Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Promulgação e controlo
JORGE MIRANDA, Manual..., V, 4.ª ed., ns. 84 ss., pgs. 302 ss.;
1
Note-se que os números 4 a 7 são regras especiais, relativas apenas às literalmente às leis orgânicas (v. a
tipificação destas no art.º 166.º, n.º 2)
QUADRO
PROMULGAÇÃO E VETO
(para efeitos didácticos, são transcritos os fragmentos de normas da Constituição; todavia, nas
provas escritas, geralmente não é necessário transcrever os artigos – basta citá-los).
O PR:
i) promulgar (art.º 136.º, n.º 1 (“No prazo de vinte dias contados da recepção
de qualquer decreto da Assembleia da República para ser promulgado como lei, (…)
deve o Presidente da República promulgá-lo (…)”) e art.º 134.º, al. b), 1.ª parte);
ii) ou exercer veto político (art.º 136.º, n.º 1, no fragmento: “No prazo de vinte
dias contados da recepção de qualquer decreto da Assembleia da República para ser
promulgado como lei, (…) deve o Presidente da República (…) exercer o direito de veto,
solicitando nova apreciação do diploma em mensagem fundamentada”);
2
JORGE MIRANDA, Manual..., V, 3.ª ed., pg. 281.
(já não pode requerer a fiscalização preventiva – há um fenómeno de
preclusão do exercício desse poder).
c) A partir do 21.º dia, o PR deverá promulgar (esta promulgação fora do prazo do art.º
136.º, n.º 1, é uma inconstitucionalidade formal, mas que acarreta o desvalor da mera
irregularidade). Esta promulgação fora do prazo é um “mal menor” em face da pura e simples
omissão de promulgação, que violaria mais gravemente a norma do art.º 136.º, n.º 1.
Há uma preclusão (ou seja, exclusão) do poder de veto do art.º 136.º, n.º 1.
A promulgação deve ser expressa (como decorre da letra do n.º 1 do art.º 136.º).
(Em geral, em Direito, o silêncio não significa assentimento ou aquiescência (cfr. art.º
217.º do Código Civil. Não é verdadeiro, na sua pureza, o brocardo “Qui cala consens”.
A promulgação, enquanto acto peremptório4, não deve ser praticada com reservas 5. A
promulgação, tal como o veto, é “in totum”; ou seja, apenas se admite a chamada “promulgação
simples” (em sentido contrário, cfr. CARLOS BLANCO DE MORAIS, Curso de Direito
Constitucional, I, 2.ª ed., n.º 571, pg. 461 (na 1.ª ed., pgs. 416-417)
3
V. JORGE MIRANDA, Manual..., V, 3.ª ed., pg. 301-302; GOMES CANOTILHO / VITAL
MOREIRA, Constituição..., 3.ª ed., anot. ao art.º 139.º, V, pg. 599.
4
AFONSO DE OLIVEIRA MARTINS, Promulgação, pg. 585.
5
Em sentido contrário, CARLOS BLANCO DE MORAIS, Curso de Direito Constitucional, I, 2.ª ed., n.º
571, pg. 461.
Após a promulgação, é necessário ainda a referenda do Governo (arts. 140.º, n.º 1,
134.º, al. b), 1.ª parte)
O veto deve ser fundamentado (art.º 136.º, n.º 1, “in fine”: “solicitando nova
apreciação do diploma em mensagem fundamentada”).
ii) O Professor RUI MEDEIROS entende que aí está consagrado o veto em geral ( RUI
MEDEIROS, A decisão de inconstitucionalidade , pg. 85; RUI MEDEIROS, Artigo 233º, III, in Constituição
Portuguesa Anotada, tomo III, pg. 423).
O Professor JORGE MIRANDA admite apenas como fundamentação razões políticas (interesse
público, conveniência para o país, bem comum) 6, pelo que, apesar de não estar expressamente
previsto no art.º 136.º, se trataria de um veto político, assim precludindo como
fundamentação válida a invocação de quaisquer outras razões (v. JORGE MIRANDA, Manual...,
V, 4.ª ed., n.º 87.I, pg. 314; no mesmo sentido, MARCELO REBELO DE SOUSA / JOSÉ DE MELO
ALEXANDRINO, Constituição…, pg. 254; JOSÉ MANEL SÉRVULO CORREIA Legalidade e autonomia
contratual…,
pgs. 222, 228 (mas acompanha a posição de GOMES
CANOTILHO, na pg. 215, e defende o veto de decretos regulamentares por
razões de inconstitucionalidade (pg. 237)); JOSÉ DE MATOS CORREIA, A fiscalização da
constitucionalidade e da legalidade, 2.ª ed., pg. 41
c) Como “media via”, CARLOS BLANCO DE MORAIS propugna que o veto político
“exprime um juízo de discordância relativamente ao mérito (jurídico e político)” (CARLOS
BLANCO DE MORAIS, Curso de Direito Constitucional, I, 1.ª ed., pg. 420); não admite dúvidas de
constitucionalidade como fundamento deste veto, mas admite outros “argumentos jurídico-
constitucionais”, designadamente a objecção ao “mau Direito” (CARLOS BLANCO DE MORAIS,
Curso de Direito Constitucional, I, 1.ª ed., pg. 421)
“Isto porque a norma legal pode exibir defeitos técnicos ao comprimir direitos
fundamentais ou depreciar certos princípios constitucionais, a uma ‘escala de baixa
intensidade’,
a qual não resultará ser suficiente para gerar uma inconstitucionalidade.” CARLOS
BLANCO DE MORAIS, Curso de Direito Constitucional, Tomo I, As Funções do Estado e o Poder Legislativo
no Ordenamento Português, 2.ª ed., Coimbra Editora, 2012, Parte III, 4, n.º 581, pg. 468).
vs.
Admitindo o veto de bolso em circunstância de final da legislatura, art.º I, secção VII, n.º 2, da Constituição
norte-americana.
Após o veto do art.º 136.º, n.º 1, não é possível que o PR requeira a fiscalização
preventiva ao TC (mesmo dentro do período dos primeiros oito dias) (cfr. art.º 278.º, n. 1 e
3)10.
8
JORGE MIRANDA, Manual..., V, 4.ª ed., n.º 85.IV, pg. 311.
9
AFONSO DE OLIVEIRA MARTINS, Promulgação, pg. 589.
10
Em sentido contrário, GOMES CANOTILHO, Direito Constitucional e Teoria..., 7.ª ed., pg.
626.
PR devolve o diploma à AR. A AR tem várias opções ao seu dispor:
A iniciativa legislativa não pode ser renovada na mesma sessão legislativa, salvo nova
legislatura (art.º 161.º, n.º 3, do RAR).
b) A AR age (v. art.º 160.º do Regimento - pode proceder a nova apreciação do diploma a
partir do 15.º dia posterior ao da recepção da mensagem fundamentada do PR (art.º 160.º, n.º 1, do
Regimento da AR))13
i) promulgar;
11
CARLOS BLANCO DE MORAIS, Curso de Direito Constitucional, I, 1.ª ed., pg. 463|.
12
Cfr. AFONSO DE OLIVEIRA MARTINS, Promulgação, pg. 571.
13
Cfr. os trâmites previstos pelo Regimento da AR.
Em relação à maioria de confirmação, é necessário:
- leis orgânicas (v. art.º 166.º, n.º 2, que remete para certas alíneas do
art.º 164.º (chama-se a atenção em particular para as eleições para PR e para a
AR (art.º 164.º, al. a)), e para as assembleias Legislativas das Regiões
Autónomas (art.º 164.º, al. j)).
- as três alíneas14.
ii) caso não caiba no n.º 3, aplica-se a regra geral do art.º 136.º, n.º 2,
que é a maioria absoluta dos Deputados em efectividade de funções (116
deputados).
a AR devolve ao PR;
b3) A AR pretende confirmar, mas sem atingir a maioria exigida (116 deputados)
14
“a) Relações externas;
c) Regulamentação dos actos eleitorais previstos na Constituição, que não revista a forma de lei
orgânica.”
o veto persiste (se houver devolução irregular do diploma ao PR, a Doutrina
dominante entende que não há confirmação15).
A utilização do veto jurídico por não transparentes motivações políticas acarretaria uma fraude
à Constituição (JORGE MIRANDA, Manual..., V, 4.ª ed., n.º 87.I, pg. 314).
15
Em sentido contrário, porém, AFONSO DE OLIVEIRA MARTINS, Promulgação, pg. 571.
16
Noção que será aprofundada na disciplina de Direito Processual Civil.
278.º (…) deve especificar, além da normas cuja apreciação se requer, as normas ou os
princípios constitucionais violados.”; cfr. n.º 5).
Neste sentido, cfr. JORGE MIRANDA, Manual..., V, 4.ª ed., n.º 85.I, pg. 307.
Pode também ser invocado o art.º 136.º, n.º 1, 2.ª parte, “a contrario sensu”.
i) a norma do art.º 278.º, n.º 7, última parte, também aplicável por argumento de
maioria de razão (“a fortiori”), mas, neste caso, por via de interpretação extensiva (ou seja,
não está na letra, mas no espírito).
ii) Com efeito, vetar ao abrigo do art.º 136.º, n.º 1 (que a Doutrina do Professor JORGE
MIRANDA entende ser um veto político, seria um verdadeiro “venire contra factum proprium”,
uma vez que o PR requerera a fiscalização preventiva).
Do mesmo modo, tal como em relação ao caso anterior, o art.º 136.º, n.º 1, 2.ª parte,
“a contrario sensu”, corrobora a inadmissibilidade.
Em todo o caso, sem prejuízo de ser uma norma jurídica, ela é desprovida de sanção.
E, no segundo caso de o PR vetar, o processo legislativo não fica concluído, pelo que o
decreto não se transforma em lei, sendo juridicamente inexistente (art.º 137.º).
Sublinhe-se, em todo o caso, que o PR pode desistir do pedido (art.º 53.º da Lei do TC).
Porém, essa desistência deveria ser expressamente formulada.
Neste sentido, cfr. AFONSO DE OLIVEIRA MARTINS, Promulgação, pg. 570 (nota 43)).
O regime do veto jurídico ou veto por inconstitucionalidade está previsto nos arts.
278.º e 279.º
(Para este regime do veto jurídico ser aplicado, é pressuposto necessário que o PR tenha
requerido a fiscalização preventiva).
Será o PR obrigado a requerer a fiscalização preventiva?
A Doutrina divide-se.
17
V. AFONSO DE OLIVEIRA MARTINS, Promulgação, pg. 569.
MIGUEL GALVÃO TELES, Liberdade de iniciativa do Presidente da República quanto ao
processo de fiscalização preventiva da constitucionalidade, in O Direito, ano 120.º, 1988, I-II,
Jan.-Junho, pgs. 35-43; IDEM, Parecer, in O Presidente da República e o Parlamento, pgs. 178-180
(com matizações); JORGE MIRANDA, Manual..., V, 3.ª ed., pg. |293; IDEM, Veto, in DJAP, VII, pg.
599;
(também VIEIRA DE ANDRADE, Parecer, in O Presidente da República e o Parlamento, pg.
223; GOMES CANOTILHO / VITAL MOREIRA, Constituição..., 3.ª ed., anot. ao art.º 139.º, III, pg.
598; CARLOS BLANCO DE MORAIS, Justiça Constitucional, II, 1.ª ed., pgs. 43 ss.; ALEXANDRE
SOUSA PINHEIRO / MÁRIO JOÃO FERNANDES, Comentário..., pg. 270).
O dever de o PR ter jurado cumprir e fazer cumprir a Constituição é reconduzido a violações grosseiras
da mesma.
18
Argumento histórico favorável a esse entendimento era o art.º 277.º, n.º 3, da versão originária da
Constituição: “Se o Conselho da Revolução tiver dúvidas sobre a constitucionalidade de um decreto e
deliberar apreciá-lo, comunicará o facto (…) ao Presidente da República para que não efectue a
promulgação.”
Todavia, o TC, enquanto órgão jurisdicional, caracterizado pela passividade, não poderá ter idêntica
iniciativa.
19
A fórmula utilizada pela Constituição para a decisão do TC – “pronunciar-se pela
inconstitucionalidade” – é diferente da usada a propósito da fiscalização sucessiva abstracta – “declaração
de inconstitucionalidade” (arts. 281.º e 282.º) – e traduz a diferente natureza e enquadramento dos dois
juízos de inconstitucionalidade. Enquanto que, na fiscalização sucessiva, a decisão do TC implica
automaticamente a declaração de nulidade da norma, na fiscalização preventiva, a decisão do TC incide
sobre normas ainda não perfeitas, e a sua eficácia consiste em impedir a prática do acto de que depende a
sua perfeição, acto que, todavia, e apesar do juízo de inconstitucionalidade, pode vir a ser praticado,
verificadas certas condições (GOMES CANOTILHO / VITAL MOREIRA, Constituição..., II, 4.ª ed.,
anot. ao art.º 279.º, I, pg. 929).
O PR deve vetar (veto obrigatório e expresso), cuja fundamentação é a decisão do TC,
e devolver o diploma à AR.
Qual o prazo?
Será o veto jurídico é cumulável com o veto (político) do art.º 136.º, n.º 1?
quanto a razões políticas, não pode o PR aduzi-las para aditar um veto do art.º 136.º,
n.º 1;
Pese embora a redacção do n.º 1 do art.º 279.º, este procedimento parece não ser de
excluir: esse preceito é taxativo, referindo que o PR deverá vetar, sendo a fundamentação,
“prima facie”, a decisão do TC; todavia, nada impede a existência de outros motivos, dir-se-ia
20
GOMES CANOTILHO / VITAL MOREIRA, Constituição..., 4.ª ed., anot. ao art.º 279.º, XI, pg.|.
que supérfluos ou excedentários (todavia, poderão influir na inibição da deliberação
confirmatória por parte da AR).
Assembleia da República:
a) Nada faz
b) A AR age21
Qual o prazo?
devolve ao PR
i) promulga;
Argumentos:
21
Salvo se existir inconstitucionalidade orgânica.
b) A retirada de uma norma poderá afectar o equilíbrio
do diploma e tornar outras normas inconstitucionais
(“A emenda poderá ser pior do que o soneto” (Prof.
PAULO OTERO).
versus
Argumentos: …
i) promulgar;
22
AFONSO DE OLIVEIRA MARTINS, Promulgação, pg. 573.
b2’’) se não abranger todas as normas pronunciadas inconstitucionais,
o veto mantém-se; o PR não pode promulgar (a promulgação é vedada)
(art.º 279.º, n.º 2, 1.ª parte).
b3) A AR confirma (art.º 279.º, n.º 2, 2.ª parte) (ou seja, não há aprovação de
propostas de alteração).
(a promulgação não é obrigatória (v. JORGE MIRANDA, Manual..., V, 3.ª ed., pg.
23
301 ) (diversamente do que sucede na confirmação após o veto do art.º 136.º, n.º 1):
O Professor PAULO OTERO entende, porém, que existe uma excepção a essa faculdade
de promulgação, no caso de estar em causa um direito, liberdade e garantia, em virtude de os
preceitos que os prevêem serem dotados de aplicabilidade directa e vincularem todas as
entidades públicas (incluindo, portanto, o PR).
se o decreto for enviado ao PR, este não o pode promulgar (promulgação vedada).
23
Para maior desenvolvimento, v. PAULO CASTRO RANGEL, O Tribunal Constitucional e o
Legislador, in IDEM, Repensar o Poder Judicial, pgs. 148 ss.
24
AFONSO DE OLIVEIRA MARTINS, Promulgação, pg. 578. A regra é contrária em relação à
passagem do prazo no veto político.
A faculdade de promulgação (ou de assinatura) afigura-se uma via
de equilíbrio entre o órgão representativo e o órgão de fiscalização da
constitucionalidade (JORGE MIRANDA, Manual…, VI, 3.ª ed., n.º 78.IX, pg. 269; cfr. MARGARIDA
SALEMA, Veto, in Polis, 2.ª ed., colunas 1488-1489) (considerando, porém, que existem
casos de redução dessa discricionariedade a “zero”, designadamente
quando esteja em causa o conteúdo essencial de um direito, liberdade e
garantia, em virtude dos 1.º e 2.º incisos do art.º 18.º, n.º 1, PAULO OTERO,
Ensaio sobre o caso julgado inconstitucional, pg. 145; utilizando o idêntico raciocínio análogo, numa
hipótese diversa, em que inexistiu fiscalização preventiva, encontra-se em DIOGO FREITAS DO AMARAL /
PAULO OTERO, O valor jurídico-político da referenda ministerial, pg. 55).
novo processo aplica-se o art.º 136.º, n.º 1 (“No prazo de vinte dias
contados (…) da publicação da decisão do Tribunal Constitucional que não se
pronuncie pela inconstitucionalidade de norma dele constante, deve o Presidente da
República promulgá-lo ou exercer o direito de veto, solicitando nova apreciação do
diploma em mensagem fundamentada.);
i.e., o PR
i) promulga
C) O PR desiste do pedido (art.º 53.º da Lei do TC) (o processo termina de modo anómalo.
a1) “Se a promulgação tem como função primária a qualificação de um acto frente aos
tipos constitucionais de actos
e se
(Sobre a inexistência por natureza, JORGE MIRANDA, Manual…, VI, pp. 98 e 100-101)
(e este princípio vale também para quaisquer outras votações no Parlamento, tendo
em conta as regras respeitantes às diversas maiorias constitucionalmente exigidas – como a
dos artigos 117.º, 168.º, 284.º ou 286.º) (JORGE MIRANDA, Manual..., V, 4.ª ed., n.º 85.II, pg. 308)