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ILUSTRÍSSIMO SENHOR DOUTOR DELEGADO DE POLÍCIA DO 00º

DISTRITO POLICIAL DE BELO HORIZONTE(MG)


( CPP, art. 4º c/c art. 70)
70)

MARIA DAS QUANTAS,


QUANTAS, brasileira, solteira, maior, doméstica, residente e
domiciliada na Rua Delta, nº. 000, Centro, Belo Horizonte(MG) inscrita no
CPF(MF) sob o nº. 222.333.444-55, possuidora do RG nº. 778899 – SSP/MG,
vem, na qualidade de ofendida,
ofendida, com o devido respeito a Vossa Senhoria, no
presente propósito intermediada por seu patrono que ao final assina, para,
dentro do prazo decadencial (CP, art. 103 c/c art. CPP, art. 38, caput),
caput), com
supedâneo no art. 5º, inc. II, da Legislação Adjetiva Penal, art. 140, § 3º
c/c art. 145, parágrafo único, do Estatuto Repressivo,
Repressivo, ofertar a presente

REPRESENTAÇÃO CRIMINAL,
( DELATIO CRIMINIS )

em face de ato delituoso, praticado por FRANCISCA DAS QUANTAS,


QUANTAS, brasileira,
maior, casada, corretora de imóveis, residente e domiciliada na Rua Xista, nº.
000, Centro, Belo Horizonte(MG), detentora do RG nº. 446677 – SSP/MG,
inscrita no CPF(MF) sob o nº. 999.555.888-33 (CPP,
(CPP, art. 5º, § 1º, ‘b’),
‘b’), em
razão das justificativas de ordem fática e de direito abaixo delineadas.
(1) – ALÍGERAS CONSIDERAÇÕES FÁTICAS

A Representante trabalha como doméstica na residência da Representada.


Aquela iniciou seus préstimos desde 00/11/2222. O endereço dos trabalhos
ofertados é o mesmo onde ocorrera o delito em espécie.

No dia 22/33/4444, aproximadamente às 16:30h, a Representada solicitara à


ofendida que fizesse suco da laranja para aquela. Todavia, a Representante se
negou a fazer. Mas por um bom motivo: já estava inclusive com suas vestes de
uso diário e de saída para sua residência. Afinal, o horário de trabalho era até
às 16:00h.

Inconformada, a Representada passou a ofender a vítima com palavras de


baixo calão e, não bastasse, partiu para a agressão racial. Na ocasião, disparou
a seguinte frase: “Você,
“Você, uma neguinha que sabe lá de onde veio; de cabelo ruim,
colocando banca. Onde já se viu isso! Minha filha, seu lugar é no zoológico, que é
onde toda macaca deveria estar. “

Obviamente que a Representante é da raça negra. Mas essas palavras foram de


extrema gravidade ao íntimo dessa. Naquele momento caiu aos prantos,
tamanha foi a humilhação. E frise-se que a Representada tem um nível
cultural alto, padrão social elevado e, apesar disso, tomara a inoportuna e
descabida atitude de achincalhar a vítima com o preconceito racial.

A família da ofendida também se sentiu extremamente escandalizada e


injuriada com tudo isso.

A Representante acredita na Justiça e não deixará essa fato ficar esquecido.


Almeja as últimas consequências para ter a aplicação da penalidade contra a
ofensora. Até para que isso sirva de exemplo a outros que insistam em se
utilizar do preconceito racial como forma de ataque.
Esses são, portanto, o relato dos fatos pertinentes à avaliação da conduta
delituosa em estudo, convictamente praticada pela Representada. (CPP, art.
5º, § 1º, ‘b’)

(2) – TIPICIDADE DA CONDUTA DA REPRESENTADA


INJÚRIA QUALIFICADA POR MOTIVO RACIAL
art. 140, § 3º, do CP

A conduta da Representada, ao promover agressões verbais de cunho racial,


deu azo à caracterização de crime de injúria racial.
racial.

CÓDIGO PENAL

Art. 140 - Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro:

(...)

§ 3o Se a injúria consiste na utilização de elementos referentes a


raça, cor,
cor, etnia, religião, origem ou a condição de pessoa idosa ou
portadora de deficiência:
Pena - reclusão de um a três anos e multa.

( destacamos )

Nesse diapasão, é inescusável que a conduta delituosa perpetrada pela


Representada, segundo o relato fático expresso no tópico anterior, tem alcance
e merece ser apreciada à luz da qualificadora racial prevista na tipificação do
crime de injúria.

A propósito, vejamos as lições de Cleber Masson quando professa que:


“A injúria qualificada, assim como os demais crimes contra a honra,
reclama seja a ofensa dirigida a pessoa ou pessoas determinadas .
Destarte, a atribuição de qualidade negativa à vítima individualizada,
calcada em elementos referentes à raça, cor, etnia, religião ou origem,
constitui crime de injúria qualificada (CP, art. 140, § 3º). Esse crime
obedece às regras prescricionais previstas no Código Penal.
(...)
O racismo não pode ser tolerado, em hipótese alguma, pois a ciência já
demonstrou, com a definição e o mapeamento do genoma humano, que
não existem distinções entre os seres humanos, seja pela segmentação
da pela, formato dos olhos, altura ou quaisquer outras características
físicas.“( MASSON, Clébero Rogério.
Rogério. Direito penal esquematizado: parte
geral. 2ª Ed. São Paulo: Método, 2010, p. 184-185)
( os destaques estão no texto original)
original)

Do mesmo modo é o magistério de André Estefam:


Estefam:

“Na injúria há assaque de expressões ofensivas,


ofensivas, como ‘ branquelo´, ´preto
´, ´macaco´, ´amarelo´ etc. Atinge-se a autoestima da vítima. Ocorre a
imputação de termos pejorativos. “(ESTEFAM, André. Direito Penal,
volume 2: parte especial. 2ª Ed. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 281)
(itálicos do texto original)

Tal entendimento, de outro revés, é apoiado por diversos Tribunais, senão


vejamos:

CRIME CONTRA A HONRA. INJÚRIA REAL.


Evidenciado o fato consistente em que o querelado jogou um copo de cerveja na
querelante, afirmando, depois, que não gostava de preto e de pobre,
caracterizada a infração de que trata o art. 140, § 2º, do Código Penal recurso
desprovido. (TJRS; ACr 244783-98.2014.8.21.7000; São Sebastião do Caí;
Primeira Câmara Criminal; Rel. Des. Honório Gonçalves da Silva Neto; Julg.
27/08/2014; DJERS 05/09/2014)

APELAÇÃO CRIMINAL. CRIME CONTRA A HONRA SUBJETIVA. INJÚRIA


PRECONCEITUOSA. SENTENÇA CONDENATÓRIA. RECURSO DA DEFESA.
Pleiteada a absolvição por ausência de prova da autoria. Inviabilidade. Palavra
da vítima firme e coerente, alinhada com os relatos das testemunhas
presenciais. Ofensas de conteúdo racial. Animus injuriandi verificado.
Pretendido o reconhecimento do perdão judicial. Provocação ou retorsão
imediata (art. 140, § 1º, do CP). Fatos não comprovados. Sentença mantida.
Recurso desprovido. (TJSC; ACR 2013.046609-5; Brusque; Segunda Câmara
Criminal; Rel. Des. Sérgio Rizelo; Julg. 03/06/2014; DJSC 09/06/2014; Pág.
511)

PENAL.
Apelação. Crime de injúria racial. Art. 140, §3º, do Código Penal. Preliminar de
inépcia da denúncia afastada. Narrativa dos fatos que abrangeu todos os
elementos relevantes do caso concreto. Mérito. Pleito de absolvição por falta de
provas. Autoria e materialidade devidamente comprovadas. Agente que se
referiu a policial militar como macaco, em decorrência da sua etnia.
Testemunhos dos policiais. Validade quando não houver motivos de suspeição
e suas declarações forem coerentes e harmônicas com o contexto probatório.
Condenação confirmada. Exclusão da prestação de serviços à comunidade
como condição especial do regime aberto. Súmula nº 493/stj. Recurso
parcialmente provido. (TJPR; ApCr 1123934-2; Ibaiti; Segunda Câmara
Criminal; Relª Juíza Conv. Lilian Romero; DJPR 28/02/2014; Pág. 228)
APELAÇÃO CRIMINAL. CRIME DE AMEAÇA. SENTENÇA QUE, POR FORÇA
DA PRESCRIÇÃO, EXTINGUE A PUNIBILIDADE EM RELAÇÃO AO
RECORRENTE. FALTA DE INTERESSE RECURSAL. RECURSO QUE NÃO
PODE SER CONHECIDO NESSA PARTE. O ACUSADO NÃO POSSUI
INTERESSE PARA RECORRER CONTRA A SENTENÇA NO QUE DIZ
RESPEITO AO DELITO DE AMEAÇA, UMA VEZ QUE, POR FORÇA DA
PRESCRIÇÃO, HOUVE O RECONHECIMENTO DA EXTINÇÃO DA
PRETENSÃO PUNITIVA ESTATAL. APELAÇÃO CRIMINAL. PROCESSO
PENAL. CRIME DE INJÚRIA QUALIFICADA POR ELEMENTO RACIAL
COMETIDO CONTRA FUNCIONÁRIO PÚBLICO (ART. 140, §3, C/C ART.
141, II DO CPB. ) REPRESENTAÇÃO. AUSÊNCIA DE FORMALISMO.
MANIFESTAÇÃO INEQUÍVOCA DA VONTADE DO OFENDIDO DE
APURAÇÃO DOS FATOS.
1. A representação criminal, a fim de que o ministério público dê início à
persecução criminal, não tem forma específica. O que se exige é que reste
demonstrada a inequívoca intenção do ofendido de que o acusado seja
processado pelo delito que, em tese, cometeu. 2. O policial, vítima do crime de
injúria racial, que, em razão das ofensas sofridas persegue o ofensor, detém-no
e o leva até a delegacia de polícia, demonstra, de modo inequívoco, a sua
intenção em ver o seu ofensor processado. Embriaguez do acusado.
Embriaguez voluntária ou culposa, pelo álcool ou substância de efeitos
análogos, não exclui a imputabilidade penal. Condenação mantida. Nos termos
do art. 28, inc. II, do Código Penal a embriaguez voluntária ou culposa, pelo
álcool ou substância de efeitos análogos não exclui a imputabilidade penal.
Recurso de apelação parcialmente conhecido e, na parte conhecida,
desprovido. (TJPR; ApCr 0958545-9; Mandaguari; Segunda Câmara Criminal;
Rel. Des. Eduardo Sarrão; DJPR 21/02/2014; Pág. 459)

(3) – REQUERIMENTOS
Ante o exposto, entendemos que, diante dos indícios estipulados, prima
facie se configurou a figura do delito de Injúria Qualificada por motivo
racial (CP, art. 140, § 3º), razão qual a Representante delimita que tem
interesse em representar contra a ofensora,
ofensora, onde pede que Vossa Senhoria
se digne de tomar as seguintes providências:

a) determinar a abertura de Inquérito Policial, a fim de averiguar a


possível existência do crime de injúria racial, pleito esse feito com
guarida no art. 145, parágrafo único, do Código Penal c/c art. 5º,
inciso II, do Caderno Adjetivo Penal;

b) requer, ademais, a oitiva das testemunhas abaixo arroladas


(CPP, art. 5º, § 1º, ‘c’).

Respeitosamente pede deferimento.

Belo Horizonte (MG), 00 de setembro de 0000.

P.p. Fulano de Tal


Advogado - OAB (MG) 112233

ROL DE TESTEMUNHAS:

1) CHICO DAS QUANTAS,


QUANTAS, brasileiro, casado, comerciário, residente e
domiciliado na Rua Xista, nº. 000 – Conjunto MG – Minas Gerais(MG)

2) JOAQUINA DAS QUANTAS,


QUANTAS, brasileira, viúva, aposentada, residente e
domiciliada na Rua Xista, nº. 000 – Conjunto MG – Minas Gerais(MG)

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