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Questionamentos sobre uma

Computação Decolonial no contexto


brasileiro
Juliano Cezar Teles Vaz Luma da Rocha Seixas
Centro de Informática, UFPE Centro de Informática, UFPE
Recife, Pernambuco, Brasil Recife, Pernambuco, Brasil
julianoctvaz@gmail.com seixas.luma@gmail.com

RESUMO1

Este artigo tem por objetivo incentivar reflexões a respeito da área de computação, a
partir da perspectiva de análise da decolonialidade no contexto brasileiro. Estudos da
temática mostram que tecnologias computacionais reproduzem diferentes formas de
colonialidade. Dessa forma, essa proposta busca compreender como as tecnologias
computacionais, no contexto do Brasil, se viram modificadas historicamente pelo
colonialismo. Utilizando como metodologia uma breve pesquisa bibliográfica, com
natureza exploratória, este estudo visa estimular pesquisas futuras e permitir reflexões
sobre o tema para pensar nas possibilidades de uma perspectiva decolonial na área.

PALAVRAS-CHAVE

Decolonialidade; Computação; Pensamento Decolonial; Computação Decolonial; Brasil;


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INTRODUÇÃO localidade, território, faixa etária, ocupação, deficiência etc, ou seja, as experiências e
atravessamentos dos corpos subalternizados [59], valorizando-os a partir do seu locus social [15,
Considerando as Tecnologias da 50] e não os deslocando a partir da construção imagética do Outro na negação/oposição de si [12,
Informação e Comunicação (TICs) como um dos 15]. Dessa forma, a reflexão neste breve estudo está centrada na perspectiva da decolonialidade.
fenômenos da prática tecnocientífica pós-colonial Trata-se de incentivar a análise de temáticas relacionadas aos efeitos do uso de TICs em diferentes
[3, 56], nos últimos anos, alguns intelectuais têm áreas e aprofundar de que forma tais tecnologias computacionais têm potencializado e perpetuado
se destacado na interseção da computação2 com discriminações a partir de uma matriz colonial de poder [38], configurando assim a necessidade do
estudos pós-coloniais, como é, por exemplo, o pensamento decolonial3.
caso da Etnocomputação [15], da Teoria Crítica De acordo com Oliveira [42], o termo “decolonial” deriva de uma perspectiva teórica,
da Tecnologia [23] e da Computação Pós- fazendo referência às possibilidades de um pensamento crítico a partir dos subalternizados pela
Colonial [30, 43]. Diante disso, surge outro olhar modernidade ocidental e capitalista. Na esteira dessa perspectiva, surge a necessidade da
corroborante e que tem sido foco de investigação reconstrução ontológica e epistemológica [3, 9] na computação a partir de um projeto teórico
e expansão científica: os estudos decoloniais [48]. voltado para o pensamento crítico de forma transdisciplinar [57], transmoderna [19] e pluriversal
Nesse contexto, quando miramos em estudos [22]. O que se caracteriza também como agência política [45] para se contrapor de forma
decoloniais em computação, podem ser citados, epistêmica e ôntica às tendências acadêmicas dominantes de perspectiva eurocêntrica e anglo-
dentre outros: Adam [1], Ali [3], Arora [6], Chan saxônica [15, 60] de construção do conhecimento históricossocial e tecnocientífico.
[13], Couldry e Mejias [16], Dourish et al. [17], Indo mais adiante, Ballestrin [8] nos atenta sobre a frouxidão conceitual quando termos
Draude [18], Haas [28], Lyons et al. [33], são usados como sinônimos, ou quando são mal traduzidos perdendo seu sentido original [2, 45].
Mohamed et al. [36], Milan e Treré [39], Noble Segundo a autora brasileira [7], a partir da teorização de Catherine Walsh, a expressão
[41], Ricaurte [49], Silva et al. [57], Tupinambá “decolonial” não pode ser confundida com “descolonização”. Em termos históricos e temporais,
[60], Wong-Villacres et al. [62]. esta última indica uma superação do colonialismo; por seu turno, a ideia de decolonialidade atua
Baseando-se nessas perspectivas, este no sentido da superação da tríplice modernidade/colonialidade/imperialidade [7, 8, 38], a qual
trabalho busca fomentar a compreensão da ainda nos dias de hoje permanece em seu modus operandi [1, 17, 41, 58], com a intenção de
constituição das tecnologias computacionais e de provocar um posicionamento contínuo de transgredir e insurgir quando pensada na luta contra
seus dados e informações como prisma da uma monocultura do saber e do rigor do saber [54, 55].
geração de conhecimento [21], bem como as suas Proveniente do autor Syed Mustafa Ali [3], o termo Computação Decolonial4 refere-se a
implicações históricossociais quando cruzadas a uma proposta teórica muito recente nas periferias (bordas, fronteiras, margens) da computação,
raça, etnia, gênero, sexualidade, classe, religião, que coloca em primeiro plano questões de geopolítica e corpo-político, este último aqui designado
como agência política [45], a fim de expor a persistência de estruturas modernas/coloniais no
2Neste estudo, usamos o termo “computação” como campo período pós-moderno/pós-colonial contemporâneo. Deste modo, a Computação Decolonial prisma
cientifico, não a reduzindo a concepção, desenvolvimento e um compromisso com a práxis decolonial e o que pode ser descrito como uma orientação técnico-
utilização de tecnologias de software e hardware, mas como
ciência que é e que anseia por compromisso social, e política de "código aberto" - apesar das assimetrias de poder. Ali [3] provoca e convida à
portanto, também englobando como observado nos trabalhos participação e contribuição para o seu desenvolvimento, ao mesmo tempo em que é cauteloso
aqui citados e nas mais diversas áreas do conhecimento:
Estudos de Ciência e Tecnologia - ECT (Science and
quanto a possível cooptação no mainstream da computação.
Technology Studies - STS); estudos em Ciência, Tecnologia e
Sociedade - CTS (Science, Technology and Society - STS) e 3 Também referido conceitualmente por Decolonial Thinking.
Humanidades Digitais (Digital Humanities - DH). 4 Também referido conceitualmente por Decolonial Computing.
Nesse sentido, cabe salientar que no da arte de um determinado assunto, sob o ponto de vista teórico-conceitual. Além disso, pode
mesmo período que Ali enunciava esse conceito, contribuir no debate de determinadas temáticas limitadas ou inaugurais [26], levantando questões
o colombiano Jesus Portilla [46] também buscava e colaborando na aquisição e atualização do conhecimento em curto espaço de tempo. Trata-se de
traçar o pensamento decolonial aos processos de um método mais suscetível a vieses de seleção dos autores dada a análise da literatura científica na
ensino em relação à dependência tecnológica. Ele interpretação e análise crítica dos autores. Contudo, Gil [25] afirma que a principal vantagem da
afirma que, do ponto de vista local, o professor pesquisa bibliográfica reside no fato de permitir ao investigador a cobertura de uma gama de
de computação possuía um quadro teórico- fenômenos muito mais ampla do que aquela que poderia pesquisar diretamente. No caso, tal
prático limitado ao conteúdo, mesmo que escolha ocorreu diante da necessidade de método que permitisse uma visão mais geral do objeto de
existisse a possibilidade de explorar a estudo.
criatividade dos alunos a partir da práxis, o que, O processo de coleta do material foi realizado de forma não sistemática no período de
em última instância, representaria um agosto de 2020 a setembro de 2020. Foram realizadas buscas a partir da palavra-chave "decolonial",
crescimento significativo da sociedade onde em títulos, resumos ou palavras-chave. Considerando a gama de idiomas, os aqui observados
ocorresse essa situação particular. foram o português, o espanhol e o inglês. As bases de dados científicas exploradas foram: ACM
Sendo assim, conforme Ballestrin [8] Digital Library, Arvix.org, IEEE Xplore, SBC OpenLib (SOL), emerald.com, AIS eLibrary (AISeL), br-
reitera, a identificação dos povos de acordo com ie.org, mdpi.com, frontiersin.org e Periódicos Capes5. Estes materiais foram sumarizados, lidos na
suas faltas ou excessos é uma marca íntegra e analisados criticamente focalizando os trabalhos da base do pensamento decolonial e
fundamental da diferença colonial, produzida e estudos em computação com essa abordagem. Incluiu-se ainda como fonte de pesquisa
reproduzida pela colonialidade do poder [38, 47], bibliográfica a literatura cinza ou cinzenta [44].
do saber [32] e do ser [34]. E, portanto, expondo
assim a necessidade de criar um espaço para COMENTÁRIOS
profissionais de computação trabalharem além
dos limites do eixo anglo-saxônico e europeu, Primordialmente, uma das razões pela quais mais estudos são necessários nessa área, é
sendo considerados estes, países de primeiro que as TICs que permeiam nossas vidas podem enfatizar e reforçar a ideia errada - racismo,
mundo [20]. Isso porque tais países foram se sexismo, capacitismo, classismo etc - se forem comercializadas sem prognóstico aferido
constituindo ontologicamente ao longo dos corretamente [1, 13, 16, 17, 30, 41, 58, 61]. Especialmente, pois as pessoas tendem a realizar
séculos, a partir de seu etnocentrismo como comportamentos sociais regulares em suas interações com o computador, como se o computador
modelo de sociedade, academia, indústria, fosse outra pessoa [30], mesmo que essa abordagem, de certo modo, já tenha sido considerada na
epistemologias, técnicas, metodologias e práticas. área de Interação Humano-Computador (IHC) [27, 31, 43, 62].
Logo, demonstrando a necessidade de Neste estudo foram encontrados poucos trabalhos, especialmente nas bases científicas de
desenvolver novos olhares voltados para as produção brasileira, que explicitamente atribuem o pensamento decolonial como um dos pilares da
epistemologias do sul [55]. construção de tecnologias computacionais. Entretanto, isso não implica necessariamente que não
existam grupos e linhas de pesquisa que tenham caráter decolonial em suas produções como
MÉTODO mostraremos a seguir.

O presente estudo é uma pesquisa


bibliográfica [43] com natureza exploratória [25].
5 Contém em sua indexação as bases: Scopus, ScienceDirect, WebOfScience, ERIC, Scielo etc.
E, portanto, busca descrever e discutir o estado
Ao contexto da área de Linguística, como matéria de venda bruta, ao que Couldry e Mejias [16] chamou de colonialismo de dados.
Hashiguti et al. [32], demonstra em seu estudo O trabalho de Ribeiro [50] produzido com o povo indígena Guarani Mbyá e Ñhandeva, no
feito sobre inteligibilidade entre humanos e estado do Paraná, considerou salutar a premissa das diferenças educacionais e culturais para as
máquina do ensino-aprendizagem de inglês, práticas pedagógicas quantos ao uso de tecnologias digitais com essa população, ainda mais
como a questão decolonial se configurou para a considerando o fosso existente entre a educação formal brasileira e da educação indígena. Já no
construção de um laboratório virtual, ELLA: estudo de Gomes e Gomes [27] feito com o povo Potiguara, no estado da Paraíba, os autores
English Language Learning Laboratory, afirmam que os desafios da inclusão digital nas escolas indígenas são profundos, sendo
descrevendo as regras de programação que considerados não somente as questões advindas da colonização, mas demonstrando também os
entenderam ser o ponto de resistência a entraves que esta alastrou na desigualdade social de infraestrutura, formação educacional e acesso.
colonialidade tradicionalmente estabelecida. Mais recente, Ribeiro et al. [52] desenvolveram um jogo para valorizar identidades de
Em um estudo realizado por Tarcízio gênero, objetivando fomentar a representatividade trans e não-binária nos jogos digitais.
Silva 6 et al. [58], os autores investigaram três Identidades invisibilizadas nos jogos digitais. Além disso, o estudo articula com a promoção da
APIs 7 de visão computacional por meio de sua acessibilidade linguística com o uso da Linguagem Neutra e do Pajubá, sendo essa última dialeto
reapropriação na análise de 16.000 imagens particular ao contexto da comunidade LGBTQIA+ brasileira.
relacionadas a brasileiros, nigerianos, austríacos Quanto às atividades promovidas institucionalmente pela Sociedade Brasileira de
e portugueses em dois dos maiores bancos de Computação - SBC, Matos et al. [36], em proposta de estudo sobre os desafios para docentes
imagens do ocidente, e concluiu que dentre negras na pós-graduação em Ciência da Computação, afirmam que há iniciativas, como o
outros resultados, as APIs de visão Programa Meninas Digitais, em promover ações para diminuir a diferença de gênero e etnicorracial
computacional apresentam diferentes graus de dentro da área, mas ainda são poucas.
sensibilidade e modos de tratamento de imagens Na vanguarda, Anapuaka Tupinambá nos ensina [61] as diferentes visões sobre o que é e
culturalmente específicas, seja a partir da como utilizar a tecnologia a partir da cosmovisão indígena, a exemplo da oralidade, sendo
configuração discriminante da inserção dos importante ressaltar8 assim a decolonialidade também como prática de existência e de resistência
dados assujeitada socialmente a vieses, seja pela dos colonizados desde o século XV [4, 20], especialmente, quando a compreensão ocidental de
configuração algorítmica, nesse caso, de tecnologia, se configura, inclusive, como arma de poder e de destruição em massa na geopolítica
etiquetamento - etiquetas, tags ou classes - de [56] do conhecimento [34], agora também, de caráter digital [53].
imagens. Nesse caso, observa-se como os dados Contudo, esse tipo de abordagem no cenário brasileiro ainda é incipiente. Foi observado
são matéria-prima para assujeitar que as TICs nesta pesquisa diversos estudos na área de educação, sendo notado também trabalhos em
articulem de forma a universalizar os dados [39], metodologia, epistemologia, direito, antropologia, sociologia, design, teologia, psicologia,
implicando na necessidade de inaugurar comunicação, etc, sendo a computação, um área ainda a ser explorado. Quando recortado ao
alternativas para estudá-los mais situadamente Brasil, observa-se que a importação das matrizes curriculares para os primeiros cursos de
[49] para não se configurarem ainda mais como computação, durante a ditadura militar, mudou o contexto que seria o foco da instauração da
computação como prática de desenvolvimento social e local, esvaziando-se devido seu
6 Contribuinte de importantes obras ao contexto brasileiro distanciamento de falsa neutralidade [10] e dado sua natureza histórica tecnocientífica
como Fluxos em redes sociotécnicas: das micronarrativas ao
big data (2019) e Comunidades, algoritmos e ativistas digitais: militarizada [35], ao que Paulo Freire chamou de Educação Bancária [24]. De forma semelhante,
Olhares afrodiaspóricos (2020).
7 Interfaces de Programação de Aplicações.
8 Sem necessariamente promover relativismo, revisionismo ou anacronismo.
Portilla [46] também nos informa sobre essa (a) de reflexões sobre as nuances da colonialidade que interpelem a literatura da área de
característica ao refletir sobre que perfil de computação sobre uso de TICs e;
profissional estava se formando na sociedade (b) da identificação de discursos de resistência em experiências, no decorrer de seus percursos, em
colombiana de Computação, tendo em vista que contextos formais e informais.
o curso de Ciência da Computação na Colômbia A partir de nossas interpretações sobre essas experiências, por meio das lentes teóricas
tem grade curricular internacionalmente escolhidas, buscamos expor rachaduras que possam promover reflexões sobre o uso de tecnologias
referenciada e destinada a alimentar a natureza de uma perspectiva política, especialmente no que diz respeito ao lugar da tecnologia e sobre suas
da economia capitalista moderna, transfigurando possíveis relações e sentidos produzidos nas práticas dos sujeitos [13].
o ethos da localização, ao que o geógrafo Logo, essa pesquisa bibliográfica torna-se, portanto, relevante, na medida em que busca
brasileiro Milton Santos 9 , denominou de a subsídios científicos para que acadêmicos e profissionais que produzam tecnologia possam estar
globalização perversa [56]. atualizados em sua prática, enfatizando a questão da decolonialidade e orientando sobre as
possíveis complicações existentes.
À GUISA DE UMA POSSÍVEL CONCLUSÃO Diante desse cenário, esse trabalho busca incentivar reflexões sobre as seguintes questões
para futuros trabalhos tanto no contexto brasileiro, quanto de forma abrangente, buscando
Considerando que a Sociedade motivar a expansão a literatura existente:
Brasileira de Computação - SBC e entre outras • Quais são as principais concepções teórico-metodológicas do movimento decolonial que
entidades, como a Association for Information buscam descrever, brevemente, a realidade sobre o uso de tecnologias a partir dessa
Systems - AIS, ponderam ser um grande desafio perspectiva?
aprender a estar em fluxo constante para • Como promover uma abordagem decolonial sem subscrever o relativismo cultural e
permitir um trabalho produtivo nas fronteiras e epistemológico em estudos de computação?
interseções dos campos do conhecimento, • Qual o papel da Computação Decolonial como pilar do desenvolvimento, transformação e
considerando a rede sociotécnica que faz parte [9, inovação social?
11, 14, 18, 26]. Dessa forma, o objetivo geral da • Como as pesquisas em computação no Brasil têm corroborado com o pensamento decolonial?
presente pesquisa foi, portanto, à luz da • Quais programas de pós-graduação em computação no Brasil têm linhas de pesquisas com
perspectiva teórica da decolonialidade, deslocar o base teórico-metodológica em estudos decoloniais?
debate que reduz a computação a mera • Os cursos de graduação em Computação do Brasil consideram em suas matrizes curriculares
disciplinas com base teórico-metodológica em estudos decoloniais?
concepção, desenvolvimento e utilização de
• Como promover o chaveamento governo, academia e indústria com caráter decolonial?
tecnologias de software e hardware a um
• Quais estratégias didático-pedagógicas a Computação Decolonial pode propiciar?
agenciamento político, por meio:

• Entendendo o colonialismo e o capitalismo, como relação político-econômica, inicialmente
9 Ballestrin [7] se mostra assertiva ao fato do quanto emergiu-se o primeiro citado, mas posteriormente a partir do século XV, como simbiose, o
significativo é de não haver um(a) pesquisador(a) brasileiro(a) segundo se constituiu, portanto, como a decolonialidade dialoga com essa relação quando
entre os(as) pensadores(as) do considerado "Giro Decolonial" pensamos nas TICs?
da América Latina. Mesmo na excelência intelectual e
contribuição científica como a de Milton Santos, considerado
• Como intencionar e visibilizar a geopolítica digital e neocolonialismo digital a partir de
um dos maiores intelectuais brasileiros com contribuições estudos decoloniais?
mundialmente reconhecidas para a área de Geografia, com a • Quais regulamentações, diretrizes éticas e políticas nacionais e internacionais vinculadas a
Geografia Crítica, premiado em 1994, com o Prêmio tecnologias computacionais têm base decolonial?
Internacional de Geografia Vautrin Lud.
• O setor industrial tem se atentado para uma articulação com o pensamento decolonial?
• Como a geopolítica do conhecimento na REFERÊNCIAS
história da computação no Brasil e no
mundo corroboram ao epistemicídio? [1] Adam, T. (2019). Digital neocolonialism and massive open online courses (MOOCs): colonial pasts and neoliberal futures,
Learning, Media and Technology, 44:3, 365-380, DOI: 10.1080/17439884.2019.1640740.
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computação, mas expandi-las, quando pensadas 22(4), 16-21.DOI:10.1145/2930886.
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margens) da computação [3] deixe, mesmo que Change: Questioning the role of design in times of global transformations. At: FHNW Academy of Art and Design, Basel.
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paulatinamente, de ser encosto para a tríplice [7] Ballestrin, L. M. A. (2013). América Latina e o giro decolonial. Revista Brasileira de Ciência Política, (11), 89-117.
modernidade/colonialidade/imperialidade. https://doi.org/10.1590/S0103-33522013000200004.
[8] Ballestrin, L. M. A. (2017). Modernidade/Colonialidade sem “Imperialidade”? O Elo Perdido do Giro Decolonial. Dados,
Entendendo fundamentalmente que tais 60(2), 505-540. https://doi.org/10.1590/001152582017127.
considerações para a superação dessa tríplice não [9] Bittencourt, I. I. & Isotani, S. (2018). Evidence-based Computers in Education: A Manifesto (Informática na Educação
devem ser apenas visadas como mais um módulo baseada em Evidências: Um Manifesto). Brazilian Journal of Computers in Education (Revista Brasileira de Informática na
Educação - RBIE), 26(3), 108-119. DOI: 10.5753/RBIE.2018.26.03.108.
aditivo de perspectiva de pesquisa [4, 15], mas [10] Cafezeiro, I., Da Costa, L. C., da Costa Marques, I., e Kubrusly, R. (2019). Percursos entrelaçados na configuração do
devem ser consideradas práxis decolonial e que campo acadêmico de Sistemas de Informação no Brasil. Revista Iberoamericana de Tecnología en Educación y Educación en
não se finda com a inserção e mantimento da Tecnología, (23), e01-e01, https://doi.org/10.24215/18509959.23.e01.
[11] Cafezeiro, I., Viterbo, J., Costa, L. C., Salgado, L., Rocha, M., Monteiro, R. S. (2017). Strengthening of the Sociotechnical
diversidade de sujeitos, pois ainda assim, esta Approach in Information Systems Research, In: Grand Challenges in Information Systems Research in Brazil CE-SI SBC.
estaria sustentando as estruturas de poder [38], o http://www2.sbc.org.br/ce-si/arquivos/GranDSI-BR_Ebook-Final.pdf - page=133
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que se considera pós-colonial [7, 8], mesmo Edgardo (org.). A colonialidade do saber: eurocentrismo e ciências sociais, perspectivas latino-americanas. Buenos Aires: Clacso.
sendo este um grande passo de mudança. [13] Chan, A. S. (2018). Decolonial Computing and Networking Beyond Digital Universalism. In: Catalyst: Feminism,
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