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CURSO: Psicologia

COMPONENTE CURRICULAR: Teoria Psicanalítica Freudiana


PERÍODO: 4° ANO: 2021/2
PROF.ª: Alessandra Henriques
ALUNO: Isabela Jarreta Garcia MATRÍCULA: ESGR214042

FREUD, Sigmund. Um caso de histeria. Três ensaios sobre a teoria da sexualidade e outros trabalhos. Fragmento da
análise de um caso de histeria (1905[1901]). Volume VII.

CASO DORA

Início do tratamento de “Dora”, aos 18 anos. Se tratava de um caso de histeria em que as explicações se aliavam em
torno de dois sonhos. O fragmento mostra como a interpretação dos sonhos se insere no trabalho de análise.
O quadro clínico: A família de Dora era composta por seus pais e um irmão mais velho.
 O pai era a figura dominante – sofria de várias doenças, o que fez com que a família se mudasse para B.
 Crise confusional – tratamento com Freud em Viena (1894) – posteriormente o apresentou Dora, que havia ficado
neurótica.
Dora:
 Primeiros sintomas neuróticos: 8 anos – dispneia crônica (1890).
 12 anos – enxaqueca e tosse nervosa (1894).
 16 anos – Desânimo, alteração de caráter, má relação com os pais, evitava contato social e carta de suicídio (1898).
Início do tratamento com Freud.

Período em B: marcado pela amizade com a família K. O Sr. K. sempre foi amável com Dora, mas ninguém via maldade
em seus atos. Entretanto, em certo momento, Dora relata que havia recebido uma proposta amorosa do Sr. K. A
experiência da jovem com o Sr. K., segundo Freud, fornecia a condição prévia indispensável para um estado patológico
histérico. Porém, apenas esse acontecimento não bastava, pelo fato de a jovem já possuir sintomas histéricos desde a
infância.
Posteriormente, Dora descreve uma experiência anterior com Sr. K., aos quatorze anos: ele a fez um convite para visitar
sua loja, garantiu que não houvesse mais ninguém presente, e então, lhe roubou um beijo. Dora sentiu uma violenta
repugnância e fugiu. Os sintomas gerados em Dora foram:
 O nojo, correspondente ao sintoma do recalcamento da zona erógena dos lábios.
 Alucinação sensorial e deslocamento de sensação – na qual sentia pressão do corpo de Sr. K. na parte superior de
seu corpo, segundo Freud “durante o abraço, ela sentiu não só o beijo em seus lábios, mas também a pressão do
membro ereto contra seu ventre. Essa percepção revoltante recalcada e substituída pela sensação de pressão sobre
o tórax”.
 Evitação dos homens em conversa afetuosa. O horror aos homens que pudessem achar-se em estado de excitação
sexual obedece ao mecanismo de uma fobia destinada a dar proteção contra o reavivamento da percepção
recalcada.
Diante dos acontecimentos, Dora não perdoava seu pai por continuar a manter relações com o Sr. K. e, mais
precisamente, com sua esposa. Para ela, o que ligava seu pai a Sra. K. era um relacionamento amoroso. Quando ficava
com o ânimo exaltado, a intuição de ter sido entregue ao Sr. K. como recompensa por aceitar a relação entre sua mulher
e o pai da jovem vinha à tona. Ainda, as censuras de Dora a seu pai estavam revestidas de autocensuras de conteúdo
idêntico. Na paranoia, essa projeção da censura sem alteração do conteúdo, e, sem base na realidade, torna-se
manifesta como processo de formação do delírio. Segundo Dora, os pensamentos sobre seu pai estavam fora do seu
controle, não conseguia deixá-los, nem perdoar o pai. Essa sequência de pensamentos é reforçada pelo inconsciente,
não pode ser resolvida através do pensamento, pelo fato de ter suas raízes inconscientes e recalcadas.
A partir de comportamentos de Dora, Freud formulou uma conclusão de que ela estivera apaixonada por Sr. K. Mais
tarde, quando se tornou difícil seguir negando, ela admitiu, mas garantiu que desde a cena do lago (proposta amorosa)
isso havia acabado. Freud também conclui que, no caso da afonia de Dora, os sintomas acompanhavam o período em
que Sr. K estava fora. Quando ele estava longe, ela abandonava a fala, que perdia o valor, já que não podia falar com
seu amado.
Desde a cena do lago, o amor de Dora se encontrava barrado por uma resistência violenta que reforçava sua afeição
antiga por seu pai, para não ter que notar nada sobre o amor de sua adolescência. Sendo assim, ela conseguiu se
convencer de que havia rompido com Sr. K.
A sequência de pensamentos citados anteriormente sobre seu pai e a Sra. K escondia um ciúme pela mulher, revelando
uma inclinação de Dora para o mesmo sexo. As duas haviam sido muito próximas e confidentes. Sendo assim, a
sequência de pensamentos se ocupava da relação do pai com a Sra. K. para eliminar o amor pelo Sr. K. e o amor que
também sentia por sua esposa, que era inconsciente de uma forma mais profunda.

O primeiro sonho: A casa de Dora se encontrava em chamas, e seu pai, de pé na beira de sua cama a acorda. A jovem
se levanta e se veste rapidamente. Enquanto isso, sua mãe, em outro cômodo, demora a alcançá-los pois queria salvar
uma caixa de joias, e o pai diz: “Não quero que eu e meus dois filhos nos queimemos por causa da sua caixa de joias” e
assim, logo que Dora se vê fora da casa, desperta do sonho.
A interpretação: O sonho foi o efeito imediato do acontecido com Sr. K. em L. Quando chegaram em L naquela ocasião,
a casa em que ficaram não o tinha para-raios, fato que trouxe o medo de um possível incêndio. Dora conta que se deitou
para descansar um pouco, após o passeio no lago, e acordou com Sr. K. em sua frente, tal qual seu pai no sonho. Diante
disso, Dora providenciou uma chave para ter privacidade no quarto pela manhã, mas durante a tarde a chave havia
sumido. A frase “vestia-me rapidamente” do sonho estava associada a esse contexto, Dora se vestia rapidamente com
medo de ser vista por Sr. K já que não possuía a chave para trancar o quarto. Na tarde do segundo dia, Dora formulou o
propósito de que precisava sair daquele lugar e se livrar das perseguições, e foi por isso que o sonho se repetiu, até que
o propósito fosse realizado: “logo que me vi fora da casa, acordei”.
Sobre a caixa de joias, o Sr. K. havia a presenteado com uma caixa de joias. Sendo assim, seria apropriado retribuir o
presente. Entretanto, no sonho, a caixa de joias representava os genitais femininos. Logo, ela está disposta a dar ao Sr.
K. o que sua mulher se recusava. E foi esse pensamento recalcado que tornou necessária a transformação dos
elementos do sonho no oposto. Dora temeu ceder à tentação.
A mãe de Dora queria salvar a caixa de joias de ser queimada, entretanto, se tratava de proteger a “caixa de joias” de
ficar molhada. Nesse sentido, o fogo também era representado pelo amor e pela paixão. Transferindo a representação
de ficar molhada a infância, o significado era atribuído a molhar a cama, que ocorrera com Dora por muito tempo.
Ademais, todas as vezes depois de acordar, Dora sentia cheiro de fumaça, isso indicava uma relação com Freud, por ser
fumante e a ânsia de um beijo trocado com um fumante (Sr. K.).
O propósito do sonho poderia se expressar de forma consciente como: “Preciso afastar-me dessa casa, na qual, como
vi, minha virgindade corre perigo; partirei com papai e, pela manhã, ao fazer minha toalete, tomarei minhas precauções
para não ser surpreendida.” (p.52 Word).

O segundo sonho: Dora passeava por uma cidade desconhecida, e então, chegou a uma casa onde morava, foi até seu
quarto e encontrou uma carta de sua mãe. Na carta dizia que Dora havia saído de casa sem o conhecimento dos pais e
que seu pai tinha morrido: “Agora ele morreu e, se quiser, você pode vir?”. Dora se dirige a estação e lá pergunta
inúmeras vezes “onde fica a estação?” e de todos recebe a resposta “cinco minutos”. Depois disso, a jovem vê um
bosque e vai em sua direção, lá faz a mesma pergunta a um homem que lhe responde “mais duas horas e meia” e pede
se pode acompanhá-la, mas Dora recusa. Nesse ponto, a estação estava a sua frente, mas não conseguia chegar até
ela, o típico sentimento angustiante de paralisia no sonho no qual não se consegue ir a lugar nenhum. Depois disso,
Dora está em casa, e nesse tempo tinha de ter viajado. A jovem vai até a portaria e pergunta por sua casa, e a resposta
que recebe é “a mamãe e os outros já estão no cemitério”.
A interpretação: No Natal, Dora havia recebido um álbum com fotografias desse lugar, de um jovem engenheiro que
conheceu. O rapaz havia se mudado para a Alemanha devido a uma oportunidade de trabalho. Nessa mesma ocasião,
Dora recebeu a visita de um primo, que havia lhe trazido lembranças de Dresden, de um dia que andava como uma
estranha pela cidade, e, logo depois, foi visitar uma famosa galeria. Um outro primo havia se oferecido para ser o guia no
caminho para a galeria, porém Dora recusou e foi sozinha. Diante da Madona Sistina permaneceu duas horas, em
admiração.
Na primeira parte do sonho, Dora se identifica com o rapaz citado, que anda por terras estrangeiras em busca de sua
meta, mas precisa de paciência para alcançá-la.
Na mesma noite, Dora precisou de ajuda de sua mãe e a perguntou a mesma coisa repetias vezes. Dora exclamou: “Já
lhe perguntei umas cem vezes onde está a chave.” A chave, portanto, é interpretada como o masculino da pergunta
“onde está a caixa?”, equivalente aos órgãos genitais. Nesse dia ocorreu também um brinde ao pai de Dora, para que
ele ainda possuísse saúde por muito tempo, e isso gerou, no pai, uma expressão singular de incerteza de quanto tempo
ainda o restava de vida, isso leva ao conteúdo da carta do sonho, e a carta de suicídio usada para assustá-lo. Partindo
disso, segundo o sonho, Dora saiu de casa para se vingar do pai.
A frase “se você quiser?” da carta vinha seguida de uma interrogação, relacionada ao convite recebido da Sra. K. para L,
que continha também um ponto de interrogação desconexo. De volta a cena em L, Dora se lembrou de uma das
alegações de Sr. K.: “Sabe, não tenho nada com minha mulher.” Naquele momento, para se afastar, Dora decide voltar
para L a pé, e perguntou para um homem qual era a distância, que responde “duas horas e meia”, isso faz com que ela
volte ao barco.
Fica evidenciado ao decorrer da análise, o amor de Dora por Sr. K. não havia terminado após a cena do lago, continuou
inconscientemente. O segundo sonho foi interpretado em duas sessões. No inicio da terceira sessão, Dora comunica que
aquela seria a última. O tratamento foi encerrado deixando lacunas na resolução da análise, e após quinze meses, Dora
volta a Freud com o intuito de seguir a analise, porém, ficou claro que essa não era sua vontade realmente.
Dora apresentou grande melhora após o tratamento, tentou uma reaproximação com os K. após a morte de um filho do
casal, e se vingou deles de forma satisfatória. Evidenciou sua desconfiança a cerca do caso da Sra. K. com seu pai, e
contou também sobre o acontecimento do lago. Depois disso, não teria se aproximado novamente da família.
Os anos se passaram e Dora se casou, segundo Freud, com o jovem engenheiro citado no início do segundo sonho.
“Tal como o primeiro sonho significara o afastamento do homem amado em direção ao pai, ou seja, a fuga da vida para a
doença, esse segundo sonho anunciou que ela se desprenderia do pai e ficaria recuperada para a vida” (p.74 Word).

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