Você está na página 1de 3

Faculdade Presidente Antônio Carlos de Conselheiro Lafaiete

2016/01
Didática I
Prof.: Flávia Mª de Faria D. Moreira
Uma reflexão sobre a Didática e a formação do professor
Cleyde Anne Souza Lucival
Fraga dos Santos

A didática constitui-se em uma área de estudo de fundamental importância à formação de


educadores, visto que ela possibilita fornecer bases teóricas para que estes possam atuar diante
das mais diversas situações práticas de ensino, correspondendo assim um dos pilares básicos
para á prática docente.
As primeiras abordagens acerca da didática surgem quando Comenius escreveu a Didática
Magna, instituindo-a como "arte de ensinar tudo a todos", na tentativa de propor reflexões e
métodos que auxiliassem no processo de ensino e aprendizagem. Mas, o que de fato caracteriza
e /ou define a Didática? Dentre as várias definições existentes, convém citar Libâneo (2002), que
define a didática como uma disciplina que estuda o processo de ensino no seu conjunto, no qual
os objetivos, conteúdos, métodos e formas organizativas da aula se relacionam entre si de modo a
criar as condições e os modos de garantir aos alunos uma aprendizagem significativa. Contudo,
numa perspectiva histórica, houve uma diversidade de tipos de mediação didática que
caracterizou cada uma das tendências pedagógicas, entendendo a didática como a "área que
cuida dos objetivos, condições e modos de realização do processo de ensino"(LIBÂNEO, 2002).
A Tendência Tradicional jesuítica, por exemplo, a primeira que se estabeleceu no Brasil,
tinha como base a transmissão de conhecimentos, concebendo alunos (as) como seres passivos
e o professor como figura básica do processo ensino-aprendizagem. A partir dessa, outras
tendências foram se constituindo, embora muito ainda se perceba dessa no cenário educacional
atual.
A tendência escola-novista representou significativa influencia nos rumos da educação, ao
considerar o professor como um orientador da aprendizagem, deixando assim de ser o detentor
do saber, sob intenção de uma relação mais dialética entre professor e alunos, na qual a criança
passa a ser o centro do ensino, ao passo que é considerada um ser ativo no processo de ensino.
Em outro momento, nasce a tendência tecnicista que reduz o ensino à tarefa de instrução,
ou seja, busca-se ajustar os objetivos de ensino às exigências do sistema, dando ênfase aos
meios para garantir os resultados e conteúdos desvinculados de contexto. Paulo Freire abriu
espaço para a identificação de uma mediação didática em que, no processo de ensino e
aprendizagem, fossem privilegiadas ativas discussões, a partir de temas geradores, voltando à
ação pratica para a reflexão a respeito da realidade social imediata, bem como valorizando os
relatos de experiências vividas. A palavra chave dessa Tendência Libertadora é diálogo e, se
contrapõe à cultura pedagógica verbalista da tendência tradicional, a qual denominou de
"educação bancária"? deposito de conteúdos para posterior saque.
Em oposição às tendências tradicionais acima descritas, surge à tendência critico social
dos conteúdos, a qual teve como alguns dos seus sistematizadores Derneval Saviani e José
Carlos Libâneo. Conforme esta tendência cabe à escola cumprir sua função social e política de
assegurar a difusão dos conhecimentos sistematizados para tornar efetiva participação do povo
nas lutas sociais. Porém, havia a ênfase na contextualização, ou seja, selecionavam-se os
conteúdos conforme sua utilidade para orientar o aluno (a) à aplicabilidade na vida prática.
A crítica que se tem a cerca dessa tendência é a supervalorização da importância da
transmissão do conteúdo sistematizado. Assim, é possível perceber que para cada momento,
novas propostas de mediação didática emergiram, percorrendo a didática assim, um longo e
diferenciado contexto histórico que, inclusive, sempre esteve relacionada ao modelo econômico
vigente. Na verdade, de todas as tendências pedagógicas que foram surgindo, apenas a
escolanovista levou um pouco em consideração os processos cognitivos do educando e tentava
compreender o processo de aprendizagem, ao voltar à atenção para uma aprendizagem mais
significativa e ter o professor como mediador dos saberes.
Então, só após o surgimento das teorias construtivista e sociointeracionista a mediação
didática recebe um novo direcionamento, ainda assim, suscetível aos equívocos pedagógicos. Em
um dado momento histórico educacional, a didática foi instituída como curso e disciplina essencial
à formação docente, porém seu foco sempre esteve voltado às técnicas e métodos.
É sabido que, na formação dos educadores, a didática deve ser uma disciplina que vise
estudar os aspectos que fazem parte do processo de ensino aprendizagem e seus determinantes,
levando em consideração, finalidades, conteúdos, métodos, avaliação e outros elementos, em
outras palavras a didática estabelece a mediação entre o que e a quem ensinar, como e para que
ensinar, provendo-os assim, de conhecimentos específicos necessários à ação docente. Contudo
mesmo com o passar dos anos, nota-se ainda a não obtenção de sucesso com a disciplina e, sim,
um acentuado distanciamento entre teoria e pratica.
Na atualidade, autores como Vera M. Candau e Ilma P. A. Veiga discutem a "fragmentada"
formação que muitos professores têm recebido, na qual se percebe que professores não possuem
os conhecimentos necessários para a sua atuação profissional, pelo fato de não compreenderem
a importância da didática, bem como dos conteúdos e sua aplicabilidade no espaço formal. Dessa
forma, a necessidade real é possibilitar maior aproximação entre teoria e pratica, de forma que os
cursos de formação de educadores repensem o repertorio de conhecimentos, baseando-se no
estudo dos saberes profissionais dos mesmos, pois conforme Veiga (2006a) "há um reducionismo
técnico da didática orientada pelos documentos legais que norteiam a formação de professores".
Como afirma Tardif (2000), os saberes profissionais, na ação, assumem significado e
utilidade, além de possuírem algumas características, ou melhor, considera-os:
Temporais? adquiridos através do tempo;
Plurais e heterogêneos? não formam um repertorio de conhecimentos unificados e a ação
e orientada por objetivos diversos;
Personalizados e situados? os saberes são subjetivados, o que implica a dificuldade de
dissociação da pessoa de sua experiência.
Além disso, o referido autor aponta possíveis motivos para a crise do profissionalismo:
crise da pericia (técnicas, estratégias) profissional, impacto na formação, crise do poder
profissional e da confiança do público e crise da ética profissional. Aspectos relacionados à crise
da qual Tardif (2000) se refere é perceptível, no contexto contemporâneo, principalmente, quando
diante dos novos desafios que são propostos à escola, não é sabido como lidar nem o que fazer.
Alguns temas e algumas situações exigem dos docentes diferenciadas posturas e habilidades,
mas então nos questionamos: Até que ponto a formação desses docentes tem contemplado o que
de fato se necessita na prática? Como associar teoria e prática, se os conhecimentos
universitários encontram-se distanciados dos saberes profissionais? Por que um estagiário ou
mesmo um recém-egresso da universidade ao se deparar com o espaço formal de ensino
percebem que muitos desses conhecimentos não se aplicam bem na ação cotidiana? Como
exemplo, é plausível citar um episódio em que uma professora de 3ª serie, atual 4º ano, chegou
até a coordenação da escola angustiada porque precisava trabalhar expressão numérica com os
alunos, mas ela sempre teve dificuldades para lidar com este conteúdo e facilitar a compreensão
pelos mesmos. Diante dessa situação, lhe foi sugerida uma atividade, na qual se desenvolvia um
jogo da tabuada com a turma dividida em dois grupos, e para cada acerto o aluno ganhava uma
cédula de dinheirinho (poderia combinar os valores por rodada). A final problematizar: O que fazer
para descobrir com quantos R$ cada grupo ficou? À professora caberia estimular os alunos a
perceberem que poderiam identificar quantas cédulas de cada valor tinham para multiplicar e
somar os resultados, sempre provocando reflexões. A proposta, em si, era para que os alunos
percebessem a expressão numérica como um conjunto de operações e que precisa ser resolvida
por etapas. Após aplicação da atividade, a professora em um encontro com a coordenação
pedagógica relatou que ela havia aprendido o que nunca aprendera antes: como ensinar
expressões numéricas.
Ações como esta se transformam em saberes profissionais! Atualmente, é possível
"identificar dois fatores que representam enormes desafios tanto para a didática quanto para o
sistema de ensino, a legislação educacional brasileira e a política neoliberal", (BARADEL, 2007).
Cabe aos educadores, assumir-se profissionalmente tendo clareza da sua função, contribuindo
para uma possível melhoria da qualidade de ensino.
Neste sentido, é necessário que o professor tenha em sua formação profissional as duas
dimensões para o trabalho em sala de aula definidas por Libâneo como "teórico-cientifica e a
prática docente". Portanto, a didática oferece subsídios importantes ao se constituir como
mediadora no espaço acadêmico entre o saber construído na universidade e o saber profissional
construído no espaço escolar com a atuação docente. O grande desafio dos professores seja no
espaço de formação, seja no espaço de atuação profissional, é compreender a Didática como
base do fazer pedagógico.
Não se pode negar que muitos docentes buscam melhorar seus métodos e práticas
pedagógicas para alcançar resultados satisfatórios, porém, muitas vezes essa mudança não
acontece, pois não há conexão entre os conhecimentos teórico-científicos e a prática docente,
uma vez que muitas lacunas são deixadas durante a formação. Luckesi (2004, p.32) faz uma
crítica ao modo como à Didática vem sendo ensinada "acentua o senso comum ideológico
dominante? que perpassa a nossa prática educacional diária, seja por um descuido de uma
compreensão filosófica do mundo e do educando, seja pela não compreensão de uma teoria do
conhecimento norteador da prática educativa, seja pelo mal entendimento de um material didático,
que, de subsidiário do ensino e da aprendizagem, passa a ocupar um papel central e transmissor
de conteúdos e, implicitamente, de ideologias oficiais"
Concluindo, faz-se necessário um novo olhar sobre a Didática, entendendo-a como uma
ponte que liga a teoria a prática, algumas reflexões sobre o papel das instituições de formação
dos educadores e o papel do professor no espaço de sua atuação profissional. É importante que o
professor se reconheça como um profissional da educação e busque sua formação continuada,
não apenas para obter certificados ou títulos, mas com o intuito de didaticamente avaliar e
resignificar os conhecimentos teórico-científicos e aplicá-los na sua prática pedagógica.

Leia mais em: http://www.webartigos.com/artigos/uma-reflexao-sobre-a-didatica-e-a-formacao-do-


professor/63342/#ixzz41IfFoKHg

Você também pode gostar