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M. Masud R. KHAN
Em todas as culturas o histérico usou uma máscara que reflete tanto a
moralidade manifesta quanto as aspirações sexuais mais escondidas do
ethos de uma época. É assim que foi ora identificado com as bruxas e
queimado, ora santificado e celebrado. Foi somente no século XIX que
Charcot estabeleceu o estatuto do histérico, reconhecendo uma síndrome
clínica específica digna de atenção. Entretanto, na condição do histérico,
até mesmo Charcot não via mais do que uma exibição psiquiátrica
espetacular.
Incumbiria ao gênio de Freud definir a natureza e o caráter desse
mal. E Freud chegou a isso respeitando a "resistência" do histérico a ver
conhecido seu mal, bem como sua recusa e má vontade em cooperar com
sua própria análise. Freud postulara que o não-saber do paciente era, de
fato, um não-querer saber: concluiu que era "um não-querer que podia ser
mais ou menos consciente". Todos sabemos que Freud começou por
atribuir esse não-saber a episódios de sedução sexual real na infância, antes
de relacioná-lo com fantasias de sedução recalcadas que o paciente
expressava, então, através de uma linguagem somática, mas dos quais
recusava tomar consciência, psiquicamente.