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22/10/21, 15:27 Acordão do Supremo Tribunal Administrativo

Acórdãos STA Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo


Processo: 0426/18.3BALSB
Data do Acordão: 03-07-2019
Tribunal: PLENO DA SECÇÃO DO CT
Relator: ISABEL MARQUES DA SILVA
Descritores: DECISÃO ARBITRAL
RECURSO PARA UNIFORMIZAÇÃO DE JURISPRUDÊNCIA
REJEIÇÃO DO RECURSO
MÉRITO DO RECURSO
Sumário: I - O incumprimento pela recorrente do disposto no n.º 5 do artigo
25.º do RJAT não é legalmente sancionada com a rejeição do
recurso interposto.
II - Sendo duas as questões que a recorrente alega terem sido
decididas em sentido oposto à jurisprudência deste STA e dois os
Acórdãos deste STA apontados como fundamento, e constituindo
jurisprudência uniforme e pacífica que apenas pode ser indicado
um único Acórdão fundamento relativamente a cada questão em
alegada oposição, assumir-se-á, em obediência ao principio “pro
acione”, que indica um Acórdão para cada questão e que
pretende que a jurisprudência seja uniformizada, relativamente a
cada uma das questões, no sentido constante do Acórdão
fundamento que indica.
III - A decisão do Tribunal Constitucional proferida nos autos de
julgar inconstitucional, por violação da proibição de criar impostos
com natureza retroativa, estatuída no artigo 103.º, n.º 3, da
Constituição da República Portuguesa, a norma do artigo 154.º
da Lei n.º 7-A/2016, de 30 de Março, no segmento em que,
atribuindo carácter meramente interpretativo ao n.º 7 do artigo 7.º
do Código do Imposto do Selo, aditado pelo artigo 152.º da
mesma Lei, determina a aplicabilidade, em anos anteriores a
2016, da norma do mesmo n.º 7, em conjugação com a alínea e)
do n.º 1 do artigo 7.º, do referido Código, na redação dada pela
Lei n.º 107-B/2003, de 31 de dezembro, conducente ao sentido
de que a isenção de imposto do selo não abrange as comissões
de gestão cobradas pelas sociedades gestoras de fundos de
pensões por elas geridas tem força de caso julgado no processo
quanto à questão da inconstitucionalidade – artigo 80.º n.º 1 da
LOFTC – e obsta a que este STA possa reapreciar a questão em
recurso para uniformização de jurisprudência, o que determina,
em parte, a rejeição do recurso.
IV - O recurso para o STA de decisão arbitral pressupõe que se
verifique, entre a decisão arbitral recorrida e o acórdão invocado
como fundamento, oposição quanto à mesma questão
fundamental de direito (cfr. o n.º 2 do artigo 25.º RJAT).
Nº Convencional: JSTA000P24768
Nº do Documento: SAP201907030426/18
Data de Entrada: 26-04-2018
Recorrente: AT-AUTORIDADE TRIBUTÁRIA E ADUANEIRA
Recorrido 1: A..... FUNDOS SOCIEDADE GESTORA DE FUNDOS DE PENSÕES, S.A.
Votação: UNANIMIDADE
Aditamento:

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22/10/21, 15:27 Acordão do Supremo Tribunal Administrativo

Texto Integral

Texto Integral: Acordam no Pleno da Secção de Contencioso Tributário do


Supremo Tribunal Administrativo:

– Relatório –

1 – A Autoridade Tributária e Aduaneira – AT vem, ao abrigo do


disposto no art. 25.º do Regime Jurídico da Arbitragem em
Matéria Tributária (RJAT), interpor recurso para este Supremo
Tribunal Administrativo da decisão arbitral proferida em 2 de Maio
de 2017 no processo n.º 348/2016-T, por alegada contradição
com o decidido nos Acórdãos deste Supremo Tribunal
Administrativo de 15 de Junho de 2016, proferido no recurso n.º
0770/15, e de 29 de Junho de 2016, proferido no recurso n.º
1630/15, ambos transitados em julgado.

A Recorrente termina as suas alegações de recurso formulando


as seguintes conclusões:

a) Constitui objeto do presente recurso a decisão final proferida


por Tribunal Arbitral coletivo em matéria tributária constituído, sob
a égide do Centro de Arbitragem Administrativa (CAAD), na
sequência do pedido apresentado nos termos do RJAT e que
correu termos sob o n.º 348/2016-T (documento n.º 1), e é
deduzido na sequência da cessação da interrupção do prazo
efetuada pela interposição do recurso para o Tribunal
Constitucional, cf. alegação supra e certidão do processo arbitral.

b) A Recorrida visava no seu pedido de pronúncia arbitral a


declaração de ilegalidade das liquidações de Imposto de Selo e
respetivos juros compensatórios, melhor identificadas na PI,
relativas aos períodos de tributação de 2011, 2012, 2013 e 2014
(cf. documento junto com a reclamação graciosa, fls. do PA), no
valor total de €374.062,36 e, bem assim, a anulação da decisão
de indeferimento da reclamação graciosa apresentada,
solicitando, a final, a anulação das liquidações impugnadas, bem
como ainda o reconhecimento do direito a juros indemnizatórios.

c) Neste recurso para uniformização de jurisprudência, a


Recorrente contesta a conclusão tirada pelo Tribunal Arbitral
Coletivo sobre o âmbito da isenção prevista na alínea e) do n.º 1
do art. 7.º do CIS e sobre o carácter inovador da norma ínsita no
n.º 7 do art. 7.º do CIS.

d) A decisão arbitral colide frontalmente com a


jurisprudência firmada no âmbito do Acórdão do STA de 15-
06-2016, transitado em julgado, prolatado no processo n,º
0770/15, primeiro acórdão fundamento nos presentes autos
de recurso e, bem assim, com a jurisprudência firmada no
âmbito do Acórdão do STA prolatado em 29-06-2016,
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transitado em julgado, no âmbito do processo n.º 01630/15,


segundo Acórdão fundamento nos presentes autos de
recurso.

e) Sempre ressalvado o devido respeito, a Recorrente não pode


conformar-se com o acórdão recorrido porquanto entende que
esta decisão incorre em erro de julgamento na interpretação
das normas ínsitas nos n.ºs 1, alínea a) e n.º 7 do Código do
Imposto do Selo, considerando a jurisprudência supra indicada;

f) Face ao disposto no artigo 25.º do RJAT, a decisão arbitral


sobre o mérito da pretensão deduzida que ponha termo ao
processo arbitral é suscetível de recurso para o Supremo
Tribunal Administrativo quando esteja em oposição, quanto à
mesma questão fundamental de direito, com acórdão proferido
pelo Tribunal Central Administrativo ou pelo Supremo Tribunal
Administrativo, sendo aplicável ao recurso com as necessárias
adaptações, o regime do recurso para uniformização de
jurisprudência regulado no artigo 152.º do Código de Processo
nos Tribunais Administrativos.

g) O recurso para uniformização de jurisprudência previsto e


regulado no artigo 152.º do CPTA tem como finalidade a
resolução de um conflito sobre a mesma questão fundamental de
direito, devendo o Supremo Tribunal Administrativo, no caso
concreto, proceder à anulação da decisão arbitral e realizar nova
apreciação da questão em litígio quando suscitada e
demonstrada tal contradição.

h) In casu, verifica-se uma patente e inarredável contradição


quanto à mesma questão fundamental de direito – saber se a
isenção prevista na alínea e) do n.º 1 do art. 7.º do CIS tem
como elemento catalisador a concessão de crédito, cfr.
julgou o Ac. desse Supremo Tribunal no proc. 0770/15.

i) Tendo, portanto, tal delimitação do âmbito da isenção


(efetuada pelo n.º 7 do mesmo art. 7.º, aditado pela Lei n.º 7-
A/2016), natureza meramente interpretativa, como qualificou o
legislador (cfr. art. 153º dessa Lei n.º 7-A/2016), e julgou esse
Supremo Tribunal no proc. 01630/15.

j) No caso vertente, encontram-se reunidos os requisitos para


que se tenha por verificada a alegada oposição de acórdãos,
desde logo, identidade das situações de facto, versando sobre
situações fácticas substancialmente idênticas para efeitos de
contradição das soluções dadas, pois que

k) Subjacente à decisão arbitral recorrida está a consideração de


que foram cobradas comissões não decorrentes da concessão
de crédito (in casu, tratava-se de comissões de gestão cobradas
pela sociedade gestora aos fundos de pensões que gere, sobre
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as quais não liquidou imposto de selo – cf. pontos C) e D) da


matéria de facto dada como provada).

l) Sendo entretanto emitidas pela AT as liquidações impugnadas,


no pressuposto de que a isenção prevista na alínea e) do n.º 1 do
art. 7.º do CIS apenas se pode aplicar às comissões, como às
garantias e aos juros (cf. ponto F da matéria de facto dada como
provada), que estejam diretamente ligadas à concessão de
crédito, veio a aqui Recorrente, em sede de pedido de pronúncia
arbitral pedir a anulação das mesmas, ao que o acórdão
recorrido deu procedência.

m) No Acórdão fundamento prolatado no proc. 770/15, estava


igualmente em causa a alegada aplicabilidade da norma de
isenção identificada (estavam em causa comissões também não
diretamente ligadas à concessão de crédito, in casu de mediação
de seguros), tendo-se aí concluído que não merecia acolhimento
a invocada interpretação que advogava a aplicação de toda e
qualquer comissão a se.

n) Demonstra-se, assim, que entre a decisão arbitral e o acórdão


fundamento há uma identidade de situações de facto, pois,
subjacentes às decisões em confronto, estão dois casos de
entidades que cobraram comissões não advindas da concessão
de crédito, sendo que, em ambos os casos, pugnavam pela
aplicabilidade da norma de isenção.

o) Quanto ao pressuposto da identidade da questão de direito,


importa que as soluções opostas tenham sido perfilhadas
relativamente ao mesmo fundamento de direito, verificando-se
que, no caso, é idêntica a questão fundamental de direito
apreciada quer na decisão arbitral recorrida, quer nos Acórdãos
fundamento.

p) Considerou-se no acórdão fundamento prolatado no proc.


770/15, em confirmação de jurisprudência anterior,
nomeadamente o seguinte:

«não se nos afigura fazer qualquer sentido estabelecer uma


autonomia entre os juros, as comissões cobradas e as
garantias prestadas, de um lado e a utilização do crédito
concedido, por outro, sendo que, apenas relativamente a este,
se poderia conexioná-lo dependentemente, das instituições de
crédito e sociedades ou instituições financeiras concedentes e
das sociedades ou entidades observadoras, na forma e no
objecto, dos tipos de instituições de crédito e sociedades e
instituições financeiras beneficiárias.

- Na realidade, afigura-se-nos incompreensível que, desde


logo, o legislador se reportasse aos juros, comissões
cobradas e garantias prestadas, pretendendo referir-se a
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realidades com existência «a se», para efeitos de isenção de


imposto, o que redundaria, a ter o alcance pretendido pela
recorrente, que todas e quaisquer que elas fossem, desde que
reportadas a operações entre sociedade com localização
observadora do, ali determinado, estariam isentas.
- Mas mais relevantemente do que isto é que se tornaria ainda
mais incompreensível que assim se passassem as coisas no que
concerne aos referidos juros, comissões e garantias e já no que
toca à utilização do crédito se restringisse, apenas aqui, a
isenção às operações financeiras celebradas entre aquelas
aludidas instituições. (…).

Assim sendo, também nós consideramos que o preceito em


questão se reporta, aos juros, às comissões cobradas, às
garantias prestadas ou à mera utilização, em todos os casos,
por reporte ao crédito concedido nos termos do estipulado
no normativo em análise, tal como o considerou a sentença
recorrida.» (todos os destaques nossos).

q) Porém, a decisão arbitral recorrida concluiu o oposto,


designadamente que «A expressão “utilização do crédito” não
limita retroativamente o alcance da isenção os juros e comissões
anteriormente referidas, no sentido de apenas abranger os juros
e comissões relativas a operações de crédito. (…)

109. Pelas razões expostas não podemos deixar de concluir que


a isenção do artigo 7.º, n.º 1, alínea e) do Código do Imposto do
Selo não se restringia, anteriormente à entrada em vigor da Lei
n.º 7-A/2016, às operações diretamente destinadas à concessão
de crédito no âmbito da atividade desenvolvida pelas instituições
de crédito, sociedades financeiras e outras instituições
financeiras, como se defende no relatório de inspeção em que a
liquidação se baseou.

110. Aquela restrição apenas voltou a ser expressamente


instituída pela Lei n.º 7-A/2016.».

r) Para concluir, sob o tema mais aí se pugnou que, »Em suma,


pelas razões que vão expostas, considera-se que a Lei n.º 7-
A/2016 veio, através da interpretação conjugada dos seus artigos
152.º e 154.º, delimitar o âmbito material da isenção prevista na
alínea e) do n.º 1 do artigo 7.º do CIS, de forma inovadora.
Aqueles preceitos ao instituírem uma redação que não constava
da ordem jurídica desde 2003 têm de considerar-se retroativos e,
como tal, inconstitucionais, por violação do princípio da proteção
da confiança e da segurança jurídica.»

s) Ora, tal apreciação teve por base uma interpretação errada


das normas constantes, à data dos factos, da alínea e) do n.º 1
do CIS, bem como do n.º 7 entretanto aditado, sendo
precisamente essa mesma questão apreciada em termos
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radicalmente distintos nos Acórdãos desse Supremo Tribunal que


ora se invocam como fundamento.

t) De facto, como bem se fundamenta no segundo acórdão


fundamento: «Com o Orçamento de Estado para o corrente ano
de 2016, Lei n.º 7-A/2016, de 30.03, cfr. artigo 152.º, o Legislador
introduziu um n.º 7 naquele artigo 7º, esclarecendo que o
disposto na alínea e) do n.º 1 apenas se aplica às garantias e
operações financeiras diretamente destinadas à concessão de
crédito, no âmbito da atividade exercida pelas instituições e
entidades referidas naquela alínea, atribuindo natureza
interpretativa ao disposto neste novo n.º 7, cfr. artigo 153º.

Face à dúvida interpretativa existente em torno do disposto


naquele artigo 7º, n.º 7, veio o legislador restringir a sua
aplicação às garantias e operações financeiras directamente
destinadas à concessão de crédito, excluindo, assim,
expressamente, as comissões recebidas pelos Bancos a título de
actividade de mediação de seguros.

E esta norma interpretativa é aplicável imediatamente às


situações anteriores uma vez que não aporta um conteúdo
inovador, nos termos do disposto no artigo 13º, n.º 1, do
Código Civil.

Na verdade, “…a razão pela qual a lei interpretativa se aplica a


factos e situações anteriores reside fundamentalmente em que
ela, vindo consagrar e fixar uma das interpretações possíveis da
LA com que os interessados podiam e deviam contar, não é
susceptível de violar expectativas seguras e legitimamente
fundadas. Poderemos consequentemente dizer que são de sua
natureza interpretativas aquelas leis que, sobre pontos ou
questões em que as regras jurídicas aplicáveis são incertas ou o
seu sentido controvertido, vem consagrar uma solução que os
tribunais poderiam ter adoptado [e efectivamente adoptaram no
caso concreto]…”cfr. J. Baptista Machado, Introdução ao Direito
e ao Discurso Legitimador, pág. 246.

Não há qualquer dúvida, assim, que a concreta situação dos


autos se enquadra precisamente no regime legal da Lei
Interpretativa previsto no artigo 13º do Código Civil, uma vez que
à Lei interpretativa não se lhe reconhece desvio no tocante à
dualidade de interpretações que se fazia de tal norma, o
legislador optou por uma delas, e não introduziu qualquer
“novidade” no próprio texto da norma.» (destaques nossos).

u) Resulta assim, demonstrada a identidade da questão


fundamental de direito na decisão recorrida e no acórdão
fundamento, já que em ambos, em concreto, foi decidida a
mesma questão de direito.

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v) Verifica-se, ainda, que os acórdãos em confronto, sobre a


mesma questão fundamental de direito, perfilharam soluções
opostas de forma expressa sobre a mesma questão, saber se
deve ser atribuída à nora de isenção da alínea e) do n.º 1 do art.
7.º o sentido de ser aplicável apenas às comissões, garantias e
juros ligadas à concessão de crédito, conforme se julgou no
acórdão fundamento tirado no proc. 770/15, tendo a explicitação
do respetivo n.º 7 carácter meramente interpretativo, como julgou
o acórdão fundamento prolatado no proc. 1630/15;

w) Ou se, pelo contrário, a isenção deve ser estendida a todas e


quaisquer comissões e garantias com as características da
norma, conforme determinou o acórdão arbitral recorrido, assim
isentando as comissões ali em causa, pagas pelos fundos de
pensões à respetiva sociedade gestora, julgando, a final, pela
procedência do pedido de anulação das liquidações.

x) A norma em causa tem carácter interpretativo, integrando-se


na lei interpretada (cf. art. 13.º do Código Civil), sendo aprovada
perante divergências interpretativas, indesmentíveis – sempre
salvo melhor opinião – face à jurisprudência do STA ante
mencionada e, bem assim, do Tribunal Central Administrativo Sul
(Proc. n.º 02754/08, de 21-09-2010).

y) Pois que, considera-se que tem carácter interpretativo «a lei


que sobre um ponto em que a regra de direito é incerta ou
controvertida vem consagrar uma solução a que a jurisprudência,
por si só, poderia ter adoptado» (Baptista Machado, in Aplicação
das Leis no Tempo no Novo Código Civil, pág. 286 e segs.). Isto
é, a lei nova limita-se a resolver uma incerteza ou controvérsia
jurídicas, dando-lhe um entendimento que a jurisprudência, se o
tivesse querido, já teria adoptado. E, neste caso, adoptou,
efetivamente.

z) Pois que, o raciocínio subjacente às liquidações fora avalizado


já no acórdão do Tribunal Central Administrativo Sul, proferido no
processo n.º 02754/08, de 21-09-2010, e foi avalizado o acórdão
do Supremo tribunal Administrativo, proferido no processo n.º
0770/15, de 06/17/2016, vindo a ser acolhido expressamente
pelo legislador no Orçamento de Estado para 2016.

aa) Pelo que «o Legislador introduziu um n.º 7 naquele artigo 7.º,


esclarecendo que o disposto na alínea e) do n.º 1 apenas se
aplica às garantias e operações financeiras diretamente
destinadas à concessão de créditos, no âmbito da atividade
exercida pelas instituições e entidades referidas naquela alínea,
atribuindo natureza interpretativa ao disposto neste novo n.º 7, cf.
artigo 153.º (…) E esta norma interpretativa é aplicável
imediatamente às situações anteriores uma vez que não
aporta um conteúdo inovador, nos termos do disposto no
artigo 13.º, n.º 1, do Código Civil. (…) Não há qualquer dúvida,
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assim, que a concreta situação dos autos se enquadra


precisamente no regime legal da Lei Interpretativa previsto no
artigo 13.º do Código Civil, uma vez que à Lei interpretativa não
se lhe reconhece desvio no tocante à dualidade de
interpretações que se fazia de tal norma, o legislador optou
por uma delas, e não introduziu qualquer “novidade” no
próprio texto da norma. (destaques nossos) – cfr. segundo
acórdão fundamento.

bb) Em suma, entre a decisão recorrida e os Acórdãos


fundamento existe uma patente e inarredável contradição sobre a
mesma questão fundamental de direito que importa dirimir
mediante a admissão do presente recurso e consequente
anulação da decisão recorrida, com substituição da mesma por
novo acórdão que, definitivamente, decida a questão
controvertida.

cc) Aqui chegados, e no estrito cumprimento do n.º 2 do artigo


152.º do CPTA, a infração imputada à decisão recorrida
consiste num manifesto erro de julgamento expresso na decisão
recorrida, na medida em que o Tribunal Arbitral adotou uma
interpretação das normas em questão que não respeita,
nomeadamente, as diretrizes do art. 8.º e 9.º do Código Civil.

dd) Tendo em consideração os factos considerados relevantes,


devidamente expostos supra, é inequívoca a conclusão de que
as normas aqui em análise, porque tratam do regime de um
benefício fiscal (isenção) impõem particular atenção à coerência
interna do sistema, nomeadamente à justificação subjacente à
consagração do benefício, conforme foi decidido nos acórdãos
ora invocados como fundamento.

ee) De outro modo, a isenção beneficiaria comissões e garantias


como realidades a se, sem se exigir a ligação à atividade
beneficiária (a concessão de crédito) que, historicamente
justificou a consagração da isenção, ademais quando, como já
se expendeu em sede arbitral, o fio condutor da evolução da
norma de isenção é definido: i) num primeiro momento, os juros
(que pressupõem sempre a existência do crédito); ii) depois,
juros e crédito de que aqueles resultem; e iii), por último, o
crédito, e os juros e comissões decorrentes daquele.

ff) Na verdade, não se considera fundada a conclusão de que


a alteração efetuada aquando da agregação das alíneas
correspondeu a uma intenção legislativa de alargamento do
âmbito da isenção, não devendo qualificar-se a eliminação do
n.º 2 e renumeração dos n.ºs 3 e 4 do artigo 6.º como um acto
revogatório, por não resultar manifesto que o legislador tenha
querido dispor num sentido diverso do anterior.

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gg) Apenas se deve considerar que a vontade do legislador não


necessitava (ou, o que resulta no mesmo, assim se pressupôs)
de qualquer norma que esclarecesse o seu sentido, devendo
concluir-se pela inexistência de ato revogatório com um
resultado muito alargador do âmbito da isenção.

hh) Ademais, deve notar-se que o acórdão recorrido não logra


identificar, em abono da invocada vontade legislativa de
alargamento da isenção, qualquer trabalho preparatório em que
tal (alegada) vontade haja sido minimamente evidenciada. Ora, a
inexistência de uma qualquer externação da (alegada) intenção
legislativa de alargamento da isenção, em elementos coevos à
alteração, é bastante significativa.

ii) Mais cabendo destacar, face à qualificação (pacífica) dos


benefícios fiscais como despesa fiscal, que havia de ter sido feita
a estimativa da despesa fiscal associada a tal alargamento, cf.
dispõe o n.º 3 do art. 2.º do EBF. No entanto, o acórdão recorrido
falha também em indicar a evidência da estimativa da despesa
fiscal inerente, comprometendo a sua conclusão sobre a
(alegada) vontade legislativa de alargar o âmbito da isenção.

jj) Ora, como já se referiu, no primeiro acórdão fundamento


conclui-se doutamente que «o preceito em questão se reporta,
aos juros, às comissões cobradas, às garantias prestadas
ou à mera utilização, em todos os casos, por reporte ao
crédito concedido nos termos do estipulado no normativo
em análise» (destaque nosso).

kk) De facto, o primeiro acórdão fundamento salienta a


importância de estabelecer uma interpretação fundada –
nomeadamente em virtude dos elementos lógico e sistemático –
do âmbito de aplicação da norma de isenção.

ll) Por outro lado, no segundo cordão fundamento, tirado no proc.


01630/15, julgou-se fundadamente que a delimitação do âmbito
da isenção efetuada pelo n.º 7 do mesmo art. 7.º, aditado
pela Lei n.º 7-A/2016, tem natureza meramente interpretativa,
visando resolver divergências interpretativas, pela eleição de um
sentido que a jurisprudência já tinha acolhido antes da aprovação
norma interpretativa.

mm) Assim, se garantindo a unidade do sistema jurídico e a sua


coerência, sendo que, conforme dispõe o artigo 8.º do Código
Civil, o julgador deve ter em consideração todos os casos que
mereçam tratamento análogo, a fim de obter uma interpretação e
aplicação uniforme do direito, o que decorre da própria ideia de
Justiça e está, também, subjacente à consagração do meio
processual aqui em uso.

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nn) Cabendo, na perspetiva da ora Recorrente, sempre


ressalvado o devido respeito, corrigir o indesmentível erro de
julgamento em que incorreu a, aliás douta, decisão aqui em crise.

oo) Mais se peticionando, nos termos legais e constitucionais


supra expostos, dispensa do pagamento do remanescente da
taxa de justiça

Termos em que, e nos mais de Direito que V. Exas.


doutamente suprirão, considerando a jurisprudência supra
indicada, deverá ser decretada a anulação da decisão
arbitral recorrida e a sua substituição por outra que julgue
improcedente o pedido, como é de Direito e Justiça!

2 – Contra-alegou a recorrida, nos termos de fls. 354 a 442 dos


autos, pugnando pela rejeição do recurso – por violação do
disposto no n.º 5 do artigo 25.º do RJAT em virtude da não
comunicação da interposição do recurso ao CAAD e à
contraparte e pela indicação de dois Acórdãos fundamento -, ou
pela sua não admissão, por inexistência dos pressupostos de
identidade quanto à situação de facto e quanto à questão
fundamental de direito, bem como, no que à questão da natureza
interpretativa do n.º 7 do artigo 7.º do CIS, pelo facto de o
Tribunal Constitucional, nos presentes autos, já ter declarado a
inconstitucionalidade dessa interpretação e, caso o recurso seja
admitido, pela improcedência do mesmo.

3 – O Excelentíssimo Magistrado do Ministério Público junto


deste STA emitiu o douto parecer de fls. 448 a 450 dos autos,
pronunciando-se no sentido da não admissão do recurso, no que
à questão de inconstitucionalidade respeita por a mesma já ter
sido objecto, e nos presentes autos, de decisão do Tribunal
Constitucional (processo n.º 449/17) , e no que à questão à
questão da isenção de imposto do selo prevista na alínea e) do
n.º 1 do artigo 7.º do CIS respeita, em razão da não verificação
dos pressupostos de que depende a admissão do recurso, por
inexistência de identidade de situações de facto e de direito entre
os arestos em confronto, uma vez que no acórdão arbitral
recorrido estava em causa uma actividade financeira e no
acórdão fundamento uma actividade seguradora de mediação,
substancialmente não financeira.

4 – Cumprido o estipulado no n.º 2 do artigo 92.º do CPTA,


cumpre decidir em conferência no Pleno da Secção.

- Fundamentação -

5 – Matéria de facto

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5.1 É do seguinte teor o probatório fixado no acórdão arbitral


recorrido:

A. A ora Requerente é uma sociedade gestora de fundos de


pensões;

B. Entre os anos de 2011 e 2014, a Requerente exerceu,


enquanto SGPF, a sua actividade de gestão de vários fundos de
pensão, nomeadamente, o A…….. Fundo de Sociedade Gestora
de Fundos de Pensões, S.A.;

C. Ao longo desse período temporal, a Requerente cobrou


mensalmente, comissões aos fundos de pensões, como
contrapartida pela prestação dos seus serviços de gestão, que
totalizam o montante de €8.554.736,02 (oito milhões quinhentos
e cinquenta e quatro mil, seiscentos e trinta e seis euros e dois
cêntimos);

D. Aquanto da cobrança destas comissões, a Requerente


entendeu que, nos termos do Código do Imposto do Selo
(doravante, “CIS”) e da Tabela Geral do Imposto do Selo
(doravante, “TGIS”), não tinha de liquidar Imposto de Selo sobre
as mesmas;

E. A Requerente foi objecto de Procedimento Inspectivo levado a


cabo pela Unidade de Grandes Contribuintes, o qual foi
credenciado pela Ordem de Serviço n.º OI201500292,
OI201500293, OI201500294, OI201500295 de 30-01-2015, com
o código de actividade 12222110202, relativas aos exercícios de
2011, 2012, 2013 e 2014, procedimento de âmbito parcial,
incidindo apenas sobre o Imposto do Selo;

F. As Ordens de serviço foram abertas com o objectivo de


verificar o enquadramento fiscal das comissões de gestão dos
Fundos de Pensões em sede de Imposto do Selo (isenção do
artigo 4.º do Decreto-Lei 20/86, de 13 de Fevereiro e alínea e) do
n.º 1 do artigo 7.º do CIS conjugado com a verba 17.3.4 da
TGIS);

G. A Requerente foi notificada, primeiro, através do Ofício n.º


0117113, de 02.04.2015, e depois, através do Ofício n.º 021979,
de 30.04.2015, para se pronunciar sobre o Projecto de Relatório
da Inspecção Tributária, no qual se propunha efectuar correcções
em sede de Imposto do Selo que ascendiam ao montante de
€342.198,44 trezentos e quarenta e dois mil, cento e oitenta e
nove euros e quarenta e quatro cêntimos) (cfr. Doc. n.º 3 junto
com a petição inicial);

H. A fundamentação do Projecto de Relatório da Inspecção


Tributária proveio da Informação n.º 12014002788, da Direcção
de Serviços de IMT e no parecer n.º 25/2013 do Centro de
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Estudos Fiscais e Aduaneiros (cfr. Doc. n.º 3, 4 e 5 juntos com a


petição inicial);

I. No dia 22 de Maio de 2015, a Requerente exerceu o direito de


audição prévia que lhe assistia. (cfr. Doc. n.º 6 junto com a
petição inicial);

J. No dia 15 de Julho de 2015, a Requerente foi notificada do


relatório Final de Inspecção Tributária, o qual manteve as
correcções adiantadas no Projecto acima identificado (cfr. Doc.
n.º 7 junto com a petição inicial);

K. Mais tarde, a Requerente foi notificada da demonstração de


liquidação do imposto do Selo e de juros compensatórios n.º
2015 64300001790, no montante de €79.879,79, referente ao
ano de 2011; 2015 64300001792, no montante de €87.995,29,
referente ao ano de 2013; e n.º 2015 64300001793, no montante
de €92.684,48, referente ao ano de 2014; bem como das
liquidações de juros compensatórios n.ºs 2015 00002222826,
201500002222827, 201500002222828, 201500002222829,
201500002222830, 201500002222831, 201500002222832,
201500002222833, no montante total de €12.156,47, referente
ao ano de 2011; 2015 00002222835, 2015 00002222836, 2015
00002222837, 2015 00002222838, 2015 00002222839, 2015
00002222840, 2015 00002222841, 2015 00002222842, no
montante total de €9.566,09, referente ao ano de 2012;
201500002222847, 201500002222848, 201500002222849,
201500002222850, 201500002222851, 201500002222852,
201500002222853, 201500002222854, 201500002222859, no
montante total de €6.744,57, referente ao ano de 2013;
201500002222860, 201500002222861, 201500002222862,
201500002222863, 201500002222864, 201500002222865 e
20150002222866, no montante total de €3.405,79, referente ao
ano de 2014). (Cfr. Doc. n.º 8 junto com a petição inicial);

L. Nos dias 14 de outubro e 15 de Dezembro de 2015, a


Requerente procedeu ao pagamento dos actos de liquidação de
Imposto do Selo aqui impugnados. (cfr. Doc. n.º 9 junto com a
petição inicial);

M. No dia 26 de Janeiro de 2016, a Requerente deduziu


reclamação graciosa contra os actos de liquidação de Imposto do
Selo identificados em K supra. (cfr. Doc. n.º 10 junto com a
petição inicial);

N. No dia 28 de Março de 2016, a Requerente foi notificada da


decisão no sentido do indeferimento da Reclamação graciosa,
através do Ofício n.º 0728 de 2016.03-23 da Divisão de Gestão e
Assistência Tributária (DGAT) da Unidade dos Grandes
Contribuintes (UGC) da Autoridade Tributária e Aduaneira. (cfr.
Doc. n.º 11 junto com a petição Inicial);
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O. No dia 27 de Junho de 2016 a Requerente apresentou pedido


de constituição do presente Tribunal arbitral.

6 – Decidindo

6.1 Questão prévia: da pretendida rejeição do recurso

Nas suas contra-alegações de recurso a recorrida pugna pela


rejeição do recurso (i) por violação do disposto no n.º 5 do artigo
25.º do RJAT, no que respeita à obrigação de comunicação
(atempada, naturalmente) da interposição do recurso ao CAAD e
à contraparte - cfr. conclusão A. das contra-alegações; (ii) pelo
facto de a recorrente sustentar o presente recurso para
uniformização de jurisprudência na alegada contradição entre a
decisão recorrida, por um lado, e dois acórdãos fundamento, por
outro - cfr. conclusões B. e C. das contra-alegações; e (iii) por
não indicar em que sentido deve a jurisprudência ser fixada - cfr.
conclusão T. das contra-alegações.

Mais alega a recorrida – conclusões R. e S. das contra-


alegações – que o TC já decidiu a questão de saber se a norma
interpretativa do n.º 7 do artigo 7.º do Código do IS (introduzida
pela Lei n.º 7-A/2016 de 30 de março), quando aplicável às
comissões de gestão cobradas pelas sociedades gestoras aos
fundos de pensões por elas geridos, é ou não conforme à CRP,
tendo concluído pela inconstitucionalidade, por violação da
proibição de criação de impostos de natureza retroativa, da
norma que determina a aplicabilidade aos anos fiscais anteriores
a 2016, da norma do n.º 7, em conjugação com o artigo 7.º, n.º 1,
alínea e), do Código do IS, segundo a qual a isenção objeto de
tais preceitos não abrange as comissões de gestão cobradas
pelas sociedades gestoras aos fundos de pensões por elas
geridos e que ao insistir na natureza interpretativa do disposto no
n.º 7 do artigo 7.º do Código do IS, a Recorrente parece
esquecer que o TC já declarou, nos próprios autos, a
inconstitucionalidade dessa interpretação, sendo tal decisão de
aplicação obrigatória pelos demais tribunais judiciais, sob pena
de nova inconstitucionalidade (ex vi do disposto no artigo 80.º n.º
3 da LTC e dos artigos 204.º e 280.º n.º 1 da CRP).

Vejamos.

Dispõe o n.º 5 do artigo 25.º do Regime Jurídico da arbitragem


Tributária – RJAT – que “A interposição de recurso é
obrigatoriamente comunicada ao Centro de Arbitragem
Administrativa e à outra parte”.

Não diz a norma, porém, nem esta nem outra, que a não
comunicação atempada da interposição do recurso ao CAAD ou
à contraparte tenha como consequência a rejeição do recurso,
razão pela qual não pode senão dizer-se que a consequência
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que a recorrida pretende extrair da violação pela AT do dever


legal de atempada comunicação da interposição de recurso da
decisão arbitral não tem suporte legal e teria de o ter, em termos
expressos e inequívocos, dada a gravidade de tal consequência.

Não há, pois, motivo para a rejeição do recurso por violação


do disposto no n.º 5 do artigo 25.º do RJAT.

Prossegue a recorrida alegando que o recurso deve ser rejeitado


porquanto a AT sustenta o presente recurso para uniformização
de jurisprudência na alegada contradição entre a decisão
recorrida, por um lado, e dois acórdãos fundamento, por outro e
não indica em que sentido deve a jurisprudência ser fixada.

Atentas as alegações de recurso, verifica-se que a recorrente AT


contesta a decisão arbitral recorrida em duas questões distintas,
a saber, a conclusão tirada pelo Tribunal Arbitral sobre o âmbito
da isenção prevista na alínea e) do n.º 1 do art. 7.º do CIS e, em
segundo lugar, sobre o carácter inovador da norma ínsita no n.º 7
do art. 7.º do CIS, alegando que a decisão arbitral colide
frontalmente com a jurisprudência firmada no âmbito do Acórdão
do STA de 15-06-2016, transitado em julgado, prolatado no
processo n,º 0770/15, primeiro acórdão fundamento nos
presentes autos de recurso e, bem assim, com a jurisprudência
firmada no âmbito do Acórdão do STA prolatado em 29-06-2016,
transitado em julgado, no âmbito do processo n.º 01630/15,
segundo Acórdão fundamento nos presentes autos de recurso.

Ora, sendo duas as questões que a recorrente alega terem sido


decididas em sentido oposto à jurisprudência deste STA e dois os
Acórdãos deste STA apontados como fundamento, e constituindo
jurisprudência uniforme e pacífica que apenas pode ser indicado
um único Acórdão fundamento relativamente a cada questão em
alegada oposição, assumir-se-á que relativamente à questão que
a recorrente identifica como a relativa “ao âmbito da isenção
prevista na alínea e) do artigo 7.º do Código do Imposto do Selo”
o Acórdão fundamento relevante é o Acórdão deste STA
proferido em 15 de Junho de 2015, no recurso n.º 0770/15,
sendo o Acórdão do STA proferido em 29 de Junho de 2016, no
recurso n.º 1630/15 o acórdão fundamento relativo à questão
identificada pela recorrente como sendo “a do carácter inovador
da norma do n.º 7 do artigo 7.º do CIS”, assumindo-se
igualmente que a recorrente pretende que a jurisprudência seja
uniformizada, relativamente a cada uma das questões, no
sentido constante de cada um dos Acórdãos fundamento que
indica.

Isto em obediência ao princípio “pro acione”, para evitar a


rejeição do recurso por estes motivos.

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Finalmente, relativamente à pronúncia do Tribunal


Constitucional nos presentes autos.

Aquando na interposição do recurso a recorrente omitiu, e não


retirou as consequências devidas, do facto de, nos presentes
autos, o Tribunal Constitucional ter julgado inconstitucional,
por violação da proibição de criar impostos com natureza
retroativa, estatuída no artigo 103.º, n.º 3, da Constituição da
República Portuguesa, a norma do artigo 154.º da Lei n.º 7-
A/2016, de 30 de Março, no segmento em que, atribuindo
carácter meramente interpretativo ao n.º 7 do artigo 7.º do
Código do Imposto do Selo, aditado pelo artigo 152.º da
mesma Lei, determina a aplicabilidade, em anos anteriores a
2016, da norma do mesmo n.º 7, em conjugação com a alínea
e) do n.º 1 do artigo 7.º, do referido Código, na redação dada
pela Lei n.º 107-B/2003, de 31 de dezembro, conducente ao
sentido de que a isenção de imposto do selo não abrange as
comissões de gestão cobradas pelas sociedades gestoras
de fundos de pensões por elas geridas – cfr. Acórdão do
Tribunal Constitucional n.º 92/2018, de 20 de Fevereiro de 2018,
proferido nos autos de recurso n.º 449/17.

A decisão do Tribunal Constitucional quanto à questão da


inconstitucionalidade suscitada nos presentes autos tem
força de caso julgado – cfr. o n.º 1 e 4 do artigo 80.º da LOFTC
– e é obrigatória para todas as entidades públicas e privadas
– cfr. o n.º 2 do artigo 205.º da CRP-, incluindo, obviamente, a AT
e este STA.

Por isso, interpor recurso para este STA para uniformização de


jurisprudência de questão que o Tribunal Constitucional já decidiu
e que adquiriu força de caso julgado nos presentes autos é uma
actuação censurável. Como pretender que este STA,
conhecendo de novo a questão (que a recorrente lhe apresenta
omitindo a referencia à questão da inconstitucionalidade, mas
que em torno desta gira necessariamente), uniformize
jurisprudência em sentido contrário ao julgado pelo Tribunal
Constitucional – ou seja, que diga que a norma do n.º 7 do
artigo 7.º do CIS tem carácter interpretativo, como
consignado no Acórdão fundamento indicado pela
recorrente, quando o Tribunal Constitucional disse já, e
neste processo, que a atribuição de carácter interpretativo a
tal norma é inconstitucional, por violação do n.º 3 do artigo
103.º n.º 3 da Constituição – é uma pretensão ilegítima, que
este STA rejeita, rejeitando por isso o recurso no que à
questão identificada pela recorrente como sendo “a do
carácter inovador da norma do n.º 7 do artigo 7.º do CIS”.

O recurso prosseguirá apenas, pois, para verificação dos


respectivos pressupostos substantivos do recurso para
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uniformização no que à primeira questão respeita e, ainda


assim, caso haja que conhecer do respectivo mérito do recurso,
tendo presente a pronúncia do Tribunal Constitucional no que às
questões constitucionalidade suscitadas concerne.

6.2. Da não verificação dos pressupostos substantivos do


recurso

Por Acórdão do Pleno da Secção de Contencioso Tributário


deste STA do passado dia 5 de Junho, proferido no processo n.º
2014/18.5 BALSB, foi decidido, e por unanimidade, não haver
contradição sobre a mesma questão fundamental de direito
entre uma decisão arbitral que julgou que as comissões de
gestão cobradas pela gestora de fundos de pensões aos
fundos que administra estavam, em 2013, isentas de imposto
do selo, ex vi da alínea e) do artigo 7.º do CIS, e o Acórdão
deste STA proferido no processo n.º 770/15 – o mesmo
Acórdão indicado como fundamento nos presentes autos
quanto à primeira questão – que decidiu que não estavam
isentas de Imposto do Selo ao abrigo da referida norma legal
as “comissões cobradas pela impugnante Banco por
serviços de mediação de seguros a Seguradoras”.

Nos presentes autos estão também em causa comissões


cobradas por uma Sociedade Gestora de Fundos de
Pensões aos fundos que administra nos anos de 2011 a
2014, sobre os quais não liquidou Imposto do Selo no
entendimento de que o tal imposto não era devido em razão da
isenção prevista na alínea e) do artigo 7.º do CIS, entendimento
este que a inspecção rejeitou e está na origem das liquidações
adicionais sindicadas – cfr. o probatório fixado do acórdão
arbitral recorrida, pelo que o que naquele Acórdão do Pleno
se decidiu quanto à inexistência de contradição sobre a
mesma questão fundamental de direito é inteiramente
transponível para os presentes autos, remetendo-se para o
ali decidido no que à motivação da decisão respeita.

Não haverá, pois, que conhecer do mérito do recurso.


- Decisão -

7 - Termos em que, face ao exposto, acordam os juízes do Pleno


da Secção de Contencioso Tributário do Supremo Tribunal
Administrativo em:

- rejeitar o recurso, quanto à primeira questão, atento o decidido


pelo Tribunal Constitucional no Acórdão n.º 92/2018 de 20 de
Fevereiro de 2018, proc. n.º 449/17;

e
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- não tomar conhecimento do mérito do recurso, quanto à


segunda questão, pela não verificação dos respectivos
pressupostos substantivos.

Custas pela Recorrente, com dispensa do remanescente da taxa


de justiça devida pelo recurso, como peticionado e ex vi do n.º 7
do artigo 6.º do RCP, atenta a rejeição parcial do recurso e o seu
carácter meramente remissivo, na parte em que se conheceu dos
respectivos pressupostos substantivos.

Comunique-se ao CAAD.

Lisboa, 3 de Julho de 2019. - Isabel Cristina Mota Marques da


Silva (relatora) – António José Pimpão - Joaquim Casimiro
Gonçalves – Dulce Manuel da Conceição Neto - José da
Ascensão Nunes Lopes - Francisco António Pedrosa de Areal
Rothes - Ana Paula da Fonseca Lobo – Pedro Manuel Dias
Delgado - Jorge Miguel Barroso de Aragão Seia.

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