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Sumário
1. Atitude cotidiana: senso comum e bom senso ................................................................ 2
2. Atitude filosófica ................................................................................................................. 4
2.1 Distanciamento da vida cotidiana ............................................................................... 4
2.2 Atitude negativa ........................................................................................................... 4
2.3 Atitude positiva ............................................................................................................. 4
2.4 Sócrates: o arquétipo da atitude filosófica ................................................................. 5
3. Reflexão filosófica .............................................................................................................. 6
3.1 Conteúdo: as três grandes questões ......................................................................... 6
3.2 Forma: clareza conceitual e encadeamento de raciocínios ..................................... 7
4. Uma definição é possível? ................................................................................................ 9
4.1 Filosofia como visão de mundo .................................................................................. 9
4.2 Compreensão racional da totalidade do universo ..................................................... 9
4.3 Fundamentação das teorias e práticas .................................................................... 10
5. Utilidade da Filosofia ....................................................................................................... 10
Bibliografia ............................................................................................................................ 11
Isto não é Filosofia
Introdução Geral à Filosofia
Aula 01 – Filosofia: o que é e para que serve
Prof. Vitor Ferreira Lima
Licenciado em Filosofia (UFRRJ)
• Tempo
• Realidade
• Qualidade
• Quantidade
• Verdade
• Objetividade
• Subjetividade
• Falsidade
• Mentira
• Vontade livre
• Liberdade
• Bem
• Mal
• Belo
• Feio
Na maioria das vezes, não precisamos saber o teor desses conceitos para lidar
com a realidade. Utilizamos vários deles em nossos atos e comunicações sem maiores
problemas, sem ter que parar a cada segundo para fazer uma indagação profunda a
respeito do que significam. A vida cotidiana, em grande parte, funciona – e funciona bem
– sem esses questionamentos. Ao senso que cada um possui sobre a realidade, sem
precisar dominá-la conceitualmente para – por assim dizer – viver bem, chamamos bom
senso.
Entretanto, em outras situações, essa postura se revela problemática. Não é
incomum que conduzamos nossa ação irrefletidamente, baseados apenas na imitação
do que comumente se faz. Nesse panorama, somos atravessados por preconceitos que
passam por verdades, apenas porque não os questionamos. Assumimos que a
realidade é tal qual nos aparece, visto que costumeiramente se apresenta dessa forma.
Tal postura é o que chamamos de senso comum.
Existem duas maneiras, portanto, de encarar nossa postura frente à realidade
quando não nos colocamos a questionar nossos pressupostos. Uma indica uma postura
favorável ao que fazemos, na maioria das vezes. Outra aponta uma postura ingênua e,
até mesmo, preconceituosa. Diante dessa distinção, o que não podemos é reduzir todas
as situações pré-reflexivas a um significado só, como se uma pessoa que não se põe a
questionar a si mesma fosse necessariamente alguém com uma postura simplória
diante da vida.
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Introdução Geral à Filosofia
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Prof. Vitor Ferreira Lima
Licenciado em Filosofia (UFRRJ)
2. Atitude filosófica
2.1 Distanciamento da vida cotidiana
Sócrates (469 a.C-399 a.C)1 é retratado nesses livros como o modelo de filósofo.
Um filósofo que não dissociava vida cotidiana de pensamento, de modo que não fornece
uma teoria sobre a totalidade das coisas – como o fizeram seus predecessores –, mas
uma prática filosófica. Vivia a perambular pelas ruas da cidade, seguido por ouvintes
e amigos que se deleitavam com seus discursos e com suas longas conversações.
Sua atitude fundamental era a de indagar as pessoas das questões mais
básicas. Sócrates insiste que sua posição é examinar a si mesmo e os outros, de modo
a colocar em teste aqueles que alegam ter conhecimento das coisas mais importantes.
Sua prática filosófica, segundo seu próprio relato, inicia quando um amigo seu,
Querofonte, retorna do Oráculo de Delfos, tendo-lhe perguntado se alguém seria mais
sábio que Sócrates, ao que retrucou a Pítia, sacerdotisa de Apolo, que não havia
ninguém mais sábio. A partir daí, considerando-se não mais sábio que seus
concidadãos, passou a tentar entender o que o Oráculo teria afirmado com aquela
posição. Esse procedimento caracteriza a quase totalidade do enredo básico em que
Sócrates aparece como protagonista.
Em uma situação, interroga pessoas envolvidas com a política de modo mais
direto. Em outra, interroga os poetas. E em uma terceira, interroga os artesãos. Em
todas essas categorias (amplamente respeitadas em Atenas), chega à seguinte
conclusão: sobre o que diziam saber – e pelo que eram também conhecidos e louvados
– na verdade nada sabiam. Ao que desabafa Sócrates:
A partir daí me tornei odioso [a eles e] a muitos dos circunstantes e, indo embora, fiquei então
raciocinando comigo mesmo – “Sou sim mais sábio que esse homem; pois corremos o risco de
não saber, nenhum dos dois, nada de belo nem de bom, mas enquanto ele pensa saber algo, não
sabendo, eu, assim como não sei mesmo, também não penso saber... É provável, portanto, que
eu seja mais sábio que ele numa pequena coisa, precisamente nesta: porque aquilo que não sei,
também não penso saber”. (Platão, Apologia de Sócrates, 21b)
A famosa frase “Só sei que nada sei” nunca foi dita por Sócrates. O que ele disse
foi: “corremos o risco de não saber [...] mas enquanto ele pensa saber algo, não sabendo
eu, [...] também não penso saber”. Em outras palavras, o filósofo expressa os limites do
seu conhecimento, não sua ausência total. Não se trata de uma ignorância no sentido
banal, trata-se de uma constatação de o quanto ainda não se sabe sobre o que se
assumia saber.
Em uma só postura, aponta para as atitudes filosóficas negativa e positiva.
Primeiro, desconfiança do conhecimento que pretensamente sabe. Segundo,
investiga-o em busca de sua essência, da origem e da estrutura. As duas posturas
em direção à realidade abrangente: beleza, justiça, virtude etc.
1
Para mais detalhes, ver Aula 03 do Curso de História da Filosofia: – Sofistas e Sócrates.
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3. Reflexão filosófica
2
Para mais detalhes, ver Aulas 01 e 02 do Curso de História da Filosofia: Filosofia Pré-socrática e Heráclito
e Parmênides.
3
Para mais detalhes, ver Aula 08 do Curso de História da Filosofia: Cinismo e Ceticismo.
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Se a filosofia, assim como as religiões, encontra sua fonte mais profunda numa reflexão sobre a
“finitude” humana, no fato de que para nós, mortais, o tempo é realmente contado, e de que somos
os únicos seres neste mundo a ter disso plena consciência, então, é evidente que a questão de
saber o que vamos fazer da duração limitada não pode ser escamoteada. [...] Em outras palavras,
a equação “mortalidade + consciência de ser mortal” é um coquetel que carrega em germe a fonte
de todas as interrogações filosóficas.
Para Ferry, o filósofo é aquele que, a princípio, não encara a vida como um
turista, mantendo relações superficiais com os lugares em que habita. Nesse sentido,
pode até optar por ser um turista, para ficar com a metáfora, porém essa opção é
necessariamente fruto de um pensamento, de uma reflexão, não da inércia em agir
como sempre se agiu. Depois de se perguntar – ou ao mesmo tempo em que se
pergunta – pela Teoria e pela Ética, o filósofo se pergunta pela finalidade ou o sentido
de todas as coisas, inclusive de sua própria vida. É aqui que o filósofo passa a dispensar
a vida filosófica (que nada mais é que a vida de amor pela sabedoria, cuja busca é
incessante) e passa a querer cultivar a vida sábia. Porém, o sábio, por definição não
mais busca e sim encontra – vive conforme a sabedoria que encontrou e vence, enfim,
o medo que a finitude desperta no ser humano.
Há algumas filosofias que subordinam a Ética e a Sabedoria à Teoria. Outras
que subordinam a Teoria e a Sabedoria à Ética. Há outra espécie de Filosofia, ainda,
cujo principal objetivo é garantir a Sabedoria, a salvação da finitude. E, para alcançar
esse objetivo, subordinam seja o que for.
A reflexão filosófica não apresenta uma resposta única. Na verdade, não há
Filosofia, mas filosofar, inúmeras maneiras de filosofar.
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“filosofia analítica Corrente de pensamento filosófico que se desenvolveu sobretudo na Inglaterra e nos
Estados Unidos a partir do início deste século, com base na influência de filósofos como Gottlob Frege,
Bertrand Russel, George Edward Moore e Ludwig Wittgenstein, dentre outros. Caracteriza-se, em linhas
gerais, pela concepção de que a lógica e a teoria do significado ocupam um papel central na filosofia,
sendo que a tarefa básica da filosofia é a análise lógica das sentenças, através da qual se obtém a solução
dos problemas filosóficos. Há, no entanto, profundas divergências sobre as diferentes formas de se
conceber esta análise.” (JAPIASSÚ, MARCONDES, 1990, p. 100)
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5. Utilidade da Filosofia
Um dos maiores erros de quem pretende defender a Filosofia é dizer que ela é
inútil. Geralmente, quem assim procede tem uma concepção sobre utilidade que é, para
dizer o mínimo, simplória.
Utilidade, nesse sentido, é utilidade mercadológica, isto é, alguma finalidade que
possa ser traduzida em um produto para ser vendido no mercado. Alguns defensores
da Filosofia têm aversão ao mercado, porque confundem mercado com sociedade de
mercado, isto é, com o modo de produção capitalista. Sendo contra algumas
consequências nefastas dessa economia, são contra tudo que a ela pode ser associado.
Esquecem-se que o mercado é muito mais antigo que a sociedade de mercado e que a
Filosofia – pasmem! – nasceu justamente no mercado, ou seja, na ágora grega, que era
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a praça pública, local das discussões coletivas e centro de compra e venda ao mesmo
tempo.
Utilidade, porém, pode ser compreendida de modo diverso.
Útil é tudo aquilo de que se pode tirar algum proveito, alguma vantagem. O que
é proveitoso e vantajoso costuma depender de que contexto se fala, porém é razoável
pressupor que ao menus um proveito pode ser buscados por qualquer pessoa
interessada:
Bibliografia
CHAUI, Marilena. Convite à Filosofia. 12º ed. 5ª imp. São Paulo: Editora Ática, 2002.
FERRY, Luc. Aprender a viver. Tradução de Vera Lucia dos Reis. Rio de Janeiro:
Objetiva, 2007.
JAPIASSÚ, Hilton, MARCONDES, Danilo. Dicionário básico de Filosofia. Rio de
Janeiro: Jorge Zahar, 1990.
PLATÃO. Apologia de Sócrates; Eutífron; Críton. Introdução, tradução do grego e
notas de André Malta. Porto Alegre: L&PM, 2011.