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Simpósio Brasileiro de Mecânica das Rochas – SBMR 2018

Engenharia de Rochas no Desenvolvimento Urbano


Conferência Especializada ISRM 28 de Agosto a 01 de Setembro, Salvador, Bahia, Brasil
© CBMR/ABMS e ISRM, 2018

A Geoestatística como Ferramenta para Estimar o RMR em


Modelos Tridimensionais
Henri Yudi Vatanable
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Brasil, henri_yudi@hotmail.com

André Cezar Zingano


Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Brasil, andrezin@ufrgs.br

RESUMO: O estudo e determinação das propriedades geomecânicas em um maciço rochoso, além


da caracterização geológica estrutural da região, são fatores importantes na determinação das
metodologias aplicadas para a análise dos taludes em minas a céu aberto. Foram analisados todos os
parâmetros que consistem o método do Rock Mass Rating (RMR), sendo eles: Rock Quality
Designation (RQD), espaçamento entre fraturas, resistência a compressão simples (UCS), qualidade
das descontinuidades e presença de água no maciço. O modelo foi criado a partir da estimativa dos
cinco parâmetros individualmente, ranqueando os de acordo com seus valores e por fim obtendo a
classificação RMR através do somatório destes ranques. Os resultados foram comparados com a
geologia estrutural da região, apresentando uma predominância de maciço rochoso de classes II e III
e regiões de classe IV próximas as descontinuidades e zonas de maior alteração da rocha.

PALAVRAS-CHAVE: Classificação Geomecânica, Rock Mass Rating, Geoestatística.

1 INTRODUÇÃO lado, compreende a rocha como um todo,


incluindo rocha intacta e suas descontinuidades.
Na mineração toda atividade está diretamente O comportamento mecânico destas duas classes
ligada ao processo de escavação da rocha, seja pode apresentar grandes diferenças quando
ela em fase de pesquisa mineral, planejamento analisadas em laboratório.
minero e práticas operacionais. O baixo nível de As principais propriedades da rocha intacta a
informações sobre este elemento da natureza serem analisadas são a densidade,
pode ter um impacto negativo, ocasionando um permeabilidade e o comportamento reológico.
menor aproveitamento das reservas minerais e Porém para se caracterizar um maciço rochoso, é
problemas na segurança operacional, sendo a necessário também, caracterizar suas
principal delas a instabilidade de taludes. Desta descontinuidades, que incluem a rugosidade,
forma é necessário um investimento preenchimento e grau de alteração da rocha, os
significativo para a aquisição de dados em fase quais afetam diretamente a resistência ao
de pesquisa mineral e um bom conhecimento cisalhamento na descontinuidade.
para se manipular e interpretar estas Os sistemas de classificação geomecânica dos
informações, garantindo assim o sucesso maciços rochosos são sistemas empíricos. Com
econômico de qualquer empreendimento a utilização desses sistemas pode-se utilizar estes
minero. parâmetros geotécnicos específicos para o uso
Para se ter conhecimento de uma rocha é em estudos de estabilidade de taludes e cálculo
necessário estabelecer as diferenças de dos fatores de segurança durante fase
propriedades entre rocha intacta e maciço operacional.
rochoso. Rocha intacta é definida como o Brady e Brown (2005) referem que os
material rochoso que se encontra entre as sistemas populares de classificação usados
descontinuidades e maciço rochoso, por outro atualmente incluindo o GSI, o Sistema Q e o
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utilizado neste trabalho, o RMR, são baseados na estimar pelas técnicas de krigagem. O RMR não
determinação de ranques para o maciço rochoso é uma variável aditiva, pois é um somatório de 5
dentro de uma faixa de valores, e que podem ser variáveis que apresentam comportamentos
usados, também, para a estimativa de diferentes no espaço. Assim a abordagem correta
necessidade de suporte. O maciço é classificado seria em estimar cada um dos parâmetros,
de acordo com sua qualidade e ranqueados em ranqueá-los de acordo com seus valores e por fim
diferentes classes, sendo que cada classe obter a classificação RMR através do somatório
apresenta parâmetros de ruptura diferentes. destes ranques.
Bieniawski (1989) propôs a metodologia do
RMR, um sistema que ranqueia os seguintes
parâmetros: Índice de Qualidade da Rocha 2 VARIÁVEIS GEOMECÂNICAS
(RQD), Espaçamento das Descontinuidades,
Resistência a Compressão Simples (UCS), Serra e Ojima (2004) referem o maciço rochoso
Condição das Descontinuidades e Condições de como um conjunto de blocos de rochas,
Água Subterrânea. Neste artigo será aplicado justapostos e articulados, formado pela matriz
uma metodologia para caracterizar o rochosa, ou rocha intacta, constituinte dos
comportamento geotécnico maciço rochoso e blocos, e pelas superfícies que limitam estes,
suas incertezas usando a geoestatística para a chamadas descontinuidades. Conforme as
análise. modificações e solicitações são aplicadas ao
O uso da geoestatística para modelar estas maciço, este vai se comportar de maneira
variáveis geotécnicas não é muito comum no diferente a fim de alcançar o equilíbrio estático
meio técnico, porém algumas tentativas vêm de seus “blocos”, pois as características da rocha
sendo feitas, principalmente considerando a e das descontinuidades diferem de local para
krigagem para a estimativa destas variáveis local. Desta forma é necessário estudar e
regionalizadas. Ayale et al. (2002) utilizou a conhecer estas particularidades, realizando um
geoestatística para primeiro determinar a procedimento preliminar denominado
variabilidade espacial do índice de qualidade da Caracterização Geomecânica. Com o uso desta
rocha (RQD) e descobrir a forte relação com o ferramenta, é possível se obter um modelo inicial
grau de alteração do maciço rochoso. Por fim, de comportamento do maciço rochoso.
utilizou a krigagem ordinária para estimar o A classificação final do RMR é dada pelo
RDQ e associar o erro como medida de somatório dos ranques das variáveis a seguir:
confiabilidade. Stravropoulou et al. (2007)  Índice de Qualidade da Rocha (RQD) [3-
utilizou as informações geotécnicas obtidas 20 pontos]: O índice RQD, calculado a partir de
durante fase de pesquisa mineral de um projeto testemunhos de sondagem, é o somatório do
de tunelamento para reproduzir a variabilidade comprimento dos fragmentos de testemunho
espacial do RMR. Kaewkongkaew et al. (2013) com comprimento igual ou maior a 10 cm,
investigou a aplicabilidade e limitação de divididos pelo comprimento total do testemunho
métodos geoestatísticos na previsão da qualidade de uma sondagem com diâmetro NX (54 mm) e
do maciço rochoso utilizando o RMR. Eles com barrilete duplo.
usaram dados provenientes de dois estudos de  Espaçamento [5-20 pontos]: O
caso diferentes, ambos localizados na Tailândia. espaçamento das descontinuidades é
A previsão, por krigagem ordinária, permitiu determinado em termos de distância média entre
estimar valores de RMR que foram comparados as descontinuidades.
com dados de observação de campo disponíveis  Resistência a Compressão Simples (UCS)
a partir da escavação de túneis exploratórios. [0-15 pontos]: A resistência a compressão
Um dos aspectos mais importantes dos uniaxial é o parâmetro que define o valor
parâmetros que variam no espaço é que estas máximo suportado pela rocha até ela perder suas
variáveis devem ser aditivas para se poder características de rocha intacta.
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 Condições das Descontinuidades [0-30 minera para a avaliação dos mais diversos
pontos]: As mais importantes características ou recursos naturais.
fatores mensuráveis das descontinuidades são a
persistência, rugosidade, abertura, 3.1 Krigagem Ordinária
preenchimento e alteração do maciço rochoso. A
resistência do maciço é tipicamente dependente Os métodos de krigagem são referidos
de um ou mais desses fatores. geralmente à sigla BLUE (Best Linear Unbiased
 Condições de Água Subterrânea [0-15 Estimator). Isto significa que é uma estimativa
pontos]: A presença de água nas baseada na combinação linear de amostras, não
descontinuidades pode afetar negativamente a gera uma estimativa tendenciosa, ou seja, a
resistência do maciço, pois é a principal média do erro da estimativa é zero, e apresenta
responsável pela alteração química da rocha, uma estimativa ótima, com a variância do erro de
diminuindo a coesão e ângulo de atrito. estimativa mínima (Isaaks e Srivastava, 1989).
Este sistema de classificação permite alocar o Por não se conhecer o erro e a variância do
maciço rochoso em cinco classes, sendo o erro, a média m da variável também é
melhor a Classe I (RMR > 81) e o pior a Classe desconhecida. Na krigagem ordinária, a relação
V (RMR < 20). entre a média e os outros parâmetros da
Variáveis com comportamento direcional estimativa é dada pelas seguintes relações (Rossi
podem ser exemplificados pelo espaçamento e o e Deutsch, 2014).
RQD. Dependendo da direção do furo de
𝑛 𝑛
sondagem ou da linha da scanline, estas
variáveis provavelmente irão mudar. Como o 𝑍 ∗ (𝑥0 ) = ∑ 𝜆𝑖 ∗ 𝑍(𝑥𝑖 ) + [1 − ∑ 𝜆𝑖 ] ∗ 𝑚 (1)
RMR depende das cinco variáveis, também 𝑖=1 𝑖=1
apresenta um comportamento direcional.
Algumas variáveis geomecânicas, A variância da estimativa resulta em:
especialmente aquelas associadas às 𝑛
descontinuidades são resultados de diversos
acontecimentos durante a formação do maciço 𝜎 2 (𝑥0 ) = 𝜎𝑍2 − ∑ 𝜆𝑖 ∗ 𝐶(𝑥𝑖 , 𝑥0 ) (2)
rochoso e esta mistura de população é muito 𝑖=1
difícil de ser analisada durante as análises em
campo, resultando em uma baixa correlação Onde 𝜎𝑍2 é a variância da população, estimada
espacial das amostras. pelos dados originais, 𝐶(𝑥𝑖 , 𝑥0 ) é a covariância
entre a amostra e o local estimado e 𝜆𝑖 são os
pesos atribuidos para minimizar a variância do
3 ABORDAGEM GEOESTATÍSTICA erro.

Georges Matheron (1962), considerado o criador 3.2 Método do Vizinho Mais Próximo
da Geoestatística, dizia que o ponto de partida
para o desenvolvimento desta teoria foi devido á O método da poligonal é um método de
inabilidade da estatística clássica em considerar desagrupamento onde os pesos atribuídos a cada
o aspecto espacial de um fenômeno, que amostra são inversamente proporcionais a área
constitui a feição mais importante em um estudo do polígono ao seu redor. Este polígono é
geológico. A geoestatística possui atualmente calculado através da semi-distância entre as
aplicações em diversos campos das Geociências, amostras. Este método vai fazer com que áreas
predominantemente na cartografia de variáveis mais agrupadas sejam pequenas, recebendo
originadas de um fenômeno que tenha então, pesos menores.
continuidade no espaço, bem como, na geologia O cálculo da média das amostras
desagrupadas é dada pela média ponderada entre
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seu valor e a sua área correspondente, como implementado o uso do RMR em 44 furos de
mostra a Equação 3. sondagem realizados na campanha de
𝑛
1 amostragem na região de uma das possíveis
𝑚 = ∑ 𝑊𝑖 ∗ 𝑍(𝑥𝑖 ) (3) cava do projeto.
𝐴
𝑖=1 b. Digitalização dos furos e criação dos
modelos geológicos: Consiste no tratamento
Porém, para depósitos em três dimensões, o dos dados e importação dos mesmos para o
uso de semi-distâncias gráficas para a área em programa responsável pelo modelamento das
estudo, dividindo-a em poliedros com cada 3 litologias.
amostra sendo o centroide do sólido e o seu c. Análise exploratória dos dados: A estatística
volume correspondente para calcular a média descritiva tem por objetivo descrever os
desagrupada, torna o método dados de uma determinada população ou
computacionalmente muito pesado. Por isto, o amostra para realizar conclusões a seu
uso do método do vizinho mais próximo é mais respeito, apresentando os dados de uma
utilizado no meio técnico. variável de forma ordenada, com a intenção
O método do vizinho mais próximo consiste de descrever o seu comportamento.
simplesmente na análise de cada parcela da d. Análise da continuidade espacial: A análise
população (cada bloco do grid) e atribuir a este o da continuidade espacial tem por objetivo
valor da amostra que esteja a menor distância observar o comportamento do fenômeno ao
deste. O método do vizinho mais próximo possui longo da área de estudo. Devido à formação
a vantagem de além de ser de entendimento geológica dos depósitos minerais, é esperado
muito simples produz uma resposta única. que estes possuam alguma relação espacial
de continuidade que os tenha formado.
e. Variografia: Ferramenta utilizada para
4 METODOLOGIA analisar quantitativamente a continuidade
espacial de uma variável regionalizada. Esta
A metodologia proposta para modelar as ferramenta fornece um significado preciso
variáveis geotécnicas considerou a separação do do conceito de zona de influência de uma
banco de dados nas três litologias principais, que amostra.
apresentaram características geomecânicas f. Estimativa: Cada variável foi estimada pela
semelhantes. krigagem ordinária e desagrupada pelo
Para cada litologia, foram estimadas método do vizinho mais próximo. Os
individualmente, o UCS, RQD, espaçamento, resultados representam a continuidade
rugosidade e grau de alteração. espacial e os histogramas de cada variável
A escolha da rugosidade e alteração como nas três litologias.
únicas variáveis a serem avaliadas e ranqueadas g. Validação da estimativa: Consiste na
no RMR, se deu pela dificuldade de análise das utilização de dois métodos de validação, a
demais e por serem variáveis que são obtidas de comparação entre os histogramas originais e
forma mais consistente em Scanlines e não em desagrupados de cada variável e a análise de
furos de sondagem. deriva.
As condições de água subterrânea não foram h. Aplicação do RMR nos blocos: Com os
avaliadas e assim definido um valor constante de modelos validados é possível aplicar a
acordo com as classes do RMR. metodologia e obter a classificação RMR
As etapas do trabalho foram; final dos blocos.
a. Caracterização Geomecânica: Técnica i. Comparação dos resultados: Com o modelo
utilizada para se obter a maior quantidade de final contendo as classes do maciço, foi
informações mecânicas do maciço durante possível comparar com a geologia estrutural
fase de pesquisa mineral. Neste trabalho foi da região, a fim de observar relação da
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presença de fraturas, falhas e zonas de 1 apresenta um resumo estatístico das variáveis


alteração na penalização da qualidade do geomecânicas em cada litologia.
maciço.
Tabela 1. Sumário estatístico das variáveis geomecânicas,
para cada litologia
5 ESTUDO DE CASO
Variável
A área de estudo está inserida no contexto RQD ESP UCS
RUG
geotectônico do Escudo Sul Rio-grandense (%) (m) (Mpa)
(ESRG), conforme a Figura 1, o qual representa Amostras 41 42 33 34
a porção mais ao sul do Brasil de ocorrência da Are
Província Mantiqueira (Almeida, 1976). Média 67,3 0,6 18,7 6,4
Sup
. Variância 624,8 2,7 22,8 2,4

Amostras 192 192 144 145

CM Média 82 1,2 22,3 6,7

Variância 522,4 17,6 37,2 2

Amostras 730 729 632 617


Are
Média 88,9 1,34 25,8 6,9
Inf
Variância 284,4 52,6 39,2 2,9

Figura 1. Localização da área de estudo


Para a análise da continuidade espacial das
Os parâmetros geomecânicos foram variáveis foi utilizado o variograma,
adquiridos pela descrição de furos de sondagem considerando o banco de dados das litologias
realizados durante fase de pesquisa mineral. A separadamente. Desta forma, obteve doze
Figura 2 mostra os testemunhos obtidos durante variogramas experimentais e seus respectivos
o processo. modelos variográficos. A busca se deu em oito
azimutes principais (N0, N23, N45, N67, N90,
N112, N135 e N157) para encontrar a maior
direção aparente. A partir desta direção, foi
realizada a varredura ao longo mergulho para
encontrar a maior direção verdadeira. Com o
azimute e mergulho do eixo de maior direção, foi
feita a varredura no plano perpendicular à maior
direção para encontrar as direções de média e
menor continuidade.
Como um exemplo, a Figura 3 mostra os
variogramas de maior, média e menor direção da
variável UCS no arenito inferior. Esta variável
Figura 2 - Testemunhos de sondagem apresentou anisotropia, porém outras variáveis
apresentaram um comportamento isotrópico, ou
O estudo de caso considerou 3 litologias seja, a magnitude do vetor distância permaneceu
principais, definidas por apresentarem constante em todas as direções de busca e
características mecânicas semelhantes. A Tabela apresentou simetria na sua variabilidade. Desta
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forma a variável foi modelada a partir do semi- melhor aderência, Figura 4, ao modelo
variograma omnidirecional, onde a tolerância geológico, de forma a se conseguir encaixar o
direcional é grande o suficiente para tornar a máximo de blocos em espaços pequenos.
influência da direção muito pequena.

Figura 4. Aderência entre modelo geológico e modelo de


blocos

A krigagem ordinária foi o método escolhido


para a estimativa do modelo de blocos, pois não
é tendenciosa e tenta fazer com que o erro seja
igual a zero e é considerado o melhor método
porque minimiza a variância do erro.
As estratégias de busca utilizadas para a
estimativa foram: utilizar os alcances máximos
dos modelos variográficos para o elipsoide de
busca, utilizar um número mínimo de 2 amostras
e no máximo 20 amostras e no mínimo de 2
octantes preenchida por 2 a 4 amostras e
discretizar o bloco em 3x3x3 pontos para obter o
valor do bloco.
Para o desagrupamento foi utilizado o método
do vizinho mais próximo e se fez necessário
devido ao espaçamento irregular das amostras ao
Figura 3. Variogramas experimentais para as direções de longo da região de estudo, ocasionado pelo
maior, média e menor direção para a variável UCS no acúmulo de sondagens nas áreas mineralizadas.
arenito inferior
A média de dados agrupada não é representativa
Para a estimativa foi necessário definir as perante o depósito inteiro, e, portanto, não
dimensões dos blocos do modelo. O tamanho foi serviria como parâmetro comparativo. A partir
decidido então baseado na região onde a disto, foi utilizado o vizinho mais próximo para
amostragem apresentou um maior agrupamento, o desagrupamento, utilizando o mesmo elipsoide
provavelmente devido a necessidade de encontrado na variografia das variáveis
averiguar os teores encontrados durante fase de geotécnicas, de forma a manter a anisotropia do
pesquisa mineral. Nesta região o espaçamento fenômeno.
médio amostral é de 50 metros e por estes Com os modelos estimados foi possível
motivos, o tamanho do bloco escolhido foi de valida-los através dos histogramas dos modelos
12.5x12.5x12.5, com sub-blocos de 6.25x6.25x krigados e desagrupados e a análise de deriva.
Z. Este valor de Z do sub-bloco possui dimensão Comparar diferentes métodos de estimativas
variável justamente para proporcionar uma realizados com os dados verdadeiros é muito útil
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para se entender as diferentes maneiras de se desagrupados e ao histograma dos dados


aproximar do resultado verdadeiro. Entretanto, originais e uma baixa variação nas médias.
nas situações práticas, não se possui o banco de O outro método de validação dos modelos foi
dados exaustivo para realizar tais comparações a análise deriva, que tem por fundamento
(Isaaks e Srivastava, 1989). Como exemplo, a comparar as médias locais da estimativa com as
Figura 5, mostra, respectivamente, os médias locais dos lados em porções nos eixos x,
histogramas dos dados estimados e y e z. Se escolhe uma porção ao redor de algum
desagrupados da variável UCS na litologia eixo que contemple amostras suficientes para
arenito inferior. comparar os dados estimados e desagrupados,
geralmente se escolhe um tamanho de fatia de
aproximadamente duas vezes o tamanho da
malha amostral. Se espera que as médias
analisadas se comportem da mesma forma e
assim mostrar que a estimativa honra os valores
dos dados. Como exemplo, a Figura 6, mostra,
respectivamente, as análises de deriva para os
três eixos da variável UCS no arenito inferior.

Figura 5. Histograma do modelo estimado e desagrupado


para a variável UCS no arenito inferior

Analisando todos histogramas, foi possível


observar a queda na variância dos modelos
estimados quando comparados aos modelos
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O arenito inferior apresentou em sua maioria,


zonas geotécnicas de Classe II e III,
comportamento parecido com o conglomerado.
O arenito inferior por outro lado, resultou em
zonas de Classe III e IV mostrando ser uma
litologia de menor qualidade mecânica. Estes
resultados mostram que a não separação inicial
do arenito em inferior e superior poderia
apresentar uma má representação do
comportamento mecânico da litologia citada.
Nesta etapa final houve a união das três
litologias, gerando um modelo único
Figura 6. Análise de deriva para a variável UCS no arenito
representando o maciço rochoso como um todo,
inferior paras os três eixos isto porque de acordo com o RMR, litologias
diferentes com zonas geotécnicas da mesma
A validação mostrou que as variáveis se classe recebem os mesmos valores de coesão e
comportaram de forma satisfatória e as médias ângulo de atrito. Como exemplo, temos que os
permaneceram dentro de um intervalo de blocos classificados como Classe II das três
confiança (variação de 10%). litologias terão a coesão entre 300 e 400 kpa e
Como citado anteriormente, o RMR, por não ângulo de atrito entre 35° a 45°. A Figura 7,
ser uma variável aditiva deve ter seus parâmetros mostra o histograma final com as classes
estimados individualmente a fim de se ter um geomecânicas do modelo unificado, sendo que
resultado correto. Por fim, foi implementado a mais de 80% dos blocos foram classificados
metodologia RMR nos modelos de blocos para como sendo de Classe II e III, mostrando boa
se obter informações de qualidade de maciço. qualidade mecânica.
O resultado da classificação RMR é gerar
zonas geotécnicas com mesmas características, o
autor desta metodologia divide o maciço em 5
classes diferentes, são elas:
 Classe I: Maciço de alta qualidade mecânica,
com valores teóricos de coesão maiores que
400 kPa e ângulo de atrito maior que 45˚.
 Classe II: Maciço de boa qualidade
mecânica, com valores teóricos de coesão
entre 300 e 400 kPa e ângulo de atrito entre
que 35˚ e 45˚.
 Classe III: Maciço de média qualidade
mecânica, com valores teóricos de coesão
entre 200 e 300 kPa e ângulo de atrito entre
que 25˚ e 35˚.
 Classe IV: Maciço de baixa qualidade
mecânica, com valores teóricos de coesão Figura 7. Histograma das classes geomecânicas do modelo
entre 100 e 200 kPa e ângulo de atrito entre unificado
que 15˚ e 25˚
 Classe V: Maciço de péssima qualidade Com o modelo unificado, pode-se avaliar se a
mecânica, com valores teóricos de coesão classificação geomecânica final representou a
menores que 100 kPa e ângulo de atrito realidade do fenômeno e se os motivos de
menor que 15˚.
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penalização de qualidade do maciço limitaram a


qualidade do maciço.
Os motivos para a penalização da qualidade
do maciço podem estar relacionados a
profundidade, zonas de maior agrupamento de
descontinuidades (Figura 8) e zonas de alteração
da rocha (Figura 9). Para a confirmação destes,
foi realizada a validação visual do modelo de
blocos estimados e a geologia estrutural da
região de estudo. Figura 10. Falhas regionais presentes na região do estudo
de caso

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O comportamento geomecânico de uma maciço


rochoso pode ter um impacto significante nos
custos e na operação de um empreendimento
minero. Desta forma, ter conhecimento das
Figura 8. Localização das famílias ao longo do modelo variáveis geomecânicas é um dos aspectos mais
geomecânico importantes durante fase de pesquisa mineral.
Nesta fase é importante considerar algumas das
características destas variáveis, que incluem o
comportamento direcional, a natureza não
aditiva e a mistura de diferentes populações.
Neste artigo, foi apresentado uma
metodologia baseada em técnicas geoestatísticas
que geram resultados alternativos às
metodologias mais tradicionais. A abordagem
proposta considerou o usa da krigagem ordinária
para caracterizar todos os parâmetros envolvidos
Figura 9. Localização das amostras com as informações de no cálculo do RMR. Para cada bloco do modelo,
alteração ao longo do modelo geomecânico foi realizada a estimativa individual das
variáveis geotécnicas e posteriormente, o
Além destas características foi analisada a
somatório dos ranques proposto por Bieniawski
influência das falhas regionais na qualidade do
(1989).
maciço rochoso. Na região do estudo de caso, há
A metodologia proposta apresentou algumas
a ocorrência de 2 grandes falhas, estas cortam a
vantagens:
parte sul da maciço. Pela Figura 10, é possível
 Permitiu uma melhor estimativa dos locais
observar que as regiões próximas as falhas
não amostrados, pois levou em consideração
apresentaram uma classificação geomecânica
a continuidade espacial das variáveis.
mais penalizada e comprova que regiões mais
alteradas e fraturadas também geram um maciço  Além da estimativa, a abordagem permitiu
mais penalizado. ter uma melhor avaliação da incerteza do
comportamento geomecânico do maciço.
 Resultou em uma tentativa consistente para a
criação de uma modelo de qualidade de
maciço, que pode ser utilizado para o design
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final da cava e análise de estabilidade de Ayalew, L., Reik, G., Busch, W. (2002). Characterizing
taludes. wealthered rock masses – A geostatistical approach.
International Journal of Rock Mechanics & Mining
Em trabalhos futuros, haverá a importação Sciences, 39. p. 105-114
destes modelos em programas de análise de
estabilidade de taludes tridimensionais e a Bieniawski, Z.T. (1973). Engineering classification of
implementação do modelo geomecânico ao jointed rock masses. Transactions Of The South
modelo de teores da mina, a fim de criar um African Institution Of Civil Enginers. Johannesburg, p.
335-344
sistema de penalização na função-benefício dos
blocos. Bieniawski, Z.T. (1976). Rock Mass Classification in
Rock Engineering. In: Symposium on exploration for
rock engineering, Johannesburg. Proceedings... Cape
AGRADECIMENTOS Town. p. 97-106.

Bieniawski, Z.T. (1989). Engineering rock mass


O autor agradece ao Professor André Cezar classification: A Complete Manual for Engineers and
Zingano, do Departamento de Engenharia de Geologists in Mining, Civil, and Petroleum
Minas (Demin) da UFRGS pela orientação. Engineering, Wiley-Interscience, ISBN 0-471-60172-
Ao Demin/UFRGS, ao Laboratório de 1, p.40-47
Pesquisa Mineral e Planejamento Mineiro Brady, B.H.G., Brown, E.T. (2005) Rock Mechanics for
(LPM) pela estrutura oferecida durante a Underground Mining. 3. Ed. New York: Springer
realização deste trabalho. Science +Business Media Inc. p. 647.
À Fundação Luiz Englert (FLE) pelo apoio
irrestrito à promoção da pesquisa, educação e Isaaks, E.H.; Srivastava, R.M. (1989). Applied
Geostatistics. New York: Oxford University Press.
cultura, pelo investimento em bolsas de
Iniciação Científica aos estudantes. ISRM, B.E. (1981). Suggested Methods: Rock
Dedico este trabalho aos meus familiares, Characterization, testing and monitoring. ISRM
pelas horas substituídas do convívio familiar, e, Commission on Testing Methods. Pergamon, Oxford.
especialmente, aos amigos do laboratório de
Kaewkongkaew, K., Phien, N., Harnpattanapanich, T.,
mecânica de rochas pela ajuda nas descrições Sutiwanich, C. (2013). Geological Model of Mae
dos furos de sondagem. Tang-Mae Ngad Diversion Tunnel Projet, Northern
Thailand. Open Journal of Geology. p. 340-351.

REFERÊNCIAS Matheron, G. (1963). Principles of Geostatistics.


Economic Geology, v. 58. p. 1246-1266.
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