BELO HORIZONTE
2010
UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MINAS GERAIS
CURSO DE PEDAGOGIA / FaE UEMG
BELO HORIZONTE
2010
DEDICATÓRIA
GD Gestão Democrática
E.E. Escola Estadual
IEMG Instituto de Educação Minas Gerais
PPP Projeto Político Pedagógico
SECOM Seleção competitiva interna
SEE- MG Secretaria de Estado da Educação de Minas Gerais
UFMG Universidade federal de Minas Gerais
VeM Vallourec & Mannesmann Tubes
consed Conselho nacional de secretários de educação
SUMÁRIO
INTRODUÇAO .......................................................................................................... 10
1- A GESTÃO DEMOCRÁTICA NUMA PERSPECTIVA HISTÓRICA ...................... 12
1.2- A gestão democrática da educação: do conceito aos princípios .................... 13
1.2.1- os conceitos ............................................................................................. 13
1.2.2- os princípios da gestão democrática ....................................................... 15
1.2.2.1- descentralização .................................................................................. 15
1.2.2.2- participação .......................................................................................... 16
1.2.2.3- transparência ....................................................................................... 16
1.3- Elementos da gestão democrática: mecanismos de participação da
comunidade escolar ............................................................................................... 17
1.3.1- a avaliação ............................................................................................... 17
1.3.2- conselho de classe................................................................................... 18
1.3.3- colegiado .................................................................................................. 19
1.3.4- a eleição de diretores ............................................................................... 20
1.3.5- grêmio estudantil ...................................................................................... 20
1.3.6- projeto político pedagógico ...................................................................... 21
2- O DIRETOR ESCOLAR EM MINAS GERAIS ....................................................... 23
2.1- sobre o processo de eleição do diretor em Minas Gerais ............................... 23
2.2- atribuições e funções do diretor escolar: ........................................................ 25
2.3- competências do gestor escolar ..................................................................... 26
2.3.1- o manual de orientação............................................................................ 27
2.3.2- o guia do diretor escolar........................................................................... 27
2.3.3- Progestão ................................................................................................. 28
2.4- o diretor frente à gestão democrática ............................................................. 28
3- METODOLOGIA DO TRABALHO ......................................................................... 32
3.1- definição da metodologia ................................................................................ 33
3.2- coleta dos dados ............................................................................................ 34
3.3- tratamento dos dados ..................................................................................... 35
4- ANÁLISE DOS DADOS......................................................................................... 37
4.1- realidades distintas: múltiplos olhares ............................................................ 39
4.2- gestão democrática: o que determina o sucesso? ......................................... 40
4.3- eleição: um caminho em construção .............................................................. 44
4.4- indicação enquanto possibilidade democrática ............................................. 45
CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 48
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................... 50
INTRODUÇÃO
Ao final dos anos 80 e início dos anos 90 foram marcados pela reformulação da
organização e da gestão da educação no Brasil. Neste contexto a Gestão
Democrática foi instituída na forma da lei pela Constituição Federal de 1988. Este
forma de gestão tem como princípios a descentralização, a participação e a
transparência dos processos educacionais.
Este estudo está dividido em cinco grande capítulos intitulados: o primeiro apresenta
um sucinto histórico sobre a gestão democrática da educação. O segundo capítulo
nos trás um amplo referencial teórico acerca do papel do diretor escolar em Minas
Gerais delineando suas funções atribuições e características do cargo na
perspectiva da gestão democrática. O terceiro capítulo retrata acerca da metodologia
de pesquisa utilizada para o desenvolvimento do trabalho. No quarto capítulo as
autoras estabelecem uma análise dos dados coletados relacionando-os com o
referencial teórico estudado. A última sessão trás as considerações finais das
autoras à pesquisa.
Espera-se que este trabalho venha contribuir para uma reflexão sobre a gestão
escolar democrática, de forma a mostrar o cotidiano escolar em toda a sua riqueza
de significados e relações, para que se compreenda o importante papel dessa
instituição na formação dos sujeitos (LÜDKE, ANDRÉ, 1986).
1- A GESTÃO DEMOCRÁTICA NUMA PERSPECTIVA HISTÓRICA
1.2.1- os conceitos
Gestão (do latim gestio – Õnis) significa ato de gerir, gerência, administração,
(Holanda Ferreira, 1999. p. 985).
1.2.2.1- descentralização
1.2.2.2- participação
1.2.2.3- transparência
1.3.1- a avaliação
1.3.3- colegiado
Segundo Maria Auxiliadora Machado (s.d.) a idéia central relacionada a criação dos
colegiados nas unidades de ensino consiste em ampliar a participação de pais,
professores e especialistas na gestão da escola, promovendo maior integração da
escola com a comunidade, favorecendo sua crescente autonomia pedagógica,
administrativa e financeira, bem como uma gestão escolar mais democrática. A
credibilidade e fortalecimento do colegiado escolar estão relacionados às
competências decorrentes da organização e funcionamento da escola.
As normas indicam ainda que o colegiado deva ser composto por representantes de
todos os segmentos da comunidade escolar, ou seja, professores, especialistas,
serviçais, pais e alunos (maiores de 15 anos).
De acordo com Ferreira (1975) projetar vem do latim “projicere”, que significa lançar
adiante. Este conceito expressa com propriedade o sentido de um Projeto Político
Pedagógico (PPP), já que na perspectiva da Gestão Democrática, a escola é o lugar
de concepção e realização de seu projeto educativo. Ele expressa o ideal de
educação e sociedade de uma comunidade escolar numa atitude autônoma em
relação às esferas administrativas superiores, com suas práticas centralizadoras;
lança-se para adiante tendo em vista a concretização de seu projeto educativo em
sua prática cotidiana.
Este capítulo tem como foco apresentar a função do diretor escolar em Minas
Gerais, desde o processo de provimento ao cargo até o seu desafio frente à Gestão
Democrática nas escolas, demonstrando suas atribuições, funções e subsídios para
o exercício à função.
Na parte administrativa, o diretor ainda tem como responsabilidade zelar pelo prédio,
pelos bens patrimoniais e pelo mobiliário escolar, promovendo sua manutenção,
reforma e ampliação, quando necessário. Também necessita prestar contas das
ações realizadas durante o período em que exercer a direção da escola e a
presidência do Colegiado Escolar. A ele cabe assegurar a regularidade do
funcionamento da Caixa Escolar e ainda fornecer os dados e informações solicitadas
pela SEE/MG, observando a sua fidedignidade e prazos estabelecidos, observando
e cumprindo as orientações emanadas da SEE/MG e a legislação vigente.
A Gestão Financeira tem por objetivo cuidar para que os investimentos sejam
empregados na conservação do prédio e do patrimônio escolar, na aquisição do
material necessário ao funcionamento da Escola, na capacitação e
aperfeiçoamento dos profissionais da educação, na avaliação da aprendizagem, na
aquisição de material didático-pedagógico, e, sobretudo, no desenvolvimento e
implementação do Projeto Pedagógico.
2.3.3- Progestão
E mais
Sob o mesmo ponto de vista, Weiss (1991. p.29) observa que “cada pessoa deve
conhecer suas responsabilidades individuais, mesmo que trabalhe em conjunto, em
equipe”. Este autor (p.34) afirma que: "O fato de as pessoas desconhecerem as
conseqüências do sucesso ou do fracasso constitui uma razão importante para que
elas não dêem o melhor possível de si”.
Com isso pressupõe-se que o Diretor Escolar tem um papel frente a gestão
democrática no sentido de promover um ambiente participativo, transparente e
autônomo. Estimulando assim, toda a comunidade a envolver-se efetivamente na
gestão participativa da educação.
3- METODOLOGIA DO TRABALHO
Os sujeitos pesquisados são sujeitos de cultura que dão sentido às suas ações, dão
significados às suas condutas, assim como se reverenciam em si mesmos e nos
outros. As questões do cotidiano devem ser transformadas em objeto de
investigação, indo além do contexto imediato e analisando os aspectos, dimensões e
circunstâncias que com elas se relacionam.
Partindo desse conhecimento, optou-se por esse método, por ser o que mais se
adequa ao objetivo fundamental deste trabalho possibilitando através dos estudos
bibliográficos e as entrevistas com diretores, perceber a grande importância deste
profissional para a efetivação da gestão democrática.
Rubin & Rubin (1995) descrevem uma variada gama de tipos de entrevistas
qualitativas, distinguido-as pelo grau de controle exercido pelo entrevistador sobre o
diálogo. Nas entrevistas não estruturadas, o entrevistador introduz o tema da
pesquisa, pedindo que o sujeito fale um pouco sobre ele, eventualmente inserindo
alguns tópicos de interesse no fluxo da conversa. Este tipo de entrevista é
geralmente usado no início da coleta de dados, quando o entrevistador tem pouca
clareza sobre aspectos mais específicos a serem focalizados, e é frequentemente
complementado, no decorrer da pesquisa, por entrevistas semi-estruturadas. Nestas,
também chamadas focalizadas, o entrevistador faz perguntas específicas, mas
também deixa que o entrevistado responda em seus próprios termos.
O segundo foco diz respeito “à prática da Gestão democrática por parte dos
entrevistados, e os limites e suas possibilidades frente à realidade educacional de
cada escola visitada”.
Para interpretar os dados coletados através das entrevistas com os diretores das
escolas, foi utilizada, neste trabalho, a técnica de análise de conteúdo proposta por
Bardin. Para esta autora, “análise de conteúdo é uma técnica que não tem modelo
pronto, constrói-se através de um ir e vir contínuo e tem que ser reinventada a cada
momento”.
Diante deste pressuposto e com base nas respostas obtidas através de questionario
semi-estruturads, utlizou-se categorizações para organização dos dados obtidos.
Estes resultados serão amplamente analizados no próximo capítulo.
4- ANÁLISE DOS DADOS
À luz de Paulo Freire foi possível perceber alguns pontos dentro da gestão
democrática que condizem com o pensamento deste grande educador. Os homens
trabalhando em conjunto se libertam das amarras produzidas pelo Estado, onde o
que era indicado torna-se eleito. Ninguém liberta ninguém, ninguém se liberta
sozinho: os homens se libertam em comunhão por intermédio do mundo”. (FREIRE,
1987. p.52)
Com base nas pesquisadas realizadas e a produção dos capítulos I e II, a pesquisa
de campo iniciou-se no mês de Março/2010. A primeira visita realizou-se em uma
escola da rede estadual na região Centro/Sul de Belo Horizonte.
Com base nas informações adquiridas na visita à SEE-MG decidiu-se ampliar esta
pesquisa de campo visitando duas escolas da Rede Estadual de Ensino. Sendo uma
escola onde o diretor foi eleito pela comunidade escolar e outra escola onde o diretor
foi indicado pela SEE-MG.
Disse que, de tempos em tempos, volta para o cargo de professor, pois a clientela
muda rápido e, a seu ver, “o professor que fica no cargo de gestor por muito tempo
perde a abordagem do aluno”.
A gestora “B” respondeu à pergunta dizendo que o que a levou a ocupar o cargo foi
“a vontade de sair da sala de aula, algo que a estressava muito”. Também falou
sobre “a possibilidade de ascensão profissional”.
Esta idéia de Santos se relaciona à fala do gestor “A”, já que os desafios e entraves
existentes na gestão são mencionados, entretanto não são o foco da gestão. Os
problemas existentes na escola são vistos como forma de elaboração de proposta
que favoreçam melhorias dentro da escola.
A gestora “B” respondeu que, dentro da sua realidade, não vê muita coisa que possa
ser levada em consideração para contribuir com o sucesso do gestor. Também disse
que, se quiser, tem que buscar por si mesma alguma capacitação.
Disse ainda que não existe uma organização apropriada para suprir a falta do
professor que ausenta para capacitar-se. “O diretor me liberou para fazer um curso,
pois para isso tenho que me ausentar e ele disse: pode ir, „seguro‟ aqui para você”.
Quando questionado sobre o que pode ser levado em consideração, a partir de uma
análise da sua atuação, para alcançar sucesso nesta profissão, o gestor “A”
ressaltou que teve uma formação escolar ampla e uma prática ao longo do tempo
que facilitam o exercício da sua função. “Permaneço professor, estou administrador,
portanto não atuo propriamente como profissional de administração”. Disse ainda
que a prática docente também é fundamental ao trabalho.
Lamentou que muitas escolas são administradas como espaço doméstico, “às vezes
uma extensão da vida pessoal e familiar dos professores, funcionários, alunos,
especialistas e dos próprios administradores”. “Urge que se dê um caráter
profissional às relações que se estabelecem na escola, de modo a "exorcismar" o
amadorismo, o favoritismo e a neurose coletiva que travam o processo”.
Percebe-se com a fala da gestora “B”, que na prática a autonomia diverge da teoria,
dificultando o sucesso da escola na qual trabalha.
Salienta que atualmente “a burocracia impede muitas ações benéficas para a
escola”, pois os recursos demoram a chegar. E, assim, “os objetivos almejados não
são alcançados”.
A fala da entrevistada vai de acordo com SANTOS, 2008 p.16 “a estrutura das
escolas é centralizada e burocratizada, como ocorre com os próprios órgãos centrais
da SEE, o que provoca falhas na comunicação organizacional e morosidade dos
serviços.”
Sobre a investidura no cargo, disse que “se dá após a aprovação do eleito pela
Secretaria de Estado de Educação”. E que “não se tem notícia de eleito rejeitado
pela administração pública”.
Sobre este processo de eleição do diretor escolar, a gestora “B” disse que o
processo democrático dá abertura para “cobrar”, pois sendo a própria comunidade
que o escolheu se sentem mais próximos e mais responsáveis pela realização dos
trabalhos. Pois quando um gestor é interventor ou designado pode ter ou não um
vínculo com aquela comunidade.
“Tudo indica que o homem só desenvolverá seu potencial pleno numa sociedade
que permita e facilite a participação de todos. O futuro ideal do homem só se dará
numa sociedade participativa” (BORDENAVE 1994 p.17). Este teórico reforça a fala
dos entrevistados ao reafirmarem a importância da participação para a concretização
de práticas democráticas no ambiente escolar.
A quarta pergunta foi: “Ao indicar diretores escolares, a SEE-MG pode contribuir
para a perda de uma conquista tão importante quanto à gestão democrática que
gera participação política dos membros da comunidade escolar, reflexão sobre
cidadania e leitura de mundo. Você concorda com essa colocação? Por quê?”
A gestora “B” concorda com o que foi colocado pela pergunta. Disse já ter vivenciado
a prática de diretores indicados, que muitas vezes “batiam na mesa e impunham
ordens”. Agora, “se ele bate lá, a gente bate cá. Temos voz ativa”. Salientou ainda
que esta mudança de atitude faz com que a participação aumente e garante aos
professores a oportunidade de fazer mais colocação, e de mostrar mais seu
trabalho. Explicou ainda que, com a escolha democrática, se o diretor eleito não
satisfaz a comunidade, tem o interventor para substituir. “Este sim é indicado. Assim
que haja eleição, volta o processo democrático de eleição”.
Ela também deu exemplo de como acontece na instituição onde ela atua:
O gestor “A” acrescentou que, “por sorte, a ação dos diretores é fiscalizada pelo
colegiado que é eleito com ampla participação dos membros da comunidade escolar
e tem representatividade de todos os seguimentos”. Acredita que, por isto, “a vida
escolar não fica centralizada na vontade soberana da direção”. Concluiu, por fim,
“que a direção eleita não é garantia de uma gestão democrática e participativa e
que, a direção indicada não é impedimento à democracia e à participação”.
O presente trabalho foi de extrema relevância, uma vez que permitiu aprofundar
conhecimentos acerca da Gestão Democrática, conhecer a dinâmica da escola
pública por meio de visitas e observações, e principalmente, focar nas ações
desempenhadas pelo diretor escolar.
Para chegar às conclusões aqui relatadas, o grupo trilhou caminhos que suscitaram
dúvidas como, por exemplo, a descoberta de situações onde a eleição de diretores
deixa de existir para vigorar intervenções da SEE/MG, na forma de indicação de
diretor, conforme necessidade local. Contrariando desta forma o princípio
fundamental da democracia - a eleição - mas não o seu determinante, conforme
averiguado nos referenciais teóricos utilizados para realização deste estudo.
Logo, a forma como o diretor de escola é eleito, seja pela comunidade ou indicado
pela SEE/MG, não é o fator determinante para a efetivação da Gestão Democrática.
Nas duas realidades observadas constatamos que há uma prática democrática
exercida pelo diretor escolar, independente da forma de egresso à ocupação do
cargo. Assim sendo, a educação necessita ser entendida como um bem público,
possuindo uma democracia onde todos tenham voz e vez, onde se respeite a
especificidade de cada escola. A democracia é um princípio sem fim, por isso, a
participação deve existir em todas as ações que se nomearem ser democráticas.
Esta pesquisa não pretendeu esgotar o assunto, mas tão somente ser um estudo
onde futuras pesquisas sobre o tema poderão se apoiar. O trabalho está a
disposição de toda comunidade escolar e acadêmica na qual deseja se interessar e
saber um pouco mais acerca da temática abordada.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
FREIRE, PAULO. Medo e ousadia. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987. Disponível
em: webthes.senado.gov.br/sil/Comissoes/.../CE/.../PLS20080415344.rtf acessado
em 12/04/10.
LIBÂNEO, José Carlos; OLIVEIRA, João Ferreira de; TOSCHI, Mirza Seabra.
Educação Escolar: políticas, estrutura e organização. São Paulo, Cortez, 2003.
PARO, Vítor H. Administração Escolar: Uma introdução Crítica.- 6ª ed.- São Paulo:
Cortez, 1993.
PARO, Vítor H. Administração Escolar: Uma introdução Crítica.- 6ª ed.- São Paulo:
Cortez, 1993.
PARO, Vitor Henrique. Escritos sobre educação. São Paulo: Xamã, 2001.
SILVA, Marcelo S. Pereira. PAULA, Fernanda Motta de, PEREIRA, Noádia Munhoz.
Gestão democrática na escola pública das gerais: os caminhos percorridos e seus
sujeitos. UFMG/ FAE 2004.