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ARENAS
MULTIUSO
Associação Brasileira dos Operadores e Fornecedores para Arenas Multiuso
Brazilian Association of Operators and Suppliers for Multipurpose Arenas
www. abrarenas.com.br
PRODUÇÃO
Trevisan Editora
Alameda Campinas, 463, 13o andar
São Paulo, SP – 01404-902
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O mundo das arenas multifuncionais começou em 68 d.C., no Coliseu, um dos maiores pontos
turísticos da Itália. Tal construção histórica foi equipada e planejada para permitir uma grande
diversidade de atrações. Capacidade para 50 mil pessoas sentadas e inclinação especial das
arquibancadas para proporcionar uma boa visão do espetáculo para todos, elevadores de palco e
rampas de acesso que permitiam mobilidade e entrada de grandes estruturas durante as apresen-
tações. Não possuía banheiros, tampouco restaurantes, entretanto foi um local de entretenimento
muito reconhecido por todos daquela época.
No século XIX, com a retomada dos Jogos Olímpicos no calendário, veio o aumento da
popularidade de diversas práticas desportivas. O futebol, o críquete, o rúgbi e outros esportes
conquistaram muitos adeptos, exigindo, portanto, a construção de estádios para apreciá-los. Com
o aumento do público, cresceu também o número de instalações esportivas. A partir de 1920, o
fortalecimento do sistema bancário, a expansão do crédito, o aumento nos financiamentos e a
recuperação pós I Guerra Mundial resultaram numa febre de grandes construções, que acabou
impulsionando inclusive a criação de grandes estádios. Arenas como o Wembley Stadium, na
Inglaterra, e o Yankee Stadium, nos Estados Unidos, tornaram-se referência, além de fazer coro ao
pensamento: quanto maior, melhor.
Contudo, estádios grandes e lotados representavam também um perigo ao público, já que a
preocupação com o controle dessa massa era pequena. Algumas tragédias marcantes ajudaram a
compreender que a situação deveria mudar, por exemplo:
O Brasil não fica de fora e ainda conta com um agravante: instalações muito obsoletas. Difícil
cair no esquecimento os 150 feridos em São Januário no ano 2000, quando um alambrado cedeu,
ou da queda de parte da arquibancada do Estádio Fonte Nova, na capital baiana, que resultou na
morte de oito pessoas.
Por que tal espaço está diretamente atrelado ao esporte? A pergunta pode ser simples, mas a
resposta não é exatamente óbvia. Em primeiro lugar, o produto esportivo é uma combinação
complexa do tangível e do intangível, e isso torna desafiador o trabalho do profissional em diver-
sos aspectos. Pode-se considerar que o produto esportivo é diferente cada vez que é consumido.
A incerteza e a espontaneidade tornam esse produto atraente e único. Além disso, é importante
para o consumidor a sensação de vivência esportiva. Para Mullin et al. (2004)1, essa vivência
inclui a atmosfera do local, o equipamento, os acessórios, a música, as concessões e as festivi-
dades anteriores e posteriores ao evento.
Um estádio oferece produtos/serviços que satisfazem o cliente/torcedor. Troca-se basica-
mente diversão e lazer por um valor monetário, cujo local é um palco para partidas esportivas.
Nesse cenário, pode-se enquadrar mais um conceito: a oportunidade de marketing. De acordo
com Kotler (1995)2, tal oportunidade “é uma área de importante ação mercadológica em que
determinada empresa desfruta de uma vantagem diferencial”.
Considerando as dezenas de milhares de indivíduos que circulam durante uma partida, seria no
mínimo interessante para aqueles que desejam ofertar seus produtos promover uma ação promocio-
nal. Para Le Drew (2003)3, algumas estratégias que podem ser aplicadas nas arenas esportivas são:
O fato é que o esporte é algo com que muitos se identificam, os consumidores valorizam e
respeitam o que está envolvido com ele. Dessa forma, muitos anunciam suas marcas e produtos
nesse ambiente para obterem mais receptividade de seus produtos/serviços e ainda serem lem-
brados positivamente por seus clientes.
Além disso, o maior objetivo de uma empresa ao atrelar sua marca a um esporte ou evento
é alcançar o reconhecimento. A participação e o envolvimento com os interesses e necessidades
dos clientes, ou mesmo dos funcionários e fornecedores fora do ambiente comum de convívio,
fortalecem a imagem da entidade. Mostra a preocupação de não apenas atender, mas também
satisfazer a todos que fazem parte do seu ambiente, obtendo com isso credibilidade da marca,
dos produtos e da própria corporação.
2.1 Planejamento
a. Desenvolvimento do conceito
Quais as metas e objetivos do projeto? Qual o retorno esperado e estimado com uma configu-
ração multifuncional? As respostas dessas perguntas vão nortear o projeto do começo ao fim.
A arena pode se tornar um centro comercial para a cidade, amparar o desenvolvimento de
um parque industrial na região ou ainda uma nova fonte de lazer para a comunidade local.
A definição deve vir a partir de um plano de negócios bem estruturado, considerando um
cenário realista e um modelo de negócios viável e sustentável, garantindo ganhos para o governo,
os investidores, clubes e a sociedade.
Vale lembrar que um dos itens primordiais nesse processo de desenvolvimento deve con-
siderar a atuação de pelo menos um clube âncora no local. O clube é uma referência para a
comunidade e seu estádio acaba se tornando também. Nesse caso, pode-se inclusive considerar
a arena de um clube um ponto turístico, já que diversos clubes pelo mundo afora têm grande
admiração e não só dos torcedores locais. Além disso, geralmente os matchdays são responsáveis
pela maior parte das receitas acumuladas por uma arena. Sem um clube âncora, tal oportunidade
de acumular capital torna-se mais difícil.
b.Viabilidade econômica
O estudo de viabilidade é algo complexo. Segundo um documento elaborado pelo Banco Na-
cional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES)4, é importante considerar os seguintes
aspectos:
4
Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social. Área de operações industriais 2. Gerência Setorial 2. Arenas multiusos.
Maio de 1997. Disponível em: <http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/export/sites/default/bndes_pt/Galerias/Arquivos/conheci-
mento/relato/aren-mul.pdf>. Acesso em 10 de set 2012.
›› Zona de influência: variável de acordo com a característica do evento, que pode ser local,
regional, nacional ou internacional.
›› Capacidade de público: deve ser determinada de acordo com os eventos a serem pro-
gramados simultaneamente ao estudo de outros fatores, tais como mercado e infraestrutura
necessária e disponível. Apesar de ser o país do Futebol, sabe-se que no Brasil muitas regiões
não conseguem garantir um público regular alto nos estádios. Por isso mesmo, projetos como
a Arena Pantanal, em Cuiabá, deverão utilizar estruturas remontáveis, já que, posteriormente
a realização da Copa do Mundo, não se justificará uma instalação para mais de 60 mil pessoas.
O público das arenas, portanto, deve se limitar a uma capacidade que não desperdice a
receita que pode ser gerada por uma demanda reprimida e que, ao mesmo tempo, valorize
cada ingresso disponível na arena.
›› Administração: é importante definir o modelo de gestão, que pode ser público, privado
ou misto. Considerando que os eventos de uma arena vão além do esporte, é fundamental
garantir uma administradora experiente para gestão e operação do negócio. Em capítulos
posteriores, serão detalhados os principais modelos de administração.
›› Taxa de retorno: à medida que todas as arenas sejam utilizadas para outros fins que não
somente o esporte (para espetáculos, comércio ou serviços), isso vai aumentar o potencial
de rentabilidade, que influenciará diretamente na taxa de retorno, que variará de acordo com
cada projeto de arena.
5
JOHN, Geraint; SHEARD, Rod;VICKERY, Bem. Stadia – A design and development guide. 4. ed. UK: Architectural Press, 2007. Dispo-
nível em: <http://pt.scribd.com/doc/13320073/Stadia-A-Design-and-Development-Guide>. Acesso em 30 de out. 2012.
Formação da
Organização
Abertura Estádio
Suporte Direção
e Gerência
2. 2 Segurança
Uma das principais preocupações de uma arena multiuso moderna é proporcionar segurança
ao público. De acordo com a visão da Arena do Brasil, um estádio deve oferecer aos usuários e
visitantes um ambiente seguro e confortável, que lhes garanta uma estada agradável e sem per-
turbações. Para isso, os principais pilares da gestão da segurança envolvem6:
6
MW 12 284 Vision Document Arena POA (Arena Porto Alegrense/Arena do Brasil/Amsterdam Arena Advisory), 2012.
c. Evacuação segura: os estádios atualmente são projetados de uma forma que a evacuação
seja possível no menor prazo possível de tempo, evitando congestionamentos e assegurando o
fluxo da multidão. Também são consideradas áreas em torno da Arena que permitam a acomo-
dação dos espectadores após uma evacuação de emergência, garantindo livre acesso da polícia,
bombeiros e ambulâncias.
e. Organização dos stewards: os stewards são pessoas treinadas especialmente para avaliar
densidades de multidões e comportamentos, identificar sinais de problemas e auxiliar durante a
evacuação.
2. 3 Hospitalidade
Para a Arena do Brasil, a organização de qualquer evento está baseada em três pilares:
7
BORGES, Claudio. O futuro da hospitalidade corporativa em estádios. Como entreter clientes e construir relacionamentos em um
ambiente informal enquanto indivíduos com alta renda procuram um nível diferenciado de conforto e serviço. Disponível em:
<http://www.universidadedofutebol.com.br/Artigos/2012/07/1,15404,O+FUTURO+DA+HOSPITALIDADE+CORPORATIVA+
EM+ESTADIOS.aspx?p=4>. Acesso em 28 de out 2012.
Catering
Catering é o fornecimento de alimentação e bebidas para eventos, que pode ser parcial (prepara-
ção e entrega ou preparação no local e fornecimento de staff para servir) ou total (preparação,
dentro ou fora do local, entrega, fornecimento de staff para servir, decoração do ambiente e
serviço de limpeza).
Em um estádio, o catering pode ser dividido em dois tipos:VIPs e setores premium, e pública.
No primeiro caso, são oferecidas as facilidades dos restaurantes e buffets especializados, com
atendimento personalizado. No segundo, é preciso uma atenção redobrada, já que o atendi-
mento envolve toda a multidão que circula pelo local. A ampliação das expectativas e da expe-
riência do consumidor é a filosofia chave para a um bom catering, especialmente público. Nos
estádios da Europa, algumas exigências do público ajudam a nortear a organização do catering,
que envolve: tempo reduzido de espera; variedade de produtos, incluindo preferências locais
e linhas naturais; boa apresentação visual dos produtos e do local de fornecimento, e relação
preço versus qualidade.
A prestação de serviço de catering também deve considerar a presença suficiente de cateres
ou prestadores de serviço para o público presente (calculado de acordo com a dimensão e as
necessidades do evento), o bom atendimento do staff e as formas de pagamento (troco em mo-
eda corrente e necessidade de um sistema eletrônico bem estruturado que garanta segurança
e rapidez nas transações com cartões de débito e crédito). A Amsterdam Arena, por exemplo,
conta com um sistema de cartões de débito múltiplos, que combinam ticket (entrada), programa
de sócio torcedor, clube de vantagens, moeda de troca e até mesmo bilhetes de estacionamento
ou transporte público para chegar e sair da Arena. A solução tem se mostrado eficiente e será
implantada em algumas arenas do Brasil, como a Fonte Nova, na Bahia.
2.5 Sustentabilidade
No Brasil, o novo estádio do Grêmio e os estádios sede da Copa de 2014 firmaram um contrato
com a Green Building Council Brasil (GBC Brasil) para obter o certificado LEED, uma espécie de
selo que reconhece empreendimentos capazes de gerar menor impacto ao meio ambiente. Para
conquistar o selo, o clube aposta na localização, no incentivo ao transporte público, na redução de
carga térmica da construção; na economia de água potável; na redução na geração de esgoto; pelo
menos 10% na redução do consumo de energia anual; na área permanente de resíduos recicláveis,
e no guia de ocupação sustentável e medição individualizada de energia.
2.6 Tecnologia
Depois de 64 anos, os palcos da segunda Copa do Mundo de Futebol realizada no Brasil vão
contar com auxílio da tecnologia para proporcionar um espetáculo diferenciado. Telões de alta
definição, conexão wi-fi, câmeras de monitoramento em todos os pontos da arena e sono-
rização dos corredores de acesso até as arquibancadas são alguns itens que serão facilmente
2.7 Acessibilidade
Deficiente físico não é somente quem usa cadeira de rodas, mas também pessoas com problemas
auditivos, visuais, mentais ou com dificuldades de aprendizado. O termo mais utilizado atualmen-
te é portador de necessidade especial, que inclui idosos e aqueles com dificuldades provisórias,
como grávidas ou pessoas que sofreram acidentes e estão em recuperação.Todas as pessoas por-
tadoras de necessidades especiais devem ter a possibilidade de participar de eventos em estádios
na forma de espectadores ou como funcionários.
Segundo a lei federal nº 5.296, de 2004, todo estádio deve destinar obrigatoriamente 2% dos
assentos para acomodação de portadores de deficiência, incluindo um acompanhante. Os espaços
8
CASTRO, Marcelo. O novo mundo dos negócios na era digital. 2012. Disponível em: <http://www.ecom2012.com.br/colunae_3.
htm>. Acesso em 24 de set 2012.
De acordo com John, Sheard e Vickery (2007)9, as facilidades para as mídias são parte integral de
um estádio por causa das grandes quantias dos direitos de cobertura de eventos esportivos.
Para otimizar o trabalho das mídias, seja ele impresso, rádio, TV ou web, o ideal é que elas estejam
agrupadas no mesmo lado dos vestiários, facilitando o contato com os principais personagens do
espetáculo. Também é preciso reservar uma área de trabalho exclusiva com mesas, cadeiras, pon-
tos de energia, telefone e internet de banda larga disponíveis e com excelente vista do campo para
melhor cobertura do evento. Além disso, é fundamental considerar um estacionamento próprio
para veículos de transmissão, plataformas para câmeras de TV e colocação de dutos permanentes
para a passagem dos cabos.
Em algumas situações, pode ser necessária a instalação temporária de banheiros e praça de
alimentação e mesa de recepção da mídia para controle de acesso, identificação e informações.
Um estúdio com vistas panorâmicas do estádio, largas janelas, sem obstrução à visão, às vezes é
exigido pelas emissoras, e pode estar em uma localização remota, sem acesso às facilidades citadas
nesse item.
9
JOHN, Geraint; SHEARD, Rod; VICKERY, Ben. Stadia – A design and development guide. 4. ed. UK: Architectural Press, 2007. Dispo-
nível em: <http://pt.scribd.com/doc/13320073/Stadia-A-Design-and-Development-Guide>. Acesso em 30 de out. 2012.
10
PORTER, Michael. Vantagem Competitiva – Criando e sustentando um desempenho superior. 4. ed. São Paulo: Editora Campus,
1999.
Segundo os manuais do governo federal, a parceria pública privada (PPP) objetiva oferecer um ser-
viço público de qualidade para a população por um prazo determinado de tempo. Nessa relação, as
empresas privadas projetam, financiam, executam e operam uma obra ou serviço e, em contrapar-
tida, o setor público paga, parcial ou integralmente, oferecendo uma série de serviços já prestados à
população. O governo brasileiro utiliza esse recurso principalmente no setor de infraestrutura.
A Amsterdam Arena foi a primeira a mostrar que uma PPP é uma parceria eficaz. Para
construção do empreendimento, foi feito um investimento de US$ 164 milhões, no qual o
capital inserido foi 26% da prefeitura, 7% do Ajax FC (clube de futebol da primeira divisão da
Holanda), 21% de terceiros, 16% dos fundadores, 4% de subsídios do governo e 26% de hipo-
teca. A cidade ganhou um novo centro empresarial e comercial, além de melhorias na infraes-
trutura regional, beneficiando diretamente a população. O clube pode desfrutar de um local
moderno e bem preparado para receber torcedores e qualquer time que desejar em torneios
nacionais e internacionais. Empresas encontraram um local seguro e prospero parar promover
seus produtos e serviços.
O espaço multifuncional que já tem 16 anos de operação possui com uma taxa de retorno de
aproximadamente 5 milhões de euros por evento, mais de 27 milhões de visitantes e 350 locatários
na área entorno da arena. É a maior referência mundial no que diz respeito à multifuncionalidade.
A reforma do Estádio Fonte Nova, na Bahia, acabou estimulada por esse modelo. O empre-
endimento para a Copa 2014 será uma PPP entre o Governo do Estado da Bahia e a Fonte Nova
Negócios e Participações (FNP), concessionária formada pelas empresas Odebrecht Participa-
ções e Investimentos e OAS. O projeto foi concebido e acompanhado de perto pela Arena do
Brasil, braço do grupo Amsterdam Arena no país, que foi contratada pelo consórcio para consul-
toria, operação e gestão da nova arena.
Nesta PPP, todo o investimento na obra é custeado pelo parceiro privado. O Estado compro-
mete-se a pagar contraprestações pecuniárias no período de 15 anos (período de amortização
do financiamento do projeto) a partir do início de operação da arena. Com a obra concluída, a
FNP arca com todas as responsabilidades e custos de operação e manutenção da arena. Ao final
do período de concessão, a instalação esportiva retorna para o Estado.
modelos de administração 23
O Beira Rio e a Arena do Grêmio são espaços que contarão com uma administração partilhada,
que irá envolver clube, construtora e operadora para garantir benefícios diretos ao time e à po-
pulação local.
Atlético Paranaense e Corinthians irão administrar suas novas arenas. No caso do clube paulista,
foi firmado um contrato privado entre Corinthians e Odebrecht para construção da Arena, en-
tretanto a administração do estádio será apenas do time. O terreno em que a arena está sendo
instalada pertence à Prefeitura Municipal de São Paulo, que fez concessão de uso ao Corinthians
por 99 anos. Uma SPE, com participação de conselheiros da Odebrecht, também foi constituída
modelos de administração 25
modelos de administração 27
Três das 12 arenas da Copa serão geridas inicialmente pela administração pública após a conclusão das
obras. São elas: Estádio Mané Garrincha (Brasília), Arena Pantanal (Cuiabá) e Arena da Amazônia
(Manaus). O discurso de que as instalações seguirão um padrão internacional e serão espaços
multifuncionais está inserido no contexto desde o início das obras. Entretanto não há garantia de
que esses espaços realmente estejam aptos para isso, haja vista a falta de profissionais capacitados na
administração pública para gerir o espaço de acordo com esse conceito, bem como a inexistência
de um planejamento complexo e de longo prazo, em que esteja preestabelecido um cronograma
de eventos futuros, uma estimativa das receitas com os eventos e uma matriz organizacional escla-
recendo as responsabilidades de todos os envolvidos na operação do empreendimento.
Mesmo a dimensão das obras também não favorece uma projeção amistosa sobre o futuro
dos empreendimentos. Brasília, Cuiabá e Manaus são cidades sem grande volume de pessoas, e
mesmo turistas, logo, não se justifica a construção de estádios com capacidade de público supe-
rior a 30 mil. A própria média de público no campeonato brasileiro de futebol está aquém dessa
oferta de cadeiras. Aliás, esses municípios sequer têm times na primeira divisão do campeonato,
dificultando ainda mais a geração de grandes receitas com bilheteria. Mesmo a falta de um clube
âncora para sustentar esses estádios deixa o retorno sobre o investimento cada vez mais incerto.
Além disso, por se tratar de um espaço público, a continuidade de um projeto fica limitada
à manutenção da administração promotora do empreendimento no poder, condicionada direta-
mente ao processo eleitoral democrático nacional.
Esses fatores de instabilidade acabam afastando potenciais investidores, que ficam receosos
com relação ao retorno financeiro e tem a operação da arena condicionada a interesses políticos,
não só públicos.
A presidente Dilma Rousseff sancionou em 5 junho de 2012 a Lei Geral da Copa, um conjunto
de normas jurídicas que visa garantir o cumprimento dos compromissos assumidos pelo governo
federal brasileiro com a FIFA para a realização da Copa do Mundo de Futebol, em 2014, e tam-
bém para a Copa das Confederações em 2013. A lei nº 12.663 foi publicada no Diário Oficial da
União no dia 8 de agosto de 2012.
A legislação gerou uma série de discussões no congresso nacional, já que alguns pontos do
texto conflitavam normas e estatutos brasileiros, entre eles o Estatuto do Torcedor, o Estatuto do
Idoso e o Código de Defesa do Consumidor. Depois de muito debate, aprovação e vetos dos de-
putados e senadores, chegou-se a um acordo mútuo, garantindo benefícios para todas as partes.
Um dos principais pontos do embate foi a liberação para comercialização e consumo de
bebidas alcoólicas nos estádios, que vai contra o artigo 13-A, inciso II, do Estatuto do Torcedor
(Lei nº 10.671, de 15 de maio de 2003). A legislação brasileira defende a proibição da venda de
bebida alcoólica como uma forma de garantir a segurança do público nos estádios, já que o con-
sumo excessivo de álcool pode levar à desordem social e ao aumento da prática de crimes. O
texto aprovado pela presidente Dilma não libera ou proíbe expressamente, porém suspende a
proibição durante o período da Copa do Mundo e da Copa das Confederações e deixa a cargos
dos governos estaduais a decisão final sobre a comercialização, já que cada um possui sua legis-
lação. Nesse momento, sete das 12 sedes não possuem lei estadual proibindo a venda de bebida
alcóolica – Belo Horizonte, Brasília, Cuiabá, Curitiba, Manaus, Natal e Salvador, entretanto apenas a
capital do Amazonas ainda não entrou em acordo com o Ministério Público para liberar a venda.
Porto Alegre e Recife possuem legislação restringindo a venda de álcool, mas ainda não definiram
se seguirão seu posicionamento sobre a questão.
Outro conflito foi a suspensão de descontos sobre os ingressos. Segundo a legislação da FIFA,
não existe cobrança de meia-entrada para os dois eventos. No Brasil, o Estatuto do Idoso, uma le-
gislação federal, garante esse benefício aos maiores de 60 anos. Além disso, uma série de legislações
municipais e estaduais também estende o benefício aos estudantes. Com o veto da presidente Dilma
ao 9º parágrafo do artigo 26 da FIFA, a entidade que comanda o futebol mundial deverá negociar di-
retamente com estados e municípios sede se quiser restringir a meia-entrada. De acordo com as leis
estaduais não existe nenhuma cota que restrinja o total de ingressos disponíveis para meia-entrada.
5.2 Licitação
Empresas privadas, sejam elas de pequeno ou grande porte, não podem deixar de considerar os
incentivos e mecanismos públicos para gerar negócio com a Copa e a Olimpíada. Entre eles, é
possível destacar a licitação.
A Lei nº 8.666 institui as normas gerais para licitações e contratos administrativos referentes
a serviços, obras, compras, alienações e locações públicas. A empresa que oferecer a maior van-
tagem ao governo e, na maioria das vezes, o menor preço, será a escolhida para o fornecimento
do serviço ou produto. Mas vale lembrar que o Regime Diferenciado de Contratações (RDC),
aprovado em 2011 pela presidente Dilma, flexibilizou as exigências para contratação de obras
públicas, agilizando os processos para a Copa do Mundo (2014) e os Jogos Olímpicos (2016).
Segundo do governo federal, tal instrumento gerou uma redução do tempo de licitação de 250
para 80 dias e diminuição média de 15% dos preços11.
Entretanto, mesmo com as facilidades, existem dois pontos polêmicos no RDC12: primeiro,
o chamado “orçamento secreto”, pois as empresas somente conhecem o valor estimado para
11
FROUFE, Célia. Governo estuda usar RDC também em obras do PAC. Disponível em: <http://veja.abril.com.br/noticia/brasil/gover-
no-estuda-usar-rdc-tambem-em-obras-do-pac>. Acesso em 24 de set 2012.
12
LOPES FILHO, Alexandre P. O regime diferenciado de contratações e o “sigilo do orçamento” da Copa. Disponível em: <http://
jus.com.br/revista/texto/20246/o-regime-diferenciado-de-contratacoes-e-o-sigilo-do-orcamento-da-copa#ixzz25Eab2nTg>.
Acesso em 24 de set 2012.
legado 33
Arena do Grêmio
Inauguração: dezembro de 2012
Capacidade atual: 60 mil lugares
Projeto: Plarq – Arquitetura e Urbanismo
Principais diretrizes da obra: construção de um complexo multiuso com campo de futebol,
centro de convenções de mais de 20 mil m², hotel com 240 apartamentos, shopping center, centro
empresarial, área residencial e estacionamento com 5.300 vagas.
Custo: R$ 600 milhões
Construtoras: OAS
Contrato: privado (administrado por Arena Grêmio Porto-alegrense durante um período de
20 anos)
Operador: Arena Porto-alegrense / ArenaA do Brasil
Arena Palestra
Inauguração: abril de 1920
Capacidade atual: 45 mil lugares
Projeto: Tomás Taveira (Arquiteto)
Principais diretrizes da obra: nova arena, construída no local do antigo Estádio Palestra Itália,
capaz de abrigar jogos de futebol, shows, eventos corporativos, entre outras atividades, com 196
camarotes, estacionamento com capacidade entre 1.600 a 2.400 veículos, área de imprensa para
dois mil profissionais, centro de convenções, anfiteatro, memorial temático do Palmeiras, loja de
artigos esportivos e praça de alimentação.
Custo: R$ 360 milhões
Construtoras: WTORRE Engenharia
Contrato: privado (WTORRE detém o direito de uso da superfície por um período de 30 anos,
mas o Palmeiras é o proprietário da Arena)
Operador: WTORRE
HSBC Arena
Inauguração: 2007
Capacidade atual: 18 mil lugares
Infraestrutura: espaço para eventos, área de competição, área de treinamento independente
do salão de jogos principal, vestiários, sanitários, salas para atletas e árbitros, centro médico, con-
trole de doping, 53 camarotes com acesso independente, centro de imprensa, 18 bares e estacio-
namento interno com 1.200 vagas.
Contrato: propriedade da prefeitura do Rio de Janeiro e administrada pela GL Events Brasil até
junho de 2016