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Introdução
No âmbito da didática das ciências, a utilização da História e Filosofia da
Ciência (HFC) é recorrente e indica que uma abordagem centrada na
evolução dos conceitos científicos e dos métodos de pesquisa pode ser
bastante frutífera para a aprendizagem significativa e para a elaboração
conceitual. Em um aspecto mais geral, Matthews (1994) sugere que “a
história da ciência pode humanizar os conteúdos científicos e relacioná-los
aos interesses éticos, culturais e políticos da sociedade” (p. 165).
Conforme Loguercio e Del Pino (2006), a HFC pode servir para facilitar a
compreensão de ciência dos alunos no ensino médio, uma vez que “se um
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Metodologia
A escolha do universo de pesquisa recaiu sobre os livros didáticos
sugeridos pelo Programa Nacional do Livro Didático para o Ensino Médio
(PNLEM). Implantado a partir de 2004, esse programa tem o objetivo de
universalizar a distribuição de livros didáticos para estudantes das escolas
públicas brasileiras do ensino médio (El-Hani, Roque e Rocha, 2005). Os
livros de química distribuídos às escolas públicas, a partir de 2008,
conforme as escolhas dos professores, podem ser vistos na tabela 1.
No decorrer do texto, os livros didáticos serão identificados pelas letras
correspondentes indicadas na tabela 1. O livro F não traz um capítulo em
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Resultados e discussões
Os livros didáticos, segundo os critérios utilizados na análise, não
apresentam de forma satisfatória o conteúdo tabela periódica em uma
abordagem histórica. A tabela 2 resume a análise realizada. Pode-se notar
que somente os critérios 1, 2 e 6 foram satisfatoriamente abordados ou
mencionados em todos os livros analisados. O critério 5 foi mencionado
somente no livro A e não teve menção nos outros livros. O critério 7 foi
mencionado somente no livro E. O critério 3 não foi mencionado em
nenhum dos livros analisados.
Critérios
Livros
1 2 3 4 5 6 7
A S S N N M M N
B S S N M N M N
C S S N M N M N
D M S N N N M N
E S M N N N M M
Tabela 2.– Análise de livros didáticos de Química do Ensino Médio, avaliados de
acordo com os critérios expostos anteriormente [Legenda: (S), satisfatório; (M),
menção; (N), sem menção].
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Dados atuais
Previsões de Mendeleyev
(obtidos na prática)
Massa atômica 72 72,6
Cor Cinza Cinza
Densidade (g/cm3) 5,5 5,32
Fórmula do óxido GeO2 GeO2
Densidade do óxido
4,7 4,23
(g/cm3)
Tabela 3.– Transcrita da página 113 do livro B.
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Princípios Teóricos
Livro
a) b) c) d) e)
Não Sim Não Sim Sim
O livro traz as Mostra as Apenas fala O livro não O livro mostra
primeiras classificações sobre a comenta nada que a tabela
idéias sobre Döbereiner, primeira tabela sobre a periódica atual
A teoria atômica, Chancourtois e de Mendeleev, descoberta do é baseada nos
mas não Newlands. mas não a argônio. números
mostra mostra. atômicos.
acumulação de
dados.
Não Sim Sim Não Sim
Não menciona Mostra as Menciona a Não menciona O livro mostra
as primeiras classificações primeira tabela nada sobre a que a tabela
teorias Döbereiner, de Mendeleev. descoberta do periódica atual
atômicas e não Chancourtois e argônio. é baseada nos
B
faz referências Newlands. números
ao peso atômicos e
atômico menciona as
contribuições
de Moseley.
Não Sim Não Não Sim
Não menciona Mostra as Não mostra a Não menciona Fala sobre as
as primeiras classificações tabela de a descoberta contribuições
teorias Döbereiner, Mendeleev, do argônio de Moseley e
atômicas e não Chancourtois e mas fala sobre neste capitulo. apresenta a
C
faz referências Newlands. as suas relação da
ao peso contribuições. tabela
atômico. periódica com
os números
atômicos
Não Sim Não Não Não
Não menciona Mostra as Não mostra a Não menciona O livro indica
as primeiras classificações tabela de nada sobre a que a tabela
teorias Döbereiner e Mendeleev, descoberta do periódica atual
atômicas e não Newlands. mas fala sobre argônio. está baseada
D faz referências as suas nos números
ao peso contribuições. atômicos, mas
atômico. não sugere
que isso foi
indicado por
Moseley.
Não Sim Sim Sim Sim
Não menciona Mostra as O livro mostra Cita a O livro mostra
as primeiras classificações ilustrações da descoberta do contribuições
teorias Dobereiner, tabela argônio e do de Moseley e
E
atômicas e não Chancourtois, periódica de outros gases mostra a
faz referências Newlands e Mendeleev. nobres. tabela
ao peso Odling. periódica
atômico. atual.
Apenas um livro foi classificado como “menção”, o livro E, que traz quatro
dos princípios heurísticos listados no critério 7. Além de não serem
mencionadas as primeiras teorias atômicas e não fazer referência à massa
atômica no capítulo dedicado à tabela periódica, o livro não apresenta os
princípios heurísticos na forma de uma seqüência que seria necessária para
classificar este livro como satisfatório.
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Conclusão
A análise empreendida na pesquisa e relatada neste artigo teve por
objetivo replicar o trabalho realizado por Brito, Rodríguez e Niaz (2005).
Esses autores analisaram a apresentação do tema tabela periódica em livros
textos de química geral em língua inglesa, baseados nos critérios
estabelecidos por reconstrução histórica descritos e comentados em Niaz,
Rodríguez e Brito (2004). Assim, nosso objetivo foi apresentar essa análise
em língua portuguesa, envolvendo uma amostra de livros didáticos
brasileiros de ensino médio, visando a comunicar essa abordagem em HFC
no ensino da classificação das propriedades periódicas (ou seja, do
conteúdo curricular tabela periódica) para um público mais amplo, como os
professores de química de ensino médio que não lêem outros idiomas.
Através dessa análise dos livros didáticos de química distribuídos pelo
PNLEM, pode-se verificar o conteúdo tabela periódica é parcialmente
apresentado em uma perspectiva histórica. O contexto histórico aparece,
geralmente, como recortes e figuras anexas. Ademais, há pouca relação
entre esses anexos e os textos que explicam a própria tabela periódica.
Dessa forma, não se apresenta de forma clara uma relação para os leitores
e estudantes sobre como o conhecimento químico e físico sobre a tabela
periódica evolui. Isso corrobora com a constatação de Oki (2007), que a
abordagem da história da ciência na educação científica tradicional tem
ocorrido geralmente de modo dogmático, existindo pouco espaço para que
controvérsias científicas sejam apresentadas ou discutidas.
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