Tecnologia
Cervejeira
Industrial
DR. ORERVES MARTÍNEZ CASTRO
ME. MAYCON VINÍCIUS DE S. RIBEIRO
ME. PAULO OTÁVIO FIOROTO
GRADUAÇÃO
Tecnologia
Cervejeira
Industrial
Dr. Orerves Martínez Castro
Me. Paulo Otávio Fioroto
Me. Maycon Vinícius de S. Ribeiro
DIREÇÃO UNICESUMAR
Reitor Wilson de Matos Silva, Vice-Reitor e
Pró-Reitor de Administração Wilson de Matos
Silva Filho, Pró-Reitor Executivo de EAD William
Victor Kendrick de Matos Silva, Pró-Reitor de
Ensino de EAD Janes Fidélis Tomelin, Presidente
C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a da Mantenedora Cláudio Ferdinandi.
Distância; CASTRO, Orerves Martínez; FIOROTO, Paulo Otávio;
RIBEIRO, Maycon Vinícius de Senna.
NEAD - NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
Tecnologia cervejeira industrial. Orerves Martínez Castro, Diretoria Executiva Chrystiano Mincoff, James
Paulo Otávio Fioroto e Maycon Vinícius de Senna Ribeiro.
Maringá-PR.: Unicesumar, 2019. Prestes e Tiago Stachon; Diretoria de Graduação
208 p. e Pós-graduação Kátia Coelho; Diretoria de
“Graduação - Híbridos”. Permanência Leonardo Spaine; Diretoria de
1. Tecnologia 2. Cervejeira 3. Industrial 4. EaD. I. Título. Design Educacional Débora Leite; Head de
Produção de Conteúdos Celso Luiz Braga de Souza
ISBN 978-85-459-2110-3 Filho; Head de Metodologias Ativas Thuinie Daros;
CDD - 22 ed. 660 Head de Curadoria e Inovação Tania Cristiane Yoshie
CIP - NBR 12899 - AACR/2 Fukushima; Gerência de Projetos Especiais Daniel
F. Hey; Gerência de Produção de Conteúdos
Diogo Ribeiro Garcia; Gerência de Curadoria
Carolina Abdalla Normann de Freitas; Supervisão
do Núcleo de Produção de Materiais Nádila de
Almeida Toledo; Supervisão de Projetos Especiais
Yasminn Talyta Tavares Zagonel; Projeto
Gráfico José Jhonny Coelho e Thayla Guimarães
Cripaldi; Fotos Shutterstock
13
Métodos Especiais
e Ferramentas
de Cálculos
61
Operações
Unitárias
107
Algumas Etapas do
Processo Industrial
137
Requerimentos
Energéticos na
Indústria Cervejeira
165
111 Moinho de Bolas
141 Moinho de Cilindros
Utilize o aplicativo
Unicesumar Experience
para visualizar a
Realidade Aumentada.
Dr. Orerves Martínez Castro
Processo Cervejeiro
em Grande Escala
PLANO DE ESTUDOS
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
• Compartilhar os conhecimentos da origem e os principais • Descrever, de forma básica, as etapas iniciais do processo
conceitos da produção de cerveja em grande escala. cervejeiro em escala industrial.
• Proporcionar um conhecimento básico das diferentes • Expor as etapas finais do processo cervejeiro em escala
matérias-primas utilizadas na indústria cervejeira. industrial.
• Compartilhar os conhecimentos sobre os diferentes adi-
tivos alimentares e coadjuvantes de tecnologia utilizados
na indústria.
Origem do
Processo Industrial
Origens das
Grandes Cervejarias
UNIDADE 1 15
Emil Christian Hansen, no laboratório da cer- A cerveja Porter, elaborada pela cervejaria
vejaria Carlsberg, desenvolveu o método de pro- Whitbreads, foi a primeira produzida em grande
pagação de culturas de leveduras puras, trabalho escala mundialmente. Em 1785, esta fábrica se
que, depois, foi melhorado por Paul Lindner e que tornou a segunda cervejaria de Londres a instalar
fez possível obter cervejas a partir de culturas de uma máquina a vapor; nessa época, já produziam
leveduras puras, o que evitava a contaminação 300.000 hL de cerveja por ano (ANDERSON, 2018).
do produto com microrganismos não desejados. O crescimento populacional, a urbanização
e a industrialização ocasionaram o aumento do
consumo de cerveja no século XIX. Na Europa,
entre 1830 e 1900, os principais países produto-
res de cerveja, Reino Unido, Alemanha e Bélgica,
aumentaram de duas a quatro vezes a produção
de cerveja. Em 1800, os Estados Unidos tinham
uma produção comercial total inferior à da cer-
vejaria Whitbreads em Londres; mas em 1900, já
era o terceiro maior produtor mundial de cerveja
(ANDERSON, 2018).
O desenvolvimento de redes ferroviárias a par-
tir de 1830 transformou a distribuição, levando
os produtores de maior escala a disponibilizar
suas cervejas regionais para uma população cres-
cente. Com a florescente Revolução Industrial,
aumentaram os pontos de venda e os trabalha-
dores beberam grandes quantidades de cerveja,
acrescentando os níveis de consumo de cerveja
per capita em até 50%, em alguns países europeus.
Esse aumento no consumo foi acompanhado por
Figura 3 – Emil Christian Hansen um aumento da fabricação comercial e pelo de-
Fonte: Wikimedia Commons (2010, on-line)2. clínio da fabricação de cerveja na pequena escala.
Conceitos
Cerca de 95% da cerveja elaborada no mundo é feita em grandes cervejarias. Kunze (2004) comenta
que, em diferentes países, fábricas que elaboram até 30.000 hL por ano são consideradas microcerve-
jarias. O autor, além da grande indústria, divide os cervejeiros em dois grupos:
• Os cervejeiros caseiros, que elaboram e bebem seus próprios produtos.
• As cervejarias restaurantes ou Pubs e as microcervejarias, que elaboram volumes entre 500 e
10.000 hL de cerveja ao ano.
Tenha sua dose extra de conhecimento assistindo ao vídeo. Para acessar, use
seu leitor de QR Code.
UNIDADE 1 17
Quando se deseja medir a
densidade relativa de líquidos,
geralmente é utilizada a água a
4 °C como sustância padrão. Por
exemplo, a densidade relativa a
20°/4 °C é numericamente simi-
lar à densidade a 20 °C expres-
sada em gramas por mililitros.
Isso é coerente, desde que, por
definição, 1 mililitro de água a
4 °C pese 1 grama.
Kobayashi et al. (2005) co-
mentam que a densidade relativa
é a relação entre o peso de uma
solução e o peso de um volume
igual de água destilada a 4 °C. No
entanto, o peso de uma solução
na qual o açúcar é dissolvido em
água pura (extrato real) é di-
ferente daquele de um volume
igual da solução em que a mes-
ma quantidade de açúcar é dis-
solvida em uma mistura de água
e etanol (extrato aparente).
O peso da última solução é
menor porque o peso do mes-
mo volume de solução de etanol
é menor que o da água pura. Na
fermentação, a concentração de
etanol aumenta à medida que o
peso específico do mosto dimi-
nui (os açúcares são consumi-
dos e transformados em etanol,
pela levedura), pelo fato de que,
no transcorrer do processo, a
diferença entre o extrato real e
aparente vai aumentando.
Matérias-Primas
e Outros Materiais
UNIDADE 1 19
Matérias-Primas
Água
UNIDADE 1 21
a b c
Figura 4 – a) Cevada de seis fileiras; b) Cevada de duas fileiras; c) Diferentes maltes e pélete de lúpulo.
O lúpulo é uma planta trepadeira perene, dioica Alemanha e na República Tcheca em algum mo-
da família do cânhamo e pertence à ordem das mento entre 1.000 e 1.200 d.C. Sua horticultura e
urticales (KUNZE, 2004). No processo cerve- uso se espalharam gradualmente por toda a Eu-
jeiro, são utilizadas as flores das plantas femi- ropa, sendo importados para a Inglaterra durante
ninas, que fornecem resinas amargas e óleos o século XIV.
essenciais, suprindo a cerveja de compostos Da Europa, o cultivo do lúpulo se espalhou
amargos e aromáticos. rapidamente para os Estados Unidos e África do
Evidências sugerem que o lúpulo foi cultivado Sul (século XVII), Austrália e Nova Zelândia (iní-
na Europa central antes de 1.000 d.C., mas não cio do século XIX). Entre os anos 1800 e 1900 se
está claro se este foi usado em cerveja ou como espalhou para vários outros países, muitos dos
medicamento à base de plantas. O lúpulo, pro- quais não crescem quantidades significativas des-
vavelmente, foi cultivado pela primeira vez na ta planta, por exemplo, o Canadá.
a b c
UNIDADE 1 23
A dosagem do lúpulo precisa ser ajustada ao perfil do sabor desejado na cerveja (KROTTENTHA-
LER, 2009). Os seguintes parâmetros devem ser levados em consideração:
Adjuntos
A cerveja é produzida por meio de um processo no qual é utilizada a cevada malteada como principal
matéria-prima, enquanto outros cultivos denominados adjuntos, como trigo, milho e arroz, também
podem ser adicionados durante sua produção (LI et al., 2018).
A maioria dos países utiliza adjuntos que podem ser definidos como açúcares e cereais não maltados
que são usados como substitutos, geralmente de parte da cevada malteada, ou outros cereais malteados,
como trigo, sorgo, aveia etc. (STEWART; RUSSEL; ANSTRUTHER, 2018). Segundo a fonte, até a segun-
da metade do século XX, os adjuntos eram de qualidade questionável, mas com os desenvolvimentos
tecnológicos alcançados, sua qualidade melhorou significativamente.
No princípio da história cervejeira Norte-americana, os cervejeiros entenderam que os maltes
produzidos de cevada de seis fileiras, cultivada nos EUA, diferiam daqueles provenientes da Europa,
já que possuíam cascas mais grossas e maior conteúdo de nitrogênio (BRADEE et al., 2002). A casca
mais grossa proporcionava uma camada de filtração mais eficiente na clarificação do mosto e o maior
conteúdo de nitrogênio fazia com que o meio tivesse mais concentração enzimática, mas, ao mesmo
tempo, as cervejas tinham menos estabilidade física. Os cervejeiros entenderam que o poder diastásico
era suficiente para converter maior quantidade de amido daquele que possuía o malte, assim poderiam
ser utilizadas outras fontes ricas em amido e de um custo menor da bebida de puro malte.
UNIDADE 1 25
Leveduras
O interesse dos estudiosos das leveduras gira em to. A grande maioria das leveduras (por exemplo,
torno de suas diferentes linhagens. Existem mi- Saccharomyces) exibe brotamento multilateral,
lhares de estirpes exclusivas de Saccharomyces um tipo especial de divisão celular em que as cé-
cerevisiae. Essas cepas são utilizadas na produção lulas filhas (botões) aparecem sobre uma grande
de cerveja, pão, vinho, produtos destilados e cul- área da superfície celular. Ainda segundo o au-
turas de laboratório (RUSSELL, 2018). Conforme tor, ao longo dos anos, a posição taxonômica e os
o autor, a levedura é um fungo unicelular e seu nomes da levedura de cerveja mudaram várias
tamanho varia de 5 μm a 10 μm de comprimento, vezes, mas, nas definições atuais, estas pertencem
com uma largura de 5 μm a 7 μm. O tamanho à espécie das Saccharomyces cerevisiae.
médio das células varia com o estágio do ciclo de Kunze (2004) comenta que as leveduras obtêm
crescimento, condições de fermentação e idade a energia que necessita por duas vias: em presença
da célula (as células mais velhas são maiores em de oxigênio (respiração) e na ausência de oxigênio
tamanho). (fermentação). Durante a fermentação, a levedu-
Deák (2008) define as leveduras como fungos ra transforma os açúcares em etanol, dióxido de
unicelulares, nos quais a reprodução vegetativa carbono e outro grupo de compostos importantes
(assexual) ocorre, principalmente, por brotamen- para as características e o sabor da cerveja.
a b c
Figura 6 – a) Células de levedura; b) Creme de levedura; c) Levedura seca.
Conforme Dowhanick (2002), para os cervejeiros, uma boa levedura deve apresentar as seguintes
condições para, assim, poder ser utilizada:
Dois tipos de leveduras estão envolvidos na fermentação da cerveja, as leveduras Ale (alta fermentação)
e leveduras Lager (baixa fermentação). Do ponto de vista do cervejeiro, existem várias diferenças entre
as leveduras Ale e Lager, como na sua capacidade fermentativa, taxa de utilização de açúcar, tolerância
à temperatura, características de floculação e perfil de voláteis (TENGE, 2009). Deák (2008) apresenta,
no seguinte quadro, algumas das diferenças entre as duas estirpes.
UNIDADE 1 27
Aditivos Alimentares
e Coadjuvantes
de Tecnologia
Aditivos Alimentares
Um aditivo alimentar é qualquer ingrediente adicio-
O MS e a ANVISA regulam os aditivos alimen- nado intencionalmente aos alimentos, sem propó-
tares e os divide nas seguintes categorias (MI- sito de nutrir, com o objetivo de modificar as carac-
NISTÉRIO DA SAÚDE, 2011; ANVISA, 2011): terísticas físicas, químicas, biológicas ou sensoriais,
• Acidulante/regulador de acidez, como o durante a fabricação, processamento, preparação,
ácido málico, láctico ou cítrico. tratamento, embalagem, acondicionamento, ar-
• Antiespumante, como dimetilsilicone, mazenagem, transporte ou manipulação de um
dimetilpolisiloxano e polidimetilsilo- alimento. Esta definição não inclui as substâncias
xano. que sejam incorporadas ao alimento para manter
• Antioxidante, como o metabissulfito de ou melhorar suas propriedades nutricionais.
sódio, o ácido ascórbico etc.
• Aromatizante, como aromatizantes na-
turais (somente óleo essencial, essência As águas utilizadas nas cervejarias são analisadas
natural ou destilado vegetal de sua ori- frequentemente para poder compensar as mu-
gem). danças que podem acontecer na sua composição
• Corante, como a riboflavina, o caramelo de tempos em tempos. A análise do pH, a alcali-
I – simples, o caramelo III – processo nidade (que geralmente é devido ao conteúdo de
amônia, caroteno: estratos naturais etc. bicarbonato) e a dureza, preferencialmente a du-
• Estabilizante, como alginato de propile- reza de cálcio e magnésio medida separadamente,
no glicol, goma xantana, pectina, carbo- fornecem as informações básicas sobre as quais
ximetilcelulose sódica etc. os tratamentos são necessários.
UNIDADE 1 29
O cálculo da alcalinidade é útil para o cerve- significativos para os lotes seguintes de produção,
jeiro saber o efeito dessa água no pH do mosto por problemas associados à limpeza e sanitização
(RYDER, 2018). O autor destaca que o modo mais ineficientes dos equipamentos (RYDER, 2018).
direito de neutralizar a alcalinidade é a adição de Os antiespumantes podem ser divididos na-
um acidulante, como o ácido láctico, fosfórico ou queles de origem natural ou sintética e são pro-
sulfúrico. A quantidade de ácido a ser utilizada jetados para serem removidos da corrente de
depende da composição da água e do pH dese- processo (na filtração da cerveja e pela aderência
jado. Além dos acidulantes, alguns sais, como o às superfícies do tanque) em algum momento
sulfato de cálcio ou de magnésio, também podem antes do envase do produto. Há diferentes anties-
ser utilizados para neutralizar a alcalinidade e pumantes naturais, entre eles o obtido do extrato
reduzir o pH da água. de lúpulo. Este é composto por uma mistura de
No processo de fermentação da cerveja, po- resinas duras de lúpulo, lipídios e ceras, obtidas
dem ser utilizados aditivos alimentares para evitar por extração com solventes sendo, geralmente,
o excesso de espuma. Os antiespumantes evitam usado para este fim, o dióxido de carbono lí-
a formação de espuma durante a produção, po- quido.
dendo ter efeito negativo na capacidade de for- Dois tipos básicos de antiespumantes sinté-
mação de espuma do produto final. Além disso, ticos são geralmente utilizados: aqueles à base
a formação excessiva de espuma requer espaço de silicone e aqueles à base de óleo mineral. Nos
livre, o que limita a capacidade dos fermentado- últimos 20 anos, o antiespumante mais popular à
res, podendo ocasionar perdas de cerveja. Tam- base de silicone usado na fabricação de cerveja é
bém é possível remover alguns componentes de o dimetilpolisiloxano. O Quadro 2 apresenta um
amargor do lúpulo, e pode criar riscos biológicos resumo das diferentes classes de antiespumantes.
Quadro 2 – Classes generais de antiespumantes
Classes Exemplos Comentários
Álcoois de cadeia ramificada e polióis
Álcoois 2-etilhexanol polialquileno glicol de baixa solubilidade; baixa tensão
superficial
Trioleato de Sorbitano
Ésteres de ácidos graxos Insolúveis em água
Estearato de Diglicol
Diestearoil-etileno diamina
Peso molecular moderadamente alto,
Amidas Fosfato de trioctila
efetivo em baixas concentrações
Fosfato de tributila
Ésteres de fosfato Fosfato de octila de sódio
Estearato de cálcio
Sabonetes metálicos Insolúveis em água
Palmitato de magnésio
Di-tert-amyl fenoxietanol Molécula possui dois ou mais grupos
Moléculas com grupo polar
Óleo de rícino funcionais polares
Muito eficiente em baixas concentra-
Óleos de silicone Polissiloxanos
ções
Extrato de lúpulo Resinas duras, lipídeos, ceras Emulsão aquosa
Fonte: Ryder (2018, p. 301).
UNIDADE 1 31
Coadjuvantes de Tecnologia
O Ministério da Saúde (2011) e a ANVISA (2011) regulam os adjuvantes de tecnologia e os divide nas
seguintes categorias:
Estas entidades dispõem que as enzimas e preparações enzimáticas podem ser utilizadas no processo
de produção de cerveja como coadjuvantes de tecnologia desde que previstas em Regulamento Téc-
nico específico.
O magnésio é um mineral requerido pela levedura para o crescimento, e sua adição pode, às vezes,
acelerar a atividade de fermentação. Por esta razão, a adição de um pouco de magnésio como catali-
zador (geralmente como sulfato de magnésio) pode ser desejável (RYDER, 2018). A quantidade não
deve exceder 20 mg/L de magnésio livre.
Outro coadjuvante de tecnologia utilizado nas cervejarias são os preparados enzimáticos. Embora
o malte seja a fonte fundamental de enzimas no processo, algumas enzimas exógenas, de origem ve-
getal ou microbiano, são utilizadas para atingir diferentes objetivos (RYDER, 2018). O autor as divide,
segundo sua utilização, em:
UNIDADE 1 33
fermentáveis no meio, que são transfor- dez na cerveja. A aplicação de enzimas
mados em etanol pela levedura. Isto pode proteolíticas na maturação da cerveja foi
ser aplicado para a elaboração de cervejas patenteada por Leo Wallerstein, em 1911.
com maiores concentrações de etanol e Sua patente original descreve a adição de
para a elaboração de cervejas com menos enzimas proteolíticas ao mosto resfriado
calorias, sempre que o conteúdo de etanol ou à cerveja em qualquer estágio da pro-
seja diluído. Quando usada glucoamilase dução, a fim de permitir a modificação das
durante a fermentação, até 95% do extrato proteínas na cerveja durante a pasteuriza-
derivado do amido pode ser transformado ção. A papaína, obtida da planta de ma-
em açúcares fermentáveis. mão (Carica papaya), foi a enzima mais
• Enzimas para utilizar na maturação: o uso utilizada para este propósito. A Bromelina
de enzimas proteolíticas para melhorar a obtida do abacaxi, ficina do figo e a pep-
estabilidade coloidal da cerveja é bem anti- sina de origem animal também têm sido
go. Estes preparados enzimáticos removem utilizadas, mas, na atualidade, a maioria
parte das proteínas e os polifenóis, que são dos preparados enzimáticos utilizados na
os dois principais componentes da turbi- maturação da cerveja é feito com papaína.
A variação de sabor em cervejas feita por uma fórmula definida e um processo de fermentação idêntico
é um problema que a maioria das cervejarias pode experimentar. Demoras para o começo da fermen-
tação (fases lag mais longas), fermentações mais lentas e demora para atingir a atenuação desejada ou
fermentações incompletas são alguns dos indícios de que o processo não está acontecendo correta-
mente. Estes problemas trazem defeitos no sabor da cerveja, pelas transformações que acontecem nas
concentrações de subprodutos da levedura que incluem o etanol, álcoois superiores, ésteres, ácidos
orgânicos, ácidos graxos, compostos de carbonilo, tais como diacetil ou acetaldeído, compostos de
enxofre, tais como sulfeto de hidrogênio, sulfitos ou mercaptanos (RYDER, 2018).
Quando as composições dos elementos fundamentais do mosto são satisfatórias, como o nitrogê-
nio assimilável, os carboidratos desejados e o nível de oxigênio dissolvido, o problema se concentra
em alguns nutrientes essenciais para o bom desenvolvimento da levedura. Ryder (2018) comenta a
necessidade do zinco, que é fundamental para o crescimento da levedura, e o magnésio, que é um
cofator para algumas enzimas muito importantes nas reações glicolíticas.
Quando o crescimento celular e a conversão de carboidratos em etanol são limitados, pode ser pela
deficiência de magnésio, que aumenta os prejuízos da toxicidade do etanol sobre a levedura. Outra fonte
de nutrientes são os chamados “alimentos para levedura” que são frequentemente usados na fabricação
de cerveja como adjuvantes de tecnologia. Estes produtos são misturas de nutrientes projetados para
fornecer um suplemento que garante a disponibilidade de nutrientes essenciais ao longo do ciclo de
fermentação. Podem conter proteína, nitrogênio amínico livre (FAN) e traço de minerais, como o
enxofre, fósforo, zinco, cobre, magnésio e cálcio.
Bexigas natató-
Matéria-prima Algas verme-
Algas vermelhas Silicato de sódio rias de peixes
usada para lhas e marrons
e marrons (mus- com ácido mine- tropicais e ácido
preparar o (musgo irlan-
go irlandês) ral cortante e con-
clarificante dês) + taninos
servante
Alginato
Composto ativo do Alginato Colágeno (proteí-
Ácido tânico Silicato
clarificante Carragenina na)
Carragenina
Leveduras, tani-
Materiais
Proteína Proteína Proteína nos, excesso de
precipitados
clarificantes
UNIDADE 1 35
Processo Cervejeiro
(Primeira Parte)
UNIDADE 1 37
zimáticos desenvolvidos durante a maltea- semanas nessa condição, tempo em que as
ção e desenvolver as características de cor, habilidades enzimáticas são recuperadas.
aroma e sabor desejadas pelo fabricante. Antes da expedição, os lotes de malte são
• Limpeza, armazenamento e polimento do misturados às necessidades dos clientes e
malte: após a secagem, o malte deve ser polidos. O polimento inclui a remoção de
resfriado e limpo. As radículas formadas fragmentos quebrados de casca e da poeira;
na malteação devem ser removidas, pois depois, é feito o controle magnético para evi-
podem provocar a captação descontrolada tar que qualquer pedaço de metal, que tenha
da água do malte. O malte deve ser armaze- entrado por erro dentro do malte, possa ser
nado frio e seco, mantido, pelo menos, duas enviado no produto no momento da venda.
Processo Cervejeiro
Envase Tanque de
Carbonatação Filtração
(garrafa, lata, barril) cerveja brilhante
A moagem é realizada para a redução e controle boa camada filtrante. Se utilizado um filtro prensa,
do tamanho das partículas. A finalidade da redu- deve-se empregar um moinho de martelo, que
ção do tamanho é produzir partículas de malte e produzirá partículas mais finas.
adjuntos que sejam o suficiente pequenas para Miedl-Appelbee (2018) afirma que quando
que os compostos de interesse sejam diluídos e, ao se trabalha com tina de filtração, a moagem deve
mesmo tempo, que estas partículas sejam grandes seguir os seguintes critérios: divisão longitudinal
o suficiente para garantir uma separação eficiente da casca para expor o endosperma, desintegração
dos sólidos dissolvidos após a extração (MIEDL- do endosperma para se tornar acessível pela água
-APPELBEE, 2018). e as enzimas, as partículas do malte moído devem
A maioria dos processos de moagem opera ter um tamanho uniforme, a fração de farinha fina
mantendo um equilíbrio entre o excesso de moa- deve ser mínima, a maioria da casca deve estar
gem da casca e a moagem do endosperma, o que intacta e separada do endosperma, as gêmulas dos
é definido pelo equipamento utilizado na clarifi- grãos devem ficar intactas. Entretanto, quando
cação do mosto. Se utilizada uma tina de filtração, usado o filtro prensa para clarificar o mosto, as
deve-se usar um moinho de rolo, que preservará partículas do malte moído devem ser pequenas
a casca da forma adequada para desenvolver uma e de tamanho uniforme.
O trub consiste em complexos insolúveis de proteínas, polifenóis e carboidratos, que deve ser remo-
vido porque não cumpre nenhum propósito, mas pode causar problemas nas etapas restantes do
processo. O mosto contém um alto teor de polifenóis: 40% deste se origina do lúpulo e o restante
do malte. Durante a fervura, os polifenóis são facilmente oxidados, eles polimerizam e se ligam a
proteínas. Estas se ligam aos polifenóis oxidados, tornam-se insolúveis e são removidas como trub
quente. As proteínas que se ligam aos polifenóis não oxidados permanecem solúveis e irão preci-
pitar quando resfriadas, sendo removidas como trub frio. A quantidade de trub no mosto deve ser
reduzida para menos de 0,1 g/L antes do resfriamento, facilitando a etapa de separação do trub frio,
para conseguir uma clarificação eficiente do mosto cervejeiro.
Fonte: adaptado de Miedl-Appelbee (2018).
UNIDADE 1 39
Mosturação O término da mosturação é a degradação com-
pleta do amido, açúcares e dextrinas solúveis. A
A mosturação é a etapa mais importante da pro- degradação do amido tem três etapas fundamen-
dução de mosto cervejeiro. Nesta etapa, os grãos tais: gelatinização, liquefação e sacarificação. A
moídos são misturados com água, e pela ação comprovação da sacarificação indica o final do
das enzimas os compostos do malte são dissol- processo de mosturação e é comprovada por meio
vidos, obtendo-se o extrato (KUNZE, 2004). Os do teste do iodo (KUNZE, 2004). Miedl-Appel-
grãos contêm alguns compostos solúveis, como bee (2018) apresenta, na Tabela 1, as principais
açúcares, dextrinas, substâncias inorgânicas e enzimas sobre o amido.
certas proteínas. Os compostos insolúveis são o
amido, celulose, proteínas de alto peso molecu-
lar e outras substâncias constitutivas do bagaço
de malte.
Na mosturação, deve-se obter a maior quan- A sacarificação é definida como a degradação
tidade de extrato e da melhor qualidade possível, completa, pelas amilases, do amido a açúcares,
e isto acontece pela ação das enzimas que agem como maltose, maltotriose e glicose, que a leve-
em temperaturas e pH ótimos (KUNZE, 2004). dura cervejeira consegue fermentar, e as dextri-
Conforme Fahi, Spencer e Dougherty (2002), nas, que não são fermentáveis. A degradação do
os três principais objetivos da mosturação são: amido é monitorada com tintura de iodo (0,02 N)
• Dissolver os compostos solúveis, que re- e é denominada como teste do iodo. Este teste
presentam uma fração entre 10 e 15% do se baseia no fato de que a solução de iodo, em
peso total dos ingredientes. contato com o amido e dextrinas de longas ra-
• Dissolver os compostos, que são insolúveis mificações, adquire uma cor roxa, entretanto,
em seu estado natural, por meio da ação quando entra em contato com açúcares e dex-
enzimática. trinas pouco ramificadas, a solução de iodo não
• Mudar a estrutura química de forma pla- sofre muita modificação da cor.
nejada, por meio de ação enzimática, de Fonte: adaptado de Kunze (2004).
alguns compostos constitutivos do malte.
Tabela 1 – O pH e a temperatura ótima das enzimas envolvidas na quebra do amido durante a mosturação
Temperatura Temperatura de
Enzimas pH
ótima (°C) inativação (°C)
UNIDADE 1 41
Clarificação do mosto quente
Resfriamento do mosto
UNIDADE 1 43
Processo Cervejeiro, Transformação do Mosto em um
Produto Acabado
Com o resfriamento do mosto, desde as altas tem- Entende-se por inoculação a adição de levedura
peraturas depois da remoção do trub quente até as no mosto e isto define o início do processo de
baixas temperaturas necessárias para a fermentação, fermentação (KUNZE, 2004). Knudsen (2002)
precipitam alguns compostos insolúveis que são destaca que a inoculação pode ser feita antes ou
chamados de trub frio (MIEDL-APPELBEE, 2018). depois da aeração e isto depende do cervejeiro
Estes compostos devem ser removidos, porque po- encarregado. A levedura utilizada deve ser biolo-
dem ocasionar problemas no processo. Alguns mé- gicamente limpa, devendo-se trabalhar em boas
todos para esse fim são: sedimentação em tanque de condições de sanitização para impedir a conta-
repouso, centrifugação, filtração e flotação. minação com bactérias e leveduras selvagens. O
autor afirma que o índice de inoculação depende
do tipo de cerveja a elaborar, a concentração de
Aeração do mosto extrato original, a temperatura do processo e o
coeficiente de fermentação desejado.
Para poder ter uma boa concentração celular de O índice de inoculação de leveduras ao mosto
leveduras e uma fermentação satisfatória, é ne- é variável. Eßlinger (2009) aponta que uma con-
cessário um suprimento suficiente de células e de centração entre 15 e 20 milhões de células de le-
oxigênio ao mosto cervejeiro (EßLINGER, 2009). veduras por mililitro de mosto é suficiente. Para
Isso é feito arejando o mosto com ar estéril (ou ex- Kunze (2004), uma concentração entre 20 e 30
cepcionalmente com oxigênio). Uma distribuição milhões de células/mL garantem uma fermenta-
intensiva com bolhas pequenas é obtida por ae- ção eficiente.
ração com pedras porosas, tubo de Venturi, bicos
especiais ou misturadores estáticos. Um valor de
8 a 10 mg de O2 por litro de mosto é ideal.
A fermentação é um passo decisivo para obter uma cerveja bem balanceada e de alta qualidade. Os
principais objetivos da fermentação são: manter tempos de fermentação constantes, consumo vigoroso
do extrato e queda de pH, ter o grau de fermentação desejado e manter constante os parâmetros e a
qualidade da cerveja (EßLINGER, 2009). Segundo o autor, os parâmetros que influenciam a fermenta-
ção são a composição do mosto, a temperatura do processo, a concentração celular, o nível de aeração,
o método de preenchimento do reator e o tipo de fermentador.
UNIDADE 1 45
Filtração da cerveja Envase
Uma característica importante da cerveja é a sua A cerveja precisa ser envasada para manter seus
transparência. A maturação ajuda a melhorar o atributos de qualidade e poder entrar e se susten-
sabor, além de facilitar a sedimentação de alguns tar nas cadeias de distribuição (PARTRIDGER,
sólidos insolúveis. Após isto, a cerveja deve ser 2018). Acredita-se que, além da promoção do
filtrada para adquirir a transparência desejada e produto, o cervejeiro deve se preocupar pelo en-
evitar que esta sofra mudanças visíveis, em sua vase apropriado da cerveja em questão (BLÜML,
aparência, a longo prazo. A filtração cumpre dois 2009). Na atualidade, existem quatro principais
objetivos fundamentais, eliminar os compostos categorias de envases, sendo utilizadas em todo
insolúveis suspensos na cerveja sem filtrar e dimi- o mundo: garrafas de vidro, latas (de alumínio ou
nuir compostos com potencial de formar turbidez de folhas de flandres), garrafas plásticas (feitas de
(LINDEMANN, 2009). polietileno tereftalato [PET] e polietileno nafta-
A filtração, geralmente, refere-se à clarificação lato [PEN]) e barris.
da cerveja através de várias etapas para produ- A Figura 9 apresenta um fluxograma da área
zir um produto cristalino. O objetivo é remover de engarrafado de uma cervejaria (KUNZE, 1996).
materiais não biológicos suspensos e leveduras Ao início do processo, os paletes cheios de caixas
residuais, o que, de outra forma, faria com que com garrafas vazias são colocados na fila para
a cerveja ficasse turva. O tamanho de partícula entrar na linha de produção (1); quando neces-
do material suspenso na cerveja é de 0,5 a 4 μm sário, um dispositivo libera o palete para entrar
(TAYLOR, 2018). (2). Logo, a máquina de despaletização tira as cai-
Kunze (2004) comenta a importância da fil- xas dos paletes e as coloca em um transportador
tração para fazer a cerveja estável e menciona a (3). Nesse ponto, as caixas cheias de garrafas e
importância dos auxiliares de tecnologia para os paletes se separam. Os paletes são recolhidos
ajudar nesta etapa. A fonte menciona que, na e inspecionados (4 e 5). As caixas com garrafas
cervejaria, é comum usar perlita para a filtração continuam na linha e passam por um controle
de mosto e terra diatomácea para a filtração de para garantir que não contenham líquido, não
cerveja. tenham rolhas velhas etc. (8). No caso em que as
garrafas estiverem tampadas com rolhas velhas,
estas passam pela máquina destampadora, para
resolver o problema (9). As caixas então passam
por um equipamento onde as garrafas são de-
sembaladas (10).
25
8
2
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23
UNIDADE 1 47
Para envasar cerveja em latas, as máquinas de envase e tampado são diferentes das utilizadas para
garrafas (KUNZE, 2004). O envase de cerveja em latas é feito de duas formas, enchimento de altura
(enchimento nivelado) que acaba assim que o líquido atinge a extremidade inferior do tubo de retorno
de gás, e enchimento do volume, que podem ser de dois tipos:
• Na primeira, o volume desejado é separado previamente em outra câmara do equipamento,
enquanto está acontecendo o preenchimento de outra lata, que acontece rapidamente, porque
o volume já foi medido previamente.
• Na segunda, o volume exato é determinado, por exemplo, por meio de um instrumento de
medição de fluxo magnético.
Além de garrafas e latas, as cervejas também podem ser envasadas em barris. Em muitos países, a
tradição é transportar cerveja em barris de madeira. Na atualidade, têm sido desenvolvidos barris de
metal, o que facilita a limpeza desses, além de diminuir as chances de vazamentos de cervejas (KUNZE,
2004). O autor comenta que os barris metálicos são feitos fundamentalmente com alumínio e aço inox
e destaca que existem diferentes tipos de formatos deles.
Vimos, na unidade, como surgiram as cervejarias em escala industrial e os fatos que propiciaram
este desenvolvimento, além de que, com este feito, houve uma tendência da diminuição das cervejarias
em pequena escala e a retomada destas (cervejarias artesanais) na atualidade. Também foram propor-
cionados conhecimentos sobre os aditivos alimentares e coadjuvantes de tecnologia e a importância
destes no processo cervejeiro. Foi feita a introdução a conhecimentos sobre as matérias-primas e o
processo cervejeiro, informações estas que serão aprofundadas no decorrer do curso.
49
2. Sobre as matérias-primas do processo cervejeiro, analise as afirmativas a seguir
e marque V para a(s) verdadeira(s) e F para a(s) falsa(s).
( ) Em termos de quantidade, a água é a principal matéria-prima na composição
da cerveja, pelo que sua composição química e biológica têm uma importância
relevante para o produto.
( ) O termo técnico malte define a matéria-prima resultante da germinação, sob
condições controladas, de qualquer cereal. Para elaborar cerveja, o malte mais
empregado é de trigo.
( ) O lúpulo é uma planta trepadeira perene, dioica, da família do cânhamo e
pertence à ordem das urticales. No processo cervejeiro, são utilizadas as flores
das plantas masculinas, que fornecem resinas amargas e óleos essenciais,
suprindo a cerveja de compostos amargos e aromáticos.
( ) Existem diferentes linhagens de leveduras e existem milhares de estirpes
exclusivas de Saccharomyces cerevisiae que são utilizadas na produção de
cerveja, pão, vinho e produtos destilados.
Assinale a alternativa correta:
a) V - F - V - F.
b) F - V - V - F.
c) V - V - V - F.
d) V - F - F - V.
e) V - V - F - V.
50
LIVRO
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1. B.
2. D.
3. B.
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57
58
59
60
Dr. Orerves Martínez Castro
Métodos Especiais e
Ferramentas de Cálculos
PLANO DE ESTUDOS
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
• Esclarecer as metodologias utilizadas para a elaboração • Aplicar os conhecimentos sobre os cálculos dos rendi-
de diferentes tipos de cervejas não convencionais. mentos das matérias-primas e a eficiência das diferentes
• Compartilhar os conhecimentos sobre a obtenção e in- etapas do processo.
terpretação de dados, sua utilidade nos processos e a • Partilhar os conhecimentos sobre como calcular as quan-
conversão de unidades. tidades das diferentes matérias-primas no processo cer-
• Fornecer os conhecimentos dos princípios e utilidades dos vejeiro.
balanços de massa e energia para o processo cervejeiro.
Métodos Especiais
de Produção
Existem diferentes razões para remover parcial ou totalmente o álcool da cerveja, como: o desejo das
pessoas por um estilo de vida mais saudável, sem consumo de álcool; elas são uma ótima opção para
motoristas, prevenindo a ocorrência de acidentes automobilísticos; e por motivos religiosos (KUNZE,
2004).
As leis nacionais diferem sobre a definição de uma bebida não alcoólica. Por exemplo, uma cerveja
com menos de 0,5% v/v de álcool é considerada bebida não alcoólica na Alemanha; entretanto, na região
árabe, precisa possuir menos de 0,05% v/v se quiser ser chamada de cerveja não alcoólica (BURBERG;
ZARNKOW, 2009). Os autores ainda citam que as tecnologias têm que garantir uma boa qualidade no
produto obtido e as divide em métodos físicos e biológicos.
Métodos físicos
UNIDADE 2 63
maior concentração de sal, e este processo é das (dialisado). Quando a cerveja é dialisa-
denominado como osmose reversa. Assim, da contra a água, todos os ingredientes da
ao aplicar o processo de osmose reversa cerveja, exceto a água, tendem a se difundir
para obter cerveja sem álcool, partes da no dialisado. A passagem das moléculas
água, o álcool e outras substâncias da cer- ocorre pelos poros da membrana e, assim
veja migram através da membrana, sendo como na osmose reversa, na diálise, os in-
recolhidos em forma de permeado do ou- gredientes da cerveja com um tamanho de
tro lado da membrana. As cervejas obtidas molécula e polaridade semelhantes, como
por osmose reversa mostram uma melhor o etanol, são separados pela membrana.
qualidade no sabor do que as cervejas ob- Embora a diálise seja, em princípio, um
tidas por destilação a vácuo. procedimento sem pressão, uma certa
• Diálise: é outro processo de separação por pressão deve ser mantida tanto na cerveja
membrana, no qual, em contraste com a quanto no lado do dialisado (liberação de
osmose reversa, nenhuma pressão é apli- CO2). O sabor da cerveja produzida por
cada, pelo que o transporte dos compostos diálise geralmente é considerado bom, mas
ocorre como uma difusão espontânea pela com base nas pequenas diferenças de con-
diferença de concentração das substâncias centração, este processo é menos adequado
retidas (retentado) e as substancias dialisa- para atingir teores alcoólicos muito baixos.
Na Figura 1 são apresentados o princípio da osmose reversa e uma planta para sua aplicação, na ob-
tenção de cerveja sem álcool (KUNZE, 2004).
3 6
4 4
1
1
3
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5
2 5
a) b)
Métodos biológicos
UNIDADE 2 65
• Fermentação com leveduras especiais, pouca quantidade de lúpulo, inoculado
consiste em utilizar uma levedura não e fermentado até um conteúdo alcoóli-
cervejeira, das espécies Saccharomycodes co de 0,5% v/v (atenuação aparente em
ludwigii, que é uma levedura que fermenta redor de 10%). Geralmente, para obter
a glicose e a frutose, mas não fermenta a uma baixa atenuação limite do mosto, é
maltose. Por conseguinte, a concentração usado o processo por salto ou a reutili-
alcoólica da cerveja fica abaixo de 0,5% v/v, zação de bagaço de malte na mostura-
porém com um alto conteúdo de açúcares ção. A fermentação é conduzida a 8 °C, e
e sabor doce. quando a concentração de etanol chega
• Processo de contato com levedura em ao nível desejado, é interrompida por
frio é um método onde o mosto a -2 °C se centrifugação, filtração ou pasteurização
mistura adequadamente com a levedura. flash.
Nestas condições, a levedura não produz • Fermentação com leveduras imobilizadas
álcool, mas sim desenvolve compostos é um processo contínuo, onde a levedu-
que oferecem aroma de cerveja e se con- ra é fixada a um suporte e através deste é
trapõem ao sabor do mosto. passado um fluxo de mosto resfriado que
• Interrupção da fermentação é um método vai sendo fermentado devagar. O controle
onde o mosto é elaborado com concentra- do processo garante que a concentração
ção entre 9 e 11% de extrato, fervido com alcoólica da cerveja não passe de 0,5% v/v.
Cervejas Dietéticas
A denominação de cervejas dietéticas induz à associação com o estilo de vida saudável e tem ganho
muito sucesso nos EUA nos últimos anos. As cervejas baixas em carboidratos (Low-carb), muito popu-
lares nos EUA, são um produto para pessoas que decidem fazer dietas sem consumo de carboidratos.
Entretanto, estas cervejas não devem ser confundidas com as cervejas leves (light) que possuem um
menor conteúdo de álcool e calorias, mas apresentam carboidratos na sua composição. As cervejas baixas
em carboidratos são produzidas nos EUA para consumidores desejosos de um estilo de vida saudável,
mas pode ter outros consumidores, como na Alemanha, que é elaborada para pessoas com diabetes
(BURBERG; ZARNKOW, 2009). Os autores relatam que o método de mosturação empregado deve
conseguir um grau de atenuação aparente do mosto, superior a 100%. Neste processo, as temperaturas
da mosturação, fundamentalmente entre 55 e 62 °C, são mantidas por um longo período de tempo,
até a inativação das enzimas. Quando não se deve cumprir a lei de pureza alemã, podem-se utilizar
enzimas exógenas para facilitar o processo (ver tópico Coadjuvantes de Tecnologia, Unidade I). Como
nestas cervejas a levedura utiliza todos os carboidratos, a concentração alcoólica é elevada; ao final, o
produto deve ser diluído ou, ainda, começar a fermentação com concentrações menores de extrato.
Uma quantidade relativamente grande de pessoas sem perda de suas características específicas. Fa-
não pode beber as cervejas convencionais, por- tos desfavoráveis podem ser uma menor aceitação
que não conseguem digerir o glúten, que é uma pelo consumidor e o fato de que essas cervejas não
proteína encontrada em grãos, como a cevada, o correspondem à Lei de pureza alemã (BURBERG;
trigo e o centeio. Esta indisposição é chamada de ZARNKOW, 2009).
doença celíaca e difere entre as populações. Na Para a obtenção de cervejas sem glúten,
Irlanda, atinge, aproximadamente, 1 de cada 300 também se pode utilizar matérias-primas li-
habitante; em Berlim, 1 a cada 2.700 habitantes; vres deste, como açúcares e algumas fontes de
entretanto, em Inglaterra, só 1 a cada 15.000 ha- amido (BURBERG; ZARNKOW, 2009). Exis-
bitantes (BURBERG; ZARNKOW, 2009). tem matérias-primas ricas em açúcares que não
Os autores explicam que existem cinco estra- possuem glúten, como o mel, o açúcar e alguns
tégias diferentes para a produção de cervejas sem xaropes, e podem ser utilizadas para elaborar
glúten e que também pode ser aplicada de forma cerveja. Quando se trabalha com estes materiais,
combinada. No entanto, o processo de produção as desvantagens são que se deve utilizar algum
completo deve ser executado com muito cuidado suplemento para a nutrição da levedura e que as
para evitar a contaminação com material conten- cervejas obtidas podem ter afetada a qualidade
do glúten. Inclusive, a levedura deve ser cultivada da espuma e do corpo.
em mosto livre de glúten. As estratégias podem ser Outra maneira de produzir cervejas sem glú-
divididas em: matéria-prima convencional com ten é a utilização de grãos ricos em carboidratos,
glúten e matéria-prima livre de glúten. que não contêm glúten alergênico e podem ser
Quando se trabalha com matéria-prima con- consumidos por pacientes que sofrem a doen-
vencional com glúten, uma solução é a modifi- ça celíaca. Estas matérias-primas podem ser os
cação genética do grão de cevada. Este método pseudocereais, como o amaranto (Amaranthus
pode ter dificuldades para sua aplicação, porque hypochondriacus), o trigo sarraceno (Fagopyrum
pode deteriorar outras proteínas do malte e causar esculentum) e a quinoa (Chenopodium quinoa);
problemas na espuma e o corpo da cerveja, além e, também, cereais como o sorgo (Sorghum bi-
de que o uso de grãos modificados geneticamente colour), o painço (Panicum miliaceum, Setaria
é proibido em alguns países. Para reduzir o con- italica etc.), o milho (Zea Corn) e o arroz (Oryza
teúdo de glúten nas matérias-primas (malte de sativa). Burgerg e Zarnkow (2009) confirmam
cevada, malte de trigo etc.), outro método pode que o uso destes grãos crus tem as vantagens da
ser a utilização de enzimas. Por um lado, levedu- facilidade de aquisição e o preço; entretanto, a fal-
ras geneticamente modificadas são capazes de ta de enzimas amilolíticas pode acarretar o uso de
sintetizar enzimas específicas para este fim; por enzimas exógenas para a sacarificação do amido.
outro lado, a enzima exógena transglutaminase Outra forma de usar estes cereais e pseudocereais
também pode ser adicionada para modificar a seria a obtenção de seus maltes, que, embora mais
fração do glúten. Em ambos os casos, esses pro- custosos, agregaria poder enzimático à matéria-
cedimentos têm a vantagem de que praticamente -prima e uma maior qualidade ao produto termi-
todos os tipos de cerveja podem ser produzidos nado (BURBERG; ZARNKOW, 2009).
UNIDADE 2 67
Mostos Concentrados
Na Figura 2, é apresentado um fluxograma da etapa de diluição das cervejas elaboradas com mostos
concentrados (KUNZE, 2004).
2
6
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3
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10
4
5 9 7
3
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UNIDADE 2 69
Embora a elaboração de mostos concentrados tenha diversas van-
tagens, inevitavelmente, tem desvantagens, tais como:
• Devido à maior concentração do mosto (aumento da propor-
ção de carboidratos em relação à água), há uma diminuição
da eficiência na extração das matérias-primas na sala de
cozimento. Esse problema pode ser superado pelo uso de
filtros prensas para a clarificação do mosto ou pela adição
de xaropes na tina de fervura.
• O mosto concentrado resulta em menor utilização do lú-
pulo na fervura. Este problema pode ser mitigado pelo uso
de extratos de lúpulo na tina de fervura e/ou no final da
fermentação.
• Uma das principais desvantagens do processo de fermenta-
ção de mostos concentrados é a redução da estabilidade da
espuma na cerveja final diluída. A principal razão para isso
é a maior perda de polipeptídeos hidrofóbicos do mosto,
durante o processo de fermentação. Esse problema pode
ser parcialmente superado pelo uso de extratos de lúpulo, a
adição de malte de trigo e o aumento da lavagem do bagaço
no equipamento de clarificação.
• Quando se elaboram cervejas com mostos concentrados,
existem dificuldades em se obter um sabor similar das cerve-
jas diluídas ao das cervejas feitas a partir de mostos com con-
centrações convencionais. Isso se deve à formação de ésteres
(sobretudo o acetato de etila e o acetato de isoamila) que são
formados durante a fermentação e, nas cervejas elaboradas
com mostos concentrados, aumentam significativamente.
• Na tecnologia de mostos concentrados, o desempenho da
levedura é profundamente influenciado, com efeitos nega-
tivos na fermentação, floculação e no número de ciclos de
reutilização da levedura.
• A fermentação de mostos concentrados exige maiores níveis
de oxigênio dissolvido no início da etapa, juntamente com
uma maior concentração de levedura.
• Finalmente, a água de diluição deve conter um baixo nível
de oxigênio dissolvido.
UNIDADE 2 71
Outra associação de referência enquanto metodologia de análises para matérias-primas e produtos
na indústria cervejeira é a American Society of Brewing Chemist (ASBC). A ASBC é uma organização
profissional de cientistas e profissionais técnicos da indústria cervejeira, que foi fundada nos Estados
Unidos em 1934, com o objetivo de melhorar e padronizar o nível técnico dos cervejeiros. Tanto a
EBC como ASBC proporcionam métodos analíticos padronizados para análises das matérias-primas,
produtos e outros materiais utilizados nas cervejarias. A maioria das técnicas dos resultados das aná-
lises são oferecidos em unidades de medidas similares, com a exceção da cor, que a ASBC refere em
graus SRM e a EBC em unidades EBC de cor. A seguir, explicamos como converter de uma em outra.
A ASBC apresenta a seguinte equação para a obtenção da cor por uma técnica, medindo a absor-
bância a 430 nm, em cubetas de 10 mm (ASBC, 1996).
Cor = 10 (A ½)
Cor = 10 (A x 1,27)
A EBC apresenta a seguinte equação para a obtenção de cor por uma técnica, também medindo a
absorbância a 430 nm, em cubetas de 10 mm (EBC, 2005).
Em que f é o fator de diluição. Como no cálculo da ASBC não foi considerada diluição, neste caso será
1 e com uma absorbância de 0,31 fica da seguinte forma:
Outro aspecto a avaliar são as unidades de medidas, que são diferentes o sistema americano do europeu.
A Tabela 1 apresenta alguns fatores de conversão.
Barris de cerveja a
31,0 g a libras 0,0022
galões (E.U.)
Barris de cerveja a
1,1734 g a onça 0,0353
hectolitros
Barris de cerveja
1,373 g/L a g/galão (E.U.) 3,785
(imp.) a barris (E.U.)
Barris de cerveja
0,728 g/L a g/galão (imp.) 4,546
(E.U.) a barris (imp.)
Barris de cerveja
26,23 hL a barris de cerveja 0,8522
(E.U.) a galões (imp.)
Barris de cerveja
43,23 hL a litros 100,0
(imp.) a galões (E.U.)
Barris de cerveja
36,0 kg a libras 2,204
(imp.) a galões (imp.)
ppm de O2 a mL de ar por
L a g de CO2 1,976 0,10338
onça (EU)
UNIDADE 2 73
Tabela 2 - Tabela de Goldiner e Klemann
g/100 g ρ 20°/4° g/100 mL g/100 g ρ 20°/4° g/100 mL
1 EXEMPLO
Pode-se observar que não se pode efetuar o cálculo. Utilizando a Tabela de Goldiner e Klemann,
conseguimos o dado necessário. Entrando na coluna da concentração m/m, procuramos o dado da
concentração m/v. O cálculo fica assim:
Conhecendo a massa de extrato, o cervejeiro pode calcular diferentes parâmetros de grande impor-
tância para seu trabalho, que serão vistos em outros tópicos desta unidade.
A Tabela 3 apresenta as características de diferentes tipos de maltes. A umidade tem uma grande
influência na germinação da cevada, porque todos os processos que acontecem nessa etapa dependem
de uma adequada umidade do grão (PALMER, 2018). O autor comenta que, depois da germinação, o
malte é seco, reduzindo o conteúdo de umidade no grão em média de 43% até, aproximadamente, 5%.
Esta operação facilita a estabilidade do grão, permitindo extensos períodos de estocagem.
Conforme Kunze (2004), a medição do rendimen- A diferença de rendimentos do malte, entre moa-
to do extrato em peso seco é uma das característi- gem fina e grossa, é um parâmetro importante
cas mais importantes do malte e não depende da desta matéria-prima. Entretanto, quanto mais
umidade do grão. Os maltes claros apresentam fina seja a moagem, maior é o rendimento, por-
valores de extrato entre 79 e 82%; entretanto, os que aumenta a superfície de contato e, assim, a
valores nesse quesito para os maltes escuros es- diluição dos compostos do malte. Porém, quando
tão entre 75 e 78%. O autor ainda comenta que o equipamento de clarificação do mosto é uma
os valores mais elevados pertencem aos maltes tina de filtração, a moagem deve ser grossa, para
melhores modificados. garantir a casca do malte mais inteira possível e
conseguir a formação de uma boa camada fil-
trante. Quando o equipamento de clarificação
é um mash filter, pode-se aplicar moagem fina,
conseguindo um maior rendimento do malte.
UNIDADE 2 75
Na indústria, a etapa de moagem dos grãos facili- bidez na bebida. Por estas razões que é importante
ta uma boa diluição dos compostos do malte no conhecer o nível de proteínas solúveis do malte,
processo cervejeiro e, em dependência do equipa- informação que pode ser obtida na análise do
mento de filtração do mosto, a moagem dos grãos índice de Kolbach, que é a relação entre proteína
pode ser fina ou grossa. Por isto, a importância da solúvel e proteína total no malte.
análise para determinar a diferença do rendimen- A friabilidade é a facilidade de moagem do
to dos mostos obtidos com a moagem grossa e malte e é uma guia útil da modificação do grão.
fina que, segundo Kunze (2004), deve ser a menor Entretanto, este parâmetro depende da variedade
possível. Valores até 1,8% são considerados bons, da cevada, contido de umidade, tamanho e forma
acima deste se considera moderados. do grão, espessura da casca e conteúdo de proteí-
Muitas das características do malte são de- nas (FREEMAN, 2002). Conforme o autor, um
terminadas com a elaboração de um mosto com parâmetro mais útil é a homogeneidade porque
parâmetros definidos, denominado de mosto determina a porcentagem da sêmola sem facili-
congresso (KUNZE, 2004). Entre estas análises, dade para ser moída.
encontra-se a cor do mosto que dá uma medida Outro parâmetro analisado nos maltes é a por-
dos tipos de maltes que foram usados assim como centagem de grãos não modificados que, confor-
da cor com que deve ficar a cerveja. me Kunze (2004), a fração não deve exceder 2%.
O poder diastásico (PD) é uma medição da ca- Um outro parâmetro analisado é a fermentabili-
pacidade das enzimas α e β amilases de degradar dade, que representa a porcentagem do extrato
o amido. A enzima α amilase também pode ser que pode ser utilizado pela levedura, na etapa de
medida separadamente e os cervejeiros exigem fermentação.
níveis mínimos de ambos quesitos às maltearias A Tabela 4 apresenta a composição química
(FREEMAN, 2002). Conforme o autor, o PD está do lúpulo em flor. Conforme Roberts e Falconer
associado ao tipo de cevada, ao nível de proteínas (2018), com o surgimento das novas variedades de
do grão, ao grau de modificação do malte e às lúpulo, a porcentagem de resinas pode duplicar a
condições de secagem. apresentada na tabela. No lúpulo fresco, as resinas
A quantidade de proteínas, que é solubilizada são formadas fundamentalmente pelos α-ácidos
no mosto cervejeiro na etapa de mosturação, é in- (cohumulonas, humulonas e adhumulonas) e os
fluenciada pelo nível de proteínas e a modificação β-ácidos (colupulonas, lupulonas e adlupulonas).
do malte. As proteínas solúveis são importantes Os α-ácidos e os β-ácidos são responsáveis por
para a formação da cor do mosto, a nutrição da conferir o amargor na cerveja. Este parâmetro é
levedura, assim como para a formação da espuma definido como o potencial de amargor e, nos lau-
e a sensação do corpo na cerveja (FREEMAN, dos, é apontado como a porcentagem (%), sendo
2002). O autor sinaliza como desvantagem o ex- o principal parâmetro dos lúpulos. Este é deter-
cesso de proteínas solúveis, que pode causar tur- minado como mostrado a seguir:
UNIDADE 2 77
Balanços de
Massa e Energia
Os balanços de massas são importantes ao projetar um novo processo ou ao analisar um existente. Eles
são sempre pré-requisito para todos os cálculos na solução de problemas de engenharia de processos,
com aplicações para calcular os fluxos de massa diferentes que entram ou saem de processos químicos
ou físicos (GHASEM; HENDA, 2015).
Os balanços de massas se baseiam na lei de conservação da massa, que afirma que ela não pode ser
criada nem destruída (GHASEM; HENDA, 2015). Assim, por exemplo, você não pode especificar
a entrada em uma tina de mosturação de 1 tonelada da soma de malte e água e obter uma saída de 2
toneladas da soma do mosto e bagaço de malte. Uma tonelada da entrada total de material fornecerá
apenas 1 tonelada do produto total, ou seja,
Conforme Ghasem e Henda (2015), a forma mais simples de um balanço de massa é para sistemas
em que não há acúmulo nem consumo de materiais. Para esses sistemas, os problemas de balanço de
massa têm um tema padrão: conhecendo alguns dos fluxos de massa de entrada e saída, podem-se
calcular os fluxos restantes. Conforme as autoras, o balanço de massa de um sistema pode ser escrito
em termos dos seguintes fluxos: massa total (ou moles), massa (ou moles) de um composto químico,
massa (ou moles) de uma espécie atômica. Para aplicar o balanço de massa, é necessário definir o sistema
e os fluxos de interesse. A Figura 3 apresenta o diagrama de um sistema que é uma região do espaço
definida (limites do sistema) e pode ser uma única unidade de processo, uma coleção de unidades de
processo ou um processo inteiro. A expressão geral de um balanço de massa assume a seguinte forma:
Onde:
• Massa acumulada: é a quantidade de material acumulado dentro do sistema.
• Massa de entrada: é o material que entra no sistema cruzando os limites deste.
• Massa de saída: é o material que sai do sistema cruzando o limite deste.
• Massas geradas e consumidas: são os materiais produzido e utilizados por reação química
dentro do sistema.
UNIDADE 2 79
Limites do sistema
Os processos podem ser classificados como contí- Ainda segundo as autoras, uma maneira con-
nuo, semicontínuo ou por batelada. Um processo veniente de organizar informações do processo
contínuo se refere a um processo em que os fluxos para cálculos subsequentes é a elaboração de um
de alimentação e produto entram e saem do sis- fluxograma. Para obter o máximo benefício do
tema o tempo todo. No processo por batelada, o fluxograma nos cálculos de balanço de massa, é
conteúdo do material é carregado no sistema de necessário escrever os valores e unidades de todas
uma só vez, os produtos são retirados em momen- as variáveis conhecidas dos fluxos no gráfico. Atri-
tos específicos. O processo semicontínuo é aquele bua símbolos às variáveis do fluxo desconhecidas
que possui algumas características de processos e suas unidades associadas no gráfico. A seguinte
contínuos e outras do de batelada. Por exemplo, notação é usada, por exemplo, m (massa), m (vazão
os fluxos de entrada no processo são tratados por mássica), n (moles), n (vazão molar), V (volume),
bateladas, enquanto os fluxos de saída saem do V (vazão volumétrica), x (frações de componentes
processo continuamente e vice-versa (GHASEM; (massa ou massa molar), em fluxos de líquidos) e y
HENDA, 2015). (frações de componentes em fluxos de gás).
A
m2
2 B
C
A m1
B 1 Coluna de destilação
C
m3 B
3
C
B: mB ,1 mB ,2 mB ,3
C: mC ,1 mC ,2 mC ,3
UNIDADE 2 81
3 EXEMPLO
m1 = 100 kg
m4 A = 75 kg
A
E = 9 kg
E
m3 A
Ao analisar, um mosto com 10 °P possui 10% da massa de extrato (E) e 90% de água (A). Desta forma,
na m1 entram 90 kg de água e 10 kg de extrato. Ao fazer o balaço de massa por componente, fica:
A: m A,1 m A,2 � m A,3 � m A,4
Desenvolvendo em A:
m A,3 m A,1 � m A,2 � m A,4 � 90kg 10kg 75kg 5kg
�
Desenvolvendo em E:
mE ,3 mE ,1 � mE� ,4 10kg 9kg 1kg
Ou
m3 m A,3 � mE ,3 5kg 1kg 6kg
Balanço de Energia
Semelhante aos balanços de massa, um balanço de terna. Embora a energia não possa ser criada ou
energia é importante para resolver muitos proble- destruída, ela pode ser convertida de uma forma
mas (GHASEM; HENDA, 2015). As autoras co- para outra. A energia também pode ser transferida
mentam que, uma vez definido um sistema, tudo de um ponto para outro ou de um corpo para
o que é externo é chamado de ambiente. Toda outro. A transferência de energia pode ocorrer por
energia e material que são transferidos para fora fluxo de calor, transporte de massa ou execução de
do sistema entram no ambiente e vice-versa. Um trabalho. A primeira lei da termodinâmica é uma
sistema isolado é um sistema que não troca calor, declaração de conservação de energia e o balanço
trabalho ou material com o ambiente. Um sistema geral de energia para um processo termodinâmico
fechado é um sistema no qual calor e trabalho são pode ser expresso em equações, pois o acúmulo
trocados por meio de seus limites, mas o material de energia em um sistema é igual à entrada de
não é. Um sistema aberto pode trocar calor, tra- energia no sistema menos a saída de energia do
balho e material com o ambiente. sistema (GHASEM; HENDA, 2015).
A energia é frequentemente classificada como Nos sistemas fechados, a energia pode sair dos
energia cinética, energia potencial e energia in- limites na forma de calor e trabalho (Figura 6).
Limite do sistema
Calor
Sistema fechado
m = constante
Trabalho
UNIDADE 2 83
Conforme Ghasem e Henda (2015), o balanço de energia de um sistema é usado para determinar a
quantidade de energia que flui para dentro ou para fora do processo, calcular a necessidade de energia
que precisa o processo e avaliar maneiras de reduzir os requerimentos de energia para melhorar a
rentabilidade e eficiência do processo. O balanço de energia de um sistema fechado assume a forma:
Q W ∆U ∆ KE ∆PE
Em que:
• Q = Calor.
• W = Trabalho.
• U = Energia interna.
• KE = Energia cinética.
• PE = Energia potencial.
O calor (Q) é a energia que flui devido a uma Trabalho (W) é a energia que flui em resposta à
diferença de temperatura entre o sistema e seus qualquer força motriz (por exemplo, força apli-
arredores e sempre flui de regiões em altas tem- cada, torque) que não seja a temperatura e é
peraturas para regiões em baixas temperaturas. definida como positiva se fluir do sistema (isto
O calor é definido como positivo se fluir para um é, trabalho realizado pelo sistema). Em proces-
sistema (isto é, ganho). Em sistemas sem troca sos químicos, o trabalho pode, por exemplo,
de calor significativa com o ambiente, Q = 0, esse provir de bombas, compressores, pistões em
sistema é considerado adiabático. A ausência de movimento e turbinas em movimento. Calor ou
qualquer transferência de calor pode ser devido trabalho se refere apenas à energia que está
ao perfeito isolamento térmico do sistema ou sendo transferida para ou a partir do sistema.
ao fato de que os arredores se encontram na Se não houver movimento ao longo do limite do
mesma temperatura. sistema, então W = 0.
Fonte: Ghasem e Henda (2015, p. 249). Fonte: Ghasem e Henda (2015, p. 249).
ment msai
SISTEMA
KEent, PEent 1 2 KEsai, PEsai
ABERTO
Uent, Pent, Vent Usai, Psai, Vsai
Q W
Figura 7 – Balanço de energia em sistema aberto
Fonte: adaptada de Ghasem e Henda (2015).
DH DKE DPE Q WS
Em que:
• H = Entalpia.
• Ws = Trabalho do eixo, é a taxa de trabalho realizado pelo fluido em uma
parte móvel dentro do sistema (por exemplo, pistão, turbina e rotor).
UNIDADE 2 85
4 EXEMPLO
Trocador de calor
Figura 8 – Diagrama de um trocador de calor
Fonte: adaptada de Ghasem e Henda (2015).
DH DKE DPE Q WS
Q DH H sai � H ent
DH m Dh
Q m Dh m hsai hent
Colocando os valores:
kg kJ kJ
Q 60 417, 5 2875 147, 45
h kg h
O valor da transferência de calor é negativo, isto é o calor transferido para aumentar ou diminuir
é, o calor é transferido do sistema (vapor) para o a temperatura de um material na ausência de mu-
ambiente (água fria). dança de fase. Nos cálculos do balanço energéti-
Conforme Ghasem e Henda (2015), mudanças co, a mudança de calor sensível é determinada
na entalpia podem ocorrer devido a mudanças de usando uma propriedade da matéria chamada
temperatura, mudanças de fase ou reações entre capacidade calorífica à pressão constante (Cp),
soluções e reagentes. em que as unidades de medidas são J/mol/K ou
Nas mudanças da entalpia pela temperatura, o cal/g/°C. Quando o Cp é constante, a equação da
calor sensível é um parâmetro fundamental. Este mudança de entalpia fica:
DH m Cp DT
UNIDADE 2 87
5 EXEMPLO
DH DKE DPE Q WS
DH = Q
DH m Cp DT
kcal
Q m Cp DT 100kg 1 78C 25C 5300kcal
kg C
UNIDADE 2 89
A massa de grãos é obtida pela massa registrada na balança. A concentração de extrato é analisada em den-
símetro, que é calibrado a 20 °C, e quando a temperatura do mosto não é essa, é feita a correção (KUNZE,
2004). Posteriormente, a concentração m/m é transformada em concentração m/v, com a seguinte equação:
kg kg kg
Cext C r� relativa
hL 100kg hL
6 EXEMPLO
kg kg kg kg
Cext 10 103, 814 10, 38
hL 100kg hL hL
kg kg kg kg
Cext 12 104, 646 12, 56
hL 100kg hL hL
Pode-se observar, na Tabela 2, os valores das densidades relativas e das concentrações m/v. Dessa
forma, pode-se comprovar a importância da Tabela de Goldinner e Klemann, em que, partindo da
concentração m/m, pode-se obter a concentração m/v, sem ter que fazer o cálculo anterior.
Conforme Kunze (2004), outro passo para obter o rendimento da sala de cozimento é a conversão
do volume de mosto quente em mosto a 20 °C. O autor confirma que o mosto resfriado da fervura
até os 20 °C contrai-se 4%, pois o volume quente deve ser multiplicado por 0,96 para obter o volume
de mosto a 20 °C.
Ainda conforme o autor, para obter a massa de extrato contida no mosto (no final da fervura) a
expressão é a seguinte:
mext Cext r 0, 96 V
Em que:
mext - Massa de extrato (kg).
Cext - Concentração de extrato (kg/100kg).
ρ - Densidade relativa 20/4 °C (hL/kg).
V - Volume de mosto (hL).
Conhecendo a massa de extrato, então, pode-se calcular o rendimento da sala de cozimento, que fica:
YSC
mext 100%
mgr
7 EXEMPLO
YSC
mext 100% 72, 66kg 100% 72, 66%
mgr 100kg
Estimado aluno(a), já conhecemos como calcular o rendimento da sala de cozimento, mas este resultado
é bom? A gente obteve o rendimento máximo possível? Para isto, precisamos calcular a eficiência do
processo, que é a comparação do rendimento obtido e o rendimento teórico. A expressão fica assim:
Ysc 100%
ɳ
Yt
Em que:
ɳ - Eficiência do processo (%).
Yt - Rendimento teórico (%).
Para conhecer o rendimento teórico, pegamos como exemplo o malte Lager da Tabela 3. Nesta, o malte
Lager tem os seguintes parâmetros: umidade (4%), extrato (81%) e diferença de moagem grossa/fina
(1,5%). Assumindo moagem grossa, o rendimento teórico fica assim:
Em que:
Ext - Extrato do malte, moagem fina e seca (%)
Dif moag - Diferença de moagem (%).
Fms - Fração de malte seco (%).
UNIDADE 2 91
No caso da moagem ser fina, a diferença de moagem é tirada da equação anterior. Com o dado do
rendimento da sala de cozimento do Exemplo 7, calculamos a eficiência desse processo:
Ysc 100% 72, 66% 100%
ɳ 95, 20%
Yt 76, 32%
Com uma eficiência de 95,20%, a perda do processo foi de 4,8%. Pode-se observar que a porcentagem
perdida é calculada restando a eficiência de 100%.
Estimado aluno(a), já conhecemos como calcular rendimentos, eficiências e perdas. Estes parâmetros
foram calculados para a sala de cozimento, mas tem outras etapas, então, como realizar estes cálculos?
Eles podem ser desenvolvidos conhecendo a concentração de extrato original da cerveja em questão e,
para isso, aproveitamos a equação a seguir, apresentada por Kunze (2004), para calcular a massa de extrato.
mext Cext r 0, 96 V
Devemos fazer os cálculos com a concentração corrigida à temperatura de 20 °C, pois o fator 0,96 é
tirado da equação:
mext Cext V r
8 EXEMPLO
Ao calcular, comprova-se que foram perdidos na etapa analisada um total de 8 kg de extrato, que repre-
sentam 5% do total. Esta metodologia pode ser aplicada para as diferentes etapas, conhecendo, dessa
forma, as perdas e, assim, poder desenvolver procedimentos para melhorar a eficiência do processo.
UNIDADE 2 93
Cálculo da Quantidade de Água
14 1/0,7
16 1/1,2
18 1/1,2
20 1/1,5
22 1/1,9
Fonte: Kunze (2004, p. 256).
A gama de produtos de lúpulo é variada, oferecendo ao cervejeiro Conforme Kunze (2004), a con-
a oportunidade de produzir cervejas de diferentes tipos e sabores. centração do mosto, além da
A seleção da variedade e produto do lúpulo depende dos seguintes quantidade de água, depende
critérios: nível de amargor, sabor e aroma do lúpulo, estabilidade da quantidade de malte. Para
do sabor e estabilidade da espuma (ROBERTS; FALCONER, 2018). calcular a quantidade de malte,
Conforme os autores, podem ser utilizadas diferentes variedades faremos um balanço utilizando
de lúpulos, assim como serem adicionadas em diferentes partes do como base a equação para cal-
processo. A utilização do lúpulo depende da diluição dos α-ácidos cular a massa de extrato apre-
e é calculada com a seguinte equação. sentada pelo autor.
Massa � deiso
� � a ácidos � no
� mosto
%utilização 100 mext Cext r 0, 96 V
Massa � de
� a � ácidos � no
� mosto
Segundo Roberts e Falconer (2018), é muito importante o correto Desenvolvendo os cálculos
cálculo da quantidade de lúpulo a ser adicionada. Os autores utili- com o mosto na temperatura
zam a seguinte expressão para este fim: de 20°C, é tirado o fator de 0,96
IBU d mg / L V L da equação.
ml mg Para começar o balanço,
%util %α ácid
devemos definir o produto a
Em que: analisar, o volume e a concen-
ml - Massa de lúpulo. tração original deste, e os tipos
IBUd - Unidades de amargor desejadas na cerveja. de maltes e suas características.
V - Volume de cerveja. Deve-se levar em conta os ren-
%util - Porcentagem de utilização. dimentos dos maltes e as efi-
%αácid - Porcentagem de α-ácidos do lúpulo. ciências das diferentes etapas do
processo cervejeiro. Para obter
Roberts e Falconer (2018) acreditam, embora não desejado, que os fatores de eficiência, utili-
se pode errar no cálculo das adições pela mistura das unidades de zamos a Tabela 6, apresentada
medidas e, por isto, a fórmula acima pode ser reescrita para poder por Flad (2009), que amostra
obter a massa de lúpulo em quilogramas: as porcentagens das perdas dos
volumes de mosto/cerveja nas
IBU d mg / L 10 6 102 V hL diferentes etapas do processo
ml kg
%util %α ácid cervejeiro, assim como os fato-
res de eficiência até o parâmetro
da cerveja vendida.
UNIDADE 2 95
Flad (2009) confirma que os fatores de perdas fornecidos são baseados em valores empíricos obti-
dos em diferentes cervejarias, e que é evidente que diferentes tecnologias podem produzir valores de
perdas distintas (por exemplo, fermentação de mostos concentrados).
Outra forma de ver as perdas é calculando-as e tendo um histórico destas para cada um dos produtos
da sua cervejaria. Em caso de receitas novas, podem-se assumir valores e ir ajustando-as na medida
em que são desenvolvidos os lotes.
Tabela 6 - Perdas de produto no processo cervejeiro
Etapas do Processo Perdas (%) Fator
Desde Para
Cozinha Fermentação 4,0 0,920
Fermentação Maturação 1,0 0,960
Maturação Filtração 1,0 0,970
Filtração Tanque pulmão 1,0 0,980
Tanque pulmão Planta de envase 0,5 0,990
Planta de envase Cerveja vendida 0,5 0,995
Cozinha Cerveja vendida 8,0 0,920
Fonte: Flad (2009, p. 563).
Com estas informações, podemos, então, desenvolver uma equação para determinar a massa de malte.
1 1
mm V r Cext
Frm Fep
Em que:
Frm - Fração do rendimento do malte.
Fep - Fração da eficiência do processo.
• A concentração original da cerveja é de 15 °P. Ela possui um amargor de 50 IBU (45 IBU do
lúpulo Zeus e 5 IBU do lúpulo Cascade).
• A receita possui 60% de malte Pale Ale, 35% de malte Pilsen e 5% de malte Cara Gold. Na Tabela
7, são apresentadas algumas das características dos maltes.
• Os lúpulos utilizados são o Zeus e o Cascade com 11,4% e 4,5% de rendimento, respectivamen-
te. Por dados de lotes anteriores, sabe-se que o lúpulo Zeus, quando usado por 60 minutos de
fervura, tem 30% de aproveitamento. O lúpulo Cascade, quando utilizado por 10 minutos de
fervura, possui um 7% de aproveitamento.
• A moagem dos maltes é feita em moinho de rolos (moagem grossa). A eficiência histórica do
processo é de 91%.
Tabela 7 - Características dos maltes
UNIDADE 2 97
Cálculo da massa de malte.
Como são utilizados mais de um tipo de malte, na equação, adicionamos o fator da fração da por-
centagem de utilização do malte (F%m).
1 1
mm V r Cext F% m
Frm Fep
kg kg 1 1
mm 360hL 105, 917 15 0, 6 4.998, 5kg
hL 100kg 0, 75445 0, 91
Malte Pilsen
Yt 81 1, 5 0, 96 76, 32%
kg kg 1 1
mm 360hL 105, 917 15 0, 35 2.882, 4 kg
hL 100kg 0, 7632 0, 91
Malte Cara Gold
Yt 78 2 0, 93 70, 68%
kg kg 1 1
mm 360hL 105, 917 15 0, 05 444, 6kg
hL 100kg 0, 7068 0, 91
Lúpulo Zeus.
IBU d mg / L 10 6 102 V hL
ml kg
%util %α ácid
mg
10 10 395, 6 hL
6 2
45
L
ml kg 52, 1� kg
0, 3 0, 114
Lúpulo Cascade
mg
10 10 395, 6 hL
6 2
5
L
ml kg 62, 8 � kg
0, 07 0, 045
Estimado(a) aluno(a), nesta unidade, estudamos tecnologias para elaborar diferentes tipos de cervejas
especiais. Foram estudadas tecnologias para elaborar cervejas sem glúten, cervejas sem etanol e cervejas
a partir de mostos concentrados. Também foram proporcionados elementos sobre como desenvolver
diferentes tipos de cálculos. Vimos como calcular o rendimento e a eficiência de um processo produ-
tivo, como desenvolver balanços de massa e energia e como calcular as matérias-primas necessárias
para elaborar nossos produtos.
UNIDADE 2 99
Você pode utilizar seu diário de bordo para a resolução.
100
LIVRO
LIVRO
101
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102
1. A.
2. kg kg kg kg
Cext 20 108, 096 21, 62
hL 100kg hL hL
kg kg kg kg
Cext 17 106, 779 18,15
hL 100kg hL hL
3.
kg kg
mext Cext ρ V 17 106, 779 13hL 236, 0kg
100kg hL
YSC
mext 100% 236, 0kg 100% 78, 67%
mgr 300kg
103
104
105
106
Me. Paulo Otávio Fioroto
Operações Unitárias
PLANO DE ESTUDOS
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
• Descrever as condições e os mecanismos utilizados para • Fornecer os conhecimentos dos mecanismos de transfe-
a desintegração e separação mecânica. rência de calor e suas aplicações.
• Discorrer sobre os conhecimentos e aplicações da agita- • Apresentar os fundamentos da transferência de massa e
ção e mistura dos fluidos. suas aplicações.
• Partilhar os fundamentos do escoamento de fluidos e sua
utilidade na indústria.
Desintegração e
Separação Mecânica
UNIDADE 3 109
comentado anteriormente, partículas menores tendem a gerar pro- Há mais fatores, intrínsecos
cessos mais rápidos, além de evitarem entupimentos. O motivo pelo à própria matéria-prima que
qual não se desintegra os grãos sempre até o menor valor possível é influenciam no gasto energéti-
devido às perdas: quanto menor a granulometria dos grãos gerados, co, como a dureza, enquanto há
maiores tendem a ser as perdas durante o próprio processo. parâmetros ambientais, como
a temperatura e a umidade,
que também afetam o proces-
so – estes, porém, podem ser
manipulados durante o proces-
samento.
Materiais muito duros ten-
dem a gerar um maior desgaste
das máquinas, o que irá dimi-
nuir rapidamente seu rendi-
mento, além de aumentos no
consumo de energia (BAR-
BOSA, 2015). Os efeitos não
costumam ser significativos já
no início das operações, mas a
Figura 1 - Moedor simples de grãos em atividade
influência a longo prazo tende
a ser grande. Quanto maior a
Diversos aspectos devem ser levados em conta para que o equipa- dureza, maior a necessidade de
mento a ser usado no processo de desintegração seja escolhido e para força a ser aplicada na desinte-
que, consequentemente, ela possa ser adequadamente realizada. A gração – o que exige equipa-
energia a ser usada irá depender diretamente da matéria-prima em mentos mais potentes.
si e do tamanho que se deseja obter para a partícula final - quanto Também se deve conside-
menores forem os fragmentos desejados, maior será o gasto energé- rar a estrutura do material a
tico, visto que as pequenas dimensões deles dificultam sua quebra. ser quebrado. Enquanto ma-
teriais como carvão ou ro-
chas são triturados com base
em forças de compressão e de
impacto, os materiais fibro-
De forma simplificada, a dureza se trata de uma propriedade es- sos podem ser desintegrados
pecífica de cada material, a qual indica o quanto ele é resistente com base no rompimento
à diminuição de tamanho. A dureza é medida por meio da escala (BARBOSA, 2015). Também
de Mohs, que divide os níveis em escalas de 1 a 10, sendo 1 para se deve considerar a umidade
materiais macios e 10 para materiais muito duros. A maioria dos do material e sua resistência
produtos alimentícios é considerada macia, sendo posicionadas ao esmagamento, principal-
nos níveis 1 e 2, ou seja, de fácil redução de tamanho. mente no momento da esco-
Fonte: adaptado de Tadini et al. (2018). lha do melhor equipamento
para cada situação.
UNIDADE 3 111
com os critérios desejados, ficará retida no meio
do caminho, podendo ser reaproveitada em algu-
mas situações. Caso o aspecto de interesse sejam
as dimensões delas, então, é possível usar uma
peneira.
Peneiramento
UNIDADE 3 113
Agitação
e Mistura
Apesar dos dois processos ocor- Como dito anteriormente, os equipamentos para realização da agi-
rerem de forma similar, cada tação e da mistura são os mesmos ou, ao menos, são muito similares
um tem sua própria finalidade. em sua estrutura.
A agitação tem como principal Em todos os casos, além de um recipiente para que os materiais
motivação a aceleração dos pro- envolvidos no processo fiquem alojados, há também a necessidade
cessos – por exemplo, em alguns de um motor que tenha um eixo acoplado e que possua estruturas,
momentos, ela é aplicada para como pás ou hélices, em sua outra extremidade, conforme apre-
acelerar a transferência de ca- sentado na Figura 3.
lor ou a ocorrência de reações
Motor
químicas.
A mistura, apesar de tam- Redutor de velocidade
bém ter como foco a agilização
de determinadas etapas, foca
em unir duas substâncias ou
mais em uma única. Por exem- Eixo
Defletor
plo, auxiliar na dispersão de ga-
ses e de líquidos imiscíveis em Camisa de
Impulso
outros líquidos, numa tentativa aquecimento
ou resfriamento
de formar uma emulsão (TADI-
NI et al., 2018). Válvula de
drenagem
Na indústria cervejeira,
um exemplo da aplicação da
Figura 3 - Estrutura básica de um agitador de pás
agitação ocorre na etapa de Fonte: Tadini et al. (2018, p. 169).
mosturação. No caso, ocorre
imersão de malte moído na Hélices são mais adequadas para situações em que ocorre agitação
água, a qual é aquecida de de fluidos miscíveis ou em que se busca aumentar a transferên-
forma contínua, e a agitação cia de calor envolvida no processo, enquanto agitadores do tipo
tem como intenção justa- turbina são mais adequados para a formação de emulsões ao se
mente fazer com que toda a misturar dois líquidos. Os dois tipos são usados em líquidos com
solução adquira temperatura baixa viscosidade, que se movimentam com maior facilidade e, já
e composição homogêneas, que o mínimo de movimento é suficiente para fazer com que todas
buscando a obtenção de um as moléculas do líquido sejam agitadas, as estruturas não precisam
mosto de melhor qualidade. de todo o diâmetro do tanque, ficando restritas apenas ao centro.
UNIDADE 3 115
limitamos à questão geométri-
ca, pois a vazão de entrada e de
saída de líquidos do interior do
recipiente também deve manter
certa proporção, além, é claro,
das dimensões das pás, hélices
ou turbinas também terem sua
escala devidamente aumentada
(TADINI et al., 2018).
Dessa forma, o cálculo das
proporções se dá pela seme-
lhança geométrica. Se o diâme-
tro do tanque for duplicado, por
exemplo, então o diâmetro das
pás agitadoras também deverá
Figura 4 - Interior de um agitador de pá plana ser duplicado. Caso a altura do
agitador seja triplicada, então a
Agitadores em forma de pás são usados para fluidos mais viscosos altura do tanque também deve-
– isto é, aqueles que apresentam maior resistência ao movimento, já rá ser triplicada.
que, pelo fato das pás terem uma área maior do que as hélices e ocu- Algo deve sempre ficar cla-
parem todo o diâmetro do reservatório, elas acabam por fazer com ro: cada equipamento e cada
que todas as partes do líquido em questão adquiram movimento. tipo de estrutura é específi-
co para diferentes classes de
fluidos. A indústria cervejeira
Desenvolvimento de protótipos trabalha mais frequentemente
com os chamados fluidos new-
Caro(a) aluno(a), caso você atue com o desenvolvimento de maqui- tonianos – aqueles cuja viscosi-
nários relacionados ao processo cervejeiro ou a qualquer outro tipo dade não se altera – e, portanto,
de processo alimentício, tenha em mente que nenhum equipamento seus agitadores e misturadores
de grande porte é construído sem que haja o projeto aprovado de devem ser projetados para flui-
um protótipo em pequena escala. Agitadores e misturadores são dos deste tipo. Em casos nos
exemplos de máquinas que, obrigatoriamente, devem passar por quais são envolvidos fluidos
uma etapa de prototipagem, justamente devido à sua extrema im- não newtonianos, os projetos
portância para o processo. tendem a ser um pouco dife-
A importância de protótipos se dá pelo fato de que, caso ocor- renciados.
ra algum problema com o projeto, as perdas terão sido mínimas, Em nosso próximo tópico,
além de que maquinários em escala menor são muito mais flexí- trataremos de forma mais apro-
veis quando se trata da realização de mudanças, o que ocorre com fundada sobre o escoamento de
frequência em projetos. fluidos e sobre os equipamentos
A versão final do maquinário deve ter as mesmas proporções que que fazem com que eles se mo-
o protótipo, mas em maior escala. E, ao falar de proporções, não nos vimentem pelo processo.
UNIDADE 3 117
Existem duas categorias di- cipiente para o outro. Sendo assim, todos os aspectos referentes
ferentes de bombas. A primeira, ao escoamento devem ser minuciosamente analisados antes do
e mais comum no ramo indus- projeto e cuidados com frequência durante o procedimento, visto
trial, trata das bombas cinéticas, que qualquer problema pode impactar todo o processo restante.
as quais, enquanto ativadas,
geram pressão de forma inin-
terrupta, fazendo com que os Tipos de Escoamento
fluidos escoem continuamente
pelo processo. Sejam newtonianos ou não newtonianos, os fluidos podem escoar
A segunda categoria se refe- de duas formas diferentes: de forma laminar ou de forma turbulenta.
re às bombas volumétricas, que Cada uma das duas tem sua devida importância para as indústrias,
são movimentadas por pistões e incluindo a cervejeira.
deslocam volumes predefinidos Para tornar a diferença entre os dois escoamentos mais clara
de fluidos de cada vez, num pro- possível, imagine que você está abrindo uma torneira vagarosamen-
cesso semelhante ao de encher te. Num primeiro momento, a água irá escoar de forma ordenada,
uma bexiga, em que um indiví- lentamente e sempre numa mesma direção. Entretanto, conforme
duo libera uma quantia de ar, você abrir o registro, verá que o escoamento se tornará mais rápido,
respira brevemente e libera mais mais desorganizado, ao ponto de a água começar a se espalhar por
uma determinada quantidade diversas direções.
de ar. Sendo assim, há uma pe- A primeira forma descrita é o escoamento laminar, em que as
quena pausa entre o escoamen- moléculas de água seguem um caminho praticamente fixo e ordena-
to de um volume e outro. do, enquanto a segunda forma é um escoamento turbulento, quando
Deve-se citar que, em gran- as moléculas se desorganizam e seguem caminhos aleatorizados
des cervejarias, pode ocorrer (FOX et al., 2018). Na Figura 5 é apresentado o caminho de uma
de o mosto não sofrer pressão única molécula em cada um dos dois tipos de fluxos. A intenção é
direta da bomba, sendo usado justamente demonstrar o quanto um fluxo laminar ocorre de forma
um volume de água para “em- mais organizada do que um fluxo turbulento.
purrar” o mosto. Um benefício
desse método é o fato de que a
alta pressão poderia prejudicar
a qualidade do produto em si
e, como essa água praticamen- Padrão de fluxo laminar
te não se mistura ao mosto, ela
acaba protegendo-o da pressão
e evita prejuízos maiores.
Independentemente do tipo
de bomba a ser usado, é fato que,
sem o bombeamento, não é pos-
sível realizar produção em gran-
Padrão de fluxo turbulento
de escala, já que não há como Figura 5 - Exemplos de caminhos percorridos por uma molécula em escoamento
transferir o líquido de um re- laminar e em escoamento turbulento
UNIDADE 3 119
Transferência
de Calor
UNIDADE 3 121
Para o processo cervejeiro, a condução e a último, DT a variação da temperatura, podendo
convecção são as formas mais importantes de ser dada em ºC ou em K.
transferência de calor. Já que toda matéria emite A unidade da grandeza k pode ser dada em
radiação, seria errado dizermos que essa forma W ou W , embora o valor para ambas seja
não está presente nos processos industriais. En- m.K m C
tretanto, para a produção de cerveja, o impacto é exatamente o mesmo.
praticamente nulo, portanto, iremos desprezar a Geralmente, metais são os materiais que são
existência da radiação na maior parte do tempo. considerados os melhores condutores térmicos.
Por exemplo, o alumínio tem uma alta conduti-
vidade térmica, e é por esse motivo, inclusive, que
Materiais condutores as panelas são feitas deste material, já que o fogo
aquece o alumínio, o qual rapidamente aquece
Agora que temos conhecimento sobre o que é a aquilo que estiver contido em seu interior.
transferência de calor, precisamos entender que Dessa forma, diversos equipamentos com os
cada material tem suas próprias características quais convivemos na produção cervejeira têm
neste ponto. Independentemente do estado físico como seu principal constituinte algum desses ma-
e de suas dimensões, toda substância é capaz de teriais que são bons condutores. Além do já citado
conduzir calor, porém, algumas são muito me- alumínio, em cervejarias artesanais, é possível que
lhores do que outras nesta ação. A intenção deste encontremos equipamentos fabricados com cobre,
tópico é explicar o que determina se a capacidade aço ou latão. Entretanto, deve ficar claro que, para a
de condução é boa ou não, mostrando que tanto produção em escala industrial, exige-se que os equi-
os bons condutores quanto os maus condutores pamentos sejam compostos, exclusivamente, por
têm sua devida aplicação tanto na indústria quan- aço inoxidável 304, com construção e grau sanitário.
to no nosso cotidiano. É por causa desse fenômeno que não precisamos
No caso, cada material tem um valor próprio colocar o mosto em contato direto com a água fria
para uma grandeza chamada condutividade tér- para que o resfriamento possa ocorrer. Na parte ex-
mica, a qual é representada pela letra k. Quanto terna dos equipamentos, há água a baixas tempera-
maior o valor de k, maior é a condutividade tér- turas. As paredes dos recipientes, por serem feitas de
mica daquele material específico. Ela pode ser materiais condutores, transferem o calor do mosto
calculada por meio da equação: quente para a água fria, impedindo que materiais
indesejáveis entrem em contato com nosso produto.
Q L
k .
t A. t
Isolantes térmicos
Sendo DQ a variação de calor, com a unidade
dada em J (joules); Dt o tempo necessário para Até o momento, falamos daqueles materiais que
que ocorra essa variação, com a unidade dada em s são usados quando queremos que ocorra alte-
(segundos); L a espessura do material (por exem- rações na temperatura. Entretanto, há também
plo, o comprimento de uma barra de metal ou a diversos momentos em que queremos que não
espessura de uma parede), dada em m (metros); ocorra transferência de calor, ou seja, que a tem-
A a área, dada em m² (metros quadrados); e, por peratura permaneça constante.
UNIDADE 3 123
Transferência de
calor por convecção
q h. A. TS TF
UNIDADE 3 125
está mais doce – justamente a forma mais acelerada. Esse processo no qual os açúcares se espa-
parte onde você colocou açúcar. lham é justamente a difusão natural, pois algumas regiões têm uma
Entretanto, caso aguarde um maior concentração de açúcares, de forma que estes acabam sendo
pouco, todo o café terá um gosto transportados para regiões em que haja baixa ou até nenhuma
mais doce. Isso acontece porque concentração de açúcar.
o açúcar se espalha por todo o
café, ou seja, ele se difunde. Difusão
O procedimento adotado
para que a transferência ocorra
de forma mais rápida se chama
convecção e ocorre de forma
muito semelhante à convecção
da transferência de calor: um
fluido em movimento, poden-
do ser um líquido, carrega uma
concentração de um determina-
do composto químico, entrando
em contato direto com algum
outro meio ao escoar sobre ele. Tempo
Supondo que este outro meio
seja uma placa sólida, a qual te-
nha uma concentração menor
deste composto em questão,
as moléculas deste acabarão se Figura 7 - Difusão de uma substância em um ambiente
transferindo à placa.
Diversos exemplos de fenô- Na Figura 7, podemos notar que após a passagem de tempo, suas
menos referentes à transferên- moléculas estão espalhadas por todo o líquido.
cia de massa ocorrem durante a
produção cervejeira. Por exem-
plo, quando ocorre gelatiniza-
ção e liquefação do amido em
açúcares de cadeias menores,
estes acabam por serem espa- Tenha sua dose extra de conhecimento
assistindo ao vídeo. Para acessar, use seu
lhados no mosto para que o leitor de QR Code.
consumo deles pelas leveduras
– o processo que conhecemos
como fermentação – possa
ocorrer adequadamente.
Estes açúcares tendem a se Exemplos de convecção são os momentos nos quais ocorre algum
espalhar por todo o mosto, po- processo de mistura, visto que a movimentação faz com que al-
dendo ocorrer lentamente ou de guns compostos se espalhem por diferentes regiões do mosto. Da
UNIDADE 3 127
Você pode utilizar seu diário de bordo para a resolução.
128
3. A agitação e a mistura, apesar de serem processos com execuções semelhan-
tes, apresentam diferenças em suas finalidades. Explique brevemente qual a
diferença entre os processos.
129
LIVRO
WEB
130
BARBOSA, G. P. Operações da indústria química: princípios, processos e aplicações. 1. ed. São Paulo: Érica,
2015.
FOX, R. W.; McDONALD, A. T.; PRITCHARD, P. J.; MITCHELL, J. W. Introdução à mecânica dos fluidos. 9.
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MATOS, S. P. de. Operações unitárias: fundamentos, transformações e aplicações dos fenômenos físicos e
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TADINI, C. C.; TELIS, V. R. N.; MEIRELLES, A. J. A.; PESSOA FILHO, P. A. Operações unitárias na indústria
de alimentos. Rio de Janeiro: LTC, 2018.
131
1. C.
ρ.V .D 800.0, 6.D
Resolução: Re = 12000 D = 0,0075 m
µ 3.104
2. D.
A afirmativa II está incorreta ao afirmar que a radiação precisa de oxigênio para ocorrer. Na verdade, ela
pode ocorrer no vácuo, sem necessidade de um meio.
3. A agitação é o processo em que o movimento é induzido de forma ordenada, com um sentido circular espe-
cífico, sendo este horário ou anti-horário, e envolve apenas uma substância homogênea (que tem apenas
uma fase), além de ser usado com a finalidade de acelerar processos. A mistura tem uma movimentação
desordenada e aleatória, com duas ou mais substâncias inicialmente separadas sendo misturadas no
processo, e tem como finalidade justamente a mistura entre elas.
132
133
134
135
136
Me. Paulo Otávio Fioroto
Algumas Etapas do
Processo Industrial
PLANO DE ESTUDOS
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Equipamentos
UNIDADE 4 139
As forças de compressão e sentidos contrários. Um deles possui posição fixa, enquanto o ou-
impacto são as mais aplicadas tro é regulável, e ambos estão em contato direto, sendo separados
quando se trata de grãos, como apenas por um espaço muito pequeno, variando de acordo com as
no caso da indústria cervejeira; dimensões desejadas para o grão.
enquanto o cisalhamento, cuja Moinhos de três cilindros apresentam dois cilindros localizados
força é aplicada como se fosse na parte superior, sendo um deles fixo e outro móvel, e um terceiro
um corte, é mais focado em ali- cilindro imediatamente abaixo, o qual fica numa posição centraliza-
mentos de textura macia (TA- da entre os dois cilindros superiores. Há um pequeno espaço entre
DINI et al., 2018). os cilindros superiores, de forma que os grãos que passam por ele
Sendo assim, os moinhos de são moídos num primeiro momento, passando logo em seguida
cilindros e de discos, que são os pela região entre o cilindro de baixo e os cilindros de cima, espaço o
mais usados, tanto na produ- qual é mais estreito e que, como consequência, realiza uma segunda
ção artesanal quanto na indús- moagem. A Figura 3 apresenta um cilindro de três cilindros.
tria cervejeira mundial, atuam
usando forças de compressão,
já que o equipamento pressiona
os grãos em dois pontos, o que
causa rompimento da casca.
Moinhos de
cilindros
Figura 3 - Moinho de três cilindros
Dentro da categoria de moi- Fonte: o autor.
nhos de rolos, pode-se variar
a quantidade de cilindros para Na Figura 3, no lado esquerdo, podemos ver os três cilindros fora
cada moinho. Existem diversas do equipamento, e no lado direito, o moinho completo, usado em
variações para estes moinhos, produções artesanais.
sendo mais populares os de Os moinhos de quatro cilindros têm funcionamento similar ao
dois, os de três, os de quatro e de dois cilindros, com a diferença de que, por haver dois pares de
os de seis cilindros. Alguns mo- cilindros, há duas etapas de moagem no equipamento. Geralmente,
delos, principalmente os usados seu rendimento é maior do que aqueles de dois cilindros –o espaço
em indústrias de grande porte, entre os cilindros que compõem o primeiro par é maior do que o es-
contam com peneiras que se paço entre os cilindros do segundo par, ocorre uma primeira etapa de
localizam entre os cilindros e a quebra, o que faz com que grãos com menor granulometria cheguem
saída do equipamento, de forma à segunda etapa. O processo tende a ser um pouco mais lento, mas
a ocorrer separação das demais seu rendimento tende a compensar o tempo gasto a mais.
partes dos grãos, como as cascas. Os moinhos de seis cilindros são aqueles que têm o processa-
Os moinhos de dois cilin- mento mais bem definido entre as três categorias de moinhos de
dros, como o próprio nome já cilindros. Cada um dos três pares têm uma função específica: o
diz, possuem dois cilindros em primeiro par tem como foco o rompimento da casca do grão de
seu interior, os quais giram em malte, o segundo fragmenta a casca e o terceiro tritura as sêmolas.
140 Algumas Etapas do Processo Industrial
Moagem úmida visando identificar se o que foi obtido realmente
condiz com o esperado.
Pensando na preservação das cascas dos grãos Para tanto, usa-se um equipamento conhecido
moídos, foram desenvolvidas técnicas de moa- como classificador vibratório. Sua composição é,
gem em que ocorre a umidificação das cascas de forma simplificada, uma sequência de peneiras
antes mesmo do processo de quebra ser iniciado. sobrepostas, as quais vibram continuamente. Para
O percentual de umidade de cada tipo de grão iniciar o teste, uma determinada massa é colocada
pode variar, mas, para o malte, costuma-se adotar na peneira superior. As peneiras superiores têm
valores entre 30% e 40% como umidade adequada. furos maiores do que as peneiras inferiores e, por
Essa é a chamada moagem úmida. conta disso, os grãos moídos que tenham uma gra-
A umidade auxilia na integridade das cascas, nulometria maior do que a desejada ficam retidos
já que elas se tornam mais maleáveis. Na moagem na parte de cima.
úmida, ocorre um processo mais próximo do es- Ao final do teste, verifica-se qual foi a massa de
magamento, de forma que o conteúdo interno grãos que chegou até a peneira inferior e, então, é
do grão de malte é pressionado e seu conteúdo feito um comparativo. Aqueles grãos que chega-
interno é removido da casca sem que ocorra pro- ram ao final são aqueles que atingiram o tamanho
priamente a quebra dela. ideal e, caso a massa deles corresponda a cerca de
O ponto positivo da moagem úmida é o fato 80% do total que foi alocado na peneira superior
de, pelas cascas serem mais maleáveis, a camada num primeiro momento – ou até mais, dependen-
formada nas tinas de antes do processo de cla- do do rendimento desejado –, é considerado que
rificação se tornar mais fofa, permitindo uma a moagem ocorreu adequadamente.
obtenção mais rápida do mosto. Uma vantagem O valor de 80% não é, necessariamente, o pa-
indireta é o fato do interior do grão também ser drão para todas as empresas, visto que, enquanto
influenciado pela umidificação, o que torna a ati- algumas exigem um rendimento mínimo ainda
vação das enzimas mais rápida. maior, outras podem aceitar valores menores.
Pode-se também considerar o uso da moagem
condicionada, em que ocorre injeção de água a,
aproximadamente, 40 ºC ou, até mesmo, de va-
por sobre o malte, de forma a umedecer apenas
a parte externa do grão. Nesse caso, a umidade
não aumenta tanto quanto na moagem úmida,
ficando em torno de 15%. Nesse caso, apenas a
casca fica umedecida, o que a torna mais flexível
e, consequentemente, menos propensa a sofrer
rupturas.
Análise Granulométrica
da Moagem
UNIDADE 4 141
Filtração de
Mostos e Cervejas
UNIDADE 4 143
Equipamentos Filtrantes Há casos em que, em conjunto
aos equipamentos, são utiliza-
A ideia dos equipamentos usados como filtros costuma ser simples. O dos materiais específicos para
formato mais comum, tanto na produção artesanal quanto na industrial, a realização da filtração, prin-
é o de um recipiente de fundo falso, conhecido, geralmente, por “tina de cipalmente quando estamos
fundo falso”, sendo este comumente usado na primeira filtração. Este tratando de uma separação lí-
fundo é constituído por placas com pequenas ranhuras, pelas quais o quido-líquido ou da retenção
mosto escoa, enquanto os sólidos permanecem retidos em sua parte de microrganismos que possam
superior. prejudicar a qualidade do pro-
A vantagem do uso deste formato é a facilidade de lavagem do mosto duto final.
remanescente. Como toda a torta permanece posicionada acima do Por exemplo, podemos ci-
mosto limpo, jatos de água quente sob alta pressão são lançados abaixo tar a terra diatomácea, a qual
do fundo falso, fazendo com que os rejeitos sejam retirados do caminho é composta, principalmente,
do mosto e, ao absorver a água lançada, escoem o mosto remanescente por óxido de silício, sendo este
em seu interior. Isso faz com que a limpeza do filtro e o aproveitamento material considerado adequado
de resíduos sejam realizados simultaneamente. para remoção de leveduras após
Também pode-se usar os chamados filtros de placas, que têm funcio- a filtração, além de reter bacté-
namento e estrutura muito semelhantes aos de uma peneira de formato rias por conta de sua compo-
quadrado. O princípio é muito semelhante ao do fundo falso, já que o sição. Entretanto, pelo fato dos
filtrado escoa pelos espaços vazios, enquanto o bagaço do malte per- grãos de terra não terem uma
manece acumulado em sua parte superior. Este formato tem vantagem granulometria uniforme, sua
sobre as tinas de fundo falso por permitir a realização de brassagens eficiência é um tanto incerta em
mais rápidas, além de, geralmente, ser capaz de conter partículas mais algumas ocasiões. Um substitu-
finas. Entretanto, sua desvantagem é a limpeza, já que os filtros de fundo to à terra diatomácea é a perlita,
falso são mais fáceis de serem limpos. que se trata de terra de origem
vulcânica e cuja obtenção cos-
tuma ser mais fácil em algumas
regiões. Contudo, seus resulta-
dos são, geralmente, inferiores
aos da terra diatomácea.
Há também a possibilidade
de se usar celulose como ma-
terial filtrante. Por ser um ma-
terial muito fácil de ser obtido,
devido à sua abundância na na-
tureza, era muito comum, em
décadas passadas, que ela fosse
o principal material filtrante,
hábito que foi reduzido a par-
tir da difusão do uso da terra
Figura 4 - Visor para verificação da clarificação do mosto
diatomácea.
UNIDADE 4 145
Evaporação
UNIDADE 4 147
Há também os aquecedores por placas, com
princípio semelhante aos dos tubos: enquanto o
mosto a ser aquecido fica de um lado da placa, o
fluido aquecedor permanece do outro lado, ha- Em diversas indústrias, usa-se os chamados
vendo transferência de calor por condução a par- evaporadores de múltiplo efeito. Estes equi-
tir da placa em questão (GREEN; PERRY, 2008). pamentos são um conjunto de vários evapo-
Geralmente, o fluido usado para aquecimento radores posicionados em sequência, de ma-
num evaporador é vapor d’água. Como ocorre neira que um evaporador possa aproveitar o
transferência de energia térmica do calor ao fluido vapor gerado pelo anterior. Apesar desse vapor
que foi aquecido, esse vapor sofre condensação, gerado em cada processo não poder ser rea-
ou seja, passa do estado gasoso para o líquido. O proveitado na maioria dos casos, esta ainda é
equipamento possui uma saída para a água con- considerada uma ótima forma de reduzir gas-
densada por este efeito, a qual é coletada e será tos na indústria.
evaporada para que possa ser usada futuramente Fonte: adaptado de Tadini et al. (2018).
num novo processo de evaporação.
Vapor Vapor Vapor
Vapor Alimentação
d’água
UNIDADE 4 149
em seu lado direito, o qual indica as saídas. Esse
termo se refere à energia térmica dissipada duran-
te o processo, podendo esta ser perdida a partir
de radiação ou convecção, configurando perdas
para o ambiente.
Tomando como exemplo uma situação seme-
lhante à apresentada no balanço de massa, supo-
nha que um processo conte com duas correntes
de entrada (1 e 2) e duas correntes de saída (3 e 4).
A entrada 1 tem massa igual a 5000 kg e entalpia
J
igual a 300 kg , enquanto a entrada 2 tem massa
J
3000 kg e entalpia 800 kg .
Quanto às correntes de saída, a corrente 3 tem
J
massa 2000 kg e entalpia 250 kg ; enquanto a cor-
J
rente 4 tem massa 3500 kg e entalpia 300 kg . Com
base nessas informações, deve-se calcular qual foi
a variação de energia sofrida durante o processo.
Assim, substitui-se os valores:
3900000 1550000 qP
3900000 1550000 qP
2350000 = qP
UNIDADE 4 151
A temperatura final de resfriamento irá depender do tipo de
cerveja. Enquanto as cervejas de alta fermentação (aquelas em que
a levedura flutua na superfície do mosto) têm, no início da fer-
mentação, temperatura de aproximadamente 16 ºC, as de baixa
fermentação, cuja levedura fica depositada no fundo do tanque,
iniciam a fermentação a aproximadamente 7 ºC.
Quente
1 2 3 4 5 6 7 Frio
Figura 7 - Caminho percorrido pelos fluidos de alta e baixa temperatura em um trocador de calor por placas
Fonte: Tadini et al. (2018, p. 360).
Trocadores de placas
Assim como o nome sugere, este formato de troca- Tenha sua dose extra de
dor de calor é composto por diversas placas, as quais conhecimento assistindo ao
vídeo. Para acessar, use seu
são posicionadas em sequência. Há um pequeno es-
leitor de QR Code.
paço entre cada par de placas, havendo alternância
entre os fluidos que correm por cada espaço.
UNIDADE 4 153
Extração
com Solvente
Extração Sólido-Líquido
Com base nisso, ao final, obtém-se uma mis- Para extrações a nível industrial, usa-se equipa-
tura com duas fases, sendo uma delas líquida, mentos de maior porte, visto que, por ser um pro-
composta pelo solvente e pelo soluto extraído do cesso de longa duração e pelo fato do Soxhlet ter
sólido, e a fase sólida, que consiste no restante das uma operação lenta, seriam necessários dias para
substâncias da fase sólida original. Para extrair os que a extração fosse finalizada.
sólidos, basta a realização de uma filtração, en- Entre os equipamentos de grande escala, pode-
quanto a obtenção da solução final de interesse mos citar os percoladores batelada, que se trata de
pode ser obtida por evaporação ou destilação uma estrutura com fundo falso. O sólido é posi-
(MATOS, 2015). Por conta disso, uma caracte- cionado acima deste fundo, enquanto o solvente é
rística desejável para os fluidos extratores é que distribuído pela superfície, de forma a solubilizar a
eles tenham baixo ponto de ebulição ou que ao substância de interesse e ser acumulado no fundo
menos este seja inferior ao ponto da substância falso. Este é o processo que ocorre na lavagem
de interesse. do bagaço de malte para recuperação de extrato
Para extrações de pequeno porte, um equipa- durante a brassagem.
mento amplamente usado é o Soxhlet, no qual Há também os percoladores contínuos, que
o solvente passa por evaporação e condensação, possuem diversas modalidades, como o extrator
fazendo com que o líquido extrator goteje sobre Bonotto, que se trata de um equipamento com
o sólido de forma contínua. duas entradas. Em sua parte superior, ocorre a
UNIDADE 4 155
alimentação dos sólidos; enquanto em sua parte nenhuma outra substância deve ser solúvel no
inferior, há a entrada do solvente, de forma que líquido extrator.
ambos escoem em contracorrente. No decorrer Isso irá gerar uma mistura de duas ou mais
do equipamento, há pequenas hastes que raspam fases e a separação destas fases pode ser realizada
a superfície dos sólidos, facilitando a extração da por um simples funil de decantação. Assim como
substância de interesse. na extração sólido-líquido, o solvente e o soluto
Outro formato de percolador contínuo é o podem ser separados com base num processo de
extrator Hildebrandt, no qual os sólidos perma- evaporação (MATOS, 2015).
necem imersos no solvente durante todo o ca- Caro(a) aluno(a), encerramos, neste momen-
minho percorrido no interior do equipamento to, a nossa quarta unidade de nosso material. A
– novamente, o solvente e o sólido escoam em intenção deste conteúdo foi se unir à Unidade 3,
sentidos opostos, ou seja, em contracorrente. Há apresentando a aplicação prática dos conceitos
pequenas roscas e parafusos em sua estrutura, teóricos que exploramos no decorrer dela.
os quais fazem pequenos furos na superfície do Compreendemos de forma pontual como os
sólido e, consequentemente, tornam mais fácil a conceitos se encaixam na indústria cervejeira e
extração da substância de interesse. conhecemos alguns dos equipamentos de maior
importância para a produção, seja artesanal ou
industrial. Estes processos não são os únicos, mas
Extração Líquido-Líquido são pontos de extrema importância para a quali-
dade final do produto.
Assim como a extração sólido-líquido, esse mé- A Unidade 5 continuará a focar nos conceitos
todo utiliza um solvente líquido. Sua diferença relacionados à indústria, mas com um olhar dife-
está no fato de que não há fases sólidas envolvi- renciado, menos voltado aos processos e mais pró-
das, apenas líquidos. O líquido de interesse será ximo das estruturas, tratando dos requerimentos
solubilizado no solvente em questão, sendo que energéticos de uma indústria cervejeira.
Na extração líquido-líquido, na maioria dos casos, é interessante que não haja aplicação de todo o volume
de solvente de uma única vez. Usar pequenos volumes de cada vez apresenta um rendimento maior.
Fonte: adaptado de Matos (2015).
157
2. O processo de evaporação é considerado muito interessante quando se deseja
eliminar alguma substância de uma mistura. Para tal, costuma-se usar equi-
pamentos conhecidos como trocadores de calor. A respeito do processo e do
equipamento em questão, leia as asserções a seguir e analise-as.
( ) A evaporação tende a reduzir a concentração da substância de interesse do
processo numa mistura, visto que ela é evaporada durante o processo.
( ) Trocadores de calor podem ser usados tanto para aquecimento quanto para
resfriamento de substâncias.
( ) Trocadores de placas têm a condução como principal método de transferência
de calor.
( ) O processo de resfriamento se baseia nos mesmos conceitos do processo de
evaporação, usando a transferência de calor como base para sua ocorrência,
e uma de suas finalidades é auxiliar na obtenção de uma boa atividade das
leveduras no processo de fermentação.
158
LIVRO
WEB
Descubra mais sobre moagem úmida de grãos no link sugerido. Apesar do foco
ser grãos de café, o processo é muito similar, sendo o foco do vídeo a apresen-
tação dos procedimentos da moagem úmida.
Para acessar, use seu leitor de QR Code.
WEB
159
BARBOSA, G. P. Operações da indústria química: princípios, processos e aplicações. 1. ed. São Paulo: Érica,
2015.
GREEN, D. W.; PERRY, R. H. Perry’s chemical engineer’s handbook. 8. ed. Nova York: McGraw-Hill, 2008.
MATOS, S. P. de. Operações unitárias: fundamentos, transformações e aplicações dos fenômenos físicos e
químicos. 1. ed. São Paulo: Érica, 2015.
TADINI, C. C.; TELIS, V. R. N.; MEIRELLES, A. J. A.; PESSOA FILHO, P. A. Operações unitárias na indústria
de alimentos. Rio de Janeiro: LTC, 2018. Volume 1.
160
1. B.
II: Falsa, pois a casca não deve ser desintegrada totalmente. É importante que ela sofra o mínimo de danos
possível, visto que ela pode ser usada como auxílio para o processo de filtração.
IV: Falsa, pois, independentemente da quantidade, os cilindros não devem se tocar diretamente. Eles de-
vem permanecer próximos, variando de acordo com a granulometria desejada, mas o fato dos cilindros
se tocarem impediria a passagem dos grãos moídos.
2. D.
I - Falsa, pois a evaporação tende a aumentar a concentração da substância de interesse numa solução.
3. A extração irá ocorrer utilizando um fluido específico, sendo que, dentre os componentes do sólido, apenas
a substância de interesse deve ser solúvel nele. O fluido entra em contato direto com o sólido, de forma
a remover a substância em questão, deixando para trás todos os demais componentes do sólido. Para
que ocorra separação do fluido solvente e do soluto, que é a substância de interesse, pode ser realizada
evaporação, desde que o solvente tenha ponto de ebulição inferior ao do soluto ou, então, pode ser rea-
lizada destilação.
161
162
163
164
Me. Maycon Senna
Requerimentos
Energéticos na
Indústria Cervejeira
PLANO DE ESTUDOS
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
• Descrever os principais pontos de uso e consumo de calor • Apresentar as demandas de refrigeração e os principais
no processo cervejeiro, além da geração em si. equipamentos utilizados na indústria cervejeira.
• Apresentar as unidades geradoras de vapor, seus com- • Analisar outras formas de consumo de energia elétrica e
ponentes e como o vapor é distribuído nas cervejarias. adjacentes na indústria cervejeira.
• Descrever o consumo de energia elétrica nos principais
equipamentos cervejeiros.
Consumo
de Calor
A refrigeração também é um processo de calor em trânsito. Utilizando fontes frias, conseguimos re-
tirar calor de fluidos e equipamentos, abaixando a temperatura do nosso processo. Quando o mosto
cervejeiro é fermentado, para impedir o aumento da temperatura em dias quentes, utilizamos fontes
refrigerantes, controladas para manter as temperaturas de fermentação estáveis e baixas. Para produ-
zir frio, pressurizamos um fluido refrigerante e o destinamos às tubulações de processo (TADINI et
al., 2016). Agora, aluno(a), exemplificaremos os principais equipamentos consumidores de calor da
indústria cervejeira.
UNIDADE 5 167
Mosturador
A mosturação exige calor suficiente e de forma um destinado para adjuntos que necessitam de
controlada para que todos os patamares de tem- gelatinizar o amido previamente, e outro para os
peratura do processo de brassagem do mosto cer- grãos maltados (KUNZE, 1999).
vejeiro sejam atendidos. Algumas cervejas podem
possuir mais de seis patamares de temperatura,
valorizando a ação de enzimas específicas. Dessa
maneira, o transporte de calor se dá industrial-
mente por tubulações de vapor, em que o vapor O controle de temperatura da mosturação é
pressurizado entra em contato com as paredes do muito importante. As enzimas possuem faixas
equipamento e aquece o líquido interno. Como de temperatura em que possuem sua melhor
veremos no próximo tópico, o vapor que entra performance. Por isso, cada patamar de tem-
no equipamento transfere energia para ele, con- peratura precisa de uma correta transferência
densa-se e, então, é retirado para novamente ser de calor.
vaporizado nas caldeiras. Geralmente, há um Fonte: adaptado de Kunze (1999).
conjunto de dois equipamentos de mosturação,
De acordo com cada processo, cada relação água/malte necessária às rampas de mosturação, o cervejeiro deve
escolher qual a maneira em que a eficiência das enzimas vs. consumo de vapor estejam em um ponto ótimo.
A dissolução dos compostos do malte em água produzem uma mistura com menor calor específico;
entretanto, as cascas tendem a atuar como isolantes térmicos. Dessa maneira, dizemos que o mosto
cervejeiro “segura” mais temperatura do que a água.
UNIDADE 5 169
Fervedor Fervura por
aquecimento direto
A fervura é o processo no qual o mosto cervejeiro é fervido por,
aproximadamente 60 minutos, a depender do processo. Nessa etapa, É a forma mais antiga de fer-
lúpulos são adicionados para isomerização, proteínas são coaguladas vura do mosto cervejeiro e re-
e o mosto é esterilizado. Contudo, manter fervura de muitos litros de monta os tempos em que os
mosto cervejeiro acaba-se por ser extremamente custoso. Esse pro- equipamentos não eram pro-
cesso possui alta demanda energética, devido à energia necessária jetados para trabalharem com
para a água passar do estado líquido para o estado de vapor. Existem vapor. Nesse tipo de aqueci-
três tipos de aquecimento em equipamento fervedores: aquecimento mento, o calor é fornecido
direto, aquecimento a vapor e aquecimento por água quente. Vere- diretamente ao fervedor pela
mos cada um desses processos, separadamente (KUNZE, 1999). queima de um combustível na
base, consequentemente aque-
cendo o conteúdo interno. Por
se tratar de um sistema arcai-
O vapor de água é gerado nas caldeiras, que pressurizam e aque- co, em apenas algumas cerve-
cem a água, de modo a fornecer calor para a cervejaria na forma de jarias muito antigas sistemas
vapor. Para evitar as perdas de calor para o ambiente, são utiliza- como este podem ser encon-
dos isolantes térmicos nas tubulações e nos arredores da caldeira. trados. A maioria dos fervedo-
res se adaptou ao aquecimento
a vapor (ou elétrico em peque-
nas escalas).
Esses equipamentos possuem uma chaminé ao topo, em que o evaporado é direcionado para um co-
letor, podendo ou não ser aproveitado seu calor novamente. É importante compreender que a fervura
aberta é necessária para a remoção de compostos indesejáveis, como o dimetil sulfeto (DMS), por isso
o evaporado não deve ser condensado e retornado ao mosto. Nesse processo, admite-se uma perda de
10 a 15% em volume por evaporação (KUNZE, 1999).
Nesse sistema, existem duas maneiras de se aquecer o mosto cervejeiro: aquecimento externo e
aquecimento interno. Veremos, a seguir, cada uma delas.
UNIDADE 5 171
Fervura por aquecimento a vapor externo
Condensador
de vapor
Medidor de Condensado
densidade Tanque Vapor
do mosto de mosto
Fervedor
externo
Whirlpool
Tanque de Aquecedor
pré-fervura de mosto
Figura 6 - Fervedor por aquecimento a vapor externo
Fonte: adaptada de Kunze (1999).
A calândria também traz como vantagens uma menor taxa de evaporação (4 a 6%) e uma redução no
tempo de fervura, atingindo, no máximo, 70 minutos.
A água pressurizada em temperaturas de 160 a 170 ºC pode ser utilizada para aquecer a tina de fer-
vura e, consequentemente, promover a evaporação das substâncias voláteis indesejáveis e promover
a isomerização dos compostos do lúpulo. Esse sistema permite que não haja perdas por condensação,
como ocorre com os sistemas a vapor. Entretanto, tubulações de maiores diâmetros são necessárias
devido ao fato de a água não se comprimir e reduzir volume, como o vapor o faz. Também se trata de
um sistema primitivo, utilizado em pouquíssimas cervejarias no passado.
Caro(a) aluno(a), perceba como é importante o conhecimento prévio dos sistemas de aquecimento
de uma cervejaria. Cada disposição diferente de aquecimento pode aumentar ou diminuir custos com
vapor, perdas de calor, evaporação e até uso de bombas. O correto dimensionamento dos equipamentos
é imprescindível para que seu processo saia como planejado. Agora é hora de conhecermos como o
vapor é produzido na indústria.
UNIDADE 5 173
Geração
de Vapor
Caldeiras flamotubulares
UNIDADE 5 175
Caldeiras flamotubulares são melhores aceitas para pequenas ca-
pacidades devido ao baixo custo de construção, além de que, em
maiores proporções, elas acabam oferecendo alto risco de operação.
Para maiores capacidades, as caldeiras empregadas são as do tipo
aquatubulares.
Caldeiras elétricas
Purgas
No passado, não havia conhecimento de dispositivos de controle em caldeiras. Por isso, são relata-
dos muitos acidentes com explosões de caldeiras devido à falta de água nos tambores separadores.
Quando a água se torna escassa e o tambor não recebe mais água, o ar aquece e se expande de
forma abrupta, explodindo a caldeira. Por isso, hoje, existe uma série de controladores que não
permitem a falta de água em uma caldeira.
Fonte: adaptado de Kitto e Stultz (2005).
UNIDADE 5 177
Tenha sua dose extra de conhecimento assistindo ao vídeo. Para acessar, use
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Fornalha
O vapor utilizado em diversos equipamentos da de fase sem alterar sua temperatura. Entretanto,
indústria é chamado de vapor de saturado. Esse determinados processos exigem um vapor muito
vapor tem como objetivo fornecer energia térmi- mais quente do que o vapor saturado, e a este de-
ca para o processo e, ao fim, condensar-se. Dessa nominamos de vapor superaquecido, que é prin-
maneira, o calor utilizado para ebulir a água nas cipalmente utilizado para a geração de energia
caldeiras é apenas o que chamamos de calor la- elétrica, pois sua alta carga energética pode girar
tente, ou seja, calor suficiente para mudar a água turbinas a vapor (MORAN; SHAPIRO, 2006).
As turbinas a vapor são responsáveis em transferir energia térmica do vapor em energia cinética.
Essa energia cinética causa a rotação de um gerador, produzindo energia elétrica.
Fonte: adaptado de Kitto e Stultz (2005).
UNIDADE 5 179
Economizadores
(A) (B)
Figura 13 - Formato dos tubos economizadores (A) e o fluxo de gases pelo economizador (B)
Fonte: adaptada de Kitto e Stultz (2005).
Preaquecedores de ar
Saída
de ar
Entrada
de ar
Saída
de gás
UNIDADE 5 181
Requerimentos
de Energia Elétrica
na Cervejaria
UNIDADE 5 183
Fontes Consumidoras de Energia Elétrica na Cervejaria
Motores elétricos
Os motores elétricos são os equipamentos responsáveis por transformar a energia elétrica em energia
mecânica, acionando bombas, misturadores e compressores. Baseiam-se no princípio em que a tensão
gerada em sua bobina externa cria um campo magnético capaz de promover o movimento de um
eixo, criando potência. Os motores são dimensionados de acordo com a potência necessária em cada
processo, a qual está dimensionada de acordo com os objetivos. Os motores para misturadores de 100
litros de tinas de mostura devem ser muito mais potentes do que motores para misturadores de 20
litros, por exemplo. A potência exigida define o tamanho e o consumo de energia do motor.
UNIDADE 5 185
Ciclo de Carnot de Refrigeração
No ciclo natural das coisas, uma xícara de café esfria com o tempo, O ciclo de refrigeração de Carnot
atingindo a temperatura ambiente. O gelo derrete à medida que se baseia no seguinte princípio:
fica exposto, e essas situações são bem naturais do nosso dia a dia. utilize um compressor que au-
Contudo, para migrar no sentido oposto, ou seja, aquecer o café mente a pressão de determinado
ou produzir gelo, devemos compreender que há necessidade de gás; a seguir, faça-o passar por um
fornecer energia externa para que o sistema “ande na contramão”. condensador, onde ele perderia
Às vezes, por estarmos tão acostumados com refrigeradores no energia nesse equipamento por
cotidiano, não paramos para pensar como de fato é possível retirar meio da passagem para o estado
temperatura de determinado local, enquanto que a temperatura líquido; depois, o líquido passaria
externa está em torno de 25 ºC. Carnot idealizou matematica- por uma válvula de expansão, au-
mente um ciclo em que era possível retirar calor de uma fonte que mentando seu volume, fazendo
chamamos de “fonte fria” e adicioná-lo a uma “fonte quente”. Dessa com que o gás absorva calor para
maneira, era possível esfriar cada vez mais a fonte fria e aquecer evaporar novamente. Dessa ma-
mais a fonte quente, apenas fornecendo energia motora (MORAN; neira, era possível retirar calor da
SHAPIRO, 2006). fonte fria (TADINI et al., 2016).
As cervejas do tipo “lager” exigem baixas temperaturas de fermentação. Era praticamente impossível,
no passado, produzir essas cervejas fora do inverno na Alemanha. Por isso, estocava-se o gelo do
inverno em porões para que esse fosse utilizado em dias quentes para produzir cervejas.
Fonte: adaptado de Kunze (1999).
3 2
Condensador
Válvula de Wc
expansão Compressor
Evaporador
4 1
Q in
Figura 17 - Ciclo de refrigeração de Carnot
Fonte: adaptada de Moran e Shapiro (2006).
UNIDADE 5 187
Componentes do Sistema de Refrigeração Mecânica
As máquinas refrigerantes são basicamente montadas conforme observado na Figura 17. Seus com-
ponentes principais são: compressor, condensador, válvula de expansão e evaporador. Aqui, aluno(a),
conheceremos um pouco de cada componente.
Compressor
O compressor é a parte mais importante do sistema. Seu correto dimensionamento pode definir o
sucesso do sistema. São classificados como recíprocos (com pistão) e centrífugos. Os primeiros são
indicados para potências de refrigeração da ordem de 300 kW. Os centrífugos são para operações aci-
ma de 500 kW. A maioria dos compressores se baseia em um sistema que comprime volumes de gás
conforme a rotação por meio de um motor elétrico (ou turbina a vapor) (MORAN; SHAPIRO, 2006).
Condensador
Evaporador
UNIDADE 5 189
Figura 20 - Evaporador de um ar-condicionado
O resfriamento mais comumente empregado é por meio da troca térmica em um trocador de calor de
placas entre água gelada (8 - 12ºC) oriunda dos equipamentos de refrigeração da planta cervejeira e o
mosto cervejeiro quente pós-fervura. O trocador permite alta área de troca térmica em baixos volumes
de equipamento. Entretanto, esse sistema exige manutenção sazonal dos trocadores de calor e um mosto
pouco viscoso e filtrado para não causar problemas de pressão durante o resfriamento (KUNZE, 1999).
Como consequência dessa troca térmica, a água adquire calor, podendo ser utilizada novamente em
uma mostura. Dessa maneira, há aproveitamento energético.
UNIDADE 5 191
b
a
Condensador
Tanques
fermentadores
Válvula de
expansão
Agentes de frio
UNIDADE 5 193
Outros Equipamentos
Consumidores de
Energia Elétrica
Ar Comprimido
Figura 23 - Compressores de ar
UNIDADE 5 195
Instrumentos de Controle
Aluno(a), neste tópico, será abordada mais a parte pressões altas ou alarmes que se ativam com o au-
do consumo elétrico em si e da importância desse mento da temperatura de processo. Esses dispositi-
tipo de dispositivo. vos consomem energia elétrica (sinal elétrico que é
Os instrumentos de controle são dispositivos transmitido para um supervisório ou para telas) e/
colocados em determinadas partes do processo, ou ar comprimido. De qualquer maneira, há consu-
em que a operação consiga ter dados precisos de mo direto ou indireto de energia elétrica envolvida.
processo, muitas vezes em tempo real, e dispositi- Para isso, é muito importante compreender esse
vos atuadores, como válvulas que se fecham com consumo e em como ele impacta no custo final.
Na Figura 24, podemos observar tubos azuis claros na parte de cima da válvula. Nesse sistema, tam-
bém há fios (vermelhos) e um manômetro de pressão, que indica a pressão e envia esse sinal para um
controlador. Quando o operador decide fechar a válvula (ou abri-la), o sinal elétrico abre a válvula de
ar comprimido, que empurra a válvula do sentido de abrir para fechar. Essa é uma forma de controlar
vazões e pressões por meio de dispositivos a ar comprimido e em sinal elétrico. Como citado anterior-
mente, os sistemas de compressão consomem muita energia elétrica.
Figura 25 - Escritório
UNIDADE 5 197
Figura 26 - Supervisório industrial.
Na Figura 26, observa-se o supervisório industrial. As pressões em tempo real de cada linha de vapor
podem ser observadas nos quadros. Dessa maneira, um processo pode ser controlado como um todo.
Aluno(a), perceba como aprendemos tanto na caminhada até aqui. Compreendemos os concei-
tos de calor, em como o calor importa para as cervejarias e em como podemos gerá-lo e distribuí-lo
pelo processo. Analisamos os principais equipamentos cervejeiros que utilizam calor e entendemos
como o vapor é gerado e distribuído por meio das unidades geradoras de vapor. Aprendemos sobre
os conceitos de refrigeração, o uso de fluidos refrigerantes e agentes de frio no processo cervejeiro e
sobre os dispositivos elétricos das cervejarias. Agora, entendemos melhor como funciona os custos de
produção e a parcela extremamente significativa nessa conta: a energia, como poderemos reduzir o
consumo, nos preocupar com a segurança operacional e como todos esses conceitos são necessários
ao profissional da produção cervejeira. Vemo-nos na caminhada do conhecimento!
2. As unidades geradoras de vapor não são compostas apenas pelas caldeiras, pois
são necessários outros dispositivos para que o vapor seja gerado e distribuído
de maneira segura e rentável. Dessa maneira, podemos dizer:
I) Na fornalha, o combustível não é queimado, pois este já vem queimado dos
armazéns e apenas transfere calor.
II) Os superaquecedores são dispositivos utilizados para elevar a temperatura
do vapor saturado, tornando-o superaquecido.
III) Nos equipamentos que se utiliza o vapor saturado, ele transfere apenas calor
latente, tornando-se líquido e retornando para as caldeiras.
IV) Pode-se deixar faltar água nos tambores separadores sem problemas, pois
o calor permanece na caldeira até novo enchimento.
199
3. Sobre a refrigeração na indústria cervejeira, assinale Verdadeiro (V) ou Falso (F):
( ) Os compressores são os equipamentos usados para aquecer o fluido refri-
gerante.
( ) Os condensadores são os dispositivos que retiram o calor do fluido refrigerante,
jogando-o para fora da planta industrial.
( ) Os agentes de frio são geralmente líquidos que trocam calor com os fluidos
refrigerantes e distribuem baixas temperaturas para o processo, por exemplo
o controle de temperatura da fermentação.
200
LIVRO
FILME
201
WEB
NR-13
A NR-13 define as legislações vigentes para caldeiras e vasos de pressão. Nela,
estão contidas todas as necessidades de controle e inspeção desses equipa-
mentos que garantam a segurança das operações.
Para acessar, use seu leitor de QR Code.
WEB
202
KITTO, J. B.; STULTZ, S. C. Steam: its generation and use. 41. ed. Ohio: The Babcock & Wilcox Company, 2005.
TADINI, C. C.; TELIS, V. R. N.; MEIRELLES, A. J. de A.; PESSOA FILHO, P. de A. Operações Unitárias na
Indústria de Alimentos. Rio de Janeiro: LTC, 2016. (Volume 1).
REFERÊNCIAS ON-LINE
2
Em: https://media.defense.gov/2014/Oct/19/2000993409/780/780/0/141016-Z-YH452-009.JPG. Acesso em:
04 fev. 2020.
203
1. B.
2. B.
3. D.
4. O ar comprimido é utilizado na indústria cervejeira em quatro situações: movimentação das garrafas para
o enchimento, pressão para o fechamento de cascos e kegs, aeração do mosto cervejeiro pré-fermentação
e na varredura de tanques e de outros locais.
204
205
206
207
CONCLUSÃO