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QUÂNTICA
Ed u a rdo Hollauer
***
Química Quântica
Eduardo Hollauer
Departamento de Ftsico-Química (GFQ-UFF)
Instituto de Química da Universidade Federal Fluminense
LTC
Há cerca de 12 anos, fustigado por um sonho, consultei amigos quanto à possibilidade de obter
alguma ajuda para escrever um livro. Imaginava escrever um livro sobre Química Quântica,
assunto do qual me ocupei por muitos anos. Não encontrei ninguém disposto a tal empreitada,
e de quebra não me faltaram conselhos apontando isto como uma insanidade, comentários
afirmando que o mercado brasileiro não comportava esse tipo de publicação, ou que a relação
custo-benefício não era muito favorável, enfim... Mas a vontade era tamanha, que o livro foi
crescendo de maneira insensata, contrária ao mercado e a um alto custo pessoal.
Ao final desta jornada devo prestar tributo à minha família e àqueles a quem dedico este
livro: SPC, LvPH, HvPH e EEH. Também sou grato aos estudantes que leram o material e
jamais pouparam elogios à minha iniciativa ou à qualidade do texto.
Este livro é produto de grandes influências, as quais devo respeitosamente citar: Eisberg
e Resnick, em Física Quântica; Levine em Quantum Chemistry; e Mac-Quarrie, em Quantum
Chemistry. Além disso, creio que me esforcei muito para tornar prazerosa a leitura em teoria
quântica. Assim, muitas histórias foram compiladas, muitos exemplos e problemas foram
escritos a fim de tornar o texto claro e ambiciosamente completo.
Hoje, após 12 anos, vejo-me feliz por haver conduzido uma empreitada que chega ao
fim. São oito capítulos, 178 figuras, 168 exemplos resolvidos, 363 problemas, 500 páginas,
300 referências e 64 tabelas. Sem dúvida, o suficiente. Se os estudantes e a comunidade vão
gostar, não sei. Fiz o que julgo melhor! A satisfação de haver concluído uma tarefa que tantas
vezes considerei muito difícil e que muitos outros consideraram impossível ou insana é tal,
que já me vejo neste momento animado a continuar escrevendo outros textos, aceitando
novos desafios!
Eduardo Hollauer
Boa leitura!
Lista de T ab elas.......................................................................................................................... xiii
1..........................................................................................................................................................A A ntiga Te
1.1 O Espectro de Corpo Negro...................................................................................... 1
1.1.1 Evidências experimentais............................................................................ 1
1.1.2 A le id e W ie n .................................................................................................. 4
1.1.3 A lei de Stefan-Boltzmann........................................................................ . 5
1.1.4 A fórmula de Rayleigh-Jeans...................................................................... 6
7 M oléculas D ia tô m ic a s .................................................................................................... 3 39
7.1 A Separação Born-Oppenheimer............................................................................ 339
7.2 O Momento Angular Diatômico............................................................................ 343
7.3 A Molécula de H } ..................................................................................................... 344
7.3.1 Soluções numéricas...................................................................................... 345
7.3.2 Orbitais moleculares.................................................................................... 345
7.3.3 A natureza da ligação química.................................................................. 350
7.4 A Molécula de H 2........................................................................................................ 352
7.4.1 O método da ligação da valência (V B ).................................................... 353
7.4.2 O método dos orbitais moleculares (M O )............................................. 358
7.4.3 Cálculos Hartree-Fock não-restritos (UHF)............................................ 362
7.4.4 Cálculos multiconfiguracionais................................................................ 363
7.4.5 A teoria de perturbações............................................................................. 365
7.5 Moléculas Diatômicas Homonucleares................................................................. 367
7.5.1 Regras na formação dos orbitais moleculares........................................ 367
7.5.2 Hibridização nos modelos MO e V B ....................................................... 371
7.5.3 O diagrama de correlação........................................................................... 374
7.5.4 Termos espectroscópicos de moléculas lineares................................... 376
7.5.5 A função de onda ..................................................................................... . 379
7.5.6 A simetria de rotação nos termos moleculares..................................... 380
7.5.7 A simetria de reflexão nos termos moleculares...................................... 381
7.5.8 Ordem de ligação.......................................................................................... 382
7.5.9 Diamagnetismo-paramagnetismo............................................................ 383
7.5.10 Distribuição de multipolos......................................................................... 384
7.6 Resultados para Diatômicas Homonucleares...................................................... 385
7.6.1 O hidrogênio molecular....................................................... ....................... 385
7.6.2 O hélio e o íon hélio moleculares.............................................................. 388
7.6.3 Lítio molecular.............................................................................................. 389
7.6.4 Berílio molecular........................................................................................... 390
7.6.5 Boro molecular.............................................................................................. 392
7.6.6 Carbono molecular...................................................................................... 394
7.6.7 Nitrogênio molecular................................................................................... 396
7.6.8 Cátion nitrogênio molecular..................... ................................................ 398
7.6.9 Oxigênio molecular..................................................................................... 399
7. .10 Cátion oxigênio molecular.........................................................................
6 401
7.6.11 O flúor molecular e seus íons..................................................................... 402
7.6.12 Neônio molecular ....................................................................................... 404
7.6.13 Uma comparação no primeiro período.................................................... 405
7.7 Moléculas Diatômicas Heteronucleares................................................................ 409
7.7.1 O caráter iônico da ligação......................................................................... 409
7.7.2 LiH, hidreto de lítio...................................................................................... 411
7.7.3 B e O ,C N + z B N ............................................................................................ 412
7.7.4 B e F ,B O ,C N e C O +...................................................................................... 414
7.7.5 BF, CN~, CO e N O +..................................................................................... 417
7.7.6 C F e N O .......................................................................................................... 419
7.7.7 Outra comparação no primeiro período.................................................. 421
7.8 Problemas..................................................................................................................... 423
xii Sumário
ín d ic e .............................................................................................................................................. 471
1.1 Funções trabalho para vários m etais............................................................................. 13
1.2 Temperaturas críticas de Debye para sólidos monoatômicos................................. 22
1.3 Velocidades de emissões alfa de elementos radioativos mais freqüentes.............. 27
1.4 Medidas experimentais e resultados teóricos para o comprimento de onda
(em angstrõns) de várias transições eletrônicas no átomo de Bohr........................ 35
W Ê W Ê
..J iililS :
^ >í asasaag
■ m m --.
i p n
jg B 8 « a l
1.15 Trajetórias dos raios emitidos por fontes radioativas sob a ação de um campo
magnético perpendicular à folha de papel.................................................................... 26
1.16 Dispositivo de Rutherford para o estudo do espalhamento de
partículas alfa...................................................................................................................... 29
1.17 Gráfico das posições das linhas da série de Balmer em uma escala de
freqüências e comprimentos de onda............................................................................ 33
1.18 Diagrama de níveis energéticos para o átomo de hidrogênio e suas mais
conhecidas séries espectrais. O comprimento de onda é apresentado
em angstrõns....................................................................................................................... 36
1.19 Série de Pickering e de Balmer comparadas em uma escala de números
de onda................................................................................................................................. 40
1.20 Diagrama esquemático do equipamento de Compton com a fonte de raios X,
o alvo espalhador, o colimador, o analisador e o detector de raios X ..................... 45
1.21 Efeito Compton para a radiação de molibdênio com diferentes materiais
espalhadores........................................................................................................................ 46
1.22 Resultados experimentais de Compton com variação angular................................ 47
1.23 Diagrama esquemático que apresenta a distribuição de momentos lineares
durante o processo colisional.......................................................................................... 47
1.24 Diagrama esquemático de ondas em trajetórias de Bohr. A esquerda, vê-se uma
trajetória estacionária, enquanto à direita se vê interferência destrutiva............. 51
1.25 Na parte superior é apresentado o equipamento de Davisson e Germer.
Os elétrons são acelerados do filamento F em direção à placa. A energia
cinética dos elétrons é controlada pela diferença de potencial imposta em V.
Os elétrons são lançados, em vácuo, contra o cristal e espalhados na direção
do detector que mede a corrente entre os pontos F e D. Na parte central, a
figura geométrica torna clara a condição de interferência X = 2d sen<\>.
Na parte inferior, um difratograma típico apresentando as curvas obtidas em
experimentos de raios X e elétrons................................................................................ 54
1.26 Diagrama do dispositivo experimental para experiências de difração com
átomos de hélio e/ou hidrogênio molecular................................................................. 54
1.27 Difratograma gerado por espalhamento de nêutrons para o diamante.
Os números acima de cada pico indicam o plano de Miller que origina
aquele p ico.......................................................................................................................... 55
1.28 Diagrama de um pacote de ondas ordinário. O valor de * pode ser
determinado como sendo aquele que apresenta maior probabilidade de
medida. Essa medida tem uma incerteza que pode ser estimada pela
dispersão em torno do valor médio de x ........................................................................ 56
1.29 Esquema experimental do processo de determinação simultânea do momentum
e da posição de um elétron utilizando um microscópio e luz.................................. 56
1.30 Caricatura pseudo-realista de um dos dispositivos idealizados por Einstein
de modo a burlar o princípio da incerteza desenhado pelo próprio Bohr.............. 59
7.4 Balanço entre as parcelas cinética e potencial para os estados 1X&Udo íon de
hidrogênio molecular.......................................................................................................... 352
7.5 Superfície de energia potencial para vários estados do hidrogênio molecular.
Energias em elétron-volts.................................................................................................. 352
7.6 Superfície de energia potencial RHF para o estado fundamental do hidrogênio
molecular com as bases STO-3G, DZV e D Z P ............................................................ 361
7.7 Superfície de energia potencial MC-SCF do tipo MP2, GVB(l/2) e
CAS-SCF para o estado fundamental do hidrogênio molecular com a
base D Z P............................................................................................................................... 364
7.8 Curva com os coeficientes Cl das configurações lcP-g e l o 2u em função
da separação interatômica para as funções de onda GVB(l/2) ao estado
fundamental do hidrogênio molecular com a base D ZP........................................... 366
7.9 Diagrama esquemático dos orbitais moleculares no primeiro período
da tabela periódica.............................................................................................................. 369
7.10 Esquema A para diagrama de energia dos orbitais moleculares no primeiro
período.................................................................................................................................... 371
7.11 Esquema B para diagrama de energia dos orbitais moleculares no primeiro
período.................................................................................................................................... 372
7.12 Hibridização entre os orbitais 2s e 2pz no berílio. A esquerda, os orbitais
atômicos originais; ao centro, os dois orbitais hibridizados; e, à direita, a
representação atômica do berílio..................................................................................... 373
7.13 Hibridização entre os orbitais 2s e 2p> no berílio.......................................................... 374
7.14 Diagrama de correlação para os orbitais moleculares no primeiro período
da tabela periódica.........................................................................................................*;.... 375
7.15 Regra do cruzamento evitado de Neumann e Wigner em uma superfície
de potencial do oxigênio molecular 0 ...........................................................................
2 376
7.16 Superfície de potencial do hidrogênio molecular para estados fundamental
e excitados............................................................................................................................. 386
7.17 Superfície de potencial do hidrogênio molecular para os estados
excitados............................................................................................................................... 387
7.18 Diagrama para a superfície de potencial do hélio molecular, para os estados
fundamental e excitados................................................................................................... 389
7.19 Superfície de potencial para os estados singleto do dilítio molecular.................... 389
7.20 Superfície de potencial para os estados tripleto do dilítio molecular..................... 390
7.21 Superfície de potencial do Be2 e estados excitados tripleto segundo
Weiner e O h rn ..................................................................................................................... 392
7.22 Superfície de potencial do Be2 e estados excitados singleto segundo
Weiner e O h rn .................................................................;................................................... 392
7.23 Superfície de potencial do B2 para vários estados........................................................ 395
7.24 Superfície de potencial do B2 para os estados de menor energia, segundo
Hachey, Karna e G rein....................................................................................................... 396
7.25 Estrutura VB para o carbono molecular......................................................................... 396
7.26 Superfície de potencial do N 2 e estados excitados....................................................... 398
7.27 Diagrama para os termos de menor energia do JV .....................................................
2 400
7.28 Espectro de fotoelétron do N 2 extraído de Siegbahn.................................................. 400
7.29 Superfície de potencial do cátion e estados excitados....................................... 401
7.30 Estrutura VB para o oxigênio molecular com dois elétrons
desemparelhados ir ............................................................................................................. 402
7.31 Superfície de potencial para os estados fundamental e excitados do 0 ................ 2 403
7.32 Diagrama para os termos de menor energia do 0 .....................................................
2 403
7.33 Espectro de fotoelétron do 0 extraído de Siegbahn..................................................
2 404
7.34 Estruturas de ressonância VB para o flúor molecular................................................. 404
xxii Lista de Figuras
Todo corpo emite e absorve radiação eletromagnética. Este fato pode ser facilmente depreen
dido ao aquecermos um objeto metálico. Inicialmente, à temperatura ambiente, o espectro de
emissão do objeto mostra a maior parte de suas radiações na região do infravermelho (IV),
razão pela qual nossa visão não nos permite identificar qualquer cor característica. Com o au
mento da temperatura, o objeto vai passando de uma cor pálida a um vermelho brando, pos
teriormente a um vermelho intenso e, finalmente, a um branco-azulado incandescente.
A emissão desse corpo depende da superfície, do tipo de material, mas principalmente da
temperatura, sendo este um problema de difícil estudo em função da complexa absorção da
superfície. Kirchhoff e Balfour Stewart [4], em 1859, foram pioneiros no estudo do assunto,
2 Capítulo 1
E(y,T) °c p(v,T) ( 1. 1)
A(y,T)
Nesta equação, p(v, T) é uma função universal, ou seja, não depende do corpo, e representa a
densidade de energia espectral em equilíbrio térmico. Para obtê-la, Kirchhoff idealizou uma
experiência com corpos isolados em equilíbrio térmico no vácuo. Como a única forma de
troca de energia é através da emissão/absorção de luz, existe uma relação entre quanto ab
sorve e quanto emite de luz cada corpo a uma determinada freqüência. Nesse trabalho,
Kirchhoff mostrou que, se a função p(v, T) não fosse universal, seria possível violar o segundo
princípio da termodinâmica com a construção de um moto-perpétuo de segunda espécie.
Assim, em vista da inexistência de um moto-perpétuo, demonstra-se, por absurdo, a Equação
1 .1 .0 Exemplo 1.1-1 apresenta uma análise simplificada aplicada ao poder emissivo/absor-
tivo total. Vários autores participaram da confirmação dessa relação. No campo experi
mental, aceita-se que o termômetro idealizado por Ritchie [2] em 1833 fornece uma prova
definitiva dessa relação. Indicamos o texto de Ritchmayer [92], no qual muitas experiências
são discutidas em detalhe.
Figura 1.1
Diagrama apresentando a
experiência m ental para
a determinação da lei de
Kirchhoff. Nele as superfícies
são perfeitam ente reflexivas à
luz em todos os comprimentos
de onda.
Mostre a validade da lei de Kirchhoff com base em um dispositivo exibido na Figura 1. i. Para efeito de simplicidade, considere apenas
os poderes emissivo e absortivo totais.
R . Suponha a existência de um sistema isolado em cujo interior encontram-se dois corpos sob vácuo, cujas paredes pos
suam refletividade ideal em todo o espectro, tal como mostra a Figura 1.1. Como a única forma de troca de energia entre
esses corpos é a emissão/absorção de luz, pode-se calcular a quantidade de luz emitida pelo corpo como sendo o produto
1
de Eh a emitância total multiplicada por Sh a sua superfície. Analogamente, a energia total absorvida por esse corpo é
igual ao produto da intensidade de luz, /, pela superfície, Sh e o poder absortivo desse corpo, Av Como esse sistema en
contra-se em equilíbrio térmico com a radiação, as quantidades de energias dissipadas e absorvidas na unidade de tempo
são iguais, ou seja, Ex •S = LA^ -Sv Para o corpo 2 vale uma equação análoga: E2 -S2 = L A 2 *S3. Como a intensidade é a
1
mesma para todos os corpos (a radiação é isotrópica), temos que E1/A í = E 2 /À 2J como queríamos demonstrar.
A densidade de energia é uma função de grande interesse conceituai e prático, pois é inde
pendente do tipo de material ou das características da superfície envolvida. Do ponto de vista
experimental, a densidade espectral pode ser determinada pela medida da radiância espectral
A Antiga Teoria Quântica 3
em corpos cuja absortividade espectral seja unitária; ou seja, que exibam completa absorção
em todo o espectro de freqüências, A(v, T) = 1, ditos corpos negros. Nessas circunstâncias, a
medida da radiância espectral é diretamente proporcional à densidade de energia no interior
da cavidade. Embora um corpo perfeitamente negro não exista; é sempre possível efetuar me
didas em cavidades metálicas ocas, revestidas internamente com material absorvedor, em
equilíbrio térmico, e contendo apenas um pequeno furo para o meio externo. A luz que incide
sobre esse orifício sofre um número infinito de absorções/reflexões e emissões nas paredes in
ternas, ficando retida na cavidade. Conseqüentemente, o espectro de absorção desse corpo
não depende nem da freqüência da luz incidente e tampouco do tipo de material que constitui
a cavidade. Para todos os efeitos práticos, esse corpo comporta-se como um corpo negro e seu
espectro de emissão pode ser trivialmente medido em laboratório. A constante de proporcio
nalidade pode ser calculada a partir de considerações puramente geométricas, conforme
mostram o Exemplo 1.1 -1 e a Figura 1.2. A Figura 1.3 mostra um corpo negro experimental e a
figura seguinte mostra o seu espectro tomado em várias temperaturas.
Exemplo 1.1-2
Mostre que, com base em argumentos geométricos, em um corpo negro a radiância espectral é dada pelo produto da densidade de
energia na cavidade por c/4, na qual c é a velocidade da luz no vácuo.
R. Tomando-se um corpo negro típico que contenha um pequeno orifício por onde a luz é emitida, pode-se utilizar o cál
culo integral para determinar a emitância espectral, como mostra a Figura 1.2. Estima-se a energia total contida em um
elemento de volume diferencial como o produto da densidade de energia p(v, T) vezes o elemento de volume,
r 2senQ dr dQ d§. Como a radiação é isotrópica, sabe-se que a probabilidade de a luz atingir um pequeno orifício de área dA é
dada pela razão dos ângulos sólidos, dA-cosQ/4nr2. Portanto, o produto fornece a taxa de energia emitida para fora da
caixa por um elemento de volume na cavidade térmica. Para calcular a energia total emitida na unidade de tempo, basta
integrar esta expressão aos limites em que >[ , 2n] e [ , n/2], enquanto a variável r é integrada de a cAt, representando a
4 0 0 0 0
luz que deixa a cavidade na unidade de tempo. A Fórmula 1.2 apresenta o resultado final.
ET(v) = ^ d ^ j o
n 2 dQsenQcosQ\C
oAt dr p (v ,T }/4 n = c p(v,T)/4 (12)
Neste ponto alguns comentários devem ser feitos. Assim como não existe na natureza
qualquer corpo cujo poder absortivo é maior do que o de um corpo negro, também não existe
outro corpo cuja emitância seja maior que a dele. Isto se deve ao fato de a função densidade ser
universal e depender apenas da freqüência e da temperatura. Isto impõe que exista uma relação
Figura 1.2
Diagrama com o elemento de
volume e pontos relevantes para
o cálculo da em itância espectral
em função da densidade de
energia espectral.
4 Capítulo 1
entre A eE tal que, quando A é máximo, E também deve ser. Assim, uma forma alternativa de se
definir um corpo negro seria dizer que este é o objeto físico que mais emite radiação térmica ele
tromagnética, ou seja, ele é simultaneamente um absorvedor e um emissor perfeito.
Para corpos não-negros, a absortividade é consideravelmente diferente da unitária. Em
condições ideais, esta propriedade depende do comprimento de onda, porém, em condições
normais, é possível definir uma absortividade média, válida para a região do visível. Nesses
casos, a emitância espectral de uma superfície arbitrária é dada pelo produto da emitância es
pectral de um corpo negro vezes a absortividade espectral do material em questão. A absorti
vidade de metais polidos à temperatura ambiente oscila de 0,019 a 0,087, enquanto no
amianto (0,93), no gelo (0,97) e na borracha (0,86) essa propriedade tem valores altos. A título
de exemplo, sabe-se que a emitância total de filamentos de tungstênio e ferro a 2500 K é de
apenas 25% e 30% da emitância de um corpo negro nas mesmas condições.
Os primeiros "corpos negros;; experimentais foram empregados, no final do século XIX, em me
didas de seu espectro de emissão. O problema tinha grande importância tecnológica/industrial,
pois relacionava-se com a emitância de corpos aquecidos, em particular de filamentos de lâm
padas, fornos e outros objetos sujeitos a altas temperaturas. No plano teórico, este problema
também se mostrou importante por expor defeitos em teorias estruturalmente estabelecidas.
Entre os primeiros estudos, destaca-se o trabalho em que Wilhelm Wien [15] analisou a forma
da função p(v, 7). Utilizando argumentos termodinâmicos e a teoria eletromagnética, ele pôde
provar que esta função universal é o produto do cubo da freqüência da radiação emitida vezes
uma função arbitrária do parâmetro v/T, tal como mostra a Equação 1.3.
p (v ,T )= v 3 F (v /T ) ;] 3 n.
A relação funcional acima leva a uma bem conhecida regra empírica, na qual o produto do
comprimento de onda de emitância espectral máxima pela temperatura define uma cons
tante universal, conhecida como constante de Wien e cujo valor experimental é de 2,898 10 -3
mK. A Equação 1.4 é conhecida como lei do deslocamento de Wien e será discutida nos
Exemplos 1.1-3 e 1.1-4.
Figura 1.3
Diagrama para o C olim adores
equipamento experimental IV > 750 nm
visando a determinação da V e rm eiho 625 - 750
em itância espectral de um
Laranja 590 - 625
corpo negro.
A m arelo 575 - 590
Mostre que a Equação 1.4, conhecida como lei do deslocamento de Wien, decorre da Equação 1.3.
tral com relação ao comprimento de onda (Eq. 1.5) e; determinando-se o valor em que esta é nula, identifica-se o ponto de
máximo,
Esta é uma equação diferencial clássica de variáveis separáveis. Tomando apenas a dependência emx, pois a dependência
em F não nos interessa, temos 5 dX/X = constante, donde que In X = constante, ou seja,X = c/XT = constante no máximo de
emitância espectral. Assim, XT = constante. O valor aproximado da constante de Wien vale hc/4,965k, onde h é a cons
tante de Planck, c ê a velocidade da luz e k é a constante de Boltzmann.
A estrela Sirius, da constelação Cão Maior, é uma das estrelas mais brilhantes do hemisfério celestial sul e tem um tom ligeiramente
azulado. O comprimento de onda em que esta estrela possui máxima emitância é aproximadamente 2600A. Calcule a temperatura
na superfície dessa estrela.
R. Este exercício é uma aplicação direta da Equação 1.4, ou seja, T= 2,898 10 amK/2600 10 10m ,o u se ja ,r= 1 1 .1 4 6 K
Outra importante evidência experimental é descrita pela Equação 1.7, que dá a dependência da
radiância total para com a temperatura, conhecida como lei de Stefan-Boltzmann. Esta lei foi
6 Capítulo 1
descoberta experimentalmente por Josef Stefan em 1879. Tal descoberta ocorreu a partir da in
terpretação de uma experiência na qual foi medida a emitância total de um fio de platina a dife
rentes temperaturas (1200°C e 525°C), realizada por Tyndall [7]. Stefan mostrou que a razão
determinada entre as intensidades, 11,7, era proporcional à razão entre as potências de quarta
ordem da temperatura. Posteriormente, Ludwig Boltzmann [ ] mostrou essa relação
8
teoricamente, tornando-a conhecida como lei de Stefan-Boltzmann. Desde então, esta lei é uti
lizada na estimativa de temperaturas pelo método da pirometria óptica em estrelas, metais etc.
Et = - J ~ P(v/ T) dv = a T4 (1.7)
Para obtermos este resultado a partir da relação funcional proposta por Wien, devemos inte
grar a Equação 1.3, no intervalo de 0 a co, e proceder a um pequeno rearranjo seguido de uma
transformação de variáveis à forma:
£r ^ j y ( . )
1 8
contagem do número de estados. Alei de distribuição resultante passou a ser chamada de dis
tribuição Rayleigh-Jeans.
Embora a distribuição obtida utilizasse teorias bem testadas e plenamente confiáveis,
seus resultados mostraram-se corretos apenas no limite de baixas freqüências. Para o limite
oposto, a distribuição de Rayleigh-Jeans apresentou resultado completamente inconsistente,
gerando uma densidade de energia e, portanto, uma emitância espectral divergente com o au
mento da freqüência. Veremos, a seguir, cada um dos passos seguidos por Rayleigh e Jeans.
O número de modos de vibração eletromagnética no interior de uma caixa quadrada com
dimensões iguais a /, no intervalo de freqüências entre v e v + dv, é dado por iV(v)iv (Eq. 1.9).
ti/ V
8
N(v)dv =-----— dv (1.9)
r
se~£/kTds
< > ——--------------- = M
8 ( .
1 1 0 )
[ V ^ s
Jo
Exemplo 1.1-5 S
Integre a Expressão 1•.10 demonstrando o valor de kT para a energia média de um sistema em equilíbrio térmico.
R. Não é difícil reconhecer que o resultado para a Integral 1.10 corresponde ao valor negativo da derivada do logaritmo ne-
periano, com relação a definida como 1/ kT, conforme apresentado pela Equação 1.11.
—i - f
d< _ 8? ,
< s> = ----- m e %ds =
Al J0
J0 e^de (1.11)
d_
< e > = - — ln (l/ $ = \ l\ = kT (112)
Planck [26] trabalhou de forma inversa: primeiramente, obteve equações empíricas exibindo
um ajuste matemático perfeito aos dados experimentais. Tendo obtido um conjunto de equa
ções satisfatórias, passou a se questionar como poderia reproduzir esta equação com o uso de
postulados ad hoc. Astuciosamente, percebeu que o resultado correto poderia ser encontrado
se, em vez da integração na variável s (Eq. 1.10), fosse feita uma soma infinita envolvendo
apenas valores múltiplos e discretos de hv, ou seja:
E = n hv (1.14)
Nesta fórmula, h é uma constante denominada por constante de Planck. O Exemplo 1.1-6
discute a forma matemática desta operação.
8 Capítulo 1
x nhv e, - n h v / k T
yLu] n= 0
< S > =
E co , - n h v / k T (1.15)
«=I
R. Esta expressão pode ser transformada em uma relação diferencial equivalente à do exercício anterior.
A série encontrada como argumento do logaritmo é uma progressão geométrica ordinária, cuja soma é igual a 1/ [1 - e ^v].
Tomando-se a derivada deste resultado e dividindo-se pelo somatório geral, obtém-se o seguinte resultado:
hv
<s > = (1.17)
que, multiplicado pela densidade de estados, gera a famosa distribuição de Planck (Eq. 1.18).
O leitor observará que a distribuição de Planck (Eq. 1.18) mostra comportamento consis
tente com a lei de Wien, exibindo uma dependência com v vezes uma função arbitrária da va
3
riável XT. Mostra ainda comportamento correto para com a fórmula de Rayleigh-Jeans na
região de pequenas freqüências, pois o valor assintótico no limite v —» reproduz o resultado 0
8nhv
p(y,T) = (1.18)
cB[e hwkT- l ]
Mostre que a distribuição de Planck é consistente com a lei de Stefan-Boltzmann e determine o valor da constante de Stefan-
Boltzmann.
et = 4c2
-•r2 f Jj o ehv/kT _ 1 (1.19)
1 ■nhv/ kT
hv /k T (1.20)
1J n= 1
£r = (1 .21 )
2h3
medidas experimentais.
que tinha à mão. Novas medidas do espectro de corpo negro foram obtidas por Coblentz em
1916, as quais determinaram um valor de 6,57 10 J •s. Todos os resultados experimentais
~ 34
J •s, fato que atesta o esmero e o cuidado nas primeiras determinações dessa constante. Defini
remos h como a divisão da constante de Planck por 2n, ou seja, fi=h/2n.
R. Este problema é uma aplicação direta da Equação 1.18 na sua forma diferencial em A,, como mostra a Equação 1.23.
4nc2hAX
E(X,T) (1.23)
5 rJic/kTX
XD[e - 1 ]
Apresentaremos apenas os resultados numéricos para cada comprimento de onda e temperaturas discutidas: em
X = 550-575 nm, a emitância espectral vale 6,38 10 J/s; em X = 1000-1025 nm, a emitância vale 6,70 10 J/s.
" 4 ~ 2
Calcule a energia de um fóton correspondendo à freqüência de: a) 1 nm (raios X), b) 150 nm (ultravioleta; UV), c) 600 nm (visível),
d) 105À (infravermelho, IV), e) 100 cm (microondas). Obtenha esses resultados em eV e para um mol de fótons em kcal/mol.
R. A energia de um fóton é dada pelo produto da freqüência pela constante de Planck tal como apresenta a Equação
1.14. Sendo assim, utilizando-se a equação v = c/X para obter as energias associadas nas várias unidades, AE = hc/X: (a)
(6,62618 IO J-s-2,9979 10 m/s) /1 nm •IO - m /nm = 119.622 kj/mol, 28.571 kcal/mol, 1239,9 eV; (b) 797,5 kj/mol,
" 34 8 " 9
190,4 kcal/mol, 8,266 eV; (c) 199,4 kj/mol, 47,6 kcal/mol, 2,1 eV; (d) 11,96 kj/mol, 2,85 kcal/mol, 0,12 eV; (e)
2,857 IO kcal/mol, 1,24 10 eV.
' 5 " 6
10 Capítulo 1
A contribuição de Planck enunciava que todos os processos de troca de energia que ocorrem
na superfície de um corpo negro eram quantizados por um valor de troca mínimo igual a hv.
Apesar de os resultados associados à distribuição de Planck terem sido excelentes, foi pequena
a repercussão de suas idéias. O motivo dessa reserva foi a incompreensão inicial quanto à
principal idéia física deste trabalho, a da quantização da energia; o que somou desconfianças
ao cauteloso comportamento que Planck adotou na apresentação de suas conclusões. Os mo
tivos dessa cautela podem ser entendidos realizando-se um paralelo entre o processo de troca
de energia entre o campo eletromagnético e a superfície com a corriqueira atividade de movi
mentar dinheiro em um caixa eletrônico. Sabe-se que nessas caixas o dinheiro obtido pelo cli
ente deve ser necessariamente múltiplo de uma quantia fixa. Apesar disso, ninguém é levado
a acreditar que não existam frações menores de moeda em circulação. Este exemplo resume a
posição de muitos pesquisadores frente a esse fenômeno. Parecia claro que os resultados indi
cavam a quantização das trocas de energia entre o campo e a superfície, mas disso não se
podia depreender que a quantização fosse aplicável a uma grande gama de situações físicas.
Foram necessários cinco anos para que um segundo trabalho, contendo novas evidências,
rediscutisse esse conceito. Curiosamente, foi um jovem cientista, oriundo de um escritório de
patentes, quem mais rapidamente reagiu a essas idéias, oferecendo duas importantes contribui
ções a esse quadro. Influenciado pelo trabalho de Planck sobre o espectro de corpo negro, Albert
Einstein [31] estudou o efeito fotoelétrico (1905) e, logo depois, o comportamento térmico de
sólidos a baixas temperaturas [34] (1907), fornecendo interpretações corretas para esses dois fe
nômenos. A excitação resultante das primeiras bem-sucedidas aplicações em teoria quântica
levou muitos pesquisadores a reinterpretar grande número de problemas, tais como a interpre
tação dos espectros atômicos, o spin, a relação de De Broglie, o princípio da incerteza, entre ou
tros, com base nessa incipiente teoria. Infelizmente, ainda seriam necessários vinte e cinco anos
de trabalho para consolidar cada pequeno fragmento desse imenso — e àquela altura ini
maginável — mosaico. Esses fatos levariam à criação de uma nova física a partir de 1926 por
Schrõdinger, Heisenberg, Dirac e Born. Pouco antes, em 1918, Planck seria o primeiro cientista a
receber o prêmio Nobel por seus trabalhos no desenvolvimento da teoria quântica.
junto de medidas Lenard [22, 27] apontou outro fato intrigante, o de que a energia máxima
dos elétrons ejetados era independente da intensidade da luz, além de aumentar com a dife
rença entre a freqüência do feixe incidente e a freqüência característica, v -v 0.
O dispositivo utilizado na medida do efeito fotoelétrico é semelhante ao apresentado na Fi
gura 1.5. Consiste em uma ampola selada, sob vácuo, contendo uma superfície metálica sobre a
qual se faz incidir luz ultravioleta. Um potenciostato controla a diferença de potencial entre o
catodo, submetido à ação da luz, e o anodo, medindo-se a corrente associada entre o primeiro e
uma grade anterior ao anodo, sujeita a um potencial controlado. Assim controlando a diferença
de potencial, os elétrons ejetados poderão ter a seu favor, ou contra si, uma diferença de poten-
Figura 1.5
A parte superior apresenta um
diagrama do equipamento para
medida do efeito fotoelétrico. Ao
centro é apresentada a variação
da corrente fotoelétrica em
função do potencial induzido.
Em grandes potenciais a corrente
é proporcional à intensidade do
campo7A < B < C. Na região de
baixo campo à esquerda
depreende-se que a energia
cinética m áxim a não depende do
campo. Na parte inferior
apresenta-se a variação da
corrente fotoelétrica em função
do potencial induzido para luz
com diferentes freqüências.
Corrente
— C
— A
Voltagem
— —----
V
Voitagem
V
12 Capítulo 1
ciai estabelecido pelo experimentador. Se o potencial entre o catodo e o anodo é feito muito po
sitivo, todos os elétrons ejetados da superfície metálica são acelerados de encontro ao anodo, e a
corrente medida dá a eficiência global do efeito fotoelétrico. Se, ao contrário, fizermos o poten
cial progressivamente menor, uma parte desses elétrons se perde em colisões/processos com os
gases presentes, fazendo a corrente diminuir. Impondo uma diferença de potencial ainda mais
negativa, os elétrons fotoejetados necessitarão sobrepujar uma barreira de potencial contro
lável, de modo que somente aqueles que têm energia cinética superior a esse potencial contribu
irão para a corrente medida. Daí, ao fazer o potencial progressivamente mais negativo até que a
corrente atinja o valor nulo, estaremos determinando, pela medida desse potencial, a energia ci
nética máxima dos elétrons ejetados da superfície metálica. Esse potencial é denominado po
tencial crítico ou potencial de corte.
A Figura 1.5 mostra o comportamento da corrente com relação às variações na diferença
de potencial induzida. Dessas curvas é evidente que a intensidade do efeito é proporcional à
intensidade de luz, tal como havia descoberto Stoletow [13]. Porém, o fato curioso é que
todas as curvas convergem, no limite de diferenças de potencial negativas, a um potencial crí
tico que é independente da intensidade do campo. Abaixo desse potencial não existem elé
trons com energia suficiente para gerar qualquer corrente fotoelétrica. Esse valor representa a
energia cinética máxima do fotoelétron ejetado e se mostra uma função exclusiva da fre
qüência do feixe de luz. Outra importante observação de Lenard [22,27] aponta para o fato de
que a corrente fotoelétrica, quando existia, exibia tempos de resposta inferiores aos limites
experimentais de deteção da época — ou seja, eram imediatos.
O dispositivo experimental era simples, e as medidas, acuradas o suficiente, porém os re
sultados estavam em completo desacordo com um bom número de idéias clássicas. Segundo a
teoria eletromagnética clássica, a energia do campo é uma função de sua intensidade, não
existindo qualquer correlação com a freqüência da luz. Nesse caso, dever-se-ia esperar que o
efeito fotoelétrico ocorresse com quaisquer freqüências, o que ficou contestado nas experiên
cias de Lenard [22, 27]. Particularmente, no caso de campos fracos, a teoria clássica previa a
absorção cumulativa dessas ondas até que existissem condições energéticas favoráveis para a
ejeção de um elétron. Nesse contexto, calcularam-se tempos de resposta suficientemente
grandes para serem facilmente detectados. Jamais foi observado qualquer tempo de resposta
— ou seja, o efeito fotoelétrico, quando ocorria, era instântaneo.
Exemplo 1.2-1
Sobre uma placa metálica faz-se incidir luz com /Í0~6watts/cm2. Supondo que toda a energia concentrada em uma região circular com
5,2 A de raio fosse fornecida a um único elétron, qual seria o tempo necessário para que se verificasse qualquer corrente fotoelétrica? A
energia necessária para ionizar a superfície, função trabalho, é de 5,0 eV.
R. A área de incidência da radiação é nr2, que, multiplicada pela potência, dá a energia total absorvida na unidade de
tem po:£ =71(5,2 10~ cm x IO watt/cm = 8,49 10 J/s. Assim, como a função trabalho vale aproximadamente 8,01
8 ) 2 ”6 2 ~ 21
M
1.2.1 A proposta de Einstein
A. Einstein [31] estudou o efeito fotoelétrico (1905) quando ainda trabalhava como inspetor
da repartição de patentes em Berna, Suíça. O artigo intitulado “A heuristic viewpoint concer-
ning the emission and transformation of light” foi um dos primeiros a defenderem as idéias
apresentadas por Planck [26] acerca do caráter quantificado nas trocas de energia entre a ra
diação eletromagnética e a superfície metálica. Einstein, porém, foi mais longe, apresentando
um conceito que nos levaria de volta a meados do século XVII. Como os resultados ex
perimentais não apresentavam qualquer efeito de retardamento e todas as grandezas experi
mentais relevantes dependiam exclusivamente da freqüência, era claro que a luz interagia em
forma de pequenos quanta com a matéria. Coerentemente, propôs que a luz se comportaria
A Antiga Teoria Quântica 13
de maneira localizada no espaço e possuiria a energia de hv. A essa grandeza Einstein chamou
quantum de luz e somente em 1926, por proposta de G. N. Lewis [ ], é que ela passou a ser
6 6
Exemplo 1.2-2
N a teoria da relatividade restrita, a energia é dada por (m j c + p c )1/2, onde m 0 é a massa inercial do sistema e p é a sua quanti
4 2 2
dade de movimento. Utilizando esta equação e igualando-a à energia de Planck, determine a quantidade de movimento de um fóton.
R. Um fóton não possui massa inercial, de modo que a expressão para a energia se simplifica ao segundo termo entre pa-
rêntesis, dado por pc. Igualando esta à equação de Planck temos pc = hv, o que gera p = h/X. Observe que à esquerda desta
expressão identificam-se grandezas tipicamente mecânicas, enquanto à direita essas grandezas são ondulatórias.
A função trabalho depende do estado da superfície metálica, de sua orientação espacial, sendo
uma grandeza muito sensível à presença de gorduras, películas de óxidos e outras parti
cularidades. A Tabela 1.1 apresenta funções trabalho para vários elementos. Nesta tabela
observa-se como a função trabalho depende também do plano cristalino e suas possíveis ori
entações.
Exemplo 1.2-3
A função trabalho do alumínio vale 4,2 eV. Se luz com comprimento de onda de 2000 Á incidir sobre essa superfície, quais serão a
energia cinética dos fotoelétrons ejetados, o potencial crítico e a freqüência de corte para essa superfície1
R. A energia de fótons cujo comprimento de onda seja 2000 Â é de 6,195 eV. Como a função trabalho é de 4,2 eV, a energia
cinética máxima vale 1,995 eV (para se obter o resultado em joules basta multiplicar por 1,60 10 coulombs). Este
" 19
também é o valor do potencial de corte desse sistema, 1,995 volts. A freqüência de corte é calculada pela divisão da função
potencial, 4,2 eV por h, o que gera 1,018 IO s"1.
10
1
A energia cinética máxima dos fotoelétrons, calculada a partir da Equação 1.24, é apre
sentada a seguir.
^ n áx = ^ - V 0). (1.25)
Quando uma superfície metálica de lítio é irradiada com luz de comprimento de onda de 3000 A, observa-se um potencial de corte de
1,83 V, enquanto no caso de luz com 4000 A esse potencial é de 0,80 V. Lance em um gráfico uma curva de energia cinética máxima
(formalmente igual ao potencial de corte) contra a freqüência da luz, determinando a constante de Planck.
R . A partir da Equação 1.25 é possível escrever a diferença das energias cinéticas máximas em função de diferenças nas freqüên-
cias da luz incidente: - e (VJ - V2) =k(v1 - v2), ou seja, -1,602 10“19*(1,83 - 0,80) =/z*3,0 10 (1/ 3000 - 1/4000) 1010,ou
3
seja, h= 6,63 10 -3 4J •s, com a freqüência de corte dada por 5,57 1014Hz (2,30 eV).
1.2.2 Os testes
As previsões teóricas de Einstein foram testadas em 1907,1912 e 1916, até que se dessem por
certas as suas conclusões. A primeira medida feita com luz monocromática foi realizada por
E. Ladenburg (1907) que, por desinformação ou discordância, apresentou uma relação qua-
drática entre a energia cinética máxima e a freqüência da luz. A. Joffé, entretanto, mostrou
que os resultados não eram conclusivos porque também sustentavam uma relação linear. Pas
sada essa pequena turbulência, A. L. Hughes (1912) realizou medidas não muito acuradas,
porém suficientemente claras, quanto à confirmação de uma relação linear entre a energia ci
nética máxima e a freqüência da luz incidente. Em 1916, essas medidas foram refeitas por
Millikan [48], que verificou a correção das teorias de Einstein, obtendo um valor de h/e com
excelente acurácia. Realizando medidas da energia cinética máxima para superfícies de lítio,
sódio e potássio em função da freqüência da luz, Millikan [48, 49] mediu o valor da constan-
A Antiga Teoria Quântica 15
te de Planck como 6,56 10-34J • s, fruto de uma média de várias experiências. Outros
pesquisadores, Lukirsky e Prilezhayev (1926), efetuaram medidas muito precisas para esse
efeito em vários metais, encontrando o valor 6,55 10 J •s. Este resultado era muito próxi
- 3 4
mo daquele obtido por Planck no estudo do corpo negro e também do valor atualmente aceito
para esta constante, 6,6262 10-34J •s, obtido em medidas espectroscópicas.
Um aspecto irônico do experimento realizado por Millikan diz respeito ao fato de este ter
sido, a princípio, idealizado para combater a teoria dos quanta. Vencido pelos resultados, Mil
likan apresentou o artigo final, afirmando que os resultados ajustavam-se perfeitamente à
equação de Einstein, o que o levou a ver seu artigo mundialmente citado como uma prova em
favor da teoria quântica.
Embora a descrição teórica do efeito fotoelétrico tenha tido papel relevante no surgimento da
química quântica, somente na década de 1960 esse conceito foi utilizado como técnica analí
tica/físico-química com a proposta apresentada por Turner et al. em uma conferência em Liège
(1963) [164]. Desde então, esta técnica tem servido como método analítico fortemente ligado
a uma descrição teórica de sistemas atômicos e moleculares. Não por acaso, a espectroscopia
de fotoelétron tem história de grande colaboração com os métodos teóricos em química mo
derna, ora utilizando estes para uma correta atribuição de potenciais de ionização em sistemas
moleculares, ora realimentando-os com resultados confiáveis para o potencial de ionização e
outras propriedades moleculares. Atualmente, as medidas de energia cinética de elétrons se re
vestem de interesse todo especial, tendo em vista a crescente importância desse tipo de técnica
na descrição e modelagem de superfícies e na caracterização de novos materiais. Como os elé
trons possuem um livre percurso médio muito pequeno no seio do metal, obtêm-se espectros
de superfícies com boa resolução fazendo uso desse tipo de espectroscopia.
Figura 1.6
Resultados de M illikan para o
potencial de corte como função
da freqüência da luz incidente.
discretos, ou seja. assumem apenas certos valores, podem-se determinar os potenciais de ioni
zação molecular pela medida da energia cinética do elétron ejetado. A Figura 1.7 mostra um tí
pico espectro de fotoelétron da molécula de trifluoracetato de etila, analisada na região dos
orbitais Is do carbono. Nela observa-se como picos relativos aos diferentes carbonos são clara
mente distinguidos nesse espectro. A Figura 1.8 apresenta semelhante espectro para o ácido
acético e seus complexos moleculares. Essa figura mostra a existência de dois oxigênios quimi-
camente distintos no ácido acético e apenas um no ácido acético sólido. Esses exemplos ilus
tram como na espectroscopia de fotoelétrons obtém-se uma rica informação sobre as energias
necessárias para se ionizar cada um dos estados eletrônicos e vibracionais desse sistema. A
equação a seguir mostra o balanço de energia desse processo, onde PI denota o potencial de ioni
zação, termo físico equivalente à função trabalho em moléculas e átomos.
hv =PI + mv / 2 (1.26)
Um experimento típico de espectroscopia de fotoelétrons utiliza uma lâmpada de raios X com gás de hélio. Do conjunto de linhas ge
radas por essa lâmpada,, a linha com comprimento de onda igual a 58,4 nm (He I) é separada e colimada a uma câmara que contém
vapor de água. Posteriormente, analisou-se a energia cinética dos elétrons ionizados obtendo-se valores iguais a 8,6; 6,5; e 2,8 eV.
Quais são as energias dos orbitais1
R. A radiação de He I possui energia de 21,2 eY conforme calculada pela fórmula de Planck. Utilizando o balanço energético
dado pela Equação 1.26, a energia orbital de cada um desses orbitais é dada pela diferença entre a energia global e a cinética
desses elétrons, ou seja, a do primeiro, orbital 1bv 12,6 = 21,2 - eV; a do segundo orbital, 2a v 14,7 = 21,2 - 6,5 eV;
8 , 6
enquanto a do terceiro é dada por 18,4 = 21,2-2,8 eV, correspondendo ao orbital 1b2.
Figura 1.7
Espectro de fotoelétron da
molécula de trifluoracetato de
etila apresentando os picos na
região do orbital ls do carbono.
P (eV)
A Antiga Teoria Quântica 17
Por esse trabalho Einstein foi agraciado em 1921 com o prêmio Nobel, dando continuidade a
uma seqüência de premiações iniciada com Wien (1911), Planck (1918), Stark (1919) e que, pos
teriormente, agraciaria muitos outros. Na próxima seção veremos a descrição de outro fenô
meno para o qual Einstein ofereceu mais uma importante interpretação. Trata-se do problema
do comportamento térmico de sólidos a baixas temperaturas.
Figura 1.8
Espectro da molécula de ácido
acético em fase gasosa e sólida.
1000
Observe a existência de átomos
de oxigênio quim icam ente
diferentes.
— o
Uma amostra com 100gramas de vanádio metálico a 52°C foi imersa em 120gramas de água, originalmente a 16,8°C. A mistura
atingiu, no equilíbrio térmico, a temperatura de Z0°C. Calcule o peso atômico do vanádio.
R. O balanço térmico deste sistema mostra que o calor perdido pelo metal deve ser igual ao calor absorvido pela água.
Dessa forma, temos:
cujo resultado é 0,12 cal/K-g. Como esta grandeza é igual ao produto da capacidade calorífica molar vezes o peso atômico,
temos:
6,2 cal/mol-K ,
M = —----------------- =51,7g/ mol (1.29)
cal/K-g
0 , 1 2 5
M
Figura 1.9
Capacidade calorífica de vários Cp (273)
*Ti Cs
elementos em estado sólido •Rb
ilustrando a regra de Dulong-
Petit.
• Li «Na K »*C a N iF.e Zn «Br Mo A
g S.n *e B.a _ PtH
.9. PbU
----- \ V---OS-*»— tí-^-4 V--
6,0 Pd Cd 0 * • Au 11 Bi
W Ir
Ge
• F S
Si
4,0 Be# «O
B
• N
H
2,0
Massa atômica
_ J ---------L_^ j----- 1
20 40 60 80 1 0 0 1 2 0 200 240
Dois anos após apresentar sua solução para o problema do efeito fotoelétrico; Einstein vol
tou-se para o estudo do comportamento da capacidade calorífica de sólidos a baixas tempera
turas [34]. Pouco antes, Lothas Meyer (1884) [9] descobrira que sólidos de elementos leves se
afastavam da lei de Dulong-Petit. Esse trabalho foi estendido por J. Dewar [29] que, reali
zando uma das primeiras medidas crioscópicas, mostrou que também para o diamante a bai
xas temperaturas a capacidade calorífica exibia substanciais diferenças em relação à regra de
Dulong-Petit. No limite em que a temperatura se aproximava de zero; o valor de Cvtambém
caía a zero; proporcionalmente à terceira potência da temperatura (Eq. 1.30). A Figura 1.9
ilustra o comportamento da capacidade calorífica de vários elementos em estado sólido,
tanto a temperaturas próximas de zero quanto à temperatura ambiente. Observa-se que as
curvas de diferentes elementos não são apenas similares em aparência, mas podem ser sobre
postas por uma transformação na escala da temperatura. Em especial, destaca-se o valor
assintótico a que todas as curvas presentes na Figura 1.10 tendem no limite de altas tempera
turas, definido pela regra de Dulong-Petit [29].
lim CV = ^ ^ ( T / ® ) 3 (1-30)
T —>oo 5
ondei? é a constante universal dos gases, é uma temperatura característica do sólido, deno
0
um conjunto de osciladores harmônicos pode ser tratado analiticamente como uma coleção
de partículas regidas pela distribuição de Planck. Einstein percebeu isto formulando uma ex
plicação simples, porém correta, dos principais efeitos que ocorrem em sólidos a baixas tem
peraturas [34].
onde UQé a soma das contribuições não-vibracionais à energia total. Assim, a capacidade ca
lorífica, formalmente a sua derivada, é dada por:
Q = 3iV ( ^ V ,
0 (1.32)
al
Figura 1.10
Espectro de freqüências para o
alumínio e ferro cristalino obtido
por experiências de difração de
nêutrons.
v'- "11(s 1)
10 v -10~12(s-1)
3NQk{hV(í/ k r ) 2e hv°/kT
Cv -
^ hv0/ k T __ 2 (1.34)
conhecida como fórmula de Einstein [34]. Observe que nos dois limites considerados a capa
cidade calorífica tem comportamento compatível com os resultados experimentais. No pri
meiro caso; onde T ^ oo, a capacidade calorífica tende ao valor de 3N 0k, confirmando o
teorema de Dulong-Petit; enquanto que, quando T —» 0, a capacidade calorífica decresce expo-
nencialmente a zero.
Exemplo 1.3-2
Encontre os limites para a capacidade calorífica quando a temperatura é arbitrariamente grande ou pequena.
R . Para pequenos valores de T a variável hv/ kT, daqui por diante designada simplesmente por i;, tende a infinito, de modo
que basta avaliar o comportamento da função C v(%) quando í;-» oo. Assim temos, por 1'Hopital:
3N(, ki?e^ ? 9
Um Q = g° S ~ 3iVn k^ e~^ ~ 0
0
enquanto para os limites em que a temperatura é grande, tende a zero e a capacidade calorífica tende ao valor previsto
por Dulong-Petit.
Ç (1.36)
-»0
{Ç + Ç V 2 + Ç V 3 +...}■
1
Posteriormente à publicação do trabalho de Einstein [34], várias medidas foram refeitas,
abrangendo um grande número de cristais. Estas mostraram excelente concordância entre as
curvas de Cv de diferentes cristais quando lançadas em função de variáveis adimensionais re-
A Antiga Teoria Quântica 21
duzidas, tal como ocorre na teoria dos estados correspondentes em termodinâmica clássica.
De fato, este comportamento pode ser racionalizado pela forma como o cristal distribui a
energia térmica que adquire. Como o espectro de freqüências vibracionais de diferentes me
tais tem características parecidas, as capacidades caloríficas seguem comportamentos quali
tativamente idênticos. De fato, as equações de Einstein apresentam um caráter mais geral do
que se podia supor originalmente, pois a grandeza Cv é uma função natural da variável
hvQ/ kT. Assim, é possível definir uma temperatura reduzida © = hv0/k , de modo a repre
sentar a capacidade calorífica, expressa pela equação de Einstein, como uma equação uni
versal:
Figura 1.11
Dependência na temperatura da
capacidade calorífica de
substâncias cristalinas a baixas
temperaturas ilustrando a regra gq
de Dulong-Petit.
4,0
• Ag A Mg <D Si
©Al A Bi O Diamante
3,0
O Pb @ Cd € Grafite
2,0
1,0
Figura 1.12
Dependência da capacidade
calorífica em função
de 77© para várias
substâncias.
Elem ento Tem p.(K) Elem ento Tem p.(K) Elem ento Tem p.(K)
pb 8 8 Pt 225 Co 385
K 1 0 0 Zn 250 AI 390
Au 170 Ge 290 Be 1 0 0 0
Daremos um pequeno salto no tempo, de 1907; ano em que Einstein publica sua interpre
tação para o problema da capacidade calorífica, para 1914, de modo a acompanhar o estudo
que James Franck e Gustav Hertz [45] conduziam na condutividade do gás de mercúrio.
Embora essa experiência seja posterior ao modelo atômico de Bohr (1913) [43], apresenta
remos seus resultados neste momento por deixar evidente, de um ponto de vista expe
rimental, a correção das idéias de Planck [26] e Einstein [31]. De fato, a identificação de efei
tos de quantização em fenômenos tão distintos como o espectro de corpo negro, efeito
fotoelétrico, na capacidade calorífica de sólidos a baixas temperaturas e nos experimentos de
Franck e Hertz, sugere um caráter fundamental e comum a diversos processos físicos. Esses
pontos levaram vários cientistas a duvidar do caráter limitado com que Planck apresentou
seu trabalho em 1900.
demos por potencial de ionização a energia necessária para se ionizar um átomo, e por poten
cial de ressonância a energia necessária para se levar um átomo do estado fundamental a um
de seus estados excitados. Designamos essas energias por potenciais, em função da freqüente
representação dessa grandeza em volts, uma unidade de potencial elétrico.
Franck e Hertz [45] realizaram estudos da corrente eletrônica em gás de mercúrio, utili
zando um dispositivo experimental semelhante ao descrito na Figura 1.13. Nessa construção,
um filamento aquecido era utilizado como fonte de elétrons em uma câmara que continha
mercúrio a uma pressão controlável (= 1 torr). Controlava-se a diferença de potencial entre a
fonte de elétrons F e a grade aceleradora A, e também entre esta e a placa detectora de elétrons
D. A medida experimental consistia em impor um valor para a diferença de potencial entre a
fonte de elétrons e a placa detectora, AVfa , medindo-se, em regime de equilíbrio, a corrente
entre a fonte e a placa coletora de elétrons. Para se determinarem os potenciais críticos de um
gás, utiliza-se um potencial acelerador entre a fonte de elétrons e a grade A e um potencial re-
tardador entre esta última e a placa detectora. Desse modo os elétrons, ao saírem da fonte,
terão suas energias progressivamente aumentadas, podendo, ou não, atingir algum potencial
crítico do mercúrio. Sua energia cinética final será proporcional à diferença de potencial entre
a fonte e a placa aceleradora, ou seja, Tmix = mv2 / 2 - -e(yA - V F ).
No caso mais simples, quando a diferença de potencial elétrico é menor que qualquer po
tencial crítico do sistema, a maior parte dos elétrons emitidos pela fonte F será absorvida na
placa D gerando uma curva de corrente sigmoidal contra a diferença de potencial FA. Nesse
caso, ocorrerão apenas colisões elásticas entre elétrons e átomos de mercúrio (Eq. 1.38).
Caso a diferença de potencial AVfa seja maior do que algum potencial crítico do sistema,
ocorrerão colisões elásticas e inelásticas. No caso de colisões inelásticas, as de maior interesse
neste experimento, a energia cinética dos elétrons é transformada em energia interna do sis
tema (Eq. 1.40). Este é o processo colisional que Franck e Hertz visavam estudar.
K x+ £ 2 * ^ 3 + K4 (1.40)
Voltagem (V)
A Antiga Teoria Quântica 25
Mostre que os picos presentes na Figura 1.14 podem ser descritos como combinações de alguns picos básicos.
R . Tomando-se o pico em 4;9 como unidade a e o pico em 6,7 como unidade b; pode-se representar qualquer pico resultante
de excitações de a e/ou b pelo símbolo [10] ou [01]. Portanto, os seguintes picos são caracterizados como: 9 [20]; 11,2 [11];
, 8
13,5[02]; 17,6[12] e 21,2 [31]. Estas bandas serão encontradas na curva de potenciais críticos desse sistema.
^E = -e(y 2 - \ ) = h v % , (1.41)
Ultrapassada a fase inicial de elaboração de conceitos, não se pode deixar de registrar a impor
tância que o experimento de Franck-Hertz [45] teve como precursor da espectroscopia por
impacto de elétrons. Embora a espectroscopia óptica ainda seja a mais importante e econô
mica fonte de informação sobre a estrutura eletrônica de materiais, é importante dispor de
outras técnicas espectroscópicas. Os ganhos dessa diversificação estão ligados ao fato de que
cada uma dessas espectroscopias geralmente dá informações específicas e complementares
que podem ser utilizadas no estudo de propriedades moleculares.
Uma dessas alternativas utiliza uma montagem experimental parecida com a empregada
por Franck-Hertz. As diferenças marcantes residem na incorporação de um monocromador e
um analisador para velocidades de elétrons. O feixe eletrônico é gerado no canhão de elétrons
e suas energias são discriminadas pelo colimador, o que gera um feixe de elétrons com energias
bem resolvidas. Esses elétrons colidem com as moléculas que compõem a amostra e muitos
são espalhados com energias diferentes (choques inelásticos) das energias originalmente pre
sentes no feixe eletrônico. Como hoje são disponíveis analisadores de energias capazes de dis
tinguir elétrons com diferenças de energias cinéticas da ordem de 0,001 eV, pode-se tomar
medidas simultâneas da corrente eletrônica a cada ângulo e perda de energia em amplas re
giões do espectro. Os picos na curva de perda de energia estão relacionados às energias in
ternas moleculares.
Embora o espectro obtido reproduza, no limite de ângulos nulos, o espectro experimental
óptico (ou seja, obtido com absorção de luz), é com o aumento no ângulo que se vislumbram
as potencialidades desta técnica. Nessas condições, esta espectroscopia mostra transições
proibidas na espectroscopia convencional, o que fornece um novo e rico conjunto de informa
ções antes oculto à espectroscopia óptica. Um aspecto operacional importante está ligado ao
fato de que um equipamento desse tipo pode ser utilizado em uma vasta região espectral co
brindo desde o infravermelho até o ultravioleta de vácuo sem qualquer necessidade de modifi
cação no dispositivo experimental. Isto representa uma vantagem sem igual, se comparada
com a espectroscopia óptica, na qual são necessários um conjunto de prismas e fontes para o
infravermelho, outro para o visível e um terceiro para o ultravioleta. Particularmente em es
tudos acima de 5 eV, é muito difícil obterem-se fontes de energia estável e com boa intensi
dade. Nessa região, recomenda-se estudar processos, quer por impacto de elétrons quer por
utilização de luz síncrotron que é, quase sempre, muito mais cara.
26 Capítulo 1
uso é econômico e versátil pois é possível obter espectros eletrônicos nas regiões do infra
vermelho, do visível e do ultravioleta com apenas um único equipamento controlável da
Terra.
Figura 1.15
Trajetórias dos raios emitidos
por fontes radioativas sob a ação
de um campo magnético
perpendicular à folha de papel.
Observa-se que a radiação y não
é deflexionada, enquanto as
radiações a e p têm sua
trajetória alterada pelo campo
magnético.
Velocidade Velocidade
Isótopo Isótopo
x lO m/s
- 7 xlO m /s
" 7
Este trabalho mostrou que cada elemento possuía um espectro característico de emissões
alfa, na qual suas velocidades eram constantes e bem definidas. Rutherford decidiu empregar
esse conhecimento na construção de uma experiência destinada ao estudo do modelo atô
mico então vigente, bombardeando uma fina folha de ouro com radiação alfa e observando a
figura de espalhamento obtida. Desses experimentos Rutherford concluiu que o modelo de
Thomson era incompatível com a intensa figura de retroespalhamento observada. Antes de
estudar esse experimento faremos uma pequena digressão acerca dos dois modelos compa
rados, o de Thomson e o de Rutherford, discutiremos a definição da seção de choque para es
palhamento de partículas alfa, para finalmente analisar os resultados experimentais para o
espalhamento Rutherford.
A idéia de que átomos eram constituídos de elétrons e prótons já era discutida na primeira
década do século XX, como resultado de evidências ligadas à determinação de massas atô
micas, ao espectro de raios X ; à tabela periódica e ao efeito fotoelétrico. Conseqüente
mente, vários pesquisadores propuseram modelos para a distribuição nuclear. J. Perrin
(1901) propôs que o átomo era formado por uma partícula carregada positivamente em
torno da qual giram elétrons. Este modelo foi também discutido por Nagaoka, que lhe atri
buiu o nome de sistema saturniano. Posteriormente esse trabalho seria citado por Rutherford
em seu artigo original.
Mas foi J. J. Thomson, que já havia descoberto a existência do elétron, quem propôs o mo
delo mais bem aceito para a estrutura nuclear da época. Sabendo que o átomo ocupava uma
região proporcional a uma esfera com à de raio e procurando ser coerente com as leis do ele
1
tromagnetismo clássico, que proibiam órbitas em torno do núcleo, Thomson propôs que este
seria constituído de uma massa disforme com carga positiva contendo em seu interior elé
trons. Dessa forma, o núcleo possuiria uma distribuição de cargas complexa, na qual pe
quenas oscilações causariam transições espectroscópicas e/ou nucleares. Sabendo que
elétrons possuem massa muito menor que a do átomo, e que o sistema é eletricamente ne
utro, chega-se à conclusão de que esta massa disforme de matéria positiva deveria ser a res
ponsável pela quase-totalidade da massa atômica.
Exemplo 1.5-1
Estime, com base na densidade de um sólido, no número de Avogadro e na massa do elemento químico, o volume atômico do ouro.
28 Capítulo 1
R . Sabe-se que a massa de um mol de átomos de ouro é de 79 g, cujo valor representa o produto da massa de um átomo de
ouro vezes o número de Avogadro. Da mesma forma, o volume ocupado por um mol de átomos de ouro em estado sólido
é, também, dado pelo produto do número de Avogadro vezes o volume médio de um átomo de ouro. Como a razão entre
essas duas grandezas é a densidade do sólido, p. temos que v = m /p, ou seja, a razão entre a densidade e a massa de um
único átomo é o volume atômico. Como a densidade desse elemento vale 19.300 kg/m e a massa de um único átomo
3
O modelo de Rutherford parte de uma premissa não-clássica, segundo a qual existe uma
região, de pequenas dimensões ( ~ m), denominada núcleo atômico, onde se concentra a
1 0 1 4
totalidade da carga positiva e da massa atômica. Ao redor dessa região circulam elétrons. As
transições eletrônicas são resultado de alterações na disposição dos elétrons em torno do nú
cleo atômico, enquanto as radiações observadas por Becquerel e Rutherford (a, (3 e y) são ori
ginadas de instabilidades na disposição de partículas existentes no núcleo atômico. Este
modelo foi construído a partir de evidências experimentais e contraria claramente as leis do
eletromagnetismo clássico que prevêm que uma partícula carregada em trajetórias circulares
deve emitir luz com espectro contínuo. Como tal fato não se observa e como as evidências ex
perimentais eram claras quanto à existência de um núcleo, Rutherford deixou esta questão
em aberto para ser discutida posteriormente. A moderna teoria quântica encontraria solução
para este problema.
Rutherford idealizou um experimento no qual partículas alfa eram utilizadas para bombar
dear uma finíssima lâmina de ouro (IO m). Essas partículas seriam então espalhadas pelo po
- 6
Embora esta equação seja geral, é conveniente simplificá-la adaptando-a às condições experi
mentais idealizadas por Rutherford. Nestas, a concentração e a velocidade das partículas alfa
são constantes, em função do uso de uma fonte radioquímica baseada no gás radônio, de
modo que o produto dessas grandezas define a intensidade original do feixe alfa, denotado
pelo símbolo I0. Já a folha de ouro, por possuir cristalização regular, tem concentração cons
tante, simplificando a Equação 1.42 ao produto da densidade da lâmina metálica, a espessura
da folha, t, vezes o ângulo sólido definido pelo senQ dQ} como mostra a Equação 1.43. Conside
rando que uma lâmina de ouro não possui qualquer orientação especial e que é alvo fixo no ex
perimento, eliminaremos a dependência na energia dos átomos de ouro e no ângulo <p
incorporado-as à intensidade original,
que permite explicitar a seção de choque de espalhamento alfa como função da fração de in
tensidade observada em ângulo , na forma:
0
/n\
c>(0 ) o c e
-ev e:m ( 1 .4 5 )
a. Para um feixe com intensidade,, energia e ângulo de espalhamento constantes, o fluxo espalhado é
proporcional ao produto da espessura da lâmina pela densidade desta,;
b. Para uma dada folha em um determinado ângulo\ o número de partículas espalhadas é inversa
mente proporcional ao quadrado da energia cinética da partícula alfa;
c. Para uma dada folha e energia,, a seção de choque é inversamente proporcional à quarta potência
do sen( / )/ sendo o ângulo de espalhamento;
0 2 0
Figura 1.16
Dispositivo de Rutherford para
o estudo do espalhamento de
partículas alfa. Observa-se a
fonte, a fenda colimadora F; a
película de ouro e o detector de
sulfeto de zinco, D.
Com base nesses resultados, Rutherford (1911) propôs um modelo atômico constituído
por um pequeno núcleo central com carga positiva, rodeado por elétrons em movimento
livre. Esta descoberta foi uma das mais importantes da física moderna, pois teve repercusões
imediatas nos campos da química, da física quântica, da radioquímica e em outros campos do
conhecimento. Posteriormente, Chadwick refez essas medidas em 1920, procurando deta
lhar a dependência da seção de choque com o número atômico.
Rutherford empreendeu a análise matemática do espalhamento de partículas alfa por um
núcleo. As equações não serão aqui discutidas pois estão fora do escopo deste texto, mas o re
sultado final mostra a dependência da seção de choque com a energia e o ângulo de espalha
mento (Eq. 1.46):
ZV (1.46)
g (0)= -
4(4nen) E sen (Q /2)
Embora o uso da teoria de espalhamento possa parecer algo distante de um típico laboratório
químico, ela hoje tem inúmeras aplicações em química fundamental. Um campo em que esse
tipo de trabalho tem tido grande destaque é o da cinética química, no estudo da natureza e da
dinâmica das reações químicas. Uma reação química envolve processos muito rápidos, fre
qüentemente com tempos de reação oscilando de 10_loa 10“° s. Formas freqüentes de se es
tudar uma reação química consistem em acompanhar as absorções/emissões espectroscó-
picas envolvidas, medir a dependência da temperatura nesse processo, efetuar cálculos e/ou
conjecturas de modo a estudar a maneira como reagentes dão origem a produtos. Infeliz
mente, todas essas informações são bastante incompletas e não permitem mais do que uma
visão aproximada e grosseira dos processos envolvidos em uma reação química. Um experi
mento que se tornou popular a partir de 1970, e cujos principais idealizadores — D. R.
Herschbach, Y. T. Lee e J. C. Polanyi — foram agraciados com o prêmio Nobel de 1986, é o do
uso de feixes moleculares cruzados. Nesse experimento utilizam-se feixes moleculares nos
quais os reagentes possuem velocidades, energias vibracionais e energias rotacionais bem
controladas. Deixa-se que as moléculas interajam e os produtos de reação são coletados e ana
lisados quanto às suas energias cinéticas, vibracionais e rotacionais. O resultado desse check-
u p é o detalhado conhecimento das seções de choque reacionais para cada forma de distribui
ção da energia de reagentes, o que traz à discussão um enorme volume de informação sobre a
dinâmica de reações químicas. Para leituras mais completas indicamos o artigo de P.W Tied-
mann publicado na revista Ciência Hoje [276].
o o
o o
o o
d d
LOc\i
H----
o o o o o o o o o o o
o o o o o o o o o o o
p o o o o p p p o o p
d d\j d d d d d d d d d
T_ C CO LO CD h- 00 O) o
O hidrogênio é o mais simples dos átomos e seu espectro exibe uma notável regularidade. Por
estes motivos, foi imediato o interesse de pesquisadores pelo estudo do espectro do átomo de hi
drogênio. Um dos primeiros interessados foi J. J. Balmer (1885), professor de matemática e nu-
merólogo nas horas vagas. Apresentado ao problema, ele encontrou a Fórmula empírica 1.47,
para toda uma série de transições. Com ela, previu a existência do sétimo termo, ainda não co
nhecido naquele momento. As transições iniciavam-se na região do visível apresentando linhas,
cujas diferenças iam progressivamente diminuindo até alcançar uma região contínua, definida
como valor limite, potencial de ionização ou termo limite da série. A Figura 1.17 apresenta um
diagrama esquemático para transições observadas em um espectrômetro de emissão.
x = 3646 b 2 (1 4 T )
n2 - 4
Esta fórmula associa comprimentos de onda da série a um inteiro denominado número quân-
tico principal, n. Como se pode observar na Figura 1.18, Balmer utilizou letras gregas — a, p
etc. — para caracterizar cada uma das linhas presentes nesse espectro. A série tem início com
a linha Ha (n = 1), ocorrendo a 6562,8 A (vermelho), seguindo-se a linha/íp(« = 2), localizada
em 4861,3 A (azul), até um limite superior que ocorre em 3645,6 A, no ultravioleta próximo,
H^, relacionado com a energia mínima necessária para se ionizar o elétron nesta série. A exce
lente concordância obtida entre os resultados experimentais e a fórmula de Balmer, e a simpli
cidade desta expressão, levaram vários pesquisadores ao estudo desse espectro. J. R. Rydberg
(1890) foi o segundo cientista a fazer fama nesse campo, generalizando o trabalho de Balmer,
J. Dewar e G. D. Liveing (1879), ao estudar uma série similar em metais alcalinos. Nesse tra
balho foi apresentado, pela primeira vez, o recíproco do comprimento de onda na represen
tação m atem ática das freqüências de emissão/absorção observadas. Posteriomente,
verificou-se que esta representação simplificava muitas das expressões matemáticas encon
tradas nesse campo. A fórmula empregada por Rydberg é apresentada na Equação 1.48, sendo
relevante o fato de a constante RH ser aproximadamente a mesma em toda a série de ele
mentos estudados por Rydberg, tendo o valor atualmente aceito de 109.737,3177cm"1.
AE = Tm- T n (1.49)
Outras séries foram descobertas. F. Paschen (1908), estudando o espectro do átomo de hi
drogênio no infravermelho próximo, descobriu a existência de duas linhas de uma série que se
iniciava em 18751,3 Ã indo até 8863,4 À. O astrônomo americano Edward Charles Pickering
(1846-1919) descobriu (1896) uma série de linhas na estrela Ç-Puppis descritas pela fórmula de
Balmer. Entretanto, essa série apresentava características curiosas, pois, embora convergisse
para o mesmo valor limite, possuía o dobro do número de termos que a série de Balmer. Metade
das linhas, aquelas que tinham números quânticos pares, mostrava coincidência exata com
termos associados à série de Balmer, mas também existiam termos que só poderiam associar-se
a números quânticos semi-inteiros na fórmula original de Balmer. Posteriormente, uma tenta
tiva de A. Fowler reproduziu essas linhas com uma mistura de hidrogênio e hélio mostrando
tratar-se de linhas do hélio ionizado. Voltaremos a este ponto no Exemplo 1.6-3.
Este grande conjunto de descobertas foi generalizado com a equação de Rydberg
(Eq. 1.50), que passa então a ser descrita por uma fórmula geral contendo dois números quân
ticos, n e m , que representam diferentes estados atômicos. Quando o número de onda é uma
grandeza positiva, interpreta-se como uma emissão na qual o estado inicial é n e o final m, com
n > m. O contrário é interpretado como absorção.
A Antiga Teoria Quântica 35
Nesta equação, e y são os defeitos quânticos de cada uma dessas séries; m é um número in
8
2 1215,7 4 18751,1
3 1026,0 5 12818,1
4 972,7 j 6 10938,0
5 949,8 7 10052,2
6 937,8 8 9546,2
7 930,8 9 9229,7
8 926,2 1 0 9017,4
3 6562,8 5 40510,4
4 4861,4 6 26251,6
5 4340,5 7 21661,3
6 4102,9
7 3970,1
Série de Pfund tt ^obs
8 3889,1
9 3836,5 6 40500,0
Bohr [43] havia sido colaborador de Lord Rutherford d e l 9 1 0 a l 9 1 1 [38] e, portanto, tinha
profundo conhecimento da nova distribuição nuclear proposta. Adotou, desde o início, o
modelo planetário no qual prótons localizavam-se em uma pequena região central com
apenas 10-14m de diâmetro. Bohr complementou este ponto de vista postulando, por ra
zões de simplicidade, que o movimento eletrônico era descrito por órbitas circulares fecha
36 Capítulo 1
das em torno do núcleo atômico. Seguindo as sugestões de Rutherford, Bohr procurou com
patibilizar os dados experimentais descritos pela fórmula de Rydberg-Ritz com resultados
clássicos baseados na teoria do eletromagnetismo. Segundo essa teoria, uma partícula car
regada em movimento acelerado ao redor do núcleo deveria emitir luz com freqüência igual
à de sua rotação angular. Supondo que isso fosse correto nos limites clássicos, Bohr
perguntou-se quais deveriam ser as condições impostas ao momento angular, de modo que
esse modelo estivesse em acordo com o eletromagnetismo clássico. O resultado obtido, cuja
dedução foi reproduzida no Exemplo 1.6-1, mostrou que o momento angular era quan-
tizado.
Figura 1.18
Diagrama de níveis energéticos
para o átom o de hidrogênio e
suas mais conhecidas séries
espectrais. O comprimento de
onda é apresentado em
angstrõns.
A Antiga Teoria Quântica 37
Exemplo 1.6-1
Obtenha a regra de quantização para o momento angular, supondo um modelo planetário consistente com o eletromagnetismo clássico
e validade da fórmula de Rydberg para grandes n. Sugestão: a) encontre, com base no equilíbrio de forças, o momento angular em
função da distância elétron-núcleo; b) obtenha uma expressão para a freqüência clássica e relacione-a com o momento angular; c) por
fim, utilize a fórmula de Rydberg clássica para calcular os valores permitidos do momento angular.
------ (1.51)
r (4jts )r
0
£ '( 4 r e 0 )
r=- (1.52)
Ze2jj,
on d el é o momento angular do sistema, ou seja, L = \ivr, e \xé a massa reduzida do sistema, ou seja, \i= mem^ / (me + mp ).
O uso da massa reduzida do sistema descreve o movimento conjunto do elétron e do núcleo em torno do centro de massa
do sistema.
A freqüência de revoluções em torno do núcleo pode ser calculada pela razão entre a velocidade desse elétron e o perí
metro de cada revolução em torno desse núcleo, ou seja, v = v / 2nr. Pode-se relacionar esse número com o momento an
gular utilizando-se a Fórmula 1.52.
*7 2 4
L Z e \i
(1.53)
2nr 2 2TtZ (4jien):
3
Por outro lado, utilizando-se os resultados experimentais determinados pela equação de Rydberg, pode-se mostrar que a
freqüência é inversamente proporcional à terceira potência do número inteiro n no limite clássico, ou seja:
2Rh c
v = V oc (1.54)
( « + 1):
Igualando-se as freqüências obtidas da teoria clássica para o elétron com aquelas obtidas com o uso da fórmula de
Rydberg no limite clássico obtém-se:
L3 = ------------------ n3 (1.55)
47zRHc(4ne0)
que mostra a linearidade entre o momento angular e o número quântico. A constante de proporcionalidade define o
valor de h s .
i
Embora a validade desses resultados fosse restrita aos limites clássicos, Bohr, seguro de
que .a existência de linhas espectrais indicava a discretização de variáveis atômicas, assumiu
sua validade em toda a região espectral. Estabeleceu cinco postulados básicos em seu modelo
atômico, no qual um deles quantizava o momento angular, enquanto outros procuravam
conciliar esses postulados com algumas idéias clássicas. São estes:
a. Supõe a validade do modelo nuclear de Rutherford no qual prótons e nêutrons concentravam-se
no núcleo enquanto elétrons circulavam ao seu redor;
b. Um elétron move-se em órbitas circulares estáveis sob influência de forças mecânicas, ou seja, da
força coulombiana e centrípeta;
c. O momento angular global desse sistema é quantizado por valores múltiplos inteiros da cons
tante fl;
d. Apesar de estar continuamente acelerado, o elétron não emite qualquer forma de energia. Sua
energia em uma trajetória circular é constante e quantizada;
e. As energias emitidas pelo átomo de hidrogênio associam-se a diferenças de energias entre termos
espectroscópicos, cuja freqüência é dada pela fórmula de Planck. Freqüências positivas interpretam-se
como emissões, enquanto as negativas associam-se a absorções.
Com base nesses postulados, obtém-se uma expressão para a energia total do sistema. Pri
meiramente relaciona-se o raio com o momento angular total, utilizando-se a Equação 1.52;
em seguida, combinando-a à lei de quantização do momento angular, postulado c), obtém-se:
ondea Qé o raio de Bohr, definido por (4ne0) h 2 / e 2\i valendo 0,5291770 Â. O raio atômico é,
portanto, proporcional ao quadrado do número quântico principal. Posteriormente veremos
que esta previsão, embora obtida por um modelo simples, confirma-se com o uso da teoria on-
dulatória de Schrõdinger. Escrevemos a energia total como soma da energia cinética e poten
cial do sistema, ou seja, < £ > = < T > + <V>, tal como se apresenta a seguir:
= __ = J L _______
Z g 2 Z g 2 (1.57)
2 (47180)r 2\xr2 (4ne0)r
Utilizando-se o valor calculado para o raio atômico (Eq. 1.56), associado à primeira hipótese
de Bohr, L = nh, leva-se as equações precedentes à seguinte forma:
I2 ZVu
< T> = — = ---- — ^ ----- (1.58)
2jjf 2 2{4m )2h 2n2
-Z'■7 2 e 4 jj .
Esta equação, combinada com o quinto postulado, gera uma expressão similar à equação de
Rydberg, onde o número de onda, \/X, é proporcional a uma constante, vezes a diferença
entre o recíproco de dois quadrados:
1 _A E _ - Z 2e V 1
(1.61)
^ hc 2hc(4m Q)‘ \n m2 j
A Antiga Teoria Quântica 39
í - z % í 4 ~ 4 (1.62)
n m
R. Determina-se cada uma dessas propriedades pelas seguintes expressões e seus valores calculados:
v /c = Z e / (2g Qchn)
2 = 0,0072Z / n
w = 2 i iv - 6,5800 10 Z / ns r a d /s
1 5 2
massa ou de qualquer propriedade atômica. Este fato é conhecido como teorema do virial e é re
sultado de uma lei geral aplicável a qualquer sistema mecânico. Mais adiante teremos a opor
tunidade de ver como isto é válido também em sistemas quânticos, o que fornece uma
maneira simples e prática de se avaliar a qualidade de cálculos e propriedades moleculares.
Com o sucesso que marcou a aplicação dessas regras à espectroscopia de sistemas hidroge-
nóides, viveu-se um período de grande euforia científica, com pesquisadores de diferentes
áreas procurando estabelecer regularidades nos espectros de vários elementos. Os objetivos
desse movimento eram levantar, correlacionar e estudar inúmeros problemas físicos, que até
então não vinham sendo discutidos em função do incipiente desenvolvimento teórico da
área. O campo da astrofísica e a espectroscopia de raios X são exemplos desse tipo de trabalho.
Uma segunda preocupação procurava entender as contradições existentes no modelo de
Bohr, visando a aplicá-lo ao estudo de outros elementos químicos.
Entre os resultados positivos desse modelo destaca-se o descobrimento de inúmeras séries
espectrais em perfeita concordância com o modelo de Bohr. A. H. Pfund (1924) descobre uma
série no infravermelho iniciando-se em 74.000 cm -1, Brackett descobre (1922) duas linhas
também no iy enquanto no ultravioleta Lyman (1914-1915) descobriu toda uma série prevista
por esse modelo. F. Paschen, que pouco antes havia descoberto duas linhas, teve o seu esforço
40 Capítulo 1
recompensado com a determinação de uma série completa. Em todos esses casos as séries desco
bertas receberam; em justa homenagem; o nome desses pioneiros da espectroscopia.
O sucesso desta teoria causou furor ainda maior entre astrofísicos, pois estes possuíam
grande número de espectros de átomos leves ionizados, resultado das extremas condições en
contradas na atmosfera de estrelas. Para citar exemplos práticos, observou-se uma linha muito
intensa em 4686 A na nébula planetária NGC 7662 no ano de 1864 por Sir William Huggins, e
posteriormente por A. Fowler e Sir Norman Lockyer (1898), que verificaram que essa linha
também se encontrava presente em outras estrelas. O modelo de Bohr mostrou, posteriormen
te, que essa linha era parte de uma série hidrogenóide ligada a um átomo de hélio ionizado. O
Exemplo 1.6-3 ilustra um problema geralmente encontrado nesses estudos.
A série de Pickering foi observada primeiramente no espectro de absorção da estrela de Ç-Puppis por Edward Charles Pickering, astrô
nomo americano que identificou as linhas 6560,1-, 5411/6} 4859/3; 4561,6; 4338,7; 4199/9; 4100,0À. Sabe-se que esta série tem o
mesmo termo limite da série de Balmer (3645/1 A) e que estas linhas se encontram também em outras estrelas quentes. Calcule a) a
constante de Rydberg para essas transições; b) explique o fato de esta série apresentar metade de suas linhas superpostas à série de
Balmer, embora jam ais tenha sido observada neste sistema. A Figura 1.19 compara as duas séries.
v=v; - - 4 - ; (1.64)
n
de modo que o número n pode ser obtido para cada n pela Expressão 1.65:
« = (R/(v,-v))1/2 (165)
o que nos permite determinar a razão entre os valores de n associados às primeiras duas transições, ou seja, (n + Y)/n em
termos de grandezas experimentais:
— = { (v?~v jr 2 (1.66)
n (v/ ~ v»+i)
A razão entre as freqüências associadas aos dois primeiros termos da série é dada por 1,3613V2. Com este número resolve-
se a equação (n + 1)/n = 1,1667 obtendo-se o valor de n = para o termo original da série. Sabendo-se que os demais nú
6
meros quânticos são inteiros maiores que , determina-se a constante de Rydberg para este sistema lançando-se um grá
6
fico de v contra o recíproco de nz. O valor obtido é igual a quatro vezes a constante de Rydberg para o átomo de hidrogênio,
de modo que a série é devida ao hélio ionizado. A transição se inicia com n = 4 e o primeiro termo está ligado a uma tran
sição para m = . 6
Figura 1.19
Séries de Pickering e de Balmer
comparadas em uma escala de J __________L
números de onda. Observa-se 25.000 cm" 20.000 15.000
que as linhas pares aparecem
Ha
sobrepostas, enquanto linhas
hL
ímpares mostram-se
tt
intercaladas. H,
Limite
I U U i l i I j____ i
i
A Antiga Teoria Quântica 41
Z 2m,
=R-h "7 ~~ r (1.67)
(;mA +me )
Em geral a constante de Rydberg varia pouco com a massa (1 parte por 10.000), porém
a diferença entre dois isótopos é máxima quando comparamos os nuclídeos hidrogênio/deu-
tério. Assim, utilizou-se uma rede de difração com 21 pés de comprimento e uma resolução de
1,3 A/mm de modo a obter-se máxima sensibilidade em uma pequena região espectral. Com
esse equipamento os pesquisadores acompanharam o deslocamento do ponto de máxima
absorção para a linha de B a l m e r a o longo de um processo em que 3 litros de hidrogênio lí
quido foram lentamente evaporados. Como a evaporação deixava seletivamente o isótopo
mais pesado no líquido, foi possível observar o progressivo deslocamento da linha de Balmer
do hidrogênio para a respectiva linha do átomo de deutério.
Exemplo 1.6-4
Calcule a diferença prevista no modelo de Bohr para comprimentos de onda associados à série de Balmer dos elementos hidrogênio,
deutério e trítio.
R. Tomando-se como referência a transição 2 ^ 3 da série de Balmer (Eq. 1.67), podem-se calcular os respectivos compri
mentos de onda como:
3 6m„
(1.68)
42 Capítulo 1
o
Enquanto que, para o trítio, mt = 3m^ e temos XH - XD = 2,36 A.
Por este monumental trabalho, N. Bohr foi agraciado em 1922 com o prêmio Nobel de Fí
sica. Esta, entretanto, não foi a sua única homenagem e, ainda hoje, são inúmeras as boas
recordações que o trabalho de Bohr nos oferece. Recentemente a Comissão sobre Nomencla
tura de Química Inorgânica (CNQI) da Divisão de Química Inorgânica da IUPAC aprovou o
nome de bóhrio para o elemento 107, em mais uma homenagem a N. Bohr. Veremos, a seguir,
como vários pesquisadores procuraram estender o modelo de Bohr para o estudo espectroscó-
pico de átomos não-hidrogenóides.
A aceitação das idéias de Bohr foi imediata e o período que se estendeu de 1913 a 1920 foi mar
cado por inúmeras aplicações bem-sucedidas das idéias de Planck, Einstein e Bohr. Uma
destas, formulada por Wilson e Sommerfeld (1916) [46, 47], procurava estender o caráter ar
bitrário das regras de quantização postuladas por Bohr. Desta forma, regras aparentemente
diversas como a lei de Planck, a lei de quantização do rotor rígido, o oscilador harmônico e o
átomo de hidrogênio mostravam-se oriundos de uma mesma lei básica, a da quantização das
integrais de ação do sistema, segundo a qual para sistemas periódicos cada coordenada quân
tica possuirá uma integral de ação (Fórmula 1.70):
por Bohr em seu trabalho, ou seja, 2nmvr = h. Os Exemplos 1.6-5 e 1.6-6 discutem a aplicação
dessas regras para o caso da partícula em uma caixa e para o caso do oscilador harmônico uni-
dimensional.
Exemplo 1.6-5
Calcule a energia de uma partícula confinada em uma caixa quântica de largura a , utilizando as regras de quantização de Wilson e
Sommerfeld.
R. Como a única forma de energia nesse sistema é cinética, o momento possui valor absoluto constante, mesmo que, em
choques com a parede, o seu sentido seja alterado. Portanto, desmembrando a integral de ação nos dois semipercursos
temos:
d x + j (-p )d x = pa = nh
2
(1.71)
42 Capítulo 1
XH - l D = 36me / 5RX ■
m„ + m
------t -
2 +m ,
----- 4 = 1,793 A (1.69)
2mr me
O
Enquanto que, para o trítio, mt = 3m e temos XH - XD = 2,36 A.
Por este monumental trabalho, N. Bohr foi agraciado em 1922 com o prêmio Nobel de Fí
sica. Esta, entretanto, não foi a sua única homenagem e, ainda hoje, são inúmeras as boas
recordações que o trabalho de Bohr nos oferece. Recentemente a Comissão sobre Nomencla
tura de Química Inorgânica (CNQI) da Divisão de Química Inorgânica da IUPAC aprovou o
nome de bóhrio para o elemento 107, em mais uma homenagem a N. Bohr. Veremos, a seguir,
como vários pesquisadores procuraram estender o modelo de Bohr para o estudo espectroscó-
pico de átomos não-hidrogenóides.
A aceitação das idéias de Bohr foi imediata e o período que se estendeu de 1913 a 1920 foi mar
cado por inúmeras aplicações bem-sucedidas das idéias de Planck, Einstein e Bohr. Uma
destas, formulada por Wilson e Sommerfeld (1916) [46, 47], procurava estender o caráter ar
bitrário das regras de quantização postuladas por Bohr. Desta forma, regras aparentemente
diversas como a lei de Planck, a lei de quantização do rotor rígido, o oscilador harmônico e o
átomo de hidrogênio mostravam-se oriundos de uma mesma lei básica, a da quantização das
integrais de ação do sistema, segundo a qual para sistemas periódicos cada coordenada quân
tica possuirá uma integral de ação (Fórmula 1.70):
=nxh (1.70)
onde q é uma coordenada espacial do problema e p>o respectivo momento conjugado. Como
se pode observar, esta é uma integral de linha, o que a faz depender da trajetória de um sistema
quântico no espaço de fase. Segundo essa regra, somente seriam possíveis trajetórias cujos va
lores para esta integral fossem múltiplos da constante de Planck. Um caso particular dessa
regra pode ser exemplificado na regra de quantização do momento angular postulada por
Bohr. Nesta, o momento p do elétron vale mv, enquanto a'coordenada espacial vale rd%. A in
tegração desta expressão nos valores de a 2 tt dá origem às regras de quantização empregadas
0
por Bohr em seu trabalho, ou seja, 2nmvr = h. Os Exemplos 1.6-5 e 1.6-6 discutem a aplicação
dessas regras para o caso da partícula em uma caixa e para o caso do oscilador harmônico uni-
dimensional.
Exemplo 1.6-5 Ml
Calcule a energia de uma partícula confinada em uma caixa quântica de largura a, utilizando as regras de quantização de Wilson e
Sommerfeld.
R. Como a única forma de energia nesse sistema é cinética, o momento possui valor absoluto constante, mesmo que, em
choques com a parede, o seu sentido seja alterado. Portanto, desmembrando a integral de ação nos dois semipercursos
temos:
onde p vale nh/2a e a energia to ta l E, igual a /?2 / 2m, é dada por n2h2 / 2 . Este resultado é form alm ente idêntico ao ob
tido com a moderna teoria quântica.
j
E xem p lo 1 .6 -6
Calcule a energia de um oscilador harmônico quântico utilizando as regras de quantização de Wilson e Sommerfeld.
R .S a b e -se, da resolução da equação diferencial do movim ento harmônico, que a coordenada q é dada por uma solução do
tipo seno, enquanto o produto de sua derivada pela massa é um co-seno, como m ostra a Equação 1.74.
p = m q Qw cos(wt) (1.73)
(1.74)
de modo que as energias total, soma da energia cinética, p 212m, e potencial, k q 2/ 2 , totalizam m (coq Q)2/2. Substituindo-
se os valores permitidos para a freqüência, obtidos da integral da ação (Eq. 1.73), nesta última chega-se a uma equação
para a quantização da energia em um oscilador harmônico, En = nhai Esta equação difere daquela obtida com a moderna
mecânica ondulatória apenas pela energia de ponto zero, /zco/ 2.
i
Foram inúmeras as aplicações feitas das regras de quantização de Wilson-Sommerfeld a
problemas de interesse físico e químico. M uitas geraram resultados em excelente acordo com
aqueles obtidos com o uso da mecânica ondulatória.
Outra im portante contribuição de Niels Bohr foi apresentada pouco depois (1923) na formu
lação de um princípio geral de consistência entre os resultados da mecânica quântica e aqueles
observados classicamente. De fato, em muitas oportunidades temos feito menção a esse prin
cípio, ao esperar com portam ento compatível dos resultados quânticos, quando analisados
em um limite clássico. No caso da radiação de corpo negro pôde-se mostrar que, tomando-se h
tendendo a zero, encontravam-se resultados compatíveis com a lei de Rayleigh-Jeans, en
quanto no caso da capacidade calorífica de sólidos observamos que o com portamento das
equações de Einstein no limite de altas temperaturas reproduziam o resultado clássico que
Dulong-Petit haviam estabelecido um século antes.
Niels Bohr enunciou seu princípio em dois pontos:
A primeira lei já nos é familiar devido à sua aplicação a inúmeros problemas da antiga
teoria quântica. Quanto à segunda, foi formulada de modo a explicar, em espectros atômicos
e moleculares, a existência de umas poucas transições.
44 Capítulo 1
Passado o período de euforia nas aplicações e testes para o modelo de Bohr, iniciou-se um se
gundo período (1920 a 1926), no qual acumularam-se fracassos e frustrações. Pode-se dizer
que, embora tenha sido bem-sucedida em átomos hidrogenóides e elementos com um elétron
externo fracamente ligado; como é o caso de metais alcalinos e estados de Rydberg, a tenta
tiva de utilizar estas idéias na previsão do espectro atômico de outros elementos resultou em
um completo fracasso. M esm o o caso simples do espectro do hélio mostrava-se um mistério
com a existência de dois espectros sobrepostos e atribuídos, àquela altura, a distintas espé
cies, o ortoélio e o paraélio! Outro aspecto deficiente dessa teoria era ligado ao cálculo de taxas
de transição, pois nunca existiu, no modelo de Bohr, uma maneira coerente de se calcularem
as intensidades de transições radiativas.
Finalmente, deve-se reconhecer que esse modelo, embora bem-sucedido em uma classe
restrita de sistemas, não tinha o que todo modelo fundamental almeja possuir — consis
tência teórica! Em contradição clara com o eletromagnetismo clássico e com dificuldades
crônicas para descrever o com portamento de outros átomos, não se pode deixar de admitir
que esse modelo, dez anos depois de seu surgimento, fez pouco progresso, não tendo sido
capaz de superar dificuldades teóricas básicas em suas aplicações.
O espalhamento de raios X por moléculas havia sido estudado anos antes por C. G. Barkla
(1909) e J. J. Thom son. Segundo esse modelo, um elétron, ao absorver energia, vibraria à fre
qüência da luz incidente. Assim, passado um breve período, a luz seria reemitida em outras di
reções com a mesma freqüência do feixe incidente. Essè tipo de espalhamento, denominado
espalhamento Thom son, é dominante a baixas freqüências.
Barkla mostrou que, a freqüências abaixo das do raio X mole, os modelos teóricos geravam
resultados absolutam ente corretos. Entretanto, em regiões que envolvem grandes energias,
particularmente naquelas próximas do raios X duro e do raio y, os resultados de Thom son
mostravam-se com pletam ente equivocados. O advento da difração de raios X e o uso de mo-
nocristais como analisadores de luz, introduzidos na segunda década do século X IX , permitiu
a Com pton estender o estudo de Barkla, analisando o comprimento de onda da radiação espa
lhada nessa região espectral. A Figura 1.20 apresenta o dispositivo experimental utilizado por
Com pton para a geração de raios X, a fenda colimadora, o alvo espalhador e a análise das fre
qüências espalhadas. O experimento é realizado sobre elétrons de metais, haja vista a impos
sibilidade de se observar esse efeito em elétrons livres, como mostra o Exemplo 1.7-1.
Exemplo 1.7-1
Mostre que um elétron livre em repouso não pode absorver completamente um fóton. Utilize as leis mecânicas de conservação do mo-
m entum e da energia total.
A Antiga Teoria Quântica 45
R . Utilizaremos a equação de De Broglie, p^ = h/X, em uma trajetória colisional linear por comodidade. Da conservação
do momentum obtém-se: p^t = p e, ou seja; hv/c = p e. Da equação de conservação da energia tem os que üy =Ee, ou
hv = (p 2c2 +m2c4)v 2. Dividindo-se a segunda equação por c, chega-se a outra; na qual um term o é igual à raiz quadrada
dele próprio ao quadrado mais uma grandeza positiva. Isto nos leva a uma contradição lógica, o que prova a impossibili
dade de um elétron em repouso absorver um fóton.
Com pton utilizou uma fonte de raios X baseada na emissão atôm ica Ka do molibdênio, que é
uma radiação com alto grau de monocromaticidade. O resultado mais surpreendente desses
estudos mostrou que a luz espalhada possuía não apenas freqüência idêntica à da luz inci
dente; mas uma segunda freqüência, menor em alguns hertz. A seguir transcrevemos as prin
cipais conclusões desse experimento.
Metal espalhador
A Figura 1.21 mostra a análise espectral da luz espalhada a um ângulo fixo sobre vários
elementos, confirmando a conclusão b. O fato de o espalhamento não depender do tipo de
material mostra que ele é insensível à maneira como os elétrons estão distribuídos. Trata-se;
portanto, de problema ligado à interação elétron-raio X. A Figura 1.22 apresenta uma ilus
tração em que há varredura do ângulo de espalhamento.
Observa-se o desdobramento crescente da freqüência com o ângulo. Com pton [50] e, in
dependentemente, Peter Debye [53], interpretaram esse fenômeno, com base na teoria que
Planck e Einstein haviam apresentado vinte anos antes. O campo eletromagnético era consti
tuído por um ensemble de fótons que colidiam com elétrons livres presentes em metais. Nesse
processo, o fóton transfere parte de seu momentum para o elétron, de modo que a luz espalhada
46 Capítulo 1
m ostra energia menor (maior comprimento de onda) que a do feixe incidente. Para formalizar
esse raciocínio, é necesssário utilizar uma equação relativística para a conservação de energia
do sistema e outra relacionada à conservação do momentum. A primeira é descrita pela fórmula
de Einstein apresentada no Exemplo 1.7-1.
E 2 = m . y + F 2c2 (1-75)
r= l (1-76)
Figura 1.21
Efeito Com pton para a
radiação de molibdênio com
diferentes materiais
espalhadores. O pico M diz
respeito ao espalhamento
Thom son, enquanto o pico P
é o de espalhamento
Com pton.
A Antiga Teoria Quântica 47
onde v 0 é a freqüência do fóton incidente, vxé a freqüência do fóton espalhado, me, a massa do
elétron e p representa o m om ento final da partícula. A Equação 1.78 mostra a conservação do
momentum em sua forma vetorial.
P f= P t + r f> (1.78)
Vl = P f2 + p f - 2P fF f cos e- (1.80)
a Ee = c ( r f - r ° ) (1.81)
Figura 1.22
Resultados experimentais de
Com pton com variação angular.
Fóton
Eo> Pq Elétron
/w ~ ,C
Figura 1.23
Diagrama esquemático que
apresenta a distribuição de
momentos lineares durante o
processo colisional. Antes Deoois
Esta última equação define o momentum final do elétron, p>e, como função da variação de sua
energia cinética, e pode assim ser igualada à Equação 1.82, que define a mesma quantidade em
termos das variações na quantidade de movimento do fóton. Utilizando o resultado da
Equação 1.81, obtemos uma equação em que apenas as variações no m om ento do fóton estão
presentes (Eq. 1.81), que permite explicitar a diferença nos recíprocos dos comprimentos de
onda na forma
1 1 (1 - cos 0 )
T " — = “------------ - (1-83)
pl pf
Esta equação é conhecida como equação de Compton, e exibe como principal conclusão que a
diferença no comprimento de onda das radiações secundárias, Xv e primária, XQ, é proporci
onal à constante Xc, conhecida como comprimento de onda de Compton, valendo h/ mec (ou
seja, 0,02424 ± 0,00004 Ã), vezes uma função do ângulo de espalhamento (Eq. 1.84).
AX = Xt - X Q= Xc (1 - cos 0) (1.84)
Nada tão atual para o início do século X X do que este debate supostamente já superado do sé
culo XV II. Com a descoberta dos raios X, dispunha-se de uma radiação com intensidade sufi
ciente para que m uitas experiências, antes inviáveis, pudessem ser realizadas. Essas experiên
cias poderiam empregar com prim entos de onda bem menores do que aqueles utilizados na
região do visível e ultravioleta. Felizmente, esses com prim entos de onda eram da mesma
ordem de grandeza do espaçamento entre planos cristalinos. Von Laue (1911) descobriu que o
uso de luz com esse com prim ento de onda em experimentos de difração com sólidos crista
linos gerava figuras de difração extrem am ente claras e pronunciadas. A difração de raios X
passou, então, a ser utilizada com fins de estudo estrutural de materiais cristalinos.
A confirm ação do caráter corpuscular da luz, obtida com a interpretação de Com pton e
Debye [50] do espalhamento de raios X (1922), sugeria que, em pleno século X X , as idéias de
N ew ton eram corretas no âm bito da óptica geométrica, levando a comunidade científica a
suspeitar que a luz se manifestava em duas formas complementares, seja com o ondas em
experimentos em que X/a é próximo da unidade (física óptica), seja como partícula quando
X/a tem valor m uito pequeno, tal como ocorre na física geométrica.
Nesse am biente surge Louis De Broglie [62], físico francês que até 1910 cursava História e
que, influenciado pelo irmão Maurice De Broglie, se tornou físico pela Universidade de Paris.
Maurice, o irmão mais velho, era um cristalógrafo conhecido e atualizado, tendo sido apre
sentado à teoria de Com pton antes mesm o que ela fosse publicada em vários congressos cien
tíficos. Logo passou a defender as idéias de C om pton ju n to a Louis De Broglie. Este últim o
50 Capítulo 1
formou-se em 1923. defendendo uma tese de doutoramento em que discutia o caráter onda-
corpúsculo em ondas de matéria. Sabendo que a luz possuía um momentum dado pela fórmula
de Einstein (Eq. 1.85).
p=^- (1.85)
X
e procurando interpretar o com portam ento dual da luz de maneira simétrica para com a m a
téria, De Broglie [62] postulou que à matéria tam bém se podia atribuir um comportamento
dual corpuscular/ondulatório, sempre que a razão X/a se aproximava da unidade. Segundo De
Broglie, a relação entre a grandeza característica do com portamento corpuscular, o mo
mentum, e a grandeza do com portam ento ondulatório, X, era dada pela Equação 1.85, fórmula
que passou a ser conhecida como equação de De Broglie. Seu trabalho foi fundamental para
esclarecer a dúvida central acerca do pensamento dual: “quais seriam os motivos pelos quais
não se observaria cotidianam ente com portamento ondulatório para partículas?" Sua tese de
doutoramento mostrou que dificilmente se cumpria a condição de com portamento ondu
latório, X/a = 1, porque freqüentem ente as dimensões características do dispositivo de in
terferência eram m uito maiores que o comprimento de onda associado, inviabilizando a
observação de qualquer com portamento não-ondulatório. Vejamos um exemplo em que o
comprimento de onda de De Broglie é comparado às dimensões de diversos objetos.
Exempíó 1.8-1
Calcule a razão X/a. para os objetos relacionados a seguir, procurando atribuir o tipo de comportamento; ondulatório/corpuscular, a
cada um deles: a) automóvel com 1,5 1 a uma velocidade de 80 km/h; b) bala de revólver com 10g a uma velocidade de 300 m/s; c)
átomos de carbono com velocidades térmicas à temperatura ambiente; d) elétrons com a energia de 13 eVem uma trajetória de Bohr;
e) elétrons com energia de 1 MeVem redes cristalinas com 1Â de espaçamento.
R . A seguir listam os o com prim ento de onda associado, a razão X/a e o tipo de com portam ento observado segundo
as previsões de D e Broglie na notação (^[m etros], X/à, com portam ento): a) (2,0 10- 38,1,0 10-38, partícula); b)
(2,2 10_34,1,0 10-32, partícula); c) (4,21 10-1, 0,42, ondulatório); d) (4,8 IO-10, 4,8, ondulatório); e) (1,22 1 0 '12, 0,012,
partícula).
Assim, para observar qualquer com portamento ondulatório seria necessário utilizar par
tículas com pequena energia e tam bém empregar dispositivos de interferência m uito pe
quenos — na verdade, menores do que seriamos capazes de manufaturar. A natureza,
entretanto, é sábia na construção de objetos de diminutas dimensões, tais como redes crista
linas, cristais moleculares e cristais líquidos, que perm item a construção de experimentos nos
quais o caráter ondulatório dessas partículas possa ser comprovado. A tese de doutoramento
defendida por De Broglie propôs o uso de cristais com espaçamento da ordem de 1 a 3 Â em ex
perimentos e elétrons lentos em experimentos de difração de elétrons em cristais. Neste caso
observar-se-iam picos sempre que fosse cumprida a condição de interferência construtiva da
difração de raios X (Eq. 1.86).
nX = 2dsenQ (1.86)
Apesar da im portância das sugestões apresentadas por De Broglie, sua tese não im pres
sionou os examinadores. A maioria deles queixou-se do caráter especulativo e da falta de
justificativa teórica/experim ental que confirm asse suas discussões. De fato, toda a argu
m entação em prol dessas ondas de m atéria baseava-se em um princípio de sim etria segundo
o qual ondas e m atéria possuem as mesmas propriedades recíprocas. Esta argum entação,
embora intuitiva, foi classificada com o pouco form al e qualitativa. É fácil identificar que a
força do argum ento residia m uito mais na sua simplicidade do que em qualquer teoria, ar-
A Antiga Teoria Quântica 51
gum ento ou experim ento conhecido na época. Sua tese foi aceita com restrições pelos exa
minadores, mas a história desfez esse constrangim ento, confirm ando as previsões feitas
por De Broglie nos experimentos nela sugeridos. Esta previsão e os experimentos que a con
firm aram renderam a De Broglie a sua indicação para o prêmio Nobel cinco anos mais tarde.
Uma das importantes contribuições práticas que De Broglie deu ao desenvolvimento da me
cânica quântica relaciona-se ao entendimento das regras de quantização de sistemas atô
micos. Apresentaremos exemplos em que essas idéias são aplicadas a sistemas quânticos ordi
nários. Deve-se registrar que, em grande parte, os resultados guardam excelente acordo com
resultados baseados na moderna teoria quântica.
WÊmmmm
E xem p lo 1 .8 -2
PÉ® m M W Ê Ê Ê IÊ lÊ m
Estime, com base na teoria de De Broglie, quais seriam as energias permitidas do sistema partícula em uma caixa.
R . Tal como ocorre no violão, apenas algumas freqüências são permitidas na caixa de potencial. Estas são dadas pela con
dição de que o semicomprimento de onda seja um múltiplo do tamanho da caixa, ou seja, nX/2 = a. Levando-se esta con
dição à expressão da energia, através da relação de De Broglie, obtém-se:
p _ h 2n2 (1.87)
E =
2m 8 ma
cujo resultado é análogo à solução formal da equação de Schrõdinger. A concordância não deve ser tida como casual, pois
esta equação é a forma m atem ática de representar os conceitos que De Broglie formulou.
ixemplo 1.8-3
^ B
Mostre como obter as condições de quantização do momento angular do modelo de Bohr, com base no princípio de interferência constru
tiva das ondas de De Broglie, ilustrado na Figura 1.24.
Figura 1.24
Diagrama esquemático de ondas
em trajetórias de Bohr. A
esquerda vê-se uma trajetória
estacionária, enquanto à direita
se vê interferência destrutiva.
R. Para existir uma órbita estacionária no átom o de Bohr, as ondas de De Broglie necessitam interferir construtivam ente,
ou seja, aquelas nas quais o perímetro da trajetória é um múltiplo inteiro do comprimento de onda, nX = 2nr. Com o o
comprimento de onda é dado por h/p, a fórmula anterior leva a mvr = nh, ou seja, L = nh. A expressão obtida constitui o
principal postulado de Bohr, na interpretação do espectro atôm ico do hidrogênio.
52 Capítulo 1
Exemplo 1.8-4
Discuta o problema de sistemas n conjugados cíclicos com base nas regras de quantização do exemplo anterior
R. Um sistema n conjugado cíclico pode ser aproximado pelo sistema de uma partícula em uma caixa “cíclica”, ou seja;
uma caixa na qual a onda estacionária deva obedecer às condições de contorno. A energia deste problema é dada por
h2/ 2 mX?. Como o perímetro Na (N é o número de átomos de carbono, a é a distância entre átomos vizinhos) só pode as
sumir valores múltiplos inteiros do comprimento de onda do sistema, Na = nX, o comprimento de onda do sistema é
quantizado e a energia é dada por:
n2 h1.2 2 1.2
E =
nzh (1.88)
2mX 2mN 2 a„2
Os estados serão degenerados, n positivo/negativo, em virtude da possibilidade de um elétron girar no sentido horário ou
anti-horário.
Um último aspecto relacionado ao caráter dual que a matéria e a luz possuíam ainda ne
cessitava ser esclarecido. Embora fosse bem compreendido que a luz exibe propriedades
ondulatórias e corpusculares, não estava claro quando e em que circunstâncias essas caracte
rísticas se manifestariam.
Niels Bohr (1926) deu uma importante resposta a essas questões ao enunciar um princípio
de complementaridade, segundo o qual os modelos ondulatórios e corpusculares são com-
plementares; ou seja, se uma medida prova o caráter ondulatório da radiação, então é impos
sível provar o caráter corpuscular na mesma medida e vice-versa. Dessa forma, a definição do
modelo utilizado é determinada pelo tipo de experimento físico realizado, ou seja, em expe
rimentos típicos da óptica geométrica observar-se-ão comportamentos corpusculares, en
quanto que naqueles típicos da óptica física o comportamento observado será o ondulatório.
Estabelecido isto, deve-se ter em mente que nossa incapacidade teórica de formular um modelo
claro nos obriga a vê-los seja como onda, seja como matéria, sem que a isso esteja subentendida
qualquer contradição de natureza lógica ou física. De certo modo é conveniente comparar esse
comportamento com o de uma moeda. Como uma moeda é constituída de duas faces, ao lan
çarmos a moeda obteremos cara ou coroa. Isto, entretanto, não implica que uma moeda seja cara
ou coroa, mas que devemos vê-la como um objeto com duas faces que se manifestam comple-
mentarmente.
Calcule, utilizando a relação de De Broglie, qual seria a diferença de potencial utilizada em um experimento de difração de elétrons
em um cristal metálico.
R . Estimando, para efeito de simplicidade, a distância interplanar do metal em 1 À, supõe-se o comprimento de onda com
esse valor. Daí/? = h/X, ou seja, p = 6,6 10" 34/10 "10 = 6,61o-24 kg m/s. A energia cinética, dada p o r^ 2/2 m, vale portanto
2,3909 10"17J ou 149,2 volts.
j
Paralelamente ao trabalho de Davisson e Germer, Thomson, na Escócia, realizou o mesmo
experimento com uma diferente montagem experimental. Enquanto o trabalho de Davisson e
Germer (1927) se assemelhava à difração de raios X feita sobre um monocristal, a construção
experimental utilizada por Thomson (1928) utilizava o material em forma de pó. A fim de pe
netrar um pouco mais no cristal, utilizavam-se elétrons com energias maiores, mas a vantagem
era que todos os planos se mostravam presentes no difratograma final. É curioso o “conflito” fa
miliar vivido pela família Thomson, no qual J. J. Thomson, o pai, recebeu o prêmio Nobel em
1897 por mostrar que o elétron era uma partícula, enquanto o filho, G. P. Thomson, que recebeu
o mesmo prêmio anos depois (1937), mostrou que o elétron se comportava como uma onda.
Outras experiências foram conduzidas para testar as idéias propostas por De Broglie.
Imediatamente após os experimentos de Davisson-Germer e Thom son, foram realizados ex
perimentos em que o feixe de partículas era composto de átomos de hélio e hidrogênio mole
cular, por Stern e colaboradores, confirmando claramente as hipóteses de De Broglie. A Figura
1.26 apresenta um pequeno diagrama do instrum ental utilizado por aquele pesquisador, no
qual se podem observar o forno gerando as moléculas difratadas, o cristal e os detectores em
pregados. Para se analisar o efeito da mudança no comprimento de onda, empregaram-se tem
peraturas de 100 a 650 K.
Atualmente, esse tipo de experimento é realizado de maneira corriqueira na determinação
de geometrias em sólidos. Embora esse tipo de medida possa ser feito com grande precisão por
difração de raios X, os parâmetros geométricos de átomos leves ficam mal definidos, em função
da baixa densidade eletrônica. Para se determinarem essas grandezas em sistemas que en
volvam pontes de hidrogênio e elementos leves é freqüentemente realizado um experimento de
54 Capítulo 1
Figura 1.25
Na parte superior é apresentado
o equipamento de Davisson e
Germer. Os elétrons são
acelerados do filamento F em
direção à placa. A energia
cinética dos elétrons é
controlada pela diferença de
potencial imposta em V Os
elétrons são lançados, em vácuo,
contra o cristal e espalhados na
direção do detector que mede a
corrente entre os pontos F e D.
Na parte central, a figura
geométrica torna clara a
condição de interferência X = 2d
sen <|). Na parte inferior, um D
difratograma típico apresenta as Feixe
curvas obtidas em experimentos espalhado
de raios X e elétrons.
difração de nêutrons, porque nesta técnica a precisão é maior que a convencionalmente obtida
na difração de raios X. A Figura 1.27 mostra um difratograma de nêutrons do diamante.
Figura 1.27
Difratograma gerado por
espalhamento de nêutrons para
o diamante. Os números acima
de cada pico indicam o plano de
Miller que origina aquele pico.
Admitindo-se que a matéria tenha comportamento dual, deve-se adotar uma interpretação on
dulatória. Nessa interpretação adotam-se conceitos ondulatórios nos quais atribui-se uma pro
babilidade de encontrar uma partícula em uma determinada posição. Embora este seja um mo
delo essencialmente ondulatório, devem-se preservar algumas propriedades corpusculares
corriqueiramente observadas para elétrons. A trajetória de elétrons de altas energias em câ
maras de Wilson, a possibilidade de se aferir a posição do elétron e/ou medidas coincidentes que
envolvam colisões com fótons são experimentos nos quais o caráter corpuscular da matéria é es
pecialmente evidenciado. A única forma de se compatibilizar essas características contraditó
rias seria atribuir o comportamento de um elétron ao de um pacote de ondas representado na Fi
gura 1.28. Esse pacote de ondas representa uma superposição de ondas planas que preservam o
caráter parcialmente localizado que elétrons e átomos possuem, sem perda de seu caráter essen
cialmente ondulatório. Esse pacote possui uma trajetória linear, transportando energia e massa
(tecnicamente, deveríamos dizer que o transporte é de probabilidade) tal como preconizou
Einstein em seu trabalho original. A Figura 1.28 sugere que se pode estimar a posição dessa partí
cula como qualquer ponto de apreciável probabilidade no interior do pacote de ondas. Da mesma
forma, o momentum, que pode ser estimado do valor médio das freqüências encontradas na des-
convolução desse pacote, tam bém possuiria uma razoável dispersão, o que sugere que a medida
dessas duas variáveis está sujeita a erros. Contrariamente às idéias corpusculares, segundo as
quais é filosoficamente possível aferir simultaneamente a posição e o momentum de uma partí
cula, em uma descrição ondulatória é intrinsecamente impossível medir simultaneamente
posição e momentum de uma partícula sem que essa medida esteja sujeita a erros fundamentais.
A equação que define esse erro, denominada relação de incerteza, afirma que o produto dos
erros em medidas simultâneas da posição e do momentum deve ser maior que, ou igual a fi.
(1.89)
AxAF x ^ 7T
Zn
56 Capítulo 1
Figura 1.28
Diagrama de um pacote de ondas
ordinário. O valor de x pode ser
determinado como sendo aquele
que apresenta maior
probabilidade de medida. Essa
medida tem uma incerteza que
pode ser estimada pela dispersão
em torno do valor médio de x.
Deve-se ter em m ente alguns pontos relativos à correta interpretação deste princípio. Pri
meiramente, ele só se aplica a casos que envolvam medidas simultâneas das variáveis x e p x.
Portanto, uma medida de x ou de p x isoladamente pode ser feita de maneira tão precisa
quanto se deseje. Sempre que isto ocorre, o erro ligado à medida da variável associada torna-se
extrem am ente grande, sendo crescente com a precisão na variável principal. Um segundo
ponto im portante está ligado ao fato de que não apenas a medida do m om ento p x e a da po
sição x estão sujeitas a um princípio de incerteza. Em mecânica quântica, vários pares de ob
serváveis físicos (propriedades) estão sujeitos a relações de incerteza semelhantes, enquanto
outros podem ser determinados tão precisamente quanto desejarmos. Por exemplo, é perfei
tam ente possível determinar a posição x t o momentum p ysem qualquer erro físico. Por outro
lado, a medida de duas componentes do m om ento angular ou ainda a medida das compo
nentes Sxe Sydo spin nuclear estão sujeitas aos mesmos erros intrínsecos. Este fato pode ser
plenamente compreendido no contexto da moderna mecânica quântica, pois para todo par de
operadores que não com utam entre si existe a impossibilidade física de determinação simul
tânea com precisão ilimitada das propriedades associadas. Vejamos um exemplo histórico.
E xem p lo 1 .9 -1
Estime, com base no erro intrínseco associado à medida da posição por um microscópio eletrônico, dado por Áx — À/sen a, que a me
dida simultânea da posição e do m om entum no dispositivo exibido na Figura 1.29 obedece ao princípio da incerteza.
Figura 1.29
Esquema experimental do
processo de determinação
simultânea do momentum e da
posição de um elétron utilizando
um microscópio e luz.
R . Um microscópio eletrônico é capaz de distinguir pontos cuja distância seja dada pela Equação 1.90. O erro depende de X,
comprimento de onda da luz incidente, e também do ângulo da ocular alfa. Faz-se incidir um fóton sobre um elétron de
modo a se realizar a medida simultânea de p xe x. Se esse fóton for espalhado em um ângulo compreendido pela ocular instru
m ental (a), o observador determinará a posição desse elétron. A projeção da variação do p 0 - Pf assumirá valores que vão de
0 a ± h sen a / X
A = --------
Ax ^ (1.90)
sen a
Ap = p sen a (1.91)
AxAp = Xp = h. (1.92)
A Antiga Teoria Quântica 57
Uma análise mais física merece ser feita. Se escolhermos um com prim ento de onda m uito grande, com pouca energia, a
colisão interfere pouco no m ovim ento eletrônico e com isso podemos determinar m uito precisamente o seu momentum.
Infelizm ente, nessas condições, a posição do elétron é extrem am ente mal resolvida ao microscópio, não se permitindo ver
mais do que um borrão. Assim sendo, quando Apx é pequeno, A* é grande. Se, ao contrário, escolhermos uma fonte com
pequenos com prim entos de onda, a precisão na medida da posição é enorme, mas a alta energia do fóton, ao colidir com o
elétron, perturba com pletam ente o seu m ovim ento indeterminando a medida no momentum. Assim, o produto das incer
tezas tem sempre o valor h.
i
O primeiro aspecto deste princípio m ostra que, em uma medida física, o observador e o
sistema observado interagem entre si, destruindo aquilo que existia anteriorm ente. Esse
efeito pode ser facilm ente ilustrado quando reconhecemos, no exemplo anterior, que o pro
cesso de medida altera o momentum do elétron de zero para ± p sen a. D aí conclui-se que o ob
servador e o elem ento observado participam, cúmplices, no processo de medida, cada qual
perturbando o seu complementar. Sob esse aspecto, o século X X resgatou o pensamento de
Heráclito de Efeso (540-475 a.C.), pensador jônico pré-socrático que costumava dizer que
“não nos banhamos duas vezes em um mesmo rio” em uma alusão à dupla influência que
qualquer interação estabelece.
Um segundo aspecto a ressaltar está ligado à ordem de grandeza do produto ApxAx. Fre
qüentemente, o leitor observará que em outros textos esta constante será representada por
h/2n, h ou mesmo h/4n. A razão dessa disparidade é o uso de uma definição de erro alternativa.
Observando a Figura 1.28 o leitor se convencerá quanto às várias possibilidades existentes no
que diz respeito a definição de erro, se largura a meia altura, se desvio médio quadrático ou qual
quer outra. Dependendo da definição adotada, pequenas alterações poderão ser observadas para
esta constante, sem contudo mudar significativamente, nem a ordem de grandeza desse pro
duto, aproximadamente igual a 10~34J •s, nem suas conseqüências físicas.
Vejamos exemplos deste conceito na estim ativa da energia de uma partícula em uma caixa de
potencial. O exemplo a seguir ilustra a possibilidade de se estim ar o tempo médio de vida a
partir da largura de linhas espectrais com base no princípio da incerteza.
E xem p lo 1 .9 -2
Estime, com base no princípio da incerteza, a menor energia para uma partícula de massa m em um potencial do tipo caixa.
R . Para uma partícula em seu estado fundam ental podemos adm itir como m áxim a incerteza na medida de sua posição o
próprio com prim ento da caixa. Desse modo, a m ínima incerteza na determinação do momentum é dada por Ap = Ti/ Ax.
Em pequenas energias a m ínim a incerteza no momentum confunde-se com o próprio momentum, de modo que a energia é
dada por Ap2 / 2m — ou seja, h 2 / 8n2ma2. Esta energia é próxima daquela calculada na moderna teoria quântica.
i
Embora existam relações de incerteza associadas a diversos pares de efeitos observáveis,
convém discutir uma em especial. M ultiplicando-se e dividindo-se a Equação 1.92 por p x/m
obtém-se:
Esta equação é repleta de significado, pois o term o à esquerda pode ser interpretado com o a
incerteza na energia de uma partícula, enquanto o term o à direita é uma medida do tem po de
observação (Eq. 1.94):
58 Capítulo 1
A E A t> h (1.94)
Esta relação de incerteza tem interpretação particular em m ecânica quântica, uma vez que
em mecânica quântica não existe um operador tempo. Sua utilização é clara na interpretação
do alargamento de bandas espectroscópicas pois isto, em geral, indica estados excitados com
maior ou menor tempo de meia-vida. Vejamos o exemplo a seguir.
Exemplo 1.9-3
Sabendo que a largura de banda em medidas espectroscópicas de RMN, de infravermelho e de microondas valem respectivamente 0,1
Hz, 10 5i-fe e itfH z, estime o tempo de vida médio dos estados excitados.
R . Utilizando-se a Equação 1.94, estima-se que o tempo de relaxamento é da ordem do segundo para a espectroscopia de
RMN , da ordem de 10~6s para a de IV e 10"10s para a de microondas. Sabe-se que esse tempo está relacionado com o tempo
necessário para desexcitação de cada um dos processos físicos envolvidos, que é magnético no RM N, vibracional no IV e
rotacional na espectroscopia de microondas.
A importância do princípio da incerteza não pode ser desprezada pois ele é, sem dúvida, a
mais im portante evolução filosófica do racionalismo mecanicista nas teorias quânticas. Esse
princípio modifica substancialm ente o conceito de determinismo clássico estabelecido por
Newton, segundo o qual, com base no conhecim ento das variáveis dinâmicas, é possível
prever completamente a vida futura e passada de um sistema físico. Este princípio deu subsídios
ao determinismo filosófico e doutrinou o desenvolvimento científico-tecnológico dos séculos
XV II-X X .
A aceitação do princípio da incerteza representa uma ruptura fundam ental com esta
filosofia, na medida em que esse princípio afirma não ser possível conhecer, com precisão ili
mitada, o conjunto de variáveis dinâmicas que caracteriza um sistema quântico. Em conse
qüência, não seria possível determinar perfeitam ente a evolução temporal de um sistema
físico microscópico. Nesse universo filosófico o conceito de probabilidade surge natural
mente, pois esta é a forma segundo a qual um sistema quântico evolui temporalmente. Neste
novo ambiente, as leis quânticas regem a evolução do sistema físico, tal como as leis de
N ew ton regiam o movimento clássico. Entretanto, diferentemente das leis clássicas, as re
gras quânticas não nos perm item conhecer mais do que probabilidades para a ocorrência de
eventos. A conseqüência deste pensamento é a ruptura do conceito de realidade objetiva, na
qual a realidade tem existência independente do observador. E absolutam ente necessária a
interação entre observador e observado no sentido de se aferir, observar, estim ar qualquer
propriedade física de um sistema quântico. E com esse processo de intervenção sobre o sis
tem a que se faz conhecê-lo! E mais: deve-se ter clareza de que essa intervenção modifica-o
inexoravelmente, fazendo-o outro. Essa enorme confusão científico-filosófica levaria ainda
duas décadas para ser corretam ente interpretada.
Inicialmente, boa parte dessas interpretações foi contestada, dado o radicalismo com que
o princípio da incerteza quebrou os conceitos de realidade absoluta e determinismo clássico.
Entre os opositores podemos citar a autoridade de A. Einstein, de De Broglie, além do próprio
Schrõdinger, que jam ais aceitaram a interpretação probabilística para os fenôm enos
quânticos. Porém, o obstinado trabalho de pesquisadores da nova geração, incluindo Heisen-
berg, Niels Bohr, M ax Born e Von Neuman, consolidaram uma filosofia para a mecânica
quântica que se preserva, até hoje, correta em seus principais detalhes. A próxima seção des
creve alguns momentos épicos desse processo.
A Antiga Teoria Quântica 59
1.9.4 Einstein x Bohr
Einstein desempenhou um papel todo especial nos anos que se seguiram à divulgação do prin
cípio da incerteza. E sua a frase “Deus não joga dados”, que sintetiza a resistência à interpre
tação probabilística que setores expressivos da comunidade tiveram. Einstein apresentou inú
meras propostas de experimentos pensados visando a questionar filosoficamente o princípio da
incerteza. Em muitas delas teve como debatedor o físico Niels Bohr, por vezes auxiliado por
Heisenberg e Pauli; que sempre procuraram rebater; com êxito, as experiências de Einstein. Em
um dos mais conhecidos episódios desse duelo, Einstein anunciou no Congresso de Solvay
(1930) uma experiência pensada que provaria a possibilidade de medida simultânea das variá
veis tempo e energia de um sistema. Um esboço do aparelho para realização dessa experiência é
apresentado na Figura 1.30, desenhada pelo próprio Bohr e que ficou conhecida como a contro
vérsia.
Figura 1.30
Caricatura pseudo-realista de
um dos dispositivos idealizados
por Einstein de modo a burlar o
princípio da incerteza desenhado
pelo próprio Bohr.
*?!
1 x K k t
p e g ...... .....
. :
O processo de medida era simples, constituindo-se de uma balança precisa que susten
tava uma caixa fechada contendo um relógio. Além de engrenagens destinadas ao funciona
mento do relógio a caixa contém radiação a baixa intensidade e um pequeno orifício que pode
ser aberto ou fechado para se deixar sair um fóton. Segundo Einstein, com a diferença no peso
da caixa, antes e após a saída de um fóton, seria possível conhecer a sua energia exata. Por
outro lado, como existe um relógio interno completamente independente, faz-se conhecer o
mom ento exato em que o fóton sai, para que se possa determinar t e E com precisão, o que
burlaria o princípio da incerteza associado a essas duas variáveis.
Este problema foi apresentado em uma seção ordinária do Congresso e por toda a noite
Bohr, Heisenberg e Pauli trabalharam para dar uma resposta na seção de apresentações do dia se
guinte. Curiosamente, a resposta apresentada utilizava conceitos de relatividade geral que não
puderam ser contestados por Einstein. A argumentação afirmava que, como a caixa estava su
jeita a um campo gravitacional, o andamento do relógio dependia da sua posição nesse campo.
Assim o fóton, ao abandonar a caixa, provoca um movimento oscilatório do pêndulo definido
por mola e caixa. E esse movimento que introduz uma incerteza nas medidas de massa feitas
pela mola e de tempo feitas pelo relógio interno. Bohr, Heisenberg e Pauli calcularam essas incer
tezas e provaram que AEAt > ti, confirmando o princípio da incerteza de Heisenberg. Einstein
aceitou a contestação de sua experiência pela acurada resposta lógica oferecida, mas jamais se
convenceu do caráter probabilístico da mecânica quântica. De fato, muitas outras experiências
pensadas ainda seriam apresentadas por Einstein até sua morte, em 1955.
60 Capítulo 1
SÁ
x + Ssx = 0 (1.95)
s ;+ 5 ; = o (i.96)
ferentes para esta probabilidade, estabeleceu-se, com o trabalho de Bell, uma forma clara de se
testar numericamente o caráter não-local da mecânica quântica. Desse modo, a experiência
resumia-se a estabelecer uma correlação estatisticam ente aceitável das medidas de S f e Sy .
A experiência só foi realizada anos após a morte de Einstein, porém os resultados, nova
mente, confirmaram a interpretação de Copenhague. Em Berkeley (1972), foram realizadas
medidas com polarização de fótons. Já em Saclay (1976), realizou-se uma experiência com
prótons e medidas de spin. Resumindo os resultados publicados até 1975, dava-se conta de
pelo menos seis experimentos realizados, com quatro deles indicando uma violação à desi
gualdade de Bell, ou seja, o princípio da incerteza era respeitado mesmo que a distância.
Embora o caráter sofisticado dessa experiência ainda mereça novas medidas e experimentos,
não se deve negar a crescente aceitação de conceitos como o de realidade não-local junto à co
munidade científica nos últimos vinte anos.
Destaca-se novamente a curiosa trajetória de Einstein, que, de precursor a herege da me
cânica quântica, foi fundamental para o entendimento de uma teoria ainda misteriosa e fun
damentalmente diferente de todas as teorias clássicas até então estabelecidas.
Toda equação em física justifica-se pelos resultados que produz e pela coerência com o conhe
cimento acumulado em áreas conexas. Portanto, basta-nos apresentar a equação ondulatória
de Schrõdinger (Eq. 1.97):
' (1.97)
2m dx2 ât
e aplicá-la a um vasto conjunto de situações verificando a correção de seus resultados. Este foi
o caminho filosófico seguido por muitos pesquisadores ao proporem equações físicas. Porém,
como o propósito aqui é discutir os aspectos físicos e as conseqüências dessa equação, fa
remos uma pequena digressão explorando uma analogia com uma onda clássica.
A Antiga Teoria Quântica 63
Uma onda clássica unidimensional é função das variáveis tem po e posição. Freqüente
m ente, representa-se uma onda unidimensional pela seguinte equação:
k= — (1-99)
w = 2nv ( 1 . 100 )
Uma onda clássica deve satisfazer certos critérios para representar uma onda de matéria. Pri
meiramente, como a relação de De Broglie implica que p = h k, a energia cinética tom a a forma
de h2k 2 / 2m, e necessita ser proporcional à segunda derivada espacial. A energia total, escrita à
direita da igualdade, fica representada por uma derivada temporal, cujas dimensões são as de
hv. O term o do potencial é obtido pela m ultiplicação de V(x, t) por ¥ ( * , t) e, analogamente à
teoria ondulatória clássica, interpreta-se o produto¥ ( * , t)* ¥ (# , t)dr como a probabilidade de
se encontrar uma partícula no elemento de volume dx situado em x no tempo t. Portanto, a
equação proposta é dada por:
+ „ ( * , ,) v { X i ,) = p ' ( 1 . 101 )
dx2 dt
-A [ a k 2 -'\^]+27ivpB = 0 (1.102)
Colocando-se o term o [ak2 - VQ] em evidência, conclui-se que ele é proporcional a -B/A na
primeira equação e a A/B na segunda, o que impõe que A = iB. O resultado dessa equação
transform a as duas equações precedentes em:
a k 2 - V 0 + /2ttvP = 0 (1.104)
Esta equação admite uma solução trivial se a = - h 2 / 2m e p = ifi, o que dá a forma final
da Equação 1.97, conhecida como equação de Schrõdinger. O balanço de energia associado
m ostra que:
fj2U2
— +V0 =hv (1-105)
2m 0
Como o leitor observará, esta equação respeita as idéias centrais da antiga teoria quân
tica, é consistente com a relação de De Broglie e gera um espectro de energias quantizadas,
além de exibir uma interpretação ondulatória da matéria.
64 Capítulo 1
Entre os idealizadores da mecânica quântica, W Heisenberg foi o primeiro a ser agraciado com
o prêmio da Academia Nobel. Recebeu o prêmio em 1932, sete anos após a publicação de seu
trabalho original. Embora merecido, é inegável o constrangimento que esse prêmio causou a
seus companheiros de trabalho. Aparentemente, a comissão julgara dois trabalhos publi
cados por Heisenberg, o primeiro sozinho e o segundo em colaboração com Born e Jordan, cre
ditando a originalidade somente a Heisenberg. Não se pode negar, porém, que a forma m ate
m aticam ente correta e completa das idéias propostas por Heisenberg só foi apresentada no
segundo trabalho em colaboração com Born, o que consumou uma grande injustiça com este
último. Uma frase de Born, um tanto ácida, desse período — “Quando ele chegou aqui nem
sabia o que eram m atrizes” — , embora claramente exagerada, dá uma idéia de como M ax
Born teria aceito o fato. Posteriormente essa injustiça foi corrigida com a premiação, em 1954,
de M ax Born por seus desenvolvimentos em teoria atômica. Nesse ínterim, Schrõdinger fora
agraciado (1933) junto com Paul Dirac pelo mesmo feito, o desenvolvimento da moderna teo
ria quântica.
1.11 Problemas
1. C om base na lei de Kirchhoff, explique a diferença encontrada na emissão de luz para os seguintes
objetos a uma temperatura de 1000 K: a) uma barra de ouro; b) uma barra de prata; c) areia (sílica) e d) ar.
Por que a sílica e o ar à mesma temperatura não aparentam ser tão brilhantes?
2. Sabe-se que as manchas escuras observadas no Sol estão associadas a explosões que ocorrem na su
perfície solar. Com base na lei de Stefan-Boltzm ann, diga se essas temperaturas são maiores ou menores
que as do resto da superfície.
3. Com base na lei de W ien e nos com primentos de onda associados a cores “puras”, elabore uma ta
bela relacionando as cores observadas em fornos para fundição de metais (vermelho, laranja, branco,
branco ofuscante) às suas respectivas temperaturas. As cores puras podem ser obtidas de emissões es-
pectroscópicas em átomos e são dadas, segundo Lurie, por: a) 400 a 450 nm, violeta; b) 450 a 480 nm,
azul; c) 480 a 490 nm, verde-azulado; d) 490 a 500 nm, azul-esverdeado; e) 560 a 575 nm, verde-amarelo;
f) 575 a 590 nm, amarelo; g) 590 a 625 nm, laranja; h) 625 a 750 nm, vermelho. Verifique se essa tabela
m ostra boa concordância com a escala term om étrica das seguintes cores: incipiente vermelho 500 a 550
K, vermelho preto 650 a 750 K, vermelho brilhante 850 a 950 K, vermelho-amarelado 1050 a 1150 K,
branco incipiente 120 a 1350 K e branco intenso 1450 a 1550 K.
4. Calcule, com base na lei de Wien, a temperatura das seguintes estrelas e sua em itância global, se
gundo a lei de Stefan-Boltzm ann. São dados os comprimentos de onda em que ocorre a m áxim a emissão
desses corpos: a) Sol (Xmáx branca), b) Antares (Xmáx vermelha), c) Vega (À,máx branco-azulada), d) Sírio
(^máx branca).
5. Uma evidência teórica em favor da lei de Kirchhoff pode ser construída por meio de uma expe
riência pensada na qual se deixa em equilíbrio térm ico dois corpos em vácuo, separados apenas por uma
superfície transparente em uma faixa de comprimentos de onda e reflexiva em relação a todas as demais.
M ostre que, se a densidade de estados p(v, T) não for a mesma em ambos os corpos, a segunda lei da ter
modinâmica é violada.
6. Uma evidência experimental em favor da lei de Kirchhoff é o termômetro diferencial de Ritchie utili
zado em 1833 para verificação desta lei. O termômetro é constituído de três recipientes, sendo que o pri
meiro e o terceiro se encontram conectados por um duto que contém um pequeno marcador de nível. O
primeiro e o terceiro recipientes são preenchidos com o mesmo material — água à temperatura ambiente,
por exemplo —-, enquanto o segundo é enchido com água quente. Todo o ambiente é mantido em vácuo,
A Antiga Teoria Quântica 65
de modo que a única maneira de se transferir energia é através da emissão/absorção de radiação. Nesse
ponto reside toda a engenhosidade desse experimento, porque a superfície que contém o recipiente C é um
absorvedor perfeito (foi coberto com tinta negra); enquanto as demais são perfeitamente polidas (ou seja,
refletem a radiação). Ritchie observou que, ao se colocar água quente em B, não existe efeito de aqueci
mento diferencial, o que mostra a validade da lei de Kirchhoff. Explique como ele chegou a esta conclusão.
9. M ostre, a partir da lei de distribuição de Planck, que o valor da constante de Wien é dado por
hc/xkT, onde x é a solução da equação 5 - x = 5e~x. Construa uma solução iterativa para o cálculo d e x e
mostre que o valor de 4,965 é aceitável. De posse desse valor, determine o valor da constante de Planck a
partir do conhecimento experimental de Xmáx.
10. Sabendo que a quantidade de energia que chega à atm osfera superior da Terra, por emissão tér
mica do Sol, é de cerca de 1353 W /m 2 (1,9421 cal/ cm 2 ■min) e que o comprimento de onda para o qual a
emitância espectral é máxima vale 480 nm, determine a distância entre a Terra e o Sol. O raio do Sol é de
aproximadamente 6 ,9 6 108m. Estime tam bém a quantidade total de energia perdida pelo Sol em um se
gundo. Q uanto representa essa fração de energia da massa total do Sol? A densidade do Sol é da ordem
de 10.000 kg/m 3.
11 . Utilizando um computador, elabore uma tabela da quantidade de luz térmica emitida no visível,
480 a 750 nm, e como ela varia com a temperatura. Calcule às temperaturas de 1 0 0 0 ,1 5 0 0 ,2 0 0 0 , 2500,
3000, 4000, 5000 e 6000 K.
13 . Estime a temperatura de um deserto lunar sabendo que a quantidade de energia que chega à super
fície lunar é aproximadamente igual a 1355 W /m 2, form alm ente a radiância solar. Com base nas tempe
raturas observadas em desertos aqui na Terra, discuta a importância relativa dos ventos, da umidade e
das florestas em manter a temperatura constante.
14. Elabore um pequeno modelo para estimar a temperatura da Terra e conhecer o efeito que cada um
dos fatores a seguir tem no clima mundial. Considere que apenas a fração ts da energia solar que atinge a
Terra chega à superfície do planeta, e que apenas a fração tt da luz infravermelha emitida escapa ao uni
verso. Calcule o valor da razão desses coeficientes com base na temperatura média de 13°C. Com base
nessas informações, suponha que, por efeito estufa, o coeficiente tt possa ser dividido a metade. Isto, na
prática, corresponde à duplicação nos níveis de C 0 2 no planeta. Quais seriam as conseqüências na
temperatura? Se, por outro lado, fôssemos vítimas de uma guerra nuclear, pequena parte da radiação
solar atingiria a superfície da Terra. Nesse caso, estima-se que ts possa cair a metade do seu valor original.
Quais seriam as conseqüências?
15 . Existe uma radiação isotrópica universal, descoberta em 1965. O comprimento de onda máximo
dessa radiação é de 0,000966 m. Supondo ser essa a radiação de corpo negro de todo o universo, calcule a
temperatura média deste. Com ente as possíveis conseqüências relativas ao uso dessa freqüência em co
municações.
16. M ostre que o número de fótons por unidade de volume à temperatura T em um corpo negro é dado
por N = 2,029 107 T 3fótons/m 3. (Sugestão: a integral á e x 2 / (ex - 1 ) vale 2,40411.) Encontre a expressão
para a energia média de um fóton térmico. Determine tam bém o número de fótons emitidos por um
corpo negro. Estime qual é o número de fótons que chega à Terra na unidade de tempo.
1 7 . Explique por que uma lâmpada fluorescente parece iluminar mais o ambiente do que uma lâm
pada incandescente de igual potência. Explique por que se diz que uma é de luz fria e por que ela cansa
mais a vista que a outra.
18. Carl Sagan, em seu livro O romance da ciência , faz um nítido relato do que seria um veleiro solar: “A
luz do sol exerce uma pressão diminuta, mas palpável, chamada pressão de radiação. Uma vela, com uma
superfície muito grande em relação à sua massa, pode usar essa pressão como força propulsora. Colocando
a vela em posição adequada, podemos navegar em direção ao sol ou nos afastar dele. Tendo de cada lado
uma vela quadrada com cerca de um quilômetro e meio de comprimento, é possível realizar missões inter
planetárias de modo mais eficiente do que usando os motores a propulsão convencionais. Esta seria colo
cada em órbita em torno da Terra por um ônibus espacial, e então desenrolada [...] seria identificável a olho
nu como um ponto brilhante no espaço”. Explique como esse veleiro poderia funcionar.
19. A intensidade mínima de luz que um olho pode perceber é de aproximadamente 10-10 W /m2. Qual
é o número médio de fótons que entram na pupila (área de 0 ,5 10-4 m 2) por unidade de tempo? Estime
essa grandeza para luz vermelha, para luz violeta e para a luz com comprimento de onda mais abun
dante na luz solar.
20. Sabendo que a potência dissipada por uma lanterna é dada por RI2, calcule a temperatura de um fi
lam ento de tungstênio para uma lâmpada de 3, 6 e 12 volts. Esse filam ento possui coeficiente de ab
sorção igual a 0,25. O coeficiente de absorção representa a razão entre a parcela de luz absorvida pela su
perfície e a parcela absorvida por um corpo perfeitamente negro. A resistência desse filamento é da
ordem de 1 a 6 ohms.
21. A firma Ligth and Nigth Inc., sabendo de seu interesse pelo problema do corpo negro, convidou-o
a participar do projeto de uma nova lanterna comercial. Utilizando o resultado do exercício anterior e sa
bendo que o olho hum ano é sensível a cerca de 500 fótons/s a 5500 A à noite, detçrmine a distância má
xim a de visibilidade da lanterna à noite.
22. A bola de fogo decorrente de uma explosão nuclear atinge temperaturas da ordem de 106 K. Qual é
a freqüência da mais intensa luz emitida nessa explosão? Se 5 mg fossem convertidos em energia lumi
nosa na freqüência correspondente ao máximo, qual seria o número de fótons emitidos? Compare com
o volume de fótons provenientes do Sol e com ente os efeitos da exposição a essa explosão.
23. Um engenheiro da firma Projects and Profits convocou você para projetar um aquecedor solar para
funcionar no Nordeste brasileiro. Segundo suas idéias, seria possível construir um espelho abrangendo
uma área de 10 m 2 que redirecionada toda a luz para uma pequena região, com área total de 100 cm 2, por
onde passaria água à temperatura de 30°C. Supondo um fator de refletividade da ordem de 0,87, estime a
vazão necessária para aquecer uma aplicação industrial (70°C). Em um bom dia de sol, a Terra absorve
cerca de 2 cal/m2 * min.
24. O mesmo engenheiro da firma Projects and Profits convocou você para um segundo projeto. Ele
gostaria de saber qual é a temperatura de equilíbrio de um forno solar. O forno seria construído sobre a
base coletora do exercício anterior, de modo a torná-lo multipropósito, e o cadinho ao centro teria área
de 10 cm 2 para trabalhar de maneira acoplada ao dispositivo anteriorm ente construído. Qual a tempera
tura alcançada pelo cadinho e que metais poderiam ser fundidos nesse equipamento?
25. Um painel solar comercial com um possui dimensões de 268 por 249 mm. Quando sujeito à lumi
nosidade de 1 kW/m2, esse painel gera 5 W de potência real. a) Calcule a eficiência de nossos modernos
painéis; b) estime a quantidade de painéis a ser colocada no teto de uma casa para prover água quente
e/ou refrigeração durante o dia. Um refrigerador consome a partir de 1000 W
A Antiga Teoria Quântica 67
26. A firma Relógios Brasileiros desenvolve um projeto de um relógio ecológico cuja alim entação é
feita por energia solar. Supondo que o display , dispositivo com maior consumo, seja de cristal líquido
(LCD) e possua um consumo de 100 |oV^ faça um detalhado relatório à firma sobre a viabilidade técnica
desse projeto.
27. Uma firma de dispositivos de segurança deseja fazer um detector infravermelho e seu engenheiro
eletrônico consultou você quanto a algumas dúvidas. O projeto baseia-se em um fotodiodo, um dispo
sitivo que permite a passagem de corrente quando ocorre a incidência de luz, opera com uma voltagem
de 10 V e possui uma responsividade de 0,5 A/W a 770 nm. Supondo que um hom em possua uma área de
1 m 2 e o detector esteja a uma distância de 1 m e possua uma área de detecção de 1 cm 2, estime: a) a cor
rente resultante da emissão de luz de uma parede à temperatura ambiente noturna; b) a corrente resul
tante da emissão de uma pessoa normal (suponha coeficiente de absorção igual a 0,78) à noite; c) a cor
rente de uma panela de água fervente; e d) a corrente de um objeto em chamas a 1000 K. Qual é a relação
sinal-ruído para cada um desses objetos?
28. A mesma firma do Problema 27 deseja saber como escolher detectores metálicos para uso como
sensores de infravermelho. Para os m etais a seguir, determine a freqüência de corte a partir de inform a
ções sobre seu potencial de ionização, encontradas na Tabela 1.1. Os metais são: Li, Na, K , Be, Au, Fe, Ag,
Al, Ni, Cu e V. D eterm ine a cor a que esses compostos são sensíveis.
29. Cerca de 5 eV são necessários para remoção de elétrons da platina superficial. Qual é a freqüência
mínima necessária para se observar o efeito fotoelétrico nesse m etal?
30. Explique por que a função trabalho é m uito sensível ao estado da superfície e com o é possível tirar
proveito disso na caracterização e no estudo de superfícies.
3 1 . Calcule a energia cinética de um elétron arrancado de uma superfície de potássio por luz incidente de
comprimento de onda de 350 nm. Que potencial retardador seria preciso aplicar no aparelho para evitar a
captura desses fotoelétrons? Supondo que o feixe de luz possua uma intensidade de 3 ,0 10-9 W /m2, cal
cule o número de elétrons gerados e a corrente de saturação desse experimento. A função trabalho do po
tássio vale 2,26 eV
32. O césio é empregado em iluminação pública com o indicador do fim do dia. Sabendo que a função
trabalho do césio vale 2,14 eY determine a freqüência de corte resultante e estime a que horas a ilumi
nação pública estaria ligada.
33. A seguir listam os os mais utilizados detectores de radiação na região do infravermelho e visível e
seus gaps de energia em elétron-volts: CdS 2,4; C aP2,2; CdSe 1,7; GaAs 1,4; Si 1,1; Ge 0,7; InAs 0,43; PbS
0,37; PbTe 0,29; PbSe 0,26; InSb 0,23. Calcule o maior com primento de onda ao qual esses cristais ainda
respondem. Proponha usos para esses materiais.
34. Um núcleo atôm ico típico em ite radiação y com energia da ordem de megaelétron-volts. Qual é a
freqüência do fóton, seu comprim ento de onda e como este se compara com as dimensões do núcleo atô
mico (10“15m)?
35. Uma fotografia em preto e branco funciona como uma superfície de AgBr cuja exposição à luz sen
sibiliza o filme pela formação de Ag e Br. Sabendo que a energia envolvida nesse processo é da ordem de
3 ,1 8 10”19 J, calcule a freqüência m ínima capaz de sensibilizar essa placa e explique por que é permitido o
uso de luz vermelha tênue em salas de revelação.
36. Fazendo luz com 300 nm atingir superfícies de K, Li e Cs, determine o potencial crítico, a fre
qüência de corte e a energia cinética dos fotoelétrons ejetados.
37. Um laser consiste em um sistema que em ite luz de intensidade excepcional e freqüência bem de
terminada. Um laser de He-Ne trabalha em 633 nm com uma potência de 0,5 m W D eterm ine o número
de fótons gerados por segundo.
38. Procure levantar inform ações sobre o funcionam ento de uma fotomultiplicadora e explique seu
funcionam ento, a banda de funcionam ento, como determinar a freqüência m ínim a de trabalho etc. Em
seguida, considere que uma fotomultiplicadora típica tem uma eficiência de conversão fotocorrente da
ordem de 0,1. O sinal é amplificado até 106 vezes a corrente inicial. Considere uma fotomultiplicadora
com essas características e cuja corrente de fundo seja 10 pA. D eterm ine o número m ínim o de fótons
para provocar qualquer detecção. Supondo uma radiação com a raia D do sódio, 589 nm, qual é a po
tência m ínim a detectável?
40. E bem conhecido o processo de aniquilamento de elétron-pósitron que dá origem a dois fótons
gama, e~ + t 7 2 y. Supondo energia cinética negligível, calcule a freqüência e a energia desse fóton.
41. Sabe-se que os átom os de carbono e oxigênio são separados na molécula de C O em carbonilas e nos
tecidos biológicos quando luz com mais de 11 eV atinge esses sistemas. Estim e a região do espectro dessa
luz e prediga os efeitos nos seres hum anos se estivéssemos sujeitos a essa radiação. Sabendo que uma
molécula de ozônio se decompõe com luz de com primentos de onda menores que 0,3 \im, estim e o papel
deste na evolução de nossa espécie.
42. M ostre, com base na conservação do m om ento e da energia, que a relação entre os potenciais crí
ticos determinados na experiência de Franck-Hertz e aqueles determinados experim entalm ente por via
óptica é dada por AEe = {1 + me / Ma }AE0.
43. D em onstre que o processo A+ + e~ —> A, conhecido com o auto-ionização espontânea, só pode
ocorrer com a existência de um terceiro corpo. U tilize o princípio de conservação da energia e mo
mentum.
44. Um feixe de partículas alfa do polônio com intensidade de 10.000 a /cm2 •s incide norm alm ente
em uma folha de ouro com espessura de 10“5 cm. Um contador de partículas alfa com abertura de 1 cm 2
dista 10 cm da folha de ouro. Calcule o número de partículas alfa contadas durante 1 h, para O = 10°. São
dados a energia cinética das partículas alfa, 5,3 MeV; a massa específica do ouro = 19,3 g/ml; a massa
atôm ica do ouro, 196,97; e número atôm ico 79.
45. Nas mesmas condições do Problema 44, uma folha de cobre com espessura de 1,0 10"5 cm , conta
5,79 a/s, quando <D = 10. Calcule Z para o cobre. A massa específica do Cu vale 8,90 g/ml e a massa
atôm ica vale 63,58.
46. Calcule o valor médio 1/ r, 1/ r2, 1/ r3, 1/ r4 e r de para um elétron em um átom o de Bohr e
compare com os resultados calculados pela moderna teoria quântica. Estim e o valor de v/c para a primei
ra órbita do átom o de hidrogênio.
47. Calcule o com prim ento de onda e a cor das primeiras cinco transições das séries de Balmer, Pfund,
Brackett, Paschen etc.
48. Luz de 750 nm atinge uma amostra contendo hidrogênio atôm ico. Quais serão as energias dos elé
trons ejetados?
49. C.E. M oore publicou medidas acuradas da constante de Rydberg para o hidrogênio (109.678,758
cm "1), o deutério (109.708,596 cm -1) e o trítio (109.718,526 cm -1). D eterm ine a massa atôm ica desses
nuclídeos.
50. O estudo e a caracterização de séries espectrais em laboratório nem sempre oferecem boa reso
lução quando se estudam term os de mais alta ordem. O alargamento por efeito da pressão torna os ní
veis indistinguíveis. Dessa form a recorre-se, com freqüência, a observações astrofísicas nas quais essas
linhas aparecem claram ente separadas no espectroscópio. D e fato, em laboratório o maior term o da
série de Balmer observado foi o H21 (vigésimo primeiro) em medida feita por Herzberg. Por outro lado,
38. Procure levantar informações sobre o funcionam ento de uma fotomultiplicadora e explique seu
funcionam ento, a banda de funcionam ento, como determinar a freqüência m ínim a de trabalho etc. Em
seguida, considere que uma fotomultiplicadora típica tem uma eficiência de conversão fotocorrente da
ordem de 0,1. O sinal é amplificado até 106 vezes a corrente inicial. Considere uma fotom ultiplicadora
com essas características e cuja corrente de fundo seja 10 pA. Determ ine o número m ínim o de fótons
para provocar qualquer detecção. Supondo uma radiação com a raia D do sódio, 589 nm, qual é a po
tência m ínima detectável?
39. Na reação de decomposição do HI gasoso a 253,7 nm observou-se que a absorção de 307 J decom
punha 1,30 IO-0 moles de HI. Determ ine o rendimento quântico dessa reação.
40. E bem conhecido o processo de aniquilamento de elétron-pósitron que dá origem a dois fótons
gama, e~ + e+ —> 2 y. Supondo energia cinética negligível, calcule a freqüência e a energia desse fóton.
4 1. Sabe-se que os átom os de carbono e oxigênio são separados na molécula de C O em carbonilas e nos
tecidos biológicos quando luz com mais de 11 eV atinge esses sistemas. Estime a região do espectro dessa
luz e prediga os efeitos nos seres hum anos se estivéssemos sujeitos a essa radiação. Sabendo que uma
molécula de ozônio se decompõe com luz de com prim entos de onda menores que 0,3 jam, estim e o papel
deste na evolução de nossa espécie.
42. M ostre, com base na conservação do m om ento e da energia, que a relação entre os potenciais crí
ticos determinados na experiência de Franck-Hertz e aqueles determinados experim entalm ente por via
óptica é dada por AEe = { l + me / M a } AEq.
44. Um feixe de partículas alfa do polônio com intensidade de 10.000 a /cm2 •s incide norm alm ente
em uma folha de ouro com espessura de 10-5 cm. Um contador de partículas alfa com abertura de 1 cm 2
dista 10 cm da folha de ouro. Calcule o número de partículas alfa contadas durante 1 h, para O = 10°. São
dados a energia cinética das partículas alfa, 5,3 MeV; a massa específica do ouro = 19,3 g/ml; a massa
atôm ica do ouro, 196,97; e número atôm ico 79.
45. Nas mesmas condições do Problema 44, uma folha de cobre com espessura de 1,0 10-5 cm , conta
5,79 a/s, quando O = 10. Calcule Z para o cobre. A massa específica do Cu vale 8,90 g/ml e a massa
atôm ica vale 63,58.
46. Calcule o valor médio 1/ r, 1/ r2, 1/ r3, 1/ r4 e r de para um elétron em um átom o de Bohr e
compare com os resultados calculados pela moderna teoria quântica. Estime o valor de v/c para a primei
ra órbita do átom o de hidrogênio.
47. Calcule o com prim ento de onda e a cor das primeiras cinco transições das séries de Balmer, Pfund,
Brackett, Paschen etc.
48. Luz de 750 nm atinge uma am ostra contendo hidrogênio atôm ico. Quais serão as energias dos elé
trons ejetados"?
49. C.E. M oore publicou medidas acuradas da constante de Rydberg para o hidrogênio (109.678,758
cm -1), o deutério (109.708,596 cm -1) e o trítio (109.718,526 cm -1). D eterm ine a massa atôm ica desses
nuclídeos.
50. O estudo e a caracterização de séries espectrais em laboratório nem sempre oferecem boa reso
lução quando se estudam termos de mais alta ordem. O alargamento por efeito da pressão torna os ní
veis indistinguíveis. Dessa forma recorre-se, com freqüência, a observações astrofísicas nas quais essas
linhas aparecem claram ente separadas no espectroscópio. D e fato, em laboratório o maior term o da
série de Balmer observado foi o H21 (vigésimo primeiro) em medida feita por Herzberg. Por outro lado,
A Antiga. Teoria Quântica 69
em medidas do espectro de estrelas observaram-se 21 termos na série de Balmer da estrela Beta Lyrae; e
40 termos na estrela H D 193182. No espaço, a sua reduzida pressão permite a existência de átomos com
grandes números quânticos. Sabendo que a linha HY252 é uma linha que envolve transições do nível
n = 253 para 252, calcule o raio quântico desse sistema. Compare esse tam anho com o de uma ameba e
explique como é possível existir este sistema. Esta observação foi feita por Andy B atty na Nebulosa de
Carina [300].
51. O azul do céu, o vermelho ao nascer ou ao pôr do sol, o sol quente de inverno e a cor do mar têm sua
explicação no espalhamento de luz pela matéria na região do visível. Estes fenômenos foram estudados
por Lord Rayleigh em seu famoso artigo sobre o crepúsculo, a cor do céu e do mar [6 ,1 4 ,1 9 ,2 1 ]. Procure
informar-se sobre esse trabalho e dê você próprio uma explicação para esses fenômenos.
52. Explique com suas palavras por que não se deve esperar efeito Com pton na região do visível.
53. M ostre que a energia de recuo de um elétron no espalham ento C om p ton é dada por:
E = h2®2{ ( l - cos 0)/ ( m0c2 + h(ú(l - cos 0))}.
54. Calcule os comprimentos de onda associados aos vários ângulos medidos na Figura 1.22.
55. Um fóton de raios X com energia de 0,3 M eV tem uma colisão frontal com um elétron em repouso.
Usando a conservação de momentum e energia, descubra quais são a energia e o momentum das partículas
após o choque. Calcule tam bém o comprimento de onda do fóton e a velocidade do elétron espalhado.
Utilize uma fórmula relativística para a energia cinética do elétron.
56. Qual é o desvio proporcional no comprimento de onda ocorrido por espalhamento Com pton em
um a) elétron; b) próton; c) ferro atômico a 90° de incidência?
57. Quais das seguintes características são ondulatórias e como podem ser medidas: a) comprimento
de onda, b) freqüência, c) velocidade, d) intensidade?
58. Levando em consideração as propriedades ondulatórias de partículas, explique por que suas mani
festações não ocorrerão em energias maiores que 10 eV para um elétron e 1 M eV para um próton. .
60. Qual é a energia cinética de um elétron, de um próton e de um nêutron cujo comprimento de onda
de De Broglie vale 1 A?
61. Qual é o comprimento de onda de um nêutron térmico saído de um reator nuclear operando a
300°C ? Seria possível utilizá-los em experimentos de difração de nêutrons?
62. Qual é o comprimento de onda de um átom o de hélio térmico à temperatura ambiente? Encontre
uma expressão para essa grandeza. E possível utilizar uma fonte de hélio térmico em experimentos de di
fração? Quais seriam a temperatura mais adequada e o cristal que você sugeriria para esse experimento?
63. G. P. Thom son observou padrões de difração ao passar elétrons com 51 keV de energia por uma
folha de cobre. Determine o ângulo de desvio em quarta ordem sabendo que a distância interplanar vale
3,6 A. D eterm ine o valor das demais ordens.
64. Raios X monocromáticos (À,=0,5 A) incidem sobre uma amostra de KC1 pulverizado. Uma placa
fotográfica é posta perpendicularmente ao feixe incidente a uma distância de 1 m. Determ ine os raios de
Bragg se a separação nos planos desse cristal vale 3,14 A.
65. O núcleo, geralmente com raio de 10~12 cm, freqüentemente em ite elétrons com energias de 1 a
10 M eV Utilize o princípio da incerteza para mostrar que elétrons com energia da ordem de 1 M eV não
podem ser encontrados no interior do núcleo antes do decaimento.
70 Capítulo 1
66. Estime, com base no princípio da incerteza, a dispersão de freqüências para um pulso de 1 nanosse-
gundo de um laser de rubi (X = 6 ,3 10_7m).
67. O espectro de absorção UV-Vis do Zn exibe duas linhas em 2139 e 3 0 7 6 Â, cada qual com tem po de
meia-vida dado por 5 10-8 e 10-5 s. Qual dessas linhas será mais intensa? Qual delas terá a maior largura
de linha?
68. Estime, com base no princípio da incerteza, a energia do estado fundamental para uma partícula
de massa m sujeita a um potencial harmônico.
69. Estime, com base no princípio da incerteza, a energia de um átom o em seu estado fundamental.
2.1 Teoria Básica e Postulados
Apresentaremos as principais idéias da mecânica quântica de maneira postulativa e inicia
remos nossa discussão com o primeiro postulado da mecânica quântica.
POSTULADO 1
Seja a equação de Schrõdinger unidimensional dependente do tempo (Eq. 2.1), representando o movimento de uma partícula de
massa m sob a ação do potencial V(x,t), para a qual é conhecida a função de onda W(x,t):
A probabilidade de se determinar, no intervalo de tempo compreendido entre t e t+At, uma partícula entre x e x+dx, é dada por
W * (xj * ) ¥ ( * , t)dx dt. Interpreta-se o módulo quadrado da função de onda como uma probabilidade física, que deve ser portanto con
tínua, finita e monovalorada. A função de onda do sistema, W(x,t), contém todas as informações necessárias à determinação de pro
priedades físicas do sistema, e quando se cumpre a relação a seguir, diz-se que é uma função normalizada.
Íj+oo¥ * { x it m x ,t ) d x = i
termo que depende da segunda derivada espacial, e que representa a energia cinética, p 2/2m,
de uma partícula (relação de De Broglie) somada à sua respectiva energia potencial, ou seja, o
balanço de energias cinética e potencial do sistema.
A solução é a função de onda do sistema, uma entidade complexa à qual não se atribui
qualquer sentido físico especial. A grandeza fisicamente relevante é o seu módulo quadrado
(ou o produto da função de onda por seu complexo conjugado), porque representa uma pro
babilidade, uma grandeza que é determinável em medidas físicas. A probabilidade determi
nada pela solução da equação de Schrõdinger tem dependência espacial e temporal, o que faz
da distribuição de probabilidade uma grandeza dinâmica. É compreensível a definição da pro
babilidade como o produto da função de onda pelo seu complexo conjugado, pois a função de
onda é complexa, fruto do fato de a equação de Schrõdinger conter o número complexo /ex
plicitamente, além de admitir soluções desta natureza. Assim, o produto da função de onda
pelo seu complexo conjugado faz da probabilidade uma grandeza real.
E xem plo 2 .1 -1
Mostre que a densidade de probabilidade, definida pelo produto da função de onda pelo seu complexo conjugado, é um número real.
R. Todo número complexo pode ser escrito c o m o ^ [x,t)=An(x,t) + iBH{x,t), de modo que o produto desta função pelo
seu complexo conjugado gera:
O resultado mostra que a densidade de probabilidade é um número real, ou seja, uma probabilidade física. Quando esta
grandeza depende apenas das coordenadas espaciais, diz-se que é estacionária.
Contínua
O leitor observará, nesta equação, que as derivadas espaciais não atuam sobre funções tem po
rais e vice-versa. Ao dividirmos a Expressão 2.5 p o rX „ (x)Tn(t), a equação anterior tom a a
forma de uma igualdade, na qual o term o à esquerda depende exclusivamente dex, enquanto
o term o à direita depende exclusivamente da variável t: .
\ ^ Õ
^ r - +V(x' t) =£. (2 .6 )
{ in^ ~ f\ /T n ( t ) = E n (2.7)
Este resultado m ostra que as equações à esquerda e à direita são iguais a uma constante cujo
valor é dado pela soma da energia cinética e potencial do sistema. Atribui-se a essa constante o
significado físico da energia total do sistema.
Realizando a separação de variáveis, obtêm-se duas equações, a primeira delas definindo
o com portamento temporal da função de onda (Eq. 2.8):
74 Capítulo 2
Trata-se de uma equação diferencial ordinária, cuja solução é uma exponencial de argumento
igual a -iEnt/h, vezes a constante de integração A; ou seja:
-iE „t
Tn(t)= A e * (2.9)
■íE j
~ ^ P - + V ( x ) X n(x)=EnX„(x)
2m ôx2 (2 . 11)
As soluções definidas pela Equação 2.11 são ditas estacionárias porque a distribuição de pro
babilidade não varia com o tempo, ou seja, geram, em sucessivas medidas, sempre os mesmos
valores para a energia e demais propriedades físicas do sistema.
Os estados não-estacionários são representados por uma superposição ou interferência
de estados puros, e neste caso a distribuição de probabilidade, tal como as medidas da energia
realizadas em estados identicamente formados, se alteram no tempo.
E xem p lo 2 .1 -2
Mostre que a densidade de probabilidade gerada pela solução da Equação 2.10 é necessariamente estacionária, ou seja, indepen
dente do tempo.
A esta altura, é necessário fazer uma pequena digressão matemática. Esta é uma equação dife
rencial de segunda ordem e, também, uma equação de autovalores. Existem, em princípio, in
finitas soluções para uma equação desse tipo, cada uma delas com uma determinada energia e
respeitando as condições de contorno do problema. Entre as soluções matemáticas aceitáveis,
discriminaremos aquelas que satisfazem o primeiro postulado da mecânica quântica no que
diz respeito a continuidade, ao fato de ser monovalorada, finita, possuir derivadas também
com esses atributos, além de exibir um produto interno bem definido. Estas funções definem
um espaço vetorial completo no qual qualquer função arbitrária, satisfazendo as mesmas
condições de contorno, pode ser expandida no conjunto de soluções matemáticas da equação
de Schrõdinger. Assim, é sempre possível representar um estado não-puro, tam bém denomi
nado pacote de ondas, pela superposição de estados quânticos estacionários, tal como mostra
a Equação 2.13:
-iE j
Nesta equação os coeficientes Cn são determinados pelas condições de contorno e seu módulo
quadrado representa a probabilidade de determinarmos, em uma determinada medida, a
A Equação de Schrõdinger Unidimensional 75
* (214)
n m
Exem plo 2 .1 -3
Freqüentemente nos depararemos com potenciais descontínuos, pois eles simplificam a determinação de muitas grandezas, permi
tindo o cálculo analítico de energias e outras propriedades físicas. Mostre que a derivada da função de onda, próximo a uma desconti-
nuidade do tipo ô no potencial' é também descontínua, e calcule o valor dessa descontinuidade.
R. Supondo-se que o sistema se encontre em um estado estacionário, pode-se estimar a variação da primeira derivada vi
zinha ao ponto de descontinuidade por:
a+e
f— 1 -1 (— ) =f dx (2.15)
V dx J a+£ l ÕX J a - e J
onde 8 é um deslocamento infinitesimal. Empregando a definição da segunda derivada, oriunda da equação de Schrõ
dinger, obtemos a seguinte integral:
f\— l “ í—
ÕX Ja + e V dx
1 =f
J ( 2 . 16)
Se o potencial for escrito como uma função descontínua do tipo 8 (x-a), ou seja,
sex * a,V(x) = 0
V{x)=V(]5 {x -a) =
(2.17)
sex = a,V(x) =V(]
_ ( 9^ _ 2mV0^(a)
dx Ja+E l dx ) a- & %2 (2-i8 )
0 se. x <a
se a > x > - a (2.19)
íl
0 se x > a
Este problema admite dois tipos de soluções físicas distintos; no primeiro tipo, a energia é dis
creta, ou seja, quantizada, e, no segundo, as energias são contínuas. O conjunto dessas ener
gias depende, é claro, da profundidade e da largura desse potencial e é representado na Figura
2.2.
As funções de onda cujas energias são negativas têm características físicas especiais, pois
suas energias são discretas e sua função de onda é localizada na região em torno do poço.
Quando a energia é positiva, a situação é outra, pois a partícula possui energia suficiente para
atingir qualquer ponto do espaço e, portanto, não pode ser confinada. Neste caso, o espectro
de energias é contínuo e as suas soluções são com pletam ente deslocalizadas. Analisaremos
apenas o estado fundamental e o primeiro estado excitado desse sistema, pois encontraremos
ali todas as características que desejamos destacar.
Figura 2.2
Poço de potencial e o lim ite
contínuo de energias.
O potencial m ostra uma divisão natural em três regiões. Comparando a energia de uma
solução ligada com a profundidade do potencial verificaremos que, na primeira e na terceira
regiões, a energia é menor que a barreira de potencial, enquanto na segunda ocorre o oposto.
Para esboçarmos uma função de onda para esse potencial, iniciaremos uma resolução numé
rica qualitativa da equação diferencial de Schrõdinger com uma função de onda cujo valor é
infinitesim alm ente pequeno à esquerda do potencial. Analisaremos o valor da segunda deri
vada da função de onda na primeira região. Ali a segunda derivada é calculada por:
a -Y (x ) = - 2 mEn
dx2 H2
A energia, negativa, multiplicada pela função de onda, de valor positivo, gera uma segunda
derivada positiva. Conseqüentem ente, a função de onda será crescente nessa região.
No ponto em que se inicia a segunda região, a função de onda tem valor positivo, mas sua
segunda derivada troca de sinal passando a possuir valor negativo. Em toda a segunda região,
a segunda derivada é calculada pela Equação 2.21, pois ali o potencial é menor que a energia
total.
A Equação de Schrõdinger Unidimensional 77
Como a função de onda é positiva na região II; a segunda derivada tem valor negativo, e admi
tindo-se que o valor de (E -V Q) não seja m uito grande, a função de onda apresentará um má
xim o nessa região, voltando a diminuir rumo à direita. A primeira derivada, que possuía valor
positivo em x = -a , agora possui valor idêntico negativo no ponto em que x = a. A direita
desse ponto, a função de onda, ainda possuindo valor positivo, tem a sua segunda derivada
positiva, pois novamente E -V0 nessa região é negativo, acarretando a diminuição da função
de onda até possuir valor nulo no infinito à direita. O esboço desta função de onda pode ser
visto na Figura 2.3.
O leitor observará que a função de onda se estende em regiões, à esquerda e à direita do
poço, onde classicamente seria proibida a sua presença. Isto é conseqüência da condição de
continuidade que a função de onda e suas derivadas devem m ostrar em x = ±a. A presença de
partículas nessa região é conhecida como tunelam ento e constitui uma das principais dife
renças entre a mecânica clássica de N ew ton e a moderna mecânica quântica. Discutiremos
este ponto posteriormente.
O esboço do estado excitado é feito de maneira análoga. A principal diferença reside na
magnitude do valor de (£ -V Q), dependendo da região que se considera. Particularmente, no in
terior do poço, esta grandeza é muito maior, fazendo com que a segunda derivada possua valor
Figura 2.3
Esboço da solução para a
equação de Schrõdinger para o
poço de potencial.
78 Capítulo 2
Uma grandeza útil no cálculo de sistemas não-ligados é o fluxo de probabilidade. Com esta
grandeza, é possível saber qual é o fluxo de matéria para uma função de onda em um determi
nado ponto do espaço. A função de onda é definida a partir da equação de conservação da pro
babilidade total do sistema. Utilizando a definição de probabilidade, estabelecida no primeiro
postulado, e derivando-a com relação ao tempo obtemos:.
V = J L i+ J ./+ A |, (2.25)
dx dy dz
v 2 =^ +^ + (2.26)
dx 2 õy 2 d z 2
Se o potencial é real, ou seja, se y * (r) = V(r), então a equação anterior se simplifica tomando a
forma da Equação 2.28.
O produto da segunda derivada pelo complexo da própria função pode ser simplificado à deri
vada do produto da função de onda e sua derivada, levando a Equação 2.28 à forma final:
ou, alternativamente,
A Equação de Schrõdinger Unidimensional 79
a P M = _ v/(f i 4 (2.30)
dt
O conjunto de autofunções da equação de Schrõdinger, tal como vetores, forma tam bém um
espaço vetorial. Nesse espaço os vetores são representados por distintas funções, cada qual
definindo uma “direção” particular. Por exemplo, apresentaremos as seguintes funções, que
fazem parte do espaço linear constituído por funções trigonométricas:
que têm inúmeras aplicacões em problemas de física, de engenharia e de química, o que per
m ite a expansão de qualquer função periódica em termos dessa base de vetores, ou seja,
00
Esse tipo de expansão foi m uito estudado em meados do século X IX por vários pesquisadores,
entre os quais destacou-se Fourier. Por esse motivo, esta expansão ficou conhecida com o
nome de série de Fourier.
Para que uma expansão desse tipo seja bem-sucedida, é necessário que as funções de base
sejam linearm ente independentes e expandam o espaço funcional de maneira completa. Por
tanto, a lógica e a grande maioria das equações relativas ao espaço de funções são exatam ente
as mesmas de um espaço vetorial de dimensão finita, afora o fato de que o produto interno de
dois vetores é definido de maneira distinta. Enquanto no espaço vetorial o produto interno é
definido pela Equação 2.34,
f +0°
<n/m >=\ (2 .35 )
O Exemplo 2.1-4 m ostra que esta definição é aceitável, satisfazendo as propriedades algé
bricas que um produto interno deve possuir.
80 Capítulo 2
São quatro as propriedades algébricas que um produto interno deve satisfazer: i) <v/v>> 0 para todo v não-nulo; ii)
< a v /v >=a* < v /v > para todo a; iii) <v1+v2/v 3> = < v /v 3> + < v /v 3>; iv) < v /v 2> = <v2/v 1>*. Mostre que a definição
apresentada pela Equação 2.35 satisfaz estas propriedades.
R . O primeiro item é satisfeito, pois o integrando, no caso m = n ,é sempre positivo. O segundo e quarto itens podem ser
facilm ente verificados a partir da definição desse produto interno e de sua dependência complexa. O terceiro decorre da li
nearidade dos operadores integrais.
i
Decorre dessa definição o fato de que, se o produto interno entre dois vetores v e w é nulo,
então v ew são ortogonais entre si. Analogamente ao caso de vetores, diremos que <u/u> é a
norma de uma determinada função. Definido o produto interno desta forma, o cálculo dos
coeficientes de expansão utilizados na Equação 2.36 dá, respectivamente:
A mecânica quântica procura a função de onda do sistema. Dela origina-se todo o conheci
m ento acerca das variáveis dinâmicas desse problema. Assim, os operadores quânticos devem
ser definidos de maneira consistente com esta interpretação. Um operador é definido como
um objeto algébrico que realiza uma determinada ação m atem ática sobre uma função. Geral
mente, um operador que atua sobre a funçãog(#) a transform a em uma outra função h (x). Re
presentaremos operadores genéricos pelo símbolo O, enquanto os operadores específicos, tais
como a hamiltoniana, m om ento angular, spin, entre outros, possuirão letras próprias, às
vezes acompanhados do sobrescrito, que atribuirá à entidade o sentido de operador.
Ôg(x)=h(x) (2.37)
E xem p lo 2 .1 -5 IÜ | i -'
Utilizando os operadores a seguir definidos, faça atuar cada um deles sobre a respectiva função g(x): a) Of(x) =f(x) +x2; g(x) =jv3;
b) Ôf(x) = f(x)2; g(x) = X + 1 ; c) Ôf(x) =f(3x2+1); g(x) =9x; d) Ôf(x) =f'(x)-2f(x); g(x) =senkx/e) Ôf(x) =Xf(x); g(x) = X 2; f)
Ôf(x) =f(x+h); g(x) =e~x.
R . Apresentaremos apenas as respostas; a) a:3 + x 2; b) (x + 1 )2; c) 9(3x 2 + 1); d) z coskx- 2 senkx; e) Xx2; f)
Enunciaremos o segundo postulado da mecânica quântica, no qual são discutidos o papel dos
operadores, de sua álgebra e o seu sentido físico.
PO STU LA D O 2
A toda variável dinâmica, O, passível de medida direta em laboratório>,associa-se um operador quanto-mecânico, linear e hermi-
tiano, correspondente. Qualquer medida física dessa variável só poderá gerar, como resultado, um dos valores próprios definidos pela
seguinte equação de autovalores:
A Equação de Schrõdinger Unidimensional 81
Nesta equação, onsão os autovalores do operador e f n(x) são os respectivos autovetores (soluções próprias). Dá-se o nome de espectro
ao conjunto de valores {o„} permitidos nas medidas desse operador. Ainda mais importante é o fato de que as soluções fn(x) expandem
completamente o espaço funcional das medidas físicas do observável O. Ou seja, formam uma base completa para o espaço funcional.
A regra segundo a qual constroem-se operadores quânticos de observáveis físicos na representação de coordenadas é, em prin
cípio, simples. A grandeza x (coordenada de posição) é representada por um operador que multiplica a função por x, ou seja,
O momento,P, deve ser substituído pelo operador primeira derivada espacial multiplicada por -ih, ou seja„
= (2.40)
dx
Casos dúbios, em que há múltipla ocorrência de operadores m om entum e posição, podem gerar certas ambigüidades. Para esses
casos recomendamos o excelente artigo de B. Podolsky [93].
O postulado acima m ostra uma relação clara entre operadores m atem áticos e o seu sen
tido físico em mecânica quântica. Antes de detalharmos essas relações, vejamos a lógica de
sua álgebra.
Operadores, tais como números ou funções, obedecem a um certo conjunto de regras quando
se deseja somá-los, multiplicá-los ou trabalhar-se com eles. O conjunto dessas regras define a
álgebra dos operadores e o leitor verificará que elas não diferem m uito daquela que empre
gamos em nossas operações numéricas. Passemos a enunciá-las:
donde se pode depreender que o produto ÂB é, em geral, diferente de ÊÂ Nos casos em que esses
produtos têm igual valor, diz-se que esses operadores comutam. Define-se o comutador de A com B
e, por fim,
82 Capítulo 2
d. Existe o elemento neutro, denominado identidade, cujas propriedades são definidas por:
E xem p lo 2 .1 -6
de modo que:
Uma classe especial de operadores nos interessa, a dos operadores lineares. Define-se como
operador linear aquele operador que, para quaisquer funções f(x) e g(x), satisfaz a seguinte
igualdade:
Toda grandeza física observável em mecânica quântica deve ser representada por um ope
rador linear e hermitiano. Vejamos, no Exemplo 2.1-7, quais dos operadores são lineares:
R . Vamos nos limitar a apresentar o resultado final, com base na Equação 2.49: a) não-linear; b) não-linear; c) linear; d) li
near; e) linear; f) linear.
/•+co /•+co
f (A3>)*3>í t = I 0 * (4 4 i)á (2.51)
J—oo J —co
Mostraremos como as duas definições são equivalentes. Para isso, tomaremos o complexo
conjugado da equação que define um operador hermitiano (primeira definição), lembrando
que seus autovalores são reais (Equação 2.50). Multiplicando a primeira equação à esquerda
por O * e a segunda à direita por <í>, e integrando as equações, obtemos:
+co a (» +co
f <5>*(A<b)di=a\ <J>*® í t (2.52)
J — co J —co
E xem p lo 2 .1 -8
R. Para provar que é um operador hermitiano, basta mostrar a validade da relação 2.50 — ou seja, que:
o que pode ser feito trivialmente através de uma integração por partes, ou seja:
Tomando o complexo conjugado de ih no term o à direita e reconhecendo que o cálculo de O * (tf)0 (#)|^ se anula nesses li
mites, obtemos a Equação 2.54.
Uma im portante propriedade de operadores hermitianos está ligada ao espaço vetorial defi
nido pelo conjunto de seus autovetores. Esse espaço é completo, ou seja, qualquer função que
satisfaça as mesmas condições de contorno pode ser expandida nessa base de vetores, e ainda
os autovetores são ortogonais para diferentes autovalores. Não discutiremos o primeiro
ponto porque foge ao escopo desta obra. Entretanto, o (Exemplo 2.1-9) m ostra que soluções
próprias correspondendo a distintos autovalores são ortonormais entre si. Esta propriedade
será exaustivamente utilizada ao longo deste livro.
Exem p lo 2 .1 -9
Verifique que as funções a seguir são funções próprias dos operadores e calcule seus respectivos autovalores. O operador permutação
Pu, ao atuar sobre uma função de N-partículas, permuta as coordenadas das partículas 1 e 2.
§4 Capítulo 2
- h 2 d2
i . x¥(x)=senkx H=
2 m õx 2
d
ii.x¥ (x)=eikx P = ih
ÕX (2 57)
iii.'¥+(x1,x 2) = {^(xi )^(x2) + ^ x 2)^(x1)} í\,
iv. T “ (x 1, x 2)={(|)(^1)(t)(^2 )-(j)(x 2 )(|)(x1)} Pj12
R . O primeiro par de operador e autofunção tem como autovalor h 2k 2/2 m e está ligado ao problema de uma partícula
confinada a uma caixa de potencial. A segunda autofunção representa uma partícula livre, de autovalor hk. O terceiro e o
quarto representam autofunções do operador perm utação P12 atuando sobre uma função de onda de duas partículas equi
valentes. Os autovalores são; respectivamente, 1 e -1 .
_ _ _ _ _ 1
Exemplo 2.1-10
Mostre que as autofunções de um operador hermitiano são ortogonais quando seus respectivos autovalores são não-degenerados.
Ro Primeiramente, é conveniente definir o produto interno de dois vetores, ou seja, o análogo, no espaço de funções, para
a operação da álgebra linear definida por <u/v>. Define-se por produto interno a integral do produto da função de onda u
pela função de onda v. O problema pede, portanto, que se mostre que:
~0 Vn o m dx = 8n.m
r^
J— ’ (2 -58)
Em primeiro lugar, é conveniente lembrar que todo operador hermitiano possui um espectro de autovalores que é dado
pela Equação 2.59:
(2.59)
(2.60)
nos quais os índices n em discriminam estados distintos. Se multiplicarmos a primeira equação por <Dm, integrando em
todo o espectro de posições, chegaremos a:
j
(• +CO yv I» +C O yy <• + 0 0 .
M ultiplicando a Equação 2.58 à esquerda por d>* e integrando-a em todo o espectro de posições obtemos:
= a» n ® » (2 -62)
Como os autovalores a n e amsão reais, recorre-se à definição de hermeticidade para a primeira integral, o que nos leva a
dois valores cuja diferença resulta em:
A Equação de Schrõdinger Unidimensional 85
(2.63)
Esta equação mostra que; se os autovalores são diferentes, então as soluções próprias devem necessariamente ser ortogo-
nais. No caso de autovalores degenerados, os autovetores poderão ser ortogonalizados por uma trivial transformação de
Grand-Schmidt.
E xem p lo 2 .1 -1 1
Sabendo que as autofunções de uma partícula em uma caixa são dadas por {2 /a}1/2 sen(nnx/a) mostre que distintas autofunções do
operador energia são ortogonais entre si.
R . O exercício pede que se verifique o valor nulo para a integral a seguir, no caso em que n ^ m, ou seja:
2
n! m > - — f sen(nnx/a) sen(m7zx/a)dx (2.64)
/7 •*0
1
sen(nnx/a) sen(mnx/a) = -[cos{(n - m)wc/a} - cos{(m + nfiuc/a}], (2.65)
2
1 a
< n /m > = — f [cos{(n - m)nx/a} - cos{(m + n)nx/a}]dx
/r J 0 2 66)
( .
PO STU LA D O 3
Se um sistema físico é representado pela função de onda 'Vfat), o resultado médio para um grande número de medidas do observável
físico associado ao operador O, em ensembles identicamente constituídos, é dado pela seguinte expressão:
86 Capítulo 2
J i ' P % ) Ô ' P ( í( , í ) A
Observe que esta expressão é válida para toda função de onda, normalizada ou não. Para o caso de funções de ondas normalizadas, o
denominador terá valor unitário. Deve-se também distinguir o significado desta equação daquela apresentada no Postulado Z.
Enquanto aquela define a probabilidade e os possíveis resultados de uma única medida, esta nos dá o resultado médio para um nú
mero infinitamente grande de medidas do observável O.
Vejamos uma aplicação ligada ao problema de uma partícula em um potencial do tipo caixa
infinita.
Exemplo 2.1-12
Suponha que a função de onda para uma partícula em uma caixa de comprimento a seja dada por N x(a-x), no intervalo [0,—a] que
possui valor nulo para os demais valores de x. Calcule a energia, o momento e a posição média nesse sistema.
j * N 2x 2( a - x ) 2dx =1 (2.69)
Isto é feito segundo a Equação 2.2; cujo resultado define a integral de normalização como (30 / a 5)^2.
Para o cálculo da energia, determina-se o valor médio da segunda derivada, o que gera:
Ü>= If W(x)\-h2
<H d2y(x) dx
--------------— J = — 5h2
------— /o 71 \
0 2m dx 4tt ma ' '
O cálculo do m om ento é desnecessário, pois o potencial é confinado e a partícula não exibe qualquer movimento residual,
ou seja, < p> possuirá valor nulo. O estudante poderá conferir esse resultado realizando explicitam ente a integração. O
cálculo do valor médio de x é tam bém intuitivo, pois o potencial é simétrico, o que faz < # > igual a a/2 .
Qualquer sistema físico pode ser observado ao realizarmos medidas físicas sobre ele. Digamos
que se deseja medir o observável físico X. Conhecendo a função de onda do sistema, é possível
não apenas estimar qual seria o resultado médio, findo um número infinitam ente grande de
medidas, como tam bém prever qual a probabilidade de uma particular medida da variávelX
gerar o resultado xn. Da primeira pergunta trata o terceiro postulado da mecânica quântica,
que se define no limite em que o número de medidas é muito grande. No caso oposto, quando
tratam os de realizar uma única medida, o teorema da expansão nos auxilia a prever qual será a
probabilidade de se obter, como resultado, xn. Vejamos este ponto.
O segundo postulado afirma que qualquer medida do observável físico X somente pode
gerar um dos autovalores desse operador como resultado. O teorema da expansão afirma que
A Equação de Schrõdinger Unidimensional 87
o conjunto de soluções próprias d tX,Xn(x), constitui uma base na qual se representa qualquer
medida desse operador, ou seja 7o espaço X é completo. Se a função de onda do sistema é dada
por x¥n(x} t), então sempre será possível expandir a função de onda nas soluções próprias deX.
A fórmula a seguir mostra a forma dessa expansão:
¥ ,( * ,í) = I C A ( x l (2.72)
n
onde o coefiente Cnpode ser calculado tomando-se o produto interno da função de onda com
a função própria de A, Xn(x) e recorrendo-se à ortogonalidade de funções de onda que corres
pondem a diferentes autovalores:
r* +°3 ^
C JtQ) = <A’„(.v')/lI/,vv.,/0) > - f (xy¥ p,t0)dx (2.73)
No caso específico do operador hamiltoniano, com oX^ (x) são as próprias autofunções desse
operador, o resultado a que se chega empregando-se essa propriedade, a ortogonalidade das
soluções e o uso de uma função de onda previamente normalizada, é:
Exemplo 2.1-13
Para o exemplo anterior mostre qual é a probabilidade de se obter a energia Enem uma medida dessa propriedade. A função de onda
normalizada é W(x) = (30 / a 5 )^2x(a -x),enquanto os autovetores do operador hamiltoniano (energia) valem: (2/ a ^ 2seninnx/a).
Calcule o valor médio da energia para essa função de onda baseando seus cálculos no teorema da expansão.
R . Esta função de onda é claramente não-estacionária. Utilizando a Fórmula 2.73, calculamos o coeficiente Ç , cujo qua
drado nos dá a probabilidade de determinarmos a energia E{ em uma medida.
Calculando a energia como o valor médio do operador hamiltoniano, tal como sugere a Fórmula 2.75, chegamos ao se
guinte resultado:
Este resultado é idêntico àquele obtido no cálculo explícito do valor médio da h am iltonian a realizado no Exemplo
2 . 1- 12 .
3
88 Capítulo 2
Existem dois pontos a se discutir com relação à evolução temporal de grandezas na mecânica
quântica. Como a única grandeza que possui significado físico é a probabilidade, pode-se dis
cutir se é a função de onda que evolui tem poralm ente; e a cada tempo utilizamos o terceiro
postulado para o cálculo do valor médio do operador, ou se definimos operadores cujo valor se
altera no tempo. De fato, as duas possibilidades são correntemente utilizadas em mecânica
quântica. A primeira delas já foi enunciada, de modo que nos deteremos na análise de como o
valor médio de um operador evolui no tempo.
A evolução temporal das funções de onda já foi apresentada no estudo do primeiro postu
lado. Ela pode ser descrita, para potenciais estacionários, pelo produto de uma solução tem
poral vezes a parte espacial da função de onda, tal como apresenta a Equação 2.10. Para esse
tipo de sistema, pode-se calcular a taxa de variação no tempo do valor médio de um determi
nado observável físico O pela derivação da integral que define o valor médio desse operador
no primeiro postulado da mecânica quântica:
ô < Õ > _ r + co 8
õt J -°° õt (2.78)
ô< Ô >
' +> ; (x, o ■
^ ^ (x, t)dx+\ (x,t)dx+ \ +> ; {x, t) di (2.79)
õt -co Qf J -C O Qt J - 00 Õt
Esta equação é conhecida como equação de Ehrenfest, em homenagem ao físico que a deduziu
em 1927, e descreve o com portamento temporal de valores médios em mecânica quântica.
Vejamos, no Exemplo 2.1-14, como esse tipo de relação é uma im portante ferramenta para se
estabelecer a conexão entre a física quântica e o com portamento de sistemas clássicos.
E xem p lo 2 .1 -1 4
Mostre como a mecânica quântica reproduz a lei da mecânica de Newton em que õp/õt—-õV/õx. Utilize o teorema de Ehrenfest.
R . Pela equação anterior, calcula-se a taxa de variação no tempo do m om ento linear, dada por:
A Equação de Schrõdinger Unidimensional 89
Como o operador/? não depende explicitam ente do tem po; o primeiro termo à direita tem valor nulo, restando o cálculo
do valor médio do comutador do momentum com a hamiltoniana. O cálculo desse comutador reduz-se à contribuição do
comutador do potencial, já que p>2 com uta com /?. Calculando o segundo termo, temos:
[V W ,r i= r ® (2.33)
h dx
o que leva a:
ô<p> i „ 3 V (x )
d l ~ = ~h ~ õx~ > < 2- 8 4 >
A /“) A n A rj
cujo valor mede as flutuações que as medidas de O geram em torno do valor médio < 0 > .
Assim, é possível definir quanticam ente o erro e empregá-lo no estudo do princípio da incer
teza. A Equação 2.85 apresenta uma proposta nesse sentido. Seja o operador AA:
O valor médio de AA2 é sempre maior que zero, pois AÂ é um operador herm itiano e o valor
médio desse operador pode ser relacionado à Equação 2.87, cujo valor é positivo por ser um
quadrado perfeito.
Vejamos agora como aplicar esse conceito no caso de medidas simultâneas dos observáveisA e
B. Neste caso definiremos um operador misto, ou seja.
Ô = AÂ+iXAÊ (2.89)
r\ f tCO A A A A
< O >= [ { [ AA + XAB]'¥(x,t)]}*[AA + XAB]x¥(x,t)dx > 0
J — co
O últim o term o desta equação depende dos comutadores dos operadores A e B, ou seja,
X<i[A, B] > . Como os dois primeiros term os são positivos, é necessário que esta equação, de
segundo grau na variável X, não possua raízes. Se isso ocorrer, existirá um ponto, ou uma re
gião, na qual essa desigualdade não será respeitada. Para testar esta hipótese basta calcular
o valor de < 0 2> no ponto de mínim o desta parábola, dado por X = -<i[A ,B]>/2A B 2. Reali-
mentando esse resultado na equação original, obtém-se, para o valor de < 0 2> , o seguinte
resultado.
Para possuir valor positivo, esse resultado deve satisfazer a seguinte desigualdade:
Exemplo 2.1-15 . ■
Mostre que dois operadores, que comutam entre si’ admitem a existência de uma função de onda comum a ambos.
Ro Sejam os observáveis físicos A eB. Podemos m ostrar que as soluções próprias de A são tam bém soluções deS, ou seja:
Para mostrar isso, tomarem os a equação de autovalores do operador A e multiplicaremos esta, à esquerda, pelo opera
dor B:
Ê[Âua = aua ]
(2.94)
BÂua =aBuã
Com o o autovalor a é um escalar, o operador B não atua sobre ele, de modo que, utilizando a propriedade de com utativi-
dade entre A e B, obtemos:
A êu a ] = a[êuã ] (2.95)
Nesta equação, o leitor identificará que o operador A tem, na função Bua, o seu autovetor, e na grandezas um autovalor.
Fica provado assim que Bua é proporcional à ua, qualquer que seja o estado — nossa primeira hipótese, Equação 2.93.
Uma aplicação im portante das relações de com utação em mecânica quântica relaciona-se
com o uso da simetria e da paridade na solução de problemas físicos. Ilustraremos esta si
tuação no caso unidimensional, porém as conseqüências da simetria nos acompanharão em
todo este livro.
A Equação de Schrõdinger Unidimensional 91
Qualquer solução dessa hamiltoniana obedecerá a essa simetria para se representar uma so
lução física de um problema. Assim, sempre que a hamiltoniana exibir alguma simetria no po
tencial, a função de onda e todas as suas propriedades deverão mostrar valores médios
compatíveis com essa simetria.
Entende-se por regra de seleção uma lei, oriunda da teoria de perturbação dependente do tempo,
que permite prever quais são as transições observadas experimentalmente segundo um deter
minado processo de excitação. Apresentaremos esta lei de maneira confessadamente precoce,
porque ela ilustra e permite a discussão de muitos fenômenos importantes em química e física.
Citaríamos entre esses a compreensão da espectroscopia em química, seja ela a óptica, infra
vermelho, RMN, Raman, impacto de elétrons ou qualquer outra que se utilize. Como não fa
remos qualquer apresentação da teoria de perturbações dependente do tempo, procuraremos
apresentar apenas a lógica desse conceito e suas principais conseqüências práticas.
Quando analisamos a interação de um átomo e um campo eletromagnético — ou seja, da
luz com átomos e moléculas na espectroscopia óptica — devemos considerar que o campo ele
tromagnético é descrito por um potencial elétrico dependente do tempo. Dessa forma, utili
zamos a teoria de perturbações dependente do tempo, tomando como potencial perturbador
a interação de elétrons com o campo elétrico. Trabalhando esse conceito, obtem os uma ex
pressão relativamente simples para a absortividade molar, e(X), definida a partir da razão dife
rencial entre as intensidades de luz absorvidas por uma solução molar de uma determinada
substância no percurso ótico de í centímetros. A absortividade molar, grandeza freqüente
m ente medida em modernos laboratórios de química, para uma transição sujeita a campos de
luz pouco intensos é dada por:
4nsN ef
------i ----- f
1000hc ~ 4,331o-9 (2.97)
onde N denota o número de Avogadro e fon representa a força de oscilador para transições que
ocorrem entre XeX 4- dX. A força de oscilador é um número compreendido entre 0 e 1 (ou 2,
quando excitações duplas são permitidas) e mede a intensidade de uma transição eletrônica.
Para ilustrarmos esses valores, apresentaremos os valores da absortividade molar e forças de
oscilador de várias transições características, como por exemplo: a) transição proibida por
Sfin, 8 entre 10_5e 10°, com a força de oscilador valendo de 10-14 a 10-9; b) transição permitida
por sfin porém proibida por orbital, g entre 10°e 103, com a força de oscilador valendo de IO-9a
IO-6; c) transição orbital permitida, s entre 103e 105, com a força de oscilador valendo de 10 -6
a 1.
92 Capítulo 2
2
f0^n = -A E on < o/r/n > 2 (2.98)
Assim serão permitidas transições ópticas entre pares de estados para as quais <o/r/n> seja
diferente de zero. Empregaremos, em vários exercícios, esta fórmula para que o leitor tenha
familiaridade com o seu uso na espectroscopia atômica e molecular.
Outros term os geram contribuições proporcionais ao quadrupolo elétrico e ao produto
interno entre o m om ento angular e o campo m agnético, chamado de term o de dipolo mag
nético.
A esta altura, é pertinente fazer um comentário. Embora tivéssemos trabalhado exclusi
vamente com excitações induzidas pela luz — ou seja, o campo eletromagnético — , outras
formas de excitação existem e são utilizadas espectroscopicamente. Quando diferentes pro
cessos de excitação forem analisados, deverão ser empregadas regras de seleção específicas.
Um interessante exemplo encontra-se na espectroscopia óptica na região do infravermelho,
para a qual sabe-se que os modos ativos são aqueles que alteram o m om ento de dipolo do sis
tema molecular. Na espectroscopia Raman, onde o processo excitacional é o espalhamento,
são ativos os modos vibracionais que m ostram variação na polarizabilidade. O caso da espec
troscopia de impacto de elétron é outro ilustre exemplo, pois a elevada energia dos elétrons
que bombardeiam a amostra abre um sem-número de canais, fazendo com que as regras de se
leção dependam do ângulo e da energia do feixe espalhado. Ao longo deste livro analisaremos
principalmente a espectroscopia óptica, embora o leitor não deva se esquecer de que cada tipo
de espectroscopia terá suas regras de seleção específicas.
v(x)=v0, (2.99)
N dV(x) n
F(x) = — ^ - = 0 (2 . 100)
A Equação de Schrõdinger Unidimensional 93
gerando soluções não-ligadas onde a partícula possui qualquer energia, sem qualquer efeito
de quantização sobre a energia do sistema. Um segundo ponto deve ser observado no fato de a
hamiltoniana, composta apenas pelo operador energia cinética, com utar com o operador mo
mentum do sistema, [H,p] = \p2/2m,p] = 0 . Disso decorre que as autofunções do operador
energia devem ser autofunções simultâneas do operador momentum do sistema.
A equação de Schrõdinger para o problema da partícula livre é descrita na Equação 2.101,
com o vetor de onda k, que define o estado quântico do sistema:
- n 2 d2wK(x)
=E kx¥k (x ) (2.101)
2m õx 2
Trata-se de uma equação diferencial ordinária, cuja solução é uma combinação de exponen-
ciais de argumentos ± ikx , representando um trem de ondas com m ovim ento rumo à direita
e/ou à esquerda, ou seja,
onde k= p/fi ={2mE}íf 2/h. Para simplificar o problema, analisaremos apenas o problema do
trem de onda rumo à direita. Neste caso o argumento da exponencial é positivo e, agregado à
parte temporal, leva a função de onda à seguinte forma:
com k= p /h ew = E/h. Essa função de onda é periódica tanto espacialmente, com máximos es
paçados por 2n/k, quanto temporalmente, pois a função de onda exibe máximos que se su
cedem a cada intervalo de 2n/w. Utilizando a relação de Euler, Equação 2.104, interpreta-se a
parte real da função de onda como um trem de ondas se deslocando para a direita com mo
m ento igual a hk, como mostra a Figura 2.4.
Exemplo 2.2-1
Calcule o fluxo> conforme a fórmula 2.31, para a função de onda do problema da partícula livre.
R . Fazendo atuar o operador fluxo sobre a função de onda definida pela Equação 2.105, temos:
Essa função de onda representa um fluxo constante de partículas para a direita com velocidade de tik/m.
Exemplo 2.2-2
Mostre que a autofunção da partícula livre é também autofunção do momentum. Discuta o significado físico desse resultado.
R . Para verificar esta relação, basta calcular x¥k (x, t), verificando que o resultado é um múltiplo da função de onda original.
A constante de proporcionalidade é o momentum da partícula.
Figura 2.4
Trem de ondas e sua evolução
temporal.
Qualquer f
1
A Equação de Schródinger Unidimensional 95
(2.107)
Isto nos remete a uma segunda questão, mais complexa. Se a função de onda da partícula
livre, Equação 2.104, é com pletam ente deslocalizada, então essa função de onda é pouco útil,
pois na maioria dos processos físicos em que estudamos elétrons, prótons ou nêutrons estes
possuem caráter parcialmente corpuscular. De fato, se analisarmos a trajetória que a radiação
beta tem em camâras de Wilson (câmaras com vapor de água supersaturada que se con
densam com a passagem de pequenas partículas), nós nos convenceremos de que um elétron,
embora possua um com portamento ondulatório, não pode ser caracterizado por uma onda
completamente deslocalizada. A conclusão é que esta função de onda tem validade muito
restrita, não se prestando a representar sistemas físicos reais.
E im portante ressaltar que as soluções apresentadas para a equação de onda não têm qual
quer sentido físico, sendo apenas e tão-som ente soluções matemáticas que expandem as solu
ções fisicamente aceitáveis desse problema, uma vez impostas as condições de contorno
apropriadas. São, como queremos enfatizar, as condições de contorno que definirão o es
pectro físico de medidas do momentum e posição factíveis de serem realizadas, bem
como as principais características físicas desse problema. A próxima seção discutirá
este ponto.
Um elétron com alta energia geralmente se comporta como uma partícula. Portanto, deve
mostrar uma distribuição de probabilidade espacial fortem ente concentrada em torno x0 e
deslocando à velocidade Dessa forma, a maneira mais conveniente de representar essa
onda será vê-la como uma grande superposição de estados, cada qual com pesog(jfe), e cujo mo
mentum médio é fik. Esta soma constitui uma integral, dada pela Equação 2.108 , em virtude
dos valores não-quantizados que o momentum possui.
(2.108)
Nesta equação, o quadrado deg(k) representa o peso que a autofunção de momentum k tem na
função de onda final. Agregamos tam bém uma dependência funcional à freqüência angular w
na variável k porque, para um pacote de ondas com velocidades de grupo não-nulas (veloci-
dade do centro de massa), é necessário definir uma freqüência angular com essa dependência
para que o pacote se m antenha compacto por tempos compatíveis com o de uma medida fí
sica. A função w(le) é suave com as variações k - k 0e empregaremos uma série de Taylor em se
gunda ordem em torno de k0} ou seja,
(2.109)
De modo geral, a relação existente entre a função g(k) e a função de onda é a de uma trans
formada de Fourier. A Figura 2.5 apresenta uma transformada de Fourier de uma função de
grau no espaço dos m om entos para uma função gaussiana no espaço real.
Essa função de distribuição, que representa a probabilidade de encontrarmos uma partí
cula com momentum hk, é fortem ente concentrada em torno de kQ.É im portante ressaltar que a
dispersão média de m om entos em torno de k0 é dada por 2/a •2 , pois fora do intervalo defi
nido por ± l/ a 12 a densidade de probabilidade de encontrarmos partículas com momentum
desse valor cai para \/e do seu valor inicial. Portanto, definida a distribuição de momentos,
basta integrar a Equação 2.108, utilizando as aproximações mencionadas para a dependência
de w com k. A Equação 2.112 apresenta a integral explicitando todos os termos:
r 'i 1/2
¥ ( * í) = J íí: l e-*(k-ko)2e%(kx-[w0-&(k-k0)-Mk-kQ)2it} (2.112)
Figura 2.5
Funções de onda na
representação dos m om entos e
na representação das posições
para um pacote típico.
— ----------------------------- ►
K (momentun)
A Equação de Schródinger Unidimensional 97
f 1 V2
¥ ( x ,0 = | - j e ^ - ^ o O J ^ 113)
X
¥ (x ,t)= {a/n }1/2 ei('k°x~iw°t')e~^x~^ko~Wot^e~^x~^2/4('a+^t') f dq e~('a+i^ ~ ií,°^ (2.115)
J —co
= __x - Q t_ (2U 6)
0 2(a + /(3í)
A integral à direita na Equação 2.116 gera {n / (a + /Pí) } * 2, definindo o resultado final como:
í 1 1/2
¥ ( * , 0 = 1 — - — t e/(V_Wo0 e - (x_ôí)2/4(a+/p0 (2 117)
[ ( a + /pí)J
O estudante atento verificará que esta fórmula representa uma onda plana (termo exponen
cial) multiplicada por uma função envoltória gaussiana cujo centro de gravidade se desloca a
uma velocidade O para a direita. Tomando o produto dessa função de onda pelo seu complexo
conjugado, o leitor observará que a gaussiana não apenas se desloca para a direita como
tam bém se espalha com o decorrer do tempo.
X
¥*(x tW(x t) = «!______ - ______ L - a ( x - & ) 2/2(a2+|3V)
[ , m , > W + b W (2118)
E xem p lo 2 .2 -3
Mostre que a Fórmula 2.118 representa um pacote de ondas que se espalha progressivamente no tempo. Calcule a incerteza média em
medidas de x no tempo t.
2
R . Para uma distribuição gaussiana, e_av, a probabilidade de se determinar a partícula fora do intervalo compreendido
entre - a ~1//2 e a ”1/2 é menor em í/e que o valor na origem. Portanto, utilizando-se este critério define-se a dispersão do
erro como a meia-largura desta gaussiana. Calculando esta grandeza para a distribuição acima temos:
98 Capítulo 2
O pacote se alarga de maneira aproximadamente linear com t. Isto mostra uma peculiaridade do pensamento quântico.
M esmo em um restrito intervalo de tempo a deslocalização de medidas em tf cresce, aumentando o desconhecimento
sobre o "futuro" desse sistema.
E xem p lo 2 .2 -4
Tomadas definições consistentes de incertezas para medidas da posição e do mom entum (Eq. 2.119), mostre que o princípio da in
certeza é obedecido, não obstante o pacote de onda alargar-se com o tempo.
R . Calculamos a dispersão em medidas de p como sendo 2/ {a}12, enquanto a Equação 2.120 nos mostra o cálculo dessa
mesma dispersão para o pacote de ondas representado como função de tf. Tomando o produto dessas duas grandezas temos:
( a2+ p2r2) ] V2
ÁkAx = 4< (2 .120)
a
e na forma final:
1/2
pV
ÁpAx = 4 m 1 + (2 . 121)
a
Figura 2.6
Funções de onda na
representação da posição
para um pacote de onda
gaussiano e sua evolução
temporal.
A Equação de Schrõdinger Unidimensional 99
A Figura 2.6 m ostra a forma que esse pacote de ondas tem no espaço dos m om entos e a
conseqüente distribuição deste no espaço das coordenadas. E apresentada tam bém a evo
lução temporal desse pacote.
f 0, se x < 0
VW = lF 0 , se . È O <2 1 2 2 >
O mundo quântico revela algumas semelhanças com o com portam ento clássico. Conside
rando-se que o potencial degrau é descontínuo, sabe-se que existirão diferentes equações em
cada uma das regiões. Portanto, resolveremos todas essas equações procurando obter soluções
com flexibilidade m atem ática para satisfazer as condições de continuidade da função de onda
e de suas derivadas nos pontos de descontinuidade.
A esquerda a energia é maior que o potencial, pois ali o m ovim ento da partícula é livre,
seja para a esquerda (fluxo incidente), seja para a direita (fluxo refletido). A seguir, na Equação
2.123, apresentamos a equação de Schrõdinger para essa região do potencial:
100 Capítulo 2
A solução geral para uma equação diferencial desse tipo é dada por:
onde k representa o núm ero de onda para uma partícula e cujo valor é dado por
k = p/h = (2mE)^'2/ h 2 . O primeiro term o descreve um trem de ondas caminhando para a di
reita com intensidade /*/, enquanto o segundo mostra um feixe de ondas, de intensidade R *R,
refletida pela barreira de potencial. Está claro que tanto I quanto R devam ser determinados
pelas condições de contorno aplicadas à autofunção desse potencial. O Exemplo 2.3-1 calcula
o fluxo desse trem de ondas.
R . Empregando a definição do operador fluxo, e aplicando-a à função de onda definida pela Equação 2.124, obtemos:
hk (2.125)
j[ I e ^ +Re~ikx]= — [ r i- R * R ]
m
É evidente, por essa equação, que os valores de I e R definirão o fluxo de corrente em um sentido e no sentido oposto.
Õ2W(x) _ 2m „ , FW( ,
A equação diferencial admite, neste caso, uma solução não-oscilatória definida por uma com
binação de exponenciais, dada por:
onde q ={2 m(Vq -E )}^ 2/h. Designaremos os coeficientes T e D por coeficientes de trans
missão e reflexão, respectivamente, embora saibamos que, nas condições de contorno utili
zadas, onde o feixe de elétrons vem da direita, só existirá transmissão se a energia do feixe for
maior que a do potencial. Entretanto, isto não impede que se observe, em mecânica quântica.
uma pequena probabilidade de encontrarmos a partícula à direita da origem, fruto da conti
nuidade da função de onda na origem e do princípio da incerteza.
À direita da origem, observaremos que da combinação arbitrária 2.127, somente apro
veita-se o primeiro termo, visto que o term o exponencial crescente dá origem a uma função
que tende a infinito com o crescimento de tf. Abdicaremos deste termo e nos restringiremos
ao term o exponencial decrescente que mostra um com portamento aceitável para uma so
lução física.
Definidas as soluções gerais em cada região, é necessário determinar os coeficientes I,R e
T que definirão a função de onda completamente. Esses coeficientes são determinados a
partir de duas condições físicas independentes: a da continuidade da função de onda na
origem,
(2.128;
I+ R = T,
A Equação de Schródinger Unidimensional 101
Com duas equações e três incógnitas, é possível calcular o valor da razão R /I e.T/1 em função
da energia e da diferença de potencial no degrau. Resolvendo estas equações temos para a
razão R/I:
R _ k -iq
(2.130)
I k + ia
T
(2-131)
R *R _ (k + iq )(k -iq )
7*7“ (k -iq )(k + iq)~ (2 -132)
enquanto
r*r 4 k2 4k
/*/ (k -iq )(k + iq) k 2 + q2 (2.133)
O resultado mostra que o trem de ondas sofre reflexão total, de acordo a intuição clássica. Por
outro lado, o coeficiente T é um número que, embora pequeno, não se anula. E esse pequeno
número que justifica a presença de partículas à direita da origem, uma região classicamente
proibida. Este inusitado fenômeno tem o nome de efeito túnel e mostra um com portamento ti
picamente quântico. A profundidade de penetração pode ser estimada utilizando-se o con
ceito de largura média. Neste caso, calcularemos a distância de penetração estimando o ponto
no qual a probabilidade cai a l/e de seu valor inicial. O Exemplo 2.3-2 ilustra este cálculo.
Exemplo 2=3-2 ; •
R. A função de onda na região de x positivo é descrita por uma exponencial decrescente, cujo argumento vale
q = {2 m(VQ-E )}^ 2/h . O valor de Àx para o qual a probabilidade cai a l/e de seu valor na origem é dado por:
T * Te ~ = T*Te~\ (2.134)
que leva a:
Ax
a
=—1
= h
2q 2{2m(y() - £ ) } y2 (2-135)
102 Capítulo 2
Utilizando a massa de um elétron e energias da ordem de grandeza do eV, o leitor se convencerá de quão grandes são essa
penetração e suas conseqüências físicas não-clássicas.
i
É importante ressaltar que, embora o trem de ondas penetre na barreira, não existe fluxo de
probabilidade para a direita. Como a energia não é suficiente para sobrepujar a barreira, o que
se observa é uma reflexão completa das partículas de volta à esquerda. A analogia com o
dique, ou represa, é interessante. Embora as paredes fiquem úmidas e molhadas, em decorrên
cia do contato permanente com a água represada, não existe qualquer fluxo mensurável de
água pelo dique. A Figura 2.7 traz um esboço da função de onda para esse caso.
Figura 2 .7
O potencial, a energia, a função V(x)
de onda e a respectiva
E
distribuição de probabilidade
para o problema do degrau de
potencial com energia menor
que a barreira de potencial.
R _ k -q
(2 -136)
T _ 2k
7 =J+ ã (2-137)
Figura 2.8
O potencial, a energia, a função
de onda e a respectiva
distribuição de probabilidade
para o problema de um degrau V(x)
de potencial quando a energia é
maior que a barreira de
potencial.
A Equação de Schrõdinger Unidimensional 103
É interessante analisar fisicamente esses resultados. A Figura 2.8 ilustra o com porta
m ento desta função de onda. Primeiramente deve-se ressaltar que a probabilidade de trans
missão é não-nula e vale:
R*R _ { k + q)2
1*1 -ri (2.139)
( i - v 0/£)y 2 _ } 2 _
R = l - T = {-
(1+(1 -VJE))V2 (2.140)
A Figura 2.9 m ostra como R e T variam com a razão E/V 0. Como nessa figura são lançados re
sultados para dois casos distintos utilizamos, no caso em que E <V0, a Fórmula 2.130, en
quanto que para o caso de energias maiores que a do potencial utiliza-se a Equação 2.140.
Qualitativam ente podem-se observar alguns pontos importantes: se a energia é menor que o
potencial, ocorre reflexão total e a transmissão é nula. Por outro lado, quando a energia é
maior que o potencial, a probabilidade de reflexão vai diminuindo com o aum ento da energia,
enquanto a transmissão vai, proporcionalmente, aumentando. O fluxo nessa região, que no
primeiro caso possuía valor nulo, se iguala ao incidente, com o aumento na razão E/VQ. A pe
netração na barreira para o primeiro caso vai paulatinam ente crescendo com a razão E/VQaté
que o feixe de partículas tenha energia suficiente para sobrepujar a barreira de potencial.
Figura 2.9
Diagrama apresentando as
variações dos coeficientes de
reflexão e transmissão com a
razão energia/barreira de
potencial.
U; se x < - a
V(x) = VQ se - a > x > a (2.141)
0 se x > a
Como este potencial é descontínuo, há distintas equações diferenciais para cada uma das re
giões estabelecidas pelo potencial. A esquerda de x = - a , a energia será maior que o potencial,
de modo que a partícula possui movimento livre, seja para a esquerda (fluxo incidente), seja
para a direita (fluxo refletido). A seguir apresentamos a Equação de Schródinger para esta
região:
- h 2 d 2^ ( x ) _
2m a * 2 W (2.142)
onde k representa o vetor de onda para uma partícula nesta região e cujo valor é dado por
p / h = (2mE)í/2/h . O primeiro termo descreve um trem de ondas caminhando para a direita
com intensidade 1*1, enquanto o segundo descreve a onda refletida, vindo da barreira de po
tencial e rumo à esquerda com intensidade R*R. No intervalo entre - a e a a energia é menor
que o potencial imposto, de modo que a equação diferencial toma a seguinte forma, Equação
2.144:
d 2W(x) 2m(VC) - E )
°, V (X) (2.144)
õx h
A solução geral desta equação é dada pela combinação de exponenciais a seguir apresentada:
k { I * I- R * R )= q ( A * A - B * B )
(2.149)
q (A *A -B *B ) = k T * T
-2 ika I2 ú jh
T =e (2.152)
2 k q c o sh 2 q a -i{k 2 - q 2)senh2cja
(2qk)
(2.153)
(q2 + k 2 )2 senh2 2qa + (2kq)‘
106 Capítulo 2
Esta equação servirá como base para o estudo de espalhamento em potenciais unidimensio-
nais; idealizados como uma superposição infinita de pequenas barreiras de potencial no mé
todo WKB.
O caso em queE <VQilustra a importância do tunelamento em mecânica quântica. Clas-
sicamente não deveríamos esperar qualquer passagem de partículas para a direita, pois o que
ocorre é a completa reflexão das partículas pelo potencial; mas; quanticamente, a continui
dade da equação de Schródinger impõe uma probabilidade não-nula de se encontrar a par
tícula nessa região. Essa probabilidade, como já vimos, é decrescente com a espessura da
barreira e cresce com a diferença entre a energia do feixe e o potencial da barreira.
- 2 ika Ity k
T=e
c o s 2 q a -i(k 2 + q 2)sen2qa (2.156
Trata-se de um potencial que confina a partícula entre a origem e o ponto em que# = a. Deve-
se ressaltar que o potencial é par em relação ao centro da caixa, tf = a / 2, o que impõe que a au-
tofunção possua simetria (paridade) bem definida em relação a esse ponto. Não obstante a
simplicidade desse modelo, ele vem sendo utilizado extensivamente e com excelentes resul
tados na estimativa e compreensão de fenômenos que vão da estrutura nuclear, gases ideais,
polienos lineares e cíclicos e polímeros à teoria de bandas em sólidos, entre outros fenômenos.
P(x)Ax=NAt = — (2.160)
v(x)
Figura 2.10
Diagrama apresentando a
probabilidade de transmissão e
reflexão para o problema da
barreira de potencial. Nos
pontos extremos do gráfico onde
a transmissão é
aproximadamente unitária e a
reflexão reciprocamente nula
observa-se o efeito Raumsauer.
10
E l Vo
Exemplo 2.5-1
Determine o comportamento clássico de uma partícula sujeita a um potencial desse tipo e calcule as seguintes propriedades: a) valor
médio de x, ou seja, < x > ; b) <xz>; c) < p > ; d) <p2>; e) <H > .
R . Utilizando a Distribuição 2.160 de probabilidade, o estudante se convencerá de que o cálculo do valor médio d e* gera
a/2, e que o cálculo do momentum médio é nulo, em face do caráter confinador do potencial. Para as demais propriedades,
as integrais e os cálculos para essas grandezas estão apresentadas a seguir.
(* & o f* ^ 9
a )< x > = J q x / a d x b )< x > = J 0 '*: / a d x
Figura 2.11
Distribuição de probabilidade
para uma partícula clássica em
uma caixa.
A Equação de Schródinger Unidimensional 109
Analisaremos as soluções região a região. Na primeira região, #<0, o potencial é infinito, anu
lando a função de onda e, conseqüentemente, a probabilidade naquela região. Na segunda re
gião, definida como o interior da caixa, o potencial é constante e tomado como zero em toda a
sua extensão. A equação de Schródinger se escreve, portanto, como:
2m dxz
Ora, esta é uma bem conhecida equação diferencial, cujas soluções são senos ou co-senos do
argumento kx, ou seja:
onde k vale {2mE}12/Ti. Na terceira região, definida à direita da caixa (x>á), a função de onda
volta a possuir valor nulo em virtude do potencial infinito naquela região. Sendo assim, a
função de onda no interior da caixa de potencial necessita respeitar duas condições de con
torno independentes apresentadas na Equação 2.164.
A primeira condição de contorno elimina a função co-seno, apresentada como uma possível
solução geral da Equação 2.163, restando a solução em seno. A segunda condição impõe restri
ções sobre os valores aceitáveis para k para satisfazer a condição
N sen(ka) = 0. (2.165)
Assim, o argumento ka deve necessariamente ser um múltiplo de « 71, ou seja, k possui valor
quantizado e igual a nn/a. Nesta expressão n representa um número inteiro positivo que
quantifica a energia do sistema. Levando este resultado à Equação 2.162, temos:
E., = ^ 4 (2.166)
A última equação mostra como a energia depende do número quântico n. A função de onda é
dada por:
r V2
(p„(#) = |—| sen(n7ix/a) (2.167)
O Exemplo 2.5-2 determina a constante de normalização para este problema, enquanto a Fi
gura 2.12 apresenta a função de onda e as respectivas distribuições de probabilidade para os
primeiros estados desse sistema.
110 Capítulo 2
Exem plo 2 .5 -2
f xF * (r ,í)'í/(f,?)^r3 = 1 (2.168)
J —CO
1 1
f dx —[1 - cos(2h/kx/ a)] = —[x - a l2 n n sen(2nnx / a)]\a0 = 1 (2.170)
J -°° a a 1
A esta altura é conveniente discutir algumas características de uma função de onda “li
gada” (ou seja, confinada). Conforme havíamos discutido em seções anteriores, deve-se res
peitar algumas propriedades, a saber:
i) A simetria com relação ao ponto x = a /2. Como a hamiltoniana e um operador que comuta com a
operação de reflexão em torno de x = a /2, a função de onda deve possuir simetria bem definida com re
lação a esta operação. Isto é, a função de onda deve ser par ou ímpar com relação a essa operação. A Fi
gura 2.12 mostra que as funções de onda apresentam simetrias bem definidas, alternando a sua pari
dade com o aumento de energia. O estado fundamental por exemplo, é par enquanto o primeiro estado
excitado ímpar, o segundo par, o terceiro ímpar, e assim por diante.
ii) A Figura 2.12 mostra a inexistência de nós para o estado fundamental, um para o primeiro estado
excitado, dois para o segundo estado excitado e assim por diante. O número de nós é diretamente pro
porcional à energia da função de onda.
Um segundo ponto necessita ser esclarecido, e está ligado a uma analogia com o problema
da partícula livre. Naquele caso determinamos que as funções de onda eram simultanea
mente funções de onda do operador momentum. Analisando o comutador [H, p] para este pro
blema, seriamos levados a supor que a função de onda seja, simultaneamente, uma função de
onda do momentum. Este é o caso discutido no Exemplo 2.5-3.
Mostre que a função de onda da energia não í uma função de onda simultânea do momentum.
O leitor verificará que ^¥(x) não é uma autofunção de p. Esta aparente contradição decorre da dificuldade de se lidar com
potenciais descontínuos e operadores que envolvam derivadas. O estudante deve ter atenção para não ser traído por este
detalhe.
i
Figura 2 .1 2
Função de onda para os
primeiros estados quânticos do
problema da partícula em uma
caixa de potencial. j± h
16líl u_____ s ______ n_ 3 16 h
8 má 8 ma
9 h2
_ 2
8 ma
4 h2
r, 2
8 ma
h2
8 ma2
Comparando as propriedades clássicas e quânticas deste sistema, a Figura 2.12 mostra a dis
tribuição de probabilidade para os estados fundamentais, excitados e hiperexcitados corres
pondendo aos números quânticos 1, 2 e 3, e a Figura 2.13 mostra a distribuição de probabili
dade do estado 50. Nestes gráficos é possível verificar que as distribuições de probabilidade
são apreciavelmente diferentes das distribuições clássicas nos estados de mais baixa energia,
pois nesses a probabilidade concentra-se no centro do potencial. Na medida em que o número
quântico cresce, a distribuição de probabilidade quântica passa a ocupar as regiões externas
de maneira uniforme, mostrando um comportamento oscilatório em torno da distribuição
clássica. De fato, tomados números quânticos suficientemente grandes, pode-se dizer que,
em média, o comportamento quântico reproduz o comportamento clássico, em acordo com o
princípio da correspondência estabelecido por Bohr na antiga teoria quântica. Apesar dessa
marcante diferença encontrada para as probabilidades clássicas e quânticas, os valores mé
dios calculados são os mesmos, como ilustra o Exemplo 2.5-4.
112 Capítulo 2
Figura 2 .1 3
Distribuição de probabilidade
para estados quânticos
W
hiperexcitados semiclássicos
do problema da partícula em
uma caixa de potencial.
(n » 1 )
Exittipto 2 .5 -4
Calcule, com a distribuição de probabilidade quântica para o estado fundamental o valor médio das grandezas definidas no
Exemplo 2.5-1.
Í +CC /V
x¥*(r,t)A'¥(r,t)dr
<A>= — 00
(2.172)
í ¥ * ( r ,t ) y¥ (r,t)dri
J — 00
Como trabalhamos com funções de onda normalizadas, omitiremos o cálculo da integral no denominador, que possui
valor sabidamente unitário. O cálculo da integral do numerador será explicitado para cada operador, ou seja:
Í +OD 2 (2.173)
dx{—}sen (m v c/a)x sen{nm / a),
a
tomada em consulta direta de um handbook. Fisicamente este resultado é esperado, tendo em vista a simetria pontual em
a 12. As demais integrais podem ser calculadas de maneira análoga, de modo que deixaremos ao leitor apenas os resultados
finais.
Outro ponto digno de comentário está ligado aos nós e sua interpretação em mecânica
quântica. E comum nos depararmos com um embaraçoso paradoxo clássico sobre as conse
qüências físicas desses nós. Como esta questão sempre ocorre, é conveniente fazer um co
mentário procurando evitar futuros enganos. O paradoxo consiste em se admitir que uma
partícula jamais poderá passar sobre um nó, visto que ali a probabilidade é nula. Admitida
essa idéia, a conseqüência seria que uma partícula à esquerda jamais poderia passar para a
direita desse nó, o que estaria em flagrante divergência com a distribuição quântica simétrica
A Equação de Schródinger Unidimensional 113
em torno de x = a 12. A solução desse aparente paradoxo, como muitos outros em mecânica
quântica, consiste em não oferecer resposta, mas em refutar a pergunta. De fato, quando se
utilizam os verbos passar ou estar adotamos implicitamente uma visão corpuscular que é in
compatível com o caráter ondulatório da mecânica quântica. Dessa forma, a pergunta como a
partícula passaria é completamente fora de contexto, devendo ser evitada.
Calcule o valor de Ap.Ax explicitamente para o problema de uma partícula em uma caixa e mostre que ele é crescente com o estado
quântico. Siga os seguintes passos: a) calcule <xz> e < x > ; b) calcule < pz> e < p > ; c) calcule Ax2 = < x 2 > - < x > 2 e
Ap 2 = < p 2 > - < p >2; e, por fim, d) calcule Ax.Ap. Sempre que puder, lance mão de considerações físicas.
R. O objetivo deste exemplo é o de ilustrar o princípio da incerteza aplicado ao problema de uma partícula em uma caixa.
Determinando as grandezas desejadas temos, de cálculos de exercícios anteriores, os seguintes resultados:
2 (2.178)
o que leva a:
y2
limn^^ApAx —> nhn (2.179)
A Equação 2.179 mostra que a incerteza associada a medidas de x e p cresce com o número quântico.
Nesta seção mostraremos como o potencial caixa descreve qualitativamente uma série de po-
lienos conjugados. Apresentaremos o espectro de vários desses sistemas conjugados. Consi
deremos os elétrons n de sistemas conjugados. Neste sistema um determinado orbital atô
m ico 7i a p re se n ta grande e n tro sa m e n to com o rb ita is de áto m o s v iz in h o s e;
conseqüentemente, os elétrons tendem a se deslocalizar ao longo do sistema tt. O potencial a
que elétrons n estão sujeitos é grosseiramente parecido com o do potencial caixa, ou seja, um
potencial fortemente repulsivo nas extremidades e aproximadamente constante ao longo das
sucessivas ligações conjugadas. O Exemplo 2.5-6 ilustra esta analogia.
Exem plo 2 .5 -6
Os quatro elétrons n da molécula de trans-butadieno podem ser representados por um potencial caixa. Utilize seus conhecimentos
sobre o princípio de preenchimento de Pauli e responda às seguintes questões: i) qual é a configuração do sistema em seu estado funda
mental? Supondo que os elétrons nã>o interagem entre si, calcule a energia do estado fundamental) ii) faça o que foi pedido no item i
aplicado ao primeiro estado excitado. Calcule a energia de transição desse sistema; iii) explique porque ao longo de uma cadeia de
polienos lineares existe uma tendência a ocorrerem absorções no visível com o crescimento da cadeia.
R. Existem quatro elétrons nesse sistema, cada qual originado da contribuição de um átomo de carbono. Modelando-se o
sistema n como o de um potencial caixa e procurando-se respeitar o princípio de exclusão de Pauli, os dois estados de mais
baixa energia serão ocupados por quatro elétrons no estado fundamental. Esses estados descrevem o orbital ligante, onde
os quatro orbitais pz do carbono estão em fase, enquanto o segundo representa a combinação antiligante dos dois orbitais
C = C terminais. O primeiro orbital excitado, representado pela combinação em fase de orbitais antiligantes C = C, é
ocupado no estado excitado, no qual um elétron do nível n = 2 é promovido ao orbital cujo n = 3.
A energia do estado fundamental desse sistema, definida em unidades de Ex} formalmente de valor Ew = h28ma2, vale
E q = {2 (l2) + 2(2 2 )}E x =10Ew , enquanto que no estado excitado ela tem o valor de E1 = {2 (l2) + l(22) + l(3)}i% =15EW, ge
rando uma diferença de 5Ew para a energia de transição desse sistema.
A grandeza Ex depende do inverso do quadrado do tamanho da cadeia, levando as transições a ocorrerem em regiões
do visível com cores intensas.
A Tabela 2.1 mostra o comprimento de onda em que ocorre a máxima absorção para uma
série de polienos lineares. O leitor observará que em polienos de cadeias curtas as absorções
concentram-se no ultravioleta longínquo, mas que, com o aumento da cadeia, vão
progressivamente se aproximando do visível. Esse é o motivo pelo qual os indicadores ácido-
base utilizados em química experimental são fundamentalmente compostos que, por proto-
nação ou desprotonação, alteram significativamente o tamanho de suas cadeias conjugadas.
Quando isso ocorre, intensas cores surgem ou desaparecem, permitindo o uso dessa subs
tância como indicador em reações ácido-base. Exemplos interessantes para esses indicadores
podem ser encontrados na Figura 2.14, onde alguns deles são apresentados. A fenolftaleína
apresenta a conjugação limitada aos dois anéis benzênicos em sua forma protonada, que é in
color. Na forma desprotonada, a conjugação se estende por quase toda a molécula, levando-a
a apresentar absorções na região do visível. O Exemplo 2.5-7 ilustra esta análise.
Exem plo 2 .5 -7
Calcule, com base no potencial caixa, as freqüências de absorção mais intensas do sistema n do polieno a seguir. Compare esses resul
tados com resultados experimentais quando o tamanho da cadeia é variado.
A Equação de Schródinger Unidimensional 115
R. O espectro desse sistema é determinado pela diferença de energia entre o orbital ocupado de mais alta energia (HOMO),
possuindo número quântico igual a ZK /2, e o desocupado de mais baixa energia, cujo número quântico vale Zn /2+%
sendo ZK o número de elétrons n desta molécula. Assim, considerando-se que o comprimento da caixa é o tamanho da ca
deia, dado aproximadamente p o r l =2^ •/, e supondo-se o valor de /como 1,4 A, a energia fica determinada por:
0 10 17.000 17.000
1 12 14.000 14.100
2 14 11.900 12.200
3 16 10.300 10.700
Figura 2.14
Fórmulas estruturais para vários INDICADOR E
COR CARACTERÍSTICA FÓRMULA
indicadores em suas formas
ativas (cromóforas) e não-ativas.
O
Metil-violeta
amarelo-verde
nhch 3
h3c ^ ch 3 h3c ^ h ch 3
Azul de timol
vermelho-amarelo " v k , v 0
544-430 nm H3c Ç ch 3
J y S 0 3H
Alaranjado de meíila
vermelho-laranja-amarelo (CH3)2N - h Q - N = N S° 3Na
522-464 nm
116 Capítulo 2
Os parágrafos anteriores mostraram que o espectro de um polieno linear pode ser descrito de
maneira aproximada pelo potencial caixa. A forma do espectro determinado por esse poten
cial, ou seja, quais seriam as transições permitidas deste problema, é definida pelos resultados
da Seção 2-1 na Equação 2.181, que determina a intensidade de transições ópticas:
O cálculo desta integral revelará, naturalmente, as regras de seleção deste problema. Porém, é
mais interessante analisar os aspectos qualitativos dessa integral, indicando o resultado final
sem fazer explicitamente esses cálculos. Para simplificar nossa análise utilizaremos uma es
colha de eixos simétricos, situados em a!2. A vantagem do uso desses eixos é que todos os
termos presentes no integrando têm simetrias claras com relação ao centro da caixa.
A integral presente na Equação 2.181 envolve o produto de três termos, (pH,(pw e tf. As
funções de onda são pares ou ímpares, dependendo de o número quântico ser respectiva
mente par ou ímpar. Já a variável tf é uma função ímpar, o que obriga a que o produto
cpM.(pmseja ímpar para que a integral não se anule. Portanto, qualitativamente, é possível esta
belecer que as transições ópticas em potenciais do tipo caixa se dêem entre estados de pari
dade distinta, ou seja, as transições 0 —>1,1 —>2 e 2 -> 5 são permitidas, enquanto transições
como 0 —> 2,1 —>3 e 2 —>4, são proibidas por regras de seleção.
(Z+1 ) / z 2
Outro aspecto, também qualitativo, indica que a integral 2.181 é fortemente decres
cente com a diferença n - m . Isto é facilmente depreendido se fizermos um pequeno dia
grama envolvendo a integração dessa grandeza quando m é muito maior que n, por
exemplo. Assim, o produto cp„ por tf varia suavemente no intervalo [0, a], enquanto cpw se
comporta como uma função fortemente oscilatória nessa região. O resultado desta inte
gração se aproxima de zero na medida em que a diferença de números quânticos aumenta,
pois para cada contribuição positiva a esse integrando poderemos contabilizar uma se
gunda, de igual valor absoluto e negativa, a esse integrando. O espectro calculado tem a
forma de uma banda intensa envolvendo os estados próximos ao nível de Fermi e caindo ra
pidamente com a diferença de energia.
A Equação de Schrõdinger Unidimensional 117
- 2 ea (Q2 - A2)
(2.183)
~n2 Õ^Ã2
A equação de Newton (Eq. 2.185), descreve o movimento de uma pequena partícula de massa
m sujeita a uma força proporcional à deformação da mola para com a sua posição de equilí
brio, ou seja, X(t) =R(t) -R eíj.
Trata-se de uma equação diferencial clássica, cuja solução é dada por uma função seno ou
co-seno de argumento wt, onde w é igual a { k / m}^2. A função seno, pela escolha de condições de
contorno com deslocamento não-nulo no tempo t = 0, é eliminada, restando o co-seno. As
sim, o deslocamento é descrito por uma função co-seno onde A é o deslocamento máximo
118 Capítulo 2
X(t)=Acos(wt) (2.186)
A energia total pode ser calculada de duas formas distintas. Na primeira, verifica-se que no
momento de máxima elongação a energia é estritamente potencial, ou seja, é dada por
Et = kA 2/ 2. Por outro lado, quando a elongação é nula, toda a energia é cinética, o que gera
Et = mw 2A 2/ 2. Estas expressões determinam A em função da energia total e vice-versa. A
Equação 2.188 apresenta o valor da energia cinética,
n/ N, 2Ax 2Ax
{x) X ~ % vm ~ t{2 ( E - k x 2 12)1 m $ 2 (2' 191)
O gráfico desta função exibe um comportamento típico. A figura apresenta dois pontos além
dos quais a partícula não estende o seu movimento, conhecidos como pontos de retorno clás
sicos. Fora dessa região é proibida a presença de partículas clássicas, pois ali a energia potencial
é maior que a energia total do sistema. O gráfico apresenta uma região central onde a probabi
lidade de se encontrar a partícula é baixa (devido à alta velocidade), enquanto nos extremos
esta probabilidade cresce, dada a baixa velocidade próximo aos pontos de retorno clássico. A
Figura 2.18 ilustra estas características, enquanto o Exemplo 2.6-1 discute o cálculo de pro
priedades clássicas desse sistema.
Exemplo 2.6-1
Calcule os valores médios das seguintes propriedades clássicas do oscilador harmônico: a) < x >; b) <xz> ; c) < p > e d) <pz>.
R . O cálculo desses valores médios é realizado por meio do teorema do valor médio para integrais. Calcularemos < x >
explicitamente a seguir:
A Equação de Schrõdinger Unidimensional 119
1 rT A i (2.192)
# > = - [ A cos wt dt = — sen wt\J = 0
TJo w 10
onde t representa o período de vibração dado por 2n/w. As demais integrais são equivalentes. Apresentaremos apenas os
resultados; b) < x2> = E /k ; c) < p > = 0 ; d) < p2>=E\i.
A solução quântica para o problema do oscilador harmônico (OH) é mais elaborada que sua
solução clássica. Infelizmente ela é necessária, pois ali estão contidas importantes ferra
mentas de trabalho em química quântica, além de constituir um roteiro padrão para solução
de problemas semelhantes. Discutiremos este problema obedecendo aos seguintes passos:
a) Propõe-se uma solução assintótica para o comportamento deste problema em grandes deformações;
b) Reescreve-se a equação diferencial deste problema de modo a se respeitarem as condições assintóti-
cas definidas no item anterior;
c) Encontra-se uma série de potências que resolve a equação diferencial obtida no item anterior; e, por
fim,
d) Obtém-se uma solução estritamente matemática da equação de Schrõdinger do problema. Infeliz
mente, o comportamento assintótico incompatível com o item a) impõe o truncamento desta série em um
determinado termo. Isto feito, determinam-se as energias fisicamente permitidas para este problema.
Vejamos cada um desses passos em separado. A equação diferencial que um oscilador har
mônico quântico deve satisfazer é a seguinte:
-h2
n aô 2x¥
^ x(x)) + *h xX2 y {x)ss {x) (2.193)
2m õx2 2
As condições de contorno impõem que nos extremos à esquerda e à direita a função de onda
deve se anular. Nesses limites identificaremos que a contribuição harmônica é dominante, o
que simplifica essa equação na seguinte equação diferencial, dita assintótica, em x:
-h 2 õ2x¥ M íex2
+ =0 (2.194)
2m õx2 2
onde a 2vale km / h 2, que, no limite de x grande, tende assintoticamente a zero, como é o com
portamento de funções bem-comportadas.
Infelizmente esta solução não satisfaz a equação diferencial em todo o espectro de posi
ções. Para que esta solução seja aceitável, é necessário multiplicá-la por uma função, Hn(x),
cuja finalidade é descrever o batimento de ¥ ( * ) nas regiões centrais. A Equação 2.196 mostra
a forma final da função de onda.
Obtenha a equação diferencial para a função H n(x), apresentada na Equação Z. 197 de modo a se respeitar a equação de Schródinger
do OH.
R . O processo padrão de resolução deste problema consiste em explicitar as derivadas sobre a função H (x). A segunda de
rivada é dada por:
Utilizando as derivadas definidas anteriormente na equação diferencial original e lembrando o valor de a, a = {km / h 2}^2,
temos:
Uma pequena transformação de variáveis, £, = a 112x, dará a esta equação a forma reconhecida
na literatura como equação diferencial de Hermite, cujas soluções foram estudadas e tabe
ladas por Charles Hermite (1822-1901) na segunda metade do século X IX (Eq. 2.200).
Esta equação contém apenas derivadas e potências de o que a candidata a ser resolvida por
uma série de potências com coeficientes a determinar, Equação 2.201.
Ha ® = £ r ' Z a „ ? (2.201)
n= 0
Exem plo 2 .6 -3
Obtenha as relações de recorrência para a série que resolve a equação diferencial de Hermite (Eq. Z.ZOO).
R. Introduzindo a série 2.201 na equação de Hermite e obrigando, pelo cálculo dos coeficientes, que esta seja uma solução
matemática da equação original, determinam-se os valores de a n. Calculando a primeira derivada:
dM > = f j a n (F + n ) r m- 1 (2.202)
K o
A Equação de Schrõdinger Unidimensional 121
e a segunda derivada desta série, temos:
d 2Hn&
=Z a « 0 ? + «)(/?+ « - W +" 2
ã? (2.203)
Esta equação mostra três somas distintas, cada qual com sua potência em Cabe-nos reescrever estas somas de modo
que as potências de t, sejam estritamente comparáveis entre si. Reagrupando os dois últimos termos e alterando o índice
mudo de soma n por n' 4- 2 na primeira série, temos:
Desta forma é possível identificar claramente os termos de cada potência, o que nos permite reescrever essa equação na
forma:
Como esta equação necessita ser satisfeita em quaisquer condições, é necessário que cada coeficiente, multiplicando-se
uma determinada potência de x, seja igual a zero, o que gera três equações distintas relacionando os coeficientes e as po
tências entre si, ou seja:
a 0p ( p - 1)= 0 (2.207)
Oiaa Z7
a n+2 {{p, + n+2){p + n + V) + {— - - 1 - 2(p + n)}a„ = 0 (2.209)
a /T
As duas primeiras equações são ditas indiciais, sendo satisfeitas quando p supõe valor nulo. Levando isso à terceira
equação obtemos uma relação de recorrência, que nos permite calcular a n+2, conhecido o a n. Esta relação é apresentada na
seguinte fórmula:
[2 m E /ah 2 - 1 - 2 n] (2.210)
ãn+2 ~ (h + 2)(« + 1) an
A esta altura é necessária uma meticulosa análise para se identificar o sentido físico dessas
fórmulas. Primeiramente, deve-se recapitular que a solução completa é dada por:
2 °°
xPn(x)=Ntte~*s /2 'YJ an^n onde ^ = a^2x (2.211)
n=o
entre os coeficientes tende assintoticamente a a n+2 = 2a n/n , que é similar àquela encontrada
para a forma expandida em série da função exp{%2} como se pode ver a seguir.
«=00 -1
=Yj ° nde (2.212)
n- 0
Neste ponto é importante discutir o resultado que obteríamos caso estendêssemos a soma na
série de Hermite a infinito. De fato, a função de onda global, composta de um produto dessa
série infinita pelo termo pré-exponencial, exibe comportamento exponencial quando o valor
absoluto de x cresce.
Os argumentos apresentados indicam que a série de Hermite não deve se estender para n
muito grandes, ou seja, a partir de um determinado termo, a fim de atender as condições
de contorno do problema, um determinado a n deve se anular. Do contrário, esta série de
potências apresentará um comportamento não-físico para um problema quântico. A tra
dução matemática deste conceito mostra que, para um determinado n, o numerador da
equação a seguir deva se anular, ou seja:
2mE (2.213)
1 -2 n= 0
ah2
levando a:
k 1 ^2 1 1 (2.214)
=k^m\ (n+^ = nW^H+2>
Esse resultado é surpreendente, pois mostra que as energias de um oscilador harmônico são
quantizadas e proporcionais ao produto da freqüência angular clássica vezes a constante de
Planck. Mostra ainda que o oscilador harmônico no estado fundamental possui uma energia
não-nula, conhecida como energia de ponto zero, de valor hco/2, que tem grande importância
em propriedades de moléculas e sólidos, pois esses sistemas estarão em permanente movi
mento mesmo a temperaturas muito baixas. Esta aparente inquietude foi bem descrita na cé
lebre frase de Heisenberg segundo o qual "me surpreende que se possa falar tanto sobre o
repouso. Algo que, de fato, não existe”.
Nas equações anteriores, empregamos a massa para simplificar a análise deste problema.
Entretanto, convém lembrar que, em casos em que duas partículas oscilam em torno da po
sição de equilíbrio do sistema, deve-se substituir a massa da partícula pela respectiva massa
reduzida do sistema.
Exemplo 2.6-4
Com base na discussão anterior, prediga os níveis de energia de um potencial semi-harmônico, ou seja: V(x)=co / se x < 0 e
V(x) = k x 2/ 2 .
R . O potencial em questão é harmônico na região de # positivo. Porém, é repulsivo na região de x negativo. Sendo assim, é
fácil identificar que a equação diferencial é idêntica à do OH (Eq. 2.194). Assim, as soluções próprias desse operador são as
mesmas dadas pela Equação 2.212. De fato, a única diferença entre estes dois problemas reside no fato de as condições de
contorno serem diversas, pois aqui se exige que a função de onda se anule quando x tende a zero e também quando x tende
a co, ou seja:
(2.215)
Estas condições de contorno impõem que, das soluções originais do problema, somente sejam aceitáveis aquelas que têm
paridade ímpar, ou seja, aquelas com n ímpar. Desta forma a energia total é dada por: En = {n +1/ 2)h(o, com n ímpar, 1,3,5,
7, 9 e assim por diante.
A Equação de Schródinger Unidimensional 123
¥ ® = N nHn(Ç)e~?/2
N„ = { { a / 7i}^2/ 2" n ! }^ 2
H0& = 1
r ç ( 9 = 2S
H2(Q = 4Ç2 - 2
tf3(© = 8^3 -12^
H4© = 16Ç4 -48Ç 2 +12
HS(Q = 32^5 -160Í;3 +120
= 64^6 -480^ 4 + 720^2 -1 2 0
//7© = 128£,7 -1344^5 + 33602;3 -1680Ç
= 256!;8 -3584%6 + 13440^2 -13440Ç2 +1680
Ône -^2
(2.216)
s f e s ) = ^ 2-c*-«, = f HA . (2.217)
n=o n\
Exemplo 2 .6 -5
Mostre que existe uma relação de recorrência entre estes polinômios em sucessivas ordens. Sugestão: mostre que a função geradora
S fc, s) satisfaz a relação diferencial dS /ds= -Z (s-L ) S, e procure explorar essa identidade com a definição polinomial dessas fun-
:oes.
to (*-1)1 h n\
É fácil agrupar nesta equação diferencial os termos envolvendo as potências d e t t - l , « e « + ld a variável s. Assim; na
forma de uma única série temos:
Para que esta equação seja satisfeita, para todo valor de s é necessário que cada um dos termos dessa série seja nulo, ou seja,
Esta é a relação de recorrência desejada, pois permite conhecer o n + V ésimo polinômio de Hermite, conhecido o valor
dos polinômios de ordem n—1 e n no ponto
Exem plo 2 .6 -6
Encontre uma relação de recorrência entre derivadas desses polinômios em sucessivas ordens. Sugestão: mostre que a função geradora
S f e s) satisfaz a relação diferencial dS /d £, = ZsS) e procure explorar essa identidade empregando a definição polinomial dessas
funções.
R . Utilizando a Definição 2.217 para a função geradora S(s, £), é possível explicitar a sua derivada com relação a £, como:
Porém, igualando esta derivada à definição oriunda da própria Equação dS /d £, = 2sS, obtemos a seguinte identidade
(Eq. 2.222):
00 c « fllJ (Z\ CO »+ l
Z © (2.223)
„=0 n\ ô% n=Q n !
Regularizando os diferentes índices a um único, e reescrevendo esta equação em forma de uma diferença, encontramos
uma relação de recorrência envolvendo derivadas de polinômios de Hermite, ou seja:
y = Q (2.224)
h n\ dt (« -1 )!
Como é preciso obedecer a esta igualdade para todo valor de cada um dos coeficientes de potências de £, deve ser identi
camente nulo, ou seja:
^ ® _ 2 nH . ( 9 = 0 (2.225)
õt
Outra propriedade relevante à nossa análise diz respeito à ortonormalidade dos polinô
mios de Hermite sob uma norma gaussiana. Não apresentaremos uma demonstração com
pleta para esta propriedade, que pode ser encontrada no texto de Pauling [109], porém
indicaremos os principais resultados.
Sabe-se que os polinômios de Hermite são ortogonais segundo uma métrica gaussiana, ou
seja, exp{-^2/2}:
1/2
K = - — - -------— = {(^ )V 22”«!}V2
f+=°H„2© ^
J —co
K (2-227)
não nos estenderemos na análise desses polinômios, porque as definições essenciais já foram
estabelecidas. Indicaremos, entretanto, textos de física-matemática para futuras extensões
([176],[223]).
Uma vez estabelecida a solução matemática, cabe discutir seu significado físico e calcular al
gumas de suas propriedades. As Figuras 2.16 e 2.17 apresentam a função de onda e as respec
tivas distribuições de probabilidade para vários níveis de energia. Nelas o leitor observará al
gumas particularidades. O estado fundamental, dado por uma gaussiana da variável ^{a^2x),
mostra uma distribuição de probabilidade fortemente concentrada na região central. Este re
sultado é muito diferente do resultado clássico em que a distribuição de probabilidade é con
centrada nas regiões extremas do potencial. Outro ponto notável é o fato de que o movi
mento se estenda parax = ± c o ainda que seja pequena a probabilidade de encontrarmos uma
partícula nessa região. Como já tivemos a possibilidade de discutir, esse efeito é resultado da
composição de exigências segundo as quais a função de onda deve ser contínua e satisfazer si
multaneamente a equação de Schródinger daquela região. A conseqüência é que a partícula
tem uma probabilidade pequena, porém não-nula, de ser encontrada fora da região classica
mente permitida, processo que recebe o nome de efeito túnel. O Exemplo 2.6-7 discute a proba
bilidade de encontrarmos esse sistema fora de seus limites clássicos.
Exemplo 2 .6 -7
Calcule a probabilidade de encontrarmos uma partícula, sujeita ao potencial harmônico, na região proibida classicamente. Suponha
a energia do estado fundamental.
R. Primeiramente deve-se calcular a máxima deformação no modelo clássico, que é dada por {2E/k}^2, ou seja, 1/a^2 .
Posteriormente estima-se a probabilidade de encontrarmos uma partícula, no estado fundamental, além da posição clás
sica por meio da soma das seguintes integrais:
(2.228)
126 Capítulo 2
Esta integral pode ser consultada em handbooks e/ou programas matemáticos, gerando o resultado:
P , = ( 4 / ^ 2j V ^ = 0,16 (2.229;
O resultado obtido é de 16%, que demonstra que esta probabilidade não pode ser tida como desprezível e dá uma impor
tante contribuição ao comportamento de um oscilador harmônico quântico.
A primeira pode ser obtida por diferenciação, com relação à variável a, da integral gaussiana, cujo valor é { 71/a}^2 .
A segunda, se integrada nos limites [ - 00, 00], gera resultado nulo, dados a sua natureza ímpar e o intervalo de inte
gração par. Assim, apresentamos apenas a integral definida no intervalo [0; +oo]. Ela pode ser calculada facilmente
por mudança de variáveis tomando-se x2n por u e integrando-se o produto de um polinômio por uma função expo
nencial.
A Equação de. Schrõdinger Unidimensional 127
Figura 2.16
Função de onda para os
primeiros estados do oscilador
harmônico.
o 2a - a x 2/ 2
t
Figura 2 .1 7
Distribuição de probabilidade ^ ^
' F * vF
para os primeiros estados do
oscilador harmônico.
0,105
0,090
0,075
0,060
0,045
0,030
0,015
Este resultado é formalmente idêntico ao resultado clássico — ou seja, jo£, como queríamos
demonstrar. O Exemplo 2.6-9 discute a validade do princípio da incerteza de Heisenberg apli
cado ao oscilador harmônico.
R. O objetivo deste exercício é mostrar que o produto das dispersões estatísticas em medidas d ex e p no OH obedecem ao
princípio de incerteza. Utilizaremos os valores previamente calculados para estas integrais para determinar a incerteza
desejada. Portanto, calculando a dispersão obtemos:
2 l V2
Apàx = { ( < p 2> - < p > 2) (< x 2> - < x > 2) } V2 = \ \ (2.236)
Um dos aspectos mais importantes no estudo das propriedades do OH está ligado às manifes
tações espectrais na região do infravermelho. Nesta região do espectro, a energia envolvida é
da ordem de grandeza daquela encontrada no movimento vibracional de moléculas e/ou só
lidos e podem, de modo geral, ser descritas por um modelo desse tipo. São propriedades inten
samente exploradas por químicos com propósito de identificação de grupos funcionais em
análise estrutural e/ou química analítica. Exploraremos as propriedades do OH de um ponto
de vista físico-químico.
Existem duas maneiras freqüentemente utilizadas de explorar o movimento vibracional
de moléculas, a espectroscopia Raman e a espectroscopia por absorção no infravermelho (IV).
Dada a natureza diversa nos dois processos físicos (na Raman ocorre espalhamento, en
quanto a IV envolve absorção de luz), as regras de seleção são diferentes, fato que exibirá dis
tintas transições, a depender do sistema molecular estudado.
Discutiremos as regras de seleção do OH ligados à absorção de um fóton na região do
infravermelho, processo que é mais simples e adequado ao nível deste livro. Nas seções
anteriores mostramos que a intensidade de transição é dada pelo produto da energia de
transição pelo quadrado do elemento de matriz < i/r /f> entre os estados envolvidos. Por
tanto, serão permitidas transições entre estados para as quais o valor de < i/r /f> seja dife
rente de zero. Calculando essa integral, para o caso do OH, é possível estabelecermos as
regras de seleção deste problema. A integral que devemos resolver é apresentada na Equação
2.237.
O leitor observará que esta integral é não-nula sempre que /for igual a f + 1 ou quando i for
igual a/*-1. Portanto, a transição envolverá necessariamente estados contíguos. Esta regra de
seleção, dita harmônica, é apresentada na Equação 2.240.
A« = ± l (2.240)
Desta regra de seleção obtém-se outra análoga, estabelecida classicamente, segundo a qual
apresentarão absorções na região do infravermelho apenas moléculas cuja variação
do m om ento de dipolo é não-nulo ao longo da vibração. Indicaremos, para leitura, o
texto de Barrow em que esta regra é derivada explicitamente. O Exemplo 2.6-10 discute este
ponto.
Exem plo 2 .6 -1 0
Indique quais das moléculas relacionadas a seguir apresentarão espectro de absorção vibracional na região do infravermelho:
a. h2 b. HC1 c. ch4
d. CH3C1 e. c h 2c i 2 f. h 2o
g- TiCl4 h. h 2o 2 i. nh3
R. Indicaremos apenas a resposta com base no momento de dipolo não-nulo de cada uma dessas espécies: a) não; b) sim;
c) não; d) sim; e) sim; f) sim; g) não; h) sim; i) sim; j) não; k) sim; 1) não; m) sim; n) não; o) não.
onde k é a constante de força da ligação química e \x é a massa reduzida desse sistema. Fre
qüentemente o espectro de uma molécula heteronuclear diatômica mostra uma intensa ab
sorção, dita fundamental, na região de 200-4000 cm-1. Outras freqüências, em geral múltiplas
da fundamental e denominadas harmônicas (primeiro harmônico, segundo harmônico etc.),
também ocorrem com uma intensidade menor. Isto se deve à quebra na aproximação harmô
nica, ou seja, ao fato de o potencial molecular apresentar diferenças com o potencial do osci
lador harmônico. Essas diferenças ficarão mais evidentes no estudo da próxima seção.
A Fórmula 2.188 fornece uma maneira simples de se aferir a força de uma ligação química
pela determinação da constante de força k. Esta pode ser estimada por meio da fórmula a
seguir, a partir do conhecimento das freqüências vibracionais de moléculas.
onde vé dado em hertz (s_1) e v édado em número de onda (<zm-1). Os Exemplos 2.6-11 e 2.6-12
discutem aplicações deste modelo no cálculo das constantes de força.
A Equação de Schródinger Unidimensional 131
Empregando as expressões desenvolvidas nesta seção, calcule: a) as constantes de força para o estiramento das ligações C N e C N +se
ve = 2068/6 cm~x e 1580 cm~x, respectivamente. A massa reduzida desse sistema vale 1,073710~26kg; b) a constante de força para
a molécula de BH, cujo valor de v e vale 2368 cm-1; c) as constantes de força para o estiramento das ligações H 35Cl e D35Cl se
ve = 2888cm~1 e 2092cm~l, respectivamente.
R. A regra de seleção harmônica afirma que as transições observadas são aquelas em que Án = ±1. Empregando a Equação
2.242 temos os seguintes resultados: a) a constante de força calculada para o íon CN+vale 952,4 N/m, enquanto para o ra
dical, o CN, ela vale 1632,4 N/m; b) para a molécula de BH a constante de força possui o valor de 308 N/m; c) calculando
primeiramente as massas reduzidas deste item temos: \xHCl = 1,62610“27kg, enquanto \iDCl = 3,16210-27kg, gerando para
as constantes de força os valores de 481 N/m para o HC1 e 491 N/m para o DC1. Está claro que a constante de força é inde
pendente do isótopo considerado.
Exem plo 2 .6 -1 2
A freqüência vibracional das moléculas H 2, HD e D2valem 4395 cm~\ 3817 cm~l e 3118 cm~\ respectivamente. Calcule a constante
de força de cada molécula e analise os resultados encontrados.
R . Ao longo desta série isotópica varia-se a massa reduzida. Empregaremos a Equação 2.242 para calcular a constante de
força a partir da freqüência observada e da massa reduzida do sistema.
Como o leitor observará, a constante de força é aproximadamente constante ao longo de uma série de isótopos. Isto
ocorre porque a constante de força é a medida da força da ligação química, que não depende das massas consideradas.
T abela 2 .3 Freqü
Freqüentemente se recorre ao efeito isotópico na atribuição vibracional Apresentamos a seguir freqüências de uma lista de compostos e
seus isotopômeros. Mostre que as freqüências do isótopo de maior massa podem ser determinadas a partir das freqüências dos com
postos originais.
R. Sabe -se que a freqüência de vibração é inversamente proporcional à potência 1/2 da massa reduzida deste sistema.
Calculando a razão {\iHC/ ^ d c ^ 2> temos 0 valor de 0,7337, enquanto para a razão {[iHN/V^dn^2 0 val° r obtido é
0,7302. Multiplicando estes valores pela respectiva freqüência HX, obtemos: a) 2414 cm-1; b) 2215 cm-1; c) 2436 cm-1;
d) 2578 cm-1. A concordância, como o leitor pode ver, é razoável. Os maiores erros ocorrem em função da contribuição
anarmônica.
A Equação de Schródinger Unidimensional 133
Exemplo 2.6-14
O efeito isotópico é um fenômeno muito explorado no estudo mecanístico. O procedimento consiste em determinar a velocidade de
reação com e sem substituição isotópica. Se o mecanismo de reação envolver a quebra da ligação isotopicamente substituída, observar-
se-ão grandes alterações na razão k f/ k D. Calcule essa razão para o efeito isotópico primário, com base nos seus conhecimentos sobre o
espectro de energias do OH.
k = A e ÍJk T (2.243)
onde A é o fator de freqüência, Ea é a energia de ativação, T a temperatura e k Ba constante de Boltzmann. Supondo que as
reações químicas sejam descritas por um potencial harmônico, podemos estimar a energia de ativação D 0 pela diferença
entre a energia de dissociação eletrônica, D e, e o estado fundamental do OH, ou seja, Ea =De - EQ, onde£0 é a energia de
ponto zero do OH, dada por hco/2. Como em compostos deuterados a massa reduzida do sistema praticamente dobra, a
energia de ponto zero diminui, aumentando a energia de ativação. A reação com compostos deuterados é, em conse
qüência, mais lenta. Para calcular a razão entre as constantes cinéticas para a dissociação de ligações com o próton e com o
deutério, temos:
kj-i Ae
(2.244)
kD A e-{D*-E° )/kT
Calculando a diferença de energia de ponto zero em função das massas reduzidas e reconhecendo que mD = 2mH, temos:
Hs
(2.245)
Utilizando o valor típico para uma freqüência de vibração CH, 2900 cm-1, e levando este valor à expressão original, temos:
kH/ k D = e0,146414;495 = 7,7. Este valor é típico para o efeito isotópico primário porque nele a ligação CH é efetivamente rom
pida ao longo da reação. Há também os efeitos isotópicos secundário e terciário, que não serão discutidos aqui.
m v (2.247)
V^ v =Vo + Z 5 - a ^ (2.248)
Adotando como ponto de expansão a geometria de equilíbrio, devemos reconhecer que nesta
geometria a força total que atua sobre cada átomo é nula, e assim a primeira derivada do po
tencial tem valor nulo, o que simplifica a representação da energia potencial à dupla soma en
volvendo as derivadas segundas do potencial.
A solução deste problema é obtida empregando-se a mecânica de Lagrange. Neste forma
lismo constrói-se a lagrangiana, formalmente definida como o excesso de energia cinética em
relação à energia potencial:
L = T -V (2.249)
d [ ôL | õL n
* i * r « r ° (2-250)
Este conjunto de equações é conhecido e admite uma solução geral dada por:
onde A,° é o deslocamento máximo no tempo t0, 8 é um fator de fase e é a freqüência an
gular do movimento vibracional. O deslocamento máximo é representado como uma combi
nação linear dos deslocamentos atômicos, ou seja:
= Ik j 2 / 2 tc (2.254)
A Equação de Schródinger Unidimensional 135
Utilizando esta solução na equação original (Eq. 2.251), obtemos o seguinte sistema de equa
ções lineares acopladas:
3N
** M 9 =- £ = 0, /= 1 , . , 3W, (2.255)
que define uma equação de autovalores para as freqüências de vibração e seus respectivos au
tovetores, os modos normais de vibração. Na prática, como estas soluções são obtidas em
computadores, as equações devem ser escritas em modo matricial. Assim, representando os
deslocamentos na forma do vetor coluna N temos a forma matricial da Equação 2.255:
VN =M NA (2.256)
(2.257)
e cada vibração é descrita como uma combinação linear de deslocamentos ponderados por
suas massas, ou seja:
Q = M ^ 2N (2.258)
Para representar a Equação 2.256 neste sistema de coordenadas multiplica-se a equação ori
ginal à esquerda por M 12, identifica-se 2M 12 à matriz unidade e obtém-se a equação fi
nal, na sua forma matematicamente mais adequada ao uso em computadores (Equação
2.260).
= M V2NA (2.259)
Vefí Q = QA (2.260)
on deV eff = M^2VM~^2. 0 procedimento que deve ser seguido no sentido de se obterem as fre-
qüências consiste em calcular a matriz hessiana do problema, V, utilizando-se qualquer dos
métodos de cálculo da literatura, e posteriormente dividir todo elemento ij dessa matriz por
{m-i m • 2. A matriz resultante, , é então diagonalizada empregando-se algum método nu
mérico disponível.
A matriz é simétrica de dimensão 3N, e dá origem a igual número de modos normais,
dos quais seis (ou cinco, no caso de moléculas lineares) são representações das três translações
e três (duas) rotações do sistema. Essas freqüências são necessariamente nulas; porém, devido
a inconsistências no potencial, os valores calculados podem ser pequenos, positivos e não-
nulos. As demais freqüências pertencem a genuínos modos de vibração molecular, sendo posi
tivas no caso de moléculas estáveis e negativas em caminhos de reação e estados de transição.
Freqüentemente suas bandas fundamentais situam-se na faixa de 200 a 3600 cm-1 e de
pendem fundamentalmente da natureza da ligação e da vibração molecular.
Discutiremos os resultados obtidos para a análise de coordenadas normais de três sis
temas moleculares: o ácido cianídrico, a água, e o caso da barreira de inversão da amônia.
Apresentaremos os resultados experimentais para as freqüências tendo em vista que qual
quer escolha conveniente do método de cálculo da matriz hessiana levará a estimativas pró
ximas dos resultados experimentais.
136 Capítulo 2
As soluções da Equação 2.260 para o ácido cianídrico geram um conjunto de nove solu
ções matemáticas. Destas sabemos que três são translações e outras duas são as possíveis
rotações em torno dos eixos perpendiculares ao eixo interatômico (a rotação em torno
deste eixo é indistinguível), restando quatro vibrações internas nesse sistema. Nesse caso
cada um dos modos normais são; respectivamente, estiramento CN, que ocorre a 2096 cm-1,
estiramento CH, a 3311 cm-1, e um par de modos de vibração fora do plano, com freqüên
cias iguais a 713 cm-1 e correspondendo a deformações angulares HCN. A descrição do es
tado vibracional do ácido cianídrico necessitará de quatro números quânticos, e o estado
fundamental, por exemplo, é representado pelo símbolo (0000), que define a energia de
ponto zero para cada uma das freqüências anteriormente mencionadas. Excitações poderão
se dar do primeiro ao quarto modos normais de vibração, cada qual levando a um diferente
estado quântico vibracional final.
A molécula de água possuirá três modos de vibração e a Figura 2.19 apresenta as fre
qüências e as respectivas representações dos modos normais obtidos. A menor freqüência,
1588 cm-1, corresponde à deformação angular HOH, a segunda, 3650 cm-1, é um estiramento
simétrico, enquanto a de mais alta freqüência, 3742 cm-1, é um estiramento assimétrico.
Como todos estes modos induzem modificações no momento de dipolo do sistema, eles serão
visíveis no espectro de infravermelho.
Figura 2 .1 9
Apresentação dos modos
normais de vibração para
a água.
O próximo exemplo diz respeito à barreira de inversão da amônia. Este sistema, que
apresenta uma geometria piramidal, tem a possibilidade de sofrer inversão de sua estrutura
quando o nitrogênio passa da posição superior para a inferior ao plano definido pelos
átomos de hidrogênio. A Figura 2.21 apresenta uma curva de energia potencial para esse
movimento mostrando a existência de uma pequena barreira da ordem de 2076 cm-1. A fre
qüência associada à deformação angular do HNH é de apenas 950 cm-1, de modo que, a tem
peraturas ordinárias, o sistema não possui energia para sobrepujar essa barreira de ativação.
A presença da barreira associada à geometria planar induz um desdobramento cuja fre
qüência é da ordem de 2 cm-1, visível nos espectros de infravermelho e de Raman, envol
vendo transições entre estados de diferentes simetrias, ou seja, v = 0 1, e cuja freqüência
associada, 1010s -1, cai na região de microondas. Esta é a transição responsável pelo movi
mento de inversão do nitrogênio na amônia.
Figura 2 .2 0
Modo guarda-chuva na
molécula de amônia.
Não se deve desprezar a importância desse efeito, pois o relógio de amônia, construído e
utilizado como padrão primário de tempo no National Bureau of Standards desde 1948, é
baseado nesse fenômeno. Neste relógio o segundo é formalmente definido como o tempo
necessário para que o nitrogênio oscile 2,387 1010 vezes.
A Equação dt Schrõdinger Unidimensional 137
Figura 2.21
Barreira de rotação da amônia
na coordenada de vibração.
2.7.1 O potencial
Figura 2.22
Superfície de energia potencial
para uma dissociação molecular
típica. O gráfico mostra o valor
da energia de dissociação
eletrônica, De, tomada como a
diferença de energia entre o
fundo do poço e o limiar de
dissociação. A energia de
dissociação termodinâmica, D0,
é uma medida da diferença de
energia entre a dissociação
molecular e a energia do estado
fundam ental vibracional. Os
parâmetros utilizados são
D c= 3 1 5 9 0 cm -1 <x=1,811a-1,
£ = 103600 cm-1, we =
2 649,67 cm -1 e wexe = 45,21 cm -1.
Adaptado de [232].
V{r)=De { \ - e - ^ } 2 - D e ( 2 .2 61)
Mostre que, no limite de pequenas oscilações, o modelo de Morse reproduz o modelo harmônico.
R. Tomando a expansão em série truncada no segundo termo para a exponencial e posteriormente elevando ao quadrado
esses termos, temos:
A Equação de Schrõdinger Unidimensional 139
onde se identificam claram ente o term o harm ônico e o term o anarmônico em terceira ordem, dados por
V(x) = k x 2/2 + y x 3/3 , no qual
A solução matemática deste problema foi desenvolvida por Morse [94] e pode ser resu
mida nas seguintes etapas:
(2.264)
= -D e + h w (n + í/2 )-h w exe (n + y 2 )2
A Fórmula 2.264 mostra que o termo básico é harmônico, aparecendo perturbado pelo
termo anarmônico, cujo valor é - h 2w 2 / 4Devezes (n + l/2)2. Este termo desempenha papel
importante em grandes números quânticos, pois é ele o responsável pela diminuição no espa
çamento entre níveis de energia contíguos. Adotando a representação da energia em termos
de número de onda, temos:
hw
En(cm-1) = - D e {cm-1) + — (n + l/2 ) - (« + 1/2): (2.265)
2nc 16n Dec
140 Capítulo 2
Figura 2.23
Diagrama apresentando as
cinco primeiras funções de
onda para o potencial de
Morse. Observa-se o
aum ento no número de nós e
no valor da função de onda
próximo à dissociação
molecular.
Embora neste modelo não exista uma regra de seleção clara; ou seja; todas as excitações são
permitidas, sabe-se que as bandas mais intensas correspondem a excitações harmônicas
n -» n + 1 e geram freqüências determinadas pela Equação 2.266:
«+1 En = h w [(n + 3/2) - («+ 1/2)] - hwexe [(n + 3/2)2 - (« +1/2)' (2.266)
levando a:
V =— ----^i-2(« + l) (2.267)
2nc 16n D, c
A fórmula obtida para a freqüência de absorção (em cm-1) compara-se a outra, análoga, ob
tida experimentalmente por Deslandres (Eq. 2.268):
*n +1
= ve - 2 \ x e (k + 1) (2.268)
Exem plo 2 .7 -2
A partir dos dados relacionados a seguir para uma progressão vibracional 0 —>n da molécula de H C l determine as seguintes gran
dezas: i) calcule a variação de energia em transições obedecendo às regras de seleção deste problema; ii) calcule a separação, em
energia,, entre o 23.° e o 24.° níveis vibracionais para a molécula de HCl (De = 7,31 10~19J/molécula); iii) verifique os resultados
para o potencial de Morse das transições analisadas a seguir.
o que determina claramente o valor da anarmonicidade para os dados do problema. Determinando-se as diferenças, e a
partir destas a segunda e a terceira diferenças, esta última é atribuída à anarmonicidade do potencial.
2885,9
5668,0 2782,1
O resultado médio obtido das diferenças finitas em terceira ordem determina a anarmonicidade em 51,45 cm-1, enquanto
a primeira freqüência gera 2988,8 cm-1 como resultado para . A sistemática diminuição dessas diferenças revela a exis
tência de anarmonicidades em maior ordem, que podem ser estimadas de maneira análoga às anteriores. Com os valores
d e v e e vexe) temos o valor de 519,2 cm-1 para a transição 23 24. Na tabela original apresentamos os resultados calcu
lados para as transições experimentais observadas.
■
e afere a diferença de energia entre os fragmentos dissociados e a molécula em seu estado fun
damental vibracional. Uma interessante aplicação dessas fórmulas está presente na medida
experimental da energia de dissociação eletrônica. Uma relação empírica, estabelecida por
Morse é muito empregada:
w2
De = — ?— (2.273)
4wexe
R. Empregando-se a Fórmula 2.273 com os resultados obtidos de 51,45 cm-1 para a anarmonicidade 2988,8 cm-1 parav eJ
determina-se De como 43.405 cm-1, que se compara ao resultado experimental de 36.798 cm-1. A concordância não é boa.
i
2.7.2 A extrapolação de Birge-Sponer
quântico até o limite em que essas diferenças se anulem. A curva será uma reta em moléculas
que seguirem fielmente o potencial de Morse e, assim, a extrapolação das diferenças de
energia até diferença nula, área abaixo da curva de Birge-Sponer, determina a energia de disso
ciação de ponto zero. Deve-se observar que as curvas de Birge-Sponer raramente são retas per
feitas; entretanto, como os termos cúbicos são pequenos, a extrapolação dos resultados nesta
forma é muito simples, acurada e popular. O Exemplo 2.7-4 discute a aplicação desse procedi
mento para determinação de De e D 0 do radical BrO.
Exemplo 2.7-4
A partir dos dados fornecidos a seguir para uma progressão vibracional 0 —» nem uma progressão vibroeletrônica da molécula de
BrO, determine os parâmetros do potencial de Morse e as respectivas energias de dissociação eletrônica e de ponto zero.
R. Os resultados devem ter suas diferenças em primeira e segunda ordens calculadas. O resultado para a diferença finita
em segunda ordem é um tanto irregular, porém a média calculada vale -16,5 cm-1, o que determina o valor de 8,25 cm-1 a
wex ee de 510 cm-1 a . A Figura 2.22 mostra o gráfico de Birge-Sponer, que determina a melhor reta a:
Esta diferença se anula quando n = 30,84, e a integração desta expressão permite o cálculo da diferença de energia 1 -> oo,
ou seja:
que define D0 como 7099,7 cm-1. O cálculo de D. deve somar 492,89/2 (freqüência de ponto zero) a D 0, o que gera
7346,1 cm-1.
1 1 2 1 9
E n + - ( « + -) h w exe + (« + - ) h w eye +
1 (2.276)
+ B J (7 + 1)- D J \ J + 1)2 - a > + i)A/ + 1)
Isto nos coloca diante do problema de educar os jovens para uso do computador, acoplado
aos métodos numéricos, na solução de problemas químicos. Esta seção, longe de discutir am
plamente o assunto, procura uma maneira simples de se tratar computacionalmente as solu
ções de estados ligados unidimensionais. Discutiremos o método das condições de contorno e
o método matricial.
2.8.1 A discretização
° ^ 1 = { V(X) - X } y (x ) (2.278)
ÔX
onde v(x) = 2mV{x)/Ti2 eX = 2mE/Ti2. A solução numérica deste problema inicia-se com a es
colha de uma representação adotada para a segunda derivada. Nela a função de onda é discre-
tizada, ou seja, será representada por valores em um conjunto de pontos pré-selecionado, e a
qualidade da representação depende, grosso modo, do número de pontos utilizados. Assim, to
mando o ponto-base como \\f(x) e realizando uma expansão de Taylor para as funções \y(x - Á)
e + A) obtemos:
A2 A3 A4
\\f(x + A) = \\f(x) + \\rl (x)- Á +\]/2 ( x ) --------- h\|j ° ( x ) --------h y 4 ( x ) --------!-••• (2.279)
2 3! 4!
\|/(x-A) = \|/(x)-\j/1 (x)- A + \j/2 (x)- — -\|/3 (x ) — + \j/4 (#) — +••• (2.280)
2 3! 4!
Nesse conjunto de equações, A é o intervalo da discretização, y 1(jv) é a sua derivada, \\i2 (x) a
segunda derivada e \}f n(x) são as derivadas em maior ordem. Um pequeno algebrismo utili
zando os pontos \|/(x - A), \|/(x) e \|/(x + A) permite escrever a segunda derivada como:
A2 12
Nesta equação o erro local estimado, \|/4(x)A2/12, é proporcional à quarta derivada, sendo
quadrático em A. Outra possível representação onde o erro local é menor é apresentada a se
guir:
Nesta o erro é proporcional à sexta derivada da função de onda e cresce com a quarta potência
do intervalo estudado. Está claro que, para estados excitados, nos quais a oscilação na função
de onda é grande, o uso da última equação leva a resultados melhores.
146 Capítulo 2
Designamos este método por "método das condições de contorno”, embora ele não possua,
na literatura, qualquer denominação própria. Esse método é apresentado em muitos textos
(Eisberg, P. Murilo, [239]) de modo que não nos estenderemos. Tomando a Equação 2.279
combinada com a Equação 2.278, é possível calcular o valor da função de onda e m x + Á, co
nhecido seu valor em x e x - A, ou seja:
\}/(x + A ) = [{ v ( ^ )- ^ } A 2 +2]\|/(,*)-\j/(x-A) (2 .2 8 3 )
Esta equação nos permite integrar a equação de Schrõdinger adimensional desde que seja co
nhecido o valor do parâmetro X e o valor da função de onda em dois pontos arbitrariamente à
esquerda. Como desejamos aplicar este método a estados ligados, sabe-se que \}/(—oo) = 0. Já o
parâmetro X tem valor desconhecido, pois é dependente da energia, uma das grandezas a se
determinar. Sabe-se, porém, que a utilização de um valor arbitrário para Xgera soluções não-
físicas, ou seja, soluções que divergem e não satisfazem as condições de contorno do pro
blema. Assim, se for utilizado um valor arbitrário de X, compreendido entre os i-ésimo e /+1-
ésimo valores permitidos para X, a função de onda possuirá i nós e divergirá no limite arbitra
riamente à direita. Desta forma é possível estabelecer uma metodologia trivial para locali
zação e cálculo das energias e funções de onda. Arbitra-se uma energia (o que leva a um valor
para X) e calcula-se a função de onda correspondente a partir do valor nulo que a função de
onda assume à esquerda. Encontrando divergências, convém diminuir/aumentar o valor de X
e recomeçar o cálculo até que se encontre uma solução física, definida por limx^\\f{x) 0.
Assim, o problema se resume a um processo de tentativa e erro computacional.
As energias determinadas por esta técnica possuem um erro proporcional à integração do
erro local em todo o espectro de posições, ou seja:
^ 2Max\\t4(x)A Ç2 284)
r ~ 4!
Outra técnica, muito elegante, utiliza princípios equivalentes e não requer a iteração das so
luções. O método recorre à diagonalização de matrizes. Definamos o vetor coluna X no qual
se discrimina o valor da função de onda em cada um dos pontos da discretização adotada, ou
seja,{\|/(xw),\|/(*w + A),\\f(xm + 2A),\|f(xm + 3A),...,\|/(*X) } onde x mdenota o valor mínimo de
x, ^ o valor máximo desta variável e cada elemento neste vetor, \f/(x/), representa o valor da
função de onda no ponto x { . Assim, convém representar a Equação 2.280 como uma equação
matricial resultante do produto da matriz-coluna X pela matriz A representando os respec
tivos coeficientes lineares da função de onda em cada um dos pontos da discretização na se
guinte equação:
A X = -XA2X (2.286)
1 0 0 ... 0 0 0 0
-Yi
1 1 0 ... 0 0 0 0
-r2
0 1 1 ... 0 0 0 0
- y3
0 0 1 ~y 4 1 0 0 0 0
A = (2.287)
0 0 0 0 ... 1 1 0
- y n-2
0 0 0 0 ... 0 1 1
- ln - 1
0 0 0 0 ... 0 0 1 -r,
enquanto X é definido pelos valores da função de onda nos diversos pontos da discretização:
v O i)
v ( * 2)
v 0 3)
X =J ¥ ( * 4) - (2.288)
v (*„ -2)
V (*,_i)
v (*„ )
ou seja, que os autovalores da matriz, X, estão limitados, em valor absoluto, à norma dessa
matriz, definida pela soma dos valores absolutos ao longo de uma linha ou pela coluna. O se
gundo teorema foi derivado por Hadamard, Lévy e Gerschgorin. Segundo este teorema, os au
tovalores de uma matriz estarão sempre limitados a uma região fechada no plano complexo
compreendida pelos círculos de Hadamard, Cv C2, C3, C4, ..., cujos raios são definidos pela
Equação 2.290. Se os círculos não possuírem qualquer interseção entre si, o teorema de Lévy-
Hadamard-Gerschgorin diz que o autovalor y/estará localizado no interior de um único cír
culo no plano complexo centrado em a ue com raio rn conforme ilustra a Figura 2.26.
r,= I K 7| (2.290)
j*'
Assim, no caso de círculos desconexos pode-se estabelecer um limite superior e inferior para
cada autovalor da matriz A. Se, entretanto, os círculos forem conexos (um invadir o outro),
então os autovalores estarão compreendidos na região composta pela união de todos os cír
culos conexos, o que ajuda menos na localização das raízes. Ainda assim, em problemas em
que o tempo de computação é uma preocupação constante, a localização parcial é útil.
Figura 2.26
As interseções de Lévy-
Hadamard-Gerschgorin no
plano complexo.
Sendo assim, admitindo-se o caso de círculos desconexos para uma determinada matriz
A, cada autovalor estará compreendido entre as soluções máxima e mínima da seguinte ex
pressão:
o que fornece uma forma padrão de localização para as raízes. Outras propriedades foram
analisadas por Sturm. Seja a matriz A - XI, simétrica tridiagonal e seus menores definidos
como os determinantes da submatriz de ordem k. Para efeito de clareza, convém destacar que
esta submatriz inicia-se com o elemento (an - X) e contém todos os elementos em que ambos
os índices são menores ou iguais a k. Sturm mostrou que os menores dessa matriz formam
uma seqüência recorrente definida por:
A Equação de Schrõdinger Unidimensional 149
onde se toma por definição dQ(X) = l e dx(X) = a 1- X Esta é denominada seqüência de Sturm
e define um polinômio na variável X. O valor do menor em ordem N, o número de pontos em
pregados na discretização; é o determinante de A - XI, para um determinado valor de X. Este
polinômio possuirá zeros para os valores de X que coincidirem com os autovalores da matriz
A. Assim, é possível acoplar o cálculo das soluções da Equação 2.285 a qualquer método de
procura numérica de raízes; como, por exemplo, regula falsi, secante ou Newton determinando-
se os autovalores e autovetores de A. Na prática, o cálculo da seqüência de Sturm permite não
só o cálculo do menor, formalmente o valor do determinante da submatriz, como fornece in
formações sobre a localização dos autovalores. Sturm mostrou que o número de coincidên
cias em sinais dos menores dk (X) é numericamente igual ao número de autovalores com valor
superior ao de X. Conseqüentemente, determinado o valor de ^/Npara um determinado X,
sabe-se também, pela contagem das coincidências, o número de autovalores maiores que X.
Este método é rápido e elegante, permitindo a determinação de funções de onda numé
ricas para potenciais unidimensionais. O erro determinado depende do quadrado do espa
çamento e da quarta derivada da função de onda, conforme mostra a Equação 2.284. Assim,
funções de onda com altas energias, por possuírem grande valor para y 4(x), terão erros mai
ores. Da mesma forma, diminuindo-se o valor de h diminui também o erro associado. Infe
lizmente, essa diminuição obedece a limites, pois ocorre aumento no número de operações
(somas e multiplicações), crescendo também o erro de truncamento no computador*.
2.9 Problemas
1. Determ ine resultado para a ação de cada operador sobre a respectiva função:
a. U V = x2 -Ô 2/Ôx2 - 1 b. VU = x 2 - Õ2 / õ x 2 + 1
c. [U,V] = - 2 d. {U ,V }= 2 x 2 - 2 Õ 2/Õ x 2
*0 a u to r se d ispõe a d ivulgar algum as versões p relim in ares de u m program a em lin g u ag em F O R T R A N . C o rresp o n d ên cias n esse sen tid o poderá ser
e n ca m in h a d a ao en d ereço e letrô n ico www.ltceditora.com.br.
150 Capítulo 2
a. M ( x ) } = f ( x + h) b. Thf ( x ) } = f ( x ) + k 2
c. W ( x ) } = { f( x ) } 2 d. H f(*)} = f ( x ) } V2
e. T {f(x)} = df(x)/Õ x f. T {f(x)} = {f(x) + Õf(x)/Õx}
5. M ostre que as funções a seguir são autofunções dos respectivos operadores. Indique o valor dos
autovalores.
a. f (x) = exf>(a> x) T =D n
b. f(x ) = cos (2nx) T=D 2
c. f (x)= exp(—a x 2) T = {D2 - 4 x 2a 2 + 2a}
d. f (x)=exp>(—ax) T = {D2 + 2D + 3}
e. f { x ) = x ^ (- y)í T=D y
f. f (x) = função par T=P
stre que dois operadores que comutam entre si admitem a existência de uma função de onda
comum a ambos.
8. D eterm ine o valor dos anticomutadores (tam bém conhecidos como colchetes de Poison) associ
ados à questão anterior.
10. M ostre que: a) se o operador A com uta com B, e tam bém com C, então necessariamente B comuta
com C; b) se H com uta com A, então H tam bém comutará com A2, com A3 e por assim em diante; c) o
valor de[A 2,B] = {A ,[A ,B ]}.
11. M ostre que o operador ^ pode ser escrito através da soma ^ = 1 + A + A2/2! + As/3!+ •••. M os
tre que se H comuta com A, então H tam bém comutará com
12. Sabendo que a e X são constantes, A é o operador x - i d / õ x , ^ é seu conjugado hermitiano, ou seja,
x + id/ôx, e f(A) é um polinômio arbitrário do operador A, m ostre a validade das seguintes relações:
A Equação de Schrõdinger Unidimensional 151
a. e ^ x e - W * =x + a b. [A,A+] = 0
c. Af(At ) = Â0f(At )/a4+ d. e }Af ( A f ) = f ( A ' + \ h y
[I4 ^ ]= IL [4 A ]
' /
14. M ostre que. se B e I são herm itianos, então vale a seguinte expressão:
=fl+[IJ3]+[I,[IJJB]]/2!+
a. e b. ln(l—x) c. sen(x)
d. cos(x) e. ( l - e “M )2 f. e "2
g. (e“ )2
16. M ostre que; no lim ite em que X tende a zero, o operador inversa de A - AJB, form alm ente definida
por 1/(A - XB), pode ser expandido em potências de X.
1 7 . D efina form alm ente uma função par/ímpar e m ostre como esta propriedade da função de onda
pode ser caracterizada a partir da simetria do potencial que a origina.
18. Sabendo serem quatro as propriedades algébricas que definem um produto interno: i) < v/v > > 0
para todo v não-nulo; ii) < av/v > = a * < v/v > para todo real; iii) < v1 + v2/v3> = < vx/v s > + < v2/v3 > ;
iv) < Vj/v2 > = < v2/v| > *. M ostre quais dos seguintes produtos internos satisfazem estas propriedades.
Í
+CO +00
j® + ° 0
1 9 . M ostre a validade da desigualdade de Schw artz no espaço de funções de Hilbert. Sugestão: utilize a
definição (c) do exercício anterior e faça u = v = f + Xg de modo a provar:
O " *w * i+
_ y * (x)g(x)dx
20. M ostre que, para um operador herm itiano, as duas integrais definidas a seguir são iguais entre si.
J (j4<J>)*<Dít=J <D*A®í/t
Utilize, em sua demonstração, o fato de operadores herm itianos possuírem autovalores reais. M ostre
tam bém que autovetores associados a distintos autovalores são ortogonais entre si.
21. Diga quais dos seguintes operadores são herm itianos. Empregue a fórmula apresentada no exer
cício anterior.
a. ô /õ x b. e“* 2 c. r p
d. rxp e.
h
f.
g- X h. x2 i. - i h ô /ô x
- n 2ô 2/ ô 2x k. P, operador paridade 1. V {x )
j-
22. Sabe-se que o operador produto x •p não é um operador hermitiano. Imagine uma forma para esse
operador segundo a qual o valor médio dessa grandeza possa ser calculado. Sugestão: analise {xp+ f?x}/2.
23. M ostre que as autofunções de um operador herm itiano são ortogonais para distintos autovalores.
24. Prove que, se A e B são herm itianos, AB só será herm itiano se [A, B] = 0.
25. Prove que, se A e B são herm itianos, então (A + B )n será tam bém hermitiano.
27. S e A e B são operadores hermitianos que não com utam , determine quais dos operadores a seguir
são hermitianos:
a. AB b. [A,B\ c. AB+BA
d. ABA e. An
29. Sabendo tratar-se de um dado viciado, cujas probabilidades relativas são 3 , 1 , 1 , 4 , 2 e 1, respectiva
m ente aos números de 1 a 6, calcule as mesmas grandezas pedidas no exercício anterior e o valor médio
esperado destas.
30. Sabe-se que um exame de vestibular apresentou uma distribuição normal de média 4,5 para as
suas notas e um desvio padrão definido por 1,5. Construa a função distribuição de notas e determine o
valor médio de a) < n > (som ente para teste); b) < n 2 > e c ) < n 3 >onde n é a nota. Determ ine ainda a pro
babilidade de um aluno, eleito ao acaso, obter nota acima de 7.
31. M ostre que a equação de Schrõdinger estacionária pode ser obtida por separação de variáveis da
equação dependente do tempo. Enuncie todas as etapas desse procedimento, obtendo as equações esta
cionárias, na sua parte espacial e temporal.
33. Diga quais das funções a seguir safisfazem os postulados da M ecânica Q uântica podendo repre
sentar soluções de H para o potencial V(x) = a\\x\\, para x > 0 e V(x) = cc; para * < 0 :
34. A partir dos sólidos conhecim entos adquiridos em sala de aula, interprete o significado do ope
rador abaixo. M ostre que ele representa o operador de evolução temporal da função de onda.
A Equação de Schródinger Unidimensional 153
35. Uma das condições necessárias para uma autofunção de um sistema físico é a da normalização.
M ostre que esta função de onda:
'¥(x)=N eikx/ { x 2 + a 2 } V2
satisfaz esta condição, porém não é fisicam ente aceitável. Calcule o valor médio de x n para se chegar
a esta conclusão.
36. A função de estado (não-normalizada) de uma partícula em m ovim ento uniforme unidimen
sional é dada por W(x) = exp [-x 22à 2 + iPx/h] Prove que o valor médio do m om ento é P, e que a incerteza
na posição da partícula é da ordem de À. M ostre que essa função não é autofunção áeP, mas que a corres
pondente função no espaço dos m om entos é bem localizada em torno de R Calcule a dispersão e mostre
que ela vale ti/A.
37. Tomando o potencial degrau, reproduza a seqüência de etapas envolvidas na obtenção dos resul
tados quando a origem do feixe de partículas situa-se na extrem a direita e não na extrem a esquerda, con
forme discutimos. M ostre que, no caso em qu e£> 1^ os coeficientes de reflexão e transm issão são idên
ticos.
38. Para uma barreira de potencial com 1 e V de energia e 0,10 nm de profundidade, determine a proba
bilidade de passagem para um elétron com 0,1, 0,5 e 0,9 eV.
39. Na análise do efeito Ramsauer observa-se interferência construtiva sempre que há cum prim ento
da condição 2ka = nn. Para um poço quadrado de 4 A de raio, na condição em que um elétron com 0 ,7 eV
passa sem qualquer impedimento, estim e a profundidade do poço. Q uanto vale essa grandeza?
40. Uma forma particularmente feliz de se quantificar o espalhamento por barreiras em sistem as não-
ligados foi desenvolvida por Wentzel, Kramers e Brillouin e hoje é conhecida pelas iniciais W KB. Su
ponha a barreira arbitária discutida na Seção 2.4. A partir do coeficiente de transmissão, m ostre que, no
lim ite em que qa é grande, a Equação 2.158 se torna:
T *T = r i( 2 c jk ) 2e.-^a / ( q 2 + k 2)
Ceneralize esse pensamento para o cálculo da transmissão em uma barreira arbitrária de potencial V(x)
obtendo:
Com esta fórmula, determine o valor da transmissão na barreira discutida na Seção 2.4.
41 . Considere o potencial descrito por uma série de barreiras. Seja I a região à esquerda da série de bar
reiras e seja ^ ( x ) a autofunção nessa região:
enquanto % n(x) é a autofunção na região III à direita. M ostre que R * R + T * T = 1. Sugestão: use o ope
rador fluxo.
154 Capítulo 2
42. O teorema nodal afirma que o número de nós de uma função de onda é crescente com a energia do
sistema. Com ente esta afirmativa e compare suas previsões com as soluções da partícula em uma caixa.
43. O espectro de energias da partícula em uma caixa é dado por uma dependência quadrática com o
número quântico. M ostre que. apesar disso, a diferença fracional de energia entre níveis contíguos tende
a zero no limite clássico.
4 4 . De posse dos autovalores e das autofunções para o problema de uma partícula confinada em uma
caixa de potencial unidimensional, realize os seguintes procedimentos: a) normalize as soluções ob
tidas; b) determine o valor médio de x , ou seja, < * > ; c) < * 2>; d) </?>; e) < p>2>) f) < H > . Utilize a sua
intuição clássica para prever a resposta certa. Convença-se de que as soluções quânticas deste problema
reproduzem os resultados clássicos no limite de grandes números quânticos.
4 5 . A partir das respostas ao problema anterior, calcule o valor de Ap.Ax explicitamente para o pro
blema de uma partícula em uma caixa e mostre que ele é crescente com o estado quântico do sistema.
Para fazê-lo utilize, sempre que puder, argumentos físicos e sua intuição.
46. M ostre que a integral a seguir pode ser calculada a partir de derivadas w-ésimas quando a tem valor
nulo:
47 M ostre que distintos auto-estados da partícula em uma caixa são ortogonais entre si, ou seja:
J osen(mix/a)sen(mTzx/a)dx = bn ma /2
48. Para as funções de onda a seguir, determine a probabilidade de, ao realizarmos uma medida da
energia, obtermos a primeira, a segunda e a terceira energias próprias da partícula em uma caixa; a)
¥ ( * ) = N x(a-x); b) T (x ) = Nx2( a -x )2; c) W(x) = N(a2 - x 2).
49. A função de onda não-normalizada para um elétron em uma caixa de potencial é dada por:
Para este sistema determine a) a energia média obtida após grande número de medidas; b) a probabili
dade de obter, em uma única medida, a energia do estado fundamental, do primeiro estado excitado e do
segundo; c) o valor médio de < x > e < x 2>.
50. Para o problema da partícula em uma caixa unidimensional representado por estas duas funções
de onda:
Determ ine os valores de AH2 = < H 2 > - < H >2 para cada uma dessas funções de onda e responda qual
o significado físico de cada resultado. Em seguida, calcule qual é a probabilidade de obtermos uma me
dida á eE l e E 2 para as autofunções desse sistema.
51. Um hidrocarboneto insaturado como o butadieno pode ser representado (seus 4 elétrons 7t) por
um modelo simplificado do tipo partícula em uma caixa. Considerando o princípio de exclusão de Pauli,
responda às seguintes questões: i) qual é a configuração do estado fundamental? Supondo que os elé
trons não interagem entre si, calcule a energia do estado fundamental; ii) faça o pedido no item i apli
cado ao primeiro estado excitado. Calcule a energia de transição desse sistema; iii) explique por que, nos
polienos lineares, existe uma tendência a ocorrerem absorções no visível com o crescim ento da cadeia;
iv) calcule a força de oscilador dessa transição e compare seus resultados com aqueles obtidos no lim ite
de longas cadeias conjugadas.
52. Em hidrocarbonetos cíclicos pode-se dizer que os elétrons estão confinados em uma caixa de po
tencial de tam anhoL, o perímetro da caixa, e possuem os números quânticos ±n. Com base em seus co
nhecimentos, mostre que as transições espectroscópicas de mais baixa energia do benzeno têm energias
de transição maiores cerca de 1,2 que as correspondentes energias dos hidrocarbonetos saturados.
53 . Considere uma partícula confinada em uma caixa de lado I . Sabe-se que as energias permitidas são
dadas pela seguinte expressão:
E = h 2n2n2/2m L2
onde n representa a soma dos quadrados dos números quânticos em cada uma das direções. Conside
rando como a energia depende do com primento da caixa em uma alteração quase-estática, mostre que a
força exercida pela partícula na parede é dada por Fx = -d E /ô L x. Sugestão: utilize o teorema traba
lho/energia: a) defina uma pressão sobre a parede e encontre uma expressão para esta grandeza em
função do tam anho da caixa e a energia de um determinado nível; b) utilize o teorema da eqüipartição e
encontre uma equação termodinâm ica para a temperatura, a pressão e o volume da caixa.
54. Suponha a função de onda para uma partícula em uma caixa de com prim ento a dada por
N (a 2 - x 2). Determ ine o valor médio da energia e da probabilidade de, em uma determinada medida da
energia, encontrar o estado En.
55. Para os potenciais listados a seguir determine a forma das funções de onda, as condições de con
torno e as energias permitidas do sistema: a) degrau repulsivo de potencial V0 simetricam ente disposto
em torno da origem e de com prim ento 2a, ao centro de uma caixa de potencial infinita de tam anho 2b;
b) degrau idêntico ao anterior, disposto no lado esquerdo da caixa; c) degrau atrativo, de profundidade
V0, disposto de maneira análoga à do item a; d) degrau atrativo de profundidade VQdisposto de maneira
análoga à do item b. Observe que, para os dois últimos problemas, não é necessário realizar novamente
todos os cálculos!
a) Apresente um desenho qualitativo para a função de onda do estado de menor energia; b) proponha so
luções dadas por senos ou co-senos e determine a energia de ponto zero e a energia do primeiro estado ex
citado; c) sempre existirá um estado ligado para o problema?; d) qual é a condição que se cumpre no caso
de eles existirem?
a) Apresente um desenho qualitativo para a função de onda do estado de m enor energia no caso em que
b possui um valor comparável ao de a, e no caso em que b -> co; b) mostre que os valores permitidos para
a energia são dados pela equação K + k •cotang(ka) = 0 se b —> co7 onde k e K são dados por:
k2 = 2mE/h2; K 2 = 2 m {V - E )/? l2\ c) m o stre que a razão de in ten sid a d e s em a e b é dada por:
T = exp>{-2K(b - à)}. Sugestão: empregue, no interior da caixa, um seno, e, para a região externa, a se
guinte combinação de exponenciais:
58. Utilizando um computador, determine níveis de energia e esboce um diagrama de correlação entre
os estados definidos por uma caixa de potencial de tam anho 2 a + 2 b quando V = 0 e a situação limite
(quando V —» co) dada por duas caixas de tam anho a.
V(x) = V, 0<\x\<b
V{x) = 0 , b <\x\<a + b
V(x) = o o \x\ > a + b
Apresente um diagrama de E contra V para a situação arbitrária na qual b = a/4. Em que condições este
problema nos permite entender os espectros de microondas e vibracional na amônia?
59. M ostre a validade do teorema do virial aplicado ao OH. Esse teorema afirma que, para um poten
cial proporcional à potência n da distância, o valor médio da energia cinética relaciona-se com a energia
potencial por 2 < T > = n < V > . Determ ine essa relação a partir do efeito do escalonamento das coorde
nadas de posição por X no cálculo da energia total: a) m ostre que o coeficiente de normalização da
função escalonada é dado por À? 2; b) mostre que a energia cinética média escalonada é dada por X < T > ;
c) suponha um com portam ento descrito por uma função de Euler, ou seja, V(Xx) = XnV(x), e m ostre que
a energia potencial média escalonada obedece a igual relação; d) finalm ente procure, o X de menor
energia e obtenha a relação desejada.
H = { - õ 2/ õx 2 + x 2 }
a) M ostre que a função a seguir é autofunção da ham iltoniana proposta e determine seus autova
lores:
W =Nxe~x2/2
b) Determ ine o coeficiente de normalização desta função de onda; c) calcule o valor médio d e x e p .
62. Seguindo os passos indicados, m ostre que a seguinte integral pode ser calculada:
GM - \ Z e ^ d x - {^
M ultiplique esta integral por outra, análoga em y, e realize a integral em coordenadas polares.
63. M ostre como esta integral pode ser calculada a partir de derivadas ft-ésimas deH0(a ):
o n d e ( a ) é dado por:
64. M ostre que a integral a seguir pode ser calculada a partir de derivadas «-ésimas quando a tem valor
nulo:
G0 = {u/a}1'2; G2 = W a ^ / 2 ; G4 = 3{rc/a5}/ 4
65. A partir dos resultados anteriores, mostre que para o OH o valor médio de < x 2 > e o de < p 2 >
valem, respectivamente, fi(n + 1/2)/|nco e nftca(« + l/2) para o estado fundamental. Em seguida mostre
que, para o estado fundamental de um oscilador harmônico, Ap ■Ax = h(n +1/2). Na expressão anterior
Ap = (< j?2 > - < p >2)12 eA x = ( < x 2 > - < x >2)12.
66. Supondo que uma vibração molecular seja descrita pelo modelo do OH, estime a variação percen
tual da distância interatôm ica, ou seja, 100 * Ar/r, para uma molécula simples à tem peratura de 298 K no
estado fundamental vibracional. As constantes de força e as freqüências de vibração para o hidrogênio e
o iodo moleculares valem respectivamente 5 ,2 105 dina/cm e 4159,5 cm-1, 1 ,7 105 dina/cm e 213,4 cm -1.
Consulte as distâncias interatômicas.
67. Explique o conceito de regras de seleção e estabeleça as regras de seleção para o oscilador harm ô
nico. Explique o porquê da existência de sobretons e combinações nos espectros experimentais.
68. Empregando os conhecim entos discutidos nos problemas anteriores, calcule as freqüências de vi
bração a partir daquelas indicadas para o mais abundante isótopo:
a) As freqüências de estiram ento e deformação angular C H no clorofórmio líquido valem 3018,8 (a)
e 1215,6 cm-1 (e). D eterm ine o efeito isotópico e cheque seu resultado com as freqüências experim ental
mente observadas no deuteroclorofórmio, onde seus valores são 2256 (a) e 908 (e) [R. W Wood e D. H.
Rank, Phys. Rev. 4 8 , 63 (1935)].
d) As freqüências de vibração do ácido hidrazóico, H N N , valem 2140, 1151 e 3336 cm-1. Caracterize
as freqüências de vibração sujeitas a intenso efeito isotópico e calcule seus valores no DNN . As freqüên
cias no D N N valem, respectivamente, 2112, 1184 e 2478 cm-1.
69. As freqüências de vibração do nBFs valem respectivamente 888 (a l ), 1445,9 (e), 691,3 (a2) e 480,4
(e). Comparando-se as freqüências de vibração observadas no l0BF3; 888; 1497; 719,5 e 482,0, é possível
atribuir a natureza dessas bandas? Use o efeito isotópico para realizar essa tarefa.
70. Para os sistemas a seguir, determine as freqüências de vibração da segunda espécie isotopicam ente
substituída a partir da regra de Redlich-Teller, compare os resultados e justifique os erros encontrados:
a. Téllez e colaboradores [Spectroscopy Letters, 31 (2), 313 (1998)] estudaram o espectro da espécie
Zn(14N H 3)2I2 determinando a freqüência do estiram ento UN H em 3317 cm-1. M ostre como, a partir
dessa freqüência, é possível determinar a freqüência de seus isotopômeros; o Zn{ N H 3)2I2 [3310 cm-1] e
o Zn(14NH3)2I2 [2418 cm-1].
c. A freqüência de estiram ento C H vale 2914,2 cm-1 no m etano e 2084,7 cm-1 no deuterometano
(CD4). M ostre como é possível calcular a últim a a partir do estiram ento C H no metano.
71. Explique com suas palavras como seria possível enriquecer isotopicam ente amostras de Li2 com
Li6Li7 através de ionização por um laser sintonizado em um múltiplo da freqüência de vibração de uma
das moléculas.
72. Uma fábrica de combustível nuclear contratou você desejando saber como calcular AU, AH, AG e
AS para as seguintes reações, nas quais todas as espécies encontram -se em seus respectivos estados fun
damentais vibracionais:
Sabe-se que as freqüências vibracionais harmônicas de cada uma das espécies envolvidas são:
3935,6 cm -1 3919,4 cm -1
Complete as lacunas e responda aos seguintes itens: a) caracterize os modos de vibração; b) calcule a fre
qüência de vibração para o N O 18; c) determine o valor de AU, AH, AG, AS e K (constante de equilíbrio)
para a reação considerada.
74. Empregue o potencial de M orse no cálculo da energia das primeiras cinco freqüências de vibração
para a molécula de HBr com os dados exibidos na Figura 2.22.
75. Para o potencial de Kronig-Penney unidimensional, periódico do tipo V(x + na) = V(a), em que n é
um inteiro, estabeleça as condições para obtenção dos níveis de energia em forma de bandas. Suponha
uma função de onda em forma de partícula livre.
Analisaremos, ao longo desta seção, diversos problemas de grande importância para a teoria
quântica que envolvem potenciais tridimensionais.
0, se a > x > 0
e b >y>0
V(*) = (3.1)
e c > z >0
oo. do contrário
x > a ou x <0, ou
X¥(x,y,z) = 0, se y > b ou y < 0, ou
(3.2)
z > c ou z < 0.
No interior da caixa o potencial é nulo, de modo que a equação de Schrõdinger nessa região
toma a seguinte forma:
Esta equação representa a soma da energia cinética nas direções x, y ez. Classicamente, na au
sência de choques e forças; o momentum se conserva em cada uma das direções. Como os cho
ques são elásticos, a energia cinética é conservada em cada uma dessas direções (Eq. 3.4).
Substituindo o resultado da Equação 3.4 na equação anterior, obtemos uma equação na qual
as derivadas e energias em diferentes direções não se misturam, ou seja, as derivadas em x não
aparecem multiplicadas por termos em y ouz e vice-versa. Isto qualifica a equação a ser resol
vida por separação de variáveis, onde a função 'F(*,j/,z) é representada por um produto de três
funções distintas, tal como apresentadas na Equação 3.5:
Empregando esta expressão na Equação 3.3 e dividindo esta p o r ^ (x,y, z), podemos separar a
Equação 3.3 em três equações distintas, cada qual ligada ao movimento em uma dada direção.
A Equação 3.6 apresenta a equação de Schrõdinger reescrita nesta forma:
-n 2 1 õ 2X i d% j 0 2Z„,
+ ----------— + = En, + Eny + En: (3.6)
2m Xn dx2 X, ôy2 Z „ z ÔZ2
A solução geral desta equação é obtida quando cada derivada parcial é identicamente satis
feita, Equação 3.7:
d 2X H'{x) 2mE,h
-------1— = ------ ? (*) (3 7)
dx2 n2 [ J
d % (y ) 2mE.
X,. (y)
dy2 n2 n> (3 -8 )
O leitor observará que as soluções para estas equações, análogas às equações de Schrõdinger
para o problema da partícula em uma caixa unidimensional, foram obtidas no capítulo ante
rior. Assim sendo, apresentaremos apenas as energias (Eq. 3.10), e algumas propriedades que
passaremos a analisar.
C h2 rn2 n2 n2
(3-n >
que exibe a dependência da energia com os três números quânticos do problema. A função de
onda correspondente é dada pela Equação 3.12, já devidamente normalizada:
A Equação de Schródinger Tridimensional 161
E f 8 ] 1/2
---- r sert(nx7íx/a) sen(nyn y /b ) sen[nzn z /c ) (3 yi)
abc J
Um gráfico da função de onda, para uma partícula em uma caixa bidimensional, é apresen
tado na Figura 3.1. Os diagramas mostram a função de onda para os estados (1,1), (2,1) e (2,2)
exibindo respectivamente nenhum, um e um nó para as autofunções ao longo d e x e nenhum,
nenhum e um nó ao longo da direção y, respectivamente. Está claro que todas as simetrias ob
servadas nas soluções 1D são também encontradas nas soluções 3D, ou seja, todas as soluções
têm simetria em relação aos eixos medianos, isto é, x = a /2 , com o mesmo acontecendo em re
lação ao eixo y. Conta-se os planos nodais em número igual ao da soma dos números quân
ticos menos três e, adicionalmente, as funções de onda mostram a validade do teorema nodal
— ou seja, a sua energia é crescente com o número de nós (ou planos nodais) na função de
onda.
Figura 3.1
A esquerda, função de onda e,
à direita, distribuição de
probabilidade para os estados:
(a) { 1 , 1 } ; (b) {2, 1} e
(c) { 2 , 2 } .
3.1.1 A degenerescência
Para discutirmos este ponto, adotaremos uma pequena simplificação matemática fazendo
iguais todos os lados da caixa de potencial — ou seja, a = b = c . Calculando a energia nessas
condições, temos:
162 Capítulo 3
Hj + « y
2 + «? Estados Degenerescência
19 (3,3,1),(3,1,3),(1,3,3) 3
18 (4,1,1),(1,4,1),(1,1,4) 3
17 (3,2,2),(2,3,2),(2,2,3) 3
14 (3,2,1), ... 6
12 (2,2,2) 1
11 (3,1,1),(1,3,1),(1,1,3) 3
;
9 (1,2,2),(2,1,2),(2,2,1) 3
6 (1,1,2),(1,2,1),(2,1,1) 3
3 (1,1,1) 1
: ..
Exemplo 3.1-1
Obtenha uma expressão para o número de estados quânticos com energia menor que E em uma caixa de potencial. Suponha, para co
modidade nas deduções, que esta seja uma energia macroscópica.
R. Analisemos o resultado de modificações da Equação 3.13 e suas conseqüências. A energia depende do vetor n,
{nx +ny +nz }. Para uma determinada energia, o conjunto de pontos permitidos para n define o espaço de fase do sistema.
Neste caso, se representarmos a energia como função do módulo quadrado de n, o conjunto de pontos compreendidos
entre as energias E tE + d E definirá uma casca esférica infinitesimal, conforme mostra a Equação 3.14.
Se a energia é macroscópica, é grande o número de pontos nesta região, de modo que pode-se tomar o volume dessa casca
infinitesimal que ocupa o primeiro quadrante como uma medida do número de estados acessíveis a esse sistema. Consi
derando-se que o volume da casca esférica representa o número total de estados com energia igual ou menor que ET, e seu
valor é dado pela Equação 3.15.
A densidade de energia, conceitualmente uma casca esférica com espessura dr restrita ao primeiro quadrante, é formal
mente a derivada desta expressão em relação a ET, dada pela Fórmula 3.16.
O momento angular é definido pelo produto vetorial do vetor posição, r, pelo vetor mo
mentum, p, como ilustra a Fórmula 3.17.
L=rxp (3.17)
A direção desse vetor é perpendicular ao plano formado pelos vetores r e p , enquanto o seu
sentido é regido pela regra da mão direita, segundo a qual, posicionando-se o dedo indicador
na direção do vetor r e girando-o de modo a apontá-lo na direção de p, o polegar define o sen
tido do v eto r momentum angular L. O valor do m ódulo do m om en to angular,
||L||= {L2x +L2 +L2z } 12 , é dado por ||r||•||p||senQ, sendo 0 o ângulo formado pelos vetores r e p. O
leitor observará que o momento angular é nulo no caso de vetores colineares e possui intensi-
164 Capítulo 3
dade máxima quando os vetores perfazem um ângulo de tc/2 entre si. As unidades do mo
mentum angular no SI são o kg •m 2/s (também J •s), ou seja, as mesmas unidades da constante
de Planck.
F igura 3 .2
Ilustração do movimento
rotacional clássico de um objeto
com os vetores posição,
velocidade, m om ento angular e
suas componentes.
i I te
L =Lxi + L j +LZ£ =dek X y z (3.18)
Px Py Pz
Nesta fórmula, Lx , Ly eLz são as componentes do momento angular nas direções conside
radas. Estas são discriminadas nas seguintes expressões:
4 =ypz -Zpy',
Ly = zpx -x p z ; (3.19)
4 = *p y -y p x;
Observe a existência de uma regra mnemônica segundo a qual uma determinada compo
nente /pode ser definida pela diferença entre os produtos da coordenada j pelo momento na
direção k menos seus termos permutados. Aplicando-se esta definição por permutações pares
nas demais componentes, é possível escrever mnemonicamente cada componente desejada.
A Figura 3.2 ilustra o movimento rotacional de um objeto, o vetor posição, o momentum, o
vetor momento angular e suas componentes. O módulo do momento angular é definido pela
soma dos quadrados de suas componentes, conforme a seguinte fórmula:
Tal como ocorre com outras grandezas, em mecânica quântica os valores aceitáveis para o
momento angular são também quantizados. Seus valores se determinam a partir da equação
de autovalores desse operador. Assim, definiremos o operador momento angular quântico se
guindo a velha receita de substituir/?^ por -ifiõ/õx na definição clássica apresentada na Equa
ção 3.19. Posteriormente formalizaremos esta definição em forma de operadores quânticos e
de suas relações algébricas.
Lx = - i h { y ^ - - z h (3.21)
õz õy
L = - i h { z — - X- } (3.22)
ÕX õz
4 =-*•»{* — - y — } (3.23)
õy õx
E interessante observar que a ordem em que as operações de multiplicação por uma coorde
nada e a derivada da outra são realizadas é irrelevante, pois, como podemos verificar no caso
de Lx, a variável y comuta com a derivada emz e vice-versa. O mesmo vale para as operações
que definem as componentes Lxe L y. Entretanto, essa não é uma regra que se aplique às rela
ções de comutação entre diferentes componentes do momento angular. Tomemos, por
exemplo, o comutador entre as componentes x e y do momento angular:
[ 4 ,4 1 = 4 4 - 4 4 (3.24)
[LX,Ly] = i 2h 2 L ± - Z± ) ( Z± - X± )
õz õy õx õz
(3.25)
.2*2 d d2 d2 2 d2 d2
= i n \y — + y z ---------y x — —- z ------- + zx
õx õxõz õz2 õyõx õyõz
õ õ N. õ õ
[Ly,Lx ] = i 2h 2\ ( z----- —))(y------
^ -x ^ ( y ^ - - zz —
^)
dx õz õz õy'
(3.26)
-2fe2 j Ô2 2 ô2 Õ2 d Õ2
= t n \yz---------z --------- y x — - + x — + z x -------
I õxõz õxõy õz õy õyõz
•2*2 r õ Õ
[Lx ,Ly ] = - i * r { x ^ - y ^ } = ih Lz (3.27)
õy õx
cias. O leitor observará que o comutador de quaisquer duas componentes sempre gerará
como resultado o produto da terceira componente vezes ifi, com o sinal positivo nas permuta
ções pares da ordem canônica (/,/, k ) e negativo quando das permutações ímpares (j, i, k).
Apesar dessa relativa imprecisão, é possível definir informações sobre o movimento rotaci-
onal ao analisarmos o comutador do módulo do momento angular com quaisquer de suas
componentes. Vejamos o caso particular do comutador de L2 com a componente z, ou seja:
[L2 , 4 m l 2 , 4 M 4 2, 4 m 4 2 , 4 ] (3.30)
Analisando esse comutador, é fácil reconhecermos que o último termo tem valor nulo e os
dois primeiros podem ser expandidos em:
[l 2 ; 4 ] = 4 [ 4 , 4 M 4 ; 4 ] 4 + 4 [ 4 >4 ]+ [ 4 > 4 1 4
=-/ < £ y +^ 4 4 +^ 4 4 =0 ( 3 '3 2 )
Estes resultados mostram que é perfeitamente possível atribuir valores ao momento angular
total e a uma de suas componentes, porém não é possível definir valores para uma segunda
componente, tendo em vista a não-comutação destas últimas. A práxis recomenda que se es
colha como bons números quânticos o valor do módulo do momento angular, L2, e da compo
nente Lz, cujas equações de autovalores estão apresentadas a seguir.
£ * r M = » 2/ ( / + i) r m (3.34)
A imagem que se pode fazer desse movimento é apresentada na Figura 3.3, com um vetor em
precessão em torno do eixoz. Nesta figura os valores associados às componentes x e y não são
bem definidos e, portanto, não constituem bons números quânticos.
A Equação de Schrõdinger Tridimensional 167
Figura 3.3
Ilustração do movimento
rotacional quântico de um
objeto com momento angular e
projeção na direção z
conhecidos. Observe que o
desconhecimento sobre as
componentes x e y gera um cone
•de revolução em torno do eixo z.
Identificando o valor deste operador à soma I 2 +L2 é fácil reconhecermos que esse valor
médio é necessariamente positivo, visto que representa a soma de dois quadrados perfeitos.
Assim, utilizando a definição prévia para os auto-estados dos operadores em questão, temos a
Equação 3.36. Decorre que a grandeza 1(1+ 1)—mf deve ser necessariamente maior que zero.
Daí, temos uma relação limitando os valores de ml aceitáveis do sistema:
com /> 0. Ou seja, os valores de ml serão inteiros com valores máximos, em valor absoluto,
iguais a /. Assim, os valores aceitáveis de ml estarão compreendidos entre - /e /. O estudante
de química ou física não hesitará em reconhecer nesta expressão os valores associados ao nú
mero quântico magnético de diferentes orbitais em uma camada atômica.
plano xy com o eixo.v é definido por (j>; dito ângulo magnético. As coordenadasx, y ez são apre
sentadas a seguir:
Figura 3.4
Equivalência entre o sistema de
coordenadas esféricas e
cartesianas e o elemento de
volume em coordenadas
esféricas.
> y
dx dy õz
~õr dr ~õr
dx dy õz
J(x ,y ,z,r, ():o )-d et (3.39)
30 00 90
õx õy az
ãj> 9(|>
dx dy dz = r 2 senQ dr dQ d § } (3.40)
I» co j» co ^ oo co /• 2n f K o
o que gera:
0 1 0 1 0 1
+•
dx senti cos<\>dr rcosticosfydti rsentisen$d§’
0 1 0 1 0 1 0 /Q AQS
— = ----------------+ ------------------+ ------------------;
dy senti sentydr rcostisenfydti rsenticosfydfy
d _ 1 d ___ 1___0_
õz costi õr rsenti 00
Como as variações radiais não nos interessam por ora, escreveremos cada componente do
operador momento angular na representação esférica:
/s 0 0
Lx = -íh{-sem |)------cotgti cosfy— }
00 0(j)
o
L =-iti{cos§ ------cotgti sem|)— } (3.44)
00 0 <|>
L = -« *-*
cuja soma dos quadrados define o operador momento angular em coordenadas esféricas:
-9 o 1 0 0 1 02
L2 = —fi {—-— -(s en ti — ) + — ,Q
senti 00 00 sen ti õ§ (3.45)
{-senti
\ 00í {senQí00
^ + sen
- \ ti - í }Y!n' (0^ ) (3-46)
Esta equação diferencial mostra derivadas dependentes dos ângulos 0 e <|>. Supondo-se que se
possa separar a dependência dessas duas variáveis no produto de funções definido pela
Equação 3.47:
que, dividida pelo produto ©^'(Q)^ ^), gera duas equações diferenciais independentes em 0
e <j>que são feitas iguais à constante m2, ou seja:
d20
- i r r - = " w/
2® *l (3.49)
a<p
Diz-se que a primeira equação é magnética, enquanto a segunda é azimutal. Vejamos em de
talhe a solução de cada uma destas equações.
A equação magnética tem solução simples, dada por uma exponencial imaginária:
( « = » “ '*, (351)
com 0< §< 2n e N = {1/ 2n}1/2. Esta constante de normalização é calculada no Exemplo 3.2-1.
R. O valor de N é calculado impondo-se que < 0 / 0 > = 1 no período em questão, [0,27i], ou seja:
donde N = {l/27i}y2.
m, = 0 ,± 1 ,± 2 ,± 3 ,..., + /. (3.53)
A equação associada à variável 0 foi estudada por Adrien Marie Legendre (1752-1833) no
início do século XIX. Seu estudo é extenso, de modo que aqui apresentaremos apenas os
passos mais importantes:
A função © j^ (w) é chamada de função de Helmholtz. É interessante analisar algumas das caracte
rísticas dessa função. Primeiramente, a equação não muda sua forma sob ação do operador paridade,
ou seja, se r —» -r. Disso decorre a existência de simetria no plano xy. Como a operação de paridade
leva Qemn-Q, as funções de onda serão necessariamente pares ou ímpares em relação à variável 0.
b. Introduz-se uma nova função P f 1' !(w) conhecida como polinômio associado de Legendre de grau l e
ordem m,, que é relacionado pela seguinte transformação à função de onda azimutal:
(3.55)
Este polinômio é obtido pela derivada em ordem mt do polinômio de Legendre simples, P,° (w), formal-
mente solução da histórica equação de Legendre, equivalente à Equação 3.$4 com valor nulo para a
constante mt. O polinômio de Legendre simples, Pt° (w) é, por sua vez, oriundo da l-ésima derivada da
função geradora {w 2 - í } 1, ou seja:
J __
p;V ) {w 2 - 1}' (3.56)
YT\~ãv
A Tabela 3.2 apresenta alguns dos polinômios de Legendre de menor grau, enquanto o
Exemplo 3.2-2 mostra a representação em série para os polinômios associados de Legendre.
Resolva a Equação 3.54 supondo que a função ®™1(w)seja representável por uma série de potências.
R. Substituindo esta série na Equação 3.54 encontramos uma relação de recorrência similar àquela obtida no problema do
OH.
O leitor se convencerá de que esta série possuirá termos pares ou ímpares, ou seja, sua simetria será bem definida e depen
dente do valor de /. Outro aspecto interessante é o fato de que esta série seja divergente, motivo que impõe seu trunca-
mento quando k for igual a /, levando ao cancelamento do numerador.
Deve-se observar que essas funções de onda têm como argumento a função co-seno e,
portanto, são ortogonais segundo a norma sen0. O resultado final para a parte azimutal da
172 Capítulo 3
função de onda esférica é apresentado na Equação 3.58; onde se pode visualizar claramente a
constante de normalização para esta parte da função de onda.
1/2
© r (e ) = ( - 1)“' (2/9+,.1)([ ; . ;|)! \ i f ol (cosq) (3.58)
I 2( / + * ,) !
Apresentamos na Tabela 3.3 as funções azimutais para alguns números quânticos menores. A
seguir apresentamos a fórmula geral para o harmônico esférico, enquanto a Tabela 3.4 mostra
os esféricos harmônicos de menor ordem.
/ ©j (0)
o ©n(0) 42/2
©i (9) Vó cosQ/ 2
©f(0) J 3 sen®/ 2
© f(0) V l5 sen2® /4
© f (0) 47®sen2® /8
Agregamos um fator de fase representado pelo termo (-1 )W / e escolhido de modo que
Y]"1(0, (|)) = ( - l ) m/Y*™' (0, <\>). O Exemplo 3.2-3 ilustra a determinação dessas funções de onda
para alguns casos mais freqüentes.
3.2-3
Construa, utilizando as Tabelas 3.4 e 3.2, as seguintes autofunções de L2 ,LZ >. a) |0X0 >; b) 12;0 > ; c) 11,1 >; d) |1,0>; e) |2,-1 >,*
f) |2,1>.
R . Apresentaremos apenas as respostas: a) (0/0 > = V V 4 n ; b) |2,0 > =V5/ 1Ó7C3(cc>s20 -1 ); c) |1,1 > = - ^ 3 / 8tc sen® e1^ ; d)
jl/0 > =-73/ 4n cos®; e) 12,-1 > =JT5J& k sen® cos® e^ ; f) [2,1 > =-V15/ 871 sen® cos® e1^.
A Equação de Schrõdinger Tridimensional 173
V M — p r w m, (<i>)
t f ( e , 4>) = •v/l/471
Yg (0, <j>) —
-735/ 64tc sen30 e 3t*
Nesta seção discutiremos algumas das propriedades matemáticas dos harmônicos esféricos,
embora o assunto seja extenso e repleto de pequenos detalhes. Indicaremos, a título de ex
tensão, os textos de Pauling [109] e Pilar [178].
A primeira característica dessas soluções é comum a autofunções de operadores em mecâ
nica quântica — ou seja, são ortonormais:
ío §*,,*; (3-62)
para todo lj',m r e m, . Esta propriedade decorre de uma relação de ortogonalidade seme
lhante, válida para os polinômios associados de Legendre, conforme ilustra a fórmula a seguir:
174 Capítulo 3
Uma segunda característica a ressaltar diz respeito à paridade dos harmônicos esféricos. A in
versão nas coordenadas, x —» y —>-y e z —» -z, tem o efeito de não modificar o raio, porém
altera os valores 0 por n - 0 e também modifica o valor do ângulo <\>por §+n. A ação deste ope
rador sobre os harmônicos esféricos é dependente do momento angular /, ou seja:
Portanto, a paridade dos harmônicos esféricos é definida pelo valor de seu momento angular.
Posteriormente teremos a oportunidade de estudar os efeitos desse operador nas regras de se
leção atômicas.
Figura 3.5
Ilustração da operação paridade
sobre as variáveis r, 0 e <)).
Cabe-nos agora discutir a forma qualitativa dos harmônicos esféricos, sua distribuição espacial
e suas conseqüências para a química em geral. Para isso empregaremos um diagrama polar. Esta
forma de representar figuras é especialmente útil quando lidamos com problemas de simetria
esférica. Nela existem dois eixos versores e cujas direções são sempre a do vetor origem-ponto e
perpendicular a este, conforme ilustra a Figura 3.5. Neste diagrama será representado o valor,
como distância à origem em módulo, de uma função para um dado ângulo. A figura é gerada
quando todos os pontos associados a variações de 0 no domínio [0,2ti ] são ligados.
Figura 3.6
Vetores versores, variações
permitidas em um diagrama
polar de uma função
arbitrária.
A Equação de Schródinger Tridimensional 175
A primeira curva a ser analisada é a do harmônico esférico ^ (9; <(>). O leitor, consultando a
Tabela 3.4, verificará que essa função é completamente esférica, conforme mostra a Figura
3.6.
Figura 3.7
Diagrama polar com os eixos
versores e curva para o
harmônico esférico cujo /é
unitário (px).
Figura 3.8
Diagrama polar para a curva que
corresponde ao harmônico
esférico cujo /é unitário e ml
assume valor igual a 0, de um
orbital p z.
Já tivemos a oportunidade de discutir a questão das regras de seleção para transições ópticas,
no Capítulo 2, Seção 2.1.14. Naquela oportunidade, mostramos que a intensidade das transi
ções é proporcional ao quadrado do momento de transição, < i/r/f> , entre os estados iniciais
e finais de uma transição eletrônica. Cabe-nos agora apresentar resultados para o cálculo
desse elemento utilizando as funções harmônicas obtidas naquela seção.
Tendo em vista a necessidade de um integrando par para a existência de uma integral não-
nula, devemos analisar os efeitos da operação de inversão sobre cada um dos elementos do
176 Capítulo 3
Figura 3.9
Imagem dos orbitais d.
integrando. Assim, verificaremos que o operador r é ímpar, enquanto a paridade dos harmô
nicos esféricos depende do momento angular dos estados original e final, (-1/ . Daí, tendo em
vista a necessidade de um integrando par, a soma l{ +1^+1 necessita assumir valor par:
Portanto, o operador dipolo conecta somente estados de diferente paridade. Esta regra de se
leção foi estabelecida por Laporte e permite estabelecer regras para transições atômicas em
muitos sistemas. Isto faz com que transições entre orbitais de mesma simetria, como, por
exemplo, p -± p ou d —>d, sejam estritamente proibidas em átomos. Em ambientes leve
mente diferentes, tal como em complexos inorgânicos de alta simetria, onde ainda se preserva
o caráter atômico dos orbitais, estas regras não são seguidas fielmente mas, de modo geral, as
excitações d -» d possuem pequena intensidade. Assim, a regra de Laporte é de uso dissemi
nado em química experimental orientando a atribuição de bandas espectroscópicas e inter
pretações da estrutura eletrônica.
Analisaremos agora a contribuição que os harmônicos esféricos dão a esta propriedade. A
equação a seguir mostra o elemento de matriz < i/r/f> com suas partes radiais e angulares
discriminadas:
Ignorando os efeitos ligados à parte radial e explicitando a parte angular deste elemento de
matriz, devemos calcular:
A Equação de Schrõdinger Tridimensional 177
Analisaremos uma polarização por vez; sendo a primeira paralela ao eixoz. Desmembrando a
integral associada a polarização z nas suas partes magnética e azimutal, temos integrais que
se anulam sempre que os números quânticos magnéticos diferem entre si, implicando a regra
de seleção magnética, Aml = 0, para esta polarização. O resultado da integral azimutal é não-
nula se e somente se / = /± 1, o que estabelece uma segunda regra de seleção, AL = ±1.
Integrais equivalentes são encontradas no caso das polarizações em x ey. Também neste
caso as regras de seleção azimutais são idênticas, AL = ±1, embora as regras de seleção magné
ticas obriguem a que o número quântico magnético varie por uma unidade — ou seja, Aml = ± 1.
Os resultados para as regras de seleção ópticas permitidas por dipolo elétrico, quadrupolo
elétrico e também por dipolo magnético estão apresentados na Tabela 3.5 e nos serão úteis no
estudo da espectroscopia rotacional molecular e também dos espectros atômicos.
• ' í
Tabela 3.5 Resumo das regras de seleção
Tipo de transição AL A ml
Dipolo elétrico
<3
A ml = 0, ±1
+1
II
Quando uma transição não for permitida por qualquer desses critérios, diz-se que é proi
bida. Normalmente a probabilidade de que transições desse tipo ocorram é muito menor que
as transições ópticas (probabilidade relativa de 10-5). Porém, em muitas ocasiões elas ocor
rem, seja porque se utiliza experimentos com campos muito intensos, tal como ocorre na es
pectroscopia de multifótons, seja porque se observa uma progressiva deterioração na validade
dessas regras com o aumento do número atômico.
copia por difração de raios X desempenha em cristais. Além dessas funções, a espectroscopia de
microondas se presta a medidas do momento dipolar de moléculas em fase gasosa através do
desdobramento Zeeman das linhas rotacionais.
Finalmente, não se pode deixar de estudar este assunto porque ele, literalmente, invade
nossas casas em aplicações que vão da telefonia interurbana ao uso de um forno de micro
ondas. No primeiro caso a modulação do sinal é feita na região de microondas, pois ali os
transmissores são intensos (perto de uma antena de microondas sente-se calor!), os detec
tores são bastantes sensíveis e a atmosfera (basicamente constituída de moléculas sem dipolo
permanente) não absorve esta radiação. No segundo caso, uma intensa fonte de microondas
excita rotacionalmente as moléculas pequenas, principalmente a água, que por convecção
aquece o alimento. Por esses motivos analisaremos a espectroscopia de microondas e suas
aplicações em química moderna.
Todo objeto sólido mostra resistência a alterar seu movimento rotacional. Esta resistência é
desempenhada pelo momento de inércia molecular, formalmente os autovalores do tensor de
inércia, uma matriz cujos elementos, — como, por exemplo, / — representam a inércia a va
riações no momento angular perpendicular ao par de eixos x e y. Em moléculas lineares diatô-
micas o momento de inércia é calculado por uma expressão simples,
r _ n p2 _ 2
Í_ M “ ^ 7 (3-7°)
ondei? é a distância interatômica e jj, é a massa reduzida do sistema. Neste caso não existe ro
tação em torno do eixo colinear à molécula enquanto os momentos de inércia em torno dos
demais eixos são iguais entre si.
Determine o momento de inércia do lH 36C l,14N 16O, e 12 C14iV, sabendo que as distâncias interatômicas valem respectivamente
1,28 a , 1,151 A e 1,17 A. A unidade de massa atômica vale 1,66056 10-27%.
Outro caso em que o momento de inércia possui uma fórmula simples é no de moléculas
triatômicas lineares, ABC, dada pela seguinte fórmula:
IjABC) = —- ^ (3 71)
1/
C 10 QO 1X 10 Q
/1
Determine o momento de inércia da molécula triatômica linear O C Sedeseuisotopômero O C S, sabendo que a distância
OC é de 1,1628 Ã e a distância CS vale 1,5597 A.
R . Utilizando a Expressão 3.71 obtemos o valor de 1,3805 10 45 kg-m 2 para o momento de inércia do 160 12C32S e o valor
A Equação de Schrõdinger Tridimensional 179
AC r\ a s a r\ r\r\
de 1/4151 10" kg -m para o O C S. Como se pode observar, o valor do momento de inércia é uma função sensível
da geometria molecular e das massas de seus isótopos.
A Tabela 3.6 apresenta expressões para o momento de inércia de alguns sistemas. A sim
plicidade aparente das fórmulas presentes é, no entanto, restrita a moléculas lineares. No
caso de moléculas com geometria arbitrária, recorre-se a uma pequena receita para determi
nação dessa grandeza. Primeiramente determina-se o centro de massa molecular,
N N N
Xcm= ^ x imi/M T; Ycm=Yj yimi IM r ; Z„„ = £ z ,m , / Mr (3.72)
/=1 Í=1 1=1
Posteriormente, define-se a matriz de inércia, cujos elementos são calculados a partir das po
sições relativas ao centro de massa e aos eixos versores:
L + z 2k ) - M r o?m + z?m)
(3.73)
k=l
DIATÔMICA
AB /= mamhR 2 / Mt
ROTOR LINEAR
Simétrico
BAB 1= 2mbRl
Assimétrico
ABC /= (ma mc (Ra +RC)2 + mh (maR2a + mcR2 ))/ Mr
ROTOR SIMÉTRICO
Tetraédrico
abc3 par 2mcR2 (1 —cosQ)
per mcR2(í-cosQ)
+mc (ma + mb )R2 (1 + 2 cosQ)/ MT
+mcRa{{ 3mc +mb )Ra
+6mcRc {(1 + 2 cosQ)/ 3} V2}/ MT
Piramidal
bc3 ^par ” 2mcR^ (1- cos 0)
ROTOR ESFÉRICO
Tetraédrico
ABa /= 8mhR2/ 3
Octaédrico
AB , /= AmcR l
5
180 Capítulo 3
N
4 ? = £ mk (xl + zl ) + Z«« ) (3.74)
k=\
(3.75)
k=l
N
4y - Z ^ i V k ~ M TX c m X ,, (3.76)
k=l
N
4 = Y . mkx k z k - M Tx cmz t (3.77)
k=l
N
4 = Z % y fc % ~MTYcn,Zc (3.78)
k=l
O tensor de inércia reflete muitas das simetrias existentes no objeto rígido. No caso de
uma molécula linear, um dos autovalores é nulo, e seu autovetor é colinear ao eixo molecular.
Se, por exemplo, existe um eixo de simetria rotacional, dois dos autovalores do tensor de
inércia serão degenerados e o autovetor não-degenerado coincide com esse eixo. Se, por outro
lado, a molécula apresentar um plano de simetria molecular, um dos autovetores será neces
sariamente ortogonal a esse plano. Já quando a simetria é cúbica, tal como acontece com o
metano ou o SF6, todos os autovalores serão degenerados.
Interessa-nos sobretudo o momento angular de moléculas poliatômicas. Nesses sis
temas, desconsiderando-se o movimento do centro de massa o momento angular é dado pela
soma do momento angular de cada átomo. Considerando-se que uma molécula se comporte
como um objeto rígido em rotação livre em torno de seu centro de massa o seu momento
angular é definido por:
^xx ^xy - L ®x
1—
^yx
II
íí
<
^zx ~JZy 4 3 ,
onde I representa a matriz de inércia, enquanto as grandezas a>x/ coy e a)z são as freqüências
naturais de revolução em torno dos eixos x, y ez. Analogamente, a energia cinética é represen
tada pela Equação 3.80.
(3.81)
L-L =L2
x +L2
y +L2
z = Iaa(oa + lyy (Oy + 4 co, (3.82)
onde Iaa,lyy e Icc, são os respectivos autovalores da matriz de inércia. O campo da espectros
copia de microondas criou classificações sistemáticas baseadas nos autovalores comparados.
Assim, por exemplo, uma molécula linear é classificada pelo fato de que Izz = 0, Ixx = I yy. Uma
molécula na qual uma das componentes de inércia seja menor que as demais degeneradas,
4z < 4 * ~Iyy’ &chamada de simétrico-prolata e tem a forma de um bastonete. Diz-se que a
molécula para a qual uma das componentes de inércia é maior que a dos degenerados,
Izz > Ixx = Iyy’ è simétrico-oblata, e sua forma seria bem representada por uma pizza . Uma mo
lécula cúbica tem seus momentos de inércia iguais, enquanto em uma molécula assimétrica
todos os seus momentos de inércia são diferentes. A Tabela 3.7 apresenta momentos de
inércia de algumas moléculas típicas.
LINEAR
OCS rco =1,161 4 = 0 ,0
C 02 rco =1,157 4 = 0 ,0
J = T = 71 S
'Xx Myy '
ROTO R ASSIMÉTRICO
F20 rOF =1,41 4 = 1 4 ,3
4 = 7 7 ,4
ROTO R SIMÉTRICO
Prolato
CH3F rCH =1,11 4 = 3 2 ,9
t e =1,332 /yy=81,l
Exemplo 3.3-3
Aponte, entre as moléculas a seguir, aquelas que apresentarão espectro de microondas puro, amônia, água, nitrogênio molecular, clo
rofórmio, metano, SF6 e HCl. Classifique-a no que diz respeito à simetria molecular.
R. Apresentaremos apenas as moléculas e sua correspondente classificação: a) ativa, simétrico-prolata; b) ativa, simé-
trico-prolata; c) inativa, simétrico-prolata; d) ativa, simétrico-prolata; e) inativa, cúbica; f) inativa, cúbica; g) ativa, si
métrico-prolat a.
Nas próximas seções, vamos discutir o espectro rotacional puro de algumas moléculas-mo-
delo.
A equação que define a energia rotacional clássica de um objeto rígido é dada pela equação
E = L 2 / 21 que, traduzida em uma forma quanto-mecânica, mostra o seguinte espectro de
energias permitidas:
As regras de seleção para este movimento impõem que as transições se dêem entre es
tados contíguos, ou seja, AL = ±1. Daí, levando essa regra ao cálculo da energia entre dois ní
veis, obtemos:
AE =Et+1 -E , ^ (3.84)
v = à E / h = ^ ~ ^ = 2 B v(l + l) (3.85)
471 /
A análise desta equação mostra uma seqüência de freqüências igualmente espaçadas por
h /4 n 2Ij valor que é conhecido como 2B no campo da espectroscopia de microondas. Esta
grandeza é freqüentemente representada em hertz, mas também é comum utilizar-se cm-1
como unidade. Neste caso, agrega-se a ela um til, de modo que ela vale, neste caso,
2B = h/ 4n2cL Em moléculas, o valor de 2B oscila entre centenas de gigahertzs nas moléculas
pequenas a valores da ordem de centenas de hertzs em moléculas estendidas. A título de
exemplo, o valor de 2B no CO é de 115,795 GHz; 4,322 GHz para o CsCl; 6,0815 GHz para o
OCS. Nota-se que o valor dessa grandeza diminui significativamente com o aumento do ta
manho e da massa molecular. O Exemplo 3.3-4 calcula uma série de freqüências no espectro
da molécula de NO.
A Equação de Schrõdinger Tridimensional 183
Exemplo 3.3-4
O comprimento de ligação para a molécula de NO é 1,151 IO-10 m. Calcule as freqüências (cm-1) para o espectro rotacional puro do
NO que corresponde às seguintes mudanças nos números quânticos rotacionais: 0 —» 1; 1 —» 2, 2 -> 3 e 3 —>4
R . Como a distância éjde 1,151 A, calcula-se o momento de inércia por 1,6424 10~46kg-m 2 gerando um espaçamento
entre linhas dado por 2B = h/ 4n2cl = 3,38cm -1. A primeira linha será observada em 3,38cm -1, enquanto as demais se si
tuarão em 6, 76, 10, 14 e 13, 52 cm-1.
j _ h _ h
v ~ An2c2Bv ~ 4%2c 2Bv (3-86)
O Exemplo 3.3-5 ilustra a determinação da distância de ligação no HCl a partir do seu es
pectro de microondas puro.
Exemplo 3.3-5
O espectro rotacional do HCl mostra uma série de linhas igualmente espaçadas por 20,70 cm-1. Calcule a distância internuclear
nesse composto.
R. Se as linhas do espectro rotacional do gás de HCl possuem espaçamento de 20,70 cm-1, a distância interatômica pode
ser calculada a partir do momento de inércia experimental. Empregando a Fórmula 3.86, obtemos o valor de
2,7027 10"47 kg - m 2 para o momento de inércia e 1,289 À para a distância interatômica. O resultado está em boa concor
dância com outros resultados experimentais.
A Figura 3.10 mostra o espectro rotacional puro do HCl e suas linhas regularmente espaçadas.
Entretanto, é visível que essas linhas diminuem seu espaçamento com o aumento do número
rotacional. Quando as moléculas giram, deixam de se comportar como objetos rígidos, pois
sofrem os efeitos das forças centrífugas. Sob essas forças as moléculas tendem a se distender,
com o conseqüente aumento no momento de inércia desse sistema. Isto causa uma diminu
ição nos intervalos entre linhas no espectro rotacional molecular. Esse efeito pode ser corri
gido agregando-se correções à Fórmula 3.11 proporcionais a I 2(I + 1)2. Trataremos desse
assunto no próximo capítulo.
Figura 3 .1 0
Espectro rotacional puro para
o HCl. Observe que o
espaçamento é constante e
igual a 21,18 cm-1.
0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200 220 240 260 280 300
V (c m 1)
184 Capítulo 3
Analisaremos o caso de uma molécula linear como o 16O 12C 32S, desejando determinar sua
geometria através da espectroscopia de microondas. Existem dois parâmetros geométricos
associados a este sistema, a distância de ligação OC e a distância de ligação CS. A determi
nação do momento de inércia experimental gera, entretanto, apenas um valor para esta gran
deza, o que não permite determinar as duas distâncias mencionadas. Para se construir um sis
tema solúvel são feitas medidas experimentais em isótopos desse sistema. Freqüentemente
eles são sintetizados e seu espectro é tomado pela determinação dos momentos de inércia iso
topicamente substituídos. Por vezes, não é necessário sequer realizar sínteses específicas,
porque o isótopo considerado já se encontra com uma apreciável abundância no meio ambi
en te. Este é o caso, por exem plo, dos isótop os 6L i(7,5%), l0B (19,8% ), 22N e(9,22%),
25M g(10,0 %),26M g(ll,0 %),34S (4,2%), 37Cl (24,2%), 41K (6,7 % )entre outros. Nesse sentido,
é conveniente analisar o Exercício 3.3-6, que discute a determinação experimental da geome
tria do OCS.
Exemplo 3.3-6
No estudo da espectroscopia de microondas da molécula de OCS isotopicamente substituída (C.H. Townes, A.N. Holden e F.R.
Merrit, Phys. Rev., 74, [4948]) foram observadas as seguintes transições:
7+ 1 1 -» 2 2 -> 3 3 -» 4 4 -^ 5
16q 12C 32S 24,32592 36,48882 48,65164 60,81408
16q 12C 345 23,73233 47,46240
todas dadas em GHz. Utilizando as expressões apresentadas para o momento de inércia e supondo que as distâncias de ligação não
se alteram na substituição isotópica, calcule o comprimento das ligações CO e CS.
R . A Equação 3.87 mostra como varia o momento de inércia do OCS quando se substitui isotopicamente o 32S pelo 34S. E
baseada em equação presente na Tabela 3.6, onde R é a distância OC e R' a distância CS. Nesta equação I é o momento de
inércia da molécula substituída, e I o momento de inércia da molécula original, ou seja:
Desta forma, o valor experimental de {lgMg - I FMF }/Amc determina a parte à direita da Equação 3.88. E possível obter
I(160 12C 32S) da separação das linhas 1 -2 , 3 - 4 , o que gera o valor de 1,3798 10~45kg-m 2. Já/(160 12C 34S)é estimado da
1A
s 1O Q/I AR O -
separação de linhas análogas do espectro desse isótopo, gerando / ( O C S ) igual a 1,41440 10" kg-m . Com estas
duas equações obtemos os valores de {IgMg - I pMF } / Amc como 1,47632 IO- 18kg-m 2. A segunda equação, é obtida da
Equação 3.83, colocando-se em evidência os termos dependentes da massa ma:
cujo termo entre parênteses identifica-se com o valor experimental para {IgMg - I FMF }/Amc anteriormente calculado. Co
nhecido I e as massas, basta calcular o valor dei? cujo resultado gera 1,171 A. Determinado R, pode-se calcular K substitu
indo-se o primeiro na Equação 3.83 e resolvendo-se uma equação de segundo grau. O valor calculado para R rvale 1,553 A.
A análise desse problema coloca em discussão a precisão das medidas feitas em espectroscopia
de microondas. O leitor poderá observar a presença de sete algarismos significativos nos va
lores observados para as freqüências, o que pode ser equivocadamente interpretado como in
dício de que as distâncias interatômicas possam ser determinadas com esta precisão. De fato,
é verdade que esta é uma resolução típica para a espectroscopia nesta região, porém a exis
tência de vibração molecular impõe erros à determinação das geometrias experimentais, que
A Equação de Schrõdinger Tridimensional 185
neste caso não podem ser determinadas com precisão melhor que 0,1% em distâncias. Ve
jamos agora o espectro rotacional de moléculas poliatômicas.
Uma molécula é simétrica quando dois dos autovalores do momento de inércia são degene
rados. Caso estes possuam valor maior que o do autovalor restante, diz-se que a molécula é si-
métrico-prolata; em caso contrário, diz-se que é simétrico-oblata. São exemplos de moléculas
simétrico-prolatas o FCH3, o CICH3, o BrCH3, o CH3CF3 e o CHSCCH, entre outras moléculas.
Exemplos de moléculas simétrico-oblatas com espectro rotacional puro são o HCF3, o NF3 e o
PF3. Assim, a fórmula geral para a energia rotacional em um sistema com Ixx = Iyy é dada por:
H Y T ' ( ^ ) = + (3 .8 9 )
:X X ZZ
‘ XX ZZ "X X
1 ( 3 -9 2 )
v = 2 B 1(1 + 1) (3.94)
Exem plo 3 .3 -7
O estudo do espectro de microondas da amônia e de seu isótopo ND3mostrou a validade da seguinte fórmula para as transições da fa
mília:
R. Não apresentaremos as fórmulas intermediárias, mas pode-se calcular o produto do quadrado da distância interatô-
mica pelo co-seno por meio da seguinte equação:
Determinando-se esse valor e posteriormente inserindo-o em quaisquer das equações que definem o momento de inércia,
chega-se a duas equações cuja solução gera os resultados de 1,014 A e 106,24°.
i
3.3.5 O espectro de uma molécula esférica
Diz-se que uma molécula é esférica quando os três autovalores do tensor de inércia são dege
nerados, ou seja, quandoIxx =1 =1^ . Neste caso a molécula não apresentará espectro rotaci
onal puro, porque seu momento de dipolo será sempre nulo. O espectro dos níveis de energia
permitidos pode ser calculado:
]} + i 2 + i 2
HYTl {Q,v) = — y z r ? (9 ,v ) (3.98)
zz
£ w =BW(/ + l) = ^ -/ (/ + l) (3.99)
^zz
W) = (3.100)
4ns0r
H % klm, ( r , 0; w ) = E k ^ k lm . 0; V) (3.102)
t2
-ti* õ , 2 S v L
{ r —)+ (r^ ^ ) = En^klml M ;V ) (3.103)
2fir2, dr dr 2\ir
A primeira delas é a equação de autovalores do momento angular, já analisada neste livro. Uti
lizaremos apenas os seus resultados, visto que o objetivo é estudar a equação radial. Nesta úl
tima deve-se observar a adição, ao potencial coulombiano, de um termo centrífugo
proporcional a /(/+ l)h 2 / 2^xr2. O efeito desse potencial, quando o momento angular é não-
nulo, é somar ao potencial coulombiano uma contribuição fortemente repulsiva próximo à
origem, gerando um potencial com um mínimo em uma região intermediária, conforme ilus
tram a Figura 3.11 e a Equação 3.107.
-Z ê2 h 21(1+1)
Ve (r)= --------+ (3.107)
4ne Qr 2\xr
(3109)
Esta solução governa o comportamento da função de onda em grandes raios, garantindo que a
função de onda tenda a zero neste limite. Definida a solução assintótica, é conveniente rea
lizar uma mudança de variável na qual p = a r, com a = 2{2\iE/ fr2 }V2. Se, além disso, se supõe
que a forma funcional dei?# (p) é a de um produto da exponencial assintótica por uma função
arbitrária Pkl (p),
3w(p)=-Pa(p)«-p/í (3.110)
Figura 3.11
Potenciais coulombiano e
centrífugo somados mostrando
o efeito centrífugo sobre o
potencial efetivo do sistema.
-2 j xE (xZc
h a
Esta equação admite soluções por séries de potências, de modo que representaremos a
função Pkl (p) como um produto da potência p/ vezes um polinômio, Lkl (p), ou seja:
Este polinômio foi estudado por Edmond Nicolas Laguerre (1834-188 6) na segunda metade
do século XIX; recebendo por isso o nome de polinômio de Laguerre. Suas propriedades en
contram-se, desde então, tabeladas em handbooks de física/matemática. Reescrevendo a
equação diferencial para Lkí (p), obtemos:
Representando a função Lkl (p)pela série de potências indicada na Equação 3.113, e calculando
a primeira e a segunda derivadas desta expressão, obtemos:
p i'/( p ) = £ ^ / p /-1
/=1 (3.115)
Levando essas derivadas à equação diferencial anterior, obtemos a seguinte relação de recor
rência entre sucessivos coeficientes da série:
Esta equação mostra uma soma infinita de potências de p. Como esta equação necessita ser
satisfeita, para todo valor de p é necessário que cada coeficiente se anule:
o que gera uma equação recorrente para os coeficientes a j entre si, ou seja:
(X -l-j-í)
V (/ + 1)(/+ 2/+ 2)a i+1 (3.119)
* iW = N p V ^ | y (3.120)
Analisando a série é fácil identificar que a razão entre coeficientes de mais alta ordem tende
assintoticamente a l / j , que é semelhante àquela encontrada para a série da função exp{p}, ou
seja:
190 Capítulo 3
X -l-k -l = 0 (3.122;
Definindo o número quântico principal como a soma do número quântico radial e angular e
empregando a definição de X (Eq. 3.112), temos:
n= k + l + 1= 1 = ^Zê2
Tii^iE)^2 (3 -123^
r -Z V -13,56
e ,= -Z — 2 = — ^ * v. (3-124)
2a Qn n
resultado que é idêntico ao obtido por Bohr. O número quântico, neste caso, assume sentido
ligeiramente diferente, pois representa a soma dos números quânticos radiais e angulares.
A Tabela 3.8 apresenta a função de onda radial, enquanto a Tabela 3.9 mostra os orbitais
atômicos de uso mais freqüente. Nesta tabela é possível identificar que os orbitais s possuem
valores não-nulos na origem, enquanto os demais se anulam nesse ponto. Esta característica
mostra que os orbitais s darão contribuição maior que qualquer outro a propriedades que
exijam alta densidade eletrônica próximo ao núcleo. Genericamente o comportamento na
origem é dado por p; .
As energias previstas pela solução analítica da equação de Schrõdinger são idênticas às ob
tidas no modelo de Bohr. Como são inversamente proporcionais ao quadrado do númerc
quântico principal, a diferença de energia entre estados contíguos diminui progressivamente
até o limiar de ionização. Diferentemente da teoria clássica, a moderna teoria quântica
mostra que muitos estados são degenerados. A Equação 3.124 mostra que os valores permi
tidos para /vão de 0 a n - 1. Daí o estado fundamental possuirá um único orbital denominado
1s. O primeiro estado excitado, n—2, apresentará dois valores possíveis de /= 0,1. Em conse
qüência, o segundo nível é quadruplamente degenerado, pois existirá um orbital 5 e três orbi
tais p. No segundo estado excitado, n —3, existirão os orbitais 3s, e 3d, totalizan
do 1 + 3 + 5 = 9 estados. Genericamente existirão, associados a cada nível«, o seu quadrado em
número de estados degenerados, como mostra a seguinte fórmula:
I > +l -« 2 (3.125)
1=0
Observe que, diferentemente do modelo de Bohr, aqui são permitidos estados cujo momento
angular é nulo.
A Equação de Schrõdinger Tridimensional 191
n 1 Rki,(p)
2 0
2 1 R. ,( r ) = - ^ = ( A ) 3/ 2 ( * V - Zrl2a
2V 6 ao
3 1
3 2
3.4.3 Propriedades
A Tabela 3.9 apresenta a função de onda radial para alguns orbitais mais freqüentemente em
pregados. Antes, porém, é interessante definir a distribuição de probabilidade radial como a
probabilidade de encontrarmos um elétron em uma capa esférica com raio r e espessura dr. A
distribuição de probabilidade radial, que independe dos ângulos 0 e cp, é definida pela seguinte
integral:
Utilizando a definição da função de onda global como um produto da radial pela angular, (Eq.
3.104), W(r, 0, \|/) =Rk (rJYj*1(0, cp), obtemos:
nl ml (9 »
2s 0
2p X
"•V. W " í ê $ 5/1re_Z" 2‘ ' se»0ct>s*
2P z
192 Capítulo 3
Considerando que a integral angular à direita nada mais é que a integral de normalização para
os harmônicos esféricos, temos como resultado final:
Neste ponto é conveniente analisar a distribuição de probabilidade radial para orbitais do pri
meiro ao terceiro níveis. A Figura 3.12 apresenta a função de onda radial à esquerda e a sua res
pectiva distribuição de probabilidade à direita. As distribuições de probabilidade radial
mostram valores nulos na origem crescendo com o aumento no raio, passando por vários má
ximos e mínimos até atingir um grande máximo. A partir desse ponto, elas decrescem expo-
nencialmente a zero. Outro ponto a destacar está ligado à estrita observância da Fórmula
3.123, na qual a soma do número de nós radiais e angulares mais 1 é sempre igual ao número
quântico principal. A Figura 3.13 ilustra a contabilidade de nós radiais/angulares em vários
orbitais. Tomando-se como exemplo os orbitais pertencentes ao terceiro nível, verifica-se que
o orbital 3s possui dois nós radiais e nenhum nó angular. A soma do número de nós radiais (2),
angulares (0) mais 1 é igual a 3, conforme estabelecido pela Equação 3.122. Os orbitais 3p, por
sua vez, apresentam um nó radial e um plano nodal angular. Sua soma também é igual a 3. Os
orbitais 3d não apresentam nenhum nó radial, mas o gráfico de sua distribuição angular re
vela existência de dois planos nodais angulares.
Tomemos a distribuição de probabilidade radial do orbital 1s, apresentada na Figura 3.12,
e calculemos algumas de suas propriedades. Vejamos qual é o valor do raio cuja probabilidade
é máxima.
Exemplo 3.4-1
Verifique, para a primeira órbita do átomo de hidrogênio, que a probabilidade de se encontrar uma partícula é máxima no raio de
Bohr.
R . Para calcular o raio de máxima probabilidade basta estimar o máximo para a Equação 3.129:
s P
s X y
d
* 2 -y 2 Sz2 - r 2 xy XZ
yz
f
x(x2 - 3 y 1) y{x2 - 3 y2) x(5z2 - r2) z(5z2 - 3 r2)
g
x 4 + y 2 - 6 x 2y2 xz(x2 - 3 y 2) (x2 - y2)(7z2 - r 2) x(7zs - 3 z r 2)
xy{x2 - y 2)
A Equação de Schrõdinger Tridimensional 193
Figura 3.12
Função de onda radial e
distribuição de probabilidade
radial para orbitais de menor
energia.
ria.
ct
fl3i 0,02
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18
r/an rfa0
rlâo r/aQ
Certificando-nos de que nos extremos a distribuição se anula e tomando a derivada primeira igualada a zero, deter-
minamos o valor do raio onde a probabilidade é máxima. Isto posto; temos:
194 Capítulo 3
o que leva a:
r = a 0/Z (3.131)
A distribuição de probabilidade radial possui, em r = a 0/Z ,à segunda derivada negativa, tal como deve ser em um ponto
de máximo.
= 2(Z/ a 0 )3 (1 ■
- 4 Z r / a n +2Z2r2/ a 0 )e~2Zrla° < 0 (3.132)
õr
Vejamos agora o cálculo de valores médios de interesse, < r >, < V > , dentre outros.
Antes, porém, apresentaremos, no próximo exercício, uma integral freqüentemente utilizada
nesses cálculos.
Exem plo 3 .4 -2
n!
r rne ^ d r = (3.133)
Jo a n+1
— f V ° V r = (-l)“ — ~ = ~ (3.134)
0 õ a n ^0 õan a a
1 _ ra
e -2^ a r 2d J 2n± d Q sen (3.135)
M2 -*0 J0 4 tí
1 i71 . 2n\ a,
COS 0 <j) =
N2 4n(2Z/ a aY o 01 4Z; (3.136)
gerando o resultado de N = 2{Z/ a Q} ° 2 para a constante de normalização do orbital 1s. O cálculo do valor médio do raio é
dado pela seguinte integral:
A Equação de Schrõdinger Tridimensional 195
/Z v3 4.3! Sa^
<r>= (— ) ----------- T = —
a 0 (2Z/a Q) 2 (3.138)
O leitor observará que o valor é 3/2 vezes maior que o raio em que há a máxima probabilidade radial -— ou seja, o raio de
Bohr. Isto se deve à maior contribuição que a função r dá ao integrando.
ao
2Z(3«2 -/(/ + 1)) (3.139)
) 7
9 n aí
2Z2(5«2 -3/(/ + l) + l) (3.140)
y2
< l / r 2 > /= _ —----------- (3.142)
' a fo (1 + 1/ 2)
<73
< V r 3 > „ ,= (3.143)
' «03k3/(/+ 1/2)(/ + 1)
_ Z4(3k2 —/(/+1))
(3.144)
'' a04«5 (/- 1/ 2)1(1 + 1/ 2) (/+ 1) (/+ 3/ 2)
É interessante discutir alguns desses resultados. O valor médio de r mostra, por exemplo,
que ele tem seu valor diminuído com 0 aumento do momento angular, ou seja, em átomos hi-
drogenóides os orbitais s são mais difusos do que orbitais /?, que por sua vez são mais difusos
do que orbitais d, e assim por diante.
Exem plo 3 .4 -4
Mostre que a energia cinética média é igual ao negativo de metade do valor médio da energia potencial resultado conhecido como teo
rema do virial.
R. Consultando a Equação 3.145 pelo valor médio da energia potencial, encontramos < V > = -Z /(4 n e0)aQn2. Este va
lor é ig u al a 2 < E > , donde se o b té m a en e rg ia c in é tic a por < K > = < E > - < V > , ou se ja ,
< K > = < E > -2 < E > = -< E > = -< V > /2 . O teorema do virial resulta da forma do potencial de interação, sendo válido
para átomos, moléculas e sólidos em quaisquer circunstâncias.
Primeiramente, convém fixar notações para o trabalho que envolva átomos e muitos elé
trons. Assim, utilizaremos letras minúsculas para designar o momento angular de cada or
bital atômico. Sendo assim, os orbitais s , p , d , f e g ... possuirão os seguintes valores próprios
de /: 0,1, 2, 3 e 4 .... Combinando-se a informação do número quântico principal, n, com a do
momento angular orbital, pode-se representar cada um dos orbitais atômicos. Dessa forma,
representaremos a configuração eletrônica do sódio, em seu estado fundamental, por
1s 22s22p63s\
A designação s,p, d, f e g tem origem histórica nos orbitais que geram as respectivas séries:
fina (do inglês sharp), principal {principal), difusa (,difuse), fina (fine) e, por extensão alfabética,
g, h, i, /, .... Deve-se ter o cuidado de não confundir o símbolo s, denotando o momento an
gular de um orbital, com o estado de spin total do sistema, representado por S.
Embora sejam válidos para todos os fins, os orbitais determinados pela equação de Schrõ-
dinger são complexos, o que dificulta a visualização de sua forma no espaço real. Essa depen
dência com números complexos decorre do fato de os harmônicos esféricos serem auto-
estados do operador Lz . Uma maneira de superar este problema consiste em combinar os orbi
tais p (ou d , f ...) entre si de modo que se cancelem as partes imaginárias desses orbitais. Essa
combinação é ditada por várias conveniências. Ilustraremos esta transformação no caso dos
orbitais p , deixando indicados os resultados para as demais funções.
Dos três orbitais p, um deles, por possuir valor nulo para o número quântico magnético, é
real por construção. Este é dado pela fórmula a seguir e seu diagrama polar, já apresentado na
Figura 3.7, mostra tratar-se de um orbital do tipo p z .
Para as demais componentes existe uma parte complexa, resultado do valor não-nulo para a
parte magnética da função de onda. Abaixo apresentamos os orbitais 2p, cujo mt é positivo.
m1 = + 1, e negativo, mr = - 1.
Como esses dois orbitais possuem a mesma parte real e são complexos, é possível realizar uma
combinação na construção de orbitais reais. Tomando-se a soma e a diferença desses orbitais
obtém-se:
Reconhece-se este como o orbital 2px, enquanto o segundo é o orbital 2py. A Tabela 3.10
mostra orbitais reais de simetria s ,p , d ,f g t h . Esses orbitais reais são amplamente utilizados
em química quântica, embora ainda se utilizem orbitais complexos em cálculos atômicos.
A Equação de Schrõdinger Tridimensional 197
Outra maneira de representar orbitais atômicos é muito difundida. Nesta o orbital é re
presentado como um objeto sólido provido de fase que define uma região contendo 90% da
probabilidade de encontrarmos o elétron em seu interior.
Nos parágrafos anteriores, orbitais com um determinado valor de momento angular foram
combinados segundo a conveniência de se gerarem orbitais reais. Cálculos moleculares
mostram que orbitais atômicos possuem a simetria que aquele átomo mostra na molécula.
Em uma molécula linear como o acetileno, os orbitais 2s e 2pz se misturam, formando um
orbital linear. Isto acontece porque nesses compostos a energia dos orbitais s e p é muito
próxima, sendo comum, dependendo do ambiente molecular, que estes se misturem. V á
rios elementos mostram tendência a esse tipo de comportamento, entre eles o carbono, o
boro, o nitrogênio etc. A Equação 3.150 mostra orbitais sp do carbono na molécula de aceti-
leno.
= Nt (3.150)
sn i -i
. Pz . 0 0 0 1 Pz
Para o caso da hibridização sp °, os orbitais são apresentados na Equação 3.152. São quatro or
bitais apresentando simetria tetraédrica localizados ao longo das respectivas ligações quí
micas. As ligações obtidas no metano e em muitos hidrocarbonetos saturados exemplificam
esse tipo de hibridização.
Figura 3.13
Orbitais híbridos de diversos Orbitais híbridos Geometria
tipos: sp, sp2, sp 3d, e sp3d2.
sp Linear
sp3 Tetraédrico
sp3d2 Octaédrico
O spin tem história longa; curiosa e essencial em química quântica. A. H. Compton [50] 7já em
1921, afirmou: "posso concluir que o próprio elétron, girando em torno de si como um pe
queno giroscópio, é provavelmente a última partícula magnética77, numa alusão à existência
do spin eletrônico como razão para explicar o desdobramento observado em linhas espectros
cópicas sujeitas a campos magnéticos intensos. Pouco depois, O. Stern e W Gerlach (1922) fi
zeram passar um feixe de prata metálica por um magneto produzindo intensa deflexão. A Fi
gura 3.14 mostra dois estados característicos. Como a prata possui momento angular nulo, a
existência de um momento dipolar foi creditada ao spin eletrônico.
Tal como uma partícula clássica, que ao se mover possui um movimento de rotação em
torno de seu próprio eixo, uma partícula quântica também possui um momento angular in
trínseco, conseqüência da distribuição de cargas e núcleons em seu interior. Um dipolo mag
nético assim constituído possui uma energia de interação com o campo magnético dado pela
A Equação de Schródinger Tridimensional 199
Figura 3.14 Forno
Diagrama de interferência na
experiência de Stern e Gerlach
para a descoberta do spin.
Placa detectora
A Figura 3.14, com dois pontos de deposição, indica a existência de apenas dois possíveis va
lores para a grandeza Sz . Dessa forma, sabe-se, experimentalmente, que o spin é quantizado
em um sistema atômico, e a sua projeção na direção z assume valores múltiplos de h, e propor
cionais a mz =±1/2. O Exemplo 3.4-5 discute esta questão.
Exem plo 3 .4 -5
Sabendo que a distância observada entre duas figuras de deposição na experiência de Stern e Gerlach é da ordem de 2,8 mm, calcule o
valor de gs para a interação do spin com o campo magnético. No experimento, átomos de prata são colimados de uma fonte a 400 K e
separados ao longo de 1 metro sujeitos a um gradiente de campo da ordem de 10 tesla/m.
R. A força que atua sobre os átomos de prata é dada por F = -ôE /ôz, onde a energia é calculada por meio da Equação 3.153,
levando a F = -egs ms h(ôB / dz)/ 2me. A energia cinética média de um feixe de átomos de prata saindo do forno é dada por
M v2 / 2 = 3 / 2kT, o que permite escrever a velocidade como função da temperatura, ou seja, v ={3kT/ M $ 2. O tempo de
vôo é igual ao tempo gasto para percorrer 1 metro, de modo que t = 1/ v = {M / 3kT}12. A aceleração perpendicular é dada
por az = -egsmsti.d B /d z /2Mme, que leva a uma distância entre os pontos de deposição igual a Ad = a t2 / 2 = azM / 6kT.
Calculando-se a força.a partir do deslocamento e da temperatura, e sabendo-se que a variável ms vale ±1/2, determina-se o
valor de gs como sendo 2 .
suficientemente jovens para se permitirem algumas imprudências\” Esse artigo faria Goulds-
mit e Uhlenbeck famosos pela descritação teórica do spin. Neste, Gouldsmit e Uhlenbeck pro
puseram que o spin do elétron seria um momento magnético intrínseco, de valor igual a h/2 e
cuja projeção na direçãoz valeria ±h/2. Assim, deve-se interpretar esta propriedade microsco
picamente, ou seja, o valor do momento angular de spin nuclear é uma propriedade do nu-
clídeo considerado. A Tabela 3.11 apresenta valores do momento magnético de spin para
diferentes nuclídeos.
Nuclíde
Elemento Nuclídeo % Spin Elemento % Spin
o
Hidrogênio X
H 99,98 1/2 Sódio 23Na 100,0 3/2
Infelizmente, a interpretação do spin como uma rotação interna do elétron ganhou popu
laridade, em virtude da clara contrapartida clássica presente no movimento planetário.
Entretanto, é oportuno mostrar que, embora intuitiva, esta interpretação nos leva a equí
vocos claros. Vejamos dois pontos. Primeiramente, não é possível identificar, medir ou aceitar
a rotação corpuscular de um elétron, em um modelo ondulatório. Em um segundo argumento
poderíamos calcular a velocidade na superfície de um elétron obtendo algo proporcional a
1014m/s, superior à velocidade da luz! Só nos resta, portanto, aceitar o fato de que o spin é o
momento angular intrínseco de uma onda de matéria, cujo operador comuta com a hamilto
niana do sistema, [H, S2} = 0, o que faz do momento angular de spin um valioso número quân
tico e constante de movimento.
Na formulação de Uhlenbeck e Gouldsmit o spin nuclear tem valor Sp, uma característica
do nuclídeo considerado, e suas componentes na direção z assumem valores compreendidos
entre -S e + S vezes h. Para um caso geral as equações de autovalores de spin são apresentadas
a seguir:
com S > ms > -S .O spin, como qualquer momento angular, caracteriza-se por exibir relações
de comutação (Eq. 3.156), análogas às já discutidas no problema do momento angular orbital.
A Equação de Schródinger Tridimensional 201
Embora o comutador entre quaisquer duas componentes seja não-nulo, o comutador entre o
operador de spin e qualquer de suas componentes é sempre nulo, ou seja:
Estes resultados mostram que é perfeitamente possível atribuir valores ao momento angular
de spin total, S, e a sua projeção na direção z, Sp. Porém, será impossível atribuir valores à pro
jeção do momento angular de spin em qualquer outra direção.
A esta altura, vamos restringir nossa análise ao caso do elétron, cujo valor próprio de spin
vale 1/2. Nestas circunstâncias é conveniente definir notações mais simples, dependendo dos
objetivos e da forma de trabalho em cada área. Na equação a seguir apresentamos uma no
tação resumida:
enquanto a equação a seguir mostra a ação dos operadores de spin sobre estas autofunções:
Tal como nos harmônicos esféricos, auto-estados do operador momento angular, as funções
de spin são também ortonormais, ou seja:
A maneira de representar os operadores de spin discutida nos parágrafos anteriores não é, en
tretanto, a única forma de representar o momento de spin. As vezes é conveniente definir ope
radores escada nesta representação. Vamos definir primeiramente esses operadores, para de
pois enunciar suas propriedades gerais de aumento e redução na projeção do momento
angular na direção z. Esses dois operadores definem-se como a soma e a diferença dos opera
dores associados às componentes de momento angularLx e L , como ilustra a Equação 3.164.
Não vamos nos deter na análise das propriedades desses operadores porque elas fogem ao es
copo deste texto, mas indicaremos os textos de Gasiorowicz [210] e os artigos de Das e
Sannigrahi [247] onde essas propriedades são minuciosamente discutidas. Porém, mesmo em
um resumo, o leitor perceberá que esses operadores são não-hermitianos e que, portanto,
As vantagens de se escrever o momento angular com esses operadores é óbvia, pois a ação dos
operadores de aumento e redução sobre os harmônicos esféricos é facilmente escrita em
termos de harmônicos esféricos com momento angular maior ou menor em uma unidade. A
equação abaixo mostra esta relação para o operador de levantamento:
Exemplo 3.4-6 - \ HH
R. Escrevendo a ação dos operadores de aumento e redução como uma equação de coeficientes a determinar,
5+|s,ms >=C+(s,m+)\s,m+ >, calcula-se o valor destes determinando-se o valor quadrático de S± |s,m± >, ou seja:
cujo valor médio está ligado ao valor do momento angular e de sua projeção na direção z.
Obtém-ser dessa forma; o valor de {s(s +1 )-m s (ms ± 1)}l2 fi para os coeficientes C± (s,m s).
A energia atômica para átomos complexos depende também dos momentos angulares orbi
tais e de spin em forma de seu produto interno — ou seja; E oc L.S. Assim, define-se o mo
mento angular total, J, como a soma vetorial das grandezas L e S, com fins de interpretação
espectral. Para os valores aceitáveis do momento angular total, teremos todos os valores dife
rindo em uma unidade, compreendidos entre o valor mínimo, |L - S |, até o valor máximo de
\L+S |. Assim, o acoplamento de um sistema com momento angular orbital L —2 com o de
spin 5*=1/2 gerará os estados J = 2 - 1/2=3/2 e7 = 2 + 1/2=5/2 para J. A motivação para o uso
dessas três grandezas é o fato de elas, juntas, fornecerem uma simbologia compacta na desig
nação de estados eletrônicos em átomos. Cada termo atômico será representado pela notação
„ 2S+1t
n LJ (3.174)
3.5 Problemas
1. Elabore uma tabela contendo constantes de conversão para as diferentes unidades de uso comum
em espectroscopia química: a) cm-1; b) eV; c) hartree; d) rydberg.
2. Determine a probabilidade de encontrarmos uma partícula na região em que#, y ez são sempre po
sitivos. O potencial é do tipo caixa infinita, simetricamente disposto em torno da origem.
204 Capítulo 3
3. Freqüentemente deparamos com cristais iônicos apresentando cor. Este é o caso de muitas pedras
preciosas, mas também do NaCl quando irradiado por raios X. Neste caso o cristal passa a mostrar uma
cor ligeiramente verde-amarelada. Isto também ocorre quando o zinco está presente em excesso em um
cristal de ZnO (amarelo), excesso de lítio no I/F (rosa) ou excesso de potássio no KCl (violeta). Em todos
esses casos ocorre a formação de centros de cor. Um tipo de centro de cor é o centro F. Neste o elétron é
trapeado* substitucionalmente na posição do cloreto. Utilize o modelo da partícula em uma caixa tridi
mensional e estime o comprimento de onda típico para excitações/absorções no NaCl. Encontrando va
lores consistentes para o NaCl, explique a tendência verificada com o LiCl.
5. Apresentamos a seguir resultados numéricos para a cor de cristais iônicos com centro M. Neste
caso dois elétrons são trapeados substitucionalmente em posições aniônicas. Utilize o modelo da par
tícula em uma caixa tridimensional e mostre a existência de uma relação linear entre o Xmáx e o qua
drado da distância interplanar cristalina. Apresentamos a seguir resultados extraídos de H. F. Ivey
[Phys. Rev., 72, 341 (1947)] para o Xmáx de centros M em diversos cristais contra a distância inter
planar típica.
6. O hidrogênio atômico pode ser trapeado em matrizes de gases nobres. Realize os mesmos cálculos
do problema anterior para identificar a região espectral na qual esse movimento se manifestará.
9. Mostre como obter as expressões de cada componente do operador momento angular em coorde
nadas esféricas.
10. Tomando os três harmônicos esféricos de menor ordem, mostre que estes são autovetores das
Equações 3.34 e 3.35.
11. Mostre que o ângulo entre o campo magnético e a sua projeção na direção z é dado por:
±m,
cosQ = ----------- —
w + i ) } y2
*A nglicism o derivado do verbo trap, que denota armadilha, aprisionam ento, captura — neste caso, de m oléculas e sólidos precipitados.
A Equação de Schrõdinger Tridimensional 205
12. Mostre a validade das seguintes relações:
têm as seguintes propriedades: a) Os operadores são não hermitianos, ou seja, L+ = L*_ e C_ = L+; b) O
produto desses operadores gera respectivamente a soma e/ou a diferença de L2 x+ L 2y para com o respec
tivo comutador, ou seja:
o que leva a:
l ±t = c ± (/,«; )V ’' =l
15. A fim de encontrar uma representação para o operador de rotação, proceda as seguintes etapas:
a. Mostre que uma função arbitrária f pode ser expandida em uma série de Taylor truncada em pri
meira ordem;
b. Suponha agora que a seja um vetor representando rotações infinitesimais — ou seja, a =5cj)x r,
onde (() é um ângulo formado por r e a — e escreva o elemento diferencial de f como:
R(n,<|)) =exf?(-i<\>n-L/ h)
16. Mostre, com base nas considerações apresentadas no problema anterior, que p/h é o gerador das
translações infinitesimais.
17. a. Liste os números de graus de liberdade translacionais, rotacionais e vibracionais do NNO (uma
molécula linear) eNH3. b. Quantos modos normais de vibração existem para o (i) S 0 2(angular); (ii)H20 2
(angular); (iii) HC = CH (linear); e (iv) Q H 6?
a. Quais das seguintes moléculas, e por que, exibem espectro rotacional puro de absorção? Deter
mine o número total de graus de liberdade de rotação: (i) H20 ; (ii) H20 2; (iii) NHS; (iv) N20 .
b. Quais das seguintes moléculas mostram espectro infravermelho de absorção? Determine o nú
mero de modos vibracionais presentes em cada molécula: (i) CH3CH3; (ii) CHA; (iii) CHsCl; (iv) N2.
18. Determine a população do primeiro estado rotacional do HCl a 298 K relativamente à população
do estado fundamental. Utilize nos cálculos a freqüência experimental de 10,59 cm-1.
19. Reproduza os cálculos acima realizados para o 12. A freqüência rotacional observada desse com
posto vale 0;244 cm-1.
23. Explique alguns conceitos gerais sobre o fenômeno do cozimento por radiação de microondas:
a. Donas-de-casa afirmam que um forno de microondas cozinha de dentro para fora e citam como
exemplo o ovo, cuja gema exibe temperaturas maiores que a clara nesse tipo de equipamento. A clara é
constituída por proteínas, e a gema, por gorduras leves e carboidratos.
b. Certos materiais, em um forno de microondas, não se aquecem. Entre eles destacaríamos pratos
de cerâmica, ossos, copos etc. Explique e faça algum comentário sobre o cozimento de alimentos em
contato com esses materiais.
24 . Um fabricante pediu a você que especificasse quais seriam a freqüência média e a largura de banda
gaussiana para melhor aquecer o alimento em um forno de microondas. Enuncie claramente as hi
póteses, compare o funcionamento desse equipamento com o de um forno a gás e estipule um valor para
sua consultoria. A seguir, para efeito de comparação, estão listados dados técnicos de um forno comer
cial:
FCC Standards
26. As moléculas a seguir foram estudadas por meio da espectroscopia de microondas tendo-se obtido os
seguintes valores para a grandeza 5: H2(60,86 cm-1), (2,010 cm-1), 0 2(1,446 cm-1), HF (20,939 cm-1).
HCl (10,59 cm-1), HBr (8,47cm-1), HI (6,551 cm-1), CIF (0,5165 cm-1), C/2(07244 cm '1), CO (57897,5 MHz),
Lil (15381 MHz), AlH (12,604 cm-1) e CsCl (2161,2 MHz). Determine a distância interatômica em cada
um desses compostos e o número de revoluções por segundo quando J= 1 e 5.
27 . Para os compostos a seguir mostre que os valores apresentados para r12,r23,r34,r45 são consistentes
com os valores de B experimentalmente determinados: HCN (5=44315,8 MHz; 1,066 A e 1,157 A):
OCS (5 = 6 0 81,5 M H z; 1,161 Ã e 1,561 Â); NNO (5 = 1 2 561,6 M H z; 1 ,126 Ã e 1,191 Â);
FCN (5 = 10554,8 MHz; 1,262 À e 1,159 À).
A Equação de Schródinger Tridimensional