo foi de padre, não alcunha de qualquer um. Dormiram nessa noite os sóis e as luas
abraçados, enquanto as estrelas giravam devagar no céu, Lua onde estás, Sol aonde vais.
Quando calha, vem o padre Bartolomeu Lourenço experimentar aqui os sermões que compôs,
pela bondade do eco que as paredes têm, o bastante apenas para ficar redonda a palavra, sem a
ressonância excessiva que encavala os sons e acaba por empastar o sentido. Assim é que deviam
15 soar as imprecações dos profetas no deserto ou nas praças públicas, lugares sem paredes ou que as
não têm próximas, e por isso inocentes das leis da acústica, está a graça no órgão que profere a
palavra, não nos ouvidos que a ouvem ou nos muros que a devolvem. Porém, esta religião é de
oratório mimoso, com anjos carnudos e santos arrebatados e muitas agitações de túnica, roliços
braços, coxas adivinhadas, peitos que arredondam, revirações dos olhos, tanto está sofrendo quem
20 goza como está gozando quem sofre, por isso é que não vão os caminhos dar todos a Roma, mas ao
corpo. Esforça-se o padre na oratória, tanto mais que logo ali está quem o ouça, mas, ou por efeito
intimidativo da passarola ou por frieza egoísta dos auditores, ou por faltar o ambiente eclesial, as
palavras não voam, não retumbam, enredam-se umas pelas outras, parece impróprio que tenha o
padre Bartolomeu Lourenço tão grande fama de orador sacro, ao ponto de o terem comparado ao
25 padre António Vieira, que Deus haja e o Santo Ofício houve. Aqui ensaiou o padre Bartolomeu
Lourenço o sermão que foi pregar a Salvaterra de Magos, estando lá el-rei e a corte, aqui está
provando agora o que pregará na festa dos desponsórios de S. José, que lho encomendaram os
dominicanos, afinal não lhe desaproveita muito a fama que tem de voador e extravagante, que até os
filhos de S. Domingos o requestam, de el-rei não falemos, que sendo tão moço ainda gosta de
30 brinquedos, por isso protege o padre, por isso se diverte tanto com as freiras nos mosteiros e as vai
emprenhando, uma após outra, ou várias ao mesmo tempo, que quando acabar a sua história se hão
de contar por dezenas os filhos assim arranjados, coitada da rainha, que seria dela se não fosse o
seu confessor António Stieff, jesuíta, por lhe ensinar resignação, e os sonhos em que lhe aparece o
infante D. Francisco com marinheiros mortos pendurados dos arções das mulas, e que seria do
35 padre Bartolomeu Lourenço se aqui entrassem os dominicanos que o sermão lhe encomendaram, e
dessem com esta passarola, este maneta, esta feiticeira, este pregador a burilar palavras e talvez a
esconder pensamentos, que esses não os veria Blimunda nem que jejuasse um ano inteiro.
José Saramago, Memorial do convento, 53ª ed., Lisboa, Editorial Caminho, 2013, cap. IX, pp. 121-123.
2. TESTES DE AVALIAÇÃO
2. Estabeleça o contraste entre a relação do rei e da rainha e de Baltasar e Blimunda, justificando a sua
resposta com elementos textuais.
3. Explique por que razão se pode afirmar que o padre Bartolomeu Lourenço é uma figura contro-
versa.
Leia o excerto seguinte do “Sermão de Santo António aos peixes”. Se necessário, consulte as notas.
Padre António Vieira, Obra completa (dir. José Eduardo Franco e Pedro Calafate),
tomo II, vol. X, Lisboa, Círculo de Leitores, 2014, pp. 137-138.
2. TESTES DE AVALIAÇÃO
GRUPO II
Responda às questões. Nas respostas aos itens de escolha múltipla, selecione a opção correta.
Todos os sermões
Mais do que um livro de pregação, que o próprio não quis fazer, os Sermões do padre António
Vieira estão cheios de referências biográficas. A inveja e a ingratidão da pátria, a defesa dos índios e
dos judeus, a missionação e a diplomacia exercidas pelo jesuíta do século XVII estão presentes ao
longo desta obra, que a partir de hoje terá uma nova edição crítica a “Sermão de Santo António aos
5 Peixes”, “Sermão do Bom Ladrão”, “Sermão da Sexagésima”. Peças ditas e escritas pelo padre
António Vieira, exemplos eloquentes da oratória barroca. Sim? Sim e não. A edição crítica dos
Sermões, tal como o padre jesuíta os organizou no século XVII, permitiu trazer ao de cima uma
faceta até agora menos vista: os Sermões, cujo primeiro volume é hoje apresentado, relacionam-se
mais com a vida pessoal de Vieira do que pareciam. Por exemplo, dão conta das perseguições e
10 maus-tratos que o jesuíta sofreu na sua própria pátria.
Padre jesuíta, missionário, defensor dos índios e dos judeus, diplomata, perseguido pela
Inquisição, mas que obteve do papa Clemente X a suspensão do Tribunal do Santo Ofício em
Portugal, António Vieira nasceu a 6 de fevereiro de 1608 em Lisboa. Aos seis anos, o pequeno
António vai para a Baía, no Brasil, aos 15 entra no noviciado jesuíta e, um ano depois, é encarregue
15 de escrever o relatório anual da missão para o geral da Companhia de Jesus.
Ordenado padre em 1633, com 25 anos, já dois anos antes começara a fazer sermões. Desde cedo
reproduz, na sua pregação, as causas em que se empenhava: a defesa dos índios e dos judeus, os
vícios da pátria − a inveja nacional era violentamente criticada −, a oposição à escravatura (tema em
que hesita por vezes).
20 Autor de 203 sermões (204, incluindo um texto que alguns consideram apenas um comentário)
e 700 cartas, muitas das quais relativas a missões diplomáticas, Vieira vê-se perseguido pela
Inquisição por defender os judeus. Em 1649, o Santo Ofício quer expulsá-lo dos jesuítas. O apoio do
rei D. João IV, que pedira ao missionário ajuda diplomática na causa da restauração da independência,
adia os intentos dos inquisidores. Em 1660, depois da morte de D. João e com o pretexto da
25 publicação de Esperanças de Portugal, V Império do Mundo, é instaurado um processo ao padre
jesuíta: Vieira é “escandoloso”, “ofensivo”, “fátuo com sabor a heresia e injurioso para a Igreja”,
acusam. Interrogado em 1662, é preso no domicílio a partir de 1665. A sentença inquisitorial
mandava que fosse “privado para sempre da voz ativa e do poder de pregar”.
Em 1668, com a subida de D. Pedro ao trono, Vieira é libertado e inicia uma batalha pela
30 supressão da Inquisição em Portugal. Argumenta junto do papa Clemente X que a instituição
portuguesa é mais violenta que a espanhola. Consegue a suspensão por alguns anos, até que
Clemente XI permite a restauração.
A vida de missionário, viajante incansável, combatente feroz da Inquisição, diplomata, estratego
político ou defensor dos mais desprotegidos, está presente ao longo dos sermões de Vieira. Um dos
35 mais notórios temas pessoais, recorda Arnaldo Espírito Santo, está referido logo na rubrica (a
introdução) do “Sermão de Santo António aos Peixes”, de 1652: “Este sermão (que todo é alegórico)
pregou o autor três dias antes de se embarcar ocultamente para o Reino, a procurar o remédio da
salvação dos índios, pelas causas que se apontam no Sermão da Sexagésima.”
No “Sermão de Santo António”, de 1670, Vieira dizia que “sem sair [de Portugal] ninguém pode ser
40 grande”. E acrescentava: “Nascer pequeno, e morrer grande, é chegar a ser homem. Por isso nos deu
Deus tão pouca terra para o nascimento, e tantas terras para a sepultura. Para nascer, pouca terra: para
morrer, toda a terra: para nascer, Portugal: para morrer, o mundo.”
Assim foi. A 18 de Julho de 1697, na Baía, morreu Vieira no mundo. Tinha 89 anos e uma vida cheia.
António Marujo, in Público, edição online de 6 de fevereiro de 2008 (consultado em dezembro de 2016, com supressões).
2. TESTES DE AVALIAÇÃO
3. O recurso expressivo presente em “Para nascer, pouca terra: para morrer, toda a terra” (ll. 41-42) é a
(A) personificação.
(B) sinestesia.
(C) hipálage.
(D) antítese.
5. A oração “cujo primeiro volume é hoje apresentado” (l. 8) classifica-se como subordinada
(A) substantiva completiva.
(B) adjetiva relativa restritiva.
(C) adjetiva relativa explicativa.
(D) substantiva relativa.
6. O valor aspetual da forma verbal presente em “que pedira ao missionário ajuda diplomática na
causa da restauração da independência” (l. 23) é
(A) perfetivo.
(B) imperfetivo.
(C) habitual.
(D) genérico.
7. O modo de relato do discurso presente em “Nascer pequeno, e morrer grande, é chegar a ser
homem […]” (l. 40) é
(A) discurso direto.
(B) discurso indireto.
(C) discurso indireto livre.
(D) citação.
2. TESTES DE AVALIAÇÃO
8. Identifique o mecanismo de coesão verificado entre os termos “padre António Vieira” (ll. 1-2) e
“jesuíta” (l. 3).
9. Indique a função sintática desempenhada pelo segmento sublinhado em “Peças ditas e escritas pelo
padre António Vieira” (ll. 5-6)
10. Sabendo que a palavra eloquente deriva do verbo latino loquor, que significa ‘falar’, apresente duas
outras palavras que mantenham o mesmo étimo.
GRUPO III
Faça a síntese do texto presente no grupo II, reduzindo-o a um quarto da sua extensão, ou seja, a cerca
de 175 palavras.
2. TESTES DE AVALIAÇÃO
GRUPO I
Foram as ordens, vieram os homens. De sua própria vontade alguns, aliciados pela promessa de
bom salário, por gosto de aventura outros, por desprendimento de afetos também, à força quase
todos. Deitava-se o pregão nas praças, e, sendo escasso o número de voluntários, ia o corregedor
pelas ruas, acompanhado dos quadrilheiros1, entrava nas casas, empurrava os cancelos dos
5 quintais, saía ao campo a ver onde se escondiam os relapsos, ao fim do dia juntava dez, vinte, trinta
homens, e quando eram mais que os carcereiros atavam-nos com cordas, variando o modo, ora
presos pela cintura uns aos outros, ora com improvisada pescoceira, ora ligados pelos tornozelos,
como galés ou escravos. Em todos os lugares se repetia a cena, Por ordem de sua majestade, vais
trabalhar na obra do convento de Mafra, e se o corregedor era zeloso, tanto fazia que estivesse o
10 requisitado na força da vida como já lhe escorregasse o rabo da tripeça 2, ou pouco mais fosse que
menino. Recusava-se um homem primeiro, fazia menção de escapar, apresentava pretextos, a
mulher no fim do tempo, a mãe velha, um rancho de filhos, a parede em meio, a arca por confortar, o
alqueive3 necessário, e se começava a dizer as suas razões não as acabava, deitavam-lhe a mão os
quadrilheiros, batiam-lhe se resistia, muitos eram metidos ao caminho a sangrar.
15 Corriam as mulheres, choravam, e as crianças acresciam o alarido, era como se andassem os
corregedores a prender para a tropa ou para a Índia. Reunidos na praça de Celorico da Beira, ou de
Tomar, ou em Leiria, em Vila Pouca ou Vila Muita na aldeia sem mais nome que saberem-no os
moradores de lá, nas terras da raia ou da borda do mar, ao redor dos pelourinhos, no adro das
igrejas, em Santarém e Beja, em Faro e Portimão, em Portalegre e Setúbal, em Évora e Montemor,
20 nas montanhas e na planície, e em Viseu e Guarda, em Bragança e Vila Real, em Miranda, Chaves e
Amarante, em Vianas e Póvoas, em todos os lugares aonde pôde chegar a justiça de sua majestade,
os homens, atados como reses4, folgados apenas quanto bastasse para não se atropelarem, viam as
mulheres e os filhos implorando o corregedor, procurando subornar os quadrilheiros com alguns
ovos, uma galinha, míseros expedientes que de nada serviam, pois a moeda com que el-rei de
25 Portugal cobra os seus tributos é o ouro, é a esmeralda, é o diamante, é a pimenta e a canela, é o
marfim e o tabaco, é o açúcar e a sucupira 5, lágrimas não correm na alfândega. E se para isso
tiveram tempo, quadrilheiros houve que se gozaram das mulheres dos presos, que a tanto se
sujeitaram as pobres para não perder os seus maridos, porém desesperadas os viam depois partir,
enquanto os aproveitadores se riam delas, Maldito sejas até à quinta geração, de lepra se te cubra o
30 corpo todo, puta vejas a tua mãe, puta a tua mulher, puta a tua filha, empalado sejas do cu até à
boca, maldito, maldito, maldito. Já vai andando a récua 6 dos homens de Arganil, acompanham-nos
até fora da vila as infelizes, que vão clamando, qual em cabelo, ó doce e amado esposo, e outra
protestando, ó filho, a quem eu tinha só para refrigério e doce amparo desta cansada já velhice
minha, não se acabavam as lamentações, tanto que os montes de mais perto respondiam, quase
35 movidos de alta piedade, enfim já os levados se afastam, vão sumir-se na volta do caminho, rasos de
lágrimas os olhos, em bagadas caindo aos mais sensíveis e então uma grande voz se levanta, é um
labrego de tanta idade já que o não quiseram, e grita subido a um valado que é púlpito de rústicos, Ó
glória de mandar, ó vã cobiça, ó rei infame, ó pátria sem justiça, e tendo assim clamado, veio dar-lhe
o quadrilheiro uma cacetada na cabeça, que ali mesmo o deixou por morto.
José Saramago, Memorial do convento, 53ª ed., Lisboa, Editorial Caminho, 2013, cap. XXI, pp. 400-402.
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1 2 3 4
Soldados que faziam a ronda das ruas. Ter idade avançada. Terra que se lavra e se deixa em pousio, para que descanse. Animais
5 6
quadrúpedes. Árvore leguminosa do Brasil. Fileira de bestas de carga.
2. TESTES DE AVALIAÇÃO
1. Demonstre de que forma este excerto espelha a prepotência e a megalomania do rei D. João V,
contextualizando-o na estrutura da obra.
Leia o excerto seguinte do capítulo 148 da Crónica de D. João I. Se necessário, consulte as notas.
Na cidade nom havia triigo pera vender, e se o havia, era mui pouco e tam caro que as pobres
gentes nom podiam chegar a ele; ca1 valia o alqueire quatro livras; e o alqueire do milho quarenta
soldos; e a canada2 do vinho tres e quatro livras; e padeciam mui apertadamente, ca dia havia i que,
ainda que dessem por uũ pam ũa dobra, que o nom achariam a vender; e começarom de comer pam
5 de bagaço d’azeitona, e dos queijos3 das malvas e raizes d’ervas, e doutras desacostumadas cousas,
pouco amigas da natureza; e taes i havia que se mantiinham em alféloa 4. No logar u5 costumavom
vender o triigo, andavom homẽes e moços esgaravatando a terra; e se achavom alguũs grãos de
triigo, metiam-nos na boca sem teendo outro mantimento; outros se fartavom d’ervas, e beviam
tanta agua, que achavom mortos homeẽs e cachopos jazer inchados nas praças e em outros logares.
10 Das carnes, isso meesmo, havia em ela grande mingua 6; e se alguũs criavom porcos,
mantiinham-se em eles7; e pequena posta de porco, valia cinco e seis livras, que era ũa dobra
castelãa; e a galinha quareenta soldos; e a duzia dos ovos, doze soldos; e se almogáveres 8 tragiam
alguũs bois, valia cada uũ sateenta livras, que eram catorze dobras cruzadas, valendo entom a dobra
cinco e seis livras; e a cabeça e as tripas, ũa dobra; assi que os pobres per mingua de dinheiro, nom
15 comiam carne e padeciam mal; e começarom de comer as carnes das bestas, e nom soomente os
pobres e minguados, mas grandes pessoas da cidade, lazerando9, nom sabiam que fazer; e os
geestos mudados com fame10, bem mostravom seus encubertos padecimentos. Andavom os moços
de tres e de quatro anos pedindo pam pela cidade por amor de Deos, como lhes ensinavam suas
madres, e muitos nom tiinham outra cousa que lhe dar senom lagrimas que com eles choravom que
20 era triste cousa de veer; e se lhes davom tamanho pam come ũa noz, haviam-no por grande bem.
Desfalecia o leite aaquelas que tiinham crianças a seus peitos per mingua de mantiimento; e veendo
lazerar seus filhos a que acorrer nom podiam, choravom ameúde sobr’eles a morte ante que os a
morte privasse da vida. Muitos esguardavom as prezes11 alheas com chorosos olhos, por comprir o
que a piedade manda, e nom teendo de que lhes acorrer, caíam em dobrada tristeza.
25 Toda a cidade era dada a nojo12, chea de mezquinhas querelas, sem neuũ prazer que i houvesse:
uũs com gram mingua do que padeciam; outros havendo doo dos atribulados; e isto nom sem
razom, ca se é triste e mezquinho o coraçom cuidoso13 nas cousas contrairas que lhe aviinr podem,
veede que fariam aqueles que as continuadamente tam presentes tinham? Pero14 com todo esto,
quando repicavom, neuũ nom mostrava que era faminto, mas forte e rijo contra seus ẽmigos15.
Fernão Lopes, in Teresa Amado (apresentação crítica), Crónica de D. João I de Fernão Lopes
(textos escolhidos), ed. Revista, Lisboa, Editorial Comunicação, 1992, cap. 148.
____________
1 2 3 4 5 6 7 8
porque. Antiga medida para líquidos. bolbos. melaço cristalizado. onde. falta. viviam deles (dos porcos). negociantes de gado.
9 10 11 12 13 14 15
passando fome. fome. preces. tristeza, aborrecimento. preocupado. contudo. Inimigos.
2. TESTES DE AVALIAÇÃO
GRUPO II
Responda às questões. Nas respostas aos itens de escolha múltipla, selecione a opção correta.
Leia o texto.
Ser português
Nunca fomos coletivamente capazes de fazer deste pequeno país à beira-mar plantado o oásis de
prosperidade que os poetas afirmaram sermos; mas somos o povo que vem de longe e continua cá.
Mas quem são os portugueses? O que são, como são, quem são?
Quem somos?
5 Portugal dos mitos, das tradições laboriosamente inventadas (na asserção clássica de Eric
Hobsbawm), raízes identitárias ancoradas em passados sem mácula. Uma fortíssima invenção, aliás,
com Afonso Henriques e Camões e Gama, um país de heróis, que o arrancaram à atração centrípeta 1
de Castela e o libertaram da presença ameaçante dos “mouros” (como se o tivessem feito sozinhos),
uma imagem que se quis Universal porque escorada na imortal saga dos Descobrimentos. Raízes
10 (lusitanos), heróis (Dom Henrique), mitos (o Encoberto), feitos universais (as caravelas), um
Império (ultramar) e uma língua que é global. Que é a pátria, como escreveu outro poeta.
E neste Portugal mirífico, Estado-nação “inventado”, perguntam-se os portugueses, que são
quem verdadeiramente interessa, o que falta cumprir para que se cumpra o essencial: a promessa
afinal tão antiga, tão profeticamente inevitável, do Quinto Império. Mas o Império que buscamos,
15 sejamos entre nós sinceros e diretos, não é o de um novo poder territorial ou dominação sobre
outros, mas antes a promessa de um país (pelo menos) próspero e justo. Só isso: um país onde os
portugueses vivam com a tranquilidade de se saberem capazes de se alimentar e alimentar os seus;
em que o desemprego não seja mais do que uma figura da ciência económica e um espantalho do
passado; e no qual todos caibam, uns ricos outros remediados, sem fossos profundos a separá-los,
20 desigualdades que ameaçam rasgar o frágil tecido social da nação.
Um país que não existe. Sejamos outra vez sinceros connosco próprios: que nunca existiu. Os
portugueses, que são quem interessa, sabem ler para além dos mitos fundadores e sabem por isso
que Portugal, a nossa velha nação lusitana, foi quase sempre pobre; e que, quando cornucópias2
ocasionais fizeram cair sobre o país especiarias orientais, ouro de minas gerais ou fundos
25 estruturais, foi sempre para alimentar vaidades de reis fracos, presunções de elites besuntadas de
pó-de-arroz, pomposidades para estrangeiro ver, rotundas e viadutos escusados. Nunca
verdadeiramente para criar as estruturas indispensáveis ao desenvolvimento harmonioso e ao
bem-estar geral das pessoas – que são quem interessa.
Mas o mais extraordinário de tudo, o que gostaria de sublinhar hoje é a forma como esta gente,
30 os portugueses, as pessoas que verdadeiramente interessam, vivam dentro ou vivam fora, nasçam
cá ou morram lá, continuam a acreditar neste país de poetas. Da saudade que é a um tempo dor e
prazer. A acreditar no futuro de si próprios. O mais extraordinário é o amor pela pátria – o patrio-
tismo que salta das gargantas a qualquer pretexto e canta o orgulho de ser português.
Nunca fomos coletivamente capazes de fazer deste pequeno país à beira-mar plantado o oásis de
35 prosperidade e equilíbrio que os poetas e os fazedores de mito, seja prometeram, seja (pior)
afirmaram sermos; mas somos o povo que vem de longe e continua cá, distante dos centros onde
convergem os cabedais e a fama, um povo (outra vez, porque é verdade) resiliente e teimoso, que
existe, resiste e persiste; temos direito a ter orgulho em nós, em sermos portugueses, sem nunca
esquecer o que está por fazer e que é muito.
____________
1
Fontes de abundância.
2 Que procura o centro.
2. TESTES DE AVALIAÇÃO
4. Na frase “Nunca fomos coletivamente capazes de fazer deste pequeno país à beira-mar plantado o
oásis de prosperidade que os poetas afirmaram sermos” (ll. 1-2) estão presentes deíticos
(A) espaciais, temporais e pessoais. (C) pessoais e espaciais.
(B) pessoais e temporais. (D) espaciais e temporais.
5. A oração presente em “o que falta cumprir” (l. 13) classifica-se como subordinada
(A) adjetiva relativa restritiva.
(B) substantiva completiva.
(C) adverbial causal.
(D) adverbial concessiva.
6. O tipo de intertextualidade verificado em “o que falta cumprir para que se cumpra o essencial” (l. 13) é
(A) citação.
(B) paródia.
(C) alusão.
(D) plágio.
8. Sabendo que “povo” (l. 2) provém do latim POPULU-, indique duas outras palavras que integrem o
mesmo étimo.
9. Classifique as palavras “mácula” (l. 6) e mancha quanto ao étimo de que provêm, sabendo que o
termo latino macula- os originou.
10. Refira a relação temporal que se estabelece entre o enunciado seguinte e o ponto de referência
textualmente criado: “E neste Portugal mirífico, Estado-nação “inventado”, perguntam-se os
portugueses, que são quem verdadeiramente interessa, o que falta cumprir para que se cumpra o
essencial”. (ll. 12-13).
2. TESTES DE AVALIAÇÃO
GRUPO III
Caricatura do Zé povinho
3. CENÁRIOS DE RESPOSTA
3. CENÁRIOS DE RESPOSTA
3. CENÁRIOS DE RESPOSTA
3. CENÁRIOS DE RESPOSTA
3. CENÁRIOS DE RESPOSTA
familiar influencia o modo como se reage às adversida- 2. Trata-se da hipálage, pois verifica-se uma transposi-
des; ção de sentido, na medida em que se atribui o
− na esfera profissional − propicia um desempenho das deslumbramento aos olhos e não a quem observa.
tarefas com mais facilidade, o que condiciona o modo Desta forma, intensifica-se a beleza da Natureza
como se veem os desafios e a superação de obstáculos. descrita ao longo do poema.
Conclusão: a perceção de que somos felizes reflete-se 3. O recurso a vocabulário de valoração positiva perten-
no modo como encaramos a vida e nos níveis de cente ao campo lexical da Natureza é uma constante no
produtividade e de serenidade que evidenciamos. poema (“penedos”, “doce mar”, “ondas”, “socalcos”,
“vinhedos”, “terra”, “rosmaninho”). Além disso, a
TESTE DE AVALIAÇÃO 9 (p. 45) expressividade das metáforas enfatiza a beleza que se
Grupo I pretende destacar: “navio de penedos”, “doce mar de
A mosto”, “charcos de luz envelhecida”.
1. As mãos movimentam-se em direção ao peito e B
tremem de desejo; poderão, por isso, ser entendidas 4. A composição tem como assunto o encontro amo-
como símbolo desse desejo, e representantes da união roso, que não chega a acontecer. A donzela encontra-se
física dos amantes. na ermida, aguardando a chegada do amigo que tarda.
2. Tendo em conta a simbologia erótica da água (“Um 5. A donzela está ansiosa e preocupada, pois sente-se
rio interior”), o sentido remete para a presença ansiada só, em perigo, cercada pelas ondas, sem ninguém que
(“aguarda/Aguarda”) de um outro corpo, em harmonia, venha socorrê-la, chegando a antever a própria morte.
ideia subjacente à referência ao sol-luz. Grupo II
3. A referência à música sugere o movimento ritmado 1. (A); 2. (B); 3. (A); 4. (C); 5. (A); 6. (A); 7. (D)
dos corpos (“Se encosto o ouvido à sua nudez, / uma 8. Modalidade apreciativa.
música sobe”), indiciando a harmonia da relação 9. Subordinada substantiva completiva.
amorosa, ideia reforçada pelo facto de se destacarem 10. Derivada por prefixação.
no poema as formas verbais “respira”, “aguarda”, Grupo III
“nasce”, esta última aliada à música: “nasce, / nasce (Proposta de produção escrita)
dessa música que não cessa”, o que poderá sugerir o A pintura representa uma cena primaveril em que se
progresso/evolução dessa união. destacam as figuras femininas, num ambiente natural,
B colhendo flores no jardim.
4. “Lá” conota o indefinido, mas é apresentado como É de realçar o pormenor das flores nas mãos das figuras
um espaço de felicidade, beleza e luz. A sua repetição humanas, dos trajes, nomeadamente dos vestidos volumo-
no início dos tercetos sugere o desejo de alcançar a sos e bordados, a sombrinha, o chapéu, o laço no cabelo, a
“verdade”. sugerirem o estatuto social elevado das personagens.
5. Trata-se da apóstrofe, que transmite a ideia de O contraste evidenciado entre o tom escuro da
determinação e que confere ao soneto um caráter Natureza e a tonalidade clara dos vestidos permite
circular, o que poderá significar que o poeta está destacar as figuras humanas e, simultaneamente, um
próximo de encontrar as respostas que procura. ambiente agradável O quadro sugere a harmonia entre
Grupo II o ser humano e a Natureza.
1. (B); 2. (A); 3. (B); 4. (D); 5. (C); 6. (A); 7. (B)
8. Modalidade apreciativa. TESTE DE AVALIAÇÃO 11 (p. 53)
9. “a Eugénio”. Grupo I
10. Relação de anterioridade. A
Grupo III 1. A deambulação geográfica é visível no facto de
Resposta de caráter pessoal. Poderão, no entanto, ser Ricardo Reis ir percorrendo as ruas da cidade de Lisboa,
referidos os seguintes aspetos: ao mesmo tempo que se detém na observação de
Introdução: contributo das vivências afetivas para a alguns aspetos, deixando transparecer as suas
felicidade e realização do indivíduo. impressões (“atravessa de cá para lá, por outras
Desenvolvimento: alamedas regressa, agora vai descer a Rua do Século,
− a amizade e o amor combatem a solidão e atenuam o nem sabe o que o terá decidido, sendo tão ermo e
sofrimento em situações pessoais difíceis (exemplo…); − melancólico o lugar, alguns antigos palácios, casas
sentimentos que contribuem para uma visão do mundo baixinhas, estreitas, de gente popular”).
mais positiva e integradora, que beneficia a pessoa em 2. Em 1936, vigorava em Portugal a ditadura de Salazar.
si e aqueles com quem se relaciona (exemplo). Nesta época, no geral, o povo vivia com escassos
Conclusão: reforço do ponto de vista veiculado. recursos e, muitas vezes, em situações de extrema
miséria. Assim sendo, a pobreza era uma realidade
TESTE DE AVALIAÇÃO 10 (p. 49) instalada no país, sendo que, para fazer face a esta
Grupo I situação, organizavam-se eventos de caridade, como é
A o caso do bodo do Século, a que Ricardo Reis assiste,
1. Perante a beleza da terra duriense, pela qual se sente onde foi distribuída uma esmola a mais de mil pobres.
atraído, S. Leonardo ruma em direção à eternidade com 3. A intertextualidade com Cesário é evidente não só no
a certeza de que essa vida eterna (“cais divino”) será facto de, à semelhança do poeta, também Ricardo Reis
um desencanto. Esta ideia dá continuidade ao verso ir deambulando pela cidade de Lisboa e registando as
anterior em que manifesta a saudade da terra que vai suas impressões e sensações, mas também é percetível
deixar. na alusão ao poema “Num bairro moderno” quando o
3. CENÁRIOS DE RESPOSTA
narrador, a propósito dos desequilíbrios sociais, afirma por Oliveira Salazar. O regime controlava quaisquer
“ai de nós, pelo caminho que as coisas levam, ainda opositores à sua ideologia, recorrendo à censura e à
veremos bairros exclusivos, e só residências, para a opressão, através da então criada Polícia de Vigilância e
burguesia de finança e fábrica, que então terá engolido Defesa do Estado. Neste excerto, estamos perante uma
da aristocracia o que resta, com garagem própria, das tentativas de revolução protagonizada por um
jardim à proporção, cães que ladrem violentamente ao conjunto de marinheiros, nos quais se incluía o irmão de
viajante, até nos cães se há de notar a diferença, em Lídia, mas que rapidamente foi abortada pelas forças
eras distantes tanto mordiam a uns como a outros”. repressoras, que se serviram, para o efeito, de
Além disso, o facto de o narrador denunciar a miséria bombardeamentos aos barcos revoltosos a partir do
do povo remete também para muitos dos poemas de forte de Almada.
Cesário Verde, como “O sentimento dum ocidental”. 2. A primeira relação intertextual estabelecida com
B Camões surge a propósito da estátua do Adamastor que
4. Trata-se da sinestesia, uma vez que estamos perante se ergue no Alto de Santa Catarina. Através da alusão e
a confluência de sentidos diferentes (a visão – da descrição do gigante, o narrador pretende, por um
“brancuras” – e o tato – “quentes”), que serve aqui para lado, denunciar o estado de latência e inércia de
destacar a acentuada perceção sensorial do sujeito Portugal (e daí estar “concluída a sua petrificação”, l. 4)
lírico, que se serve de todos os sentidos para captar a e, por outro, indiciar já o fracasso da tentativa de
realidade à sua volta. revolta iminente por parte dos marinheiros, que
5. A transfiguração poética do real é visível no facto de acabará por ser travada por um regime repressivo (“a
o sujeito lírico partir de uma realidade concreta – o garganta que ia gritar não gritará”, l. 4). No final, volta a
cesto de hortaliças da vendedeira – transformando-a e aludir-se ao grito preso do Adamastor como estando
recriando-a, quando decide (re)compor os vegetais com prestes a fazer ouvir-se, metáfora de um tempo de
a forma de um corpo humano (“Se eu transformasse os mudança que se espera e cuja ideia é corroborada
simples vegetais, […] / Num ser humano que se mova e também através da alteração do verso de Camões –
exista / Cheio de belas proporções carnais?!” (vv. 19- “Onde a terra se acaba e o mar começa” – para – “Aqui,
-20). Assim, dando asas à imaginação e adotando uma onde o mar se acabou e a terra espera” (ll. 48-49).
atitude surrealista, o sujeito lírico descobre nos vários 3. O título do livro acaba por refletir o estado labiríntico
elementos existentes na giga “um novo corpo orgânico, vivido por Ricardo Reis ao longo do tempo em que
aos bocados” (v. 22). esteve em Lisboa e em que tentou singrar como figura
Grupo II autónoma. Mas a verdade é que, não tendo encontrado
1. (D); 2. (B); 3. (B); 4. (D); 5. (B); 6. (C); 7. (A) saída nem conseguindo dar um rumo à sua vida, facto
8. O que é próprio ou relativo ao campo. que implicaria forçosamente que passasse a adotar uma
9. A capital de Portugal é Lisboa. / É de capital atitude ativa, Ricardo Reis acaba por desistir e opta por
importância valorizarmos a nossa História. seguir Fernando Pessoa em direção à morte.
10. “dar uma mão.” B
Grupo III 4. O sujeito lírico denuncia a opressão vivida em
Introdução: apresentação sucinta da tese (preferência Portugal, durante a época de ditadura (“Silêncio − é
por uma das opões de vida – urbana ou rural) e explici- tudo o que tem / quem vive na servidão”, vv. 19-20).
tação sumária das diferenças entre a vida urbana e a Esta situação, que ele classifica como uma desgraça que
vida rural (positiva e/ou negativa). assola o país (“e o vento cala a desgraça”, v. 3), afeta
Desenvolvimento: fundamentação da opinião com sobretudo o povo, que sofre grandes carências (“Eu vi-
argumentos e exemplos. Poderão ser abordados, entre te crucificada / nos braços negros da fome”, vv. 39-40),
outros os seguintes aspetos: ao mesmo tempo que contribui para a estagnação do
• nos meios urbanos: país (“Vi minha pátria parada / à beira de um rio triste”,
− as pessoas têm acesso a um conjunto muito mais vv. 43-44) e para a submissão da população (“em tempo
variado de dispositivos, infraestruturas (como hos- de servidão”, v. 58). No entanto, como o próprio sujeito
pitais e universidades…) e acontecimentos (cultu- lírico declara “há sempre alguém que resiste / há
rais, desportivos..); sempre alguém que diz não”, versos que funcionam
− a vida é mais stressante, decorrente de uma concen- como metáfora da esperança de que os resistentes ao
tração muito grande de pessoas, o que potencia, por regime possam um dia triunfar.
exemplo, um maior afluxo de trânsito; 5. Trata-se de uma trova, constituída por 15 quadras,
• nos meios rurais: todas elas com versos heptassilábicos (redondilha maior).
− as pessoas têm uma vida mais saudável, uma vez A rima é sempre cruzada, exceto na sexta estrofe, em
que, à partida, estão inseridas num ambiente que o primeiro e o terceiro versos são brancos.
menos poluído; Grupo II
− há menos empregos disponíveis, sobretudo em 1. (B); 2. (C); 3. (B); 4. (C); 5. (A); 6. (D); 7. (A)
determinadas áreas. 8. Deôntica (valor de obrigação).
− há mais solidariedade e convívio. 9. “Ontem”, deítico temporal; “comemorámos”, deítico
Conclusão: retoma da posição defendida e fecho. temporal e pessoal.
10. Posterioridade.
TESTE DE AVALIAÇÃO 12 (p. 58) GRUPO III
Grupo I Sugere-se a seguinte abordagem:
A Introdução: a imagem representa uma mão a segurar
1. Em 1936, vivia-se em Portugal um sistema ditatorial um lápis com o qual vai escrevendo numa folha em
3. CENÁRIOS DE RESPOSTA
branco. No entanto, os seus movimentos são limitados, pregador apresenta, em posição antagónica, as duas
pelo facto de estar algemada. únicas possibilidades e respetivas justificações para o
Desenvolvimento: Destacar os seguintes aspetos: facto de a terra se apresentar tão corrupta: ou os
− a imagem denuncia a falta de liberdade de expressão, pregadores (“o sal”) não estão a cumprir com a sua
a manipulação das palavras, o controlo total, a missão ou os fiéis (“a terra”) não estão a adotar a
opressão; doutrina que lhes é transmitida.
− o tom cinzento remete para a ideia de obscurantismo, 5. A intenção persuasiva é visível através de vários
de silenciamento, de censura. mecanismos, como a assunção da primeira pessoa do
Conclusão: a imagem adequa-se, assim, perfeitamente plural, como forma de o pregador se irmanar com o
ao enredo de O ano da morte de Ricardo Reis, já que, na interlocutor (“mas quando a terra se vê tão corrupta
obra, é recorrente a convocação de situações que como está a nossa”, ll. 2-3); o levantamento de
espelham a censura que vigorava durante a ditadura de questões para as quais são apresentadas possibilidades
Salazar, refletida, por exemplo, no silêncio que se abate de resposta ou o uso de recursos expressivos como a
sobre a cidade de Lisboa ou a manipulação dos jornais, anáfora, a antítese ou a gradação que contribuem para
tantas vezes lidos por Reis. um discurso eloquente (“Começam a ferver as ondas,
começam a concorrer os peixes, os grandes, os maiores,
TESTE DE AVALIAÇÃO 13 (p. 63) os pequenos”, ll. 35-36). Já a exemplaridade decorre do
GRUPO I facto de Vieira, para melhor fundamentar a sua posição
A e conferir autoridade, se socorrer de palavras proferidas
1. O par espelha a plena completude existente entre o por Cristo ou do exemplo de Santo António.
casal, visível no contraste Sol (símbolo do dia, da força Grupo II
física, do trabalho)/Lua (símbolo da noite, do 1. (C); 2. (B); 3. (D); 4. (C); 5. (C); 6. (A); 7. (D)
transcendente, do mundo onírico). Reflete ainda a ideia 8. Coesão lexical (por substituição).
de renovação e de totalidade, inerente ao número sete 9. Complemento agente da passiva.
e que, no caso do casal, se traduz no facto de ambos 10. Locução, locutor, loquaz.
representarem não só a comunhão total e perfeita mas Grupo III
também de remeterem para a ideia de transgressão e Proposta de síntese:
mudança relativamente ao regime absolutista e A última edição dos Sermões do Padre António Vieira
inquisitorial vigente. expõe uma nova faceta na sua abordagem – a do
2. Enquanto a relação de Baltasar e Blimunda se pauta pendor biográfico evidenciado nos textos.
pela espontaneidade, cumplicidade e intimidade resul- Nascido em Lisboa, Vieira foi para o Brasil ainda em
tantes da vivência de um amor profundo e verdadeiro criança e, mais tarde, entrou no noviciado jesuíta. Aos
(“Dormiram nessa noite os sóis e as luas abraçados, 23 anos já fazia sermões, que espelhavam as causas que
enquanto as estrelas giravam devagar no céu, Lua onde defendia. Uma delas, a da defesa dos judeus, valeu-lhe
estás, Sol aonde vais”, ll. 10-11), o rei e a rainha revelam a perseguição do Santo Ofício que queria expulsá-lo dos
ter uma relação estritamente protocolar e convencional, jesuítas, mas o rei D. João IV conseguiu protegê-lo. No
sem amor, nada mais sendo do que um casamento de entanto, após a morte do monarca, Viera foi preso no
conveniência. Desta feita, o rei mantém relações domicílio, tendo sido libertado três anos mais tarde,
extraconjugais e a rainha tenta ultrapassar a sua frus- com a ascensão de D. Pedro ao trono. Nessa altura,
tração, recorrendo aos serviços religiosos e sonhando, de inicia uma luta contra a Inquisição em Portugal. Muitos
forma libidinosa, com o cunhado (“de el-rei não falemos, destes aspetos da sua vida, a par de outros, estão
que sendo tão moço ainda gosta de brinquedos, por isso presentes nos sermões do Padre, como, no “sermão de
protege o padre, por isso se diverte tanto com as freiras Santo António aos peixes”, onde o autor confessa a sua
nos mosteiros e as vai emprenhando, uma após outra, ou luta pela salvação dos índios.
várias ao mesmo tempo, que quando acabar a sua Acabou por morrer aos 89 anos, na Baía, longe de
história se hão de contar por dezenas os filhos assim Portugal, fazendo assim jus às palavras usadas no
arranjados, coitada da rainha, que seria dela se não fosse “sermão de Santo António”, de 1670.
o seu confessor António Stieff, jesuíta, por lhe ensinar (175 palavras)
resignação, e os sonhos em que lhe aparece o infante D.
Francisco com marinheiros mortos pendurados dos TESTE DE AVALIAÇÃO 14 (p. 68)
arções das mulas”, ll. 29-34). GRUPO I
3. Apesar de ser padre e pertencer a uma classe social A
conivente com um regime absolutista e promotora do 1. Os eventos relatados acontecem no seguimento da
obscurantismo e da perseguição, através do Santo decisão do rei em inaugurar o convento no dia em que
Ofício, Bartolomeu Lourenço distancia-se desses completasse 41 anos, facto que revela quer a sua
princípios da Igreja Católica. Está disposto a concretizar vaidade quer a sua megalomania e prepotência já que,
um projeto que poderia ser considerado uma heresia apesar de saber que o estado em que a construção se
aos olhos da Inquisição, contando, para isso, com a encontrava não permitia tal resolução, o rei, que reunia
ajuda de elementos que, à partida, estariam em si todos os poderes, impõe o seu desejo e ordena
condenados à fogueira, como Blimunda, ou que eram, que sejam enviados para Mafra todos os homens
em termos sociais, marginalizados, como era o caso de válidos dos quatro cantos do reino, forçando-os a isso,
Baltasar. muitas vezes de forma violenta, sobretudo em relação
B aos que se recusavam a ir. Assiste-se, assim, ao desfile
4. É através da estrutura paralelística e anafórica que o de dezenas de homens arrancados às suas terras e
3. CENÁRIOS DE RESPOSTA
famílias, agrilhoados e obrigados a cumprirem o capri- 5. A consciência coletiva é visível no facto de o povo se
cho de um rei. manter unido e em uníssono defender a mesma causa:
2. Esta relação intertextual é uma forma de o narrador a soberania da nação. Assim sendo, estavam sempre
ridicularizar e estabelecer um contraste entre a situação todos disponíveis para forte e corajosamente
que está a descrever e a que ocorre em Os Lusíadas. defenderem a cidade (“quando repicavom, neuũ nom
Assim, embora nos dois casos surja a voz de um velho a mostrava que era faminto, mas forte e rijo contra seus
contestar o acontecimento a que está a assistir, são ẽmigos”, l. 29), apesar de as muitas privações por que
grandes as diferenças entre as duas situações. De facto, estavam a passar, dada a escassez de alimentos.
enquanto, na epopeia camoniana, um velho experiente Grupo II
e de aspeto venerando se insurge contra uma empresa 1. (B); 2. (A); 3. (C); 4. (A); 5. (B); 6. (C); 7. (D).
grandiosa de um reino em expansão e, embora a sua 8. População, populismo, popular
voz seja discordante, não há qualquer censura ao seu 9. Palavras divergentes.
discurso. no caso de Memorial do convento, o narrador 10. Simultaneidade.
serve-se de forma jocosa de um labrego para condenar Grupo III
uma situação que nada tem de grandiosidade, pelo Resposta aberta, classificada segundo os critérios do
contrário, que é um símbolo da prepotência e da exame nacional.
opressão. neste caso, a voz do velho é abafada com a Sugere-se o plano seguinte:
sua morte, o que reflete a época de obscurantismo em Introdução – A imagem representa a figura do Zé
que se vivia. Povinho – metáfora das classes mais desfavorecidas
3. Na conceção de Saramago, o povo é o verdadeiro portuguesas – que, como se tratasse de um cavalo,
protagonista da sua obra. Por isso, quer prestar-lhe o carrega às costas um homem imponente e pesado, bem
tributo e a homenagem que a História lhe nega. Faz vestido e de charuto na boca – símbolos de riqueza – ao
questão de, simbolicamente, tentar nomear todos os mesmo tempo que é conduzido e chicoteado por um
homens envolvidos na construção do convento, outro homem representativo do poder.
percorrendo as letras do alfabeto, não se coibindo de Desenvolvimento – Destacar os seguintes aspetos:
denunciar as atrocidades, o sofrimento infligido e os A imagem denuncia a exploração e a tirania infligidas ao
sacrifícios por que tiveram de passar os verdadeiros povo por parte dos mais poderosos, que revelam uma
obreiros desta empresa megalómana, elevando-os atitude de supremacia e prepotência.
assim à categoria de heróis. Conclusão – A imagem adequa-se, assim, perfeitamente
B ao enredo de Memorial do convento, obra em que é
4. Este excerto decorre durante o cerco da cidade de denunciada a opressão e a repressão exercida sobre os
Lisboa por parte do exército castelhano, que entrou em mais desfavorecidos por parte de D. João V – um rei
Portugal para combater contra o Mestre de Avis, como déspota que se serviu do seu povo para concretizar um
forma de reivindicar a coroa portuguesa. Por questões capricho.
de legitimidade e tendo em conta o testamento de D.
Fernando, o reino português deveria ser entregue,
assim que tivesse idade para isso, ao neto, filho de D.
Beatriz e de Juan de Castela.