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29/08/2021 Ética: o que é, ética X moral, ética profissional - Brasil Escola

Ética
Ética é uma disciplina da filosofia que busca entender o modo como o ser humano deve agir
com base na análise da moral, dos hábitos e dos costumes de uma sociedade.

Ética é uma área da filosofia que busca problematizar as questões relativas aos costumes e à moral de uma sociedade,
sem recorrer ao senso comum. A ética tenta estabelecer, de maneira moderada e com uma visão questionadora, o que é o
certo e o errado e a linha, muitas vezes tênue, entre o bem e o mal. A ética está intimamente ligada à moral e consiste
numa importante ferramenta para o bom convívio entre as pessoas e para o bom funcionamento das relações e das
instituições sociais. 

Leia também: Como “laranjas” são usados na corrupção?

Ética versus moral


O idioma grego antigo possuía duas palavras de grafias e significados similares: éthos, que significa hábito ou costume, e
êthos, que significa caráter, disposição individual e inclinação. A palavra mores, de origem latina, era apenas uma tradução
para as palavras derivadas de ethos, significando também hábito ou costume.

O latim não diferenciava os costumes do caráter em sua tradução, o que causou uma confusão posterior: muitos
estudiosos consideraram ética e moral a mesma coisa. No entanto, a distinção que parece explicar a diferença entre os
termos da melhor maneira é a seguinte: moral é o hábito e o costume, enquanto ética é uma filosofia da moral, uma
tentativa de fazer uma “ciência” moral.

A ética indica aquilo que é certo e o que é errado com base na moral.

Enquanto a moral expressa os hábitos e costumes de uma sociedade, de um local, de uma comunidade situada no
espaço e no tempo, além de designar a conduta individual de pessoas, a ética é aquela que tenta identificar, tratar,
selecionar e estudar a moral (ou as várias morais) de maneira imparcial, laica, racional e organizada. É papel da ética,
portanto, entender a moral e julgá-la pelo crivo da razão, estabelecendo se ela está correta ou não. Para aprofundar-se mais
nessa questão, leia: Diferença entre ética e moral.

O que é ética para a filosofia?

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Mais do que um simples corretor de posturas e atitudes das pessoas, a ética é um saber antigo ligado à filosofia.
Quando o filósofo grego antigo Sócrates iniciou a sua jornada filosófica, que deu origem ao chamado período antropológico
ou socrático da filosofia grega, as atenções filosóficas saíram da natureza e da cosmologia e passaram a centrar-se nas
ações humanas e no que resulta delas. Após Sócrates, a filosofia passou a interessar-se por temas relacionados à vida em
sociedade, à política e à moral.

Aristóteles foi o primeiro pensador a sistematizar a ética.

Com a problematização acerca da moral e do convívio das pessoas, surgia a chamada filosofia moral, que mais tarde
ficaria conhecida como ética. A ética foi sistematizada pela primeira vez pelo filósofo grego antigo Aristóteles, que formulou
uma teoria ética baseada em uma espécie de guia moral das ações que visava sempre, na visão do filósofo, o alcance da
felicidade.

Os filósofos helenistas, como epicuristas, cínicos e estoicos, também apresentaram visões de vida que podem ser
reconhecidas como modelos éticos, porém são modelos de ética prática, pois tais teóricos ultrapassaram a especulação
intelectual da filosofia e partiram para uma visão prática da ética, voltada para as ações cotidianas.

Durante a escolástica, a questão da ação humana para a filosofia deveria subordinar-se à vontade de Deus, e, por muito
tempo, não houve grande modificação nos estudos sobre ética. Foi Nicolau Maquiavel quem marcou o Renascimento em
relação à ética e moral, ao propor uma teoria do poder que, na prática, dissociava ética de política.

Os estudos sobre ética somente ganharam novo fôlego no fim da Modernidade, no período iluminista da Europa, em que
questões políticas voltaram ao centro do debate e a ética veio como uma necessidade para controlar as ações das pessoas
em meio a tantas revoluções na sociedade.

É nesse período em que o filósofo iluminista alemão Immanuel Kant escreveu o seu livro Fundamentação da metafísica dos
costumes, apresentando uma teoria ética milimetricamente pensada: um sistema complexo baseado no dever, sendo
que uma ação somente é ética se ela estiver de acordo com o dever e for empenhada pelo dever.

O sistema ético kantiano não admitia qualquer desvio da norma como ação moralmente válida, e o guia para encontrar a
ação moralmente correta era o que o filósofo chamou de imperativo categórico. Para Kant, o ser humano deve fazer um
exercício antes de agir. Esse exercício simples consiste em pensar se aquela ação pode ser considerada boa ou
correta em qualquer situação em que ela for empenhada. Se a resposta for sim, então é uma ação moralmente correta. Se
a resposta for não, é uma ação moralmente condenável.

Outras teorias éticas surgiram no século XIX para explicar a questão da moral e da ética, entre elas o utilitarismo, criado
pelo filósofo e jurista inglês Jeremy Bentham e finalizado pelo filósofo inglês John Stuart Mill. O utilitarismo afirma que a
moralidade de uma ação não está na ação em si, mas em sua finalidade e nos resultados dela. Nesse sentido,

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ações que, a princípio, são moralmente condenáveis, como a mentira e o furto, podem ser consideradas moralmente
aceitas se forem praticadas visando um bem maior.

O que é ser ético?


Mesmo com a distinção entre ética e moral, muitas vezes ser ético significa agir de acordo com a moral. No entanto, nem
sempre a moral está correta, sendo a ética aquela que pode verificar a validade das ações morais. As pessoas esperam
fórmulas prontas que apresentem de maneira mastigada o que é ser ético. No entanto, a ética é constituída por vários
elementos e várias regras que precisam ser pesadas e avaliadas para que o indivíduo ético seja reconhecido.

Ser ético, no fim das contas, é agir bem, buscando fazer o certo, não se desvirtuando e não causando prejuízo a
outrem. Para podermos começar a pensar no que é ser ético, basta que nos atentemos para as nossas ações e o impacto
delas no meio. A minha ação prejudica outras pessoas? A minha ação prejudica o coletivo em detrimento do meu lado
individual e pessoal? A minha ação é  correta em relação às normas locais? A “balança” moral de uma pessoa é o seu
senso ético, que é capaz de dizer se as suas ações são condenáveis ou não.

Veja mais: Valores morais e sua importância para a sociedade

Ética profissional

A ética profissional consiste na aplicação da conduta ética no mundo corporativo e profissional.

Nesse caso, por tratar-se de uma especificação da ética em relação a um recorte da sociedade, fica mais fácil definir o que
estamos falando. Se a ética é um conjunto de saberes que procuram definir o que é certo e errado com base na análise da
moral, a ética profissional é a aplicação desses saberes no campo do exercício da atividade de profissionais, ou
seja, daqueles que exercem profissões.

Nesse sentido, a ética profissional pode (e deve) ser aplicada, por exemplo, por médicos, professores, vendedores ou
quaisquer profissionais no exercício de seus ofícios. Aplicar a ética, nesses casos, significa agir com lisura, respeitando as
leis, os códigos específicos da profissão, e manter uma conduta ilibada, não prejudicando a outrem por meio de seu
exercício profissional  nem agindo apenas visando unicamente o benefício próprio.

A ética na história da Filosofia


Os estudos de ética (tal como a conhecemos hoje, ou seja, um campo do saber filosófico que estuda a moral para então
determinar como a sociedade deve agir) surgiram ainda na Antiguidade clássica, precisamente com Aristóteles, em seu
livro Ética a Nicômaco. Porém, considera-se de extrema importância histórica para o surgimento da ética outro pensador
grego, Sócrates, o eterno questionador.
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Sabe-se que Sócrates saía pelas ruas de Atenas interrogando as pessoas sobre o que seriam valores da vida cotidiana, e
muitas vezes esses questionamentos diziam respeito a valores morais, tais como o “bem” e a “virtude”. Suas conclusões
eram sempre previsíveis: as pessoas não sabiam a verdade a respeito de tais valores, pois sempre acabavam respondendo
insatisfatoriamente e  contradizendo-se.

Tudo o que os cidadãos atenienses sabiam advinha da moral cultural herdada socialmente, o que caracterizava um
conhecimento de certo modo dogmático, não questionado, preconceituoso e, muitas vezes, irracional.

A ética sofreu diversas modificações ao longo da história, o que culminou em perspectivas diferentes para se tratar a
moral e resultou também em diferentes correntes éticas. Dessas, as três fundamentais a um curso de ética para o ensino
médio são o eudaimonismo (ou eudaimonia), a deontologia e o utilitarismo, e neste texto há um pouco sobre cada um
desses temas.

Aristóteles foi um dos primeiros filósofos a desenvolver um pensamento sistemático sobre a ética.

→ Eudaimonismo

Em Aristóteles, percebemos peculiaridades muito interessantes que esboçam o contorno geral de sua filosofia moral, a
saber, primeiramente a introdução da práxis (prática), que se distingue dos estudos anteriores pelo fato de não estar
ligada apenas a um plano racional, mas deve recorrer à ação prática humana (isso está presente na ética e na política).

Em segundo lugar, pelo fato de seu sistema ético ser teleológico|1|, o que abre as portas para que utilizemos a noção de
eudaimonia para caracterizar sua obra moral. Antes de coçarmos nossas cabeças e nos perguntamos o que é isso,
explicarei tal conceito. Eudaimonismo ou eudaimonia é uma palavra de origem grega formada a partir do vocábulo Daemon
(deus, ou gênio, intermediário entre os homens e as divindades superiores e que deveria guiar o caminho dos homens) e diz
respeito a uma doutrina que prega a felicidade como fim último da vida humana.

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Segundo Aristóteles, a felicidade é um princípio e é visando à felicidade que agimos. A busca pela felicidade,
porém, não dá ao homem a plena liberdade de ação, pois esta deve estar em conformidade com a felicidade dos outros.
Para sermos precisos, devemos entender o que o filósofo entende por felicidade.

A felicidade deve estar em conformidade com a boa vida e esta nada mais é que a vida contemplativa, ou a vida do filósofo.
Não somente para Aristóteles, mas para todos os gregos, o trabalho não era considerado algo bom, por isso, na
organização social grega, ele era reservado aos não cidadãos (mulheres e escravos) e aos cidadãos de menor importância
(artesãos).

Nessa hierarquia, logo acima dos que trabalhavam, estavam os soldados; depois, os políticos; e, finalmente, acima de
todos, estava o filósofo, que deveria concentrar toda a sua energia nas atividades de contemplação do intelecto, do espírito
humano, ou seja, deveria concentrar-se no conhecimento. Por isso, podemos chamar o eudaimonismo aristotélico de
intelectualista, pois colocou como finalidade da vida humana a busca pela contemplação do conhecimento.

Acesse aqui: Bioética: a ética aplicada às pesquisas científicas e médicas

→ Deontologia

Na modernidade, temos pensadores que seguiram a base teleológica do pensamento aristotélico, mas a grande novidade
veio no século XVIII, com o filósofo alemão Immanuel Kant e sua ética do dever, denominada mais tarde por
deontologia|2|.

Kant, o idealizador do imperativo categórico.

Para iniciarmos nesse autor, temos que analisar o título de seu principal livro sobre o assunto: Fundamentação da
Metafísica dos Costumes. Trata-se de um estudo da origem ou da fundamentação de algo transcendente, que se encontra

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fora do plano físico, portanto em um plano puramente racional e que independe das situações práticas do cotidiano humano
dos costumes morais.

A partir dessa análise, já deduzimos que a ética kantiana não abre brecha para interpretações de ações morais práticas
visando a finalidades, impondo um sistema que existe no cotidiano, mas independe dele, pois é um sistema universal do
dever que se encontra em um plano puramente racional e que define claramente o que é certo e o que é errado.

Kant nomeou esse plano da ética de razão prática. Aqui os indivíduos devem agir por dever, pois o dever possibilita que
uma ação seja moralmente correta. Esse dever deve estar aliado à liberdade, ou seja, à vontade, deixando claro que
toda ação moralmente correta deve conter uma vontade de praticar o dever (vontade de fazer o que é certo).

Isso implica também que as ações morais devem sempre pensar na humanidade, tendo como fim um bem para a
humanidade, caso contrário (caso utilize a humanidade ou qualquer ser humano como um meio para atingir outro fim), a
ação não será moralmente correta. Isso é denominado imperativo categórico, e todo esse aparato oferecido por Kant
determina, por exemplo, que a mentira não pode ser moralmente correta em qualquer situação. O imperativo
categórico kantiano pode ser formulado da seguinte maneira: agir de modo que a sua ação se torne universal, ou seja, valha
para todos em qualquer situação, sem exceções.

→ Utilitarismo

Agir sempre de forma a produzir a maior quantidade de bem-estar é a principal máxima utilitarista. Como doutrina ética, o
utilitarismo, corrente ética criada pelo filósofo, jurista e economista inglês Jeremy Bentham e pelo também filósofo inglês
John Stuart Mill, propõe um sentido inteiramente prático para a ética, no sentido de que, antes de agir, o autor de uma
ação moral deve analisar a situação e desenvolver uma espécie de cálculo utilitário.

Bentham foi o primeiro formulador da teoria utilitarista da ética.

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Tal cálculo visa a fornecer ao agente uma resposta para a pergunta: qual ação provocará o maior benefício ao maior número
de pessoas e o menor prejuízo ao menor número de pessoas? A resposta a essa pergunta deve então guiar a ação moral,
tornando o utilitarismo uma ética consequencialista, ou seja, que foca nas consequências das ações, e não nas
próprias ações. O utilitarismo, enquanto ética das consequências, rejeita a noção kantiana de ética baseada no
imperativo categórico e visa apenas ao fim, à consequência de uma ação moral.

Notas

|1|Teleológico refere-se a telos, palavra de origem grega que significa fim, finalidade. Nesse caso, podemos dizer
que a ética aristotélica propõe ações práticas que apontam para uma finalidade da ação moral.

|2| Deontologia, do grego deon, dever e logos, organização racional, ciência.

Por Francisco Porfírio


Professor de Sociologia

Fonte: Brasil Escola - https://brasilescola.uol.com.br/sociologia/o-que-etica.htm

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