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INTRODUÇÃO

A pretensão desse trabalho de monografia é abordar a adoção por casais


homoafetivos e a ideologia de gênero como temas inseridos de forma sistêmica na
sociedade e importantes para o estudo do Direito ante a polêmica que trazem
consigo.
Família é a base da sociedade e goza de especial proteção do Estado
conforme rege o caput do artigo 226 e, logo após, o artigo 227 cita que: “É dever da
família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem,
com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao
lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à
convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de
negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão” ambos na
Constituição Federal.
O tema escolhido consiste em verificar a problemática que a ideologia de
gênero tem trazido para o ordenamento jurídico, diante das dificuldades de estudos,
pesquisas, leis específicas, doutrinas e jurisprudência para o conteúdo dessa
decisão tão singular como é a adoção.
Diante do exposto, parece-nos vago apenas o uso do princípio da dignidade
humana, diposto no artigo 1 °, III, da Constituição Federal, para embasamento do
tema.
Há grande dificuldade em se formular um conceito jurídico a respeito da
definição e delimitação do conceito da dignidade da pessoa humana, por ser ele
muito abrangente, possibilitando diversas concepções e signifcados.
A dignidade é um atributo humano sentido e criado pelo homem, existindo
desde os primórdios da humanidade, quando o ser humano começou a viver em
rudes, mas organizadas sociedades. A honra, a honradez e a nobreza já eram
respeitadas por todos do grupo, gerando destaque a alguns membros . Só nos
últimos dois séculos é que foram percebidas plenamente.
O valor da dignidade da pessoa humana - resultante do traço distintivo do
ser humano, dotado de razão e consciência, identifica o homem à imagem e
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semelhança do Criador, derivam sua eminente dignidade e grandeza, bem como seu
lugar na história e na sociedade.
Por isso, a dignidade da pessoa humana é, no âmbito do Direito, valor
supremo da ordem jurídica, como aponta Silva (1998, p.89).
O papel do Direito é caminhar com a sociedade para organizá-la, a fim de
indicar a recepção de valores, estabelecer limites, direitos e deveres apontando
assim, para a dignidade da pessoa humana. É dele que vem as leis e normas para
ajudar a resolver conflitos através de propostas a serem levadas para o poder
legislativo.
Foi a partir da Constituição Federal de 1988 que os direitos fundamentais
tiveram um avanço significativo, estes passaram a ser tratados como núcleo da
proteção da dignidade da pessoa humana.
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1 A IDEOLOGIA DE GÊNERO

1.1 O que é Ideologia de Gênero

Parte-se primeiro da definição da palavra ideologia dada por Marilena Chauí,


fazendo um histórico do termo:

O termo ideologia aparece pela primeira vez em 1801 no livro de Destutt de


Tracy , Eléments d ' idéologie (Elementos de Ideologia) [...] De Tracy
procura analisar os efeitos de nossas ações voluntárias e escreve, então,
sobre economia, na medida em que os efeitos de nossas ações voluntárias
concernem à nossa aptidão para promover nossas necessidades materiais.
Procura saber como atuam, sobre o indivíduo e sobre a massa, o trabalho e
as diferentes formas de sociedade, isto é, a família, a corporação, etc.
[...] O sentido pejorativo dos termos “ideologia” e “ideólogos” veio de uma
declaração de Napoleão que, num discurso ao Conselho de Estado em
1812, declarou: “Todas as desgraças que afligem nossa bela França devem
ser atribuídas à ideologia, essa tenebrosa metafísica que, buscando com
sutilezas as causas primeiras, quer fundar sobre suas bases a legislação
dos povos, em vez de adaptar as leis ao conhecimento do coração humano
e às lições da história.”
[...] O termo ideologia voltou a ser empregado em um sentido próximo ao do
original por Augusto Comte em seu Cours de Philosophie Positive. O termo,
agora, possui dois significados por um lado, a ideologia continua sendo
aquela atividade filosófico científica que estuda a formação das ideias a
partir da observação das relações entre o corpo humano e o meio ambiente,
tomando como ponto de partida as sensações; por outro lado, ideologia
passa a significar também o conjunto de ideias de uma época, tanto como
“opinião geral” quanto no sentido de elaboração teórica dos pensadores
dessa época.(CHAUÍ, 1980, p.25-29).

Numa linguagem clara e específica, ideologia de gênero é uma abstração


“filosófica” onde pressupõe que o sexo é algo definido pela natureza fundamentada
no corpo orgânico, biológico e genético, e que o gênero é algo que se adquire
através da cultura, da construção histórica e social. (ARÁN; MURTA, 2009, p. 33).
Diversos autores utilizam o termo para conceituar que nascemos sem
sexualidade psicológica definida e que o corpo seria apenas um acidente anatômico
tido como masculino ou feminino. Ou seja, para os adotantes dessa ideologia/teoria
nossa identidade sexual é uma mera imposição do ambiente em que fomos
educados.
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Por outro lado, sabemos o quanto a materialidade do corpo se impõe como


um fato biológico e/ou intensivo que excede qualquer tentativa de uma apreensão
normativa. (ARÁN; MURTA, 2009, p. 33).
Sabemos que tanto o sexo como o gênero são influenciados por
determinações históricas e políticas. Porém, esta tese restringe a possibilidade de
compreensão das subjetividades e das sexualidades. Assim, as identificações de
gênero são processos bastante inconscientes e complexos que nem sempre
podemos acompanhar nem descrever. (ARÁN; MURTA, 2009, p. 33).
Oliveira (ed. set. 2015) cita que duas correntes desenvolveram essa
terminologia: a corrente feminista e a corrente homossexual com a pretensão de
desconstruir a identidade masculina e feminina. Feministas defendiam que a razão
da mulher ser oprimida, devia-se ao fato de ter o papel de mãe e educadora dos
filhos e que, para se libertar dessas tarefas, precisava ter total acesso à
contracepção, ao aborto e transferir essa responsabilidade ao Estado. Diziam ainda
que precisava organizar a eliminação das classes sexuais, e assim a mulher assumir
o controle da função reprodutiva.
Fica evidente que se trata de uma verdadeira invasão da consciência para
que seja aceito o aborto, a anticoncepção, a prática homossexual que são
atualmente traduzidos como a nova moral. O objetivo dos revolucionários é fazer
uso de uma revolução semântica, arma essa usada para manipulação da linguagem
e confundir o significado das palavras comuns (liberdade e direito) para caracterizar
a denominada desconstrução, eliminando o casamento e a família tradicional. O
objetivo é conseguir essa finalidade fazendo com que lésbicas, homossexuais e
bissexuais sejam assim desde o berço. Eles pregam que o sexo existe somente para
prazer e as relações sexuais devem ser livres e adaptáveis a múltiplas formas,
defendendo um confuso direito sexual onde tudo é válido. (OLIVEIRA, ed. set. 2015)

1.2 Baldeação Ideológica

Visando modificar nossa concepção de homem e mulher, sem precisar da


violência nem da força, mas usando uma guerra cultural, a criação de um novo
homem é alvo almejado desde o século passado pelas ideologias marxista e nazista.
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Seria uma tentativa da Revolução Cultural renascida sob a nefasta Ideologia de


Gênero, tendo o objetivo de esmagar a instituição familiar. (OLIVEIRA, 1974).
A sociedade despercebida, vem se tornando vítima dessa revolução sexual
promovida por uma aliança de poderosas organizações, forças políticas e meios de
comunicação, a qual atenta contra a própria existência da família como célula básica
da sociedade, inclusive tentando implantar no ensino básico suas teorias para
deformar desde a mais tenra infância a cabeça de nossos filhos e netos . (OLIVEIRA,
1974).
O fenômeno da baldeação ideológica inadvertida comporta várias
modalidades. Ele pode se desenvolver em toda a sua amplitude e em seu sentido
mais radical, isto é, pode levar o paciente até o fim do novo caminho, que é a
aceitação do comunismo. O mesmo processo ocorrerá de modo menos amplo e
radical, quando sua vítima, em lugar de se tornar comunista, ficar simplesmente
socialista, por exemplo. Em um e outro caso, a baldeação é ideológica na força do
termo. Pode ainda o fenômeno não dizer respeito propriamente a uma concepção
filosófica do universo, da vida, do homem, da cultura, da economia, da sociologia e
da política, como é o marxismo, mas somente a teorias e métodos de ação. Assim,
um anticomunista fogoso pode ser “baldeado” para anticomunista adepto exclusivo
das contemporizações, das concessões e dos recuos. É uma baldeação ideológica
em um sentido diminutae rationis da palavra “ideológico”, escreve Oliveira (1974, p.
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Os caminhos usados para influenciar pessoas vão desde matéria de
propaganda explícito e direto do partido comunista até técnicas de persuasão
indireta e implícita como meio de conquista. O comunismo não pode estar nem na
violência, pois receia entrar por aí, nem na persuasão, então entra por outra via: a
da persuasão implícita. É este o ponto chave onde é preciso chamar atenção da
opinião pública. (OLIVEIRA, 1974, p. 16)
A esta altura há possibilidades da mentalidade ocidental, para esta se tornar
vulnerável à ação e dois fatores são de essencial importância para que se atente ao
fato:
1. O medo
Com medo que ocorra uma guerra civil ou uma catástrofe termonuclear,
que influencia consciente ou inconsciente muitas pessoas, surge o desejo de ceder
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a quase tudo, devido ser esse um instinto de conservação muito forte no homem e
por isso, muito imperiosa é nele a força do medo.

2. A simpatia
Com o triunfo da Revolução Francesa, o liberalismo disseminou no
Ocidente os germes do comunismo sem a necessidade de utilização de métodos
cruentos, através de três graus de intensidade possíveis, e de três fases do método
da baldeação ideológica inadvertida e atingir assim, uma completa igualdade de
bens e de condições sociais, fazendo reinar por fim no mundo a justiça, a fartura e a
paz.
A primeira fase, de caráter preparatório, visa fazer com que setores de
opinião que poderiam vir a ter alguma reação e fazer alarmes, tenham atitude inerte
e até resignada ante os progressos do comunismo, atuando através dos fatores
medo-simpatia. A segunda fase, um tanto mais profunda, passa da resignação para
uma atitude de expectativa já algum tanto favorável, sem que a pessoa, grupo ou
grande corrente de opinião perceba. E a terceira fase é a que visa transformar o que
era apenas simpatizante, em adepto convicto. Nesse momento a baldeação
ideológica chega em seu ápice e produz seu fruto. (OLIVEIRA, 1974, p. 17).
Convém destacar as próprias palavras de Oliveira (1974, p. 21) sobre o
tema:

Um partido comunista se constitui, em via de regra, com um núcleo de


intelectuais ou semi-intelectuais que pelos meios bem conhecidos – isto é,
pelo recrutamento individual nas universidades, nos sindicatos, nas forças
armadas e em outros ambientes, por reuniões de grupos de adeptos, por
conferências e discursos, pela atuação na imprensa, no rádio, na televisão,
no teatro e no cinema – suscita ou explora os mais variados fatores de
descontentamento e agitação. No clima assim preparado com o emprego
ora da audácia, ora da cautela, o pugilo inicial de adeptos expõe, desde
logo, ou a partir de certo momento, a doutrina comunista, e dela faz a
apologia clara.

O mito existe e tende a se manifestar através da mente dos seus


entusiastas. Ele é sedutor e atraente quando se mantém impreciso, difuso, envolto
nas névoas da poesia. Não são feitos para serem compreendidos, mas sentidos
quanto mais se aproxima dele.
Quando o mito é clareado e posto a olho nu por um observador ciente das
regras próprias a esse jogo de sedução, proporcionará ele aos pacientes da
baldeação ideológica inadvertida os meios para abrirem os olhos à ação que sobre
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eles se exerce, para que deem conta dos caminhos obscuros que estão sendo
seduzidos, e passem a se defenderem contra ela. Aqui, frustra-se a manobra
comunista quando é natural a repulsa e ação das pessoas ao serem alertadas.
(OLIVEIRA, 1974, p. 94).

1.3 Cuidados psicológicos e médicos com jovens inconformados

Esse tema vem causando muitas indagações e pesquisas ao longo dos


anos. Um artigo publicado no site da AAP - American Academy Pediatrics. (2014,
p.1185) – Psychological na Medical Care of Gender Nonconforming Youth (Cuidados
psicológicos e médicos do gênero de jovens inconformados) pelos Doutores Stanley
R. Vance Jr., Diane Ehrensaft e Stephen M. Rosenthal, disseram que as crianças
nascem com o sexo identificado facilmente pela anatomia biológica, com ele se
comportam e se expressam de acordo com o ser feminino ou masculino.
Porém, em algumas crianças o que é naturalmente biológico, não
corresponde ao psicológico. Eles as denominam de jovens do gênero não
conformista (GN), porque suas identidades internas não se alinham com o gênero de
nascimento e dependendo do ambiente de convivência, não aceitável ou inseguro,
eles acabam escondendo quem são de fato dentro do quesito “eu” de gênero.
Alguns começam apresentar comportamentos GN, na primeira infância, próximo aos
2 anos de idade e persiste ao longo de suas vidas. Elas se auto denominam
“transgêneros” quando intensifica a disforia de gênero ao longo da puberdade com
as mudanças do corpo. (JUNIOR; EHRENSAF; ROSENTHAL 2014, p.1185-1186)
Essas pessoas têm maiores taxas de problemas de saúde mental, tais
como: transtornos de humor, transtornos de ansiedade, esquizofrenia, depressão,
abuso de substâncias, distúrbios alimentares, e tentativas de suicídio. Estima-se que
71% delas vai ter algum diagnóstico de saúde mental em sua vida.  É desafiador
ajudá-las a lidarem com os sofrimentos que causam seus sentimentos. (JUNIOR;
EHRENSAF; ROSENTHAL 2014, p.1186).
Para outras crianças, a não conformidade de gênero pode mudar ao longo
dos anos ou desaparecer completamente porque explora o gênero em suas
margens, em uma progressão de desenvolvimento em direção à sua identidade
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homossexual posterior, altura em que a não conformidade de gênero pode se


dissipar ou desaparecer. (JUNIOR; EHRENSAF; ROSENTHAL 2014, p.1186).
Para os pediatras, que podem ser o primeiro contato para a família de uma
juventude GN, a tarefa principal é reconhecer o status de gênero atual do jovem
para fornecer aos pais as melhores estratégias para apoiar seu filho. (JUNIOR;
EHRENSAF; ROSENTHAL 2014, p.1187)

1.4 A complexidade das causas e modificações do desenvolvimento de gênero

Os pesquisadores Junior, Ehrensaf e Rosenthal (2014, p.1186) dizem que


o não conformismo dos jovens com sua sexualidade continua ser um mistério, mas
todas as evidências apontam para o desenvolvimento do gênero como um intrincado
entrelaçamento da educação e da cultura. 
Até pouco tempo eram os pais que exerciam a maior influência sobre o
desvio de uma criança de normas de gênero social aceitável ou a recusa de uma
criança a aceitar o sexo implícito baseado no sexo atribuído naturalmente. Agora, o
desenvolvimento de gênero é entendido com a criança moldando os pais tanto, se
não mais, do que os pais moldando a criança. Nisso é percebido o gênero da
criança sendo gerado a partir de dentro, e ao mesmo tempo sendo influenciado pelo
ambiente social. 
As pesquisas clínicas revelaram que a identidade de gênero de uma criança
é resistente à intervenção parental ou social, enquanto as expressões de gênero são
mais socialmente maleáveis. A maneira ideal de acompanhar esses casos é através
de uma equipe multidisciplinar colaborativa composta por psicólogo, pediatra,
endocrinologista pediátrico e assistente social. Pode ser benéfico para pacientes e
famílias ter assistência advocatícia (para interações com escolas e outras
instituições sociais) e serviços jurídicos . (JUNIOR; EHRENSAF; ROSENTHAL 2014,
p.1186-1187)
Havia uma dicotomia entre sexo, que se referia às qualidades biológicas
(corpo) e gênero, referente às qualidades sócio culturais (caráter/comportamento),
embora este não é o sentido atualmente usado por parte dos estudos feministas,
nem dos grupos homossexuais, bissexuais e transexuais que diante da visibilidade
crescente tem enfatizado que as identidades de gênero e sexualidades são diversas
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de tal modo que a presença ou não do cromossomo Y, pouco diz respeito a


personalidade, comportamento, aptidões e ao lugar social de um indivíduo.
(SENKEVICS; POLIDORO, 2012, p.17-18)
Mesmo assim, é necessário reiterar que há sim, de forma visível,
características biológicas, anatômicas, físicas, metabólicas, fisiológicas, genéticas
distintas a respeito dos dois sexos. Uma desconstrução unicamente discursiva
dessas diferenças se mostra inadequada, configurando o erro de negligenciar essas
diferenças com o intuito de superar as desigualdades. Os homens têm tons de
agressividade, virilidade, insensibilidade, maior índice de criminalidade, estupro, etc.,
advindos das diferenças fisiológicas em decorrência, entre outras, da produção de
testosterona e as mulheres têm a sentimentalidade, a maternidade porque só elas
são capazes de engravidar. Não há como contrapor tais fatos. (SENKEVICS;
POLIDORO, 2012, p.18-19).
É impossível fisiologicamente mudar o sexo de uma pessoa, uma vez que o
sexo de cada um está codificado em seus genes — XX para a mulher, XY para o
homem. A cirurgia, chamada de “Retribuição Sexual”, pode somente criar uma
aparência do outro sexo, pois a identidade sexual está escrita em cada célula do
corpo e pode ser determinada por meio do teste do DNA, não podendo ser mudada.
(FITZGIBBONS; SUTTON; O’LEARY apud OLIVEIRA, 2015).
O papel do endocrinologista ou urologista, tem como objetivo a terapia
hormonal para induzir o aparecimento de características sexuais compatíveis com a
identificação de gênero. No processo de transgenitalização, a terapia hormonal para
mulheres transexuais é feita com administração de antiandrogênicos (com a
finalidade de diminuir as características masculinas) e estrogênio, através de doses
adequadas individualmente e no caso dos homens transexuais, a testosterona é o
principal hormônio utilizado nessa terapia. (ARÁN; MURTA, 2009, p. 19).
Já o psiquiatra entra no processo no início do tratamento, através de
avaliação clínica, e, em alguns caso, a utilização de testes psicológicos. A maior
preocupação para toda a equipe médica é a necessidade de se ter certeza sobre a
decisão da realização de modificações corporais, em especial na fase da cirurgia de
transgenitalização. (ARÁN; MURTA, 2009, p. 20-21).
Os corpos, ao contrário de serem superfícies vazias, são aptos para
processos sociais por meio de seu desenvolvimento, capacidades, habilidades,
necessidades, dores, prazeres, etc. É um equívoco supervalorizar o efeito da cultura
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e do social sobre os corpos, ignorando sua materialidade. Um exemplo disso é a


pressão pela estética que leva muitos homens à academia de ginástica para
adquirirem massa muscular, e as mulheres a rígidas dietas de emagrecimento.
(SENKEVICS; POLIDORO, 2012, p.19)
Observamos que, ora as práticas sociais derivam das condições que os
corpos se encontram, ora são os corpos que se modificam pela pressão e influência
da sociedade e da cultura. É uma constante construção do corpo e do social.
Portanto, é incorreto dizer que todas as nossas atitudes são frutos do nosso
ser biológico, ou esperar que todos os aspectos da sociedade possam ser
analisados sob a ótica da evolução e adaptabilidade. Ao mesmo tempo, incorre em
erro afirmar que as construções sócio culturais trabalhadas historicamente, seriam
responsáveis pelo surgimento de características biológicas, físicas e corporais.
(SENKEVICS; POLIDORO, 2012, p.20)
Cabe a cada um o desafio de se colocar permanentemente diante de tantos
questionamentos e repensar uma ciência que esteja a serviço de posicionamentos
sintonizados. Exemplos: a igualdade de gênero que busca por equivalência social
entre homens e mulheres, ou seja, mesmos direitos, deveres, privilégios e
oportunidades de desenvolvimento e, a diversidade sexual que define o sexo,
sabendo que as decisões e escolhas orientadas por crenças, valores e princípios
defendidos ou reproduzidos pelos pesquisadores ou por qualquer cidadão, formulam
“verdades”. (SENKEVICS; POLIDORO, 2012, p.20)

1.5 As Relações de Gênero e a Antropologia

Segundo Grossi, os estudos de gênero surgiram nos anos 60 como


consequência das lutas feministas. Nessa década, a mulher aparece reivindicando
seus direitos na sociedade, na educação, na política, no trabalho exigindo respeito,
vida igualitária e justa. Sentiam-se como indivíduos secundários ao pregar o
preconceito provocado pela diferença sexual, corpórea, biológica e física entre
homem e mulher.
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A antropologia e a psicanálise começaram a trabalhar inicialmente o


conceito de gênero colocando claramente o ser mulher e o ser homem como uma
construção social, motivo pelo qual a palavra gênero foi escolhida para diferenciar o
sexo biológico da construção social do masculino e feminino que longe de serem
realidades objetivas e muito menos fenômenos naturais, no sentido biológico e
anatômico são, antes, noções dependentes das formas culturais.
Além dessa relação cultural e social, implica, também, em outras duas
premissas:
- a ideia de que essa ideologia se constrói de forma relacional, no contraste de um
gênero com o outro;
- e pelo fato de que, segundo os idealistas, a construção masculina e feminina não
é um fato biológico (vindo da natureza), mas sim dinâmico, mutável e conjuntural
que pode ser modificado por ser historicamente construído.
Hoje, porém, essa diferença não é considerada apenas sexual, mas de
gênero. A desigualdade não aconteceria apenas por diferenças sexuais, mas por
tudo o que é criado e inventado socialmente a respeito dessas diferenças ao nível
das ideias. E aí, tanto as feministas quanto o movimento homossexual vão
questionar a superioridade do homem sobre os outros grupos, o porquê de ser
obrigatoriamente heterossexual e o modo como os homens relacionam-se consigo,
com outros homens e com as mulheres.

A sexualidade é apenas uma das variáveis que configura a identidade de


gênero, em concomitância com outras coisas como os papéis de gênero e o
significado social da reprodução. (...) Sexo é uma categoria que ilustra a
diferença biológica entre homens e mulheres; gênero é um conceito que
remete à construção cultural coletiva dos atributos de masculinidade e
feminilidade; identidade de gênero é uma categoria pertinente para pensar o
lugar do indivíduo no interior de uma cultura determinada; e sexualidade é
um conceito contemporâneo para se referir ao campo das práticas e
sentimentos ligados à atividade sexual dos indivíduos. (GROSSI, 1998, p.
12).

1.6 A triste história de David Reimer

David Reimer, cujo nome de nascença era Bruce Reimer, nasceu em 1965,


e logo aos oito meses, ele e seu irmão gêmeo Brian foram encaminhados para a
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cirurgia de retirada do prepúcio, assim como acontece com vários meninos nessa
idade. Durante a cirurgia o pênis de Bruce foi danificado.
Na época, o renomado psiquiatra, psicólogo e sexólogo americano, John
Money, sugeriu que Bruce deveria trocar de sexo, devido a cirurgia plástica não ter
tecnologia necessária para correção. Ele acreditava que a maneira de criação de
uma criança era mais importante que o sexo definido biologicamente.
O caso dos gêmeos pareceu perfeito para ser estudado por Money. Afinal,
dois irmãos, onde fazia com um acreditasse ser garota, criados da mesma forma
pelos pais, seria um caso oportuno para ele estudar e realizar seus experimentos.
Os pais não sabiam desse interesse oculto e permitiram que Bruce passasse pela
cirurgia de mudança de sexo e fosse criado como Brenda. A princípio, por conta de
sua tenra idade, essa criança se comportava como menina o que fez com que
Money publicasse seus trabalhos, afirmando ter evidências para comprovar sua
teoria.
Qual não foi sua decepção, aos 7 anos de idade, Brenda começou a agir
como menino e aos 13 anos rejeitou a feminilidade que lhe havia sido imposta,
decidindo que queria voltar a ser garoto, parando de tomar hormônios e mudando
seu nome mais uma vez, só que agora para David Reimer após os pais contarem
tudo que havia ocorrido desde seu nascimento.
Posteriormente, David passou por nova cirurgia para reconstrução do órgão
danificado, casou-se e teve um filho. Mas, aos 38 anos de idade, dois anos após seu
irmão gêmeo ter tirado a própria vida, ele também se suicidou. Acredita-se que a
metodologia de Money tenha afetado tanto a saúde mental dos irmãos gêmeos que
eles acabaram tomando essa decisão.
A reputação de Money foi arruinada depois do ocorrido, além dos irmãos
denunciarem que foram alvos de práticas pedófilas por parte do sexólogo quando
tinham 7 anos de idade e que muitas fotografias dos dois nus foram tiradas durante
o tratamento.
Evidentemente, Dr. John Money quebrou vários códigos de conduta: os pais
dos gêmeos, na expectativa de ter o problema do filho resolvido, foram na verdade,
traídos pelo médico que usou seus filhos como cobaias; Bruce nunca consentiu com
a troca de sexo, ou em participar do estudo de Money, o que violou seu direito de
escolha e, ainda que fosse apenas um bebê, sua vida foi totalmente afetada pelas
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decisões de outras pessoas. Com isso, o experimento além de arruinar a vida de


toda a família, também levou os gêmeos a desistirem de viver cometendo suicídio.
Esse estudo, por mais antiético que tenha sido, se tornou filme, livro e
importante documentário transmitido pela Rede BBC de Londres e pode ser utilizado
para concluir que os papéis de gênero são construídos pela natureza biológica e se
sobrepõem aos estímulos.

1.7 Conflitos familiares sobre ideologia de gênero nas escolas

Segundo opinião do jornalista Euler de França Belém, onde usa como base
um artigo do Professor Orley José da Silva, por iniciativa do Governo Federal, foi
votado o Plano Nacional de Educação (PNE) no Senado, em 2012, e na Câmara dos
Deputados, em 2014 onde foi apresentada e rejeitada em ambas as casas
legislativas, a questão da Ideologia de Gênero. Uma das diretrizes do PNE, redigida
pelo Congresso na redação final à Lei 13.005/2014, em seu art. 2º, inc. III, foi:
“Superação das desigualdades educacionais, com ênfase na promoção da cidadania
e na erradicação de todas as formas de discriminação”.
Na 11ª Conferência Nacional de Educação (CONAE), do Ministério da
Educação (MEC), a matéria ressurgiu nas votações dos Planos Municipais e
Estaduais de Educação, e em seu relatório final, ignorou a decisão do Congresso e
fez 35 referências à Ideologia de Gênero, usando amplamente palavras e termos
rejeitados no PNE, abrindo, assim, espaço nos planos educacionais para a inclusão
do ensino da Ideologia de Gênero.
As secretarias estaduais e municipais de educação e o MEC realizam cursos
em parcerias com universidades, movimentos sociais em defesa dessa causa e
editoras de livros didáticos e paradidáticos para a formação de professores.  Essa
insistência governamental, que tem a intenção de normatizar a ideologia no ensino
pedagógico de várias escolas públicas e particulares, vem de encontro a uma
parcela considerável de pais, alunos e professores que se sentem incomodados com
a imposição que esta visão opera no sistema de ensino, ignorando até mesmo a
manifestação feita pelo Congresso Nacional. (BELÉM, 2015, ed. 2084).
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A conduta das escolas, ao aderirem tal projeto, passam a classificar os


alunos como crianças e não mais como meninos ou meninas. Banheiros, brinquedos
e roupas são compartilhados igualmente por ambos os sexos, sem levar em conta
as conhecidas diferenciações biológicas das crianças. Essas medidas são por eles
consideradas importantes por propiciarem um ambiente de neutralidade necessário
a elas para que tenham liberdade na escolha do gênero no futuro. (BELÉM, 2015,
ed. 2084).
O Brasil foi um dos primeiros países a aderir a orientação da ONU sobre o
assunto. Em 2009, o presidente Lula assinou o Decreto 7037/2009 que aprovou o 3º
Plano Nacional de Direitos Humanos (PNDH-3) que em seu eixo orientador III,
diretriz 10, objetivo estratégico V, ação programática d, estabelece a meta de:

Reconhecer e incluir nos sistemas de informação do serviço público todas


as configurações familiares constituídas por lésbicas, gays, bissexuais,
travestis e transexuais, com base na desconstrução da
heteronormatividade.

Ou seja, o Governo defende claramente a desconstrução de normalidade


para a família tradicional, contemplada na Constituição Federal e quer o
reconhecimento de outras configurações familiares e da diversidade sexual.
As pessoas que se posicionam contrárias ao ensino da ideologia de gênero
para as crianças, recebem os títulos de preconceituosas, desatualizadas e cheias de
tabus. Segundo os propagandistas da ideia, essas pessoas interferem na opção
sexual de terceiros e impedem a realização de seus direitos. (BELÉM, 2015, ed.
2084)
Os políticos e a sociedade precisam buscar conhecimento e sabedoria para
compreender o modo específico sistemático de persuadir dessa propaganda que
visa influenciar a todos com seus fins ideológicos, e entenderem que os informados
e bem intencionados defendem a liberdade para todos, sem privilégios, o respeito
entre as pessoas e que todos são igualmente beneficiários do estado democrático
de direito, o que torna injusto impor a homonormatividade.
Belém (2015, ed. 2084) continua seus estudos dizendo que outro ponto de
discordância é a propor às crianças, a responsabilidade de mudar a visão de suas
famílias e da sociedade, diante do que lhe foi imposto pela escola.
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Precisamos ser sensatos e compreensivos que a escola tem seu importante


papel na educação das crianças quando proporciona a oportunidade de conhecer
outras culturas, costumes, histórias, mas de maneira alguma deturpando e/ou
erotizando suas mentes, nem avançar em temas aquém de suas idades. Deve-se
sempre levar em conta a ética, o respeito e o bom senso, para não ferir sua
capacidade emocional, forçando a uma malícia tóxica. Tem-se entendido que esse
projeto esteja trazendo consequências e conflitos familiares aos lares. A família
brasileira está em perigo.
Pergunta-se: O conceito de gênero não pretende fazer qualquer interferência
dentro do campo da anatomia ou da biologia das pessoas, ele é construído e
explicado a partir das construções sociais e culturais. Então, por que uma ideologia
sem o menor bom senso na sociedade e sem comprovação científica alguma, ganha
status de verdade absoluta e forçar a mudança de paradigmas sociais? Como ela se
acomodou nas ciências sociais e humanas, sobretudo nos limites do discurso e do
comportamento, mesmo tratando-se do corpo? Como uma ideologia cuja base não é
estável, tenta proteger-se no manto científico buscando apoio do desconstrutivismo
e do relativismo filosófico, antropológico e sociológico? Teria o Estado o direito de
interferir em nossos lares a ponto de fazerem a cabeça dos nossos filhos como bem
entender e a família não ser mais reconhecida? Como ficam os pais, que achando
que seus filhos vão à escola para serem alfabetizados, acabam se deparando com
seres completamente estranhos ao convívio familiar? De quem são nossas crianças
e adolescentes? Nas mãos de quem elas se encontram? A tarefa de ensinar aos
filhos sobre sociedade e família é dever das escolas ou dos pais? E a mais
importante de todas as perguntas: quais as consequências e conflitos familiares que
um projeto como esse, de reengenharia social, pode trazer aos alunos e às famílias?
Muitos dos seus achados vieram pelo método científico de pesquisa-ação, a
qual é caracterizada pela colaboração e negociação entre especialistas (que primam
para preservar sua autonomia profissional) e práticos (engajados em validar suas
teorias e ideias) com enfoque na educação. Seu aspecto deve-se a três pontos:
caráter participativo, impulso democrático e contribuição à mudança social. (BELÉM,
2015, ed. 2084).
Assim sendo, merecem estudos aprofundados tanto as motivações da ONU,
como dos governos, das universidades e grandes empresas em apoiar e promover a
ideologia de gênero, elaborada a partir dos ideais das feministas e dos gays.
24

Observa-se que o foco está nos interesses globais pelo controle


demográfico, por algumas razões a seguir:
- Indústria turística e do entretenimento, visto que aumenta a liberdade e o
desprendimento individual para viagens;
- Maior consumo de bens e serviços de uso individual gastando menos com
o sustento próprio e dos filhos;
- Inconstância dos bens e recursos individuais;
- Reação direta nos sistemas de previdência pública/privada e de seguros;
- Menor estima pela cultura e valores locais e familiares favorecendo à
cultura e valores universais;
- Baixo comprometimento do indivíduo com o núcleo familiar, em benefício
do coletivo;
- Evitar acúmulo de capital para investimento na família ou herança;
- Sobreposição dos governos e do mercado sobre a vontade dos cidadãos,
para enfraquecer o modelo de agregação familiar tradicional. (BELÉM, 2015, ed.
2084).
Pelo visto, estamos diante de um projeto de construção de uma Nova
Ordem Mundial através dessa ideologia que alcança principalmente os governos, os
mercados e a cultura.
A sociedade heteronormativa acha-se cada vez mais sem espaço para
contestar, porque como estratégia de proteção colocou-se esse tema no campo dos
assuntos tabu, enfraquecendo a discussão no intuito de fazer com que seja aceita
incondicionalmente. (BELÉM, 2015, ed. 2084).
A grande mídia, partidos políticos, universidades, sindicatos, entidades
representativas encontram-se atualmente rendidos e dominados à essa ideologia.
Tornaram-se seguidores dessa visão e passam a desenvolver e criar argumentos de
defesa e ataque para fazer calar os que se opõem, apenas promovendo uma
agenda positiva sem a necessidade de enfrentar o debate de ideias. (BELÉM, 2015,
ed. 2084).
Infelizmente, não há na universidade espaço para vozes contrárias à essa
ideologia, onde as observações como as listadas acima possam ser discutidas,
confirmadas ou não, mediante a contemplação da pluralidade de ideias. Ao
contrário, a influência formadora da pesquisa engajada que é produzida nas
universidades, pulou seus muros e foi instalar seus efeitos em grande parte da
25

sociedade despreparada para pesquisas, análises e observações. (BELÉM, 2015,


ed. 2084).

2 A ADOÇÃO

2.1 O que é adoção

Adoção é um ato jurídico que cria uma relação de paternidade entre o


adotante e o adotado, fazendo com que este passe a gozar do estado de filho
daquele, independente de existir entre eles relação de parentesco consanguíneo ou
afinidade. É proporcionar às crianças e adolescentes necessitadas ou abandonadas
um ambiente de convivência mais humana, satisfazendo e atendendo seus pedidos
afetivos, materiais e sociais pertinentes a todo ser humano, para afastar as
dolorosas circunstâncias que possa estar envolvida, como a orfandade, a pobreza, o
desinteresse dos pais biológicos e os desajustes sociais que desencadeiam em suas
vidas.
26

De acordo com a Revista Em discussão do Senado Federal, é de grande


interesse do Estado que se insira essa pessoa em estado de abandono ou carente
num ambiente familiar homogêneo e afetivo. A adoção, vista como um fenômeno de
amor e afeto, deve ser incentivada pela lei.
A adoção existe desde a antiguidade e foi praticada por muitos povos –
hindus, egípcios, persas, hebreus, gregos, romanos. A Bíblia traz o relato da adoção
de Moisés pela filha do faraó, no Egito. Outro relato se encontra no Código de
Hamurabi (1728-1686 a.C.), na Babilônia, que trazia a disciplina minuciosa da
adoção em oito artigos. (SENADO FEDERAL, 2013, p. 15)
Havia práticas de adoção que ia desde a necessidade de se ter um filho a
fim de impedir que o culto doméstico fosse interrompido, considerado a base da
família, referindo-se às crenças primitivas, até a feita pelos imperadores para
designar seu sucessor. Sem dizer de outra que era a forma de casais estéreis
encontrarem consolo ao adotar seus “filhos”.
Já na Idade Média, a adoção acabou caindo em desuso. Com a edição do
Código Napoleônico (1804) que autorizava a adoção para pessoas maiores de 50
anos, ela foi ressuscitada na França, mas a regulamentação legal não era a norma
geral.
Até hoje muitas nações ainda utilizam o sistema tradicional de lares adotivos
com as crianças e adolescentes entre 7 e 21 anos enviados para outros lares de
forma temporária e informalmente, porém legalmente e emocionalmente ligadas às
famílias originais. O objetivo era para que elas desempenhassem tarefas de
aprendizes, trabalhadores domésticos, mensageiros, governantas, pajens, damas
de companhia e outras, em troca de abrigo e educação. (SENADO FEDERAL, 2013,
p. 15).

2.2 O processo de adoção no Brasil

Dando continuidade à reportagem da Revista Em Discussão, no Brasil, o


instituto da adoção foi incorporado por meio do Direito Português. Havia diversas
referências à adoção nas Ordenações Filipinas (século 16) e outras Manuelinas e
27

Afonsinas, mas sequer fazia a transferência do pátrio poder ao adotante, a não ser
que o adotado ficasse órfão de pai natural e, mesmo assim, se fosse autorizado por
decreto real.
As famílias ricas tinham costume de adotar, mas esse ato era visto como
oportunidade de possuir mão de obra gratuita, em troca de auxiliar os mais
necessitados. Eram os chamados filhos de criação.
Foi com o Código Civil de 1916 que a adoção ganhou suas primeiras regras,
mas não favorecia o processo ao limitar a autorização para pessoas com idade
superior a 50 anos, sem prole legítima, devendo o adotante ter 18 anos a menos que
o adotado. Uma de suas regras era transferir o pátrio poder ao adotante e só podia
ser feito por duas pessoas que fossem casadas. Outra regra era a exigência do
consentimento da pessoa que tivesse a guarda do adotando e procurava trazer para
o seio familiar sem filhos, atendendo mais o interesse desses pais inférteis do que
garantir o direito da criança de ser criada em uma família. (SENADO FEDERAL,
2013, p. 16).
Esse código de 1916 (Lei 3.071/1916) trazia para a adoção apenas caráter
contratual, diante de simples escritura pública, sem qualquer interferência do Estado
para sua outorga. Os vínculos consanguíneos permaneciam com os pais biológicos,
o que se passava era apenas o pátrio poder ao adotante.
Foi em 1927 que surgiu o primeiro Código de Menores do país, mas não
tratava da adoção de forma específica.
Em 1957 surgiu a Lei 3.133/1957 que modificou alguns critérios: os
adotantes deveriam ter mais de 30 anos, e não mais de 50; o adotando deveria ser
16 anos mais novo que o adotante, e não 18; e os adotantes podiam ter filhos
adotivos mesmo tendo filhos (legítimos, legitimados ou reconhecidos). Essa lei
regulamentou a adoção como ato irrevogável, porém possuía sérias restrições de
direitos, pois caso os adotantes viessem a ter filhos biológicos, poderiam afastar o
adotado da sucessão legítima. (SENADO FEDERAL, 2013, p. 16).
Só depois de 61 anos, em 1977, por meio da Lei 6.515 (Lei do Divórcio), foi
que esse preconceito horrendo finalmente caiu, e o adotivo passou a gozar dos
mesmos direitos dos demais filhos. (SENADO FEDERAL, 2013, p. 17).
Outra lei, a 4.655/1965, trouxe pontos importantes: podia ser solicitada a
adoção de criança cujos pais eram desconhecidos, ou as que os pais haviam
declarado por escrito a intenção de dar o filho, bem como do menor abandonado
28

propriamente dito até 7 anos de idade, cujos pais tinham sido destituídos do pátrio
poder, e ainda, do filho natural reconhecido apenas pela mãe, impossibilitada de
prover sua criação. A legitimação adotiva somente poderia ser solicitada por casais
cujo matrimônio tivesse mais de 5 anos e um dos cônjuges mais de 30 anos de
idade, sem filhos legítimos, legitimados ou naturais. Essa legitimação era
irrevogável, mesmo que os adotantes viessem a ter filhos legítimos, os quais eram
equiparados aos legítimos adotivos, com os mesmos direitos e deveres, salvo no
caso de sucessão, se concorrer com o filho natural nascido após à adoção feita
pelos seus pais. (SENADO FEDERAL, 2013, p. 17).
Um novo Código de Menores surgiu através da Lei 6.697/1979 e incorporou
duas novas modalidades de adoção: a simples, voltada ao menor em situação
irregular, isto é, aquele privado de condições essenciais à sua subsistência, saúde e
instrução obrigatória; vítima de maus tratos ou castigos imoderados; em perigo
moral; privado de representação ou assistência legal, pela falta eventual dos pais;
com desvio de conduta e o autor de infração penal.  Tudo dependia de autorização
do juiz e fazia apenas uma alteração na certidão de nascimento. A plena, atribui a
situação de filho ao adotado, desligando-o de qualquer vínculo com pais e parentes.
Somente poderiam requerer essa modalidade de adoção, os casais com mais de 5
anos de casados e dos quais pelo menos um dos cônjuges tinha mais de 30
anos. Era irrevogável e destinada a menores de 7 anos. (SENADO FEDERAL, 2013,
p. 17).
No ano de 1988, foi promulgada a Constituição Federal, e o artigo 227, § 6 º
diz expressamente: “Os filhos, havidos ou não da relação do casamento, ou por
adoção, terão os mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer designações
discriminatórias relativas à filiação”. Ela fixou ainda a diretriz, em vigor hoje, de
supervisão do poder público nos processos de adoção, “na forma da lei”, inclusive
nos casos de adotantes estrangeiros. Foi a primeira vez que prevaleceu, na
legislação nacional, o interesse do menor no processo reforçado com a entrada em
vigor do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA, Lei 8.069/1990), adotando a
doutrina jurídica da “proteção integral”. As novas regras procuravam simplificar o
processo de adoção, modificando, entre outros critérios, a idade máxima para ser
adotado (de 7 para 18 anos) ou a idade mínima para poder adotar (21 anos, e não
mais 30) e abrindo a possibilidade a qualquer pessoa, casada ou não, desde que
obedecidos os requisitos.
29

Em agosto de 2009, foi sancionada a Lei 12.010, que reforçou a filosofia do


ECA quanto à ausência de distinção legal entre os filhos de um casal,
independentemente de serem eles adotivos ou biológicos. Foram criadas novas
exigências para os adotantes, implantado um cadastro nacional de crianças
passíveis de adoção e reforçado o papel do Estado no processo. (SENADO
FEDERAL, 2013, p. 17).

2.3 Adoção por casais homoafetivos

Há registro da homossexualidade desde o passado mais remoto da


sociedade. Existem homens e mulheres homossexuais com filhos biológicos ou
adotivos. Nessa seara, são muito poucas as análises jurídicas, diante de ser essa
uma questão atual bastante polêmica e tratada mais pelo ângulo sociológico. Dessa
forma, é quase impossível ter uma visão correta dos aspectos jurídicos da questão,
que leve em conta a transformação da família tradicional patriarcal em novos
modelos de família que não se inserem nos regramentos legais no atual momento
histórico.
Não há Direito sem sociedade, ele é universal e varia conforme a realidade
sociocultural no qual se insere. O mundo ocidental o separa entre moral, religioso,
etc., enquanto em outras culturas há uma total indissociabilidade.
Segundo explica Figueirêdo (2010, p. 50):

O Direito ocidental é vinculado ao modo romano (adaptação do Direito


Romano e dos povos bárbaros). A queda do Império Romano serviu como
base para o pluralismo jurídico e político. As instituições do direito romano,
somadas ao direito canônico e ao direito de vários povos europeus,
materializados em costumes e tradições, foram a base da sociedade
europeia até a chamada alta Idade Média (final do século XII), com a
ascensão do poder régio (Estado/nação), e com a passagem de modo de
produção feudal para o capitalismo.

Nesta época, encontra-se uma estrutura administrativa centralizada, com o


poder jurídico definido, materializado no monismo jurídico, tendo o Estado como
único produtor do direito, dizendo o que é e onde ele é aplicável. Surge o conceito
de soberania, as leis escritas e as definições de papéis dos juízes e procuradores,
30

vindo disso o conceito de Constituição como um conjunto sistematizado de normas


que podem ter um enunciado prescritivo, que impõe uma conduta, ou um enunciado
descritivo, que apenas aponta suas características. As normas éticas se
descumpridas, implicam uma sanção moral, religiosa, de etiqueta, jurídica, etc.,
enquanto o descumprimento das normas técnicas implica em não se alcançar sua
finalidade, ou alcançá-la de forma incompetente. (FIGUEIRÊDO, 2010).
Dentro desse contexto temos a hermenêutica, que tem a ver com a
argumentação e a interpretação das normas de modo mais relevante, mais
conveniente, mais adequado. Ela pode ser produzida através de vários ângulos,
como: a) jurisprudência; b) vontade do legislador; c) finalidade; d) consequência; e)
costumes; f) analogia; g) equidade. (FIGUEIRÊDO, 2010).
A atual Constituição Federal Brasileira possui conceitos tanto do
denominado Estado Liberal, como do denominado Estado do bem estar social.
Assim, pode ser dito que suas ambiguidades são de natureza política, mas geram
conflitos no plano jurídico, uma vez que nunca se sabe como o magistrado irá julgar,
porque ela permite modelos hermenêuticos totalmente diferentes. Mesmo assim, a
Carta Magna não trata da adoção feita por homossexuais por não reconhecer essa
união como instituição familiar. (FIGUEIRÊDO, 2010).
A Procuradora Federal Sílvia Drummond Cavalier, no artigo “Homossexual,
legislação civil e previdenciária – questão constitucional – posição jurisprudencial”
explica muito claramente esse posicionamento:

[...] Diferentemente da união estável, a relação homossexual até pode ser


reconhecida como sociedade de fato, mas longe está de apresentar-se
como entidade familiar, esta como é reconhecida na doutrina e na
jurisprudência pátria. Em outras palavras, mesmo o reconhecimento entre
pessoas do mesmo sexo, se houver a confluência de esforços à formação
de uma sociedade da fato, ainda que de maneira indireta, mister a divisão
do patrimônio quando de sua dissolução, sob pena de enriquecimento ilícito
de um dos sócios.
[...] Com efeito, a CF/88 não reprimiu o homossexualismo, tanto assim que
vedou a discriminação de cunho sexual. Assim também fez a lei ordinária.
Entretanto, não erigiu à condição de família a união daquela espécie.
Forçosamente por duas razões: porque o legislador entendeu
desnecessária a criação de regras protetivas na hipótese pela igualdade
entre as partes e a falta do nascimento de filhos decorrentes dessas
relações.
Se afetivamente as partes se consideram como família, nada impede nem
permite à lei a discriminação. [...] Bem assim relações de cunho afetivo não
convertem vizinhos ou amigos em família, do ponto de vista jurídico.
[...] Da relação homossexual pode resultar satisfação afetiva e sexual, sem
relevância no entanto para o poder público. [...] Isso porque se filhos houver,
receberão tutela do direito de família, mas a relação da qual se originaram
31

será formada entre uma das partes e um terceiro, e não aquela


homossexual, por razões fisiológicas.
A alegação de infração ao princípio da isonomia também não tem o condão
de converter a situação em lícita. Isso porque, como largamente difundido o
conceito de isonomia inclui tratamento desigual para os desiguais.
(CAVALIER, 2000 apud FIGUEIRÊDO, 2001, p.65)

Já um caso julgado sobre as características necessárias para o


reconhecimento de união estável e também em recorrência deste o direito a adoção
é necessário mencionar jurisprudência do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul
com entendimento diverso do anterior:

APELAÇÃO CÍVEL. ADOÇÃO. CASAL FORMADO POR DUAS PESSOAS


DE MESMO SEXO. POSSIBILIDADE. Reconhecida como entidade familiar,
merecedora da proteção estatal, a união formada por pessoas do mesmo
sexo, com características de duração, publicidade, continuidade e intenção
de constituir família, decorrência inafastável é a possibilidade de que seus
componentes possam adotar. Os estudos especializados não apontam
qualquer inconveniente em que crianças sejam adotadas por casais
homossexuais, mais importando a qualidade do vínculo e do afeto que
permeia o meio familiar em que serão inseridas e que as liga aos seus
cuidadores. É hora de abandonar de vez preconceitos e atitudes hipócritas
desprovidas de base científica, adotando-se uma postura de firme defesa da
absoluta prioridade que constitucionalmente é assegurada aos direitos das
crianças e dos adolescentes (art. 227 da Constituição Federal). Caso em
que o laudo especializado comprova o saudável vínculo existente entre as
crianças e as adotantes. NEGARAM PROVIMENTO. UNÂNIME. (Rio
Grande do Sul, Tribunal de Justiça, 2006).

Sendo a Constituição a fonte primeira de toda legislação vigente no país,


não é aceitável que outra norma a contrarie e muito menos que interprete
restritivamente o que na Constituição é visto como princípios ou direitos e garantias
fundamentais, que são insusceptíveis de emenda. (FIGUEIRÊDO, 2010).
Sob esse prisma, seria impensável se cogitar o deferimento de adoções feita
por homossexuais no Brasil. A alternativa tem sido a chamada “adoção à brasileira”,
registrando a criança diretamente em cartório, como se fosse filho biológico,
correndo-se o risco de uma apenação, em tese, de até 6 (seis) anos de reclusão por
se configurar o tipo penal do artigo 242 do Código Penal, que trata de crime contra o
estado de filiação. Esse comportamento acaba demonstrando que a sociedade
organiza suas vidas lateralmente, de acordo com aquilo que acha justo e prova que
o direito não pode ser visto como monopólio do Estado, o qual vem então,
mobilizando-se em direção à evolução social e científica e destinando-se a um fim
interpretativo das leis, levando em conta a realidade, o humano, e socialmente
aceitável dentro do realismo jurídico. (FIGUEIRÊDO, 2010).
32

Embora pareça óbvio, é preciso dizer que não existe nenhuma lei no país
que proíba ou restrinja um homossexual de praticar a adoção, até porque seria
inconstitucional, e também seria erro de percepção da realidade, uma vez que
homens e mulheres homossexuais podem gerar filhos biológicos. (FIGUEIRÊDO,
2010).
Partindo dessa premissa, a forma mais adequada para se interpretar a
questão seria afastar a preferência sexual do adotante e centrar a interpretação no
interesse da criança adotanda, como anuncia o artigo 6 º da Lei nº 8.069 de 13 de
Julho de 1990:

Na interpretação desta lei levar-se-ão em conta os fins sociais a que se


dirige, as exigências do bem comum, os direitos e deveres individuais e
coletivos, e a condição peculiar da criança e do adolescente como pessoas
em desenvolvimento. (BRASIL, Estatuto da Criança e do Adolescente,1990)

Ao tratar da colocação em família substitutiva em termos de requisitos para o


exercício da Guarda, Tutela ou adoção, o Estatuto da Criança e do Adolescente,
define em seu artigo 29: “Não se deferirá colocação em família substitutiva a pessoa
que revele, por qualquer modo, incompatibilidade com a natureza da medida ou não
ofereça ambiente familiar adequado”.
Mesmo diante das dificuldades de conceituação e de expor uma lista
taxativa de hipóteses impeditivas para colocar uma criança/adolescente em uma
família substitutiva, é possível apontar situações de forma exemplificativa, situações
em que tal ocorre, trazendo um norte ao intérprete da norma que sirva de paradigma
para análise do caso concreto. Ou seja, independentemente de ser a família natural
ou substitutiva, para a lei a não aproximação e permanência junto com pessoas
drogaditadas, pelos riscos de má influência, é regra fundamental definir, por
exemplo, deferimento ou não de um pedido de adoção; procedência ou não da
suspensão do pátrio poder; afastamento ou não do ambiente familiar e inserção
provisória em regime de abrigamento. (FIGUEIRÊDO, 2010).
Será levado em conta também, se o (a/os/as) filho (a/os/as) do candidato à
adoção são matriculados na escola, qual tipo de companhia fazem parte da vida
desses filhos, se têm obediência e respeito aos pais, se os pais são adeptos de
seitas diabólicas ou praticantes de magia negra, se mantêm amantes e vida sexual
33

promíscua de forma escancarada. Tendo esses quesitos ou outros tantos, será o


pedido de adoção indeferido. (FIGUEIRÊDO, 2010).
Não havendo vedação a quem quer que seja para adotar, qualquer pessoa
pode, em tese, pleitear a adoção, sendo que a análise será feita à luz da regras
genéricas dos parágrafos do artigo 28 e no artigo 29 do ECA.
No caso de pedido de adoção feita por homossexuais, a análise é feita de
igual forma, observando-se a questão do ambiente familiar adequado e/ou revelação
por qualquer maneira de incompatibilidade com a natureza da medida. É óbvio que
as peculiaridades que possam eventualmente ser observadas no sentido de definir
se a sua existência guarda relação de o pretendente ser homossexual, assim como
se pela sua existência isto poderia ser danoso ao adotando.

Instrui Figueirêdo (2010, p.85-86) o procedimento:

Qual a conduta pública assumida pelo pleiteando à adoção? Leva vida


promíscua? Assume atitudes de confronto (vestimentas, voz, trejeitos etc.)
com a opinião da maioria da população? Consegue distinguir “papéis”
diferentes que cada um de nós representamos, enquanto profissionais, nos
relacionamentos familiares ou de amizade, como integrante de determinada
comunidade esportiva ou religiosa etc? Como se conduz a respeito dos
seus relacionamentos afetivos, em especial no tocante às demonstrações
públicas e locais de frequência etc?
Enfim, todos os questionamentos devem ser voltados para se caracterizar
se eventualmente sua opção sexual pode ter alguma influência malévola
sobre o adotando, seja diretamente, pela indução a que assuma a mesma
orientação sexual, seja para evitar que comentários de terceiros, chacotas,
e piadas grosseiras não venham a causar traumas ou danos psicológicos ao
adotando.

Como não há estudos científicos no Brasil e fora dele também não há


pesquisas de comprovada eficácia, os casos são tratados individualmente com base
em parecer resultante de estudos psicossociais, através de análise baseada no
interesse superior da criança, sem descuidar que situações concretas relativas aos
adotantes (inclusive sua orientação sexual), devam ser consideradas. As quatro
circunstâncias legais: a) ambiente familiar adequado; b) não revelar
incompatibilidade com a natureza de medida; c) pleito fundado em motivos legítimos;
d) pleito que apresente real vantagem para o adotando, são suficientes para se
analisar se o caso concreto recomenda ou não o deferimento da adoção. Só assim
se tem condições de responder se existe ambiente familiar adequado ou se foram
constatados fatos impeditivos para a consumação da adoção. (FIGUEIRÊDO, 2010).
34

Sabe-se que muitos homossexuais levam vidas inteiramente ajustadas e que


assim agindo, não tem como compará-los a heterossexuais que podem influenciar
negativamente a quem adotou, especificamente em função de sua conduta sexual.
Exemplo disso seria uma mulher com vida sexual promíscua, recebendo diversos
homens em sua residência, ou um homem que costuma trocar de parceiras,
trazendo-as para dentro de casa onde convivem com filhos adotivos ou biológicos.
Sem dizer de pais que praticam sadomasoquismo, sexo grupal, pedofilia etc.,
práticas essas que podem ter efeitos devastadores na formação da
criança/adolescente. (FIGUEIRÊDO, 2010).
Toda interpretação dada, partiu da Teoria Garantista, pois, primordialmente,
pretende fazer que os princípios, objetivos, direitos e garantias fundamentais
contidas na Carta Magna sejam postos no mundo da vida, buscando aplicar o
denominado realismo jurídico, na medida em que enquadra o direito à realidade
social, enfatiza o chamado direito já instituído e o sonegado, procurando a sua
releitura de acordo com o atual estágio de evolução social. (FIGUEIRÊDO, 2010).
No dia 14 de maio de 2013, a CNJ – Conselho Nacional de Justiça – emitiu a
Resolução n. 175, aprovada durante a 169ª Sessão Plenária, estabelecendo que os
cartórios de todo Brasil não poderiam recusar a celebração de casamentos civis de
casais do mesmo sexo ou deixar de converter em casamento a união estável
homoafetiva. Com a resolução, tabeliães e juízes ficaram proibidos de se recusar a
registrar a união. (GARONCE, 2017).
Em 2011, o Supremo Tribunal Federal (STF) criou jurisprudência para casos
semelhantes  ao proferir decisão favorável a duas ações que pediam o
reconhecimento da união entre pessoas do mesmo sexo como entidade familiar.
Uma delas pedia que os direitos e deveres fossem os mesmos dos casais
heterossexuais, a outra alegava que o não reconhecimento contrariava preceitos
fundamentais como igualdade, liberdade e o princípio da dignidade da pessoa
humana – todos previstos na Constituição. (GARONCE, 2017).
Mesmo assim, segundo o próprio Conselho Nacional de Justiça, ainda havia
brechas para que pedidos de união estável continuassem a ser recusados. Afinal, o
STF não tem competência para criar leis e a resolução do CNJ só seria publicada
dois anos depois. (GARONCE, 2017).
Os casais de pessoas do mesmo sexo passaram a ter todos os direitos e
obrigações previstos em lei e firmadas no contrato, como a partilha de bens e
35

herança de parte do patrimônio do cônjuge em caso de morte. Até 2013, a resposta


seria simples: "porque a legislação brasileira não permite". Hoje, além dos direitos, o
contrato também concede aos casais homoafetivos o reconhecimento social da
união. Os ministros decidiram pela equiparação dos dois tipos de contrato quanto ao
regime de herança, tanto para os casais homoafetivos quanto para heterossexuais.
(GARONCE, 2017).
Atualmente, os casais do mesmo sexo podem ter uma cerimônia no civil no
cartório, no salão de festa, e até mesmo na igreja, ou seja, podem também se casar
no religioso com efeito civil.
Na prática o casamento gay é exatamente igual ao casamento convencional,
o prazo, os documentos e os valores são os mesmos. Os noivos gays podem
escolher o regime de bens, adotar um o sobrenome do outro, e também adotar
filhos. Não há impedimentos legais à adoção por casais homossexuais.

2.4 Olhando para os filhos de pais gays

Devido a aprovação legal para a adoção por casais homoafetivos, e


normalmente eles optarem por adotarem bebês, ou crianças novatas, não temos
como avaliar de forma contundente o comportamento e desenvolvimento dos
adotados.
No Canadá, porém, uma mulher com nome de Dawn Stefanowicz, publicou
um livro falando sobre o mal de ser privada de uma mãe, mostrando que essa
experiência não é agradável a todos. Ela relata que o pai se tornou gay e recebia os
namorados em casa. Também conta que era obrigada a ser a favor da adoção por
homossexuais, que muitos dos criados assim, luta com sua própria sexualidade por
causa da influência do ambiente que crescem. Outra questão que ela traz em suas
experiências é que as crianças negarão sua dor e fingirão não sentir falta do pai ou
mãe biológicos.
Dawn é defensora do casamento original, de modo que os filhos possam ser
educados pelos pais biológicos ou por quem possa lhes substituir, no caso de morte,
divórcio, adoção ou reprodução artificial, situações essas em que experimentam um
vazio doloroso. Ela defende que os genitores contribuem com dons únicos e
36

complementares no desenvolvimento dos filhos, onde os pais asseguram identidade,


direção, disciplina e limites, enquanto as mães criam os filhos de maneira
insubstituível por ser ela a que gesta e amamenta. Então, as crianças têm a
necessidade de ter ambos os genitores e isso lhes foi dado por direito.
Ela também lamenta as consequências que o governo canadense tem
imposto às pessoas que se posicionam de forma contrária à aprovação do
casamento gay que podem gerar. Professores podem ser demitidos, comerciantes
pode perder seus alvarás de funcionamento, profissionais liberais perde suas
licenças profissionais. É uma verdadeira ditadura do pensamento. E lá, é o e Estado
quem diz como os pais devem educar seus filhos. Parece que a de liberdade de
pensamento e expressão está em risco até nos países ditos democráticos que
passaram a investir altos valores na propagação dessa ideologia, mas não estão
tendo sucesso, por ser essa ideia cheia de raízes marxistas, pregando o
totalitarismo político.
37

3 A FAMÍLIA

3.1 Conceito de família

A Enciclopédia virtual Wikipédia define a palavra família como termo latino


familia que se define por um grupo de pessoas formado por indivíduos com
descendentes em comum e/ou ligados por laços afetivos. Ela representa um grupo
social primário que influencia e é influenciado por pessoas e instituições.
A família natural é baseada no casamento e vínculo de sangue, seria a
constituída pelos cônjuges e seus filhos. Esse casamento é regido por relações
jurídicas. Era bastante característica a estrutura familiar patriarcal onde todos
estavam sob a autoridade do mesmo chefe. Já na Idade média, as pessoas
começaram também, a se ligar por vínculos matrimoniais, fazendo com que seus
descendentes, tivessem tanto a família paterna, quanto a materna. (WIKIPÉDIA,
enciclopédia livre).
Transformações continuaram. Na Revolução Francesa, surgiram os
casamentos laicos, ou seja, casamento onde não há religião envolvida. Nessa
cultura ocidental, a família é especificamente definida como grupo de pessoas de
mesmo sangue, ou unidas legalmente, através do casamento, da adoção.
Interessante observar que nas culturas não acidentais, o conceito de sangue fica de
lado por permitir outros regulamentos na formação familiar que pode ser através de
filiação e aliança admitidas entre seus membros. (WIKIPÉDIA, enciclopédia livre).
Na Revolução Industrial, os movimentos migratórios para cidades maiores,
construídas em redor dos complexos industriais deram origem ao estreitamento dos
laços familiares com as pequenas famílias, sendo esse cenário existente até hoje.
38

As mulheres passaram a fazer parte da população ativa, dividindo a educação dos


filhos com as escolas. (WIKIPÉDIA, enciclopédia livre).
As mudanças religiosas, econômicas e socioculturais continuam
transformando a família por estar numa atmosfera continuamente renovada e
reconstruída. Dessa forma, ela é encarada como um todo que integra contextos
mais vastos dentro da comunidade onde está inserida. Stanhope e Lancaster (1999,
p. 492) destacam que: ”A família é um sistema de membros interdependentes que
possuem dois atributos: comunidade dentro da família e interação com outros
membros”. (WIKIPÉDIA, enciclopédia livre).
As funções da família é regida por dois objetivos, um de nível interno (a
proteção psicossocial dos membros), e outro externo (a acomodação a uma cultura
e sua transmissão), respondendo a eles de modo a atender às circunstâncias da
vida, como óbito de um dos pais, adoção, sem, no entanto, perder a continuidade,
proporcionando sempre uma base de referência para os seus membros.
(WIKIPÉDIA, enciclopédia livre).
Cada membro de uma família, independentemente da sociedade, ocupa
determinada posição ou função ou papel dentro do grupo, exercendo seus direitos e
deveres que estão associados a esses papéis, como o papel do marido, da esposa,
dos filhos, dos avós, dos netos, dos tios, sobrinhos e assim por diante. Obviamente,
esses papéis começam pelos adultos, relacionado com a socialização, cuidado,
apoio, atividades contribuintes para o desenvolvimento saudável das capacidades
mentais, pessoais, físicas, emocionais; a obtenção de bens e serviços necessários
para o suporte familiar; o papel de encarregados pelos afazeres domésticos, que
visam o prazer e o conforto de todos. (WIKIPÉDIA, enciclopédia livre).
Em relação aos filhos, a necessidade mais básica e primordial, remete-se
para a figura materna, que a alimenta, protege, ensina, consola, assim como cria
segurança que traz bom desenvolvimento para a criança. A família é, então, um
grupo muito importante de apoio para as crianças através dos pais, dos pais
adotivos, dos tutores, dos irmãos. No processo de socialização a família é a que
modela e programa o comportamento e o sentido de identidade da criança. Sendo
assim, a família constitui a matriz, o primeiro, o mais importante e mais profundo
grupo social de toda criança, bem como seu ponto de referência, estabelecido
através das relações e identificações que uma pessoa cria em seu desenvolvimento.
(WIKIPÉDIA, enciclopédia livre).
39

3.2 A importância da figura paterna na família

Depois da II Guerra Mundial, quando surgiu a necessidade de ambos os pais


irem ao trabalho, devido às dificuldades econômicas, o pai se tornou mais
participativo. Nessa redistribuição dos papéis masculino e feminino, o homem tem
sido o alvo de transformação notável. (MOREIRA, 2014).
Hoje, ainda existem algumas famílias patriarcais, mas na maioria delas o pai
tem procurado participar mais, dividindo responsabilidades e prazeres ao lado dos
filhos, pois o modelo masculino é essencial na formação da personalidade da
criança e do adolescente. (MOREIRA, 2014).
Quando o pai se torna ausente, no caso de morte ou porque não assume a
paternidade, há que se trabalhar o contexto com a criança desde cedo, de forma
apropriada o que aconteceu, procurando minimizar o sentimento de rejeição, pois os
filhos necessitam, em qualquer condição, de apoio, carinho, proteção, companhia,
cuidados e limites. Nesse caso, onde as mães criam seus filhos sozinha, por ser
uma fase caracterizada pela transição em vários domínios do desenvolvimento, seja
biológico, cognitivo ou social e por ter conflitos internos e lutos que exigem a
elaboração e a ressignificação de sua identidade, imagem corporal, relação com a
família e com a sociedade, é necessária uma figura masculina substituta que dê este
suporte, como por exemplo um avô, um tio, um padrasto, para dar parâmetros de
comportamento, e vínculo de afeto à criança e ao adolescente, fazendo-os
saudáveis. (MOREIRA, 2014).
É fundamental o papel do pai no desenvolvimento da auto estima dos filhos.
É nele que desenvolvemos noções de limites e ajustamentos. Muitas vezes a
criança que é criada sem esse referencial, pode se tornar avessa às ordens dadas
por representantes femininos e também outras figuras de autoridade. Essa falta de
referência pode se manifestar de várias formas: consequências psicológicas,
problemas de identificação sexual, dificuldades de reconhecer limites, de aprender
40

regras de convivência social, dificuldade de interiorização de um pai simbólico


capaz de representar a instância moral a ponto de manifestar maior propensão para
desenvolvimento de delinquência, porque uma privação emocional ligada às
separações e perdas afetivas precoces acabam sendo a base das alterações de
conduta. (MOREIRA, 2014).
Tendo como premissa que a função do pai, entre outras, é a representação
da lei e da autoridade, conseguimos entender o quanto é difícil para crianças e
adolescentes privados dessa relação, desenvolverem a noção do que é certo ou
errado, de censura, de limites. Existem situações nas quais elas vivem numa busca
incessante de adaptação social e apresentam um forte sentimento de inferioridade
que as leva a uma procura de reconhecimento constante e refletirá em seu
comportamento de tal modo que as impulsionam a procurar, no grupo de iguais,
mecanismos compensatórios para suprir essa ausência que podem ir desde
comportamentos anti sociais até o exercício da violência. Atualmente, devido à
modificação da estrutura familiar, está cada vez mais comum crescer numa família
sem o pai e este fato, de acordo com algumas teorias, está diretamente relacionado
com delinquência juvenil. Essas mudanças afetam a forma de educar os filhos.
(MOREIRA, 2014).
Pode-se verificar que a ausência da figura paterna no desenvolvimento de
um adolescente é o resultado de seu conflito com a lei, seja porque essa figura não
convive com ele, seja porque essa figura é indiferente a ele, ou seja, esse pai é
presente em pessoa, mas não atuante em sua criação, e isso pode contribuir
diretamente para que esse adolescente cometa atos infracionais, levando sérios
problemas para a justiça, família e sociedade. (MOREIRA, 2014).
Para o menino, o pai é seu super herói e por isso ele quer ser como tal
quando crescer, para a menina o pai é o príncipe encantado e isso a leva dizer que
o papai é seu namorado, e que quando crescer quer se casar com ele, tal a
importância dessa figura na formação psicológica dos filhos que os vê como alguém
a ser imitado ou conquistado por toda a vida. Dessa forma, faz-se necessário
repensar o papel do pai como protagonista da vida dos filhos, pois, enquanto a mãe
proporciona um suporte maior para suas necessidades físicas e emocionais, o pai
cuida da solidez e da formação da personalidade, complementando assim, o alicerce
fundamental para a construção de uma personalidade sadia neles. Isso demonstra o
41

quanto é vital e importante o papel de cada qual dos pais no desenvolvimento do ser
humano.

3.3 Países contaminados pela ideologia de gênero

A ideologia de gênero tornou-se uma questão mundial e muitos não


compreendem a importância e a extensão do problema. Ela desconstrói a identidade
humana por onde passa. (MARTINS, 2017).
Dados publicados pelo professor Felipe Nery Martins Neto, Presidente do
Observatório de Biopolítica, em sua rede social, o número de crianças confusas e
perturbadas com seu próprio sexo está crescendo demasiadamente nos países que
promovem a ideologia de gênero nas escolas, através de uma nova pedagogia
voltada para a desconstrução sexual, que dissemina a ideia de que as crianças
devem experimentar todas as formas de sexualidade possíveis até encontrarem um
gênero para si mesmas. Essa ideia tem o escopo de fazer nossas crianças
duvidarem de si mesmas, se são meninos ou meninas, porque o foco é subverter os
papéis sociais atribuídos a cada sexo que consolidam a identidade sexual. O
prejuízo causado pela disseminação dessa ideia pode ir muito além de desvio de
desejos heterossexuais, de uma estética corporal ou até de uma revolução de
costumes. Ele pode chegar às raias de uma confusão mental deliberada sem
precedentes, uma vez que as crianças e adolescentes estão em fase de maturidade,
questionamento e construindo sua própria identidade através das diferenças entre
os sexos.
Na Inglaterra, nos últimos cinco anos, subiu mil por cento (1000%) o número
de crianças que se submetem a tratamento transgênero, na Escócia subiu mais de
quinhentos por cento (500%) nos últimos quatro anos. (MARTINS, 2017).
Já na Suécia, um país de 100.000 nascimentos anuais, as estatísticas
mostram que cerca de noventa e dois por cento (92%) das crianças vão para as
creches, subsidiadas pelo Estado, no primeiro ano de vida em tempo integral,
enquanto seus pais têm seus respectivos trabalhos fora do lar. Existe até uma
42

expressão sueca muito usada, advinda da ideologia de gênero, que impede a mulher
de ficar “trancada em casa e no fogão”. Os pais não são obrigados a fazerem isso,
mas as informações sobre os benefícios dessas creches propagadas pelos meios de
comunicação ou outras fontes, fazem com que os pais de filhos de 3 ou 4 anos,
sintam-se socialmente marginalizados por os manterem em casa. Esse modelo está
obrigando os pais a deixarem seus filhos nas creches quer eles queiram ou não.
(CRUZ, 2014).
As crianças têm crescido isoladas de seus pais e ao mesmo tempo
massificadas nas escolas porque o currículo nacional da Suécia procura combater
os papéis de cada sexo na sociedade. O uso do pronome “ele” ou “ela” foi traçado
por uma palavra neutra que é usada amplamente por feministas e homossexuais. Há
escolas que contratam um pedagogo de gênero para ajudar os professores a
retirarem todas as referências masculinas ou femininas da linguagem e do
comportamento. Os tradicionais livros infantis suecos, são substituídos por outros
que tratam de mães solteiras, duplas homossexuais, crianças adotadas e ensinam
novas maneiras de brincar. Os livros nem falam mais em alguém ser heterossexual
ou homossexual, pois para eles todos são bissexuais, tudo é questão de escolha.
(CRUZ, 2014).
As crianças são submetidas a uma educação sexual totalmente fora do
controle dos pais dentro das creches e escolas, onde são ensinadas que tudo que
lhes dá prazer é válido. Existe cartilha que entra nas escolas, publicada por
associações homossexuais e impressa com auxílio do Estado, onde manifesta de
maneira positiva qualquer tipo de sexualidade, mesmo os mais depravados atos
sexuais. (CRUZ, 2014).
A conduta da Suécia tem sido tão ditadora e invasiva que aprovou uma lei
de crimes de ódio que proíbem qualquer tipo de liberdade de expressão sobre a
ideologia de gênero, a ponto de condenar um pastor a um mês de prisão por ter feito
um sermão qualificando essa prática como “um tumor canceroso anormal e horrível
no corpo da sociedade”. (CRUZ, 2014).
Outra conduta reprovadora da Suécia, continua Cruz (2014) relatando em
seu artigo, é a proibição dos pais de aplicar qualquer castigo físico aos filhos. Foi o
caso de um casal em novembro de 2010, condenado a nove meses de prisão e
pagamento de multa, porque davam palmadas em seus filhos como parte normal de
seus métodos de educação. Ficou provado no tribunal, através de documentos, que
43

não havia nenhum tipo de abuso e que os pais tinham relacionamento de amor e
cuidado com seus filhos, mesmo assim, as crianças foram afastadas da família e
enviadas para um orfanato estatal.
Outro casal, em junho de 2009, teve seu filho tomado pelo governo sueco
depois que a família embarcou em um avião para se mudar para a Índia. Esse casal
optou por educar o filho em casa, ao invés de enviá-lo para as escolas estatais. As
autoridades suecas, porém, decidiram removê-lo permanentemente de seus pais,
alegando que o ensino domiciliar não é um meio apropriado para educar uma
criança. Essa prática é conhecida e amplamente praticada dos Estados Unidos e
outros países, com excelentes resultados pedagógicos. (CRUZ, 2014).
Cruz (2014) relata também estatísticas sobre o aborto na Suécia. Enquanto
o resto da Europa estava dando sinais de redução de abortos, entre 2000 e 2010, o
governo sueco divulgou a crescente taxa proporcional de 38,1% para 40,4% - o mais
alto nível já atingido. É o único país da Europa em que o aborto é permitido por
simples pedido da gestante até 18 semanas de gestação; mesmo as menores de
idade podem fazê-lo sem o consentimento dos pais e os médicos não têm direito em
orientar o contrário. E com essa abertura, o número de mulheres que tinha ao
menos quatro abortos prévios cresceu de 521 para aproximadamente 750.
O que parece ser a Suécia um país moderno, atual e “cabeça aberta”, na
verdade tem sido um país onde tudo dá sinais de decadência social. Ela quis
implantar um socialismo de famílias, usando de uma engenharia social e está
colhendo maus frutos que são patentes: é o segundo país em número de estupros,
jovens com problemas psicológicos, declínio no rendimento escolar, adultos com
problemas de saúde relacionados com stress, grande número de pessoas com
licença médica, casamentos em baixa, divórcios em alta, família assediada e
oprimida pelo totalitarismo estatal, dificultando os pais de se conectarem com seus
filhos. (CRUZ, 2014).
Um outro caso tornou-se notícia numa publicação do Jornal Português
Expresso em 1999:

O tribunal Superior de Los Angeles, Estados Unidos, proferiu na semana


passada uma sentença que torna um casal de homossexuais britânico,
Barrie Drewitt, de 30 anos, e Tony Barlow, de 35, nos primeiros europeus a
serem reconhecidos como pais para efeitos legais de dois gêmeos, que uma
mãe de aluguel irá dar à luz em dezembro. Embora existam já alguns caos
idênticos nos Estados Unidos, o fato de se tratar de cidadãos britânicos,
44

residentes do Reino Unido, faz com que a decisão do tribunal seja


automaticamente aplicável nesse país. Barrie e Tony tentaram adotar uma
criança, mas os serviços sociais do Essex rejeitaram o pedido. Desiludidos
mas não vencidos, decidiram contactar uma agência de mães de aluguel
com sede em Los Angeles que descobriram através de um anúncio na
Internet. A agência, especializada na resolução de casos de homossexuais
que pretendam ter filhos, vendeu (grifo meu) quatro óvulos ao casal, os
quais foram fertilizados com o esperma dos dois homens e implantados no
útero de Rossalind Bellamy, a mãe de aluguel, uma americana de 32 anos,
casada e com quatro filhos. A solução encontrada – a mãe biológica, Tracie
Matthews, que doou os óvulos, e a mãe de aluguel – impede que qualquer
uma delas tenha direitos sobre a criança depois do seu nascimento. [...] O
debate que se seguiu nas páginas dos jornais centra-se mais nas diferenças
de educação e de afeto que casais homossexuais ou lésbicas podem
oferecer aos filhos em relação à proporcionada por casais tradicionais do
que nos problemas de identidade que as crianças possam ter no futuro. A
questão é a de saber se uma criança necessita de um pai, no caso de um
casal de lésbicas, ou de uma mãe, no caso de casal de homossexuais.
Dadas as enormes diferenças comportamentais entre ‘gays’ e lésbicas,
outra questão que foi colocada é a de saber qual é a mais adequada
naquelas situações particulares. Seja como for, não há respostas definitivas.
[...] Fica por saber por quanto tempo constitui uma vantagem ou
desvantagem social ser filho de pais que assumiram o seu direito à
diferença. (JORNAL EXPRESSO apud Figueirêdo, 2001, p. 100).

Ao longo desses relatos, parece evidente que a ideologia de gênero tem


transformado boa parte dos países um verdadeiro caos, entre eles o Brasil onde as
maiores vítimas são nossas crianças e adolescentes. São presas fáceis e
vulneráveis de pessoas que veem nessa ideologia algo natural e inofensivo do
mundo moderno, vulneráveis a pais homoafetivos ou não, inocentes ou não quanto
ao assunto e não se posicionam para protegerem seus filhos e, são vulneráveis
também aos ensinos curriculares vazios e ditadores de uma ideologia que só lhes
serve para confundir sua sexualidade.

3.4 Tentativa de extinguir a instituição familiar

O movimento feminista que se instalou no cenário internacional por volta da


década de 60, teve fundamental papel no processo de mudança e modernização da
família, uma vez que se empenhava na luta pela liberdade e igualdade entre os
sexos, contestando todas as formas de hierarquia e discriminação social, assim
como a redefinição do papel da mulher na sociedade. (ZANETTI; GOMES, 2009, p.
195).
45

Na década de 70, a chamada revolução sexual e o culto às drogas,


expandido especialmente entre os jovens da classe média urbana aqui no Brasil,
levava-os a uma postura de distanciamento à qualquer reflexão crítica ou
participação política, ao mesmo tempo que os focava na ideia de uma vivência de
novas formas de relacionamento afetivo-sexual, tudo em nome do prazer. Com isso,
os padrões de moralidade e sexualidade é que se tornou alvo de questionamentos
trazendo desestabilização dos modelos tradicionais da família, como: a
masculinidade, a feminilidade, o respeito aos mais velhos, etc. (ZANETTI; GOMES,
2009, p. 195).
Nesse presente século, são as crianças que se tornaram o centro das
atenções. Os periódicos científicos e a mídia começaram apontar como tratá-las,
como falar e agir com elas. Esses apontamentos, podem interferir de tal maneira no
relacionamento entre adultos e crianças, que muitos pais acabam a desconfiarem
até mesmo de sua competência em educar seus filhos. Está havendo um processo
de invasão da privacidade dos pais, da instituição da família em nome de um
discurso especializado sobre as crianças, onde ela é colocada no lugar de
protagonista e de quem decide seu futuro. (ZANETTI; GOMES, 2009, p. 196).
Esse discurso tomou conta dos domínios pedagógicos, transformando a
tarefa de educar as crianças em uma ciência especializada, trazendo preocupantes
consequências: a ideia de que o saber natural dos pais são desqualificados e a
retirada da autoridade deles sobre os filhos, tentando desmoronar as funções e
papéis parentais que têm a finalidade e responsabilidade de transmitir aos filhos a
cultura, a educação, a autoridade, os limites, coisas essas fundamentais para o
desenvolvimento da sociedade. Ou seja, esse discurso, em nome de uma educação
idealizada, não permite que os pais tenham o direito de errar com a criança, nem
garantir a transmissão da lei necessária à vida civilizada e nem de introduzi-la ao
mundo garantindo sua continuidade. (ZANETTI; GOMES, 2009, p. 196).
Ao que parece, estamos diante de um discurso que acaba se confundindo
entre o combate ao autoritarismo e o princípio de autoridade, subvertendo
profundamente o equilíbrio da família e o poder da autoridade gerando uma
fragilidade nos papéis parentais. Ao contrário do que se prega nesse discurso, a
família regida pelos valores de hierarquia e autoridade forma indivíduos com espírito
de independência, de amor pela livre escolha, de disciplina interior, que sabem
equilibrar e praticar tanto a autoridade como a liberdade. Eles desenvolvem a
46

capacidade de saber e entender o que lhes é útil ou não, o que lhes faz bem ou não,
refutando ideias engessadas e escravizantes. (ZANETTI; GOMES, 2009, p. 199).
É sabido que para a formação da identidade e o desenvolvimento
psicossexual natural da criança, é necessária a presença de referenciais masculino
e feminino. Fazem parte inevitável da infância a objetividade da realidade e
pertencimento a um sexo ou outro, trazendo a ela consciência do próprio gênero
como fator estruturante do psiquismo infantil. Do contrário, ela terá afetados o
autoconceito, a autoestima e as interações sociais. (MELO, 2012).
Mais avançada ainda é a tecnociência que impõe suas leis de forma implícita
e altera tanto o bom senso quanto o sentido do limite e acaba promovendo uma
sociedade sem referência e diante disso, a dificuldade dos pais em dizer “não”,
contaminando assim, a sociedade que assumiu a ciência no lugar da função
paterna. As relações de autoridade e poder na família que definiam posições
hierárquicas, direitos e deveres nas quais o pai detinha a autoridade e era reforçado
pela mãe, estão diluídas. Isso contribui para que os filhos se sintam na posição de
sujeitos de direitos, dentro e fora de casa, e a posição de sujeitos de deveres fica em
segundo plano. (ZANETTI; GOMES, 2009, p. 197).
A família tem sido alvo de ataques hostis através dessas transformações e
passa por um tempo de perda de referências, onde os modelos recebidos nas
gerações anteriores parecem obsoletos, mas as novas estratégias não parecem
eficazes. A bem da verdade, a cultura da atualidade, dita democratizante, sustenta
uma violência estrutural pautada num autoritarismo econômico disseminado pela
globalização, e seus efeitos servem para promover a ganância e a exclusão social
em todos os países, exagerando a ideologia individualista que se potencializa e se
alimenta do ‘salve-se quem puder’. (ZANETTI; GOMES, 2009, p. 198).
Esse individualismo exacerbado onde cada um se culpa por tudo que não
pode conquistar, nesta sociedade de máxima valorização pelo ter, pelas conquistas
pessoais, além de competitiva, acaba por fazer o indivíduo solitário, e o resultado
não poderia ser outro senão a admiração exagerada por si mesmo e o afastamento
do convívio social na sua destrutividade psíquica. (ZANETTI; GOMES, 2009, p. 198).
A família contemporânea, sob influência deste panorama, pode acabar por
ser um grupo de pessoas que se tornem pouco sensíveis às causas uns dos outros,
com relações superficiais entre si, proporcionando novos padrões de
relacionamentos para as gerações futuras, em que as crianças podem crescer com
47

uma liberdade de caráter duvidoso, pouco preocupados com o próximo, isentos de


critérios solidamente estabelecidos, nutrindo uma paixão por si mesmos,
egocêntricos, fechados e solitários. (ZANETTI; GOMES, 2009, p. 199).
Tratar uma instituição cultural ou ideológica onde qualquer junção de
pessoas em dupla, grupo, mesmo que ligados por profundo afeto, não é justificativa
para iniciar uma família. A família é atemporal, não é através de qualquer junção de
pessoas que deve ser considerada como tal, porque ela subsiste aos séculos e às
circunstâncias. (MELO, 2012).

3.5 O princípio da dignidade humana

Primeiramente, precisamos definir o que são direitos humanos. A palavra


dignidade é derivada do latim dignitas (virtude, honra, consideração). Pelo fato de
sermos humanos temos necessidades básicas que são fundamentais, a saber:
integridade física, mental e espiritual, bem por isso chamamos de direitos
fundamentais, porque visam valores e dignidade perante a sociedade.
Dessa forma é complexo conceituar a dignidade da pessoa humana e mais
ainda conceituá-la juridicamente, levando o termo a ser caracterizado como tendo
sentido subjetivo, inserido na categoria dos denominados conceitos jurídicos
indeterminados e que vai exigir o uso da hermenêutica para interpretar a
concretização do princípio constitucional que exige o respeito à dignidade inerente a
todo ser humano para resgatar seu valor e buscar sua defesa sem distinção ou
acepção de pessoas. (ANDRADE, 2008, p. 9-10)
A Declaração Universal dos Direitos Humanos, em seu art. 1º, destaca que
todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos, são dotadas de
razão e consciência e devem agir em relação umas às outras com espírito de
fraternidade, pelo motivo de não sermos coisa, nem objeto, mas sim um ser
considerado sempre. (ANDRADE, 2008, p. 6)
Kant (2007, p. 77), ilustra o caráter único e insubstituível da dignidade,
contrapondo-a ao preço: “Quando uma coisa tem preço, pode ser substituída por
algo equivalente; por outro lado, a coisa que se acha acima de todo preço, e por isso
não admite qualquer equivalência, compreende uma dignidade”.
48

A Constituição Federal de 1988 traz como fundamentos da República


Federativa do Brasil e consequentemente, do Estado Democrático de Direito, vários
artigos que falam sobre a dignidade humana. Logo em seu artigo 1 º, inciso III, traz a
dignidade da pessoa humana como fundamento; no artigo 226, § 7º, estabelece que
o planejamento familiar é fundado nos princípios da dignidade da pessoa humana e
da paternidade responsável; no artigo 227, caput, institui que é dever da família, da
sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta
prioridade, o direito à dignidade. O princípio da dignidade está contido, ainda que de
forma implícita, em outros dispositivos constitucionais, como o artigo 3º, inciso I e IV,
respectivamente, que constituem dentre os objetivos fundamentais da República
Brasileira, a construção de uma sociedade livre, justa e solidária e, a promoção do
bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer
outras formas de discriminação. (ANDRADE, 2008, p. 13)
 A dignidade humana está vinculada à existência humana. (ANDRADE,
2008, p. 14). Mesmo havendo algumas culturas que não a reconhecem, não impede
que esse conceito esteja presente em sua razão e consciência.
A dignidade traz consigo princípios e valores: a solidariedade, a ética e a
liberdade que juntos fazem parte do alicerce da sociedade. A solidariedade é uma
necessidade a para a vida em sociedade. A ética, é um dever imposto a todos antes
mesmo que pelo direito ou pela religião. A liberdade permite o pleno exercício dos
direitos existenciais, mas também encontra limites em outros direitos: a honra, a
intimidade, a imagem e isso exige responsabilidade social. (ANDRADE, 2008, p. 5-
6).
Devido o princípio da dignidade humana ter um amplo conceito, relaciona-
se de forma mais próxima com duas categorias de direitos: os direitos humanos, que
revelam um caráter internacional de validade universal para todos os povos e
tempos e os direitos fundamentais para aqueles direitos do ser humano, positivados
na esfera do direito constitucional positivo de determinado Estado. (ANDRADE,
2008, p. 15-16).
A Constituição Federal de 1988, em seus artigos 4 º e 5 º, faz menção a
essa pluralidade de expressões ligadas à dignidade humana: direitos humanos;
direitos e garantias constitucionais; direitos e garantias individuais; direitos e
liberdades fundamentais e direitos fundamentais da pessoa humana. Ela reconhece
que a dignidade é atributo intrínseco da pessoa humana e assim sendo, transformou
49

num valor supremo de ordem jurídica declarando como um dos fundamentos da


República Federativa do Brasil constituída em Estado Democrático de Direito.
(ANDRADE, 2008, p. 16).
Parte da doutrina considera os direitos da personalidade (humanos) como
existentes independentemente do direito positivo, porque os considera como direitos
inatos ao homem. (ANDRADE, 2008, p. 19).
Já o Positivismo Jurídico, negou a existência de um direito humano de
caráter geral, reconhecendo apenas aqueles positivados pelo Estado. Essa crítica
redundou na consagração legislativa de “direitos especiais de personalidade”, com
vistas à proteção de bens ou interesses jurídicos de personalidade específicos,
como a vida, o corpo, a saúde, a liberdade, a honra. (ANDRADE, 2008, p. 20).
Em nosso ordenamento jurídico, cabe à doutrina e à jurisprudência, mais
que à lei, a definição dos direitos humanos, devido ao fato de trazer sempre novos
aspectos que são destacados e elevados à condição de interesse juridicamente
protegido. Tanto que a doutrina se divide quando vê os direitos humanos como
forma de defesa de um indivíduo frente a outro indivíduo, enquanto os direitos
fundamentais atuariam na forma de defesa de um indivíduo frente ao Estado.
(ANDRADE, 2008, p. 22-23).
Dessa forma, apenas os seres humanos, humanos, resguardam-se da
dignidade por terem autonomia para o exercício da razão, enquanto entes morais e
éticos.
O reconhecimento e a proteção da dignidade da pessoa humana pelo Direito
é resultado da evolução do pensamento humano. Pode-se dizer que quanto mais o
direito se aproxima de sua finalidade, mais considera o homem em todas as suas
diferenças físicas, intelectuais, psicológicas, tornando-o credor de igual
consideração e respeito por parte de seus semelhantes.

CONCLUSÃO

Diante de um tema tão abrangente que é a adoção e ao mesmo tempo muito


específico no certame estudado nesse trabalho, percebe-se claramente que
50

nenhuma área da ciência conseguiu provar o porquê da homossexualidade e muito


menos da ideologia de gênero. Por isso ser alvo de críticas, discussões, pessoas
contrárias, outras a favor, tornando o assunto bastante polêmico.
O escritor e filósofo brasileiro Olavo de Carvalho em resposta às perguntas
feitas pela Presidente do Instituto Resgata Brasil, Bia Kicis, num vídeo publicado no
YouTube, explicou que uma guerra cultural começa com 40 a 50 anos de
antecedência até chegar na fase de propaganda aberta, quando já está tudo
preparado para ganhar a classe universitária, os artistas, a grande mídia. Ela
começa em altíssimos círculos intelectuais e científicos. Surge alguma tese
científica, como por exemplo, no nosso estudo aqui apresentado, alguém dizendo
que o homossexualismo não é doença e sim uma orientação sexual que não dá para
mudar, porém essa não fica comprovada. Daí começa aparecer grande número de
outras teses que acabam pesando na comunidade científica, determinando um peso
de opinião numa parte dessa comunidade. É aí que surge a guerra cultural. (KICIS;
CARVALHO, 2017).
A preparação de uma ideologia é feita de maneira sutil pelos seus adeptos,
através da dessensibilização dos sentidos das pessoas até criar um conflito que vai
produzir o resultado esperado que é fazer com que a ideia se torne algo natural. É
provado que quando uma anormalidade dura determinado tempo, ela é normatizada
automaticamente. E então, tudo que se endêmico é normal. Essa fase é a chamada
de inconsciência coletiva, onde os que se mantêm lúcidos, são tachados de mentes
fechadas, retrógados, conservadores e nesse caso em questão, de homofóbicos,
nazistas, racistas, fascistas. (KICIS; CARVALHO, 2017).
No entanto, existem líderes gayzistas que chegam a associar o
homossexualismo com a pedofilia, porque não faz diferença entre adultos e criança
e nem entre homens e mulheres. Diga-se, como exemplo, Tony Duvert, romancista e
ensaísta francês. Ele ficou conhecido por ser um assumido pedófilo, publicou várias
obras onde expôs abertamente sua ideologia, concentradas na pedofilia
homossexual, na infância, na crítica à modernidade da família e na educação sexual
da sociedade burguesa contemporânea. Tony defendia o direito das crianças a
dispor sua livre sexualidade. Essas obras não são para a massa popular, nem
aparecem nos jornais, são voltadas para intelectuais que a partir da ideologia de
uma pessoa, passam a fazer a propagação e preparação e assim, contaminar todos
quantos se permitem. (KICIS; CARVALHO, 2017).
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Interessante dizer que, hoje em dia, se fizer alguma ligação entre o


homossexualismo com a pedofilia, o movimento gay e seus adeptos se rebelam
dizendo ser calúnia, homofobia ou algo do tipo. Mas o que nem a maioria deles sabe
é que essa ligação foi inventada por membros pertencentes a essa classe, e não por
conservadores, nem por religiosos. Muitos seguidores da ideologia vão tão além do
limite que não só pregam a pedofilia, mas uma liberdade sexual tão tirana que
permite usar a sexualidade como quiser, isto é, transar com animais e com quem der
na cabeça. (KICIS; CARVALHO, 2017).
Após anos de pesquisas, muitos cientistas pró-homossexuais, nunca
encontraram o gene homossexual, e outros que afirmaram ter encontrado, foram
desacreditados porque usaram metodologias fraudulentas. O chefe do Projeto
Genoma Humano, Dr. Francis Collins, reuniu mais de 150 geneticistas para a
decodificação do genoma humano e não encontraram nenhum gene “gay”,
simplesmente pelo fato de ele não existir. (BRASIL, 2014)
Parece evidente que a homossexualidade é causada por questões
ambientais e comportamentais pregada por alguém através da dessensibilização, e
claramente não são comparáveis aos traços inatos como raça e gênero.
Todo esse embaraço social é de cunho político e dentro dessa seara o que
deveríamos nos ater seria às questões voltadas de fato à discriminação da raça, da
cor, da nacionalidade que são inerentes às pessoas desde o nascimento e não se
preocupar com leis protetoras dos direitos dos homossexuais porque eles estão
protegidos nas mesmas leis constitucionais que regem a todos.
E agora vem o maior questionamento. O que será de nossas crianças no
meio desta balbúrdia toda? Quando são adotadas por pessoas que podem ser
adeptas da ideologia de gênero, e é certo que entre os homossexuais ela é bastante
tolerada, está se levando em conta a dignidade humana das crianças? Ou são os
direitos do adulto que não pode procriar que está sendo mais considerado? Se nem
os homossexuais conseguem se equacionar (não sabem se adaptam o corpo à
mente, ou a mente ao corpo) psicologicamente, nem biologicamente, como poderão
ser referência (principalmente a masculina) aos filhos?
Como vimos, atualmente a adoção pelo Estatuto da Criança e do
adolescente, o que se leva em conta é dar uma família à criança, sendo visto a
melhor estrutura para recebê-la. Procura-se pais para um ente indefeso que precisa
de amparo. Seria essa a melhor saída mesmo? Entregar nossas crianças para
52

pessoas inflamadas pela ideologia de gênero e até mesmo adeptos da pedofilia?


Mais preocupante ainda quando sabemos que a adoção visa amenizar a
paternidade irresponsável e o abandono do menor. A questão deve ser analisada
sob a ótica de que é ela que tem direito à uma família.
A adoção por homoafetivos tem aspectos positivos no que diz respeito à
tendência materna e paterna inerente a toda pessoa e com isso a disposição de
amar e educar. Porém, a constituição familiar não é abastecida só pelo amor, ele
não é o único critério, e nem se resulta autossuficiente, implica também
responsabilidade social, pública, contínua e duradoura. (MELO, 2012).
É função da sociedade e do Estado promover o bem integral dos menores,
dar-lhes um destino onde serão devidamente amparados, protegidos e guardados
por uma legislação que assegura o direito inalienável de ser acolhida e educada nas
melhores condições possíveis, sabendo que se tornarão adultos e sendo assim,
pessoas saudáveis em todos seus aspectos. Se não for assim, estaremos dando
uma “família” hoje e teremos um ser completamente confuso mentalmente amanhã
que não dá conta nem de saber quem de fato é, promovendo um grande dilema a si
mesmo, à sociedade e ao Estado.
Perante tantas indagações, a doutrina e a jurisprudência ainda terão muito a
estudar.
Barcelos (2016) relata em sua palestra que os ideólogos financiam a
ideologia de forma ilegal, jogam na mídia dados estatísticos mostrando que tem
muitas pessoas sofrendo discriminação, e com isso, sensibilizam os legisladores a
olhar para a situação, fazendo-os se moverem em direção à legalização.
Sabemos que o direito caminha com a sociedade e sabemos também que
ideologias maléficas são conjecturadas há mais de 20,30 anos antes de se tornarem
públicas. Diante dessa premissa, o ordenamento jurídico deveria estar mais atento
aos círculos intelectuais e científicos do que à sociedade para termos a certeza de
estarmos resguardos de forma verídica dentro dos direitos humanos.
Termino meus estudos com as palavras do jurista Arnaldo Marmitt (1993, p.
112-113) sobre o tema:

...se de um lado não há impedimento contra o impotente, não vale o mesmo


quanto aos travestis, aos homossexuais, às lésbicas, às sádicas, etc., sem
condições morais suficientes. A inconveniência e a proibição condiz mais
com o aspecto moral, natural e educativo.
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