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MANUAL DE DIREITO DO
COMÉRCIO INTERNACIONAL
2021/2022
Em trabalho
Manual de Direito do Comércio Internacional Francisco Mário
ÍNDICE
Plano de Exposição Temático do Curso ............................................................................ 5
Capítulo I – Introdução ....................................................................................................................... 5
1.1. Questões Introdutórias ................................................................................................ 5
1.2. Origem e Evolução Histórica do Direito do Comércio Internacional ........... 7
1.3. Conceito do Direito do Comércio Internacional ................................................15
1.4. Expressão e Designação Adoptada da Disciplina. .............................................16
1.5. Ramos Afins e Autonomia do Direito do Comércio Internacional ..............18
1.6. Autonomia do Direito do Comércio Internacional ...........................................18
1.7. Conceito do Direito do Comércio Internacional ................................................19
1.8. Objecto de Estudo, sua Delimitação no Ãmbito do Curso ..............................19
1.9. Fonte de Direito do Comércio Internacional ......................................................22
Capítulo II – Contratos Internacionais ........................................................................................29
2.1. Conceito Relevante de Tipo Contratual..............................................................................31
2.2. Caracterização dos Contratos Comerciais Internacionais .............................34
2.2.1. Carácter “Comercial” dos Contratos ......................................................................34
2.3. As Fases do Contrato Internacional .......................................................................36
2.3.1. Fase Negocial ..................................................................................................................36
2.3.2. Fase da Conclusão.........................................................................................................37
2.3.3. Fase da Execução ....................................................................................................................38
2.4. As Principais Cláusulas do Contrato Internacional .......................................................38
2.4.1. Objecto do Contrato ...............................................................................................................38
2.4.2. Lei aplicável ou Cláusula do Direito Aplicável .............................................................38
2.2.8. Cláusula de INCOTERMS .............................................................................................43
2.2.9. Cláusula Penal................................................................................................................45
2.2.10. Eleição de Foro ..............................................................................................................45
2.2.11. Cláusula Arbitral ...........................................................................................................46
2.3. Tipos Principais de Contratos Comerciais Internacionais ............................50
2.3.1. Contratos de Distribuição..........................................................................................51
2.3.1.1. Contrato de Concessão Comercial ..........................................................................51
2.3.1.2. Contrato de Agência.....................................................................................................53
2.3.1.3. Contrato de Franquia (Franchising) ......................................................................56
2.4. Contrato de Transferência de Tecnologia (Know-How).................................59
2.5. Contratos de Financiamento ....................................................................................61
2.6. Contratos de Empreendimento Comum (Joint Venture)................................62
2
Manual de Direito do Comércio Internacional Francisco Mário
2.7. Contratos de Empreitada e de Subempreitada ..................................................65
2.8. Contrato de Realização de Unidade Industrial ..................................................65
2.9. Contrato de Compra e Venda de Mercadorias Internacional em Especial.
66
2.9.1. Introito .......................................................................................................................................66
9.2.7.1. Meios de que Dispõe o Comprador em Caso de Incumprimento do Vendedor
................................................................................................................................................. 81
9.2.8. Obrigação do Comprador. ....................................................................................... 92
9.2.8.1. Meios de que Dispõe o Vendedor em Caso de Incumprimento do Comprador
................................................................................................................................................. 98
9.2.8.2. Transferência da Propriedade e Passagem do Risco ................................... 102
9.2.8.2. Suspensão e Violação Antecipada do Contrato.............................................. 107
2.10.1. O Transporte Rodoviário Internacional de Mercadorias............................ 111
2.10.2. Estipulações Contrária à Convenção .................................................................. 112
2.10.3. A Declaração de Expedição (CMR). ...................................................................... 113
2.10.4. Declaração de Expedição e Menções Especiais ............................................... 114
2.10.5. Declaração de Expedição de Mercadorias Perigosas .................................... 114
2.10.6. A Declaração d`Expedição Como Título Representativo da
Mercadoria.115
2.10.7. Direito à Disposição da Mercadoria.................................................................... 116
2.10.8. Direitos e Obrigações do Transportador .......................................................... 116
2.10.9. O Check-List ................................................................................................................. 117
2.10.10. O Transitário e o Transporte................................................................................. 118
2.10.11. Os Documentos (FIATA) .......................................................................................... 124
2.10.12. Entrega da Mercadoria. Verificação e Reserva. .............................................. 125
2.10.13. Condições da Entrega. Obrigações das Acessórias ........................................ 126
2.10.14. Carga Completa e em Grupagem. Descarga Directa ...................................... 128
2.10.15. Meios de Pagamentos ............................................................................................... 129
2.10.20. Perda da Mercadoria. Indemnização e seu Limites....................................... 135
2.11. Contrato de Investimento Externo…………………………………………………………………
2.11.1 Noção de Investimento e Investidor Externo no Direito Positivo Angolano….
2.11.2. Natureza Jurídica do Contrato de Investimento…………………………………………..
2.11.3. Convenção Arbitral, Caracterização e Nacionalidade da Arbitragem em
Matéria de Contratos de Investimento…………………………………………………………………..
2.11.4. Determinação do Direito Aplicável ao Mérito da Causa na Arbitragem
Internacional Relativo a Contratos de Internacional………………………………………………
3
Manual de Direito do Comércio Internacional Francisco Mário
CAPÍTULO V - ORGANIZAÇÕES INTERNACIONAIS DO COMÉRCIO .................................. 175
5.1. O GATT ........................................................................................................................................ 175
5..2. CNUDCI ....................................................................................................................................... 175
5.3. O.M.C…………. .............................................................................................................................. 176
5.4. SADC……… ................................................................................................................................... 176
Referencias Bibliográficas ........................................................................................................... 179
Jurisprudência portuguesa .......................................................................................................... 180
Legislação ……………………………………………………………………………………………………………181
4
Manual de Direito do Comércio Internacional Francisco Mário
Capítulo I – Introdução
5
Manual de Direito do Comércio Internacional Francisco Mário
internacional de comerciantes, a margem da soberania estadual e no âmbito do
princípio da autonomia privada.
Em segundo lugar, o conceito relevante tem que ser funcional, pois tem que
abranger um conjunto de relações económicas transaccionais em que se verificam
6
Manual de Direito do Comércio Internacional Francisco Mário
os traços específicos que relevem para aplicação dos regimes especiais elaborados
pelo legislador ou formados autonomamente em meios do comércio internacional1.
A sua origem é tão complexa e de nota, mas de todo modo curva-se nos períodos
cedidos pela história da humanidade que registou com maior atenção os seguintes
momentos:
- Idade Média;
- Revolução Francesa; e,
- Época Contemporânea.
1 Cfr. LIMA PINHEIRO – Direito Comercial Internacional, Almedina editora 2005, p. 14.
2 Nosso.
3 Sem contar com o homem primitivo na fase do sedentarismo, havia trocas entre os caçadores e os
7
Manual de Direito do Comércio Internacional Francisco Mário
‘’nauticum foenus’’ era um empréstimo que os armadores ou negociantes tinham
direito.
Em Roma, neste período, não há nada de especial, havia apenas o ‘’jus civile’’ que
era apenas aplicada aos cidadãos romanos, ou nas relações entre eles (os romanos).
Para além de ‘’jus civile’’, que era aplicável aos estrangeiros, também se
aplicavam nas relações de comércio internacional entre os estrangeiros e os
romanos.
Por seu turno na Idade Média todos os autores no seu exame de estudo sobre
estas matérias são unânimes ao afirmarem que o Direito do Comércio Internacional
nasceu nesta época. Porquanto, nesta idade era assinalada por algumas
características peculiares que se predicam nas seguintes salientes notas:
O senhor feudal tinha um poder sobre todo o povo que residia no seu
feudo (povo isto que não obedecia o Rei). Neste caso o poder estava
dividida entre o Rei e os senhores feudais (Poder Político).
Importa sublinhar que na idade média dois sinopses factores que levaram o
desenvolvimento do Comércio Internacional, designadamente: As Feiras e a Religião
Cristã.
9
Manual de Direito do Comércio Internacional Francisco Mário
que irá tirar o dinheiro). Mais tarde converteu-se como o meio de pagamento e por
conseguinte criou-se os cheeks ou cheques.
Portanto, o Direitos das Feiras – significa nesta plano do Direito Comercial que
nasceu nas feiras, foi elaborado nas feiras e contém regras que regulam a actividade
económica nas feiras.
Por seu turno, nota-se que a Religião Cristã, contribui para o desenvolvimento
do Direito do Comércio Internacional também através de duas formas:
A igreja proibia a cobrança de juros fazendo surgir uma classe de banqueiros que
não eram cristãos, deixou os cristãos de praticar à cobrança de juros.
Todavia, o Direito das Feiras considera-se nesta sede de análise como um Direito
totalmente privado sem intervenção estatal, isto é, na época os mercadores
elaboravam os seus direitos e aplicavam entre eles “Lex Mercatória”.
Outro factor histórico que deve ser assinalado é precisamente o marco temporal
do Fim da Idade Média – A Revolução Francesa.
10
Manual de Direito do Comércio Internacional Francisco Mário
Entretanto, com o início do fim da monarquia, os monarcas tiveram a
necessidade de concentrar o poder nas suas mãos, ao invés destes espalharem entre
vários senhores feudais.
4 Efectivamente é de lamentar nesta época que o Direito do Comércio Internacional, não evoluiu,
estagnou-se, passou a reger-se através do Direito Internacional Privado.
5 O poder é meu, ou o Estado sou eu, Expressão máxima do absolutismo.
6 JEAN-BAPTISTE COLBERT (Reims, 29 de Agosto de 1619 — Paris, 6 de Setembro de 1683) foi um
político francês que ficou conhecido como Ministro de Estado e da economia do rei Luís XIV. Origem
plebeia e burocrática eficiência atingiu-o como fiel e indispensável para o Rei (que o nomeou
Marquês de SEIGNELAY) e detestado pelo tribunal. Secretário Vindo de uma família de comerciantes,
cliente do serviço da administração real e em 1651 tornou-se de Mazarin pessoal. Foi o próprio
cardeal, que recomendou ao rei, que o nomeou prefeito de Finanças em 1661 Instalou o Colbertismo
na França, onde teve uma grande importância no desenvolvimento do mercantilismo ou da teoria
mercantilista, bem como das práticas de intervenção estatal na economia, que o mercantilismo
adoptava.
Responsável pela administração dos negócios da França e dos bens particulares do rei, COLBERT
incorpora ao Estado a Superintendência das Construções e Manufacturas, submetendo, em 1665,
toda a economia do país ao controle estatal. Mercantilismo COLBERT propiciou a acumulação de bens
preciosos, proibindo a exportação de capital e estimulando a exportação de bens manufacturados,
impondo, ao mesmo tempo, altas tarifas a seus similares estrangeiros. Proporcionou, assim,
incentivos substanciais ao sector manufactureiro, contemplando as corporações com elevados
subsídios e privilégios fiscais. A fim de incrementar a venda de manufacturados, estimulou o
desenvolvimento da marinha mercante... Mas COLBERT também fez grandes erros: não conseguiu
estabelecer a liberdade de comércio interno, sacrificar a agricultura (dos quais vivem a maioria dos
franceses) aos interesses comerciais e da maioria da sociedade crescimento como acabou falhando.
Em excesso de nacionalismo económico (como ver o comércio como dinheiro de guerra), não há
fracasso em trazer rivalidade comercial para o campo de armas, levando LOUIS XIV para a invasão
da Holanda 1672; briga que uma guerra de resistência obstinada dos holandeses e os custos de
financiamento tributados pesadamente aos franceses. Veja mais desenvolvimento.
Vide: https://educacao.uol.com.br/biografias/jean-baptistecolbert.htm?cmpid=copiaecola.
11
Manual de Direito do Comércio Internacional Francisco Mário
Pelo que, as trocas comerciais internacionais começaram à diminuir, os
monarcas elaboravam leis para a defesa dos seus produtos internos, acabando por
afectar negativamente para o comércio internacional.
Porém, este socialismo festivo, começa ter o seu fim com a subida no poder do
JOÃO MANUEL GONÇALVES LOURENÇO, que rapidamente encetou um diplomacia
económica de comércio internacional criou balizas de um ambiente negócio para
investimento privado estrangeiro, superação de vistos com especial atenção do visto
do investidor, estabeleceu com os tradicionais parceiros do Comércio Internacional
com Angola, o acordo da dupla tributação de bens e serviços e, internamente tomou
algumas medidas legislativas e administrativas que sinalizam a transparência do
comércio, designadamente: Lei da Concorrência, Lei do Investimento Privado, Pauta
Aduaneira, e, eliminação de monopólios sócio-económicos.
12
Manual de Direito do Comércio Internacional Francisco Mário
Revolução francesa aos nossos dias, ou seja, inicialmente o fim da idade
média à revolução francesa houve transformações políticas, saiu-se do feudalismo
para o absolutismo. Porém, com os ditames de JEAN-BAPTISTA COLBERT (importar
menos e exportar mais), possibilitou o surgimento da liberalização, isto é, com o
derrube do absolutismo (politicamente) surge o liberalismo e este aparece também
com a sua frase “igualdade, liberdade e fraternidade”, na linguagem francesa, “egalite,
liberte e fraternite”, isto é, os homens nascem iguais, livres e vivem como irmãos.
Entretanto, surge assim neste período histórico uma outra forma de Estado,
na revolução francesa com maior abertura no comércio. Porém, nesta época
histórica do desenvolvimento do comércio internacional, os homens estavam
organizados em corporações, e dentro de cada uma destas corporações haviam
invenções, ou espírito de criatividade, isto é, com a revolução francesa houve a
necessidade de libertar as pessoas destas regras corporativas, ou seja, libertar os
homens das corporações e, abandonou-se os sistemas das corporações porque os
indivíduos tinham que ser livres7.
Assim, no absolutismo COLBERT criou duas (2) leis, a “Lei do Comércio de Terra”,
que é hoje chamado de Lei Comercial que teve influência no comércio interno, e; a
“Lei do Comércio do Mar” - que é o Direito do Mar ou do Comércio do Mar, todavia,
teve maior influência no Comércio do Mar que hodiernamente é Direito Marítimo.
13
Manual de Direito do Comércio Internacional Francisco Mário
Créditos Comerciais) regras sobre os transportes marítimos e transportações de
cargas.
Em 1950, foi criada a CNUDCI “Comissão das Nações Unidas para o Direito do
Comércio Internacional”, tem como principal função legislar sobre várias matérias
de comércio internacional, é uma comissão não permanente, pode ser instante a que
o mesmo.
8 GATT - Acordo Geral, Sobre Tarifas Aduaneiras E Comércio - General Agreement En Tarifs And Trade.
principal aliança militar capitalista até aos nossos dias, e foi formada no dia 4 de Abril de 1949, na
sequência do clima de Guerra Fria com o bloco socialista. Ela foi a primeira criação da Guerra Fria a
transcender a Europa.
O Pacto do Atlântico, como também é conhecida a NATO, foi assinado em Washington pelos EUA,
Canadá, Portugal, França, Grã-bretanha Islândia, Itália, Noruega, Holanda e Luxemburgo.
Posteriormente juntaram-se ao Pacto do Atlântico a Grécia e a Turquia em 1952, a Alemanha Federal
em 1954 e a Espanha em 1982.
A NATO surge no quadro da Guerra Fria, como principal braço armado do bloco capitalista e tinha
como finalidades a defesa colectiva, assistência mútua bem como a cooperação militar entre os seus
signatários, em caso de agressão, através de um efectivo militar plurinacional, com comando
unificado como prevê o artigo 3º do referido tratado.
10 O Pacto de Varsóvia, é a Organização do Tratado de Varsóvia (OTV), foi um pacto ao qual
subscreveram a URSS e os seus satélites europeus do lado leste da Europa, no dia 14 de Maio de 1955
na capital da Polónia. Este pacto tem a sua origem numa Conferência dos governos comunistas
realizada na mesma cidade de 11 a 13 de Maio do mesmo ano.
14
Manual de Direito do Comércio Internacional Francisco Mário
A “Lex Mercatória” inicialmente e praticamente o Direito Comércio Internacional
material que é o conjunto de normas constantes em tratados e acordos, com o
objectivo de uniformizar o Direito do Comércio Internacional, visou a unificação do
comércio internacional visto que cada Estado cobrava ou os Estados praticavam
tarifas exorbitantes na comercialização de vários produtos e sobretudo o custo das
mercadorias de modo ou de maneira diversa.
Fizeram parte deste tratado a Bulgária, Checoslováquia, Hungria, Polónia, Roménia, Alemanha
Oriental, a União Soviética e a Albânia que abandonou em 1968. A excepção foi a Jugoslávia que não
fez parte deste tratado .
A OTV possuía um comando único que tinha o seu Quartel General em Moscovo, assessorado por um
Conselho de Ministros e um Comité Consultivo instituído em Praga em Janeiro de 1956 com a missão
de examinar as questões gerais referentes à consolidação da capacidade de defesa e à organização
das forças armadas unificadas e com competência para tomar decisões apropriadas. Possuía também
um Estado Maior unificado e um comando das forças armadas unificadas que era considerado como
o órgão mais importante do Pacto de Varsóvia e competente para os assuntos estreitamente
militares.
O Pacto de Varsóvia tinha, para além da protecção do espaço geográfico da zona que constituía o
bloco socialista, a missão de fortalecer e desenvolver ainda mais o bloco socialista, desenvolver ainda
mais a amizade, cooperação e assistência mútua entre os seus membros, como resposta comunista
ao bloco capitalista que havia criado em Abril de 1949 a sua aliança militar, a NATO.
11 Cfr. LIMA PINHEIRO – Direito Comercial Internacional, Almedina editora 2005, p. 16.
15
Manual de Direito do Comércio Internacional Francisco Mário
Dizer, o que interessa, aliás, o critério que afeiçoa a internacionalização para o
Direito do Comércio Internacional são as relações económicas que relevam e põem
evidência todo interesse do Comércio Internacional.
Também o que não é possível determinar quer os sujeitos quer o objecto, por
ser uma designação limitativa12.
12Por exemplo, as questões de trocas, ajudas e empréstimos entre Estados por ex: o contrato de
empréstimo financeiro entre os Estados; contrato entre Angola e China.
16
Manual de Direito do Comércio Internacional Francisco Mário
contudo, entendido tradicionalmente como um conjunto das regras e princípios do
Direito Internacional Público por regular directamente as transacções económicas
entre sujeitos do Direito Internacional.
13 Cfr. LIMA PINHEIRO – Direito Comercial Internacional, Almedina editora 2005, p. 17.
17
Manual de Direito do Comércio Internacional Francisco Mário
Portanto, denominação adoptada à luz de todas acepções acima descritas é
preferencialmente o Direito do Comércio Internacional por militarem nesta
designação duas realidades jurídicas - o Direito Privado e Público.
18
Manual de Direito do Comércio Internacional Francisco Mário
das feiras até actualidade que lhe conferiu uma larga autonomia tanto científica e
pedagógica sem descurar a interdisciplinaridade que ultrapassa o campo jurídico,
querendo com isto sublinhar-se o especial peso que os temas de dimensão
Económicos e do Comércio Internacional, Direito Internacional Privado e Direito das
Obrigações assumem no objecto desta disciplina.
19
Manual de Direito do Comércio Internacional Francisco Mário
Portanto, como já asseverámos, o Direito do Comércio Internacional é
definido como um conjunto de regras e princípios de carácter privado que regulam
as relações comerciais internacionais cujo desígnio é o contrato do comércio
internacional.
20
Manual de Direito do Comércio Internacional Francisco Mário
Uma parte importante destas normas resulta da positivação de usos do
comércio internacional, que são privativos de certos ramos de actividade económica
e/ou são limitados a certas área s geográficas.
Um curso semestral não pode abranger todo este corpo normativo e também
não pode deixar de incluir o estudo de outras matérias que tem carácter
introdutório.
14 Cfr. LIMA PINHEIRO – Direito Comercial Internacional, Almedina editora 2005, p. 32.
21
Manual de Direito do Comércio Internacional Francisco Mário
1.9. Fonte de Direito do Comércio Internacional
Os instrumentos por onde poderemos encontrar as matérias referentes ao
Direito do Comércio Internacional (D.C.I.), podem ser os ordenamentos jurídicos
internos e nos ordenamentos jurídicos internacionais.
Por exemplo, uma sociedade regida pela Lei brasileira celebra um contrato
com um sociedade sedeada em Angola em que se estipula que os litígios deles
emergentes serão resolvidos por arbitragem no âmbito do Tribunal Internacional
de Arbitragem da Câmara do Comércio Internacional (CCI), a realizar em Paris. Um
jurisconsulto que seja chamado a dar parecer sobre um litígio relativo à execução
do contrato deverá atender ao Direito de Conflitos aplicável na arbitragem CCI15,
que é em primeira linha de fonte transnacional, e admite a referência a normas e
princípios transnacionais.
22
Manual de Direito do Comércio Internacional Francisco Mário
Assim, em matéria de fontes e de Direito do Comércio Internacional pode-se
assinalar as seguintes:
Fontes Internas: são aquelas que são produzidas pelo legislador nacional e
do poder judicial, assim destacam-se a Lei, e Jurisprudência.
entanto, as fontes estaduais continuam a ser importantes na regulação dos contratos dos contratos
internacionais.
Como fonte nacional temos, em primeiro lugar, a lei. Mas também se contam entre as fontes
nacionais os costumes locais, bem como os usos do comércio locais (quando forem positivados por
normas legais ou consuetudinárias). Por exemplo, os costumes e usos dos portos desempenham um
papel de relevo em matéria de venda marítima internacional e de transporte marítimo internacional.
O Direito proveniente destas fontes deixa um campo de actuação variável, mas na maior
parte dos casos muito vasto, à autonomia negocial das partes. Por isso, a auto-regulação negocial
pode desempenhar um papel de grande importância na disciplina das relações comerciais
internacionais. Em muitas destas relações regista-se a tendência para uma regulação negocial
minuciosa dos direitos e obrigações das partes, para que a resposta para os problemas de regulação
jurídica mais assiduamente suscitados por estas relações se encontra no próprio clausulado
contratual.
A disponibilidade de modelos contratuais elaborados por organizações não-governamentais,
bem como de outros modelos de regulação, tais como os INCOTERMS, elaborados pela CCI, e os
Princípios dos Contratos Comerciais Internacionais, adoptados pelo UNIDROIT, facilita a auto-
regulação negocial. Estes modelos oferecem uma regulação cuidadosa, relativamente equilibrada e,
em certos casos (como o dos Princípios UNIDROIT) sistemática da relação contratual.
Na arbitragem transnacional, os modelos de regulação podem contribuir para o
desenvolvimento de costume jurisprudencial arbitral, que constitui justamente uma das fontes da lex
mercatória.
Relativamente ao processo de regulação é entendido aqui o método utilizado para regular
um contrato internacional. Os contratos internacionais podem ser regulados por um processo
indirecto ou conflitual e por um processo directo ou material.
O processo indirecto ou conflitual consiste na determinação do Direito material aplicável
com recurso a uma norma de conflitos ou, mais amplamente, a uma valoração conflitual. Ao passo
que no processo directo ou material se procede directamente à aplicação de Direito material, i.e., sem
a mediação de uma valoração conflitual.
Só em três casos se verifica uma regulação directa de contratos comerciais internacionais no
sei da ordem jurídica estadual.
Primeiro, quando o Direito material comum do foro for aplicado a quaisquer contratos
independentemente de comportarem elementos de estraneidade.
Por exemplo, quando os tribunais do Estado X apliquem todos os contratos internacionais,
incluindo aqueles que não tenham qualquer ligação especialmente significativa com o Estado X, a
mesma lei que disciplina os contratos internos.
É o caso das convenções internacionais que estabelecem um direito material unificado
aplicável a certo tipo de contrato internacional na ordem jurídica dos Estados contratantes mesmo
que o contrato não tenha uma ligação significativa com nenhum Estado contratante.
A regulação directa de contratos comercias internacionais compromete a previsibilidade e a
certeza jurídica e promove o fórum shopping, isto é, a escolha do foro mais conveniente para a
pretensão do autor, conforme assinalei noutro lugar. Por isso, os casos de regulação directa são
excepcionais e tendem a ser abandonados. Em regra, portanto, os contratos comerciais
internacionais são regulados um processo indirecto ou conflitual.
No caso das técnicas de regulação, assim, por exemplo, a regulação dos contratos comerciais
internacionais no plano do Direito estadual pode ser feita com recurso ao sistema de normas de
conflitos (designadamente a Convenção de Roma sobre a Lei Aplicável às obrigações Contratuais) ou
a Direito material especial.
As normas de conflitos da Convenção de Roma são normas gerais bilaterais, que tanto
remetem para o Direito do foro como para o Direito Estrangeiro. As normas materiais para que
remetem são, em regra, normas de Direito comum que são aplicáveis também às relações internas.
23
Manual de Direito do Comércio Internacional Francisco Mário
Importa assinalar que a Lei não tem grande peso para a fonte do Direito do
Comércio Internacional. Pois, existem leis que não têm influência no comércio
internacional, mas existe outras leis internas (nos Estados mais desenvolvidos E.U.A.
é caso das três AAA)17, que tem leis influentes sobre a matéria de âmbito
internacional sobre o comércio internacional, porquanto, é o caso do boicote que os
Estados Unidos da América apresenta sobre a Cuba. Esta é uma Lei interna dos E.U.A.
Por via disso é assinalado como sendo a fonte de algum modo mais influente
em relação as leis, pelo facto dos casos sobre as relações de comércio internacional
serem submetidas ao seu julgamento.
24
Manual de Direito do Comércio Internacional Francisco Mário
As convenções constituem fontes de Direito do Comércio Internacional a luz
da emanação constitucional dos modelos de recepção típicos (monismo e dualismo),
pois neste sentido o modelo dualista tende considerar os dois domínios de direito
internacional e interno como realidades separadas uma a outra, daí o seu nome de
dualismo.
Pelo que, apesar no antanho ter sido entendido como modelo de protecção
dos regimes totalitários, já no direito internacional contemporânea tem relevado
com maior enfoque na convenções internacionais do comércio, daí hoje falar de um
modelo monista e dualista vertem-se na dimensão da cooperação internacional e de
coordenação substantiva, institucional e processual entre o Direito interno e Direito
internacional.
18 Cfr. JONATÃ MACHADO e PAULO NOGUEIRA DA COSTA, - Direito Constitucional Angolano, Coimbra
25
Manual de Direito do Comércio Internacional Francisco Mário
Todavia, as convenções têm muita influência, chegando a ser maior que os
tratados, em matéria Comércio Internacional, considerando-se com uma das
notáveis fontes do Direito do Comércio Internacional.
19 Cfr. LIMA PINHEIRO – Direito Comercial Internacional, Almedina editora 2005, p. 33.
26
Manual de Direito do Comércio Internacional Francisco Mário
normalizados, modelos contratuais, cláusulas – modelo e condições gerais que são
propostos aos sujeitos do comércio internacional.
20Cfr. Convenção de Roma sobre a Lei aplicável às Obrigações Contratuais, Convenção de Montreal
para Unificação, CNUDCI etc.
27
Manual de Direito do Comércio Internacional Francisco Mário
As normas de conflitos, tem os elementos estruturais, nomeadamente:
conceito quadro, elemento de conexão e consequência jurídica.
21 Devolução Simples – consiste quando o ponto de vista da referência global se aplica só no momento
da partida, isto é, à designação feita pela regra de conflitos do foro à lei para que inicialmente remete,
mas já não se aplica nos momentos subsequentes – mas já não se aplica à regra de conflitos
estrangeiras que devolve a competência à lei do foro. Vide art. 17º, CC.
A Devolução Dupla – consiste naquela situação que acolhe plenamente ideia que está na base da
teoria da referência global, ou seja, o Tribunal do Estado cuja lei é declarada competente pela regra
de conflitos da lex fori. Vide art.16º, da CC.
28
Manual de Direito do Comércio Internacional Francisco Mário
O método da unificação ou método material consiste no recurso directo as
normas materiais do Direito do Comércio Internacional. Ex. as partes indicarem a
lei a aplicar no contrato.
22 Ex. Geralmente acontece nas questões de arbitragem em que recorrem muitas vezes as normas
processuais e também as regras materiais. No compromisso arbitral indicam-se as regras
processuais e as partes indicam os árbitros para escolherem a lei para solucionar o litígio. Assim,
para os árbitros julgar a causa terão que recorrer ao método de conflito que a regra do Direito
internacional Privado para saber qual a lei aplicar se as partes nada disserem no contrato ou depois.
29
Manual de Direito do Comércio Internacional Francisco Mário
jurídico; e, os interesses de ordem (que se exprimem nos pressupostos da harmonia
interna e da harmonia internacional).
23 Cfr. MÁRIO JÚLIO DE ALMEIDA DE COSTA. Direito das Obrigações, almedina, 9ª edição 2001 p. 181.
24 Ob. Cit. 181.
25 Cfr. JOSÉ ENGRÁCIA ANTUNES. – Direito dos Contratos Comerciais. Almedina 2009, p. 29
26 Cfr. MENESES LEITÃO. – Direito das Obrigações, Almedina 2010 9ª edição, p. 21.
30
Manual de Direito do Comércio Internacional Francisco Mário
motivo, autonomia privada não se confunde com o direito subjectivo. Porque na
autonomia privada existe uma permissão genérica de conduta, pois que, seguindo o
LUÍS MENESES LEITÃO, todos os sujeitos da ordem jurídica é reconhecida esta
possibilidade de produção de efeitos jurídicos, não havendo nenhum que dela seja
excluído27.
31
Manual de Direito do Comércio Internacional Francisco Mário
contradistingue os contratos comerciais no universo dos contratos em geral, muito
em particular em face dos contratos civis. Dizer quando é que um determinado
contrato jurídico-privado se diz comercial e não civil? Quais são os critérios da
mercantilidade ou da qualificação comercial de um contrato?31. Quais são os
critérios da mercantilidade ou da qualificação comercial de um contrato?32.
31 Cfr. JOSÉ ENGRÁCIA ANTUNES. – Direito dos Contratos Comerciais. Almedina 2009 p. 28-29.
32 Ob. Cit. p. 28-29.
33 Ob. Cit. p. 29.
34 O Código Comercial no seu título XVI – da compra e venda artigo 463º sob a epígrafe ´´ Quando é
- São considerados:
1- As compras de coisas para revender, em bruto ou trabalhadas, ou simplesmente para lhes
alugar o uso;
2- As compras, para revenda, de fundos públicos ou de quaisquer títulos de crédito negociais;
3- As vendas de coisas moveis, em bruto, e as de fundos públicos e de quaisquer títulos de
créditos negociáveis, quando a aquisição houvesse sido feita no intuito de as revender;
4- As compras e vendas de partes ou de acções de sociedades comerciais.
De um lado e de outro lado, o artigo 464º do mesmo diploma legal sob a epígrafe ´´ Quando não é
comercial a compra e venda “.
- Não são considerados comerciais:
1- As compras de quaisquer coisas moveis destinadas ao uso ou consumo do comprador ou da
sua família e as revendas que porventura desses objectos se venham a fazer;
2- As vendas que o proprietário ou explorador rural faça dos produtos de propriedade sua, ou
por ele explorada e de géneros em que lhes houverem sido pagas quaisquer rendas.
3- As compras que os artistas, industriais, mestres e oficiais de ofícios mecânicos que
exercerem directamente a sua arte, industriam ou oficio, fizerem de objectos para transformarem,
ou aperfeiçoarem nos seus estabelecimentos e as vendas de tais objectos que fizerem depois de assim
transformados ou aperfeiçoados;
4- As compras e vendas de animais feitas pelos criadores ou engordadores;
Com estas incursões legislativas, obviamente, nos espelha que o contrato de compra e venda, pode
ser comercial e civil, de acordo com o elencado nos artigos 463º e 464º do código comercial, por
maioria da razão, nos reconduz na classificação dos actos de comércio objectivos e subjectivos
previsto no artigo 2º, do Código Comercial e que é susceptível de ser titulados pelas pessoas
colectivas como sujeitos destas relações jurídicas;
Efectivamente, infere nesta perspectiva a referência de capacidade jurídica de praticar os
actos de comércio e actos civis.
32
Manual de Direito do Comércio Internacional Francisco Mário
O tipo contratual no Direito do Comércio Internacional é aqui entendido no
sentido de modalidade contratual. Não limita-se às modalidades contratuais
conformadas e sistematicamente reguladas pela Lei (geralmente designadas “tipos
legais”). Por exemplo, o contrato de concessão comercial.
A boa doutrina que nós perfilhamos proclamada pelo renomado Prof. Catedrático da Universidade
de Lisboa o ilustre Doutor ANTÓNIO MENESES CORDEIRO:
-Há pois que admitir que pessoas colectivas não societárias, designadamente as associações e
fundações civis, possam praticar actos de comércio (objectivo), de resto, é o que resulta do art. 7º do
código comercial - IN Manual de Direito Comercial 2ª edição – 2007 Almedina editora p. 240;
Com este enunciado doutrinal e de acordo com a interpretação actualista do código
comercial, os actos de comércio objectivos unilaterais estão abertas a todas as pessoas, ou seja, em
penitência legal, todos são iguais perante a lei, descreve o artigo 23º da nossa constituição, isto é,
podem dispor e adquirir bens livremente através de actos jurídicos, ou contratos gratuitos e
onerosos;
A princípio nesta formulação da liberdade, decorre as excepções que se impõe, relativamente
quando a profissão de comerciante e na prática de actos de comércio subjectivo, ou seja, que tem a
ver com a qualidade da pessoa que é o sujeito das relações jurídicas, “intuitu personae” (itálico nosso),
nomeadamente:
- Proibições gerais;
- Incompatibilidade;
- Inibições e;
- Impedimentos;
Concomitantemente, as excepções acima referidas não obstam a prática de actos de
comércio de menor escala, nomeadamente aqueles previstos no art. 464º do Código Comercial, é o
caso dos Magistrados, Membros do Governo e outros titulares de órgão de soberania;
Por via disso, podem adquirir por exemplo, pelo contrato de compra e venda um Imóvel
como seu direito de propriedade para habitação, ou uma viatura para si e depois revender quando
entender, ou ainda uma ONG, adquirir uma viatura por compra e venda a um Stand de automóvel e
depois revender, não há crises sobre a prática destes actos;
Portanto, não é necessário ser exactamente comerciante e licenciar como Profissional de
comércio, são actos de comércio unilateral, ou seja, actos normais da vida de todas pessoas com
capacidade genérica de exercício de direitos e de dispor e adquirir bens e serviços, que é colhida pela
nossa lei civil precisamente nos arts. 160º, nº 1 do Código Civil e art. 7º do Código Comercial – sob
epígrafe ´´ Capacidade para prática de actos de comércio ´´
- Toda pessoa, nacional ou estrangeira, que for civilmente capaz de se obrigar, poderá praticar actos
de comércio em qualquer parte do território angolano, nos termos e salvas as excepções da presente
lei e demais legislação complementar;
As excepções que se referem na última parte do preceito normativo acima destacado, são
efectivamente as proibições de prática de actos de comércio, como actividade profissional previstos
no art. 14º do Código Comercial que prescreve o seguinte:
- É proibido à profissão:
1- As associações ou corporações que não tenham por objecto interesse materiais;
2- Aos que por lei ou disposições especiais não possam comerciar;
33
Manual de Direito do Comércio Internacional Francisco Mário
2.2. Caracterização dos Contratos Comerciais Internacionais
O Direito Público seria territorial pelo que toca seus órgãos de aplicação: os
órgãos de aplicação de um Estado só aplicariam o Direito Público interno.
34
Manual de Direito do Comércio Internacional Francisco Mário
Todavia, estes contratos, ainda que celebrados com um estrangeiro ou
residente no estrangeiro não colocavam um problema de determinação do Direito
aplicável. Mas além dos limites ao territorialismo que porventura sempre existiram,
foram sendo progressivamente alargados e encontram-se hoje definitivamente
superados este dogma.
Mas não é assim que acontece as coisas, por três ordens de razões:
A distinção entre actos iure imperii e actos iure gestionis releva do Direito
Internacional Público e não corresponde necessariamente ao critério de
classificação dos actos como sendo de Direito Público ou Direito Privado adoptado
por uma ordem jurídica nacional e, em particular, não corresponde aos critérios
seguidos na ordem jurídica angolana.
35 Cfr. LIMA PINHEIRO – Direito Comercial Internacional, Almedina editora 2005, p. 61- 62.
35
Manual de Direito do Comércio Internacional Francisco Mário
sistemas jurídicos admitem inclusão da cláusula de arbitragem nos contratos
públicos, com excepção os actos de responsabilidade civil por prejuízos de actos
praticados no exercício da função política, legislativa e jurisdicional36.
Esta fase começa com uma proposta e a outra parte apresenta uma contra-
proposta. Feita a proposta a outra parte a citar ou não aceita a proposta, não
aceitando a outra entrega uma contra - proposta.
36
Manual de Direito do Comércio Internacional Francisco Mário
supletiva contida no art. 230º, nº 1 do CC, e a revogabilidade até o momento da
celebração do contrato37.
Há quem diga que nesta fase para além da proposta e da contra - proposta
aparecem os protocolos de intenções, pelo que, estes não são documentos
vinculativo, mas é necessário que se as partes estejam a agir de boa-fé negocial, ou
seja, boa-fé pré-contratual ( ex vi lege art. 227º, do CC).
A boa-fé é tão importante e necessária nesta fase, mas nem todos protocolos
são vinculativos, pois não haverá consequências jurídicas, ou seja, nesta fase da
negociação poderá nascer vários documentos escritos, uns vinculativos outros não.
As partes tem que agir de boa-fé e com lealdade que consiste na informação
que cada parte deverá dar quanto ao objecto do seu contrato. O objecto do contrato
se for de compra e venda, a outra parte terá que afirmar a outrem que o contrato
trará benefícios a ambos ou informar devidamente a outrem que este contrato irá
levar benefícios mutuamente vantagens. O que significa dizer, depois da negociação
e as partes chegaram a um entendimento; passar-se-á outra fase.
Todavia, reduzir à escrito tudo que foi negociado nos termos da liberdade de
forma não é obrigatório (vide art. 219º, do CC) à luz do princípio do
37 Cfr. LIMA PINHEIRO – Direito Comercial Internacional, Almedina editora 2005, p. 271.
38 Ob. Cit. p. 271.
37
Manual de Direito do Comércio Internacional Francisco Mário
consensualíssimo de acordo o objecto, a forma de pagamento, termos comerciais
dentro da outra cláusula arbitral e etc.
O objecto do contrato tem que ser sempre lícito possível e determinável sob
pena de nulidade, assim exprime a lei civil art. 280º, CC. Porém, também deve estar
em conformidade com os bons costumes e usos do comércio internacional, bem
como não atente contra a ordem pública, fraude a lei e normas imperativas.
38
Manual de Direito do Comércio Internacional Francisco Mário
problema que tem surgido sobre esta matéria prende-se com a escolha da lei
aplicável em caso de litígio, ou seja, tem suscitado dúvidas entre as partes na escolha
ou na designação da lei.
Portanto, as partes podem escolher qualquer lei, mesmo que esta não tenha
qualquer nenhuma conexão com o contrato, tendo em atenção ao recortado
princípio da autonomia da vontade.
Por seu turno a teoria relativista – percebe-se que as partes são livres de
escolher a lei aplicável condicionado, pois que, devem respeitar certos limites,
designadamente:
A Ordem Pública;
A Fraude a Lei; e,
As Normas Imperativas.
Além disso, a lei escolhida se for uma terceira lei em relação a identidade dos
contraentes, devera ter uma conexão com o negócio jurídico ou representar um
interesse sério das partes “ex vi lege” art. 41º, do CC.
O sistema brasileiro é sui generis, pois o contrato está sujeito a lei do local da sua
celebração (art. 9º, do CCB), por conseguinte, tem suscitado controversas sobre o
exercício do instituto ou princípio da autonomia da vontade. Mas entendem assim
que seguramente a lei brasileira confere a liberdade condicionada com a deslocação
das partes para o país escolhido no contrato.
39 Ex. Argentina.
39
Manual de Direito do Comércio Internacional Francisco Mário
Já os teóricos da tese relativistas preferem negar tal ideia dos absolutistas,
justificando para todos efeitos que o contrato não pode ficar sem indicação legal à
aplicar, porque haverá problemas na resolução do litígio e da interpretação e
execução do contrato, mesmo que se submeta a arbitragem porque os árbitros não
podem recorrer a equidade.
Os relativistas não aceitam este tipo de cláusulas, porque, segundo eles, são
atentatórias a soberania do Estado, ou seja, os particulares não podem impedir que
o Estado exerça o seu poder de modificar as leis quando os interesses do Estado
assim o exijam.
40 Cfr. Apontamentos da aula de DCI do professor JOSÉ MANUEL JANOTA, ano lectivo de 2005. FDUAN
– Luanda.
40
Manual de Direito do Comércio Internacional Francisco Mário
2.2.5. Cláusula de Força Maior
É aquela através da, qual as partes prevêem uma certa forma de agir por força
de acontecimentos tidos como de força maior. Entretanto, as partes prevêem o certo
comportamento caso surja um acontecimento que impossibilite o cumprimento do
contrato.
ou nada possa influir na sua materialização. Se o acontecimento for provocado pelas partes não será
força maior. Este é o acontecimento não poderá ser provocado pelas partes, mesmo que fosse terceiro
a provoca-lo contra a nossa vontade (ex.: a greve dos trabalhadores, isto é contra vontade das partes).
Quando falamos de força maior também temos que falar de uma outra cláusula.
44 Cfr. Apontamentos da aula de DCI do Professor JOSÉ MANUAL JANOTA, ano lectivo de 2005.
FDUAN- Luanda.
41
Manual de Direito do Comércio Internacional Francisco Mário
inevitável e alheios a vontade das partes, que tornam o contrato economicamente
desequilibrado e que por isso mesmo levam à renegociação do contrato.
Diferenças:
42
Manual de Direito do Comércio Internacional Francisco Mário
O pagamento pode ser a vista (a pronto), ou diferido, este último filia-se no
crédito documentário que encerra várias modalidades, designadamente: revogável,
irrevogável, conformativo e não conformativo em que no capítulo próprio vamos
desenvolver com mais detalhes.
Das criações da Câmara de Comércio Internacional de Paris (CCI), uma das que
merece maior destaque são os Incoterms. Tendo sua primeira publicação no ano de
1936, os Incoterms ou Internacional Comercial Terms constituem um conjunto de
regras para a interpretação de termos comerciais, que tem a finalidade de definir,
no âmbito de um contrato internacional de compra e venda, o limite dos direitos e
obrigações de cada parte contratante.
Alguns INCOTERMS são tipicamente marítimos (FAS, FOB, CFR, CIF, DES,
DEQ); outros aplicam-se a todo o tipo de transportes (EXW, FCA, CPT, CIP, DDU e
DDP). O DAF é exclusivamente terrestre. São próprios das vendas à partida, os
INCOTERMS EXW, FCA, FAZ, FOB, CFR, CIF, CPT e CIP. São próprios das vendas à
chegada os INCOTERMS DAF, DES, DEQ, DDU e DDP.
45Saber por quem correm os custos do transporte, do seguro, do frete; qual o momento em que as
mercadorias passaram a ser da responsabilidade do comprador, quem é o responsável pela perda,
extravio o defeito dos bens etc. ou seja, são estes os objectivos que os INCOTERMS visam alcançar.
43
Manual de Direito do Comércio Internacional Francisco Mário
comprovada, normalmente, através dos documentos aduaneiros, ou de certificados
emitidos para o efeito.
Portanto, não solidez dos INCOTERMS de 2000 CCI, por via disso, não verifica-
se a existência de diversas versões, algumas de proveniência norte – americana. E
segundo MENESES CORDEIRO, as Trade Terms, correspondem, tecnicamente, a
cláusulas contratuais, que devem ser comunicadas e esclarecidas por quem as
proponha à adesão de outrem, nos termos gerais46.
46 Cfr. MENESES CORDEIRO.- Manual de Direito Comercial, Almedina 2ª edição 2007, p. 708.
44
Manual de Direito do Comércio Internacional Francisco Mário
FCL – (full container load): tratando-se do transporte de um contentor selado,
compete ao interessado provar que desaparecimento da carga se deu durante o
transporte.
Como óbvio, a cláusula tem finalidade objectiva (art. 810º, do CC), pois visa à
obrigar a outra parte a cumprir o estipulado, exercendo neste caso uma função
psicológica compulsória de prevenção em termos do cumprimento dos prazos.
O valor da cláusula penal não poderá ser excessiva ao valor fixado no contrato,
pois se assim acontecer o juiz pode reduzir o valor a cláusula penal (art. 812º, do
CC).
45
Manual de Direito do Comércio Internacional Francisco Mário
E bem de notar que evidencia-se aqui a diferenciação entre a cláusula da lei
aplicável e a cláusula da eleição de foro.
Ela tanto pode estar no contrato ou pode estar a fora dele. Autonomia
(distinta das outras cláusulas ainda que o contrato se anule ela mantem a sua
validade dentro do contrato). Mas há casos em que as partes esquece-se de incluir,
mas se uma delas dar conta poderá propor a outra parte para concluir que possam
incluir a cláusula no contrato, este acordo surge já depois do contrato, isto é, o
acordo esta fora do contrato, mas por ser um acordo relativa a cláusula poderá fugir
parte integrante do contrato. Embora não aparecem como cláusula incluída no
contrato.
Esta cláusula esta fora do contrato, mas constitui uma parte integrante do
contrato. Se estiver fora do contrato será considerada como uma cláusula autónoma
(cláusula fora do contrato).
Esta cláusula é considerada distinta das outra cláusulas, de tal maneira que
nulo o contrato, ou as restantes cláusulas do contrato, ela mantem a sua vitalidade
(validade).
48Cfr. Apontamentos da aula de DCI do Professor JOSÉ MANUAL JANOTA, ano lectivo de 2005.
FDUAN- Luanda.
46
Manual de Direito do Comércio Internacional Francisco Mário
comprometa a boa execução do contrato no caso da invalidade por “Caducidade”49,
Cuja consequência é nulidade por ferir o interesse público.
Requisitos:
Forma Escrita:
Pelo que a forma escrita poderá ser: Cartas; Telefax, Telegrama; Internet,
Correio electrónico; e,
Tem que ser por uma coisa que produza documentos e que poderá ser
apresentado a qualquer individuo.
A cláusula tem que estar sempre reduzida a escrita nos termos como vem
previsto no art. 7º, da Lei – Modelo da CNUDCI. Porém, esta convenção tanto surge
para resolver os litígios surgidos tanto nos casos dos litígios que hão-de surgir.
Por seu turno a cláusula compromissória por ser parte do corpo do contrato,
deve ser inserida no contrato (…) pelo facto de ela constar e ser parte do contrato.
49Cfr. Apontamentos da aula de DCI do Professor JOSÉ MANUAL JANOTA, ano lectivo de 2005.
FDUAN- Luanda.
50Cfr. Apontamentos da aula de DCI do Professor JOSÉ MANUEL JANOTA, ano lectivo de 2005.
FDUAN- Luanda.
47
Manual de Direito do Comércio Internacional Francisco Mário
Requisitos da Cláusula Arbitral;
É anterior ao litígio;
Ainda que o contrato já tenha sido executado a parte que se sentir lesado
poderá recorrer com base nesta cláusula. Também é uma forma de extinção da
instância (art. 287º, do CPC que as partes podem chegar o acordo em qualquer
estado do processo (art. 290º, do CPC):
Essa cláusula existe precisamente antes do surgimento do litígio, visto que ela
é negociada ou incluída antes da negociação do contrato.
Prescreve o art. 7º, da Lei- Modelo, que em caso do litígio as partes tentaram
resolver amigavelmente, caso não se consiga, elas terão que submeter a Arbitragem.
O objectivo do litígio;
Os árbitros;
O local da arbitragem;
A língua da Arbitragem;
As regras processuais;
Para melhor compreensão vamos desde logo passar a descrição de cada uma
delas, assim:
Designação dos Árbitros -no documento as partes tem que dizer quais são os
árbitros, ou seja, a designação, é feita sempre em número impar, isto é, 1; 2; 5; 7…
árbitros., por conseguinte, se for 1 este será nomeado por acordo das partes, mas se
48
Manual de Direito do Comércio Internacional Francisco Mário
for 3, assim, cada nomearia 1 e, o outro por acordo os árbitros terão que indicar o
outro árbitro. Podendo escolher apenas duas ou três peças processuais51.
Pode no mesmo contrato figurar uma cláusula arbitral e uma cláusula de eleição
do foro?
Entretanto, quando num contrato contenha uma cláusula arbitral, todo o litígio
será resolvido no Tribunal Arbitral, ainda que a outra parte recorra ao Tribunal
comum (este não poderá resolver uma questão quando no contrato contenha uma
cláusula arbitral). O Tribunal remeterá as partes a Arbitragem, significa que o
Tribunal aconselha as partes a irem resolver o litígio através da Arbitragem, isto não
significa que o Tribunal remeterá o processo, vide art. 8º, da Lei – Modelo CNUDCI.
51Cfr. Apontamentos da aula de DCI do Professor JOSÉ MANUAL JANOTA, ano lectivo de 2005.
FDUAN- Luanda.
49
Manual de Direito do Comércio Internacional Francisco Mário
2.2.10.4. Os Poderes dos Árbitros
As partes tem que dizer quais são os poderes atribuída aos árbitros,
normalmente tem sido aqueles poderes necessários para a solução do processo.
São poderes limitados porque eles se limitam ao objecto do processo. Logo que
seja ditada a sentença os poderes dos árbitros cessam, visto que as sentenças
arbitrais não admitem recurso.
Os árbitros não podem prorrogar o prazo, eles tem que cumprir com o prazo
marcado pelas partes.
São as partes que determinam qual o local que será ou por onde será resolvido o
litígio por meio de acordo, podendo ser em qualquer país nos termos previsto no
art. 20º, da Lei -Modelo CNUCCI.
São as partes que devem escolher a língua que será utilizada no decurso do
processo, na sentença. Esta escolha é feita por acordo das partes, art. 2º, da Lei –
Modelo CNUDCI.
50
Manual de Direito do Comércio Internacional Francisco Mário
grandes princípios, nomeadamente: a liberdade contratual, consensualismo, a boa –
fé e da força vinculativa52.
52 Cfr. MARIO JÚLIO DE ALMEIDA COSTA. Direito das Obrigações, almedina 9ª edição 2001, p. 205.
53 Cfr. LIMA PINHEIRO – p. 39 - 41.
51
Manual de Direito do Comércio Internacional Francisco Mário
ilustrativos, revenda de gasolina, gás butano, automóveis, geradores, cerveja,
cimento.
Qualquer contrato tem traços típicos que lhe diferencia dos demais contratos,
assim são frequentes as seguintes características no contrato de concessão
comercial:
4.Exclusividade.
52
Manual de Direito do Comércio Internacional Francisco Mário
Sublinha-se que o objecto do contrato de concessão é exactamente a
distribuição de bens, pressupondo desde logo, a celebração ou inclusão de outros
contratos que viabilizam essa distribuição, cujo objecto são certamente as coisas e
não serviços.
Por via do Contrato de Agência pretende-se obter uma mais eficaz distribuição
dos produtos, superando o método tradicional de colocação directa dos bens no
mercado. De facto, a expansão comercial pode-se conseguir mediante o
estabelecimento de filiais ou, evitando o risco de um grande crescimento
empresarial, por via de celebração de Contratos de Agência. Em termos simplistas,
pode-se afirmar que os agentes substituem as filias ou sucursais.
53
Manual de Direito do Comércio Internacional Francisco Mário
Daí que, como notadamente se observa, é evidente que muitas vezes, se
recorra ao Contrato de Agência para evitar a aplicação do regime laboral e, por
conseguinte, nem sempre a distinção entre os dois contratos é evidente.
A este propósito cabe referir que o Contrato de Agência, sendo celebrado com
uma pessoa singular, não obsta à aplicação de regras laborais, em particular as que
respeitam a acidentes de trabalho. Nos termos da Lei nº 7/15, de 15 de Junho, Lei
Geral de Trabalho e nas disposições legais da legislação laboral. Porquanto o
conceito de acidente de trabalho a quem não seja trabalhador por conta de outrem,
abrangendo, neste regime, os trabalhadores sem contrato de trabalho que prestem
uma actividade na dependência económica da pessoa servida55.
55 O regime dos acidentes de trabalho aplica-se aos trabalhadores subordinados e aos autónomos
com dependência económica. Na medida em que o agente, principalmente em regime de
exclusividade, se integra contratualmente na estrutura empresarial do principal, está preenchido o
requisito de dependência económica, pelo que sobre este último impede a responsabilidade objectiva
estabelecida para os acidentes de trabalho.
56 Cfr. PEDRO ROMANO MARTINEZ. - Contratos Comerciais, Principia editora 2003 p.13
57 Ibidem.
58 Para além dos elementos acima elencados, existe aspectos essenciais no que respeita à
54
Manual de Direito do Comércio Internacional Francisco Mário
Conclui-se que o Contrato de Agência é realizado mediante retribuição, sendo
um negócio jurídico oneroso; o agente obriga-se a promover a celebração de
contratos mediante uma contraprestação, em princípio, pecuniária e por último, a
retribuição devida ao agente é um elemento do contrato, pois o negócio é
necessariamente oneroso.
O Contrato de Agência pode ser celebrado por prazo certo, renovável ou não
por igual período, ou por tempo indeterminado. A cessação do contrato pode
revestir quatro modalidades: Revogação, Caducidade, Denúncia e Resolução.
círculo de clientes é frequentemente ajustada, mas não faz parte da essência do contrato de agência.
Do mesmo modo, a exclusividade do agente- não podendo promover negócios para outrem-, bem
como a concessão do direito de exclusivo a favor do agente dependem de acordo das partes.
59 Cfr. PEDRO ROMANO MARTINEZ, Contratos Comerciais, Principia editora 2003 p.13 -18.
60 Atento o facto de o agente promover negócios junto de terceiros, potenciais clientes do principal,
impõem-se-lhe deveres de informação aos interessados sobre os poderes que possui. A Lei pretende
salvaguardar os interesses desses clientes, principalmente quando exista uma situação de
representação aparente para além disso, sabendo-se que, muitas das vezes, os clientes do principal
só conhecem o agente que os contactou, permite-se que estes apresentam as reclamações ou outras
declarações respeitantes aos negócios concluídos não directamente à contraparte (principal), mas
sim ao agente. Vide. PEDRO ROMANO MARTINEZ, Contratos Comerciais, Principia editora 2003 p.13
-18.
55
Manual de Direito do Comércio Internacional Francisco Mário
O Contrato de Franquia - pode ser definido como aquele pelo qual uma
empresa (o franquiador ou franchisador) concede a outra (o franquiado ou
franchisado), mediante uma contrapartida financeira directa ou indirecta, o direito
subjectivo de utilizar uma franquia para comercializar determinado tipo de
produtos e/ ou serviços.
56
Manual de Direito do Comércio Internacional Francisco Mário
princípio, num feixe de relações contratuais, individualizadas, que converge num
dos seus sujeitos (o franquiador e franqueado).
62O contrato de franquia tem como vantagens permitir que uma marca, um nome comercial, etc. se
implante noutro espaço geográfico sem os riscos de gigantismo empresarial- associados ao aumento
de custos de administração -, das dificuldades de controlo dos estabelecimentos à distância e do
problemas inerentes ao desconhecimentos de outras ordens jurídicas. Para além disso, por via do
contrato de franquia garante-se maior sucesso comercial, pois o contacto com o cliente é feita por
pequenas empresas.
57
Manual de Direito do Comércio Internacional Francisco Mário
regras de actuação naquele ramo, podendo ficar adstrito, nomeadamente, a decorar
o estabelecimento do franquiando ou a dar instruções técnicas para que este o faça,
a fornecer, de forma periódica, produtos, a dar formação ao franquiado ou ao seu
pessoal, a prestar-lhe serviços de assistência, a dar-lhe exclusividade geográfica ou
a fazer publicidade dos produtos ou serviços63.
63 Cfr. PEDRO ROMANO MARTINEZ. - Contratos Comerciais, Principia editora 2003 p. 21 - 27.
64Cfr. PEDRO ROMANO MARTINEZ, Contratos Comerciais, Principia editora 2003 p. 33-35.
58
Manual de Direito do Comércio Internacional Francisco Mário
Porém, em cada uma destas relações contratuais o franquiador cede o uso de
sinais distintivos do seu comércio – designadamente de marcas dos seus produtos
ou do nome e/ou insígnia do estabelecimento – e comunica conhecimentos práticos
não patenteados, total ou parcialmente secretos; enquanto a outra parte (o
franquiado), assume a obrigação de remunerar e de exercer a sua actividade nos
modelos definidos pelo contrato e com a exibição dos sinais distintivos do
franquiador65.
65 Cfr. LIMA PINHEIRO – Direito Comercial Internacional, Almedina editora 2005, p. 42 e 43.
66 Ob.Cit.34.
59
Manual de Direito do Comércio Internacional Francisco Mário
A importância dos contratos de licença no comércio internacional também
resulta da sua aplicação aos programas de computador (ex. office, softwere).
Os dois principais tipos que assume este negócio jurídico são o know-how
técnico, também designado por industrial, e o know-how comercial.
67 Cfr. LIMA PINHEIRO – Direito Comercial Internacional, Almedina editora 2005, p. 44 e 45.
60
Manual de Direito do Comércio Internacional Francisco Mário
No Comércio Internacional a transferência de tecnologia industrial,
comercial ou outra é naturalmente feita mediante remuneração. Aquele que recebe
a tecnologia paga ao fornecedor uma quantia acordada, muitas das vezes
periodicamente68.
68No contrato e Know-How costuma ser acordada uma duração limitada, permitindo-se a tecnologia
fornecida só possa ser usada por um determinado período, normalmente renovável. Além disso,
também é usual que deste contrato conste um pacto de não- concorrência, por exemplo delimitado
geograficamente o campo de actuação daquele que recebe a tecnologia, mas desenvolvimento vide.
Cfr. PEDRO ROMANO MARTINEZ, Contratos Comerciais, Principia editora 2003 p. 33-35.
61
Manual de Direito do Comércio Internacional Francisco Mário
Alguns contratos de financiamento são legalmente típicos; é o que se verifica
com o contrato de mútuo na ordem jurídica portuguesa e Leasing. Outros contratos
de financiamento são apenas tipos do tráfico negocial, designadamente os créditos
documentários regulados pelas Regras e Usos uniformes relativos aos Créditos
Documentários da CCI.
62
Manual de Direito do Comércio Internacional Francisco Mário
desenvolvimento e na exploração de recursos naturais, como, por exemplo, os
recursos petrolíferos. Trata-se muitas vezes de contratos internacionais, por
envolverem entes empresariais sedeados em diversos Estados ou por o
empreendimento comum ser realizado num Estado diferente daquele a que as
partes estão ligadas69.
69 Cfr. LIMA PINHEIRO – Direito Comercial Internacional, Almedina editora 2005, p. 46 e 47.
70 Nossa definição.
71 Cfr. SEBASTIÃO NÓBREGA PIZARRO – Glossário de Termos e Conceitos Contratuais, Coimbra
63
Manual de Direito do Comércio Internacional Francisco Mário
Importa distinguir o consórcio interno, em que os consorciados não se
apresentam como tal nas relações com terceiros, do consórcio externo.
Relativamente ao consórcio externo, cabe aludir à figura do chefe do consórcio, ao
conselho de orientação e fiscalização, que é facultativo, à denominação do consórcio
e ao regime de não-solidariedade na responsabilidade.
Numa outra modalidade, o contrato de Joint venture pode dar origem a uma
nova entidade (uma sociedade), com personalidade jurídica distinta, sem, todavia,
se proceder a uma fusão das empresas signatárias, que mantêm a sua personalidade
jurídica autónoma. Esta segunda fórmula tem a vantagem de associar partes numa
actividade a desempenhar em comum sem grandes riscos.
72 Cfr. PEDRO ROMANO MARTINEZ, Contratos Comerciais, Principia editora 2003 p. 37-39.
64
Manual de Direito do Comércio Internacional Francisco Mário
- Joint Venture como nova entidade, configurado na dimensão de uma sucursal,
assim ele actua com o nome das sociedades que a constituíram; e,
65
Manual de Direito do Comércio Internacional Francisco Mário
Estes contratos não são simples contratos de empreitada, porque o
“empreiteiro” se obriga não só a realizar uma obra mas também a garantir a aptidão
funcional da unidade industrial, para além de também obrigar-se, em certos casos,
a prestar serviços e a transferir tecnologia.
2.9.1. Intróito
O Código Comercial no seu título XVI – da compra e venda art. 463º sob a
epígrafe “Quando é comercial a compra e venda”:
- São considerados:
66
Manual de Direito do Comércio Internacional Francisco Mário
- Não são considerados comerciais:
-Há pois que admitir que pessoas colectivas não societárias, designadamente as
associações e fundações civis, possam praticar actos de comércio (objectivo), de resto,
é o que resulta do art. 7º, do Código Comercial.
Esta conexão entre venda e transporte permite falar, por exemplo, de venda
marítima. Não quer isto dizer que não possa haver venda internacional sem uma
73Cfr. ANTÓNIO MENESES CORDEIRO - In Manual de Direito Comercial 2ª edição – 2007 Almedina
editora p. 240.
67
Manual de Direito do Comércio Internacional Francisco Mário
deslocação internacional de bens. Mercadorias: Toda a espécie de bens que possam
ser transportados em veículos automóveis ou conjuntos de veículos74.
Ora bem, importar destacar desde logo que coexiste razões justificativas de
circunstância casuísticas nos contratos de venda internacional de mercadorias que
74 O que exclui, por exemplo, o transporte de energia eléctrica de um país para outro.
75 Cfr. LIMA PINHEIRO – Direito Comercial Internacional, Almedina editora 2005, p. 260.
68
Manual de Direito do Comércio Internacional Francisco Mário
podem assumir configurações diversas que alude o art. 39º, da CNUDCI, pois que,
permite aos órgãos de aplicação um ajustamento do regime aplicável às exigências
dos diversos sectores económicos, ou as particularidades da transacção em causa.
Com efeito, nota-se que a lei civil angolana fixa trinta (30) dias depois de
conhecimento do defeito da mercadoria e seis (6) meses após a entrega, vide art.
916º, nº 2, do CC, que poder demasiado longo, mas por seu turno para denúncia do
defeito, é fixado no prazo de oito (8) dias nos termos da lei comercial angolana (art.
471º, do C.Com.) que poder ser demasiado curto.
69
Manual de Direito do Comércio Internacional Francisco Mário
Entretanto, não são tomados em consideração para a aplicação da Convenção
nem a nacionalidade das partes nem o carácter civil ou comercial das partes. Vide
art. 1º, nº 3, da CNUDCI.
76Mais desenvolvimento vide LIMA PINHEIRO – Direito Comercial Internacional, Almedina editora
2005, p. 263 e ss.
70
Manual de Direito do Comércio Internacional Francisco Mário
Entretanto as obrigações das partes no contrato filia-se na violação
fundamental do contrato que assume especial no art. 25º, da CNUDCI que contem a
definição de “violação fundamental” do contrato.
77 Apud. BENTO SOARES/MOURA RAMOS – Cfr. LIMA PINHEIRO – Direito Comercial Internacional,
Almedina editora 2005, p. 278.
78 Por exemplo, o retardamento da entrega da mercadoria só constituirá uma violação fundamental
71
Manual de Direito do Comércio Internacional Francisco Mário
Ora, partes podem evitar as incertezas inerentes à noção de violação
fundamental mediante a indicação no contrato dos direitos ou obrigações que são
considerados fundamentais.
LUÍS LIMA PINHEIRO que estamos a seguir de perto a sua saborosa doutrina
porque nos é particamente familiar as indicações da sua tese e sublinhamos aqui e
noutros lugares com muito apreço -, afirma quanto aos casos em que a Convenção
confere a uma das partes a faculdade de exigir da outra o cumprimento de uma
obrigação, o art. 28º, da CNUDCI, estabelece que o Tribunal só está vinculado a
condenar no cumprimento se fizesse por força do seu próprio Direito relativamente
a contratos de venda semelhantes não regulados pela Convenção, porquanto sabe-
se que o processo civil é das partes79.
79 Cfr. LIMA PINHEIRO – Direito Comercial Internacional, Almedina editora 2005, p. 280.
72
Manual de Direito do Comércio Internacional Francisco Mário
designadamente as exigências decorrentes da teoria da consideration consagrada
pelo Cammon Law80.
80 Cfr. LIMA PINHEIRO – Direito Comercial Internacional, Almedina editora 2005, p. 280.
81 Ob. Cit. p. 281.
73
Manual de Direito do Comércio Internacional Francisco Mário
confiou na competência ou na capacidade de avaliação do vendedor,
ou que não era razoável da sua parte fazê-lo (nº 2, al. b), do art. 35º,
da CNUDCI);
Porquanto:
74
Manual de Direito do Comércio Internacional Francisco Mário
Em primeiro lugar, o alcance da remissão operada pelo art. 905º, do CC para
o regime do erro é controverso. Segundo uma interpretação, decorre daí que o
contrato é anulável desde que o vendedor conhecesse ou não devesse ignorar a
essencialidade para o comprador do “elemento sobre que incidiu o erro” (art. 247º,
ex vi art. 251º, do CC), isto é, da plenitude do direito ou da conformidade da
mercadoria.
Assim, no primeiro caso seriam aplicáveis os art. 913º, ao art. 917º, do CC,
seguindo-se designadamente o regime da anulabilidade por erro (por remissão para
o art. 905º, do CC);
Embora o regime do erro não se figure ser o mais adequado para estes
casos, não parece razoável interpretar o art. 905.º CC no sentido de
fazer depender a anulação dos pressupostos de incumprimento
definitivo;
84 Apud. LIMA PINHEIRO – Direito Comercial Internacional, Almedina editora 2005, p. 284.
75
Manual de Direito do Comércio Internacional Francisco Mário
Isto não obsta a que na determinação do regime aplicável à anulação
do contrato possam até certo ponto ser tidas em conta as
circunstâncias específicas da venda de bens onerados;
Por outro, dentro desta ordem de ideias, parece igualmente defensável que,
para actuar os meios que lhe são conferidos, o comprador só tem, em regra, de fazer
a prova do efeito da coisa, cabendo à contraparte a demonstração de que ele
conhecia a antemão o vício do direito ou da coisa. Relativamente aos requisitos do
erro ou à culpa do vendedor o ónus da prova incide sobre o vendedor85.
Qua tale do art. 913º, do CC, também resulta que a coisa deve ser adequada à
função normal das coisas da mesma categoria ou ao fim especial que resulte do
contrato e deve ter as qualidades asseguradas pelo vendedor; de um lado de outro,
do art. 919º, do CC e do art. 469º, do C.Com. – relativos à venda sobre amostra –
decorre que, em princípio, o vendedor assegura a existência, na coisa vendida, de
qualidades iguais às da amostra.
85 Apud . LIMA PINHEIRO – Direito Comercial Internacional, Almedina editora 2005, p. 285.
76
Manual de Direito do Comércio Internacional Francisco Mário
Quanto ao dever de embalar ou acondicionar na forma habitual ou de modo
adequado, deve entender-se que o mesmo resulta, no Direito angolano e português,
que comungam a mesma realidade jurídica através do princípio da boa-fé no
cumprimento das obrigações (art. 762º, nº 2, do CC).
86Assim por exemplo, já se entendeu que uma denúncia feita quatro meses depois da descoberta do
efeito é tarde
77
Manual de Direito do Comércio Internacional Francisco Mário
individualizam os bens defeituosos com a clareza exigível nas circunstâncias do caso
concreto. A jurisprudência tende a considerar estas denúncias ineficazes87.
De acordo a ordem jurídica angolana, a denúncia deve ser feita até trinta (30)
dias depois de conhecido o defeito dentro de seis (6) meses após a entrega da coisa
(art. 916º, nº 2, do CC).
87Apud. Cfr. LIMA PINHEIRO – Direito Comercial Internacional, Almedina editora 2005, p. 285
88 Cfr. Ob. Cit. p. 288.
89 Apud. LIMA PINHEIRO – Direito Comercial Internacional, Almedina editora 2005, p. 288.
78
Manual de Direito do Comércio Internacional Francisco Mário
ele conhecia ou não podia ignorar e que não revelou ao comprador. Porém, a ordem
jurídica material angolana e também a portuguesa como já assinalamos partilham a
mesmo “Código Civil” por questões históricas, o art. 916º, nº 1, do CC., não protege
tanto o comprador, visto que só dispensa a denúncia se o vendedor tiver usado
alguma de maledicência (dolo).
Uma outra questão diz ao respeito de denúncia por parte do comprador, nos
termos a Convenção art. 43º, nº 1, da CNUDCI, sublinha que comprador perde o
direito de invocar estas disposições da Convenção se não denunciar ao vendedor o
direito ou a pretensão, num prazo razoável a partir do momento em que teve ou
deveria ter tido conhecimento deles.
Destarte, o comprador que tenha uma desculpa razoável para não ter
procedido à denúncia em prazo razoável dos efeitos ou do direito ou pretensão de
terceiro nos termos do disposto no art. 44º, da CNUDCI, conserva as faculdades de
reduzir o preço ou pedir indeminização, salvo quanto ao lucro cessante. Porém, O
Direito material angolano não contém uma disposição paralela, suscitando dúvida
sobre a relevância da falta de denúncia do efeito para a atribuição do direito a
indeminização.
79
Manual de Direito do Comércio Internacional Francisco Mário
produzida, e sabendo as partes no momento da celebração do
contrato que a mercadoria se encontrava ou devia ser fabricada ou
produzida num certo lugar, com a colocação da mercadoria à
disposição do comprador neste lugar;
90 Cfr. LIMA PINHEIRO – Direito Comercial Internacional, Almedina editora 2005, p. 290.
91 Cfr. LIMA PINHEIRO – Direito Comercial Internacional, Almedina editora 2005, p. 291.
80
Manual de Direito do Comércio Internacional Francisco Mário
A Convenção estabelece que nos restantes casos a mercadoria deve ser
entregue num prazo razoável (art. 33º, al. c), da CNUDCI)). Porém, no Direito
material angolano trata-se de uma obrigação pura, em que o comprador tem o
direito de exigir a todo tempo o cumprimento da obrigação em que o vendedor pode
a todo o tempo cumprir (art. 777º, nº 1, do CC). Se, porém, se tornar necessário o
estabelecimento de um prazo, quer pela própria natureza da prestação, quer por
virtude das circunstâncias que a determinaram, quer por força dos usos, e as partes
não acordaram na sua determinação, a fixação dele é deferida ao Tribunal vide o art.
777º, nº 2, do CC.
81
Manual de Direito do Comércio Internacional Francisco Mário
b) A execução do contrato (art. 817º, do CC).
93 Cfr. LIMA PINHEIRO – Direito Comercial Internacional, Almedina editora 2005, p. 292.
94Cfr. LIMA PINHEIRO – Direito Comercial Internacional, Almedina editora 2005, p. 294.
82
Manual de Direito do Comércio Internacional Francisco Mário
Na venda de coisas defeituosas genéricas, por seu turno, só haverá lugar para
resolução quando o cumprimento defeituoso conduzir a uma situação de
incumprimento definitivo (art. 918º, do CC).
95 Por exemplo, quando for se trate de pequenas reparações que o vendedor pode conseguir com
facilidade no país de utilização quando o vendedor só dispõe dos meios para proceder à reparação
num país distante.
96 Apud. Cfr. LIMA PINHEIRO – Direito Comercial Internacional, Almedina editora 2005, p. 293.
83
Manual de Direito do Comércio Internacional Francisco Mário
credor (art. 808º, nº 1, do CC). A declaração de não cumprimento feita pelo devedor
é pela doutrina equiparada ao incumprimento definitivo.
Por outro lado, no caso de venda de coisa alheia, o regime contido no Código
Civil diverge do regime convencional, uma vez que determina a nulidade do contrato
(art. 892º, do CC). O comprador de boa-fé pode opor-se a nulidade ao vendedor. No
entanto, o vendedor tem a obrigação de adquirir a prioridade da coisa e o contrato
torna-se válido com esta aquisição (art. 897º e 895º, do CC).
84
Manual de Direito do Comércio Internacional Francisco Mário
Após o decurso do prazo suplementar indicado pelo vendedor para
executar as suas obrigações (nos termos do art. 48º, nº 2, da CNUDCI),
depois de o comprador ter declarado que não aceitaria a execução.
98 Cfr. LIMA PINHEIRO – Direito Comercial Internacional, Almedina editora 2005, p. 296.
9999 Cfr. LIMA PINHEIRO – Direito Comercial Internacional, Almedina editora 2005, p. 296.
85
Manual de Direito do Comércio Internacional Francisco Mário
Na mesma linha verifica-se, perante a lei angolana, no caso da venda de bens
onerados. Pelo que, parece nos termos da Convenção, deve-se entender que não
confere ao comprador a faculdade de redução do preço, mas atribui-lhe a faculdade
de resolução sempre que se trate de uma “violação fundamental”100.
Observa-se, porém, que não é certo que o art. 991º, do CC seja aplicável ao
caso previstos no art. 918º, do CC e, designadamente, à venda defeituosa de coisa
genérica.
86
Manual de Direito do Comércio Internacional Francisco Mário
partes estabeleçam um regime diferente, por exemplo, estipulando uma cláusula
penal ou uma “indemnização punitiva” (punitive demages)102.
Pelo que, nesta linha de pensamento algum sector da doutrina sustentam duas
modalidades das doutrinas selectivas, designadamente:
87
Manual de Direito do Comércio Internacional Francisco Mário
1- Doutrina da causalidade adequada – considera-se causa de um
prejuízo a condição que, em abstracto, se mostra adequada para produzir
danos susceptível de indeminização104.
Todavia, além de esta teoria não ser específica na doutrina mais recente, não
é entendida no sentido de exigir a previsibilidade do dano pelo agente, mas antes no
de excluir a relevância da causa que não aumente o risco da verificação do dano
segundo as regras da experiência ou que só produziu o dano em virtude de
circunstâncias extraordinárias, fortuitas ou excepcionais, razão por que o dano, à luz
das regras da experiência comum e das particularidades do caso, não constitui o
resultado normal do facto que o originou105.
104 Cfr. MÁRIO JÚLIO DE ALMEIDA COSTA. Direito das Obrigações, Almedina 2001, 9ª edição p. 705-
707.
105 Ibidem.
106 Cfr. LIMA PINHEIRO – Direito Comercial Internacional, Almedina editora 2005, p. 298
107 Ob. Cit. p. 298.
88
Manual de Direito do Comércio Internacional Francisco Mário
entende que, neste caso, se trata de uma indemnização dos danos negativos
(também dita indemnização pelo interesse contratual negativo), destinada a colocar
o lesado na situação patrimonial que teria caso o contrato não tivesse sido
celebrado108.
Parece que se deve que se deve entender que o regime estabelecido nos art.
908º e 909º ex vi art. 913º, nº 1, do CC, não vale para a venda de coisa defeituosa
genérica (vide o art. 918º, do CC). Neste caso, é aplicável o regime do não
cumprimento das obrigações e, por conseguinte, o comprador tem direito a
indemnização pelos danos causados pelo cumprimento defeituoso110.
108 Ibidem.
109 Ibidem.
110 Ibidem.
111 Cfr. LIMA PINHEIRO – Direito Comercial Internacional, Almedina editora 2005, p. 300.
89
Manual de Direito do Comércio Internacional Francisco Mário
A Convenção nos termos do art. 79º, nº 1, da CNUDCI, exonera o vendedor da
obrigação de indemnizar caso prove que a inexecução se ficou a dever a um
impedimento fora do seu controlo e que não era razoável esperar que ele o tomasse
em consideração no momento da celebração do contrato, que o evitasse ou
superasse, ou que evitasse ou superasse as suas consequências.
Pois bem, a propósito da cláusula de força maior já fiz alusão à situação à face
do Direito angolano, o art. 790º, nº 1, do CC, densifica a extinção da obrigação
quando a prestação se torna impossível por causa não imputável ao devedor, o que
exclui a responsabilidade por incumprimento. Assinalou-se, porém, que este
preceito suscita problemas de interpretação que não estão dilucidados112.
112 Ibidem.
113 Ibidem.
114 Por exemplo, o vendedor A obrigou-se a fornecer uma máquina a ser fabricada segundo as
90
Manual de Direito do Comércio Internacional Francisco Mário
Ao mesmo resultado parece conduzir o art. 800º, nº 1, do CC. A doutrina tem
entendido que a responsabilidade do devedor pelos actos das pessoas que utilize
para o cumprimento da obrigação não pressupõe culpa na escolha, fiscalização ou
instrução dos auxiliares nem uma relação de subordinação ou dependência; essa
responsabilidade já cessa caso, não havendo culpa na escolha, fiscalização ou
instrução dos auxiliares, se demonstrar que o auxiliar, se fosse devedor, beneficiária
de uma causa de exoneração de responsabilidade115.
115 Cfr. LIMA PINHEIRO – Direito Comercial Internacional, Almedina editora 2005, p. 301.
116 Ob. Cit. p. 301
91
Manual de Direito do Comércio Internacional Francisco Mário
interesse que possa ter ou não ter para o comprador a prestação parcial que lhe foi
entregue117.
Cumpre-nos notar, que nosso Direito material não contém uma disposição
desta natureza, mas é defendido que soluções semelhantes decorrem da regra do
cumprimento pontual do contrato (art. 406º, nº 1, do CC).
117 Cfr. LIMA PINHEIRO – Direito Comercial Internacional, Almedina editora 2005, p. 303.
92
Manual de Direito do Comércio Internacional Francisco Mário
determinação do preço, bem como o lugar de pagamento (art. 57º, da CNUDCI) e,
assim como o prazo de pagamento (art. 58º, da CNUDCI).
Seja como for, o disposto neste preceito parece entrar em contradição com o
disposto no texto do art. 14º, nº 1, da CNUDCI, porquanto este determina que só
constitui proposta contratual a declaração que, expressa ou implicitamente, fixa a
quantidade e o preço, ou dá indicações que permitam determina-los. Porém, esta
contradição, pelo menos aparente, suscita grandes divergências de interpretação119.
118Cfr. LIMA PINHEIRO – Direito Comercial Internacional, Almedina editora 2005, p. 304-305.
119 O ponto foi muito discutido na preparação da Convenção em virtude de profundas divergências
entre os sistemas nacionais. Não possível dar aqui conta da vasta e complexa controvérsia doutrinal.
Em traços largos, pode dizer-se que são principalmente duas as posições defendidas na doutrina.
Para uns o art. 14º, nº 1, da CNUDCI deve prevalecer sobre o art. 55º, da CNUDCI. Neste sentido faz-
se valer que o art. 55º, da CNUDCI só é subsidiariamente aplicável visto que pressupõe que o contrato
tenha sido validamente concluído. A ser assim, o art. 55º, da CNUDCI terá sentido útil quando uma
das partes tenha o seu estabelecimento num Estado contratante que não seja vinculado pela segunda
parte da Convenção (nos termos do art. 91º, nº 1, da CNUDCI e desde que a lei deste Estado admita a
válida celebração do contrato apesar de este não fixar o preço nem dar indicações sobre a sua
determinação. Segundo uma variante deste entendimento, o art. 55º, da CNUDCI será aplicável pelos
Tribunais dos Estados contratantes que não sejam vinculados pela segunda parte da Convenção e
também quando o art. 14º, da CNUDCI for derrogado pelas partes ou pelos usos.
Segundo outros, o art. 55º, da CNUDCI deve prevalecer sobre o art. 14º, nº,1 da CNUDCI a partir do
momento em que o contrato seja considerado validamente celebrado perante a lei estadual aplicável
ao contrato. Argumenta-se, a favor desta posição, que os trabalhos preparatórios apontam no sentido
de o art. 55º, da CNUDCI pressupor apenas que o contrato tenha sido validamente celebrado segundo
a lex contractus ou, mais em geral, que o contrato se pode considerar celebrado mesmo que a
proposta não permita a determinação do preço.
93
Manual de Direito do Comércio Internacional Francisco Mário
Estas divergências tiveram grandes debates nos trabalhos preparatórios bem
como na doutrina, cuja solução deste imbróglio deve – se, na visão do Prof. LUÍS
LIMA PINHEIRO passar pela preservação do sentido útil de ambos os preceitos
mesmos nos estados contratantes que se tenham vinculado integralmente à
Convenção de Viena de 1980. Pesa também a consideração de que o art. 55º,
consagra um critério para a determinação do preço que foi amplamente aceite pelos
delegados nacionais120.
Daí, segundo o já citado autor, dizer que pareça preferível entender que o art.
55º, da CNUDCI, vem criar uma nova possibilidade relativamente ao art. 14º, nº 1,
da CNUDCI: a de o contrato, apesar de não fixar o preço nem dar indicações para a
sua fixação, se considerar validamente celebrado por aplicação para a sua fixação,
se considerar validamente celebrado por aplicação da lei designada pelo Direito de
Conflitos do foro para reger os aspectos do contrato não regulados pela Convenção.
Todavia, o art. 14º, nº 1, da CNUDCI, continua a ter um efeito útil quando a lex
contractus não permita a celebração de um contrato de venda sem que o preço seja
determinado ou determinável121.
Ora bem, o Direito civil angolano, nos termos do art. 883º, nº 1, do CC.,
também admite o contrato de venda com preço indeterminável, estabelecendo que
“vale como preço contratual o que o vendedor normalmente praticar à data da
conclusão do contrato ou, na falta dele, o do mercado ou bolsa no momento do
contrato e no lugar em que o comprador deva cumprir; na insuficiência destas regras,
preço é determinado pelo Tribunal, segundo juízos de equidade”.
Os trabalhos preparatórios revelam uma grande divisão entre os delegados nacionais e que foram
formuladas, e rejeitadas propostas que visam resolver o problema através quer da eliminação do
segundo período do art. 14º, nº 1, da CNUDCI quer do art. 55º, da CNUDCI. Estes trabalhos não
permitem concluir pela prevalência de qualquer uma destas disposições em relação à outra e, em
particular, não suportam o entendimento segundo ao qual o contrato só se considera validamente
celebrado, perante o art. 55.º, quando a proposta obedeça aos requisitos formulados pelo art. 14º, nº
1, da CNUDCI. A circunstância de o critério para a determinação do preço adoptado na versão final
do art. 55º, da CNUDCI ser o do preço habitualmente praticado pelo vendedor, inicialmente
consagrado – pode explicar a mudança de atitude de muitos delegados nacionais ao votarem a favor
deste preceito quando anteriormente tinham votado contra a eliminação do segundo período do art.
14º, nº 1, da CNUDCI. Cfr. LIMA PINHEIRO – Direito Comercial Internacional, Almedina editora 2005,
p. 305-306.
120 Cfr. LIMA PINHEIRO – Direito Comercial Internacional, Almedina editora 2005, p.306 e ss.
121 Ob. Cit. p.307.
94
Manual de Direito do Comércio Internacional Francisco Mário
De todo o modo, o critério de determinação do preço acolhido no art. 55º, da
CNUDCI (preço habitualmente praticado no mercado relevante) afigura-se-nos mais
equilibrado relativamente ao critério consagrado pela lei civil angolana (preço
normalmente praticado pelo vendedor). Pois a Convenção de Viena evidência de
algum modo uma regra interpretada do negócio para o caso de o preço deve ser
determinado com referência ao peso líquido (art. 56º, da CNUDCI).
Entretanto, se, por estipulação das partes, ou por força dos usos, o preço não
tiver de ser pago no momento da entrega, o pagamento deve ser feito no lugar do
domicílio que o vendedor tiver ao tempo do cumprimento (art. 885º, nº 2, do CC).
Neste caso não afigurar-se haver lugar para a aplicação da regra do art. 775.º CC,
uma vez que se fixa o momento relevante para a determinação do domicílio. Parece
preferível a solução convencional que põe a cargo do vendedor as despesas
acessórias resultantes da mudança de estabelecimento.
95
Manual de Direito do Comércio Internacional Francisco Mário
o vendedor põe à disposição do comprador quer a mercadoria quer os documentos
representativos desta, nos termos do contrato e da Convenção.
122 Assim, por exemplo, se as partes tiverem estipulado que o preço deve ser pago contra a entrega
dos documentos representativos da mercadoria, não há possibilidade de um exame prévio da
mercadoria.
123 Assim, nas vendas à distância em que incumbe ao comprador o transporte da mercadoria (por
comprador deve levantar a mercadoria num prazo razoável, vide o art. 60º, da CNUDCI.
96
Manual de Direito do Comércio Internacional Francisco Mário
A tomada em conta da mercadoria não prejudica, em princípio, o direito
subjectivo que o comprador possa ter de rejeitar a mercadoria no quadro dos meios
de que dispõe em caso de incumprimento do vendedor, de um lado por outro, a
tomada em conta da mercadoria é então relevante designadamente para efeitos do
dever de conservar a mercadoria. Com efeito, o comprador que já tenha recebido a
mercadoria e queira exercer o direito de a rejeitar tem um dever de conservação da
mercadoria e pode retê-la até ser reembolsado das suas despesas razoáveis (art.
86º, nº 1, da CNUDCI).
125 Pois é o que se verifica, por exemplo, quando a falta de conformidade da mercadoria constitua
uma violação fundamental do contrato.
126 Apud. LIMA PINHEIRO – Direito Comercial Internacional, Almedina editora 2005, p. 311.
97
Manual de Direito do Comércio Internacional Francisco Mário
9.2.8.1. Meios de Que Dispõe o Vendedor em Caso de Incumprimento
do Comprador
98
Manual de Direito do Comércio Internacional Francisco Mário
A rescisão do contrato confere à parte que o tenha executado total ou
parcialmente uma pretensão de restituição de tudo o que tenha prestado (art. 81º,
nº 2, da CNUDCI). Como o regime convencional não abarca os efeitos reais, dele
apenas decorrem obrigações de restituição e, porventura, de indemnização, pelo
que, a eficácia real da rescisão depende do sistema local competente127.
99
Manual de Direito do Comércio Internacional Francisco Mário
devida no caso da mora do devedor da obrigação pecuniária, só admitindo pretensão
de indemnização suplementar quando se trata de responsabilidade por facto ilícito
ou pelo risco.
Para entender este trecho importa cotejá-lo com o que resulta de outras
versões da Convenção. Nas versões alemãs, francesa e inglesa lê-se antes “na medida
em que é regulado por regras jurídicas”. Há aqui um compromisso com a concepção
inglesa da qualificação processual da avaliação do dano na medida em que esta
suscita questões de Direito. Portanto, em princípio, são aplicáveis as regras da lex
contractus que fixam os juros de mora129.
100
Manual de Direito do Comércio Internacional Francisco Mário
Civil realizados por VAZ SERRA, é o de que o nº 2 do art. 806º, da CNUDCI, que
remete para os juros legais, não é aplicável às obrigações em moeda estrangeira.
Há uma lacuna que, não podendo ser integrada mediante analogia, tem de ser
preenchida pelo intérprete mediante a criação de uma solução “dentro do espírito
do sistema”. De acordo com os princípios que regem a compensação do credor de
obrigação pecuniária, o credor deve ser indemnizado por meio da concessão de
juros. Com as taxas de depreciação das moedas em causa são as mais variáveis, tem
de se remeter para o órgão de aplicação a fixação da taxa no caso concreto131.
Ora, o art. 79º, da CNUDCI, dos princípios do UNIDROIT constitui uma boa
base para a formulação desta regra uniforme. O nº 2, do art. 79, da CNUDCI
estabelece o que a “taxa de juros é a taxa media bancaria de empréstimos de curto
prazo a clientes preferências que vigora para a moeda do pagamento do contrato no
lugar em que o pagamento deve ser efectuado ou, caso essa taxa não exista nesse
lugar, esta mesma taxa no Estado da moeda de pagamento. Na falta dessa taxa num
outro lugar destes lugar, a taxa de juro é a taxa adequada de juro fixada pela lei do
Estado da moeda de pagamento”133.
131 Ibidem.
132 Ibidem.
133Cfr. LIMA PINHEIRO – Direito Comercial Internacional, Almedina editora 2005, p. 315.
134 Ibidem.
101
Manual de Direito do Comércio Internacional Francisco Mário
9.2.8.2. Transferência da Propriedade e Passagem do R isco
A lei reguladora dos direitos reais é, regra geral, a da situação da coisa (art.
46º, nº 1, do CC).
135 Ibidem.
136 Cfr. LIMA PINHEIRO – Direito Comercial Internacional, Almedina editora 2005, p. 316.
137 Ibidem.
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Manual de Direito do Comércio Internacional Francisco Mário
A grande maioria das vendas internacionais de mercadorias implica um
transporte da mercadoria. Na maior parte dos casos o vendedor obriga-se a entregar
a mercadoria ao transportador (venda com expedição simples) ou vende
mercadoria em curso de transporte (venda de mercadoria em trânsito). As
principais regras convencionais sobre transferência do risco constam por isso do
art. 67º e 68º, da CNUDCI, que se reportam, respectivamente, à venda com expedição
simples e à venda de mercadoria em trânsito. As regras do art. 69.º aplicáveis aos
casos em que comprador deve receber a mercadoria no estabelecimento do
vendedor ou noutro lugar (designadamente no lugar do destino) são mais regras
residuais que verdadeiras regras gerais138.
Nos termos da primeira parte do art. 67º, nº 1, da CNUDCI, deve entender-se que o
risco só se transfere quando a mercadoria é entregue a um transportador
independente do vendedor, de um lado por outro, o n º 2, do art. 67º, da CNUDCI,
ressalva que o risco não se transfere para o comprador enquanto a mercadoria não
for claramente identificada para efeitos do contrato, pela aposição de um sinal
distintivo na mercadoria, pelos documentos de transporte, por um aviso dado ao
comprador, ou por qualquer outro meio140.
A lei angolana reporta-se à venda com expedição simples no art. 797º, do CC,
quando se refere à venda em que o vendedor deve enviar a coisa para local diferente
do lugar de cumprimento. Neste caso, a transferência do risco opera-se com a
entrega do transportador ou expedir da coisa ou à pessoa indicada para a execução
do envio (art. 797º, do CC).
Com efeito, tanto o art. 67º, da Convenção como art. 797º, do CC excluem a
hipótese em que o contrato de venda envolve um transporte da mercadoria e em
que o vendedor se obriga a entregar a mercadoria no lugar de destino (venda com
138 Ibidem.
139 Ibidem.
140 Apud. LIMA PINHEIRO – Direito Comercial Internacional, Almedina editora 2005, p. 317
103
Manual de Direito do Comércio Internacional Francisco Mário
expedição qualificada). Esta hipótese fica sujeita à regra residual do art. 69.º da
Convenção.
Por seu turno, na venda de coisa indeterminada, da regra geral do art. 796º,
do CC, conjugada com o art. 408º, nº 2, do CC, resulta que o risco se transfere quando
a coisa for determinada com conhecimento de ambas as partes, sem prejuízo do
disposto da matéria de obrigações genéricas (no art. 541º, do CC)141.
Porém, na venda com expedição simples – como é o caso das vendas CFR e
CIF (com excepção das que tenham objecto das coisas em viagem) – a
individualização verifica-se “com a entrega ao transportador ou expedidor da coisa
ou à pessoa indicada para a execução do envio” (art. 797º, CC, ex vi art. 541º, do CC).
Agora, se o transportador ou expedidor puder ser considerado, para este feito, como
representante do comprador, há uma coincidência entre o momento da
individualização e a entrega ao comprador (e, obviamente, o conhecimento da
individualização pelo comprador).
141 Ibidem.
142 Cfr. LIMA PINHEIRO – Direito Comercial Internacional, Almedina editora 2005, p. 319-320.
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Manual de Direito do Comércio Internacional Francisco Mário
momento da conclusão do contrato. Contudo, se as circunstâncias assim o
indicarem, o risco fica a cargo do comprador a partir do momento em que a
mercadoria for entregue ao transportador que emitiu os documentos que constam
o contrato de transporte.
Pelo andar das coisas tudo indica que o art. 68º, da CNUDCI, também se aplica
só quando o vendedor não tem a obrigação de entregar a mercadoria no lugar do
destino. O mesmo se diga do art. 938º, do CC, que se reporta à venda de mercadoria
em trânsito que seja uma venda sobre documentos (o que é a regra com respeito à
venda de mercadoria em trânsito) e em que figure, entre os documentos entregues,
a apólice de seguro contra os riscos do transporte144.
105
Manual de Direito do Comércio Internacional Francisco Mário
Porém, o disposto na al. c) do nº 1, do art. 938º, do CC, estabelece que o risco
fica seguro a cargo do comprador desde a data da compra. Este preceito só parece
ter sentido útil nos casos em que o vendedor já sabia, ao tempo do contrato, que a
coisa estava perdida ou deteriorada (art. 938º, nº 2, do CC).
No entanto, foi atrás assinalado que as regras do art. 69º, da CNUDCI, são
mais regras residuais que verdadeiras regras gerais. Vejamos em que consistem
estas regras:
106
Manual de Direito do Comércio Internacional Francisco Mário
9.2.8.2. Suspensão e violação Antecipada do Contrato
Assim, o art. 71º, nº 1, da CNUDCI, determina que uma parte pode suspender
execução das suas obrigações quando tornar claro, depois da celebração do
contrato, que a outra não executará uma parte essencial das suas obrigações, em
resultado de:
No caso de uma das partes declarar que não executará o contrato deve
entender-se que a outra parte pode suspender a execução à face do art. 71º, da
CNUDCI. O mesmo se deve entender perante o Direito angolano.
146 Cfr. LIMA PINHEIRO – Direito Comercial Internacional, Almedina editora 2005, p. 322.
147 Cfr. LIMA PINHEIRO – Direito Comercial Internacional, Almedina editora 2005, p. 322
107
Manual de Direito do Comércio Internacional Francisco Mário
A faculdade de oposição à entrega da mercadoria já expedida, prevista na
Convenção, suscita questões muito complexa que não é possível examinar nesta
sede. Creio que o preceito não visa, ou pelo menos não visa apenas, as vendas com
expedição qualificava em que o transportador é auxiliar de cumprimento do
vendedor, pois neste caso o preceito seria desnecessário. O dever de notificar a
suspensão do cumprimento à outra parte não consta expressamente do art. 429º, do
CC, mas deve entender-se que ele decorre do princípio da boa-fé148.
148 Ibidem.
149 Ibidem.
150 Apud. LIMA PINHEIRO – Direito Comercial Internacional, Almedina editora 2005, p. 324.
151 Diz-se “frete” o preço do transporte, ou seja a contraprestação a pagar ao transportador pelo
transporte. Segundo o acordado, será pago à partida, pelo expedidor, ou no destino, pelo destinatário
da mercadoria, devendo este fazê-lo contra a entrega desta, vide AAV, ALFREDO PROENÇA ESPANHA
PROENÇA, – Transporte de Mercadorias, Almedina 2004 p. 16.
152 Cfr. LIMA PINHEIRO – Direito Comercial Internacional, Almedina editora 2005, p. 37 - 39.
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-Transporte Aéreo Internacional – Convenção de Varsóvia de 12 de Outubro de 1929
e a Convenção de Montreal de 1999;
Por seu turno o JOSÉ ENGRÁCIA ANTUNES define o contrato de transporte como
sendo um contrato pelo qual umas das partes (transportador) se obriga perante a
outra (passageiro ou carregador), mediante a retribuição, a deslocar determinadas
pessoas ou coisas e a colocar aquelas ou entregar estas pontualmente, ao próprio ou
terceiro (destinatário), no local de destino153.
153 Cfr. JOSÉ ENGRÁCIA ANTUNES, - Direito dos Contratos Comerciais, Almedina, 2009, p. 725.
109
Manual de Direito do Comércio Internacional Francisco Mário
Mas entende-se que o destinatário passa ser parte do contrato a partir do momento
em que a ele adere pela posse do título que lhe permite reclamar a mercadoria do
transportador, a que acresce o direito a eventual indeminização por perdas e danos.
Parte na fase executiva, como diz GARRIGUES154. Por isso, o contrato de transporte
é visto como uma figura contratual triangular, em que os direitos e obrigações
podem estar repartidos pelo expedidor, transportador e destinatário, ou seja, uma
relação triangular, que justificará a necessidade de explicar a posição d terceiro –
destinatário.
Contrato e suas condições poderá provar-se pela guia de transporte, a carta de porte,
conforme o Estado em que é emitida.
A lei comercial angolana refere-se ao valor jurídico da guia de transporte (art. 373º,
do C.Com.), pois será a luz desta instrumento jurídico de natureza comercial que se
decidirão todas as questões relativas ao transporte, não sendo contra ela
admissíveis excepções , salvo em caso de falsidade ou de erro involuntário de
redação.
154 Apud. AAV, ALFREDO PROENÇA ESPANHA PROENÇA, – Transporte de Mercadorias, Almedina
2004 p. 15.
155 Cfr. AVV. CARLOS LACERDA BARATA. – Contratos de Transporte Terrestre Formação e Conclusão.
110
Manual de Direito do Comércio Internacional Francisco Mário
O Contrato de Transporte de mercadorias é aquele pelo qual uma das partes se
obriga, perante a outra, a fazer a transferência material de uma coisa de um local
para outro, mediante retribuição.
São nulas as cláusulas que contrariem disposições legais imperativas, tais como as
que visem excluir ou reduzir a responsabilidade legal do transportador ou inverter
o ónus da prova.
111
Manual de Direito do Comércio Internacional Francisco Mário
o preço ajustado, à transferência (déplacement) de uma dada mercadoria de um local
para outro e a sua entrega ao destinatário nomeado. Porém, se o ponto de partida e
o de chegada se situam em países diferentes, o transporte diz-se internacional
rodoviário.
112
Manual de Direito do Comércio Internacional Francisco Mário
2.10.3. A Declaração de Expedição (CMR).
A declaração de expedição é vulgarmente conhecida por CMR. Deve ser
emitida em três originais, todos eles assinados pelo expedidor e pelo transportador.
O exemplar 1 destina-se ao expedidor; o 2 acompanha a mercadoria e será entregue
com ela ao destinatário; o 3 ficará em poder do transportador (art. 5º, 1). Ao receber
a mercadoria, o destinatário assina o exemplar 2 e nele inscreverá as reservas que
tiver por bem. Por decalque, a assinatura e as reservas ficarão a constar do exemplar
113
Manual de Direito do Comércio Internacional Francisco Mário
da mercadoria à descarga, quer para a sua apresentação nas estâncias aduaneiras.
Por isso, ela deverá ser o mais exacta possível158.
114
Manual de Direito do Comércio Internacional Francisco Mário
transporte da mercadoria (art. 22º, nº1), sob pena de ficarem expostos às sanções
estabelecidas no nº 2, adiante referidas. O expedidor deve ser rigoroso na
identificação de mercadorias cuja circulação esteja interdita ou condicionada.
159 La posición jurídica del remitente dentro del contrato de transporte está totalmente desligada del
título jurídico que le permite disponer de la casa. AAV, ALFREDO PROENÇA ESPANHA PROENÇA, –
Transporte de Mercadorias, Almedina 2004, GARRIGUES, p. 207.
160 AAV, ALFREDO PROENÇA ESPANHA PROENÇA, – Transporte de Mercadorias, Almedina 2004 p.90
e 92.
115
Manual de Direito do Comércio Internacional Francisco Mário
2.10.7. Direito à Disposição da Mercadoria
Consiste este direito no poder de dispor da mercadoria depois de entregue ao
transportador mas antes de por este entregue ao destinatário, fazendo-a retornar
ao ponto de partida, mandando-a descarregar em ponto diferente do previsto no
CMR ou fazer a sua entrega a outro destinatário. Esse poder cabe ao expedidor,
enquanto não passar ao destinatário. Pertencerá desde o início ao destinatário se
ele lhe tiver sido logo atribuído pelo expedidor por declaração no CMR (art. 12º, nº
3).
Portanto, as novas instruções não podem ter por fim a divisão da carga e por
via disso, não podendo o transportador dar execução às instruções recebidas, disso
deve avisar imediatamente a pessoas que lhas transmitiu.
161Cette modification du contrat est considérée como acceptée à l’avance par le transporteur sous la
condition du paiement du prix qui sera évidemment modifié . Apud. AAV, ALFREDO PROENÇA
ESPANHA PROENÇA, – Transporte de Mercadorias, Almedina 2004,RIPERT, p. 556.
116
Manual de Direito do Comércio Internacional Francisco Mário
Do mesmo modo, tem o direito e deve inscrever no CMR reservas
fundamentadas sobre o estado aparente da mercadoria e da embalagem, as quais
devem ser aceites expressamente pelo expedidor, por ex. rubricando-as. Mas terá de
presumir-se que as aceitou ao aceitar e ao assinar sem reservas e exemplar da
declaração e expedição com essas reservas (art. 9º).
2.10.9. O Check-list
162 Cfr. AAV, ALFREDO PROENÇA ESPANHA PROENÇA, – Transporte de Mercadorias, Almedina 2004
p. 92 e 95.
117
Manual de Direito do Comércio Internacional Francisco Mário
estado da mercadoria e da embalagem, o veículo utilizado, as quantidades, marcas,
número de volumes, condições de carga e descarga, estiva e manutenção, são
traduzidas através de números, que vão de 1 a 18 do CMR o número ou números
correspondentes à situação ou situações concretas e acrescentar Check-list CMR
(Modelo IRU). Só assim, diz-se, essas anotações serão vinculativas.
Que saibamos, este formulário ainda não teve consagração legal. Por outro
lado, nos temos do art. 8º, 2, parte final, da convenção CMR, as reservas devem ser
movidas e só vinculam o expedidor se expressamente aceites por este no CMR. Nada
garante que o expedidor conheça o CHECK LIST e o significado de cada um dos seus
itens. Não parece, pois, que os simples números apostos pelo motorista no CMR
valham como reservas para efeitos das Convenção, nomeadamente se o expedidor
não as confirmou expressamente através da sua assinatura.
118
Manual de Direito do Comércio Internacional Francisco Mário
perante os seus clientes a obrigação do transporte de mercadorias, tornando-se,
assim, parte de contrato de transporte163.
163 O acórdão do S.T.J., no Proc. nº 2370/03.7, No mesmo sentido, os Ac. S. de 14.1.93, ASTJ.I. 1-44;
17.11.94, no BMJ 441-333; de 20.5.97, in ASTJ V.2.84.
164 Apud. AAV, ALFREDO PROENÇA ESPANHA PROENÇA, – Transporte de Mercadorias, Almedina
2004 p. 96 à 102.
165 Col.Jur.XXVI.II.102). No mesmo sentido PIRES DE LIMA E ANTUNES VARELA, no Cod. Civil. Anot.,
II, p. 704.
166 Cfr. AAV, ALFREDO PROENÇA ESPANHA PROENÇA, – Transporte de Mercadorias, Almedina 2004
p. 96 à 102.
119
Manual de Direito do Comércio Internacional Francisco Mário
Serviços de Transitários é definida como a actividade que consiste na organização e
controlo das operações de transporte em nome dos carregadores, através da
contratação de serviços conexos, preparação da documentação, e fornecimento de
informações comerciais.
120
Manual de Direito do Comércio Internacional Francisco Mário
transmitir ao transportador e de fazer inserir no CMR (ou outro título) as condições
em que deverá fazer-se a entrega da mercadoria ao destinatário e demais instruções
que tiver recebido do exportador, sob pena de poder vir a ser responsabilizado pelos
prejuízos decorrentes dessa omissão168.
Com efeito, ele será responsável pelos actos e omissões das pessoas de quem
se serviu para a execução da obrigação contratual assumida. Aliás, os transitários
costumam estabelecer relações comerciais duradouras ente si, operando
reciprocamente nas áreas em que ambos actuam como
mandante/correspondente/mandante. Assim, o transitário é responsável pelos
prejuízos decorrentes da entrega à transportadora da mercadoria vendida segundo
a cláusula FOB, se não cobrou o preço em conformidade com a cláusula COD
constante do FCR por ele emitido com efeito, na venda FOB, a entrega da mercadoria
ao destinatário opera-se pela sua entrega ao transportador por si contratado para o
transporte169.
168 Cfr. AAV, ALFREDO PROENÇA ESPANHA PROENÇA, – Transporte de Mercadorias, Almedina 2004
p. 96 à 102.
121
Manual de Direito do Comércio Internacional Francisco Mário
para o fim nele especificado; o FCT (Forwarders Certificat of Transport) pelo qual o
transitário certifica ter recebido a remessa nele especificado para expedição e
entrega ao destinatário nele identificado. É um título de transporte negociável; o
FBL (Combined Transport Bill of Lading) pelo qual o transitário se incumbe e
responsabiliza pela totalidade de um transporte multimodal, ainda que acabe por
fazer-se apenas num só meio de transporte. É título negociável; o SDT (Shippers
Declartion dor the Transport of Dangerous Goods), documento destinado no seu
verso listas de produtos perigosos segundo o meio de transporte a utilizar –
classificação ADR para o CMR170.
170 Cfr. AAV, ALFREDO PROENÇA ESPANHA PROENÇA, – Transporte de Mercadorias, Almedina 2004
p. 96 à 102.
171 Desenvolvendo-se nos seguintes domínios de intervenção: Gestão dos fluxos de bens ou
122
Manual de Direito do Comércio Internacional Francisco Mário
Destarte, a figura do contrato desenhado na definição tem natureza mista, pois
envolve neste amplo alguns elementos de organização, de mediação, de agência e de
prestação de serviço.
123
Manual de Direito do Comércio Internacional Francisco Mário
Seja como for, neste exame existem opiniões que afastam o regime previsto
no art. 443º, do CC, mas notas a considerar, devemos concluir e de acordo os
sintomas naturais que mantem a estrutura da lei civil, propendemos na ideia de que
o transitário é um contrato de prestação de serviços tipo empreitada em regra a
favor de terceiro e dotado de um regime mercantil especializado.
175 Cfr. AAV, ALFREDO PROENÇA ESPANHA PROENÇA, – Transporte de Mercadorias, Almedina 2004
p. 96 à 102.
124
Manual de Direito do Comércio Internacional Francisco Mário
transitário se encarrega de encontrar um transportador e com ele contratar a
deslocação das mercadorias.
125
Manual de Direito do Comércio Internacional Francisco Mário
ser entregue juntamente com a mercadoria. O destinatário deve verificar
contraditoriamente com o transportador o estado da mercadoria e anotar na
declaração da expedição ou no recibo que der as reservas sobre a natureza geral da
perda ou avaria (art. 30º, 1).
Se o destinatário não tiver feito essa verificação ou não tiver anotado reservas
sobre a natureza geral da perda ou avaria, presumir-se-á, até prova em contrário,
que a mercadoria foi recebida no estado descrito na declaração de expedição (art.
30º, 1).
176 Apud. AAV, ALFREDO PROENÇA ESPANHA PROENÇA. Ob. Cit. P.96 -102.
177 Cfr. AAV, ALFREDO PROENÇA ESPANHA PROENÇA, – Transporte de Mercadorias, Almedina 2004
p. 104 e 105.
126
Manual de Direito do Comércio Internacional Francisco Mário
Por essa via, o expedidor/vendedor pretende garantir o pagamento das
mercadorias vendidas. As partes geralmente convencionam essas condições de
entrega através das siglas CAD ou COD. Porém, o CAD (Cash Against Documents)
significa que foi convencionado entre o exportador e o importador o pagamento da
mercadoria através da apresentação dos documentos comprovativos da expedição
da mercadoria.
178Vide. Ac. da Relação do Porto, de 27.11.95, in Col. Jur. XX.V.2010; ac. do S.T.J., de 23.3.93, in CJ/ASTJ
I.II.16).
127
Manual de Direito do Comércio Internacional Francisco Mário
A entrega da mercadoria com desrespeito das instruções recebidas do
expedidor para entrega constitui o transportador em responsabilidades, por
incumprimento do contrato de transporte, nos termos gerais ou do art. 21.º referido
quanto à obrigação do reembolso. A obrigação do transportador tem como o limite
o montante reembolso que ele devia ter recebido do destinatário, não se lhe
aplicando o disposto no art. 23º, da Convenção179.
179(ac. da Relação do Porto, de 5.03.91, in Col. Jur. XVI.II.233. Importa referir que, a prepósito do art.
21.º, da Convenção que há erro de tradução na versão portuguesa, ao escrever-se “salvo se proceder
contra o destinatário” em vez de “sem prejuízo da sua acção contra o destinatário” (without prejudice
to his right of action against the consigner”. Acção do expedidor, que não do transportador (cf. ac. da
relação do Porto, de 4.5.92, in Col. Jur. XVII.III.277). veja a jurisprudência portuguesa: Ao vender as
mercadorias à (…) a autora apôs a esse contrato a cláusula C.A.D (Cash against documents) o que
significa o pagamento contra a apresentação dos documentos. A mesma autora procedeu ao desconto
da remessa documentária (os originais das facturas e dos títulos de transporte) no Banco (…) e, por
sua vez, este enviou esses documentos para o Banco correspondente (…), por seu lado, a autora
recomendara expressamente à ré que esta só entregaria a mercadoria (…) contra a apresentação por
esta dos referidos originais da facturas e dos títulos de transporte (os C.M.R.) (…) essa cláusula está
implicitamente inserta no contrato de transporte internacional rodoviário, pois, estabelecendo o art.
21.º da referida Convenção a obrigação do transportador só entregar as mercadorias contra o seu
pagamento (…), se assim não fosse ficaria frustrada a inclusão daquela cláusula C.A.D. – lê-se no ac.
de 3.3.93 do Supremo Tribunal de Justiça, in Col. Jur./ASTJ, I-II, p 18.
180Cfr. AAV, ALFREDO PROENÇA ESPANHA PROENÇA, – Transporte de Mercadorias, Almedina 2004
p.105 - 08 . Vide também o Ac. da Relação do Porto, in Col. Jur. XX.III.208). Var, a propósito, a rubrica
meios de pagamentos.
128
Manual de Direito do Comércio Internacional Francisco Mário
e por ele entregues aos seus destinatários. É óbvio que o transporte será contratado
pelo transitário.
O cheque traduz uma ordem dirigida ao Banco para que pague ao seu portador
a quantia nela mencionada. A menos que se trate de cheque visado, com retenção de
fundos, o cheque não garante só por si o pagamento. Para tanto, necessário é que o
sacador tenha provisão na sua conta bancária no momento da apresentação a
pagamento. E pode haver a surpresa de uma contra-ordem ao banco.
129
Manual de Direito do Comércio Internacional Francisco Mário
Com efeito, o art. 13º, 1, da Convenção CMR estabelece que, no caso de perda
da mercadoria ou depois de expirado o prazo a sua entrega, o destinatário fica
autorizado a fazer valer em seu próprio nome, para com o transportador, os direitos
que resultam do contrato de transporte. Portanto também o direito à indemnização.
como o da mesma Relação no Proc. 24.135 da 1ª Secção ( ao que supomos inédito), segundo o qual
“ser-se tão somente destinatário, nos termos da Convenção CMR, despido da veste de dono da
mercadoria, não absorve nem esgota toda a relevância jurídica dessa circunstância provinda.”
130
Manual de Direito do Comércio Internacional Francisco Mário
direito lesado e portanto o credor do direito de indemnização por incumprimento
contratual.
183Cfr. AAV, ALFREDO PROENÇA ESPANHA PROENÇA, – Transporte de Mercadorias, Almedina 2004
p.117 a 119.
131
Manual de Direito do Comércio Internacional Francisco Mário
destinatário, ou a vício próprio da mercadoria ou a circunstâncias insuperáveis na
suas causas ou efeitos.
184 Não é esta a jurisprudência do STJ, que entende que o conceito de perda da mercadoria é
heterogéneo, abrangendo as situações de destruição por acção interna (evaporação e combustão) ou
externa (incêndio, furto), substituição por outra ou entregue em lugar diverso ou falta de entrega
dentro dos 30 dias seguintes ao prazo convencionado, recaindo sobre o credor o dever de mostrar
que essa perda ocorreu (ac. de 11.3.99, in revista 97/99 da 2ª Secção, que remete para o de 3.20.94,
in ASTJ de 1994.III.80; ac. de 17.5.2001, in ASTJ IX.II.91).
185 Mas este princípio vem sendo contestado e já não enforma as Regras de Hamburgo (transportes
marítimo), que certamente por isso, ainda não entraram em vigor por falta das indispensáveis
ratificações. Como salienta Carlos Oliveira Coelho, a verdadeira normativa da Convenção de
Hamburgo consiste na afirmação da responsabilidade plena do transportador com base na ideia de
presunção de culpa da sua parte ou, noutra designação equivalente, responsabilidade de pleno
direito por parte do transportador marítimo (Jurisprudência e Direito Marítimo), p.101.
132
Manual de Direito do Comércio Internacional Francisco Mário
perigoso, porque estimula a fraude e nas mais das vezes o destinatário não tem
qualquer possibilidade de fazer a prova do contrário.
Quer dizer, pois, que esta interpretação deve ser mitigada sob dois aspectos:
Cfr.. Ac. do STJ de 3.05.2001, no Proc. 1142/016; Cfr. Ac. do mesmo STJ de 17.5.1984, in Bol. 337-
186
373.
133
Manual de Direito do Comércio Internacional Francisco Mário
pagamento, contra o pagamento dos créditos resultantes da declaração de
expedição e a restituição da indemnização recebida e pagamento de outras
despesas, mas com reservas do direito à indemnização pela demora na entrega, nos
termos dos arts. 23º e 26º nº 2 a 4, da Convenção187.
Tal como prescreve o nosso Código Civil sobre esta matéria de exclusão da
culpa pela responsabilidade pelo risco (art. 505º, do CC), dispõe o nº 4 do art. 17º,
da Convenção que o transportador não responderá pela perda ou avaria que resultar
dos riscos particulares inerentes a um ou mais factos seguintes:
a) Uso de veículos abertos e não cobertos com encerado, quando este uso foi ajustado
de maneira expressa e mencionada na declaração de expedição.
b) Falta ou defeito de embalagem quando às mercadorias que, pela sua natureza,
estão sujeitas a perdas ou avarias quando não estão embaladas ou são mal
embaladas;
c) Manutenção, carga, arrumação ou descarga da mercadoria pelo expedidor ou pelo
destinatário ou por pessoas que actuem por conta do expedidor ou do destinatário;
Mas essa prova não chega. Terá ainda de estabelecer uma forte probabilidade
de um nexo de causalidade entre o risco invocado e a perda ou avaria, ou seja que,
187Cfr. AAV, ALFREDO PROENÇA ESPANHA PROENÇA, – Transporte de Mercadorias, Almedina 2004
p.119 - 123.
134
Manual de Direito do Comércio Internacional Francisco Mário
ante as circunstâncias do caso concreto, a perda ou avaria podia ter resultado desse
risco. Feita essa dupla prova, presumir-se-á que assim foi, ou seja, que a perda ou
avaria teve por causa o risco invocado. Mas o interessado poderá fazer a prova do
contrário. Importa ainda referir que:
135
Manual de Direito do Comércio Internacional Francisco Mário
Todavia, a indemnização não poderá ultrapassar 8,33 unidades de conta por
quilograma de peso bruto em falta, sendo esse valor convertido na moeda nacional
do Estado onde se situe o tribunal onde pender o litígio com base no valor dessa
moeda na data do julgamento ou na adoptada de comum acordo pelas partes. A
unidade de conta correspondente ao Direito de Saque Especial (D.S.E) instituído
pelo F.M.I., com cotação no Banco Nacional de Angola.
136
Manual de Direito do Comércio Internacional Francisco Mário
tem como limites a que seria devida em caso de perda, total ou parcial, da
mercadoria, nos termos do art. 25º, 2, da Convenção.
O atraso na entrega da mercadoria pode causar danos à mesma (por ex. a sua
deterioração por fermentação), pelos quais o transportador será responsável, nos
termos do art. 25º, nº 5. E importar outros prejuízos para o destinatário, como seja
a de não ter podido dar à mercadoria o uso, ou feita a reparação a que se destinava.
Para que haja lugar a indemnização, terá de haver reservas escritas no prazo
de 21 dias a contar da colocação da mercadoria à disposição do destinatário (art.
30º, 3). Uma Empresa especializada em transportes rápidos internacionais, tendo
assumido o compromisso de entrega de mercadoria em certo prazo, não pode
justificar o atraso invocando dificuldades provenientes do peso ou da inexistência
de entregas ao fim de semana no local do destino191.
137
Manual de Direito do Comércio Internacional Francisco Mário
Pode acontecer que, por circunstância supervenientes, a execução do
transporte se torne impossível. Essa impossibilidade pode ser absoluta ou relativa,
consoante o não possa ser nas condições acordadas no contrato ou noutras ou possa
ser noutras condições. A impossibilidade pode surgir antes ou depois de mercadoria
ter chagado ao seu destino. Essa impossibilidade pode justificar a venda da
mercadoria pelo transportador.
192Vide. Ac. da Relação de Lisboa, de 16.6.92, in Col. Jur., XVII, III. 209 e 211.
193Pode ver-se o Ac. da Relação do Porto, de 04.05.92, in Col. Jur. XVII.III.277 e 279. O ac. do S.T.J. de
23.3.93, in CJ/ASTJ. I.II.16, decidiu que é devida apenas a taxa de 5% nas indemnizações e moeda
estrangeira, mas que, quando em moeda portuguesa, o princípio rebus sic stantibus justifica a
aplicação da taxa em vigor no direito interno no caso kwanza..
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de quem recebe a mercadorias e indicar no 2º exemplar do CMR o seu nome e
morada, anotado neste e no recibo as reservas que competem ao transportador (art.
35º).
Sem prejuízo de, nas relações internas, responder o responsável pelo facto
determinante da indemnização. Se for mais que um, cada um deles responde
proporcionalmente à sua responsabilidade no acontecido ou, não sendo possível
essa avaliação, em função da parte da remuneração do transporte que a cada couber
(art. 37º).
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contra os subcontratado os direitos de indemnização do transportador com quem
contratou o transporte194.
Relativamente aos danos não aparentes, o destinatário dispõe de sete dias, não
incluído os domingos e feriados, para comunicar por escrito ao transportador as
194 Vide. Ac. Relação de Coimbra, de 10.11.92, in Col. Jur. XVII. V. 46). O acórdão anterior veio a ser
revogado pelo do S.T.J. de 21.10.93, em que se decidiu que Em contrato de transporte seguindo de
subcontrato, o primeiro contraente não pode valer-se da acção directa para exigir a responsabilidade
extracontratual ao sub-contraente. Mas já pode agir contra este, ao abrigo do princípio da eficácia
externa das obrigações, desde que se verifiquem todos os pressupostos da responsabilidade civil exigidos
por lei (CJ/ASTJ, I.III.86).
195 Nos termos de sua Directa 92/106/CEE do Conselho, de 7/12, entende-se por transporte
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reservas que tiver por bem. Se o não fizer, presumir-se-á que recebeu a mercadoria
no estado em que foi entregue ao transportador. Porém, o destinatário tem interesse
em verificar contraditoriamente o estado e qualidade da mercadoria recebida
quando houver sinais aparentes de violação das respectivas embalagens (cartões
rotos ou recolados, por ex.), pois que as reservas só por si não serão prova suficiente
das faltas ou avarias constatadas posteriormente.
2.10.28. Prescrição
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da jurisdição a que se recorreu. A acção que prescreveu não mais pode ser exercida,
mesmo sob forma reconvenção ou excepção196.
2.10.30. Caução
Não pode ser imposta caução a nacionais de países contratantes, com domicílio
ou estabelecimento num destes países, para garantir o pagamento das despesas
causadas por acções judiciais originadas pelos transportes sujeitos à Convenção
CMR.
2.10.31. Jurisdição
196Vide No seu Ac. de 10.11.93, o S.T.J. reafirmou ser de prescrição e não de caducidade o prazo
estabelecido no art.32.º da Convenção CMR (CJ/ASTJ I.III.118). Sendo de prescrição, importa ter
presente que ele só se interrompe com a citação do demandado ou decorridos cinco dias sobre a
propositura da acção. O prazo de prescrição no art. 32.º da Convenção CMR refere-se à acção cuja
causa de pedir seja o incumprimento do contrato de transporte e não à acção por falta de pagamento
do preço ou falta de qualidade da mercadoria transportada (ac. da Relação de Lisboa, de 2.06.92, in
Col. Jur. XVII.III.196).
É de 10 meses a prescrição da responsabilidade do transitário
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c) À jurisdição do país onde estiver situado o lugar da aceitação da mercadoria
pelo transportador ou o lugar previsto para a sua entrega.
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decisão se o acto que iniciou a instância ou acto equivalente não tiver sido
comunicado ou notificado ao requerido revel, regularmente e em tempo útil, em
termos de lhe permitir defesa.
Importa, todavia, salientar que, nos termos do seu art. 57º, “A presente
Convenção (de Lugano) não prejudica as Convenções de que os Estados Contratantes
sejam ou venham a ser parte e que, em matérias especiais, regulem a competência
jurídica, o reconhecimento ou a execução de decisões.” Será o caso da Convenção CMR.
3.1. Introdução
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os encargos e despesas a suportar por um e por outro relativamente ao transporte
da mercadoria (COMBITERMS).
Alguns INCOTERMS são tipicamente marítimos (FAS, FOB, CFR, CIF, DES, DEQ);
outros aplicam-se a todo o tipo de transportes (EXW, FCA, CPT, CIP, DDU e DDP). O
DAF é exclusivamente terrestre. São próprios das vendas à partida, os INCOTERMS
EXW, FCA, FAZ, FOB, CFR, CIF, CPT e CIP. São próprios das vendas à chegada os
INCOTERMS DAF, DES, DEQ, DDU e DDP.
Como já foi dito nas vendas à distância, podem figurar-se três situações no que
toca à entrega da mercadoria ao comprador:
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b) Á entrega da mercadoria ao comprador acresce, para o vendedor, a
obrigação acessória de a enviar para o local acordado o vendedor
cumpre a sua obrigação contratando o transporte e expedindo a
mercadoria, para o local do destino (por ex. CIF – Moçâmedes).
As siglas FOB e CIF são típicas do transporte marítimo, mas são por vezes
utilizadas noutros meios de transporte, inclusive no rodoviário, em que em vez de
FOB se escreve FOT (Free On Truck).
Entende-se comummente que nas vendas à partida (FOB, CIF, por ex.), a
propriedade da mercadoria e os riscos do transporte se transferem para o
adquirente/importador no momento da sua entrega ao transportador no local
combinado198.
197 Não é, assim rigorosa a afirmação produzidas no Ac. do STJ de 27.9.2001, no sentido de que Nos
contratos de compra e venda internacional, as regras que determinam a transferência do risco
revestem carácter supletivo, sendo substituídas por fórmulas, com a CIF, através da qual as partes
pretendem que o risco passa do vendedor para o comprador no momento em que as mercadorias
entram no navio (ASTJ IX.III.38).
198 Vide. Ac. STJ; de 28.6.83, in Bol. 328, p. 612; ANTUNES VARELA, in das Obrigações em Geral, I, pp
819 e 824.
146
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Os INCOTERMS vão sendo reajustados às necessidades e complexidades e à
evolução do comércio internacional, pelo que, o seu conteúdo não se mantém
estável, sendo objecto de revisões periódicas. E as partes podem acrescentar-lhes
expressões que modifiquem as suas obrigações. De acordo com as revisões de 1990
e 2000, eles valem com o seguinte conteúdo contratual:
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CIF (+ porto de destino) (Cost, Insurance and Freight) (venda à partida)
(marítimo)
CIP (+ ponto de destino) (Carriage and Insurance Paid to) (venda à partida)
(polivalente).
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pagamento dos direitos e taxas exigíveis à importação, são da responsabilidade do
comprador (INCOTERMS 2000).
199 Cfr. LIGIA MAURA COSTA.- Comércio Exterior – Campus editora Rio de Janeiro 2005, p.214-222.
200 Cfr. AAV, ALFREDO PROENÇA ESPANHA PROENÇA, – Transporte de Mercadorias, Almedina 2004
p. 108 - 117.
149
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Observe-se, entretanto, que as versões 2000 e anteriores continuam valendo, e
podem ser aplicadas desde que haja vontade manifesta das partes envolvidas.
Nos dois novos termos (DAT e DAP) pode ser adoptada qualquer modalidade
de transporte. Pois que, para os termos FOB (Free on Board), CFR (Cost and Freight)
e CIF (Cost, Insurance and Freight) há uma mudança importante dos INCOTERMS
2000 para os INCOTERMS 2010: a entrega da mercadoria deixa de ser na amurada
do navio para ser a bordo do navio, o que evita erros de interpretação das regras.
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Custos de exportação; despachante aduaneiro, taxas
portuárias/aeroportuárias, fumigação, transporte interno ;
201
Seguro Internacional.
201
Retira contentor, ovação, retomas ao terminal, armazém de terceiros.
151
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O exportador deve entregar a mercadoria, desembaraçada, a bordo do navio
indicado pelo importador, no porto de embarque. Esta modalidade é válida para o
transporte marítimo ou hidroviário interior. Todas as despesas, até o momento em
que o produto é colocado a bordo do veículo transportador, são da responsabilidade
do exportador. Ao importador cabem as despesas e os riscos de perda ou dano do
produto a partir do momento que este transpuser a amurada do navio. Seguro
Facultativo.
Como o CFR, esta condição estipula que o exportador deverá pagar as despesas
de embarque da mercadoria e seu frete internacional até o local de destino
designado. Dessa forma, o risco de perda ou dano dos bens, assim como quaisquer
aumentos de custos são transferidos do exportador para o importador, quando as
mercadorias forem entregues à custódia do transportador. Este INCOTERM pode ser
utilizado com relação a qualquer meio de transporte.
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DDP - Entregue com direitos pagos (local de destino designado).
153
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202 Cfr. CARLOS COSTA PINA - Créditos Documentários, Coimbra Editora, 2000,p. 15 - 20
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das transacções e de articulação financeira entre as partes não apresentavam a
mesma acuidade.
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Manual de Direito do Comércio Internacional Francisco Mário
deverá solicitar a uma instituição bancária a abertura de um crédito a favor do
vendedor, a satisfazer mediante a apresentação de determinados documentos, que
expressamente indicará, que comprovem a expedição da mercadoria adquirida. O
banco, por sua vez, informará o vendedor da abertura do crédito efectuada e dos
documentos exigidos para proceder ao pagamento do respectivo montante203.
203 Cfr. CARLOS COSTA PINA - Créditos Documentários, Coimbra Editora, 2000, p. 15 - 20
204 Cfr. CARLOS COSTA PINA - Créditos Documentários, Coimbra Editora, 2000, p. 15 - 20
156
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A função de financiamento apontada também ao crédito documentário
prende-se, no respeita ao comprador, com o que vimos de afirmar, na medida em
que funciona, na sua perspectiva, como uma pagamento adiantado do preço,
realizado por outrem, que o liberará face ao vendedor.
Um crédito irrevogável significa, pois, que o mesmo não pode ser objecto de
nenhum acto jurídico que, unilateralmente, faça cessar os seus efeitos ou alterar o
seu conteúdo. Em vincula, quer o banco que emitiu o crédito, quer o banco que tenha
confirmado.
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banco emitente ou o banco confirmador vinculados as propostas de alteração que
emitem, sempre caberá ao beneficiário a ultima palavra no sentido da manutenção
ou da alteração do crédito documentário, através da aceitação pura e simples da
perspectiva proposta (art. 9º, al. d) iv da RUU).
Quanto aos créditos revogáveis, estabelece o art. 8º, al. a), da RUU que os
mesmos podem ser alterados ou cancelados “pelo banco emitente, qualquer
momento, e sem necessidade de aviso prévio ao beneficiário”. No entanto, se o
beneficiário já tiver utilizado o crédito através de um outro banco, terá o banco
emitente de o reembolsar por quaisquer pagamentos efectuados ou a efectuar por
aquele (art. 8º, al. b i) e ii), da RUU).
Este terceiro lugar, coloca-se a questão de saber até que momento é possível
a revogação, sendo certo que a expressão “em qualquer momento”, não pode ser
tomada à letra. Se a obrigação de reembolso, que acima referimos, parece ser uma
consequência da revogação, o que é certo, é que tal obrigação se verificaria mesmo
se, em circunstanciais normais, os documentos fossem apresentados ao banco
emitente, pelo que poderemos concluir que o momento decisivo que define a
possibilidade de apresentação dos documentos, desde que anterior, obviamente,
para sua utilização.
206 Cfr. CARLOS COSTA PINA - Créditos Documentários, Coimbra Editora, 2000,p. 15 - 20
158
Manual de Direito do Comércio Internacional Francisco Mário
4.2.2. Créditos confirmados e não confirmados (meramente
notificados)
159
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Nos créditos utilizáveis por aceite pode ainda distinguir-se entre aceite
principal e o aceite subsidiário efectuados pelos bancos, emitente ou confirmador,
que tenham assumido um compromisso. No primeiro caso o banco compromete-se
a aceitar, a título principal, aos saques caracteriza-se por este se realizar apenas no
caso de falta de aceite por um outro banco (art. 9º, al. a iii) e b iii), da RUU).
Nos créditos utilizáveis por negociação, o banco obriga-se (arts. 9º , al. a) iv)
e 10º, al. b), da RUU) a pagar os documentos apresentados ou os saques sacados pelo
beneficiário mas, neste caso, “sem recurso aos sacadores e/ou portadores de boa fé”.
Resulta do que temos vindo expor, v.g. da referência à utilização dos créditos
documentários por aceite ou por negociação, que os mesmos podem compreender
no seu seio outros títulos de crédito, como é o caso da letra, o que poderá levantar
diversos problemas de articulação do regime do crédito documentário com o regime
da circulação cartular. Basta pensar, por exemplo, na hipótese em que um banco,
após ter aceite um saque, inserido no crédito documentário, que deverá pegar no
vencimento, veja depois o mesmo ser-lhe apresentado por outrem que
legitimamente o detenha, por via de um endosso regular do sacador (beneficiário no
crédito documentário), ou já doutro endossado. Daí que possa levantar-se a questão
de saber se o banco deverá, neste caso, pagar o respectivo saque, mesmo que o seu
portador não apresente documentos que porventura devessem ser apresentados
após o aceite, ou na data do vencimento207.
207 Cfr. CARLOS COSTA PINA - Créditos Documentários, Coimbra Editora, 2000,p. 15 - 20
160
Manual de Direito do Comércio Internacional Francisco Mário
através dos quais o crédito pode ser utilizado (bancos designados), perante qual
deles o será efectivamente.
208 Cfr. CARLOS COSTA PINA - Créditos Documentários, Coimbra Editora, 2000,p. 15 - 20
209 Ob. Cit. p.15 e ss.
161
Manual de Direito do Comércio Internacional Francisco Mário
causa a realização da função de financiamento em favor do credor do contrato base.
Por esta via, um vendedor num contrato de compra e venda, que para proceder à
exportação da mercadoria vendida tenha, previamente, de a adquirir ao seu
fornecedor, pode, na falta de um suporte financeiro específico para esta aquisição,
transferir o seu crédito sobre o comprador para o seu fornecedor, eventualmente
por um valor inferior, reduzindo assim as sucessivas operações de pagamento às
várias partes através da sua integração no funcionamento do esquema único do
crédito documentário.
A transferência expressa;
A transferência única; e,
A transferência limitada ao crédito original.
Quanto à primeira, a mesma justifica-se em função da necessidade da sua
clara qualificação como tal, através da utilização do termo “transferível”, sob pena
de a transferência não ser possível (art. 48º al. b), da RUU ). Contudo, a expressa
previsão da transferibilidade tem, ainda assim, um valor meramente relativo, dado
que não se poderá falar propriamente de um direito do beneficiário de
transferibilidade, mas apenas de uma faculdade de solicitar, cabendo depois ao
banco que realizará a transferência decidir da sua efectivação (art. 48º, als. a) e c),
da RUU)210.
210 Cfr. CARLOS COSTA PINA - Créditos Documentários, Coimbra Editora, 2000, p. 15 - 20
162
Manual de Direito do Comércio Internacional Francisco Mário
A transferência única pode analisar-se, assim, em duas dimensões. Numa
dimensão subjectiva ao impedir a transferência do segundo para o terceiro
beneficiário, e numa dimensão objectiva ao consolidar numa única transferência as
várias transferências parciais.
Por fim, caberá ainda salientar que, como de resto já resulta do que temos
vindo a dizer, sendo a transferência um instrumento inserido na própria lógica do
crédito documentário, estando ainda em causa a sua utilização, não se impede,
portanto, uma comum cessão obrigacional, que poderá ser feita mesmo na
impossibilidade da transferência documentaria. Tratar-se-á então daquilo a que, na
terminologia das Regras Usos Uniforme, se denomina de “cessão do produto do
crédito” (art. 49º, da RUU)211
163
Manual de Direito do Comércio Internacional Francisco Mário
Mas se a situação a que nos referimos inicialmente corresponde às situações
normais ou de complexidade mínima, deve dizer-se que, na sua estruturação, a
utilização do crédito documentário pode tornar-se mais sofisticada, aparecendo,
para além do ordenador, do banco emitente e do beneficiário, também um banco
notificador, que apenas informa o beneficiário a abertura de um crédito
documentário sem se vincular perante este ao pagamento do valor do crédito, ou
um banco confirmador, que assume um compromisso idêntico ao do banco emitente
de um crédito documentário irrevogável.
O banco designado é, nos termos do art. 10º, al. b), da RUU, um banco perante
qual o crédito (art. 10º, al. a) da RUU) de que se trate. Assim, tanto pode estar em
causa o banco emitente, o banco confirmador (na medida que assumem ambos um
compromisso), ou outro banco que esteja identificado no crédito documentário
mesmo que dai não resulte qualquer vinculação da sua parte.
O banco reembolsar é, nos termos do art. 19º, das RUU aquele perante o qual
um outro banco que tenha satisfeito o crédito documentário pode exigir o
pagamento dos valores previamente entregues ao seu beneficiário. Trata-se, pois,
de um mecanismo que permite ao banco emitente conferir um carácter subsidiário
à sua obrigação de pagamento ao banco designado aquando da entrega por este dos
documentos relevantes. No entanto, atreves da indicação de um banco
reembolsador, o banco emitente não deixa se exonera da sua obrigação, podendo o
banco designado exercer o seu direito de regresso contra ele, caso se verifique o não
pagamento por parte do banco reembolsar212.
Qualquer modo, ao longo dos anos essa matéria foi abordado em sede público
atento a qualidade de agentes económicos que intervinham no processo e bem como
o modelo de contrato que não se compaginava com o figurino dos contratos
212 Cfr. CARLOS COSTA PINA - Créditos Documentários, Coimbra Editora, 2000, p. 15 – 20.
164
Manual de Direito do Comércio Internacional Francisco Mário
internacionais do direito privado. Daí ser sido apelidado de investimento
estrangeiro213.
213
Cfr. Lei nº 15/94, de 23 de Setembro, Lei do Investimento Estrangeiro.
214
Cfr. LINO DIAMVUTU. – Estudo do Direito Comercial Internacional, Caxinde 2008 p. 26.
165
Manual de Direito do Comércio Internacional Francisco Mário
(reciprocidade das obrigações)215. Pois que o contrato investimento é celebrado
entre o investidor e o estado angolano, no caso, AGÊNCIA DE INVESTIMENTO
PRIVADO E PROMOÇÃO DAS EXPORTAÇÕES (AIPEX).
215
Ob. Cit. p. 27.
166
Manual de Direito do Comércio Internacional Francisco Mário
Na indústria académica tem havido alguma confusão dos dois institutos, -
Compromisso Arbitral e Cláusula Compromissória que precisam ser alinhados para
sua compreensão.
Pelo que, dia 25 de Junho de 2021, foi aprovado pela Assembleia Nacional da
República de Angola o projecto da Resolução que aprova para adesão da República
de Angola à Convenção para a Resolução de Diferendos Relativos a Investimentos
entre Estados e Nacionais de outros Estados (CIRDI).
216
Mas desenvolvimento vide LINO DIAMVUTU. – Estudo do Direito Comercial Internacional, Caxinde
2008 p. 33 e ss. DÁRIO MOURA VICENTE – Direito Aplicável aos Contratos Públicos Internacionais, In
Estudos em homenagem ao Professor Doutor Marcello Caetano- Vol. I, Coimbra editora 2006, p. 303
217
CIRDI – O Centro Internacional para Resolução de Controvérsias sobre Investimentos, também
conhecido para a Resolução de Diferendos relativos a Investimentos.
218
LINO DIAMVUTU. – Estudo do Direito Comercial Internacional, Caxinde 2008 p. 50.
167
Manual de Direito do Comércio Internacional Francisco Mário
Entretanto, com este passo a ser dado agora, a República de Angola vem
consolidar o recurso à arbitragem como meio de resolução extrajudicial de
diferendos relativos a investimentos. É sabido que o mecanismo do CIRDI é
concebido à partida para disputas em matéria de investimentos internacionais entre
Estados e investidores estrangeiros. Daí a sua diferenciação com as arbitragens “ad
hoc” ou com as arbitragens conduzidas por outras instituições arbitrais privadas. A
especialização é a garantia da celeridade, gera uma expectativa de “expertise” na
condução dos casos, e consequentemente na resolução adequada e efectiva dos
diferendos. As decisões arbitrais proferidas em arbitragens envolvendo Estados
membros são exequíveis sem necessidade de qualquer reconhecimento pelos
Tribunais desses Estados. O reconhecimento das referidas decisões é automático em
qualquer dos Estados signatários da Convenção. Deste ponto de vista, a Convenção
constitui um passo em frente no sentido da integração económica do país aderente.
Aguarda-se agora pelo depósito do instrumento de adesão da República de Angola à
Convenção CIRDI junto do Banco Mundial. Refira-se que a República de Angola já
ratificou, em 2017, a Convenção de Nova Iorque sobre o Reconhecimento e a
Execução de Sentenças Arbitrais Estrangeiras de 1958219.
219
Cfr. LINO DIAMVUTU.
168
Manual de Direito do Comércio Internacional Francisco Mário
litígio. É um processo rápido (deve ser resolvido o litígio no prazo
determinado pelas partes).
Ad Hoc.
Institucional.
Mesmo que a arbitragem seja institucional, esta é muito mas barata do que a
arbitragem, ad hoc, visto que, as partes terás que arcar com todas as despesas
(quanto aos árbitros, os processos).
169
Manual de Direito do Comércio Internacional Francisco Mário
Quando uma das partes sentem-se lesada, ela dirige-se a um Tribunal e
apresentar uma petição inicial e que indicará tudo o que tiver que alegar, nos termos
do art. 10º, da Lei – Modelo CNUDCI, relativamente a composição do Tribunal
arbitral, compete as partes decidir (Liberdade de escolha) os árbitros, na sua falta
recorre-se a regra geral na arbitragem aos regulamentos da instituição.
Qualquer pessoa poderá exercer, a função de árbitro, mas como dissemos tem
que ser uma pessoa que conheça a matéria em causa (não necessariamente um
jurista). Se não for nomeado os árbitros por um Tribunal, ou pelas partes seu acordo,
ou a sentença já for proferida a parte lesada poderá intentar uma acção de anulação
da sentença.
Para todos efeitos, a regra é as partes por acordo devem nomear os árbitros.
Porém, a outra parte tem ónus de indicar no prazo de 30 dias o seu árbitro, se o não
fazer a outra parte poderá recorrer ao Tribunal comum, propor uma acção para que
a outra parte nomeia o árbitro para se prosseguir com o processo de arbitragem;
(neste caso o Tribunal poderá nomear o arbitro, é os dois árbitros eram nomear o
terceiro arbitro). Se for um só árbitro, se as partes não estiveram de acordo a parte
que estiver terá que recorrer ao Tribunal para este nomear o árbitro (caso a parte
não nomear o arbitro).
170
Manual de Direito do Comércio Internacional Francisco Mário
O processo começa a partir desse momento em que a outra parte comunica
(art. 21º, da Lei – Modelo CNUDCI), que ira recorrer a arbitragem e comunica na
língua que as partes acordarem e na falta de tal acordo o Tribunal se encarregara
suprir tal inópia com as respectiva tradução fiel na língua comunicável de algum das
partes, vide art. 22º, da Lei – Modelo CNUDI.
O processo arbitral obedece o procedimento oral e escrito, ou, seja, pode ser
oral ou escrito, porém é um processo cível, mas a oralidade não modifica nada que
estiver na petição inicial e na contestação. A oralidade é uma coisa acessória o
tribunal é que deve decidir se será por decisão oral, mas o processo é conduzido a
base de documentos. Só se uma das partes o requerem é que o Tribunal o poderá
proceder e se haver necessidade de examinar as mercadorias as partes devera ser
notificadas com antecedência.
As peças processuais tem que estar bem-feita, o processo estará pronto, neste
caso conhecerá aos juízes decidiram com base o previsto no art. 28º, nº1, da Lei-
Modelo CNUDCI. As partes no documento terão que indicar o Direito Aplicável (o
direito matéria que irá servir de base ao julgamento).
171
Manual de Direito do Comércio Internacional Francisco Mário
Quando as partes designam o direito eles farão uma referência que pode ser
global ou material. Material- apenas ser a referência para o Direito Material. Global
– inclui –se o direito material e o direito aplicável.
172
Manual de Direito do Comércio Internacional Francisco Mário
a situação) e quando haja acordo para encerrar o processo neste caso os árbitros
não poderão ocupar-se.
Encerra-se o processo se o tribunal nota que o processo não ira chegar a uma
decisão querente ou chegar a conclusão de que a continuação do processo não
haverá a um resultado. O encerramento do processo significa a parte final do
processo.
A sentença.
O encerramento do processo.
a) Rectificação da Sentença
A sentença pode não estar bem clara para o âmbito ou para uma das partes. A
parte que não estiver bem clara poderá pedir para aclarar um explicação ou uma
parte do processo, de modo a que a sentença seja bem esclarecida, pedindo para
rectificar. art. 33º, da Lei-Modelo da CNUDCI.
b) Recurso da Sentença.
c) O Recurso de Anulação,
Este tem que ser reconhecido pelo Estado. A sentença deve ser reconhecida
pelo estado que vai executar de modo a ter força a executar (art. 33º nº 3, da Lei-
Modelo da CNUDCI). A outra parte poderá pedir ao Tribunal para proferir uma outra
sentença adicional no caso de ela não for total, mas não pode ser para além do
objecto.
173
Manual de Direito do Comércio Internacional Francisco Mário
A sentença adicional também tem que ser escrita assinada pelo árbitro e com
os fundamentos do pedido de anulação da sentença (art. 34º, da Lei-Modelo da
CNUDCI). O pedido de anulação, tem que ser interposto no Tribunal comum e não
no Tribunal Arbitral, salvo anular-se todo processo e constituir outros árbitros.
Este pedido é exclusivo, e é única forma que se pode lançar mão para que a
sentença ser revista ou anulada. Porém, se uma das partes for incapaz poder-se-á
fazer um pedido de anulação e se a convenção arbitral não for valida (visto que esta
deve ser sempre escrita) a sentença proferida ainda que bem conduzida poderá
merecer um pedido de anulação.
174
Manual de Direito do Comércio Internacional Francisco Mário
1. CNUDCI
Em 1950 foi criada a Comissão das Nações Unidas para o Direito do Comércio
Internacional (sigla CNUDCI) e tem como principal função legislar sobre varias
matérias de comércio internacional, é uma comissão (não permanente).
220 Até que um pouco antes da II guerra mundial criou o tratado do GATT (leis que só foi aprovada e
entrou em vigor depois da guerra) e, foi aprovado em 1947 e entrou em vigor 1948.
221 Ex: A venda ou o acordo liberal entre um Estado membro do GATT e um terceiro Estado beneficia
175
Manual de Direito do Comércio Internacional Francisco Mário
Esta comissão elaborou várias convenções para a uniformização e unificação
do comércio internacional222, visto que, cada Estado elaborava as suas tarifas, ou os
Estados praticavam tarifas exorbitantes na comercialização de vários produtos e
sobre o custo das mercadorias de modo ou de maneira diversa.
2. O.M.C .
4. SADC.
222 Lei-Modelo CNUDCI (arbitragem, regras de usos uniforme, venda de mercadorias, UNICITRAL
etc.)
176
Manual de Direito do Comércio Internacional Francisco Mário
públicas pouco eficientes. Infelizmente, a prioridade tem sido dada à exportação de
recursos minerais como o petróleo e os diamantes em detrimento do
desenvolvimento da indústria transformadora, demonstrando um caso típico de
“Doença Holandesa ou Dutch disease em inglês”.
Este facto, fez com que Angola mergulhasse num fraco desenvolvimento
industrial mantendo-se refém de importações e dependente unicamente de
exportações de apenas duas principais commodities (petróleo e diamantes).
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Algumas medidas de políticas macroeconómicas tanto no âmbito fiscal,
monetário como outras de carácter estrutural, devem ser tomadas para que Angola
possa efectivamente integrar à zona em 2020 como está previsto, tais como:
Mas apesar deste mar de dificuldades que enfrenta para efectiva integração
à zona, Angola possui condições para se tornar competitiva, pois o país tem grandes
potencialidades agrícolas e uma vasta riqueza hidrográfica que já tem sido usada na
construção de grandes aproveitamentos hidroeléctricos capaz de gerar energia
eléctrica limpa e dinamizar o processo de industrialização em curso e até mesmo
exportar o excedente de energia para os países da região, tirando vantagens
competitivas e comparativas disto.
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Manual de Direito do Comércio Internacional Francisco Mário
Referencias Bibliográficas
LINO DIAMVUTU
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Manual de Direito do Comércio Internacional Francisco Mário
- Direito Constitucional Angolano, Coimbra editora 2011.
STRENGER IRINEU
ROBERTO KAMBOVO
Jurisprudência portuguesa
180
Manual de Direito do Comércio Internacional Francisco Mário
Ac. da Relação do Porto, in Col. Jur. XX.III.208.
Ac. da Relação de Lisboa, de 16.6.92, in Col. Jur., XVII, III. 209 e 211.
Legislação
-CRA
-Código Civil
181
Manual de Direito do Comércio Internacional Francisco Mário
-Convenção Sobre o Seguro Marítimo de 1906.
182
Manual de Direito do Comércio Internacional Francisco Mário
Frequência: Doutoramento em Direito (Finanças - Direito Financeiro e
Económico Global) pela Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa.
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