Explorar E-books
Categorias
Explorar Audiolivros
Categorias
Explorar Revistas
Categorias
Explorar Documentos
Categorias
TRATADO SOBRE O
PRINCÍPIO DA SEGURANÇA JURÍDICA
NO DIREITO ADMINISTRATIVO
Belo Horizonte
2013
É proibida a reprodução total ou parcial desta obra, por qualquer meio eletrônico,
inclusive por processos xerográficos, sem autorização expressa do Editor.
Conselho Editorial
819 p.
ISBN 978-85-7700-728-8
VALIM, Rafael; OLIVEIRA, José Roberto Pimenta; DAL POZZO, Augusto Neves (Coord.).
Tratado sobre o princípio da segurança jurídica no direito administrativo. Belo Horizonte: Fórum,
2013. 819 p. ISBN 978-85-7700-728-8.
PREFÁCIO
Almiro do Couto e Silva...................................................................................................................... 21
APRESENTAÇÃO
Rafael Valim, José Roberto Pimenta Oliveira, Augusto Dal Pozzo............................................ 37
SEGURIDAD JURÍDICA
Fernando Sainz Moreno.................................................................................................................... 117
I Concepto.................................................................................................................................. 117
II Seguridad y ordenamiento jurídico..................................................................................... 119
III Seguridad jurídica y ejercicio del poder público............................................................... 120
IV Derechos de la persona fundados en el principio de seguridad jurídica....................... 128
Referencias............................................................................................................................... 130
CONVALIDAÇÃO LEGISLATIVA
Ricardo Marcondes Martins.............................................................................................................. 357
1 Breve introdução..................................................................................................................... 357
2 Convalidação administrativa................................................................................................ 357
3 Convalidação jurisdicional.................................................................................................... 362
4 Convalidação legislativa – Conceito e classificação .......................................................... 363
5 Princípio da inafastabilidade do controle jurisdicional.................................................... 366
6 Tipicidade da delegação legislativa..................................................................................... 367
7 Separação dos poderes e reserva de administração.......................................................... 370
8 Segurança jurídica e convalidação legislativa.................................................................... 372
9 Exemplos de convalidações legislativas inválidas............................................................. 372
Referências............................................................................................................................... 373
II.3 DISCRICIONARIEDADE
II.5 LICITAÇÃO
II.11 PRESCRIÇÃO
1
Sobre a multiplicidade de sentidos de “segurança jurídica” veja-se, por último e por todos, ÁVILA, Humberto.
Segurança Jurídica: entre permanência, mudança e realização no direito tributário. São Paulo: Malheiros, 2011.
passim, mas especialmente, p. 100 et seq.
2
Responsabilidade pré-contratual e culpa in contrahendo no direito administrativo brasileiro. RDA, n. 217, 1999;
Responsabilidade do Estado e problemas jurídicos do planejamento RDP, n. 63, 1982; Problemas jurídicos do
planejamento. RDA, n. 170, 1987.
3
Veja-se, no esplêndido ensaio de Gerardo Broggini sobre “La retroativitá della lege nella prospectiva
romanística”, em Coniectania, (Milano: Giuffrè, 1966. p. 343 et seq.) a justificação de Santo Ambrosio: “Abraham
ante legem Moysi e ante evangelium fuit. Nondum interditum adulterium videbatur. Poena criminis ex tempore
legis est quod crimen inhibuit nec ante legem nulla rei damnatio est sed ex lege”.
4
Vejam-se, sobre isto, meus estudos: Princípios da legalidade da administração pública e da segurança jurídica
no Estado de Direito contemporâneo. RDP, n. 84, 1987 e O princípio da segurança jurídica (proteção à confiança)
no direito público brasileiro e o direito da Administração Pública de anular seus próprios atos administrativos:
o prazo decadencial do art. 54 da Lei do Processo Administrativo da União (Lei nº 9.784/99). Revista Brasileira de
Direito Público – RBDP, Belo Horizonte, ano 2, n. 6, jul./set. 2004 e RDA, n. 237, 2004.
5
CALMES, Sylvia. Du príncipe de la protection de la confiance légitime em droit allemand, communautaire et français.
Paris: Dalloz, 2001. p. 11, nota 49, p. 14-16.
6
Id.
7
Cf. LUENGO, Javier Garcia. El principio de protección de la confianza em el derecho administrativo. Madrid: Civitas,
2002. p. 194, com extensa lista de decisões do BVerfGE, na nota 189.
8
CALMES. Du príncipe de la protection de la confiance légitime em droit allemand, communautaire et français, p. 24 et seq.
9
Id., p. 26 et seq.
Tribunal Federal. São de 1999 as três leis da União relacionadas com a segurança
jurídica, especialmente sob o aspecto da proteção da confiança: a Lei nº 9.784, de 29 de
janeiro, que dispôs sobre o processo administrativo no âmbito da Administração Federal
(arts. 2º e 54), a Lei nº 9.868, de 10 de novembro, que estabeleceu normas sobre a ação
declaratória de constitucionalidade e a ação direta de inconstitucionalidade (art. 27)
e a Lei nº 9.882, de 03 de dezembro, que instituiu a arguição de descumprimento de
preceito fundamental (art. 11).
Na Lei do Processo Administrativo, a segurança jurídica é arrolada entre os
princípios a que se submete a Administração Pública, numa versão ampliada do
elenco consignado no art. 37 da Constituição Federal. Logo adiante, no inciso IV do
parágrafo único, ordena-se a observância, nos processos administrativos, do critério da
“atuação segundo padrões éticos de probidade, decoro e boa-fé”, em conexão com o princípio
da moralidade administrativa. No inciso XIII, também desse parágrafo único, veda-se
a aplicação a fatos pretéritos de nova interpretação da norma jurídica. No art. 54, cujo
texto foi por mim redigido, como membro da Comissão presidida pelo Prof. Caio Tácito
e que elaborou o anteprojeto de lei de que foi relatora a Prof. Odete Medauar,10 criou-se
o prazo preclusivo ou decadencial do direito da Administração Pública invalidar seus
atos administrativos de que decorram efeitos favoráveis para os destinatários, fixado
em cinco anos, contados da data em que foram praticados, salvo comprovada má fé.
No caso de efeitos patrimoniais contínuos, esclarece o §1º que o “prazo de decadência
contar-se-á da percepção do primeiro pagamento”.
Nos arts. 11 e 27, respectivamente das Leis nºs 9.868/99 e 9.882/99, foi concedida
a faculdade ao Supremo Tribunal Federal, pela maioria de 2/3 de seus componentes,
“ao declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo, e tendo em vista razões
de segurança jurídica ou de excepcional interesse social [...] restringir os efeitos daquela
declaração ou decidir que ela só tenha eficácia a partir do seu trânsito em julgado ou
de outro momento que venha a ser fixado”.
A acreditar-se na validade dessas disposições legislativas frente à Lei Funda
mental,11 torna-se evidente que a segurança jurídica, vista aqui pelo ângulo da proteção
da confiança, é um princípio constitucional suscetível de ser cotejado, num balancing
test — por certo não com o dogma da supremacia da constituição, porque este, como
dogma, não comporta flexibilizações — mas com o princípio, com ele umbelicalmente
vinculado, da eficácia ex tunc da decisão declaratória de inconstitucionalidade.
Na jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, embora, no passado, haja
decisões do STF mantendo atos administrativos ilegais, cujos beneficiários estavam de
boa-fé, a fundamentação jurídica dessas decisões era geralmente pouco convincente.
Os casos mais numerosos e notórios a que se referiam essas decisões diziam respeito
a alunos de instituições de ensino superior cujos registros dos diplomas nos órgãos
oficiais competentes foram anulados, quando já se encontravam há muito no pleno
exercício da atividade profissional para a qual tinham sido habilitados. A anulação
10
Faço esta observação, não por vaidade pessoal, mas por amor à verdade histórica, porque, por vezes, tenho
ouvido a atribuição a outras pessoas da autoria da redação do art. 54. Neste particular, parece-me definitivo o
depoimento da Prof. Odete Medauar, em artigo que escreveu no livro em minha homenagem, Fundamentos do
Estado de Direito, organizado pelo Prof. Humberto Ávila (São Paulo, Malheiros, 2005, p. 116): “Cabe a Almiro do
Couto e Silva a autoria do art. 54 da Lei 9.784, de 29.01.1999 [...]”.
11
Essa crença está hoje reforçada pelo fato de os aludidos preceitos terem sido editados há mais de uma década
sem que, nesse já tão longo período de tempo, sua inconstitucionalidade tenha sido declarada.
12
São exemplos: RTJ nºs 33/280; 37/249; 41/252; 45/593; 95/475; 104/1284; e 119/829.
13
DJ, 1º dez. 77, RTJ 83/931.
14
Sobre essas decisões e seu significado veja-se meu artigo O princípio da segurança jurídica (proteção à confiança)
no direito brasileiro e o direito da administração pública de anular seus próprios atos administrativos: o prazo decadencial
do art. 54 da Lei de Processo Administrativo da União (Lei nº 9.784/99). Confiram-se também, na obra coletiva A
jurisprudência do STF nos 20 anos da Constituição, organizada por Gilmar Ferreira Mendes, Paulo Gustavo Gonet
Branco e André Rufino do Vale (São Paulo: Saraiva, 2010. p. 22 et seq.), e meus Comentários ao acórdão proferido no
MS 24.268/MG.
15
MS nºs 26.353/DF e 26.363/DF, de que foi relator o Min. Marco Aurélio e os MS nºs 26.405/DF; 26.560/DF; 26.565/
DF; 26.628/DF; 26.660/DF; 26.679/DF; 26.680/DF; 26.727/DF; 26.746/DF; 26.747/DF; 26.748/DF; 26.751/DF; 26.781/
DF; 26.782/DF; 26.804/DF; 26.815/DF; 26.886/DF; 26.892/DF; 26.893/DF; 26.913/DF; 26.924/DF; 26.928/DF; 26.940/
DF, da relatoria do Min. Cezar Peluso.
16
Confira-se, ROSAS, Roberto. Direito sumular. 12. ed. São Paulo: Malheiros, 2004. p. 26 et seq.
17
MS nº 25.697/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, com copiosa jurisprudência da Corte Suprema referida no voto
da relatora. Quanto a esse entendimento veja-se a consistente e muito bem fundamentada crítica de Maffini.
Princípio da proteção substancial da confiança (Porto Alegre: Verbo Jurídico, 2006. p. 158 et seq.).
18
Por exemplo, MS nº 25.072/DF. Rel. Min. Marco Aurélio e redator para o acórdão Min. Eros Grau, como está
dito na ementa: “O ato de aposentadoria consubstancia ato administrativo complexo, aperfeiçoando-se somente
com o registro perante o Tribunal de Contas. Submetido a condição resolutiva, não se operam os efeitos da
decadência antes da vontade final da Administração”.
19
Código Civil brasileiro, especialmente arts. 121 e 125 a 127. As condições em sentido próprio são as que derivam
exclusivamente da vontade das partes (art. 121). As que decorrem da lei ou são da natureza do instituto a que se
ligam, como, p. ex., a morte do testador para que o negócio jurídico do testamento tenha eficácia, são condiciones
iuris.
20
Tanto isto é certo que o servidor que entender que o ato de aposentadoria não está correto, ferindo direito
subjetivo de que seja titular, poderá atacar o ato de aposentadoria pela via judicial, impetrando mandado de
segurança, sem necessidade de aguardar o pronunciamento do Tribunal de Contas.
21
Art. 1º, §1º: “Os preceitos desta Lei também se aplicam aos órgãos dos Poderes Legislativo e Judiciário da União,
quando no desempenho de função administrativa”.
22
Súmula Vinculante nº 3: “Nos processos perante o Tribunal de Contas da União asseguram-se o contradi
tório e a ampla defesa quando da decisão puder resultar anulação ou revogação de ato administrativo que
beneficie o interessado, excetuada a apreciação da legalidade do ato de concessão inicial de aposentadoria,
reforma e pensão”. Além dos debates que precederam a aprovação da Súmula Vinculante nº 3, vejam-se
também especialmente os acórdãos do Supremo Tribunal Federal no MS nº 26.117/DF. Rel. Min. Eros Grau, e MS
nº 25.697/DF. Rel. Min. Cármen Lúcia.
23
Esprit des Lois, 1. XI, c. 6.
24
O princípio da segurança jurídica (proteção à confiança) no direito público brasileiro e o direito da Administração
Pública de anular seus próprios atos administrativos: o prazo decadencial do art. 54 da Lei do Processo
Administrativo da União (Lei nº 9.784/99). Revista Brasileira de Direito Público – RBDP.
Tem-se afirmado que será o vício formal ou substancial absolutamente inconciliável com
a ordem jurídica. Mas, já se disse, a gravidade, per se, não é suficiente para conduzir à
nulidade. Deverá estar associada à evidência. Assim, o ato contrário à Constituição ou
violador de direito fundamental não é, só por estas razões, nulo. Neste sentido é que se
25
Alejandro Nieto, no Prefácio que escreveu ao livro de Margarita Beladiez Rojo, Validez y eficácia de los actos
administrativos (Madrid: Marcial Pons, 1994. p. 14).
26
Id., p. 15.
27
O princípio da segurança jurídica (proteção à confiança) no direito público brasileiro e o direito da Administração
Pública de anular seus próprios atos administrativos: o prazo decadencial do art. 54 da Lei do Processo
Administrativo da União (Lei nº 9.784/99). Revista Brasileira de Direito Público – RBDP.
Cremos que seja esta a solução a ser adotada no direito brasileiro, até porque
são numerosos os casos de aplicação, pelo Supremo Tribunal Federal, do princípio da
segurança jurídica ou do art. 54 da Lei nº 9.784/99 à admissão de servidores sem concurso
público, como foi o caso da Infraero (MS nº 22.357/DF) e das ascensões funcionais da ECT.
Com todo o respeito pelo Supremo Tribunal Federal e, particularmente pela
ilustre relatora do MS nº 28.279/DF, parece-nos que a decisão incorreu em sério equívoco,
ao afirmar que (i) “situações flagrantemente inconstitucionais como o provimento de
serventia extrajudicial sem a devida submissão a concurso público não podem e não
devem ser superadas pela simples incidência do que dispõe o art. 54 da Lei 9.784/99,
sob pena de subversão das determinações insertas na Constituição Federal”; ou que,
(ii) “Como juízes da mais alta Corte de Justiça deste País, não podemos e não devemos
transformar a Constituição em refém de leis e de interpretações contrárias ao espírito
da própria Lei Maior”; ou ainda que (iii) “A tese defendida pelo impetrante faz letra
morta do art. 236, §3º, da Constituição Federal, que estabelece a exigência de prévia
aprovação em concurso público para o ingresso na atividade notarial e de registro,
razão por que não deve ser acolhida pela Corte. O que se busca no presente writ é, em
verdade, o reconhecimento de uma espécie de usucapião da função pública de notário
ou registrador, pretensão inadmissível”.
O ponto de partida para a análise crítica dessas três afirmações está na peculia
ridade absolutamente induvidosa de que o art. 54 da Lei nº 9.784/99 é regra jurídica que
tem atrás de si, a dar-lhe sustentação constitucional, o princípio da segurança jurídica,
sob o aspecto da proteção da confiança.
Quando inexistia o art. 54, o Supremo Tribunal Federal invocava diretamente o
princípio constitucional da proteção da confiança, como decorrência do princípio maior
do Estado Democrático de Direito. Assim procedeu, por exemplo, no caso dos servidores
da Infraero, admitidos sem concurso público, e na estabilização das situações criadas
pelas ascensões funcionais realizadas na ECT, após a Constituição de 1988.
Todavia, na ausência do art. 54, diante do caso concreto, era indispensável fa
zer um balancing test com outros princípios constitucionais, como, por exemplo, o da
28
Verwaltungsverfahrengesetz — Kommentar, München, C. H. Beck, 1993, p. 980: “Der Verstoss gegen eine wichtige
Rechtsbesstimmung allein, selbst eine Verfassungsbestimmung wie art. 20 Abs. 3 GG (BVerwG NJW1985,
2658,2659) oder Grundrechte [...] führt nicht zu Nichtigkeit (BVewG MDR 1978,79,80). Der Verstoss muss
über die unrichtige Anwendug hinausgehen und schlechthin unerträgliche für die Rechtsorsdungsein. Nach
einer die Anforderungen Generalklausel insgesamt erfassennde Formel müssen die an eine ordnungsgemässe
Verwaltung zu stellende Anforderungen in einen so hohen Masse verletz sein, dass von niemand erwartet
werden kann, den VA als verbindlich anzuerkennen [...]”.
29
“(3) O Legislativo está vinculado à ordem constitucional e o Poder Executivo e o Judiciário estão vinculados à lei
e ao direito”.
30
O princípio da segurança jurídica (proteção à confiança) no direito público brasileiro e o direito da Administração
Pública de anular seus próprios atos administrativos: o prazo decadencial do art. 54 da Lei do Processo
Administrativo da União (Lei nº 9.784/99). Revista Brasileira de Direito Público – RBDP.
legalidade, para verificar qual teria mais adequação ou “maior peso” para ser aplicado
à situação em exame.
Com o advento do art. 54, esse trabalho de ponderação já foi realizado pelo
legislador, que elegeu o princípio da proteção da confiança para prevalecer sobre
qualquer outro, desde que cumpridos e observados os pressupostos da decadência
claramente enunciados no preceito.31
Assim, visto por esse ângulo, no caso decidido pelo Supremo não se tratava, em
rigor, de conflito, de um lado, entre uma regra da legislação ordinária sem qualquer
base constitucional, e, de outro, normas e princípios constitucionais. Cuidava-se na
verdade de uma afirmação da prevalência do princípio constitucional da proteção da
confiança, traduzido em regra da legislação ordinária editada após a ponderação feita
pelo Poder Legislativo com outros princípios constitucionais.
É de intuitiva evidência que regra jurídica com esses qualificativos não pode ser
afastada por simples regra regimental, como é o caso do parágrafo único do art. 91 do
Regimento Interno do CNJ, na sua parte final.
Por igual razão, não se sustenta a assertiva de que “a Constituição não pode ficar
refém de leis e de interpretações contrárias ao espírito da própria Lei Maior”.
Como seria isso possível, se a regra da legislação ordinária espelha com perfeição
o princípio da proteção à confiança, uma das faces do princípio da segurança jurídica,
por sua vez princípio integrador do princípio maior do Estado Democrático de Direito?
O art. 54 da Lei nº 9.874/99 só pode estar, por consequência, inteiramente afinado
com o espírito da Lei Maior, na correta interpretação que lhe vem sendo dada pelos que
reconhecem a intangibilidade de atos administrativos inconstitucionais pela decadência
do direito da Administração Pública de invalidá-los.
No tocante ao argumento de que, no caso, se fez letra morta do art. 236, §3º da
Constituição Federal e o que se pretende com o mandado de segurança é, “em ver
dade, o reconhecimento de uma espécie de usucapião da função pública de notário
ou registrador, pretensão inadmissível”, também ele é inconsistente. Note-se que o
ato administrativo que teria agravado o art. 236, §3º da Constituição Federal foi o De
creto Judiciário nº 3, de 11 de janeiro de 1994, subscrito pelo Presidente do Tribunal
de Justiça do Paraná, há mais de quinze anos, como salientou o Min. Marco Aurélio
em seu voto. Diante do tempo transcorrido sem qualquer impugnação e da boa-fé do
destinatário, não havia como concluir que aquele ato administrativo não se estabilizara,
quer pela incidência direta do princípio constitucional da proteção da confiança, quer
pela aplicação do art. 54 da Lei nº 9.784/99. No passado, é certo, chegou a entender-
se que o tempo transcorrido acabava por constituir situação de fato geradora de di
reitos, concepção criticada pelo Min. Moreira Alves, que a chamava de “teoria do fato
consumado” (AgRg nº 120.893). A fundamentação era, sem dúvida, deficiente. Mas, à
época, não tinha havido ainda o reconhecimento da segurança jurídica (proteção da
confiança), como princípio constitucional, e nesses casos, era sempre lembrado o acórdão
da Suprema Corte de que foi relator o Min. Bilac Pinto (RE nº 85.179. RTJ nº 83/931. DJ,
31
V. sobre isso, nosso “O princípio da segurança jurídica (proteção à confiança) no direito público brasileiro e o
direito da Administração Pública de anular seus próprios atos administrativos: o prazo decadencial do art. 54
da Lei do Processo Administrativo da União (Lei nº 9.784/99)” na Revista Brasileira de Direito Público – RBDP, no
tópico “Regra ou princípio?”.
32
Ver sobre isto os comentários e observações de: MONTALVO, Antonio M. Rebordão. Código de procedimento
administrativo. Coimbra: Almedina, 1992. p. 227.
Rafael Valim
José Roberto Pimenta Oliveira
Augusto Dal Pozzo
ASPECTOS GERAIS
Conviene recordar a este propósito que los principios generales del Derecho son una
condensación de los grandes valores jurídicos materiales que constituyen el substractum
del ordenamiento y de la experiencia reiterada de la vida jurídica. No consisten, pues, en
una abstracta e indeterminada invocación de la justicia o de la conciencia moral o de la
discreción del juez, sino, más bien, en la expresión de una justicia material especificada
técnicamente en función de los problemas jurídicos concretos y objetivada en la lógica
misma de las instituciones.2
1
Princípios gerais de direito administrativo. 3. ed. São Paulo: Malheiros, 2007. v. 1, p. 420.
2
GARCÍA DE ENTERRÍA, Eduardo; FERNÁNDEZ, Tomás-Ramón. Curso de derecho administrativo. 3. ed. reimpr.
Madrid: Civitas, 1981. v. 1, p. 400.
Como dice GUASP “todos los campos del derecho estatal son clima propicio, como
cualquier otro, al desarrollo de esta verdadera patología de lo jurídico. Y es más, ella
se da en el seno de los principales elementos que conjuga la relación jurídica estatal: la
Autoridad y el súbdito”.3
La buena fe, a cuyas exigencias han de ajustar su actuación todos los miembros de la
comunidad, sólo puede predicarse, en sus recíprocas relaciones, de la actitud de uno en
relación con otro. Significa — dice LACRUZ — que este otro, según la estimación habitual
de la gente, puede esperar determinada conducta del uno, o determinadas consecuencias
de su conducta, o que no ha de tener otras distintas o perjudiciales. La jurisprudencia
civil ha delimitado correctamente su ámbito de aplicación. Como en la sentencia de 24
de junio de 1969 (Ponente: BONET), al decir que la buena fe significa confianza, seguridad
y honorabilidad basadas en ella, por lo que se refieren sobre todo al cumplimiento de la
palabra dada; especialmente, la palabra fe, fidelidad, quiere decir que una de las partes se
entrega confiadamente a la conducta leal de otra en el comportamiento de sus obligaciones, fiado
en que ésta no le engañara.4
Se alguém atua afiançado pelo que o Estado dispôs em uma norma, por exemplo,
em uma lei, é claro que não pode vir a sofrer, em consequência de sua mudança,
detrimento algum pela conduta dessarte tomada, sem burla em sua confiança legítima,
em sua boa-fé. As regras novas evidentemente não se podem verter sobre o passado para
desacomodar o que está recoberto pelo manto do tempo transacto, mas só podem se
aplicar em relação àquilo que venha a ser estabelecido após o advento da nova disposição
jurídica. Essa proteção à segurança a que se vem aludir é a que se consubstancia na
chamada irretroatividade da lei. Trata-se aí de um dique, de uma barreira, que é posta ao
império das normas editadas pelo Poder Legislativo. Esta é a primeira, a mais antiga e a mais
intuitiva das restrições erigidas em nome da segurança jurídica e mesmo muito antes
da implantação do Estado de Direito já se reconhecia sua vigência.
7 Outrossim, e esta é uma limitação particularmente importante para os efeitos
dos atos administrativos (conquanto se afirme em relação a quaisquer outras disposições
jurídicas), a segurança jurídica encontra também proteção, como dito, no chamado
direito adquirido. Esta contenção, diferentemente da irretroatividade, a qual impede
o retorno de uma disposição para o passado, o direito adquirido propõe-se, em rigor, a
blindar um ato produzido no presente contra a eficácia das estatuições que atingiriam
os continuados efeitos futuros dele.
Com efeito, ao lado dos acontecimentos que se cumpriram no pretérito e nele se
venceram, outros há em que, ao sobrevir lei nova, encontram-se em curso, transitando
no presente. São os negotia pendentia. É dizer: nasceram no passado (em relação à lei
superveniente), mas atravessam o presente e projetam-se no futuro. Iniciaram-se ao tempo
do preceito antigo, mas não estão juridicamente encerrados e por isso ingressam no
tempo de império da lei nova, de tal sorte que esta, mesmo sem retroagir e sem negar
aquilo que já haja transcorrido, iria alcançá-los sob o foco de suas disposições, salvo se
houver sobrevivência da lei antiga para a regência destas relações.
Para obstar a álea que colocaria em sobressalto as partes de um vínculo jurídico,
pretende-se que em certos casos a força da lei pretérita se projete no futuro encasulando
3
El principio general de la buena fe en el derecho administrativo. Madrid, 1983. p. 37.
4
Op.cit., p. 44.
relações constituídas — mas não encerradas — sob seu império. É a teoria do direito
adquirido que cumpre excelentemente a função de abrigar o intento de colocar a salvo
da incidência da nova lei certas relações, que, dessarte, percorrerão o tempo agasalhadas
no manto protetor das regras velhas. Estas sobrevivem para além de seu próprio tempo,
com o fito específico de acobertar direitos que seriam muito frágeis e inconsistentes se
não existisse esse expediente jurídico. A teoria do direito adquirido e seu reconhecimento
pela legislação dos povos cultos vieram a se constituir na fórmula mais perfeita para a
salvaguarda da tranquilidade jurídica e para os interesses dos indivíduos.
No direito administrativo deve-se considerar adquirido o direito quando o
conteúdo do dispositivo que o gerou cumpre a função lógica de consolidar uma situação
que seria, de per si, basicamente mutável. É o que sucede quando declara consolidada
ou incorporada uma certa situação, quando prefixa requisitos a serem preenchidos para
que isso ocorra, quando instaura institutos jurídicos cujo único sentido é a perenidade,
tal a estabilidade do servidor público. A lei de Introdução ao Código Civil brasileiro,
em seu art. 6º, §2º, estatui:
Consideram-se adquiridos assim os direitos que o seu titular, ou alguém por ele, possa
exercer, como aqueles cujo começo do exercício tenha termo prefixo, ou condição pré-
estabelecida inalterável, a arbítrio de outrem.
Informação bibliográfica deste texto, conforme a NBR 6023:2002 da Associação Brasileira de Normas
Técnicas (ABNT):
BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. Estado de Direito e segurança jurídica. In: VALIM, Rafael;
OLIVEIRA, José Roberto Pimenta; DAL POZZO, Augusto Neves (Coord.). Tratado sobre o princípio
da segurança jurídica no direito administrativo. Belo Horizonte: Fórum, 2013. p. 41-46. ISBN 978-85-
7700-728-8.
1 Apresentação
1 Este estudo tem por objetivo apresentar breves reflexões sobre um tema jurídico
fundamental: a segurança jurídica.
Com efeito, segurança jurídica é valor ínsito à própria razão de ser do Direito,
como bem revela expressiva formulação de Celso Antônio Bandeira de Mello:
Esta “segurança jurídica” coincide com uma das mais profundas aspirações do Homem: a
da segurança em si mesma, a da certeza possível em relação ao que o cerca, sendo esta uma
busca permanente do ser humano. É a insopitável necessidade de poder assentar-se sobre
algo reconhecido como estável, ou relativamente estável, o que permite vislumbrar com
alguma previsibilidade o futuro; é ela, pois, que enseja projetar e iniciar, conseqüentemente
— e não aleatoriamente, ao mero sabor do acaso —, comportamentos cujos frutos são
esperáveis a médio e longo prazo. Dita previsibilidade é, portanto, o que condiciona a
ação humana. Esta é a normalidade das coisas.1
1
BANDEIRA DE MELLO. Curso de direito administrativo, p. 124.
2
Para uma visão geral do neoconstitucionalismo brasileiro, ver Luís Roberto Barroso, Neoconstitucionalismo
e constitucionalização do direito: o triunfo tardio do direito constitucional no Brasil; para uma abordagem crítica,
ver Manoel Gonçalves Ferreira Filho, Notas sobre o direito constitucional pós-moderno, em particular sobre certo
neoconstitucionalismo à brasileira; e Carlos Bastide Horbach, A roupa nova do direito constitucional: neo-consti
tucionalismo, pós-positivismo e outros modismos.
3
Pour une Théorie Juridique de l’État, p. 203-205.
4
Direito Constitucional e Direito Internacional: considerações sobre o art. 4º, III da Constituição de 1988 e o parecer
consultivo da Corte Internacional de Justiça sobre a independência do Kosovo.
5
Este tema foi objeto de recente estudo por Virgílio Afonso da Silva, Direitos Fundamentais: conteúdo essencial,
restrições e eficácia.
4 Essa última consideração envolve, via de regra, um elemento a mais, qual seja,
a adoção de uma teoria de princípios, nos moldes propostos, entre outros autores, por
Ronald Dworkin.6
Tal teoria, que vem ganhando relevante repercussão na doutrina e na jurisprudência
brasileiras, acarreta o risco de indução de um excesso de “ativismo judicial”,7 na medida
em que: a) oferece ao órgão jurisdicional uma ampla margem subjetiva de, substituindo-
se ao legislador e ao administrador, tomar decisões político-administrativas visando
concretizar comandos constitucionais; e b) permite a flexibilidade de se escolher, em
cada caso concreto, qual norma “principiológica” aplicar, afastando-se, naquele caso,
as demais, e mesmo normas, “regras”, ainda que sem considerá-las revogadas.
Dito de outro modo, essa lógica de efetivação da Constituição mediante a
concreção jurisdicional de mandamentos com caráter de princípios envolve o recurso
à sua ponderação, num raciocínio de proporcionalidade.
Ora, por um lado, ponderar os valores contidos em normas jurídicas e aplicá-
las com proporcionalidade não é imperativo do Direito contemporâneo: antes disso,
é processo lógico inerente a qualquer decisão jurídica, em todos os níveis de criação
normativa (inclusive no nível da decisão jurisdicional).
Por outro lado, é necessário ter-se a consciência de que a regra da proporcionalidade
não traz consigo nenhum critério objetivo de decisão.
A não compreensão desse fato pode levar à consequência seriamente negativa de
mascarar e favorecer o arbítrio do julgador que afirme, em nome da proporcionalidade,
a solução a que tenha subjetivamente chegado como a única juridicamente possível.
Isso porque a ponderação de princípios — aplicada do modo impróprio que ora
se critica8 — muitas vezes leva o julgador a ignorar, ou mesmo a deliberadamente refutar
regras claramente adotadas pelo legislador — regras as quais, de rigor, deveriam ser
tomadas como expressão da vontade objetiva contida no Direito —, como se sempre
houvesse uma indiferença em relação a possíveis soluções jurídicas legisladas, indiferença
essa apenas solucionada pelo critério subjetivo do julgador.
É certo — acolhendo-se aqui a tese kelseniana9 — que o processo de interpretação
do Direito, no caso, pelo julgador importa ato de vontade, importa escolha de uma solução
dentre aquelas juridicamente possíveis, contidas na “moldura” normativa. Entretanto,
essa escolha não se deve dar pelos parâmetros subjetivos do julgador, mas sim pelos
parâmetros objetivos do ordenamento jurídico.10
5 Sem negar a relevância doutrinária de uma teoria dos princípios como a proposta
por Dworkin, é preciso considerar sua aplicação aos distintos contextos jurídicos.
6
Taking Rights Seriously.
7
Para um tratamento amplo do tema, ver Elival da Silva Ramos (Ativismo judicial: parâmetros dogmáticos).
8
Ressalte-se que essa crítica aos excessos não escapa a Luís Roberto Barroso, identificado como um dos expoentes
do neoconstitucionalismo brasileiro. O autor, no contexto de análise da “constitucionalização do Direito”, aponta
como consequências negativas da “constitucionalização exacerbada” o “esvaziamento do poder das maiorias,
pelo engessamento da legislação ordinária” e o “decisionismo judicial, potencializado pela textura aberta e vaga
das normas constitucionais”. E, para evitar essas “disfunções”, aponta “dois parâmetros preferenciais a serem
seguidos pelos intérpretes em geral: a) preferência pela lei: onde tiver havido manifestação inequívoca e válida do
legislador, deve ela prevalecer, abstendo-se o juiz ou tribunal de produzir solução diversa que lhe pareça mais con-
veniente; b) preferência pela regra: onde o constituinte ou o legislador tiver atuado, mediante a edição de uma regra
válida, descritiva da conduta a ser seguida, deve ela prevalecer sobre os princípios de igual hierarquia, que por
acaso pudessem postular incidência na matéria” (A constitucionalização do direito e suas repercussões no âmbito
administrativo. In: ARAGÃO; MARQUES NETO (Coord.). Direito administrativo e seus novos paradigmas, p. 60-61).
9
KELSEN. Teoria pura do direito, t. II, p. 283 et seq.
10
Entendida, enfim, a norma jurídica como o sentido objetivo de um ato de vontade (KELSEN. Teoria pura do
direito, t. I, p. 4-5).
11
TOCQUEVILLE. L’Ancien Régime et la Révolution, p. 200 et seq.; GARCÍA DE ENTERRÍA. Revolution Française et
Administration Contemporaine, p. 26 et seq.
Sem embargo, como ninguém é dono das palavras, pode-se atribuir este mesmo rótulo
[princípios] a outros objetos mentáveis. O eminente Genaro Carrió, em seus “Principios
Jurídicos y Positivismo Jurídico”, Abeledo-Perrot, 1970, pp. 34 a 38, arrola onze significados
para tal expressão. A partir da década de 70 começou a vulgarizar-se uma acepção de
princípio baseada nas formulações de Alexy e Dworkin (que de resto não são idênticas, mas
têm grandes pontos de similitude). Ocorre que estes eminentes juristas não expropriaram
(até mesmo por impossível) o direito ao uso de tal expressão, de molde a tornar admissível
apenas a acepção que lhe emprestam. Então, é possível que algo seja qualificado como
princípio, de acordo com uma dada acepção de princípio, descoincidente com a que lhe
irrogam estes mencionados autores.
12
BANDEIRA DE MELLO. Curso de direito administrativo, p. 53-54.
13
De todo modo, para que não se deixe de tomar posição na polêmica teórica sobre os princípios, explicite-se
a adesão à posição de Herbert Hart (O conceito de direito, p. 321-325), no sentido de vislumbrar a distinção
entre regras e princípios, como normas, não como uma distinção qualitativa, mas sim como uma questão de
grau. E essa gradação resulta tanto no aspecto de maior generalidade (ou não especificidade) dos princípios em
relação às regras, como no aspecto de “um contraste razoável entre regras quase-conclusivas [...] e princípios
geralmente não conclusivos”.
14
Note-se que nesta observação se está a empregar as palavras “princípios” e “regras” com o sentido que lhes dá
Dworkin. Não se está referindo, por exemplo, à posição externada por Celso Antônio Bandeira de Mello (Curso
de direito administrativo, p. 53), que justamente levou este citado autor a produzir as considerações transcritas
logo acima.
15
Sobre a concepção da atividade de “fazer justiça” como ratio, fruto do estudo e do preparo técnico, e não fruto
de aptidão natural ou de conhecimento espontâneo, daí decorrendo a hegemonia de certo grupo social, ver
António Manuel Hespanha (Justiça e administração entre o antigo regime e a revolução, p. 421 et seq.).
16
Aqui no sentido material de norma geral e abstrata, portanto incluindo a Constituição e os regulamentos.
17
Idéias para a nova Constituição brasileira, p. 95.
18
Leçons de Droit Public Général, p. 275.
19
Tradução livre. Duguit ainda esclarece: “Compreendeu-se que os detentores do poder político não deviam
poder tomar arbitrariamente tal ou qual decisão individual, em face de tal ou qual situação determinada; que
eles estavam vinculados pela regra geral formulada de maneira abstrata sem consideração nem de espécie, nem
de pessoa, e não podiam tomar decisão individual senão de modo conforme à regra geral contida na lei. Desde
o momento em que esse regime foi compreendido e aplicado, o indivíduo se sentiu fortemente protegido contra
o poder absoluto dos governantes; pois é evidente que essa regra geral e abstrata, que limita sua ação, apresenta
muito menos perigo de arbitrariedade que uma decisão individual, que pode sempre ser provocada pela raiva,
pela ambição ou pela vingança” (Manuel de Droit Constitutionnel, p. 96, tradução livre).
20
Essas noções conceituais o autor desenvolveu em “A segurança jurídica e a proteção à confiança em matéria
de direito constitucional e administrativo e seu acolhimento pela jurisprudência constitucional no Brasil” (In:
FERRAZ; BITTAR; LEISTER (Org.). Direitos humanos fundamentais).
21
Segurança jurídica e confiança legítima. In: ÁVILA (Org.). Fundamentos do Estado de direito: estudos em
homenagem ao Professor Almiro do Couto e Silva, p. 115.
22
A condição humana, p. 248-249.
23
Constitution et Sécurité Juridique: Rapport Italien. In: CONSTITUTION ET SÉCURITÉ JURIDIQUE. Anais da XV e
Table Ronde Internationale promovida pelo Groupe d’Études et de Recherches sur la Justice Constitutionnelle da Université
d’Aix-Marseille III, p. 225.
24
Ilustrativa dessa acepção de segurança jurídica é a versão italiana da mesma expressão — “certezza del diritto”
— a qual, segundo Alessandro Pizzorusso e Paolo Passaglia, traz do latim, a partir do adjetivo “certus”, particípio
do verbo “cerno”, os sentidos aproximativos de “discernir”, “compreender” e “escolher (entre várias soluções)”
(Constitution et Sécurité Juridique: Rapport Français. In: CONSTITUTION ET SÉCURITÉ JURIDIQUE. Anais
da XVe Table Ronde Internationale promovida pelo Groupe d’Études et de Recherches sur la Justice Constitutionnelle da
Université d’Aix-Marseille III, p. 105).
25
Constitution et Sécurité Juridique: Rapport Français. In: CONSTITUTION ET SÉCURITÉ JURIDIQUE. Anais
da XVe Table Ronde Internationale promovida pelo Groupe d’Études et de Recherches sur la Justice Constitutionnelle da
Université d’Aix-Marseille III, p. 52-53.
26
Ou por outro enfoque, Bertrand Mathieu toma de empréstimo a expressão de Michel Verpeaux “principe
fédérateur”, um princípio que agrupa, associa — nesse sentido, é “federador” — outros princípios.
27
Constitution et Sécurité Juridique: Rapport Français. In: CONSTITUTION ET SÉCURITÉ JURIDIQUE. Anais
da XVe Table Ronde Internationale promovida pelo Groupe d’Études et de Recherches sur la Justice Constitutionnelle da
Université d’Aix-Marseille III, p. 53.
28
A parte final deste estudo retoma a análise produzida em Fernando Dias Menezes de Almeida, “A segurança
jurídica e a proteção à confiança em matéria de direito constitucional e administrativo e seu acolhimento pela
jurisprudência constitucional no Brasil (In: FERRAZ; BITTAR; LEISTER (Org.). Direitos humanos fundamentais).
29
Grandes temas de direito administrativo, p. 11 et seq e 168 et seq.
30
O princípio da segurança jurídica: proteção à confiança: no direito público brasileiro e o direito da Administração
Pública de anular seus próprios atos administrativos: o prazo decadencial do art. 54 da Lei do Processo Admi
nistrativo da União: Lei nº 9.784/99. Revista Eletrônica de Direito do Estado.
31
Os princípios da proteção à confiança, da segurança jurídica e da boa-fé na anulação do Ato Administrativo. In:
MOTTA (Org.). Direito público atual: estudos em homenagem ao Professor Nelson Figueiredo.
32
Segurança Jurídica e confiança legítima. In: ÁVILA (Org.). Fundamentos do Estado de direito: estudos em home
nagem ao Professor Almiro do Couto e Silva.
33
O princípio da segurança jurídica no direito administrativo brasileiro.
Art. 103-A, §1º A súmula terá por objetivo a validade, a interpretação e a eficácia de
normas determinadas, acerca das quais haja controvérsia atual entre órgãos judiciários ou
entre esses e a administração pública que acarrete grave insegurança jurídica e relevante
multiplicação de processos sobre questão idêntica.
Lei nº 9.784/99.35 Art. 2º A Administração Pública obedecerá, dentre outros, aos princípios
da legalidade, finalidade, motivação, razoabilidade, proporcionalidade, moralidade, ampla
defesa, contraditório, segurança jurídica, interesse público e eficiência.
Lei nº 9.868/99.36 Art. 12. Havendo pedido de medida cautelar, o relator, em face da
relevância da matéria e de seu especial significado para a ordem social e a segurança
jurídica, poderá, após a prestação das informações, no prazo de dez dias, e a manifestação
do Advogado-Geral da União e do Procurador-Geral da República, sucessivamente, no
prazo de cinco dias, submeter o processo diretamente ao Tribunal, que terá a faculdade
de julgar definitivamente a ação. [...] Art. 27. Ao declarar a inconstitucionalidade de lei ou
ato normativo, e tendo em vista razões de segurança jurídica ou de excepcional interesse
social, poderá o Supremo Tribunal Federal, por maioria de dois terços de seus membros,
restringir os efeitos daquela declaração ou decidir que ela só tenha eficácia a partir de seu
trânsito em julgado ou de outro momento que venha a ser fixado.
34
A Constituição vigente refere-se à segurança, no preâmbulo e, como direito fundamental, nos arts. 5º (caput)
e 6º (caput), além de tratar dos tradicionais sentidos de “segurança pública”, “segurança nacional” e noções
correlatas.
35
Que trata do processo administrativo no âmbito federal.
36
Que trata do processo e julgamento da ação direta de inconstitucionalidade e da ação declaratória de
constitucionalidade perante o Supremo Tribunal Federal.
37
Que trata do processo e julgamento da argüição de descumprimento de preceito fundamental.
38
Maria Sylvia Zanella Di Pietro trata do tema referindo-se à “manutenção de atos administrativos inválidos”;
“fixação de prazo para anulação”; e “regulação dos efeitos já produzidos pelo ato ilegal. Os princípios da
proteção à confiança, da segurança jurídica e da boa-fé na anulação do Ato Administrativo. In: MOTTA (Org.).
Direito público atual: estudos em homenagem ao Professor Nelson Figueiredo.
39
Aliás, esses três casos configuram a prevalência da tese da anulabilidade dos atos jurídicos, sobre a da nulidade,
o que, de resto, parece muito mais condizente com a realidade. Como este autor já teve a oportunidade de
observar, com base nas ideias de Hans Kelsen, “tradicionalmente se propõe uma distinção entre nulidade e
anulabilidade, sendo o ‘nulo’ algo dado per se e o ‘anulável’ algo constituído pela decisão da autoridade
competente. Contudo, considerar algo como nulo per se, levando à mera constatação desse ‘fato’ pela autoridade
jurídica competente (v.g., juiz), contraria a natureza das coisas. Na realidade, o que se passa é que a decisão
dessa autoridade competente é que manterá ou retirará a validade do ato. Se cabe a tal autoridade, por ato de
vontade seu — vez que a interpretação e a conseqüente decisão judicial não são simples atos de conhecimento —,
tomar tal decisão, então considerar que haja um nulo a priori é mera ficção. Além dessa distinção entre nulidade
e anulabilidade, ora criticada, fundada em elemento essencial, há outras distinções que se referem a elementos
acidentais. Assim, afirma-se que o vício de nulidade não é sanável e o de anulabilidade, sanável; porém, afastada
a noção de nulidade, seria desejável que, para se evitar dúvida terminológica, se falasse, nessa hipótese, em ato
sanável (ou passível de convalidação) e não sanável (ou não passível de convalidação), mas sempre anuláveis.
Outra questão circunstancial diz respeito aos efeitos do ato de invalidação: tradicionalmente se diz que a
nulidade opera efeitos ex tunc e a anulabilidade, ex nunc. Também aqui afastada a noção de nulidade, deve-se
cogitar de anulação com ou sem efeitos retroativos. Nesse sentido, a retroação dos efeitos se dá por força de uma
decisão a posteriori (tese da anulabilidade), e não por um fato a priori (tese da nulidade). Do ponto de vista da
realidade, há que se entender que efeitos do ato anulado existiram e serão desfeitos; e não que tais efeitos não
existiram” (ALMEIDA. Contrato administrativo. In: PEREIRA JR; JABUR (Org.). Direito dos contratos II., p. 213).
Considera-se, hodiernamente que o tema [segurança jurídica] tem, entre nós, assento
constitucional (princípio do Estado de Direito) e está parcialmente disciplinado no plano
federal, na Lei nº 9.784/99. (MS nº 22.357. Rel. Min. Gilmar Mendes. Tribunal Pleno.
Julgado em 27.05.2004)
Este aspecto temporal diz intimamente com o princípio da segurança jurídica, projeção
objetiva do princípio da dignidade da pessoa humana e elemento conceitual do Estado
de Direito. (MS nº 24.448. Rel. Min. Carlos Britto. Tribunal Pleno. Julgado em 27.09.2007)
40
No mesmo sentido, Manoel Gonçalves Ferreira Filho esclarece que “dos direitos relativos à segurança do
indivíduo, uns concernem aos seus direitos subjetivos em geral, outros apenas à sua segurança pessoal” (Curso
de direito constitucional, p. 332). Anna Cândida da Cunha Ferraz, tratando do princípio da segurança jurídica e
do princípio da legalidade, considera-os “intocáveis no sistema constitucional brasileiro por força do art. 60, §4º,
porquanto assegurados no art. 5º, caput, e incisos II e XXXVI da Constituição brasileira” (Medidas Provisórias
e Segurança Jurídica: a inconstitucionalidade do art. 2º da Emenda Constitucional nº 32/2001. Revista de Direito
Constitucional e Internacional, p. 19-20).
41
Almiro do Couto e Silva cita três exemplos (RMS nº 13.807, RMS nº 17.144 e RE nº 85.179) de julgamentos
do Supremo Tribunal Federal na década de 60 em que se consideram consolidadas certas situações de fato,
impedindo-se assim seu eventual desfazimento por parte da Administração [O princípio da segurança jurídica
(proteção à confiança) no direito público brasileiro e o direito da Administração Pública de anular seus próprios
atos administrativos: o prazo decadencial do art. 54 da Lei do Processo Administrativo da União (Lei nº 9.784/99),
p. 15]. A consulta à íntegra desses acórdãos (em que se referem ainda outros precedentes) permite constatar que
então o Tribunal não empregava como razão para decidir o “princípio constitucional da segurança jurídica”.
42
Rel. Min. Gilmar Mendes. Tribunal Pleno. Julgado em 27.05.2004, votação unânime. Este e todos os seguintes
com texto integral disponível em: <http://www.stf.jus.br>.
43
Pode-se compreender que, ausentes tais circunstâncias de fato, o argumento da segurança jurídica não se
justificaria.
44
Rel. Min. Eros Grau. Primeira Turma. Julgado em 14.12.2004, votação unânime.
45
Rel. Min. Cezar Peluso. Tribunal Pleno. Julgado em 23.10.2008, votação unânime.
art. 54 daquela Lei como parâmetro para anulação de atos administrativos sem ofensa
aos referidos princípios.
c) MS nº 24.26846 — a invocação da segurança jurídica e do prazo quinquenal
para se anularem atos administrativos — anulação pelo TCU, em relação à concessão
de pensão — também se deu neste caso, em que o benefício de pensão fora concedido
então há mais de 20 anos. Havia também questão envolvendo as garantias do devido
processo legal no âmbito do processo administrativo, mas cuja descrição foge ao objeto
central deste estudo. No mesmo sentido, cuidando da matéria de concessão de pensão
e envolvendo aspectos do devido processo legal administrativo, além da segurança
jurídica, ver MS nº 24.44847 e MS nº 24.927.48
d) MS nº 26.40549 — tratava-se de mandado de segurança em face de ato do TCU,
que pretendia, passados mais de cinco (5) anos, anular ascensão funcional sem concurso
público de empregado da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT). No caso,
o relator deu razão ao impetrante, invocando a incidência do disposto no art. 54 da
Lei nº 9.784/99. No mesmo sentido, acompanha a ementa do acórdão, na indexação
eletrônica feita pelo STF, a indicação de dezenas de outros casos, com o mesmo relator,
cuidando da mesma questão, no âmbito da ECT. Também tratando do mesmo ponto,
com diverso relator, ver MS nº 26.353.50
e) RE nº 329.001 AgR51 — mais um exemplo da invocação da segurança jurídica
é dado por este caso, em que o STF aponta a aplicação do prazo de cinco (5) anos
para anulação de atos administrativos. Tratava-se da exoneração de servidor, passado
longo prazo, por decorrência do seu alegado descumprimento de requisito do edital
de concurso público, no tocante à idade — requisito cuja inconstitucionalidade, aliás,
era outro argumento apresentado pelo relator para dar razão ao servidor.
19 Em segundo lugar, casos que envolvem a modulação de efeitos da decisão de
invalidade da norma ou de nova interpretação da norma:
a) MS nº 26.60352 — trata-se do célebre caso em que o STF decidiu, em nome da
fidelidade partidária, que o mandato dos parlamentares eleitos pertence ao partido
pelo qual se elegeram, de modo a perder o cargo o parlamentar que mude sua filiação
partidária (salvo hipóteses excepcionais). A segurança jurídica foi invocada na decisão,
no momento de se fixar temporalmente sua eficácia, cujo marco inicial foi definido
como a “data em que o Tribunal Superior Eleitoral apreciou a Consulta nº 1.398/DF”,
vez que foi com a resposta a essa consulta que se alterou prática até então reiterada,
ante a vigência do mesmo texto constitucional. A mesma decisão do STF aborda outro
aspecto que também decorre das noções de segurança jurídica e proteção à confiança:
“a subsistência dos atos administrativos e legislativos praticados pelos parlamentares
infiéis: conseqüência da aplicação da teoria da investidura aparente”.
46
Rel. p/ acórdão Min. Gilmar Mendes. Tribunal Pleno. Julgado em 05.02.2004, maioria (vencida a Min. Ellen
Gracie, relatora, que indeferia; e os Min. Nelson Jobim, Carlos Velloso e Cezar Peluso na extensão da concessão).
47
Rel. Min. Carlos Britto. Tribunal Pleno. Julgado em 27.09.2007, votação unânime.
48
Rel. Min. Cezar Peluso. Tribunal Pleno. Julgado em 28.09.2005, maioria (vencidos os Min. Marco Aurélio e
Nelson Jobim).
49
Rel. Min. Cezar Peluso. Tribunal Pleno. Julgado em 17.12.2007, votação unânime.
50
Rel. Min. Marco Aurélio. Tribunal Pleno. Julgado em 06.09.2007, votação unânime.
51
Rel. Min. Carlos Velloso. Segunda Turma. Julgado em 23.08.2005, votação unânime.
52
Rel. Min. Celso de Mello. Tribunal Pleno. Julgado em 04.10.2007, maioria (vencidos os Min. Carlos Brito e Marco
Aurélio).
53
Rel. Min. Maurício Corrêa. Tribunal Pleno. Julgado em 06.06.2002, maioria (vencidos os Min. Sepúlveda
Pertence, Marco Aurélio e Celso de Mello).
54
Rel Min. Celso de Mello. Segunda Turma. Julgado em 16.12.2008, votação unânime.
55
Rel. Min. Eros Grau, Tribunal Pleno. Julgado em 09.05.2007, votação unânime (quanto à declaração de
inconstitucionalidade; e majoritária, vencido o Min. Marco Aurélio, quanto à modulação temporal dos efeitos).
56
ADI nº 2.381-MC. Rel. Min. Sepúlveda Pertence. Tribunal Pleno. Julgado em 20.06.01, votação unânime.
57
Julgando a Ação Direta de Inconstitucionalidade por omissão nº 3.682 (Rel. Min. Gilmar Mendes. Tribunal Pleno.
Julgado em 09.05.2007, votação unânime), o Supremo Tribunal já havia reconhecido a existência de fato de
Municípios e apontado a mora do Congresso Nacional na elaboração da lei complementar em questão. Consta
da respectiva ementa: “[...] 4. Ação julgada procedente para declarar o estado de mora em que se encontra o
Congresso Nacional, a fim de que, em prazo razoável de 18 (dezoito) meses, adote ele todas as providências
legislativas necessárias ao cumprimento do dever constitucional imposto pelo art. 18, § 4º, da Constituição,
devendo ser contempladas as situações imperfeitas decorrentes do estado de inconstitucionalidade gerado pela
5 Considerações finais585960
20 Em conclusão, pode-se apontar que o Supremo Tribunal Federal tem, nas
várias situações acima sistematizadas, decidido mediante a invocação da segurança
jurídica, atribuindo a essa ideia força normativa de princípio constitucional, mesmo
que não explícito, mas sim decorrente de outros princípios.
Em uma avaliação pessoal da jurisprudência constitucional sobre essa matéria,
pode-se dizer que o Supremo Tribunal tem agido com acerto e com prudência ao julgar
inspirado pela segurança jurídica.
Por vezes o faz valendo-se da discricionariedade que o Direito expressamente
lhe confere — como no caso da modulação temporal de efeitos da decisão de incons
titucionalidade (Lei nº 9.868/99, art. 27; e Lei nº 9.882/99, art. 11).
Outras vezes, em nome do princípio constitucional (implícito) da segurança
jurídica, decide sem outro fundamento (explícito) de Direito — como nos casos em que
aplica, por analogia,61 o prazo de cinco (5) anos para a anulação de atos administrativos
pela própria Administração, constante da Lei nº 9.784/99, todavia, em situações que
fogem à hipótese de incidência dessa Lei.
21 No entanto, seria recomendável que o Direito brasileiro, notadamente a
Constituição, adotasse tratamento expresso quanto à matéria da segurança jurídica.
Com efeito, a decisão jurisprudencial diretamente fundamentada em princípios,
que por definição comportam menor precisão em sua prescrição normativa, dada sua
formulação mais aberta, é naturalmente menos favorável à segurança jurídica por
sujeitar-se em maior grau ao subjetivismo do julgador — quanto mais em se tratando
de decisões fundamentadas em princípios implícitos.
E, sendo assim, em dadas situações poder-se-ia paradoxalmente cogitar do risco
de insegurança jurídica pela aplicação, desmedida, do princípio da segurança jurídica.
omissão. Não se trata de impor um prazo para a atuação legislativa do Congresso Nacional, mas apenas da
fixação de um parâmetro temporal razoável, tendo em vista o prazo de 24 meses determinado pelo Tribunal
nas ADI nºs 2.240, 3.316, 3.489 e 3.689 para que as leis estaduais que criam municípios ou alteram seus limites
territoriais continuem vigendo, até que a lei complementar federal seja promulgada contemplando as realidades
desses municípios”. Sobre o tema, notar ainda o art. 96 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias,
da Constituição Federal, introduzido pela Emenda Constitucional nº 57/08: “Art. 96. Ficam convalidados os
atos de criação, fusão, incorporação e desmembramento de Municípios, cuja lei tenha sido publicada até 31
de dezembro de 2006, atendidos os requisitos estabelecidos na legislação do respectivo Estado à época de sua
criação”.
58
Rel. Min. Eros Grau. Tribunal Pleno. Julgado em 09.05.2007, votação unânime (quanto à declaração de incons
titucionalidade; e majoritária, vencido o Min. Marco Aurélio, quanto à modulação temporal dos efeitos).
59
Rel. Min. Eros Grau. Tribunal Pleno. Julgado em 09.05.2007, votação unânime (quanto à declaração de incons
titucionalidade; e majoritária, vencido o Min. Marco Aurélio, quanto à modulação temporal dos efeitos).
60
Rel. Min. Eros Grau. Tribunal Pleno. Julgado em 10.05.2007, votação unânime (quanto à declaração de incons
titucionalidade; e majoritária, vencido o Min. Marco Aurélio, quanto à modulação temporal dos efeitos).
61
Os acórdãos citados não trazem expressamente o argumento da analogia; mas constata-se que é disso que se trata.
Ou seja, é processo que resulta na disciplina, por norma nova, de determinada hipótese fática não abrangida por
outra norma anteriormente existente e cujos elementos se tomam como critério de decisão — diferente do caso
da interpretação extensiva, pela qual se procede à ampliação do alcance da hipótese de incidência de uma norma
existente. Sobre o tema, ver, de Norberto Bobbio (Teoria do ordenamento jurídico, p. 155).
Referências
ALMEIDA, Fernando Dias Menezes de. A segurança jurídica e a proteção à confiança em matéria de direito
constitucional e administrativo e seu acolhimento pela jurisprudência constitucional no Brasil. In: FERRAZ,
Anna Cândida da Cunha; BITTAR, Eduardo; LEISTER, Margareth (Org.). Direitos humanos fundamentais.
Osasco: EDIFIEO, 2009. v. 2.
ALMEIDA, Fernando Dias Menezes de. Contrato administrativo. In: PEREIRA JR., Antonio Jorge; JABUR,
Gilberto Haddad (Org.). Direito dos contratos II. São Paulo: Quartier Latin, 2008.
ARENDT, Hannah. A condição humana. Traduzido por Roberto Raposo, a partir da edição, em inglês, de 1958.
10. ed. 7. reimpr. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2008.
BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. Curso de direito administrativo. 27. ed. São Paulo: Malheiros, 2010.
BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. Grandes temas de direito administrativo. São Paulo: Malheiros, 2009.
BARROSO, Luís Roberto. A constitucionalização do direito e suas repercussões no âmbito administrativo.
In: ARAGÃO, Alexandre Santos de; MARQUES NETO, Floriano de Azevedo (Coord.). Direito administrativo
e seus novos paradigmas. Belo Horizonte: Fórum, 2008.
BARROSO, Luís Roberto. Neoconstitucionalismo e constitucionalização do direito: o triunfo tardio do direito
constitucional no Brasil. Revista de Direito Administrativo, Rio de Janeiro, n. 240, abr./jun. 2005.
BOBBIO, Norberto. Teoria do ordenamento jurídico. Tradução de Cláudio de Cicco e Maria Celeste C. L. dos
Santos, revisão técnica por João Ferreira. São Paulo: Polis; Brasília: UnB, 1989.
DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Os princípios da proteção à confiança, da segurança jurídica e da boa-fé
na anulação do Ato Administrativo. In: MOTTA, Fabricio Macedo (Org.). Direito público atual: estudos em
homenagem ao Professor Nelson Figueiredo. Belo Horizonte: Fórum, 2008.
DUGUIT, Léon. Leçons de Droit Public Général. Paris: Éditions la Mémoire du Droit, 2000. Edição facsimilar
de Paris: E. de Boccord, 1926.
DUGUIT, Léon. Manuel de Droit Constitutionnel. 4e éd. Paris: Éditions Panthéon Assas, 2007. Edição facsimilar
de Paris: Fontemoing, 1923.
DWORKIN, Ronald. Taking Rights Seriously. Cambridge: Harvard University Press, 2001.
FERRAZ, Anna Cândida da Cunha. Medidas Provisórias e Segurança Jurídica: a inconstitucionalidade do
art. 2º da Emenda Constitucional nº 32/2001. Revista de Direito Constitucional e Internacional, São Paulo, ano
14, n. 54, jan./mar. 2006.
FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. Curso de direito constitucional. 37. ed. São Paulo: Saraiva, 2011.
FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. Idéias para a nova Constituição brasileira. São Paulo: Saraiva, 1987.
FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. Notas sobre o direito constitucional pós-moderno, em particular sobre
certo neoconstitucionalismo à brasileira. Revista de Direito Administrativo, Rio de Janeiro, n. 250, jan./abr. 2009.
GARCÍA DE ENTERRÍA, Eduardo. Revolution Française et Administration Contemporaine. Traduzido por Franck
Moderne a partir da edição, em espanhol, de 1986. Paris: Economica, 1993.
HART, Herbert. O conceito de direito. Tradução A. Ribeiro Mendes. 5. ed. Lisboa: Calouste Gulbenkian, 2007.
HESPANHA, António Manuel. Justiça e administração entre o antigo regime e a revolução. In: HESPANHA,
António Manuel. Justiça e litigiosidade: história e prospectiva. Lisboa: Calouste Gulbenkian, 1993.
HORBACH, Carlos Bastide. A roupa nova do direito constitucional: neo-constitucionalismo, pós-positivismo
e outros modismos. Revista dos Tribunais, São Paulo, v. 859, 2007.
KELSEN, Hans. Teoria pura do direito. Tradução João Baptista Machado. Coimbra: Arménio Amado, 1962. t. I.
KELSEN, Hans. Teoria pura do direito. Tradução João Baptista Machado. Coimbra: Arménio Amado, 1962. t. II.
LAFER, Celso. A reconstrução dos direitos humanos: um diálogo com o pensamento de Hannah Arendt.
6. reimpr. da edição de 1988. São Paulo: Companhia das Letras, 2006.
LAFER, Celso. Direito constitucional e direito internacional: considerações sobre o art. 4º, III da Constituição
de 1988 e o parecer consultivo da Corte Internacional de Justiça sobre a independência do Kosovo. In:
Homenagem a Francisco Rezek. No prelo.
MATHIEU, Bertrand. Constitution et Sécurité Juridique: Rapport Français. In: CONSTITUTION ET SÉCURITÉ
JURIDIQUE. Anais da XVe Table Ronde Internationale promovida pelo Groupe d’Études et de Recherches sur la Justice
Constitutionnelle da Université d’Aix-Marseille III. Aix-en-Provence, 1999.
MEDAUAR, Odete. Segurança Jurídica e confiança legítima. In: ÁVILA, Humberto (Org.). Fundamentos do
Estado de direito: estudos em homenagem ao Professor Almiro do Couto e Silva. São Paulo: Malheiros, 2005.
PIZZORUSSO, Alessandro; PASSAGLIA, Paolo. Constitution et Sécurité Juridique: Rapport Italien.
In: CONSTITUTION ET SÉCURITÉ JURIDIQUE. Anais da XVe Table Ronde Internationale promovida pelo Groupe
d’Études et de Recherches sur la Justice Constitutionnelle da Université d’Aix-Marseille III. Aix-en-Provence, 1999.
RAMOS, Elival da Silva. Ativismo judicial: parâmetros dogmáticos. São Paulo: Saraiva, 2010.
SILVA, Almiro do Couto e. O princípio da segurança jurídica (proteção à confiança) no direito público brasileiro
e o direito da Administração Pública de anular seus próprios atos administrativos: o prazo decadencial do
Art. 54 da Lei do Processo Administrativo da União: Lei nº 9.784/99. Revista Eletrônica de Direito do Estado,
Salvador, n. 2, abr./jun. 2005. Disponível em: <http://www.direitodoestado.com.br>.
SILVA, Virgílio Afonso da. Direitos fundamentais: conteúdo essencial, restrições e eficácia. São Paulo: Malheiros,
2009.
TOCQUEVILLE, Alexis Henri Charles Clérel, Visconde de. L’Ancien Régime et la Révolution. reimpr. da ed. de
1967, supervisionada por J.-P. Mayer, do texto integral e original de 1856. [S.l.]: Gallimard, 2007.
TROPER, Michel. Pour une Théorie Juridique de l’État. Paris: Presses Universitaires de France, 1994.
VALIM, Rafael. O princípio da segurança jurídica no direito administrativo brasileiro. São Paulo: Malheiros, 2010.
Informação bibliográfica deste texto, conforme a NBR 6023:2002 da Associação Brasileira de Normas
Técnicas (ABNT):
ALMEIDA, Fernando Menezes de. Princípios da Administração Pública e segurança jurídica. In: VALIM,
Rafael; OLIVEIRA, José Roberto Pimenta; DAL POZZO, Augusto Neves (Coord.). Tratado sobre o
princípio da segurança jurídica no direito administrativo. Belo Horizonte: Fórum, 2013. p. 47-63. ISBN
978-85-7700-728-8.
Rafael Valim
1
Este artigo constitui uma versão reduzida do livro O princípio da segurança jurídica no direito administrativo
brasileiro (São Paulo: Malheiros, 2010).
2
LEGAZ Y LACAMBRA. Filosofía del derecho, p. 631.
3
Op. cit., p. 631.
4
RODRIGUEZ. Seguridad jurídica y política social. Revista de Administración Pública, p. 218.
5
Para citar alguns deles: Relatórios do Conselho de Estado Francês de 1991 e de 2006; Relatório do Conselho de
Estado Espanhol de 1992; Relatório da “Better Regulation Comission” de 2006, no Reino Unido; Relatórios da
Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
6
RIPERT. Le Déclin du droit, p. 38; BANDEIRA DE MELLO, O. Princípios gerais de direito administrativo, p. 45.
7
Como nos ensina o professor Paulo Bonavides, esse modelo de Estado nasce da tentativa de superação da
contradição entre a igualdade política e a desigualdade social (Do Estado Liberal ao Estado Social, p. 185).
8
ZAGREBELSKY. El derecho dúctil, p. 37.
9
O professor Eduardo García de Enterría atina para esse fato nos seguintes termos: “Toda la tradición
revolucionaria, ya lo hemos notado al comienzo sumariamente, montó la Idea del Estado de Derecho, poniendo
el énfasis en un esquema simples: la sumisión de la Administración a la Ley. Pero esta Ley, que era sentida como
el mayor escudo de la libertad, es un hecho que ha pasado a ser hoy uno de sus enemigos más temibles” (La lucha
contra las inmunidades del poder, p. 87). Assim também Nicolas Molfessis: “Combattre l’insécurité juridique ou la
lutte du sistème juridique contre lui-même” (Rapport public 2006. Conseil d’État, p. 391-406).
10
COSTA. La ignorancia del derecho, p. 22, 23.
11
Enuncia Karl Marx: “O conceito de segurança não faz com que a sociedade burguesa se sobreponha a seu
egoísmo. A segurança, pelo contrário, é a preservação deste” (A questão judaica, p. 36).
12
FORSTHOFF. Tratado de derecho administrativo, p. 116-117.
13
CALMES. Du príncipe de protection de la confiance légitime en droits allemand, communautaire et français, p. 7-8.
14
Esta expressão é de Pitirim Sorokin, que, com grande percuciência, descreve a mania dos estudiosos modernos
consistente em “esquecer” as realizações pretéritas e apresentar, no afã de realizar descobertas, velhas ideias
sob novas vestes (Achaques y manías de la sociología moderna y ciencias afines, p. 19-43).
15
A tanto nos lançaremos à luz das palavras de Paul Roubier: “Il faut comprendre de quels périls la société est
menacée. Là ou cette valeur essentielle qu’est la securité juridique a disparu, il n’y a plus aucune autre valeur qui puisse
subsister; le mot même de progrès devient une dérision, et les pires injustices se multiplient avec le desórdre. Le droit
cède la place à ce qu’un écrivain contemporain appelle ‘le concept du politique’, c’est-à-dire à de pures considérations
d’oportunité” (Théorie générale du droit, p. 334).
16
Apostila Adolf Merkl que o Estado de Polícia, em sua forma extrema, caracteriza-se por uma ordem jurídico-
administrativa rudimentar, formada por um único preceito jurídico que estabelece um direito ilimitado para administrar.
Ao soberano cumpriria fazer tudo que lhe aprouvesse (Teoria general del derecho administrativo, p. 92).
17
Diz Rousseau: “Sur cette idée, on voit à l’instant qu’il ne fait plus demander à qui il appartient de faire des loix,
puisqu’elles sont des actes de la volonté générale” (Du contrat social, p. 170).
18
Esclarece Rousseau: “Quand je dis que l’objet des loix est toujours général, j’entend que la loi considère les sujets
en corps et les actions comme abstraites, jamais un homme comme individu ni une action particulière” (op. cit.,
p. 169).
19
Legaz y Lacambra assinala, argutamente, o caráter fundamental da segurança na filosofia dos contratualistas
(Filosofia del derecho, p. 624, 625).
20
Com a costumeira argúcia, preleciona o professor Agustín Gordillo: “A nosso ver, a noção de ‘Estado de Bem-
Estar’ veio a operar como um corretivo para a noção clássica de Estado de Direito, revitalizando-a e atualizando-a,
porém, de modo algum, suprimindo-a ou substituindo-a” (Princípios gerais de direito públic, p. 74, 75).
21
Autores do porte de Hesse e Forsthoff atrelam o princípio da segurança jurídica à concepção burguesa de
Estado. Ao intervencionismo estatal que marca o Estado Social, pautado segundo critérios de oportunidade
e de equidade, repugnaria a noção de segurança jurídica (XAVIER. Os princípios da legalidade e da tipicidade da
tributação, p. 48).
22
Sublinha a historicidade do conceito de Estado de Direito o ilustre Julio Prat, nos seguintes termos: “Por ser
un ideal, el contenido mismo de la noción es variable según el tiempo y el espacio en que se considere. Por
esta razón, más que definir el régimen de derecho, lo precisaremos por los elementos que en la actualidad son
característicos” (La desviación de poder, p. 30).
23
KELSEN. Teoria pura do direito, p. 346.
24
ENTRENA CUESTA. Notas sobre el concepto y clases de Estado de Derecho. Revista de Administración Pública,
p. 31-32.
25
Confirma esta dificuldade a professora Sylvia Calmes nos seguintes excertos: “Ces efforts en vue de cerner l’État
de droit de manière fixe ne paraissent cependant pas suffisants en eux-mêmes pour permettre de déterminer
tout son champ d’application concret et l’articulation entre les multiples éléments évoqués. Il paraît dès lors
nécéssaire de les compléter par une énumération et une classification de des éléments constitutifs, pour voir
clarement apparaître en son sein les théories de la sécurité juridique et de la protection de la confiance légitime”
(Du principe de protection de la confiance legitime en droits allemand, communautaire et français, p. 80). “En outre, elle
[sécurité juridique] renvoie finalemente à des incertitudes de même type que lors de analyse de l’État de droit,
quand il ságit d’essayer d’en donner une définition précise” (op. cit., p. 111).
26
VILANOVA. Fundamentos do Estado de Direito, p. 424.
e presidido pela lógica da função, tão bem definida por Celso Antônio Bandeira de
Mello como “a atividade exercida no cumprimento do dever de alcançar o interesse
público, mediante o uso de poderes instrumentalmente necessários conferidos pela
ordem jurídica”.27
Reclama-se agora, antes de se expor a intimidade do princípio da segurança
jurídica, uma breve explicação sobre a noção de “princípio jurídico”.
27
BANDEIRA DE MELLO, C. Curso de direito administrativo, p. 29.
28
Muitos são autores que advertem para a acentuada plurivocidade do termo “princípio”, entre os quais podemos
citar Genaro Carrió (Principios jurídicos y positivismo jurídico; Notas sobre derecho y lenguaje, p. 203-212); Ricardo
Guastini (Das fontes às normas, p. 185); e Sérgio Sérvulo da Cunha (Princípios constitucionais, p. 5-11).
29
“Art. 4º Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os princípios gerais
de direito”.
30
BONAVIDES. Curso de direito constitucional, p. 262.
31
FLÓREZ-VALDÉS. Los principios generales del Derecho y su formulación constitucional, p. 37.
32
BANDEIRA DE MELLO. Curso de direito administrativo, p. 53.
33
GUASTINI. Das fontes às normas, p. 192, 196; CARVALHO. Direito tributário: linguagem e método, p. 261.
34
Na síntese magistral de Agustín Gordillo, “los principios de derecho público contenidos en la Constitución
son normas jurídicas, pero no sólo eso: mientras que la norma es un marco dentro del cual existe una cierta
libertad, el principio tiene sustancia integral. La simple norma constitucional regula el procedimiento por el que
son producidas las demás normas inferiores (ley, reglamento, sentencia) y eventualmente su contenido: pero esa
determinación nunca es completa, ya que la norma superior no puede ligar en todo sentido y en toda dirección
el acto por el cual es ejecutada; el principio, en cambio, determina en forma integral cual ha de ser la sustancia
del acto por el cual se lo ejecuta. La norma es límite, el principio es límite y contenido. La norma da a la ley facultad
de interpretarla o aplicarla en más de un sentido, y el acto administrativo la facultad de interpretar la ley en
más de un sentido; pero el principio establece una dirección estimativa, un sentido axiológico, de valoración, de espíritu.
El principio exige que tanto la ley como el acto administrativo respecten sus límites y además tengan su mismo contenido,
sigan su misma dirección, realicen su mismo espíritu” (Introducción al derecho administrativo, p. 176-77).
35
A propósito da formulação de certos princípios pelos intérpretes, calha a ponderação de Norberto Bobbio: “Che
i principi siano costruzioni dottrinali non esclude affatto che possano avere a tempo e luogo efficacia normativa:
del resto anche norme speciali spesso sono, rispetto al modo con cui sono state enucleate e formulate, costruzioni
dottrinali” (Principi generali di diritto. Novissimo Digesto Italiano, p. 890).
36
Levando os direitos a sério, p. 39-46.
37
ALEXY. Teoria dos direitos fundamentais, p. 92-94.
38
Versa sobre o tema o professor Robert Alexy (Teoria dos direitos fundamentais, p. 111-114).
39
Eis a célebre redação do art. 4º do Código Civil Francês de 1804: “Le juge qui refusera de juger sous prétexte du
silence, de l´obscurité ou de l´insuffisance de la loi, porra être poursuivi comme coupable de déni de justice”.
40
ALCHOURRÓN; BULYGIN. Definiciones y normas. In: BULYGIN et al. (Org.). El lenguaje del derecho: homenaje
a Genaro R. Carrió, p. 14-15; GUASTINI. Das fontes às normas, p. 23-43.
41
GUASTINI, op. cit., p. 199-200.
(função limitativa).42 Aí estão os dois momentos acima aludidos: antes da edição do ato
administrativo — momento da discricionariedade —, incide a função interpretativa;
uma vez existente o ato administrativo, incide a função limitativa.
A segunda consideração, de supina importância e que, salvo raríssimas exceções,
recebe sofrível tratamento pela doutrina e jurisprudência nacionais, consiste em
que a função limitativa dos princípios, se analisada em conjunto com um adequado
entendimento do conceito de direito subjetivo, amplia sensivelmente a possibilidade de
controle jurisdicional dos atos do Poder Público pelos administrados.
Conforme preleciona o professor Celso Antônio Bandeira de Mello, ante a unidade
de jurisdição que vigora no Brasil, não há que se cogitar da noção de interesse legítimo,
importada por alguns, de modo disparatado, do Direito Italiano.43 Deve-se, segundo
o alumiado professor, ampliar a noção vetusta de direito subjetivo, descendente do
Direito Privado, para que se torne compreensiva do universo de relações do Direito
Público. Assim, tratar-se-á de direito subjetivo, ergo sindicável, quando: “a) a ruptura
da legalidade cause ao administrado um agravo pessoal do qual estaria livre se fosse
mantida na íntegra a ordem jurídica ou b) lhe seja subtraída uma vantagem a que
acederia ou a que pretenderia aceder nos termos da lei e que pessoalmente desfrutaria
ou faria jus a disputá-las se não houvesse ruptura da legalidade, nada importando que a
ilegalidade argüida alcance a um ou a um conjunto de indivíduos conjuntamente afetados, por
se encontrarem na situação objetiva e abstrata”.44
Portanto, à luz dessa noção de direito subjetivo, qualquer ato ou política pública
que, por meio da violação de um princípio, traga agravo pessoal ao administrado ou
lhe subtraia vantagem, pode ser por este combatido judicialmente.
Por fim, temos a destacada função sistematizadora dos princípios. Por constituírem
as proposições mestras do sistema jurídico, os princípios irradiam seu conteúdo
estimativo sobre as demais normas, imprimindo-lhes unidade e coerência.
Assim, cada princípio unifica, sob o influxo do valor que carrega, uma plêiade de regras e
de subprincípios, os quais, ao mesmo tempo em que naquele se sustentam, a ele dão concretude.
Trata-se de um vínculo normativo que se estabelece, de modo que a desatenção a qualquer
das manifestações do princípio implica ofensa ao próprio princípio.45
A esta altura, julgamos oportuno o oferecimento de uma definição de princípio,
de modo a sintetizar, em poucas palavras, a noção complexa que este termo abriga. Com
efeito, princípios são normas jurídicas, explícitas ou implícitas, portadoras dos valores mais
caros à comunidade jurídica e prestantes a guiar a interpretação dos enunciados normativos, a
colmatar lacunas normativas, a invalidar aquelas regras que lhes são contrárias e a presidir a
racionalidade do ordenamento jurídico, ao qual conferem conexão sistemática.
A partir dessa noção de “princípio” na retentiva estamos autorizados a passar
ao exame do princípio da segurança jurídica.
42
FERNÁNDEZ; ENTERRÍA. Curso de derecho administrativo, p. 482-485.
43
Op. cit., p. 934-937. Assim também o professor Cândido Rangel Dinamarco (Fundamentos do processo civil moderno,
p. 863).
44
Op. cit., p. 937.
45
Nisto divergimos do professor Norberto Bobbio, que nega qualidade normativa à função “sistemática” ou
“construtiva” dos princípios (Principi generali di diritto. Novissimo Digesto Italiano, p. 896).
46
Tal fato não escapou à arguta análise da professora Anne-Laure Valembois: “Plurivoque, la sécurité juridique
n’est pas pour autant équivoque. Elle semble certes se soustraire à toute tentative de définition conceptuelle, étant
essentiellement fonctionelle. La jurisprudence des juges qui utilisent l’exigence de sécurité juridique apparaît
alors comme un instrument heuristique particulièrement utile. À ce stade de l’analyse, seule une définition
téleologique de l’exigence de sécurité juridique será proposée, qui repose essentiellement sur une recherche
des consensus de la doctrine. Elle laissera apparaître que la securité juridique ‘informe um certain nombre de principes
spécifiques’, tant sa définition ne peut être donnée qu’en référence aux notions et autres principes qui en sont les composants”
(La constitutionnalisation de l’exigence de sécurité juridique en droit français, p. 13). Compartilha deste entendimento
a professora Sylvia Calmes, como se vê deste excerto: “En outre, elle [sécurité juridique] renvoie finalemente à
des incertitudes de même type que lors de l’analyse de l’État de droit, quand il s’agit d’essayer d’en donner une
définition precise” (Du principe de la confiance légitime en droits allemand, communautaire et français, p. 110).
47
VALEMBOIS, Anne-Laure, op. cit., p. 4-10; PÉREZ LUÑO. Seguridad jurídica, p. 21.
48
La lucha contra las inmunidades del poder, p. 13, 14.
49
DERZI. A irretroatividade do direito no direito tributário. In: BANDEIRA DE MELLO, C. (Org.). Estudos em
homenagem a Geraldo Ataliba, p. 184.
50
“O Supremo Tribunal Federal — que é o guardião da Constituição, por expressa delegação do Poder Constituinte
— não pode renunciar ao exercício desse encargo, pois, se a Suprema Corte falhar no desempenho da gravíssima
atribuição que lhe foi outorgada, a integridade do sistema político, a proteção das liberdades públicas, a
estabilidade do ordenamento normativo do Estado, a segurança das relações jurídicas e a legitimidade das instituições
da República restarão profundamente comprometidas” (Medida cautelar na ADIn nº 2010, STF, Tribunal Pleno,
Rel. Min. Celso de Mello, julgada em 30.09.99, DJ, p. 51, 12 abr. 2002).
51
Deste entendimento parece comungar a professora Sylvia Calmes, quando, em notável síntese, apostila: “Cette
double orientation apparaît notamment lorsque est avancée l’affirmation en vertu de laquelle la sécurité juridique
vise à assurer le développement non seulement public, cohérent, clair et précis (il faut ‘savoir’, qualitativement),
mais également continu, conséquent et stable du droit, en excluant les changements brusques, incohérents et
indéfinis (il faut ‘prevoir’, temporellement)” (Du principe de la confiance légitime en droits allemand, communautaire et
français, p. 158).
52
Prescreve o art. 20, parágrafo 3º da Lei Fundamental Alemã, em tradução francesa: “Le pouvoir législatif est lié
par l’ordre constitutionnel, les pouvoirs exécutif et judiciaire sont liés par la loi et le droit”.
53
A propósito, o magistério do professor Brewer-Carías: “Pero por supuesto, ‘legalidad’, en el derecho consti
tucional contemporáneo, no es solo la sumisión a la ‘ley formal’ como acto sancionado por el Parlamento, como
sucedía en el siglo XIX con respecto a las acciones administrativas y como consecuencia del principio de la
supremacía de la ley, sino que quiere decir sumisión al ordenamiento jurídico, incluyendo a la Constitución y a
otras fuentes del derecho” (Derecho administrativo, p. 43).
54
GARCÍA DE ENTERRÍA. La lucha contra las inmunidades del poder, p. 49.
55
SILVA. Princípios da legalidade da Administração Pública e da segurança jurídica no Estado de Direito
contemporâneo. Revista de Direito Público, p. 54.
56
GORDILLO. Tratado de derecho administrativo, p. 9-11.
57
Le droit administratif français, p. 36.
58
Nos quadrantes do Estado de Direito não vemos razões para se admitir a existência da função de governo.
59
Em nossa definição de função administrativa, conquanto induvidosamente influenciada pela construção teórica
do professor Celso Antônio Bandeira de Mello, não incluímos a estrutura hierárquica, porquanto não a enten
demos como uma nota típica da função administrativa. Nisto seguimos o professor Oswaldo Aranha Bandeira
de Mello, em crítica endereçada a Adolf Merkl (Princípios gerais de direito administrativo, p. 168-171).
60
Mesmo quando se está perante uma competência discricionária, ao administrador não assiste “liberdade”, mas
pura e tão somente uma margem de apreciação subjetiva condicionada ao atendimento ótimo da finalidade
legal.
61
Merece referência o conceito de “competência” do professor Celso Antônio Bandeira de Mello: “[...] círculo
compreensivo de um plexo de deveres públicos a serem satisfeitos mediante o exercício de correlatos e demar
cados poderes instrumentais, legalmente conferidos para a satisfação de interesses públicos” (Curso de direito
administrativo, p. 144).
62
BACIGALUPO. La discrecionalidad administrativa (estructura normativa, control judicial y límites constitucionales de
su atribución), p. 92.
63
BANDEIRA DE MELLO, O. Princípios gerais de direito administrativo, p. 59.
64
ALESSI. Principi di diritto amministrativo, p. 9-10.
65
Que é filosofia?, p. 170.
bem como conhecer o sentido deôntico que as normas jurídicas emprestam aos seus
comportamentos e aos comportamentos dos que estão à sua volta. Ademais, o grau de
certeza é diretamente proporcional à intensidade do controle jurisdicional da atuação
administrativa. A incerteza — em qualquer de suas formas — desarma o cidadão, pois
que dele usurpa os parâmetros destinados a conter o arbítrio da Administração.
Nesse contexto, avulta de importância o art. 59, parágrafo único da Constituição
Federal, desenvolvido pela Lei Complementar nº 95/1998, que disciplina a elaboração
de todo e qualquer ato normativo (art. 1º, parágrafo único).66 Por meio dessa lei são
veiculadas normas de sobredireito visando à edificação de um ordenamento “ordenado”
— o pleonasmo é inevitável —, claro, inteligível, congruente. Saliente-se que estas
normas não são meros conselhos de técnica legislativa às autoridades, mas pressupostos
de validade dos instrumentos normativos por elas produzidos, cuja inobservância deve
ser sancionada pelo órgão judicante.
66
“Art. 1º A elaboração, a redação, a alteração e a consolidação das leis obedecerão ao disposto nesta Lei Comple
mentar.
Parágrafo único. As disposições desta Lei Complementar aplicam-se, ainda, às medidas provisórias e demais
atos normativos referidos no art. 59 da Constituição Federal, bem como, no que couber, aos decretos e aos
demais atos de regulamentação expedidos por órgãos do Poder Executivo”.
67
La certezza del diritto, p. 47-54.
68
COSTA. La ignorancia del derecho, p. 13, 14. Reza o art. 3º da Lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro:
“Ninguém se escusa de cumprir a lei, alegando que não a conhece”.
69
GARCÍA DE ENTERRÍA. Justicia y seguridad en un mundo de leyes desbocadas, p. 51.
70
“Art. 2º Não se destinando à vigência temporária, a lei terá vigor até que outra a modifique ou revogue. §1º A
lei posterior revoga a anterior quando expressamente o declare, quando seja com ela incompatível ou quando
regule inteiramente a matéria de que tratava a lei anterior”.
71
Dispõe o art. 9º: “A cláusula de revogação deverá enumerar, expressamente, as leis ou disposições legais
revogadas”.
72
Ver, por todos: SOUTO MAIOR. Lei Complementar tributária; ATALIBA. Lei Complementar na Constituição.
73
Com a proverbial sabedoria, diz o Ministro Carlos Ayres Britto: “Não há hierarquia entre lei complementar e
lei ordinária, salvo em matéria de técnica legislativa, porque a Constituição diz que ‘Lei complementar disporá sobre a
elaboração, redação, alteração e consolidação das leis’ (art. 59, parágrafo único)” (RE nº 377457/PR, Rel. Min. Gilmar
Mendes, julgado em 17.09.2008).
74
Não só a lei ordinária, como também as medidas provisórias e demais atos normativos expedidos no exercício
da função administrativa estão submetidos à Lei Complementar nº 95/98, a teor do disposto em seu artigo 1º,
parágrafo único: “As disposições desta Lei Complementar aplicam-se, ainda, às medidas provisórias e demais
atos normativos referidos no art. 59 da Constituição Federal, bem como, no que couber, aos decretos e aos
demais atos de regulamentação expedidos por órgãos do Poder Executivo”.
75
Sustenta este posicionamento, com apurado rigor, o professor Paulo de Barros Carvalho, cujas palavras me
recem reprodução literal: “Se, como dissemos, as relações de subordinação entre normas, bem como as de
coordenação, são tecidas pelo sistema do direito positivo, o nosso, inaugurado em 1988, houve por bem esta
belecer que as leis, todas elas, com nome ou com status de lei, ficam sujeitas aos critérios que o diploma comple
mentar previsto no art. 59, parágrafo único (CF) veio a prescrever com a edição da lei nº 95/98. Note-se que seu
papel é meramente formal, porque nada diz sobre a matéria que servirá de conteúdo significativo às demais
leis. Entretanto, nenhuma lei ordinária, delegada, medida provisória, decreto legislativo ou resolução poderá
inobservar as formalidades impostas por essa lei complementar. É a consagração da superioridade hierárquica
formal dessa espécie do processo legislativo com relação às previstas nos outros itens” (Curso de direito tributário,
p. 222-223).
vigência, é dizer, que as normas não serão retroeficazes.76 Trata-se de uma garantia
medular ao Estado de Direito que, em verdade, completa o sentido da legalidade. Uma
vez instaurado o governo das leis, mister que, para serem observadas e aplicadas, sejam
conhecidas de antemão. Assim, norma que projeta seus efeitos sobre fatos pretéritos
implicaria um atestado de má-fé do Estado, uma burla ao sistema jurídico, vez que
qualificaria condutas que se materializaram sem a tê-la em conta.77
Ressalve-se, entretanto, que esta vedação da retroeficácia não decorre da
“natureza das coisas”. O tempo jurídico, na lição do professor Lourival Vilanova, não
tem a unidirecionalidade do tempo natural.78 A eficacidade jurídica é uma construção
intrassistêmica, não seguindo o fluxo da causalidade natural, razão pela qual encontra
limites também jurídicos. O princípio da irretroeficácia das normas jurídicas é justamente
um destes limites, sobrenorma que impede a retrocedência de efeitos jurídicos.
Não obstante a aparente obviedade da questão, tecnicamente ela apresenta
peculiaridades que merecem aclaramento, convindo, sobretudo, não confundir o princípio
da irretroeficácia das normas jurídicas com os institutos do direito adquirido, do ato jurídico
perfeito e da coisa julgada.
Através do princípio da irretroeficácia das normas jurídicas proíbe-se que as
normas jurídicas atinjam situações já consumadas ou os efeitos pretéritos de situações
em curso.79 Protegem-se, portanto, as situações que já se venceram antes do advento da
nova lei, impedindo que lhes seja retirada a significação jurídica que outrora receberam
do sistema jurídico. Nessa medida, orienta-se a irretroeficácia para a proteção do passado,
conferindo a certeza de que as leis só afetarão fatos e relações jurídicas posteriores à sua vigência.
Já o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada, de que trataremos
adiante, amparam as relações jurídicas contra o efeito imediato da lei, o qual constitui o
regular efeito das normas.80 Por meio deles se imutabilizam relações jurídicas, tornando-
as incólumes aos efeitos decorrentes de normas ulteriores. Portanto, orientam-se para
o futuro, servindo à estabilidade de relações jurídicas e não à certeza da projeção das normas
jurídicas.81
76
Empregamos esta expressão, em nosso juízo mais técnica do que “retroatividade”, seguindo os passos do mestre
Pontes de Miranda (Comentários à Constituição de 1967, p. 5-104).
77
A professora Misabel Derzi encarece, com inteira procedência, que o princípio da irretroatividade estende-se
a todos as funções públicas, sendo irretroatividade do Direito e não simplesmente da lei (A irretroatividade do
direito no direito tributário. In: BANDEIRA DE MELLO (Org.). Estudos em homenagem a Geraldo Ataliba, p. 184).
78
Ensina-nos o mestre Lourival Vilanova: “O tempo, em si mesmo, é uma sucessão irreversível. O tempo
juridicizado, já como integrante (elemento) do suporte factual, já como determinante da eficácia do ato (e não
como elemento integrante de suporte), não tem essa unidirecionalidade. Os efeitos do tempo percorrem os três:
o passado, o presente e o futuro. Com isso, a causalidade normativa, no tempo, tanto se faz protraindo os efeitos
como em retroeficácia, retrotraindo esses efeitos. [...] A retroeficácia é, em princípio, sempre possível, pois a
eficacidade é traçada pelo próprio sistema jurídico” (Causalidade e relação no direito, p. 73).
79
A Paul Roubier se deve a clarificação da distinção entre a retroatividade e o efeito imediato das normas jurídicas
(Le droit transitoire, p. 9-12).
80
É o que prescreve o art. 6º da Lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro: “A Lei em vigor terá efeito
imediato e geral, respeitados o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada”.
81
Esta diferença conceitual é sumarizada pelo professor Celso Antônio Bandeira de Mello: “Contra a retroatividade,
basta a noção de singela de que a lei vige para seu tempo e não para o tempo pretérito, a noção de direito
adquirido não é uma superfetação, mas o meio jurídico concebido para albergar no manto da lei velha certas
situações que, nascidas no passado, querem-se por ela sempre reguladas, inobstante atravessando o tempo das
leis supervenientes” (Direito adquirido e o direito administrativo. Revista Trimestral de Direito Público, p. 58-
59). Assim também se posiciona Mônica Madariaga Gutierrez: “luego, el campo propio de ambos institutos es
absolutamente distinto: el de la retroactividad es el pasado. La inmutabilidad se refiere al presente y al futuro”
(Derecho administrativo y seguridad jurídica, p. 118).
82
CANOTILHO. Direito constitucional, p. 375.
83
Muitos exemplos de retroeficácia no Direito Administrativo são oferecidos pela professora Odete Medauar (Da
retroatividade do ato administrativo, p. 108-115).
84
GARÍN. La eficacia retroactiva de los actos administrativos, p. 88-91.
85
TRF 4ª Região, Remessa ex-officio em MS 2003.70.00.016699-9/PR, Rel. Edgard Lippmann Junior, DJU, 22 mar.
2006; STJ, Resp nº 488905/RS, 5ª Turma, Min. José Arnaldo da Fonseca, julgado em 17.08.2004, DJ, p. 275, 13 set.
2004. Doutrinariamente, FERRAZ JR. Irretroatividade e jurisprudência judicial, efeito ex nunc e as decisões do
STJ, p. 11.
86
Op. cit., p. 184.
87
A estabilidade dos atos administrativos. Revista Trimestral de Direito Público, p. 48, 80.
88
O professor Luciano Amaro resume com precisão o significado deste dispositivo: “O Fisco deve primeiro
divulgar o novo critério para depois poder aplicá-lo nos lançamentos futuros pertinentes a fatos geradores também
futuros (em relação a sujeito passivo que, no passado, tenha tido obrigação lançada por outro critério)” (Direito
tributário brasileiro, p. 344).
meio da Lei nº 9.784/99, em cujo art. 2º, parágrafo único, inciso XIII, assim se prescreveu:
“interpretação da norma administrativa da forma que melhor garanta o atendimento
do fim público a que se dirige, vedada aplicação retroativa de nova interpretação”.
89
A teoria do “desvio de poder” em Direito administrativo. Revista de Direito Administrativo, p. 57.
90
Sob o prisma da razoabilidade, a exigência de densidade normativa recebe admirável tratamento pelo professor
José Roberto Pimenta Oliveira (Os princípios da razoabilidade e da proporcionalidade no direito administrativo brasileiro,
p. 357-360).
tipicidade. A segunda diz com o fato de que a ocorrência de leis excessivamente fluidas
aponta para uma “menor valia” democrática, de um lado ampliando indevidamente a
competência regulamentar da Administração, e, de outro, privando o Poder Judiciário de
parâmetros de controle da atividade administrativa, tudo isso em prejuízo, às escâncaras,
dos direitos dos administrados. Em suma, a insuficiência normativa constitui um convite
para que a Administração, máxime em países de tradição autoritária como o Brasil,
promova favoritismos e perseguições, em franco descompasso com a mundividência
do Estado de Direito, que proclama o governo impessoal das leis em substituição ao
governo pessoal dos homens.
A par do imperativo da densidade, impõe-se, ademais, que as leis habilitadoras
de competências administrativas sejam claras, inteligíveis, coerentes, de molde a que
os administrados possam orientar sua conduta segundo o conhecimento prévio de
seus direitos e deveres perante a Administração Pública. Não basta a densidade. Pode
ocorrer de uma regulação densa, porém ininteligível, obscura, ambígua, a qual irá
conduzir ao problema assinalado em relação à exigência de suficiência: uma injustificada
discricionariedade.
É de se notar a acolhida expressa da exigência de clareza no Direito Brasileiro no
art. 11 da Lei Complementar nº 95/1998, que impõe às leis clareza, precisão e coerência
lógica, de molde a ensejar, nos termos do inciso II, alínea “a” do referido dispositivo,
“a perfeita compreensão do objetivo da lei e a permitir que seu texto evidencie com
clareza o conteúdo e o alcance que o legislador pretende dar à norma”.
91
Ao se abordar o tema do direito adquirido e do ato jurídico perfeito, não se pode desconhecer a grave violação
que sofreram tais institutos por meio da Emenda Constitucional nº 41/2003, introdutora da malsinada
“Reforma da Previdência”, que recebeu o abono da maioria do Supremo Tribunal Federal na Ação Direta de
Inconstitucionalidade nº 3105.
92
Em nosso continente, um dos críticos mais acerbos da noção de direito adquirido foi o jurista argentino Guillermo
Borda. Eis suas palavras: “Esta síntesis pone de manifiesto bien claramente lo que queda de la famosa teoría
de los derechos adquiridos. Ha fracasado como principio, porque nadie ha podido precisarlo en sus términos
y significado” (Retroactividad de la ley y derechos adquiridos, p. 85). No continente europeu, um célebre detrator
da noção foi o eminente León Duguit. Dizia ele: “Mais ces difficultés ont été augmentées, comme à plaisir, par
l’introduction d’une notion fausse et sans portée, la distinction des droits acquis et des droits non acquis. Jamais
personne n’a su ce que c’était qu’un droit non acquis” (Traité de droit constitutionnel, p. 231).
93
O eminente administrativa chileno Enrique Silva Cimma é um exemplo daqueles de que negam a existência de
direitos adquiridos no Direito Administrativo (Derecho administrativo chileno y comparado, p. 89).
94
A maioria dos autores chama a sobrevivência da relação jurídica em face da eficácia imediata de nova norma
jurídica de ultraeficácia da norma jurídica anterior, de cuja incidência nasceu a relação jurídica protegida.
Teríamos, assim: retroeficácia, eficácia imediata e ultraeficácia. Não consideramos oportuna, todavia, essa
denominação. Deve-se distinguir a eficácia da norma geral e abstrata, relativa ao fenômeno da incidência —
juridicização de fatos —, da eficácia da norma jurídica individual e concreta, atinente a situações jurídicas ou
relações jurídicas. A partir dessa distinção resta claro que aquela ultraeficácia não é da lei antiga, ou, melhor
dizendo, da norma geral e abstrata, mas sim da norma jurídica individual e concreta que resultou da incidência
da norma geral e abstrata.
95
“È acquisito ogni diritto, che a) è conseguenza di un fatto idoneo a produrlo, in virtù della legge del tempo in
cui il fatto venne compiuto, benchè l’occasione di farlo valere non siasi presentata prima dell’attuazione di una
legge nuova intorno al medesimo, e che b) a termini della legge sotto l’impero della quale accade il fatto da cui
trae origine, entrò immeditamente a far parte del partimonio di chi lo ha acquistato” (Retroativittà delle leggi, p. 191).
aquele direito que integra o patrimônio do sujeito. A grande questão envolvendo esse
critério é saber quando o direito pode ser considerado integrado ao patrimônio de
alguém e, por essa razão, intangível.
Frente a essa dificuldade, apresenta-se como alternativa o critério que poderíamos
denominar teleológico, sustentado pelos professores Celso Antônio Bandeira de Mello
e Celso Ribeiro Bastos e ao qual aderimos. Dado que o direito subjetivo, nas palavras
de Adolf Merkl, “deve sua origem e consistência ao direito positivo objetivo”,96 ou, em
outros torneios, é a subjetivação da ordem jurídica, haveria que se perscrutar o sentido com
que a norma jurídica confere o direito subjetivo ao seu titular. Se for de precariedade, não
há direito adquirido, ao passo que se for de perdurabilidade, perpetuidade, consolidação,
futuridade, tratar-se-á de um direito adquirido.97
É de subido relevo ainda assinalar que o direito adquirido é uma proteção con
ferida pela ordem jurídica a direitos subjetivos emanados de atos válidos. Em caso
de direitos subjetivos veiculados mediante atos inválidos, incidirá, de acordo com as
circunstâncias, o subprincípio da proteção à confiança legítima. Assim, por exemplo, a
revogação98 de atos administrativos, por não estar fundada em um juízo de legalidade,
terá como limite o direito adquirido, enquanto que a invalidação de atos administrativos
será limitada pelo subprincípio da proteção à confiança do administrado.
Reitere-se, nesse sentido, que a invalidade não predica a ineficácia do ato admi
nistrativo. Portanto, o nascimento de direitos subjetivos — pertencentes ao domínio da
eficácia, porque integrantes de relações jurídicas99 — não é obstaculizado pela invalidade
dos atos jurídicos. Subsistirão os direitos subjetivos até que seja desconstituído o ato
administrativo que os veicula. Por conseguinte, a invalidade não exerce influência sobre o
nascimento do direito subjetivo, mas sim sobre sua perenidade no mundo jurídico.100
Em outros termos, a invalidade não obsta a geração do direito subjetivo, porém
o “enfraquece”, sujeitando-o à supressão mediante a invalidação ou mesmo por norma
superveniente.101 Haverá direito subjetivo, jamais direito adquirido.
De resto, observe-se que no léxico do Direito Administrativo a extinção de um
ato administrativo não portador de direito adquirido em função de incompatibilidade
com norma superveniente costuma ser alcunhada de caducidade.102
Passando ao exame do ato jurídico perfeito, assinale-se que, embora para alguns
notáveis juristas como Rubens Limongi França se afigure prescindível este instituto,
96
Teoria General del Derecho Administrativo, p. 167.
97
BANDEIRA DE MELLO. O direito adquirido e o direito administrativo. Revista Trimestral de Direito Público,
p. 60; BASTOS. Comentários à Constituição de 1988, p. 197.
98
Usamos o termo revogação em sua acepção corrente nos quadrantes do Direito Administrativo, consistente na
retirada de um ato administrativo por motivo de conveniência e oportunidade. Sobre o tema, consultar a obra Revogação
do ato administrativo, de autoria de Daniele Coutinho Talamini.
99
Merecem reprodução as palavras do professor Lourival Vilanova a esse respeito: “O direito subjetivo é efeito
de fato jurídico, ou de fato que se juridicizou: situa-se no lado da relação, que é efeito” (Causalidade e relação no
direito, p. 219).
100
Sustenta raciocínio semelhante o jurista Constantin Yannakopoulos, como se infere deste excerto: “Or, l’existence
d’une manoeuvre fraudeuse de la part de l’administré pouvant affecter l’édiction d’un acte n’influence pas la
création de droits. Ce qui fait défaut, est, en réalité, la ‘définitivité’ de l’acte, c’est-à-dire la création des droits
acquis et non pás la création de droits proprement dits” (La notion des droits acquis en droit administratif français,
p. 86).
101
Um bom exemplo de direito subjetivo emanado de ato inválido suprimido por norma superveniente encontra-se
no Recurso Extraordinário nº 290776/MG, de relatoria do Ministro Ilmar Galvão, publicado em 05.08.2005.
102
BANDEIRA DE MELLO. Curso de direito administrativo, p. 437.
103
FRANÇA. Direito intertemporal brasileiro, p. 436-439.
104
Assim preleciona o professor Oswaldo Aranha Bandeira de Mello (Princípios gerais de direito administrativo, p.
346-349), no que é seguido pelo professor Elival da Silva Ramos (A proteção dos direitos adquiridos no direito consti
tucional brasileiro, p. 155).
105
É de se observar que a doutrina francesa, conquanto não maneje a categoria do ato jurídico perfeito, sói
distinguir, para efeitos de conflitos de leis no tempo, as condições de validade da eficácia dos atos jurídicos
(PETIT. Les conflits de lois dans le temps en droit public interne, p. 225-226).
106
Alguns doutrinadores espanhóis admitem, no contexto do direito espanhol, a “invalidade superveniente” sob o fun
damento de que a máxima tempus regit actum não seria uma regra de valor absoluto, senão que uma presunção
de que, salvo disposição em contrário, não cabe a invalidade superveniente (DIEZ-PICAZO. La derogación de las
leyes, p. 81).
107
BEVILÁCQUA. Código Civil dos Estados Unidos do Brasil comentado, p. 77.
108
Pontes de Miranda adverte para o fenômeno da retroeficácia nesta hipótese: “A nulidade ou anulabilidade
somente pode sobrevir, se sobrevém lei, que a estatua: o suporte fático não era deficiente, e faz-se deficiente,
pela retroatividade da lei” (Tratado de direito privado, p. 222).
109
Le droit transitoire, p. 185. Di-lo de igual modo o professor Oswaldo Aranha Bandeira de Mello (op. cit., 348).
110
NERY JUNIOR. Teoria geral dos recursos, p. 500-501.
111
LIMA. Princípio de direito administrativo.
112
Neste sentido, prescreve a Constituição Federal: “Art. 85. São crimes de responsabilidade os atos do Presidente
da República que atentem contra a Constituição Federal e, especialmente, contra: [...] VII - o cumprimento das
leis e das decisões judiciais”.
113
SILVA. O princípio da segurança jurídica (proteção à confiança) no Direito Público Brasileiro e o Direito da
Administração Pública de anular seus próprios atos administrativos: o prazo decadencial do art. 54 da lei do
processo administrativo da União (Lei nº 9.784/99). Revista Eletrônica de Direito do Estado, p. 8.
ciência jurídica, como, por exemplo, o de que a invalidação sempre seria a via idônea
para a recomposição da legalidade e de que sempre operaria efeitos ex tunc, ou de que
o Estado poderia, ao seu talante, alterar inopinadamente suas orientações ou regimes
jurídicos, uma vez que o administrado não tem “direito subjetivo à manutenção do
direito objetivo”.
Quanto aos dogmas atinentes à invalidação, eles estão recebendo o devido
desenvolvimento no Direito Brasileiro, sobretudo a partir da obra pioneira da professora
Weida Zancaner.114 O mesmo não se pode dizer, contudo, no que respeita à noção,
amplamente difundida, de que o Estado pode livremente alterar suas orientações ou
regimes jurídicos. De fato, o administrado não tem direito subjetivo à manutenção de
um regime jurídico, mas sim aos direitos subjetivos que exsurgem do regime jurídico,115
entretanto, isso não significa que a Administração ou o Legislador podem, de modo
traumático, venire contra factum proprium, frustrando expectativas legítimas a que deram
ensejo.
Acerca da manutenção de atos administrativos inválidos, ainda é de se observar
que sobre ela manifestam-se, já de algum tempo, a jurisprudência e a doutrina nacionais,
contudo, segundo formulações pouco convincentes do ponto de vista jurídico. Comum
era fundamentar-se o nascimento de situações de direito tão só a partir da persistência,
durante largo período, de situações de fato geradas de ilegalidade.116 Nas últimas
quadras, porém, começou-se a manejar de forma mais coerente os princípios da
legalidade e da segurança jurídica, a fim de justificar satisfatoriamente a questão.117
Exemplo mais recente desta tendência são as reiteradas decisões do Supremo Tribunal
Federal, nas quais se verifica a consagração do princípio da segurança jurídica como
subprincípio do Estado de Direito, à moda da jurisprudência alemã, justificando a
estabilidade de atos administrados eivados de ilegalidade.118
114
ZANCANER. Da convalidação e da invalidação dos atos administrativos.
115
CAMMAROSANO. Considerações sobre a proteção constitucional do direito adquirido, Cadernos de soluções
constitucionais, p. 283.
116
STF, RE nº 85.179-RJ, Rel. Min. Bilac Pinto, julgado em 04.11.1977, DJ, 02 dez. 1977.
117
STJ, Resp. nº 6.518, 1ª Turma, Rel. Min. Humberto Gomes de Barros, julgado em 19.08.1991, DJ, p. 1262, 16 set.
1991.
118
STF, PET nº 2.900/RS, Rel. Min Gilmar Mendes, transcrito no Informativo STF n. 310, de 26 a 30 de maio de 2003,
DJ, 1º ago. 2003; MS nº 24.268/MG, Rel. para o acórdão Min. Gilmar Mendes, transcrito no Informativo STF n.
343, de 12 a 16 de abril de 2004; MS nº 22.357, Rel. Min. Gilmar Mendes, transcrito no informativo STF 351, de 07
de julho a 11 de julho de 2004.
119
LEAL. Da prescrição e da decadência, p. 114-115.
4 À guisa de conclusão
Ao cabo desse estudo — que pretende ser um ponto de partida para o aprofun
damento do tema — poucas e breves considerações nos restam.
A primeira diz com a própria finalidade dessa investigação. Ao tentarmos
sistematizar o conteúdo do princípio da segurança jurídica no Direito Administrativo
brasileiro, buscamos evidenciar todas as virtualidades desse princípio, de sorte a dar
máxima proteção aos direitos dos administrados. A enunciação abstrata do princípio da
segurança jurídica tem dado lugar ora a exageros, ora a mutilações indevidas, motivo
pelo qual se impõe sua delimitação em conformidade com a ordem jurídica vigente.
Portanto, assim o fazendo, dá-se a devida dimensão ao princípio da segurança
jurídica, evitando-se, de um lado, a ofensa a outros princípios constitucionais e, de
outro, o amesquinhamento disfarçado de seu conteúdo.
Quanto à classificação que propomos do princípio da segurança jurídica, a
exemplo de toda e qualquer classificação, é presidida por um juízo operativo e reflete
uma dada realidade, em um dado tempo histórico. Logo, ela não infirma classificações
anteriores, tampouco virão infirmá-la classificações posteriores. As classificações são
mais ou menos úteis, nada mais. A divisão entre certeza e estabilidade parece-nos, tão
120
Diz o mestre italiano: “Una di queste figure è quella della decadenza, che determina l’impossibilità di esercitare
un potere in casi singoli, quando si son lasciati trascorrere i termini prefissi per il suo esercizio, ma il potere
rimane sempre integro e potrà sempre esercitarsi in tutti gli altri casi. L’avere disconosciuto il principio, su cui
abbiamo insistito, che non si hanno tanti poteri quanti i casi in cui ciascuno di essi si fa valere, ma dei poteri
costanti che rimangono sempre i medesimi attraverso tutti questi casi, ha impedito l’esatta configurazione della
decadenza” (Frammenti di un dizionario giuridico, p. 201).
121
Curso de direito administrativo, p. 1001.
122
Op. cit., p. 76, 77.
123
Op. cit., p. 22-25.
somente, que enseja a visão mais clara e abrangente do princípio da segurança jurídica,
de acordo com o Direito Brasileiro vigente.
Por derradeiro, depois de todas essas colocações, dispensável se afigura encarecer
a importância do princípio da segurança jurídica. Representa ele a específica eticidade do
Direito, nas palavras de Lopez de Oñate,124 e é reconhecido, explícita ou implicitamente,
por todos Estados Democráticos contemporâneos.
Segundo nos parece, o que deve ser encarecido é a necessidade de respeito integral
aos institutos que o realizam, em dado subsistema normativo. Se não concretizado
integralmente o princípio da segurança jurídica, continuar-se-á a ter um simulacro de
Estado de Direito, cujas leis, em vez de subsidiarem os parâmetros mínimos para que
o homem possa orientar sua vida, agravam seu conatural estado de insegurança.
Referências
ALCHOURRÓN, Carlos E.; BULYGIN, Eugenio. Definiciones y normas. In: BULYGIN, Eugenio et al. (Org.).
El lenguaje del derecho: homenaje a Genaro R. Carrió. Buenos Aires: Abeledo-Perrot, 1982.
ALEXY, Robert. Teoria dos direitos fundamentais. São Paulo: Malheiros, 2008.
AMARO, Luciano. Direito tributário brasileiro. 9. ed. São Paulo: Saraiva, 2003.
BACIGALUPO, Mariano. La discrecionalidad administrativa (estructura normativa, control judicial y límites
constitucionales de su atribución). Madrid: Marcial Pons, 1997.
BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. A estabilidade dos atos administrativos. Revista Trimestral de Direito
Público, São Paulo, n. 48, 2004.
BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. Curso de direito administrativo. 26. ed. São Paulo: Malheiros, 2009.
BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. O direito adquirido e o direito administrativo. Revista Trimestral de
Direito Público, 24, p. 54-62, 1998.
BANDEIRA DE MELLO, Oswaldo Aranha. Princípios gerais de direito administrativo. 3. ed. São Paulo: Malheiros,
2007. v. 1.
BENOIT, Paul. Le droit administratif français. Paris: Dalloz, 1968.
BEVILÁCQUA, Clóvis. Código Civil dos Estados Unidos do Brasil comentado. 11. ed. Rio de Janeiro: Livraria
Francisco Alves, 1956. v. 1.
BONAVIDES, Paulo. Curso de direito constitucional. 24. ed. São Paulo: Malheiros, 2009.
BONAVIDES, Paulo. Do Estado Liberal ao Estado Social. 7. ed. São Paulo: Malheiros, 2004.
BORDA, Guillermo. Retroactividad de la ley y derechos adquiridos. Buenos Aires: Abeledo-Perrot, 1951.
BREWER-CARÍAS, Allan R. Derecho administrativo. Bogotá: Universidad Externado de Colombia, 2005. t. I.
CALMES, Sylvia. Du príncipe de protection de la confiance légitime en droits allemand, communautaire et français.
Paris: Dalloz, 2001.
CAMMAROSANO, Márcio. Considerações sobre a proteção constitucional do direito adquirido. Cadernos
de soluções constitucionais, v. 2.
CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito constitucional. 6. ed. Coimbra: Almedina, 1993.
CARRIÓ, Genaro Ruben. Notas sobre derecho y lenguaje. 4. ed. Buenos Aires: Abeledo-Perrot, 1990.
CARRIÓ, Genaro Ruben. Principios jurídicos y positivismo jurídico. Buenos Aires: Abeledo-Perrot, 1970.
124
La certezza del diritto, p. 161.
CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de direito tributário. 18. ed. São Paulo: Saraiva, 2007.
CARVALHO, Paulo de Barros. Direito tributário: linguagem e método. 2. ed. São Paulo: Noeses, 2008.
CIMMA, Enrique Silva. Derecho administrativo chileno y comparado. Santiago do Chile: Editorial Jurídica de
Chile, 1954. t. I.
COSTA, Joaquin. La ignorancia del derecho. Buenos Aires: EJEA, 1957.
CUNHA, Sérgio Sérvulo da. Princípios constitucionais. São Paulo: Saraiva, 2006.
DERZI, Misabel Abreu Machado. A irretroatividade do direito no direito tributário. In: BANDEIRA DE
MELLO, Celso Antônio (Org.). Estudos em homenagem a Geraldo Ataliba. São Paulo: Malheiros, 1997. v. 1.
Direito Tributário.
DIEZ-PICAZO, Luis Maria. La derogación de las leyes. Madrid: Civitas, 1990.
DUGUIT, León. Traité de droit constitutionnel. 3e éd. Paris: Ancienne Librairie Fontemoing, 1927. t. II.
FERNÁNDEZ, Tomás-Ramón; GARCÍA ENTERRÍA, Eduardo. Curso de derecho administrativo. 12. ed. Madrid:
Civitas, 2005. v. 1.
FERRAZ JR., Tercio Sampaio. Irretroatividade e jurisprudência judicial. Efeito ex nunc e as decisões do STJ.
Baueri/SP: Manole, 2008.
FLÓREZ-VALDÉS, Joaquín Arce. Los principios generales del derecho y su formulación constitucional. Madrid:
Civitas, 1990.
FORSTHOFF, Ernst. Tratado de derecho administrativo. Madrid: Instituto de Estudios Políticos, 1958.
FRANÇA, Rubens Limongi. Direito intertemporal brasileiro. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1968.
GARCÍA DE ENTERRÍA, Eduardo. Justicia y seguridad en un mundo de leyes desbocadas. Madri: Civitas, 2000.
GARCÍA DE ENTERRÍA, Eduardo. La lucha contra las inmunidades del poder. 3. ed. Madrid: Civitas, 2004.
GARÍN, Beatriz Belando. La eficacia retroactiva de los actos administrativos. Madrid: Civitas, 2008.
GORDILLO, Agustín. Introducción al derecho administrativo. 2. ed. Buenos Aires: Abeledo-Perrot, 1966.
GORDILLO, Agustín. Princípios gerais de direito público. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1977.
GUASTINI, Ricardo. Das fontes às normas. São Paulo: Quartier Latin, 2005.
GUTIERREZ, Mônica Madariaga. Derecho administrativo y seguridad jurídica. Santiago do Chile: Editorial
Jurídica de Chile, 1966.
KELSEN, Hans. Teoria pura do direito. 5. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1996.
LEAL, Antônio Luís da Câmara. Da prescrição e da decadência. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1959.
LEGAZ Y LACAMBRA, Luis. Filosofía del derecho. 4. ed. Barcelona: Bosch, 1975.
LIMA, Ruy Cirne. Princípio de direito administrativo. 7. ed. São Paulo: Malheiros, 2007
LÓPEZ DE OÑATE, Flavio. La certezza del diritto. Milão: Giuffrè, 1968.
MARX, Karl. A questão judaica. São Paulo: Centauro, 2005.
MEDAUAR, Odete. Da retroatividade do ato administrativo. São Paulo: Max Limonad, 1986.
MERKL, Adolf. Teoria general del derecho administrativo. Granada: Comares, 2004.
MOLFESSIS, Nicolas. Rapport public 2006, Conseil d’État. Paris: La documentation française, 2006.
NERY JUNIOR, Nelson. Teoria geral dos recursos. 6. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004.
OLIVEIRA, José Roberto Pimenta. Os princípios da razoabilidade e da proporcionalidade no direito administrativo
brasileiro. São Paulo: Malheiros, 2006.
ORTEGA Y GASSET, José. Que é filosofia? Rio de Janeiro: Livro Ibero-americano, 1971.
PÉREZ LUÑO, Antonio-Enrique. Seguridad jurídica. Barcelona: Ariel, 1991.
PETIT, Jacques. Les conflits de lois dans le temps en droit public interne. Paris: LGDJ, 2002.
PONTES DE MIRANDA. Comentários à Constituição de 1967. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1971.
PONTES DE MIRANDA. Tratado de direito privado. 4. ed. Rio de Janeiro: Borsói, 1970. t. IV.
PRAT, Julio. La desviación de poder. Montevidéu: Ed. Amalio Fernández, 1957.
RAMOS, Elival da Silva. A proteção dos direitos adquiridos no direito constitucional brasileiro. São Paulo: Saraiva,
2005.
RETROATIVITTÀ delle leggi. 3. ed. Turim: UTET, 1891.
RIPERT, George. Le Déclin du Droit. Paris: LGDJ, 1949.
RODRIGUEZ, Federico. Seguridad jurídica y política social. Revista de Administración Pública, n. 6, p. 213-219.
ROMANO, Santi. Frammenti di un dizionario giuridico. Milão: Giuffrè Editore, 1983.
ROUBIER, Paul. Le droit transitoire. 2e éd. Paris: Dalloz, 1960.
ROUBIER, Paul. Théorie générale du droit. 2e éd. Paris: Librarie du Recueil Sirey, 1951.
ROUSSEAU, Jean-Jacques. Du contrat social. Paris: Aubier, 1943.
SILVA, Almiro do Couto e. O princípio da segurança jurídica (proteção à confiança) no Direito Público
Brasileiro e o Direito da Administração Pública de anular seus próprios atos administrativos: o prazo
decadencial do art. 54 da lei do processo administrativo da União (Lei nº 9.784/99). Revista Eletrônica de
Direito do Estado, n. 2.
SILVA, Almiro do Couto e. Princípios da legalidade da Administração Pública e da segurança jurídica no
Estado de Direito contemporâneo. Revista de Direito Público, v. 20, n. 84, p. 46-63, out./dez. 1987.
SOROKIN, Pitirim. Achaques y manías de la sociología moderna y ciencias afines. Madrid: Aguilar, 1957.
SOUTO MAIOR, Borges José. Lei Complementar tributária. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1975.
VILANOVA, Lourival. Causalidade e relação no direito. 4. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2000.
VILANOVA, Lourival. Fundamentos do Estado de Direito. São Paulo: Axis Mundi IBET, 2003. v. 1 - Escritos
jurídicos e filosóficos.
XAVIER, Alberto. Os princípios da legalidade e da tipicidade da tributação. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1978.
YANNAKOPOULOS, Constantin. La notion des droits acquis en droit administratif français. Paris: LGDJ, 1997.
ZAGREBELSKY, Gustavo. El derecho dúctil. Madrid: Trotta, 1998.
ZANCANER, Weida. Da convalidação e da invalidação dos atos administrativos. 3. ed. São Paulo: Malheiros, 2008.
Informação bibliográfica deste texto, conforme a NBR 6023:2002 da Associação Brasileira de Normas
Técnicas (ABNT):
VALIM, Rafael. o princípio da segurança jurídica no Direito Administrativo. In: VALIM, Rafael;
OLIVEIRA, José Roberto Pimenta; DAL POZZO, Augusto Neves (Coord.). Tratado sobre o princípio da
segurança jurídica no direito administrativo. Belo Horizonte: Fórum, 2013. p. 65-94. ISBN 978-85-7700-728-8.
Sylvia Calmes-Brunet
1
Voir mon article Le principe de sécurité juridique en droits allemand, communautaire et français, La revue du notariat,
Montreal, Québec, volume 110, septembre 2008, p. 304 et s.
Elle peut dans ce cadre faire l’objet de deux lectures, qui couvrent ses deux
dimensions. Appréhendée via un angle d’attaque objectif, collectif et abstrait, la
sécurité du droit vise à lutter contre l’imprévisibilité, l’instabilité de l’ordonnancement
juridique en général, comme contre la prolifération normative, la publicité lacunaire
et la dégradation rédactionnelle des règles de droit. Et l’énoncé de ces idéaux objectifs
de sécurité juridique se suffisent à eux-mêmes, à charge pour les acteurs concernés du
droit positif de les mettre en œuvre pour assurer effectivement et efficacement une telle
sécurité de l’ordre juridique dans son ensemble. Toujours dans cette logique de sécurité
juridique, mais via une autre approche, subjective, individualiste et concrète de sécurité
(des droits) par le droit, la protection de la confiance légitime notamment peut exiger
le maintien d’une situation juridique favorable au profit de l’intéressé. Sont pris en
compte, au cas par cas, les intérêts des personnes et la subjectivité de leur perception
et appréciation des normes. En Allemagne, le Tribunal constitutionnel fédéral a établi
depuis les années soixante la chaîne de déduction Etat de droit — sécurité juridique
— protection de la confiance légitime. Plus précisément, la sécurité juridique, qui fait
partie des éléments essentiels de l’Etat de droit, signifie avant tout protection de la
confiance légitime pour le citoyen.
Ce dernier principe2 protège la croyance que les intéressés peuvent avoir dans
l’existence et le maintien de situations juridiques qui leur sont favorables et qu’ils
pouvaient légitimement croire comme constituées. Dans les systèmes (allemand ou
communautaire par exemple) où il est consacré, le principe général de protection de
la confiance légitime est nécessairement couplé à la sécurité juridique, en ce sens où il
est invoqué en droit positif pour limiter, donc réguler, la sécurité juridique et l’adapter
de manière proportionnée aux situations concrètes, en vertu d’un mécanisme très
subjectif. Dans le cadre de ce processus constant est d’abord recherchée la présence
d’une base de confiance - même générale ou illégale (sauf irrégularité manifeste) — créée
par le pré comportement (acte juridique, renseignement, promesse, pratique, inertie,
comportement contradictoire...) d’une autorité publique (législateur, administration ou
juge). Ensuite doit exister une confiance de la personne en cette base (individuelle ou
générale), à savoir une croyance subjective dans le maintien de la situation individuelle
favorable ou dans la réalisation des modifications escomptées. En troisième lieu
est exigé le caractère légitime, c’est-à-dire digne de protection, de ces espérances et
expectatives — qu’elles aient été ou non traduites en actes concrets et objectifs —.
Le bouleversement de la ligne de conduite adoptée antérieurement par la puissance
publique doit intervenir de manière imprévisible soudaine, pour la personne de bonne
foi. Enfin est recherchée la présence d’éventuels intérêts publics impérieux susceptibles,
au terme d’une balance des intérêts, de s’opposer à la protection effective ou, en cas de
protection, à l’un des modes de protection possibles de la confiance (rattachement à la
base de confiance ou compensation du préjudice subi — compensation d’inconvénients
juridiques, dispositions transitoires ou indemnisation). La mise en exergue des éléments
généraux constitutifs du principe normatif montre que le mécanisme technique qui lui
est inhérent est nettement marqué par le sceau du pragmatisme et du subjectivisme.
2
Voir ma thèse: Du principe de protection de la confiance légitime en droits allemand, communautaire et français, Dalloz,
2001, 699 p.
3
En ce sens, le principe de légalité peut être facteur d’insécurité juridique, un acte légal pouvant devenir illégal,
en raison de changements de circonstances de droit ou de fait.
4
Le législateur également établit des règles susceptibles de garantir une meilleure sécurité juridique, en tentant
par exemple (avec une réussite relative), face à la complexité et à l’inflation des normes, de simplifier et
améliorer la qualité du droit. Preuve en est, encore récemment, la loi nº 2011-525 du 17 mai 2011 (J.O. 18 mai
2011 p. 8537). Ou encore, le législateur prévoit des mécanismes, comme le rescrit fiscal (articles L. 80 A et B du
Livre des procédures fiscales), qui obéissent exactement au principe de protection de la confiance légitime. Par
ailleurs, le Conseil d’Etat a fait référence à “l’objectif de sécurité juridique poursuivi par la loi”(Avis nº 180373,
26 juillet 1996, J.O. 02 octobre 1996 p. 14513, CE nº 261591, 24 mars 2006) et le Conseil constitutionnel au “souci
du législateur de renforcer la sécurité juridique”(CC nº 96-373 DC du 09 avril 1996, LPA 04 septembre 1996 p. 6,
B. Mathieu).
5
CEDH 13 juin 1979, Marckx c. Belgique, §58, série A, nº 31, JDI 1982 p. 183.
6
Comme il le fait depuis sa décision nº 2008-564 DC du 19 juin 2008, OGM, le Conseil, au nom de la sécurité
juridique, reporte dans le temps les effets de sa déclaration d’inconstitutionnalité (“l’abrogation immédiate de
cet article aurait, pour la sécurité juridique, des conséquences manifestement excessives”: cons. 7).
7
Par exemple, s’agissant de la qualité de la norme, l’objectif de valeur constitutionnelle d’accessibilité et
d’intelligibilité est reconnu par le Conseil dans sa décision nº 99-421 DC du 16 décembre 1999 relative à la
codification (Rec. p. 136). Le juge a aussi consacré le principe constitutionnel de clarté de la loi (nº 2001-455 DC
du 12 janvier 2002, Rec. p. 49). En outre, s’agissant de l’application de la loi dans le temps, le Conseil considère
que, “s’il est loisible au législateur d’apporter, pour des motifs d’intérêt général, des modifications à des contrats
en cours d’exécution, il ne saurait porter à l’économie des contrats légalement conclus une atteinte d’une
gravité telle qu’elle méconnaisse manifestement la liberté découlant de l’article 4 de la Déclaration des droits
de l’Homme et du citoyen”(nº 99-416 DC du 23 juillet 1999, Rec. p. 100), après avoir donné par sa décision
nº 98-401 DC du 10 juin 1998 une assise constitutionnelle à l’intangibilité des situations contractuelles. Plus
largement, le Conseil estime qu’en modifiant ou abrogeant des textes, le législateur “méconnaîtrait la garantie
des droits proclamés par l’article 16 de la Déclaration de 1789 s’il portait aux situations légalement acquises une
atteinte qui ne soit justifiée par un motif d’intérêt général suffisant (CC nº 2005-530 DC du 29 décembre 2005; le
considérant est régulièrement confirmé: par ex., CC nº 2010-102 QPC du 11 février 2011). Cette protection des
droits acquis revient à appliquer le mécanisme de protection de la confiance légitime.
A noter que la constitutionnalisation du principe de sécurité juridique a été envisagée (mais abandonnée) par
le “Comité Balladur”, chargé de réfléchir en vue de la réforme constitutionnelle du 23 juillet 2008, qui avait
finalement proposé (proposition nº 73 du rapport du 29 octobre 2007) la formulation suivante: “Sauf motif
déterminant d’intérêt général, la loi ne dispose que pour l’avenir”(Une Vème République plus démocratique, La
Documentation française/Fayard, 2007).
8
CC nº 96-385 DC du 30 décembre 1996, cons. 18, Rec. p. 145; nº 97-391 DC du 07 novembre 1997, cons. 6, Rec.
p. 232.
9
De la sécurité juridique, La documentation française, EDCE nº 43, 1992.
10
Sécurité juridique et complexité du droit, La documentation française, EDCE nº 57, 2006.
11
Voir, par exemple: CE Sect. nº 301077, 30 décembre 2009, SA PGL Aventures (pas de méconnaissance des
“principes généraux du droit communautaire de sécurité juridique ou de confiance legitime”), CE nº 332363, 15
décembre 2010, ANAFE (question de savoir si des mesures transitoires sont nécessaires posée à la CJUE).
12
La jurisprudence sur ce point est abondante. Voir, par exemple: CE 30 décembre 1998, Entreprise Chagnaud, Rec.
p. 721, CE 03 décembre 2001, Syndicat national de l’industrie pharmaceutique, Rec. p. 624 (sécurité juridique et
confiance légitime); CE Ass. 05 mars 1999, Rouquette, Rec. p. 37, CE Ass. 11 juillet 2001, Fédération nationale des
syndicats d’exploitants agricoles, Rec. p. 340 (confiance légitime).
13
Nº 288460 et s., Rec. p. 154; RFDA 2006 p. 463, concl. Aguila, note F. Moderne; AJDA 2006 p. 841, B. Mathieu,
p. 897, F. Melleray; D. 2006 p. 1191, P. Cassia, JCP 2006 p. 1229, B. Plessix.
14
Refus réitéré depuis l’arrêt KPMG. Voir, par exemple: CE 30 mars 2007, Société ENEL, Rec. p. 133; CE nº 310184,
10 avril 2009, Association pour le maintien de l’élevage en Bretagne; CE nº 337533, 23 décembre 2010, Société
sans pour autant dire en quoi il ne mérite pas d’être reçu. Principe subjectif, sans
doute le juge considère-t-il qu’il mettrait à mal notre droit administratif, assis sur des
concepts et procédures fondamentalement objectifs (puissance publique, service public,
intérêt général, légalité, actes administratifs, recours pour excès de pouvoir, principe
d’égalité...).15 En refusant de le consacrer, il rejette aussi une transposition en droit interne
de la conception allemande et communautaire de la sécurité juridique.
La question se pose de savoir si une telle scission des deux principes est en soi
viable. L’autre problème est que, sous couvert du principe de sécurité juridique, c’est
bien le mécanisme subjectif et casuistique de la protection de la confiance et l’exigence
de droit transitoire qu’il peut induire qui sont appliqués par le juge français. Ce n’est
finalement qu’une face de la sécurité juridique qui est devenue opérante; celle qui,
paradoxalement, correspond à l’un des modes de protection de la confiance légitime.
La reconnaissance est par conséquent non seulement parcellaire et inaboutie, mais
également incohérente.
Ainsi, la consécration du principe de sécurité juridique par le juge administratif
n’a pas été une surprise: elle était prévisible (I). Elle a été certes timide mais explicite
(II). Cependant, elle reste ambiguë, incomplète et inachevée (III).
M. Bricolage; CE nº 334911, 20 avril 2011, Syndicat des agences de presse télévisée et autres; CE nº 320577 et
327844, 16 mai 2011, SIERC. Les formules récurrentes rappellent que le principe de protection de la confiance
légitime n’est “en tout état de cause”pas méconnu ou bien que les requérants “ne peuvent utilement exciper”de
ce moyen “dès lors que leur situation n’est pas régie par le droit de l’Union européenne”.
15
Cet argument contre la réception en droit national du principe de protection de la confiance légitime nous semble
probant. En revanche, l’argument plus ciblé en vertu duquel ce principe équivaudrait à un droit au maintien
des réglementations ne tient pas. Comme le montrent les jurisprudences allemandes ou communautaires, il
n’est pas une garantie contre les modifications de la réglementation, et n’aboutit donc pas à figer l’ordre et les
situations juridiques. Plus globalement, “le principe de la sécurité juridique, tout important qu’il soit, ne saurait
s’appliquer de façon absolue”: CJCE 22 mars 1961, SNUPAT c. Haute Autorité de la CECA, aff. 42, 49/59, Rec. p.
101 (p. 159). Voir également: CEDH, 18 décembre 2008, Unedic c. France, req. 20153/04.
16
TC 08 février 1873, décision Blanco, Les grands arrêts de la jurisprudence administrative (GAJA), M. Long, P. Weil,
G. Braibant, P. Delvolvé, B. Genevois, Paris, Dalloz (Grands arrêts), 18ème éd., 2011: nº 1.
17
CE Ass., 14 janvier 1938, Société anonyme des produits laitiers “La Fleurette”, Rec. p. 25, GAJA nº 50. Depuis
l’arrêt du Conseil d’Etat Coopérative Ax’ion du 02 novembre 2005 (RFDA 2006 p. 349, concl. Guyomar), le
dommage doit en outre “excéder les aléas [que le requérant ne pouvait pas prévoir] que comporte nécessairement
l’activité exercée”.
18
CE 30 novembre 1923, Couitéas, Rec. p. 789, GAJA nº 40. Selon C. Broyelle (“Confiance légitime et responsabilité
publique”, RDP 2009 p. 321), “le Conseil d’Etat a transposé à des situations extra-contractuelles un principe
d’indemnisation propre jusqu’à cette date aux relations contractuelles. Comme il le faisait depuis longtemps en
matière de fait du prince, il s’est employé à protéger une confiance légitime trompée”.
19
Voir, par exemple: CE 07 mars 1958, Bernier, Rec. p. 155; CE 27 juillet 1988, Ordoux, Rec. p. 304.
20
Rec. p. 1022.
21
CAA Paris, 25 mai 1999, Société La Peiniche, JCP 2000, II, 10313; CE nº 210907, 23 avril 2003, Société La Péniche.
22
AJDA 1995 p. 555, concl. Pommier.
23
CE 09 mai 2001, Entreprise personnelle de transports Freymuth, Rec. tables p. 685.
24
CE 12 décembre 2003 Syndicat des commissaires de la police nationale, Rec. p. 506.
25
CE Ass. 25 juin 1948 Société du journal l’Aurore, Rec. p. 289. GAJA nº 60.
26
CE 03 nov. 1922 Dame Cachet, Rec. p. 790.
27
CE Ass. 25 juin 1948 Société du Journal l’Aurore, Rec. p. 289. GAJA nº 60.
28
Situations révolues, mais aussi situations en cours, c’est-à-dire constituées dans le passé et qui se prolongent
dans le présent: cf. infra l’arrêt KPMG.
29
Sauf dans trois cas. D’abord, le principe a valeur constitutionnelle en matière pénale (CC nº 82-155 DC du
30 décembre 1982, Rec. p. 88). Ensuite, si le législateur peut adopter des dispositions fiscales rétroactives, “il
ne peut le faire qu’en considération d’un motif d’intérêt général suffisant et sous réserve de ne pas priver de
garanties légales des exigences constitutionnelles”(CC nº 98-404 DC du 18 décembre 1998, Rec. p. 315). Enfin, la
validation d’actes administratifs par une loi rétroactive doit obéir à certaines exigences (voir notamment CC 14
décembre 2006, JCP G p. 3, B. Mathieu); à noter que, concernant les lois de validation, la sécurité juridique peut
être utilisée à la fois comme élément justificatif de l’intervention du législateur et comme élément de limitation
de cette intervention.
30
Rec. p. 1065, GAJA nº 41: “les actes annulés pour excès de pouvoir sont réputés n’être jamais intervenus”.
31
Rec. p. 497, GAJA nº 107.
32
Préc. Le juge essaie déjà, dans cet arrêt Dame Cachet, de combiner légalité et protection des droits individuels: le
retrait est possible tant que le délai du recours contentieux (deux mois) n’a pas expiré. Mais cette jurisprudence a
posé problème en cas de décision individuelle notifiée mais non publiée, qui demeure indéfiniment susceptible
de recours de la part des tiers, le retrait de la décision restant dès lors toujours possible (CE Ass. 06 mai 1966,
Ville de Bagneux, Rec. p. 303).
33
Les actes créateurs de droits sont ceux qui accordent un avantage administratif (certaines nominations ou
autorisations, l’inscription à un ordre professionnel...) ou purement financier depuis l’arrêt de Section du
Conseil d’Etat du 06 novembre 2002, Mme Soulier (Rec. p. 369). Le juge recourt traditionnellement à cette
qualification d’acte créateur de droits pour protéger l’administré contre la remise en cause inopportune d’une
situation favorable.
34
CE Sect. 06 mars 2009, Coulibaly, Rec. p. 7.
35
Cf. infra.
36
Il n’est pas possible, “en l’absence de fraude, sans méconnaître les droits acquis qui résultent de l’inscription”,
de “décider plus de quatre mois après celle-ci de radier un praticien au motif que les diplômes au vu desquels
il a été inscrit n’auraient pas été de nature à permettre légalement son inscription”.
37
Rec. p. 197, GAJA nº 112.
38
D’autres jurisprudences avant l’arrêt AC! avaient tempéré ce principe. Voir, notamment, la jurisprudence relative
à l’intangibilité des droits acquis par le bénéficiaire d’une décision individuelle définitive (malgré l’illégalité
d’un acte antérieur qui en conditionne l’intervention): CE Sect. 10 octobre 1997, Lugan, Rec. p. 346.
La pratique des lois de validation peut aussi venir compenser les inconvénients du principe.
39
Voir notamment: CE 24 juillet 2009, Comité de recherche et d’information indépendantes sur le génie génétique,
Rec. p. 294 (vice de compétence); CE Sect. 25 février 2005, France Télécom, Rec. p. 86 (vice de légalité interne).
40
CE 12 décembre 2007, Sire, Vignard, AJDA 2008 p. 638, concl. Guyomar (vice de procédure: irrégularité de
la nomination de magistrats); CE Sect. 30 décembre 2010, Robert, DA 2011, nº 25, note F. Melleray (vice de
procédure).
Notons également que, saisi sur le fondement de l’article 61 de la Constitution, le Conseil constitutionnel s’est,
de même, arrogé le pouvoir de différer les effets de la déclaration d’inconstitutionnalité d’une loi (CC nº 2008-
564 DC du 19 juin 2008, OGM, cons. nº 58), ce qu’il peut également faire sur le fondement de l’article 61-1 depuis
la loi constitutionnelle du 23 juillet 2008 entrée en vigueur le 1er mars 2010: “le nouvel article 62, alinéa 2 de la
Constitution reconnaît une triple compétence au Conseil constitutionnel dans le cadre de la mise en œuvre
de la procédure de la question prioritaire de constitutionnalité: le droit d’abroger une disposition législative
qui méconnaît les droits et libertés garantis par la Constitution; le choix du moment de cette abrogation;
l’aménagement de la portée de la décision sur les effets que la disposition abrogée a produits”(Ph. Blachèr,
“Censure vaut abrogation!”, LPA 05 maio 2011, p. 14).
41
En ce sens, H. Maurer, dans une analyse du droit allemand antérieur à l’émergence du principe de protection
de la confiance légitime, concède dans une étude datant de 1977 que, si le terme de “protection de la confiance
légitime”était alors nouveau, la “chose”quant à elle ne l’était pas (“Das Vertrauensshutzprinzip bei Rücknahme
und Widerruf von Verwaltungsakten”, Verwaltungsverfahren, Festschrift zum 50. jährigen Bestehen des Richard-
Booberg-Verlags, Stuttgart/München/Hannover, 1977, p. 224).
42
Préc.
43
CE 11 mars 1910, Compagnie générale française des tramways, Rec. p. 216, GAJA nº 21.
44
La logique est celle de la décision nº 99-416 DC du 23 juillet 1999 du Conseil constitutionnel (préc.).
la profession ainsi réglementée et organisée sans que leur effet se trouve reporté à
l’expiration du mandat dont les intéressés ont été contractuellement investis”. La loi
autorisait donc la rétroactivité du décret. Toutefois, le juge va rechercher si, malgré tout,
la modification opérée ne portait pas une atteinte à la sécurité juridique justifiant des
dispositions transitoires. Or, “à défaut de toute disposition transitoire dans le décret
attaqué, les exigences et interdictions qui résultent du code apporteraient, dans les
relations contractuelles légalement instituées avant son intervention, des perturbations
qui, du fait de leur caractère excessif au regard de l’objectif poursuivi, sont contraires
au principe de sécurité juridique”.45 Le juge ne consacre donc formellement le
“principe”qu’en fin de phrase, sans grande conviction ni solennité, après avoir semblé
vouloir ne parler que de “motifs”dans son considérant principal. Mais il le consacre
expressément. Désormais, si la sécurité juridique l’exige, le pouvoir réglementaire doit
adopter des dispositions transitoires suffisantes retardant l’entrée en vigueur de la
réglementation nouvelle.46
2. Cette jurisprudence s’est révélée ne pas protéger uniquement (“en particulier”)
les “situations contractuelles en cours”. L’arrêt Lacroix (CE Sect. 13 décembre 200647),
relatif à une décision de radiation de la liste professionnelle des commissaires aux
comptes, reprend le considérant de principe de la décision KPMG et précise que
l’obligation d’édicter des mesures transitoires qui découle du principe de sécurité
juridique s’impose “lorsque l’application immédiate [de la réglementation nouvelle]
entraîne, au regard de l’objet et des effets de ses dispositions, une atteinte excessive aux
intérêts publics ou privés en cause”. Reprenant cette formule, le Conseil d’Etat a ainsi
annulé des arrêtés modifiant profondément les épreuves d’un concours administratif, en
considérant que ce bouleversement, parce qu’il s’appliquait immédiatement sans laisser
un délai suffisant de préparation aux candidats, était contraire au principe de sécurité
juridique (CE 25 juin 2007, Syndicat CFDT du ministère des Affaires étrangères48).
Depuis, même si la sécurité juridique n’a pas été considérée comme méconnue,
d’autres arrêts sont venus appliquer cette règle dans cette logique,49 le principe de
sécurité juridique pouvant même expliquer, implicitement cette fois, certaines règles
relatives à l’entrée en vigueur de dispositions législatives.50
45
A noter que le Commissaire du gouvernement Y. Aguila considérait au contraire que le décret était suffisamment
prévisible pour que soit écartée l’exigence de dispositions transitoires. Mais le décret est annulé par le Conseil
d’Etat, “en tant qu’il ne comporte pas de mesures transitoires relatives aux mandats de commissaires aux
comptes en cours à la date de son entrée en vigueur intervenue, conformément aux règles de droit commun, le
lendemain de sa publication au Journal officiel de la République française du 17 novembre 2005”. Le 24 avril
2006, le Gouvernement a, par conséquent, adopté un décret laissant aux commissaires aux comptes un délai de
plus de trois mois pour se mettre en conformité avec les nouvelles dispositions.
46
Voir, par exemple: CE nº 344972 et s. (38 requêtes), 16 novembre 2011, Société Ciel et Terre et autres: la mesure
attaquée “ne peut être regardée comme ayant entraîné une atteinte excessive aux intérêts en cause [...] le pouvoir
réglementaire a laissé aux producteurs un délai raisonnable [...] le moyen tiré de la méconnaissance du principe
de sécurité juridique doit, dès lors, être écarté”; CE nº 334183, SNC Doux élevage et nº 334215, UKL-ARREE,
28 novembre 2011: la décision “n’est pas entachée d’une rétroactivité illégale et ne peut être regardée comme
contraire au principe de sécurité juridique”.
47
Nº 287845, Rec. p. 540.
48
Rec. p. 277.
49
Voir, par exemple, CE nº 318071, 29 mai 2009, Syndicat national de chirurgie plastique reconstructive et
esthétique; CE Sect. nº 317937, 08 juillet 2009, Syndicat national C.G.T des chancelleries et services judiciaires;
CE nº 345340 et 345341, 14 novembre 2011, Mme Jacqueline A et autres.
50
Dans le cas particulier de la modification de la composition du conseil d’administration d’un établissement
public, une disposition législative “muette sur ses conditions d’entrée en vigueur et ne nécessitant pas de
mesures réglementaires d’application n’est pas pour autant toujours immédiatement applicable”: CE Sect.
nº 296011, 06 novembre 2009, Réseau ferré de France, DA 2010, p. 28, note F. Melleray. Voir également, concernant
la question de la protection des situations contractuelles en cours: CE Sect. nº 271737, 08 avril 2009, Compagnie
générale des eaux.
51
Rec. p. 451.
52
Voir notamment: CE Ass., 29 juin 2001, Vassilikiotis, Rec. p. 303; CE 27 juillet 2001, Titran, Rec. p. 411; CE Sect.,
03 décembre 2003, Préfet de la Seine Maritime c. El Bahi, Rec. p. 479; CE Sect., 06 février 2004, Mme Hallal, Rec.
p. 48.
53
AJDA 2008, p. 1504. Concernant le droit d’option entre le statut de fonctionnaire territorial et le maintien du
statut de fonctionnaire d’Etat, le Conseil d’Etat reprend exactement les termes du considérant de principe de
la décision Association AC! de 2004, mais glisse ensuite une référence explicite à la “sécurité juridique des
collectivités territoriales et des personnels concernés”, auxquelles “une annulation rétroactive des dispositions
du décret attaqué porterait une atteinte manifestement excessive”; l’annulation du décret illégal (et des actes
individuels qui en découlent) n’est donc prononcée qu’à compter d’une date ultérieure.
Par ailleurs, le juge a reporté les effets de l’annulation d’un relèvement illégal du seuil des marchés publics
dispensés de publicité et de mise en concurrence (CE nº 329100, 10 février 2010, Perez, Rec. p. 17), ou encore,
concernant la rémunération du droit d’auteur, il a retenu une date d’effet intermédiaire entre celle de l’édiction
de l’acte et celle de son annulation (CE 17 décembre 2010, SFBI, Association UFC Que choisir, SA Rue du
commerce, AJDA 2011, p. 854).
Cependant, le Conseil d’Etat applique parfois la jurisprudence Association AC! seule, sans mentionner le
principe de sécurité juridique pourtant consacré par l’arrêt KPMG. Voir, par exemple, à propos de l’annulation
de la nomination de magistrats, les arrêts Sire et Vignard (précités) du 12 décembre 2007 ou encore, à propos
de l’annulation de dispositions réglementaires relatives à la liste des pôles de l’instruction, l’arrêt Kierzkowski-
Chatal du 19 décembre 2008 (AJDA 2008, p. 2427).
54
CE Sect. 10 mars 2006, Société Leroy-Merlin, RFDA 2006 p. 551, concl. Struillou.
55
Nº 291545, Rec. p. 360, GAJA nº 115.
56
Le juge peut notamment, en cas d’illégalité d’un contrat invoquée par un concurrent évincé, “après avoir
vérifié si l’annulation du contrat ne porterait pas une atteinte excessive à l’intérêt général ou aux droits des
cocontractants”, “annuler, totalement ou partiellement, le cas échéant avec un effet différé, le contrat”. Avec ce
nouveau recours, l’arrêt Tropic prolonge donc l’arrêt Association AC!.
57
Cette date du 16 juillet 2007 est ensuite rappelée dans les arrêts suivants du Conseil d’Etat. Voir, par exemple:
CE Sect. nº 308717, 17 février 2010, Société Véolia Eau, Compagnie générale des eaux.
58
Voir également: CE Sect. 06 juin 2008, Conseil départemental de l’ordre des chirurgiens-dentistes de Paris, Rec.
p. 204; CE 22 décembre 2008, Société Berri Développement, DA 2009, nº 2, comm. 21.
59
Curieusement, le Conseil d’Etat ne se fonde pas toujours explicitement sur le principe de sécurité juridique,
comme dans l’arrêt Epoux Rigat du 1er octobre 2010 (nº 314297, LPA 07 avril 2011 p. 17, F. Tesson), véritable
revirement jurisprudentiel concernant la présomption en faveur du désistement d’action: “toutefois, les
décisions de justice irrévocables à la date de la présente décision doivent être regardées, lorsque le désistement
dont elles donnent acte n’est pas expressément qualifié, comme ayant donné acte d’un désistement d’action”.
60
Cependant, paradoxalement, dans la mesure où les annulations peuvent désormais, selon les cas, avoir ou non
un effet différé, les arrêts deviennent du même coup imprévisibles...
61
Voir, par exemple: CE nº 324816, 17 juin 2011, Canal Plus distribution (les circonstances créent, “en application
du principe de sécurité juridique, reconnu par le droit de l’Union, une nécessité impérieuse de différer pour une
période de 6 mois l’effet de la présente décision [d’annulation]”).
62
Le Conseil d’Etat a cependant encore parfois besoin de rappeler aux juridictions inférieures, qui estiment qu’il
serait seulement invocable dans le champ d’application du droit communautaire, que “ce principe est reconnu
tant en droit interne que par l’ordre juridique communautaire”(voir, par exemple, CE nº 315066, 30 mars 2011,
M. et Mme Jean-Pierre A).
63
Le Conseil d’Etat parle parfois d’“exigence”(CE nº 298810, 14 avril 2008, Fédération nationale des plages
restaurants) ou d’“impératif”(CE nº 322980, 11 octobre 2010 Syndicat CFDT du Ministère des affaires étrangères;
CE Sect. nº 308717, 17 février 2010, Société Véolia Eau, Compagnie générale des eaux) de sécurité juridique.
64
Le Conseil d’Etat, dans son arrêt KPMG, n’a pas suivi les conclusions de Y. Aguila qui suggérait de consacrer un
“principe général”.
65
Voir, par exemple: CE nº 344972 et s., 16 novembre 2011, Société Ciel et Terre et autres.
66
CE nº 306172, 25 février 2011, M. Coudouneau.
D’abord, il dissocie sécurité juridique et qualité des normes. Par exemple, le moyen
tiré de ce que des dispositions, considérées comme imprévisibles et d’“une complexité
excessive”par les requérants, mais qui, pour le juge, “s’adressent à des praticiens [...]
astreints [...] à la tenue d’une comptabilité”, porteraient atteinte “au principe de sécurité
juridique et aux exigences d’intelligibilité de la norme”est écarté.67 Il s’agit de deux
impératifs différents. Ou encore, le juge distingue le principe de sécurité juridique et le
principe de clarté et d’intelligibilité des normes, puis glisse sur le premier sans le traiter.68
A l’inverse, quand il statue dans le champ d’application du droit communautaire, les
éléments liés à la qualité normative réintègrent le principe de sécurité juridique. Le
Conseil d’Etat énonce, par exemple, que les dispositions attaquées “n’ont pas eu pour
effet de porter atteinte à la clarté et à la prévisibilité des règles juridiques [...] et que,
par suite, les moyens tirés de la méconnaissance des principes de sécurité juridique et
de confiance légitime ne peuvent qu’être écartés”, l’Etat n’ayant pas, à ce titre, commis
de faute de nature à engager sa responsabilité.69
Ensuite, quand l’ordre des avocats soutient que les dispositions d’un décret
“méconnaissent le principe de sécurité juridique en ce qu’elles ne déterminent pas les
composantes juridiques de la fraude fiscale”, le Conseil d’Etat considère simplement,
pour écarter ce moyen fondé sur l’imprécision des textes, que la définition du délit de
fraude fiscale relève “en tout état de cause du domaine de la loi”.70
Par ailleurs, ce n’est pas le principe mais l’“objectif de sécurité juridique”poursuivi
par un décret qui justifie que les personnes concernées soient informées,71 la sécurité
juridique étant comme rétrogradée quand il est ainsi question de l’accessibilité au droit.
Ou encore, si les requérants font appel au principe de sécurité juridique s’agissant
de l’invocabilité de la doctrine administrative, le Conseil d’Etat, tout en reconnaissant
que le principe de sécurité juridique est reconnu en droit interne, fonde sa décision
d’annulation uniquement sur l’article L. 80 A du Livre des procédures fiscales.72
La sécurité juridique n’est donc pas clairement appréhendée dans tout ce qu’elle
implique. Ces jurisprudences donnent l’impression que le juge reste prudent et ne
veut pas être lié par tous les corollaires du principe. Paradoxalement, dans certains
cas, il semble toutefois, à l’inverse, accepter de lui conférer un contenu qui le dépasse.
Ainsi, le Conseil d’Etat reçoit l’argument de l’ordre des avocats, qui estime que des
dispositions réglementaires “méconnaissent le principe de sécurité juridique en ce
qu’elles contraignent les avocats à vérifier de manière systématique si certains faits
ont eu lieu alors que ces faits se situent en dehors de leur domaine de compétence
professionnelle”. Le juge prend acte, même s’il rejette le moyen au fond, le requérant
67
CE Sect. 16 juin 2008, nº 296578, Fédération des syndicats dentaires libéraux et autres, et nº 296590, Syndicat des
chirurgiens dentistes de Paris.
68
CE Sect. nº 285344, 18 juin 2008, Commune de Tremblay-en-France; CE Sect. nº 326871, 12 mai 2010, Syndicat des
chirurgiens dentistes de Paris; CE nº 347609, 02 décembre 2011, FNATH et autres. Cette dissociation s’explique
sans doute par le fait que “l’objectif de valeur constitutionnelle”de clarté et/ou d’intelligibilité de la norme
peut être invoqué seul, et ce avant comme après l’arrêt KPMG (voir, par ex.: CE Sect., 08 juillet 2005, nº 266900
Fédération des syndicats généraux de l’éducation nationale, nº 266944, UNEF).
69
CE Sect. 31 juillet 2009, nº 324925, SAS Cargill France, nº 325172, Ministre du budget, des comptes publics et de
la fonction publique.
70
CE nº 343662, 14 octobre 2011, Ordre des avocats au barreau de Paris.
71
CE Avis nº 334113, 1er avril 2010.
72
CE nº 315066, 30 mars 2011, M. et Mme Jean-Pierre A.
n’étant dès lors “pas fondé à soutenir que le décret attaqué aurait méconnu le principe
de sécurité juridique”ainsi défini.73
2. Si le principe de sécurité juridique est consacré, c’est essentiellement pour
manœuvrer en matière d’application des normes dans le temps. Certes, le principe
traditionnel subsiste, et le Conseil d’Etat le rappelle régulièrement, avant comme après
2006, l’arrêt KPMG n’ayant pas consacré un droit individuel à l’immuabilité des normes:
nul n’a droit acquis au maintien en vigueur d’un règlement existant, un règlement
pouvant être abrogé à tout moment.74 Le principe de sécurité juridique ne fait “pas
obstacle à un changement dans la réglementation”.75 Et les dispositions législatives
et réglementaires sont en principe d’application immédiate, la modification d’une
réglementation pouvant s’appliquer à l’ensemble des situations en cours.76 Toutefois,
d’une part, un texte peut fixer son entrée en vigueur à une date ultérieure, ou prévoir
des “mesures d’application”, comme le prévoit l’article 1 er du Code civil. D’autre
part, désormais, les dispositions nouvelles ne peuvent en principe s’appliquer sans
dispositions transitoires aux situations régulièrement constituées sous l’empire des
anciennes règles (arrêt Mme Lacroix), notamment aux contrats en cours légalement
conclus antérieurement (arrêt KPMG). Pour autant, le principe de sécurité juridique,
“s’il est susceptible de permettre aux cocontractants de poursuivre leurs relations
contractuelles durant une période transitoire, afin de les dénouer dans des conditions
acceptables, ne saurait autoriser la validation pure et simple de ces conventions”.77 Il
n’induit pas de droit subjectif à la fixité des situations.
Ainsi, une partie de l’exigence de prévisibilité est opérante, à savoir l’exigence
concrète d’un droit transitoire dans le contentieux de la légalité. C’est à l’administration
et au juge de peser les intérêts en présence afin de décider dans quels cas des mesures
de transition s’imposent. Et, si le juge annule l’acte pour ce motif, il ne l’annule qu’en
tant qu’il en est dépourvu. Plus que de principe de sécurité juridique, il s’agit bien
de la consécration formelle d’une nouvelle obligation générale, plus précise et ciblée:
celle d’édicter, le cas échéant, des mesures transitoires appropriées, afin que les normes
(législatives, réglementaires, jurisprudentielles) s’appliquent certes, mais en prévoyant
des délais raisonnables (effets partiels, étalés dans le temps ou différés) pour protéger
leurs destinataires contre un changement brusque de l’ordonnancement juridique. Le
Commissaire du gouvernement Aguila (arrêt KPMG) avance qu’“au fond les mesures
transitoires sont à la sécurité juridique ce que les feux oranges sont à la sécurité routière
[...] elles relèvent des règles de ‘bonne conduite’ de l’action publique”. Le Conseil d’Etat
a certes prévu les feux oranges, mais n’a pas établi de code de sécurité routière.
La réponse du juge est par conséquent pragmatique et technique. Preuve en
est que le Conseil d’Etat, juge administrateur, fixe parfois lui-même les dispositions
transitoires que le législateur n’a pas prises.78 Ou encore, il décide, en toute opportunité,
que la période transitoire prévue par un décret est insuffisante: “en se bornant à prévoir
73
CE nº 332126, 14 octobre 2011, Ordre des avocats au barreau de Paris.
74
CE 25 juin 1954, Syndicat national de la meunerie à seigle, Rec. p. 379; Sect. 27 janvier 1961, Vannier, Rec. p. 60.
75
Voir, par exemple: CE Sect. nº 280286, 27 juillet 2006, M. Philippe A.
76
voir par exemple: CE Sect. 19 décembre 1980, Revillod, Rec. p. 479.
77
CE nº 342147, 18 novembre 2011, SNC Eiffage Aménagement, Gazette du Palais, 1er décembre 2011 p. 28.
78
CE Sect. nº 296011, 06 novembre 2009 Réseau ferré de France.
un différé d’un peu plus de trois mois de l’entrée en vigueur des nouvelles dispositions
[...], le pouvoir réglementaire n’a pas pris les mesures transitoires qu’exigeait le respect
du principe de sécurité juridique”.79 Ou, il estime que, comme la nouvelle obligation
prévue par un décret est “de portée limitée”, son application immédiate ne porte pas aux
intérêts en présence une atteinte de nature à imposer l’édiction de mesures transitoires
pour des motifs de sécurité juridique.80
Cette nouvelle obligation d’adopter des mesures transitoires pour des motifs de
sécurité juridique a eu moins d’impact en droit administratif de la responsabilité. La
question peut même se poser de savoir si elle était bien applicable.81 Le Conseil d’Etat,
dans un arrêt de Section du 30 décembre 2009,82 pour se prononcer sur la “responsabilité
de la collectivité d’outre-mer de la Polynésie française”, estime toutefois que l’abrogation
d’une procédure n’a “pas porté d’atteinte excessive à la situation”de la société requérante,
et qu’ainsi, la collectivité d’outre-mer de la Polynésie française n’a commis aucune faute
en s’abstenant d’assortir son arrêté d’abrogation de mesures transitoires: dans la mesure
où il n’y a pas d’illégalité, il n’y a pas de faute.
La consécration explicite du principe de sécurité juridique par le Conseil d’Etat
en 2006 témoigne du rejet d’une prise en compte parcellaire des perspectives de
sécurité juridique telle qu’elle existait antérieurement. Mais, paradoxalement, c’est
finalement pour n’appliquer que l’une des exigences du principe: l’obligation d’édicter
des dispositions transitoires de protection des situations juridiques acquises.
Ce paradoxe en révèle un autre. La réponse technique et concrète du juge français
est l’une de celles que peuvent apporter les juges allemand ou communautaire quand
ils protègent la confiance légitime des administrés et des opérateurs économiques. Le
Conseil d’Etat applique donc sans le dire ce principe subjectif, tout en disant le rejeter.
79
CAA Nancy nº 08NC00412, 1er octobre 2009, Ministre de la défense c. M. Geoffroy, AJDA 2009, p. 2051. Voir
au contraire, concernant des dispositions transitoires jugées suffisantes: CE Sect. nº 289022, 27 juillet 2006, M.
Arnaud A; CE nº 310184, 10 avril 2009, Association pour le maintien de l’élevage en Bretagne; CE Sect. nº 339328,
03 juin 2010, Laboratoires Genevrier, CE nº 322980, 11 octobre 2010, Syndicat CFDT du Ministère des affaires
étrangères.
80
CE nº 345051, 23 novembre 2011, Union française de l’hélicoptère. Voir également: CE nº 342053, 02 décembre
2011, Union collégiale.
81
Le Conseil d’Etat affirme en effet que “la méconnaissance alléguée du principe de sécurité juridique ne peut, en
tout état de cause, engager la responsabilité [pour faute] de l’Etat”(Sect. nº 306951, 17 décembre 2008, Clinique
du plateau). Le juge utilise l’expression couperet “en tout état de cause”, comme lorsqu’il affirme que le principe
de protection de la confiance légitime n’est pas opérant en droit interne.
82
Nº 313281, SARL Morgan Vernex.
83
Dans cet arrêt, si le juge démontre bien une atteinte aux intérêts privés des candidats au concours, rien n’indique
en revanche en quoi elle serait “excessive”. Pour annuler les textes en cause et considérer l’atteinte comme
excessive, le Conseil d’Etat énonce simplement qu’“il n’est pas soutenu que des motifs d’intérêt général
exigeraient leur application immédiate”.
84
Voir, par exemple: CE nº 310146, 06 octobre 2008, Compagnie des architectes en chef des monuments
historiques; CE nº 334911, 20 avril 2011, Syndicat des agences de presse télévisée et autres (opérateur “averti”).
Voir également CE nº 323585, 1er avril 2009, Communauté urbaine de Bordeaux, Société Kéolis, AJDA 2009, p.
1889, note F. Train: en recourant au critère de “l’opérateur économique raisonnablement vigilant, issu de la
jurisprudence communautaire relative à la protection de la confiance légitime”, le Conseil d’Etat opte pour
“une méthode subjective d’interprétation de la notion de publicité adéquate en matière de concession de service
public”.
85
La sécurité juridique objective est un élément possible de l’intérêt général, avant comme après 2006. Ainsi,
le juge considère dans un arrêt de Section du 05 décembre 2005 (nº 278183, Mme Lydie X) ou encore dans un
arrêt du 26 octobre 2011 (nº 312734, Ministre du budget, des comptes publics et de la fonction publique) que les
dispositions législatives en cause ont été édictées “dans un but d’intérêt général, en vue notamment de garantir
la sécurité juridique des collectivités publiques”.
86
CE, Avis nº 334113, 1er avril 2010.
87
CE nº 320196, 16 avril 2010, Association Aides et autres.
Est ainsi consacré un droit subjectif à la sécurité juridique. Et, même lorsque le
Conseil d’Etat n’invoque pas explicitement la sécurité juridique, il lui arrive, comme
avant 2006, d’appliquer en fait l’équivalent du mécanisme de protection de la confiance
legitime.88 Le contrôle de légalité se subjectivise, que le principe de sécurité juridique
soit mentionné ou non.
2. D’autre part, l’obligation d’adoption de dispositions transitoires adéquates
est justement exactement l’un des modes de protection de la confiance légitime là où
le principe est reconnu, notamment en droit communautaire. Le raisonnement est le
même, mais pas le principe que le juge français dit appliquer.
Le juge communautaire impose en effet aussi, le cas échéant (“s’il y a lieu”dit
le Conseil d’Etat dans l’arrêt KPMG), au terme d’une balance des intérêts publics et
privés (cf. l’arrêt Mme Lacroix), aux autorités nationales l’obligation d’édicter des
mesures transitoires, mais sur le fondement du principe de protection de la confiance
legitime.89 C’est d’ailleurs bien en ce sens que l’avait compris le tribunal administratif
de Strasbourg en 1994, dans son arrêt Freymuth. Le Conseil d’Etat a donc consacré le
principe de sécurité juridique, mais pour finalement lui attribuer l’un des effets possibles
du principe de protection de la confiance légitime. Une relecture du considérant de
principe de l’arrêt KPMG permet de le démontrer: “il incombe à l’autorité investie
du pouvoir réglementaire d’édicter [...] les mesures transitoires [l’un des modes de
protection de la confiance] qu’implique, s’il y a lieu [casuistique], une réglementation
nouvelle [rupture de la confiance]; il en va ainsi en particulier [application du principe
combinée avec le droit des contrats] lorsque les règles nouvelles sont susceptibles de
porter une atteinte excessive [balance des intérêts] à des situations contractuelles [base
de confiance, la loi protégeant les contrats] en cours qui ont été légalement nouées [pas
d’application du principe contra legem]”. Le Conseil d’Etat dit appliquer le principe de
sécurité juridique alors que, plus précisément, par un effet réflexif, c’est la confiance
légitime des contractants qui est protégée. Dans l’arrêt Mme Lacroix, le décret en
cause n’appelait sur le fond pas “de dispositions transitoires destinées à en différer ou
à en aménager l’application”, la date d’adoption de ces règles laissant aux personnes
intéressées un temps suffisant pour s’acquitter de leurs obligations. Et même, la nouvelle
règle de procédure “ne nécessitait au regard de son objet et de ses effets, aucune mesure
transitoire”. A l’inverse, en vertu de l’arrêt Syndicat CFDT, une réforme de concours
nécessite un “délai raisonnable pour s’y adapter”, à savoir un report d’une année “à tout
le moins”de son application. Le Conseil d’Etat a confirmé récemment que “le délai d’un
an prévu entre la publication des arrêtés et la date des épreuves écrites des concours
88
Voir, par exemple: CE Sect. nº 312741, 27 avril 2009, Bouygues Télécom. Le juge vérifie si les opérateurs
de téléphonie mobile ont été en mesure, dans des conditions non discriminatoires, de se préparer et
d’“anticiper”l’éventualité de la décision en cause. En l’espère, l’éventualité avait été “clairement annoncée [...] à
l’ensemble des opérateurs”. Le juge apprécie donc le caractère prévisible de l’acte pour les intéressés.
89
Voir, par exemple: CJCE 14 mai 1975 CNTA c. Commission, aff. 74/74, Rec. p. 533, point 44 (“en l’absence
d’intérêt public péremptoire, la Commission, en n’ayant pas assorti la suppression d’une réglementation de
mesures transitoires protégeant la confiance que l’opérateur pouvait légitimement avoir dans la réglementation
communautaire, a violé une règle supérieure de droit”); CJCE 03 mai 1978, Töpfer, aff. C-112/77, Rec. p. 1019;
CJCE 22 juin 2006, Belgique c. Commission, Aff. C 182/03; CJCE 17 septembre 2009, Commission c. Koninklijke
Friesland Campina NV, aff. C-519/07. A noter que les condamnations pour ce motif sont rares. La Cour considère
la plupart du temps que les justiciables, en leur qualité d’opérateurs économiques “prudents et avisés”,
pouvaient prévoir la modification de leur situation juridique. Voir également: CEDH, 15 juin 2006, Lykouzeros
c. Grèce, nº 33554/03.
[...] permet aux candidats et aux enseignants de classes préparatoires de disposer d’un
délai raisonnable pour s’adapter à cette modification”.90
On peut donc en conclure que, comme dans l’arrêt Compagnie des mines de
Siguiri de 1929 pour le contentieux de la responsabilité, c’est par conséquent le principe
de protection de la confiance qui a été reconnu par le Conseil d’Etat. La consécration
explicite utile concerne plus précisément l’obligation de mesures transitoires en cas de
situations juridiques constituées, mode de protection de la confiance des intéressés,
dont il semblerait judicieux qu’il soit (mais lui seul) un jour constitutionnalisé, sous
la forme d’un principe constitutionnel de droit transitoire énonçant clairement son
champ (en matière contractuelle seulement?) et ses conditions d’application (absence
d’intérêt général justifiant une application immédiate?). La consécration implicite
concerne le mécanisme de protection de la confiance, que le juge persiste pourtant à
refuser d’ériger en principe par peur de son “subjectivisme”poussé... Paradoxalement,
la protection de la confiance est finalement garantie sans le dire, grâce à cette lecture
orientée du principe de sécurité juridique. Nul besoin donc de la consacrer en sus; une
telle transposition n’apporterait rien, et risquerait en outre de déstabiliser la conception
fondamentalement objective — même si de plus en plus subjectivisée — du droit français.
Quant au principe cadre de sécurité juridique, il n’est tout au plus que le contenant qui
permet, rétrospectivement, d’expliquer et justifier la logique du juge. Et ce avant comme
après 2006. Le principe consacré n’est pas appliqué dans toute sa mesure et c’est la face
dont le juge ne veut pas comme principe du droit interne qui est efficiente. Il était par
conséquent inutile de reconnaître expressément la sécurité juridique en tant que telle.
Ainsi, le principe établi par le Conseil d’Etat ne couvre que partiellement la notion
de sécurité juridique telle qu’elle est appliquée notamment en droit communautaire,
le juge français n’étant pas allé au bout de la logique de reconnaissance ni du principe
général de sécurité juridique, ni de ses corollaires. L’œuvre est doublement inachevée.
Le principe consacré n’est que partiellement appliqué. Le principe que le juge refuse de
consacrer est largement appliqué, mais dans l’un de ses effets seulement. En tout état
de cause, vouloir dissocier le principe de sécurité juridique du principe de protection
de la confiance légitime en admettant le premier et refusant le second est artificiel et
ne résiste ni à l’usage ni à l’analyse.
Le jeu de la sécurité juridique a complexifié le droit administratif français
avant même qu’il ne soit expressément consacré comme principe. Les catégories
traditionnelles craquent, et l’on ne voit parfois plus trop les contours des principes et
des exceptions à la règle. Paradoxalement, une certaine insécurité juridique en découle,
ce que l’avènement du principe n’a pas corrigé, loin s’en faut. Déjà en soi, le principe-
cadre de sécurité juridique renvoie à de nombreuses exigences et peut donc être
contreproductif, à savoir facteur d’insécurité juridique. C’est d’autant plus vrai quand
il n’est pas défini et quand le juge en fait une utilisation “personnelle”, prudente et
parcellaire. Le Conseil d’Etat a voulu, en toute autonomie et conformément à sa tradition
juridique, consacrer “son”principe”autonome de sécurité juridique, sans doute pour
se démarquer de celui qui est reconnu en droit communautaire, dans une perspective
dualiste. Cette consécration, malgré les apparences, n’obéit donc pas au mouvement
actuel d’harmonisation des systèmes juridiques européens. Comme les termes utilisés
90
CE nº 329233, 03 octobre 2011, H. Aupetit et autres.
et les objectifs restent les mêmes, la méthode se révèle en fin de compte confusionniste
et vectrice d’une complexification du droit.
Le Conseil d’Etat n’a pas soigné sa schizophrénie, bien au contraire. Il a admis en
droit interne un principe que d’autres juges nomment différemment; il n’a pas reconnu
la sécurité juridique telle qu’elle est appliquée en droit communautaire. Et il a transposé
et affiché l’expression sans vouloir de tout ce qu’elle véhicule. Peut-être pour s’aménager
le droit, dans l’avenir, de parachever cette consécration.
Informação bibliográfica deste texto, conforme a NBR 6023:2002 da Associação Brasileira de Normas
Técnicas (ABNT):
I Concepto
1. Seguridad es la cualidad de seguro: “cierto, indudable, de alguna manera
infalible”; “firme, constante, que no está en peligro de faltar o caerse” (Diccionario de
la Real Academia Española).
La seguridad jurídica no responde a esa definición pero, en cuanto principio
esencial del ordenamiento jurídico, pretende aproximarse a ella. Seguridad jurídica es
la cualidad del ordenamiento que produce certeza y confianza en el ciudadano sobre
lo que es derecho en cada momento y sobre lo que previsiblemente lo será en el futuro.
Es, pues, la cualidad del ordenamiento que permite a cada cual orientar su vida en el
mundo jurídico en base al conocimiento de la calificación jurídica que cada supuesto
de hecho, real o imaginado, va a recibir, previsiblemente, del mismo.
2. Asi lo ha entendido la Constitutión, cuando garantiza la “seguridad jurídica”
(art. 9.3) como algo distinto de otras seguridades a las que también otorga su amparo, por
ejemplo, la “seguridad personal” (art. 17); la “seguridad de los consumidores y usuários”
(art. 51), “la seguridad del Estado” [arts. 12 y 105.b)]; la “seguridade pública” (arts.
149.1.29, 28; 70; 104), la “seguridad social” (arts. 41; 149.1.17). El Tribunal Constitucional
ha dejado claro que la “seguridad” mencionada en esos preceptos no es la “seguridad
jurídica” a la que se refiere el art. 9.3 de la Constitución (por ejemplo, SSTC 109/1987;
126/1987; 188/1988; 100/1989; 61/1990; 167/1990, entre otras).
3. Sin embargo, el Tribunal Constitucional no ha querido o no ha podido dar
uma definición de lo que entiende por seguridad jurídica. Lo más que ha hecho ha
sido exponer uma noción muy restrictiva de la seguridad jurídica, referida sólo a
las cualidades del ordenamiento vigente y no a la legítima confianza del ciudadano
en que el contenido de ese ordenamiento no sufrirá modificaciones que alteren sus
proyectos vitales, salvo cuando existan razones graves y suficientemente fundadas
que lo justifiquen.
El Tribunal Constitucional ha enunciado algunas notas que concurren en la
seguridad jurídica (“... es suma de certeza y legalidad, jerarquía y publicidad normativa,
irretroactividad de lo no favorable, interdicción de la arbitrariedad...”) y, saliendo al paso
de que entonces la noción de seguridad jurídica sería superflua, añade que no se trata
de una simple adición de esos principios sino que “la seguridad jurídica es la suma de
esos principios, equilibrada de tal suerte que permita promover em el orden jurídico, la
justicia y la igualdad en libertad” (SSTC 27/1981, de 20 de julio; 97/1987, de 11 de junio;
227/1988, de 29 de noviembre; 150/1990, de 04 de octubre; 174/1998; 203/1998, 225/1998).
En el ámbito de los derechos fundamentales y libertades públicas, la reserva de
ley es el único modo de garantizar las exigencias de la seguridad jurídica (SSTC 37/1989;
150/1989; 85/1994; 49/1996; 54/1996; 49/1999).
En el ámbito sancionador, la seguridad jurídica exige que la descriptión del tipo
penal o de la infracción permita predecir con un grado suficiente de certeza las conductas
sancionadas y el grado de la sanción (STC 194/2000).
Ahora bien, a esta interpretación tan estricta y formal de la noción de seguridad
jurídica cabe oponer outra que reconoce en ella un valor de cierta estabilidad material y
de confianza en los compromisos asumidos por el Estado. Así, el magistrado Francisco
Rubio Llorente, en un voto particular a la Sentencia del Tribunal Constitucional 208/1988,
de 10 de noviembre, critica el sentido extremadamente restrictivo que la Sentencia
27/1981, antes citada, inició en torno al principio de seguridad jurídica (“En un Estado
social y democrático de derecho la seguridad jurídica implica también, a mi juicio, la
necesidad de que el Estado no puede abrogar libremente aquellas normas que... están
precisamente destinadas a dotar de una mínima garantía a determinados grupos
sociales. La seguridad jurídica no exige, ciertamente, la petrificación del ordenamiento,
pero si, creo, el respeto a las garantias enunciadas explícitamente como tales. Por esa
misma razón no podra basarse la decisión de la que discrepo, en nuestra anterior STC
65/1987, pues em ella la clave de la argumentación está precisamente en la afirmación
—Fundamento jurídico 14— que no se habían quebrantado ni desconocido “los
compromisos asumidos por el Estado”).
4. De esta manera queda formulada la contraposición entre dos concepciones de
la seguridad jurídica. Una, estrictamente formal que sólo exige claridad y precisión de
las normas y del ordenamiento jurídico en su conjunto (“... el legislador debe perseguir
la claridad y no la confusión normativa, debe procurar que acerca de la materia sobre
la que se legisla sepan los operadores jurídicos y los ciudadanos a qué atenerse y debe
huir de provocar situaciones objetivamente confusas...” —STC 49/1990); y otra que,
además de esa exigencia, anãde la del valor material de la confianza, la estabilidad y,
en definitiva, la paz social.
Esta segunda concepción apuntada en el voto particular del magistrado Rubio
Llorente, es la que cuenta con mayor tradición en nuestra doctrina. Luis Legaz Lacambra
destacó la “función de seguridad como legitimación de legalidad”. “El Derecho no ha
nacido para rendir culto a la justicia sino para colmar la exigencia de seguridad, de
certeza en la vida social... para hacer posible la vida humana, la vida con los demás.”
“La justicia es un valor más alto que la seguridad y el orden y condicionante de estos
valores, pero, al mismo tiempo, el orden y la seguridad son valores mas consistentes y
ontológica y ónticamente condicionantes de la justicia.” “Sólo sobre la base de un orden
se puede hablar de justicia o injusticia en la sociedad; sin ese orden se puede hablar
de ideas o ideales de justicia, pero no de justicia existente” (Filosofia del Derecho, 2. ed.,
1961, p. 583 y ss.). También para Jaime GUASP el primero de los dos grandes princípios
fundamentadores de todo lo jurídico es aquel que recoge “el impulso o impulsos de
una sociedad ya constituida como tal hacia su normal conservación”. “La paz puede
definirse como aquel princípio que explica la persecución por una sociedade de su propio
mantenimiento.” “La paz en cuanto fundamento del Derecho da lugar a la seguridad
es hoy una tarea más compleja que nunca lo ha sido y todo parece indicar que en un
futuro inmediato la complejidad seguirá creciendo hasta que llegue el momento, todavia
lejano, de la gran simplificación.
La seguridad jurídica exige un ordenamiento bien construido en sus principios,
estructura, calidad de las normas que lo integran, publicidad y viabilidad. Si no cumple
estos requisitos, no es un ordenamiento porque no es fuente de orden y de seguridad
sino causa de desorden e inseguridad. La realización de los valores del ordenamiento
“la libertad, la justicia, la igualdad y el pluralismo político” (art. 1. 1 CE) exige tanto
preceptos materiales que los incorporen, como requisitos formales que hagan lo más
segura posible su interpretación y aplicación. La seguridad jurídica que la Constitución
garantiza (art. 9.3 CE) es un valor que debería figurar también en el artículo 1.1 de la
Constitución (PECES-BARBA).
Las características actuales del ordenamiento juridico español, ordenamiento aberto
a múltiples fuentes (tanto del interior como consecuencia de la autonomía normativa
ampliamente reconocida, como del exterior, como consecuencia de la incorporación a
la Comunidad Europea y al orden internacional) y ordenamiento extraordinariamente
móvil (por la incesante formulación y reformulación de principios y normas) obligan a
cuidar cada vez más las técnicas que permiten mantener su unidad, y su continuidad
en el tiempo. De ahí la importancia creciente de la técnica normativa y su concreción en
directrices para la elaboración de las normas cuyo sentido no es otro que el de realizar
el principio de la seguridad jurídica.
2. La plenitud y efectividad global del ordenamiento juridico español (arts. 1.1
y 9.1 CE; 5 LOPJ y 1 CC) debe hacer posible la obligación de resolver de acuerdo con el
sistema de fuentes establecido que vincula tanto a jueces y magistrados (arts. 1.7 CC; 361
LEC; 357 CP) como a la Administración (art. 89.4 LRJPA). La prohibición de non liquet
solo está justificada si el ordenamento jurídico ofrece seguridad suficiente de que las
decisiones pueden entenderse fundadas en el mismo y no en el arbitrio de quien decide.
Los requisitos que la seguridad jurídica exige del ordenamiento (unidad
estructural y continuidad en el tiempo) y de las normas que lo integran (calidad,
publicidad, viabilidad) se examinan en la voz técnica normativa.
1. Reglas generales. La seguridad que crea la efectiva sujeción del poder público
al ordenamiento, presupone que,
- el poder se va a ejercer por órganos que tienen predeterminada su competencia;
- la elección o la selección de los titulares del poder se ajusta a reglas que ase
guran la legitimidad del acceso a las funciones y cargos públicos, de acuerdo
con el principio democrático o, en su caso, de legalidad funcionarial (arts. 1, 23 y
103 CE);
- el ejercicio del poder está sometido a un procedimiento configurado para facilitar
el acierto y la legalidad de las decisiones;
- la publicidad y la transparencia impiden la eficacia externa de decisiones secretas
o la motivación oculta de las mismas;
- el ejercicio del poder esta sometido a un control que elimina las decisiones ile
gales, arbitrarias, y obliga a reparar los daños causados.
Las reglas mencionadas se incorporan a las normas que regulan el ejercicio del
poder político, legislativo, ejecutivo y judicial.
2. Ejercicio del poder político y legislativo.
En un Estado democrático de Derecho, cuya forma política es la monarquia
parlamentaria (art. 1 CE), el ejercicio del poder político y del poder legislativo están
interrelacionados de tal manera que las reglas de composicion y de actuación de uno
y otro se condicionan recíprocamente. Por lo que a la seguridad jurídica concierne, los
órganos colegiados que representan a los ciudadanos y los órganos de gobierno que
gozan de su confianza deben integrarse y actuar de acuerdo con reglas preestablecidas
que permitan prever el marco general de sua actuación.
A) En relación a las asambleas legislativas, la Constitución garantiza la existência
de una norma con naturaleza de ley orgánica que regule el “régimen electoral general”
(art. 81.1 CE, y LO 5/1985 aplicable a las elecciones de Diputados y Senadores a las
Cortes Generales, a las elecciones de miembros de las Corporaciones Locales, a las de
Diputados del Parlamento Europeo y, en parte a las de miembros de las Asambleas
de las Comunidades Autónomas). Sin embargo, Ia seguridad jurídica no llega a
exigir que aquellos que han sido elegidos en consideración al programa de actuación
política que han defendido durante la campaña electoral queden vinculados por
ese programa. Tampoco existe una norma que obligue a los partidos a cumplir sus
programas sancionando juridicamente su incumplimiento. Más bien, por el contrario,
lo que la Constitución garantiza es la independencia de los miembros de las Cámaras
estableciendo para ello, además de la prohibición del mandato imperativo (art. 67.2
CE), la prevision de que la ley electoral determine las causas de inelegibilidad e
incompatibilidad de Diputados y Senadores (art. 70.1 CE), la inviolabilidad e inmunidad
parlamentarias y la previa autorización para su inculpación o procesamiento (art. 71).
Todo ello contribuye a fortalecer la posición individual de los parlamentarios (al menos
en teoría, ya que en la práctica existe una ferrea disciplina en los grupos parlamentarios
que anula, hacia el exterior, la libertad de sus miembros), pero no asegura a los
ciudadanos que éstos vayan a ajustarse a las promesas realizadas durante la campaña
electoral. En cambio, el sometimiento de las decisiones de las Cámaras, tengan o no
valor de ley, a un procedimiento preestabelecido que garantice la participación en ellas
de las minorías y la publicidad de los debates, salvo excepciones tasadas, contribuye a
la seguridad jurídica en la medida en que puede permitir conocer con antelación tales
decisiones así como la voluntad del legislador. El control de la actividad de las Cámaras
ningún caso, pueda producirse indefensión” (art. 24 CE) implica que esa tutela se va a
ejercer de acuerdo con el principio de la seguridd jurídica. Esto es, con la seguridad de
que se va a ejercer exclusivamente por jueces y magistrados predeterminados por la
ley (art. 24.1 CE) independientes, inamovibles, responsables y sometidos únicamente
al imperio de la ley, segun normas de competencia y de procedimiento que no van a
causar indefensión, y cuyas resoluciones, debidamente motivadas, van a tener plena
eficacia frente a todos, incluso frente a los propios jueces y Tribunales (arts. 117 y ss. CE).
La seguridad que puede exigirse al ejercicio del poder judicial (la realización
efectivade la tutela judicial) es, como toda seguridade jurídica, relativa. Lo único que
puede hacer el Derecho positivo es establecer unas reglas que razonablemente permitan
suponer que las resoluciones judiciales adoptadas conforme a ellas se van a ajustar lo
más posible al Derecho vigente y que, por tanto, van a concretar en cada caso la solución
que resulta del ordenamiento. A ello hay que añadir que la aplicación del derecho a
cada caso acumula a la inseguridad del imperio de la ley la inseguridad que genera la
voluntad personal de quien en último término decide. No obstante, el Estado de Derecho
se caracteriza por las reglas que intentan reducir al mínimo ambas inseguridades. Con
esas reglas se pretende que quien decide reúna condiciones personales y estatutarias
que permitan suponer que su decisión va a estar fundada en Derecho; se pretende
que el procedimento que necesariamente debe preceder a su decisión asegure que los
afectados por ella no van a sufrir indefensión; y se pretende que la resolución misma va
a estar motivada en derecho y va a poner fin al conflicto. Ciertamente, las resoluciones
judiciales firmes nunca serán la última palabra porque ellas mismas necesitan ser
interpretadas, pero el principio de intangibilidad de los fallos judiciales crea, al menos,
la seguridad de que la decision adoptada no va a ser revisada nada más que en los
supuestos extraordinários previstos por el legislador.
A) La predeterminación por la ley del juez competente para juzgar y ejecutar lo
juzgado en todo tipo de procesos, es una exigencia de la seguridad jurídica garanti
zada por la Constitución (arts. 24.2 y 117.3). También lo es que los jueces y magistrados
tengan garantizado un estatuto que les permita ejercer su función de forma personal
mente responsable, sometidos únicamente al “imperio de la ley”. Para ello se garantiza
su independencia, tanto externa, frente a injerencias de otros poderes públicos o pri
vados, como interna, frente a la propia organización del Poder Judicial (sólo pueden
ser separados, suspendidos, trasladados o jubilados por alguna de las causas y con
las garantias previstas en la ley —art. 117.2 CE—; y, además, “en el ejercicio de la
potestad jurisdictional, los Jueces y Magistrados son independientes respecto a todos
los órganos judiciales y de gobierno del Poder Judicial”; de modo que “no podrán los
jueces y Tribunales corregir la aplicación o interpretación del ordenamiento jurídico
hecha por sus inferiores en el orden jerárquico judicial sino cuando administren
justicia en virtud de los recursos que las leyes establezcan; tampoco podrán los jueces y
Tribunales, órganos de gobierno de los mismos o el Consejo General del Poder Judicial
dictar instrucciones de caracter general o particular, dirigidas a sus inferiores sobre la
aplicación e interpretación del ordenamento juridico que Ileven a cabo en el ejercicio
de su función jurisdicional” —art. 12 LOPJ). La garantia de esta doble independencia
tiene por finalidad primar la posición personal de cada juez en la interpretación y
aplicación del Derecho y presupone, por tanto, la creencia de que la seguridad jurídica
que proporciona el ordenamiento se realiza mejor cuanto mayor sea el compromiso
“personal” de cada juez con la decisión que adopta según su íntima convicción, libre
de interferencias ajenas. Por ello, la sentencia no es anónima (art. 248 LOPJ), sino que,
por el contrario, debe figurar en ella el nombre del juez que la dicta y, caso de tratarse
de un Tribunal, el nombre de los miembros de la Sala o de la Sección y, en especial, el
del magistrado ponente que la redacta. El compromiso “personal” que el magistrado
tiene sobre el contenido de la sentencia se pone de manifiesto en la posibilidad de que
el ponente decline la redacción de la resolución cuando no se conforme con el criterio
de la mayoría, formulando motivadamente su voto particular (art. 206 LOPJ).
B) La seguridad jurídica exige que la resolución judicial se adopte seguido un
procedimiento, predeterminado por la ley (art. 117.3 CE), público (art. 24.2 CE) y
predominantemente oral (art. 120.2 CE), que proporcione a todos la seguridad de que
se va a tramitar sin dilaciones indebidas, y con las garantías de audiencia, defensa y
prueba plena. Además, la seguridad jurídica impide que se pronuncien resoluciones
judiciales que afecten a personas que no han sido demandadas (litisconsorcio pasivo
necesario) o no han sido emplazadas en forma (SSTC 103/1993) o no han sido informadas
de su condición de inculpados (SSTC 128/1993 y 129/1993). Los órganos judiciales deben
decidir conforme a lo alegado por las partes, oídas contradictoriamente, sin que pueda
justificarse la resolución judicial inaudita parte más que en caso de incomparecencia
por voluntad expresa o tácita o por negligencia imputable a la parte interessada (SSTC
112/1987; 151/1987; 66/1988; 74/1993).
C) La seguridad jurídica exige que las sentencias sean siempre motivadas y sus
pronunciamientos pongan fin a los conflitos que dirimen.
a) La motivación de las sentencias (arts. 24 CE y 248.3 LOPJ) y también de los
autos (art. 248.2 LOPJ) debe proporcionar un conocimiento suficiente de los fundamentos
del fallo y del alcance de éste, de manera que las partes y todos los afectados puedan
conocer con certeza suficiente qué es lo que se ha decidido y por qué se ha decidido
(SSTC 30/1987 y 200/1989). Las sentencias deben ser “claras, precisas y congruentes”,
formuladas expresando en párrafos separados y numerados los antecedentes de hecho,
los hechos probados, los fundamentos de Derecho y, por último, el fallo (arts. 248 LOPJ;
218 LEC; 142 LECr.). En el caso de autos o sentencias de Tribunales, los acuerdos se
adoptan por mayoría absoluta de votos, salvo que expresamente la ley señale una
mayor proporción (art. 255 LOPJ). Al no exigirse unanimidad, es posible que algunos
de los magistrados de la minoría quieran dejar constancia pública de las razones de su
desacuerdo, a lo que se ha opuesto, durante mucho tiempo, el argumento de que ello
debilita la fuerza de convicción de la resolución judicial. Hoy, sin embargo, prevalece
la opinion de que los ciudadanos tienen derecho a conocer integramente el proceso de
formación de la voluntad judicial (salvo las deliberaciones que son secretas) aunque
ello pueda romper la apariencia de seguridad de la resolución judicial. Se pueden, pues,
formular y publicar votos particulares, pero siempre, claro es, que su contenido haya
sido defendido durante la deliberación del fallo (art. 260 LOPJ; art. 90.2 LOTC) lo que,
en cierto modo, contribuye también a la seguridad jurídica pues ayuda a interpretar la
resolucion judicial al dar publicidad a los argumentos que se han rechazado.
La obligación de motivar las sentencias exponiendo con claridad y precisión sus
fundamentos juridícos contribuye a hacer previsibles los pronunciamientos judiciales y,
por tanto, a hacer real la seguridad jurídica. No obstante, esa seguridad no exige que los
órganos judiciales queden vinculados indefinidamente por su interpretación anterior
del Derecho, pero sí obliga, a que se justifiquen las razones del cambio de doctrina
(SSTC 161/1989 y 91/1990).
b) La autoridad de cosa juzgada propia de las sentencias firmes (arts. 118 CE;
245.3 LOPJ; 222 LEC; 141 LECr., 1.251 y 1.252 CC) es una exigencia de la seguridad
jurídica, que sólo cede en los casos extraordinarios de los recursos de revisión (STC
53/2000). Por tanto, frente al planteamiento de una cuestión ya resuelta por sentencia
firme cabe oponer la excepción de cosa juzgada (excepción perentoria, art. 421 LEC;
artículo de previo pronunciamiento, art. 666.2.º LECr.). Puede ocurrir, sin embargo,
que dos órganos jurisdiccionales distintos aprecien unos mismos hechos de forma
contradictoria. El Tribunal Constitucional ha declarado que ello infringe la seguridad
jurídica: “Si el respeto a la independencia de cada órgano judicial es principio básico
de nuestro ordenamiento júridico, no es menos cierto que unos mismos hechos no
pueden existir y dejar de existir para los órganos del Estado” (STC 77/1983), de modo
que “a los mas elementales criterios de la razón jurídica repugna aceptar la firmeza de
distintas resoluciones judiciales en virtud de las cuales resulte que unos mismos hechos
ocurrieron y no ocurrieron, o que una misma persona fue su autor y no lo fue”. Ello
vulneraria la seguridad jurídica —art. 9.3 CE— y la tutela judicial efectiva —art. 24 CE—
(STC 62/1984). La vía para resolver las contradicciones entre resoluciones judiciales es
dificil de articular. El Tribunal Constitucional ha pedido al legislador que establezca
un mecanismo para su solución dentro de la justicia ordinaria, pero mientras esto no
ocurre, el Tribunal deja abierta la via del amparo (STC 158/1985). En todo caso, los hechos
declarados probados por sentencia firme tienen que ser aceptados como tales por la
Administración (así, el art. 137.2 LRJPA dispone que “los hechos declarados probados
por resoluciones judiciales penales firmes vincularán a las Administraciones Públicas
respecto de los procedimientos sancionadores que substancien”).
La determinacion de aquella parte de la sentencia que integra la cosa juzgada
puede plantear cierta inseguridad debido a que no todos los pronunciamientos de la
sentencia tienen igual valor. La cosa juzgada esta integrada por el fallo y su fundamento
determinante (ratio decidendi); lo demás (obiter dictum) no forma parte de la cosa juzgada,
aunque tenga tambien valor de antecedente dotado de autoridad (STC 9/1991). Por
ello la seguridad jurídica exige que la sentencia se redacte precisando con claridad
lo que constituye cosa juzgada y omitiendo todo aquello que no sea necesario para
fundamentar el fallo.
El principio de intangibilidad de las resoluciones judiciales afecta a los propios
jueces y Tribunales que la dictaron, de modo que una vez firmadas no pueden variar
su contenido, pero si “aclarar cualquier concepto oscuro o suplir cualquier omisión
que contengan” (arts. 267 LOPJ; 214 LEC; 161 LECr.) sin que ello pueda implicar
alteración del contenido de la sentencia misma (STC 142/1992). Se trata, pues, de una
manifestación formal de la seguridad jurídica que impide al juzgador reconsiderar
sus resoluciones. La irrevisibilidad de una resolución anterior por comparación con
una resolución posterior se basa en la seguridad jurídica (STC 132/1997, 29/1998). El
mismo principio de seguridade jurídica justifica que los precedentes deban referirse al
momento de la resolución de admisión a trámite del recurso (acto judicial que resulta
de una fiscalización de los requisitos procesales) STC 62/1999.
El ejercicio del derecho de gracia y la amnistía afectan a la seguridad jurídica que
deriva de las situaciones consolidadas por sentencias firmes pero constituye uno “de
los límites que han sido impuestos a la seguridade jurídica en aras de la prevalencia
de la justicia material” (STC 147/1986).
de las sanciones es una exigencia de la seguridade jurídica que rige incluso en aquellos
supuestos en los que no está prevista por la norma” (STS —3.a— de 05 de enero de
1992, At. 711).
H) El derecho a ampararse en las presunciones contribuye a la seguridad jurídica,
al invertir la carga de la prueba en favor del mantenimiento del estado actual de las
situaciones. Así, la presunción de inocencia (art. 24.2 CE), la presunción de filiación
derivada de la posesión de estado (arts. 113, 131 y 140 CE), las presunciones posesorias
(arts. 448 a 450, 459 y 466 CC) y la presunción de buena fe (art. 434 CC).
3. El principio de la seguridad jurídica proclamado en el articulo 9.3 CE, al no
encontrarse dentro del ambito de aplicación del recurso de amparo (art. 53.2 CE), no
puede invocarse como precepto infringido que fundamenta ese recurso, pero siendo
“un valor que ha de informar el ordenamiento jurídico y presidir la conducta de los
poderes públicos” guarda conexión con otros derechos fundamentales y puede ser
invocado conjuntamente con ellos. Así lo ha declarado el Tribunal Constitucional en
reiterada jurisprudencia (SSTC 119/1988; 12/1989- 133/1989; 196/1991).
Referencias
CONSEJO DE ESTADO, Memoria 1992, Madrid, 1993.
GARCÍA DE ENTERRÍA, E., Justicia y seguridad jurídica en un mundo de leyes desbocadas, 1999.
GUASP, J., Derecho, Madrid, 1971.
LAVILLA ALSINA, L., Seguridad jurídica y función del derecho, Discurso de recepción en la RA de Jurisprudencia
y Legislación, 1999.
LEGAZ LACAMBRA, L., La función de seguridad como legitimación de legalidad, en “Filosofia del Derecho”,
2. ed., 1961.
PALMA FERNANDEZ, J. L., La Seguridad jurídica ante la abundancia de normas, 1997.
PECES-BARBA, G., La seguridad jurídica desde la filosofía del Derecho, “ADH”, 6, 1990.
PEREZ LUÑO, A. E., La seguridad jurídica, 1991.
SERRANO TRIANA, A., La función de la seguridad jurídica en la doctrina del Tribunal Constitucional, “Libro
Homenaje a J. L. Villar Palasi”, 1989.
Informação bibliográfica deste texto, conforme a NBR 6023:2002 da Associação Brasileira de Normas
Técnicas (ABNT):
SAINZ MORENO, Fernando. Seguridad jurídica. In: VALIM, Rafael; OLIVEIRA, José Roberto Pimenta;
DAL POZZO, Augusto Neves (Coord.). Tratado sobre o princípio da segurança jurídica no direito administrativo.
Belo Horizonte: Fórum, 2013. p. 117-130. ISBN 978-85-7700-728-8.
I Introducción
El estudio de los principios generales del Derecho en el campo del Derecho
Administrativo puede realizarse de muy diferentes formas, atendiendo a distintos
puntos de vista. Se puede, por ejemplo, analizar su condición de fuente del Derecho y
explicar cuáles son sus peculiaridades proyectadas sobre nuestra disciplina. Es posible,
también, estudiar específicamente su carácter de elemento informador y transversal de
todo el Ordenamiento jurídico-administrativo. Igualmente, se puede poner el acento
desde su conexión a la dimensión ética y a su incidencia sobre el plano de los valores.
Además, nos podemos situar a partir del análisis de los principios políticos que presiden
el Estado social y democrático de Derecho o centrarse en el estudio de los aforismos,
de las técnicas de argumentación, de las reglas de interpretación o de determinados
criterios procesales. Es decir, como señala Santamaría Pastor, existe una pluralidad de
significados y de aproximaciones en relación con los principios generales que hacen
necesario clarificar y concretar el objeto de la reflexión.
Si bien es cierto que la doctrina con frecuencia utiliza la expresión principios
generales del Derecho para referirse a una pluralidad de expresiones, en mi opinión los
principios generales son principios que hacen presente y operativa la idea de justicia.
Son, como su propio nombre indica, previos a la norma, coetáneos a ella y elementos
que facilitan la interpretación de la norma con arreglo a los parámetros de la justicia,
del Estado de Derecho, que como decía Klein es en esencia un Estado de justicia.
En un mundo de hipertrofia normativa, en un mundo en el que las normas
jurídicas no es que sean un dechado de perfección técnica, en un mundo el que existe
una relativa dictadura del positivismo, es menester volver a pensar en el sentido y
la función del Derecho, en el sentido y la función del Derecho Administrativo. Pues
bien, las reflexiones que siguen parten de este convencimiento: gracias a los principios
generales el Derecho sigue siendo el Derecho. Quiero con ello decir simplemente que
frente a la tentación, no siempre resistida, de convertir al Derecho Administrativo en
una herramienta o instrumento del poder público o económico, la encarnación principal
principios precipita la degradación del Derecho. En efecto, hoy en día, sin ser demasiado
pesimista, más bien realista, podemos afirmar sin temor a equivocarnos que frente al
intento, sistemático y pertinaz, de convertir el Derecho Administrativo en un mero
apéndice del poder, los principios generales se levantan como valladar inexpugnable
que permite evitar esta terrible operación. Antes bien, el Derecho Administrativo del
Estado de Derecho debe mucho a los principios generales. Tanto que si no fuera por
ellos, probablemente la lucha contra las inmunidades del poder de la que habla García
de Enterría hubiera sido desigual y con un claro vencedor.
La sentencia que acabamos de citar contiene, además, un comentario que vale la
pena señalar. Si los principios generales han de inspirar a la norma en cuya virtud se
atribuyen competencias a la Administración pública, el ejercicio de dichas competencias
o atribuciones habrá de realizarse en el marco de dichos principios generales.
Consideración que es bien relevante para comprender el modo y la manera de ejercer
el poder en una sociedad democrática en la que resplandece, o debe resplandecer, el
Estado de Derecho. Es más que el ejercicio de las potestades administrativas, como señala
la sentencia, ha de realizarse de acuerdo con los principios generales, asegurándose de
esta manera que, en efecto, a través de los poderes y potestades que el Ordenamiento
atribuye a la Administración, ésta realice en la realidad cotidiana ese servicio objetivo
al interés general de que trata el artículo 103 de la Constitución.
El Tribunal Supremo, tratando acerca del principio de proporcionalidad en
materia sancionadora, aprovecha la sentencia de 25 de mayo de 1998 para traer a colación
algunas reflexiones sobre la historia y la naturaleza de los principios generales que bien
vale la pena reproducir y glosar porque parten de una concepción de los principios
de signo diferente al anteriormente mentado. En este caso, el Tribunal Supremo sólo
contempla los principios desde la perspectiva de la fuente y desde la perspectiva de la
complitud cuando de cubrir alguna laguna se trata. Es una dimensión de los principios,
pero no es la única y, en mi opinión, tampoco es la más importante. Lo relevante, como
hemos señalado, atiende a su condición de criterios inspiradores y fundantes del
Ordenamiento jurídico, a su condición de fundamentos, de pilares del Ordenamiento
jurídico administrativo.
Pues bien, como fuente del Derecho y como criterio general para resolver
problemas de interpretación, el Tribunal Supremo en la citada sentencia de 1998 señala
que “remontándonos a la Historia, en Grecia y en Roma y en la Edad Media, el Derecho
objetivo propiamente dicho era la ‘lex’, que estaba adornada con la nota característica —
hoy también es así— de la generalidad. Ciertamente que junto a la `lex`, existían normas
no escritas —la equidad, la tradición, los principios jurídicos, etc.— impuestas bien por
condiciones morales, bien por convicciones jurídicas. Estas normas no escritas, al margen
de lo jurídico tenían valor; y en el campo de lo jurídico, el valor de las mismas lo daba
su íntima relación con la norma escrita. En la Edad Moderna y, si queremos, mejor con
la Codificación, no se cuestionó la existencia de principios jurídicos, pero su aplicación
por el juez solo podía ser con carácter complementario: para completar el sentido de la
ley; por ello se habló se habla de deficiencias y lagunas en la ley que hay que completar
o llenar por el derecho que es suficiente para resolver los conflictos en atención a que,
completada la ley, el Derecho es completo y sin lagunas. Cuándo el sentido para aplicar
una ley se completa con normas no escritas, éstas pasan a integrarse en la Ley escrita”.
La sentencia, desde luego, merece un amplio comentario que excede del alcance
de este trabajo. Si se compara con la transcrita anteriormente, el contraste es patente.
Por un lado, porque atiende únicamente a la función de los principios como fuentes
del Derecho y criterios de interpretación y, por otra, porque manifiesta una perspectiva
positivista que contrasta con el sentido abierto y tendente a la búsqueda de la justicia
que encontramos en la otra sentencia. Por ejemplo, la afirmación de que hoy la ley es
expresión de la voluntad general aparece desmentida por la realidad. Con sólo detenerse
en el repertorio de leyes nacionales y autonómicas elaboradas en 2007 es suficiente para
comprender la desnaturalización de la ley a que asistimos. Entre otras razones, por la
pérdida de sentido de los principios como elementos inspiradores y fundantes del propio
Ordenamiento. Otro comentario que nos llevaría muy lejos es el que refiere la sentencia
cuando entiende que la equidad no es un principio jurídico, cuando probablemente sea
el principio de los principios, la razón de ser de la existencia de los mismos principios.
De igual manera, reducir estas normas no escritas, entre las que se encuentran,
según la sentencia, los principios jurídicos a la imposición de convicciones morales o
religiosas me parece una simplificación puesto que los principios generales del Derecho
se imponen por si solos, por su inextricable conexión con la justicia en la medida en
que son el oxígeno de las normas, la atmósfera en que vive y se desarrolla el sistema
normativo. Por otra parte, entender que los principios generales tienen valor propio al
margen de lo jurídico es también una afirmación bien polémica en la medida en que,
siguiendo el razonamiento, resultaría que el único valor jurídico que podrían tener sería
el de su “íntima relación con la norma escrita”. Es decir, los principios generales serían
principios metafísicos o filosóficos que sólo tendrían sentido para el Ordenamiento si es
que coinciden con el sentido de la norma. Positivismo, pues, en estado puro. Finalmente,
por lo que se refiere al comentario de esta sentencia, pretender que los principios solo
tengan alcance jurídico en la medida que complementen el sentido de la ley es, también,
coherente con este punto de vista que elimina cualquier atisbo de fundamentalidad a
los principios generales.
Desde la perspectiva de fuente del Derecho, para que se apliquen los principios es
menester que no exista ley o costumbre. Así, la sentencia del Tribunal Supremo de 1994
dispone que “para que un principio general de Derecho sea aplicable es necesario que
no existan normas específicas reguladoras de la cuestión planteada: ello, sin perjuicio
de que los principios generales del Derecho incluidos en la Constitución tienen carácter
informador de todo el Ordenamiento jurídico”. Se trata de un pronunciamiento del
Tribunal Supremo, al menos en este considerando, no exento de cierta confusión. Por
una parte porque si se admite que los principios son informadores del Ordenamiento
jurídico, entonces su aplicación será directa en la medida en que gozan de un estatuto
jurídico superior la norma escrita, pues esta ha de inspirarse en ellos. Además, reducir
los principios generales a los que contenga la norma escrita por excelencia como es la
Constitución, es degradarlos a la condición de elementos auxiliares o adjetivos de la
norma escrita, algo que en modo alguno es coherente con la naturaleza de elemento
esencial del Ordenamiento que el propio Tribunal Supremo afirma categóricamente, por
ejemplo, en la sentencia de 16 de mayo de 1990, cuando entiende que éstos son “esencia
del Ordenamiento jurídico, la atmósfera en la que se desarrolla la vida jurídica”. Si son
la esencia, entonces han de impregnar todo el Ordenamiento y, por ello, su aplicación
será directa.
principios generales, en torno a los cuales ha ido cerrándose una tupida y extensa red
de principios y reglas secundarias que han terminado por formar un sistema. Como
sentencia solemnemente este profesor, han sido los principios generales, más que las
normas escritas, las paredes maestras en torno a las cuales se ha ido levantando el
edificio del régimen jurídico de las Administraciones públicas. Edificio que tiene en la
base, en los pilares, los postulados del Estado de Derecho que, como es bien sabido, han
precipitado en un conjunto de principios generales que son los que marcan el rumbo
a toda Administración que pretenda cumplir con su función constitucional de servicio
objetivo a los intereses generales. El Derecho Administrativo bien podría decirse que
nace de la mano de un conjunto de principios que hacen de él un Derecho diseñado
para que el poder público se ejerza de acuerdo con el Estado de Derecho.
Hoy, doscientos años después, la realidad normativa ha superado cualquier
previsión en lo que a cantidad, y calidad, se refiere. Estamos invadidos por toda
clase de normas, estamos inundados de normas para todo y por todo. Es el reino de
la hiperactividad normativa en el que es menester, como también señala Santamaría
Pastor, aferrarse a los asideros seguros desde los que se pueda mantener el destino de
la nave del Derecho Administrativo hacia puerto seguro. Pues bien, el timón del sistema
normativo del Derecho Administrativo, hoy más que nunca, debe estar bien orientado
hacia esos principios generales del Derecho que he denominado fundamentales.
de Estado social y democrático de Derecho. Son, insisto, los principios generales del
Derecho fundamentales: principio democrático, principio de centralidad de la dignidad
del ser humano, principio de participación, principio de libertad, principio de igualdad,
principio de justicia, principio de participación, principio de solidaridad, principio de
pluralismo, principio de seguridad y principio de interdicción de la arbitrariedad de
los poderes públicos. Estos principios, en el plano del Derecho Administrativo, dan
lugar, a su vez, a otros que también siguen siendo centrales en la materia. Tales serían
el principio de buena fe, el principio de racionalidad, el principio de objetividad, el
principio de la buena Administración, el principio de sometimiento de la Administración
a la ley al Derecho o el principio de confianza legítima entre otros. En estas líneas, por
razón de espacio, me voy a referir únicamente a algunos: buena fe, confianza legítima
y seguridad jurídica e interdicción de la arbitrariedad.
Llegados a este punto, podríamos cuestionarnos acerca de la relación entre Ética,
Moral y Derecho. Tema de gran e indudable interés académico que, además, incide
de manera sobresaliente sobre la realidad. Mucho se ha debatido sobre la cuestión
y no es del caso intentar siquiera una breve exposición esquemática de las distintas
opiniones y tesis manifestadas a lo largo de los siglos. Parece razonable que me limite
a lo que pueda tener una relación más directa e inmediata con el tema asignado. En
ese sentido, convendría centrarse en la realidad constitucional española tal y como
venimos haciendo sin perder de vista que por encima y por debajo de la Norma de las
Normas existen principios, parámetros generales que como precipitados de la cultura
jurídica universal del Estado moderno constituyen señales indelebles de la aspiración a
la justicia que ha de caracterizar el funcionamiento y la actuación de todos los poderes
públicos sin excepción. Entre ellos, los derechos fundamentales de la persona ocupan
un lugar bien destacado.
La relación entre Ética y Derecho, para el tema que nos ocupa, ha sido reflejada
por el propio Tribunal Supremo español es la sentencia de 13 de julio de 1982. Los valores
superiores del Ordenamiento jurídico discurren por la senda de lo que podríamos
denominar Ética jurídica, de forma y manera que el solar ético es bien importante en
materia de Derecho Administrativo, no sólo porque obviamente el ejercicio del poder
público haya de conducirse por estos derroteros, sino porque la permanencia de los
valores superiores es la garantía de que el Ordenamiento jurídico en su conjunto se
inspire en los que hemos llamado principios generales fundamentales.
En efecto, la sentencia citada señala que las invocaciones a la Ética y a la Moral
son merecedoras del máximo respeto “puesto que nunca es más noble la función de
los Tribunales que cuándo ésta se desarrolla aplicando el derecho sobre bases éticas,
ya que existe una Ética jurídica, que no es, ni más ni menos, que una sublimación del
Derecho”. El Tribunal Supremo, además, entiende que la Ética no es fuente del Derecho,
sino un “simple estímulo vigorizante de la aplicación de éste”.
El Tribunal Supremo entiende, pues, que el Derecho ha de moverse sobre un suelo
sólido y firme, que no es otro que el de la Ética, Ética jurídica que, en la materia que
nos ocupa en el día de hoy, se encuentra representada por los principios generales del
Derecho de carácter fundamental. La mayor parte, como hemos indicado, están recogidos
en la Constitución y responden al nombre de valores superiores del Ordenamiento
jurídico. Además, la Ética, que no es fuente del Derecho, es elemento vigorizador,
vivificador, robustecedor del Derecho. Los principios generales del Derecho, por tanto,
son la atmósfera que preside la vida de las normas, el oxígeno que respiran, el solar por
el que se mueven y un estímulo que las vigoriza y las fortalece en todo momento. Si
renunciamos, pues, a los principios generales del Derecho condenamos a las normas a
su degradación y perversión, algo que hoy está bastante de actualidad al haber vencido
una idea utilitaria, de uso alternativo, que pone al servicio del poder las normas y los
principios y no al revés.
Unas líneas sobre unos de los principios generales del Derecho más relevantes. Me
refiero a los derechos fundamentales de la persona, a la centralidad de la persona. En su
origen, los derechos fundamentales se concebían como auténticos límites frente al poder
público. Es decir, imponían un ámbito de libre determinación individual completamente
exento del poder del Estado. Esta dimensión de los derechos fundamentales era la lógica
consecuencia del establecimiento de los postulados del Estado liberal de Derecho en
el que el sistema jurídico y político en su conjunto se orientará hacia el respeto y la
promoción de la persona humana en su estricta dimensión individual. Sin embargo,
el tránsito del Estado liberal de Derecho al Estado social ha traído consigo una nueva
dimensión del papel y funcionalidad de los derechos fundamentales. Nueva orientación
que encuentra su apoyo en la superación de la clásica emancipación entre Estado y
Sociedad. Ya no son, los derechos fundamentales de la persona únicamente barreras a
la acción de los poderes públicos. Más bien, se configuran como un conjunto de valores
o fines directivos de la acción positiva de los Poderes Públicos. En otras palabras, el
Derecho Público del Estado social debe orientarse hacia su realización efectiva. El artículo
9.2 de la Constitución, como sabemos, manda a los poderes públicos que promuevan
las condiciones necesarias para que la libertad y la igualdad de los ciudadanos y de
los grupos en que se integran sean reales y efectivas, removiendo los obstáculos que
impidan su cumplimiento.
El Tribunal Constitucional español ha precisado con claridad el alcance y la
trascendencia de los derechos fundamentales como elementos clave del Ordenamiento
jurídico que informan el entero Ordenamiento jurídico. y, en este sentido, como
principios informadores, lo que ratifica su consideración de principios generales del
Derecho de naturaleza fundamental.
Así, por sólo citar algunos de sus pronunciamientos más importantes, resulta que
constituyen “la esencia misma del régimen constitucional” (Sentencia de 21 de febrero de
1986), “son de aplicación directa, sin que sea necesaria para su efectividad un desarrollo
legislativo”, “son los componentes estructurales básicos, tanto del conjunto del orden
jurídico objetivo como de cada una de las ramas que lo integran, en razón de que son la
expresión jurídico de un sistema de valores que, por decisión del constituyente, ha de
informar el conjunto de la organización jurídica y política” (Sentencia de 11 de abril de
1985), y, también, resulta que los derechos fundamentales “constituyen el fundamento
mismo del orden político-jurídico del Estado en su conjunto”(Sentencia de 14 de julio
de 1981).
Los derechos fundamentales, desde la óptica subjetiva, ponen de manifiesto
que, como señala Doehring, que el mantenimiento de la libertad se erige en fin del
mismo Estado, lo que implica además de evitar intervenciones arbitrarias o irracionales
del poder público, una actitud positiva del legislador y de los poderes públicos que
haga posible la realización de dicho fin y asegure en la práctica la efectividad real de
los derechos fundamentales. Principio de efectividad que es una de las auténticas
IV El principio de buena fe
En efecto, el principio de buena fe es uno de los principios generales del derecho
más estudiados porque plantea el alcance y los límites de las conductas que son propias
a los sujetos en las relaciones jurídicas, sean éstas públicas o privadas. En el caso del
Derecho Público, la exigencia de la buena fe se entiende bien precisamente por la
naturaleza de los poderes que ejerce la Administración y por su especial misión de
servicio objetivo al interés general. Efectivamente, no es posible comprender un servicio
objetivo al interés general si no es de acuerdo con la buena fe. Buena fe que, además,
el legislador español ha introducido en el año 1999 en la reforma que entonces se hizo
de la ley de régimen jurídico de las Administraciones públicas y del procedimiento
administrativo común y que a mí me tocó el honor de dirigir desde el ministerio de
las Administraciones públicas de entonces. El hoy artículo 3.1 “in fine” señala que las
Administraciones públicas deben respetar en su actuación los principios de buena fe
y confianza legítima.
La jurisprudencia del Tribunal Supremo es bien clara en la materia, habiendo
declarado por resolución de 18 de febrero de 1992 que uno de “los principios que
informan el Ordenamiento jurídico es el de que los derechos deberán ejercitarse
conforme a las exigencias de la buena fe —artículo 7.1 del título preliminar del Código
Civil, que se infringe o falta, como dice la sentencia de la sala primera del Tribunal
Supremo de 29 de enero de 1965 cuando se finge ignorar lo que sabe..., se realiza un
acto equívoco para beneficiarse intencionadamente de su dudosa significación o se
crea una apariencia jurídica para contradecirla después en perjuicio de quien puesto
su confianza en ella. La jurisprudencia contencioso-administrativa ha venido haciendo
frecuente uso de este principio general, en campos distintos como el de las notificaciones,
los contratos administrativos, la expropiación forzosa... declarando que el principio de
la buena fe es inspirador tanto para los actos de la Administración como para los actos
del administrado (sentencia de la sala cuarta de 23 de enero de 1976)”.
Esta sentencia pone de manifiesto dos cuestiones que conviene subrayar,
siquiera sea brevemente. La primera se refiere a que los principios generales del
Derecho son la atmósfera en la que viven y se desarrollan las normas jurídicas, sean
del mundo del Derecho Privado, sean del mundo del Derecho Público. La unidad del
Derecho y las exigencias de que la justicia resplandezca en el Ordenamiento jurídico
en su conjunto explican que para el Derecho Administrativo los principios generales
adopten expresiones adecuadas a su propia naturaleza pero vinculados a la idea de la
justicia. En este sentido, hay principios que presiden las actuaciones de los sujetos de
la relación jurídica, sea esta pública o privada. Uno de ellos es el principio de buena
fe, que está previsto en el artículo 7.1 del Código Civil y que, en materia de Derecho
Administrativo es, si cabe, de mayor alcance que en el Derecho Privado. Por una razón
elemental: porque para el Derecho Administrativo Constitucional, la Administración
debe cumplir sus funciones en el marco del servicio objetivo al interés general. Esa
objetividad, esa racionalidad, esa coherencia o congruencia que vincula la acción de la
Administración reclama de ésta que actúe siempre en el marco de la buena fe. Buena
fe de la que se deduce otro principio relevante del Derecho, hoy de gran actualidad en
el Derecho Administrativo como es el principio de confianza legítima.
En segundo lugar, la evolución jurisprudencial del principio de buena fe demuestra
hasta qué punto ha sido fundamental la jurisprudencia contencioso administrativa en
Otra paradoja que nos ofrece la realidad normativa se refiere a que, aun habiendo
aumentado el número de las normas, nos encontramos con no pocas materias en las
que persisten lagunas y en algunos supuestos falta la necesaria regulación que afiance
la seguridad y la certeza jurídica.
En un Estado compuesto como el español es muy importante individualizar
con precisión los títulos jurídicos en los que el Estado y las Comunidades Autónomas
fundan su potestad legislativa. Desde esta perspectiva, no está de más señalar que el
Estado, en efecto, tendrá, en las materias expresamente atribuidas por la Constitución a
su competencia, la facultad de sentar las bases, la regulación general de ciertos sectores
del Ordenamiento relacionado con lo que hoy podríamos denominar desde la ciencia
de la administración políticas públicas de equidad y solidaridad, economía general,
relaciones internacionales, seguridad general o defensa. En cambio, las Autonomías
territoriales, Comunidades Autónomas y Entes locales, disponen de competencias
orientadas sobre todo a la gestión y ejecución de las principales materias conectadas
con los aspectos más conectados con la vida diaria y cotidiana de los ciudadanos.
A la hora del desarrollo de la potestad normativa, los centros de producción
normativa han de tener presente que existen una serie de parámetros constitucionales
que configuran la acción del Estado. Me refiero, además de la seguridad jurídica, a los
llamados valores superiores del Ordenamiento jurídico y, como no, a la centralidad de
los derechos fundamentales, a los principios rectores de la política económica y social
y por sobre todo a la denominada función promocional de los poderes públicos tal y
como está regulada en el artículo 9.2 de la Constitución: los poderes públicos deben
promover las condiciones para que la libertad y la igualdad del individuo y de los
grupos en que se integra sean reales y efectivas; remover los obstáculos que impidan
o dificulten su plenitud y facilitar la participación de todos los ciudadanos en la vida
política, económica, cultural y social. Este ha de ser el espíritu que debe latir en los
contenidos de las normas producidas en el Estado social y democrático de Derecho
en el que vivimos, algo que contrasta con el constante proceso de vaciamiento de las
principales a que nos viene sometiendo el actual gobierno, más pendiente de entorpecer
y limitar los derechos ciudadanos que de pensar en el conjunto de la sociedad.
La seguridad y la certeza jurídica nos conducen a la postulación de unas necesarias
condiciones de inteligibilidad, de conocimiento y entendimiento de las normas que,
a su vez, nos plantean que las normas han de ser claras en la semántica y en el estilo
de redacción, además de transparentes. El lenguaje normativo no puede ser contrario
al lenguaje común. El lenguaje común juridificado mucho tiene que ver con el
entendimiento general de las normas, algo que la técnica normativa no puede olvidar
porque si las normas no las entienden ni siquiera a quien van dirigidas entonces bien
se puede decir que no tienen sentido alguno.
La técnica normativa, tal y como hemos comentado anteriormente, también
trata de la integración de las normas en un Ordenamiento jurídico unitario, abierto
y continuo. Unitario porque el Ordenamiento jurídico consiste un único sistema, con
subsistemas, pero un sistema con reglas y principios en los que existen diferentes partes
y componentes que se insertan armónicamente de acuerdo con las más elementales
exigencias de la lógica y la racionalidad. Es abierto porque continuamente unas normas
salen y otras entran, unas son reformadas y otras son derogadas. Y finalmente es continuo
VI Reflexión conclusiva
En la sentencia del Tribunal Supremo de 14 de noviembre de 1980 una interesante
reflexión acerca de la virtualidad operativa de los principios generales del Derecho.
Tras recordar, de acuerdo con lo prescrito por el Código Civil, que los principios son
fuente del Derecho y tras precisar que tienen naturaleza de elementos informadores
de todo el Ordenamiento jurídico, el Tribunal Supremo afirma algo que es esencial,
que los principios sirven sin duda de “elemento corrector de injusticias manifiestas
y de soluciones absurdas y contrarias al Derecho natural”. Volvemos por tanto a las
primeras reflexiones del trabajo. Los principios son más importantes de lo que parecen.
No son sólo fuente objetiva del Derecho, son, además de elementos informadores
del Ordenamiento, los argumentos que el Derecho tiene para evitar que las normas
produzcan soluciones injustas manifiestas y absurdas. Por eso el jurista moderno
debe conocer y manejar con soltura los principios, porque busca la justicia y porque
se mueve en los parámetros, sobre todo el iusadministrativista, de la racionalidad, de
la objetividad y de la realidad. Las normas han de ser racionales, los poderes públicos
han de operarse son racionalidad. Y, hoy, uno de los desafíos de la racionalidad más
importante que tiene la mujer y el hombre del Derecho, es la lucha por los derechos
fundamentales de la persona, por la separación de los poderes y por el principio de
legalidad en un marco de justicia. Hoy, el Estado de Derecho está en juego en muchas
partes del mundo y los principios del derecho, en especial el de seguridad jurídica,
son los instrumentos para que la Administración de verdad actúe sometida a Derecho.
Referencias
CUADERNOS DE DERECHO PUBLICO, nº 28, Monográfico sobre seguridad jurídica y aplicación del
Derecho.].
E. GARCIA DE ENTERRIA, Reflexiones sobre la ley y los principios generales del Derecho, RAP, nº 40,
p. 189 y ss.
F. CASTILLO BLANCO, La protección de la confianza en el Derecho Administrativo, Madrid, 1998.
J. ARCE Y FLOREZ-VALDÉS, Los principios generales del Derecho y su formulación constitucional, Madrid,
1990.
J. DE LA CRUZ FERRER, La elaboración y desarrollo de la teoría de los principios generales en el derecho
público francés, RAP, nº 111, p. 441 y ss.
J. GONZALEZ PEREZ, El principio general de buena fe en el derecho administrativo, Madrid, 1999.
J. LEGUINA VILLA, Principios generales del Derecho y Constitución, RAP, nº 114, p. 7 y ss.
J. SUAY RINCON, La doctrina de los principios generales del Derecho y su contribución al desarrollo del
Derecho Administrativo, Homenaje al profesor GONZALEZ PEREZ, I, p. 379 y ss.
L. ORTEGA ALVAREZ, La funcionalidad y eficacia de los principios generales del Derecho, Justicia
Administrativa, 15, p. 52 y ss.
Informação bibliográfica deste texto, conforme a NBR 6023:2002 da Associação Brasileira de Normas
Técnicas (ABNT):
Introducción
La seguridad jurídica implica certeza en el uso del derecho. Los administrados
deben saber a qué atenerse cuando el agente público usa el derecho; pero, esta situación
no siempre se da.
Por otra parte, se supone que la Administración Pública actúa de acuerdo al
principio de legalidad. Sin embargo, en el plano real, lo que se impone es la arbitrariedad
y por ende la violación a este principio.
Los agentes públicos cuando actúan arbitrariamente, lo hacen a sabiendas de
que los administrados no tienen dinero para pagar un abogado especialista en Derecho
Administrativo; y, que además, los tribunales son lentos y burocratizados, siendo un
hecho incierto el resultado de la sentencia firme.
Como bien expresa Rafael Valim (p. 16-18, 2010), en el estudio de la seguridad
jurídica se tiene que tomar en consideración la cambiante sociedad; y, la inflación e
inestabilidad normativa, en la producción de normas jurídicas (hemorragia jurídica).
Al menos estos dos factores, inciden en la pretensión de la seguridad jurídica para las
personas.
Efectivamente, en esta sociedad de masas compleja e intrincada, sujeta a cambios
de todo tipo, máxime con la revolución informática, científica y tecnológica, la pretendida
seguridad jurídica es un reto.
A esta situación, de por sí ya bien difícil, le agregamos los elementos de las lagunas
del derecho, los vacíos normativos, la aplicación por el agente público de los principios
generales del derecho, los conceptos jurídicos indeterminados, el principio de legalidad,
el poder discrecional, la ejecutoriedad y la ejecutividad del acto administrativo, etc.,
que generan inseguridad jurídica para los administrados.
Por ello, el tema de la inseguridad jurídica es clave para entender cómo funciona
en la realidad, el Derecho administrativo, el Derecho Público y en entero sistema jurídico
como una totalidad (enfoque holístico).
1 Democracia
El numeral 1 constitucional manda que Costa Rica es una República democrática,
libre e independiente (sentencia 9197-2006, Tribunal Constitucional, TC).
2 Soberanía popular
El numeral 2 constitucional manda que la soberanía reside exclusivamente en la
nación (el pueblo).
La sentencia 13381-2006, del Tribunal Constitucional, TC explica que el concepto
nación deriva de la doctrina francesa, en la cual es sinónimo de pueblo.
Artículo 2.-
1. Las reglas de esta ley que regulan la actividad del Estado se aplicarán también a los
otros entes públicos, en ausencia de norma especial para éstos.
Artículo 3.-
1. El derecho público regulará la organización y actividad de los entes públicos, salvo
norma expresa en contrario.
3 Principio de legalidad
Este principio manda que el Estado sólo puede actuar legítimamente si existe una
norma promulgada por el Poder Legislativo, que autoriza esa actuación (sentido positivo).
En su sentido negativo, este principio enuncia que el Estado no puede actuar
legítimamente si no existe una norma promulgada por el Poder Legislativo, que autorice
esa actuación.
Es el numeral 11 de la LAP, el que se refiere a este principio:
Este aspecto “sin poder derogarlos ni desaplicarlos para casos concretos”, es lo que
se conoce como la inderogabilidad singular de la normativa jurídica pública, ya que
si se hace implica arbitrariedad y favorecimiento o perjuicio ilegítimo para algún
administrado.
Como corolario del principio de legalidad, se tiene que el Estado tiene que
respetarlo; mientras que la norma para los particulares o administrados es la establece
el numeral 18 de la LAP:
1. El individuo estará facultado, en sus relaciones con la Administración, para hacer todo
aquello que no le esté prohibido.
2. Se entenderá prohibido todo aquello que impida o perturbe el ejercicio legítimo de las
potestades administrativas o de los derechos del particular, así como lo que viole el orden
público, la moral o las buenas costumbres.
Las acciones privadas que no dañen la moral o el orden público, o que no perjudiquen a
tercero, están fuera de la acción de la ley.
5 La discrecionalidad administrativa
La discrecionalidad administrativa es una conducta del Estado que puede darse
al estar en presencia de opciones de conductas legítimas (Van Lang et al, p. 213, 1999;
Morand-Deviller, p. 272, 2003).
Se puede indicar que la decisión discrecional, es la que se realiza entre varias
posibilidades de actuación, todas ellas, jurídicamente válidas (Sainz, p. 304, 1976).
Artículo 15 de la LAP:
1. La discrecionalidad podrá darse incluso por ausencia de ley en el caso concreto, pero
estará sometida en todo caso a los límites que le impone el ordenamiento expresa o
implícitamente, para lograr que su ejercicio sea eficiente y razonable.
2. El Juez ejercerá contralor de legalidad sobre los aspectos reglados del acto discrecional
y sobre la observancia de sus límites.
Este terreno es fértil para que los agentes públicos actúen arbitrariamente o en
forma corrupta, ya que queda a su entender realizar y aplicar actos administrativos
congruentes con las reglas unívocas de la ciencia y de la técnica. Igualmente, actuar de
acuerdo a la justicia, la lógica o la conveniencia.
Esta disposición es mera teoría, una especulación normativa. Los burócratas
públicos saben que los controles sobre sus conductas son débiles, difusos e imprecisos.
Esta clase de normas son una burla a los derechos humanos, a los administrados y al
Estado de Derecho.
Por su parte, el artículo 17 de la LAP, declara:
Artículo 17.-
La discrecionalidad estará limitada por los derechos del particular frente a ella, salvo
texto legal en contrario.
Conclusión
La seguridad jurídica, en el terreno del Derecho Administrativo, tiene las
limitaciones que se han señalado.
Lo que prevalece en el plano de la realidad es la inseguridad jurídica.
Obviamente, no es que la inseguridad jurídica sea total y completa, pero sí tiene
una presencia cotidiana relevante.
Lo mismo se puede indicar respecto de la arbitrariedad y la corrupción en la
Administración Pública. No se puede ni se debe generalizar; pero, sí tiene una presencia
cotidiana relevante, ante mecanismos de control deficientes, principalmente cuando se
trata de los peces gordos del mundo político.
Así como a nivel de la población, se da una inseguridad pública, que va en
aumento con más muertes y más violencia, haciendo que las personas vivan en jaulas
de hierro y mecanismos de protección; también, en la vida de los administrados, hay
inseguridad jurídica, un NO saber a qué atenerse.
La vida cotidiana, no la teoría jurídica, muestra que el Estado de Derecho, la
democracia y el sistema jurídico está en permanente crisis, obligando a los grupos
dominantes (política, social y económica-financieramente) en la sociedad a ejecutar
políticas públicas más actualizadas con el fin de seguir manteniendo su poder.
Bibliografía
Albert, Hans La ciencia del derecho como ciencia real (México: Fontamara, 2007).
Alexy, Robert Derechos sociales y ponderación (México: Fontamara, 2010).
Carbonnier, Jean Sociologie Juridique (Paris: Armand Colin, 1972).
Cosculluela, Luis Manual de derecho administrativo (Madrid: Thompson-Civitas, t. I, 2007).
Chapus, René Droit administratif général (Paris: Montchrestien, 2 tomos, 1998).
Ehrlich, Eugen Fundamental Principles of The Sociology of Law (Cambridge, Massachusetts: Harvard University
Press, 1936).
Evan, William (ed.) The Sociology of Law (New York: The Free Press, 1980).
Fernández, Juan Diccionario jurídico (Navarra: Aranzadi, 2002).
Fernández-Ruiz, Jorge Derecho administrativo y Administración Pública (México: Porrúa, 2006).
Ferrajoli, Luigi et al La teoría del derecho en el paradigma constitucional (México: Fontamara, 2010).
García de Enterría, Eduardo; Tomás Ramón Fernández Curso de derecho administrativo (Madrid: Thompson-
Civitas, 2 tomos, 2008).
Jinesta, Ernesto Tratado de derecho administrativo (Bogotá: Diké, t. I, 2002).
Lask, Emil Filosofía jurídica (Buenos Aires: B de F, 2008).
Mairal, Héctor Las raíces legales de la corrupción o de cómo el derecho público fomenta la corrupción en lugar de
combatirla (Buenos Aires: ediciones Res, República Argentina, 2007).
Manrique, Ricardo El valor de la seguridad jurídica (México: Fontamara, 2007).
Maurín, André Droit Administratif (Paris: Sirey, 1999).
Morand-Deviller, Jacqueline Cours de droit administratif (Paris: Montchrestien, 2003).
Palma, José Luis La seguridad jurídica ante la abundancia de normas (Madrid: Centro de Estudios Políticos y
Constitucionales, 1997).
Parejo-Alfonso, Luciano Derecho Administrativo (Barcelona: Ariel, 2003).
Peyrical, Jena-Marc Droit Administratif (Paris: Montchrestien, 2000).
Romero-Pérez, Jorge Enrique El acto administrativo. La arbitrariedad producida desde y a partir del acto administrativo
(San José: Universidad de Costa Rica-Colegio de Abogados, Revista de Ciencias Jurídicas No. 125, 2011).
- Derecho Administrativo (San José: Universidad Estatal a Distancia, 2002).
- Derecho administrativo y Estado costarricense (Universidad de Costa Rica, 1984) La sociología jurídica en Max
Weber (San José: Universidad de Costa Rica, 1980).
Sainz, Fernando Conceptos jurídicos, interpretación y discrecionalidad administrativa (Madrid: Civitas, 1976).
Treves, Renato La sociología del Derecho (Barcelona: Ariel, 1988).
Valim, Rafael O princípio da seguranca jurídica no direito administrativo brasileiro (Sao Paulo: Malheiros Editores,
2010).
Van Lang, Agathe et al Dictionnaire de droit administratif (Paris: Armand Colin, 1999).
Velasco, Rogelio; Lucila Caballero Las directivas de interpretación jurídica (México: fontamara, 2011).
Informação bibliográfica deste texto, conforme a NBR 6023:2002 da Associação Brasileira de Normas
Técnicas (ABNT):
1
El plazo razonable es un tema de mayor importancia especialmente en los procedimientos y procesos de tipo
sancionatorios; sobre el tema recomendamos revisar el fallo de la Corte IDH, caso López Mendoza vs. Venezuela
(fondo, reparaciones y costas), 1º.09.2011.
2
El problema de las nuevas técnicas interpretativas en el constitucionalismo actual puede ser consultado en
Hermenéutica jurídica e interpretación constitucional, Hernández, Carlos y Mazabel, Pinzón Moisés Rodrigo,
Ara Editores, número 9, Perú, 2010.
3
Nótese, por ejemplo, que la Constitución del Ecuador llega incluso a crear un nuevo sujeto de protección
constitucional distinto a la persona: la naturaleza. Para una mirada de este y otros temas constitucionales en
Ecuador, ver Zavala Egas, Jorge, Derecho constitucional, neoconstitucionalismo y argumentación jurídica,
Edilex S.A. Guayaquil, Ecuador 2010, reimpresión.
4
Generalmente se indican a la relación de consumo, de servicios públicos y la ambiental, entre otras materias, en
las que el conflicto y su resolución poseen una especificidad tal que configuran verdaderos microsistemas de
fuentes para su abordaje en general.
5
Ver sobre el tema: DA SILVA, José Alfonso, Curso de direito constitucional positivo, 34 edición, Malheiros, San
Pablo, 2011.
6
Son muchas las obras que tratan ese fenómeno, nos permitimos sugerir la obra de CARBONELL, Miguel-
Jaramillo; GARCÍA, Leonardo. El canon neoconstitucional. Universidad Externado de Colombia, Bogotá, 2010.
7
Para una revisión de las principales sentencias del TEDH y su impacto en los sistemas internos bien se puede
consultar la obra Jurisprudencia del Tribunal Europeo de Derechos Humanos, por Díaz Revorio, Francisco
Javier — Compilador, Colección Jurisprudencia sobre Derechos Fundamentales, Palestra Editores, Lima 2004.
8
Este es un tema de una profunda actualidad, generándose diversas tensiones en los ámbitos internos-
internacionales. Aquello que sustancialmente se involucra en esta discusión es la tradicional mirada de aspectos
de la soberanía, la función del juez y el impacto que tiene en el sistema interno el denominado control de
convencionalidad. Sobre este último recomendamos consultar Globalización y control de convencionalidad,
GIL, Domínguez; ANDRÉS, LL; El control de convencionalidad, en particular sobre las constituciones nacionales,
SAGÜÉS, Néstor P., LL 19.02.2009, 1; El control de convencionalidad. La Corte Interamericana y la Corte
Suprema. Convergencias y divergencias, Albanese, Susana, SJA 29.8.2007 JA 2007 III 1148 - Lexis nº 0003/013406;
GELLI, María Angélica; GOZAÍNI, Osvaldo Alfredo; SAGÜÉS, Néstor P. Control de constitucionalidad de oficio
y control de convencionalidad, LL 16.03. 2011, 3.
esquemas procedimentales que reflejen esos mandatos constitucionales. Entre ellos, y tal
como lo hemos sostenido en diversos ensayos, las garantías de la tutela administrativa
y judicial en términos de efectividad del diseño de las mismas en el sistema interno
constituyen una obligación principalísima asumida por los Estados miembros del Pacto
de San José de Costa Rica.
En este contexto, el debido proceso asume mayores proyecciones. No sólo
estamos frente a la clásica formulación del debido proceso como garantía constitucional
procesal, sino de nuevos horizontes de la misma como así también formulaciones
novedosas de subsistemas procesales de resolución de los conflictos en determinados
valores constitucionales incorporados. El debido proceso permite aplicar fuertemente
las garantías propias del artículo 8vo del pacto de San José de Costa Rica a todo tipo
de procesos incluyendo a aquellos que no son estrictamente judiciales como lo son los
administrativos en tanto la autoridad pública los utilice con el fin de determinar derechos.
Categorías tradicionales como la cosa juzgada o el instituto de la prescripción
parecen enfrentar nuevos desafíos interpretativos que proyectan sus consecuencias en
el escenario interno judicial.
El criterio de imprescriptibilidad de determinadas categorías de delitos —los
calificados de lesa humanidad— ha generado fuertes tensiones en los sistemas judiciales
internos. Argentina no ha escapado a tales discusiones al igual que Brasil, Perú, Uruguay,
entre otros países latinoamericanos. Se han reabierto procesos judiciales en su entonces
terminados por aplicación de leyes de amnistía y capturadas tales decisiones por la cosa
juzgada, fundando tal reapertura en que dichas leyes en la doctrina de la Corte IDH son
de ningún efecto. Para desde allí y ante planteos de prescripciones de determinados
delitos, aplicárseles el principio de imprescriptibilidad de los mismos en la medida que
estén calificados como de lesa humanidad.9
Más recientemente la Corte Federal Argentina10 ha adoptado el criterio de
continuar una investigación judicial ya concluida y pasada en autoridad de cosa juzgada
en un delito de los calificados como común.11 Ello ha sido así con el fin de dar cum
plimiento a una sentencia de la Corte IDH en el caso Bueno Alves c. Argentina12 en el que
se ordenaba a la Argentina “[...] realizar inmediatamente las debidas investigaciones
para determinar las correspondientes responsabilidades por los hechos de este caso
[...]”. Por sus proyecciones, creemos que es interesante detenernos unos instantes a
reflexionar sobre el caso.
9
Nos permitimos citar por todos el caso Simón, sentencia del 14.06.2005 de la CSJN, precedente de altísimo valor
histórico – institucional en la materia en la Argentina y creemos en la lucha universal por los derechos humanos.
10
CSJN, Derecho, René Jesús s/incidente de prescripción de la acción penal, 29.11.2011.
11
Tal como se lee en los considerandos el Estado Argentino había informado que en el sistema interno se había
declarado “[...] la prescripción del presente caso y, por ende, la finalización de la investigación. Al respecto, remitió
decisiones de primera y segunda instancia que se emitieron con anterioridad al fallo de la Corte Interamericana
y que no habían sido allegadas al Tribunal. El Estado también remitió una tercera decisión, emitida por la
Corte Suprema de Justicia de la Nación Argentina (en adelante ‘la Corte Suprema’ o ‘la Corte Suprema de
Justicia’), con posterioridad a la sentencia del Tribunal [...]”. Para agregar en su explicación: “[...] El 11 de julio
de 2007, cuarenta días después de emitida la decisión de la Corte IDH, la Corte Suprema de Justicia confirmó
la prescripción de la acción penal relativa al presente caso, al emitir su respuesta a un recurso interpuesto por
el señor Bueno Alves.” En su sentencia, “la Corte Suprema consideró que los hechos supuestamente ocurridos
en el presente caso no constituían un delito de lesa humanidad por lo cual no resultaban imprescriptibles”. El
Estado añadió que “sin perjuicio de ello, [...] remitió a la Corte Suprema de Justicia de la Nación copia de lo
resuelto por [la] Corte Interamericana a los efectos pertinentes”.
12
Corte IDH, sentencia de 11.05.2007.
13
Corte IDH, caso Bueno Alves vs. Argentina – resolución de supervisión de cumplimiento de sentencia, 05.07.2011.
14
Tal como se puede leer en la primer parte del fallo, la CSJN había confirmado la decisión por la cual se había
declarado extinguida la acción penal por prescripción y sobreseído parcial y definitivamente en la causa a René
Jesús Derecho. El querellante Carlos A. B. Pérez Galindo dedujo aclaratoria para que el Tribunal indique el
auténtico alcance jurisdiccional de la antedicha resolución a la luz del fallo de la Corte Interamericana en el caso
Bueno Alves vs. Argentina.
15
Artículo 1. Obligación de Respetar los Derechos: 1. “Los Estados Partes en esta Convención se comprometen
a respetar los derechos y libertades reconocidos en ella y a garantizar su libre y pleno ejercicio a toda persona
que esté sujeta a su jurisdicción, sin discriminación alguna por motivos de raza, color, sexo, idioma, religión,
opiniones políticas o de cualquier otra índole, origen nacional o social, posición económica, nacimiento o
cualquier otra condición social”. Esa disposición permite deducir que lo relevante para la Convención es que
el ejercicio —entendido como goce efectivo en la vida cotidiana— de los derechos se asegure por medidas
estatales, sean legislativas o de otro carácter. Ello se ha visto confirmado por la Corte Interamericana al poner
de resalto que esa norma de la Convención obliga a los Estados Partes no solamente a respetar los derechos y
libertades reconocidos en ella, sino a garantizar su libre y pleno ejercicio a toda persona sujeta a su jurisdicción,
ampliando así el deber inicial de no incurrir en conductas violatorias a la necesaria adopción de medidas de
contenido positivo, en tanto “garantizar implica la obligación del Estado de tomar todas las medidas necesarias
para remover los obstáculos que puedan existir para que los individuos puedan disfrutar de los derechos que la
Convención reconoce”. (Corte IDH, OC-11/90, “Excepciones al Agotamiento de los recursos internos – Art. 46.1,
46.2.a y 46.2.b. Convención Americana sobre Derechos Humanos”, del 10.08.1990. Serie A, nº 11).
16
Artículo 2. Deber de Adoptar Disposiciones de Derecho Interno: “Si el ejercicio de los derechos y libertades
mencionados en el artículo 1 no estuviere ya garantizado por disposiciones legislativas o de otro carácter, los Estados
Partes se comprometen a adoptar, con arreglo a sus procedimientos constitucionales y a las disposiciones de esta
Convención, las medidas legislativas o de otro carácter que fueren necesarias para hacer efectivos tales derechos
y libertades”. Como se ha dicho, en la lógica del sistema americano de derechos humanos que se desprende del
y a cada uno de sus órganos a remover cualquier obstáculo para el goce de aquellos y,
por consiguiente, a llevar adelante medidas positivas tendientes a asegurar y efectivizar
los derechos consagrados en ese tratado.
Por otra parte, resulta interesante reflejar la posición de la disidencia en dicho caso
por parte del resto de los jueces de la Corte Federal Argentina ya que estos advierten
claramente el conflicto que se esconde detrás de la decisión que se opte por adoptar.
Para ellos: 1. No se encuentra en discusión el carácter obligatorio de las sentencias
de la Corte IDH, reconociendo expresamente el carácter vinculante de ellas para el
sistema interno. 2. Los hechos discutidos en el caso no se ajustan a la definición de
delitos de lesa humanidad, punto en el cual coinciden tanto la Corte IDH como la Corte
Federal Argentina. 3. Se trata de buscar la armonización entre el deber de investigar
ordenado por la Corte IDH con el deber de preservar garantías internas-internacionales
de quién es sometido a juicio —prescripción.
El voto de la disidencia es sumamente enriquecedor ya que plantea una discusión
de primer orden por estos tiempos y que sustancialmente se vincula con la armonización
de los ordenamientos jurídicos y, especialmente, el orden de las fuentes del derecho
interno. Allí se explica que seguir lo resuelto por la Corte IDH no puede en el caso
concreto generar: a) dejar sin efecto una sentencia que se encuentra capturada por el
instituto procesal de la cosa juzgada y b) inaplicar las normas internas en materia de
prescripción en un caso de delito común.
En el criterio de la disidencia, dejar sin efecto una sentencia pasada en cosa juzgada
implicaría no sólo “[...] una afectación al derecho de defensa del imputado (que no ha
estado presente ni ha sido escuchado en el proceso ante la Corte IDH) sino que además
colocaría la Estado Argentino en la paradójica situación de cumplir con sus obligaciones
internacionales a costa de una nueva afectación de derechos y garantías individuales
reconocidos en la Constitución Nacional y los tratados de derechos humanos que la
integram [...]”.
El debate, sin dudas, continúa abierto.
Otro asunto de interés, entre varios posibles de ser citados, es el que se ha
suscitado en materia de libertad de prensa y el tratamiento que le ha brindado la Corte
IDH al tema y sus consecuencias en el plano interno procesal.
En el caso Fontevecchia y D’Amico vs. Argentina17 la Corte IDH tuvo la oportunidad
de revisar una decisión judicial interna de la Argentina y la cual en términos de
“derecho procesal clásico” se encontraba firme y pasada en autoridad de cosa juzgada.
En el derecho interno se había condenado a dos periodistas y al medio de prensa18 a
indemnizar a un expresidente de la Argentina a resarcir civilmente los daños ocasionados
por una información divulgada periodísticamente. Estamos sencillamente frente a una
tradicional acción por daños y perjuicios civil generadora del deber de reparar el daño
ocasionado y probado.
art. 2 de la Convención reside la idea de que los pronunciamientos de la Corte Interamericana deben trasladarse,
en la forma y términos que provea el derecho interno a las leyes nacionales, a los criterios jurisdiccionales
domésticos, a los programas específicos en este campo y a las acciones cotidianas que el Estado despliega en
materia de derechos humanos; trasladarse, en fin, al conjunto de la experiencia nacional. (Corte IDH, caso Tibi
vs. Ecuador. Excepciones Preliminares, Fondo, Reparaciones y Costas. 07.09.2004. Serie C, nº 114, voto razonado
del juez Sergio García Ramírez, párr. 6).
17
Corte IDH, caso Fontevecchia Y D’Amico vs. Argentina (Fondo, Reparaciones y Costas), 29.11.2011.
18
CSJN, 25.09.2001.
Tal condena civil instrumentada por una sentencia que se encontraba con ejecución
en el sistema interno, es puesta en crisis a través de la intervención de la Corte IDH en
el caso citado. Tal tribunal internacional entendió que la decisión judicial adoptada en
el sistema interno en sí misma constituía una infracción a las obligaciones asumidas
por el país al tiempo de vincularse al Sistema Americano de Derechos Humanos. En
base a los fundamentos que pueden leerse en la sentencia, se descalifica el acto judicial
interno al tiempo que se ordena al Estado Argentino “[...] dejar sin efecto la condena
civil impuesta a los señores Jorge Fontevecchia y Hector D’Amico así como todas sus
consecuencias, en el plazo de un año contado a partir de la notificación de la presente
Sentencia [...]”.
Para llegar a tal decisión se consideró que “[...] el procedimiento civil en la justicia
argentina, la atribución de responsabilidad civil, la imposición de la indemnización
más los intereses, las costas y gastos, así como la orden de publicar un extracto de la
sentencia y el embargo dictado contra uno de los periodistas afectaron el derecho a la
libertad de expresión de los señores Jorge Fontevecchia y Héctor D’Amico [...]”.
Ello pese a que la Corte IDH al tiempo de analizar el comportamiento del Estado
en materia de libertad de prensa no detectó una infracción al deber general de adoptar
decisiones de derecho interno previsto en el artículo 2 del Pacto de San José de Costa
Rica.19
En síntesis la Corte IDH afirmó que “[...] no hubo una injerencia abusiva o arbitraria
en la vida privada del señor Menem en los términos del artículo 11 de la Convención
Americana y que, por el contrario, las publicaciones cuestionadas constituyeron un
ejercicio legítimo del derecho a la libre expresión reconocido en el artículo 13 de
dicho tratado. En consecuencia, la Corte Interamericana concluye que la medida de
responsabilidad ulterior impuesta en el presente caso violó el derecho a la libertad
de pensamiento y de expresión de los señores Jorge Fontevecchia y Héctor D’Amico,
reconocido en el artículo 13 de la Convención Americana, en relación con la obligación
de respetar ese derecho, establecida en el artículo 1.1 del mismo instrumento”.20
Insistimos se trata de una sentencia judicial producto de un proceso judicial que
ha atravesado todas las instancias judiciales civiles del sistema interno y cuyo resultado
—condenatorio— la Corte IDH justamente ordena dejar sin efecto.
Otro supuesto que puede introducirnos en este nuevo orden viene dado por el
caso Lavado de la CSJN; en dicha ocasión el Tribunal interno se encontró frente a un
desafío nada sencillo en materia de coexistencia de diversos subsistemas normativos
que deben ser articulados. El caso tiene origen en la denuncia contra la Argentina ante
la Comisión Americana de Derechos Humanos en el año 2004, como producto del
incumplimiento del Estado mendocino21 y, por consiguiente del Estado federal —único
19
Expresó en tal sentido: “[...] Por otra parte, el Tribunal toma nota de los cambios que se han producido a nivel
interno en materia de libertad de expresión, tales como la reforma legislativa derivada del caso Kimel, que
modificó el código penal argentino eliminando la posibilidad que las expresiones u opiniones relacionadas con
asuntos de interés público configuren supuestos de calumnia o injuria, la sanción de la Ley 26.522 de Servicios
de Comunicación Audiovisual, así como los cambios institucionales y jurisprudenciales ocurridos en la Corte
Suprema en materia de libertad de expresión... Con base en las consideraciones anteriores, el Tribunal concluye
que el Estado no incumplió la obligación general de adoptar disposiciones de derecho interno establecida en
el artículo 2 de la Convención Americana, en relación con el derecho a la libertad de expresión, respecto de la
legislación civil”.
20
Caso Fontevecchia y D’Amico cit, párrafo 75.
21
En el sistema constitucional argentino cabe recordar que las provincias son autónomas, encontrándose la
organización de su poder judicial y el sistema carcelario dentro de las diversas competencias que le pertenecen.
22
Corte IDH, Solicitud de Medidas Provisionales presentada por la Comisión Interamericana de Derechos
Humanos respecto de la República Argentina. Caso de las Penitenciarías de Mendoza. Resolución de 22.11.2004.
23
La Corte IDH dispuso “Requerir al Estado que adopte de forma inmediata las medidas que sean necesarias
para proteger la vida e integridad personal de todas de las personas privadas de libertad en la Penitenciaría
Provincial de Mendoza [...]”.
24
Corte IDH, Medidas Provisionales. Caso de las Penitenciarías de Mendoza. Resolución de 30.03.2006. Frente
al planteo del Estado Argentino la Corte IDH consignó que “[...] ante la orden de esta Corte de adopción
de medidas provisionales, cuyo objeto es la protección de la vida e integridad de las personas detenidas en
aquellos centros penitenciarios y de quienes se encuentren al interior de los mismos, el Estado no puede alegar
razones de derecho interno para dejar de tomar medidas firmes, concretas y efectivas en cumplimiento de las
medidas ordenadas, de modo que no se produzca ninguna muerte más. Tampoco puede el Estado alegar la
descoordinación entre autoridades federales y provinciales para evitar las muertes y actos de violencia que han
continuado ocurriendo durante la vigencia de éstas. Más allá de la estructura unitaria o federal del Estado Parte
en la Convención, ante la jurisdicción internacional es el Estado como tal el que comparece ante los órganos
de supervisión de aquel tratado y es éste el único obligado a adoptar las medidas. La falta de adopción por el
Estado de las medidas provisionales compromete la responsabilidad internacional del mismo”.
25
CSJN, Lavado, Diego Jorge y otros c/ Mendoza, Provincia de y otro s/ acción declarativa de certeza, 06.09.2006.
26
En la Resolución de fecha 13 de Febrero de 2007 en el caso Lavado, la Corte Federal resolvió: a) Intimar al Estado
Nacional a que en el plazo de veinte días adopte las medidas que pongan fin a la situación que se vive en las
unidades carcelarias de la Provincia de Mendoza; b) Instruir a la Suprema Corte de Justicia de la Provincia de
Mendoza y a los tribunales de todas las instancias de la provincia para que, en sus respectivas competencias,
y por disposición de esta Corte Suprema, con la urgencia del caso, hagan cesar toda eventual situación de
agravamiento de la detención que importe un trato cruel, inhumano o degradante o cualquier otro susceptible
de acarrear responsabilidad internacional al Estado Federal; c) Disponer que cada veinte días el Poder Ejecutivo
Nacional informe al Tribunal las medidas que adopte para mejorar la situación de los detenidos.
sistema de derecho interno argentino por la Corte Suprema de Justicia dentro de nuestro
régimen federal en el cual la materia penitenciaria de las cárceles locales es provincial.
Decíamos que el precedente Lavado era significativo, y lo es sin dudas, ya que
comporta la necesaria articulación de la actividad del juez interno en un régimen federal,
con el propósito de evitar la responsabilidad internacional.27 Se trata en la especia de
hacer cesar la inminente configuración de un ilícito internacional28 pero logrado ello a
través de la actuación de los jueces internos que replican la orden internacional.
La resolución del caso Lavado es la consecuencia de una correcta interpretación
del sistema americano de derechos humanos, el cual impide a la Argentina alegar su
propia estructura federal —como organización interna del poder— con el fin de no
cumplir con una obligación internacional.29 Pero también comporta una clara vocación
de parte de los máximos jueces de la Corte Federal Argentina en generar distensión en
posibles puntos de tensión entre el sistema internacional y el interno activando aquello
que se ha dado en llamar el paradigma judicial protectorio de los derechos humanos.30
Se observa una actuación temprana de la Corte Federal Argentina a través de
una distensión de los esquemas procesales rígidos al menos en materia de competencia.
Referíamos al inicio de nuestras reflexiones sobre la importancia del plazo
razonable y de cómo este incide en la noción de la seguridad jurídica. Sobre el tema es
oportuno citar que este aparece como un parámetro de la seguridad jurídica en términos
del sistema americano de derechos humanos ya que proyecta sus consecuencias sobre
el grado de previsibilidad que posee un sistema jurídico doméstico.
El plazo razonable, tal como es sabido, constituye uno de los elementos integrantes
del elenco de garantías del debido proceso, el cual por aplicación del artículo 8 del Pacto
de San José de Costa Rica rige tanto para procesos judiciales —cualquiera que fuere su
27
Debemos destacar que al tiempo de dar ambas Cortes —nacional y provincial— pleno cumplimiento a la
orden cautelar internacional, el Tribunal Federal argentino aún no se había expedido siquiera sobre su propia
competencia para intervenir en el caso. Cuestión esta que es dirimida posteriormente en el mes de marzo de
2007, oportunidad en que decide declararse incompetente y enviar parte de la causa a la justicia mendocina y
parte, a la justicia federal contencioso administrativa.
28
Es así que al producirse un hecho ilícito imputable a un Estado, surge responsabilidad de éste por violación
de una norma internacional. Con motivo de esta responsabilidad nace para el Estado una relación jurídica
nueva que consiste en la obligación de reparar, la cual dista de limitarse a una simple indemnización. Ninguna
disposición o instituto de derecho interno puede oponerse al nacimiento de ese débito reparatorio o a su
cumplimiento, en tanto admitir esa posibilidad importaría privar de eficacia a la protección transnacional de los
derechos (Corte IDH, caso Bulacio vs. Argentina. Fondo, Reparaciones y Costas. sentencia, 18.09.2003. Serie C
No. 100, párr. 117, caso Cinco Pensionistas vs. Perú. Fondo, Reparaciones y Costas, sentencia de 28.02.2003. Serie
C No. 98, párr. 164; caso Hilaire, Constantine y Benjamin y otros vs. Trinidad y Tobago. Fondo, Reparaciones y
Costas, sentencia de 21. 06.2002, Serie C No. 94, párr. 112; caso Trujillo Oroza vs. Bolivia. Reparaciones y Costas,
sentencia de 27.09.2002.Serie C No. 92, párr. 96, entre muchos otros).
29
Así, tiene dicho la Corte IDH en su jurisprudencia constante que las obligaciones convencionales deben ser
cumplidas por los Estados, “independientemente de su estructura federal o unitaria” (Corte IDH. El Derecho
a la Información sobre la Asistencia Consular en el Marco de las Garantías del Debido Proceso Legal. Opinión
Consultiva OC-16/99, 1.10.1999. Serie A, nº 16, párr. 140, y punto resolutivo Nº 8). De igual modo, ese tribunal
ha tenido la oportunidad de analizar intentos de Argentina tendientes a escudarse en el sistema federal,
desestimándolos de plano al señalar que “El artículo 28 de la Convención prevé la hipótesis de que un Estado
federal, en el cual la competencia en materia de derechos humanos corresponde a los Estados miembros, quiera
ser parte en ella” y que “dado que desde el momento de la aprobación y de la ratificación de la Convención la
Argentina se comportó como si dicha competencia en materia de derechos humanos correspondiera al Estado
federal, no puede ahora alegar lo contrario pues ello implicaría violar la regla del estoppel” (Corte IDH. caso
Garrido y Baigorria vs. Argentina. Reparaciones y Costas, sentencia de 27.08.1998. Serie C n. 39, párr. 46).
30
Así lo indica entre otros paradigmas posibles Lorenzetti en su obra Teoría de la decisión judicial, Rubinzal
Culzoni, 2006.
31
Corte IDH, Genie Lacayo v. Nicaragua. Fondo, Reparaciones y Costas. 29.01.1997, párrafo 77; García Asto y
Ramírez Rojas v. Perú. Excepción Preliminar, Fondo, Reparaciones y Costas, 25.11.2005, párrafo 166; entre otros
posibles.
32
Corte IDH, Genie Lacayo, cit., párrafo 81; Suárez Rosero v. Ecuador. Fondo. 12.11.1997, párrafo 72.
33
Corte IDH, caso Salvador Chiriboga vs. Ecuador, (Excepción Preliminar y Fondo), 06.05.2008.
Informação bibliográfica deste texto, conforme a NBR 6023:2002 da Associação Brasileira de Normas
Técnicas (ABNT):
GUTIÉRREZ COLANTUONO, Pablo Ángel. Derechos y seguridad jurídica. In: VALIM, Rafael;
OLIVEIRA, José Roberto Pimenta; DAL POZZO, Augusto Neves (Coord.). Tratado sobre o princípio da
segurança jurídica no direito administrativo. Belo Horizonte: Fórum, 2013. p. 157-167. ISBN 978-85-7700-728-8.
Profissões jurídicas são, para Liborio Hierro “aquelas cuja atividade habitual consiste
na elaboração técnica de normas jurídicas, sua aplicação, prevenção e resolução de
conflitos jurídicos”.1 Segundo Cotterrell, é possível identificar socialmente os juristas
como um grupo profissional unitário a partir de três ideias: a do sentimento comunitário
da profissão jurídica, vinculada por valores e interesses comuns; a da orientação ao ser
viço mais do que ao benefício; e a de um conhecimento especializado e uma capacitação
específica.2 Se for verdade que os juristas formam um grupo profissional distinto
dos outros, então, acontece que uma ética profissional múltipla é insolvente porque
não permite orientar a prática profissional dos juristas. Oferecerá pautas para orientar
o trabalho dos advogados ou dos juízes ou dos fiscais, mas não pautas para orientar o
trabalho de cada um deles como juristas e, portanto, não serão pautas para diferenciar
o trabalho de todos eles do trabalho de outros profissionais que não pertencem ao mundo
do direito. Em definitivo: se a profissão jurídica é verdadeiramente uma profissão, en
tão tem que existir uma ética profissional comum a todos os juristas, e se ela não existe,
então não resulta tão evidente que os juristas integrem uma profissão, porque é difícil
determinar a que fim se orienta o trabalho deles.
Encontramo-nos, pois, com um dilema: se a ética profissional dos juristas é múl
tipla, ela parece não dar conta dos traços comuns a todas as profissões jurídicas e oferece
uma imagem delas que não se corresponde com a proximidade entre as práticas que
uns e outros desenvolvem; pelo contrário, se a ética profissional dos juristas é unitária,
parece que não estamos em condições de dar conta das visíveis diferenças que separam
essas mesmas práticas.3A minha proposta é uma possível via de dissolução do dilema,
uma via que é fácil de imaginar: trata-se, em definitivo, de reiterar no centro da ética
profissional dos juristas a relação que existe entre a ética geral e a ética profissional.
Supondo que a ética deve ser única, a ética profissional deve se conceber como uma
especificação da ética geral, uma adaptação dela aos róis sociais específicos. Da mesma
maneira, teria de ser possível formular uma ética profissional unitária para os juristas,
especial em relação à ética geral, mas geral em relação às mais específicas éticas de cada
uma das profissões jurídicas.4
1
HIERRO. Las profesiones jurídicas: una visión de conjunto. Sistema, n. 137, p. 30, 1997.
2
COTTERRELL, Introducción a lasociología del derecho. Ariel, Barcelona, 1991. p. 159.
3
Veja-se LA TORRE. Juristas, malos cristianos. Abogacía y ética jurídica. Derechos y libertades, n. 12, p. 71-108, 2003.
para uma apresentação dilemática similar, neste caso aplicada em particular ao problema da ética profissional
dos advogados.
4
Assim, por exemplo, escreve Atienza: “que é única [a moral], significa que os princípios da moral são os
mesmos para todos os campos da atividade. O que existe é uma modulação desses mesmos princípios [nas
morais profissionais]”. ATIENZA. Ética judicial: porqué no un código deontológico para jueces? Jueces para la
democracia, n. 46, p. 43-46, 2003.
termo “deontologia (jurídica)” para aquelas normas jurídicas que regulam o exercício de
uma profissão (jurídica). Obviamente, pode e deve ter relações entre a ética profissional
e a deontologia, mas é conveniente diferenciar ambas as coisas. Por um lado, nem
todas as normas que são chamadas de deontológicas têm caráter moral, de maneira
que a deontologia não equivale à parte justificada da ética profissional, mas a inclui,
se supomos que todas as normas juridificadas da ética profissional caem dentro da
deontologia. Distinguir entre a parte moral e a parte não moral da deontologia é uma
questão que não deve nos preocupar agora. Por outra parte, nem todas as normas
da ética profissional vão se converter em normas deontológicas, ou seja, em normas
jurídicas. No caso contrário, um bom profissional do direito não se distinguiria de um
profissional que cumpre com as normas jurídicas vigentes, e uma das coisas que quero
neste trabalho é fazer essa distinção, precisamente porque nem sempre se admite a
existência dela. Darei um exemplo cinematográfico que mostre essa minha referência.
Em Matar alRuiseñor, filme de 1962 dirigido por Roberto Mulligan, o advogado
Atticus Finch (George Peck), faz, entre outras coisas, as seguintes: não exige o pagamento
a um cliente pobre, assume a difícil e gratuita defesa de outro cliente pobre; assume a
defesa desse cliente sabendo que tal defesa vai lhe tirar tempo para se dedicar aos casos
mais rentáveis e vai lhe trazer inimizade com seus vizinhos; visita a casa da família de
um defendido para lhes informar como está indo o processo; fica vigiando a porta de
uma cela para evitar que o seu defendido seja linchado pelos vizinhos que lhe cospem
na cara. É possível qualificar essas ações como as próprias de um bom homem, mas
também é possível qualificá-las, a todas ou algumas delas como as próprias de um bom
advogado. E, porém, parece que, em qualquer caso, nenhuma delas deveria lhe ser
exigível juridicamente a um advogado. Pois bem, se estou certo, e ao menos algumas das
ações de Atticus Finch são as próprias não só de um bom homem, senão, em particular,
de um bom advogado, então podemos entender porque a ética profissional é algo mais
do que as normas jurídicas podem exigir a um profissional do direito.
Não tenho especial interesse em reservar o termo “deontologia” para deter
minadas normas jurídicas, a única coisa que pretendo é especificar o objeto de que quero
falar. Liborio Hierro, pelo contrário, depois de constatar que, naquilo que se chama
deontologia incluem-se normas morais e não morais, entende que é “aconselhável
reduzir a deontologia ao seu aspecto ético, pois ainda que algumas normas deontológicas
se traduzirão em normas jurídicas, outras coincidirão com costumes profissionais de
caráter moral, e outras poderão se formular exclusivamente como normas de caráter
moral”.5 Se assim fizéssemos, a deontologia equivaleria à ética profissional, mas ao preço
de discrepar da ideia da deontologia que parecem ter os colégios profissionais. Assim,
por exemplo, o Preâmbulo do código Deontológico da Advocacia Espanhola de 2002
estabelece que “como toda norma [sic], a deontologia se inserta no universo do direito”.
Deixando de lado o erro evidente que contém a primeira parte da frase, está claro que
para o Conselho Geral da Advocacia Espanhola as normas deontológicas são sempre
normas jurídicas, algo que não se compadece com uma afirmação como a de Atienza
que fala de um “código sem sanções (como teria de ser um código de ética judicial)”.6
5
HIERRO, Las profesiones jurídicas: una visión de conjunto. Sistema, n. 137, p. 41, 1997.
6
ATIENZA. Ética judicial: Porqué no un código deontológico para jueces?, Jueces para la democracia, n. 46, p. 45,
2003.
7
FULLER. The morality of Law, Yale Universiti Press, 1969, cap. I, acolhe esta distinção, ainda que, claro, se trate de
uma distinção muito antiga.
8
Veja-se WRIGHT. Norma y acción. Una investigación lógica. Tecnos, Madrid, 1970. p. 32-34, sobre a noção de
regras ideais e a sua utilidade para definir o que tem que se entender por um bom profissional.
9
RADBRUCH. Filosofía del Derecho, Revista de Derecho Privado, Madrid, 1993, caps. 1 e 4. Pode se ver também
meu trabalho “Radbruch y laseguridad jurídica”, Anuario de Filosofía Del Derecho, XXI, p. 261-286, 2004.
A ética profissional dos juristas tem que ser, por consequência, uma ética da
justiça, pois é a justiça que deve servir à realização social do direito e, portanto, o desempenho
de atividades jurídicas. Porém, e sendo que o instrumento organizado socialmente para
a realização da justiça é o direito, a ética profissional dos juristas não pode ser uma
ética da justiça, como seria a de qualquer indivíduo que se proponha atuar justamente.
Tem que ser uma ética da justiça através do direito, de modo que, em princípio, não
corresponde aos juristas lidar de maneira direta com questões de justiça social se não
com questões de direito. A relação imediata entre o justo e o social resta para os cidadãos
ou para os seus representantes legisladores, restando aos juristas a realização social da
justiça mediada pelo direito.
Portanto, a função social dos juristas consiste na realização da justiça por meio da
realização do direito. O direito tem que ser visto como um desenho da sociedade justa
que deve ser levado à prática, e é a complexidade desse desenho e da sua colocação em
prática o que se deseja da existência de uma profissão jurídica em toda sua extensão e diversidade.
A origem democrática do direito, expressa na Constituição e na subordinação hierárquica
do restante das normas, não faz outra coisa senão mostrar com maior claridade que
o direito é o plano da sociedade justa adotado pela comunidade política, um plano
que deve ser executado profissionalmente pelos juristas. De maneira que a excelência
da profissão jurídica no seu conjunto vai ser medida pela sua capacidade de lograr a
eficiência do direito, ou seja, o seu êxito ou triunfo.
Neste momento já podemos introduzir a noção de segurança jurídica, porque ela expressa o
grau de eficiência de um sistema jurídico.10 Uma sociedade aproveita e desfruta de grau tão maior
de segurança jurídica quanto maior for a eficácia de suas normas jurídicas, porque enquanto
normas, a sua eficácia não é senão a sua capacidade para guiar as condutas dos cidadãos mediante
a previsão das condutas dos demais cidadãos e, principalmente, do poder público. E a conexão
entre a segurança jurídica e a justiça é a seguinte: a segurança jurídica é a realização
social da justiça se as normas jurídicas são justas, ou na medida em que elas sejam
justas. Por isso, a ética profissional dos juristas é a ética da segurança jurídica, porque
ela expressa o grau de realização da justiça através do direito.
O dito até aqui vale com caráter geral para todos os juristas, com independência da
concreta profissão que desempenhem. Em particular, vale também para os advogados.
O caráter contraditório do processo ou o caráter particular ou privado dos interesses a
defender pelos advogados não devem impedir a observação de que todo profissional do
direito, como tal, define a sua função pelo seu aporte à consecução da eficácia do direito.
Mas uma coisa é certa: é possível que o modo em que cada profissão jurídica serve à
segurança jurídica seja distinto, ou exija ou permita comportamentos diferenciados;
sobre este ponto falaremos logo.
A ética profissional dos juristas pende da justiça do direito. Se o direito é justo,
as atividades que se orientam à sua realização (a sua eficácia, a sua segurança jurídica)
terão uma justificação moral e, portanto, será possível elaborar uma ética profissional.
Se o direito não é justo, ou na medida em que ele não o seja, colaborar profissionalmente
na sua realização não pode ser uma atividade justificável desde um ponto de vista
moral, nem será possível elaborar uma ética profissional porque a consecução de fins
10
Para esta concepção da segurança jurídica em termos de eficácia, remeto a meu livro El valor de la seguridad
jurídica, Fontamara, México, 2007, cap. VI.
De fato, a ética profissional dos juristas é sempre problemática também por outra razão: a questionável morali
11
dade do recurso à coação própria de todo sistema jurídico e a inevitável imperfeição dos mecanismos de aplicação
do direito, que levam a aconselhar que “um conjunto de má consciência” forme parte da atitude ética não só dos
juízes, como diz Perfecto Andrés, senão de todos os juristas (ANDRÉS. Para una ética positivista del Juez. Id, En
torno a la jurisdicción, Buenos Aires, Editores Del Puerto, 2007, p. 58). A questão é importante, mas não me ocuparei
dela aqui.
vista moral (como as relações íntimas entre uma mulher ariana e um homem judaico,
castigadas duramente por tais leis), uma grave sanção cuja injustiça não é compensada
pela suposta justiça que deriva da manutenção genérica do império da lei no seu país,
um fim abandonado pelo regular cumprimento dessas leis particulares. Em um caso
como esse, não cabe recorrer à ética profissional como justificação do desempenho de
suas funções, porque um obrar que conduza a um resultado imoral não pode ser um
obrar moralmente correto desde nenhum ponto de vista, a saber, uma profissão cujo
desempenho gera males morais não é uma profissão que possa estar sujeita a uma ética.
Pois bem, este fiscal pode dedicar-se a outro setor do ordenamento jurídico alemão não
tão contaminado de injustiça, ou mesmo se dedicar a exercer a advocacia nesse tipo
de processo, defendendo cidadãos acusados de violar as leis raciais para evitar que
sejam condenados aqueles que verdadeiramente não as têm desobedecido. De maneira
que, se relembramos O juízo de Nuremberg, o grande filme de Stanley Kramer (também
chamado entre nós “Vencedores e vencidos”), nosso jurista não pode estar protegido
pela ética profissional se trabalha como fiscal no caso Feldenstein, um caso em que o
Sr. Feldenstein, judaico, é acusado injustamente de ter mantido relações sexuais com
Irene Hoffman, ariana; e não só porque a acusação será infundada, também se tivesse
tido fundamento. Pelo contrário, se tivesse exercido como defensor de Fedelstein, para
evitar uma condenação não só injusta, mas também ilegal, sua ação talvez tivesse sido
plenamente justificada pela ética profissional. O exemplo pode se complicar muito
além, e as dúvidas ético-profissionais deste jurista alemão ir muito além, mas aqui basta
fazer notar que os juristas estão sempre sujeitos a este gênero de dúvidas e que devem
resolvê-las antes de sentir que as suas ações estão cobertas pela ética profissional.
A ética profissional dos juristas como ética da segurança jurídica pode se com
preender melhor com uma referência à ideia da moral interna do direito, proposta por
LonFuller nos anos sessenta.12 De acordo com professores da Faculdade de Direito da
Universidade de Harvard, podemos distinguir duas morais em relação ao direito, uma
externa e outra interna. A moral externa pode se corresponder sem maiores precisões com
a justiça das normas jurídicas. A moral interna consiste em um conjunto de qualidades
que o direito deve reunir para ser eficaz. Quando Fuller se dispõe a enunciar essas
qualidades, segue uma antiga tradição que, pelo menos, vai desde Bodino até Bentham,
passando por Hobbes, Locke ou Montesquieu, todos os quais propuseram critérios que
devem se seguir para que as normas jurídicas possuam isso que depois Pérez Luno tem
chamado correção estrutural e funcional do direito.13 Porém, escolho Fuller pela clareza
e detalhe com que expõe a sua proposta e por duas características de sua moral interna
do direito nas quais ele insiste reiteradamente: a sua moralidade e vinculação com a
existência e a eficácia do direito.14 Direi uma palavra sobre cada uma delas.
Em relação ao caráter moral da moral interna do direito, e sem que agora seja
possível uma análise muito extensa (que já realizei em outro momento),15 vale ressaltar
que tal caráter moral deriva dos pressupostos substantivos que Fuller adjudica a todo
12
FULLER, The morality of law, citado.
13
A. E. PÉREZ LUNO, La seguridad jurídica, Ariel, Baercelona, 1991.
14
Veja se R. ESCUDERO ALDAY. Positivismo y moral interna del derecho, Centro de Estudios Constitucionales,
Madrid, 2000, e do mesmo autor, é de interesse a obra de Fuller, “Argumentos para la recuperación de la teoría
de Lon. L. Fuller”, Anuario de Filosofía del Derecho, 2002, t. XIX, p. 309-331.
15
El valor de la seguridad jurídica, cit, cap. V.
sistema jurídico e que, uma vez admitidos, fazem que a realização de todo sistema
jurídico gere certo nível de respeito pela dignidade e a autonomia de todos os cidadãos.
Além disso, ao respeito pela moral interna do direito Fuller atribui o benéfico efeito de
gerar normas mais justas (porque, por exemplo, a clareza e a publicidade das normas
concordam melhor com as normas justas que com as injustas).
Não concordo nem com uma coisa nem com a outra. Ou seja, não acredito que
seja possível atribuir a todo sistema jurídico esses pressupostos substantivos que Fuller
supõe, nem que o respeito pela moral interna do direito predisponha à criação de normas
justas; e por isso não concordo com atribuir valor moral à moral interna do direito em
todos os casos. Porém, acredito que uma vez que esteja determinado que um sistema
jurídico particular aspira a um determinado nível de justiça, a moral interna do direito
adquire o caráter de uma moral profissional, na medida em que a correção estrutural
e funcional do direito a que serve é a garantia dessa justiça presente na suas normas.
Sobre a vinculação da moral interna do direito com a eficácia das normas jurí
dicas e, portanto, com a sua existência, considero que Fuller a demonstrou de maneira
consistente. O respeito pela moral interna do direito é condição necessária da boa formu
lação e funcionamento do sistema jurídico, e a falta de respeito pelas suas exigências
gera não só um mau sistema jurídico desde o ponto de vista técnico, senão em última
instância a inexistência do sistema jurídico e, com isso, o fracasso de suas finalidades.
Portanto, as exigências da moral interna do direito não são negociáveis para o jurista:
se não as respeita, falta ao seu dever porque destrói o direito.
Os oito elementos ou exigências da moral interna do direito são os seguintes:
generalidade, clareza, irretroatividade, coerência, publicidade, possibilidade de
cumprimento e estabilidade das normas; e congruência entre as normas estabelecidas
e os atos de aplicação delas. Os sete primeiros servem à correção estrutural do direito,
enquanto que o oitavo serve à sua correção funcional. Mas, ao final, todos servem
de maneira conjunta tanto a uma quanto a outra: por um lado a correção funcional
depende da estrutural, porque não é possível aplicar corretamente normas que estão
mal formuladas; por outro lado a correção estrutural depende da funcional porque a
formulação correta de novas normas depende muitas vezes da correta aplicação de
normas já existentes e porque a dotação de sentido às normas, que pode ser julgada
segundo a correção estrutural, se produz quase sempre no processo de sua aplicação,
regida pela correção funcional.
Agora podemos ver porque a ética profissional aqui proposta é uma ética da
aspiração e não de dever, da mesma maneira em que a moral interna do direito não o
é. De fato, as suas exigências nunca podem ser satisfeitas por completo, porque se trata
de regras ideais de formulação e aplicação normativa. Por isso, mas também porque ao
menos algumas delas são exigências de satisfação ponderada ou prudente, sendo que
a sua exasperação poderia dificultar o objetivo final da consecução de normas justas.
É fácil comprovar que, levadas ao extremo, a irretroatividade ou a estabilidade são
contraproducentes; ou também que a máxima generalidade é inimiga da claridade ou
da aplicação congruente. Por isso, entendida como moral profissional, a moral interna
do direito requer do jurista sempre um exercício de reflexão e de flexibilidade e não
um respeito mecânico nem rigoroso.
A ética da segurança jurídica, pois, é uma ética unitária para todos os juristas.
Todos eles devem orientar sua atividade para redundar na maior eficácia do sistema
ATIENZA. Ética judicial: porqué no un código deontológico para jueces? Jueces para la democracia, n. 46, 2003,
16
p. 46.
17
COTERRELL. Introducción a la sociologia del derecho, p. 160
18
ZACHARIAS. The images of Lawyer. Georgetown journal of Legal Ethics, n. 20, p. 73-100, 2007.
19
LA TORRE. Juristas, malos cristianos. Abogacía y ética jurídica. Derechos y libertades, n. 12, p. 88, 2003.
20
LA TORRE, ibidem.
21
HIERRO. Las profesiones jurídicas: una visión de conjunto. Sistema, n. 137, p. 42, 1997.
22
KIPNIS. Ethics and the professional responsability of lawyers. Journal of Business Ethics, n. 10, p. 569-579, 1991.
23
FRIED, The lawyers as friends: the moral foundations of the lawyer-client relation. Yale Law Journal, n. 85,
p. 1060-1089, 1976.
24
LA TORRE. Juristas, malos cristianos. Abogacía y ética jurídica. Derechos y libertades, n. 12, p. 88, 2003.
25
HUTCHINSON. Legal ethics for a fragmented society: between professional and personal. International Journal
of the Legal Profession, n. 5, p. 175-191, 1998; e POSTEMA. Moral responsability in professional ethics. New
York University Law Review, n. 55, p. 63-89, 1980.
uma luta pelos valores que o direito deve impor à sociedade, aos que normalmente
denominamos justiça.26
No segundo, a referência final à justiça é através de uma implicação da famosa
fórmula Radbruch à atividade dos advogados, nestes termos:
O advogado pode (lhe é licito moral e juridicamente), no respeito à lei, utilizar
argumentos e realizar condutas a favor de seu cliente, mesmo se a sua orientação à
justiça (como valor moral) é duvidosa ou contrária a esta, salvo que a possível injustiça
conseguinte aos seus atos se apresente em proporções tais como para resultar intolerável.27
O que revela esta coincidência? (Da que, claro, participam expressamente
os parágrafos finais de outros trabalhos que já manipulei como os de Postema ou
Hutchinson). Em minha opinião o trabalho dos advogados, como trabalho jurídico, só
adquire sentido por conexão com o sentido do direito, que não é outro senão a realização
social da justiça. Em outras palavras: na medida em que a advocacia seja uma profissão
jurídica, por muito diferenciada de outras profissões que possa chegar a ser, a sua ética
não pode ser outra senão a que vem marcada pelo valor da justiça, de maneira que
se seu exercício não serve à justiça, então não pode estar justificado moralmente nem
pode ser dispensado de estar submetido a uma ética profissional. Ou seja, que, entendo
mais adequada a referência final à justiça de Liborio Hierro que a de Massimo La Torre,
porque a de Hierro pressupõe uma afeição genérica da atividade dos advogados ao
valor da justiça, enquanto a de La Torre supõe só a proibição da injustiça extrema ou
intolerável entre os possíveis resultados da atividade. Lembremos aquela inevitável
necessidade de apontar à justiça na hora de configurar a atividade profissional dos
advogados e vejamos até onde esta atividade não se compadece substancialmente com
a dos demais juristas.
Na realidade, o problema não radica na diversidade de róis. Como disse Kipnis,
a diversidade de róis não é outra coisa que o resultado da complexidade do sistema de
aplicação do direito que temos adotado coletivamente, uma complexidade que requer
designar funções bem diversas aos distintos agentes, aspecto em que o direito destaca,
não qualitativamente, porque a maior parte das atividades sociais complexas exige
também a designação de róis diferenciados, mas sim quantitativamente, na medida em
que o número desses róis diferenciados é maior no âmbito jurídico e também é maior a
distância que separa uns róis de outros. Porém, e isto é mais claro em uma comunidade
política democrática, por muito complexo que seja o mecanismo de aplicação do direito,
o direito não deixa de ser um plano idealmente homogêneo ou unitário traçado pela
comunidade para a consecução de seus fins (de sua concepção de justiça) e os juristas
não deixam de ser os encarregados da execução desse plano, seja desempenhando um
rol ou outro, e sua ética profissional, a de todos eles, determina-se pelo seu compromisso
com essa tarefa. O problema não radica na diversidade dos róis, mas em se os róis podem
ser servidos adequadamente mediante o compromisso com a segurança jurídica, ou
se pelo contrário algum desses róis (penso no advogado) exige não se comprometer
com ela. Minha resposta é que também os advogados devem orientar sua atividade à
segurança jurídica, que a sua ética profissional está inspirada pelo valor da segurança
jurídica, e que seu rol, consistente na representação e defensa dos interesses privados,
26
HIERRO, Las profesiones jurídicas: una visión de conjunto. Sistema, n. 137, p. 44, 1997.
27
LA TORRE. Juristas, malos cristianos. Abogacía y ética jurídica. Derechos y libertades, n. 12, p. 108, 2003.
tem que ser definido de tal forma que seja compatível com a consecução da segurança
jurídica. Vejamos:
O rol dos advogados deve se definir, em primeiro lugar, como um rol jurídico, e só
em segundo lugar como um rol guerreiro ou de representação e defensa dos interesses
da parte. É um rol jurídico porque a advocacia é uma profissão jurídica e não de outro
tipo e, como tal, um rol que só adquire sentido no seio de uma particular forma de
ação social. É a comunidade política a que decide se regulamentar pelo direito, a que
estabelece os mecanismos para sua criação e aplicação e a que decide atribuir a alguns de
seus membros a muito especializada tarefa de manipular esses mecanismos. Os distintos
róis jurídicos são também instaurados e definidos por uma decisão da comunidade
política, róis cuja existência só tem sentido e justificação porque a comunidade considera
que o interesse público, seu interesse, requer deles. Mas o interesse da comunidade
está fixado ou especificado nas normas jurídicas, no direito considerado como um
plano coerente de ação, no direito como expressão objetivada do interesse público ou
comunitário, e por isso o interesse da comunidade política consiste na realização do
direito, de maneira que o que se requer de todos os profissionais do direito, de todos
aqueles que desempenham um rol jurídico, é a realização do direito, ou seja, a consecução
da segurança jurídica. Que um particular rol consista (perante tudo) na representação
e defensa dos interesses privados não é razão para deixar de lhe considerar um rol
jurídico e, portanto, encaminhado à segurança jurídica. Trata-se de que se tem decidido
que a realização do direito requer que os particulares disponham de um representante
e defensor profissional, sem cujo concurso o direito se realizaria em menor medida.
Por isso, o rol dos advogados não se define bem como o de representação e defensa dos
interesses privados, senão como o de representação e defensa dos interesses privados
com a finalidade de realizar o direito, de ajustar a realidade social ao ideal jurídico, de
aumentar o nível de segurança jurídica disponível etc. Neste sentido, é verdade que a
ética profissional dos juristas, advogados inclusive, é uma ética comunitária porque a
sua função social é a de servir à comunidade.
Só assim faz sentido que os advogados sejam, primeiro, dotados de uma instrução
técnica específica que recebem principalmente nas Faculdades de Direito e sejam, depois,
apoderados com um estatuto profissional especial do que não dispõe nenhuma outra
profissão guerreira, como a do motorista, conselheiro, escolta ou segurança, todos eles
ao serviço dos interesses privados, mas nenhum deles equiparável a um advogado, ao
que se atribui uma posição institucional privilegiada que só faz sentido porque por meio
dela poderão servir ao interesse geral, público, comunitário ou de todos. Por isso, e no
sentido contrário, no momento em que a representação e defensa letrada de interesses
privados deixam de servir ao interesse geral porque deixa de contribuir à realização
do direito, a advocacia deixa de ser uma profissão jurídica ou, para ser mais exato, os
que a exercem com tais consequências deixam de ser bons profissionais porque seu
trabalho não logra os objetivo prefixados.
Ajudará um pouco o fato de visualizar que os que até agora temos qualificado
como interesses privados não são em realidade privados, senão públicos, ou não são
privados no sentido de que, por esse motivo, não sejam públicos. De fato, por “interesses
privados” temos entendido os interesses de um cidadão individual (ou de um conjunto
definido e limitado de cidadãos, ou de isso que se chama pessoa jurídica, que a esses
fins é indiferente). Mas os interesses dos membros da comunidade (dos cidadãos) só
são privados no sentido de que são seus, não no sentido de que não sejam interesses
de todos os demais membros da comunidade. Pelo contrário, todo interesse de um
membro da comunidade que pode ser definido através do direito é, por definição, um
interesse público, porque a comunidade tem tencionado que faça parte de seu plano, e
por isso permite que esse interesse prevaleça através de mecanismos jurídicos; porque
não só permite, senão também o incentiva, e cria mecanismos institucionais adequados
para que assim aconteça (cria os advogados), porque também é de interesse público que
prevaleçam os interesses definidos como legítimos; de fato, nisso consiste a realização
do direito, em que prevaleça o que previamente tem sido qualificado como digno de
prevalecer. De maneira que o cidadão que se aproxima ao juizado acompanhado pelo
seu assessor letrado apresenta perante a comunidade um interesse que só é privado no
sentido de que é dele, mas que é público porque a comunidade o considera digno de
ser respaldado mediante as instituições públicas, e assim o considera porque, primeiro,
alguns interesses individuais são também de todos; segundo (e não é exatamente o
mesmo), que prevaleçam alguns interesses individuais começa também no interesse
de todos; e terceiro, que seja feito em concordância com o sistema de adjudicação de
interesses socialmente definido é também parte do interesse de todos.
Em definitivo, os advogados, ao representar e defender os interesses de parte
que são representáveis e defendíveis juridicamente, servem o interesse de todos, e
por essa razão podem ser considerados como profissionais do direito. Pelo contrário,
quando representam e defendem interesses de parte que não são representáveis nem
defendíveis juridicamente, deixam de servir o interesse de todos e exercer corretamente
a sua profissão. Quando os advogados não tomam consciência dessa distinção, ou seja,
quando não são conscientes de que a sua missão guerreira está limitada pelos interesses
da comunidade mediante a limitação do representável e defendível, estão perdendo
de vista seu rol, de maneira similar a como o perde de vista o juiz quando acredita
que a sua função profissional é fazer justiça além, por cima ou à margem do direito. É
verdade que os juízes, como os advogados, devem servir à justiça, mas devem fazê-lo
mediante o direito, porque esse é o rol social que, como profissionais do direito, tem
sido adjudicado para eles. Ignorar essa mediação do direito na consecução da justiça é
cair no que poderíamos chamar vulgarismo profissional (adapto a ideia de vulgarismo
jurídico como a usa Fernando Atria),28 ou seja, na incompreensão do que é o direito e, em
particular, do modo em que se relaciona com a justiça e, por isso, do rol que corresponde
aos profissionais do direito, sejam juízes, advogados, ou outra coisa.
Podemos afirmar, portanto, que a ética profissional dos juristas é uma só, a ética da
justiça mediada pelo direito, ou a ética da segurança jurídica (e é uma ética profissional
porque não é uma ética da justiça somente, assim que o demônio dos juristas talvez
seja a justiça, mas fantasiada com uma roupa longa e preta). Podemos afirmar, também,
que a distribuição do trabalho jurídico em róis diferenciados é uma exigência técnica
que não afeta a questão da ética profissional. É verdade que a segurança jurídica é
dada de maneira distinta desde cada um dos róis, mas isso não supõe uma mudança
ou diversificação de valores, senão simplesmente que a consecução de um mesmo
valor requer atitudes e comportamentos diferentes em função da posição que cada um
28
ATRIA, Jurisdicción e independencia judicial: el poder judidical como poder nulo. Revista de Estudios de la
Justicia, n. 5, p. 119-141, 2004.
ocupa. E, no caso dos advogados, do que se trata é de fazer prevalecer os interesses que
se consideram juridicamente dignos disso, e de fazê-lo do modo em que se considera
juridicamente digno. Quando é feito assim, os interesses do cliente, da parte particular,
são ao mesmo tempo os interesses de todos, porque são os interesses do direito. Por isso,
os advogados participam da ética profissional unitária como aqui tem sido proposta.
Isso significa que os advogados não devem representar e defender qualquer
interesse privado de qualquer maneira? Sim, isso é o que significa. Não é do interesse
público que sejam defendidos perante os tribunais, e mediante técnicos especializados e
privilegiados, qualquer interesse e de qualquer maneira. De fato, assim acontece a cada
dia e em todo lugar, mas a ética, também profissional, consiste em determinar o que
deve ser feito e não descrever o que de fato se faz. Outra questão será determinar em
geral e em cada caso o que é defendível e o modo em que o é, e que essa determinação
seja muitas vezes complexa não modifica nada, só corrobora a dificuldade típica das
questões morais e a dificuldade típica de uma profissão como a advocacia, duas de cujas
funções consistem em ajudar o cidadão a dar forma a seus interesses de maneira que
coincidam com os da comunidade e em escolher o modo em que tais interesses possam
ser defendidos, um modo que não menoscabe o interesse da comunidade.
Tal vez por essa razão, por essa complexidade tópica da determinação do que
deve ser feito no exercício da advocacia é que às vezes se pressupõe como qualidade
principal dos advogados a practical wisdom ou sabedoria prática.29
Antes enumerei três fatores ou motivos que dificultam a integração da advocacia
numa compreensão unitária da profissão jurídica e, portanto, que constituem objeções à
formulação de uma ética profissional comum. Acerca da primeira, o caráter guerreiro da
advocacia, tentei dar uma resposta nos parágrafos anteriores, talvez de forma demasiado
abstrata. Procurarei compensar o excesso de abstração em uma breve análise das outras
duas objeções: o caráter liberal da profissão jurídica e sua diversificação.
Como os advogados são profissionais liberais, podem escolher seus clientes,
dessa forma é possível que os escolham em função de critérios que menoscabem a
segurança jurídica. De fato, é assim que acontece. Por exemplo, um advogado pode
escolher seus clientes só entre os integrantes de uma classe social, se, como acontece
frequentemente, seus honorários são tão altos que poucas pessoas têm condição de
pagar. Um advogado pode escolher seus clientes só entre cidadãos que desejem evadir
tributos se, como acontece frequentemente, ele é experto naquilo que se chama “enge
nharia fiscal”. Ainda, um advogado pode escolher seus clientes só entre empresas que
pretendem demitir seus empregados com o menor custo possível, menos inclusive
do que legalmente corresponderia. Em qualquer dos três casos, a segurança jurídica
resulta menoscabada, de modos diferentes. No primeiro, porque os advogados são o
instrumento de discriminação social na prestação de serviços jurídicos e, portanto, da
distribuição desigual da segurança jurídica e, portanto, da desigual defensa dos direitos
dos cidadãos.30 No segundo, porque os advogados procuram uma ineficácia das normas
29
KRONMAN, The lost lawyer. Failing ideals of the legal profession, Harvard Univerity Press, 1993.
30
ANDRÉS. Derecho y justicia em el siglo XXI. Mas difícil todavia. Jueces para la democracia, n. 48, p. 27-40, 2003;
agora também em Id., En torno a la jurisdicción, cit., p. 77-106, constata esta desigualdade como um efeito
negativo ou disfunção do modo atual de funcionar do sistema jurídico no seu conjunto. No texto afirmo que
os advogados, não mencionados expressamente por Perfecto Andrés têm parte da responsabilidade desta
desigualdade injusta e antijurídica.
tributárias e têm que supor que estão em condições de consegui-la em alguma medida.
No terceiro, porque os advogados procuram igualmente a ineficácia do direito laboral,
reforçando a parte forte e, portanto, enfraquecendo a parte fraca, contrariando assim
os objetivos declarados desse sistema jurídico. Obviamente, os membros da classe
dominante, os que pretendem evadir impostos e os empresários que querem poupar
dinheiro nas indenizações por demissão têm direito à representação jurídica, não só por
seu próprio bem-estar senão pelo bem de todos. Porém, isto não impede a constatação
de que algumas inclinações profissionais dos advogados menoscabam a segurança
jurídica mais do que outras, ou a beneficiam menos do que outras, ou seja: nem todas as
atividades profissionais dos advogados servem da mesma forma à segurança jurídica,
de modo que nem todas são igualmente benéficas para o sistema jurídico e, portanto,
para a comunidade.
Pois bem: o fato de que os advogados sejam profissionais privados que possam
escolher livremente seus clientes, não é, na verdade, base para uma objeção contra uma
ética profissional unitária da segurança jurídica. Que os advogados possam escolher
seus clientes é uma opção institucional, discutível como todas, que deveremos valorizar
como melhor ou pior em função de sua capacidade para servir aos fins da instituição ou,
em outros termos, de sua capacidade para servir ao êxito do direito. Alguém poderia
fundamentar que enquanto os advogados sejam profissionais privados, a representação
e defensa das partes serão necessariamente de qualidade desigual e que, portanto, se
a boa representação e defensa letrada serve para algo (e serve sim), o direito à tutela
judicial efetiva será garantido de maneira desigual aos cidadãos e o império da lei
se reduzirá. Outra pessoa poderia pensar que, ainda sendo as coisas desse modo, a
alternativa (uma advocacia cujo exercício fosse regulamentado de outra maneira) seria
sempre pior porque seus efeitos para a tutela judicial efetiva e para o império da lei
seriam ainda mais devastadores. Mas com independência de qual seja a opinião que
tenhamos daquela opção institucional, a ética profissional continua sendo a mesma e só
variam as condições fáticas nas quais devemos aplicá-la. Que os acordos institucionais
do sistema jurídico permitam exercícios profissionais mais ou menos próximos ao ideal
da ética profissional não é uma objeção contra a ética profissional nem um obstáculo
contra a possibilidade de se ajustar a ela. Precisamente, mostram que independentemente
de que o direito vigente deixar à livre eleição dos profissionais do direito na hora de
desenvolver sua profissão, o setor da ética profissional não juridificado, não submetido
à coação jurídica, é maior que em outras circunstâncias hipotéticas.
Isso significa que nem toda opção profissional no mundo do direito é igual
mente valiosa se é julgada desde a ética profissional? Sim, isso é o que significa. Não
é igualmente valioso qualquer exercício da advocacia, como também não tem porque
sê-lo uma opção mais genérica por uma ou outra profissão jurídica. Uma opinião muito
acolhida no âmbito dos profissionais do direito, e que devemos confrontar aqui, é que
qualquer dedicação jurídica profissional é igualmente legítima desde o ponto de vista da
ética profissional. Os que aderem a essa opinião podem acreditar que, desde o ponto de
vista geral, sejam mais valiosas umas opções do que outras, seja mais valioso defender
os trabalhadores que os empresários, ou os pequenos criminosos antes que os maiores,
ou defender os direitos humanos mais que defender os defraudadores de impostos, ou
assessorar em matéria de adoção ou de proteção contra a violência de gênero mais que
assessorar a traficantes de armas ou a bancos ou a jogadores de futebol e corredores de
F1; mas insistirão que essa é uma opção moral extraprofissional. Porém, isso é um erro,
cujas fontes são as seguintes: a primeira, a crença em que a ética profissional está mais
do lado da regulação jurídica do que do lado da ética ou, em outros termos, a redução
da ética profissional ao que temos denominado deontologia na secção segunda deste
trabalho; mas essa crença é incorreta, porque a ética profissional é uma parte da ética
e seu conteúdo não varia pelo fato de estar incorporada em maior ou menor medida
ao direito. E, a segunda, a crença que a ética profissional só é uma ética de mínimos,
e que uma vez realizados estes, não resta mais nada para exigir, desde esse ponto de
vista aos juristas; uma crença que também é errada porque, como a ética geral, a ética
profissional é uma ética de máximos, uma ética de excelência ou aspiracional, da que
derivam umas exigências mínimas cujo acatamento, embora, não pode acabar com
nossa capacidade para valorizar, desde os primeiros parâmetros da ética profissional,
distintos comportamentos que se aproximam mais ou menos do ideal profissional.
A profissão jurídica deve servir à execução do plano social geral em que o direito
consiste, e quem mais se aproxima da excelência profissional mais contribui à execução
desse plano. Nem todos os juristas contribuem por igual, nem todos os advogados e a
suas disposições e ações devem ser valorizadas de maneira distinta desde o ponto de
vista da ética profissional. Quando no Juízo de Neuremberg, o juiz Haywood (Spencer
Tracy) fica no final de semana trabalhando em casa no caso que tem que julgar, em vez
de fazer turismo ou sair para festa ou para compras, ou quando em Matar al Ruiseñor, o
advogado Atticus Finch decide ficar de plantão noturno na porta da cela para evitar um
linchamento, teria sentido dizer que suas ações, claramente não exigíveis, não devem
ser valorizadas em função da ética profissional senão da ética geral? Será que eles não
consideram estar acatando melhor assim que de outra maneira seu dever profissional?
São exemplos cinematográficos, mas acredito que todos conseguem visualizar neles o
reflexo da realidade cotidiana do exercício do direito, uma realidade que nos mostra
que nem todos os que se dedicam ao direito fazem-no com idêntico grau de dedicação
e compromisso, e que, esse grau de dedicação e compromisso existe em relação a ideais
morais profissionais e não só para com ideais morais gerais. Então, não entenderemos
corretamente as decisões do juiz que trabalha em casa no final de semana ou do advogado
que opta por defender aos mais fracos, senão as associamos com a ética profissional
deles. Em definitivo, não é verdade que qualquer orientação genérica e concreta ação
profissional de um advogado tenham o mesmo valor em função da ética profissional e
não é verdade que a eleição de uma profissão jurídica ou de outra tenha necessariamente
o mesmo valor à luz da ética profissional. Mas como já apontei antes, seguramente não
é fácil determinar o valor ético-profissional de cada decisão em cada caso, mas essa
dificuldade é a mesma que afeta muitas das decisões morais que temos que tomar ou a
muitos dos juízos morais que fazemos das decisões dos outros. Porque as questões da
moral profissional não se diferenciam neste ponto de questões de moral geral.
Resta, por último, a questão da diversificação contemporânea da advocacia. Como
ensina Cotterrell e Hutchinson nos trabalhos citados, e quem conhece o mundo do
direito sabe, os advogados constituem hoje um grêmio profissional muito diversificado,
e essa diversidade dificulta a formulação não só de uma ética profissional unitária senão
inclusive de uma ética profissional unitária para advogados. Em relação a isso, apontarei
só duas coisas. Uma, que a diversificação, na medida em que expressa a liberdade dos
advogados para escolher seus clientes e sua forma de trabalhar (no seio de uma empresa,
em um escritório, ou individualmente) não é um obstáculo para a ética profissional senão
só o campo em que a ética profissional deve ser aplicada. Como já disse, nem todas as
Allan R. Brewer-Carías
Introducción
En la Declaración de los derechos del hombre incorporada en el texto de la Constitución
Federal para los Estados de Venezuela de 1811, que fue la primera que se sancionó en
Latinoamérica,2 se definió la seguridad como “la garantía y protección que da la sociedad
a cada uno de sus miembros para la conservación de su persona, de sus derechos y de
sus propiedades” (art. 156), lo que conlleva la necesidad de que exista seguridad en
relación con el derecho que le es aplicable a los mismos; principio que se expresa, en
la Constitución vigente de 1999, cuando al regular el régimen socioeconómico de la
República se impone al Estado el deber de “garantizar la seguridad jurídica” (art. 299).
Se trata de garantizarle a los administrados el poder estar seguros de cuál es
el derecho vigente que les es aplicable en sus personas, sus derechos y sus bienes, al
igual que en las relaciones jurídicas que establezcan con el Estado y con los demás
administrados. Se trata, en definitiva de la certeza que los administrados tienen que
tener sobre el derecho vigente que rige sus actuaciones.
Esa certeza deriva, por una parte, del establecimiento y cumplimiento de las
normas establecidas para el formación de las leyes, y, por la otra, de las normas dispuesta
para asegurar su conocimiento por toda la colectividad, es decir, su publicidad, de
manera que todos puedan tener certeza de que se trata realmente de manifestaciones de
la voluntad del legislador y de que todos tienen posibilidad de conocerlas, de manera que
nadie pueda alegar ignorancia o desconocimiento del derecho vigente. Esta publicidad
de las leyes es precisamente lo que permite que en la ley se formule la presunción de
que “la ignorancia de la ley no excusa de su cumplimiento” (art. 2, Código Civil).
1
Trabajo elaborado para la obra colectiva coordinada por el profesor Rafael Ramires Araujo Valim sobre El
principio de seguridad jurídica en el derecho administrativo, Editorial Fórum, São Paulo.
2
Véase BREWER-CARÍAS, Allan R. Las Constituciones de Venezuela. Caracas: Academia de Ciencias Políticas y
Sociales, 2008. t. I.
3
Sobre el proceso de aprobación de la Constitución de 1999 véase: BREWER-CARÍAS, Allan R. La Constitución de
1999. Derecho Constitucional Venezolano. Caracas, 2004. t. I.
4
Véase en Revista de Derecho Público, n. 84, Caracas: Editorial Jurídica Venezolana, 2000.
5
Idem.