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A EMPRESA AGRICOLA

Conceito e objectivos da empresa agrícola

Existem várias designações para a organização base da produção agrícola, no


entanto a mais corrente é aquela, segundo a qual, toda a exploração agrícola é
uma empresa.
Ao falar-se de empresa pressupõe-se que é um organismo que se rege pelo
cálculo económico e que tem como objectivo a maximização do lucro.
No entanto pela análise da realidade agrícola verificamos que: grande parte das
explorações, não possuem capacidade económica para subsistir apesar de
continuarem a resistir e até modernizar-se. Na realidade o que acontece é que
numa grande parte das explorações o objectivo não é maximização do lucro.

Constituição da empresa agrícola

Entende-se a empresa agrícola como uma reunião de factores de produção, terra,


capital e trabalho, empregues na realização de uma actividade económica, sob
direcção única. É necessário organizar e combinar de uma determinada forma
estes factores de produção, com o objectivo de obter uma determinada produção
com a expectativa de obter um resultado económico.
À forma de combinar os factores de produção designamos por sistema de
produção.

Tipos de empresa agricola

As empresas podem ser do tipo familiar ou patronal, caracterizando-se, o primeiro tipo,


por o trabalho executivo ser efectuado pelos membros da família, que não usufruem de
salário certo, o trabalho directivo (empresário) ser da responsabilidade do próprio chefe
da família e a receita líquida da empresa ser a única fonte de rendimento. Nas empresas
do tipo patronal o trabalho executivo e directivo é assegurado por pessoal assalariado,
sendo o capital representado pelo empresário

Natureza jurídica das explorações agrícolas


Do ponto de vista da sua natureza jurídica as explorações agrícolas podem ser
classificadas da seguinte forma:
• explorações de produtores singulares;
• sociedades (de agricultura de grupo, por quotas, anónimas, etc.);
• baldios (terrenos possuídos e geridos por comunidades locais);
empresas públicas (exploração agrícola cuja gestão está directamente subordinada à
• Administração Central ou Local).
Formas de exploração
Uma outra maneira de caracterizar as estruturas agrárias de uma dada região ou País
está relacionada com as respectivas formas de exploração da área disponível, ou seja,
com as diferentes formas jurídicas pelas quais as empresas agrícolas dispõem da terra
que utilizam.
Por superfície agrícola utilizada (SAU) entende-se a área constituída pelas terras aráveis
(limpas ou sob – coberto de matas e florestas), culturas permanentes e prados e
pastagens permanentes.
As modalidades a considerar neste âmbito são:
conta própria - SAU que é propriedade da empresa agrícola ou relativamente à qual
• ela é a respectiva usufrutuária ou superficiária;
arrendamento fixo - SAU de que a exploração dispõe durante um período superior a
uma campanha mediante o pagamento de uma renda (em dinheiro, géneros ou
prestação de serviços) de um montante previamente estabelecido independentemente
• dos resultados económicos da exploração;
arrendamento de campanha - SAU explorada mediante um contrato de arrendamento
• para uma única campanha agrícola;
arrendamento de parceria (ou variável) - SAU explorada em associação pela
empresa agrícola e o proprietário, com base num contrato de parceria (escrito ou
oral), no qual se estabelece a forma de proceder à repartição dos resultados a obter e
• dos encargos a suportar;
• outras formas - terras cedidas gratuitamente.

Dimensão e dispersão das explorações


A dimensão das explorações é usualmente calculada em termos físicos (com base nos
hectares de SAU) e em termos económicos (com base nas Margens Brutas Padrão -
MBP).
A caracterização das estruturas agrárias do ponto de vista da respectiva dimensão é
baseada na dimensão média das explorações agrícolas (SAU ou UDE - unidades de
dimensão económica - por exploração) e nas respectivas classes de dimensão (classes de
SAU ou de DE).
As classes de SAU mais usualmente consideradas são: < 5 ha, 5 - 20 ha, 20 - 50 ha, 50 -
100 ha, > 100 ha.
As classes de dimensão económica mais utilizadas são: < 4 UDE, 4 - 16 UDE, 16 - 40
UDE, 40 - 100 UDE, > 100 UDE.

A contabilidade
A contabilidade pode ser considerada como uma ciência ou
uma técnica que visa fornecer informação de utilidade na hora de tomar decisões
económicas. Trata de estudar o património e traduz os seus resultados nas chamadas
demonstrações financeiras, que resumem situações económicas.

A contabilidade é considerada uma ciência tendo em conta que fornece conhecimento


verdadeiro (sistemático, verificável e falível), e não suposições. O seu desenvolvimento
implica a formulação de hipóteses e a construção de teorias que permitem prever e
explicar os fenómenos do seu objecto de estudo.

Por outro lado, a contabilidade também é uma técnica, tendo em conta que, com base
nos seus procedimentos, se podem processar e aplicar os dados.

A contabilidade é importante para: análise e interpretação de dados financeiros;


planeamento e controle do patrimonio (pessoal ou empresarial); cooperação,
coordenação e comunicação com outras áreas da empresa.
PRINCIPIOS BASICOS DA ECONOMIA AGRICOLA

Características da exploração agrícola

As características da exploração, que interferem na definição do sistema de produção,


relacionam-se com o meio (solo e clima) e com os factores de produção disponíveis.
1- O clima
O clima, limita o número de actividades, pois estas apresentam determinadas exigências
que terão de ser satisfeitas por este factor.
Os factores climáticos que mais interferem na escolha das actividades são a temperatura
e a pluviosidade
2- O solo
O solo, nomeadamente o seu tipo, topografia, inclinação, textura, profundidade,
fertilidade, etc., são igualmente elementos determinantes para a escolha das actividades
3- Os factores de produção
De acordo com a sua natureza, podemos agrupar os factores de produção em duas
grandes categorias: capital e trabalho. Sendo o capital o conjunto de meios materiais
utilizados na exploração e o trabalho a actividade desenvolvida pelo homem.
Quanto à função que desempenham e à sua permanência na empresa, podem dividir-se
em dois grupos:

Fixos ou estruturais (carácter fixo):determinam ou condicionam a actividade produtiva


da empresa e constituem o aparelho de produção ( terras, máquinas, construções, etc.).

Factores variáveis ou operacionais : determinam o nível de produção, o seu consumo


aumenta à medida que a área da exploração é maior ou é maior a intensificação das
culturas (sementes, adubos, rações, etc.)...

Entre os principais factores de produção que é necessário quantificar destacam-se:


- o trabalho;
- o capital;
- o empresário.

Trabalho

O trabalho nas empresas agrícolas está relacionado com o seu tipo, ou seja, se é
familiar ou patronal.
Trabalho é todo o esforço físico e mental aplicado na obtenção das produções
agrícolas.
Quando observamos este factor de produção temos de observar vários parâmetros. É
diferente a classificação quanto à remuneração e quanto à permanência.

Relativamente à necessidade de mão de obra, que deve ser considerada quer em termos
de quantidade quer em qualidade, deve ser considerada a facilidade da sua contratação, por
forma a serem satisfeitas as necessidades sazonais, sempre que estas não possam ser
realizadas com os trabalhadores permanentes. O factor trabalho engloba a mão de obra
permanente e temporária (eventual), incluindo o primeiro o trabalho directivo e familiar e o
segundo, a mão de obra contratada apenas para realização de determinadas tarefas

Para determinação dos encargos previsionais o trabalho assalariado deve ser considerado
como permanente ou eventual, correspondendo o primeiro a um custo fixo e o segundo a um
custo variável, pois corresponde a uma contratação temporária de serviços relacionados com
determinado tipo de produção.

- Familiar
Remuneração
- Assalariada
- Qualificado
Especialização
- Não qualificado

- Directivo
Natureza do trabalho
- Executivo

- Temporário/Eventual
Permanência
- Permanente*
*-É o único que faz parte do aparelho de produção

Quantificação do trabalho

A unidade utilizada para medir o trabalho é a Unidade Trabalho Ano (UTA).


A UTA é a quantidade de trabalho que um trabalhador activo agrícola está apto a
prestar durante um ano e em condições normais, num período correspondente a 2.200
horas ou 275 dias.

CAPITAL

É o conjunto de bens materiais utilizados no acto de produzir.

Os capitais da empresa agrícola estão agrupados em categorias, dependendo do tipo


de bens ou direitos que são e do seu papel dentro da empresa.
O capital traduz o conjunto de bens materiais, duradouros ou efémeros, aplicados no
sistema de produção e dos montantes pagos como remuneração dos serviços utilizados
para funcionamento da exploração.
O capital é, geralmente, considerado como fundiário e de exploração, referindo-se o
primeiro à terra e aos bens que nela se encontram (ex. as fontes, benfeitorias, etc.) e o de
exploração a todos os bens utilizados no sistema de produção (ex. as máquinas, animais,
etc.) e ao dinheiro empregue no pagamento de serviços.
Relativamente à terra, que é geralmente um dos recursos limitados mais importante, os
dados disponíveis devem permitir conhecer:
- a área para as diferentes actividades;
- os pontos de água, seu potencial e sistemas de irrigação;
- a existência de problemas de drenagem;
- e outros.
A existência de um mapa da exploração que inclua os dados anteriores, especialmente
os relacionados com a área, forma e inclinação das parcelas, pontos de água e sistemas
de irrigação, é uma ferramenta muito importante para se definir correctamente o sistema
de produção.
A descrição das benfeitorias, nomeadamente os edifícios, deve incluir as suas principais
características, nomeadamente a sua dimensão, capacidade, potencial de utilização, etc..
A ausência de espaço para se proceder ao armazenamento de uma dada produção
impossibilita a realização dessa actividade.
A localização no mapa dos edifícios e das vias de comunicação permite igualmente um
melhor planeamento das actividades.
Em relação ao capital de exploração é importante distinguir entre capital de exploração
fixo e circulante, referindo-se o primeiro aos bens que não são consumíveis em apenas
um ciclo produtivo, sendo os segundos "gastos" num ciclo. Os bens fixos, que podem
ser vivos ou inanimados, conduzem a encargos fixos, e os bens circulantes, em que os
aprovisionamentos se referem aos bens mantidos em armazém, os cativos aos bens
aplicados e os de maneio às produções e ao dinheiro em caixa, originam encargos
variáveis.
O capital, para avaliação dos encargos previsionais, corresponde ao valor de todos os
bens materiais. Este factor pode ser considerado como capital fundiário, ou seja, a terra,
construções, plantações, benfeitorias, etc. e capital de exploração, ou seja, os
equipamentos, animais, sementes, adubos, etc. Caso existam máquinas é fundamental
conhecer as suas características, especialmente o seu rendimento em trabalho, que, no
caso de equipamentos específicos e para um dado número de horas disponíveis,
condicionará o volume de trabalho a realizar. A mecanização é, por vezes,
dimensionada de uma forma incorrecta, o que conduz a situações de sobre ou sub -
mecanização, da qual resulta aumentos dos encargos das actividades ou a
impossibilidade de executar em tempo útil as tarefas.
O capital fundiário e o de exploração fixo, constituem factores de produção fixos, sendo
o seu conjunto designado, por aparelho de produção, enquanto os de exploração
circulante (sementes, adubos, etc.) são factores de produção variáveis.

Relativamente ao capital este pode genericamente ser considerado como é indicado no


quadro 1.

Quadro 1- Classificação dos capitais utilizados nas empresas agrícolas.

Terra e águas naturais

Melhoramentos
Fundiário fundiários
(Caracter
fixo) Benfeitorias Plantações
(construções,
melhora/
Construções
fundiários,
plantações)

Capital da Vivo(animais
empresa agrícola adultos)
Fixo

(Desgaste com o
Inanimado
tempo)
(máquinas e
De equipamentos)
exploração
Aprovisionamentos
(Caracter (sementes/adubos
móvel) armazém)

Circulante Cativo (produtos


armazém, animais em
(permanece 1 ano
ou menos na crescimento )
empresa ) Maneio
(valores a receber)
Aparelho de produção

O aparelho de produção é a base estável de produção da empresa. É constituído por:


Capital fundiário
Capital de exploração
Trabalho permanente

1.2.2 – Funcionamento da empresa

A combinação dos factores de produção origina produções e encargos, proporcionando


ao agricultor um resultado no fim do ciclo de exploração ou exercício.

Despesa/Encargos

Despesas: ocorre quando se realiza uma operação que implica uma saída de dinheiro

Encargos: é a expressão monetária do consumo dos factores de produção, utilizados ao


longo do processo produtivo, (ocorre quando se verifica na prática a utilização dos
bens).

Encargos Reais: são aqueles que estão directa ou indirectamente ligados com uma
despesa
Encargos Atribuídos: apresentam o custo da sua utilização (ex. Mão de Obra Familiar).
Encargos Variáveis ou operacionais: traduzem o consumo de factores variáveis (ex.
adubos sementes M.O eventual). O seu consumo depende da intensificação produtiva e
da área de exploração agrícola.
Encargos Fixos ou estruturais: traduzem o consumo de factores fixos.
Depende dos anos ligados à terra (renda, electricidade; etc.).

Encargos

Natureza

REAIS ATRIBUÍDOS

Origem

Variáveis Fixos

Específicos Comuns

| |
Encargos directos Encargos indirectos
imputados às actividades imputados globalmente à exploração
Noção de Produto e receita

Receita – Expressão monetária do que foi vendido no exercício, quer tenha ou não sido
produzido nesse exercício
Produto – É a expressão monetária do que foi produzido no exercício

Produção Bruta da Exploração


- Produção bruta das activ vegetais e animais
- Produção de imobilizado
- Prestação de serviços
- Variação de existências
- Subsídios correntes (actividades/exploração)

Produção brutas das actividades vegetais


- vendas
- auto consumo
- prod. em armazém
- auto utilização
- ofertas
- pagamentos em natureza

Produção bruta das actividades animais


- vendas
- auto consumo
- prod em armazém
- auto utilização
- ofertas
- pagamentos em natureza
- variação de inventário

Produto Bruto ou produções para o exterior


Produto Bruto = Produção Bruta – produção reempregue
Valorização das produções
- preço de mercado
- auto utilização – preço de custo

Apuramento de resultados

Tendo em conta que um resultado é sempre um excedente do produto sobre os


encargos, a divisão destes em várias categorias permite determinar diversos
resultados, parciais ou finais.

Contabilidade geral

Resultado corrente do exercício


= Produção bruta da exploração – Encargos Reais

Resultado Final do exercício


= Resultado corrente exercício + / - receita ou despesa extraordinária

Contabilidade de gestão por margens

Resultados por actividades

Margem Bruta I (MB I) = PB – EV

Representa a contribuição da actividade para a cobertura dos encargos originados pelo


aparelho de produção (encargos fixos).
Margem Bruta II (MB II) = MB I – Enc. Fixos Espec.

Por comparação com outras actividades indica-nos a importância económica da


actividade no sistema de produção da exploração
Representa o contributo da actividade para a cobertura dos enc. Fixos comuns

Margem Bruta Global da Exploração (MBG exp.)


= MB II actividades vegetais e animais + prestação serviços + produção imobilizado +
variação de existências + prémios e subsídios

Esta margem representam o excedente da produção do exercício, que permitirá cobrir


os encargos fixos comuns

Margem Liquida (ML)= MBG expl – Enc. Fixos comuns e G. gerais

Resultado Final do exercício


= Margem Liquida + / - receita ou despesa extraordinária

Margem líquida corrigida (MLc) = ML – rendas pagas

Lucro / perda = ML – encargos atribuídos

Em termos de Gestão técnico – económica as margens mais significativas são a MBI e


MBII

Resultados Económicos - são apurados pela diferença entre Proveitos e Custos.


Resultados de Tesouraria - são apurados pela diferença entre Recebimentos e
Pagamentos.
Resultados Oficiais - tanto podem ser económicos como de tesouraria, e apuram-se
com base no Plano Oficial de Contas. Têm sempre como objecto final apurar a matéria
colectável.

Os resultados económicos
Os resultados económicos são aqueles que espelham, não a perspectiva de tesouraria,
mas antes o peso relativo dos proveitos e dos custos, independentemente de a eles
corresponderem receitas ou despesas no mesmo período.

O saldo de tesouraria (ou cash-flow)


Uma vez que nos pontos seguintes serão analisados os resultados económicos, gostaríamos
aqui de chamar a atenção para o principal resultado de tesouraria: o saldo de tesouraria,
também designado por cash-flow (CF) (fluxo de caixa, na sua tradução literal). Para um
determinado período, calcula-se subtraindo ao total das entradas de fundos financeiros
(correspondentes ao recebimento efectivo das receitas) o total das saídas efectivas de
fundos financeiros (que correspondem ao pagamento das despesas efectuadas). Este
resultado tanto pode ser calculado ao nível parcelar de cada actividade, como ao nível
global da empresa2.
O significado do cash-flow global é da maior importância, uma vez que está directamente
relacionado com a viabilidade financeira de curto prazo da empresa. No limite, este
resultado deverá ser positivo para cada período considerado.

Os resultados oficiais
Muitas empresas agrícolas, para além de poderem proceder ao apuramento de custos para
fi ns da sua própria gestão, baseando-se para tal num sistema de contabilidade analítica ou
de gestão (que será objecto de estudo aprofundado no âmbito do módulo II deste curso),
são igualmente “obrigadas” a seguir um plano oficial de contas (isto é, um conjunto de
regras para classifi cação de custos e de proveitos, e para apuramento de resultados), com
um objectivo essencial de apuramento de resultados para fins f scais.
Apesar de terem uma utilidade muito relativa em termos de gestão, faremos aqui uma
breve referência aos mais significativos de entre eles. A base mais útil para entender o seu
cálculo é o mapa da Demonstração de Resultados ou o mapa de Balanço da actividade3,
que registam a actividade anual da empresa, dividindo-a em diversas rubricas de Custos/
Perdas e Proveitos/Ganhos, segundo os equilíbrios fundamentais expressos pelas seguintes
equações:
Custos + Resultado = Proveitos (na Demonstração de Resultados)
Passivo + Capital Próprio = Activo (no Balanço)

São os seguintes os resultados contabilísticos com maior interesse para a gestão:

Resultados Operacionais = Produção - Custos operacionais


Resultados Financeiros = Proveitos e ganhos f nanceiros - Custos e perdas
financeiras
Resultados Correntes = (Produção + Proveitos Financeiros) - Custos operacionais
- Custos financeiros
Resultados antes de impostos = Total Proveitos - C.Operacionais - C.Financeiros
- C.Extraordinários
Resultados Líquidos do exercício = Resultados antes de impostos - Impostos sobre
o rendimento do exercício
Excedente Bruto de Exploração = (Produção - Compras) + Subs. exploração -
Impostos - Enc.pessoal

Proveitos, receitas e recebimentos; custos, despesas e pagamentos

Por serem conceitos que muitas vezes se confundem, convém aqui relembrá-los, uma vez
que constituem um elemento chave do processo de gestão em geral, e do planeamento
em particular.
O esquema que se apresenta na Figura 1.2, e que retrata sumariamente a actividade da
empresa, ajuda a distinguir alguns deles.

Tendo por base o lado esquerdo da Figura adotaremos as seguintes definições:

Despesa – falamos em contrair uma despesa quando é criada a obrigação de pagar; está
associada a um período de tempo bem definido (despesa do período) e a fluxos reais de
“matérias primas”.

Pagamento – o pagamento corresponde ao fluxo monetário que contrabalança o f uxo


real de matérias associado à criação de despesa; está igualmente associado a um período
de tempo, que pode contudo não coincidir com o período da despesa, ou seja, o pagamento
correspondente a uma determinada despesa pode ocorrer num período diferente.
Custo – igualmente associado a um período, o custo corresponde ao sacrifício parcial ou
total de um recurso.
Atentemos agora no lado direito do esquema, isto é aos fluxos associados à saída de
produtos da empresa, para melhor definir os conceitos em causa.
Receita – ocorre no momento em que é criado o direito a receber, isto é, corresponde à
emissão da respectiva factura. É um direito que normalmente ocorre em simultâneo com
o fluxo real de saída de produtos da empresa para o cliente.
Recebimento - o recebimento corresponde ao fluxo monetário que contrabalança o fluxo
real de produtos associado à criação de receita; está igualmente associado a um período
de tempo, que pode contudo não coincidir com o período da receita, ou seja, o recebimento
correspondente a uma determinada receita pode ocorrer num período diferente.
Proveito - igualmente associado a um período, o proveito corresponde à criação de um
bem ou recurso.
Desta forma, os custos e os proveitos correspondem a factos económicos, enquanto que
as despesas e receitas se referem a factos financeiros.

Custos
Custo refere-se ao sacrifício total ou parcial de um recurso no decurso de uma actividade
económica. Este conceito difere de pagamento ou despesa, uma vez que se refere à utilização
de um factor de produção e não à sua aquisição ou remuneração (ver fluxos económicos,
fluxos financeiros e fluxos de tesouraria).
Os custos classificam-se em três categorias: fixos e variáveis, reais e atribuídos, específicos ou
não específicos. As três classificações têm objectivos distintos e, como tal, o mesmo custo é
alvo das três classificações complementares.
 Custos fixos e custos variáveis
Custos fixos
Custo fixo é aquele que não depende da quantidade de produto produzido, sendo, por definição
constante para qualquer nível de produção, num determinado prazo considerado. Resulta da
existência dos factores de produção fixos que constituem o aparelho de produção.
Custos variáveis
Custo variável depende da quantidade de produto produzida e está relacionado com a
tecnologia utilizada e com o preço dos factores de produção variáveis.
Estes custos têm importância no âmbito do planeamento e gestão da empresa agrícola no
curto prazo. No curto prazo a gestão apenas tem capacidade efectiva para influenciar os custos
variáveis. Os custos fixos encontram-se associados a decisões de longo prazo. Ao separar, na
sua contabilidade, os custos fixos dos variáveis, o gestor saberá imediatamente quais são
aqueles sobre os quais poderá actuar imediatamente e quais aqueles que terá de considerar no
seu planeamento de longo prazo.
 Custos reais e atribuídos
Custo real
Diz-se que ocorre um custo real quando existe o sacrifício de um recurso que foi obtido através
da criação de uma despesa junto a um fornecedor.
Custo atribuído
Um custo atribuído é originado pela utilização de determinado recurso da empresa, sacrificando
utilizações alternativas. São exemplos de custos atribuídos o custo de oportunidade ou a auto-
utilização de produtos da exploração aos quais é aplicado um preço de transferência.
Esta classificação distingue aqueles custos que têm um influência directa no mapa de
tesouraria daqueles que apenas se reflectem a nível da realidade económica da exploração.
Custos específicos e não específicos

Custo específico
Diz-se que um custo é específico quando respeita a uma actividade agrícola específica.
Custo não específico ou custo geral
Custo não específico ou custo geral não pode ser associado a nenhuma actividade agrícola
específica.
Custo total
Chamamos custo total ao conjunto de custos (fixos, variáveis, reais, atribuídos, específicos e
não específicos) a ser imputado a uma actividade ou conjunto de actividades, dadas as
quantidades de factores de produção utilizados.
Custo unitário
Chamamos custo unitário ao conjunto de custos (fixos, variáveis, reais, atribuídos, específicos
e não específicos) a ser imputados a uma actividade por cada unidade de factor de produção
utilizada ou de produto produzido. O cálculo de custos unitários poderá não ser tão directo
como o cálculo do custo médio a partir dos preços de compra em determinadas ocasiões (ver
custo e sistemas de custeio)
O cálculo do custo total através do custo unitário, e vice-versa, implica o conhecimento da
quantidade de factor de produção utilizada (ou de produto produzido), a que se dá o nome de
coeficiente técnico.
 
Exemplos de custos e relevância da sua classificação:
• Terra sobre a qual está implantada uma cultura – Fixo, Atribuído, Específico
Armazém de alfaias – Fixo (poderá ter uma componente variável caso sejam precisas
reparações devidas à sua utilização). Real (amortização) + atribuído (Juro de empate de
• capital). Não específico.
Mão de obra familiar a tempo inteiro – Fixo. Atribuído. Específico ou não específico,
• dependendo das funções.
• Adubo – Variável. Real. Específico.

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