Você está na página 1de 4

Epigenética na Sua Vida

HINALDO BREGUEZ20 DE SETEMBRO DE 20190  0

A maioria dos biólogos estavam convencidos de que os seres vivos eram somente o
produto de seus genes e de que estávamos determinados por um programa genético
herdado de nossos antepassados, condenados a sofrer. Os últimos vinte anos de
investigações em ciência da vida tem mudado completamente essa crença. Demonstram
que podemos atuar em nossas vidas, transformando a nós mesmos, mudando nossos
comportamentos e indo mais além de nós mesmos para ir em direção a horizontes as
vezes inesperados.

A pesquisa do Dr. Bruce Lipton (1) revelou que o ambiente que opera através da
membrana celular controla o comportamento e a fisiologia da célula ativando e
desativando os genes. Estas descobertas se confrontaram com a opinião de cientistas de
renome, que afirmavam que a vida está controlada pelos genes, predizendo com isso
que um dos campos de estudo mais importantes da atualidade é a ciência epigenética.

            “A descoberta do impacto do meio ambiente no funcionamento das células muda


radicalmente a ideia que tínhamos da imutabilidade do código genético. É também a
prova de que as emoções regulam a expressão dos genes. (…) Seja qual seja seu
conteúdo, nossos pensamentos penetram o corpo em forma de energia, uma energia
emocional, mental, psicológica ou espiritual. Da lugar a reações biológicas que logo se
registram na memória das células. Assim é como a nossa biografia se ajusta
gradualmente aos sistemas biológicos e isso se forma a medida que passam os dias.”

            A epigenética se define como a ciência que estuda as mudanças transmissíveis e


reversíveis da expressão dos genes, não acompanhando a mudança do suporte genético,
ou seja, não modifica o DNA. As mudanças podem ocorrer espontaneamente ou como
resultado do estresse, como resposta a um entorno ou outros fatores externos. Os
fenômenos epigenéticos atuam como interruptores, abrem e fecham, dependendo das
circunstancias e em diversos níveis, a expressão dos genes. Eles, portanto, permitem
muitas combinações não programadas entre genes, através do fenômeno da metilação.
(2)

            Ainda que as descobertas relacionadas com a epigenética são muito recentes, o
termo foi evocado em 1942 por Conrad Hal Waddington (3), (do grego epi, “mais além
de”: mais além da genética). A epigenética abarca propriedades, um código sobre o
código, como Joel de Rosnay o explica muito bem em seu último livro The Symphony
of the Living (4): é um “metasoftware” biológico, que transforma profundamente o
papel da genética clássica. A mudança epigenética não é uma mutação, se não uma
modulação da expressão de genes pelos comportamentos ou o meio ambiente. A
genética e a epigenética se comparam com os textos que tem um livro e o processo de
leitura, no qual cada indivíduo interpreta o livro de uma maneira diferente, através de
sua experiência, sua imaginação… Outros comparam a genética com uma partitura, e a
epigenética com a interpretação da sinfonia. A grande pergunta é como se transformar
no diretor da orquestra da nossa própria partitura.

            O que vivemos influencia em nosso estado físico, nosso estado psíquico, nossa
trajetória de vida e nossa mente, e joga um papel importante na modulação epigenética
da expressão dos genes.

            Herdamos o nosso genoma, porém temos a liberdade de atuar sobre o nosso
epigenoma, a nível individual e coletivo e na evolução de nossa sociedade, de acordo
com as interações que estabelecemos entre nós. Estes fenômenos podem ser ampliados
hoje em dia mediante o uso das redes sociais em uma direção ou outra. No mundo
epigenético, tudo é reversível, o que ressalta a importância de assumir a
responsabilidade de nossas vidas e aclarar nossas escolhas. Nosso comportamento e
nossa vontade de atuar podem nos transformar. Com a epigenética, podemos reorientar
os processos “psicossomáticos” negativos em uma direção que beneficia nossa saúde e
nosso equilíbrio mental.

            As cinco palavras chave para uma reorientação de sucesso são a nutrição, o
exercício, o antiestresse, o prazer e a harmonia. Eles interatuam naturalmente entre si e
reclamam uma disciplina de vida que os antigos do Oriente e Ocidente sempre
recomendaram, como enfoques preventivos, interessados na influência entre a mente e o
corpo.

            Estudos atuais têm demonstrado que as práticas ancestrais como a meditação, o
yoga, formas de meditação dinâmicas como o Tal chi chuan e o Qi Gong podem ter
efeitos positivos no metabolismo do nosso corpo em algumas disfunções como a
hipertensão. Graças a estas pesquisas, as sabedorias antigas e as novas descobertas têm
encontrado um ponto de convergência.

            Hoje sabemos que todas as técnicas para relaxar o corpo e o controle da
respiração permitem alcançar um alto nível, tanto de concentração como de
relaxamento, e que pacientes, especialmente aqueles com câncer, havendo praticado,
com uma nutrição saudável, conseguiram modificar suas células cancerígenas que
voltaram a ser normais novamente. Estudos recentes também demonstraram que, diante
de situações de grande estresse, como no caso das vítimas do holocausto ou a fome,
modificações genéticas podem ser herdadas por gerações que não viveram tais
situações, porém hoje, a reversão é possível.

            Portanto, os hábitos alimentícios, a atividade física, a contaminação, o estresse, a


preocupação, nossas relações sociais ou familiares e eventos felizes ou infelizes são
suscetíveis de interferir em nossa trajetória de vida e em nosso estado de ânimo, e
desempenham um papel importante na modulação epigenética da expressão de nossos
genes. Portanto, estar rodeado de verdadeiros amigos ou viver uma vida emocional
estável, florescer internamente, apenas pode ter efeitos benéficos, não apenas sobre
nossa saúde física, se não também sobre nossa saúde em geral.

            Dawson Church (5) descreve como nosso estado mental interfere em nossos
genes. Demonstra que as crenças, as intenções a meditação, o altruísmo, o otimismo, a
cooperação, a confiança… tem um efeito consequente nos genes do estresse, envolvido
especialmente nos processos de envelhecimento e imunidade
Para concluir, a relação que estabelecemos com nosso entorno exterior e interior é
crucial para nos ajudar a nos transformar e tirar tudo o que promova a evolução do
nosso eu.

É igualmente um desafio coletivo. É essencial entender que somente podemos mudar


individualmente, se não também a forma de viver juntos. Para isso, devemos voltar a
nos conectar com os objetivos superiores, como o demonstrou o coronel Arnaud
Beltrame com seu próprio sacrifício. A união de toda a nação se fez graças a seres
heroicos. Ele soube enfrentar o desafio que nos é imposto: encontrar o delicado
equilíbrio entre liberdade e segurança. Seu exemplo nos permitiu damos conta de que
outras posturas são possíveis e que nunca devemos nos inclinar diante da fatalidade.

Fernando Schwarz

Você também pode gostar