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Capítulo

Arte com palavras: a literatura


1
Conhecendo a literatura dido e na flor apenas desabrochada...

LÍNGUA PORTUGUESA • GRUPO 1 •


RIQUEZAS E SABERES
Que bom idioma o meu, que boa língua
As palavras
herdamos dos conquistadores torvos...
A palavra é uma das maiores riquezas
Estes andavam a passos largos pelas
do homem. Desde os tempos primitivos,
tremendas cordilheiras, pelas Américas
ela lhe permitiu representar o pensamen-
encrespadas, buscando batatas, butifar-
to, construindo, assim, a história humana.
ras, feijõezinhos, tabaco negro, ouro,
Mas a palavra vai além do campo histó-
milho, ovos fritos, com aquele apetite
rico: é invadida pela arte.
voraz que nunca mais se viu no mun-
Veja o lirismo do poeta Pablo Neruda
do... Tragavam tudo: religiões, pirâmi-
ao discursar sobre a palavra:
des, tribos, idolatrias iguais às que eles
traziam em suas grandes bolsas... Por
A palavra
onde passavam a terra ficava arrasa-
[...] Sim, Senhor, tudo o que quei- da... Mas caíam das botas dos bárbaros,
ra, mas são as palavras as que cantam, das barbas, dos elmos, das ferraduras.
as que sobem e baixam... Prosterno-me Como pedrinhas, as palavras lumino-
diante delas... Amo-as, uno-me a elas, sas que permaneceram aqui resplande-
persigo-as, mordo-as, derreto-as... Amo centes... o idioma. Saímos perdendo...
tanto as palavras... As inesperadas... As Saímos ganhando... Levaram o ouro e
que avidamente a gente espera, esprei- nos deixaram o ouro... Levaram tudo e
ta até que de repente caem... Vocábulos nos deixaram tudo... Deixaram-nos as
amados... Brilham como pedras colori- palavras. Este capítulo visa à
das, saltam como peixes de prata, são NERUDA, Pablo. Confesso que vivi: memórias. sensibilização do edu-
espuma, fio, metal, orvalho... Persigo Trad. Olga Savary. Rio de Janeiro, 1978. p. 51. cando com relação à li-
algumas palavras... São tão belas que teratura e suas manifes-
quero colocá-las todas em meu poema... Vocabulário tações artísticas. Para
isso, o tópico apresenta
Agarro-as no voo, quando vão zumbin- Butifarra: espécie de chouriço ou lin- um texto do poeta Pablo
do, e capturo-as, limpo-as, aparo-as, guiça feita principalmente na Catalunha, Neruda que explora a
preparo-me diante do prato, sinto-as Valência e Baleares. relação que possui com
cristalinas, vibrantes, ebúrneas, vege- o “palavrear”. Logo, su-
O texto “A palavra”, de Pablo Neruda, gerimos que o texto seja
tais, oleosas, como frutas, como algas,
vai além da escrita: estabelece uma cone- explorado considerando
como ágatas, como azeitonas... E então
xão viva com as palavras. Para isso, ele re- os seguintes aspectos:
as revolvo, agito-as, bebo-as, sugo-as, • a metalinguagem
tira cada uma das palavras de seu estado
trituro-as, adorno-as, liberto-as... Dei- utilizada na criação es-
natural e as modifica, atribuindo-lhes um
xo-as como estalactites em meu poema; tética do texto;
sentido artístico. Eis que a palavra se torna
como pedacinhos de madeira polida, • o posicionamento
literatura. do eu lírico diante dessa
como carvão, como restos de naufrágio,
No texto, Neruda começa falando de relação eu x palavra;
presentes da onda... Tudo está na pala-
sua admiração pelas palavras, que, para • as escolhas lexicais e
vra... Uma ideia inteira muda porque as modificações semân-
ele, são “vocábulos amados”; ele compara
uma palavra mudou de lugar ou porque ticas, justificadas no in-
a beleza das palavras com “pedras colori-
outra se sentou como uma rainha dentro tuito poético do texto.
das” e diz que elas “saltam como peixes de Nesse sentido, por
de uma frase que não a esperava e que a
prata”. Esta imagem mostra o poder das meio da leitura do tex-
obedeceu... Têm sombra, transparência,
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palavras, pois, sendo o peixe um animal to poético, objetivamos


peso, plumas, pelos, têm tudo o que se “valorizar a leitura como
aquático, ao saltar, ele mostra sua força e,
lhes foi agregando de tanto vagar pelo fonte de informação, via
com a cor prata, ele se destaca num belo
rio, de tanto transmigrar de pátria, de de acesso aos mundos
salto em meio à água. Assim, a palavra
tanto ser raízes... São antiquíssimas e criados pela literatura e
num poema tem a força de um peixe sal-
recentíssimas. Vivem no féretro escon-
tando da água.
20 Capítulo 1 – Arte com palavras: a literatura \ Grupo 1

possibilidade de fruição
E para criar seu poema, o poeta es-
estética [...]”. Informações complementares
BRASIL. MINISTÉRIO colhe as palavras agarrando-as “no voo,
DA EDUCAÇÃO. SECRE- quando vão zumbindo”, como se elas Pablo Neruda foi um dos mais impor-
TARIA DE EDUCAÇÃO fossem ligeiras e rebeldes como abelhas tantes poetas do século XX. Nascido no dia
BÁSICA. Parâmetros fugidias. Depois de “caçar” as palavras, 12 de julho de 1904, em Parral, no Chile,
nacionais de qualidade ele as escolhe para sua obra literária o poeta trilhou um caminho admirável:
para a educação infantil. recebeu o Prêmio Nobel da Literatura em
Ministério da Educação. e trabalha com elas, de forma que as
1971, foi cônsul na Espanha entre os anos
Secretaria de Educação transforme em arte. Ou seja, uma pala-
de 1934 e 1938 e eleito senador no ano de
Básica: Brasília (DF), vra qualquer é como uma abelha selva- 1945. Algumas obras: Odas elementales;
2006 v.l; II. gem, mas, depois que ela é trabalhada Las uvas y el viento; Nuevas odas elemen-
pelo artista, ela se torna uma joia dentro tales; Libro tercero de las odas; Geografía
da obra literária. Infructuosa; Memorias (Confieso que he
Para demonstrar a importância da es- vivido: memorias). Morreu em 23 de se-
colha de cada palavra, o poeta diz: “Uma tembro de 1973, em Santiago, no Chile.
ideia inteira muda porque uma palavra
mudou de lugar”, ou seja, com a troca
de uma única palavra, o sentido da fra- Literatura
se inteira pode mudar. Por exemplo, na Pensando na arte da palavra, manifes-
própria frase “brilham como pedras co- tada na canção, na poesia, na prosa, no
loridas”, se trocasse a palavra “brilham” teatro, podemos compará-la a um mapa:
por uma de outro sentido, como, por é necessário desbravar o texto, observar
exemplo, “chateiam”, a frase toda mu- cada coordenada e indício que ele apre-
daria para um sentido oposto: chateiam senta por meio das escolhas das palavras
como pedras coloridas. Assim, trocando e dos sentidos atribuídos a elas, na busca
uma palavra, muda-se toda a ideia. pelo grande “tesouro” da humanidade: a
literatura.
A literatura utiliza-se das palavras como
se utiliza de um cardápio. Em um cardápio,
há as seções de entradas, saladas, carnes,
sucos etc., ou seja, os pratos são reunidos
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por semelhanças. Para escrever um texto, as


palavras também são escolhidas por seme-
lhança, para que o sentido não mude, pois,
como diz Pablo Neruda, “uma ideia inteira
muda porque uma palavra mudou de lugar”.
Na literatura, essa relação nem sem-
pre é direta. Por exemplo, em vez de di-
zer “ela é delicada”, podemos substituir a
frase por “ela é uma flor”, pois a flor, em
geral, é delicada.
Além de escolher as palavras de acor-
do com o sentido, na literatura também
se escolhem as palavras de acordo com
seu som, seu ritmo etc. Assim, para criar
maior sonoridade na frase “ela é uma
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flor”, podemos trocar a palavra “flor” por


um nome que produza maior sonoridade,
Pablo Neruda, homenageado como “ela é uma lobélia”, sem prejudicar
em selo da Hungria, 1974. o sentido da frase, visto que lobélia é uma
espécie de flor.
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L��������� – E������ ��� �������� • Parênteses: acrescentam uma ex-


plicação sobre uma citação realiza-
da anteriormente.

Ela é delicada. Pablo Neruda também realizou ou-


tras atividades políticas (foi cônsul na
Palavras de Espanha e eleito senador em 1945).
mesmo sentido
Ela é uma flor. (flor = delicada)

• Travessão: introduz a fala de persona-


Ela é uma lobélia. (lobélia = flor) gens e comentários de um narrador.

— Quem é você e o que deseja? – disse


Imagens e sonoridades variadas
uma voz suave de fantasma.

• Aspas: utilizadas para destacar


um termo, para fazer uma citação
Sinais de pontuação ou para demonstrar que aquela
No uso da linguagem, os sinais de
palavra está no sentido conotati-
pontuação são essenciais para a compre-
vo, ou seja, que ela possui sentido
ensão do texto. No texto “A palavra”, as
abstrato ou subjetivo, não literal.
reticências (...) são usadas para demons-
Para indicar uma citação:
trar o sentimento do autor ao escrever o
texto. Veja:
Para demonstrar a importância da es-
colha de cada palavra, o poeta diz: “uma
Tudo está na palavra...
ideia inteira muda porque uma palavra
Amo tanto as palavras...
mudou de lugar”.
Já o ponto-final encerra uma ideia ou
Para indicar sentido conotativo:
pensamento. Observe:
Depois de “caçar” as palavras, ele as
Deixaram-nos as palavras.
escolhe para sua obra literária. (A palavra
“caçar” está no sentido conotativo, com o
Há, ainda, outros sinais de pontuação
significado de escolher.)
utilizados em textos literários ou não li-
terários:
• Dois-pontos: anunciam a fala de
uma personagem; podem intro-
Uso de porque, por que,
duzir um exemplo ou acrescentar porquê e por quê
uma informação.
Porque
Para introduzir um exemplo:
Veja um trecho do texto do poeta Pablo
Neruda e observe a palavra destacada:
Algumas obras: Odas elementales, Las
uvas y el viento etc.
Uma ideia inteira muda porque uma
palavra mudou de lugar [...]
Para acrescentar uma informação:
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A palavra "porque" demonstra a razão


O poeta trilhou um caminho admirável:
pela qual uma ideia inteira pode mudar.
recebeu o Prêmio Nobel, foi cônsul na Es-
Quando é empregada como conjunção cau-
panha e eleito senador.
sal ou explicativa, a palavra “porque” deve
ser escrita sem separação entre as letras.
22 Capítulo 1 – Arte com palavras: a literatura \ Grupo 1

Saiba mais! Neste caso, "por que" pode ser substituí-


Uma conjunção causal ou explicativa do por "pela qual", sem prejuízo de sentido.
liga duas orações, estabelecendo sentido A razão pela qual uma ideia muda ain-
de causa ou explicação. da é desconhecida.

A menina estava chorando porque tirou Porquê e por quê


zero na prova. Agora, aparecem dois casos em que as
Não chore, porque seus olhos estão fi- palavras vêm com acento.
cando inchados. Não entendi o porquê da mudança in-
teira da ideia.
Na frase 1, a oração destacada indica a
causa, o motivo, a razão pela qual a meni- Uma ideia muda. Por quê?
na chorava.
Na frase 2, não podemos dizer que a No primeiro caso, “porquê” é um subs-
causa de a menina chorar era seus olhos tantivo. Pode vir acompanhado de artigo,
estarem inchando. Não existe relação de pronome, adjetivo ou numeral. Sentido:
causa e consequência, mas uma explicação motivo. No exemplo apresentado, o subs-
para a afirmação feita na primeira oração. tantivo "porquê" vem acompanhado do
artigo "o".
No segundo exemplo, é acentuado por-
Por que que está em final de frase. Sentido: por
Há dois casos em que a palavra deve qual motivo.
ser separada e sem acentuação: No terceiro caso, é acentuado porque
01. quando for uma junção da prepo- aparece sozinho. Sentido: por qual motivo.
sição “por” + o pronome interroga-
tivo ou indefinido “que” (sentido: Revisão
por qual motivo); Porque
02. quando for a união entre a pre- Como conjunção causal ou explicativa
posição “por” + o pronome rela- (sentido de "pois").
tivo “que” (sentido: pela(o) qual, Ele está com sono porque dormiu pou-
pelas(os) quais). co. (conj. causal)
Exemplos: Não corra porque pode cair. (conj. ex-
plicativa)
Por que uma ideia inteira muda?
Sei bem por que uma ideia inteira muda. Por que
Com sentido de “por qual motivo” ou
“pelo(a) qual/ pelos(as) quais”.
Em ambos os casos anteriores, não
Por que ele está com sono?
acentuamos a palavra QUE. A porta por que passei já se fechou.
Fazendo a substituição, percebemos que,
em ambas as orações, podemos substituir os Porquê
termos grifados por "por qual(que) motivo". Como substantivo (sentido de “o mo-
tivo”).
Por que motivo uma ideia inteira muda? Eu não sei o porquê de ele ter dormido
Por qual motivo uma ideia inteira muda? pouco.
Sei bem por que motivo uma ideia in-
teira muda. Por quê
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Sei bem por qual motivo uma ideia in- Em final de frase ou sozinho (sentido
teira muda. de “por qual motivo”.)
Leia, ainda, este exemplo: Ele chegou tarde não sei por quê.
A razão por que uma ideia muda ainda Ela está rindo de novo? Por quê?
é desconhecida.
Capítulo
Arte com palavras: a literatura
1
Atividade 1 ● Conhecendo a literatura

LÍNGUA PORTUGUESA • GRUPO 1 •


RIQUEZAS E SABERES
Exercícios de Aplicação
A seguir, há dois textos: um poema e uma Palavra
canção. Leia-os, para responder às pergun-
Palavra, tenho que escolher a mais
tas de 1 a 3.
[bonita,
Severo narro Para poder dizer coisas do coração.
Ricardo Reis Dar a letra de quem lê.
Toda palavra escrita ou rabiscada,
Severo narro. Quanto sinto, penso. No joelho, guardanapo ou chão.
Palavras são ideias. Ponto, pula linha, travessão.
Múrmuro, o rio passa, e o que não E a palavra vem.
[passa,
Que é nosso, não do rio. Pequena, querendo se esconder no
Assim quisesse o verso: meu e alheio silêncio,
E por mim mesmo lido. Querendo se fazer de oração.
REIS, Ricardo. Severo narro. Disponível Baixinha, como a altura da intenção
em: <http://www.dominiopublico. [e na insegurança.
gov.br/download/texto/jp000005. Vírgula, parênteses, exclamação.
pdf>. Acesso em: 14 mar. 2013. Ponto, pula linha, travessão.
E a palavra vem... Explorar o vocabulário
e o sentido de ambos os
Pessoa e os heterônimos O Teatro Mágico. Disponível em: <http:// textos antes do início da
Fernando Pessoa atribuiu a autoria de sua letras.mus.br/o-teatro-magico/861874/>. atividade. Levar o aluno
obra também a outros nomes de autores Acesso em: 14 mar. 2013. a refletir sobre a relação
fictícios, chamados de heterônimos. São do autor de cada texto
com as palavras.
três os principais heterônimos de Fernando O Teatro Mágico é um grupo paulista forma-
Pessoa: Álvaro de Campos, Ricardo Reis e Al- do, em 2003, por músicos e artistas circenses.
berto Caeiro. Para a obra de cada um deles, Em suas apresentações, o grupo traz ele-
Fernando Pessoa atribuiu estilos próprios e mentos do circo, do teatro, da literatura e
diferentes uns dos outros, o que diferencia da cultura popular, além da própria música
do pseudônimo, que é apenas a assinatura tocada por violões, violino, guitarra, baixo,
com outro nome. percussão, flauta, DJs, gaita, xilofone, bate-
No caso de Ricardo Reis, sua poesia possui ria, bandolim e sonoplastia.
influências neoclássicas, com a presença Disponível em: <http://oteatromagico.mus.br/
frequente de temas da mitologia greco-ro- wiki/index.php?title=P%C3%A1gina_principal>.
mana e o tema do carpe diem e da fugaci- Acesso em: 21 mar. 2013.
dade da vida.
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24 Capítulo 1 – Arte com palavras: a literatura \ Grupo 1

Saiba mais!
Os poemas são divididos por partes, as quais são chamadas de estrofe e de verso.
Observe a composição de "Palavra", de O Teatro Mágico:

1. Palavra, tenho que escolher a mais bonita,


2. Para poder dizer coisas do coração.
3. Dar a letra de quem lê.
4. Toda palavra escrita ou rabiscada, 1ª estrofe
5. No joelho, guardanapo ou chão.
6. Ponto, pula linha, travessão.
7. E a palavra vem.

1. Pequena, querendo se esconder no silêncio,


2. Querendo se fazer de oração.
3. Baixinha, como a altura da intenção e na
[insegurança. 2ª estrofe
4. Vírgula, parênteses, exclamação.
5. Ponto, pula linha, travessão.
6. E a palavra vem...

No exemplo acima, a letra é composta por duas estrofes, sendo que a primeira estrofe
possui sete versos e a segunda, seis versos.
Porém, um poema ou letra de canção pode ser constituído por uma única estrofe, como é
o caso do poema “Severo narro”, de Ricardo Reis, que possui uma estrofe e seis versos.

1. Severo narro. Quanto sinto, penso.


2. Palavras são ideias.
3. Múrmuro, o rio passa, e o que não passa,
4. Que é nosso, não do rio.
5. Assim quisesse o verso: meu e alheio
6. E por mim mesmo lido.

01) No poema de Ricardo Reis, é afirma- 03) Em ambos os textos, há uma ideia de
do que "palavras são ideias". Como você movimentação da palavra. Escreva um tre-
explicaria essa frase com suas palavras? cho de cada texto que confirme isso.
As palavras advêm do pensamento. As ideias No poema, o verso "assim quisesse o meu
precedem as palavras, que se concretizam no verso" faz uma analogia entre a escrita de
momento em que há a escrita. versos e o rio que passa; já na música, o ver-
so "ponto, pula linha, travessão" caracteriza
a movimentação das palavras.

02) Leia o verso 3 da canção do grupo


Teatro Mágico e reflita sobre a seguinte
questão: quem é que "dá a letra" e quem
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é que "lê"?
Quem "dá a letra" é o compositor, o autor
da canção; já quem a lê é o ouvinte ou leitor
da canção.
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Exercício Proposto
04) Utilizando seus conhecimentos, explique: de que maneira a palavra contribuiu para
a construção da história do homem?
A palavra contribuiu de várias maneiras: permitiu a comunicação escrita, o registro de fatos e o
legado histórico-cultural.

Atividade 2 ● Sinais de pontuação


Exercícios de Aplicação
01) Releia a letra da canção "Palavra", do 03) Observe os dois últimos versos de
grupo musical Teatro Mágico, e escreva o cada estrofe da canção "Palavra". Embora
nome dos sinais de pontuação encontra- seja a mesma frase, há uma diferença en-
dos nela. tre eles, relacionada à pontuação. Escreva
essa diferença e explique o sentido que ela
Ponto, travessão, vírgula, parênteses e ex-
clamação.
provoca em cada frase.
A diferença está no sinal de pontuação: no
primeiro verso usa-se o ponto-final; já no
segundo, reticências. Esses usos interferem
no sentido da frase. Com o ponto-final, há
02) Na letra da canção, são utilizados os uma certeza; já com as reticências, há uma
termos: palavra "escrita" ou "rabiscada". expectativa.
Qual é a diferença entre as duas formas
utilizadas para caracterizar a palavra?
A palavra "escrita" seria a forma finalizada
da escrita; já a "rabiscada" seria o rascunho
da escrita.

Exercícios Propostos
04) Releia a canção "Palavra" e responda: 05) Qual é a importância dos sinais de
o verso "E a palavra vem." encerra-se com pontuação no texto?
um ponto-final, indicando uma certeza.
Caso o autor quisesse indicar uma dúvida, Os sinais de pontuação atribuem o sentido à
qual sinal de pontuação deveria usar? frase ou à oração.
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O ponto de interrogação.
26 Capítulo 1 – Arte com palavras: a literatura \ Grupo 1

Atividade 3 ● Uso de porque, por que, porquê e por quê


Exercícios de Aplicação
Leia a tirinha para responder às perguntas.

DIST. BY UNIVERSAL UCLICK


WATTERSON © 1987 WATTERSON /
CALVIN & HOBBES, BILL
01) Sabemos que as tirinhas trabalham o 02) No último quadrinho, há um erro lin-
humor por meio de uma expressão verbal guístico. Identifique-o e corrija.
e das imagens. Na tirinha de Calvin, o hu-
A interrogação "Por que?" está inadequadalin-
mor deriva, entre outros fatores, de uma guisticamente. Nesse caso, deveríamos acen-
duplicidade significativa. Indique e expli- tuar o "que". Portanto, teríamos "Por quê?".
que essa duplicidade.
A duplicidade está no modo como a fala de
Calvin não condiz com as atitudes realizadas
por ele e Haroldo. No caso, ambos praticam
uma descida radical, mas Calvin acredita vi-
ver uma vida "tediosa" e "chata". 03) Releia a tirinha e crie uma resposta
de Haroldo para os questionamentos de
Calvin no último quadrinho. Utilize, para
iniciar sua resposta, "porque", "por que”,
“porquê" ou "por quê”.

Porque você é muito imperativo, Calvin. Não


aguento mais!

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Exercício Proposto
04) No último quadrinho, aparece a expressão “por que”. Reescreva a frase, substituin-
do essa expressão por outra de mesmo significado.
Por qual motivo/razão?
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Capítulo

2 A literatura em movimento: Renascença

O Renascimento No estudo da literatura renascentista,


LÍNGUA PORTUGUESA • GRUPO 1 •
RIQUEZAS E SABERES

Mona Lisa e os afrescos da Capela Sis- evocam-se vários escritores, como o inglês
tina, de Leonardo da Vinci, ou a escultura William Shakespeare (1564-1616), o espa-
Davi, de Michelangelo, são obras muito co- nhol Miguel de Cervantes (1547-1616), o
nhecidas. O momento em que essas gran- italiano Nicolau Maquiavel (1469-1527),
des obras artísticas foram produzidas é o entre outros, considerados gênios da lite-
período da Renascença. ratura e cujas obras são grandiosas rique-
zas da humanidade.
Dessa mesma época, há um poeta
português que é considerado o maior da
literatura portuguesa e um dos maiores da
humanidade: Luís Vaz de Camões.
Luís Vaz de Camões tem uma histó-
MUSÉE DU LOUVRE, PARIS

ria incerta. De acordo com alguns pes-


quisadores, ele teria nascido em 1524 ou
1525, não se sabe se em Lisboa, Alen-
quer, Coimbra ou Santiago. Sua forma-
ção também é obscura: acredita-se que
ele tenha frequentado algum curso esco-
lar para aprender a ler e a escrever.
Em 1556, Camões naufragou na foz
Este capítulo busca do rio Mecon, ocasião em que, segundo
apresentar o movimen- a lenda, salvou Os lusíadas e perdeu Di-
to literário ao educan- namene, sua companheira. Morreu pobre
do, de maneira que ele e abandonado, em 10 de junho de 1580.
o conheça por meio de
Leonardo da Vinci, Mona Lisa MOISÉS, Massaud. A literatura portuguesa
textos clássicos asso-
ciados aos contempo- (La Gioconda) – 1503. através dos textos. 29. ed. São Paulo:
râneos. Nesse sentido, Cultrix, 2004. p. 53-54. Adaptado.
o intuito é que o aluno
perceba a movimenta-
ção literária como algo A divulgação do conhecimento
vivo e constante, em O período renascentista trouxe a pri-
LUKIYANOVA NATALIA / FRENTA / SHUTTERSTOCK

que há a interferência meira revolução no modo de transmissão


humana por meio do do conhecimento. A tecnologia na trans-
artístico, no sentido de missão da informação foi substancialmen-
(re)criar o mundo em
que estamos inseridos.
te modificada, saíram os monges copistas,
que tinham de transcrever os documen-
tos, e veio a máquina de prensa, que cria-
va moldes das letras e as imprimia.
Essa técnica de impressão, desenvol-
vida pelo alemão Johannes Gutenberg
em meados de 1455, permitiu que a so-
ciedade tivesse acesso à cultura clássica,
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por meio dos livros impressos. Esse fato


ajudou as pessoas a conhecerem a poesia
dos grandes poetas clássicos greco-latinos,
permitindo, assim, que o mundo das ideias
e do conhecimento ultrapassasse frontei-
Michelangelo, Davi – 1501-1504.
ras geográficas.
Língua Portuguesa \ Riquezas e saberes 29

Amor é fogo que arde sem se ver,


é ferida que dói, e não se sente;
é um contentamento descontente,
REPRODUÇÃO

é dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer;


é um andar solitário entre a gente;
é nunca contentar-se de contente;
é um cuidar que ganha em se perder.

É querer estar preso por vontade;


é servir a quem vence, o vencedor;
é ter com quem nos mata, lealdade.

Mas como causar pode seu favor


nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor?
Disponível em: <http://www.dominiopublico.
Camões gov.br/download/texto/bv000164.
pdf>. Acesso em: 20 mar. 2013.
Por meio dessa revolução, Camões co-
nheceu a poesia de Virgílio, apaixonou-se
No poema, há dois quartetos, que cor-
por ela e tentou imitar-lhe o ritmo. Para
respondem aos versos de 1 a 4 e de 5 a 8.
isso, ele criou palavras e aportuguesou
Logo, o quarteto é uma estrofe com qua-
outras, do latim, demonstrando uma habi-
tro versos.
lidade descomunal com a escrita literária.
Após os quartetos, há os tercetos: o pri-
meiro corresponde aos versos de 9 a 11 e
Informações complementares o segundo, de 12 a 14. Portanto, o terceto
A bibliografia de Camões abrange o gênero é uma estrofe com três versos.
lírico, que é o da poesia, e o gênero épico,
que é o responsável pelas narrativas gran-
diosas e heroicas, sendo Os lusíadas a obra Soneto é um texto constituído de dois
épica mais ilustre do autor e considerada quartetos e dois tercetos.
importantíssima para o cânone literário oci-
dental.
Os lusíadas contam a história da viagem de
Relembrando
O poema é composto por partes: pelas
Vasco da Gama com destino à Índia, inserin-
do personagens da mitologia. estrofes e pelos versos. Cada verso é uma
linha do poema e cada estrofe é um con-
junto de versos.
Entendendo o poema
Camões escreveu poemas, em que tra- VERSO
Cada linha
tava de temas como a dualidade do amor, do poema
espiritual ou carnal, ou seja, um amor es- POEMA
piritualizado, que aproxima o ser amado ESTROFE
Um grupo
daquilo que é divino, em contradição com de versos
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um sentimento de tormento, ligado aos


desejos carnais. Essa é uma das diferenças entre o poema
Apresentamos um dos sonetos mais e o texto em prosa: neste último, as frases
conhecidos de Camões, que retrata um são colocadas na sequência linear, separadas
amor paradoxal, mas muito intenso: por parágrafos; naquele, há versos e estrofes.
30 Capítulo 2 – A literatura em movimento: Renascença \ Grupo 1

O trabalho gramatical
deste capítulo enfatiza-
O amor! Acentuação gráfica
rá a acentuação gráfica. O amor é um tema que vem sendo re- Cada palavra é formada por sílaba(s).
Todavia, por questões tratado pelos poetas há muito tempo. Ele A sílaba se diz tônica quando pronunciada
didáticas, a reforma or- alimenta as linhas de um poema, trazendo com maior intensidade que as demais. Es-
tográfica será abordada a beleza e a arte da escrita lírica. É fonte de tas com menor intensidade são chamadas
de modo fragmentado, tema para quase todos os poetas, sendo de átonas.
buscando contribuir com
a compreensão do edu- apresentado ora idealizado, ora verossímil; Separação silábica de algumas palavras
cando sobre esse perío- ora como sentimento sereno, ora exaltado retiradas do soneto:
do de transição e uso de e de aflição do eu lírico. DÓI; SO-LI-TÁ-RIO;
ambas as regras ortográ- Perguntamos: o que faz o homem, des- DE-SA-TI-NA; CO-RA-ÇÕES
ficas. Por isso, será apre- de épocas muito distantes, cultivar esse A palavra “dói” possui apenas uma
sentada a acentuação
referente às proparoxíto-
sentimento tão confuso? O tema do amor sílaba. Não há como negar que é uma
nas, paroxítonas e oxíto- não se restringe somente ao texto literá- palavra forte; afinal, a única sílaba que
nas sem a apresentação rio, ele extrapola isso e alcança outras ma- possui é tônica. Ela recebe um sinal cha-
dos casos em que houve nifestações artísticas, tais como a pintura, mado acento. O nome desse acento é
modificações. a escultura, a música e a dança. agudo. O acento agudo aparece também
Um exemplo é a obra do artista italia- na palavra solitário.
no Michelangelo (1475-1564) pintada no Além do acento agudo, há também o
teto da Capela Sistina, em Roma. Nela, é acento grave e o acento circunflexo. O til
retratado o amor de Deus pelos homens, é um sinal de nasalação.
na obra denominada A criação de Adão.
A família dos sinais gráficos
O acento agudo é utilizado em algumas
CAPPELLA SISTINA, VATICAN

vogais abertas e as "tonifica". O acento cir-


cunflexo é utilizado nas vogais fechadas. Já
o acento grave é somente utilizado na letra
“a”, para indicar crase.

Tonicidade das sílabas


Dependendo da posição da sílaba tôni-
ca dentro da palavra, esta pode ser: propa-
A criação de Adão, de Michelangelo. roxítona, paroxítona e oxítona.
Pintura feita na Capela Sistina, Segue quadro contendo as regras de
no Vaticano, Itália, 1511. acentuação gráfica.

EF7P-15-11
Língua Portuguesa \ Riquezas e saberes 31

Sílaba tônica Definição Regras de acentuação Exemplos


Palavras cuja Todas as filósofo, cosmético,
Proparoxítonas sílaba tônica é a proparoxítonas ângulos, célula,
antepenúltima. são acentuadas. lâmpada, ônibus
caráter, mártir,
São acentuadas as repórter, tórax,
que terminam em: agradável, hífen, líder,
-r, -x, -l, -n, -ps, -us, bíceps, vírus, cáqui,
Palavras cuja sílaba
Paroxítonas -i, -is, -um, -uns, -on, táxis, fórum, álbuns,
tônica é a penúltima. -ons, -ã, -ãs, -ão, -ãos, Nélson, próprio,
e os ditongos orais próprios, prótons,
seguidos ou não de s. ímã, órfãs, órfão,
órgãos, remédio etc.
São acentuadas as
que terminam em: será, atrás, até,
1) -a, -as, -e, -es, -o, português, jiló,
Palavras cuja sílaba
Oxítonas -os, -em e -ens. bisavôs, também,
tônica é a última. 2) ditongos abertos parabéns, herói,
-éi, -éu, -ói, seguidos remói, anéis, chapéu
ou não de s.
São acentuadas as
Palavras cuja única que terminam em:
Monossílabas tônicas lá, pé, pó
sílaba é tônica. a(s), e(s), o(s),
seguidos ou não de -s.
EF7P-15-11
Capítulo

2 A literatura em movimento: Renascença

Atividade 4 ● O Renascimento
LÍNGUA PORTUGUESA • GRUPO 1 •
RIQUEZAS E SABERES

Exercícios de Aplicação
02) Considerando a estrofe lida do poema
Texto para os exercícios 01 e 02.
de Camões no exercício anterior, copie, no
Amor é fogo que arde sem se ver,
espaço superior em branco da tirinha, os
é ferida que dói, e não se sente;
dois versos que se relacionam com a fala da
é um contentamento descontente,
personagem.
é dor que desatina sem doer.
[...] é fogo que arde sem se ver;

RUBENS BUENO / IVO VIU A UVA


Disponível em:<http://www.dominiopublico. é ferida que dói e não se sente
gov.br/download/texto/bv000164. (Camões)
pdf>. Acesso em: 20 mar. 2013.

01) Para escrever o soneto "Amor é fogo


que arde sem se ver", Camões trabalhou o
uso de ideias contrárias entre si. Releia o pri-
meiro quarteto do soneto e escolha um ver-
so que demonstre isso, explicando qual é a
razão da contraposição dessas ideias.
Direcionar a atividade “É um contentamento descontente”,
de maneira que o edu- “fogo que arde sem se ver”. Usam-se essas
cando perceba que essas figuras de linguagem para expressar como
contradições apresenta- o amor é intensamente contraditório e até
das por Camões fazem incompreendido pelo eu lírico.
alusão a um amor inquie-
to e incompreendido. 03) Na tirinha anterior, o que ocasiona o
humor? Explique.
Na tirinha, a personagem relaciona a sensa-
ção gástrica ardente (a azia) aos versos de
Camões, acreditando ser o que sente o mes-
mo amor ardente do poema.

Exercícios Propostos
04) Releia o capítulo de teoria e complete o Mapa mental:

é chamada de
EF7P-15-12

4
quarteto
versos
Dois quartetos
Uma estrofe
e dois tercetos soneto
com
3 é chamada de formam um
terceto
versos
Língua Portuguesa \ Riquezas e saberes 33

05) No poema lido em sala, "Amor é fogo que arde sem se ver", os versos são escritos
com o objetivo de explicar o amor. Você acredita que o poeta conseguiu chegar a uma
explicação? Justifique sua resposta.
Resposta pessoal

Atividades 5 e 6 ● Acentuação gráfica


Exercícios de Aplicação
01) Observe os grupos de palavras que seguem. Cada um deles possui uma determi-
nada regra de acentuação. Identifique a palavra que não pertence ao grupo e circule-a.
Órgão Remói Filósofo
Ímã Anéis Cosmético
Tórax Herói Repórter
Até Pá Ônibus

02) Reescreva as palavras do exercício 03) Leia um trecho da música do grupo


anterior que não fazem parte do grupo e Legião Urbana, "Monte Castelo", para res-
explique o motivo. ponder às perguntas A e B:
Pá: monossílabo tônico em um grupo de Monte Castelo
oxítonos acentuados por terminarem em
ditongos abertos; repórter: palavra paroxí- Legião Urbana
tona em um grupo de proparoxítonas; até:
monossílabo tônico em um grupo de pala- Ainda que eu falasse
vras paroxítonas. A língua dos homens
E falasse a língua dos anjos,
Sem amor eu nada seria.

É só o amor! É só o amor
Que conhece o que é verdade.
O amor é bom, não quer o mal,
Não sente inveja ou se envaidece.

O amor é o fogo que arde sem se ver;


EF7P-15-12

É ferida que dói e não se sente;


É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer.
34 Capítulo 2 – A literatura em movimento: Renascença \ Grupo 1

Ainda que eu falasse Sim, por meio da inserção da primeira estro-


fe do poema de Camões. Na citação bíblica
A língua dos homens (1 Cor. 13, 1)
E falasse a língua dos anjos
Sem amor eu nada seria.

É um não querer mais que bem


[querer;
É solitário andar por entre a gente;
É um não contentar-se de contente;
No exercício 03, item b,
estimular o aluno a re-
É cuidar que se ganha em se perder.
fletir sobre as diversas Disponível em: <http://letras.mus.br/legiao-
interpretações que a urbana/22490/>. Acesso em: 20 mar. 2013.
música apresenta. b. No poema, Camões demonstra ser
o amor uma contradição, algo quase
Legião Urbana foi uma banda de muito suces- inexplicável. E na canção de Renato
so dos anos 1980 e início dos anos 1990. O vo- Russo, qual é a perspectiva que o eu
calista Renato Russo era o principal composi- lírico possui do amor? Explique.
tor da banda e produziu letras que, ainda hoje,
atraem novos fãs, com temas relacionados ao Uma das possibilidades é afirmar que o eu
amor e também ao tédio, resultante da crise lírico da canção é muito assertivo com rela-
existencial de se viver no final do século XX. ção à necessidade humana de amar.

a. Quando um texto se refere a outros


textos, seja no todo ou em partes,
de maneira clara (explícita) ou su-
bentendida (implícita), ocorre a in-
tertextualidade. Esse fato acontece
na música “Monte Castelo”? Quais
são os trechos e a que outras obras
eles se referem?

04) Faça a divisão silábica e assinale a coluna correspondente à tonicidade das sílabas.
Oxítona/
Palavra Divisão silábica Paroxítona Monossílaba tônica

Língua LÍN GUA X

Só SÓ X

Solitário SO LI TÁ RIO X

Amor A MOR X

Andar
EF7P-15-12

AN DAR X

Castelo CAS TE LO X

Inveja IN VE JA X
Língua Portuguesa \ Riquezas e saberes 35

Exercícios Propostos
05) Explique, com base no livro de teoria, o que significa uma sílaba ser tônica ou átona.
Uma sílaba tônica é aquela que possui uma intensidade maior do que as outras sílabas, chamadas de
átonas (menos intensidade).

06) Complete a tabela dos acentos gráficos com as informações necessárias. Se precisar,
consulte a teoria.

Circunflexo ^ nas vogais fechadas.

é representado
Agudo pelo seguinte ´ eé
O acento nas vogais abertas.
sinal gráfico utilizado

Grave ` para indicar a crase.


EF7P-15-12
Capítulo

3 O texto lírico

A expressão por Relendo a primeira estrofe do poema em


LÍNGUA PORTUGUESA • GRUPO 1 •
RIQUEZAS E SABERES

meio da palavra voz alta, é possível observar a sonoridade


dos versos e identificar os fonemas que pre-
O que significa a palavra "lírico"? valecem em cada um deles. No primeiro ver-
Para conceituar o que é lírico, é preci- so, por exemplo, –“Alma minha gentil, que te
so compreender que a literatura, de forma partiste” – predominam os sons nasais, pro-
geral, pode ser identificada em três gêne- duzidos por /n/ e /nh/.
ros literários: dramático (teatro), épico Já no segundo verso – “tão cedo desta
(narrativo) e lírico (poesia). vida descontente” –, os sons mais secos
Nesse sentido, o termo "lírico" vem do são formados por /t/, os sons sussurra-
latim lyricu, que quer dizer "lira", um ins- dos são formados por /s/, sonoridade que
trumento musical de cordas grego. É, por- já havia começado no verso anterior, em
tanto, da música que surgiu a poesia. Isso "que te partiste”.
porque, até a Idade Média, a poesia ainda
estava ligada à música: as letras eram can-
Recursos linguísticos
tadas por trovadores e acompanhadas por no texto lírico
instrumentos musicais. No que diz respeito à sonoridade, é
A partir do Renascimento, a poesia co- possível percebê-la por meio dos fonemas,
meça a ser apenas declamada, sem o acom- nos versos do poema, assim como iden-
panhamento musical. Porém, ainda que não tificá-las no poema como um todo, neste
seja acompanhada, a poesia é melódica, pois caso, por meio das rimas.
é formada por palavras que, em conjunto, Rimas são palavras com terminações
produzem sons que podem ser associados a iguais ou semelhantes que contribuem
sensações. para a estética do texto poético.
Segue um exemplo de poesia lírica, de As rimas da primeira estrofe são:
Camões.
partiste – triste
Alma minha gentil, que te partiste descontente – eternamente
tão cedo desta vida descontente,
repousa lá no Céu eternamente, No caso do poema "Alma minha gen-
e viva eu cá na terra sempre triste. til, que te partiste", trata-se de um soneto,
como visto no capítulo anterior, sendo for-
Se lá no assento etéreo, onde subiste, mado por dois quartetos e dois tercetos.
memória desta vida se consente, Os versos de um soneto possuem sem-
não te esqueças daquele amor pre uma métrica, que é a medida do verso.
[ardente A divisão dessa medida é diferente da di-
que já nos olhos meus tão puro viste. visão silábica comum, pois, na medida do
verso, consideramos o som:
E se vires que pode merecer-te
alguma cousa a dor que me ficou "e/ vi/va eu/ cá/ na /te/rra /sem/pre/ tris”
da mágoa, sem remédio, de perder-te,
Há nesse verso dez sílabas métricas. É,
Roga a Deus, que teus anos encurtou, portanto, um verso decassílabo. Quando
EF7P-15-11

que tão cedo de cá me leve a ver-te, há proximidade de duas ou mais vogais,


quão cedo de meus olhos te levou. como em "viva eu", elas são considera-
Camões, Sonetos. Disponível em: <http:// das como uma única sílaba, pois se unem
www.dominiopublico.gov.br/download/texto/ quando declamadas. A última sílaba a ser
bv000164.pdf>. Acesso em: 25 mar. 2013. contada na métrica é sempre a última mais
Língua Portuguesa \ Riquezas e saberes 37

forte, ou seja, a última sílaba tônica; no artisticamente na poesia por meio do eu


caso do verso acima, em triste é contado o lírico.
"tris" e descartado o "te". Para melhor entender a diferença entre
Porém, além do soneto, há várias ou- o eu lírico e o autor, sugerimos ler a letra
tras formas de poema. A partir do fim do da canção "Explode coração", do composi-
século XIX e início do XX, surgiram poemas tor Luiz Gonzaga do Nascimento Júnior, o
muito diferentes do soneto, sem rimas e Gonzaguinha:
sem métricas.
Explode coração
O eu lírico ou o poeta?
O autor (poeta) é quem escreve o poe- Gonzaguinha
ma, porém o que está escrito não deve ser
considerado expressão direta do poeta, Chega de tentar dissimular e disfarçar
mas de seu eu lírico, ser "inventado" pelo [e esconder
escritor para compor os versos.
O que não dá mais pra ocultar e eu
Essa distinção entre autor e eu lírico
[não posso mais calar
ocorre porque um poeta pode falar de si-
tuações que ele nunca vivenciou ou de sen- Já que o brilho desse olhar foi traidor
timentos que não são dele. Para isso, ele
E entregou o que você tentou conter
atribui essas experiências ou sentimentos
ao eu lírico, que é a voz do poema. O que você não quis desabafar e me
No poema a seguir, de Fernando Pes- [cortou
soa, o eu lírico faz esta reflexão sobre o fa-
zer poético: Chega de temer, chorar, sofrer, sor
[rir, se dar
Autopsicografia
E se perder e se achar e tudo aquilo
[que é viver
O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente [...]
Que chega a fingir que é dor
Nascendo, rompendo, rasgando, to-
A dor que deveras sente.
mando, meu corpo e então eu
Chorando, sofrendo, gostando,
E os que leem o que escreve,
adorando, gritando
Na dor lida sentem bem,
Feito louca, alucinada e criança
Não as duas que ele teve,
Sentindo o meu amor se derramando
Mas só a que eles não têm.
Não dá mais pra segurar, explode
coração...
E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão, Disponível em: <http://letras.mus.
Esse comboio de corda br/gonzaguinha/46274/>. Acesso
em: 25 mar. 2013. Adaptado.
Que se chama coração.
PESSOA, Fernando. Autopsicografia. Nessa canção, apesar de o compositor
Disponível em: <http://www.dominiopublico. da letra ser um homem, o eu lírico apre-
gov.br/download/texto/ph000003. senta-se como sendo uma mulher, como é
EF7P-15-11

pdf>. Acesso em: 25 mar. 2013. mostrado nos versos "[...] feito louca, alu-
cinada e criança [...]". Nesse sentido, os
Segundo esse poema, o poeta pode fa- adjetivos destacados qualificam um sujeito
lar de uma dor que ele sente, porém trans- poético feminino, o que não deve ser con-
formando-a em outra dor, expressando-a fundido com o autor, neste caso, masculino.
38 Capítulo 3 – O texto lírico \ Grupo 1

Os lusíadas Modos e tempos verbais


Trata-se de uma obra poética em for-
Flexão verbal
ma de poema épico, escrito por Luís Vaz
O verbo é a classe gramatical que
de Camões para exaltar Portugal. Para
permite ao falante da língua portuguesa
escrevê-la, o poeta realizou uma façanha
expressar uma ação, um estado, um fe-
monumental: o livro é composto de 8.816
nômeno ou um fato. Para que isso ocor-
versos decassílabos, organizados em 1.102
ra, ele pode ser flexionado no que diz
estrofes e 10 cantos.
respeito:
Os lusíadas contam a história do heroico
• à pessoa (1ª, 2ª e 3ª);
povo português, que decidiu lançar-se aos
• ao número (singular e plural);
mares em busca de aventuras, tendo Vasco
• ao tempo (pretérito, presente e
da Gama como porta-voz.
futuro);
Tal empreitada aconteceu no período
• ao modo (indicativo, subjuntivo e
renascentista, e os portugueses desco-
imperativo);
briram belezas inigualáveis de um espaço
• à voz (ativa ou passiva).
geográfico pouco – ou nunca – conheci-
Neste capítulo, serão estudados os mo-
do por nenhum outro povo, desbravan-
dos e os tempos verbais.
do oceanos e destruindo alguns mitos e
crenças em relação a eles. As pessoas da Modos verbais
época, olhando para o mar e não vendo O modo verbal revela os vários posicio-
o final dele, acreditavam que a linha do namentos adotados por quem fala com
horizonte era o início de um abismo que relação ao que é dito. Por esse motivo, o
levaria ao inferno quem a alcançasse. O falante da língua portuguesa faz a escolha
testemunho de quem atravessou a linha e do modo em que empregará os verbos,
voltou a terra era o ponto máximo para a considerando as intenções de fala. No poe-
quebra dessas crenças. ma de Fernando Pessoa "Autopsicografia",
A descrição desse evento na obra de Ca- o eu lírico expressa uma certeza sobre o
mões chama a atenção dos deuses, pois a poeta, ao dizer que:
empreitada demonstrou o tamanho da ou- O poeta é um fingidor.
sadia daqueles homens: queriam atravessar Dessa maneira, para expressar uma
o mar e chegar às Índias por rotas "nunca certeza ou um fato, o verbo deve estar no
dantes navegadas". modo indicativo.
Em contrapartida, caso haja necessida-
de de demonstrar uma dúvida ou incerte-
PAVILA / SHUTTERSTOCK

za, o modo verbal que deverá ser utilizado


é o subjuntivo. O verso mencionado ante-
Por mares nunca de antes navegados
riormente poderia ficar assim:
Passaram ainda além da Taprobana,
Se o poeta fosse um fingidor
Em perigos e guerras esforçados
Além do indicativo e do subjuntivo, há
Mais do que prometia a força humana
também o modo imperativo, em que o
verbo expressa uma ordem, um conselho,
uma solicitação ou um pedido. Neste caso,
o verbo no modo imperativo dirige-se di-
retamente ao interlocutor; logo, não existe
na primeira pessoa, já que não é possível
EF7P-15-11

Camões, Os lusíadas: canto I.


mandar em si mesmo.
No exemplo do verso do poema, se ele
fosse flexionado no modo imperativo, po-
deria aparecer da seguinte forma:
Seja um poeta fingidor
Língua Portuguesa \ Riquezas e saberes 39

Tempos verbais
O tempo verbal indica o aspecto cronológico do verbo. Logo, ao flexionar o tempo de
um verbo, o falante da língua portuguesa estará indicando em que momento ou tempo
ocorre a ação, o estado, o fenômeno ou o fato: anterior ao momento de fala (passado
ou pretérito), no momento em que falamos (presente), ou em um momento posterior
àquele em que falamos (futuro).
Em cada modo verbal (indicativo, subjuntivo ou imperativo) há determinados tempos
verbais, como mostrado nestes mapas mentais:

Presente Fato certo, que ocorre no momento em que


falamos. Eu compro pipoca.

perfeito: fato ocorrido e finalizado no


passado. Eu comprei pipoca.

imperfeito: fato ocorrido e não finalizado no


Pretérito passado, que pode se estender no tempo. Eu
comprava pipoca.
MODO INDICATIVO
indica um fato certo,
seguro, real mais-que-perfeito: fato ocorrido no passado,
anterior a outro fato do passado, em relação
ao momento da fala. Eu comprara pipoca.

do presente: fato que ocorrerá no futuro, em


relação ao momento da fala. Eu comprarei
pipoca.
Futuro
do pretérito: fato que iria ocorrer no passado,
desde que houvesse condições. Eu compraria
pipoca, se ele não estivesse com pressa.
EF7P-15-11
40 Capítulo 3 – O texto lírico \ Grupo 1

presente: fato duvidoso que pode ocorrer no


presente. Espero que você compre pipoca.

MODO SUBJUNTIVO pretérito imperfeito: fato duvidoso, que


indica uma incerteza poderia ter acontecido no passado. Se você
ou dúvida comprasse pipoca, eu ficaria feliz.

futuro: fato duvidoso que poderá ocorrer no


futuro. Quando você comprar pipoca, eu
ficarei feliz.

afirmativo: Compre pipoca!


MODO IMPERATIVO
indica uma ordem,
pedido ou conselho
negativo: Não compre pipoca!

EF7P-15-11
Capítulo
O texto lírico
3
Atividade 7 ● A expressão por meio da palavra

LÍNGUA PORTUGUESA • GRUPO 1 •


RIQUEZAS E SABERES
Exercícios de Aplicação
Releia a última estrofe do soneto de Ca- 03) De acordo com essa estrofe, o eu lí-
mões para responder às perguntas: rico posiciona-se favorável ou contraria-
mente à própria morte? Explique, utilizan-
[...] roga a Deus, que teus anos en
do um verso da estrofe.
[curtou,
O eu lírico posiciona-se favoravelmente à
que tão cedo de cá me leve a ver-te, própria morte, de acordo com o verso "que
quão cedo de meus olhos te levou. tão cedo de cá me leve a ver-te".

01) No início do primeiro verso, o eu líri-


co utiliza o verbo “rogar”. Considerando o
contexto, assinale a alternativa que conte-
nha um verbo que possa substituí-lo, sem 04) Considere todo o soneto e responda:
que haja perda de sentido no verso: a palavra em negrito ("cá") refere-se a um
suposto espaço, onde o eu lírico se encon-
a Deus, que teus anos
tra, que faz contraposição com outro local
encurtou.
mencionado no poema. Identifique esse
a. Questione
lugar.
b. Pergunte
R.: C c. Suplique A palavra "cá" faz contraposição a "Céu”.
As atividades deste ca-
d. Responda pítulo vão ao encontro da
e. Murmure competência de compre-
ensão de textos literários,
02) Sublinhe o trecho que indica que o(a) indicada pelo Saresp:
amado(a), com quem o eu lírico dialoga, “A partir de dada in-
está morto(a). terpretação de um tex-
“que teus anos encurtou”. to literário, identificar
segmentos do texto
que podem ilustrar essa
interpretação.”
Exercício Proposto Matrizes de referência
para a avaliação Saresp:
documento básico / Se-
05) Escreva perguntas para as seguintes c. O que é um verso decassílabo? cretaria da Educação;
respostas. coordenação geral: Ma-
ria Inês Fini. São Paulo:
SEE, 2009. p. 40.
a. O que são rimas? É um verso com dez sílabas métricas.

São palavras com terminações iguais


ou semelhantes, que buscam tornar
o texto poético esteticamente belo.
EF7P-15-12

b. O que é métrica?

É a medida de um verso.
42 Capítulo 3 – O texto lírico \ Grupo 1

Estas atividades abor-


dam os tempos e modos
Atividades 8 e 9 ● Modos e tempos verbais
verbais e suas aplicações,
estimulando a reflexão Exercícios de Aplicação
sobre seus sentidos, o
que está de acordo com 01) Releia os versos da canção de Gonzaguinha, "Explode coração", e complete a tabela:
a aplicação da análise de Explode coração
regularidades da escrita.
BRASIL. Secretaria de Gonzaguinha
Educação Fundamental.
Parâmetros Curriculares Chega de tentar dissimular e disfarçar e esconder
Nacionais: língua por- O que não dá mais pra ocultar e eu não posso mais calar
tuguesa. Brasília, 1997. Já que o brilho desse olhar foi traidor
p. 85.
E entregou o que você tentou conter

Um verbo no imperativo afirmativo


Chega

Dois verbos no modo


Dá, posso
indicativo, no presente
Três verbos no modo indicativo, Foi, entregou, tentou
no pretérito perfeito

02) Considere que o segundo verso da canção tenha sido modificado da seguinte maneira:
O que não dava mais para ocultar e eu não podia mais calar
Que modificação ocorre nos verbos destacados? Explique.
O verso passa a referir-se a algo que acontecia no passado, pois os verbos passaram do presente do
indicativo para o pretérito imperfeito do indicativo.

03) Leia a tirinha, para responder às perguntas a e b:


MOISES

a. Identifique todos os verbos que são ditos pela personagem na tirinha e escreva o
modo e o tempo verbal em que se encontram.
Os verbos: brilham, são, é, contemplo, piam, mugem, acho e consigo estão no presente do indicati-
vo; os verbos parar e rimar estão no infinitivo.
EF7P-15-12

b. No último quadrinho, a personagem afirma que "nunca consegue rimar". Essa fala in-
dica uma certeza ou uma dúvida? Responda, explicando o modo verbal empregado.
Essa fala indica uma certeza, pois a personagem usa o verbo no presente do indicativo.
Língua Portuguesa \ Riquezas e saberes 43

04) Considere a tirinha e responda: qual é a razão de as palavras "parar" e "rimar" esta-
rem em negrito, no último quadrinho? Explique.
As palavras "parar" e "rimar" estão em negrito para realçar a rima produzida, o que provoca o
humor da tira, visto que a personagem reclama justamente de não conseguir rimar.

Exercícios Propostos
05) Releia o Mapa mental referente aos modos e tempos verbais e complete a tabela.

Modo Indica Tempo Indica

Fato que ocorre no momen-


Presente
to da fala.

Fato ocorrido e
Pretérito perfeito
finalizado no passado.

Fato ocorrido e não finali-


E possui os seguintes tempos verbais

Fato certo, real Pretérito imperfeito zado, que pode se estender


no tempo.
Indicativo
Fato ocorrido no passado,
Pretérito mais-que-perfeito anterior a outro fato no
passado.

Futuro do
Fato que ocorrerá no futuro.
presente

Fato que ocorreria no


Futuro do pretérito
passado.

Fato que pode ocorrer no


Presente
presente.
Incerteza ou
dúvida
Subjuntivo Fato que poderia ter
Pretérito imperfeito
acontecido no passado.

Fato que poderá ocorrer no


Futuro
futuro.

06) Com relação ao modo imperativo, complete o Mapa mental:

Modo Indica
EF7P-15-12

Ordem,
Imperativo pedido ou
conselho
Capítulo

4 O texto narrativo: a história contada

Narrar é contar? e Visconde, que aparecem em outra obra de


LÍNGUA PORTUGUESA • GRUPO 1 •
RIQUEZAS E SABERES

No capítulo anterior, foram apresen- Monteiro Lobato bem conhecida, o Sítio do


tados poemas de Camões e de Fernando Picapau Amarelo, participam de aventuras
Pessoa, além de uma canção do compositor ao lado de Hércules, herói da mitologia gre-
Gonzaguinha. Vimos que, por meio da pa- ga, na região de Nemeia, na Grécia Antiga.
lavra, o homem consegue expressar senti- Segue um trecho do livro:
mentos e emoções que ultrapassam épocas No terceiro dia pela manhã, já tudo
e momentos históricos, registrando as per- estava pronto para a partida. Pedrinho
cepções sobre as mudanças e o desenvolvi- deu uma pitada de pó a cada um e contou:
mento da humanidade. Um... dois e... TRÊS! Na voz de
Todo o Mundo é composto de mu Três, todos levaram ao nariz as pitadi-
[dança, nhas e aspiraram-nas a um tempo. So-
Tomando sempre novas qualidades. breveio o fiun e pronto.
Luís Vaz de Camões Instantes depois, Pedrinho, o Vis-
conde e Emília acordavam na Grécia
Heroica, nas proximidades da Nemeia.
Era para onde haviam calculado o pó,
pois a primeira façanha de Hércules ia
ser a luta do herói contra o leão da lua
VMASTER / SHUTTERSTOCK

que havia caído lá.


O pó de pirlimpimpim causava
uma total perda dos sentidos, e depois
Este capítulo abordará do desmaio vinha uma tontura da qual
o gênero narrativo. Essa os viajantes saíam lentamente. Quem
abordagem é feita segun- primeiro falou foi Emília:
do as orientações de do-
cumentos oficiais peda-
— Estou começando a ver a Grécia,
gógicos, permitindo que mas tudo muito atrapalhado ainda...
Agora, veremos como se desenvolve o
o educando possa: Parece que descemos num pomar...
texto narrativo. Por meio de sua leitura, é
• identificar o seg- Pedrinho também viu árvores em
mento de uma narrativa possível experimentar a sensação de co-
redor. Esfregou os olhos. Deixou pas-
literária em que o enun- nhecer outros lugares, com personagens
sar mais alguns segundos. Depois:
ciador determina o des- diferentes e interessantes, e acompanhar
— Não é pomar. É um olival. Esta
fecho do enredo; histórias até de outras épocas.
• identificar marcas de Grécia é o país das oliveiras, as árvo-
lugar, de tempo ou de res que dão azeitonas. E parece que es-
época em um enunciado O que é narrativa? tas oliveiras estão carregadas.
de narrativa literária; O texto narrativo é aquele em que o Instantes depois estavam os três em
• identificar marcas
do foco narrativo em um
narrador, posicionando-se numa determi- estado normal. O Visconde sentara-se
enunciado de narrativa nada perspectiva (foco narrativo), conta em cima da canastra da Emília, a qual
literária; a história de uma ou mais personagens não tirava os olhos das árvores.
• organizar os episó- que se envolvem em um enredo. Este, por — Maduras, Pedrinho. Por que não
dios principais de uma sua vez, está inserido em um determinado enche o seu embornal? Gente é como
narrativa literária em tempo e espaço. Enquanto o texto lírico automóvel: não anda sem estar sempre
sequência lógica;
é constituído de versos e estrofes, o tex- comendo qualquer coisa. O automó-
EF7P-15-11

• inferir o conflito ge-


rador de uma narrativa to narrativo apresenta uma história, por vel bebe gasolina nas bombas; a gente
literária, avaliando as re- meio da prosa. “manduca” o que encontra.
lações de causa e efeito Um exemplo de narrativa é Os doze tra- LOBATO, Monteiro. Os doze
que se estabelecem en- balhos de Hércules, de Monteiro Lobato. trabalhos de Hércules. São Paulo:
tre segmentos do texto;
Nesse livro, as personagens Pedrinho, Emília Brasiliense, 2005. Fragmento.
Língua Portuguesa \ Riquezas e saberes 45

• inferir o papel de-


Em um texto narrativo, como o que foi Você sabia? sempenhado pelas per-
visto anteriormente, podemos formular as sonagens em uma nar-
seguintes questões: Os doze trabalhos de Hércules (1944) rativa literária.
• O que acontece? retomam as famosas aventuras do herói
• Com quem acontece? da mitologia da Antiguidade Clássica, A leitura de uma obra
• Como acontece? Hércules, personagem que aparece em de Monteiro Lobato se-
muitas das artes da Renascença. Porém, gue indicação do Saresp,
• Em que lugar acontece? na obra de Monteiro Lobato, suas histó- que o recomenda para
• Quando acontece? rias são contadas de maneira moderna o sétimo ano do Ensino
• Por que acontece? e inusitada: Hércules é acompanhado Fundamental.
• Para que acontece? pelas personagens da literatura infanto- Matrizes de referência
O quadro a seguir traz as respostas para a avaliação Saresp:
-juvenil, como a esperta boneca de pano documento básico / Se-
para essas questões, em relação ao texto Emília, o sabugo humanizado e culto Vis- cretaria da Educação; co-
Os doze trabalhos de Hércules: conde de Sabugosa e o aventureiro meni- ordenação geral: Maria
no Pedrinho. Inês Fini. São Paulo: SEE,
Fatos que se referem Emília, Pedrinho e Visconde são per- 2009, p. 40.
O que à história narrada. sonagens que aparecem em várias obras
acontece? Viajam no tempo e no de Monteiro Lobato, que compõem a
espaço para a Grécia Antiga. coleção do Sítio do Picapau Amarelo. A
série é composta por mais de quinze li-
Relacionado aos vros, inclusive pelos dois volumes de Os
Com quem personagens
acontece? doze trabalhos de Hércules, e a primeira
Pedrinho, Emília e Visconde. obra é Reinações de Narizinho (1931), em
que aparecem as personagens Narizinho,
A maneira como os Pedrinho, Emília, Visconde, Rabicó, Quin-
fatos se desenvolvem
Como dim, Nastácia e Burro Falante.
acontece? Usam o mágico pó
de pirlimpimpim.

Lugar em que a
Em que lugar história é narrada Para saber mais!
acontece? Na Grécia Antiga, o grande
Saem do sítio e vão
para a Grécia. herói nacional foi Héracles, ou
O momento em que Hércules, como se chamou de-
se passa a história. pois. Era o maior de todos – e ser
Quando o maior de todos na Grécia daque-
acontece? Saem do presente e le tempo equivale a ser o maior
vão para o passado, na do mundo. Por isso, até hoje vive
Antiguidade Clássica.
Hércules em nossa imaginação. A
Qual é a razão de os cada momento, na conversa co-
fatos ocorrerem. mum, a ele nos referimos, à sua
Por que
acontece? imensa força ou às suas façanhas
As personagens querem
encontrar Hércules. lendárias. Dele nasceu uma pala-
vra muito popular em todas as lín-
Resultados dos guas, o adjetivo “hercúleo”, com
acontecimentos a significação de extraordinaria-
EF7P-15-11

mente forte.
Para que
acontece? Eles chegam à Grécia LOBATO, Monteiro. Os doze
Antiga e vivenciam os doze trabalhos de Hércules. São Paulo:
trabalhos de Hércules. Brasiliense, 2005. p. 7. Fragmento.
46 Capítulo 4 – O texto narrativo: a história contada \ Grupo 1

Clímax
Nesse momento, o conflito chega

VERZZH / SHUTTERSTOCK
ao seu ponto máximo de desequilíbrio,
e as personagens precisam adotar um
comportamento que vise à solução do
conflito.
Desfecho
O desfecho é o final da narrativa. Nes-
se momento, descobrimos como a história
terminou, porém não necessariamente o
conflito pode ter sido resolvido.

Foco narrativo
O narrador, ao contar uma história, o
faz por meio de um determinado ponto de
vista. Nesse sentido, ao narrar, ele se posi-
ciona de uma determinada maneira diante
Elementos da narrativa da história, demonstrando maior ou me-
No texto narrativo, alguns elementos são
nor envolvimento com o que é contado. A
essenciais para o entendimento do leitor:
este posicionamento do narrador diante
foco narrativo, personagens, enredo, espa-
das sequências narrativas, damos o nome
ço e tempo. A seguir, explicamos cada um
de foco narrativo.
desses aspectos estruturais da narrativa:
Além disso, a narração pode ser feita por
um narrador observador ou um narrador
Enredo personagem.
A ação de uma história é composta por
uma sequência de fatos que as persona-
Narrador observador
gens vivenciam em um determinado tempo
Conta a história, colocando-se numa
e espaço. Sendo assim, as sequências narra-
perspectiva externa, já que não partici-
tivas precisam estar extremamente ligadas
pa das ações narradas. Apresenta-se por
e encadeadas, de maneira a criar o enredo
meio de verbos flexionados na terceira
da história.
pessoa.
Para que o leitor compreenda a história
narrada, é necessário que haja uma orga-
nização das sequências narrativas. Logo, Instantes depois, Pedrinho, o
em uma narração é possível identificar Visconde e Emília acordavam na
quatro momentos importantes: Grécia Heroica, nas proximidades
da Nemeia.
Situação inicial
Momento em que as personagens e o
enredo são apresentados. Narrador personagem
Conta a história, posicionando-se
Conflito
numa perspectiva interna, pois participa
Após a apresentação das personagens,
das ações narradas. Pode apresentar-se
do tempo e do espaço em que elas estão
por meio de verbos flexionados na pri-
inseridas, algumas situações acontecem e
EF7P-15-11

meira pessoa. Por exemplo, se Emília


levam à instabilidade da história, colocan-
contasse a história, o trecho acima fica-
do as personagens em uma situação que
ria da seguinte forma:
deverá ser resolvida.
Língua Portuguesa \ Riquezas e saberes 47

Instantes depois, Pedrinho, Visconde e eu esse processo é contado de forma crono-


acordamos na Grécia Heroica, nas proximi- lógica, ou seja, os fatos são apresentados
dades da Nemeia. em sequência.
Psicológico
É apresentado por meio da subjetivida-
Espaço de expressa pelos sentimentos e emoções
O espaço é o ambiente em que as per-
da personagem, demonstrado por meio de
sonagens circulam e onde se desenvolve o
lembranças e memórias.
enredo da narrativa.
No livro Os doze trabalhos de Hércules,
as personagens saem do sítio, que é o pri-
Personagens
As personagens são os seres que se en-
meiro espaço, e vão para as proximidades
volvem na história narrada. Em geral, apre-
da cidade de Nemeia.
sentam traços físicos e psicológicos parti-
culares, que são apresentados no decorrer
da história. Vale lembrar que, em muitos
GEORGIOS ALEXANDRIS / SHUTTERSTOCK

momentos, as personagens podem ser


animais ou seres fantasiosos, porém, com
comportamentos e atitudes humanos.

Hércules era muito forte, bruto, mas tinha


bom coração. Muitas vezes, matava culpa-
dos e inocentes e, depois, chorava de arre-
pendimento.

O templo de Zeus, no antigo local


de Nemeia, sul da Grécia
Tempo
Cada uma das sequências narrativas de
uma história ocorre em um determinado
tempo, com uma duração que irá depender
DAVOR PUKLJAK / SHUTTERSTOCK

da maneira como o narrador a retrata. Nesse


sentido, o narrador pode contar a história da
maneira exata como ela está acontecendo,
pode entrelaçar passado e presente, assim
como pode expressar as angústias de uma
personagem, demonstrando como o tempo
influencia nas vivências e sentimentos dela.
Por esse motivo, o tempo da narrativa
pode ser classificado em:
Hércules e Cérbero. Palácio de
Cronológico Hofburg, Viena, Áustria.
É apresentado por meio da objetivida-
de expressa pela sucessão de fatos, sendo Gêneros da narrativa
EF7P-15-11

demonstrado por marcas temporais, que Há vários gêneros narrativos: o roman-


indiquem horas, dias, meses e anos. ce, a fábula, o conto, a novela, a epopeia
Na aventura do livro de Monteiro Lo- e a crônica. Cada um deles apresenta uma
bato, as personagens voltam ao passado estrutura textual específica e possui uma
e vivenciam a Grécia Antiga. Porém, todo determinada finalidade.
Capítulo

4 O texto narrativo: a história contada

Atividades 10 e 11 ● Narrar é contar?


LÍNGUA PORTUGUESA • GRUPO 1 •
RIQUEZAS E SABERES

Exercícios de Aplicação

Roda de conversa como se chamou depois. Era o maior


de todos — e ser o maior de todos na
Na Grécia Antiga, as coisas e os sen- Grécia daquele tempo equivale a ser o
timentos humanos eram explicados por maior do mundo. Por isso, até hoje vive
meio de mitos, em que histórias de deu- Hércules em nossa imaginação. A cada
ses, semideuses e heróis eram referências momento, na conversa comum, a ele
do povo grego para a compreensão do nos referimos, à sua imensa força ou
mundo. às suas façanhas lendárias. Dele nasceu
Até hoje, a mitologia grega é uma das uma palavra muito popular em todas
bases do pensamento ocidental, norte- as línguas, o adjetivo “hercúleo”, com
ando noções de propriedades humanas, a significação de extraordinariamente
como o amor, o ciúme, a soberba etc. Nas forte.
artes, a mitologia grega apareceu como
tema em vários momentos da história e
A principal característica de Hércu-
teve um papel importantíssimo no Renas- les estava em ser extremamente forte,
cimento. O próprio nome "Classicismo", extremamente bruto, mas dotado de um
dado à corrente literária desse período, grande coração. No calor das façanhas,
refere-se à Idade Clássica, ou seja, ao perí- muitas vezes matava culpados e ino-
O trabalho neste capí- odo referente à Antiguidade Clássica. centes — e depois chorava arrependido.
tulo será guiado pelo uso Saiba mais sobre alguns mitos da Anti- Disse o escritor francês Anatole France:
do texto “Hércules”, do guidade Clássica e o que eles representam: “Havia em Hércules uma doçura singu-
livro Os doze trabalhos
de Hércules. Com esse
Hércules: filho do deus Zeus com a lar. Depois de em seus acessos de cóle-
texto, buscamos: mortal Alcmena. A esposa de Zeus, Hera, ra golpear culpados e inocentes, fortes e
• estimular a leitura de enciumada, persegue Hércules e o faz ma- fracos, Hércules caía em si e chorava. E
obras clássicas; tar a própria família. Após esse episódio, talvez até tivesse dó dos monstros que
• fomentar a curiosida- Hércules, com remorso e medo, encontra- andou destruindo por amor aos homens:
de do educando no que -se com um oráculo que, por ser devoto de
a pobre Hidra de Lerna, o pobre Mino-
diz respeito à mitologia. Hera, engana o semideus e o envia para o
Para isso, antes de os rei Eristeu, que lhe dá doze trabalhos qua-
tauro, o famoso leão do qual tirou a pele
alunos responderem às se impossíveis de serem realizados. para transformá-la em peliça. Mais de
questões, fazer com eles Hidra de Lerna: era uma serpente de uma vez, ao fim dum daqueles feitos,
uma roda de conversa,
sete cabeças, sendo que elas se recupera- olhou horrorizado para a clava suja de
incentivando comentá- sangue... Era robustíssimo de corpo e
rios sobre o texto lido, vam após serem cortadas.
com o objetivo de: Minotauro: um monstro com cabeça mole de coração.”
• desenvolver o traba- de touro e corpo de homem que habitava — Coitado! Tinha coração de bana-
lho com a oralidade; um labirinto na cidade de Creta. na...
• permitir que os edu- Atenas: deusa da sabedoria, tendo Esta conversa ocorria no Sítio do Pi-
candos expressem seu sido gerada da cabeça de Zeus. capau Amarelo, entre a boa Dona Benta
ponto de vista sobre o Disponível em: <http://guiadoestudante.abril. e seu neto Pedrinho. E o assunto recaíra
assunto; com.br/aventuras-historia/saiba-mais-mitologia-
• fazer um levanta- em Hércules porque o garoto estivera a
EF7P-15-12

grega-729488.shtml>. Acesso em: 3 abr. 2013. recordar passagens das suas aventuras
mento prévio do grupo
sobre o assunto. na Grécia Heroica, como vem contado
no O Minotauro.
Hércules — E se voltarmos para lá? – excla-
Na Grécia Antiga, o grande herói mou Pedrinho. — Aquela Grécia não
nacional foi Héracles, ou Hércules, me sai da cabeça, vovó...
Língua Portuguesa \ Riquezas e saberes 49

— Para que, meu filho? que nós mesmos.” E Narizinho acres-


— Para assistirmos às outras fa- centou: “Vovó diz que não, só por dizer,
çanhas de Hércules. Só vimos uma: porque o tal ‘não’ sai da boca dos ve-
a destruição da Hidra de Lerna. São lhos por força do hábito. Mas o ‘não’ de
doze... vovó quer quase sempre dizer ‘sim’.”
Dona Benta fez ver que o fato de terem Dona Benta opôs-se a que Pedrinho
saído incólumes da luta entre Hércules e a voltasse à Grécia para tomar parte nas
hidra fora um verdadeiro milagre, sendo onze façanhas do grande herói, mas
impossível que tal milagre se repetisse nas opôs-se dum modo que era o mesmo
outras façanhas. que dizer: “Vá, mas escondido de
— Eu quase morri de medo – disse mim...” e Pedrinho exultou.
a boa velhinha – quando, lá na casa de — Falei com vovó – foi ele corren-
Péricles, em Atenas, tive comunicação do dizer a Narizinho – e ela veio com
de que você, Emília e o Visconde esta- aquele “não” de sempre, que nós tra-
vam assistindo a essa luta de Hércules duzimos por “sim.” Vou mandar o Vis-
com a tal serpente de sete cabeças... conde fabricar o pó de pirlimpimpim
— Nove – corrigiu Pedrinho. — necessário. Volto lá com o Visconde e
Oito mortais e uma imortal. a Emília...
— Ou isso. Quase morri de medo, — E eu? Fico chupando no dedo?
porque bastava que uma simples gota — Ah, você não pode ir, Narizinho.
do sangue da hidra espirrasse em vo- Vovó não anda boa do reumatismo,
cês para irem todos para o beleléu. tem necessidade de um de nós sempre
Pedrinho danava com aqueles me- junto dela.
dos da vovó. Sempre que ele sugeria LOBATO, Monteiro. Os doze
alguma aventura nova, lá vinha ela com trabalhos de Hércules. São Paulo:
o tal medo e a tal pontada no coração. Brasiliense, 2005. Fragmento.
Resultado: ele metia-se nas aventuras
do mesmo modo, mas escondido, sem Vocabulário
licença dela. “Os velhos não entendem Incólume: são e salvo; intacto, ileso.
os novos”– dizia Pedrinho. “Querem Façanha: feito heroico, proeza, ação ex-
nos governar, querem nos obrigar a fa- traordinária, maravilhosa, ação perversa, ato
zer exatinho o que eles fazem. Esque- desonroso.
cem-se de que se fosse assim, o mun- Hidra: mitologia grega. Serpente de sete
do parava – não havia nada novo... E cabeças que renasciam quando decepadas,
note-se que vovó não é como as outras a não ser que fossem todas cortadas de um
velhas. No começo não quer, e opõe- só golpe. Foi morta por Hércules.
-se; mas, se realizamos às escondidas Zanga: aborrecimento, irritação, cólera.
alguma aventura, assim que vovó sabe Exultar: aclamar; dar grande felicidade.
faz uma cara de espanto e de zanga, Reumatismo: quadro patológico com sin-
mas esquece logo a zanga e gosta, e às tomatologia dolorosa em músculos e articu-
vezes ainda fica mais entusiasmada do lações, sem febre nem caráter inflamatório.

01) O texto lido corresponde ao primeiro capítulo do livro Os doze trabalhos de Hércules, do
escritor Monteiro Lobato. Nesse trecho, o diálogo ocorre entre duas personagens do Sítio do
Picapau Amarelo. Identifique-o e reescreva um trecho do texto que comprove sua resposta.
EF7P-15-12

O diálogo ocorre entre a Dona Benta e o Pedrinho. Trecho: "Esta conversa ocorria no Sítio do Pica-
pau Amarelo, entre a boa Dona Benta e seu neto Pedrinho”.
50 Capítulo 4 – O texto narrativo: a história contada \ Grupo 1

O exercício 04 possui
mais de uma resposta
02) Ao dizer que sente vontade de voltar b. Assinale a frase em que a palavra
possível. Avaliar e consi- à Grécia, Pedrinho usa a seguinte expres- "beleléu" foi utilizada com o mes-
derar as opções apresen- são: "Aquela Grécia não me sai da cabeça, mo sentido empregado na fala da
tadas pelo educando. Vovó". Reescreva a fala do Pedrinho, subs- Dona Benta.
Trabalhar a oralidade tituindo a expressão em negrito por outra I. Cara, o Pedrinho é louco! Ele deu
em sala, de maneira que que mantenha o sentido da frase. um chute tão forte na bola que ela
o educando possa se ex-
pressar. Por isso, sugeri- Aquela Grécia sempre sendo relembrada. foi parar lá no beleléu.
mos um debate, no qual R.: II II. O Pedrinho vai ficar muito triste ao
os educandos possam saber que o cachorrinho dele, de-
se posicionar a favor ou pois de comer veneno de rato, foi
contra a atitude de Pedri- para o beleléu.
nho, sempre justificando
III. Se o Pedrinho esqueceu a varinha
sua escolha. Em seguida, 03) Leia uma das falas da Dona Benta,
transpor a opinião apre- mágica na Grécia, certeza de que a
para responder às perguntas a e b:
sentada no debate para a essa hora ela já foi para o beleléu!
— Ou isso. Quase morri de medo,
modalidade escrita.
porque bastava que uma simples gota
04) De acordo com a narrativa, Pedrinho
do sangue da hidra espirrasse em vo-
sempre se aventurava, ainda que a avó
cês para irem todos para o beleléu.
não permitisse. Você acha que essa atitu-
a. A palavra em destaque é um subs-
de dele é correta? Responda, justificando.
tantivo masculino e possui três sig-
nificados: lugar distante, morrer e Resposta pessoal
desaparecer. Qual desses sentidos
foi empregado na fala da Dona
Benta?
Morrer.

Exercícios Propostos

05) Em sala de aula, você leu o primeiro capítulo do livro Os doze trabalhos de Hércules.
Considerando esse capítulo, as informações do livro de teoria e seu conhecimento de mun-
do, responda às perguntas sobre a tirinha:

EF7P-15-12
Língua Portuguesa \ Riquezas e saberes 51

a. No terceiro quadro da tirinha, a considerando as rimas existentes en-


personagem diz uma frase que foi tre as palavras finais. Considere isso
colocada entre aspas. Qual é a ra- e responda: o que traz o humor na
zão do uso desse sinal gráfico? tirinha lida? Explique.
O uso das aspas enfatiza a resposta, de- O humor da tirinha inicia-se com a primeira
monstrando ironia, ou seja, na verdade, a frase rimada "oi, cara de boi". Isso porque
personagem não considerou engraçado o essa expressão já é muito conhecida na lín-
comentário ouvido. gua portuguesa, quando queremos trazer
certa brincadeira para o discurso, por meio
de uma linguagem não literal. Todavia, ao
ser empregada na tirinha, ela traz o humor,
já que a frase é empregada na literalidade,
pois a personagem realmente cumprimenta
o ser que “tem cara de boi”.

b. O torcicolo é um distúrbio que


enrijece os músculos do pesco- 06) Quais são os elementos que com-
ço, obrigando a pessoa atingida a põem uma narrativa?
olhar somente para um lado. Con-
siderando isso, por que a persona- Foco narrativo, enredo, personagens, espa-
gem pergunta ao amigo se ele es- ço e tempo.
tava com torcicolo?
A personagem faz essa pergunta porque
o amigo, desde o primeiro quadro, chega
olhando para cima, o que fez a personagem
supor que ele estivesse com torcicolo. Apresentar a canção,
por meio de recursos
multimidiáticos, para que
a atividade se torne mais
prazerosa.

c. Algumas expressões da língua portu-


guesa são faladas, de modo cômico,

Atividade 12 ● Análise de texto: Mulheres de Atenas


Exercícios de Aplicação

Considerando as leituras realizadas até Vivem pros seus maridos


aqui, leia um trecho da letra da canção Orgulho e raça de Atenas
"Mulheres de Atenas", de Chico Buarque, [...]
para responder às perguntas:
Mirem-se no exemplo
EF7P-15-12

Mulheres de Atenas
Daquelas mulheres de Atenas:
Chico Buarque Geram pros seus maridos,
Os novos filhos de Atenas.
Mirem-se no exemplo
[...]
Daquelas mulheres de Atenas
52 Capítulo 4 – O texto narrativo: a história contada \ Grupo 1

Elas não têm gosto ou vontade, 03) Releia a última estrofe da canção e re-
Nem defeito, nem qualidade; flita sobre o papel dessa mulher retratada
Têm medo apenas. por Chico Buarque. Você acredita que ela
Não têm sonhos, só têm presságios. era feliz? Justifique sua resposta, utilizan-
O seu homem, mares, naufrágios... do trechos da música.
Lindas sirenas, morenas. Resposta pessoal
Disponível em: <http://letras.mus.br/chico-
Esperamos que o edu- buarque/45150/>. Acesso em: 2 abr. 2013.
cando perceba que a
mulher ateniense vivia
em um contexto cul- Você conhece?
tural específico e que Francisco Buarque de Hollanda, mais
isso a obrigava a agir de conhecido como Chico Buarque, é um
certas maneiras. Consi- dos maiores artistas brasileiros. Músico,
derando isso, ele deve
avaliar a maneira como
escritor e dramaturgo, tornou-se conhe-
ela era obrigada a viver cido do público ao ganhar o Primeiro
e expor o que pensa so- Festival de Música Popular Brasileira,
bre o tema, bem como com a "A banda". 04) Em duplas, converse com o(a) colega
os motivos que o levam Fez grandes parcerias musicais com de sala sobre a música: as duas primeiras
a acreditar no que diz. outros importantes compositores, como estrofes da canção iniciam-se com um ver-
Vinicius de Moraes, Tom Jobim, Milton so contendo o verbo no imperativo "Mi-
Ajudar o aluno a notar Nascimento, Caetano Veloso e Toquinho. rem-se". Este verbo demonstra o eu lírico
os indícios apresentados
na letra da canção, tais dialogando com um interlocutor. Pensan-
como: do nisso, responda:
• a escolha lexical: a. Com quem você acredita que o eu
JACK GUEZ / AFP

“medo”, “presságios”, lírico dialoga?


“Não têm sonhos [...]”;
• a escolha semântica: Com a sociedade em geral.
“[...] não têm gosto ou
vontade/ Nem defeito,
nem qualidade” – são in-
visíveis na sociedade em
que vivem, sem identi-
dade.

O exercício 5, apesar
de ser indicado como b. Ao usar o verbo "Mirem-se", o eu
proposto, pode ser corri- 01) Na primeira estrofe do poema, o últi-
lírico deseja que o interlocutor siga
mo verso refere-se:
– ou não – o exemplo das mulheres
a. às mulheres de Atenas.
de Atenas? Explique.
b. à cidade de Atenas.
R.: C c. aos maridos das mulheres de O eu lírico usa o verbo "Mirem-se" no sen-
Atenas. tido de não fazer como era, ou seja, não se-
guir o exemplo daquelas mulheres.
d. ao compositor Chico Buarque.
02) Dentre outras funções, a principal
obrigação feminina era cuidar dos filhos.
Transcreva, nas linhas a seguir, os versos
EF7P-15-12

da música que comprovam essa afirmação.


“Geram pros seus maridos / Os novos filhos
de Atenas.”
Língua Portuguesa \ Riquezas e saberes 53

Exercício Proposto

05) Agora, é a sua vez de opinar: consi- b. Atualmente, você acredita que a gido em forma de deba-
derando o que você aprendeu, nesta e em mulher ocupa um papel impor- te oral em sala, para que
outras disciplinas sobre o papel da mulher tante na sociedade? Justifique sua os educandos tenham a
na sociedade grega, responda: resposta. possibilidade de expor
a. Você acredita que há influências as próprias opiniões e
Resposta pessoal complementá-las por
daquela sociedade no atual con- meio do conhecimento
texto social? Explique. da opinião do outro.

Resposta pessoal
EF7P-15-12
Capítulo

5 O texto teatral: a história encenada

Narrar é encenar? O surgimento do teatro


LÍNGUA PORTUGUESA • GRUPO 1 •
RIQUEZAS E SABERES

Já vimos que uma história pode levar No teatro, personagens realizam uma ação
o leitor a uma viagem inesperada, cheia em um espaço. Mas, que tipo de ação é essa?
de surpresas e aventuras, contada por um No teatro, as personagens sempre fa-
narrador. Agora, propomos imaginar a vi- zem uma imitação da ação humana. As ra-
vência dessas experiências não somente ízes do teatro podem estar nessa imitação,
por meio de uma narração textual, mas visto que é natural do homem a imitação:
também presenciando as ações das perso- as crianças imitam os adultos e, provavel-
nagens assim como as aventuras nas quais mente, a imitação era uma forma de co-
elas se envolvem! Isso é possível por meio municação dos povos da pré-escrita.
de outro gênero literário: o dramático. Assim, mesmo se as personagens de
uma encenação forem animais, estes se-
rão personificados, ou seja, terão caracte-
I GOR BULGARIN / SHUTTERSTO C K

rísticas humanas realizando, inclusive, diá-


logos. E qual é o primeiro teatro de que se
tem registro no Ocidente? São as tragédias
gregas, realizadas muitos séculos antes de
Cristo, que eram compostas por atores que
usavam máscaras e por um coro de atores
que entravam em cena para representar a
moral da sociedade da Grécia Antiga.
Grupo teatral ucraniano
A tragédia grega, por sua vez, surgiu
das manifestações religiosas que homena-
A palavra como início geavam Dioniso, deus grego da fertilidade
Para compreender o que é o gênero dos campos, da vegetação e das vinhas. Es-
dramático, é necessário iniciar com a signi- sas festas aconteciam na época da colheita
ficação da palavra: o termo dramático, que da uva, como agradecimento e súplica por
designa o gênero literário em estudo. Esse uma próxima colheita fértil.
termo deriva da palavra da língua grega,
drama, e significa "ação". Logo, a principal
característica do gênero dramático é a ação
e o fazer das personagens de uma história,
GALLERIA DEGLI UFFIZI, FLORENCE
de modo encenado, em um espaço e tempo
específicos. Por esse motivo, estudar o dra-
mático é reconhecer que ele está associado
a uma das manifestações artísticas clássicas
da humanidade: o teatro.

Personagem

Gênero
Baco, de Caravaggio.
EF7P-15-11

dramático
Espaço Ação A religiosidade sempre apareceu em
muitas formas de manifestações teatrais ao
Tempo
longo dos séculos. Em alguns períodos, ela
esteve mais presente (em certos casos, o te-
atro foi realizado inclusive dentro das igrejas)
Língua Portuguesa \ Riquezas e saberes 55

e, em outros, mais ausente. O teatro priori- ta cidade de Verona: os Montecchio e os


zava temas sobre as questões humanas. Capuleto.
Na Renascença, o teatro desenvolveu-se Verona foi invadida por arruaças, dis-
com grande amplitude humanística, com cussões e brigas provenientes da rivalida-
destaque para o teatro da Inglaterra, em de entre essas duas famílias, em conjun-
que figurava um dos maiores escritores da to com aqueles que tomavam partido de
literatura universal: William Shakespeare cada uma. Preocupado com os aconteci-
(1564-1616). mentos, o príncipe da cidade determinou
que mataria o próximo que incitasse mais
William Shakespeare uma dessas brigas. Porém, ninguém espe-
William Shakespeare nasceu em 23 rava que pudesse acontecer determinada
de abril de 1564, na cidade inglesa de "obra do destino": no baile de máscaras
Stratford-Avon. Ainda jovem, sempre teve realizado na casa dos Capuleto, Romeu
o hábito da leitura indiscriminada: de clássi- Montecchio encontra Julieta Capuleto e o
cos a crônicas, passando por contos e nove- amor invade os corações dos jovens.
las; o autor era possuído pelo desejo da lei-
tura. Talvez fosse esse um dos motivos que
lhe permitiram retratar a natureza e os sen-
timentos humanos com tanta vivacidade.

VILLA CARLOTTA, PROVINCE OF COMO, ITALY


Paixão, ciúme, ambição, traição, ganância,
vingança, coragem, ousadia: de todas essas
características, o inglês retirou argumentos
para as peças que escrevia e que tiveram
como espectadores personalidades im-
portantes, como a rainha Elizabeth, que se
divertiam assistindo a peças como Sonhos
de uma noite de verão, A megera domada,
Muito barulho por nada, A tempestade etc.
Dentre as 35 peças escritas por
Shakespeare, uma das mais conhecidas
O último beijo de Romeu em
certamente é a história de um amor entre
Julieta, Francesco Hayez, 1823.
famílias rivais: Romeu e Julieta.
Seguem alguns trechos da peça Romeu
e Julieta:
A NGELINA ARALOVETC / SHUTTERSTO C K

Julieta avista pela primeira vez Ro-


meu no baile de máscaras:
(Saem todos, com exceção de Julie-
ta e a ama)
JULIETA – Ama, quem é aquele
gentil-homem?
AMA – Herdeiro e filho de Tibério,
o velho.
JULIETA – E aquele que ora passa
Caricatura de William Shakespeare
pela porta?
EF7P-15-11

AMA – Se não me engano, é o filho


Romeu e Julieta de Petrucchio.
O enredo de Romeu e Julieta apresenta JULIETA – E aquele que ali vai,
uma história que se inicia com a rivalida- que não dançou?
de entre duas famílias distintas da paca- AMA – Não sei quem seja.
56 Capítulo 5 – O texto teatral: a história encenada \ Grupo 1

JULIETA – Então vai perguntar-lhe


Informações complementares
como se chama. Vai! Se for casado, um
Quando o teatro encontra o riso: a co-
túmulo será todo o meu fado.
média
AMA – Romeu é o nome dele; é O gênero dramático, que é o gêne-
um dos Montecchios, filho único do ro literário do teatro, pode aparecer de
vosso grande inimigo. várias formas, como as tragédias da Gré-
JULIETA – Como do amor a inimi- cia Antiga, os autos religiosos, o drama
zade me arde! Desconhecido e asnado entre muitas outras. No meio dessas va-
muito tarde. Como esse monstro, o riedades teatrais, existem aquelas que
amor, brinca comigo: apaixonada ver- fogem do tom sério e que possuem a in-
-me do inimigo! tenção de provocar o riso – uma delas é
AMA – Como assim? Como assim? a comédia.
JULIETA – Isso é uma rima que A comédia sempre acompanhou o
aprender fui com quem dancei há teatro e, na Antiguidade Clássica, existia
pouco. uma frase latina que até hoje é famosa,
AMA – Já vamos! Um momento! – ridendo castigat mores, cujo significado
é: rindo, corrigem-se os costumes. A fra-
Está na hora; já se foram os hóspedes
se demonstra que por meio do riso, além
embora. de diversão, também é possível provocar
(Saem.) reflexão e crítica sobre os costumes. As-
Caso seja possível, [...] Jardim de Capuleto. Entra sim, muitas comédias surgem como pa-
sugerimos organizar um Romeu.
passeio ao teatro, de
ródias ou sátiras dos costumes humanos
modo que alguns aspec- ROMEU – Só ri das cicatrizes e também como paródia de outras peças
teatrais sérias.
tos estudados possam quem ferida nunca sofreu no corpo.
ser vivenciados pelo (Julieta aparece na janela). Mas si-
grupo.
lêncio! Que luz se escoa agora da
janela? Será Julieta o sol daquele
Estrutura do texto teatral
A peça teatral é composta de atos e
oriente? [...] Oh, sim! É o meu amor.
cenas. Cada ato é como um "capítulo" da
Se ela soubesse disso! Ela fala; con-
peça, indicando um episódio, e é dividi-
tudo, não diz nada. Que importa?
do em cenas, que normalmente indicam
Com o olhar está falando. Vou res-
mudanças de cenário. Exemplificando, a
ponder-lhe. Não; sou muito ousado;
peça teatral Romeu e Julieta é dividida em
não se dirige a mim [...].
três atos:
JULIETA – Ai de mim!
• ato I: início da peça, com a apre-
ROMEU – Oh, falou! Fala de novo,
sentação das famílias e Romeu e Julie-
anjo brilhante [...]
ta se conhecendo;
JULIETA – Romeu, Romeu! Ah!
• ato II: Romeu e Julieta apaixo-
por que és tu Romeu? Renega o pai,
nam-se;
despoja-te do nome; ou então, se não
• ato III: final da peça, mostrando
quiseres, jura ao menos que amor me
que o amor entre os jovens é impossí-
tens, porque uma Capuleto deixarei de
vel de ser concretizado.
ser logo.
Além desses elementos, um texto tea-
ROMEU (à parte) – Continuo ouvin-
tral é composto basicamente de diálogos
do-a mais um pouco, ou lhe respondo?
e rubricas. Estas são as indicações cênicas,
SHAKESPEARE, William. Romeu e Julieta. não ditas na representação teatral. No tre-
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Disponível em: <http://www.ebooksbrasil. cho da peça Romeu e Julieta, as rubricas


org/adobeebook/romeuejulieta.
pdf>. Acesso em: 5 abr. 2013.
aparecem em itálico:
(Julieta aparece na janela.)
Língua Portuguesa \ Riquezas e saberes 57

tanto medo têm todos de infecção.


A peça teatral é dividida em atos, os quais FREI LOURENÇO – Quanta falta
são subdivididos em cenas. de sorte! Por minha ordem, essa carta
O texto de uma peça teatral é composto não é sem importância, mas de peso e
por diálogos e por rubricas. conteúdo muito grave. O atraso pode
ser de consequências muito sérias. Frei
João, vai bem depressa buscar uma
alavanca; estou na cela.
Verbos: modo indicativo FREI JOÃO – Pois não, irmão; le-
Na história escrita por Shakespeare, o
vá-la-ei já já. (Sai.)
final trágico caracteriza a peça: sem saber
FREI LOURENÇO – Agora tenho
que Julieta estava em um sono profundo,
de ir sozinho ao túmulo. Dentro destas
Romeu, acreditando que a amada esti-
três horas vai a bela Julieta despertar;
vesse morta, ingeriu um veneno letal. Ao
vai maldizer-me por que Romeu fi-
acordar, Julieta viu o amado morto e, com
cou sem ter notícias de quanto acon-
um punhal, acabou com a própria vida.
teceu. Mas para Mântua vou escrever
Mas por que Romeu achou que Julie-
de novo; em minha cela vou deixá-
ta estivesse morta? Porque a carta que
-la escondida, até que possa Romeu
continha a informação de que Julieta fi-
chegar aqui. Pobre cadáver vivo, en-
caria em um sono profundo e acordaria
terrado numa sepultura! (Sai.)
após algumas horas não havia chegado a
Romeu. O trecho a seguir ajuda a com- SHAKESPEARE, William. Romeu e Julieta.
preender isso. Disponível em: <http://www.ebooksbrasil. Este tópico abordará
org/adobeebook/romeuejulieta. o modo indicativo da
pdf>. Acesso em: 5 abr. 2013. categoria dos verbos,
ATO V na perspectiva da in-
Agora, imaginando que Romeu e Julieta tencionalidade discur-
CENA II
vivessem nos dias atuais, com uma comu- siva. Logo, o educando
Verona. Cela de frei Lourenço. En- irá compreender como
nicação quase que instantânea, será que
tra frei João. o falante movimenta
Romeu conseguiria saber que Julieta esta-
FREI JOÃO – Santo irmão francis- os recursos linguísticos
va viva? A análise da tirinha ajuda a enten- para produzir efeitos de
cano! Olá, irmão!
der a questão. sentido no enunciado
(Entra frei Lourenço.) emitido. Dessa manei-
FREI LOURENÇO – A voz é de ra, buscamos desen-
frei João. Deve ser ele. Ó tu que vens volver competências
de Mântua, sê bem-vindo. Romeu relacionadas à inter-
que disse? Ou então, se o pensamento pretação de textos, re-
mandou escrito, dá-me sua carta. lacionando-os aos seus
RUBENS BUENO / IVO VIU A UVA

contextos de produção
FREI JOÃO – Fui procurar um fra- e de recepção (inter-
de de nossa ordem de pés descalços, locutores, finalidade,
que visita os doentes, para ir comigo a espaço e tempo em
Mântua, mas os guardas da cidade, pen- que ocorre a interação),
sando que tivéssemos estado numa casa considerando fatores
como gênero, formato
em que a infecciosa pestilência domina, do texto, tema, assunto,
as portas logo fecharam, não deixando finalidade, suporte ori-
que saíssemos. Desta arte minha pressa ginal e espaços próprios
de ir a Mântua ficou parada. de circulação social.
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FREI LOURENÇO – E quem le-


O narrador da tirinha critica o atraso nos
vou a carta para Romeu?
envios de mensagens de texto de celular, di-
FREI JOÃO – Não pude remetê-
zendo que essa demora "dá raiva". Essa crí-
-la – ei-la aqui outra vez – tentei, em-
tica em relação ao atraso é ressaltada pela
balde, achar um portador para levá-la,
palavra HORAS em destaque no enunciado
58 Capítulo 5 – O texto teatral: a história encenada \ Grupo 1

da tirinha, escrita com letra maiúscula e em domina, as portas logo fecharam, não
negrito, querendo demonstrar quanto de- deixando que saíssemos. Desta arte mi-
mora para uma mensagem de texto chegar nha pressa de ir a Mântua ficou parada.
ao destinatário.
Assim, o locutor da tirinha utiliza recur- Ao utilizar o verbo no modo indica-
sos do texto para demonstrar sua intenção. tivo – FUI –, Frei João tem a intenção de
A isso damos o nome de intencionalidade expressar uma certeza, já que o fato real-
discursiva. mente aconteceu. Porém, ao utilizar o ver-
bo no modo subjuntivo – TIVÉSSEMOS –,
A intencionalidade discursiva é a posição do Frei João expressa uma hipótese: a de que
locutor diante do enunciado produzido. talvez ele estivesse com uma doença.
Vale lembrar que essas intenções po-
dem ser expressas nos três tempos ver-
Modo indicativo e bais: pretérito (passado), presente e futu-
intencionalidade discursiva ro. Exemplos:
Como visto, é possível identificar o po- Não pude remetê-la.
sicionamento do locutor em um enuncia- (modo indicativo – tempo pretérito)
do. No caso da tirinha, isso é possível por
meio de recursos gráficos que dão desta- A voz é de frei João.
que à palavra HORAS. (modo indicativo – tempo presente)
Ressaltar que a inten- Porém, há outras possibilidades de o
ção do locutor em um locutor demonstrar a intenção enunciati- Dentro destas três horas a bela Ju-
discurso pode ser ex-
pressa por meio de:
va. Uma delas é a escolha do modo verbal. lieta despertará.
• recursos gráficos como pode ser exemplificado no seguinte (modo indicativo – tempo futuro)
(negrito, itálico, letras trecho de fala de Frei João:
em caixa alta etc.);
O modo indicativo expressa uma certeza,
• recursos de pontua- FREI JOÃO – Fui procurar um fra-
ção (exclamação, interro- um fato ou uma realidade.
de de nossa ordem de pés descalços,
gação, reticências etc.);
• escolhas de palavras que visita os doentes, para ir comigo
Assim, ao escrever um texto, podem
e estruturas de frases. a Mântua, mas os guardas da cidade,
ser utilizados recursos gráficos e modos
pensando que tivéssemos estado numa
verbais para demonstrar a intencionalida-
casa em que a infecciosa pestilência
de discursiva.

EF7P-15-11
Capítulo
O texto teatral: a história encenada
5
Atividades 13 e 14 ● Narrar é encenar?

LÍNGUA PORTUGUESA • GRUPO 1 •


RIQUEZAS E SABERES
Exercícios de Aplicação
Você sabia? Sinopse do filme
A sinopse de um filme é um texto que Alfredo Baragatti (Luís Gustavo),
apresenta o resumo da história desse fil- um advogado descendente de italia-
me. Apresenta também dados gerais da nos, é palmeirense roxo e membro do
obra, tais como data de lançamento, dire- Conselho Deliberativo do clube. Al-
ção, elenco, gênero e nacionalidade. fredo criou sua Julieta (Luana Piovani)
para ser como ele, mais uma apaixo-
nada pelo Palmeiras. Batizada em ho-
menagem a ídolos palmeirenses, “Juli”
de Julinho e “eta” de Echevarietta, ela
é jogadora do time feminino do Pal-
VLADRU / SHUTTERSTOCK

meiras, atuando como centroavante.


Julieta se apaixona por Romeu (Mar-
co Ricca), um médico oftalmologista
de 45 anos que é corintiano roxo. Em
nome do amor, Romeu aceita se pas-
sar por palmeirense, chegando a se
filiar como sócio do clube e ir aos jo-
gos para torcer pelo rival. Tais atitudes
geram desconfiança em sua família, Trabalhar a peça te-
atral Romeu e Julieta
principalmente em seu filho Zilinho
01) Leia a sinopse do filme brasileiro O em sala, destacando os
(Leonardo Miggiorin) e na avó Nenzi- aspectos teóricos es-
casamento de Romeu e Julieta, para res-
ca (Berta Zemmel), ambos corintianos tudados. Em seguida,
ponder às perguntas:
fanáticos. por meio das ativida-
des, confrontar outros
Disponível em: <http://www. gêneros textuais com a
adorocinema.com/filmes/filme-183549/>. obra inicial, de maneira
Acesso em: 8 abr. 2013. que o educando possa
Considerando o texto teatral Romeu e Ju- compreender o diálogo
– presente e dinâmico
lieta, de William Shakespeare, e a sinopse
REPRODUÇÃO

– que ocorre entre as


do filme O casamento de Romeu e Julieta, manifestações artísti-
aponte uma semelhança e uma diferença cas. Nesse sentido, as
entre os enredos dessas obras, no que diz atividades visam desen-
respeito aos jovens casais apaixonados. volver a habilidade e a
competência do aluno
Semelhanças: dois jovens apaixonados, po- para a reconstrução da
rém impedidos de viver a paixão; os nomes intertextualidade me-
Lançamento: 18 de março de 2005 (1h30) das personagens. Diferença: o motivo pelo diante aprimoramento
qual não podem estar juntos – enquanto, na das habilidades de:
Dirigido por: Bruno Barreto • comparar textos;
obra de Shakespeare, a rivalidade era mo-
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Com: Luana Piovani, Marco Ricca, Luis tivada por questões familiares, na sinopse • identificar referências
é justificada pela rivalidade entre times de intertextuais.
Gustavo
futebol.
Gênero: Comédia, Romance
Nacionalidade: Brasil
60 Capítulo 5 – O texto teatral: a história encenada \ Grupo 1

02) No texto da sinopse do filme, a pala- 04) Observe a imagem do cartaz do filme
vra destacada em negrito pode ser substi- O casamento de Romeu e Julieta e expli-
tuída por: que por que o nome do filme está no meio
de uma corda sendo puxada por várias
a. desligado. d. maluco.
pessoas.
b. independente. e. egoísta.
R.: C c. fanático. A imagem não verbal simboliza o casal, Ro-
meu e Julieta, no meio de uma corda sendo
03) Considerando os motivos da rivali- puxada pelos familiares, significando uma
dade entre os casais (da sinopse do filme briga entre as famílias por motivo de rivali-
dade dos times de futebol.
e da peça teatral), responda: na sua opi-
nião, qual é mais fácil de ser resolvida?
Contribuir para a
Justifique sua resposta.
identificação dos as- Resposta pessoal
pectos que se diferem e
que se assemelham en-
tre aos gêneros textuais
teatro, sinopse de filme
e tirinha.

Sugerimos que a ques- Exercícios Propostos


tão 03 seja debatida en-
tre os alunos antes de
escreverem a resposta. Leia a tirinha para responder às pergun- 05) Ao ler o primeiro quadro da tirinha,
tas 05 e 06. qual a primeira impressão que temos da
fala de Julieta?
A de que ela está chamando pelo amado,
Romeu.

06) A impressão que o leitor tem do pri-


meiro quadro da tirinha é quebrada por
uma surpresa. Identifique-a e explique
como ela causa o humor.
A impressão que o leitor tem do primeiro
quadro da tirinha é quebrada com a ima-
gem de um carteiro e com a fala de Julieta,
no último quadro, já que ela até se refere
a Romeu, mas não o da história de amor, e
sim o carteiro.
EF7P-15-12
Língua Portuguesa \ Riquezas e saberes 61

Atividades 15 e 16 ● Verbos: modo indicativo Por meio da HQ, será


exercitado o aprendiza-
do sobre o modo indica-
Exercícios de Aplicação tivo e a intencionalida-
de discursiva na escolha
A história em quadrinhos apresentada em seguida é um trecho da adaptação, feita por desse modo verbal.
Maurício de Souza, da obra Romeu e Julieta. Leia-a para responder às perguntas de 01 a 03.
© MAURICIO DE SOUSA PRODUÇÕES

Destacar recursos grá-


ficos utilizados na HQ.
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62 Capítulo 5 – O texto teatral: a história encenada \ Grupo 1

01) No primeiro quadro, a Magali e a 02) Na última fala da Mônica, são empre-
Mônica dizem a seguinte frase: “Vamos gados alguns recursos gráficos para demons-
brindar a isso”. Considerando o que você trar a intenção de fala da personagem. Iden-
aprendeu sobre modo verbal e intenciona- tifique-os e explique qual é o sentido que
lidade discursiva, responda: expressam no enunciado.
a. Essa frase apresenta sentido de cer-
teza ou de dúvida? Que termo da Na última fala da Mônica, sua expressão fa-
cial, com a sobrancelha erguida, demonstra
oração demonstra sua resposta? que quer punir o Cebolinha; este, por sua
Ajudar o educando a vez, expressa medo.
perceber como a esco- A frase apresenta sentido de certeza, de-
monstrado pelo uso do verbo no modo Assim, a fala da Mônica demonstra ironia,
lha do modo verbal in- pois seu enunciado sobre o amor não cor-
terfere na significação indicativo.
responde à sua intenção. Inclusive, podemos
do enunciado. observar esse fato pelo uso das palavras em
negrito, no último quadrinho.

03) Nos versos cantados pela Magali e


pelo Cascão, há a seguinte frase: "Só o amor
pode transformar o mundo”. Se o verbo
b. As palavras em destaque (“vamos” destacado fosse substituído por "poderia",
e “isso”) se referem a quê? Para res- a frase teria o sentido alterado? Explique.
ponder, considere o primeiro quadro
da tirinha. Sim, pois, ao utilizar o verbo "pode", no
modo indicativo, temos a certeza de que
A palavra “vamos” é um verbo que se refere o amor é capaz de transformar o mun-
à Magali (primeira pessoa) e às demais per- do, enquanto, se fosse utilizado o verbo
sonagens: Mônica, Cascão e Cebolinha; a "poderia", no modo subjuntivo, teríamos
palavra “isso” é um pronome demonstrativo a suposição de que seria necessário que
que se refere ao “final feliz”. haver uma condição anterior para que o
amor pudesse transformar o mundo.

Exercícios Propostos
Para responder aos exercícios 04 e 05, con- III. O modo indicativo expressa uma
sidere o tópico "Verbos: modo indicativo", certeza, um fato ou uma realida-
trabalhado em sala de aula. de. ( )
V
IV. A intencionalidade discursiva
04) Coloque V (verdadeira) ou F (falsa)
pode ser expressa por meio de
nas assertivas.
modos verbais, mas não por tem-
I. A intencionalidade discursiva é a
pos verbais. ( )
F
posição do interlocutor diante do
enunciado produzido. ( )
V Assinale a alternativa correta, de acordo
EF7P-15-12

II. A escolha do modo verbal não in- com as respostas.


terfere na posição que o interlocu- a. Apenas a I é verdadeira.
tor adota com relação a um enun- b. Apenas a I e a IV são verdadeiras.
ciado. ( )
F c. Apenas a II é falsa.
R.: D d. Apenas a II e a IV são falsas.
e. Todas são falsas.
Língua Portuguesa \ Riquezas e saberes 63

05) Com base no livro de teoria, capítulos 3 e 5, complete o Mapa mental:

VERBO

MODOS TEMPOS

Indicativo Imperativo Subjuntivo Pretérito Futuro Presente

Atividades 17 e 18 ● Hora de criar: finalizando um texto


Exercício de Aplicação
01) Na história em quadrinhos adaptada Assim como a Mônica, você vai mudar o
pelo cartunista Maurício de Souza, a Môni- final da história de Shakespeare!
ca não fica contente com o final da história a. Com a ajuda do professor, você e
entre Romeu e Julieta e decide mudá-lo. seus colegas lerão a história com-
Então, ela conversa com o príncipe Xave- pleta de Romeu e Julieta.
co e consegue se casar com o Cebolinha, b. Após finalizarem a leitura, o pro-
o seu Romeu. fessor dividirá a classe em duplas.
c. As duplas refletirão sobre a histó-
ria de Shakespeare e levantarão
hipóteses: E se a carta de Julieta
tivesse chegado até Romeu? E se
as famílias dos jovens não fossem
© MAURICIO DE SOUSA PRODUÇÕES

inimigas? E se frei Lourenço tives-


se se recusado a ajudar os dois
apaixonados? Essas são algumas
possibilidades.
d. Após decidirem o momento de
mudança da história, as duplas
darão continuidade ao enredo,
apresentando um novo final para
a obra de William Shakespeare.
Vale lembrar que a criatividade é
fundamental!
e. Após o término, poderá ser agen-
dado um dia para apresentação
dos novos finais da história.
Bom trabalho!
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64 Capítulo 5 – O texto teatral: a história encenada \ Grupo 1

Este momento visa


ao desenvolvimento
Exercícios Propostos
da competência da 02) Considere o que você aprendeu no grupo 1 para completar a tabela.
escrita, por meio de
habilidades de compre-
ensão, interpretação e
Lírico
reformulação textual.
Para isso, sugerimos
que haja organização
prévia, de maneira que A literatura pode
os educandos tenham ser identificada em Épico
acesso à obra adapta- três gêneros:
da de Romeu e Julieta
por meio de recursos
digitais (e-books, web) Dramático
ou impressos (livros e
revistas). Após a leitu-
ra da obra e o trabalho
em sala, solicitar que 03) Levando em consideração o seu conhecimento de mundo e o que você aprendeu no
reescrevam o final, con- grupo 1, responda: qual é a importância da literatura para a história da humanidade?
siderando os elementos Resposta pessoal
essenciais de uma nar-
rativa, assim como o
contexto discursivo da
história.

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