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“E nós temos de Deus este Mandamento: Que aquele que ama a Deus, ame também o seu irmão”.

(1ª S. Jo. 4, 21)

Do Ódio
ao Próximo
e as suas
Consequências
“Se alguém disser: Eu amo a Deus,
e odiar o seu irmão,
é um mentiroso”
(1ª S. Jo. 4, 20).

Do Resumo da Lei e dos Profetas

►1◄
“O cristão que não é apóstolo é apóstata”. (Papa Pio XI)
“E nós temos de Deus este Mandamento: Que aquele que ama a Deus, ame também o seu irmão”. (1ª S. Jo. 4, 21)

“Então, aproximando-se um dos escribas, que os tinha ouvido discutir, e, vendo que Jesus
lhes tinha respondido bem, perguntou-Lhe qual era o primeiro de todos os Mandamentos. E Jesus
respondeu-lhe: O primeiro de todos os Mandamentos é este: Ouve, Israel: o Senhor teu Deus
é um só Deus; e amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, e com toda a tua
alma, e com todo o teu entendimento, e com todas as tuas forças. Este é o primeiro
Mandamento. E o segundo é semelhante ao primeiro: Amarás o teu próximo como a
ti mesmo. Não há outro Mandamento maior do que estes. Disse-Lhe, então, o
escriba: Mestre, dissestes bem e com verdade, que Deus é um só, e que não há outro fora
Dele; e que o amá- Lo com todo o coração, e com todo o entendimento, e com toda a
alma, e com todas as forças, e amar o próximo como a si mesmo, vale mais do que
todos os holocaustos e sacrifícios. E, vendo Jesus que (o escriba) tinha respondido
sabiamente, disse-lhe: Não estás longe do Reino de Deus. E, desde então, ninguém mais ousava
fazer-lhes perguntas” (S. Marc. 12, 28-34).

A Lei do Amor ao Próximo


“Não odiarás o teu irmão no teu coração... Não procurarás a vingança, nem
conservarás a lembrança da injúria dos teus concidadãos. Amarás o teu amigo como a ti mesmo.
Eu sou o Senhor” (Lev. 19, 17-18)...

“Ouviste o que foi dito: Amarás o teu próximo, e aborrecerás o teu inimigo. Eu, porém,
digo-Vos: Amai os vossos inimigos, fazei bem aos que vos odeiam, e orai pelos que vos perseguem
e caluniam, para que sejais filhos do vosso Pai, que está nos Céus, o qual faz nascer o Seu sol
sobre bons e maus, e manda a chuva sobre justos e injustos. Porque, se amais (somente) os que
vos amam, que recompensa haveis de ter? Não fazem os publicanos também o mesmo? E, se
saudardes somente os vossos irmãos, que fazeis (nisso) de especial? Não fazem também assim os
gentios? Sede, pois, perfeitos, como também vosso Pai celestial é perfeito” (S. Mat. 5, 43-48).

“Sede, pois, perfeitos na caridade, como Deus, o qual ama os amigos e os inimigos”
(Rev. Pe. Matos Soares, “Bíblia Sagrada”, traduzida da Vulgata Sixto-Clementina, p. 1183, 10ª
Edição, Ed. Paulinas, 1955).

“La ley del amor al prójimo está en Lev. 19, 18. La de odiar a los enemigos no está
expresamente en la Sagrada Escritura, pero se deduce de las normas que tenían los judíos en las
relaciones con los gentiles.

Nuevamente se proclama la ley de la caridad universal, con los amigos y con los enemigos,
para parecerse a Dios, para distinguirse de los gentiles y de los pecadores y para ir al cielo.

El ideal de toda perfeicción cristiana es imitar a Dios” (Rev. Dr. D. Evaristo Martín Nieto,
“Cristo en los Cuatro Evangelios”, Cap. III, 74, pp.91-92, Ediciones Paulinas, Avila, 1963).

O Mandamento Novo
“Dou-Vos um novo Mandamento: Que é, que assim como Eu vos amei, vos amei
também uns aos outros. Nisto conhecerão todos que sois Meus discípulos, se tiverdes amor
uns aos outros” (S. Jo. 13, 34-35).

Conhecendo esse Novo Amor


“A caridade, amor da Vida de Deus nessa mesma Vida e por Ela mesma, ama-A em toda

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“O cristão que não é apóstolo é apóstata”. (Papa Pio XI)
“E nós temos de Deus este Mandamento: Que aquele que ama a Deus, ame também o seu irmão”. (1ª S. Jo. 4, 21)

parte em que Ela existe: primeiro em Deus, depois em nós a quem Ela é dada, enfim, a todos
aqueles a quem, como a nós, Ela é dada. A caridade inclui pois um amor sobrenatural de nós
mesmos: amamo-nos por caridade, quando nos amamos por causa da Vida de Deus que está em
nós e que é nosso verdadeiro bem, nosso verdadeiro fim, o verdadeiro alvo de nossa vida.
nossos próprios limites, encerrando-nos em nós mesmos e negando-nos a tudo o mais, volvendo
todo nosso olhar para nós próprios como um ser retorcido ou dobrado sobre si mesmo,
subordinando tudo a si; pela caridade, ama-se para se abrir à invasão da Vida de Deus,
subordinando-se, portanto, a Deus e a Ele volvendo todo o nosso olhar. Para empregar o
vocabulário da psicologia contemporânea, o egoísmo é 'captativo' e a caridade é 'oblativa'.

Deus chama, porém, todos os homens para viverem da Vida divina (graça) e constituírem
assim todos juntos uma só família divina à qual essa Vida é comunicada: não podemos ser filhos de
Deus sem sermos irmãos uns dos outros, sem uma comunidade de vida em que vivemos todos da
própria Vida de Deus que a todos nos é dada (esta fraternidade sobrenatural é aliás a única
fraternidade universal entre os homens, pois não podemos ser irmãos senão sendo filhos do
mesmo pai, e a natureza humana estabelece entre os homens uma comunidade de natureza, mas
não uma fraternidade). A caridade comporta pois, que amemos a todos os homens nossos irmãos
por esta mesma Vida de Deus que está neles como em nós, que amemos nosso próximo como a nós
mesmos no sentido mais literal e preciso desta expressão, isto é, como não fazendo senão um
conosco na mesma Vida que a todos nos é dada, por conseguinte, exatamente como nos amamos a
nós mesmos, pelo mesmo motivo e objeto de amor que é a própria Vida de Deus amada em
nossos irmãos como em nós, e servida neles como em nós por ser a mesma neles e em nós. São
Paulo pôs muitas vezes em relevo essas verdades fundamentais da Fé (conhecidas aliás só pela Fé e
incompreensíveis sem ela): o que atinge a cada um de nossos irmãos nos atinge a nós. Devemos
alegrar-nos com suas alegrias, sofrer com seus sofrimentos, servi-los em todas as suas necessidades
como nos servimos a nós mesmos, porque eles e nós, não são várias
vidas, é uma só e mesma Vida divina de que vivem eles e vivemos nós, uma só e mesma Vida divina
estendida, comunicada a todos. Se pela graça vivemos da própria vida de Deus, vivemos da vida de
cada um de nossos irmãos, que é a nossa própria vida: vivemos neles e eles em nós. Não vivemos
verdadeiramente da vida de Deus se não a vivemos em todos os nossos irmãos, se nosso coração
não é universal como a própria graça.

Não há, portanto, duas caridades, uma amor de Deus e outra amor do próximo, mas uma
só caridade teologal cujo objeto é a própria Vida de Deus, amada em Deus e no próximo, uma só
caridade ao mesmo tempo e inseparavelmente filial e fraternal, e fraternal porque filial,pois não
se pode amar ao Pai sem amar os irmãos aos quais a Vida do Pai é dada. São João bem mostrou,
aliás, que se reconhece a autenticidade da caridade pelo modo de servirmos a Vida de Deus em
cada um de nossos irmãos (que se tornou nosso próximo por um encontro providencial), e pelo
modo de nos darmos a Deus nesses mesmos irmãos nos quais Ele vive.

Seria, portanto, erro grosseiro confundir a caridade fraterna com a amizade natural que a
natureza humana nos convida a ter uns pelos outros, ou com filantropia, humanitarismo,
beneficência. Amar, é querer e secundar o bem de outrem. A filantropia nos leva a querer para os
outros e procurar-lhes os diversos bens naturais reclamados pela natureza humana. A caridade,
cujo objeto é a própria Vida de Deus em nossos irmãos, leva-nos a querer para eles e a servir neles
seu verdadeiro bem, que é a Vida de Deus possuída intimamente, e seu desenvolvimento até a vida
eterna: o que ela procura é a salvação e a santificação dos irmãos. Ama a Deus por Ele mesmo e ao
próximo por Deus, o que é a melhor maneira de amar ao próximo, pois amando-o com o mesmo
amor com que Deus o ama, amamo-lo por sua verdadeira realidade, que é obra de Deus (é pois em
certo sentido – e no melhor sentido – amá-lo por ele mesmo), e por seu verdadeiro bem que está
em Deus.

Assim definida, comportará a caridade que desejemos para nossos irmãos ou lhes

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procuremos os bens deste mundo? Sim, certamente, na medida em que esses bens sirvam à Vida de
Deus que desejamos para eles: devemos nutrir, vestir, alojar, visitar, consolar, aconselhar, instruir
nossos irmãos para, nutrirmos, vestirmos, alojarmos etc., a Vida de Deus que neles vive. Ensinou-
nos Cristo uma vez por todas (narrativa do Juízo Final) que o que fazemos a cada um de nossos
irmãos fazemo-lo ao próprio Deus que vive neles. Mas, no caso em que os bens deste mundo
prejudiquem a Vida de Deus em nossos irmãos, se os levam ao pecado, então, é claro que uma
autêntica caridade não os pode querer para eles: seria procurar-lhes o mal. É preciso, pois, afirmar,
contra erros muito propalados, que a caridade não pode em caso algum comportar complacência
ou tolerância com o pecado ou o erro: ao contrário, a caridade obriga-nos a odiar e a combater o
pecado e o erro, que são os maiores males para os irmãos que amamos. E, quanto mais amamos os
pecadores e aqueles que estão no erro – e devemos amá-los até dar por eles a vida, se o caso se
apresentar – quanto mais os amamos, tanto mais odiamos e combatemos neles
o pecado e o erro.

Até onde deve ir esse amor do próximo? Quer Deus, que Sua Vida seja Dom total de Si
mesma por Amor: é o que constitui a graça. Não podemos, pois, viver da graça, viver dessa Vida de
Deus que é Dom total Dela mesma, se não somos também nós dom total de nós próprios,
totalmente dados, portanto, uns aos outros, totalmente dedicados e consagrados uns aos outros,
totalmente ao serviço uns dos outros.

Sendo a vida da graça, essencialmente, comunidade de amor e troca de amor, a caridade é


seu fruto essencial” (Jean Daujat, “La Grâce et nous Chrétiens – A Graça e Nós Cristãos”, Coleção
“Sei e Creio”, 2ª Parte – “As Grandes Verdades da Salvação”, Cap. I – A Graça frutifica em
Caridade, pp. 75-78, Livraria e Editora Flamboyant, 1960).

Do Preceito da Caridade para com o Próximo


“Em geral: Um Preceito divino nos ordena amar o próximo: 'Amarás a teu próximo
como a ti mesmo' (S. Mat. 22, 39).

Este amor deve ser afetivo, isto é, incluir a nossa complacência no bem do próximo e o
desejo da sua felicidade.

Deve ser efetivo, e ser provado, especialmente, ajudando-se o próximo nas suas
necessidades.

Em particular: Em virtude deste Preceito, estamos também obrigados a amar os nossos


inimigos: 'Eu, porém, digo-Vos: Amai os vossos inimigos, fazei bem aos que vos odeiam, e orai
pelos que vos perseguem e caluniam' (S. Mat. 5, 44).

O amor dos inimigos implica:

a) O perdão: Ao inimigo se deve perdoar de coração espontaneamente, a ofensa, quer


dizer, não guardar ódio nem rancor contra ele, nem vingar-se.

Não é, porém, ilícito exigir (até em juízo) a reparação da injúria e do dano causado à
honra, à fama e aos bens de fortuna, desde que não haja aí nenhum ódio nem paixão.

b) A manifestação, também exteriormente, do perdão, oferecendo ao ofensor os sinais


comuns de amizade.

Manda, portanto:

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“O cristão que não é apóstolo é apóstata”. (Papa Pio XI)
“E nós temos de Deus este Mandamento: Que aquele que ama a Deus, ame também o seu irmão”. (1ª S. Jo. 4, 21)

1) Não lhe desejar nenhum mal e não excluí-lo das orações comuns;

2) saudá-lo, se o encontrar, responder-lhe às perguntas e às cartas, tratá-lo da mesma


maneira pela qual se trata um semelhante. Algumas vezes, podemos omitir estes sinais de
benevolência comum, se a caridade e a justiça o exigem; assim, quando, privando o inimigo destes
sinais comuns de benevolência, far-se-ia uma advertência para que se dobre; ou então, se estes
sinais fossem interpretados a má parte, etc. Às vezes, a justiça mesmo exige se prive o inimigo de
sinais de benevolência, para fazê-lo compreender melhor o mal cometido.

Não se está, todavia, obrigado a dar ao inimigo sinais de benevolência especial, que se
costuma dar às pessoas ligadas por vínculos de parentesco, amizade, etc., exceto se necessário ou
para evitar nele o perigo de pecar contra a caridade ou para evitar o escândalo que poderia seguir-
se, ou ainda, para demonstrar-lhe o perdão, depois que o pediu.

c) A reconciliação, isto é, depor o ódio e o desejo de vingança sentidas para com ele.

O ofensor é obrigado a pedir perdão ao ofendido, desde que não desculpe um incômodo
grave, ou esteja ele ausente, ou se preveja que a ofensa não será perdoada. Se a ofensa é mútua,
deve a reconciliação partir daquele que ofendeu primeiro; se desigual, compete àquele que ofendeu
mais gravemente. Está o ofendido obrigado a restabelecer a paz com o seu inimigo. Muitas vezes,
basta pedir perdão de modo tácito, por exemplo, aproximar-se do ofendido e falar-lhe, tratando-o
amigavelmente, etc.

Abstenha-se o Confessor de impor ao ofensor a obrigação de pedir formal e expressamente


perdão ao ofendido; nem o ofendido deve pretender do ofensor a humilhação de um perdão
expresso e formal” (Rev. Pe. Teodoro da Torre del Greco, O.F.M., ob. cit., Cap. 3, I-II, Pontos 124-
125, pp. 141-143).

Do Ódio a Deus
“Comete-se pecado de ódio contra Deus de duas maneiras: a) Alimentando aversão aos
atributos divinos, enquanto considerados maus, embora bons e amáveis em si mesmos (ódio de
abominação); b) detestando a Deus como algum ser mau e desejando-Lhe mal, porque Ele, por
exemplo, pune o pecado e o castigo; ou porque permite as dores, etc. (ódio de inimizade ou de
malevolência). Ambos estes pecados são gravíssimos e não admitem parvidade (pequenez) de
matéria” (Rev. Pe. Teodoro da Torre del Greco, O.F.M., “Teologia Moral”, Parte 1ª, Seç. I, Tratado
III, Cap. 1, II, Ponto 121, p. 140, Ed. Paulinas, 1959).

Do Ódio de Si mesmo

“O ódio (de si mesmo) por defeito, quando se negligencia a própria salvação, temporal ou
eterna. Especificamente, ofendem a caridade para consigo mesmo: 1) O suicídio; 2) a
intemperança; 3) desejar desordenadamente a morte.

Em geral, todo pecado atenta a caridade para consigo mesmo: “Mas os que cometem
pecado e iniquidade, são inimigos das suas almas” (Tob. 12, 10). “O Senhor sonda o justo e o
ímpio; o Seu Espírito odeia aquele que ama a iniquidade” (Salm. 10, 6)” (Rev. Pe. Teodoro da
Torre del Greco, O.F.M., ob. cit., Cap. 2, II, Ponto 123, p. 141).

Do Ódio, como Instrumento de Morte

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“O cristão que não é apóstolo é apóstata”. (Papa Pio XI)
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“Odiar o próximo é, por assim dizer, ter vontade de o matar; por isso, o ódio muitas vezes
impele para o homicídio.

Odiar é meditar uma vingança: vê-se este desejo de matar em Esaú, a respeito de Jacó; nos
filhos de Jacó, a respeito de José; em Saul para com Davi. Não há diferença, diz Salviano, entre
quem mata e quem odeia, porque junto de Deus a intenção é contada como ato; daí as
palavras de São João: 'Todo o que tem ódio a seu irmão é um homicida' (1ª S. Jo. 3, 15). Já Jesus
no Sermão da Montanha havia comparado o ódio ao homicídio (S. Mat. 5, 22). O ódio refletido é
um pecado, ordinariamente, grave, ainda mesmo que só se deseje ao próximo um mal de pouca
importância, pois, o ódio não se satisfaz com um mal pequeno. – Detestar os defeitos ou os atos
maus de alguém não é ainda ter-lhe ódio; porque esta aversão pode conciliar-se com o amor da
pessoa. É como o médico, que aborrece e combate a doença, mas, ama o paciente” (Rev. Pe.
Francisco Spirago, “Catecismo Católico Popular”, Tom. 2, 2ª Parte, 5º Mandamento da Lei de
Deus, Cap. 2, I, 4ª Edição, Lisboa, 1944).

O Ódio engendra outros Pecados


“Muitos são os males e pecados que, quase por certa conexão, se ligam necessariamente a
este pecado único de ódio. Por isso, São João dizia a respeito: 'Quem odeia seu irmão está em
trevas, e anda nas trevas, e não sabe para onde vai, porque as trevas lhe cegaram
os olhos' (1ª S. Jo. 2, 14). Logo, é fatal que caia muitas vezes.

Do contrário, como poderia alguém fazer justiça às palavras e ações de uma pessoa, se
nutre ódio contra ela? Daí nascem, portanto, os juízos temerários e injustos, as iras, as invejas, as
detrações, e outros pecados semelhantes, que costumam envolver também as pessoas ligadas por
parentesco e amizade.

Deste modo, acontece muitas vezes que de um só pecado nascem muitos outros. Não é
sem cabimento que este pecado se chama 'pecado do Demônio' (1ª S. Jo. 3, 10-11), porque o
Demônio foi 'homicida desde o início' (S. Jo. 8, 44). Por esta razão, quando os fariseus queriam
dar-Lhe a morte, Nosso Senhor Jesus Cristo, o Filho de Deus, declarou que tinham por 'pai o
Demônio' (idem)” (Catecismo Romano, Parte 3ª, Cap. VI, Do 5º Mandamento, Ponto 24, p. 397,
2ª Edição, Ed. Vozes Ltda, Petrópolis, 1962).

Remédios contra o Pecado de Ódio


“Além destas alegações, que ensejam motivos para a detestação de tal pecado, encontram-
se nos testemunhos da Sagrada Escritura outros remédios também, por sinal, eficacíssimos.

O primeiro e o maior de todos os remédios, é o exemplo de Nosso Salvador. Devemos tê-lo


diante dos olhos, para nossa imitação. Ele, em cuja Pessoa não podia recair a mínima suspeita de
pecado, depois de ser flagelado, coroado de espinhos, e finalmente crucificado, proferiu aquela
prece repassada de amor: 'Pai, perdoai-lhes, pois não sabem o que fazem' (S. Luc. 23, 34).
Seu Sangue derramado, como atesta o Apóstolo, 'fala mais vigorosamente do que o sangue
de Abel' (Heb. 12, 24).

O segundo remédio, é proposto pelo Eclesiástico: a recordação da morte e do dia do juízo.


'Lembra-te de teus novíssimos, diz ele, e para sempre deixarás de pecar' (Eclo. 7, 40).

O sentido destas palavras é como se dissesse: Lembra-te, muitas e muitas vezes, que
em breve terás de morrer. Naquele transe, ser-te-á sumamente desejável e
absolutamente necessário alcançar a infinita misericórdia de Deus. Por isso, é

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indispensável que desde já tenhas a morte continuamente diante dos olhos. Desta
forma, extinguir-se-á em ti aquele medonho desejo de vingança, pois não acharás
meio mais próprio e mais eficaz para conseguir a misericórdia de Deus, do que o
perdoares as injúrias e amares aqueles que te ofenderam, a ti ou aos teus, por atos ou
palavras” (Catecismo Romano, Parte 3ª, Cap. VI, Do 5º Mandamento, Ponto 25). A seguir,
vejamos dois proveitosos exemplos:

São Nicéforo, Mártir († 259 ou 260)


(27 de Fevereiro)

“Quando Valeriano e Galieno eram imperadores, viviam em Antioquia o Sacerdote


Saprício e seu amigo íntimo Nicéforo. O Inimigo de todo o bem semeou cizânia, e a amizade dos
dois transformou-se em inimizade acérrima. Algum tempo depois Nicéforo, caindo em si, procurou
aproximar-se de Saprício, oferecendo-lhe plena satisfação do mal, que lhe reconheceu ter feito.
Saprício, porém, não lhe quis perdoar; uma segunda tentativa, feita por intermédio de outros
amigos, não teve melhor resultado. Ainda pela terceira e quarta vez Nicéforo procurou o ex-amigo,
chegando a prostrar-se diante dele, dizendo: 'Pai, perdoai-me pelo amor de Deus!' Inútil
esperança!

Saprício, esquecendo-se por completo do dever de cristão e Sacerdote, fechou o coração


aos sentimentos de perdão.

Aconteceu que, ao mesmo tempo rebentasse em Antioquia uma terrível perseguição da


Religião Cristã. Os cárceres enchiam-se de prisioneiros, cujo único crime consistia em serem
cristãos, e muitos tiveram a morte gloriosa do martírio. Também Saprício foi preso e levado à
presença do governador, o qual fez o seguinte inquérito:

– 'Como te chamas?'

– 'Chamo-me Saprício'.

– 'Tua profissão, qual é?'

– 'Sou cristão'.

– 'Não és sacerdote?'

– 'Sou'.

– 'Eis a ordem dos imperadores Valeriano e Galieno, segundo a qual todos aqueles que se
dizem cristãos, devem sacrificar aos deuses imortais. Quem se negar a prestar esta homenagem,
será condenado a torturas e multas, e, se não ceder, será morto'.

– Saprício respondeu: 'Nosso Rei é Cristo. Só Ele é o Deus verdadeiro, Criador do Céu, da
terra e do mar. Os deuses dos pagãos, porém, são ídolos, que devem desaparecer do mundo, pois
nenhum poder têm, visto serem feitos por mão humana'.

Em paga desta confissão, Saprício foi cruelmente torturado. O Mártir, porém, ficou firme
na Fé e disse ao governador: 'Tens, apenas, poder sobre minha carne; minha alma está nas mãos
de Jesus Cristo, Daquele que a formou. O governador, vendo que nada conseguia com torturas,
condenou Saprício à morte pela espada. O sentenciado foi levado imediatamente ao lugar da
execução. Nicéforo, sabendo o que acontecera, veio de encontro a Saprício, lançou-se-lhe aos pés,

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dizendo: 'Mártir de Cristo, perdoe-me o que contra vós fiz!' Saprício nada respondeu. Nicéforo
reiterou o pedido: 'Mártir de Cristo – assim falou a Saprício – perdoai-me o que em humana
fraqueza contra vós fiz. Eis a coroa que Cristo vos oferece, em recompensa da Fé, que
corajosamente confessastes, em presença de muitas pessoas'. Saprício ficou inflexível, e da boca
não lhe saiu a palavra do perdão. Aconteceu, então, o que era de esperar: Deus, vendo seu
Preceito desatendido pelo Seu ministro, retirou-lhe a Graça e a assistência na hora
da morte. Quando chegaram ao lugar do suplício, Saprício recebeu ordem de ajoelhar-se. 'Por
que devo ajoelhar-me?' Perguntou aos carrascos.

➔ 'Para levar a efeito a execução', responderam.

➔ 'Que fiz eu, para que deva morrer?'

➔ 'Porque negaste sacrificar aos deuses, conforme ordenam os imperadores'.

➔ 'Não quero morrer. Farei o que me mandarem e prestarei homenagem aos deuses'.
Imediatamente foi posto em liberdade.

Outra vez apareceu Nicéforo e, vendo o grande escândalo que Saprício acabava de dar,
dirigiu-se-lhe dizendo: 'Não peques, meu irmão, negando a Nosso Senhor Jesus Cristo. Peço-te
que não O abandones para que não percas a coroa, que já tinhas segura, como recompensa da
tua fidelidade no martírio'. Saprício ficou insensível ainda diante deste último apelo. Para reparar
a infidelidade de Saprício, Nicéforo apresentou-se dizendo: 'Sou Cristão e creio em Jesus Cristo,
cujo Nome Saprício acaba de negar. Eis-me aqui, pronto para morrer em seu lugar'. Todos os
circunstantes se admiraram da coragem de Nicéforo. Os algozes não se atreveram a pôr-lhe a mão,
sem a autorização do governador. Esta não se fez esperar, e poucos minutos depois, rolou a cabeça
de Nicéforo na arena, aos pés de Saprício e dos algozes, e sua alma, aureolada com a glória do
martírio, voou para o Céu, para fazer parte do glorioso exército dos Mártires e cantar louvor ao Rei
eterno, Jesus Cristo”.

Reflexões:
1. O amor de Deus é inseparável do amor do próximo. 'Quem diz que ama a Deus, e odeia
a seu irmão, é mentiroso, e a verdade não está nele' (1ª Jo. 4, 20). Exemplo frizante desta verdade
temos na história de Saprício, que perdeu a coroa do martírio, porque embora quisesse morrer
pela Fé, não soube lançar do coração o ódio contra uma pessoa, que o ofendera.
Quem odeia a seu irmão, não é amigo de Deus, por mais que insista em afirmá-lo.

2. Saprício era Sacerdote e, não obstante, perdeu a Fé e deu escândalo. Perante Deus não
há acepção de pessoa. O estado sacerdotal, como tal, não é garantia nenhuma da felicidade eterna,
e embora seja de todos os estados o mais santo e venerável, não santifica sem a cooperação pessoal
de quem o abraçou. O pecado do Sacerdote é maior, maior é a responsabilidade do Sacerdote,
porque maiores são as graças que recebe, mais clara é sua compreensão das coisas de Deus. Os fiéis
devem rezar pelos Sacerdotes, para que Deus os conserve na Sua graça. Se um mau procedimento
de um Sacerdote os escandalizar, como aconteceu a Nicéforo, que apesar de sua insistência não
pode mover a Saprício, para que lhe perdoasse, procurem ignorá-lo, e lembrem-se que cada um
responderá a Deus pelos seus atos. Entre os 12 Apóstolos houve um apenas, Judas. O exemplo
deste por ninguém deve ser imitado, enquanto que muito nos deve animar, edificar e entusiasmar a
virtude, a dedicação de um São Pedro, de um São João e demais Apóstolos.

(Rev. Pe. João Batista Lehmann, S.V.D., “Na Luz Perpétua”, Vol. 1,
Festa de São Nicéforo, Mártir, 27 de Fevereiro, pp. 172-174,
5ª Edição, Ed. Lar Cristão, Juiz de Fora – MG, 1959).

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“O cristão que não é apóstolo é apóstata”. (Papa Pio XI)
“E nós temos de Deus este Mandamento: Que aquele que ama a Deus, ame também o seu irmão”. (1ª S. Jo. 4, 21)

“Quem não conhece em presença disto, que todas as obras que um cristão faz,
se não procedem da caridade e amor de Deus e do próximo, não são agradáveis aos
olhos do Senhor?

Os Gregos e os Latinos celebram a sua memória no dia de hoje (9 ou 27 Fevereiro)” (Rev.


Pe. Croiset, S.J., “Ano Cristão”, Vol. II, 9 de Fevereiro, pp. 130-131, Tradução do Rev. Pe. Matos
Soares, Porto, 1923).

O Detestável Vício da Cólera


Relata-nos São Dionísio Areopagita, através de uma resposta dada a um certo monge,
chamado Demófilo, que “um certo pagão seduzira e fizera voltar à idolatria um cristão candiota
(que nasceu na ilha de Cândia ou Creta), recém-convertido à fé. Carpo, homem eminente em
pureza e santidade de vida, e que há grande aparência de ter sido Bispo de Cândia, concebeu por
isso, tamanha cólera como nunca sofrera tal, e deixou-se arrastar tanto por essa paixão, que,
levantando-se à meia-noite para rezar segundo seu costume, concluiu consigo mesmo não ser
razoável que os homens ímpios vivessem mais, rogando à Divina Justiça matar com um raio
aqueles dois pecadores juntos, o pagão sedutor e o cristão seduzido. Vede, porém, Teótimo, o que
Deus fez para corrigir a aspereza da paixão de que o pobre Carpo estava dominado. Primeiramente,
fez-lhe ver, como a outro Santo Estêvão, o Céu todo aberto, e Jesus Cristo Nosso Senhor sentado
num grande trono, rodeado por uma multidão de Anjos que lhe assistiam em forma humana;
depois, ele viu embaixo, a terra aberta como um horrível e vasto Inferno e os dois desviados, a
quem ele desejara tanto mal. À beira desse precipício, trêmulos e quase desmaiados de pavor, por
estarem prestes a cair dentro, atraídos de um lado por uma multidão de serpentes, que, saindo do
abismo, se lhes enroscavam nas pernas e com as caudas lhes faziam cócegas e os provocavam à
queda; e, do outro lado, certos homens que os empurravam e batiam para os fazerem cair, de modo
que eles pareciam estar a pique de ser abismados naquele precipício. Ora, considerai, rogo-vos ,
Teótimo, a violência da paixão de Carpo. Porque, conforme ele mesmo contava depois a São
Dionísio, ele não fazia caso de contemplar Nosso Senhor e os Anjos que se mostravam no Céu,
tanto prazer achava em ver embaixo a angústia tremenda daqueles dois míseros maus,
incomodando-se somente com o fato de tardarem eles tanto a perecer, e esforçando-se, portanto,
para os precipitar por si mesmo; e, não o podendo fazer logo, despeitava-se com isso e os maldizia,
até que enfim, levantando os olhos ao Céu, viu o meigo e mui compassivo Salvador que, por uma
extrema piedade e compaixão do que se passava, se levantou do seu trono e, descendo até o lugar
onde estavam aqueles dois pobres miseráveis, lhes estendeu a Sua mão bondosa, ao mesmo tempo
que os Anjos também, uns de um lado, outros doutro, os retinham para impedi-los de cair naquele
tremendo abismo; e, por conclusão, o amável e bondoso Jesus, dirigindo-se ao colérico Carpo, diz:
olha, Carpo, bate agora em Mim; pois, estou pronto a padecer mais uma vez para salvar os homens;
e isto me seria agradável se pudesse suceder sem o pecado dos outros homens. Porém, ademais,
reflete o que te seria melhor, estar neste abismo com as serpentes ou ficar com os Anjos que são tão
grandes amigos dos homens. Teótimo, o santo homem Carpo tinha razão de entrar em zelo por
aqueles dois homens, e o seu zelo excitara justamente a cólera contra eles; porém, uma vez movida,
a cólera deixara a razão e o zelo para trás, ultrapassando as fronteiras e limites do santo amor, e
por conseguinte, do zelo, que lhe é o fervor. Convertera o ódio do pecado em ódio do pecador, e a
dulcíssima caridade em furiosa crueldade.

Assim há pessoas que, pensam, não se possa ter muito zelo se não se tem muita cólera,
achando não poderem acomodar coisa alguma se não estragarem tudo, conquanto, ao contrário, o
verdadeiro zelo quase nunca se serve da cólera: porque, assim como não se aplica o ferro e o fogo
aos doentes, senão quando não se pode fazer de outro modo, assim também, o santo zelo não
emprega a cólera senão nas extremas necessidades”. (São Francisco de Sales, “Tratado do Amor de

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“O cristão que não é apóstolo é apóstata”. (Papa Pio XI)
“E nós temos de Deus este Mandamento: Que aquele que ama a Deus, ame também o seu irmão”. (1ª S. Jo. 4, 21)

Deus”, Liv. Xº, Cap. XV, pp. 541-543; 2ª Edição, Editora Vozes, Petrópolis-RJ, 1996)

“Não julgueis, e não sereis julgados;


não condeneis, e não sereis condenados.
Perdoai, e sereis perdoados.
Dai, e dar-se-vos-á;
no seio vos será lançada uma medida boa,
cheia, recalcada e abarrotada.
Porque, com a mesma medida
com que medirdes (para os outros),
será medido para vós”
(S. Luc. 6, 37-38).

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“O cristão que não é apóstolo é apóstata”. (Papa Pio XI)

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