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Clínica de Aconselhamento e Discipulado

Idolatria Sexual
Masturbação

1. Entendendo o problema:

Como falar de assunto tão constrangedor quanto a impureza sexual? Como


aconselhar biblicamente alguém que se declara um viciado sexual, pois já não consegue viver
sem seus acessos a pornografia ou à sua masturbação continua?

Primeiramente precisamos compreender que a questão não pode ser resumida a um


comportamento repetitivo ou, ainda, a um impulso instintivo natural que algumas pessoas
conseguem reprimir e outras não, como comumente o problema é abordado dentro das
perspectivas humanistas que estão em evidência nos dias atuais. Trata-se de uma batalha que
ocorre dentro do coração daquele sofre, uma batalha por adoração.

Nesse contexto, ao mesmo tempo que revelamos aos nossos aconselhados que o
problema é uma questão de adoração, devemos também revelar que existe uma esperança que
vai muito além dos vazios sucessos das meras mudanças de comportamento ou da aparente
inevitabilidade dos instintos animais e esta esperança é Cristo. Assim, apenas por meio do
aconselhamento noutético, ou seja, aquele fundamentado nas Escrituras é que o aconselhado
será confrontado com a realidade dos fatos que tem conduzido seus pensamentos, sentimentos
e ações, ou seja, o pecado, no caso, da idolatria sexual e terá a oportunidade de, com a ajuda do
Espírito Santo, tratar o ídolo escravizador, dentro da dinâmica do pecado sexual e dos demais
ídolos que têm se imposto conjuntamente.

Embora a dimensão do pecado sexual, que resulta na prática da masturbação,


precise ser observada pelo conselheiro bíblico em toda a complexidade do panteão de ídolos
que podem estar escravizando uma pessoa, sua expressão mais significativa deriva dos desejos
de um coração cobiçoso que ardentemente exige e demanda o objeto de seu desejo. Nessa
vereda, ensina John D. Street (pg.33):

“Esses desejos sexuais intencionais do coração dão início tanto


a um processo interno (fantasias imorais) quanto a um externo,
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isto é, a conduta, tornando-se, desta maneira, o ritmo


escravizador do mal. ”

Na prática do aconselhamento bíblico é papel do conselheiro identificar o panteão


de ídolos que tem dominado o coração de seu aconselhado, a fim de auxiliá-lo, com a graça do
Espírito Santo, a romper ritmo escravizador de seus próprios desejos por meio do despojamento
desses e o revestimento de desejos que conduzem à uma vida de piedade.

2. Perspectivas bíblicas acerca da masturbação

No intuito de apresentar a esperança das escrituras ao aconselhado no tratamento


de seus problemas inicialmente se faz necessário revelar a ele qual a perspectiva bíblica acerca
do sexo, em outras palavras a quem pertence o sexo, qual a sua finalidade, quais princípios
devem observados.

Nesse sentido, as Escrituras deixam muito claro que o Senhor Deus é o autor da
sexualidade e que o desejo sexual criado por Ele era santo como Ele também o é. Precisamos
entender que o Senhor ao mesmo tempo que nos criou macho e fêmea, também nos fez para
sermos uma só carne e que exemplo maravilhoso Ele nos deixou, pois “Essa pluralidade e, ao
mesmo tempo, essa unidade essencial refletem a essência do Deus Triuno.“Façamos (plural) o
homem à nossa (plural) semelhança (singular)”.”(Street, pg 14).

Outrossim, o sexo deve ser entendido sob a perspectiva da adoração, a qual pode
ser erroneamente direcionada à própria pessoa, “eu controlo e governo minha vida”, à pessoa
com quem se faz sexo, “preciso ser amado por essa pessoa”, ao que se pode ganhar como sexo,
“preciso do prazer e do alívio que o sexo me proporcionam” e nesses casos o sexo nunca
funcionará do modo como Deus o criou.

Em outra esteira, podemos adorar ao Senhor com nossa sexualidade e atingir o


verdadeiro resultado pretendido, mas para isso precisaremos recorrer às escrituras para
realmente entender de que forma isso se dá. Assim, de acordo com o texto de 1Co.6 12-20:

“"Tudo me é permitido", mas nem tudo convém. "Tudo me é permitido",


mas eu não deixarei que nada domine. "Os alimentos foram feitos para
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o estômago e o estômago para os alimentos", mas Deus destruirá


ambos. O corpo, porém, não é para a imoralidade, mas para o Senhor,
e o Senhor para o corpo. Por seu poder, Deus ressuscitou o Senhor e
também nos ressuscitará. Vocês não sabem que os seus corpos são
membros de Cristo? Tomarei eu os membros de Cristo e os unirei a
uma prostituta? De modo nenhum! Vocês não sabem que aquele que se
une a uma prostituta é um corpo com ela? Pois, como está escrito: "Os
dois serão uma só carne". Mas aquele que se une ao Senhor é um
espírito com ele. Fujam da imoralidade sexual. Todos os outros
pecados que alguém comete, fora do corpo os comete; mas quem peca
sexualmente, peca contra o seu próprio corpo. Acaso não sabem que o
corpo de vocês é santuário do Espírito Santo que habita em vocês, que
lhes foi dado por Deus, e que vocês não são de si mesmos? Vocês foram
comprados por alto preço. Portanto, glorifiquem a Deus com o corpo
de vocês. ” (NVI)

O pastor Paul David Tripp em sua obra Sexo & Dinheiro nos ensina que o apóstolo
Paulo observa o sexo sob a perspectiva correta de adoração a Deus e para isso nos aponta quatro
princípios de adoração e dois mandamentos de adoração.

a) Princípio da Autoridade:

Inicialmente Paulo nos revela que há uma disputa por autoridade dentro de nosso
coração, entre seguir a Lei do Senhor ou entregar nossos desejos a outros mestres, e que nossa
vida sexual será moldada pelo mestre que escolhermos entregar nosso coração.

A esperança na batalha pela pureza sexual daqueles escravizados pela idolatria


sexual não se encontra na perfeita submissão a Cristo por suas próprias forças, mas na perfeita
submissão à vontade do Pai em favor deles, pois caídos como estão podem chegar diante do Pai
Santo e clamar por seu perdão e resgate e Ele, por sua autoridade, vos ajudará dando-vos
consolo e sabedoria.

b) Princípio da Eternidade:
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A breve citação quanto a ressureição de Cristo tem o condão de lembrar-nos que


nossa vida não é apenas o momento que estamos vivendo, mas uma preparação para a vida
infinita que virá.

Aquele que sofre com a escravidão dos pecados sexuais tem a tendência de enxergar
o momento presente como final, colocando o foco no prazer presente, conduzindo à
compulsividade de se viver ao máximo cada segundo, pois se está mais concentrado no que se
pode experimentar do que no modo como se vive.

Por outro lado, se eles mantiverem a perspectiva correta sobre a eternidade


entenderão que a vida sexual pode ser vivida com uma esperança tranquila de que o melhor
ainda está por vir, ao invés de uma avidez constante de conseguir o melhor a cada segundo.

c) Princípio da Unidade:

Paulo nos lembra que se somos do Senhor estamos unidos com Cristo como os
membros estão unidos ao corpo, assim levamos Cristo conosco onde quer vamos e no quer que
fizermos, por isso a pergunta de Paulo é tão séria e reveladora, amaremos a nós mesmos de tal
grande monta que até mesmo uniríamos o santo ao impuro?

A reflexão reveladora de que estamos unidos a Cristo todo o tempo é também fonte
da graça e da misericórdia Dele para conosco, pois nossos aconselhados poderão ter a certeza
de que não há lugar ou situação que os impedirá de dizer não ao que é impuro e sim a Cristo.

d) Princípio da Propriedade:

Por esse princípio o apóstolo Paulo nos lembra que somos habitação do próprio
Deus e que tudo que fazemos em nossa vida sexual fazemos como templo do Deus Altíssimo.
Ademais, nos lembra que “nosso corpo” nada tem de “nosso”, pois fomos comprados por alto
preço e isso implica que nossos corpos não são lugares de prazeres pessoais, mas lugares de
adoração a Deus. Por conseguinte, tudo o que fizermos e como fizermos em nossa vida sexual
deve considerar esse propósito.
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Nessa visão, o conselheiro noutético poderá revelar ao seu aconselhado a esperança


de um Deus santo e misericordioso, que diante de um pecador arrependido, por ter tratado sua
vida sexual como se fosse exclusivamente sua, permite que corramos a Ele e não Dele.

I) O mandamento para fugir da Imoralidade Sexual:

O apóstolo Paulo nos adverte para fugirmos da imoralidade sexual, fugir de


pensamentos que querem pintar como belo o que Deus diz que é feio, fugir do orgulho que nos
diz que somos mais fortes do que realmente somos, fugir do egoísmo de usarmos pessoas para
nosso prazer, fugir daquilo que gostamos fazer mas que não sabemos lidar.

No entanto, precisa ficar claro a conselheiros e aconselhados que o maior perigo


está dentro de nós e não fora e que fugir não nos torna moralmente mais puros, mas quando
fugimos chamamos Deus para fazer algo que não podemos, nos livrar de nós mesmos.

II) O mandamento de glorificar a Deus em nosso corpo:

Paulo encerra esta secção de pensamento nos convidando para glorificar a Deus
com nossos corpos, ou seja, para experimentarmos o verdadeiro prazer e alegria que a graça do
Senhor nos devolve a viver, a mesma graça que nos permite uma vida sexual não focada em
nós mesmos, em nossos parceiros ou ainda nos prazeres momentâneos que podemos alcançar,
mas centralizada em Deus, para só então, experimentarmos uma vida sexual como Ele planejou
para nós.

2.1. Imoralidade Sexual como Fraude

Em seu artigo, Uma Perversão da Intimidade, Jeffrey S. Black, nos apresenta o


conceito de que sexo sem intimidade é uma fraude, ainda que ocorra dentro de uma relação
conjugal. Na visão do autor, a metáfora do casamento como símbolo da união do crente com
Cristo, tem o condão de, pelo lado da união com Cristo, esclarecer o tipo de cônjuge devemos
ser e, pelo lado do casamento, exemplificar aspectos dessa união com Cristo. Assim, o sexo foi
concebido por Deus como sendo a expressão mais profunda do companheirismo e intimidade
dentro do casamento, por isso, também, qualquer forma de sexo sem essa intimidade é um
descumprimento do propósito de Deus para o sexo.
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Prossegue o autor nos ensinando que “a masturbação é sexo praticado a sós”,


dispensando o investimento em outra pessoa, revelando um compromisso em servir a si mesmos
e evitando morrer para si mesmos “que é a natureza do companheirismo”. O conselheiro
noutético enfrentará um problema básico à luz das escrituras, precisará ensinar seu aconselhado,
com a graça de Deus, a morrer para si mesmo e começar a amar o próximo.

Por fim conclui que dizendo que na bíblia não há especificamente nada a dizer sobre
a masturbação, pois não é necessário, uma vez que “... O problema da masturbação não é o ato
em sí...” (Black, 2005, p. 103), mas é revelador de um coração egocêntrico que adora a si mesmo
e não está disposto a amar a Deus e ao seu próximo. Pois o problema não é como lidamos com
nossos impulsos mas como santificamos nossos corações.

2.2. O panteão da Idolatria Sexual:

Quando lidamos com a idolatria sexual é preciso ter-se em mente que não se trata
de um único ídolo responsável por todo o comportamento do indivíduo, mas sim de um panteão
de ídolos que se acumulam e que necessitam da atenção do conselheiro noutético.

Em seu livro “PURIFICANDO O CORAÇÃO DA IDOLATRIA SEXUAL”,John D.


Street, nos propões um modelo prático para nos auxiliar no entendimento da complexa relação
que os ídolos do coração podem ter no coração das pessoas.

Primeiramente precisamos compreender que “...A cobiça sexual encontra sua fonte
primária num coração exigente de avareza cobiçosa...”, isto pois conforme a carta aos Gálatas
a carne só procura satisfazer a carne e nada mais. Assim, essa “...avareza expressa por meio de
expectavas e desejos de auto-satisfação é a expressão crua do pecado sexual.”

Por conseguinte, o autor propõe dois caminhos pelos quais essa avareza pode
assumir no desejo sexual: a) o desejo pela satisfação prazerosa, o qual poderá ser seguido por
lisonja, poder/controle, autograficação e conforto e b) desejo do consolo, o qual poderá ser
seguido pelos desejos de ira, autocomiseração, temor e descontentamento.
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Em mesma esteira quando observamos o quadro, percebemos que muitos dos frutos
percebidos, sejam eles criminosos ou não, estão diretamente relacionados a conjuntos de
desejos que elevados à condição de ídolos escravizam e cobram daqueles que os adoram seu
preço, o que por sua vez pode ser a liberdade chegando até mesmo a vida.

Nesse ponto, se faz necessário que observemos que as condutas exigidas pela
idolatria sexual não são estáticas, mas elas avançam conforme a exigência do ídolo cresce, em
outras palavras, conforme o escravo vai sentindo-se seguro em praticar o pecado mais ele o
pratica de forma ostensiva, até que suas consequências vão se tornando cada vez menos
importantes frente as promessas que o ídolo faz em seu coração.

É nesse contexto que a masturbação e a cyber pornografia tem encontrado campo


fértil para procriar inclusive em meio ao povo de Deus, pois sua facilidade em se ocultar, às
vezes por anos, tem enredado cristãos com a falsa promessa de sigilo e segurança. Esses ídolos
famintos ocultam a verdade de seus escravos, pois à medida que seus escravos aumentam a
frequência e a intensidade de suas condutas pecaminosas são conduzidos, gradativamente, a
condutas mais ousadas e mais cheias de alarmante baixeza.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

POWLISON, David. O Pecado Sexual e a Batalha Mais Ampla e


Profunda. Coletâneas de Aconselhamento Bíblico, Atibaia, v. 8, p.121-130, 2009.

STAFFORD, Tim. Levando a Sério a Impureza Sexual em Nossos Dias. Coletâneas


de Aconselhamento Bíblico, Atibaia, v. 4, p.79-83, 2005.

STAFFORD, Tim. Uma Perversão da Intimidade: Pornografia, Masturbação e Outros


Usos Errados do Sexo. Coletâneas de Aconselhamento Bíblico, Atibaia, v. 4,
p.98-118, 2005.

BETTLER, John F.. Quando o Problema é um Pecado Sexual: um Modelo de


Aconselhamento. Coletâneas de Aconselhamento Bíblico, Atibaia, v. 4, p.119-
122, 2005.

TRIPP, Paul David. Sexo e Dinheiro: Prazeres que Desapontam e a Graça que
Satisfaz. São Paulo: Cultura Cristã, 2014. 173 p.

STREET, John D.. Purificando o Coração da Idolatria Sexual. São Paulo: Nutra
Publicações, 2009. 236 p.

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