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INSTITUTO CUIABÁ DE ENSINO E CULTURA – ICEC

CURSO DE BACHARELADO EM DIREITO

Maria Gabriela Goulart da Silva Almeida


RA. 01510009410

PEÇA PRÁTICO-PROFISSIONAL DIREITO CIVIL

Petição entregue como requisito para


cumprimento das atividades do
Núcleo de Prática Jurídica do 9º
Semestre do Curso de Direito
Noturno do ICEC.
Professor: Edivan Freitas Vieira

Cuiabá – MT
jun. / 2021
Egrégia Turma do Tribunal de Justiça da Comarca de São Paulo

Joana xxx, brasileira, profissional da área xxx, estado civil xxx, inscrita no cpf XXX, registrada no
RG xxx, residente e domiciliada no endereço xxx, São Paulo/SP, vem, por meio do seu procurador
constituído infra assinado, com fulcro nos artigos 966, II, 144, III e 319 do CPC, propor a presente

AÇÃO RESCISÓRIA

em face da sociedade empresária Carros S.A, CNPJ xxx, endereço comercial xxx, São Paulo/SP,
contato xxx, pelos fundamentos de fato e de direito a seguir expostos:

I. DOS FATOS

A autora adquiriu, na condição de consumidora final, um automóvel em uma das


concessionárias da sociedade empresária Ré, com pagamento parcelado.

Todavia, na execução contratual, a Ré passou a debitar, mês a mês, o triplo do valor pactuado
para cada parcela, o que ficou comprovado pela simples análise dos contratos e dos seus
extratos bancários, com o débito dos valores em triplo, do anexo 1X.

A autora tentou resolver a questão diretamente com a sociedade empresária, contudo restou
infrutífera as tentativas.

Desta feita, a autora, por meio do seu advogado, ajuizou ação com obrigação de não fazer por
parte da Ré, bem como repetição de indébito dos valores debitados indevidamente, com
atualização monetárias e juros legais, e para indenização por danos morais pelos transtornos
causados.

Distribuída a ação, houve contestação pela Ré apenas informando que havia agido
corretamente, e o pedido foi julgado improcedente. Não houve recurso, e o trânsito em julgado
da sentença ocorreu em 19/02/2019.

Acontece que, conforme certidão de casamento Anexo 2X, constatou que o juiz prolator da
sentença é casado com a única advogada da Ré, que a patrocinou na ação em tela.

Por estar configurado as causas impeditivas previstas no artigo 144, III do CPC, não resta outra
alternativa senão socorrer ao Estado Juiz para desconstituir a decisão definitiva do processo xxx,
conforme art. 966, II do CPC.

II. DOS FUNDAMENTOS JURÍDICOS DA RESCISÃO

II.a Do impedimento

Segundo o art. 144, III, do CPC, é causa de impedimento para julgar ação o magistrado casado
com o defensor de uma das partes:
Art. 144. Há impedimento do juiz, sendo-lhe vedado exercer suas funções no
processo:

[...]

III - quando nele estiver postulando, como defensor público, advogado ou


membro do Ministério Público, seu cônjuge ou companheiro, ou qualquer
parente, consanguíneo ou afim, em linha reta ou colateral, até o terceiro grau,
inclusive;

O impedimento tem caráter objetivo, ou seja, a imparcialidade do juiz, nesse caso, é pressuposto
apenas pela relação legal entre o juiz e o advogado de uma das partes, não havendo necessidade
de provar a intenção.

Ou seja, no impedimento há presunção absoluta (juris et de jure) de parcialidade do juiz em


determinado processo por ele analisado, sendo que, no caso em tela, o magistrado deveria ter
se afastado da causa imediatamente.

Desta feita, não há o que se justificar ou emitir defesa no que toca ao impedimento constatado.

II.b Da Ação Rescisória

A ação rescisória é ação autônoma que instrumentaliza meio de impugnação que tem como fito,
presentes hipóteses específicas, desconstituir coisa julgada oriunda de decisão judicial
transitada em julgado.

Dentre as hipóteses de ação rescisória previstas no art. 966 do CPC, em seu inciso II, está a
relação de parentesco ente o magistrado e o procurador constituído de uma das partes.

A ação rescisória tem o condão de nova análise da ação originária por parte do judiciária devido
esta estar maculada pelo impedimento ora demonstrado.

In casu, resta evidente o fundamento da presente ação.

III. DO NOVO JULGAMENTO DA AÇÃO RESCINDIDA

Rescindida a ação ora questionada por fato de impedimento, cabe novo julgamento com a
devolução à jurisdição estatal da matéria objeto da cizânia, considerando os seguintes termos:

III.a Da Relação de Consumo

Cumpre salientar a aplicação da Lei 8.078/90, isto é, o Código de Defesa do Consumidor no feito
devolvido à jurisdição, haja vista a relação consumerista entre as partes.

Para haver relação de consumo, faz-se necessário que uma das partes seja consumidora e a
outra fornecedora, estabelecendo um vínculo mediante a prestação de serviço ou com a oferta
de produto, em que o consumidor seja destinatário final. Ou seja, é a relação jurídico-
obrigacional, tendo como objeto o fornecimento de um produto ou da prestação de um serviço.

Aliás, é o que preconiza o artigo 2º e 3º do Código de Defesa do Consumidor. Portanto, inegável


a presença da relação de consumo estabelecida pela Ré com a Autora, já que possuía
responsabilidade de executar o contrato regularmente sem excesso de cobrança, devendo,
assim, o presente feito ser regido pelas normas da Lei 8.078/90.
Demonstrada a existência de relação de consumo entre as partes, e como consumidora, a
Autora é parte hipossuficiente nessa relação, seja na seara econômica, como a técnica, devendo,
dessa forma, o ônus da prova ser invertido.

Nesta esteira, o artigo 6º do Código de Defesa do Consumidor determina a inversão do ônus da


prova, como um dos direitos básicos inerentes ao consumidor.

Desta maneira, deve ser invertido o ônus da prova em todo o conjunto fático aqui relatado.

III.b Da Repetição de Indébito

Como relatado nos fatos, a fornecedora cobrou indevidamente valores ainda não devidos,
quando da triplicação aplicada em cada parcela do contrato.

Como cediço no CDC, além da devolução dos valores cobrados em excesso, o Art. 42, em seu
Parágrafo Único, prevê a repetição de indébito, ou seja, faz jus a autora ao recebimento dos
valores cobrados a mais equivalente ao dobro, com correção monetária e juros legais, senão
vejamos:
Art. 42. Na cobrança de débitos, o consumidor inadimplente não será exposto
a ridículo, nem será submetido a qualquer tipo de constrangimento ou
ameaça.

Parágrafo único. O consumidor cobrado em quantia indevida tem direito à


repetição do indébito, por valor igual ao dobro do que pagou em excesso,
acrescido de correção monetária e juros legais, salvo hipótese de engano
justificável.

Desta feita fica demonstrado e fundamentado o direito de a autora receber o dobro do cobrado
a mais de sua dívida pactuada.

III.c Do Dano Moral

A obrigatoriedade de reparar o dano moral está consagrada na Constituição Federal,


precisamente em seu artigo 5º, onde a todo cidadão é "assegurado o direito de resposta,
proporcionalmente ao agravo, além de indenização por dano material, moral ou à imagem" (inc.
V), de sorte que "são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas,
assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação”
(inc. X).

O Código Civil de 2002 prevê a obrigação de reparar os danos causados a outrem nos artigos
186 e 927.

Conceitua bem o dano moral o magistério da Jurisprudência oriunda do Superior Tribunal de


Justiça, quando proclama:
“Dano moral é todo sofrimento humano resultante de direito da
personalidade. Seu conteúdo é a dor, o espanto a emoção, a vergonha, em
geral, uma dolorosa sensação experimentada pela pessoa”. (Resp; 3ª T. – Rel.
Min. Nilson Neves – j. 25.08.92 – RSTJ 47/159).

No caso em tela, ficou demonstrado o constrangimento sofrido pela consumidora, ora autora,
quando da procura pela resolução da querela perante o fornecedor, que, apesar de suas
responsabilidades exaustivamente elencadas no CDC, nunca deram uma solução satisfatória à
Joana, do contrário, compeliram-na a aceitar a situação em que ela se encontrava.
IV Das Disposições Finais

Consigno o depósito das da importância de 5% da causa, conforme anexo XX, o qual determina
o Art. 968, II, do CPC.

Consigno, em complemento, que todos os documentos afetos ao negócio jurídico entabulado,


bem como os comprovantes das cobranças em excesso e os e-mails e prints de mensagens
oriundos da tentativa de resolução amigável encontram-se anexo à presente exordial.

V Dos Pedidos

Por todo o exposto, requer a autora:

Va. seja JULGADA PROCEDENTE A PRESENTE AÇÃO RESCISÓRIA, para fins de rescindir a v.
sentença rescindenda que julgou improcedente o pedido de obrigação de não fazer por parte
da Ré, bem como repetição de indébito dos valores debitados indevidamente, com atualização
monetárias e juros legais, e para indenização por danos morais pelos transtornos causados;

Vb. A citação da Ré para que, querendo, compareça à eventual audiência designada, bem como
para que apresente resposta à ação, sob pena de revelia e confissão;

Vc. Seja invertido o ônus da prova por tratar-se de relação consumerista;

Vd. Seja a Requerida condenada ao pagamento dos honorários advocatícios sucumbenciais;

Ve. No mérito da matéria devolvida á jurisdição, seja julgada TOTALMENTE PROCEDENTE a


presente ação para:
i. Devolução dos valores cobrados em excesso;

ii. Aplicação da repetição indébito, conforme Art. 42, Parágrafo Único, do CDC;

iii. a condenação da Requerida, a indenizar os Requerentes em R$ xxx a título de danos Morais.

Requer a autora, provar o alegado por todos os meios de prova em direito admitidas, sem
exceção, e a juntada de novos documentos, sem prejuízo da produção de outras provas que se
mostrem necessárias durante a instrução processual.

Dá à causa o valor de R$ xxx.

Nestes termos, pede deferimento.

São Paulo, 19 fevereiro de 2020.

MARIA GABRIELA GOULART DA SILVA ALMEIDA


OAB/MT XXX

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