Você está na página 1de 20

Metabolismo de carboidratos(2)

Metabolismo da Galactose e Frutose.


Galactosemia, Frutosuria e Intolerância hereditária à frutose

Gluconeogénese
Substratos e etapas
Ciclos de Cori e da alanina-glucose
Regulação alostérica/hormonal

Glicogénio – estrutura e propriedades


Glicogénese e Glicogenólise .
Etapas e enzimas
Mecanismos de regulação (fígado e músculo)
Doenças do metabolismo do glicogénio

A via das pentoses-fosfato


A deficiência em G-6-P desidrogenase

Regulação hormonal da expressão génica

Para além da glucose, também a galactose e a frutose são monossacarídeos abundantes


na dieta. Qual é seu destino?

1
Metabolismo da galactose

A galactose é convertida em glucose


num processo que envolve um intermediário
UDP-galactose.
São necessárias 4 enzimas :

1- Galactocinase
2- Gal-1-P uridil transferase
3- UDP-Gal-4-epimerase
4- fosfoglucomutase 1
(Esta última está também galactose galactose-1-P UDP-glucose
envolvida na glicogenólise)

ATP ADP 2 3

glucose-1-P UDP-galactose
4
glucose-6-P

Glicólise ou outras vias

Galactosemia
Incidência: 1 : 60.000

Doença genética – deficiência em:


- galactose-1-fosfato uridil transferase
(forma mais comum e mais severa)
- galactocinase
- UDP-Gal-4-epimerase

Concentração extracelular (galactosemia/galactosuria)


e intracelular de galactose aumenta

Galactitol

ALDOSE REDUTASE
Aldose redutase:
- atua sobre uma grande variedade de compostos, e.g., glucose => sorbitol
(precursor da frutose)
- Abundante no fígado, retina, cristalino, eritrócitos, células de Schwann

O galactitol acumula-se no interior das células => hipertonicidade => lise celular
Tratamento: remoção de qualquer fonte de galactose da alimentação o mais cedo
possível para diminuir sequelas irreversíveis no CNS (mesmo assim podem surgir
complicações no longo prazo pois a galactose é sintetizada endogenamente)

2
Metabolismo da Frutose Algumas dietas podem conter 30-60% frutose!

Duas vias possíveis:

A hexocinase, ao contrário frutose


da glucocinase, fosforila Músculos ATP
Figado
a frutose (tecidos extra- ATP ADP
Hepáticos). frutocinase
ADP HK
frutose-1-P
O fígado tem uma via
dedicada à frutose: aldolase B
frutose-6-P
gliceraldeído dihidroxiacetona-P
-Frutocinase
ATP
-Aldolase B
glicólise ADP

(2) gliceraldeído-3-P

glicólise gluconeogenese

Frutosuria Deficiência em frutocinase

Acumulação de frutose no sangue (frutosemia)


e aparecimento de frutose na urina (frutosuria)
frutose

Figado deficiência Condição relativamente benigna (assintomáticos)


em
x

frutocinase
90 % da frutose ingerida acaba por ser
metabolizada (hexocinase está normal)
frutose-1-P

gliceraldeído dihidroxiacetona-P

(2) gliceraldeído-3-P

glicólise gluconeogenese

3
Intolerância Hereditária à Frutose Deficiência em aldolase B

frutose
Fígado ATP -Pi fica sequestrado em F-1-P
Sendo a quantidade de frutose ingerida mt
ADP grande, não será possível ao hepatócito sintetizar
ATP => lise celular => falência hepática)
frutose-1-P
deficiência
em
x

aldolase B -Na falta de Pi e ATP


inibição da glicogenólise
e gluconeogénese
gliceraldeído dihidroxiacetona-P

hipoglicemia ADP
(2) gliceraldeído-3-P
acidose láctica
AMP

glicólise gluconeogenese AMP desaminase

Ácido úrico

As crianças com intolerância à frutose desenvolvem uma rejeição “visceral” a


alimentos doces (à maioria das frutas, bolos, etc.)

Gluconeogénese

Em grande parte esta via é o


“inverso” da glicólise –
muitas RX são reversíveis

Existem 3 excepções (“shunts”):

- PEP => piruvato


- F-1,6-biP => F-6-P
- G-6-P => glucose

- O ponto de entrada dos substratos


na gluconeogénese varia.

4
Gluconeogénese: substratos precursores de glucose

(e.g., alanina)

(e.g., aspartato) (alguns a.a.,


fermentação intest.)

(Lipolise)
Processo essencialmente hepático
Visa manter normoglicémia
(cérebro, eritrócitos, cristalino,
córnea, etc. são completamente
dependentes de glucose)

De onde provêm estes substratos gluconeogénicos?

Ciclo de Cori (Músculos/eritrócitos - Fígado)

Miócito sem mitocôndrias


ou em esforço intenso (hipoxia)

5
Ciclo da alanina-glucose (Músculos - Fígado)

4-6

Miócito com mitocôndrias

Vantagem deste ciclo:


O miócito exporta para o fígado
excesso de N (síntese de ureia).
Este N provém de outros a.a.
cujos carbonos também estarão
a ser mobilizados para oxidação

Gluconeogenese (LACTATO/ALANINA)

(2) lactato
2 NAD+

2 NADH
(2) piruvato (2) alanina
2 ATP + 2 CO2
Piruvato Carboxilase
2 ADP + 2 Pi
(2) oxaloacetato
fosfoenolpiruvato 2 GTP
Carboxicinase (PEPCK)
2 GDP + 2 CO2
(2) fosfoenolpiruvato
Enzimas da glicólise 2 ATP + 2 NADH
(rx são reversíveis até
ao passo da FFK-1) 2 ADP + 2 NAD+ + 2 Pi
Frutose-1,6-bifosfato

BALANÇO ENERGÉTICO: 2 LACTATO + 6 ATP => GLUCOSE + 6 ADP + 6 Pi

De onde vem todo este ATP??? Principalmente da oxidação de ácidos gordos.

6
Gluconeogenese (GLICEROL)

Qd a gluconeogénese é induzida (2) TG


(hipoglicémia), muitos processos catabólicos
são também induzidos. Um destes é a (2) glicerol + (6) AG
lipólise: hidrolize dos triglicéridos ATP
armazenados no tecido adiposo (Aula Lip). glicerol
cinase
ADP

A glicerol cinase é uma enzima mt


(2) glicerol-3-P
NAD+
abundante no fígado mas ausente no tecido glicerol-3-P
adiposo desidrogenase
NADH

(2) dihidroxiacetona-P

Frutose-1,6-bifosfato

Gluconeogenese – a conversão F-1,6-BiP em glucose


A Rx catalizada pela FFK-1 é irreversível; o problema é resolvido pela F-1,6-bifosfatase
Frutose-1,6-bifosfato
Frutose-1,6-bifosfatase
Pi
Frutose-6-P
Fosfoglucoisomerase (glicólise)
Glucose-6-P Glucose
citosol

Ret.endopl. G6Pase

Glucose-6-fosfato Glucose
+
Pi
A Rx catalizada pela glucocinase é irreversível; o problema é resolvido pela
Glucose-6-fosfatase, uma enzima do retículo endoplasmático (só existe no fígado e rim)

7
Regulação da gluconeogenese

ácidos Frutose-1,6-bifosfato
gordos (2) lactato
AMP
F1,6biPase - F-2,6-BP
(2) piruvato alanina
acetil CoA + Piruvato
Frutose-6-P
carboxilase
A [F-2,6-BiP] é
(2) oxaloacetato controlada
Glucose-6-P
hormonalmente
(ver aula CH1)

(2) fosfoenolpiruvato Glucose

Frutose-1,6-bifosfato

Glicolise e gluconeogénese são mutuamente exclusivas

Hiperglicémia => insulina alta => FFK-2 activa => [F-2,6-BiP] alta
Glicolise alta; gluconeogénese baixa

Hipoglicémia => glucagon alto => F-2,6-biPase activa => [F-2,6-BiP] baixa
Glicolise baixa; gluconeogénese alta

8
GLICOGÉNESE
glucose

Glucose-6-fosfato

piruvato glucose-UDP ribose-5-P

Surge em muitos tecidos


mas é particularmente
abundante no fígado (onde
lactato acetil-CoA pode atingir 10% da massa
glicogénio do orgão; ≈ 150 g)
No músculo esquelético
também existe mt glicogénio
Ácidos gordos (1-2% m/m; ≈ 300-600 g)

Microscopia electrónica de fígado de rato

Grânulos de
glicogénio

estado alimentado Após jejum de 24 h

9
Estrutura do glicogénio

Polímero de glucose linear (α 1->4) com ramificações α 1->6

Propriedades do glicogénio

É um polímero =>
o seu armazenamento não se traduz num aumento da força osmótica

[glicogénio]=0.01 mM  [glucose]=400 mM

É um polímero altamente ramificado =>


O elevado nº de extremidades possibilita um polimerização/despolimerização
rápida

Glicogenina (proteína dimérica)


(“primer” na síntese de glicogénio)

Wikipedia.org

10
GLICOGÉNESE glucose
ATP Hexocinase (músculo e outros tecidos)
Glucocinase (fígado)
ADP
glucose-6-P
fosfoglucomutase

glucose-1-P
UTP
pirofosfatase Gluc-1-P uridil transferase
retroinibida por UDP-glucose
2Pi PPi

UDP glucose (forma ativada de glucose)


(glucose)n (molécula de glicogénio
glicogénio pré-existente)
sintase (glucose)n+1

UDP UTP

ATP ADP

A glicogénio sintase introduz apenas as ligações α 1 -> 4

As ramificações α 1-> 6 são criadas pela ENZIMA RAMIFICADORA

De um modo geral as glucoses são adicionadas


a moléculas de glicogénio (pré-existentes)
No entanto, algumas destas moléculas acabam
por ser completamente degradadas nos
Lisossomas (autofagia) => é necessária alguma
síntese de novo.

Problema: A glicogénio sintase não atua sobre


glucose livre

Solução : GLICOGENINA (uma pequena proteína


com a capacidade de se autoglicosilar
fornecendo assim a (Glucose)n à glicogénio sintase

11
Balanço energético da síntese do glicogénio

(Glucose)n + glucose + 2 ATP (Glucose) n+1 + 2 ADP

i.e., 2 ATPs / glucose armazenada como glicogénio => é um gasto relativamente


pequeno tendo em consideração:

- a energia que se obtém a posteriori na oxidação da glucose


(tecidos extra-hepáticos)

- a importância do glicogénio hepático na manutenção da normoglicémia.

Regulação da Glicogénese
Regulação principal ocorre ao nível da Glicogénio Sintase. A enzima é alvo de muitas
Proteína Cinases as quais a inativam. A enzima é desfosforilada (re-ativada) por uma
Fosfoproteína fosfatase

Exemplos importantes:
- Proteína cinase A (cAMP-dependente)
- Fosforilase cinase
- Glicogénio sintase cinase-3

Estas cinases e fosfatase respondem


aos níveis hormonais sendo
o resultado final sobre a GS:
(Ativa) (Inativa)
+, qd Insulina é alta
- , qd glucagon/adrenalina são altos

A Glicogénio Sintase é ainda


regulada positivamente por
G-6-P e negativamente pelo
próprio glicogénio (neste último caso
o mecanismo permanece desconhecido
mas envolve fosforilação)

12
GLICOGENÓLISE

A via inicia-se com a

GLICOGÉNIO FOSFORILASE

(glucose)n + Pi (glucose)n-1 + G-1-P

A enzima é específica para ligações α1->4

As ramificações são resolvidas pela

ENZIMA DESRAMIFICADORA
(uma enzima bifuncional)

O destino da G-6-P é dependente do tecido onde é gerada

(glucose)n
Pi
Glicogénio
fosforilase
(glucose)n-1

Glucose-1-P
fosfoglucomutase

Glucose-6-P

fígado músculos Os músculos não possuem


Glucose-6-fosfatase

Glucose Glicólise

SANGUE

13
Regulação da Glicogenólise
A glicogenólise é regulada ao nível
da Glicogénio fosforilase.
A enzima oscila entre a forma
fosforilada (activa) e não-
fosforilada (inactiva)

A fosforilação pela Fosforilase Cinase


ocorre qd
Glucagon/adrenalina altos

A desfosforilação ocorre qd
Insulina é alta (Inativa) (Ativa)

A enzima é ainda regulada alostericamente


Por:

Glucose, ATP => inibem a enzima

AMP => ativa a enzima (AMP faz by-pass


ao controlo por desfosforilação; provavelmente
importante no músculo em esforço)

Doenças do metabolismo do glicogénio


Ex: Doença de Pompe - uma doença de armazenamento lisossomal

Deficiência em a1->4 glicosidase ácida, uma enzima lisossomal

Acumulação de quantidades massivas de glicogénio no lisossoma


(particularmente no músculo)

Aumento dos lisossomas aumento do volume celular disfunção da célula

lise lisossomal lise celular

Outros exemplos
Doença Deficiência enzimática Tecidos afectados

Von Gierke Glucose-6-fosfatase Fígado e Rim

Hers Glicogénio fosforilase Fígado

McArdle Glicogénio fosforilase Músculos

Cori a-1,6-glucosidase Fígado e


Músculos

14
A via das pentoses-fosfato

glucose

Glucose-6-fosfato

piruvato glucose-UDP ribose-5-P

lactato acetil-CoA
glicogénio

Ácidos gordos

VIA DAS PENTOSES FOSFATO


Objectivos da via:
1- converter alguma glucose em ribose-5-Pi (precursor de nucleótidos) e
outros monossacarídeos
2- obter NADPH

Glucose
2 NADP+
1º - Fase oxidativa

2 NADPH

Ribose-5-Fosfato

2º- Interconversão
O NADPH é utilizado em : de pentoses-Pi
- Mts reações anabólicas
(e.g., síntese de lípidos)
-Manutenção da glutationa Nucleótidos Intermediários
no estado reduzido (mt imptt glicolíticos
na defesa contra o stress oxidativo,
e.g., nos eritrócitos)

15
A Via das pentoses-Pi pode ser dividida em duas fases
1º- Fase oxidativa
(6) glucose

(6) glucose-6-P
(6) NADP+
Glucose-6-P desidrogenase
(6) NADPH 6-fosfoglucolactonase

(6) 6-fosfogluconato
(6) NADP+ 6-fosfogluconato desidrogenase

(6) NADPH (6) CO2

(6) ribulose-5-P

(4) xilulose-5-P (2) ribose-5-P

2º- Interconversão de pentoses-Pi

Oxidação completa de G-6-P

Glu-6-Pi + 12 NADP+

6 CO2 + 12 NADPH

16
Glucose-6-Fosfato desidrogenase (enzima limitante):

+ quando NADPH/NADP+ é baixa


+ Insulina

- A deficiência em G-6-P desidrogenase (ligada ao X => afecta principalmente


ind. sexo masculino) pode causar anemia hemolítica aguda (não-imune; não-
esferocítica). Os eritrócitos, ao contrário de outras células, são completamente
dependentes desta via para a produção de NADPH.

- A anemia aguda é despoletada por substâncias/situações que aumentam o


stress oxidativo nos eritócitos: mts fármacos (e.g., antimaláricos: primaquina e
cloroquina), certos alimentos (vicina existente nas favas; favismo), infeções
bacterianas/víricas.

- Deficiência em G-6-Pi desidrogenase é particularmente incidente em regiões


onde a malária é endémica (aliás, o mm é verdade para a anemia falciforme. Porquê?).
5-25% em populações africanas, asiáticas, mediterrânicas!
ca. 1% em Portugal!

Integração do metabolismo dos CH


Resumos para estudo

17
Metabolismo dos CH e regulação hormonal - integração

Jejum

 glucagon/insulina

glucose

Activação de: Inactivação de:


Gluconeogenese Glicólise
Fructose-2,6-bifosfatase Fosfofrutocinase 2
Piruvato cinase
Glicogenólise Glicogenese
Glicogénio fosforilase cinase Glicogénio sintetase

Stress

 epinefrina
glucose

Activação de: Inactivação de:


Gluconeogenese Glicólise
Fructose-2,6-bifosfatase Fosfofrutocinase 2
Piruvato cinase
Glicogenólise Glicogenese
Glicogénio fosforilase cinase Glicogénio sintetase

18
Após uma refeição

 insulina/glucagon

Activação de: Inactivação de:


Glicólise Gluconeogenese
- Fosfofrutocinase 2 - Fructose-2,6-bifosfatase
- Piruvato cinase
Glicogenese Glicogenólise
-Glicogénio sintetase - Glicogénio fosforilase cinase

Após uma refeição

 insulina

Activação de: Inactivação de:


Glicólise
- Fosfofrutocinase 2
- Piruvato cinase
Glicogenese Glicogenólise
-Glicogénio sintetase - Glicogénio fosforilase cinase

19
Stress

 epinefrina

Activação de: Inactivação de:


Glicólise
Fosfofrutocinase 2

Glicogenólise Glicogenese
Glicogénio fosforilase cinase Glicogénio sintetase

A Razão insulina:glucagon e a expressão de genes associados à glicólise e


gluconeogénese (efeitos de longo prazo)

Insulina

+
Gene (e.g. glicólise)
Obviamente, há
Glucocinase proteínas
Piruvato cinase pertencentes a
(Lipoproteína lipase) outras vias que tb
são afetadas (e.g.,
Glucagon A Lipoproteína
Lipase (LPL)

+ (ver aulas
Gene (gluconeogénese) Lípidos)

PEP carboxicinase
Frutose-1,6-bifosfatase
Glucose-6-fosfatase

20

Você também pode gostar