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transic3a7c3a3o-do-feudalismo-para-o-capitalismo.pdf
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Tanto quanto eu saiba, esse debate não foi divulgado em inglês, e não parece refletir -se no
recente Fundamentais of Marxism-Leninism, editado por O. Kuusinen.
de abranger formas sociais anteriormente classificadas como comunais-
primitivas, asiáticas etc.
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Esta crise começou a chamar atenção na década de 1930. Debates marxistas sobre ela
aparecem em Dobb, M., Studies in the Development of Capitalism, 1946; Hilton, R. H., Annaks E.
S. C, 1951,p.23-50 (em francês); Graus, R, A primeira crise do feudalismo (em alemão e tcheco),
1953, 1955; Malowist , M. (em polonês), 1953, 1954; e Kosminsky, E. A., "Feudal rent in England",
in: Past and Present, p.7. 1955.
depois do final do século XVIII. Todavia, ninguém pode duvidar que, no
período de 1000 anos — todo ou quase todo — antes de 1800 a evolução
econômica seguiu firmemente na mesma direção. Nem em toda parte, nem
ao mesmo tempo, pois houve áreas que retrocederam, depois de terem
liderado a marcha (por exemplo, na Itália), e outras que alteraram o sentido
de sua evolução por algum tempo, e também sem uniformidade. Cada crise
importante viu antigos países "líderes" regredirem, suplantados por outros
que eram mais atrasados, mas potencialmente mais progressistas, como a
Inglaterra. Todavia, não pode haver dúvidas sérias de que cada fase, à sua
maneira, fez avançar a vitória do capitalismo, mesmo as que
superficialmente parecem períodos de recesso econômico.
6) Assim sendo, é muito provável a existência de uma contradição
fundamental nessa forma particular de sociedade feudal que a impulsiona
sempre para frente no sentido da vitória do capitalismo. A natureza dessa
contradição ainda não foi bem esclarecida. Por outro lado, também é
evidente que as forças que se opõem a essa evolução, embora mais fracas,
não são absolutamente desprezíveis, pois a transição do feudalismo para o
capitalismo não é um processo simples mediante o qual os elementos
capitalistas no interior do feudalismo vão fortalecendo-se até estarem
bastante vigorosos para romper a casca feudal. O que vemos sempre de
novo (como no século XIV e provavelmente no século XVII) é que uma crise
de feudalismo também envolve os setores mais adiantados do
desenvolvimento burguês no seu interior, produzindo, portanto, um
aparente retrocesso. O progresso, sem dúvida, continua ou recomeça em
outro lugar, em áreas até então mais atrasadas, como a Inglaterra. Mas
uma coisa interessante acerca da crise do século XIV (por exemplo) não é
apenas o colapso da agricultura dominial feudal de grande escala, mas
também o das indústrias têxteis italianas e flamengas, com seus
empresários capitalistas e proletários assalariados e de uma organização
que chegara quase ao limiar da industrialização. A Inglaterra adianta-se,
mas a Itália e Flandres, muito maiores, nunca se recuperam e portanto
diminui temporariamente a produção industrial total. Naturalmente, é difícil
descrever em termos estáticos um período tão longo, no qual as forças do
capitalismo estão ascendendo, não conseguindo, porém, repetidamente,
romper o tegumento feudal, ou estão mesmo envolvidas pela crise feudal.
Esta dificuldade reflete-se em grande parte da frustrante discussão marxista
sobre o período entre a primeira crise geral do feudalismo e a vitória
definitiva do capitalismo, que sobreveio muito mais tarde.
7) Até onde este quadro de uma progressiva substituição do feudalismo pelo
capitalismo se aplica a regiões fora do "coração" do desenvolvimento
capitalista? Apenas um pouco. Reconhecem-se alguns sinais de
desenvolvimento comparável no ímpeto do desenvolvimento do mercado
mundial depois do século XVI, talvez no fomento das manufaturas têxteis
na Índia. Esses sinais, porém, são mais do que neutralizados pela
tendência oposta, ou seja, a que transformou outras áreas que entraram em
contato com as potências europeias ou sofreram a sua influência, em
economias dependentes e colônias do Ocidente. Na verdade, grandes
áreas das Américas foram transformadas em economias escravagistas a
fim de atender às necessidades do capitalismo europeu, e extensas regiões
da África foram forçadas a caminhar para trás economicamente devido ao
tráfico de escravos; por razões semelhantes, grandes áreas da Europa
oriental reduziram-se a economias neofeudais. E mesmo o pequeno e
transitório estímulo ao desenvolvimento da agricultura comercial e das
manufaturas que a ascensão do capitalismo europeu talvez haja
proporcionado aqui e ali foi interrompido pela deliberada desindustrialização
das colônias e semicolônias assim que elas pareceram competir com a
produção na matriz ou mesmo (como na índia) tentaram suprir seu próprio
mercado, ao invés de depender de importações da Grã-Bretanha. O efeito
final da ascensão do capitalismo europeu foi, portanto, intensificar o
desenvolvimento desigual e dividir o mundo cada vez mais nitidamente em
dois setores: o "desenvolvido" e o "subdesenvolvido", em outras palavras, o
explorador e o explorado. O triunfo do capitalismo no final do século XVIII
selou essa evolução. O capitalismo, que sem dúvida proporcionou as
condições históricas para a transformação econômica em toda parte, de
fato dificultou ainda mais as coisas para os países que não pertenciam ao
núcleo original de desenvolvimento capitalista, ou não eram seus vizinhos
imediatos. Somente a Revolução Soviética de 1917 proporcionou os meios
e o modelo para o genuíno crescimento econômico mundial e o
desenvolvimento equilibrado de todos os povos.