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ANATOMIA HUMANA

Unidade II
Os aparelhos são formados por grupos de dois ou mais sistemas com funções semelhantes. Assim,
temos: o aparelho osteoarticular, formado pelos sistemas esquelético e articular; o aparelho locomotor,
constituído pelos sistemas esquelético, articular e muscular; o aparelho da nutrição, composto pelos
sistemas respiratório, digestório e endócrino; o aparelho urogenital, que compreende os sistemas urinário
e genital masculino; o aparelho reprodutor, formado pelos sistemas genital masculino, genital feminino
e tegumentar; o aparelho neuroendócrino, constituído pelo sistema nervoso e os órgãos endócrinos;
o aparelho cardiorrespiratório, constituído pelos sistemas cardiovascular e respiratório; o aparelho
gastropulmonar, formado pelos sistemas digestório e respiratório; o aparelho mastigador, composto pelos
músculos, língua e dentes; o aparelho lacrimal, que compreende a glândula lacrimal, saco conjuntival
palpebral, papila e os canalículos lacrimais, saco lacrimal e ducto nasolacrimal; o aparelho neurossensorial,
formado pelo sistema nervoso e os órgãos dos sentidos. Assim, nesta unidade serão abordados aspectos
morfofuncionais relacionadas ao aparelho cardiorrespiratório, além dos sistemas digestório e endócrino.

Sabemos que o organismo vivo está em permanente comunicação química com o meio externo.
Os nutrientes são absorvidos por meio do revestimento do trato digestório, gases se propagam de
lado a lado do fino epitélio dos pulmões e detritos são eliminados nas fezes e na urina, bem como
na saliva, na bile, no suor e em outras excretas exócrinas. As trocas químicas acontecem em locais
ou órgãos especializados porque todas as partes do corpo estão unidas ao sistema cardiovascular.
O sistema cardiovascular pode ser comparado ao sistema de resfriamento de um veículo. Seus elementos
fundamentais abrangem o líquido circulante (o sangue), uma bomba (o coração) e uma diversidade de
tubos condutores (uma rede de vasos de sangue). De tal modo, todos os papéis do sistema cardiovascular
dependem necessariamente do coração, porque é ele que conserva o sangue em movimento. Esse órgão
muscular bate aproximadamente 100 mil vezes por dia, empurrando o sangue por meio dos vasos de
sangue. A cada ano, o coração ejeta mais de 1,5 milhões de galões de sangue, o suficiente para encher
duzentos carros‑tanques.

Para se ter uma ideia prática da capacidade de bombeamento do coração, sugere‑se abrir uma
torneira em seu nível máximo. Para alcançar uma quantia de água igual ao volume de sangue ejetado
pelo coração durante o tempo médio de vida, a torneira teria de ficar aberta por pelo menos 45 anos.
De modo igualmente extraordinário, o volume de sangue impulsionado pode alterar vastamente, entre
5 e 30 litros por minuto. A performance do coração é firmemente monitorada e impecavelmente
regulada pelo sistema nervoso para assegurar que os níveis de gases, nutrientes e resíduos nos tecidos
periféricos continuem dentro dos limites normais, quer permanecemos dormindo serenamente, lendo
um artigo científico, ou contidos em um enérgico jogo de futebol.

Aqui serão estudados os aspectos estruturais que possibilitam ao coração uma atuação confiável,
mesmo diante de demandas físicas largamente modificáveis. Ponderaremos, então, os mecanismos que
regulam a atividade cardíaca para confrontar as permanentes variações das necessidades do corpo.
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Unidade II

O sistema cardiovascular é um sistema fechado que faz com que o sangue circule por todo o
corpo. Existem dois grupos de vasos de sangue: um provê os pulmões (a circulação pulmonar) e o
outro nutre o restante do corpo (a circulação sistêmica). O sangue é ejetado a partir do coração,
concomitantemente para o tronco pulmonar e a aorta. A circulação pulmonar, relativamente pequena,
origina‑se na valva do tronco pulmonar (saída do ventrículo direito) e finaliza na entrada para o átrio
esquerdo. Entre o átrio direito e o ventrículo direito no óstio atrioventricular direito há a presença da
valva atrioventricular direita ou tricúspide, enquanto no átrio esquerdo e o ventrículo esquerdo no
óstio atrioventricular esquerdo há a presença da valva atrioventricular esquerda ou bicúspide.

As artérias pulmonares que se ramificam a partir do tronco pulmonar levam sangue aos pulmões
para as trocas gasosas. A circulação sistêmica inicia na valva da aorta (saída do ventrículo esquerdo) e
conclui na entrada para o átrio direito. As artérias sistêmicas ramificam‑se a partir da aorta e propagam
sangue a todos os outros órgãos para troca de nutrientes, gases e resíduos. A circulação pulmonar é
também chamada de pequena circulação.

Lembrete

O coração apresenta quatro cavidades: dois átrios (direito e esquerdo) e


dois ventrículos (direito e esquerdo).

Após adentrar nos órgãos, as artérias prosseguem se ramificando, formando centenas de milhões
de artérias pequenas que nutrem com sangue mais de bilhões de capilares, cujo diâmetro aproxima‑se
ao de um único eritrócito. Esses capilares constituem amplas redes de ramificações, estima‑se que a
extensão de todos os capilares do corpo ligados linearmente varia de aproximadamente 8 mil a 40 mil
quilômetros. Isso mostra que os capilares em nosso corpo podem cruzar o território dos Estados Unidos
e provavelmente dar a volta ao redor da Terra. Todas as trocas químicas e gasosas entre o sangue e
o líquido intersticial são efetuadas por meio das paredes capilares. As células teciduais dependem da
difusão capilar para conseguir oxigênio e nutrientes e para extrair produtos residuais. O sangue que
deixa a rede de capilares adentra em uma rede de pequenas veias que pouco a pouco se juntam para
compor vasos maiores que, enfim, desembocam nas veias pulmonares (circulação pulmonar), veia cava
superior ou veia cava inferior (circulação sistêmica).

Aqui também será discutida a organização histológica e anatômica de artérias, veias e capilares.
Posteriormente, avançaremos para o reconhecimento dos principais vasos de sangue e das vias do
sistema cardiovascular.

O sistema linfático é composto de vasos e órgãos que estão estrutural e funcionalmente ligados ao
sistema cardiovascular. O planeta não é sempre adepto à conservação das condições sadias do corpo
humano. Acidentes gerados pela interação com objetos do meio ambiente podem ocasionar impactos,
cortes e queimaduras. As decorrências de uma lesão podem ser potencializadas por uma sequência
de vírus, bactérias e outros micróbios que proliferam em nosso ambiente. Alguns desses micróbios
normalmente habitam na superfície e no interior do corpo humano, contudo, todos apresentam o
potencial de causar grandes avarias. Ficar vivo e sadio abrange uma energia permanente e associada
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que conglomera diferentes órgãos e sistemas. Nessa batalha sucessiva, o sistema linfático adota o
papel primordial.

O sistema respiratório possui células que adquirem energia especialmente por meio de metabolismo
aeróbio, um processo que necessita de oxigênio e produz dióxido de carbono. Para sobreviver, as células
devem ter uma maneira de conseguir oxigênio e eliminar dióxido de carbono. O sistema cardiovascular
propõe uma união entre o líquido intersticial em torno das células e as superfícies de difusão gasosa
dos pulmões. O sistema respiratório promove a difusão gasosa entre o ar e o sangue. Conforme circula,
o sangue carrega oxigênio dos pulmões para os tecidos do corpo, além de receber o dióxido de carbono
produzido por esses tecidos e o levar até os pulmões para a eliminação. Na discussão sobre o sistema
respiratório serão descritas as estruturas anatômicas que conduzem o ar do meio externo até as
superfícies de difusão gasosa nos pulmões.

O sistema digestório é fundamental para a manutenção da vida. Dele provêm os nutrientes principais
que o corpo humano não pode gerar para si próprio. O alimento é usado em nível celular e os nutrientes
são preciosos para as reações químicas que compreendem a síntese de enzimas, divisão e crescimento
celular, reparos e a geração de energia térmica. A maioria dos alimentos que ingerimos, contudo, não é
suficiente para o uso celular até que seja mecânica e quimicamente diminuída as formas que possibilitem
ser absorvidas por meio da parede intestinal e seja capaz de transportá‑las para as células pelo sangue.
O alimento ingerido não está tecnicamente no interior do nosso corpo até que ele seja absorvido. Efetivamente,
uma grande parte desses alimentos não é digerido e passa pelo corpo como material supérfluo.

O alimento ingerido permanece especialmente na forma de macromoléculas, como, por exemplo,


as proteínas e os carboidratos complexos. Nesse caso, o sistema digestório necessita secretar enzimas
ricas para digerir o alimento produzindo moléculas que sejam pequenas o suficiente para serem
absorvidas para o interior do corpo humano. Concomitantemente, todavia, essas enzimas não devem
digerir as células do próprio canal alimentar (autodigestão).

Outro desafio com o qual o sistema digestório se depara diariamente é o balanço de massa, ou seja,
contrabalançar a entrada com a saída de líquido. Os indivíduos ingerem aproximadamente 2 litros de
líquido por dia. Ademais, as glândulas e as células exócrinas secretam, aproximadamente, 7 litros
de enzimas, muco, eletrólitos e água na luz do canal alimentar. Esse volume de líquido secretado é o
mesmo a um sexto do volume total de água do corpo (42 litros), ou mais do dobro do volume do plasma
(3 litros), e necessita ser absorvido, do contrário, o corpo desidrataria rapidamente. Em sua normalidade, a
absorção é muito eficaz e apenas cerca de 100 mililitros de líquido é inutilizado nas fezes. Porém, vômitos e
diarreia (fezes demasiadamente aquosas) podem tornar‑se uma emergência quando as secreções do canal
alimentar, que comumente seriam absorvidas, são desperdiçadas para o meio externo. Em casos graves,
esse líquido inutilizado pode reduzir o volume do líquido extracelular a ponto de o sistema cardiovascular
ser impossibilitado de conservar a pressão do sangue apropriada.

Um desafio final que o sistema digestório encara é afastar agressores externos. De maneira oposta
do que se concebe, a maior área de contato entre o meio interno e o mundo exterior está na luz do
sistema digestório. Por conseguinte, o canal alimentar, com sua área de superfície total do tamanho
aproximado de uma quadra de tênis, abarba diariamente a agitação entre a necessidade de absorver
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Unidade II

água e nutrientes e a necessidade de impedir que bactérias, vírus e outros patógenos adentrem no
corpo. Para esse propósito, o epitélio transportador do canal alimentar é amparado por um conjunto de
mecanismos fisiológicos de defesa, abrangendo muco, enzimas digestórias, ácido e a maior coletânea
de tecido linfático do corpo humano, o tecido linfático agregado ao intestino. Cerca de 80% de todos
os linfócitos do corpo estão localizados no intestino delgado.

Os órgãos endócrinos também fazem parte desse sistema e a seguir conheceremos suas localizações,
características morfológicas e funcionais, assim como seus hormônios, que são lançados na corrente
sanguínea e atingem determinados tecidos‑alvos.

Saiba mais

Para saber mais sobre os temas apresentados anteriormente:

CASTILHO, N.; DELIZOICOV, D. Trajeto do sangue no corpo humano:


instauração‑extensão‑transformação de um estilo de pensamento. In:
ENCONTRO NACIONAL DE PESQUISA EM EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS 2.
Valinhos, 1999. Disponível em: <http://www.nutes.ufrj.br/abrapec/iienpec/
Dados/trabalhos/A43.pdf>. Acesso em: 15 mar. 2019.

RAMOS, C. William Harvey: vida e obra (1ª parte). Acta Médica


Portuguesa, Lisboa, v. 5, n. 9, p. 507‑512, 1992. Disponível em:
<https://actamedicaportuguesa.com/revista/index.php/amp/article/
view/4505/3528>. Acesso em: 15 mar. 2019.

RAMOS, C. William Harvey: vida e obra (2ª parte). Acta Médica


Portuguesa, Lisboa, n. 5, p. 559‑563, 1992. Disponível: <http://
www.actamedicaportuguesa.com/revista/index.php/amp/article/
viewFile/3291/2617>. Acesso em: 15 mar. 2019.

5 APARELHO CARDIORRESPIRATÓRIO

5.1 Coração e vasos de sangue

Sistema cardiovascular é a designação oficial da terminologia anatômica que substituiu o clássico


aparelho circulatório ou sistema circulatório. A mudança se fez indispensável, pois aparelho indica
um conjunto de dois ou mais sistemas, e circulatório remete ao local em que algo se movimenta e
que retorna ao ponto de origem, sem carecer das estruturas e sua morfologia. Então, vale assinalar que
circulator, em latim, tem a definição de charlatão, uma conduta ou propriedade não estimável para um
digno e essencial sistema orgânico. A palavra “circulação” era utilizada pelos detratores do anatomista
e médico William Harvey (1628) para recusar a relevância de sua descoberta.

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Através do sangue são carregados, além de nutrientes, como a glicose, O2 e CO2, os hormônios
produzidos pelos órgãos endócrinos, localizados em regiões diversas do organismo. Já o sangue tem células
especializadas na defesa do organismo, como contra as substâncias estranhas e os micro‑organismos,
além de ser responsável pela manutenção da temperatura do corpo.

Figura 214 – Relação do sistema cardiovascular com outros sistemas do organismo na manutenção da homeostasia

Esse conjunto de órgãos consiste em um sistema fechado, sem comunicação com o exterior, formado
por tubos no interior dos quais circulam humores. Os tubos são denominados vasos e os humores são o
sangue e a linfa. O organismo de um indivíduo adulto apresenta em média 5 litros de sangue circulando
ininterruptamente. Essa abundância equivale a aproximadamente um doze avos da massa corporal de
um adulto.

Observação

As patologias do sistema cardiovascular estão entre as mais relevantes


que atingem os seres humanos.

O coração era considerado a sede da alma, do amor e das emoções, possivelmente porque essas são
seguidas de palpitações, taquicardia, dor precordial, reações admiradas pelos poetas e pelos românticos.
Porém, as atividades temperamentais estão mais relacionadas ao encéfalo do que com o coração.
Os batimentos cardíacos já foram o sinal de vida, tanto que era aceitável sua interrupção para admitir
o diagnóstico de morte. Hoje, entretanto, o indivíduo é considerado morto quando não existe atividade
eletroencefalográfica, mesmo que haja atividade cardíaca. Em outras palavras, coração batendo não é
sinal condicional de vida.

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Unidade II

Órgão central do sistema cardiovascular, o coração é um músculo quadricavitário com a configuração


de um cone truncado, do tamanho aproximado do punho do mesmo indivíduo, que em relação ao
sangue exerce o papel de uma bomba aspirante e premente.

Aorta
Veia cava
superior

Aurícula
esquerda

Tronco
pulmonar

Aurícula
direita
Ventrículo Sulco
direito interventricular
anterior

Figura 215 – Aspectos externos do coração

O efeito de bomba muscular do coração baseia‑se na contração e no relaxamento do músculo


estriado cardíaco. A fase de contração é denominada sístole e a fase de relaxamento, diástole. Essas
terminologias são mencionadas normalmente em relação à contração e ao relaxamento do ventrículo
direito e do ventrículo esquerdo, ainda que os átrios também contraiam e relaxem. A contração do
átrio direito e do esquerdo antecede a contração dos ventrículos e colabora para o enchimento
máximo dos ventrículos (volume diastólico final). A contração dos átrios acontece simultaneamente,
bem como a contração dos dois ventrículos.

Hoje é também reconhecido como órgão endócrino, por haver pelo menos nos átrios os grânulos
atriais, nos cardiomiócitos, envolvidos com o fator natriurético atrial, o hormônio do coração. O fator
natriurético atrial é secretado no sangue devido à distensão do átrio direito, como na insuficiência
cardíaca, ou, ainda, devido à ativação do sistema nervoso autônomo simpático, promovendo nos rins
uma diminuição na reabsorção de cloreto de sódio e, por conseguinte, de água. O resultado é a elevação
da excreção de urina, ou seja, a diurese aumentada. Além de seu efeito diurético, o fator natriurético
atrial gera relaxamento da musculatura lisa vascular e, com isso, a vasodilatação. Por meio desses dois
mecanismos, a diminuição do volume de sangue e a redução da resistência vascular periférica induzem
a uma diminuição do esforço do coração.

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5.1.1 Volumes e pesos do coração

O volume do coração que corresponde ao seu volume médio é de aproximadamente 785 mililitros,
sendo alterado conforme os fatores de variação anatômica, como a idade e o sexo. Seu peso em
um adulto é de cerca de 5 gramas/quilo de peso, portanto, em um indivíduo de 60 quilos, pesa
aproximadamente 300 gramas. Em primeiro lugar permanece o fator idade, de tal maneira que o coração
de um recém‑nascido é proporcionalmente maior do que de um adulto, 7 gramas, ao antagônico de 5
gramas/quilo de peso, devido à resistência da circulação placentária que tem que vencer durante a vida
fetal. Após o nascimento, seu peso reduz proporcionalmente, atingindo depois dos 5 anos de idade a
proporção de 5 gramas/quilo de peso. A partir dessa idade são assinaladas desigualdades nos volumes
do coração, o que é relacionado com a diferença entre os sexos, sendo que esse é um pouco menor nas
mulheres do que nos homens.

O coração do adulto mede aproximadamente 12 centímetros de comprimento por 8 a 9 centímetros


de largura, em sua parte mais larga, e 6 centímetros de espessura. Seu peso no homem altera de 280
a 340 gramas; na mulher, de 230 a 280 gramas. À medida que o indivíduo envelhece, o coração reduz,
pois existe uma diminuição na força de contração do músculo estriado esquelético. As valvas do coração
tornam‑se menos flexíveis e o fechamento incompleto pode gerar um “sopro” audível. Em torno dos
60 anos de idade o débito cardíaco, ou seja, a quantidade de sangue que sai do ventrículo esquerdo
a cada minuto pode reduzir em até 35%. O prejuízo do complexo estimulante do coração pode gerar
ritmos cardíacos anormais, incluindo os batimentos cardíacos extras, os batimentos dos átrios acelerados
e a redução do ritmo dos ventrículos. A insuficiência temporária do complexo estimulante do coração
ou bloqueio cardíaco pode gerar perda periódica da consciência. Devido à redução na reserva de força
do coração, os indivíduos senis são comumente limitados na sua capacidade de responder ao estresse
físico ou emocional.

Também há relação entre o peso do coração com o aumento da musculatura estriada esquelética,
de tal forma que em indivíduos atletas seu peso é proporcionalmente maior. Nos indivíduos atletas
esses parâmetros podem elevar para 500 gramas de peso e 1440 mililitros de volume médio.
Na hipertrofia cardíaca, o volume do coração está alargado, contudo, ele todo é mais espesso e
suas paredes são mais fortes, seguindo um processo geral de aumento muscular de todo o corpo.
Porém, a dilatação do coração pode ser patológica e revela insuficiência cardíaca. Na dilatação o
coração está expandido, mas suas paredes são delgadas, como se constituísse uma bola de borracha
que contém mais ar.

5.1.2 Localização do coração

O coração está contido em uma membrana especial, o pericárdio, preenchendo a região topográfica
do tórax conhecida como mediastino médio. O mediastino, conforme ilustra a figura a seguir, é o espaço
visceral da linha mediana ou cavidade torácica.

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Mediastino superior

Mediastino médio
Mediastino anterior

Mediastino posterior

Figura 216 – Subdivisões do mediastino e o seu conteúdo

O mediastino está dividido em mediastino superior e mediastino inferior pela presença do pericárdio.
O mediastino superior não apresenta subdivisões, abrange o esôfago e a traqueia, posteriormente,
o timo, anteriormente, e entre eles os grandes vasos da base do coração. O mediastino inferior está
subdividido em mediastino anterior, mediastino médio e mediastino posterior. As estruturas anatômicas
encontradas dentro do mediastino anterior abrangem os ligamentos esternopericárdicos e diversos
linfonodos. O mediastino médio situa‑se ao nível de T4‑T8, no corpo do esterno e nas cartilagens costais.
Está localizado entre o mediastino posterior e o mediastino anterior. O mediastino médio abrange o
coração e o pericárdio, junto com o nervo frênico que corre no pericárdio fibroso, além dos brônquios
principais e as estruturas das raízes dos pulmões. O mediastino posterior abrange, entre outras estruturas
anatômicas, o esôfago e a parte torácica da aorta, que o atingem vindos do mediastino superior.

Sua maior parte se encontra à esquerda do plano mediano, permanecendo um terço à direita e dois
terços à esquerda do plano mediano, e não inteiramente do lado esquerdo da cavidade torácica, como
usualmente se crê. Ainda que essa seja a posição mais comum, denominada levocárdica, há variações
na posição do coração em relação à cavidade torácica. O coração pode ostentar a posição mesocárdica,
quando a maior parte do seu volume se depara na parte mediana do tórax. O desdobramento anormal
do coração embrionário pode causar inversão completa da posição do coração chamado posição
dextrocárdica, quando grande parte de seu volume se encontra no hemitórax direito. Essa anomalia
congênita é a anormalidade mais comum de posição do coração, embora ainda seja relativamente rara.

5.1.3 Limites do coração

Na cavidade torácica o coração está situado entre os dois pulmões, os limites laterais, por trás do
osso esterno, o limite anterior, repousando sobre o diafragma, o limite inferior, e por diante da coluna
vertebral, entre a quarta e a oitava vértebras torácicas, as vértebras cardíacas de Giacomini, o limite
posterior, e pela abertura torácica superior, o limite superior.

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Base do
coração

Margem
Costelas superior

Margem
direita Face
Ápice do pulmonar
coração esquerda

Margem inferior

Figura 217 – Posição e orientação do coração

5.1.4 Configuração externa do coração

O coração está disposto obliquamente, de tal maneira que sua base é medial e o seu ápice é
lateral. O maior eixo do coração, eixo longitudinal, da base ao ápice é oblíquo e desenha um ângulo de
aproximadamente 40° com o plano horizontal e com o plano mediano do corpo.

O coração é composto de quatro cavidades, conforme ilustra a figura a seguir, os átrios direito
e esquerdo, e os ventrículos direito e esquerdo. As duas cavidades superiores são os átrios e as duas
inferiores são os ventrículos. Os ventrículos, com paredes musculares encorpadas, compõem a parte
volumosa do órgão, enquanto os átrios têm paredes musculares finas.

Laranja – Aurícula direita


Rosa – Aurícula esquerda
Branco – Ventrículo direito
Amarelo – Ventrículo esquerdo

Figura 218 – Morfologia externa do coração

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A base do coração é constituída, sobretudo, pelo átrio esquerdo, com um menor reforço do átrio
direito, conforme ilustra a figura a seguir. Corresponde à área preenchida pelas raízes dos grandes vasos
da base do coração, isto é, vasos de sangue por meio dos quais o sangue adentra ou sai do coração.
No átrio direito dirigem a veia cava superior e a veia cava inferior.

Átrio esquerdo
Veia cava superior

Septo interatrial

Átrio direito Ventrículo esquerdo

Septo interventricular
Veia cava inferior

Ventrículo direito

Figura 219 – Esquema das cavidades do coração

No átrio esquerdo dirigem as veias pulmonares, em número de quatro, sendo duas veias para cada
pulmão. As veias são distribuídas perpendicularmente umas às outras, por um lado, a veia cava superior
e a veia cava inferior, e, por outro lado, as veias pulmonares formam a cruz venosa.

Veia cava superior

Veias pulmonares

Veia cava inferior Septo interatrial

Figura 220 – Cruz venosa

Do ventrículo direito emerge o tronco pulmonar, que após um pequeno percurso bifurca‑se em
artérias pulmonares: a artéria pulmonar direita e a artéria pulmonar esquerda para os referentes pulmões.

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Do ventrículo esquerdo nasce a aorta, que se conduz primeiramente para cima e depois para trás e para
a esquerda, concebendo, assim, o arco da aorta. O ápice do coração é constituído pela parte inferolateral
do ventrículo esquerdo.

Laranja – artéria subclávia esquerda


Rosa – veia cava superior
Branco – tronco braquiocefálico
Verde – artéria carótida comum esquerda
Azul – arco da aorta
Vermelho – tronco pulmonar

Figura 221 – Vasos da base

As quatro faces do coração são: a face esternocostal (anterior), a face diafragmática (inferior), a
face pulmonar direita e a face pulmonar esquerda. A face esternocostal é composta especialmente pelo
ventrículo direito. A face diafragmática, achatada, é formada, sobretudo, pelo ventrículo esquerdo e parte
do ventrículo direito, estando relacionada principalmente ao tendão central do diafragma. A face pulmonar
direita é composta especialmente pelo átrio direito. A face pulmonar esquerda é formada principalmente
pelo ventrículo esquerdo, compondo a incisura cardíaca do pulmão esquerdo.

Figura 222 – Faces do coração

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O coração parece trapezoide nas vistas anterior e posterior. A margem direita, ligeiramente convexa,
é composta pelo átrio direito e expande‑se entre a veia cava superior e a veia cava inferior. A margem
inferior, oblíqua, quase vertical, é formada especialmente pelo ventrículo direito e por uma pequena
parte do ventrículo esquerdo. A margem superior, composta pelo átrio direito, pelo átrio esquerdo, pela
aurícula direita e pela aurícula esquerda em vista anterior; a aorta ascendente e o tronco pulmonar
surgem dessa margem; e a veia cava superior penetra no seu lado direito. À esquerda não há margem,
pois existe a face pulmonar, formada especialmente pelo ventrículo esquerdo.

5.1.5 Configuração interna do coração

Cada átrio tem um apêndice, o qual verificado na superfície externa do coração se assemelha à orelha
de um animal e recebe por isso o nome de aurícula (do latim, auris, orelha). Quando as paredes do coração
estão abertas, observa‑se que a cavidade cardíaca possui septos, subdividindo‑se em quatro cavidades.
O septo horizontal é um septo atrioventricular que divide o coração em duas partes: superior e inferior.

A parte superior tem um septo sagital, o septo interatrial, fino e muscular, que a divide em duas
cavidades: o átrio direito e o átrio esquerdo. Uma anomalia congênita do septo interatrial, comumente
pelo fechamento incompleto do forame oval, leva à comunicação interatrial.

Porém, existe uma abertura do tamanho de uma sonda na parte superior da fossa oval em
15 a 25% dos indivíduos adultos. Essas pequenas aberturas, sozinhas, não geram anormalidades
hemodinâmicas e, desse modo, não apresentam relevância clínica e não devem ser classificadas
formas de comunicação interatrial. A comunicação interatrial clinicamente relevante modifica muito
em tamanho e localização do coração e pode acontecer como parte de uma cardiopatia congênita
mais complexa. Uma comunicação interatrial exacerbada permite que o sangue oxigenado oriundo
dos pulmões seja desviado do átrio esquerdo por meio da comunicação interatrial para o átrio
direito, gerando aumento do átrio direito, do ventrículo direito e dilatação do tronco pulmonar. Essa
passagem de sangue do coração esquerdo para o coração direito sobrecarrega o sistema vascular
pulmonar, resultando em hipertrofia do átrio direito, do ventrículo direito e das artérias pulmonares.

A parte inferior também apresenta um septo sagital forte, o septo interventricular, composto pela
parte membranácea e pela parte muscular que divide a parte inferior em duas cavidades: o ventrículo
direito e o ventrículo esquerdo

Branco – Músculo papilar (ventrículo esquerdo)


Laranja – Músculo papilar (ventrículo direito)
Azul – Miocárdio do ventrículo direito
Verde – Miocárdio do ventrículo esquerdo
Rosa – Septo interventricular

Figura 223 – Morfologia interna do coração

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Observação

Um defeito no septo interventricular é uma comunicação anormal de


procedência congênita relativamente comum entre o ventrículo direito e
o ventrículo esquerdo. A parte membranácea é comprometida com maior
assiduidade em 70% dos casos, sendo, portanto, a parte muscular menos
afetada. Nessa condição, o sangue oxigenado do ventrículo esquerdo não
é enviado apenas para a aorta, mas, também, é desviado para o ventrículo
direito, chamado desvio ou shunt esquerdo‑direita. Pelo defeito do septo
interventricular o ventrículo esquerdo deve tentar contrabalançar essa falha
no transporte por meio de elevação na força de contração, favorecendo,
assim, uma sobrecarga do ventrículo esquerdo, com consequente hipertrofia
do coração esquerdo. Para que isso seja impedido, grandes defeitos do septo
interventricular devem ser retificados cirurgicamente.

5.1.6 Características morfofuncionais do átrio direito

• Apresenta um formato triangular.

• É maior do que o átrio esquerdo.

• Sua parede é um pouco mais fina do que a do átrio esquerdo, com aproximadamente 2 milímetros
de espessura.

• Suas paredes finas são tonificadas na parte lateral por feixes musculares, dispostos em cristas
paralelas, chamados de músculos pectíneos.

• Capacidade de 57 mililitros de sangue.

• Recebe sangue venoso da circulação sistêmica, a veia cava superior adentra na parte superior do
átrio direito, e a veia cava inferior na parte inferior.

• Entre a veia cava superior e a veia cava inferior, mais próximo da veia cava inferior depara‑se com
uma saliência, chamada de tubérculo intervenoso, que se reserva a nortear os jatos de sangue que
nascem da veia cava superior e da veia cava inferior para que não se encontrem frontalmente.

• Anteriormente ao átrio direito há uma expansão piramidal chamada de aurícula direita, que serve
para suavizar o impulso do sangue ao adentrar no átrio.

• O óstio do seio coronário, que drena o sangue do coração, está localizado próximo da veia cava inferior.

• O septo interatrial forma a parede dorsal do átrio direito. Contém estruturas elementares que
tiveram grande valor no feto, a fossa oval, contornada por um relevo, o limbo da fossa oval.
A fossa oval é uma depressão oval na parede septal, correspondendo ao forame oval do coração
fetal. O forame oval do coração começa a fechar‑se no fim da vida fetal e o fechamento se
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Unidade II

completa em seguida ao nascimento graças a uma prega, a válvula do forame oval que se solda
ao limbo da fossa oval. O forame oval pode persistir aberto e estabelecer uma anomalia cardíaca.

• O seio das veias cavas (sinus venarum) é localizado na parte posterior da cavidade do átrio
direito, onde a veia cava superior e a veia cava inferior terminam seu trajeto. O seio das veias
cavas possui paredes internas lisas e é derivado do seio venoso do embrião. Por dentro do átrio
direito, o seio das veias cavas é limitado à direita pela crista terminal, uma estrutura muscular lisa
que corresponde externamente ao sulco terminal do coração. Anterior ao seio das veias cavas,
portanto dele separado pelo sulco terminal, encontra‑se o átrio direito propriamente dito, uma
parte enrugada oriunda do próprio átrio do embrião e segue, anteriormente, com a aurícula
direita. Em seguida, o átrio direito e a aurícula direita são separados do seio das veias cavas pela
crista terminal, especialmente na parede lateral da base do coração. No embrião, o sulco terminal
sinaliza a união do átrio direito com o seio venoso. Superiormente, a crista terminal amolda o
nó sinoatrial; seu remanescente inclui a direção do trato internodal posterior. Ascende‑se no
interior do seio das veias cavas vários vasos de sangue, como, por exemplo, a veia cava superior,
a veia cava inferior e o seio coronário, abrindo‑se entre o óstio da veia cava inferior e o óstio
atrioventricular, resguardado por uma fina válvula do seio coronário, semicircular, designada de
valva de Tebésio, a qual dificulta a regurgitação de sangue para dentro do seio durante a contração
do átrio direito, e os forames das veias cardíacas mínimas, que drenam uma pequena porção do
sangue intramiocárdico diretamente para o seio das veias cavas.

• O trígono do nó sinoatrial, o triângulo de Koch, consiste em uma zona triangular na parte inferior
da parede septal da cavidade do átrio direito, entre a base da cúspide septal da valva atrioventricular
esquerda, o óstio do seio coronário e o tendão da válvula da veia cava inferior, o tendão de Todaro.
Esse último consiste em uma corda curva, colagenosa, redonda e palpável a partir do lado direito do
esqueleto fibroso do coração até o extremo esquerdo do óstio da veia cava inferior. O trígono é uma
estrutura de relevância cirúrgica, indicando o local onde se situa o nó atrioventricular e o começo
do fascículo atrioventricular, sendo essas estruturas do complexo estimulante do coração.
Músculos pectíneos
Crista terminal
Septo interatrial
Fossa oval Óstio da veia cava
superior
Óstio da veia
cava inferior
Óstio do seio
coronário Válvula da valva
atrioventricular direita
Válvula da valva
atrioventricular esquerda
Ventrículo
Ventrículo direito esquerdo

Sulco
interventricular

Figura 224 – Vista anterior direita da superfície interna do átrio direito.


A parede anterior do átrio foi aberta e dobrada superiormente

232
ANATOMIA HUMANA

5.1.7 Características morfofuncionais do átrio esquerdo

• Apresenta forma quadrilátera.

• É menor do que o átrio direito.

• Parede mais grossa do que a do átrio direito, aproximadamente 3 milímetros de espessura.

• A maior parte encontra‑se atrás da aorta ascendente e do tronco pulmonar.

• O septo interatrial possui, no local da fossa oval, uma pequena elevação, a válvula do forame oval,
derivada do septo primário.

• O átrio esquerdo, assim como o átrio direito, tem uma expansão piramidal que se aponta para
adiante, que é a aurícula esquerda.

• Os músculos pectíneos, poucos e menores do que no átrio direito, estão limitados à aurícula esquerda.

• O átrio esquerdo apresenta cinco orifícios, por meio dos quais estão em comunicação com as veias
pulmonares os quatro óstios das veias pulmonares e com o ventrículo esquerdo por meio do óstio
atrioventricular esquerdo.

Amarelo – Aurícula direita


Branco – Aurícula esquerda
Laranja – Parte ascendente da aorta

Figura 225 – Aurículas e parte ascendente da aorta

5.1.8 Características morfofuncionais do ventrículo direito

• Capacidade de 85 mililitros de sangue.

• Em corte transversal exibe o aspecto de meia‑lua, sugerindo uma letra C.

233
Unidade II

• Os três músculos papilares no ventrículo direito correspondem às válvulas da valva atrioventricular


direita, sendo eles: músculo papilar anterior, músculo papilar posterior e músculo papilar septal.

• A valva do tronco pulmonar é formada por três pequenas lâminas chamadas de válvula semilunar
anterior, válvula semilunar direita e válvula semilunar esquerda.

• A trabécula septomarginal incide em uma estrutura anatômica em forma de coluna que se projeta
por meio da cavidade da parede ventricular para o septo interventricular. Trata‑se da corda de
Leonardo da Vinci, também admitida como fita moderadora, assim chamada porque preveniria a
distensão excessiva do ventrículo direito.

• Dois orifícios comunicam o ventrículo direito em sua entrada, o óstio atrioventricular direito e a
valva atrioventricular direita, por meio do qual o ventrículo direito recebe sangue do átrio direito
e o óstio do tronco pulmonar, que transporta o sangue ao tronco pulmonar.

• A crista supraventricular consiste em uma estrutura anatômica em forma de arco muscular compacta
entre o óstio atrioventricular direito e o óstio do tronco pulmonar. Ela é oblíqua, curvando‑se para
frente e direita desde o septo interventricular até a parede anterolateral do ventrículo direito.
O átrio direito se contrai quando o ventrículo direito está vazio e relaxado. Assim, o sangue é forçado
a passar através do aparelho valvar do coração para o ventrículo direito, espaçando como cortinas a
valva atrioventricular direita. A entrada de sangue no ventrículo direito, ou trato de influxo, acontece
posteriormente. E quando o ventrículo se contrai a saída de sangue para o tronco pulmonar, ou trato
de saída, acontece superiormente e para a esquerda. Logo, o sangue realiza um percurso em formato de
U no ventrículo direito, alterando de direção em cerca de 140º. Essa mudança de direção é
ajustada pela crista supraventricular, que direciona o fluxo de entrada para a cavidade principal
do ventrículo direito e o fluxo de saída para o cone arterial em direção ao óstio do tronco pulmonar.
O óstio de entrada, o óstio atrioventricular direito, o óstio de saída e o óstio do tronco
pulmonar estão afastados aproximadamente em 2 centímetros.

• A via de entrada apresenta paredes enrugadas pelas trabéculas cárneas, que são as cristas, as
colunas, as faixas ou as protrusões musculares irregulares, revestidas por endocárdio, que se
desenham na cavidade do ventrículo direito.

• A via de saída, o cone arterial ou infundíbulo, continua‑se com o tronco pulmonar após a valva
do tronco pulmonar.

• O ventrículo direito produz cerca de 20 milímetros de pressão.

5.1.9 Características morfofuncionais do ventrículo esquerdo

• Capacidade de 85 mililitros de sangue.

• Maior e mais cônico do que o ventrículo direito.

234
ANATOMIA HUMANA

• Em corte transversal aparece como um círculo, sugerindo uma letra O.

• A valva da aorta é composta de três válvulas semilunares, chamadas de válvula semilunar direita,
válvula semilunar esquerda e válvula semilunar posterior, análogas às da valva do tronco pulmonar,
todavia maiores e mais densas.

• Por estar incluída na circulação sistêmica, necessitando impulsionar o sangue para todo o corpo,
sua parede muscular é três vezes mais grossa do que a do ventrículo direito, cuja ação se confina
a incitar o sangue aos pulmões, que se deparam com a pequena distância do coração. Como
o ventrículo esquerdo está diretamente ligado ao bombeamento do sangue para a circulação
sistêmica, as modificações no seu funcionamento podem acarretar muitos problemas clínicos,
por exemplo, a falta de ar, o cansaço aos esforços e a incapacidade para o trabalho. O infarto do
miocárdio é o exemplo clássico disso, em que ocorre a oclusão de um vaso coronário, levando à
perda de músculo do ventrículo esquerdo, naquela área correspondente, com coerente redução
da capacidade ventricular.

• O ventrículo esquerdo apresenta apenas dois músculos papilares, sendo eles: músculo papilar
anterior e o músculo papilar posterior, no entanto, são maiores que aqueles encontrados no
ventrículo direito.

• Dois orifícios se comunicam com o ventrículo esquerdo, o óstio atrioventricular esquerdo, pelo qual
o sangue atinge o ventrículo esquerdo procedente do átrio esquerdo, e o óstio da aorta, pelo
qual o sangue é transportado à aorta ascendente.

• A valva atrioventricular esquerda é formada por duas cúspides, sendo elas: a válvula anterior e a
válvula posterior.

• As trabéculas cárneas são maiores e mais emaranhadas do que no ventrículo direito, compondo
um labirinto muito denso.

• O trato eferente do ventrículo esquerdo, ou vestíbulo da aorta, é liso e se encontra logo abaixo
da valva da aorta, cujas margens se inserem na raiz da aorta. Bem mais forte, a valva da aorta
equipara‑se à valva do tronco pulmonar, incidindo em um complexo anel fibroso com três válvulas
semilunares inseridas em três dilatações da parede da aorta, chamados de seios da aorta, um
correspondente a cada cúspide ou válvula.

• Os seios da aorta são mais relevantes do que os seios do tronco pulmonar. O limite superior
de cada seio abrange consideravelmente além do nível da margem livre da válvula, sendo bem
definida a crista supravalvular da aorta.

• O ventrículo esquerdo produz cerca de 120 milímetros de pressão.

Em cortes do coração é fácil observar o ventrículo esquerdo, pois sua parede é três vezes mais
espessa que a do ventrículo direito.
235
Unidade II

Ventrículo direito
Septo interventricular Ventrículo esquerdo

Figura 226 – Vista inferior da secção transversa mostrando as diferenças de espessura das paredes do ventrículo

Quanto mais espessa for a parede da cavidade cardíaca, maior a força que ela pode gerar para
expulsar o sangue. Como o ventrículo esquerdo deve ejetar sangue para todo o corpo contra uma
pressão arterial mais elevada, e, dessa forma, fazer uma resistência ao fluxo do que aquela realizada
pelo ventrículo direito, que ejeta sangue para a circulação pulmonar, o ventrículo esquerdo tem maior
espessura de parede. Durante a atividade física, especialmente contra alta resistência, ou seja, força, a
pressão arterial sistêmica eleva-se.

Com o passar do tempo, talvez semanas, a execução regular de treinamento físico gera um
espessamento da parede do ventrículo esquerdo, possibilitando que ele extrapole com facilidade
esse aumento da pressão arterial atingido durante a atividade. Mesmo que nem todos os estudos
sustentem que a atividade física gere elevação da espessura da parede ventricular esquerda, essa é uma
coroação provável do treinamento de arrancada, de peso e até de endurance. A espessura da parede
ventricular esquerda também se eleva com a hipertensão crônica. Ainda que acréscimos na espessura
da parede ventricular esquerda em razão de treinamento físico não extrapolem o limite máximo do
que é avaliado como normal, aproximadamente 13 milímetros, o acréscimo da espessura da parede em
virtude da hipertensão crônica pode elevar a espessura normal da parede. De tal modo, mesmo que
tanto o treinamento físico quanto a hipertensão crônica gerem em acréscimos da espessura da parede
ventricular esquerda, há uma discrepância na grandeza dessa resposta.

5.1.10 Tipos de circulação do sangue

Conquanto a circulação do sangue seja contínua durante a vida através de todos os sistemas do
corpo, ela apresenta diferenças no período intrauterino, ou circulação fetal, e no período extrauterino, a
circulação da criança, do jovem, do adulto e do idoso. Do ponto de vista didático, divide‑se a circulação
do indivíduo na vida extrauterina em quatro tipos principais de circulação, sendo elas: sistêmica,
pulmonar, portal e cardíaca.

5.1.10.1 Circulação sistêmica e pulmonar

Na circulação sistêmica, o coração esquerdo, formado pelo átrio esquerdo, pelo ventrículo esquerdo
e pelos vasos de sangue são as partes representadas dessa circulação, por meio das quais o sangue passa
para todos os tecidos do corpo, com a possível exceção das partes respiratórias dos pulmões.

236
ANATOMIA HUMANA

Durante a contração dos ventrículos, ou seja, a sístole ventricular, eles se esvaziam impulsionando
o sangue para o tronco pulmonar e para a aorta. Nesse momento as valvas atrioventriculares estão
fechadas, impedindo o refluxo de sangue para os átrios. Em seguida, ao finalizar a contração, os
ventrículos relaxam e a valva da aorta e do tronco pulmonar se fecham; a valva atrioventricular direita
e a valva atrioventricular esquerda se abrem para a passagem do sangue dos átrios para os ventrículos.
A esse fenômeno dá‑se o nome de diástole ventricular. A veia cava superior e a veia cava inferior
conduzem sangue venoso ao átrio direito. A veia cava superior drena o sangue da cabeça, do pescoço,
do membro superior e do tórax. A veia cava inferior drena o sangue dos membros inferiores, da pelve
e do abdome. Após passar para o ventrículo direito, o sangue é enviado ao tronco pulmonar, o qual se
divide em artéria pulmonar direita e artéria pulmonar esquerda, que se encaminham para os respectivos
pulmões. Lá se dividem continuamente até se capitalizarem para possibilitar a oxigenação do sangue.
Em seguida, as vênulas e as pequenas veias vão se transformando em vasos de sangue maiores até
deixarem cada pulmão por meio de duas veias pulmonares. As quatro veias pulmonares ejetam o sangue
arterial no átrio esquerdo, que oferece ingresso ao ventrículo esquerdo, de onde é impulsionado para a
aorta, e daí para todos os órgãos e os tecidos do corpo humano, por meio de seus abundantes ramos.

Figura 227 – Percurso do fluxo sanguíneo ao longo das circulações sistêmica e pulmonar

237
Unidade II

Lembrete

Pequena circulação – circulação pulmonar = coração – pulmão – coração.

Grande circulação – circulação sistêmica = coração – tecidos – coração.

5.1.10.2 Circulação portal

Na circulação portal, o sangue passa da rede capilar sanguínea da porção aboral ou distal do esôfago,
do estômago, dos intestinos, do baço e do pâncreas para a veia porta, que acaba em uma segunda rede
capilar do fígado. Depois de ser sujeitado à ação do fígado, o sangue passa para a circulação sistêmica.

5.1.10.3 Circulação cardíaca

Já a circulação cardíaca, ou circulação coronária, se dá em virtude de as paredes do coração


possuírem o seu próprio suprimento de vasos de sangue sistêmicos com a finalidade de satisfazer suas
necessidades vitais. O miocárdio é suprido com sangue da artéria coronária direita e da artéria coronária
esquerda. Esses dois vasos originam‑se da aorta ascendente, ao nível das válvulas semilunares da valva
da aorta. As artérias coronárias circundam o coração no interior do sulco coronário, a reentrância entre
os átrios e os ventrículos. Assim, dois ramos se derivam da artéria coronária direita e da artéria coronária
esquerda para se difundir pelas paredes dos átrios e dos ventrículos.

Artéria coronária direita Artéria coronária esquerda

Figura 228 – Artérias coronárias

238
ANATOMIA HUMANA

A artéria coronária esquerda fornece o ramo interventricular anterior, que se situa no sulco
interventricular anterior para nutrir ambos os ventrículos e o ramo circunflexo, que supre com sangue
oxigenado as paredes do átrio esquerdo e do ventrículo esquerdo. A artéria coronária direita dá o ramo
marginal que nutre as paredes do átrio direito e do ventrículo direito, e o ramo interventricular posterior,
que se situa ao longo do sulco interventricular posterior para atender os dois ventrículos. Dos capilares no
miocárdio o sangue entra nas veias cardíacas, que apresentam paredes mais finas e são mais superficiais
do que as artérias. As duas principais veias cardíacas são a veia interventricular anterior, que recolhe
o sangue da parte anterior do coração e a veia interventricular posterior, que drena a parte posterior
do coração. Essas veias convergem para formar o seio coronário na superfície posterior do coração.
O sangue venoso coronário, em seguida, entra no átrio direito por meio do óstio do seio coronário.

Artéria carótida comum esquerda


Tronco braquiocefálico
Artéria subclávia esquerda

Arco da aorta
Veia cava superior

Tronco pulmonar
Parte ascendente da aorta Valva do tronco
pulmonar
Ramo lateral
Aurícula direita
Veia interventricular
Artéria coronária direita anterior

Veia cardíaca anterior Ramo interventricular


anterior
ÁTRIO
DIREITO
Veia cardíaca parva
VENTRÍCULO
Ramo marginal direito ESQUERDO

VENTRÍCULO
DIREITO

Figura 229 – Circulação coronária e grandes vasos

Observação

A oclusão de uma artéria coronária ou de um de seus ramos por uma


placa de ateroma leva ao chamado infarto do miocárdio, ou ataque cardíaco
ou coronário, sendo que o miocárdio fica sem nutrição e degenera.

239
Unidade II

Saiba mais

Para saber mais sobre doença arterial coronária e angioplastia:

MARTINI, F. H.; TIMMONS, M. J.; TALLISTSCH, R. B. Anatomia humana.


6. ed. Porto Alegre: Artmed, 2009, p. 560‑561.

5.1.10.4 Circulação fetal

A circulação fetal apresenta a placenta, local onde se processam as trocas nutritivas materno‑fetais,
que está ligada ao feto por meio de uma veia umbilical e de duas artérias umbilicais que fazem parte
do cordão umbilical. Pela veia umbilical provém da placenta sangue com O2 que é lançado na veia cava
inferior, quer indiretamente através do fígado, quer através do ducto venoso, comunicação direta entre
veia porta e veia cava inferior. A veia cava inferior desemboca no átrio direito do coração, conduzindo
sangue com O2 da placenta e sangue venoso da circulação de retorno.

No átrio direito desemboca também a veia cava superior, conduzindo sangue venoso do seu
território. Esse, junto com o proveniente da veia cava inferior, passa em parte ao ventrículo
direito e em parte, por meio do amplo forame oval, ao átrio esquerdo. Aqui chega também sangue
venoso da circulação pulmonar. Do átrio esquerdo, o sangue é lançado no ventrículo esquerdo,
de onde passa para a aorta. O sangue do ventrículo direito sai pelo tronco pulmonar e, em sua
maior parte, segue para a aorta, pelo ducto arterioso, curto vaso que comunica diretamente
essas duas artérias no feto. O restante do sangue das artérias pulmonares atinge os pulmões,
de onde volta ao coração pelas veias pulmonares para se misturar no átrio esquerdo com o
sangue chegado pelo forame oval. Pela aorta, o sangue é distribuído à circulação geral, retorna
à placenta pelas artérias umbilicais, ramos das artérias ilíacas internas.

Durante a vida fetal a oxigenação é feita na placenta, função que, por ocasião do nascimento,
quando se processam os primeiros movimentos respiratórios, é transferida aos pulmões.
Por conseguinte, os canais de comunicação, o ducto venoso (ligamento venoso), o ducto arterioso
(ligamento arterioso), a veia umbilical (ligamento redondo do fígado) e as artérias umbilicais (ligamentos
umbilicais medianos) e o amplo forame oval (fossa oval) deixam de ter suas funções e sofrem um
processo de oclusão lenta e gradual, que termina normalmente meses após o nascimento, conforme
ilustra a figura a seguir.

240
ANATOMIA HUMANA

Veia cava Ducto arterioso


superior
Artéria pulmonar
Forame oval

Ducto venoso

Aorta

Veia umbilical Veia cava


inferior

Artérias ilíacas
comuns

Artérias
umbilicais

Figura 230 – Circulação fetal

5.1.10.5 Circulação colateral

A maior parte dos órgãos do corpo tem mais de uma fonte de irrigação sanguínea, a fonte de
vasos sanguíneos principais e a fonte de vasos sanguíneos acessórios ou vasos sanguíneos colaterais.
A circulação acessória ou circulação colateral é um suprimento sanguíneo alternativo de grande
relevância funcional quando a fonte do suprimento principal está obstruída.

5.1.11 Aparelho valvar do coração

William Harvey, em seu Tratado Exercitario de Motu Cordis et Sanguinis in Animalibus (Ensaio
sobre o Movimento do Coração e do Sangue nos Animais), publicado em 1628, no qual ele descreve
pela primeira vez a circulação contínua de sangue, fez referência especial à maneira pela qual a
disposição das valvas do coração permitia o fluxo de sangue por meio desse órgão, desempenhando
o papel de manter o fluxo de sangue em apenas um único sentido, ou seja, unidirecional e, por isso,
agem como valvas de mão única.
241
Unidade II

As valvas do coração são, fundamentalmente, especializações do endocárdio que se organizam,


durante o desenvolvimento, como regiões endocárdicas encorpadas, chamadas de coxins endocárdicos,
na região da futura valva atrioventricular direita e da valva atrioventricular esquerda e, ainda, como
cristas valvares, ou também como coxins endocárdicos, na região das futuras valvas semilunares.

Podem ser distinguidos dois diferentes tipos de valvas do coração: as valvas atrioventriculares e as
valvas semilunares. As atrioventriculares dificultam o refluxo de sangue dos ventrículos para os átrios,
no momento da sístole ventricular. Já as semilunares evitam o refluxo de sangue da aorta e do tronco
pulmonar para os ventrículos. Em sua superfície, as valvas do coração são envolvidas por endotélio,
abaixo do qual se encontra uma camada de tecido conjuntivo. Esse endocárdio valvular tem uma
estrutura análoga ao endocárdio parietal, que se arranja diretamente sobre o miocárdio.

As patologias podem afetar as valvas do coração e, consequentemente, alterarem suas funções.


Algumas causas comuns de endocardites são caracterizadas pela infecção bacteriana de uma valva,
em geral, já antecipadamente lesionada, ou ainda sequela de uma patologia de causa imunológica, por
exemplo, a febre reumática, após uma infecção estreptocócica do anel faríngeo, que leva a complicações
no aparelho valvar do coração. Uma endocardite bacteriana pode afetar a valva atrioventricular direita,
especialmente devido à introdução de cateteres intravenosos contaminados, ou após o uso de drogas
injetáveis, com a injeção de materiais infectados, ou seja, a entrada de micro‑organismos no sistema
venoso, com comprometimento preferencial das valvas do coração direito. Exceções em outras situações,
pode haver predileção pelas valvas do coração esquerdo, na colonização de bactérias.

As valvas atrioventriculares impedem a volta do sangue dos ventrículos para os átrios durante a
sístole e as valvas semilunares dificultam o retorno do sangue da aorta e do tronco pulmonar para
os ventrículos, durante a diástole. Todas essas valvas fecham‑se e abrem‑se passivamente, ou seja,
fecham‑se quando o gradiente retrógrado de pressão empurra o sangue de volta e abrem‑se quando
um gradiente de pressão, conduzido para adiante, força o sangue para frente. As membranas finas das
valvas atrioventriculares precisam de um fluxo retrógrado muito pequeno para se fechar, enquanto
as válvulas semilunares, bem mais densas, carecem de um fluxo retrógrado mais forte e veloz.

Lembrete

A valva atrioventricular direita, por possuir três válvulas, é designada de


tricúspide; a esquerda é bicúspide, também designada como mitral.

As valvas semilunares funcionam de maneira diferente das valvas atrioventriculares. Primeiro, as altas
pressões diastólicas causam o fechamento íngreme das valvas semilunares, quando comparadas com o
fechamento bem mais leve das valvas atrioventriculares na sístole. Segundo, em virtude de seus óstios
menores, a velocidade de ejeção do sangue pelas valvas semilunares é maior. Terceiro, devido ao acelerado
fechamento e à veloz ejeção, as margens da valva da aorta e da valva do tronco pulmonar estão submetidas
à corrosão mecânica mais intensificada. Finalmente, as valvas atrioventriculares são amparadas pelas
cordas tendíneas, o que não acontece com as valvas semilunares. É evidente, pela anatomia das valvas da
aorta e da valva do tronco pulmonar, que elas são bem ajustadas para combater estresses físicos extras.
242
ANATOMIA HUMANA

As valvas semilunares contrabalançam funcionalmente a falta de cordas tendíneas e dos músculos


papilares, pela presença de membranas valvulares mais espessas. Ambos os óstios atrioventriculares
suportam grandes alterações na forma, na posição e na área durante um ciclo de contração. A valva
atrioventricular esquerda, por exemplo, diminui 40% do seu diâmetro durante a sístole.
Valva do
tronco Valva do
pulmonar Artéria tronco
(fechada) coronária pulmonar
direita (aberta)
Artéria coronária Valva da aorta
esquerda (fechada) Valva da aorta
Valva (aberta)
Valva atrioventricular atrioventricular
esquerda (aberta) esquerda (fechada)
Valva Valva
atrioventricular atrioventricular
direita (aberta) direita (fechada)

Figura 231 – As valvas do coração

O conhecimento das valvas do coração auxiliará na parte clínica quando se realizam as auscultas
cardíacas, conforme ilustra a figura a seguir.

Figura 232 – Anatomia de superfície do coração. Os focos de ausculta para as valvas da aorta (A), do tronco pulmonar (T),
atrioventricular esquerda (mitral – M) e atrioventricular direita (tricúspide – P) estão indicados pelas letras.

Por si só, as valvas atrioventriculares não conseguem aguentar toda a carga da sístole sem se inverter.
Por isso, são avigoradas pelos músculos papilares e pelas cordas tendíneas. Os músculos papilares,
portanto, são grupos musculares de sustentação valvular, assim sendo destacam‑se como projeções
cônicas ou arredondadas de músculos e cujos ápices se inserem as cordas tendíneas.

243
Unidade II

As cordas tendíneas são estruturas anatômicas fibrosas, delicadas, mas fortes. Apresentam‑se em
número de vinte e têm tamanhos e espessura desiguais. A maioria depara‑se presa aos músculos papilares.
Essas se fixam por um lado nas valvas e por outro nos músculos papilares, conforme ilustra a figura.

Cúspides

Cordas tendíneas
Válvulas semilunares

Músculos papilares

Figura 233 – Complexo valvar (A) e atrioventricular (B)

Os músculos papilares, ao se contraírem em conjunto com o miocárdio, reduzem a cavidade ventricular,


apertam os óstios atrioventriculares e puxam as válvulas para baixo, prevenindo a inversão dessas e o
natural refluxo de sangue. Caso as cordas tendíneas sejam rompidas, ou caso um dos músculos papilares
permanecer inativo, a valva atrioventricular se abaúla muito e refluem profusamente, acarretando
regurgitação de sangue para os átrios durante a sístole e, comumente, a sobrecarga e a falta de capacidade
do coração de bombear toda a quantidade desse sangue refluído, conforme ilustra a figura a seguir.
Valva da aorta

Cordas tendíneas

Músculos papilares

Valva mitral

Figura 234 – Sistema antirrefluxo

Se a função de uma valva do coração sofre alguma modificação, seja ela congênita, seja ocasionada
por um processo de reestruturação, após uma inflamação na valva, isso se distingue como uma
deficiência da valva do coração ou valvulopatia. No início, a patologia em uma valva do coração pode
se traduzir como estenose ou insuficiência e produzir modificações em cada um de seus respectivos
espaços internos conectados em sequências. Caso tenham algum defeito irreparável, as valvas podem
ser trocadas por valvas mecânicas ou por biovalvas, geralmente valvas de coração de porco.
244
ANATOMIA HUMANA

Lembrete

Algumas patologias atingem as cúspides das valvas atrioventriculares,


modificando a sua forma. Em algumas situações acontece a dificuldade de
passagem do sangue dos átrios para os ventrículos. Em outras situações,
acontece o refluxo de sangue para os átrios.

5.1.12 Microanatomia

As camadas principais que constituem o coração são o epicárdio, a túnica serosa e externa; o miocárdio,
a túnica muscular e média; e o endocárdio, a túnica íntima e interna, conforme ilustra a figura a seguir.
O endocárdio é a túnica de revestimento mais interna da parede do coração, formada por um epitélio
simples pavimentoso, o endotélio, e um tecido conjuntivo subjacente, com uma camada subendotelial
e uma camada mioelástica. A tela subendocárdica, localizada abaixo do tecido subendotelial, abrange
fibras do complexo estimulante do coração. O epicárdio corresponde à lâmina visceral do pericárdio
seroso. Ele é constituído por um epitélio de revestimento simples pavimentoso, que forma sua superfície
lisa, livre de atrito, e por tecido conjuntivo frouxo subjacente e, em seguida, uma tela subserosa.

O miocárdio é a túnica mais grossa, formada pelo músculo estriado cardíaco. O miocárdio dos átrios
é mais fino do que o miocárdio dos ventrículos, por conta de sua menor atividade de contração na
função de bombear o sangue. Os feixes de fibras musculares são arranjados de maneira a resultar em
um movimento de torção, ejetando eficazmente o sangue do coração durante a contração muscular.

No miocárdio há especialmente dois diferentes tipos de fibras musculares cardíacas, sendo elas
as fibras da musculatura de trabalho e as fibras do complexo estimulante do coração. As fibras da
musculatura de trabalho localizadas nos ventrículos adotam um percurso espiralado, existindo uma
organização em três camadas, formada por uma camada longitudinal externa, uma camada circular
média e uma camada longitudinal interna.

A camada longitudinal externa se origina do esqueleto fibroso do coração, em sua maior parte no
trígono fibroso direito e no trígono fibroso esquerdo, e continua, em feixes espiralados, em sentido
longitudinal até o vórtice do coração, que corresponde ao anel mais estreito da espiral, em cujas
proximidades se arranjam o ápice do coração. As fibras circulares se inserem na camada circular.

A camada circular é individualmente consistente no ventrículo esquerdo e é caracterizada como


motor do coração, enquanto no ventrículo direito ela se depara bem menos desenvolvida e, portanto,
mais fina.

Da camada circular surgem fibras que continuam na camada interna do miocárdio em sentido
longitudinal. Essa camada longitudinal induz à formação das trabéculas cárneas e dos músculos papilares.

245
Unidade II

5.1.13 Pericárdio

O coração está envolvido por um saco de parede dupla chamado de pericárdio. A parte superficial
frouxamente acomodada desse saco é o pericárdio fibroso. Essa forte camada de tecido conjuntivo denso
tem como papéis: proteger o coração, ancorar as estruturas que o rodeiam e impedir o enchimento
excessivo do coração com sangue.

Abaixo do pericárdio fibroso está o pericárdio seroso, uma membrana de duas camadas, fina,
escorregadia e serosa. Sua lâmina parietal cobre a superfície interna do pericárdio fibroso. Na margem
superior do coração a lâmina parietal se une aos grandes vasos da base que saem dele e se dobra
inferiormente, prosseguindo até a superfície externa do coração como a lâmina visceral.

Entre as camadas parietal e visceral está a cavidade do pericárdio, em forma de fenda, a qual abrange
uma película de líquido seroso. As membranas serosas, lubrificadas pelo líquido do pericárdio, deslizam
delicadamente umas sobre as outras durante os movimentos do coração, possibilitando que ele funcione
em um meio relativamente livre de atrito.
Pericárdio
Microanatomia

Endocárdio
Pericárdio fibroso
Lâmina parietal do
Pericárdio pericárdio seroso
Epicárdio Vasos de sangue coronários
Miocárdio Trabéculas cárneas
Endocárdio Cavidade do
pericárdio
Miocárdio
Lâmina visceral do pericárdio
seroso (epicárdio)

Figura 235 – Pericárdio

Observação

Pericardite é um processo inflamatório do pericárdio que pode intervir


na produção de líquido pericárdico que lubrifica as superfícies das lâminas
parietal e visceral do pericárdio. As aderências dolorosas podem interferir
na contração do miocárdio.

5.1.14 Características morfofuncionais das artérias e das veias

• Juntando as arteríolas, as vênulas e os capilares há cerca de 96.540 quilômetros de vasos de sangue.

246
ANATOMIA HUMANA

• No cadáver as artérias têm secção transversal circular e as veias, elíptica. As artérias são vazias e as
veias, comumente, cheias de sangue, por conta da rigidez cadavérica algumas horas após a morte,
em que os músculos se contraem e dirigem seu sangue para as veias.

• As paredes das artérias e das veias são formadas de três camadas, ou túnicas, conforme ilustra a
figura a seguir. A túnica externa, ou adventícia, a camada mais externa, está constituída de tecido
conjuntivo frouxo; a túnica média, a camada média, está composta de músculo liso; a túnica média
das artérias apresenta quantidades inconstantes de fibras elásticas; a túnica interna, a camada
interna, está constituída de epitélio simples pavimentoso e de fibras elásticas compostas de elastina.
A camada de epitélio simples pavimentoso é chamada de endotélio e reveste a parede de todos os
vasos de sangue. Os capilares consistem apenas em endotélio, apoiado em uma lâmina basal.

TÚNICA ÍNTIMA
Endotélio

Membrana basal
Lâmina elástica
interna Válvulas
TÚNICA MÉDIA
Músculo liso
Lâmina elástica
externa

TÚNICA EXTERNA

Endotélio Membrana basal

Figura 236 – As paredes dos vasos

Saiba mais

A aterosclerose é a patologia mais frequente das artérias, trata‑se


da formação de placas de gordura na túnica interna, que oclui a luz das
artérias. Saiba mais sobre o assunto:

MARTINI, F. H.; TIMMONS, M. J.; TALLISTSCH, R. B. Anatomia humana.


6. ed. Porto Alegre: Artmed, 2009, p. 574.
247
Unidade II

• Ao fluir desde o coração até alcançar os capilares periféricos, o sangue passa por uma sequência
de artérias de diâmetros cada vez menores: as artérias elásticas e as artérias musculares, conforme
ilustra a figura a seguir. As artérias elásticas, ou artérias de condução, são vasos com grandes
diâmetros, transportam grandes volumes de sangue para fora do coração, como, por exemplo,
o tronco pulmonar e a aorta e seus ramos principais: as artérias carótidas comuns e as artérias
subclávias. As artérias musculares, ou artérias de distribuição, conduzem sangue aos músculos
esqueléticos e órgãos internos. As artérias carótidas externas no pescoço, as artérias braquiais
nos braços, as artérias femorais nas coxas e as artérias mesentéricas no abdome são exemplos de
artérias musculares.

Figura 237 – Artérias elásticas e musculares

• A adventícia também apresenta vasos de sangue destinados à nutrição dos tecidos que compõem
as diversas túnicas do próprio vaso. São pequenas artérias e veias que podem existir na adventícia.
Nas veias mais calibrosas estão presentes na túnica média. Esses vasos são chamados de vasa
vasorum, conforme ilustra a figura a seguir, expressão em latim que significa “vasos dos vasos”.

248
ANATOMIA HUMANA

Figura 238 – Vasa vasorum

• As artérias têm elasticidade a fim de manter o fluxo de sangue constante.

Observação

A diferença da pressão sanguínea entre as artérias e as veias é clara


quando os vasos sanguíneos são seccionados. O sangue escorre suavemente
e livremente de uma veia, porém, jorra com força quando é proveniente de
uma artéria.

• Muitas veias apresentam válvulas, conforme ilustra a figura a seguir, as pregas membranosas na
camada interna da veia, em forma de bolso, que estão ausentes nas artérias. Estão ausentes as
válvulas nas veias do cérebro e em algumas veias do tronco e do pescoço.

Veia profunda

Veia comunicante

Veia superficial

Válvula

Figura 239 – Veias comunicantes e válvulas venosas da perna

249
Unidade II

• A veia cava superior tem sua abertura desprovida de válvula. A válvula da veia cava inferior no
adulto é geralmente rudimentar e apresenta pouca ou nenhuma relevância funcional. A válvula
do seio coronário inserida na borda direita e inferior do seio coronário não acarreta dificuldade
no fechamento parcial do orifício durante a contração do átrio.

• Em média, a pressão nas veias é de apenas 2 milímetros de Hg, comparada com a média muito
mais elevada da pressão arterial, de cerca de 100 milímetros de Hg. Essas pressões simulam a
pressão hidrostática, ou seja, a pressão que o sangue exerce sobre as paredes dos vasos de sangue.
A baixa pressão venosa é insuficiente para fazer o sangue retornar ao coração, particularmente
dos membros inferiores. Todavia, as veias passam entre grupos de músculos estriados esqueléticos,
que proporcionam uma massagem quando se contraem. Quando as veias são comprimidas pela
contração dos músculos estriados esqueléticos, o fluxo de sangue se direciona para o coração, o
que é garantido pela presença das válvulas venosas. O efeito de massagem dos músculos estriados
esqueléticos no fluxo de sangue venoso é usualmente descrito como bomba muscular esquelética,
conforme ilustra a figura a seguir. A assiduidade do retorno venoso para o coração é dependente,
em grande parte, da ação das bombas musculares estriadas esqueléticas. Quando essas bombas
são menos ativas, por exemplo, quando uma pessoa fica parada ou está acamada, o sangue
acumula nas veias dilatando‑as. Esse acúmulo de sangue nas veias das pernas por um período
longo pode acarretar a distensão das veias nos pontos onde as válvulas venosas não se tornam
mais eficientes. Isso pode gerar veias varicosas.

Valva (fechada)

Músculo estriado
esquelético contraído

Valva (aberta)

Veia

Direção do fluxo
de sangue

Figura 240 – A bomba muscular

• O número de veias é maior do que o das artérias, conforme ilustra a figura a seguir, não só
porque é muito habitual a existência de duas veias satélites acompanhando uma artéria, mas
também pela existência de um sistema de veias superficiais às quais não correspondem as artérias.
Em geral, há duas veias acompanhando uma artéria, porém, há exceções, por exemplo, no pênis e
no cordão umbilical, onde há duas artérias e uma veia.

250
ANATOMIA HUMANA

Artéria

Veia
Veia

Figura 241 – Número de veias e artérias

• As artérias saem do coração e as veias chegam ao coração.

• As artérias apresentam ramos, conforme ilustra a figura a seguir, e as veias afluentes.

Ramo colateral
Ramo recorrente

Ramo terminal
Ramo terminal

Figura 242 – Esquema dos ramos de uma artéria

• Para as artérias diz‑se em irrigação ou nutrição. Para as veias diz‑se em drenagem.

• Nomenclatura das artérias: (a) situação: a. braquial; (b) direção: a. circunflexa da escápula; (c)
órgão irrigado: a. renal.

Lembrete

Artérias: transportam sangue, irrigam os órgãos e levam sangue.

Veias: recebem sangue dos órgãos e trazem o sangue.

A artéria braquial é usada para mensurar a pressão arterial.

• Calibre dos vasos de sangue: grande, médio e pequeno (arteríolas e vênulas).


251
Unidade II

• Situação das veias: as veias superficiais são subcutâneas, com frequência visível por transparência
na pele, mais calibrosas nos membros e no pescoço. Devido a sua posição subcutânea, é nelas que
se faz a aplicação de injeções endovenosas. Elas não acompanham as artérias. Veias profundas:
podem ser solitárias, isto é, não acompanham artérias, por exemplo, a veia cava superior, a
veia cava inferior, a veia ázigo, a veia porta ou as veias satélites das artérias. Numerosas veias
comunicam veias superficiais com veias profundas e são nomeadas veias comunicantes.

5.1.15 Vasos linfáticos, linfonodos, ductos linfáticos e tonsilas

O sistema linfático consiste em duas partes: uma ampla rede de vasos linfáticos e diversos tecidos e
órgãos linfáticos distribuídos pelo organismo. Os órgãos linfáticos desempenham papéis essenciais nos
mecanismos de defesa do organismo: via acessória para o líquido intersticial; transporte de substâncias
dos espaços intercelulares que não podem ser retiradas pelos capilares sanguíneos, como, por exemplo,
as proteínas; e barreira à propagação de bactérias, vírus e células cancerígenas. Ele é composto pelos
vasos linfáticos, semelhantes às veias, portanto, vasos convergentes, incumbidos de levar a linfa dos
tecidos para a corrente sanguínea.

A linfa é um líquido semelhante ao plasma, desprovido de plaquetas, possui raras plaquetas


e é rico em leucócitos e linfócitos. Em alguns órgãos a linfa apresenta características especiais.
Por exemplo, nos vasos linfáticos do intestino delgado, a linfa é branca, leitosa e chamada de quilo.
É rica em gordura emulsionada.

Os capilares linfáticos são compostos de células endoteliais. A maioria deles não apresenta válvulas.
A partir dos capilares saem os vasos linfáticos, os quais, geralmente, acompanham os vasos de sangue.

Os linfonodos são estruturas anatômicas arredondadas que se agrupam ao longo dos vasos linfáticos.
À medida que a linfa é transportada de volta para a corrente sanguínea, ela é filtrada por meio dos linfonodos.
Podem estar isolados ou reunidos, formando grupamentos maiores de linfonodos. Estão presentes próximos à
superfície corporal nas regiões: inguinal, axilar e cervical, locais onde os vasos linfáticos coletores convergem
para compor troncos. Um papel essencial dos linfonodos é a proteção do organismo.

A direção da corrente da linfa é mantida com o auxílio das válvulas. Então, a linfa recolhida pelos
capilares alcança os vasos linfáticos e passa pelos linfonodos, é captada por novos coletores que chegam
aos ductos linfáticos, que, por fim, lançam a linfa no sangue venoso. Nos membros superiores e inferiores
ela segue em sentido à axila e à região inguinal, concomitantemente. Os dois grandes ductos linfáticos
são: ducto torácico e ducto linfático direito.

Observação

É comum que células cancerígenas adentrem nos capilares linfáticos


e atinjam o sangue, quando, então, são carregadas para outros tecidos,
onde se fixam e desenvolvem um novo tumor. Esse novo tumor é chamado
de metástase.
252
ANATOMIA HUMANA

As tonsilas são os órgãos linfáticos mais simples, elas compõem um anel de tecido linfático em torno
da entrada da faringe e são chamadas conforme sua situação. As tonsilas palatinas são pareadas e se
localizam de cada lado na parte oral da faringe. Essas são as maiores e as mais comumente infectadas.
Uma coleção irregular de folículos linfáticos na base da língua é chamada de tonsilas linguais. A tonsila
faríngea está na parede posterior da parte nasal da faringe. As diminutas tonsilas tubárias circundam as
aberturas das tubas auditivas na faringe. As tonsilas têm como função recolher e retirar patógenos que
adentram na faringe pelo alimento ou pelo ar inalado.

Observação

A musculatura do períneo pode sofrer alterações em relação ao número


de gestações. Isso pode influenciar situações futuras que acarretem
desconfortos às mulheres, por exemplo, a incontinência urinária.

Saiba mais

Para saber mais sobre o sistema linfático:

RODRIGUES, C. F. S. Anatomia aplicada do sistema linfático. In: PITTA, G.


B. B; CASTRO, A. A.; BURIHAN, E. Angiologia e cirurgia vascular: guia ilustrado.
Maceió: Uncisal/EcmaL/Lava, 2003, p. 1‑6. Disponível em: <http://sogab.com.
br/sistemalinfaticoartigoderevisao.pdf>. Acesso em: 16 mar. 2019.

YAMAMOTO, A. P. C. N. Sistema linfático: revisão de literatura. Interbio,


Dourados, v. 1, n. 2, 2007, p. 13‑20. Disponível em: <http://www.unigran.
br/interbio/paginas/ed_anteriores/vol1_num2/arquivos/artigo2.2.pdf>.
Acesso em: 16 mar. 2019.

5.2 Sistema respiratório

No corpo humano, assim como na maioria dos animais de vida terrestre, a aquisição de O2 requer
trocas gasosas entre o corpo e o meio ambiente. Assim, o sistema respiratório possibilita a absorção de
O2 pelo organismo e a eliminação de CO2 resultante da oxidação celular. As trocas gasosas ocorrem entre
o sangue e o ar, processo chamado de respiração.

A respiração acontece em três etapas principais: a ventilação pulmonar, ou respiração, que é o fluxo
de ar para dentro e para fora dos pulmões; a respiração externa, que é a troca de gases entre os espaços
aéreos ou alvéolos pulmonares, e o sangue, nos vasos capilares pulmonares; e a respiração interna, que
é a troca de gases entre o sangue nos vasos capilares sistêmicos e as células dos tecidos. O sangue provê
O2 e recebe CO2.

253
Unidade II

Além das trocas gasosas, os papéis do sistema respiratório são: produzir o som ou a vocalização,
quando o ar expirado passa por meio das pregas vocais; auxiliar na compressão abdominal durante a
micção, defecação e parto; tornar possíveis os movimentos aéreos protetores e os reflexos, por exemplo,
tosse e espirro, para manter limpa a passagem do ar; auxiliar na regulação do pH sanguíneo; e livrar o
organismo de uma parte da água e do calor no ar expirado.

Para que seja realizável, a respiração é imprescindível à participação de uma série de órgãos tubulares
e alveolares, localizados na cabeça, no pescoço e na cavidade torácica. Esses órgãos são: nariz, cavidade
nasal, faringe, laringe, traqueia, brônquios e pulmões. Os órgãos respiratórios podem ser subdivididos
em órgãos do trato superior ou vias aéreas superiores e pulmões, conforme ilustra a figura a seguir.
Ademais, podemos considerar como órgãos acessórios da respiração as pleuras, a caixa torácica e os
músculos respiratórios. Toda a via aérea é recoberta internamente por uma mucosa.

Nariz

Faringe
Laringe
Traqueia

Brônquio principal direito

Pulmões

Figura 243 – Vista anterior mostrando os órgãos da respiração

Lembrete

As vias aéreas superiores incluem o nariz, a cavidade nasal, a faringe, a


laringe, a traqueia e os brônquios principais.

5.2.1 Nariz

O nariz é a saliência mediana da face, composto de arcabouço ósseo e cartilagíneo, revestido de pele
e com o formato de uma pirâmide triangular. A extremidade superior corresponde ao vértice da pirâmide,
chamado de raiz e a extremidade inferior, chamada de base. Entre a raiz e a base encontra‑se de dorso.
Na base deparam‑se duas aberturas em fenda, as narinas, separadas por um septo nasal. Elas comunicam
o meio externo com a cavidade nasal. A partir da raiz uma ponte óssea se estende para baixo, ao longo do

254
ANATOMIA HUMANA

dorso, para terminar na parte móvel chamada de ápice. A parte lateral é composta pela asa do nariz. A pele do
nariz prossegue o contorno das narinas e continua na cavidade nasal por uma curta distância para compor a
junção com a mucosa que reveste a cavidade nasal. Uma rede de pelos curtos e espessos, as vibrissas, sai da
pele, que é rica em glândulas sebáceas cuja finalidade é conter as partículas pendentes no ar inspirado.

O nariz tem como função: limpar, umidificar e aquecer o ar, receber secreções dos seios paranasais e
do ducto lacrimonasal e expulsar secreções. Há diversos tipos de perfil nasais relacionados às variações
anatômicas características nos grandes grupos raciais. Os brancos, geralmente, têm nariz afilado, são
leptorrinos; os negros apresentam‑no achatado, são camerrinos; os amarelos são mesorrinos.

Além dos ossos nasais e as partes das duas maxilas, fazem parte do esqueleto do nariz várias
cartilagens nasais, como: cartilagem do septo nasal, cartilagens alares maiores e menores, vomeronasal,
e acessórias, conforme ilustra a figura a seguir.

A cartilagem do septo divide a cavidade nasal em duas metades, direita e esquerda. A cartilagem
lateral do nariz compõe uma parte do dorso do nariz. Um desvio do septo nasal pode intervir com a livre
passagem do ar por meio da cavidade nasal. Isso poderia ser gerado por uma lesão congênita, entretanto,
na maioria das vezes, o desvio acontece durante a adolescência e a vida adulta por traumatismo, por
exemplo, durante uma luta de soco.

Algumas vezes o desvio é tão acentuado que o septo nasal está em contato com a parede lateral
da cavidade nasal, e repetitivamente acarreta bloqueio respiratório, ou acentua o ronco, porém, essa
situação pode ser cirurgicamente retificada.
Estrutura óssea:

Frontal
Frontal Estruturas cartilagíneas:
Maxila
Cartilagens nasais acessórias
Cartilagem do septo nasal

Cartilagens alares
Tecido conjuntivo fibroso
denso e tecido adiposo

Figura 244 – Vista anterior do nariz mostrando as estruturas ósseas e cartilagíneas

5.2.2 Cavidade nasal

A câmara interior do nariz é a cavidade nasal. Cada metade da cavidade apresenta duas aberturas
anterior e posterior, sendo elas as narinas e os cóanos, concomitantemente. A cavidade nasal é dividida
em duas partes: o vestíbulo e a cavidade própria do nariz limitada pelo limiar do nariz. Seus principais
limites são: o assoalho, o teto e as paredes medial e lateral.
255
Unidade II

O assoalho é mais largo do que o teto e é composto pelo processo palatino da maxila, os três quartos
anteriores; e pela lâmina horizontal do osso palatino, o um quarto posterior. O teto é curvo e estreito,
exceto em sua extremidade posterior.

A parede medial é formada pelo septo nasal mediano. Habitualmente, o septo nasal é desviado para
um dos lados, limitando o tamanho da cavidade nasal daquele lado. Os principais ossos do septo nasal
são: osso nasal, etmoide, vômer, esfenoide, palatino e maxila, conforme ilustra a figura a seguir.

Figura 245 – Parede medial da cavidade nasal

Os principais ossos da parede lateral da cavidade nasal são: maxila, osso nasal, etmoide, concha nasal
inferior, palatino e esfenoide.

Figura 246 – Lateral da cavidade nasal

256
ANATOMIA HUMANA

A parede lateral possui três relevos chamados de conchas nasais: superior, média e inferior.
Raramente há um quarto relevo ósseo, que é a concha nasal suprema, localizada superiormente.
O espaço compreendido entre as conchas nasais e a parede lateral da cavidade nasal recebe o nome de
meatos nasais, conforme ilustram as figuras a seguir.

Concha nasal superior


Concha nasal média

Concha nasal inferior

Figura 247 – Vista medial de um corte sagital da cabeça. O septo nasal foi removido para observação das conchas nasais

1. Vibrissas
2. Concha nasal inferior
3. Concha nasal média
4. Concha nasal superior
5. Meato nasal inferior
6. Meato nasal médio
7. Meato nasal superior
8. Óstio faríngeo da tuba auditiva
9. Seio frontal
10. Seio esfenoidal
11. Tonsila faríngea

Figura 248 – Imagem com ênfase na cavidade nasal

Nos meatos nasais deparam‑se orifícios de comunicação com os seios paranasais e as células etmoidais,
que são cavidades cheias de ar, anexas à cavidade nasal, e situadas nos ossos pneumáticos do esqueleto
cefálico. No recesso esfenoetmoidal, região estreitada localizada acima e posteriormente à concha nasal
superior, abre‑se o seio esfenoidal. No meato nasal superior abrem‑se as células etmoidais posteriores.
No meato nasal médio abrem‑se os seios: frontal e maxilar e as células etmoidais anteriores. No meato nasal
inferior se abre o ducto nasolacrimal e a comunicação das cavidades orbital e nasal. O ducto nasolacrimal
drena os fluidos, ou seja, as lágrimas da superfície dos olhos, que também drenam nas cavidades nasais.
257
Unidade II

Meato nasal superior – células


Meato nasal médio – células etmoidais posteriores
etmoidais anteriores e o seio frontal
Recesso esfenoetmoidal –
seio maxilar

Meato nasal médio –


seio maxilar

Meato nasal inferior –


ducto nasolacrimal

Figura 249 – Orifícios de comunicação

Observação

No caso de fratura do etmoide, o líquido cerebrospinal pode adentrar


na cavidade nasal e sair pelas narinas. Essa situação, conhecida como
rinorreia do líquido cerebrospinal ou liquorreia, pode levar à meningite,
com possíveis consequências letais.

5.2.3 Seios paranasais

Os seios paranasais são espaços ocos preenchidos por ar, sendo a construção leve do crânio. Esses
seios são chamados conforme os ossos que se deparam. De tal modo, existem os seios frontais, maxilares,
esfenoidais e as células etmoidais.

Seio frontal

Células etmoidais
Seio esfenoidal
Seio maxilar

Figura 250 – Os seios paranasais

258
ANATOMIA HUMANA

Admite‑se que os principais papéis dos seios paranasais sejam ajudar a aquecer o ar e umedecer o ar
inspirado. Eles também são responsáveis pela ressonância do som, porém, vale mencionar que seja mais
por conta que eles exerçam um papel na redução do peso do crânio. A capacidade de eles agirem como
caixas de ressonância durante a fala é duvidosa, porque também estão presentes em outros animais que
raramente vocalizam. Além do mais, nos seres humanos os seios paranasais obstruídos, ou cheios de
líquido, não atrapalham de forma significativa a vocalização.

O conhecimento da posição dos seios paranasais é relevante para o diagnóstico de uma doença, uma
vez que as inflamações neles podem gerar dores acima do lugar atingido, por exemplo, a cefaleia frontal,
no caso de uma inflamação no seio frontal.

5.2.3.1 Seio frontais

O seio frontal em número de dois situa‑se profundamente à glabela do osso frontal. Suas medidas
habituais são: 3 centímetros de altura; 2,5 centímetros de largura; 2,5 centímetros de profundidade.
Ausentes no nascimento, os seios frontais, geralmente, estão bem desenvolvidos entre os 7 e 8 anos de
idade, porém, só atingem seu tamanho completo após a puberdade.

5.2.3.2 Seios maxilares

Os seios maxilares são os maiores seios paranasais e estão localizados na maxila. Seus tamanhos
se alteram entre os diferentes crânios, de um lado para outro no mesmo indivíduo. As medidas de um
seio maxilar médio são as seguintes: 3,75 centímetros de altura, em frente ao primeiro dente molar;
2,5 centímetros de largura; 3 centímetros de profundidade anteroposterior. As raízes do primeiro
pré‑molar e do segundo pré‑molar e, algumas vezes, a raiz do canino se projeta para cima em direção ao
seio maxilar. As raízes dos dentes estão envoltas em uma lâmina fina de osso compacto, ocasionalmente
ausente, e em contato com a túnica mucosa do seio maxilar. O seio maxilar surge como um sulco raso na
face medial do osso por volta do quarto mês da vida fetal, porém, só alcança seu total desenvolvimento
após a segunda dentição.

Observação

A extração de um dente pode resultar em uma fístula ou um dente


infectado pode originar uma sinusite.

5.2.3.3 Seios esfenoidais

Os seios esfenoidais em número de dois estão incluídos dentro do corpo do esfenoide, alterando
em forma e tamanho. Suas medidas habituais são: 2,2 centímetros de altura; 2 centímetros de largura;
2,2 centímetros de profundidade. Na ocasião do nascimento, os seios esfenoidais deparam‑se como
pequenas cavidades, porém, seu maior desenvolvimento acontece após a puberdade.

259
Unidade II

5.2.3.4 Células etmoidais

As células etmoidais fazem parte de numerosas pequenas cavidades de paredes finas que compõem
o labirinto etmoidal e são completadas pelo frontal, maxila, lacrimal, esfenoide e palatino.

Observação

Pode‑se avaliar a cavidade nasal no indivíduo vivo por meio de um


rinoscópio, que é colocado na narina. Por meio de um espelho colocado na
boca, pode‑se avaliar os cóanos. Já os seios paranasais podem ser avaliados
por meio de radiografias e tomografias. A inflamação da mucosa nasal
chama‑se rinite, que fica edemaciada e inflamada durante as infecções
respiratórias graves e as reações alérgicas. A rinite pode se espalhar para
os seios paranasais e provocar sinusites. Já a sinusite é a inflamação da
mucosa dos seios paranasais que leva à obstrução dos óstios dos seios. Esse
processo acarreta um acúmulo de muco nos seios paranasais, resultando
em elevação de pressão nas cavidades dos seios paranasais. Essa elevação
de pressão ocasiona a dor de cabeça sinusal, de intensidade variável e, se
não tratada, a infecção pode se difundir para a orelha média e interna, bem
como para outras regiões.

5.2.4 Faringe

A faringe possui aproximadamente 15 centímetros nos homens e 13 centímetros nas


mulheres, com largura máxima de 3,5 centímetros até reduzir junto ao esôfago, e diâmetro de
1,5 centímetro. Estende‑se desde a base do crânio até a margem inferior da cartilagem cricoide,
e adiante é a margem inferior de C6, por detrás. Sua parede é composta de músculo esquelético
e é revestida com uma túnica mucosa. A faringe funciona como uma passagem para o ar e o
alimento, portanto, pertence aos sistemas digestório e respiratório. Ela fornece uma câmara
de ressonância para os sons da fala e alojam as tonsilas, que participam das respostas imunes
aos invasores estranhos. As infecções desse órgão se manifestam em transtornos durante a
deglutição, respiração e fala.

5.2.4.1 Dimensões

Como visto anteriormente, quando a faringe está em repouso seu comprimento médio é de
15 centímetros. Quando ela se contrai, sua extremidade inferior se eleva e seu comprimento diminui
cerca de 3 centímetros. Sua maior largura situa‑se imediatamente abaixo da base do crânio, onde se
projeta lateralmente atrás do óstio faríngeo da tuba auditiva, formando o recesso faríngeo; seu ponto
mais estreito está em sua terminação com o esôfago.

260
ANATOMIA HUMANA

5.2.4.2 Cavidades da faringe

Sete cavidades se comunicam com a faringe, a saber: as duas cavidades timpânicas e nasais, a boca,
a laringe e o esôfago. A cavidade da faringe pode ser subdividida em três partes: nasal, oral e laríngea.
A parte nasal da faringe, ou nasofaringe, está posterior ao nariz e superior ao palato mole; a parte oral
da faringe, ou orofaringe, está posterior à boca; a parte laríngea da faringe, ou laringofaringe, está
posterior à laringe.

5.2.4.3 Parte nasal da faringe

A parte nasal da faringe tem função respiratória e situa‑se posteriormente ao palato mole, sendo a
extensão posterior das cavidades nasais. O nariz abre‑se para a parte nasal da faringe por meio de dois cóanos.
O palato mole e a úvula palatina formam o assoalho da parte nasal da faringe.

Nas suas paredes laterais, a parte nasal da faringe recebe as tubas auditivas que a conectam com a
cavidade da orelha média. Quando aberta, ela equilibra a pressão no interior da orelha média com a que
está na faringe e no meio ambiente.

Observação

A tuba auditiva é uma via potencial de disseminação de infecções da


faringe para a orelha média. A otite média ou infecção da orelha média é
mais prevalente em crianças muito jovens porque a tuba auditiva não se
abre facilmente como a de um adulto.

Saiba mais

Para saber mais sobre a relação do aleitamento materno e a ocorrência


de otite média em bebês:

FOLTRAN, L. N.; FUJINAGA, C. I. Otite média posicional e sua relação


com o aleitamento: revisão integrativa de literatura. In: XIX SEMANA
DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA UNICENTRO, 19, 2014, Guarapuava. Anais...
Guarapuava: Unicentro, 2014, p. 1‑4. Disponível em: <http://anais.
unicentro.br/proic/pdf/xixv2n1/124.pdf>. Acesso em: 17 mar. 2019.

Em sua parede lateral, uma prega vertical da mucosa, a prega salpingofaríngea, estende‑se para
baixo, a partir da tonsila tubária, e contém o músculo salpingofaríngeo. Uma segunda prega menor,
a prega salpingopalatina, estende‑se da parte superior da tonsila tubária ao palato. Atrás do óstio
faríngeo da tuba auditiva situa‑se um profundo recesso, o recesso faríngeo.

261
Unidade II

Na parte posterior encontra‑se uma saliência produzida por tecido linfático e conhecida como
tonsila faríngea. De modo geral, a tonsila faríngea é mais volumosa na infância, regredindo e se
atrofiando na idade adulta. Quando essas tonsilas se tornam aumentadas como respostas a uma infecção
são chamadas de adenoides. Esse aumento pode ser crônico e interferir na respiração pelo nariz, sendo
necessário respirar pela boca.

5.2.4.4 Parte oral da faringe

A parte oral da faringe tem função digestiva e estende‑se do palato mole ao nível do osso
hioide. Anteriormente, abre‑se na boca, por meio do istmo das fauces. Em sua parte lateral, entre
os dois arcos, se encontram as tonsilas palatinas, chamadas de amígdalas. As tonsilas palatinas
são duas massas de tecido linfoide localizado em ambos os lados da parte oral da faringe, entre os
arcos palatoglosso (anterior) e palatofaríngeo (posterior). O espaço entre os arcos que lhe serve de
leito é a fossa tonsilar.

As tonsilas palatinas estão frequentemente inflamadas e, não raro, são removidas cirurgicamente.
A remoção cirúrgica das tonsilas palatinas chama‑se tonsilectomia, enquanto a remoção das tonsilas
faríngeas é designada de adenoidectomia.

Saiba mais

A amigdalectomia ou tonsilectomia é a cirurgia de maior frequência


na prática otorrinolaringológica pediátrica, quando a maioria das crianças
tem a sua primeira intervenção cirúrgica. Para saber mais sobre o assunto:

RIBEIRO, F. A.; CARVALHO, R. Ocorrência de dor no período


pós‑operatório imediato de crianças submetidas à amigdalectomia. Revista
Dor, São Paulo, v. 11, n. 1, p. 50‑54, 2010. Disponível em: <http://files.bvs.
br/upload/S/1806‑0013/2010/v11n1/a1499.pdf>. Acesso em: 17 mar. 2019.

5.2.4.5 Parte laríngea da faringe

Parte inferior da faringe, serve como passagem de ar e de alimento. Situa‑se posterior à laringe e
estende‑se inferiormente ao nível do osso hioide à laringe. A parte laríngea da faringe comunica‑se com
a laringe por meio do ádito da laringe na sua parede anterior. No sistema digestório torna‑se contínua
com o esôfago.

Esse é um local frequente de choques de objetos pontudos, por exemplo, com ossos de aves ou
de espinhas de peixes. A presença de material estranho nessa região gera um quadro de asfixia e o
indivíduo fica inapto a retirar o objeto.

262
ANATOMIA HUMANA

5.2.4.6 Músculos da faringe

Os músculos da faringe estão divididos em dois grupos: os músculos constritores e os músculos


elevadores. Eles se relacionam com a fala, a deglutição e com as funções da orelha média. São eles: músculo
constritor inferior, músculo constritor médio, músculo constritor superior, músculo estilofaríngeo,
músculo salpingofaríngeo e músculo palatofaríngeo. Os principais são os constritores e elevadores.

1. Músculo constritor superior da faringe


2. Músculo constritor médio da faringe
3. Músculo constritor inferior da faringe
4. Rafe da faringe
5. Músculo estilofaríngeo
6. Glândula tireoide
7. Esôfago

Figura 251 – Vista posterior dos músculos da faringe

5.2.5 Laringe

A laringe ou órgão da voz é a parte das vias aéreas superiores que comunica a faringe com a
traqueia. Trata‑se de uma estrutura semirrígida, com esqueleto cartilagíneo no qual as cartilagens se
articulam em junturas sinoviais. Ela produz uma considerável saliência na linha mediana do pescoço
chamada de pomo de Adão.

Tem aproximadamente 5 centímetros e sua extensão vertical corresponde à C4 e C6, porém, está situado
em um lugar um pouco mais alto na mulher, assim como ocorre na infância. Durante a puberdade, no
homem, a laringe cresce rapidamente em tamanho e as pregas vocais tornam‑se 1 centímetro mais longas,
fazendo com que o limite inferior da voz caia de uma oitava. Nas mulheres, essas alterações, inclusive no
tom da voz, são menos acentuadas. De cada lado da laringe estão os grandes vasos do pescoço.

Observação

A laringite é uma inflamação da mucosa da laringe e pregas vocais que


causa rouquidão da voz de um indivíduo ou a capacidade para falar além
de um sussurro. Dentre os principais fatores causadores da laringite estão:
utilização da voz em exagero, inalação de substâncias químicas irritantes e
infecções bacterianas ou virais.

263
Unidade II

5.2.5.1 Papéis da laringe

A laringe tem dois papéis principais, impedir que o alimento ou líquidos entre na traqueia e nos
pulmões durante a deglutição e permitir a passagem do ar durante a respiração; e a produção de sons.
A fonação é a produção fisiológica da voz, cujo mecanismo é o seguinte: o ar expulso dos pulmões, ao
atravessar a glote estreitada, entra em vibração; as vibrações do ar originam um som que será modelado,
tomando as características da voz humana na faringe, boca e cavidade nasal; o estreitamento da glote
é devido à ação dos músculos das cordas vocais, que se contraem; quando esses músculos não estão
contraídos o ar expirado passa livremente pela glote, não produzindo som.

Devido à influência dos hormônios sexuais masculinos, as pregas vocais usualmente são mais
espessas e mais longas nos homens do que nas mulheres. Por isso, elas vibram mais lentamente, dando
aos homens um tom mais baixo do que nas mulheres.

Observação

Processos infecciosos ou agentes irritantes no ar, por exemplo, a fumaça


do cigarro, podem causar inflamação na mucosa da laringe, atingindo
as pregas vocais. Elas reduzem a capacidade de vibrar normalmente e o
indivíduo pode ter rouquidão ou até mesmo afonia completa. Em fumantes
crônicos, a rouquidão pode ficar inalterável.

5.2.5.2 Esqueleto da laringe

A laringe é formada por nove cartilagens, três ímpares e três pares: tireoide, epiglote, cricoide,
aritenoides, corniculadas e cuneiformes. Essas cartilagens são mantidas juntas e unidas ao osso hioide
acima e à traqueia abaixo, por ligamentos e músculos.

Cartilagem tireoide

Entre os povos egeus, nos primórdios da civilização grega, o thyreós, era uma grande pedra
achatada colocada contra uma porta para mantê‑la fechada. Posteriormente, a palavra foi aplicada
a um escudo pelos habitantes da ilha de Minos, feito de lâminas de madeira prensadas, amarradas
com cipós e completado, nas bordas, com placas de metal (uma forma muito semelhante a uma
porta, que em grego arcaico designava‑se thyra). Esse escudo, ao contrário da maioria dos escudos
gregos, cobria o corpo até os pés e tinha duas chanfraduras ou entalhes, superior ou inferiormente,
para encaixar o queixo e o joelho, respectivamente. A cartilagem tireoide recebeu esse nome por sua
posição em relação à laringe, pois parece um escudo protetor.

264
ANATOMIA HUMANA

Cartilagem
tireoide

Figura 252 – Cartilagem tireoide

A cartilagem tireoide é a maior cartilagem da laringe, ímpar, composta de duas placas quadriláteras,
as lâminas direita e esquerda, que se juntam para compor a proeminência laríngea, o pomo de Adão
do pescoço. O ângulo composto de essa união é mais agudo nos homens do que nas mulheres,
correspondendo a um marcador de dimorfismo sexual.

Cartilagem epiglote

A cartilagem epiglote é ímpar, com a forma de uma folha, está localizada posterior à raiz da língua
e ao hioide, e anterior ao ádito da laringe. Ela é revestida por uma mucosa contínua com a da raiz da
língua e das partes laterais da faringe. A mucosa constitui‑se de três pregas entre a língua e a cartilagem
epiglote: a prega glossoepiglótica mediana e as duas pregas glossoepiglóticas laterais. As depressões
localizadas entre as pregas, de cada lado do plano mediano, são chamadas como valéculas da epiglote.

Cartilagem
epiglote

Figura 253 – Cartilagem epiglote

A laringe inteira se eleva durante a deglutição para fechar a glote contra a cartilagem epiglote. Esse
movimento pode ser visto se colocarmos os dedos sobre a laringe e engolirmos em seguida. Caso a glote não
permaneça fechada como deveria acontecer durante o ato de engolir, o alimento pode adentrar na glote.

Observação

Quando a cartilagem epiglote é retirada durante uma cirurgia tumoral


o paciente deve aprender, com muito esforço, a engolir perfeitamente sem
a cartilagem epiglote, pois há perigo de aspiração.

265
Unidade II

Cartilagem cricoide

A cartilagem cricoide é ímpar, composta de um anel completo de cartilagem hialina, porém menor,
mais grossa e robusta do que a cartilagem tireoide.

Cartilagem
cricoide

Figura 254 – Cartilagem cricoide

Entre as cartilagens tireoide e cricoide há o ligamento cricotireóideo, ponto de referência para


realizar um procedimento de ventilação de emergência, uma cricotireoidostomia.

Ligamento
cricotireóideo

Figura 255 – Ligamento cricotireóideo

266
ANATOMIA HUMANA

Cricotireoidostomia

Figura 256 – Ligamento cricotireoide

Observação

O termo krykos é claramente uma variação do grego kyrkos, círculo, e


deu nome à cartilagem laríngea pela sua forma em anel sinete. Esse tipo de
anel, muito comum nas classes nobres da Antiguidade e da Idade Média,
possuía um símbolo ou inscrição que identificava seu portador e servia
para assinar documentos, colocando o anel sobre o lacre derretido, já que a
maioria desses indivíduos era inculto.

Cartilagens pares da laringe

As cartilagens aritenoides, pares, em forma de pirâmide, são localizadas no dorso da laringe e


formadas por cartilagem hialina. As cartilagens corniculadas e cuneiformes são pequenas peças de
cartilagem elástica. A primeira se articula com as cartilagens aritenoides, enquanto a última está fixada
anteriormente às cartilagens corniculadas.

Compartimentos da laringe

No interior da laringe podem ser distinguidos três andares: o vestíbulo da laringe, o ventrículo
da laringe e a cavidade infraglótica. O vestíbulo da laringe se estende do ádito da laringe, a abertura
superior da laringe, até a rima da glote, que corresponde ao espaço localizado entre as duas pregas
vocais e as cartilagens aritenoides. O fechamento do ádito da laringe protege as vias aéreas superiores
contra a penetração de alimentos e corpos estranhos.

267
Unidade II

Cavidade da laringe

Ventrículo da laringe
Cavidade infraglótica

Figura 257 – Compartimentos da laringe

O ventrículo da laringe é uma depressão, em forma de cunha, localizado entre as pregas vestibulares
e vocais de cada lado. A fenda entre as duas pregas vocais, direita e esquerda, é a rima da glote.
As pregas vestibulares são também chamadas de falsas cordas vocais e tem papel protetor e de produção
de som durante o canto e a fala.

Cartilagem epiglote

Prega vestibular
Prega vocal
Prega ariepliglótica

Rima da glote

Figura 258 – Cartilagens laríngeas. Na imagem estão as estruturas observadas


durante a inspeção das cordas vocais com um espelho laríngeo

A cavidade infraglótica é um espaço localizado entre a rima da glote e o começo da traqueia.


Na linguagem clínica, ela é chamada de subglote ou espaço subglótico.

268
ANATOMIA HUMANA

Observação

Um edema de glote pode aparecer após reações alérgicas e outros


fatores, provocando um estreitamento das vias aéreas superiores e
consequente falta de ar.

Músculos da laringe

Existem dois grupos de músculos da laringe, os extrínsecos e os intrínsecos. Os músculos extrínsecos


são aqueles que se estendem da laringe aos órgãos vizinhos. Eles abrangem os seguintes músculos: o
tireo‑hióideo, estilo‑hióideo, milo‑hióideo, digástrico, estilofaríngeo e palatofaríngeo, que são levantadores
da laringe; o omo‑hióideo, esterno‑hióideo e esternotireóideo, que são abaixadores da laringe.

Já os músculos intrínsecos da laringe são: o cricotireóideo, cricoaritenóideo lateral, cricoaritenóideo


posterior, tireoaritenóideo, vocal, aritenóideo transverso e aritenóideo oblíquo. Pode‑se dizer que os
papéis dos músculos intrínsecos da laringe são os seguintes: tensionar ou relaxar o ligamento vocal,
aumentando ou reduzindo a distância que separa as cartilagens aritenoides e tireoide; aduzir ou abduzir
os ligamentos vocais, o que afasta ou aproxima do plano mediano os ligamentos vocais, logo aumenta
ou reduz a rima da glote; e ocluir o ádito da laringe, ou seja, fechar a entrada da laringe.

5.2.6 Traqueia

Abaixo da laringe, as vias aéreas superiores prosseguem com a traqueia e os brônquios principais.
A traqueia é formada por um tubo de aproximadamente 2,5 centímetros de diâmetro e 11 centímetros
de comprimento, e é sempre maior na mulher do que no homem. Na criança a traqueia é menor, mais
profundamente localizada e mais móvel do que no adulto. Ela é a continuação da laringe, penetra no
tórax, no mediastino e acaba bifurcando‑se nos dois brônquios principais, estendendo‑se até ao nível de T6.
Se localiza medianamente, por diante do esôfago e tão somente na sua terminação, desviando‑se para a
direita. Durante a inspiração profunda a traqueia pode se alongar por aproximadamente 5 centímetros.

Observação

Diversas circunstâncias podem bloquear o fluxo de ar pela obstrução da


traqueia, por exemplo, um objeto grande pode ser aspirado ou um tumor
canceroso pode protrair‑se para dentro da via respiratória. Dois métodos
são usados para restabelecer o fluxo de ar em caso de obstrução traqueal,
a traqueostomia e a intubação.

Em conformidade com as suas relações topográficas, a traqueia é dividida em duas partes: cervical
e torácica. Na superfície interna do local de bifurcação encontra‑se, comumente, uma projeção de
mucosa, reforçada por cartilagem para o interior da luz, a carina da traqueia.

269
Unidade II

Pelo fato de apresentar ar, a traqueia comumente é perceptível em radiografias como uma mancha
escura. A carina da traqueia é um detalhe anatômico relevante de referência quando se realiza a
chamada broncoscopia.

O caminho do ar da traqueia está rodeado por uma sequência de 16 a 20 anéis de cartilagem


hialina em forma de C, que apresentam por finalidade impedir que as paredes desse tubo se colapsem,
da mesma maneira que os anéis completos no tubo de um aspirador de pó. Os anéis sobrepostos estão
unidos entre si pelos ligamentos anulares.

Lembrete

Diferentemente da faringe e do esôfago, as cartilagens da traqueia


possibilitam que ela se mantenha sempre aberta ou desobstruída para a
passagem do ar, e nunca colabada.

A mucosa da superfície que reveste a luz da traqueia consiste em tecido epitelial pseudoestratificado
colunar ciliado e proporciona a mesma proteção contra pó e outras partículas como a membrana que
reveste a cavidade nasal, parte nasal da faringe e a laringe.

A abertura posterior nos anéis traqueais é transposta pelo músculo liso, o músculo traqueal,
involuntário, que une as suas extremidades. Portanto, a parede posterior da traqueia é plana.
A parte incompleta desses anéis está em contato com o esôfago. Isso possibilita que durante a
passagem do bolo alimentar o esôfago se expanda às custas dessa parede posterior distensível
da traqueia.

Observação

As células de Goblet produzem muco que prendem partículas


transportadas pelo ar e micro‑organismos, e os cílios empurram o
muco para cima, de maneira que ele é engolido ou expelido. A irritação
constante por fumaça de cigarro ou outros poluentes destroem
os cílios e o muco com as partículas presas não é retirada. Vários
micro‑organismos desenvolvem nesse muco amontoado, o que gera
infecções respiratórias, além disso a irritação e inflamação da mucosa
estimulam o reflexo da tosse.

A figura a seguir resume algumas estruturas anatômicas das vias aéreas superiores.

270
ANATOMIA HUMANA

1. Vestíbulo do nariz
2. Cóanos
3. Faringe
4. Seio frontal
5. Seio esfenoidal
6. Tonsila palatina
7. Óstio faríngeo da tuba auditiva
8. Laringe
9. Ádito da laringe
10. Cartilagem epiglote
11. Pregas vocais
12. Pregas vestibulares
13. Traqueia
14. Tonsila faríngea
15. Cartilagem tireoide

Figura 259 – Vias áreas superiores

5.2.7 Brônquios

No mediastino, ao nível da T6, a traqueia bifurca‑se nos brônquios principais, direito e esquerdo.
Neles os anéis cartilagíneos da traqueia são substituídos por placas irregulares de cartilagem.
Os brônquios principais direito e esquerdo dão origem aos brônquios lobares, que ventilam os lobos
dos pulmões. Esses, por sua vez, dividem‑se em brônquios segmentares, que encontram‑se com os
segmentos broncopulmonares. Os brônquios segmentares sofrem ainda sucessivas divisões antes de
acabarem nos alvéolos pulmonares. Observa‑se, dessa forma, que cada brônquio principal dá origem
no pulmão a uma sequência de ramificações chamadas, em conjunto, como árvore brônquica.

Os brônquios principais direito e esquerdo diferem um do outro, por sua direção, comprimento e
calibre. O brônquio principal direito é sempre mais largo (14 milímetros) que o esquerdo (12 milímetros).
O brônquio direito é fortemente verticalizado, enquanto o esquerdo é menor, e o comprimento do
esquerdo é quase o dobro, 4 a 5 centímetros, do direito, 1 a 2,5 centímetro.

O brônquio principal esquerdo passa sob o arco aórtico e anteriormente à parte descendente da
aorta para atingir o hilo pulmonar esquerdo. Ele cruza à frente do esôfago e nesse ponto pode impedir
a deglutição de um objeto maior.

Essas disposições tornam‑se relevantes nos casos de penetração de corpos estranhos na traqueia, os
quais comumente encontram mais facilidade para alcançar o pulmão direito.

Na medida em que se ramificam, os brônquios vão perdendo a cartilagem de sua estrutura e


ganhando mais musculatura lisa. Suas paredes podem, então, se contrair e reduzir a luz dos brônquios,
prejudicando a respiração, como acontece na asma.

271
Unidade II

1. Traqueia
2. Ligamentos anulares
3. Brônquio principal
4. Carina
5. Brônquio lobar
6. Pulmão
7. Base do pulmão
8. Ápice do pulmão
9. Fissura horizontal
10. Fissura oblíqua
11. Lobo superior
12. Lobo médio
13. Lobo inferior

Figura 260 – Vias aéreas superiores e pulmões

5.2.8 Pulmões

Consiste em um órgão da respiração, local onde o sangue venoso se transforma em sangue


arterial. A superfície externa dos pulmões é lisa e brilhante e sua coloração roxo-escuro antes do
nascimento, rosado no neonato e depois azulado no adulto. À medida que o indivíduo avança a
idade, se formam na superfície dos pulmões alguns depósitos de pigmentos, dispostos em forma
de pontos, manchas ou linhas. Estes pigmentos provêm de uma matéria negra encontrada nas
partículas de poeira atmosférica e são arrastados pela respiração. Nos indivíduos expostos por longos
períodos a esse tipo de ar essa matéria negra pode acumular‑se em quantidades tão consideráveis
que invadem as paredes dos alvéolos pulmonares. Sua ampla e permanente comunicação com
o exterior carrega normalmente numerosos micro‑organismos pelo ar inspirado, que em certos
momentos podem causar patologias.

Os pulmões têm a forma de um cone, medem aproximadamente 25 centímetros de altura


por 16 centímetros de diâmetro. Situados na cavidade torácica são mais leves que a água, de
consistência mole e elástica como uma esponja. Possuem um ápice superior, uma base inferior
e duas faces: costal (em relação com as costelas) e medial (voltada para o mediastino). A base
descansa sobre o diafragma, músculo que separa, internamente, o tórax do abdome, e por essa
razão é chamada também de face diafragmática. Na sua face medial, cada um dos pulmões possui
uma fenda em forma de raquete, o hilo do pulmão, pelo qual entram ou saem brônquios, vasos e
nervos pulmonares.

272
ANATOMIA HUMANA

Artéria pulmonar
Brônquio
Veia pulmonar
Linfonodo
Margem de corte da pleura
Ligamento pulmonar

Figura 261 – Principais estruturas presentes no hilo pulmonar

Nos seres humanos, assim como na maioria dos mamíferos, os pulmões possuem sulcos profundos,
as fissuras que dividem parcialmente esse órgão em lobos, conforme ilustra a figura a seguir.

Figura 262 – Pulmões direito e esquerdo e coração

O pulmão direito é mais curto que o esquerdo, pois a cúpula diafragmática está mais elevada à direita.
É mais largo porque o coração se desloca para a esquerda. Possui um volume maior, aproximadamente
2 litros de ar, enquanto o esquerdo, aproximadamente 1,6 litro de ar.

O pulmão direito nos homens pesa, em média, 700 gramas e nas mulheres, em média, 550 gramas;
o pulmão esquerdo nos homens pesa, em média, 600 gramas e nas mulheres, em média, 450 gramas.

O pulmão direito é dividido pelas fissuras oblíqua e horizontal em três lobos: superior, intermédio e
inferior; o esquerdo é dividido pela fissura oblíqua em dois lobos: superior e inferior. Ele apresenta uma
chanfradura, a incisura cardíaca, local onde o coração está situado. O lobo superior do pulmão esquerdo
apresenta uma ponta logo abaixo da incisura cardíaca, chamada de língula, que corresponderia ao lobo
médio. As fissuras estão ausentes comumente ou são incompletas, principalmente a horizontal. Às vezes
existe uma fissura a mais (fissura extranumerária), compondo um lobo extranumerário.

273
Unidade II

5.2.9 Segmentação broncopulmonar

Ao alcançarem os pulmões correspondentes, os brônquios principais subdividem‑se nos brônquios


lobares. No pulmão direito há três lobos e no esquerdo apenas dois. Por isso os brônquios lobares
resultantes da divisão do brônquio principal direito são classificados em brônquios lobares superior,
médio e inferior. O brônquio principal esquerdo se divide nos brônquios lobares: superior e inferior.
Os brônquios lobares subdividem‑se em brônquios segmentares, cada um desses distribuindo‑se a um
segmento pulmonar. O pulmão é composto de dez segmentos e o esquerdo de nove. Os nomes dos
brônquios segmentares direito são os seguintes: no lobo superior direito existem três segmentos, um
apical, um posterior e um anterior. No lobo médio há um segmento superior, um lateral e um medial.
No lobo inferior direito quatro segmentos basais: o basilar medial, basilar anterior, basilar lateral e
basilar posterior.

No pulmão esquerdo, o lobo superior esquerdo possui um segmento ápico posterior, um anterior,
um lingular superior e um lingular inferior. O lobo inferior esquerdo tem um segmento superior e quatro
segmentos basais: o basilar medial, basilar anterior, basilar lateral e basilar posterior.

A árvore bronquial continua se ramificando em túbulos cada vez menores chamados bronquíolos.
Dentro do lobo, os bronquíolos se dividem e formam os bronquíolos terminais. Numerosos
bronquíolos terminais se conectam com bronquíolos respiratórios que se dirigem aos ductos
alveolares e em seguida aos sacos alveolares.

5.2.10 Pleura

Os pulmões e a parede da cavidade torácica são recobertos por uma membrana serosa
chamada de pleura. Entre a pleura que envolve o pulmão, a pleura visceral e a pleura que reveste
a cavidade torácica, na pleura parietal forma‑se uma cavidade muito fina, a cavidade pleural,
preenchida por um líquido lubrificante que facilita a movimentação pulmonar durante os
movimentos respiratórios.

Observação

A pleurite é uma inflamação da pleura que costuma ser dolorosa


porque a inervação sensorial da pleura parietal fica irritada. Sempre que
a situação avança, a permeabilidade da membrana se altera, o que gera
um acúmulo de fluido na cavidade pleural, fazendo com que a respiração
fique complicada.

274
ANATOMIA HUMANA

6 SISTEMAS DIGESTÓRIO E ENDÓCRINO

6.1 Sistemas digestório

6.1.1 Parte supradiafragmática

O sistema digestório consiste de um canal alimentar ligado em níveis contínuos com um conjunto de
órgãos anexos. O papel fundamental do sistema digestório é conseguir, a partir dos alimentos, as moléculas
imprescindíveis para a manutenção, o crescimento e outras necessidades energéticas do corpo humano.
Esse sistema pode ser dividido em duas partes principais: supradiafragmática e infradiafragmática.
A parte supradiafragmática do sistema digestório corresponde às estruturas anatômicas situadas acima
do diafragma, enquanto em sua parte infradiafragmática encontram‑se as estruturas anatômicas
localizadas abaixo do diafragma.

O canal alimentar, cujo comprimento medido no cadáver é de aproximadamente 9 metros de


extensão, é composto de um tubo oco, que se estende da boca ao ânus. As estruturas anatômicas do
canal alimentar abrangem: a boca, a faringe, o esôfago, o estômago, o intestino delgado, o intestino
grosso, o reto e o ânus. Já os órgãos anexos compreendem os dentes, a língua, as glândulas da boca, o
fígado, a vesícula biliar e o pâncreas.

Para que possamos ter o bom emprego das substâncias alimentares, o sistema digestório deve
processar várias ações que incidem em processos mecânicos e químicos da digestão. De tal modo,
nesses processos envolvidos na digestão há a mastigação, a deglutição, o peristaltismo, a digestão, a
absorção, o armazenamento e a eliminação dos resíduos.

A mastigação, (do grego, mastichan, ranger os dentes) destina‑se à desintegração parcial dos
alimentos que se executa na boca. Os movimentos mastigatórios reduzem o tamanho dos alimentos e
mistura‑os com a saliva.

A deglutição, (do latim, deglutire, engolir) incide no transporte dos alimentos por meio da faringe
para o esôfago, o que requer a participação de vários movimentos musculares, e dos quais enfatiza em
relevância a ascensão da laringe, impossibilitando, assim, que substâncias nutritivas se encaminhem
para as vias aéreas e de maneira oposta, permanentemente abertas ao trânsito do ar.

O peristaltismo, (do grego, peri, em torno; stellein, comprimir) consiste em contrações rítmicas
semelhantes às ondas que movem o alimento por meio do canal alimentar.

No estômago e duodeno acontecerá a digestão, momento em que há o desdobramento das


substâncias alimentares em moléculas mais simples.

Por fim, ocorre a absorção que se processa especialmente no restante do intestino delgado, enquanto
o intestino grosso serve de receptáculo passageiro aos resíduos não aproveitáveis, até o momento de
serem excluídos pela defecação.

275
Unidade II

6.1.1.1 A boca e os anexos

A boca, também referida como cavidade oral, representa a porta de entrada do sistema digestório.
Além da função mastigatória, participa ativamente da fonação, da sensação do paladar e como via
aérea acessória.

Do ponto de vista anatômico, a cavidade oral é delimitada anteriormente pelos lábios, lateralmente
pelas bochechas, superiormente pelo palato, inferiormente pela língua e assoalho da boca e
posteriormente pelo istmo das fauces e parte do palato mole.

A mucosa que reveste a cavidade oral pode ser de três tipos: revestimento, mastigatória e especializada.
A mucosa de revestimento se distribui em toda a região que não é sujeitada a um grande empenho
durante a mastigação. É vista na bochecha, nos lábios, no assoalho da boca, no palato mole, em parte
do osso alveolar e na face inferior da língua. Já a mucosa mastigatória é espessada por uma camada de
queratina e apresenta uma coloração menos intensa que a mucosa de revestimento. Está simbolizada
pela gengiva e pelo revestimento do palato duro. Enfim, a mucosa especializada é a que forra o dorso da
língua. O forramento dos dois terços anteriores possui papilas com papéis gustativos. No terço posterior
se deparam nódulos linfáticos que desempenham a defesa contra agentes patogênicos.

Para finalidades descritivas, a cavidade oral é subdividida em duas partes principais: a parte externa,
o vestíbulo da boca; e a parte interna, a cavidade própria da boca.

Lembrete

O vestíbulo da boca é o espaço composto entre os lábios, as bochechas


e os dentes em oclusão.

Os lábios da boca, superior e inferior, de natureza muscular, são ricamente irrigados e guardam a
entrada da cavidade oral. São formados por quatro camadas sobrepostas intimamente relacionadas.
A mais externa é composta de pele, onde são encontrados numerosos folículos pilosos e glândulas
sudoríparas. Profundo a ela, há uma camada muscular formada em sua maior parte pelo músculo
orbicular da boca. Em seguida, observa‑se uma camada submucosa, abrangendo glândulas salivares
menores, como as glândulas labiais em toda a sua extensão, cujos ductos de excreção abrem‑se na
mucosa labial. A camada mais interna é representada pelo tecido mucoso que forra os lábios.

A parte vermelha dos lábios, cuja coloração se deve ao rico leito vascular, é chamada de margem
vermelha. Os dois lábios da boca se unem lateralmente ao nível do ângulo da boca. Nesse local, observa‑se
uma discreta depressão chamada de comissura dos lábios. A rima da boca é uma zona localizada entre
o lábio superior e o lábio inferior, que pode permanecer aberta ou fechada, quando os dois lábios estão
em contato.

A comissura dos lábios pode ter modificações, relacionadas com hipovitaminoses e com a redução
da dimensão vertical da oclusão, chamada de queilite angular.
276
ANATOMIA HUMANA

A fenda labial, unilateral ou bilateral, é uma malformação congênita que afeta o lábio superior.
Pode ser uma pequena fissura da margem livre do lábio, ou envolvê‑lo totalmente até o nariz. Às vezes,
estende‑se intensamente e continua‑se com fendas do palato, chamada de fissura labiopalatal.

Uma doença grave, mas que não atinge o lábio muito ocasionalmente, especialmente o inferior de
indivíduos do sexo masculino, é o carcinoma, causado principalmente por exposição exagerada ao sol.

Observação

O limite lateral do lábio superior é composto pelo sulco nasolabial, que


se estende desde a comissura dos lábios até a asa do nariz. Uma ligeira
depressão vertical rasa, situada na linha mediana do lábio superior, e
inferiormente ao septo do nariz, é chamada de filtro. Logo após do filtro
encontra‑se o tubérculo, uma saliência volumosa de tamanho variável
na margem vermelha. O lábio inferior é separado do mento pelo sulco
labiomentual. Outro sulco, o labiomarginal, é uma ruga característica dos
adultos que vai do ângulo da boca à base da mandíbula.

A figura a seguir mostra estruturas anatômicas localizadas na boca.

Filtro
Lábio superior
Margem vermelha
Tubérculo
Comissura dos lábios
Lábio inferior
Zona vermelha

Margem vermelha

Figura 263 – Detalhes do lábio na região oral

A glândula parótida lança suas secreções salivares no vestíbulo da boca por meio de uma pequena
abertura em frente ao segundo molar maxilar. Essa abertura apresenta uma elevação da mucosa e é
chamada de ducto parotídeo ou ducto de Stenon. Quando ferida inadvertidamente pela oclusão dos
dentes molares, inflama‑se e incha. Diversas outras glândulas salivares menores têm nomes regionais,
por exemplo, as glândulas da bochecha e as labiais, que também lançam suas secreções no vestíbulo da
boca por meio de aberturas microscópicas.

Na maior parte dos indivíduos existem pequenas glândulas sebáceas, não funcionais, de coloração
amarelada, que ficaram presas na mucosa durante o desenvolvimento, portanto, não apresentam
qualquer patologia associada. São chamadas de grânulos de Fordyce, considerados variações anatômicas,
sendo também encontrados na mucosa da bochecha.
277
Unidade II

No fórnice do vestíbulo, região no plano mediano do vestíbulo da boca, há a presença de duas pregas
da mucosa: os frênulos do lábio superior e inferior. Na região da bochecha essas pregas chamam‑se de
frênulo lateral ou bridas.

A estratigrafia da bochecha possui quatro camadas caracterizadas sobrepostas entre si. Externamente
existe uma camada delgada de pele ricamente irrigada. Essa característica anatômica explica a mudança
para uma cor avermelhada relativamente rápida da região, especialmente durante as atividades físicas,
em temperaturas ambientais baixas, e em modificações emocionais instantâneas, por exemplo, quando
o indivíduo fica encabulado.

Sobreposta à camada cutânea está localizado o estrato formado por tecido celular subcutâneo, que
possui quantidade alterável de tecido adiposo conforme a morfologia de cada indivíduo. Nas crianças e
em indivíduos obesos a quantidade de gordura subcutânea é mais vultosa.

Um acúmulo específico de tecido adiposo dessa camada é o corpo adiposo da bochecha, ou corpo
adiposo de Bichat. Essencialmente, apresenta a função de preenchimento dos tecidos, contudo, também
exerce papel funcional durante os movimentos de sucção do recém‑nascido.

Subjacente ao plano subcutâneo está uma camada de tecido muscular recoberta por sua fáscia.
Essa camada é representada pelo músculo estriado esquelético, chamado de músculo bucinador. A ação
do músculo bucinador é tracionar o ângulo da boca em sentido posterior, apertando a bochecha contra
os arcos dentais. É por isso que um músculo auxilia os músculos da mastigação, pois ele ajuda na mistura
dos alimentos para imediata deglutição. Igualmente, age ainda no sopro e no movimento de sucção.
Por fim, a camada mais interna da bochecha é forrada por tecido mucoso.

A cavidade própria da boca é a parte da cavidade oral que se localiza internamente ao arco dental
da maxila e da mandíbula, abrangendo a gengiva que os compreende.

O limite anterolateral da cavidade própria da boca é composto pela superfície dos dentes e a gengiva.
Seu limite póstero‑superior é composto pela parte vertical do palato mole e pelo pilar anterior das
fauces, chamado de arco palatoglosso. Esse arco abrange o músculo palatoglosso e a mucosa oral que a
forra, e se estende do palato mole até os lados da base da língua. Por fim, seu limite superior é composto
pelo palato duro, enquanto o inferior é a parte muscular da língua.

Dentes maxilares

Palatino
Bucal

Cavidade prórpia da boca

Lingual
Labial
Dentes mandibulares

Figura 264 – Cavidade própria da boca

278
ANATOMIA HUMANA

A cavidade oral comunica‑se com a parte oral da faringe por meio do istmo das fauces. É limitado
superiormente pelo palato mole, inferiormente pela raiz da língua e lateralmente pelos arcos
palatoglosso e palatofaríngeo. Esses arcos delimitam de cada lado um espaço de formato triangular
com base inferior, chamada de fossa tonsilar. Nela é encontrada uma estrutura anatômica composta
de tecido linfático chamada de tonsila palatina, conforme ilustra a figura a seguir.

Fauces

Palato duro Túber

Palato mole Prega pterigomandibular


Arco palatofaríngeo
Tonsila palatina
Arco palatoglosso

Úvula Papila retromolar


Parte oral da faringe
Dorso da língua

Figura 265 – Cavidade oral e parte oral da faringe

As tonsilas palatinas apresentam aspecto ovoide e diversas vezes podem alterar de tamanho.
Sua superfície tem formato granuloso com inúmeras invaginações que correspondem às criptas da tonsila.

Em companhia das tonsilas linguais, as tonsilas faríngeas e outros pequenos nódulos linfáticos que
se juntam compõem o anel linfático da faringe, anteriormente relatado como anel linfático de Waldeyer.
Essas estruturas anatômicas funcionam como o primeiro obstáculo de defesa do corpo humano contra
os agentes patogênicos que adentram pelas cavidades nasal e oral.

O palato compõe o teto da cavidade oral, separando as duas cavidades, nasal e oral. É formado pelo
palato duro, ósseo e anterior e pelo palato mole, muscular e posterior.

As pregas palatinas encontradas no palato são estruturas anatômicas remanescentes nos seres
humanos, porém, em alguns animais inferiores desempenham papéis acessórios de mastigação e
sensitivas especiais. No palato mole depara‑se com uma saliência cônica e mediana, a úvula palatina.

Observação

A parte posterior do palato mole é sensível ao toque e vômitos podem


ser motivados por estimulação nessa área.

O assoalho da boca está coberto por uma mucosa de revestimento e subjacente, a mucosa de
revestimento depara‑se com relevantes estruturas anatômicas: a glândula sublingual, os ductos
279
Unidade II

de excreção salivar das glândulas submandibular e sublingual, a artéria sublingual, a veia sublingual, o
nervo lingual, e o nervo hipoglosso.

Superficialmente no assoalho da boca vê‑se na linha mediana uma prega fina que se estende até
a face inferior da língua, chamada de frênulo da língua, conforme ilustra a figura a seguir. Quando
o frênulo da língua é muito curto, ou sua inserção se faz próximo ao ápice da língua, tem‑se uma
condição chamada como anquiloglossia, vulgarmente conhecida como língua presa. Esse quadro clínico
restringe espantosamente a movimentação da língua, trazendo muitas vezes dificuldades fonéticas.

Carúncula sublingual Frênulo da língua


Prega sublingual

Dentes anteriores
da mandíbula

Figura 266 – Detalhes do assoalho da cavidade oral

Lateralmente, de cada lado do frênulo da língua, existe uma pequena papila, designada de carúncula
sublingual, onde se abre o ducto submandibular, ou ducto de Wharton, e o ducto sublingual.

O órgão mais notável no assoalho da boca é a língua. Ela é a mais evidente das estruturas anatômicas
da cavidade oral e está relacionada à fonação, à mastigação, à deglutição, à gustação à própria articulação
das palavras. A língua ocupa quase todo o espaço da cavidade própria da boca, quando os dentes estão
em oclusão. É composta essencialmente por tecido muscular esquelético que lhe concede extraordinária
mobilidade. Possui um corpo, um ápice, uma raiz, duas margens, além de uma face superior e uma face
inferior. A extremidade anterior do corpo da língua é o ápice. A parte lateral da língua representa a sua
margem. A face superior da língua corresponde ao seu dorso.
Lábio
superior

Dorso da
língua
Margem da
língua

Papilas Corpo da Raiz da


folhadas língua língua

Figura 267 – Detalhes da língua em vista lateral

280
ANATOMIA HUMANA

O dorso da língua tem seus dois terços anteriores separados do posterior pelo sulco terminal, que
apresenta o formato de V, de abertura anterior e vértice mediano, coincidindo com o forame cego. Todas
as estruturas anatômicas anteriormente localizadas a essa linha situam‑se na cavidade oral e todas as
estruturas anatômicas posteriores, na faringe.

O um terço posterior, que é a raiz da língua, é vertical e volta‑se para a faringe. A sua mucosa cobre
massas de tecido linfoide que constituem relevos superficiais. Ao seu conjunto dá‑se o nome de tonsila
lingual. A mucosa cobre também as pequenas glândulas linguais. A base da língua une‑se à epiglote por
três pregas mucosas, uma mediana e duas laterais. Cada prega glossoepiglótica lateral restringe, com a
prega glossoepiglótica mediana, uma depressão chamada de valécula epiglótica.

Os dois terços anteriores do dorso da língua possuem uma mucosa rugosa em virtude da presença
das papilas linguais. As papilas linguais podem ser divididas em: papilas circunvaladas, filiformes,
fungiformes e folhadas.

Anteriormente e ao longo do sulco terminal há uma cadeia de 7 a 14 papilas circunvaladas.


As circunvaladas apresentam corpúsculos gustativos e acolhem os ductos das glândulas serosas de von
Ebner, um dos poucos grupos de glândulas salivares menores acessórias que tem denominação.

As papilas filiformes são as mais numerosas e conferem à mucosa do dorso da língua um aspecto
de veludo. São as únicas papilas linguais que não possuem receptores gustativos, porém, possuem
corpúsculos do tato.

As papilas fungiformes estão dispostas entre as papilas filiformes, surgindo em número muito menor
do que as papilas filiformes. Devem seu nome ao aspecto de cogumelo que adquirem. São encontradas,
especialmente, no ápice e nos lados dorso da língua. Nos indivíduos vivos podem ser distinguidas como
pontos vermelhos luminosos.

A margem posterolateral dos dois terços anteriores da língua apresenta sulcos verticais chamados de
papilas folhadas, cujos corpúsculos gustativos sofrem degeneração após alguns anos de vida.

Observação

A língua saburrosa pode acontecer em indivíduos fumantes e também


por conta de infecções respiratórias, bucais e febre. A higienização da língua
é muito importante e previne, dentre outros fatores, a halitose.

O câncer de língua é o câncer mais frequente da cavidade oral. Aproximadamente 95% dos casos
de cânceres situados na língua e no assoalho da boca são carcinomas de células escamosas e estão
correlacionados com uma longa história de utilização de álcool e de tabaco.

A figura a seguir mostra estruturas anatômicas encontradas na língua.

281
Unidade II

Epiglote
Tonsila palatina
Tonsila lingual
Forame cego
Sulco terminal
Papilas circunvaladas
Sulco mediano da língua

Papilas fungiformes
Papilas filiformes

Ápice da língua

Figura 268 – Detalhes do corpo e raiz da língua

Os dentes são órgãos mineralizados, resistentes, esbranquiçados e implantados nos arcos dentais da
maxila e da mandíbula, que exercem os seguintes papéis:

• Preensão das substâncias alimentares conseguida pela ação conjunta dos dentes incisivos e
dos lábios.

• Incisão dos alimentos, corte deles em partículas menores.

• Dilaceração dos alimentos, rasgo e diminuição das substâncias alimentares em partículas


menos compactas.

• Trituração e moeção dos alimentos.

• Articulação das palavras ou da fala.

Conforme os tipos de dentes e o número de dentições, o ser humano é classificado como um


mamífero heterodonte, por apresentar dentes de formas distintas, possibilitando a realização de papéis
distintos para cada dente ou grupo de dentes. Sob esse aspecto, os dentes são divididos em:

• Incisivos: do latim, incidire, cortar, são os que seccionam o alimento.

• Caninos: têm por finalidade dilacerar os alimentos.

• Pré‑molares: esmagam os alimentos como se fossem prensas.

• Molares: trituram as substâncias mastigadas.

Os dentes do ser humano são decíduos e permanentes e, ainda, é considerado um animal


difiodonte, ou seja, habitualmente apresenta dois conjuntos de dentes que se desenvolvem ao longo
da vida de um indivíduo.

282
ANATOMIA HUMANA

Os dentes decíduos são pouco calcificados em relação aos dentes permanentes e, como tais, são
brancos como o leite. Os dentes permanentes, com maior índice de sais calcários, são brancos puxados para
o amarelo. É a dentina que atribui a cor ao dente, já que o esmalte é praticamente incolor e transparente.

Do ponto de vista puramente descritivo, o dente apresenta uma parte visível e funcional na
mastigação, a coroa do dente. O dente não é um órgão compacto, em seu interior há uma cavidade
que reproduz sua morfologia exterior. Essa é a cavidade pulpar, a qual possui duas partes: a cavidade da
coroa e o canal da raiz do dente.

Nenhum dente está presente funcionalmente na cavidade oral no nascimento. A primeira série de
dentes compõe a dentição decídua. Esses dentes surgem nos primeiros dois anos e aproximadamente na
seguinte ordem: incisivos inferiores (6 a 7 meses de idade); incisivos superiores (7 a 9 meses de idade);
caninos (16 a 18 meses de idade); molares, primeiro (12 a 24 meses de idade) e segundo (20 a 24 meses
de idade). Dessa forma, os dentes decíduos são em número de 20.

A segunda série de dentes compõe a dentição permanente. Os dentes permanentes fazem a sua
erupção entre os 6 e 13 anos de idade, com exceção do terceiro molar. Os dentes permanentes realizam
a sua erupção aproximadamente na seguinte ordem: incisivos (6 a 9 anos de idade); caninos (9 a 12 anos
de idade); pré‑molares, primeiro (10 a 12 anos de idade) e segundo (11 a 12 anos de idade); molares,
primeiro (6 a 7 anos de idade), segundo (11 a 13 anos de idade) e terceiro (18 a 21 anos de idade).
Popularmente é reconhecido que a partir dos 18 anos os indivíduos tornam‑se mais ajuizados, daí o
nome popular para os terceiros molares “dente do juízo”. Os dentes permanentes são em número de 32.

O termo dentição mista é utilizado para se referir ao período no qual, ao mesmo tempo, permanecem
os dentes decíduos e permanentes na cavidade oral.

O verme do dente como demônio do inferno é uma escultura do século XVIII, com pouco mais de
10 centímetros e esculpida em marfim. Ela retrata o tormento infernal de uma dor de dente, provocada
pela batalha entre o homem e o verme.

Figura 269 – Verme dos dentes

283
Unidade II

As glândulas da boca liberam uma secreção chamada saliva na cavidade oral. Comumente, é
secretada apenas uma quantidade satisfatória de saliva para manter as túnicas mucosas da boca e da
faringe umedecidas e para limpar a boca e os dentes. Quando o alimento adentra na boca, conquanto, a
secreção de saliva eleva e o lubrifica, dissolvendo‑o e começando a decomposição química do alimento.

A glândula parótida, conforme ilustra a figura a seguir, é a mais volumosa dentre as glândulas salivares
maiores (parótida, submandibular e sublingual). Ela está localizada na região lateral da face, no leito
parotídeo. Como a glândula é acomodada no interior de um espaço irregular, ela também possui uma
forma irregular. A parte superficial da glândula estende‑se superiormente sobre o principal músculo da
mastigação, em que uma parte acessória da glândula pode ser independente da estrutura principal.

Ducto parotídeo Glândula salivar parótida

M. bucinador M. masseter

Glândula salivar submandibular

Figura 270 – Glândula parótida e sua relação anatômica

Emergindo da parte anterior da parte mais superficial da glândula está localizado o ducto parotídeo
ou ducto de Stenon, que prossegue anteriormente passando superficialmente ao músculo masseter em
seu percurso em direção ao vestíbulo da boca. Ele libera a secreção salivar na papila do ducto parotídeo
ao nível do segundo dente molar maxilar.

Observação

A caxumba, uma infecção viral que causa inflamação aguda e aumento


do volume da glândula parótida, comprime a inervação local e produz
muita dor à medida que a glândula é pressionada durante a mastigação.
Em algumas condições, pode acontecer otite, inflamação dos testículos,
pancreatite e encefalite. Felizmente, essa situação foi quase completamente
erradicada como resultado da vacinação.

As glândulas submandibulares estão situadas no assoalho da boca. Seus ductos, os submandibulares,


passam sob a túnica mucosa em ambos os lados da linha média do assoalho da boca e adentram na
cavidade própria da boca lateralmente ao frênulo da língua. As glândulas sublinguais estão abaixo da
língua e superiormente às glândulas submandibulares. Seus ductos, os sublinguais menores, se abrem
no assoalho da boca na cavidade própria da boca.

284
ANATOMIA HUMANA

6.1.1.2 Faringe

A faringe é uma víscera composta de um tubo fibromuscular, situado atrás das cavidades oral,
nasal e laríngea. Representa o extremo superior dos tubos respiratório e digestório, e se comunica
inferiormente com o esôfago. Ela transporta os alimentos ao esôfago e o ar à laringe. Como visto no
sistema respiratório, anatomicamente a faringe é dividida em três partes: nasal da faringe, oral da
faringe e laríngea da faringe.

A figura a seguir mostra estruturas anatômicas da região da cabeça e do pescoço.

Seio frontal

Seio esfenoidal
Cavidade nasal
Parte nasal da faringe
Cavidade oral
Canal medular
Língua

Parte oral da farínge


Mandíbula
Epiglote
Disco intervertebral
Parte laríngea da faringe
Corpo da vértebra cervival
Esôfago Laringe

Figura 271 – Vista medial da cabeça e do pescoço com plano de secção sagital

6.1.1.3 O esôfago

O esôfago é, funcionalmente, o segmento mais simples do canal alimentar. Sua única finalidade é
o transporte de materiais líquidos ou sólidos da faringe para o estômago. Seu comprimento alcança
no ser humano adulto aproximadamente 25 centímetros e, se considerada a distância entre os dentes
incisivos e o estômago, há, aproximadamente, 40 centímetros antes do alimento adentrar nessa víscera
do sistema digestório. O esôfago é dividido em três partes: parte cervical, no adulto tem cerca de
8 centímetros de comprimento; parte torácica, no adulto com cerca de 16 centímetros; e parte abdominal,
no adulto com cerca de 1 a 3 centímetros. No ser humano, um terço do esôfago é constituído de
músculo estriado esquelético e dois terços inferiores são constituídos por músculos lisos.

Lembrete

Uma parte do sistema digestório está localizada acima do diafragma.


É a parte supradiafragmática, que compreende a boca e os anexos, a faringe
e a maior parte do esôfago.

285
Unidade II

Os estreitamentos esofágicos são causados por suas relações sintópicas. O primeiro estreitamento é
observado na transição entre a faringe e o esôfago, ao nível da margem inferior da cartilagem cricoide, o
estreitamento cricoide, e compõe o esfíncter esofágico superior. O segundo e o terceiro são observados
quando o esôfago é cruzado pela aorta, o estreitamento aórtico, e pelo brônquio principal esquerdo,
o estreitamento brônquico, sendo que sua esqueletopia corresponde a T5. Seu quarto estreitamento é
observado próximo a 3 centímetros de sua terminação na cárdia do estômago, o estreitamento cárdico.
Esse estreitamento é dado pela contração das fibras musculares lisas do órgão, não sendo originado de
sua relação com o diafragma, ainda que alguns autores o denominem estreitamento diafragmático.

A deglutição, ou ato de engolir, é o complexo ato mecânico e fisiológico de mover o alimento ou o líquido
da cavidade oral para o estômago. A primeira fase da deglutição é voluntária e vem após a mastigação, se existir
alimento envolvido. Durante essa primeira fase, a boca está fechada e a respiração é cessada provisoriamente.
O bolo alimentar é formado quando a língua é erguida contra as pregas palatinas transversas, ou as pregas
rugosas do palato duro. A segunda fase da deglutição é a passagem do bolo alimentar para a faringe.
Os episódios dessa segunda fase são involuntários e ocorrem por estimulação dos receptores sensitivos
situados na abertura da parte oral da faringe. A pressão da língua contra as pregas palatinas transversas fecha
a parte nasal da faringe em relação à cavidade oral, gera uma pressão e força o bolo alimentar para o interior
da parte oral da faringe. O palato mole e a úvula palatina são erguidos para fechar a parte nasal da faringe,
quando o bolo alimentar passa. O osso hioide e a laringe também são erguidos. A elevação da laringe contra
a epiglote fecha a glote de maneira que seja menos provável que o alimento ou o líquido possam adentrar na
traqueia. A imediata contração dos músculos constritores da faringe desloca o bolo alimentar da faringe para
o esôfago. A segunda fase é terminada em menos de um segundo ou menos. A terceira fase da deglutição,
a entrada e a passagem do alimento pelo esôfago também é involuntária. O bolo alimentar é movido pelo
esôfago por meio de ondas peristálticas. No caso de líquidos, o processo inteiro da deglutição se executa em
pouco mais do que um segundo. Para um bolo alimentar típico, o tempo varia de 5 a 8 segundos.

No contexto de uma incompetência do esfíncter inferior do esôfago, acontece refluxo de suco


gástrico para o esôfago. Isso pode gerar a inflamação do esôfago em virtude da presença nociva de
ácido clorídrico no suco gástrico. Tal esofagite de refluxo pode gerar dores, azia ou queimação que,
comumente, depende da postura do paciente, ocorrendo, especialmente, quando o paciente está
deitado. Sob o ponto de vista terapêutico, em casos leves de refluxos, são tomadas as medidas gerais,
por exemplo, a eliminação de alimentos desencadeadores e a redução de peso. Na esofagite de refluxo
os medicamentos antiácidos são imprescindíveis.

Saiba mais

Se o esfíncter do esôfago inferior não se fecha satisfatoriamente após o


alimento ter adentrado no estômago, o conteúdo do estômago pode voltar para
a parte inferior do esôfago, causando refluxo. Saiba mais sobre o assunto em:

TORTORA, G. J.; DERRICKSON, B. Princípios de anatomia e fisiologia.


14. ed. São Paulo: Guanabara‑Koogan, 2016, p. 908.

286
ANATOMIA HUMANA

6.1.2 Parte infradiafragmática

6.1.2.1 Estômago

O estômago está localizado no abdome, logo abaixo do diafragma, anteriormente ao pâncreas,


superiormente ao duodeno e à esquerda do fígado. É moderadamente coberto pelas costelas e está
situado no quadrante superior esquerdo do abdome, na região do hipocôndrio esquerdo.

Ele apresenta o formato de J, sendo o segmento mais dilatado do canal alimentar, em virtude de o alimento
ficar nele por algum tempo, por isso trata‑se de um reservatório entre o esôfago e o intestino delgado.

O estômago é divido anatomicamente em quatro regiões principais: a cárdia, o fundo gástrico, o


corpo gástrico e a parte pilórica do estômago. A cárdia recebe a parte final do esôfago e contorna o óstio
cárdico do estômago, o qual tem como papel controlar a passagem do alimento e impedir o refluxo.

Esôfago – parte cervical

Esôfago – parte torácica

Esôfago – parte abdominal


Estômago – fundo gástrico
Estômago – cardia

Estômago – canal pilórico


Estômago – corpo gástrico

Estômago – antro pilórico

Figura 272 – Vista anterior do estômago e do esôfago

Apesar do nome, o fundo gástrico localiza‑se no alto, acima do ponto onde se realiza a união do
esôfago com o estômago. Essa parte está comumente dilatada por ar, tornando‑se responsável pelo
som timpânico na realização de exames clínicos e complementares, por exemplo, a percussão dessa
região, e também visível em radiografias, como uma área escura acima da sombra clara da substância
de contraste ingerida.

Observação

As úlceras e os tumores modificam a morfologia normal da mucosa do


estômago, o que pode ser observado em radiografias e endoscopias.

287
Unidade II

O corpo gástrico representa aproximadamente dois terços do volume total, localizando‑se entre o
fundo gástrico e o antro pilórico, que contém as glândulas gástricas propriamente ditas. É constituído
da parte pilórica e da região afunilada de saída do estômago; e uma parte larga, o antro pilórico, que
leva ao canal pilórico, sua parte estreita terminal. Para evitar que o quimo alimentar passe ao intestino
delgado inoportunamente, o estômago é beneficiado de uma poderosa válvula muscular, um esfíncter
chamado piloro, sendo o seu orifício de saída do estômago, o óstio pilórico. O piloro é um adensamento
proeminente da lâmina circular de músculo liso.

O estômago possui ainda duas curvaturas: a curvatura maior do estômago (convexa) e a curvatura
menor do estômago (côncava). A incisura angular é uma depressão na parte inferior da curvatura menor
que sugere a união do corpo do estômago e a parte pilórica do estômago.

As relações do estômago são variáveis porque a posição do órgão se altera com a fase fisiológica,
com a postura do indivíduo e com os fatores gerais de variação anatômica. As relações anteriores
incluem as que se observam com o diafragma, o fígado, a parede anterior do abdome, o colo transverso
e a cavidade peritoneal. As relações posteriores se fazem com o diafragma, a glândula adrenal esquerda,
o pâncreas, parte do rim esquerdo e o mesocolo transverso.

Fígado

Vesícula biliar Estômago

Intestino grosso colo


transverso
Intestino delgado

Intestino grosso colo Intestino grosso colo


ascendente descendente

Figura 273 – Vista anterior do esôfago e do estômago

Do ponto de vista fisiológico, o estômago está dividido em parte digestória e parte egestória, a
primeira para a digestão e a segunda representada, especialmente, pela região do antro piloro, para
a propulsão do conteúdo para o intestino delgado.

6.1.2.2 Intestino delgado

A principal parte da digestão acontece no intestino delgado, que se estende da união gastroduodenal,
ou seja, do piloro até a união ileocecal, que se liga com o intestino grosso, conforme ilustra a figura
a seguir. O intestino delgado é um órgão imprescindível à vida. Os essenciais episódios da digestão e
da absorção acontecem no intestino delgado, desse modo, sua estrutura é harmonizada de maneira

288
ANATOMIA HUMANA

especial para esse papel. Sua extensão proporciona uma grande área de superfície para a digestão e a
absorção, sendo ainda muito elevada por suas pregas circulares, vilosidades e microvilosidades.

Colo transverso
Jejuno

Colo ascendente

Colo descendente

Íleo

Colo sigmoide

Ceco Reto

Figura 274 – Vista anterior dos intestinos

O intestino delgado extraído possui aproximadamente 7 metros, podendo variar entre 5 e 8 metros.
Ele apresenta três partes: duodeno, jejuno e íleo.

O duodeno é a primeira parte do intestino delgado, a mais curta (25 centímetros) e a mais larga.
É a única parte do intestino delgado que é fixa, pois é quase completamente retroperitoneal. A parte
pilórica despeja‑se no duodeno, sendo a aceitação duodenal controlada pelo piloro. No duodeno não se
apresenta o mesentério, com exceção nos 2 centímetros iniciais.

Ele forma uma letra C em torno da cabeça do pâncreas, inicia‑se no piloro e acaba na junção
duodenojejunal, que adquire a forma de um ângulo agudo, a flexura duodenojejunal.

A mucosa duodenal tem pregas circulares de mucosa, as válvulas de Kerckring, com exceção no
bulbo duodenal, cuja mucosa é lisa. O duodeno é dividido em quatro partes: a superior (primeira
parte, com aproximadamente 5 centímetros); a descendente (segunda parte, que varia de 7 a 10
centímetros); a horizontal (terceira parte, que varia de 6 a 8 centímetros); a ascendente (quarta parte,
com aproximadamente 5 centímetros).

A parte superior do duodeno origina‑se no piloro e estende‑se até a vesícula biliar. Seus primeiros
2 centímetros, chamado de bulbo ou ampola do duodeno, são móveis porque estão fixados por mesentério;
o remanente é fixo, pois é retroperitoneal. As principais relações da parte superior do duodeno são: anterior
(vesícula biliar e lobo quadrado do fígado) e posterior (ducto colédoco, pâncreas e veia porta).

A parte descendente do duodeno curva‑se em torno da cabeça do pâncreas. Os ductos, colédoco e


pancreático principal, se juntam para compor a ampola hepatopancreática, ou ampola de Vater, que se
abre na parede posteromedial da segunda parte do duodeno, no alto de uma eminência, chamada papila
maior do duodeno.
289
Unidade II

A ampola hepatopancreática regula a entrada de bile e de suco pancreático por meio de um


dispositivo muscular esfinctérico que circunda a ampola na sua parte final, chamado esfíncter da ampola
hepatopancreática, ou esfíncter de Oddi.

O ducto pancreático acessório, quando há, desemboca na papila menor do duodeno, localizada
superiormente (cerca de 2 centímetros) à papila maior do duodeno. Essa parte é totalmente
retroperitoneal. As principais relações da parte descendente do duodeno são: anterior (colo transverso e
alças do intestino delgado) e posterior (rim direito, ureter direito e músculo psoas maior).

A parte inferior ou horizontal do duodeno passa sobre a veia cava inferior e a parte abdominal da
aorta. As principais relações da parte horizontal do duodeno são: anterior (vasos mesentéricos superiores
e alças intestinais), posterior (músculo psoas maior direito, veia cava inferior, parte abdominal da aorta e
ureter direito) e superior pâncreas e vasos mesentéricos superiores.

A parte ascendente do duodeno atinge a margem inferior do pâncreas e ali se curva anteriormente
para se conectar ao jejuno na junção duodenojejunal, sustentada pela fixação do músculo suspensor
do duodeno ou ligamento de Treitz, o qual alarga o ângulo da flexura duodenojejunal, promovendo
a movimentação do conteúdo intestinal. As principais relações da parte horizontal do duodeno são:
anterior (alças do duodeno), posterior (músculo psoas maior esquerdo e margem esquerda da parede
abdominal da aorta), medial e superior (pâncreas).

O jejuno e o íleo são as duas últimas partes do intestino delgado. Elas compõem um tubo longo
e torcido, constituindo as alças intestinais, que são excessivamente móveis, pois estão envolvidas por
pregas de peritônio, chamada de mesentério. É difícil distinguir o jejuno do íleo no ponto de transição,
todavia, existem algumas características particulares a cada um.

Juntos, o jejuno e o íleo medem de 6 a 7 metros de comprimento, sendo o jejuno os dois quintos
proximais e o íleo os três quintos distais. A maior parte do jejuno localiza‑se no quadrante superior
esquerdo, enquanto a maior parte no quadrante inferior direito.

O jejuno começa na flexura duodenojejunal e o íleo acaba na papila ileal. Os dois se prendem à parede
posterior do abdome pelo mesentério. Nessa região se deparam com muitas vilosidades intestinais, daí
deduz‑se que em tal localidade ocorrerá a maior quantidade de absorção dos nutrientes. As massas de tecido
linfoide são numerosas no íleo. Portanto, há absorção de água dos detritos indigeríveis do quimo líquido,
transformando‑o em fezes semissólidas que são transitoriamente contidas até que aconteça a defecação.

O quadro a seguir mostra algumas características peculiares ao jejuno e ao íleo.

Quadro 4 – Características distintivas entre o jejuno e o íleo no corpo vivo

Característica Jejuno Íleo


Cor Vermelho‑vivo Rosa‑claro
Calibre 2‑4 centímetros 2‑3 centímetros
Parede Espessa e pesada Fina e leve
Vascularização Maior Menor

290
ANATOMIA HUMANA

Gordura do mesentério Menor Maior


Pregas circulares Grandes, altas e bem próximas Baixas e esparsas, ausentes na parte distal
Tecido linfoide Poucas Muitas

Adaptado de: Moore (2007, p. 455).

6.1.2.3 Intestino grosso

O intestino grosso absorve água com tanta agilidade que, aproximadamente em 14 horas, o conteúdo
alimentar assume a firmeza característica do bolo fecal. Mede aproximadamente 6,5 centímetros de
diâmetro e 1,5 metro de comprimento. Se expande do íleo até o reto e está preso à parede posterior do
abdome por meio do mesocolo.

O intestino grosso possui algumas características próprias em relação ao intestino delgado, por
exemplo, o calibre (maior), o comprimento (menor), as tênias do colo, as saculações do colo, os sulcos
paracólicos, as pregas semilunares e os apêndices omentais do colo.

As tênias do colo consistem no resultado de um condensamento da musculatura longitudinal


da parede do intestino grosso em três faixas. Elas começam no ponto de implantação do apêndice
vermiforme, no ceco, e percorrem todo o colo até a parte proximal do reto, momento em que deixam de
existir. São três os tipos de tênias do colo: a tênia livre, a tênia omental e a tênia mesocólica.

As saculações do colo são encurvaturas ampulares separadas por sulcos transversais. Os apêndices
omentais do colo são pequenos pêndulos de cor amarela formados por tecido conjuntivo farto em
gordura. Surgem especialmente no colo sigmoide.

Anatomicamente, o intestino grosso é dividido em: ceco e o apêndice vermiforme, colo ascendente,
colo transverso, colo descendente e colo sigmoide, conforme ilustra a figura a seguir.

Colo transverso

Intestino delgado

Mesentério

Colo ascendente
Colo descendente

Ceco Apêndice vermiforme

Figura 275 – Vista anterior do intestino grosso

291
Unidade II

O ceco é a primeira parte do intestino grosso, localizado inferiormente à sua junção com o íleo.
Ele está quase completamente envolvido pelo peritônio, proporcionando‑lhe a autonomia de
movimentação, no entanto, não apresenta mesentério. Comumente, o ceco está fixo à parede
lateral do abdome por uma ou mais pregas cecais do peritônio. A entrada do íleo no ceco produz os
lábios ileocólico (superior) e ileocecal (inferior) no óstio ileal, que compõem a papila ileal. As pregas
deparam‑se lateralmente, constituindo o frênulo do óstio ileal. Assim, os dois lábios formam a válvula
íleo‑cólico‑cecal, que impossibilita e/ou restringe o refluxo do material oriundo do intestino delgado
(mecanismo de um esfíncter ineficiente).

Mesentério

Colo ascendente

Íleo

Apêndice vermiforme
Ceco

Figura 276 – Vista anterior dos intestinos

No fundo do ceco, encontra‑se o apêndice vermiforme, que consiste em um divertículo intestinal cego,
que mede aproximadamente 6 a 10 centímetros de comprimento. Ele apresenta massas de tecido linfoide.

O apêndice vermiforme origina‑se na parede posteromedial do ceco, inferiormente à junção ileocecal.


Apresenta um mesentério triangular curto, o mesoapêndice, que se alarga entre o apêndice e o ceco.

A posição do apêndice vermiforme é inconstante, contudo, em geral, é retrocecal. A melhor forma


de encontrá‑lo é seguir uma das tênias do colo, uma vez que está fixado no ceco em um ponto de
convergências das tênias.

O colo ascendente é a segunda parte do intestino grosso, sendo a continuação do ceco. Expande‑se
desde a junção ileocecal até a flexura direita do colo, anteriormente ao rim direito e em contato com o
lobo direito do fígado.

Está revestido por peritônio anteriormente e nas suas laterais, ficando, assim, praticamente imóvel.
Está localizado posteriormente ao omento maior, portanto, é uma parte retroperitoneal. Entre o
contorno lateral do colo ascendente e a parede abdominal, situa‑se um sulco vertical profundo coberto
por peritônio parietal, o sulco paracólico direito.

292
ANATOMIA HUMANA

O colo transverso é a terceira do intestino grosso, mais longa (cerca de 45 centímetros) e com maior
mobilidade das partes encontradas no intestino grosso. Ele cruza o abdome a partir da flexura direita
do colo até a flexura esquerda do colo, onde se curva inferiormente para tornar‑se colo descendente.
A flexura esquerda do colo, habitualmente mais superior, é mais aguda e com menor mobilidade do
que a flexura do colo direita. Assim, possui relações excessivamente alteráveis.

Uma ampla prega peritoneal, o mesocolo transverso, concede ao colo transverso extraordinária
movimentação. Sua parte superior está livre ou fundida com o omento maior.

O colo descendente passa retroperitonealmente a partir da flexura do colo esquerda para a fossa
ilíaca esquerda, onde é sucessiva com o colo sigmoide. O sulco paracólico esquerdo localiza‑se entre o
seu contorno lateral e a parede abdominal. Passa anteriormente à margem lateral do rim esquerdo.

O colo sigmoide é a quarta parte do intestino grosso, distinto por sua alça longa em forma de S,
de comprimento variável (em média 40 centímetros). O colo sigmoide é conduzido ao plano sagital
mediano, de tal forma que junta o colo descendente ao reto. A terminação das tênias do colo,
aproximadamente a 15 centímetros do ânus, sugere a junção retossigmoide. Ele é muito móvel, em
razão de um messosigmoide. Seus apêndices omentais são longos.

6.1.2.4 Reto e o ânus

O reto recebe esse nome por ser quase retilíneo. Ao perfurar o diafragma pélvico (músculos
levantadores do ânus) passa a ser chamado de canal anal. A parte mais dilatada do reto, a ampola do
reto, é prontamente superior ao diafragma pélvico.

As principais relações do reto são:

• anterior, no sexo feminino (alças intestinais, útero e vagina);

• anterior, no sexo masculino (alças intestinais, bexiga urinária, glândulas seminais, próstata,
ureteres e ductos deferentes);

• posterior, ambos os sexos (artérias glúteas: superior e inferior, plexo sacral, músculos: piriforme
e coccígeo);

• laterais, ambos os sexos (tecido adiposo).

Observação

Na região do reto, o peritônio compõe as escavações retovesical, no


sexo masculino; e retouterina ou fundo de saco de Douglas, no feminino.

293
Unidade II

O canal anal se expande do diafragma pélvico até o ânus (limite real: linha pectínea, internamente)
e possui pregas cutâneas. A mucosa na parte superior é idêntica à do reto, enquanto na parte inferior
é revestido por pele, pois elas têm origens embriológicas distintas. Na junção desses dois tipos de
revestimento vê‑se a base de cinco a dez pregas verticais da mucosa, as colunas anais ou de Morgagni,
que abrange ramos terminais dos vasos retais superiores. As extremidades inferiores das colunas
agrupam‑se por uma prega da mucosa em formato de pente, chamadas de válvulas anais.

Entre as bases das colunas ligadas pelas válvulas estão pequenas bolsas, os chamados seios anais, nos
quais se ascendem os ductos de glândulas rudimentares, que liberam um muco que auxilia na defecação.

O limite inferior das válvulas, idênticos a um pente, forma a linha pectínea, que sugere a junção da
parte superior com a parte inferior do canal anal.

Embora bastante curto, cerca de 3 centímetros de comprimento, é relevante por ter algumas
formações eficazes para o funcionamento intestinal, das quais mencionam‑se os esfíncteres anais.

O esfíncter anal interno é o mais profundo e deriva de um adensamento de fibras musculares lisas
circulares, sendo, por conseguinte, involuntário. O esfíncter anal externo é formado por fibras musculares
estriadas que se dispõem circularmente em torno do esfíncter anal interno, sendo esse voluntário.
Apresenta duas partes: a subcutânea, superficial e a profunda, todavia elas são indistinguíveis. A alça do
músculo puborretal também desempenha alguma atividade esfinctérica sobre o canal anal. Ambos os
esfíncteres devem relaxar antes que a evacuação possa acontecer.

A figura a seguir mostra as imagens do reto e ânus.

Colunas anais

Músculo esfíncter Seio anal


interno do ânus
Músculo esfíncter
externo do ânus
Válvulas anais

Figura 277 – Reto e ânus

Os principais papéis do intestino grosso são:

• absorção de água e de determinados eletrólitos;

• produção de certas vitaminas pelas bactérias intestinais;


294
ANATOMIA HUMANA

• armazenamento provisório dos detritos (fezes);

• eliminação de detritos do corpo.

6.1.2.5 Fígado

O fígado é a maior glândula do corpo humano e também a mais vultosa víscera abdominal. Está
localizado na região superior do abdome, logo abaixo do diafragma, sendo que a maior parte ocupa o
hipocôndrio direito e o epigástrio. Pesa aproximadamente 1,5 quilo e responde por aproximadamente
2,5% da massa corporal do adulto. É uma víscera friável (por ter pouco tecido conjuntivo) e regenerativa.
Um terço do fígado é autossuficiente para manter o papel hepático normal, portanto, ele tem elevada
margem de confiabilidade.

Todos os nutrientes, com exceção aos lipídeos absorvidos pelo canal alimentar, são primeiramente
conduzidos para o fígado pelo sistema porta‑hepático.

O fígado armazena o glicogênio e secreta a bile ininterruptamente, que é armazenada na vesícula


biliar. Portanto, as vias bilíferas extra‑hepáticas são compostas pelos ductos hepáticos, pela vesícula
biliar, pelo ducto cístico e pelo ducto colédoco.

O fígado possui duas faces: a diafragmática e a visceral, separadas pela margem inferior do
fígado, conforme ilustra a figura a seguir. A face diafragmática é convexa e lisa, relacionando‑se
com a cúpula diafragmática.

O fígado é dividido em lobos. A face diafragmática contém um lobo direito do fígado e um lobo
esquerdo do fígado, sendo o direito pelo menos duas vezes maior que o esquerdo. A divisão dos lobos é
organizada pelo ligamento falciforme do fígado. Na margem livre desse ligamento há um cordão fibroso
resquício da obliteração da veia umbilical, chamado de ligamento redondo do fígado.

Diafragma

Lobo direito do fígado


Lobo esquerdo do fígado

Estômago
Ligamento redondo do fígado

Figura 278 – Vista anterior do fígado

Os lobos hepáticos estão unidos superiormente ao diafragma pelos ligamentos coronário e


triangulares, direito e esquerdo. Os dois últimos são compostos lateralmente pela fusão das duas

295
Unidade II

lâminas do ligamento coronário. A área entre as reflexões das lâminas anterior e posterior do ligamento
coronário é chamada de área nua do fígado, deposta de peritônio.

A face visceral é desigualmente côncava pela vista de impressões viscerais, conforme ilustra a figura
a seguir. Ela é subdividida em quatro lobos: o lobo direito, lobo esquerdo, lobo quadrado e o lobo
caudado pela presença de depressões em sua área central, que no conjunto formam um H, chamado de
hilo do fígado. Entre o lobo quadrado e o lobo direito do fígado há uma depressão, chamada de fossa da
vesícula biliar, que aloja a vesícula biliar.

Lobo hepático caudado Veia cava inferior

Lobo direito do fígado


Lobo esquerdo do fígado

Lobo hepático quadrado


Vesícula biliar

Figura 279 – Vista visceral do fígado

Pelo hilo do fígado adentram ou saem estruturas anatômicas vasculares, como, por exemplo, a veia
porta, a artéria própria do fígado e os vasos linfáticos; estruturas anatômicas nervosas, como o plexo
nervoso do fígado e os ductos hepáticos.

Observação

Entre a lobo caudado e o lobo direito do fígado há um sulco que aloja


a veia cava inferior. De tal forma, recomenda-se que a aferição da pressão
arterial em gestantes, especialmente no último trimestre, seja realizada em
decúbito lateral esquerdo.

As principais relações anatômicas do fígado são:

• Face visceral do fígado em contato com diversos órgãos:

— Lobo esquerdo do fígado: parte abdominal do esôfago, estômago e omento menor.

— Lobo quadrado: parte superior do duodeno.

— Lobo direito do fígado: rim direito e a flexura do colo direita.

296
ANATOMIA HUMANA

• Relações peritoneais com o omento menor por meio dos:

— Ligamentos: hapatoduodenal e o ligamento hepatogástrico.

As principais funções do fígado são:

• Secreção da bile que ajuda na digestão e absorção dos lipídios; por conseguinte, a bile quebra
moléculas de gordura.

• Produção de proteínas.

• Metabolismo intermediário dos carboidratos, lipídios e proteínas.

• Desintoxicação de fármacos e hormônios, por exemplo.

• Armazenagem de micronutrientes como ferro, cobre e vitaminas.

• Ativação da vitamina D.

• Hematocitopoiese em fetos.

6.1.2.6 Vesícula biliar

O papel digestivo do fígado é produzir a bile que atuará no duodeno. Entretanto, a bile
é armazenada na vesícula biliar, que a concentra por meio da absorção de água e sais minerais.
A vesícula biliar secreta a bile quando os lipídios adentram no duodeno, pois os lipídios incentivam o
duodeno a liberar a enzima colecistoquinina, a qual incita a contração da vesícula biliar.

A vesícula biliar possui aproximadamente 7 a 10 centímetros de comprimento. Sua relação com


o duodeno é tão forte que a parte superior do duodeno comumente é marcada por bile no cadáver.
Anatomicamente, a vesícula biliar é dividida em três partes: fundo, corpo e colo. Ela apresenta a
capacidade para até 50 mililitros de bile.

6.1.2.7 Ductos extra‑hepáticos

Os ductos extra‑hepáticos levam a bile do fígado para o duodeno. O ducto cístico, com
aproximadamente 4 centímetros de comprimento, liga a vesícula biliar ao ducto hepático comum,
constituindo o ducto colédoco, com aproximadamente 5 a 15 centímetros, que transporta a bile
para o duodeno.

O ducto colédoco encontra e se junta ao ducto pancreático principal para constituir a ampola
hepatopancreática ou de Vater. A extremidade distal dessa ampola ascende‑se na parte descendente do
duodeno por meio da papila maior do duodeno.

297
Unidade II

6.1.2.8 Pâncreas

O pâncreas produz por meio de uma secreção exócrina o suco pancreático que adentra no duodeno
por meio dos ductos pancreáticos principal e acessório. Em média, o pâncreas forma diariamente 1200 a
1500 mililitros deste suco. A secreção endócrina produz o glucagon e a insulina. Esses hormônios chegam
à corrente sanguínea e atingem determinados tecidos‑alvo. O comprimento do pâncreas varia de 12 a
15 centímetros e o seu peso na mulher é de 15 gramas, já no homem é de 16 gramas. Anatomicamente,
é dividido em três partes: cabeça, corpo e cauda.

Lembrete

O pâncreas é uma glândula mista, pois é exócrina e endócrina.

Os principais papéis do pâncreas são:

• Dissolver carboidrato por meio da enzima amilase pancreática.

• Dissolver proteínas por meio das enzimas tripsina, quimotripsina, carboxipeptidase e elastase.

• Dissolver triglicerídeos nos adultos por meio da enzima lipase pancreática.

• Dissolver ácidos nucleicos por meio das enzimas ribonuclease e desoxirribonuclease.

6.1.2.9 Baço

O baço, embora seja um órgão linfoide, é descrito com o sistema digestório por algumas razões:

• Se desenvolve no mesogástrico dorsal.

• Seu sangue venoso é drenado para a veia porta.

• É um órgão visceral abdominal, topograficamente relacionado com diversos órgãos digestórios.

Baço
Pâncreas

Figura 280 – Pâncreas e baço

298
ANATOMIA HUMANA

O baço não é palpável pelo exame físico e está localizado na região do hipocôndrio esquerdo, entre
o fundo do estômago e o diafragma, onde recebe a proteção das costelas falsas propriamente ditas
(9º e 10º pares) e da costela flutuante (11º par). Ele é macio, de consistência muito friável, altamente
vascularizado e de uma coloração púrpura escura. O tamanho e peso do baço alteram muito, no adulto
possui aproximadamente 12 centímetros de comprimento, 7 centímetros de largura e 3 centímetros de
espessura. Pesa cerca de 150 gramas.

6.1.2.10 Peritônio

O peritônio é uma dupla membrana serosa e transparente (parietal e visceral). A cavidade peritoneal
é um espaço virtual com espessura capilar, localizado entre as duas membranas do peritônio.

Os mesos são pregas de peritônio que ligam o órgão à parede abdominal. Já os omentos são pregas
de peritônio que ligam os órgãos a outros órgãos.

6.2 Sistema endócrino

Ao entrar na puberdade, meninos e meninas começam a desenvolver diferenças evidentes no


aspecto físico e na conduta. Talvez em nenhuma outra etapa da vida seja tão clara o impacto do sistema
endócrino na condução do desenvolvimento e regulação dos papéis corporais.

Nas meninas, os estrogênios provocam o acúmulo de tecido adiposo nas mamas e nos quadris,
modelando a forma feminina. Do mesmo modo ou um pouco depois, níveis cada vez mais altos
de testosterona nos meninos começam a produzir massa muscular e a aumentar as pregas vocais,
resultando em uma voz mais grave. Essas modificações são apenas alguns exemplos da forte relevância
das secreções endócrinas.

De maneira menos drástica, inúmeros hormônios auxiliam a manter a homeostasia


diariamente. Eles ajustam a atividade dos músculos lisos, do músculo estriado cardíaco e de
algumas glândulas; modificam o metabolismo; estimulam o crescimento e o desenvolvimento;
influenciam os processos reprodutivos e participam dos ritmos circadianos estabelecidos pelo
núcleo supraquiasmático do hipotálamo.

O sistema endócrino é formado pelas glândulas endócrinas ou glândulas sem ducto.


Uma glândula é um grupo organizado de células que funciona como um órgão secretando
substâncias químicas. Cada hormônio liberado por uma glândula é direcionado especificamente
a um receptor em um tipo específico de célula ou grupo de tipos de células. Desse modo, o termo
receptor‑alvo está relacionado com um conjunto específico de destinos celulares do hormônio
para o sinal enviado pela glândula. Um hormônio pode afetar muitas células diferentes, porém,
apenas aquelas que apresentam seu receptor.

299
Unidade II

Lembrete

Os hormônios são substâncias químicas secretadas pelas glândulas


endócrinas, consideradas moléculas endógenas responsáveis pela
comunicação celular ou extracelular. Eles viajam a partir de sua fonte
secretora pela corrente sanguínea a locais específicos chamados tecidos‑alvo,
ou efetores, onde produzem uma resposta coordenada desses tecidos.

As glândulas endócrinas não devem ser confundidas com glândulas exócrinas. As glândulas
exócrinas apresentam ductos que transportam suas secreções para o lado de fora do corpo, ou para
um órgão vazio como o estômago e os intestinos. São exemplos de secreções exócrinas: a saliva, o
suor, o leite materno e as enzimas digestivas.

As glândulas endócrinas são as que não apresentam ducto secretor e que liberam os produtos por elas
sintetizados diretamente no sangue. Embora existam diversos hormônios secretados por um ou outro
tipo celular, neste livro serão abordadas apenas as principais estruturas classificadas como glândulas
endócrinas, conforme o quadro a seguir:

Quadro 5

Glândula pineal
Órgão subcomissural
Glândula hipófise

Glândula hipófise faríngea

Glândula tireoide
Glândulas paratireoides
Timo
Coração
Glândulas suprarrenais
Placenta
Pâncreas (ilhotas pancreáticas)
Gônadas (ovários e testículos)
Estômago
Intestino
Rim

300
ANATOMIA HUMANA

Glândula pineal
Glândula hipófise

Glândula tireoide

Timo

Suprarrenal Pâncreas

Ovário

Testículo

Figura 281 – Principais glândulas endócrinas do corpo

O coração, o estômago, o intestino delgado, o pâncreas, os rins e as gônadas (os ovários e os testículos)
serão tratados depois, conforme sua morfologia. A classificação topográfica das glândulas endócrinas é
a que se segue no quadro a seguir:

Quadro 6

Cefálicas Glândula pineal, órgão subcomissural, hipófise


Cervicais Hipófise laríngea, glândula tireoide, glândulas paratireoides
Cervicotorácica Timo
Torácica Coração

Abdominais Glândulas suprarrenais, pâncreas (ilhotas pancreáticas),


estômago, intestino delgado, rim
Abdominopélvica Placenta
Pélvicas Ovários
Escrotais Testículos

301
Unidade II

6.2.1 Glândulas cefálicas

6.2.1.1 Glândula pineal

A glândula pineal era antes chamada canarium, epífise cerebral, ou corpo pineal. Está localizada na
parte superior do III ventrículo do encéfalo na linha mediana. É parte do epitálamo, está posicionada
entre os dois colículos superiores, apresenta massa de 0,1 a 0,2 grama e está coberta por uma cápsula
formada pela pia‑máter. A glândula é composta de massas de neuróglia e células secretoras chamadas
de pinealócitos. Nos seres humanos não são completamente compreendidas, porém, parecem estar
relacionadas à modulação do ciclo sono‑vigília e outros ritmos biológicos.

Saiba mais

Para saber mais sobre a glândula pineal:

PACHECO, M. B. et al. Propriedades da melatonina como fator de


neuroproteção em doenças neurodegenerativas. In: XIII SAFETY, HEALTH
AND ENVIRONMENT WORLD CONGRESS. 13, 2013, Porto. Anais... Santos:
Copec, 2013. Disponível em: <http://copec.eu/congresses/shewc2013/proc/
works/19.pdf>. Acesso em: 22 maio 2019.

A glândula pineal secreta hormônios que agem sobre o hipotálamo e as gônadas para inibir funções
reprodutivas, inibindo a secreção de certos hormônios da reprodução. Duas substâncias têm sido
propostas como produtos da secreção: melatonina e arginina vasotocina.

A melatonina da glândula pineal também está fortemente ligada à ciclagem claro‑escuro: a


melatonina é, por vezes, chamada de hormônio do escuro, pois sua secreção aumenta à noite. O núcleo
supraquiasmático tem receptores de melatonina, apoiando a hipótese de que a melatonina pode
modular a ciclagem do relógio.

A arginina vasotocina, cujo tecido‑alvo é possivelmente o hipotálamo, provavelmente atua na


inibição da secreção do hormônio liberador de gonadotrofinas.

Saiba mais

Para saber mais sobre a regulação da secreção de melatonina pela


glândula pineal:

VANPUTTE, C. L. et al. Anatomia e fisiologia de Seeley. 10. ed. Porto


Alegre: AMGH, 2016.

302
ANATOMIA HUMANA

6.2.1.2 Órgão subcomissural

O órgão ou glândula subcomissural é assim chamado porque está situado abaixo da comissura
posterior do cérebro. Ele é um dos órgãos circunventriculares, para os quais falta a barreira hemo‑cerebral
e, assim, pode servir para a interação neuroendócrina. O órgão subcomissural interfere na homeostase
hídrica e no equilíbrio salino, tendo sido regulador da sede.

6.2.1.3 Hipófise

A hipófise é uma glândula intracranial, relativamente pequena, cujo tamanho aproximado é de uma
ervilha grande, situada na sela túrcica do osso esfenoide. Ela está ligada ao hipotálamo por meio de
uma haste, o infundíbulo, que atravessa uma pequena abertura no diafragma da sela, uma lâmina da
dura‑máter que forma o teto da sela túrcica. Ela é revestida pela dura‑máter, mas não pela aracnoide
ou pia‑máter.

A hipófise está dividida em adeno‑hipófise (lobo anterior) e neuro‑hipófise (lobo posterior).


A neuro‑hipófise está ligada diretamente ao hipotálamo por meio do infundíbulo. No caso da hipófise anterior,
a liberação hormonal é regulada, especialmente, por agentes químicos, nesse caso, hormônios ou fatores
liberadores que apresentam origem em neurônios situados no hipotálamo. Esses hormônios liberadores
estimulam ou inibem a liberação de hormônios específicos da hipófise anterior. A hipófise posterior recebe
seus hormônios de neurônios especiais originados no hipotálamo.

Os hormônios da hipófise anterior são: hormônio adrenocorticotrófico (ACTH), hormônio


folículo‑estimulante (FSH), hormônio luteinizante (LH), hormônio estimulante de melanócitos (MSH),
hormônio estimulador da tireoide (TSH), hormônio do crescimento (GH) e prolactina. Ainda que a
prolactina estimule diretamente a mama para produzir leite, a maioria dos hormônios secretados pela
hipófise anterior controla a liberação de outros hormônios. O TSH controla a velocidade de formação
dos hormônios tireoidianos e a secreção de cortisol no córtex suprarrenal; o LH estimula a produção
de testosterona nos testículos e de estrogênio nos ovários; e o GH estimula a liberação de fatores de
crescimento semelhantes à insulina (IGF) pelo fígado e por outros tecidos. Todavia, os IGF podem ser
produzidos por vários outros meios. Com efeito, o IGF‑1 sintetizado no músculo em decorrência da
contração muscular está associado à hipertrofia muscular. É sabido que o GH desempenha papéis
relevantes no metabolismo das proteínas, gorduras e carboidratos.

A hipófise posterior propicia um local de armazenamento para dois hormônios, a ocitocina e o


hormônio antidiurético (ADH, também chamado vasopressina), que são produzidos no hipotálamo, ao
qual está conectada a hipófise posterior. A ocitocina é um estimulante poderoso da musculatura lisa,
principalmente no momento do parto, estando também relacionada na resposta da descida do leite,
fenômeno imprescindível para a liberação do leite da mama.

[...] durante muitos anos, o tratamento clínico para o nanismo hipofisário


consistia na administração do hormônio do crescimento humano (hGH),
hormônio secretado pela glândula hipófise anterior. Antes de 1985,
esse hormônio era obtido a partir de extratos da hipófise de cadáveres,
303
Unidade II

e seus estoques eram limitados. Desde a introdução do hGH obtido por


engenharia genética, em meados dos anos 1980, sua disponibilidade não é
mais um problema, embora seu custo ainda seja alto. Na década de 1980,
percebendo as variadas funções desse hormônio, os atletas começaram
a experimentar o hGH como um possível substituto ou complemento ao
uso de esteroides anabólicos. Na época, diante da maior sofisticação dos
testes farmacológicos para a detecção de esteroides anabólicos, os atletas
procuravam uma alternativa para a qual ainda não houvesse teste. O
hormônio do crescimento parecia, então, a droga perfeita para atletas que
desejavam aumentar a força e a massa muscular (KENNEY, 2013, p. 40).

As tabelas a seguir resumem os principais papéis dos hormônios produzidos pela hipófise:

Quadro 7 – Hormônios da adeno‑hipófise

Glândula endócrina Hormônio Órgão‑alvo Principais papéis


Facilita o desenvolvimento e o crescimento de
todos os tecidos do corpo até a maturação;
Todas as células eleva a velocidade da síntese proteica; eleva
do corpo a mobilização de lipídeos bem como a sua
Hipófise anterior GH utilização como fonte de energia; reduz a
velocidade de uso dos carboidratos
Controla a quantidade de tiroxina e T3
Hipófise anterior TSH Tireoide produzidas e liberadas pela tireoide
Controla a secreção de hormônios do córtex
Hipófise anterior ACTH Córtex suprarrenal suprarrenal

Hipófise anterior Prolactina Mamas Estimula a produção de leite pelas mamas

Inicia o crescimento de folículos nos ovários


e promove a secreção de estrogênio pelos
Hipófise anterior FSH Ovários, testículos ovários; promove o desenvolvimento dos
espermatozoides nos testículos
Promove a secreção de estrogênio e
progesterona e faz que haja ruptura do folículo,
Hipófise anterior LH Ovários, testículos com liberação do ovócito; faz que os testículos
secretem testosterona

Quadro 8 – Hormônios da neuro‑hipófise

Glândula endócrina Hormônio Órgão‑alvo Principais papéis


Auxilia no controle da excreção de água
Hipófise posterior ADH ou vasopressina Rins pelos rins; eleva a pressão arterial, ao
promover constrição dos vasos de sangue
Controla a contração do útero; secreção
Hipófise posterior Ocitocina Útero, mamas do leite

304
ANATOMIA HUMANA

Saiba mais

Para saber mais sobre o hGH, o hormônio do crescimento humano:

KENNEY, W. L. Fisiologia do esporte e do exercício. 5. ed. Barueri: Manole,


2013, p. 410‑411.

6.2.2 Glândulas cervicais

6.2.2.1 Glândula hipófise faríngea

A glândula hipófise faríngea é representada por uma pequena estrutura mediana localizada no
teto da parte nasal da faringe. Essa estrutura anatômica é uma coletânea de tecido glandular da
adeno‑hipófise residual, no mucoperióstio.

Após 28 semanas de vida intrauterina, a glândula hipófise faríngea é bem vascularizada, irrigada
por vasos de circulação sistêmica da parede posterior da parte nasal da faringe e apta a secretar.
Ela poderia ser uma reserva de tecido adenohipofisário, capaz de ser estimulado, especialmente no
sexo feminino, cujo intuito é sintetizar e secretar hormônios. Essa capacidade poderia ser aproveitada
quando a adeno‑hipófise começa a reduzir a quantidade de secreção.

6.2.2.2 Glândula tireoide

A glândula tireoide é uma estrutura anatômica com formato de U, ímpar, quase simétrica, que se
localiza em ambos os lados da laringe e da traqueia. Ela consiste em dois lobos, unidos por um istmo que
cruza o segundo, terceiro e quarto anéis traqueais, conforme ilustra a figura a seguir.

Lobo direito Lobo esquerdo

Istmo

Figura 282 – Vista anterior da glândula tireoide

Ela evolui com a idade, sendo relativamente maior na criança. Na mulher, aumenta durante as
menstruações e a gestação. O istmo às vezes pode estar ausente ou ser muito pequeno ou, ainda,
hipertrofiar‑se em um verdadeiro lobo médio.

305
Unidade II

A glândula tireoide mantém as seguintes relações anatômicas:

• Anteriormente: pele, fáscia de revestimento, músculos esternocleidomastóideo, esterno hióideo,


esterno tireóideo e omo‑hióideo com as suas fáscias e a fáscia pré‑traqueal.

• Póstero‑medialmente: laringe, traqueia, esôfago, nervo laríngeo recorrente e glândulas


paratireoides.

• Póstero-lateralmente: bainha da carótida, seu conteúdo e a cadeia simpática.

[...] a glândula tireoide, muito vascularizada, é irrigada pelas artérias tireoides


superior, inferior e ima. As veias da tireoide compõem um plexo na superfície
da glândula e na frente da traqueia. A drenagem venosa é realizada pelas
veias tireoides superior, média e inferior que se originam dos plexos venosos,
as duas primeiras são afluentes da veia jugular interna, enquanto a veia
tireoide inferior acaba na veia braquiocefálica esquerda

[...]

os vasos linfáticos deparam‑se no tecido conjuntivo interlobular, afluem


para uma rede capsular e os vasos coletores resultantes desembocam nos
linfonodos paratraqueais (em ambos os lados da traqueia) que drenam a
glândula tireoide. Os linfonodos cervicais profundos estão localizados
inferiormente ao músculo omo‑hióideo e ao longo da veia jugular interna.
Os vasos eferentes terminam nos ductos torácico e linfático direito

[...]

a glândula tireoide é inervada por ramos dos gânglios cervicais superior,


médio e inferior da cadeia simpática, como também por ramos do nervo
vago, cuja função é vasomotora (DI DIO, 1998, p. 593-594).

A glândula tireoide produz dois hormônios: a tiroxina, também chamada de tetraiodotironina


(T4) e a triiodotironina (T3). O T3 e T4 juntos também são chamados de hormônios da tireoide. Outro
hormônio produzido pela glândula tireoide é a calcitonina. O papel primordial do hormônio tireoidiano
(T3 produzida a partir da T4) é elevar o consumo de oxigênio e a produção de calor nas células (termogênese).
A calcitonina reduz o nível sanguíneo de cálcio por meio da inibição da ação dos osteoclastos, células
que degradam a matriz celular óssea.

6.2.2.3 Glândulas paratireoides

As glândulas paratireoides são dois pares de pequenas estruturas castanho‑camurça, ovoides,


com 5 milímetros de comprimento por 3 milímetros de largura e 2 milímetros de espessura, pesando
50 microgramas. Elas se encontram nas margens laterais da face profunda dos lobos da glândula tireoide
306
ANATOMIA HUMANA

e de sua cápsula. É difícil a sua visualização em cadáver, pois podem se localizar em qualquer lugar
desde a faringe até o mediastino superior.

As artérias são volumosas se comparadas às pequenas dimensões dessas glândulas. Cada uma
delas recebe o ramo arterial próprio: oriundos das artérias tireoides superior e inferior. As veias
são afluentes das veias tireoides correspondentes e os vasos linfáticos as acompanham. Os nervos
acompanham as artérias.

Microscopicamente, as glândulas paratireoides abrangem dois tipos de células epiteliais. As células


mais numerosas, chamadas de células principais, produzem o paratormônio (PTH). A função do outro
tipo de célula, chamado de célula oxifílica, não é conhecida na glândula paratireoide normal. Contudo,
sua presença auxilia a identificar com nitidez a glândula paratireoide do ponto de vista histológico em
virtude de suas características exclusivas de coloração. Além disso, no câncer de glândulas paratireoides
as células oxifílicas secretam PTH em excesso.

Uma das ações do PTH é ativar a enzima 1‑α‑hidroxilase nos rins. Dessa maneira, é produzido mais
calcitriol e, assim, eleva a absorção intestinal de cálcio e fósforo. O PTH também age no osso, ampliando
muito a atividade dos osteoclastos. Com isso, o cálcio e o fósforo caem na corrente sanguínea.

6.2.3 Glândula cervicotorácica

6.2.3.1 Timo

O timo é um órgão cervicotorácico, ímpar, mediano, localizado no pescoço e superiormente ao coração


no mediastino superior, encontra‑se bem desenvolvido até a adolescência. Nos recém‑nascidos, pesa
cerca de 13 gramas e possui dimensões aproximadas de 5 centímetros de comprimento, 3 centímetros
de largura e 1 centímetro de espessura. No período dos 11 aos 15 anos de idade, seu peso alcança o valor
absoluto máximo de 35 gramas. Entretanto, a partir da adolescência o timo começa a regredir para ser
representado, no adulto, por vestígios fibroadiposos.

Seu formato alongado de cima para baixo e achatado em sentido anteroposterior descreve‑se como:
um corpo, que representa a maior parte do órgão, com dois lobos, direito e esquerdo, unidos, entre os
quais existe um plano conjuntivo de obliquidade posterolateral esquerda; uma extremidade superior,
com dois cornos que ascendem até as proximidades da face anterior dos polos inferiores da glândula
tireoide, sendo recoberta pelas fáscias cervicais superficial e profunda e os músculos esterno hióideo
e esterno tireóideo; uma extremidade inferior, ou base, bastante grande e às vezes bífidas, que está
relacionada posteriormente com a traqueia, o pericárdio fibroso e os grandes vasos da base do coração,
entre as lâminas mediastinais anteriores da pleura. Corresponde anteriormente ao manúbrio e à parte
superior do corpo do esterno.

307
Unidade II

Figura 283 – Timo, face anterior in situ

A irrigação do timo é realizada por meios dos ramos tímicos das artérias tireoides inferiores, torácicas
internas e intercostais anteriores, enquanto a drenagem venosa é efetuada por veias tímicas, afluentes
das veias braquiocefálica esquerda, torácica interna e tireoide inferior. A drenagem linfática é feita
para os capilares trabeculares que conduzem para os vasos coletores. Esses acabam nos linfonodos
mediastinais anteriores, esternais e peritraqueais.

A inervação é realizada por fibras amielínicas que compõem os plexos peritrabeculares e perivascular.
O timo recebe ramos do X par de nervos cranianos, o nervo vago, de nervos cardíacos e da alça cervical.

Os papéis do timo são complexos, assim como os dos linfócitos T, cuja formação depende desse
órgão. Também age sobre o funcionamento neuromuscular e, por isso, a timectomia pode melhorar
a miastenia. Sabe‑se que o timo secreta hormônios chamados timosina e timopoietina. Tanto o
timo como a timosina possuem papel relevante no desenvolvimento e maturação do sistema imune.
Ele possui grande importância na infância e é sede de produção de linfócitos T, cuja maturação é regulada
pelos hormônios produzidos pelas células epiteliais tímicas.

308
ANATOMIA HUMANA

6.2.4 Glândula abdominal

6.2.4.1 Glândulas suprarrenais

As glândulas suprarrenais, antes chamadas de glândulas adrenais, são um par de corpos marrom‑amarelados
relativamente pequenos, retroperitoneais e que se localizam na extremidade superior de cada rim. A glândula
suprarrenal direita tem formato triangular, sendo achatada no sentido anteroposterior; enquanto a suprarrenal
esquerda é mais espessa, cujo formato é semilunar. Ambas possuem uma superfície côncava aplicada ao rim.
Cada glândula suprarrenal mede, aproximadamente, 30 milímetros de altura, 25 milímetros de largura e
7 a 8 milímetros de espessura. Seu peso varia de 12 gramas no estado normal.

A irrigação desses órgãos se dá por três grupos de artérias principais, chamadas de artérias
suprarrenais: superiores, médias e inferiores, além dessas, são irrigadas por artérias acessórias. As veias
originam‑se dos vasos corticais e dos seios corticomedulares. Há linfáticos superficiais e profundos,
entretanto, todos convergem para a margem medial da glândula para dirigirem‑se aos linfonodos do
pedículo renal, ou da região aorto‑cava (à direita), justa‑aórtica (à esquerda) ou até mediastinais.

As glândulas suprarrenais são vastamente inervadas por filetes finos e muito numerosos, cuja origem
é dupla, por meio dos ramos oriundos do nervo esplânico maior e dos ramos oriundos do plexo celíaco.

Morfofuncionalmente, cada glândula suprarrenal está dividida em duas partes distintas: um


córtex externo, correspondente a 10% e uma medula interna, correspondente a 90%. O córtex secreta
hormônios esteroides derivados do colesterol, por exemplo, o cortisol, a córtico‑esterona e a aldosterona.
O cortisol e a córtico‑esterona regulam o metabolismo dos glicídios. A córtico‑esterona é ativa na
resposta inflamatória, na reação imunitária e no crescimento do corpo. A aldosterona regula o equilíbrio
eletrolítico e hídrico do corpo. A medula secreta as catecolaminas, norepinefrina e epinefrina.

6.2.5 Glândula abdominopélvica

6.2.5.1 Placenta

Embora os hormônios ováricos e hipofisários sejam relevantes na manutenção da gestação, deve ser
observado que, nos seres humanos, a placenta libera também hormônios que ajudam nessa importante
missão, como a gonadotrofina coriônica humana, o estrogênio e a progesterona.

Resumo

Vimos que o sistema cardiovascular transporta O2 e glicose para as


células e CO2 e outros resíduos para fora das células, assim como conduz
hormônios e auxilia na manutenção da temperatura corporal. Os elementos
do sistema cardiovascular são o coração, os vasos de sangue e o sistema
linfático. O coração está contido no interior do pericárdio. A microanatomia
do coração consiste no epicárdio, miocárdio e endocárdio.
309
Unidade II

No átrio direito chega sangue oriundo do corpo pelas veias cavas


superior e inferior, e o ventrículo direito expulsa o sangue por meio do
tronco pulmonar para as artérias pulmonares até os pulmões. No átrio
esquerdo chega sangue oriundo dos pulmões pelas veias pulmonares, e o
ventrículo esquerdo envia o sangue pela parte ascendente da aorta para as
células do corpo.

O coração contém um conjunto de válvulas que formam as valvas


atrioventriculares (direita e esquerda) e as valvas semilunares (do tronco
pulmonar e da aorta). Os átrios direito e esquerdo são separados pelo septo
interatrial e os ventrículos direito e esquerdo pelo septo interventricular.
Os átrios têm dois apêndices: as aurículas direita e esquerda. Internamente,
o átrio direito possui relevos musculares, chamados músculos pectíneos
e a fossa oval.

O ventrículo direito apresenta três músculos papilares, que possuem


em suas extremidades as cordas tendíneas. Essas, por sua vez, inserem‑se
nas cúspides. Já o ventrículo esquerdo possui dois músculos papilares.
O ventrículo esquerdo apresenta o miocárdio mais espesso do que o
ventrículo direito, pois participa da circulação sistêmica.

Os tipos de circulação de sangue são: a sistêmica, a pulmonar, a cardíaca,


a fetal, a portal e a colateral.

As artérias e as veias possuem três camadas ou túnicas: a externa, a


média e a interna. Elas saem do coração e as veias chegam ao coração.
As veias apresentam válvulas que direcionam o sangue para o coração
quando são pressionadas pelas bombas dos músculos estriados esqueléticos.
As artérias são classificadas em artérias de grande calibre, ou elásticas, de
médio calibre, ou musculares, e artérias de pequeno calibre, ou arteríolas.
Os capilares são formados apenas por células endoteliais.

Os capilares linfáticos drenam o líquido intersticial, que é constituído


a partir do plasma sanguíneo. Quando esse líquido adentra nos capilares
linfáticos, ele é chamado de linfa, que retorna ao sistema venoso através
de dois ductos linfáticos maiores: o ducto torácico e ducto linfático direito.
Compõem ainda o sistema linfático as tonsilas, o timo e o baço.

O conjunto de órgãos envolvidos na respiração forma o sistema


respiratório. Esses órgãos são: o nariz, a faringe, a laringe, a traqueia, os
brônquios, que correspondem às vias aéreas superiores, e os pulmões.
O nariz é sustentado pelos ossos nasais e por cartilagens. Suas principais
funções são: aquecer, umedecer, limpar o ar inspirado e o olfato. Os seios
paranasais encontram‑se nos ossos chamados de pneumáticos, como a
310
ANATOMIA HUMANA

maxila, o etmoide, o esfenoide e o frontal. A faringe se comunica com sete


cavidades: nasais, oral, timpânica, esôfago, laringe. Apresenta três partes: a
parte nasal, a oral e a laríngea da faringe.

A laringe possui cartilagens ímpares e pares que mantêm a passagem


para a traqueia aberta durante a respiração e fecham a passagem respiratória
durante o ato de engolir. A traqueia é um órgão tubular formada por anéis
incompletos cartilagíneos. Os brônquios são divididos em principais, ou
primários, lobares, ou secundários, segmentares ou terciários. O brônquio
principal direito é mais curto, largo e verticalizado do que o brônquio principal
esquerdo. O pulmão direito é subdividido por duas fissuras, apresentando três
lobos: o superior, o médio e o inferior. O pulmão esquerdo é subdividido em
uma única fissura, possuindo dois lobos: o superior e o inferior. Os pulmões
são envolvidos pela pleura visceral e a cavidade torácica, recoberta pela
pleura parietal. O espaço entre essas duas membranas pleurais é chamado
cavidade pleural e contém o líquido pleural.

O sistema digestório consiste em um canal alimentar e órgãos


digestórios anexos. A boca á a primeira parte do canal alimentar, a
cavidade oral é composta de bochechas, lábios, palato duro e palato
mole. O palato duro e o palato mole formam o teto da cavidade oral.
A língua e os dentes estão contidos na cavidade oral. A língua ajuda
no processamento mecânico e na movimentação do alimento, sendo
responsável também pela análise sensitiva do alimento. O dorso e o corpo
da língua são recobertos com papilas.

Existem quatro tipos de dentes, cada um com papéis específicos, sendo


eles os incisivos, os caninos, os pré‑molares e os molares. As glândulas da
boca são divididas em glândulas salivares maiores, por exemplo, as glândulas
parótidas, as glândulas submandibulares e as glândulas sublinguais; e
glândulas salivares menores, como as glândulas labiais.

A faringe é uma estrutura anatômica que pertence aos sistemas


respiratório e digestório. O esôfago é um tubo muscular oco que conduz
alimentos sólidos e líquidos para o estômago. A deglutição acontece em
três fases e envolve estruturas da cavidade oral, da faringe e do esôfago.
O estômago consiste em: cárdia, fundo, corpo e região pilórica. Possui as
curvaturas maior e menor e apresenta o esfíncter pilórico na sua união
com o duodeno.

O intestino delgado inclui as seguintes partes: duodeno, jejuno e íleo.


O intestino grosso é dividido em ceco e colos. O ceco recebe e armazena
materiais oriundos do íleo. O apêndice vermiforme é um divertículo do
ceco. O colo possui diâmetro maior e paredes mais delgadas em relação ao
311
Unidade II

intestino delgado. Tem bolsas chamadas de saculações do colo, as tênias


do colo e os apêndices omentais. O colo é subdividido em quatro regiões: o
colo ascendente, transverso, descendente e sigmoide. A parte final do canal
alimentar é o reto, que continua‑se com o canal anal, que termina no ânus.
O músculo esfíncter interno do ânus e o músculo esfíncter externo do ânus
controlam a passagem das fezes através do ânus.

O fígado desempenha papéis de regulação metabólica e hematológica,


além de produzir a bile. Ele é dividido em lobos direito, esquerdo, quadrado
e caudado. A artéria hepática própria e a veia porta do fígado realizam
o suprimento sanguíneo ao fígado. As veias hepáticas drenam sangue do
fígado e realizam o retorno do sangue à circulação sistêmica por meio da
veia cava inferior. A vesícula biliar armazena e concentra bile, mas a libera
por meio do duodeno, pelos ductos cístico e colédoco.

O pâncreas é uma glândula mista, ou seja, exócrina e endócrina.


Ele é dividido em três partes: cabeça, corpo e cauda do pâncreas. O ducto
pancreático acessório (se presente) e o ducto pancreático atravessam
a parede do duodeno e liberam suco pancreático na papila menor do
duodeno e na papila maior do duodeno, concomitantemente.

Os principais papéis regulatórios do sistema endócrino são: metabolismo,


controle da ingestão de alimento e digestão, maturação dos tecidos,
regulação de íons, balanço de água, controle da função reprodutiva, da
contração uterina e da ejeção de leite, além da regulação do sistema imune.

A hipófise, localizada na sela túrcica do osso esfenoide, secreta pelo


menos nove hormônios que regulam numerosos papéis do corpo, bem
como de outras glândulas endócrinas. A tireoide está situada inferiormente
à laringe e produz T3, T4 e calcitonina. As glândulas paratireoides estão
embutidas na tireoide e secretam o paratormônio. As glândulas suprarrenais
estão localizadas nos polos superiores dos rins e produzem hormônios
como, por exemplo, o cortisol, catecolaminas, a norepinefrina e a epinefrina.
A placenta, a glândula pineal, o timo, a glândula hipófise faríngea e o órgão
subcomissural também são exemplos de glândulas endócrinas.

312
ANATOMIA HUMANA

Exercícios

Questão 1. (NC-UFPR 2013, adaptada) Com relação à anatomia e fisiologia cardíaca, numere
os itens de acordo com sua correspondência.

1 – Valva tricúspide.

2– Valva mitral.

3 – Parte do sistema de condução do impulso elétrico cardíaco.

4 – Artéria pulmonar.

5 – Veia pulmonar.

( ) Sangue arterial.

( ) Sangue venoso.

( ) Localizada entre o átrio esquerdo e o ventrículo esquerdo.

( ) Localizada entre o átrio direito e o ventrículo direito.

( ) Feixe de His e fibras de Purkinje.

Assinale a alternativa que apresenta a numeração correta de cima para baixo.

A) 5 – 4 – 2 – 1 – 3.

B) 5 – 4 – 3 – 1 – 2.

C) 5 – 4 – 1 – 2 – 3.

D) 4 – 5 – 2 – 1 – 3

E) 4 – 5 – 1 – 2 – 3.

Resposta correta: alternativa A.

Análise das afirmativas

1 – A valva tricúspide é localizada entre o átrio direito e o ventrículo direito.

2 – A valva mitral é localizada entre o átrio esquerdo e o ventrículo esquerdo.

313
Unidade II

3 – Parte do sistema de condução do impulso elétrico cardíaco são o feixe de His e as fibras
de Purkinje.

4 – A artéria pulmonar leva sangue venoso do coração para os pulmões.

5 – A veia pulmonar traz sangue arterial dos pulmões para o coração.

Questão 2. (Vunesp 2008, adaptada) Os esportes radicais são atividades muito difundidas
entre os jovens e têm recebido crescente atenção da mídia, inclusive com veiculação pela televisão.
Uma característica deles, utilizada na sua propaganda, é a capacidade de induzir um aumento na
produção de adrenalina nos participantes. Indique a alternativa que descreve corretamente o local
de produção e a ação da adrenalina.

A) Pâncreas: vasoconstrição, sudorese e elevação do nível de açúcar no sangue.

B) Hipófise: vasodilatação, aumento na frequência dos batimentos cardíacos e dilatação de pupilas


e brônquios.

C) Suprarrenais: vasodilatação, sudorese e dilatação das pupilas.

D) Hipófise: redução no volume sanguíneo, redução na pressão sanguínea sistêmica e elevação do


nível de açúcar no sangue.

E) Suprarrenais: vasoconstrição, aumento na frequência dos batimentos cardíacos e elevação do


nível de açúcar no sangue.

Resolução desta questão na plataforma.

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