Você está na página 1de 357

by Kelly Oram

Sinopse
Há quase um ano, aos dezoito anos de idade, Ella Rodriguez
esteve em um acidente de carro que a deixou incapacitada, cicatriz e
sem uma mãe. Após uma recuperação muito difícil, ela teve que se
deslocar por todo o país e forçar à custódia de um pai que a
abandonou quando ela era uma criança. Se Ella quer escapar da casa
de seu pai e sua nova família adotiva horrível, ela deve convencer os
médicos de que ela é capaz, tanto física como emocionalmente, de
viver sozinha. O problema é que ela não está pronta, ainda. A única
maneira que ela pode pensar em começar a cura é reconectando com
a única pessoa que restou no mundo, que já tenha significou algo
para ela, o anônimo melhor amigo da internet, Cinder.

***
Sensação de Hollywood, Brian Oliver tem uma reputação de ser
problema. Há grande negócio em torno de sua atuação em seu
próximo filme, The Druid Prince, mas a sua equipe de gestão diz
que não vai fazer a transição do galã teen para a lista de ator sério a
menos que possa provar que ele tenha deixado seus dias selvagens
atrás e se tornar um adulto maduro . A fim de extinguir as chamas da
reputação de bad-boy de Brian, sua gestão encena um noivado falso
para ele e sua co-estrela Kaylee. Brian não está feliz com o arranjo,
ou sua falsa noiva, mas decide que ele vai sofrer por ela, se isso
significa que ele vai conseguir uma indicação ao Oscar. Em seguida,
um e-mail de surpresa de uma velha amiga de Internet muda tudo. ..
Revisora Inicial: Monica
Revisão Final e Formatação: Roze Are
Para minha filha, Jackie.
Porque cada menina merece seu próprio conto de fadas
Prólogo

O problema com os contos de fadas é que a maioria deles


começa com tragédia. Eu entendo o raciocínio por trás disso.
Ninguém gosta de uma heroína mimada. Bons personagens
precisam passar por um processo para se submeter a novas
experiências, para lhes dar profundidade e torná-los
vulneráveis, relacionáveis e simpáticos. Bons personagens
precisam das dificuldades para torná-los fortes. A ideia faz
sentido, mas ainda é uma porcaria se você é a heroína.
Minha vida nunca tinha sido muito parecida com um conto
de fadas. Eu não tinha desejos mágicos que virassem
verdadeiros, nem uma verdadeira tragédia, mas um pouco de
ambos. Meu pai teve um caso e largou mamãe e eu quando
tinha oito anos, mas apesar disso, eu vivi muito bem.
Eu sou algo linda, cabelo preto ondulado e pele marrom-
dourada suave, graças à herança chilena do lado da minha
mãe. Mas eu tenho os grandes olhos azuis brilhantes do meu
pai. Eu sou um tipo inteligente, na maior parte do tempo, sem
ter que estudar muito. E eu sou um tipo popular, não
exatamente a rainha do baile, mas nunca estou sem os meus
amigos no sábado à noite ou, também, em alguma data
especial.
Eu posso ter crescido sem pai, mas minha mãe era minha
melhor amiga, o que era bom o suficiente para mim. A vida,
em geral, foi boa o suficiente. Então, em novembro passado,
minha mãe decidiu me surpreender com uma viagem de esqui
de fim de semana, para Vermont, para o meu aniversário, e eu
tive a minha primeira dose real do caráter tragédia.
— Eu reservei o pacote spa completo, portanto você pode
descongelar na jacuzzi{1}, e ter massagens quando estivermos
feridas de praticar esqui o dia todo. — Mamãe confessou após
saímos da cidade de Boston para os próximos quatro dias.
— Uau, Mãe! Não que eu não esteja grata, mas podemos
nos dar a esse luxo?
Mamãe riu de mim. Eu amei o som de sua risada. Era um
som leve, esvoaçante, que me fez sentir como se eu pudesse
flutuar sobre ele. Ela sempre ria. Ela era a pessoa mais
exuberante que eu já conheci.
Para ela, a vida não poderia ser melhor.
— Ouça Ella. Você está fazendo dezoito anos, não quarenta.
Eu sorri. — É o quanto você faz no próximo mês?
— Cállate!{2} Esse é o nosso segredo. Se alguém perguntar,
eu vou ter trinta e nove para o resto da minha vida.
— Claro, você vai. protelar… aqueles… pés de galinha?
— Ellamara Valentina Rodriguez! — Minha mãe engasgou.
— Estas são as linhas do sorriso e estou extremamente
orgulhosa delas. — Ela olhou para mim com seus olhos
brilhantes, linhas do sorriso em seu contorno. — Com você
como uma filha, eu tive que trabalhar muito duro para obter
estes, em vez de cabelos grisalhos.
Bufando, eu peguei meu celular, que tocou avisando
mensagens instantâneas para mim.
— Você seja boa para sua mãe, ou eu vou te envergonhar
terrivelmente na frente de todos os meninos bonitos neste fim
de semana.
Eu tinha uma réplica espirituosa pronta, mas esqueci quando
vi a mensagem no meu telefone.
Cinder458: O ‘blogniver’ está chegando, certo?

Cinder458 ou apenas Cinder para mim, é o meu melhor


amigo em todo o mundo, além de minha mãe, embora eu
nunca o tenha conhecido. Eu nunca falei com ele ao telefone.
Enviamos e-mails sem parar desde que ele tropeçou em meu
blog, As Palavras Sábias de Ellamara, cerca de dois anos atrás.
Meu blog é sobre avaliação de um livro e seu filme. Eu
comecei quando eu tinha quinze anos, e meu terceiro
aniversário do blog estava realmente chegando em breve.
O nome Ellamara é em honra de meu personagem favorito,
em minha série de livro favorito, As Crônicas de Cinder. É
uma série de fantasia escrita nos anos setenta e se tornou uma
das histórias mais queridas na literatura moderna. Hollywood
está finalmente fazendo do primeiro livro, O Príncipe Druida,
um filme.
Ellamara também é o meu nome. Minha mãe leu os livros
quando ela era uma menina e os amava tanto que ela me
nomeou com o nome da Sacerdotisa Druida{3} Misteriosa. Eu
estava orgulhosa do nome e da minha mãe por amar Ellamara,
em vez de gostar da princesa guerreira Ratana, como todo
mundo. Ellamara era um personagem muito melhor.
Cinder é obviamente um fã da série, também. Era o nome
Ellamara e meu post sobre por que ela era a personagem mais
subvalorizada no livro, que atraiu Cinder para o meu blog, em
primeiro lugar. Ele ama os livros tanto quanto eu, então eu
gostei dele instantaneamente, mesmo que ele estivesse
escrevendo para argumentar que a princesa Ratana era mais
adequada para o príncipe Cinder. Ele está em desacordo com a
maioria dos meus comentários desde então.
EllaTheRealHero: Será que todos aqueles seus amigos
de Hollywood sabem que você usa palavras como
‘blogniner’?

Cinder458: Claro que não. Eu preciso de seu endereço.


Vou te enviar um presente ‘blogniver’.

Cinder me dar um presente?


Meu coração capotou.
Não que eu era apaixonada pelo meu melhor amigo da
Internet ou qualquer coisa. Isso seria ridículo. O garoto era
arrogante e teimoso e discutia com tudo o que eu dissesse
apenas para ser irritante. Ele também tinha muito dinheiro, era
modelo, o que significava que ele tinha que ser quente e era
um nerd de livro, no armário.
Rico, confiante, amante de livro, engraçado, quente.
Definitivamente não meu tipo. Não. De modo nenhum.
Sim, ok, tudo bem, então ele não era o meu tipo, por padrão,
porque ele vivia na Califórnia e eu vivo em Massachusetts.
Tanto faz.
Cinder458: Olá? Ella?! Emdereço?!

EllaTheRealHero: Eu não posso dar o meu endereço


para perseguidores assustadores da Internet.

Cinder458: Então eu acho que você não quer este livro


de capa dura e autografado, da primeira edição do O
Príncipe Druida. Vergonha! Eu consegui assinado para
Ellamara quando eu conheci L.P. Morgan, em
FantasyCon na semana passada, por isso não posso tentar
impressionar quaisquer outras garotas com isso.

Eu não sabia que estava gritando até que o carro desviou.


— Por el amor de todo lo sagrado{4}, Ellamara! Não assuste
sua pobre mãe assim. Nós estamos no meio de uma
tempestade de neve. As estradas são bastante perigosas sem
você gritando como um demônio.
— Desculpe mãe. Mas Cinder disse…
— Híjole muñeca{5}, não aquele menino de novo. — Eu
reconheci a voz cansada. Eu estava prestes a obter uma das
palestras favoritos da minha mãe. — Você percebe que ele é
um completo estranho, certo?
Eu balancei minha cabeça. — Ele não é. Eu o conheço
melhor do que qualquer um que eu já conheci.
— Você nunca o conheceu pessoalmente. Para tudo, você
sabe, tudo o que ele diz, pode ser mentiras.
Eu seria a primeira a admitir, eu tinha perguntado isso antes
porque a vida de Cinder soou um pouco como um rockstar,
mas eu o conheço o suficiente agora e eu acreditava que ele
não era um mentiroso. — Eu realmente não penso assim, mãe.
É possível que ele embeleze um pouco, mas quem não faz? E
o que isso importa? Ele é apenas um amigo da Internet. Ele
vive na Califórnia.
— Exatamente. Então, por que você desperdiça tanto tempo
com ele?
— Porque eu gosto dele. Eu posso falar com ele. Ele é meu
melhor amigo.
Mamãe suspirou de novo, mas ela sorriu para mim e sua voz
se suavizou. — Eu só me preocupo que você vai se apaixonar
por ele, muñeca{6} e depois?
Essa foi uma boa pergunta. Que era exatamente por isso que
Cinder não era o meu tipo.
Não o meu tipo.
Não. Meu. Tipo.
Cinder458: Endereço. Substantivo. O local em que uma
determinada organização ou pessoa pode ser encontrada
ou achada. (Ou enviado presentes surpreendentes).

EllaTheRealHero: Será que seu carro lhe disse isso?

Cinder dirige uma Ferrari 458. Ele me disse uma vez,


quando eu perguntei o que os números em seu nome
significavam. Pesquisei, o carro custa mais do que a minha
mãe faz em cinco anos. Eu gostaria de dar-lhe um tempo duro
sobre seus caminhos de análises indulgentes. E sim, o carro
realmente não fala com ele.
Cinder458: Não estou dirigindo, por isso o meu telefone
fez. Endereço, mulher. Agora! Ou eu não vou te dizer
quem assinou para interpretar Cinder, no filme.

Eu quase grito de novo. O filme era um sinal verde


iluminado, mas o elenco não tinha sido anunciado. O pai de
Cinder era algum figurão na indústria do cinema, por isso
Cinder sempre soube coisas de antemão.
EllaTheRealHero: De maneira nenhuma! Conte-me!
Estou morrendo!!!

Eu nunca cheguei a descobrir que ator estava indo


imortalizar um dos personagens mais queridos de todos os
tempos, porque um caminhão bateu num pedaço de gelo preto
e deslizou através da estrada de duas pistas, direto para nós. Eu
estava olhando para o meu telefone quando isso aconteceu e
nunca soube como aconteceu. Eu só me lembro de ter ouvido
o grito da minha mãe e de ser jogada contra o cinto de
segurança quando o air bag explodiu na minha cara. Houve um
breve momento de dor tão intensa que literalmente me tirou o
fôlego, e depois não havia mais nada.
Acordei três semanas mais tarde em um centro de
queimadura em Boston, quando os médicos me trouxeram para
fora de um coma induzido. Tive segundo e terceiro grau de
queimaduras que cobrem setenta por cento do meu corpo.
Minha mãe estava morta.
Capítulo
Um

Não me lembro de muitos detalhes específicos do acidente,


mas o medo que senti naquele dia ainda é cristalino em minha
memória. Eu tenho pesadelos o tempo todo. Eles são sempre
os mesmos, algumas imagens borradas e uma malha de sons
caóticos e eu estou paralisada pelo terror tão forte, que eu não
posso respirar até que eu acordo gritando. O medo em si é o
principal foco do sonho.
Se o sol não estivesse tocando tão rudemente o meu rosto e
meu corpo não doessem tanto, devido a um voo de cinco horas
e meia de Boston, eu teria pensado que eu estava de volta no
meu sonho. Eu estava aterrorizada quando me sentei na
calçada, olhando para o que seria minha nova casa.
Até agora, eu só tinha a visão do carro entre o aeroporto e
casa do meu pai, acima das colinas sinuosas de Los Angeles.
Foi o suficiente para eu saber que não era nada como Boston,
apesar de que o tráfego, na autoestrada, teria me feito
acreditar.
Eu desejava que fosse somente a mudança de cenário que
estivesse me deixando com medo. Passei oito semanas em
tratamento intensivo e estive, então, em um centro de
reabilitação por mais seis meses. Oito meses de internação
total, e agora eu estava sendo entregue aos cuidados do
homem, o mesmo que saiu da minha vida há dez anos e que
tinha me deixado, e agora estaria vivendo junto com ele, sua
nova mulher e as duas filhas que me substituíram.
— Eu devo te avisar de que Jennifer provavelmente
cozinhou algum tipo de surpresa para que você seja bem-vinda
em casa.
— Não é uma festa? — Engoli em seco, o meu terror
explodindo em algo que poderia finalmente me matar. Eu
nunca pensei que viveria em um inferno, a maioria das pessoas
não poderia sequer imaginar, só para ser retirada no meu
primeiro dia fora do hospital, por um grupo de estranhos
aleatórios que querem me receber em casa.
— Não, claro que não,— meu pai me assegurou. — Não é
nada assim. Sua nova equipe de reabilitação, na semana
passada, esteve preparando toda a família. Jennifer sabe que
conhecer um monte de gente nova seria muito esmagador em
um primeiro momento. Tenho certeza de que será apenas ela e
as meninas, mas há provavelmente um bom jantar esperando
por você, juntamente com presentes de ‘bem vinda’ e,
possivelmente, decorações. Ela está muito animada para te
conhecer.
Eu não poderia dizer o mesmo.
Quando eu não respondi, o meu pai olhou para mim com
aquele olhar caridoso que ele estava me olhando desde que eu
saí do meu coma e o encontrei sentado ao lado da minha cama
de hospital. É um olhar que é setenta por cento de pena, vinte
por cento de medo, e dez por cento de constrangimento. É
como se ele não tivesse ideia do que dizer ou como agir
comigo, provavelmente porque ele não viu ou falou comigo
desde que eu tinha oito anos.
Ele limpou a garganta e disse: — Você está pronta, garota?
Eu nunca estaria pronta.
— Por favor, não me chame assim,— eu sussurrei,
trabalhando duro para falar ao redor do caroço que de repente
entupiu minha garganta.
Ele soltou uma longa baforada de ar e tentou sorrir. —
Tarde demais para isso, agora?
— Algo assim.
Na verdade, eu odiava o apelido porque me lembrou da
Mamãe. Ela sempre me chamava de pequena muñeca ou
boneca. Quando eu tinha uns seis anos, meu pai começou a me
chamar de garota. Ele disse que era porque eu precisava de um
apelido americano também, mas eu acho que foi porque ele
tinha ficado com ciúmes do relacionamento que tive com
minha mãe, mesmo naquela época.
— Desculpe,— disse o pai.
— Tudo bem.
Abri a porta do carro antes do constrangimento nos sufocar
até a morte. Papai veio ao redor do carro para me ajudar a sair,
mas eu o impedi. — Eu tenho que fazer isso.
— Certo, desculpe. Aqui.
Quando movi minhas pernas para fora, uma de cada vez, ele
me entregou a minha bengala e esperou enquanto eu
lentamente me forcei para levantar.
Levou esforço, e não era bonito, mas eu poderia finalmente
andar sozinha, novamente. Eu estava orgulhosa disso. Os
médicos nem sempre tinham pensado que seria possível, mas
eu me empurrei através da dor e recuperei muito da minha
amplitude de movimento. As cicatrizes eram ruins o
suficiente. Eu não queria ser confinada a uma cadeira de rodas
para o resto da minha vida, também.
Eu estava feliz com a lenta caminhada na calçada. Ele me
deu o tempo que eu precisava para me preparar para o que me
esperava dentro.
Meu pai acenou com a mão na casa, em frente de nós. — Eu
sei que não parece muito de frente, mas é maior do que parece
e a vista da parte de trás é espetacular.
Não parece muito? O que ele pensava que eu esperava de
uma casa com dois andares, pós-moderna, de vários milhões
de dólares, na minha frente? Ele tinha visto o pequeno
apartamento de dois quartos que a mamãe e eu vivíamos em
Boston. Ele tinha sido o único a limpá-lo depois do funeral da
mamãe.
Sem saber o que dizer, eu apenas dei de ombros.
— Arrumamos seu quarto no piso térreo, para que você não
tenha que usar as escadas, exceto para chegar ao quarto da
família principal, que é apenas por um pequeno lance de
escadas. Você também tem seu próprio banheiro que nós
convertemos, de modo que agora é acessível para deficientes
físicos. Tudo deve estar pronto para você, mas se achar que a
casa não funciona, Jennifer e eu já falamos sobre encontrar
algo novo, talvez descendo a colina em Bel-Air{7}, onde
podemos conseguir um bom rancho.
Fechei os olhos e respirei fundo em uma tentativa de não
encarar ou dizer algo rude. Ele falou como se eu ficaria aqui
para sempre, mas eu estava indo assim que me fosse
permitido.
Eu tive um momento de fraqueza durante um ponto baixo
na minha reabilitação, e eu tentei tirar minha própria vida.
Eu tinha estado no hospital por três meses na época, sem um
fim à vista. Eu ainda mal podia me mover, eu tinha acabado de
ter minha decima sétima cirurgia, foi-me dito que eu nunca
andaria de novo, eu perdi minha mãe, e eu estava com tanta
dor física que eu só queria que tudo isso acabasse.
Ninguém me culpava por minhas ações, mas agora ninguém
acreditava que eu não era uma ameaça para mim mesma. Eu
tinha sentido falta de estar on-line. Eu planejei ficar em
Boston, terminar a escola e depois ir para a Universidade de
Boston, quando eu estivesse pronta. Eu tinha dezoito anos e
tinha o dinheiro economizado, mas quando meu pai percebeu
que eu estava planejando, ele tinha legalmente me declarado
mentalmente impossibilitada e me obrigou a vir para a
Califórnia, com ele.
Não foi fácil eu ser civilizada com o homem. — Tenho
certeza que a casa é boa,— eu resmunguei. — Podemos
apenas acabar com isso para que eu possa ir para a cama?
Estou exausta e realmente dolorida, após viajar durante todo o
dia.
Eu me senti mal por ser curta e grossa com ele quando eu vi
flash de decepção em seus olhos. Eu acho que ele estava
esperando me impressionar, mas ele não entendeu que eu
nunca tinha tido um monte de dinheiro, e eu nunca precisei. Eu
estava contente com o estilo de vida humilde que tive com
minha mãe. Eu nunca sequer usei os cheques que ele enviou
todo mês. Mamãe tinha colocado em uma conta bancária por
anos. Eu tinha o suficiente lá para pagar a faculdade, outra
razão pela qual eu teria ficado bem sozinha.
— Claro, favo-de-mel— Ele fez uma pausa e estremeceu.
— Desculpa. Suponho que o nome está fora da lista de
apelidos aprovado, também, hein?
Eu fiz uma careta. — Que tal ficar com Ella?
O interior da casa era tão imaculado como o centro de
queimadura. Ele provavelmente tinha alarmes que acionariam
se uma partícula de poeira aterrasse em qualquer lugar. Minha
equipe de reabilitação ficaria encantada. O lugar era luxuoso e
os móveis, tudo muito desconfortável. Não havia nenhuma
maneira de me sentir em casa.
A nova Sra. Coleman estava em uma cozinha enorme,
colocando uma bandeja de prata com frutas em uma bancada
de granito, ela veio ao redor. Eu acho que a bandeja poderia
ser realmente de prata.
Quando ela nos notou, todo seu rosto se iluminou para um
gigantesco e mais brilhante sorriso que eu já vi em alguém.
— Ellamara! Bem-vinda à nossa casa, querida!
Jennifer Coleman tinha que ser a mulher mais bela de toda a
Los Angeles. Cabelo dourado como o sol, olhos azuis como o
céu, e os cílios que atingiam todo o caminho para a lua. Suas
pernas eram longas, a cintura era pequena, e seus peitos
gigantes eram perfeitamente redondos e saltitantes.
Estarrecedora era a única palavra que me veio à mente.
Eu não sei por que eu encontrei surpresa por sua beleza. Eu
sabia que ela era uma modelo de revista e comerciais
profissionais, não de moda. Ela fez coisas como xampu e
creme de pele, de modo que ela realmente parecia saudável e
não magra como um viciado em crack.
A julgar pelo tamanho de sua casa, ela deve ter feito muito
bem para si mesma, porque meu pai pode ter sido um grande
advogado, mas os advogados norte-americanos não têm
salários exorbitantes. Quando ele morava com a gente, nós
tivemos uma casa modesta nos subúrbios, mas nós certamente
não estávamos dirigindo uma Mercedes e vivendo numa casa
em uma colina.
Jennifer se aproximou e me deu um abraço cuidadoso,
beijando o ar ao lado do meu rosto. — Estamos tão animados
que finalmente chegamos a tê-la aqui conosco. Rico tem
falado muito sobre você por tanto tempo, que eu sinto que
você já é parte da família. Deve ser um alívio estar em uma
verdadeira casa novamente.
Na verdade, deixar o centro de reabilitação foi uma das
coisas mais assustadoras que eu já tive que fazer, e estar aqui
foi o oposto de alívio. Mas, é claro que eu não disse isso. Eu
tentei pensar em algo que era verdadeiro e não muito
insultante. — É um alívio estar fora do avião.
O sorriso de Jennifer virou simpático. — Você deve estar
tão cansada, pobrezinha.
Eu engoli o aborrecimento e forcei um sorriso. Eu odiava a
piedade das pessoas, tanto quanto eu odiava seus olhares, se
não mais. Antes que eu tivesse que descobrir algo a dizer,
minhas duas novas irmãs irromperam pela porta da frente.
— Meninas, vocês estão atrasadas. — Jennifer parecia
irritada, mas ela esboçou um tão grande sorriso falso de volta
em seu rosto. — Olhem quem está em casa!
As duas irmãs me chocaram ao olhar uma em seguida a
outra, me levando a uma conclusão. Elas eram gêmeas. Não
idênticas, eu acho, mas elas pareciam tão semelhantes que se
não fosse os cortes de cabelo, eu aposto que eu ainda iria
confundi-las.
Eu sabia, a partir das imagens que meu pai tinha me
mostrado, que Juliette era a única com longos cabelos loiros
caídos em ondas de seda até a metade de suas costas, enquanto
Anastásia tinha um cabelo liso que se estendia pelo seu rosto e
parava em seu queixo. Ela era tão perfeitamente penteada que
ela parecia como se tivesse saído diretamente de uma revista
de penteados.
Ambas as meninas eram tão lindas, com o mesmo loiro do
cabelo da mãe, olhos azuis, e figuras perfeitas. E ambas eram
tão altas! Eu tenho um modesto 1,70 e ambas se elevaram
sobre mim. Claro, elas estavam ambas de saltos, que lhes
deram pelo menos 12 cm extras, mas eu aposto que elas ainda
eram mais ou menos dez centímetros mais altas, sem os
sapatos. Elas eram mais de um ano mais novas do que eu, mas
poderiam facilmente passar por vinte e um.
Sem se incomodar com qualquer tipo de Olá, Anastásia
levou a mão ao peito. — Oh Deus, eu estou tão feliz que o seu
rosto não está mal.
Juliette acenou com a cabeça, os olhos arregalados. —
Totalmente. Nós verificamos fotos online de vítimas de
queimaduras, e, assim como todas elas, tinham essas cicatrizes
horríveis no rosto. Era tão nojento.
Meu pai e Jennifer soltaram correspondentes risos nervosos
e se voltaram para as gêmeas. — Meninas,— Jennifer advertiu
suavemente, — não é educado falar sobre as deformidades das
pessoas.
Eu estremeci ante a palavra usada. Era isso o que ela
pensava de mim? Que eu estava deformada? Meu rosto pode
ter tido sorte, mas meu ombro para baixo, a metade direita do
meu corpo e tudo da minha cintura para baixo estava coberto
de cicatrizes rosa, grossas e levantadas, que contrastavam com
a minha pele naturalmente bronzeada.
Meu pai puxou as duas meninas perto de seus lados,
colocando uma em cada braço. Ele era quase da mesma altura
delas. Lembrei-me de ele ser um homem decente ao olhar, mas
ele era realmente muito bonito ao lado de sua família de
imagem perfeita. Ele ainda tinha a cabeça cheia de cabelo
castanho espesso, e claro, os olhos azuis brilhantes. —
Querida, estas são as minhas filhas, Anastásia e Juliette.
Meninas, esta é a sua nova meia-irmã, Ellamara.
Ele sorriu orgulhosamente, mostrando seu sorriso perfeito
de advogado quando ele apertou as duas meninas. Os vincos
ao redor dos olhos machucou meu coração. Linhas de sorriso.
Ele obviamente passou a vida rindo muito. Notei também o
fato de que ele tinha chamado as gêmeas de suas filhas. Não
enteadas.
Ignorando o meu desejo de me enrolar em uma bola e
chorar, eu levantei a mão em saudação. — É apenas Ella. Ella
Rodriguez.
A menina nem pegou a minha mão. — Rodriguez? —
Juliette zombou. — Não deveria ser Coleman?
Deixando minha mão cair de volta para o meu lado, eu dei
de ombros. — Eu mudei para o nome de solteira de minha mãe
quando eu tinha doze anos.
— Por quê?
— Porque eu sou uma Rodriguez.
Ambas as minhas irmãs olharam como se eu tivesse de
alguma forma ofendido. Eu tive que apertar o meu queixo para
não jorrar obscenidades para elas em espanhol. Meu olhar
deslizou para o meu pai. — Onde está minha bolsa? Preciso
tomar o meu remédio e, então, eu preciso descansar. Minhas
pernas estão inchadas.

***
Jennifer discutiu com suas meninas em sussurros quando o
meu pai levou-me pelo piso principal da casa, para o meu
quarto. Eu não me importava que eles estivessem discutindo
sobre mim. Eu estava contente de não ter as apresentações
mais.
Espero que agora eu possa evitá-los, tanto quanto possível.
Sentei-me na minha cama de estilo hospital que iria elevar
tanto a cabeça e os pés, eu engoli um par de pílulas antes que
eu olhasse em volta do meu novo quarto. As paredes eram de
um amarelo suave, sem dúvida intencionalmente assim,
porque um médico tinha dito a meu pai que amarelo suave era
uma cor alegre.
Honestamente, não era tão ruim, mas a mobília era um
conjunto branco com babados terrível que me fez sentir como
se eu tivesse seis anos de idade, novamente. Era horroroso.
— Você gostou? — Perguntou Jennifer, esperançosa. Ela
veio para o quarto e tomou seu lugar ao lado do meu pai. Ele
colocou seu braço em volta da cintura e beijou sua bochecha.
Fiz algum esforço sério para não me assustar com eles.
Mais uma vez, eu escolhi as minhas palavras com cuidado.
— Eu nunca tive móveis tão bons antes.
Papai pegou algum tipo de controle remoto touch-screen. —
Você tem que ver a melhor parte. — Ele sorriu quando
começou a apertar botões. — Eu posso mostrar-lhe como usar
isso mais tarde. Ele controla a TV, aparelho de som, luzes,
ventilador e janelas.
— As janelas? — Minhas janelas eram controladas por
controle remoto?
Meu pai estufou o peito para fora e com um último toque no
controle, as cortinas brancas, do chão ao teto ao longo da
parede do fundo se abriram, revelando uma parede inteira de
janelas com uma porta de correr no meio.
Em seguida, com outro toque, o toldo de cada janela
levantou-se, deixando uma inundação de luz engolir o quarto.
Pai abriu a porta e saiu para o pôr do sol, numa varanda de
madeira com vista para toda a cidade de Los Angeles, tanto
quanto os olhos podiam ver. Além da varanda, um chão indo
para fora da vista. Aparentemente, a casa estava do lado de um
penhasco.
— Você tem a melhor vista da casa. Você vai ter que vir
aqui e olhar para todas as luzes após o anoitecer. É realmente
algo para apreciar.
Dada a reputação da Califórnia para terremotos, eu me
encontrei de pé na varanda, em uma perspectiva um pouco
perturbadora.
Ele voltou e uma vez que os toldos e cortinas foram todos
de volta no lugar, ele se virou para mim com uma expressão
esperançosa. Ele me pegou olhando estremecida para o laptop
sobre a mesa. Era prata e parecia tão fino quanto uma
panqueca. Eu sempre quis um desses, mas de alguma forma
não parecia tão atraente mais.
Papai se aproximou e colocou o laptop aberto. — Eu espero
que você não se importe da mudança. O computador que você
tinha em seu apartamento era tão antigo. Eu pensei que você
gostaria de um melhor. Eu tive alguém fazendo o backup do
disco rígido antes de me livrar dele. Eu também tenho um
novo telefone desde que o seu queimou. — Ele pegou o que
parecia ser um iPhone em uma capa rosa quente e entregou
para mim. — Nós adicionamos você para o plano ilimitado da
família toda, então, não se preocupe quando quiser chamar
seus amigos em Massachusetts. Não há problema.
Eu me encolhi. Eu não tinha chamado qualquer dos meus
amigos desde o acidente. Até o momento eu não era capaz de
chamar as pessoas, tanto tempo tinha passado que eu percebi
que todo mundo já tinha seguido em frente. Eu estava indo
para casa com meu pai e não estaria de volta, então eu nunca
vi o porquê de tentar me manter em contato. Ainda mais agora
que eu estava a milhares de milhas de distância, eu realmente
não via o ponto.
Meu pai deve ter percebido isso também, porque ele forçou
um sorriso frágil e esfregou as costas de seu pescoço como se
ele de repente estivesse extremamente desconfortável.
— Obrigada— eu disse. — Então, hum, onde estão todas as
minhas coisas?
O rosto de meu pai relaxou, como se eu tivesse feito apenas
uma pergunta fácil, sobre um tema muito mais seguro. —
Tudo em seu quarto, exceto os móveis, obviamente, tudo está
embalado em caixas no seu armário.
No meu armário? — Quão grande é o armário?
Jennifer achou isso engraçado. — Não tão grande quanto o
meu, mas eu duvido que você tenha problemas com sapatos
como eu tenho.
Eu não quis dizer a ela que minha mãe e eu tínhamos um
problema com sapatos. Tínhamos o mesmo tamanho de pé e
deve ter tido um caminhão de sapatos entre nós. Não que eu
estaria usando qualquer um deles novamente. Nenhuma
sandália de dedo ou saltos de qualquer natureza para mim,
agora só sapatos especiais que terapeuticamente apoiam meus
pés queimados e gritam ‘avó’. Eles tinham fixado a minha
mão, me dando bastante movimento para que eu fosse capaz
de escrever novamente. Eu ainda estava trabalhando em fazer
a minha caligrafia legível, mas não puderam fazer mexer
inteiramente meus dedos dos pés.
— Nós deixamos tudo em caixas, porque nós pensamos que
você gostaria de desempacotar e organizar as coisas você
mesma.
Papai disse. — Mas se você quiser ajuda, nós estaremos
felizes em fazer o que você precisar.
— Não. Eu posso fazer. E sobre as coisas da mamãe e no
resto do apartamento?
— Eu empacotei tudo o que parecia significativo, retratos,
objetos e alguns pertences de sua mãe, que eu pensei que você
pudesse querer. Não havia muito, apenas um par de caixas de
valor. Eles estão com as suas coisas. Tudo o resto eu me livrei.
— E sobre os livros? — Meu coração começou a bater no
meu peito. Minhas estantes não estavam nessa sala, e eu
duvidava seriamente que estavam no meu armário. — O que
você fez com todos os meus livros?
— Todos os livros que estavam sala de estar? Eu os doei.
— Você o quê?
Meu pai se encolheu quando eu gritei e obteve uma
expressão de pânico em seus olhos. — Sinto muito, querida.
Eu não percebi…
— Você deu todos os meus livros?
Talvez fosse uma coisa estúpida para perdê-lo, mas depois
de todo o estresse emocional que eu tinha passado naquele dia,
eu simplesmente não conseguia lidar com o pensamento de
que meus livros terem ido. Eu os tinha durante anos.
Desde que eu tinha aprendido a ler, ele tinha sido minha
coisa favorita a fazer. Mamãe tinha me dando livros no meu
aniversário e no Natal e, por várias vezes, simplesmente
porque ela fez por tanto tempo, tinha se tornado uma tradição.
Eu tinha ido para reservar contratações e convenções em
todo o nordeste e tinha dezenas de livros assinados por todos
os meus autores favoritos. Toda vez que eu ia para minha
Mama com aquele olhar no meu olho ela ria e dizia:
— Onde foi esta? — Em cada assinatura, eu tinha pedido
para alguém tirar uma foto de Mama, eu e o autor, eu colava a
foto na parte interna da capa do livro.
Agora, os livros, as imagens e as memórias… Eles foram
todos embora. Assim como Mama tinha ido embora. Eu nunca
os terei de volta, e eu nunca poderia substituir o que eu tinha
perdido. Foi como perder o meu tudo, novamente.
Meu coração se partiu em mil pedaços minúsculos,
quebrado e sem reparo. Eu explodi em soluços incontroláveis,
rolei na minha cama, e me enrolei em uma bola apertada,
desejando que eu pudesse de alguma forma bloquear a dor.
— Eu sinto muito Ellamara. Eu não fazia ideia. Você não
estava acordada para perguntar. Posso conseguir novos livros,
no entanto. Nós vamos esta semana e você pode obter o que
quer que você goste.
O pensamento dele tentando substituir essa coleção me
revoltou para além do meu pensamento. — Você não entende!
— Eu gritei. — Por favor, vá embora.
Eu nunca ouvi o clique da porta fechando, mas ninguém me
incomodou até a manhã seguinte. Chorei por horas até que eu
desmaiei de cansaço.
Capítulo
Dois

A única coisa que eu vou dizer da Califórnia é que todo


mundo aqui tem tão boa aparência. Por um lado, é uma
porcaria, porque só vai fazer minhas cicatrizes se destacarem
mais, quando todos ao meu redor parecem tão perfeitos o
tempo todo. Por outro lado, porém, eu gosto de passar tempo
com homens bonitos, tanto como as outras garotas, e toda a
minha equipe nova de reabilitação é linda. Isso é bom porque
faz todo o tempo que tenho para gastar com cada um deles
,muito mais agradável.
Meu nutricionista e meu enfermeiro são dois rapazes
quentes, na casa dos trinta. Meu nutricionista é também um
personal trainer em meio período. Eu nunca fui muito de me
exercitar, mas o cara me faz querer participar de uma
academia. Meu terapeuta físico tem apenas vinte e oito anos e
é absolutamente de dar água na boca. Ele parece como se
pertencesse à TV e não aqui na minha sala, obrigando-me a
exercitar até que eu sentisse vontade de chorar. A fisioterapia,
nestas duas últimas semanas, tem sido algo que fez eu quase
olhar para frente. Quase.
Eu engasguei com um inesperado aumento da dor e prendi a
respiração para que eu não gritasse.
— Vamos, Ella, apenas mais um. Eu sei que você consegue.
Todo o caminho para seus sapatos, desta vez.
Eu queria chorar, mas eu fiz mais um dedo do pé mexer,
porque Daniel sorriu para mim com tanta confiança que eu não
podia deixá-lo para baixo. E eu juro que ele piscou seus cílios.
Eu empurrei meus dedos em direção ao chão, esticando minha
nova pele em alguns dos lugares mais apertados. Eu sabia que
a fisioterapia era supostamente para ser dura, é como a frase
‘sem dor, sem ganho’ literalmente, mas eu simplesmente não
conseguia fazer meus dedos alcançarem meus sapatos.
Meu corpo inteiro estava queimando. Lágrimas enchendo
meus olhos e eu estava de volta. — Sinto muito. Eu não posso.
Eu sinto que meu corpo vai rasgar a qualquer segundo.
Daniel franziu a testa, não em frustração ou decepção, mas
de preocupação por mim. A ação foi digna. — Você alcançou
seus sapatos uma vez na segunda-feira. Você tem feito seus
exercícios todos os dias como nós falamos?
— Sim, mas acho que a minha pele odeia o ar da Califórnia.
Ela está irritada todo o tempo.
— Deixe-me ver,— Daniel exigiu. Eu puxei a minha camisa
um pouco para que ele pudesse inspecionar a minha volta, e
levantou minhas calças para ele pudesse dar uma boa olhada
por trás dos meus joelhos. — Por que você não disse alguma
coisa antes? Eu não deveria ter te empurrado tão difícil. Você
não está coçando, certo?
— Estou tentando não fazer isso.
— E a exposição ao sol? Sem banhos de sol no pátio? Não
houve viagens para a praia?
— Sim, claro! — Eu zombei. — Desfilando em público em
um maiô está no topo da minha lista de coisas a fazer. Eu
ainda nem sai de casa uma vez desde que cheguei aqui. Eu sou
praticamente um vampiro agora.
Daniel parou inspecionando minha pele e franziu a testa
novamente. Desta vez eu estava em apuros. — Primeiro de
tudo, a praia é incrível e você adoraria. No próximo verão,
quando sua pele estiver mais forte, eu vou te levar lá eu
mesmo. — Delicioso Daniel, em nada além de um par de
calções? Isso seria quase merecedor aos olhares.
— E segundo, quando o seu enfermeiro vem?
— Não até segunda-feira.
— Isso não é breve. Sua pele está muito ressecada. Você
ainda está se ajustando à mudança climática. Cali é muito mais
seco do que a Costa Leste.
— Meu cabelo concordaria com você.
Daniel riu e começou a vasculhar sua mochila,
aparentemente em uma missão. — Aha! Eu tenho algum
comigo. — Ele pegou uma garrafa de óleo mineral e sorriu. —
Vá se trocar e eu vou lhe dar uma massagem. Sua mãe tem
uma mesa de massagem, certo? Eu acho que ela disse a última
vez que estive aqui.
Eu não sabia que eu tinha congelado até que o sorriso
brincalhão no rosto de Daniel caiu.
— Ela não é minha mãe,— eu disse, no entanto, isso não era
o que tinha feito meu estômago de repente amarrados em nós.
— E sim, ela tem uma, mas você não tem que fazer isso.
Tenho certeza de que vai ficar bem até segunda-feira.
Ele tinha visto as minhas cicatrizes já, mas um braço ou
uma perna aqui e ali era diferente do que assistir a toda a
imagem de uma só vez.
Daniel me olhou diretamente nos olhos, como se soubesse
exatamente o que minha hesitação era. — Ella. — Sua voz era
suave, mas severa. — Você vai estar toda rasgada e sangrando
até segunda-feira. Não podemos arriscar estourar seus
enxertos. Você não quer outra cirurgia, não é?
— Não. — Minha voz tremeu quando eu lutava com as
minhas emoções.
— Se você está tão desconfortável comigo, eu posso chamar
Cody ou você pode ter um de seus pais fazendo, mas tem que
ser feito hoje.
Como se eu teria o meu pai ou Jennifer fazendo isso.
Eu odiava quando meu enfermeiro tinha que me ver tanto
quanto eu odiava que Daniel visse, por isso não havia sentido
em pedir-lhe para chamar Cody. Eu respirei fundo e assenti. —
Desculpa. Pode ser você. Está bem, eu vou me trocar.
— Boa menina. — Daniel sorriu para mim com tanta
sinceridade, cheio de orgulho que ele puxou minhas entranhas.
— Você é um dos meus pacientes mais bravos, você sabe
disso?
Eu consegui rir. — Eu aposto que você diz isso para todos
os seus pacientes.
Daniel sorriu. — Eu faço, mas eu realmente quero dizer isso
com você.
— Eu aposto que você diz isso para todos eles, também. —
Me virando, eu fui para o meu quarto para colocar em um
biquíni toda temerosa.
Quando eu finalmente consegui coragem para sair do meu
quarto, Daniel já tinha arrumado a mesa de massagem na sala
de estar. Eu segurei minha respiração, mas quando ele olhou
para cima, ele sorriu como se nada estivesse diferente. Não
houve um segundo de hesitação. Nem sequer vacilou. Ele
simplesmente deu um tapinha na mesa.
É por isso que eu amo médicos. A equipe no centro de
queimadura em Boston era toda exatamente como Daniel.
Para eles, eu era apenas uma pessoa qualquer. Durante a
minha estadia lá, eu mesmo me enganava em pensar que a
vida não seria tão ruim.
Na minha viagem de Boston para Los Angeles, eu tinha
feito em sapatos, calças e uma camisa de manga comprida. As
únicas cicatrizes que tinham sido visíveis estavam na minha
mão direita, e é claro que eu mancava. As pessoas olhavam
como se eu fosse um monstro com três cabeças. Eles
sussurravam e apontavam e se encolhiam. Eu não poderia
imaginar o que seria sair de casa em um top e calções.
Juntando um pouco de coragem, eu fui em direção a ele,
mas quando entrei na sala Jennifer me viu.
Ela estava carregando um par de copos cheios de limonada
e quando ela me viu com todas as minhas cicatrizes expostas,
ela engasgou e seus olhos encobertos com lágrimas. Ela teve
que arrumar os óculos para baixo e sentar-se.
— Sinto muito,— ela sussurrou. — Rico disse que era ruim,
mas eu não tinha ideia… Eu sinto muito, Ella. — Ela olhou
para mim e encolheu-se novamente. — Desculpe-me,— ela
disse, e então subiu correndo as escadas para o quarto dela.
Fechei os olhos e respirei fundo. Daniel me deu um minuto
para me recompor e, em seguida, delicadamente pegou a
minha mão. — Você precisa de ajuda para subir?
Normalmente eu teria tentado eu mesmo, mas desta vez eu
deixei ele me levantar sobre a mesa. Deitei-me no meu
estômago primeiro, porque eu não estava pronta para olhar
para ele. Eu não poderia, depois que eu tinha acabado de fazer
minha madrasta correr para o quarto.
— Eu não sei por que meu pai pagou por cuidados em casa,
— eu resmunguei quando Daniel começou a mergulhar minha
pele sensível em óleo mineral. — O centro de queimadura não
é tão longe assim. Eu teria preferido muito mais ir lá para fazer
todas essas coisas.
Daniel ficou em silêncio por um momento e então ele disse:
— Eu gostaria de poder te dizer que vai ficar melhor. Nunca
vai ser fácil, Ella. As pessoas sempre vão reagir, alguns piores
que outros.
— Pelo menos as irmãs bruxas não estão em casa. Jennifer
pode ser indelicada, mas pelo menos ela tenta ser agradável. A
bruxa 1 e a bruxa 2 faziam o diabo parecer manso.
Daniel suspirou. — Olhe para o lado positivo. Você sempre
será capaz de dizer quem são seus verdadeiros amigos. Algum
dia, quando você decidir se estabelecer e se casar, você só
estará conseguindo absolutamente a melhor nata da cultura
para um marido.
Eu bufei. Como se houvesse alguma chance de que alguém
iria namorar comigo agora, muito menos escolher a ser preso
comigo para o resto de sua vida.
— Não se atreva a rir da ideia de que alguém iria te amar,
Ella. Enlouqueceu? — Perguntou ele. Quando eu rolei de
volta, ele tentou fazer uma cara brava comigo. Ele não era
muito bom nisso. — Você é inteligente, espirituosa, e forte. E
você é linda.
— Mais uma vez, você é o meu médico. Você tem que dizer
isso.
Daniel não riu. Ele olhou diretamente para mim, tão grave
como eu já tinha visto ele. — Impressionantemente bela,— ele
insistiu. — Você tem olhos que poderia assombrar os sonhos
de um homem.
Eu queria fazer uma brincadeira, mas algo no rosto de
Daniel tornou impossível, então eu sussurrei. — Obrigada. —
E meu rosto corou.
— Há pessoas lá fora que vão ser capazes de ver o passado
de suas cicatrizes e a menina dentro de você,— disse Daniel.
— Mas você não vai encontrá-los se você se esconde em
casa o dia todo. Não pense que eu me esqueci disso, senhorita.
Estou avisando agora que eu estou indo totalmente
impertinente a sua Dra. Parish.
Eu gemi. Minhas sessões com a minha psiquiatra eram
quase mais dolorosas do que a minha fisioterapia.
— Não me venha com essa cara. É para o seu próprio bem.
Sentada ao redor desta casa o dia todo não é o que você
deveria estar fazendo, e você sabe disso. Você pode passear
Ella. Você não quer que todos os seus últimos meses de
trabalho duro vão para o lixo.
— Mas eu estou fazendo meus exercícios todos os dias. Eu
prometo que eu estou.
— Não é o mesmo. Você precisa estar ativa. Você precisa da
variedade em seus movimentos. Você precisa estar fazendo
todas aquelas coisas que você costumava fazer sem nunca
pensar sobre isso. Além disso, você vai ficar deprimida e,
então, você vai parar de trabalhar tão duro. Então eu vou ficar
mal e seu pai vai me demitir. Você pode querer se livrar de
mim, mas eu prometo que qualquer substituição que encontrar
vai torturá-la também, só que não vai ser tão legal quanto eu.
O homem tinha um ponto. Se apenas todos fossem metade,
tão legal quanto Daniel.
Meu pai entrou no quarto, em seguida, e, silenciosamente
examinou minha pele quando Daniel terminou de hidratá-la.
Suas sobrancelhas caíram sobre os olhos e apontou para a
minha pele. — Por que ela está assim? — Ele estava ali para
testemunhar uma massagem quando eu estava no hospital em
Boston, para que ele pudesse ver a diferença.
Meu pai estava olhando para Daniel, então deixei Daniel
responder à pergunta. — Ela está acostumada à umidade em
Boston. Você pode querer ter seu enfermeiro a checando com
mais frequência até que seu corpo tenha tempo para se adaptar
ao clima da Califórnia.
Papai assentiu. — Vou ligar para Cody, hoje. Ela está bem
para deixar a casa como está? Eu preciso levá-la para se
inscrever na escola.
Ugh. A fisioterapia, horrorizando minha madrasta às
lágrimas, pele seca, visitas extras de meu enfermeiro, e ainda,
o meu dia apenas milagrosamente ficou muito pior. Incrível.
Daniel, que era autoconsciente o suficiente para perceber
que falar sobre as pessoas como se elas não estivessem no
quarto, quando elas realmente estavam bem ali, era além de
rude. Falou para mim quando ele respondeu ao meu pai. Ele
piscou e disse: — O ar fresco vai ser bom para você.

***
Meu pai me matriculou na mesma escola luxuosa particular
que as gêmeas iam. O mais próximo que eu já estive em escola
particular foi assistir aos dramas adolescentes na TV. A escola
alegou uma taxa de sucesso de 98% para o seu programa de
colocação na faculdade. Minha escola em Boston usava
detectores de metal e ostentava um 63% da taxa de graduação.
Como se isso não fosse ruim o suficiente, a escola obrigava
o uso de uniformes. Eles eram com as camisas brancas
tradicionais polo, ou gola alta no inverno e saia plissada de cor
azul marinho. Eu passei o verão trancada dentro de casa e as
poucas ocasiões que meu pai e Jennifer tinham me forçado a
sair em público, eu tinha me coberto da cabeça aos pés. Agora
eles me mandariam ir para a escola vestindo mangas curtas e
uma saia na altura do joelho? Será que eles não entendem
como a maioria dos adolescentes era?
Meu pai era todo sorriso ao chegarmos de volta no carro,
depois de nosso encontro com o diretor. — Então? —
Perguntou. — O que você acha? Você está animada? É bom,
não é?
Foi muito agradável. A escola era enjaulada por enormes
portões de ferro e uma guarita e estava empoleirada em um
gramado gigante. Ela era composta de uma série de edifícios
menores que eram conectados por arcos cobertos, lembrando-
me da idade média. Eu mal podia acreditar que o lugar era
uma escola secundária.
Quando papai dirigiu para fora do estacionamento, meu
coração começou a vibrar em uma maneira familiar. Eu
reconheci como um ataque de pânico. Virei-me totalmente de
lado em meu assento e agarrei seu braço. — Pai, por favor,
não me faça ir lá.
Ele se assustou com a minha súbita intensidade. — Porque,
o que está errado?
— A escola já vai ser bastante difícil. Por favor, por favor,
por favor, não torna pior para mim. Esse lugar é uma loucura.
Pelo menos na escola pública eu vou saber o que eu estou
recebendo, é a mesma porcaria, essa escola é diferente. Os
médicos disseram que eu precisava que fosse ‘familiar’.
Que… — Eu acenei minha mão para a escola atrás de nós. —
Não é familiar. Eu não posso fazer isso. Não me faça ir até lá.
Eu estava cem por cento sincera em relação ao pânico, mas
meu pai teve a coragem de rir de mim. Ele desdenhou a minha
ansiedade como se não fosse nada. — Não seja ridícula. Você
vai ficar bem lá, você vai ver.
— Por que não posso fazer escola online? Eu
provavelmente poderia compensar o tempo que eu perdi e
buscar o meu diploma em poucas semanas, em vez de repetir
todo o meu último ano.
— Você sabe por que você não pode fazer escola online.
Seus médicos todos falaram da importância de estar de volta
em uma rotina normal assim que possível. Quanto mais tempo
você se fechar, mais difícil será para que você viva uma vida
normal.
Eu zombei disso. — Você acha que eu nunca vou viver uma
vida normal de novo?
— O que você quer que eu faça Ella? Eu só estou tentando
seguir as ordens dos médicos. Estou tentando fazer o que é
melhor para você.
Eu queria gritar. Ele não tinha ideia do que era melhor para
mim. — Bem. Eu posso pelo menos ir para uma escola
pública, então?
Meu pai parecia chocado com a sugestão. — Por que diabos
você iria querer fazer isso?
— Uh, não há uniformes, para começar, e porque os alunos
estão autorizados a expressar-se lá, e ser indivíduos. Haverá
muito mais malucos. Eu teria uma chance muito maior de me
misturar.
— Você não é uma aberração.
Eu lanço ao meu pai um olhar incrédulo, desafiando-o a
dizer isso de novo. Ele não o fez.
— Mesmo se eu não fosse aleijada e com cicatrizes, eu não
gostaria de ir para aquela escola. Eu não sou como as filhas da
Jennifer. Eu não pertenço a essa classe mais privilegiada,
escola de contos de fadas ou ricos garotos esnobes.
— Você está sendo muito crítica, Ella. Pelo menos dê uma
chance antes de você decidir que odeia.
— Mas…
— Além disso, minha filha não está indo para a escola
pública quando eu posso fornecê-la uma educação melhor.
Achei completamente ofensivo, considerando que toda a
minha educação, até agora, tinha sido em escola pública. —
Isso não parecia incomodá-lo no ano passado. — Eu bati. —
Mas então, eu acho que eu não era realmente sua filha no ano
passado, eu era? Ou todos os anos que frequentei a escola
pública antes.
Meu pai travou, sua expressão foi para uma cara de poker
séria. Eu só podia levar a pensar que eu realmente o irritei ou
ferir seus sentimentos. Provavelmente ambos, mas isso não
importava naquele momento. Eu estava muito irritada, com
muito medo, e eu perdi minha mãe, era demais para me
importar que o homem que tinha nos deixado pensava.
— Você já está matriculada. Eu não estou te enviando para a
escola pública. Fim da discussão.
Fechei minha boca e cai para trás em minha cadeira,
optando por ficar em silêncio e olhando para fora da janela o
resto do caminho de casa. Fim da discussão? Bem. Eu não me
importava se fosse a última conversa que já tivemos.
Capítulo
Três

Brian
Eu caí de volta na minha cadeira e liguei meus fones de
ouvido no meu telefone. Talvez o mais novo álbum da Katy
Perry iria me impedir de morrer de tédio. Eu odiava essas
reuniões.
Uma vez que a música encheu meus ouvidos, eu soltei um
pequeno suspiro. Bem melhor. Nada acalmava minha alma
como a voz sexy da Katy. E ela era tão bonita. Eu deixei meus
olhos se fecharem e a imaginei rugir para mim, na minha
própria serenata privada. Talvez ela saísse comigo. Um dos
idiotas nesta sala tinha que saber como entrar em contato com
seu agente. Assim que eles parassem de conversar, mesmo se
eles nunca parassem, eu perguntaria.
Esperemos que eles pudessem fazer algo útil pelo menos
uma vez.
Um dedo bateu no meu ombro, mas eu ignorei.
— Brian!
Suspirando, eu arranquei os fones de ouvido dos meus
ouvidos. Esse momento de alívio não durou muito tempo. Eu
abri meus olhos para encontrar a maioria da minha equipa de
gestão olhando para mim. Meu pai, o diretor de cinema
popular Max Oliver, estava sentado do outro lado da grande
mesa de reunião olhando para mim, olhando como se quisesse
me estrangular. Boa.
Esta seria a última vez que eu trabalhava com meu pai. Se
não fosse As Crônicas de Cinder eu nunca teria tomado o
trabalho, em primeiro lugar. Família e empresa nunca deve se
misturar, especialmente quando minha família era quebrada.
O meu novo assistente, Scott, colocou um papel na minha
frente e, em seguida, chegou em torno de mim para passar a
pilha a minha co-estrela{8}, Kaylee Summers.
Eu gemi com a lista de datas impressas no papel.
Amassando o cronograma em uma pequena bola, eu me
inclinei para trás na minha cadeira com o objetivo e atirei. O
basquete improvisado passou por toda a sala, caindo na cesta
de lixo, sem tocar um único lado. — Aha! Dois pontos!
Levantando a mão para um ‘high five’{9}, eu me virei para
Kaylee. — Você viu aquilo? Talvez eu tenha me apressado em
eleger meu caminho na vida. Acho que vou fazer o teste para o
Lakers na próxima temporada.
Kaylee me deu seu olhar de desdém habitual e me deixou
pendurado. Tanto faz. Scott seria bom para mim. Virei-me para
ele na próxima. Ele olhou nervosamente ao redor da sala, mas
acabou por ser muito covarde para ignorar o meu pedido e deu
um tapa na minha mão.
Eu ri com os nervos do indivíduo. — Relaxe, Scotty. Eu sou
o único nesta sala que pode demiti-lo, por isso, quando em
dúvida, me satisfaça, não a eles. Eles não vão te culpar.
— Você acabou de desperdiçar todo o nosso tempo? — Meu
pai retrucou.
A raiva passou por mim, como sempre fazia quando meu
pai estava por perto. Eu furtei a cópia de Scott do cronograma
e acenei o ao redor. — Esta reunião estúpida é um desperdício
de tempo para todos.
Toda a minha equipe de gerenciamento ficou ofendida com
a minha declaração, mas era meu agente, Joseph, quem falou.
— Esse é o esboço para a turnê de divulgação de O Príncipe
Druida. Você precisa prestar atenção a ela.
— Por quê? Isso é o que Scotty faz. — Eu joguei meu braço
sobre o ombro do meu assistente. — Esse cara louco tem
habilidades de programação, por isso que eu o contratei. Ele
provavelmente já tem oito backups diferentes desta lista
impressa e guardada para situações de emergência. Não há
nenhuma maneira que ele já tenha me deixado esquecer uma
reunião. Acredite em mim, eu tentei o meu melhor para perder
essa.
Joseph suspirou. — Você está aqui porque seu assistente
não pode aprovar a agenda para você.
— Você precisa da minha aprovação? — Eu zombei. —
Como se eu tivesse algum tipo de palavra a dizer aqui?
— Claro que você tem.
Eu queria rir, exceto que realmente não era engraçado. Eu
não tinha tido uma palavra a dizer sobre qualquer coisa desde
o meu primeiro filme adolescente, que bateu recorde de
bilheteria. Agentes, empresários, publicitários, advogados,
consultores de imagem, personal trainers, um milhão de
outros… Eles controlavam a minha vida agora, o que eu podia
ou não podia vestir, o que eu podia ou não podia comer, que
atividade eu podia ou não podia participar, o que eu podia ou
não podia dizer.
Inferno, eles tinham programado toda essa turnê de
divulgação uma vez sem me consultar. O que eles me
entregaram agora era apenas um itinerário que já foi gravado
na pedra.
Na digitalização da lista, eu vi que havia semanas de
entrevistas, sessões de fotos, aparições públicas, estreias de
filmes, aparições em rádio e TV em talk shows{10}. Los
Angeles, Nova York, Chicago…
Eu encontrei os olhos de Joseph e levantei uma sobrancelha
em um arco desafiador. — Tenho certeza que você já tem as
passagens aéreas e quartos de hotel reservado, por isso que
inferno importa se eu aprovo isso ou não? E se eu não aprovo
nada disso? ‘The Kenneth Long Show’? Esse cara é um idiota
total. Eu definitivamente não aprovaria isso.
Joseph fez uma careta, mas seu rosto se estabeleceu em um
olhar de determinação sombrio. — O ’The Kenneth Long
Show’ é um programa de televisão de horário nobre. É o talk
show mais popular dos últimos tempos. Ele tem milhões de
telespectadores. Você não pode deixar passar uma entrevista
com ele, porque você não gosta dele.
— Tudo bem, mas o que é essa porcaria ‘Celebrity Gossip’?
Eles são um tabloide de maldição.
Meu publicitário, também um total idiota, limpou a sua
garganta e saltou para defender o cronograma. — Eles são o
maior tabloide do mundo. Se eles gostam de você, eles podem
fazer de você a pessoa mais famosa no mundo, e se não o
fizerem, eles podem transformá-lo na maior piada e nunca sair
de Hollywood.
— Eles já estão observando você, Brian,— meu gerente,
Gary, acrescentou, franzindo o cenho para mim. — É melhor
trabalhar com eles e ter seu lado bom do que tê-los inventando
histórias como estas em todos os meios de comunicação a cada
semana.
Gary jogou a cópia mais recente do ‘Celebrity Gossip’ em
cima da mesa e deslizou para mim. Eu li a legenda e sorri.
Conseguir Adrianna Pascal voltando para casa comigo na
semana passada tinha sido a coisa mais valiosa que eu tinha
feito durante todo o ano.
— Você ficou com a noiva de uma estrela de rock
mundialmente famoso, Kyle Hamilton, em sua própria festa de
aniversário.
Hei. Nós fizemos muito mais do que ficar naquela noite.
Olhei ao redor da sala com grandes olhos inocentes.
— Eles estavam ainda juntos?
— Você rompeu o casamento, maldição.
Eu dei de ombros. — O cara é um idiota egoísta. Além
disso, se ela realmente o amava, ela não teria ficado em torno
de mim a noite toda.
Meu pai finalmente perdeu o controle. — Este não é o tipo
de imprensa que você precisa agora! — Ele gritou. — Você
acha que é a primeira estrela adolescente quente para tentar e
correr com os meninos grandes? Você não é! Hollywood vê
novos idiotas como você a cada ano. Se você não consegue
resolver suas coisas, o seu próximo grande show vai ser:
‘reality TV show apresenta onde estão eles vinte anos depois’.
Eu olhei para o meu pai com mais ódio do que seria
fisicamente possível. Meu pai nunca me respeitou, nunca teve
fé em mim. Riu-se de todos os filmes que já fiz. Ele
constantemente disse que eu não poderia lidar com ‘jogar com
os meninos grandes’ desde que eu lhe disse que queria fazer o
meu próprio caminho na indústria do cinema, em vez de
simplesmente deixá-lo lançar-me em seus filmes. Agora, ele só
estava esperando por mim, para falhar de forma que ele
poderia jogar isso na minha cara.
— Eu já tive o suficiente desta besteira. — Eu empurrei a
cadeira para trás da mesa de conferência, amassando o
segundo calendário em outra bola. Desta vez eu estava
zangado demais para me concentrar e meu tiro perdeu a lata de
lixo.
Antes que eu pudesse sair rapidamente da reunião, Lisa, a
produtora executiva do filme, e a única pessoa na sala além de
Scott que eu poderia realmente conviver, me encontrou na
porta e bloqueou meu caminho.
— Brian,— disse ela, pegando a minha mão. Seu sorriso era
completamente maternal, mas ainda suavizou mais.
— Nós sabemos que você está frustrado. Você teve algum
azar com os paparazzi ao longo do último ano, mas esta
excursão da imprensa é importante.
Algumas más sortes? Desde que fui escalado para
interpretar Cinder, eu me tornei novo menino de ouro dos
paparazzi para todo o mercado feminino. Eles me prendem
constantemente, a fim de vender milhões de revistas para todas
as mulheres do país, entre as idades de doze e sessenta. Elas
me seguem por toda parte. Eu não poderia limpar minha bunda
sem tê-lo estampado em cada capa de revista nos Estados
Unidos. Eu não tinha tido um momento de paz em mais de um
ano.
— É importante para todos nós, Brian, mas especialmente
para você— , disse Lisa. — Foi entregue a você um presente.
Cinder é o papel de uma vida e você o agarrou. Todos os
críticos e os espectadores, vão se apaixonar pelo seu
desempenho. Se você jogar seus cartões direito, você poderia
ter uma chance de uma indicação ao Oscar.
Isso me fez parar. Joseph saltou sobre minha hesitação. —
Ela está certa, Brian. Houve algum ruído.
Cabeças balançavam de acordo, ao redor da mesa de
conferência. Todo mundo sorriu com exceção de Kaylee, que
provavelmente não poderia suportar que eu a ofuscasse
completamente neste filme. Não havia definitivamente
murmúrio sobre o Oscar em torno de seu nome.
Sem poder me deter, eu olhei para o meu pai. O cara era um
dos maiores nomes de Hollywood.
Tanto quanto eu odiava o homem, eu nunca poderia ganhar
a sua aprovação.
Papai encontrou meu olhar com uma expressão séria. —
Você tem feito muito bem.
O elogio me chocou tanto que voltei para o meu lugar. —
Obrigado.
Meu pai concordou. — Este filme poderia ganhar muito
respeito pela cidade. Você pode fazer a transição do status de
ídolo teen e se tornar um jogador sério da lista. — Ele pegou a
revista da mesa e acrescentou, — Mas a elite de Hollywood
não gosta de deixar entrar pessoas que trazem esse tipo de
drama. Não importa quão bom ator você seja, eles não
respeitam você ou eles acham que você está indo para causar-
lhes problemas, eles não vão continuar a trabalhar com você.
Infelizmente, ele estava certo. Se minha equipe estava
falando sério sobre a quantidade de murmúrio que eu estava
tendo para este trabalho, então eu estava indo intensificar meu
jogo um pouco. Eu ia ter que encontrar uma maneira de fazer
as pessoas me levarem a sério. Isso não era fácil de fazer
quando o mundo me considerava nada, mas um pedaço
delicioso de olhos doces.
— O que eu devo fazer? — O antagonismo foi embora da
minha voz, mas não a amargura. — Eu não posso fazer nada se
todas as pessoas querem falar, quando eles me entrevistam, é
sobre os meus músculos e se eu jamais consideraria namorar
uma fã. Não é minha culpa que eu tenho uma maldita boa
aparência para ser levado a sério.
— E se nós o envolvermos em uma instituição de caridade?
— Alguém perguntou.
— Muito enigmático. — Alguém respondeu. — Isso já foi
feito muito. As pessoas iriam desconfiar.
— Que tal matricular ele na faculdade? — Outra pessoa
sugeriu.
Sim! Eu poderia mostra-me de acordo com isso. Eu sempre
quis ir para a faculdade. Eu tinha sido educado em casa com
um professor particular toda a minha vida. A coisa mais
próxima que eu já tinha chegado a uma verdadeira escola, foi
quando atuei um estudante do ensino médio nos filmes.
— Ei, sim, eu poderia fazer isso. Eu poderia ir para a
UCLA! Vamos urso marrom! Eu gostaria de estudar Inglês e
Literatura.
Joseph balançou a cabeça, mandando-me um sorriso
simpático. — Isso é realmente uma boa ideia, mas você não
teria o tempo.
— Mas só estou envolvido no filme O Príncipe Druida,—
argumentei. — Eu não tenho nada acontecendo agora. Eu
poderia fazê-lo totalmente. Eu posso levar dois anos fora e ir
para a escola. Ia me manter longe de problemas.
Todos na sala balançaram coletivamente suas cabeças.
— Por que não? — Me irritava que eles estavam tão
rapidamente descartando a ideia. — O que prova que eu sou
responsável mais do que conseguir um diploma universitário?
Eu sou inteligente o suficiente. Eu tiro boas notas.
Lisa sorriu, mas estava cheia de piedade. — Claro que você
iria, mas há cinco livros na série As Crônicas de Cinder.
Quando O Príncipe Druida chegar aos cinemas e quebrar os
recordes de bilheteria, o estúdio vai dar sinal verde aos outros
quatro filmes. Eles já estão trabalhando no próximo script.
Você vai filmar novamente até à primavera.
Meu coração afundou. Eu deveria ter sabido que não teria
permissão para fazer algo tão normal como ir para a faculdade.
Estendi a mão para meus fones de ouvido, novamente. Minha
opinião claramente não era necessária nesta conversa, e
qualquer que seja o esquema que eles falariam, eu tinha
certeza que eu precisaria da Katy para me animar.
— E se ele ficar noivo?
Deixei meu telefone antes que a música tivesse a chance de
começar. — Desculpe-me? — Eu fiquei boquiaberto, com
horror do meu agente e esperei que a ideia fosse fazer todos
rirem, mas ninguém se opôs. — Você não pode estar falando
sério. Noivo?
— Na verdade, é brilhante! — Disse Joseph. — Esta nação
vive por um grande amor. Satisfaz dos pequeninos aos grandes
e mostra ao mundo que Brian Oliver está crescendo. Que ele
está pronto para se estabelecer, terminando com seus caminhos
de bad boy e começando a levar a vida a sério.
Eu tentei não me ofender com isso. Eu sempre fui sério
sobre a minha carreira. Eu vinha trabalhando desde que eu era
uma criança, e nunca tive a chance de ser um adolescente
normal, porque eu tinha estado muito ocupado levando a vida
a sério.
— Eu sou novo demais.
— É mais romântico e ninguém vai culpá-lo quando você
quebrá-lo mais tarde.
— Quem diabos você sugere para que eu fique noivo? Eu
apenas deveria ir arrancar alguma garota aleatória na rua e dar-
lhe um anel?
— Eu vou fazer isso.
A sala inteira ficou em silêncio. Kaylee estava no SMS em
seu telefone e não olhou para cima para encontrar o olhar de
ninguém, mas ela deu de ombros, sabendo que ela tinha toda a
atenção da sala. — Este é o meu primeiro filme. Eu poderia
usar a publicidade.
Lutando com o meu reflexo da mordaça, eu me encolhi. Se
existia alguma genética que degradava a raça humana, era a
criação de Kaylee Summers. Ela era como aqueles que
vendem coelhos de chocolate na Páscoa, deliciosa na parte
externa, completamente oca por dentro, e muito dela me
deixava doente do meu estômago. Era ruim o suficiente que eu
tinha que atuar maravilhosamente com ela no trabalho. De
jeito nenhum eu poderia manter essa pretensão fora do set.
— Eu amei isso! — Joseph declarou.
— Gênio! — Gary concordou.
Até meu pai sorriu com entusiasmo e disse: — É perfeito.
— De jeito nenhum! Se eu tiver que ficar comprometido, é
com Katy Perry ou ninguém.
Kaylee olhou para cima de seu telefone, tempo suficiente
para rir. — Você sonha.
— A única sonhando aqui, baby, é você.
A raiva brilhou nos olhos de Kaylee, mas seu sorriso se
transformou predatório. — Qual é o problema, baby? Nós
estivemos juntos uma vez antes e eu não me lembro de você
ter quaisquer queixas, em seguida. Vamos lá, faça isso comigo.
Poderíamos ter algum divertimento.
Estremeci. — De jeito nenhum.
Várias pessoas na sala suspiraram e, novamente, foi deixado
para Lisa me persuadir em me conformar.
— Brian pense nisso,— ela insistiu. — Um romance da vida
real entre os dois, iria gerar milhões em publicidade gratuita.
Seus fãs iriam cair em cima. Seria ótimo para o filme e sua
carreira.
— Um romance da vida real com ela? — Eu repeti. — Eu
acho que você está superestimando minhas habilidades de
atuação, Lisa.
Isso enxugou o presunçoso sorriso do rosto de Kaylee. —
Idiota.
Voltei o sentimento, sem vergonha. — Cadela.
— Uau! Brian,— meu pai interrompeu. — Isto não é apenas
sobre você. Nós todos precisamos disso. Este é o meu primeiro
mergulho em filmes mais sérios. Se o meu ator principal pode
ganhar uma indicação ao Oscar, eu poderia obter qualquer tipo
de trabalho que eu queira depois disso e não apenas filmes de
ação.
— Não tem que ser real,— acrescentou Gary. — E isso não
vai durar para sempre. Apenas uns dois meses para serem
vistos juntos em público, e, em seguida, após os lançamentos
de filmes, vocês podem parar. Sem danos causados. Você
poderia se engajar muito rapidamente e simplesmente dizer às
pessoas que marcaram a data em segredo durante as filmagens.
Amores secretos são emocionantes. O mundo vai ficar louco
sobre ele.
Olhando ao redor da sala, senti a necessidade de perfurar
alguma coisa. Não havia nenhuma maneira de ficar fora disso,
eu era o único homem contra. Kaylee sorriu para a derrota em
meus olhos. — Eu vou fazer uma reserva em algum lugar
agradável. Ah, e meu anel de platina tem que ser o maior, no
mínimo três quilates.
Capítulo
Quatro

A única mulher na minha equipe de reabilitação era a minha


terapeuta psicológica, mesmo que ela ainda era jovem e
atraente, era realmente a melhor, embora, eu realmente
necessitava unir sentenças coerentes nas nossas sessões, o que
parece quase impossível para eu fazer em torno do delicioso
Daniel.
Dra. Parish começou com a inquisição antes de eu sequer
me acomodar na grande poltrona de couro em seu escritório.
— Como foi a sua semana, Ella? Qualquer progresso para
relatar?
Eu amava a cadeira, mas odiava minhas sessões semanais
de terapia. Elas eram um pouco estranhas no melhor e eu
sempre saía me sentindo horrível. — Eu finalmente assisti
todos os episódios que eu perdi de Once Upon A Time. —
Esse foi o único progresso que eu poderia pensar. Ele foi
basicamente a única coisa que eu tinha feito durante toda a
semana.
— Você sabe que eu estava falando sobre sua família.
— Essas pessoas não são a minha família.
Dra. Parish sorriu para mim. — Eu entendo porque você se
sente assim. No entanto, eles são sua família e você precisa
aceitar isso. Você precisa encontrar uma maneira de construir
um relacionamento com eles.
— Eu não posso construir um relacionamento com as
pessoas que não gostam de mim e não me querem por perto. A
única vez que eu conversei com as gêmeas foi quando elas me
chamaram para se certificarem de que estaria me escondendo
no meu quarto antes de trazer seus amigos para casa, e elas me
dizem que vão me mandar um texto quando é seguro eu sair.
A coisa sobre a Dra. Parish é que ela nunca perde a calma.
Eu sei que ela deve ficar frustrada, mas de alguma forma ela
sempre parece e soa realmente simpática. — Tenho certeza
que você está interpretando mal as intenções delas. Talvez
quando elas chamam para te dizer que estão trazendo amigos
para casa, é sua maneira de tentar te incluir.
Eu bufei com isso. Dra. Parish é uma mulher inteligente,
mas ela tem uma forma muito otimista. — As palavras exatas
de Anastásia quando ela me ligou ontem foram: ‘Hey,
aberração, eu estou trazendo alguns dos meus amigos em casa
e todos eles têm realmente medo de cães maus, por isso
certifique de se trancar em seu quarto esta noite. Vou mandar
um texto quando for seguro sair’. Chame-me pessimista, mas
eu não acho que eu interpretei mal isso.
Os olhos da Dra. Parish se estreitaram, mas ela não disse
nada.
— A melhor parte sobre isso,— eu continuei, — foi todo o
riso no fundo. Ela estava com seus amigos quando ela ligou
para me dizer isso. Ela esperou até que ela teve uma audiência
de propósito.
— Você falou com seus pais sobre o comportamento da sua
meia-irmã?
Mais uma vez, eu ri sem humor. — Ela disse pior sobre o
meu rosto com o meu pai e Jennifer bem ali. Eles sempre
apenas forçam esses risos nervosos como ‘Oh, que doce, as
meninas estão brincando umas com as outras’. Eles nunca
dizem nada. Eles estão em total negação. Eles dão a essas
meninas o que elas querem e as deixam fazer o que quiserem.
Juliette pelo menos tem a decência de simplesmente fingir que
eu não existo, se eu ficar fora de seu caminho, mas Ana é
cruel, podre, princesa mimada. Eu não seria amiga dela,
mesmo que ela me desse a chance. Ela não é o tipo de pessoa
que é saudável para qualquer um para ser amigos. Ela é por
excelência uma das ‘Mean Girl’{11}, como o tipo que tem no
filme.
Dra. Parish suspirou. Ela largou a caneta que está sempre
tomando notas durante as nossas sessões e tirou os óculos para
esfregar os olhos. Obviamente cansada de andar em círculos,
ela mudou de assunto. — Vamos falar mais sobre sua tentativa
de suicídio.
Eu gemi, mas eu ainda puxei as mangas da minha camisa.
Eu tinha cicatrizes por todo o corpo, mas as em meus pulsos
eram diferentes. Essas cicatrizes eram minha culpa. Nesse
momento da minha vida foi uma decisão que verdadeiramente
me arrependi. Algo que eu me envergonhava. — Isso foi um
erro,— eu sussurrei. — Eu não estava mesmo séria.
— Eu li os relatórios Ella, e eu vi um número de casos de
tentativas de suicídio. Se você tivesse tido mais de uma faca
de carne disponível para você, você teria conseguido. Você
quase fez. Você não estava brincando.
— Tudo bem, talvez eu estivesse falando sério nesse
momento então, mas eu não estava pensando claramente. Esse
foi um momento muito ruim para mim, mas eu pensei melhor.
Dra. Parish não acreditou em mim.
— Eu posso andar de novo! Estou aprendendo a escrever
com a mão ruim de novo! Os médicos em Boston me disseram
que não deveria ser possível. Você acha que eu teria trabalhado
tão duro e me colocando em muito mais dor tentando realizar
essas coisas, se eu ainda pensasse em acabar com a minha
própria vida? Eu estava deprimida depois do meu acidente e
perdi a cabeça por um tempo, mas eu não sou suicida mais!
Por que ninguém vai acreditar em mim?
Dr. Parish levantou-se de sua mesa e caminhou com uma
caixa de lenços para mim. Depois que eu a contragosto peguei
um, ela sentou-se na outra cadeira, ao lado da minha. — Eu
acredito em você Ella— , disse ela. — Você tem um monte de
estrada para percorrer adiante ainda, mas eu sei que você já
percorreu um longo caminho a partir desse lugar escuro. O que
você não entende é que até a sua vida ficar muito mais estável,
seria muito fácil para você cair de novo aí. Pelo menos
vivendo na casa de seu pai, se você se sente confortável ou
não, ainda há alguém cuidando de você, quem ama você e tem
seus melhores interesses em mente.
Isso me provocou tanta raiva que eu comecei a tremer. —
Você acha que o homem me ama? Você acha que ele tem seus
melhores interesses em mente? Ele nem sequer me conhece!
No outro dia ele me matriculou na mesma escola de suas
filhas. É esta escola privada extravagante como você vê na TV,
mostrando sobre crianças ricas com uma vida fodida.
— É provavelmente uma grande escola, Ella.
— Talvez, mas isso não significa que é o caminho certo
para mim. Ele me levou para ver o lugar quando ele me
matriculou, e eu senti como se tivesse ido a algum planeta
alienígena. Eu cresci indo para uma escola pública do interior
da cidade de Boston. Tivemos detectores de metal, e não um
sushi bar. Eu não vou me ajustar lá dentro. Eu não vou nem
saber como interagir com os alunos de lá. Nós não vamos ter
nada em comum. Toda essa gente vai ser como Anastásia e
Juliette. Além disso, temos que usar uniformes, saias curtas e
camisetas polo! Vai ser um inferno para mim.
Quando a Dra. Parish suspirou, tentei me defender de uma
forma que não apenas soasse como se eu estivesse me
lamentando.
— A escola pública seria muito mais familiar para mim.
Seria muito mais diversificada. Eu seria capaz de vestir o que
eu quisesse, então eu não teria que ter sempre as minhas
cicatrizes em exposição como uma espécie de show de
monstro. Eu seria capaz de me misturar mais. Além disso,
vários alunos já estão na escola em um plano de cinco anos.
Você acha que as pessoas vão para uma escola como Beverly
Hills Prep Academy e se conter? Como se eu já não tivesse o
suficiente para lidar, eu vou ter um ano completo a mais do
que todos os outros. Além disso, eu já tenho uma arqui-
inimiga que não quer que eu vá lá, e prometeu tornar minha
vida um inferno se eu entrar em seu caminho.
Esperei por Dra. Parish me dizer que eu estava
interpretando mal as ameaças de Anastásia novamente, mas
ela não o fez. Ela voltou para sua mesa e começou a tomar
mais notas. — Você expressou qualquer dessas preocupações
com o seu pai?
Eu dei-lhe outra risada sem humor. — Eu tive um ataque de
pânico enorme quando vi o lugar. Eu entendo por que não quer
que eu faça aulas online, então eu perguntei se ele poderia,
pelo menos, me mandar para a escola pública. Eu dei-lhe todas
as razões que te dei. Eu disse a ele que eu pensei que iria
ajudar a me adaptar melhor se eu estivesse em terreno mais
familiar e menos ansioso. Pedi-lhe. E você sabe o que ele fez?
Ele riu de mim! Eu estava no meio de um ataque de pânico
legítimo. Eu estava implorando por sua compreensão. Eu
estava em lágrimas e ele riu. Ele me disse que eu estava sendo
ridícula e que eu iria amar lá. Ele me disse que filha sua não
iria para escola pública quando ele poderia proporcionar-lhes
uma educação melhor.
Como era muito comum durante as minhas sessões de
terapia, eu comecei a chorar novamente e teve que me dar
outro lenço. — O homem não pode ter seus melhores
interesses no coração, porque ele não tem ideia de quais são
meus melhores interesses. Ele não sabe nada sobre mim, ou o
que eu preciso. Ele é apenas um esnobe que agora está preso
com uma menina bizarra, de uma parte de seu passado que ele
tentou enterrar. Eu sou seu profundo, escuro, segredo
vergonhoso. Ele está mais preocupado com salvar a cara de
seus amigos do que ele está comigo.
Eu assoprei meu nariz e controlei minhas lágrimas. Uma
vez que eu pude falar novamente, de uma maneira racional, eu
disse, — Olha, eu sei que você está tentando me ajudar e tudo,
mas o fato é que a casa do meu pai não é apenas um meio de
ambiente saudável. É difícil e estressante, e ele só está fazendo
tudo muito mais difícil para mim. Todo o meu processo de
reabilitação seria muito mais fácil se eu pudesse sair por conta
própria.
Dra. Parish sentou lá por um minuto, em silêncio,
contemplando o que eu disse. — Se você pudesse sair por
conta própria— , ela finalmente perguntou: — onde você iria?
Voltar para Boston?
Finalmente, um tema que não era deprimente. — Eu não sei,
— eu disse honestamente. — Eu perdi meu lugar em Boston, e
todos os meus amigos se mudaram. As coisas não seriam as
mesmas se eu tentasse voltar, então eu provavelmente iria
escolher outro lugar.
— Então aonde você iria? — Perguntou Dra. Parish
novamente. — O que você faria com sua vida?
— Primeiro, eu terminaria o ensino médio em algum
programa online. Se eu fizesse isso, eu poderia começar agora
e terminar em dois meses, em vez de ter que repetir todo o
meu ano sênior. Então, eu ainda iria para a faculdade. Eu sei
que eu quero estudar jornalismo. Eu acho que eu só tenho que
decidir para onde eu quero ir. Eu poderia ir a qualquer lugar
agora, mas eu quero ser uma escritora ou revisora de
entretenimento, por isso, provavelmente estaria aqui ou em
Nova York. Provavelmente New York, porque eu sou
parcialmente da Costa Leste.
Eu sabia que tinha dito a coisa errada quando os olhos da
Dra. Parish estreitaram. — Você deixaria isso, apenas sairia
para alguma faculdade sozinha em alguma cidade onde não
conhece ninguém? Não tem amigos?
— Muitos adolescentes fazem isso. — Eu me chutei por
soar defensiva. Eu sabia que iria trabalhar contra mim, mas eu
não poderia evitar. Eu odiava como as pessoas estavam sempre
apontando que eu não tinha ninguém.
— Muitos adolescentes não estão se recuperando de uma
experiência tão traumática como você e, mesmo assim, a
maioria deles tem um forte sistema de apoio de volta para
casa.
Eu zombei. — E você acha que eu tenho isso aqui? Você
acha que meu pai e sua família são um sistema de apoio?
— Não, eu não,— ela disse simplesmente.
Fiquei chocada com a resposta dela. Todo mundo que eu
conheci desde o momento em que eu acordei do meu acidente
tinha tentado empurrar meu pai e sua família em mim, como
se o fato de meu pai e eu dividirmos o mesmo sangue
significava que estaríamos indo para amar uns aos outros
automaticamente, e ser instantaneamente melhores amigos.
— Talvez você esteja certa de que viver com seu pai e sua
família não é a melhor coisa para você,— disse ela lentamente.
Meu coração se animou neste minúsculo raio de esperança,
mas eu tentei esmagar. Tinha de haver uma armadilha em
algum lugar. Ela não estava indo assinar sobre a minha saúde
mental, que é o que eu precisava, se eu queria ser livre da
supervisão do meu pai e de estar em meus próprios cuidados.
Dra. Parish colocou seu bloco de notas para baixo e
recostou-se na cadeira. — Ella, eu sei que você me vê como
seus diretores da prisão, mas eu espero que você entenda que
eu realmente quero o que é melhor para você. É o meu
trabalho ajudá-la a descobrir o que é melhor, e ajudá-la a
chegar a um lugar onde você mentalmente pode realizá-lo. Eu
quero ver você ter sucesso. Eu quero ser capaz de assinar os
seus documentos de liberação para você, mas você tem que me
provar que você está pronta para isso.
Então, ela não ia me tirar da casa do meu pai. Minha
esperança foi devidamente extinta.
— O que significa isso? — Eu resmunguei.
— Isso significa que se você ficar em um lugar por sua
própria conta é realmente o que é melhor para você, então é
nisso que nós vamos trabalhar. Mas eu não vou deixar você
fazer isso até que você possa provar para mim que você não
vai estar completamente sozinha. Eu não acredito que você
está pronta para ficar por si mesma. Eu acho que iria colocá-la
em perigo de cair em outra depressão grave. Você precisa de
amigos. Você precisa de um sistema de suporte sólido. Se você
não acredita que sua família vai ser isso para você, em
seguida, encontraremos outra. Faça alguns amigos. Junte-se a
um grupo de apoio. Tente entrar novamente em contato com
alguns de seus velhos amigos em Boston. Mesmo que eles se
mudaram e você não mora perto deles, você ainda precisa de
pessoas que você pode falar. Se você puder construir para si
mesma um sistema de apoio real Ella, então eu vou levá-la
para procurar um apartamento eu mesma.
A promessa da Dra. Parish ficou presa comigo pelo resto do
dia. Eu precisava de um sistema de apoio e só havia um lugar
que eu poderia pensar para começar.
Capítulo
Cinco

Brian
Eu puxei a gola da minha camisa enquanto eu fui até o
restaurante. Claro, Kaylee reservou no The Ivy, no primeiro
encontro. Era apenas uma das celebridades mais conhecidas
visitando Los Angeles. Fotógrafos acampados em frente na
calçada todas as noites da semana, e esta noite não foi
exceção. Os flashes começaram a sair quando ainda estávamos
meia quadra de distância, porque os paparazzis, todos
reconheceram o meu carro.
Eles estavam indo para surtar quando eles perceberam que
eu estava jantando com Kaylee Summers, esta noite.
— Você está pronto para fazer isso, baby? — Kaylee
zombou do banco do passageiro.
Meu estômago revirou. Kaylee tinha sido um pouco ansiosa
demais para toda esta farsa começar. Ela havia se jogado para
mim quando nos encontramos pela primeira vez e eu cometi o
erro de levá-la para casa. Só me levou um par de dias para
perceber o quão estúpido que tinha sido. Ela não conseguia
entender que uma noite de diversão era para obter a tensão
fora do caminho, depois das filmagens, era apenas isso, uma
noite de diversão. Levei semanas para convencê-la de que eu
não estava interessado em nada mais e eu tive dezenas de
outras meninas na sua frente, para levá-la a entender.
Olhei para ela novamente. Ela cobriu os lábios em algum
material brilhante e depois riu. — Você olha como você
tivesse sido convidado para realizar uma pena de prisão.
Eu quase sorri. Essa declaração era surpreendentemente
precisa.
— Eu não sei por que você está sendo tão mal humorado
sobre isso. A maioria dos homens mataria para estar em um
relacionamento comigo.
Mesmo se Kaylee não fosse falsa, manutenção alta, cadela
egocêntrica e mais burra do que um peixinho, eu não iria sair
com ela de verdade. Eu não namoro ninguém, pelo menos
mais de uma vez. — Eu não tenho relações.
— Por que não? Eu acho que elas são divertidas.
A fim de estar em um relacionamento real eu seria obrigado
a usar o meu coração, e meu coração não funcionava mais.
Não mais desde há oito meses agora, mas eu não estava
prestes a explicar a Kaylee. — Eu simplesmente não tenho.
Kaylee parou de se embelezar e virou em seu assento para
me olhar com olhos perscrutadores. Depois de um momento
seus lábios se enrolaram em um sorriso presunçoso. — Como
é irônico. O destruidor de corações favorito de Hollywood não
namora porque ele se queimou por uma menina.
Apertando minha mandíbula, eu cortei o meu olhar para
fora da janela da frente. Eu não falava com ninguém sobre
Ella, muito menos Kaylee.
Kaylee riu de novo. — Uau. Quem quer que seja, ela
certamente te afetou..
Eu olhei para ela. — Este tópico está fora dos limites.
Esqueça-o, ou eu te chuto no meio-fio e encontro alguém mais
quente para me divertir durante a noite.
O sorriso de Kaylee desapareceu e seus olhos brilharam
com malícia. — Essa relação vai disparar minha popularidade.
Eu não vou deixar você estragar tudo para mim, porque
alguém terminou com você. Se você estragar isso, vou arruinar
sua carreira. Até o momento que termine com você, vai ter que
ir para o Polo Norte, a fim de escapar do drama que vou trazer
para sua vida.
Tanto quanto eu odiava admitir, a ameaça de Kaylee era
real. Esse poderia ser seu primeiro filme, mas seus pais eram
algumas das pessoas mais poderosas da cidade e ela tinha
ainda mais amigos poderosos, daí a razão pela qual conseguiu
um papel no qual ela não era boa o suficiente, em primeiro
lugar. Seu pai era o chefe do estúdio que deu luz verde para O
Príncipe Druida.
Eu tinha algum poder de estrela atrás de mim e habilidades
de atuação que não poderiam ser ignorados, então eu tinha um
pouco de espaço para respirar e conseguir levar Kaylee aqui e
ali, mas se alguma vez a irritar o suficiente, eu não tinha
dúvida de que ela poderia fazer alguns danos sérios para a
minha carreira. Eu estava realmente preso neste pesadelo, pelo
menos até a temporada de votação dos prêmios. Se eu pudesse
pegar minha nomeação e mostrar aos astros de Hollywood que
eu era digno de ser um deles, então eu poderia despejar Kaylee
e eles provavelmente me felicitariam por fazer uma escolha
tão inteligente.
Eu encostei-me ao meu apoio de cabeça, fechei os olhos e
suspirei. — Você me surpreende, às vezes, Kay. Eu nunca
conheci ninguém que pudesse ser uma cadela tão naturalmente
como você faz.
— Eu não tenho que ser uma cadela, Brian.
Eu abri um olho atento e arregalado, e Kaylee me deu um
sorriso sensual. — Você pode não gostar de relacionamentos,
baby, mas você está em um agora. — Ela se inclinou e falou
baixinho no meu ouvido. — Eu posso fazer destes próximos
meses um inferno para você, ou eu posso torná-los muito,
muito agradável.
Ela passou a trabalhar arrastando beijos sensuais para o lado
do meu pescoço enquanto sua mão caiu para um lugar
perigoso na minha coxa. Suas longas unhas arranharam através
do meu jeans com apenas pressão suficiente para me deixar
louco.
Eu respirei fundo. Eu não queria dar a ela, mas esta Kaylee
era definitivamente mais agradável do que a versão chorona e
cruel, eu seria preso por não jogar junto. Com cuidado, para
não irritá-la ainda mais, eu puxei a mão do meu colo. — Em
mais dois segundos eu não vou ser capaz de sair do carro. A
menos que você queira pular o jantar e ir direto para a
sobremesa, eu sugiro que você mantenha suas mãos quietas.
Kaylee riu quando ela se mudou de volta para o seu lado do
carro e reaplicando seu brilho labial, mais uma vez.
— Tentador. Mas precisamos ser vistos juntos antes de
podermos chegar as coisas divertidas. Além disso, eu estou
com fome.
— Certo. — Como se ela fosse ter nada mais do que água
engarrafada e algumas mordidas de alface. — Tanto faz.
Deixei escapar outro fôlego e, finalmente, abri a minha
porta, imediatamente encontrei o meu sorriso ‘público’,
quando as pessoas começaram a gritar pela minha atenção.
Todos os pensamentos e sentimentos foram desligados. A
dormência que me ajudou a sobreviver o ano passado assumiu.
Congratulei-me por isso, e abracei o momento.
O caos desapareceu quando eu sorri para a multidão. Atuar
era uma habilidade que eu fazia bem, um jogo que eu amava.
Este acordo com Kaylee era apenas mais um ato, por isso iria
gostar de realizar e gostaria de fazer dele um trabalho muito
bom.
Eu andei ao redor do carro, e como um perfeito cavalheiro,
abri a porta para Kaylee. Uma vez que eu a ajudei a sair do
carro, eu deslizei meu braço em volta da cintura. — Sorria
para a câmera, princesa,— Eu provoquei alto o suficiente para
o nosso público ouvir e, em seguida, dei um beijo suave sobre
o ponto sensível de sua pele atrás da orelha.
Kaylee estremeceu de prazer. À medida que caminhamos
para o restaurante, ela murmurou em meu pescoço. — Hum,
talvez você mereça um prêmio. Eu quase acredito que você me
quer agora. — Veem? Eu totalmente mereço um Oscar.
Vinte minutos mais tarde, eu estava duro de tão entediado
que eu quase chorei lágrimas de alegria quando meu telefone
apitou, informando-me que eu tinha um e-mail. Era
provavelmente apenas o Scott enviando alguma mudança na
minha agenda, mas até isso era mais atraente do que ouvir
Kaylee cantarolar sobre os detalhes do nosso próximo
compromisso. Ela tinha a proposta planejada, tudo desde o
tempo e o lugar, o que eu ia fazer e até a última linha que eu
deveria dizer a ela. Atire em mim agora, eu pensei quando ela
mencionou a necessidade de planejar uma festa de noivado.
Estendi a mão para a minha bebida, ao mesmo tempo eu
puxei o meu telefone do meu bolso e então congelei quando eu
abri meu e-mail.

Você tem uma mensagem não lida.

De: Ellamara
Assunto: Cinder?

— Puta merda!
O meu copo escorregou de meus dedos e caiu no meu prato,
derramando todo o vinho tinto dos dois, Kaylee e eu.
Funcionários do restaurante vieram voando em todas as
direções quando Kaylee gritou, mas eu quase não notei. Eu
não conseguia tirar os olhos do meu telefone.
— Merda, Santo amaldiçoado!
— Brian! — Kaylee guinchou. — Que diabos está
acontecendo com você?
Eu a ignorei, e com a mão trêmula abri o e-mail, orando
para não ser algum tipo de piada de mau gosto.

Para: Cinder458@gmail.com

De: EllaTheRealHero@yahoo.com
Assunto: Cinder?

Querido Cinder,

Levei semanas para criar coragem de escrever este e-


mail. Eu só não tinha ideia de como dizer ‘olá’, depois
de tanto tempo. Eu nunca enviei mensagens para você de
volta naquele dia, porque eu estive envolvida em um
acidente de carro. Eu estive em coma por um tempo e
permaneci no hospital por um longo tempo, depois disso.

Eu não conseguia segurar o meu suspiro. Eu sempre achei


que era algo assim, mas confirmá-lo tornou verdadeiro o
pesadelo de uma forma que não tinha sido antes.
Ellamara e eu sempre tínhamos sido apenas amigos de e-
mail anônimo, mas a última vez que falei com ela, eu
perguntei o endereço dela para que eu pudesse enviar-lhe algo.
Era um enorme passo em nosso relacionamento, mas eu estava
em um ponto onde estava disposto a arriscar. Eu precisava
mais dela. Queria estar mais com ela.
Eu corri o risco, lhe comprei um presente que eu esperava
ganhar o coração dela e pedi seu endereço. Ela me mandou
uma mensagem dizendo que eu poderia ser um perseguidor
assustador da internet, mas eu tinha certeza que ela estava
brincando, até que ela nunca mais me enviou mensagens. No
começo eu achei que o telefone dela tivesse morrido e, em
seguida, quando ela não voltou para mim naquele dia eu
brevemente me preocupei que eu a tinha assustado e ela se
afastou. Mas, então, sexta-feira, ela perdeu seu post, sua
primeira sentença do dia no seu blog. No dia seguinte eu sabia
que algo estava errado.
Eu escrevi-lhe e-mail após e-mail, e esperei dia após dia
para ela voltar a escrever, ou pelo menos um post no seu blog
novamente, mas depois de algumas semanas eu perdi a
esperança. Eu sabia que, mesmo que eu a tenha apavorado
completamente naquele dia e a fiz nunca mais querer falar
com o seu perseguidor assustador da internet novamente, Ella
nunca teria desistido de seu blog. Nunca. Não, a menos que ela
estivesse morta. Essa foi a conclusão que eu finalmente,
resignado conclui, quando um mês inteiro se passou sem uma
palavra dela. Durante meses, eu lamentei a perda de minha
melhor amiga e a garota que eu tinha me apaixonado, e ainda
lamentando sua perda até cinco segundos atrás.
Engoli um caroço que, de repente, subiu na minha garganta,
eu li o resto do e-mail.
Minha mãe morreu no acidente, então eu tive que ir
morar com meu pai e sua família. Ele arrumou meu
apartamento e foi alugado muito antes de eu sair do
hospital. Eu nunca cheguei a ir para casa.

Eu nunca cheguei a ver nenhum dos meus velhos


amigos. Eu nunca cheguei a dizer adeus a ninguém. Nem
mesmo minha mãe. Eu perdi o funeral dela.

Sinto muito que me levou tanto tempo para escrever este


e-mail, e eu ainda não sei se vou ser capaz de clicar em
enviar. É que apenas tudo é tão diferente agora, e pensar
no passado doía tanto que eu não poderia enfrentá-lo. Eu
não tenho contato com ninguém da minha antiga vida.
Eu pensei sobre como iniciar meu blog novamente, mas
meu pai se livrou de todos os meus livros enquanto eu
estava em coma e agora eu não tenho coração para fazer
isso.

Eu sinto muito que eu simplesmente desapareci.


Desculpe-me se eu te machuquei. Eu não queria. Eu
espero que você possa me perdoar. Eu só quero que você
saiba que sua amizade sempre significou muito para
mim. (Ela ainda significa.) Eu penso em você o tempo
todo.
Sinto sua falta,

Ella

Sentei-me na minha cadeira, olhando para o e-mail,


enquanto a sala girou em torno de mim. Ella está viva. Ella me
enviou por e-mail. E ela se perdeu de mim. Era quase
demasiado milagroso de acreditar.
Engoli em seco novamente, mas desta vez eu estava lutando
contra as náuseas, bem como as emoções. Eu estava
cambaleando sobre o fato de que ela estava viva, mas ao ouvir
que ela tinha passado por algo tão horrível, também? Ela
perdeu a mãe e teve de ir morar com um pai que a tinha
abandonado anos atrás. O pensamento de Ella passando por
tudo era agonizante.
As emoções fora de controle dentro de mim eram quase
impossíveis de conter. Eu não poderia conter a alegria que
senti, o alívio e alegria em saber que ela estava viva, mas, ao
mesmo tempo, meu coração estava quebrando tudo de novo.
Eu estava doente de preocupação com ela. Ela deve ter se
sentido tão sozinha, todo esse tempo.
— Brian!
Voz estridente de Kaylee me tirou do meu choque. Pisquei
algumas vezes, eu encontrei seu olhar questionador sobre a
mesa.
Alguém mais interrompeu, dizendo: — Sr. Oliver? O senhor
está bem?
Eu balancei a cabeça, tentando limpar o último de meu
torpor e olhei para a gerente do restaurante, que pairava sobre
a nossa mesa. A mulher estava segurando um pano para mim.
Não estava dando conta, até que ela me ofereceu o pano para
limpar que eu notei que eu tinha derramado o meu vinho. Eu
aceitei o pano e me limpei. — Sinto muito sobre a confusão.
— Não se preocupe com isso,— disse a mulher. — Estou
mais preocupada com o senhor, parece tão pálido. Está
doente? O senhor precisa de algum tipo de assistência?
Devemos chamar um paramédico?
— O quê? Oh! Não. Eu estou bem. Eu estava assustado. Eu
sinto muito. — Eu puxei o cartão, deslizando para fora do meu
bolso e entregando a gerente do restaurante. — Você poderia
pedir ao manobrista para trazer meu carro? Eu tenho receio
que eu preciso sair. E é urgente, então…
A gerente concordou com a cabeça, mas o olhar de
preocupação em seus olhos se intensificou e ela franziu a testa.
— Claro, Sr. Oliver, mas tem certeza que está tudo bem?
Eu estava bem? Se esta mulher soubesse. Eu estava melhor
do que eu tinha estado em mais de oito meses. O pedaço do
meu coração ausente tinha acabado de voltar para mim. Ella
tinha me contatado por e-mail! E eu ainda não tinha
respondido…
— Senhor. Oliver?
Acenando a preocupação da mulher para fora, eu bati o
botão de resposta.

Para: EllaTheRealHero@yahoo.com
De: Cinder458@gmail.com
Assunto: RE: Cinder?

Ella!!!!! Estou indo embora agora! Saí para jantar com


uma amiga. Dê-me dez minutos.

Não vá a qualquer lugar!!!!!!!

Assim que eu clique em enviar, eu pulei para os meus pés e


dei para o gerente algum dinheiro e um cartão. — Este é o
número do meu assistente pessoal. Você poderia, por favor,
entrar em contato com ele sobre a conta do jantar e para
resolver por qualquer confusão que causei? Obrigado por tudo,
e novamente eu sinto muito pelo problema.
Eu não esperei por uma resposta. Eu fiz meu caminho para
fora do restaurante tão rápido quanto eu podia e já estava
subindo no meu carro quando Kaylee veio fora do restaurante,
atrás de mim.
— Brian! — , Ela sussurrou. Ela forçou um sorriso em
todos os paparazzi curiosos e suavizou sua voz. — Baby, você
tem certeza que você está se sentindo bem? Você precisa que
eu dirija?
Oh sim. Isso.
Eu tinha esquecido tudo sobre Kaylee, mas o olhar que ela
me deu, ao longo do topo da Ferrari, me lembrou da farsa que
era para eu estar encenando para o público. Sinceramente, eu
não me importava mais se Kaylee tivesse um acesso de raiva e
tentasse me destruir. A única coisa que importava era que Ella
estava viva e estava me esperando para falar com ela. Mas
começar uma briga levaria mais tempo do que manter Kaylee
feliz, então eu lhe dei um sorriso de cair a calcinha. — Eu
estou bem, baby. Eu me sinto terrível por arruinar um vestido
tão sexy, e eu acho que é importante eu tirá-lo de você o mais
rapidamente possível.
Surpresa brilhou nos olhos de Kaylee, mas todo o seu rosto
se iluminou e ela sorriu para mim. — Você é tão impertinente.
Ela riu e, em seguida, virou-se para dizer algo para os
homens com suas câmeras, mas eu não esperei para ouvir o
que era. Eu subi no carro, afivelei o cinto de segurança, e rolei
para baixo a janela do passageiro.
— Baby, pare de flertar com as câmeras e coloque sua
bunda sexy no carro, agora. Eu não posso esperar mais!
Kaylee lançou outro sorriso para os paparazzi e entrou no
carro. Como eu me apressei longe do restaurante, ela
desencadeou o discurso que ela estava segurando, enquanto
estava em público. — Você perdeu a cabeça? Que diabos foi
tudo isso? Você nos fez parecer completamente estúpidos, e
você arruinou o meu vestido! Os fotógrafos só vão ter fotos de
mim com vinho na minha roupa!
— Eu não dou a mínima para o seu vestido estúpido. Ella
me enviou um e-mail e eu preciso chegar em casa para que eu
possa falar com ela.
Kaylee engasgou.
Eu estava dirigindo rápido demais para tirar os olhos da
estrada, mas eu senti o calor de seu olhar. Ele estava quente o
suficiente para eu temer que ela pudesse entrar em combustão
espontânea. Se ela explodisse em chamas, arruinaria meus
bancos de couro, eu ia ficar puto.
— Isso tudo é porque alguma garota enviou e-mail para
você?
— Ella não é só alguma garota. Ela é a garota. A única.
— O quê?
— Isto aqui é um golpe publicitário maldito, Kaylee. Nosso
relacionamento é falso. Não se esqueça disso.
— Talvez, mas se você acha que eu vou deixar você
esgueirar-se por aí com alguma cadela qualquer enquanto você
deveria estar me namorando…
— Isto não é sobre você! — Eu bati. — Eu só descobri que
a pessoa mais importante na minha vida não morreu oito
meses atrás. Ela estava em coma, merda e ela apenas enviou o
e-mail para me dizer que ela ainda está viva! E eu estou um
pouco assustado agora, então não me dê mais merda! Eu
preciso falar com ela.
Milagre dos milagres! Eu consegui atordoar Kaylee, ela está
sem palavras.
Cinco minutos mais tarde, eu entrei pelo portão da minha
casa em Hollywood Hills em segurança. Quando eu virei o
carro e comecei a sair, Kaylee jogou para mim. — Você está
indo para dentro só para chamar essa pessoa, Ella? — Ela
cuspiu o nome com repugnância. — O que eu deveria fazer?
Como se eu me importasse! Eu dei de ombros. — Chame
um táxi.
— Um táxi? — Kaylee gritou de horror. — Você espera que
eu tome um táxi para casa? Este foi o nosso primeiro encontro
em público juntos. Você sabe que fomos seguidos depois que
saímos do restaurante. Não há nenhuma maneira no inferno
que eu vou ser fotografada deixando a sua casa logo depois de
chegamos aqui, sozinha e em um maldito táxi.
Kaylee estava bufando e claramente à procura de uma briga,
mas eu não queria tomar o tempo para chegar a isso com ela.
— Então vêm. Passe a noite, não me importo, e eu te levo para
casa pela manhã.
Kaylee seguiu-me em casa, ainda furiosa. — Você esteja
certo de que você vai me levar para casa, depois que você me
levar para um bom café da manhã para compensar essa
besteira. E você vai mesmo me dar uma camisa para vestir
como um verdadeiro namorado faria.
Irritação passou por mim. Tudo o que eu queria fazer era
falar com Ella, e Kaylee estava preocupada com algum golpe
publicitário estúpido. Tirei meu blazer e tirei a camisa que eu
usava por baixo, sobre a minha cabeça.
— Aproveite princesa,— eu resmunguei enquanto eu joguei
para ela. — É o mais próximo que você vai chegar em mim
esta noite. O quarto é no fundo do corredor, à direita.
Eu invadi o meu quarto, batendo e trancando a porta atrás
de mim.
Capítulo
Seis

Eu fiz isso. Eu enviei o e-mail para Cinder. E menos de


cinco minutos depois, recebi uma resposta. No segundo que li
seu e-mail, todo o meu corpo relaxou. Eu estava tão aliviada.
Era Cinder! Eu tinha falado com Cinder! Ele parecia o mesmo
de sempre e ele parecia ansioso para falar comigo. Talvez eu
tivesse um amigo que restou no mundo.
Um pequeno pedaço do meu coração morto voltou à vida e
eu tomei o que parecia ser a minha primeira verdadeira
respiração, desde o acidente. Minhas mãos tremiam com
antecipação quando eu entrei no meu mensageiro instantâneo e
esperei. Meu estômago era uma mistura de todos os tipos de
borboletas nervosas, animada, com medo, feliz…
Os minutos passavam diante. Dez minutos se passaram,
então quinze e, finalmente, vinte. Eu pensei que eu iria
enlouquecer. Eu pensei que eu iria chegar através do
computador e estrangulá-lo por tomar muito tempo se ele me
fizesse esperar mais um minuto. E, então, ele estava lá.
Cinder458: Então, desculpe. Levei mais tempo para
chegar em casa do que eu pensava que seria.

EllaTheRealHero: Casa? Você deixou a sua amiga?


Você não tem que fazer isso.

Cinder458: Você está brincando? Ella, eu pensei que


você estava morta.

EllaTheRealHero: Você está falando sério?


Meu coração caiu no meu estômago. Ele pensou que eu
estava morta? Eu me perguntava se todos os meus amigos de
casa pensavam isso também. Eu me perguntei se eu deveria
deixá-los saber que eu não estava. Eu não acho que eu poderia
lidar com as perguntas.
Cinder458: O que eu deveria pensar? Você desapareceu
no meio da conversa! Eu escrevi um milhão de e-mails.
Eu chequei seu blog e seu Twitter todos os dias durante
meses. Eu não podia pensar em qualquer outra razão que
você teria para de repente parar de ‘blogar’.

Eu sei que você não pode realmente ouvir emoção em um e-


mail, mas Cinder soou tão chateado. Eu me senti horrível que
ele teve que passar por tudo isso. Eu sei que se o sapato
estivesse no outro pé, eu teria ficado louca de preocupação.
EllaTheRealHero: Eu sinto muito. Eu não devia ter
deixado você se preocupar por tanto tempo.

Cinder458: Não peça desculpas para mim, Ellamara.


Você não tem nada que se desculpar. Eu estou apenas
feliz por você estar bem. Eu ainda não posso acreditar
que eu estou falando com você. Eu quase caí da minha
cadeira quando recebi seu e-mail.

Cinder458: Meu encontro achou que eu era louco, por


sinal. Definitivamente, não estou recebendo qualquer
coisa dela agora, e ela é realmente quente. Totalmente
sua culpa.

Por um segundo, eu explodi em gargalhadas. Ele era o


mesmo velho Cinder. Então, eu percebi o que ele disse e meu
coração pulou outra batida.
EllaTheRealHero: Você estava em um encontro????
Cinder! Eu não posso acreditar que você abandonou
sua… Que idiota.

Cinder458: Eh, ela era de manutenção muito alta, de


qualquer maneira.

EllaTheRealHero: Cinder!!!

Cinder458: Supere isso, mulher. Foi um encontro


estúpido. Você era mais importante. Esse e-mail quase
me fez chorar. Lágrimas mágicas, Ella! Por que estamos
falando de mim? Eu não posso imaginar tudo o que você
passou. Eu sei o quão perto você estava com sua mãe. E
você teve que ir morar com o seu pai? Você não o tinha
visto em anos!!! Como você está? Há algo que eu possa
fazer? Você quer que eu voe para aí e te roube para longe
dele? Ou, pelo menos, um soco na cara? Eu não posso
acreditar que ele se livrou de seus livros.

O mundo já parecia mais brilhante. A vida não era tão ruim


como tinha sido há meia hora. Minha esmagadora solidão
tinha ido embora. Não houve realmente uma luz no fim do
túnel, ainda, mas pelo menos eu não estava no escuro, tão
sozinha.
Eu deveria saber que Cinder não teria mudado. Eu deveria
ter enviado e-mail para ele meses atrás, no centro de
reabilitação, uma vez que eu poderia me movimentar de novo.
Ah bem. Não adianta reviver o passado. Eu o tinha de volta
agora e isso era tudo que importava.
EllaTheRealHero: Sem socos. Meu pai é um advogado
grande e mal nos EUA. Ele iria enterrá-lo no tribunal, te
jogar na cadeia e, provavelmente, até mesmo levar seus
pertences como o seu precioso carro.

Cinder458: Ei, ei, ei, não o meu precioso! Ok, ok, então
não o estou socando ou sequestrando você. Mas, falando
sério, Ella, o que posso fazer? Eu me sinto impotente
aqui, garota. Fale comigo.

EllaTheRealHero: Eu não quero falar. Estou tão


cansada de falar. As únicas pessoas com quem mais falo,
são os médicos e o que todos eles fazem é me fazer falar.
Eu não preciso de outro médico. Eu preciso de um
amigo. Eu preciso de alguém para me fazer rir e me
ajudar a tirar tudo da minha mente. Que não me tratem
como se eu fosse quebrar. Grite comigo e não me deixe
sair com qualquer coisa quando eu começar a agir como
uma mimada.

Cinder458: alguma vez perdi a oportunidade de chamá-


la de mimada?

EllaTheRealHero: Não. É por isso que eu preciso de


você. Minha vida está de cabeça para baixo agora e eu
realmente preciso de algo familiar. Eu preciso do normal.

Cinder458: Eu posso fazer o normal.

Eu ri, um genuíno e feliz riso alegre. Era a primeira


verdadeira risada que eu tinha conseguido desde o meu
acidente. Não foi nada forçado ou estranho sobre isso. Eu não
tinha feito isso porque eu estava nervosa sobre qualquer coisa
ou tentando esconder meus verdadeiros sentimentos. Eu
apenas ri porque eu estava de bom humor, e porque o que
Cinder disse era ridículo.
Dra. Parish estaria feliz. Talvez, se eu tivesse sorte, ela
parasse de me perseguir sobre o tempo gasto com o meu pai e
as irmãs bruxas, mas eu duvidava.
EllaTheRealHero: Claro que você pode, estrela do
rock. Você não iria saber ser normal se ainda mordesse
em seu rosto ridiculamente bonito.

Cinder458: Você nunca viu meu rosto. Como você sabe


que ele é de boa aparência?

EllaTheRealHero: Porque nenhuma pessoa feia poderia


ter um ego tão grande quanto o seu.

Cinder458: Você está certa. Eu sou lindo. Eu sou


também, provavelmente, demasiadamente incrível para
realizar o normal, mas eu definitivamente posso lidar
com familiar. Você tem visto o elenco para O Príncipe
Druida, certo? Ver e não ser capaz de falar com você
sobre isso foi enlouquecedor.

Eu ri novamente. Isso era familiar. Minha mente voltou para


os primeiros meses no hospital. Os médicos me mantendo em
um coma induzido por três semanas porque minha dor era
demais e eu estava tendo tantas cirurgias. Depois que eles me
trouxeram de volta, ainda havia um número de semanas em
que eu estava grogue, incoerente e fora da consciência. A
equipe do hospital me disse que durante semanas eu chamei
minha mãe e Cinder.
Um dia, um dos meus enfermeiros reconheceu o nome
Cinder e me trouxe uma revista de entretenimento.
A capa vangloriava um artigo sobre Hollywood em que o
líder do Garoto Pop conseguiu o papel de príncipe mais
acarinhados da fantasia. Eu acho que a ideia da sensação ‘teen’
Brian Oliver atuar o Príncipe Cinder era tão horrível que me
levou fora do meu estupor e me enviou em um estado de
confusão, como minha enfermeira o chamou. E isso foi antes
de eu saber que iria dirigir.
EllaTheRealHero: Ugh! Nem me lembre!
Cinder458: ?

EllaTheRealHero: Por que Hollywood sempre tem que


estragar tudo?

Cinder458: Você acha que é mal?

EllaTheRealHero: Kaylee Summers como a princesa


Ratana? Ela não é nem mesmo uma atriz! Ela é
supermodelo!

Cinder458: Quem sabe, talvez atuar seja sua vocação.

EllaTheRealHero: E talvez Max Oliver apenas pensa


que ela é muito quente. Eles sequer vão até mesmo tê-la
em um vestido no filme. Ela será ornada, em alguns
trajes apertados e sacanas de couro como ‘Xena: Warrior
Princess’{12}. É vergonhoso. E esqueça qualquer chance
de que eles vão seguir a história. Com Max Oliver
dirigindo, você sabe que vai ser nada, mas um monte de
ação sem sentido.

Cinder458: Wow. Você realmente não é uma fã de Max


Oliver, então. Eu pensei que você estava brincando todas
as vezes que você escreveu comentários mordazes de
seus filmes, em seu blog.

EllaTheRealHero: Eu pensei que você estava brincando


cada vez que você o defendeu. Max Oliver é o seu
diretor se você quiser ir para perseguições de carro
chamativo, grandes explosões e mulheres seminuas, que
eu sei é o seu tipo favorito de filme, mas mesmo você
tem que admitir que ele é tão errado para O Príncipe
Druida. E, claro, ele só tinha que ir e levar seu filho a
atuar Cinder! Por quê??? Por que eles estão fazendo isso
comigo???

Cinder458: Qual!!! Eu pensei que você ficaria feliz com


isso. Brian Oliver vai fazer um excelente Cinder. Esse
cara é incrível.

EllaTheRealHero: LOL! Eu nunca soube que você


tinha algum grande esmagamento gay da celebridade
Brian Oliver.

Cinder458: Lembre-se do que dissemos sobre você ser


uma pirralha?? Ele não é uma paixão. Eu só acho que ele
é perfeito para o papel.

EllaTheRealHero: Claro, ele se vê no papel, mas ele só


fez filmes de adolescentes elegantes. Quem sabe se ele
pode interpretar o drama? Mesmo porque não haverá
qualquer direção com o seu pai.

Cinder458: Eu vou admitir que Max Oliver seja errado


para o filme, e Kaylee Summers definitivamente tem
cérebros de ar, mas eu não acho que o filme vai para o
ralo. Eles têm o vencedor do Oscar Jason Cohen para
adaptar o roteiro e você está errada sobre Brian. Ele pode
fazer isso. Há ainda algum rumor sobre o Oscar na
cidade, agora.

EllaTheRealHero: Rumor do Teen Choice Award{13},


talvez. Melhor Beijo e Abraço Mais Quente,
definitivamente, mas o melhor ator? Eu não acreditei
quando vi.

Cinder458: Seja como for, pirralha. Ele, pelo menos, foi


nomeado. Eu aposto nele. Ele fez um drama
independente, The Long Road Home. Veja e eu prometo
que eu vou deixar você rastejar por perdão quando
perceber como você está errada sobre ele.

EllaTheRealHero: Ha! Ok. Eu vou checar. Eu deveria ir


agora, no entanto.

Cinder458: Não vá, ainda.

EllaTheRealHero: Por quê?

Cinder458: Não sei. Eu apenas não quero que você vá.

Cinder poderia ser tão doce quando ele queria, mas não foi
por isso que sua confissão fez meu peito se contrair. Ninguém
me queria por perto desde o meu acidente. Meu pai me trouxe
para casa, ele e Jennifer tentavam ser agradáveis, mas era
óbvio que eu não fazia realmente uma parte da família.
Às vezes eu saia do meu quarto e seria necessário muito
tempo para Jennifer forçar um sorriso no rosto. E por que não
seria? Eu sou o passado esquecido do meu pai. Eu era uma
interrupção no seu perfeito mundo bonito, e eu vim com muita
bagagem. Ela me atura e eu não acho que ela me odeie, mas
ela não gosta de mim, também.
As irmãs bruxas definitivamente também não me queriam
por perto. Eu estava tão certa de que ninguém jamais iria me
querer, novamente.
EllaTheRealHero: Receoso que eu vá desaparecer de
novo?

Cinder458: Que! Não é engraçado! Você me assustou


demasiado, mulher!!! Eu pensei que tivesse perdido você
para sempre. Tem certeza que você está ok?

Ok era um termo relativo.


EllaTheRealHero: Eu estou muito melhor agora que eu
estou falando com você. Eu realmente senti sua falta.

Cinder458: Eu senti sua falta mais. Você não pode


nunca mais desaparecer de mim novamente. Eu preciso
de você, Ellamara, ‘Oh Sacerdotisa Sábia e Bela Mística
do Reinado’. Eu preciso da sua orientação e conselho.

EllaTheRealHero: Como se você ouvisse uma palavra


do que eu digo.

Cinder458: Eu sempre escuto. Eu apenas raramente


concordo.

EllaTheRealHero: Isso é porque você é tolo e


superficial, jovem Príncipe Druida.

Cinder458: Você esqueceu bonito.

EllaTheRealHero: E vaidoso.

Cinder458: Ah, como eu tenho saudades de você


constantemente reduzindo meu ego.

EllaTheRealHero: Essa tarefa é quase impossível,


porque ele está tão inflado, mas eu tento o meu melhor.

Cinder458: Acho que eu deveria deixar você ir agora.


Se aqui é tarde, aí deve ser quase de manhã.

Eu hesitei em responder. Parte de mim estava desesperada


para lhe dizer a verdade, para dizer a ele que eu morava em
LA agora, e pedir para conhecê-lo pessoalmente. Eu queria
muito ter um rosto para colocar com seu nome. Eu queria
ouvir a risada por trás de todas as LOLs que ele digitou. Eu
queria saber como sua voz soava quando ele me chamou de
mulher toda vez que ele estava frustrado comigo.
O problema era que eu sabia que uma vez que eu o
conhecesse, eu ia querer muito mais do que isso. Mama temia
que me apaixonasse por ele algum dia, mas eu já tinha caído
por ele. Na verdade, eu estava certa de que eu estava
perdidamente apaixonada por ele. Eu sempre tinha sido.
Cinder não iria me querer. Que cara iria quando ele poderia
ter qualquer garota bonita que ele quisesse? Eu tinha certeza
que Cinder ainda seria meu amigo se ele visse minhas
cicatrizes, mas até que ponto? Será que ele ficaria
envergonhado de mim? Ele seria como minhas irmãs, que não
queria me apresentar a seus amigos perfeitos? Ele seria como
Jennifer, que tem medo de olhar para mim? Ou como o meu
pai, preso com um conhecido estranho, porque ele se sentia
obrigado?
Se nós nos encontrarmos, nós nunca poderíamos voltar
como era antes. Iria, sem dúvida, mudar tudo. Eu não podia
correr esse risco quando ele era tudo que eu tinha, então eu
não disse nada.
EllaTheRealHero: Obrigada por largar seu encontro
para falar comigo, hoje à noite.

Cinder458: A qualquer momento. Falaremos novamente


em breve? Você não vai desaparecer de mim novamente?

EllaTheRealHero: Não se eu puder evitá-lo. Eu vou ver


esse filme e chamo você. Boa noite, Cinder.

Cinder458: Boa noite, Ella. Obrigado por me escrever.


Eu estou realmente feliz por você estar bem.

Ele ficou off e a culpa inchou em mim. Não dizendo a ele


me senti como uma mentirosa. ‘Talvez algum dia’, eu
sussurrei para mim mesmo quando eu fechei o laptop. Eu
esperava que fosse verdade. Eu esperava que algum dia eu
encontrasse a coragem de enfrentá-lo.
Capítulo
Sete

Meu primeiro dia de aula foi muito bom, como eu esperava


que fosse. Todos olharam. Eu usava o meu uniforme de
inverno, embora ainda estivesse tão quente, porque ele cobria
minha pele, mas isso não importava, o que importava é que as
pessoas não poderiam ver as minhas cicatrizes. Eles me
assistiram mancar ao redor de minha bengala e olharam para
as minhas longas luvas e collants, sabendo exatamente quem
eu era e o que eu estava escondendo debaixo de minhas
roupas.
Algumas pessoas tentaram ser discretas ou tentavam não
olhar, mas seus olhos se voltavam para mim de qualquer
maneira. Esses eram os alunos que iriam forçar um sorriso em
minha direção ou falavam comigo por cortesia quando
precisavam fazer.
Outros encaravam abertamente, riam, apontavam e
brincavam comigo em uma tentativa de fazer as pessoas ao seu
redor rirem.
Ninguém fez um esforço para me ajudar. Ninguém me
socorreu quando eu estava sendo ridicularizada. Alguns
olharam como se sentisse mal por mim, mas tinham medo de
intervir. Eu imaginei que eles eram provavelmente os alunos
que tinham sido alvo de intimidações até que eu vim para a
escola e tomei seus lugares. Nem mesmo esses me convidaram
para me sentar com eles na hora do almoço. Eles estavam com
muito medo de ser bons para mim.
Eu fiz o meu melhor para ignorar tudo, mas para chegar ao
ponto que eles não iriam me machucar, ia levar algum tempo,
se isso fosse realmente possível.
Minhas irmãs eram absolutamente de nenhuma ajuda para
mim. Eu tive as duas em pelo menos uma classe e todas nós
tivemos o mesmo almoço, mas como eu suspeitava, elas
tinham assumido a tática de fingir que Ella não existia. A
única vez que falaram, durante o dia inteiro, foi no
estacionamento depois da escola. Anastásia cumprimentou-me
com um olhar desagradável quando ela abriu a porta do
passageiro de seu pequeno carro de duas portas conversível.
— Estacionamento na seção de deficientes é tão embaraçoso.
Juliette despejou sua mochila no banco de trás e subiu ao
volante. — Tanto faz. É o melhor espaço em todo o parque de
estacionamento. É tão perto, estaremos fora daqui antes do
tráfego aumentar.
Anastásia zombou de sua irmã e puxou o banco do
passageiro da frente, gesticulando para eu subir para o banco
traseiro. Ela estava brincando? — Você sabe que eu não posso
entrar lá, certo?
Anastásia deu de ombros. — Então, vá a pé para casa. Eu
não estou indo na parte de trás todo o ano.
Fechei os olhos contra a picada repentina de lágrimas
frustradas. Este tinha sido um dia horrível e eu só queria
chegar em casa. — Eu não estou tentando ser difícil.
Fisicamente eu não posso entrar lá.
— Ana! — Juliette assobiou. — Será que você acabou de
entrar?
— Não. Este é o nosso carro. Nós não devemos ter que ser
punidas porque a anormal não pode usar suas pernas.
Ela levantou a voz o suficiente para ganhar a atenção de
metade dos alunos que estavam no estacionamento. Se ela
estava realmente envergonhado a mim, ela definitivamente
lidou com a situação de forma errada. Juliette obviamente
pensava assim, também. Ela olhou para sua irmã e deu a volta
no carro, para deixar as chaves na mão de Anastásia.
— Obrigada— eu murmurei quando Juliette subiu na
traseira e puxou o banco de trás para que eu pudesse me sentar.
— Tanto faz.
Anastásia olhou para nós duas, então balançou a cabeça em
desgosto. Depois de escorregar no assento do motorista, ela
deu uma sacudida em seu cabelo e olhou para sua irmã no
espelho retrovisor. — Eu não posso acreditar que você deu a
ela o que ela queria. Você vai sentar lá todos os dias para o
resto do ano?
— Será que você pode ir, já? — Juliette estalou. — As
pessoas estão olhando.
A volta para casa ficou em silêncio, salvo pelo Top 40 do
pop no rádio. Jennifer estava em casa e esperando para nos
cumprimentar com enormes sorrisos e um milhão de
perguntas. Eu queria ir direto para o meu quarto e ficar lá até
amanhã, mas meu estômago ganhou a batalha contra minha
força de vontade. Eu não tinha comido café da manhã ou
almoço, e eu ia ficar doente se eu não comesse.
— Como foi o primeiro dia? — Jennifer perguntou as três,
quando todos nós entramos na cozinha.
Decidi que ela realmente só se preocupava com suas filhas,
eu deixei em campo as perguntas e fui direto para a geladeira.
— Foi um pesadelo,— Anastásia resmungou atrás de mim. —
Mãe, ela só andava como um zumbi, embora as pessoas
ficassem rindo e apontando para ela e outras coisas. Era como
se ela tivesse alguma doença desagradável. Ela sentou-se no
refeitório na hora do almoço e todos em sua mesa se
espalharam como baratas. O lugar estava lotado, cada assento
foi ocupado, mas ninguém se sentou ao lado dela. Ela tinha
toda a mesa só para ela. Foi tão embaraçoso.
Incapaz de manter mais a calma, eu bati a geladeira fechada
e me virei. — Foi embaraçoso para você?
— Hum, duh,— Anastásia zombou. — Todo mundo sabe
que você vive com a gente. Eles nos mantiveram perguntando
por que a nossa meia-irmã era tamanha aberração, durante
todo o dia. Leva uma centena de anos para chegar a algum
lugar e você usou mangas longas e calças justas, mesmo que
esteja como, vinte e nove graus lá fora.
Juliette zombou. — O que mais ela poderia fazer? Você já
viu suas pernas.
Eu não poderia dizer se ela estava defendendo a mim ou me
insultando, mas Jennifer parecia pensar que era a primeira
opção, porque ela balançou a cabeça como se concordasse. —
Ana, mostre um pouco de compaixão. Como você se sentiria
se você tivesse que andar pela escola mancando e parecer do
jeito que ela faz?
Meu queixo caiu. Se esta era sua ideia de me ajudar, eu
preferia que ela não fizesse. Mas ela era tão ignorante que eu
não poderia mesmo dizer qualquer coisa ou ficar zangada com
ela. Qual seria o ponto?
Jennifer piscou-me o seu sorriso mais simpático. — É bom
usar as longas mangas e calças se elas tornam mais
confortável, Ella.
Caramba! Eu me senti muito melhor agora que eu tinha sua
aprovação.
— Oh! Isso me lembra. — O rosto de Jennifer iluminou
com entusiasmo e ela apontou um dedo para mim. — Eu
peguei algo para você enquanto eu estava fazendo compras,
hoje.
Ambas, Anastásia e Juliette, se sobressaltaram,
questionando, olhando quando Jennifer desapareceu no andar
de cima para o quarto, mas eu apenas dei de ombros. Eu não
tinha ideia do que ela estava falando. Peguei um suco V8{14} e
um queijo de corda da geladeira e me sentei no balcão.
Jennifer estava de volta antes que eu terminasse o meu
lanche e ela tinha vários pequenos sacos nas mãos. — Eu
estive pensando muito sobre suas cicatrizes,— disse ela
enquanto ela estatelou um oceano de produtos de cosméticos
na minha frente.
— Estou no negócio de modelo, você sabe, então beleza e
cuidados com a pele são uma espécie de meu forte. Eu
conversei com um grupo de amigos e eu te trouxe alguns
cremes, óleos, hidratantes que são supostamente para ajudar
reduzir as cicatrizes.
Eu não tinha certeza de como reagir. O gesto foi bem
planejado, da forma estranha de Jennifer. Era quase mesmo
doce, até que Ana zombou. — Eu odeio dizer isso a você,
mamãe, mas cremes não vão consertá-la.
Eu pensei a mesma coisa, mas ainda não me sentia bem para
apontar.
Jennifer franziu a testa para Anastásia, e, em seguida, para a
minha mão cheia de cicatrizes. — Bem, obviamente, não é
uma cura. Você tem tantas cicatrizes que não vai nunca
realmente ir embora, mas algumas delas podem ajudar em
todas as estranhas partes manchadas e talvez suavizar um
monte de protuberâncias. Essas são realmente as que ficam a
mostra e que aparentam tão mal. Se pudermos suavizar mais e
até mesmo o tom de pele, suas cicatrizes podem não parecer
tão surpreendente.
Oh meu Deus, ela pensa que eu sou medonha.
— Há sempre a cirurgia plástica, também.
— A cirurgia plástica? — Será que ela realmente acha que
eu parecia tão terrível que eu precisava de uma plástica?
Jennifer, perdendo completamente o horror na minha voz,
concordou com entusiasmo. — Oh, totalmente. Eu conversei
com um médico amigo meu sobre você. Mostrei-lhe algumas
de suas fotos dos médicos e ele disse…
— Você falou com alguém sem me perguntar? — Engoli em
seco. — Você mostrou-lhe as minhas fotos?
Jennifer se encolheu assustada com o meu desabafo. — Eu
não queria dizer nada, até que eu soubesse se poderia ajudar.
Eu não queria te dar esperanças. Mas, Ella, ele disse que há
definitivamente coisas que ele pode fazer para te ajudar. Você
não terá sempre uma aparência tão ruim quanto você faz
agora.
E foi isso. Eu não poderia ter mais um segundo dessa
conversa. — Eu não posso acreditar que você fez isso.
— Eu só estava tentando ajudar.
— Ao me dizer que eu sou tão feia e surpreendente e que eu
preciso de cirurgia plástica?
Anastásia se engasgou com uma risada e murmurou: —
Bem, é a verdade.
— Anastásia! — Jennifer estalou, horrorizada. — Não,
nunca diga algo tão rude novamente. — Depois de olhar para
sua filha, ela colocou seu olhar frustrado em mim. — Isso não
é justo, Ella. Você sabe que não era o que eu quis dizer. Eu só
quero te ajudar a parecer melhor e se há coisas que podemos
fazer…
— Eu tive cirurgias suficiente, obrigada.
Jennifer fechou os olhos e estendeu a mão para esfregar sua
têmpora. Isso me fez sentir como uma idiota. Ela era tão sem
tato, mas em sua própria maneira distorcida e insensível, ela
realmente estava tentando me ajudar. Muito exausta após o
meu dia de pesadelo para lutar com ela, tentei acalmar. Tirei
meu banquinho e peguei o saco de produtos que ela tinha me
dado. — Vou pedir a opinião da minha equipe de reabilitação
sobre essas coisas, ok? Eu tenho que obter permissão antes de
colocar qualquer coisa na minha pele.
Jennifer se acalmou muito e acenou com a cabeça.
Enquanto me afastava, ela me chamou em voz baixa. — Eu
realmente estava apenas tentando ajudar, Ella.
Ugh. E agora eu tinha que me sentir culpada em cima de
todo o resto. Eu parei de andar e me virou para encará-la.
— Eu sei. Sinto muito. Eu tive apenas um dia horrível e eu
preciso de uma pausa. Eu estou indo mergulhar em um banho
por um tempo.
— Experimente um pouco de óleo de lavanda na banheira.
Há alguns no saco. É muito reconfortante para os nervos.

***
Eu fiquei no banho até que a água ficou fria e tive um bom
choro. Não era tanto os olhares dos outros alunos ou ser
tratada como um pária que me reduziu às lágrimas quando eu
estava finalmente sozinha, era mais sabendo que isso ia ser a
minha vida a partir de agora. Ana estava certa, nada iria
consertar minha pele ou minhas cicatrizes. O dia horrível que
eu tive hoje ia se repetir para sempre.
Eventualmente, meu pai bateu na porta do meu quarto e, em
seguida, enfiou a cabeça na porta depois que eu respondi. —
Ella. Nós vamos sair para jantar em quinze minutos. Você
pode ficar pronta para… — Meus olhos mostraram a evidência
de meu colapso, porque ele empalideceu e veio sentar-se na
beira da minha cama. — Você está bem, querida?
Eu não sabia como compartilhar o meu dia com ele, então
eu deu de ombros. — Bem. Eu apenas não me sinto disposta
para ir jantar.
— Claro que não, Ella,— Jennifer disse, se juntando a nós.
— Você pode ficar em casa, se você precisa.
Meu pai olhou para trás e para frente entre Jennifer e eu um
par de vezes, e seu cenho se aprofundou.
— Não, você não pode,— ele me disse. — Sentada aqui
sozinha esta noite não vai fazer você se sentir melhor. Você
precisa vir conosco.
Antes que eu pudesse mordê-lo, Jennifer colocou a mão em
seu braço e disse: — Poderia ser melhor deixá-la ficar. Escola
não foi bem. As meninas tiveram um dia difícil, e todos elas
estão um pouco emocional agora.
Como se isso fosse a notícia mais chocante de todos os
tempos, meu pai me lançou um olhar assustado. — Foi
realmente ruim?
Eu olhei para ele. — Claro que foi! O que você achou que ia
ser?
Enquanto eu estendi a mão para um lenço de papel, Jennifer
se aproximou de meu pai e baixou a voz. — Pareceu horrível,
a partir do que Juliette e Anastásia me disseram. Rich, talvez
nós pudéssemos deixá-la ficar em casa e fazer escola online.
— Sim, por favor! — Implorou Anastásia, entrando no meu
quarto com Juliette, como se eu tivesse chamado algum tipo de
reunião de família.
Juliette concordou com a cabeça. — Eu acho que seria
melhor para todos nós.
Papai pegou em todas as nossas expressões e, em seguida,
surpreendeu a todos com uma explosão furiosa. — Não!
— Mas, Rich…
— Não, Jennifer. Você sabe por que não podemos fazer isso.
Isto é como sua vida vai ser a partir de agora. Ela tem que se
acostumar com isso.
Meu estômago vazio caiu nas minhas entranhas. Não que eu
queria ser mimada, mas não havia absolutamente nenhuma
empatia. Sem reconhecimento de quão duro o meu dia deve ter
sido para mim. Nenhuma tentativa para me consolar de forma
alguma.
— Você ouviu o que seu médico nos disse. Ela tem que
aprender a interagir com as pessoas. Ela não pode se isolar ou
ela só vai piorar.
— Mas ela nunca vai fazer amigos,— Jennifer argumentou.
— Ela vai ficar marcada para a vida. — Jennifer, percebendo
que eu já estava cheia de cicatrizes para toda a vida, se
encolheu. — Emocionalmente, eu quero dizer.
Sua fé em mim foi surpreendente. Ela pensava que eu era
uma aberração e suas filhas também. Que eu era tão ruim que
eu precisava de uma cirurgia, e eu nunca teria amigos. Eu não
posso dizer que não me preocupava com a mesma coisa, mas
com a figura parental presente, ela deveria pelo menos fingir
que era possível. Um pouco de otimismo de alguém teria sido
bom.
— Talvez pudéssemos encontrar uma escola especial, para
outras crianças como ela,— Jennifer sugeriu. — Eles têm
escolas para crianças com deficiência. Talvez ela fosse mais
feliz se ela estivesse com pessoas iguais a ela.
Meu queixo caiu no chão. Pessoas iguais a mim? Como se
ser manca e marcada de alguma forma ou ter qualquer tipo de
deficiência, isso nos fazia menos pessoas? Meu pai por ser
advogado deveria saber, pelo comentário discriminatório, mas
em vez disso ele foi ignorante e olhou para ela com interesse.
— Talvez você esteja certa. Vou ver com a sua equipe sobre a
possibilidade.
Eu estava esmagada. Eu sabia que ele tinha me deixado por
essas pessoas há muito tempo, mas eu ainda me senti traída,
logo em seguida.
Ele era o meu pai. Ele deveria me defender. Ele deveria ter
pelo menos se preocupado com meus sentimentos. — Olá! —
Eu gritei. — Eu estou bem aqui! Se você estiver discutindo
como se eu não tivesse uma mente ou sentimentos próprios,
você poderia, pelo menos, fazer nas minhas costas?
Jennifer empalideceu e meu pai levou a mão sobre os olhos,
esfregando as têmporas com o dedo e o polegar como se sua
cabeça doesse. — Você está certa, Ella. Sinto muito. Por que
você e eu não vamos jantar esta noite e nós podemos discutir
isso sozinho?
— O quê? — Juliette gritou. — Pai! Isso não é justo! Temos
reservas esta noite!
— Eu sei, querida, mas Ella teve um dia realmente ruim.
Acho que nós dois poderíamos usar um tempo.
— Nós todos tivemos um dia ruim! Então e nós? Tudo é
sempre sobre ela agora! Na volta à escola o jantar é uma
tradição familiar. Você não pode esquecer-se sobre a sua
verdadeira família só porque a vida dela é uma merda.
Eu não poderia lidar com mais um segundo disso. —
Relaxe, Juliette. Eu não quero roubar sua noite. — Eu estava
cansada demais para manter a minha raiva para o meu pai. —
Você não tem que quebrar a tradição por mim. Vá ter o seu
jantar em família, ou o que quer. Estou bem.
— Ella. — Papai suspirou. — Você está vindo também.
Você é parte da família.
Eu estava errada sobre estar cansada demais para ficar
brava. Raiva borbulhava em mim, dando-me um segundo
fôlego. — Não. Eu era parte de sua família. Você me deixou
por esta.
— Querida, isso não é…
— Não pai,— eu interrompi antes que ele pudesse começar
a me dar desculpas. — Nós dois sabemos que, se mama não
tivesse morrido eu ainda seria nada além de uma lembrança
distante para você, então não finja que se importa comigo.
Por um momento, meu pai olhou como se eu tivesse lhe
dado um tapa e, então, ele perdeu a paciência. — Eu não posso
mudar o passado, Ella! Eu estou fazendo o melhor que posso
agora, e que só vai ter que ser bom o suficiente. É melhor
descobrir uma maneira de acabar com a sua raiva, porque, com
ela ou não, nós somos a sua família agora. Você está presa com
a gente, então chupa essa raiva e entra no carro.
Eu queria dizer não. Eu queria colocar meu pé no chão e o
deixar me arrastar, chutando e gritando. Ele me machucou por
dez anos. Ele não podia voltar para minha vida e esperar
apenas para ter o meu perdão. Ele não tinha sequer pedido
desculpas. Mas quanto menos barulho que eu fizesse, mais
cedo eu seria capaz de sair desta casa.
— Tudo bem, qualquer coisa.
Meu pai respirou fundo e se forçou a se acalmar. —
Obrigado. Apresse-se. Temos que sair em dez minutos.
Eu fiz uma careta para os meus jeans e camiseta de manga
comprida. Parecia bastante normal. — Por que eu preciso me
trocar?
— Providence é apenas um dos mais agradáveis
restaurantes em Los Angeles,— Anastásia se gabou. — Eles
não vão deixar você entrar se você parecer como um anúncio
de Walmart.
Até aquele momento, eu não tinha notado que as gêmeas
estavam ambas vestidas para matar. Meu pai e Jennifer
estavam vestidos, também. Ótimo. Presença de meu pai
impunha respeito e Jennifer pertencia em seu braço como a
esposa troféu perfeita. Anastásia e Juliette completavam o
quadro, parecendo um par de herdeiras mimadas. Esta família
merecia seu próprio reality show.
Depois que papai levou todos para fora do meu quarto para
que eu pudesse trocar, eu olhei para o meu armário por uma
eternidade, sabendo que eu nunca encontraria nada que me
faria encaixar com os Colemans. Quando eu deslizei as roupas
penduradas de uma extremidade do rack para o outro, me
deparei com o vestido para coquetel, amarelo-canário da
minha mãe. Mamãe e eu não tivemos a chance de se vestir
bem muitas vezes. Nós nunca fomos pobres exatamente, mas
nós tínhamos que cuidar o que nós gastávamos, e tínhamos
que nos apertarmos se queríamos fazer algo extravagante.
Uma vez, porém, quando eu tinha uns treze anos, ela tinha
namorado um dançarino de salsa profissional por alguns
meses, e ele adorava levá-la para dançar, então ela ostentou e
comprou o vestido.
Levei o vestido para o meu rosto e respirei fundo. Ele não
cheirava mais como ela, mas isso não importava. Era a minha
coisa favorita dela que ela sempre usava. Ela sempre pareceu
tão bonita nele. Eu chorei de alívio quando eu abri as caixas
embaladas pelo meu pai e vi que ele salvou o vestido.
— Eu sinto muito sua falta, mama,— eu sussurrei. — Não é
justo que eu tenha que fazer isso sozinha. Eu preciso de você.
Antes de perceber o que eu estava fazendo, coloquei o
vestido por cima da minha cabeça. Coube-me tão bem, parecia
coisa do destino. O vestido tinha alças finas e parou na altura
do joelho. A ideia de deixar a casa com minhas cicatrizes à
mostra me fez mal fisicamente, mas as pessoas estavam indo
olhar para mim, não importa o quê, então por que não pegar
um pedaço de minha mãe comigo? Eu ia precisar dela, se eu
quisesse sobreviver a esse jantar.
Eu coloquei o colar de pérolas que ela sempre usava com o
vestido e torci meu cabelo para cima, da mesma maneira que
ela usava, em seguida, olhei para mim mesma no espelho por
um longo tempo. Se eu ignorasse as cicatrizes, quase me sentia
como um ser humano novamente. Eu podia ver minha mãe
olhando para mim no espelho. Eu parecia com ela, exceto
pelos olhos.
— Eu te amo, mama,— eu sussurrei enquanto eu pegava a
minha bengala e saia para enfrentar o pelotão de fuzilamento.
Lentamente, eu fiz o meu caminho para a porta de entrada
da frente, onde todos estavam esperando por mim. Quando me
aproximei, todos eles deram uma olhada em mim e
congelaram.
— Ah não. Você está não usando isso! — Gritou Anastásia.
Eu não podia deixar de ficar na defensiva. Eu amei esse
vestido. — O que há de errado com isso? Vocês estão todos
usando vestidos.
— Mãe! — Anastásia enviou a Jennifer um olhar
suplicante.
— É um belo vestido, Ella,— disse Jennifer falou
rapidamente. Sua voz era tão condescendente, podia muito
bem ter sido de alguém com cinco anos de idade. — Mas você
tem certeza de que quer usá-lo?
— Por que não?
Jennifer congelou por um momento e, em seguida, forçou
um sorriso de dor em seu rosto. — Bem querida, é apenas o
que é… um pouco revelador.
Esse era outro tapa na cara. Olhei para Anastásia e Juliette e
cruzei os braços sobre o peito. — É mais do que qualquer um
de seus vestidos e meus seios não estão pendurados para fora,
para todo mundo ver.
— Não, não, eu não quis dizer isso,— Jennifer voltou atrás.
— Eu sei que o vestido não é inadequado. Isso não foi o que
eu quis dizer.
Eu era uma idiota. Eu não podia acreditar que me levou
tanto tempo para entender qual era um problema para todos.
— Você quis dizer que você não quer que eu use o vestido,
porque mostra as minhas cicatrizes. Você está tão
envergonhada de mim como eles estão.
Jennifer sacudiu a cabeça freneticamente até que seus olhos
se encheram de lágrimas. Ela virou a cabeça no ombro de meu
pai, chorando. Ele jogou os braços ao redor dela e olhou para
mim sobre sua cabeça. — Isso é o suficiente, Ellamara. Só
porque você está tendo um momento difícil não significa que
você pode andar por cima dos sentimentos dessa família. Você
provou seu ponto. Agora pare de ser difícil e basta ir trocar de
roupa.
Eu não sabia que meu coração poderia quebrar mais do que
já tinha. Até o meu pai, a minha própria carne e sangue, não
quer ser visto comigo se minhas cicatrizes estavam à mostra.
— Eu não me vesti para provar algum tipo de ponto! Este foi o
vestido da minha mãe. Eu só queria ter minha família presente
neste jantar de família. Eu não deveria ter que mudar só
porque você está com vergonha de ser visto comigo. Não é
minha culpa que eu provoco nojo a todos vocês.
Meu pai amaldiçoou sob sua respiração quando ele
percebeu seu erro. Todo o sangue foi drenado de seu rosto,
deixando-o pálido como um fantasma. Sua voz falhou e ele
sussurrou. — Ellamara, me desculpe. Eu pensei…
— Eu sei o que você pensou! — Seu pedido de desculpas
era pouco, demasiadamente tarde. — Você continua me
dizendo que você é minha família, mas você não é. Se minha
mãe tivesse me visto neste vestido, ela teria me abraçado e me
diria que estava orgulhosa de mim por tentar ser corajosa, não
me peça para trocar de roupa. Isso é apenas doente. Ela não
teria vergonha de minhas cicatrizes. Ela não se preocuparia
com os outros em tudo, porque ela me amava. Ela era a minha
família.
Eu me virei e me dirigi para o meu quarto, desejando mais
do que qualquer coisa que eu pudesse ter corrido até lá. Eu não
estava indo em qualquer lugar com qualquer um deles agora.
Meu pai realmente teria que me jogar sobre o ombro e me
levar, se ele quisesse que eu saísse de casa.
Capítulo
Oito

Brian
Eu sabia que nunca deveria ter dado as chaves da minha
casa para o Scott. Como diabos eu deveria evitar as pessoas,
quando eu não podia bloquear aquele que não me deixaria
ignorar minhas reuniões?
— Brian? — Scott gritou quando ele entrou na casa. Ele me
encontrou sentado no sofá da sala, três segundos depois. —
Você deveria estar lá há mais de uma hora atrás. Kaylee
ameaçou tirar minha peça de homem se eu não tiver você lá
em vinte minutos.
Olhei para a caixa de mensagens instantâneas no meu laptop
e suspirei.
Cinder458: Tanto quanto eu estou gostando desta
sessão, eu tenho que ir rastejando.

EllaTheRealHero: Sim, sim, a sua sexta-feira noite


espera por você, Sr. Popular. Vá se divertir.

Eu sorri. Eu acho que eu poderia me divertir agora.


Ella tinha finalmente visto meu filme The Long Road Home
como eu pedi. Ela estava tão surpresa que ela escreveu um
comentário divertido intitulado ‘Minha sinceras desculpas ao
Sr. Brian Oliver.’ Foi uma resenha do filme como as que ela
usava para escrever no seu blog antes de seu acidente, exceto
que ela escreveu sob a forma de uma carta pessoal para mim,
desculpando-se por pensar que eu ia arruinar Cinder. Foi
brilhante.
Depois que ela me mandou avaliação de The Long Road
Home, eu imediatamente lhe escrevi e insisti para que ela
começasse a ‘blogar’ novamente. Eu sabia o quanto Ella
amava o blog, e que tinha me matado quando ela disse que não
ia mais fazer isso. Pode ter levado semanas de mendicância,
mas Ella tinha finalmente postado sua avaliação, hoje. Ela deu
uma breve explicação que ela tinha sofrido um acidente e
incapaz de manter-se com o seu blog, mas graças a uma
discussão com um ‘fã obcecado’ dela, ela estava de volta e
teve que começar com seus pensamentos sobre o elenco de O
Príncipe Druida. Ela começou com sua carta de desculpas para
Brian Oliver.
Quando eu encontrei a chamada do blog esta tarde, eu
assinei para recebê-la de volta para a blogosfera e acabamos
por entrar em uma discussão na seção de comentários do seu
post sobre o traje da princesa Ratana.
Muito poucos dos leitores de Ella já tinham encontrado o
seu post e saltaram para o debate, também. Tive o prazer de
ver que meu lado estava ganhando, apesar da linda festa de
boas-vindas que Ella estava recebendo de seus fãs.
Cinder458: Será como minha Sacerdotisa Sábia pede.
Eu não estava realmente ansioso para esta noite, mas
agora eu prometo que vai ter muita diversão em honra de
seu retorno ao mundo dos blogs.

EllaTheRealHero: Você é um esquisitão.

Cinder458: Eu não sou. Você me ama.

EllaTheRealHero: Sim, você é, e sim, eu amo. Boa


noite, Cinder.

Um desejo violento me encheu enquanto eu olhava em


choque a resposta de Ella. Eu esperava que ela voltasse com
alguma coisa sobre o meu ego inflado e em vez disso, ela
admitiu me amar. Ela nunca disse algo como isso antes. Eu
sabia que não poderia ser da mesma maneira que eu me sentia,
porque só se eu fosse louco o suficiente para me apaixonar por
uma estranha aleatória na Internet, mas pelo menos ela me
amava de alguma maneira.
Cinder458: Boa noite, Ella.
Eu hesitei e depois digitei uma última mensagem.
Cinder458: Eu também te amo.

Deixei escapar um suspiro quando eu teclei ENTER. Talvez


fosse apenas na mensagem instantânea, talvez eu nunca
conhecesse Ella em pessoa, e provavelmente, ela pensou que
eu estava brincando, mas eu nunca disse essas palavras para
uma mulher antes. Para mim, este momento era enorme.
Um longo apito me assustou fora da minha epifania. Olhei
para cima, para ver Scott em pé atrás de mim, lendo sobre o
meu ombro com os olhos arregalados.
Ugh. Hora de voltar para a realidade.

Depois de um longo tempo, fechei meu laptop. Antes que


Scott pudesse perguntar sobre Ella e o que eu tinha acabado de
escrever para ela, eu disse: — Você venceu. Estou indo. Não
podemos ver você perder sua peça de homem por minha causa.

***
— Cuidado,— Scott alertou assim que entramos no clube.
— Kaylee está chateada que você não apareceu na hora, hoje à
noite.
Eu sorri. É claro que ela estava chateada. Hoje à noite era
seu vigésimo primeiro aniversário, e de acordo com ela, era a
noite que deveríamos ficar noivos. Alugou o clube mais
exclusivo de LA para sua festa e convidou todos os VIP que
ela conhecia. E, a partir da aparência dela, convidou também
todo paparazzi no estado da Califórnia.
Se Scott pensou que Kaylee estava chateada agora, ele
deveria apenas esperar até que eu rompesse o relacionamento
falso em vez de dar a ela o anel que eu deveria ter comprado e
não comprei. — Uma palavra para o sábio Scotty: correr
enquanto você ainda pode.
Scott não foi rápido o suficiente. Kaylee pulou sobre nós
dois no segundo que passou pela porta. — Baby! — Ela
gritou, balançando-se contra mim. — O que levou vocês a
demorarem tanto tempo?
A voz dela era feliz, mas o fogo em seus olhos explicou
exatamente como ela estava chateada. Ela trouxe uma
comitiva de amigos e simpatizantes de aniversário com ela, e
depois que educadamente disse olá a todos, eu levei Kaylee
pela mão e disse: — Podemos falar em privado por um
minuto?
Toda a cara de Kaylee iluminou. — Certo!
Ela fez uma careta para a multidão que sugeriu que ela
pensou estar em seu aniversário surpresa, então a arrastei para
uma mesa privada.
Eu não perdi tempo. Assim que eu tinha certeza de que
ninguém podia nos ouvir, eu disse: — Eu não quero fazer isso.
Kaylee revirou os olhos. — Sim, você deixou isso bem
claro desde o momento em que foi sugerido nessa reunião.
— Deixe-me reformular. — Minha paciência já estava se
esgotando. — Eu não estou fazendo isso.
Os olhos de Kaylee estreitaram em fendas finas. — O
inferno que você não está.
— Kaylee. — Eu esfreguei minhas têmporas e respirei. Eu
não estava indo brigar com ela se eu pudesse.
— Dá um tempo, ok? As coisas mudaram para mim desde
que essa união aconteceu.
Se Kaylee fosse um gato, ela teria arqueado as costas e
inchado sua cauda, como não era, ela endureceu e cruzou os
braços sobre o peito. — Você quer dizer que é sobre essa
garota?
Essa garota? Ella era muito mais do que essa garota. —
Sim, eu quero dizer Ella. Se eu soubesse que ela estava viva,
eu nunca teria deixado ninguém me convencer a esse plano
estúpido, em primeiro lugar. Agora que eu sei, eu não vou
estragar as coisas com ela por fingir estar noivo de você.
Kaylee começou a tremer, um pouco da raiva se
acumulando dentro dela. Ela ia explodir a qualquer minuto. —
Então, você está me deixando por ela? Você vai pedir a ela
para ser sua noiva falsa em vez de mim?
Eu estava tão horrorizado pelo que pensei que eu perdi meu
temperamento. — Eu não estou fazendo essa merda falsa mais
com você! Nós temos que quebrá-lo agora. Eu estou indo para
Boston ver Ella. Eu vou dizer-lhe quem eu sou e eu não quero
que ela pense que eu tenho uma namorada quando eu fizer. Eu
quero sair com ela e eu me recuso a manter isso em segredo ou
fazê-la esperar por mim enquanto eu desfilo em torno de Los
Angeles com a minha noiva falsa, na frente das câmeras.
Eu não tinha pensado que os olhos de Kaylee poderiam
abrir qualquer milímetro mais amplo, mas eu estava errado.
Eles cresceram tão grandes que quase saltaram para fora de
sua cabeça. Sua boca se abriu também e ela se inclinou sobre a
mesa que nos separava. — Espere um minuto. — Ela jogou
uma mão para cima, como se estivesse indo agitar um dedo
para mim. — Ela não sabe quem você é? Você nunca a
conheceu?
Minhas bochechas ficaram quentes de vergonha. Eu sabia
que parecia loucura, mas eu também sabia que eu sentia. —
Minha relação com Ella é… complicada.
— Defina ‘complicado’.
Eu não quero falar sobre Ella com Kaylee. Ela jamais
entenderia. Ella foi a melhor coisa na minha vida e Kaylee só
quer nos separar. Kaylee era como veneno. Eu não ia deixá-la
manchar o que eu tinha com Ella. — Eu não tenho que me
explicar para você.
— Sim, você tem! — Kaylee assobiou. — Você está
terminando comigo. Eu mereço uma explicação.
Eu apertei minha mandíbula e mais uma vez tentei manter
meu temperamento sob controle. — Nós não estamos
realmente terminando. Nós não estamos realmente juntos.
— Podemos muito bem estar, é o que todo mundo pensa. E
sobre a publicidade? E sobre nossas carreiras? Que tal provar
que você não é apenas algum jogador arrogante? E quanto ao
nosso plano, Brian?
— Se nós tornarmos isso amigável, vamos dizer que foi
mútuo e que nós somos apenas melhor como amigos, não vai
ser tão ruim. Você ainda vai ter abundância de publicidade
quando o filme estrear e eu só vou ficar fora de problemas.
Nós ficaremos bem.
— Claro, nós estaríamos muito bem,— concordou Kaylee,
cuspindo a palavra fina como se ela deixasse um gosto ruim na
boca. — Mas acho que nós poderíamos ter muito mais se nós
mantivermos o plano. Nós poderíamos tornar o próximo
Kanye e Kim, o próximo Brad e Angelina! Entre o seu pai e o
meu, e da forma como toda a nação nos ama, nós poderíamos
possuir esta cidade. Fama é apenas um concurso de
popularidade, e nós somos o rei e rainha do baile. Estaremos
ganhando estando juntos.
A raiva dela morreu apenas um pouco e sua voz se
suavizou. — Nós poderíamos ser muito bom juntos. Se você
apenas parar de lutar contra isso e fizesse de verdade, você
veria. Eu poderia te fazer feliz, Brian.
Não havia nenhuma maneira no inferno! Kaylee jamais
poderia me fazer feliz, mas eu consegui manter esse
pensamento para mim mesmo. — Eu não posso fazer isso. Eu
amo Ella.
A força da minha declaração me chocou tanto. Eu respirei
fundo e soprei tudo para fora dos meus pulmões, após essa
admissão, mas me senti tão bem em admitir isso em voz alta
que eu disse isso de novo. — Eu a amo, Kay. Eu não posso
estar com você, eu não posso nem fingir, quando tudo que eu
quero é ela.
Kaylee recostou-se na cadeira e ficou quieta, me
surpreendendo com a quantidade de dor em seus olhos. Eu
esperava que ela se irritasse por ela não estar saindo com a
sua, mas nunca sonhei que estaria ferida por minha rejeição.
Eu a alcancei sobre a mesa e coloquei a mão sobre a dela.
— Sinto muito.
Depois de um minuto, Kaylee olhou para cima, como se
estivesse contemplando uma nova abordagem. Ela tirou algo
pequeno fora de sua bolsa, um anel de noivado e estendeu-o
para eu ver. Ela colocou-o no dedo dela, como se ela só queria
ver como parecia, e suspirou melancolicamente. — É lindo,
não é?
Ah Merda. Eu era o único que deveria ter o anel. Que
diabos ela estava fazendo com ele? — Por que você tem isso?
Kaylee puxou os olhos longe do diamante. O olhar que ela
me deu causou uma sensação ruim no estômago. — Eu não
sou uma idiota, Brian. Eu sabia que você estava tentando se
esquivar esta noite.
Em um flash, todo o seu semblante mudou e ela se tornou a
mulher má que eu tinha acabado de retratar e que devorou meu
assistente. — Eu não dou a mínima para quem você ama. Eu
não vou deixar você estragar isso para mim. Vou, no entanto,
arruiná-lo se você não acelerar o jogo agora. Vou arruinar seu
pai, também. Não vão ser mais quatro filmes de As Crônicas
de Cinder e diretores podem ser facilmente substituídos. Meu
pai é dono de vocês dois e papai me dá o que eu quiser. Vou
me certificar de que nenhum de vocês tenha um trabalho real
nesta cidade novamente. E, então, quando você terminar em
Hollywood, finalmente chorando por sua preciosa Ella, eu vou
destruí-la toda, mil vezes pior.
Meu coração parou de bater com a ameaça e todo o meu
sangue se transformou em gelo. Kaylee definitivamente
poderia fazer alguns danos tanto para o meu pai quanto para
minha carreira, mas eu duvidava que ela pudesse arruinar
inteiramente.
Mas ela poderia destruir Ella. Não importava que ela não
soubesse quem era Ella; assim que eu a conhecesse o mundo
saberia, o mundo sempre soube tudo o que eu fiz. Uma vez
que eu fosse algo mais que amigo anônimo da internet com
Ella, eu nunca seria capaz de manter segredo.
Kaylee era cruel e Ella tinha passado por tanta coisa. Se
Kaylee quisesse, ela poderia encontrar cada fenda na armadura
de Ella e usar suas tragédias para quebrá-la em pedaços, sem
sequer conhecê-la. Não havia nenhuma dúvida em minha
mente que se eu desprezasse Kaylee agora, ela faria
exatamente isso.
— Ah,— disse Kaylee com satisfação. — Eu vejo que
finalmente entendemos um ao outro, não é?
— Se você pensar em arrastar Ella para isso…
— Oh, não, você já a arrastou para isso e se você quer que
eu fique longe dela, então você entra nisso com tudo. Não há
mais aparições meia boca e atitudes ruins. Você pega esse
amor do filhote de cachorro débil e patético em seu coração e
faz o mundo acreditar que é todo para mim. Faça-me acreditar,
Brian.
Kaylee saltou para seus pés, sem aviso prévio, gritando alto
e pulando para cima e para baixo como louca, cheia de
entusiasmo vertiginoso. — Sim! — Gritou. — Sim, sim, com
todo o meu coração, sim! Claro, eu vou me casar com você!
Ela passou ao redor da mesa pequena e pulou em mim antes
que eu sequer percebesse o que estava acontecendo.
Ela deu um beijo na minha boca, enquanto todos na sala
inteira se reuniram ao redor, batendo palmas e aplaudindo.
Assim que eu pude sair livre do beijo, eu tomei algumas
respirações profundas e puxei Kaylee perto para que eu
pudesse sussurrar em seu ouvido. — Você não tem coração,
sua puta.
— Claro que sim, baby, e esse coração bate só por você. —
Ela mostrou sua recém aquisição na mão para a multidão, para
que todos pudessem ver e gritou: — Nós vamos nos casar!
Melhor presente de aniversário de sempre!
Kaylee me deu outro sorriso do mal e bateu as pálpebras,
dizendo: — Eu te amo tanto.
Ela esperou por mim para dizer de volta, mas eu não faria
isso. Eu nunca diria essas palavras para ela, se eu quisesse
dizer ou não. — Perfeito— foi o que eu respondi, ganhando
uma gargalhada da multidão.
Raiva brilhou nos olhos de Kaylee, mas ela não podia dizer
nada com todo mundo olhando. Ela forçou seu sorriso um
pouco mais brilhante e me beijou novamente. Eu odiava isso,
mas eu não tinha absolutamente nenhuma escolha a não ser
beijá-la de volta. Eu não podia deixá-la magoar Ella. Eu não
podia até mesmo deixá-la descobrir como eu sabia de Ella. Eu
só tenho que esperar para contar a Ella a verdade, assim que
Kaylee terminasse comigo. Eu só podia rezar para os planos de
Kaylee não incluírem uma viagem para Las Vegas e uma
certidão de casamento legítima.
Capítulo
Nove

As semanas começavam e se passavam. Cada dia se


misturando com o outro, e nada mudava. Eu odiava, mas eu
aprendi a lidar com isso. Para a maior parte, eu deixei as
pessoas em paz e eles me deixaram em paz. Quando os alunos
na escola me provocavam, eles nunca eram muito agressivos.
Eles zombavam de mim à distância. Eu ignorei o melhor que
pude. Eu mantive minha cabeça para baixo, eu fiz o meu
trabalho e eu nunca chorei. Pelo menos, não na escola.
Eu sempre conseguia segurar minhas lágrimas até que eu
estivesse trancada no meu quarto. Eu as tirava do meu sistema
e, então, eu enviava um e-mail para Cinder. Ele me contava
alguma história ridícula, ou dizia algo completamente idiota
sobre um livro ou um filme e eu me via obrigada a discutir. De
qualquer maneira, ele sempre fez tudo ficar melhor.
Cinder perguntou sobre o meu acidente e minha mãe e viver
com minha nova família, ocasionalmente. Eu sabia que ele
estava preocupado comigo, mas eu simplesmente não podia
falar sobre isso com ele. Ele era o meu raio de sol. Ele era a
única coisa que me manteve sã. Eu não podia fazer nada para
mudar isso. Quando ele perguntou, eu disse a ele que estava
indo bem e foi isso. Ele nunca empurrou para mais. Quando eu
disse que não queria falar sobre temas tristes, ele disse que
tudo bem e, em seguida, me distraia com coisas que ele sabia
que iria me fazer rir.
Ele também me convenceu a blogar novamente. Eu assisti a
esse filme com Brian Oliver, que Cinder me contou e fiquei
agradavelmente surpreendida. Cinder tinha razão. Havia mais
de Brian Oliver do que um rosto bonito. Ele tinha alguma
profundidade e havia uma possibilidade, uma ligeira
possibilidade de que ele poderia ser capaz de salvar o Druida
de ser uma porcaria total de Hollywood. Quando mandei para
Cinder meu comentário, ele gostou tanto que insistiu que eu o
postasse. Precisou de alguma persuasão, mas eventualmente eu
fiz. Depois disso, escrever outros comentários foi fácil. Meus
seguidores me acolheram de braços abertos e outro pequeno
pedaço do meu coração foi unido de novo.
A primeira vez que uma caixa de livros chegou a minha
casa de um editor, eu fui forçada a me explicar para o meu pai.
Ele tinha apreciado que eu tinha um hobby, além de me
esconder no meu quarto. Ele foi direto comprar um conjunto
de estantes cheias de livros e um novo e-reader. Ele até me
conectou algum tipo de site para que eu pudesse assistir a
filmes de graça. Eu ainda não gosto do cara, mas mesmo eu
poderia admitir, foi legal da parte dele.
Entre o meu blog e Cinder, a vida tinha se tornado um
pouco mais suportável. O tempo foi passando desta forma até
o Dia das Bruxas e, em seguida, meu mundo deu mais um
giro. Eu estava na minha segunda aula do dia e minha
professora, a Sra. Teague, nos deu os últimos dez minutos de
aula como tempo livre. Não foi um minuto depois que puxei
para fora um livro que senti alguém pairar sobre meu ombro.
Jason Malone, um dos intermitentes brinquedos de
Anastásia, estava sorrindo para mim. — O que há, Ella? —
Ele perguntou quando eu finalmente cedi e olhou para ele.
— Nada. — Eu sabia que isso não era um gesto amigável.
Jason tinha sido um dos meus torturadores mais abusado do
ano. — O que você quer?
Ele riu e se aproximou do lado da minha mesa. — Eu só
estava me perguntando o que você vai fazer hoje à noite, no
Dia das Bruxas. Você está pensando em ir ao baile?
— Não.
Voltei minha atenção para o meu livro, esperando que ele
fosse embora. Ele, é claro, não foi. — Que pena,— disse ele.
— Eles estão tendo esta competição para ver quem pode vir
como o monstro mais terrível. Sua irmã acha que você poderia
ganhar.
Eu sabia aonde isso iria, então, eu não joguei seu jogo. Eu
simplesmente disse: — Ela não é minha irmã.
— Ela disse que nem sequer precisa de uma fantasia. Ela
disse que você poderia vir em shorts e um top e eles
simplesmente te entregarão a coroa. Ela disse que as pessoas
iriam sair correndo e gritando com a sua visão.
— Sim, isso soa como ela.
Olhei para a sala, para verificar o tempo e vi Juliette sentada
alguns lugares mais além, observando Jason e eu com uma
carranca no rosto. Eu fixei em seus olhos e ela rapidamente
desviou o olhar, tentando o seu melhor para fingir que eu não
existia.
Eu não fiquei surpresa que ela não faria Jason parar, mesmo
ela sendo a única garota na classe que provavelmente poderia.
Ela e eu tínhamos duas classes juntas, e ela me viu tomar este
tipo de assédio durante todo o ano, sem nunca dizer nada. Mas
pelo menos ela não estava de pé sobre os ombros de Jason,
rindo e incitando-o da maneira que Anastásia teria, se ela
estivesse aqui.
A classe estava quase acabando agora, felizmente, então eu
peguei minha mochila. Eu acho que Jason não gostou do fato
de que ele não tinha me chateado, porque ele tomou o livro das
minhas mãos antes que eu pudesse colocá-lo na minha bolsa.
— Estou curioso, Ella. Você é realmente tão hedionda como
ela diz que você é?
— Dá o meu livro de volta.
— Você quer isso? Mostre-me suas cicatrizes.
Eu havia me tornado uma profissional em não reagir às
coisas que as pessoas dizem, mas foi tão chocante que eu
engasguei.
— Desculpe-me?
Jason sorriu animado para ver que ele finalmente atingiu um
nervo. — Você sempre usa aquelas camisas de manga
comprida e calças justas. A escola inteira sabe o que você está
tentando encobrir. Apenas deixe-me ver. Prometo não correr
gritando. — Ele riu. — A não ser que seja verdade.
Eu escolhi ficar com raiva porque quando eu ficava louca
era muito mais fácil de controlar minhas lágrimas e eu gostaria
de não chorar na frente deste idiota. — Vá para o inferno. —
Minha voz tremeu, mas não quebrou.
— Isso é onde você foi buscar essas queimaduras? Por que
eles a enviaram de volta? É tamanha aberração que mesmo o
inferno não queria você?
Todo o meu corpo começou a tremer. Eu tive que colocar
minha mão ruim espalmada sobre a minha mesa, para evitar
em mantê-la em um punho fechado e me machucar. Jason
observou a ação e, em seguida, disse: — Vamos lá, Ella,
mostre.
Ele estendeu a mão, rápido como um raio e puxou meu
braço para cima, chegando a empurrar minha manga. Ele não
puxou tão forte. Ele nunca teria ferido uma pessoa normal,
mas eu nunca recuperei o movimento completo em meu braço
direito. Eu não era capaz de estendê-lo totalmente. Quando
Jason empurrou-o, senti a ruptura na pele, perto do meu
cotovelo.
Eu gritei quando o fogo subiu no meu braço e todo o meu
corpo. Jason me soltou como se tivesse pegado fogo de mim.
Apertei a minha mão boa sobre meu braço, mas a dor não
parou. Pela primeira vez, desde que eu comecei a escola, eu
chorei na frente dos meus colegas.
Juliette atingiu Jason e eu no mesmo tempo que a Sra.
Teague. Eu vi a raiva nos olhos de Juliette, mas estava com
muita dor para ficar chocada quando ela puxou Jason longe de
mim e gritou para ele.
— Você é um estúpido idiota!
— O que está acontecendo aqui? — Sra. Teague exigiu.
Juliette empurrou Jason e Sra. Teague fora do caminho e se
ajoelhou ao lado da minha mesa. — Você está bem?
— Não. — Eu levantei minha mão do meu braço e lhe
mostrei as manchas vermelhas brilhantes que escoavam
através da minha manga branca. — Ele rasgou o enxerto de
pele.
Juliette amaldiçoou.
Jason olhou como se estivesse prestes a desmaiar e o resto
da turma estava pirando. Mesmo a Sra. Teague ficou
boquiaberta para mim, com olhos arregalados e apavorados.
Apenas Juliette nunca perdeu a calma. — Precisamos chamar
o enfermeiro. Onde está o telefone?
— Mochila,— Eu engasguei. — Enfermeira da escola deve
ter analgésicos. Isso realmente dói.
Juliette assentiu. — Vamos. — Ela me ajudou a sair da
minha cadeira. Em vez de me entregar a minha bengala, ela
puxou meu braço bom sobre os ombros.
Sra. Teague pegou nossas mochilas e minha bengala. —
Vou levar este material para o escritório,— disse ela e, depois,
estalou os dedos para Jason. — Você, venha comigo agora!
Capítulo
Dez

Meu pai era um alvoroço. O cara era um advogado de


acusação, depois de tudo. Ele viveu para entregar ameaças.
Ele estava no escritório do diretor com a porta fechada e eu
estava no final do corredor, no escritório da enfermeira, mas
eu ainda podia ouvir seus gritos abafados, com raiva. Até
agora, ele ameaçou jogar Jason na cadeia, processar sua
família, processar a escola e que a Sra. Teague fosse demitida.
Depois de mais um rugido, eu me encolhi. — Se eu tiver
que ter outra cirurgia, ele vai trazer esta instituição a
pronunciar falência.
Meu enfermeiro Cody, me deu um sorriso triste quando ele
terminou de colocar a bandagem em volta do meu braço. —
Eu não ficaria surpreso se você precisar de uma. Seu braço não
teve um rasgado tão simples. O corte é muito fundo, dentro de
seu cotovelo. Eu quero que você agende uma consulta com seu
cirurgião quando chegar em casa hoje, e você precisa ter calma
por um tempo, durante o seu período de tratamento.
Quando Juliette chamou meu pai e explicou o que
aconteceu, ele tinha chamado tanto o meu enfermeiro e minha
psiquiatra e pediu-lhes para vir para a escola. Eu não
conseguia decidir se era um movimento paranoico ou se ele só
queria fazer mais um show para as pobres pessoas da equipe,
que estavam aterrorizados.
Eu me senti como uma idiota o suficiente para ser ferida tão
facilmente, em primeiro lugar. Em seguida, houve o espetáculo
que meu pai estava fazendo. Adicionando os médicos
especiais que vêm para a escola só por mim e eu me sentia
ainda mais uma aberração do que nunca. Mas, pelo menos,
Cody era legal. Foi bom ter um rosto amigável em meio a este
caos.
— Você vai ter que mandar a Daniel uma mensagem sobre
tornar mais fácil a fisioterapia para mim. — Eu disse a Cody.
— Ele nunca vai acreditar em mim. Ele gosta de me torturar.
— Eu sei,— Cody brincou. — Eu vi algumas de suas
sessões. O cara é um prenúncio doente, torcido de dor.
Cody e eu estávamos rindo quando meu pai entrou no
quarto com a Dra. Parish. — Ela está rindo?
Pai perguntou surpreso. Um sorriso cruzou seu rosto. —
Você é um milagreiro, Cody.
— Nah, eu só lhe dei um monte de boa medicação para a
dor.
— Então, esse é o seu segredo? — Perguntou Dra. Parish.
— Eu não posso nunca obter um sorriso dela.
— Isso é porque você suga fora toda a diversão,— eu
resmunguei. Dra. Parish era uma mulher bastante agradável,
mas eu odiava nossas sessões. — Você está sempre tão séria.
— O seu bem-estar mental é grave, Ella. Desejo que levasse
nossas sessões mais a sério.
— Ela está bem? — Meu pai perguntou a Cody, depois
olhou para mim. — Você está?
— Estou bem.
— Vou precisar vê-la todos os dias, para verificar como ela
está até que a ferida esteja fechada, mas ela deve estar bem em
uma semana ou algo assim. Ela precisa ser olhada por seu
cirurgião, apenas por segurança.
— Eu vou agendar esta tarde. Ela está bem para falar agora?
O diretor e a polícia gostariam de falar com ela.
— Ela está em alguma medicação para a dor bastante
pesada, mas seu julgamento não deve ter sido muito
prejudicado.
— Eu gostaria que fosse,— eu murmurei enquanto eu segui
meu pai pelo corredor.
— Por aqui. — Papai abriu a porta para uma pequena sala
de conferências. — Juliette, você também!
Eu olhei para trás quando Juliette levantou de uma cadeira
em frente à recepção. Eu ainda não podia acreditar que ela me
ajudou. Eu me encontrei com seus olhos quando ela passou
por mim na sala, mas ela rapidamente desviou o olhar.
Obviamente, me ajudar em caso de emergência não nos faz
amigas.
Antes de entrar na sala de conferências, a porta para a sala
do diretor estava aberta. Dois policiais escoltaram um Jason
abatido e algemado. Um par de pais altamente irritados o
seguiu. Eu tentei me apressar dentro da sala de conferência,
mas a mãe de Jason me viu e me parou. — Senhorita
Coleman?
Eu suprimi um suspiro e me virei. — Meu nome é
Rodriguez, não Coleman.
A mãe de Jason franziu a testa, mas não perguntou. — Meu
filho tem algo que gostaria de dizer para você.
Ela olhou para Jason até que ele murmurou um pedido de
desculpas. Seu ‘Sinto muito’ era tão sincero quanto o meu —
Está tudo bem.
Ele não conseguia tirar os olhos de meu braço enfaixado.
Cody teve de cortar a minha manga acima do meu cotovelo, a
fim de examinar o ferimento, assim que minhas cicatrizes
estavam agora em plena exibição. O fato de que Jason estava
vendo elas me fez sentir violada. — Parece que você
conseguiu o que queria, afinal de contas,— eu disse. Eu
estendi meu braço para que ele pudesse ter um olhar realmente
bom. — Então, é verdade? Estou realmente horripilante o
suficiente para ganhar uma coroa?
Eu estava com tanta raiva que eu tinha esquecido as outras
cicatrizes no meu pulso até Jason engasgar. Eu segui o seu
olhar de olhos arregalados para as marcas deixadas pela minha
tentativa de suicídio e assim fizeram seus pais. Todos nós
ecoamos um suspiro.
Eu queria desaparecer. Eu queria correr e me esconder e
chorar até que eu murchasse e deixasse de existir, mas eu não
podia. Eu não podia mostrar fraqueza, ainda mais agora que
ele sabia desse segredo sobre mim. Em vez de sumir em
horror, eu puxei a manga do meu outro braço e deixei Jason
ver toda a extensão da minha vergonha.
— Certifique-se de dar uma boa olhada, então você tem um
monte de detalhes para contar a todos os seus amigos, amanhã.
Eu não posso esperar para ouvir todas as coisas espirituosas
que vocês falarão para isso.
Enfiei meus pulsos um pouco mais perto dele e ele se
afastou de mim. — Merda, Ella. Eu sinto muito, ok?
Este pedido de desculpas parecia um pouco mais sincero,
mas isso realmente não me faz sentir melhor. — Você quer
saber por que você nunca foi capaz de me fazer chorar? —
Perguntei. — Porque você está tentando derrubar alguém que
já está no fundo do poço. Você não pode me fazer sentir pior
sobre mim do que eu já faço. Você é patético, Jason, você e
todos os outros idiotas nesta escola que não têm nada melhor
para fazer com suas vidas do que escolher uma aleijada para
suas distrações.
Eu percebi que eu poderia ter ido longe demais quando a
mãe de Jason suspirou de novo e começou a chorar. Fiquei
surpresa que meu pai não tivesse tentado me parar, mas
quando eu olhei para ele, ele estava olhando tão duro para
Jason que eu imaginei que ele não se importava quão rude eu
fui. Ele encontrou meus olhos e gentilmente colocou a mão no
meu ombro. — Ellamara, vamos lá, querida.
Meu pai me guiou para a sala de conferência quando os
policiais cutucaram Jason em direção à saída. Havia outro
conjunto de policiais que se sentaram-se à mesa de
conferência, com o diretor Johnson e a Sra. Teague. A Dra.
Parish e Cody estavam lá também, juntamente com Jennifer e
Juliette.
Uma vez que me sentei, as perguntas começaram a voar.
Essas pessoas todas deveriam estar do meu lado, meu ‘Sistema
de apoio’, como Dra. Parish gostava de chamá-los, mas
parecia a Inquisição Espanhola. Eventualmente, eles
arrancaram cada detalhe de meu encontro com Jason de mim.
Eu tinha deixado o nome de Anastásia fora da conversa, mas
quando meu pai ouviu a parte sobre o concurso de fantasias,
ele estava de pé e jorrou mais ameaças.
— Eu pensei que houvesse uma política de tolerância zero
de bullying na escola! Eu pensei que os alunos tiveram de
assinar um código de conduta pessoal para vir aqui! Eu
deveria ter toda essa instituição colocada sob investigação!
Meu pai se virou e se inclinou sobre minha cadeira,
invadindo meu espaço pessoal, como se eu fosse um de seus
criminosos. — Eu quero os nomes de todos os que te
incomodaram.
Eu acidentalmente soltei uma risada e os olhos do meu pai
brilharam. — Isto não é uma piada! — Ele empurrou um papel
e lápis para mim. — Eu quero os nomes, Ella! Todos eles!
— Não posso listar todos os que têm sido maus para mim
desde que cheguei aqui. Isso é metade da escola. Eu nem
mesmo sei o nome da maioria deles.
— Metade da escola? — Seu rosto ficou um tom assustador
de vermelho. — Então, me dê os líderes. Eu vou tê-los todos
expulsos.
Eu suspirei. — Se você fizer isso, você só vai piorar as
coisas para mim.
— Ela está certa,— disse Juliette, falando pela primeira vez.
— Se você colocar os alunos em problemas por provocar Ella,
eles vão odiá-la, por você estar sendo como um agente
antidroga.
— Esses alunos têm de ser responsabilizados ou eles nunca
vão parar! — Pai rugiu.
— Tudo bem, você quer um nome? — Juliette estalou. —
Anastásia Coleman.
A sala inteira ficou imóvel. Lentamente, papai se levantou
em toda sua altura e se virou para Juliette. — O quê?
Ela encolheu os ombros desafiadoramente. — Você
perguntou quem era o líder. Anastásia bate todo mundo nesta
escola.
A voz de meu pai estava estranhamente calma quando disse:
— Isso é verdade, Ella?
Eu olhei para o meu colo e não disse nada.
— Você quer saber por que Jason realmente fez o que fez
hoje? — Perguntou Juliette.
— Juliette, não. Ela só vai começar a fazer minha vida um
inferno em casa, também.
Juliette recostou-se e fechou a boca, mas era tarde demais.
Papai olhou para trás, entre nós, tornando-se muito claro que
diria a ele tudo o que ele queria saber.
— O que sua irmã tem a ver com o que aconteceu hoje?
Juliette quebrou pela primeira vez. — Você sabe como ela
terminou com Jason na semana passada? Bem, ele perguntou
se eles poderiam voltar a ficar juntos e ir ao baile de
Halloween como um casal, e ela disse que só faria isso se
tivesse Ella para mostrar a todos suas cicatrizes.
Eu respirei fundo. Eu não sabia disso.
Papai olhou como se ele estivesse contando até dez em sua
mente para que ele não explodisse. Depois de um minuto, ele
perguntou: — Quanto tempo esse tipo de coisa está
acontecendo?
Mais uma vez, a pergunta foi dirigida a mim, mas era
Juliette quem respondeu. — Desde que ela chegou aqui, mas
foi ficando pior nas últimas semanas.
Todos na sala ficaram em silêncio. Era como se todos nós
estivéssemos esperando o machado cair, só que eu não tinha
ideia qual cabeça estava indo para ser arremessada fora. Foi
um dos policiais que finalmente quebrou o silêncio. — Bem.
— Ele limpou a garganta e se levantou. — Eu acredito que nós
temos todas as informações que precisamos para agora.
Seu parceiro seguiu a sua sugestão e acrescentou: —
Estaremos em contato, Sr. Coleman.
— Eu não quero prestar queixa contra Jason,— eu soltei
antes que os policiais pudessem sair da sala.
Eles se viraram e esperaram por mim, para dizer mais.
— O que você quer dizer com você não querer prestar
queixa? — Perguntou meu pai. — Aquele garoto agrediu você.
— Ele olhou para os policiais e disse: — Nós não estamos
deixando cair as acusações.
— Senhor, sua filha tem mais de dezoito anos. Se ela
escolher não…
— Eu tenho a guarda judicial de Ellamara, agora. — meu
pai interrompeu. — Eu tenho todo o direito de tomar essa
decisão e eu muito bem quero apresentar queixa.
Ambos os policiais atiraram olhares assustados em minha
direção e a sala caiu em um silêncio mais estranho, ainda.
O melhor dos dois policiais tentou me dar um sorriso
simpático quando ele disse: — Se ele tem a custódia legal,
então eu tenho que ir com sua decisão. Sinto muito.
Eles começaram a sair e eu entrei em pânico. Eu perdi a
paciência e gritei para meu pai. — Pô, pai! Pare de se
preocupar sobre o seu próprio orgulho maldito por dois
segundos, e, por favor, confie em mim uma vez! Por favor!
Raiva do meu pai desapareceu e ele me encarou, sem fala.
— Jason agarrou meu braço, isso é tudo,— eu continuei
desesperadamente. — Eu sei que foi erro dele e eu sei que
você está chateado com isso, mas ele não sabia o que poderia
acontecer comigo. Ele não quis me machucar. Tenho certeza
que ele foi suspenso ou o que for. Isso é castigo suficiente. Se
você enviá-lo para a prisão ou processar sua família, você
realmente só vai piorar as coisas para mim. Por favor, não me
cause mais problemas.
Meu pai se recuperou do choque e puxou seu rosto em uma
careta. Ele lançou um olhar fulminante em Juliette e ela
balançou a cabeça vigorosamente. — Ela está certa. Isso vai
piorar as coisas.
Doeu um pouco que meu pai ainda precisasse da
confirmação de Juliette e não poderia bastar ter a minha
palavra para ele, mas eu estava feliz que Juliette estava
concordando comigo.
Meu pai apertou a mandíbula e respirou duro pelo nariz. —
Tudo bem,— ele resmungou. — Vamos retirar as acusações.
Mas é melhor você me dizer se alguma vez mais ele lhe der
algum problema, Ellamara. — Ele olhou para Juliette dizendo.
— Isso vale para você, também.
Nós duas assentimos.
— Vamos precisar de você para assinar alguns papéis,— um
dos policiais disse.
— Vamos parar na delegacia, depois que terminarmos aqui.
Meu pai apertou as mãos dos homens e depois que eles
saíram, o diretor Johnson olhou para mim. — E, então, a
questão que precisa responder agora é o que vamos fazer com
você, Ellamara?
— O que você quer dizer?
— Eu não tenho certeza que esta escola é o melhor lugar
para você,— disse o diretor Johnson lentamente.
Minhas defesas saltaram em alta velocidade. Eu odiava a
escola com uma paixão, mas me irritava que eles queriam me
jogar para fora da mesma. — Você quer me chutar para fora?
Mas eu não fiz nada. Não é como se eu jogasse ovo diante das
pessoas. Eu nem sequer luto com elas.
— Sabemos Ella,— disse Dra. Parish rapidamente. — Você
não está em apuros. Acho que o diretor Johnson está apenas
preocupado com você. Obviamente algo não está funcionando
aqui e precisamos descobrir o que é melhor para você.
O diretor Johnson concordou com a cabeça. — Seus pais e
eu acreditamos que uma escola para alunos com deficiência
física pode ser mais adequada para você.
— A escola especial? — Juliette gritou, horrorizada com o
pensamento do mesmo modo que eu estava.
Jennifer tinha sugerido isso para o meu pai uma vez antes.
Aparentemente, eles haviam discutido o assunto mais sério do
que eu pensava. Eu odiava a ideia, então, e eu odiava isso
agora. — Como é que me trancar longe, em uma escola como
essa, vai me ajudar?
— Eu não acredito que seria,— disse a Dra. Parish. — Eu
não concordo com seus pais e seu diretor sobre este assunto.
— Nós só queremos que você esteja mais confortável,—
Jennifer insistiu. — Você não iria ser provocada em uma
escola como essa. Você não seria a única com deficiência.
Você teria algum tempo para se acostumar com seu corpo, e
talvez até mesmo fizesse alguns amigos.
Dra. Parish balançou a cabeça. — Isso não vai ajudá-la. —
Ela me olhou nos olhos e disse: — Você gerencia bem o
suficiente fisicamente, mentalmente e não há nada de errado
com você. Enviá-la para uma escola especializada, só seria
ceder a sua ansiedade social e auto depreciação. Você pode
achar que seria fácil para o momento, mas não faria uma coisa
para ajudá-la em longo prazo. De qualquer forma, você só vai
ter mais dificuldade em se ajustar após a graduação.
— Mas ela não pode simplesmente continuar como está,
também,— meu pai argumentou. — Você disse que se ela
fosse para a escola iria ajudá-la a ficar melhor, mas ela não
está ficando melhor.
— Eu concordo com o Sr. Coleman,— Diretor Johnson
acrescentou. — Ella não está se adaptando aqui. Ela não faz
nenhum esforço para assimilar. Ela não fala com seus colegas.
Ela não participa em qualquer clube escolar ou atividades
extracurriculares. Nos dois meses que ela esteve aqui, ela só se
tornou mais retraída.
Dra. Parish suspirou. — Você quer, por favor, se dirigir
diretamente a Ella e parar de atacá-la verbalmente? Eu entendo
que você está frustrado, mas o que aconteceu hoje de modo
algum foi culpa dela. Lembre-se que ela é uma vítima aqui.
Ela precisa do seu apoio, não a sua raiva.
Meus olhos bem abertos. Vá, Doutora! Eu nunca vi
ninguém falar baixo para o meu pai, assim. Eu sorri para os
olhares confusos nas caras dos dois homens quando eles
sentiram a ira da Dra. Parish, pela primeira vez.
A mulher era formidável. Talvez o meu pai fosse entender
um pouco mais agora, porque eu odiava tanto minhas sessões.
Ela foi dura, mas eficaz. Tanto o meu pai e o diretor
Johnson pediram desculpas para mim e o diretor Johnson me
deu um olhar suplicante. — Eu sei que você foi assediada por
alguns, mas você não pode estar recebendo isso de cada aluno
aqui. Você já tentou falar com alguém? Você já estendeu a mão
para qualquer um?
Eu não tinha e todos sabiam disso. Eu cerrei os dentes,
odiando que ele tinha um ponto. — Bem. Eu não estive
fazendo esforço suficiente, mas isso não é uma razão para me
chutar para fora da escola.
— Ella, você me prometeu que iria tentar construir um
sistema de apoio e você não está fazendo isso,— disse a Dr.
Parish. — Você não está se recuperando socialmente.
— Você não ia querer, se você tivesse que lidar com a
porcaria que eu recebo aqui.
Como sempre, a Dra. Parish não se incomodou com a minha
irritação. — Se você é tão infeliz aqui, então talvez, nós
pudéssemos transferi-la para outro lugar. Eu acho que você
estava certa sobre a escola pública ser um ambiente mais
adequado.
Muito ruim Dra. Parish não estar ali no momento da
inscrição. — É muito tarde para isso, agora. Eu não quero me
transferir novamente. Eu odeio isso aqui, mas pelo menos eu
conheço agora. E se eu mudar de escola, o currículo será
diferente? Eu já estou um ano atrasada.
— Então como podemos ajudá-la? Sua depressão está
piorando. Você já disse isso em suas sessões muitas vezes.
Todos na sala franziram a testa. Eles parecia desapontados,
como se eu estivesse os deixando todos para baixo de
propósito. Isso me deixou tão irritada. — É claro que eu estou
deprimida! — Gritei. — Você estaria se você tivesse que viver
minha vida sugada! É duro o suficiente apenas para sair da
cama todas as manhãs!
Essa era a coisa errada a dizer. Os adultos na sala trocaram
olhares sabendo, era como se eles tivessem uma conversa
inteira em suas mentes. — Richard,— Jennifer confessou
baixinho, — é hora.
— Tempo para quê? — Perguntou o diretor Johnson. Eu
estava feliz que ele fez, porque eu queria saber o que ela
estava falando, mas eu estava com muito medo de perguntar.
Meu pai olhou para mim com uma expressão batida. — Ella
querida, nós estivemos preocupados com você por um tempo.
Você não está ficando melhor, não está se ajustando e eu não
sei o que mais eu posso fazer para você. Eu acho que talvez
seja melhor se nós a enviarmos para um lugar onde você pode
ter a ajuda que precisa.
Olhei para ele, perplexa. Eu não achei que fosse possível
que este homem poderia me machucar mais do que ele já
tinha, mas suas palavras lançaram meu coração com uma dor
tão aguda, que levou um minuto para sentir isso. — Você quer
me mandar embora?
— Eu só quero te ajudar.
Olhei dele para Jennifer. Ela tinha sido a única a sugerir
isso. Sua voz soava desesperada. Eu balancei minha cabeça.
— Você quer se livrar de mim. Você quer fazer. Você nunca
me quis.
Meu pai engoliu. — Você está doente, querida. Você precisa
de ajuda antes de fazer alguma coisa para se machucar
novamente.
Eu suspirei. Ele sempre veio para isso. Ninguém nunca ia
me deixar viver para baixo. — Eu não vou me machucar. E eu
não quero ir para um hospital. Eu não vou. Você não pode me
obrigar.
O rosto de meu pai cheio de pena. — Eu posso fazer Ella e
eu sei que é melhor.
— Mas eu não sou suicida! Eu juro! — Enviei um olhar
acusador a Dra. Parish. — Você sabe que eu não sou! Diga a
ele que eu não vou me matar!
— Eu sei que você não é,— disse a Dra. Parish, e depois
repetiu a meu pai. — Eu não acredito que Ella está em perigo
de se machucar. — Eu respirei um suspiro de alívio,
agradecida que ela estava me apoiando, mas depois ela me
prendeu com um olhar sério. — Eu sei que você não é suicida,
mas concordo que algum tempo em um hospital pode ser uma
boa ideia para você.
— O quê?
— Ella, não é uma coisa negativa. Você ficaria surpresa com
o que um pouco de tempo em um ambiente controlado poderia
fazer por você. Você não gostaria de ajuda? Você não quer se
sentir melhor?
Para meu horror, comecei a chorar. — Eu não quero ir para
um hospital psiquiátrico, vai ser mais uma coisa para as
pessoas tirarem sarro de mim. Eu não quero ser cortada do
mundo novamente. Eu não quero atrasar ainda mais na escola.
Por favor, não me force.
A sala estava tranquila, exceto para o som dos meus
soluços. Diretor Johnson entregou-me uma caixa de lenços. Eu
não esperava que alguém me desse uma chance, minha
esperança já havia sido sufocada, mas meu pai falou. — Tudo
bem, querida. Se você não acha que é uma boa ideia, então eu
confio em você.
Eu puxei a Kleenex longe dos meus olhos e pisquei para o
meu pai. — Você confia? — Ele era a última pessoa que eu
teria esperado para vir em minha defesa. Meu pai encontrou
meu olhar com um pedido de desculpas, em silêncio. — Sim,
eu faço. — Ele voltou sua atenção para Dra. Parish e o diretor
Johnson. — Muito disso é culpa minha. Eu preciso confiar em
seu julgamento mais. Se eu tivesse escutado a ela, em primeiro
lugar sobre frequentar a escola pública, nós provavelmente não
estaríamos tendo essa dificuldade. — Meu pai voltou sua
atenção para os outros. — Existe alguma coisa que podemos
fazer para mantê-la na escola e fora do hospital?
Eu tomei uma respiração profunda, mas meus pulmões se
recusaram a liberá-lo enquanto eu esperava a decisão do meu
destino.
— Eu me sentiria melhor se Ella concordasse em começar a
reunião comigo a cada dois dias, em vez de uma vez por
semana, por enquanto— , disse a Dra. Parish. Ela me deu um
olhar severo e acrescentou: — E nós não queremos que sua
depressão fique pior, então, por enquanto, você não deve ficar
sozinha. Seu quarto tem de estar fora dos limites, exceto para
dormir e mesmo assim, você tem que manter a porta aberta em
todos os momentos. Você também tem que fazer uma tentativa
de integrar ainda mais com sua família adotiva e os alunos
aqui na escola. Não mais se manter para si mesmo. Encontrar
alguém para almoçar. Fazer amigos.
— Você poderia se juntar a um clube,— o diretor Johnson
acrescentou esperançoso. — Os outros alunos precisam ver
você fazer um esforço para ser social. Você pode ser
surpreendida quantos alunos são simplesmente intimidados
pela situação. Tenho certeza de que há alguns que seriam
simpáticos se você quebrasse o gelo, em primeiro lugar.
— Talvez se Ana os deixasse,— Juliette resmungou
baixinho.
Eu duvidava disso, mas se aderir a um clube me manteria
fora de uma clínica psiquiátrica, então eu iria descobrir alguma
coisa. Talvez eles tivessem um clube do livro ou algo assim ou
eu poderia escrever para o jornal da escola. Isso não seria tão
ruim. A coisa não estava indo pelo ralo, no entanto. Depois de
algumas semanas, poderiam apenas estar implorando para me
trancar.
— Temos um acordo, Ella? — Perguntou Dra. Parish.
— E se eu não puder? O que acontece se nada mudar?
Eu pulei quando uma mão agarrou a minha. Olhei para
cima, para encontrar meu pai sorrindo para mim. — Vai,—
prometeu. — Nós vamos passar por isso juntos, ok?
Ele parecia tão quente e cheio de confiança que eu não sabia
como responder. Eu olhei para ele como uma idiota.
— Eu sei que você não acredita em mim Ellamara— , disse
ele, falando suavemente agora, — mas eu amo você. Eu quero
que você seja feliz. Eu quero que você se sinta confortável em
minha casa e com minha família. Sinto muito a minha filha ter
feito tudo mais difícil para você. Nós vamos ter certeza que ela
pare e, talvez por agora, você só poderia começar a gastar
algum tempo comigo antes de você se preocupar com Jennifer
e as meninas. Você é minha filha, querida. Eu gostaria de ter
chance de conhecê-la um pouco.
Ele sorriu para mim novamente e foi a primeira vez, desde a
nossa reunião, que eu senti que ele estava olhando para mim
como um pai. Eu pude ver a preocupação, mas também
orgulho. Ele estava olhando para mim como se me conhecesse,
como se eu não era uma estranha ou alguém que ele tinha
medo, mas alguém que ele realmente se preocupava.
Eu puxei minha mão para fora de seu controle e peguei
outro lenço.
Eu sempre quis que o meu pai me olhasse assim, mas agora
que ele tinha feito, isso me assustou. É claro que parte de mim
queria construir um relacionamento com meu pai, mas a
metade do meu coração partido não tinha certeza se eu estava
pronta para confiar nele. Eu não tinha certeza se eu poderia
perdoá-lo por ter me abandonado.
— Eu não estava lá para você quando eu deveria ter estado,
— disse meu pai, — mas eu gostaria de estar para você agora.
Se você me deixar.
— Ok— , eu resmunguei. Eu senti minhas bochechas
esquentar, então eu rapidamente olhei para o diretor Johnson e,
em seguida para Dra. Parish. — Eu vou tentar, ok?
Capítulo
Onze

Eu não tive que ir para a aula naquele dia, mas Juliette e


Anastásia ainda me levaram para casa. Mais tarde fui para a
delegacia de polícia, para soltar oficialmente as acusações
contra Jason e, então, meu pai me levou para o centro de
queimadura, para encontrar com o meu cirurgião. No momento
em que cheguei em casa, era depois das quatro.
Eu tive um dia horrível, e eu estava exausta. Eu fui direto
para o meu quarto quando entramos na porta, mas,
aparentemente, o meu pai tinha intenção de seguir com as
ordens da Dra. Parish para manter um olho em mim em todos
os momentos. — Querida, lembra o que a Dra. Parish, disse
hoje. — Sua voz estava tensa com estranheza.
— Eu só estava indo me trocar e buscar o meu computador.
Deixando o deslize da mentira, ele olhou em direção a sala
principal, onde os sons suaves da TV surgiam. — Você quer
que eu pergunte a Jennifer e as meninas para virem aqui?
Eu balancei minha cabeça. — Eu posso ir até lá.
Eu tomei meu tempo para trocar meu uniforme para um par
de calças de yoga suave e uma camiseta de manga longa
soltas, mas meu pai ainda estava esperando por mim quando
saí do meu quarto. Se ele estava indo pairar todo o tempo
agora, eu não ia durar uma semana antes que eu me
encontrasse em um centro para adolescentes suicidas. Pelo
menos ele se fez útil e levou meu laptop e minha mochila para
mim.
As gêmeas estavam relaxando no sofá, fazendo lição de
casa enquanto assistia Access Hollywood e Jennifer estava no
canto da sala se matando em um aparelho de ginástica elíptico.
Com o rosto vermelho e suando em bicas em um sutiã
esportivo e shorts curtos, ela parecia um anúncio de revista
para equipamentos de ginástica. Seu rosto se iluminou quando
o pai entrou na sala. — Então? — Perguntou ela, esperançosa.
— Boas notícias?
Sua voz ganhou a atenção das gêmeas. Juliette olhou para
cima rapidamente e depois voltou para o seu livro de
matemática, mas o olhar que eu tive de Anastásia me disse que
ela já tinha conseguido uma palestra. A julgar pela gravidade
do seu olhar, alguma punição séria tinha sido proferida.
— A boa notícia é que a dilaceração não foi tão ruim,—
disse o pai. — A má notícia é, ela ainda vai ter que fazer uma
cirurgia no cotovelo. Eles disseram que podia esperar até
depois das férias.
Jennifer me enviou um olhar de simpatia, que eu ignorei,
indo me sentar na cadeira, em uma mesa pequena no canto da
sala.
— Há espaço no sofá Ella,— meu pai disse, colocando o
laptop na mesa para mim.
— Eu estou bem aqui.
Quando Jennifer limpou a garganta, eu olhei, mas seu olhar
foi dirigido a Anastásia. Ana revirou os olhos e soltou um
suspiro dramático, ao olhar por cima do ombro para mim. —
Desculpa.
Sim, com certeza ela queria dizer isso.
Eu não era a única que não estava convencida. — Ana,—
Jennifer advertiu.
Outra rolar de olhos. Outro suspiro. — Eu sinto muito, Ella.
Sim, ainda não convenceu, mas Jennifer não a empurrou.
Em vez disso, ela mudou de assunto. — Ella, você gostaria de
ir ao baile de Halloween hoje à noite? Você pode ter o bilhete
de Ana, já que ela não vai ir esta noite.
Não é que eu não apreciava o fato de que Anastásia foi
castigada, mas ir para o baile soava quase tão divertido como
passar mais seis meses numa clínica de reabilitação. — Não,
está tudo bem. Eu não estava pensando em ir de qualquer
maneira. Eu realmente nunca fui um fã de danças. — Não era
exatamente verdade, eu adorava ir a bailes, mas considerando
que eu não podia dançar mais, a ação seria um tipo de apelo
para mim agora.
— Não é um problema,— Jennifer insistiu. — Nós ainda
temos um par de horas para encontrar-lhe um traje e eu tenho
certeza que Juliette não se importaria de te levar.
Bem, se ela não estava indo para tomar a dica… — Olha, eu
aprecio o gesto, Jennifer, mas o que eu iria fazer lá? Eu não
posso dançar com ninguém. Não poderia ficar em meus pés
por muito tempo. Eu não tenho um encontro, ou amigos para
me fazerem companhia, eu não gostaria de estragar a noite de
Juliette, fazendo-a ficar de fora comigo. Não tenho medo de
danças, apenas não estão no meu futuro mais. Está tudo bem,
apesar de tudo. Eu tive que ir ao baile júnior e sênior antes do
meu acidente. Eu fui até mesmo uma princesa, então, eu não
estou perdendo.
— Você foi uma princesa? — Perguntou o meu pai. Eu
estaria mais ofendida por sua surpresa se não houvesse
também uma pitada de orgulho em sua voz.
Ana, Juliette e Jennifer, todas pareciam tão atordoadas. —
Chocante, eu sei, mas eu fui, de fato eu costumava ser normal.
Eu tinha amigos, saia em encontros, tive uma vida… Algumas
pessoas realmente gostavam de mim.
Eu matei oficialmente a conversa e todos nós caímos em um
silêncio constrangedor. O único som na sala era Billy Bush
falando sobre Brian Oliver e Kaylee Summers ficarem noivos
em sua festa de aniversário, na semana passada. É claro que
eles ficaram.
Eu tive um dia inteiro de trabalhos escolares, estava quase
terminando minha lição de casa, quando eu notei que Cinder
estava no topo dos meus contatos e não pude resistir, atirando-
lhe uma mensagem rápida.
EllaTheRealHero: E a ficção se torna realidade…

Cinder458: Não me atrevo a perguntar?

EllaTheRealHero: Brian Oliver e Kaylee Summers


ficaram noivos. Mais uma vez, o príncipe se apaixona
pela princesa guerreira, só isto é pior. Pelo menos
Princesa Ratana poderia lutar. O que Kaylee Summers
tem de bom?

Cinder458: Sexo?

Eu bufei, mas rapidamente sufoquei meu sorriso quando eu


ganhei a atenção de todos na sala.
— Alguma coisa engraçada? — Perguntou meu pai,
curioso.
Olhei para a mensagem e revirei os olhos. — Mais como
trágico e típico.
EllaTheRealHero: Que é provavelmente o que Brian
Oliver pensa, igual a você. Eu retiro o que eu disse sobre ele
ter profundidade. Ele é, obviamente, um idiota superficial
como qualquer outro cara no planeta.
Cinder458: Não me inclua certo?

EllaTheRealHero: Você está brincando? Você é o pior


de todos eles.

Cinder458: Uouu! Alguém hoje não está em estado de


espírito bom.

Deixei escapar um suspiro. Ele estava certo. Eu não deveria


estar tomando a minha raiva sobre ele. Não era culpa dele que
ele era impotente para o corpo de modelo perfeito de Kaylee
Summers em um maiô, mais do que era Brian Oliver. Quero
dizer, se eu tivesse a chance de beijar alguém tão quente como
Brian Oliver, eu duvido que eu fosse recusar.
EllaTheRealHero: Desculpe. Você está certo. Eu apenas
tive o pior dia da minha vida e agora eu estou mal-
humorada. Eu fui tirada do meu quarto e estou sendo
forçada a viver entre as pessoas.

Cinder458: Você quer dizer que você não pode ficar no


seu quarto?
EllaTheRealHero: Não, a partir de hoje. Eu não estou
autorizada a estar sozinha no momento, isso significa
que não há como me esconder das bruxas gêmeas no
meu quarto. Os poderosos têm conspirado contra mim e
estão me forçando a ‘interagir’ com a minha família ou
então…

Cinder458: O que isso significa exatamente?

Fiquei ali sentada, olhando para o cursor no meu


computador. Pela primeira vez, eu me senti dizendo a Cinder o
que estava acontecendo comigo. Eu não sabia por quê. Eu
nunca fui do tipo que precisava chorar por atenção, mas meus
dedos estavam pairando sobre as teclas, ansiosa para
descarregar os meus problemas. A coisa é que, eu estava
realmente chateada e eu sabia o que Cinder queria saber.
De repente, eu só comecei a escrever.
EllaTheRealHero: Se eu não começar a ficar junto com
meu pai e sua família e se não fizer amigos na escola,
eles vão me internar em uma instituição mental.

Era o equivalente a teclar algo de forma aleatória.


Cinder458: O quê? Isso é ridículo! Por que eles fariam
isso?

EllaTheRealHero: É uma longa história.

Cinder458: Eu estou esperando…

Eu sufoquei um gemido, já lamentando o meu momento de


fraqueza. Cinder sempre estava sutilmente tentando me fazer
falar. É claro que ele estava saltando sobre esta pequena pepita
de informação que eu tinha acabado de dar a ele. Tinha sido
apenas o suficiente, a desculpa para me empurrar da maneira
que eu sabia que ele queria.
EllaTheRealHero: Havia um cara me incomodando na
escola, hoje e ele ficou um pouco inconveniente.

Cinder458: O que aconteceu??? Eu vou matá-lo!!!!

EllaTheRealHero: Nada. Foi um acidente. Mas o meu


pai e o diretor descobriram que eu fiquei intimidada e
chamaram o meu terapeuta. Agora eles estão todos
preocupados que eu vou tentar me matar novamente, mas
realmente, não era nada que eu não havia lidado desde
que a escola começou. A única diferença é que agora
eles sabem sobre ele.

Cinder458: O que quer dizer tentar se matar


novamente????

Deixei escapar uma maldição e bati a mão sobre meu rosto.


Como eu tinha deixado isso escapar?
Eu não podia acreditar que eu admiti tudo isso a ele. Eu
apenas disse ao cara mais confiante, bonito e popular do
mundo e tinha a vida perfeita, que eu era uma perdedora
suicida, que foi pega na escola.
Ele nunca ia falar comigo, novamente.
Eu fiz uma tentativa idiota de controle de danos, mas
provavelmente era tarde demais.
EllaTheRealHero: Depois do meu acidente, as coisas
estavam realmente ruim, por um tempo. Mas eu aprendi
minha lição. Está tudo bem, realmente. Eu estou muito
melhor agora. Todo mundo está apenas paranoico e eles
todos estão exagerando.

Cinder458: Eles estão? Você realmente não tem esses


tipos de pensamentos, não é?

EllaTheRealHero: Não!!!

Cinder458: Eu estou falando sério. Eu sei que você


nunca quer falar sobre todas as suas coisas de família,
mas me prometa que não está pensando nisso. Jura?

EllaTheRealHero: Eu prometo, Cinder. Eu juro para


você que não é tão ruim mais. Minha vida não é nenhum
piquenique, mas como eu poderia querer acabar com ela
quando eu tenho que falar com você todos os dias?

Cinder458: Você não está fazendo uma piada, Ella.

EllaTheRealHero: Eu não estou brincando. Você é


realmente a melhor parte do meu dia a dia. Eu estou tão
feliz por ter você para conversar.

Cinder458: Então, nós precisamos realmente falar pela


primeira vez? Me liga? (310) 555-4992

Eu respirei fundo. Me liga. Essas duas palavras pequenas


praticamente pararam meu coração. Eu li o número de dez
dígitos e outra vez. A visão dele me apavorou e me fez
eufórica ao mesmo tempo. Antes do acidente eu muitas vezes
fantasiei sobre falar ao telefone com ele, em todas as horas da
noite, mas eu nunca tinha tido a coragem de pedir o número
dele e ele nunca pediu o meu. Agora aqui estava eu, olhando
para o telefone para finalmente ouvir sua voz.
Eu poderia fazê-lo? Eu poderia falar com Cinder no
telefone?
Cinder458: Ella?

EllaTheRealHero: Eu não sei…

Cinder458: Nós nos conhecemos há quase três anos. Eu


acho que é seguro para passar para a fase telefonema do
nosso relacionamento.

Um simples telefonema não parece muito, mas era


realmente enorme. Havia certo nível de intimidade que vinha
ao falar com alguém no telefone, ouvir a sua voz. Faria Cinder
muito mais do que apenas um amigo da internet sem rosto.
EllaTheRealHero: Parece apenas diferente de alguma
forma. Mais íntimo ou algo assim.

Eu sabia que ele não podia me ver, mas eu corei quando eu


digitei essa última frase.
Cinder458: É. Você tem que me chamar. Eu preciso
saber que você está realmente bem ou eu vou
enlouquecer. Eu preciso ouvir a sua voz. Chame-me
agora, mulher. Por favor???

Ele parecia desesperado. Ele precisava ouvir a minha voz?


Será que ele realmente quis dizer isso?
— Ella? — Jennifer me assustou tanto que eu deixei escapar
um pequeno gemido e pulei na minha cadeira. — Você está
bem? Parece que você viu um fantasma.
Eu estava tão envolvida em minha conversa que eu esqueci
que estava na mesma sala que todos. Eles estavam todos
olhando para mim, agora. As gêmeas claramente pensaram
que eu era uma aberração e papai e Jennifer me olhavam tanto,
como se eles tivessem medo que eu fosse fazer uma corrida
para as facas de cozinha, a qualquer segundo. — Não é nada,
— eu murmurei, corando sob o seu escrutínio.
Cinder458: Ella, meu telefone não está tocando. Porque
meu telefone não está tocando?

Eu olhei de volta para meu pai, que estava me observando


de perto. Ele tinha a mesma sinceridade sobre ele que tinha na
escola esta manhã, como se ele estivesse realmente
preocupado comigo. Eu prometi a ele que iria tentar mais. Eu
prometi que ia fazer mais esforço para ser social. Eu tinha
certeza que chamar Cinder se qualificaria para isso.
Decidindo ser corajosa, eu esperei até que minha família
parasse a atenção sobre mim, então peguei meu telefone e
disquei o número dele com as mãos trêmulas. Ele respondeu
ao primeiro toque. — Olá?
Sua voz era mais profunda do que eu esperava. Apenas uma
palavra enviou calafrios através de mim. Mas parecia…
confusa. Por que ele fez soar confuso? Ele estava literalmente
esperando a minha chamada.
— Cinder? — Eu queria me chutar por quão pequena minha
voz soou.
— Ellamara! Essa é você. Minha Bela e Sábia Sacerdotisa
Mística do Reino, nos fala enfim.
— Caramba, sua voz é sexy!
Bati minha mão sobre a minha boca. Eu não quis dizer para
que saísse dela. É só que ele parecia que poderia derreter
manteiga ou os corações das mulheres, simplesmente falando.
Sua voz era profunda, sonora e hipnótica. O cara não falava,
ele ronronava.
— Sim, isso tinham me dito,— ele brincou, rindo, um som
rico, baixo, dez vezes mais perigoso do que sua voz falando.
Para minha mortificação absoluta, eu mais uma vez ganhei a
atenção de todos na sala. Eles estavam todos de boca aberta
para mim, e quem poderia culpá-los depois do que eu tinha
acabado de deixar escapar? Cada uma das suas expressões
assustadas foi um pouco diferente. Meu pai parecia
horrorizado, enquanto Jennifer tinha algo parecido com um
brilho animado em seus olhos arregalados. Juliette estava
sorrindo e Anastásia estava olhando para mim do jeito que ela
sempre fez; o mal disfarçado ódio e desprezo.
Corei e fechei meu laptop quando eu disse, — Uh, hei,
Cinder, você pode esperar um segundo? — Eu dei ao meu pai
um olhar suplicante. — Posso levar isso no meu quarto?
Antes que meu pai pudesse responder, Juliette franziu a
testa para mim. — Que tipo de nome é Cinder?
— Oh meu Deus, esse é aquele cara que sempre deixa
comentários em seu blog! — Anastásia gritou de repente.
— Ella tem um namorado na internet! Que aberração!
Ela falou tão alto que eu tinha certeza de que Cinder ouviu.
— Ana! — Pai rosnou.
— O quê? Namoro online é tão tosco! — Ela se virou para
mim e disse: — Eu espero que você saiba que relacionamentos
online não contam como namorados reais, mesmo se você
falar com eles ao telefone.
— Anastásia, é o suficiente! — Meu pai gritou. — Você
acabou de adicionar mais uma semana para o seu castigo! Vá
para o teu quarto! Agora!
— Com prazer! — Ela gritou de volta. — Eu só estava aqui
embaixo, porque você estava me forçando a tomar conta da
aberração suicida, de qualquer maneira!
Eu queria morrer enquanto eu observava Anastásia pisar até
as escadas. Cinder, sem dúvida, ouviu tudo isso. Ele não podia
me ver, mas meu rosto estava tão vermelho que doía. Como eu
poderia falar com ele agora? Eu estava tão nervosa que eu
estava à beira de vomitar.
— Ella? — Cinder perguntou quando as coisas ficaram
quietas. — Você está aí? — Ele parecia hesitante.
— Bem-vindo à minha vida,— eu disse com um suspiro de
derrota. — Desculpe-me por isso.
— Está tudo bem.
Definitivamente não estava bem. Eu estava tão humilhada.
Foi um milagre eu não estar chorando. Acho que foi apenas
porque eu ainda estava em choque. — Olha, obrigado por me
dar seu número de telefone, mas talvez este seja um momento
ruim.
Meu pai ficou de pé, acenando com as mãos em mim. —
Não! Você não tem que terminar sua chamada. Nós vamos dar-
lhe alguma privacidade. — Ele olhou para Jennifer e Juliette.
— Será que podemos, senhoras?
Seu desespero flagrante para eu falar com alguém, mesmo
um estranho da Internet, era tão embaraçoso como a explosão
de Anastásia. Pior ainda, Jennifer foi tão má. — Claro! Vá em
frente e fale com o seu namorado Ella,— ela gritou. — Nós
podemos manter um olho em você na cozinha. Eu tenho que
começar o jantar de qualquer maneira.
Enquanto eu estava ocupada morrendo com o seu uso da
palavra namorado, ela pulou da elíptica. Ela se apressou até
meu pai, parecendo mais do que feliz por terminar seu treino
mais cedo. Quando começaram a subir os degraus, ambos se
viraram para Juliette, que havia se esparramado no sofá, em
vez de levantar-se.
— Eu estava aqui primeiro,— disse Juliette em resposta a
seus olhares expectantes. — Não há nenhuma maneira que eu
vou no andar de cima com Ana, no humor que ela está e eu
realmente não me preocupo com a vida amorosa de Ella. Além
disso, ela não deveria estar sozinha, de qualquer maneira. E se
ela tentar se lançar fora da varanda ou algo assim?
Havia alguém no mundo que não sentia a necessidade de me
humilhar? Eu olhei para Juliette e ela apenas acenou um par de
fones de ouvido para mim e empurrou-os em seus ouvidos. —
Vou aumentar o volume.
Meu pai e Jennifer me deram esses olhares esperançosos
que eu não poderia discutir mais. Revirei os olhos e fiz meu
caminho até a poltrona que meu pai tinha estado descansando.
Uma vez que meu pai e Jennifer tinham ido embora, eu
olhei para o sofá. Juliette já estava fazendo o que ela fazia de
melhor; ignorar. Ela estava balançando a cabeça junto com sua
música enquanto ela lia um livro didático. Eu duvidava que ela
pudesse me ouvir, mas eu falei baixinho de qualquer maneira,
apenas no caso.
— Cinder? Você ainda está aí?
— Não sabia que elevar a nossa relação a amigos
telefônicos viria com o título de namorado. Isso quer dizer que
se alguma vez nos encontrarmos pessoalmente, nós vamos ter
que casar?
Surpresa, eu explodi em gargalhadas. Juliette olhou para
mim com uma sobrancelha levantada, mas voltou para o seu
livro sem dizer nada.
— Desculpe, eu não faço poligamia e eu tenho certeza que
você já está casado com seu carro.
— Engraçado.
O tom plano em sua voz me pôs rindo de novo e, então,
suspirei. — Cara, é bom rir. Eu realmente tive o pior dia de
sempre. Obrigada por me fazer ligar para você. Eu não posso
acreditar que finalmente estamos nos falando, no entanto. Eu
sempre me perguntei como sua voz soaria.
— Eu também. Eu mesmo pesquisei vídeos de pessoas de
Boston uma vez.
Eu ri novamente. — Cala a boca. Você não fez.
— Eu fiz e você não desapontou. Diga carro para mim
novamente.
— Você é um idiota,— eu respondi, mas então eu desisti e
disse: — carro.
Ele saiu carho, e Cinder riu. — Eu amo isso,— disse ele. —
Falando de Boston… Você não me chamou de lá.
Consegui não ofegar, mas meu estômago caiu. Eu tinha
esquecido completamente do identificador de chamadas.
Como eu poderia explicar por que a chamada tinha o mesmo
código de área? — Hum, sim… não. Eu sei. Isso é porque o
meu pai vive em Los Angeles. Eu estive aqui desde que eu saí
do hospital.
Eu esperava que ele surtasse e exigisse que nos
encontrássemos, mas a linha ficou em silêncio por um minuto
e, então, ele calmamente perguntou: — Por que você nunca
disse nada?
Fiquei surpresa com a forma como ele parecia cauteloso.
Talvez eu tenha ferido seus sentimentos por não lhe dizer que
me mudei.
Esperava que eu pudesse explicá-lo sem ter que dizer o que
meu acidente fez para mim. — Eu não sei. Levei um tempo
antes que eu fosse corajosa o suficiente para mandar um e-
mail para você. Em seguida, deu tudo certo, tudo voltou ao
normal entre nós tão rápido que eu realmente nunca pensei
sobre isso. Você sempre foi apenas um amigo da internet, você
sabe? Eu acho que eu poderia ter tido medo de estragar isso.
Ele soltou um suspiro que soou suspeitosamente de alívio.
Talvez ele estivesse tão com medo de nos encontrarmos como
eu estava. O pensamento era tão decepcionante como de
alívio. — Sim, eu sei o que você quer dizer. O fato de que nós
nunca nos conhecermos sempre foi a minha coisa favorita
sobre o nosso relacionamento.
— Por quê?
— Eu acho que no relacionamento é difícil para as pessoas
vendo o passado, os olhares, o dinheiro, o carro, as conexões,
mas desde que você não pode ver essas coisas, você só vê o
meu verdadeiro eu. É legal.
— Uau, Cinder. — Eu bufei. Eu sabia que ele estava
falando sério, mas isso é o que fez tão engraçado. — Isso foi
tão incrivelmente profundo vindo de você. Estou
impressionada.
— Você vê? — Cinder riu. — Você está me dando um
tempo difícil no momento. Ninguém que me conhece
pessoalmente nunca iria fazer isso. A maioria das pessoas é tão
falsa na minha direção. Eles dizem tudo o que eles acham que
eu quero ouvir e eles fazem o que quer que eu queira que eles
façam.
— Bem, não é de admirar que você seja tão egoísta. Talvez
você esteja certo sobre o anonimato. Eu não sei se eu seria
capaz de te dizer como teimoso, argumentativo e superficial
você é, na sua cara. Ou que você tem gosto horrível para
filmes. Especialmente se você é tão digno como você diz que
é. Então, quem estaria o impedindo de se transformar em um
verdadeiro idiota egocêntrico?

Cinder riu de novo, uma enorme, profunda e alta risada. Eu


podia imaginá-lo jogando a cabeça para trás, toda a sua barriga
convulsionando da ação. Não que eu imaginava que ele teria
barriga, é claro. Nada menos do que uma barriga tanquinho,
não parecia ser seu estilo.
Cinder suspirou suavizando seu ataque de riso. — Ahh,
Ellamara. Você é a única garota no mundo que sempre diz
coisas assim para mim. É por isso que tão irritante, hipócrita,
opinativa e antipática como você é, você é a minha pessoa
favorita no mundo todo.
Meus pulmões se paralisaram, tornando impossível eu
respirar. Mas de alguma forma a sensação de queimação no
peito foi a melhor sensação do mundo todo, como girar sua
cara à luz do sol ou beber chocolate quente, depois de estar
fora na neve.
Rezei para que Cinder não fosse capaz de dizer que eu
estava chorando, mas a sorte parecia ter me deixado para
sempre quando minha mãe morreu. — Ella? — Sua voz
passou de preguiçoso e relaxado para alerta máximo. — Qual
o problema? Porque está chorando?
— Eu estou bem. — Eu não tenho certeza que ele acreditou
em mim com todo o meu fungado. — É só, é bom ter alguém
que se importa. Você é a minha pessoa favorita, também. Você
é meu melhor amigo.
Cinder ficou em silêncio por um momento. Quando voltou a
falar, ele deixou cair todas as dicas do cara sexy, engraçado e
confiante, que eu conhecia tão bem. — Tem certeza que você
está realmente bem? Quero dizer, você me diria se você não
estivesse, certo? — Havia verdadeira vulnerabilidade em sua
voz. — Eu tive um amigo que se suicidou. Ella, o pensamento
de perder você, eu não gosto disso…
Ele cortou de forma tão abrupta que eu teria pensado que a
linha ficou muda, exceto que eu o ouvi limpar a garganta como
se estivesse tentando recuperar a voz. — Você tem alguém que
se importa,— disse ele em voz baixa.
— Não importa o quão ruim as coisas estão em casa ou na
escola ou onde que quer for, você me tem. Você é minha
melhor amiga, também. Você tem meu número agora. Salva o
número em seu telefone e me chama a qualquer hora do dia, da
noite, a qualquer hora. Não importa. Ok?
Levei um momento e uma série de respirações profundas,
antes que eu pudesse responder. — Ok.
— Promete?
— Eu prometo. Contanto que eu sempre tenha você, eu vou
ficar bem. — Eu me chutei internamente e ri. — Uau, isso
soou muito extravagante. Entende? É por isso que eu não
queria chamá-lo. Eu posso filtrar minha boca estúpida muito
melhor quando eu tenho que digitar os meus pensamentos.
Cinder riu de novo. — Ah, mas então você vai perder todas
as palavras doces que eu planejo sussurrar em seu ouvido,
agora que eu sei o quanto você gosta da minha voz ultra sexy.
Corei, mas me recusei a deixá-lo saber que seu flerte me
sacudiu. — Eu nunca disse ultra, você é um ego-maníaco. Mas
você deve definitivamente considerar a gravação de áudio
books para ganhar a vida.
— Hmm. Isso não é uma má ideia. — A voz de Cinder caiu
para um lento ronronar sedutor novamente quando ele pediu;
— Gostaria de ler para você, Ellamara?
Emocionada com o pensamento, não conseguia disfarçar a
minha emoção. — É sério?
— Por que não? Antes de você me chamar, eu estava pronto
para ter uma maratona de ‘Top Gear’{15}, por causa da minha
solidão.
— Você é muito mentiroso. Esta noite é sexta e é
Halloween. Não há nenhuma maneira que você não tenha
planos.
— Eu não tenho nada muito importante. É só uma festa
estúpida que algum tipo de namorada quer que eu vá.
— Algum tipo de namorada?
— Sim. — Cinder esticou a palavra para fora em um longo
suspiro. — É uma longa história, mas eu não estou dentro. Eu
prefiro ficar em casa e ler com você. Além disso, não posso
deixar você quando você teve o pior dia de sempre. Que tipo
de melhor amigo iria ser?
Eu quase chorei de novo. A oferta era tão doce. Fiquei
pensativa. A leitura era uma paixão que Cinder e eu
compartilhamos. Nós liamos e discutíamos livros o tempo
todo. Nós até decidimos ler o mesmo livro ao mesmo tempo
antes, mas nunca tínhamos lido em conjunto. Cinder tinha que
saber o quanto isso significaria para mim.
— Tem que ser O Príncipe Druida,— eu disse.
Cinder riu. — Ele já está em minhas mãos.
Capítulo
Doze

Quando eu voltei para a escola na segunda-feira, os


sussurros e olhares eram tão maus como eles tinham sido no
meu primeiro dia. Não era nada novo. Eu mantive minha
cabeça para baixo como eu sempre fiz e as coisas ainda
poderiam ser piores, porque as pessoas me culparam por Jason
ser suspenso.
Até agora nada traumático aconteceu, mas quando me sentei
no almoço no meu lugar normal, em uma pequena mesa no
canto do refeitório, um silêncio caiu sobre a sala inteira. Eu só
notei a quietude não natural quando senti alguém parado, atrás
de mim.
Lentamente, me preparando para a tortura que estava prestes
a acontecer, eu me virei para encarar quem estava atrás de
mim. Fiquei chocada ao ver Juliette parada lá. Próximo a ela
estava uma menina que eu tinha visto em torno da escola, mas
que não estava em nenhuma das minhas aulas. Ela tinha,
obviamente, lentes de contato nos olhos de cor violeta
brilhante, cabelo vermelho com mechas loiras platinadas. Era
uma combinação que nunca tinha visto antes, mas, na verdade,
caía-lhe muito bem.
Seu cabelo estava torcido para cima em sua cabeça e preso
no lugar com grampos de cabelo, feitos de penas de cores
vivas. Seus sapatos, mochila e as unhas eram todos obras de
arte, da mesma forma que o cabelo dela era. Eu imaginei que
seria algo incrível de se ver se ela não fosse restrita às
limitações do nosso uniforme escolar.
Ela era bonita, mas não tão linda como o tipo nocaute que
Juliette era. Ela era selvagem, de uma forma que exigia
respeito. Ela era o tipo de garota que você não podia evitar
seguir pelo corredor com seus olhos.
A menina que a gente temia, mas secretamente queria ao
mesmo tempo.
E ela estava sorrindo para mim.
— Ella, este é Vivian Euling,— disse Juliette em uma voz
entediada. — Vivian, minha meia-irmã, Ella.
Eu ainda não tinha ideia do que estava acontecendo, mas eu
tinha certeza de que Juliette não seria a mentora de algum
esquema vicioso, e Vivian estava estendendo a mão para mim,
então eu peguei. Quando dissemos olá uma para a outra,
Juliette reaplicou seu brilho labial e disse: — Meu trabalho
aqui está feito. — Ela foi embora sem outro olhar.
Eu virei meus olhos de volta até Vivian e ela me deu outro
sorriso caloroso quando ela se sentou ao meu lado e tomou um
lanche da mochila. — Eu espero que você não se importe. —
Eu balancei a cabeça e Vivian sorriu novamente. — Eu acho
que Juliette jogou de casamenteira com a gente.
— Ela o quê?
Eu me virei e vi Juliette sentada à sua mesa normal, com
todas as pessoas mais populares da escola. Ela estava rindo e
brincando com eles, sem prestar a menor atenção em mim,
como sempre. Você nunca saberia que algo fora do comum
tivesse ocorrido, se não fosse pela forma que Anastásia ainda
estava olhando para ela em estado de choque.
— Eu estou confusa com Juliette,— disse Vivian. — Nós
não somos amigas ou qualquer coisa, por isso fiquei surpresa
quando ela veio até mim esta manhã e perguntou se ela
poderia nos apresentar.
— Ela fez isso?
Eu sabia como eu parecia incrédula. Eu podia sentir meu
rosto contorcido em confusão, então eu não fiquei surpresa
quando Vivian riu. — Ela disse que pensava que teríamos
muito em comum,— explicou ela revirando os olhos. —
Considerando que ela não sabe nada sobre mim e eu duvido
que ela faça qualquer esforço para me conhecer, ou qualquer
um, mesmo que você seja sua meia-irmã, eu só posso supor
que ela estava emparelhando uma pária com outra.
Isso me surpreendeu. Não o pensamento de que Juliette
faria duas párias serem amigas automaticamente, mas eu não
podia imaginar por que uma garota como Vivian não teria
amigos. — Você não me parece o tipo solitário. Você parece
tão confiante e agradável, e você é tão bonita.
— Eu também fui criada por dois pais.
Eu ainda estava confusa. — O que isso importa?
Vivian levantou as duas sobrancelhas.
Imaginando que ela era do tipo que poderia tomar uma
piada, eu sorri. — Massachusetts foi o primeiro estado a
permitir casamentos do mesmo sexo, por isso, sem ofensa,
mas é totalmente notícia velha para mim. Eu espero que você
não esteja esperando um tratamento especial ou qualquer
coisa.
Os olhos de Vivian piscaram surpresa e um largo sorriso se
espalhou pelo seu rosto. — Eu gosto de você.
Eu ri, mas parei rapidamente. Olhei ao redor da lanchonete.
— Pegarem no meu pé eu entendo, considerando que esta é a
cidade onde a imagem é tudo, mas eu acharia que as pessoas
seriam mais abertas sobre a sua situação.
— Você pensaria,— Vivian concordou. — Eu tenho certeza
que em Hollywood High eu certamente caberia, mas em uma
escola particular pretensiosa como esta, eu sou um alvo fácil.
Também não ajuda que eu estou aqui com uma bolsa de
estudos. Meus pais são figurinistas humildes. Eles fazem o
suficiente para pagar o nosso apartamento de dois quartos em
West Hollywood, acredito que seja sobre tudo isso.
Agora fazia todo o sentido. E a imagem tornou-se ainda
mais clara. — Fui criada por uma mãe solteira.
Vivian revirou os olhos novamente. — Então você está
dizendo que não só somos apenas párias sociais, como nós
duas somos pobres, também.
— Exatamente. — Eu me juntei a ela com um revirar de
olhos, mas então suspirei e olhei para Juliette. — Pode ter sido
uma percepção superficial de julgamento, mas ainda era
proposital da parte dela tentar ajudar.
— Verdade. — Vivian seguiu o meu olhar para a direção de
minhas irmãs. Juliette estava rindo com uma amiga, enquanto
Anastásia estava sentada no colo de um cara, um cara que não
era decididamente Jason. — Mas então, Juliette sempre foi o
menor de dois males.
Eu balancei a cabeça em concordância. — Às vezes eu acho
que ela pode não ser tão ruim se ela não tivesse uma irmã
envenenando sua mente e uma mãe completamente alienada a
lhe ensinar o que é realmente importante na vida.
Com o olhar interrogativo de Vivian, eu disse: — Roupas de
grife e uma dieta de oitocentas calorias por dia.
Vivian riu de novo. — Eu acho que Juliette tinha algum
ponto. Você pode ser apenas uma alma gêmea.

***
A volta para casa da escola foi tensa, graças à raiva
borbulhante sob a superfície da pele de Anastácia com aroma
de Marc Jacobs Daisy{16}. Quando chegamos em casa, ela pisou
dentro, batendo a porta na cara de Juliette. No momento em
que eu consegui sair do carro e entrar na casa, as duas estavam
discutindo uma com a outra.
. —.. Humilhou-nos assim! — Anastásia estava gritando.
— Tudo o que eu estava fazendo era limpar a bagunça que
você fez. Você é a única que nos envergonhou.
— É ruim o suficiente termos de estar associada a ela.
Agora ela está BFFs{17} com a caridade?
— E daí? Deixe-as ser loucas juntas. Elas não estão ferindo
ninguém.
— Não estão ferindo? E se elas começam a fazer no
refeitório e outras coisas? Nós seremos irmãs da aberração
aleijada e lésbica!
— Uhm, o nome dela é Vivian, não caridade,— eu disse,
colocando minha mochila sobre o balcão enquanto eu me
dirigia passando as duas para a cozinha.
Juliette revirou os olhos. — As pessoas a chamam assim
porque ela é o caso de caridade da escola.
— Lindo! — Eu zombei. — Você sabe, Anastásia, só
porque seus pais são gays não significa que ela é. Mesmo se
fosse, por que você deveria se preocupar? Não tem nada a ver
com você.
Anastásia me olhou com tanta força que seus olhos se
tornaram vermelhos. — Fique longe de mim,— ela sussurrou,
saltando para o quarto dela.
Uma vez que ouvi a porta bater, Juliette balançou a cabeça
como se desgostasse de sua irmã. — Ela vai refrescar em
algumas semanas.
Eu olhei atrás dela enquanto ela se dirigia para dentro da
sala, para começar a fazer sua lição de casa. Tinha sido um dia
tão estranho. Eu não entendia Juliette em tudo. Nos poucos
meses em que vivi aqui ela tinha ido de ser rude para
simplesmente ignorar o fato de que eu existia, para vir em meu
socorro na sexta-feira.
Então, esta manhã, ela arriscou a ira de sua irmã para me
ajudar a encontrar uma amiga. Foi uma coisa muito doce de se
fazer. Eu não conseguia descobrir por que ela tinha feito isso,
especialmente porque enquanto ela não era abertamente hostil
em relação a mim, ela claramente ainda não gostava de mim,
também.
Depois da incursão à geladeira e não encontrar nada
apetitoso, eu peguei um par de meus habituais sucos V8 e fiz
meu caminho até a sala. Em vez de ir para a mesa no canto,
sentei-me no sofá e estendi uma das bebidas para Juliette. —
Quer um?
Ela franziu a testa para mim, mas cautelosamente aceitou o
suco. — Obrigada.
Estávamos na nossa casa em silêncio, com a TV mais uma
vez silenciada em algumas notícias de show de
entretenimento.
Eventualmente, Juliette suspirou. — Algumas meninas têm
toda a sorte. Você pode imaginar ser contratada para uma vida
de perfeição?
Assustada, desviei do meu trabalho, eu olhei para a TV
apenas a tempo de ver Brian Oliver na tela, indo para algum
clube com a escassamente vestida Kaylee Summers,
pendurada em cima dele.
Houve outro suspiro sonhador de Juliette. — Ele deve ser o
cara mais quente de sempre a vagar pela Terra.
Eu não poderia discordar. Ele era alto, tinha cabelos
escuros, olhos de chocolate com leite e um corpo tão perfeito
que feria qualquer uma olhar para ele. Ele era um daqueles
atores que poderia jogar tanto o menino bonito ou o ‘bad boy
sexy’, dependendo de como ele se vestia. No momento, ele
estava usando uma jaqueta de couro que fazia você querer
desafiar seus pais, saltar sobre a parte traseira de sua moto, e
deixá-lo levá-la para ver o pôr do sol, depois de ter seu nome
tatuado em algum lugar em seu corpo.
Ele sempre sorria como se o mundo fosse seu e ainda assim,
ele tinha aquele olhar quente, também.
Inúmeras meninas tinham sido vítimas do seu olhar. A coisa
que eu mais gostava sobre ele, no entanto, era que ele parecia
assim tão afiado ao falar. Em todas as entrevistas que eu já
tinha o visto fazer, ele era arrogante, mas espirituoso e
brincalhão. Ele brincou com esses apresentadores de talk-
shows como se eles fossem os únicos na berlinda. O cara tinha
algum grande esconderijo para inteligência por trás daquele
rosto bonito.
Combinei a nostalgia de Juliette e disse: — Eu
definitivamente teria seus bebês, se ele me desse a chance.
Claramente, eu passei muito tempo conversando com
Cinder recentemente.
Juliette riu, mas parou de rir quando ela percebeu que era
comigo que ela estava brincando. As coisas ficaram um pouco
estranha de novo rapidamente. Nós duas fomos de volta para o
nosso trabalho, mas desta vez eu não podia ficar calada. —
Obrigada por me ajudar ontem na aula e por me apresentar
Vivian.
Juliette deu de ombros como se ela não achasse que valesse
a pena falar, mas eu não podia deixar de perguntar. — Por que
você fez isso?
Juliette não considerou responder a minha pergunta, mas
depois disse: — Principalmente porque Ana tem sido uma
idiota. Eu estava muito louca por ter você aqui no início, mas
isso realmente não é tão ruim assim. Você fica fora do nosso
caminho e mantem um perfil baixo na escola. Ela é a única
tornando tudo pior por constantemente tentar transformar a
escola inteira contra você, ou pelo menos torná-los com muito
medo de serem bons para você. Eu fiquei doente com o drama.
Todas as nossas vidas seriam mais fáceis se você não fosse
uma solitária bizarra e você teria muito mais amigos se Ana só
recuasse.
Mais uma vez ela se voltou para seu trabalho. Voltei para o
meu também, mas depois de uns dez minutos ou algo assim eu
tinha outra pergunta que eu precisava de uma resposta. — O
que exatamente eu fiz? Por que vocês duas me odeiam tanto?
Eu sabia que Juliette não negaria a implicação de que ela me
odiava. Ela era uma pessoa muito direta. Na maioria das vezes,
as coisas que ela dizia eram superficiais, julgadoras ou
simplesmente ignorantes, mas pelo menos ela sempre dizia o
que ela realmente pensava. Ela não tinha medo de dizer o que
estava em sua mente, e eu tinha que admirar isso sobre ela. —
Diferentes razões,— disse ela. — Ana se sente ameaçada por
você.
— O quê? — Eu ri, incrédula. — Isso é ridículo.
— Na verdade, não. Primeiro de tudo, você é a filha
verdadeira do papai. Ela está preocupada que ele vai começar
a ter você como favorita. — Depois de uma breve pausa, ela
disse: — Eu estaria mentindo se eu não estivesse com ciúmes
sobre isso, também.
Fiquei chocada. Juliette e Anastásia estavam com ciúmes de
mim com o meu pai? Como se isso fizesse algum tipo de
diferença? Eu nunca o impedi de amá-las mais do que a mim
antes.
— Em segundo lugar, você tem cicatrizes e você manca,
mas você é realmente muito bonita apesar disso. Alguns de
nossos amigos têm dito tanto isso. Além disso, todo mundo
acha que você é muito engraçada.
— O quê? Como as pessoas podem pensar isso? Ninguém
sabe nada sobre mim.
— Quando soubemos sobre o seu blog, Ana disse a todos na
escola sobre isso, tentando mostrar-lhes o quanto nerd você é.
— Juliette sorriu. — Seu plano totalmente saiu pela culatra,
porque todo mundo adorou, metade dos nossos amigos o
seguem agora.
Os alunos da escola seguindo meu blog? Eu não sabia o que
dizer sobre isso. Parecia impossível. Juliette viu o olhar no
meu rosto e balançou a cabeça. — Você não é tão odiada
quanto você pensa. Sim, existem algumas pessoas que foram
realmente malvadas com você, mas todo mundo respeita você.
— Eles me respeitam? — Não haveria nenhuma maneira
que ela me fizesse acreditar nisso.
— Você está sendo torturada na escola, mas você nunca
deixa chegar até você. Você nunca reclama e você nunca
coloca qualquer pessoa em apuros. Tudo que alguém pode
falar hoje é como você foi legal em deixar tirar as acusações
contra Jason. Além disso, você mantém a si mesmo meio
misteriosa. As pessoas estão intrigadas com você. Eles estão
começando a gostar de você. Rob Loxley ainda tem uma
queda por você. É por isso que Ana ficou tão furiosa e fez
Jason fazer o que fez. Ela pensou que Rob estava indo
convidá-la para o baile e, ao invés disso, ele perguntou se ela
achava que você iria com ele.
Fiquei chocada. Eu não vejo como o que ela estava dizendo
poderia ser possível, mas ela não iria inventar uma história
como essa apenas para ser cruel. Anastásia faria, mas não
Juliette. Juliette era um monte de coisas, mas ela não era uma
mentirosa.
Juliette voltou para sua lição de casa, dando-me a
oportunidade de processar tudo o que ela tinha acabado de me
dizer.
Depois de um minuto, ela não olhou para cima de seu
trabalho, mas ela disse: — Se você quiser que eu dê seu
número para Rob, eu dou. Ele é um cara decente. Uma espécie
meio calma para o meu gosto, mas vocês podem se
entenderem.
Eu não respondi imediatamente e Juliette não pareceu se
importar se eu responderia a ela ou não. Eu não sabia como me
sentir sobre alguém que tem uma queda por mim. Eu não
estava pronta para estar em um relacionamento. Eu não
poderia ir para fora em camisas de manga curta, muito menos
ter um cara querendo me ver ou me tocar. Um namorado não
conseguiria nem segurar minha mão quando eu andasse,
porque eu tenho que usar minha bengala na minha mão boa e
eu não acho que eu poderia deixar alguém segurar a minha
mão cicatrizada.
— Eu não sei,— eu finalmente respondi. — Vou pensar
sobre isso.
— Tanto faz.
Esse foi o fim da nossa conversa até que Jennifer chamou-
nos para jantar, mais tarde. Juliette desligou a TV e começou a
arrumar as coisas dela. Eu não queria correr o risco de irrita-la,
mas enquanto ela estava um pouco falando comigo, eu
precisava de uma última resposta.
— Hey, Juliette? Eu sei que nunca vamos ser como irmãs
reais ou qualquer coisa, mas eu não quero ser inimigas para
sempre, de qualquer uma. Você me disse por que Anastásia me
odeia, mas qual é o seu problema comigo?
Juliette parou de empurrar os livros em sua mochila e olhou
para mim. Toda a sua habitual indiferença tinha ido embora e
eu podia ver a raiva em seus olhos. — Eu não teria um
problema com você, se você não fosse sempre tão má para
mamãe e papai. Eles são bons pais. Eles saíram de seu
caminho para fazer tudo o que podem para você. Pai quase
perdeu o emprego, porque ele passou muito tempo em Boston,
enquanto você estava no hospital. Eles renovaram seu quarto.
Eles dão tudo o que você precisa. Eles sempre fazem coisas
boas para você, esperando que eles possam fazer você mais
feliz. Eles se esforçam para te ajudar e você joga de volta em
seus rostos o tempo todo.
Suas palavras me gelaram como se um balde de água gelada
espirrasse no meu rosto, congelando. De todas as coisas que eu
poderia ter imaginado, eu nunca teria pensado que ela estava
apenas sendo protetora de meu pai e Jennifer. E depois que ela
disse isso eu percebi que não era só raiva em seus olhos, mas
dor.
— Você trata nossos pais tão mau como Ana trata você,—
disse ela. — Especialmente papai e ele não merece isso. Ele é
um homem bom. Ele pode não ser o meu pai biológico, mas
ele é meu pai. Ele me criou desde que eu tinha sete anos e ele
nunca me tratou como se eu não fosse sua verdadeira filha. Ele
me amou como eu fosse sua.
Todas as emoções conflitantes em mim eram tão confusas.
Fiquei chocada, por uma coisa. Eu nunca percebi que eu
estava agindo de forma tão horrível. Eu não tinha certeza se eu
realmente tinha ou se Juliette estava apenas sendo defensiva e
exagerada. Mas se eu tivesse… Eu não era aquela pessoa. Eu
não tratava as pessoas assim. Eu nunca me considerei esse
tipo. Eu não gostava de ser comparada a alguém como
Anastásia.
Ao mesmo tempo, eu também estava com raiva. Parte de
mim pensava que Juliette não tinha o direito de pensar alguma
coisa sobre o meu relacionamento com meu pai. Ele não era
nenhum de seus negócios. Mas mais do que qualquer coisa, eu
estava ferida, porque ela tinha o relacionamento com ele que
eu deveria ter tido, e ela agiu como se não houvesse nada de
errado com isso.
— Isso não é verdade,— eu sussurrei. — Ele amava vocês
muito mais do que se fossem suas próprias filhas, porque eu
sou sua filha e ele não me amou em tudo. Você sabia que ele
nem sequer disse adeus para mim quando ele saiu? Eu tinha
oito anos. Eu vim para casa da escola um dia e ele não estava
mais lá. Não havia nenhum bilhete, nenhum telefonema, nem
nada. Eu nunca mais o vi. Eu cresci sem pai, porque meu pai
estava aqui dando lhes abraços, e colocando vocês na cama à
noite e amando vocês como filhas de verdade, em vez de mim.
Pense sobre ter algo jogado na sua cara o tempo todo. Como
você acha que isso me faz sentir, ter que viver aqui e ver o
quão feliz você todos estão juntos? Você tem alguma ideia de
quanto isso machuca toda vez que eu ouço o chamarem de
pai? Para saber que ele realmente, verdadeiramente, as ama?
Eu sou sua filha e ele só me trouxe porque ele não tinha outra
opção.
Eu respirei e coloquei meus livros de volta na minha
mochila. Eu não poderia lidar com essa conversa por mais
tempo.
— Eu não estou dizendo que você não tem uma razão para
estar zangada,— disse Juliette. — Você me perguntou qual era
o meu problema com você e é isso. Éramos felizes antes de
você vir para cá. Agora meus pais brigam muito mais e Ana,
nós mal conseguimos falar, exceto a gritar uma com a outra.
Eu entendo que você tem problemas, e eu entendo que isso é
uma merda para você, mas isso não muda o fato de que você
está fazendo todos nesta casa miserável. Você está arruinando
a minha família.
Desculpei-me quando eu empurrei minha mochila e
levantei. — Eu sinto muito. — Eu não tentei soar amarga,
porque eu realmente estava arrependida. — Se eu tivesse
alguma ideia de como mudar isso, eu gostaria.
Virei-me para sair e vi Jennifer no pé na escada, olhando
Juliette e eu com uma expressão aflita. Desde o inchaço dos
olhos dela, eu tinha certeza que tinha ouvido toda a conversa.
— Sinto muito. — Eu murmurei novamente quando eu fiz o
meu caminho por ela.
Capítulo
Treze

Brian
Quando os Patriots marcaram outro touchdown, eu decidi
que precisava de outra bebida. Quando eu vagava até a
cozinha e abri outra cerveja, pensei em Ella. Ella era de Nova
Inglaterra. Ela seria mais fã de um baseball, aparentemente
vivendo em Boston significa que teria orgulho dos Red Sox no
seu sangue, mas se ela seguia o futebol, ela estava
provavelmente rindo agora. Eu tomei um longo gole da
refrescante Corona gelada e lhe enviei um texto rápido.
Se você é uma fã dos Patriots, eu teria de deserdá-la.
Sua resposta foi quase instantânea.
LOL! Você está seguro. Não sou uma grande fã de
futebol. Mas se alguma vez você descubro que está do lado
dos Dodgers, não poderemos mais ser amigos.
Um segundo texto se seguiu, dizendo: Por quê? Quem eles
estão batendo agora?
Sorri para a pergunta. Ella não se preocupava com o futebol,
mas ela ainda estava disposta a falar sobre isso comigo. Eu
comecei a escrever uma resposta, mas então percebi que, após
três anos, eu finalmente tinha seu número e poderia falar com
ela agora. — Os Packers estão perdendo por três touchdowns e
um gol de campo,— eu disse quando ela atendeu a minha
chamada. — É muito desmoralizante.
— Green Bay{18}? Você seriamente é um cheeseheads{19}?
Ela riu e eu sorri novamente. Seu riso era o meu novo som
favorito no mundo todo. — Eu nunca tive, nem tenho o desejo
de usar um chapéu queijo de espuma, mas sim, eu sou um fã
do Green Bay.
— Por quê? — Perguntou Ella. — Você é de Wisconsin? Oh
meu Deus, por favor, diga sim. Isso seria muito engraçado. Por
favor, me diga que a pose de playboy da Califórnia é tudo uma
farsa e você é secretamente o filho de um fazendeiro.
Eu ri. — Desculpe-me te desapontar, mas eu realmente sou
de Los Angeles, nascido e criado. Minha mãe vive em Green
Bay, no entanto. Ela se casou com um fã Packers muito
entusiasmado, assim, ao longo dos anos, desde que LA não
tem um time de futebol, eu adotei Green Bay como o meu.
— Isso é um pouco decepcionante. Sinto muito que a sua
equipe está perdendo, no entanto. Eu vou lhe enviar algumas
vibrações de boa sorte.
— Aprecio.
Eu sorri novamente e tomei outro gole da minha cerveja.
Um grito alto irrompeu da sala de estar, onde um grupo de
amigos meus estavam assistindo ao jogo. Esperemos que isso
signifique que Green Bay finalmente marcou, mas agora eu
não estava interessado em voltar para descobrir.
Eu deslizei fora, para o pátio e fechei a porta atrás de mim.
Ella estava quieta do outro lado da linha e, de repente, eu não
tinha ideia do que dizer a ela.
Eu nunca tinha estado na zona de ‘amigo’ de uma menina
antes, o pensamento de uma menina não me querendo daquele
jeito era absurdo, mas eu estava preocupado que eu caí no
radar de Ella. Ela não tinha problema me dizendo que ela se
importava comigo e ela me provocava o tempo todo, mas ela
nunca flertou comigo, mesmo quando eu flertava primeiro.
Fiquei chocado quando descobri que ela se mudou para Los
Angeles e não tinha me dito, e ela tinha sido tão hesitante em
me chamar quando eu lhe dei o meu número. Era quase como
se ela não quisesse ser nada mais do que amigos da Internet.
Três anos e ela nunca sequer pediu meu nome verdadeiro.
Concedido, eu nunca pedi o dela, de qualquer maneira foi
apenas porque eu não tinha ideia de como eu iria lidar com a
conversa ‘Eu sou Brian Oliver’ quando isso finalmente viesse
à tona.
Falar ao telefone mudou o nosso relacionamento um pouco
e eu não tinha muita certeza de como caminhar sobre a água,
agora. Eu me senti nervoso e um pouco estúpido. Os
sentimentos eram tão estranhos para mim que eu quase não os
reconheci como insegurança. Eu nunca tinha sido inseguro
com uma garota antes.
— Então… — Eu tive que limpar minha garganta quando a
minha voz não quis produzir o som corretamente. — O que
está rolando? Tudo bem que eu te chamei? Não é estranho ou
alguma coisa?
— Não, não é estranho. Eu gosto disso. Você pode me ligar
quando quiser. Mesmo que seja apenas para reclamar sobre os
Packers perdendo o futebol segunda a noite.
A provocação na voz dela derreteu meus nervos. Eu não ia
perdê-la. — Como estão as coisas? Melhor do que sexta-feira?
Você está sobrevivendo a sua família adotiva?
— Eu acho. As coisas estão um pouco estranhas, mas não
de uma maneira ruim. Uma das minhas meias-irmãs ainda é
Freddy Krueger, mas eu tive uma conversa com a outra e ela
realmente não é tão horrível como eu pensava. Chegamos a
um entendimento. Eu acho pelo menos, de qualquer forma
estou mais feliz. Faça me rir. Você é o único que faz.
Meu coração afundou um pouco com seu pedido. Por que
Ella se recusava a me deixar entrar? Toda a sua conversa sobre
instituições mentais e suicídio no outro dia realmente me
assustou. Eu sabia que ela estava tendo um momento difícil,
adaptação à sua nova vida com seu pai, mas eu não tinha ideia
de que sua depressão era tão grave. Eu não conseguia parar de
me preocupar com ela.
Eu queria que tivesse algo mais que eu pudesse fazer para
ajudar do que fazê-la rir, mas se isso era o que ela disse que
precisava, então eu não podia deixá-la para baixo. Quebrei a
cabeça para algo que ela pudesse achar divertido, mas não foi
fácil, porque eu não estava realmente em um clima muito bom.
Não quando ela estava lá fora e precisava de alguém para amá-
la, e a única pessoa que eu tinha permissão para estar agora,
era a filha maldita de Satanás.
E, de repente, eu estava inspirado. — Você já leu A Megera
Domada?
— Eu não li a peça, mas eu vi o velho filme com Elizabeth
Taylor.
— Minha namorada é a megera, só que não há nenhuma
maneira de domá-la.
Ella riu. Eu estava feliz em ter sucesso em animá-la, mas eu
desejei que eu estivesse brincando. — Estou falando sério. Eu
acho que ela pode realmente ser a reencarnação do diabo.
— Ela se parece muito com a minha meia-irmã.
— Pior. Eu prometo. Muito, muito pior.
— Então, por que você está saindo com ela?
— Porque ela é muito quente e o sexo é bom?
Eu sabia que isso iria funcionar. O gemido de nojo de Ella
fez o meu sorriso voltar. — Bonito, Cinder. Como você é
completamente superficial.
Ella estava brincando, mas ela também acreditou em mim.
Ela realmente achava que eu não passava de um vazio,
playboy egoísta. Sim, eu meio que sou, mas sou apenas porque
as meninas que eu conhecia eram todos como Kaylee e não
valia a pena dar meu coração.
Eu odiava que a minha reputação podia decepcionar Ella.
Ela não estaria interessada em jogadores como eu. Eu estava
orgulhoso dela por isso, mas isso me irritou ao mesmo tempo,
porque essa era provavelmente a razão pela qual eu era apenas
um amigo para ela. Eu não poderia dizer-lhe tudo, mas de
repente eu estava desesperado para fazê-la entender que havia
mais de mim do que o cara que ela acreditava que eu era. —
Honestamente, não é sua aparência. É mais complicado do que
isso. Ela é do meio das meninas de alto nível.
— Celebridade ou top model?
Eu sorri.
— Herdeira?
Se ela soubesse como estava certa. Kaylee era todas as três
dessas coisas, mas eu não poderia dizer para Ella.
Kaylee e eu estávamos na mídia muito agora, e eu não
queria Ella descobrindo quem eu era. Isso não ia ser fácil para
ela engolir. Eu queria estar lá, cara a cara, quando eu
explicasse. — Sem comentários,— eu disse e ela explodiu em
gargalhadas.
— Hahaha! — Ela gritou. — Eu sabia! Mr. VIP com suas
mulheres extravagantes. Você deve tentar namorar uma
agradável bibliotecária tranquila ou algo assim. Então, você
não vai ter que chamar sua namorada uma megera
— Na verdade, isso pode ser quente, cabelo em um coque
apenas gritando para ser solto, óculos grossos, uma saia justa e
uma agradável blusa de seda com muitos botões para eu
rasgar? Eu faria totalmente amor com ela contra as pilhas, na
seção de literatura clássica.
Houve um som de asfixia e depois Ella disse: — Hum, bem,
isso foi definitivamente muita informação.
Eu sorri para sua perplexidade e joguei a minha voz para
baixo, quase sussurrando. Eu sabia que ela gostava. — Você
está corando agora, Ellamara?
— Eu tenho certeza que até a minha avó está corando em
seu túmulo, depois da visão, Cinder.
Visão? Meu sorriso se alargou ainda mais. Será que ela
apenas imaginou a si mesma como a minha fantasia de
bibliotecária?
Zona do amigo, minha bunda. Brian Oliver não é amigo de
nenhuma mulher. Eu tinha que aproveitar essa oportunidade.
— Alguma vez você já pensou em se tornar uma
bibliotecária, Ella? Você provavelmente iria fazer uma muito
boa com o seu amor pela leitura e toda a sua indignação
arrogante. Ou eu poderia totalmente imaginar você ensinando
em um colégio interno, distribuindo detenções e
espancamentos a todos os meninos impertinentes, com uma
régua.
— Batendo em meninos impertinentes com uma régua? —
Sua voz era tão plana que comecei a rir. — Sem esperança,
Cinder. Que tal fugir do diálogo pornô brega e voltar para o
complicado ‘sem comentários’ da megera que você
mencionou. Diga-me, por que você está realmente namorando
ela, se não é só o sexo.
— Você não é divertida. — Eu fiz beicinho, mas depois
suspirei de verdade. Kaylee era uma assassina de humor. —
Tudo bem, tudo bem. Então, ela é basicamente a filha do
patrão, certo? E, claro, ela é totalmente apaixonada por mim.
— Oh, é claro.
— Sim, claro. Pare de me interromper, mulher.
— Pare de dar-me razões para fazer.
Menina irritante! Eu tive a súbita vontade de sacudir o meu
telefone. — De qualquer forma… Ela tem muita influência,
então, meu pai e um monte de outras pessoas estão realmente
colocando a pressão sobre mim para mantê-la feliz.
— Isso é horrível! — A voz de Ella soou igualmente
divertida e horrorizada. — Como você pode deixá-los lhe
dizer com quem você namora?
— É complicado.
Fazendo uma careta, eu suguei o último gole da minha
cerveja. Eu sabia que soava ridículo, mas como eu poderia
fazê-la entender? — Minha vida é complicada. Há uma grande
quantidade de pessoas que pensam que eles podem.
Especialmente o meu pai. Eu realmente não tenho um monte
de controle sobre qualquer coisa.
— Você já pensou em se levantar por si mesmo?
— Quando eu puder.
— E você não acha que a escolha de quem você se relaciona
é um desses momentos?
— Agora não. Este trâmite é realmente importante. Se eu o
quebrar e ela tiver um acesso de raiva, ela definitivamente
poderia estragar um monte de coisas para um monte de gente.
A mim mais do que ninguém. Eu estou preso por enquanto. Eu
estou esperando que se eu puder ser apenas um idiota grande o
suficiente, ela vai se cansar de mim e me deixe.
— Isso é seriamente louco, Cinder. Você sabe disso, certo?
— Eu sei. — Balançando minha cabeça, tentando afastar
todos os pensamentos deprimentes, eu voltei para a casa e
joguei minha lata de cerveja vazia no lixo. — Mas não é a
coisa mais horrível do mundo. — Era apenas temporário,
apesar de tudo, e eu tinha Ella para me manter são até que tudo
estivesse acabado.
— Porque, pelo menos, ela é superquente e o sexo é ótimo?
Eu ri com o sarcasmo de Ella. — Certo. Embora, talvez não
seja tão grande quanto eu pensava. Você realmente tem me
preso nesta ideia de bibliotecária. Eu aposto que poderia…
— Ok, isso é onde eu desligo,— interrompeu Ella.
Rindo de novo, eu abri a geladeira. Toda essa conversa, Ella
como minha bibliotecária quente deu fome. — Por quê? — Eu
perguntei quando eu vi alguns morangos frescos. Meu cérebro
foi enviado imediatamente para alimentar Ella, e então eu
pensava em outras coisas que eu poderia fazer com Ella. —
Você não quer trabalhar fora quaisquer fantasias sujas comigo?
É culpa sua que eu estou tendo elas. O que você está usando
agora, de qualquer maneira?
— Haha! — Ella riu. — Não! Nós não estamos indo por aí.
Nunca Cinder.
— Por que não?
— Assim, não, você é um pervertido!
Ella estava tentando esconder, mas eu a tinha
completamente confusa e eu adorei. Pedir-lhe para me ligar foi
a melhor decisão que eu já tinha feito. — A sua perda,— eu
provoquei. — Eu poderia ter balançado seu mundo, baby.
— O que diabos você está fazendo? — Kaylee de repente
gritou, me assustando tanto que eu deixei cair os morangos por
todo o chão.
Fechando a geladeira, eu me virei para encontrar Kaylee tão
vermelha me enfrentado. Eu tinha certeza que ela tinha ouvido
muito mais da conversa do que apenas minha última
declaração. Por alguma razão, que me fez querer rir. Eu tive
que morder o interior da minha bochecha para não fazê-lo. —
Eu tenho que ir,— eu disse ao telefone. — Eu totalmente
apenas fui preso pela megera.
— O quê? — Kaylee gritou.
Na outra extremidade da linha, Ella riu. — Felicidades. Eu
vou manter meus dedos cruzados para que você leve um fora.
Ao ouvir isso, eu não pude conter meu riso por mais tempo.
— Você é a melhor. Eu te ligo mais tarde.
Eu desliguei o telefone e encontrei o olhar de Kaylee, com
grandes olhos inocentes. — Problema? — Eu não esperei por
sua resposta antes de eu abaixar para limpar a bagunça de
frutas derramadas.
Os saltos de Kaylee estalaram em todo o piso de cerâmica
quando ela cruzou a cozinha. Eles chegaram a um passo, na
frente do meu rosto e o direito começou a bater
insolentemente. — O que você acha? — Ela cuspiu.
— Eu acho que nós não estamos em público Kay, assim, eu
posso fazer o que diabos eu quero.
— Há uma sala cheia de gente lá fora. Qualquer um deles
poderia ter ouvido você.
— Mas eles não fizeram.
— Eu fiz.
Eu puxei o último morango que sumiu debaixo da geladeira
e me levantei. Depois lançando o recipiente para o lixo, eu
notei Kaylee ainda estava ali, esperando por uma resposta. O
único que eu conseguia pensar era — Bom. — Ela odiava que
a resposta tanto quando eu dei a ela no clube na frente de todos
os seus amigos, eu tinha adotado essa resposta como o meu
número um.
— Por que você insiste em ser difícil?
Bufando, eu prendi com um olhar obstinado. — Talvez,
porque eu estou sendo chantageado para um noivado falso
com a Bruxa Malvada de Hollywood?
Kaylee olhou novamente e, em seguida, bateu o pé quando
ela bufou em aborrecimento. — Seu pai está aqui e ele trouxe
Zachary Goldberg com ele,— disse ela, saindo furiosa para
fora da sala.
De jeito nenhum. Segui-a para fora da cozinha e, com
certeza, lá estava meu pai e um dos diretores de cinema de
maior prestígio em LA, em pé atrás do sofá, com cervejas nas
mãos, aplaudindo o Green Bay Packers.
— Ola pai. O que você está fazendo aqui?
Ainda mais chocante do que a presença do meu pai, era o
enorme sorriso feliz que ele me cumprimentou.
— É o homem do momento! — Eu tentei esconder meu
choque quando ele jovialmente apertou o braço em volta dos
meus ombros. — Filho, você conhece Zachary Goldberg, não
é?
Ainda atordoado, eu apertei a mão do meu ídolo. — Nós
nunca nos conhecemos, mas é uma honra. Eu sigo o seu
trabalho desde que eu era criança.
Uma mão deslizou em volta da minha cintura e forçou o
meu sorriso para se manter, quando eu apresentei Kaylee.
— Ah sim. — Zachary disse, inclinando-se para beijar a
bochecha de Kaylee, saudação habitual em LA por alguém do
sexo oposto. — Meus parabéns para o casal feliz. Entre a
surpresa do noivado e seu próximo filme juntos, vocês dois
são o assunto da cidade, no momento.
Kaylee sutilmente apertou o braço que tinha ao redor de
mim de uma forma — Eu avisei,. — — Coisas boas, eu espero
— , disse ela, como se ela fosse a primeira pessoa a chegar a
essa resposta, oh tão, inteligente.
Eu tentei não rolar os olhos para o clichê. Se Kaylee poderia
ser metade tão inteligente como ela era má, ela seria um gênio.
Zachary foi educado o suficiente para rir com ela. — É tudo
muito bom,— ele prometeu, mudando os olhos para mim. —
Especialmente no que diz respeito a você, Brian. Eu ouvi
todos os tipos de murmúrio sobre o seu desempenho em O
Druida. Seu pai estava me mostrando algumas das imagens,
esta tarde. Muito impressionante.
Eu tentei conter minha surpresa, mas minha cabeça estava
girando. Zachary Goldberg era um dos meus diretores
favoritos de todos os tempos. Ele tinha um verdadeiro talento
para o drama e tinha sido nomeado para mais prémios da
Academia do que Steven Spielberg. Seu elogio foi bem
ganhado. — Obrigado, Senhor.
— Pode me chamar de Zachary, Brian. Por favor
— Ok, Zachary. Bem, bem-vindo. Fique à vontade. Espero
que vocês gostem dos Packers, porque fãs dos Patriots têm que
assistir do lado de fora e eles só recebem a cerveja barata.
Zachary riu bastante quando ele balançou a cabeça. — Eu
gostaria de poder ficar, mas tenho a esposa em casa esperando
por mim. Você sabe como é. — Zachary olhou entre Kaylee e
para mim, sorrindo. — Bem, talvez ainda não, mas você vai
descobrir, em breve.
Forçando uma risada, eu empurrei minhas habilidades de
atuação para o limite. — Estou ansioso por isso.
Zachary acreditou na mentira. — Eu só queria parar e
conhecê-lo pessoalmente. Eu adoraria marcar uma reunião
com você, em breve. Eu tenho em minhas mãos uma brilhante
adaptação de The Scarlet Pimpernel, e eu acho que se eu
tivesse você conectado, eu poderia ter a luz verde.
Meu queixo quase caiu no chão, mas desta vez eu não me
incomodei em tentar esconder minha emoção.
— Você está fazendo The Scarlet Pimpernel?
As sobrancelhas de Zachary subiu sua testa. — Você está
familiarizado com a história?
Se eu estava familiarizado com ela? — Eu amo a história.
Eu li todos os livros. Eu mataria para fazer o papel de Sir
Percy.
Zachary riu. — Eu sabia que você era o homem que eu
queria falar. Você está disponível para atender ainda esta
semana?
— Vou verificar. — Eu me virei para onde meus amigos
estavam, todos ainda com atenção no jogo. — Ei, Scotty!
Eu tinha convidado o meu assistente e o pobre rapaz era um
escoteiro, e os poucos presentes companheiros no jogo,
mantinham-no maltratando. Ele não tinha parado de corar
desde que chegou e ele parecia muito aliviado por ser
necessário no momento. — O que há Brian?
— Tenho tempo para me encontrar com o Sr. Goldberg, esta
semana?
— Nós vamos fazer tempo.
— Eu vou também! — Kaylee saltou. — Eu posso trazer
meu pai,— disse a Zachary. — Ele é um grande fã de Brian,
você sabe. Aposto que nós três poderíamos convencê-lo a
assinar.
Zachary lambeu os lábios e deu a Kaylee o maior sorriso
que eu já vi em um homem adulto. — Isso seria fantástico,
Kaylee.
Do jeito que os olhos de Zachary se iluminaram, eu me
perguntei se isso não tinha sido parte de sua intenção o tempo
todo.
Tudo em Hollywood era sempre um jogo de poder. Obter os
milhões e milhões de dólares necessários para financiar um
grande filme nunca foi fácil, não importa quem você era, e
recebendo o sinal verde para uma peça de época clássica,
como The Scarlet Pimpernel, era quase impossível.
— Eu não estou familiarizada com a história,— disse
Kaylee, — mas soa muito emocionante.
— Oh, é. E você ficaria deslumbrante em um traje do século
XVIII. Tenho certeza de que poderia encontrar um lugar para
você no filme em algum lugar, se você estiver interessada.
— Que oferta generosa, Zachary. Obrigada.
Eu assisti os dois trocarem ideias com um sentimento de
assombro. Talvez eu tenha odiado Kaylee, mas mesmo eu
tinha que admitir que o poder que eu, como ator mais quente
de Hollywood e Kaylee, a herdeira do maior estúdio de
imagem em movimento da cidade, poderíamos ter.
Kaylee estava certa. Poderíamos possuir esta cidade juntos,
se realmente quisesse. O problema era: eu não queria. Não se
Kaylee e eu tivéssemos que ser um par para fazê-lo. Como
lisonjeado e animado eu estava sobre a possibilidade de
trabalhar com o meu diretor favorito, interpretando outro dos
meus personagens favoritos, eu estava preocupado que Kaylee
iria gostar do poder que tinha um pouco demais e não querer
me deixar ir, depois da temporada de premiações. De alguma
forma, eu estava apenas sendo sugado para dentro cada vez
mais fundo.
Capítulo
Quatorze

Minha pequena conversa de coração a coração com Juliette


não mudou nada, mas eu era eternamente grata a ela por me
apresentar a Vivian. Ela e eu não tínhamos muito em comum,
ela era uma bailarina e obcecada com qualquer coisa
relacionada à moda, enquanto eu estava lendo livros de
conteúdo e não tinha ido a um shopping em mais de um ano,
mas nós ainda conseguimos nos unir como irmãs, que de
repente foram separadas no nascimento.
Ela almoçou comigo de novo no dia seguinte e insistiu para
que eu voltasse para casa com ela, depois da escola e fazer a
minha lição em sua casa. Sabendo o que estava esperando por
mim em casa, eu estava grata pela oferta.
Ela morava em um apartamento pequeno em West
Hollywood. Ele era velho, apertado, um pouco desorganizado,
na verdade, parecia que Jo-Ann{20} Tecido tinha explodido
dentro, mas me senti mais em casa depois de estar lá por três
segundos do que na casa de meu pai que, provavelmente,
nunca o faria.
— Ignore o caos,— disse Vivian, enquanto pegava uma
pilha de ferramentas rosa quente para fora da porta de entrada
e pendurou-a sobre as costas de uma cadeira. — Eu tentei
explicar aos meus pais que os homossexuais deveriam ser
doidos por limpeza, mas eles se recusam a ouvir.
Seus pais estavam na sala de jantar, perdidos em um mar de
tecidos de cores vivas, paetês, rendas e penas.
Um estava sentado atrás de uma máquina de costura,
enquanto o outro estava de pé, prendendo uma luva a um lindo
vestido em um manequim de costura. Ambos olharam para
cima e sorriram quando entramos, seus sorrisos eram tão
brilhante quanto o vestido que eles estavam trabalhando.
Um deles puxou um alfinete para fora de sua boca e disse:
— Querida, se quiséssemos ser estereótipos, teríamos nos
tornado cabeleireiros.
— Diz o homem vestindo plumagem azul-petróleo. —
Vivian riu e, acenando com a mão para o homem, disse, —
Stefan Euling. Pai, essa é Ella. — Em seguida ela fez um gesto
para o homem na máquina de costura. — Este é Glen Euling.
Ele também responde a pai.
Depois de dizer Olá, eu observei Stefan trabalhar por um
momento. O fio de penas ao redor do pescoço dele combinava
com as lantejoulas sobre o vestido. — É para a bainha do
vestido, certo? — Perguntei. — Você está fazendo um vestido
para dança de salão?
O homem sorriu para mim como se ele nunca tivesse sido
mais orgulhoso de ninguém em sua vida. — Bom olho!
— Minha mãe namorou um dançarino de salsa profissional
uma vez. Eu nunca fui graciosa o suficiente para o esporte,
mas eu amava os vestidos.
— Eles são os principais estilistas para o reality show da
celebridade Dance Off,— explicou Vivian. — Como você
pode ver, eles gostam de levar trabalho para casa com eles.
— De jeito nenhum! — Eu gritei. — Eu amo vocês! Os
vestidos são a única razão de eu assistir a esse show! É o
vestido para um dos dançarinos? É para Aria? Parece um
vestido para Aria.
Vivian revirou os olhos para mim. — Você acabou de fazer
dois novos amigos para a vida.
— É para Aria,— disse Stefan. — Você realmente é uma fã,
não é? — Seus olhos percorreram-me da cabeça aos pés com
um olhar crítico e, então, ele disse: — Vestido tamanho 40,
certo?
Eu olhei para o meu uniforme escolar, um pouco assustada
que ele acertou. Minha roupa não estava realmente encaixada
para começar e eu tinha a camisa para fora da calça na hora
que eu subi no carro de Vivian. — Para o desânimo do meu
nutricionista,— eu respondi, balançando a cabeça. — Ele está
sempre tentando me fazer ganhar mais peso. Como você
sabia?
Glen riu. — Ele sempre sabe. O homem tem um dom para
dimensionar as pessoas. Se a maioria dos nossos clientes não
fossem mulheres, eu seria louco de ciúmes.
— Um pouco de ciúme é saudável para um homem,—
Stefan brincou. — Mantendo-o na linha. — Antes que Glen
tivesse a oportunidade de discutir, Stefan sorriu para mim e
disse: — Você gostaria de experimentar o vestido? Eu preciso
fazer alguns ajustes e você é quase exatamente o tamanho de
Aria. Você seria a perfeita substituta.
Uma onda de excitação percorreu-me com o pensamento de
colocar o vestido, mas foi logo substituído com horror quando
eu me imaginei nas mangas do vestido sem forro.
— Eu prometo não picar você,— Stefan pediu.
— Oh, não é isso. — Engoli em seco e me senti como se
tivesse engolido um dos alfinetes que ele prometeu não me
furar. — É apenas, hum, eu estive em um acidente de carro e
eu… hum…
— Ella, ninguém aqui vai se preocupar com suas cicatrizes,
eu prometo,— interrompeu Vivian. Ela parecia firme, mas
gentil e o olhar nos olhos dela disse que ela não ia deixar-me
dizer que não.
— Mas é um vestido tão bonito. Eu iria estragar o efeito.
— Besteira! — Glen levantou os olhos da costura com uma
careta de desaprovação. — Você tem o rosto de um anjo. Esses
olhos são deslumbrantes. Se há qualquer coisa, esse vestido
não merece vestir você.
Corei com o sorriso que ele me passou.
— Ella,— Vivian disse suavemente, — a verdadeira beleza
vem de dentro de uma pessoa. Se você se sentir bonita, então
você vai ficar bonita para os outros, não importa o que está na
superfície. — Ela apontou para o vestido no manequim. —
Esse vestido faria alguém se sentir bonita. Basta experimentá-
lo, por favor? Por mim? Porque se você não vestir, eles vão me
obrigar a fazer isso e eu tenho uma tarefa muito mais
importante para lidar agora.
— Que tarefa? — Perguntei, distraída com um ataque de
pânico.
Ela levantou um punhado de pedaços de tecido e algo que
parecia suspeitosamente como uma arma adornada com joias,
um brilho malicioso em seus olhos. — Eu vou dar a sua
bengala um pouco de cirurgia plástica.
Dez minutos mais tarde, eu sai de trás de um provador, em
um vestido feito para uma rainha. A saia fluía para o chão,
cobrindo minhas pernas, mas toda a minha volta, ombro e
braço direito foram expostos. Limpei a garganta para chamar a
atenção de todos, então segurei minha respiração e tentei não
me agitar demasiado, quando eles me avaliaram.
Todos tomaram à vista de minhas cicatrizes, eu não poderia
culpá-los; teria sido impossível para qualquer um não olhar,
mas nenhum deles olhou muito tempo antes de mover os olhos
para o resto de mim.
Glen levantou de seu assento na mesa de jantar, parando a
costura e chegou a ficar na minha frente, com os braços
cruzados sobre o peito. Stefan se juntou a ele, e os dois
começaram lentamente me circulando, como um casal de leões
perseguindo uma gazela.
— Oh, nós somos bons,— disse Glen finalmente, quebrando
em um sorriso largo.
Glen girou o dedo como se quisesse que eu me virasse. Eu
fiz e fiquei cara a cara com um espelho de corpo inteiro. Eu
engasguei com o que eu vi no reflexo. Glen pegou meu cabelo
para cima e o torceu na minha cabeça, puxando alguns dos
meus cachos encaracolados pretos em torno de meu rosto. —
O que eu te disse? — Perguntou.
— Um anjo.
Ele estava certo. Eu parecia incrível e eu não estava mesmo
usando maquiagem. O vestido, junto com a maneira que Glen
e Stefan estavam atrás de mim, sorrindo quase com reverência
para a menina no espelho, me fez sentir bonita, pela primeira
vez desde o meu acidente.
Meus olhos brilharam e eu me virei, sorrindo para Vivian
para tudo o que valia a pena. — Eu amo seus pais.
— Você não vai dizer isso daqui a algumas horas a partir de
agora, quando seus pés estarão doendo e você tiver que fazer
xixi e não vai poder, porque você está coberta de alfinetes,—
ela brincou, mas o sorriso em seu rosto traiu, mostrando o
quanto ela amava e era orgulhosa de seus pais.
— Horas? — Eu perguntei enquanto Stefan ajudou-me a
subir sobre um tamborete.
Stefan olhou-nos como se estivéssemos sendo ridículas. —
Um preço pequeno a pagar por uma obra de arte,— disse ele,
empurrando um punhado de alfinetes na boca.
Ele e Glen, ambos ficaram de joelhos aos meus pés.
Enquanto Glen estendeu a parte inferior do vestido e puxou o
material apertado, Stefan abriu o fio de plumagem de seu
pescoço e pegou um alfinete. Ele tomou um cuidado especial
em encontrar apenas a colocação correta, antes de fixar
cuidadosamente as penas na bainha do vestido. Eles eram
como um casal de cirurgiões que operam em um paciente. Eu
realmente poderia estar aqui por horas.
— Você não está relacionado com o meu fisioterapeuta, não
é? — Perguntei. — Ele gosta de encontrar maneiras originais
de me torturar, também.
Todos os três gargalharam. Glen olhou para mim com os
olhos brilhando e apontou para Stefan. — Eu não o levaria a
rir desse jeito, se eu fosse você. Ele está mentindo sobre sua
capacidade de não picar você.
Todos nós rimos novamente, mas, apesar do aviso de Glen
eu senti pontadas de dor. Depois disso, Stefan e Glen foram
trabalhar sobre o vestido enquanto Vivian começou a colagem
de tecido e peças para o eixo de metal da minha bengala.
Ela quer que pareça como uma bela colcha de retalhos ou
algo saído de um filme de Tim Burton. Depois de um minuto
de silêncio confortável, Vivian disse: — Então, eu me sento ao
lado de Rob Loxley, em sétimo período…
Corei, reconhecendo o nome do cara que Juliette disse que
tinha uma queda por mim. Vivian não percebeu. Sua
concentração estava exclusivamente centrada no projeto, na
frente dela.
— Realmente ele é um cara legal,— disse ela. — Bonito,
também. Tranquilo, embora. Ele não disse muito para mim
todo o ano e, em seguida, de repente, do nada, ontem e hoje
ele se tornou Mr. Chatty.
Meu rosto estava realmente a aquecer agora. — Hmm,
estranho.
Vivian olhou para mim por um segundo, em seguida, voltou
direto para o trabalho de corte e colagem. — Eu tentei pensar
no que poderia ter acontecido nos últimos dois dias que ele iria
tomar de repente um interesse em mim, mas nada mudou.
Nada, a não ser que eu me tornei sua amiga.
Ela finalmente parou o que estava fazendo e me deu um
olhar que disse que nós duas sabíamos o que ela queria dizer.
Não havia nenhum ponto em negá-lo. — Juliette disse que
ele gosta de mim. Ela se ofereceu para dar-lhe o meu número.
Eu lhe disse que ia pensar no assunto.
— O que você acha sobre isso? Por quê?
— Eu não sei.
— Ele é um cara decente, Ella. Ele não se preocupa com as
cicatrizes ou a bengala. Especialmente depois que eu a fizer
parecer tão bonita.
— Talvez, mas esse não é o único problema. Eu não estou
no melhor lugar mentalmente, agora. Eu não sei se um
relacionamento seria uma boa ideia.
Vivian fez uma careta. — Suspeito que isso soa como uma
desculpa. Você tem certeza que não está com medo?
— Eu estou apavorada,— eu admiti.
Vivian considerou isso e depois balançou a cabeça. — Bem,
quem disse que você teria que entrar em um relacionamento?
Talvez vocês pudessem ser apenas amigos. Você é a única que
me disse que está sob as ordens do médico para fazer mais
amigos.
— Sim. Eu acho. Pode ser.
— Você poderia convidá-lo para uma noite de cinema, nesta
sexta-feira, juntamente com alguns dos alunos do seu estúdio
de dança,— Glen sugeriu. Meu rosto ficou um escarlate ainda
mais profundo quando eu percebi que ele estava tentando jogar
de casamenteiro. — Seria forçar seu pai e eu a, finalmente, ter
que limpar por aqui.
Vivian deu um pulo como se ela pudesse arrebatar a ideia
fora do ar e fizesse acontecer. — Oh! Eu adorei isso! — Eu
não tinha certeza se ela estava mais animada com unir-me com
Rob ou a ideia de seus pais limparem um pouco.
— O que você acha? — Ela me perguntou.
Fui salva de ter que dar uma resposta imediata, mesmo
sabendo que ela acabaria por conseguir o que queria, porque
meu telefone tocou.
— Eu pego! — Vivian gritou feliz para chegar a minha
mochila.
— Está tudo bem, eu tenho certeza que é apenas Cinder. Ele
pode deixar uma mensagem.
— Cinder? Esse é o cara que é não seu namorado, mas
manda textos como uma menina de doze anos de idade,
experimentando sua primeira paixão?
Eu ri. Era uma comparação justa. — Eu já recomendei que
ele procurasse ajuda para o seu vício de telefone muitas vezes,
mas ele nunca me ouve sobre qualquer coisa.
— Bem, não podemos deixá-lo ir para o correio de voz,
porque ele vai apenas ficar chamando de volta, até você
responder.
— Vivian! — adverti, mas ela já pegou meu telefone.
— Relaxe. Vou colocá-lo no viva voz. Você pode me cortar
a qualquer momento. — Ela atendeu o telefone, fazendo a sua
melhor imitação de uma secretária alegre. — Obrigada por
ligar para o telefone de Ellamara. Receio que a Sacerdotisa
está atualmente ocupada, emprestando seu corpo para um casal
de homens robustamente bonito agora e é incapaz de atender a
sua chamada. Gostaria de deixar uma mensagem com sua
sempre tão útil assistente e melhor amiga?
Eu sufoquei uma risada, mas Cinder não perdeu o ritmo. —
Ótima inflexão de voz e enunciação, mas há duas coisas muito
erradas com esse pequeno discurso. Primeiro de tudo, eu sou o
melhor amigo de Ellamara. Eu! Não você, quem quer que seja.
Eu, eu, eu.
Vivian olhou para mim com um olhar interrogativo,
divertindo-se com a sugestão da birra na voz de Cinder.
Revirei os olhos, mas eu estava sorrindo como uma idiota.
— E vendo como eu sou Cinder, arrebatador Príncipe do
Reino,— Cinder continuou como um idiota, — e é o meu
direito de disciplinar qualquer um que tente rouba-la de mim.
Eu a advertirei agora a punição para um crime tão hediondo,
morte por vermes comedores de carne.
Soltei uma risada, mas Cinder não me ouviu, porque Vivian
soltou uma gargalhada mais alta. — Vermes comedores de
carne?
Cinder permaneceu cem por cento sério. — Hei sim, vermes
comedores de carne. É uma maneira muito lenta, dolorosa e
grotesca para se morrer. Altamente indigna. Eu não
recomendo. Se eu fosse você, eu iria ficar com o título de
assistente, e talvez, se você provar ser digna, você pode ser a
segunda melhor amiga de Ellamara.
Ele parou por um segundo, em seguida, acrescentou: —
Distante segunda amiga.
Vivian riu de novo. — Caramba, obrigada. Você já
terminou?
— Nem mesmo perto. Há ainda a questão de serem mortos,
em breve, os dois homens que você mencionou usando o corpo
de minha mulher.
As sobrancelhas de Vivian subiram e seu sorriso se tornou
mal. — Qual é o problema, Príncipe Cinder? Você é
ciumento?
— Claro que eu sou. Príncipes não compartilham. Mas,
além disso, quem quer que sejam eles não são bons o
suficiente para Ella.
— Como você sabe? — Eu disse em voz alta, incapaz de
segurar por mais tempo.
— Ah, aí está a minha menina.
A voz de Cinder, aquecida de uma forma que Vivian olhou-
me com os olhos arregalados. Eu tentei o meu melhor para não
corar, mas eu sabia que eu ia ter uma longa conversa com ela,
assim que este telefonema terminasse.
— Como você sabe que eles não são bons o suficiente para
mim? — Perguntei de novo, só para tirar a atenção de Vivian
de cima de mim.
— Porque nenhum homem é digno de você, Ella. Todos os
homens são cães. Absolutamente não compartilhe seu corpo
com qualquer um deles. Sempre. Eu proíbo. Bem, exceto por
Brian Oliver. Você tem a minha permissão para deixá-lo
violentar você da forma mais cavalheiresca que se possa
imaginar.
Vivian me deu um olhar estranho e até mesmo Glen e Stefan
piscaram para mim, depois do brilhante comentário. Tudo o
que eu podia fazer era rir e sacudir a cabeça com vergonha. —
Sua paixão pelo menino prodígio de Hollywood é
preocupante, Cinder. É realmente.
— Você sabe que ia gostar. Admita.
— Eu sei que a você gostaria,
— Eu certamente faria,— Vivian oferecendo.
— Eu também! — Glen gritou, piscando sobre Stefan.
— Eu fantasiei sobre isso regularmente,— acrescentou
Stefan e todos nós caímos na gargalhada.
Estranhamente, Cinder não pareceu apreciar a festa amorosa
de Brian Oliver. — Espere um minuto. Quem era aquele? —
Ele exigiu. — Há realmente caras usando você agora?
— Claro que não. — Eu ri. Então, porque eu simplesmente
não podia resistir, acrescentei: — Eles estão sendo muito
gentis. Stefan nem sequer me cutucou ainda.
— Ellamara!
Seu horror era tão genuíno que eu dobrei de rir até que eu
tive tanto Stefan e Glen gritando comigo para ficar imóvel. —
Sinto muito! — Gritei, ainda perdida em risos. — Vou parar de
provocação. Você sabe que você é o único homem na minha
vida.
— Como eu deveria ser.
— Na verdade, isso não é inteiramente verdade— , disse
Vivian. A delicadeza repentina na voz dela me deixou nervosa.
— Você diz que é seu melhor amigo, certo?
— Eu sou,— Cinder prometeu com veemência.
— Então, talvez você possa me ajudar a convencê-la a ir a
um encontro com esse cara da nossa escola. Ele é muito doce,
mas ela está com muito medo de lhe dar uma chance.
Senti o sangue escorrer do meu rosto. Eu não queria ouvir
sua resposta. Isso me mataria quando ele declarasse que estava
feliz por mim e me encorajasse a ir para ele. Que era o que eu
tinha certeza que ele ia fazer.
E, claro, ele fez. Meio que. Eu acho que.
— Ella… — Sua voz se suavizou como nas outras vezes
que ele fez, como se ele estivesse me segurando firmemente
em seus braços, e em seguida, fazendo tudo em seu poder para
me apoiar. — Do que você poderia possivelmente ter medo?
Qualquer cara teria que ser louco para não cair de ponta-
cabeça por você.
Stefan suspirou e Glen jogou uma mão sobre o coração.
Vivian praticamente derretia em sua cadeira. Eu? Eu fiz a
coisa mais embaraçosa de sempre, eu chorei. Não como
soluços perceptíveis nem nada, mas meus olhos embaçaram o
suficiente para que Vivian me trouxesse um lenço.
— Você sabe, não tem que ser Rob,— disse Vivian ao
telefone. Meu instinto quase explodiu de estresse, quando eu
percebi que ela estava prestes a fazer, mas antes que pudesse
detê-la, ela disse, — Ella e eu estamos tendo uma noite de
cinema na minha casa, nesta sexta-feira. Você poderia vir no
lugar de Rob.
Meu coração parou. Como é que eu não vi o que vinha no
segundo em que Vivian atendeu o telefonema? Como eu
poderia deixar isso acontecer?
Cinder nunca pediu para se encontrar pessoalmente.
Nenhuma vez. Ele nunca tinha sequer insinuado que ele
gostaria. A única vez que o tema já surgiu foi quando ele
descobriu que eu mudei para Los Angeles e, então, ele disse o
quanto gostou de nunca ter me conhecido.
Eu sei que eu disse que não queria conhecê-lo, mas é claro
que eu queria. Eu o amava tanto. Eu queria todos os dias que
nos encontrássemos algum dia e nos apaixonássemos
loucamente. Eu estava com medo que ele não iria me querer,
porque o meu corpo estava quebrado e cheio de cicatrizes. Isso
ou ele ia começar a me tratar do jeito que meu pai e Jennifer
faziam: como se pensasse que eu estava quebrada e não apenas
meu corpo.
Se Cinder começasse a me tratar como se eu fosse feita de
vidro, ele me mataria. Mas então, Vivian não pisava em ovos
em torno de mim e se esse cara, Rob, poderia ter uma queda
por mim do jeito que eu era, então, talvez, Cinder também
pudesse. Certamente, eu não era uma das supermodelos de
Cinder, mas ele se importava comigo. Isso tinha que contar
para alguma coisa. Talvez isso fosse uma coisa boa. Talvez
Vivian estivesse nos dando o empurrão que ambos
necessitávamos.
Prendi a respiração enquanto esperava pela resposta de
Cinder. Ele não disse nada por tanto tempo que Vivian
verificou o telefone para se certificar de que ela não tinha
deixado cair a chamada. — Olá?
— Eu não posso.
Fechei os olhos para evitar as lágrimas de deslizar pelo meu
rosto. Ele não queria me conhecer. No fundo, eu já sabia. Nós
ficamos na ponta dos pés em torno do assunto antes, mas
nenhum de nós tinha dito sem rodeios. Eu disse a mim mesma
que ele estava nervoso como eu e que iríamos chegar lá um
dia, mas o seu ‘eu não posso’ soou tão final. Eu tinha certeza
que ele ouviu o tremor em minha voz quando eu finalmente
respondi. — Está tudo bem.
— Eu tenho que sair com a megera, na sexta-feira,—
explicou ele, quase como uma reflexão tardia. — Nós estamos
tendo jantar com seu pai e algumas outras pessoas. Eu não
posso sair disso.
Vivian, tentando ser útil, mas completamente perdida do
que realmente estava acontecendo, disse: — Então, vamos
fazer sábado. Você estará ocupado, então?
— Eu… — A voz de Cinder rompeu e ele soltou um suspiro
de frustração. — Merda! Ella… eu… eu não posso.
Ele parecia absolutamente torturado e, de repente, eu estava
apavorada. — Está tudo bem,— eu disse rapidamente. Eu não
queria que isso fizesse as coisas embaraçosas entre nós para
sempre. — Não se preocupe com isso. Eu entendo totalmente.
— Sinto muito.
— Está tudo bem.
Um silêncio pesado se instalou no quarto. Vivian e seus pais
não se atreveram a se mover. Eles não tinham ideia do que
estava acontecendo, mas eles sabiam o suficiente para esperar
em silêncio. Cinder foi o primeiro a falar. Ele limpou a
garganta e perguntou: — Está tudo bem se nós lermos esta
noite?
Ele soou estranho. Hesitante. Era um estado longe de sua
autoconfiança habitual.
Mesmo que eu soubesse a resposta, eu levei um minuto para
dizer sim. Eu estava muito mais chateada. Meu coração estava
quebrado, mas eu sabia que nunca seria capaz de estragar tudo,
mesmo se fosse doer toda vez que eu falasse com ele, a partir
de agora. — Claro.
Ele soltou um suspiro de alívio. — Eu encontrei um novo
livro que eu acho que você vai gostar. É por isso que eu liguei.
Eu pensei que nós poderíamos dar uma lida juntos.
— Parece divertido.
— Boa. Chame-me mais tarde? — Ele ainda parecia
inseguro.
— Não perderia isso.
Fiz um gesto para Vivian desligar antes que minha voz
rachasse. Assim que o telefone estava desligado, Vivian olhou
para mim em pânico. — Estraguei tudo. Eu não sei como, mas
eu sabia que era ruim.
— É uma longa história.
Meu corpo caiu tão drasticamente que Stefan tinha que
saltar para cima e me firmar. Ele me ajudou para fora do
banco, declarando o fim do meu trabalho para o dia. Vivian se
ofereceu para me levar para casa, depois disso. Todos eles
poderiam ver que, a minha conversa com Cinder e sua oficial
rejeição, me deixou exausta.
Capítulo
Quinze

Quando Vivian me deixou em casa era apenas um pouco


depois das quatro, por isso fiquei surpresa ao ouvir a voz
jovial do meu pai vindo da cozinha. — Isso não é engraçado!
— Declarou ele, mas ele estava rindo quando disse isso.
Em resposta, ouvi tanto Anastásia e Juliette voar em
estrondosos risos. O clima era leve e alegre. A princípio isso
me fez sorrir, como faria qualquer um, porque bom humor é
geralmente contagioso, mas o sorriso desvaneceu-se
rapidamente quando eu percebi que não tinha ouvido nenhum
deles parecer tão natural, desde o dia que cheguei. Eles
estavam se divertindo como uma família feliz faria. Era
obviamente um tom familiar para eles, também, provocando,
brincando entre si e desfrutando a presença um do outro. Era
assim agora, porque eu não estava lá. Juliette estava certa. Eu
estava arruinando sua família.
Eu estava congelada na porta, incapaz de caminhar para a
cozinha e fazer a minha presença conhecida. Eu não queria ser
a pedra no sapato de todos, não queria ser o triturador de
humor. Eu não queria estragar essa família. Anastásia a parte,
eles não eram pessoas más. Eles mereciam ser felizes. No
segundo em que eles percebessem que eu estava em casa, tudo
o lúdico iria parar. Esse espesso, pesado manto de
constrangimento que volta a pairar sobre todos nós novamente,
como o inevitável destino.
Eu decidi não ir. Eu não tenho para onde ir, mas eu percebi
que eu poderia pelo menos fazer minha lição de casa na
varanda da frente ou algo por um tempo e dar-lhes uma pausa
de mim. Eles, obviamente, necessitavam.
Antes que eu pudesse fazer a minha fuga, Jennifer veio ao
virar da esquina e me viu. Seus olhos brilharam, e ela levou
alguns segundos para colocar um sorriso em seu rosto. — Já
voltou da casa de sua amiga?
— Surgiu uma coisa.
— Tudo está certo?
— Sim, está tudo bem.
Ela hesitou, mas não perguntou nada.
— Eu posso sair de novo se você quer que eu…
Jennifer se encolheu quando minhas palavras saíram. — O
quê?
Eu apontei um polegar sobre meu ombro na porta da frente.
— Se você quer que eu fique afastada por um tempo, dê a
vocês algum tempo, eu posso fazer minha lição de casa na
varanda ou algo assim.
Ela realmente parecia em conflito por um momento antes de
balançar a cabeça. — Por que você iria dizer algo tão ridículo?
Ela suspirou quando eu levantei uma sobrancelha, e me
chamou para fora. — Eu sinto muito, Ella. Não é você. Eu
odeio ver Anastásia tendo um momento tão difícil. Ela tem
sido uma garota diferente desde que você chegou aqui.
Jennifer soou como se ela estivesse pedindo a minha
simpatia, mas Ana estava sendo um bebê. Todos na casa
estavam lutando com esse arranjo. Ana precisaria superar isso,
apenas como o resto de nós estava fazendo.
— Eu não tento antagonizar.
Jennifer soltou um suspiro e sentou-se no banco da porta da
frente. Ela me surpreendeu quando ela deu um tapinha no
espaço ao lado dela. Cautelosamente, sentei-me ao lado dela e
esperei que ela falasse. — Meu ex não era um homem bom.
Ele era abusivo para as meninas e para mim. Eu conheci Rich
quando ele estava fazendo algum trabalho pró-bono em
Boston, para um abrigo para mulheres agredidas onde eu
estava vivendo com as meninas, me escondendo na verdade.
Esta notícia foi surpreendente. Todos esses anos eu nunca
tinha tido uma ideia de como meu pai conheceu Jennifer. A
forma como a minha mãe falou sobre ela, eu sempre achei que
ela era garçonete no Hooters ou algo assim.
Mas a história soava muito como o meu pai era. Ele estava
sempre tentando ser o herói, sempre salvando alguém. Ele era
tão inteligente e obteve as melhores notas em uma das
melhores escolas de direito no país. Ele poderia ter sido um
incrível advogado corporativo, altamente remunerado, mas ele
sempre quis ajudar as pessoas. Ele era um defensor público
antes que ele conseguisse seu emprego como um promotor
público indicado pelo Estado. Ouvindo a história de Jennifer,
eu poderia finalmente ver por que eles estavam juntos. Ele era
seu cavaleiro de armadura brilhante e ela era sua bela donzela
em perigo.

Papai era um moderno Hércules e isso só fez o seu


abandono doer muito mais. Eu sempre quis saber como um
herói, que passou muito tempo ajudando os outros, poderia ser
o vilão da minha história.
Como poderia um homem como esse, simplesmente ir
embora, deixando Mama e eu por nossa conta?
— Rich mergulhou em nossas vidas como um anjo da
guarda,— disse Jennifer, puxando-me dos meus pensamentos.
— Ele nos salvou e todos nós nos apaixonamos por ele. Ana,
especialmente, tem crescido muito perto dele. Ela sempre foi a
garotinha do papai. Eu acho que ela tem medo que você vai
levar seu pai para longe dela.
— Eu não acho que ela tem que se preocupar com isso,—
eu murmurei, puxando-me para os meus pés. Eu não queria
ouvir mais nada disso. Era sal em minhas feridas. Ele havia
escolhido jogar o herói e ser o melhor pai do mundo todo. Ele
tinha escolhido fazer isso por pessoas que não eram da família.
Eu tive que engolir uma sensação de mal estar no estômago.
Jennifer levantou-se comigo e pousou uma mão no meu
braço. — Não, ela não precisa,— ela concordou. — Rich tem
espaço em seu coração para vocês duas, mas Ana não sabe
disso ainda.
Eu duvidava disso, também.
— Sinto muito que ela tem sido difícil para você Ella e nós
estamos colocando um fim a isso, mas você poderia pelo
menos tentar ser gentil com ela ou falar com ela algumas
vezes?
Isso me deixou com raiva e me puxou para fora de seu
aperto. — Eu posso me defender quando ela me obriga a
passar por essas coisas, mas eu nunca faço nada.
— Você nunca é amigável, também. — Eu congelei chocada
com a franqueza. O rosto de Jennifer suavizou em algo
desesperado. — Eu sei que ela não merece isso, mas entre as
duas, você vai ter que ser a pessoa maior e ser gentil em
primeiro lugar. Eu odeio admitir isso, mas pelo que eu vi de
você, você é a pessoa mais forte a esse respeito. — Ela me deu
um sorriso aguado que foi igualmente triste e orgulhoso e,
possivelmente, até mesmo um pouco de ciúmes. — Você é
igualzinha ao seu pai, do jeito dele.
Eu não tinha ideia do que dizer a isso. Eu nem sabia como
eu me sentia sobre isso. Eu gosto de ser comparada com o meu
pai, mesmo que os elogios eram dados com um grão de sal
relutante?
Sentei-me de volta novamente. Toda essa conversa me
pegou de surpresa e eu precisava de um minuto para me
recuperar. Eu acho que Jennifer podia ver isso, porque ela
bateu no meu ombro e foi se juntar a sua família depois de
dizer: — Quando estiver pronta, todo mundo está na cozinha
tentando decidir nossos planos para o jantar. Noite especial
hoje à noite, por isso estamos comemorando. É melhor você
não esperar muito tempo, se você gostaria de ter uma palavra
sobre o assunto.
Meu coração afundou. Depois dessa conversa e o que
aconteceu com Cinder mais cedo, eu não acho que eu poderia
ter outro jantar de família como o último. Eu estava tentando
descobrir se a desculpa de cãibras iria trabalhar nesta casa
quando cheguei à cozinha.
Como esperado, os rostos das meninas caíram e o riso parou
imediatamente. Meu pai olhou surpreso, mas vendo-me não
matou seu humor. Sua voz ficou picada, com os olhos
brilhantes. — Você está em casa cedo.
— Então, você também.
— Tribunal encerrado. Eu decidi tomar o resto do dia de
folga para comemorar.
— Acho que o caso terminou bem?
Meu pai estufou o peito, e seu sorriso se abriu em um
sorriso largo. — Nós pegamos o bastardo.
Eu consegui um sorriso para ele. Ele era pequeno, mas pelo
menos ele foi sincero. — Estou feliz.
Meu pai tinha estado sobre este caso em particular desde
antes do meu acidente, e sua equipe tinha lutado, graças ao
meu pai ter que gastar tanto tempo em Boston comigo. Eu
estava realmente aliviada que ele ganhou seu caso, não apenas
porque ele tinha perseguido um homem acusado de sequestro e
morte de três meninas.
— Então, querida, nós estamos indo jantar para comemorar,
e nós estamos tendo alguns problemas em concordar.
— Providence— Juliette insistiu.
— Não,— Anastásia gemeu. Acho que foi a primeira vez
que eu já tinha concordado com ela sobre qualquer coisa. —
Fizemos sushi última vez.
— E italiano? — Papai sugeriu.
— Não! — Jennifer gritou, horrorizada. — Em nenhum
lugar com fatias de pão e molho branco de creme antes de
dormir! Você vai me matar!
Risada do meu pai me fez pensar que ele só tinha sugerido a
maior fraqueza de comida para Jennifer, apenas para irritá-la.
— Eu quero mexicano,— disse Anastásia. — Nós nunca
comemos comida mexicana.
— Isso é porque não existem quaisquer lugares mexicanos
decentes por aqui,— argumentou Juliette.
— Em Gloria,— Anastásia respondeu, como se tudo tivesse
sido resolvido.
— Eu disse por aqui. Gloria está em Culver City. Nos
levaria duas horas para chegar lá, a esta hora do dia.
— Mexicano soa bem,— Pai entrou na conversa,
esfregando a barriga. Ele sorriu para mim em uma espécie de
conspiração. — Embora nenhum restaurante vá se comparar
com a culinária da sua mãe.
Meu sangue gelou nas veias com a menção de Mama. Papai
não parecia perceber que ele tinha me dado um ataque
cardíaco. Ele estava sorrindo para Anastásia e Juliette. — A
mãe de Ella era a mais incrível cozinheira do mundo. Se havia
uma coisa que eu perdi, depois que nos separamos, foram as
enchiladas de pimentão verde da Lucinda.
Ele pode muito bem ter empurrado uma faca de açougueiro
em meu coração. Na verdade, isso provavelmente teria doido
menos e curado mais rápido. Eu respirei dolorosamente ao
mesmo tempo que Anastásia riu e disse:
— Oh, que amor!
— Papai! — Juliette assobiou.
Levou um minuto para entender. Eu o assisti retroceder
sobre a conversa, em sua cabeça, e então todo o sangue
drenado de seu rosto. — Ah não! Querida, não! Isso saiu
errado. Claro que eu também senti sua falta.
Isso tinha que ser uma mentira. Ele não poderia ter pensado
em mim todos esses anos, porque até agora, comigo bem aqui,
eu ainda tinha sido nada, mas uma ideia tardia. Juliette teve
que soletrar para ele.
Eu estava prestes a correr para o meu quarto, mas Dra.
Regras me condenaria e quando eu girei em torno, meus olhos
encontraram os de Juliette, eu não podia sair. Juliette não
estava fazendo qualquer tipo de significado em alguma coisa,
ela se sentia mal por mim, mas apenas vê-la me fez lembrar o
que ela disse. Eu não poderia fugir.
Depois de uma respiração profunda, eu virei para trás e me
forcei a falar. Eu não poderia dizer que estava tudo bem ou que
eu estava bem, porque ninguém teria ouvido as mentiras em
minha boca, então eu escolhi mudar completamente de
assunto. — Você gostaria que eu fizesse enchiladas para você?
O coelhinho da Páscoa poderia descer pela chaminé, armado
com metralhadora e abrir fogo contra a casa e todo mundo
teria estado menos surpreso. Papai puxou sua orelha como se
estivesse brincando com ele. — O quê?
— Eu costumava realmente gostar de cozinhar,— expliquei
sem jeito. — Mamãe me ensinou como fazer sua enchiladas
suizas, quando eu tinha doze anos. Se você gostaria de tê-las
para o jantar, eu posso fazê-las.
Toda a família ainda estava tão chocada que me senti
estúpida por fazer a oferta. Meu rosto esquentou de
constrangimento e eu rapidamente tentei recuar. — Quero
dizer, se vocês querem sair para jantar tudo bem. Faça o que
vocês quiserem. Nós provavelmente não temos tudo o que
precisamos para fazê-las, de qualquer maneira. Eu estou indo
me trocar.
Minha retração colocou meu pai e Jennifer em movimento
novamente. — Eu posso ir até a loja e pegar o que você
precisa,— Jennifer deixou escapar no segundo que me movi
para sair. Seu corpo inteiro estava tremendo, como se ela
estivesse tendo um momento difícil para conter sua excitação.
— O mercado do Joe é à direita, descendo a colina.
Olhei para o meu pai, esperando por ele para tomar a
decisão. Ele mordeu o lábio e hesitou por um segundo, mas
depois calmamente perguntou: — Você iria realmente fazer
enchiladas de sua mãe para nós?
Eu balancei a cabeça, mas, em seguida, olhei para a minha
mão direita e dei de ombros. — Quero dizer, um de vocês teria
que fazer a maior parte do cozimento, eu não serei capaz de
fazer muito de cortar ou qualquer coisa, mas eu posso fazer
com você.
Meu pai começou a sorrir, em seguida, puxou para trás suas
emoções em uma máscara neutra. Talvez ele estivesse com
medo de fazer um grande negócio disso e que eu mudaria de
ideia. — Eu gostaria disso,— disse ele, engolindo muito
difícil. — Eu realmente gostaria muito disso.
Vinte minutos depois, meu pai e eu estávamos de pé na
cozinha vestindo aventais rosa e branco combinando. Papai
tinha puxado todos os ingredientes diferentes para fora dos
sacos de supermercado e espalhado na bancada, como se
estivéssemos estrelando em nosso próprio show para o Food
Network. Ele estava segurando uma colher de sopa e uma
colher de sobremesa da gaveta de utensílio com uma carranca
gigante em seu rosto, quando Jennifer ergueu o telefone e
disse: — Sorria!
Papai deu um passo ao meu lado, estufou o peito revestido
de avental, e sorriu com orgulho. Sorri também, mas
provavelmente parecia muito nervosa, porque esta foi a
primeira imagem que tinha tomado em conjunto em mais de
nove anos.
Fiquei surpresa, após Jennifer tirar a foto, o quanto eu
queria uma cópia da mesma. Eu me senti muito tímida para
pedir a Jennifer que me enviasse, porém, esperava que ela
pudesse fazê-lo sem me dizer nada.
Um segundo depois, o meu pai foi de volta olhar para as
suas colheres. — Como você sabe que uma delas é uma colher
de chá?
Eu atirei um olhar para Jennifer e ela riu. — Não! Tenho
medo que ele não está brincando.
— A chave para boas enchiladas suizas,— eu disse,
tomando as colheres do meu pai e colocando uma cebola e
faca em suas mãos em vez disso, — Para obter um molho no
ponto, é preciso um equilíbrio delicado do creme, razão pela
qual eu irei medir os ingredientes e você vai pica-los. Se bem
me lembro, a única coisa que você não precisa cozinhar é
Froot Loops{21}.
Papai resignou-se ao seu lugar na tábua de cortar e suspirou.
— Sim, mas você tem que admitir que eu domino o prato.
— Ele ainda faz. — Juliette se estatelou em uma banqueta e
checou a cena na cozinha com nenhuma pequena quantia de
curiosidade. Ela sorriu para o meu pai. — Ele só tem que
esconder as evidências da mamãe. Ela não permite cereal
‘açúcar’ em casa, então ele escondeu seus Froot Loops e
Lucky Charms{22} no armário, acima do secador na lavanderia e
só os come quando ela não está.
— O que? — Papai engasgou. — Eu não! Como é que você
sabe sobre isso?
Juliette e eu encontramos os olhos uma na outra e ambas
desatamos a rir. Jennifer beijou o beicinho no rosto do meu
pai. — Nós todos sabemos sobre isso, querido,— ela brincou,
juntando-se a Juliette e eu em nossos acessos de riso.
Logo, o pai também estava rindo. Ele riu tanto que as
lágrimas escorriam pelo seu rosto, poderia ter sido de tanto rir
e não apenas da cebola que ele estava cortando.
O clima ficou claro quando nós continuamos a cozinhar e,
eventualmente, Juliette perguntou o que ela poderia fazer para
ajudar. Ela se apavorou com a ideia de cozinhar o frango ou
fritar as tortilhas, aparentemente tão cautelosa com o fogão
como o meu pai, assim eu a coloquei para ralar o queijo.
Jennifer sentou no balcão o tempo todo, mas recusou-se a
levantar um dedo, algo sobre ter muitos cozinheiros na
cozinha. Ela estava claramente apreciando ter alguém fazendo
o trabalho uma vez, embora ela tenha olhado para a manteiga,
creme de leite e queijo com um tremor que me fez rir.
O jantar acabou por ser um sucesso. A comida ficou ótima e
a atmosfera era mais leve como jamais tinha sido desde que eu
tinha ido para a casa dos Coleman. Mesmo Anastásia comeu
seu jantar sem atirar um único insulto em minha direção.
Meu pai raspou o último pedaço de seu prato, em seguida,
recostou-se na cadeira e gemeu. — Ellamara, você é incrível.
Acho que esses foram ainda melhor do que o da sua mãe.
Algo dentro de mim aqueceu no primeiro elogio genuíno
que eu recebi de meu pai. Ainda assim, eu tive de sacudir a
minha cabeça. — Nem mesmo perto. Mas abuela{23} me
mostrou o segredo para sua sopaipilla antes de morrer, e
aqueles que eu consegui cozinhar melhor do que Mama.
Talvez neste Natal pudéssemos… — Minha voz sumiu quando
eu fui atingida com uma pontada de dor incapacitante. Eu
trouxe o meu guardanapo de pano, um verdadeiro conforto
para os olhos e murmurei um pedido de desculpas estranho.
— O que há de errado com ela? — Anastásia murmurou.
Juliette tentou desviar a pergunta de Anastásia,
perguntando: — O que é um sopaipilla?
Papai saltou sobre o bote salva-vidas que Juliette jogou. —
A forma como sua mãe costumava fazê-los, eles eram como
rosquinhas de abóbora frita, mergulhadas em xarope de
bordo{24}. Eles eram deliciosos. Estávamos habituados a tê-los
no café de todas as manhãs de Natal com chocolate quente.
Ella era sempre mais animada com as sopaipillas do que com
seus presentes.
— Era tradição,— eu sussurrei, caindo em uma vida inteira
de memórias. — O ano passado foi o primeiro Natal que eu
senti falta deles.
— Bem, você vai ter que comer duas vezes mais neste Natal
para compensar isso,— disse meu pai.
Minha cabeça se levantou e me senti ridícula quando meus
olhos estavam uma piscina de lágrimas. — Realmente?
Poderíamos fazê-los no Natal? Isso seria ótimo?
— Claro.
— Sim, isso definitivamente soa como uma tradição que eu
poderia seguir,— disse Juliette. — Normalmente, todos nós
comemos no café da manhã de Natal chocolate, é o que
queremos encontrar em nossas meias.
O clima foi salvo, mas ainda parecia frágil, de alguma
forma. Ele provavelmente tinha algo a ver com a forma como
Anastásia estava carrancuda em seu lugar. Todos nós notamos
e estávamos tentando o nosso melhor para ignorá-la,
esperando que ela não fosse explodir.
Papai tentou se mover ao longo da conversa. — Abuela
realmente lhe disse qual o segredo?
Eu sorri. — Você tem que usar rapadura em vez de açúcar
mascavo. É difícil de encontrar, mas faz toda a diferença no
mundo. Eu nunca disse a mama o que era. Abuela me fez jurar
com o dedo mindinho. Era o nosso segredo. Deixei mama
louca.
Papai riu e eu sorri também. Era tão surreal estar sentada
aqui relembrando com ele sobre mama.
Quando ela morreu, eu senti como se eu não pudesse falar
sobre ela, porque eu não tinha ninguém para falar. Não havia
mais ninguém na minha vida que a conhecia. Mas o pai tinha
sido casado com ela há mais de oito anos. Fazia tanto tempo
que eu quase não fiz a conexão mental que ele era o homem de
minhas memórias de infância.
— Abuela… — disse Juliette, puxando-me do meu
devaneio. — Isso significa avó, certo? Ela é a mãe de sua
mãe?
Eu balancei a cabeça.
— Será que ela vive em Boston?
Eu soltei uma respiração pesada. — Ela morreu quando eu
tinha quatorze anos. Granpapa morreu quando eu tinha onze
anos e mama era filha única, por isso era apenas nós duas,
depois que abuela se foi. Eu não tive qualquer outra família.
— Sim, você teve,— Anastásia retrucou. — Você teve um
pai.
Meu pai tinha tentado alcançar o copo e perdeu, derramando
o vinho em toda a toalha de mesa. Anastásia estava muito
ocupada olhando para mim e não notou. — Você não é uma
órfã, Ella.
— Eu nunca disse que eu era,— eu murmurei.
O bom humor foi oficialmente desaparecido. Não haveria
recuperação dele. A única questão era exatamente o quão ruim
o próximo comboio ia vir? Você nunca sabia com Anastásia.
— Como é que você nunca nos disse sobre ela? —
Anastásia perguntou para o papai de repente. — Nós nem
sabíamos que ela existia até que a polícia o chamou, depois de
seu acidente.
Eu não sabia disso. Olhei para cima, para algum tipo de
confirmação. Meu pai não me olhava nos olhos, então eu olhei
para Juliette. Sua careta disse tudo o que eu precisava saber.
Anastásia estava dizendo a verdade. Ele nunca lhes disse que
tinha uma filha. Eu realmente tinha sido nada para ele.
Eu não sabia que eu estava chorando até que eu funguei e,
de repente, os olhos de todos estavam em mim. — Eu sabia
sobre você,— Jennifer sussurrou baixinho. — Ele costumava
me contar histórias sobre você quando começamos a namorar.
— Ele disse-lhe que ainda era casado quando você começou
a namorar? — Perguntei a questão sinceramente. Não porque
eu queria ferir os sentimentos de ninguém, e não porque eu
queria jogar seus erros em seus rostos, mas porque eu
precisava saber.
Jennifer deve ter visto o desespero em meu rosto, porque ela
fechou os olhos e balançou a cabeça. — Sim.
— Como é que você nunca nos disse sobre ela? —
Anastásia exigiu novamente. — Se você a amava muito e tinha
todas essas memórias divertidas, qualquer um pensaria que
você teria mencionado ela de vez em quando, ou mantido uma
foto dela aqui em algum lugar.
Meu pai não poderia vir com uma resposta para isso, então
Anastásia virou a raiva em mim. — Por que você nunca ligou
ou enviou suas fotos da escola ou alguma coisa?
— Ana,— Papai pediu.
Seu apelo não importava. Não para Anastásia e nem para
mim. Eu não preciso dele para lutar minhas batalhas por mim.
Eu estava tão doente e cansada de Ana torcer a faca em uma
ferida que era dolorosa o suficiente sem a sua ajuda. Sentei-me
reta o quanto meu corpo iria permitir meus ombros e a olhei
nos olhos.
— Eu mandei fotos, desenhos, cartas e cartas dizendo a ele
o quanto eu o amava e sentia falta dele e pedi-lhe para me
visitar por anos. Ele foi o único que nunca me escreveu de
volta ou telefonou. Para os primeiros anos, tudo o que tenho
foi o cartão de aniversário aleatório ou cartão de Natal, mas
mesmo aqueles pararam de chegar depois de um tempo, então
eu desisti. Só há um tanto de rejeição que uma menina pode
suportar antes que seu orgulho assuma.
Anastásia olhou para mim, mas não tinha uma resposta
sarcástica. Foi meu pai quem quebrou o silêncio. — Eu sinto
muito, baby.
Sua voz era quase inaudível. Fingi que não ouvi e olhei para
Jennifer. — Por favor, posso me retirar?
As lágrimas nos olhos de Jennifer escorriam pelo seu rosto
pálido quando ela balançou a cabeça.
A última coisa que ouvi antes de eu escapar para o meu
quarto era Juliette gritando: — Você está feliz agora, Ana?
Você arruinou tudo! — E, em seguida, pisando para cima.
Capítulo
Dezesseis

Eu quebrei a regra da Dra. Parish e me retirei para o meu


quarto, para me esconder. Houve várias batidas na minha porta
naquela noite, mas quando eu não respondi, as pessoas
entenderam o recado e me deixaram sozinha. Cinder era
aparentemente mais denso do que a minha família adotiva. Ele
chamou e quando eu não respondi, ele ligou novamente. E, em
seguida, novamente. Em seguida, ele ficou online e fez meu
computador apitar para mim com mensagens instantâneas
enquanto meu telefone continuava a tocar.
EllaTheRealHero: Desculpe, Cinder. Eu não estou com
vontade de ler esta noite.

Cinder458: Nós não temos que ler. Nós podemos apenas


falar, me liga?

EllaTheRealHero: Eu não posso. Não essa noite.

Cinder458: Isso é por causa de antes?

Eu olhei para a tela, com os dedos pairando sobre as teclas


para digitar a resposta, mas eu não tinha ideia do que dizer. Eu
não estava em posição para lidar com Cinder, no momento.
Este dia tinha me destruído completamente. Eu tinha tomado
um grande passo na tentativa de ser parte da família, hoje à
noite, com meu pai. Eu tinha oferecido um pedaço de mim
para eles, e por sua vez, abriu-se a tampa sobre todas as
memórias que eu tinha suprimido por anos.
Por um tempo, ele havia funcionado. Por alguns minutos, eu
tinha o meu pai de volta, o pai que me lembrava do meu
passado. A pergunta de Anastásia tinha levado embora de
novo. Ela abriu essas velhas feridas, enquanto eu estava no
meio de reviver as memórias felizes, por isso dói como um
novo corte. Normalmente eu iria deixar Cinder me animar,
mas nem sequer isso eu queria esta noite. Ele me rejeitou
demais esta tarde, assim como meu pai tinha todos esses anos
atrás.
Cinder458: Ella?

Cinder458: Eu sinto muito.

Cinder458: Ella, por favor, fale comigo. Deixe-me


explicar.

EllaTheRealHero: Você não precisa se explicar. Eu sou


aquela que deveria pedir desculpas. Eu não desculpei
Vivian por colocá-lo em uma posição como aquela. Eu
só a conheci um par de dias atrás. Nós não tivemos a
chance de falar sobre ‘Cinder’, não conversamos ainda.
Ela não sabe o que estava fazendo quando lhe pediu para
vir sexta-feira. Se eu soubesse que ela estava indo fazer
isso, eu a teria parado. Desculpe-me.

Cinder458: Você não tem nada que se desculpar. Eu


tenho Ella, não você. Eu sei como isso soa, mas é
verdade. Você sabe o quanto eu me preocupo com você,
certo? Você não tem ideia do quanto eu queria aceitar o
convite da sua amiga. Eu só…

Meu telefone tocou novamente, mas eu não peguei. Eu não


queria que ele me ouvisse chorar.
Cinder458: Por favor, podemos não fazer isso através
da Internet?

EllaTheRealHero: Fazer o quê?

Cinder458: Ter essa conversa.

EllaTheRealHero: Nós não temos que falar sobre


qualquer coisa. Eu entendo. Está tudo bem.

Ele me chamou de novo e eu ignorei novamente.


Cinder458: Não, você não entende. Não é que eu não
queira te conhecer. Eu só não posso. Minha vida é
realmente complicada. Eu não quero que você se
machuque por causa disso.
EllaTheRealHero: Você está dizendo que é porque você
tem uma ‘espécie de namorada’ que você odeia, mas
você não a pode deixar?

Cinder458: Isso é uma grande parte dele.

EllaTheRealHero: Mas Cinder, eu não me preocupo


com isso. Bem, quero dizer, é claro que eu me importo e
eu quero que você termine com ela, porque ela faz você
infeliz e você merece o melhor, e eu quero que você seja
feliz. Mas eu sei que você tem uma namorada. Isso não
iria me machucar. Eu não estou pedindo para namorar
você. Eu só acho que pode ser bom finalmente conhecer
o meu melhor amigo.

Cinder458: Mas não é só isso. Você é minha melhor


amiga, também e se nós nos encontramos, tudo mudaria.
Pode arruinar nosso relacionamento. Eu não estou pronto
para correr esse risco. Minha vida é muito louca agora e
eu preciso muito de você. Eu preciso de nossa amizade.
Você é a coisa mais importante para mim, agora. A única
coisa que me mantém ligado a terra. Eu não posso perdê-
la.

EllaTheRealHero: Você não vai me perder. As coisas


iriam mudar entre nós um pouco, eu tenho certeza, mas
ele só iria nos fazer melhores amigos. Não há nenhuma
maneira ou qualquer coisa que poderia arruinar a nossa
amizade. Nada poderia fazer isso.

Cinder458: Eu sei que você acha isso, mas você não


entende. Você é tão doce, Ella. Você ainda é tão jovem e
ingênua e meu estilo de vida é tão diferente do seu. Você
não poderia lidar com isso.

Certo, então foi um momento muito ruim para ter essa


conversa. Eu já estava emocional graças a Anastásia, e Cinder
poderia ser tão irritante. Perdi o controle e disquei o número
dele. Ele pegou quase que instantaneamente e parecia aliviado.
— Ei!
— Você está brincando comigo, certo? Você sabe como
arrogante que você se faz parecer, não é? Você tem o que,
vinte? Vinte e um?
Ok, ele parecia aliviado até que ele percebeu que eu o
chamei apenas para gritar com ele. — Não é arrogância. É
apenas a realidade. E eu tenho vinte e dois, FYI{25}.
— Oh, vinte e dois, desculpe-me. Você é tão velho e sábio.
Esses três anos e meio ou o que quer que você tenha a mais,
devem ser vitais se eu ainda sou tão jovem e ingênua em
relação a você.
— Eu não quis dizer isso como um insulto,— disse ele com
um suspiro cansado. — Você não é imatura, inferno, você é
muito mais madura do que eu sou, de longe, mas você é tão
inocente em alguns aspectos. Você seria como um peixe
dourado em um tanque de tubarões no meu mundo. Você iria
ser devorada viva. Pessoas como minha própria maldita
namorada iria rasgá-la em pedaços. Eu mal posso cuidar da
cadela e eu sou um mestre no jogo.
— Foda-se, Cinder! Eu não sou algum tipo de bebê. Eu já
passei por mais do que você pode imaginar e eu tenho
sobrevivido até agora.
Eu estava até agora, com os pés descalços e passeando em
meu quarto. Isso estava machucando os meus dedos do pé,
então eu enfrentei o risco de terremotos e sai para a minha
varanda. Eu me inclinei contra a grade, aliviando a maior parte
do peso dos meus pés, esperando a vista e ar fresco me
acalmar.
A linha ficou em silêncio por um longo tempo e, em
seguida, Cinder disse calmamente: — Isso é diferente, Ella. Eu
sei que você já passou por muita coisa. E você está certa, eu
não tenho ideia como deve ter sido para você. Tenho certeza
de que você é mais resistente do que a maioria das pessoas em
alguns aspectos, mas confia em mim, se eu te chupar em
minhas besteiras, iria te esmagar. E se nós nos encontramos
em pessoa, você teria sido sugada. Seria inevitável.
— Obrigada pela fé, idiota.
Cinder suspirou novamente. — Sinto muito. Eu sei que você
está frustrada. Eu sei que eu pareço um idiota, mas eu juro
para você, se houvesse alguma maneira que eu pudesse fazer
funcionar, eu o faria. Minha vida é muito louca e eu realmente
não tenho qualquer controle sobre ela. Você iria se machucar e
você iria acabar me odiando por isso. Você vai ter que apenas
confiar em mim. Você pode deixar que o que temos agora seja
suficiente? Por favor?
Ugh. Ele parecia genuinamente desesperado. Não havia
nenhuma maneira que eu fosse capaz de dizer não a ele, mas
eu não podia simplesmente ceder e deixá-lo ter a sua maneira,
também. — Ok. Tanto faz. Tenho que ir.
Eu desliguei na cara dele.
Ele me ligou de volta.
Eu desliguei meu celular.
Até o momento eu voltei para dentro e subi na cama, Cinder
tinha voltado às mensagens instantâneas.
Cinder458: Vamos lá, Ella. Não seja assim.

Cinder458: Eu não estou tentando ser um idiota.

Cinder458: Olá???

Cinder458: Ella!

Cinder458: Pare de me ignorar, mulher!!!

Eu deveria ter me desconectado e colocado o meu laptop a


distância. Em vez disso, eu respondi.
EllaTheRealHero: Eu sinto muito, mas eu estou tão
chateada com você agora.

Cinder458: Eu sei, me desculpe. Eu entendo se você


precisar de algum tempo. Só não fique louca para
sempre, certo? Eu não quero perder muito de você. Eu
preciso de você, Ellamara. Eu preciso dessa amizade.

Eu li sua mensagem e puxei meu travesseiro sobre o meu


rosto para que eu pudesse gritar para ele.
EllaTheRealHero: Ugh! Eu odeio como você faz isso!

Cinder458: Fazer o quê?

EllaTheRealHero: Faça-me te amar mesmo quando eu


estou tão brava com você!!!!!

Cinder458: Eu também te amo, Ella. Mais do que


qualquer pessoa no mundo inteiro. Eu lamento que você
está com raiva de mim.
EllaTheRealHero: Eu tenho certeza que eu vou superar
isso. Eventualmente.

Cinder458: Eu sei. É por isso que eu não estou


preocupado. Vá ter sua perda de bom senso feminino e
me chame quando você me amar de novo.

EllaTheRealHero: Eu odeio você.

Cinder458: Não, você não me odeia. Boa noite, Ella.

EllaTheRealHero: Boa noite, Cinder.

***
Fiquei arrasada que Cinder não queria que nos
conhecessemos, mas de uma forma que eu também estava
aliviada, após a nossa conversa eu já não tinha que insistir
sobre a possibilidade. Foi bom para entender o que ele estava
pensando, por que ele nunca pediu para se encontrar.
Seu raciocínio era estúpido, mas pelo menos ele não estava
me rejeitando. Na verdade, não. Ele estava com medo de me
perder.
Que pensasse sobre isso, foi realmente doce. E também, era
exatamente por isso que eu estava com medo de encontrá-lo
todo esse tempo. Se eu não entendesse sua hesitação eu estaria
sendo a maior hipócrita do mundo.
A outra coisa na minha conversa com Cinder foi que fez me
livrar daquela pequena esperança de que algum dia teríamos
um felizes para sempre. Eu disse a mim mesma o tempo todo
que Cinder e eu nunca seríamos nada mais do que amigos.
Lembrei-me cada vez que eu falei com ele, que ele namorou
outras meninas o tempo todo. Mas, claro, como qualquer
garota normal na minha posição faria, eu esperava que ele
secretamente me amasse, e prendi a respiração à espera do dia
em que ele finalmente iria admitir isso. Agora eu poderia parar
de esperar e começar a tentar passar por cima disso. Pelo
menos, é isso que eu disse a mim mesma que eu faria quando
eu finalmente conhecesse Rob Loxley, depois da escola, no dia
seguinte.
Vivian tinha voltado para casa comigo, porque ela nunca
teve um amigo que vivia nas colinas antes e ela queria ver a
casa. Ela vibrou quando eu mostrei-lhe as janelas de controle
remoto.
— Ridículo, certo? A vista é incrível, apesar de tudo.
— Whoa! — Vivian invadiu completamente o meu pátio e
virou-se. — Isso é real?
Eu ri com a reação dela. Eu não podia culpá-la. Minha
varanda privada era grande e tinha uma vista até o mar. Não
era tão grande quanto o deck fora da sala de família, onde a
lareira e ofurô situavam ao lado do penhasco, mas havia
espaço para uma mesa de pátio redonda com quatro cadeiras e
uma rede.
— Isso é incrível! Eu viveria aqui o tempo todo.
— Eu não fico muito ai fora,— eu admiti, rindo. — Com a
minha sorte, nós teríamos um terremoto e eu despencaria para
baixo do penhasco.
Vivian franziu a testa para mim quando ela jogou a bolsa
sobre a mesa do pátio pequeno. — Isso é um crime.
Ela ergueu o rosto para o sol e inspirou profundo. A visão
me fez sorrir. Se havia uma coisa que eu amava sobre o sul da
Califórnia, era o clima. Pode ser novembro, mas ainda estava
uns vinte e dois graus lá fora. Seria estranho ter Natal sem
neve, mas eu não tinha dúvida de que eu me acostumaria com
isso rapidamente e sem queixa.
— Traga sua bunda aqui fora, Ella.
Sentei-me na cadeira em frente a ela, mas eu deixei as
portas francesas bem abertas para que eu pudesse mergulhar
para a segurança ao primeiro sinal de qualquer tremor.
Estávamos apenas puxando o nosso dever de casa quando
Juliette invadiu meu quarto e atirou-se na rede. — O que foi?
— Ela retrucou, encarando com toda sua força para dentro da
casa, em direção a minha porta aberta do quarto.
Vivian e eu seguimos seu olhar. Não podíamos ver nada,
mas podíamos ouvir as risadas de várias pessoas diferentes na
cozinha. Como era bastante comum, um punhado de fanáticos
das gêmeas as tinha seguido para casa, hoje. Voz áspera de
Anastásia destacou-se acima dos outros. Eu não conseguia
entender o que ela estava dizendo, mas a raiva em seu tom de
voz era inconfundível.
— Você acabou de chegar, nos envolvendo em algum tipo
de guerra entre irmãs, que sem dúvida vai nos comer vivas
com danos colaterais? — Perguntou Vivian para Juliette.
Juliette bufou. — Eu não me importo. Eu não estou saindo
com ela enquanto ela está sendo uma idiota. Ela está chateada
comigo porque ela foi mastigada depois do que aconteceu no
jantar, na noite passada. Como se algo disso fosse minha
culpa!
— Bem,— eu disse, voltando-me para a minha lição de
trigonometria, — você está convidada a permanecer, desde
que não temos de ouvir a qualquer drama.
Juliette olhou para mim surpresa, e eu consegui um sorriso.
— Vivian e eu estávamos discutindo a possibilidade de uma
maratona Brian Oliver esta sexta-feira, em sua casa. Essa nova
comédia saiu em DVD na semana passada, é o filme ‘V is for
Virgin’ que está no Netflix, agora. Eu não vi, mas é
supostamente divertido.
— Estou dentro,— disse Juliette sem hesitação, assim como
Dylan Traxler, a mais recente aventura de Juliette, tornou-se a
nossa próxima visita surpresa.
Dylan era lindo e popular, mas ele se mostrava muito
indiferente a Juliette, que o escolheu para sair. Ele viu o
espaço vazio na rede ao lado dela e caiu como uma mosca em
papel pegajoso. — O que estamos dentro? — Perguntou ele
enquanto se colocava a vontade e puxou Juliette com ele.
— Noite de cinema na casa de Vivian, nesta sexta-feira. —
Ela olhou para Vivian para aprovação. — Ou isso é uma coisa
só de garotas?
— Misto está bem. — respondeu Vivian, fazendo um
trabalho decente de mascarar seu choque. — Mas é pequena.
Minha casa é pequena.
— Legal,— disse Dylan. Eu entendi isso para dizer que ele
estava ‘dentro’ também.
Com outro olhar compartilhado entre Vivian e eu,
conseguimos agir como se tivéssemos programas envolvendo
pessoas populares o tempo todo. Antes que qualquer uma de
nós tivesse a chance de descobrir o que dizer, o amigo de
Dylan, Lucas, entrou no meu quarto.
— Estou interrompendo algo, hein, Jules? — Ele perguntou
e se juntou a nós no pátio. — Pessoalmente, eu estava
esperando por uma briga das gêmeas Coleman, mas eu vou
preferir um pouco de amor da meia-irmã indescritível.
Ele puxou a cadeira para a minha direita e sentou se.
Sorrindo, ele acenou para mim em uma espécie ‘então como
é?’ extremamente de forma gentil. — Beleza, Ella? Dizem por
aí que você é uma garota muito legal. O que há com o estado
solitário?
Decidi esquecer o fato de que Lucas usou o fato de eu
mancar para me zombar quando cheguei à escola.
— Bem, você sabe, ter um fã-clube é uma espécie de
aborrecimento, por isso…
Luke riu e, então, seus olhos avistaram algo na casa atrás de
mim e ele levantou a mão. — Ei, Rob! A festa é aqui fora
hoje, irmão.
Eu tive apenas o tempo suficiente para compartilhar outro
olhar com Vivian, que parecia tão perplexa com nosso tempo
de estudo sequestrado como eu estava, antes de Rob Loxley
sair para o meu pátio. Ele tinha uma mão no bolso e a outra
segurando uma bebida energética.
Eu não sabia bem o que fazer com Rob. Ele não era gostoso
de abalar a terra como os caras de Juliette e Anastásia
namoravam, mas era decente. Ele era um pouco baixo para um
cara, apenas um pouco mais alto do que eu, uns cinco ou seis
centímetros a mais. Mas desde que eu nunca iria usar salto alto
de novo, eu não vi sua altura como um problema. Ele tinha o
cabelo castanho muito curto, olhos verdes, e uma tez clara. Ele
ainda estava em seu uniforme escolar, mas ele afrouxou a
gravata e colocou a camisa para fora da calça . Parecia bom.
Ele usava casual como se ele tivesse inventado o conceito.
Eu tinha ouvido falar dele como tranquilo e agradável, mas
havia algo sobre ele que sugeria que essas duas coisas não se
equiparavam a tímido. Talvez fosse o nariz que estava um
pouco torto em seu rosto, como se tivesse quebrado uma vez
ou os braços que ao apoiar suas veias saltaram. O cara era
baixo, mas eu aposto que ele era malhado por baixo da camisa.
Fortinho parecia uma descrição precisa. Ele também tinha um
ar de confiança que não poderia ser falsificado. Ele estava
confortável com ele mesmo. Ele poderia ser tranquilo e
agradável, mas ele era muito intimidante ao mesmo tempo.
Rob sentou-se ao meu lado e, em seguida, passou a
trabalhar saboreando sua bebida energética. Ele deixou seus
olhos vagarem sobre a sacada da entrada para a cidade abaixo
de nós, claramente apreciando a vista. Ele não falou e isso me
deixou perturbada. Eu não tinha ideia do que fazer ou dizer.
Quando eu olhei para Vivian pedindo ajuda, Luke riu. — Meu
camarada Rob é um homem de poucas palavras, mas o cara é
incrivelmente sério. Ele é um jogador de futebol superstar. Ele
é capitão da equipe da nossa escola e ele está sendo recrutado
por uma tonelada de faculdades.
Rob revirou os olhos para a fanfarronice de Lucas, mas os
cantos de seus lábios tremeram quando ele lutou contra um
sorriso.
Ele era modesto, mas ainda amava a atenção. Eu gostava
disso.
— Então, como está tudo, Ella? — Luke continuou quando
nem Rob nem eu falamos nada. — Você está namorando
alguém? Jules pensou que poderia ter um cara.
Eu não podia ter certeza, porque eu estava muito ocupada
corando, mas acho que Rob chutou Luke por baixo da mesa.
— Não há nenhum cara. — Eu não sabia se eu estava mais
embaraçada com a pergunta, ou a resposta para isso, ou o fato
de que meu rosto estava em chamas e que todos pudessem vê-
lo.
— E quanto a Cinder? — Perguntou Juliette repente.
Eu não tinha pensado que ela estava prestando atenção à
nossa conversa, mas seus olhos estavam em mim agora,
juntamente com todos os outros. Muito obrigado, Juliette. Se
tivesse sido Ana perguntando, eu saberia que ela trouxe Cinder
para me torturar, mas Juliette pareceu honestamente confusa.
— Cinder é apenas um amigo,— eu murmurei. — Nós
nunca sequer nos conhecemos pessoalmente. Ele é apenas
alguém que me conhece do meu blog.
Vivian, como uma amiga impressionante, tentou tirar a
atenção de cima de mim. — Nós estamos tendo uma noite de
cinema na minha casa, sexta à noite, Luke. — Eu respondi ao
seu sorriso simpático com um olhar agradecido. Ela piscou
para mim e depois sorriu para Lucas. — Nada de especial,
apenas um punhado de pessoas, alguns lanches e o mais
recente filme de Brian Oliver. Mas se você e Rob quiserem
vir…?
Agora foi a minha vez de chutar minha amiga sob a mesa.
Eu tentei levar de volta o meu olhar agradecido, olhando
furiosa para ela, e ela piscou novamente. Eu arrisquei um olhar
para Rob, horrorizada de que ele poderia tê-la visto piscando e
achado que eu tinha pedido a ela para dizer alguma coisa. Ele
encontrou meu olhar e me deslizou um sorriso irônico. — Só
eu acho ou estão querendo nos unir?
Eu não tinha certeza se ele pediu para fazerem isso ou se
seus amigos tinham notado seu interesse por mim, mas de
qualquer forma ele estava esperando por mim, para responder-
lhe. — Parece que sim,— eu murmurei, sentindo meu rosto
alcançar novos níveis de vermelho.
Os olhos de Rob nunca desviaram do meu rosto quando ele
tomou outro gole de sua bebida. Depois de um momento, ele
disse: — Eu estou bem com isso.
Mais uma vez, eu não tinha ideia de como responder… a
menos que meus olhos dobrando em tamanho contavam como
uma resposta.
— Seria legal se eu viesse a sua festa na sexta-feira?
Corei novamente. — Não é realmente uma festa. Apenas
um par de nós juntos para assistir filmes.
— Esse é meu tipo favorito de festas.
Ele não ia me deixar ignorar a pergunta. Eu respirei fundo,
desejando não perder a cabeça. Eu tentei parecer muito mais
relaxada do que eu me sentia quando eu encolhi os ombros. —
Então, eu acho que é melhor você vir.
Ele sorriu e iluminou seu rosto, fazendo-me perceber que
ele era mais bonito do que eu tinha lhe dado crédito.
— Bom. É um encontro.
Capítulo
Dezessete

Eu não esperava que Juliette e seu fã clube de garotos


populares de repente se tornassem meus melhores amigos e
eles não o fizeram, é claro, mas Dylan e Lucas balançavam a
cabeça e diziam ‘Olá’ quando eles passavam por mim nos
corredores, e Rob começou sentando perto de mim em uma
classe que nós compartilhamos e, por vezes, se juntou a Vivian
e eu no almoço.
Eu ainda era principalmente uma pária, mas a animosidade
contra mim parecia ter ido embora, com exceção de Anastásia
e seus amigos mais leais. Isso fez a vida na escola um pouco
mais confortável. Infelizmente, a tensão em casa piorou.
Anastásia odiava que Juliette e eu estávamos nos tornando
mais amigáveis, uma com a outra. Quanto mais irritada ela
ficava, menos Juliette queria estar perto dela e, de repente,
Ana era aquela que se escondia em seu quarto o tempo todo,
em vez de mim.
Foi bom ter Vivian e Juliette e até mesmo Rob para
conversar, mas eu perdi Cinder. Na sexta-feira à noite eu ainda
não tinha falado com ele. Tinha passado apenas três dias desde
a nossa briga, mas parecia uma eternidade. Eu não tinha
certeza, porque eu não tinha tido contato com ele, ainda. Eu
estava sendo teimosa, principalmente. Eu queria que ele fosse
o primeiro a ceder. Mesmo que ele disse que se importava
comigo, ele não querer me conhecer, machucou.
Eu sabia que o precisava chamar, mas eu tentei esquecê-lo e
divertir-me na casa de Vivian.
Nossa noite de filme foi um sucesso. Todo mundo estava
relaxado e de bom humor. Seguimos o nosso plano para alugar
um filme de Brian Oliver. Desde que era uma comédia
adolescente, os caras todos gostaram, também. Havia um
monte de risadas e pipoca arremessadas.
Tudo foi perfeito, exceto pelo fato de que eu não poderia me
acertar com Rob. Ele era um cara muito legal. Ele era bonito,
interessante, inteligente e eu poderia dizer que ele realmente
gostava de mim, mas não havia nada lá para mim. Eu gostava
dele, e gostaria de tê-lo como um amigo, mas não houve
borboletas quando eu olhei para ele. Ele sentou ao meu lado
durante o filme com a mão descansando em sua coxa, como se
ele estivesse esperando por mim para pegá-la ou lhe dar
qualquer indicação de que eu queria que ele pegasse a minha.
Agarrei a tigela de pipoca e fingi estar alheia.
Eu consegui esconder minha miséria bem o suficiente,
porque mesmo que não flertei com Rob, ele parecia de bom
humor quando ele deixou a casa de Vivian. Juliette falou sobre
como ela estava animada por mim, todo o caminho de casa.
A sexta-feira seguinte eu fiz dezenove anos. Eu não tinha
dito uma palavra a ninguém sobre isso, esperando que o dia
fosse entrar e sair sem ninguém saber. Eu estava temendo isso
por várias razões. O primeiro e mais óbvio, era que marcou o
aniversário da morte de minha mãe. Na manhã do meu
aniversário de dezoito anos mama me acordou com uma
serenata maravilhosa para a melodia de ‘Feliz Aniversário’ e
anunciou que ela estava me puxando para fora da escola
durante os últimos dois dias, naquela semana. Ela estava me
levando em uma viagem de esqui de fim de semana para
Vermont. Ela me prometeu um jantar caro e uma vela para
soprar na sobremesa da minha escolha, uma vez que
chegássemos ao resort, mas eu nunca cheguei a fazer um
desejo.
Então, é claro, eu também temia o dia neste ano por causa
do fato de que meu pai tinha esquecido ou ignorado os meus
aniversários nos últimos quatro ou cinco anos. A primeira vez
que ele esqueceu meu aniversário, eu tinha onze anos. A
última vez que ele se lembrou, eu tinha quatorze anos. Não
importa o quanto eu tentasse, eu nunca deixei de me
decepcionar a cada ano que ele se esqueceu, assim mama
tornou-se determinada a me ajudar a esquecer sobre o meu pai,
fazendo o dia o mais especial de um ano para mim, não
importa o que ele fizesse.
Há anos que o meu aniversário tinha sido um grande
negócio. Este ano seria diferente. Este ano, não havia ninguém
para se certificar de que era especial. Eu não tinha certeza se
meu pai ainda sabia quando era e eu não estava prestes a
perguntar a ele. As coisas estavam bastante estranhas entre
nós.
Eu disse a mim mesma que eu poderia passar o dia. Eu
estava determinada a tratá-lo como qualquer outro, mas
quando eu saí do meu quarto, vestida para a escola, eu já
estava tão para baixo que eu me senti como se eu não pudesse
respirar.
Quando saí para a cozinha e encontrei um buquê de rosas
amarelas tão grande, que tinha o seu próprio centro de
gravidade sentado no balcão, com meu nome nele, eu quase
caiu em prantos. Enquanto eu olhava para as flores, um braço
pesado caiu sobre meus ombros. — Como você está se
sentindo esta manhã? — Perguntou meu pai solenemente.
Eu não poderia ter falado, mesmo se eu soubesse como me
expressar. Dei de ombros sob o peso de seu braço.
Meu pai, de repente, me esmagou contra seu peito em um
abraço com tanto amor, tanto para ele como para mim.
Por um momento eu estava congelada em estado de choque,
mas eu rapidamente derreti contra ele e apertei de volta com
tudo o que eu tinha em mim.
— Feliz aniversário, garota,— ele sussurrou com sua voz
cheia de emoção.
— Eu não achei que você se lembraria.
— Eu perdi muito de seus aniversários.
Meu pai me apertou ainda mais apertado, e eu deixei. Os
segundos começaram a passar. Nenhum de nós falou e nenhum
de nós deixou ir. A sensação de seus braços em minha volta,
sua preocupação por mim, o calor e o amor em seu abraço me
fez completa. Eu enterrei meu rosto em seu peito e deixei que
ele me abraçasse enquanto eu chorava.
Depois de alguns minutos de arruinar a camisa do meu pai,
eu finalmente me puxei para trás o suficiente para olhar para
ele. Seus olhos brilhavam com lágrimas não derramadas
quando ele forçou um sorriso devastador para mim. — Eu não
achei que você iria querer um monte de atenção hoje, portanto,
não planejei uma festa. Sem surpresas, eu prometo, mas eu
espero que você deixe-nos levá-la para um jantar de
aniversário em algum lugar, pelo menos. Você poderia trazer a
sua amiga Vivian também, se você quiser.
— Posso falar com você sobre isso mais tarde? Eu não
tenho certeza como vou passar o dia.
Meu pai engoliu um nó na garganta e, em seguida, acenou
com a cabeça quando ele não podia falar.
— Gostaria de faltar na escola hoje?
Eu pulei na voz de Jennifer e puxado para trás de meu pai
como se eu tivesse sido pega fazendo algo que não deveria.
Dor jogou no rosto de meu pai, mas ele enterrou rapidamente.
Ele olhou para Jennifer e depois de volta para mim. — Ela está
certa. Se você não quiser ir para aula hoje, você não tem que
ir.
Eu encontrei os olhos do meu pai, então olhei ao redor da
cozinha. Jennifer e Juliette estavam ambas de pé ali, com
pequenos sorrisos de apoio. Eu acho que o segredo foi
revelado. Eles claramente sabiam que isso não era apenas o
meu aniversário. Mesmo Anastásia sentou-se no bar com uma
expressão suave. Limpando meu rosto, eu balancei a cabeça
em resposta ao meu pai pela sugestão de Jennifer. — Eu acho
que ficar de bobeira aqui só vai piorar a situação.
— Sinto muito, não podemos ir visitar o túmulo de sua mãe.
Talvez pudéssemos fazer uma viagem de volta para Boston, no
feriado de Ação de Graças na próxima semana, se você quiser.
Por agora, eu poderia tirar o dia de folga do trabalho e
poderíamos fazer alguma coisa, apenas nós dois.
— Você não tem que fazer isso. Eu acho que vai ajudar se
eu ficar ocupada. A escola será uma boa distração.
Meu pai olhou desapontado de novo, então eu acrescentei,
— Seria bom ir visitar mama e abuela e granpapa em algum
momento, no entanto. Não tem que ser no feriado de Ação de
Graças, mas sempre há um bom fim de semana.
— Eu gostaria de ir com você,— disse Juliette.
Eu olhei para ela, surpresa e tocada. Ela sorriu de volta,
hesitante. — Você poderia me mostrar Boston e talvez visitar
alguns de seus velhos amigos. — Seu sorriso se transformou
em um sorriso travesso. — Eu poderia levá-los a me contar as
melhores histórias sobre você. Uma irmã precisa de material
de chantagem, você sabe. Seria um primeiro passo.
Isso me fez rir. Juliette me surpreendeu ainda mais, dando-
me um abraço radiante. — Feliz aniversário.
— Obrigada. — Eu disse, e timidamente devolvendo o
abraço. — Uma viagem para Boston soa divertido. Se
esperássemos até o verão poderíamos ir para Nantucket e eu
posso te mostrar como são as praias da Costa Leste. E eu vou
levá-la para um jogo dos Red Sox, no Fenway Park.
Juliette sorriu. — Eu vou ter a certeza de vestir minha
camisa dos Dodgers.
Olhos aguados do pai foi de ida e volta entre Juliette e eu.
— Vou reservar um hotel hoje. Nós vamos fazer todo um
período de férias.
Anastásia rompeu o momento com um suspiro antes que
ficasse um pouco estranho. Eu estava preparada por qualquer
observação sarcástica, mas tudo o que ela disse foi: — Vocês
estão prontas para ir? Eu não quero chegar atrasada.

***
Quando chegamos à escola, Rob estava esperando por nós
no estacionamento de alunos, com uma única rosa vermelha.
Quando eu aceitei, ele plantou um beijo suave na minha
bochecha e sussurrou: — Feliz aniversário.
— Obrigada.
Eu trouxe o botão para o meu nariz, desejando que fosse
esconder o meu rubor enquanto Rob pegou minha mochila e
atirou-a por cima do ombro junto com a sua. À medida que se
dirigiu para a escola, ele olhou para mim. — Você não ia
contar a ninguém, não é?
— Eu não. Como você sabia?
— Eu disse a ele. — Juliette revirou os olhos para a minha
carranca. — Você não pode deixar o que aconteceu no ano
passado, assumir o seu aniversário para o resto de sua vida.
Você precisa de algum bom tempo para ajudar a equilibrar o
mal.
Eu senti o cheiro da minha rosa novamente e um sorriso
surgiu no meu rosto. Fiquei surpresa com o quanto Juliette
estava certa.
— Obrigada.
Quando nós três entramos no corredor principal e nos
juntamos pela multidão de estudantes, poderíamos dizer
imediatamente que algo não estava normal. Havia algum tipo
de zumbido no ar. Levei um minuto para perceber que eu era o
foco da excitação. Era a combinação estranha de emoções que
vão desde o fascínio, a confusão e o desprezo. As pessoas
estavam olhando e sussurrando, alguns deles animados, outros
incapazes de evitar seu desgosto. À medida que me
aproximava ao meu armário, eu comecei a ouvir alguns dos
sussurros.
— É ela!
— Eu não posso acreditar que ela o conhece.
— Ela não é tão bonita.
— O que ele vê nela, afinal?
Eu não tinha ideia do que estava acontecendo. Eu olhei para
um grupo de meninas mais jovens, que parecia tão animada
que mal podiam conter seu aturdimento. Uma delas pegou
meu olhar e a energia finalmente explodiu. — Oi, Ella!
Uma vez que a primeira saudação veio, um coro de outros
seguiram.
— Hey, Ella!
— Feliz aniversário, Ella!
— Você é tão sortuda, Ella!
— Não te encanta Brian Oliver, Ella?
— Feliz aniversário!
Eu olhei para Rob primeiro, mas ele estava tão perplexo
quanto eu, então eu virei para Juliette, para uma explicação.
Ela jogou as mãos em sinal de rendição. — Não olhe para
mim. Eu só disse para Rob e Vivian. Eu não tenho nenhuma
ideia do que está acontecendo.
Ela ficou séria como se tivéssemos deixado Los Angeles e
desembarcou em alguma dimensão alternativa. — Brian
Oliver? Posso acreditar? O que está acontecendo? O que todo
mundo está falando? — Perguntei, embora eu já soubesse,
nem Juliette nem Rob teve qualquer resposta.
Mitchell Drayton, o cara mais lindo na escola, que também
passou a ser esnobe porque ele tinha um agente e havia feito
parte de algumas peças em um par de programas de TV,
caminhou até nós. — Hey, Jules,— disse ele a Juliette e depois
virou seu sorriso devastador sobre mim. — Oi, Ella. Você está
tendo uma festa ou qualquer coisa para seu aniversário?
Precisa de um encontro?
Rob deu um passo um pouco mais perto para o meu lado e
olhou para ele. Mitchell olhou para a rosa em minha mão, e
em seguida, deu uma espiada em Rob. Ele deu um passo para
trás, rindo para si mesmo. — Sinto muito, irmão. Não sabia
que eu estava pisando no pé de ninguém. — Olhando para
mim ele disse. — Eu vou dar uma festa amanhã à noite com
alguns dos meus amigos atores. Você deveria vir. Traga Rob e
Jules também, se você quiser. Oito horas, Jules sabe onde eu
moro.
Minha boca estava boquiaberta e meu coração batia quando
eu o assisti ir embora. Cada filme de adolescente que já tinha
visto, nada começou com uma cena como essa. Todos sendo
extraordinariamente bons para os pobres e marginalizados
antes que fosse humilhada publicamente. — Você acha que
Ana está tentando fazer algum tipo de brincadeira? — Eu
sussurrei.
— De jeito nenhum. — Juliette parecia confiante, mas eu
não tinha tanta certeza. Ela notou meu ceticismo e balançou a
cabeça. — É sério. Você notou a falta de arrogância esta
manhã? Mamãe falou-nos tanto do ato de motim da noite
passada e disse-nos que, se qualquer uma de nós franzisse a
testa para você hoje, seríamos castigadas até termos trinta
anos.
Ótimo. Não que eu não aprecio o gesto, mas Anastásia teria
urinado fora mais do que qualquer coisa. Eu tive sorte que ela
já não tivesse explodido.
— Não é Ana,— Juliette insistiu.
— Bem, é definitivamente algo,— Rob murmurou,
franzindo a testa para um casal de rapazes que estavam
olhando para mim.
— Eu vou descobrir isso— , disse Juliette quando nós
chegamos a sua sala de aula. — Ah, almoço juntos hoje?
— Você sabe onde me encontrar.
Juliette desapareceu em sua sala de aula e Rob fez uma
careta para todos nós quando ele me acompanhou até a minha.
Ele era tão cético sobre a minha meia-irmã como eu estava,
porque ele disse: — Tem que ser Ana. Vivian não teria dito
nada. Eu vou descobrir o que está acontecendo.
Ele parou-nos à porta de minha sala de aula e agarrou a
minha mão para que eu não pudesse ir embora. A menina, cujo
nome eu não lembro, acidentalmente esbarrou em meu ombro
enquanto ela passou por nós na sala. — Cuidado! — Ela
retrucou. Quando ela percebeu que era eu em seu caminho,
seus olhos se estreitaram. — Você acha que é tão especial
agora? Bem, você não é.
Outra garota entrou atrás dela, sorrindo maldosamente. —
Aposto que ela pagou-lhe para fazê-lo.
Elas caminharam para os seus lugares, gargalhando.
Mais confusa do que nunca, eu olhei para Rob novamente.
— Você vai ficar bem até o almoço? — Perguntou.
A preocupação em seus olhos me fez sorrir. — Eu acho que
você não se lembra de como era para mim quando eu cheguei
aqui,— eu provoquei.
Seu rosto ficou escuro, uma tempestade de emoção
inundaram seus olhos. Eu me senti horrível quando eu percebi
que ele sabia exatamente o que eu tinha passado nos últimos
meses, e quanto isso o perturbou. — Hey. — Eu dei a mão um
aperto. — Está tudo bem. Estou bem. Obrigad pela minha flor.
Ele finalmente sorriu. — De nada.
Capítulo
Dezoito

Vivian estava borbulhando cheia de energia quando ela veio


para o refeitório, na hora do almoço. — Brian Oliver desejou
feliz aniversário no Twitter! — Ela gritou. — Que diabos?
— Eu sei. Juliette me disse no segundo período e ‘Que
diabos?’ era exatamente o meu pensamento. Eu não entendo.
Os olhares e saudações tudo fez sentido, depois que ouvi a
notícia. Brian Oliver tinha me colocado no centro das atenções
quando ele me desejou feliz aniversário publicamente, naquela
manhã. A emoção e ciúmes e até mesmo o convite de
Mitchell, tudo fazia sentido agora. Mas isso era tudo o que
tinha entendido.
— Como ele sabia que era meu aniversário? Mais ainda,
como é que ele sabe que eu existo?
— Porque você é brilhante,— disse Rob, sentando-se ao
meu lado.
— O quê?
— Ele é um fã do seu blog.
— Não! — Vivian gritou. — Deixe-me! Por favor? Eu
estava morrendo para mostrar a ela o dia todo!
Rob riu e acenou com a mão em um gesto ‘sinta-se à
vontade’, fazendo Vivian iluminar toda sua face. Eu estava
com medo que ela estava indo distender um músculo quando
ela sorria, porque sua boca esticava em todo o rosto. — Tudo
começou com isso.
Vivian realmente estava esperando para me contar a
história. Ela já tinha seu telefone colocado em um post
específico na página do Facebook de Brian Oliver. — Feliz
aniversário para a dona do meu blogger favorito e fã
número um, Ellamara! — Vivian leu em voz alta. — Suas
palavras de sabedoria são incomparáveis. — E olhe! — Ela
gritou. — Ele postou um link sobre a sua opinião de um filme
em que ele foi personagem.
Olhei, e com certeza havia um link para o meu comentário
do filme The Long Road Home, o pedido de desculpas, a carta
que eu tinha escrito para Brian Oliver.
— Isso não é tudo,— disse Vivian. Ela começou a rolagem
para cima da página do Facebook de Brian Oliver. Havia post
depois que ele compartilhou mensagens do blog ‘Palavras de
Sabedoria de Ellamara’.
— Ele tem me citado no Facebook?
Vivian assentiu com tanto entusiasmo que ela parecia uma
boneca com cabeça articulada. — O dia todo! Ele vem fazendo
isso no Twitter, também e agora outras pessoas estão fazendo
isso. ‘Palavras de Sabedoria de Ellamara’ é tendência agora.
Isso eu tinha que ver. Puxei meu Twitter no meu celular e
quase tive um ataque cardíaco. — De jeito nenhum!
— O quê? — Rob e Vivian tanto se inclinaram e leram
sobre o meu ombro.
— Ontem eu tive um pouco mais de seis mil seguidores no
Twitter. Hoje eu tenho mais de vinte e cinco mil!
Rob riu. — Isso é o que acontece quando a criança dourada
de Hollywood diz ao mundo para te ouvir. Espero que sua
informação pessoal não esteja ligada no seu blog ou em
qualquer lugar.
— Não. Eu tenho um e-mail separado, Twitter, Facebook e
página para todas as minhas coisas do blog, e uma caixa postal
para os editores para enviar livros. Eu devo estar segura, mas
isso é insano!
— Verdade? — Disse Juliette quando ela finalmente se
juntou a nós.
Com Juliette lá, começamos a partir do início. Ela trouxe
uma comitiva com ela para descobrir o que passava, Dylan e
Lucas e alguns outros amigos estavam curiosos o suficiente
sobre a história para enfrentarem de serem visto falando
comigo, na hora do almoço, mas simplesmente não era uma
história para contar. Eu não sabia nada sobre Brian Oliver. Eu
não tinha ideia de como ele descobriu meu blog.
— Eu tenho uma pergunta,— disse Rob, finalmente
ingressando no ‘Q’ da questão. — Como é que Brian Oliver
sabia que era seu aniversário? Ele poderia ter visto seus
comentários sobre ele próprio, mas como ele sabia que hoje
era seu aniversário? Eu li o seu blog. Eu sei que você não
mencionou isso.
Eu me perguntei a mesma coisa. Na verdade, essa foi a parte
mais incompreensível de todo este calvário. — Eu não sei.
Honestamente, eu fiquei surpresa, achei que ninguém sabia
que era meu aniversário. Eu nem sequer achava que meu pai
sabia que meu aniversário estava chegando. A única pessoa
que eu falei sobre isso foi…
E, de repente, tudo fez um perfeito sentido. A mesa inteira
ficou em silêncio, esperando por mim para revelar o grande
segredo, mas tudo que eu podia fazer era sorrir. — Claro. Eu
deveria saber.
— Foi quem? — Vivian exigiu.
Eu suspirei. — Foi Cinder.
— O cara Internet? — Perguntou Rob.
Eu balancei a cabeça.
Meu coração afundou e disparou ao mesmo tempo. Cinder e
eu não tínhamos nos falado desde que eu disse a ele que eu
estava chateada e desliguei na cara dele, mas eu sabia que ele
ainda se importava comigo. Ele sabia que era hoje. Ele tinha
sido o único a trazer esse assunto um par de semanas atrás.
Lembrei-me do dia, porque ele tinha me mandado
mensagem no momento do acidente. Ele disse que estava
temendo o dia, e que, como ele ficou mais perto e sentiu como
se estivesse me perseguindo. Fiquei realmente surpresa até que
ele explicou. Para ele, esse foi o dia em que me perdeu.
Quando nós conversamos sobre isso, eu confessei que tinha
sido meu aniversário. Ele prometeu que iria encontrar uma
maneira de me distrair e se certificar de que eu gostaria do
meu aniversário e não apenas pensar sobre o acidente.
— Ele manteve a sua promessa,— eu sussurrei para mim
mesmo, lutando contra as lágrimas repentinas.
Vivian acenou com a mão na frente do meu rosto, tentando
recuperar a minha atenção. — O que ele prometeu?
— Ele sabia o que aconteceu nesse dia. Quero dizer, além
de meu aniversário. Ele prometeu que ia me distrair para que
eu não pensasse sobre isso. Mesmo eu tendo gritado com ele e
não falei com ele ainda, mesmo assim ele manteve a sua
promessa.
Vivian suspirou. — Isso é tão romântico. Você tem que
perdoá-lo, Ella. — Ela estava incitando-me a fazer isso desde
que eu dei-lhe os detalhes de nossa conversa. — Você tem que
chamá-lo de volta.
Rob não pareceu concordar. — Como você sabe que ele fez
isso?
— Ele é o único que poderia ter. Ele é o único que sabia que
era meu aniversário, e seu pai é algum figurão da indústria
cinematográfica, então ele poderia ter conseguido entrar em
contato com Brian de alguma forma. Eu sempre soube que
Cinder tem conexões no show bisness. Eu deveria ter
percebido isso mais cedo.
— Como você sabe? Você nunca sequer o conheceu. O cara
é provavelmente um mentiroso.
Eu balancei minha cabeça. — Ele tem me alimentando de
informações privilegiadas de Hollywood desde que nos
conhecemos. Ele sempre sabe coisas antes de atingir os
comércios. Ele deve ter pedido ao seu pai um favor ou algo
assim.
— Talvez ele conheça Brian,— disse Vivian. — Quero
dizer, se eles forem amigos, isso explicaria por que ele gosta
muito do cara.
— É verdade,— eu concordei. — Ele mencionou que
conhece algumas celebridades, embora ele não tenha dado um
nome, e também, eu nunca perguntei quais. Eu acho que eles
poderiam ser amigos. Vindo de Cinder, não seria surpresa para
mim.
Isso fez todos em torno de nós sussurrar e rir. Uma menina
ainda disse: — Eu não posso acreditar que você conhece
alguém que é amigo de Brian Oliver!
— Em realidade, não sei. Eu não tenho certeza de como
Cinder fez isso. Ele poderia conhecer Brian ou seu pai poderia
apenas conhecer um cara que conhece um cara que conhece
ele.
— Isso foi uma coisa muito legal de fazer, embora,— disse
Rob. Levei um minuto para perceber o que ele quis dizer, de
Cinder ter certeza que eu estaria distraída hoje.
Um sorriso surgiu no meu rosto. — Sim. — Eu ia ter que
chamá-lo mais tarde e pedir desculpas por não falar com ele
durante toda a semana.
— O quão perto você está desse cara? — Perguntou Rob. A
suspeita em sua voz era embaraçosa.
— Ele é meu melhor amigo.
— Mas você nunca encontrou em pessoa, certo? Você é
apenas, como, amigos de carta ou qualquer outra coisa?
Eu finalmente entendi o raciocínio atrás da linha de
perguntas de Rob e meu coração afundou um pouco. Olhei
para o meu almoço, sem ter ideia do que dizer a ele. Ele
parecia entender porque ele disse: — Esta é a parte onde você
me chuta, não é?
Obriguei-me a olhar para Rob. Ele não parecia nada
cabisbaixo, o qual eu esperava que significasse que seu
interesse em mim não tinha sido tão forte como todo mundo
acreditava que era. Eu não queria machucá-lo.
— Sinto muito. Eu não estou em posição de estar
namorando ninguém no momento. Tecnicamente, eu estou
solteira. Não há nada acontecendo entre Cinder e eu, e nunca
haverá, mas eu o amo de qualquer maneira. Eu odeio que eu o
amo e eu tento não amá-lo, mas eu falho miseravelmente. —
Rob me estudou por um minuto de uma maneira tranquila,
mas intensa, ele perguntou: — Você tem certeza que não há
nada entre vocês? Tem certeza que ele não gosta de você,
também?
Eu balancei a cabeça. — Ele tem uma namorada e
especificamente me disse que ele não quer me encontrar
pessoalmente. Ele gosta que não conheçamos um ao outro.
O rosto de Rob enrugou ligeiramente, como se o pedido de
Cinder o irritasse, mas ele não disse nada. — Então,
precisamos que o supere. Ajudaria se você tivesse outra
pessoa, um namorado, para ajudar a tirá-lo de sua mente?
Corei quando eu percebi exatamente o que Rob estava
dizendo, o que ele estava me oferecendo, mas eu balancei a
cabeça imediatamente. — Isso é muito doce, mas eu não acho
que seria justo para você.
— Você gosta de mim? — Perguntou Rob.
Eu concordei com relutância. — Eu faço, mas…
Rob não me deixou terminar a minha frase. — Você está
atraída por mim?
Meu rosto inflamou com a pergunta. Baixei os olhos para o
meu colo e mordi meu lábio inferior com tanta força que doeu,
mas eu consegui um pequeno aceno de cabeça.
— Então, isso é o suficiente.
Quando olhei para cima confusa, ele sorriu. — Você não
tem que estar apaixonada para namorar alguém. Não temos
que ser sérios. Nós nem sequer temos que ser exclusivos, se
você não quiser. Você poderia apenas dar uma chance. Sair
comigo e ver se há alguma faísca.
Eu considerei a oferta. Eu tinha realmente gostado de Rob.
Ele parecia um cara descontraído. Talvez ele não estivesse
realmente procurando algo sério, de qualquer maneira não
parecia justo, mas eu tinha necessidade de tentar ter mais de
Cinder, e quanto mais pessoas eu pudesse mostrar a Dra.
Parish que eu tinha em meu ‘sistema de apoio’ mais cedo eu
ganharia minha independência. Ainda assim; — Eu não sei. Eu
acho que teria a sensação que eu estaria usando você.
Rob pegou uma fatia de pizza de sua bandeja de almoço e
sorriu para mim. — Jogue isso longe, Ella. Talvez não
funcione, talvez sim. De qualquer forma, pelo menos você
tentou, e nós começamos a nos divertir.
Ele mordeu sua pizza e seus olhos brilharam com malícia
enquanto mastigava. Uma vez que sua boca estava vazia, ele
disse, — Parece que se veria bem em usar um bom rebote e eu
só quero deixar bem claro, agora, que estou sempre dentro
para ser o rebote de uma menina bonita.
Eu finalmente consegui um sorriso que chegou aos meus
olhos. — Bom saber.
— Então, o que você diz?
Eu seria uma idiota se eu, pelo menos, não tentasse. — Eu
acho que nós poderíamos ter uma tentativa. Meu pai quer sair
hoje à noite, para o meu aniversário. Ele já me pediu para
convidar Vivian. — Eu olhei para Juliette. — Você acha que
ele se importaria se Rob fosse, também?
Juliette balançou a cabeça. — Ele vai ser legal. É a minha
mãe que você tem que se preocupar. Ela fica toda animada,
toda louca quando Ana ou eu namoramos alguém. Ela vai pirar
que você tem um namorado.
Eu empalideci com o termo e Rob riu. — Certo, nenhum
título, então.
Vivian bufou. — Além de ‘Garoto Rebote’, de qualquer
maneira.
Eu fiz uma careta, mas Rob riu de novo. — Isso soa bem.

***
No momento que eu cheguei em casa da escola, eu estava
mentalmente exausta. Eu não queria nada mais do que relaxar
ao som da voz profunda e retumbante de Cinder. Eu sabia que
precisava ligar para ele. Eu sentia falta dele, e ele merecia o
meu agradecimento.
Meu pai tinha retirado recentemente a proibição de meu
quarto, então eu escapei para o santuário, logo que eu cheguei
em casa da escola. Quando eu estava fechando a porta, ouvi
Anastásia falar pela primeira vez durante todo o dia. Ela tinha
estado em silêncio sobre os passeios de ida e volta da escola,
obviamente, esforçando-se para o método de não ficar em
apuros, se você não pode dizer qualquer coisa agradável, não
diga nada.
Assim que eu estava fora de vista, ela se lançou sobre
Juliette como um leão faminto. Elas estavam na cozinha,
Juliette vasculhando a geladeira, ela diariamente fazia um
lanche depois da escola e suas vozes eram facilmente ouvidas
através do estilo grande da sala, no piso principal, para o meu
quarto.
— Como ela fez isso? — Anastásia exigiu.
Desde que ela estava falando de mim, eu deixei minha porta
do quarto abrir uma fresta e descaradamente escutei a
conversa.
— Ela não fez isso,— respondeu Juliette. — Ela estava tão
surpresa quanto o resto de nós. Cinder fez isso. Foi seu
presente de aniversário para ela.
— Cinder? — Ana engasgou. — O cara assustador da
Internet?
Eu ouvi a geladeira fechar e o som de uma abertura de lata.
— Ele não é assustador,— Juliette insistiu. — Ele é realmente
legal.
— Como você sabe? Você já falou com ele?
— Não, mas eu ouço Ella falar com ele o tempo todo e suas
conversas são completamente normais. Além disso, eu li sua
conversa de mensagem uma vez, quando ela foi ao banheiro e
deixou seu laptop aberto no sofá
— Nah-uh! Você leu alguma coisa boa?
Fiquei surpresa com a confissão, mas eu achei que era
difícil ficar brava com a invasão de privacidade por causa do
sorriso que eu ouvi em sua voz. — Era muito divertido.
Aqueles dois fazem brincadeiras como um romance de novela
heroína e seu captor pirata covarde.
Houve silêncio por um minuto, e em seguida, Juliette disse:
— Ela é espirituosa Ana, engraçada, inteligente, agradável, e
geralmente muito legal. Você provavelmente gostaria dela se
você tivesse lhe dado uma chance.
Fiquei chocada ao ser tão defendida. Eu sabia que Juliette
não tinha um problema comigo mais, naquele momento ela
soava como se ela fosse realmente minha amiga. Anastásia
não ficou tão comovida com o seu discurso. — Por que eu
deveria? Ela nunca me deu uma chance.
— Como poderia? Você tem sido horrível para ela desde o
segundo em que ela chegou aqui. Se você me perguntar, ela
tolera muito melhor do que você merece.
Escárnio de Anastásia soou vicioso. Eu não precisava ver o
rosto dela para imaginar os punhais que ela estava atirando em
Juliette com os olhos. Eu também tinha certeza de que suas
garras estavam totalmente estendidas agora. — Eu não posso
acreditar o quão longe você se virou contra mim. Ela não é
parte desta família e você está se aliando com ela contra a sua
própria irmã gêmea! Eu sou sua irmã! Não ela!
— Ela é parte desta família Ana. Você precisa aceitar isso.
— Eu não vou aceitar qualquer um que está tentando tomar
conta da minha vida!
Juliette deve ter ficado tão confusa como eu estava, porque
não houve resposta imediata. O que Anastásia acha? Na
realidade que eu estava tentando assumir o controle de sua
vida? Porque certamente não era isso.
— Ela já está tomado o meu quarto, minha irmã e o menino
que eu gosto! Ela não quer mesmo Rob e ele a segue como um
cachorrinho doente de amor! Mamãe e papai a bajulam sobre
tudo e agora Brian Fenômeno Oliver está desejando-lhe feliz
aniversário!
— Nada disso é culpa de Ella! — Juliette gritou. — Ela não
poderia ter o quarto no andar de cima, porque tem uma maldita
deficiência. Você gostaria estar manca como ela? Você já a viu
fazer sua fisioterapia? Dói tanto que ela chora. Fazendo-a
subir as escadas todos os dias para chegar ao seu quarto seria
cruel.
— Tudo bem, mas Robson?
— Ela não pode evitar como Rob se sente. Ela tem sido
honesta com ele sobre seus sentimentos por Cinder. Ele é o
único que insiste em tentar conquistá-la, de qualquer maneira.
Eu acho que ela fez a coisa certa de concordar em sair com
ele.
Ana zombou novamente.
— Ela não me roubou de você, ou qualquer um,—
continuou Juliette. — Eu simplesmente não consigo ficar em
torno de você mais, porque tudo que você faz é choramingar
sobre Ella. E papai deve adulá-la, também. Ele a abandonou.
Se alguém roubou de alguém, nós roubamos o pai dela. É um
milagre que ela pode perdoar qualquer um de nós!
Juliette fez uma pausa, provavelmente para tomar um
fôlego. Ela ficou em silêncio por um minuto. Eu me
perguntava se Anastásia iria responder, mas ela não respondeu.
Foi Juliette quem quebrou o silêncio. Sua voz era muito mais
calma agora, mas eu ainda podia ouvir a intensidade nela.
— Nem tudo tem que ser sobre você o tempo todo. Estou
feliz que Cinder conseguiu fazer a coisa Brian Oliver, porque
deu para Ella algo em que pensar, além do fato de que hoje é o
aniversário de um ano do pior dia de sua vida. Você não pode
simplesmente ser feliz com o fato de que algo de bom
aconteceu com alguém que precisava?
Mais uma vez, Anastásia não disse nada. Não que eu
esperasse. Juliette deve ter terminado de descarregar toda a sua
frustração, porque eu ouvi o clique da TV no andar de baixo, e
ouvi uma porta bater em algum lugar no andar de cima.
Eu não podia deixar de sentir um pouco de pena de
Anastásia. Ela é um troll autocentrada, mas ela ainda tem
sentimentos.
Eu nunca tinha tentado ver as coisas do seu ponto de vista
antes. Juliette e Jennifer mencionaram que Anastásia se sentia
ameaçada por mim. Eu não tinha acreditado, mas obviamente
elas estavam certas.
Eu não era uma vaca e não iria me colocar com Anastásia,
nossa situação de merda não era culpa minha e eu não merecia
ser punida por isso, mas foi bom para entender de onde veio
sua animosidade. Eu acho que eu poderia tentar ser um pouco
mais sensível aos seus sentimentos.
Eu finalmente fechei a porta e decidi mergulhar em um
banho quente.
Capítulo
Dezenove

Brian
FantasyCon é a maior convenção de fantasia do mundo,
Comic-Con para os fãs de O Senhor dos Anéis e Dungeons &
Dragons. É realizado anualmente no Centro de Convenções de
Los Angeles em novembro e era a primeira de muitas
aparições publicitárias que eu teria de fazer, para promover o
lançamento de O Príncipe Druida.
Eu amo FantasyCon. Eu vou todos os anos desde que eu
tinha dezesseis anos, e este ano eu tenho que estar envolvido
mais do que apenas um espectador. Era a única parada em
turnê de divulgação de O Príncipe Druida que eu estava
ansioso, mas acabou por ser um dos piores dias da minha vida.
Hoje era o aniversário de Ella e o aniversário de um ano do
acidente. Durante todo o dia eu tinha que sorrir e
cumprimentar os fãs e jogar o meu falso romance com Kaylee
quando tudo que eu conseguia pensar era Ella e o que ela
devia estar passando agora. Eu não poderia mesmo estar lá
para confortá-la, porque ela ainda não estava falando comigo.
Eu não podia culpá-la por estar brava. Eu a feri
profundamente quando eu me recusei a me encontrar com ela,
mas eu não tinha outra escolha. Achei que ela ia ter um par de
dias para esfriar e, em seguida, chamar e me perdoar, mas
aquele par de dias se transformou em quase duas semanas.
Eu chequei minhas mensagens pela milionésima vez. Ella
ainda não fez contato, então eu fiz a única coisa que eu poderia
pensar em fazer e compartilhei outro post de seu blog
‘Palavras de Sabedoria de Ellamara’ e twittei para os meus fãs.
Desta vez eu citei algo que ela tinha dito há quase três anos
sobre o brilho de Margaret Weis e da Série Tracy Hickman
Dragonlance.
Eu prometi que iria manter Ella distraída hoje, mas desde
que ela ainda não estava falando comigo esta foi a única coisa
que eu poderia pensar em fazer. Espero que isso esteja
trabalhando melhor para ela como uma distração, porque tudo
o que estava fazendo para mim, foi me lembrar do quanto ela
gostaria de estar aqui. Eu odiava que ela estivesse perdendo.
— Será que você pode colocar essa maldita coisa para
longe? — Kaylee murmurou quando ela notou o celular em
minhas mãos. — É grosseiro.
Eu coloquei o telefone no bolso. Kaylee não estava chateada
que eu estava mandando mensagens de texto; ela era apenas
louca sobre para quem eu estava mandando as mensagens de
texto. Sua raiva me fez sorrir. Eram as pequenas coisas na vida
que contavam.
De repente, em um humor um pouco melhor, eu
cumprimentei o jovem adolescente e sua mãe que estavam
agora em pé, na frente de mim. — Kaylee tem razão. Perdoe-
me. Você tem a minha atenção agora.
— Oh, está tudo bem! — A garota falou quando ela me
entregou uma foto para assinar. — Você só estava postando
outro post da ‘Palavras de Sabedoria de Ellamara’, certo?
Eu sorri. A última vez que verifiquei o Twitter de Ella, tinha
havido um forte salto de vinte mil em seus seguidores até hoje.
Ela ia pirar quando o visse. — Eu estava. Você leu?
— Oh, sim! — A menina gritou. — Ella é tão engraçada!
Eu posso ver porque ela é sua blogueira favorita. Comecei a
seguir esta manhã, também. Eu acho que é tão doce o que você
está fazendo. Eu iria morrer se eu tivesse um presente de
aniversário assim. Tenho certeza que ela adora.
— Eu espero que sim. — Eu ri novamente. — Qual é o seu
nome, querida?
— Nancy. —
— Bem, Nancy,— Eu disse quando eu assinei a foto dela e
entreguei-o de volta — você gostaria de me ajudar a desejar-
lhe um feliz aniversário de novo? — Eu mudei meu olhar para
a mãe da menina. — Estaria tudo bem se eu tirar uma foto
com Nancy e postá-lo no meu instagram?
— Oh! — Nancy virou para a mãe e puxou sua manga. —
Por favor, mãe! Posso? Por favor, por favor, por favor?
Quando a mãe de Nancy riu e acenou com a cabeça, fiz um
gesto para a menina vir para o meu lado da mesa. Meu dia
ficou um pouco melhor novamente quando eu pedi a mãe de
Nancy para tirar a foto para que Kaylee pudesse estar nela,
também. Kaylee não tinha escolha a não ser sorrir muito.
Enviei a Kaylee uma piscadela e li a legenda em voz alta
enquanto a subia. — Kaylee, Nancy, e eu desejando a
Ellamara o melhor aniversário de sempre em FantasyCon
2014! Junte-se a nós no divertimento! #HappyBirthdayElla!
O olhar no rosto de Kaylee quandoo eu postei a foto na
Internet quase fez meu noivado falso valer a pena.

***
Após a sessão de autógrafos, Kaylee e eu deveríamos ir
direto para o nosso próximo evento. Era um Torneio de
Cavaleiro, para celebridades. Eu e um grupo de outros atores
de outros filmes de fantasia e programas de TV, iriamos todos
nos vestir como os nossos personagens e competir em uma
luta de espadas, competição NERF{26} para ganhar um beijo da
bela princesa Ratana.
O evento foi a ideia mais incrível de todos os tempos e eu
estava indo para abalar. Eu sempre arrebentei nas minhas aulas
de esgrima antes de filmar O Príncipe Druida. Eu apenas
desejava que Ella pudesse estar lá, para se divertir, também.
Ela era fanática pelo grande Merlin e eu estava competindo
contra o príncipe Arthur, na primeira rodada.
Depois de mudar para o meu traje Cinder de costume, eu
verifiquei meu telefone novamente. Eu tinha acabado de
dedicar a minha primeira luta para Ella e vinculei sua
avaliação chamada Merlin e Arthur: O Melhor Bromance{27} da
TV, quando eu finalmente tenho um texto dela.
— Você manteve sua promessa. —
A mensagem tirou um peso do meu peito. Ella fez saber que
eu estava por trás das mensagens Brian Oliver. Ela sabia que
eu estava pensando nela e ela estava, finalmente, falando
comigo novamente.
Olhando ao redor da suíte do hotel de luxo que Kaylee e eu
tínhamos sido acomodados juntos para a duração da
convenção, eu sentei na cama. Eu já estava indo um pouco
tarde, mas o meu duelo não era em primeiro lugar e eu não
poderia ir a qualquer lugar sem falar com Ella.
Eu tentei o meu melhor, eu mandei uma mensagem de volta.
Será que isso vai funcionar?
— Estou feliz. Ella, eu sinto muito. Por favor, me perdoe.
— Você está perdoado. Você sabe que eu nunca poderei
ficar com raiva de você.
— Boa. Então, eu tenho permissão para te chamar e lhe
desejar um feliz aniversário?
— Só se você cantar para mim.
Eu abri um sorriso e imediatamente lancei em uma versão
pouco descente de — Happy Birthday— quando Ella
respondeu seu telefone. — Você deve definitivamente ficar
com a leitura,— ela brincou, mesmo que eu cantei em sintonia
o tempo todo.
Eu não podia rir com ela. — Ella… — Limpei a garganta.
Minha voz estava surpreendentemente estrangulada. — Como
você está hoje?
Sua resposta foi tranquila, mas não tão fraca quanto eu
temia que fosse. — Sobrevivendo melhor do que eu esperava.
Houve uma pausa e o som da água, e depois Ella soltou um
suspiro suave. — O banho está ajudando,— disse ela,
revolvendo de forma eficaz todos os pensamentos em meu
cérebro.
— Você disse que você está no banho?
— Mmhum. Imersão em lavanda, minha madrasta jura que
é terapêutica, eu nunca vou admitir isso para ela, mas ela está
certa. Eu estou tão relaxada agora.
Eu sufoquei uma tosse assustado. — Droga, Ellamara, o que
está tentando fazer comigo, mulher?
— O que você está falando…? oh. — Ella riu. — Você é
pervertido. Como você pode estar excitado? Você nem sequer
sabe como eu pareço. Eu poderia ter cento e oitenta quilos,
peluda e coberta com verrugas, por tudo o que você sabe.
Okay, certo. — Você não é. Eu vi sua foto no seu blog
quando você usou para postar sobre essas viagens com sua
mãe. Você é gostosa. Você tem aquela coisa de meio latina
sexy acontecendo.
Eu esperava que ela iria responder ao meu flerte por uma
vez, mas ela apenas disse: — Você está tão cheio de merda.
Aquelas fotos de mim em toda a minha fase de sorriso
metálico eram terríveis. Eu sou nada mais que a média. Pelo
menos eu era, antes. Agora não há muitos caras que olhariam
duas vezes para mim, não pelas razões certas.
Sentei-me. O que ela quis dizer com antes? Antes de seu
acidente? Tinha algo acontecido com ela que nunca me falou?
Ela esteve no hospital por um longo tempo, mas ela nunca
explicou suas lesões para mim. Ela sempre disse que não
queria falar sobre isso. — Ella, o que você quer dizer?
— Nenhuma coisa. Não é importante.
O inferno que não era. — Ella!!!
— O que eu estou tentando dizer é,— ela interrompeu, —
pare de fantasiar sobre mim e deixe-me aproveitar a minha
banheira. Eu preciso disso, após o dia que eu tive. Seu
pequeno golpe fez com que todos que tem me ignorando por
meses, de repente querer ser meu melhor amigo ou arrancar
meus olhos em uma raiva invejosa. Eu pensei que Rob ia
começar a magoar as pessoas em meu nome.
Eu esqueci tudo sobre lesões de Ella. — Rob? É o indivíduo
que sua amiga mencionou? Vocês estão namorando agora?
— Tipo isso, eu acho. Quero dizer, não somos exclusivos ou
oficiais ou qualquer coisa, mas ele finalmente me convidou
para sair. Ele está vindo para o jantar do meu aniversário, hoje
à noite.
Eu apertei o meu telefone tanto que quase rachou a tela.
Algum punk do ensino médio iria levá-la para jantar em seu
aniversário e ela não achava que ele estava falando sério?
Besteira. Aniversário sempre foi um grande negócio. Caras
temiam aniversários das mulheres. Sempre. Se Ella pensava
assim ou não, esse cara Rob definitivamente tinha grandes
intenções, se ele estava disposto a gastar seu aniversário com
ela. Mas, pelo menos, Ella não tinha soado toda entusiasmada.
— Eu não posso dizer que você está pulando de alegria. Você
realmente quer sair com esse cara?
Ella suspirou. — Eu não sei. Eu não tenho saído com
ninguém desde antes do meu acidente. Eu não tenho certeza
que estou pronta, mas eu tenho que começar a viver de novo,
algum dia, certo? No mínimo Rob merece uma chance.
Eu tomei todas as habilidades de atuação que eu possuía
para soar como um amigo educadamente em causa, em vez do
idiota ciumento que estava sendo. — Não se atreva a se
contentar com o segundo melhor, Ella.
— Não é isso. Ele é bonito e realmente doce. Ele é um dos
caras mais populares da escola, porque ele é uma espécie de
super jogador de futebol, mas ele não se incomoda, se eu sou
uma leprosa social. Eu prometo que ele é um cara bom.
Um atleta? A minha pequena nerd amante de livro de
fantasia estava saindo com um atleta? Isso era tão errado. —
Bom, não é o melhor,— eu disse, um pouco de um rosnado me
escapou. — Você não é para ser um tipo B-list{28} de garota.
De repente, houve uma batida na porta do quarto do hotel e
Kaylee gritou meu nome. Quando ela começou a mexer com a
maçaneta, eu xinguei por ela ter uma chave e corri para o
banheiro. Eu não terminei com essa conversa ainda e eu com
certeza não desligaria por causa de Kaylee.
Eu odiava que tínhamos que dividir um quarto esta semana,
mas a nossa equipe de gestão era paranoica sobre o segredo de
a nossa relação ser uma farsa escapar, então eles tinham
insistido. Eu tenho a porta do banheiro fechada e trancada,
assim que Kaylee entrou na suíte. — Eu sei que você está aí!
— Ela gritou, batendo na porta do banheiro. — Que diabos
você está fazendo?
Era ruim o suficiente que eu tinha que ouvir tudo sobre Sr.
Cara Fantástico do Futebol. Lidar com Kaylee em cima dessa
notícia era pedir demais para o meu temperamento. — O que
você acha que estou fazendo? Eu estou me escondendo de
você!
— Divertido! — Kaylee movendo a maçaneta, bateu na
porta novamente. — Traga sua bunda para fora daqui, agora!
Estamos atrasados!
— Você está atrasada! Eu não tenho que estar lá por quinze
minutos.
— Eu não estou indo a esta coisa estúpida sozinha! Saia do
maldito telefone e saia daí agora!
Ela nunca me deixa em paz. Murmurando uma série de
maldições, suspirei ao telefone. — A cavalaria finalmente me
encontrou. Eu tenho que correr. Eu estou nessa coisa louca de
trabalho, neste fim de semana. Na verdade, estou trancado em
um banheiro no momento, porque eu tenho que estar em
algum lugar, mas quando vi seu texto, eu não podia esperar
para falar com você.
— Está ok. Você pode me ligar mais tarde.
Fiquei aliviado ao ouvir um sorriso na voz de Ella, e ainda
mais grato que ela estava me pedindo para ligar para ela, mais
tarde. Isso significava que ela não estava mais brava. Eu
realmente estava perdoado. Estas duas últimas semanas sem
ela tinham sido as mais longas da minha vida.
— Talvez nós pudéssemos ler hoje à noite, para o meu
aniversário? — Ela sugeriu.
Eu gemi. Eu teria gostado nada mais do que me enrolar na
cama hoje à noite e ler com Ella para seu aniversário, mas
havia tantas pessoas na cidade, para a convenção e havia esta
grande festa acontecendo hoje à noite, não havia nenhuma
possibilidade no inferno que Kaylee me deixaria perder. —
Isso soa como o céu, mas eu estou nesta conferência até
domingo e as noites têm ido até muito tarde. Eu não acho que
eu vou ser capaz de fugir. Podemos falar segunda-feira? —
— Certo.
Eu ouvi a decepção de Ella e tentei engolir a minha própria.
— Bem. Eu não posso esperar. Eu realmente senti sua falta,
mulher. Você não tem ideia de quanto. Depois de apenas um
dia eu tive que apagar o seu número do meu telefone para que
eu não fosse perder toda a dignidade, chamando-lhe um bilhão
de vezes para implorar por perdão. —
Ella riu ao mesmo tempo em que Kaylee bateu na porta,
novamente.
Eu puxei meu cabelo em frustração. — Eu realmente tenho
que ir. Te amo, Ella. Nenhum tratamento de silêncio mais, ok?
Estas duas últimas semanas foram um inferno. Feliz
aniversário. Eu vou te chamar segunda-feira.
— Obrigada. Eu também te amo, Cinder. Vou esperar pelo
telefonema segunda-feira, prendendo a respiração para a sua
chamada.
Suas palavras de despedida aqueceram meu coração. Elas
seriam o suficiente para me ajudar a sobreviver o resto do fim
de semana. Com o meu sorriso de volta, fui para enfrentar a
megera e esperar chutar a bunda do Príncipe Arthur de
Camelot, em uma luta de espadas NERF.
Capítulo
Vinte

Depois de conversar com Cinder, eu me senti rejuvenescida


o suficiente para sair para o meu jantar de aniversário. Meu pai
tinha reservas no Chart House, uma churrascaria à beira-mar
em Malibu. Steak não é o meu prato favorito, mas meu
nutricionista ficaria satisfeito, porque eu tinha perdido um
pouco de peso recentemente por causa do stress e ele exigiu
que eu começasse uma dieta de calorias maior, com mais
proteína. Na verdade, ele foi provavelmente responsável pela
escolha do restaurante. De qualquer forma, pelo menos não foi
sushi, eca! No lado positivo, o restaurante era lindo.
Vendo o pôr do sol sobre o oceano valeu a escolha em si.
O jantar foi agradável, vendo como o meu pai adorou
Vivian, ele ainda estava emocionado pela nova camaradagem
entre Juliette e eu, e não fez nenhuma pergunta horrível para
Rob do tipo ‘para-você-namorar-minha-filha’. Mesmo
Anastásia não fez beicinho demais.
O único momento embaraçoso foi quando Jennifer foi
efusiva com Rob, porque ele puxou minha cadeira para perto
dele. Pobre Rob tinha virado vermelho brilhante. Eu tinha
certeza que eu parecia a mesma. Ambas, Juliette e Anastásia,
sussurraram para sua mãe, com idênticas miradas de alarme.
Felizmente, Jennifer pegou a dica e tentou não agir muito
‘mãe’ a partir de então.
Após o jantar, todos estavam satisfeitos, mas o pai insistiu
em pedir alguns de seus bolos com cobertura quente, que era
costume em todas as festas. Esta era uma festa de aniversário,
depois de tudo. Nem um ia dizer não a bondade fudgy{29}, eu
concordei alegremente. Quando esperamos a sobremesa
chegar, Juliette começou a saltar em sua cadeira. — Podemos
dar presentes agora?

— Há presentes? — Minhas bochechas aquecidas


novamente. Eu não esperava que me dessem presentes.
— Bastante bons,— disse Juliette. — Você vai amá-los.
Podemos dar para ela agora? Por favor, por favor, por favor?
Era como assistir a um programa do jardim da infância na
manhã de Natal. Nós todos rimos dela. — Tudo bem. — Meu
pai concedeu e me entregou um longo envelope, que ele tinha
puxado do bolso interno do paletó. — Isto é da família. Foi
sugestão de Juliette, então se você não gostar dele, a culpe.
Juliette revirou os olhos, mas sorriu tão grande que parecia
que ia explodir. — Basta abrir!
Seu entusiasmo era contagiante, e eu rasguei o envelope tão
rápido quanto meus dedos danificados me deixaram. Eu quase
gritei de emoção quando vi o que estava esperando por mim.
Na verdade eu gritei um pouco, fazendo com que vários outros
clientes do restaurante franzissem a testa para na nossa mesa.
Eu estava segurando bilhetes para FantasyCon deste ano, em
minhas mãos. Sério, eu não podia acreditar.
— Você está brincando? Eu sei que isto me faz uma grande
idiota, mas eu queria ir para isso todos os anos desde que eu
tinha, tipo, doze! Oh meu Deus, eu não posso acreditar que eu
finalmente vou! Obrigada! Eu amo isso!
A convenção era realizada por cinco dias, mas o melhor dia
era sempre o último dia, domingo. Eu tinha, em minhas mãos,
ingressos para o domingo.
O dia depois de amanhã eu conseguiria passar o dia todo
imersa no mundo dos meus livros e filmes favoritos. Eu
conseguiria conhecer uma tonelada de meus autores e atores
favoritos, obter resenha dos livros que ainda não saíram, ouvir
palestras e se esgueirar em ver um par de filmes programados.
Houve até um boato de que eles iriam passar dez minutos
inteiros de O Príncipe Druida!
— Esses não são apenas bilhetes FantasyCon,— disse
Juliette. — Temos assentos para você no painel de discussão
do O Príncipe Druida. Eu revisei. O escritor dos livros e o
diretor, produtor, escritor e elenco do filme estão todos lá! Eles
estão tendo um encontro privado de comprimentos e
saudações para todos os participantes do painel, então, você
vai conhecer seu BFF Brian Oliver! Consegues acreditar?
Juliette estava gritando agora, o suficiente para que o pai lhe
dissesse para tomar um fôlego. Eu mesmo estava em choque.
Assim que meu cérebro começou a funcionar novamente, eu
percebi quantos bilhetes eu tinha. — Você comprou cinco
bilhetes? Você sabe o quanto estes devem ter custado?
Juliette acenou com desdém. — Tanto faz. Papai te devia de
qualquer maneira.
Eu decidi não pensar sobre isso e fiz outra pergunta, antes
de as coisas pudessem ficar um pouco estranhas. — Mas por
que tanta gente?
Juliette lançou um sorriso perverso. — Bem, obviamente
você não quer ir sozinha, e eu pensei que seria rude obter
apenas dois bilhetes e fazer você ter que escolher entre seus
amigos.
— Quer dizer que você estava com medo que poderia não te
escolher,— eu provoquei.
Juliette não negou. — Olá! Brian Oliver!
Eu ri novamente. — Ok, mas por que cinco? Será que você
tem uma lista de convidados específicos em mente?
— Bem, obviamente você, eu, Vivian e Rob, e eu pensei…
— Juliette hesitou, mordendo o lábio nervosamente.
Eu perguntei — Quem? — Eu sinceramente não tinha ideia
de quem mais ela poderia dizer.
— Eu pensei que você poderia convidar Cinder. — Juliette
corou, e correu com o resto de sua explicação. — Quero dizer,
O Príncipe Druida é totalmente coisa do seu rapaz. Eu pensei
que seria a desculpa perfeita para que vocês dois, finalmente,
se encontrassem.
Fiquei chocada. Juliette não estava apenas tentando saciar
uma das minhas maiores paixões ou a dela com este presente;
ela estava fazendo muito mais do que isso. Ela estava tentando
me dar o meu melhor amigo. Foi uma das coisas mais
atenciosas que alguém já fez por mim. Eu estava tão
emocionada com o gesto que eu não podia falar.
— O que você acha? — Perguntou Juliette nervosamente.
— Essa ideia é incrível, Juliette. Muito obrigado por pensar
em Cinder. Isso significa muito para mim. Eu adoraria ser
capaz de fazer isso com ele, mas ele está fora da cidade para o
fim de semana em algum compromisso. Ele me ligou para
desejar feliz aniversário, e nós só podemos falar por alguns
minutos. Ele estava tão ocupado, ele disse que não teria tempo
para conversar até segunda-feira.
— Vadio. — O rosto de Juliette caiu em um beicinho por
apenas um segundo antes que ela se animasse novamente. —
Tanto faz. Nós vamos buscá-lo quando o filme sair. Quero
dizer, não há nenhuma maneira que vocês não vão assisti-lo
juntos.
Meu coração doeu ao pensar, porque eu sabia que era uma
causa perdida. Cinder e eu nunca iriamos nos encontrar. Eu
não iria assistir ao filme com ele, mesmo que não houvesse
mais ninguém no mundo com quem eu preferisse ir.
Eu precisava mudar de assunto antes que eu começasse a
chorar. — Bem, de qualquer maneira, Cinder não pode ir. —
Eu olhei para minha outra meia-irmã, que estava ignorando
todos brincando com seu telefone. — Por que você não vem
com a gente, Ana?
Todos na mesa congelaram. Vivian, Rob e Juliette ficaram
boquiabertos para mim, com rostos chocados e incrédulos.
Meu pai e Jennifer estavam tão surpresos, mas ambos
assistiram Anastásia com respirações retidas e expressões de
esperança. Anastásia estava tão assustada como todos os
outros. — Eu?
Eu ignorei a inimizade e dei de ombros. — Certo. Por que
não?
O olhar que ela me deu foi impressionante, mesmo para ela.
— Eu não preciso de um convite de pena. O que faz você
pensar que eu ainda quero ir para alguma convenção repulsiva,
cheia de aberrações, com você e seus amigos, afinal?
Os olhares de decepção em ambas as faces, de Jennifer e do
meu pai, me irritou mais do que o insulto de Anastásia. Eu
queria dizer algo rude de volta, mas quando olhei ao redor da
mesa de novo para a minha nova família, eu não tive coração
para piorar a situação.
— Não é por pena que estou te convidando,— eu disse,
forçando toda a indiferença que eu consegui em minha voz. —
Considere como uma trégua. A oferta de paz.
Os olhos de Anastásia se estreitaram enquanto ela esperava
para me explicar.
— Juliette e Rob são seus amigos também, e eu sei que você
gosta de Brian Oliver. Venha com a gente e tenha um bom
tempo. Eu não estou pedindo que você goste de mim e eu não
quero que você venha, porque eu sinto pena de você. Eu a
estou convidando como uma forma de pedir desculpas. Eu não
posso evitar que eu me intrometi em sua vida e eu não posso
me afastar agora. O que posso fazer é tentar compensar isso
lhe dando a chance de roubar Brian Oliver de Kaylee
Summers. Tanto quanto me dói dizer isso, eu acho que você é
mais bonita do que ela. Se alguém pudesse controlá-lo, seria
você.
Papai e Jennifer ainda estavam congelados no lugar, incapaz
de acreditar no que estava acontecendo, mas Juliette, Vivian e
Rob, todos riram.
— Ela é definitivamente agressiva o suficiente,— Juliette
concordou. Ela sorriu para a irmã e disse: — Você é como uma
barracuda{30}.
Anastásia zombou, mas eu poderia dizer que ela estava
tentando não sorrir. — Isso não importa. Eu estou de castigo
até o Natal.
— Se você gostaria de ir com suas irmãs para a convenção,
eu suponho que eu poderia ser compreensivo com você,—
disse meu pai. — Assumindo que você pode se comportar.
Ana olhou como se ela estivesse rangendo os dentes, tanto
quanto eu estava em ser referida como irmãs, mas nenhuma de
nós o corrigiu. Ana estreitou os olhos e perguntou: — não
estarei livre apenas para o dia?
Meu pai e Jennifer trocaram um olhar. Papai deu de ombros
e Jennifer acenou para Ana. — Sem mais castigo, tem sua
liberação antecipada. Você pode estar livre do seu castigo,
enquanto o seu comportamento permanecer aceitável.
Ter a sensação de ficar fora do gancho não era algo que
aconteceu muitas vezes nesta família, porque ambos os olhos,
de Ana e de Juliette, se abriram em choque. Ana recuperou
mais rápido do que Juliette e encolheu os ombros em minha
direção, fingindo indiferença. — Tudo bem, que seja. Eu vou
para a sua coisa estúpida.
O garçom veio com nosso bolo, e enquanto todo mundo
estava distraído, meu pai estendeu a mão e apertou a minha. —
Obrigado,— ele falou.
— Obrigada por meu presente,— disse eu em troca. — Eu
amei isso.
Nós todos terminamos a nossa sobremesa, felizmente não
havia canto envolvido e depois de alguns minutos de silêncio
confortável, Rob virou-se para mim. — Então, você não está
interessada em ganhar Brian Oliver para si mesmo?
Ele estava brincando, mas não era a verdadeira curiosidade
em sua voz. — Ele já é um fã seu. Tudo o que você tem a fazer
é lhe dizer que é seu blog que ele está citando o dia todo.
— Oh, não! — Eu ri. — Isso não estará acontecendo. Eu já
tenho um rico, arrogante, playboy torcendo meu coração. Eu
não preciso de outro. Ele é todo seu, Anastásia, a menos que
Juliette queira lutar por ele.
— Oh, eu pretendo,— disse Juliette, nos fazendo rir
novamente.
— Tudo bem, tudo bem, o suficiente disso,— interrompeu
Vivian. — É a minha vez de lhe dar meu presente.
Vivian colocou um grande saco do presente transbordando
com papel de seda colorido na frente de mim.
— Você me deu um presente? Você não tem que fazer isso.
— Oh, sim, eu fiz. Apresse-se e abra antes que eu lhe diga o
que é.
Quando eu puxei o papel de seda longe e vi dobras de belo
laço branco, eu engasguei. — Será que seus pais me fizeram
um vestido?
Eu empurrei minha cadeira para trás e me levantei quando
eu puxei o vestido para fora do saco e o ergui para o meu
corpo. Era bonito! Era um longo vestido feito de chiffon e
rendas brancas. Era o vestido mais elegante que eu já tinha
visto. Mais do que isso, porém, eu o reconheci. — Espere. É
aquele…?
Vivian assentiu. — Eu não sou boa com segredos; pergunte
a qualquer um. Eu quase derramei os feijões sobre domingo
tantas vezes, mas Juliette teria me matado. Quando ela me
disse que seu pai estava fazendo, eu fui direto para os meus
pais, para me ajudar com o seu traje. Eles ficaram animados
para ajudar.
— Isso é incrível! — Eu esperava que meus olhos
transmitissem minha gratidão, mesmo que eu sentisse como
entrasse em pânico. O vestido era lindo, mas era sem mangas e
sem costas. Ele iria mostrar muito das minhas cicatrizes. Eu
sabia que tinha me sentido bonita quando tinha colocado o
vestido em sua casa, mas eu não acho que poderia mostrar
minhas cicatrizes na convenção, não importa o quanto eu
queria me vestir como o meu personagem favorito.
— Olhe no saco,— disse Vivian, lendo meus pensamentos.
Engoli em seco, novamente, quando eu retirei um manto
branco lindo, que combinava com o vestido, e um par de
longas e formais luvas de cetim branco. — Eu sei que as luvas
não são uma parte oficial do traje de Ellamara,— disse Vivian,
— mas eles correspondem e vai cobrir suas cicatrizes
perfeitamente. E aqui!
De repente, uma recepcionista estava atrás de mim, embora
eu nunca tivesse visto ninguém chama-la. A garota estava
segurando um lindo cajado. Tinha cerca de dois metros de
altura, feita de madeira e esculpida para se parecer com galhos
de árvores entrelaçadas. No topo, uma grande esfera de cristal
azul-claro estava envolto em ramos. Era uma réplica exata do
cajado mágico de Ellamara. Eu aceitei cautelosamente o
presente da recepcionista, que me desejou um feliz aniversário
e depois voltou para seu lugar. — É lindo.
Vivian apontava para a parte inferior do bastão. — Também
é totalmente funcional.
Havia um pé de borracha grossa no fundo, a mesma que
você encontraria em muletas… ou na minha bengala. Engoli
em seco novamente e testei o meu peso contra o equipamento.
Ele iria funcionar perfeitamente.
— Tanto quanto eu amo a Candy Cane{31}— disse ela. Vivian
tinha chamado minha bengala assim, após dar a ela suas
modificações estéticas porque eu disse que me lembrei do jogo
Candy Land{32}, — este só é muito melhor do que a minha
bengala.
Eu dei alguns passos para experimentá-lo e, em seguida, me
virei para enfrentar uma mesa cheia de rostos sorridentes. —
Isso é incrível, Vivian! Obrigada! Agradeça a seus pais,
também!
— Domingo você não será apenas Ellamara Rodriguez;
você vai ser Ellamara, a Bela e Misteriosa Sacerdotisa Druida
Mística.
— Há um concurso de fantasias,— Juliette acrescentou, —
e nós ganharemos
— Nós?
— Sim. Vivian me ajudou com meu traje, também. Eu estou
indo como a princesa Ratana.
— E eu vou como a malvada Rainha Nesona,— disse
Vivian. — Meu vestido é perfeito. Nós vamos estar fabulosas!
Eu gritei novamente. Isso ia ser tão impressionante. Era
como um sonho tornado realidade para uma aberração
fantasiada como eu.
— Eu vou dizer aos meus pais sobre Ana quando eu chegar
em casa, hoje à noite. Eles não terão qualquer dificuldade em
terminar um outro traje da Princesa Ratana para o domingo.
Eu bufei. — Sim, não deve ser muito difícil. Não há
realmente muito a esse traje.
Juliette mostrou a língua para mim. — Eu acho que é
quente. — Ela tinha ouvido meu discurso sobre a falta de
roupa estúpida da guerreira menina antes. — Os trajes das
Princesas Ratanas vão certamente chamar a atenção dos juízes.
Para não mencionar, Brian Oliver.
Rob riu. — Eu preciso passar durante todo o dia, só eu e
quatro meninas incrivelmente quentes, vestidas como
princesas medievais? Doce.
Vivian olhou para Rob com um brilho malicioso nos olhos
dela que o fez sentar-se na cadeira. — O quê?
Ela sorriu para ele com um sorriso doce que era tudo muito
inocente. — Há um preço para a honra de nos escoltar para a
convenção.
Rob fez uma careta. — Que preço?
— Nada muito ruim,— Juliette tocou. — Apenas uma
fantasia.
— Uma o quê?
— É collants. — Ela riu.
Rob processou isso e, em seguida, seu rosto empalideceu.
— Ah não! De jeito nenhum!
Todos nós rimos, até mesmo Anastásia.
— Sim, você vai,— disse Vivian. — Você não acha que a
Mística Sacerdotisa, Leal Senhoras Ratanas, e a Terrível
Rainha má estavam indo sem o seu campeão Príncipe Druida,
não é, querido Cinder?
— Hum, sim, eu achei.
Eu meio que me senti mal por ele, mas não o suficiente para
deixá-lo ir sem vestir o traje. — Se isso ajudar, você pode ter
uma espada,— eu ofereci.
— Você não pode já ter uma fantasia para mim,— ele
argumentou. — Como você sabe o tamanho para fazer isso?
Vivian riu. — Meu pai tem um dom para dimensionar as
pessoas. Você o conheceu na noite em que foi para assistir aos
filmes. Já para não falar que há tantos fotos de você no
Facebook.
Na expressão confusa de Rob, Vivian sorriu. — Todas essas
práticas que você faz após a escola, sem uma camisa,
provaram ser muito tentador para as meninas da nossa escola.
Uau. Eu realmente tenho que ter como amiga algumas das
meninas de nossa escola. Ou talvez começar a assistir algumas
práticas de futebol.
Vivian ronronou apreciando, fazendo Rob corar tão
ferozmente que eu tinha certeza que seu rosto nunca seria uma
sombra normal novamente.
— Desculpe,— eu sussurrei, oferecendo-lhe a minha mão
debaixo da mesa. Ele pegou-a como se pudesse fazê-lo
invisível, e lançou-me um sorriso agradecido.
— Basta pensar na roupa como um uniforme e você vai
ficar bem,— Juliette brincou.
— O traje vai se encaixar,— Vivian prometeu, — mas você
deve vir até a minha casa no início da manhã de domingo,
apenas no caso de que eles precisem para fazer todas as
alterações rápidas. Na verdade, todos vocês precisam vir mais
cedo, porque meus pais pediram a seus amigos do show para
vir e fazer o nosso cabelo e maquiagem.
— Não acredito! — Juliette, Anastásia, e eu, todas gritamos
juntas.
Meu pai e Jennifer estouraram de rir. — Nada como uma
troca de imagem para ter uma menina animada, hein? — Papai
brincou, enviando um sorriso simpático para Rob.
Rob suspirou e apertou minha mão novamente. — Bem. Só
porque é o aniversário de Ella, vou ser seu príncipe encantado
para o dia.
— Meu príncipe Cinder. — Inclinei-me e beijei o rosto de
Rob. — Você é o melhor.
Ele me deu um sorriso triste, com um olhar que disse que eu
devia a ele, então se virou para Vivian. — Eu vou ter a linha
de maquiagem.
Capítulo
Vinte e Um

FantasyCon era tudo o que eu sempre sonhei que seria e


meus amigos e eu estávamos incríveis para o evento.
Pais de Vivian foram tão bons, nós não parecíamos como se
tivéssemos saido do set do filme, parecíamos como se
tivéssemos encontrado uma maneira de transcender os mundos
e ir direto ao próprio Reino.
Nenhum dos meus amigos eram fãs reais de fantasia como
eu. Eles não estavam familiarizados com as referências,
autores e artistas conceituais, como eu era, e eles não fizeram
quase desmaiar quando chegaram para conhecer Richard e
Kahlan de Legend of the Seeker, da maneira que eu fiz, mas
isso não importa. Destacaram-se de todas as outras pessoas
nos trajes e desfrutaram rindo da minha atitude de nerd.
Isso estava bem. Ainda era um dos dias mais incríveis da
minha vida.
O painel de discussão do Príncipe Druida foi uma
experiência própria. Isso me deixou tão animada para o filme
que eu não acho que seria capaz de esperar até o seu
lançamento no Natal. Depois que acabou, as pessoas com
ingressos para os comprimentos e saudações, estavam na fila
para conseguir seus autógrafos dos membros do painel.
Vivian, Juliette e Anastásia mal tinham respirado desde que
entraram na sala e viram Brian Oliver sentado apenas alguns
metros de nós, e o pobre Rob foi reduzido a uma confusão
babando com a visão de Kaylee Summers. Meus amigos
sonhadores me acompanharam, porém e esperaram
pacientemente para conhecermos o autor de O Príncipe
Druida, LP Morgan, em primeiro lugar.
Ele foi colocado a uma mesa com o roteirista do filme,
vencedor do Oscar, Jason Cohen e eu quase morri quando fui
pega em uma discussão com eles e alguns outros obstinados
com As Crônicas de Cinder, sobre o processo de adaptação e
como eles estavam manipulando as sequências. Eu pedi para
tirar minha foto com os dois e eles ainda me deixaram gravar
nossa discussão no meu celular, para o meu blog. Isso era
seriamente um sonho tornado realidade! Eu estava nas nuvens
quando finalmente me afastei deles e fomos conhecer Brian
Oliver e Kaylee Summers.
— Eu não acredito que você ficou toda fã sobre esses dois
caras velhos, quando Brian Oliver está de pé, bem ali,— disse
Anastásia quando esperamos na fila para a nossa vez de
conhecer os convidados de honra.
Nem mesmo sua atitude poderia matar meu humor hoje. —
Brian Oliver é quente, mas LP Morgan é o meu herói. O
homem é um gênio. — Abracei o livro de capa dura que eu
trouxe comigo, para que ele assinasse. Eu desejava que
pudesse ter sido a cópia do livro da minha mãe quando ela era
uma menina, mesmo assim iria valorizar este novo livro.
Apertei-o novamente, lançando um suspiro sonhador. — Eu
não posso acreditar que eu finalmente os conheci.
Anastásia balançou a cabeça. — Você é tão estranha.
Vivian jogou seu braço sobre meu ombro. — Sim, mas nós
gostamos dela de qualquer maneira.
— Então Ella, você está indo agradecer a Brian Oliver pelo
seu presente de aniversário? — Perguntou Juliette.
— Não. — Eu me contrai quando todo mundo olhou para
mim, como se eu fosse louca. — Não. Eu não quero que ele
saiba quem eu sou.
— Por que não?
Porque ele provavelmente conhece Cinder, e então Brian
diria a ele que me encontrou. — Eu só não quero, ok? Por
favor, não diga nada.
— Ele provavelmente conhece Cinder,— disse Vivian,
expressando meus pensamentos exatos, exceto que ela fez soar
como se isso fosse uma coisa boa. — Você poderia lhe
perguntar o nome de Cinder e, então, poderíamos encontrá-lo
no Facebook e ver se ele é tão sexy como ele soa.
— Eu não preciso confirmar isso. Cinder não quer me
conhecer. Nunca. Eu não quero saber quão boa aparência ele
tem.
Vivian e Juliette franziram a testa para mim, mas Rob veio
em meu socorro. — Vocês, a deixem sossegada. Cinder é um
idiota de qualquer maneira por não querer conhecê-la.
Deveríamos estar a ajudando a passar por cima dele, não
encorajá-la.
Anastásia zombou, mas eu não tinha certeza se ela estava
irritada com o que ele disse, ou ofendida que ele passou o
braço em volta da minha cintura. Ela continuou a olhar para
mim, até que finalmente chegou à frente da fila e ficou cara a
cara com Brian Oliver.
Brian Oliver era quente na TV. Em pessoa, ele era
absolutamente hipnotizante. Aqueles olhos que de alguma
forma ardiam enquanto eles brilhavam… e aquele sorriso…
— Vocês cinco estão incríveis! — Disse Brian, quebrando o
silêncio para nós quando a sua presença física nos tinha feitos
todos sem palavras. — De longe os melhores trajes que eu vi
este ano. Eu espero que vocês entrem na competição. — Seus
olhos se moveram para Anastásia e Juliette e imediatamente
viajou o comprimento de seus corpos. — Gêmeas,— ele
ronronou quando terminou de comê-las com os olhos. — Você
donzelas são as mais belas Ratanas que eu vi desde que esta
convenção começou.
Eu não conseguia parar o bufo que me escapou. Se ele
realmente era amigo de Cinder, não era de admirar o porquê.
Eram duas ervilhas em uma vagem.
Corei quando Brian olhou para mim com curiosidade, mas
eu estava mais preocupada com o olhar magoado no rosto de
Juliette e o olhar em Ana. Eu rapidamente engoli o meu riso.
— Desculpa.
Juliette me lançou um olhar ‘o que diabos’ e me encolhi. Eu
estava tendo um dia bastante progressivo com Anastásia até
agora, mas insultá-la na frente de Brian Oliver não ia me
colocar em suas boas graças.
— Sinto muito,— eu disse de novo, mais arrependida desta
vez. — É claro que ele está certo. Você sabe que é muito linda.
Eu estava apenas rindo da sua linha brega.
Perguntou Brian — Linha brega? — Sua voz sugeriu que
ele estava ofendido, mas seus lábios trêmulos e os olhos
risonhos contavam uma história diferente.
Eu não tinha a intenção de insultá-lo, mas já era tarde
demais para levá-la de volta, então eu tive que me defender. —
Sim. Foi brega. E eu tenho certeza que você provavelmente já
disse exatamente a mesma coisa a cada menina que você
conheceu, esta semana. Acho incrível que você ainda pode
dizê-la com uma cara séria.
Brian piscou para mim com surpresa. Próximo a ele, Kaylee
Summers riu. — O que você tem, baby? — Condescendência
escorria de seu tom, grosso como melado. — Alguém que não
está impressionado com suas besteiras.
Eu estava com medo que eu o ofendi realmente, mas ele
sorriu como se eu apresentasse um delicioso desafio.
— Ela não estaria vestida como Ellamara se ela fosse
facilmente suscetível ao charme,— disse a Kaylee, sem nunca
tirar os olhos castanhos de cima de mim. — Eu quis dizer o
elogio, no entanto. Suas amigas realmente são duas das mais
belas Ratanas princesa que eu vi neste fim de semana. — Ele
enviou uma piscadela para Ana e Juliette, levando-as corar. —
Assim como você é a Ellamara mais encantadora que eu
conheci até agora.
Eu bufei novamente. — Eu sou, provavelmente, a única
Ellamara que você conheceu.
O sorriso de Brian ampliou em um sorriso de parar o
coração. — Você ainda é encantadora. Esses olhos… — Ele
fez uma pausa, olhando fixamente para os meus olhos, e
franziu a testa. — A gente se conhece?
— Ah! Não. Nós não nos conhecemos.
— Você tem certeza? Você parece familiar. Eu juro que eu
vi esses olhos antes.
Engoli em seco. Era possível que ele tinha visto uma foto
minha no meu blog. Eu não tinha subido uma desde a última
vez em que fui em uma viagem literária com a minha mãe.
Isso foi meses antes do meu acidente. Eu parecia muito
diferente agora, mais velha, sem aparelho ortodôntico, mas os
meus olhos azuis com a minha pele morena e cabelos escuros
eram inconfundíveis.
Obriguei-me a sorrir. — Eu tenho certeza que eu me
lembraria, se conhecesse uma famosa estrela de cinema. —
Ele ainda parecia cético, então eu adicionei, — Especialmente
aquele que usa esses flertes brega.
Finalmente, Brian riu. Ele pegou uma caneta Sharpie e deu
um sorriso brilhante, pronto para assinar um autógrafo para
mim. — Tudo bem, eu dou. Qual é o seu nome, linda?
Minhas bochechas inflamaram apesar dos meus melhores
esforços. Eu apontei para a foto dele e balancei a cabeça. —
Está bem. Eu não preciso de um desses. Eu só queria te dar
isto.
Entreguei-lhe uma cópia de O Príncipe Druida. Ao contrário
do bom livro de capa dura que LP Morgan tinha assinado, esta
era uma das versões de bolso barata, que haviam substituído a
capa original com o elenco do filme. Brian alegremente
aceitou o livro, em seguida, olhou para mim. — E para quem
eu estou fazendo isso?
Eu evitei um rolar de olho. — Eu não quero que você
assine. Eu quero que você leia isso.
Brian olhou para mim. — Explique novamente?
Eu suspirei. — Você está atuando um dos personagens mais
queridos de todos os tempos. Eu não me importo quantos
prêmios da academia Jason Cohen ganhou pela sua escrita;
não há nenhuma maneira que o roteiro possa fazer justiça ao
livro. Eu sei que é tarde demais para ajudá-lo com o primeiro
filme, mas há mais quatro para vir. Eu realmente, realmente
quero que você entenda quem Cinder é, então, eu estou
implorando. Por favor. Leia os livros. Eu juro, eles valem a
pena.
Todo estranho ao alcance da voz ficou boquiaberto para
mim como se eu fosse uma aberração total, exceto para os
outros fãs obstinados que aplaudiram e torceram. Juliette e
Anastásia usavam combinadas expressões horrorizadas.
Mesmo Rob e Vivian pareciam um pouco surpresos.
A expressão de Brian Oliver era difícil de descrever. Ele
parecia estar tendo o momento de sua vida. Seu sorriso, de
alguma forma, impossivelmente, ficou maior, mas ele também
parecia perplexo, e ele olhou para mim com algo semelhante a
suspeita em seus olhos. — Você acha que eu não li os livros?
Isso é exatamente o que eu pensei. — Você quer dizer que
você leu?
Ele riu. — Por que você acha que eu exigi a desempenhar o
papel? Concordo plenamente que Cinder é um dos
personagens mais queridos de todos os tempos. Eu não poderia
deixar alguém atuá-lo. Eu não posso esperar para filmar
Reinado de Glória. Esse foi o meu livro favorito da série.
Eu bati minha boca fechada, sem saber quando ela tinha
caído aberta, e os meus lábios rapidamente se curvaram em um
grande sorriso. — Reinado de Glória é bom,— eu concordei,
— mas O Príncipe Druida ainda é o meu favorito. Eu sou
doida por uma boa história de origem. A de Cinder é tão
trágico e comovente, mas ainda ele traz tal sentimento de
esperança para um reino desesperado. Para não mencionar o
mistério de quem ele é, feito com maestria nesse livro.
— Sem dúvida,— concordou Brian. — O Príncipe Druida é
o meu segundo favorito. Mas eu adoro quando Cinder
finalmente consegue voltar para casa, não como um garoto de
fazenda inútil, mas como um guerreiro druida, é incrível. O
cara coloca o inimigo para baixo como um mestre. A ação em
Reino de Glória é épica.
Agora eu revirei os olhos. — Cenas de batalha. Você é um
cara. Eu aposto que você ama o que os produtores de cinema
têm feito com as vestimentas da princesa Ratana, também.
Algo em seguida mudou em Brian. Fogo encheu seus olhos,
uma paixão realmente aquecida que eu não sabia como
explicar. Sua suspeita derreteu em um sorriso conhecedor e ele
desviou seu olhar para trás sobre Ana e Juliette antes de me
dar um sorriso jovial. — Eu definitivamente não reclamei.
Quando eu gemi, Brian sentou-se e cruzou os braços sobre o
peito, me avaliando com diversão. — Conte me algo. Por que
você se veste como Ellamara? Foi porque ela está coberta da
cabeça aos pés? Você é algum tipo de puritana?
Eu zombei e Juliette bateu a palma da mão em sua testa. —
Oh, ótimo! Agora que você falou isso. Ela estará se queixando
sobre isso por semanas.
Brian considerou as palavras de Juliette, eu apertei meu
cajado e resisti à vontade de bater-lhe na cabeça com ela. —
Eu não sou uma puritana. Eu só não aprecio Hollywood
sacrificar a integridade de algo apenas para ter rapazes
pervertidos como você para comprar bilhetes. Nos livros a
princesa Ratana era uma guerreira, mas ela ainda era uma
princesa. Seu pai transformou sua personagem em algo inútil,
apenas imagem. É tão humilhante para as mulheres! Nós
podemos ser bonitas enquanto completamente vestidas, você
sabe.
— A meu ver,— Brian brincou, descaradamente me
checando.
Eu juro que eu senti seus olhos percorrerem o meu corpo,
com uma carícia. Eu lutei contra um arrepio.
— Então, por que Ellamara? — Ele perguntou de novo.
— Porque ela é a maior personagem dos livros.
Juliette reconheceu que um dos meus discursos retóricos
sobrevinha e tentou me empurrar de lado antes que eu
começasse. — Ok, Ella, ainda existem outras pessoas à espera.
Nós não queremos ocupar todo o tempo de Brian.
— Ela está certa, Brian,— disse Kaylee, sem se preocupar
em esconder sua irritação. — Basta dar a menina um autógrafo
e se despeça.
Brian ignorou sua namorada. — Você acha que Ellamara é a
maior personagem nos livros? E sobre Cinder? Ele é o herói.
Ele salva todo o reino.
A pergunta era claramente uma provocação. Ele queria me
irritar de propósito. Tanto quanto eu tentei não deixar que ele
me irritasse, eu não pude resistir a discutir. — Claro que ele
faz, porque ele tinha Ellamara para guiá-lo. Sem ela, ele não
teria sido nada.
— Nada? — Brian zombou. — Ele tinha a sua magia. Ele
ainda seria o melhor.
— Sim, mas ele teria se deliciado em seu poder e se tornado
apenas mais um esnobe príncipe idiota autointitulado, bêbado
em seu próprio poder. — Não muito diferente do cara sentado
na minha frente. Pela expressão em seu rosto, Brian sabia o
que eu estava pensando. — Como foi,— Eu pressionei antes
que ele pudesse me enfrentar, — ele ainda escolheu casar com
a garota quente quando estava verdadeiramente apaixonado
por Ellamara.
— Mas Ellamara se tornou uma sacerdotisa. Ela fez um
voto de celibato.
Eu gemi. Eu tive esse mesmo argumento com Cinder, um
milhão de vezes. Na verdade, esse foi o primeiro argumento
que tive. A primeira vez que ele deixou um comentário no
meu blog, que tinha defendido a decisão de Cinder se casar
com Ratana mesmo quando era Ellamara quem ele realmente
amava.
— Ela se tornou uma sacerdotisa porque Cinder a rejeitou.
Ele quebrou o coração dela!
— Ele não tinha escolha! — Brian gritou de volta, ficando
tão apaixonados pelo nosso argumento como eu estava,
claramente um verdadeiro fã. — Ele pode ter amado Ellamara,
mas ela era uma plebeia. Ratana era Coroada Princesa dos
Flatlands. Sua união traria a paz entre os dois reinos. Cinder
fez a coisa nobre, colocando seus próprios sentimentos de lado
para o bem do reino.
— Nobre? — Eu gemi novamente. — O que ele fez não era
nobre em tudo. Foi um ato de covardia. Ele fez o que se
esperava dele, porque era mais fácil. Um verdadeiro homem
teria lutado para estar com a mulher que amava, dane se de
que classe social.
Brian recuou na cadeira, atordoado com o que eu disse, mas
eu não o retiraria. Seu choque desapareceu rapidamente,
embora, e um satisfeito sorriso se acomodou em seu rosto.
Não entendi a piada, mas o que quer que fosse, Brian Oliver
estava claramente gostando. Ele arqueou uma sobrancelha
para mim e cruzou os braços sobre o peito com firmeza. — Eu
pensei que você disse que Cinder foi um dos maiores
personagens de todos os tempos.
Eu combinava com a sua teimosia. — Todo grande
personagem comete erros. Cinder foi sábio no final e capaz de
governar o seu povo, só porque Ellamara lhe ensinou a pensar
além de si mesmo. Ele era um grande personagem, mas…
— Eu sei, eu sei,— Brian interrompeu com um suspiro a
cima de tudo. — Ellamara foi a verdadeira heroína.
Eu congelei. Quando olhei nos olhos de Brian, ele olhou
para mim com um sorriso de cumplicidade, esperando que eu
entendesse. Entendi. A mensagem veio alta e clara, e meu
coração parou de bater. Não havia nenhuma maneira! Não
poderia ser possível!
— O que fez você dizer isso? — Eu não era capaz de falar
alto o suficiente para ser ouvida.
O rosto de Brian suavizou e ele encolheu os ombros. — Era
o que você estava indo dizer.
— Sim, mas como é que você sabe? Por que você disse
essas palavras em particular?
Nós dois sabíamos que eu já sabia a resposta. Brian se
inclinou para frente em sua cadeira, observando-me com uma
nova intensidade. Seu sorriso se transformou positivamente
mal e ele sussurrou, — Fale carro para mim.
Ao meu lado, alguém engasgou. Eu pensei que talvez fosse
Juliette, mas eu não podia ter certeza. Eu ainda estava em
choque para pensar com clareza.
Cinder! Eu estava conversando com Cinder! Cinder não
conhecia Brian Oliver. Cinder era Brian Oliver!
Eu senti como se um raio tivesse me acertado. O choque foi
tão grande que me bateu para trás alguns passos. Eu tropecei
em Rob, que me agarrou quando meus joelhos trataram de
ceder. Ele me segurou pela cintura, o que foi bom porque eu
não tinha certeza de que eu poderia ficar estável.
Então, eu olhava incrédula, o tão famoso galã de
Hollywood, Brian Oliver, observar ciumentamente os braços
de Rob escorregar em volta da minha cintura. O toque de
malícia em sua expressão era tão sutil que eu duvido que
alguém além de mim notou. Bem, talvez Rob, porque o seu
aperto em mim aumentou um pouquinho, e ele praticamente
rosnou quando ele disse, — Você está bem, Ella?
— Eu estou bem. — As coisas eram muito, muito estranhas.
Brian era Cinder! Eu tinha falado com Cinder! Eu estava
olhando para Cinder!
Os olhos de Cinder bateram de volta aos meus. — Ella?
Para qualquer outra pessoa, eu tenho certeza que ele soava
como se ele estivesse simplesmente pedindo para que pudesse
assinar um autógrafo, mas eu ouvi a sua surpresa. Nós nunca
perguntamos um ao outro quais eram os nossos nomes
verdadeiros. Ele provavelmente assumiu que Ella era apenas
um nome falso, como Cinder era.
Eu balancei a cabeça, atordoada. — Ellamara,— eu
sussurrei. Minha boca ficou seca. — Minha mãe adorava os
livros, também.
Todo o rosto de Brian brilhava de alegria ao saber meu
nome real.
— Brian! — Uma voz estridente vaiou em um sussurro
irritado. — Baby, você está começando a causar uma cena.
Pare de flertar com ela e assine um autógrafo maldito, já.
Eu rompi com o olhar de Brian para encontrar Kaylee
Summers dando-me um olhar tão desagradável que poderia ter
trazido Anastásia às lágrimas. Tantas coisas se encaixaram.
Cinder reclamou tantas vezes sobre a sua vida ser louca,
complicada, e fora de seu controle, porque ele era uma famosa
estrela de cinema. E a garota que ele estava sendo pressionado
a namorar, a víbora, era a sua co-estrela, Kaylee Summers. Sua
noiva.
A compreensão me surpreendeu mais uma vez. — Parabéns
pelo noivado,— eu murmurei para ela, sufocando a bile. —
Tenho certeza que você vai fazer uma bela noiva.
Eu não sabia que eu estava tremendo até que Rob me
esmagou contra o peito. — Está bem?
Eu enterrei meu rosto em seu ombro e balancei a cabeça. Eu
definitivamente não estava bem. Meu coração estava
quebrando. Ele tinha quebrado antes, quando meu pai me
deixou e novamente quando eu descobri que minha mãe estava
morta. Tinha até mesmo quebrado uma terceira vez quando
Cinder havia se recusado a me conhecer. Mas nunca tinha
quebrado como agora. — Eu preciso sair daqui.
Rob não fazia perguntas.
Quando viramos para ir embora, Cinder me chamou em
pânico. Olhei para trás e desejei que eu não tivesse.
Seus olhos cravaram em mim, pedindo compreensão. Sua
dor e frustração estavam tão claramente expostos que eu senti
todo o caminho até a minha alma. Ou talvez fosse a minha
própria agonia.
Depois de um momento notável de nós dois olhando um
para o outro, Cinder puxou os olhos longe de mim e rabiscou o
seu nome em uma foto. Quando ele deu para mim, ele não a
soltou imediatamente. Ele lançou os olhos para baixo, para a
imagem que nós dois estávamos segurando, como se quisesse
que eu olhasse. Meus olhos caíram e eu quase engasguei,
novamente. Em vez de um autógrafo, ele tinha escrito:
Eu posso explicar.
Encontre-me no Dragon’s Roost. Seis horas, Cinder.
— Foi realmente um prazer conhecê-la, Ella.
Eu pulei ao som da sua voz. Quando levantei o olhar, ele
pronunciou a palavra por favor e soltou a foto.
— Obrigada,— eu murmurei, e depois deixei Rob me
arrastar para fora do caminho, para que toda as pessoas
pudessem ter a chance de ter autógrafos de Brian e de Kaylee.
De alguma forma, eu me senti como se eu tivesse sido
atropelada por um trem.
Capítulo
Vinte e Dois

Brian
Ellamara era a mais incrível mulher que eu já conheci. Ela
era inteligente e espirituosa e nem um pouco intimidada pela
minha fama. E ela era tão bonita! Eu a tinha notado antes do
painel de discussão sequer começar. Afora o fato de que ela e
seus amigos realmente se destacaram entre a multidão com
seus figurinos incríveis, eu tinha visto centenas de Ratanas e
Cinder nos últimos cinco dias e até mesmo algumas Rainhas
Nesonas, mas Ella foi a primeira pessoa a se vestir como a
Sacerdotisa Druida Infame.
Ela me intrigou imediatamente e eu fiquei de olho nela
durante todo o painel de discussão. Eu poderia dizer que ela
era uma fã incondicional e encontrei-me a ficar impaciente
para ela vir falar comigo, após o painel, quando ela foi direto
para LP Morgan primeiro e, em seguida, ficou lá por cerca de
20 minutos com o que era claramente a discussão de sua vida
com ele e Jason Cohen. Isso me matou por não ser uma parte
dessa conversa.
Uma vez que ela ficou finalmente em pé na minha frente, eu
vi pela primeira vez como verdadeiramente impressionante ela
era. As outras garotas com ela eram bonitas, mas Ella era tão
diferente, com sua pele marrom suave e aqueles grandes olhos
brilhantes, sob o capuz de sua capa.
Eu não sei por que eu nunca considerei a possibilidade de
que minha Ellamara viria a FantasyCon, agora que ela morava
em Los Angeles, ou de que aquela misteriosa beleza exótica
poderia ser ela, mas não demorou muito para descobrir. O
pensamento passou pela minha cabeça quando as primeiras
palavras que saíram de sua boca foram um insulto.
Era tão Ella para não ficar impressionada com o meu flerte
inofensivo. Em seguida, ela deixou cair o livro maldito no meu
colo e insistiu que eu lesse aquilo. Apenas Ella! E, é claro, seu
comentário sobre o traje de Ratana confirmou.
Ela era brilhante, incrível, tudo que eu sempre sonhei que
seria… e ela estava nos braços de outro homem. Agora eu
entendi porque Kaylee era tão ranzinza comigo o tempo todo.
Quando aquele bastardo jogador de futebol magro colocou as
mãos em Ella, eu queria pular sobre a mesa e estrangulá-lo. Lá
estava eu, finalmente, no momento em que eu tinha sonhado
em vê-la há anos, e tudo que eu conseguia pensar era a
maneira que o cara a segurava, como se ela pertencesse a ele.
E ela aceitou seus braços! Quando Ella, finalmente, saiu de
seu choque e percebeu que eu era Cinder e que eu estava
‘noivo’ de Kaylee, ela tinha se jogado nos braços daquele
sortudo e pediu-lhe para ser seu cavaleiro de armadura
brilhante. O imbecil estava mesmo vestido como Cinder.
Eu era suposto ser seu Cinder! Ella era para ser minha!
Pedi lhe para ir me ver, mas eu vi o olhar em seu rosto, o
horror em seus olhos e não tinha certeza se ela iria me
encontrar. Se ela não o fizesse, eu estava indo localizá-la,
mesmo se eu tivesse que bater em cada maldita porta e entrar
em cada maldita casa de Los Angeles.
Kaylee estava sobre mim, agora estávamos de volta em
nossa suíte, após os comprimentos e saudações acabarem.
— Brian,— ela começou com aquela voz doce doentia, que
arranhava meus nervos, até que estavam em carne viva, —
deixe-me explicar uma coisa sobre estar em um
relacionamento. Quando você está supostamente apaixonado
por alguém, você não flertar com cada par de olhos maldito
quando te dê vontade! Que diabos foi isso aí?
Tirando minha camisa, eu fui para o banheiro, para
examinar meu rosto no espelho. Fazer a barba de novo ou não?
Eu sabia que Ella achava uma sombra de cinco horas sexy. Ela
disse isso muitas vezes, quando ela passou pela fase de Prison
Break. Mas se acabarmos ficando perto e eu muito esperava
que isso acontecesse, suave provavelmente seria melhor.
— Isso lá atrás, foi o fim desta farsa publicitária,— eu disse,
depois de Kaylee me seguiu até o banheiro, à espera de uma
explicação.
Encontrei brevemente os olhos de Kaylee no espelho, então
peguei minha navalha e passei a trabalhar, fazendo meu rosto
beijável. — Terminei, Kaylee. — Minha mente tinha clareou
no segundo em que eu reconheci Ella, e uma vez que soube
que estava acabando com este jogo, eu estava cheio de
serenidade. — Nós podemos terminar isso como você quiser.
Pode dizer às pessoas que foi você quem terminou ou pode
dizer que eu terminei com você e jogue de vítima, eu não me
importo com o coração partido. O que você quiser, mas está
acabado. Eu não estou fazendo mais isso.
— Perdão?
Lavei minha navalha na pia e quando eu o trouxe de volta
para o meu rosto eu me perguntava se ter objetos cortantes nas
proximidades, enquanto estava tendo essa conversa, era a
melhor ideia. — Isso não era qualquer mulher lá atrás; era
Ella.
Kaylee não disse nada por um momento, mas seus olhos se
estreitaram e os lábios contraídos juntos, firmemente.
Ela estava se lembrando dos cumprimentos e saudações e
vendo minha interação com Ella, através de uma nova luz.
— Essa era Ella? Você não pode estar falando sério. — Ela
riu como um disco, uma risada sem humor. — Essa vadia
sarcástica com quem você tem a neura de ficar todo esse
tempo?
Larguei minha navalha e me voltei para Kaylee, apoiando-a
contra a parede, atrás de nós. — Não fale sobre ela assim. Eu
estou terminando com você, Kaylee e eu vou atrás dela. Você
pode fazer isso fácil ou complicado, mas se você tentar puxar
qualquer merda, eu vou vir limpo sobre a relação ser uma farsa
desde o início. Eu vou dizer a todos como a princesinha
mimada jogou uma birra estilo Lindsay Lohan, e me
chantageou para um noivado falso. Eu vou dizer a todos como
você ameaçou arruinar minha carreira, o meu pai ser demitido
e sabotar o filme todo porque você é louca e obcecada por
mim.
— Obcecada em você? — Kaylee zombou. — Você não
vale a pena o drama. Há centenas de caras lá fora com melhor
aparência e mais rico do que você, que seria grato pela
oportunidade de estar comigo.
— Boa. Vá torturar alguns deles.
Ignorando o olhar de Kaylee, eu terminei de raspar meu
rosto, me borrifei com uma pitada de colônia, eu esperava que
Ella achasse irresistível e fui procurar algo novo para vestir.
— Ninguém vai acreditar, você sabe,— Kaylee argumentou,
seguindo-me para o quarto. — Não com a sua reputação de ser
um jogador.
Que piada. — Confie em mim Kay, todos na cidade já
sabem que você é uma cadela de coração gelado. Diva
mentalmente instável não seria um salto muito longe.
Eu vasculhei minhas coisas e encontrei um suéter cinza
escuro com decote em V e que as mulheres sempre pareciam
gostar. Esperemos que Ella gostasse, também.
— E sobre o filme de Zachary Goldberg? Os contratos ainda
estão em negociações. Nada está assinado ainda. Eu ainda
posso fazer o meu pai voltar atrás.
— Você está superestimando sua importância, baby,— Eu
disse quando eu escorreguei a camiseta sobre a minha cabeça.
— Você pode ter persuadido o seu pai para ouvir a proposta,
mas eu estava nessa reunião, também. Ele amou o roteiro, o
diretor e tem o mais prestigiado e mais quente promissor ator
já anexado. O projeto é ouro.
Eu dei um tapinha no meu rosto e verifiquei o espelho uma
última vez. Satisfeito com o que eu vi, eu escorreguei minha
carteira e telefone no meu bolso. Já eram seis horas, então
liguei para o restaurante, para dizer que eu chegaria um pouco
tarde e que eles não deixassem Ella ir a qualquer lugar.
— Eu ainda posso arruinar sua carreira,— disse Kaylee
sombriamente. — Eu posso arrastar a sua reputação no meio
da lama. Eu posso ter os paparazzi na sua bunda que você vai
precisar de cirurgia para removê-los.
Sua raiva aumentou quando ela tornou-se mais desesperada,
mas ela já não tinha qualquer efeito sobre mim. Eu estava
além de me importar. — Faça o seu pior. Seja qual for o dano
que você fizer, não será permanente.
— Você vai perder o seu Oscar.
Poucos meses atrás poderia ter me incomodado, mas o que
era uma estátua se isso significava que eu iria perder Ella? Eu
dei de ombros. — Pode ser. Mas mesmo se você arruinar
minhas chances este ano, eu tenho tempo para provar às
pessoas quem eu sou de verdade. Eu tenho mais quatro filmes
das Crônicas de Cinder e um projeto com Zachary Goldberg
chegando que pode muito bem ser chamado Brian Oliver é o
Homem. Eu só precisava de você para me fazer parecer bom,
em primeiro lugar, porque eu era um idiota imaturo, mas eu
não sou mais asim. Eu tenho Ella agora e ela não apenas me
fará parecer sério como estou falando sério. Com ela, é real.
Kaylee ficou ali, olhando completamente aturdida, quando
ela finalmente percebeu que tinha perdido seu argumento.
Em uma última tentativa desesperada de conseguir o que
queria, ela atravessou a sala e colocou as mãos delicadamente
no meu peito. — Brian… — Ela olhou para mim com os olhos
cheios de luxúria, enquanto ela deslizou seus braços por cima
dos meus ombros e pressionou seu corpo contra mim. —
Baby, por favor, não vá.
Quando Kaylee roçou os lábios sobre a minha recém-
raspada mandíbula, eu me perguntava como eu já a tinha
achado tentadora.
Eu agarrei os braços dos meus ombros e me desprendi de
sua mão. — Desculpe, Kay. Há apenas uma mulher para mim
agora e você não é ela. Você não chega nem perto.
Pela primeira vez desde que a conheci, as verdadeiras
emoções de Kaylee racharam sua superfície e ela era incapaz
de esconder a mágoa causada pela minha rejeição. Eu me senti
mal por exatamente dois segundos. Em seguida, uma batida na
porta fez o meu estômago explodir com borboletas. — Isso
seria Scotty.
— Brian, você não pode fazer isso!
Ignorando Kaylee, eu abri a porta de repente, na maior
pressa da minha vida. Scott estava lá, com um sorriso animado
no rosto, segurando o livro que eu lhe pedi para conseguir e
um grande capa verde. — Eu tenho as coisas que você pediu.
— Meu herói!
— Boa sorte, cara.
— Brian! — Kaylee gritou novamente.
— Desculpe, Kay, eu tenho que ir. — Eu passei a capa ao
redor dos meus ombros e puxei o capuz sobre a minha cabeça.
O manto era mais senhor dos anéis do que das Crônicas de
Cinder e esperava que o disfarce fosse suficiente para passar
do centro de convenções para o restaurante, sem ser notado. —
Scotty, arrumará minhas coisas e fará o check-in. Seja boa e
deixe as peças de homem intactas.
Kaylee me olhou com tudo o que valia a pena e eu soprei-
lhe um beijo em troca, tonto da minha nova liberdade. — Vejo
você no set da sequencia, princesa.

***
O Dragon’s Roost era um restaurante no interior do centro
de convenções. Eu fiquei para trás, do outro lado do corredor
da entrada, escaneando a cena. Eu gostaria de ter escolhido um
lugar mais privado para conversar, mas eu entrei em pânico
quando Ella começou a caminhar para longe de mim e o único
lugar que me veio à mente foi o café, onde eu tinha comido o
almoço tardio.
Considerando-se que o evento estava lotado, as opções de
refeições eram limitadas e era hora do jantar principal, o
restaurante estava lotado. Havia uma fila no hotel, onde
estavam vinte pessoas na frente da recepção. Pelo menos eu
tinha reservado uma cabine na parte de trás com antecedência,
e até agora, a minha capa de invisibilidade tinha feito o seu
trabalho. Eu me misturei no meio da multidão de amantes da
fantasia. Ninguém no mundo, além de Ella e Scott, tinha
qualquer ideia que eu estava chegando, por isso, enquanto Ella
e eu não causássemos uma cena, iríamos ficar bem.
Eu tinha quinze minutos de atraso, mas eu não era o único.
Assim quando eu estava prestes a pôr a cabeça para dentro,
cinco pessoas em trajes incríveis que eu reconheci
instantaneamente, se aproximaram ao lado do suporte da
anfitriã e pararam.
— Eu não acho que eu posso fazer isso,— disse Ella,
enquanto espreitava nervosamente para o restaurante.
Meu estômago virou. Ela estava de pé, apenas um metro de
mim. Muito tentada a conseguir uma leitura sobre os seus
sentimentos, eu me inclinei contra a parede da frente do
restaurante e puxei o capuz um pouco mais baixo, sobre o meu
rosto. Eu mantive minha cabeça para baixo e fingi estar muito
interessado em mensagens de texto, enquanto lançava olhares
roubados para Ella como eu podia.
— Claro que você pode,— disse a garota ruiva, na roupa da
Rainha Nesona.
A loira com o cabelo comprido apenas franziu a testa. —
Por que não?
Era uma pergunta muito boa.
Um riso enlouquecido borbulhava da garganta de Ella. —
Por que não? Porque ele é Brian Oliver. Ele é o Bad Boy
favorito da América. Ele está namorando Kaylee Summers,
pelo amor de Deus!
A ruiva bufou. — Sim, porque esse era um relacionamento
saudável.
Eu sufoquei uma risada. Aparentemente Kaylee e eu não
éramos tão bons em atuar como pensávamos.
— Caras como ele não saem com garotas como eu, Vivian.
A declaração feroz de Ella foi surpreendente. Como ela
poderia pensar isso?
— Mas ele é Cinder. Ele é seu melhor amigo,— a loira
argumentou.
Eu queria abraçá-la por apontar isso, mas a resposta de Ella
estava frenética. — Porque ele não sabe realmente sobre mim!
É diferente online. Se eu encontrá-lo agora, tudo muda. E se
ele ficar desapontado e eu acabar perdendo meu melhor
amigo?
Impossível. Eu achei que era irônico agora que ela era a
pessoa preocupada em me perder, quando tinha sido o
contrário, no dia em que me recusei a conhecê-la.
— Não há nenhuma maneira que ele vá ficar desapontado,
— a ruiva, Vivian, prometeu, — mas se ele está, então, eu vou
ser a sua nova melhor amiga e nós podemos jogar os vermes
comedores de carne para alimentá-lo.
Eu sorri para isso. Era fácil ver por que Ella gostava de
Vivian.
A Ratana, com o cabelo longo, colocou o braço em torno de
Ella. Ela tinha que ser uma das irmãs, Ella tinha mencionado
que eram gêmeas e ela era, obviamente, a boa. A maligna
estava em volta das demais, vestindo uma carranca muito
Kaylee.
— Claramente, o cara está louco por você,— disse a irmã
boa. — Ele estava flertando como um louco com você, antes
mesmo que ele descobrisse quem você era. Na frente da sua
noiva!
Bom. Pelo menos alguém apreciou meu charme.
Obviamente não Ella, porém, ela gemeu e disse: — Ele flertou
com todas. É o seu trabalho ser simpático com as fãs.
Seu aborrecimento era divertido, mas minha atenção foi
atraída por um escárnio do Sr. Fantástico.
Felizmente, ele não estava colado ao lado de Ella mais, mas
ele ainda estava perto o suficiente para fazer-me louco de
ciúmes.
— Isso foi muito além de amigável, Ella. O cara estava a
segundos de distância de saltar sobre a mesa e me socar no
rosto, apenas por ficar ao seu lado.
O Garoto do Futebol era muito perceptivo. Eu tinha estado
perto de fazer exatamente isso, mas não porque ele só estava
de pé ao lado dela. A irmã má concordou comigo. — Você
quer dizer que a sustentava,— ela murmurou. — Você pode
muito bem ter feito xixi sobre ela.
Foi engraçado e completamente verdade, mas Ella
empalideceu e sua outra meia-irmã estava chateada. — Ana,
não seja tão má!
— É culpa de Ella,— Ana argumentou. — Ela está
amarrando Rob ao longo de semanas por causa de seu precioso
Cinder e agora ela nem quer conhecê-lo. Que provocadora é
essa!
Antes que eu tivesse tempo para tentar decifrar o que isso
significava, Ella estalou. — Claro que eu quero conhecê-lo!
— Então, qual é o seu problema? Obviamente, ele quer te
conhecer também, ou ele não teria te pedido para vir.
— Eu odeio concordar com Ana,— disse Vivian, — mas ele
lhe pediu para te encontrar e ele não tem que fazer isso. Se
você não falar com ele, você sabe que você vai se arrepender
para o resto de sua vida.
— Mas ele não sabe sobre mim,— Ella desabafou de
repente. — Eu nunca entrei em detalhes sobre meu acidente.
Ele não sabe que eu sou… Eu sou…
Olhei para cima tão drasticamente, que eu teria sido
descoberto se todos os amigos de Ella não estivessem muito
chocados com a sua confissão, para me notarem. Os olhares
em seus rostos mudaram de piedade e tristeza, para simpatia, e
claro, um sorriso muito satisfeito de Kaylee Jr.
— Você nunca disse a ele? — Vivian perguntou em voz
baixa. — Mesmo depois de todo esse tempo?
Ella olhou como se ela quisesse chorar quando ela balançou
a cabeça. Eu ia ficar louco se eu não descobrisse do que ela
estava falando. Ella precisava ir para dentro, para que eu
pudesse falar com ela eu mesmo.
— Cinder era a única pessoa que eu nunca tive de falar
sobre a minha condição, assim eu não fiz. Eu não acho que
faria diferença. Eu não achava que estava indo encontrá-lo.
A irmã agradável balançou a cabeça. — Não importa. Ele
vai te amar mesmo assim.
Bem. E essa era a verdade.
Ana riu e saiu como uma gargalhada. — Claro, ele vai! —
Ela gritou. — Ele vai desistir de Kaylee Summers por você.
Vai ser a versão real de A Bela e a Fera, ao contrário!
Quase deixei cair meu telefone, porque eu estava apertando
tão duro. Ella não estava brincando quando disse que sua
meia-irmã tinha muito em comum com a minha namorada. Eu
estava próximo de tirar o capuz e dizer-lhe o que pensava, mas
Rob chegou antes de mim. — Cale a boca, Ana! Eu estou tão
cansado de sua atitude!
Ana parecia tão chocada ao ser repreendida, que me
perguntava se algum cara nunca tinha ousado fazê-lo antes.
Provavelmente não. Só que Rob não parou por aí. — Você
quer saber por que eu não te pedi para ir ao baile comigo? É
porque não importa o quão quente você é; toda vez que eu
olho para você, tudo que vejo é uma cadela egoísta e cruel.
O grupo inteiro ficou chocado pela explosão de Rob. Até
eu. Dane-se, o homem acabou de ganhar um pouco do meu
respeito.
Os olhos de Ana se encheram de lágrimas e ela se afastou
sem dizer uma palavra. Eu quase me senti mal por ela, mas
rapidamente esqueci tudo sobre ela, porque no segundo que
Ana saiu, Rob tomou o rosto de Ella em suas mãos e lascou
um beijo apaixonado nela. Se ele não tivesse dito o que ele
disse em seguida, eu o teria derrubado com um golpe. — Você
é bonita, Ellamara,— prometeu. — E eu estou ciumento como
o inferno agora, porque você está indo fazer Brian Oliver cair
loucamente apaixonado por você. Eu não tenho dúvida.
Tarde demais, pensei, sorrindo para mim. Eu decidi que não
poderia invejar o beijo de Rob, desde que o cara realmente
parecia se importar com Ella e era o único que estava sempre
indo salvá-la.
— Vá pegá-lo,— Rob disse a ela e, em seguida, lhe deu um
pequeno empurrão em direção à porta da frente.
Eu puxei meu capuz para baixo novamente, e fugi quando o
grupo deu um passo mais perto de mim. Esperei alguns
minutos, porque Ella parecia que precisava de um momento
para se recompor, depois de todo o drama, mas depois fui para
dentro, determinado, finalmente, a reivindicar minha
Sacerdotisa Druida.
Capítulo
Vinte e Três

Eu me senti um pouco doente do estômago quando entrei no


restaurante. Eu sabia o que todos os meus amigos acreditavam,
mas a ideia de alguém como Brian Oliver me querer como eu
era, seria muito louco para aceitar, mesmo que eu pudesse
fazer-me entender que ele era o cara que tinha conhecido há
anos.
Eu estava tão perdida em pensamentos, que eu não vi
ninguém se aproximar até que um homem disse: — Senhorita
Ella?
Recuei um passo, assustada. — Sim. Essa sou eu.
— Bem-vinda. Sua mesa está pronta para você. — O cara
me deu um sorriso brilhante. — Por aqui, por favor.
Eu estava um pouco perplexa com o tratamento especial.
Então, novamente, fez sentido quando o homem disse: — Sr.
Oliver está alguns minutos atrasado, também. Ele me pediu
para transmitir suas mais sinceras desculpas, mas ele deve
estar aqui em poucos minutos.
— Ok. Obrigada.
O restaurante era enorme, de um piso, com mesas no meio e
cabines que revestiam as bordas externas. Não era o melhor
lugar para a privacidade, mas eu poderia dizer que o gerente
tentou o seu melhor, porque ele me levou a uma cabine no
canto mais distante. Nós não iríamos ficar escondidos
inteiramente, mas nós não estaríamos no meio de todos. Eu
estava grata pelo esforço.
O gerente, com muita pressa, acendeu uma vela pequena no
meio da mesa. Antes de sair, eu tinha que perguntar. —
Desculpe-me, mas como você sabia quem eu era?
O homem sorriu novamente. — Quando o Sr. Oliver
chamou para reservar uma mesa, ele descreveu o que você
estaria usando. Ele também disse que eu saberia com certeza
que era você, pelos seus ‘olhos impressionantes’. — O homem
não mexeu as mãos, mas as aspas no ar estavam
definitivamente lá em seu tom.
— E eu não estava certo? — Perguntou uma voz calma.
Uma voz que me fez estremecer.
Cinder deslizou graciosamente na cabine em frente a mim e
sorriu por debaixo do capuz de um casaco pesado, muito como
meu lindo manto branco, com exceção de sua cor escura. Seu
rosto estava sombreado, mas o brilho da vela sobre a mesa fez
com que seus olhos brilhassem, sob a luz suave. Aqueles olhos
nunca deixaram meu rosto enquanto ele agradeceu ao gerente
pela mesa e ordenou o jantar. Eles queimavam como lasers.
O gerente correu para levar os nossos pedidos para a
cozinha, deixando-me sozinha, bem, tão só como duas pessoas
podem estar em um restaurante lotado, com meu melhor
amigo, que só passou a ser uma estrela de cinema famosa. Por
um momento, tudo o que podíamos fazer era olhar um para o
outro.
— Ella.
Ele disse o meu nome com reverência e profunda satisfação.
Minha resposta parecia nervosa e insegura.
— Cinder?
— Pode me chamar de Brian, Ella. Por favor.
Ele fez uma pausa, esperando por mim, para responder.
— Tudo bem… Brian.
Ele sorriu e o efeito foi devastador. — Eu sempre quis poder
te dizer o meu nome. Toda vez que você me chamou de
Cinder, parecia uma mentira. Eu odiava que você não me
conhecesse.
Finalmente, o choque aliviando na minha cabeça. Suas
palavras causaram que a realidade se quebrara em mim, com
vingança. — Então por que você nunca me contou? — Eu era
incapaz de manter minhas emoções em espiral, sob controle.
— Como não poderia você me dizer isso?
Seu sorriso desapareceu um pouco. — Se eu te dissesse,
você não teria acreditado em mim.
— Talvez não, há três anos, mas duas semanas atrás, quando
você disse que nós nunca poderíamos nos encontrar? Você
poderia ter me dito que você era famoso e muito ocupado com
o seu grande filme e sua noiva psicopata, para passar um
tempo comigo.
Cinder se encolheu como se eu tivesse lhe dado um tapa.
Ele parecia atordoado com a minha raiva, mas o que ele
esperava?
Seu rosto se contraiu com pesar. — Ella, não era isso. Você
não entende.
— Não, eu finalmente entendo. — Minha cabeça girava
quando tudo se encaixou com perfeita clareza. — Tudo faz
tanto sentido, agora. Tudo. Essa é a última peça do quebra-
cabeça que esteve ausente este tempo todo. Sua relação com
Kaylee é uma farsa. É uma coisa de publicidade, não é?
Brian fez uma careta. — Eu não queria fazer qualquer parte
nisso, mas eu estava em uma posição vulnerável e todos
insistiam que iria resolver o meu problema. Além disso, havia
um monte de pessoas que tinham muito a ganhar se Kaylee e
eu estivéssemos juntos. Na época, eu não tinha uma desculpa
para dizer não. Eu não tinha você de volta, ainda.
Sua confissão me assustou. Eu não tinha certeza do que ele
quis dizer, mas era muito difícil olhar para ele e ver as coisas
que eu não queria ver. Coisas impossíveis.
Ele estendeu as duas mãos sobre a mesa, em um gesto
pedindo a minha. Quando eu não lhe dei minhas mãos, ele as
puxou de volta e começou a mexer com o seu copo de água
gelada.
— Quando você e eu começamos a nos falar, eu tinha feito
alguns programas de TV e um filme da Disney. Eu era
bastante desconhecido. Quando eu fiz o salto para comédias
adolescentes, tudo mudou. A fama era louca. O desembarque
em O Príncipe Druida tomou o meu status de estrela de
loucura insana. Eu não posso ir a qualquer lugar sem ser
atacado. Eu não tenho nenhum amigo de verdade. Ninguém
sabe como me tratar como uma pessoa normal mais e eu odeio
isso.
Ele fechou os olhos e respirou fundo antes de continuar. —
Você desapareceu exatamente quando a minha vida começou a
girar fora de controle. Eu não lidei bem com isso. De repente,
eu tinha todo um mundo de amigos, mas não uma única
relação que importava. Eu desliguei. Parei de me preocupar.
Toda a minha vida era superficial, basicamente morri por
dentro era o idiota mais grande do mundo. No momento em
que você entrou em contato comigo novamente, na primeira
noite que nós conversamos, me senti como se tivesse acordado
de um sonho nebuloso. Você tirou a dormência. Você me fez
lembrar como sentir, como ter alguém que se preocupa com
alguém diferente de mim.
Seu discurso me tirou o fôlego. O pensamento de que eu
poderia significar muito para alguém, que eu poderia afetar
alguém de tal forma, não era apenas chocante, mas
esmagadora. Meu coração batia forte no meu peito e
borboletas revoavam ao redor no meu estômago, como bolas
de loteria. Eu tive que olhar para longe dele antes que eu
pudesse recuperar a capacidade de falar. — Será que todos os
atores são tão apaixonados… o tempo todo? — Eu me
concentrei em meu copo de água quando meu rosto aqueceu
de constrangimento.
Eu esperava que ele fosse rir de mim, mas não o fez. Sua
voz soava tão grave como nunca. — Quando se trata das
coisas que amamos, nós somos.
Assustada, eu olhei em seus olhos novamente. A emoção
que eu vi lá foi indescritível.
— Além da minha mãe, você é a única pessoa na minha
vida que importa para mim,— ele insistiu, tentando penetrar
na minha alma com seu olhar. — Quando eu descobri que
você ainda estava viva, eu tentei de tudo para deixar Kaylee.
Eu lhe disse que não ia ficar com ela. Eu estava indo voar para
Boston e te dizer quem eu realmente era.
— Sério?
Brian assentiu. — Mas Kaylee já tinha o anel e ela causou
esta grande cena, agindo como se eu só a tivesse pedido em
casamento. Havia pessoas em todos os lugares, as pessoas com
quem eu tenho que trabalhar e os jornalistas. Eu estava preso.
Depois disso, ela me chantageou para ficarmos juntos. Ela
ameaçou arruinar minha carreira e fazer o meu pai ser
demitido das sequências das Crônicas de Cinder. Ela é má,
Ella. Cruel e ela especialmente odiava a ideia de você. Eu não
queria te envolver, mas eu sempre planejei explicar tudo,
assim que pudesse. Nós deveríamos ‘terminar’ depois que a
temporada de premiações terminasse. Eu estava apenas
tentando esperar até lá para te manter fora da insanidade e
longe de Kaylee. Eu não queria que você se machucasse.
— Uhm… — Eu nem sequer me preocupei em esconder o
quão nervosa eu estava. — Eu suponho que você está
perdoado, então.
Cinder soltou um suspiro. Todo o seu corpo caiu quando o
alívio inundou-o da cabeça aos pés. Ele estendeu as mãos para
mim novamente, curvando seus dedos em um claro gesto de
‘me dê’. Havia algo tão vulnerável sobre ele que eu não podia
recusar-me. Eu dei-lhe apenas a minha mão esquerda, sabendo
que eu não seria capaz de estender a minha direita, longe o
suficiente para alcançá-lo. Ele não pareceu notar. Ele
simplesmente pegou a minha mão oferecida nas suas. Senti
seu toque como fogo, mesmo através do cetim de minha luva.
— Eu estou contente que nós nos encontramos,— falou. —
Estou contente que o destino interveio e fez o que eu não era
corajoso o suficiente para fazer.
Mais uma vez, eu não tinha ideia de como responder a ele.
Se tivesse realmente sido o destino? Será que ele realmente
acredita em destino?
E do jeito que ele estava olhando para mim…
Ele soltou a minha mão e sentou-se quando percebeu o
quanto ele estava me oprimindo. Num piscar de olhos, ele
voltou a sua calma casual, brincalhão. — Eu tenho algo para
você.
Demorou um minuto para o meu cérebro trocar as marchas
com ele. No momento em que eu peguei, ele estava
empurrando um livro sobre a mesa para mim. Engoli em seco,
reconhecendo-o instantaneamente, embora eu nunca tivesse
visto antes. Era um exemplar da primeira edição de O Príncipe
Druida.
Tomando o livro com cuidado, eu respeitosamente coloquei
a mão sobre a capa. Ele estava em boas condições e ao mesmo
tempo bem usado, como se seu dono anterior o tivesse
acariciado ao lê-lo uma e outra vez, enquanto tomava cuidado
para não danificá-lo. Eu sabia que se eu abrisse a capa da
frente eu iria encontrá-lo assinado para mim, por LP Morgan.
Isso era perfeito.
— Assim que eu te conheci antes, eu pedi ao meu assistente
para ir até minha casa de carro, para pegar isso,— disse
Cinder, enquanto eu estudava o meu novo tesouro. — É por
isso que eu estava atrasado. Eu estava esperando ele voltar.
Puxei o livro aberto para o meu rosto e respirei seu aroma
rico, não me importando se a ação me fez parecer como uma
aberração. Eu sempre amei o cheiro de livros.
— Você se lembra daquele dia? — A voz de Cinder, nada
mais do que um sussurro agora, parecia assombrado.
Eu não conseguia falar acima de um sussurro, tampouco. —
Apenas pedaços, mas eu me lembro disso.
Virei à capa interna e toquei a inscrição. Mesmo que eu
tivesse acabado de conhecer LP Morgan esta tarde, ter outro
livro com sua assinatura nele, isso era diferente para mim. Era
infinitamente mais especial. Eu engoli as emoções que foram
subitamente ameaçadas a explodir de mim.
— Eu estava preocupado que dando a você iria te fazer
recordar esse dia, mas eu realmente quero que você o tenha.
Encontrei seu olhar solene com os olhos brilhando. — Eu
amo isso. Obrigada.
O momento foi quebrado entre nós, quando uma jovem
garçonete apareceu com a nossa comida. Ao pôr os nossos
pratos para baixo, ela notou quem estava sentado lá, escondido
debaixo da capa de invisibilidade. Ela engasgou e quase
deixou cair o prato de Cinder em seu colo. Ele escorregou pela
mesa com um grande estrondo, mas felizmente inofensivo, já
que nada foi derramado. A menina estava mortificada. — Eu
sinto muito, Sr. Oliver! Você está bem?
Cinder não perdeu o ritmo. Ele lhe deu um sorriso que ela
seguramente sonharia para o resto de sua vida e disse: — Ah,
não se preocupe. Se uma menina tão bonita como você tivesse
me pego de surpresa, eu teria feito a mesma coisa.
Eu suprimi um gemido por causa da nossa garçonete.
Comeu-se a atenção como uma criança morrendo de fome, e
corou um rosa atraente. — O… obrigado, Sr. Oliver. Existe
alguma coisa que eu posso fazer por você?
Quão estranho seria se todos soubessem seu nome e
reduzisse as pessoas a tal torpeza, gagueira, o tempo todo? Eu
conseguia entender por que ele sempre gostou do anonimato
do nosso relacionamento, se era assim que todos o tratavam.
Eu só tinha estado com ele durante quinze minutos e eu já
sabia que odiaria a fama.
Cinder olhou para a comida na mesa e começou a sacudir a
cabeça, mas, em seguida, olhou para mim e mudou de ideia.
— Na verdade, você se importaria de tirar uma foto para nós?
A forma como o rosto da menina se iluminou, você pensaria
que ele apenas se ofereceu para levá-la para casa em sua
Ferrari. — Certo!
Eu tentei não sorrir com a forma como as mãos da menina
tremiam quando ela aceitou o telefone. Devo ter falhado em
esconder minha diversão, porque Cinder me deu uma
piscadela sutil. Não era de admirar que o cara tivesse um ego
maior do que a lua.
A menina deu um passo atrás para pegar Cinder e eu, mas
antes que pudesse tirar a foto, Cinder se levantou de seu
assento e deslizou para dentro da cabine, ao meu lado. Ele
jogou o braço em volta de mim e me enfiou confortavelmente
em seu lado.
Eu parei de respirar.
Não, me desfiz completamente. Nossa! Eu era pior do que a
garçonete!
Tudo sobre ele inundou meus sentidos. O cheiro de seu
perfume – um aroma picante almiscarado que estava cem por
cento gostoso, sexy e masculina — liderou o ataque, seguido
pela sensação dele. Ele já não era apenas uma pessoa da
internet. Ele não era apenas um rosto de um filme mais,
também. Ele era real. Ele era quente e forte e muito, muito
palpável. Eu apertei minhas mãos no meu colo, para que eles
não pudessem me trair de qualquer forma embaraçosa.
— Espera aí. — Cinder puxou o capuz de sua cabeça, em
seguida, olhou para o meu. — Você se importa se eu… — Ele
não terminou a frase antes de chegar a empurrar o capuz da
minha cabeça. — Não quero que seu belo rosto fique
escondido na imagem.
Ele mexeu com o meu cabelo por um minuto, alisando-o
para baixo. As pontas dos dedos roçaram minha bochecha
quando ele colocou uma mecha do cabelo aleatório, atrás da
minha orelha. Levou tudo que eu tinha para não ofegar. —
Não. — Eu podia ouvir o orgulho na voz. — Você está pronta
para seu close-up, senhorita DeMille{33}.
A brincadeira com a famosa atriz Gloria Swanson{34}, mal foi
registrada por mim. Minha pele ainda estava formigando onde
ele tinha me tocado. Eu olhei para ele em transe.
Ele sorriu com arrogância, como se soubesse exatamente o
que estava fazendo para mim e gostava do efeito que tinha
sobre mim. — Você não parece com medo de mim como
antes, quando você estava ocupada tirando sarro das minhas
maneiras bregas e chamando meu personagem de covarde.
— Você era apenas Brian Oliver então, e havia uma mesa
entre nós,— murmurei, piscando uma e outra vez, como se
isso poderia magicamente limpar a névoa do meu cérebro. Não
tive essa sorte.
— Eu era apenas Brian Oliver? — Com um aceno de
cabeça, Cinder riu profundamente, risada gutural que
prometeu problemas. — Só você, Ella.
De repente, ele abaixou a cabeça e colocou os lábios na
minha orelha. Quando ele falou, sua respiração cobriu meu
pescoço, quente e sensual. Ele enviou um frio através de mim,
que levantou arrepios em meus braços. — Sorria para a
câmera, Ellamara,— ele sussurrou. — Eu prometo que não
vou morder. — Mas mesmo quando ele prometeu isso, os
dentes beliscaram suavemente minha orelha.
Agora eu suspirei e ele riu de novo. — Não forte, de
qualquer maneira,— emendou.
Ele se recostou e piscou para mim antes de virar seu sorriso
brilhante para a menina, esperando para levar a nossa imagem.
Seus olhos eram tão grandes como pires. Eu não tenho certeza
qual rosto ficou um vermelho mais profundo, o dela ou o meu.
— Hum, vocês estão prontos, então?
— Sorria Ella,— Cinder cantarolou, me dando um aperto
suave. — Esta vai ser minha nova área de trabalho para o meu
computador.
A garçonete gentilmente esperou para tirar nossa foto até
que eu quebrei meu estupor o suficiente para lograr um
sorriso.
Em seguida, ela passou o telefone de volta para Cinder e
correu para a cozinha, provavelmente para retransmitir a
história para o resto da equipe do restaurante. Suas bochechas
ainda estavam vermelhas quando ela desapareceu de nossa
vista.
Capítulo
Vinte e Quatro

Assim, quando a nossa garçonete tinha ido embora, eu dei


uma cotovelada em Cinder. — Seu otário! Eu não posso
acreditar que você fez isso!
Ele se dobrou, mas só porque ele estava rindo tanto.
— Eu não sou um de seus pequenos brinquedos, você é
pervertido! Pare de invadir meu espaço pessoal e volte para o
seu lado da mesa. Seu jantar está ficando frio.
Eu o empurrei e ele riu ainda mais. Ele estendeu a mão
sobre a mesa e puxou o prato para ele.
— Eu não achei que você fosse tímida, mas eu gosto. Você
fica absolutamente irresistível quando você cora. Vê? —
Sorrindo, ele segurou seu telefone para cima, para que
pudéssemos estudar a imagem. Com certeza, eu parecia um
tomate. — Olhe como adorável estamos juntos. É a imagem
perfeita para seu primeiro relato de Cinder e Ella.
— Meu o quê?
— Em seu blog. — Cinder deu uma grande respiração
sóbria. — Lembra-se de como você costumava fazer aqueles
‘Close-up’ e posts biográfico em seu blog, sempre que você e
sua mãe conhecia um novo autor?
Por um breve momento meus pulmões se paralizaram com
as lembranças, mas Cinder me puxou com força para ele e eu
descobri que podia respirar. Sua voz ficou suave, mudando
com os nossos humores. — Tive uma ideia, há um tempo. Eu
pensei que se alguma vez nos encontrássemos em pessoa, nós
poderíamos começar um novo tópico em seu blog. Seria
parecido com o seu antigo, exceto em vez de recolher
autógrafos dos autores em livros, poderíamos recolher
fotografias de nós com diferentes celebridades.
Chocada com a delicadeza de sua ideia, eu olhei para ele.
Ele encontrou meu olhar com um sorriso triste. — Eu sei que
não iria substituir todos os livros que você perdeu, nada
poderia substitui-los e eu não gostaria de tentar, mas eu pensei
que talvez você pudesse começar uma nova coleção. — Ele
engoliu em seco e acrescentou: — Comigo.
Eu não sabia o que dizer.
— Eu poderia levá-la para diferentes eventos ou sets de
filmagem por todo o mundo e apresentá-la para os atores dos
filmes que você gosta. Poderíamos chamá-lo de ‘As Aventuras
de Cinder & Ella.’ Poderíamos até conseguir um artista para
nos desenhar como personagens, como nosso próprio Show
Comic. Isso seria tão incrível.
Quando eu não respondi, ele se mexeu na cadeira e passou a
mão pelos seus cabelos escuros. Eu me senti mal por fazê-lo
nervoso, mas eu estava tão chocada com tudo, que o eu
conseguia fazer era ficar de boca aberta para ele.
— O que você acha?
— Você está falando sério?
— Claro.
Deixei escapar um latido nervoso do riso. — Não seja
ridículo. Isso soa incrível, mas eu não podia deixá-lo fazer
tudo isso por mim.
Por alguma razão, seus nervos desapareceram. Sua
expressão se suavizou em algo que fez meu coração saltasse
no meu peito. O sorriso em seu rosto não era um de diversão
ou até mesmo de felicidade; era muito mais do que isso. Era
como se de alguma forma, dizendo não, eu tinha acabado de
fazer todos os seus sonhos se tornarem realidade. — Mas é
apenas isso,— disse ele. — Você pode me deixar fazer isso por
você. Qualquer outra garota me deixaria. Inferno, a maioria
delas iria esperar que eu fizesse. Mas para você, eu quero
fazer.
Ele deslizou seu agarre sobre mim para que ele pudesse
virar e me encarar plenamente. Ele pegou as minhas duas
mãos nas dele.
— Você tem alguma ideia do quanto eu me importo com
você?
Meu estômago embrulhou no meu peito quando ele puxou
minhas mãos aos lábios e beijou meus dedos enluvados. — Eu
iria levá-la em qualquer lugar, Ella, lhe dar tudo o que
quisesse. Tudo o que você tem a fazer é me deixar fazer.
Era a minha maior fantasia se tornando realidade. Não, era
de todas as garotas a mais selvagem fantasia do mundo.
Exceto, que era bom demais para ser real. Eu sabia que era.
Ele fez isso parecer tão fácil, mas nada sobre qualquer uma
das nossas vidas era tão simples.
Eu puxei as minhas mãos de seu aperto e coloquei alguns
centímetros preciosos de espaço entre nós. — E quanto a
Kaylee? Preciso lembrá-lo que, real ou não, você tem uma
noiva, agora?
Ele balançou a cabeça. — Isso está resolvido. Eu terminei
assim que acabaram os comprimentos e saudações. Quero
dizer, a mídia não sabe ainda, mas Kaylee definitivamente
sabe. — Ele sorriu para a memória. — Ela era DEFCON 1{35}
chateada.
Eu não podia acreditar.
Ele tinha deixado sua namorada supermodelo por mim. Meu
coração estava pronto para desistir, mas meu cérebro gritava
todos os tipos de avisos para mim. Falando sobre DEFCON 1,
eu estava em tal estado de alerta, os cabelos na parte de trás do
meu pescoço estavam em posição de sentido. Eu tive que
manter a lógica. — E quanto a sua carreira? Você disse que
Kaylee ameaçou arruinar você.
Cinder deu de ombros. — Ela vai tentar o seu melhor. Ela
pode fazer um pequeno dano, mas nada que eu não possa
recuperar. Nada que não valeria a pena, por estar com você.
Meu coração acelerou novamente. Ele estava ganhando a
luta livre contra a minha cabeça, no momento. Minha decisão
estava desmoronando em pedaços. — E os patrões que você
falou?
— Os agentes, gestores, publicitários, advogados… Há toda
uma lista de pessoas que controlam a minha vida.
Isso foi o que eu pensei. — Você acha que todas essas
pessoas vão ficar felizes com você terminando com a sua co-
estrela por mim?
Cinder hesitou por um tempo suficiente para eu ver a
verdade, que ele estava tentando negar. Ele olhou para seu
prato. — Nós estaríamos bem. — Ele soou como se ele
estivesse tentando se convencer. — Eles só queriam a ligação
minha e de Kaylee porque iria gerar alguma imprensa livre
para nós e apagar algumas das chamas da minha reputação.
Eu levantei uma sobrancelha para Cinder e ele sorriu
timidamente. — Em minha defesa, eu só passei por tantas
meninas porque nenhuma delas jamais chegou perto da única
que eu realmente queria. — Ele beijou a minha mão
novamente. — Isso é o que o mundo vai descobrir logo.
Ao falar sobre a necessidade de extinguir algumas chamas,
eu estava querendo despejar a minha água com gelo em mim,
para esfriar o calor subindo no meu rosto.
Brian riu. — A separação vai ser uma má notícia, porque
Kaylee não vai ser elegante sobre isso, mas o público vai
gostar da ideia de eu namorar uma não famosa garota normal.
Os fãs vão enlouquecer sobre isso. Nossa história iria obter
uma tonelada de notícia. A minha equipe de gestão vai ter que
ficar bem com isso.
Saindo do pânico que a ideia de ‘receber uma tonelada de
notícia’ me deu, eu sabia que sua equipe de trabalho nunca me
aprovaria. O tipo de imprensa que eu daria a Cinder só iria
machucá-lo. Eu não queria prejudicar a sua carreira, nem
mesmo me expor para o mundo. Eu sou a última pessoa que
deve estar no centro das atenções.
Cinder começou a olhar animado, mas eu não podia
compartilhar seu otimismo. — Eu não penso assim, Cinder…
er, Brian. Eu sou a última pessoa para o seu povo,
especialmente seus fãs, eles jamais irão me aceitar.
Ele abriu a boca para discutir, mas eu não o deixei ter uma
palavra. Eu tinha que dizer isso antes que eu perdesse a
coragem, porque ele precisava saber. Ele merecia saber. — Há
coisas que você não sabe sobre mim, também. Coisas que eu
nunca te disse, assim como você com sua fama, eu estava com
medo de você me tratar de forma diferente.
Cautela e determinação bateram em seu rosto enquanto ele
esperou para eu dar mais detalhes. Eu realmente, realmente
não queria. Depois de tê-lo tão perto, dizendo todas as coisas
que eu sempre sonhei com ele me dizendo, iria me matar
quando ele decidisse que não me queria mais. E eu não tinha
ilusões de que ele não faria. Ao menos, não da maneira como
ele beijou, mordiscando minha orelha?
— Desde o meu acidente, todo mundo me trata de forma
diferente, também. De repente, eu sou a menina que todos
olham e sussurram. Eu sou a garota com toda a bagagem,
aquela cuja mãe morreu. A menina aleijada com as cicatrizes.
— Aleijada? — Cinder empurrou em surpresa. Seus olhos
varreram o meu corpo e ele franziu a testa. Ele não podia ver
nada de errado.
— Você não percebeu quando me afastei de você, depois
que nos conhecemos no encontro para fãs?
Suas sobrancelhas franziram a testa enquanto tentava
lembrar o nosso encontro anterior. — As coisas ficaram um
pouco agitadas. Estava surpreendido de ter conhecido você e
eu estava tentando prestar atenção a você e meus fãs, ao
mesmo tempo. Além disso, como é que eu ia perceber algo,
exceto aquele cara que estava em cima de você?
Eu quase bufei. Se eu não estivesse no meio de algo tão
doloroso como revelar a verdade sobre mim mesma, eu o teria
em palestras sobre a idiotice de ciúmes, caras cheios de
testosterona. Em vez disso, eu fechei os olhos e respirei fundo.
— Meu cajado não é apenas um adereço do traje. Hoje, ele
está servindo como a minha bengala. Minha amiga fez
especialmente para que eu pudesse deixar minha bengala em
casa.
— Você usa uma bengala quando você anda?
Eu balancei a cabeça. — Os médicos me disseram que era
um milagre quando eu aprendi a andar de novo, depois do meu
acidente. Eu sou grata que eu posso fazer isso, mas a ação não
é bonita. Minhas pernas são muito fracas e me causam certa
quantidade de dor. E eu sou lenta. É por isso que eu cheguei
quase tão tarde quanto você esta noite. Levei muito tempo para
caminhar aqui dos cumprimentos e saudações. Eu sou
deficiente, Brian.
Seu rosto caiu quando minha notícia começou a se
aprofundar. Seus olhos me passaram outra vez, concentrando-
se no meu colo, mas é claro que não havia nada para ver.
Ainda. — Você disse que estava machucada, mas você nunca
mencionou… — Sua voz sumiu quando ele foi tomado pela
emoção.
Imaginei que minha condição iria perturbá-lo, mas eu não
esperava a quantidade de devastação que ele mostrou logo em
seguida. Ele nem sabia o pior ainda. — Brian… — Engoli em
seco, odiando ver sua tristeza. — Se você não consegue lidar
com isso, então não há nenhuma maneira que você pode lidar
com o resto.
Sua cabeça se levantou. — O resto? — Ele perguntou,
horrorizado. — Há mais?
Apesar dos meus melhores esforços, as lágrimas finalmente
reuniram em meus olhos. — Há muito mais.
Fechei os olhos novamente, porque eu não podia suportar o
olhar no rosto de Cinder e eu senti um polegar enxugar uma
lágrima do meu rosto. A ação suave, tão sincera e carinhosa,
só fez mais lágrimas caírem.
— O que mais? — Perguntou Cinder com uma voz tão
suave como seu toque.
Eu balancei a cabeça, recusando-me a abrir os olhos. — Eu
não quero te dizer.
Cinder me envolveu na segurança de seus braços.
Abraçando-me com força, ele descansou a cabeça em cima da
minha. — Seja o que for, Ella, não vai fazer diferença para
mim. Eu não vou pensar menos de você.
Sua promessa machucou meu coração. Eu sabia que ele
queria, mas não tinha ideia do que ele estava enfrentando. —
Sim, você irá.
Incapaz de aguentar mais, eu cuidadosamente puxei a luva
branca longa fora do meu braço queimado. — A aparência é
importante para você,— eu disse quando eu trabalhei o
material para fora dos meus dedos. — Você sempre namorou
as meninas mais bonitas do mundo.
Com um puxão final, a luva escorregou e eu estendi a mão
exposta para ele ver. Brian tentou segurar seu suspiro, mas sua
ingestão aguda da respiração era inconfundível.
— Eu não sou bonita,— eu disse, afastando-me,
antecipando sua rejeição. — Talvez eu tenha sido uma vez,
mas eu não sou mais.
— Ella,— ele engasgou em uma tentativa estrangulada para
falar.
Gentilmente, ele levou os dedos danificados e acariciou a
pele cicatrizada. Eu endureci quando ele pegou minha mão,
mas eu não me afastei. Ele foi a primeira pessoa, que não fosse
o meu médico, que eu já permiti tocar minhas cicatrizes. Eu
não sei como me senti sobre isso. O momento era uma tortura.
A sensação foi incrível, mas o meu coração doía.
Ele manteve a mão frouxamente em uma das suas enquanto
a outra mão afastou-se do meu braço, percebendo que as
cicatrizes continuavam. Quando ele finalmente falou, sua voz
tremeu. — O que aconteceu com você?
— O carro pegou fogo. Mais de setenta por cento do meu
corpo foi queimado.
— Setenta por cento…
Nossos olhos se encontraram e de repente eu estava
desesperada para fazer algo que eu nunca tinha feito antes. Eu
queria mostrar minhas cicatrizes a Cinder, tanto quanto eu
podia, de qualquer maneira. Agora que eu conhecia sua
verdadeira identidade, eu queria que ele soubesse tudo sobre
mim, também. Eu não quero mais segredos entre nós.
Estávamos escondidos na cabine, na parte de trás do
restaurante, e desde que ele deslizou ao meu lado, ele estava
impedindo que o resto do público me visse. Eu estava muito
protegida e ninguém estava prestando atenção em nós, então
eu estendi a mão na base da minha garganta, onde mantinha
minha capa no lugar. Com as mãos trêmulas e meus olhos
colados ao meu colo, eu puxei a capa dos meus ombros nus e
deixei cair no assento, atrás de mim.
Cinder não disse nada. Eu me perguntei o que ele estava
pensando, mas me recusei a olhar para seu rosto. Ele era um
cara muito dramático e tudo o que ele não poderia dizer estaria
escrito em sua expressão. Eu não estava pronta para ver isso.
Eu estava muito ferida.
Eu levantei meu cabelo e me virei para que ele pudesse ver
a minha volta, sabendo que o corte baixo do meu vestido lhe
permitiria ter uma ideia do tipo de dano que eu tinha sofrido.
— Ele vai todo o caminho até o meu lado direito e cobre tudo,
da cintura para baixo. Meus pés estão tão queimados que os
meus dedos são deformados.
— Ella. — Sua voz fez tremer mais do que agora. Eu sabia
que se eu olhasse, eu iria vê-lo chorar.
Eu virei de volta, mas ainda assim, eu não podia olhar para
cima. Eu não podia encará-lo. — Eu nunca tinha mostrado a
ninguém, além dos meus médicos e Vivian,— eu murmurei.
— Eu sempre mantenho minhas cicatrizes cobertas. As
pessoas são cruéis para mim. Elas olham, dão risadas e dizem
coisas terríveis. Estou sendo intimidada na escola, e aqueles
alunos nunca viram nada, apenas a minha mão e do jeito que
eu ando. E o que é pior…?
Eu respirei e virei meus braços, expondo meus pulsos e os
diferentes conjunto de cicatrizes lá.
Cinder engasgou com outro suspiro e pegou meus pulsos em
suas mãos trêmulas.
— E você— Ele engoliu em seco. — Você está bem?
Não havia nenhum ponto em ser desonesta. Ele já sabia a
resposta. Ainda assim, eu o tranquilizei o melhor que pude. —
Eu não sou suicida mais. Prometo, e eu quis dizer isso. Eu não
estou em perigo de me machucar, mas eu não estou sempre
bem, também.
Eu finalmente olhei para cima e foi desvendada a dor que eu
vi no rosto de Cinder. Lágrimas escorriam pelo seu rosto,
descaradamente. Meus próprios olhos se encheram de lágrimas
para coincidir com as dele. — Eu não posso esconder isso.
Seus fãs e todas as pessoas encarregadas de sua carreira iriam
descobrir e eles nunca aceitariam isso. Eles nunca me
aceitariam. Mesmo que eles fizessem, eu não tenho certeza se
eu poderia lidar com toda a atenção. Eu não poderia lidar com
o mundo inteiro sabendo tudo o que eu já passei e por tudo que
eu tenho passado.
Brian fechou os olhos e apertou levemente meus pulsos,
quando ele respirou fundo. — Ninguém poderia culpá-la por
isso. Você passou por algo horrível. Você perdeu tudo que era
precioso para você, incluindo seu próprio corpo. — Ele
escovou seus polegares lentamente ao longo das minhas
cicatrizes. — Isso não é nada para se envergonhar. O que
importa é que você sobreviveu e ficou ainda melhor. Olhe o
quão longe você chegou.
Eu puxei as minhas mãos das dele, incapaz de tomar mais
de seu toque, era muita emoção.
Brian me observou de perto, quando eu usei o meu
guardanapo para enxugar as lágrimas que tinham escapado
pelo meu rosto.
Havia algo de diferente nele agora, algo na maneira como
ele olhou para mim. Sua inocência foi embora. Ele sabia a
verdade e agora me via da maneira como todos os outros
faziam, como se ele esperasse que eu fosse quebrar a qualquer
momento. Ele finalmente me viu como uma criatura frágil,
danificada, que ele teria que lidar com cautela.
Eu tinha acabado de mudar tudo. Eu sabia, pelo olhar em
seus olhos, que as coisas nunca mais seriam as mesmas entre
nós, novamente.
Capítulo
Vinte e Cinco

Cinder empurrou o prato, o apetite tinha desaparecido. Nós


comemos em silêncio por uns bons dez minutos, mas nenhum
de nós conseguiu levar mais de um par de garfadas. Ele olhou
para mim, tentando descobrir algo a dizer. Sua piedade rasgou
minha alma em pedaços. — Por favor, não olhe para mim
assim.
— Eu não posso evitá-lo. Como vou reagir a isso? Eu não
posso acreditar que você nunca explicou tudo isso para mim.
Você não confia em mim? Você não acha que eu quero ajudá-
la, entretanto? Você preferiu ter feito isso sozinha?
A mágoa na sua voz me fez sentir vergonha. Meu pânico
aumentou com a minha necessidade de fazê-lo se sentir
melhor.
— É claro que eu confio em você. Você me ajudou mais do
que ninguém.
— Isso não é o mesmo. — A raiva nublou sua voz enquanto
ele lutava para manter as suas emoções em espiral.
Eu sabia exatamente como ele se sentia.
— Por favor, entenda,— Eu implorei a ele. — Eu não quero
que você me trate de forma diferente. Eu sei que você sabe
como é isso. — Brian franziu o cenho para o seu prato. — Eu
não tinha ninguém Brian, sem família, sem amigos. Tudo que
eu tinha era um homem que me abandonou há dez anos e sua
família que se ressentia, porque eu era o seu segredo profundo
e escuro. A única coisa que me manteve nos últimos meses foi
você. Você não me tratou como se eu fosse louca ou frágil.
Você não tem medo de brincar comigo e me fazer rir. Eu não
posso perder isso.
Olhei em seus olhos novamente e perdi a paciência
completamente. Seu horror e piedade me deixaram com raiva.
— Eu sabia que se eu lhe dissesse a verdade, tudo iria mudar!
Eu sabia que você ia olhar para mim exatamente do jeito que
está agora!
— É uma responsabilidade muito grande, Ella! Você tem
que me dar tempo para processar tudo. Meu coração está
quebrando agora.
Meus olhos começaram a queimar novamente. — Eu não
tive a intenção de te machucar.
Cinder colocou as mãos sobre meus ombros. Seu aperto era
suave embora ele olhou como se quisesse me sacudir. — Não
Ella, estou pensando em tudo que você passou. Eu sei que
perder a sua mãe deve ter sido duro, mas isto… Eu não posso
nem imaginar…
— Por favor, não. — Eu virei o rosto dele. — Eu não quero
sua piedade.
Cinder soltou meus ombros e colocou a mão debaixo do
meu queixo. Ele virou meu rosto de volta ao seu e eu fui
surpreendida por quão próximo ele estava de repente. — Não é
pena,— ele prometeu com toda a ferocidade, como o poderoso
príncipe druida que ele atuou no filme.
Ele escovou meu cabelo para trás e enxugou as lágrimas
novamente. — Eu não sei como me sinto agora,— disse ele.
— Eu estou sobrecarregado.
Ele pegou as minhas mãos e as levantou entre nós. Então,
lentamente, senti como se o tempo tivesse corrido a um
impasse, ele roçou os lábios sobre a palma da minha mão boa
e, em seguida, da minha ruim.
Eu engasguei com a sensação de seus lábios nas minhas
cicatrizes. O toque era mais íntimo do que qualquer coisa que
eu já experimentei. Meus olhos se fecharam, causando minhas
lágrimas que se perderam em meus cílios.
— Eu gostaria que houvesse alguma maneira que eu
pudesse ter tudo isso longe de você.
Ele apertou seus lábios firmemente contra cada um dos
meus dedos, um de cada vez, como se ele estivesse tentando
deixá-los melhor. Um soluço violento torturou o meu peito e
escapou na forma de um gemido.
— Ella. — Enquando Cinder sussurrava meu nome com um
novo tipo de desespero, suas mãos vieram até o meu rosto.
Eu sabia que ele ia me beijar, e mesmo eu estando em
agonia emocional, eu não estava a ponto de impedi-lo.
Este era Cinder, meu melhor amigo no mundo todo, o cara
que eu estive apaixonada por anos. Eu queria esse beijo mais
do que eu quis qualquer coisa na minha vida.
Seus lábios desceram sobre os meus suavemente, como se
estivesse saboreando cada segundo deste momento,
absorvendo cada sensação e arquivando em seu cérebro para
guardar. Sua boca se moveu de ida e volta sobre a minha,
explorando e buscando permissão. Eu lhe dei, abrindo-me para
ele com um suspiro suave, que lhe roubou de todas as suas
restrições.
Paixão tomou conta dele e ele juntou nossas bocas em um
beijo digno de tela de cinema.
Seus dedos cavados em meu cabelo quando sua língua
tornou-se íntima com a minha própria, em uma dança
aquecida. Minhas mãos, descansando levemente no peito,
levantavam e baixavam com sua respiração selvagem. Seu
coração batia sob minhas palmas e o meu batia tão duro.
O momento era mágico. Um conto de fadas. E, assim como
um conto de fadas, terminou cedo demais. O relógio bateu as
doze atingindo o nosso êxtase quando um flash brilhante
refletiu em nossos rostos. E foi seguido por uma sucessão
interminável de flashes e gritos.
Brian e eu nos separamos, para encontrar nosso estande
rodeado por vários homens com câmeras. Atrás deles, uma
multidão de fãs se reunia, criando um muro impenetrável de
corpos. O restaurante estava em caos. Meninas gritando e
pessoas nos filmado com seus telefones celulares. Os homens
bloquearam nossa cabine, nos filmando e tirando fotos sem
fim, gritavam todos os tipos de perguntas para Cinder.
Não. Não a Cinder. Brian Oliver.
Foi nesse momento que ‘Cinder’ desapareceu e eu
finalmente vi o cara que eu estava beijando como o galã de
Hollywood, Brian Oliver. O calor que tinha tão completamente
me envolvido apenas momentos antes se transformou em gelo.
Eu quebrei em um suor frio quando eu percebi todo o público.
Brian devia estar acostumado a esse tipo de coisa, porque
ele não surtou até que ele leu o pânico em meu rosto. Em
seguida, ele finalmente olhou para o caos. Seus olhos
oscilaram de ida e volta várias vezes, desde a minha expressão
assustada com a multidão de pessoas, e o sangue drenou de
seu rosto. — Ella, eu sinto muito. Eu não devia ter te beijado
aqui… Eu não estava pensando.
Com outro olhar para a multidão, ele xingou baixinho e
pegou seu telefone. — Scott,— disse ele com urgência ao
telefone, — você ainda está por aqui? Boa. Você pode mandar
a segurança do Centro de Convenções para o Dragon’s Roost?
Ella e eu vamos precisar de uma escolta. Sim. E depressa, a
coisa vai ficar feia. Obrigado cara.
Eu não conseguia respirar e comecei a tremer. Eu sabia que
eu estava começando a hiperventilar quando a ansiedade
tomou conta, mas eu não percebi o quanto eu estava em pânico
até que Brian me agarrou pelos ombros e cravou seus olhos
nos meus. — Tudo vai ficar bem, Ella,— ele balbuciou baixo,
vibração calmante, que ele geralmente reservava para as
nossas sessões de leitura.
Meus olhos se voltaram para a multidão e ele pegou meu
queixo em sua mão, forçando o meu olhar de volta para ele.
— Ei, olhe para mim. Aqui mesmo. Bem nos meus olhos.
Eu tentei fazer o que ele disse. Eu tentei me concentrar em
nada, a não ser naqueles belos olhos escuros, mas eu não
poderia empurrar os sons dos meus ouvidos.
— Quem é a menina, Brian?
— E quanto a Kaylee?
— Você está traindo?
— Conte-nos o seu nome!
— Você está apaixonado?
— Como você a conheceu?
— Brian!
— Brian!
Brian ignorou todos eles. Sua atenção estava só para mim.
— Ella, está bem. Isto é normal. Eu já passei por isso uma
centena de vezes. Nós vamos ficar bem, tudo vai ficar bem,
ok?
Suas mãos deslizaram dos meus ombros para baixo do
comprimento dos meus braços e ele segurou minhas mãos nas
suas, novamente.
— Você garota! Onde você conseguiu essas cicatrizes?
— O que aconteceu com você?
— Brian, o que há de errado com sua nova namorada?
À menção de minhas cicatrizes, veio à tona em minha mente
um novo horror. Eu não estava usando minha capa ou minhas
luvas. Eu puxei meu casaco de volta sobre meus ombros, mas
ele não fez nada para me fazer sentir melhor. Era tarde demais.
Neste exato minuto, minhas imagens estavam sendo gravadas
e seria tudo notícia antes mesmo que eu chegasse em casa.
Meu pior pesadelo se tornou realidade.
Brian teve que amarrar meu casaco para mim, porque
minhas mãos tremiam muito. Depois disso, ele me puxou para
os seus braços como se me protegendo dos abutres rasgando
minha alma.
Eu enterrei meu rosto em seu peito e chorei, até que ouvi os
gritos furiosos de pessoas tentando empurrar a multidão para
trás. Eu comecei a levantar a minha cabeça, mas Brian me
segurou para ele, acariciando meu cabelo. — Espera aí, Ella.
Está quase terminado. Vai ficar tudo bem em apenas um
minuto.
Eu sabia o que ele queria dizer, mas suas palavras soavam
como uma mentira para os meus ouvidos. Isso não ia ficar bem
em um minuto. Eu não tinha certeza se voltaria a ser normal
novamente.
Tentei me fazer parar de chorar enquanto ouvia o barulho. A
maior parte do alvoroço agora estava vindo do gerente do
restaurante, que tinha me ajudado quando eu cheguei, mas eu
podia ouvir várias outras vozes profundas gritando para as
pessoas desocuparem o local.
— Brian!
— Scott! — Brian soltou um suspiro. — Obrigado por
trazê-los aqui tão rápido. Você fica por aqui e fala com o
gerente? Esclarece as contas e lhe diga que vou ligar mais
tarde, para garantir que tudo foi cuidado.
— Entendido. Vou dar-lhes suas desculpas.
— Como eu pude viver sem você?
— Muito desorganizado.
Brian riu, e, em seguida, uma voz profunda disse: — Sr.
Oliver? Vamos levá-lo para o escritório de segurança, mas
receio que está do outro lado do salão principal.
Brian suspirou e puxou meu rosto em seu peito. — Você
está pronta para fazer uma corrida?
Eu definitivamente não estava pronta, mas eu acenei de
qualquer maneira.
— Nós vamos ficar bem, Ella.
Brian ficou em pé e estendeu a mão para mim. Eu
lentamente me levantei. Alcançando meu cajado, eu dei um
passo na direção do gigante imponente, um guarda de
segurança, que foi me conduzindo. Eu congelei, os seguranças
do Centro de Convenções forçaram alguns clientes, que
estavam jantando, a voltarem as suas mesas e conseguiram
limpar o caminho, mas uma grande multidão estava reunida
em volta, esperando por nós.
— Brian,— eu sussurrei em horror, — Eu não posso fazer
isso. E se apenas você ir? Eu poderia esperar aqui e chamar
Juliette, após o caos morrer.
— Sem chance.
— Mas…
— Eu não estou deixando você, para lidar com isto sozinha.
— Brian olhou para mim, mas sua ira realmente não tinha
nada a ver comigo. Ele olhou para as câmeras que ainda
estavam piscando e balançou a cabeça amargamente. — Não
funcionaria, de qualquer maneira. Sou um homem
supostamente comprometido. Você e eu acabamos de criar um
dos maiores escândalos que Hollywood já viu, em um bom
tempo.
Ele tentou sorrir para mim, mas não teve êxito. — Em uma
convenção como esta, com muitas celebridades, todos os
paparazzi em Los Angeles estão aqui. Os fotógrafos querem
saber quem você é. Se eu sair, alguns deles vão me seguir, mas
o resto iria esperar por você. Eles esperam o tempo que for
preciso e, então, eles nos seguem. Eles vão seguir o seu carro,
eles irão por todo o caminho da sua casa e acampar em seu
gramado da frente.
Meus olhos se arregalaram quando a realidade do que estava
acontecendo me bateu. Se eu gostei ou não, minha vida nunca
mais seria a mesma.
— Bem-vinda à fama, Ella,— Brian murmurou, o
arrependimento pesando em sua voz. — Eu estou triste por
isso acontecer assim, mas vamos passar por isso juntos, ok?
Ele estendeu a mão para mim, mas eu não podia levá-la.
Olhei para a multidão que parecia ter dobrado desde que eu me
levantei.
— Senhor. Oliver,— o guarda de segurança interrompeu, —
quanto mais esperarmos, mais a multidão vai se reunir. Há
milhares de pessoas neste centro de convenções, hoje.
Brian estendeu novamente a mão para mim.
Eu balancei a cabeça, tentando não entrar em pânico. — Eu
não posso.
— Ella, eu realmente sinto muito, mas você não tem uma
escolha. Temos que ir.
— Você não entende! — Espetei. — Quer dizer, eu
fisicamente não posso. Eu mal posso andar. Eu nunca vou ser
capaz de abrir caminho através dessa multidão.
Brian piscou como se apenas agora ele estivesse lembrado
que havia algo de errado comigo. Ele olhou para a maneira
que eu estava segurando meu peso em meu cajado e seu rosto
empalideceu, cheio de dor, a expressão do coração partido
reapareceu. Eu não podia suportar vê-lo, então eu me afastei
dele e percebi que eu tinha ganhado a atenção de todos no
restaurante. Minha explosão tinha a todos congelados com
seus garfos e jantares no meio do caminho de seus rostos.
Olhando em volta, vi uma centena de diferentes pares de
olhos todos focados em mim, já a julgar. Fechei os olhos e
respirei fundo, me forçando a não chorar, mas minhas lágrimas
retornaram de qualquer maneira. — Eu não posso estender
completamente o meu braço. — eu murmurei, minha cara
flamejante com embaraço. — Se eu cair ou alguém me agarrar,
eu poderia rasgar meus enxertos de pele. Foi o que aconteceu
recentemente. Estou programada para outra cirurgia em janeiro
por causa disso.
Eu não abri meus olhos até que eu senti o toque de Brian
limpando as manchas molhadas do meu rosto.
— Eu sinto muito, Ella. Eu não sei como eles sabiam que
estávamos aqui. Eu nunca deveria ter te beijado em público.
Isto é minha culpa. Simplesmente não pensei.
— Isso não importa agora. Vamos apenas sair daqui. — Eu
não poderia encontrar seus olhos quando eu acrescentei, —
Alguém vai ter que me levar.
Foi tão humilhante. Brian era um homem tão perfeito, tão
amado e adorado por muitos, que havia literalmente centenas
de pessoas reunidas do lado de fora para ver com quem ele
estava e eu não poderia mesmo sair daqui ao seu lado.
— Isso não é um problema, senhorita, eu posso…
Brian rosnou para o segurança que tinha falado. — Eu posso
fazer isso. — Ele me pegou em seus braços como se eu
pesasse quase nada e me embalou firmemente contra seu peito.
Dois homens que pareciam poder facilmente jogar na defesa
para os amados Green Bay Packers{36} de Brian, eles estavam
em ambos os lados de nós. — Pronto, Srta. Oliver?
— As minhas coisas? — Perguntei.
— Scott? — Brian chamou.
— Já estão aqui.
Brian me deu um pequeno sorriso. — Ele é realmente
incrível.
Quando não pude retornar o seu sorriso, ele abaixou a
cabeça e beijou minha bochecha. — Eu sinto muito, Ella.

Ele acenou para os caras de segurança e, em seguida,


dirigiu-se para o salão de convenções. Uma multidão de
pessoas com câmeras nos invadiram no segundo que nós
caminhamos para fora da porta. Eles gritaram e mostraram
suas câmeras enquanto todos eles brigavam por melhores
posições, com fleches mais fortes. Eu enterrei meu rosto no
ombro de Brian tentando me esconder, mas um grito
estrangulado me chamou a atenção. — Ella! — Juliette gritou.
— Ella! Deixem-me passar, seu grande imbecil! Essa é a
minha irmã! Ella!
— Juliette?
Eu não podia vê-la, mas Brian acenou para um dos
acompanhantes próximos a ele e disse: — Aqueles quatro.
Segundos mais tarde, Juliette, Vivian, Rob e Anastásia
foram puxados para o pelotão atrás de mim. — Você está bem?
— Rob gritou acima do barulho.
— Isso é loucura! — Juliette gritou.
Eu balancei a cabeça em resposta a ambos e, em seguida,
enterrei meu rosto no ombro de Brian, novamente. Eu não
olhei para cima até que eu estava enfiada no escritório de
segurança do centro de convenções.
Capítulo
Vinte e Seis

No segundo que Brian me colocou em um sofá, no


escritório de segurança, Juliette jogou os braços em volta de
mim em um abraço apertado. — Você está bem?
— Não. — Minhas lágrimas voltaram com seu abraço. —
Eu quero ir para casa. Como sairemos daqui?
Um homem que se apresentou como o cabeça dos
seguranças do prédio, deu um passo em frente de nós. —
Dirigiram até aqui?
Juliette assentiu. — Deixamos o nosso carro com o
manobrista.
— Nós vamos conduzi-los até seu carro, ao redor da entrada
dos fundos, onde os caminhões de entrega descarregam. Não é
muito longe daqui e toda essa área é bloqueada ao público.
Você deve ser capaz de passar despercebido, mas nós vamos
enviar um carro da polícia com vocês, apenas por segurança.
Eu respirei um suspiro de alívio. Se pudéssemos sair hoje
sem ser seguido, então não podería ser demasiado tarde para
manter alguma aparência de privacidade. Ninguém sabia quem
eu era. Mesmo Brian não sabia meu sobrenome ou onde eu
morava.
Rob entregou o nosso bilhete de manobrista para o homem e
ele leu o número em um rádio portátil. Depois de uma resposta
rápida, ele sorriu para nós novamente. — Ele estará aqui em
cerca de dez minutos.
Eu afundei de volta no sofá, tanto quanto as almofadas
deixaram, exausta, agora que a adrenalina tinha deixado o meu
sistema. Meus nervos estavam tão contraídos que eu não tinha
certeza se eu poderia me recuperar.
Brian sentou-se ao meu lado e puxou minha mão na sua. Ele
não disse nada, mas ele se inclinou e beijou meu rosto. Poucos
minutos depois, seu assistente Scott chegou. — Tudo no
Dragon’s Roost está resolvido,— informou a Brian quando ele
colocou as minhas luvas, livro e cajado que eu tinha deixado
para trás no restaurante, antes da caminhada. — O gerente
ficou muito mortificado que vocês foram interrompidos dessa
maneira e se recusou a deixá-los pagar por sua refeição. Ele
envia suas mais sinceras desculpas.
Brian assentiu. Ele parecia tão cansado quanto eu quando
ele puxou-se para uma posição e entregou a Scott um conjunto
de chaves. — Um último favor e, então eu exijo que você
tenha alguns dias de folga. Você se importaria de verificar se
meu Precioso chega em casa de forma segura?
Eu amei o espanto que tomou conta do rosto de Scott. Eu
imagino que eu ficaria exatamente da mesma maneira se Brian
me perguntasse isso.
— Precioso? — Perguntou Vivian, confusa.
Ela olhou para mim, para ver se eu sabia o que ele queria
dizer, e eu sorri meu primeiro sorriso em que pareceram horas.
— Sua Ferrari. Ele nomeou de Precioso. — Eu suspirei
quando ninguém conseguiu. — Como em ‘Meu Precioso’…
Gollum{37}… O único Anel…?
Ainda nada. Eu joguei minha cabeça para trás e gemi. —
Como posso ser amigo de tantas pessoas que não entendem a
referência?
Brian riu.
— Ele é um grande nerd do Senhor dos Anéis,— Expliquei
aos meus amigos desconhecedores de Tolkien{38}.
— Fã,— Brian corrigiu, seu sorriso se dissolvendo em um
beicinho. — Não nerd. E como você sabe senhorita, eu-assisti-
ao-filme-doze-vezes-no-cinema.
Todo mundo riu e Brian piscou para mim antes de voltar sua
atenção de volta para Scott. — Será que você troca de carro
comigo? Leve Precioso para casa e espere um pouco, até que
eu possa trazer o seu carro de volta? Há um bônus nele para
você.
— Certo.
— É claro, ser tiver um arranhão nela, você está totalmente
demitido.
Scott engoliu em seco quando olhou para as chaves na
palma da mão. — Certo. Sem problema.
Brian riu e deu um soco no ombro de Scott, levemente. —
Eu estou brincando com você, cara. Você sabe que eu nunca
seria capaz de funcionar sem você. Basta cuidar do meu bebê.
Eu não vou demorar muito. Eu só quero levar Ella até sua casa
e me certificar de que ela está bem, mas os paparazzi estão
muito familiarizados com o meu carro.
Quando percebi o que ele disse, meu coração balançou e
meu bom humor desapareceu. — Eu prefiro que você não
faça,— Eu resmunguei com uma voz trêmula.
Todos na sala congelaram e, então ambas, Vivian e Juliette,
vieram para o meu lado, enquanto Brian franziu a testa para
mim, confuso. Engoli em seco, esperando que eu fosse capaz
de fazer o que precisava ser feito sem feri-lo muito. — Eu
sinto muito, Brian. — A declaração foi pesada e todos na sala
entenderam seu significado por completo.
— Você tem certeza sobre isso? — Juliette sussurrou.
Não era o que eu queria, mas eu tinha certeza que era o que
precisava acontecer. O que as pessoas iriam dizer quando os
repórteres fossem espirrando fotos de minhas cicatrizes
horríveis por todos os meios de comunicação, para todo o
mundo ver? O que aconteceria quando descobrissem a minha
identidade? Minha dor e sofrimento, o meu acidente, perdendo
minha mãe e minha tentativa de suicídio, tudo seria
apresentado ao mundo inteiro como nada mais do que fofocas
e entretenimento barato. Eu não acho que eu poderia viver
com isso.
— Eu tenho certeza. — Eu tomei algumas respirações e, em
seguida, obriguei-me a encontrar o olhar de Brian. Ele merecia
pelo menos isso. — Eu poderia ter lidado com quase tudo, mas
isto… — Eu balancei minha cabeça. — Você estava certo
quando disse que eu não poderia lidar com o seu mundo. Eu
não posso. Sinto muito, Brian. Eu não sou a garota certa para
você.
Os olhos de Brian voaram bem abertos. Ele atravessou a
sala para mim, em dois passos largos e Juliette e Vivian se
afastaram para que ele pudesse se sentar ao meu lado. Ele
pegou minha mão novamente e se declarou — Não faça isso,
— com toda a paixão que o tornou famoso.
Sua emoção torceu minhas entranhas. Eu entendi
exatamente por que ele se tornou um ator. Seus olhos diziam
muito mais do que palavras jamais poderiam. Agora eles
estavam me dizendo o quão confuso, machucado e até mesmo
assustado. Eu não poderia suportar isso. Em algum lugar sob o
exterior, Brian Oliver era meu melhor amigo, a única pessoa
mais importante na minha vida. Eu nunca quis fazer com que
ele se preocupasse e eu, particularmente, nunca quis machucá-
lo.
A represa atrás dos meus olhos ameaçou quebrar
novamente. — Duas semanas atrás, era você implorando para
aquilo que tínhamos ser suficiente,— eu disse. — Agora eu
tenho que pedir a mesma coisa.
Brian balançou a cabeça furiosamente. — Você acha que há
alguma maneira de voltar como era antes, depois de hoje? Nós
não podemos, Ella. Nós pertencemos um ao outro e você sabe
disso.
Ele não estava fazendo isso fácil, mas eu inclinei meus
ombros, determinada. — Não seria tão simples.
Brian passou a mão pelo cabelo tão violentamente que eu
temia que fosse deixar uma careca em seu rastro. — Eu sei
como a fama é difícil para lidar, eu sei que é pedir muito para
você, mas eu juro que iria fazer valer a pena para você.
Eu acreditava que ele iria tentar, mas eu sabia que ele não
iria realmente ter o controle da situação. Ele queixou-se o
tempo todo sobre não ter nenhum controle sobre sua vida. Eu
sabia que de fato ele se importava com a imagem, daí a razão
porque ele tinha como namorada Kaylee Summers.
Namorar uma garota como eu iria arruinar completamente
sua imagem. Já tinha feito. Eu tinha acabado de destruir tudo o
que ele estava tentando realizar com seu relacionamento falso,
quando eu encontrei com ele em público. As pessoas não
estavam me perdoando por isso. Seu mundo nunca me
aprovaria. Eu era uma ninguém. Eu era pior do que ninguém.
Eu estava aleijada e deformada, com cicatrizes e feia.
Realmente éramos Cinder e Ella. Eu era a mais comum e
ele um príncipe. Mesmo que ele me amasse, eventualmente,
ele faria a escolha esperada dele, a escolha nobre, como tantas
vezes me disse. Ele iria escolher Ratana. Talvez não seria
Kaylee Summers, mas seria alguém famosa.
Alguém bonita. Alguém digna dele.
— Eu não posso fazê-lo. Pessoas se cortam, até mesmo as
mais belas estrelas de Hollywood, para ter um nariz mais-que-
perfeito ou tirar um extra de gordura. Mesmo que você possa
ignorar minhas falhas, o resto do mundo nunca será. Eu não
posso lidar com as coisas que eles diriam sobre mim. Eu não
sou como você. Eu sou demasiadamente autoconsciente.
Também sou muito fraca.
— Ellamara, você não é fraca. Pode não ser fácil, mas
vamos lidar com isso juntos. Dê-nos uma oportunidade. Por
favor.
Fechei os olhos novamente e lutei contra mais lágrimas. O
que eu precisava dizer seriam as palavras mais difíceis que eu
já falei, mas tinha de ser dito. — Você ainda é meu melhor
amigo. Você sabe que eu te amo mais do que qualquer coisa.
Eu sempre vou estar lá para Cinder, mas não posso ser uma
parte da vida de Brian Oliver. Sinto muito.
Engoli de volta as minhas emoções e olhei para os meus
outros amigos. — Vivian?
Vivian sabia o que eu queria. Ela trouxe minhas coisas e me
ajudou a levantar. Brian me parou antes que eu chegasse até a
porta. — Eu sei que você está um pouco assustada com a coisa
da fama, mas…
— Eu não estou um pouco assustada, Brian. — Meu último
resquício de controle finalmente quebrou e eu gritei para ele.
— Eu estou aterrorizada! Estou em liberdade condicional com
meu terapeuta, agora. Estou a um ataque de ansiedade, prestes
de ser presa em um hospital psiquiátrico. Um ataque de abuso
escolar, prestes a ser expulsa da escola, e eu já estou um ano
inteiro atrasada por passar oito meses no hospital.
— Oito meses? — Brian sussurrou em surpresa
horrorizada.
Eu parei de gritar e a desesperança que senti infiltrou em
minha voz. — Sim. E eu ainda tenho anos de recuperação pela
frente. Eu tenho a minha trigésima sétima cirurgia marcada
para janeiro. Eu ainda estou em luto pela perda da minha mãe,
ainda lutando para aceitar tudo o que aconteceu comigo. Eu
estou sobrevivendo. Eu não acho que eu posso lidar com o tipo
de pressão que você está me pedindo para assumir.
Quando Brian respondeu, sua voz era pequena. Foi a
primeira vez que eu tinha ouvido soar insegura. — Não é
sempre assim. O que aconteceu hoje foi lamentável, mas…
— Lamentável? — Eu engasguei com um soluço que me
pegou de surpresa. — Hoje foi muito mais do que lamentável.
Só a minha família e Vivian já viram minhas cicatrizes e
ninguém, além de meus médicos, já as tocaram. Você sabe o
grande passo emocional que foi para mim? Você tem alguma
ideia de quão vulnerável eu estive com você, hoje? Você
quebrou cada defesa emocional que eu tinha. Você me quebrou
para que eu estivesse mais exposta do que eu já estive.
— Eu não queria… — Brian correu em busca de palavras.
— Eu estava tão oprimido por tudo. Eu não pensei… — Ele
parou um minuto para firmar sua voz. — Ella, eu sinto muito.
Eu me senti horrível por fazê-lo sentir se culpado. — Por
favor, não se desculpe, Brian. Hoje à noite você me fez sentir
bonita, especial e adorada, enquanto eu achava que nunca me
sentiria assim de novo. Eu sou grata a você por isso. Eu só
estou chateada porque, exatamente quando senti o primeiro
raio de esperança verdadeira desde o meu acidente, esses caras
com câmera vieram e roubaram o afastando. A primeira coisa
que perguntaram foi por que você estava comigo e o que havia
de errado comigo. Esse momento entre nós era um dos mais
bonitos e especiais de toda a minha vida.
Brian se adiantou e passou os braços em volta de mim. —
O meu também, Ella.
Eu finalmente quebrei em uma confusão berrando. — Mas
esse momento está prestes a ser transmitido ao mundo inteiro,
para que as pessoas possam zombar, julgar e fazer fofocas
sobre mim. Minha dor e sofrimento está prestes a se tornar o
entretenimento da nação. Eu não posso lidar com isso, Brian.
Eu não sei como lidar com isso. Sinto muito.
Eu sai livre de seu aperto e olhei para o rapaz da segurança.
— O nosso carro está pronto?
O homem olhou nervosamente e para trás entre Brian e eu,
e depois assentiu.
— Ella, espere. Por favor.
Brian tentou argumentar, mas eu parei de ouvir. Eu não
podia suportar. Juliette pareceu entender minha necessidade de
fugir. — Não aqui, está bem? — Ela disse a Brian. — Vocês
podem descobrir isso, mas não agora. Ela vai chamá-lo depois
que ela se tranquilizar.
— Mas…
— Deixe-a ir,— disse ela com firmeza e fez um gesto para o
homem da segurança, para nos mostrar o nosso carro.
Capítulo
Vinte e Sete

Eu finalmente consegui parar de chorar, mas eu ainda


funguei todo o caminho de casa. Esse foi o único som feito no
carro em todo o trajeto. Quando nós chegamos à minha
garagem, Anastásia estava fora do carro e batendo a porta da
frente, antes que o resto de nós ainda tivesse os nossos cintos
de segurança fora. Eu não a tinha ouvido dizer uma palavra,
desde que Rob a repreendeu. Eu não tinha certeza se ela ainda
estava brava com isso, ou apenas realmente odiou o discurso
de Brian não-me-deixe-devemos-estar-juntos. Eu achava que
era o anterior e duvidava que ela voltasse a falar comigo,
novamente.
Antes que Vivian ou Juliette pudessem me dar minhas
coisas pessoais como o cajado, Rob me pegou em seus braços
e me levou até a porta da frente. Eu estava tão exausta e de
coração partido, que eu não discuti.
No momento em que cheguei até a porta da frente, meu pai
e Jennifer estavam ali, agarrados um ao outro, em um abraço
preocupado.
— O que aconteceu? — Jennifer engasgou.
Eu não poderia explicar.
Rob olhou para Juliette. — Por que vocês duas não
explicam. Eu vou levar Ella para o quarto dela.
Rob deu um empurrãozinho e a porta se fechou atrás dele
enquanto ele me levou para o meu quarto e me pôs na minha
cama, eu pensei que deveria estar quebrando uma regra da
casa, mas eu não mencionei. Ele se sentou perto de mim e não
disse nada. O silêncio era confortável, mas eu ainda o quebrei.
— Obrigada.
Rob pegou minha mão. Ele hesitou um segundo quando ele
percebeu que era a minha mão cicatrizada, mas, em seguida,
ele a pegou de qualquer maneira. — Você está bem? — Ele
perguntou quando começou a correr as pontas dos dedos sobre
a palma da minha mão e, então, foi explorando a sensação da
minha pele.
Por alguma razão, eu estava aliviada por suas ações. Não
houve repulsa dele e agora, não havia mais medo dele me
tocando. Era como se tivéssemos chegado a um novo nível de
confiança e aceitação. Se pudéssemos compartilhar este
momento com nenhum constrangimento entre nós, então ele
era realmente meu amigo.
Sentei-me ali um minuto, observando seus dedos na minha
pele e desfrutando da paz na atmosfera.
— Você é um bom amigo para mim, Rob. Eu não mereço
isso.
Rob entrelaçou os dedos na minha e sorriu. — Sim, você
merece.
Sua resposta veio tão facilmente e era tão sincera que doeu
meu coração. — Rob… eu realmente aprecio você estar
tentando me ajudar a mover o passado com Cinder, e talvez
um dia eu vá estar pronta para fazer isso, mas eu não acho que
eu posso namorar você agora. Sinto muito.
— Não sinta. — Rob suspirou, mas ele ainda sorriu para
mim. — Não é sua culpa. Eu não consegui, Ella. Eu pensei
que você só tinha alguma paixão pelo cara, porque o mistério
era emocionante. Eu pensei que você, eventualmente, decidiria
que um namorado de carne e sangue real era melhor do que
um amigo de internet e telefone, mas o que eu vi hoje não foi
uma simples paixão. Não para qualquer um de vocês.
Rob colocou a outra mão sobre a parte superior dos nossos
dedos entrelaçados. — Não importa quanto tempo eu espere
por você. Eu poderia esperar para sempre e não me faria
nenhum bem. Você pertence a ele.
Corei e sufoquei outro pedido de desculpas. Ele riu desta
vez. — Está tudo bem, Ella. Eu posso ser apenas seu amigo. E
como um amigo, eu acho que eu tenho que lhe dizer para não
desistir dele.
Eu olhei para cima, assustada, e ele sorriu para mim. —
Vocês estão apaixonados. Não desista disso, porque você está
com medo. Vai ser difícil, mas qualquer coisa vale a pena,
sempre vale, e você terá seus amigos para ajudar.
— Ele está certo, você sabe. — Vivian sorriu da entrada
para o meu quarto. Eu não tinha ouvido a porta abrir. — Você
sempre terá a gente.
Juliette estava ao lado dela, com o rosto radiante, com um
sorriso brilhante. — Você vai ter a sua família, também. — Ela
pegou o controle remoto para a TV e ela e Vivian subiram na
cama. — Vamos! Todos nós vamos verificar os danos juntos.
Demorou dez minutos de ver a notícia antes que a história
viesse à tona. Um âncora e uma mulher estavam sentados atrás
de uma mesa e a imagem exibida na tela, por trás deles, era a
de Brian me beijando.
Além de me fazer corar na frente dos meus amigos, ver a
imagem me doeu. Isso me provocou a memória do beijo de
Brian, me fez lembrar de como tudo tinha sido maravilhoso
para o momento, e ao mesmo tempo me lembrou que eu nunca
poderia tê-lo.
— Em notícias de entretenimento,— disse a jovem mulher.
— A estrela de O Príncipe Druida, Brian Oliver, causou um
pouco de tumulto em FantasyCon esta noite, quando ele foi
visto beijando uma mulher que não era sua noiva, a co-estrela
de O Príncipe Druida, Kaylee Summers.
Como se uma imagem não fosse ruim o suficiente, a tela
cortava para imagens de vídeo de alguém, do meu beijo com
Brian.
Ao meu lado na cama, Juliette e Vivian suspiraram. Rob
suspirou em resposta a seus suspiros.
Na TV, Brian e eu nos afastamos. Meu rosto em pânico
piscou para a câmera, como uma criança assustada. Eu parecia
tão jovem e patética, pirando enquanto Brian tentou me
confortar. A imagem tornou-se ainda mais triste quando eu me
movi para cobrir minhas cicatrizes com o meu manto e, em
seguida, comecei a soluçar no peito de Brian.
A imagem na tela mudou para uma de nós deixando o
restaurante, eu nos braços de Brian, sob a proteção de nossos
guardas de segurança descomunais.
— Os pombinhos não fizeram nenhum comentário para as
câmeras,— disse a apresentadora, — mas mais tarde a equipe
de gestão de Brian emitiu uma declaração dizendo, ‘Não era o
que parecia. Brian estava trabalhando com uma organização de
caridade que concede desejos. A menina era uma fã que tinha
sido quase queimada até a morte, em um terrível acidente e
tinha lhe concedido um desejo, um beijo de Brian Oliver.
Senhorita Summers estava ciente da situação e totalmente
favorável. Os dois, embora ainda não definiram uma data para
seu casamento, estão tão felizes quanto sempre e animados
para a próxima estreia de O Príncipe Druida, no próximo mês’.
Todo o ar deixou meus pulmões, e meus olhos ardiam. Eles
disseram as pessoas que eu era um caso de caridade?
— O quê? — Juliette engasgou.
Ela olhou para a TV com os olhos arregalados. Vivian ficou
boquiaberta olhando na tela, também, balançando a cabeça em
descrença. — Tem que haver uma explicação.
— Não,— eu murmurei. — Controle de danos.
— Mas nós vimos vocês juntos. Ella, a maneira como ele
olhou para você… Eu não acho que ele iria ter…
Cortei-a antes que ela pudesse defendê-lo. — Tenho certeza
que ele não queria, mas ele faz tudo o que eles dizem. Ele só
estava namorando Kaylee, em primeiro lugar, porque sua
equipe de gestão obrigou. Sua equipe, obviamente, não quis
deixar Kaylee em uma imagem feia, ninguém poderia
prejudicar sua carreira.
— Ella. — Rob fez uma careta.
Eu balancei a cabeça, não querendo deixar Rob me
contradizer. — Apenas desligue.
Juliette pegou o controle remoto, mas parou quando a
apresentadora disse: — Brian pode ter sido um pouco tímido
com a câmera, mas conseguimos achar Kaylee e ela tem muito
a dizer sobre o assunto.
— Tenho certeza que ela tem,— o homem mais velho ao
lado dela brincou, com uma risada que deixou o meu sangue
ferver.
— Isso não pode ser bom,— Vivian murmurou.
A tela mudou para uma imagem de uma mulher segurando
um microfone, para Kaylee. Ela estava equilibrada e perfeita
para as câmeras. — Oh, por favor,— ela disse, quando
perguntaram sobre Brian me beijando. — Você realmente acha
que Brian iria me trair com uma garotinha assim? — Ela
acenou com a mão, desconsiderado. — Ele a conheceu em
uma daquelas coisas de caridade ‘faz-seu-desejo-se-tornar-
realidade’. A menina é realmente uma grande fã dele. Ele
concordou com isso, porque ela tem algum blog que ele gosta.
Ele passou o dia inteiro de sexta-feira a twittar sobre isso.
— Então, você estava bem com ele a beijando? —
Perguntou o repórter.
O olhar feroz de Kaylee fez o repórter dar um passo atrás.
Assim que ela pode enterrar seu aborrecimento, ela colocou
um sorriso no rosto. — Obviamente, eu não estava muito feliz
com isso,— disse ela, — mas eu o perdoei. Tenho certeza que
ele apenas sentia pena dela. Quero dizer, você viu como ela
era, com todas aquelas cicatrizes. E ela não pode nem andar. É
por isso que ele teve que levá-la de lá. Confie em mim, eu não
estou preocupada.
— Ela não disse isso!!! — Vivian gritou, indignada.
— Ela é má! — Juliette concordou.
Os dedos de Rob encontraram meu rosto quando Kaylee
Summers piscou na tela, com um sorriso de satisfação. Eu
apertei a mão oferecida com todas as forças.
Na tela, Kaylee continuou sua falsa jogada. — Brian é um
cara tão legal. Ele tem uma dificuldade em dizer não,
especialmente para seus fãs. Ele está sempre tentando agradar
a todos. — Ela suspirou como se pensando que Brian era um
garoto bobo. — Ele está sempre tentando ser o herói.
— Então, parece que ele foi a escolha perfeita para atuar o
heroico Príncipe Cinder. — disse o repórter.
— É verdade,— concordou Kaylee. Então, de repente, o
sorriso fácil escorregou de seu rosto e ela olhou fixamente
para o repórter. — E se essa perseguidora tentar chegar perto
de meu noivo de novo, ela vai saber por que eu era a mulher
perfeita para interpretar a princesa guerreira, a feroz Ratana.
Brian é meu.
Juliette finalmente desligou a TV.
Rob, Vivian, e Juliette me colocaram imersa em um abraço
coletivo. Eu era grata a eles, mas quando eles tentaram me
consolar com palavras, pedi-lhes para sair. Eu tive um longo
dia e eu só queria que acabasse.

***
A mentira de Brian pode ter salvado sua reputação, mas
destruiu minha vida. Eu acordei na manhã seguinte com uma
caixa de entrada de e-mail cheio de mensagens de ódio. Os fãs
de Brian e Kaylee não tiveram amabilidade com a
perseguidora psicopata, que quase acabou com o casal
‘perfeito’. Meu blog, Twitter e Facebook estavam repletos de
comentários maldosos e profanos.
Na escola era pior, porque eu não era apenas uma
perseguidora. Para os meus colegas, eu era uma mentirosa
patética.
Todo mundo me acusou de mentir sobre ser amiga dele. Não
importa o fato de que eu nunca reivindiquei de conhecê-lo.
Rob e Vivian estavam esperando por mim e Juliette no
estacionamento, quando chegamos à escola. Seus rostos
sombrios me disseram tudo o que eu precisava saber sobre
como este dia estava indo, não que eu não tinha adivinhado.
Todos os três andaram comigo através do corredor, olhando e
gritando com qualquer um que se aproximasse de mim. Sua
presença não impediu as pessoas mais corajosas de rirem e
gritarem coisas horríveis, mas pelo menos eles mantiveram
distância.
Juliette foi a primeira a alcançar o meu armário e com um
suspiro assustado, ela se virou e se atirou contra o armário,
cobrindo a frente do meu ponto de vista. — Por que nós não
vamos apenas para a aula? Quem precisa de livros?
— Eu aprecio o gesto, Juliette, mas eu tenho que chegar lá,
então eu vou ver o que quer que seja, de qualquer maneira.
Juliette balançou a cabeça.
— Jules, seja o que for, vou ouvir falar sobre isso, hoje.
Quando Juliette finalmente se afastou, Vivian ecoou seu
suspiro e Rob fez um barulho que parecia um terrível
grunhido. Meus encantadores colegas tinham sido tão amáveis
por decorar meu armário com várias cores de marcador de
texto, com várias palavras como: psicopata, assediadora,
prostituta, perdedora, feia, anormal, e aleijada.
Eu disse a mim mesma que eram apenas palavras e que não
eram verdadeiras. Eu disse a mim mesma que meus colegas
tinham ciúmes e que eles não sabiam a verdade. Eu disse a
mim mesma que eu tinha três amigos que estavam comigo e
que me apoiaram, e isso era tudo o que realmente importava.
Ainda assim, não importa o que eu dissesse a mim mesma,
vendo meu armário isso doía muito.
Quando eu fechei os meus olhos contra o aguilhão de
lágrimas e puxando uma inspiração profunda pelo nariz, uma
mão desceu sobre o meu ombro. — Vamos chamar mamãe e
papai,— disse Juliette. — Eles vão deixar você ir para casa,
hoje.
— Qual seria o ponto? — Perguntei. A minha voz tremeu
quando eu lutei para manter o controle das minhas emoções.
Abri meu armário e peguei os livros que eu precisava para
minha primeira aula. — Se eu não estou aqui hoje, eles vão
apenas esperar até amanhã por mim, ou no dia seguinte ou
então no outro dia para me assediar.
Quando eu bati o armário fechado, o braço de Rob veio ao
meu redor. Inclinei-me para ele, deixando a sua presença me
confortar. Ele beijou minha testa e, em seguida, começou a me
escoltar para minha primeira aula. — Estamos aqui com você,
Ella.
Apertei-o de volta e tomei outro fôlego. — Obrigada.
Se apenas os três pudessem ter estado comigo o dia inteiro.
Juliette estava na minha segunda aula, mas nenhum deles
estava na minha primeira.
Eu estava no meu caminho da primeira para a segunda aula.
Eu mantive minha cabeça para baixo, para evitar os olhares
desagradáveis enquanto eu caminhava pelo corredor. Eu não vi
o grupo de rapazes me seguindo com segundas intenções, até
que fosse tarde demais. — Hey, anormal,— um deles me
cumprimentou.
Esse foi o único aviso que eu tive antes de ele chutar minha
bengala.
Eu caí no chão no meio de um rugido de risos. Felizmente,
eu apoiei minha queda com o meu braço bom, conseguindo,
pelo menos, não fazer mais danos aos meus enxertos de pele.
Meu quadril reconstruído, que causou maior parte dos meus
problemas, bateu contra o chão e enviou uma dor através de
mim tão intensa que meus olhos se encheram de lágrimas.
Uma menina da minha primeira aula, que tinha
particularmente estado todo o ano envolta do cara que acabou
de chutar a minha bengala, disse: — Onde está Brian Oliver
para levá-la para a segurança agora, Ella? Oh, isso é certo, ele
está com sua verdadeira namorada, porque ele realmente não
se preocupa com você. É apenas uma perseguidora patética.
Cheguei para pegar a minha bengala para que eu pudesse
puxar-me para cima e outro imbecil chutou para fora do
alcance de qualquer um. — Opa, desculpe!
Eu não conseguia ter os meus pés no chão sem algo que me
puxasse para cima, então eu estava literalmente presa lá, até
que alguém decidisse ter pena de mim. Foi completamente
degradante e a coisa mais malvada que já tinha acontecido
comigo, em toda a minha vida.
Com a exceção de quando Jason rasgou meu enxerto de
pele, eu nunca chorei na escola e eu não desejava iniciar agora.
Isso é o que essas pessoas queriam, me reduzir a lágrimas. Eu
não queria dar-lhes o prazer, mas eu estava tão humilhada que
não conseguia impedir que brotasse água de meus olhos.
— Oh, não,— A menina malvada provocou. — A pobre
Ella vai chorar novamente como ela fez na TV, ontem à noite?
— Não era possível aguentar por mais tempo, eu finalmente
deu-lhes o que eles estavam esperando. Eu sepultei o meu
rosto em minhas mãos e comecei a derramar lágrimas.
Uma menina que estava testemunhando a cena pegou a
minha bengala e tentou entregá-la para mim, mas algum outro
empurrão aleatório tirou-a de suas mãos e começaram a jogar,
mantendo-a longe. — Vocês, parem com isso! — A menina
abaixou-se, e depois de perguntar se eu estava bem, me
informou que seu amigo foi buscar o diretor. Foi legal da parte
dela se mover por mim, mas eu ainda não conseguia parar de
chorar.
— O que diabos está acontecendo?
Alívio tomou conta de mim ao ouvir o som da voz de Rob.
Ele caiu no chão e passou os braços em volta de mim. — Ella,
o que aconteceu?
— Eu não sei por que você está incomodado por ela, Rob.
— Eu não olhei para ver que cara estava falando. Achei que
era melhor se eu não soubesse. — Você viu as suas cicatrizes,
cara? Desagradável. Ouvi dizer que eles cobrem todo o seu
corpo. Você seriamente quer estar com isso?
Os braços em volta de mim desapareceram e segundos mais
tarde, houve um estalo alto e uma tonelada de gritos. A
comoção durou apenas trinta segundos, na melhor das
hipóteses, antes de vários professores terminarem com a luta,
mas foi tempo suficiente para que Rob deixasse o cara que
tinha chutado a minha bengala, sangrando no nariz e no lábio.
Em vez de tentar descobrir o que aconteceu ali, os
professores enviaram todos os onze presentes de nós, para o
escritório do diretor.
A garota que tentou pegar minha bengala e duas outras
pessoas tentaram me ajudar, mas Rob enxotou-os fora e não
deixou ninguém chegar perto de mim. Ele me ajudou a me
levantar e entregou minha bengala, mas meu quadril doía tanto
que eu não poderia colocar qualquer peso na minha perna. Pela
segunda vez em poucos dias, eu tive que ser levada.

***
Os quatro rapazes envolvidos em jogar e manter longe a
minha bengala e as três meninas que eles estimularam a rir e
disseram coisas rudes, foram todos suspensos por três dias.
Rob e o cara que tinha chutado a minha bengala, tiveram
suspensão de uma semana pela luta, e eles estavam discutindo
a possibilidade de expulsão para o meu ‘assaltante’, já que
suas ações foram mal intencionadas e resultou em me
machucar.
O meu destino ainda iria ser determinado.
Quando meu pai apareceu no escritório com Jennifer,
Daniel, Cody e Dra. Parish, eu me joguei em seus braços e
encharquei sua camisa de lágrimas. — Pai, me tire desta
escola. Eu não me importo se eu nunca me formar. Terminei.
Meu pai me abraçou com força e passou a mão sobre a
minha cabeça. — Tudo bem, garota. Nós vamos encontrar
outra maneira para que você termine.
Ele latiu para alguém sobre a minha cabeça, provavelmente
para o diretor Johnson. — Eu estou removendo minha filha
desta escola. Espero um reembolso total da sua taxa de
matrícula e eu estou colocando este lugar sob revisão.
— Senhor Coleman, o que aconteceu hoje foi imperdoável,
— O diretor Johnson disse, — mas você não acha que é um
pouco de exagero?
O meu pai se afastou de mim e revoou sobre o homem. —
Exagero? Esta é a segunda vez que a minha filha foi agredida
neste campus durante o horário escolar! Nos dois casos onde
estava seu pessoal? E por que razão você não pode manter
seus alunos sob controle?
Diretor Johnson balbuciou e deu um passo em direção a
papai com as bochechas vermelhas. — Perdão, Sr. Coleman,
Mas esta é uma excelente escola e minha equipe é
extremamente capaz. Até sua filha chegar aqui, o nosso
histórico de alterações entre estudantes era quase impecável.
— Você está dizendo que foi culpa de Ella?
— Eu estou dizendo que o problema parece encontrar sua
filha. Você não pode culpar a instituição.
— O inferno que eu não posso! Você é responsável pelo que
acontece aqui e eu vou ter certeza de que você será
responsabilizado por isso.
Enquanto os dois continuaram a discutir sobre isso, Cody e
Daniel me bombardearam com perguntas e me fizeram fazer
todos os tipos de movimentos e alongamentos. Depois do
breve exame, eles decidiram que eu tinha um osso ilíaco ferido
e teria alguma rigidez extra que tinha que trabalhar com
Daniel, na fisioterapia. Caso contrário, eu estaria bem.
Fisicamente, de qualquer maneira. Mentalmente, eu estava
quebrada e não demorou muito para Dra. Parish obter esse
pouco de verdade de mim. — Ella, fale comigo. Como você
está se sentindo, neste momento?
Esta simples pergunta me fez explodir em outra rodada de
perguntas. — Como se supõe que estou me sentindo agora?
Como as pessoas podem ser tão cruéis? E porquê? Por que
alguém iria me tratar dessa maneira? O que eu fiz para
qualquer uma dessas pessoas, para merecer isso?
— Nada, Ella. Você não merecia isso. Ninguém merece
isso.
O consolo da Doutora não ajudou. Eu sentia como se meu
peito tivesse estourado e derramado todas as peças do meu
coração despedaçado, no chão. — As coisas estavam ficando
cada vez melhor aqui, mas no segundo que tiveram algum
material novo para mexerem comigo, a tortura começou tudo
de novo, só que pior! Isso é que vai ser a minha vida de agora
em diante? Estou sempre indo para ser torturada porque eu sou
diferente?
A minha pergunta silenciou a sala inteira. Todo mundo
assistia em silêncio enquanto eu quebrava. E eu não apenas
desmoronei um pouco: eu quebrei completamente. O que foi
deixado de mim, do meu coração, minha mente, minha alma,
tudo foi despedaçado e engolido por um oceano de desespero.
— Eu não posso mais fazer isso— Eu soluçava. — Por que
continuar tentando, mesmo quando não há nenhum sentido?
Estou tão cansada da dor. Estou cansada de lutar. Cansada de
tentar. Nada do que faço está bem. Eu gostaria de ter morrido
no acidente com mama.
Meu pai estava ao meu lado de novo, e me puxou de volta
em seus braços. — Ella, não diga isso.
— Mas é a verdade.
A sala ficou em silêncio novamente, apenas o som dos meus
soluços quebrando o silêncio. Quando a Dr. Parish
recomendou que eu fosse hospitalizada alguns minutos mais
tarde, eu estava tão desolada que não discuti.
Qualquer coisa seria melhor do que isto.
Capítulo
Vinte e Oito

Brian
Havia algo martelando forte que simplesmente não parava.
Eu rolei nas minhas costas com um suspiro. Após limpar a
baba no meu rosto, eu arrisquei abrir meus olhos. Estava
escuro. O escuro era bom. Agora, se eu pudesse apenas me
livrar do ruído.
— Brian!
Eu fiz uma careta. Desde quando fiz o meu monólogo
interior soar como meu assistente?
— Brian! Não me faça obter os funcionários do hotel para
abrir esta porta!
Eu pisquei de novo e olhei em volta. Eu estava sozinho em
um quarto de hotel escuro em… Las Vegas? Meu cérebro
começou a acordar e ligar os pontos. Depois que Ella me
rejeitou, eu fui para Las Vegas e parece que recebi uma
martelada. Há quanto tempo foi isso? Algumas horas? Um
dia?
— Brian!
Bem. No entanto o tempo que eu tinha estado aqui, foi o
tempo suficiente para Scotty vir me procurar. Porra, meu
assistente tinha excesso de zelo. — Eu pensei que eu lhe disse
para tirar alguns dias de folga!
Com outro gemido, eu rolei para fora da cama e procurei o
meu caminho até a porta. Eu fechei meus olhos imediatamente
contra a corrente violenta de luz, que se derramou do corredor
para o quarto. — Por que você apenas não entra e me espanca
até a morte com um martelo? Já foi bastante com esse barulho
maldito.
Deixando a porta aberta para Scott entrar, eu resmunguei de
volta para a cama.
— Aqui. — Scott jogou uma caixa de aspirina para mim,
enquanto cai de volta na cama. — Isso deve ajudar.
— Vai, se eu tomar com uma garrafa de Scotch. Você não
tem nada disso em alguma bolsa mágica, não é?
— Alguém é um bêbado mal-humorado. — Scott tirou uma
garrafa de sua bolsa e jogou para mim.
Água. Droga.
Eu bebi a água, junto com um punhado de analgésicos e, em
seguida, franzi a testa para Scott. — Eu sou um bêbado muito
amável, muito obrigado. Eu estou apenas em uma manhã ruim.
— Tente duas manhãs depois.
Dois dias? Tentei pensar e isso fez minha cabeça doer. —
Tem sido tanto tempo? — Eu rolei e aconcheguei minha
bendita cabeça no travesseiro. — O que tenho feito há dois
dias inteiros?
— Não atender ao telefone.
— Eu não acho mesmo que deixei esta suíte desde que
cheguei aqui.
— Eu tenho certeza,— respondeu Scott. — Se você tivesse,
você teria visto a notícia, e eu duvido que se você soubesse o
que estava acontecendo, você estaria vivendo seu próprio
drama pessoal de Se Beber Não Case.
— Isso soa ameaçador. — Eu puxei as cobertas por cima da
minha cabeça. Talvez se eu não pudesse ver Scott mais, o
assistente maravilha desapareceria e me deixaria voltar a
dormir.
— Então, Kaylee ainda está agitando? Está a minha vida
arruinada? Sou a pessoa mais odiada da América, agora?
Scott arrancou minha coberta até o chão. — Não você. —
Havia irritação suficiente em sua voz que eu finalmente
percebi o senso de urgência. — Ella.
Sentei-me tão rápido que minha cabeça girou.
— O que você quer dizer? O que aconteceu?
Não esperei pela resposta de Scott, peguei meu telefone da
mesa de noite e disquei o número de Ella.
— Isso não vai funcionar,— disse Scott, tal como o
operador me informou que o número de Ella não está mais em
serviço.
O medo causando adrenalina a bombear através do meu
corpo, empurrando instantaneamente a última névoa do meu
cérebro.
— O que está acontecendo? Por que o telefone de Ella não
está funcionando? Ela está bem?
— Eu não sei. Eu não tenho sido capaz de conseguir contato
com ela. Eu tentei o número de telefone, e-mail e mensagens
instantâneas que você listou em seus contatos, e eles estão
todos fora de serviço.
Estava pronto para arrancar as respostas de Scott se ele não
explicasse tudo com clareza neste maldito segundo. Eu estava
tão chateado com Ella se recusando a ser uma parte da minha
vida, que eu esqueci que tinha feito dela uma celebridade
durante a noite.
Tinha sua identidade sido descoberta? Ela estava sendo
assediada? Kaylee tinha feito alguma coisa?
— Fale-me, Scotty. Eu sei que é ruim se você me seguiu
toda Las Vegas, em seu novo Toyota.
— Na verdade, eu voei aqui. Eu pensei que você iria querer
ir direto para casa e não tinha certeza de que estaria em
condições de dirigir.
A julgar pelo olhar que Scott me deu enquanto avaliava meu
estado amarrotado, ele provavelmente estava certo. — Bem
pensado.
Scott sorriu. — Eu pensei assim. Eu também utilizei o seu
cartão de crédito para reservar o voo e eu atualizei para
primeira classe.
Mesmo no meio do meu pânico eu tinha que sorrir para isso.
— Você está realmente começando a pegar o jeito deste
trabalho.
Scott pegou seu laptop e deu um tapinha no espaço do sofá,
ao lado dele. — Eu aprendo rápido. Puxe uma cadeira. Você
vai querer se sentar para ver isso.

***
Eu tinha andando pela suíte de hotel durante dez minutos,
ainda muito enfurecido para falar. Isso era um pesadelo.
Eu sabia que ia ser um frenesi da mídia sobre o incidente no
domingo, mas eu pensei que Ella estaria segura. Ninguém
sabia sua verdadeira identidade. Nem eu mesmo sabia sua
identidade. Mas eu sabia que algo estava para acontecer. Como
eu poderia apenas sair e não esperar para ver o que
aconteceria?
A identidade pessoal de Ella não tinha sido divulgada, mas
graças a Kaylee, ela deve ter tido um bombardeio online. Seu
Facebook e Twitter tinham sido excluídos e seu endereço de e-
mail já não era válido. Seu blog ainda estava lá, Agradeço ao
Senhor por algum milagre. Eu teria ficado com o coração
partido, se todas as suas mensagens dos últimos três anos
tivessem sido apagadas para sempre, mas o recurso de
comentários foi desabilitado e ela não tinha postado nada,
desde sábado.
Eu não tenho que imaginar os tipos de coisas que as pessoas
postaram em sua mídia social para ela apagar tudo, porque
havia muitos outros lugares na Internet para eu ler. Um caso de
caridade?
Uma fã obcecada? Uma perseguidora psicopata? E esses
foram apenas as coisas mais agradáveis. Eu não gostaria de
repetir as coisas mais desagradáveis.
E foi o meu próprio povo maldito quem começou os
rumores. Ella deve me odiar. Na verdade, eu sabia que ela me
odiava, porque, mesmo se ela tivesse que apagar seu perfil
online, o público não saberia o seu número de telefone celular
e ID de mensagem. Ela não teria que se livrar deles, mas ela
fez. Ela tornou impossível para mim, eu não poderia entrar em
contato com ela.
Ela não apenas eliminou a sua presença online, como ela me
excluiu de sua vida. Era inaceitável. Eu tinha que fazer alguma
coisa. Eu não podia deixá-la me excluir sem me dar a chance
de explicar. Eu precisava de um plano, mas eu não estaria
fazendo esse plano com as pessoas que geralmente me ajudam.
Eu parei de andar e me virei para Scott, que ainda estava
sentado à mesa, na frente de seu laptop, esperando por mim
para voltar do meu discurso interno.
— Eu tenho um advogado, certo? Eu tenho que ter. Eu
provavelmente tenho toda uma equipe de advogados, certo?
Scott assentiu. — Candice Regan and Associates.
— Candice Regan. — Eu procurei o nome na memória. —
Põe-me ao telefone com Candice Regan.
Scott bateu em seu iPad por um minuto, em seguida, ligou
do meu celular. — Sim, eu tenho Brian Oliver na linha para
falar com Candice Regan. Então, eu sugiro que você a
interrompa. Eu realmente não acho que o Sr. Oliver está com
humor para esperar. Sim, eu vou ficar na linha, obrigado.
Scott passou o telefone e uma alegre voz de uma mulher
mais velha entrou na linha. — Brian! Que surpresa agradável.
Eu não falo com você diretamente em anos. O que posso fazer
por você?
— Toda a minha equipe de gestão,— eu disse lentamente,
tentando controlar a raiva dentro de mim. — Eu quero eles
todos demitidos no final do dia e eu não quero ser processado
por isso.
— Despedidos.. bem! — Candice estalou um segundo e, em
seguida, disse: — Mas eles estão todos sob contrato, Brian.
— É exatamente por isso que eu chamei você. Você está
ciente da história que correu domingo à noite?
— O caso de caridade, com o desejo de um beijo?
Eu cerrei os dentes. Não era culpa dessa mulher. Eu não
deveria gritar com ela. Ainda assim, quando eu falei, eu
parecia perigoso. — Foi mentira. Tudo. Ella não é uma fã. Eu
não estava trabalhando com qualquer caridade, e eu não estava
noivo de Kaylee quando eu beijei Ella. Minha equipe inventou
a história com Kaylee, em uma reunião e eu não estava
presente. Eles agiram sem o meu conhecimento ou aprovação,
contra os protestos do meu assistente pessoal, que lhes disse
que eu nunca iria permitir tal atitude
Candice estava muito perturbada para falar.
— Tem que haver uma brecha de contrato em algum lugar.
— Tenho certeza de que podemos encontrar algo, mas e se
não?
— Eles ainda estão todos despedidos,— eu disse com
firmeza. — Só vai me custar mais.
— Se eles realmente agiram sem a sua permissão, não deve
ser um problema.
— Eu tenho estado indisponível. Enterei-me disso há quinze
minutos.
— Nesse caso, me dê um par de horas e eu vou deixar você
sabe o que eu acho.
— Eu agradeço. Vou esperar para soltar a notícia até que eu
ouça de você.
Eu desliguei e Scott sorriu. — Isso me fez sentir bem.
— Eles não vão aceitar tão bem.
— Então, qual é o próximo?
Eu pensei por um minuto. — Eu estive com a minha
agência desde que eu comecei. Minha carreira percorreu um
longo caminho desde então. Eu acho que eu preciso de uma
atualização, você não acha?
— Definitivamente. Estou chamando CAA, ICM, ou
WME?
— Todos os três. — Eu comecei a andar novamente,
tentando manter o foco, mesmo que meus pensamentos fossem
mantidos à deriva para Ella. — Informe-os da situação, toda
situação, e diga lhes que se eles me quiserem, eles têm até
amanhã de manhã para chegar a um plano de como eles iriam
abordar essa bagunça. Diga-lhes que vou assinar com quem
tiver a melhor ideia. E Scotty? — Scott olhou para mim.
Assegura-te de que eles entendam que Ella é minha prioridade
aqui e não a minha própria carreira, maldição.
Scott absorveu essa afirmação e balançou a cabeça como se
ele achasse que eu tinha perdido minha cabeça. — Isso deve
ser interessante,— ele murmurou enquanto ele começou a
teclar em seu tablet. — Eu vou ter tudo pronto, no momento
em que você estiver fora do chuveiro.
Eu olhei para as calças de pijama que eu estava usando,
aparentemente duas noites, eu passei a mão pelo meu cabelo
bagunçado. — Entendo que é suposto ser uma dica?
— Mais como um pedido amigável,— disse Scott, que
nunca mais levantou os olhos da tela brilhante na frente dele.
— Você fede, chefe.
Eu ri todo o caminho até o banheiro.
Capítulo
Vinte e Nove

Meu centro de reabilitação em Beverly Hills era calmo,


luxuoso e surpreendentemente pacífico. Havia apenas um
punhado de ‘convidados’, como eles chamam a gente,
incluindo alguém cuja música tinha armazenado no meu iPod.
Se não fosse pelas sessões de terapia obrigatórias, eu teria
pensado que eles tinham me enviado a um spa resort para
férias.
Eu tinha visitas diárias da Dra. Parish e me juntava aos
outros pacientes para uma sessão de terapia de grupo, em dias
alternados. Meu nutricionista veio uma vez, depois que eu
cheguei e tive uma reunião com o pessoal da clínica de
cozinha sobre a minha dieta, e meu enfermeiro Cody veio em
suas visitas semanais regulares.
O delicioso Daniel veio trabalhar comigo todos os dias
como a Dra. Parish. Mesmo que eu tivesse batido meu quadril,
isso não seria necessário, nós tínhamos uma agenda de três
dias por semana antes, mas eu acho que ele sentiu pena de
mim e queria me fazer companhia. Ele era impressionante.
Claro, eu acho que também teve um pouco a ver com aquela
bela pop star que eu mencionei estar hospedada no centro, bem
como nós, ela gostava de sair no ginásio onde Daniel e eu
fizemos as nossas sessões de terapia. Daniel negou esta
acusação, mas sempre corou quando eu disse que ele estava
olhando novamente.
Eu estava feliz com a empreitada de Daniel, porque outros
de meus médicos não me autorizaram qualquer contato
externo com ninguém. O ponto de estar lá, Dra. Parish me
informou; era conseguir algum descanso e relaxamento em um
ambiente livre de estresse. A regra visitantes foi porque minha
família era um grande ponto de tensão para mim, nem mesmo
os amigos, sem telefone, sem TV, e não há internet, as regras
foram feitas para ser um escudo contra todo o desastre Brian
Oliver. Enquanto eu perdi meus amigos e estava entediada em
meus pensamentos, eu não podia dizer que eu odiava a falta de
toda a atenção da mídia.
O isolamento total tinha que acabar em algum momento,
porém, já havia passado cerca de uma semana desde que eu
tinha dado entrada na clínica. Dra. Parish permitiu meu pai e
Jennifer para visitar sob a condição de que o nosso tempo
juntos fosse supervisionado. A visita foi basicamente
aconselhamento em família, que a Dra. Parish recomendou
que meu pai e eu começássemos a fazer regularmente. Fiquei
chocada que o meu pai concordou sem hesitação.
— Se é isso que temos que fazer para corrigir as coisas
entre nós, então é claro que eu vou,— disse ele quando viu a
minha surpresa. — Eu amo você Ella. Eu amei ter você de
volta em minha vida, no ano passado. Eu sei que um pedido de
desculpas não é suficiente, mas eu sinto muito por te deixar.
— Eu entendo, as pessoas se divorciam,— eu sussurrei, —
mas você nunca disse adeus. Você nunca me ligou. Você nunca
veio me visitar. Por que você simplesmente me abandonou?
Eu tinha sido realmente boa sobre não chorar desde que eu
cheguei na clínica, mas meus olhos começaram a arder.
Meu pai suspirou sua derrota, em seguida, começou a sua
explanação com um aviso. — Eu gostaria de ter realmente
alguma boa desculpa para fazer o que eu fiz ficar tudo bem,
mas eu simplesmente não tenho. A verdade não é bonita,
querida. Eu não quero feri-la mais do que eu já tenho.
Eu podia ouvir o desespero, o fundamento tácito para deixá-
lo cair, mas eu precisava saber. — Não compreender é o que
mais dói.
— Sem entendimento, Ella não será capaz de perdoá-lo, Sr.
Coleman,— Dra. Parish disse gentilmente. — É o que a
impede de ser capaz de seguir em frente. Se você não pode ser
honesto com sua filha, você nunca será capaz de construir um
relacionamento verdadeiro com ela.
O corpo do meu pai parecia desabar sobre si mesmo. Se
Jennifer não estivesse sentada com ele, segurando-o com tanta
força, ele poderia ter entrado em colapso a partir do desespero.
— Eu fiz um monte de erros na minha vida, Ella, e todos eles
começarma quando eu conheci sua mãe. Eu nunca deveria ter
me casado com ela.
Eu balançava na minha cadeira. Dra. Parish teve que me
pegar um copo de água antes que eu pudesse falar. Minhas
mãos tremiam tanto que derramava um pouco quando eu
bebia. — O quê? — Gaguejei, uma vez eu poderia finalmente
pensar novamente. — Como você pode dizer isso? Você a
amou?
— Eu cheguei a amá-la em alguns aspectos, mas não da
maneira que você está pedindo, e eu não acho que ela me
amou, também.
Comecei engolindo minha água e meu pai virou-se para o
Dra. Parish, com um olhar de medo. — Tem certeza que isso é
uma boa ideia? Tem certeza que ela pode lidar com isso agora?
Sua mãe era sua heroína, sua melhor amiga. Isso não vai ser
fácil para ela.
— Apenas me diga. — Se ele não explicasse isso logo, eu
perderia minha mente.
Dra. Parish nos considerou com tanta calma e, em seguida,
encontrou o olhar do meu pai com uma severidade suave que
só os médicos e as mães eram capazes. — Seja o que for, Sr.
Coleman, você e eu estamos aqui para ajudá-la a lidar.
Meu pai engoliu em seco e, em seguida, virou-se para mim.
Todo o seu corpo caiu no segundo que ele olhou para mim.
— Eu estava no meu último ano de escola em uma das
melhores escolas de direito no país. Era um programa brutal e
competitivo. Estudei quase cada segundo que eu não estava na
sala de aula. Minha vida era tão estressante. Estar com sua
mãe foi como uma lufada de ar fresco. Ela era tão divertida e
exótica. Nós saíamos, às vezes, quando eu encontrava o tempo
e tivemos um ótimo tempo juntos, mas as coisas nunca foram
sérias entre nós. Nós nunca estivemos apaixonados. Nós nunca
fomos até mesmo um casal
Meu pai fez uma careta quando os meus olhos se
arregalaram, mas ele continuou. — Fiquei chocado quando sua
mãe me disse que estava grávida. A última coisa que eu queria
naquele momento era uma criança. Eu estava me preparando
para o concurso do tribunal. Se eu passasse, eu teria um
trabalho alinhado, sabia que os meus estágios exigiriam muito
do meu tempo.
Meu estômago revirou com um mal estar súbito. — Será
que você pediu a ela para fazer um aborto?
Meu pai olhou para seu colo. Ouvi uma andorinha do lado
oposto da sala. Após um minuto, ele encontrou meus olhos e
sussurrou: — Sim.
Senti o sangue em minhas veias congelando e tinha que me
lembrar de respirar. Não foi fácil de fazer. Meu coração estava
batendo no meu peito e a água que eu tomei um gole parecia
que não ia ficar parado no meu estômago.
Ele nunca me quis. Nunca.
— Sua mãe teve uma criação religiosa. Ela absolutamente
se recusou a interromper a gravidez e me pediu para casar com
ela. Eu me ofereci para pagar tudo e ajudar, no entanto, mas eu
não queria me casar. Sua mãe e eu não seriamos bons juntos.
Nós éramos muito diferentes. Nós não estávamos apaixonados.
Mas sua mãe insistiu. — Sua abuela e seu granpapa eram
fanáticos religiosos. Eles estavam indignados com a coisa toda
de bebê-fora-do-casamento. Eles disseram que se ela não se
casasse eles iriam negá-la. Você sabe o quão perto ela era com
seus pais.
Ela estava histérica. Além disso, ela estaria por conta
própria e ela ia ter um bebê. Meu bebê. Posso não ter sido
criado em uma religião, mas eu fui ensinado a assumir a
responsabilidade por minhas ações.
— Então você se casou com ela.
Meu pai soltou um suspiro e balançou a cabeça. — Então,
me casei com ela.
Eu fui uma gravidez indesejada, em um casamento forçado.
Meus pais nem sequer se amavam.
Meu pai leu a expressão no meu rosto e fez uma careta. —
Foi ruim desde o início. Eu me ressentia por estar me
prendendo, ela se ressentia por se sentir presa, e eu a culpei
pelo bebê… — Pai engoliu de novo e se corrigiu. — Eu a
culpava por minha infelicidade.
Fechei os olhos contra as lágrimas, mas elas escaparam pelo
meu rosto de qualquer maneira.
— Eu estava errado em me sentir assim, Ella. Sua mãe e eu
fomos culpados pelo que aconteceu, não você. Sinto muito que
levei tanto tempo para perceber isso.
Meu pai e Dra. Parish me deram um minuto para me
recompor. Uma vez que eu poderia falar, fiz uma pergunta que
eu não tinha certeza se queria uma resposta, mas tinha que
saber, no entanto. — Alguma vez você me amou, papai? Eu
sei que eu era pequena, mas eu não me lembro das coisas
sendo tão ruim. Eu me lembro de você rindo e brincando
comigo às vezes. Era tudo apenas uma mentira?
— Querida, a vida não é preto e branco,— respondeu o pai.
— Eu te amava, mas nunca pude superar meus problemas, e
nem sua mãe poderia. Ela jogou a coisa do aborto sobre a
minha cabeça o tempo todo que estávamos casados. Ela nunca
me perdoou por não querer você, e ela nunca me deixou
esquecer isso. Ele sempre ficava irritada, toda a vez que você e
eu chegávamos perto. Ela dizia que eu não merecia você. Ela
criou uma distância entre você e eu de propósito, e como ela
tornou tudo mais difícil, foi mais fácil eu me distanciar. Eu
trabalhei tanto quanto eu podia, e eu deixei você e sua mãe
fazer suas próprias coisas. Eu fiquei fora do seu caminho.
— Que tipo de distância? — Perguntei, completamente
incapaz de imaginar minha mãe fazendo algo tão mesquinho.
— Ela criou você como se você fosse apenas chilena. Ela
ignorou completamente o fato de que você era meio branca,
metade minha filha. Ela imergiu você em uma cultura que eu
não conhecia, te ensinou uma língua que eu não entendia. Ela
praticamente a criou com seus avós, e ignorou todas as
tradições familiares que eu estava acostumado. Nós apenas
visitamos minha família duas vezes o tempo todo que nos
casamos. Era difícil, porque eles viviam no Oeste, mas sua
mãe não fez exatamente qualquer esforço para vê-los, também.
Na maioria das vezes eu fui visitá-los sozinho. Ela não queria
que você fosse uma parte da minha família. Você não os tem
visto desde que tinha três anos.
— Sua família? — Perguntei, confusa.
Meu pai suspirou. — Seus avós vivem, Ella, meus pais. E
uma tia e um tio e três primos.
Engoli em seco. Isso era novidade para mim. — Eu tenho?
Tudo fazia sentido, de papai ter pais e um irmão e tudo isso,
mas em todos os anos eu não conseguia me lembrar, eu não
poderia recordar já ter ouvido sobre eles. Minha mãe
definitivamente nunca os mencionou.
Depois que meu pai nos deixou, ela quase nunca disse duas
palavras sobre ele, exceto para culpa-lo ou o amaldiçoar em
espanhol.
— Eu acho agora que eu deveria ter pensado em lhe dizer
isso antes, mas sim. Meus pais e meu irmão mais novo, Jack,
todos vivem na área da baía de São Francisco. Eles foram te
visitar não há muito tempo, enquanto você ainda estava no
centro de reabilitação, em Boston. Quando estiver pronta, eu
posso te levar para visitá-los, ou mandá-los vir para Los
Angeles. Eles estão curiosos e animados para te conhecer, até
mesmo eu quando o hospital ligou para mim.
Eu vacilei com a confissão, quando eu me sentia insegura
sobre isso. — Você estava animado para conhecer-me quando
o hospital ligou?
A descrença na minha voz fez os ombros do meu pai
abaixarem, sob o peso de culpa. — Sim, Ella. Você é minha
filha. Podemos não ter tido o maior relacionamento, mas eu
criei você por oito anos. Isso não é algo que uma pessoa
apenas se esquece. Eu tenho pensado sobre você ao longo dos
anos. Eu sabia que você era provavelmente feliz, porque eu
sabia o quanto sua mãe a amava, mas eu tenho me perguntado
como você se parecia e como você estaria. Quando fui para
Boston, eu estava muito curioso para ver que tipo de mulher
você teria se tornado e eu estava com medo que você não
sobrevivesse e eu nunca pudesse chegar a descobrir. Isto vai
soar horrível, mas eu estava animado com a oportunidade de
passar algum tempo com você, sem sua mãe por perto para te
envenenar contra mim. Quando eu cheguei em você, eu
esperava que poderia ser uma chance de começar de novo.
Tivemos alguns começos.
— Gostaria disso,— meu pai disse calmamente, — se você
me dar uma chance.
Naquele momento, suas palavras me bateram duro. Eu ouvi
o apelo em sua voz e percebi que o relacionamento rochoso
que tive com meu pai foi principalmente culpa minha. Eu
sabia que ele estava tentando, mas eu não estava lhe dando a
chance de chegar perto de mim. Era estranho. Eu queria que
ele me amasse, me quisesse e me conhecesse, mas eu nunca o
deixei entrar.
— Eu gostaria também,— eu admiti. — Vou tentar ser
melhor, mas eu acho que vou levar algum tempo.
Papai assentiu. — Eu entendo.
— Entende? — Perguntei, incapaz de manter todo o
antagonismo da minha voz. — Eu estou tão brava, pai. E eu
estou ferida. Você me deixou. Eu cresci sem pai. Quando eu
cheguei aqui e vi o quão feliz você estava com Jennifer,
Juliette e Anastásia, isso me rasgou. Chamam-lhe de pai
enquanto eu sinto que eu deveria chamá-lo de Sr. Coleman.
Você tem alguma ideia de como isso me faz sentir? Eu quero
construir um relacionamento com você, mas eu odeio viver em
sua casa, porque eu sou tão ciumenta de sua família.
Dra. Parish se levantou e levou a caixa de lenço descartável
para mim.
Peguei um e, em seguida, peguei mais três. Eu estava
prestes a arrebatar toda a caixa, mas, em seguida, Dra. Parish
virou e estendeu-a para o meu pai e Jennifer.
Fiquei chocada ao ver os olhos do meu pai brilhando. Eu
nunca o tinha visto chorar antes. — Eu sinto muito, Ella. Eu
não posso deixar de amar a minha família. Quando eu conheci
Jennifer,— Sua voz cedeu e ele levou um minuto para se
recompor. — Quando eu conheci Jennifer, eu me apaixonei
pela primeira vez na minha vida. Eu não sabia o que estava
faltando, quão infeliz eu realmente era, até Jennifer encher o
buraco no meu coração.
Jennifer piscou algumas lágrimas livre de seus olhos e
apertou a mão do meu pai. Eu queria estar com raiva dela. Eu
queria odiá-la ou odiá-los tanto, mas qualquer idiota poderia
ver como eles estavam apaixonados. Como eu poderia os
invejar? Como poderia eu não querer que meu pai fosse feliz?
Ele não merecia ser miserável na vida mais do que eu.
— Meus anos em Boston eram um bando de lembranças
dolorosas,— disse meu pai. — Jennifer e as meninas eram tão
felizes de me ter em suas vidas. Foi tão bom ser necessário e
amado, que eu apenas decidi que era melhor se eu começasse
com a minha vida. Sua mãe não queria que eu fosse uma parte
da sua vida, quando ainda estávamos casados. Não havia
nenhuma maneira que ela ia me deixar ser uma parte dela,
após o divórcio. Eu sei que estava errado, mas depois disso,
foi muito fácil para eu sair e colocar vocês duas para trás da
minha vida. Sinto muito, Ella. Eu cometi um erro. Eu fiz um
monte de erros. É tarde demais para tomar qualquer um deles
de volta, mas eu quero reparar com você, então me diga como
posso fazer isso. O que você precisa de mim?
Eu respirei fundo. Se estivéssemos sendo honestos uns com
os outros, então havia apenas uma coisa que eu precisava dele.
— Eu preciso que você me deixe ir.
O rosto de papai puxou em uma carranca e Dra. Parish
começou a tomar notas novamente. — Você pode explicar o
que quer dizer, Ella? — Ela perguntou.
— Quero dizer, eu preciso da minha liberdade. Quando eu
estiver pronta para sair daqui, quero estar livre da custódia do
meu pai. Eu sou uma adulta, mas eu não tenho permissão para
tomar minhas próprias decisões. Em vez disso, alguém que é
praticamente um estranho para mim, é que as toma por mim.
Eu sei que ele está tentando o seu melhor, mas o que poderia
ser melhor para ele e sua família não é necessariamente o que
é melhor para mim. Preciso de pessoas que confiam em mim.
Dra. Parish me encorajou com um sorriso para continuar,
mas ela balançou a cabeça em direção ao meu pai. Ela já sabia
como eu me sentia. Ela queria que eu falasse isso a ele.
Meu pai não desviou o olhar quando eu o encarei. Ele até
tentou espelhar o sorriso encorajador da Dra. Parish, mas eu
podia ver que isso era difícil para ele. Eu vi seu
desapontamento.
— Eu estou tentando ficar melhor,— eu disse a ele, — mas
estar com sua família está me segurando. Eu sinto que eu não
posso respirar em sua casa. Eu me sinto como uma estranha,
uma intrusa. Eu sinto que só estou te causando todos os
problemas, e que não me querem lá.
— Ella, é claro que tem sido uma mudança, mas eu quero
você.
— Você quer,— eu concordei. — Mas e Anastásia? E
Jennifer?
Papai olhou assustado quando eu disse o nome de Jennifer e
ele virou-se para sua esposa. Ela não disse automaticamente
sim, e isso surpreendeu o meu pai. — Estou tentando,— ela
falou. — Não é que eu não goste de você. Eu acho que você é
uma garota maravilhosa. Eu só não estava esperando… tem
sido tão dura com minhas meninas… — Ela estendeu a mão
para os lenços. A caixa estava para acabar antes da sessão de
uma hora. — Eu sinto muito, Ella. Eu sempre quis fazer você
se sentir bem-vinda.
— Está tudo bem,— eu disse a ela. — Eu entendo. Eu faço.
Honestamente, eu não culpo você. Nenhum de nós pediu para
que isso acontecesse. É por isso que eu acho que seria melhor
se eu me mudasse. Vivian disse que eu poderia ficar com ela,
até eu encontrar meu próprio lugar e Juliette mencionou
morarmos juntos no próximo ano, se eu estiver autorizada a
deixar a sua casa para a faculdade.
— Querida…
Olhei para meu pai novamente e tentei dar-lhe um sorriso
encorajador. — Se você realmente deseja construir um
relacionamento comigo, isso é ótimo. Vamos conhecer um ao
outro. Vamos jantar, por vezes, ou ver filmes. Vamos
conversar. Mas, por favor, não faça comigo o que fez com
você minha mama. Não me prenda. Não me obrigue a fazer
parte de uma família que, na realidade, não é minha. Se você
quer que eu te ame, então não me faça ressentir de você.
Todo mundo ficou em silêncio por um minuto. Mesmo a
caneta sempre rabiscando da Dra. Parish, ficou imóvel. Então,
meu pai soltou um suspiro tão grande que eu observava seu
corpo desinflar com ele.
— Você tem certeza de que é realmente o que você precisa?
— Ele perguntou.
Eu não hesitei. Eu não precisava. Eu sabia. — Sim. É o que
eu preciso. É o que Ana precisa, também.
Prendi a respiração e soltei quando vi a decisão do meu pai
em seus olhos. — Tudo certo. Vamos apenas nos
concentrarmos em você ficar melhor enquanto você está aqui,
e quando você estiver pronta para sair, nós vamos trabalhar em
algo. É pedir demais me deixar te ajudar a vir com um plano?
Eu me sentiria mais confortável se você me deixasse, pelo
menos, ser uma parte do processo de tomada de decisão.
Eu senti um enorme peso sair do meu peito. Desta vez,
quando eu sorri para o meu pai, eu senti que ia alcançar os
meus olhos. — Eu acho que é um compromisso razoável.
Capítulo
Trinta

Eu sempre fiz o meu melhor para odiar os meus


compromissos com o Dra. Parish, mas eu tinha um sorriso no
meu rosto, hoje.
Depois de um mês inteiro, eu estava enfrentando a Dra.
Parish para a minha última sessão, no centro de reabilitação.
Eu estava sendo liberada esta tarde.
— O sorriso parece bem em você, Ella,— disse Dra. Parish
quando me sentei em frente a ela.
O comentário me fez sorrir mais amplo. — É uma sensação
agradável.
Dra. Parish combinou com o meu sorriso. — Você está
animada, então? Sem ansiedade em sair do centro?
Eu estaria mentindo se eu dissesse que não, então eu não fiz.
Eu tinha aprendido ao longo das últimas quatro semanas, que
eu tinha ido muito mais longe com a Dra. Parish quando eu
não lutava contra ela.
Suas perguntas e pensamentos nunca foram feitos como
acusações. Ela realmente queria me ajudar, mas ela não podia
enquanto eu nunca fosse completamente honesta com ela,
sobre como eu me sentia.
Só quando fui honesta com o meu pai que eu aprendi isso.
Após a primeira sessão de terapia em conjunto, algo mudou
entre nós. Ele e eu ainda tínhamos um longo caminho a
percorrer, e não tem sido fácil, mas estamos cooperando agora
para tentar fazer as coisas funcionarem. Isso mudou todo o
nosso relacionamento.
Eu estava trabalhando com a Dra. Parish também e fazendo
progresso. Um monte de progresso. Eu sou uma pessoa mais
forte agora do que eu era.
— É claro que eu estou nervosa por ter de voltar para o
mundo real. Meu acidente, as minhas cicatrizes, perdendo
minha mãe e minha relação instável com o meu pai, ainda
estão todos lá. Eu sei que vai ser mais difícil lidar com eles
uma vez que eu sair, mas eu acho que sou capaz de enfrentar
essas coisas, agora. Eu estou pronta para enfrentá-los.
Pela primeira vez, a caneta da Dra. Parish não se mexeu,
depois que eu falei.
Em vez disso, ela sorriu de novo. — E você tem certeza de
que quer deixar a casa de seu pai? Você não pode fugir de seus
problemas Ella, eu sei que você sabe disso. Eu só quero ter
certeza de que morar com Vivian não é uma tentativa de
escapar de uma situação difícil.
Puxei meus ombros para trás e encontrei os olhos dela. —
Não é. — Eu tinha certeza de mim mesmo. — Eu não estou
fugindo de nada. Eu estou correndo para alguma coisa. Você
disse que eu preciso de um sistema de apoio. Vivian e seus
pais querem ser isso para mim. Eu quero estar lá e eles estão
animados para eu ir. Eu não estou fugindo de meu pai ou de
sua família, eu só estou dando a cada um de nós o nosso
espaço muito necessário.
Dra. Parish me deu um olhar que eu tinha que rolar os olhos
para eles. — Ok, talvez eu esteja fugindo de Anastásia um
pouco, mas eu ainda vou ter sessões de aconselhamento com o
meu pai, e Juliette é uma das minhas amigas mais próximas.
Eu ainda vou ser uma parte de sua família. Eu já concordei em
ficar até o Natal e eu vou me encontrar com meus parentes.
Meus avós e meu tio e sua família estão vindo para LA nos
feriados, para que possamos conhecer um ao outro.
O rosto do Dra. Parish iluminou. — Isso é bom. Eu acho
que vai ser uma coisa muito boa para você. — Ela tomou um
momento para me avaliar e, em seguida, colocou seu bloco de
notas para baixo e sentou-se em sua cadeira. — Bem Ella,
parece que você tem um bom sistema de apoio integrado e um
plano mais sólido para o futuro imediato.
— Eu faço. Eu prometo, eu estou pronta.
— Eu acredito que você esteja. Há apenas uma última
questão que quero abordar, hoje.
Eu me encolhi. Sempre que ela dizia isso, nunca era notícia
boa.
— Vamos falar sobre Brian. — Meu coração afundou. —
Esse é um problema que você ainda está fugindo.
Eu não tentei negar isso. Eu estava correndo tão longe e tão
rápido como eu poderia de Brian. Eu não tinha falado com ele
desde FantasyCon. Depois que meu pai me deixou aqui, ele
tinha caído em uma exclusão de fúria. Meu Facebook, e-mail,
mensagens instantâneas, Twitter e até mesmo a minha caixa
postal para o meu blog foram todos embora. Eu não podia
suportar deixá-lo apagar o meu blog, então ele tinha deixado,
mas ele tinha excluído todos os comentários horríveis e alterou
as definições para não permitir quaisquer observações futuras.
Ele até mudou o meu número de telefone celular, porque ele
tinha se preocupado com os alunos da escola me enchendo
com brincadeiras cruéis.
Juliette me disse que tinha ido para a escola e falou com
todo o corpo discente em uma reunião, explicando o que iria
acontecer com qualquer um que decidisse vazar a minha
identidade para a mídia. Ele levou um de seus bons amigos do
FBI para explicar como eles seriam capazes de descobrir quem
fez isso, se isso acontecesse, e que tipo de ação legal seria
tomada. Saber como o grande-mau-Procurador-do-Ministério
Público-assustador do meu pai pode ser, ele provavelmente
tinha metade da escola fazendo xixi nas calças.
Até agora, a minha identidade não tinha sido divulgada.
Se ele tinha a intenção ou não, o meu pai tinha feito com
que Brian não tivesse como entrar em contato comigo,
novamente. Eu ainda sabia o e-mail, número de telefone e
nome da mensagem instantânea de Brian, para que eu pudesse
encontrá-lo se eu quisesse, mas eu não tinha certeza de que era
a melhor ideia.
— Já descobriu o que você pretende fazer sobre ele? —
Perguntou Dra. Parish. — Você está planejando entrar em
contato com ele?
Meu coração doeu só de pensar nele. Como eu poderia ser
capaz de manter uma amizade com ele? — Eu não acho que eu
posso.
— Ele é seu amigo mais próximo Ella e o elo mais forte em
seu novo sistema de apoio. Você precisa dele.
— Mas agora que eu o conheci pessoalmente, eu não acho
que eu posso voltar para a relação que tínhamos antes.
— Então não volte— disse a Dra. Parish simplesmente. —
Deixe evoluir.
— Mas eu não posso ter um relacionamento real com ele.
Dra. Parish franziu a testa pela primeira vez durante todo o
dia. Eu não podia reclamar, embora; nunca tínhamos chegado
tão longe em uma sessão sem uma carranca antes. — Você
pode ter um relacionamento com ele. Você apenas está com
medo.
— É tão errado querer me proteger? Brian me avisou que
seu mundo iria me machucar e ele estava certo. Eu estava com
ele por uma hora e olha o que aconteceu. Eu me tornei a maior
piada da nação. As pessoas me odiaram tanto que Brian teve
que mentir sobre o nosso relacionamento, a fim de salvar sua
carreira. Ele tinha que fingir que eu não significava nada para
ele, que ele nem mesmo me conhece. Isso não vai mudar. Eu
não quero estragar sua carreira mais do que eu quero ter que
ouvir como as pessoas acham que eu sou feia e patética, para o
resto da minha vida.
Dra. Parish franziu os lábios enquanto pensava.
Eventualmente, ela suspirou. — Não, você está certa. Isso
seria uma situação muito insalubre e estressante para você.
Mas e se isso não fosse o caso? E se o seu relacionamento com
Brian pudesse ser uma coisa positiva? E se pudesse ser bom
para a sua imagem, em vez de ruim para ele? Você
consideraria isso, então?
Eu bufei, o que fez a Dra. Parish franzir a testa para mim,
novamente. — Tudo bem,— eu gemi. — Se por algum
milagre as pessoas me aceitassem e eu pudesse estar com
Brian, então eu iria perdoá-lo em um instante e eu iria correr
em linha reta em seus braços e nunca deixá-lo ir.
— A fama não incomoda você?
Eu bufei novamente. — Você está brincando? Seria um
pesadelo. Eu odeio isso. Mas eu gostaria de encontrar uma
maneira de lidar com ela, porque Brian valeria a pena. — Eu
zombei e acrescentei: — Isso supondo que ele ainda me
queira, o que ele provavelmente não faz. Ele viu minhas
cicatrizes, descobriu a verdade sobre mim e, então, eu era a
única que não podia aceitar quem ele era. Eu era a única que
fugiu. Eu não posso mesmo culpá-lo por deixar seus agentes
comporem essa história sobre mim. Quero dizer, era apenas
pelo seu noivado com Kaylee, eu rejeitei ele, então, ele não
tinha uma razão boa o suficiente para dizer não.
Eu ganhei um outro olhar sem sentido da Dra. Parish. —
Você acredita honestamente que ele não te ama mais porque
você ficou com medo, depois de passar por uma provação
muito traumática, a primeira vez que você o encontrou? Você
realmente acredita que ele não entenderia que você estava
sobrecarregada?
Na verdade, eu não sabia em que acreditava. Mas eu estava
com medo suficiente para que eu conseguisse chamá-lo. Eu
me apavorei completamente sobre ele. Ele me pediu para lhe
dar uma chance, e eu lhe disse que eu nunca poderia ser uma
parte de sua vida. Ele provavelmente me odiava agora.
Eu estava começando a pensar que a Dra. Parish tinha um
pouco de leitora de mente, porque ela sempre via através de
mim. Este momento não foi exceção. Ela suspirou e se
levantou. — Vem comigo, Ella.
Eu estava um pouco surpresa quando ela caminhou até a
porta e abriu-a para mim. Nós só tínhamos falado durante
quinze minutos e ela nunca me deixou sair de uma sessão mais
cedo. — Onde estamos indo?
— Há algo que eu acho que você precisa ver. A mantivemos
afastada de todos os meios este mês e, depois de hoje, você
não será capaz de se esconder mais. Eu acho que é melhor
você começar saber sobre o que você vai enfrentar, antes de
deixar o centro.
Eu engoli alguns pedaços que tentaram vir para cima, do
meu estômago. Eu sabia que ia ser ruim, mas se fosse ruim o
suficiente que a Dra. Parish queria me mostrar antes de eu sair,
isso significava que era ruim o suficiente, ela estava
preocupada que poderia me causar uma recaída.
Eu não queria fazer isso, mas ela estava certa. Melhor obtê-
lo fora do caminho agora. A segui para fora do pequeno
consultório que usamos para nossas sessões e pelo corredor em
direção à sala de recreação.
Quando chegamos lá, fiquei chocada ao ver o quarto repleto
de todos que se preocupavam comigo, meu pai, Jennifer,
Juliette, Rob, Vivian com seus pais e até mesmo o resto da
minha equipe de reabilitação.
Eu quase chorei. Meu pai e Jennifer tinha ido semanalmente
para nossas sessões de aconselhamento, e Vivian e seus pais
tinham sido autorizados a me visitar uma vez com meu pai,
quando discutimos a possibilidade de eu ficar com eles. Mas,
além disso, eu não tinha visto nenhum deles em um mês.
Olhei para Dra. Parish com um olhar interrogativo, e sua
carranca virou em um sorriso. — Eles são seu sistema de
apoio, Ella. Eles queriam estar aqui nesse momento, com você.
Ótimo. Isso ia ser pior do que eu pensava. Afastei minha
ansiedade, porque se eu perdesse isso antes de eu mesmo ver
algo, Dra. Parish era susceptível de me mandar de volta para o
meu quarto e me trancar em por mais algumas semanas.
Nós caminhamos para a sala e Juliette foi a primeira a me
ver.
Ela pulou como um gatinho louco, gritando e chorando e me
abraçando e rindo até Cody puxá-la de cima de mim, alegando
que ela estava indo para me quebrar.
Primeiro, houve uma rodada de abraços e recuperar o atraso.
Nós conversamos, rimos e choramos. Daniel tentou me obrigar
a fazer alguns alongamentos, mas eu disse que ele teria que
tirar isso de sua cabeça e empurrar em algum lugar muito
inadequado até a minha próxima sessão, e em seguida,
finalmente, nós nos sentamos na frente da televisão e Dra.
Parish puxou um menu DVD.
Quando me sentei no sofá eu podia sentir a antecipação de
todos, mas não encontrei a minha. Havia uma corrente de
excitação na sala que eu não poderia explicar. — O que está
acontecendo? — Perguntei, incapaz de evitar os nervos que
estavam começando a se agitar no meu estômago, como uma
rede cheia de borboletas. — Que tipo de vídeo é esse?
Juliette me deu um sorriso enigmático enquanto ela
reclamava o lugar no sofá, ao meu lado. — Você vai ver.
Vivian venceu Rob para o espaço aberto do outro lado de
mim, mas ela puxou os pés para debaixo dela, para que Rob
pudesse sentar-se no chão ao meu lado, com as costas contra o
sofá.
Ele se sentou ao lado de minhas pernas e passou o braço ao
longo do meu colo enquanto Vivian e Juliette descansaram a
cabeça sobre meus ombros.
Eu sorri para necessidades óbvias dos meus três amigos
mais próximos me tocarem. Eles foram consolados por me ter
de volta como eu estava por tê-los. Depois de tudo o que tinha
acontecido, os quatro de nós formamos um vínculo especial.
Estávamos tão perto quanto poderíamos de sermos amigos, e
eu sabia que seria para o resto de nossas vidas. Parecia um
milagre que eu pudesse ter meu pai de volta e sorte por ter fora
dois amigos incríveis, e a melhor meia-irmã que qualquer um
poderia pedir.
Meu bom humor evaporou quando a Dra. Parish procurou
através do menu DVD na TV e selecionou um episódio pré-
gravado de um talk show, em horário nobre, com o popular
comediante Kenneth Long. Na legenda estava escrito:
convidado especial Brian Oliver. No segundo que eu vi o
nome dele, meu coração começou a bater e minha respiração
tornou-se superficial.
Dra. Parish me deu um último sorriso de apoio e, em
seguida, bateu PLAY. Imediatamente, o belo rosto de Brian
surgiu na tela. Essa era a primeira vez que eu tinha visto ele
desde FantasyCon e eu estava cheia de muito mais emoção do
que eu esperava. Meu coração literalmente vibrava com
saudade.
Eu devo ter começado a tremer ou algo porque Vivian
apertou meu braço e disse: — Está tudo bem.
Juliette a seguiu, dizendo: — Confie em nós. — Mesmo
Rob apertou minha perna e sorriu para mim, me pedindo em
sua forma habitual tranquila para apenas ir com ele.
Eu respirei fundo e segurei enquanto eu observava Brian
caminhar para o palco e apertar a mão de Kenneth Long.
Depois de esperar os gritos da plateia, eles caíram em uma
fácil conversa sobre o próximo filme de Brian, O Príncipe
Druida.
Observando esta entrevista rasgou meu coração. Eu não
conseguia descobrir por que todo mundo estava tão
determinado a me fazer passar por essa tortura até que a
conversa se voltou para mim. — Ouvi dizer que você pediu
para desempenhar o papel de Cinder assim que o filme foi
anunciado,— disse Kenneth para Brian.
Sem nunca agir com humildade, Brian levantou o queixo e
estufou o peito. — Pode apostar que eu fiz. Eu nasci para
desempenhar esse papel. Cinder é um dos meus personagens
favoritos de todos os tempos.
— Então, é verdade que você é o maior fã do livro?
A atenção de Brian desapareceu por um momento. Seu
sorriso se tornou triste e distante. — Eu acho que há apenas
outra pessoa que ama o livro mais do que eu.
A maneira como Kenneth saltou sobre a declaração, eu
tinha certeza que ele tinha sido instruído a não tocar no
assunto sobre mim. Mas desde que Brian abriu a lata de
vermes primeiro, foi um jogo justo. — Será que seria a fã que
você encontrou no mês passado, em FantasyCon? Aquele cujo
desejo era um beijo de Brian Oliver?
Minha garganta ficou seca, mas senti a mão de Rob dar a
minha perna outro aperto reconfortante.
Brian puxou-se fora de seu próprio pensamento e forçou um
sorriso. — Isso é exatamente o que eu quis dizer. Na verdade,
se você não se importa, eu gostaria de falar sobre ela por um
minuto. Está tudo bem se eu colocar a história do começo?
Brian tinha obviamente saído do script. Chocado Kenneth
Long, que se atrapalhou em sua resposta. — Uh… oh claro!
Eu acho que os telespectadores gostariam de saber o que
realmente aconteceu. Estamos todos muito curiosos, depois de
ver aquele beijo, e depois de ouvir de seu rompimento com
Kaylee e a substituição abrupta da sua equipe de gestão. Foi
um grande escândalo Brian, até mesmo para você.
Não importa o quanto eu não queria isso, meu coração
reagiu à notícia. — Rompimento? Que separação? Ele não está
com Kaylee mais?
Ambas, Vivian e Juliette, me calaram e apontaram para a
TV.
— Apenas assista!
Na tela, Brian pegou seu telefone amado e entregou a
Kenneth.
Kenneth ergueu. — Podemos colocar isto na tela?
A equipe técnica pegou o telefone e alguns segundos mais
tarde, a imagem de Brian e eu no restaurante, estava em uma
tela gigante. A audiência murmurou adorando a foto e meu
rosto ficou vermelho com a imagem na TV.
— Ela é linda,— disse Kenneth.
Brian acenou com a cabeça, olhando para o meu rosto na
tela atrás dele. — Muito linda. — Sua voz rosnou um pouco
quando ele disse: — Ela não é uma fã que eu conheci através
de uma organização de caridade. Seu nome é Ella e ela é
minha melhor amiga.
Capítulo
Trinta e Um

Era como se o tempo tivesse parado. No mínimo, o meu


coração tinha. Brian tinha anunciado apenas para o mundo
inteiro que eu era sua melhor amiga. Ele disse a verdade ao
mundo. Parte dele, de qualquer maneira. Fiquei chocada e
instantaneamente cheia de esperança. Poderia ter sido a base
por trás das perguntas estranhas da Dra. Parish sobre Brian?
Sobre eu ajudar em sua reputação ao invés de feri-lo?
Eu senti os olhos de todos em mim, mas eu não conseguia
desviar o olhar da tela.
A confissão de Brian era, obviamente, a primeira que o
mundo tinha ouvido falar desta história, porque o público
engasgou e Kenneth estava em outra perda para palavras.
A energia de Brian foi elevada quando finalmente caiu na
história. — Eu encontrei seu blog a mais de três anos atrás,
depois que eu me deparei com um post que ela tinha escrito
sobre o meu livro favorito da série. — Brian mostrou a plateia
um sorriso devastador. — Vocês ouviram falar dele, As
Crônicas de Cinder por LP Morgan.
Elogios entraram em erupção e, depois que o barulho
diminuiu, Brian continuou. — Ela teve essa teoria insana que
o Príncipe Cinder deveria ter escolhido Ellamara em vez da
Princesa Ratana, que é claro que eu realmente tinha que
discutir. Eu escrevi uma carta muito simpática e educada ao
blog explicando como sua teoria estava completamente
equivocada.
Brian riu, mas eu zombei. — Simpática e educada? Ele me
chamou de teimosa, ingênua e romântica feminista!
Todos na sala riram, e mesmo eu tinha que sorrir, porque um
sorriso secreto rastejou sobre o rosto de Brian. Sem dúvida, ele
estava pensando exatamente a mesma coisa que eu.
— Quando ela me escreveu de volta, foi amor à primeira
briga,— disse Brian, ganhando um outro suspiro da multidão.
Meu suspiro era mais alto e todos na sala riram comigo,
novamente. Meu rosto mal tinha recuperado de seu último
rubor, mas isso não me impediu de virar vermelho brilhante,
novamente.
— Amor! — Exclamou Kenneth.
Brian riu e acenou com a cabeça. — Foi para mim.
Começamos a trocar e-mails e ela rapidamente se tornou
minha melhor amiga, mesmo que nós nunca tivéssemos nos
conhecido pessoalmente. Ela sabia tudo sobre mim, exceto
minha verdadeira identidade.
Kenneth inclinou-se sobre a mesa em direção a Brian, e eu
estava com medo que ele pudesse cair da sua cadeira. —
Então, você se comunicou com essa menina durante três anos
e você nunca a conheceu? — Ele perguntou, incrédulo. — Ela
não tinha ideia de que você era uma famosa estrela de cinema?
Brian balançou a cabeça. — Nós só conhecíamos um ao
outro pelos nossos nomes de internet. — Ele sorriu para si
mesmo novamente.
— Cinder e Ella.
A forma como o público cantava mais uma vez, me fez
querer morrer para que eu pudesse ser poupada deste
constrangimento.
— Ella é uma grande fã dos livros, desse modo ela foi para
o painel de discussão de O Príncipe Druida, na FantasyCon.
Houve um comprimentos e saudações após o painel. Ela e eu
não tínhamos ideia que ambos estaríamos lá. Quando nos
conhecemos, ela pensou que ela estava conversando com
Brian Oliver e eu pensei que eu estava me reunido a uma fã
aleatória. Cada um de nós percebeu quem era o outro, quando
começamos a discutir o livro e caiu em nosso argumento
antigo. — Ele balançou a cabeça enquanto eu ri desse
momento. — Nós só conseguimos falar por um minuto, mas
eu estava terminando com Kaylee logo após os comprimentos
e saudações. Não era justo para Kaylee, e eu sinto muito que
eu a machuquei, mas eu não tive qualquer outra escolha. Eu
não podia ficar com ela enquanto eu estava apaixonada por
outra pessoa.
O sorriso de Brian desapareceu e foi substituído por raiva
mal disfarçada. — Eu sou o único que pediu a ela para ir jantar
comigo naquela noite. Porque eu a beijei? Eu não poderia não
ter feito. Eu tinha estado apaixonado por ela há anos. Eu
estava tentando convencê-la a me namorar quando as câmeras
nos interromperam. Kaylee mentiu sobre nós ainda estarmos
juntos, porque ela estava com raiva de mim. Ela queria
machucá-la. Eu demiti minha equipa de gestão, porque eles
emitiram a declaração de que Ella seria uma fã com um
desejo, isso foi uma mentira completa, e eles emitiram sem a
minha permissão.
Houve mais uma rodada de suspiros da plateia de Brian e
até mesmo alguns gritos de indignação.
A boca de Kenneth Long caiu aberta. Eu sabia como todos
se sentiram. Fiquei tão chocada como eles estavam. — Ele não
sabia? — Parecia impossível. — Todo esse tempo, eu pensei
que ele tinha os deixado fazer isso. Todo esse tempo, eu estava
tão magoada.
Eu não podia acreditar. — Eu fui tão estúpida! Se eu apenas
tivesse falado com ele, e o deixado explicar.
— Ella, você nunca teve uma chance,— disse Vivian. —
Você foi para a cama depois da notícia e veio direto para cá no
dia seguinte.
Ela estava certa, mas eu ainda me senti horrível. — Eu
preciso chamá-lo. Estou saindo hoje, isso significa que eu
posso usar meu telefone agora, certo? Eu preciso falar com
ele.
— Espere! — Disse Juliette. — Assista o resto em primeiro
lugar.
— Eu sinto falta dela como um louco,— Brian estava
dizendo. — Entre Kaylee e minha equipe de gestão antiga,
eles envolveram Ella em uma piada. As pessoas têm sido tão
cruéis com ela. Eles disseram coisas horríveis. Há sites inteiros
de ódio dedicados a ela. Há até ameaças de morte.
— Ameaças de morte! — Eu engasguei.
— Está tudo bem, Ella,— meu pai prometeu. — Todos eles
eram apenas pessoas desprovidas de divagações. Sua
identidade não foi divulgada.
— O blog de Ella era importante para ela e foi arruinado.
Ela não postou sobre ele desde que a declaração foi emitida.
Ela também mudou seu número de telefone, endereço de e-
mail e nome da mensagem instantânea. Ella deletou seu
Facebook e Twitter. Ela teve que desaparecer. — Ele passou a
mão pelo cabelo e se mexeu na cadeira quando ele murmurou,
— Eu a perdi novamente.
Toda a audiência caiu em silêncio.
— O que quer dizer com, você a perdeu de novo? —
Perguntou Kenneth.
Brian, agora incapaz de ficar parado, estendeu a mão para a
caneca de café infame que os entrevistados sempre ganham em
todos os talk shows. A maneira como ele continuou firme, eu
me perguntei se ele estava cheio de uísque.
— Pouco mais de um ano atrás, Ella esteve em um terrível
acidente de carro,— explicou Brian. — Eu estava realmente
conversando por mensagens com ela no momento do acidente
e não, ela não estava dirigindo. Nunca mandem textos
dirigindo, pessoal. Nós estávamos conversando e ela estava lá
um minuto e no outro não mais. No começo eu pensei que o
telefone dela tinha morrido, mas então ela nunca entrou em
contato comigo novamente. Ela apenas… desapareceu.
Meu peito se contraiu enquanto eu observava Brian à deriva
ao longo de uma memória e ele estremeceu. Quando voltou a
falar, sua voz era tão suave, mas não importa, porque o público
ficou em silêncio. Eles ficaram completamente extasiados com
sua história. — Eu nunca soube o que aconteceu com ela.
Achei que ela estava morta.
O auditório murmurou com isso, e Kenneth finalmente
voltou à conversa. — Você achou? Você descobriu?
Brian balançou a cabeça. — Eu não tinha ideia de quem ela
era. Eu não sabia o nome verdadeiro dela. Eu não tinha
nenhuma ideia de como encontrá-la. Foi quase dez meses
antes que eu soube sobre o acidente. Ela tinha estado em coma
e passou mais de oito meses no hospital se recuperando de
seus ferimentos.
Brian esperou os suspiros da multidão antes que ele
continuasse. — Quando ela me escreveu o primeiro e-mail, era
como se ela tivesse voltado dos mortos. Eu completamente me
apavorei. Eu deveria ter rompido com Kaylee logo em
seguida. Eu sabia que nunca iria sentir por Kaylee do jeito que
eu sentia sobre Ella, mas eu não tinha certeza de como Ella
sentia sobre mim. Nós nunca conversamos sobre nos
encontrarmos em pessoa. Além disso, havia a questão da
minha verdadeira identidade. Eu não sabia como levá-la
quando ela tinha acabado de passar por uma tragédia tão
horrível. Ela perdeu a mãe naquele acidente e sofreu
ferimentos permanentes e cicatrizes. Eu não tinha certeza se
ela iria querer um relacionamento, especialmente um que seria
tão complicado como namorar uma estrela de cinema. Mas
quando ficamos frente a frente naquele dia em FantasyCon…
Brian apertou a mão em um punho e bateu no peito como se
tivesse levado um tiro no coração. O público desmaiou sobre o
gesto brincalhão. Eu desmaiei sobre o gesto.
— Existem apenas dois tipos de mulheres no mundo para
mim agora, Kenneth: Ella e Sem Ella. Eu nunca vou ser capaz
de me contentar com qualquer uma, apenas ela, e agora eu a
perdi novamente.
Outro murmúrio varreu a plateia e Kenneth fez a pergunta
óbvia. — O que você quer dizer? Porque você a perdeu
novamente?
Brian pegou sua caneca outra vez. A coisa estúpida tinha
que estar vazia, agora. Ele tomou um gole da bebida
misteriosa e sussurrou: — Ela acha que eu fiz isso. — Ele
limpou a voz e falou. — Por que ela não iria? Foi a minha
equipa de gestão que disse a mentira sobre ela ser uma fã com
um desejo. Eles disseram que eu estava trabalhando com uma
instituição de caridade. Minha ‘noiva’ confirmou e disse que
ainda estávamos juntos. A vida de Ella foi destruída, e ela
acredita que eu fiz isso para salvar a minha própria reputação.
Meu peito desabou sobre mim. Eu tinha pensado nisso, mas
depois de ouvir isso vindo de sua boca, eu percebi o quão
absurdo que era. Como eu era uma grande idiota por pensar
isso. — Vocês, eu tenho que chamá-lo!
— Shihi!
O ‘shihi’ vieram de todos na sala.
— Você não pode apenas chamá-la e explicar? — Perguntou
Kenneth.
Brian suspirou. — Eu estava chateado porque Ella me
rejeitou. Eu desliguei meu telefone e fui para Las Vegas,
porque eu precisava limpar a minha cabeça. Levei dois dias
para perceber o que tinha acontecido, e pelo tempo que eu
descobri, já era tarde demais. Ela já tinha desaparecido.
Kenneth digeriu tudo enquanto Brian foi para sua caneca
outra vez. Desta vez, quando ele trouxe-a à boca, ela realmente
estava vazia. Ele a segurou de cabeça para baixo e sacudiu
como se isso pudesse fazer mais café ou água ou o que quer
que estava dentro da caneca. Como ele colocou sobre a mesa,
Kenneth gritou fora da tela para alguém trazer outro para
Brian.
Enquanto Brian bebia o seu segundo copo, Kenneth os
trouxe de volta ao tópico. — Podemos voltar um segundo,—
ele perguntou, — para a parte onde você disse que Ella
rejeitou você?
Meu coração começou a bater tão forte que eu me
perguntava se todos na sala podiam ouvi-lo. — Está tudo bem,
Ella,— Vivian sussurrou. — Eu prometo.
— Minha fama era um problema para ela,— explicou Brian.
— Ela estava com medo de não a aceitarem por causa de sua
deficiência e suas cicatrizes. As pessoas têm sido tão horríveis
com ela desde seu acidente, que não acredita mais que ela é
linda. Ela não percebeu que suas cicatrizes a fizeram ainda
mais bonita para mim. Elas mostram a sua força. Ela passou
por tanta coisa, sobreviveu perante toda a dificuldade, perdeu
muito, e ainda quando eu perguntei a ela para me aceitar,
estava preocupada comigo. Ela não achava que as pessoas
iriam aceitá-la. Ela estava preocupada que iria prejudicar a
minha imagem, ser ruim para minha carreira. Ela estava com
medo que não seria boa o suficiente para mim, mas realmente,
é o contrário. Eu não a mereço. Ela é a mais forte, a mulher
mais incrível que eu já conheci.
A mão de Rob encontrou a minha e apertou. — Eu
concordo,— ele murmurou.
— Eu também,— sussurrou Vivian.
Juliette acenou e sorriu para mim com olhos brilhantes.
Minha garganta apertou e eu não tenho certeza se foi por
causa de Brian, ou meus amigos, ou ambos. Alguém chegou
sobre meu ombro para me entregar um lenço. Foi Jennifer. Ela
e meu pai estavam de pé, atrás do sofá, com os braços em
volta um do outro. Ambos sorriram para mim com os olhos
úmidos.
— Uau,— disse Kenneth, depois de um momento. — Você
realmente não estava brincando antes. Este é o amor com um
arranjo inteligente.
Brian mexia como se estivesse tentando muito duro não
levantar e começar a andar. Ele sentou-se para frente, sobre o
contorno do sofá e balançou a cabeça com firmeza. — É mais
do que o amor, Kenneth. Eu acho que ela é minha alma gêmea.
Fiquei contente que este comentário enviou o público ao
delírio, porque seus gritos e aplausos cobria a maior parte do
meu grito assustado.
— Eu preciso dela,— disse Brian, — mas eu não posso
encontrá-la. Eu ainda não sei o sobrenome dela. Eu não sei
onde ela mora. Fomos interrompidos antes que chegássemos
nesse ponto.
Vivian me cutucou com o cotovelo e disse: — Só porque
você ignorou as apresentações e foi direto para a tomada de
cena.
— Vivian! — Eu engasguei e todos riram de mim.
— Não que nós te culpamos,— Juliette acrescentou com um
suspiro sonhador.
Quando olhei para a tela, Brian foi passando os dedos pelos
cabelos novamente. O cara parecia uma pilha de nervos. —
Ela foi para fora da minha vida, e eu não posso aceitar isso.
Ella pertence a mim.
Brian voltou sua atenção de Kenneth e olhou diretamente
para a câmera. Eu reconheci a paixão que o encheu. Ele
parecia o mesmo que estava no centro de convenções, quando
me implorou para nos dar uma chance. — Ella, onde quer que
esteja, se você está aí ouvindo, eu te amo. Você é meu mundo
inteiro. Você sempre disse que achava Cinder um covarde por
fazer o que o povo espera dele em vez de seguir seu coração.
Bem, eu não sou um covarde. Este príncipe Cinder escolheu
sua Ellamara. Eu escolho você, Ella, e eu não vou deixar você
ser uma covarde, também. Eu não vou deixar a minha fama
assustá-la, te afastando. Somos Cinder e Ella, mulher! Nós
temos que buscar o nosso final de conto de fadas!
O público explodiu em aplausos selvagens.
Quando minha mente correu e meu coração começou a bater
de forma irregular, Brian tirou algo do bolso do blazer.
Eu não podia acreditar quando ele ergueu as longas luvas
brancas que eu tinha tirado para ele, naquele dia. Eu nem tinha
percebido que eu as tinha deixado.
— Estes não são sapatos de cristal,— disse Brian,
pendurando as luvas no ar, — mas se eu tiver que
experimentá-las em todas as garotas de Los Angeles para
encontrar a minha princesa, eu vou.
A multidão ficou tão louca que levou muito, muito tempo
para acalmá-los. Kenneth teve mesmo de se levantar e assobiar
em voz alta. Claro, uma vez que ficou tranquilo o suficiente,
ele ainda estava rindo tanto que demorou mais alguns
segundos antes que ele recuperasse a compostura. — Eu acho
que você tem o seu primeiro grupo de candidatas dispostas
bem aqui,— brincou ele, apontando para o público, o que fez
as mulheres gritar, novamente. — Devo alinhá-las para você?
Brian sorriu novamente e balançou a cabeça. — Espero que
não chegue a esse ponto. Eu tenho um plano.
Kenneth esfregou as mãos ansiosamente. — Isso parece
emocionante.
Brian respirou fundo. Eu instintivamente inspirei com ele e
segurei em meus pulmões, enquanto eu esperava ouvir todo o
louco esquema que Brian estaria pensando para me encontrar.
— Eu ainda preciso saber a data da estreia de O Príncipe
Druida,— disse ele, fazendo uma pausa para deixar seus fãs
ter o guinchar de seus sistemas. — Eu quero ir com Ella. Este
é o nosso filme, a nossa história. Peguei o papel por ela tanto
quanto eu fiz para mim mesmo. O Príncipe é toda a razão de
nos conhecermos. Seria um crime ver este filme com outra
pessoa que não ela.
Brian começou a incomodar novamente, mas desta vez a
sua inquietação era de emoção em vez de stress.
— Mesmo que Ella não virá comigo eu ainda preciso
encontrá-la, por isso vou aceitar qualquer uma como meu
encontro, que possa me dizer como entrar em contato com ela.
— Como você pode fazer isso? — Perguntou Kenneth sobre
os murmúrios excitados do público. — Você vai ter um milhão
de pessoas alegando que a conhecem.
Brian balançou a cabeça. — Ella deixou algo no café,
naquela noite, além de suas luvas. Algo muito importante para
nós dois. Algo que eu lhe dei. Tenho certeza de que qualquer
um que souber como entrar em contato com Ella, vai saber o
que é. Mesmo que Ella não queira vir ela mesma, mesmo que
ela não queira ter nada a ver comigo nunca mais, quero ter
certeza de que receba este presente de volta.
— Meu livro,— eu sussurrei. Minha primeira edição
autografada de O Príncipe Druida. — Eu não posso acreditar
que eu deixei o meu livro.
— Eu sabia que era um livro! — Juliette gritou. — Quais
são os dois detalhes? Eu estava morrendo de saber!
— Detalhes? — Perguntei, confusa.
Vivian nos fez calar. — Cale a boca, Juliette. Ela vai nos
dizer em um minuto. Vamos assistir.
Brian puxou outra coisa do bolso e segurou-a em direção à
câmera. — Este é um bilhete para o assento ao meu lado na
estreia de O Príncipe Druida. Vou deixá-lo com a recepção, no
escritório principal do estúdio, para a primeira pessoa que
pode me dizer exatamente o item que Ella deixou para trás, na
noite que nos conhecemos. Você tem que ser específico. Você
precisa saber dois detalhes muito importantes a fim de receber
este bilhete.
Ele enviou um olhar aguçado para a câmera de novo e eu
sabia que o olhar era para mim, mesmo antes dele falar. — Ou
você poderia parar de ser teimosa e me chamar, mulher. Meu
e-mail, mensagem instantânea e número de telefone ainda são
os mesmos que sempre foram. — Um lado de sua boca se
curvou em um irritante sorriso irresistível. — Perdoe-me,
Ellamara, oh Sábia Sacerdotisa Mística do Reino, me deixe te
dar o final que você sempre quis.
O público em alvoroçou novamente e o show cortou para o
comercial. Isso deve ter sido o fim da entrevista, ou pelo
menos a parte emocionante disto, porque Dra. Parish desligou
a TV e de repente tudo estava acabado.
A sala ficou em silêncio enquanto todos esperavam pela
minha reação, mas eu não poderia dar-lhes uma. Eu precisava
de tempo para me convencer de que não era um sonho. Ele não
tinha mentido. Ele disse que minhas cicatrizes me deixaram
ainda mais bonita. Chamou-me de sua alma gêmea!
Meu coração estava explodindo.
— Você está indo para a estreia! — Juliette exigiu,
confundindo meu silêncio para hesitação.
Antes que eu pudesse ter uma única palavra para fora, todos
na sala interromperam seu encorajamento. Mesmo Dra. Parish
assentiu. Ela apontou para a TV, onde Brian tinha apenas
confessado publicamente seu amor por mim.
— Esse homem vai cuidar de você, ele te ama. Ele vai fazer
mais para a sua autoestima do que eu jamais poderia. — Ela
suspirou então, muito estranhamente, e disse: — Além disso,
ele é muito lindo para recusar.
Fiquei chocada. Essa foi a coisa menos profissional que eu
já ouvi Dra. Parish dizer. — Ha! — Ela gritou de repente,
apontando para mim. — Um sorriso! Eu finalmente a fiz
sorrir!
O resto da minha equipe de reabilitação caiu na gargalhada.
— Eu não sei se isso conta,— Daniel brincou com Ella. — Eu
acho que foi o pensamento de Brian Oliver que a fez sorrir,
não você.
Agora eu não estava sorrindo; Eu estava corando
novamente.
— Você estará indo, certo? — Perguntou Vivian.
É claro que eu estaria indo. Eu morria de medo de
compartilhar sua fama, mas ele estava certo quando falou que
isso me faria uma covarde. Depois do que ele fez naquele
show, na frente de todo o mundo por mim, e quantas vezes eu
tinha chamado Cinder de covarde. Eu tinha um encontro com
Brian se não por outra razão, que ele nunca iria me deixar
viver de outra forma. Nunca mais me deixaria ganhar outra
discussão, e eu não estaria sendo covarde.
— Quando isso foi ao ar? É quase Natal. Eu perdi isso?
— Ele foi ao ar há duas semanas. A estreia é em três dias.
— Duas semanas? — Perguntei, horrorizada. — Ele fez isso
duas semanas atrás e pensa que acabei de lhe ignorar todo esse
tempo? Ele deve me odiar!
Juliette revirou os olhos. — Aquele homem nunca poderia
odiá-la e você sabe disso. Aqui. — Ela me entregou meu
celular. Número de Brian já estava em cima da tela.
Quando ela começou a apertar o botão de chamada, eu gritei
e o arranquei dela. — Não faça isso!
Todo mundo olhou assustado. Juliette e Vivian trocaram um
olhar e, em seguida, a expressão de Juliette ficou desesperada.
— Mas Ella, você tem que ir com ele!
— Oh, eu definitivamente vou. — Eu ri. — Mas vai ser
muito mais divertido surpreendê-lo na pré-estreia, você não
acha?
— Isso é cruel,— disse Rob.
— Não, isso é dramático. Brian é um ator. Ele vive para o
drama.
— É definitivamente mais romântico,— Juliette concordou.
— Então, quais são as duas coisas?
— Era um livro de capa dura de primeira edição de O
Prince Druida, e que foi assinado para mim pelo autor.
— Ahhh, isso é tão doce. — Juliette riu. — Nerd, mas doce.
E perfeito. Podemos enviar papai para ir pegar o bilhete
amanhã, enquanto nós vamos comprar um vestido.
Stefan gritou de horror. — Comprar um vestido? Ellamara,
não se atreva!
— Ohou! Ohou! Yeah! — Vivian pulou do sofá e começou
a saltar para cima e para baixo. — Meus pais fazem o seu
vestido!
Se eu não estivesse prejudicada, eu teria entrado com Vivian
em sua dança vertiginosa, com o pensamento de ter outro
vestido feito por seus pais. Eu amava o meu traje Ellamara,
mas eu fiquei empolgada com a ideia de ver o que eles iriam
fazer.
Olhei para Stefan e Glen esperançosa. — Vocês acham que
teriam tempo?
Stefan e Glen pareceram ofendidos com a pergunta, mas
antes que pudesse responder, Jennifer disse: — Eles não
precisam de tempo. — Quando ela ganhou a atenção do quarto
inteiro, ela sorriu para mim e disse: — Você já tem o vestido
perfeito.
Havia apenas um vestido que poderia ser, mas com certeza
ela não estava falando sobre o vestido da minha mãe.
— Parece bonito em você,— disse ela, sabendo que eu a
entendia. — E em uma noite que é tão importante para você, o
que seria mais apropriado do que vestir algo que pertencia a
sua mãe?
Eu não estava surpresa com a forma como Juliette e meu pai
acenaram com a sua aprovação, mas eu não entendia por que
Jennifer iria sugerir isso. — Você quer que eu use o vestido da
minha mãe? Na frente de centenas de pessoas e câmeras de
TV? — Perguntei. — Ele revela muito, lembra? As pessoas
iriam ver as minhas cicatrizes.
O sorriso de Jennifer virou dor. — Ella, eu nunca estive
envergonhada de você. Sinto muito que você entendeu mal a
minha preocupação. Eu só estive preocupada com seus
sentimentos. Eu sei como as pessoas são cruéis. Eu sou uma
modelo. Já estive em centenas de audições, onde fui criticada
por minhas imperfeições, minha bunda e coxas não estavam
suficientemente firme, meu nariz era muito grande, meus seios
eram muito pequenos, olhos muito distantes, eu precisava
perder mais alguns quilos… havia sempre alguma coisa.
O mundo era verdadeiramente injusto se Jennifer não
parecia boa o suficiente para ele. Ela tinha que ser a mulher
mais linda que eu já tinha visto. Eu não poderia imaginar
pessoas que criticavam o jeito que ela parecia. Eu não podia
ver uma única falha.
— Quando eu comecei, era difícil não levar cada
comentário para o coração. Eu era obcecada sobre tudo o que
todos diziam sobre mim. Eu fiquei deprimida. Eu desenvolvi
um transtorno alimentar. Minha autoestima foi destruída,
porque eu estava insegura sobre minha aparência.
Seus olhos embaçaram. — Eu só não queria que você se
sentisse assim. Eu não queria que as pessoas fossem cruéis
com você. Você já estava lidando com tanto, perdendo sua mãe
e de ter de se ajustar a uma nova família. Eu não queria que
você se machucasse se as pessoas olhassem ou falassem coisas
ruins. Eu estava tentando protegê-la. Desculpe-me se eu feri
seus sentimentos.
— Está tudo bem. — Eu olhei para ela de novo e perguntei
se ela parecia diferente agora de quando ela começou a
modelagem. Obviamente, ‘seios pequenos demais’ o
comentário a levara para o peito estranhamente perfeito que
ela tinha agora, mas eu me perguntava o quanto mais ela tinha
mudado. Eu não acho que foi muito. — Você ainda modela,—
eu disse, — mas você é perfeitamente confiante agora.
— As pessoas ainda me criticam, às vezes, mas eu não
preciso ouvir mais. — Jennifer sorriu para o meu pai com mais
amor e sinceridade do que eu jamais vi ninguém fazer. — Seu
pai me faz sentir bonita e isso é o suficiente. — Ela virou seu
sorriso de volta para mim. — Talvez Brian Oliver vá ser o
único que faça isso para você.
O que Jennifer disse fez sentido. Eu pensei de volta, para a
noite que Brian e eu nos encontramos, como ele roubou meu
fôlego quando ele beijou meus dedos cicatrizados. Ele me
disse que eu era bonita e eu acreditei nele.
— Se ele te faz sorrir assim,— disse Rob repente, — então
ele é digno de você.
Eu não tinha percebido que eu estava sorrindo, mas minhas
bochechas aqueceram novamente sob os olhares de todos.
— Ok, excelente,— Vivian disse. — Desde que eu não
posso ajudar com o vestido, então, pelo menos me deixe fazer
o seu cabelo.
— E eu vou levá-la para uma manicure,— Juliette ofereceu.
— Se você não está confortável em ir a um salão de beleza,
vou fazer eu mesma. Tenho bastante prática com um esmalte
polonês.
Meu corpo inteiro tremeu quando eu estava na frente do
espelho de corpo inteiro, no meu quarto. Meus nervos não
tinham me dado trégua um único instante, em três dias. Às
vezes eu estava tão animada que pensei que a espera poderia
me matar, e outras vezes eu tinha certeza que era o medo do
que estava por vir que me mataria.
Eu peguei um pouco das notícias nos últimos dias. ‘The
City of Los Angeles’ fez uma matéria sobre a estreia de hoje à
noite. Todo mundo estava especulando sobre se Ella iria ou
não se mostrar para o príncipe Cinder.
Âncoras locais de notícias, apresentadores de talk show, DJs
de rádio, todos.
A parte mais louca é que eles estavam todos animados. Eles
queriam que eu aparecesse. A entrevista de Brian tinha sido
um golpe de gênio. Eles nos transformaram em um moderno
conto de fadas. Eu tinha ido da mulher mais odiada da
América para ser uma sensação da noite. Eu não era mais uma
perseguidora obcecada louca, mas uma bela, inteligente,
engraçada, sobrevivente corajosa. O público me amava, agora.
Claro, isso também foi genial para Brian, porque isso lhe
garantiu que ele conseguisse o que queria. Se eu não fosse
para a estreia, a nação iria me odiar novamente, um milhão de
vezes pior do que eles me odiavam antes. Então, o povo
americano era inconstante e entusiasta. Tanto que uma grande
multidão se reuniu fora do teatro em Westwood, onde seria a
estreia, a polícia fechou o tráfego em dois blocos da cidade.
Todas aquelas pessoas estavam esperando por mim.
— Eu acho que vou vomitar.
— E estragar o meu batom? — Vivian perguntou de onde
ela estava deitada na minha cama, folheando uma revista. —
Vou te matar.
Juliette sorriu quando ela enfiou o novo pente prata e pérola,
que meu pai tinha me dado, no meu cabelo. — Brian vai
arruinar seu batom no minuto que ele a ver, de qualquer
maneira.
Vivian bufou e eu corei pela vigésima vez naquele dia. Você
acha que depois das centenas de piadas que tinham sido feitas
à minha custa, nos últimos três dias, eu ia ser insensível a elas
agora, mas não. Qualquer referência a Brian, eu ainda ficava
meio tímida.
Vivian sorriu para Juliette no espelho, um brilho malicioso
em seus olhos. — Brian é permitido arruinar o batom, mas ela
não. — Ela estudou meu rosto por um momento, então franziu
a testa. — Estou absolutamente cheia de inveja por parecer tão
bem nesse tom de vermelho. Eu mataria por seu bronzeado.
Olhei para os meus lábios. O vermelho brilhante que ela
tinha pintado era assassino contra a minha pele caramelo e
parecia ainda melhor, juntamente com o amarelo brilhante do
meu vestido. Acrescente a isso a forma como os meus olhos
azuis aparecem, e eu parecia exótica. Misteriosa. Perfeita para
uma Sacerdotisa Mística.
Meu cabelo suavizou a imagem. Juliette decidiu deixar meu
cabelo para baixo e apenas dar meus cachos naturais algum
realce. Esse realce acabou por ser, como, trinta litros de
produto. Meus cachos cor de chocolate caiam em meus
ombros e para baixo das minhas costas nuas, com uma
pequena parte puxada delicadamente longe do meu rosto pelo
meu pente.
Meu novo pente de cabelo era bonito e muito elegante,
combinando com o colar de pérolas de minha mãe. Meu pai
me surpreendeu com ele esta manhã, dizendo que ele queria
estar lá em espírito comigo esta noite também, como mama
estaria. Eu chorei como um bebê e Juliette e Vivian surtaram
sobre meus olhos inchados. Você teria pensado que era dia do
meu casamento e não apenas um primeiro encontro.
Concordando, esse realmente era um grande primeiro
encontro.
— Você sabe? — Vivian disse, pensativa quando ela me
olhou. — A parte mais estranha é que sua Candy Cane
completa perfeitamente o conjunto.
Eu sorri. — Eu disse que iria funcionar.
Depois que eu concordei em ir para a estreia no outro dia, a
primeira coisa que fiz foi mostrar a Vivian o meu vestido. Ela
se ofereceu para dar a minha bengala outra customizada e
transformá-la amarela, mas eu não iria deixar.
Gostei da forma como a cor do arco-íris adicionou a
personalidade do vestido. Minha mãe espirituosa teria
adorado.
— Meninas! — Papai gritou do outro lado da casa. — O
carro está aqui!
Absoluto terror trancou instantaneamente meus joelhos. Eu
parei de respirar, também.
— Você vai ficar bem,— disse Vivian. — É apenas Cinder.
Você só vai ver um filme com seu melhor amigo. Isso é tudo.
— Sim. — Juliette riu e virei minha cabeça de forma qeu
estava olhando para o enorme cartaz de um Brian sem camisa,
que ela pregou na parte de trás da porta do meu quarto. — E
parece que Cinder quer ser pai de seus bebês.
— Não está ajudando,— eu respirei.
Anastásia apareceu na porta e suspirou.
— Brian Oliver está desperdiçado por você.
Juliette e Vivian olharam ferozmente, mas eu me recusei a
ficar com raiva. Anastásia não ia arruinar esta noite para mim.
— Isso provavelmente é verdade,— eu concordei,
surpreendendo-a com a minha brincadeira. — Ainda assim,
cavalo dado na se olha os dentes.
Poderia ter sido minha imaginação, mas eu juro que os
lábios de Ana contraíram uma vez. Ela correu os olhos para
cima e para baixo do meu corpo e eu esperei para o
desagradável comentário sarcástico, mas desta vez ela me
surpreendeu. Dando de ombros, ela se inclinou contra o
batente da porta, pairando no limiar do meu quarto como se
ela não quisesse sair e ainda não quisesse entrar ao mesmo
tempo. O silêncio se voltou incômodo bastante rápido.
Fiquei realmente surpresa ao vê-la. Ela não disse uma
palavra para mim desde que eu cheguei a casa. Ela tinha feito
um bom trabalho de nunca estar na mesma sala que eu. Ela
não parecia feliz agora, mas pela primeira vez desde que eu
conheci não houve hostilidade. Ela estava realmente tentando
fazer um esforço, pelo menos uma vez. Foi provavelmente
obra da Dra. Parish. Meu pai e Jennifer foram orientados para
que Ana visse a minha psicóloga por algumas semanas. A
menina tinha tantos problemas como eu tinha, se não mais.
— Você parece bem,— disse Ana de repente.
Eu tentei jogar com calma e falhei miseravelmente. Eu
nunca consegui fazer uma cara de poker decente. — Hum,
obrigada?
— Você sabe,— ela acrescentou, — para uma aberração.
Eu sabia que ela estava brincando, mas nem Vivian nem
Juliette apreciaram o humor. — Você precisa de algo? —
Juliette estalou.
Ana olhou para sua irmã, mas depois encontrou meus olhos
e um olhar de determinação que tomou conta de seu rosto. Eu
não poderia dizer o que o olhar significava, mas não era raiva.
Sua determinação não era desafio. Era outra coisa. Algo para
resolver.
— Fui eu quem deu a sua localização naquele dia,— disse
ela. — Eu tirei uma foto de vocês com o meu telefone no
jantar e a enviei para um par de sites de fofocas de
celebridades. É minha culpa que vocês foram emboscados.
Não fiquei surpresa que tinha sido ela, eu sempre tive
minhas suspeitas. O que me surpreendeu foi a confissão. Ela
não estava jogando a informação em meu rosto; ela estava se
desculpando. Ela parecia tão confortável em sua pele, no
momento, como eu me sentia na minha. Era como se sentir
remorso e admitir a ilegalidade fosse uma experiência nova
para ela.
Eu estava feliz por ninguém pular em sua garganta. Se
alguém tivesse, eu tenho certeza que ela teria se tornado
defensiva e o momento teria sido arruinado. Ela e eu
precisávamos passar nossos problemas uma com a outra.
— Eu não queria que passasse tudo o que aconteceu,—
disse ela.
Dei de ombros com o que eu esperava mostrar indiferença.
— A mentira da equipe de Brian não foi culpa sua.
Ela balançou a cabeça. — Mas eles não teriam dito, se esses
paparazzi não tivessem aparecido no jantar.
— Talvez não naquela noite,— eu concordei, — mas teria
acontecido eventualmente, se eu continuasse a sair com Brian.
Vivian bufou. — Uh, vocês não estavam passando tempo,
você estão se entendendo!
Juliette começou a rir. — Boa!
Eu bati nas duas e olhei para Anastásia, chocada ao ver que
ela estava sorrindo. — De qualquer forma, eu sinto muito,—
disse ela, tentando tirar o sorriso do rosto.
— Obrigada.
Ela se virou para sair e eu a parei. — Você vai com a gente
para o teatro, hoje à noite?
Ela deu de ombros novamente, conseguindo manter um
olhar entediado em seu rosto, mas eu poderia dizer que ela
ficou tocada pelo convite. — Eu posso. Eu não tenho nada
melhor para fazer hoje à noite.
Eu sorri e disse obrigada, novamente.
— Seja o que for,— ela respondeu. Ela começou a se
afastar, mas depois parou e disse: — Quando pararem para
tomar ar hoje à noite, pergute à Brian se ele pode ligar-me com
Logan Lerman.
— Você quer dizer, se parem para respirar,— Juliette
brincou.
— Vocês! Calem-se já! Sério!
Eu não estava brincando, mas por alguma razão as três
riram de mim.
Saímos do meu quarto para encontrar papai e Jennifer
esperando na cozinha. Para minha surpresa, Rob estava
sentado no bar. Seus olhos caíram sobre mim e ele empurrou
de pé tão rápido que quase caiu da banqueta. A forma como o
pomo de Adão balançou, parecia que ele tinha acabado de
engolir uma bola de beisebol. — Você está maravilhosa,— Ele
murmurou.
Outro rubor para o dia. — Obrigada. — Eu me aproximei e
deu-lhe um abraço. Levou um pouco mais de tempo do que o
normal para deixar ir. — O que você está fazendo aqui?
— Eu tive que vir te ver. Não podia deixar você ter o seu
grande dia sem te desejar boa sorte.
Eu o abracei novamente, desta vez com muito mais
sentimento. Rob tinha uma maneira de acalmar os meus
nervos. Era toda a sua confiança legal e calma sobre tudo. Eu
estava preocupada que as coisas iriam ficar estranhas entre
nós, mas Rob sempre foi tão descontraído. Ele acomodou-se
no papel de ‘apenas amigos’ com facilidade, depois que ele
percebeu o quanto Brian e eu realmente sentíamos um pelo
outro. Eu estava tão grata que o mantive como um amigo. Eu
ia ter que encontrar uma menina para ele, em algum momento.
— Você quer vir no carro com a gente? — Perguntou
Juliette. — Papai alugou uma limusine, para que pudéssemos
levá-la todos lá.
— Há alguma preocupação de que ela vai sequestrar o carro
e sair correndo se a deixarmos ir sozinha,— acrescentou
Vivian.
Revirei os olhos para ela, mas ela poderia ter tido um
pequeno ponto.
A única resposta de Rob foi um sorriso e oferecer um braço.
Eu aceitei e fiz o meu melhor para não hiperventilar, quando
todos nós entramos na limusine.
Levamos mais de uma hora para chegar através do tráfego,
uma vez que tivemos de esperar na longa fila de carros, para
chegar ao tapete. Então, de repente, muito de repente, o carro
parou e a porta se abriu para um rugido de ruído e luzes
piscando sem fim. Olhei para fora e a primeira coisa que vi foi
vermelho.
— É o tapete vermelho! — Juliette gritou, saltando com
entusiasmo, depois de perceber a mesma coisa que eu.
— Você vai andar no tapete vermelho!
Havia um homem em um terno, esperando para me ajudar a
sair do carro. Era agora ou nunca. Eu dei uma rápida volta de
abraços, deixando meu pai para o último. — Boa sorte, garota,
— ele sussurrou em voz nublada com emoção. Ele limpou a
garganta e, então, projetou em um tom machista, — Lembre-
se, jovem, em casa à uma.
Juliette gemeu. — Um toque de recolher? A sério? Pai, eu
posso lembrá-lo de que ela tem dezenove anos e legalmente a
partir de ontem, já não está em sua custódia?
Eu não tinha me importado, mas eu amei que Juliette sentiu
a necessidade de argumentar em meu nome.
Papai suspirou. — Dê-me uma pausa desta vez, hein? Eu
não tenho conseguido jogar de grande pai assustador para Ella
ainda e nem sequer vou poder conhecer seu encontro.
Rindo, eu dei um tapinha no ombro. — Você vai ter a
chance de ameaçá-lo em breve, tenho certeza. — Eu sorri para
as meninas. — Estou pensando em lhe pedir para vir me
ajudar a transportar caixas, no dia da mudança.
Vivian, Juliette, Ana, e até mesmo Jennifer todas
desmaiaram um pouco.
— Veja se você pode levar Brian a fazer sem camisa,—
disse Juliette.
— Juliette! — Meu pai fez um ruído estrangulado em sua
garganta e, em seguida, soltou um suspiro. — Essa coisa Brian
Oliver vai me transformar prematuramente grisalho.
Eu ri e dei ao meu pai um abraço nos surpreendendo tanto
quando eu beijei sua bochecha. — Você vai amá-lo,— eu
prometi. — E eu estarei em casa a uma.
Meu pai me abraçou novamente e teve de limpar a garganta
antes de responder. — Eu amo você, garota.
Com isso, eu respirei fundo e, em seguida, sai do carro.
O homem esperando para me ajudar correu os olhos em
cima de mim, fazendo uma pausa por um momento sobre as
minhas cicatrizes. Seu rosto se iluminou num sorriso largo
quando o entendimento o atingiu. — Eu espero que você esteja
pronta para isso,— ele sussurrou, acenando com a mão na
direção onde eu deveria andar.
— Nem um pouco,— eu assegurei a ele quando eu tomei o
meu primeiro passo em direção a uma nova vida.
O tapete vermelho estava estendido todo o bloco que
antecederam a entrada do teatro. Ele foi alinhado com luzes
brilhantes e cordas de veludo grossas. Eu sorri quando vi as
lâmpadas. Eu tentei sair da limusine com meu casaco, era a
semana antes do Natal, depois de tudo, mas Ana jogou um
assobio. Ela pegou o casaco, insistindo que ninguém andava
no tapete vermelho escondendo suas roupas. Descobri que ela
estava certa.
Fotógrafos e repórteres com câmeras de vídeo e microfones
ficaram do lado de fora das cordas de veludo, e atrás deles
estava uma multidão de pessoas tão grande que eu senti como
se eu estivesse de pé no monte do arremessador no Fenway
Park{39}.
Havia um número de pessoas que andavam no tapete à
frente de mim. Eu reconheci alguns deles, e os outros eu não
estava familiarizada. Kaylee Summers estava sorrindo bastante
para a multidão, agarrando-se ofensivamente a um ator que eu
reconheci de um filme popular sobre vampiros. De alguma
forma, parecia adequado.
Eu não vi Brian em qualquer lugar.
Meu estômago se agitou com a ideia de ter que começar de
onde eu estava de pé até as portas do teatro, que parecia milhas
de distância. Eu não tinha certeza se eu poderia fazê-lo, mas eu
já não tinha uma escolha. As pessoas mais próximas a mim já
tinha tomado conhecimento e estavam começando a sussurrar.
Dei um passo e, em seguida, lentamente outro. Minhas
juntas não ficaram muito satisfeitas com o clima frio, por isso
a minha marcha estava um pouco mais lenta do que o normal.
Minha lentidão chamou a atenção das pessoas e os murmúrios
transformaram em aplausos. — É ela! — Alguém gritou. — É
Ella! Ela chegou!
Ao mesmo tempo, uma onda de ruído ensurdecedor
irrompeu e trabalhou seu caminho até o final do bloco para a
entrada do teatro e para o outro lado da rua, até que foi alto o
suficiente que poderia se ouvir em Boston.
As pessoas gritavam e gritavam. Eles estenderam a mão
como se quisessem me tocar. Câmeras brilharam na minha
cara, me cegando. O frenesi era muito mais do que eu poderia
ter imaginado. Oprimida, eu tropecei em volta das cordas. Um
homem com o dobro do tamanho do meu pai, vestindo um
terno caro e algum tipo de fone de ouvido, me pegou. — Está
tudo bem, senhorita?
Olhei para a multidão, incapaz de pensar. — Isso é loucura.
O homem riu e me colocou de volta nos meus pés. —
Ninguém vai atravessar a este lado das cordas. Você estará
segura.
As pessoas, no tapete à frente de mim, pararam para ver o
que era a comoção. Eles me olharam com olhos curiosos.
Alguns deles sorriram enquanto outros não pareciam apreciar
eu ter roubado a atenção deles. Kaylee olhou como se ela
queria me retalhar em pedaços com as mãos nuas.
— É melhor você se mover, senhorita,— disse o guarda de
segurança, dando-me um pequeno empurrão. — O show
começa em quinze minutos.
Eu balancei a cabeça e comecei a andar de novo, mas
quando eu fiz, os aplausos cresceram impossivelmente alto e
eu me senti como se o caos tivesse me tragado. Eu estava com
medo que fosse entrar em pânico, mas depois vi uma comoção
no tapete à frente de mim, que fez tudo ao meu redor
desaparecer.
Brian abriu caminho através da multidão de celebridades até
mim. Eu poderia dizer que ele estava chamando meu nome,
embora eu não pudesse ouvi-lo sobre o ruído. Seus
movimentos eram frenéticos; eles combinavam com o
sentimento dentro do meu peito. Eu pensei que eu ia explodir
se eu não tivesse meus braços em torno dele, nos próximos
cinco segundos.
E, então, ele estava lá, chegou a uma parada de alguns
metros na minha frente. Eu não entendi a distância que ele
manteve entre nós. Eu queria acaba-la. Necessitava acabar. Eu
precisava senti-lo, sentir o cheiro dele e me perder em seus
olhos.
— Você veio,— ele respirou. Quando ele falou, um silêncio
caiu sobre a multidão. As pessoas estavam desesperadas para
ouvir o que estavamos dizendo.
Meu foco se desviou para o público, por um momento, mas
depois voltei para Brian quando ele disse: — Depois do show,
quando você não me ligou, eu pensei…
Ele pensou que nunca me ouviria outra vez.
Ele não podia dizer as palavras, e eu não fiz. — Eu… fui
embora… por um tempo… depois do que aconteceu.
Eu não tinha certeza se Brian sabia exatamente o que eu
quis dizer, mas o olhar de culpa e devastação em seu rosto
sugeria que seus pensamentos estavam no caminho certo, se
não exatamente correto. Eu esperava que meu sorriso fosse lhe
assegurar que eu estava bem. Eu teria que conversar com ele,
mas não agora.
— Eu só cheguei em casa há três dias,— eu disse. Meu
sorriso se tornou irônico. — Meu terapeuta jogou sua
entrevista na frente de todos que eu conheço. Eu era a única
que não tinha visto aquilo. Eu não tinha ideia do que estava
acontecendo e todo mundo olhava para mim o tempo todo. Eu
tive que assistir essa entrevista com o meu pai de pé sobre o
meu ombro. Foi tão embaraçoso.
Brian cruzou os braços sobre o peito e levantou uma
sobrancelha. — Meu amor por você é embaraçoso?
Milagre dos milagres, eu consegui manter uma cara séria.
— Não conhece nada como a sutileza, Brian. Você pode se
beneficiar de algumas lições sobre o assunto.
Eu estava fazendo bem, mas quando o rosto de Brian caiu
em um beicinho, eu cai na gargalhada. — Eu amo isso.
Brian finalmente se adiantou e me puxou para os seus
braços. — Você é uma pirralha. Eu não posso acreditar que
você me fez suar até o último segundo.
Eu dei de ombros. — Depois de ver essa entrevista, eu
percebi que estávamos lutando por drama. Surpreender você
parecia ser o caminho a percorrer.
Brian riu e observou o quase motim que minha chegada
tinha causado. — Foi definitivamente isso. Você conseguiu
causar completamente a cena. — Ele sorriu para mim em
seguida, de uma maneira que derreteu meu coração. — Eu
aposto que posso fazer melhor.
Eu sorri. — Claro que você pode.
O brilho perverso em seus olhos foi o único aviso que ele
me deu antes de mergulhar de volta em um beijo profundo.
Nosso primeiro beijo tinha sido com ternura. Tinha sido um
beijo para conhecer um ao outro. Este beijo foi completamente
diferente. Este beijo foi com fome. Brian me beijou como se
ele estivesse tentando fundir as nossas almas para a eternidade.
Ele não estava fazendo isso por show. Não tinha nada a ver
com as centenas de pessoas assistindo e ficando louco em
torno de nós. Não era possessivo, tampouco. Ele não estava
reclamando um direito sobre mim. Ele não estava mesmo
tentando provar seus sentimentos para mim. Ele estava
simplesmente tomando o que ele precisava.
Eu podia sentir o seu desejo, sua dor por mim e isso me
transformou em uma poça de mingau. Tudo o que ele
precisava, ele poderia ter. Eu ficaria feliz em lhe dar. Ele
poderia ter tudo de mim. De fato, no momento que ele se
separou e terminou o beijo, ele teve tudo de mim.
— Eu te amo tanto, Ella,— ele sussurrou. Eu não sabia o
que era mais bonito: sua expressão ferida ou o batom
vermelho brilhante manchado por todo o rosto.
— Eu também te amo, Cinder.
Ele me deu outro beijo rápido e depois deslizou o braço em
volta da minha cintura e me levou em direção às portas do
teatro. Quando chegamos lá, ele parou e virou-nos para a
multidão. — Diga ‘cheese’, Ella,— ele brincou.
Eu estava lá e sorri até que meu rosto doeu, mas não foi
difícil de fazer, desde que eu estava tão delirantemente feliz.
Brian poderia totalmente dizer também, porque cada vez
que eu olhei para ele, ele riu como se eu fosse a coisa mais
divertida do mundo.
Devo ter perdido o sinal, mas, eventualmente, Brian decidiu
que era hora de seguir em frente. À medida que se virou para
sair, um homem do outro lado das cordas de veludo enfiou um
microfone para nós. — Brian! Brian! Você não vai nos dar
uma declaração, antes de ir para dentro?
Brian parou de andar.
Um silêncio caiu sobre a multidão. A atmosfera virou quase
uma reverência quando o mundo esperou para ouvir o que
Brian Oliver diria. Eu esperava que, por causa dele, o que ele
falasse seria bom. Eu tive um sentimento que este momento
nosso estava indo para a história de Hollywood.
Brian olhou para o homem e, em seguida, de volta para
mim. Seu sorriso se espalhou por todo o seu rosto e disse:
— Que tal? ‘E eles viveram felizes para sempre’.

Fim
1.Jacuzzi: uma empresa ítalo-americana especializada em
{1}

banheira de hidromassagem.
{2}
Cállate!: Cale a boca!
{3}
Druida: antigo sacerdote entre os gauleses e bretões
(membro da ordem religiosa de sacerdotes pertencentes aos
povos célticos)
Por el amor de todo lo sagrado: Pelo amor de tudo que é
{4}

sagrado.
{5}
Híjole muñeca!: Uau boneca!
{6}
Muñeca: Boneca
Bel Air é um bairro nobre residencial da Zona Oeste de Los
{7}

Angeles — Califórnia, que integra juntamente com Beverly


Hills e Holmby Hills, os bairros mais ricos do Condado de Los
Angeles.
Co-estrela: um dos dois atores que possuem um estatuto de
{8}

igualdade com estrelas em um jogo ou filme.


High five: ato de levantar a mão e bater a palma contra a de
{9}

outra pessoa. Informalmente, quando se quer comemorar algo


ou fechar um acordo, costuma-se bater a palma da mão aberta
contra a mão aberta de outra pessoa.
{10}
Talk show: é um género de programa televisivo ou
radialista, em que uma pessoa ou um grupo de pessoas se junta
e discute vários tópicos
{11}
Mean Girl: Filme Meninas Malvadas
Xena: Warrior Princess: é uma série de televisão
{12}

neozelandesa originalmente exibida entre 4 de setembro de


1995 e 18 de junho de 2001.
Teen Choice Awards: é uma premiação que tem como foco
{13}

principal os adolescentes, as cerimônias são apresentadas


anualmente pela FOX.
V8 é um suco feito 100% a base de vegetais e contém uma
{14}

combinação de tomate, beterraba, aipo, cenoura, alface,


espinafre, salsa e agrião.
{15}
Top Gear: A série acompanha a colorida história do
automóvel e mostra uma visão pouco convencional sobre a
arte da direção, com supercarros, acrobacias, truques radicais e
desafios.
Marc Jacobs Daisy: é um perfume Floral Amadeirado
{16}

Almiscarado Feminino. Daisy foi lançado em 2007. O


perfumista que assina esta fragrância é Alberto Morillas.
BFF é a sigla para Best Friend Forever, que significa —
{17}

melhores amigas para sempre. — O termo é oriundo do inglês,


e se popularizou mundialmente através das redes sociais.
Green Bay Packers: é um time de futebol americano com
{18}

base em Green Bay, Wisconsin, nos Estados Unidos.


{19}
Cheeseheads: Esse termo é usado como referência às
pessoas do estado de Winsconsin em geral (por causa da sua
produção de queijo). O nome teve origem em 1987 como um
insulto dos torcedores do Chicago White Sox em um jogo
contra o Milwaukee Brewers. Alguns anos depois os
torcedores do Packers tomaram os insultos e criaram até um
chapéu em forma de queijo que usam durante os jogos do
time.
Jo-Ann: é uma cadeia de lojas americana especializada em
{20}

tecidos e artesanatos. Elas existem mais ou menos desde os


anos 60 e hoje tem mais de 750 lojas espalhadas pelo país.
Froot Loops: São rosquinhas de cereal à base de milho,
{21}

aveia e trigo, com sabor de frutas e fonte de vitaminas e


minerais.
Lucky Charms: é uma marca de cereal produzido pela
{22}

General Mills empresa de alimentos desde 1964. O cereal é


composto por peças de aveia torrada e formas de marshmallow
multicoloridas.
{23}
Abuela: avó em espanhol
Bordo: (português)/Maple(Inglês) é uma árvore da família
{24}

Acer, a seiva é retirada dos troncos das árvores. A produção


consiste no cozimento da seiva, onde a água irá evaporar, e
deixar um xarope bem grosso e caramelizado.
FYI: Para sua informação
{25}
NERF: é a sigla de — Non-Expanding Recreational Foam—
{26}

, que em português significa — Espuma de recreação não


expansível. — É uma marca de brinquedos infantis de
propriedade da empresa Hasbro (sediada nos Estados Unidos).
Os brinquedos NERF mais populares são armas. Têm cores
em néon e são produzidas com material macio, especialmente
para lançarem munições sólidas derivadas de um material
esponjoso, supostamente para não causarem ferimentos nos
jogadores.
Bromance: guy love (— amor entre caras— em inglês) ou
{27}

man-crush (— atração masculina— ) é uma expressão em


língua inglesa utilizada para designar um relacionamento
íntimo, mas não-sexual, entre dois (ou mais) homens, uma
forma de intimidade homossocial.
B-list: Uma lista ou grupo daqueles que não são tão não
{28}

popular, admirados ou bem conhecidos como os da A-lista.


Geralmente para descrever os atores.
Fudge é um tipo de sobremesa, suavemente doce, às vezes
{29}

aromatizado com chocolate. A base dele é da mistura do


açúcar, da manteiga, e do leite batidos e aquecidos em fogo-
médio, ganhando uma forma cremosa.
Barracuda: As barracudas são peixes alongados e finos, que
{30}

podem alcançar 1,8 metros de comprimento. A cabeça termina


numa boca desproporcionalmente grande e repleta de dentes
aguçados. São predadores muito vorazes que atacam em
emboscadas e contam com a sua rapidez para dominar as
presas. Em geral, estes peixes são perigosos para o homem.
São encontradas nas águas quentes da costa atlântica. A sua
carne é apreciada, mas os grandes adultos podem ser
extremamente tóxicos em função de comerem peixes que se
alimentaram, direta ou indiretamente, de dinoflagelados
tóxicos.
Candy Cane: é uma bala (candy) em formato de bengala
{31}

(cane), tradicionalmente branca com listras vermelhas e com


sabor de hortelã-pimenta (peppermint), muito popular no
Natal.
{32}
DeMille: Cecil Blount DeMille, mais conhecido como Cecil
{33}

B. DeMille foi um cineasta americano, um dos 36 fundadores


da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas. Entre
1913 e 1956, ele fez setenta produções, ambos os filmes
mudos e sonoros.
1. Gloria Josephine Mae Swanson: (Chicago, 27 de março
{34}

de 1899 -Nova Iorque, 4 de abril de 1983) foi uma atriz


estadunidense. Durante os três anos seguidos, participou em
diversos filmes de DeMille, entre eles, o que contém a famosa
cena — The Lion’s Bride— com um leão verdadeiro: Why
Change Your Wife?
DEFCON: Significa Condição Da Defesa que é a medida
{35}

do nível da ativação e da prontidão do forças armadas que vão


de 1 à 5. DEFCON 1: Prontidão de máxima força.
Green Bay Packers é um time de futebol americano com
{36}

base em Green Bay, Wisconsin, nos Estados Unidos. É


membro da Conferência Norte, da Conferência Nacional
(NFC), da Liga Nacional de Futebol Americano nos Estados
Unidos (NFL), sendo o terceiro time mais antigo da liga.
Gollum: é um personagem fictício das obras do filólogo e
{37}

professor britânico J. R. R. Tolkien. Ele foi introduzido no


romance infantil. O Hobbit de 1937, e se tornou um
importante personagem na sequência O Senhor dos Anéis.
{38}
Tolkien: John Ronald Reuel Tolkien, conhecido
internacionalmente por J. R. R. Tolkien foi um premiado
escritor, professor universitário e filólogo britânico, nascido na
África, que recebeu o título de doutor em Letras e Filologia
pela Universidade de Liège e Dublin, em 1954, e autor das
obras como O Hobbit, O Senhor dos Anéis e O Silmarillion.
Fenway Park: estádio de baseball localizado em Boston,
{39}

Massachusetts (EUA). É a casa do time Boston Red Sox, da


MLB.
Table of Contents
Folha e Rosto
Sinopse
Créditos: ARE
Dedicatória
Prólogo
Capítulo Um
Capítulo Dois
Capítulo Três
Capítulo Quatro
Capítulo Cinco
Capítulo Seis
Capítulo Sete
Capítulo Oito
Capítulo Nove
Capítulo Dez
Capítulo Onze
Capítulo Doze
Capítulo Treze
Capítulo Quatorze
Capítulo Quinze
Capítulo Dezesseis
Capítulo Dezessete
Capítulo Dezoito
Capítulo Dezenove
Capítulo Vinte
Capítulo Vinte e Um
Capítulo Vinte e Dois
Capítulo Vinte e Três
Capítulo Vinte e Quatro
Capítulo Vinte e Cinco
Capítulo Vinte e Seis
Capítulo Vinte e Sete
Capítulo Vinte e Oito
Capítulo Vinte e Nove
Capítulo Trinta
Capítulo Trinta e Um
Table of Contents
Folha e Rosto
Sinopse
Créditos: ARE
Dedicatória
Prólogo
Capítulo Um
Capítulo Dois
Capítulo Três
Capítulo Quatro
Capítulo Cinco
Capítulo Seis
Capítulo Sete
Capítulo Oito
Capítulo Nove
Capítulo Dez
Capítulo Onze
Capítulo Doze
Capítulo Treze
Capítulo Quatorze
Capítulo Quinze
Capítulo Dezesseis
Capítulo Dezessete
Capítulo Dezoito
Capítulo Dezenove
Capítulo Vinte
Capítulo Vinte e Um
Capítulo Vinte e Dois
Capítulo Vinte e Três
Capítulo Vinte e Quatro
Capítulo Vinte e Cinco
Capítulo Vinte e Seis
Capítulo Vinte e Sete
Capítulo Vinte e Oito
Capítulo Vinte e Nove
Capítulo Trinta
Capítulo Trinta e Um

Você também pode gostar