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ISSN: 2447-2301

ORIGINAL / ORIGINAL ARTICLE / ORIGINALE

Prevalence of vulnerabilities and vaccination status for


hepatitis b in school adolescents
Prevalência de vulnerabilidades e situação vacinal para hepatite b em adolescentes escolares
Prevalencia de vulnerabilidades y situación vacunal para hepatitis b en adolescentes escolares

Tairo Barros Branco¹


Francisco Braz Milanez Oliveira²
Marcus Vinicius da Rocha Santos da Silva³
Fernando Antônio da Silva Santos4
Jessielly Taís Ferreira Guimarães5

Descriptors ABSTRACT
Hepatitis B. Adolescent. Vaccination Objective: This study aimed to analyze the behavior of adolescents' vulnerability to infection with the
Coverage. Risk factors. Hepatitis B virus. Methodology: This is a cross-sectional, descriptive, exploratory study with a
quantitative approach performed with 187 adolescents. For the analysis, descriptive static was used
Descritores with CI = 95% and the level of static significance (p <0.05). Results: Prevalence of female sex (62.6%),
Hepatite B. Adolescente. Cobertura sexual intercourse at 14.3 years and 70% of participants had an incomplete vaccination scheme,
Vacinal. Fatores de Risco. positively associated with male adolescents and between individuals who had already started sexual
intercourse (p<0.05). Conclusion: Adolescents are susceptible to hepatitis B infection through an
Descriptores incomplete vaccination scheme, together with the vulnerability behaviors to which they are exposed.
Hepatitis B. Adolescente. Cobertura
RESUMO
Vacunal. Factores de riesgo. Objetivo: Este estudo objetivou analisar o comportamento de vulnerabilidade dos adolescentes a
infecção pelo vírus da Hepatite B. Metodologia: Trata-se de um estudo transversal, descritivo,
exploratório com abordagem quantitativa, realizado com 187 adolescentes. Para análise utilizou-se
estática descritiva com IC=95% e o nível de significância estática (p<0,05). Resultados: Houve
prevalência do sexo feminino (62,6%), início das relações sexuais aos 14,3 anos e 70% dos participantes
apresentaram esquema vacinal incompleto, associados positivamente, em adolescentes do sexo
masculino e entre indivíduos que já tinham iniciado relações sexuais (p<0,05). Conclusão: Os
adolescentes são suscetíveis à infecção por Hepatite B mediante esquema vacinal incompleto, aliado a
comportamentos de vulnerabilidades a que estão expostos.

RESUMEN
Objective: This study aimed to analyze the behavior of adolescents' vulnerability to infection with the
Hepatitis B virus. Methodology: This is a cross-sectional, descriptive, exploratory study with a
Sources of funding: No quantitative approach performed with 187 adolescents. For the analysis, descriptive static was used
Conflict of interest: No with CI = 95% and the level of static significance (p <0.05). Results: Prevalence of female sex (62.6%),
Date of first submission: 2017-06-12 sexual intercourse at 14.3 years and 70% of participants had an incomplete vaccination scheme,
Accepted: 2017-07-01 positively associated with male adolescents and between individuals who had already started sexual
Publishing: 2017-07-28 intercourse (p<0.05). Conclusion: Adolescents are susceptible to hepatitis B infection through an
incomplete vaccination scheme, together with the vulnerability behaviors to which they are exposed.

Corresponding Address
¹Graduando do sétimo período de Direito pela Faculdade de Ciências e Tecnologia do Maranhão/FACEMA. Caxias – Maranhão. E-mail:
elizabethsouza_22@hotmail.com laercio_589589@hotmail.com
Tairo Barros Branco ²Especialista em História do Brasil: cultura e sociedade pelo Instituto de Ensino São Francisco/IESF; Especialista em História do Maranhão
Faculdade de Ciências e Tecnologias pela Universidade Estadual do Maranhão/UEMA e Graduando do sétimo período de Direito na Faculdade de Ciências e Tecnologia do
do Maranhão – FACEMA Maranhão/FACEMA. Bolsista PIBIC pela Faculdade de Ciências e Tecnologia do Maranhão/FACEMA. Caxias – Maranhão. E-mail:
Endereço: Aarão Reis, nº 1000, gerhard_berg@hotmail.com
3Doutora em História Social pela Universidade Federal de Uberlândia/UFU. Docente em Direito pela Faculdade de Ciências e Tecnologia
Bairro: Centro - Caxias/MA, Brasil. do Maranhão/FACEMA. Faculdade de Ciências e Tecnologia do Maranhão/FACEMA. Rua Aarão Réis, 1000 - Centro, Caxias - MA, 65606-020.
E-mail: tairopk@msn.com (99) 3422-6800. E-mail: emilia.nery@gmail.com
Fone:55+ (99) 98164-6621

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INTRODUÇÃO METODOLOGIA

A Hepatite B é uma doença infecciosa transmitida Trata-se de um estudo transversal, descritivo,


pelo vírus (HBV), que afeta principalmente os hepatócitos exploratório, com abordagem quantitativa dos dados,
ocasionado um processo inflamatório no fígado. É realizado com adolescentes de 14 escolas públicas
considerada um importante problema de saúde publica localizadas na zona urbana do município de Caxias,
mundial, trazendo em muitos casos complicações graves Maranhão. Este recorte faz parte do projeto de pesquisa
aos indivíduos infectados (1). Estima-se que cerca de um intitulado “Situação de vulnerabilidade para Hepatite B
milhão de pessoas ao redor do mundo morrem anualmente em adolescentes escolares” do Programa Institucional com
em consequência das complicações que a doença ocasiona Bolsas de Iniciação Científica – PIBIC 2014/2015 da
nos seus portadores (2). Faculdade de Ciências e Tecnologias do Maranhão –
A transmissão da doença se faz principalmente FACEMA.
pela via parenteral e por via sexual, essa sendo A população fonte para realização desta pesquisa
caracterizada como de fácil transmissão devido ao vírus foi constituída de 4.031 adolescentes com recorte etário
possuir um enorme poder infectivo. O mesmo encontra-se entre 10 e 19 anos de idade regularmente matriculados na
ainda presente na saliva, sangue, sêmem, secreções rede de ensino municipal. A amostragem foi do tipo
vaginais e no leite materno, podendo ser transmitido aleatória simples, considerando a prevalência nacional de
também pela forma congênita (3-4). IST´S na população brasileira (15%), com erro amostral de
Frente às formas de transmissão e a magnitude (5%) e nível de confiança de (95%), adotado previamente
da doença, os adolescentes têm sido considerados como em outro estudo (5), totalizando 187 adolescentes.
grupo populacional vulnerável à infecção pelo vírus da Os critérios de inclusão para os participantes
Hepatite B, tendo em vista que adotam comportamentos desta pesquisa foram: estar dentro da faixa etária entre
de risco para o desenvolvimento da doença como: inicio 10 e 19 anos, alunos devidamente matriculados na rede de
precoce nas relações sexuais, relações sexuais sem ensino, e aqueles que aceitaram de livre e espontânea
proteção, múltiplos parceiros, uso abusivo de álcool, vontade participar da respectiva pesquisa mediante a
exposição a drogas ilícitas e cobertura vacinal para assinatura dos pais ou responsáveis do Termo de
Hepatite B incompleta (5). Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).
Ademais, características próprias desse período Os dados foram coletados no período
da vida, como a falta de pensamento abstrato dos compreendido entre Junho a Agosto de 2015 mediante a
adolescentes, que, em muitas vezes os impede de prever aplicação de um questionário semiestruturado
as consequências dos seus atos, torna-os mais vulneráveis desenvolvidos pelos pesquisadores com base na literatura
a desenvolver comportamentos não saudáveis de vida, que cientifica. As variáveis levantadas no instrumento deste
os submetem as Infecções Sexualmente Transmissíveis estudo foram: socioeconômicas e demográficas,
(IST) (4-5). epidemiológicas e comportamento de risco (uso de álcool
Em face de todas as considerações levantadas até e drogas ilícitas, presença de tatuagens, piercings), de
aqui sobre a magnitude da infecção pelo HBV e seu vida afetiva sexual e verificação da cobertura vacinal
potencial de transmissibilidade, torna-se imprescindível à através da posse do cartão de vacina, onde verificou-se o
realização de estudos que possam contribuir para número de doses administradas da vacina anti-Hb.
identificação do perfil de risco para desenvolvimento da Os dados foram digitados no programa Microsoft
doença, principalmente em populações mais vulneráveis Excel e importados para o programa StatisticalPackage for
como os adolescentes. Diante do exposto, o estudo the Social Sciences - SPSS (versão 18.0 for Windows), no
objetivou identificar e conhecer a prevalência de qual foram tabulados. A análise estatística utilizada foi a
comportamentos de vulnerabilidade e situação vacinal descritiva a partir dos percentuais das categorias de
para Hepatite B em adolescentes escolares. respostas das variáveis. Os dados foram explorados por

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meio das técnicas univariadas e bivariadas, considerando- Vive


companheiro 01 0,5
se média (X), desvio padrão e intervalo de confiança de mesmo sexo
(95%). Raça/Cor
Pardo (a) 54,5
102
O uso do teste Qui-quadrado de Pearson foi Branco (a) 31 16,5
Negro(a) 54 29,0
utilizado para verificar as possíveis associações entre as Religião
variáveis. Utilizou-se também a Razão de Prevalência (RP) Católico(a)
122 65,2
com seus respectivos intervalos de confiança de 95% (IC
Evangélico(a)
58 31,0
95%) como medida de efeito entre a cobertura vacinal e Umbandista 07 3,8
as variáveis de interesse. O nível de significância Ocupação
Sim
estatística considerado foi de 5% (p<0,05). 11 5,9

O projeto foi submetido à Plataforma Brasil, Não


176 94,1
direcionado ao Comitê de Ética e Pesquisa (CEP) da Renda 1626,2 (886,7)
individual
Universidade Estadual do Maranhão (UEMA) e aprovado Sim
24 12,8
com Nº CAAE 42341115.4.0000.5554.
Não
176 94,1
O desenvolvimento do estudo seguiu todos os
procedimentos éticos de pesquisa seguindo as técnicas Total 187 10
0
adequadas relacionados à pesquisa em seres humanos Legenda: N: Frequência; D.P: Desvio Padrão.
estabelecidos pela resolução 466/12(6) do Conselho Fonte: Pesquisa direta
Nacional de Saúde (CNS).
Quanto à caracterização dos comportamentos
chave de vulnerabilidade para Hepatite B, a tabela 2
RESULTADOS mostra que boa parte dos adolescentes (41,2%) relataram
ter experimentado álcool, desses, 97,4% faziam uso
A amostra foi constituída de 187 adolescentes. O eventualmente da substância. 45% dos adolescentes
estudo revelou maior prevalência do sexo feminino referiram compartilhar tesourinhas, alicates ou lâminas de
(62,6%). O estudo revelou maior prevalência de barbear.
adolescentes com idade entre 12 e 15 anos (86,6%) e
média de 14,4 anos (DP=1,1), pardos (54,5%), solteiros Tabela 2–Distribuição da amostra estudada segundo
variáveis hábitos e estilo de vida e vida afetivo-sexual.
(98,4%) e de religião católica (65,2%). Apenas 12,8% Caxias-MA, 2015. (n=187).
referiram trabalhar com renda média de R$ 1626,00
Média
(DP=886,7), conforme apresenta a tabela 1 abaixo. Variáveis
N % (DP)
Já experimentou bebida alcoólica

Tabela1- Caracterização dos adolescentes escolares Sim 77 41,2


segundo variáveis socioeconômicas e demográficas. Não 110 58,8
Caxias-MA, 2015. (n=187). Frequência do consumo de bebida alcoólica (n=77)

Média (DP) Eventualmente 75 97,4


Variáveis N 2 a 3 dias 02 2,6
%
Sexo Drogas ilícitas
37 Sim 07 2,7
Masculino 70
,4
62 Não 187 96,3
Feminino 117
,6 Possui Tatuagem e
Piercing
Faixa etária
14,4(1,1) Sim 11 5,9
86 Não 176 94,1
12-15 anos 162
,6
13 Tatuagem realizada com material esterilizado (n=11)
16-19 anos 25
,4 Sim 03 27,2
Estado civil Não 08 72,8
Solteiro(a) 185 98,9 Compartilha objetos pessoais
Casado(a)/Uni perfurocortantes
01 0,5
ão estável Sim 84 45,0

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Não 55,0
103
Já teve relação Tabela 3 – Distribuição da situação vacinal em
sexual adolescentes escolares. Caxias-MA, 2015. (n=187).
Sim 35 18,7
Não 152 81,3 Variáveis N %
Idade de início atividade sexual Possui cartão de vacina
14,3 (1,3)
Uso de camisinha Sim 88 47,0
(n=35) Não 99 53,0
Sim 20 57,2 Motivo de não possuir cartão de vacina (n=99)
Não 15 42,8 Não se lembra de ter sido
Número de parceiros 10 10,0
vacinado
3,9 (5,5) Perdeu o cartão 89 90,0
Total 100,0 Cobertura vacinal
187 Esquema completo 56 30,0
Esquema incompleto 131 70,0
Legenda: N: frequência; DP: desvio padrão.
Total 187 100,0
Fonte: Pesquisa direta Legenda: N: frequência
Fonte: Pesquisa direta
Entre os adolescentes que possuíam tatuagem
(5,9%), maioria referiu não usar material esterilizado para
Na tabela 4, a análise Razão de Prevalência (RP)
sua confecção (72,8%). apontou associação significativa entre a situação vacinal e
Identificou-se ainda que o início da vida sexual
a variável sexo (RP=0,61; p-value=0,049), faixa etária
dos adolescentes foi em média aos 14,3 anos (DP=1,3) com (RP=2,37; p-value=0,035), possuir cartão de vacina
média de 3,9 parceiros sexuais na vida (DP=5,5) conforme
(RP=14,6; p-value<0,001) e ter iniciado as relações sexuais
tabela 2.
(RP=0,43; p-value=0,025). A prevalência de esquema
Quanto à situação vacinal para Hepatite B,
vacinal completo foi maior no sexo feminino (35%). Já a
observou-se que 53% dos adolescentes não possuíam
prevalência de situação vacinal incompleta para Hepatite
cartão de vacina, destes, 90% referiram a perda do cartão B foi maior no sexo masculino (78,6%). Em relação à faixa
como principal motivo.
etária, quanto maior a idade, maior a prevalência de
Sobre o esquema vacinal, 70% estavam esquema vacinal incompleto (88%). Possuir cartão de
incompletos para Hepatite B, com menos de três doses da
vacina foi determinante para a presença de esquemas
vacina, conforme apresenta a tabela 3.
completos da vacina para a Hepatite B, aumentando a
situação vacinal em 14,6 vezes. A prevalência de situação
vacinal completa foi maior em quem não iniciou a vida
sexual (33,6).

Tabela 4 – Prevalência e Razão de Prevalência (RP) entre situação vacinal e as variáveis sexo, faixa etária, cartão de vacina
e relações sexuais na amostra estudada. Caxias-MA, 2015. (n=187).

Cobertura vacinal
Variáveis Sim Não RP (IC95%) P
N % N %
Sexo 0,049
Masculino 15 21,4 55 78,6 0,61 (0,37-0,98)
Feminino 41 35,0 76 65,0 ref.
Faixa etária 0,035
12-15 anos 53 32,7 109 67,3 2,73 (1,01-8,06)
16-19 anos 03 12,0 22 88,0 ref.
Possui cartão de vacina <0,001
Sim 52 59,1 36 40,9 14,6 (5,5-28,5)
Não 04 4,0 95 86,0 ref.
Já teve relações sexuais 0,025
Sim 05 14,3 30 85,7 0,43 (0,18-0,99)
Não 51 33,6 101 66,4 ref.
Teste qui-quadrado de Pearson, ref.: categoria de referência, RP: razão de prevalência, IC95%: Intervalo de confiança.

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DISCUSSÃO alicates de unhas sem as devidas técnicas de esterilização


(11)
.
Os achados relacionados às características Em relação à caracterização da vida afetivo-
socioeconômicas e demográficas dos participantes desta sexual da amostra constatou-se inicio precoce das
pesquisa foram identificados em estudos similares atividades sexuais com idade média de início aos 14,3
realizados com escolares: prevalência do sexo feminino (DP=1,3) anos de acordo com a tabela 2. É notório que a
(62,6%), faixa etária com média de idade entre 12 e 15 estreia da vida sexual dos adolescentes tem início cada
(4,7)
anos (86,6%) e indivíduos de raça/cor pardos (54,5%) , vez mais cedo, estudos conduzidos no Brasil e em outras
conforme apresentado na tabela 1. Ademais achados na partes do mundo (4,7,9-10,12-13)
revelam que a primeira
literatura Internacional também revelam a prevalência de relação sexual ocorre antes dos 15 anos e que esta
mulheres entre os participantes, tal como os estudos precocidade pode trazer consequências graves a saúde dos
realizados em Portugal (52,2%) (8) e na Espanha (54%) (9). adolescentes.
Na tabela 2 são descritos comportamentos que se A iniciação sexual precoce é preocupante porque
configuram como fator de risco a desenvolver a Hepatite aumenta o tempo de exposição às Infecções Sexualmente
B, dos 187 adolescentes (41,2%) já tinha experimentado Transmissíveis, especialmente entre os adolescentes, que
álcool alguma vez na vida e (3,8%) fizeram uso de drogas podem não estar preparados para lidar com os riscos
ilícitas como. O consumo dessas substâncias tem se apresentados nas relações sexuais quando iniciadas
caracterizado como importante fator de risco para a prematuramente. Além disso, a iniciação sexual precoce
doença, principalmente por conta do êxtase e diminuição está associada com maior número de parceiros sexuais ao
do raciocínio que as drogas causam no organismo. Dessa longo da vida, o que também está aumenta a
forma, aumentando a probabilidade da adoção de probabilidade de adquirir esse tipo de infecção (9, 13)
.
comportamentos de risco e do sentimento de Nesse sentido cabe ressaltar que a Hepatite B é
(4-5,7)
invulnerabilidade entre os adolescentes . considerada uma IST, e a via sexual como um importante
Consequentemente outros estudos revelaram meio de transmissão do HBV, principalmente entre os
associação estaticamente positiva (p<0,05) entre o uso de jovens que estão mais propensos a adoção de
álcool e outras drogas com a prevalência de comportamentos de risco (4)
. No Brasil segundo dados do
comportamentos sexuais de risco. Segundo os autores o Boletim Epidemiológico de Hepatites Virais a transmissão
consumo desta droga está relacionado diretamente à sexual da doença foi a mais prevalente dentre os modos
primeira relação sexual, multiplicidade de parceiros e à de disseminação do HBV no país, representando (52,9%)
prática de sexo sem preservativo na adolescência dos casos registrados (14).
favorecendo o surgimento das IST, como por exemplo a No que se refere à situação vacinal para
(7,9-10)
Hepatite Viral B . Hepatite B este estudo demonstrou que os adolescentes
Outros comportamentos chave de vulnerabilidade estão suscetíveis a desenvolver a infecção pelo HBV, visto
para infecção pelo HBV apresentado pelos adolescentes que (70%), dos participantes estavam com esquema
neste estudo foram: a presença de tatuagens/piercings vacinal incompleto com menos de 3 doses da vacina de
onde maioria dos que possuíam referiram não utilizar acordo com tabela 3, conforme preconiza os programas de
material esterilizado para sua confecção e o imunização ao redor do mundo (4-5)
. Esses achados
compartilhamento de objetos pessoais perfurocortantes. corroboram com estudo realizado em Teresina, Piauí,
Ressalta-se que um dos principais modos de Brasil (5) onde (61,2%) dos participantes não apresentaram
transmissão da doença é a via parenteral, esta ocorre esquema vacinal completo para doença.
principalmente por exposições percutâneas como Por sua vez os adolescentes caracterizam-se
ferimentos, transfusão sanguínea, materiais para como um grupo com elevado risco de exposição ao vírus
confecção de tatuagens e piercings contaminados, lâminas da Hepatite B, e a vacina é a forma mais eficaz para a
de barbear e materiais de manicure como tesouras e prevenção da doença e tem proporcionado acentuado

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(4-
avanço no controle dessa enfermidade em todo mundo pouco os cuidados primários destinados a promover e
5,15-17)
. A partir de 1998 a vacina contra Hepatite B passou proteger a saúde.
a ser disponibilizada na rede pública e faz parte do Neste estudo possuir cartão de vacina foi
calendário de vacinas dos adolescentes. Apesar de a determinante para a presença de esquemas completos da
imunização conferir proteção na adolescência e corrigir vacina para a Hepatite B, aumentando a situação vacinal
lacunas na infância, a vacinação ainda não é uma pratica em 14,6 vezes quando comparados àqueles adolescentes
(5,15-16)
rotineira nessa população . que não possuíam o cartão. Outros estudos revelam ainda
(5,15)
Neste estudo esquemas vacinais incompletos para que os adolescentes geralmente pouco conhecem o
Hepatite B obteve associação significativa (P< 0,05) em cartão de vacinação bem como o calendário de vacinação
indivíduos do sexo masculino quando comparados ao sexo preconizado pelo Programa Nacional de imunização
feminino, conforme apresenta tabela 3. Corroborando Brasileiro para a população especifica.
(15)
com outro estudo Brasileiro , onde adolescentes do sexo Para estes mesmos autores a falta de
feminino também obtiveram maior adesão a esquemas conscientização não parte somente dos adolescentes, mas
vacinais completos (RP = 1,69; IC95%=1,09–2,61). decorre principalmente dos profissionais de saúde que
É importante atentar para o fato de que a geralmente têm demonstrado negligência em observar o
literatura especifica na área apontam os homens como cartão de vacinas dos usuários tem contribuído para as
mais suscetíveis a desenvolver a Hepatite B, baixas coberturas vacinais nessa população especifica.
principalmente no Brasil onde os dados epidemiológicos Outro resultado que trouxe preocupação em
(14)
apontam uma maior prevalência de casos registrados relação à situação vacinal dos adolescentes foi associação
de infecção pelo HBV no sexo masculino representando significativa (p< 0,05) entre a prevalência de esquema
(54,2%) dos casos confirmados no país. Esse perfil vacinal completo para Hepatite B maior em quem não
epidemiológico também foi verificado na literatura iniciou a vida sexual (33, 6%).Em contrapartida, ter
(18)
cientifica internacional. Na Líbia um estudo sobre a iniciado as relações sexuais diminuiu em (57%) a situação
prevalência de Hepatite B na população em geral verificou vacinal dos adolescentes.
uma maior prevalência da infecção viral entre os homens Soma-se a este fato que a via sexual ainda
(1,4: 1,0) quando comparado às mulheres. permeia como um dos principais mecanismos de
No que diz respeito à idade, adolescentes com transmissão da infecção na população, especialmente
menor faixa etária obtiveram maior prevalência de entre os adolescentes que estão mais expostos à prática
esquemas vacinais completos. Resultado semelhante foi de comportamentos sexuais de risco como já descrito
(19)
verificado em um recorte na Grécia onde se evidenciou neste estudo. Dessa forma a vacinação nesse grupo
menor cobertura vacinal para as principais doenças populacional deve ser encorajada e a busca por
imunoprevinivéis nos adolescentes mais velhos. Outro estratégias que alcancem esses indivíduos implementadas
(20)
estudo Americano corroborou com esses dados, pelos programas de saúde.
adolescentes com faixa etária situada entre 15-17 anos de Nesse sentido ressalta-se a importância de se
idade obtiveram a cobertura mais baixa do que os utilizar o espaço escolar como forma de expandir e
adolescentes com faixa etária de 13-14 anos de idade melhorar o PNI e o combate às doenças infecciosas
(4-5,15,18,20)
(77,6% vs. 87,1%, p <0,05). principalmente a Hepatite B. Diversos estudos
A prática de vacinação é centrada geralmente nas reforçam que as coberturas vacinais dos adolescentes
crianças. A família valoriza esta prática de saúde. Nesse podem ser melhoradas mediante o fornecimento de
sentido o cuidado da família é estendido aos adolescentes vacinas em um cenário escolar em virtude da atividade de
(15)
na faixa de menor idade . Por via de regra os vacinação ser uma prática de extremo valor, pois se trata
adolescentes de faixas etárias mais elevadas já se de uma tecnologia de saúde que além de utilizar uma
consideram mais independentes dos cuidados familiares e ferramenta muito poderosa contra determinados agentes
como é peculiar à idade se acharem imortais, valorizam infecciosos, ainda é relativamente simplificada.

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CONCLUSÃO http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=
S1413-81232007000500022.
Verificou-se na população estudada a presença 3. Taquette SR. Quando suspeitar, como
de comportamentos chave de vulnerabilidade que os diagnosticar e como tratar doenças sexualmente
transmissíveis na adolescência. Adolescência & Saúde
tornam suscetíveis a desenvolver infecção pelo vírus da [Internet]. 2007 [cited 2015 June 10];4(2):6-11. Available
HBV destacando-se, o consumo de drogas, em especial a from:
http://www.adolescenciaesaude.com/detalhe_artigo.as
ingestão de bebidas alcoólicas, compartilhamento de p?id=103
objetos pessoais perfurocortantes e a prevalência de
4. Araújo TME, Sá LC, Silva AAS, Costa JP. Cobertura
esquemas vacinais incompletos para Hepatite B. Outro vacinal e fatores relacionados à vacinação dos
fator de risco identificado nos adolescentes foi o início adolescentes residentes na área norte de Teresina/PI. Rev
Eletr Enfermagem [Internet]. 2010 [cited 2016 Jan 16];
precoce das atividades sexuais que se deu em média 14,4 12(13): 502-510. Available from:
anos de idade aumentando assim as chances de https://www.fen.ufg.br/fen_revista/v12/n3/pdf/v12n3a
13.pdf
desenvolver uma IST.
Em virtude dos aspectos mencionados, o estudo 5. Araújo TME, Carvalho KM, Monteiro RM. Análise
da vulnerabilidade dos adolescentes à hepatite B em
aponta para a necessidade de implementação de ações e Teresina/PI. Rev Eletr Enfermagem [Internet]. 2012.
estratégias à promoção da saúde em relação ao [cited 2015 Aug 14];14(4): 242-247. Available from:
https://www.fen.ufg.br/fen_revista/v14/n4/pdf/v14n4a
desenvolvimento saudável dos adolescentes, 16.pdf
principalmente em relação às doenças infecciosas como a
6. Brasil. Ministério da Saúde. Conselho Nacional de
Hepatite B. Portanto espera-se que intervenções Saúde, Comissão Nacional de Ética em Pesquisa.
integradas sejam efetivadas junto a este grupo Resolução Nº 466/12. Normas regulamentadoras de
pesquisa envolvendo seres humanos. Brasília: Ministério
populacional, principalmente voltadas a saúde sexual e da Saúde; 2012.
reprodutiva, uso de álcool e outras drogas e conhecimento
7. Sasaki RSA, Leles CR, Malta DC, Sardinha LMV,
adequado sobre as imunizações necessárias nessa fase, Freire MCM. Prevalência de relação sexual e fatores
visando principalmente à minimização de associados em adolescentes escolares de Goiânia Goiás,
Brasil. Ciênc saúde coletiva [Internet]. 2015 [ cited 2015
comportamentos de risco. june 10];20(1): 95-104. Available from:
Ademais por ser a vacina o principal meio de http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=
S1413-81232015000100095
prevenção da doença, torna-se necessário por parte dos
profissionais de saúde, especialmente os enfermeiros para 8. Ramiro L, Reis M, Matos MG,
Diniz JÁ, Simões C. Educação sexual, conhecimentos,
que realizem intervenções principalmente no cenário crenças, atitudes e comportamentos nos adolescentes.
escolar identificando os esquemas vacinais incompletos, Rev Port Sau Pub [Internet].2011[cited 2016 jan 10];
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