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A IDADE DA PEDRA
A maior parte da existência dos homens na Terra coincide com a chamada “Idade da Pedra”,
denominação que foi consagrada e popularizada ao longo do século XX.
A Pré-história pode ser dividida, tomando-se como referência a evolução cultural e
tecnológica da humanidade (o desenvolvimento no fabrico e uso de ferramentas), em três
momentos distintos: Idade da Pedra; Idade do Bronze (aproximadamente a partir de 3.000
a.C.) e Idade do Ferro (entre 1.200 e 1.300a.C.).
Esses conceitos apresentam-se, contudo, muito vagos e imprecisos, visto que é muito difícil
determinar o início e o término de cada uma dessas fases.
OBS.: Até muito recentemente era possível encontrar, em certas partes mais remotas do mundo,
populações que podiam ser classificadas como vivendo na Idade da Pedra; e, ainda nos nossos dias,
existem comunidades que possuem e utilizam um arsenal de ferramentas não muito mais sofisticado
que dos homens pré-históricos.
Outro inconveniente na utilização do conceito de Idade da Pedra é o fato deste englobar um
período de tempo muito dilatado, aproximadamente de 1.700.000 até 10.000 anos atrás, no
qual evoluíram diferentes grupos de hominídeos, alguns dos quais sequer podemos classifica-los
como plenamente humanos (Homo erectus).
Em função disto os paleontólogos dividiram o Paleolítico (Antiga Idade da Pedra, ou Idade da
Pedra Lascada) em fases distintas: 1ª) Paleolítico Inferior (1.700.000 até 100.000 anos atrás);
Paleolítico Médio ou Mesolítico (100.000 até 50.000 anos atrás); Paleolítico Superior (50.000
até 10.000 anos atrás).
OBS: Sucedendo o Paleolítico Superior, a partir de 10.000 anos atrás, teve início o período
Neolítico ou “Nova” Idade da Pedra, ou ainda, Idade da Pedra Polida.
PALEOLÍTICO SUPERIOR
Os Homens de Cro-Magnon europeus foram exímios caçadores e pescadores, desenvolvendo
novas técnicas e artefatos como redes, arcos e flechas, arpões denteados, anzóis, etc.
Também foram criados cinzéis e buris, permitindo maior precisão nos cortes, entalhes e
gravações, e, consequentemente, aprimorando a arte de esculpir na pedra, marfim, chifres e
ossos.
O trabalho com a pedra tornou-se cada vez mais refinado, sendo fabricadas minúsculas
“lâminas” de sílex, que encaixadas em suportes de madeira ou osso, produziam novas
ferramentas e armas. Desse modo, foi criada a foice ou faca de ceifar (ceifadeira) de sílex,
permitindo ao homem colher tufos de “gramíneas” (cereais) selvagens, enriquecendo sua dieta.
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A tecnologia de caça, também, foi aperfeiçoada com a fabricação de arremessadores de
lanças, que possibilitavam maior alcance, precisão e poder mortífero.
Ao lado das lanças e flechas com pontas de sílex, novas armas passaram a ser produzidas a
partir da utilização de outros materiais, tais como ossos e chifres.
Outra inovação valiosa deste período (por volta de 16.000 a.C.) foi a produção das primeiras
agulhas de osso ou chifre, o que permitiu a confecção de roupas mais resistentes, confortáveis e
com maior capacidade de isolamento térmico. As peles devidamente processadas (curtidas e
amaciadas) podiam, então, ser “cosidas” usando-se, à guisa de linhas, tiras de couro, tripas e
tendões.
As melhorias na qualidade de vida, associadas à uma dieta mais rica e diversificadas (os
Homens de Neanderthal parecem ter sofrido de carência vitamínica), fizeram que a expectativa
de vida aumentasse. Porém, ainda assim, é provável que eram raros os indivíduos que chegavam
aos quarenta anos de idade, e a velhice deveria ser uma fase de grandes provações e
sofrimentos, visto que, aqueles que a alcançavam eram torturados com as dores da artrite, do
reumatismo, padecendo com o escorbuto e o apodrecimento dos dentes.
No Paleolítico Superior encontramos sinais da construção de habitações edificadas de forma
proposital, adaptando o estilo e as técnicas às condições climáticas, topográficas e aos
materiais disponíveis.
A construção de abrigos de pedra empilhadas foi realizada por diferentes grupos humanos,
entretanto, com os caçadores precisavam deslocar-se constantemente acompanhando as
manadas que migravam durante o ano, as cabanas de argila, junco e peles tornaram-se mais
práticas.
Nas planícies do leste e nas regiões frias da Europa, diante escassez de cavernas e abrigos
naturais, os homens da fase final do Paleolítico construíram habitações com ossos e presas de
Mamute e cobertas com as peles desses enormes animais.
O coroamento de todo esse desenvolvimento tecnológico e cultural talvez tenha ocorrido com o
advento das primeiras manifestações de arte, seja através das pinturas rupestres, das
representações femininas nas esculturas, ou da confecção de adornos e ornamentos.
As pinturas feitas nas paredes e tetos das cavernas representando animais e cenas de caçadas são
algo que nos impressiona e estimula nossa imaginação. Envoltas em mistério e especulações,
essas esplendidas manifestações artísticas atraem o interesse de diferentes especialistas.
Localizadas em lugares de difícil acesso, tais pinturas somente puderam ser realizadas com a
utilização de iluminação artificial.
OBS: É curioso perceber que os artistas do paleolítico dispensavam pouca atenção com as paisagens
e com os seres humanos, esses últimos normalmente eram representados de forma grosseira,
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abstrata e estilizada, ao passo que, em relação aos animais observa-se um enorme cuidado com os
detalhes.
Não se sabe ao certo porque nossos antepassados realizaram tais pinturas. Acredita-se que no
interior dessas cavernas eram praticados rituais religiosos ou mágicos, daí a associação desses
desenhos com a tentativa de influenciar o movimento e o comportamento dos animais que
eram mais caçados, e que representavam a chave para a sobrevivência da comunidade.
Após aproximadamente cinco mil anos esse tipo de manifestação artística desapareceu.
Se aceitarmos que sua produção encontrava-se ligada à crença nos poderes sobrenaturais que
tal pintura exercia sobre o sucesso da caçada e prosperidade do grupo que a realizava, podemos
presumir que as conquistas mentais associadas à uma observação mais apurada da
realidade, levaram os indivíduos à perderem a fé e, consequentemente, o interesse nesse tipo
de atividade.
NEOLÍTICO
Por volta do ano 10.000 a.C. teve início o último período da Pré-história, o neolítico (Do grego
néos: novo, moderno + líthos: pedra; cálculo), ou seja, Nova Idade da Pedra ou Idade da Pedra
Polida.
Apesar da denominação Idade da Pedra, esse período apresentou um enorme salto tecnológico e
cultural na evolução da humanidade, pois o homem tornou-se um agricultor, pastor e ceramista;
adotando um estilo de vida sedentário.
O excedente de alimentos propiciado pela produção agrícola e pelo pastoreio de animais
domesticados, liberou os indivíduos do esforço, até então, imperioso de assegurar a satisfação
das necessidades imediatas, facultando o aprimoramento de outras habilidades e o
desenvolvimento de novas atividades.
A “invenção” da agricultura representou o último dos grandes avanços da humanidade na Pré-
história, alterando profundamente a vida e a estrutura da sociedade.
Os primeiros vestígios do cultivo de plantas (painço e arroz) datam de cerca de 10.000 a.C. e
foram encontrados no sudeste asiático. Aproximadamente entre 7.000 e 5.000 a.C. abóboras e
pimentões já eram cultivados no México, e o milho parece que começou a ser cultivado no
México e na América Central no quarto milênio antes de Cristo.
Entretanto, foi no Oriente Próximo que, entre 9.000 e 8.000 a.C., as técnicas de cultivo
tornaram-se amplamente difundidas e diferentes grãos de cereais, que ainda hoje
consumimos, passaram a ser cultivados.
A atividade agrícola implicava na seleção de sementes, no trabalho do solo e, principalmente,
no conhecimento dos ciclos da natureza.
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Tudo isso, exigia uma capacidade apurada de observação, o acúmulo de experiências e
conhecimentos específicos.
Os agricultores e horticultores do neolítico ao selecionarem diferentes variedades de plantas
obtiveram grãos de cereais maiores (duas ou três vezes maiores) que aqueles encontrados na
natureza em estado selvagem.
Também, é provável que essa seleção visava obter espécies mais resistentes às ervas daninhas
e melhor adaptadas às condições naturais adversas.
A domesticação de animais e a atividade pastoril representam características fundamentais do
estilo de vida neolítico.
Reiteradas vezes os arqueólogos têm encontrado ossos de animais nas escavações de locais pré-
históricos, todavia é difícil determinar se esses pertenceram à animais domesticados ou
selvagens.
Muitas vezes as pistas sobre a domesticação de certas espécies de animais são obtidas a partir
dos modelos de barro confeccionados por artesãos habilidosos.
A domesticação de determinados animais ocorreu em períodos distintos se compararmos a
evolução desse processo em diferentes lugares.
Ovelhas, cabras e porcos talvez tenham sido primeiramente domesticados tendo em vista o seu
porte menor em relação aos bovinos.
Alguns especialistas afirmam que por volta de 9.000 a.C. gado ovino domesticado já pastava
em Shanidar, no norte do atual Iraque.
Independente da precisão na datação desses processos é inegável que a criação e seleção de
animais dos mais variados tipos, garantiu ao homem um suprimento regular de carne, além
de leite e ovos, tornando sua dieta mais rica e diversificada.
Cabe destacar a existência de um certo consenso entre os estudiosos no reconhecimento do cão
como sendo o primeiro animal a se submeter ao controle humano, utilizado inicialmente como
auxiliar na caça, e posteriormente empregado como um eficiente guardião dos rebanhos de
cabras e ovelhas.
OBS: “Uma antiga lenda relata que, após Adão e Eva terem sido expulsos do Paraíso, abriu-se
lentamente um enorme abismo entre eles e os demais membros do Reino Animal. Mas, no último
instante, antes que a fenda se tornasse larga demais o cão pulou sobre o abismo, decidindo passar o
resto da eternidade ao lado do seu amigo, o homem”. Essa encantadora estória expressa o estreito
vínculo estabelecido entre os seres humanos e seus cães ao longo de milhares de anos.
A domesticação de diferentes animais assegurou o fornecimento, além dos chifres e ossos, de
peles e lã, permitindo, junto com o cultivo de certas plantas, a produção de fibras usadas na
confecção de tecidos usados no vestuário dessas populações primitivas.
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A criação de porcos apresentava inúmeras vantagens, visto que, esses animais apresentam um
crescimento rápido e têm crias numerosas e freqüentes, produzindo carne e gordura
abundantes e amplamente utilizadas na culinária.
O boi teve um papel especial nesses assentamentos agrícolas primitivos, pois, além de fornecer
carne e couro, serviu como animal se tração (puxando os rústicos arados de então) e
transporte de carga, já que a utilização do cavalo para tais fins somente ocorreria muito mais
tarde.
OBS: Assim, como ocorreu com espécies vegetais, também, a criação seletiva dos animais levou ao
estabelecimento de variadas raças, desenvolvidas com o objetivo, por exemplo, de produzir uma
quantidade maior de leite ou carne. Como resultado a constituição física (genética) e a aparência
desses animais foram alteradas, diferenciando-os, cada vez mais, das espécies selvagens. O
suprimento de comida regular assegurado pelos seres humanos resultou, em alguns casos, no
atrofiamento das presas e bicos. Por sua vez, a remoção de certos elementos do seu hábitat natural
possibilitou a sobrevivência de variedades que talvez viessem a perecer no meio selvagem em
função do perigo apresentado pela sua coloração. Isso permitiu a fixação de padrões de pelagem
mais vistosas e exuberantes.
Para completar o quadro geral da chamada “revolução neolítica”, deve-se levar em
consideração o significado que a produção de cerâmicas adquiriu no contexto das profundas
transformações observadas no modo de vida dessas comunidades.
A produção de excedentes agrícolas que poderiam ser estocados para consumo futuro (no
inverno, ou durante períodos de escassez), gerou uma demanda crescente por recipientes para
transporte e armazenamento.
A argila é um material flexível (de fácil modelagem), abundante e acessível, permitindo a
produção de peças de diferentes formas e tamanhos, adaptadas às mais diversas finalidades.
Além desse caráter pragmático, a cerâmica representou um novo veículo para a manifestação
artística, pois, as peças produzidas poderiam ser decoradas (esculpidas e/ou pintadas), criando
uma miríade de padrões e estilos.
O homem do neolítico era um artesão inteligente e sagaz, capaz de produzir peças de singular
beleza e delicadeza, que graças à grande resistência apresentada pela cerâmica cozida, foram
preservadas até os dias atuais.
A melhoria considerável observada nas condições da existência humana aliada ao
sedentarismo provocaram um expressivo crescimento populacional, levando ao
estabelecimento das primeiras cidades [Jericó – 8.000 a.C., Çatal (pronuncia-se “Tchatal”)
Hüyuk – 6.500 a.C., Hacilar – 6.000 a.C., dentre outras do Oriente Médio].
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Tais cidades congregavam um grande número de casas, acolhendo centenas de habitantes
dentro de suas muralhas, o que levou ao desenvolvimento de uma organização social e
econômica.
Existem provas evidentes da fundição do cobre no Oriente Médio depois do ano 6.000 a.C.; e
apesar de não ser um metal duro (podendo ser previamente aquecido e depois martelado) os
instrumentos confeccionados em cobre são mais eficientes que os de pedra.
Concluindo, podemos afirmar que o somatório dessas inovações (agricultura, pastoreio,
produção de utensílios de cerâmica, fabrico de tecidos, desenvolvimento de uma cultura urbana
e fundição incipiente de metais) representa um salto qualitativo na evolução humana e um
passo decisivo no caminho do estabelecimento das primeiras civilizações.