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"Que leitura podemos fazer do século XIX, em especial sobre temas abordados

que estão no centro ou tangenciam a dinâmica do capitalismo?"

O século XIX mostra-se como um período extremamente conturbado por


diversas razões, há a formação dos ditos Estados nacionais modernos, e com isso o
surgimento de sentimentos nacionalistas; é o período de grande e abrangente
industrialização da sociedade, acompanhado por um ideal de progresso e modernidade,
além de reflexões sobre tais realidades que são expressas por movimentos como o
romantismo.

Esses acontecimentos relacionam-se com o advento e estruturação do


capitalismo enquanto sistema, sistema este que vai ser criticado por diversos autores,
como MARX (___) e WEBER (___), autor que traça uma crítica ao sistema capitalista
através da Bolsa, segundo o autor, esta entidade apresenta-se como a expressão, a arena
do capitalismo moderno.

Sendo assim, o presente trabalho propõe-se a perpassar pelos temas citados,


buscando relacioná-los entre si e com o sistema capitalista.

Inicialmente, é importante apresentar o surgimento dos ditos Estados nacionais,


que posteriormente possuem grande contribuição para o desenvolvimento do
capitalismo moderno, considerando o papel relevante que os Estados nacionais possuem
em todo o processo de industrialização, pensando a França e a Alemanha, onde o Estado
é um ator fundamental criando empresas e fomentando a produção de bens de capital. O
termo economia nacional foge ao princípio da nacionalidade, já está no campo nacional,
ou seja, empresas protegidas pelo Estado Nação, que possui papel central no
desenvolvimento econômico. Segundo Hobsbawn:

Na verdade, como poderiam ser negadas as


funções econômicas e mesmo os benefícios do Estado-
nação? A existência de Estados com monopólio da
moeda, com finanças públicas e, portanto, com atividades
e políticas fiscais era. um fato. P. 40
A análise do surgimentos das nações e consequentemente do sentimento
nacionalista, é realizada por autores como Benedict Anderson (____) e Eric Hobsbawn
(____). Ambos os autores concordam que a ideia de nação não pode ser naturalizada, é
preciso compreender que a nação é um elemento construído. No entanto, ANDERSON
(____) trata do tema a partir de uma perspectiva com o viés cultural, embora seja
marxista, está mais preocupado com a língua, etnicidade, religião, enquanto que
Hobsbawn observa o tema a partir de um viés econômico, pensa os Estados nacionais a
partir do Liberalismo.

Para trabalhar com o tema, Hobsbawn trabalha com duas vertentes dois
períodos, a primeira é o princípio da Nacionalidade que está instrinscecamente ligado ao
Liberalismo e atende à parte dos interesses das elites liberais da Europa no século XIX,
para diferenciar do Nacionalismo. Enquanto o rpincípio da nacionalidade está ligado às
políticas liberais, o nacionalismo está mais ligado à questão cultural, ou seja, religião,
etnicidade. É a fase posterior ao princípio da nacionalidade, ou seja, o período de 1870 –
1914. PRECISA DE CITAÇÂO

Essa transição do princípio de nacionalidade para o nacionalismo é o que marca


a unificação da Alemanha e da Itália. O nacionalismo vai ter relação com a unificação e
com a desagregação.

Para Hbsbawn, o princípio da nacionalidade tenta realizar a amalgamação de


todo o Estado. Este princípio possui ligação direta com características internacionalistas.

O nacionalismo como se coloca a partir de 1870 é um fechamento das nações em


si e acaba sendo fundamental nas duas grandes guerras mundiais, ligadas diretamente ao
modelo econômico liberal. De acordo com o autor, a junção do princípio estado e nação
consagra o nacionalismo, além de se colocar como a instituição conciliadora e protetora
dos interesses de uma burguesia nacional. PRECISA DE CITAÇÂO

Ainda de acordo com Hobsbawn, no discurso liberal, o nacionalismo aparece


como algo natural, óbvio, atendendo assim, aos mais diversos interesses de setores
dominantes. Sendo assim, há a necessidade de desnaturalizar esse processo e
compreender que o Estado Nação e o nacionalismo são construções históricas.
PRECISA DE CITAÇÂO

Princípio da nacionalidade como expressão política do povo e vinculação


territorial. A unidade linguística perpassa o princípio da nacionalidade, para o autor,
torna-se importante ressaltar que a língua é um indicador de nacionalidade

A partir do final do século XIX e início do século XX, o nacionalismo pode ser
percebido a partir da relação entre nação, estado e economia. Sendo assim, é possível
compreender, de acordo com Hobsbawn, como a formação do Estado nação está
atrelada ao desenvolvimento do capitalismo e à promoção do progresso das nações.
PRECISA DE CITAÇÂO

Sendo assim, o Estado antecede a nação (período de 1830 – 1870, que é o do


princípio da nacionalidade), já que defende os interesses econômicos das classes
dominantes e precisa criar movimentos nacionalistas para dar base e sustentação à nação
em construção.

Para que as nações se consolidem, é importante criar uma consciência nacional.

Já de acordo com Benedict Anderson, a ideia de consciência nacional está ligada


à questões culturais, a constituição de uma nação passa por esses elementos, ou seja, a
etnicidade, a língua, a religião, construção de símbolos, heróis, bandeiras etc. Sendo
assim, é importante ressaltar que o nacionalismo é historicamente forjado a partir de
uma série de elementos que formam uma comunidade imaginada, unificando assim um
determinado povo e território, dando significado a uma nação. PRECISA DE
CITAÇÂO

Anderson foca nas questões da Língua Vernacula, mostrando como esse


movimento ocorre de forma mais forte na Europa, ao contrário da América, onde já há
uma unidade linguística, religoiosa e territorial. PRECISA DE CITAÇÂO

Além disso, o autor aponta o papel da imprensa e da literatura no que diz


respeito à homogeneização da língua e formação de um ideal nacionalista.

Pode-se perceber que a língua aparece como um atributo muito forte da


nacionalidade para os dois autores, mesmo que em escalas diferentes, isso se dá pelo seu
papel unificador. PRECISA DE CITAÇÂO

ACHO QUE AQUI PODE ENTRAR FALANDO SOBRE


INDUSTRIALIZAÇÃO

O debate historiográfico sobre o processo de industrialização é bastante


abrangente, tendo como um dos principais intuitos compreender a criação e os
desdobramentos do avanço do sistema industrial que provocou mudanças nas estruturas
sociais e econômicas no mundo todo.

A Grã Bretanha surge, nesse contexto, como principal percussora do processo de


industrialização, sendo objeto de estudo de diversos autores que analisam o caso inglês
buscando entender os fatores que possibilitaram o avanço tecnológico e industrial em
relação aos demais países.

Desse modo, Tom Kemp aponta que na Grã Bretanha ocorreu um processo
orgânico e endógeno (PAG. 20), ou seja, emergiu de dentro da própria Inglaterra a partir
das transformações ocorridas ao longo dos séculos na estrutura da sociedade inglesa.
Com isso, a partir do contexto sociocultural inglês, tendo os fatores físicos necessários,
além de um quadro político favorável foi possível o desenvolvimento tecnológico
industrial.

Partindo de uma análise mais específica, Joel Monkyr e David S. Landes


sinalizam para a importância das instituições, principalmente as informais, como fator
determinante das condições favoráveis para o empreendedorismo tecnológico. (PAG.
210) Empreendedorismo este que foi influenciado pelo Iluminismo e que se torna fonte
de analise das questões econômicas presentes no contexto da época.

Diferente de Tom Kemp, Monkyr e Landes acreditam que o empreendedorismo,


facilitado pelas relações informais, ou seja, não seguindo apenas fatores materiais, no
ambiente institucional inglês, teve efetividade no que decorrer da Revolução Industrial,
criando os meios naturais necessários com uma organização política que funcionasse de
forma bem-sucedida. (Pag. 231)

Por outro lado, a análise na qual Paul Mantoux faz sobre o processo industrial
inglês aborda as transformações no regime fundiário. Segundo o autor, no final do
século XVIII três principais grupos concentravam riquezas: proprietários de bens de
raiz, de terras laicas ou eclesiásticas, os mercadores e um pequeno grupo dos usuários,
cambistas, banqueiros, almoedeiros. No entanto, inicialmente não havia interesse desses
grupos na fabricação, tinha-se maior interesse na compra e revenda. Desse modo,
proprietários, financistas, negociantes estavam inseridos de uma ou outra dessas
categoriais. PAG. 369

Os manufatureiros surgem como uma exceção. Tal grupo existiu anteriormente a


Revolução Industrial, contudo, formou-se enquanto classe após as transformações no
modo de produção. Vindos em sua maioria dos campos, tinham como antecedentes os
yeomen, que vivam a partir do cultivo de sua própria terra e viram a indústria como um
novo caminho para seguir. .
Quando a aliança secular entre o pequeno
cultivo e a pequena indústria, sobre a qual a sua
existência se fundava, viu-se comprometida, ela
se inclinou institivamente para o lado que
oferecia maiores recursos. A revolução
industrial abria uma nova carreira aqueles para
cuja atividade não havia mais emprego: os mais
empreendedores ou os mais afortunados dos
yeomen nela se lançaram como conquistadores.
(Pag. 378)

Nesse sentido, Mantoux afirma que a primeira geração de manufatureiros na


Inglaterra criou a grande indústria a partir de suas invenções, sobretudo no que diz
respeito à indústria têxtil. (PÁG. 372).

Em razão da dificuldade na produção da seda, o algodão tornou-se uma das


principais matérias-primas que serviram como força motriz da criação do sistema fabril
e da Revolução Industrial na Inglaterra. Segundo Joshua B. Freeman, no final do século
XVIII, a Inglaterra importava uma quantidade considerável de algodão de outros países.
Contudo, cabe ressaltar que a maior parte da importação de algodão pelos ingleses
ocorreu a partir da mão de obra escravizada na América Latina. (PAG. 23)

Paulatinamente, nas últimas décadas do século XVIII, inventores e artesões


ingleses criaram novos métodos que visavam tanto à qualidade quanto à quantidade de
fios de algodão produzidos nas máquinas. No entanto, segundo Freeman apesar do
surgimento do sistema fabril as demais formas de produção permaneceram, como a rede
de tecelões manuais domésticos.

O modelo fabril trouxe uma nova dinâmica de fabricação com concentração das
instalações das máquinas e dos trabalhadores no mesmo local. Tal concentração
possibilitou redução de gastos com transportes, maior supervisão e controle dos
trabalhadores. A concentração dos trabalhadores não necessariamente estava atrelada ao
uso das máquinas. De acordo com Freeman, mesmo sem modificar os métodos de
produção a concentração dos trabalhadores foi uma prática utilizada. Em suma, isso
significou tornar possível que os trabalhadores trabalhassem mais e com mais
intensidade em comparação àqueles que estavam mais dispersos.
Comparando o processo de industrialização da Inglaterra com outros países da
Europa como, por exemplo, França e Alemanha, Tom Kemp afirma que o modelo inglês
considerado como clássico - devido à possibilidade determinação das condições
favoráveis ao processo de industrialização com maior precisão -, não deve ser visto
enquanto modelo a ser seguido. (PAG. 20)

Segundo Freeman, o desenvolvimento do sistema industrial de produção foi


possível em todos os países a partir de características comuns: contexto sociocultural
benéfico ao processo de industrialização, assim como recursos físicos necessários |
(PÁG. 20) No entanto, em países como Alemanha e França o Estado teve um papel
determinante na criação das condições necessárias para o desenvolvimento da indústria,
pulando algumas etapas nas quais a Inglaterra passou.

Na Grã-Bretanha a industrialização foi


resultado de operações de uma série de
firmas comerciais competitivas que,
espontaneamente, procuraram defender
os seus próprios interesses, num clima,
num quadro institucional favorável e
um funcionamento integra e livre das
forças do mercado (PAG. 20).

Dessa forma, as transformações ocorridas no continente europeu, principalmente


a partir da segunda metade do século XVIII e durante o século XIX, auxiliaram o
desenvolvimento da dinâmica do sistema capitalista de produção. A Grã Bretanha
tornou-se pioneira nesse processo em virtude da sua conjuntura favorável, sendo
impulsionada pelas instituições informais e pelo capital privado.

Com o advento do capitalismo e da sociedade moderna permeada por fábricas,


máquinas, indústrias e cidades com grandes projetos de urbanização, surgem
movimentos críticos à essa nova sociedade, demonstrando seu impacto de diversas
formas, como por exemplo a literatura, indicada por Benedict Anderson como
fundamental para a construção de uma comunidade imaginada e consequentemente do
nacionalismo.

Um desses movimentos é o romantismo, que pode ser definido por LOWY e


SAYRE (____) como:
(...) visão de mundo, isto é, como estrutura
mental coletiva. Tal estrutura pode exprimir-se em
campos culturais muito diversos: não apenas na
literatura e em outras artes, mas também na filosofia
e na teologia, no pensamento político, econômico e
jurídico, na sociologia e na história etc.1
Entretanto, é importante evidenciar que o romantismo muitas vezes é privado de
suas dimensões políticas e filosóficas2 e reduzido à uma escola literária, quando na
verdade, de acordo com LOWY e SAYRE (____), é um movimento de imensa
multiplicidade:

É preciso acrescentar que existe o hábito –


desde o século XIX – de designar como românticos
não somente escritores, poetas e artistas, mas
também ideólogos políticos – várias obras são
consagradas ao romantismo político -; filósofos,
teólogos, historiadores, economistas, etc. (...) 3

Na perspectiva dos autores, o romantismo sempre foi caracterizado como algo


reacionário4, sendo assim, estes autores, que são marxistas, vão se propor a realizar uma
crítica a esta perspectiva que ignora elementos importantes do movimento, apontando o
romantismo como um movimento que se coloca como crítico da modernidade
capitalista e todas as mudanças promovidas pela mesma. Na transição do século XVIII
para o XIX, a sociedade possuía uma determinada forma de vida que se altera com a
consolidação do sistema capitalista, levando o ser humano a um processo de
deterioração, com toda a pobreza exacerbada, condições insalubres de trabalho e
modernização urbana, elementos que estarão presentes nas obras produzidas neste
período.

Segundo LOWY e SAYRE (___) o romantismo coloca-se como anticapitalista


(mas não revolucionário), sendo o elemento suavizador deste novo mundo, socorrendo o
homem de suas amarguras, e angústias causadas por uma sociedade que vivencia um
processo de anomia e diversos outros processos que estarão presentes em obras
românticas, principalmente na literatura, mas não só nesta.

1
LOWY e SAYRE, p. 34
2
LOWY e SAYRE, p.21, ____
3
LOWY e SAYRE, p. 19
4
“Com frequência, a historiografia do romantismo político desvencilha-se da dificuldade enfatizando
exclusivamente seu aspecto conservador, reacionário e contrarrevolucionário – e ignorando pura e
simplesmente as correntes e os pensadores românticos revolucionários” (LOWY e SAYRE, p. 24 ____)
Os temas centrais destas obras temas podem ser identificados como o
Desencantamento do mundo e a racionalidade5; a quantificação do mundo mercantil6; a
crítica à mecanização do mundo (referente ao processo de industrialização) 7; a abstração
racionalista8; a dissolução dos vínculos sociais9:

A crítica recai em geral sobre as características do


capitalismo cujos efeitos negativos permeiam as classes
sociais, e que são vividas como miséria em toda essa
sociedade. Em muitos casos, o que se denuncia de uma
maneira ou de outra é esse fenômeno crucial do conjunto que
é a “reificação” ou “coisificação”, isto é, a desumanização do
humano, a transformação das relações humanas em relações
entre coisas, entre objetos inertes.10
O romantismo, será então identificado enquanto um movimento contra a
modernidade por fazer críticas Às mudanças promovidas pelo advento do capitalismo e
o dito progresso (discutido por autores como FREEMAN (____) e DUPÁS (____),
resgatando o ser humano e trazendo conforto social através da leitura, música, dentre
outros.

Geralmente, as críticas presentes em obras românticas apresentam-se através do


resgate de um passado distante, como por exemplo a romantização do período medieval,
quase propondo a restauração desta, além de se referirem também à antiguidade.
Percebe-se então, que ocorre uma idealização do passado, entretanto, de acordo com os
autores, essa idealização não seria a comprovação do romantismo como um movimento
reacionário, pelo contrário, seria a indicação de que se trata de um movimento
anticapitalista, e isso mostra o paradoxo do romantismo. Se por um lado o movimento
busca o passado, é através deste que idealiza o futuro. Essas questões estão presentes
nos seguintes extratos da obra de LOWY e SAYRE (____):

Há um desejo de reencontrar o lar, retornar à pátria, no


sentido espiritual, e é precisamente a nostalgia que está no
âmago da atitude romântica. O que falta no presente existia
antes, em um passado mais ou menos longínquo. A
caracterpistica essencial deste passado é a diferença com
relação ao presente: ele é o período em que as alienações
modernas ainda não existiam. A nostalgia aplica-se a um
passado pré-capitalista, ou pelo menos a um passado em que o
sistema socioeconômico moderno ainda não estava plenamente
5
LOWY e SAYRE, p. 52
6
LOWY e SAYRE, p. 58
7
LOWY e SAYRE, p. 61
8
LOWY e SAYRE, p. 63
9
LOWY e SAYRE, p. 65
10
LOWY e SAYRE, p. 41
desenvolvido. Assim, a nostalgia do passado é – segundo a
expressão de Engels, que comentou essa característica nos
românticos ingleses – “muito de perto ligada” à crítica do
mundo capitalista.11
Ainda:

É assim que se explica o paradoxo aparente de que o


“passadismo” romântico também pode ser um olhar para o
futuro; a imagem de um futuro sonhado, além do mundo atual,
inscreve-se na evocação de uma era pré-capitalista. 12

O romantismo, atua na construção de tradições e símbolos nacionais com esse


resgate ao passado, construindo assim a ideia de uma nação sólida e já estabelecida, ou
seja, atua na criação de uma comunidade imaginada, como sugerido por ANDERSON
(____).

Sendo assim, alguns autores apontam o romantismo como portador de uma


relação direta com o nacionalismo, e por isso, teria servido como base para um pré-
fascismo alemão, entretanto, os autores mostram que a história do romantismo não deve
ser escrita apenas considerando essa questão, já que é um movimento contrário à
sociedade capitalista moderna:

Em sua forma extrema – que aparece sobretudo na época


da Segunda Guerra Mundial (o que é bastante compreensível) -,
essas interpretações veem as ideologias políticas românticas
principalmente como uma preparação para o nazismo. Não resta
dúvidas de que os ideólogos nazistas se inspiraram em certos
temas românticos, mas isso não autoriza a reescrever toda a
história do romantismo político como um simples prefácio do
Terceiro Reich.13
Como mencionado, o período em que emerge o romantismo, é o mesmo período
de transformações sociais causadas pelo capitalismo, como por exemplo a urbanização,
sendo assim, estes acontecimentos estão presentes em obras do período.

Neste sentido, é de extrema importância considerar a contribuição de


BERMANN (___). Este autor utiliza-se da obra de Baudelaire, principalmente de seus
escritos poéticos para mostrar o impacto sofrido por esta sociedade repleta de
transformações, apontando a desigualdade socieal presente nesta modernidade,
conceituada por ele como pastoral, ou seja, a modernidade que possui grande fé, a ideia
11
LOWY e SAYRE, p. 44
12
LOWY e SAYRE, p. 44
13
LOWY e SAYRE, p. 24
de que a burguesia possui papel imperativo, central na construção desta modernidade
que está diretamente atrelado a ideologia do progresso:

O motivo burguês fundamental, aqui, é o desejo de


progresso humano infinito não só na economia, mas
universalmente nas esferas da política e da cultura. Baudelaire
assinala o que ele sente como a criatividade inata e a
universalidade de visão dos burgueses: uma vez que eles são
impelidos pelo desejo de progresso na indústria e na política,
estaria aquém de sua dignidade parar e aceitar a estagnação em
arte.14

A França neste período vive a modernização urbana, Paris adquire símbolo de


cidade representativa de luxo, é uma cidade com dinamismo instenso, com grandes
centros de consumo, ao mesmo tempo que possui uma desigualdade social enorme.
Bermann traz através da poesia de Baudelaire esta ideia com clareza, quando cita o
poema “A Família de olhos” que se mostra como a personificação de toda a
desigualdade social presente nessa sociedade capitalista moderna que está sempre em
busca do progresso.15

A relação da modernidade com a sociedade capitalista do século XIX apresenta-


se através do luxo, do consumo conspícuo. Essa ideia também vai ser trabalhada por
SENNET (____) para explicar a relação entre modernidade capitalista e construção de
uma sociedade de consumo que vê nos bens de luxo uma forma de demonstrar status
social.

Neste contexto, é de extrema importância perceber como a ideologia do


progresso estava presente no imaginário social desta sociedade moderna e capitalista.
De acordo com (AQUI COMEÇA LUÍSA COM GILBERTO E FREEMAN)

Depois da parte de progresso

Com todo o progresso, ascensão e consolidação do sistema capitalista,


consequentemente vão aparecendo novas instituições. Uma destas instituições é a bolsa,
que de acordo com WEBER (____) representa os jogos de mercado, os especuladores e
aparece como a personificação do capitalismo moderno.

14
BERMANN, p. 132
15
BERMANN, p. 145
Antes de compreender o funcionamento da bolsa e como esta relaciona-se com o
sistema capitalista, é importante uma elucidação sobre a forma pela qual Weber realiza
esta análise.

Weber propõe o estudo da sociologia econômica, considerando que a economia


política já estaria ultrapassada, pois possui um maior foco na produção agrícola,
enquanto que a sociologia econômica estaria mais adequada ao contexto de
industrialização e urbanização:

Se compararmos agora esta situação com o


caráter da vida econômica actual, torna-se logo evidente
um formidável contraste. Nos nossos dias, o indivíduo
não produz os bens que ele próprio quer consumir, mas
aqueles que, segundo a sua previsão, outros irão utilizar,
além de que cada indivíduo não consome os produtos do
seu próprio trabalho, mas do trabalho alheio.16
A sociologia econômica daria conta da totalidade, incorporando a ação do
indivíduo à economia, ou seja, aspectos como costumes e religião, a partir disso seria
possível estudar o comportamento da sociedade frente à modernidade capitalista. Sendo
assim, a bolsa apresenta-se como uma arena do capitalismo moderno, arena de lutas do
poder econômico. Através do estudo da bolsa, seria possível perceber como se dá a luta
do homem contra o homem.

“A bolsa é um mercado no qual são realizadas operações de compra de


mercadorias por grosso, bem como de divisas, câmbios e títulos, entre negociantes
profissionais.” (WEBER, P. 103, ____). A bolsa está centrada em uma ação econômica
que retrata o microcosmo que é o capitalismo, é o negócio de coisas fungíveis, sem a
materialidade das mercadorias trocadas.17

Para Weber, a bolsa traz estabilidade e racionalidade para o capitalismo,


tornando-se uma instituição primordial neste sistema, entretanto, o autor aponta seu
problema maior, que é a especulação. A instituição é composta por seres humanos,
assim como a sociedade, que não é auto regulada, por isso, se faz necessária a
regulação. Weber estuda a bolsa enquanto conselheiro de Estado e percebe que há a
necessidade de uma maior controle, já que é o centro de erupção das grandes crises,

16
WEBER, p. 59
17
WEBER, p. 65
como o caso de Vienna em 1873 e Nova York, em 1929. A partir disso, sugere uma
série de práticas para a regulamentação18 de tal instituição.

Sendo assim, existe a necessidade de reformar a bolsa, evitando questões como a


especulação irracional, que para Weber é o maior problema, todo o texto mostra-se
como uma crítica de Weber ao capitalismo moderno através da especulação:

Num sentido amplo, a especulação bolsista será


aquela atividade comercial que visa a obtenção de um
ganho jogando na diferença entre os preços de compra e
de venda de um artigo cotado na bolsa.19
É possível perceber, que para o autor, a bolsa é uma instituição fundamental para
o capitalismo moderno, por isso seria necessária a criação de uma pedagogia que
atendesse às necessidade de um maior público, para que o monopólio não ficasse apenas
nas mãos dos mais ricos:

Nestes casos, portanto, a bolsa está claramente


organizada como um monopólio dos ricos, à maneira de
uma corporação, os operadores bolsistas reservaram para si
o exclusivo do negócio e só eles estabelecem os usos, ou
seja, as condições definitivas que as transacções deverão
observar para serem válidas, sem que o Estado ou quem
quer que seja se possam intrometer. Formam, assim, uma
espécie de aristocracia financeira das transações
bolsistas.20
Outro ponto que mostra como a bolsa é uma instituição fundamental para
Weber, consiste na questão da economia nacional. Para o autor, um país que desejasse
uma economia forte, deveria ter a bolsa de valores como um colchão, um receptáculo de
investimentos:

Finalmente, este reforço do poderio das bolsas


nacionais em detrimento das bolsas estrangeiras, que as
operações a prazo indubitavelmente acarretam, determina
também um forte crescimento do poderio financeiro e
ipso facto político do Estado nacional em questão.21
A bolsa aparece novamente como instituição representativa do capitalismo no
sentido que seus intermediários prezam pela impessoalidade22, que marca o capitalismo
moderno, ao contrário da Inglaterra no século XVIII em que os empréstimos eram,
acima de tudo, pessoais.
18
WEBER, p. 149 - 150
19
Weber, p. 113
20
WEBER, p. 89
21
Weber, p. 142 - 143
22
WEBER, p. 77

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