RESUMO
Cada vez mais comuns no perímetro urbano das grandes cidades essas áreas
funcionam como importantes meios de entender o funcionamento dos processos
urbanos. Com isso, a seguinte pesquisa busca analisar a produção do espaço
urbano com enfoque nas áreas de riscos e vulnerabilidades (consideradas aqui
como um resultado deste processo) destacando ainda os principais agentes
atuantes no bairro Jorge Teixeira, uma vez que este se encontra entre os locais com
maior ocorrência de áreas de risco relacionadas a deslizamentos e inundação na
cidade de Manaus - AM.
ABSTRACT
Increasingly common in the urban perimeter of large cities these areas function as
important means of understanding the functioning of urban processes. Therefore, the
following research seeks to analyze the production of the urban space with a focus
on the areas of risks and vulnerabilities (considered here as a result of this process),
highlighting also the main agents in the Jorge Teixeira neighborhood, since this is
among the sites With greater occurrence of areas of risk related to landslides and
flooding in the city of Manaus - AM.
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INTRODUÇÃO
O rápido desenvolvimento urbano ocorrido no século XX causou efeitos
marcantes na organização espacial de muitas cidades. Essa acelerada expansão
exigiu um aumento dos serviços públicos, fato não alcançado por todos. Esse
desequilíbrio entre o nível de “resposta” necessária e o realmente dado teve como
consequência o surgimento e agravamento de problemas urbanos como os vistos
nas principais metrópoles brasileiras, e presente também na cidade de Manaus -
AM.
Por volta da década de 1980 ocorre a implantação da Zona Franca de
Manaus (ZFM) que serve como um impulso para o desenvolvimento e ampliação
urbana da cidade e seu adensamento populacional. A partir deste período surgem
vários bairros e conjuntos habitacionais principalmente em direção as zonas Leste e
Norte, setores menos ocupados da cidade até então. É em meio a este movimento
que o bairro Jorge Teixeira surge, inicialmente por meio do loteamento de terrenos
distribuídos pelo Estado com destino à população carente de bairros já existentes
nas proximidades da área (como o bairro São José Operário). Porém, esse
movimento atraiu para seu entorno grupos de menor poder aquisitivo que ocuparam
de forma irregular grande parte de sua área. Tal processo interferiu diretamente no
modo como a estrutura do Bairro se estabelece atualmente.
A relação entre o processo de urbanização acelerado e as formas de uso e
ocupação do solo resultam no surgimento de áreas de risco e vulnerabilidade. Os
riscos de acordo com o Instituto de Pesquisas Tecnológicas – IPT (2007) seria a
“relação entre a possibilidade de ocorrência de um dado processo ou fenômeno, e a
magnitude de danos ou consequências sociais e/ou econômicas sobre um dado
elemento, grupo ou comunidade. Quanto maior a vulnerabilidade, maior o risco”. Já
a vulnerabilidade estaria ligada, segundo Spink (2014), a processos sociais
relacionados tanto a precariedade das condições de vida e proteção social que
tornam certos grupos, principalmente entre os mais carentes, quanto aos desastres
e mudanças ambientais resultantes da degradação do meio ambiente que tornam
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certas áreas mais vulneráveis. Para determinar o risco, portanto, é necessário
primeiro conhecer a vulnerabilidade.
As áreas de risco seriam então pontos dentro do perímetro urbano que
funcionam como reflexos de uma complexa relação entre o homem e a natureza.
Tendo ligação não apenas com os indivíduos que ali habitam (mesmo estes sendo
os principais afetados), mas se mostrando ainda como uma questão política, pois,
essas áreas em si tratando do perímetro urbano tem seu valor e formas de uso
guiadas em grande parte por políticas habitacionais, o Estado como um importante
agente estruturante do território aparece então como essencial nestas áreas.
CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA
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Figura 01: mapa de localização do bairro Jorge Teixeira.
Fonte: IBGE (2014) e IMPLURB (2008), Org. Suliane Costa
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O bairro Jorge Teixeira está entre os locais com maior número de ocorrência
de determinados eventos de risco (deslizamentos e inundação) em Manaus, fato que
pode estar associado as suas características geomorfológicas e hidrológicas. O
bairro possui um relevo caracterizado por área de platô e vertentes de inclinação
moderada, assentado sobre o platô está uma das principais vias de acesso do bairro
(Avenida Mirra). Grande parte das ruas desta área apresenta processos erosivos,
alguns já em estágio muito avançado com necessidade de obras de intervenção.
Vários são os fatores que favorecem este tipo de fenômeno uma vez que o bairro
apresenta diversos cursos fluviais e há numerosa quantidade de construções
realizadas sobre as vertentes íngremes locais.
Se faz necessário esclarecer que o termo deslizamento de terra é apenas
uma categoria dos chamados “movimentos de massa”, este seria o rápido
movimento de materiais superficiais encosta abaixo (DIAS e HERRMANN, 2002).
Enquanto que inundação se configura como a situação na qual as águas fluviais
ultrapassam o limite das margens, convergindo-se sobre as áreas adjacentes (LEITE
e ROCHA, 2016).
A estrutura do bairro é composta por uma precariedade no equipamento
urbano. Sua urbanização foi feita por um conjunto sistemas de drenagem
inadequados que modificam a morfologia dos terrenos, esses terrenos também são
modificados pela ação direta dos moradores para fins de instalação de obras de
engenharia voltadas principalmente para moradia (construção de casas), atividade
que transformam a paisagem.
O processo de modificação se inicia com a retirada da vegetação, seguida por
obras de terraplenagem e/ou aterros. Tais obras, porém, fragilizam o relevo e fazem
com que as águas (pluviais ou residuais) sejam lançadas diretamente nas encostas
e/ou cabeceiras de drenagem acelerando e até mesmo causando o surgimento de
processos erosivos. A consequência dessas ações são os deslizamentos de terra
(desprendimento do solo nas vertentes) que ao se deslocarem carregam consigo
tudo que se encontra no caminho, principalmente no período de chuvas, com isso
são afetadas as casas localizadas não apenas no topo das vertentes onde foi
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realizada a ação de modificação do terreno, mas também residências instaladas no
fundo do vale.
Também se incluem os processos erosivos no modelado da paisagem, como
por exemplo, as erosões em áreas urbanas. É possível citar o modelado do relevo
da cidade, suas ruas e avenidas, e a direção da drenagem, que pode favorecer ou
não a formação ou não de áreas inundáveis. A cidade de Manaus, logo o bairro em
questão, está localizada sobre a formação Alter do Chão apresentando um relevo
bastante acidentado, com alto grau de variação altimétrica, estruturado, segundo
Ab’Saber (2004) sobre a porção ribeirinha de um sistema de colinas tabuliformes,
pertencentes a uma vasta seção de um tabuleiro de sedimentos.
Há presença de igarapés por toda extensão do bairro. Os igarapés de
Manaus segundo Ab’Saber (2004) possuem de 7 a 12 metros de barranca lateral,
representando vales que isolam os diversos blocos urbanos da cidade, fato bem
exposto no bairro em questão, sendo este entrecortado por três bacias hidrográficas
principais, sendo estas a Bacia Hidrográfica do Puraquequara, a Bacia Hidrográfica
da Colônia Antônio Aleixo e a Bacia Hidrográfica do Mindú esta última se
caracterizando como a de maior influência e destaque dentro da dinâmica
socioespacial do bairro (principalmente para os moradores das etapas 1 e 2, por
onde a bacia transpassa), podendo ser classificada como uma Bacia Hidrográfica
Urbanizada. Bacias Hidrográficas Urbanizadas são unidades naturalmente
delimitadas constituídas a partir de relações de uso e ocupação do solo.
Em resumo, esses processos são resultantes das ações da natureza, da
sociedade e ainda das instituições, tendo ligação não apenas com os indivíduos que
ali habitam (mesmo estes sendo os principais afetados), mas se mostrando ainda
como uma questão política, pois, essas áreas, em si tratando do perímetro urbano,
têm seu valor e formas de uso guiadas por políticas habitacionais e o Estado como
um importante agente estruturante do espaço e aparece então como essencial
nestas áreas.
Se o Estado tem como finalidade assegurar a vida humana em sociedade,
estabelecendo justiça e igualdade a todos sendo responsável pela organização e
pelo controle social, é também dever do cidadão cumprir e seguir as normas
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estabelecidas gerando assim um ambiente propício ao bem estar da sociedade em
geral.
Figura 02: áreas de risco no bairro Jorge Teixeira. Foto 1. Palafitas construídas na primeira
etapa do bairro; foto 2. Perímetro alagável próximo a um trecho do Mindu, casas em risco de
inundação.
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Fonte: Suliane Costa, 2017.
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CONCLUSÃO
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estruturais frequentemente profundas, mas esse crescimento,
considerado como uma condição pré-via termina por se tornar um
obstáculo ao desenvolvimento “humano”, devido aos bloqueios de
estrutura que ele provoca por toda parte. (SANTOS, 1978)
As consequências de tais eventos vão desde perdas materiais até risco contra
a própria vida e saúde de alguns indivíduos afetando mesmo que em graus
diferentes (pois alguns grupos se encontram mais expostos) todos que estão
inseridos no mundo urbano. Os eventos de risco são um problema de toda a
sociedade, pensar políticas públicas na ótica do território e dos vínculos sociais “não
significa pretender a homogeneização das condições sociais e das realidades
cotidianas, mas buscar uma visão estratégica para a otimização dos esforços
públicos” (NASCIMENTO e MELAZZO, 2013).
BIBLIOGRAFIA
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